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Intervenção em Fisioterapia

O objetivo do controlo da escoliose é evitar uma maior progressão da curvatura, através


de decisões que são feitas com base na gravidade da curva, padrão e localização da
curvatura e potencial de crescimento através da idade, estado da menarca e sinal de Risser.
A maioria dos casos nos adolescentes não exigem intervenção, apenas 10% requerem um
tratamento ativo. (Burton, 2013)

Em fase precoce, quando a escoliose é detetada clinicamente, é radiografada e vigiada


para que se possa perceber a sua evolução. Se as curvas ou desalinhamentos se
mantiverem em valores próximos dos 20º, não são sujeitas a outras medidas. Caso
ultrapassem este valor, é indicada a utilização de coletes especiais, que impedem uma
evolução mais exagerada das curvas escolióticas durante o resto do crescimento (quando
usado em fase de crescimento), e a estabilização cirúrgica da curva, através de fusão óssea
do segmento vertebral afetado na fase mais terminal do crescimento (Serra, 2001).
Quando falamos em objetivos deste tipo de tratamento, temos de ter em conta aquilo que
queremos obter e/ou evitar para os pacientes onde a sua própria vontade e opinião ganham
destaque. Segundo (Negrini et al., 2018), os objetivos gerais do tratamento conservador
da escoliose idiopática podem ser divididos em dois grupos: morfológicos e funcionais.
O primeiro está relacionado com a estética, enquanto ambos estão relacionados à
qualidade de vida dos pacientes, bem-estar psicológico e incapacidade.

Assim, os principais objetivos da intervenção da escoliose serão:

• Parar a progressão da curva;


• Melhorar a função respiratória;
• Diminuir a dor, se for o caso;
• Melhorar as atividades da vida diária.

Fig.1 Esquema como guia de intervenção para a escoliose.


➢ Ortóteses

A terapia com ortóteses é a mais comum forma e tratamento conservador. As ortóteses


são normalmente recomendadas em pacientes de esqueleto imaturo e com curvas entre os
25º - 40º ou se houver uma progressão da curva com mais de 5º consecutivos nas consultas
de acompanhamento. Mas também não são indicados em pacientes cujo esqueleto já seja
maturo e o ângulo de Cobb seja maior que 50º.

Este tipo de pacientes deve ser avaliados a cada 6 meses. As ortóteses são usadas
continuamente até que seja concluído o pico de crescimento: sinal de Risser 4 ou 2 anos
após a menarca das meninas e sinal de Risser 5 para os meninos. *

A classificação de Risser é usada para classificar a maturidade esquelética com base no


nível de ossificação e fusão das apófises da crista ilíaca. O seu uso clínico é importante
no acompanhamento de crianças e adolescentes com escoliose. Neste sistema, quanto
maior o estágio de Risser, maior a probabilidade de ossificação das cartilagens de
crescimento, especialmente da coluna vertebral, menor a velocidade de crescimento e
menor chance de acentuação da curva da escoliose.

• Estágio 0: nenhum centro de ossificação no nível da apófise da crista


ilíaca
• Estágio 1: calcificação da apófise da crista ilíaca < 25%
• Estágio 2: calcificação da apófise da crista ilíaca de 25-50%
• Estágio 3: calcificação da apófise da crista ilíaca de 50-75%
• Estágio 4: calcificação da apófise da crista ilíaca > 75%
• Estágio 5: ossificação completa e fusão da apófise da crista ilíaca

A ortótese de Boston é a mais usada e bem tolerada, pois é facilmente camuflado pela
roupa. A cinta de Milwaukee é difícil de esconder, menos tolerável e normalmente
reservado para pacientes com curvas torácicas com o ápice acima de T7 ou duplas curvas
torácicas. Os suspensórios são normalmente usados durante 16-23 horas por dia, podendo
ser retirado em algumas atividades, se necessário. Os aparelhos noturnos, fornecem uma
força de correção máxima de flexão lateral durante cerca de 8-10 horas por noite em
pacientes com curvas de 25º a 35º num ápice abaixo de T8. A terapia em ortótese
permanece controversa, os defensores acham benéfico e outros não indicam qualquer tipo
de diferença. O paciente desempenha um papel importante na eficácia do uso de ortóteses.

Assim, as ortóteses:

• São destinados a impedir o “colapso” escoliótico durante o restante crescimento


e estabilização cirúrgica da curva;
• Para a evolução da escoliose em 70% dos casos;
• Devem ser usadas 23h por dia durante 2 ou 3 anos;
• No entanto dependem da cooperação do paciente e;
• Não corrigem em definitivo a escoliose.

*A classificação de Risser é usada para classificar a maturidade esquelética com base no


nível de ossificação e fusão das apófises da crista ilíaca. É usado clinicamente no
acompanhamento de crianças e adolescentes em desenvolvimento com uma condição
escoliótica. Nesta classificação, quanto maior o grau, maior a probabilidade de
ossificação das cartilagens de crescimento, especialmente da coluna vertebral, menor a
velocidade de crescimento e menor chance de acentuação da curva da escoliose.
Classificação:

• Estágio 0: nenhum centro de


ossificação no nível da apófise da
crista ilíaca
• Estágio 1: calcificação da apófise da
crista ilíaca < 25%
• Estágio 2: calcificação da apófise da
crista ilíaca de 25-50%
• Estágio 3: calcificação da apófise da
crista ilíaca de 50-75%
• Estágio 4: calcificação da apófise da
crista ilíaca > 75%
• Estágio 5: ossificação completa e fusão da apófise da crista ilíaca.

➢ Reeducação Postural Global (RPG)

A reeducação postural global considera o sistema muscular de forma integrada,


organizando os músculos em cadeias musculares. A base da técnica é o alongamento das
cadeias musculares encurtadas utilizando posturas.

A reeducação postural global tem mostrado resultados positivos na diminuição do angulo


de Cobb (Nigrini et al., 2018). Este método baseia-se na execução de alongamentos
posturais ativos, controlo motor, correção postural e propriocepção. O treino é pensado
com base na morfologia corporal do utente e sintomatologia, no estado do sistema
muscular e na avaliação da redutibilidade da curva (testada através da correção manual e
autocorreção da curva) (Dupuis et al., 2018)

Este método assenta em três princípios peculiares, nomeadamente a causalidade,


globalidade e individualidade.
Fig.2 Exemplos de posturas utilizadas na RPG.

A reeducação é também dividida em fases:

❖ Consciencialização – das alterações corporais.


❖ Corretora - equilibrar as tensões de todos os músculos que sustentam a coluna.
❖ Integração – do novo esquema corporal.
❖ Aconselhamento – ergonomia, atividades da vida diária, etc.

Segundo um estudo em pacientes com escoliose estrutural, a técnica de RPG produziu o


efeito desejado, pois alonga os músculos encurtados, melhora o equilíbrio postural e
diminui a compressão dos pulmões, facilitando o processo respiratório. (Quintelo et al.,
2013)

Também foi observado num estudo em adolescentes com escoliose não estrutural, que a
técnica RPG foi extremamente eficaz para a redução da curva escoliótica e do nível de
dor, promovendo uma melhoria funcional do aspeto corporal. (Agulhon et al., 2013)

➢ Eletroterapia

Ao nível do alívio da dor recorre-se frequentemente à Eletroterapia, nomeadamente


TENS. Segundo Kitchen, a TENS é a corrente de eletroterapia mais utilizada para aliviar
a dor uma vez que é não invasiva, fácil de administrar e tem poucas contraindicações
(Kitchen, 2003).

Utiliza-se TENS convencional de modo a (Kitchen, 2003):

• Produzir uma parestesia elétrica confortável;


• Produzir uma mínima atividade muscular;
• Aplicar continuamente quando o paciente tiver dores;
• Atuar diretamente sobre o local de dor (dermátomos).

➢ Klapp

O Método de Klapp consiste no alongamento e fortalecimento da musculatura do tronco


através de exercícios em posições de gatas, de joelhos e de reptação, semelhantes aos
quadrúpedes, e em assimetria, utilizando assim, exercícios em quadrupedia. De acordo
com o segmento em que se pretende intervir. Estes exercícios podem ser realizados em
lordose ou em cifose. (Quintelo et al., 2013)

Para fazer a seleção dos exercícios é, então, necessário avaliar o tipo de curva, onde se
localiza e qual a concavidade, com o objetivo de desfazer, ou corrigir a curvatura. Desta
maneira, é fácil perceber que se trata de uma correção dinâmica. A correção é executada
sempre do lado da convexidade. Esta técnica permite que o paciente tenha consciência
dos novos posicionamentos, de modo a corrigir a sua postura nas suas AVD’s.

Alguns exercícios de Klapp utilizados na intervenção à escoliose: 1) Lateral crawl; 2)


Horizontal sliding; 3) Crawl posture near the ground; 4) Bunny hopping; 5) Arm turn; 6)
Big arch; 7) Lateral crawl near the ground; 8) Big curve.
➢ Método de Lyon

O método de Lyon, é um tratamento utilizado na fisioterapia que inclui a mobilização 3D


da coluna, mobilização do ângulo da escoliose lombar, educação do paciente e AVD’s,
incluindo correção da posição sentada. O tratamento é determinado pelo tipo de escoliose
(Berdishevsky et al., 2016). Os objetivos deste método são a motivação melhorada com
reforço, educação do paciente, incluindo consciência de defeitos posturais e aumento do
alcance de movimento, controlo neuromuscular da coluna vertebral, a coordenação,
estabilização do tronco, força muscular, respiração e ergonomia. (Dupuis et al., 2018)

Este tipo de abordagem no tratamento, não é suportada por evidências científicas nos
casos em que o ângulo de Cobb seja menor que 20º. (Berdishevsky et al., 2016).

O método de Lyon baseia-se em: não fazer extensão da coluna durante o exercício,
melhorar a cifose torácica com lordose da coluna lombar, corrigir o plano frontal,
estabilização da core (região abdominal), propriocepção, mobilização segmentar e
equilíbrio/ estabilização.

Este método dá grande enfase a exercícios com a ortótese (colete), para encorajar o
equilíbrio, a força muscular e resistência aquando do seu uso.

Os exercícios principais deste método são:

• Em decúbito ventral, Hiper cifose com uma almofada.


• Rolar, em posição fetal também com uma almofada e rotação lateral numa bola
em cifose;
• Sentar, com ajustes da coluna lombar e mobilização em bola.

➢ Método de Schroth

Este método inclui mobilização passiva para mobilidade e flexibilidade, quer da costela,
quer da coluna torácica para mobilidade e flexibilidade antes dos exercícios propriamente
ditos. A ativação muscular é feita em músculos que melhorem a correção angular, tais
como iliopsoas, o quadrado lombar e o eretor da espinha. (Quintelo et al., 2013)

4 dos exercícios mais comuns utilizados neste método são:


• Exercícios “Pezziball” - trabalha o alongamento e a ativação muscular, dos
músculos do tronco, que força uma convexidade “para a frente e para dentro” e as
concavidades “para trás e para fora”
• Exercícios deitados - corrigem a curva torácica com tração de ombro e contra
tração de ombro, e a curva lombar com ativação dos iliopsoas
• Exercícios de sela - são uma forma eficaz de fortalecimento muscular, que ajuda
a alongar a concavidade torácica.
• Exercícios músculo-cilíndricos - ativam o quadrado lombar, para corrigir a curva
lombar contra gravidade

Todos estes exercícios podem ser usados em qualquer ângulo da curva.

Alguns exemplos deste tipo de exercícios:

Ex. de realização de um exercício: https://www.youtube.com/watch?v=leWNzAtF560

➢ Método Científico Italiano

O Método Científico Italiano tem como um dos objetivos primários a estabilização do


tronco, ou seja, a estimulação de músculos que auto corrigem a posição e alinhamento da
coluna ao longo das atividades do dia a dia. O uso de mecânicas respiratórias, ativação
muscular, e mobilização ajudam com os movimentos corretivos.

Este método não tem um exercício principal estabelecido, mas sim um aumento na
dificuldade, na qual o utente será desafiado a manter a estabilidade da coluna, com
objetivo de melhorar e fazer uma autocorreção da sua postura. (Quintelo et al., 2013)
Sendo assim, não existe exercícios especificados do método, mas sim uma escolha
focada no utente.

➢ Pilates

O método Pilates apresenta como principais pressupostos a capacidade de oferecer


fortalecimento, alongamento e equilíbrio postural, proporcionando melhor alinhamento
vertebral, reduzindo tensões musculares e compressões discais, através do controlo
consciente de todos os movimentos musculares do corpo.

Este método é eficazmente atingido, se forem cumpridos os 9 princípios básicos, no qual


este método se baseia, que são:

• Concentração;
• Controlo (melhor coordenação de movimentos);
• Ativação da musculatura profunda da coluna e abdômen;
• Controlo da respiração;
• Alinhamento corporal;
• Leveza (movimentos lentos e com fluidez);
• Precisão dos movimentos;
• Força;
• Relaxamento (Pilates FisioMed).

Neste método procuramos o alongamento ou relaxamento dos músculos encurtados em


demasia e o fortalecimento daqueles que estão estirados ou enfraquecidos, de forma a
atingir uma postura correta.

A restrição para a prática de Pilates baseia-se no grau da lesão, na intensidade dos


sintomas e nos fatores adicionais à escoliose (ex. osteoporose) e na capacidade de
execução dos exercícios pelo paciente. Não deve haver sobrecarga ou dor, pois o objetivo
é dar conforto e estabilidade ao paciente. (Dupuis et al., 2018)

Os exercícios utilizados pelo pilates são uma amálgama dos mencionados previamente
nesta síntese, pelo que junta os mesmos e compila-os num plano determinado e fluido.
➢ Propriocepção

No que toca à propriocepção fizeram-se testes com vários indivíduos saudáveis e que
eram afetados por escoliose. Avaliou-se este parâmetro relativamente aos membros
superiores e inferiores.

No que toca aos primeiros os indivíduos escolióticos apresentam uma assimetria


significativa entre os membros direito e esquerdo no seu limiar de deteção do movimento
articular e na capacidade de reprodução angular aos quais a articulação do cotovelo tinha
sido previamente posicionada. (Dupuis et al., 2018)

Não se verificou erros na deteção de movimento, mas foi observada uma ligeira assimetria
nos ensaios de reprodução angular, no entanto os resultados foram inferiores à metade
obtida pelos indivíduos escolióticos. (Negrini et al., 2018) O desempenho dos membros
bilaterais foi designado bom e mau para ambos os grupos, sendo o membro bom o que
obteve melhor resultado. Por fim, houve uma diferença elevada entre o resultado dos
membros bons e maus dos indivíduos afetados e controlo tal como mencionado
anteriormente.

Relativamente aos membros inferiores a capacidade de reprodução angular era díspar


entre membros e deficitária quando comparada com os indivíduos saudáveis. Houve
também um défice na deteção da alteração angular ao movimento nos joelhos, embora
não muito significativo. (Negrini et al., 2018) Não foram medidas diferenças
significativas nos parâmetros de marcha entre indivíduos escolióticos e saudáveis. Os
resultados destes estudos implicam, mas não localizem, um défice neurológico em
doentes escolióticos.

Síntese realizada por:

Fernando Oliveira nº10200204

Henrique Gonçalves nº10200258

João Pires nº10210960

Marcelo Ribeiro nº10180377


Referências Bibliográficas:

Berdishevsky, H., Lebel, V. A., Bettany-Saltikov, J., Rigo, M., Lebel, A., Hennes, A.,
Romano, M., Białek, M., M’hango, A., Betts, T., de Mauroy, J. C., & Durmala, J.
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major schools. Scoliosis and Spinal Disorders, 11(1), 1–52.
https://doi.org/10.1186/s13013- 016-0076-9

Burton, M. S. (2013). Diagnosis and treatment of adolescent idiopathic scoliosis.


Pediatric Annals, 42(11), 224–228. https://doi.org/10.3928/00904481-20131022-09

Dupuis, S., Fortin, C., Caouette, C., Leclair, I., & Aubin, C. É. (2018). Global postural
re-education in pediatric idiopathic scoliosis: a biomechanical modeling and analysis
of curve reduction during active and assisted self-correction. BMC musculoskeletal
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Kitchen, S. (2003). Electroterapia - Prática baseada em Evidências (11 ed.). Manole.

Negrini, S., Donzelli, S., Aulisa, A. G., Czaprowski, D., Schreiber, S., de Mauroy, J.
C., ... & Zaina, F. (2018). 2016 SOSORT guidelines: orthopaedic and rehabilitation
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https://www.medicofisiatra.com.br/post/classifica%C3%A7%C3%A3o-de-risser

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