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Nº 9 Elzo Nivaldo Ferreira L.

de Carvalho

Os Princípios Respeitantes à Actividade Administrativa

Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos

Os serviços públicos como modo de desempenho de funções administrativas


necessárias à coletividade, a sua lógica assenta na constância dos anseios da coletividade de
tal maneira que, o seu funcionamento deve ser regular e contínuo, ou seja, a continuidade
dos serviços públicos deve ser mantida, sejam quais forem as circunstâncias, mesmo em
caso de greve, estado de sítio ou de emergência, guerra etc.

Princípio da Proporcionalidade
O princípio da proporcionalidade segundo o professor Freitas do Amaral “é o
princípio segundo o qual a limitação de bens ou interesses privados por atos dos poderes
públicos deve ser adequada e necessária aos fins concretos que tais atos prosseguem, bem
como tolerável quando confrontada com aqueles fins”, ou seja, este princípio impele a
Administração, com as suas decisões, a provocar a menor lesão de interesses privados
compatível com a prossecução do interesse público, ou seja no exercício da actividade
administrativa impõe-se uma limitação ao poder discricionário da Administração Pública,
segundo o disposto no art. 5º do D.L. 16A/95 de 15 de Dezembro (NPAA), este Princípio
assume três dimensões: a razoabilidade, necessidade (proibição dos excessos) e a
adequação.

a) A razoabilidade (equilíbrio) como forma de ponderação dos interesses públicos e


dos direitos e interesses legítimos dos particulares em confronto, ou seja, a
razoabilidade proíbe que os custos da atuação administrativa escolhida como meio
de prosseguir um determinado fim sejam manifestamente superiores aos benefícios
que sejam de esperar da sua utilização.

b) Necessidade (ou proibição de excessos) impõe, a administração no seu


relacionamento com os particulares, a adopção de conduta moderada possível, na
prossecução de um fim público, sempre que tiver ao seu dispor diversos meios,
igualmente adequados, seja escolhido o menos lesivo para os interesses públicos e,
ou privados envolvidos.

c) A adequação implica que, a tomada de medidas por parte da administração sejam


idóneas ou aptas à obtenção da finalidade eleita.

A preterição de qualquer uma das três dimensões significa a preterição global do


princípio da proporcionalidade: assim, para que a atuação administrativa não seja

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desproporcional, ela não pode ser; nem inadequada, nem desnecessária, nem desrazoável.
Perante a preterição de uma delas, não vale sequer analisar as demais.

O princípio da proporcionalidade é uma importante conquista dos cidadãos no


sentido da melhoria da eficácia da fiscalização do exercício dos poderes discricionários, na
medida em que permite um controlo objetivo destes, bem mais operativo do que o controlo
subjetivo, restrito à busca dos motivos determinantes da decisão, no quadro da investigação
do desvio do poder.

Princípio da Imparcialidade
O princípio da imparcialidade encontra-se consagrado no nº 1 do art. 198º da CRA e
no art. 6º do D.L. 16A/95 de 15 de dezembro (NPAA).

O princípio da imparcialidade impõe “que os órgãos e agentes administrativos ajam


de forma isenta e equidistante relativamente aos interesses em jogo nas situações que
devem decidir ou sobre as quais se pronunciem sem carácter decisório”.

Este princípio inscreve-se, também, no relacionamento da Administração Pública


com os cidadãos, procura assegurar que a tomada da decisão administrativa leve em
consideração todos os interesses, públicos e privados relevantes e evitar a prossecução de
um interesse público que se confunda com quaisquer interesses privados com que a
actividade administrativa possa contender ou possa se envolver. O princípio da
imparcialidade implica que a administração pública não pode tomar partido, ou seja deve
favorecer em prejudicar especialmente nenhum interesse privado; para reduzir os riscos de
tal tratamento privilegiado, (positivo ou negativo), impõe o afastamento dos titulares dos
órgãos e agentes da Administração Pública da resolução de assuntos susceptíveis de
afetarem seus interesses privados enquanto cidadãos.

A projeção prática deste princípio é assegurada pelas disposições combinadas dos


art. 19º a 26º do D.L. 16A/95 de 15 de dezembro (NPAA) que se concretiza nos
impedimentos e nas escusas ou suspeições. Os impedimentos consubstanciam situações de
proibição de intervenção, pois nos termos do art. 19º do diploma legal acima referido, é
vedado ao titular ou funcionário da Administração Pública intervir em procedimento
administrativo ou em atos de contrato da Administração Pública, quando por exemplo este
tenha interesse, por si ou como representante de outra pessoa, ou ainda, quando por si ou
como representante de outra pessoa, nele tenha interesse o seu cônjuge, algum parente ou
afim em linha reta ou até ao 2º grau de linha colateral, bem como qualquer pessoa com
quem viva em comunhão de mesa e habitação.
As escusas ou suspeições são situações em que não existe proibição absoluta de
intervenção do órgão ou agente administrativo, somente existe a faculdade das partes
envolvidas no procedimento, fundadas as suspeitas de isenção ou retidão da conduta do

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órgão ou funcionário da administração, pedir dispensa ou recusar que este intervenha no


procedimento, por exemplo a existência de uma inimizade grave ou grande intimidade entre
o titular do órgão ou agente e a pessoa com interesse direto no procedimento, ato ou
contrato.

suma, os impedimentos constituem incapacidade de exercício do titular do órgão ou


do agente da administração, ao passo que, a escusa ou a suspeição o titular do órgão ou o
agente administrativo possui capacidade de exercício, mas este tem a faculdade de pedir a
dispensa ou, ainda, o particular recusar que o mesmo decida sobre o assunto em causa.

Princípio da Igualdade
O princípio da igualdade está consagrado no art. 23º e no nº 1 do art. 198º ambos da
CRA. Este princípio determina a necessidade de a Administração tratar igualmente os
cidadãos que se encontrem em situações objetivas iguais e desigualmente os que se
encontrem em situações objetivas distintas, assumindo duas dimensões distintas, mas
complementares (dimensão igualitária e dimensão diferenciadora).

Não impedindo o mesmo que a administração introduza desigualdades entre os


destinatários da sua atuação, pois muitas vezes, a prossecução do interesse público obriga a
este tratamento desigual, por exemplo, para a satisfação da necessidade de todos na
existência de um equipamento público, um ou vários particulares podem ser privados da
sua propriedade por via da expropriação, dele decorre que a diferença de tratamento
radiquem em critérios objetivos que apresentem uma conexão bastante com os fins a
prosseguir com a regulação jurídica e nela tenham uma justificação específica (princípio do
livre arbítrio).

Do mesmo princípio decorre, ainda, a necessidade de se garantir equidade na


repartição dos encargos e benefícios decorrentes das medidas administrativas e a
necessidade do estabelecimento de medidas de compensação de sacrifícios, quando a
Administração, por razões de interesse público, impõe a um administrado sacrifícios
especiais violadores do princípio da igualdade perante encargos públicos (no caso das
expropriações, a reposição da igualdade é efetivamente por via do pagamento da
indemnização). Em suma, o princípio da igualdade pode e deve considerar-se um princípio
de justiça social

Princípio da Boa Fé
O princípio da boa-fé é originário do direito privado (art. 227º C.C) e exprime hoje
um vector geral de todo o ordenamento jurídico. No exercício da actividade administrativa
e de todas as suas formas e fases, a Administração Pública e os particulares devem agir e

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relacionar-se segundo as regras de boa fé. O princípio da boa-fé, a administração pública


não deve atraiçoar a confiança que os particulares interessados puseram num
comportamento seu, abarcando o princípio da proteção da confiança e o princípio da
segurança jurídica, a que o professor João Caupers, chama de limites negativos, tal que, a
Administração Pública, também não deve iniciar o procedimento legalmente previsto para
alcançar um certo objetivo com o propósito de atingir um objetivo diverso, ainda que, de
interesse, não deve, por exemplo, desencadear o procedimento de classificação de um
imóvel, não pode proteger este, de eventuais agressões, mas para ganhar tempo, até se
encontrar em condições de proceder à respectiva expropriação por utilidade pública.

Evolução da Administração Pública no Brasil


A evolução da administração pública em nosso país passou por três modelos
diferentes: A administração patrimonialista, a administração burocrática e a administração
gerencial. Essas modalidades surgiram sucessivamente ao longo do tempo, não
significando, porém, que alguma delas tenha sido definitivamente abandonada.

- 1500 – Brasil é colônia de Portugal.

O Brasil era constituído pelas capitanias hereditárias, um imenso território com


ausência de autoridade, pois a autoridade estava em Portugal.

Após a tentativa fracassada de estabelecer as Capitanias Hereditárias, a coroa portuguesa


estabeleceu no Brasil o Governo-Geral. Era uma forma de centralizar e ter mais controle da
colônia.

Do rei ao governador-geral (vice-rei), aos capitães (capitanias) e às autoridades


municipais perpassava uma complexa, confusa, tumultuária e fluída hierarquia. O gabinete
real de muitos auxiliares, casas, conselhos e mesas constituíam o domínio absoluto do
monarca.

Tentava-se limitar a ação dos prepostos da Coroa com a minudência dos


regulamentos que eram repetitivos, superpostos, contraditórios e confusos. Como estatuíam
instituições simétricas às da administração da metrópole, pecavam pelo artificialismo
mimético que tornava as normas supérfluas e ineficazes. O formalismo das regras, o braço
curto da autoridade e a corrupção generalizada ensejavam o autoritarismo daqueles que
deviam se impor aos súditos entregues ao abandono, com os próprios meios que deles
conseguissem extrair.

- 1808 – Vinda da família real portuguesa.

O fato é que a transferência da corte e mais tarde a elevação do Brasil a parte

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integrante do Reino Unido de Portugal constituíram as bases do Estado nacional, com todo
o aparato necessário à afirmação da soberania e ao funcionamento do autogoverno, que se
consolidou posteriormente com a independência.

Todo um aparato burocrático, transplantado de Lisboa ou formado aqui, em paralelo


à antiga administração metropolitana, teve que ser montado para que a soberania se
afirmasse, o Estado se constituísse e se projetasse sobre o território, e o governo pudesse
tomar decisões, ditar políticas e agir.

a declaração da independência dá se início a uma demarcação de poderes, mas o


Estado ainda era patrimonial.

No patrimonialismo o Estado funciona como uma extensão do poder do soberano. A


contratação do estado continuava sendo para os amigos do rei, auxiliares e servidores
possuem status de nobreza real. Os cargos são considerados prebendas. A res publica não é
diferenciada da res principis e tem a corrupção e o nepotismo inerentes a esse tipo de
administração.

Constituía um Estado unitário e centralizador, cujo território era dividido em


províncias, que substituíam as antigas capitanias. Os poderes políticos eram quatro —
Legislativo, Moderador, Executivo e Judicial. Cada província era dirigida por um
presidente e em cada uma delas havia também um conselho geral, cujos membros eram
eleitos juntamente com a representação nacional. O monarca exercia o Poder Moderador,
com o apoio do Conselho de Estado, órgão de caráter consultivo e, ao mesmo tempo, o
Poder Executivo, auxiliado pelos seus ministros de Estado. O Poder Legislativo era
exercido pela Assembleia Geral, formada pela Câmara dos Deputados e pela Câmara dos
Senadores ou Senado do império. O Poder Judicial era exercido pelos juízes de direito e
pelos juízes de paz, para as tentativas de conciliação prévias a qualquer processo.

Com o tempo, a abolição da escravatura suprimiu uma das bases de sustentação da


ordem imperial. O problema da autonomia das províncias contrapunha os centralizadores e
os partidários da descentralização. E por fim a Guerra do Paraguai trouxe como
consequência o desequilíbrio das finanças públicas, o fortalecimento do papel político do
Exército e a exposição da contraditória condição do soldado escravo, contribuindo para
desestabilizar ainda mais o governo.

Nesse ambiente político, germinava um incipiente movimento republicano, que se


dividia em dois polos — o federalismo e o liberalismo. As críticas mais comuns recaíam
sobre a centralização excessiva do regime monárquico, que restringia a liberdade política e
econômica das províncias.

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- 1889 – Proclamação da República (República Velha)

A partir de 1889 com a Proclamação da República se iniciou a tentativa de


implantação de um estado liberal, pois já havia, por parte da burguesia, vários Estados
buscando a liberdade financeira. A implantação da República não parte das camadas
sociais, a revolução burguesa foi feita pelos grandes latifundiários que queriam exportar a
produção (política agroexportadora).

A proclamação da República não alterou profundamente as estruturas


socioeconômicas do Brasil imperial. A riqueza nacional continuou concentrada na
economia agrícola de exportação, baseada na monocultura e no latifúndio. O que se
acentuou foi a transferência de seu centro dinâmico para a cafeicultura e a consequente
mudança no polo dominante da política brasileira das antigas elites cariocas e nordestinas
para os grandes cafeicultores paulistas.

Mesmo após a proclamação da República o poder continuou na mão dos mesmos,


pois os grandes latifundiários traziam consigo a ideia de estado patrimonial, uma das
características da República Velha, sendo assim o Estado não conseguiu promover grandes
mudanças. Simplesmente afastaram o rei, mas mantiveram as mesmas políticas. Diferente
do cenário mundial que durante esse período era híbrido.

A República Velha durou cerca de 40 anos. Aos poucos, foi se tornando disfuncional
ao Brasil que se transformava, pela diversificação da economia, pelo primeiro ciclo de
industrialização, pela urbanização e pela organização política das camadas urbanas.

A eleição do paulista Júlio Prestes para suceder o também paulista Washington Luís,
derrotando o gaúcho Getúlio Vargas, desencadeou o rompimento do pacto com os mineiros
e com as demais oligarquias estaduais, abrindo espaço para mais uma intervenção do
Exército — a Revolução de 1930.

- Revolução de 1930

A chamada “Revolução de 1930” representou muito mais do que a tomada do poder


por novos grupos oligárquicos, com o enfraquecimento das elites agrárias. Significou, na
verdade, a passagem do Brasil agrário para o Brasil industrial. Para compreender essa
transformação e a emergência do modelo de crescimento que presidiu o desenvolvimento
nacional no século XX, é preciso entender como se dava a inserção do país na economia
internacional e como o Brasil viveu a Grande Depressão.

Estado e mercado, autônomos com relação à ordem do sagrado e à dominação


patriarcal e cada vez mais separados entre si, constituem as bases da formação social
moderna. Seu desenvolvimento, consideradas as características do contexto local, se dá no

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sentido da racionalização. A burocracia está no horizonte da administração pública que se


consolida e atualiza

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