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PROVA 1 – BIOQUÍMICA MOLECULAR E CELULAR

QUESTÕES

01. Quais as consequências esperadas para o paciente caso um quadro de desidratação


tente ser revertido apenas com a administração de água pura?
RESPOSTA: De início, haveria diminuição da osmolaridade do líquido
extracelular (LEC), o que promove diferenças nos gradientes de concentração
entre a célula, agora hipertônica, e o LEC, hipotônico. Assim, a água se
moveria, por osmose, em direção às células, inchando-as e diminuindo também
sua osmolaridade. Para tanto, em vez de reidratar o paciente, o quadro de
desidratação pioraria, haja vista a grande interferência na homeostase das
concentrações fisiológicas.

02. A respiração de Kussmaul é um sinal presente em pacientes com diabetes


descompensada. Explique esse fenômeno.
RESPOSTA: A diabetes descompensada pode ser caracterizada pelo aumento
da produção de corpos cetônicos (acetona, β-hidroxibutirato e acetoacetato)
em decorrência da maior degradação de ácidos graxos, por complicações no
metabolismo da glicose. Isso favorece uma acidose sanguínea, para tanto,
mediante o tampão do bicarbonato, o organismo tenta estabelecer um
mecanismo compensatório eliminando H+ pela expiração de CO2, o qual é
formado pelo movimento do equilíbrio no sentido de produção, com o
bicarbonato (HCO3-) ligando-se aos prótons em excesso, de ácido carbônico
(H2CO3), cujo aumento de concentração, por sua vez, levará à formação de CO2
e água. Então, a respiração do indivíduo com diabetes descompensada torna-se
profunda, rápida e difícil, caracterizando a de Kussmaul.
03. Explique como atua e qual a importância fisiológica de cada um dos tampões
fisiológicos estudados em sala.
RESPOSTA: Tampão bicarbonato-ácido carbônico: contribui para a homeostase
regulando os níveis de H+ no plasma e no interstício. Inicialmente, tem-se uma
alta formação de CO2 pela bioenergética celular, este CO2, juntamente com a
água, é convertido pela anidrase carbônica em ácido carbônico fraco (H2CO3)
que se dissocia em bicarbonato (HCO3-) e H+. Eles permanecem em equilíbrio
dinâmico até a concentração de H+ se alterar. A partir disso, o tamponamento
move a produção a depender se o meio está em acidose ou alcalose. Na
acidose, por exemplo, o bicarbonato combina-se com o H+, formando H2CO3,
cujo aumento da concentração moverá o equilíbrio no sentido de formação de
CO2, que, por sua vez, será expirado pelas vias aéreas. Esse mecanismo
permite uma regulação da acidose sanguínea, hiperventilando, nos indivíduos
com diabetes descompensada.
Tampão do fosfato: atua regulando a homeostase pelo tamponamento do pH
nos meios intracelular, urinário e também plasmático. Esse mecanismo
acontece a partir da dissociação do ânion fosfato inorgânico (H2PO4-) em H+ e
a base conjugada HPO4-, aumentando ou diminuindo a concentração de H+ no
meio. Além disso, ele está presente em todos os compostos com fosfato,
incluindo, ATP e a glicose-6-fosfato.

Tampão do H: acontece mediante excreção de hidrogênio do meio intracelular,


adequando a diferença do potencial de membrana essencial ao organismo,
como para a condução dos impulsos nervosos. Neste sentido, quando há
liberação de H+ para o meio extracelular, a negatividade intracelular é
compensada com a entrada de Na+. Por outro lado, se a célula se tornar muito
alcalina, bicarbonatos saem da célula, sendo compensados com a entrada de
íons Cl-.
Para as células excitáveis do nosso organismo, neurônios, miócitos cardíaco e
esquelético, é imprescindível manter a homeostase do pH. A acidose
sanguínea, por exemplo, significa coma, pois há maior transporte de
bicarbonato para o exterior com concomitante Cl- para o interior, causando
depressão do neurônio. Na alcalose, por sua vez, há maior transporte de próton
para o meio extracelular e de Na+ para o intracelular, promovendo um estado
de excitação no neurônio característico da convulsão.

Tampão das proteínas: citoplasmáticas: há proteínas que atuam na regulação


homeostática do pH intracelular. Por exemplo, a hemoglobina das hemácias, a
partir do aminoácido histidina, tem a capacidade de funcionar como tampão,
recebendo e doando prótons de acordo com a necessidade do meio.
Plasmáticas: no plasma sanguíneo, encontramos outras proteínas que
controlam a homeostase, entre elas, temos a albumina que também possui
aminoácidos que formam uma cadeia capaz de atuar como tampão.

Tampão da amônia: a amônia é excretada pelo fígado no catabolismo das


proteínas, na filtração renal, ela atua também regulando a homeostase do pH
urinário. Neste sentido, pode se ligar aos íons H+ em excesso, formando o íon
amônio ou pode liberar mais H+ pelo íon NH4+, a depender da necessidade do
meio. A reabsorção ou não de substâncias no processo de filtração renal está
condicionada ao seu estado protonado ou não, pois a membrana celular
dificulta a passagem de íons, forma desprotonada, por ela. Portanto, a excreção
de substâncias é mediada pelo sistema tampão da amônia, além do fosfato.

04. Utilizando o mecanismo de cinética enzimática explique como algumas células do


nosso corpo regulam a utilização de glicose.
RESPOSTA: A regulação do uso da glicose pelas diferentes células do nosso
organismo relaciona-se, principalmente, ao Km enzimático. Este ponto
característico significa a concentração na qual se estabelece a metade da
velocidade máxima da reação. Quanto menor o Km de uma enzima, mais
eficiente esta enzima funcionará em baixas concentrações de substrato. Neste
sentido, o menor Km, relativo ao de uma hexoquinase, pertence às hemácias,
dado seu metabolismo anaeróbico, que exige um uso constante e exclusivo de
glicose para um funcionamento celular adequado. Em comparação, no fígado,
existem as glicoquinases, que também transformam a glicose em
glisose-6-fosfato, as quais, devido ao seu Km maior em comparação com o da
hexoquinase dos eritrócitos, precisam de concentrações mais elevadas de
substrato para estabelecer uma velocidade eficiente. Portanto, mesmo em
situações de jejum prolongado, as hemácias permanecem metabolizando a
glicose com semelhante rapidez.

05. Descreva uma situação clínica em que os conhecimentos sobre inibição competitiva
podem ser empregados e outra em que a inibição incompetitiva podem ser usados.
RESPOSTA: Inibição competitiva: um indivíduo intoxicado por metanol, álcool
frequentemente presente em bebidas falsificadas que não passaram por
destilação adequada, por exemplo, pode ter os efeitos da intoxicação revertidos
por uma maior administração do próprio etanol, que competirá com o metanol
pelo sítio catalítico da enzima envolvida. A metabolização do etanol, então,
aumentaria, enquanto o metanol seria excretado pela via renal.
Inibição incompetitiva: Uso da Ciclosporina A para a prevenção de reações
inflamatórias após transplantes, atuando como agente imunossupressor a
partir de inibição incompetitiva da proteólise dos proteassomos, prevenindo a
ativação de NF-kB. O NF-kb é um complexo proteico envolvido na resposta
celular a estímulos, principalmente estressantes, como citocinas, radicais
livres, oxidação de LDL, entre outros. Assim, a droga caracteriza-se pela
apresentação de propriedades anti-inflamatórias capazes de prevenir rejeição
de órgãos.
06. Utilizando a via de transdução de sinal de sua escolha, cite exemplos de mecanismo
de regulação proteica.
Na via da fosfolipase C, a regulação proteica pode ser descrita por dois
mecanismos principais: liberação de Ca2+ no citosol, mediante ação do
trifosfato de inositol, formando o complexo cálcio-calmodulina, o qual, por sua
vez, ativa a proteína quinase cálcio-calmodulina dependente (CaMKII). O
trifosfato de inositol advém da quebra de um lipídio de membrana,
fosfatidil-inositol-4,5-bifosfato (PIP2), pela fosfolipase C, que também libera
diacilglicerol (DAG), o qual se ligará à proteína quinase C (PKC) na membrana.
Além disso, o cálcio liberado pode também seguir a rota de ativação da PKC, a
qual é ativada apenas pela ligação do cálcio ao complexo DAG + PKC. Essa via
pode regular, por mecanismo de fosforilação, a atividade de diversas proteínas
de acordo com o sinal recebido, a título de exemplo, a acetilcolina, um
neurotransmissor que está relacionado com a memória, aprendizado e sono.

07. Utilizando os conhecimentos de vias de transdução de sinal explique de que forma o


glucagon e a epinefrina regulam a glicemia.
RESPOSTA: A resposta do organismo à diminuição dos níveis de glicose
sanguínea pode vir das células pancreáticas, com a liberação do glucagon, e
da glândula adrenal, com a liberação de epinefrina. Ambos hormônios se
direcionam a receptores acoplados à proteína G, principalmente, nas células
hepáticas. Com a ligação do hormônio ao receptor, a subunidade alfa da
proteína G troca sua guanosina difosfato (GDP) por guanosina trifosfato (GTP).
Essa mudança permite a desconexão da alfa das subunidades beta e gama,
indo ao encontro da adenilato ciclase na membrana plasmática. Esta, por sua
vez, converte ATP em AMP cíclico, segundo mensageiro que, no citosol, ativa
uma proteína quinase A (PKA) responsável pela fosforilação da enzima
fosforilase do glicogênio. A partir da ativação desta enzima, o glicogênio será
quebrado, liberando glicose para o sangue, aumentando a glicemia.

08. Mencione dois usos terapêuticos das vias de transdução de sinal estudadas em sala.
RESPOSTA: Choque anafilático revertido por administração de
adrenalina/epinefrina que agirá rapidamente pela via da adenilato ciclase;
Estudo das vias de sinalização, principalmente, as relacionadas com a
regulação da expressão gênica, como a da tirosina quinase (RTK), para
descoberta de terapias contra o câncer.

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