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4ª Semana

Narrativa Reflexiva

Rute Isabel da Silva Pestana


3º ano
Educação Básica
Nº 20226

Ano letivo 2022/23


Ramada
 4ª semana de observação

“Ó queixinhas”

Cheguei mais cedo á sala de aula para organizar os materiais manipuláveis


para a implementação da minha atividade. Ás 9 horas e 30 minutos, entra a
turma. Cumprimentam-me com um bom dia coletivo e abraços que alguns
deles adoram dar e receber. O D abordou-me muito queixoso:

“D- Professora Rute, o M está só a dizer asneiras. (diz o D com ar de


reprovação),
Rute - que asneira é que ele disse? ( denoto que está muito incomodado para me
dizer a tal asneira).
D - mijar. (sussurra-me ao ouvido),
O M ao ouvir a queixa do D, intervêm.
M- és muito queixinhas, a minha mãe diz que não se faz queixas dos colegas, é feio e
mijar não é asneira, é ir fazer xixi, não sabes nada”.
Entretanto entra a professora cooperante e os alunos não quiseram conversar sobre
o assunto com a mesma. Nota de campo

Por experiência própria durante a minha prática profissional de auxiliar de


educação, já assisti a inúmeros casos de conflitos devido a queixas por alguém
dizer asneiras. Todas as crianças, a dada altura da sua vida, fazem queixas e
reclamam de algo que não é do seu agrado. Segundo alguns autores, todas
estas situações são absolutamente normais e fazem parte do desenvolvimento
emocional das crianças. Formosinho 1996 (citado por Sobral, 2007, p. 59) afirma
que: “a interação social com os colegas é, segundo Piaget, uma fonte natural de
paradoxo ou de desequilíbrio, que estimula o crescimento social e cognitivo.”
Concordando com o autor, devemos ver o conflito entre as crianças como uma
oportunidade para a criança refletir e se auto conhecer através da descoberta de
soluções e estratégias para que seja capaz de resolver disputas quotidianas de
forma autónoma, ou seja, agindo como atores na resolução dos conflitos.
Do que tenho observado durante estas quatro semanas de estágio, existe uma
clara divergência de ideias e opiniões entre o D e o M e o que para um é uma
asneira, para o outro não é.
Os conflitos são bastante comuns entre as crianças, apesar de nesta turma
não ter observado casos de conflitos graves, no entanto existem alguns
episódios em que as divergências de ideias aparecem, o que é perfeitamente
normal, eles têm cada um a sua personalidade e os seus valores, muitos são
trazidos do seio familiar. O uso de palavrões entre a família muitas vezes é algo
recorrente e a criança vive com a ideia que dizê-los é algo banal e normal.
Segundo Sobral (2014, p.39) “o termo conflito é utilizado para designar inúmeros
fenómenos sociais que sucedem no dia-a-dia, particularmente, acontecimentos
negativos”. No entanto, penso que o conflito apesar de ter uma conotação
negativa, pode trazer vantagens que contrapõem as definições pré estabelecidas
por alguns autores. Existem autores como Johnson & Johnson (1995, citados
por Broadbear & Broadbear, 2000) que encaram o conflito como algo positivo,
podendo este dar oportunidade para que as crianças desenvolvam um conjunto
de competências cognitivas e sociais, que promovem a resiliência, a identidade
social, o aumento do ego, bem como a melhoria das relaçoes e interações.
Normalmente, tento que os próprios intervenientes do conflito resolvam entre
eles e cheguem a uma conclusão sozinhos sem a intervenção de terceiros ou de
um adulto, o que nem sempre se consegue. Confesso que possuo alguma
dificuldade em gerir os conflitos quando as asneiras estão presentes, por um
lado, se der muito ênfase ao acontecimento, sinto que estou a alimentar algo que
é proibido dizer, por outro lado, ignorar não me parece de todo correto. O que
normalmente faço, é conversar com as crianças para tentar perceber a origem
da asneira, se a criança entende o seu significado (o que na maioria das vezes
isso não acontece).
2º dia da semana

Implementação da atividade- história criativa.

O tema desta actividade “História criativa”, surgiu após a observação em sala


de aula em que foi observado que a maioria das crianças apresentava muitas
dificuldades na criação de histórias inventadas com recurso a imagens ou
mesmo de contrução de histórias partindo de frases descontruidas.
Outro dos aspetos que me fez decidir pela escolha deste tema, foi o incentivo
imprescíndivel da professora cooperante para a realização do mesmo.
Neste sentido, achei que a escolha do tema seria uma forma de colmatar uma
parte importante na área do português que de acordo com a professora
cooperante, não tem tido tempo para trabalhar esta área do português.
Para a elaboração desta atividade foi necessário fazer uma recolha das
aprendizagens essenciais do português do 2º ano de 1º CEB para melhor
conseguir implementar a atividade e criar as estratégias necessárias de acordo
com o grupo e a sua dinâmica de estudo. (fig. 1). De acordo com as
Aprendizagens Essenciais, o ensino de português é essencial para que as
crianças ganhem aptidões para a contrução e receção de textos (orais, escritos,
multimodais) e que adquiram conhecimento explícito da língua quanto à sua
estrutura e funcionamento. (AE, p. 2).
Ao longo da prática da actividade, tive como objetivo, desenvolver as
capacidades que os alunos têm para a criação de uma história através de
imagens, estimulando assim a criatividade, o trabalho cooperativo, a aptidão
para a construção de um texto descritivo/narrativo, respeitando as normas da
escrita e da gramática da língua portuguesa.
Imagens das estratégias e do material manipulável usado

Exemplos da história criada passada para o caderno de escrita


Exemplos da história criada passada para o caderno de escrita

Figura 1- estratégias
Figura 2- escolha aleatória das personagens
Desenhos da história criada
A Atividade

O inicio da atividade consistiu numa breve conversa com a turma em relação


aos objetivos e estratégias a implementar para a elaboração da história (fig.1).
Foram assim criados alguns cartões com várias pesonagens, locais e estados
do tempo, que foram colocados em sacos de pano em que as crianças teríam de
tirar aleatóriamente para através do que sair, criar uma história (fig. 2).
Principais desafios e dificuldades

Pontos positivos:

A turma demonstrou grande entusiasmo e criatividade na construção da história


apesar de nem sempre fazer sentido, demonstrando as fragilidades da criação d
textos. Foram bastante participativos, e com muita vontade de falar e expor as
suas ideias dando a sua opinião para a melhoria das ideias dos outros. Existiu
um grande respeito entre os pares, assim como para comigo, o que facilitou os
objetivos pretendidos.

Pontos a melhorar:

A professora cooperante foi sem dúvida um apoio importante durante a atividade.


Pedi para que escrevesse as frases á medida que a turma ía construindo o texto
pois tenho pela consciência que a minha letra manuscrita ainda não é perfeita, e
se fosse eu a escrever as frases no quadro, as crianças não iríam perceber e
perdería tempo a explicar constantemente o que estava escrito. Assim, o auxilio
na escrita da história no quadro foi sem dúvida crucial por parte da professora.
Outro ponto a melhorar e como a professora cooperante afirma no seu relatório,
é sem dúvida o controlo do tempo para a elaboração das atividades que
proponho.

Feedback da turma:

No final da atividade foi feita uma breve reflexão com a turma. Todos gostaram
muito, o entusiasmo em relação á personagem principal (o monstro) foi notória.
Devido á falta de tempo, não foi possível estender prolongar a reflexão coletiva.
O meu Feedback:

A turma revela algumas dificuldades na criação de frases com sentido e o uso


de pontuação adequada. Alguns alunos revelaram muitas dificuldades de diálogo
e timidez e precisaram da minha intervenção e da dos colegas para conseguirem
completar o raciocínio.
Apesar de no inicio da atividade não ter como objetivo a ilustração do texto,
no final da atividade a turma quis ilustrá-la fazendo um desenho. Como
estratégia, pedi a alguns alunos para relerem a história para ver se era
necessário corrigir ortografia, gramática, pontuação ou aperfeiçoar o desenho.
Achei importante, juntamente com cada um corrigir os erros.
 Feedback da professora cooperante

Reflexão do Desempenho

1ªMomento de Estágio

O presente documento visa fornecer algumas informações sobre o desempenho da


aluna estagiária, Rute Pestana, durante este primeiro momento de observação, com o objetivo
de facilitar a avaliação final por parte de todos os orientadores do seu estágio.

A aluna estagiária iniciou o seu estágio na turma do 2ºBC da Escola Básica do 1.º Ciclo
com Jardim de Infância de Casal da Cavaleira, no dia 22 de novembro, cumprindo
semanalmente, nas terças e quartas-feiras, o meu horário letivo.

Num primeiro momento do seu estágio, a aluna observou e registou as relações


institucionais, respeitando a intencionalidade pedagógica, revelando-se assídua e pontual,
disponível para realizar e participar nas tarefas da sala de aula, bem como, outras atividades
promovidas pela nossa escola, tais como, a ida ao Musical “A Cinderela no Gelo”, no Allegro, em
Alfragide. Durante este período de observação, a aluna teve oportunidade de perceber o
funcionamento da turma, a metodologia utilizada, as caraterísticas dos alunos e, os diferentes
ritmos de aprendizagem de cada um. A Rute estabeleceu com os alunos uma relação de empatia
e respeito, integrando-se na turma de forma gradual, demonstrando capacidade de se adaptar
a novas situações. A Rute tem colaborado de forma interativa com a professora cooperante
estabelecendo-se uma relação aberta, de cooperação e de confiança, no sentido de lhe
proporcionar novas aprendizagens fazendo uma análise e reflexão do seu desempenho. Cumpre
sempre o meu horário letivo com bastante empenho e dedicação.

Quanto à sua intervenção pedagógica, a Rute planificou a sua atividade, em articulação


e consonância com a Professora Cooperante, de acordo com as aprendizagens essenciais e o
Perfil do aluno. Na sua primeira atividade de intervenção, a aluna integrou de forma coerente
as atividades nos conteúdos a lecionar, explorando-as de forma lúdica e interativa, promovendo
uma aprendizagem dinâmica e inovadora. Utilizou recursos diversificados criados por si e que
foram propícios à escrita de uma história e da criatividade dos alunos, visto que, os conteúdos
a serem lecionados nesta fase, na área de português, incluem a produção de textos escritos, o
aperfeiçoamento dos mesmos em grupo, bem como, o desenvolvimento do conhecimento da
ortografia e da pontuação. A aluna utilizou uma linguagem adequada, motivadora, clara e
precisa, adaptada à faixa etária. Promoveu uma boa dinâmica de grupo, solicitando a
participação dos alunos que demonstravam mais dificuldades na oralidade e na criatividade para
a formulação de frases. Quanto à organização da sala de aula, a Rute proporcionou um bom
clima de trabalho, com uma boa participação dos alunos, partilhando saberes e construindo
conhecimento de forma colaborativa, mantendo um clima de disciplina na sala de aula, criando
um clima propício ao desenvolvimento do ato educativo. Considero um dos aspetos positivos da
Rute, o facto de, após a realização da história, a aluna verificou, aluno a aluno, a escrita do texto
no caderno diário, pedindo a cada dois alunos para fazerem a leitura do que tinham escrito.
Importa referir que estes anos de escolaridade são cruciais na aquisição dos casos de leitura e,
por isso, é essencial que, neste tipo de tarefas de escrita, os alunos se defrontem com os seus
erros, percebendo como e porque escreveram incorretamente determinada palavra e o que
deveriam ter escrito para posteriormente fazerem a sua correção, ao invés de ser só o professor
a corrigir e a informar o aluno de que errou. Como aspeto a melhorar, a Rute deve fazer uma
melhor gestão do tempo estabelecido para a atividade e o tempo dedicado à tarefa.

No que respeita ao domínio da reflexão e sendo a prática reflexiva uma ferramenta de


desenvolvimento pessoal e profissional, faço sempre as minhas críticas construtivas para que a
Rute pense na sua prática pedagógica e reflita sobre os aspetos a ela ligados, de modo a poder
melhorar a sua prática. Esta reflexão é sempre realizada no final das suas intervenções onde são
abordados os pontos fortes e os fracos e o que precisa de ser melhorado.

A Professora Titular

Mara Alexandra Ribeiro

14/12/2022
 Reflexão da semana

Em relação ao tema abordado no primeiro dia da semana em relação aos


conflitos entre as crianças e a abordagem ao tema das asneiras, não observei
em contexto escolar casos graves de conflitos, algumas queixas mas nada de
grave. Mesmo assim, considero que é necessário intervir que cada vez mais
cedo, para que as crianças tenham consciência do que é permitido dizer dentro
da escola e mesmo fora dela. Assim, penso que é importante, a escola, junto
com as famílias, abordarem este tema com muita cautela, pois é muitas vezes
no seio familiar que a repetição de asneiras é frequente, mesmo que
inconscientemente dito pelos adultos. A criança apropria-se da linguagem
familiar deste que nasce pois é o primeiro contacto que tem com esta. Considero
de extrema impotância alertar pais e educadores em geral para este facto que
cada vez se tem mostrado um problema social.

Uma vez terminada a semana, concluo que os objetivos iniciais da


implementação da atividade “história criativa” obteve resultados positivos,
ficando assim bastante claro, que as crianças assim que iniciam a aptidão da
leitura e da escrita, precisam de ter a oportunidade de criarem histórias a partir
do imaginário e isso só é possivel se o professor disponibilizar diáriamente a
leitura de histórias e a presença assídua dos livros dentro da sala de aula.
Tenho plena consciência que durante a implementação da atividade poderia
ter organizado melhor o tempo para a mesma. Quero salientar que não intervi na
escolha das personagens, nem temas, pois tudo partiu das crianças. Em relação
às aprendizagens efetuadas pelas crianças, penso que o uso de materiais
manipuláveis são uma mais valia para as práticas pedagógicas e como
estratégia para abordar vários temas e temáticas em contexto de sala de aula.
Segundo Reys (1996), os materiais manipuláveis são “objetos ou coisas que o
aluno é capaz de sentir, tocar, manipular e movimentar. Podem ser objetos reais
que têm aplicação no dia-a-dia ou podem ser objetos que são usados para
repressentar uma ideia.” Passos (2004) salvaguarda ainda que “os materiais
manipuláveis são caracterizados pelo envolvimento físico dos alunos numa
situação de aprendizagem ativa” (p.5).
Foi bastante satisfatório observar que a turma adorou a parte em que tinham
de tirar um cartão do saco sem saberem o que ía sair, a expectativa “alimenta”
a curiosidade das crianças o que a meu ver deixou as crianças mais atentas e
interessadas na atividade.
Ainda em relação à atividade implementada, a abordagem da professora e o
seu feedback foi importante para que no futuro como professora possa abordar
os temas com uma melhor preparação prévia, para evitar constrangimentos
temporais que possam acontecer.
 Referências Bibliográficas

 Broadbear, B. & Broadbear, J. (2000). Development of Conflict Resolution


in Infancy and Early Childwood. The International Eletronic Journal of
Health Education, 3 (4), 284-290.

 Sobral, C. (2007). Gestão de conflitos: A educadora de infância como


mediadora de conflitos do quotidiano.

 Sobral, C. (2014). A Investigação-Ação Colaborativa como estratégia de


formação para a mediação de conflitos em contexto de educação de
infância.

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