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Assunto: Direito a Férias em contrato part time

Em resposta à questão que nos coloca, cumpre apresentar algumas considerações:


O direito a férias, mais do que um mero prémio pelo trabalho e assiduidade do trabalhador,
pretende assegurar o direito ao descanso, essencial para a realização da recuperação física e
psíquica, integração na vida familiar e promoção da participação social e cultural do trabalhador,
sem esquecer o implícito respeito das regras de saúde e segurança no trabalho.
Além da sua consagração no texto constitucional (artigo 59.º), o direito a férias é também
acolhido em textos internacionais como a Declaração Universal dos Direitos do Homem (artigo
24.º), o Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos Sociais e Culturais (artigo 7.º), a Carta
Europeia e a Convenção da Organização Internacional do Trabalho n.º 132 de 1970.
Não havendo uma disposição expressa quanto ao direito a férias no caso de trabalhador a tempo
parcial, teremos de recorrer às regras do regime legal geral e, em concordância com o disposto
no artigo 154.º do CT, fazer o seu enquadramento.
O CT prevê a matéria das férias nos artigos 237.º a 247.º.
A lei confere ao trabalhador um período mínimo de 22 dias úteis (artigo 238.º do CT), vencendo-
se este direito no dia 1 de janeiro de cada ano, reportando-se em regra ao trabalho prestado no
ano civil anterior, embora não esteja condicionado à assiduidade ou efetividade de serviço
(artigo 236.º).
Este período de férias corresponde a um período de descanso, no qual é auferida retribuição,
correspondente àquela que o trabalhador auferiria se estivesse em serviço efetivo. Diga-se que
o preceito do artigo 237.º com epígrafe “Direito a férias” menciona o caráter tendencial da
conexão entre o direito a férias a gozar em certo ano e o trabalho prestado no ano anterior, e
portanto, por referência ao período normal de trabalho fixado por lei (8 horas por dia e 40 horas
por semana) ainda que com autonomia em relação à assiduidade do trabalhador.
Os casos especiais de duração do período de férias, são tratados no artigo 239.º do CT. Aqui
fazemos salientar a regra prevista para o ano de admissão do trabalhador, isto é, que este
adquire o direito a férias à medida que vai executando as suas funções, ou seja, para gozar férias,
tem necessariamente de trabalhar 6 meses completos, pelo que o tempo de execução efetiva
de funções e o período normal de trabalho são referência no cálculo deste direito.
Assim, se no caso do contrato de trabalho a tempo parcial em modo horizontal não subsistem
dúvidas de que o trabalhador tem direito a 22 dias úteis de férias, independentemente do
número de horas trabalhadas em cada dia, o mesmo já não acontece no caso de trabalhador a
tempo parcial em modo vertical.

O regime geral das férias está gizado para situação de disponibilidade do trabalhador durante
todos os dias da semana, isto é, um ano de trabalho a tempo completo dá direito a 22 dias úteis
de férias, recebendo o trabalhador nesse período de gozo de férias o mesmo que receberia se
estivesse em serviço efetivo.
Assim, se um trabalhador ainda que a tempo parcial, está disponível para o trabalho de segunda
a sexta-feira, terá direito a 22 dias úteis de férias seguidos, aplicando-se o princípio da igualdade,
pois nenhuma razão objetiva implica um tratamento diferente. O seu período normal de
trabalho, ainda que reduzido, é prestado todas as semanas e em todos os dias úteis como um
trabalhador a tempo completo. Claro que a retribuição do seu período de férias será de valor
igual àquele que recebe quando está a trabalhar.
Já no que diz respeito a um trabalhador a tempo parcial, que por exemplo, apenas trabalhe 3
dias úteis em cada semana (trabalho parcial vertical), verá o seu período anual de férias,
necessariamente, ser calculado com base no princípio da proporcionalidade, pois nem todos os
dias úteis das suas semanas são de disponibilidade para o trabalho.
Para a contagem dos dias de férias teremos sempre de nos reportar aos dias da semana que o
trabalhador, em regra ou em termos médios, trabalha, e ao número de horas em termos
proporcionais ao regime geral.

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Exemplificando,
um trabalhador a tempo completo, cujo período normal de trabalho semanal seja de 40 horas,
trabalha 2.080 horas/ano (40 horas/semana x 52 semanas) e tem direito a 176 horas de férias,
ou seja, a 22 dias úteis de férias (22 x 8 horas) – sendo este o regime regra da nossa legislação
laboral.
No caso de um trabalhador cujo período normal de trabalho semanal seja de 30 horas – 6 horas
em 5 dias da semana, o seu período de trabalho anual é de 1.560 horas (30 horas/semana x 52
semanas).
Assim, e fazendo uma regra de três simples, se às 2.080 horas (40 horas/semana x 52 semanas)
correspondem 22 dias úteis x 8 horas, o equivalente a 176 horas, às 1.560 correspondem 132
horas, o equivalente a 22 dias úteis de férias de 6 horas cada.
Vejamos um trabalhador cujo período normal de trabalho semanal seja de 6 horas, o seu período
de trabalho anual é de 312 horas (6 horas x 52 semanas), pelo que terá direito a 26,4 horas de
férias, as quais deverão gozadas de acordo com os períodos semanais de trabalho e de acordo
com os períodos de trabalho desses dias.
Se só trabalha por exemplo às segundas, quartas e sextas-feiras, só estes dias poderão ser
contabilizados para a fixação do início e fim do período de gozo de férias, pois as terças e quintas-
feiras não se contam, uma vez não serem normais dias de trabalho. As 26,4 horas terão de ser
divididas em blocos de horas a contar nas segundas, quartas e sextas-feiras do período que se
quer gozar de férias.

A regra a reter é que estes períodos de férias devem ser gozados nos períodos e/ou dias em que
os trabalhadores prestam atividade, atendendo que os restantes períodos são já dos
trabalhadores, tal como sucede quando estão a trabalhar.
As férias, regra geral, devem ser gozadas de modo consecutivo, e, tal como afirmado, nos dias
de prestação de trabalho.
O trabalhador tem também direito a subsídio de férias do valor da remuneração das férias.

Sem outro assunto de momento, apresento os meus melhores cumprimentos, e votos de bom
trabalho.
TCA

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