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AULA 4

CÁLCULOS TRABALHISTAS

Profª Carolina Ikuta de Mello Lempe


TEMA 1 – FÉRIAS – CONCEITOS

Previsto no art. 7°, inciso XVII, da CF/88, e no art. 129 da CLT (Brasil,
1943), o direito de férias garante ao empregado o gozo de um período de
descanso remunerado, com pelo menos um terço a mais do que seu salário
normal, para sua recomposição física e mental.
Os cálculos inerentes às férias dependem de alguns conceitos básicos,
os quais serão objeto de estudo deste tema.

1.1 Período aquisitivo

Durante o contrato de trabalho, via de regra, o empregado terá direito às


férias após completar 12 meses de contrato. Esse período necessário para
adquirir tal direito é denominado período aquisitivo de férias e tem fundamento
legal no art. 130 da CLT (Brasil, 1943).
As exceções a essa regra são as férias coletivas, que podem ser
concedidas para o empregado contratado há menos de 12 meses, e as férias
proporcionais pagas em rescisão.
A contagem do período aquisitivo deve ser iniciada no dia da admissão do
empregado, sendo calculada mês a mês, até completar 12 meses. O mesmo
cálculo deve ser realizado nos anos seguintes para fechamento dos próximos
períodos aquisitivos, enquanto o contrato de trabalho estiver vigente.
Exemplo: empregado admitido no dia 10 de abril de 2010 tem seu período
aquisitivo iniciado no dia da contratação e completo no dia 09 de abril de 2011,
ou seja, 12 meses depois. O próximo período aquisitivo se inicia no dia 10 de
abril de 2011 e se completa em 09 de abril de 2012, e assim por diante.

1.2 Período concessivo

Após completar o período aquisitivo, o empregador deve conceder as


férias ao empregado nos próximos 12 meses. Tal período chama-se período
concessivo de férias, o qual tem sua contagem iniciada no primeiro dia seguinte
após o término do período aquisitivo. É o que determina o art. 134 da CLT (Brasil,
1943).

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Exemplo: empregado completou seu período aquisitivo de férias em 09
de abril de 2011. O período concessivo se inicia em 10 de abril de 2011, sendo
que o empregado deve gozar suas férias integralmente até 09 de abril de 2012.
A data em que o empregado usufruirá das férias é definida pelo
empregador, que deve ter atenção ao período máximo para sua concessão, visto
que seu descumprimento acarreta o pagamento em dobro da remuneração de
férias, incluído o terço constitucional, de acordo com o art. 137 da CLT (Brasil,
1943) e Súmula n. 450 do TST.

1.3 Duração das férias

O art. 130 da CLT (Brasil, 1943) define a quantidade de dias de férias, a


qual o empregado terá direito e, para esta análise, devem ser observadas as
faltas injustificadas.
Relembrando, faltas injustificadas são as ausências do empregado ao
trabalho sem um motivo autorizado por lei ou instrumento coletivo e que
permitem o desconto deste período do salário. Conforme parágrafo 1°do art. 130
da CLT (Brasil, 1943), as faltas injustificadas não podem ser descontadas
diretamente das férias, devendo ser observada a proporção estabelecida no art.
130 da CLT (Brasil, 1943):

Tabela 1 – Relação entre faltas injustificadas e dias de férias

Faltas Injustificadas Dias de Férias

0 até 5 30 dias

6 até 14 24 dias

15 até 23 18 dias

24 até 32 12 dias

33 ou mais Perda do período de férias

Atrasos, saídas antecipadas e perda do descanso semanal remunerado


não comprometem os dias de férias do empregado.

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1.4 Prazo para pagamento

A remuneração de férias, acrescida do terço constitucional, deve ser paga


ao empregado até dois dias antes do início do gozo, segundo dispõe art. 145 da
CLT (Brasil, 1943).
Observar este prazo é fundamental, visto que seu descumprimento
acarreta o pagamento em dobro da remuneração de férias, incluído o terço
constitucional, de acordo com a Súmula n. 450 do TST.

1.5 Férias coletivas

As férias coletivas são aquelas concedidas a todos os empregados da


empresa, de determinado estabelecimento ou de um setor, de acordo com art.
139 da CLT (Brasil, 1943).
Como regra geral, as férias coletivas devem observar as mesmas
determinações das férias individuais quanto ao prazo para pagamento e cálculo
da remuneração. Entretanto, a contagem do período aquisitivo e a concessão
das férias seguem orientações específicas, as quais serão tratadas a seguir.

1.5.1 Período aquisitivo incompleto

Conforme visto, uma das exceções à concessão de férias antes de


completar o período aquisitivo ocorre justamente nas férias coletivas.
Assim, o art. 140 da CLT (Brasil, 1943) estabelece que o empregado com
menos de 12 meses de contrato de trabalho usufruirá das férias coletivas
proporcionalmente aos avos adquiridos até o momento. A partir do primeiro dia
das férias coletivas, deve-se iniciar a contagem de um novo período aquisitivo.
Para o empregado com mais de 12 meses de contrato de trabalho, não
será aplicada essa regra, ou seja, não irá iniciar um novo período aquisitivo no
primeiro dia de férias coletivas. Neste caso, o período aquisitivo inicial é mantido.

TEMA 2 – BASE DE CÁLCULO DAS FÉRIAS

Durante a concessão das férias, será devida ao empregado sua


remuneração, acrescida de um terço, conforme dispõe art. 7°, inciso XVII, da
CF/88. Entretanto, é necessário analisar as parcelas salariais que compõem a
base de cálculo deste pagamento.

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2.1 Salário fixo

Os empregados mensalistas, com salário fixo, devem receber, a título de


férias, o valor de sua remuneração no momento da concessão.
Com isso, caso esse empregado tenha tido reajuste salarial ao longo do
período aquisitivo, não deve ser calculada a média desses valores para
composição da base de cálculo das férias.
Exemplo: empregado contratado em 01 de julho de 2018 com salário de
R$ 1.500,00.
Período aquisitivo de 01 de julho de 2018 a 30 de junho de 2019. Período
concessivo de 01 de julho de 2019 a 30 de junho de 2020.
Em fevereiro de 2019, teve reajuste de salário para R$ 1.650,00 e, em
fevereiro de 2020, para R$ 1.800,00.
As férias concedidas em 01 de março de 2020 devem ter como base de
cálculo o valor de R$ 1.800,00.

2.2 Salário variável

Em relação aos empregados que recebem remuneração variável, será


preciso calcular a média dos valores recebidos em um período de 12 meses,
entretanto, o período a ser analisado dependerá da natureza do contrato.

Quadro 1 – Cálculo da média de valores recebidos em 12 meses

Empregado Média do período

Média de horas do período aquisitivo, com valor do


Horista
salário-hora na data da concessão

Média das comissões recebidas nos 12 meses


Comissionista
anteriores à concessão das férias

Exemplo – horista: empregado horista contratado em 01 de julho de


2018 para trabalhar de segunda a sexta, 4 horas por dia, com salário-hora de R$
15,00.
Período aquisitivo de 01 de julho de 2018 a 30 de junho de 2019.
Período concessivo de 01 de julho de 2019 a 30 de junho de 2020.
Férias concedidas em 01 de março de 2020.

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Em fevereiro de 2020, teve seu salário-hora reajustado para R$ 18,00.
Base de cálculo para pagamento das férias: média das horas trabalhadas
de 01 de julho de 2018 a 30 de junho de 2019, acrescidas do descanso semanal
remunerado (DSR), utilizando-se R$ 18,00 como valor do salário-hora.
1° Passo: encontrar o total de horas trabalhadas e DSR no período
aquisitivo.

Tabela 2 – Total de horas trabalhadas

Horas Dias úteis/não


Meses DSR
trabalhadas úteis

Julho/2018 176h 26/5 33,84h

Agosto/2018 184h 27/4 27,25h

Setembro/2018 152h 24/6 37,99h

Outubro/2018 176h 26/5 33,84h

Novembro/2018 160h 24/6 39,99h

Dezembro/2018 160h 25/6 38,40h

Janeiro/2019 168h 26/5 32,30h

Fevereiro/2019 160h 24/4 26,66h

Março/2019 152h 24/7 44,33h

Abril/2019 168h 25/5 33,60h

Maio/2019 176h 26/5 33,84h

Junho/2019 152h 24/6 37,99h

Total 1.984h - 424,03h

2° Passo: somar quantidade de horas e dividir por 12 para encontrar a


média de horas trabalhadas no período.
Fórmula: (Total de horas trabalhadas + DSR correspondente) ÷ 12.
Assim: 1.984h + 424,03h = 2.408,03h ÷ 12 = 200,66 h.
3° Passo: multiplicar a média de horas trabalhadas no período aquisitivo
pelo valor do salário-hora no momento da concessão das férias.

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Assim: 200,66h x R$ 18,00 = R$ 3.611,88. Este valor é a base de cálculo
para pagamento das férias desse empregado horista.
Exemplo – comissionista: empregado comissionista contratado em 01
de julho de 2018 para trabalhar de segunda a sexta, 8 horas por dia, com
comissão de 3% sobre as vendas que realizar.
Período aquisitivo de 01 de julho de 2018 a 30 de junho de 2019. Período
concessivo de 01 de julho de 2019 a 30 de junho de 2020. Férias concedidas em
01 de março de 2020.
Base de cálculo para pagamento das férias: média das comissões
recebidas nos 12 meses anteriores à concessão, ou seja, de 01 de março de
2019 a 29 de fevereiro de 2020, acrescidas do descanso semanal remunerado
(DSR).
1° Passo: encontrar o total dos valores recebidos de comissões e DSR
nos 12 meses anteriores à concessão das férias.

Tabela 3 – Total de valores recebidos de comissões e DSR

Dias úteis/não
Meses Comissões DSR Total Mensal
úteis

Março/2019 R$ 1.200,00 26/5 R$ 230,76 R$ 1.430,76

Abril/2019 R$ 1.150,00 25/5 R$ 230,00 R$ 1.380,00

Maio/2019 R$ 1.300,00 26/5 R$ 250,00 R$ 1.550,00

Junho/2019 R$ 1.280,00 25/5 R$ 256,00 R$ 1.536,00

Julho/2019 R$ 1.130,00 27/4 R$ 167,40 R$ 1.297,40

Agosto/2019 R$ 1.350,00 27/4 R$ 200,00 R$ 1.550,00

Setembro/2019 R$ 1.320,00 24/6 R$ 330,00 R$ 1.650,00

Outubro/2019 R$ 1.270,00 26/5 R$ 244,23 R$ 1.514,23

Novembro/2019 R$ 1.380,00 24/6 R$ 345,00 R$ 1.725,00

Dezembro/2019 R$ 1.400,00 25/6 R$ 336,00 R$ 1.736,00

Janeiro/2020 R$ 1.350,00 26/5 R$ 259,61 R$ 1.609,51

Fevereiro/2020 R$ 1.210,00 25/4 R$ 193,60 R$ 1.403,60

Total R$ 18.382,50

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2° Passo: somar os valores e dividir por 12.
Total: R$ 18.382,50 ÷ 12 = R$ 1.531,87. Este valor é a base de cálculo
para pagamento das férias desse empregado comissionista.

2.3 Adicionais: horas extras, insalubridade, periculosidade, noturno

Os adicionais de hora extra, insalubridade, periculosidade e hora noturna


pagos ao empregado devem compor a base de cálculo da remuneração das
férias. Isto porque tais pagamentos têm natureza salarial. É o que determina o
parágrafo 5° do art. 146 da CLT (Brasil, 1943).
Caso esses adicionais não estejam sendo pagos no momento da
concessão das férias ou seu pagamento não tenha sido uniforme durante o
período aquisitivo, deve ser realizada a média dos valores pagos neste período,
atualizando-se o valor conforme reajustes salariais supervenientes.
Seguem a seguir exemplos para o adicional de insalubridade e horas
extras.
Exemplo – insalubridade: empregado mensalista contratado em 01 de
julho de 2018 para trabalhar 8h de segunda a sexta com salário mensal de R$
1.500,00. Recebe adicional de 10% sobre o salário mínimo a título de
insalubridade.
Período aquisitivo de 01 de julho de 2018 a 30 de junho de 2019. Período
concessivo de 01 de julho de 2019 a 30 de junho de 2020. Férias concedidas em
01 de março de 2020. Em fevereiro de 2020, teve seu salário mensal reajustado
para R$ 1.800,00. Reajuste do salário mínimo em fevereiro de 2020 para R$
1.045,00. Valor do adicional de insalubridade: R$ 1.045,00 x 10% = R$ 104,50.
Base de cálculo para remuneração das férias: R$ 1.800,00 (salário no
momento da concessão) + R$ 104,50 (adicional de insalubridade no momento
da concessão) = R$ 1.904,50.
Exemplo – horas extras: empregado mensalista contratado em 01 de
julho de 2018 para trabalhar 8h de segunda a sexta (200h mensais), com salário
de R$ 1.500,00. Adicional de horas extras de 50%.
Período aquisitivo de 01 de julho de 2018 a 30 de junho de 2019. Período
concessivo de 01 de julho de 2019 a 30 de junho de 2020. Férias concedidas em
01 de março de 2020. Em fevereiro de 2020, teve seu salário mensal reajustado
para R$ 1.800,00.

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1° Passo: encontrar o total de horas extras realizadas no período
aquisitivo.

Tabela 4 –Total de horas extras

Meses Horas Extras

Julho/2018 10h

Agosto/2018 20h

Setembro/2018 18h

Outubro/2018 11h

Novembro/2018 13h

Dezembro/2018 9h

Janeiro/2019 0h

Fevereiro/2019 5h

Março/2019 4h

Abril/2019 10h

Maio/2019 11h

Junho/2019 10h

Total 121 h

2° Passo: somar quantidade de horas e dividir por 12 para encontrar a


média de horas extras realizadas no período.
Fórmula: Total de horas extras ÷ 12.
Assim: 121h ÷ 12 = 10,08h.
3° Passo: multiplicar a média de horas extras realizadas no período
aquisitivo pelo valor da hora extra no momento da concessão das férias.
Hora extra: R$ 1.800,00 ÷ 200h mensais = R$ 9,00 + 50% = R$ 13,50
Assim: 10,08h x R$ 13,50 = R$ 136,08.
4° Passo: somar o salário mensal com o valor correspondente à média
das horas extras realizadas no período.

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Assim: R$ 1.800,00 + R$ 136,08 = R$ 1.936,08. Este valor é a base de
cálculo para pagamento das férias desse empregado considerando a média das
horas extras.
Importante: no reflexo da média das horas extras no cálculo das férias não
devem ser considerados os valores referentes ao descanso semanal
remunerado, por força da OJ-SDI-I n. 394 do TST, salvo se, em liquidação de
sentença, a decisão judicial decidir pela não aplicação desta OJ.

2.4 Resumo da base de cálculo da remuneração das férias

Quadro 2 – Base de cálculo

Remuneração Período de apuração


Salário fixo Valor no momento da concessão
Comissionista Média dos 12 meses anteriores
Horista
Adicionais de insalubridade, Média do período aquisitivo
periculosidade, horas extras e noturno

TEMA 3 – DURAÇÃO DAS FÉRIAS

O direito às férias confere ao empregado tanto o período de afastamento


do trabalho quanto o pagamento da remuneração acrescida do terço
constitucional. Por este motivo, além da análise da base de cálculo, é necessário
verificar também o período ao qual o empregado tem direito ao descanso. Isto
porque, via de regra, as férias são concedidas no período de 30 dias, entretanto,
há hipóteses em que podem ser usufruídas, ou até mesmo pagas, de forma
proporcional. É o que ocorre, por exemplo, com as férias em rescisão, férias
coletivas e nos casos de faltas injustificadas.

3.1 Contagem de avos

A contagem das férias não deve ser realizada segundo o mês civil, mas
sim a cada mês aquisitivo, o qual somará um avo de férias ao empregado. O
mês aquisitivo deve ser computado integralmente se houver período igual ou
superior a 15 dias. A sua contagem deve ser iniciada na data da admissão, sendo
cada avo computado de data a data.

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Exemplo 1: empregado contratado em 01 de julho de 2018 com salário
de R$ 1.500,00. Período aquisitivo de 01 de julho de 2018 a 30 de junho de 2019.

Tabela 4 – Meses aquisitivos e avos adquiridos

Avos Avos
Mês Aquisitivo Mês aquisitivo
adquiridos adquiridos
01 de julho de 2018 a 31 01 de janeiro de 2019 a
1/12 7/12
de julho de 2018 31 de janeiro de 2019
01 de agosto de 2018 a 01 de fevereiro de 2019 a
2/12 8/12
31 de agosto de 2018 28 de fevereiro de 2019
01 de setembro de 2018
01 de março de 2019 a
a 30 de setembro de 3/12 9/12
31 de março de 2019
2018
01 de outubro de 2018 a 01 de abril de 2019 a 30
4/12 10/12
31 de outubro de 2018 de abril de 2019
01 de novembro de 2018
01 de maio de 2019 a 31
a 30 de novembro de 5/12 11/12
de maio de 2019
2018
01 de dezembro de 2018
01 de junho de 2019 a 30
a 31 de dezembro de 6/12 12/12
de junho de 2019
2018

Exemplo 2: caso o empregado do exemplo anterior tenha seu contrato de


trabalho rescindido sem justa causa no dia 07 de março de 2019, a contagem
dos avos de férias deve encerrada nesta data. Assim, considerando a projeção
do aviso prévio que acrescenta ao contrato, neste exemplo, mais 30 dias, o
contrato se encerra definitivamente em 07 de abril de 2019.
Esse empregado tem direito aos seguintes avos de férias:

Tabela 5 – Avos de férias

Avos Avos
Mês aquisitivo Mês aquisitivo
adquiridos adquiridos
01 de julho de 2018 a 31 01 de janeiro de 2019 a
1/12 7/12
de julho de 2018 31 de janeiro de 2019

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01 de agosto de 2018 a 01 de fevereiro de 2019 a
2/12 8/12
31 de agosto de 2018 28 de fevereiro de 2019
01 de setembro de 2018
01 de março de 2019 a
a 30 de setembro de 3/12 9/12
31 de março de 2019
2018
01 de outubro de 2018 a
4/12
31 de outubro de 2018
01 de novembro de 2018
> 15 dias
a 30 de novembro de 5/12 01 de abril de 2019 a 07
(avo não
2018 de abril de 2019
devido)
01 de dezembro de 2018
a 31 de dezembro de 6/12
2018

3.2 Avos proporcionais

Caso o empregado tenha mais de um ano de contrato, ou seja, 12 meses


de vínculo empregatício, via de regra, terá direito a 30 dias de descanso, salvo
nos casos de falta injustificada, quando deve ser observada a proporcionalidade
do art. 130 da CLT (Brasil, 1943).
Entretanto, nas férias quitadas em rescisão, assim como na concessão de
férias coletivas ao empregado contratado há menos de 12 meses, o direito às
férias será devido de forma proporcional aos avos até então adquiridos.
A tabela a seguir demonstra os dias de férias que o empregado adquire a
cada mês de contrato, considerando inclusive as faltas injustificadas.

Tabela 6 – Dias de férias e meses de contrato

Avos De 6 a 14 De 15 a 23 De 24 a 32
Até 5 faltas
proporcionais faltas faltas faltas

1/12 2,5 dias 2 dias 1,5 dias 1 dia

2/12 5 dias 4 dias 3 dias 2 dias

3/12 7,5 dias 6 dias 4,5 dias 3 dias

4/12 10 dias 8 dias 6 dias 4 dias

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5/12 12,5 dias 10 dias 7,5 dias 5 dias

6/12 15 dias 12 dias 9 dias 6 dias

7/12 17,5 dias 14 dias 10,5 dias 7 dias

8/12 20 dias 16 dias 12 dias 8 dias

9/12 22,5 dias 18 dias 13,5 dias 9 dias

10/12 25 dias 20 dias 15 dias 10 dias

11/12 27,5 dias 22 dias 16,5 dias 11 dias

12/12 30 dias 24 dias 18 dias 12 dias

Tabela calculada com base na seguinte metodologia. Até 5 faltas,


empregado com 12 meses de contrato terá direito a 30 dias de férias. Logo, para
calcular os dias devidos em 1 mês de contrato, deve ser feito o seguinte cálculo:

Tabela 7 – Dias devidos em 1 mês de contrato

12 meses equivalem a 30 dias x = 30 ÷ 12


1 mês equivale a x x = 2,5 dias
Logo, cada mês (ou fração superior a 14 dias) de contrato, com até 5 faltas
injustificadas no período, dá direito proporcionalmente a 2,5 dias de férias.

TEMA 4 – REMUNERAÇÃO DE FÉRIAS

O art. 142 da CLT (Brasil, 1943) e o inciso XVII do art. 7° da CF/88


asseguram ao empregado o direito de receber sua remuneração, acrescida de
1/3, durante o período de férias. Em razão do contrato de trabalho, as férias
podem ser devidas de forma simples, em dobro ou proporcionalmente. Ainda, é
permitido ao empregado converter 1/3 do período de férias a que tiver direito em
abono pecuniário. As metodologias de cálculo serão a seguir objeto de estudo.

4.1 Férias simples

As férias simples são aquelas concedidas após o cumprimento do período


aquisitivo e observando o período concessivo. Deve ser considerada a
remuneração no momento da concessão ou do período aquisitivo, a depender

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de sua natureza, como base de cálculo, conforme estudado no Tema 2 – Base
de cálculo.
Exemplo: empregado contratado em 01 de julho de 2018 com salário de
R$ 1.500,00. Período aquisitivo de 01 de julho de 2018 a 30 de junho de 2019.
Período concessivo de 01 de julho de 2019 a 30 de junho de 2020. Em janeiro
de 2019, teve reajuste de salário para R$ 1.650,00 e, em fevereiro de 2020, para
R$ 1.800,00. Férias concedidas em 01 de março de 2020 com base na
remuneração de R$ 1.800,00.
Férias = remuneração mensal + 1/3 da remuneração.
Assim, deve-se dividir R$ 1.800,00 por 3, para encontrar o valor do terço
constitucional. Logo, R$ 1.800,00 ÷ 3 = R$ 600,00.
Valor devido: R$ 1.800,00 de férias + R$ 600,00 do terço de férias = R$
2.400,00.

4.2 Férias em dobro

As férias em dobro se caracterizam por serem aquelas concedidas após


o fim do período concessivo ou, ainda que concedidas neste período,
remuneradas sem observar o prazo legal para pagamento, ou seja, 2 dias antes
do início do gozo (Súmula n. 450 do TST). Neste caso, tanto a remuneração
quanto o terço constitucional devem ser calculados em dobro.
É possível, ainda, que apenas parte do gozo das férias ultrapasse o
período concessivo. Neste caso, apenas os dias de férias usufruídos após o
período legal deverão ser remunerados em dobro (Súmula n. 81 do TST).
Exemplo: empregado contratado em 01 de julho de 2018 com salário de
R$ 1.500,00. Período aquisitivo de 01 de julho de 2018 a 30 de junho de 2019.
Período concessivo de 01 de julho de 2019 a 30 de junho de 2020. Em fevereiro
de 2020 teve reajuste salarial para R$ 1.800,00. Férias concedidas em 16 de
junho de 2020 a 15 de julho de 2020.
Férias = (remuneração mensal + 1/3 da remuneração) x 2.
Assim, deve-se dividir R$ 1.800,00 por 3, para encontrar o valor do terço
constitucional. Logo, R$ 1.800,00 ÷ 3 = R$ 600,00.
Deve-se calcular separadamente o período de férias simples e o período
de férias em dobro.

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15 dias de férias simples: R$ 1.800,00 + R$ 600,00 = R$ 2.400,00. Este
valor deve ser dividido por 30 para se encontrar o valor devido a um dia de férias
e, em seguida, multiplicar pelos 15 dias devidos. Logo: R$ 2.400,00 ÷ 30 = R$
80,00 x 15 = R$ 1.200,00 a título de férias simples
15 dias de férias em dobro: no cálculo das férias simples, encontramos o
valor de R$ 1.200,00 referente a 15 dias de férias. Para pagamento das férias
em dobro, é preciso multiplicar por 2. Logo, R$ 1.200,00 x 2 = R$ 2.400,00.
Esse empregado receberá a título de férias R$ 3.600,00, sendo:
R$ 1.200,00 pelas férias simples; e
R$ 2.400,00 pelo período de férias em dobro.

4.3 Férias proporcionais

Conforme visto nos temas anteriores, o direito às férias proporcionais


ocorre quando o empregado não completou integralmente seu período
aquisitivo, seja em razão de rescisão, férias coletivas, ou ainda decorrente de
faltas injustificadas ao longo daquele período. Neste cálculo, é necessário
analisar primeiramente a quantidade de avos devidos, lembrando que o mês
aquisitivo com 15 dias ou mais de contrato deve ser considerado integralmente.
Posteriormente, realizar o cálculo proporcional.
Exemplo: empregado contratado em 01 de julho de 2019 com salário de
R$ 1.800,00. Período aquisitivo de 01 de julho de 2019 a 30 de junho de 2020.
Período concessivo de 01 de julho de 2020 a 30 de junho de 2021. Férias
coletivas de 15 dias concedidas de 20 de dezembro de 2019 a 03 de janeiro de
2020.
1° Passo: contagem de avos de data a data nos meses aquisitivos.

Tabela 8 – Contagem de avos

Avos Avos
Mês aquisitivo Mês aquisitivo
adquiridos adquiridos
01 de julho de 2019 a 31 01 de outubro de 2019 a
1/12 4/12
de julho de 2019 31 de outubro de 2019
01 de novembro de 2019
01 de agosto de 2019 a
2/12 a 30 de novembro de 5/12
31 de agosto de 2019
2019

15
01 de setembro de 2019 01 de dezembro de 2019
a 30 de setembro de 3/12 a 19 de dezembro de 6/12
2019 2019

30 dias ÷ 12 meses = 2,5 dias x 6 (avos adquiridos até a data da


concessão das férias coletivas) = 15 dias. Este empregado adquiriu o direito a
15 dias de férias proporcionais.
2° Passo: cálculo da remuneração
Férias = (remuneração mensal + 1/3 da remuneração) ÷ 12 x avos
devidos.
Deve-se dividir R$ 1.800,00 (valor da remuneração na data da concessão)
por 3, para encontrar o valor do terço constitucional. Logo, R$ 1.800,00 ÷ 3 = R$
600,00.
R$ 1.800,00 ÷ 12 = R$ 150,00 x 6 avos = R$ 900,00.
R$ 600,00 (1/3 de férias) ÷ 12 = R$ 50,00 x 6 avos = R$ 300,00.
Esse empregado receberá a título de férias proporcionais R$ 1.200,00.
Importante: o período aquisitivo de 01 de julho de 2019 a 19 de dezembro
de 2019 será quitado e um novo período aquisitivo de férias se iniciará dia 20 de
dezembro de 2019.

4.4 Abono pecuniário de férias

A conversão de 1/3 do período de férias a que tiver direito em abono


pecuniário é um direito do empregado, quando requerido até 15 dias antes do
término do período aquisitivo, de acordo com o art. 143 da CLT (Brasil, 1943).
Em relação ao período do abono pecuniário, seu cálculo corresponderá
ao pagamento do período acrescido do terço constitucional de férias, além do
saldo de salário pelos dias trabalhados neste período.
Exemplo: empregado contratado em 01 de julho de 2018 com salário de
R$ 1.500,00. Período aquisitivo de 01 de julho de 2018 a 30 de junho de 2019.
Período concessivo de 01 de julho de 2019 a 30 de junho de 2020. Em fevereiro
de 2020 teve reajuste salarial para R$ 1.800,00. Empregado requereu a
conversão de 1/3 de suas férias em abono pecuniário até o dia 10 de junho de
2019. Férias concedidas de 01 de abril de 2020 a 20 de abril de 2020. Abono
pecuniário de 21 de abril de 2020 a 30 de abril de 2020.

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1° Passo: cálculo de 20 dias de férias.
Fórmula: (remuneração + 1/3 de férias) ÷ 30 x dias devidos de férias
R$ 1.800,00 ÷ 3 = R$ 600,00 é o valor total do terço constitucional de
férias.
Cálculo proporcional a 20 dias.
R$ 1.800,00 ÷ 30 = R$ 60,00 x 20 dias = R$ 1.200,00
R$ 600,00 ÷ 30 = R$ 20,00 x 20 dias = R$ 400,00
Esse empregado receberá a título de férias (20 dias) R$ 1.600,00.
2° Passo: cálculo do abono pecuniário de férias.
Fórmula: (remuneração + 1/3 de férias) ÷ 30 x dias devidos de abono
R$ 1.800,00 ÷ 3 = R$ 600,00 é o valor total do terço constitucional de
férias.
Cálculo de 10 dias de abono pecuniário de férias.
R$ 1.800,00 ÷ 30 = R$ 60,00 x 10 dias = R$ 600,00
R$ 600,00 ÷ 30 = R$ 20,00 x 10 dias = R$ 200,00
Esse empregado receberá a título de abono pecuniário de férias (10 dias)
R$ 800,00.
3° Passo: cálculo do saldo de salário pelos 10 dias trabalhados durante o
período de abono pecuniário.
Salário mensal ÷ 30 x dias trabalhados
R$ 1.800,00 ÷ 30 = R$ 60 x 10 dias trabalhados = R$ 600,00 a título de
saldo de salário.
Conclusão:
Férias de 20 dias (+ 1/3): R$ 1.600,00 (R$ 1.200,00 de férias e R$ 400,00
do terço constitucional);
Abono pecuniário de 10 dias (+1/3): R$ 800,00 (R$ 600,00 de abono + R$
200,00 do terço constitucional sobre o abono pecuniário);
Saldo de salário de 10 dias: R$ 600,00.
Total: R$ 1.600,00 (20 dias de férias) + R$ 800,00 (abono pecuniário) +
R$ 600,00 (saldo de salário) = R$ 3.000,00.

TEMA 5 – FÉRIAS EM RESCISÃO

O direito às férias é um benefício concedido ao empregado inclusive na


rescisão do seu contrato de trabalho, cujo pagamento dependerá da análise das

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férias adquiridas e quitadas ao longo do contrato de trabalho, bem como, da
natureza da rescisão contratual.

5.1 Base de cálculo

A remuneração das férias na extinção do contrato de trabalho deve ser


realizada com base no salário devido no momento da rescisão contratual, seja
para pagamento de férias vencidas, em dobro ou proporcionais, conforme
Súmula n. 7 do TST.
Devem compor a base de cálculo da remuneração das férias, inclusive em
rescisão, as seguintes parcelas salariais, conforme preconiza art. 146 da CLT
(Brasil, 1943):
a) Horas extraordinárias (parágrafo 5° do art. 142 da CLT);
b) Adicional noturno (parágrafo 5° do art. 142 da CLT);
c) Comissões, gratificações legais (parágrafo 3° do art. 142 da CLT);
d) Adicionais de periculosidade e insalubridade (parágrafo 5° do art. 142 da
CLT).

5.2 Rescisão sem justa causa e a pedido do empregado

Na rescisão do contrato de trabalho por iniciativa do empregador sem


justa causa ou por pedido de demissão, o empregado terá direito à indenização
das férias:
• Simples: referentes ao período aquisitivo completo, porém com período
concessivo em curso, de acordo com o art. 146 da CLT (Brasil, 1943);
• Em dobro: referentes aos períodos aquisitivos completos e esgotado o
período concessivo sem gozo e/ou pagamento das férias
correspondentes, conforme art. 146 da CLT (Brasil, 1943);
• Proporcionais: referentes ao período aquisitivo em curso. Neste cálculo, é
preciso considerar o período igual ou superior a 15 dias como mês integral
no cálculo do avo devido, segundo parágrafo único do art. 146 da CLT
(Brasil, 1943).

5.3 Rescisão com justa causa

O parágrafo único do art. 146 da CLT estabelece que o empregado que


tenha seu contrato de trabalho rescindido por justa causa não terá direito às
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férias proporcionais, ou seja, aquelas cujo período aquisitivo esteja em curso.
Neste mesmo sentido é a Súmula n. 171 do TST.
Sendo assim, o empregado dispensado com justa causa, em rescisão,
terá direito às férias já adquiridas:
• Simples: referentes ao período aquisitivo completo, porém com período
concessivo em curso, de acordo com o art. 146 da CLT (Brasil, 1943);
• Em dobro: referentes aos períodos aquisitivos completos e esgotado o
período concessivo sem gozo e/ou pagamento das férias
correspondentes, conforme art. 146 da CLT (Brasil, 1943).

5.4 Prazo para pagamento

A Reforma Trabalhista, instituída pela Lei n. 13.467/2017, alterou a


redação do parágrafo 6° do art. 477 da CLT, para estabelecer um único prazo
para pagamento das verbas rescisórias, independentemente da modalidade de
rescisão e cumprimento do aviso prévio.
Com isso, os valores devidos a título de férias em rescisão, sejam simples,
em dobro ou proporcionais, devem ser quitados no prazo limite de 10 dias a
contar do término do contrato, sob pena de incorrer na multa do parágrafo 8° do
art. 477 da CLT (Brasil, 1943).

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988.

_____. Decreto n. 57.155, de 3 de novembro de 1995. Expede nova


regulamentação da Lei n. 4.090, de 13 de julho de 1962, que institui a gratificação
de Natal para os trabalhadores, com as alterações introduzidas pela Lei n. 4.749,
de 12 de agosto de 1965. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 novembro 1965.

_____. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a consolidação das


leis do trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 agosto 1943.

_____. Lei n. 605, de 5 de janeiro de 1949. Repouso semanal remunerado e o


pagamento de salário nos dias feriados civis e religiosos. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 14 de janeiro de 1949

_____. Lei n. 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a consolidação das leis do


trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943, e as
leis n. 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de
24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 14 julho 2017.

CANUTO, R. Cálculos trabalhistas - passo a passo. 12. ed. São Paulo: Mundo
Jurídico, 2021.

GONÇALVES, G. Resumo prático de cálculos trabalhistas. 3. ed. Curitiba:


Juruá, 2018.

OLIVEIRA, A. de. Cálculos trabalhistas. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2013.

SILVA, H. B. M. Curso de direito do trabalho aplicado, vol. 2: jornadas e


pausas. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

_____. Curso de direito do trabalho aplicado, vol. 5: livro da remuneração. 1.


ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

_____. Curso de direito do trabalho aplicado, vol. 6: contrato de trabalho. 1.


ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

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