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Introdução
Se concordamos com Marc Bloch (2001) em sua definição de que a História é a
ciência dos homens (e das mulheres) no tempo, então não restam dúvidas com
relação ao grande valor do conceito de tempo para os estudos históricos. Algumas
perguntas, no entanto, são latentes: o que é tempo? Como a História se utiliza
desse conceito? Ele é fixo ou também muda? Como podemos organizar e
compreender o tempo? Esses são alguns questionamentos fundamentais para
quem pretende se aprofundar no estudo da História. Por isso, neste capítulo,
iremos nos deter a essas questões. Inicialmente, discutiremos o que é um conceito,
bem como sua importância para a História. Em seguida, trataremos das diferentes
conceituações de tempo e como elas mudam no decorrer da história. Por fim,
falaremos um pouco mais sobre as noções de temporalidade e cronologia. Vamos
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lá!
(...) um conceito pode ser entendido como uma formulação abstrata e geral,
ou pelo menos uma formulação passível de generalização, que o indivíduo
pensante utiliza para tornar alguma coisa inteligível nos seus aspectos
essenciais ou fundamentais, para si mesmo e para outros. Visto desta forma,
o conceito constitui uma espécie de órgão para a percepção ou para a
construção de um conhecimento sobre a realidade, mas que se dirige não
para a singularidade do objeto ou evento isolado, mas sim para algo que
liga um objeto ou evento a outros da mesma natureza, ao todo no qual se
insere, ou ainda a uma qualidade de que participa (p. 31).
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outros materiais conceituais, como fé, sagrado e rito, que não são tão evidentes
quanto a cauda de um peixe.
Outra informação importante sobre os conceitos diz respeito ao seu caráter
abstrato. Sendo uma abstração obtida a partir de observações particulares e
generalizações, o os conceitos não têm uma existência real – ainda que seja
possível a tentativa de representá-los (BARROS, 2011).
Diante dessas informações, você pode estar se perguntando: por que criamos
conceitos? Segundo os filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari (1992), “todo
conceito remete a um problema, a problemas sem os quais não teria sentido, e que
só podem ser isolados ou compreendidos na medida de sua solução” (p. 25). Isso
significa que nós criamos conceitos para tentar resolver problemas que se
apresentam na realidade. Eles também têm a função de ordenar a realidade,
classificar informações e tornar a experiência de viver mais inteligível. Dessa
forma, podemos compreender que os conceitos não são imutáveis; eles também
têm uma história, com transformações, flutuações no tempo. Em outros termos, os
conceitos mudam conforme as experiências humanas mudam.
Com base nessas orientações, é possível notar que, mesmo não tendo uma
existência real, os conceitos são fundamentais não apenas para a ciência ou para a
produção do conhecimento, mas para a própria vida humana. Do ponto de vista da
História, a compreensão dos conceitos é talvez, a principal tarefa do historiador,
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2.1.2 Conceito e Categoria
Quando falamos em conceito, é essencial distingui-lo de “categoria”. Em termos
gerais, toda categoria é um conceito, mas nem todo conceito é uma categoria. De
acordo com Romeu Gomes:
Dessa forma, a categoria tem como principal função agrupar ideias, objetos ou
pessoas. Em um trabalho de pesquisa, as categorias são os conceitos mais
importantes, ou seja, aqueles que nos servem de ferramentas analíticas. Os
conceitos se distinguem da categoria porque no conceito não há, necessariamente,
uma tentativa de classificação ou agrupamento. Dessa forma, o mais importante
aqui é que você perceba que as categorias são mais abrangentes e ajudam na
ordenação de elementos, ideias e expressões, ainda que os conceitos também
possam auxiliar nessa tarefa.
Como base na definição de conceito que vimos antes, podemos dizer que “mulher”
é um conceito, porque se refere a uma abstração generalizante. Em um trabalho
que busca investigar, por exemplo, o que aconteceu com as mulheres da
Revolução Francesa, o conceito pode ser elevado à categoria de análise, servindo
então, como eixo para a construção da pesquisa.
Ainda com relação à pesquisa, Maria Cecília de Souza Minayo (2004), afirma que as
categorias podem ser subdividas em dois tipos: empíricas e analíticas. A primeira
seria mais relacionada ao trabalho empírico, com finalidade operacional para
viabilizar o trabalho de campo. As categorias analíticas, por sua vez, servem de
marco para o conhecimento de objeto ou tema.
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• fonte histórica;
• espaço;
• documento;
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• paradigma;
• escolas históricas;
• campo histórico;
• teoria;
• historiografia;
• historicidade.
Como ponto de partida, podemos pensar que todas essas palavras ou expressões
não são usadas em um único dado. Na prática, isso significa que os historiadores
estão constantemente se questionando e problematizando a definição de cada um
deles. Dessa forma, quando trabalhamos com um conceito, é sempre importante
perguntar: o que ele significa? Quais são os seus múltiplos sentidos? De que modo
eu pretendo usar esse termo? Como ela irá me ajudar no entendimento da
realidade a ser analisada?
Além desses conceitos que são bem importantes na própria concepção do que é
História, vários outros precisam ser constantemente trabalhados dentro do
conhecimento histórico, tais como: estado, ideologia, revolução, arte, cultura,
religião, cidade, memória e trabalho, dentre inúmeros outros. Esses conceitos têm
uma história e, por essa razão, devem ser trabalhados sempre em relação ao
tempo.
Para lidar com esses conceitos, o historiador precisa recorrer a autores que já
discutiram teoricamente sobre essas ideias. Os dicionários, muito comumente
usados no cotidiano, não são tão úteis, pois podem apresentar definições muito
simples. Por isso, o ideal é utilizar dicionários especializados, bem como livros e
artigos científicos relacionados ao tema a ser estudado. Outro ponto importante, é
a possibilidade de construção de conceitos conforme a necessidade, pois, como
vimos, a conceituação sempre surge de problemas apresentados pela realidade
(BARROS, 2011).
Com isso, podemos concluir que, mais importante que encontrar definições
simples, ao trabalharmos com um conceito precisamos compreendê-lo em sua
multiplicidade semântica. É necessário discutir os diferentes sentidos que uma
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Figura 1 - As noções de tempo são múltiplas e dependem das nossas experiências. Fonte: Colorlife,
Shutterstock, 2018.
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Figura 2 - A nuvem inclui várias palavras relacionadas ao conceito de tempo. Fonte: Elaborado pelo
autor, 2018.
Vários desses termos são comumente associados à noção de tempo. Eles nos
ajudam a pensar melhor acerca desse conceito tão caro ao conhecimento
histórico, na medida em que ele se define por paradoxos, contradições e
continuidades. De acordo com José Carlos Reis (2012),
o tempo aparece sob o signo do paradoxo: ser e não ser, nascer e morrer,
aparecer e desaparecer, criação e destruição, fixidez e mobilidade,
estabilidade e mudança, devir e eternidade. Sob o signo da contradição, do
ser e do nada, o tempo parece inapreensível. Ele é descrito de modo
contraditório: a pior e a melhor das coisas, fonte da criação, da verdade e da
vida e portador da destruição, do esquecimento e da morte. Ele engendra e
inova e faz perecer e arruína. Ele é pai e destruidor de todas as coisas,
origem e fim, a sua passagem é aflitiva (“isto não vai acabar nunca?”) e
consoladora (“vai passar!”). Ele não é apreensível, pois invisível, intocável,
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Não há dúvidas de que o termo tempo é difícil de conceituar, ainda que sua
existência seja praticamente inegável. Nós podemos observar o tempo e
experimentá-lo cotidianamente, mas seu caráter fugidio, entre o ser e não-ser,
tornam a conceituação bem mais complexa.
De acordo com José Carlos Reis (2012), três aspectos gerais do tempo nos ajudam
a compreendê-lo de forma mais clara. Adiante, quando tratarmos mais
especificamente no tempo histórico, você notará que as teorias da história lidaram
de modos diferentes com esses aspectos. São eles:
Diferentemente do que pode parecer inicialmente, essas três noções não são
isoladas uma das outras; na verdade, elas estão em constante interação, tanto no
nosso cotidiano quanto nas teorizações da História.
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torno de Lola, uma jovem que tem 20 minutos para correr por Berlim e salvar seu namorado. Conforme
as escolhas que ela faz no presente, o futuro muda, chegando a três opções de desfecho para a
situação.
Partindo dessas explicações iniciais sobre o conceito, agora podemos pensar como
o tempo é operado no âmbito do conhecimento histórico.
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VOCÊ SABIA?
O anacronismo é considerado como um dos erros fatais do trabalho histórico, ainda que alguns
teóricos defendam sua importância. Em termos gerais, a palavra significa atribuir características de
uma época a outra, ignorando suas especificidades. Como exemplo, podemos pensar no
historiador que, estudando o período medieval, impõe ao período as relações modernas com o
sagrado, ignorando o quanto a fé permeava diferentes esferas da sociedade.
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humana, que não é quantificável com pura vida humana” (REIS, 2012, p. 30).
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são articulados por cada momento presente? Com isso, o autor propõe a
reflexão sobre o vínculo que o presente estabelece não apenas como
passado (campo da experiência), mas também com o futuro (horizonte de
expectativa).
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Figura 4 - O selo, comercializado nos EUA em 2000, representa a queda do muro de Berlim em 1989,
um marco para a História e, em muitas leituras, para a mudança na compreensão do tempo. Fonte:
catwalker, Shutterstock, 2018.
Essas diferentes visões revelam como diferentes períodos lidaram com a noção de
tempo. Elas são importantes para que não sejamos anacrônicos ao olhar para o
passado e também para que compreendamos como a própria noção de tempo é
passível de mudanças.
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2.3.1 Temporalidade
Ainda que o tempo seja observável na natureza, como no crescimento de uma
planta ou no movimento dos planetas, existe um modo de conceber o tempo que é
bem humano. Essa talvez seja uma das características que nos distingue dos
outros animais, pois nós estabelecemos relações bem específicas com o presente,
o passado e o futuro.
Nesse sentido, o conceito de temporalidade é imbricado ao de tempo. Como vimos
o tempo é vasto e inclui diversos tipos de abordagem. Da perspectiva do tempo
físico, mais relacionado com a natureza, seria difícil para que nós, humanos,
pudéssemos percebê-lo, uma vez que ele seria representado apenas por
mudanças constantes, sem qualquer sistematização. O presente é o instante da
ação, ele desaparece antes que possamos notá-lo; o passado não existe porque já
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não é mais; e o futuro não existe porque não é ainda. Dessa maneira, a
racionalização do tempo é uma abstração humana, ligada à experiência dos
vividos. De acordo com Juliana Bastos Marques (2008), apenas o presente pode ser
considerado como real, mas ele só adquire sentido quando é comparado com o
futuro e com o passado, ou seja, com as memórias, com a experiência do que já foi
e com a expectativa do que vai ser. Esse entendimento humano de tempo, que
inter-relaciona presente, passado e futuro, é chamado de temporalidade. De certo
modo, ela restringe o conceito de tempo a um aspecto mais humano, favorecendo
as análises históricas.
Em termos bem simples, a temporalidade, sob o viés da História, diz respeito ao
tempo humano. Ele se aproxima do que foi dito por Koselleck em sua crítica do
tempo-calendário, como vimos antes, porque cada presente se relaciona de
modos diferentes com o passado e com o futuro. No que diz respeito à prática,
existem duas divisões que servem de base para o conhecimento histórico: a
sincrônica e a diacrônica.
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Figura 5 - A perspectiva da evolução é diacrônica, pois cria relações de causa e consequência num
tempo linear. Fonte: studioworkstock, Shutterstock, 2018.
De acordo com Antoine Prost, mesmo quando lida com um tempo sincrônico, o
historiador se interessa e enfatiza as mudanças, dando à sua análise uma
dimensão diacrônica. Nesse sentido, acompanhar os seres humanos em suas
mudanças é o principal sentido da investigação histórica na perspectiva de Prost. A
análise de Philippe Ariès (1989), em O tempo da História, vai num caminho
semelhante, pois, para ele a dimensão diacrônica é o objetivo da pesquisa em
História, na medida em que esta tem por função observar o que muda entre “hoje”
e “ontem”. Assim, a História se apresentaria como uma “resposta a uma surpresa, a
um espanto com as diferenças entre o hoje e o ontem” (REIS, 2012, p. 25).
A perspectiva sincrônica, contudo, não é deixada de lado pela História. De fato,
diferentes pensadores defenderam os estudos sincrônicos em detrimento da
linearidade causal do tempo diacrônico. Um dos defensores mais conhecidos, é o
antropólogo estruturalista Lévi-Strauss, que em sua análise sobre a necessidade da
História, ressalta a importância da sincronia. Para ele, olhar diacrônico para o
passado não seria capaz de produzir um conhecimento efetivo sobre as sociedades
primitivas. No entendimento do filósofo Lucien Goldmann sobre a obra de Levi
Strauss, este contrapõe o conhecimento histórico à etnologia, afirmando que o
primeiro se pauta pela falsa noção de continuidade, enquanto o segundo trata das
descontinuidades e especificidades (GOLDMANN, 1999).
Como exemplo, podemos dizer que o estudo da Revolução Francesa a partir de
suas causas, consequências, relações com o pensamento Iluminista e
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CASO
ítica de Lévi-Strauss
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tuições, dos acontecimentos, permitindo à etnologia perceber abaixo deles a estrutura subjacente e a ordem
manente” (p. 12). As acusações do antropólogo serviram de reflexão para as teorias da história, promovendo
danças e novas formas de abordagem do tempo, sem contudo, um abandono do conhecimento histórico.
Será que a História, e sua noção mais diacrônica do tempo, é realmente incapaz de
conhecer os acontecimentos do passado? Ou, em termos gerais, o conhecimento
histórico seria inútil para as sociedades? Essas são algumas questões suscitadas
pela crítica de Strauss e elas não foram ignoradas pelos historiadores.
Fernand Braudel, um historiador francês, foi um dos interlocutores diretos de Lévi-
Strauss. Ele argumentou em defesa da História, incorporando algumas das críticas
do antropólogo, mas sustentando a importância e a necessidade do conhecimento
histórico. Para tanto, ele recorreu a uma noção de tempo diferenciada: a longa
duração. O que significa isso? No entendimento de Braudel, a História não se
limita aos estudos particularizados no tempo. Apesar de seu foco nas mudanças,
também é possível perceber as permanências quando observamos um tempo mais
longo, em que as transformações são mais lentas (REIS, 2008).
VOCÊ SABIA?
A diferença entre longa duração e curta duração é muito importante para a produção histórica até
os dias de hoje. A curta duração inclui o que muda rapidamente, como a política e as revoluções. A
longa duração, por sua vez, trata dos fenômenos mais lentos, que quase não podem ser
percebidos por quem os vive, como é o caso das mentalidades (SILVA; SILVA, 2010).
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algum tempo, mas depois afundam. O etnólogo focaria o tempo em que barco
flutua e o historiador se interessa pelo momento em que ele afunda (REIS, 2008).
Mesmo observando fenômenos de longuíssima duração, como os mitos, é difícil
afirmar, do ponto de vista da História, que eles são eternos. Por isso, a diacronia é
tão importante, pois o olhar para a sucessão do tempo sempre nos dá um
panorama de que as coisas findam ou se transforma profundamente.
Se consideramos esse debate relacionando-o com os conceitos que aprendemos
no desenvolvimento do tópico, é possível perceber que não á apenas uma
definição de tempo; existem diversas temporalidades que, para o conhecimento
histórico, são essenciais para o entendimento de tudo aquilo que é humano. A
lição deixada por Braudel, dentre outras, é de que o tempo histórico é inegável e
qualquer ser humano o vivencia, mesmo nas sociedades ditas a-históricas. No
próximo tópico, aprenderemos mais sobre o tempo, agora sob o viés da sua
organização, ou seja, das cronologias, dos calendários e das periodizações.
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essas marcações. Um dia pode ser observado na natureza pelo ciclo completo da
terra em torno do sol, mas uma era ou um período são construções mentais,
esquemas que nos ajudam a lidar com as temporalidades.
Você consegue identificar quais são os principais períodos da História? Sabe o que
os definiu? Ou por que eles foram criados? Ter em mente que as periodizações são
construções humanas e, por isso, passíveis de transformações e interpretações é
algo importante para sua formação.
Figura 6
- Alguns conceitos importantes sobre a relação entre Tempo e História. Fonte: BARROS, 2013, p. 31.
É comum que se pense que o historiador deve conhecer todas as datas de todos os
eventos importantes da História. No entanto, se você reparar com a atenção, vai
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ver que saber a data de algo, não é tão relevante assim. Saber que a Segunda
Guerra Mundial começou no dia 1º de setembro de 1939 é bem menos importante
do que conhecer as causas da guerra, seus participantes, suas consequências para
as pessoas e seus impactos até os dias de hoje. Dessa forma, a questão das datas é
indispensável, mas sempre podemos consultar em um livro ou mesmo na internet
o dia exato que um evento histórico aconteceu. Por outro lado, pensar sobre esses
eventos de forma crítica, contextualizando-o, é algo que somente um bom
historiador pode fazer. Assim, as noções de duração, sincronia, diacronia,
sucessão, simultaneidade, ruptura, continuidade, dentre outras, merecem mais
atenção do que a data em si.
Para facilitar o seu estudo, vamos fazer um apanhado dos conceitos mais
importantes, como base no que foi dito por José d’Assunção Barros (2013):
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VOCÊ O CONHECE?
Henri Bergson foi um filósofo francês que viveu no período entre 1859 a 1941. Seu clássico Matéria e
Memória (1999), é reconhecido como uma das principais obras para o debate acerca do tempo e da
memória. Bergson defende que o tempo humano é diferente do físico por se qualitativo. Por isso, o
tempo vivido, em sua concepção, seria incompreensível em uma perspectiva meramente lógica.
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Figura 7 - A queda de Constantinopla (hoje Istambul), é considerada como um dos marcos para o
início da Idade Moderna. Fonte: Lestertair, Shutterstock, 2018.
Olhando de trás para frente, podemos notar o quanto avançamos sobre o conceito
de tempo – ator principal da História, de acordo com Antoine Prost. Agora você já
sabe o que são os conceitos, como eles nos ajudam a compreender o que já
aconteceu e quais são os principais conceitos utilizados para trabalhar com a ideia
geral de tempo. Além disso, você aprendeu a diferença entre tempo e
temporalidade e como são construídas as periodizações na História. Essas são
informações muito relevantes, que você irá recorrer em todo o curso.
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Síntese
Vimos ao longo do texto, como é importante discorrer sobre os conceitos que
norteiam os estudos históricos. Principalmente para ajudar a definir o Tempo e
como ele se organiza no decorrer da história.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
• aprender sobre a importância dos conceitos, com enfoque para o “tempo”;
• compreender as diferentes concepções de tempo no decorrer da História;
• conhecer mais sobre as noções de temporalidade, sincronia e diacronia, que
são bastante relevantes para o conhecimento histórico;
• discutir como são feitas as periodizações, ou seja, a criação de períodos por
historiadores.
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