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a timeline como ferramenta metodológica num projeto de design

design thinking

fbaup 2020/21
catarina lobão up201604790

metodologias de projeto
prof.antero ferreira

introdução 2
o processo criativo 2
design thinking: IDEO e framework Double Diamond 2
aplicação: programa e metodologia 3
conclusão 6
bibliografia 6
introdução

Neste projeto propõe-se uma reflexão sobre evolução do processo criativo até
chegar a modelos colaborativos e centrados no humano; uma definição e aná-
lise da estratégia design thinking; um exemplo da sua aplicabilidade e, por fim,
uma crítica às fragilidades identificadas.

o processo criativo

O processo criativo é alvo de um constante debate ao longo do tempo. No


Renascimento, a criatividade era entendida como uma inspiração divina. Na
Revolução Industrial surge o culto do génio, numa perspetiva individualista.
No que respeita ao design, em 1996, na crítica “The Designer as Author”, Mi-
chael Rock defende que o processo criativo não é compatível com essa noção
de autor. Isto é, vê a autoria como uma área marginal do design e defende
que a prática não é compatível com a auto-expressão. Nesta altura a prática
do design estava ainda associada a uma ética modernista, em que o designer
assumia um papel de neutralidade perante a encomenda de um cliente. Rock
escreve “algumas das características institucionais da prática do design não
combinam com tentativas entusiasmadas de auto-expressão. A ideia de uma
mensagem descentrada não encaixa bem numa relação profissional na qual o
cliente paga ao designer para transmitir informações ou emoções específicas.
Além disso, a maioria do design é feito num cenário colaborativo, seja a rela-
ção com um cliente ou o contexto de um estúdio que emprega os talentos de
uma grande quantidade de pessoas criativas, com o resultado da origem de
qualquer ideia particular ser incerta. A constante pressão da tecnologia e da
comunicação electrónica turva ainda mais as águas.” Já Steven Heller, reclama
o papel da autoria para um campo mais empresarial e comercial, posiciona o
design no discurso neoliberalista atual. Utiliza a palavra “Authorpreneur”, uma
associação de autor com empreendedor, e vê a autoria como uma forma de
empreendorismo que origina conceitos e os coloca no mercado, assumindo
assim a responsabilidade pela eficácia do produto, aproximando-se do mode-
lo Double Diamond, do qual falarei mais à frente. O designer deixa de ser um
funcionário, como o vemos em Rock, para ser ele próprio uma empresa.
Nesta narrativa neoliberal, o design tem de responder e de se moldar às neces-
sidades da indústria. Assim, surgem novas especializações e novos conceitos
que ganham popularidade na comunidade, como o design thinking. O design
thinking surge numa tentativa de responder a essa ânsia do mercado, trata-se
de um conjunto de ferramentas para resolver problemas complexos, sendo a
inovação a principal finalidade. Uma espécie de DIY para designer e não-de-
signers, em parte, próximo daquilo que foi feito por Ellen Lupton que, aquando
da normalização do computador pessoal, lançou uma série de livros com o
objetivo de aumentar a cultura geral do público para o design, uma tentativa de
colocar o design ao acesso de todos.

design thinking: IDEO e framework Double Diamond

Tim Brown, executive chair na IDEO, uma empresa de design pioneira na im-
plementação do design thinking, descreve o sistema da seguinte forma: "De-
sign thinking is a human-centered approach to innovation that draws from the
designer’s toolkit to integrate the needs of people, the possibilities of technology,
and the requirements for business success.” Assim, o design thinking propõe um
modelo, centrado no humano, capaz de responder a problemas de toda a natu-
reza, de maior ou menor complexidade. É uma estratégia que parte da criati-
vidade para atingir a inovação. Criatividade e inovação são conceitos distintos:
a primeira refere-se ao desenvolvimento de ideias e a última à sua aplicação
no mundo real. O design encontra-se entre a criatividade e a inovação, no
momento da representação, com a materialização das ideias na fase de pro-
totipagem. A IDEO orienta o processo segundo a seguinte divisão faseada: “1.
Observation, 2. Brainstorming, 3. Rapid Prototyping, 4. Refining, 5. Implementa-

2
tion.” A primeira fase é de observação, observar o problema de uma perspetiva
exterior, neutra, sem preconceitos. Segue-se o brainstorming, o momento da
recolha do máximo de informação possível, de “encher o balão” e de idealizar.
A partir dessa discussão, inicia-se a fase de experimentação, a rápida proto-
tipagem: iterar, avaliar e selecionar soluções. Aqui a complexidade é grande,
pesam-se fatores como a viabilidade tecnológica e económica. Quando as con-
clusões desse exercício se revelam sólidas, refina-se a solução e, finalmente,
implementa-se e distribui-se.
O diagrama Double Diamond, criado pela British Design Council em 2005, é
um modelo de desenvolvimento bastante fiel à prática atual do design, que se
afasta do “authorpreneur”. Apresenta, como a IDEO, um processo que evoluí do
divergente para o convergente, que parte do geral para o particular, mapeado
em 4 fases: “Discover, Define, Develop, Deliver”. Coloca, igualmente, o humano
no centro, isto é, baseia-se num processo empático, colaborativo e comuni-
cativo: é muito importante que as frustrações e expectativas do cliente sejam
clarificadas nas fases iniciais, assim como a sua colaboração ao longo de todo
o processo para uma melhor perceção do contexto sobre o qual incide o pro-
blema. Como se pode ver na imagem abaixo, não é um processo linear.
Os recuos e avanços são imprescindíveis para encontrar uma solução adequa-
da ao problema.

Framework Double Diamond


Design Council

aplicação: programa e metodologia

Apresento agora um exemplo, pessoal, de aplicação da metodologia do design


thinking. O projeto foi desenvolvido em contexto académico e, desta forma,
o professor assume o papel de cliente. A definição do briefing foi o ponto de
partida para o processo: propunha-se o redesenho da identidade visual do
evento Serralves em Festa, edição de 2020, e a elaboração do respetivo manual
de normas. Face ao problema identificado, iniciou-se a fase de descoberta: a
exploração e análise do contexto, a realização de uma análise SWOT para cla-
rificar necessidades e oportunidades e, também, um levantamento do estado
da arte e referências relevantes. Posto isto, começam-se a gerar as ideias, o
brainstorming, definem-se palavras/ideias-chave que servirão de mote para a
definição do conceito. Desta exploração criativa, nasce o design: a prototipa-
gem, a avaliação de soluções, até à definição dos elementos gráficos principais.
Sempre com base na experimentação, a solução vai sendo refinada até que se
chegue ao produto final: o sistema da identidade gráfica. Na última fase, sinte-
tiza-se esse sistema e organizam-se as normas gráficas num manual.
As fases principais do projeto estão identificadas numa timeline (p.4) e para a
gestão de tarefas de pequeno curso recorreu-se à aplicação Notion.
3
Fase 1: Estudo do programa através do
levantamento e registo das caracterís-
ticas fundamentais da instituição, dos
seus constrangimentos, necessidades e
ambições/perspectivas. Esta fase, que se
pode caracterizar como a fase de estudo
do programa, antes da fase de design,
deve ser o mais completa possível para
antecipar problemas

Discover

Fase 2: Brainstorming

Discover

4
Fase 3: Design da estratégia visual básica

Define

Fase 4: Teste e aplicação dos elementos


de identidade no economato básico e em
outros suportes

Develop

Fase 5: Extensão da identidade aos de-


mais dispositivos ou estratégias
de comunicação

Develop

Fase 6: Sistematização da identidade,


execução das normas gráficas e do res-
pectivo manual

Deliver

5
conclusão

O método design thinking está em permanente evolução, é já um sistema


reconhecido pela comunidade e demonstra-se cada vez mais pertinente
em relação às necessidades da indústria. No entanto, coloca, muitas vezes,
a disciplina num circuito de cursos/workshops rápidos. Em 2018, Natasha
Jen, escreve o artigo “Why Design Thinking is bullshit”, para a It’s Nice That,
onde explica as consequências dessa interpretação simplista do modelo. Se
se desvirtuarem os princípios que motivaram o design thinking, restringin-
do-o a um discurso do empreendorismo, então poderá correr-se o risco de
reafirmar um preconceito intelectual em relação ao design.

bibliografia

CHUNG, Eric, “Design Thinking is not a workshop”, 2020. Disponível em


https://medium.com/design-ibm/design-thinking-is-not-a-workshop-
-66934397ff b2, data da última consulta a 03-01-2021.
HELLER, Steven. The Education of a Design Entrepreneur. Allworth, 2006.

COUNCIL, Design, https://www.designcouncil.org.uk/, data da última con-


sulta a 14-01-2021.

COUNCIL, Design, “Design Council 2020-24 Strategy”, disponível no moodle


da UC.

COUNCIL, Design, “Double Diamond Plan”, disponível no moodle da UC.

IDEO, https://designthinking.ideo.com, data da última consulta a 16-01-


2021.

JEN, Natasha. Why Design Thinking is bullshit, 2018. Disponível em www.


itsnicethat. com/articles/natasha-jen-pentagram-graphicdesign-230218,
data da última consulta a 10-01-2021.

LUPTON, Ellen. D.I.Y.: Design It Yourself (Design Handbooks). Princeton


Architectural Press, 2005.

ROCK, Michael. The designer as author. Eye, no. 20, vol. 5, 1996.

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