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AS PRIMEIRAS PERCEPÇÕES DO BRINCAR

CAPÍTULO 2:
AS PRIMEIRAS PERCEPÇÕES
DO BRINCAR

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UNID A D E 1: C O N TEX TO H ISTÓ R ICO: INFÂNC I A E O BRI NCAR
AS PRIMEIRAS PERCEPÇÕES DO BRINCAR

A obra Jogos infantis de Pieter Bruegel de 1560, nos dá uma


ideia das brincadeiras vigentes no século XVI, ainda que o pro-
pósito da obra fosse a retratação de homens em miniatura, algo
comum na época, brincadeiras que ainda fazem parte do nosso co-
tidiano estão ali retratadas.

Figura 2-1: Jogos Infantis

“ Quando se remete ao sentimento de infância,


é admissível também adentrar no universo dos
jogos e das brincadeiras, assim como no insti-
gante universo do brincar infantil. Diante disso,
ainda no século XV, os artistas da época tiveram
interesse em representar crianças brincando, as-
sim como teve evidência os próprios brinquedos
utilizados. Pode-se observar em tais pinturas o

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cavalo de pau, o cata-vento, o pássaro. Alguns


desses brinquedos foram utilizados em demasia
pelas crianças devido à inclinação para imitação
dos adultos, como é o caso do cavalo de pau, usa-
do com brinquedo numa época em que o cavalo
era o meio de transporte mais importante

(BEM & TAVARES, 2012)

Esta relação entre realidade e brincadeira é algo bem pre-


sente ainda hoje, observamos as crianças replicando o mundo que
conhecem, reproduzindo discursos dos pais ou de outros adultos
que a cercam.
Philippe Ariès explica que até o início do século XVII não
havia distinção entre brincadeiras de adultos e crianças: “os mes-
mos jogos eram comuns a ambos”.

No início do século XVII, essa polivalência não se es-


tendia mais às crianças muito pequeninas. Conhecemos
bem suas brincadeiras, pois, a partir do século XV, quan-
do os putti (pinturas ou esculturas de um menino
nu) surgiram na iconografia, os artistas multiplicaram as
representações de criancinhas brincando. Reconhecemos
nessas pinturas o cavalo de pau, o catavento, o pássaro
preso por um cordão... e, às vezes, embora mais raramen-
te, bonecas. E um tanto ou quanto evidente que esses brin-
quedos eram reservados aos pequenininhos (1981, p.73).

Como já dito, as brincadeiras nascem do espirito das emula-


ções das crianças, assim afirma Ariès (1981):

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“ O mesmo reflexo anima nossas crianças de


hoje quando elas imitam um caminhão ou um car-
ro. Mas, enquanto os moinhos de vento há muito
desapareceram de nossos campos, os cataventos
continuam a ser vendidos nas lojas de brinquedos
nos quiosques dos jardins públicos ou nas feiras.
As crianças constituem as sociedades humanas


mais conservadoras.

Muitos brinquedos eram utilizados em outros cenários que


não o infantil; rituais religiosos fizeram muito uso de alguns brin-
quedos que ainda conhecemos, por exemplo, nas antigas civiliza-
ções os jogos com ossinhos ou pedrinhas serviam de instrumentos
divinatórios. Gradativamente deixaram de ser usados nesses cená-
rios e se tornaram apenas instrumentos do brincar, fazendo parte
do panorama infantil.
Algo interessante são as primeiras teorias a respeito dos jogos:

As primeiras aproximações ao jogo situam-se histo-


ricamente em torno da segunda metade do século XIX e
começo do século XX. As explicações mais conhecidas são
a teoria do excedente energético e do pré-exercício, a da
reca- pitulação e do relaxamento.
Teoria do excedente energético. Na metade do sécu-
lo XIX, Herbert Spencer (1855) propõe a teoria do ex-
cedente energético, segundo a qual o jogo aparece como
consequência do excesso de energia do indivíduo. Para
realizar essa afirmação, apoia-se na ideia de que a infân-
cia é uma etapa da vida na qual a criança não precisa

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realizar qualquer trabalho para sobreviver, pois suas


necessidades estão garantidas pelos adultos, e, por isso,
ela consome o excedente de energia através do jogo, ocu-
pando, nessa atividade, os grandes espaços de tempo livre
(MURCIA, 2005).

Isto nos mostra que ainda os jogos, assim como as brinca-


deiras tinham o objetivo de preencher o tempo ocioso da criança.
Apesar de sabermos que na Grécia antiga jogos eram usados
para ensinar é no início do Século XX, que ocorrem na Europa
e nos Estados Unidos, significativas transformações na educação,
dois médicos: Ovídio Decroly e Maria Montessori. Decroly desen-
volveu uma metodologia de ensino cujo foco era propor atividades
didáticas baseadas no funcionamento psicológico e no interesse da
criança, já Montessori objetivou um trabalho centrado na confec-
ção de materiais educacionais apropriados à exploração sensorial
das crianças. Resumindo, é neste momento da história que estu-
diosos começam a se preocupar com a educação infantil e a ne-
cessidade de abordagem voltada a esta fase da vida: o brincar era
uma delas.
Nas palavras de Bettelheim (1988, p. 105):

Através de uma brincadeira de criança, pode-se com-


preender como ela vê e constrói o mundo – o que ela gos-
taria que fossem quais as suas preocupações e que pro-
blemas a estão assediando. Pela brincadeira a criança
expressa o que teria dificuldade de colocar em palavras.

Temos avançado muitos a este respeito, hoje os educadores


compreendem melhor a contribuição das brincadeiras e jogos para
o desenvolvimento infantil. Mas será que aplicamos estas teorias no

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dia a dia? Será que planejamos as brincadeiras como planejamos


os conteúdos? Observamos a interação das crianças durante jogos,
como avaliamos na execução de uma tarefa? É importante refletir.

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 EXERCÍCIOS PROPOSTOS - UNIDADE 1

1) Com base no conteúdo apresentado na unidade, avalie as informações


a seguir:
I) A concepção de infância sempre foi muito importante para a humanidade.
II) O sentimento de infância, como tal o conhecemos, surgiu por volta do
século XVII.
III) A criança sempre foi percebida em sua fragilidade e imaturidade.
IV) A criança não era percebida em sua fragilidade e imaturidade, apesar da
fase biológica do desenvolvimento humano denominada de infância sempre
ter existido.
É correto apenas o que se afirma em:
(a) II e IV
(b) I e II
(c) III e IV
(d) I
(e) II e III

2) “Segundo um calendário das idades do século XVI, aos 24 anos é criança


forte e virtuosa, assim acontece com as crianças quando elas têm 18
anos. A longa duração da infância tal como aparecia na língua comum,
provinha da indiferença que se sentia então pelos fenômenos propria-
mente biológicos: ninguém teria a ideia de limitar a infância pela puber-
dade. A ideia de infância estava ligada à ideia de dependência: palavras
fils, valets e garçons eram também palavras do vocabulário das relações
feudais ou senhoriais de dependência”. (Áries 1981, p35-38). Com base
na leitura deste trecho, assinale a alternativa incorreta:

(a) Apesar de não conseguirem medir corretamente o tempo da


infância, os estudiosos tinham em mente que este período era
muito importante e tinha relação com a fase adulta.

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EX ER C ÍC IO S PROPOSTOS - UNI DADE 1
(b) até o início do século XVII não havia distinção entre brincadeiras
de adultos e crianças: “os mesmos jogos eram comuns a ambos”
(c) apesar da fase biológica do desenvolvimento humano denomi-
nada de infância sempre ter existido, as sociedades construíram
para si uma forma de interpretar a infância, e estes modos eram
muito distintos do que entendemos nos dias de hoje.
(d) Os cuidados, o brincar, nada disso figurava nos pensamentos da
humanidade da época. Eram conceitos que surgiram algum tem-
po depois.
(e) No fim do século XVI uma mudança muito mais nítida teve lu-
gar. Certos educadores, que iriam adquirir autoridade e impor
definitivamente suas concepções e seus escrúpulos, passaram a
não tolerar mais que se desse às crianças livros duvidosos, foi
uma etapa muito importante. É dessa época realmente que po-
demos datar o respeito pela infância.

3) Com base em suas leituras, avalie as informações:


I) A arte também parece ter ignorado a infância “até por volta do século XII,
a arte medieval desconhecia a infância ou não tentava representá-la.
II) A “descoberta” da infância ocorre nos séculos XV, XVI e XVII, é a partir
daí que estudiosos passariam a reconhecer que as crianças careciam de
tratamento especial, de um aprendizado que as pudessem preparar para in-
tegrar o mundo dos adultos.
III) Ocorreu uma dissociação entre o mundo adulto e o da criança que co-
meçaram a frequentar as escolas, lugar especialmente dedicado a lhes pas-
sar informações que as habilitariam para uma vida de responsabilidades.
IV) De acordo com achados históricos, sabe-se que o sentimento de infância
passou por transformações ao longo dos séculos nas diversas sociedades;
É correto apenas o que se afirma em:
(a) I, II, III e IV
(b) I e III
(c) II e IV
(d) III
(e) IV

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EX ER C ÍC IO S PROPOSTOS - UNI DADE 1
4) Observe novamente o quadro Jogos Infantis e marque a afirmação correta:

(a) Em sua pintura, o artista miniaturiza adultos, transformando-os


em crianças, fato comum na iconografia medieval.
(b) Representa um pequeno número de jogos e atividades lúdicas
(cerca de 20).
(c) Muitas brincadeiras são identificáveis, mas deixaram de fazer
parte da cultura do século XX como as brincadeiras: pernas de
pau, roda, pular corda, rodar aros, cavalo de pau, cata-vento, ca-
bra-cega, pular carniça, soprar bexiga, esconde-esconde, jogar
castelo, andar de cadeirinha...
(d) No quadro, algumas atividades mostram-se mais importantes
do que outras.
(e) Todas as afirmações estão corretas.

5) Philipe Àires em sua obra fala sobre a emulação das crianças ao brinca-
rem, sobre isto é incorreto afirmar que:

(a) Até o início do século XVII havia distinção entre brincadeiras de


adultos e crianças: os jogos não eram comuns a ambos.
(b) Esta relação entre realidade e brincadeira é algo bem presente
ainda hoje, observamos as crianças replicando o mundo que co-
nhecem, reproduzindo discursos dos pais ou de outros adultos
que a cercam.
(c) O mesmo reflexo anima nossas crianças de hoje quando elas
imitam um caminhão ou um carro.
(d) As crianças constituem as sociedades humanas mais
conservadoras.
(e) Todas as alternativas estão corretas.

6) Analise as afirmações abaixo:


I) Já na Grécia sabe-se que os jogos eram usados com propósitos
educativos;
II) Através de uma brincadeira de criança, pode-se compreender como ela
vê e constrói o mundo;

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III) Hoje os educadores ainda não compreendem a contribuição das brinca-
deiras e jogos para o desenvolvimento infantil.
É correto apenas o que se afirma em:
(a) I e II
(b) I
(c) III
(d) III e II
(e) I, II e III

7) Sobre teoria do excedente energético, é incorreto afirmar.

(a) Teoria do excedente energético afirma que o jogo aparece como


consequência do da falta de energia do indivíduo que busca en-
contrar na atividade o estímulo necessário.
(b) A infância é uma etapa da vida na qual a criança não precisa re-
alizar qualquer trabalho para sobreviver, pois suas necessidades
estão garantidas pelos adultos, e, por isso, ela consome o exce-
dente de energia através do jogo, ocupando, nessa atividade, os
grandes espaços de tempo livre.
(c) A teoria do excedente energético diz que o jogo aparece como
consequência do excesso de energia do indivíduo.
(d) A teoria do excedente energético foi proposta por Herbert Spen-
cer (1855) na metade do século XIX.
(e) Todas as afirmações estão corretas.

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