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O PAPEL DO PROFESSOR

CAPÍTULO 12:
O PAPEL DO PROFESSOR

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UNIDADE 6: O PAP EL D O P R O FESSO R N A IN C L U SÃO DA CR I ANÇA AUTI STA
O PAPEL DO PROFESSOR

Quando abordamos a inclusão, o papel do professor frente a


esse processo é assunto central, afinal ele é incumbido da tarefa de
construir uma relação contínua, eficaz e duradouro com a criança.
Frente a este desafio, novas atribuições recaem sob a responsabi-
lidade do professor, e este tem que estar pronto para lidar com as
mais diversas situações em seu dia a dia, e as crianças com autismo
são parte destas recentes demandas.
Entendemos que o papel do professor é uma intervenção
mediatizada, ou seja, ele deixa de ser um mero transmissor de co-
nhecimentos e passa a ser um orientador, estimulando o desen-
volvimento e a aprendizagem tendo como ponto de partida as in-
terações construídas entre TEA – professor – turma. A mediação
então “é processo de intervenção de um elemento intermediário
numa relação; a relação deixa, então, de ser direta e passa a ser
mediada por esse elemento” (OLIVEIRA, 1997, p.26).

Nos meados da década de cinquenta, Feuerstein deu ori-


gem a sua teoria da Experiência de Aprendizagem Mediatizada
(EAM), que dá suporte ao mediatizador, interpondo-se e inter-
vindo entre aquele que é mediatizado e os estímulos apresenta-
dos, adaptando-os às suas próprias necessidades.
A teoria da Experiência de Aprendizagem Mediatizada
(EAM), explica a função das experiências relacionadas com o
desenvolvimento cognitivo das novas gerações como um acon-
tecimento ou um processo de criação e modificação de um ser
através da transmissão ou melhor, da construção da cultura de
um povo, seus valores, atitudes, intenções, etc., já experimenta-
dos e realizados pelas gerações anteriores, com a finalidade de
se obter certo resultado desejado. Deste modo, percebe-se que
o desenvolvimento cognitivo humano de quem é mediatizado,
existe sempre junto com o desenvolvimento cognitivo de seus
mediatizadores, sucedendo-se, naturalmente, dentro de um

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UNIDADE 6: O PAP EL D O P R O FESSO R N A IN C L U SÃO DA CR I ANÇA AUTI STA
O PAPEL DO PROFESSOR

contexto social que pode tanto contribuir para o crescimento


de seu desempenho como provocar disfunções cognitivas ou um
desenvolvimento deficitário das mesmas (ORRÚ, 2003).

Neste sentido Barbosa (et al, 2013) coloca que a participa-


ção do professor na inclusão da criança com autismo em escolas de
ensino regular tem, então, papel determinante, pois é ele quem es-
tabelecerá o primeiro contato com a criança, positivo ou negativo,
sendo um grande responsável por concretizar ou não o processo de
inclusão, tendo em mente que o dever do educador é de criar possi-
bilidades de desenvolvimento para todos, adaptando metodologias
para atingir as necessidades diversificadas de cada aluno.
É imperativo que o docente reconheça todas as característi-
cas e dificuldades que abarcam este transtorno, somente assim ele
será capaz de projetar suas ações corroborando com o crescimento
da criança, não permitindo que ela seja vítima de atos discrimina-
tórios. Como Orrú (2003, p.1) diz:

É imprescindível que o educador e qualquer outro profissio-


nal que trabalhe junto à pessoa com autismo seja um conhe-
cedor da síndrome e de suas características inerentes. Porém,
tais conhecimentos devem servir como sustento positivo para o
planejamento das ações a serem praticadas e executadas […].

Percebemos que para atingir bons resultados nesse proces-


so, o educador precisa ter propriedade nas práticas aplicadas e co-
nhecimento pleno do que é o autismo. Não só isso, mas também
que ele seja empático, sensível para promover em sala de aula a
consciência de atos inclusivos, buscando contribuir, dessa forma,
com desenvolvimento e com a aprendizagem. A dura realidade
educacional é que os professores não têm recebido uma base só-
lida nos aspectos teóricos e práticos, e assim poucos professores
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UNIDADE 6: O PAP EL D O P R O FESSO R N A IN C L U SÃO DA CR I ANÇA AUTI STA
O PAPEL DO PROFESSOR

possuem uma formação básica centrada nos aspectos inclusivos ou


específica para o autismo, o resultado é a falta de preparo acerca
das necessidades diferenciadas e conhecimentos necessários para
ensinar a criança com autismo (BARBOSA et al. 2013).

Nunes (2011) afirma que muitos professores que atuam nas


escolas demonstram medo e ate não aceitam a inclusão que está
acontecendo em todo sistema educacional em território nacio-
nal. A concepção do professor em relação à inclusão depende
muito de sua formação cultural e intelectual o que, muitas ve-
zes, acaba interferindo na prática pedagógica. Por vezes o pro-
fessor quer compartilhar a responsabilidade de ensinar a crian-
ça com autismo com outras pessoas, devido às dificuldades que
ele enfrente sozinho na sala de aula (BARBOSA et. al, 2013).

Barbosa (et. al, 2013) ainda ressalta a visão negativa que


alguns educadores têm sobre a inclusão. Estes culpam o próprio
despreparo e a falta de auxílio de superiores, até do próprio go-
verno que não fornece o subsídio necessário para cumprirem a
sua função.

Segundo Coscia (2010) o professor, ao iniciar o processo


de ensino aprendizagem com uma criança com autismo, terá
a sensação que ela se recusa a interagir e a aprender qualquer
coisa proposta por ele. Este deverá proporcionar um ambiente
adequado, com intervenções necessárias para que ocorra a co-
municação. Um aspecto que interfere diretamente na prática
docente, é a formação o professor, a graduação sozinha não é
capaz de capacitar o professor para compreender e aprender a
lidar com as diferenças e desafios presentes na educação inclu-
siva (BARBOSA et. al, 2013).

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 EXERCÍCIOS PROPOSTOS - UNIDADE 6

1) Para Rodriguez (2006) a exclusão é fruto provavelmente de quais fatores?

(a) fatores culturais, que nos levam a pensar que a diferença é


ameaçadora.
(b) fatores sociais.
(c) fatores econômicos.
(d) fatores inatos, só algumas pessoas são capazes de excluir.
(e) Todas as alternativas estão corretas.

2) Leia e avalie as afirmações:


I) A inclusão de crianças com autismo em sala de aula é tema que, por ve-
zes, suscita polêmica e muitas discussões pela complexidade das caracterís-
ticas apresentadas quando estas crianças são inseridas no ambiente escolar.
II) O aluno com TEA sempre apresenta comportamentos agressivos para
com os professores e amigos o que é um grande desafio a ser superado.
III) Há uma grande dificuldade do tea em interagir e se comunicar
São verdadeiras as proposições:
(a) I e III
(b) I e II
(c) II e III
(d) Apenas I
(e) I, II e III

3) Sobre a teoria da Experiência de Aprendizagem Mediatizada (EAM) é in-


correto afirmar:

(a) explica a função das experiências relacionadas com o desenvol-


vimento biológico e afetivo.

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EX ER C ÍC IO S PROPOSTOS - UNI DADE 6
(b) explica o processo de criação e modificação de um ser através
da transmissão ou melhor, da construção da cultura de um
povo, seus valores, atitudes, intenções, etc., c) percebe-se que
o desenvolvimento cognitivo humano de quem é mediatizado,
existe sempre junto com o desenvolvimento cognitivo de seus
mediatizadores;
(c) sucede-se, naturalmente, dentro de um contexto social que pode
tanto contribuir para o crescimento de seu desempenho como
provocar disfunções cognitivas ou um desenvolvimento defici-
tário das mesmas.
(d) Todas as afirmações estão incorretas.

4) Segundo Coscia (2010) o professor, ao iniciar o processo de ensino


aprendizagem com uma criança com autismo:

(a) terá a sensação que ela se recusa a interagir e a aprender qual-


quer coisa proposta por ele;
(b) Terá muito sucesso ao perceber que seu planejamento condiz
com as necessidades do aluno.
(c) Não precisa ter preocupações pois a lei o ampara neste sentido.
(d) Poderá contar com o auxílio da coordenação da escola que ficará
responsável pelo planejamento das aulas.
(e) N.d.a

5) Podemos apontar como pontos negativos da inclusão, exceto:

(a) O professor empático, sensível promove em sala de aula a cons-


ciência de atos inclusivos, buscando sempre contribuir, dessa
forma, com desenvolvimento e com a aprendizagem.
(b) A dura realidade educacional é que os professores não têm re-
cebido uma base sólida nos aspectos teóricos e práticos, e assim
poucos professores possuem uma formação básica centrada nos
aspectos inclusivos ou específica para o autismo
(c) a falta de preparo do professor acerca das necessidades diferen-
ciadas e conhecimentos necessários para ensinar a criança com
autismo

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EX ER C ÍC IO S PROPOSTOS - UNI DADE 6
(d) muitos professores que atuam nas escolas demonstram medo e
ate não aceitam a inclusão que está acontecendo em todo siste-
ma educacional em território nacional
(e) a visão negativa que alguns educadores têm sobre a inclusão.
Estes culpam o próprio despreparo e a falta de auxílio de supe-
riores, até do próprio governo que não fornece o subsídio neces-
sário para cumprirem a sua função.

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