Você está na página 1de 33

INSTITUTO POLITÉCNICO DO CÁVADO E DO AVE

ESCOLA SUPERIOR DE GESTÃO


LICENCIATURA EM FISCALIDADE

5. ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO


PRINCIPAL ATIVIDADES EMPRESARIAIS
TRIBUTAÇÃO DO RENDIMENTO DAS PESSOAS COLETIVAS (IRC)

Luís Esteves
Barcelos, 2022/2023
1
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS

Art.º 2.º, n.º 1, alínea a) : Entidades sem fins lucrativos são sujeitos
passivos de IRC [têm, em princípio, personalidade jurídica; caso não
tenham, são também sujeitos passivos, cfr. Art.º 2.º, n.º 1, alínea b)]
Art.º 3.º, n.º 1, alínea b): A base do IRC é o rendimento global,
correspondente à soma algébrica dos rendimentos das diversas categorias
consideradas para efeitos de IRS (+ incrementos patrimoniais gratuitos…).

✓ Isenções: Art.os 9.º a 11.º…


2
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Isenções pessoais
Isenções automáticas – Estado, Regiões Autónomas, Autarquias locais e
respetivos serviços, institutos públicos, associações e federações de
municípios, associações de freguesias, instituições de segurança social e
previdência (excluem-se as entidades públicas de natureza empresarial e
os rendimentos de capitais) (art.º 9.º); IPSS e equiparadas [art.º 10.º, n.º
1, alínea b)].
Nota: Art.º 10.º, n.º 1, alínea a): Pessoas coletivas dotadas de utilidade pública administrativa –
Revogada pela Lei n.º 36/2021, de 14-06 (Lei Quadro do Estatuto de Utilidade Pública); Era isenção
automática…
3
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Isenções pessoais
Isenções a requerimento dos interessados – Pessoas coletivas com
estatuto de utilidade pública que prossigam, exclusiva ou
predominantemente, fins científicos ou culturais, de caridade, assistência,
beneficência, solidariedade social, defesa do meio ambiente e
interprofissionalismo agroalimentar [art. 10.º, n.º 1, alínea c)].
Nota: Redação anterior: “Pessoas coletivas dotadas de mera utilidade pública que prossigam (…)” –
Alterada pela Lei n.º 36/2021, de 14-06 (Lei Quadro do Estatuto de Utilidade Pública).

4
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Isenções reais
Rendimentos diretamente derivados do exercício de atividades culturais,
recreativas e desportivas, desde que auferidos por associações legalmente
constituídas (isenção mista…), desde que não conexos com atividades
empresariais, nomeadamente com publicidade, direitos de transmissão,
jogo do bingo, bens imóveis, aplicações financeiras (art.º 11.º), exceto se
o seu valor global não ultrapassar €7.500 (art.º 54.º do EBF).

5
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Art.º 53.º - Determinação do rendimento global
N.º 1: O rendimento global sujeito a imposto das pessoas coletivas e
entidades mencionadas na alínea b) do n.º 1 do artigo 3.º é formado pela
soma algébrica dos rendimentos líquidos das várias categorias
determinados nos termos do IRS, incluindo os incrementos patrimoniais
obtidos a título gratuito, aplicando-se à determinação do lucro tributável
as disposições deste Código.

6
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Art.º 53.º - Determinação do rendimento global
N.º 7: Ao rendimento global apurado nos termos dos números anteriores
são dedutíveis, até à respetiva concorrência, os gastos comprovadamente
relacionados com a realização dos fins de natureza social, cultural,
ambiental, desportiva ou educacional prosseguidos por essas pessoas
coletivas ou entidades, desde que não exista qualquer interesse direto ou
indireto dos membros de órgãos estatutários, por si mesmos ou por
interposta pessoa, nos resultados da exploração das atividades
económicas por elas prosseguidas.
7
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Art.º 54.º - Gastos comuns e outros
N.º 1: Os gastos comprovadamente indispensáveis à obtenção dos
rendimentos que não tenham sido considerados na determinação do
rendimento global nos termos do artigo anterior e que não estejam
especificamente ligados à obtenção dos rendimentos não sujeitos ou
isentos de IRC são deduzidos, no todo ou em parte, a esse rendimento
global, para efeitos de determinação da matéria coletável, de acordo com
as seguintes regras:
8
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Art.º 54.º - Gastos comuns e outros
a) Se estiverem apenas ligados à obtenção de rendimentos sujeitos e não
isentos, são deduzidos na totalidade ao rendimento global;
b) Se estiverem ligados à obtenção de rendimentos sujeitos e não isentos,
bem como à de rendimentos não sujeitos ou isentos, deduz-se ao
rendimento global a parte dos gastos comuns que for imputável aos
rendimentos sujeitos e não isentos.

9
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Art.º 54.º - Gastos comuns e outros
N.º 2: Para efeitos do disposto na alínea b) do número anterior, a parte
dos gastos comuns a imputar é determinada através da repartição
proporcional daqueles ao total dos rendimentos brutos sujeitos e não
isentos e dos rendimentos não sujeitos ou isentos, ou de acordo com
outro critério considerado mais adequado aceite pela AT.

10
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Art.º 54.º - Gastos comuns e outros
N.º 3: Consideram-se rendimentos não sujeitos a IRC as quotas pagas
pelos associados em conformidade com os estatutos, bem como os
subsídios destinados a financiar a realização dos fins estatutários.
N.º 4: Consideram-se rendimentos isentos os incrementos patrimoniais
obtidos a título gratuito destinados à direta e imediata realização dos fins
estatutários.
Donativos
11
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Art.º 54.º, EBF: Colectividades desportivas, de cultura e recreio
1 - Ficam isentos de IRC os rendimentos das colectividades desportivas, de
cultura e recreio, abrangidas pelo artigo 11.º do Código do IRC, desde que
a totalidade dos seus rendimentos brutos sujeitos a tributação, e não
isentos nos termos do mesmo Código, não exceda o montante de € 7 500.
2 - As importâncias investidas pelos clubes desportivos em novas infra-
estruturas, não provenientes de subsídios, podem ser deduzidas à matéria
colectável até ao limite de 50 % da mesma, sendo o eventual excesso
deduzido até ao final do segundo exercício seguinte ao do investimento.
12
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Art.º 87.º, n.º 5: Relativamente ao rendimento global de entidades com
sede ou direção efetiva em território português que não exerçam, a título
principal, atividades de natureza comercial, industrial ou agrícola, a taxa é
de 21 %.

✓ Simplificação ao nível das obrigações declarativas e de escrituração


(contabilidade)…

13
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Art.º 117.º, n.º 6: A obrigação a que se refere a alínea b) do n.º 1 não
abrange:
a) As entidades isentas ao abrigo do artigo 9.º, exceto quando estejam
sujeitas a uma qualquer tributação autónoma ou quando obtenham
rendimentos de capitais que não tenham sido objeto de retenção na fonte
com caráter definitivo;
b) As entidades que apenas aufiram rendimentos não sujeitos a IRC,
exceto quando estejam sujeitas a uma qualquer tributação autónoma.
14
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Art.º 124.º - Regime simplificado de escrituração
1 - As entidades com sede ou direção efetiva em território português que não
exerçam, a título principal, uma atividade comercial, industrial ou agrícola
devem possuir obrigatoriamente os seguintes registos:
a) Registo de rendimentos, organizado segundo as várias categorias de
rendimentos considerados para efeitos de IRS;
b) Registo de encargos, organizado de modo a distinguirem-se os encargos
específicos de cada categoria de rendimentos sujeitos a imposto e os demais
encargos a deduzir, no todo ou em parte, ao rendimento global;
c) Registo de inventário, em 31 de dezembro, dos bens suscetíveis de gerarem
ganhos tributáveis na categoria de mais-valias.
15
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Art.º 124.º - Regime simplificado de escrituração
2 - Os registos referidos no número anterior não abrangem os rendimentos das
atividades comerciais, industriais ou agrícolas eventualmente exercidas a título
acessório, pelas entidades aí mencionadas, devendo, caso existam esses
rendimentos, ser também organizada uma contabilidade que, nos termos do
artigo anterior, permita o controlo do lucro apurado nessas atividades.
3 - O disposto no número anterior não se aplica quando os rendimentos totais
obtidos em cada um dos dois exercícios anteriores não excedam €150 000, e o
sujeito passivo não opte por organizar uma contabilidade que, nos termos do
artigo anterior, permita o controlo do lucro apurado nessas atividades.
16
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Declaração modelo 22 - Anexo D:

17
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
IES - DAICF - Anexo D:

18
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
IES - DAICF - Anexo D:

(…) Total dos Rendimentos (D149) 19


ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
IES - DAICF - Anexo D:

(…) Total dos Gastos (D161) 20


ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
IES - DAICF - Anexo D:

21
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
IES - DAICF - Anexo D:

22
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
IES - DAICF - Anexo D:

23
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
IES - DAICF - Anexo D:

(…) 24
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
IES - DAICF - Anexo D:

25
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
CASO PRÁTICO
O “Clube XPTO” é uma associação cultural, recreativa e desportiva,
legalmente constituída, que se dedica a atividades teatrais, de dança e
algumas modalidades desportivas. Possui nas suas instalações um
pequeno bar que explora. No ano de 2021 obteve os rendimentos e
suportou os gastos que constam nos quadros apresentados em seguida.
Pedido: Proceda ao enquadramento da associação em sede de IRC e
determine a matéria coletável do período de tributação de 2021.
26
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Rendimentos Brutos
Escola de teatro 2 000
Danças de salão 5 000
Judo e Karaté 7 500
Bar 12 000
Publicidade 2 000
Arrendamento sala de teatro a outra companhia 4 000
Quotas dos associados 3 500
Subsídio do Município (teatro e desporto) 9 000
Total 45 000

27
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS

Gastos
Atividade recreativa e desportiva 5 000
Bar 4 500
Comuns a toda a atividade 10 000
Conservação e manutenção da sala de teatro 2 000
Total 21 500

28
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
RESOLUÇÃO
✓ Enquadramento em IRC da associação…
✓ Determinação da MC/2021:
Rendimentos
- 2.000 + 5.000 + 7.500 = 14.500 → Isentos (art.º 11.º, n.º 1)
- 12.000 + 2.000 + 4.000 = 18.000 → Sujeitos e não isentos (art.º 11.º, n.º 3)
- 3.500 + 9.000 = 12.500 → Não sujeitos (art.º 54.º, n.º 3)

29
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Gastos
- 5.000 → Imputáveis aos rendimentos isentos
- 4.500 → Imputáveis aos rendimentos sujeitos e não isentos (categoria B)
- 10.000 → Imputáveis a todos os rendimentos (repartição…)
- 2.000 → Imputáveis ao rendimentos prediais (categoria F)
Rendimento Global
- RL categoria B = 12.000 + 2.000 - 4.500 = 9.500
- RL categoria F = 4.000 - 2000 = 2.000
- Rendimento global = 9.500 + 2.000 = 11.500 (art.º 53.º, n.º 1)
30
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Repartição gastos comuns
- Gastos comuns = 10.000
- Repartição → art.º 54.º, n.º 1, alínea b) e n.º 2
- Rendimentos sujeitos e não isentos / Total dos rendimentos, logo, 18.000 / 45.000 =
0,40 → 40% (imputação aos rendimentos sujeitos e não isentos)
- Rendimentos isentos e não sujeitos / Total dos rendimentos, logo, (14.500 + 12.500)
/ 45.000 = 0,60 → 60% (imputação aos rendimentos isentos e não sujeitos)
- Gastos comuns imputáveis aos rend. sujeitos e não isentos = 10.000 x 40% = 4.000
(dedução ao rend. global)
- Gastos comuns imputáveis aos rend. isentos e não sujeitos = 10.000 x 60% = 6.000
31
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
Matéria coletável
- Art.º 53.º, n.º 7 → Possibilidade de deduzir ao rend. global os gastos relacionados
com os rend. isentos no valor de 5.000 (até à concorrência do rend. global), logo,
11.500 - 5.000 = 6.500
- Art.º 54.º → Dedução ao rend. global dos gastos comuns imputáveis aos rend.
sujeitos e não isentos → 6.500 - 4.000 = 2.500
Matéria coletável = 2.500

Nota: Não é aplicável a isenção do art.º 54.º, n.º 1, EBF, pois os rendimentos brutos
sujeitos e não isentos excedem 7.500 (18.000 ˃ 7.500); Dedução dos 6.000? Não?!

32
Luís Filipe Esteves
ENTIDADES QUE NÃO EXERCEM A TÍTULO PRINCIPAL
ATIVIDADES EMPRESARIAIS
IES - DAICF - Anexo D:

9 500 00 2 000 00

11 500 00 5 000 00

4 000 00

2 500 00

33
Luís Filipe Esteves

Você também pode gostar