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Seção 1

Fisiologia da Gravidez
01 Ovulação, Fecundação e Nidação
Aroldo Fernando Camargos
Cláudia Navarro Carvalho Duarte Lemo
ava li o Cruzeiro

Anatomia dos Folículos Nidação


Ovulação D ese nvolvimento Endometrial
Folículo Pré-ovulató rio Adesão Embrionária
Mecanismo d e Ovulação Invasão Trofoblástica
Fase Lútea lmunorregulação da lmplantação

Fecundação

o ciclo menstru al é a ma neira da q ua l a espécie


hu mana c utiliza pa ra perpetua r- c; ne se
evento existem as segu intes fases: folicular,
pcriovulatória, ovulató ria e lútea . O hormônio. exua i
c gonadotró ficos ão lançados na corre nte circu lató ria de
ta egu nd a fa c do ciclo mcn tru.1l, lü produçjo de c ·
trad io l e progcstero na (pró-gest.1 r), entretanto, este último
passa a ser o ho rmô nio mais im port.ll1tc do ciclo mens tru-
al; a frequê ncia de pulsos hormo na is ncs a fà c é de um a
cada quatro horas. A proges terona promo ve a preparação
maneira pul sátil; :1 frequência c intensidade dos pu lsos va- do cndométrio p.1 ra receber o emb rião, bem como as m u-
riam de acordo com :1 fase do ciclo mcmtrual. danças psíquicas c do corpo da mulher.
N a fa c fo licular, ta mbém cha mada de primeira f:1sc do A o vulação, fec und.1ção e nid ação são parte do pro-
ciclo men trual, v;\rios fo lículos são recrutados c, a segu ir, cesso de reprod ução que, quando bcm -sucedido, c ul m ina
um deles é e colhido para ·cr o dom inante; c te c resce e com .1g ravidez.
pro duz qua ntidades crescentes de estr.1dio l, atingindo o Para entender-se o proces o reprodutivo humano, é
cu pico máxi mo de pro dução no perío do pré-ov ulató rio ; preciso de c rever todas as fase do ciclo mcn trua l c a par-
os pu lso ho rmon ais têm frequência de um pu l o a cada ticipação de ó rgãos regu ladores de se eve nto.
120 minutos no in ício da fase fo licular c, no fina l desta, O c iclo men trual é produzido po r urna cascata de
apresenta um a cada 6 0 m inuto . Esse ho rmô nio da femi- eventos na qu al estão e nvo lvidos o sistem a nervoso cen-
nil idade e tim ula os tó nus adrenérgico e seroto ninérg ico; tra l, pri ncipalme nte pelo hipo tála mo, e a h ipó fi c c o
em o utras pa lavras, coloca a m u lher m a i di po ·ta, alegre o vário. O h ipo tála mo produz um ho rmô nio denomina-
e interativa com o meio social. A inda no período pré-ovu- do LHRH, q ue te m a fu nção primo rd ia l de estimular a
lató rio, o corre o aumento d a testo terona, c uja ação é, nes- produção das gonad otro finas, F H c LH, pela h ip fise.
sa fase do ciclo, promover o apa recimento do de ejo e das Es as duas go nado trofina exercem fun çõe específicas
fanta ias sexua is. no ovário . O ová rio é um órgão const ituído po r estrorna
c unidJdcs folicubrcs cm repouso, clunucbs folículos O v uLAÇÃo
primordiai , e outras cm diversa fases de ·cu desenvolvi-
mento: primários, antrais c pré-ovul.1tório. Após a ovub Dois processo reprodutivos principais acontecem du-
ção, forma- c o corpo lútco. rante cada ciclo menstrual. O pri meiro é a ovulação, que
O crescimento folicular é um proce so contínuo, ou con i te na ll1:1turação c liberação do óvulo pelo rolículo
seja, todos OS di,1S, indcpcndcntcrnentc da fase do ciclo ovariano. A egunda é a prepara ão do útero para receber
mcnstru.1l ou Jo período cm que .1 mulher se encontra, o embrião. Ent retanto, para o entendi mento de todo esse
por exemplo, durante a gravidez, folículos saem do pool de preces o, é ncces ário que se conheça a fisiologia do ciclo
repouso para o J'OOI de crescimento. Uma vez que o folí u- menstrual.
lo in1ci.1 o seu crescimento, ele é fadado a ati ngir a maturi- O ciclo menstrual in icia-se com J mcnstruaçiio, que é
dade ou sofrer at re ia; .1s fa cs iniciais do crescimento foli - sangramento uteri no epi ódico que ocorre cm intervalo
cubr n:lo dependem do hormônio folícu lo-cstimu l.1ntc c .1proxi mados de quatro semanas na espécie hu man::t, du ran-
o tempo ga to para que c s.1 c trutura vá de sua fase mais te a vida rcprodutiva da mulher.
primordial até o início do ciclo menstrual é de 85 di.1s. 1 o cmbnão de se i ~ a oito sem:1na1., verifica-se rápida
o 1nício do ciclo menstrual, .1 quantidade de cstro- multiplicaçiio mitótica das células gcrmin.ltivas c o núme-
g0nio é baixa c, consetjuentemente, a p.utir da moduL1- ro máxi mo de oócitm é obtido com 16 a 20 sema nas, eis
ção do sistcm.1 hipot.1bmo- hipófi~c. a mulher secrct.1 .1 etc milhões cm ambos o~ ovário . Após e se período,
maior quantidade de FS I I (jecdlmck positi vo); esse hor- h;1 progressiva queda destes, a partir do processo de atre-
mónio rccrut.l do pool cm cre cimento aproximadamen- si.1. Ao n::t\Cimento esse número c reduz para um a dois
te sei · a 30 folículo. por ovário.2 Dos fol ículos rccru t.l- milhões, sendo que na puberdade têm-se cerca de 300.000
dm, um é selecionado para cr o domi nantc cm torno do lolículo di ponívcis. Desse reservatório, cerca de 400 ovu-
dia séti mo do ciclo. larâo dur,lnte o · anos reprodutivos da mulher. 14

ANATOMIA DOS F OLÍCULOS FOLÍCULO PRÉ-OVULATÓRIO

Os folículo.<. pa am por um processo de maturação 1 e c c tágio, as células da granulo ·a tornam-se maio-


desde os primordi:1is, que cstiio presentes desde o n:lsci- res c as da teca ricamente vasc ularizadas, dando ,tspectn
mcnto, até o pré-ovubtório que visa a capacitá-los para a hipcremiado ao folículo. Além disso, o oócito reinicia a
ovulação. O Quadro 1. 1 c a Figur,l 1.1 resumem a princi- mciosc, yuase completando uJ divisão reducional.
p.us caractcrhticas dos folículos.

Q!Jadro 1.1 I Caractcrí~ticas dm folículos


Fo Icc ulu [drt; d (]urletlt d Tdrlldnlw Vas c crlcJ r ,zcl CclO P' lll CI!ldiS Cél'dl li!I'S(ICdS

Primordial Diploide 50111' Ausente Revestido por camada simples de células planas
Primário Haploide soan Pequena As células planas se dividem em duas camadas: teca e
granulosa, separadas por fina membrana (membrana basalt
Pré-antral Hapfoide 200111' Aumentada SUrgimento da zona pelúcida. Multiplicaçio das células da
~~ e da teca, com inrcio de deposiçlo de fluido entre
8Spnm&lf8S
I
Antral Haploide 500IJII Aumentada fonnaçlo de cavidade central, com deslocamento do oócito
para 111'1 dos polos, formando o cumu/us oop/wJnJs I
Pré-ovulatOOo Haploide 20mm Abundante Atlnento da vascularização. do tamanho e da cavidade central

4 Noções Práticas de Obst etrícia


A produçao elevada de e trogênio nessa fase do ciclo pro- c cupicoporvoltade IO a 12 hora antcs de ame ma rotura.
duzfeedback negativo 11.1 ccrcção de F H pela hipófi c. Além A elevação do LH no meio do creio permanece por aproxima-
dc~sc feedback negativo c trogênico, o folículo pré-ovubtório d.lmcntc 48 a -o horas, quando então seu níveis diminuirão
secreta inibin.l que, por meio do efluente venoso ovarüno, novamente. A partir de feedback negativo, pcl.i alta concentra-
atinge .1 circul.1ç.io c tnjbc a ccrcç.io hipofi ária de F ' H. A ção de proge tcrona, e fecdlltlcl.: po itivo, f ela diminui ão do
v.1. cuiMilação do folículo ovulatório ocupa 80% da camada nívcr de c trogênio , o pico de LH ati nge eu térrnino.4
d.1 teca, o que o privilegia no recebimento de hormônios tró- O aumento de LH estimula as célu bs dJ teca a produ-
ficos como o FSII.' Consequentemente, mesmo com baixo zirem ,1ndrogênio, contribu indo para a :~trcsiJ dos folí ulos
nfvel de FSII, esse hormônio atinge o folículo ovul.llório c j.í predestinado a involuir. 6 c
de cmpenh.1.1 ua função. Aliado à rica v.1scuiMização, o folí-
ulo apre enta ambiente altamente e trogênico, com número
elcv:1do de receptores de F H, o que também o difcrcncra dos M E CANISMO DE OVULAÇÃO
dcrm r folículo cm procc o de Jtrc ia.
o período pré-ovulatório, a produção de c:,trogênio pc- O processo de ov ulaç.io tem sido compar.1do a uma
lo ov.1 rros cst.1elevada, atingindo seu pico cm torno de 24 rc po ta inflamatória, poi envolve neutrófilos, histamma,
,1 )6 hora a nte~ d.1 ovulação. E c aumen to de ecre ào de bradr mina, enzimas e cito ma:,•
e trogênio no nrvel de r omcg/ ml pelo período de "Ohor.1 O pico de LH atuará nJScélulas da granulo ·a do folícu-
produ? aumento nas frequên ias e na intensidade de pu lsos lo dom inJ nte, sobrepondo- c à aç.io do F ' li, promovendo
dos hormônios gon.1dotróncos, promovendo o pico de LI I. a luteinização da granulo a, aparecimento de receptores c a
A conccnt r:~ção pré-ovulatória de progcstcrona também produção de progcstcrona. Ob crv.I-SC lJmbém a rctoma-
ajuda no feedback positrvo do estrogênio para a prornoção do dJ cb mciose pelo oócito após o pico de LH, provavel men-
pico pré-ovulatório de FSH c LH. O início da elcv:~ção de LH te devido à ação do A M Pc, que anula a aç:io do inibidor de
~c dá .lproxi madamcntc34a 6 hora ante d:~rotura folicul.u maturação oocitária (I MO).oA

Folfculo primordial
Folfculo pré-antral
Zona pelúcida

- Folículo antral

200 J.lm

Folículo primário

Cumulus
ooforus
20mm
Folículo pré-ovulatório
Figura 1.1 I Desenvolvimento foUcular.
G = Gr.mulo~Ji T =Teca; Oc = Oócito; a = antro.

Ovulação, Fecundação e Nidação 5


A maturação de oócitos também depende da síntese de tei nização precoce. As prostaglandi nas libera m enzimas
novas proteínas. Eventos interdependentes de transcrição lisossômicas que digerem a pa rede folicu la r e cont raem a
são ativados para garantir que as proteínas sejam at ivadas musculatura lisa da mesma, ajudando na expu lsão do oóci-
numa sucessão correta. Além disso, evidencia-se uma de- to e da coroa radiada.4
gradação seletiva de RNAm, essencial para manter a para-
lisação celula r em prófase.9 Assim, o oócito progride a divi-
são até a metáfase 1 com a extrusão do primeiro corpúsculo FASE LÚTEA
polar e estaciona em metáfase II (Figu ra 5). A meiose só se
completa após a penetração do esperm atozoide e a li bera- A formação de corpo lúteo norma l c fu ncionante está
ção do segundo corpúsc ulo polar. 10 condic ionada ao bom desenvolvi mento folicu lar. Após a
No folículo dom inante, o pico de FSH induz as célu- ovulação, a cicatriz ovariana for mada pelo folículo ovul a-
las do cumulus oophorus a produzirem grande q uantidade tório é chamada de corpo lúteo, que secreta estradiol, pro-
de ácido hia lurô n ico, de mane ira que o oócito fique mer- gesterona c in ibi na A, sob o controle do LH. 14
gulhado nessa matriz, circundado por mas a viscosa que Após a expulsão do oócito, observa-se a for mação de
o protege mecanicamente durante a rotura fo licu lar e seu coágulo plasmático que oclui a região do estigma (local
movimento pela tuba uterina. " Pouco antes da rotura o nde ocorreu a extrusão do oócito). Formam-se a m icro-
folicular, há distensão do antro por aumento no volu me vascularização c a proliferação das célu las da granu losa e
do líqu ido folicula r e compressão da granu losa avascu lar da teca, com hiperplasia e hipertrofia das mesmas c acú-
contra a membrana que a separa da teca lutcinizada e vas- mulo de gotas de lipídeos (luteína) no citoplasma. A an-
cula rizada. Entreta nto, não se verifica aumento da pressão giogêncsc nas células da granulo a é dev ida à ação do LH
no interior do fol ículo. Esse aumento no líquido, sem eleva- e de fatores de cre cimento produzidos pelas células da
ção concom ita nte na pressão, acontece devido a alterações granulosa luteinizadas e essa nova vascu larização atinge a
na parede folicu lar que se to rnará mais frágil e distensível. cavidade central do corpo lúteo.
O FSH , LH e progesterona, atuando nas enzi mas prote- As células da granu losa originam célu las lútcas gra n-
olíticas, resultam na d igestão do colágeno, disruptu ra das des, produtoras de u ma série de peptídeos (ocitocina, rc-
fibras elásticas c enfraquecimento das junções (gaps), con- laxina, inibi na e out ros fatores de cresci mento) c são mais
tribuindo para esse aumento da distensibilidade da parede ativas na esteroidogcncse, apesar de não p ossuírem recep-
folicular4 •12•13 tores para o LH .
O pico de LH induz a produção do ativador de plasmi- Por outro lado, as célu las lúteas pequenas derivadas das
nogênio pelas células da teca e da granulosa. Esse at ivador células da teca, c rcsponsivas ao LH , produzem menos pcp-
atua no fluido folicular, transformando plasmi nogcnio em tídeos com atividadc parácrin a e contribuem para a libera-
plasmi na, que ativa a colagcnase gue contribui para a rotura ção de progesterona.
folicular. A presença de sistemas inibidores do próprio fo- O au mento da vascula rização local garante o a porte de
lículo impede o desencadeamento de todo esse complexo, LO L-colestero l, precursor da progesterona, portanto, é in-
antes do momento apropriado para sua rotu ra. A medida di spensável o bom desenvolvime nto dessa vascu la rização
que se aproxima o momento da ov ulação, o folículo do- na formação de corpo lúteo eficaz. A elevação na produção
minante vai se aproximando da superfície do ová rio para da progesterona e a vascularização atingem seu pico má-
facilitar a expulsão do óvulo próximo das fímbrias tu bárias. ximo por volta de oito dias apó o pico do LH e essa alta
Por estímu lo da interleuci na Ib (I LI b), a concentração concentração impede que haja nova ovu lação, pela rctro -
de prostaglandinas E c F está aumentada no líquido foli- ação negati va central que d imin ui os pulsos de CnRH c,
cular no período pré-ovulatório e essas substâncias desem- consequentemente, do LH . Além da ação central da p ro-
penham papel crucial na expulsão do óvulo, visto que a gesterona, fa tores locais impedem o desenvolvi mento de
inibição das prostaglandinas nessa época do ciclo impede novos folículos nesse estágio do ciclo. O pico de LH, além
a extrusão do oócito. Fatores locais como o inibidor de ma- de determinar a lu teinização, reduz o número de recepto-
turação oocitária e o inibidor da lutei nização, assim como res de estrogênio, FSH e LH e eleva o nú mero de recepto-
a ativina, impedem a rotura prematura do folículo e a lu- res de progesterona. 12' 7' 11

6 Noções Práticas de Obstetricia


Além da produção de progesterona, constata-se au- substâncias produzidas dentro do próprio ovário e que
mento na produção de e trogênios e androgênios na fase atuam tanto por mecani mo hormonal como por meca-
lútea Lnicial. Esse aumento do estrogênio contribu i para a nismos autócrinos e parácrinos tem sido cada vez mais va-
formação de receptores de progesterona no endométrio, lorizado. Entre essas substâncias, destacam-se o grupo das
permitindo a ação da mesma na nidação embrionária. inibinas, ativina e folistatina , os fatore de crescimento
Cerca de 10 dias após a ovulação, c:1 o não ocorra gra- in ulina-/ike (IG F) e as citocinas. 13
videz, o corpo lútco entra cm regressão. a vigência de gra-
videz, a gonadotrofina coriônica produzida pelo trofoblasto
mantém o fu ncionamento lútco, até que a esteroidogênese FECUNDAÇÃO
placentária e teja bem-estabelecida, por volta de oito sema-
na de gestação. Apesar de não estar claro quais mecanismos A fecundação é a fusão do óvulo com o espermatozoi-
desencadeiam a luteólise, sabe-se que a regressão do corpo de, formando-se o zigoto, c acontece na ampola tubária; o
lúteo se dá a partir da desidratação das células lúteas c con- zigoto com os pronúcleos ma culi no e femini no aparece
densação da sua cromatina nuclear, seguida de morte celular. 18 a 22 horas após a fecu ndação.
Em geral, as variações na duração do ciclo refletem as O espermatozoide não é capaz de fertilizar o óvulo logo
mudanças na du ração da fa e folicular (80%) e raramente apó sai r do epid rd imo, sendo necessária uma série de tra ns-
relacionam- e com a duração da fase lútea (20%). A di- form ações que incluem a capacitação, a h ipcrati vação c a rc-
minuição na duração do ciclo menstrual observada com ação acrossômica.1.s O espermatozoidc penetra na vagina,
o avançar da idade é devida à dimi nuição na duração da atraves a o muco cervical, migra atravé da cavidade uterina
fase folicular. para, então, atingir a trompa. Durante cada fase desse pro-
O período de tempo médio entre a ovulação e a mens- cesso d iminui o número de espermatozoides e também a
truação é em torno de 14 dias e a menstruação tem início seleção na qualidade destes, de maneira que o que atingem
pela queda nos níveis de e trogênio e proge terona na fa e a ampola tu bária pertencem à população altamente selecio-
lútea tardia. A partir de feedback positivo, a queda des es nada e com grande capacidade de penetrar no oócito.
hormônios e da inibi na, associada ao aumento dos pulsos A capacitação é o processo que con iste em transfor·
de GnRH, resulta em aumento do FSH, em torno de dois maçõe que perm item ao e permatozoide pa sar pelo trato
dias antes da menstruação. genital femi nino, pelas células do w mulus c coroa radiad:1 e
Ape ar dos principais fatores reguladores do ciclo atingir o oócito. Essas transformações ocorrem em todo o
menstrual ocorrerem por mecanismos hormonais envol- trato genital fem inino. A alterações mai importante no
vendo o eixo hipotálamo-hipófise-ovariano, o papel de proce o de capacitação estão relacionada à membr:111a

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Dia do ciclo
Figura 1.2 I Concentrações hormonais durante o ciclo menstrual.

Ovulação, Fecundação e Nidação 7


pia matica, com a remoção da capa primária, que contém barreira esptkie-espedhcos. Essa barreira se deve aos recep-
proteínas e tabilizadoras do acrossoma, c da capa secundá- tare~ de espenn atozoides espécie-c pecífico ·, que impedem
ria, que contém coltrinas, proteína com atividade antienzi- a ligação de espécie heteróloga . identificaram- c trê gli-
mática, glicoprotcína c cspcrmina. Há remoção de grande coprotcínas na zona pclúcida: Z P I,·ZP2, ZP3. Acredita-se
parte do colesterol abundantemente encontrado ao redor que a rcação acrossômica seja indu,:ida por essas glico-
da membrana plasm ~ít ica no nível do acrossoma, permitin- protcínas, principalmente a ZP3, que parece se compor-
do que es a região se torne mais flu idificável e facil itando a ta r corno o receptor do e permatozoidc. Além do papel
reação acrossômica. das glicoproteínas, outros mensagei ros corno pi I, cálcio c
A rcação acrossômica é outro passo essencial para que A M Pc também estão envolvidos nos processo~ Je capaci -
os espcrmatozoidcs penet rem na zona pclúcida do oócito. tação, hiperativação c reação acrossômica.16 (Figura 1.3)
Após a capacitação, um receptor para-antígcno da zona pc- Muita evidência indicam que a rcação acro~somal se
lúcida na membrana plasmática do espermatozoidc é cx- completa após o espermatozoidc se ligar à zon,1 pclúcida c
po to c interage com c c antígeno, sofrendo modificação que c:.!>a rcação é induzida por algum componente d,1 ZP,
estrutu ral que ativa uma proteína G ligada a uma fosfolipa- provavelmente a Z P3, que promove a de polariLação da
sc C. Esta, ativada, promove o au mento nas concentrações mcmbr,ma espermática, perm itindo a penetração, mecanis-
intracelulare de cálcio, que atua na reação acrossómica. mo aparentemente espécic-cspecífico 1 ~. Unu vez unida à
A liberação de hialu ronidase do acrossoma que hidrolisa zona pclúcida, a membrana acrossomal extern.1 do cspcr-
e despolimeriza a matriz intercelular de ácido hialurónico matozoidc se fu nde com a membrana plasmátJC,l do oócito
é também passo importante nessa reação. ~1cstiona-sc se em divcr os pontos, formando vesíc ulas que serão libera-
essa rcação acrossómica se inicia durante a trajetória do cs- das no espaço perivitclino. Esse proccso de fus~o parece
permatozoidc através do ct mlltllls ou se ela apenas tem iní- ser dependen te de algu mas moléculas da membran,1 plas-
cio após a ligação do cspcrmatozoidc à zona pelúcida, que mátic,l do oócito, como as integrina:., CD9, entre outras.
é a teoria ma i aceita atualmente. A membrana acro ' Omal interna c as cnzmu a :.ociadas
Como j;i de crito anteriormente, a zona pclúcida é a ficam expo tas, principalmente a acrosi na, uma protcase
membrana acclular que envolve o oócito c é formada por acrossomal. Apenas após essa rc.1ç.'io o c pcrmatotoide é
mucopoli acarídcos e proteínas secretadas pelas células cap.1z de penetrar na 70na pelúcida mediante a ação enzi-
da granulo a. A zona pclúcida parece ser a rc ponsávcl pcl.1 mática da acrosina, alc.1nçando o c~ paço perivitelmo.

A
Óvulo co Óvulo Células da granulosa
Figura 1.3 1Aspecto do Cllllllllus ooplwrus (CO):
A óvulo im,lturo revestido por células da granulosa condensada c 13 óvulo maduro circundado por células d.1 gr.mulo!>a dispcrs.1s.
Objctiva 20 X.
Fonte: Laboratório de Reprodução Humana do HC da UFMC.

8 Noções Práticas de Obstetrícia


Os processos enzimáticos da reação acrossôm ica parecem NIDAÇÃO
ser essenciais no início da penetração, sendo que, a partir de
então, t1tores mecânicos como o batimento flagelar e a migra- A n idação, ou implantação, é evento essencial para a
ção espermática seriam os responsáveis por esse processo.Ao sobrevivência da nossa espécie. Entretanto, estima-se falha
entrar em contato com a membrana plasmática do oócito, os na implantação em aproximadamente 75% das concep-
movimentos da cauda do espermatozoide cessam e ele se in- ções q ue são p erdidas. Assim, a nidação do blastocisto no
cOI-pora ao citoplasma do oócito.Após a penetração de um es- endométrio é o evento p ivô para u ma gravidez hu mana
permatozoide, o oócito desencadeia a reação cortical, seguida bem-sucedida.20
da reação de zona, dois processos q ue alteram as propriedades Ocorrida a fert ilização, o em brião migra pelo ovoduto
da zona pelúcida, impedindo a penetração de novos esperma- e, em cinco a seis d ias, ati nge na cavidade uteri na o estágio
tozoides. O processo de evitar a pohespermia parece ser de- de blastocisto, um em brião pré-implantac ional com varia-
pendente de pequenas oscilações do cálcio intracelular. 4• 11•17•1s do nú mero de células (Figura 1.4).
Ao penetrar no oócito, o espermatozoide m igra rapi- O sucesso da implantação req uer o desenvolvimento
damente pa ra o espaço perivitcli no e a cauda, as m itocô n- coordenado de um blastocisto capaz de nidar e um endo-
drias, o fuso e todos os seus componentes não nuclea res métrio receptivo a essa implantação. M uitos dos eventos
são degenerados e, po rtanto, não contri buem para o de- cruciais para esse sucesso se devem às alterações dos níveis
senvolvimento em brionário, à exceção de um a quantida- de estrogênio e progesterona durante o ciclo menstrual. 14
de ín fima de DNA m itocondrial, q ue pode perm anecer A lém d isso, a implantação e nvolve a interação de molécu-
nos embriões de a lg u mas espécies. 19 O óv ulo fec undado las complexas produzidas pelo blastocisto em desenvolvi-
reto ma a meiose q ue se e ncontrava es tacionada e m metá- mento e pelo epitélio uterino, geralmente na parede uteri na
fase l l, form a o pró -nucleo oocitá rio e expulsa o segundo posterior/ superior. 11 ·20
corpúscu lo pola r. Posteriormen te, as mem branas pró- Na espécie humana, o em brião penetra a cavidade
-nuclea res desaparecem, fo r ma m -se o pri meiro fuso m i- uterina 72 a 96 horas após a ferti lização. O blastocisto
tó tico e a pri mei ra d ivisão de célul as, in iciando-se a fase humano perm anece no líquido endometria l po r aprox i-
embrioná ri a da formação do novo ind ivíduo. madamente um a três dias, quando é liberado de s ua zona

Figura 1.41 D esenvolvimento embrionário: A- Oócito fertilizado com presença de dois pronúcleos, B - Embrião no segundo
dia de cultivo (duas células), C - Embrião no segundo dia cultivo (quatro células), D - Embrião no terceiro dia de cultivo (oito
células), E- Embrião no qui nto dia de cultivo (blastocisto) e F - Hacthing do blastocisto. Objetiva 20X.
C P = segundo corpúsculo polar; EP = espaço perivitehno; PN = pronúcleo; ZP = zona pelúcida; B = blastômeros; N = núcleo;
BL = blastocele; MCI =massa celular interna; T = trofoectoderma.
Fonte: Laboratório de Reprodução Humana do HC da UFMG.

Ovulação, Fecundação e Nidação


9
pelúcida para aderir ao sítio de implantação (Figura 1.4). Na fase secretória inkial, a linha endometrial parecere-
Mesmo antes da adesão ao endométrio, após se liberar da presentar uma barreira à implantação, consequente à expres-
zona pelúcida, inicia-se a interação entre o organismo ma- são de moléculas que são dependentes do diálogo embrião-
terno e o embrião em desenvolvimento. Isto pode ser com- -endométrio.14·20Os estudos com microscopia eletrônica e os
provado pela detecção no soro materno do fato r de gravidez ciclos de fertilização in vitro, principalmente quando se trata
inicial (FGI).Antes da implantação, esse fator parece ser de doação de óvulos, têm aj udado na elucidação da fisiopato-
produzido pelo ovário, em resposta a sinais embrionários. logia da nidação. Entretanto, para investigações mais profun-
Após a implantação, o FGI não é mais secretado pelo ová- das, o ideal seria a realização de biópsias no próprio ciclo da
rio, mas produzido pelo embrião. O FGI apresenta pro- gravidez, o que, por motivos éticos, não pode ser realizado.
priedades imunossupressoras e se associa ao crescimento Além disto, a janela de implantação parece ser mais tardia
e à proliferação celular. nos ciclos induzidos quando comparados aos ciclos naturais.
As alterações endometriais se relacionam ao estado hor- O estúmdo estrogênico da tã.se lolicular induz o apareci-
monal, sendo que fatores de crescimento presentes no endo- mento de receptor de progesterona. As alterações hormonais
métrio parecem ser os moduladores da ação hormonal nesse que se verificam na làse lútea transformam o endométrio pro-
sítio. A fu nção do corpo lúteo é crucial nas primeiras sete a oito liferativo da primeira fase em endométrio secretor, apto para
semanas de gravidez e sua reti rada pode levar ao abortamento. receber o embrião. A ati vidade secretória atinge seu pico e as
A Figura l.S resume os processos de ovulação, fecunda- células endometriais se tornam ricas em lipídeos e glicogênio.
ção e nidação. Receptores endometriais para estrogênio e progesterona
são essenciais para a ação hormonal e para a expressão de
alguns marcadores biológicos, que serão descritos posterior-
mente. Ambos os receptores mostram sua expressão máxi-
ma no epitélio glandular e estrema no fi na Ida fase prol ilerati-
va e início da f..1se secretora.Após o dia 19 do ciclo menstrual,
os receptores glandulares desaparecem abruptamente, mas
permanecem presentes nas células estromais.
Além desses marcadores morfológicos citados, o uso de
técnicas de imuno-histoguímica ajudou na identificação de
vários marcadores biológicos no endométrio humano, que
parecem participar do processo de implantação de maneira
positiva (f..1cilitadores) ou negativa (inibidores), determinan-
do o momento ideal de receptividade endometriaJI 1·1s. Por
Figura 1.5 I Processo de ovulação, fecundação e nidação. meio de tecnologia de microarray em amostras de endomé-
trio humano, muitos autores têm demonstrado modifica-
ções na expressão gênica associadas à transição do endorné-
DESENVOLVIMENTO ENDOMETRIAL trio humano de uma làse pré-receptiva (f.1se secretora inicial)
para uma fase receptiva (f.1se secretora intermediária). Fo-
O período em que o endométrio está apto a receber o ram identificados vários genes envolvidos nesse processo,
embrião é chamado de "janela de implantação". Essa janela entre eles o secreted phosphoprotein 1 (SPPI ou osteopontina)
corresponde a um curto período que geralmente se inicia e interleucina IS (IL IS). O SPPI é uma glicoproteína envol-
seis a lO dias após o surgimento do LH e dura aproxima- vida na adesão e migração celular durante a implantação
damente 48 horas (do 20° ao 24° dia, num ciclo menstrual embrionária. Por outro lado, a IL IS é um gene progesterona-
de 28 dias). Fora dessa janela, a implantação não obtém -regulado no estroma endometrial e parece estar envolvido
sucesso. Esse sucesso depende da sincronização do estágio na proliferação das células estromais antes, durante e após a
de desenvolvimento embrionário e uma série de eventos adesão embrionária. Muitos estudos ainda são necessários
moleculares e celulares induzidos por regulação parácrina para a identificação definitiva dos marcadores biológicos en-
e autócrina durante a janela de implantação21. volvidos no processo de nidação21 .

10 Noções Práticas de Obstetrícia


A implantação tem muitas características de um pro- ser modul.tdor do número de macrófago endome-
ce o inflamatório, envolvendo marcadores biológicos triais, parece ter funçáo crucial no crc cimento e fun-
como fatore de cre cimento e citocinas, mediados local- cionamento placentário;
mente por receptores específicos, como: Jator inibidor leucocitário (LI F): fator de crescimento
prostaglcwdinas: e tudos experimentai · demon - epidermal, pertencente à família da citocinas. Está
traram a liberação de pro tagland ina E2 (PGE2) fortemente ligado ao processo de implantação, ten-
por embriões c blastocistos hu manos. As células do sido primeiramente descrito como regulador da
epitcliais do endométrio secretor também ão fon- Iin hagem celular hematopoiética. As gl:lndulas endo-
te de PGE2 e ua lntese parece cr e timulada pela metriais uterinas parecem ser o local de mais expres-
re posta tccidual que acompanha a impLmtação. A ão do LIF c estudos experimentais mostraram que
injcç5o de inibidores de prostaglandinas pode im- e a citocina c encontra oh controle materno, com
pedir o au mento da permeabilidade va cular que se su.1 maior expre ão entre os dias 19 c 25 do ciclo,
ob erva imediatamente antes da implantaçâo. Além geralmente precedendo a implantação. Es es resulta-
disto, suas concentrações se encontram elevadas no dos sugerem que a principal função do LI F deve ser
sítio de implantaç.io, similar a qualquer processo in- a regulação do crescimento c implantação inicial do
fl amatório, ugeri ndo papel das mesmas no processo blastocisto.4
de nidação;
Jator de cn:scimeuto epidermal (FCE): é um polipeptí-
deo mediador da ação estrogênica no endométrio, ADESÃO EM BRIONÁRIA
com potente ação mitogênka. Em humanos, o FCE
foi demonstrado em células epiteliais glandulare e E e procc o envolve uma série de moléculas de adesão
do cstroma, sendo que técnicas de hibridizaç.io in situ c também está relacionado com fatores maternos e embrio-
mostrara m aumento desses receptores na fase perio- nários. Mesmo em ambiente endomctrial e hormonal favo-
vulatória,ncsses dois grupos de célu las.Aprcscnça de ráveis, a implantação pode não ocorrer caso o embrião não
FCE e eus receptores no endométrio e sua interação esteja em seu estado próprio de desenvolvi mento.
com e trogênio e progesterona sugerem que esse po- O uso d:~ m icroscopi:~ eletrônica no epitélio luminal
lipeptfdco exerce efeito na proliferação e diferencia- uterino demonstrou a formaçõe na superfície celular,
ção celular endometrial; chamadas de pinopodos, aparentemente envolvidos no
fatores de crescimento insulina-like I e li (lGF-1e IGF-1/): mecanismo de transdução do epitélio superficial e na troca
são peptldcos de baLxo peso molecular que promo- de fl uidos e proteínas de baixo peso molecular. Em ratos, o
vem mito c c diferenciação celular. Ele se ligam are- aparecimento de pinopodos marca claramente o início da
ceptores e pecíficos da superfície celular e circulam janela de implantação, entretanto, se isso também acontece
ligados a proteínas gue regulam sua ação (lGFBP-1 no cndométrio hu mano ai nda é controverso. A função dos
c 11). O IGF-1é expresso principalmente no endo- pinopodos permanece desconhecida, com alguns estudos
rnétrio proliferativo e secretor inicial e o IG F-11, sugerindo que o blastocisto se adere a eles du rante a implan-
por sua vez, no endométrio secretor médio a tar- tação, mas isso ainda não foi demonstrado in vivo. 22
dio c na decíd ua da gestação inicial; A proge terona estimula o aparecimento dos pinopo-
Jator cololly-estimulante I (CSF-1): citocina primaria- dos, enquanto o estrogênio resulta na sua rápida regressão.
mente de crita como fator de crescimento essencial Durante ciclos menstruais naturais, a maior apa rição dos
para a sobrevivência, proliferação e diferenciação pinopodos ocorre nos dias 19, 20 e 21 de um ciclo de 28
monocitária. Em humanos, o CSF-1e seus recepta- dias. Apesar de alguns autores sugerirem que eles possuem
re e expre am no endométrio glandular decídua! e vida média limitada, gue não excede 48 horas, outros estu-
na placenta e aumentam durante a gestação. Estudos dos já demonstraram persistência dos pinopodos por toda a
experimentai em ratas mo traram que ani mai com fase lútca, às veze confluente, mas nu nca ocupando toda a
mutação gênica que levam à au ência de expressão superfície endometrial. Estas observações parecem indicar
do CSF-1são inférteis. Esse fàtor, portanto, além de que os pinopodos sinalizam a abertura, mas não a duração

Ovulação, Fecundação e Nidação 11


total da janela de implantação. 14 Entretanto, alguns autores vidade uteri na e está elevada durante a fase não-
observaram a presença de pinopodos no primeiro trimestre -receptiva. Seu papel em hu manos ainda não está
de gravidez, podendo sugerir a persistência destes du rante totalmente elucidado.
toda a fase lútea e gravidez in icial.2!
Assim que o blastocisto entra em íntimo contato com
o endométrio, microvilos de superfície se formam e in- INVASÃO TROFOBLÁSTICA
terdigitam com aqueles da superfície luminal das células
epiteliais. Ati nge-se um estágio em que as superfícies celu- Os esteroides ovarianos governam a clecidualização e,
lares estão muito próximas e os complexos juncionais são em humanos, a combinação de estrogênio e progesterona
formados. Desta forma, o embrião não pode mais serdes- é essencial. Em torno de duas semanas após a ovulação,
locado pelos fluidos fisiológicos da cavidade uterina. Esse inicia-se a formação da placenta. essa época, o trofoblasto
processo também tem sido atribuído aos pinopodosn do sítio de implantação forma uma massa de si nciciotrofo-
A interação entre o trofoblasto e o endométrio depen- blasto e citotrofoblasto, dando início à invasão dos vasos
de de uma série de citocinas que são mediadas localmente sanguíneos maternos. O embrião inicial secreta acentuada
por receptores específicos. Essa ligação regula a expressão va riedade de enzimas (colagenases, ati vadores de plasmi-
e a atividade funcional das moléculas de adesão, como a nogênio), que são importantes para a digestão da matriz in-
L-selectina, por exemplo. Além disso, muitos marcadores tercelular que ma ntém as células juntas. Metaloproteínas
moleculares têm sido correlacionados com a existência de da matriz incluem as colagenases, gelatinases e estromeli-
pinopodos, entre eles o LI F, as integrinas e a glutaredoxina. 22 sinas, que também possuem papel-chave na degradação da
Em todo esse processo, significativa variedade de molé- matriz durante a invasão trofoblástica.
culas de superfície celular parece estar envolvida.4•1uo A invasão do trofoblasto é limitada pela formação de
• Integrinas: são membros da familia de receptores de camada de células deciduais no útero e se deve à restrição
superfície celular para colágeno, fibronectina c Iam i- imposta pelos inibidores de proteinases e de metalopro-
nina. O termo integrina reflete a capacidade dessas tei nases. Além disso, a neoangiogênese também parece
moléculas cm integrar os meios intra e cxtracelu lares desempenhar importante papel na impla ntação, estando
pela transferência de informações nas duas direções. o uso de inibidores da angiogênese associado à inibição da
Elas são utilizadas em processos de interação célula- invasão trofoblástica em ratos. 14
-célula e matriz-célula, contribuindo para a migração A posterior penetração e sobrevivência embrionária
e diferenciação celular e estrutura tecidual. Altera- dependem de fatores capazes de supri mir a resposta imu-
ções cíclicas na expressão dessas moléculas nas cé- ne materna aos antígenos paternos. Antes mesmo da im-
lulas do epitélio endometrial mostram pico na época plantação, o tecido endometrial contribui marca ntcmente
da implantação. Os receptores de superfície celular para o desenvolvimento dos fatores de crescimento e su-
para integrinas podem regular a ativação ou desati- pressão imune.
vação das integrinas e não se restringem apenas aos
componentes estruturais. Esses receptores também
desencadeiam caminhos que ativam enzimas que, lMUNORREGULAÇÃO DA IMPLANTAÇÃO
por sua vez, produzem adesão e transcrição gênica;
• selectinas: protefna expressa pelo blastocisto após a Uma das questões mais intrigantes da nidação é como
eclosão, capaz de se ligar a moléculas de carboidratos o embrião, com componentes materno e paterno, escapa
expressas pelo endométrio e parece controlar a velo- da imu norrejeição. Logo após a implantação, ele tem que
cidade do processo de implantação;20 promover imu notolcrância para não ser rejeitado pelo siste-
• mucina fransmembrana (MUC- 1): descrita como ma imune materno. O citotrofoblasto placentário é a única
inibidor da adesão embrionária, tendo expressão camada de células fetais que se expõe à decídua materna.
específica no epitélio uteri no de roedores, coelhos, Devido à sua posição na interface materno-fetal, o trofo-
suínos e humanos. Em ratas, sua expressão declina blasto parece proteger o embrião, servindo como barrei ra
significati va mente durante o estágio de recepti- ao efeito das células maternas. Moléculas como o antígeno

12 Noções Práticas de Obstetrícia


9. Stitzel M L, Sc)•doux C. Regulation of thc oocyte-to-zygote
leucocitário huma no G (HLA-G), o antígcno TLX, célu- transition. Sciencc. 2007;316:407-8.
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Ovulação, Fecundação e Nidação 13


02 Fisiologia Fetal
Alim Alves .Demian
Mário Dias Co rrêaJúnior

Aspectos Básicos da Embriologia Circulação Fetal


Primeira Semana de Desenvolvimento Características Anatómicas
Segunda Semana de Desenvolvimento Hemodinãmica da CircuJação Fetal
Terceira Semana de Desenvolvi mento O Sistema Respiratório Fetal
Período da Organogênese - Desenvolvimento de Brônq uios e Pulmões
4a à 8 3 Semanas de Desenvolvimento Desenvolvimento dos Pulmões
Crescimento Fetal Fluido Pulmonar
Aspectos Genéticos no Crescimento Surfactante
Aspectos Nutricionais Nutrição Fetal
Fato res Maternos Aspectos Imunológicos
Fatores Útero-placentários
Fatores Horn1onais

ASPECTOS BÁSICOS DA EMBRIOLOGIA e há a fo rmação do pronúcleo feminino. O pronúcleo pa-


terno decorre do aumento do núcleo do esperm atozoide.
O conhecimento da evolução do conccpto huma no, a Ambos são mo rfo logica mente indisting uíveis. Ncs c mo-
partir da junção de duas células (o oócito II e o espermatozoi- mento o ovócito contendo os dois pronúcleos é con hecido
de) até o aparecimento de um novo ser c.tpaz de sobreviver como oótide (Figura 2.1). Ocorrendo a aprox imação e a
no meio ambiente, é fundamental para se entender adequa- fusão dos dois pronúcleos tem-se o zigoto.
damente as diversas respostas a bptativas da fi iologia fetalY erca de 30 horas apó a fecu nda ão inicia-se o pro-
cesso de clivagem repetida do zigoto, origir,a ndo células
embrionári as (blastómeros células-tronco d o tipo toti-
PRIMEIRA SEMANA potentes); inicialmente, divide-se em dua , depois qu atro,
DE DESENVOLVIMENTO e assim sucessivamente. Cada célu la é menor que sua an-
tecessora, entretanto, mantém todo seu potencial genético.
A entrada do material nuclear paterno no oócito esti- Ao atingir o estágio com mais de o ito células, glicoprotcí-
mula o térmi no da di visão meiótica do ga mcta materno, nas são liberadas, aumentando a adesão celular - fenôme-
formando um oócito maduro e liberando o segundo cor- no da compactação. Com 72 horas de ferti lização existem
púsculo polar. Os cromossomas maternos descondensam 12 a 2 blastômcros firmemente unidos, com dois grupo
de células: uma camada celular interna circundada por ou- o sinciciotrofoblasto - camada externa, de células
tra externa. Todo o conjunto é conhecido por mórula (la- multinucleadas, sem limites citoplasmáticos, que
tim : Morus =amora). A nutrição dessa massa celular advém invade o endométrio por meio de liberação de
do material existente no oócito e na absorção de nutrientes enzimas;
originada das secreções das glândulas tu bárias. o citotrojoblasto - camada interna, de células com
grandes núcleos, de alta taxa mitótica, que migram
posteriormente para a massa sincicial mantendo-a
em cresci mento constante.

Figura 2.1 I Oótide: identifica-se a presença dos dois pronú-


cleos (feminino c masculino) antes da fusão.

Na forma de mórula o futu ro embrião entra na cavi-


dade uterina por volta do quarto dia após a fecundação. Figura 2.31 Blastocisto em contato com o tecido endometrial.
Absorve líquido da cavidade e em seu interior furma-!>e a
cavidade blastocística e passa a ser conhecido como blasto-
cisto (Figura 2.2). No blastocisto tem-se a primeira separa- SEGUNDA SEMANA DE DESENVOLVIMENTO
ção das células que origi narão o embrião (embrioblasto -
formado por células-tronco pluripotentes) e as células que No início da segunda semana, o blastocisto term ina
originarão o aparato nutridor (trofoblasto). sua implantação na parede endometrial. Pela ação de en-
zimas proteolíticas (principalmente Cox-2 e FAS-Iigante)
ocorre apoptose das células endometriais c imersão do
blastocisto em seu interior. A seguir os produtos celulares
são absorvidos e servem de nutrição para o embrião.
No disco embrionário (Figu ra 2.4) ocorrem duas im-
portantes modificações:
forma-se um pequeno espaço - o pri mórdio da cavida-
de amniótica.
Figura 2.21 Blastocisto. o embrião divide-se em dois folhetos - o embrião bila-
minar
Por 48 horas o blastocisto flutua na cavidade endomc- Epiblasto- células colunares altas contíguas à cavi-
trial, nesse tempo a zona pelúcida desaparece e a nutrição dade amniótica, formando o assoalho da cavidade
se faz pela absorção das secreções das glândulas endome- amniótica. Dele migram células que originarão os
triais. Findo esse período, no local onde se localiza o em- amnioblastos formadores do futuro âm nio.
brioblasto ocorre o contato do blastocisto com a camada Hipoblasto - células cuboides contíguas à cavidade
endometrial (Figura 2.3), o trofoblasto aumenta de tama- exocelômica e ao se associarem à membrana cxoce-
nho e d ividc-sc em dois novos tecidos: lômica originarão o saco vitelino primário.

16 Noções Práticas de Obstetricia


Cnouofoblasto
O final da segunda semana é caracterizado pela for-
maç:lo da redes lacunare (junção de lacuna próximas)
e pelo aparecimento das vilosidades coriônicas primárias
(tecido próximo do embrião), gue é o crescimento digiti-
forme do citotrofobla ·to para dentro do si nciciotrofoblasto
na intenção de aumentar a uperfície de troca por ação do
mesoderma extraembrionário.
As células do mcsoderma cxtraembrionário sofrem
apoptose, originando um c paço conhecido como ccloma
extraembrionário que o divide em doi :
Mcsoderma omático extraembrionário (MSEE),
que reveste o âmnio e o trofoblasto. A junção do
Figura 2.41 Embrião com nove dias. MSEE com o trofobla to origina o córion.
Me oderma c plâncnico extracmbrionário que re-
veste o saco vitelino.
O me oderma extraembrionário (que fará parte do in-
testino fetal) é formado de células conjunti va originada O celoma extraembrionário nes c momento pas a a
do endodcrma do <~CO vitelino c epa ra a cavidade amni- cr conhecido como cavidade coriônica e o embrião, junto
ótica - o embrião e o aco vitel ino primário do trofoblasto com a cavidade am niótica c o saco vitel ino, está suspenso
circulante. dentro dele.
o inciciotrofoblasto aparecem lacuna cheias de
angue materno e re to de digcst:io das glândulas cndo-
metriais que nutrem o concepto - é o primórdio da nutri- TERCEIRA SEMANA DE DESENVOLVIMENTO
ção anguínea materno-fetal. O tecido também produz a
gonadotrofi na coriónica humana (h G), responsável pela a terceira emana forma- e o me odcrma (que for-
transformação do corpo lútco cm corpo lúteo gravídico mará os ossos c cartilagens, músculos, tecido conjuntivo
(mantendo a produção de progesterona e estrogên ios), denso como a derme da pele, sistemas urogenital, sanguí-
funda mental pa ra a manutenção da gestação. neo, linfático e cardiova cu lar), o endoderma (gue formará
Por volta do 10° dia o embri:lo c tá completamente o tubo digc tivo c deri vados, fari nge, amígdalas, timo, bexi-
implantado no endométrio (Figura 2.5) e por aproxima- ga) c o ectodcrma (guc formará o sistema nervoso, epider-
damente 48 horas há falha no epitél io endometrial, que é me, pelos, glândula , ouvido, cristali no), além do apareci-
preenchida por um tampão sanguíneo fibrino o. om 12 mento da linha primitiva e da notocorda.
dias o epitélio está totalmente regenerado e pas a a er co-
nhecido por decídua.
A LIN H A P R J!'vJI T JvA E " roR 1Aç Ao
DO E~ J BR I ÃOTRILA 11 AR

1\ linha pri mitiva é um espessamento que ocorre no


epiblasto, na face dorsal do embrião. 1 a sua porção cra-
nial origina o nó primitivo e cm seu centro o sulco primi-
tivo, de onde partem células que originar:lo o mesênqui-
ma - células de sustentação do corpo (tecido conjunti vo).
Algumas célula mesenquimais modificam- c, originan-
do o rnesoblasto (mcsodcrma indiferenciado) por aç:lo
L..IIIIK:;.dl#-.,
de fatores modais como o fator de crescimento transfor-
Figura 2.5 llmpbntação de bl.1stocisto no endométrio.
mante (TGF-b). Cordões celulares de origem cpiblastás-

Fisiologia Fetal 17
tica fundem-se e origin am o endoderma intraembrioná- ao tubo neural, mas logo se separam em duas colunas si-
rio, empurrando o hipoblasto para baixo (mediados por métricas dorso-laterais ao t ubo neu ral que, por segmenta-
TGF-b; fator de transcrição T-box e a via de sinalização ção, formarão os gânglios sensitivos da coluna e os nervos
de Wnt). O epiblasto restante passa a ser conhecido como cranianos, além das células d e Schwann, parte medular
ectoderma. da glândula ad renal, menin ges e células pigmentares e,
ainda, compone ntes musculares e esqueléticos c ra nia nos
(Figura 2.6).
NOT O CORDA

O processo notocordal, derivado mesod érmico, cresce C IRCULAÇÃO CARDIOVASCULAR EMBRIONÁRIA


entre o ecto e o endoderma da fosseta primitiva em dire-
ção cefálica até a placa precordal. Ao adquirir luz, origina A angiogênese tem início no mesoderma extraembrio-
o canal notocordal, gue se torna um tubo de células ade- nário (saco v itelino, pedículo embrionário e cório) próxi-
rido na parte ventral ao endoderma. Posteriormente, o mo do l So d ia de vida do embrião. Aproximadamente dois
canal notocordal induzirá o ectoderma a form ar o siste- dias depois in icia-se a formação dos vasos do mesoderma
ma nervoso central. Células mesenquimais e do processo intraembrionário. Esses grupamentos se fu ndem, forman-
notocordal crescem entre o epiblasto e o mesoblasto até do redes. H á canalização desses grupamentos, com as
atingirem as bordas do d isco embrionário, entra ndo em células centrais se d iferenciando em glóbulos sanguíneos
contato com o mesoderma ext raembrionário. prim itivos e as periféricas no revestimento en dotelial dos
A notocorda é um bastão celular que se d esenvolve vasos em form ação.
por alterações das células do processo notocordal e de- O coração surge inicialmente como dois tubos de cé-
finirá o eixo primitivo do embrião; servirá de base pa ra lulas do mesênquima esplâncnico (mesodérmico) da área
o esqueleto axial e ind ica rá os locais dos futuros corpos cardiogên ica. Próximo do 21° di a de gestação, esses tubos,
vertebrais. É estrutura complexa e em torno da qual a co- já fundidos, estabelecem conexões com a rede de vasos
luna vertebral se forma; e é responsável pela formação do intraembrionária, vasos do pedículo, da vesícula vitelínica
sistema nervoso central a parti r de células do ectoderm a, e do cório, fica ndo estabelecido o pri mórdio do sistema
desaparecendo quando os corpos vertebrais são formados circulatório. O sa ngue começa a circu lar pelos vasos fetais
(somitos), perma necendo como o núcleo pulposo de cada próximo do 22° d ia, circula ndo também p elas vi losidades
disco vertebral. coriônicas. Do lado materno, o sangue circula entre as
colunas do sinciciotrofoblasto e as vilosidades coriônicas.
Estabelece-se, assim, a possibilidade de trocas ent re a mãe
S ISTEMA NERVOSO E SUA FO RM AÇÃO I N IC IAL e o embrião: os vasos das vilosidades absorvem oxigénio e
nutrientes e lança m na circulação materna gás carbónico e
A formação do sistema nervoso central (neurulação) produtos de excreção.
inicia-se na terceira semana de desenvolvimento. As cé-
lulas do ectoderma, por indução da notocorda, formarão
a placa neural, que resulta no chamado neuroectoderma. PERÍODO DA ORGANOGÊNESE -
Este, por sua vez, formará o sistema nervoso central, cons- 4a À ga SEMANAS DE DESENVOLVIMENTO
tituído de encéfalo (parte cefálica) e medula (mais caudal
e estreita). No final da tercei ra semana deixa rá de ser uma É um pe ríodo crítico no desenvolvimento embrioná-
placa única de células e se observará a formação de um sul- rio. Apesa r das importantes alterações que ocorreram nas
co em seu interior, com posterior aproximação das bordas últimas semanas, é aqu i que as p ri ncipa is estruturas inter-
desse sulco e formação do tubo neural. Essa fusão tem di- nas e externas se formam; ao final, a maioria dos sistemas
reção cefálico-caudal e será finalizada po r volta do 27' dia. já estará fo rm ada (entretanto, ainda sem fu nção ativa - ex-
Em região mais cefálica, células da crista do neuroec- ceto o sistema cardiovascular) e o embrião já terá forma
toderma se desprendem e vêm se localizar dorsalmente huma na.

18 Noções Prá ticas de Obstetricia


DOBRAME 1TO DO fMBRLÃO

No início da quarta semana verifica-se o dobramento


do em brião que, de fo rma plana r, passa a um tubo cilínd ri-
co, cm dois planos: o cefalocaudal e látero-lateral; esses d o-
bramen tos são simu ltâneos e acontecem devido ao rápido
crescimento tissular.

PREGA CEFÁLICA

No decorrer da tercei ra semana, o prosencéfalo (uma


das vesícu las encefálicas prim árias) cresce no dorso do
embrião e com seu crescimento projeta-se cefalicamen-
tc acima da membra na bucofaríngea e á rea cardiogênica.
Esse evolui r faz com que trans versa lmente a me mbrana
bucofaríngea, o septo transverso, o celoma pericárdio e
o coração primitivo se d obrem e venha m posicionar-se
ventralmente.
Durante esse processo, o saco vitelino incorpora-se à
região a nterior do embrião, constituindo os r udimentos
do intesti no primitivo a nterior (faringei esôfago), termi-
nando cefalicamente em fundo cego com a membrana
bucofa ríngea. A extremidade caudal d o in testino a nte-
rior continua abe rta, e m contato com o intesti no médio
e saco vitelino.

PREGA CAUDAL

Tem início m ais tard io que a cefálica, como consequên-


cia do crescimento acentuado dorsal e caudal do tubo neu-
ral e dos som itos, projetando-se sobre a placa cloacal que se
torna ventral ao embrião.
Esse dobramento caudal vai incorporar parte da vesí-
cula vi tel ín ica, fo rma ndo o intestino pos te rior, e faz lim ite
com o intestino méd io (superiormente) e a membrana clo-
aca l (a nteriormente). O alantoide, projeção cm lu va do teta
do saco vitelino, é incorporado ao em brião, tendo pouco
significado nos ma míferos. Em consequência desses do-
bram entos cefálicos e cauda is, a cavidade amnióti ca se
expande e passa a envolver todo o embrião. O pedícu lo de
fi xação (futuramente cordão umbilical) passa a situar-se
em topografia superficial ven tral mediana, sendo envolvi-
do pelo epitélio amin iótico.
Figura 2.6 J Neurulação.

Fisiologia Fet al
19
PR!-GA LATI RAIS (entre os dois primeiros a rcos faríngeos). Há relatos deres-
posta motora embrionária apó e tímulo, nesse período.
O embrião também se dobra lateralmente, com as bor-
das e encontra ndo na linha média e da ndo in fcio ao esta-
beleci mento da ua fo rm a. A fo rm ação das pregas latera is SÉT IMA . EM A A
direita c esquerda é resultante dessa dobra tra nsversal.
O intest ino médio é resultado d esse dobrame nto la- Aparecem chan fraduras no ra ios d igitai indicando
teral, incorpo ra ndo pa rte do aco vitelino. O intestino a sepa ração dos dedos. Ocorre hern iação intesti nal p,tr:t
méd io, com o já descrito, m a ntém contato temporário dentro do cordão u mbilical (talvez pelo cre cimento exccs-
com o saco vite lino por estreito pedíc ulo vitelino, que ivo do intestino c a incapacidade da cavid:~de abdom inal
depois se oclui, ficando to do o intest ino como uma c::t- de conter todo o volume intc ti n:~ l). I n ici:~-~e ,\ ossifi :~ção
vidadc fechada. dos membros superiores

QUARTA E~IANA D~ DESENVOLV IJ\11:. 1TO Ü ITAVA SEMA 'A

G randes alterações ocorre m no embrião; de sua fo r- Os dedo da mãos estão u n idos :~pcn.ts por dclg:1da
ma pla na r pa ra uma form a cilínd rica; d iferenciação de membrana; o processo de chanfradu ra o orrc agora no
tecidos c c rescimento nessa fase ele ainda é quase rcto, dedos dos pés. Os movimentos corpóreos j:l são notados,
tendo quatro a 12 som ito . O tubo neural ainda e encon- a im como o fê mu r. A apa rência é hu mana, sendo q ue a
tra abe rto (neuroporo rostral - ou a nterior - e nc uropo ro c:tbeça responde por 50% do t:J.m:~nho do corpo.
caudal - o u poste rior). Os do is primeiros a rcos faríngcos
já são vistos (24 d ias) c o embri ão e e ncurva. C om 26
dias já é visível o coração com batimentos rítmico ; o CRESCIMENTO F ETAL
crescimento do encéf.1lo leva à marcada curvatura ante-
rior - o tercei ro arco fa ríngeo e já se delimitam os bro- O cresci mento fetal é rc ubntc de complexo rcbcion.l-
tos do mem bros superiores. o fi nal d a qua rta e ma na, mcnto de c ·trutura morfológicas e fu ncion:~ i ·, de cvoluç.'io
tanto as fosse tas é ticas (origem do ouvido interno) como ordenada e con tantc, q ue culmi na com o nas imento. A evo-
os placoides dos cristalinos já são notados e também o lução completa c adequada desse processo é regida por rJtore
quarto a rco fa ríngeo c os brotos dos me mbros infe riores. que interagem entre si e podem ser cb ssificados em: genéti-
co , nutricionai , maternos, útero-placentário c hormomis.
A restrição do c re cimento intrauterino está as ociada
Qu 1 TA SEMANA DF DESE VO LVI MENTO a aumento sign ifi cativo de morbimortalidadc pcrinatal,
e ndo que uma proporção desses neonatos que ·obrcvi-
Poucas são as alterações qu ando compa radas às da vcrn cont inua m com cre ci mento insuficie nte ou com al-
quarta sema na; o encéfalo c resce c a face fica de encontro teraçõe de aprendizado.
ao tórax; os brotos dos membros superiores lembram re- O d iagnós tico precoce das cau :1 pode ajudar na pre-
mos e os infe riores nadadeiras. venção de compli cações graves no nconato, como ta m bém
na ident ificação e t rat:~ mcnto de fa tore maternos c útero-
-placentários ainda na gestação.
SEXTA SE IA! A

As mãos cre cem c os raios digitai já são notados (pri- ASPE CTOS GENÉTIC OS NO C R E SCIMENTO
mórdios dos dedos). O olho está bem evidente e a cabeça
equivale à maior parte do corpo embrioná rio. Os futuros Sabe-se que a carga genética do feto contém toda as in-
meato acústico exte rnos localiza m-se no ulco faríngco formaçõe p:~ ra mu ltiplicação c d ifere nciação celular necessá-

20 Noções Práticas de Obstetrícia


nas a sua forma ao e cre cimento, numa sequência de gene fATORES MATERNOS
rcspon ávei · tanto por ações ,ltivadoras como upressiva .
A influên ia genética ~obre o pe o ao na cimento do Amda não c têm definidas a nece!> idade~ nutricio-
conccpto é mtcrmcdiada por meca ni mm múltiplo , en- nai específica para a gc tação normal. abe ~c, porém,
do que por vollJ de I5% da variabilidade de peso ao n.l~­ que gra nde deprivaçõe proteico-calóricas ,\Usam pe o
cimcnto são atribuído ao gcnótipo, explicando por que ao nascimento ignifi ativamcntc mais b.tixos. Essa res-
popula õcs com caractcrí tica distinta podem po sui r trição de nutrição materna tem que er, no entanto, muito
d1fcrente níveilt de cre ci mento fetal. acentuada para repercutir no pe o no conccpto.
S.tbe-se que anormalidades cromossômicas estão asso- O fumo, por meio da nicotina c do monóxido de car-
ciad,ts a conccpto com bai xo peso ao nascimento. Difícil, bono, é importante causa de baixo pc o .10 na cimento. A
porém, é o c tabelecimento da au a dessa redução, c por droga e medicamento cm u o crónico ou abu ~ivo estão
mtcrfcrência di reta genética ou ecundária à insuficiência ligado à restrição de crescimento fetal. Entre este~ cita-se
placcntá ria. l l.í exemplos de repetidos casos de rc trição de o uso de opioidc , etanol, alicilato, cort1 oide~, citotóxJCo ,
cresCimento cm uma me ma família, o que 'inali1a p.u,\ a imuno uprc ore e propranolol.
ação de gene re e~sivo cau ando cre cimento anorma l.
O peso fetal :to 11:1 cimento é determin:tdo prmcipal-
mcntc pela mãe, que contribui com ua CJrga genética e fATORES ÚTERO-PLACENTÁRIOS
com f':ttorc nutricionais e hormonal . O pai contnbui apc-
na~ com ~ua carga cromo ômica. EstJ é ignilicativ.l, po1 Entre os fatores útero-placcnt,\rio a ociado ao baixo
os fetos mascul inos, conforme se sabe, pesam I50 a 200 g peso ao nascimento, podem-se de tacar a~ anormal idades
a nu is que os femini no c há evidência de que os genes an,ttômicas utcrin,ls, as alterações na pia enta como na
paterno~ são determinante no cre imcnto pós-natJI. pr~-ccliimp ia, a inserção :tnômala do cordão e a in crção
baix:t da placenta.

ASPEC TOS NUTRICIONAIS


fATORES H ORMONA IS
Dependem de fatores maternos c útcro-piJccnl.irios
harrn ônicos c adcquadm.. O principal ubstrato p.u.1 o feto A insulin,\ é o principal hormônio envolvido no crc CI-
é a gl 1co c, rc pon ávcl pela provi ão de energia c re ci- mento fetal , tendo intensa ação anabohca. Outro hormô-
mento, egUlda, em meno quantidade, pela necc'>'>Jdade nio importantes no crc cimento fet,\1 .10 as omatomcdi-
dos lipídcos c aminoáodos. n,t~ c o GH (hormônio do crc cimento).
O feto depende da nüe para o fornecimento de lipídcos
emente no mício da ge tação, endo po tenormcnte u-
pndo pelo dc<,envolvi mento, na pia enta, de cap:tc1dade de CIRCULAÇÃO FETAL
íntcse lipídic.t complexa, com capt:tc;ão d.1 mãe somente de
prccur ores como acetona c acetato . Fetos com rcstnçao no O istema circulatório feta l difere do \lstcma ci rcub-
cre cimento dcmon tram baixa reserva de lipídco cm teci- tóno do neonato c do adulto. o feto, o ~.wguc passa prlo
do adiposo c hepático, porém não foi ai nda cstabclccJdo se a cor,tção apenas um,1 vez a c,\d,\ ciclo, nus h.í mi tur.t do
c.lllsa sc1ü b.ti xa taxa de deposição ou au mento da própria anguc com alta c baixa taxa de oxigenação. E a mi tur,1
nccc id.1dc energética, levando à deple ao des a re~cn·a. acontece no dueto vcno o (comunicação entre a veia umbi-
O ammo,lCJdos c cnc1a1 têm mal\ conccntraçao no hc;~l c a veia cava inferior), no canal artcri,tl (ou ducto .trteri.tl
plasma fetal que no materno, demonstrando transporte pla- ou dueto artcrioso comun1caç.\ o entre tronco pulmon,1rc
ccnt.irio .Hivo contra o gradiente de prc~~.io. Obscrva-~c que artéria aorta descendente) e no forame oval ( omunica ão
o feto é mu1to ~en ível à restrição protc1 a materna c que a entre átrio dirc1to c c qucrdo).
me ma rc ulta cm restnç.io s1métrica do crc~ci mcnto fct.tl.

Fisiologia Fetal 21
CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS O átrio esquerdo recebe a maior parte do sangue en-
riquecido em oxigénio proveniente da VCI através do
Na placenta, o sangue fetal é oxigenado, recebe nu- fora me oval. O sangue bcm-ox igenado mistura-se à pe-
trientes e elimina excretas, toxinas c C0 2. Sua saturação de quena parte de sangue pouco oxigenado proveniente dos
0 2 na placenta é de 84% abaixo do nível materno, porém pu lmões (o débito cardíaco que passa pelos pulmões é de
como a hemoglobina fetal demonstra mais afi nidade pelo apenas 9%, pois a maior parte do sangue do tronco pul-
oxigênio do que a hemoglobina materna, a passagem do monar é desviada para a aorta), representando o segundo
oxigênio ocorre mesmo contra o grad iente desfavorável. sítio de comunicação do sangue de alta concentração de
O sangue proven iente da placenta chega ao feto pela oxigénio com o de baixa concentração. Do átrio passa ao
veia umbilical (diferentemente da circulação do adulto, vent rículo esquerdo, de onde, pela aorta, vai irrigar cére-
cujo sangue com alta concent ração de oxigénio é transpor- bro e miocárdio (órgãos nobres altamente dependentes
tado por uma artéria), que se divide em veia porta e dueto de oxigênio), além da parte inferior do corpo pela aorta
venoso. Parte do sangue segue pelo fígado fetal através da descendente.
veia porta c parte segue pelo dueto venoso, que se Iiga à veia O sangue que chegou ao ventrículo direito é ejetado
cava inferior. O dueto venoso é a primeira estrut ura regu- no tronco pulmonar. Apenas pequena porção deste vai aos
ladora da circulação fetal. Em condições de normoxemia, pulmões, devido à sua alta resistência vascular, sendo sua
o dueto venoso divide o sangue oxigenado em duas vias: maior parte desviada pelo canal arterial para a aorta des-
60% seguem pa ra o território porta-hepático, de onde o cendente, consistindo no terceiro ponto de comunicação
sangue, agora com menos concent ração de oxigên io, segue artério-venosa.
para a veia cava inferior através das veias supra-hepáticas. O canal ou dueto arterial é uma estrutura de I a 2 cm
Os restantes 40% seguem di reta mente para a veia cava in- de comprimento, que comunica o tronco pulmonar com
ferior. No advento de hipoxemia fetal, até 90% do sangue a aorta descendente. Apesar de curto, tem diâmetro igual
oxigenado vão seguir diretamentc para a veia cava inferior, ou maior que o do arco aórtico, apresentando caracterís-
através do dueto venoso. ticas ideais de baixa resistência. É dependente da ação de
A veia cava inferior (VCI) recebe todo o flu xo san- prostagland inas e de baixas pressões parciais de oxigênio
gu íneo proveniente da veia umbilical. Este terá mais con- para se manter pérvio. Nota-se que o canal artcri.ll desem-
centração de 0 2 quanto maior for o shunt direto do dueto boca na aorta após os ramos que nut rem coração (coro-
venoso. nária) e cérebro (braquiccfálicas). O sangue na aorta que
Além do fl uxo proveniente da placenta, a VCI recebe nutre esses órgãos tem níveis mais elevados de oxigénio,
também o retorno venoso de todo o corpo, à exceção do pois o faz antes de receber a contribuição do sangue do
território da veia cava superior. Representa o primeiro sítio canal arterial.
de comunicação do sangue com alta concentração de oxi- Após receber o sangue do canal arterial, a aorta emite
gênio com o de baixa concentração, que retorna dos mem- ramos para nutrir o restante do corpo, que não é tão depen-
bros inferiores. A veia cava superior, por sua vez, recebe o dente de oxigênio.A aorta divide-se em duas artérias ilíacas
retorno venoso do território braquiocefálico, ligando-se ao comuns que, posteriormente, dividem-se em duas artérias
átrio direito. A crista inlerveniens (situada na parede póstcro- ilíacas internas e duas artérias ilíacas externas. De cada ar-
-lateral do átrio direito) direciona o fluxo para o ventrículo téria ilíaca interna sai uma artéria umbilical, que levará o
direito através da va lva tricúspide. sangue empobrecido em oxigên io até a placenta, comple-
O seio coronário que drena o sangue do miocárd io tando o ciclo (Figura 2.7).
também desemboca no átrio direito, sendo também dire-
cionado para a valva tricúspide. A veia cava inferior desem-
boca perpendicularmente à veia cava superior, cavalgando HEMODINÂMICA DA CIRCULAÇÃO FETAL
o septo interatrial de tal modo que seu flu xo é dividido pela
crista dividens, sendo a maior parte direcionada para o fora- Para compensar essa mistura de sangue rico c pobre em
me oval, enquanto reduzido fluxo atinge o ventrículo direi- oxigênio e possibilitar o cresci mento adequado, o feto lança
to, juntamente com o fluxo da veia cava superior. mão de mecanismos compensatórios, descritos a seguir.

22 Noções Práticas de Obstetrícia


AUMENTO D O D ÉBITO CA RDÍACO R EGULAÇÃO D O SISTEMA CARDI OVA SCU LAR PETAL

O aumento do débito cardíaco é o mais importante A manutenção da fu nção cardíaca, bem como da pres-
mecan ismo compensatório. O somatório dos débitos dos são arteria l, da frequência cardíaca e da d istribuição do
dois ventrículos é aumentado em até qu atro vezes, quando fluxo sanguíneo é uma relação entre ação vascular local e
comparado ao do adulto, sendo que a mais alta porcenta- arcos reflexos. Estes são o riginados de estimulação de vá-
gem vem do ventrícu lo d ireito (aproximadamente 66%). rios recepto res mediados pelo sistem a nervoso autônomo
O débito ca rdíaco depende da frequência cardíaca e do (SNA), assi m como ação hormonal. Novos fatores dessa
volu me sistólico, ambos elevados no fe to. Porém, a pressão equação são alvo de estudo, mas ainda não se tem a com-
arterial no fe to é baixa, devido à baixa resistência vascula r pleta compreensão da resposta ao estresse e da homeostase
periférica do leito umbilico-placentário. normal do sistema cardiovasc ular. Como fatores de confu-
A distribuição do débito card íaco total pode ser assim são são incluídos o sono fe tal, atividade elétrica e contráti l
divid ida: do útero interferi ndo na circulação.3
23 a 60% à placenta;
12 a 13% ao cérebro; FATORE<; DF REGULAÇ-ÃO

4 aS% aos pulmões; Aqueda da perfusão fetal prom ove redistribu ição do fl u-
S% ao coração; xo sa nguíneo por meio de um rearranjo no q ual se constata
10 a IS% ao segmento superior; aumento do fluxo para miocárdio, cérebro e suprarrenais e
IOa IS% ao segmento inferior; d iminuição para a árvore respiratória. A circulação placen-
menos de 10% aos rins, intestino, fígado e baço to-umbilical não exibe autorregulação e o fl uxo sanguíneo
reunidos. responde a mudanças da pressão de perfusão arterial.
O fluxo placentário de aproximadamente 200 m i/ kg /
min é regulado principalmente pela PG E2, vasodilatado-
ra, sendo a p0 2 inversa mente proporcional à resistência a
este fluxo. O fl uxo pulmonar mantém-se restrito p ela ação
vasoconstritora de p rostaglandinas, adrenali na e norad re-
nal ina, além da baixa p0 2 (aproximadamente 17mmHg)
e pH. O fl uxo cerebral é regulado pela p0 2 que, qua ndo
baixa, determina aumento de fluxo sanguíneo e queda da
resistência vascu lar nesse órgão. O fluxo corona riano é
até duas vezes mais alto no feto que no adulto e pode au-
mentar ainda mais se houver queda da p02 ou consumo
aumentado. O fluxo no canal a rterial é fu ndamenta l, como
já descrito, na m anutenção adeq uada da circulação fetal; e
sua permeabilidade é regulada pela baixa p0 2 fe tal e pela
ação de prostaglandi nas. Decorre d isso a contraind icação
à prescrição de anti-inflamatórios não hormona is na gesta-
ção, pois estes são inibidores de prostaglandinas (in ibem a
ciclo-oxigenase), causando o fecha mento precoce do canal
arterial, com colapso da ci rculação feta l e óbito p or insu fi-
ciência cardíaca.O sistema nervoso autônomo muda com
o avançar da gravidez. O predomínio do tônus simpático
no início da gestação va i dando lugar, progressivamente, ao
t sangue com baiXa concentração de 0 1 tônus parassimpático até que os dois se equiparem, próx i-
'fr sangue comalta concentração de 0 1
mo do termo. Após o nasci mento, o parassimpático passa a
Figura 2.7 1Circulação fetal. predominar. O controle nervoso si mpático tem sua fu nção

Fisiologia Fet al 23
finalizada ao termo (ou próximo do termo); já a inervação xia intensa, a mínima disponibilidade energética existente
colinérgica está apta a funcionar durante a vida fetal (pre- acompanhada de acidose promove depressão di reta do mio-
sença de acetilcolinesterase). cárdio, levando à bradicardia. Éevento tardio na evolução do
A frequência cardíaca fetal (FCF) decresce com ages- comprometimento fetal observada no período pré-óbito.
tação, não em função da maturação dos sistemas autóno- Com 90 dias de vida já é detectada no plasma feta l a
mos, mas sim por mecanismos intrínsecos de cont role da angiotensina-1 1. Qtando há hemorragia fetal, os níveis da
frequência cardíaca fetal. angiotensina-1 1aumentam marcadamente. Estudos expe-
Por volta da quinta semana a FCF é de 86 bpm; ri mentais comprovam que infusões de angiotensina, no
durante a sexta semana é em torno de 96 bpm; mesmo nível de moderadas hemorragias fetais, estimulam
Ent re a sétima e a oitava semanas aumenta paulati- resposta fetal com aumento da pressão arterial bem como
namente 25%; taquicardia. O fluxo para diferentes sistemas também se
a nona semana a freq uência é de 140 bpm, sendo que altera, sendo detectado au mento de fluxo para miocárdio
a partir dessa idade a FCF varia entre 110 e 160 bpm. e pulmões, assim como a pós-carga ventricular. Identifica-
-se também diminuição de fluxo para os rins, mantendo-se
A variabilidade da frequência cardíaca é determinada inalterado o fluxo umbilico-placentário.
pela interação do sistema nervoso autónomo simpático A vasopressina é detectada com 60 dias de vida e seus
com o parassimpático. valores aumentados no plasma fetal promovem bradicar-
Diante de um estado de hipóxia o feto responde com dia e hipertensão, além de diminuir o fluxo sanguíneo para
aumento da resistência vascular periférica, bradicardia e trato gastrointestinal e tecidos periféricos.
mudança da pressão arterial, desencadeada por quimior- Os peptídeos natriuréticos - ANP (peptídeo natriuréti-
receptores arteriais. co atrial) c B P (b-peptídeo natriurético) - são hormônios
Receptores circulatórios ou barorreceptores regulam e reguladores de volume, atuando como potentes vasodilata-
diminuem a frequência cardíaca, respondendo ao aumen- dores e produzidos secundariamente à distensão das paredes
to da pressão arterial. cardíacas. Apresentam-se funcionais na metade da gestação.
Os quimiorreceptores, existentes tanto nas paredes da Apesar de prostaglandinas não serem encontradas no
.10rta quanto nas das carótidas, têm importante papel na sangue de adultos, nos fetos suas taxas são elevadas. São
resposta à hipóxia. produzidas principalmente pela placenta, mas os vasos
A taquicardia fetal é descrita como frequência cardíaca fetais também são capazes de produzi-las. A ati vidade das
acima de 160 bpm. Embora não muito frequente, a causa prostaglandi nas varia de aco rdo com os tecidos. PGE 1 e
mais importante é a hipóxia fetal crônica, em resposta à PGE2, bem com prostaglandina 2-a e tromboxano, pro-
estimulação de componente simpático do sistema nervoso movem constrição da circulação umbilico-placentá ria. A
autónomo. Outras causas que devem ser lembradas são a prostaciclina, ao contrário, leva à vasodilatação. A PGE 1,
hipertermia fetal, a infecção ovular, o excesso de ativida- PGE1 , PG11 e a prostaglandina 02 produzem vasodilata-
de fetal após hipertonia uterina ou hipotensão materna, ção pulmonar, sendo que prostaglandina 2-a leva à constri-
além do uso de substâncias parassimpaticolíticas, como a ção dos vasos pul monares.
atropina e uterolíticas, como os agonistas ~-adrenérgicos.
Outra causa importante são as taqu iarritmias com valores
superiores a 200 bpm. o SISTEMA RESPIRATÓRIO FETAL
A bradicard ia fetal é caracterizada pela frequência car-
díaca fetal abaixo de I lO bpm. As causas mais frequentes O primórd io do sistema respiratório inferior, compos-
estão relacionadas ao pós-datismo, uso de medicamentos to pela laringe, traqueia, brônquios e pulmões, começa a se
~-bloqueadores pela gestante, hipertonia e/ou taquissisto- forma r durante a quarta semana de vida (cerca de 26-27
lias uterinas. A estimulação de quimiorreceptores é con- dias de concepção). Sua primeira indicação é um sulco
siderada um dos mecanismos relacionados à instalação da longitud inal mediano no assoal ho da fari nge primitiva, o
bradicardia fetal, principalmente na hipoxemia aguda fetal sulco laringotraqueal, na extremidade caudal da parede
por ativação do tónus parassimpático. Nos casos de hipó- ventral em relação ao quarto par de bolsas faríngeas.

24 Noções Práticas de Obst etrícia


O revestimento endodérmico do sulco laringotraqueal terceiroequartoparc dearco branquiais.O mú culos da
dá origem ao epitélio e glându las da laringe, traqueia c brôn- laringe desenvolvem- c de miobla tos derivado do quarto
quio e ao epitélio de rcve timento pulmonar. O tecido con- e sexto pares de arcos branquiais. Estes são i nerv:~dos por
junti vo, cartilagem e a musculatura lisa dessas estrut uras ramo laríngeo dos nervos vagos que suprem cs e arcm.4
de envolvem- c a partir de mesênquima e plâncnico que
envolve o intc tino anterior.
Amedida que o embrião se desenvolve, o sulco se apro- D ESENVOLVIMENTO DE
funda sob a forma de uma cvaginação mediana, para con - BRÔNQUIOS E PULMÕES
tituir um divcrtículo laringotraqueal. Enquanto c c brota-
mento cresce caudalmcntc no mcsênquirna esplâncnico, O broto pul monar, cm forma de bulbo na extremidade
sua extremidade distal se di lata para formar o broto pulmo- caudal do tubo laringotraqueal, de envolve-se rapidamen-
nar globular. O cndodcrnu do divcrtículo laringotraqueal te durante a quart:t sema na (cerca de 22 dias até a oitava
dá origem ao epitélio de laringe e traqueia, às células epite- semana) e logo se divide em dois brotos brônquicos protu-
liais sccretoras de glândulas, traquci.1, ao epitélio J os brôn- berantes. Es e broto cndodénn1co crescem lateralmente
quios c bronquíolos e ao epitélio de reve timento pulmonar. nos canais pericárdio-peritoncais c, junto com o mcsên-
O tecido conjuntivo, a cartilagem c a mu. culatura quima cspl:i ncnico que os envolve, os brotos brônquicos
lisa dessas estruturas desenvolvem-se do me énquima diferenciam-se nos brônquios c suas ramihcaçõe .4
c plâncnico circunjaccntc ao divcrtículo laringotraquc- o início da quinta emana cada broto brônquico cre -
al. E te se separa do intesti no anterior por duas pregas, cc par:~ formar o pri mórdio de um brônquio pri mário ou
csôfago-traqueais longitudi nais, que crescem e se fundem principal. Consta ta- c, então, au mento de tam.m ho di re-
formando uma estrutura conhecida como septo csôfago- cionado posterior e caudal mente, Crzcndo com que os bro-
-traqucal. Es c cpto divide o inte tino anterior cm uma tos cavalguem o c ôfago. Dividem- c então cm brônquio
porção ventral denom inada tubo laringotraqucal (pri mór- secundários c cm lado direito c c qucrdo. Do l.1do di reito
dio da laringe, tr.1qucia, brônquios c pulmões) e outra dor- o brônquio secundário superior irá uprir o lobo superior c
ai, o esôfago. o brônquio ccundá rio inferior se divide em do1s: um p:1r.1
O orifício de comunicação do tubo laringotraqueal o lobo médio c um inferior para o lobo inferior. E do lado
com a f.1 ringe primitiva torna-se a entrada da la ringe ou esquerdo o doi brônquio secundários suprem o lobo u-
adito da laringe. O epitélio de rcvc ti rncnto da laringe dife- perior e inferior do pu lmão. Essa divisão é conhecida por
ren ia-se da endoderme que reveste a extremidade cran ial morfogênese por d icotom izaçâo assimétrica.4
do tubo la ringotraqueal. As cartilagens da laringe derivam a séti ma emana de vida cxi~tem 10 brônquio no
do quarto e sexto p,1re de arcos branq uiai . O me ênqui- pulmjo direito c etc :1 nove no pulmão esquerdo. Cada
ma situado em torno do tubo laringotr.1queal prolife ra-se brônquio terciário ju nto com o mcsênquima form:t um:~
c forma um par de saliências aritenoidcs. Essas saliências un idade broncopulmonar. Ao final da oitava semana, toda
cre cem rostralmcntc cm dircção à língua e tran formam J via aérea e tá formada. la 24' semana de vidJ intrauteri-
a abertura da laringe cm fenda, uma abertura em forma de na existem aproxi madamente 17 gerações de bronqu íolos,
T denominada adito da laringe. O epitélio da laringe pri- sendo que as ú Itimas recebem ,1 denominação de bronquí-
mitiv:t prolifera-se rapidamente e oclui temporaria mente a olos respiratórios. Apó o nascimento, out ras seis ou sete
ua luz. a IO• semana o excc o da célu la e degenera e divisões ocorrem, o que contribui para o crescimento cau-
a luz da laringe torna-se restabelecida. Ao mesmo tempo, d:~ l dos pulmõc na vida pó -natal. 4
formam-se dois recessos laterais, os ventrículos da laringe. Durante o de envolvimento do brônquio formam-se
Esses recessos são delimitados por pregas que se diferen- plac.1s c:~rtilagi nosas a partir do mesênq u ima esplâncnico cir-
ciam nas cordas vocais verdadeira e fal a . culante. A musculatura lisa, tecido conjuntivo brônquico e ,1
A epiglote que serve de válvula acima da entrada da rede capilar pulmonar também e derivam do me ·ênquima.'
laringe desenvolve-se da parte c.wdal da eminência hipo- :1 IO• emana de vida intrautcrina a cartilage m está
branqu ial. É uma proeminência mediana produzida pela presente nos brônquios i n trapu l mon:~rcs e por volta da 12,
prolifcr:tção mescnquimal nas extremidades ventrais dos semana atinge os brônqu ios segmentares. es ·a época os

Fisiologia Fetal 25
cílios aparecem nos brônquios intrapul monare e na 14' P ERÍOD O PsEU D OG LAND LAR - s• À 17· 1
El\I A ! AS
emana nos brônquio egmentares. Ao nascer, toda a ár-
vore brónquica c encontra revestida de epitélio ciliado 4• e se período o pulmão cm desenvolvi mento guarda
As glândulas mucosas surgem por volta da 13' semana c certa semelhança com uma glândula endó ri na e os brôn-
urna emana depoi j:i está produzindo muco, estando pre- quios são recobertos por células cuboides. Por volta da 17'
sente por volta da 2 • emana cm quase toda a via ,térea.4 semana os principai componente do pulmão já e tão for-
mado (elementos tubulare que apre entam epitélio cilín-
drico simples nos termi nais da arborização bronquiolar),
DESENVOLVIMENTO DOS PULMÕES execro aquele para troca ga o as, poi ai nda é incxi tente
a vascularização para esse fim.
O de envolvimento pulmonar ocorre cm cinco etapas,
apresentados na Figura 2.8:4
período cm briogen ico; Pt:.RÍO DO CANA l I CULAR 16• À 25• ' t:.t-1 1\ AS
período p eudoglandular;
período canalicular; obrepõc-se .to período pseudoglandular, pois o
período de aco terminal (sacula r); segmentos cefá licos dos pu lmões apre entam maturação
período alveolar. mai precoce que uas contrapartcs caudais. Dura nte a
fa e canalicubr aumenta- c a luz do brônquio c bron-
quíolos terminais c estes estão revestidos de tecido cúbi-
co simples. Além disso, o tecido ci rcundante mcsenq ui-
mal apre enta- e altamente va cub rizado. o final do
período, cada bronquíolo terminal origi na dois ou mais
bronqu íolos rc pi ratórios c cada um destes se d ivide no-
va mente em três a seis duetos alveolares. E tcs apresen-
tam células que e adelgaç.tm e o capilare sanguíneos
f.1zcm projeçõcs para o interior do futuro ·aco alveolar
terminal. e e período a respiração é pos ível, porque
alguns sacos terminais já se desenvolvera m n::ts extrem i-
dade dos bronquíolo respi ratório . Entre a 22' e a 24' e-
ma nas ocorre ma rcante d iferenciação no tipo histológico
dos sacos terminais, da ndo origem às células alveolares
ou pncumócito · tipo I.

P t· R ÍODO D l SACO TERt.lll'\AL 24-• À +O• .EMA AS

Figura 2.81 Períodos de de envolvimento do pulmão. Nesse pcrfodo mu itos sacos terminais amadu recem
e eu epitélio adelgaça-se bastan te. O principal reves-
timento é feito por pneumócitos ti po I, que ao fi nal da
P ER ÍODO E ,\IBIUOGÊ ICO - 22 Ot A ATP A 8J EMA A gestação recobrem 90% da área de troca de gases e são
por ela responsáveis. A rede capi lar prolifera-se conti-
Inicia- c com a projeção primordia! dos pulmõcs a par- nuamente no mesênquima em volta dos alvéolos que se
tir da face ventral do inte tino primitivo, por volta do dia 22 formam; concomitantemente, a rede linfática também
de evolução e no dia 26 já cxi te divi ão em pulmão direito se forma.
c esquerdo. E ·egue-sc então a divisão bronquiolar, como Entre as células cpitel iais escamosas estão d ispcr as
descrito anteriormente. células arredondada deno minadas célul.ts epitclia is

26 Noções Práticas de Obstetricia


secretoras ou pneumócitos tipo 11, que são células res- Nas últimas semanas de gestação há nítida d im inu ição
pon sáveis pela produção de surfactante pulmonar, uma na produção de fluido, com au mento da produção de sur-
mistu ra complexa de fosfolipíd ios que se espalha sob factante.
forma de um filme monomolecular sobre as paredes dos A dificuldade na absorção do fluido pulmonar tem sido
sacos terminais. relacionada à síndrome de taqu ipneia tran sitória do recém -
Atualmente é reconhecido que a maturação do pneu- -nascido.3
mócito tipo II e a produção de surfactante variam a mpla-
mente em fetos de diferentes idades gestacionais.
SuRFACTANTE

PERÍODO ALVEOLAR- NASCIMENTO O surfactante é uma mistura complexa de lipíd ios e pro-
ATÉ CERCA DO Ü ITAVO ANO DE VIDA teínas, com propriedade de dim inuir a tensão superficial dos
alvéolos. Se não por sua ação, o ar não chegaria às vias aéreas
Embora existam ainda controvérsias na definição do de menor calibre, devido à alta pressão (a pressão é inversa-
início real do período alveolar, estudo realizado em neo- mente proporcional ao raio da estrutu ra), e estas se colaba-
natos e neomortos por causas não respiratórias com idade riam, forma ndo áreas de atelectasia. Isso é o que ocorre na
mínima de 32 semanas demonstrou que já existiam alvé- síndrome da angústia respiratória do recém-nascido.
olos e que estes estavam presentes em todos os fetos com O surfactante é composto de cerca de 50% de fosfatil-
idade acima de 36 sema nas. O período alveolar estende-se dilcolina saturad a; 20% de fosfatid ilcolina insaturada; 8%
até os oito anos de vida, com ma is incremento do número de lipídeos ne utros; 8% de fosfa tidilglicerol; 8% de proteí-
de alvéolos nos dois primeiros anos de vida. nas surfactantes ( PS-A; PS-B; PS-C; OS-D) e 8% de outros
O revestimento epitelial dos sacos terminais atenua- fosfolípides. Essas composições mudam d urante o período
-se até tornar-se uma camada epitelial escamosa extrema- gestacional, sendo que o fosfatidi linositol está ma is presen-
mente fi na. Ao fi nal do terceiro trimestre de gestação, os te nos fetos im aturos substitu ídos gradativa mente por fos-
pulmões já se encontra m aptos para promover as trocas fatidilglicerol no termo.
gasosas necessárias à vida ext rauterina. C ada bronquíolo Alecitina é produzida em q uantidades c rescentes a pa r-
respiratório termina em um agrupamento de sacos termi- tir d e 30 sema nas. Altos níveis de lecitina e a inversão da
nais separados uns dos outros por tecido conjuntivo frou- relação lecitin a/ esfi ngom ielina (LE > 2) estão relacionados
xo; estes serão os futu ros duetos alveolares, não havendo à boa maturidade pulm onar. 5 No entanto, alguns recém -
formação de alvéolos maduros ca racterísticos até algum -nascidos com baixos níveis de fosfa tidilglice rol desenvol-
tempo depois do nascimento. vem síndrome da angústia respiratória mesmo quando a
leciti na é normal. Esse fa to demonstra que o fosfatid ilgli-
cerol também é importante p ara a adequada fu nção do
F LUIDO PULMONAR surfac tante. A produção do fosfa tid ilglicerol in icia-se mai s
tardiamente, por volta da 35• semana.6
O Auido pulmo nar é formado a parti r da fase canalicu- A admi n istração de corticoides à mãe acelera a matura-
lar, sendo levado, a pa rtir dos movimentos torácicos, p ara ção pulmona r, aumentando a relação lecitina/ esfi ngom ie-
o líquido amniótico com o qua l se mescla. A composição li na, por mecanismos ainda não totalmente escla recidos.
desse fl uido é pec uliar, com altos n íveis de cloro e baixos É interessante ressalta r que o trabalho de pa rto aumen-
níveis de bicarbonato e proteínas em relação a outros flui- ta significativamente a produção d e surfactante, por meca-
dos biológicos. n ismos ainda não determ inados, sendo p referível o parto
A presença de volume normal de líquido amniótico norma l, no sentido de diminu ir a incidência da síndrome
está relacionada ao desenvolvimento normal dos pu lmões, da angúst ia respiratória. Por fim, o sexo fe m in ino tem ma-
sendo que em casos de oligoidrâmnio precoce (segu ndo turação pulmonar m ais precoce, provavel me nte devido à
trimestre) há associação com hipoplasia pulmonar, que in ibição da produção do surfactante promovida por andro-
pode impossibilitar a vida extrauterina. gênios no sexo masculi no?

Fisiologia Fet al 27
NUTRIÇÃO FETAL maternos. A transferência de glicose é mediada por um
carreador e se dá por difusão facilitada. Proteínas carre-
Devido à po uca quantidade de nutrientes no ovo hu- adoras de glicose fo r::tm identificadas na membrana plas-
mano, o desenvolv imento embrionário desde o seu estágio mática do sinciciotrofoblasto.
inicial depende dos nutrientes obtidos da mãe. Durante os As proteínas são proemi nentes na placenta, aumen-
primeiros di,1s após a implantação, a nutrição do blastocisto tando com a evolução da gestação e sendo induzidas
vem do flu ido intersticial do endométrio e do tecido mater- pelos fatores de cresci mento.s Tanto no primeiro trimes-
no circunda nte. a semana segu inte, os espaços in tcrvilo- tre quanto ao termo, :1 pbcenta apresenta altos n íveis de
sos placentários se formam. Inicialrnente, são simplesmen- GLUT L, uma das pro teínas carreadores de glicose. 12 O
tc lacunas circundadas pelo sangue materno. a terceira tam::tnho fetal não é ditado somente em função da idade,
semana, os vasos sanguíneos fetais se formam nos vilos mas da eficiência do transporte nutricional, disponibili-
coriônicos, mas é durante a quarta semana que o sistema dade dos nutrientes e do número de cofatores facilita-
cardiovascular está estabelecido, com circu lação tanto no dorcs.s A concentração de gl icogênio pbcentário é alta
embrião quanto nos vilos coriônicos.8 Para a homeostase no início d::t gravidez, caindo progressivamente com sua
fetal é necessária eficiente circulação materno-placentária.9 evolução. A medida que cai o glicogênio pb centário, cai
As alterações histológicas que ocorrem com o cresci mento também :1 glicogenól ise anaeróbica e au menta a glicogê-
e mat uração placentária aumentam a eficácia do transpor- nese fetal. 11 Isso é devido à placenta ser a reserva fetal de
te e troca de nutrientes, confo rme as necessidades do meta- glicogênio até o terceiro mês de gestação, época a partir
bolismo, transferências e secreção cndócrina.10 d::t qual o fígado fetal começ::t a funciona r, assumi ndo seu
A maioria das substâncias, se não todas, são transferi- papel no metabolismo d::t glicose.10
das para o feto, de acordo com su,ls necessidades, através A água é transferida da gestante p::tra o feto de maneira
da placenta. A questão crucial é s.1ber não só qual substân- progressiva durante a gravidez. A transferênci.l máxi ma é
cia atravessa a placenta, mas quais são sua velocidade c seu alcançada na 36" sem::tna de gestação, qua ndo :1 quant i-
significado fisiológico. 11 d::tdc oscila em torno de lO mi por gr::tm::t de placenta por
É a dieta materna que fornece os nutrientes para suprir hora, perfazendo o tot::tl de 3.500 ml/ hora. 11 O lactato é
o feto. Os três principais locais de depósito nu tricional uma substância também transportada por difusão facil ita-
materno são o fígado, os músculos c o tecido adiposo. A da, provavelmente sob forma de ácido láctico, ca rreado por
glicose é armazenada no fígado e músculos sob form a de íons de hid rogênio.8
glicogênio, os aminoácidos essenciais são armazenados Em recém-nascidos, I 5% do peso corpor::tl são fo rm a-
como proteínas c o excesso de gordura é estocado no te- dos de gordura. Isso indica que, no final da gestação, subs-
cido adiposo. O armazena mento materno de gordu ra tem tancial parte do substrato tra nsferido ao feto é armazenada
seu pico no segundo trimestre, declinando com a de man- sob for ma de gordu ra. Os triglicerídeos não ultr.1passam a
da fetal aumentada no final da gestação. membrana placent:lria, mJs os gliceróis o fazem por difu-
O feto não está exposto a constante glicemi::t materna; são simples. Além disso, ;ícidos g raxos são produzidos na
os níveis séricos maternos podem variar mais que 75%. O pbcenta. A lipoproteína lipasc está presente no b do pla-
feto não age como um parasito passivo, mas participa ativa- centário materno, mas não no fetal. Esse arranjo favorece a
mente, providenciando sua nutrição. Na metade da gesta- hidrólise do triglicerídeos no espaço interviloso materno.
ção, a glicose fetal é independente e pode exceder os níveis Os ácidos graxos transferidos ao feto podem ser converti-
da materna. 8 dos nova mente em triglicerídeos no fígado feta l. O uso d::t
A glicose é a principal fonte de nutrição fet::tl. 8•10 Assim, lipoproteína de baix::t densidade é uma alternat iva para as-
parece existir um mecanismo durante :1 gestação que bz simibç5o fetal de ácidos gr::txos e aminoácidos. O processo
com que o uso de glicose materna seja minimiz::tdo, dei- de pi nocitose é o de escolha. Essa p::trtícub é hid rolisada
xa ndo-a disponível ao feto. Acred ita-se que o hormônio por enzim::ts lisossomais do sincício para fo rnecer coles-
lactogênio placentário, presente em abundância na mãe, terol par::t síntese de progesterona, ami noácidos livres (i n-
bloqueie a captação periferica de glicose, promovendo cluindo ::tm inoácidos essenciais) e ácidos graxos essenci::tis
mobil ização c uso dos ácidos graxos livres pelos tecidos (prima riamente ácido linoleico).

28 Noções Prát icas de Obstetrícia


Em adição à hidrólise dalipoprotcína de baixa densida- cio, a proteína relacionada ao hormônio parati rcoidia-
de, a placenta concentra intracelularmente elevado núme- no (PT H-rP), age como substituto do PTH em muitos
ro de ami noácidos. Ela é capaz de si ntetizar o gl icogênio c sistemas, incluindo a ativação de adenilciclase e o movi-
ácido graxosw E cs aminoácidos, concentrados no inci- mento do cálcio. A PT H-rP não é produzida em adultos,
ciotrofobla~to, são transferidos ao feto por difusão.gAmos- mas sim nos tecidos fetais, como os rins. A expressão da
tra de ·angue fetal colhida por cordocentese mo traram PT H-rP é modulada pela concentração de cálcio extra-
batxas concentraçõc de ami noácidos em fetos considera- celular. O feto requer cálcio para osteogênese c retira as
dos pequenos para a idade gestacional, du rante o cgundo reservas maternas, mesmo quando estas são insuficien-
trimestre e ao termo. A atividade da membranas intcrvilo- tes. O fósforo é importa nte na man utenção da capacida-
sas, onde se encontram o .tmino.ícidos, é reduzida nes cs de vital do feto.
recém-nJscidos. As vitaminas ão tran feridas por transporte ativo10• A
Tabagismo materno, .1buso de álcool c uso de drogas concentração de vitami na A (retino!) é maior do que no
são conhecidos como c:tu adores de restrição de cresci- plasma materno. O transporte de vitamina C (ácido ascór-
mento fetal c há evidências de que afetem o transporte pla- bico) se dá através de um carreador, despendendo energia.
centário do aminoácidos. 11 De forma geral, o feto contém Os níveis dos metabólicos de vitamina D (colecalciferol),
mais concentração de aminoácidos do que o org.tnismo incluindo o 1,25-dih idroxicolecalciferol, âo encontrados
mate rno. li,\ mais albumina, creati nin a e globulina no feto. em mais quantidade no plasma materno.8 As vitaminas
Geralmente, as proteínas são transferidas de forma li- Bl, 136 e 812 estão em maiores concentrações no plasma
mitada através da placenta, com exccção da imunoglobul i- fetal. 10 A hidro olúvcis passam mai faci lmente do que
na G (lgC) e da proteína bloqueadora de retino!. A lgG está as lipossolúvcis. 11
presente no cordão umbilical na mesma concentração que
no oro materno. lo entanto, a lgA e lgM estão presente~
em conccntr.tções bem mais reduzidas c n:io ultr::~pa~ ama ASPECTOS IMUNOLÓGICOS
placenta. O transporte de lg , é feito por pinocitose. A lgM
é encontrada no feto somente se seu sistema imunológico O sistema hematopoiético é talvez o mais complexo
for ativado por proce o infcccioso.s e, certamente, o mai dinâmico dos tecidos no organis-
Os cletrólitos também são transferidos ao feto. O sódio mo humano. O desenvolvimento das células sangu ínea
transita rapidamente, embora não c aiba qual é o meca- inicia-se no primeiros doi me es de gestação e continua
nismo. Os níveis de sódio no feto são ligeiramente superio- por toda a vida. Inúmeros tipos de células são produzidos:
res aos maternos. A passagem de potássio se dá de forma plaqueta , eritrócitos, ma tócitos, ba ófilos, eosinófi los,
emclhante c ua concentração no plasma fetal também é neutrófilos, monócitos, células dentríticas, células rwluml-
mais alta. É possível que a passagem de potás io esteja re- -bllet; linfócito B e linfócito T. A d iversidade de leucó-
lacionada com o funCionamento da uprarrenal, já que é citos produ zidos é capaz de real izar um clenra11ce sclctivo
mod ificada pela secrcçJo dos esteroidcs corticais.3 O iodo é nos tecidos lesionados por patógeno . 13actérias intracelu-
carreado por processo ativo, despendendo energia. O zinco lares ou extracelulares, vírus, parasitas ou fungos são eli-
está prc ente cm mai quantidade no plasma fetal do que minados com o mínimo de prejuízo tecidual8 . ão é ma i
no materno. r o entanto, o cobre, necessário ao desenvolvi- válida a opinião de que o feto seja imunologicamcnte in-
mento é encontrado cm menos qua ntidade no plasma fetal. competente. De fato, a partir do quinto mês de gestação,
A proteína bloqueadora de metais pc ado , metalotio- o feto tem a capacidade de produzir várias imunoglobul i-
neína- 1, está presente no sinciciotrofoblasto. Essa proteína nas encontradas no adulto. a ausência de estímulo an ti-
scque~tra a maioria do metais pesados, incluindo zinco, gênico direto obre o feto (i nfecção), a~ imunoglobu linas
cobre, chumbo e cádmio. A maior fonte de cád mio é o ci- fetais consistem quase totalmente de imunoglobulina C
ga rro. A metalotioncína ·equestra es e d dmio, não permi- (lgG). Esta é sintetizada no organismo materno, sendo
tindo concentração fetal igual à materna .~ transferida atr.1vés da placenta. Assim, os anticorpo fc-
O cálcio e o fósforo são ativa mcnte tran portados tais c neonatai refletem, na maioria das vezes, a imuni-
da mãe para o feto. Uma proteína bloqueadora de c:\ 1- dade materna.9

Fisiologia Fetal
29
Os tipo bá~1cos de células empregadas no si tcm.t o antígeno lcucocitário humano (H LA).10 A medida que a
1munc \ão o linfócito T c o macrófago e, dependendo gestação progride, células do interior do blastocisto (as que
do tipo de rcspo ta de ejada, o eo in filo e mastócito . formam o embrião) gradual mente de envolvem o antíge-
Uma da linhagens de células é a linfoide, que fonn.u:\ nos leucocitário humano I e li (H LA I c 11). O importante
linfó ito~ Te B; c a outra é a mieloidc, que formará toda~ a~ é que cs c tecido não entra em ontato di rcto com os teci-
células sanguínea~ restante .~ Os linfl citos diferenciam- e do ou anguc materno .11
para crem re ·pon áveis tanto pela imunidade celular quan- Assim, pode-se observa r que os fetos in iciam sua imu-
to pelo anticorpo . nidade já no primeiro mcsc de ge tação c vão tornando
Os linfócitos B, produtores de anticorpos, passam pela esse sistema cada vez mais completo e complexo.
placenta, via circulação umbilical, circulam pelo fígado fc-
tal c vao para a medula ó l>Ca c cstrutur.ts linf01de pcriféri-
cal> .10 Existem dois tipos de linfócitos B: BI c 132. Os do tipo REFERÊNCIAS
131 áo produ1ido pre o emente no feto e :.ão o predo-
Ga rc1a ' ML, GarCJJ C. Cmbnolog1a. Sao Paulo: U ' P; 2001
mi nantes. Eles per~istcm durante toda a vida c ão capJLc
p. 245-7 o

de \ C autorrcgcncrar na periferia. Os do tipo B2 são m.ti 2 Bundul1 V, Miguclc.~;J ,Zug.ub M. Fi~1 olog1a Fetal. ln. Fcbra~­
cxprc 1vo na upcrfíc1e da glicoprotcína O" e declinam go Tratado de Obstcrnc1a R10 de Jancm': Rcvmtcr; 200 I
cm proporção na infância. Aliás, não se sabe ao certo a ua p.672-8 1.
função. A produção de linfócito 13 origina- e no fígado fe- ). Zuga1b M. M1yadahira S, omura RM Y, Fra nc1~<.0 RP .
tal no final do primeiro trimc trc de ge tação. Mais tarde, 1tahdadc fetal, propcd<'ut u.:a c .wahaçao. ln: C.trdlotocogra-
fia, cardiotocografia computadonzada. Sao Paulo· Atcncu,
a produção cessa nesse sítio e os linfócitos 13 passam a ser 2000. p. 8S-12S.
produzido!> no baço c medula ó ca. A chave do procc so 4. Moore KL, Pcrsaud TV istcma rc,p1ratóno. ln: Mooro.:
nos linfócitos Bé o rea rranjo dos genes da imunoglobulina Kl, Persaud TV . Embnolog1a clínica 6• cd. R1o dc j a ne~ro·
para gerar élula, com receptores de antígenos únicos cm Guanabara Koogan; 2000. p. 247-57.
\Ua \ !.UpcrfíciC!.>. S. Gluck L, Kulov1ch MV, Borcr RC. 'lhe mterprctallon and
~1gmfi cance of the leCJthm plungomyclm rat10 m amniot1c
A imunidade mediada por células é rc pons:lvcl pelas
llllld Amj Obstei Gynccol. 19-4;120 142-SS.
rcaçõe de hipersen ibilidade e são chamadas de timo-
6. l lallman M, Kulovich M, Kirkpalm.k E, Sug.mnan R ' •
-dependentes. O timo é c cncial no de envolvimento da Gluck L. Pho,phaudylinO\Itol and phosphaudylglycerol 11\
ma1oria dos lmfócito!. T. Dois tipos principai de linfócitos ammotic fJUJd· mdice oflung matunt)' AmJ Oh,lct Gync-
T ~ao produ11do pelo timo, que diferem do rc cptorcs col. 1976;125:61 3-7.
de molécul.t\ que cb cxpres am na sua superfí ie\ ão 7. acycr RL, Burt L ', \Vnght l)L, Bla1K WA, Tattcr D. eonatal
o:. rc pon ávci pela memória imunológic,t c produção mortahry. The n1Jle d1 advantage. Ped1.ltriCS 19- 1;4 :902·6.

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nology. ln: Ba ic cicncc of obstctncs and gynccology. Lon
de h i tocompatibihdade. O ma i conhc ido e c tudado é don: Churchdl·Li\•mgstonc; 19 6. p 91 11 2.

30 Noções Práticas de Obst etrícia


Adaptação Materna à Gravidez
Cláudia Ramos de Carvalho Ferreira
Lívia M urta Tanurc
Diana Carvalho Ferreira

Alterações Endócrinas Alterações Hematológicas


Placentas Volume Sanguíneo
Pâncreas Leucócitos e Proteína C Reativa
Tireoide Concentração de Hemoglobina e Hematócrito
Paratireoide Coagulação Sanguínea
Alterações do Aparelho Genital Alterações Cardiovasculares
Útero Alterações na Radi ografia de Tórax, Ecocardiograma e
Vagina e Períneo ECG
Trompas e Ovários Débito Cardíaco
Alterações nas Mamas Pressão Arterial e Venosa
Alterações do Sistema Digestivo Sistema Renina-angiotensina-aJdosterona
Boca Peptideo Natriurético Atrial
Esófago, Estômago e lntestinos Alterações do Sistema Nervoso Central
Fígado Órgãos Sensoriais
VesfcuJa Biliar Tato
Alterações Imunológicas Visão
Alterações Metabólicas Audição
Ganho de Peso O Ifato
Metabolismo de Glicose Alterações Osteoarticulares
Metabolismo Lipídico Alterações do Sistema Respiratório
Metabolismo Proteico Alterações Anatómicas
Sais Minerais Adaptações da Função Pulmonar
Vitaminas
Alterações da Pele e Fâneros
Alterações do Sistema Urinário Pele
Rins Pelos e Unhas
Sistema Coletor
Alterações do Estado Emocional
Bexiga e Uretra
urante a evolução da gravidez, ·urgem nu- ALTERAÇÕES ENDÓCRINAS

D merosas e intensas modificações no organis-


mo m aterno. Verifica-se contínuo estado de
ad aptação, pro porciona ndo a mbiente est::ívcl para o feto
PLACENTA

e atendendo às suas necessidade de crescimento. Ages- A placenta é ó rgão co mplexo, vascu la rizado, ad::tpt::t-
tante c tá sujeita a um a érie de alterações bioquímicas, do para otimizar as troc::ts de gases, nutrie nte e eletr li-
fu ncionais e anatômicas, com readaptaçõe que envol- tos e ntre as circ ulações materna e feta l. Estruturada no
vem to do o seu o rga nismo. Torna-se necessá rio entender e ndométrio, previa m en te preparado por c trogênio e
o meca nismo dessas muda nças, tentar distingu ir entre o progestcrona, desempen h a im port::tn te papel respirató-
que é doença a cr preven ida e tratada e o que é adaptação rio, nutricional, vascular, imunológico e endócrina.
a ser contornada para diminuir os incômodos. A placenta sintetiza gra ndes quantidades de pro-
A exigências da gravidez atingem o limites da capa- gestcrona, a partir do colestero l captado da circ ulação
cidade fu ncional de muitos ó rgãos maternos, podendo fa- m atern a. Usa os a nd rogênios fo rm ados nas glândulas
zer desponta r ou agravar quadros patogênicos. Por exem- ad renais m aternas c fct::tis co mo precu rsores na síntese
plo, pa ra o istc ma ca rdiovascular, a gravidez representa do e trogên io. O nível de sul fato de d eh id rocpiandros-
sobrecarga importante, m as é bem tolerada, desde que terona (S-DH EA) feta l aumenta progressivamente, pa ra
não coexista ca rd iopatia. A previsão de mais demanda alca nçar o pico próximo do term o. Apesar de o S-DH EA
fet,tl, no final da gestação, gera capacidade de re e rva na agir como prec urso r n a produção de estrogênio nJ pla-
mãe, para suprir possíveis períodos de estresse ou priva- centa, o mecan ismo d e regulação da sua sínte e cont inua
ção; porém, alterações metabó lica podem fazer urgir ou de conhecido. 3
agravar diabetes. Adaptações da tireoide podem simular O co rpo lúteo no ová rio c resce pelo c tímulo da
sinais ut is de hipcrtircoidismo se m sequelas; mas, sendo gonadotrofin a coriônica humana (h CG), glicop roteí-
este grave, pode cau ar aborto, parto pré-termo e aumen- na secrc tada pelo sinciciotrofobb to. O hCG aume nta
ta r o risco de mortalidade materna. E, ainda, para prote- rapida me nte nas primeiras sem anas de gravidez c seu s
ger a mãe de hemo rragia no pa rto, de envolve-se estado n íveis atingem o máxi mo na lO·• sem a na. A pa rti r d::tí,
de hipercoagulabilidade fisiológico, sendo a coagulopatia cai v::tgarosa mc nte, atingindo va lo r mínimo por volta da
de consu mo u ma ati vação patogênica dos meca nismo s 17• sem ana, que persiste até o fi na I d a gravidez. O corpo
da coagulação.u lúteo gravídico secreta e trogênio, progcstcrona e rclax i-
A grávida tende a tornar-se emocionalmente instável, na. A relax ina aj uda a manter a gravidez, inibindo a con-
necessitando de atcnçõe c cu idados. Passa por perío- trações do mi o rnétrio. A placen ta produ z c teroid cs se-
do crítico importa nte no a madurecime nto p icológico, xua is suficie ntes pa ra a um ir a função do corpo lúteo,
o que pode levar a mudanças em seu comportamento. após a sex ta seman a de gestação. Secre ta cerca de I g/
Influências determ inadas por aspectos cult urais e am - dia de som ato m a motropina coriô nica hum ana ( hCS),
bientais, superstições e cre nças muitas vezes induzem as na f.'lse final da grav idez. E c hormô nio é m ai co nhe-
paciente a se senti re m preocupadas, valoriza ndo dema i cido como lac togênio placent::írio hum a no ( h PL), cuja
algu ns de confortos, que acabam aflorando como quci- e trutura é muito se melha nte j do ho rrn ônio do cresc i-
x::ts graves. me nto, po rém com menos efeito. 4 A quantidade de h PL
A gravidez rcpre enta, pa ra mu itas mul hcrc , a meaça sec rctada é proporcio n al ao tama nho d a placenta e os
de perdas em termos estéticos, pro lissionais e afetivo . É níveis máximo são atingidos c m torn o da 32• se man a
preci o desm itificar conceitos, diminuir medos. A mu- d e gestação (Figura 3.1). O hP L prom ove a retenção de
lher pode se sentir saudável e segura quanto à g ravidez nitrogênio, potássio e cálcio, a lip óli e e a ut ilização pe-
c ao parto, ao entender os Jjustes transitó rios que estão rifé rica diminu ída d J glicose, para qu e esta eja d esviad a
aco ntecendo cm eu corpo. para o feto.

32 Noções Práticas de Obstetrícia


140 200 Progesterona

100 150
-'

~
-â,100
c::
50
50
20

10 20 30 40 5 10 20 30 40
Semanas de Gravidez Semanas de Gravidez

hPL 18 Estrogênios Esuadool


10 Estno I

/
8
12
~
:::>.
6 E
g. Esuooa
6

2
10 20 30 42 5 10 20 30 40
Semanas de Grav1dez Semanas de Grav1dez

Figura 3.1 I Alterações nos níveis plasmático do hCG, progesterona, hPL e estrogênios durante a gravidez normal.

A placenta produz estrogênios em grandes quantida- síntese de prolactina.A hipófise apresenta hipertrofia ampla.
des, sendo o cstriol o principal deles.5 O cstradiol e a cs- Isso contribuiria para explicar o aparecimento da síndrome
trona são o principai estrogênio produzido pelo ovário, de Sheehan (necrose hipofisária pós-parto). Os níveis de
mas, na placenta, perfazem apenas cerca de 10% dos cstro- cortisol total e livre aumentam progressivamente durante
gênios produzidos. Apesar de o estriol poder se fixar aos a gestação. A placenta produz, ainda, adrcnocorticotrofina
receptare de e trogênio, sua atividade estrogênica é mais coriônica (hACTH) e tireotrofina coriônica (hCT).
fraca. A atividade estrogênica cresce até cerca de 30 vezes,
ao fi m da gravidez, atravé da marca nte produção diária de
c trogênio placentário .6 Os estrogênios exercem fu nção PÂNCREAS
prolifcrativ.l sobre a maioria dos órgãos reprodutores da
mãe, causando au mento do útero, das mamas c da genitália Os estrogênios e a progesterona aca rretam hiperpla-
externa. Ainda promovem alterações que faci litam a passa- sia das células betapancrcáticas, levando ao aumento da
gem do feto através do canal de parto, como relaxamento produção de insulina, com tendência, na gravidez inicial,
dos ligamentos pélvicos, aumento da flexibi lidade das arti- à hipoglicemia c cetonú ria no jeju m. Durante a segunda
culações sacroil íacas c sínfise pubiana. metade da gravidez, hormônios contrainsulín icos placen-
A progestcrona diminui a contratilidade do útero grávi- tários (hPL, cortisol, progesterona c cstrogênios) levam :10
do; é secretada cm quantidades moderadas pelo corpo lú- aumento da resi tência periféric:1 à insulin:t c ao hiperin-
teo e cm grandes qua ntidades pela placenta. Sua taxa de se- sulinismo.
creção aumenta cerca de lOvezes no decurso da gcstação.6
A placenta também secreta GnRH e inibina. O GnRH
estimula e a inibi na in ibe a secreção de hCG. Os fatores que TIREOIDE
regulam a síntese de hCG não são totalmente conhecido ,
tendo a progc tcrona importante papel no seu declínio. A A tireoide Jumenta de t:tma nho, tornando-se facilmen-
placenta também secreta prolactina e pró-renina? Apesar te palpável. Há aumento de TBG (globulina de ligação à
de a pró-ren ina placentária entrar na circulação materna, tiroxina) por ação dos estrogênios e os hormõnios T3 e T4
não há evidências de que ela seja convertida cm renina ati- totais se elev:tm. Entretanto, os níveis de T3 c T4 livres não
va.ROs cstrogênios apresentam a capacidade de estimular a são :1umcntados. 2 O hCG produzido pela placenta :tpresen-

Adaptação Materna à Gravidez 33


ta características químicas e funcionais comuns com TSH, O aumento da espessura do endométrio, com incre-
podendo, assi m, estimular a tireoide5. Não é raro o achado mento da vascularização, oco rre por ação dos hormônios
de T SH próximo dos limites inferiores de normalidade. sexuais. Os vasos sanguíneos uterinos se expandem, es-
pecial mente aqueles relacionados com a impla ntação da
placenta. A quantid ade de tecido elástico que circ unda as
PARATIREOIDE artérias aumenta. Com o avanço da gravidez, as artérias
q ue irrigam o leito placentário sofrem degeneração fibri-
As glândulas paratireoides maternas geralmente au- noide característica, na ca mada muscular, e as lâmi nas
mentam durante a gravidez, especialmente se houver die- elásticas praticamente desaparecem, com di latação dos
ta deficiente de cálcio. O aumento dessas glândulas causa vasos. A contratil idade dos músculos da parede dos vasos
reabsorção de cálcio dos ossos maternos, aumentando a do miométrio responde de m odo un itário a est ímulos fi -
mobilização do cálcio iônico. Assi m, à medida que o fe to o siológicos ou med ica mentosos, tal é a integração dos va-
remove para ossificação, é mantida a concentração normal sos no m iométrio.
desse íon nos líqu idos extracelulares da mãe. Durante a lac- No início, o útero torna-se assimétri co, com aumento
tação, a secreção de hormônio paratireóideo é intensifica- desigual de volu me, crescendo mais na região de implan-
da, requerendo, muitas vezes, mais cálcio do que durante a tação do ovo. O amolecimento desse local é imediato, pro-
gestação. 5·6 Durante a gravidez e a lactação, há aumento da gredindo dessa região para todo o órgão e outras estruturas
absorção intestinal de cálcio, já que o paratormônio tam - pélvicas. Ao togue vaginal, o pulso da artéria uteri na torna-
bém tem efeito, embora indiretamente, no intestino (acen- -se perceptível e os fundos de saco torna m-se preenchidos
tua a formação de 1,25-diidroxicolecalciferol)-2 pelo útero globoso. Ao fim de 12 semanas, o útero torna-se
muito grande para permanecer dentro da pelve e ascende,
fazendo uma dext rorrotação (provavelmente pela presen-
ALTERAÇÕES DO APARELHO GENITAL ça do retossigmoide do lado esquerdo da pelve). Mantém
sua forma esférica até o qui nto mês, quando se alonga e se
As modificações que a gravidez acarreta n o sistema ge- torna cilíndrico.
n ita l são mais imediatas e incisivas que aquelas sistêm icas. Em decorrência do crescimento do corpo uterino, a
cérvice se eleva e orie nta-se, posteriormente, na vagina, em
direção ao sacro, dificultando o toque e o exa me especu-
Ú TERO lar. Ao ocorrer insi nuação da cabeça fe tat o colo desce e
centraliza-se.
O peso do útero de 30 a I 00 g, na mulher não grávi- O colo uterino aum enta devido a congestão, edema,
da, aumenta para até I .000 g no final da gestação. O au- hipertrofia, hiperplasia e acúmulo de secreções. O amole-
mento da massa do miométrio decorre da h ipertrofia e cime nto é precoce e a congestão torna os genitais internos
hiperplasia dos elementos musculares e do aumento do violáceos.
tecido conectivo (células, fib ras e líquidos intersticiais).9 A O cana l cervical é obliterado por tampão mucoso es-
u lt rassonografia aparece no útero "massa fi siológica", mui- pesso e viscoso, que protege a cavidade uteri na. O muco
to comum no início de gravidez, denominada contração cervical fica tu rvo e não se cristaliza. A p resença de líquido
m iometrial focal. Essa imagem deve ser d istingu ida de a mn iótico, após rot ura das m embranas, lhe confere a pro-
miomas uteri nos. 10 priedade de cristalização.
O aumento do volume uterino durante os três primei- A partir do primeiro trimestre de gravidez, o útero sofre
ros meses ocorre por ação est rogênica (e talvez por ação contrações espontâneas, indolores, de baixo tônus, chama-
também da progesterona). Após esse período, o aumento das contrações de Braxton-Hicks. Antes do parto, o colo
se deve, parcialmente, à pressão exercida pelo feto em cres- apresenta amolecimento crescente e redução do compri-
cimento. Após o espessamento da camada muscular nos mento. A musc ulatura uteri na, relativamente i11sensível à
pri meiros meses, segue-se o afi namento paulatino dessa ocitocina, durante o primeiro e o segundo trimestres, co-
camada, possibilitando a palpação do feto. meça a esboçar resposta a esse hormôn io.

34 Noções Práticas de Obstetrícia


O útero é capaz de reter o produto da onccpção até e a progc tcrona, pelo de envolvi mento do lóbulos. Os
o termo, qua ndo as contraçõc tornam-se produtivas, nívci de prolactina aume nt.un até o termo c, ob a inAuên-
tran formando-o cm órgão motor expulsivo. Além disso, o cia dc~sc hormõnio, omplcta-sc o pleno desenvolvimento
útero também tem ido considerado um órgão cndócrino, lóbulo alveolar da mama . C,lândulas marnana upranu
com produ ão de ub t3ncia de efeito local c 1 têmico, merána!> podem ser rcvclad.1 na gravidcl, por sofrerem a~
como pro taglandinas e prolactina. me m,l~ mod1ficaçõc que .1 glândulas pnne~p.m.-
As alterações são rc pons,\vcis pela ocorrência precoce
de ma ·talgia. A partir do terceiro mês, alarga ~c a rede de
VAGINA E PERÍNEO c.111ais c duetos, com o aparecimento de formig.1mcntos c
cn ib1hdade cxce sJV,l, que. geral mente diminui por volta
A muco ,, vaginal fica cspe sada, ocorre hipertrofia das do quarto me . À medida que a gravidet evolu1, a exube-
célula mu culares li a , aumento da ela ticidade, da va - ra nte rede \'a~cular vcno~a n1Jm.1ria tica ma1 vi ívcl, por
cularização c amolecimento dos tecidos conjuntivo dava- tra mparência da pele (rede de Haller). A aréola e o m,1milo
gina, da vulva e do a oalho pélvico. E~sa maiorcap;~cidade tornam-se mai!> aca st:~nh:1dos, com borr.tmento de seu!>
de di tensão vi a a preparar a pa agem do feto no parto. limites. Podem estar ontornado5 por pontos que coale -
A vulva torna- e mais va cularizada, podendo aparecer cem, formando uma :1réola <.ccu nd.í ria (rigura ~. 2).
va rizc , e apresenta- e entreaberta, com tubérculo uretra!
hipertrofiado. O rc íduo vaginal torna-se mais abundante c
c pesso, com aumento da celularidadc (ma i~ d~ cJ nução)
c diminuição do pi I.
o primeiro tnmestrc, há inten. incação do p.ttlrão
progcl.tacional, proliferação da células intcrmcdi:lrias c
exacerbação da Aora de bJ tonctcs, com discreta citólise;
a' célula fica m di po ta cm conglomerado compacto
(aglutinação elular). o segundo c terceiro trimc trcs,
verifica- e e tabililação do padrão gravídico, com acentua-
ção da agluti nação celular.

TROMPAS E OVÁRIOS
Figu r.l L~ I \ Lu1u ~1.1, 1,k .1 "•m 1úfc. dt• ll.llic1 ..:1l'l>IJ c
m.lmlk> .l,.l,t.mh.l,ll" ..lrt'l>Ll ,,.,lllt<l.uu c tub,•rLLif,,, ,j.,
As trompa aumentam de volume, fica m embebidas c \ t,>nt~''lllt'r\ I, 1 !'·'~~~ ,, ~:'
deslocada para cima.
O corpo lútco da gravidez é efctivo .1té cm torno de seis
ou ete emana c,,tpartirdaí,pas aacontribuirpoucoparaa O tubérculo de t'vlontgomery ão glândula~ !.cbáce.ts
produção de progestcrona. A ovubção fica interrompida du- proeminente . que fornwn pequena protuberancias na~
ra nte a gravidez. Até a primc1ra metade da gravidez, o ovário ar~ola . Se o aumento das mamas for muito .Kcntu,\do, po-
aumenta, havendo, posteriormente, redução do seu volume. dem urgir c ·trias.
A aréol.1 e o mam ilo podem cr preparados p.tra am,l-
mcnt.u, a parti r de cxpo~1çào ao sol c progrcs,iv:l c toliação
ALTERAÇÕES NAS MAMAS {uso de bucha, toalha). A dcsc.uga mamilar {colostro) cr.í
tão ma i abunda nte quanto ma1 e e rimular a m:tma com
A mama cre ce cm volume, pelo aumento de duetos, ma sagcm. O uso comtante de utiã'> firme é rccomenda-
ácino e c troma, apre cntando va cularilação n1.1is inten- vel para contornar a cn~ibilidade c o peso da<. mamas.
·a e metaboli mo aumentado. Os estrogênios ão primaria- A\ altas conccntraçõc de c trogênio c proge. terona no
mente rc pon áveis pela prol1 fcração do duetos ma m.1rio sangue materno inibem .1lact.tção, interferindo na ação d.t

Adaptação Materna à Gravidez


35
prolactina sobre o epitélio mamário. Com o parto, a queda I
Quadro 3.1 Principais alterações fisiológicas no sistema
abrupta dos níveis de estrogênio e progesterona suspende digestivo du rante a gestação
essa inibição e os receptores da prolactina, no epitélio al- i salivação;
veolar, podem au mentar até 20 vezes4 O hPL, a insulina,
J. pH da boca ~ propicia cáries;
o hormônio do crescimento e os glicocorticoides exercem
ações secundá rias no desencadeamento e manutenção da gengivas hipertrofiadaslhiperemiadaslfriáveis ~ sangramento
lactação. A ocitocina promove a ejeção do leite. à escavação;
As alterações mamárias durante a gravidez e a lacta- hipotonia da musculatura lisa da vesícula biliar~ predisposição
ção tendem a encobrir massas, d ific ultando o diagnóstico para cálculos;
de câncer. Apesar de muitas controvérsias, parece que a J. trânsito intestinal ~ eructações, flatulências, constipação;
gravidez não exerce fo rte influência sobre a evolução do
! tônus esfíncter esofágico inferior~ refluxo gastroesofágico
câncer de mama.2 e pirose;
i produção de gastrina I ! pH gástrico I i muco I i volume I
i tempo de esvaziamento;
ALTERAÇÕES DO SISTEMA DIGESTIVO
i bilirrubina ~ possível icterícia;
As g ueixas referentes ao sistem a diges tivo são m uito i fosfatase alcalina ~alteração sem repercussões.
comuns e associadas a inúmeras alterações para atender
às necessidad es au mentad as de nutr ientes, vitaminas e
sais minerais (Qp.ad ro 3 .1) . Varia de pequeno m al-estar BOCA
pela manhã a vôm itos incoercíveis (hiperemese graví-
d ica), que podem levar a desnut rição, d esidratação e A calcificação dos dentes se mantém estável na gravi-
d istú rbios hidroeletrol íticos. O período inicial de hipo - dez; portanto, se houver cárie, isto não se deve à redução de
rexia, náuseas e vôm itos pode ser seguido por au mento cálcio, mas, sim, à possível queda do pH oral.
do apetite e d a sede; 70 a 85% das gestantes apresentam O pti alismo (salivação excessiva), norma lmente, desa-
náuseas e 50% vôm itos, q ue se iniciam uma a du as se- parece após o quarto mês, podendo ser intenso e macerar
m anas depo is d a concepção e, habitualmente, desapare- os cantos dos lábios. Em geral, está associado a náuseas e
cem por volta de 14 semanas. Isso coincide com a fase dificuldade de deglutição, pois o volume normal d e saliva
de formação e máxima vulnerabilidade do feto, devendo da gestan te varia de um a dois litros d iários. Podem ocorrer
ser p referidas med idas d ietéticas às medicamentosas. A alterações gustativas, com mudança de paladar c de hábitos
variação da porcentagem de mu lheres grávidas q ue so- alimentares. A lgumas gestantes evitam certas substâncias
frem de náuseas e vôm itos foi revista por membros da e a preferência o u aversão por determ inados ingred ientes
Coch rane Pregnancy and Childbirth Consumer Panei, que atinge 70% delas9
afirmaram ser essa variação fr uto de di ferenças entre O tecido gengival é receptor de esteroides sexuais e, em
cultu ras e metodologias dos estudos avaliados." Apesar quase todas as mul heres, há certo grau de edema das gen-
de aceita mu ito tempo como doença psicossomática, givas, que podem se tornar hipertróficas, hiperemiadas e
sabe-se hoje se tratar de complexa interação d e fato res friáveis, surgindo sangramento gengival. Gengivite e cáries
biológicos (hormonais, imuno lógicos e mecânicos), devem ser evitadas, com limpeza e remoção de placas bac-
psicológicos e socioculturais. Existem situações em que terianas, escavação cuidadosa com escova macia, higiene
os vôm itos e o hCG estão aumentados (gem elaridade, com solução de antisséptico bucal e água oxigenada.
doença t rofoblás tica), gerando associação entre náuseas
e incrementos hormonais. Algumas gestantes apresen-
tam náuseas antes mesmo de se saberem grávidas, sen- ESÔFAGO, ESTÔMAGO E INTESTINOS
do as mais acometidas as mães que apresentam gravidez
indesejada, di fi culdad e d e assumir o u, ainda, medo de Por ação d a progesterona, estão reduzidos na g ravi-
pe rder a g ravidez. d ez o trânsito intestinal e a contratilidade da vesícula

Noções Práticas de Obst etrícia


biliar. Aparecem sin tomas com o eructações, flatu lência, ALTERAÇÕES IMU NOLÓ GICAS
const ipação, d istensão e dor abdom inal. Adem ais, a p ro-
gesterona d im inu i o tô nus do esfínc te r esofágico inferio r Deve-se observa r que o feto e a mãe são dois ind ivíduos
e a peristalse esofágica, favo recendo o refl uxo gast reso- geneticamente d istintos, mas a reação de rejeição, gue é ca-
fagiano e a pirose. A produção aumentada d e gastrina, racteristica mente produzida qua ndo out ros tecidos estra-
gue também pode ser si ntetizada pela p lacenta, promove n hos são transplantados, deixa de ocorrer. O s receptores
a queda do pH e o aumento do muco e do volu m e gás- celulares e as proteí nas MHC (complexo principal de h is-
trico. Na ma ioria d as pacientes, a pirose m elhora com a tocom patibilidade) são receptores de aderência gue liga m
progressão da gravidez e retorna no período fi nal. Existe, as células. Os produtos dos genes M H C são chamados de
ai nda, o fa tor mecân ico, pois o c rescime nto do útero des- antígenos leucocitários humanos ( H LA). Pa rece que um a
loca o estôm ago e os intestinos, m uda ndo a posição de das razões pela qual o feto não é rejei tado é gue o trofoblas-
est ruturas (o apênd ice pode ir para o flanco d ireito e o to placentário, que separa os tecidos maternos e feta is, não
estôm ago to rna-se horizontal izado). A pressão intragás- expressa os genes MHC poli mórficos, mas, sim, um gene
trica aumenta, apa recendo, às vezes, hérnia e esofagite. não polimórfico (H LA-G). Portanto, anticorpos contra as
O uso de antiácidos pode d imi nu ir a absorção do fe rro proteínas fe tais não se desenvolvem.
e agravar a con stipação. Nos quad ros de deficiência de Além disso, há dimi nu ição na produção de anticorpos
lactase, a ingestão de leite e d erivados tende a aum entar maternos dura nte a gestação. Na realidade, há dim inuição
o conteúdo gasoso intestin al. O mesmo pode acontecer dos títu los de anticorpos humorais contra vá rios vírus, de-
com o feijão, que contém aç úcares não digeríveis, passí- vido ao efeito de hemodilu ição. Há evidências, ainda não
veis de fe rme ntação. 2 bem expl icadas, de que a qui miotaxia de leucóci tos poli-
morfonucleares e as funções de aderência estejam depri-
midas a partir do segundo trimestre, continuando durante
FÍGADO toda a gravidez. Observa-se aumento da susceptibilidade a
algumas infecções. Quanto às doenças autoimunes, algu-
O fígado da gestante sofre pequenas mod ificações, do mas podem melhora r durante a gravidez. M ulheres com a
ponto de vista anatôm ico (l igei ro aumento e desloca men- doença de Graves podem se tornar eutireóideas até que a
to para cima e pa ra d ireita). Surgem alterações funcionais gestação termi ne, graças ao nível de anticorpos antitireoi-
e dos testes bioq uím icos. A fosfatase alca lina eleva-se pro- dianos dim inuído7. Na placenta, além da tra nsferência de
gressivamente e pode atingir o triplo do va lor habitual, nas anticorpos IgG, destaca-se a participação de macrófagos--'
últimas semanas de gestação, por causa das isoenzi mas
vi ndas da placenta. As tra nsa minases não se alteram e
pode ser percebido d iscreto aumento na bilirrubina sérica ALTERAÇÕES META BÓLICAS
total, na globuli na e na gama-glutami ltransferase.2•9
Os ajustes metabólicos são d itados pelas exigências
energéticas fetais. Os sistemas bioquímicos envolvidos na
VESÍCULA BILIAR produção de energia sofrerão alterações, pa ra suprir o con-
cepto. O metabolismo basal materno aumenta, progressi-
Apresenta fu nção alterada dura nte a gravidez, devido à va mente, até quase 25%.
h ipotonia da musculatura lisa de sua parede. H á compro-
metimento da contração, em razão da ação progesterôn ica,
e o esvaziamento bil iar é lento e incompleto, mantendo GANHO DE PESO
sempre volume residual. A gestação favorece alta incidên-
cia de cálculos de colesterol, por causa da estase, da consti- A necessid ade calórica diária passa de 25 cal a 30 cal/
tuição d a bile, que se torna mais espessa, e do aumento da kg/ d ia para 30 cal a 35 cal/kg/d ia. Não há justificativa para
saturação do colesterol. o uso de suplementações, quan do a dieta é bem equilibrada.

Adaptação Materna à Gravidez


37
Oganho de pc o médio durante agravídezé de aproxi- vide'L e decre ce rapidamente apó o parto. o período
madamente 12,5 kg, a maior parte durante os doi último pós-prandial, verifica-se incremento na re ·posta insulí-
trimcstr~s. O feto pc a cm torno de , kg c 2 kg são de nica e, imultaneamente, queda na cn ibilidade, permi-
líquido amniótico, placenta c membranas fctai . O útero tindo hipcrglicemia prolongada e desvio de glicose para
.mmcnta cerca de I kg c J mama , em torno de O,· kg. Li- o feto 11 . Por volta da "6• semana, a rc po t.l da in ulina à
qu ido cxtravascular e sangue somam 2,5 kg. Uma (ração glico ·e é tr~ a quatro vezc maior (aumento do nível plas-
de 3,0 kg é o rc ultado de altcraçõc metabólica que deri- mático e duração) e a redução na sensibilidJdc à insulina
vam de au mento da água celular e da dcpo ição de gordur,1 é de mais de 50%.
c proteína (reservas maternas). Com a redução dos meca- A glicose materna é transferida de fornu rápida c con-
ni mo de reten ão hídrica, o líquido extra é eliminado no · tínua para o feto por difusão facilitada. O hPL, o glucagon
primeiros dias pós-parto. e a in ulina materna não alcançam o feto cm quantidades
O maior crc~cimento do feto acontece durante o úl- significativa~, logo, a in ulina fetal de empenha seu papel
timo tnme trc; cu pc o dobra durante o dois último no mctaboli mo do concepto (Figura ~ .3).
me cs. Antecipando e !>aS necessidade , o corpo da mãe
Metabolismo da glicose
arma7cna proteína, dlcio, fosfatos c ferro.
1" metade da gravidez I anabólica

t progesterona t captação periféfica de glicose


METABOLISMO DE GLICOSE t estrogênios J. armazenamento de glicogênio
thCG J. glicamia de jejum
t insulina J. glicogenólise
As alterações no mctaboUsmo da glicose ocorrem no J. gliconeogênese
cntido de, inicialmente, promover re erva materna c, pos-
2" metade da gravidez I catabólica
teriormente, desviar glicose e ami noácidos para o feto, en-
quanto a mãe usa corpos cetônicos c triglicéridcs para su.ts t progesterona
ncce idade .2 A gravidez normal é potencialmente "dia- t estrogênio t resistência periférica à insulina
fhPL J. tolerAncia ê glicose
betogênica ~ apresentando lúperinsulinemia, leve hipogli- t cortisol t glicogenólise
ccmia de jejum e hipergl1cemia pós-prandial prolongad,t. t prolactina t gliconeoglnese
a primei ra metade da gravidez, o aumento de in u- t glucagon
lina, devido aos altos níveis de estrogênio e proge terona,
promove ma i captação periférica de glico e, arm<tzcna- t ácidos graxas
rncnto de gli ogênio, redução de gücogcnóli c c da gli- Pós-prandial:
cemia de jej um. O aumento de insuli na diminui a pro- - hiperglicemia prolongada;
dução hepática de glicose a parti r de outros precur ores - desvio de glicose para o feto.
(gliconcogêncsc). Por volta da 36" semana :
Na segunda metade da gravidez, constata-se aumento - resposta da insulina à glicose de 3 a 4x;
na produção placentária de hormônios contrainsulíni- - sensibilidade à insulina > 50%.
cos (hPL, cstrogênios, progestcrona, cortisol, prolacti na,
Figura 3.3j Metabolismo dJ glicose na gravidez norm.1l.
glucagon), levando à acentuada resistência periférica à
in ulina, diminuição da tolerância à glicose, aumento da
glicogcnólisc c, portanto, redução dos depósitos hepático . METABOL I SMO L I PÍDICO
Além di o, a produção hepática endógena basal de glicose
,lU menta 16- 0% para uprir o aumento da ncce sidade de O metabolismo lipídico ofre modilicaçõc no senti-
glico e pela placenta c feto1! . do de catabolizar a gordura , sempre que po ível, com
O hPL, pela semelhança estrutural com o hormônio aumento da concentração dos ácidos graxos no plasma.
do cre cimento, aumenta a rc istência periférica à insu- E sa alteraçôe parecem depender de hormônio de ação
lina e e timula diretamente a produção de insul ina pelo lipolítica: adrenalina, hormônio do crescimento, glucagon
pãncrca . E e efeito cre ce gradativamcnte com a gra- e h PL. O h PL não cruza a placenta, ma o ácidos gra xo ·

Noções Práticas de Obstetricia


livres a atravessam; são utilizados pelo fígado do feto e para por diminu ição da concentração de albumina sérica, mas
depósito em seu tecido gorduroso. não do cálcio ionizado. No sangue de cordão, por ocasião
A deposição de gordura materna da primeira metade do parto, encontra-se mais cálcio do que no sangue mater-
da gravidez representa armazenamento de calorias, para no. A taxa diária recomendada de cálcio passa de 1.200 mg
suprir possíveis carências no decorrer da gestação e da nas não grávidas para 1.SOOmg nas gestantes. Os estrogê-
amamentação. Nessa fase anabólica inicial, caem os níveis nios parecem bloquear a ação do hormônio paratireóideo
plasmáticos maternos de ácidos graxos e glicerol. Estes são sobre a reabsorção óssea, fazendo com que este aumente na
mobilizados das reservas maternas no tercei ro trimestre, gravidez (hiperparatireoidismo fisiológico), para fornecer
na fase de maior catabolismo, e aumentam no plasma, para cálcio adequado para o feto.
favorecer a tra nsferência ao feto.
O au mento do LDL-C, na primeira metade da gravidez,
parece ser devido ao estrogênio. O aumento da atividade da MAG l ÉSIO
lipase hepática, induzido pela progesterona, favorece o au-
mento de triglicérides e de HDL-C. Além disso, a alta con- Os níveis de magnésio total e .ionizado apresentam-se
centração de estrogênios e a resistência insulínica parecem di minuídos na gravidez, mas não existe evidências de que a
ser corresponsáveis pela hipertrigliceridemia da gravidez. 12 suplementação de magnésio durante a gravidez seja benéfica,
Os níveis aumentados de colesterol e triglicérides caem logo visa ndo reduzir restrição de crescimento feta l, pré-eclâmpsia
após o parto, sendo a queda acelerada pela amamentação. ou aumentar peso fetal. 13

METABOLISMO PROTEICO FóSFORO

No termo, o feto e a placenta, juntos, somam SOOg de No últi mo trimestre, as exigências da gravidez ficam
proteínas. O utros SOO g são acrescentados ao útero (pro- em torno de 200 mg diários. O aumento específico repre-
teínas contráteis), mamas (glândulas) e sangue materno senta aproximadamente 3,4% do total do esqueleto mater-
(hemoglobina e proteínas plasmáticas). As necessidades no. Os níveis séricos de fósforo correspondem aos da faixa
diárias de ingestão de proteínas ficam aumentadas. Se os normal para não grávida.
carboidratos c gordura não forem consumidos adequada-
mente, as necessidades energéticas são supridas pelo cata-
holismo das reservas de proteínas. FERRO
A insuli na desempenha importante papel ao facilitar o
transporte de aminoácidos para dentro das células. As pro- O ferro, elemento essencial, está presente em todas as
teínas totais au mentam em valores absolutos, mas, devido células vivas do organismo. A hemoglobina responde por
à hemodilu ição, suas concentrações ficam di mi nuídas. A cerca de 70% do depósito de ferro e a ferritina por 2S%, sen-
concentração de albumina sofre redução (de 4,4 para 3 g/ do que suas concentrações séricas diminuem du rante a se-
d L), enquanto a de gamaglobu linas tem queda reduzida. gunda metade da gravidez. Aumentos no início da gestação
Os teores de fibrinogênio, de alfa c betaglobulinas tornam- parecem ser devidos à den1anda míni ma de ferro durante o
-se mais representativos. primeiro trimestre, somada a balanço de ferro positi vo em
razão da amenorreia. O conteúdo total de ferro em mulhe-
res adu !tas normais varia em torno de 2.000 mg. As necessi-
SAIS MINERAIS dades de ferro durante a gravidez são de, aproximadamente,
1.300 mg no total (300 mg para o feto, 50 mg para a placen-
CÁ LC IO ta, 4SO mg para o aumento de massa eritrocitária, 250 mg
para perdas basais maternas, 250 mg para perdas no parto).
O feto necessita de 250 mg diários de cálcio no último Perde-se em torno de SOO mi de sangue du rante o parto
trimestre. Ocorre redução do cálcio sérico total materno, normal, podendo ser de até 1.000 mi durante a cesariana.

Adaptação Materna à Gravidez


39
A neces idade maior de ferro ocorre na segunda meta- ribofbvina (vitamina B2), ácido nicotínico e piridoxin:t
de da gravidez, encont rando-se em torno de 6 a 7 mg/ dia. (vitamina 86).
Em virtude da hemodiluição, o nível mín imo de A vit B12 e o ácido fólico são necessários para a hema-
hemoglobina aceito é de li g% e de ferro érico de 30 topoie e.
mcg%. Se as reserva maternas estiverem deficientes, o A suplementação com ácido fólico deve começar na
feto obterá ferro dos eritrócitos ou di reta mente do trato fase pré-concepcional, para diminuir até '0% da chance de
ga trointestinal materno. defeitos do tubo neural. 14
A quantidade de ferro absorvido da dieta, juntamente A vitam ina C é consum ida cm alto grau dura nte a gra-
com o ferro mobil izado da · re ervas, geral mente, é in ufi- videz e a lactação. A avitamino e C pode predispor à in-
cientc para atender as demandas impostas pela gravidez. flamação e ao sangramento das gengivas e, em grau mais
I o o orre, apesar de a absorção de ferro estar aumenta- baixos, determ ina o abortamento.
da pelo trato gastrointestinal, durante a gravidez (de lO a A vitamina D é fundamental ao metaboli mo de cálcio
20% c, havendo deficiência de ferro, a absorção pode passar e fó foro. O e trogênio e a 1,25-diidrocolecalciferol (pro-
para 40%). A perdas sanguíneas no parto normal ou em dução renal e placentária, com síntese acelerada pelo para-
uma ce ariana, geral mente, não levam à tran fusão, mas o tormônio) medeiam o au mento da absorção intestinal de
angramento obstétrico pode ser imprevisível e maciço. A cálcio na gravidez.
perda aguda de angue e a anemi.t na gravidez ão c.tusas As vitaminas E e K aumenta m no ciclo gravídico. A
de morbidadc e mortalidade materna em todo o mundo. vitamina K tem importante papel no mecanismo anti-
A anemia pode ser prevenida pela suplemcntação de ferro, -hcmorr:ígico.
minimizando os ri cos cm caso de hemorragia obstétrica.
Dois terços do ferro feta 1 ão incorporados na hemoglobina
c um terço é estocado no fígado, em forma de ferritina, para ALTERAÇÕES DO SISTEMA URINÁRIO
er usado nos pri meiros meses de vida do recém-nascido. 2•6
R INS

I ODO ALTERAÇÕES Al':ATÓi\IICAS

Durante age tação, há redução cm metade dos nívei Dura nte a gravidez, pode haver pouco :tumento no ta-
séricos de iodo, devido à perda pela depur:tção ren:tl. A m:tnho dos rins (cerca de I cm no comprimento), que não
tireoide precisa depur:tr duas vezes o volume sanguíneo, se deve apenas :to ac ré cimo do fl uxo angufneo renal, ma ,
p:tr,t obter :1 c:tpt,tção normal de iodo. Os :tltos níveis de também, à hipertrofia verdadeira dos rins. No pós-parto,
estrogênio aurnent:tm a globulina de ligação, lu vendo alto e sa alteração regride e não deve ser confundida com perda
teor de iodo Iigado às protcína . de parênquima renal. 2

VITAMINAS AOAPTA ÇÕ I:.S Fu CIO AIS

A vitamina A é essencial para a reprodução norm:tl, As alterações no útero, na pbccnt:t e em outros órg.ios
ma dose elevada (acima de 10.000 Ul/dia) podem e - m:ttcrno levam à ampliação da c:tpacidadc va cular, que
tar associadas a :tumento dos defeitos congênitos. Os reti- gera a necessidade de au mento no volume s:tngu íneo. Ini-
noides (i ômeros da vit.unina A) u :~dos em tratamento cialmentc, a elevação da capacidade vascular provo a a
dermatológicos podem estar associados :1 au mcnto de redução do débito c:trdíaco c pressão arterial. E a queda
m:tlform:tções. causa retenção de sal e água pelo rins, até que o volume
Certo fatore do complexo B c tão relacionados ao sanguíneo aumente o suficiente para preencher a cap:tci-
metabolismo energético, como a tia mina (vitamina Bl), dade extra.6

40 Noções Práticas de Obst e t rícia


H á aumento do ritmo de fi ltração glomerular (RFG) O clearance de creatinina aumenta, sendo este um teste
e do flu xo plasmático renal (FPR), sendo a alteração do útil para a aval iação da fu nção renal na gravidez. As con-
RFG mais signi ficativa e duradoura. A filtração glomeru- centrações séricas de ureia e creati nina tornam-se di m i-
lar aumenta cerca de 50% a parti r das primeiras semanas nuídas pela maior fil tração glomerula r. Valor de creatin ina
de gravidez, permanecendo elevada até o fi naC retornando sérica persistentemente acima de 0,9 mg/ dL deve ser i nves-
aos n íveis pré-gestacionais no pós-parto tardio. tigado, sob suspeita de doença ren al.
O balanço de sódio é um dos fatores primá rios na re- A quantidade de glicose filtrada está também elevada,
gulação do volume de líquido extracelular. O conteúdo de porém a capacidade de reabsorção está comprometida.
sódio do orga nismo é resultado de controle fi no e ntre fato- Consequentemente, não é raro o aparecimento de "glicosú-
res que promovem sua excreção e sua reabsorção, sendo os ria fisiológica" dura nte a gravidez, na vigênc ia de glicemia
rins órgãos efetores desse balanço. Essa regulação é com- normal. Ta mbém comum é a "aminoacidúria fisiológica".
plexa e envolve sistemas hormonais e nervosos, além de A excreção de proteína está normalmente au mentada,
fatores locais. M uitas das adaptações fisiológicas à gravidez mas raramente atinge níveis detectáveis. Apesar de a pro-
favorecem a excreção de sódio, como aumento do RFG, da teinúria ser definida com o proteína urinária acima de 300
progesterona, do peptídeo natriurético atrial (AN P) (ver mg/ dia, ela deverá ultrapassar SOO mg/ dia para ser consi-
adaptações card iovasculares) e redução da album ina plas- derada anormal na gravidez. A excreção de albu m ina é m í-
mática, entre outras. Tais fatores precisam ser ajustados nima e varia de S a 30 mg/ d ia. 2
para o alcance da expansão de volume na gravidez. Estro-
gênios, ativação do sistema renina-angiotensina-aldostero-
na (SRAA) e altas concentrações de desox icorticosterona SISTEMA COLETOR
15
atuam na retenção de sódio.
Q ua ndo a fi ltração glom erular vai se elevando, su r- A d ilatação do trato urinário é uma das alterações ana-
ge um mecanismo de compensação, representado pelo tômicas mais significat ivas induzidas pela grav idez. Envol-
SRAA. Verifica-se, então, aumento da reabsorção de sódio, ve di latação dos cálices e pelves renais, assim como dos
preservando a homeostase materna. Ap esa r de haver acú- ureteres. Essas alterações são causadas, in icial mente, por
mulo de sódio total, sua concentração plasmática apresen- f.1to res hormo nais (progesterona) sobre a musculatura lisa
ta reduzido decl ínio. O sód io acumulado di stribu i-se para e, depois, por efeitos obstru tivas mecânicos. São mais pro-
o feto, líquido extravascu lar, plasma, líquido amniótico, emi nentes do lado direito, devido aos efeitos mecânicos. A
útero, placenta, mamas e eritrócitos. Mais de 60% desse dextrorrotação uterina e o complexo venoso ova ria no d i-
aumento ficam d istribuídos no compartimento materno. reito sign ificativa mente d ilatado levam à maior compres-
Acredita-se que o aumento da secreção de aldosterona são do ureter d ire ito. O cólon sigmoide protege o ureter
que acontece na gravidez ten ha como objetivo a conserva- esquerdo. Os ureteres, além de d ilatação, sofrem tam bém
ção do sódio que seria perdido com o au mento do RFG. alongamento, tortuosidades e desloca mento lateral.
Contrapõe o efeito natriurético da progesterona e do AN P.
Reni na e angiotensi na 11 ap resentam-se elevadas durante a
gravidez e contribuem para o aumento de aldosterona. BEXIGA E URETRA
A postura corpora l interfe re de m aneira importante
na excreção de sódio e água. As posições supina, sentada As alterações fisiológicas do trato u ri ná rio predispõem
e ereta determina m mais retenção, e nquanto a adoção d e a infecções, devido à estase ureteral, associada ao aumento
decúbito lateral promove efe ito excretor. D essa m aneira, do refluxo vesicoureteral. Apenas após o pri mei ro tri mes-
durante o dia, em p acientes que têm atividades di árias tre aparecem a lterações significativas na bexiga. A qued a
norma is, há retenção hídrica e form a-se sequestro d e no tônus aumenta a capacidade vesical e eleva o resí uo
água nas pernas, podendo levar a edem a de membros urinário na bexiga (de IS pa ra 60 m i). A anteversão e o
inferiores. A adoção do decúbito à noite p ro move redis- aumento do volu me do útero, associado;-à congestão dos
t ribu ição e a excreção dos líq uidos através dos rin s, pre- órgãos pélvicos e à hiperplasia de músculos e tecido con-
domina ndo, assim, a nictú ria. juntivo da região, causam polaciúria inicial, elevação da

Adaptação Materna à Gravidez 41


bexiga e e tiramento do trígono vesica\. Pode acontecer lentamente, no terceiro trimestre. A expansão do volume
incompetência da válvulas uretero-vesicais e consequente pia mático foi identificada após sei semana , em e tudo
reAuxo vesicou reteral. Há aumento da pressão intravesical feito com mulheres na fase folicular c no início da gestação.
(de 8 para 20 cm de H10) e, para preservar a continência Com 12 emanas o volume plasmático apresentou au men-
urinária, relata-se au mento da pressão intraureteral e do to de aproximadamente 14% ± 12% (média± DP) em rela-
comprimento da uretra. A queixa de incontinência uriná- ção a medidas anteriore .17
ria foi comprovada em 17-25% das gestantes no início da O volu me máximo é mantido até o termo, n1as algumas
ge tação, aumentando no terceiro trime tre para 36-67%, referências na literatura têm demonstrado pouco declínio
principalmente na situaçõe em que há aumento da pres- na última lO semanas, alcançando eu máxi mo na 32• e-
são intra-abdominal. O ângulo da junção uretero-vesical mana de gestação. 18 O mecanismo desse aumento parece
cm repouso e a mudança do coeficiente de pres ão dura nte ser mediado pela ação de e trogên io e proge terona. Com
a tosse au mentam significativamente du rante a gravidez. a saída da placenta, a fonte responsável pelo aumento do
A prevalência de incontinência em nulíparas foi de 20% hormônios deixa de existir c ocorre diurese espontânea.
na gravidez e 4% no grupo-controle de não grávidas em O aumento do volume é tam bém nece ário, para me-
estudo ult ra onogr:lfico que pcsqui ou o pcrínco dinami- lhorar a pcrfusão de outros órgão , especialmente os rins.
camente c mostrou abaixamento do as oalho pélvico em Percebe- e, ainda, au mento de fluxo sanguíneo para a pele,
gdvidas de 12 a 16 emana . ão foi encontrada relação dissipando, assim, o calor causado pela intensificação do
entre a incontinência de urina e a posição e mobilidade metabolismo na gravidez.
da junção uretero-vcsical. As características di nâmicas do O volume de eritrócito amplia- e de forma acelerada,
tecido cone tivo do a soalho pélvico mostraram-se inal- advindo hiperplasia eritroide moderada na medu la óssea.
teradas, mas foi documentado significa nte decréscimo na O número de rcticulócito aumenta, ligeiramente, durante
contração da mu cu!atura pélvica.16 a gravidez normal. Isso se deve, provavelmente, a um au-
mento de duas a três veze no níveis de eritropoietina no
plasma materno, a partir de 20 semanas de gestação.
ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS Durante o parto vaginal normal e nos dias subsequen-
tes, apenas cerca de metade do critrócito acre centado
VOLUME SA NGU Í NEO à circulação materna durante a gravidez é perdida pela
maioria das mulheres. E as perdas se dão atravé de ló-
O volume sanguíneo au menta 40 a 50% durante a gra- quios (sangramento do leito placentário, no pós-parto), da
videz. Essa hipervolemia tem o objctivo de atender à de- própria placenta, da epi iotomia c de lacerações.
mandas do feto, do útero c seu sistema vascu lar, proteger a
ge tante e o feto contra o efeito do comprometimento do
retorno venoso e proteger a mãe contra os efeitos da perda L EUCÓCITOS E PROTEÍNA C REAT IVA
de angue a ociada ao parto.
Aexpan ão do volu me líquido soma-se o aumento de Tanto a função quanto os números ab oluto de leucó-
eritrócito , porém há mais acréscimo de pla ma (50%) do citos parecem ser fatores importa ntes ao se considerar a leu-
que de eritrócito (20 a 30%). A magnitude do volume cir- cocito e da gravidez normal. O número de leucócitos varia
culatório depe nde da mas a corporal da gestante, do nú- de 5.000 a 12.000/ mm 1 durante a gravidez normal. o de-
mero de partos e se age tação é de feto único ou múltiplo. correr do trabal ho de parto e no início do puerpério, pode
Em algumas mul heres, há apenas reduzido aumento, en- atingir nívei elevados, de 25.000/ mm 3 ou ai nda mais. A
quanto em outra o volume angu ínco quase dobra. O feto concentração é, em média, de 14.000 a 16.000/ mm1. O nú-
não é es encial para o de ·envolvimento de hipervolemia mero de linfócitos e monócito permanece praticamente o
durante a gravidez, já que foram demonstrados aumento mesmo de antes da gestação; leucócitos polimorfonuclea-
do volume sanguíneo em mulheres com mola hidatiforme. res ão, inicialmente, o responsáveis pelo aumento dos leu-
O .lllmento começa no primeiro trimestre; é mais sig- cócitos. O número de eosinófilos pode e tar ligeiramente
nificativo ao longo do egundo e continua, embora mai elevado, diminuído ou como no estado pré-gestacional. A

42 Noções Práticas de Obstetrícia


causa do aumento não é conhecida, mas, provavelmente, dade ao tromboemboLsmo.18 O clássico acidente cérebro-
representa o reaparecimento na circulação de leucócitos -vascular durante a gravidez é a trombose venosa central. A
previamente removidos da circulação ativa. concentração de fibri nogênio (fator I) aumenta em cerca
Os valores médios da proteína C reativa (reagente séri- de 50%, sendo os níveis normais na gravidez avançada de
co da fase aguda) du rante a gravidez são mais altos que os 300 a 600 mg/ dL. Esse acréscimo contribui para o aumen-
de mulheres não grávidas, sendo ainda mais elevados no to da velocidade de hemosscdimentação.
trabalho de parto. A d iminuição moderada de plaquetas é consequente,
A atividade da fosfatase alcalina leucocitária au menta provavelmente, do aumento de consumo durante toda a
desde o início da gravidez. Este achado é comum em gran- gravidez normal. O tamanho médio das plaquetas também
de variedade de distúrbios, incluindo a maioria dos estados dimi nu i2. A trombocitopenia gestacional benigna deve ser
inflamatórios. diferenc iada da trombocitopen ia imune e pré-eclãmpsia. 2
Os níveis de prostaciclina (inibidor de agregação plaqut.:-
tária e vasodilatador) estão aumentados, bem como do
CONCENTRAÇÃO DE HEMOGLOBINA tromboxa ne A2, que é indutor da agregação plaquetária c
E HEMATÓCRITO vasoconstritor. Os tempos de coagulação não diferem cm
gestantes normais.
Apesar do aumento da eritropoiese, as concentrações O nível de plasminogênio no plasma materno aumen-
de hemoglobina, eritrócitos e hematócrito diminuem li- ta, por possível influência do estrogênio, simultaneamente
geiramente durante a gravidez normal e a administração com a elevação dos níveis de fibrinogênio, para manter o
profi lática de ferro é preconizada pela OMS (ver capítulo 7 equilíbrio funcional. Mesmo assim, a atividade fibrino-
- Assistência Pré-natal). A viscosidade do sangue total di- lítica, ou da plasmina, está prolongada. A placenta parece
min ui e o hematócrito cai até o final do segundo trimestre, estar envolvida nessa redução de atividade, pois o parto é,
quando o aumento da série vermelha torna-se sincroniza- normalmente, seguido pelo aumento imediato da ativida-
do com o aumento do volume plasmático. O hematócrito, dc fibri nolítica plasmática.
então, se estabiliza ou pode até aumentar discretamente. Na coagulopatia de consumo, a coagulação pode ser
A concentração de hemoglobina in ferior a li g/d L ca- ativada pelas vias extrínseca e intrínseca, além da ativação
racteriza anemia, devendo ser investigada e tratada. A he- di reta por proteases ou toxinas bacterianas. 2
moglobina normal ou elevada durante a gravidez pode ser
sinal de pré-eclãmpsia, durante a qual o volume plasmático
encontra-se reduzido. A LTERAÇÕE S CARDIOVASCULARES
Se a concentração de hemoglobina da mulher não vol-
tar ao normal em duas sem,mas pós-parto, faz-se necessá- A gravidez apresenta-se como um estado hiperdinà-
ria uma investigação. 18 mico e hipcrvolêmico fisiológico. O conhecimento das
adaptações circulatórias é de extrema importância no
acompanhamento da gestante. Podem aparecer sinais c
COAGULAÇÃO SANGUÍNEA sintomas produzidos pelas alterações fisiológicas que mi-
metizam disfunção cardíaca e geram dificuldades para os
O estado de hipercoagulabilidade na gesta nte é de- exam inadores na distinção entre ma nifestações normais
monstrado pelo aumento de fatores da coagulação c mais ou patogênicas.
agregabil idade plaquetária. 2 A gravidez está associada a Entre os sintomas mais comuns estão fadiga, dispneia,
aumento de 20 a 200% nos níveis de fibri nogénio e dos palpitações, tonturas e dor torácica. Como sinais, observam-
fatores II, VII, Vlll, X, XII, enquanto a concentração dos se calor nas extremidades, zumbido venoso, hiperfonese de
fatores V e IX não se alteram. Em contraste, a concentra- bulhas, 132 desdobrada, B3, sopros, edema de membros infe-
ção de anticoagulantes endógenos dimi nui min imamen- riores, dilatação venosa e arritmias cardíacas.' Em 90% das
te ou permanece constante. 2•9 O sistema fibrinolítico está gesta ntes, aparece sopro sistólico, que pode ser mais intenso
suprimido. As modificações resultam em mais suscetibili- na inspiração ou na expiração, desaparecendo após o parto.

Adaptação Materna à Gravidez


43
Uma da alteraçõc cardiovascularc mais evidente é Mesmo levando-se em conta o índice cardíaco (DC/m2 de
a redução pronunciada da resistência vasc ular periférica superfície corporal), há elevação do DC, sendo o aumento
(RP), como consequência de níveis aumentados de pro- mais rápido no início da gc tação.1s
gcstcrona, de slumts arterio-venosos, criado pela placenta, Em re umo, diver o mecanismo contribuem para a
e de vasodilatação, gerada por íntese endotelial de pro ta- elevação do DC, como a redução da resistência vascu lar
gland in a~ e prostaciclinas. periférica c da viscosidade do sangue, a aceleração da fre-
quência cardíaca, o aumento da volcmia, do peso materno
e da ta xa metabólica basal.
ALTERAÇÕES NA RADIOGRAFIA DE
TÓRAX, ECOCARDIOGRAMA E ECG
PRESSÃO ARTERIAL E VENOSA
Ao Raio-X constatam-se modificações no contorno
cardíaco, imulando aumento de sua silhueta, como de - A modificações na prc ão arterial (PA) ão import:tn-
locamento para e querda c para cima e do .ípice para a tcs para a avaliação e acompanhamento clínico da gestan-
lateral. Ao ccocardiograma, a massa ventricular esquerda, te. o início do segundo tri mestre, há queda da PA, mo-
,\espessura de parede c as dimensões ventriculare pare- tivada, princip:tlmente, pelo rel.txamcnto da mu culatura
cem aumentada , porém tais mudanças são paralela ao lisa dos va os ·anguíneos (PA= DC X R P). No terceiro
acré cimo de pe o e da área de superfície corporal.'" Não trimestre, :t PA retorna lentamente seus níveis para próxi-
há alteraçõe c pccíficas no ECG na gravidez normal. As mo dos pré-gcstacionais. Durante a gravidez, a PA pode
alterações observadas decorrem da elevação do diafragma ser influenciada por vários fatores, incluindo período do
c da rotação do eixo elétrico para a esquerda. dia, atividade física, po tura c ansiedade. Observa-se que
,1 pressão diastólica apresenta ma i~ redução que a sistólica,

provavelmente por causa da vasodilatação pcrirérica c do


DÉBITO CARDÍACO leito de baixa rc istência na placenta.
Não há alterações da prc ão vcno a antccubital, porém
O débito card íaco (DC) é elevado em 30 a 'Otlu. O início a pressão venosa femoral ofre aumento no decorrer da gr:t-
do aumento do DC ocorre precocemente no primeiro tri- vidcz, quando a paciente está cm decúbito dorsal. Isto ocor-
mcstrc.19 O período de maior a ccn ão é por volta de 20 a 24 re porque, nessa posição, o útero cm crc cimento comprime
~emanas de gestação (quando avaliado em decúbito lateral). as veias pélvica e a veia cava inferior, dificultando o retorno
Após a 32• emana, o DC tendeà estabilização, o que e deve, venoso, diminuindo o DC. Tal alteração favorece o apare-
principalmente, à compressão do útero gravídico sobre,\ veia cimento de edema (principalmente na gravidez av,\llçada),
cava inferior, com consequente redução do retorno vcnoso.2 vJrizcs de membros inferiores, de vulva e hemorroida . O
Logo, há tendência de o DC ser mais significativo dur.tntc o ap;ll'ecimento ou :tgrava mcnto das varize é determinado
segundo trimestre, quando comparado ao pri meiro e tercei- não apenas pelo aumento da pre s;1o venosa, 111.1~, tam bém,
ro trimestres. Durante o trabalho de parto, a atividade uterina pela associação desse aumento com f.1torcs predi ponentes
aumenta o DC, cujo ,\umento é mais aci rrado após o terceiro (cadter fa miliar, ocupação que cx ij<~ ortostatismo prolonga-
período, estando o DC, em média, 80% acima. Atinge níveis do, idade e número de gestações) c hormonais (estrogênios
norm.tis por volta de duas semanas após o parto. c progc terona). Quando a gestante pas a para o decúbito
A frequência cardíaca e eleva entre 10 e 20bpm.19 r as lateral, o fluxo sanguíneo é restabelecido c a prcs ão venosa
fase!. iniciai da gc tação, a elevação do DC se deve, princi- nas regiões mencionadas tende a normalizar-se.1
palmente, ao aumento do volume de ejeção e, no terceiro tri-
mc trc, ao aumento da frequência cardíaca (DC= frequência
cardíaca X volume si ·tólico). ' í 1 0R0~1E DE H I POTE SÃO E~l Dt:C ' BITO DOR AL
O DC c modifica acentuadamente com o metabo-
lismo c tamanho corporal, elevando-se em proporções N.t gravidez avançada, o mecanismo de compressão da
semelha ntes ao au mento da área de superfície corporal. 6 veia cava inferior c consequente redução do retorno veno-

44 Noções Práticas de Obstetrícia


so pode provocar um quadro chamado síndrome da hipo- PEPTÍDEO NATRIURÉTICO ATRIAL
tensão em decúbito dorsal. Essa síndrome é caracterizada
por intoma acent uados e hipotensão, quando a gc tante O peptídeo natriurético atrial (AN P) exerce crcito nos
adota a posiç:lo supina. Entre os sinais de hipotensão supi- rins (aumenta o fluxo sanguíneo e a taxa de filtração glome-
na, estão palidez, cianose, pele fria, redução da amplitude rular e diminui a secreção de renina e a reabsorção tubular
de pulsos, queda da PA e até perda da consciência c con- de sódio), no tecido vascu lar e na adrenal, levando à natriu-
vulsões. Entre os sintomas, estão sensação de desmaio, rcsc, diurese, redução no volu me intravascular c redução da
dispneia, tonteira, náuseas, vômitos, distúrbios visuais, PA.2·21 Q uanto aos níveis de AN P na gestante, há resultados
fraqueza, de conforto torácico e abdominal. A parcela de confl itantes em diferentes estudos. Em geral, o consenso
ge tantes que apre enta intomas em decúbito dorsal, cm é de que há aumento ao longo da gestação. Em estudo de
algum momento da gravidez, é de 60%, enquanto a inci- mctanálise, conclu iu-se que há aumento de 4 1% no terceiro
dência da síndrome, propriamente dita, é de 806. 20 Essa trimc tre, em relação a não grávidas.22 o entanto, 111om-
síndrome é rever ível e aliviada com o decúbito lateral, pre- en ct ai." concluíram que as medidas do A P no terceiro
ferencialmente o csquerdo. 2 trimestre são menores que na 20• semana da ge tação e na
Além da compressão venosa, podem ocorrer também, 12• emana apó o parto. Houve correlação negativa entre
ao término da gestação, compressão das artérias ilíaca~ c os nívei de A lP c o volume sanguíneo, aldosterona, re-
porção terminal da aorta. Foram ugeridos também outro nina c DC e correlação positiva com excreção fracional de
fatores que influenciam na ocorrência ou magnitude da sódio e resistência periférica total. Esses autores acreditam
síndrome de hipotensão supina, como causa , neurogêni- que este deve ser um do mecanismos pelo qual o volume
cas c aumento da demanda circulatória (por exemplo, anc- sanguíneo mantém-se elevado durante a gestação. Há con-
mia). No período pós-prand ial, devido ao retorno venoso cordá ncia quanto ao aumento expressivo do A N P no pós-
via sistema porta hepático aumentado, a hipotensão supin,t -parto e sua participação nos mecanismos de readaptação
pode ser menos acentuada. 20 materna, com provável envolvimento na diu rcsc pós-parto.

SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA ALTERAÇÕES DO SISTEMA


NERVOSO CENTRAL
O aumento de cstrogên io na circulação ativa o sis-
tema rcni na-angiotcnsina-aldosterona; e a vasodilatação
aumentada, juntamente com a queda da PA, re ultam cm Diversas manifestações apresentada pela gestante -alter-
aumento da libera ão de renina.8 Na gestação normal, há ações nas funções motoras, sensitiv.1s ou mentais- podem ser
.tumcnto da concentração plasmática e atividadc de renina, .ttribuídas ao sistema nervoso central, entretanto, os estudo.
angiotcnsina II c aldo~terona. Porém, os vasos sanguíneos ainda são insuficientes para permiti r Jdcquada interpretação
estão rcfratários ao efeito pressor de angiotensina li infun- desses fenômenos.
dida. E a rcfrataricdade pode ser mediada por substâncias Sintom.1s comuns como sonolênci.1, f.1dig.t c lentidão psi-
relacionadas às prostaglandinas vasoativas, uma vez que comotora podem ser atribuídos à ação da progesterona, que
foi observado que inibidores da prostaglandina sintetasc tem efeito depressor sobre o sistema nervoso centra l. Além
levam à acentuada efetividade da angiotensina II cm au- disso, é comum as gestantes apresentarem alterações na quali-
mentar a pressão artcria!.2 O sistema rcnina-angiotensi- dade do sono, caracterizadas por dificuldade de dormir, me-
na-aldostcrona só ati nge alto grau de ativaç:lo durante o no horaSde SOnO notUrnO C desperta reSrrequenteS.lX
cgundo e terceiro trimestres, mesmo que precocemente
no primeiro trimestre já apareçam níveis aumentados de
ren ina ativa. ÓRGÃOS SENSORIAIS
Apesar d.1 resposta diminuída à angiotensina 11, o sis-
tema rcnina-angiotensina estimulado é importante na ma- Os órgãos sensoriais têm aumento da vascularização
nutenção d.t pressão arterial dura nte a gravidez.s devido ao estrogên io.

Adaptação Materna à Gravidez


45
T ATO de olfatória c tá diminuída devido a fatore cognitivo de
percepção c hormonais.25 O desenvolvimento da vascula-
Pode haver m:m ifestaçõe pare tésicas, principalmente rização da muco a na ai fuvorece obstrução nasal c rinite.
de extremidades, ligadas a alterações vasomotoras e de~­ A paciente já portadora de rinopatia alérgica pode er ví-
ciências dietéti a ou metabólica . As càimbra ão dolo- tima do crc cimento acelerado de possíveis pólipos nasais
rosas c comuns na segunda metade dJ gravidez e parecem alérgicos. O bloqueio nasal da ri nopatia gravídica costuma
estar a saciadas a problemas circulatórios c deficiência re- ser rebelde a todos os tratamentos c, em geral, só cede após
lativa de cálcio ou aumento de fó foro érico. O tratamento o parto, quando caem os níveis hormonais.
con ·iste em diminuir ingestão de fosfatos (leite e comple- A epi taxe deve- c à rotura deva o que e tornam in-
mentos contendo fosfato de cálcio) ou uso de carbonato de gurgitado durante a gravidez e, em geral, cede espontane-
cálcio. Os cuidados que devem cr tomados são: exercícios, amente ou após pequeno tamponamento.
massagens e evitar estir(l mentos musculares.21

ALTERAÇÕES Ü STEOARTICULARES
V ISÃO
A lordose progressiva deve-se à adapt.lçjo do organis-
No último trimestre, pode ocorrer discreta distensão mo materno, na gravidez normal, para bu caro equi líbrio,
ocular, e treitamcnto arteríola r e espasmos. A pressão intra- compensando a posição anterior do útero cm crescimento
ocular c a scn ibilidadc da córnea diminuem c há pouco au- c o aumento de pc o das mamas. A acentuação da lordosc
mento da espessura da córnea, considerado edema. Isto pode desloca o centro de gravidade para trás, sobre os membros
levar à dificuldade de adaptação ao uso de lente de contato. inferiores. Registra-se aumento da mobilidade das articu-
Na gestantes predispostas a descolamento de retina (a lta- lações acroilíaca, acrococcígea c púbica para que haja
mente míopes ou que já tiveram episódio anterior), haverá ampliação da capacidade pélvica, como preparação para
o risco da ocorréncia. A gravidez normal não predispõe ao o parto. E c afrou xamento de articulações é, presumível-
descolamento, mas o esforço do trabal ho de parto poderá mente, resultado da modilic.1çõcs hormonai , principal-
ocasioná-lo, devendo, portanto, cr evitado. mente do estrogênio c relaxina, um hormônio polipcptídi-
Atenção c pccial deve ser dada a pacientes com pré-cclâm- co secretado pelo corpo lúteo, além da retenção hídrica no
psia e eclâmpsia, já que estas e tão associada ao aumento da tecido conectivo.
incidência de diversos distúrbios visuais como descolamento Ern revisão da Cochrane, com oito estudos c 1.305
de retina e cegueira. Além disso, pa ientes previamente diabé- participantes, a suge tõe para melhor ljdar com a dor in-
ticas devem fazer controle da gliccrnia antes da gravidez, já que cluem fisioterapia, com orientação postural e crgonômica,
a hipergliccmia c tá rela ionada com a piora da retinopatia.24 exercícios de alongamento c fortalecimento muscular, hi-
droginá ti a, repou o, compre sas quentes ou frias, uso de
salto médio, cintas próprias para gestante, ma sagens, acu-
AUDIÇÃO puntura, quiroprática, aromatcrapia, relaxamento, ervas,
yoga, Rciki, travesseiros especiais e analgésicos, como acc-
Verifica- e diminuição da acuidade auditiva durante a taminofem. A conclusão foi que, independentemente do
ge tação. ão ta mbém comuns as sensaçõe sonoras, prin- tempo e do tratamento recebido, as mulheres relatam au-
cipalmente os zumbidos. Os casos de otosclerosc podem mento da intensidade da dor com a progressão da gravidez,
se agravar durante a gravidez.9 com interferência na atividadc diária c qualidade do sono,
porque usualmente as dores pioram à noite. Estudo feito
nos Estados Unido reportou a dor lombar em 68,5% das
ÜLFATO gestante (IC9S%65 a 71%). Porém, qualquer um dos trata-
mentos, junto com o cuidado pré-natal, reduz a intensidade
O intumescimcnto da mucosa nasa l pode levar à hi- da dor a nível tolerável, diminuindo o nú mero de abstenção
posmia ou mesmo ano mia. Provavelmente a sen ibilida- ao trabalho.26

Noções Práticas de Obst etrícia


A sobreca rga de peso sobre as articulações menos es- ADAPTAÇÕESDAFUNÇÃOPULMONAR
táveis leva à limitação de movimentos e irradiação da dor
para o membros inferiores ou sínfise púbica. O diagnós- O o rga nismo materno e o concepto apre entam cres-
tico diferencial deve ser feito com infecção renal, hérnia de cente dem and a de oxigénio. Além disso, o conce pto de-
disco e neoplasia de coluna. A lo mbalgia noturn a parece, pende do organismo materno para a realização das trocas
aind a, estar relacionada à diminuição do fluxo sa nguíneo gasosas. O sistema respi ratório materno se adapta de for-
medu lar, devido à compressão dos vasos pelo útero graví- ma a atender adequ adame nte as necessidades de oxigên io
27
dico no último trimestre. impostas pela gravidez.
Ocasio nalmente, durante a gravidez avançada, há dor, A progestero na age di retamente no centro respirató -
parestesia c fraqueza dos membros superiores, em virtude rio, seja torna ndo-o mais sensível à pC0 2, seja est imu-
da acentuada flexão a nterior do pescoço e queda da ci ntura lando-o independentemente, resultando cm aumento da
escapular, produzindo tração sobre os nervos ulnar e me- ventilação a lveolar que se deve, principalmente, a aumen-
diano.2 A descompensação postural, principalmente em to no volume corrente, já que a frequê nc ia vcnti latória é
gesta ntes obesas, conduz ao surgimento da sínd rome do pouco modificada durante a g ravidez e o espaço morto
túnel do carpo. não se a ltera.9
As d o res lombares e cervicais acom ete m, principal- O volume corrente aumenta g radativamente ao longo
mente, gestantes sedentá rias, com mais ga nho d e peso, da gestação, havendo acrésci mo de aproxi madamente 39%.
história prév ia de lo mbalg ia ou fato res ocupacionais o volume-m inuto c a captação-minuto de ol também apre-
(trabalhos fís icos pesados o u repetitivos com mesm a sentam aumento significativo, 42 e 32%, respectivamente.
postura). A capacidade residual func io nal (volume de reserva
Alterações ósseas sign ificativas rarame nte surgem na expirató ria + volume resid ual) é reduzida à c usta da re-
gravidez e são consequência das alterações do metabolis- dução do volume residual ( pela e levação d iafragmática).
mo do cálcio, como deposição insuficiente na matriz (os- Qpando a gesta nte passa da posição sen tada para a supi-
tt:omalácia) ou d iminuição nos teores de fo rmação da pró- na, há ma is redução da capacida,de residua l funcio na l, que
pria matriz proteica (osteoporose). No último trimestre da é m ais representativa nas fases mais avançadas da gravi-
gravidez, aproxim ada mente 25 g de cálcio são removidos dez. Apesar d isso, a capacidade pul mo na r total (volume
da mãe e depositados no sistema ósseo fetal. de reserva inspiratória + volume corrente + volu me de
reserva expirató ria +volume residual) não sofre alteração
sign ificativa.
ALTERAÇÕES DO Como consequê ncia de tais adaptações, a pC0 2 no
SISTEMA RESPIRATÓRIO sa ngue materno é reduz ida, faci litando o tra nsporte, atra-
vés da placenta, do C0 2 do feto para a mãe. H á também
ALTERAÇÕES ANATÔMICAS aumento da p0 2 sa ngu ínea materna, promovendo melhor
supri mento para o feto. O pH sang uíneo se m antém de-
Adaptações acontecem associadas a fatores mecânicos vido ao aumento na excreção renal de bica rbonato, confi-
no aparelho respiratório da gestante. O d iafragma eleva-se gura ndo quadro de "alcalose respiratória compensada"28.
quase4 cm, a c irc unferência da cai_xa torácica amplia-seS a Muitas gestantes (60 a 70%) apresentam queixa de
7 cm e o ângu lo subcostal aumenta ao longo da gravidez. As d ispneia. O aumento do volume corrente parece ser o
alterações na pa rede to rácica são atribu ídas ao crescim ento mecanismo responsável pela percepção dessa "dispneia
do útero, causando elevação do diafragma e a fro uxam en- fisio lógica". A lém d isso, a mucosa do trato respiratório fica
to dos ligamentos intercostais? 8 Porém, essas alterações edemaciada pe lo embcbimento g ravídico, d ific ultando o
não compensa m a redução do volume residual pulmonar, traje to do ar corrente.
causada pela elevação diafragmática. 2 As gestantes podem A dispneia ligeira não tem muito sign ificado e, no caso
perceber aumento da circunferência torácica e m an ifestar de estar muito acent uada, devem -se pesqu isa r problemas
incómodo o u dor na região das últimas costelas. ca rd íacos, respiratórios ou hipertireoidismo.

Adaptação Materna à Gravidez 47


ALTERAÇÕES DA PELE E FÂNEROS tomarem coloração branco-nacarada. O aparecimento ou
agravJ mcnto de estria preexistentes é visto no abdome,
P ELE mama , braços, nádega e coxas como linhas paralelas, cir-
cula re ou irregularc .29 O nível aumentado de hormônios
A alteraçõe pigmentares, vasculares, do tecido conjun- da suprarrenal contribu i para o aparecimento da estrias.
tivo e do anexo cutâneo ão comun na gestação. Todavia, estas podem estar ausente em uma gestação e
O au mento do hormônio mclanotrófico, com mais ap,trccer, na mesma mu lher, nu ma próxima gravidez em
tendência à pigmentação, leva ao aparecimento do cloa - que houver mais ga nho de pe ·o, evidenciando limite de
ma na face (pa rte central e/ ou malar e ma ndibular) em S0- distensão da pele. ão importante d ieta, uso de sutiã , cin-
70t\o da grávidas. o abdome, a lin ha alba torna- c uma tas c massagens com hidratantes. Para evitar que a pele res-
linha negra (ou lmea 111gra) (Figura 3.4). A hiperpigmenta- seque, os banhos devem ser menos quentes, mais rápidos e
ção, presente em 90% das gestante ·, é visível na vulva, face com pouco sabão neu tro.
interna da coxa, axila, aréola e abdome. Os níveis au men- A hipertrofia c hiperfu nção da glândula udorípara
tado · de e trogênio e proge terona e ti mulam a mela no- e ·ebáceas promovem mais transpiração. O elevado fluxo
gênese. As ma ncha da pele permanecem após o parto em sanguíneo na pele c.tusa considerável ascensão no grau de
30% das mulheres, sendo aconselhável usar fi ltro obre calor do corpo.9
abster-se de exposição ao sol, pois dependem de predi po- As alteraçõe va culares da gravidez, com aumento do
ição individual, genética e racial. volume sanguíneo circulante, levam à prolifera ão c à dila-
O nevo pigmentado tendem a aumentar, a efél ides tação dos vasos cutâ neos, com aparecimento de aran ha vas-
( ardas) c cicatrizes de ferimento ocorridos durante a gra- cular, eritema pal mar, petéqu ias e hemangiomas. Heman-
videz tendem a ficar ma i escura ·. giocndotelioma c glomangioma subcutanco podem
surgir nas mama e abdome, com aparéncia verru o a. A
dcrmatites de contato alérgicas ou irritati vas são mais co-
mu ns durante a gravidez, pois os produtos apl icados sobre a
pele ão ab orvido com mais intensidade ne e período. 10
A gravidez aumenta o ri co de recorrência do melano-
ma.2Q uando o diagnóstico é feito no decorrer da gravidez,
os tumores cutâ neos são m,lis cspessos. 2

P ELOS E U NHAS

Pelos fi nos (hipertricose) podem .tparccer e normal-


mente caem apó o parto. O hi rsutismo leve pode c dar
em virtude de aumento do androgenio ovarianos. As
principa is áreas afetadas são face, abdome, pernas e braços.
As un ha crescem mais c tornam-se quebradiças. Os cabe-
Figur,t 3.-t I:\kk,nw ,ll' gl·,t.111ll' c<'l11f'rl',l'l1\.1 do: l1nlu nl·gr.l los tendem a não cair durante a gravidez, ficando scdo ·o
\.., }'.1,~111.1 -t.--: e volu mosos, devido ao alto nível estrogênico aumentar
a proporção de fios n:1 f.1se an:igena. Haverá queda com-
As c trias atróficas aparecem devido ao estiramcnto pensatória, com a troca de cabelos, aprox imada mente três
localizado da pele, ,tliado ao estímu lo hormonal (adrcno- mese apó o parto. A queixa de guc os cabelos e tão cain-
cortical, cstrogênio, rclaxina), levando à rotu ra das cama- do em grande quantidade (eflúvio telogênico) deve- e ao
das ubjaccntes do tecido subepitelial, com separação dos acúmulo da queda motivada pelo ciclo natural do cabelo.
feixes conjuntivos e elásticos. A princípio, são róseo-violá- Entre as derm:1toses próprias da gestação, estão o her-
ceas c, apc ar de indeléveis, tornam- c menos visíveis, ao pes (ou penfigoide) gestatronis (lesões bolhosas não virais), a

Noções Práticas de Obstetrícia


erupção polimórfica gravídica (erupção em placas ou pápu- na mulher, que podem agravar ou desencadear estados
las, com prurido inten o) e o impetigo herpetiforme. 2 depressivos. As alterações tircoidianas são associadas a
sintomas de depressão pós-parto c não existe diferença
estatisticamente significativa na frequência e gravidade
ALTERAÇÕES DO ESTADO EMOCIONAL das alterações da tireoide no pós-parto cm mulheres que
apresentam variações de T H, mas im naquela que
A gravidez desencadeia um turbilhão de emoções apresentam aumento de antiTPO. Estudo feito na Dina-
contraditórias. As mudanças percebidas acarretam refle- marca evidenciou (nível A) que a avaliação de antiT PO na
xões c descobertas que alternam momentos de alegria e gravidez pode predizer mu lhere · de alto risco para desen-
temores, anseios e dúvidas. A necessidade de repouso se volvimento de alterações da ti rcoi k no pós-parto. O risco
faz sentir pelo sono, para reserva de energia. A sonolência foi de 35, 54 e 75%, re pcctivamcntc, quando o antiT PO
costuma desaparecer de forma espontânea cm torno do foi encontrado em nível abai.xo de 200, ent re 200 e 900 ou
quarto mês de gestação. Em caso de sonolência excessiva, acima de 900 U/ L. 11
observa-se reação regressiva, cm que a gestante procura A grávida é, muitas vezes, um.1 mul her sozinha dia nte
se identificar com o feto, ou me mo uma ituação de fuga, de fatores difíceis, como um fi lho não plancjado, falta de
cm quad ros depressivos. apoio familiar, dificuldades económicas, relações tumu l-
Ligeiro edema na papila gu tativa pode provocar tuosas e, mesmo em caso de gestações programadas, teme
mudança no paladar, mas algu ma mulhere apresenta m, não ser bem-sucedida na gravidez e no parto.
du rante a gravidez, desejo de ingerir algo específico, por A responsabilidade de assumir um fil ho c, junto com
vezes bizarro. Os desejos refletem uma sati f.-tção antiga, ele, todo um cortejo de abdicações na perda de sua indi-
caracterizando um estado regressivo, influenciado por sen- vidualidade arrasta a mul her a sensações ambivalentes,
timentos de autoprotcção, culpa c rejeição. Muitas gestan- entremeando a alegria c o prazer da matern idade com a
tes utilizam o desejo para reforçar sua importâ ncia c ccn- ansiedade e o pavor do fi lho de conhecido.
traliz:u atenções, tendo isso cunho ni tidamente cultura l. Portanto, os cuidados médicos devem considerar não
O au mento da sensibilidade provoca momentos de ex- somente as adaptações fí icas, mas, também, a modifica-
trema irritação, recheados de sensação de culpa. É oportu- ções psíquicas que ocorrem no ciclo grávido-pucrpcral.
no trocar ideias com outras grávidas, procurar o apoio dos
amigos e fam il iares, cuidar do corpo e do equi líbrio emo-
cional. A estrutura conjugal é fator determinante. Quanto REFERÊNCIAS
mais integração tem o casal, mais segura a gestante c en-
te, por estar sendo proporcionada a ela a ensação de poder I. Harrison TR, Fauci AS, ed1tores. Harnson Medici na Interna.
I~ • ed. Rio de Janeiro: McGraw- H di; 2008.
e importância, di mi nuindo sua apreensão, seu temores c
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suas t..1ntasias. A percepção das mudanças que ocorrem no
III LC, Wenstron K D. Will iams O bstctrics. 22' t>d . New
corpo :1carrcta desde orgulho pelo perfil grávido até ver- York: McGraw · Hill; 2005.
gon ha c depressão, ao se sentir feia ou deformada. Com a 3. Rainey WE, Carr BR, Sasano OH, Suzuki T, Mason J I. Dls-
proxim idade do parto, a ansiedade tende a aumentar. sect mg hu man adrenal androgen produclion. Tn:nds. Endo-
O déficit de memória que acompanha o período gd- crmol Metab. 2002; 13:234-9.
vido-pucrperal não é explicável pelos ensaios hormon.lis, 11 4. Goodman H M_Controle Hormonal da Reprodução na Mu-
lher: Gravidez e Lactação. ln: Johnson LR. Fundamentos da
ma os dados mostra m evidência direta do envolvi mento
Fisiologia Médica. 2• ed. Rio de Janeiro: Gu.1nabara Koogan;
dos hormônio c trogênio e progesterona no desenvolvi- 2000. p.SSI·62
mento da depressão pó -parto. Existem estudos que su- 5. Dougb~ C R. Tr,Jtado de Fisiolog1a Aplic~da à 'aude. S• ed.
gerem que mulheres com história de depressão pós-parto ão Paulo: Robe Ed1tonal; 2002. p.I361-73.
são mais sensíveis aos efeitos desestabilizadores do hu mor 6. C u)'ton AC, Hall JE. Tratado de Fis1ol ogi~ Mcd1ca. II • cd.
provocados pelos cstcroides gonadais. 31 R1o deJanCJro: Elsevier, 2006.
O pós-parto é a continuação da situação de trans- 7. Ganong W F. F1s1olog1a léd1ca. 22• ed. Rio de Janeiro: Mc-
Graw-Hill; 2007.
formação, pois ocorrem novas mudanças fi siológicas

Adaptação Materna à Gravidez


49
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50 Noções Práticas de Obstetrícia


Feto, Bacia Óssea Materna
04 e Mecanismo do Parto
Mário Dias Corrêa

Feto Variedade de Apresentação


Estruturas Ósseas Variedade de Posição
Diâmetros Mecanismo do Parto
Circunferência Craniana Insinuação - Encaixamento - Flexão
Bacia Óssea Materna Descida - Rotação Interna
Sinclitismo - Assinclitismo
Estreitos
Deflexão
Avaliação da Bacia Óssea
Rotação Externa
Estática Fetal Desprendimento
Situação
Posição
Proporção Feto-pélvica
Diagnóstico
Apresentação
Planos de De Lee

FETO

A
assistênciaaoparto, paraatingirseusobjetivos
- recém -nascido e pa rturie nte sem proble-
m as re lacio nados ao parto - , exige o conhe- ESTRUTURAS ÓSSEAS
cimento prévio de algun s aspectos específicos do feto
c outros da bacia óssea materna. Já no início do traba- No feto, além de sua estática, é necessá rio conhecer c
lho de parto, c durante toda sua evolução, é importante identifica r determinadas estruturas óssea que interferem
que se conheçam e se identifiquem os tempos de m e- na evolução do parto c, portanto, na sua condução.
canismos do pa rto. Todos esses dados, a na lisados em No polo cefálico, sob o ponto de vista exclusiva men te
conjunto, são fundamentais na condução do parto, na obstétrico, é necessário que se identifique m os dois ossos
determinação no momento certo se existe ou não pro- frontais, os dois parie tais c o occipital ( Figura 4.1). Esses
po rção feto-pé lvica e, portanto, na escolha da via corre- o os são separados por linhas formadas por tecido mem-
ta para o parto. branoso, que são chamadas de suturas, a~si m dc~crita~:
Os objetivos deste capítulo são: estudo do feto, da ba- flll eljrontnl - separa os dois ossos fro ntais (Figura
cia óssea materna e dos tempos do m ecanismo de parto 4.1-A);
c o diagnóstico de proporção feto-pélvica. Sngital - entre os ossos parietais (Figura 4.1-B);
Coro11ária - entre as frontais e parietais ( Figura 4.1-C);
Lambdoide - entre os parietais e o occipital (Figura Occipitojrontal - distância entre o osso frontal e
4.1 -0); o occipital, med indo aproximadamente 11,0 cm
(Figura 4.2);
occipito-mentoniano - entre o occipital e o menta,
com aproximadamente 13,5 cm (Figura 4.2);
Suboccipito-bregmático - começa na região inferior
do occipital e termina na fontancla bregmática
(9,5 cm) (Figura 4.2).

ossos SUTURAS FONTANELAS


1· Frontal A-lnterfrontal E- Bregmática
2·Parietal 8 · Sagital F-Occipital
3· Occipital C· Coronária Figura 4.2 I Diâmetros do pólo cefálico.
O- Lambdoide
Figura 4.1 I Referências do polo cefálico.

CIRCUNFERÊNCIA CRANIANA
Na condução do parto, é fundamental a identificação
das fontanelas existentes no polo cefálico do feto. Fonta- Ainda no polo cefálico intercss,l m a identificação e a
nclas são depressões - ausência de tecido ósseo - que se localização de sua maior circu nferência: esta é gue pode
formam no encontro de suturas. As fontanelas de impor- dificultar ou impedir a descida do polo cefál ico na bacia
tância obstétrica são: óssea materna.
bregmática - ponto de encontro das suturas interfrontal, A grande circunferência craniana passa pela região das
sagital e coronária, ramo direito e esquerdo (Figura 4.1- bossas parietais direita e esquerda (Figura 4.3). O utro dado
E). Por ser a maior, é conhecida como grande fontanela importante em relação à grande circunferência é que sua
e, por se localizar na frente do polo cefálico, é conhecida distância até o vértice em linha reta é de aproximadamente
como fontanela anterior; tem forma losangular; 3,5 a 4,0 cm (Figura 4.3). Com esse conhecimento, torna-
occipital - ponto de encontro entre a sutu ra sagital se possível determinar a altu ra da grande circunferência na
c os ramos direito e esquerdo da sutura lambdoi- bacia óssea materna.
dc (Figura 4.1-F), de forma triangular, conhecida
como pequena fontanela ou fontanela posterior.

identifica m-se as fontanelas no exame pélvico quando


existe dilatação cervical. Membranas amnióticas íntegras
dificultam sua identificação e a presença de bossa serossan-
guínea impede o diagnóstico.

Grande Circunferência
DIÂMETROS

No polo cefálico há de se conhecer também alguns de


seus diâmetros, a segui r discriminados: Figura 4.3 I Circunferência craniana.

52 Noções Práticas de Obstetrícia


BACIA ÓSSEA MATERNA aliência óssea aí pre ente. Seu comprimento é de
aproxi madamente I 0,5 cm (Figura 4.5-B);
O estudo da bacia óssea materna, e de suas principais es- dit1111etro prolllonlo-subptíbico ou conjuga ta dzag01talis:
trutura , contribui para o diagnóstico da proporção feto-pél- é a di tància ent re o promontório e a borda inferior
vica e, portanto, para a determinação correta da via de parto. da ínfise púbica: na · bacias ginecoide , ele mede
A bacia, posteriormente, forma-se pela un ião da quinta por volta de 12 cm. Do trê diâmetro citados, é o
vértebra lombar com a primeira acra; dessa união resu lta único que se pode medi r clinicamente. Consegue-
uma saliência óssea denominada promontório. Lateral- c com os dedos - toque vagi nal - a distância entre
mente, os ossos ilíacos direito e esquerdo delimitam a bacia dois ponto de referência, borda inferior da sínfise
c, na ua região anterior, situa-se o pubc. púbica e promontório (Figura 4.5-A).
Entre os quatro principais tipos de bacia descritos - gi-
necoide, and roide, antropoide c platipcloidc -, apenas agi-
necoidc, própria do sexo feminino humano, serJ. estudada.
Na avaliação da bacia é neces ário que se conheçam e se
identifiquem seus trê estreitos - superior, médio e inferior
- e alguns de seus diâmetros.

EsTREITos

N::t pcquen::t bacia existem três estreitos com c::tracterís-


A
ticas distintas: superior, médio c inferior.
Figura 4.4 I Diâmetros do e trcito uperior da bacia.

O objetivo de se identificar a conjuga/a dwgorwlzs é, in-


E STRE ITO U P rR JOR diretamcntc (clinicamente), determi nar a conjuga/a obsté-
trica, a que realmente intcrc a na condução do parto. Para
É :1 entrada da pequena bacia. Formada posteriormente isso, basta que do resultado encont rado na determ inação
pela união da qu inta vértebra lombar com a primeira sacra, da colljugata diagonalis se subtraia l,5 cm e, assim, se encon-
resulta na formação de saliência óssea, o promontório, que tra o valor da conjuga ta obstétricJ. Conjuga/a diagonalis igual
terá muita influência no parto. As paredes laterais da bacia for- ou superior a 12 cm equivale à COII)ugata ob tétrica igual ou
mam- e pela união das asas do sacro, das articulações sacroi- maior que I0,5 cm, portanto, normal.
líaca , das linha inommada c das eminências ileopectínea .
O limite anterior do estreito superior da bacia é a sínfi e
púbica. No estreito superior, três diâmet ros são importa n-
tes: o ântero-po terior, o tran verso e os oblíquos di reito e
esquerdo (Figura 4.4 A, B, C I, e C2).
O diâmetro :intcro-posterior representa a distância en-
tre o promontório e a sínfise púbica c se subdivide cm:
Diâmetro promontopúbico supenor ou con;ugata vera
ou, ainda, conjuga/a vera anatómica: compreende a
distância entre o promontório c a borda superior
da sínfise púbica, medindo cm torno de II cm (Fi-
gura 4.5-C);
diâmetro promonloptíbico menor ou cortjugata obstétri-
ca: é a distância entre o promontório c a região mé-
dia da sínfise púbica (superfície interna) em uma Figura 4.S I C01zjugatas.

Feto, Bacia Óssea Materna e Mecanismo do Parto 53


O diâmetro tra nsvcr o do estreito superior (maiores- Esta con i te em determinarem- e alguns estreito da bacia
treito) e tende-se da linha inominada de um lado até a do com o auxílio do dedo utilizado no exame pélvico.
outro lado da pelve, em uma distância em torno de I" cm, c o e treito superior, o que mais interessa ao ob tctra é
se constitui na maior abertura do estreito superior da bacia. a determi nação da conjuga/a obstétrica - menor diâmetro
Localiza-se aproximadamente 5 cm na frente do promon- do estreito superior. Essa detcrm inação e faz ind ireta men-
tório c 6 cm atrás da sín fise púbica (Figura 4.4 B). te, medi ndo-se a co11jugata diago11nils. Para realizar- c c a
Os diâmetros oblíquos :lo dois. O primeiro omeça medida, introduzem-se o dedo por trás do colo uterino,
na eminência ileopcctínca direita e termina na .lrticula- pelo fundo-de- aco posterior da vagina e, acompan hando-
ção acroilíaca e qucrd.1. O egundo começa na eminên- -se a concavidade do sacro, pro ura-se alcançar o promon-
cia ileopectínea e qucrda c termina na articulação acroi- tório (Figuril 4.6).
líaca direita, ambos medi ndo aproximadamente 12,' cm
(Figura 4.4 - C I eC2).

E T REITO M ÉDIO

O c treito médio da bacia itua-se entre as espinhas ci-


ática e mede cerca de IOcm.

ESTRE ITO I FER IO R

O c~treito inferior é a afd a da bacia. No sentido longi- Figura 4.6 1.Avaliação da conjuga/a diagonalis.
tudinal, e tende-se da extremidade do cóccix até a borda
inferior da ínlise púbica, med indo aproximadamente 9,5
cm. o momento do desprendimento do feto, o polo fetal Q!.iando a COII)IIgata diago11alrs é normal e o exame é
empu rra a articulação sacrococcígea para trás, aumentan- realizado adequadamente, não se .1lcança o promontório;
do ·ua extensão para quase IO, cm. nas anormai , este é alca nçado faci lmente. Algumas vezes,
o ·entido transversal, a di tãncia mede por volta de quase sempre por inexperiência, o exame é inconclusivo.
IO, cm c vai da tuberosidade i quiática de um lado até a A determinação do estreito médio da bacia pela pelvi-
do outro lado. metria clínica é mais difícil. Consiste cm se identificar, com
os dedos utilizados no exame pélvico, a localização das es-
pinhas ciáticas na cavidade vaginal c a distància entre ela .
AVALIAÇÃO DA BACIA ÓSSEA as bacia normais, as e pinha ciática têm pouca aliên-
cia na cavidade vaginal e jamais se consegue tocar as duas
Conhecendo- e teoricamente os ossos que compõem ao mesmo tempo. No estreito médio reduzido, as espinhas
a pequena bacia, eus estreitos e diâmetros, torna-se possí- ciáticas são facilmente tocadas e, às vezes, sentem-se as
vel avaliá-la e chegar-se a uma conclusão quanto à via ade- duas mais próximas.
quada ao parto. No e treito inferior, o que chama a atenção é a abertur.1
Aavaliação laboratorial do tamanho da bacia pela radio- do arco púbico. Quando normal, o arco púbico é bem aberto
pelvimetria não mais c realiza, devido àdificuldade técnica e não dificulta o toque; no anormais, ele é fechado e a sínfise
e ao inconvenientes do emprego dos R.aios-X cm gestantes. púbica bem baixa. Os resultados da pelvimetria interna clín i-
Are sonância magnética ,linda não é usada cm Obstetrí- ca estão di retamente relacionados à experiência do examina-
cia na análise das dimen õe da bacia. O que se faz, na prática, dor c aos cuidados adotados na sua realização. Se inconclusi-
é a avaliação cl ínica. Por meio desta, procura-se determinar vo ,asoluçãoé realizara chamada PROVADETRABALHO
as dimensões da bacia, recorrendo-se à pelvimctria interna. DE PA RTO, descrita no capítulo - A i tência ao Parto.

54 Noções Práticas de Obstetrícia


EsTÁTICA FETAL intermediária entre as duas anteriores: o maior eixo fetal
segue em sentido obl íquo ao grande eixo uterino.
Éa maneira como o feto se posiciona dentro da cavida- O parto transpélvico só é possível quando o feto se en-
de uteri na. Compreende a situação, a posição, a apresenta- contra na situação longitudinal; nas outras duas- transversal
ção, a va riedade de apresentação e a variedade de posição. ou oblíqua - ou se corrige a situação por meio de manobras
Nos dois primeiros trimestres da gravidez, a determina- -versão externa - ou o parto será pela via transabdominal.
ção da estática fetal é menos importante: o feto pode alterá-
-la frequentemente. Já no terceiro trimestre, quando modi-
ficações são pouco frequentes, sua determinação adquire POSIÇÃO
significativa importância, porque, se houver alguma anor-
malidade na estática fetal, pode-se corrigi-la por meio de ma- É a relação que guarda pontos de referência no feto -
nobras, a chamada versão externa. Ao internar a parturiente, dorso, coluna - com pontos de referência no abdome ma-
é indispensável que se faça o diagnóstico correto da estática terno - lado direito, esquerdo e região superior ou inferior.
fetal para que se decida qual a via recomendada para o parto. Na situação longitudinal, as posições possíveis são: di-
O diagnóstico clínico da estática fetal baseia-se na reita, dorso fetal voltado para o lado direito do abdome; es-
anam nese, na avaliação do abdome materno - Manobras querda, dorso fetal no lado esquerdo do abdome materno.
de Leopold- e no exame pélvico. O exame laboratorial, se Na situação transversal, as posições possíveis são: ante-
necessário, consiste na ultrassonografia do abdome. rior, dorso fetal voltado para a região superior do abdome
materno; inferior, dorso voltado para a região do pube.

SITUAÇÃO
APRESENTAÇÃO
É a relação que guarda o maior eixo do corpo fetal -
cabeça-nádegas - com o maior ei.xo do útero canal cervi É a relação que guarda estrutura definida no feto - polo
cal, corpo uterino. cefálico, polo pélvico ou ombro - com o estreito superior
As situações possíveis são: longitudinal, transversal e da bacia óssea materna.
oblíqua. Na situação longitudinal (Figura 4.7-A), há coin- Nas situações longitudinal ou oblíqua, as apresenta-
cidência entre os maiores eixos fetais e uterinas. Na situa- ções possíveis são: cefálica, a cabeça está junto ou próximo
ção transversal (Figura 4.7-B), o maior eixo fetal entrecruza do estreito superior da bacia; ou pélvica, se é o polo pélvico
o maior eixo uterino. A situação oblíqua (Figura 4.7-C) é (nádegas) que se posiciona.

A Situação longitudinal B Situação transversal C Situação oblíqua

Figura 4.7 1Situação fetaL

Feto, Bacia Óssea Materna e Mecanismo do Parto 55


Na situação transver ai, é o ombro do feto (acrômio) VARIEDADE DE POSIÇÃO
que se posiciona junto da estrutura superior da bacia e re-
cebe o nome de apresentação de acrômio ou córmica. É a relação que guarda pontos de referência no polo
O diagnóstico de apresentação fetal é decisivo na es- fetal com pontos de referência na bacia materna. Nesta,
colha da via de parto e na condução do trabalho de parto. os pontos de referência são sempre os mesmos: pube
O parto transpélvico é mais fácil na apresentação cefálica, (região anterior), sacro (região posterior) e os lados di-
mais difícil na pélvica e não acontece na córmica. reito e esquerdo da bacia. No feto, esses pontos variam
conforme sua apresentação.
Assim, na cefálica serão a sutura sagital, a fontanela
VARIEDADE DE APRESENTAÇÃO posterior (occipital) e a fontanela anterior (bregmática).
Na pélvica, consideram-se a direção do diâ metro bitro-
Na cefálica, as variedades de apresentação possíveis são: cantérico e o lado da bacia onde se encontra o sacro fetal.
vértice, bregma, naso e menta. a de vértice (Figura 4.8-A),
o polo cefálico penetra na bacia totalmente fletido - menta
próximo do tórax - e no exame pélvico, pode-se sentir en- VAR I EDADE . DE P OSIÇÃO NA
tre a grande fontanela (bregmática) e a pequena fontanela APRESENTAÇAO CEFÁLICA
(occipital), na sutura sagital, uma aliência óssea, o vértice.
a variedade de bregma, o polo cefálico está ligeiramente As diferentes va riedades são:
defletido - deflexão do primeiro grau- e a referência é a fon- Occipito-púbica (OP): a sutura sagital acompanha o
tanela bregmática (Figura 4.8-8). Quando a deflexão é mais sentido do diâmetro ântero-posterior, a fontanela
acentuada - deflexão do 2° grau - , o ponto de referência é posterior (occipital) e tá junto do pube e a anterior
o naso (nariz), variedade de apresentação de naso ou fronte (bregmática) junto do sacro (Figura 4.9-A);
(Figura 4.8-C). Se a deflexão for total - deflexão do 3° grau occipito-sacra (OS): a sutura contin ua no mesmo
- ,o ponto de referência é o mento (queixo), caracterizando a sentido do diâmetro ântero-posterior, porém, ago-
va riedade de apresentação demento ou face (Figu ra 4.8-D). ra, a fontanela anterior está junto do pube e a poste-
Faz-se o diagnóstico clínico da variedade de apresenta- rior próximo do sacro ( Figura 4.9-B);
ção realizando-se o exame pélvico e, durante o toque, iden- occipito-direito-transversa (ODT) : sutu ra sagital no
tificam- e os pontos de referência no polo cefálico fetal. La- diâmetro transverso da bacia, fontanela posterior
boratorialmente, consegue-se o diagnóstico recorrendo-se no lado direito da pelve e a anterior no seu lado es-
à ultrassonografia. Esse diagnóstico é importante porque querdo (Figura 4.9-C);
o parto transpélvico espontâneo só acontece na va riedade occipito-esquerda-transversa (OET): apenas se mo-
de apresentação de vértice. difica a localização das fontandas: a posterior está
A 8 c o

Figura 4.8 I Variedades de apresentação cefálica. A - vértice; B- bregma; C - naso; D - mento.

56 Noções Práticas de Obstetrícia


agora no lado esquerdo da pelve e a anterior no di- MECANISMO DO PARTO
reito (Figu ra 4.9-D);
occzplto-esquerda-alllerior (OEA): a utur.1 sagital i- Em decorrência da con t1tu1 ão da bacia ó ca ma-
tua- e no primeiro diâmetro oblíquo d.t bacia, com tern:t, com e treitos e diâmctrm de d m1en!.ões diferente ,
.1 fontanela posterior próximo da ínflsc púbica c do as o iada ao fato de que as c trutu ras ósseas fetais aprc-
cu lado esquerdo (Figura 4.9-E); cntam também dimensões va riáveis, o feto, para penetrar
owpllo-dlrelta-postenor (ODP): a ~utura agitai con- no c trcito superior, passar pelo estreito médio c sair pelo
tinua no primeiro di.imctro obl iquo c agora a fonta- estreito inferior, se submete a um procc so de adaptação
nela po terio r está na região inferior da pelve, próxi- c de acomodação e real iza uma érie de movi mentos que
mo do sacro, c à direita (Figu ra 4.9-F); caracterizam o chamado mccani mo do parto. Alterações
occipilo-direita-allfenor (ODA): a sutura agi tai e tá nesse mcc.mismo contribuem para que o parto tr,mspélvi-
no segundo diâmetro obliquo, com a fontancla po - co cp ma i difícil ou até me mo não aconteça. O tempo
tcriod direita da ínfi e púbica e a anterior à esquer- do me anismo do parto c a importância de cada um dele
da do sacro (Figura 4.9-G); ão controvcr os. Citam-se como tempo de mccani mo
owpllo-csqucrdo-poslenor (OEP): a utura agitai do parto: in inuação, encaixamento, ncxão, de cida, rota-
1tua-sc no cgundo diâmetro obliquo, fontanela ção interna, dcAcxão, rot,tção externa c de prendimento.
posterior à c querda do acro c a anterior à direita Alguns desses tempos são considerado · essenciais - de -
da sínfise púbica (Figura 4.9-H). cida, rotação interna e deAexão - e o~ outro são acc sórios
ou coadjuvante .
Apc :tr de de crito isoladamente para se entender me-
lhor o papel de cada um deles, na realidade ele .tcontccem
simultaneamente, numa pcrfcit.l combinaçao de movi-
A B
mentos. De crcvcremos o mecanismo do parto 11.1 bacia
gi nccoidc - própria da mu lher - c na apresentação cefálica
OP os
de vért ice.

~
Como se abe, o mecanismo de parto é o me mo na
c o nulíparas c na multípara . Ainda cxi tem dúv1da obre
como o polo cefálico penetra no e trcito upenor da ba-
OOT OET cia - e no diâ metro tran ver o ou cm um do diâ metro
obliquo .
Estudos radiológico realizados por Caldwcll & Moloy,
E F
em 28.494 parturiente , revelaram que a penetração do
OEA OOP polo cefálico acontece no diâmetro transverso, na maiori.1
das vezes: 63,9% (OET) c · ,9% (ODT).

G
(i) DOA OEP
H
INS INUAÇÃO - ENCA IXAMENTO - FLEXÃO

Figura 4.9j Variedades de po~ição na apre enta 5o cefálica. a maioria da nulípara , cm cerca de O<lo, ante do
início do trabalho de parto, o polo cefál ico aproxi ma-se
do c treito superior da bacia insi nuação e o seu ponto
A identificação de ·sa variedades de posição no de- mais saliente, o vértice, penetra no estreito superior, poden-
correr do trabalho de parto, e principalmente no período do atingir o estreito médio encaixamento. Es e contato
expulsivo, é de importância fundamental na condução do do polo cefálico com o c trcito uperior da bacia obriga-o a
parto, na identificação de problemas no mecanismo do fazer um movimento de flcx.1o. Em consequência à flex.lo,
pa rto e na correção desse problemas. o diàmctro occipito-frontal que C!.tava em cont.lto com a

Feto, Bacia óssea Materna e Mecanismo do Parto 57


A
bacia é substituído pelo diâmetro suboccipito-bregmático
e o mcnto do feto aproxi ma-se do seu tórax. Nas mu ltfpa-
ras, na maioria das vezes, isso não acontece a ntes do parto.

DESCIDA - ROTAÇÃO INTERNA Sinclitismo

B c
Pa ra que ocorra o parto transpélvico, são indispensá-
veis a descida e a rotação interna do polo cefálico. Esses
dois te mpos acontecem simultaneamente.
Como já foi dito, nas nulíparas a descida da cabeça co-
meça antes do início do trabalho de parto e pode atingi r o
estreito médio. Ao mesmo tempo, acontece a rotação inter- Assinclitismo posterior Assinclitismo anterior

na. Esta ocorre depois que a cabeça ultrapassa o estreito mé- Figura 4.10 I Sinditismo e assinclitismo.
dio e va ria conforme sua entrada no estreito superior. N as
transversas, a rotação interna será de 90 graus, da esquerda
para o cent ro ou da direita para o centro (sínfise púbica). DEFLEXÃO
Q ua ndo a penetração se faz nos diâmetros obl íquos, a
rotação será de 45 graus; nas anteriores, di reita e esquerda; Ao completar a descida e a rotação interna, o polo cefá-
ou de 135 graus, nas posteriores. N estas, a rotação pode lico faz um movimento de deflexão, necessário para a saída
também ser de 45 graus na direção do sacro. do mento fetal.

SINCLITISMO - ASSINCLITISMO ROTAÇÃO EXTERNA

Na maioria das vezes, o polo cefálico penetra no es- Após a deflexão, o polo cefálico se exterioriza e, na
treito superior da bacia e in icia sua descida com sua sutu ra maioria d as vezes, sofre u m movimento de rotação; o occi-
sagita l direcionada no sentido do d iâmetro transverso da p ital que se despre ndeu no d iâmetro â ntero-posterior roda
pelve e a igual d istância da sínfise púbica e do sacro, carac- de modo a se coloca r do mesmo lado da coluna vertebral.
teriza ndo-se o chamado sincl itismo (Figura 4.10-A). Tudo isso acontece fora dos genitais; e q ua ndo não ocorre
Contudo, na sua descida pela pelve, e em razão das esponta neamente, compete a quem assiste ao parto reali-
dimensões di ferentes do sacro e da sínfise púbica, a sutu- zar essa rotação.
ra sagital se aproxima ou se afasta desses dois pontos de
referência da bacia, ocorrendo o chamado assi nclitismo.
Este será posterior, ou de Litzman, guando a sutura sagi- DESPRENDIMENTO
tal, aproximando-se da sín fise púbica, faz apa recer ma is o
parietal posterior (Figura 4.10-B). No assinclitismo ante- É o tempo final do mecanismo do pa rto. Após a saída
rior, ou de Nagelle, a sutura sagita l se apro){ima do sacro, do polo cefálico, surge o ombro anterior, depois o poste-
determinando agora a predominância do parietal ante rior rior e, finalmente, o abdome e os membros in fe riores do
(Figura 4.10-C). A descida e a rotação interna se comple- feto. As contrações uterinas e o esforço da partu rie nte
tam quando o vértice atinge o est reito inferior da bacia e responsabilizam-se po r esse desprend imento o u, então, o
a sutura sagital se posicio na no diâmetro ã ntero-posterior. obstetra ajud a.

58 Noções Práticas de Obstetricia


PROPORÇÃO F ETO -PÉLVICA

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico mais precoceme nte possível d a propor-


ção feto-pélvica é fundamental na condução do parto c nos
resultados pcrinatais.
As dúvidas cm relação à pro po rção feto-pélvica ex is-
tem principalmente na nulípara: as dimensões de sua
bacia a inda n.io foram testadas. N essas parturientes, a de-
terminação da a ltura do polo fetal nos vá rio c trcitos da
o
bacia perm ite concluir se ex iste ou não a proporç.io. Essa
dete rminação se faz recorrendo-se aos c hamados planos
de De Lcc. Esse obstetra idealizou pla nos em q ue obser-
va a altura da maior ci rcun ferência cran iana cm relação
aos estreitos superior, médio e in fe rior. A d istância entre a
grande circ unferência c o vértice da cabeça fe tal - po nto
mais saliente nessa estrutura e que se percebe no exa me
pélvico - mede, em linha reta, 3,5 e 4,0 cm . j.\ a d istância
do estreito superior ao estreito méd io, ta mbém em li nha
reta, é de aprox imada mente S c m; o mesmo .lContccc en tre o
o est reito médio c o infe rior. +1
+2
+3
PLANOS DE DE LEE I
Figura 4.11 Planos de De Lee.

De Lee considerou o estreito méd io o limi te, o u seja, Sob o po nto de vista prático, o essencial na determ ina-
o pla no zero: para cima, até o estreito s uperior, pla nos ne- ção de De Lee é poder concluir se o vértice do polo cefálico
gativos, va ria ndo de I aS cm; para baixo, pla nos positivos, está aci ma o u abaixo do estreito méd io - plano zero. Pa ra
variando também de I aS cm. Planos negat ivo · signi fica m isso, basta veri fica r no exa me pélvico se o polo ccHlico está
que a g rande circunferênc ia ainda não ultrapassou o estrei- móvel acima do plano zero - o u fixo - abaixo do plano
to médio da bacia. Nas nulípa ras com gravidez a termo e zero. Essa com provação é q ue permite decidi r .1 via de pa rto.
cm traba lho de p.u to, isso sugere desproporção, porque na O utro plano também cri ado para a determ inação da
maiori,l dcl.1s cerca de 80% - o po lo ceHlico se insinua altur.1 do po lo fe tal é o plano d e H odge. Neste, a bacia é
e se encaixa antes ou logo no início do trabalho de pa rto. di vidida em quatro planos paralelos: o pri me iro começ,, no
De Lce, ao c ri ar seus planos, considerou todas as dis- promo ntó rio e termi na na borda superior da sínfise pú bica;
tâ nc ias em centímetros, que pratica mente é impossível de o seg undo vai do sacro à borda in fe rior da sín fise pú bica; o
·e determ in.lr, pois não ex istem réguas cspcciail, para me- tercei ro tem como po nto de referencia as cspin h as ciát icas;
d irem-se as distânci,\s cm centímetros na pelve fe mi n ina. e o qu arto considera a linha do cóccix ( Figura 4.12)
Na pdtica, essas medidas são determi nadas util iza ndo-se Os pla nos de H odge não são ma is em pregados. Em
os dedos em pregados no exame pélvico. Assi m, qua ndo o conclusão, pode-se dizer que, em nu líparas com gravidez
vértice encontra-se um dedo acima da espinh a ciática, cor- a termo, em trabalho de pa rto, po lo cefálico ainda móvel
respo nde ao pla no menos um; dois dedos acima, menos 2; -vértice ac ima do plano zero de De Lcc persistem as
c mais alto, menos 3. Se o vértice já ultrapassa .1 espinha ci- dúvidas q ua nto à proporção feto-pélvica. A solução que
ática u m dedo, é o plano mais I; dois dedos, ma is 2; c qua n- preco nizamos é a realização de PROVA DE T RA BALH O
do atinge o pe ríneo, mais 3 (Figura 4.11). D E PA RTO, d escrita no capítulo 53 Assis tênc ia ao Parto.

Feto, Bacia óssea Materna e Mecanismo do Parto 59


REFERÊNCIAS

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male pelvic and thci r cflcct in labor with suggestcd cl.H.~I hC.l­
llon.AmJ Ob tet Gpte ol 1933,26:r 9.

Figura 4.121 Planos de Hodge.

a apre entaçao pélvica, quando exi tem dúvidas


em relação à proporção, n.io se recomenda a PROVA DE
TRABALHO DE PARTO.

6o
Noções Práticas de Obstetrícia
Seção 2
Assistência Pré-natal
05 Aconselhamento Pré-concepcional
Regina Amélja Lope Pessoa de Aguiar
Mário Dias Corrêajúnior

Hábitos de Vida Cardiopatias


Tabaco Doenças Auto imunes
Dieta Doenças Psiquiátricas
Medicamentos Doenças Infecciosas
Álcool D oenças Tireoidian as
Cocaína e Outras Drogas Ilícitas Outras Situações Clínicas
Doenças Maternas Idade Materna e Paterna
Diabetes Mellitus Doenças Genéticas
Hipertensão Arterial Crónica D efe itos d o Tubo Neural
Epilepsia Fenilcetonúria
Nefropatias Vacinação

s mudanças do papel da mulher na sociedade ao mente, ten ha gestações de risco elevado para o feto e para si.

A longo dos anos determinaram alterações signifi-


cativas no que se refere à expectativa da gravidez.
Antig.unente, quando seu papel primo rd ial era a procriação,
O risco fe tal pode ser au mentado pelo uso de medicações
utilizadas para o controle da doença materna de base, pela
própria interferência de algu mas doenças no desenvolvi-
eram comuns as famílias nu merosas. A perda ocasional de mento feta l, pela idade da mul her e do homem c pela história
uma gestação ou, até mesmo, o nasci mento de criança com fam iliar. No ponto de vista materno, vá rias são as doenças
anomalias congênit,ls eram tidos como aceitáveis e fre- que podem ter seu curso natura l agravado pelo advento de
quentemente associados a q uestões rel igiosas, ditas como uma gravidez.
"vontade de Deus". Atual mente, é crescente o número de A util ização de prevenção pri mária de diversos defei-
mu lheres que, para alcançar seus objctivos profissionais, tos congénitos desperta a inda pouco interesse em nosso
adiam a matern idade e o ptam por ter reduzido número de meio. Cont rad itoriamente, o uso de tecnologias de última
fi lhos. O desejo pelo sucesso reprodutivo é individual e so - geração para d iagnóst ico pré-natal desses defeitos ga nha
cialmente muito mais forte. Além di sso, as doenças cró nicas rapidamente adeptos e dissemin a-se de forma intensa. O
têm hoje prognóstico bem mais favorável em longo prazo, mais s urpreendente é que a p revenção primária te m cus-
permiti ndo que um número cada vez mais alto de mulhe- to baixo e é aplicável em qualquer local onde se atenda a
res alcance o período de vida reprodutivo e, consequente- mulheres em idade reprodutiva, pois não demanda equ ipa-
mentos sofisticados, nem intervenções que exijam habili- TABACO
dades e pecífica . Para a prevenção primária, necessita-se
basicamente do bons e velho instrumentos da Medicina O número de mulheres tabagistas vem aumentando
tradicional: saber ouvir, saber examinar, saber explicar. significativa mente, apesar da · campanhas de e clareci-
O melhor momento para garantir uma gravidez au- mentos obre os ri cos do tabaco para a saúde. Estima-se
dávcl é intervir antes que aconteça, mi nimizando o riscos que cerca de 40 a 50% das nossas ge tantes con omem ci-
ponderáveis. O estímulo ao aconselhamento pré-concep- garros de tabaco em algum momento da gravidez. 1
cional como práti a de saúde pública poderá evitar mortes O t.1baco contém vá rias substâncias tcratogênicas,
maternas, perda gestacionais, ocorrência ou recorrência com de taque para a nicotina, o monóxido de ca rbono,
de defeitos congênitos, tanto anatómicos (defeitos de fe- o chumbo e hidrocarbonetos. A nicotina libera cateco-
chamento de tubo neural, cardiopatias, defeitos de fecha- b mina que estimulam o sistema nervoso central, pro-
mento de parede abdominal, entre outros) como funcio- movendo elevação da frequência cardíaca, da pressão
nais (retardo mental, ceguei ra, surdez). sanguínea, do consumo de oxigênio e vasocon trição.
O contingente de ge tantcs encaminhadas para os er- Além disso, a nicoti na in ibe o crescimento dos tecidos
viço de referência em gestação de alto risco é crescente. fetai c reduzo nívei devitamina B1 2 nofctoe namãe.
Em que pese a qualidade do serviço de assistência especia- Atravessa rapidamente a placenta c sua concentração no
lizada, a abordagem pré-concepcional, selecionando-se as feto é maior que na mãe, pois o feto não é capaz de mcta-
mulheres que deverão ter a gravidez adiada para permitir boliz:i-b. O monóxido de carbono induz o aumento dos
controle clínico atisfatório de sua doença de base - ou, níveis de ca rbox i-hemoglobina, favorecendo a hipóxia
eventualmente, contraindicada- perm ite re ultado muito fetal. O chumbo é neurotóxico e alguns hidrocarbonetos
mais satisfatórios. são mutagên icos. ' .4
A ideia de que o cuidado antes da gravidez beneficia a O tabaco associa-se à dimi nu ição do peso ao nasci-
saúde da mulher e, pri ncipalmente, a aúde do feto pode er mento, em relação direta com o número de cigarros con-
encontrada em antigos textos de clássicos filósofos gregos sumido . Exi tem relatos de aumento da ocorrência de
c no Antigo Te tamento. Mas, como ação de saúde a ser doenças respiratórias e problemas comportamentais entre
incorporada no cuidado à mulher, pa a a ter importância criança expo ta intraútero ao tabaco. A mortalidade pc-
no final da década de 70, quando as pesquisas ressaltam a rinatal é maior entre usuária de tabaco e, de forma global,
limitação do cuidados cl:is icos da assistência pré-natal na está associada a alto risco de descolamento prematuro de
prevenção da!> anomalia congênitasY placenta, placenta prévia e prematuridade.' Em relação a
Neste capítulo abordam-se as ações da saúde com im- defeito congénitos anatômicos, encontrou- e forte a so-
pacto positivo no resultado materno e perinatal. ciação entre tabaco e lábio lepori no, com ou sem fenda pa-
latina, e redução transversal termi nal de membros.1·6
A maconha apre enta os me mos risco associado
HÁBITOS DE V IDA ao tabaco.u
As campanhas de prevenção de consumo de tabaco
A relação entre hábitos de vida e desenvolvimento fetal entre gestantes devem ser priorizadas e o aconselhamento
é cada vez ma i valorizada. Como hábitos de vida incluem- individual adquire cada vez mais importância.
-se não ape nas o consumo de ubstância~ lesivas ao feto,
como tabaco, cocaína, álcool, mas também aspectos li-
gado à nutrição materna que po sam favorecer po iti- DI ETA
v,\mente o de envolvimento do feto, como as dieta ri as
cm ácido fólico; ou negativamente, nos casos de nutrição Diversos estudos demonstram relação direta entre nu-
insatisfatória, privando o feto de oligoelementos essenciais trição inadequada (subnutrição/ desnutrição) c resultados
para o seu de envolvimento; ou, ainda, nos casos de consu- ge tacionais de favoráveis (prematuridade, mortalidade
mo excessivo de alguma vitaminas. 1•6 perinatal, defeitos de fechamento do tubo neural). O bene-

Noções Práticas de Obstetricia


fício da suplementação periconcepcional de ácido fólico é da predisposição genética. Assim sendo, todas as mulheres
bem-estabelecido. Suporte nutricional adequado para mu- devem ser encorajadas a manter absti nência total de álcool
lheres que desejam engravidar, principalmente no que sere- durante a gravidez.'·6
fere à ingestão de a1imentos ricos em folatos e carotenoides, Para as alcoólatras crônicas (mais de 10 doses/ sema-
é de im portância vital para o resultado gestacional. 2•4 na), os programas de autoajuda são a melhor opção antes
O jejum prolongado promove cetose e a cetonemia é de engravidar. É importante ressaltar que, nos casos de al-
considerada capaz de induzir defeitos de fechamento de coólatras crônicas, não é rara a associação com nutrição in-
tubo neural. Algumas dietas ditas "alternativas" podem satisfatória, uso de outras drogas, tabaco e, frequentemen-
influenciar no aporte de oligoelementos essenciais para o te, adesão inadequada à assistência pré-natal.3
feto. Entre as mais comu ns, citam-se as vegetarianas, com A clássica síndrome alcoólica fetal caracterizada pelo
consequente dificuldade na absorção de ferro elemento no achado de restrição de crescimento pré e pós-natal, disfu n-
trato gastrointestina J.3 ção do sistema nervoso central c anomalias crânio-faciais,
Embora, em nosso meio, seja mais comum lidar com como microcefalia, microftalmia ou fi ssura palpebral pe-
nutrição insatisfatória, não se deve esquecer de que a cultura quena, filtro labial pouco desenvolvido, lábio superior fi no
globalizada traz rapidamente para nossa população hábitos e hipoplasia de face média é mais frequentemente vista cm
comuns nos países de Primeiro Mundo. Assim, é preciso fi lhos de alcoólatras crônicas. O retardo mental é a princi-
estar atento para situações em que a ingestão compulsiva de pal sequela da exposição intraútcro ao álcool. O utras ano-
diversos tipos de vitaminas, na busca do "corpo perfeito", leve malias (cardíacas, esqueléticas, renais, oculares, lábio lepo-
à exposição do feto a doses teratogênicas de vitaminaA.3·4 rino com ou sem palato fendido) são também relacionadas
ao consumo de álcool. É importante ressaltar que, como o
desenvolvimento do cérebro só se completa após a infância
MEDICAMENTOS tardia, o consumo de álcool em qualquer fase da gestação
pode produzir alterações neurocomportamentais. 8·9
A maioria dos medicamentos atravessa a placenta,
alcança o feto, mas é segura na gestação mesmo quando
utilizada no primeiro trimestre. Entretanto, alguns deles COCAÍNA E OUTRAS DROGAS ILÍCITAS
podem determinar a morte fetal ou o desenvolvimento de
anomalias congênitas anatômicas ou funcionais. 2 Toda Embora não seja conhecida a taxa de exposição à coca-
mulher que necessite de intervenção medicamentosa deve ína na população de gestantes, é sabido que seu consu mo
ser orientada sobre os riscos associados em caso de gravi- vem au mentando em todo o mundo. Os dados disponíveis
dez e as alternativas terapêuticas, se existentes, quando a sugerem que a cocaína age de forma semelhante à nicotina,
gravidez é desejada. É importante orientar às mulheres que promovendo a liberação de catecolaminas com vasocons-
a suspensão de medicação necessária para o controle clíni- trição secundária e dimi nuição do fluxo placentário e fetal.
co de qualquer doença sem a orientação do médico pode O consumo de cocaína na gravidez tem sido associado a
acarretar mais danos ao feto do que o específico da exposi- prematuridade, crescimento intrauteri no restri to, micro-
ção ao mesmo. No capítulo 9 - Medicamentos, o leitor en- cefalia, lesões cerebrais destrutivas, gastrosquise e descola-
contra informações detalhadas dos riscos das medicações mento prematuro de placenta. H
frequentemente utilizadas. Outras drogas ilícitas (anfetaminas, opioides, tolueno e
ácido lisérgico - LSD) são associadas a resultado perinatal
desfavorável. A identificação da relação causa-efeito nessas
ÁLCOOL situações é difícil, pois é comum o uso de mais de uma
substância nos casos de drogadicção. Além disso, usuários
Não existe dose alguma de álcool considerada segura de drogas, frequentemente, fazem uso também de tabaco,
para ser ingerida durante a gestação. Entretanto, seus efei- álcool e têm hábitos alimentares inadequados. De toda for-
tos sobre o feto correlacionam-se com a época da exposição ma, é fundamental que mulheres usuárias de drogas sejam
e com a concentração alcoólica, sofrendo, ainda, influência orientadas sobre os malefícios da exposição fetal a essas

Aconselhamento Pré-concepcional
substância , devendo er en orajada a bu car tratamento antes da concepção c na fase precoce da gravidez redu"L.
psicoterápico antes da gravidez. significativamente a incidência de defeito congênitos. 11 •12
O controle metabólico no segundo c terceiro trimestres
associa-se a baixas taxas de macrossomia, cardiomiopatiJ
DOENÇAS MATERNAS dilatada e morte fetal.4
Mulhere com diabetes 111ellttus devem receber suplc-
Estima-se que uma em cada 20 gestantes apre ente mentação periconcepcional de ácido fólico. 11 •12 Embora
alguma doença crónica. A gestação pode agravar a con- não eja ainda completamente estabelecido, tem ido u-
dições maternas e afetar o desenvolvi mento fetal, determi- gcrido que nessa situação a dose do :ícido fólico deve ser
nando, in lu ive, anomalia congênitas. de -+ mg/ dia.
A gravidez em mulheres com qualquer doença prévia Os dados disponfvci revelam a probJbi lidadc de a grJvi-
deve ser precedida de avaliação quanto aos risco mater- dcz agravar a reti nopJtiJ em gestantes diabéticas. Essas mu-
nos e fetais. A avaliação pré-concepcional dcs as mulhere lhere devem, portanto, erdc Jconselhada J engravidar. O
permite ao médico identificar o momento mais oportuno controle dJ nefropatia c neuropJtia diJbéticas exige equipe
para a ocorrência da gravidez, minimizando os ri co para interdi ciplinar e pecializad.t no seguimento da gravidez.
o binômio mãe-fcto. 1 2•10 t nf.1se será dada a algumas doen- As diabética têm também Jumentada risco de desenvolver
ças mais importante , eja pela sua prevalência, eja pelo pré-eclãmpsiJ, cetoacidose c infecçõc nJ gravidez.'
ri os que determinam.

HIPERTENSÃO ARTERIAL C RÓNIC A


DIABETES M ELLITU
A hipertensão arterial crônicJ, principalmente JS for-
A taxa de prevalência de diabetes 111el/itus em mulhe- mas graves, associJ-sc a restrição de cresci mento intrau-
res cm idade fértil alcança cifra tão altJs quanto 1/ 100. terino, prematuridade e, consequentemente, Jumento dJs
s efeitos do diabetes durante J gravide"L. para a mãe c taXJs de mortJiidadc perinatal. A ocorrência mais frequen-
p.ua o feto ão bcm-estudado . O feto ofre agre ões re- te de descola mento prematuro de placenta (DPP) determi-
lacionadas à hiperglicem ia em qualquer fase da gestação, na risco de morte p:t rJ mãe e feto. >.c
mas o tipo de efeito vJria com o momento do de envol- O inibidores da enzima de conver ão da angiotcnsim
vimento no qual a hiperglicemia atua : vida embrionáriJ (I ECA) e os bloq ueadores do receptores da angiotcnsina
ou fetal.' 6·11 •12 1I são contraindicados na gravidez e devem ser substituí-
A incidência de malformaçõc m,liorc em fetos de gcs- do por hipoten ore compatívei com a grJvidez no perío-
t.mtcs com diabetes tipo I (diabetes insul ino-dependentc do pré-conccpcionJI. 2•8•9
prévio à gcstaçjo) é de S a 10%. O mecani mo teratogên ico As hipcrtcn a devem cr orientJdJs obre a importân-
pelo quJI o diabetes 111ellitus produz anom,1lias congênitas cia do controle pressórico antes da gravidez c estimulada a
ainda não é totalmente esclarecido, mas sabe- e que e t:í adotar estilo de vida saudável. É importante informJr que,
relacionado à hipcrgliccmia pcriconccpcional." 11 •12 embora o risco de DPP ejJ mai ,llto no CJ os de descon-
A expo ição fetal à hipcrgliccmia f.worece o desenvol- trole pressórico, suJ ocorrência é clev:~da, mesmo nos cJsos
vimento de macros omia, cardiomiopJtia dilatada c altera- bcm-controlados.4 -"
çõe metabólicas nconatais (hipogliccmia, hiperbi lirrubi-
nemia, hipocalcem ia). 1 '
l ànto as Jnoma l ia~ congênitas quanto os efeitos fetais EPILEPSIA
contribuem para elevadas tax,l de mortalidade perinata l.
Outra complicação gestacional frequente é a prcmaturidJdc. A epilepsia afeta uma em cadJ 300 mulheres em idade
A prevenção de a. compli a õe citadas é dependente rcprodutiva.3 Cre cimento intrautcrino restrito c micro-
do controle glicêmico adequado no período periconcep- cefalia são consequências conhecidas d.1 epilepsia mater-
cional c durante toda a ge tação. O controle glicêmico nJ. O uso de anticonvulsiva ntes tJmbém está associado

66 Noções Práticas de Obstetrícia


.1anomalias congênitas, como abord.1do no (a pítulo 9 - valência de complic:.çõc para a mãe e fetol., chegando, as
Mcd rcamcnto . A rnulhcrc epiléptica têm mais chance vezes, a ser proibitiva ,1 gravidez., itu.1ção delicada é a ocor-
de apre cntarcm ri cs epilépticas dura nte a gc tação, de- rcncia de gc taç:io cm mulhcrc com ,·alva metálic,\, pors o
vido ao efeito do aumento do volume de di tribuição c ri. co de trombocmbolrsmo é muito alto, cxig1ndo, com fre-
consequente diminuição do níveis séricos d,1 medicação. guênci.l, o uso de antagonista da vitJmina K (w;ufarin) para
o período pré-concepcional deve-se avaliar a pos ibi- manter anticoagulaçâo ati fatória. A hepann <~ não fr,\cro-
lidadc de controle d a~ crise convul ·iva1- om o uso de agen- n:~das c de baixo peso molccubr n:io são seguras par,\ gara n-
te :mticonvulsiva ntc Llllico (monotcr:~pia), n:~mfnima dose tir ,\11ticoagulação plcru nessas gc!>tantc. . 'omo abordado
possível c, se pos ívd , evitar o ácido valproico c .1 ddenil-hi- no c.1pítulo 9 - 1cdicamcntos, o warfa rin é tcratogênrco
dantoína. Entretanto, a melhor e colha é rdentdicar o anti- c rcprc!.cnta risco para o feto, me mo quando utilindo no
convulsivante que melhor controle as cn c convulsiva . já segundo c terceiro trimcl.trc!>. Obvramente, o mai'> 'cguro
t1ue as ri c corwulsi\'J , por i ó , ão mair, danma à mãe nc .1 ituaçõc cria a contr,lind rcaç.'io da gr.wrdcl. ~· 111
e ao feto.' O uso de ,\ciclo fólico deve ser introduzido antes O,ts cardiop.ttias congênitas, merecem destaque a!.
da concepção c rrw1tido durante toda a gestação. 'ugcriu- cardiopatias cianogênica . Falênci:. cardí.1C,1, arritmias,
-se ou o de vit,lm ina K1no último mê~ de ge t:1 ão, com o trombocmbolismo c in fecções são compl ic;1çõcs associa-
objetivo de prevenir a doença hemorrágica no rccém-nasci- das ,1 es~as ca rd iopati a~. A mort:. lidade materna c tet:.l é
do.z.s12 Entretanto, a transferência pia entária da vitamina ignrficatrvamentc aumentada. o rcto aprc,enta elev,\do
K1é pobre, tornando essa terapia de cncàcra que tioná,·el.~ ri co de c:.rdiopatia congênita. Esse ris o é variável com o
Além disso, o ris o da doença hcmorrágic:. do recém-nato tipo de anomalia. A índrome de 1\ ladàn, além de poder
é adequ:~d<~ mentc controlado com a admini traç:.o da vi- detcrmrnar ri co materno mu ito elcv,1do, como no~ c.1~o~
tamina K1no recém-nascido, imediata rnente apó o parto. de envolvi mento aórtico, determina risco de S0°o de aco-
meti mento fctal. 1211

NEFROPATIAS
DOENÇAS AUTOIMUNES
As mul heres portadora de nefrop.ltia devem er
orientadas obre os ri cos de agravamento d,1hipertensão Incluem-se nc. se tópico o lúpus critcmato o 1 têm ico
c urgimcnto de pré e lãmpsia durante a gestação. lão há (LE '), a artrite reumatoide, a e pond ilitc anqu rlo ,\ntc, a
on cnso c a gravide?, por si ó, é capaz de agravar a nefro- índromc de jogrcn c a c clcrodennia. Dess.1s, amai im-
patra. Os fil ho de mães com ncfropatia têm ri co ,\urnen- port,mtc é, cm dúvida, o LES. O riscos gestacronai !>âo
t,\do de apre entar crc cimento intrauteri no rc trito. As intirn.1mente relaciorudo a gr.widade da doença. A presen-
tax,1 de prematuridade são ba tantc aumcntad,1 nessas ça de anticorpo .lllti-Ro aumenta o risco de bloqueio .itrio-
gestações. O uso de IECA e bloqueadores do receptores -ventri ul,u congênito. o~ anticorpos antiLa s:io ,, ociados
de angioten ina li também e tá contraindicado e ua subs- .1manibtação neonatal do lúpus. As gestante~ têm risco de
tituição deve ser feita no período pré-concepcional. As mu- exaccrb.1ção da doença durante a gravidez c de de em•olver
lhcrc com nívci de reatinina éricasupcnora2,0 mg dL pré-eclãmpsia. O risco fetars e tão rela ion,1do rüo o a
c com hipertcn ão n.'io ontrolada devem cr de e timula- gravidade da doenç.1 materna, mas também ao u<,o de medi-
da :1 cngravrdar. 1~ 10 camento p.1ra seu controle. o ca o gr,we , pode '-er ne-
cc~ ário o emprego de imuno5.,upres ore , que n.'io têm ua
segurança na gestação bcm-cstabclccid:. :1té o momcnto. 2
CARDIOPATIAS O ri co gcstacional é m.1is baixo nas mul hcrc cuja
doença c t,\ cm remis ão há pelo mcno:. seis meses, que
Em no o mero, ainda predominam a ardiopatia ad- não apre cntam comprometi mento renal, n.'io !:vem u o
quiridas, com de taquc para as reumática . O ri co materno de rmunO\'>upre ore c têm O'> nrvei pre. <;Ónco normai
e fetal c tá inti rn,unente relacionado com a cb c fUncional ou I:1Cil mcnte controlado com hipotcn~>orc ompatívcis
da gc ta nte. ' las cs funcionais III c IV aprcscnt,\m ab pre- com a gravidez.2·14

Aconselhamento Pré-concepcional 67
A artrite reumatoide habitualmente melhora na gravidez. vírus da imu nodeficiência humana (H IV) tem mo trado
lulhere com espondilite anquilo ante apre entam crise re ultado muito ati fatórios na prevenção da transmissão
álgicas mais frequentes. Os riscos nos casos de csclcrodermia vertical. Para mulherc sabida mente portadora do Herpes
e tão a!> ociado a envolvimento renal e hiperten ão.4 si111plex vírus, o aconselhamento pré-concepcional deve ser
Atenção especial teve ser dada ao uso de anti-inAama- feito vi ando c clarccê-la sobre o ri co da tran!.mi ão
tório não c tcroides, devido aos riscos de dimi nu ição de vertical e o · benefício do pJrto por via abdominal, em
volume do líquido amniótico c fechamento prematuro do ca o dele õe ativa na fa e final da ge tação_l·3·1'
canal arterial fetal. Para abordage m detalhada de cada uma dessas in-
fecções, o leitor deverá se reportar aos capítulos 5 I - A
Infecção pelo H IV c 52 - Infecções Pcrinatai .
DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS

A gravidez repre enta fase de expre sivas mudanças na DOENÇAS TIREOIDIANAS


vida da mulher. intoma de tri teza e me mo depre ão
leve são comuns nessa fase. Na maioria das vezes, apenas o o ca o do hipcrtireoidi ·mo, a ge tação é contrain-
uportc emocional é uficiente. dicada se existe a necessidade do uso de iodo radioativo;
O risco de dcpre ão pós-parto grave ou psico e é au- c o tempo ideal para liberar a gravide7 após o término do
men tado cm mulheres com doenças psiquiátricas preexi - tratamento com iodo radioativo é de, pelo menos, eis me-
tentes. O risco fetais são relacionado ao uso das medica- se~. O propiltiouracil deve cr a medic:..ção de escolha em
ções utilizadas para controle da doença materna. Diversos mulheres que desejam engr:..vidar.
tipo de doenças p iquiátricas ·ão hereditário . Filhos de Mulheres com hipertireoidismo dcscompensado ,\pre-
mulheres com esquizofrenia ou distúrbio bipolar têm ri co sentam ma i risco de infertilidade, abortamento · e fetos
aumentado de desenvolver essas doença ao longo da vida. com malformaçõesvo 16
A probabilidade de depre ão em filhos de mu lheres com
depressão também é aumentada.2A
o acon elhamento pré-concepcional, além de avalia- ÜUTRAS SITUAÇÕES CLÍNICAS
ção criterio a do dado familiare , o acompan hamento
cm conjunto com o p iquiatra é fundamental. Atenção es- Basicamente, toda mulher em idade rcprodutiva com
pecial deve er dada ao medicamento utilizado ante da doença crónica ou aguda deve receber oricntaçõc precisa
programação da gravidcz.2.4 obre a existência ou não de ri co de gravideLe a alternati-
vas, e exi tentes, para a redução dos riscos potenciais.
A obc idade materna é, atualmente, con idcrada Im-
DOENÇAS lN FECClOSAS portante fator de risco para anomalias congênitas. Metaná-
li e recente demon trou que filhos de mulhcrc obe as têm
Qualquer infecção que a gestante adqui ra durante a mais riscos de apresentarem defeito de tubo neural (OR
ge tação pode comprometer o de envolvimento fetal ou 1,87; lC 95% 1,62-2,15), espinha bífida (OR 2,24; IC 9596
mesmo determinar a morte do embrião ou feto. A preven- 1,86-2,69), anomalias cardiovasculare (OR 1,30; IC 9''\J
ção primária se faz, em algumas situações, por meio de imu- 1,12-1,51), anomalias septais (OR 1,20; IC 95% 1,09-1,31),
nização no período pré-concepcional (rubéola, hepatite B). fenda labial (OR 1,23; IC 9''\J 1,03-1,47), fenda labial e pa-
Em outras situações, como na toxoplasmose, a orientação latina (OR 1,20; IC 95% 1,03-1,73), atrcsia anorrctal (OR
de medida higiênico-dietéticas que po am minimizar o 1,48; IC 9'% 1,12-1,97), hidrocefalia (OR 1,68; IC 95%
risco de infecção aguda na gestação é fu nda mental para 1,19-2,36) c anomalias de redução de membros (OR 1,34;
prevenir a infecção materna na gravidez. O rastreamento e IC 95% 1,03-1,73). Neste estudo, o ri co de ga trosquisc foi
tratamento precoce da ífili durante a grav1de2 permitem mais baixo no grupo de mu lheres obc a quando compa-
evitar as consequências dessa doença para o feto. O uso da rado com mulheres com índice de massa corporal (IMC)
terapia antirretroviral cm gestante soropo itivas para o recomendado (OR 0,17; IC 95%0, 1 0-0,30). 1 ~ A ingestjo ca-

68 Noções Práticas de Obstetricia


lórica. adequada. e exercícios físicos para atingir lMC apro- XXY). Esse fenômeno é explicado pela alta probabilidade
priado antes da concepção estão indicados com o objetivo de ocorrência de não disjunção de um destes cromosso-
de preveni r a ocorrência de defeitos congênitos associados mas na divisão meiótica.24
à obesidade materna, além de reduzir os riscos maternos, A idade materna avançada é também associada a alto
como desenvolvimento de d iabetes e hipertensão. risco de abortamentos e de ocorrência de doenças crônicas. 3
O lMC pré-gestacional ta mbém se associa ao risco de O aconselhamento pré-concepcional deve inclui r ava lia-
desenvolvi mento de pré-eclâmpsia. Em pacientes com o ção clínica criteriosa, com o objetivo de identificar qualquer
IMC de 25, o risco foi 80% mais alto do que em pacientes doença crônica. Além disso, a mulher deve ser orientada so-
com o IMC de 20 (OR !,S IC 95% 1,5-2, l).Jí. nas pacientes bre os riscos de anomalias congén itas e as possibilidades de
com IMC de 30 e 35 o ri sco foi 3 (OR 3,0 IC 95% 2,3-3,8) diagnóstico pré-natal, di scutido no capítu lo lO - Aspectos
e 5 (OR 4,9 lC 95%3,5-6,9) vezes mais elevado. 1 ~ básicos da genética em O bstetrícia.
A perda de peso entre gestações em pacientes que ti ve- A idade paterna elevada associa-se a aumentado ris-
ram pré-eclâmpsia na primeira gestação dim inu iu o risco co de algu mas doenças autossômicas dom ina ntes, como
da paciente de apresentar recorrência de pré-cclâmpsia na acondroplasia, neurofibromatosc, síndrome de Marfàn,
gestação subsequen te (OR 0,70; IC 95% 1,03-1,73). 19 entre outras.Hs
Mulheres com história prévia de hemotransfusão devem
ser testadas para aloimunização por meio do teste de Coombs
indireto e, se positivo, com a realização do painel de hemácias. DOENÇAS GENÉTICAS
Mulheres em quimioterapia e/ou rad ioterapia devem
ter a gestação contraind icada du ra nte todo o tratamento. Os defeitos congênitos são causas im portantes de mor-
Agentes citotóxicos podem causar destruição ou depleção tal idade perinatal. Entre os sobreviventes, os déficits têm
dos folículos ovarianos, promovendo amenorreia temporá- espectro basta nte diverso, exigindo sempre atenção espe-
ria ou defi nitiva. 20 A exposição do útero à radioterapi a pode cializada. A prevenção primária dos defeitos congénitos é
ser prejudicial, determ inando mais risco de abortamento, certamente a mais desejada, pois impede a sua ocorrê ncia.
parto pré-termo, baixo peso ao nascimento c acretismo Várias são as alternativas para a prevenção prim ária de
placentário_!! Os estudos atuais sugere m que o risco de ter defeitos congênitos, como as abordadas nas sessões a n-
fi lho com anomalias congênitas ou cromossômicas não teriores deste capítulo. O ut ras intervenções importantes
está aumentado entre ind ivíduos sobmetidos a t rata mento incluem a suplementação periconccpcional do ácido fólico
oncológico na in fância. 22 Atenção especial deve ser dada na prevenção dos defeitos de tubo neural e o controle dos
à ava liação clínica de mulheres com história pregressa de níveis de fenilala ni na em mulheres portadoras de fenilcc-
tratamento oncológico, pri ncipal mente naquelas submeti- tonúria, na prevenção do retardo mental.
das à radioterapia torácica e/ou uso de antraciclinas, pelo
risco de danos ca rdíacos à mcsm a.B
DEFEITOS DO TUBO NEURAL

IDADE MATERNA E PATERNA Os d efe itos de fec ha me nto do tubo neural (DTN)
incluem a anencefalia, espi nh a bífida (m eningocele c
Desde o estudo origi nal de Penrose, 24 que descreveu mielomeningocele) e encefaloccle. Afetam I ,1 2% dos
o efeito da idade materna na ocorrência da sínd rome de recém -nascidos e são o segl1ndo d efeito congênito mais
Down, essa variável tem sido reconhecida como f.1tor de prevalentc. O s DTNs pode m ocorrer em associação com
risco de anomalias congên itas. outras a nom a lias congênitas, fazendo pa rte de síndro-
O ponto de corte a pa rtir do qu al se considera a idade mes genéticas. Como defeito s isolados, são rel acio nados
materna ava nçada é hoje defi nido em 35 anos. Esse grupo à mutação esp ecífica n o gene da metilenetetra-hidrofola-
de mulheres apresenta risco au mentado de ter fetos com to-red utase. Em fu nção disso, o uso periconcepcional de
anormalidades cromossôm icas, principalmente trissomias ácido fólico é capaz d e promover redução significat iva de
(2 1, 18, 13 e trissom ia X) c síndrome de Kli nefelter (47, casos isolados. 1· 6, 26' 2-

Aconselhamento Pré -concepcional 6g


1 lctan~lise envolvendo 6.42' mulhere mo trou que F ENILCETON Ú RIA
o uso do ácido fólico periconccpcional reduziu a incidên-
cia de DT (RR 0,28; IC 95% 0,13-0,58).15 Não houve A fcnilcetonúria é doença autossômica rcccssiv:t e,
aumento da incidência de abortamento , gravidez ectópi- portanto, o risco de fi lho afetado pela doença, nos caso
ca ou natimortos. A dose preconizada para mulheres sem de mulheres com fenilcctonúria, não é aumentado, a não
hi tória de filho , antcriorc com DT1 é de 0,4 mg/dia c cr que o parceiro eja portador do gene da fcnilcctonú-
para aquelas com filho anterior com DT , a do c de ~c ido ria. Entretanto, nívei elevados de fenilalanina no angue
fólico é de 4 mg/ dia. Es a uplementação deve er introdu- materno atravc am a placenta, alcançam os tecidos fc-
zida pelo menos um mês antes da concepção c mantida até, tai e podem determinar dano grave . O tecido neural
pelo meno , seis semanas de gcstação. 1"6•26·27 é particula rmente vulnerável aos níveis de feni laL1 nina.
Como o número de ge tações não plancjadas na popu- O controle periconcepcional do nívei de fen ilalanina
lação geral supera, c muito, as pbnejadas, tem sido defendi- materno, por meio de dieta, reduz significativamente as
do o u o periconcepcional de ácido fólico na do e de 0,4 a ta xa de anomalias fetais (mic rocefalia, retardo mental,
0,8 rng/dia para todas as mulheres cm idade fértil. 26 cardiopati,1s). 216
Embora a evidências atuais indiguem gue a ingesta
abundante de alimentos ricos em fobto confir.1 protcção
contra o de envolvimento de d iversos tipos de d ncer VACINAÇÃO
(colorretal, mama, ovário, pâncreas, cérebro, pulmão c
colo uteri no), algu ns estudos têm sugerido que o con- Idea lmente, as vacinas devem ser administradas an-
sumo excessivo de ácido fólico sintético po sa ter efeito tes da concepção, maximizando os benefícios maternos
paradoxal na promoção da tumorêgenese cm indi víduos e fetais. 2
com foco de neoplasia, a clcrando o crescimento das le- N:1 avaliação pré-concepcional, deve ser aval iado o car-
sões pré-malignas. 28 29 tão de vacina da mulher, atualiza ndo vacinas contra, por
Estudo sobre a suplemcntação do ácido fólico em exemplo, inAuenza, tétano, sarampo, va ricela e caxu mba c,
alimento de consumo habitual têm mo trado re ultados nos ca o de não imu nização prévia contra hepatite B, ru-
satisfatórios, mas c sa suplcmentação ainda não faz parte béola, arampo, va ricela e caxumba.
do progr:1mas governamentais da majori,\ dos países. No A vacina contra pneumococos está indicada para mu-
Brasil, a Resolução no 344, de 13 de dezembro de 2002, lheres com doenças pulrnonarc , cardiopatias c ncfropatia
tornou obrigatória a fortificação das fari nhas de trigo e crónicas, d iabetes, esplenectom ia c imunossuprcssão.
milho com ferro c .kido fólico a partir de junho de 2004; e a dependência do ambiente de trabalho ou rnoradi:1,
a Portaria n° 1.793 de l i de agosto de 2009 institu iu a Co- vacina cont ra hepatite A e meningococo ta mbém dever:\
mi ão lnterinstitucional para lmplement,\ ão, Acompa- er priorizada no período pré-concepcional.
nhJmento e Monitoramcnto das Ações de Forti ficação de A vacina contra hepatite A está também indicada cm
Fa rin ha de Trigo, de Milho c de cus Subprodutos.'0 E sa mulheres com doença hcmatológicas, doenças hepáticas
política de fortificação de alimentos com ácido fólico tem crónicas e usuárias de drogas ilícitas.
o objetivo de prevenir anemias carcnciais bem como pro- t importante lembr.1r que vacinas com vírus vivo ate-
mover a prevenção primária dos defeitos de tubo neural. nuado devem ser adm ini tradas com intervalo mínimo de
Existem estudo mostrando que a suplementação peri- quatro semana ante da concepção, devido ao ri co teóri-
concepcional com polivitamínicos pode reduzir também a co de lesão feta l pelo vírus vivo.
incidência de lábio leporino (redução de 48%) 31 e onfalo- O Quadro 5. 1 re ume a principai evidência sobre o
cele (60%), 12 além de malformaçõe cardíacas (43%)13· 34 c aconselhamento pré-concepcional.
renais (85%).'5 Es e dado , no entanto, ncces itam de con-
firmação em c tudos de maior porte.

70 Noções Práticas de Obst etricia


I
Quadro S.l Evidencias sobre o aconselhamento pré-concepcio nal

StllldCd() Rt 'S .I '1.1(111 Gt dll ele


r e t. ornerHI il ç ilO

Todas as Pacientes Suplementação periconcepcional com 0,4 a 0,8 mg de ácido fólico A


reduz o risco de defeitos de fechamento de tubo neural I
Intervalo de 18 a 24 meses entre partos reduz a incidência de parto B
pré-termo
Tabagistas Programas para parar de fumar reduzem a incidência de parto pré-termo A
Obesas Perda de peso diminui o risco de pré-eclampsia B
História de feto anterior com defeito Suplementação periconcepcional com 4 mg de ácido fólico reduz o A
de fechamento de tubo neural risco de recorrência de defeitos de fechamento de tubo neural
Diabéticas Obom controle glicêmico pré-gestacional previne a ocorrência de B
malformações

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Aconselhamento Pré-concepcional
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72 Noções Práticas de Obstetricia


06 Diagnóstico de Gravidez
Marília Zicker Hanan
Bernardo Hanan

Definições Diagnóstico Laboratorial


Diagnóstico Clínico Identificação do hCG na urina
Identificação do hCG no soro
Anamnese
Exame Físico Diagnóstico Ultrassonográfico
Diagnóstico Diferencial

despeito dos acentuados avanços tecnológicos Multigesta: mulher grávida com outra ou outras ges-

A nos exa mes complementares, o diagnóstico da


gravidez, na grande maioria dos casos, pode e
deve ser eminentemente clínico. Os exames bioquímicos e
tações anteriores (pode ser secundigesta, tercigesta,
etc.).
Nulípara: mulher que nunca teve uma gestação aci-
ultrassonográficos devem ser solicitados apenas nos casos ma de 20 semanas.
de dúvida, quando se fizer necessária a confirmação desse Primípara: mulher que teve um parto de um ou
diagnóstico ou com outras finalidades especiais (datação mais fetos vivo(s) ou morto(s) de gestação de 20 ou
da gestação, suspeita de gravidez ectópica ou interrompida, mais semanas.
sangramentos genitais). Multípara: mulher que completou uma ou mais
A semiologia obstétrica é de importância fundamental gestações com 20 ou mais semanas. A paridade é
e incrementa o elo entre o médico e a paciente. Ao final de determinada pelo número de gestações que alcan-
quase todos os primeiros atendimentos, pode-se informar çaram 20 ou mais semanas e não pelo número de
com segurança à paciente se ela está ou não grávida; se es- fetos (secundípara, tercípara, etc.). Na gravidez mú 1-
tiver, pode-se avaliar se a gravidez evolui normalmente e tipla conta-se apenas um parto.
qual será a data provável do parto (DPP). Parturiente: grávidà em trabalho de parto.
Puérpera: mulher que acabou de dar à luz.

12
DEFINIÇÕES '

DIAGNÓSTICO CLÍNICO
Nuligesta: mulher que não está e que nunca esteve
grávida. O diagnóstico clínico da gravidez baseia-se na anam-
Primigesta: mulher grávida pela primeira vez. nese e no exame físico.
ANAMNESE (mas, em gcr:1l, com características diferentes do pad r:io
menstrual da paciente) c já ter ocorrido a ge t:1ção. Isto
ATRA O ME TRUAL pode interferir tanto no diagnóstico da gravidez quanto no
cálculo da data provável do parto ( DPP).
a anamne c, com o objetivo de diagnóstico da gra- As cau ·a mais comu ns de sangramentos no in ício da
videz, deve-se indagar sobre alguns aspecto de mais inte- gestação ãoH ~:
re e da hi tória ginecológica, como a hi tória menstrual e angramcntos de implantação uteri na do blastocis-
sexual. cndo a im, questionar sobre: to (sinal placentá rio de Harlman), que ocorre apro-
Data da menarca; ximadamen te sete dias apó a fecundação;
tipo de ciclo men trual: regular ou irregular, in- hemorragias d:1 primei ra metade da gestação (abor-
tervalo de regularidade ou grau de irregularidade, ta mentos, gravidez ectópica e doença tro(oblástica
duração das rncn truaçõe , quantidade de flu xo ge ·tacional);
men trual, pre cnça ou não de cólicas; doenças ginecológicas associadas à gestação: mio ma
data da última menstruação (DUM) c suas carac- uterino , pólipos, neoplasia , ccrvicite , varize rotas;
terística (foi uma menstruação semelhante às an- tr:~ umatis mos genitais: lacerações genitais, perfura-
teriores?); çõe uterinas;
alividade cxual; lc ões genitais causada por agentes qu ímicos.
u~o de método~ anticoncepcionais.

o atraso mcn trual cm paciente que anteriormente CÁ LCULO DA IDADE GESTAC JO AL (IG)
menstruava regularmente c relata atividadc sexual, a pri-
meira hipótese é a de que ela e teja real mente grávida. o A partir da caracterização correta da OU M, bz-sc o
entanto, mesmo cm mul here com ciclo men truais irre- c.llculo cronológico da idade gc tacional, que é baseado no
gulares, com intervalos longos, no período reproduti vo ou ciclo menstrual padrão de 28 dias (ovulação cm torno do
até me mo em eus extremo (cm torno da mcnarca ou da 14-0 dia do ciclo), considerando-se o seu início no primeiro
menopausa), c até que se prove o contrário, a hipótese mais dia do úl ti mo período menstrual. É evidente que a pacien-
prov:ivcl conti nu.1 cndo a de gravidez. te não c tava grávida nc a data, porém, por er facilmente
Por outro lado, o atraso menstrual ou a amenorreia observada, constitui o nurco de "início· da gestação.
(ausência de men tru.1ções durante trê me e ou por trê À DUM acre centa m-sc 280 dia ou 40 ema nas e
ciclos consecuti vos) pode ter etiologias d iversas, como:l .4 obtém-se a DPP. Na pr:itica, utiliza- c a regra de iicgele,
au a fisiológica :amamentação; segundo a qual e sornam sete dias à data do primeiro d ia
u o de medicamentos: hormónios, clorpromnina, da última menstruação c d iminuem- e três ou somam-se
fenoti:11 ina, rc crpina, alfa-mctildopa, antiblásticos; nove me cs ao mês da última mcnstru.1ção.
c.1usas hipotaLlmic:l , hipofi s:irias, tireoidianas, Exemplos:
ovariana , ute ri r~<~ s; DUM = I 0/ 1 2/2008 ~DPP = 17/ 09/ 2009
anemi:1s; DUM= 26/ 12/ 200 ~ DPP = 02/ L0/ 2009
p eudocie e ou fal a gravidez. DUM = 02/0 1/ 2008 ~ DPP =09/ I0/ 2008
DUM = 27/ 01/ 2008 ~ DPP = 03/ 11/ 2008
O atra o menstrual ou o tempo de amcnorreia infor-
mados podem também não orre pe nder à idade gcsta- A idade gc tacional cm emanas pode ser calcub da de
cional, como n:1 amcnorreia ou oligomenorreia d:1 ama- várias maneiras:
mentação ou no período que sucede o uso prolongado de Pode- c calculá-la com um calendá rio e ir somando
Jnticonccpcioruis. esses c:1sos, a idade menstrual (tem- semana a sema na;
po cm menstruação) é maior que :1 idade gestacion:1l. pode-se conta r o número de dias decorridos desde
O atraso menstru:1l pode também não esta r perfeita- a última menstruação e d ividi r o total por sete, para
mente caracterizado. Pode ter havido sangramento genital se obter o número de semanas. A maneira mais fácil

74 Noções Práticas de Obstetrícia


de real iza r essa conta é somando o número de d ias aparecimento do cloasma ou melasma g ravíd ico (h iper-
desde a D U M até o fina l do mês, depo is somar o p ig mentação das regiões zigomática, malar e frontal), da
número de d ias dos meses s ub sequentes c, por fim, linha n igra (an tes linha a lba), de hiperpigmcntação dos
o número de d ias decorridos desde o in ício do mês ma m ilos, das a réolas e cm torno destas (a réola secundá-
atual até o dia do cálculo. Exemplo: D UM: 17/ 06 ria o u sinal de Hunter) e também dos gen itais externos e
-Data atual: OS/ 11 - lG: 13+3 1+3 1+30+3 1+5 = 141 das axilas. O s nevos e as cicatrizes cirúrgicas ta m bém se
dias o u 20 sema nas e um d ia; torna m hiperpigmentados. Em geral, essas alterações de
se d ispon íveis, podem-se uti lizar os discos de cálcu- pigmentação cutâ nea desaparecem o u regridem conside-
lo de idade gestacional d istribuídos pelos labo rató- ravelmente após o parto.
rios farmacêuticos e pelo Min istério da Saúde;
mais recentemente, os palmtops com s~ftwares para A Lrt:RAÇC)FS CurtiNEAS A r ncíFJCA .\
cálculos méd icos ta mbém podem ser utili zados Devido à d istensão excessiva das fibras elásticas, pode
com essa fi nalidade. ocorrer o apa rec imento das estrias gravíd icas, pri ncipal-
mente no abdo me, na região glútca, nas coxas c nas manus.
As estrias recentes apresentam-se com a colo ração rósea
OUTROS SINTOMAS DE GRAVIDEZ ou violácea e as antigas, em geral, são brancas nacaradas o u
peroláceas.
2
Podem esta r associadas à gestação d iversas alterações: '

neurovegetalivas: to nteiras, sonolência, fad iga, cefa - ALTLRAÇÜloS CUTÀN I·A~ DA P IUHtA(ÃO
leia; A hipertricose é fenômeno fisiológico da g ravidez. Pode
emocionais: labilidade emocional, tristeza, nervosis- haver tam bém o aparecimento de lanugem na região lim í-
mo, ansiedade; trofe ent re o couro cabeludo e a fro nte (Sinal de H alba n).
sellSoriais: aversão por odo res habitua is ( perfu mes,
alimentos), hiperosm ia e hiposm ia; A L TJ: RAÇÔLS M AMÁRIAS
mamárias: aumento do volume c da sensibilid ade O au mento da vascula ri zação do tecido su bcutâneo
d as ma mas, mastod ínia e percepção da saída de co- provoca a exacerbação da rede venosa, gue é denomi nada
los tro (espontânea ou à expressão); rede de H aller. A hipertrofia dos tubérculos de Morga ny
digestivas: náuseas, vôm itos, ptialismo ou sialorreia, (glându las sebáceas areolarcs) os transforma cm tubércu-
alterações do apetite (aumento, d im inu ição o u los de M o ntgomery. Verifica-se, ainda, como já citado ante-
aberrações); riormente, a hiperpigmentação das aréolas c dos mamilos
cardiovasculares: taqu ica rd ia; e o aparecimento do colos tro.
urinárias: poliúria, noctúria;
A L L"ER AÇÕES A BDO!Vl l NA I~
A percepção dos movimentos feta is pode ocorrer a O abdo me, in icial mente plano, passa pa ra a forma ovoi-
pa rtir de 16 semanas de g ravidez. N o entanto, mu ito a ntes de e, em seguida, glo bosa. Em algumas situações, torna-se
dessa idade, os mov imentos estão presentes c podem ser pend ula r, devido à perda do tônus da m uscul atura da pare-
observados à ultrassonografia po r volta da oitava sema na. de abdo minal em g ravidezes anteriores e à obesidade.
A partir do q uinto o u sexto mês de gestação (22 a 25
semanas), já é p ossível recon hecer o fe to pela palpação
EXAME FÍSICO com o auxíl io da segu nd a c terceira ma nobras de Leopold.
Nessa fase, o obstetra pode perceber os movi mentos feta is
S I A l S D E G RAV IDEZ r d urante o exame.
A ausculta dos batimentos card íacos fe tais e do sopro
A1n RAçür:~ CuTtiNEAS PJGM ENTARF~ fun icu la r (do cord ão umbilical) pode ser realizad a com o
A h iperfunção do lobo anterior da hipófise co m hiper- auxílio do doppler entre a IO• e a 12• semanas e com o este-
p rod ução de hormônio melanotrófico po de provocar o toscópio de Pinard entre a 17·' e a 20a sema nas de gestação.

Diagnóst ico de Gravidez


75
Oportuno lembrar que a frequência de c ruído é cm tor- do, o dedos vaginai no fundo-de- aco de Douglas
no de 11 0 a 160 batimento por minuto, apre entando-sc entram em contato com a mão abdominal na face
a incrônico cm relação ao pulso materno. anterior do útero ( Figura 6.1.0 c E);
P11::.os: en ação de rechaço quando se empurra o
no' CF" 1 \I\ f..\ ttR.'\m
\ t 1 r R I(OT' útero (partes fetais) brusca mente para cima, no
Durante o exame d,1 vulva e da vagina, observam-se fundo-de- aco anterior. O feto empurrado c ele-
inai de: va, de locando- e no líquido arnniótico, c rctorn,l,
Jacqllwllet· (europe11s) 011 de Ched111ic/.: (amencmzos): o que crá percebido pelo toque vagi nal. Esse sinal
coloração viol:kca ou arroxeada da mucosa vulvar, pode ser observado entre 16 c 3S emana , quando
vc tíbulo c meato urinário, devido ao aumento de as relações entre o tamanho do feto e a quantidade
va culari t.ação local; de líquido amniótico propiciam essa percepção (fi-
Kl11ge: coloração violácea da muco a vaginal e do colo; gura 6.1.F);
Osumder: percepção do pulso arterial nos fundos- l~asclz: com o dois dedo no fundo-dc-'iaco ante-
-de- aco latcrai c posterior da vagina; rior, percebe-se a onda de líquido amniótico provo-
Goodcl 0 11 de 801maire: con i tência amolecida (de cada pelo piparote com o dedo da outra mão no
figo maduro ou labial) adquirida pelo colo uterino fundo uterino.
na gravidez (diferente da con i tência cartilaginosa
~

Ql
ou de nariz, do colo fora da ge tação).
__/'\_
\r TT R·\~ O/ ~ DO\ Ct 'v il\ r<; I\1TFR.\'O'i
Ao toque, podem-se observar os sinais de:
Landin: percepção, ao toque, de pequena região
~J A
H B •,c

'~ ~ ~
~
amolecida, no meio da face anterior do i tmo. Ap.l-
rccc precocemente, entre a qui nta e a sexta semanas
de gc tação;
Pzskacek 0 11 Brcum-Femwald: a simetria (ou abaula-
mento) e amolecimento localizados no fundo uterino, ., o F
quando há implantação ovularcornual (Figura 6.1.A); Figura 6. 1 I inais cllnicos de gravidc7:
1/ol::.apjel 011 preeusibilidade uterina: o útero grávido A- ·mal de Pi kacck; B- inal de 1 obilc-Budm {fundo -de-
é menos móvel, maior e amolecido, o que permztc -saco 1,\tcrais); C - inal de Nobile-Budin (fundo de .lCo ante-
.1 ua fácil preensão pelos dedos das mãos, vaginal ror c posterior); D - inal de Hcgar (útero antever oflctido);
c abdominal; E- in.1l de Hcgar (útero retrover ofletido); F inal de Puzos.
Nobile-811drn: preenchimento dos fu ndo de aco
vaginais laterais e anterior c posterior pelo útero
grávido, que, de forma piriforme, c torna globoso DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
no início da gravidez. ão é sinal patognomôni o
de gestação, pois pode ser observado nos tu more No terceiro dia após a fecundação, o 7igoto é seme-
uterino (Figura 6. 1.8 e C); lhante a uma pequena bola sólid.l com oito a 16 célul,ls c
l-legar: difcrcn a de consi tência ent re o corpo, o é denominado mórula. Acredita- c que ncs .1 fa c j.\ exista
istmo c o colo uterino no início da gestação. ~J a n­ secreção de gonadotrofin a conônica (h ,) que, no enta n-
do o útero é antcfletido, a mão vaginal é posicionJ- to, não é detectável no soro nutcrno. o qu.uto dia apó~ a
da no fundo-de-saco anterior e a mão abdommal fcrtili t.a ão, o embrião, já no Cl-tágio de rnórula, penetra na
desliza por trá da face po tcrior do útero na parede cavidade uterina. A implantação acontece nove a 10 dia
abdominal, tendo-se a sensação de que o corpo ute- apó~ a ovulação.~
rino é eparado do colo, devido ao intenso amoleci- Apó a implantação do blastocisto, à medida que ocorre
mento do i tmo. ~zando o útero é retrover oflcti- mais invasão do endométrio, desenvolvem-se vilosidades

Noções Práticas de Obstetricia


100000
coriônicas iniciais, que produzem qua ntidades crescentes 90000
de hCG, que pode ser identificado na urina ou no sangue 80000
materno sete a oito dias antes da menstruação aguardada. 70000
~
O hCG é o marcador bioquímico mais precoce da gesta- 5
É. 60000
ção e sua detecção nos fluidos biológicos é o teste utilizado "'
'-'
.!::
50000
universalmente para o diagnóstico da gravidez. 40000
O hCG é hormônio glicoproteico com peso molecu- 30000

lar de, aproximadamente, 19.000 daltons, secretado pelo 20000

sinciciotrofoblasto e depois pela placenta. É composto de 10000

duas subu nidades diferentes (alfa e beta) que, isoladas, não


3 10 20 30 40
possuem atividade biológica. A fração .tlfa é comum a ou-
Semanas de Gestação
tros hormônios glicoproteicos (LH, FSH, TSH) e a beta Figura 6.2 I Níveis séricos de hCG e semanas de gestação de
é específica para cada um deles. Sendo .tssim, a dosagem evolução normal.
da fração beta do hCG ( p-hCG) para o diagnóstico da
gravidez evita a reação cruzada, que pode ocorrer, pri nci- As reações falso-negativas dos testes de hCG podem
palmente, com o LH. A principal atividade biológica do se veri ficar quando os níveis hormonais são insuficientes,
hCG é a manutenção do corpo lúteo, no lugar do hormô- devido à gravidez muito recente, na dependência da sen-
nio luteinizante, do oitavo dia após a ovulação até a séti ma sibil idade do teste escolhido e se este é realizado na urina
semana de gravidez. Durante esse período, o corpo lúteo ou no sangue.
é o principal local de produção de progcsterona. A partir
da oitava semana, essa função passa gradualmente para a
placenta. 1•6 8 IDENTIFICAÇÃO DO hCG NA URINA
A partir do dia da implantação, os níveis de hCG no
sangue e na urina são crescentes. Teoricamente, o hCG M ÉT O IJOS B IO.LÓG ICOS
pode ser detectado no sangue um dia após a implantação
do blastocisto ou oito a nove dias após a ovulação. A con- Os primeiros métodos util izados para a detecção uri-
centração sérica de hCG no dia provável da menstruação é nária do hCG eram biológicos e baseados na observação
em torno de 100 mU I/ mi. 1 a gravidez inicial c com evo- das modificações ovarianas ou na espermatogênese de co-
lução normal, a concentração de hCG no sangue duplica a baias induzidas pelas propriedades gonadotrópicas desse
cada 1,4 a dois dias ou a cada 30.9 ± 3.7 horass ·9 Quando hormànio.
essa ascensão é inferior a 60% em um período de 48 horas, Na reação de Aschei m-Zondek, originada no fina l da
deve-se pensar no diagnóstico de gravidez cctópica ou de década de 1920, a uri na da paciente era injetada nos ca-
gravidez interrornpidaw.tt Ati nge o pico máximo aos 60 mu ndongos fêmeas impúberes. Após o sacri fício das co-
a 70 dias ou por volta de nove a lO semanas de gestação, baias, observavam-se reações ovarianas como produção de
chegando a valores em torno de 100.000 mUI/mi. A parti r foliculos hemorrágicos e luteinização maciça com reten-
daí, os níveis de hCG decrescem lentamente, situando-se ção do óvulo, causadas pelo hCG uri nário.
entre 5.000 e I 5.000 mU l/mi nos dois últimos trimestres. Na reação de Friedman, a uri na era injetada na veia
Atingem os valores mais baixos entre o 100° e 130° dias marginal da orelha de coelhas madu ras afastadas dos ma-
de gestação. Na proxi midade do parto, pode haver discreto chos e, da mesma forma, após laparotom ia, eram verifica-
incremento (Figura 6.2). das as alterações ovaria nas.
Níveis plasm~ticos significa ntemente elevados de hCG A reação de Gall i-Mainini, surgida em 1948, baseava-
podem ser observados em gestações múltiplas, cm feto -se na característica que tem os sapos Bujus marinus de eli-
com erit roblasto e decorrente de aloimunização materna minar espermatozoides após a admi nistração de hCG no
pelo antígeno D, na doença trofoblástica gcstacional e em saco lin fático. Os espermatozoides eram encontrados na
gestações com fetos com síndrome de Down.8 urina retirada da cloaca desses animais.

Diagnóstico de Gravidez 77
E~se~ testes eram mu ito demorados, .1prc cntav.1m lit,ltivo:.. Es ·c método é relativamente insensível ,w LH c
pouca scn ibilithdc c, .1pesar de terem sido abandonados, mede J subun idade beta do hCG diante de concentrações
muito contribu íram para a confir mação do diagnóstico de fi iológicas de LH. Po teriormente, vário~ ensaios para
gr.widcz no pas .1do. ~-h CG foram de envolvidos com diferente metodologias
(radiorreceptor ensaio RRA; imu nocn aio enzimático
I EE; en::.y111e ~11ked tlllllllmoabsorbelll assay - ELI 'A; wzymc
MHODOS [1\IU OLÓGJCO') ~11kedJlrwrescenlassay - ELFA), cnsibilidade c especifici-
dades e que podem er realizados tanto no sangue quanto
O métodos imunológicos util iza ndo técnica imu- nJ urina. Em geral, têm sensibilidade de a 40 mU I por
noquímicas for.1m de envolvidos no ano 60. São mais mi de plasma c exigem aproxi madamente uma hora de
rápidos, m.1is simples c mai sensíveis que os biológicos. trab:1l ho. Assim, pode-se detectar a gravidez ante mesmo
l111cialmente, foram utilizJdo na~ ,1mo tra Jc urina. do atra o mcn trual. É também importante para o diag-
O pri meiro teste imunológico de gravidez tornou- c nóstico de gravidez ectópica (situação cm que o · nívei de
disponível cm 1961 c consistia em um.< rc.<ção de in ibição hCG ão mai baixos), pJra a monitorização do desapare-
de hemaglutinação: hemá ia com h G (antígeno) . ão ci mento do hCG na doença trofoblástica c para a detec-
juntadas com o .mtissoro específico, a seguir .1dicion.1-sc a ção precoce de recidivas do coriocarcinoma em pa ientes
urina a ~erte tada; c esta contiver o h ~c;, haverá bloqueio tratada : 11 Um te te para ~-h G com ensibi lidadc de 20
do antis oro c au ênci.l de aglutinação.12 mU 1/ ml tem taxa de fàlso-ncgativo de me no de 1%. 14
Com o Planofcsf era possível diagnostica r uma gravidez Encont ram-se em u o tré padrões de unidade de refe-
com 10,1 12 d1as de atraso mcn~trual , o que corre ponde rência para teste de R IA : PI ( cgundo Padrão Intern.<-
a níveis de hCG cm torno de 2.500 UI/ L, c com o Ali-l n cional), PRI (Pad rão de Referência Intcrnacionai) e ng/
(hcmaglutinaçjo) entre se1s e oito dia~ de atra o, período mi (nanograma/ ml). Quando a sensibilidade do método
com valorc de hCC de aproximadamente 1.000 UI/ L uti lizado for em torno de 5 a 6 mU 1/ ml (S PI), corresponde
om o ncoprcgnosticon (hcmaglutinação invertida), fa- a IOa 12 mUl/mi (PRI) oul ng/ ml.
zi.He o d1agnó~tico entre com dois a quatro dia de atra o Mai recentemente, para a do agem da fração beta,
c ISOU l/ LdchCG. utilizam-se reações de quimioluminescéncia, com equipa-
A en tbilid:tdc desses diferente teste varia de I ·o a mentos automático que fornecem ma i!> rapidez de rc ulta-
3.000 U 1/ L. Portanto, não detectam gravidezes normais dos. O valere de referência con idcrados são:
com menos de quatro semanas, condut indo a mu itos rc- de OaS mUI/mi: negativo;
sult.1do f.1l o-negativos. E ·se làto é inaceitável quando > S a ·o mUI/ mi: indeterminado;
existe su peita de gravidez cctópica cujos níveis de hCG acima de 50 mU1/ ml: positivo
situ:un-sccntrc ISO c 1.000 UI/ L. Ainda, como e ·c mé- As rcaçõe l<l o-po itiv,< do teste para detecção do
todo não po ·ucm c pccificidadc para a fração beta do hCG para o diagnóstico da gravidcl ocorrem, principalmen-
hCC, podem apresentar altas taxas de f.1 lso-positivos. te, nas dosagens uri ná rias c nas seguintes situaçõcs:~ 4 11 · 14
.Attmwfo de L/ 1/ripojisáno (menopau ·a natural ou
cirú rgica c hipcrtircoidismo);
i DENTIFICAÇÃO DO HCG NO SORO ttt111or secretau/e de h G: doença trofobLl tica ge ta-
cional (mola hidatiformc ou coriocarcinoma), tera-
A dosagem da fração beta do hC , no sangue surgi u no toma gonadal, neoplasias (testiculares, pancreáti-
início do~ anos 70 a p.<rtir da necessidade de encontrar tes- ca~, adenocar inoma gástrico , câncer de pulmão
tes para o diagnó tico da gravidez com mais especificidade e hcpatomas);
c cn ibilidadc. Foi introduzida por .litukaitis e/ ai.," que jár111acos psicotrópicos: fenotiazi nas, antideprc sivo ,
utilizaram o método RIA (radioimunoanáli c ou radioi- anticonvulsivante e hipnóticos;
munocn aio), sendo os resultados expressos em mUI/ mi. medrcammtos IJ(ÍO psicotrópicos: anticoncepcionais
O RIA é qualitativo e qu;mtitativo, ao passo que os exames orais (surto de e ·cape de LH),mctadona e penicilina;
baseados na hem,<glutinação dão resultados apenas qua- dol'llças srstênricas: LES (lúpus eritcmatoso sistémico);

Noções Práticas de Obstetricia


alterações urmárras: proteinúria, hematúrid c piúria
(i nativação dos a nticorpos anti-hCG altera ndo a
aglut inação);
injeção prévia de hCC;
material do laborató rio conta minado com h G .

DIAGNÓSTICO ULTRASSONOGRÁFICO

A realização da ultras o nografi.1 ( U ) no início da ge -


tação tem como finalidade, a lém de confi rmar a suspeita
clínica da ge tação, determi nar se essa gravidez é intraute-
rina c c tabelccer a idade gc tacional. 1 ~
o in ício da gestação, a U deve ser preferencialmen-
I
Figura 6.3 Ge~taçao Jc quatro scmams mostrando saco
ge ;tacio nal i11i ia I antes da vi ibilizaçãod:t ve ícula vitclind.
te real izada pe la via transvaginal. A principal va ntagem
(Foto ceduln pelo Dr. Aldto11 Pa11::z).
dessa via, quando compa rada à via transabdominal, é a
utilização d e transdutores de a lta frequência próximo
das estruturas a serem insonadas, com a intcnçào de ob- Q!.1ando ocorre a g ravidez, o corpo lúteo, c m vez de
terem-se imagens de melhor resolução e mais precoce . regredir, au menta de tamanho c produz progc tcrona .1té
Isso é e pecialmente útil nas g ravidezes bem recentes, na que a placenta assuma s u.1 fu nção de produção hormo-
o besa c qua ndo o útero é re trovertido . Nessa fase, a via nal. Pode e ntão cr vi ibilizado, na ma ioria da ge tações,
tran vaginal permite a vi ·ibilização das estruturas gesta- varia ndo, no entanto, eu aspecto ccográfico. Em geral,
cionais uma emana ante do que criam detectada pela aparece como um ci to un ilocula r de paredes fina om
via transabdomina l. diâmetro menor que S mm e com fluxo de baixa re istên-
O primeiro sinal ultra o nográfico de gravidez é a rea- cia à dopplervelo imctria. A 1dadc gcstacional não parece
ção decidual que aparece como uma hipcrccogcnicidadc influenciar o flu xo do corpo lútco.•-·•q
dentro da cavidade uterina, podendo ser vi ibilizada a par- A vc ícu la vitel ina é a primeira fonte de troca entre a
tir do 28° dia (fina l da quarta semana). Porém, é inal incs- mãe c o embrião c a primeira c trutura q ue pode cr vi i-
pecífico, sendo constatado também no fi na I da fase lútea e bilizada dentro do ~aco gestacional. Começa a ser vi ibl-
nas gestaçõe ectópicas. 16 lizada na US transv.1ginal e m torno de 4,5 a cinco sema-
O saco gestacional ( G) é o pri meiro sinal definitivo nas, q uando o DM SC é de S m m ; c na t ransabdomin.1l na
ultra onográfico a e r observado que ugcrc gravidez sétima semana, quando o D I ·c é de 20 mm. Aparece
precoce. Corresponde ao acú mulo de líquido na cavi- como uma á rea ci rcular :1 nccoica com centro o noluccntc.
dade coriôn ica e aparece como uma estrutura anccoica A cxi tência dessa estrutu ra po ibilita predizer gc taçiio
com conto rno ccogên ico. Uti liza ndo- c instrumentos so- c mbrionada. Atinge cu diâ metro máxi mo de ~ a 6 mm
nográ fico adequado , como uma sonda vagi nal de pelo e ntre a quinta e a lO• emanas ( étima ema na) c pode cr
menos S I Hz, pode-se detectá-lo quando seu diâmetro detectada até a 12• emana ( Figura 6.4).'-
médio ( DM G) é de apenas 2 a 3 mm cm to rno de qua- Com o uso de tramduto re tran vagi na i , o di coem-
tro ema nas c um a trê dias. Q ua ndo o DM G atinge S brio ná rio come a a ser vi ibil izado entre cinco e ei!> sema-
mm (cinco semanas), passa a ser vi ibilizado na U tran- na de gc tação, aparecendo como uma área de c pc~sa­
. abdo m inal. 1- 18 Algumas outras condições podem provo- mc nto fo ai o u uma linha h iperecogên ica na periferia da
ca r aparê ncia semelhante à dos saco gc rac io nais iniciais. vesícula vitel ínica, com I a mm d e comprimento. c sa
Entre ela , incluem- c os cistos de Naboth localizados na fase, o DM ·c deve estar entre S e 12 m m. 18 e o compri-
pa rte superio r do ca nal cervica l, cistos cndometriais, an- me nto do embrião fo r ac ima de 2 mm, pode- c vi ibiliza r
gramento, e ndometrite, este nose cervica l c o p cudos ·aco e contar o batimento cardíaco .'6 A vi ua lizaç:io do ba-
e tacio nal ( Figura 6.3).J 7
timento ca rdíaco , que ncs a f:1sc va riam entre 90 c 190

Diagnóstico de Gravidez
79
batimentos por mi nuto, é fator de bom prognóstico, per- Há correlação ent re os níveis de hCG séricos c a visi-
mitindo predizer um.\ evolução gc tacional bem- ucedida bilização pela U tran vaginal da estrutura na ge tação.
cm 90%das vczes.20 Os batimentos cardíacos fetais devem No período cm que o SG pode ser detectado, os níveis de
sempre er identificados quando o CCr ati nge a 6 mm, hCG va riam de '00 a 1.'00 mUI/mi ( Pl) ou ão uperio-
o que equivale a uma gestação de eis a 6, • semanas. Nes- res a 1.000 mU I/ mi; a vesícula vitelina, quando iguais ou
sa oca ião, o OMS , é de 1., a 1 mm.18 Na U tran ab- uperiore a 7.200mUl/ ml; c o embrião com o bati men-
dominat pode-se ob crvar os batimentos cardíaco fetais tos cardíaco quando iguais ou acim a de I0.800mU 1/ ml.'
na oit.wa semana, quando o DMSG é de 25 mm . O CC A não visibilização do saco gcstacional com a U transva-
alcança, aproxi madamente, O a • mm cm torno da JO• gin:d quando os níveis plasmáticos de hCG Jtingcm 1.1 00
à ll •scmann de gestnção (n pnrtir da DUM) ou da novn se- :1 1.500 mU 1/ ml sugere fortemente uma gestnção de evolu-

mana de de envolvi mento (a partir da fe rtilização), c nessa ção anormal ou ectópica. 8


fase o embrião torna- e feto (Figura 6.5). 17 O quad ro 6.1 mostra o período de visibi lização das es-
truturas gc tacionais pela ultra onografia.

Quadro 6. 1 I Estruturas gestacionais precoces c período de vi-


sibilização pela ultrassonogralia transvaginal e tr.msabdominal
Pt'rroclo clt! vrsrllll r z~c.lo na
Estr utur .1 trltrassor10ÇJrilf r.J lsr.rnanas)

T· dflS\ dCJ I'l3 AIJclorll llld l

Saco gestacional 4 5/6 I


Vesrcula vitelina 5 6
Embrião 5/6 6fl

Batimentos cardlacos 5/6 6fl

Polo cefálico e brotos dos 7 8


membros
Movimentos grosseiros 7 8

A US deve ser oferecida a todas a gestantes, ape ar de


não ter como finalidade o diagnóstico da gravidez. Saben-
do-se que li a 42% das idades gestacionais estimadas pela
data da últi ma menstruação ão incorreta , deve-se ofere-
cer à gestante, na primeira consulta ou, se possível, ent re lO
e a 13 semana , e.xame ultrassonogr:ífico para determi nar a
idade gestacional, com a med ida do CCN. A partir da I5•
emana, o cálcu lo da idade ge racional deve ser realizado
pela medida do diâmetro biparietal (DBP).

DIAGNÓST ICO DIFERENCI A L

O diagnóstico diferencial da gravidez com as outras


causas de atra o menstrual ou de amenorreia deve ser feito
Figura 6.5 I Ge tação de I I semanas com corte longitudinal principalmente com o ca os associados à hiperprolacti ne-
do feto. (Foto cedida pelo Dr: Milto11 Pa~~zi). mia c gaL\ctorrcia c com o quadro de pseudociese.

80 Noções Práticas de Obstetricia


Em situações pouco comuns, como em alguns casos de REFERÊNCIAS
carcinoma broncogênico e de lúpus eritematoso sistêmico,
L Magalhães DRB, Magalhães EB, Moreira ABC. Assistênci,l
a gonadotrofina coriõnica (hCG) pode também ser detec- Pré- atai. ln: Corrêa M D, Melo VH, Aguiar RALP, Corrêa
tada no sangue.21'22 Junior MD, editores. oçôcs Práticas de Obstetrícia. 13• ed.
Também é importante lembrar o diagnóstico diferen- Belo Horizonte: Coopmed; 2004. p. 69-89.
cial de gravidez quando se investigam outras causas de 2. Cunningham FG, Lcvcno KJ, Bloom SL, HauthJC, Gilstrap
aumento do volume abdominal, como a obesidade e os 111 LC, Wenstrom KD Prcnatal C.uc. ln: Cunn ingham FG,
Leveno KJ, Bloom SL, HauthJC, Gilstrap III LC, \<\1cnstrom
tumores abdominais (ginecológicos ou não) isolados, as- KD, editors. Williams Obstctrics. 22• cJ. New York: Mc-
sociados c, muitas vezes, complicando a gestação. Os mio- Graw-H ill; 200S. p. 201-30.
mas uteri nos, por atingirem seu pico de incidência na quar- 3. Hanan MZ, Hanan B. Diagnóstico da gravidez. ln: Corrêa
ta década de vida da mulher, ocasião em que muitas delas MO, Melo VH, Aguiar RALP, Corrêa j unior MD, editores.
engravida m, frequentemente dificultam o diagnóstico de Noções Práticas de Obstetrícia. 13• ed. Belo Horizonte: Co-
opmed; 2004. p. 61 -8.
gestação e podem complicar sua evolução.
~. Baucr A. Diagnóstico Obstétrico. ln: 1 cmc B. Obstetrícia
O quadro 6.2 resu me as evidências sobre o diagnóstico Básica. 3• cd. São Paulo: Sarvier; 2006. p. 99-104.
de gravidez. S. Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia c Obs-
tetrícia. Assistência Pré-natal: manual de orientação. Rio de
Quadro 6.2 I Evidências sobre exames para o diagnóstico Janeiro: Fcbrasgo; 2007.
precoce da gravidez 6. Cunningham FG, Lcveno KJ, Bloom SL, HauthJC, Gilstrap
III LC, Wenstrom KD.Implantation, Embryogcncsis and Pla-
Grau ele centalDevelopmcnt. ln: Cunningham FG, Lcveno K.J, Bloom
Old(jllOSIICO
· Per1odo recolllellll~çâo e SL, Hauthj C, Gilstrap II I LC, Wenstrom KD. Willi,uns Obs-
pül .
fo1ça ele eVICiellC ia tctrics. 22• ed. New York: McGraw-Hilll; 2005. p.39-90.
7. Rozas A. Endocrinologia na Gravidez. ln: Neme B. Obstctrí·
Dosagem de A partir de: 3 semanas o cia Básica. 3• ed. São Paulo: Sarvier; 2006. p.44-62.
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imunológicos) 8. Liu J H. Endocrinology ofPrcgnan cy ln: Creasy RK, Resnik
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Ultrassonografia A partir de: 4 sema- A Maternal-Fetal Medicine: Principies and Practicc. 6• cd. Phi-
obstétrica nas e 1 a 3 dias ladelphia: Saundcrs Elsevier; 2008. p.lll-2~.
(via transvaginai)B 9. Chartier M, Rogcr M, BarratJ, Michclon B. Mea~urcmcnt of plas-
5 semanas e 1a 3dias ma chorionic gonadotropin (hCG) and CG activities in the late
(via transabdominai)B luteal phase.Evidence ofthe occurence ofspontaneous menstru·
• Ciclo menstrual padrão considerado de 28 dias e na dependência da ai ,1bortions in infcrtile woman. Fertil Stcril. 1979;31 :134-7.
sensibilidade do teste 10. Kadar N, Caldwell BV, Romero R. A mcthod of scrccning
8 Ciclo menstrual padrão considerado de 28 dias
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13. VaitukaitisJL Braunstcin GD, Ross GT. A radioimmunoas-
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C unningham FG, Leveno KJ, Bloom SL, HauthJC, Gi lstrap
II I LC, Wcnstrom KD. Williams Obstctrics. 22• ed. New
York: McGraw-Hill Profcssional; 2005. p.389-406.

Diagnóstico de Gravidez
81
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82 Noções Práticas de Obstetricia


07 Assistência Pré-natal
Déborah R.111dano Barbosa de Magalhães
Estefânia Barbosa Magal h5cs
Lívia Murta Tanurc

Objetivos Orientações
Consulta Inicial Dieta
Anamnese Ácido Fólico
Exame Físico Ferro
Consultas Subsequentes H ábitos de Vida
Ganho Ponderai Queixas Comuns
Exames Complementares Náuseas e Vômitos
Hemograma Sialo rreia
Tipagem Sanguínea Constipação Intestinal
Urina Rotina e Urocultura Pirose
Glicemia Lombalgias
Sorologia para Sífilis Dor Abdominal
Sorologia para Toxoplasmose Cardiovasculare
Sorologia para Rubéola Urinárias
Sorologia para Hepatite B Varizes
Sorologia para Hepatite C Hemorroidas
Sorologia para HIV 1 e 2
Leu correias
Sorologia para Citomegalovírus ( CMV)
Câimbras
Pesquisa de Estreptococos do Grupo B
Sinais de Ale rta
Sorologia para HTLVl e 2
Imunizações
Exame Parasitológico de Fezes
Colpocitologia Oncótica Cervical
Ultrassonografia
Testes de Vitalidade Fetal
Estudo Genético no Pré-natal
a i tência ao pré-natal desempenha importante da parti ipação dos órgão a sistenciai re pons:í-

A papel nos resultados perinatais: quanto mel hor


sua qualidade, mai favoráveis esses resultados
e mais baixas a taxa de mortalidade materna e perinatal.
veis por essa assistência;
da atuação do pré-natalista. É, certamente, fator
deci ivo para a qualidade do acompanhamento ,\
Por outro lado, a assistência pré-natal é dispendiosa para gestante. O pré-natalista deve ser competente, de-
quem a patrocina c, ao mesmo tempo, exige esforços c sa- dicado c humano.
crifício da gc tantc e eus familiare .1
A qualidade da assistência pré-natal depende não só da
equ ipe de profis ionais, ma também do recur o fí ·ico e ÜBJETIVOS
laboratoriais disponíveis, a ociados a ho~pital de referên-
cia para atendi mento das intcrcorrências da gestação, do A as i tência pré-natal tem como objetivo cs ene1a1s:
parto e do pó -parto. OiJgno~tica r tlU confirm.1r .1 gravido. quando :-tin-
Duas questões surgem quando se pensa na atenção da existem dú vidas;
pré-natal: 1 diagnostic:u ou confi rnlJ r enferm id.1des nutc r-
O benefí ios da atenção pré-natal são os mesmos na\ preexistentes, tratanJo-as de modo a redtl7ir
para todas a gesta ntes? cu imp:1cto na c_\·olu~,·.w d.1 gra\ 1do c nos !>cus
Todas necessita m do mesmo padrão de assistência resultados;
pré-natal, da mesma propedêutica, do me mo nú- acomp.111 ha r ,, cvoluçat) da grav 1de1., observa ndo
mero de con ultas? as condições da gest.111 tl' c o desenvolvimento c as
condições do feto;
A as istênci:t pré-natal tornou-se um rito e talvez seja o diagnosticar e tratar .1s íntcrwrrenc1.1Sgest.lcioll:ti'i;
momento de e con idera r o que é ind i pen ável e vaIio o e adotar a nwdidas pren::nll\".15 recQmendJJa para
qual a mel hor ma neira de executá-la. A gravidez é um pro- a proteção da gc tante c do feto;
ces o fi iológico e qualquer intervenção proposta deve ter esclarecer as dúvidas e temores da gestante;
benefícios comprovados e ser aceita pela gestante. preparar a ge:-.t.111te parJ o p.1rto e o .1lc.it.unento:
Este capítulo aborda as recomendações baseadas em d i.1gnost1C.l r e t r.lta r a\ 1nterCL)rrênci.l' do puL'rp.:rio.
evidências da assistência pré-natal da gestante de risco ha-
bitual, como sugerido pela Federação Bra ileira de Gi neco-
logia e Obstetrícia (FEBRA C0). 2 CONSULTA INICIAL
Cerca de 90% das gestações começam, evoluem e ter-
minam sem complicações. São as chamadas gestações de A con ulta pré-natal é o instrumento mais efi caz da
risco habitual. O utras, no entanto, cerca de 10% delas, já relação obstetra-gestante. A assi tência pré-natal deve er
apre entam problema de de seu início ou, então, eles sur- iniciada o mais precocemente po ível, já que visa diagnos-
gem no seu tra nscurso. Essas ão a chamada ge taçõe de tica r, trata r e prevenir intercorrências cl ínicas, obstétrica e
alto risco. cirú rgica que po sam comprometer o binômio mãe-fi lho.
As primeira necessitam de assistência bá ica padroni- Deve ser regular e completa, garantindo-se que toda a
zada, porém não menos importante; já a de alto ri co exi- aval iações propo tas sejam realizadas, e só se encerra após
gem abordagem especial, adequada aos problemas preexis- o 42° dia de puerpério, período em que deverá ter sido rea-
tentes ou aos que surgirem no decurso da gravidez. Dian te lizada a consulta de pós-parto. 1
des a possibilidades, compete ao pré-natal i ta, na primeira O idc:-tl é gue .1 gr.widez.tcnha ocorrido cm bo.ts con-
consulta, identificar esses dois tipo diferentes de gestante . dições, após aconselh,lmenttl pré-concepcion.1l. C.1so on-
O sucesso do acompan hamento pré-natal depende de trário, investigar imediatamente roda :1s si tu.1çõc~ de risco
alguns fatore : modi ficáveis para aconselhamento ou intervenção:
Do interesse e participação da gc tantc e de seu F.1tore tlc n cu de p.1rto pré-termo c dL'l'llÇJ in-
fa miliares; feccios.ts;

Noções Práticas de Obstetrícia


expo'1~-.lll a .Jgl'ntc qu1miü1,, infecuú.'iül> c U M) de gravidade do problema. Mu itas vezc , há nccc id<Jdc de
mcdíc.lllk'lliO'>; intcrnaçoc ho pitalarc periódicas para observaç:io, pro-
doenç.1!> herediti ri:~s, d i:~bctc gcst;1cional prévio c pedêutica e trata mento.
problema p iq01átricos e doenças rôn ica ·; Toda gesta nte deve ter seu histórico c os exame:. da-
história de abu o cx u:~ l, físico c emocional; tados c regi trados no cartão de pré-natal, par,l racilitar
padrão nutriC:Illn.ll e U\ll de .ikool, tab.Ko 1.' outra o atendimento emergencial. Es c cart:io é o veículo da
drng.1' iiKit.l' documentação legal c reflete .1 qualidade .1 S1Stcnc1.1l.
Por1.1dor.u. do cart:io de pré-n:Hal demonstr;1m mais se-
É indispcn .ivcl que c s.1avaliação do ri-.co gc tacional gurança tj Uanto à evoluç;Jo da gc'>tação {OR 1,-tS; IC 95°o
aconteça cm tod.1 .1 consultas. Portanto, a abordagem a 1,08-1,95).6
c.1d:1 gestante tem que ser baseada no risco gc~tacional, nas
c.uacterística da população ra trcada, na prevalência da do-
cnç.J mai comunsenaavaliaçãoda cvidênd.1~disponívei _ ANAMNESE
t\ pemxhCidade c L) numnL1 ~k n,n,ult.l' ':ill dl.'pendcr
d .l L'\'Oiu~.lLl d.1 gravidCJ,
~
d.1 c.Jn.Kid.1Lic
r ,l.J gc,t.ullc
~
~·m iden A anamncse deve ser minuCio a, procurando-se infor-
tliic1r .lltL'r.l~-oL'' 11.1 '>ll.l L'\l)lu~,.Hl e '>L' .1 gr.n ide; L; dl· risco m.lçóes na identificação, na história f.1miliar, na história
lub1tU.JI ou de .1ltu ri'>L"Ll a assi tência pré-n.1t.1l, o essencial pregrcssa, no antecedente~ ginecológico e ob~tétrrcos,
não é o número de con~ulta -, ma sua quabd<Jde e a parti- bem como na ge tação atual, que possam interferir na
Cipação crctiva da própria ge ta nte. A redução do número evolução da gravidez.
trad1cional de consult.1~ de pré-natal não c a oc1.1 a rc ulta-
do)) adverso maternos e/ou pcrinatais como pré-cclâmp ia,
pMto pré-termo, hemorragia antcnatal c pó. -n.ltal, mortali- I DI-- rt F ICAÇÃO
dade materna c pcrinatal e infecção uriniria. Entretanto, a
redu ão no número de con ulta~ associa-se à1nsatisraç.ío da A ;1namnese inicia-se pela identi ficação da gestante:
gestante cm relação aos cuid.1do pré-n<Jt.1is. 1 Ntmre: para uma bo.1 relação médico-paCiente, cl,1
O ~ L1nu.1l dL) ~11111\IL' no ,.L .lUdc (2006) c tabclcce deve ser ch.1mada pelo seu próprio nome;
(l numero mínllllll dt• ~L'I' con:.ultas dl· pre n.Jt.ll. prdercn- rd,rdc- alguma doença .1o mais frequente\ nm
Cialmentr um.1 no pr llll'lrn trime'>trc. du.1' no -,egundo extremos da idade rcprodutiva - acima de JS .1nos
trimestre c três no tdtiml) t rime~tre. ' .tumcntam os ri cos de cromo somopatia-. fct.m,
O protocolo do alwual luslllrtlefor 1-Jca/tlr wul Cluucal principalmente a tri omi.1s, hipertensão artc ri.1l,-+ 7
Excelleuce {N ICE), publ ic.1do pelo Royal 'ollcgc oj Obstetri- crôni a (HA ), diabete mdlrtus (DJ'vl) c~
craiiS mrd Gpraecologrsts, prcconin para gestante!. nuliparas t'tlírl: a raça negra tem mais incidência de H A ·,
de ri ·co habitual lO consultas de pré-n.Hal c \ele para as miomato e uterina, a c ~-tala emia, doença falo-
multípara .1 forme c vícios pélvicos;
Aconduta adot:~da no l-lospit.1l das ClíniC.l!> Ja U Fl'v!G pn1lli,ro: avali.1- c a exposi ao da gc tantc a produ-
(IIC-UFMG) é de uma con ulta mensal até a 34 cm.Jn,Js tos tóxicos {agrotóxicos, solventes orgânicos, me-
e, a partir daí, intervalo qui nzenal até a 40 emana c e- tais pc ados), à irradiação c a longos períodos cm
manai até a -t i emana . A maior frequência de vi ita no pos1çao supina. e a situações, é recomendável
final da gc tação visa à avaliaç:io do ri co pcrin.Jtal e das afã tamento tcmpodrro da ati,·idade profi IO-
intcrcorrência clín1co-ob tétrica mais comu n nesse pe- nais e/ou muda nça de setor;
ríodo, como trabalho de parto pré-termo, pré-eclámpsia c estado ,·,llil: a gravidez evolu i melhor qua ndo o com
eclãmp ia, rotura premat ura de membra na~ e óbito fetal. panheiro compartilh:-r da gestação, não somente no
Nâ~) existe "alta" Jl, prl' -n.lt.ll ant e~ do p.1rto e .1 .1~si stênci.1 .1spccto económico, como também no emocional;
pré n.Hal de\ .:r.1 pcr,i'tlr .IIL' n -+2·· d1.1 dt) pucrpt'rlll.1 f'I'OC.:d.'trâa: ex i te a possibilidade de algum.1~ doen-
Nas gestações dl· .1lto rbco, O\ intcn.1lo\ d.1, con!>ul- ça - endêmica , como malárra, esquistossomo c c
ta dC\1.?111 \Cr an.lll!>.llfll\ 111d i\·idualnwntc, conrorme a docnç.1de Chagas, inf1 uenci:Jrcm age tação;

Assistência Pré -natal


Bs
grau ~lc mstrução: permite ao médico saber como do o, na tentativa de prevenir abortamento tardio e parto
mel hor abordar as inform.1çõcs c avaliar o grau de pré-termo.
entendimento d.1 gestante. A mamas modifi cam-se profundamente du rante o pe-
ríodo gest:~ciona l, dificultando c atrasando o diagnóstico
de doenças. Conhecer obre Cirurgia~ prc\'I.IS (mamoplas-
ANTECE D E fES f M t l LI A RES tia, prótese, exérese de nódu los, drenagem de ab cc o )
aux il ia a preparação e a promo ão da amamentação.
Investigar doença~ fa miliares, de cadtcr hcredit.lrio
e familiar, c.1pues Jt> mtcrtenr na evolução da grav1dez,
corno DM, H AC, doença autoirnuncs, c.1rdiop.1tias, h i·. A I'LCEDI NTES ÜBSl ÉfR i t.m
tóri:. de anomalia fetal, pré-ccl:l mpsi:./ ccl:lmpsi:., gemeb-
ridadc, como também doença infecciosa (t ubcrculo c, O conh..:c•mento complctt1 d.l hi,túri.l nb-.tétrica é
hepatites Be C, H IV c sífi lis). fund:.ment.l l. abc- c que determ inadas CQJn[JIIC.lÇ\.W
da gestação têm caráter recorrente, tais como diabetes
nrellitus ge tacional (IJ,'viG), p.1rto pn.' tcrnw . ..:rc,crmcnto
A 'f i:CE OL T ES P ESSOA IS intr.1utcrino restrito (C IUR). baixo pc~~l ao ll.lSCL'r, pr'l;-
-ccl.impsl.l, ob1t0 ret.ll 1:' ncon.llal C ,lJ10lldi.l~ congcnit.lS.
Todo os fatos da históri:. prcgrcss:. são relevantes, Conhece-la:. ajuda a preveni-las.
de de a infância :.té os dias atu:. is. As doença!> comuns da Também ão itcn rclev:.ntes: o número de gcst.1çocs,
in fância, complicações, vacinações, alergias, cirurgias :.ntc- l>Cll inten .1lo. su.1 e\·oluç.io, intercorrência!>, cpoc.1 c llf'O

riorc , trat:.mcnto clínico antcriorc c atuai , u o de mc- de pa rto, se nperatúno gual a mdic.1ç.io, evoluç.io c tcm-
dic:.mentos, transfusõe · de sangue, doença in feccios.1s, Pl' du tr.lb.1lho de p.lrto, .l, condiçoc~ do recém-na ·c1do
doenças i têmica , infecção urinária, hábito de vida (eti- (RN), seu pc~o e l>U.I evolução ncon.ltal c o numero de
li mo, tabagi mo, u o de droga ), doenças p iqu iátrica!> ou tilhul> \li\'Ol>.
qualquer outro p.1ssado mórbido devem ser pesqu isados. Os .lbl,r't.lmcnto!l devem cr cb ilic.ldL" como e~­
Pl'll t.'t nco~ ou volu nt.írios, precoces ou t.udios, segu ido
ou n.io de cu rct.Jgcm c comphc.lçoc . O .1bort.1mento ha-
A T ECEDE T ES G INECOLÓG ICOS bitu.ll (ocorrência de três ou mai abortos con ecutivos)
exi~e prnpcdêutic.1 própri.l, de prctcrenci.1 fora do pcrí
É importante avaliar a idade da mcnarc..1 c .1s. car.Ktc- odo gest.Kron.1l 1 e, dura nte a gestação, merece cuidados
rí tic,b Ul1 ciclo menstru,JI. p ara alertar sobre disfu nçõc especiais.
endócrinas c justificar a discrepância entre o tamanho ute- O risco rcproduti,·o l' m,1is .1lto qu.10do o mtcrnk).,cn-
rino c a idade gcstacional (IC). tre os partos é inferior :1 três anos. O .Komp.lllh.lmcntL) d.1
Indagar obre o u o de metodo .mticonccpciülul (tipo, gr.l\'ide; -.cr.í 'cmclh.mtc ao da prim rge,t.l qu.111do o inter-
tempo de uso, data de interrupção) p,1r.1 dar Clmfiabi lltbdc valo~:<ntrc L1Spartos for , upcrior-a IOanos .
.\ ~bt.l d.1 últim,llllCllStJU,IÇ.Il1 (DUM). Também fazem parte da história obstétrica a evolução
A hl-.tória !>exu.1l de,·c ahrangrr t) início d.1 ati,•ilhJc do puerpério ~infecções, de~r~s ão) e~ dificulda-
cx u~l. o nú mero dt: pa rceiros e .1s dl)enças st:xualmcntú des da amamcntaçao ~ssu ras ma ma nas, mastrtes).
tr.1nsmiss•vcis (D T): tipo, tratamento, controle de cura e
:1 investigação e tratamento do parceiro.
l.
Algumas cirurgia~ gmccológicas são indicações ab- GESTAÇAOATUA L
soluta para ce ariana, como a miorncctornia prévi:. c a
correção de fí tu la vesicovaginal ou retovaginal. A ampu- Na abordagem inicial da gcst.1ção atual, é nece!>sário
tação do colo uterino pode comprometer sua competên- abcr ex:~t.lmcntc o primeiro di,l do último fl uxo mcns-
cia, exigindo acompanha mento mais freq uente c cuida- tru,d normal, pois é a partir dessa data que se faz o cálculo

86 Noções Práticas de Obstetrícia


da IG c da data provável do parto. Avaliar as car.lCterís- EXAME FÍS ICO GERAL
tic.l~ desse sangr.1mento (duração, intensidade e seme-
lhança com outros ciclos) ajud,, .1 diferenciar o processo Inclui a au~culta cardi.Ka e respi ratóri.1.cx.1mc d,b mu-
fisiqlógico da impLmt.1ção ovular das complicações do CO!>JS,da cav1dadc oral, pubo, peso, palp.1ç.io da tireoide
pri meiro trimestre. c g.lnglios da c,1deia cervic.1 l, teste de Giordano, estado
Nem sempre a grávida é capa1.. d informar, com segu- nutricional c de hidrat.1çao1 est.1do psíquico. Pesquisar a
rança, a data da última menstruação (DUM). O exame presença de varizes e edema. E te último tem classificaç5.o
ultr.1ssonográfico re,1li;ado, de prdcrcncia, no primeiro própria em Obstetrícia:
trime~trc é,, mel hor époc1 para d.lt.H .1 gra,·idez. (+) quando presente somente nos membros in ferio-
A d.1t.1 prov,ivcl dQ parto lDPP) é baseada n.1 duração res (MM II);
da gestaçáo, de cerca de 280 dias .1pós o primeiro d i.1 da
últinu menstruação normal (regra de N;icgele).
A seguir, avaliar as queixas, correlacioná-las com as al-
teraçõe fisiológicas ocorridas e explicar à gestante essas
l (++)quando presente nos MMJ Je mãos;
(+++) quando presente nos MM I I, mãos e face;
(++++) nos casos de anasa rca.

mudanças. Entender o processo ajuda a minimizar c a acei- A medida d.1 pressão arterial (PA) na primeira consulta
tar os sintomas. é de suma importância, pois é a partir desse dado que se f..n
Questionar sempre sobre alteraçõc~ digestiv,ls, intesti- o diagnóstico das alterações hipcrtcnsivas da gravidez. A
nais, urinári,1s, alimentares, perda de secreção vagi nal, edc;- PA deve ser sempre medida com ,1 gestante scnt,\d.J (evit,l
ma, movimentação fetal c dor abdomi n.1l (acompan hada compressão da \'Cia c.wa inferior)1 com o anteb raço direito
ou não de endurecimento e/ou cólicas). apoiado numa superfície à altura do coração, com a pal ma
ão há evidência suficiente para recomenda r a con- da m5.o voltada para cima, após pelo menos cinco minutos
tagem rot ineira dos movimentos fetais cm determi nados de repouso e com o ma nguito ajustado a dois dedos trans-
períodos do dia, em gestantes de risco habitual ou de alto versos aci ma da borda do cotovelo.
risco, com o objetivo de avaliar o bem-estar fetai. 1·- O Ministério da Saúde, tomando como base a proposta
Discutir os hábitos ali mentares c .waliar o índice de do Nntional f-ligh Blood Pressure Education Program Coordina-
nuss.1 corporal (IMC). Estimular a ingestão de fontes ting Committee, em 2000, preconizou corno medida da pres-
naturais de ~cido fólico: c1stanhas, vcgct.1i~ vcrde-e,çuro, são sistólica o aparecimento do primeiro ruído de KorotkofFe,
carnes, feijão branco, p:lo integral e ovos. I nvcstigar c a ler- como medida da pressão diastólica, quando as bulhas desapa-
tu sobre o\ perigos do uso indi~crim i nado de megavitam iL recerem totalmente (quinto ruído de Korotkolf). Nos casos
nas. princip.1lmcnte contendo vitamina A. em que o desaparecimento completo dos ruídos não ocorrer,
Discut ir os aspectos psicológicos e sociais que se fi- proceder à leitura da pressão diastólica no ponto de marcado
zerem necessários. Enfatizar a importâ ncia da assistência abafamento das bulhas (quarto ruído de Korotkoff}' ·8
pré-natal contínua.
Após a ana mnese e a obtenção de todas as informações
úteis para o diagnóstico da gravidez e do risco gestacional, EXAME DO ABDOt'vl E
segue-se o exame físico.
O exame do abdome inclui a inspeção, a palpação, a
medida ela altura uteri na c a ausculta fetal.
EXAME FÍSICO
L'\'\Ph-,t\ 0
O exame físico da primeira consulta, além de certificar Na inspeção, verificar a forma e a regubridadc uterina c
a normalidade, identifica doenças maternas que possam se o aum~nto ~bdom in.1 l cst,í compatível com a idadl:' gcs-
comprometer o binômio mãe-feto. Deve ser o mais com- tacional. Algumas intercorrências aceleram o cresci mento
pleto possível, incluindo exame físico geral, exame obstétri- uterino e outras o retardam. Na gestação inicial, os dados
co c ginecológico. Em algu mas circunstâncias, é necessária da inspeção são pouco úteis. A partir do terceiro mê , seu
a colaboração de outros especial istas. valor aumenta.

Assistência Pré-natal
1\:a~ di.,cord.1nci.1~ da n1cdtda d.1 altur.1 uterin.1, c ·- tcrccrnt di.lgnostica .1 .1pre~~ntação fct.tl ~ J ~ua altu-
t.tndll o ut.:ro m.tiL1r l)UC o c:.pcradn. l11er d1.tgno,liCO r.t cm relaç.iu ao c'tre1to ~upcnor dJ pcke m.tll'rn.t
dJien:nci.tl com: erro de d,tt.t, mionutosc utcrin.t, ma- (Figu ra 7. 1C);
crn,,nmla. l11droccf.lli.t. dllL'nça trol~lbLí.:.tK.I gc!>t.IL'It.)- qr~<lrltl: trat.be de m.tn bra difícil c pouco cmpre-
n.tl. gL·~t.ll;.illlllUitipl.tL' poltdr.imn1u. Com utL'rl.l lllL'IlUr S·•,b. Pcnnllc confirmar .1 .tprcs cntaç.io fetal c 'ua
que ll csper.tdo, ,1\·.tl ia r: erro de d.tt.t, C I LIR, ol1goi- altura em relação ao estreito superior da pelve e
dr:1111nio c fetl)S pc(jueno~ constitucionalmente. A ul- t.11nbém eu grau de flexão c deflexão ( ó avaliJd.t
tr,t ·onografi.t é determinante no e cbreci mento desses cm apresentações ccf.1licas) (Figura 7.1D).
di agnósticos.
Ainda n.t inspcção, procur.trcicatrizes, cstri.ts (as rece n-
te .io violáceas e as antiga pcrolácea ), hipcrpigment.t~·jo
da linha alba (/i11ea 111gra) c alterações na cicatriz umbilical.

J>\11'\~ ~()
A palpação do abdome é tempo obrigatório no exa-
me da gdv1da, abrangendo a parte clínica c a obstétrica.
onfi rma todos o dados da inspeção, acrescidos do de-
senvolvimento uterino, ua onsistência, forma, volume,
posição, regularidade da upcrfícic e do d iagnóstico da
1tuaç:i.o, po iç5.o e apre entação fetal. A consistênci.t ute-
rina é cl,\stica c será determinada pelo volume do líqui-
do .tmniótico c pela tensão da musculatura abdominal
c uterina. Quando o volume de líquido amniótico está
aumentado, o abdome fic.t tenso, dificultando a palpação
d.t partes fetal .
O útero c p.tlp.l\'el nn ventre m.tkrno .1 p.trtir do ll'rCCI-
w m.: . . . Llllll 16 'L'Jll,lll,l\ e\t.td .\ meia di~t.uKia da \lntisc
pub1c.1 .10 umb1go: tangcnci.uá .1 cicatrit umbilical com
cmco mc'c': no ,..:•timtl mê~. estará entre o umbigo c o
.tp.:ndilc \lfoidc c. no nono. na rcbord.t ctt t.tl.
Até 24 scman.1s de gestação, com o útero um pouco
acima da cicatriz umbilical, a palpação é cmclhantc .\ rc-
.tl izada no abdome clínico. Avalia-se o tama nho uterino,
ua relação com a IG e realiza-se a palpação do fígado c do
baço, verificando se existe ascite ou massas no abdome.
A p.u·ur dL· _..j. \em.tn.t~. utiliL.IIII·se J !> 111.111obras de Leo-
pllld para diagno~tlcara ituação, po ição e apresentação fetais.

•\I.-\ \ '<li! R·\ \/)/ I I <li'OU>


S.io quatro (Figu ra 7.1):
Prr,,,.,,, ,."·'·' detl'rmin.tr J altur.t do rundo uterino
l' \LIJ rd.t~ .lo com .1 1dade gc\tacion.tl, de acordo com

os ponto de referencia do abdome (sínfise plibica,

•. CICatriz umbilical, reborda costal) (Figura 7. 1A);


st:gwuln: possibilita identificar a ~itu.tç.io c .1 po~i\·Jo
B

fct;~l (Figura 7.1B); Figura 7.1 I Manobras de Leopold.

88 Noções Práticas de Obstetrícia


Faltam comprovações de boa qualidade para afi rmar
que a palpação abdom inal seja bom método de d iagnós-
tico para predizer fe tos pequenos (PIG) e grandes para a
idade gestacional (GIG). 3•10

M F N,\LIRA ~ ÀO DA ALTURA U T FlUNA

A medida da altu ra ute rina é m étodo propedê utico


út il, fácil, ba rato, acessível a todos c, q uando executa-
da com rigor c pelo mesmo examin ador, re t rata be m o
desenvolvime nto fetal. É efetu,1d.1 com .1 fita métrica na
gesta nte em decúbito dorsal. útero 11.1 linh.l médi.1, cor-
rigido~ os desvios e com a bexiga vaz i.l. O útero é deli-
mitado pela borda c ubital d a m ão esq uerda, se m com-
pressão do fundo. Mede-se d.1 bord.1 supnior da sínfise
púbica ,lO fundo uterino. A m edid a será a ex ibida entre
c o d ed o indicador e o m édio . A m edicb da altur;.lutcrina
só é possível qu.1ndo o útero ultrapassa o púbis, a partir
da 12Jsemana.
O útero cresce. em média, 4 cm por mé!>. Nessas condi-
ções, com 40 semanas terá altura méd ia de 34cm. Entre 18 e
30 semanas, existe boa associação en tre a idade gestacional e
a altura uterina em centímetros. Nas primigestas, aproxima-
damente duas semanas antes do parto, dev ido à insinuação
do polo fetal, pode haver d im inuição da alt ura uterina.
Várias são as formas de se correlacion ar a med ida da
altu ra uterina com a idade gest acional. Para o cálculo da
IG em meses solares, d ivide-se a medida da altura uteri-
n a (AU) por quatro e soma-se um (primei ro m ês den tro
d a pelve):
JG (meses solares) = (AU .;- 4) + I.

o
A regra de Mc Donald (1906) perm ite o cálculo aproxi-
Figura 7.1 I Manobras de Leopold. mado da IG cm meses lunares, por meio da equação:
IG (meses lu nares) = AU .;- 3,5.

É gucstionável o valor d a palpação abdomin.ll antes A Fig ura 7.2 apresenta o gráfico da med ida da altu ra
da 36J scman.1 de ge~tação para diagnosticar a apresenta- uterina e sua correlação com a idade gestacional.
ção fe ta l. Isto porque a palpação tem baixa acurácia, pode Fetos pequenos (PIG) e grandes pa ra a idade gesta-
causar desconforto c nao interfere na conduta do parto. cional (G IG) e/ ou com crescimento intrauteri no res trito
Existe fraca evidência ind icando que a ava liação rotineira (CIUR) apresenta m mais morbidade e morta lidade. Per-
da apresentação fetal por meio das manobras de Leopold manece um desafio saber qua l é o método de rastrcamento
parece ser útil somente a pa rtir da 36" semana de gesta- mais efe tivo para identificá-los e acompanhá-los.
ção, quando a apresentação é capaz de influenciar a pro- O protocolo de ,1ssistencia pré-natal do Rei no Unido
gram ação do pa rto. 3•9 (N ICE) afirma que 1üo há evidência consistente gue de-
A suspeita de apresentação anômala deve ser confirma- monstre qualquer benefício da medida do útero-fita antes
da pela ultrassonografia. 3 ae
da 24JSem,ln<l gcst,lÇãO. 1

Assist ência Pré-natal


8g
35 35
Ê EX A M I:. Gl ECOLÓG ICO
.':!. 33 33
<
z
ii:
w
31 , 31
É recomendável na primeira consulta realiza r o exame
1- 29 29
::::>
< 27 27 ginecológico completo c o exame das mamas, indepen-
a:
::::>
25 25 dentemente da IG.
t::i
<(
23 23
21 21 /-'\I \Ir 0.1\ ,\1\ \I A\
19 19
O exame das mamJ · é semelhante ao da não gdv1da, 111-
17 17
clu111do a inspcção est.ít1ca, dinàmica, a p.1lpação d.ts mamd ,
15 15
13 do~ l 111tonodo~ supra e.míracla\'lculares, .1xilares e a \'enficaç.io
13
11 11 de descarga mamilar. É uma oportun idade ímpa r, do ponto de
9 9 vi ta da saúde pública, para examinar e orientar a mulhere
7 7 a re peito da necessidade do exame roti neiro das mamas. la
in pcção, procuram-se os sinais de gravidez e avaliam- e os ma-
13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
SEMANAS DE GESTAÇÃO mi los, o tipo, o tamanho, a nece idade de cuidado e exercício~
Figura 7.21 Correlação entre altura uterina c idade ge tacional. durante a gravidez. A descarga m,tmilar h~1ológica pude ser de-
tectada entre 12 e 14 semana~ ou estar pre ente devido_ .1 ge ·ta-
ções .1 nteriorcs, ao estímulo sex ua Iou ao uso de med ic .t mentQ\.
Revisão sistemática da Cochra ne envolve ndo 1.639 O exame rotinei ro das ma mas e os exercícios nos ma-
mul heres concluiu que a medida rotineira do útero-fita não milo durante o pré-natal não se associam à promoção da
interfere no resultado peri natais, na morta lidade perina- amamentação no pós-parto.3·12
tal, no di.1gnóstico de PlG c GIG, no Apga r no primeiro c Apesar dessas evidências, preconizam-se o exame das
quinto minutos, na admissão do R na unidade intensiva, ma mas, o preparo dos mamilos com massagem, hidratação,
na indicação de cc ariana, na indução do parto c no tem- banho de ol, exercícios de atrito e de tração para torná-los
po de hospital ização. Entretanto, os ,1lJtores .1dvertem que mais salientes e resistentes e procede-se à abordagem da im-
p.ucce imprudente .1b.1ndonar c~s.1 pratica com os d,1dos portância da ama mentação.
d 1 sponivci~ ,Jtu.1lmcntc.11
} \ \ \ 11 1'1 1\' ICO

4 l '\Ll'/ I l FI /AI O exame pélvico ginecológico em nada difere do ex,Jme


A ausculta dos b.1timento~ cardí.1cos feta is (13CF) mos- d.t n"Jo gr.ívida. Visa a identificar lesões, cicatrizes, tumora-
tr.l \C o !..·to c~ ta \ ' I H'. n:io pl·rm itindl) inferir \obre sua higi- ções e anormalidades genitais que possam impedir o p.1rto
dc·, durante o pré-natal, exceto qua ndo são monitorizados por via vagi na!. Após ,1 exposição corret.1 do int roíto vaguul,
pela cardiotocografia. A ausculta fetal deve sempre ser rea- vcrifica-~c .1 integritl.!dc perincal c perianal. Seguc-~e o ex.!-
lizada e a!> gesta nte alegam er e se o melhor momento da nn.' cspccul.!r, com v i ~ualiz.1çào d.1 c.widadc vawnal, do w lo
.!tenção pré-natal. uterino e do resíduo ''agin.1l, l' .1 colet.1 de nuterial p.1r.1 estu-
Já du r.1 nte o tr,\balho de p.1rto, a monitoriLJção com do colpoCitologico. Após o uso do ácido acético, realizam-se
tJn te dm B , Fs Jssegur.l ,\ vit.llid,!de fct,\1 . o teste de chi !ler, a colpo copia e a biópsia dirigida quando
O C\k'tlhCÓpio de PinJrd permite .1 auscult,1 dos BCF indicada.
a p.ut1r de 22 sem.11us. O ~ona r-dopplcr , nteccdc l'~ e
achado p.1r.1 lO a 12 semanas e o ultrassom tra nsva:~ina l, [(lQL I t ~ L I \o .~ I
para \Ci\ 'emana . O toque bi manual, nas fases iniciais da gestação, per-
Os batimentos cardíacos do feto são assi ncrônicos com mite a análise do volume uterino e das alterações anexiais.
o pulso materno c apresentam frequência de 11 0 a 160 ba- No fi nal da gestação, tem valor na confirmação e na análise
ti mento por minuto (bpm), com media de 140 bpm. A da altu ra da apre entação fetal, na avaliação da pelve e das
observ.1çào de .!rritmi,!s pode estar associ,1d.1 a anomalias mudanças precoces do colo uteino (consistência, apaga-
cardi,!C.l' têtai . mento, posição c di latação).n

go Noções Práticas de Obstetricia


Exi tem evidencia de que o toque vagi nal durante a o Q\Jadro 7.1 apresenta- c o ga nho ponderai recomcndJ-
gestação não é capaz de avaliar com precisão a idade ges- do na gravidez, na dependência do IMC inicial.
t.lcional, fazer predição de parto pré-termo c de despropor-
ção céf.1lo-pélvica. 3 O protocolo N IC E não recomenda o Q}.1adro 7.1 I Ganho Ponderai
toque vaginal rotineiro.' IMC Classlflcacac Ganho de Peso
i'\o HC-LJF\1 , e rotin.1.1 rc.1lit.H,::io do toque vaginal Pre · CJest ilCIOilil l Recomemlüclo
l'I11 lt1d,h .l\ ..:on~ult.1 . (kg lll ) lkgl

< 19,8 Baixo Peso 12,5-18,0 I


CONSULTAS SUBSEQUENTES
19,8 - 26
-- -
Peso Normal 11 ,5-16.0 I
> 26 - 29 Sobrepeso 7,0 - 11.5 !

N,1 consu lta~ subseL1LII.'ntcs, o pri meiro p.l~O e ler o > 29 Obesidade 7
J
prontu.1rio para recordar tt1d1.1s o<. .lnh:cc~.knte,, .1 con-
ulta .mtcriores, a queixa , o exame fí ico, o exames
bboratoriai c ' cri ficar .lncc<.'\.\ Jthde dc com ~'km cnt.u .1 O g.1nht1pnndcnl dentro d.\norm.ll1d.1J e..rcduz.o risco
propú.k ut Jca, d<.' .Kordo com a IG, para, a p.1rti r daí, ini- de ~.·vdw;C1e\ .\lhn sas. O baixo g.m ho de peso e~t.l ,1\\0ci.ldo
ci:H nova abordagem. ua fi nalidade é analisar as condi- a R N pclJUcno p.H.! .l id.1de gest.Kion.d ( PIC:) L' com ( ' IU R e
ções maternas, o desenvolvimento e bem-estar feta l. o g.1n ho de pesQ excessivo está .1 soc1.1do .1R 1 <..: IC (grande
A ,\n,tm ncsc restringe-se .'l s quci x.l~, .10~ smtom.1s dos par.1 IG) c ,JLJllh.'nlo da inodl:nci.l de Cé\MJ,\11,1.
d ivcr~os .1p.1 rclho~. Sempre que tionar obn: o cumpri- O .w mento dc pe o ,.J.ri.l de acordo com (1~ trimc trc
mento d.1s dircl nLc~ pr~cnta . da ge\t.lÇ.lL':' .1) no primeiro trimc,tre, o g.111lw de pc o é
O cx.1me Ff ico ~er.1 completo, abrangendo a parte istê- de I .12.) k~ (0.2 kg l~elllJ!l.l); r) llt1 ~egundo c tl'lü.'iro tri-
" ' o
mica, ob tétrica c gi necológica, excet0 o cX.lllll' c\pccular mestre~. O.~ .10,+ kg, ~em à na.
que 'er.1 repetido Sl'mentc JUS intercoJTt;ncJ.lS ginecológi- O protocolo N IC E sugere a avaliação de rotina do ga-
ca . lnJic.l ~c. .1 rc.lli Laç.io mcn~JI do tot1LIL' v.1glll.ll. nho de peso somente para gestante · com distúrbio nutri-
O cguinte parâmetros analisam a condições ma- cional ou quando c se dado modificar o trat.1mcnto clíni-
ternas c feta is: sintoma (cefaleia, alteração de vi ão, dor co. Alega que essa conduta evita an iedadc de neccs ári.1,
abdominal), hábito intestinal c uri nário, ·ecreç:io vagi nal, sem prejuízo adicionaJ.l·•- Exi te correlação entre ga nho
PA, ga nho ponderai, edema, modificações no colo uteri- de peso materno e pc o do R ao na cimento, ma o ga-
no, movimentação feta l, AU e identificação da sit u:~ção, nho de peso materno não c mostrou eficaz para o rastrc-
po ·ição e apre ·cn t:~ção fetal. amento de PIG.'r
O protocolo do HC-U FMG preconiza avaliação do ga nho
de peso a cada consulta c orientação dietética, se necessário.
GANH O PONDERAL

O gan ho total de peso rn:~tcrno baseia-se no índice de EXAMES COMPLEMENTARES


massa corporal (IM C) pré-concepcional. O I M é o rc-
ultado da relação entre o peso corporal, em qui logramas, Anamne e e exame físico criterio os revc tem-se da
dividido pelo quadrado da altura, em metros. Isto é: maior relevância para garantir a orreta indicação dos exa-
I IC= Pe o (kg) / Altura 1 (m 1). mes complementare c, con equcntemente, o sucesso te ra-
pêutico. A rotina de exames v:~ ria entre os diversos serviços
0 1 fCdevesl·rokul.1don.l PconsultJdepré-n.!t.ll t. e entre as gestações (baixo ri co c alto risco).
A orientação do AIIICrtCC/11 College of Obstelricia11s nnd Serão apresentados, a cguir, os exames mai comu-
Gymcologists e Amencnn Acarlenry of Pediatrics é segui r o cs- mente solicitado · na atenção pré-natal de baixo ri co. Ma i
t.!bdccido pelo l nstilu/e oj Medicine.14· " O Ma nual de Pré- detalhes obre cada um dele encont ram-se nos capítulos
-natal do Ministério da ' aúdc acompanha cs a uge tão' . corre pondcnte .

Assistência Pré- natal 91


H E MOGRAMA çiio c novamente na 28• emana, independentemente do
Íator Rh.' Refere a inexistência de e tudo rando milJdo
O hemograma pms1bilita d i.1sno~tic.u ~L' ,\ St''t,mt~ ~,t,í controlado, demonstrando a va ntagen de di ícrcntcs re-
,\n~llliL,1 ~o t1po d.1 .uwmi,l.
f ,1,-.unt0 contn,,w,o <' v.1lor pctiçõc~ <.L pc quisa de anticorpos irregulares.
minin10 da hemoglobi na l]lll' car.Kteriza anl·mi,l nos trê~ Coomb · mdircto positivo tr,!dU'llsoimunizaçào c mcre-
trimeçtre da g~<;taç.io. Con ~id~r.u11- e anemia gc tacional lt' onen t J~.,.lo, e:..plicJ'r.ioc .1L0111pJnh.lmento t'\j.'CL1.1I11 .td<.,,
\'al0rc\ de hemogl0bin.1abaixo tk· 11.0 g"o. No Re111o Unido, de crito no capítulo 26 Doença llcmolítica Pcrinatal. '
o v.1lor aceito como normal é hemoglobina ~ li ,Og/d Laté 12
sem a nas c ~ I0,5 g/d L na 28Jsemana. 1.1m aiori.1d.1' w 1es, :1
anem iJ ~cd Íerroprin. m1crocíti a e hipocromic.t A doQgem URINA ROTINA E UROCULTURA
de britin.1 'éric.1 (~ 'l,O ftg L) é o te te mai cn ívcl (90"o)
p;~ra ra trcamento do c toque de ferro. Como o~ nfvei de O exa me de urinJ é Íundamcnt.ll p.ua o diagnó\ttco de
hemoglobina variam com o evoluir da gc tação, repete-se o infecção urinária, de docnç.1 rena i~ e de proteinú na qu.lli-
hcmograma no inÍCio do terceiro trime tre - 2 ' • em.1na.' tativa c tambem ugere a ocorrência de doenças sistêmi a .
c~,t.lllll'\ .lnl'll1 1C.l\, (0111 he moglobin,l .lb,\1\l) de l i A uroLultura é útil para di,1gnm tica r infecção un n.ll'IJ
go.,, 11.1 primeira COINIIta o u de I0.5 g/dl. 11,1 _l'\·1 ~l'lll J I1J c bc1ctcn unJ J~mtom.1t 11. .1, ltk ntdi<...ll o Jgentc ctloltlgiLll c
dl'l'l'lll ' L'r tr.lt.1d.l, .1p''' ,l\',1li.1ç.io d.1 L'tio log1.1 d.1 .1nemia.3 bnt·nt.u o tr.H.1mento pelo .111t1biogra ma.
O tr.ll.llncnto da Jt1L'I111.1 f~·rropri ,·a rCLjlk'r do'l'' IL'r,1p0uti- O tr.H.111lt'lltO com .1 nt 1b1otico c l'ficiL no trat.um•nto
C.I' dt' f;,_·rw dcmt'nt''· t' ntre 60 c 2-+0 mg d i,L d ,J b.Ktcriun.1 .1ssmtom.ítll..1 (R R 0,25; I 9S% 0,14 0,-+8),
O i\llllt;,tt:rio d.1 ~.lUde_ do 13r.1l>d awmdha J do agem nJ rcduçJ<.l da lllcidénCia de ptclonct.ntc dur.mte J );r·l' 1d~1
rotineira d0 hem.1tOll'lll' e d.1 hcmoglobm.l n.1 pnmc1ra (RR 0,23; IC 9'"o 0,13-0,41 ) c Lic rcwn - 11.1~cido (R ) de
COI1'ldt.1 di.' pré - n,lt.ll.~ b.m peso (RR 0,66; IC 9 "-o 0,49-0,89). ão há indício de
reduçiio de parto pré-termo. 1 ~
Toda ,1, ge tank s Je,em rc.1li1.1r urücultur.1 tu pn-
TIPAG EM SANGUÍNEA mc1r.1 t:l'll 'ult.1 Lk prc-n.1t.1l p.1r,1 ra trcar bactcriú ria :IS 1n
tom :ítica. 1 ~ Exi tem controvér'> t:l \ ,1 re peito dos bencfíc1os
A t1p.1gcm do grupu .lllgu111c0 c obrigJ tona n.1 pri- da rea lização rotineira do exame de urina em gestante~ \Cm
meira con~ult.1, caso niio se ten ha o rc ultado comprovado h i tóri.1 de hiperten ão e/ou doença rcna l. 1 1.1
labor.ltori.1lmentc. 1 Gestante com antccedcntt' ' de v:~ rios q )ISódios de in
A elas ificação A BO é útil no diagnó tico das anemias fco,.,\0 unn.1r1.1 c porfador.1s dl' di .1betes IIICIII IIIS dt'\'t'l11 'cr
11conatais c facilita a~ eventuais hemotr;~ n síusões, .!pesar rJst rc.1tLh n m1 uroLult urJ lllt'II\JI.
de não d i pensar a provJ cruzada. Em ge!>tJntc' Rh 11l"i- A mdicação do Mini teno dJ :aúdc do Brastl é de que
ll\ o, L' t''>tudP e~t.l enccrrJdo. e:..ccto em p.1c1ente' J.1 t r.ms- c reai1 LC ex.unc de urina t1po I n.1 primeira comulta c cm
lund1d,1, l'll Cl'lll anteLt'tk ntc' ob-.tt•t nco~ ~ugcnndo t~oi ­ torno de 30 ·emanas. A uroc ultur.l é requerida somente 11.1
tnuni;,H;.il' por ontr0s f.1torcs.18 vigê nci.l de bactérias, piócito~ o u leucócito no exame de
N.1 gr.íYILLl Rh neg.1two, verificar o Í.ltor Du: 'e po 'itivo, urin,1 ou om sin tomatologia.~
c rJ ..:otNder.1lb Rh pü,<,lll\ o, encerrando c .1propcdl:ull(J. É prática u ual no HC-U FMC a solicitação do exame de
At' t:tHltr.mo. 'cndtJ Rh ncg.lti\'O e Duncg.ll t\ 0, t1p.1 r ll Rh urin a c urocultura na primei ra con, ulta de pré-natal c repeti-
do p.u. Se 0 Rh do p.u ~~~r neg.1t1,·o, nJo lu ri,co de l\l)imu- ção da urocultura frente a quctxa~ urinária .
111/.IÇ.io. St•ndl' Rh po,ith'll, ou ll.l imp '1bdtd.1dc de .w.l-
il.ll,.w. pro,,cguir .1 imc,tlg.l<;.ifl. Pesquk H .1 L'\1\tmu.l de
.ll ltll'l'rpo~ .111t i-Rh no s.lngut' materno, mcdl.uHc n teste de GLICEMIA
Coomb~ i ndm~to. Coom bs indíreto neg.llt\'l-' requer .1 \UJ
rcpet 1~.io mem.1l .ltc <.' p.1rto. Até então, o ,·a lor do rastrca mento do diabete~ lllclll fiiS
protocolo N ICE (2008) recomenda pc qui ar anti- gest.ICIOil.ll (DMG) era controvcr'o devido à falta de c tu-
co rpo~ irrcgubres no SJnguc m.1terno no início da ge ta- do r,mdomizado controlado dcmon trando a melhora do

92 Noções Práticas de Obstetrícia


rc ult.tdo pcrinatal om o ra treamento. Entretanto, recen- comult.t de pré-natal, independentemente de l:llllfl's de ri~co.
te cn aio clínico bem conduzido randomizado controlado A gliccmia de jejum é o primeiro teste p.ua avaliação do esta-
(Au tralrcm Carvohydmte llltolermrce Study i11 Prcg11wrt Wo- do glicêmico da gestante e para o rastrcamcnto de DMG. O
IIICII AC HO IS) omprovou a eficácia do tratamento do protocolo atualmente utilizado é apre cntado na Figura .'.
di.tbctcs gc tacional na redução de cornplicaçõe gr;wc Recentemente, a ft~lemalioual As ocratro11 of Dmhetes mrd
como distócia de ombro c mortalidade perinatal (I%versus Pregwmcy tudy Groups publicou novas recomenda õe para
4%; RR0,33; IC 95%0,14-0,75 p=0,0 1). 20 o rJ~trca mento de diabetes na gestação.21 Essa rc omcndação
Não cst.í c tabele ido, até o momento, qual é o melhor é apre entada na Figura 7.6 e o Quadro 7. mo tra o valore
método pJra o ra!>trc.1 mento de diabete ge tacional, devi- para diagnó tico de diabete gestacional com a utilização do
do à heterogenicidadc entre o e tudo . -s
te te de tolcr.1nLI.t .1 glretl~e apo~ g de dl'\ tr0-.0l. -.l·ndo que
O rastreamento de DMG para ge tantes com glicemia .1 nu1rr~nci.1 de um v.tk)r .tltcr.tdo firnu ç,-.c Jr.1gn(1stico.
de jeJum normal varia no diver o crviços, utili7ando- e
apcna a repctr ão dJ glr cm ia de jeJUm ou testes de obre-
carga. ' ada método de r:t treamcnto tem suas vantagen Glicemia de jejum na 1• consulta
e de~vantagen . t imprescindível que o pré-natalista esteja I
atento para o tipo de r-.t trca mento ao qual suas gcst.mtes
terão acc o e aib,t interpretá-lo adequadamente. < 126 mg/dl = Normal :i! 126mg/dl
o~ f.ttorcs de rl~lll llll11 Íorte associação p.tr,\ o de~crwol­ lduas ocasiõesl
vimcnto do drJbctc.-. gl•,tadorul s:io: .lnlL'cedcnte de di.1lx'te
Glicemia 1 hora
gcst.t~:illll.tl (OR 23,6; IC 95% 11,6 48,0); hrstória de nucro~-
após 50g dextrosol
omia l~t.1l (OR ,59; IC 95% 2,68 11 ,7); hi-.ton,t t:tmilrJr de
di.tbctc 111d/rtus(OR2,74; IC9'Clo 1,47 S, ll); pc.,o~9llkg (OR
3,33; IC 9Selu 1,'6- 7,13); I~ I C ~ 10 kg m (OR 2,65; IC 9'%
GP0150gl < 140mg/dl :.t 140mg/dl
1 ,36 - - , 1-t) c iJadc ~ 2~.lllos (OR3, 7; 1C9-Clo l,r 7,8 ).21
A Figura -. e - .4 apre entam a propostas dera tre-
amento de diabete na ge tação de acordo com a~ reco- Teste de Tolerância à
Glicose - 3 horas
mendaçõe da A o iação Ameri ana de Diabcte22 c do 1OOg dextrosol
Mini tério da aúde do Br.tsil.' O Quadro 7.2 apresenta os
valorc de referência para intcrprctJção do teste de tolcrân-
2 ou mais valores alterados = OMG
cra ,\glicose de 3 horas com I 00 g de dcxtrosol.
(l llo,pital d.1S Cl ín ic.\~ d.l un. . IC.. utrlil.l-SC o rast re.l- Figura 7.3 I Rastreamcnto diabete~ mdlrtus gestacronal
mcntlllllliversaldo DMC. p.1ra tod.1s .\., gL·stJntcs n.1 primeira ADA (Anrcrrcmr Dravett•s Assocwl1011).

Glicemia de jejum na 1"consulta

< 85 mg/dl=Normal :.t85 mg/dl = Rastreamento positivo :i! 126 mg/dl


(2medidasl

Glicemia de jejum após a 2oa sem


Glicemia 2 hapós 75 g dextrosol OMG

<85mg/dl= :.t 85mg/dl =


Rastreamento negatiw Aastreamento positivo

< 140 mg/dl =Normal :.t 140 mg/dl = OMG


Figura 7.41 Rastrcamento diabetes mellitus gc tacional M .

Assistência Pré-natal 93
Quadro 7.2j V.1lore de referênci,J para a 'TOG, com Quadro 7.3 I Valore de referência para o d1agnó 11 o
IOOg Jc dextro ol, na gr.Wldez de Di.,bctc Gestacionalutilizando o teste de tolerânci:1
à glicose com T g de dextro ol
Cult:ld iGI ICellliil) Vc~1or es ltlHJ cili
Jejum 95 J
Jejum ~92
1 hora 180
J 1 hora ::!: 180
2 horas 155 I
2 horas ~ 153
3 horas 140 'I

Glicemia de jejtln na 1• consulta


~

!ll-109 mg,ldl 2:110 mg,ldl


(2 medidas)

Glicemia 2 hapós 75 g dextrosol. 24-28 sem

Figura 7.5 I R.1 trc.1mcnto de di.tbctc' lllt'III I II S gc-.t::~cion.t l H C. U ~ M C

t•consulta
Glicemia de jejum'
ou
Glicohemoglobina
ou
Glicemia casual2

Glicemia de jejum
2: 126rng/cl.
Glicemia de jejum IGlicemia de jejum< 92mg/dl
2: 92mg/dl e < 126mg/dl
Glicohemoglobina 2: 6.5%
Glicemia 2: 200mg/dl +
Confirmaçãol

Diabete pré-gestacional Diabete gestacional Teste de tolertncia 111 glicose


após 75g dextrosol
Ghcem1a de jeJum 1mphca 8 holas sem 1ngestào (24-28 semanas)
Ghcem1a casual s1gn1fica ghcemta a qualquer hora do d1a. mdcpendentemente do tempo de JCJUm
A confi1mação deve ser por me1o de glicem1a de JeJumou ghcohemoglob1na

Figura 7.61 Rastreamento Je d iabete~ mclbtus gc~tacional llllrmalwtwl Ammatio11 ~f Dwbeit·s mui Preg111mcy 'tmly Croups.

94 Noções Práticas de Obstetrícia


SOR.OLOGIA PARA SÍPILIS SOR.OLOGIA PARA TOXOPLASMOSE

A sífilis é doença de trJn sm issão vertical, passível de A toxoplasmose é uma doença parasitária causada pelo
tratamento int r,nüero e de prevenção da síndrome da sífilis Toxoplasma gondii, geralmente assi ntomática ou oligossin-
congênit,l. tomática na popu lação sadia. A primoinfecção durante a
O VDRL (teste não treponêmico) é o teste de e~collu gestação pode levar à in fecção congén ita, reta rdo menta l
para o rast rcamcnto. É teste qu,lntitativo, inespecífico c e cegueira do RN.
pode ser utilizado para controle de cura. Está sujeito a re- Os testes mais utilizados são o Elisa, a imunofluorescên-
sultado falso-positi vo, como nas colagenoses, na ha nsenía- ci,l índ irct.l, ,\fixação de complemento c J inibiçãt1 da herna-
se, na mononucleose infecciosa, na m alária e tubercu lose. glutin.tç,\o. Par,\ a conf1rm,tção da tâsc aguda, recorre-se à
Os resultados falso-negativos ocorrem nas seguintes cir- pesquisa de lgA ou lgE c ao teste de avidez para a IgG.
cunstâncias: infecção pri mária inicial, em 30% dos indiví- Há cont rovérsias a respeito do melhor método de ras-
duos com sífilis latente tardia, fase secundária em gestantes trea mento e da frequência de repetição dos exames, e m ges-
Hl V positivo, fenômeno prozona (excesso de anticorpos tantes susceptíveis.25
no soro testado) e nos casos de reinfecção. As evidências atuJis são insu ficie ntes p.ua .1tirmar guc
Na sífilis, o VDRL posi tiva-se após a quarta semana d a o rastreamento da toxoplasmose e/ou o trJtJmento de ges-
infecção. Títulos baixos, sem história de tratamento exi- tantes com viragem sorológica durante a gestação reduzem
gem investigação por testes específicos (treponê micos): a tra nsmissão congênita do Toxoplasrna gondii, a infecção
FTA-ABs (teste de absorção de anticorpo treponêmico fetal c as compl icações associadas à in fecção. 25
Auorescente), MH A-TP (m icro-hemaglutinação do tre- O protocolo N ICE não apoia o rastreamento rotineiro
ponema) e TPI (teste de imobil ização do treponema). da toxoplasmose porque os riscos podem supera r os possí-
Esses testes são qu alitativos, úteis pa ra d iferencia r reações veis benefícios3 Defende medidas higiénico-dietéticas para
cruzadas e apresentam mais sensibilidade e especificidade a prevenção da in fecção primária como uma boa alternati va
gue os testes não treponê micos. No nosso meio, o mais do rastreamento antenatal.
ut ilizado é o FTA-ABs. Nenhum desses testes so rológi- No Hospital das C línicas-UFMG, apesar da falta de
cos irá detec tar in fecção sifi lítica no período de incubação comprovação d a melhora do prognóstico fetal com o ras-
(média de 25 dias).3 treamento universal, o rastreamento é rc.lli7ado cm tod,1s
VDRL positivo: solicitM VDR L do parceiro e o teste as gesta ntes e também a sorologia mensal associada a med i-
confirmatório (FT A-Abs OLl MHA-T P): das higiên ico-dietéticas preventivas em gestantes susceptí-
Teste confirmatório "não reagent~". descartar a h i, veis (IgG e lgM negativo).
pótese de sífi lis e considerar a possibil idade de rc- O M inistério da Saúde do Brasil estabelece a pesquisa
ação cruzadai de toxoplasmose na primei ra consulta, desde que d ispon ível
teste confirmatório "reagente'', diagnóstico de sífi Iis, no serviço de assistência pré-nata l, devendo para as gestantes
devendo sn instituídos o tratamento e o acompa- susceptíveis a sorologia ser repetida trimestralmente.5
n hamentoi
im ossibilidade de realizar teste confirmatório e/ou
sem h istóri,l de tratamento a ntcrior, considerar o resul- SOROLO GIA PARA RUBÉ OLA
tado positivo cm qualquer titu laçào e iniciar tratamen-
to imediatamente na mulher e seu parceiro sexuai.S A síndrome da rubéola congénita (SRC) é rara, prova-
velmente devido à vaci nação dos indi víduos susceptíveis.
O rastreamento da sífilis é recomendado para toda ges- Tod a gestante deve ser investigad a quanto à suscepti-
tante na primeira consulta de pré-natal porque o tratamen- bilidade para rubéola na primeira consu lta de pré-natal, se
to é benéfico para a mãe e feto.14 ainda não o foi antes da gestação.3 Mul heres susceptíveis
O Ministério da Saúde aconselha repeti r o VDRL en- devem ser orientadas qu anto ao contágio, aos perigos da
tre 28 e , O semanas de gestação, no momento do parto e in fecção na gestação e à necessidade d e vacinação no pós-
nos casos de abortamento.s -parto para proteção de futu ras gravidezes.'

Assistência Pré-natal
95
Conhecendo- e previamente o perfil imunitário da mens H I V positivo, gestante tra nsfundidas com angue
gestante, o diagnó tico de infecção aguda é feito com mais ou hcmoderivados.2
egurança e rapidez em caso de contágio durante a gesta-
ção. Além disso, propicia o isolamento do RN no berçário
nos caso de infecção aguda durante a gravidez e, nas mu- SOROLOGIA PARA HIV 1 E 2
lhere su ceptívci , indica a vacinação no pós-parto.
O Ministério da Saúde do Brasil (2006) não indica o A transmissão vertical do H l V já e tá bem-e tabeleci-
rastreamento de roti na para rubéola na gravidez. da, ocorrendo durante gravidez, parto e aleitamento. Esse
tipo de transmissão é responsável por 90% das infecções
pelo H I V em crianças na faixa etária de um a quatro ano
SoROLOGIA PARA H E PATIT E B e es a infecção representa a quarta causa de morte dessas
crianças. 26 A adoção de medida du rante a gc tação, parto
A hepatite B é uma doença vi rótica com transmissão e pucrpério reduz o risco de transmissão vertical, de 25,'
vertical e respon ável por 21% das infecções cm crianças para 1,0%_27
abaixo de IS a nos. O Ministério de Saúde do Brasil recomenda a realiza-
O HBsAg, antígeno de superfície do vírus da hepatite ção de teste anti-HIV com aconselhamento e consenti-
B (VHB), é o primeiro marcador que aparece no curso da mento para todas as gestan tes na primei ra consulta de pré-
infecção aguda pelo VH B e desaparece com a cura. A per- -natal c outro próximo da 30• emana, emprc que possível,
si tência por mais de seis meses é indício de hepatite crôn i- considerando que medidas intervencionistas reduzem a
ca. Portanto, H 13sAg positivo significa infecção pelo VH 13, transmissão vcrticaJ.S Exame po itivo exige teste confi r-
aguda ou crónica. matório por meio de te tcs 10096 c pecífico , Western blot
O rastreamcnto sorológico da hepatite Bcom o H BsAg ou imunofluorescência.
deve ser realizado em toda a ge tantes para que a inter- A repetição do teste anti-H IV deve ser con iderada du-
venções pós-natais no recém-nascido (administração da rante o período gestacional e pré-parto5.
imu noglobulina e vacinação nas primeiras horas de vida)
reduza m o ri co de tran missão vcrticaF.J O mais seguro
é ter conhecimento do status sorológico da ge tante no ter- SOROLOGIA PARA C ITOMEGALOVÍRUS
ceiro trime tre. (CMV)
Após a realização do teste confirmatório da po itivi-
dade do H BsAg, solicitar o H BeAg, indicador de doença A incidência da infecção por CMV é alt,t, com 32% de
ativa (replicação virai), alta in fcctividade e alto risco de transmissão vertical após a infecção primária c de O, IS a 196
transmissão (aproximadamente 9' 96). 3 na infecção recorrente. Diferentemente da rubéola e de ou-
Gestantes susceptíveis com risco aumentado de infec- tra viroses, a exposição no passado ao CMV não confere
ção para hepatite B podem ser vacinadas durante a gravidez imunidade total às gestantes? 8
ou rastreadas novamente antes e no momento do parto.u A via de tra nsmi são us ual da infecção do C MV à
gestante é através do contato com saliva c urina conta-
minadas, principalmente de cria nças infectadas. Por-
SOROLOGlA PARA HEPATITE C tanto, deve-se orientar todas as gestantes a respeito da
medidas de profilaxia como lavar bem as mãos após
As evidência ão insuficiente para sugerir o rastrea- contato com crianças pequenas e manipulação de fral-
mento universal da hepatite C cm toda as gestantes a par- das sujas.
tir da pesqui a de anti-HCV durante o pré-natal.3 Diversos países, inclusive o Brasil, não incluem oras-
O rastreamento da hepatite C deve er oferecido às trcamento de rotina do CM V na assistência pré-natal de-
gestantes de risco: presid iárias, u uárias de drogas inje- vido à fa lta de com provação dos benefícios dessa pesqui-
táveis, tatuadas, portadoras de piercing ou com múltiplos sa, às dificuldades cm determinar qual gravidez resultará
parceiros, gc tantc HIV po itivo ou parceiras de ho- cm R infectado, à gravidade das sequelas e à ausência

g6 Noções Práticas de Obstetrícia


de vacinas e de terapia p rofi lática para a prevenção da SoROLOGIA PARA HTLV 1E 2
transmissão vertical. '
No entanto, alguns autores alegam gue conhecer o O HTLV I e o 2 são retrovírus humanos c apresentam
perfil imunológico da paciente esclarece sobre o risco de tropismo para o lin fócito T. A infecção pelo HT LV é uma
C MV congén ita, impondo-se, a partir daí, o acompanha- endemia global, afetando 10 a 20 milhões de pessoas. A ltas
mento rigoroso nos primeiros anos de vida do RN, objeti- taxas de soroprevalência são encontradas cm algumas regi-
vando tratar precocemente as perdas auditivas e reduzi r as ões geográficas: Japão, Caribe, América do Sul, Mediterrâ-
seguelas neu rológicas. 19 neo e Malásia. O Brasil é u m dos países com o ma i alto nú-
O estudo do perfil sorológico (IgG e lgM) e o teste de mero absoluto de infectados. Taxas de infecção de 1% foram
avidez para o lgG d iagnosticam e diferenciam a infecção encontradas em gestantes de Belo Horizonte c Salvador.
primária da recorrente. A transm issão pode ocorrer via sexual (pri ncipalmente
do homem para mulher), via parenteral (transfusão de he-
moconcentrados e/ ou agu lhas e seringas contaminadas) e
PESQUISA DE ESTREPTOCOCOS DO GRUPO B da mãe para o filho (transm issão vertical, principalmente
devido à amamentação). Ex iste clara associação do HTLV-1
A in fecção pelo estreptococo do grupo B é importante com doenças de prognóstico grave como leucemia, Iinfamas
causa dcscpse neonatal e meningite do RN. A infecção ne- de células T do adulto, mielopatia e uveíte, para as guais não
onatal ocorre em 1,7/ l.OOO nascimentos, causando óbito existe tratamento adequado. No Japão, a não amamentação
em 6% dos RNs e danos neurológicos irreversíveis, incluin- foi responsável pela redução de 80% da transmissão vertical. ll
do reta rdo mental, perda auditiva e de visão. A maioria dos Tratando-se de in fecção com possíveis medidas profi-
neonatos acometidos são RNs de mães colonizadas ou láticas em saúde pública, controle dos bancos de leite por
com fatores de risco. meio da triagem das ca ndidatas à doação e à contra indica-
O Centers for Diseases Contra/ and Prevention (CDC) ção para amamentação, o rast reamento deveria fazer parte
prccon iza rastrear o estreptococo do grupo B por m eio da da rotina obstétrica. Caso o teste não esteja d ispon ível pa ra
cultura de material colhido por swab do introito vaginal e todas as gestantes, os profissionais envolvidos devem estar
anorretal, para todas as gestantes entre 35 e 37 semanas de atento para priorizar o teste às gestantes de risco.
gestação. Estipula tratamento profilático int raparto para A pesguisa de anticorpos para H TLVl-2 não faz parte
todas as gestantes com cultura positiva, gestantes com in- da rotina da assistência à gesta nte de risco habitual.
fecção urinária por estreptococos do grupo B e mulheres
com h istória de réce m-nascido com septicemia por esse
agente. 30 EXAM E PARASITOLÓGICO DE FEZES
O tratamento intraparto da infecção pelo estreptococo
do grupo B reduz 80% da incidência de infecção neonatal J usti fica-se nas gestantes com acentuada anem ia ou
precoce (O R 0, 17; IC 95% 0,07-0,39). Esse trata mento não com diarreia crônica não compen ada com medidas con-
demonst rou d iferença em relação à mortalidade neonatal vencionais.
(ORO,l2; IC 95% 0,0 1-2,00). 31 Apesar de estudo recente sugerir que o mebendazol, em
Em algun s lugares, como o Reino Unido, n ão se in- doses terapêuticas, não aumenta o risco teratogên ico em
clui o rastreamento universal d o estreptococo do grup o hu manos, a gravidez não é o momento mais adeguado para
B durante o pré-natal, alegando gue os benefícios são o tratamento de parasitas intestinais assintomáticos, a não
incertos. 3 ser que estejam repercutindo no estado geral da paciente:n
No H C-UFMG, o rastreamento do estreptococo do
grupo B é rea lizado de rotina entre 35 e 37 semanas de
gestação e, para as gestantes com c ultura positiva, à ex- COLPOCITOLOGIA ONCÓTICA CERVICAL
ceção dos casos de cesa riana eletiva, está indicado o uso
de antibiótico por um período mínimo de quatro ho ras O rastreame nto do câncer cervical por meio da col-
antes do pa rto. pocitologia oncótica cervical é componente essencial na

Assistência Pré -natal


97
,1 istência à mulher. abe- c que, em paí e · em de envol- A U realizada no segundo trime trc ante da 24~ e-
vi mento, muit,l!> mulheres só procuram o serviço de saú- ma na de gestação é útil para detecção de anomalia fetai ,
de durante a gestação ou quando apre entam sintomas. permiti ndo a preparação do pai a respeito da ,1nomalia,
Portanto, a gravidez é uma oportunidade ímpar do ponto tran ferência da ge tante para centro e pecializado para
de vi ta de aúde pública para estender a prevenção do melhor .lCompanhamento da gravidez, parto e cuidado
d n cr do olo uterino para todas a mulherel>. Ainda é imediato ao RN. A gestantes devem ~er orientadas a res-
um desafio o di.1gnóstico c tratamento d,\ neoplc1sia intra- peito da limitações do exame p.1ra c a finalidade.'
epitelial celular ( !C) durante age t:1ção e não existem A realização da US obstétrica como rotina durante o
suficiente inform.1ções para e tabele er dirctrizcs base- terceiro tri me tre difere entre o paíse . o 'anadá, esse
adas cm cvidênci.1s. H exame não é oferecido à população de baixo ri co. E a
É exa me recomendado para toda as mulhcre ·, in- prática é baseada no dado disponíveis de mctanálise que
tui ndo gestante , de acordo com a norma do J'vlin is- entende que a rotina ultra onográfica apó 2-+ scmana de
tério da Saúde.' gc t.1ç.lo cm paciente de baixo ri coou cm grupo~ não c-
lecionados não reduz a mortalidade pcrin,\tal c neonat.1l c
a prematuridade, nem confere benefício à gc t.1nte e aos
ULTRASSONOGRAFIA R s. Ião ex i tem dados cm rela ão ao resultado neon,l-
tai cm curto c longo prazos. 16
A ultras onografia ( ) permite o cálculo da idade Entretanto, umareavalia ào do cst udo de a metanáli c
gestJcional (I ,), verifica o local de implantação do ovo, que tiona essas onclu õc . Os autorc alega m que nenhuma
o numero de embriões c avalia a morfologia fetal. Diag- pe quisa incluída foi de enhada com o objctivo de responder
nostica lesões incompatívei com a vida e outras alterJ- à pergunta: a US de rotina du rante o terceiro trimestre, que
ções. Possibilita tratame nto intraútero, detecta marca- oc.1siona a mudança de condut.l na .1s ·istênci:~ de gesta nte~
dare~ de doenças cromossómica · c infcccioí.as, avaliJ o de baixo ri co, melhora o rcsult:~do pcrinatais? E afirmam
bcm-estar fcul c a pos!>ibil idade de compl ic,\çõcs hipcr- que, no momento, não pode cr concluído que a U apó 24
tcnsiva . É o único método que possibilita o diJgnóstico semanas de ge tação não mclhorJ os rc ultados perinatai .,-
de ohgoiddmnio. 0 Ministério da aúde do Bra ~il não recomenda a ui
A ultras!>onografia apre. enta objeti vos di tinto , de tra ~onografia ob tétrica na rotina de exames de ge tantc
.1cordo com a época gesta ional: a) no primei ro tri mestre, de risco habitua l.~
é utd iLada p.1r.1 confirmar J !C (época de mcno erro) c
t.1mbém para medir a tran lucência nucal (T ), marc.1-
dor de cromo omopatia e cardiopatia fetai ; b) no c- TESTES DE VITALIDADE FETAL
gundo tri mestre, permite estudar a morfologia fetal; c) no
terceiro trimestre, possibilita acompanhara crescimento c empre que houver u peita de comprometimento da
.1 VIt.1lid.1dc feta l. vitalidade fetal, é necessário complementar .1 investiga-
A U realizada no primeiro trimestre entre l Oc 13 ção. A cardiotocografia antep:1rto, o perfil biofísica fct:1l
semanas c seis d ias, uti lizando o comprimento cabcça- c .1 dopplcrvelocimctria são os cx.1mes propedêutico. uti-
-n1dcga, é mais eficaz na predição da idade gestacional lizados, cada um com su.1especificidade, devendo ser se-
que a data da última men truação e as egura confia- lccionado ou conjugados, de Jcordo com a necessidade.
bilidade da idade gestacional. Além d isso, diagnostica Ainda não c verificou definitivamente, .1 partir de en-
precocemente ge tação múltipla, auxiliando na avalia- sa io\ clínico randomizados, que o perfil biofí ·ico fetal re-
çao do ris o ge racional. 3 ' Reduz a taxa de indução do ahlado em gc taçõe de alto n o Interfira na mortalidade
parto devido à gravidez prolongada (OR 0,61; IC 95% perinatal (RR 1,33; 1 9-Do 0,60-2,9 ) e no Apgar no qu in-
0,'2-0,79); no entanto, não d iminui a mortalidade pc- to minuto (RR 1,27; IC 9S% 0,85-1,92). 18
rinatal (OR 0,86; I 9506 0,6-1, 12). Portanto, e c exa- Ex i tem evidências de que ou o rotineiro da dopplerve-
me apre cnta evidência de benefício quando realizado locimetria (artéria umbilical e/ ou uterina) não confere be-
nes e período. 1' ncfrcio .\gestante c ao RN, cm gc~tação de risco habitual. 19

g8 Noções Práticas de Obstetrícia


Em gestação de alto ri co, especialmente naquelas ÜRIENTAÇÕES
complicada com hiperten ão e crescimento intrauterino
restrito, a dopplervelocimetria parece contribui r para are- D I ETA
dução da mortalidade perinatal.40
ão c tá bcm-estabelecido o uso da cardiotocografi a A gestante de risco habitual deve ser e ·cb recida quanto
antcp.uto na avaliação da vitalidade fetal cm gcst,\ntcs de ao~ benefícios de uma dict,l balanceada c v.mada.
aIto risco.41 A Food Stmulards r\gen~)' \ugere, na ge!>tação: t!
O protocolo do HC preconiza a utilização desses exa- Adotar dieta com mu it,1quantidade de fibras, legu-
mes isolado ou as ociados sempre que houver uspcita de mes, ve rduras, carne, ovos, frutas, leite, pouca quan-
comprometimento fetal, redução dos movi mentos fetais, tidade de carboidratos c sern exces o de sal;
suspeita de C IU R c após completar 40 semanas. evitar alimentos que contenham alto nível de liste-
ria, como queijos tipo CI1111CIIIbert c bnc, pdo risco de
abortos, n,\1 imorto c doença grave no R . ão há ne-
ESTUDO GEN ÉTI CO N O PRÉ-NATAL cessidade de evitar queijo pt1m1e:::.o11, chcddar c coffagt';
evitar qualq uer tipo de patê\, inclu!>IVC de vegetais;
ão é rotina na a i tência pré-natal, na amência de evitar a ingestão de ovo cru ou alimento contendo
fatore~ de rbco para doença genética. As indicaçõc!> !>Crão ovo cru, pelo risco de infecção por sa lmoncl b e/ ou
abordadas no capítulo I O - Aspectos básicos da gcnétic,l E. coli;
cm Ob tctrícia. evitar carnes cruas ou malcozida , mclu1.ive sab-
me , pelo ri!>co de infccçjo pelo Toxoplasn1e1 gondu;
O cx.1 mcs complementares preconizados pelo Mi nis- evitar crustáceos c peixes com alto teor de mercú-
tério cb Saúde para o acompa nhamento pré-natal de ges- rio - como peixe espada c marl in , guc podem
tantes de risco habitual estão listados no Quadro 7.4. comprometer o sistema nervo o do feto;
evitar con um ir fígado c seus produtos, pelo risco
de hipervitaminose A.
consumir commoderaçao atum (l-tOg emana) c
Quad ro 7.4 I Exame complementares para gestantes c.1feína (300 mg dia) prc ente no c,1tc, eh,\ , coca-
de risco habitual- li ni tério da Saúde' -cola e chocolates.
Todéls élS Gestantes
A gestantes requerem aumento de I · oo n.1s calorias
1' COllSlllt~ Repet iCélO
ingerida~ comparadas com as n;lo gr.1vidas, dependendo
Grupo sangurneo. Rh. Coombs indireto,
Coombs indireto. se Rh negativo se Rh negativo ~I do peso c da atividade física. A m :~ior parte das proteínas
deve ser de origem an imal, que fornecem :~ mino.lcidos cm

~
VDRL 288 a 308 sem e parto combinações ideais.
Hemoglobina e Hematócrito A necessidades dietéticas dos minerais c v1t.1mi nas
também aumentam com a gestação. 'om exceção do fe rro
Glicemia de jejum 3oasem l e do ácido fólico, todos esses nutrientes são supridos ,ldc-
Sorologia Hepatite B quadamcnte em uma d ict:~ balanccad.1.
30"" sem. se disponível
I
I A suplementação de vita mi n:~ A (ingestão ac1m:t de
Sorologia anti-HIV 1 e 2 28" a 3()8 sem I 700 pg/ dia, que corresponde a 2.310 U I), pode ser tcrato-
Colpocitologia oncótica l gênica e deve ser evitada, ,\S im como os produtos com ,\Ito
teor des a vita mina, fígado e eus de ri vado . 1
Sorologia toxoplasmose. Repetir :r' trimestre,
se disponível se susceptível O aconselhamento dietético à gestante mostrou- c efi -
i
caz no aumento do con umo de protcín.1s c calori.1s, mas
~ Urina rotina 3()8 sem. urocultura.
foi incapaz de demonstrar benefício consistente nos rc~u l­
se necessário \ tados da gravidez, na saúde materna e do recém-na cido.41

Assistência Pré-natal 9~
Éimportanterestringira ingestão de alimento gordura o demon trávei ede po síveis evento adver o ga trointe -
e guloseimas, pois são muito calóricos. As refeições devem cr tinais matcrnos. 3
mai frequente e meno copio a , mel horando, a ·sim, as náu- O protocolo do HC determina a suplcmcntação de 30
ea e vómitos do início c o problema digestivos do final da a 60 mg de ferro elemento/ dia para todas as gestante a par-
gestação. Estimular a ingcstão de Iíqu idos fora das refeições H ti r do segu ndo tri mestre, quando as náusea e os vômitos
melhoram. Isso corresponde a ISO a 300 mg de sulfato fer-
ro o, 00 a 600 mg de gluconato ferro o ou a ISO a 300 mg
ÁCIDO FÓLICO de fuma rato ferro o.
O Mi nistério da Saúde orienta a suplementação de 40
A uplcmcntação de ácido fólico pré-concepcional tem mg de ferro elemento e S mg de ácido fólico a parti r da 20•
efeito protctor contra defeitos do tubo neural (RR 0,2 i scnuna para todas as gestantes.'
IC 9596 O, 13-0,58) e na recorrência dos mesmos (OR 0,31i
IC 9596 O, 14-0,66). ão predi põe a aborto , gravidez
ectópica ou nati morto, embora haja po sível au mento de HÁBITOS D E VIDA
gravidez múltipla. 4~
Ado c prcconizadJ de folato pré-concepcional para mulhe- A I' I V I()AD E PROFISSIO• AL
res sem antecedentes de defeito do tubo neural é de 400 mcg/
dia e deve ser mantidJ até a 12• semana de gestação. Para mu- A mulher, cada vez mai , participa ativamente do mer-
lheres com antecedente de defeito · do tubo neural ou uso de cado de trabalho. Os empregadores nem sempre di poni-
medicamentos antifolínicos, a do c estipulada é de 4 mg/dia.46 bilizam quaisq uer regalias às grávidas.
Existem controvérsias quanto aos beneffcios do enrique- Cabe ao obstetra identificar as gestantes com risco ges-
cimento do alimentos com ácido iólico para a prevenção de tacional aumentado devido à atividade profissional.
defeito do tubo neural. O efeito de iniciar a uplementação A gestante deve evitar a exposição a fatores de risco pro-
do ácido fólico no início da gestação não foi aval iado. fissional, como os agente químicos c físicos potencial mente
teratogênicos. Existem indícios de que .1 exposição ao Raio-X
associa-se à piora dos resultados maternos e neonat.1is. 1 ln-
FERRO form.lçâo adicional a respeito de risco ocupacional está dis-
ponível no srlc: 1/enltlr mrd snjety execufrve (www.h e.gov.uk).
O ferro é encontrado na vísceras, carne vermelha, Trabalho físico exaustivo e a perma nência por longos
ovos, feijão, vegetais verdes c cereal integrai.Anece sidadc períodos cm pé associam-se a aumento do risco gestacio-
de ferro elemento é de 7 mg/dia, sendo que 6 mg são uti li- nal. As evidências são inconclusivas cm relação ao número
zados e I mg é excretado. de horas trabal hadas e à mudança de tu rno.M8
Pouquíssimas mu lheres têm reservas para suprir essa A gestante deve ser esclarecida a não permanecer por
necessidade diária de ferro elemento e a dieta raramente longos período em posição supina, que pode au mentar a
contém ferro uficicntc. pressão venosa nos membros inferiores, levando a lesões
Asuplementaçâo roti neira de ferro (Fc) c folato para todas valv ulares, com consequente formação de va rizes c aumen-
JSgestantes, a partir do início do segundo trimestre, reduz o to do risco de tromboembolismo.
número de mul heres com vJiores de hemoglobina abaixo de O ambiente de trabalho deve ser agradável c coopera-
10,0 ou 10, - g/dL no final da ge tação (ORO,19; IC 9596 O, 13- tivo, para melhor evolução física e psicológica da gestação.
0,27). Os níveis séricos de ferro, fcrritina c folato são mantidos
ou elevados. A suplcmentação de ferro e foi ato não reduz J in-
cidência de cesariana, parto pré-termo, PIG, natimorto, morte Exl'Rcíclos Fís1cm
neonatJIe admissão do R na unidJde neonatal.47
O protocolo NICE (2008) da assistência pré-natal não Como em qualquer época da vida, as atividade ffsica
rccomendJ a suplementação rotineira de ferro para todas devem ser exercidas numa intensidade determinada por
JS gestante devido à falta de benefícios maternos e fetais limites individuais, após avaliação clfnica.

100 Noções Prát icas de Obst etrícia


Exercício físico aeróbico regul ar, in iciado ou con tin ua- O risco de complicações é mais a lto no primeiro tri-
do, durante a gravidez parece melhorar a imagem corporal mestre. A síndrome alcoólica fetal caracteriza-se por restri-
e a força muscular. Entretanto, os dados dispon íveis são ção do crescimento fetal, pós-natal, o u ambos, anormali-
insuficientes para estabelecer os riscos e benefícios para a dades faciais (m icrocefalia, fissuras palpebrais encurtadas,
mãe e récem-nascido!9 im plantação baixa de orelha e hipoplasia de face méd ia),
São contraind icações para a atividade física: pré- card iopatia (principalmente defeitos septais) e atraso de
ecl5. m psia, trabalho de pa rto pré-termo em gestação an- desenvolvimento va riável.
terior, rotura prematu ra das mem branas, in suficiên cia Permanece controverso qua l é a qua ntidade de álcool
cervical, sa ngra me nto vagi nal, CI U R, hipertensão arterial ingerida pela gestante gue é considerada segura pa ra o feto.
crônica, doença tireoidiana descompensada, doença cardí- Não há base para afirmar ou exclui r q ue a ingestão de um
aca e pul mona r. drinkao d ia (12 gdeálcool, o queequivalea 12S m l de vinho
Determ inadas ati v idades físicas de risco devem ser evi- ou a um copo de cerveja) durante a gestação acarrete even-
tadas, como mergulho com cilindro, q ue predi spõe à do- tos adversos ao feto. Evidências fracas sugerem aumento do
ença de descompressão do feto e a defeitos ao nascimento; risco de aborta mento. Quantidades mais elevadas, três ou
esportes de alto impacto, de contato físico e aqueles exe- mais doses na mesma ocasião poden1 associa r-se a alto risco
cutados em decúbito ve ntral com possibilidade de trauma de hemo rragia cerebral e destruição da s ubstância bra nca
abdominal, q ueda ou esforço articular excessivo. l no feto. Po rta nto, recomenda-se abstinência de qualquer
Não havendo contraindicações obstétricas o u sistêm icas, q uantidade de álcool, em todas as fases da gestação. l
os exercícios físicos devem ser ro ti neiros, leves a moderados. 4~

MACONHA
TABAGISMO
Não existem comprovações de q ue o tetra-h idrocanabi-
O hábito de fumar é um a importa nte causa mod ificá- nol, metabólito ativo da maconha, tenha efeito teratogên ico
vel de eventos adversos d urante a gravidez, ta nto maternos c qual é o impacto do seu uso no ciclo grávido puerperal.
quanto fetais. Assim, medidas de saúde pública devem ser Os metabólitos são el iminados pela urina durante semanas.
implementadas. É comum a associação com o tabaco, álcool e outras dro-
O monóx ido de carbono e a nicotina são responsáveis por gas q ue têm efeitos sabidamente prejudiciais ao feto. Como
aumento da incidência de abortos espontâneos, RN de baixo toda d roga, deve ser desestimulada d urante a gestaçãoY
peso, descolamento prematuro de placenta (DPP), placenta
prévia, rotura prematura das membranas, traba lho de parto
pré-termo, mortalidade perinatal, síndrome de morte súbita, COCAÍNA, ÜPIÁCEOS EA FETAMINAS
lábio leporino e lesão de palato. Esse efeito parece estar rela-
cionado com o número de cigarros consumidos por dia. As alterações maternas dev ido à cocaína são: intensa
Já se constatou q ue intervenções contra o fu mo durante a vasocon strição, causando hipertensão, isquem ia c:trdíaca,
grav idez reduzem o risco de parto pré-termo e récem-nascido infa rto do miocárdio e cerebral e efeito card iotóxico direto,
de baixo peso50 Portanto, as gestantes devem ser orientadas levando à morte súbita.
qua nto aos perigos de fu mar, de ser fumante passiva e quanto O uso de cocaína durante a gestação aumenta signifi-
aos benefícios de parar de fumar ou de reduzir, ao mínimo, o cativamente o risco de vários eventos adversos, entre eles:
consumo de cigarros em qua lquer fase da gestação. 3-'0 descolamento prematu ro de placenta (RR 4,SS; IC 9S%
3,19-6,5) e rotura prematura de membra nas (R R 1,8S; lC
9S% 1,3S-2,S2} 51
ÁLCOOL É comu m, entre as usuárias, com parti lhar serin gas, ele-
vando as taxas de infecção por H IV e hepatite B. Existem
O etanol cruza livremente a placenta e a barreira hema- poucos relatos a respeito do LSD. Não se verificou dano
toencefál ica do feto, sendo esses efeitos dose-dependentes. cromossôm ico.

Assistência Pré -natal 101


Gestantes usuárias de heroína, cocaína, crack, eclnsy e tóxicos que são absorvidos pelo couro cabeludo. Dar prefe-
anfetaminas requerem cuidados especiais dev ido ao risco rência a produtos naturais, à base de corantes de sementes
aumentado de eventos adversos maternos c fetais. 1 de frutas e Henna após o segundo tri mestre.
N:io há restrição qua nto ao uso de xa mpu, condiciona-
dor c esmalte.
V JAGFNS N .1 maquiagem, uti liur produtos cm forma de pó, por
conterem menos chumbo.
As viage ns são permitidas desde que confortáveis e que
não haja contraindicaçõcs obstétricas ou istêmicas.
Viagen aéreas longas c tão associadas a risco au menta- A lt V IDAD E SEXUA L
do de tromboem boi is mo venoso, mas não está con fi rmado
que a gravidez acrescenta risco adicional. Na população ge- Existem evidências de que a relação sexual em qual-
ral, o uso correto de meias compressivas c a movimentação quer f.1se da gestação não se associa a eventos adverso ma-
frequente dos membro inferiores são eficazes na redução ternos e fetais.54 Como o sêmen contém prostaglandinas, a
de e risco:\\ gest:111te perceberá algumas contrações uterinas discretas,
As viagens aéreas s.io permitidas até 36 semanas, me- sem consequências para o binôm io mãe-feto.
diante ate tadomédico.' Em algumas intcrcorrências gestacionais (sangramen-
Em transporte de carro, o uso correto do cinto de segu- tos, risco de parto pré-termo) parece prudente a orientação
rança de três pontos (acima e abaixo do abdome, e não so- para evita r atividadc sexual:'
bre ele) reduz morte fetal c parto até 48 horas após col isão' ·
Deve- e avaliar a necessidade de vacinação no caso de
viagens pa ra fora do país. ' H I(; IJ:NE
Como o período gestacional está sujeito a intercor-
rências cmergenciais, é prudente que o local escolhido Não há necessidade de cu idados especiais. O banho
tenha recursos mín imos para o atend imento obstétrico de chuvei ro convencional deve ser diá rio e o de imersão é
e neonatal. permitido enquanto o colo uterino permanecer fechado.
As duchas vaginais estão contraindicadas.
A exposição ao calor na forma de banhos quentes c de
C OSM IATR IA imersão no primeiro trimestre da gestação associa-se a ris-
co aumentado de defeitos do tubo neural e abortamento.
A isotretinoína (Roacutan®), tratamento oral para a Os resultados são inconclusivos em relação à sauna. Por-
acne grave, aprovado pela FDA (Food and Drug Adminis- tanto, esses procedimentos devem ser evitados na pri meira
tration), é proibida para mulheres antes da concepção. É metade da gestação.55
altam ente tcratogênica, causando defeitos crânio-facia is, A higienização bucal deve ser a usual, com técnica cor-
anomalias cardíacas, do sistema nervoso central e do ti mo; reta e escova macia, para evitar ou reduzir o sangramcnto
23% dos fetos que sobrevivem até 20 semanas apresentam gengiva l. O tratamento dentário é o tradicional durante
ma lformações. toda a gestação, evitando-se anestésico com vasoconstri-
É contraindicado o uso de hidratantes contendo ,ícido tor e uso do Raio-X. Sendo imprescind ível a radiografia,
glicólico c reti noico, pois podem aca rretar problemas ad- proteger o abdome da gestante com avental de chu mbo c
versos no feto. Os hidratantes não necc sitam ser sofi stica- realizá-la a parti r do segu ndo trimestre.
dos, o idea l é que mantenham a pele bem hidratada. Não há consenso a respeito da associação de doença
É aconselhável o uso constante de fotoprotetor con- periodontal e resultados adversos da gravidez. Os dados
tendo fi ltro químicos JntiUVA e antiUV B, com grau de atuais são conflita ntes c insuficientes para justificar ava-
proteção igual ou aci ma de I S. liação extra da saúde bucal além dos cuidados preventivo
A ti ntura de cabelo é contra indicada no primeiro tri- usuais adotados na rotina pré-concepcional e durante a
mestre, pois as tin tas contêm chumbo e amônia, produtos gestação 5 6

102 Noções Práticas de Obstet rícia


VESTUÁ RI O Não está definida a segurança do uso da cianocobala-
mi na (vitamina B,) na gravidez para a redução das n,íuse-
A gravidez não exige roupas especiai . O vestuário deve as e vómitos.1 Entretanto, a vitamina B12 parece ter efeito
proporcionar comod idade e liberdade dos movi mentos. inibidor de malformações do tubo ncuraP·s8
Os sapatos devem ter boa estabilidade, mesmo que sejam Não há evidência de tcratogenicidade nos tratamentos
altos. O uso do sutiã é essencial. instituídos (dimen idrinato-Drami n®; mecl izina - Me-
As meias elásticas facilitam o retorno venoso, reduzem clin®; promet.lZina - Fenergan®; hidroxizina - H ixizine®;
o edema, o tromboembolismo venoso e o desconforto nos clorpromazi na -Amplictil ; mctoclopramida - Plasi l ).4 4
membros inferiores.'- Na ocorrência de vôm itos intensos, perda de peso e
desidrat.1ção, recorre-se j hospitalização, jejum, hidratação
venosa, antieméticos (dimen idri nato, metodopramid a) c
QUEIXAS COMUNS apoio psicológico. Nen hu m tratamento para a hipcremese
gravídica demonstrou benefício evidente_4 4
Certa queixas são freq uentes na gestação sem, contu-
do, refletirem doença específica. Muitas delas são decor-
rentes das alterações fisiológicas da gravidez. Na maioria SIALORREIA
das vezes, não necessitam de tratamento medicamentoso,
mas, si m, de orientações dietéticas, postu ra is e de períodos Raramente necessita de tratamento, exceto medidas
de repouso. paliativ,1s, como o uso constante de chicletes e balas para
faci litar a deglutição da saliva.

NÁUSEAS E VÔMITOS
CONSTIPAÇÃO INTESTINAL
Frequentes no início da gestação, principalmente no
primeiro trimestre, podendo estender-se até o final da ges- Sintoma freq uente nas mul heres e agravado pela gra-
tação. 1 ormalmente, não comprometem o resultado peri- videz devido ao au mento do tempo do trànsito intestinal
natal c mel horam entre 16 e 20 semanas de gestação. consequente à progesterona.
A ingestão freq uente de alimentos leves, secos, gelados, Asuplementação dietética com fibras vegetais, mamão, fru-
ácidos, com redução de carboidratos parece ter efeito na tas com bagaço, ingestão de muito líquido ajuda a amenizar .1
melhoria das náuseas. constipação (ORO, IS; IC 95%0,05-0,67). 19 os casos rebeldes,
Reserva-se o tratamento medicamentoso durante o o uso de laxativo estimulante (Sene®, Lactopurga®, Dulco-
primeiro trimestre somente para situações com sintoma- lax®) é mais eficaz que os formadores de volu me (Mct,unuci]®,
tologia grave e/ ou debilitante.' Plantabcn®) (OR 0,30; lC 95%0,14-0,61), entretanto, acarreta
Os antieméticos (gengibre, vitamina B6 - piridoxina, mais eventos adversos maternos (diarreia c dor abdomi nal). 2·'9
anti-histamínicos) reduzem a frequência das náuseas no Não há afirmativas a respeito da segurança c eficácia
início da gestação (OR 0,16; JC 95% 0,08-0,33).4 4 dos laxa ntes osmóticas (lactu lose) durante a gestação. 1
Entre os tratamentos mais recentes, a piridoxina (10 a
25 mg tres vezes ao dia) parece ser mais efeti va na redução
da intensidade das náuseas com menos eventos adversos.H PI ROSE
O uso de gengibre (cápsula de 250 mg, quatro vezes
ao dia) também é eficaz na redução dos vómitos (OR 0,31; Qj.1eixa comum no fi na Ida gestação, às vezes assu mi ndo
I.C 95% O, 12-0,85) c das náuseas (OR 0,06; IC 9'% 0,02- caráter de dor. Não está associada a resultados adversos na
0,21), sern qualquer evento adverso cvidente.44 gestação e o objetivo do trata mento é o alívio dos si ntomas.
São controversos os resultados da pressão do ponto P6 O tratamento inclui modificação do estilo de vida, uso
localizado na parte anterior do antebraço a três dedos do de antiácidos ou misturas alcali nas, antagonistas do recep-
punho, para redução das náuseas.H tor H 2 c inibidores da bomba de próton 3

Assistência Pré-natal 103


Modificação no estilo de vida é o primeiro tratamen- uterinas. Estas merecem cuidados especiais, pois podem
to proposto e consiste em atenção quanto à postura, não desencadear trabalho de pa rto pré-termo.
deitar após as refeições, dormir com a cabeceira elevada Aqui, também, o uso d a cinta elástica e períodos de re-
e med idas dietéticas, refeições em pequenas quantidades, pouso intercalados durante o d ia, em decúbito lateral es-
pouco condimentadas, redução de alimentos gordu rosos e querdo, a liviam a sintomatologia.
de cafeí na. 3
Não obtendo sucesso, ou qua ndo insuportáveis os sin-
tomas, recorre-se ao uso de a nti ácidos.60 Os antiácidos ou CARDIOVASCULARES
misturas alcal inas são igualmente eficazes e seguros em
qualquer fase da gestação. 3·60 A gestante no rmal pode apresenta r palpitações, d isp-
Existem poucas in formações baseadas em ensaios clín i- neias e lipotimias. Um exame clínico cardiovascular nor-
cos randomizados para tirar conclusões sobre segurança e mal exclui doenças e é tranquilizador.
eficácia dos antagonistas do receptor de H 2 (ra nitidina e ci-
metidi na) ou dos in ibidores de bomba de próton (Omepra-
zol®) na gestação. Estudos em animais não enfatizaram as- URI NÁRIAS
60
sociação com malfo rmações Portanto, na gravidez, o uso
do antagonista do receptor de H 2 e de inibidores de bomba A polaciúria, sem disúria e algúria, acompa nha todas
de próton deve ser restrito a situações absolutamente neces- as grávidas. Algumas se queixam de inconti nência urin ária
sá rias ou quando não houver outra terapêutica disponfvei.J aos esforços, principal mente no final da gestação. É impor-
tante diferencia r da perda de líquido amniótico.
Sinto mas de infecção urinária são freque ntes e mere-
LOMBALGIAS cem ava liação laboratoria l. As medidas profiláticas úteis
são: não prender a u rin a e fazer h idratação oral frequente
Sintomatologia comu m a parti r do final do segundo e abundante.
e início do terceiro trimestres. Dores não muito intensas,
contínuas ou intermitentes dificultam a marcha e a mu-
dança de decúbito, acentu am-se à tarde e melhoram com VARIZES
o repouso.
Massagens, sessões de fisioterapia em grupo ou ind ivi- As varizes podem surgi r nos membros inferiores, atin-
dual e acupuntura adicionadas aos c uidados de pré-natal gir a vulva, gerando muito desconforto. Varizes vulvares
usual parecem aliviar a lombalgia durante a gestação. A não contraindica m o parto via vagi nal e regridem após o
acupuntura parece ser mais efetiva que a fisioterapia em parto.
grupo. A hidroginástica realizada a partir de 20 semanas de Estratégias de prevenção são necessárias em todas as
gestação reduza lombalgia (OR 0,38; lC 95% O, 16-0,88).61 gestantes: a elevação dos membros inferiores, não cruzar as
O uso de cinta elástica firmando o abdome pendido pode pernas e não fica r em p é na mesma posição por muito tempo.
aliviar o desconfo rto lombar e a pressão no baixo ventre. Se Entretanto, nenhum desses métodos foi avaliado adequada-
necessá rios, analgésicos comuns podem ser utilizados. mente por ensaios clínicos randomizados controlados.57
A meia elástica pode melhora r a sintomatologia, mas
não previne o apareci mento de novas varizes.u 7
DOR ABDOMINAL

Queixa comum a partir da 3Qa semana, quando as HEMORROIDAS


contrações uterinas (Braxton-Hicks) se tornam m ais fre-
quentes e intensas. Não acarretam modificações no colo Sintoma frequente e doloroso, principalmente qua ndo
uterino. É fundamental d iferenciar a dor da d istensão da acompa nhado de processo inflamatório ou da fo rmação
musculatura abdominal da provocada pelas contrações de trombos.

104 Noções Práticas de Obst etrícia


J\ lcdida h ig~t!n ico-dietéticas ão precon11ada como Ba cado cm evidênoa atua1s, o ra treamento de mfcc-
pnme1ra linha de tratamento, como: con umo aumenta- çõc do trato genital baixo de gestante para a prevenção
do de fibras c de líquido , evitar alimentos condm1cntados de parto pré-termo não fat parte da rotma da a 1 tênc1a
c con t1pação intestinal, lavar a região após cad.1 cvacu.l- pré-natal de gc tantes de risco habitual. 6-
ção.62 Persistindo as queixas, cremes para hemorroidas po-
dem c r con idcrados.1·6z
ão c tão e tabelecidos o po sívei benefí io c riscos CÂIMBRAS
de sas práticas c também do uso de cremes para hcmorroi-
da du r.llltc a gc ta ão.6 l A uplemcntação de cálcio ou cloreto de ódio ou vit.lmi-
Laxativos à base de fibras parecem reduzir os si ntomJ~ nas com s.1is minerais não rcduzas dimbras da gcstanlc.6x
das hemorroidas ( RR 0,47; IC 95% 0,32-0,68) c o .lngr:~­ j .\ se comprovou que o uso de citrato ou lactato de mag-
mcnto anal (RR O, O; IC 9S<lu 0,2 -0,<9).~' né 10 cm do e de - mmol pela manhã c IO rnmol à no1tc
reduz as câim bras na gestação (OR O,18; I 95<1u 0,0 - -
0,60). É 1mprovável que a uplcmcntação com magnc 10
LEUCORREI AS acJ.rrctc algum prejuízo, nas dose' 111d1cada~.M

O re~íduo vaginal está aumentado n.1 gcstJntc. Pode


associ.u-sc .1 agentes c pecíficos (Ca11drda aiUICiliiS, Tnclro- SINAIS DE ALERTA
tiiOIIflS 111lg111nlis) ou vagino c bacteriana, ocasionando in-
tomas que merecem investigação.3 Algun inai e intomas podem anunciar complicaçào
Ião c t.i claro se ge tante com tricomonía c v.1gi nal da gravidez c exigem assistência médica imediata. São m
estão mais propen as ao parto pré-termo ou a outr:t~ inter- cham.1do ina is de alerta, que incluem: angramcnto vagi-
corrê n cia~ ge tacionais. nal; perda de líqu ido pelos genitais externos; endurecimcn
Ou o de mctronidazol :~dministrado ao casal durante to abdomi nal acompanhado de cól ica ; cefaleia pcrsi tente
a gestaç:10 é efica7 no tratamento da tricomoní.1sc (90<1u c grave, ~cm melhora com analgé JCO~ comum; escotoma~
de cura), entretanto, pode aumentar o n co de p.uto pré- visua1 ; borramento da v1 ão; febre; redução acentuada do~
-termo (RR I, ; IC 9S<lu 1,2-2,7). O uso de mctronidazol movimentos fetais; edema pcrsi tente.
cm gestantes as intomáticas portadoras de tricomoní.l c Toda a gestante dcvcn1 cr oncntada quanto a esses
vagi nal ai nda não tem uportc cicntífico.1·b4 inai c aos relacionados ao 1níc1o do trabalho de parto. E s.1
ão está provado que a candidíasc tenha efeito nulé- atenção médica e esses cuidados profiláticos proporcionam
fico para o feto. O uso tópico de imidazólico (m1conaLol um vínculo de confia nça e segurança na relação obstetra-
c dotrimazol) por etc dia é mais eficaz que a ni t.Hina -gestante, as egurando melhor evoluçao da gravidc7.
(OR 0,21 ; IC 95%0,16 0,29) p.1ra .1lívio dos sintonu~ e tra-
tamento da candidfa c vaginal intomáti a e per 1 tente.
A cfidcia dou o tópico do diferentes imidazóli o~ é se- IMUNIZAÇÕES
melhante c o tratamento por mais de sete di.1s não confere
benefício extras. Mulhcre assintomátic.1s portador.1~ de É aceito que a gc ta ntc responde à imu n iz:~ção de for-
cand1día c vagi nal não necessitam ser tratadas.'~>' ma usual.
A cgurança c a cfidcia do tratamento oral da c.111J1dí- O objCtl\·o da imunizaçao durante ,1 gestação c mdunr
a ·c vagmal cm do e úmca durante age ta ao -;.lo 111ccrt.ls. 1 1munidadc materna, fetal c do RN nos primei ros ci a 12
Portanto, o tratamento oral não é aconsclludo. 1 me c de vida.
Apesar do uso de antibióticos errad icar a vag111osc A imun ização pode ser ,ltiva ou pa iva, dependendo
bacteriana na gravidez, a evidências são fr.Kas para re- dJ.s caractcrí ticas do agente utilizado. a imunização
comendar o r.1strcamento de rotina c tratamento de ges- passiva, o agente é um conccntr.1do de .1nticorpm lgG que
ta ntes a intomática , com o objcti vo de prevenir parto confere proteção imediata; e na ativa, ão os antígcno que
pré-tcrmo.66 ocasionam dpida c transitória produção de anticorpo

Assistência Pré -natal 105


lgM e, a seguir, produção permanente de anticorpo IgG, ção do toxoide tetânico (anatoxitetânico) ou da vacina
conferindo imu nidade. dupla do adu lto (dT). É preconizada para todas as gestan-
Toda vaci nação durante a gestação deve ser precedida tes não vacinadas ou com vacinação ignorada, num total
da análise dos potenciais riscos Fetais associados à imuni- de três do 'e .
zação, dos riscos da exposição ao agente infeccioso, dos O intervalo entre as doses va ria de 30 a 60 dias ou até
benefício da vaci nação e do tipo de vaci na disponível. A 180 dias para a terceira dose. A primeira dose deve ser ad-
vacinas de vírus vivos ou atenuado e tão contra indicadas ministrada o mais precocemente possível e a terceira até 20
na gravidez, cxccto em circunstância especiais nas quais dias, no máximo, antes do parto. Duas doses são suficien-
os benefícios superem os riscos. 69 tes para a prevenção do tétano neonatal da gestação atual,
A vaci nação inadvertida de rubéola, varicela, Febre mas deve-se sempre completar o e quema indicado.
amarela, sarampo c caxumba na gravidez pode levar à in- a imu nização prévia completa, adota-se uma dose de
Fecção subclín ica dos Fetos, mas sem reco nhecimento de reforço após cinco anos, antes da 34•semana de gestação
doença congcnita, teratogenicidade ou indicação para in- ou, no máximo, até 20 dias an tes do parto.
terrupção da gestação. As gestantes devem ser orientadas Não existe contraindicação do tratamento an tirrábico
quanto a esses Fatos c tranquilizadas 6 9 durante o período gestacional, ca o a gestante seja exposta
Gest.mte expostas ao vírus da varicela devem ser ava- à mordedura de animais uspcitos ou comprovada mente
liada5 quanto à expo ição anterior, vacinação e imunidade com a doença.
prévia. Confi rmada a susceptibilidade, a imunoglobulina O aleita mento não contra indica qualquer imu nização:
deverá er administrada até 96 horas da exposição, na dose passiva ou ativa, vacinas vivas ou inativadas. 69
de 125 unidades/ lOkg, máximo de 625 unidades, para pre- Recomendações segu ndo a OGC: 69
ven ir ou reduzir a gravidade da infecção materna. · ão há Antes de qualquer imu nização, todas as mul heres
consistência quanto ao benefício fetais com essa prática.69 em idade Íértil devem ser avaliadas quanto à possi-
Vacinas com víru inativados, vacinas bacteriana · e bi Iidade de gravidez;
com toxoides são consideradas seguras durante o período avaliar a história vacinai de todas as gestante no
gestacional. início do pré-natal;
As ges tantes, devido às alterações cardiovasculares e vacinas com vírus vivos ou atenuados são contrain-
re pi ratórias fisiológicas desse período, apresentam ri co dicadas na gestação;
quatro vezes mais alto de complicações após infecção pelo gestantes que receberam inadvertidamente vacinas
vírus da influenza. A Sociedade de Obstetrícia e Gineco- vivas ou atenuadas devem ser aconselhadas a não
logia Canadense (SOGC) recomenda vacinação un iversal interromper a gestação;
para todas as gestantes, com vacinas inativadas a partir do mu lheres vacinadas com víru vivos ou atenuado
segundo tri mestre, exceto quando há risco imediato de devem adiar a gestação por um período de quatro
tra n missão. ão há consenso dessa prática no primeiro semanas;
trimestre. ão há evidencia de teratogcnicidade da vacina vacinas inativadas, vacinas bacterianas ou com to-
de influenza nem evento adverso qua ndo admi nistrada na xoide são consideradas segu ras na gestação;
segunda metade da gestação6 9 mulheres amamentando podem ser imunizada
As situações listadas a eguir não representam con- (passiva ou ativa, vacinas vivas ou atenuada );
traindicação para a imun ização: esclerose múltipla, febre gestante devem ser vacinadas contra a influcnza
baixa, hi tória fam iliar de convulsões, epilepsia, doença durante a estação de mais incidência da doença.
infecciosa recente, vacinados cm cantata com gestantes e
RN, amamentação, puérperas submetidas à imunoglobu- O Quadro 7.5 ilustra as diversas vacinas que podem ou
lina antiD, PPD positivo, hi tória de alergia , cxceto ana- não ser aplicadas durante a gravidez.69
filax ia para ncomicina, estreptomicina e alergia à proteína O Q!.1 adro 7.6 apresenta as imu noglobulinas que po-
do ovo.69 dem ser utilizadas na gravidez. 69
A imunização indicada rotineira mente du rante ages- O Quadro 7.7 mostra as evidências na assistência pré-
tação é a profilaxia para o tétano neonatal, com a aplica- -natal de risco habitual.

106 Noções Práticas de Obstetrícia


Quadro 7.5 j lmunizJção na gc tação~ 9
Vac1na Conduta Comentá nos
Caxumba Contraindicada Infecção sub-clfnica do feto sem evidência de doença -~
congênita
Cólera Para situações de risco (surtos) Segurança fetal não comprovada j
,_____ ~

Oifteria/Tétano Para todas as mulheres susceptíveis Segura. sem evidência de teratogenicidade I


Difteria/Tétano/Coqueluche Não é contraindicada Prescrita nas situações de risco aumentado para coqueluche
Febre amarela Para situações de alto risco Segurança fetal não comprovada, apesar de fetos expos-
(viagem inevitável) tos não demonstrarem complicações. Nenhuma razão para
interrupção da gestação
Hepatite A Risco teórico baixo Somente com ordem médica
Hepatite 8 Para situações de risco Nenhum risco fetal aparente
HPV Contraindicada Não há evidência de teratogenicidade. Caso ocorra
gravidez. recomenda-se adiar as próximas doses para o
pós-parto. A amamentação não é contraindicação
lnfluenza (inativada) Indicada após a zoa sem Nenhum evento adverso em 2.000 fetos expostos
Meningococo Semelhante à adotada fora da Segura e eficaz na gestação
gravidez I
Pneumococo Para situações de risco Segurança fetal não comprovada, apesar de fetos expostos
não demonstrarem complicações
Poliomielite SabinI Salk Para situações de alto risco com Nenhum efeito fetal conhecido. I
vírus inativado (viagem)
Raiva Para situações de risco Nenhuma anomalia fetal associada à vacina
- · --+-
Rubéola Contraindicada Infecção sub-clínica do feto sem evidência de doença
congênita
Sarampo Contraindicada Nenhum efeito fetal conhecido, risco teórico de parto
pré-termo e baixo peso
------------~
Tifoide Para situações de risco (viagem Segurança desconhecida
zona endêmica)
-------+---
Varicela Contraindicada Nenhum efeito fetal conhecido e razão para interrupção
da gestação
Adaptado de lmmunization mpregnancy SOGC Climcal Pracuce Guidellne. n. 220. 2008. p. 1149·54.

Quadro 7.6 1 Globulinas hipc rimunes util izadas na gest.1ç:io 69

lmunoglobul1na Conduta
Hepatite 8 Após exposição, associada à vacina I
-----------------~
....~_é_ta_n_o_ ______ _ __ _ _ _ +-
A_pó_s_e_x_posição, associada à vacina I
Varicela Profilaxia nas primeiras 96 horas após contágio I
-----------------~
Sarampo Profilaxia após exposição I
Hepatite A Profilaxia após exposição I

Assistênc ia Pré - natal 10 7


Qyadro 7.7 J Evidência na assistência pré-natal de ri co habitual
Intervenção na Comentar1os Grau de
Ass1stênc1a Pré-natal Recomendação
Redução do n° de consultas de pré-natal Não se associa a resultados adversos maternos e perinatais A
Associa com insatisfação da gestante em relação ao pré-natal
- .__.,
Contagem dos movimentos fetais Prática desnecessária para avaliação da vitalidade fetal A

Realização da 3a manobra de leopold Diagnóstico da apresentação fetal c


somente a partir da 368 sem j
f-
Medida do útero-fita Não interfere nos resultados perinatais A
Alguns autores alegam que parece imprudente abandonar
essa prática :1

Ausculta fetal Não tem valor preditivo na vitalidade fetal o


Exame rotineiro das mamas e exercícios Não se associa à promoção da amamentação no pós-parto A
nos mamilos
Toque vaginal Impreciso para avaliar IG, predição de PPT e DCP B
8
IMC 1 consulta B
Avaliação do ganho ponderai a cada c
consulta
Hemograma 18 consulta e 28 semanas Diagnóstico de anemia B
Tratamento de anemia A
GS e Rh B
Coombs indireto 18 consulta e 28 semanas Pesquisa de anticorpos irregulares B
Coombs indireto mensal o
Urocultura Diagnóstico bacteriúria assintomática A
Rastreamento DMG Diagnóstico DMG A
VDRL 18 consulta Infecção sifilítica B
28 semanas e parto o
' Rastreamento rubéola Avaliação da susceptibilidade e vacinação no pós-parto B j
-
Rastreamento toxoplasmose Não reduz a transmissão vertical e infecção fetal B
Medidas higiênico-dietéticas c
Rastreamento hepatite B Reduz a transmissão vertical A
Rastreamento hepatite C Não reduz transmissão vertical c
Rastreamento HIVl e 2 Reduz a transmissão vertical A _ !
Rastreamento CMV Não reduz a transmissão vertical B
Rastreamento Reduz infecção neonatal precoce O(COC) indicado
estreptococos grupo B
35 a 37 semanas I

Continua ...

108 Noç ões Práticas de Obstetrícia


.. . continuação
Quadro 7.7 J Evidencias n.1 assistência pré-n.ltal de risco habitual
lntervençao na Comentanos Grau de
Ass1stênc1a Pre-nata l Recornendaçao
Rastreamento Redução transmissão vertical D
HTLV1e2 I
Citologia cervical oncótica Rastreamento de câncer cervical o
Parasitológico de fezes Verminoses D
US 1otrimestre Prediz IG. diagnostica gestação múltipla e reduz a indução de A
parto devido à gravidez prolongada
US 2° trimestre Diagnostica malformações A
US 3° trimestre Melhora resultados perinatais D
Perfil biofísica fetal em gestação de alto Não reduz a mortalidade perinatal e não altera o Apgar no 5° A
risco minuto
Dopplervelocimetria arterial fetal
Gestação risco habitual Não apresenta benefícios para gestante e RN A
Gestação de alto risco {HA e CIUR) Reduz mortalidade perinatal A
Cardiotocografia basal anteparto Não há evidências para indicar na avaliação da vitalidade fetal A I
Gestação de alto risco
--
Aconselhamento dietético Eficaz no i do consumo de proteínas. mas sem melhora nos re- A
sultados da gravidez. da saúde materna e do RN !

Ácido fólico pré-concepcional Efeito protetor contra defeitos do tubo neural A I


--
Suplementação de ferro e ácido fólico Reduz o no de gestantes com Hg<10.0 ou 10,5 g/dl no final da A
gestação
Não reduz cesárea. PPT. PIG, natimorto A
Trabalho tisico exaustivo e Aumenta risco gestacional c
permanência por longos períodos em pé
Exercício físico aeróbico Melhora imagem corporal e força muscular A
Evitar mergulho com cilindro. esportes de alto impacto D
Intervenções contra o fumo Reduz risco de PPT e PIG A
Abstinência de álcool Controversa a quantidade de álcool segura para o feto o

~
Abstinência de maconha Não há evidências de teratogenicidade e efeito no ciclo grávido c
puerperal
Abstinência de cocaína Aumento de DPP e rotura de membranas A
Viagens aéreas Até 36 semanas mediante atestado médico 8
Transporte de carro Uso correto de cinto de segurança de três pontos 8
Reduz morte fetal e parto até 48 horas após a colisão 8
Atividade sexual Não se associa a eventos adversos maternos e fetais 8 I
continua .. .

Assist ência Pré- nat al 109


... continuação
Quad ro 7.7 1 Evidências na a i tência pré-natal de ri co habitual
lnter ver1po na Cornerltdr ros Gr au de
Assrstencra Pre-natal ReconwrlddÇdO

Banhos quentes de imersão Associa-se a risco aumentado de defeitos do tubo neural e aborta- A
mento
Evitar 18 metade da gestação
Sauna Resultados inconclusivos
Rastreamento de doença periodontal Dados conflitantes e insuficientes para justificar mudança de conduta B
Uso de meias elásticas Reduz tromboembolismo venoso. mas não previne aparecimento A
novas varizes
Náuseas e vômitos Gengibre. vitamina 86. anti-histamínicos reduzem náuseas. sem evi- A
dência. teratogenicidade.
Constipação intestinal Dieta rica em fibras. ~ A
Laxativo estimulante é mais eficaz que os formadores de volume A
------------------r---- ------
Pirose Modificação do estilo de vida e medidas dietéticas O
Antiácidos ou misturas alcalinas Igualmente eficazes e seguros A
Antagonista de receptor de H2 e Não existem evidências oriundas de ECR demonstrando segurança A
inibidores de bomba de próton e eficácia :!
------
Lombalgias Massagem. fisioterapia em grupo/individual. acupuntura ou A
hidroginástica após 20 semanas reduzem sintomas
Cinta elástica e repouso o
Hemorróidas
Medidas higiênico-dietéticas e uso Não existe evidência dos beneficias e riscos A
de cremes
Laxativos à base de fibras Reduz sintomas e sangramento anal A
Não existe evidência para indicar o u~o de metronidazol em gestan-
1
Tricomonlase A
tes portadoras assintomáticas
Candidlase Uso tópico de imidazólicos é mais eficaz que a nistatina A
Uso oral. segurança incerta A
Vaginose bacteriana Evidências fracas para rastreamento de rotina A
Rastreamento de Infecções do trato
genital baixo
Não faz parte da rotina visando PPT

--
A
_j
Câimbras Cálcio. cloreto de sódio ou vitaminas não reduzem as câimbras A
Citrato ou lactato de magnésio reduzem câimbra A
ClUA Crescimento intrauter no restrito HA- Hipertensão arterial PPT- Parto pré-termo
CDC Centers Oisease and Centro/ Hg- Hemoglobina ECR - Ensaio clfnico
DCP - Desproporção céfalo·pélvica IG -Idade gestacional randomizado
DPP- Descolamento prematuro de placenta IMC - Índice de massa corporal RN - Recém-nasctdo
OMG- Otabetes me//itusgestactonal NICE - Nationallnslltute for Health and Clinical Excellence US- Ultrassonografia
GS e Rh - Grupo sangulneo e fator Rh PIG - Feto pequeno para idade gestacional

110 Noções Prát icas de Obst etricia


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112 Noções Práticas de Obstetrícia


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Assistência Pré -natal 113


08 Nutrição Materna
João Gabriel Marques Fonseca
Márcia Rocha Parizzi

A Gravidez sob o Aspecto Nutricional Anemia Fe rrop riva


Necessidades Nutricionais Ane m ia Macrocítica ou Doenças Hemolíticas
Regimes Alimentares ou Dietas Exóticas
da Gestante e da N utriz
Alcoólatras
A Alimentação na Gravidez e Lactação
Insuficiê nc ia Hepática
Situações Especiais que Justificam Insuficiê ncia Renal C rô nica
Alterações Dietéticas e Suplementações Gastrectomia
na Gravidez e Lactação Subnut rição
Gravidezes Sucessivas Uso Prolongado de Determinad os Med icam e ntos
Adolescentes

o acentuado desenvolvimento tecnológico da


prática médica nas últimas décadas ofu cou ,1
ideia d,1 gravidez como est:tdo fisiológico. Se se
considerar a gravidez sob o ângulo d:t espécie humana, talvez
ela seja o mais fisiológico de todos os estados orgânicos.
Muitas evidências experi mentais mostra m que quan-
do a gestação se desenvolve sob condições de privação
alimentar, o corpo m aterno é mais poupado que o fetal.
Embo ra essa ocorrência pareça e tr:tn ha, ela ga rante a pos-
sibilidade da lac tação que, talvez, seja mais importa nte a
O texto que se segue parte do pri ncípio de que :t gr:t- lo ngo prazo para a criança que o desenvolvimento intrau-
vidcz é, sob todos os pontos de vista (principalmente sob terino. Se o feto "exaurisse· as reservas da mãe subnut rida,
o aspecto nutricional), um estado fi siológico. Assim, tod:ts a lactação seria ccrtJ mcnte inviávcl. 1
as intervenções terapêuticas propostas a gestantes normais A relação "qual idade da nutrição desenvolvimento d:1
devem se r consideradas, a princípio, desnecessári:ts. gravidez'' é muito complexa e ainda não bem-de fi nida, mas
O org.1nismo de uma ge 't:tnte normal e bem nutrid:t o modelo que concebe o feto como um "parasita'' nu tricio-
experimenta uma série de adaptações fisiológic:ts que ga- nal d:t mãe está s upcr:tdo. Apes:1r dis o, bo:t parte da popu-
r:tntem o cresci mento c o desenvolvimento do feto c asse- lação leiga e, o que é mais grave, muitos médicos conti nuam
guram as reservas biológicas neccss,í rias ao parto, :t recu- :1 considerar a gravidez como um "estado carencial" c a fazer
peração pós-parto e à lactação. às gc t:tntes as m:1 is estran has recomendações dietética .
A GRAVIDEZ SOB aumento na produção de insuli na, na produção he-
O ASPECTO NUTRICIONAL pática de triglicerídeos c na mobilização de ácidos
graxos pelo tecido adiposo; o organismo materno
se torna mais resistente à hipoglicemia. 2·1
Sob o ponto de vista nutricional pode-se dividir a gesta-
ção em duas grandes fases: materna e fetal. 2 Na fase fetal (segunda metade da gestação), boa parte
a fase materna, que corresponde aproximadamente à das reservas nutricionais da mãe é utilizada. Nesse perío-
primeira metade da gravidez, o orga nismo da gestante se do o feto experimenta extraordiná rio crescimento: na 14J
prepara para permitir o desenvolvi mento do feto na segu n- semana pesa cerca de 20 g; na 34• seu peso é de cerca de
da metade da gestação, na f.1se fetal. 2.500 g, ou seja, 125 vezes mais. É interessante sal ientar
Várias adaptações fisiológicas são observadas no orga- que, apesa r da intensidade do crescimento fetal, as reservas
nismo da mãe durante a fase materna: nutricionais da mãe permanecem praticamente estáveis
Aumento do apetite e da eficiência digestiva e ab- nos últi mos meses da gravidez (Qpadro 8.1).1
sortiva do tubo digestivo; Como Já salientado na introdução, a rcL1ção nutrição
aumento da volem ia e do volume do líquido intra- materna/desenvolvi mento fetal não está completamente
celular; elucidada. Estudos experimentais em animai demons-
aumento no débito cardíaco e no fluxo sanguíneo tram que a subnutrição na gestação tem v.\rios efeitos de-
renal e periférico; letérios no feto, tais como baixo peso ao nascimento, au-
aumento da ventilação pulmonar; mento na rnorbidade e mortalidade peri nat:lis, dim inuição
formação de "estoques de nutrientes": a ingestão de do crescimento e do desenvolvimento físico e mental do
alimentos no segundo trimestre da gravidez é, por animal. Entretanto, não se podem e.x.trapolar resu ltados
forças biológicas, maior que as necessidades nutricio- obtidos cm animais para o ser humano.
nais do momento; em consequência disso, forma-se Indicadores da má-nutrição materna, tais como baixo
um "estoque" de nutrientes cm vários tecidos mater- peso pré-gravíd ico, baixo gan ho de peso na gravide?, baixa
nos. Esses "estoques" são constituídos principalmen- estatura materna, ingestão calórico-proteica inadequada,
te por lipídeos e são responsáveis, em boa parte, pelo sugerem aumento no risco de nascimento de crianças pe-
aumento de peso da gestante (Quadro 8.1); quenas para a idade gestacional. Com exceção da baixa-
-estatura materna, as outras condições podem er tratadas
com suplementação ali mentar. Estudos rea lizados na Gua-
Q uadro 8.1 I Componentes do aumento de peso da ges-
temala utiliza ndo esses indicadores mostram os efeitos da
tante durante uma gravidez normal
desnutriç:10 materna no peso do recém-na cido c a possibi-
Componente Peso em gramas - semanas lidade de sua prevenção.~
10" 20' 30' 40" Em países em desenvolvimento, onde é alta a prevalên-
Feto cia da desnutrição na popu lação, a má-n utrição materna é
5 300 1.500 3.400
tema importante nos programas de saúde coletiva:'
Placenta 20 170 430 650 Entretanto, outros estudo rea lizados sobre os efeitos
Líquido amniótico 30 350 750 800 da desnutrição grave na gravidez humana (durante guerras
Útero 140 320 600 970 e em regiões de pobreza extrema) permitiram conclusões
algo contrad itórias às afirmações do parágrafo anterior,
Mamas 45 180 360 405
porque mostram que embora a subnutrição grave tenha
Sangue 100 600 1.300 1.250 efeitos devastadores sobre o crescimento e desenvolvimen-
Líquido extravascular o 30 80 1.680 to feta is, há extraordi nária adaptabi lidade do o rganismo
materno e fetal aos déficits nut ricionais, capaz muitas vezes
Reservas nutricionais 310 2.050 3.480 3.345
de compensar a deficiência.4 ·'
Total 650 4.000 8.500 12.500 A conclusão mais importante desses estudos é gue a
Baseado em: Rosso & Cramoy (1979). 2 nutrição não é defi nitivamente uma influê ncia isolada. O

116 Noções Práti cas de Obst etricia


estado nutricional da mãe é apenas uma entre outras v,l- os legumes, frutas de bagaço, cercais integrais e leguminosas
riáveis biopsicoex istenciais determinantes do sucesso de são alimentos ricos cm fibras. Embora não sejam aparente-
uma gravidez. É importante salientar, no cnt,mto, que sob mente tão essenciais quanto outros nut rientes, as fibras exer-
condições socioeconômico-culturais muito desfavoráveis, cem funções de grande significância fisiológica - regulação
como as que se encontram em muitas regiões de nosso da saciedade, da absorção de nutrientes no intestino delgado
país, a subnutrição passa a ter importante papel no prog- e do volume e viscosidade do bolo fecal. As consequências
nóst ico da gestação. da ingestão insuficiente de fibras são tão importantes que
hoje elas são consideradas nut rientes essenciais.
As necessidades nutricionais de gestantes e nutrizes são
NECESSIDADES NUTRICIONAI S diferentes das da mulher não grávida. Entretanto, essas dife-
DA GESTANTE E DA NUTRIZ renças não são quantitativamente tão importa ntes a ponto
de justificar grandes modificações de cardápio. Como já
referido, não é raro que a gravidez e a lactação sejam consi-
Todo ser humano adu lto normal precisa ingerir diaria- deradas, até mesmo por médicos, como "estados carcnciais'"
mente sete nutrientes fundamentais: proteínas, carboidra- c, sob esse pretexto, a gestantc/ nutriz seja submetida a supe-
tos, gorduras, vitaminas, água, sais minerais c fibras vegetais. ralimentação e suplementaçõcs vitamínicas, minerais c pro-
Os carboidrato são basicamente nutrientes energéti- teicas verdadeiramente grotescas. Em nossa opinião, não há
cos. As gorduras, além de seu importante papel energético, necessidade, nem justificativa para o uso de suplcmentações
veiculam ácidos graxas essenciais c vitaminas lipossolú- nem de excessos alimentares, guando a dieta é equilibrada.
vcis, melhoram significativamente a pabtabilidadc dos
al imentos e desempenha m significativas funções no pro-
cesso digestivo. As proteínas da dieta são fornecedoras de A ALIM ENTAÇÃO NA
aminoácidos, nutrientes essenciais na construção e manu- GRAV I DEZ E LACTAÇÃO
tenção dos tecidos, produção de enzimas, hormônios, an-
ticorpos e na regulação dos processo~ metabólicos. Toda Com pequenas cxceçõcs, discutidas a seguir, a alimen-
proteína cm excesso é utilizada como alimento energético. tação da gestante/ nutriz deve ser igual à de um ser humano
Uma das mais importantes crendices alimentares de adulto normal. Essa área tem sido palco de um grande nú-
nossa sociedade é .1 que hierarqu iza os alimentos. Proteí- mero de publicações que preconizam toda sorte de ajustes
nas são consideradas nutrientes "melhores" que gorduras e nutricionais e tem sido di fíc il, mesmo para os especialistas,
carboidratos. Essa crença arraigada é responsável pelo ex- filtrar nesse gra nde volume de info rmações as que têm va-
cessivo consumo de proteínas, principalmente as de origem lor prático. Nesse contexto, somos favoráveis a sugerir as
animal (das carnes, do leite e derivados e dos ovos), carac- recomendações consagradas e avalizadas pela história e
terístico de nossa cultura. É comum hoje cm dia que uma pelos costumes sociais. Essas recomendações, vá lidas para
pessoa ingira cerca de 200 a 300% a m:.lis de proteínas que qualquer pessoa adulta normal, são:u·7·8•9
suas necessidades nutricionais diárias. As consequências Comer principalmente alimentos não industrial i-
dessa ingestão excessiva são variadas, algumas graves como zados;
o aumento no conteúdo de gordura corporal, aumento na d istribuir a ali mentação de forma que 80 a 85%
incidência de ateroesclerose e de certos tipos de càncer.' 6 dos alimentos ingeridos num dia sejam vegetais e
As vitaminas, os minerais c as fibras vegetais são nu- somente I 5 a 20% sejam de origem an imal (carne/
trientes reguladores, importantes no metabolismo inter- leite/ ovos);
mediá rio; eles não têm papel energético e/ ou plástico. procurar variar o cardápio de um d ia para o outro,
Fibras são substâncias de origem vegeta l que não são evitando a monotonia alimentar;
digeridas no intestino do homem (celulose, hcmicclulose, comer devagar, mastigando e saboreando bem os
pcctina, gomas, mucilagcm e ligninas). Elas são componen- alimentos;
tes estruturais das plantas, fazendo parte do esqueleto vege- evitar o excesso de açúcar, de sal e de bebidas al-
tal, das paredes celulares, do invólucro de grãos. As verduras, coólicas;

Nut rição Materna 117


fazer maior número de refeições por dia; evitar co- Uma dieta que contenha esses alimentos é completa-
mer muito em uma 6 refeição; mente equi librada, oferecendo todos os nutrientes básicos
o cardápio diário deve conter (Quadro 8.2): de que o ser humano necessita c tem se mostrado eficaz,
um cereal; inclusive como coadjuvante na prevenção do excesso de
uma leguminosa ou um tubérculo, raiz ou amiláceo; pe o na gravidez.8 ·9
salada de vegetais crus; Não é objetivo deste capítulo discutir a distribuição de
frutas; alimentos nas vá rias refeições; o leitor interessado neste as-
um produto de origem animal. sunto deverá recorrer a textos e pccializados? 10
Um assun to ainda polêmico é o consumo de açúcar e
adoçantes artificiais por gestantes e nutrizes. Uma lin ha de
odontologistas preconiza a restrição de alimentos açucara-
dos durante a gravidez, por acred itarem que fil hos de mães
Quadro 8.2 1Classificação dos alimentos mais comuns
que ingeriram muito açúcar na gestação teriam mais pro-
cm nosso meio
pen ão para esse tipo de alimento em sua vida. Não foram
Categoria Exemplos de Al1mentos encontrados na literatura nos últimos anos trabal hos que
Cereais Arroz. aveia. centeio. cevada. milho. trigo confi rmem ou neguem essa impressão de forma conclusi-
Leguminosas Ervilha. fava. feijão. grão de bico. va. O mesmo se pode dizer sobre o uso de adoçantes arti-
lentilha. soja ficiais, principalmente o aspartame (devido à fenilalanina).
Não existem dado condu ivos sobre os malefícios do uso
Tubérculos. raí- Cenoura amarela. batata-doce. bata
zes e amiláceos inglesa. cará. inhame. mandioca. dessa ubstâncias na gravidez e lactação, mas o bom senso
abóbora. moranga, aipo. alho, aspargo, recomenda que elas não sejam utilizadas cm larga escala.
beterraba. cebola. cenoura vermelha.
nabo. rabanete
- -- ---1
Oleaginosas Amêndoa. amendoim. azeitona. castanha ECESSIDADESE LRGéfiCAS
de caju. castanha. coco. gergelim. noz
Verduras Acelga. agrião, alcachofra. alface. Uma mulher adulta sadia em idade fértil, não grávida,
almeirão, brócolis. brotos de feijão. com ati vidade física moderada necessita ingerir aproxi ma-
cebolinha. couve. couve-flor. espinafre, da mente 25 a 30 kcal/kg de peso corporal por dia (25 a
mostarda. ora-pro-nobis. repolho. salsa. 30 kcal/kg/dia) para supri r suas neces idades energéticas
taioba
sem alterar seu peso corporal.
Legumes Abobrinha. beringela. chuchu, cogumelo. Durante a gravidez normal são consu midas para a gera-
jiló. palmito. pepino. quiabo. tomate ção do feto e nos mecanismos de adaptação do organismo
Produtos de
origem animal
Produtos indus-
Carnes. ovos e laticínios

Pães. macarrão. biscoitos. sorvetes.


l materno cerca de 80.000 kcal (dura nte os 280 dias da ges-
tação). Esse montante representa acréscimo diário de cerca
de 300 kcal na dieta da gestante (e também da nutriz); em
trializados doces. chocolates I outras palavras, a necessidade ca lórica diária passa de 25-
Frutas Abacate. abacaxi. ameixa. amora. 30 kcal/kg/ dia para 30-35 kcal/kg/dia dura nte a gravidez.
I Em termos alimentares, 300 kcal não representam grande
araticum. banana. cacau. caju, caqui,
carambola. cereja, cidra. figo. fruta-do- volume de alimento. Pequenas quantidades de alimentos
conde. goiaba. jabuticaba. jaca. laranja, muito calóricos, como os queijos mais concentrados ou a
lima. limão. mamão. manga, maracujá, carne, são suficientes. Para se ter ideia mais precisa, 100 g
marmelo. melancia. morango. nectarina.
pera. pêssego, tamarindo. tangerina. uva de queijo "prato" (em torno de cinco ratias das utilizadas
- --+--- - em sanduíche) contêm aproximada mente 390 kcal, en-
Bulbos Aipo, alho. aspargo. beterraba, cebola. quanto que I 00 g de carne bovina (um bife méd io) contêm
cenoura vermelha. nabo. rabanete
cerca de 200 kcal. 8

118 Noções Práticas de Obstetrícia


É uma ilusão a ideia de que uma gestante/ nutriz ne- Entreta nto, como a absorção de ferro aumenta significati-
cessita de alimentação abundante. O excesso calórico não vamente durante a gravidez, o equilíbrio ingestão/ consu-
tem va ntagem e seus malefícios estéticos c fi siológicos são mo tende a manter-se apro~i mada mente como no período
amplamente conhecidos. O ritmo do ga nho de peso na gestaciOJul, desde que a dieta seja normal. A demanda de
gestação é o principal indicador da ingestão cJlórica, exce- ferro na lactação é pouco maior que na gravidez. Por isso,
tuando-sc naturalmente as situações de edema. se existe qualquer motivo para se suspeitar de deficiência
de ferro nessa condição, é recomendável a suplcmentação,
como descrito a seguir.
NE:.et.SSJI)Al)I-.S PROTEICAS Não há evidências clínicas conclusivas que demons-
trem a existência de déficits importantes de ferro na
Uma mulher adulta normal, não grávida, necessita de gravidez normal, nem benefícios com a suplcmentação
aproximadamente 0,8 g de proteína por quilograma por sistemática de ferro em gestantes normais com dieta equ i-
dia (0,8 g/ kg/ dia), das quais 113 de origem ani mal c 2; 3 de librada.l.l.~ Contudo, esse é um tema muito polêmico e há
origem vegetal (especialmente protefnas de legum inosas vários autores que defendem a suplementação sistemática
e cereais). Uma mulher de 60 kg, por exemplo, necessi- de sais de ferro (sulfato, citrato, fumarato) cm gestantes e
ta de 48 g de proteína por dia, das quais 16 g de origem nutrizes. Esses autores recomendam a dose de 30 a 60 mg
anima li essa quantidade de proteína animal pode ser ob- de ferro elementar/ dia (150 a 300 mg de sulfato ferroso/
tida com a ingestão de dois copos de leite ou dois ovos ou dia, por exemplo) para que se atinja a absorção de 5 a lOmg
80 g de carne ou 80 g de queijo tipo Minas ou prato. Não de ferro/dia.
há necessidade de ingerir grandes volumes de alimentos
de origem animal para satisfazer as necessidades protei-
cas diá rias.~· '' NECESS I DADeS DEÁGUA,
Durante uma gravidez normal, são si ntetizadas cerca VITAMINAS F SAIS MI ERA IS
de 1.000 g de proteína - SOO g no feto, 60 g na placenta
e 440 g no corpo da gestante. As recomendações dietéti- Quando a dieta é equilibrada e a gestação transcorre
cas quanto à ingestão proteica na gravidez variam ampla- sem anormalidades, não há razão que justifique alterações
mente na literatura. As tendências mais recentes são mais dietéticas ou suplementações de vitaminas ou minerais na
econômicas e sugerem aparte proteico de 2 g/ kg/ dia, nas gravidez c lactação.
mesmas proporçõe quanto à fonte (2; 3de origem vegetal e Não há razões para aumentar a ingestão de água du ran-
1; de origem animal). Esse acréscimo na ingestão proteica te a gravidez, mas na lactação este é um cuidado importan-
3
diária é satisfeito com a ingestão de dois copos de leite mais te. N utrizes têm mais propensão à desidratação, especial-
dois ovos/dia ou dois copos de leite mais 100 gdecarne bo- mente em regiões de clima quente.
vina. Recomendações semelhantes são feitas para nu trizes. Como já mencionado anteriormente, o aumento da
necessidade de vitam inas e minerais no segundo e terceiro
tri mestres da gestação é acompanhado por corresponden-
NECESSIDADE:. DE FERRO te aumento do apetite no mesmo período, o que torna, usu-
almente, desnece sária a suplementação desses nutrientes,
Devido às perd as menstruais, urna mulher Jdulta nor- quando a gestante se alimenta adequadamente. Estudos
mal tem menos re ervas de ferro que os homens e o balan- recentes sobre a necessidade de suplementação de zi nco na
ço ingestão/consumo de ferro é mais próximo de zero - a gravidez não demonstraram associação entre o seu uso e
ingestão normal de ferro na mulher é ligeiramente superior a diminuição da incidência de baixo peso ao nascimento
à necessidade diária, que é da ordem de 3 mg/ dia. ou de compl icações como prematuridade, hipertensão,
O aumento da massa de eritrócitos, o desenvolvimento amnionite c infecção pós-parto. 12 Recomenda-se a suple-
do feto, das mamas, do útero, da placenta e as perd as san- mentação de cálcio cm gestantes que se alimentam pouco,
guíneas no parto e puerpério elevam a necessidade diária que não tolera m laticínios ou que usem medicamentos que
de ferro no período gestacional I puerpcral de 3 para 4 mg. inibam a absorção do cálcio (hepari na, prcdnisona).13

Nutrição Mat erna ll9


A suplementação desnecessária de nutrientes pode, das necessidades, deficiências, excessos e outros dados de
incl usive, implicar alguma toxicidade para o feto. Os Q ua- interesse médico no que se refere a vitaminas e mi nerais na
dros 8.2 a 8.8 resu mem alguns dados importantes acerca gravidez e lactação.

Quadro 8 .3 J Vitaminas na grav idez e lactação (níveis séricos - concentração no leite - deficiência - toxicidade)
V1tam1nas Níve1s Concentração no le1te humano Def1c1ênc1a na grav1dez Tox1c1dade
séncos na Consequênc 1as para o feto
gestação
Tiamina .1. J Concentração no leite maturo é sete Neurite gravídica; a deficiência não Não é conhecida
vezes maior que no colostro muda o curso da gravidez
~

Riboflavina .1. Concentração no leite maturo é A deficiência não muda o curso da Não é conhecido
duas vezes maior que no colostro e gravidez. nem produz malformações
declina com a lactação prolongada fetais
-
Niacina .1. Aumenta progressivamente nas A conversão de triptofano em niacina Não é conhecido
duas primeiras semanas; no leite é mais eficiente em gestantes; a defi-
maturo. a concentração é proporcio- ciência é muito rara na gravidez
nal à ingesta
---
Ácido .1. Concentração aumenta no leite Não há dados; a queda dos níveis séri- Não é conhecido
pantotênico durante a primeira semana cos não é corrigida por suplementação
-
Piridoxina .1. No terceiro dia de lactação. a concen- Não há evidências de problemas para Não é conhecido
tração se iguala à dos níveis séricos o feto
maternos: no leite maturo é 16 vezes
maior do que os níveis séricos
-
Biotina * * * Não é conhecida
Vitamina u Concentração no leite não se reduz A suplementação oral não reverte a Não é conhecido
812 mesmo em vegetarianos queda dos níveis durante a gravidez;
não há relatos de anemia megaloblá-
sica em re-.cém-nascidos de mães
com essa anemia
Acido fólico .1..1. (**) Aumenta no leite maturo; a anemia Não há mudanças significativas no Não é conhecido
megaloblástica não ocorre no feto curso da gravidez; quando há anemia
mesmo quando a mãe tiver defici- grave (Hb * 6g%) pode haver sofri-
ência mento fetal; há tendência à hiperseg-
mentação de neutrófilos; a deficiência
grave de ácido fólico está relacionada
ao aparecimento de anomalias congê-
nitas no S.NC
Vitamina C .1..1. (**) A deficiência de vit. Cnão acarreta es- Parece que a deficiência de vitamina Questionam-se
corbuto no lactente; os níveis séricos Cna gravidez aumenta a incidência de ligeiras altera-
não se alteram com a suplementação descolamento prematuro de placenta ções metabólicas
fetais no primei-
ro trimestre
Continua ...

120 Noções Práticas de Obstet rícia


... continuação
Quadro 8.3 1Vitami nas na gravidez c lactação (níveis !:.éricos - concentração no leite - deficiência toxicidade)
VltélflllllélS N1ve1s Concentração no le1te humano Oef1C1ênc1a na grav1dez Tox1c1dade para
ser1cos na Consequências o feto
gestação
Vitamina A J, 1o trimestre No colostro é alta; cai cerca de 10 Não altera o curso da gravidez Doses excessivas
i 3° trimestre vezes no leite maturo de Vit. A no primei-
J. parto ro trimestre podem
i pós-parto induzir malforma-
ções fetais
- -- .
Vitamina O -+ou i Lactentes de mães com níveis Não há relato de alteração no curso da Hipercalcemia fetal
séricos normais mantêm-se sem gravidez. Pode ser um fator etiológico
deficiência por seis meses; lacten- de hipoplasia dentária primária no feto
tes de mães desnutridas podem
apresentar raquitismo
--
Vitamina E ii*** No colostro é igual à do plasma; Recém-nascidos de mães com defici- Não é conhecida
após um mês do parto cai para ência de vitamina Etêm apresentado
0,25 do plasma matemo anemia hemolítica. Foi registrada defi-
ciência de vitamina Eem pacientes com
descolamento prematuro de placenta
Vitamina K . A concentração no leite é baixa. T. protrombina no sangue do cordão é Não é conhecida
Lactentes de leite materno apre- mais prolongado que o da mãe. o que é
sentam tempo de protrombina corrigido com a administração de vitami-
prolongado se comparados aos na Kao RN. A administração profilática à
alimentados com leite de vaca mãe não corrige essa deficiência.
• = não há dados.
r .)= redução de até 50% dos níveis prévios;
(• • ·) = aumento de 40 a 50% no l' trimestre.
.1. = dimmufdo. i = aumentado; .J..J. =muito diminuído. ii= mu110 aumentado. -+=sem alterações
Referências 3. 4. 5. 7. 13. 16. 17.

Quadro 8.4 1Vitaminas: necessidades - fu nções biológicas deficiência - excesso


V1tam111as Necess1dade d1ána Funções b1ológ1cas Quadro clín1co Quadro cl1n1co
NG G L da def1clêrc1a do excesso

Tiamina (mg) 1.4 1.4


Coenzima no metabolismo dos Beribéri I
Não é conhecido
carboidratos; modulador da
transmissão neuromuscular ___l__
- -----+--
Riboflavina (mg) - + - -1,5
- - ' ----r--
Co_e_n-zi_
m_a-na- respiraç-ão- e
- ox-id-a-ça-o---1f-E
-s-to_m_a-ti-te- angui;TNão é conhecido
1,2 1.7
tecidual e no metabolismo proteico glossite. queilose.
I
+---+
I
e energético dermatite
Niacina (mg) 13 15 18 Composição das coenzimas NAD Pelagra Não é conhecido
e NAOP; participa na respiração
I I I teci dual I
Continua ...

Nutrição Materna 121


.. . continuação
Quadro 8.41 Vitami nas: necessidades - funções biológicas - deficiência - excesso
Vrtamrr1as Necessrdade drarra Funções broloqrcas Quadro clrnrco ela Quadro clrnrco
defrcrênc ra do excesso
NG G L

Ácido 4-7 • • Sob a forma de coenzima A: síntese A dificiência é rara; Não é conhecido
pantotênico e degradação de ácidos graxas e de experimentalmente
(mg) esteroides; participa no metabolismo observam-se náuseas.
oxidativo de carboidratos vômitos e cefaleia
Piridoxina (mg) 2 4,5 • Coenzima em reações de Érara: convulsões e Não é conhecido
transformação dos aminoácidos anemia
Biotina (1Jg) 150 • * Cofator para carboxilação enzimática Não característica; Não é conhecido
do piruvato e da acetil CoA muito rara
Ácido fólico (1Jg) 400 800 500 Cofator na síntese de DNA- Anemia megaloblástica Não é conhecido
metabolismo das purinas
Vit. 812 (1Jg) 3 4 4 Cofator na síntese de DNA Anemia megaloblástica; Não é conhecido
parestesias. convulsões,
surtos psicóticos
Vit. C(mg) 60 80 100 Síntese de colágeno e de esteroides; Escorbuto Não é conhecido
reações de oxidação
--
VitA 800 1.000 1.200 Acomodação visual no escuro; Cegueira, hiperceratose Cefaleia; lesões
(retino! eq.) crescimento ósseo; reprodução; folicular; alterações cutâneas;
desenvolvimento fetal ósseas hipertensão
intracraniana
Vit. O(1Jg) 5 10 10 Homeostasia do cálcio Raquitismo Hipercalcemia
Vit E 8 10 10 Antioxidante Degeneração axonal no Não é conhecido
(tocoferol eq) sistema nervoso; dimi-
nuição da meia-vida do
eritrócito
Vit. K Produzida pela flora Síntese de fatores da coagulação Distúrbio na coagulação Doses elevadas
intestinal podem ser
tóxicas para o
fígado I
NG= não gestante;
G=gestante;
L= em lactação
• = dados pouco consistentes na literatura.
Referências: 3. 4, 5, 10, 11, 12. 14. 15, 16. 17.

122 Noções Práticas de Obstet rícia


I
Quadro 8.5 Minerais: necessidade fu nções biológicas - deficiência - excesso
M111era1s Necesstdade dtarta Funções btologtcas Quadro cltntco da Quadro cltntco do
NG G L deftctêncta excesso

Cálcio(mg) 800 1 1200 1200 Metabolismo ósseo; integridade Convulsões; aumento Poliúria. noctúria.
funcional de músculos e nervos; da atividade neuro- fraqueza. artralgia.

~
coagulação sanguínea muscular perturbações do sen-
I sório e da memória
Cobre (mg) 2-3 Não determinado 1 Desenvolvimento do sistem-a---ii-A-i-nd_a_n_ã_o-ev- i-de_n_c.-la-do Amenorreia; aborta-
nervoso; síntese de hemoglobina; em adultos mento espontâneo
metabolismo do tecido conjuntivo
lodo (1Jg) 150 175 200 Síntese dos hormônios Bócio coloide. Irritação gástrica;
tireoidianos hipotireoidismo lesões cutâneas: mal-

Ferro (mg) 3 4 3 Síntese de hemoglobina e Anemia hipocrômica.


l formações fetais•;
congestão nasal
Hemocromatose
mioglobina; oxidação e redução de distúrbios
-'-----1-e_nz_im
_as; citocromos I gastrointestinais
Manganês (mg) 1.5-1 Não determinado Sintese de melanina e de
mucopolissacárides de cartilagem
Não é conhecido
------~- - - -----------
Zinco (mg) 15 20 25 Integra enzimas diversas; síntese IAtraso no desen-
de RNA e DNA volvimento sexual;
inapetência; lesões de
pele. cabelos e unhas
Magnésio (mg) 300 450 450 Transmissão neuroquímica e C ontrações. tremores Insuficiência
I excitabilidade muscular; cofator
de enzimas de fosfato em reações
e espasmos mus-
culares; arritmias
respiratória; parada
cardíaca
que utilizam ATP cardíacas; fibrilação
ventricular
NG = não grávida;
G = grílvtda.
L =em lactação
• = dados não confirmados
Referênctas 3. 4. 5. 10. 11. 12. 14. 15. 16. 17

Nutrição Mate rna 123


Quadro 8.6j Minerais na gravidez e lactação (níveis séricos - concentrações no leite - deficiência - toxicidade)
M1nera1s NIV81S Concentracao no le1te ilu1nano Consequências da Tox1C1dacle pa1 a o feto
SeiiCOS na def1c1enc1a na grav1dez
qestação

Ferro .1. Aproximadamente 0,2 mg/dia é secre- Anemia com dificuldades Nas doses recomendadas não
tado no leite no desenvolvimento fetal; há toxicidade para o feto.
quando a hemoglobina
materna cai abaixo de 6 g%
há sofrimento fetal agudo
Cobre i!al A concentração é maior no colostro e Não foi observada Potencialidade teratogênica. Na
diminui um pouco no leite maturo. não toxemia gravídica foi observado
sendo influenciada por suplementação aumento nos níveis de cobre
sérico !
Zinco .1. (b) Aproximadamente 2 mg/dia são secre- Pode causar malformação *
tados no leite fetal; gestantes alcoolistas
apresentam níveis séricos
baixos
lodo * A concentração no leite é da ordem de Cretinismo no recém- Drogas contendo iodo podem
30 ~g/l -nascido !retardo mental; ser causa de malformação fetal
surdez)
Magnésio • A concentração no leite é da ordem de * Osulfato de magnésio quando
40 mg/l administrado na toxemia graví-
dica pode induzir dificuldades
respiratórias e diminuição
do tõnus muscular no recém-
-nascido I
Cálcio .1. (c) Aproximadamente 0,5 g/dia é secreta- Só ocorre quando a Não é conhecida.
do no leite dieta for extremamente
inadedquada - pode haver
osteomalácia
(a)= principalmente no primeiro trimestre;
(b) =principalmente no terceiro trimestre;
(c)= devido. principalmente. à hipoalbuminemia.
• =dados pouco consistentes na literatura.
Referências: 3. 4, B. 10. 12. 16.

124 Noções Práticas de Obstetrícia


I
Quadro 8.7 Alimentos ricos em vitaminas comun cm nosso meio
,\ I' .t ' I I " li I '~' I í·"l li' ,l'ld N 1c1:1r d ,\, idl) ~;I J,ll 1 l B ·, d .,, •. I • ' lo M .. l
,, ;r "I' :' 3'" ltt'l' Ui li' [;I ,li: I ,I I '. ~t· 'l ..

Ffgado 0,26 4,19 16.5 7,0 840 96 I 80 8551 1 0,63


Frango 11.7 0.8 350 11 II 0.4 - -
Sardinha 0,85 32 10 92
- -
Bacalhau 3.6 21
-
Ovo 0,11 0,28 0,1 1,6 110 22,5 30 2 816 1,1
-
Leite 0,04 0,21 0,1 0,34 40 4.7 8,0 93 'I

Arroz 0.01 0,02 0.4 0.5 5.0 3,0 _j


Feijão 0.11 0,06 0.7 0.5
-
Cenoura 1100 0,5
-
Couve 0,10 0,18 1,6 1,0 93
- · -- - -- --
Alface I 3,1 200 0,5
Amendoim 0,25 16,8 2.1 400 34 _J -
Germe de trigo 162.8
-
Banana 510 4.4 11 0,3
- - - -
Laranja 0.2 I 1.9 45 59 I I
• RE = retrnol equivalente: •· TE = tocoferol equivalente.

Quadro 8.8 1Ali mentos comuns cm nosso meio, ricos cm min erais (teor por 100 g)
.. ~

. ~. '
o
~., ~ :. ' ~

'
r.,·r I" •; ' r TI
'' ·''• : ''· \ ' " r •~ '1 ' I

Leite 160 91 9 0,3 I 0,1 0,01 0.4 50 144 I

Ovo 54 222 9,8 2.3 20.8 0,02 0.1 122 129 J


- - --
Fígado 10 476 8,8 39,2 2.8

-
Carne bovina 16 230 16 3,5
-
355 1
Frango 13 1.3 29,1 0.2 60 30~
--
Arroz 10 8 0,2 1,6 1,5 5 o 92 I
- --
Feijão 80 140 163 7,6 10 984 _ 1
-
Vagem 50 37 1.7 1,3 0,27 243
-
Brócolis 88 62 0,8 7
-
Couve-flor 21 1,0 I 34 0.1 295
Espinafre 60 2,2 2.2
- -· 71
-
470
0.5
- -
Laranja 34 20 8.2 0.7 0.7 0,08 0,06 200
-
Banana 15 27 33 2.0 0,2 370
-
Ostra * I 1487 17 i
• = Não é um alimento comum em nosso meio. mas se destaca pelo teor de zinco e cobre. Referência. 5.12.

Nutrição Mat erna 125


O con umo de ácido fólico duplica na ge tante/ nu- GRAVIDEZES SUCESSIVAS
triz. Ape ar di o, a deficiência dessa vitamina na gravi-
dez/ lactação é pouco comum, devido à sua abundância Q.tando uma mulher engr:wida em intervalo inferior
cm vários ali mentos, especialmente nas verdu ras de fo- a um ano após eu último parto, é recomendável prescre-
lhas. A deficiência de ácido fálico é frequente apenas cm ver-lhe o uso profilático de fcrrugino o . e a condição
gestantes subnutridas ou naq uelas com problemas cl íni- - uso profi lático - basta a uti lização de I O a 300 mg de
co paralelo que demandem grande reprodução celular, sulfato ferroso por d ia (30 a 60 mg de Fc elementar/dia)
como hemóli es, doenças inflamatória crônica do tubo du rante os dois último tri mestres da gravidez.
d igestivo. Na gravidez normal, com d ieta adequada, não
há razões para suplementações de ácido fálico. O uso do
ácido fá lico para preveni r defeito de fechamento de tubo ADOLES CENTES
neural só tem valor quando introduzido antes do início
da gravidez. Estudo c tatístico de grande porte mostram que em
A nece idade de vitamina D dobra na gravidez, ma a torno de 19% dos recém-nascidos de mães adolescentes pc-
suplementação também é de nccc sária c a condiçõe de am meno de 2,5 kg. Es e problema e deve a um somatório
exposição ola r da gestante são normais. É importante a- de razõc tai como a imaturidade fi iológica c emocional
lientar que a concentração de vitamma D no leite hu mano (própria da adole cente), o grande consumo calórico do
é baixa, insu licicnte para as necessidade do lactente. Por corpo ainda cm cre cimento, a irregularidade no hábito ali-
i o, é fundamental que todas as crianças sejam expo tas ment:Jr, o abandono soci:1l c :1 violência a que grande pa rte
15 16
ao sol a parti r de I 5 dias de vida. Exi te hoje uma polêmica de no sas jovens e tão submetida . . Infelizmente, não
a respeito da nccc idade da uplemcntação de vitamina D existe na rede pública de aúdc política con istente de pre-
para lactentes. Como algun fatores podem dificulta r a pe- venção de doenças e promoção da saúde da adolescente, que
netração d.1luz solar e dimi nuir a produção de vitami na D fica perdida pela dificuldadc de acc so ao serviço c pela indc-
(pigmenta :io escurn da pele, uso de bloqueadores solares lin ição na e colha de qual pro li sional lhe dará assistência, o
para prevenção de câncer, poluição do ar, bai..xa cxpo ição clínico ou o pediatra. O ace . o mai fácil da adole cente ao
à luz sola r cm dia frios e viver cm alta latitudes), a novJ erviço de aúde acontece quando a gravidez já é um fato.
recomendação da Nntional Acnrie111y oj Sciences (N A ) é a Vale salientar que essa assi tência pré-natal co tum a er, nes-
suplcmcntação de pelo mcno 200 UI de vita mina D para se contexto, a forma como a :tdolescente é in crida no pro-
todos os la tentes em uso de leite materno exclusivo ou gramas de assistência à aúde, que certamente n~o é a ideal.
usando menos de SOO mi de fórmula· forti ficadas por dia.14 Quanto mais próxi 111:1 da mcnarca for a gravidez (quatro
ão vemo ju tificativa para adotar indi cri minada mente primeiro ano), pior o cu prognóstico, poi a baixa idade
cs a recomendação no Brasil, principalmente porque aqui, ginecológica e ocre cimento da gestante podem compro-
na maioria das regiõe , o sol é abunda nte c, felizmente, ai n- meter a viabilidade de nutrientes ao feto.L'- Acre ente- c a
da é gratuito! isso que a ma ioria das adolescentes que engravid.1 pertence
a uma categoria ocioeconômico-cultural pouco favorecida,
apresenta com frequência transtornos psicos ociais de en-
SITUAÇÕES ESPECIAIS QUE cadeada pela gravide7 precoce (tentativa de aborto, aban-
JusTIFICAM ALTERAÇÕES dono do parceiro e/ ou da fam ília, entimento de di crimi-
nação, depres ão e outros) c adere tardiamente ao pré-natal.
DIETÉTICAS E SUPLEMENTAÇÕES NA
AAmericn11 Oiefeftcs Associntion considera a adole cen-
GRAVIDEZ E LACTAÇÃO te grávida um grupo de "ri co nutricional" que requer
acompanhamento nutricional mi nucio~o durnntc toda
A alteração dietética e/ou a suplemcntação pa ·a a ser a gravidez. essa população é frequente a adesão a die-
neccs ária sempre que haja evidências indiscutíveis de tas bizarras c inadequadas. Além disso, a irregularidade
deficiência e pecíficas (Q uadro 8.4 c 8.5) e também nas alimentar, distúrbios nutricionais como anorexia, o uso
condiçõe e peciai , de crita a eguir.
c de cigarro , álcool ou outra droga podem afctar o esta-

1 26 Noções Práticas de Obstetrícia


do nutricional da gestante. N unca é demais salientar que A indicação de outros preparados fe rruginosos bem
o acompa nhamento à adolescente gráv ida é especial cm como a utilizaç<'io da via pa rentera l de administração de
todos o seus aspectos e demanda, por parte do médico, ferro restri nge-se a situaçõe mu ito especiais, cujo comen-
disposição particular para '"ver" a adolescente de modo in- túio foge dos objeti vo deste capítulo.
tegral, em suas dimensões biopsicocxistenciais, inclusive o
cu ··entorno"' familiar c social.
A principal alteração de dem.mda nutricio nal em grávi- ANEMIA MACROCÍTI CA OU
das c nu trizes adolescentes é a calórica. A necessidade caló- DOENÇAS HEMOLÍTICAS
rica diária da adolescente é de 38 a 50 kca l/kg/dia - quan -
to ma is nova a adolescente, maior sua necessidade caló rica. 1 essa situação a suplementação de ácido fólico, na do-
A grávida e nutriz adolescente mais jovem, com peso ade- sagem de 4 mg/dia (os produtos comerciais que veiculam
quado necessita, no segundo c terceiro trimestres, de SOO ác ido folico contêm, em geral, associações vi tamínicas,
kcal /dia adicionais à taxa recomendada p.1ra idade. É des- com aprox imadamen te 2 mg de ácido fólico - como fo-
necessá rio alterar a ingestão calórica no primeiro trimestre l,ttos - por drágeas). A suplemcntação pode ta mbém ser
gcstacional. Recomenda-se suplcmcntação de vita m inas realizada empiricamente sugeri ndo-se à gestante que au-
do complexo B (com cxccção da vitamina 13 12, cuja suple- mente sua ingest.:i.o de ve rduras, especialmente de couve
mcntação é desnecessá ria). Não há necessidade de suplc- e de alface (muito ricas cm ácido fólico). A recomendação
rncntação especial de vitaminas A, E, nem de sais minerais. dietética ou a suplcmentação med icamentosa devem ser
A necessidade diária de proteínas cm gestantes c nutrizcs mantidas .1té a com pleta normalização dos níveis sanguí-
adolescentes é a mesma das gestantes adulta . A suplemen- neo~ de hemoglobin,\.
tação de ferro durante age tação na adolescente pode ser
recomendada para suprir as necessidades aumentadas pelo
crescimento e expansão da massa de critrócitos e para su- REGIMES ALIMENTARES OU
portar o cresci mento físico da adolescente.1s Como já visto DIETAS EXÓTICAS
anteriormente, recomenda-se também suplemcntação de
cálcio para proteger a mineralização óssea e prevenir intcr- A gravidez não é dcli nitiva mente época .tdcquada para
corrências como hipertensão c pré-eclâmpsia. 1' privações intencionais nem para exotismos alimentares.
Diante dessas situações, há de se procurar compreender
as verdadeiras razões que levam a gestante a e submeter
ANEMIA HIPOCRÔMICA (FERROPRIVA) a essas prática · c ajudá-la a se alimentar melhor. É difíci l
prever que tipo de reajuste dietético será ncccs ário c cada
Essa situação torna necessário o uso de ferruginosos em caso deverá ser estudado individualmente. A ún ica situação
do ·es terapêuticas, durante toda a gravidez c nos dois a três mais con hecida é a da lactação cm mulheres vegeta rianas
mese subsequentes ao p.trto. A preparação ferrugi nosa mais cstrit.1s. Es a ituação é rara em no o meio, porque a maio-
utilizada é o sul fato ferroso, na dose de 1.200 mg diários, 30 ria dos vegetarianos ingere ovos e/ ou laticínios e, por isso,
minutos antes das principais refeições. Essa dosagem fornece eles não são realmente vegetarianos. Vegetaria nas estritas
240 mg de ferro elementar por dia. Como a absorção de fer- podem produzir leite deficiente cm vitamina B12 com con-
ro cm gestantes em estado ferropri vo é da ordem de 2096 da sequências para a criança cm desenvolvimcnt.:>.l
dose oferecida, a administração de 240 mg de terro elemen-
tar/ dia implica a absorção de quase 50 mg de ferro/dia, o que
corresponde à capacidade medular máx ima de manipulação ALCOÓLATRA
diária de ferro. Essa dosagem é considerada ideal, não haven-
do razões para a prescrição de quantidades maiores. A do ,\- O utra situação clínica particula rmente complexa é a
gem deve ser diminuída quando há intolerância ao medica- gestação em mu lheres alcoólatras. Embora essa situação
mento. Na prática, não há como suprir a demanda de ferro de JÜO seja comu m, ela demanda grande senso crítico por
e tados ferroprivos só com medida~ dietétic.ts. parte do médico. Torna-se necessária .1 avaliação m inu-

Nutrição Materna 12 7
ciosa do estado nutricional da gesta nte e, em geral, suple- SUBNUTRIÇÃO
mentação de vitaminas do complexo B, nas doses ideais
(Quadro 8.4). Não se pode prever que tipo de modificação Obviamente, toda gestante que apresentar sinais de
dietética será necessário. desnutrição deve ser prontamente t ratada. Cada caso deve
ser avaliado individual mente e as correções dietéticas
prontamente iniciadas.
INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA

A dietoterapia d e pacientes com insuficiência hepá- Uso PROLONGADO DE MEDICAMENTOS


tica é complexa; isso se torn a mais complexo ainda nos
raros casos em que ocorre a gravidez (a fertilidade de Pacientes em uso crónico (por mais de três semanas)
mulheres com insuficiência hepática é muito baixa). A de antibióticos, cujo espectro atinja germes Gram+, podem
d ieta assume aqui papel primordial para que a gestação desenvolver hipovitam inose K. Em gestantes nessa situ a-
possa ser conduzida ao termo da melho r forma possível. ção, recomenda-se a administração profilática de vitamina
O balanço energético, a ingestão proteica e a suplemen- K I na dose de IOmg por dia durante três dias, uma vez por
tação d e vitaminas (especial mente d e vitaminas K e do mês, enquanto persistir a antibioticoterapia.
complexo B) devem ser rigorosamente controlados. O Gestantes em uso de tuberculostáticos devem receber
leitor deverá recorrer a textos especializados para mais profilaticamente piridoxina, na dose de S a 10 mg/d ia, en-
inform ações. 10 quanto persistir o uso desses medicamentos.
Gestantes em uso de di fen il-hidantoína devem receber
suplementação de ácido fólico. Recomenda-se, para isso,
INSUFIC IÊNCIA RENAL CRÔNICA apenas o aumento da ingestão de verdu ras.
Muitas outras situações podem justificar a suplementa-
D a mesma forma que na insuficiência hepática, a possi- ção de vitaminas e/ ou minerais ou. ainda, correções qua-
bi lidade de gravidez em mulheres com insuficiência renal .litati vas e qu antitativas d a d ieta. São, entretanto, situações
é reduzida. Quando isso acontece, o controle dietético é muito raras nas quais deve prevalecer acima de tudo o bom
também essencial, nos seus aspectos energéticos, proteicos senso do médico.
e, pri ncipalmente, na quantidade de sódio, cálcio e potássio As implicações do uso de medicamento s na lactação
ingeridos pela gestante. Aqui também se recomenda a lei- estão fora do escopo deste capítulo e o leitor interessado
tura de textos especializados. 10 deve recorrer à literatura especializad a.

GASTRECTOMIA REFERÊNCIAS

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Pessoas submetidas à gastrectomia têm alguma pro-
Vol 45 11° 4 - Jul, 1974
pensão a desenvolver dificuldade de absorção de ferro.
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Gestantes gastrectomizadas têm, por isso, mais tendência a N utrition: a Comprehensive Treatise. Plenum Press. l979:1.
desenvolver deficiência de ferro; assim, recomenda-se o uso N utrition Pre- and Postnatal D eveloprnent.
profilático de ferro, cogitando-se, inclusive, se for o caso, o 3. Nichols BL, Nichols RN. N utritional Physiology in Preg-
uso de ferruginosos parenterais. O aumento no número de nancy and Lactation. Adv Pediat. 1893;30:473 -5 IS.

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número de pacientes com gastrectomia total ou parcial que
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128 Noções Práticas de Obstetricia


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Nutrição Materna 129


09 Medicamentos
Regi1u Amélia Lopes Pessoa de Aguiar

Bases Científicas para o Anti- hipertensivos


Uso de Medicamen t os Antidiabéticos
Período Crítico do De envolvimento Medicamentos Utilizados nas Tireoidopatias
Classificação dos Medicamentos Uterolíticos
Medicamentos Contraindicados lmunossupressores
ou de Uso Restrito na Gestação Cardiotônicos
Medicamentos Anti-infecc iosos Medicamentos Psicoativos
An tibiótico~ Antieméticos
Antituberculostático~
Anti-histamínicos
Medicamentos Utilizados no Trat,tmcJ1to da Toxopl.1smose
Anti-hclmíntico\
Anticoagulantes
Antivira1s Antiácidos
Antifllngicos Plantas Medicinais
Analgésicos e Anti- i n~am a tó rios Lactação e Medicamentos

uso de medicamentos durante a gestação e no capaz de produzir disgcnesia cm órgão fctailt, ~eja estrutural

O período de amamentação traz, qua e sempre,


para o médico, dúvidas qu,mto à sua segurança.
Uma limitação é o fato de que as ub tâncias com aç.io tera-
ou funcional, é denominada teratógeno. 1 Considera-se defeito
congên.ito qualquer alteração no de envolvimento morfológi-
co, estrutur.1l, funcional o u molecular presente ao nascimento,
pêutica antes de crcm di ponibilizadas p:tra uso clínico são, externo ou interno, f.1miliar ou c porádico, hereditário ou n.io,
via de regra, testada em experimentos animais e em indivídu- único ou múltiplo. Os defeito congênitos são classifiodos
os do exo masculino, limitando, portanto, informações sobre crn trê categoria : malformações, ddonmçõcs c disrupçõc .
seus efeitos no feto c no recém-nascido. A pesquisas cm ges- O termo ndformação refere-se, na verdade, apenas a anorm.t-
tante são, cm grande parte, etiomcnte inaceitáveis. A hi tória lidadc intrínsecas em um ou mais programa genéticos ope-
da teratologia mo trou à humanidade que qualquer ublttân- rante no de envolvimento. Portanto, malformaç.io é somente
cia pode produzir efeito deletérios, morfológicos ou funci o- um dos tipo~ de defeitos congênitos e ess:ts duas cxprcs ões
nais no embrião e no feto. Q1alquer substância ou agen te n.:io devem ser utilizadas como si nónimas.
Durante a amamentação, é necc ário aber e há trans- como as alterações fisiológi :1~ da gravidez podem alterar a
ferência, para o leite, da ub tãncia admini trada à mãe e se a farmacocinética do medicamentos e como as proprieda-
mesma é tran portada na forma ativa, podendo, con equen- des química do medicamento podem interferir n:~ tran -
tcmente, causar efeitos no lactente. ferência placentária.
Existem basicamente três situações nas quais é nece -
ário o uso de medicamentos na ge tação e durante a ama-
mentação:
Quadro 9. 1 I Alterações fisiológicas da gravidez c farma -
doença maternas crônica ou agudas, como, por
coci nética
exemplo, para controle da hipertensão arterial, dia-
bete , cardiopatia ou para tratar infecçõc uriná- Aumento do volume plasmático. do débito cardíaco e do
ria e pneumonias; ritmo de filtração glomerular ~ Menos concentração de
alguns medicamentos. principalmente os de excreção renal
infecçõc que comprometem imultanca mente ~ risco de níveis subterapêuticos
mãe e feto, como, por exemplo, nos casos de ífili
e infecção pelo vírus da imunodefi ciênciJ hum:1n:1 Aumento da gordura corporal ~Aumento do volume de
distribuição de substâncias lipossolúveis ~ risco de níveis
( HI V); subterapêuticos
neces idade de tratamento fetal, por exemplo, nos
Diminuição da albumina plasmática, aumentando o volume
ca o de infecção primária pelo T.gondu durante a
de distribuição para substâncias altamente ligadas a
gravidez, arritm ia cardíaca fetais, trabalho de par- proteínas lp.ex .. anticonvulsivantesl ~ risco de níveis
to pré-termo e indução medica mento a da maturi- subterapêuticos
dade pulmonar fetal.
Aumento do tempo de esvaziamento gástrico ~ atraso no
inicio do efeito de medicamentos administrados por via oral
Os e tudos epidemiológicos mo tram que mais de
Aumento do fluxo sanguíneo ~ absorção e início de ação
90% das mulheres utilizam algum medicamento com ou
mais rápidos pela via intramuscular
sem prescrição durante a gestação. Excluindo as vitaminas,
e tima- e que cm 25 a "0% das gravidezes seja utilizado al- Alteração na atividade enzimática hepática ~ acúmulo ou
eliminação diminuída de alguns medicamentos
gum mcdicamcnto.2
A antiga crença de que a placenta funcionava como Idade gestacional (IG): quando maior a IG, mais fluxo placen-
barreira que protegia o feto do efeito adver o do me- tário, menor espessura das vilosidades placentárias e maior
superfície de troca
dicamento ou de qualquer outro agente agressor foi des-
feita com os conhecimentos gerado pela tragédia da tali-
domida. A partir da quinta semana de gestação (terceira
emana de vida embrionária), é e tabelecido o tran porte Q uadro 9.2 I Transferência placentária c propriedades
de ub trato maternos para o embrião e de substâncias químicas do medicamento
do embrião para a mãe. Hoje, é bcm-c tabclccido que pra- Ligação a proteínas
ticamente qualquer medicamento ou ubstância qufmica Menos albumina materna e mais albumina fetal ~ mais
admini trada à mãe é capaz de atrave ar a placenta em al- concentração da fração livre
guma quantidade, a menos que cja de truído ou alterado pH materno e fetal
durante a passagem. 3 pH fetal ligeiramente mais ácido que o materno ~
Diversas alterações fisiológicas da gravidez podem afe- favorece a difusão das bases mais fracas
tar a farmacoci nética dos mcd ic:~ mcntos. O metabolismo Lipossolubilidade
materno c a características das substâ ncias como liposso- Medicamentos moderadamente lipossolúveis difundem
lubilidade, capacidade de ligação à proteínas c peso mole- mais facilmente pela placenta
------------------~
cular são importante na determinação da intensidade da Peso molecular
transferência placentária. O tran porte placentário pode c < 500 g/mol: difusão livre
dar por difu ão simples ou f..1 ilitada, tran porte ativo, fa- 500-1.000g: difusão menos facilitada
> 100 g/ mol: não atravessam a placenta
gocito e ou pinocito e. 24 Os Q.tadros 9.1 e 9.2 intetizam

13 2 Noções Práticas de Obstetricia


Dia nte da necessidade da utilização de medicamentos materna, crônica ou aguda, que por si só pode afeta r o de-
durante a gestação ou no período de aleita mento, é funda- sen volvimento do feto. Nessas situações a dificuldade em
menta l que o profissional busq ue informações que perm i- determinar a relação causa-efeito entre a medicação e a ano-
tam a escolha da substân cia com menos ri sco para o bi nõ- malia encontrada é maior.
m io mãe-fi Il ho. 1Vlcsmo as mctanálises disponíveis devem ser ana lisa-
das com cautela, já q ue essa metodologia utiliza estudos
publicados para suas considerações. a literatura mundial
BASES CIENTÍFICAS PARA é comum a não publicação dos estudos negativos, ou seja,
O Uso DE MEDICAMENTOS aqueles que não encontraram relação causa-efeito, fazendo
com que exista inclusão predominante de trabalhos que
identificaram algum indício de relação causal. 1 4
A maioria das informações disponíveis a respeito dos Existem vários sistemas que classificam os medica-
efeitos teratogénicos dos medicamentos e d rogas é prove- mentos de acordo com os riscos as ociados. Uma dessas
niente de estudos em ani mais. Infcl izmentc, esses achados classificações foi criada em 1979 pela Food and Drug Admi-
experimentais não podem ser extrapolados de espécie para nislralion ( FDA) c, embora não seja universalmente aceita,
espécie, muito menos de animai para humanos. Além dis- é útil na to mada de dccisõc , principalmente em situações
so, é comum nos estudos cm ani mais serem utilizadas doses cl ínicas menos freq uentes. Esse sistema ela. sifica os medi-
muito superiores às preconizadas nos tratamentos cl ín icos 2 4 camentos de acordo com os dados provenientes de estudos
Tradicional mente, os efeitos tcr.ltogên icos dos medica- cm animais e hu manos, categorizando-o desde os consi-
mentos têm sido iden tificados como malformações. Alte- der:~dos seguros para uso cm qualquer fase da gestação
rações funcionais e comportamentais são muito mais di- (classe A) até os contra indicados, por serem comprovada-
fíceis de serem identificadas como tendo sido provocadas mente tcratogénicos (classe X). Além disso, esse sistema
pela exposição intrauteri.na a alguma substância ad m inis- forn ece t:~ m bém informações sobre o u o dessas substân-
trada à gestante. Desta forma, é importante (1ue todo pro- ci.ls durante a amamentação.'
fi ssional, ao prescrever qualquer medicamento p.1ra uma O utra for ma de obtenção de informações sobre segu-
gestante ou nutriz, esteja atento aos seus efeitos no feto c rança e riscos de medicamentos na gravidez são os Siste-
no recém-nascido. 1 4 mas de Informação sobre Agentes Teratogcnicos (SIAT).
Os estudos epidemiológicos referente aos riscos dos No Br.1sil, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul
medicamentos durante a gestação são, principalmente, re- disponibiliza esse serviço de forma gratui ta para os profis-
latos de casos, estudos caso-controle e coortes. Obvi.llncn- sionais de saúde c para gestantes pelo sile http://gravidez-
tc essa metodologia traz consigo uma série de incertezas. -scgu r.1.org/.
Além disso, esses estudos carregam consigo a po sibilida-
de de vícios importantes, como o de memória. Mulheres
que apresentaram alguma doença du rante a gestação ou PERÍODO CRÍTICO DO DESENVOLVIMENTO
tiveram fi lho com anomalia congénita são mais frequen-
temente capazes de lembrar-se da exposição .1 qualquer Para causar defeito congénito, o med icamento tem que
substância durante a gestação do que aq uelas que tiveram agir du rante o período crítico do desenvolvimento embrio-
gravidez saudável. Outra lim it.1ção para os estudos cpide· n.1rio ou fetal, induzindo, assim, embriopatia ou fetopatia.
miológicos é o taman ho amostral. Como as malfo rmações Do po nto de vista de susceptibilidade, a gestação humana
congénitas ocorrem raramente - c mesmo q uando existe é dividida cm três períodos:
exposição int raútcro à substância sabidamente teratogeni- Pré-implantação: estende-se d:~ fertil ização até a im-
G I a chance de o feto ser afctado não é muito alta - o nú- plantação;
mero de mul heres necessário nos estudos, para permitir embriônico: estende-se de duas a oito sema nas pós-
conclusão consistente, é sempre elevado-' 4 -im plantação, o que equ ivale :~o período de quatro
Em muitas situações, a prescrição de determinada a IOsema n :~ s de amcnorreia;
substância c dá cm decorrência da existênci.1 de doença fetal: de IOsemanas de amenorrcia até o termo.

Medicamentos 133
O período pré-implantação é conhecido, em terato- roxina e \iotironina e vitaminas (A, B, C e D), desde que nas
logia, como período do "tudo ou nada", pois nessa fase a doses habitualmente recomendadas.5•6
agressão celular resulta na morte embrionária ou na sobre- Na categoria Bsão incluídos vários medicamentos como
vida sem malformações, por meio de um fenômeno deno- penicilinas, dimenid rinato, cli ndamicina, eritromici.na, clo-
minado compensação. tri mazol, acetaminofeno, sulfato de magnésio, metoclopra-
No período embriônico concentra-se a quase totali- mida, insulina, prcdnisona, entre outros-'·6
dade da organogenêse e, nessa fase, os sistemas têm vul- A categoria C engloba a maioria dos medicamentos uti-
nerabilidade máxima. Entretanto, também na fase fetal lizados durante a gestação.' ·6
um teratógeno pode determinar lesão fetal. Por exemplo, Medicamentos classificados na categoria D podem ter
os inibidores da enzima de conversão da angiotensina, o seu uso justificado na gestação, desde que a não utilização
quando utilizados no primeiro trimestre, podem induzir do tratamento coloque a vida da mãe em risco c não exista
cardiopatias c defeitos de tubo neural, entre outros de- outra possibilidade terapêutica. Exemplos de medicamen-
feitos. E se uti lizados no segundo trimestre, podem pro- tos dessa categoria são os anticonvulsivantes, a maioria dos
mover lesão renal c oligodrâ mnio. Os anti-inflamatórios qui mioterápicos, os antitireoidianos e o warfa rin.5·6
não esteroidais são associados a alto risco de gastroqu isc Na categoria X são incluídas as substâncias contrain-
se utilizados no primeiro trimestre. Qpando usados após dicadas nas gestantes ou mul heres em risco de engravidar,
32 semanas de gestação podem provocar o fechamento porque existem estudos que demonstram riscos fetais.5•6
irreversível do dueto arterioso, levando à hipertensão Então, a categorização dos medicamentos é út il como
pulmonar grave no período neonatal. Então, a análise de guia na tomada de decisão terapêutica, ma não deve subs-
cada substância deve ser feita de forma ind ividualizada, tituir o raciocínio clínico na condução da gestação. A pró-
levando-se em consideração não apenas a dose e o tipo pria FDA defende que mais importante que a categoriza-
de medicamento, mas também o período da gestação no ção em si é a descrição dos riscos c efeitos da substância no
qual a exposição ocorreu. 1 feto c as considerações clínicas para uso na gestação.

CLASSIFICAÇÃO DOS MEDICAMENTOS MEDICAMENTOS CONTRAINDICADOS


ou DE Uso RESTRITO NA GESTAÇÃO
De acordo com a categorização da FDA, os medica-
mentos são agrupados em cinco grupos, a saber:5
Categoria A: estudos adequados, bcm-controlados O Q\ladro 9.3 apresenta de forma sintética os medica-
em mulheres grávidas não mostraram risco para o mentos teratogênicos para a espécie humana e seus princi-
feto em qualq uer fase da gestação; pais efeitos. 1•2 •4· 6
categoria 8: estudos em animais não indicam riscos, Um medicamento pode acometer o feto por ação di-
mas não existem pesquisas em humanos ou as pro- reta, promovendo defeito congênito ou morte fetal, e por
cedidas cm animais evidenciaram riscos que não ação indireta, alterando a função placentária e reduzindo o
foram confirmados em estudos bem-controlados suprimento de nutrientes e oxigênio ou induzindo contra-
realizados em humanos; til idade uterina, que pode provocar redução do suprimen-
categoria C: não existem estudos adequados em ani- to sanguíneo para o feto ou o nascimento pré-termo.
mais, nem em humanos ou existem efeitos adversos É importante ressaltar que o fato de a mu lher ter feito
nos estudos em ani mais, mas não existem dados uso de medicamento sabidamente teratogênico não sig-
em hu manos; nifica que necessariamente o feto será acometido. O risco
categoria D: existe evidência de risco feta l em humanos; de anomalias pela exposição intraútero aos teratógenos é
categoria X: comprovada mente teratogênicos. bastante variável. Por exemplo, se uma mulher fez uso do
lítio nas primeiras semanas de gestação, fase do desenvolvi-
Há pouco medicamentos classificados na categoria A: mento embrionário do coração, o risco de o feto apresentar
doxilamina; cloreto, citrato c gluconato de potássio; levoti- a anomalia de Ebstein é inferior a 1%. O risco de anoma-

134 Noções Práticas de Obstetricia


lias fetais após exposição intra útero à isotretinoín:.t pode Sa lienta-se, também, que algu ns medicamentos, em-
ser tão alto quanto 30%. Portan to, o aconsel hamento ade- bora sabid:.t mente teratogênicos n:.t espécie huma na, são
quado para essas mulheres é fu ndamental, evitando, com classificados na categoria O, pois, eventualmente a sua
frequência, decisões equivocadas. Obvi:.tmente, o mais im- utilização na gestação é imprescindíveL Exemplos mais
portante é a prevenção efeti va de gestações nas mulheres comuns são os antitireoidianos, os anticonvulsivantes e os
em uso de medicações com potencial teratogênico. 1 ~ qui m ioterápicos.

Q!.tad ro 9.3 ITeratógenos comprovados ou suspeitos cm humanos


Med1camento Efe1to Class1f1cação
FDA
Androgênios: danazol Virilização da genitália externa feminina X l
Ansiolíticos: diazepan Fendas orais o
Depressão do SNC no período neonatal
Anticonvulsivantes: ácido valproico. Síndrome do ácido valproico: fácies característica. anormalidade de mem- o
carbamazepina. fenitoina bras, disfunção de SNC. anomalias maiores e menores
Síndrome da carbamazepina: dismorfismos faciais. atraso de desenvolvi-
menta. espinha bífida. hipoplasia de falange dista e unha
Síndrome da fenitoína: defeitos cardíacos e fenda palatina
-- -
Antidepressivos: paroxetina Malformações cardíacas: defeitos de septo ventricular e atrial, defeito de o
vias de saída do VD
Anencefalia
Crãnio-sinostose
Onfalocele
Antimicrobianos: Ototoxicidade o
estreptomicina e kanamicina

Tetraciclinas Hipospadia o
Hérnia inguinal
Hipoplasia de membros
Anomalia da decídua dos dentes
Antineoplásicos (ciclofosfamida e Síndrome da ciclofosfamida: CIUR. microcefalia, sindactilia e hipoplasia o I
metotrexato) de dedos X
Síndrome do metotrexato: anormalidades crânio-faciais, esqueléticas. (metotrexato)
cardiopulmonar e gastrointestinais e atraso de desenvolvimento
Bloqueadores do receptor da Mesmos riscos dos IECAs o
angiotensina·losartana
Carbimazol Mesmos riscos do metimazole o
Contraceptivos orais Malformações múltiplas: vertebrais. anal, cardíacas. traqueoesofágica. o
renal e membros
Dietilestilbestrol Adenose vaginal X
Adenocarcinoma de células claras da vagina e cérvix
Septos vaginais. transverso e longitudinal
Defeitos uterinas estruturais
Infertilidade masculina e feminina
Continua .. .

Medicamentos 135
... continuação
I
Quadro 9.3 Teratógenos comprovados ou suspeitos em humanos
Med1camento Efe1to Class1f1caçao
FDA

Estatinas: sinvastatina. pravastatina. Anomalias múltiplas X


fluvastatina. lovastatina 1
Inibidores da enzima de conversão Malformações cardiovasculares: defeito de septo atrial, estenose pulmonar. o
da angiotensina: captopril, enalapril defeito ventricular e atrial.
Malformações de SNG- microcefalia, anomalias oculares. espinha bffida.
coloboma
Disgenesia renal
Insuficiência renal neonatal
lodo radioativo Disfunção da tireoide X
Lítio Malformações cardlacas. incluindo anomalia de Ebstein e arritmia cardlaca D
Hipoglicemia
Hipotonia
Metimazole Aplasia cútis D
Atresia de esõfago
Atresia de coanas
Misoprostol Defeitos no crânio X
Paralisia de nervos cranianos
Malformações faciais
Defeitos de membros
Penicilamina Cútis laxa D
Hidrocefalia
Defeito de septo ventricular
Fendas faciais
Retinoides: isotretinoina. etreti- Malformações múltiplas. SNC. cardiovascular, endócrina X
nato Retardo mental
Ribavarina Perda fetal X
Talidomida Defeitos de redução de membros X
Defeitos de orelha
Anomalias cardfacas
Warfarin Sfndrome warfarínica. hipoplasia nasal. microftalmia. hipoplasia de o
extremidades. CIUR, cardiopatia. escoliose. surdez e retardo mental
Agenesia de corpo caloso
Malformação de Dandy-Walker
Atrofia ótica
Disfunção neurológica
SNC= Sistema Nervoso Central; VD= Ventrículo direito; CIUR =crescimento intrauterino restrito; IECA = inibidor da enzima de conversão da angiotensina

MEDICAMENTOS ANTI-INFECCIOSOS agentes anti-in fecciosos mais utilizados na gestação são os


antimicrobianos. O s experimentos clínicos d ispon íveis
As infecções são intercorrências relativamente fre- de transferência placentária têm demonstrado gue quase
quentes na gestação, sendo que, e m proporção sign ificati- todos os antibiót icos atravessam a placenta e alcançam a
va das vezes, seu tratamento beneficia mãe e concepto. Os circulação fetal. 2· 7

Noções Práticas de Obst etrícia


A N TIBIÓTICO S A clindamicina é aparentemente segura dura nte a gravi-
dez, apesar de atravessar rapidamente a placenta e alca nçar
A penicilina, penicilina G c ampicilina têm sido lar- níveis signi ficativos no feto. Tem como principal risco o de-
gamente utilizadas durante a gravidez. Não há relatos de senvolvimento de colite pscudomembranosa na mãe. É co-
teratogenicidade com esses fármacos. Os níveis plasmá- mumente utilizada no tratamento da infecção pucrperai.2 -
ticos de ampicilina são ·ignificativamente mais baixos na Ainda não existem dados suficientes para garanti r a
grávida quando comparados com a não grávida. Todas as segurança das qu inolonas durante a gravidez. O meca-
penici li nas atravessam rapidamente a placenta c alcançam nismo de ação das quinolonas é a inibição da O A-gira-
a circulação fetal e líquido amniótico. 2.- se bacteriana, d ificultando o metaboli mo do DNA das
As indicações primárias para a terapia com penici lina mesmas. Como existem similaridades entre o DNA da
são infecções por estreptococos aeróbicos (exceto entcro- bactérias c o dos mamífero , o seu uso durante a gravidez
coco ), pneumococos, Neisseria gonorrohoeae não produto- só deve ser recomendado cm casos de infecções por mi-
ra de penicilinasc, cstafi lococo não produtor de penici lina- crorganismos resistente a outros antimicrobianos mais
se e Bacteroides jragilis. seguros e estudados. 2·-
As cefalosporinas são semelhantes i1 penicil ina e tam- As tetraciclinas não são recomendadas durante a gravi-
bém não há conhecimento algu m nem suspeita de efeitos dez. Atravessam rapidamente a placenta c causam descolo-
teratogênicos. ão freq uentemente utilizadas no tratamen- ração dos dentes c hipoplasia do esmalte. Podem também
to de infecções do trato urinário na gestação c na antibioti- afctar o crescimento ósseo dos fetos e recém-nascidos. a
coprofilax ia periparto. 2·7 gestante pode produzir necrose aguda do fígado, pancrea-
Os níveis séricos de gentamicina c ka namicina são mais titc c insuficiência renal. 2·7
baixos nas grávidas que nas não grávidas. A estrcptomicina é O cloranfcnicol pode induzi r a síndrome cinzenta em
capaz de produzir le ão no oitavo par craniano, mas efeito se- recém-nascidos, caracterizada por cianosc pálida, distensão
melhante não foi observado com o uso de kanamicina, gcn- abdominal, colapso va cu lar e morte. Devido ao risco teóri-
tamicina, tobramici na ou amicacina. Os aminoglicosídeos co da síndrome cinzenta fetal, deve ser evitado na gravidez. 2 -
devem ser evitados na gravidez, a não er em infecções por As sulfonam idas não causam dano ao feto, mas sua ad-
bactérias facultativas resistentes a agentes menos tóxicos, tais ministração no final da gravidez pode afctar o recém-nasci-
como ampicilina e cefalosporinas. Quando se utiliza amino- do. Elas competem com a bilirrubina na ligação com albumi-
glicosídeo, a função renal da paciente deve ser monitorada r na, determ inando aumento nos níveis séricos de bilirrubina
A nitrofurantoína pode ser ut ilizada para o tratamento livre, com con cquentc risco de surgimento de kemicterus no
de infecção urinária na gravidez. Existe risco potencial de de- recém-nascido. F
sencadear anemia hemolítica cm fetos portadores de defici- Os dados disponíveis na literatura têm falhado em
ência de glicose-6-desidrogenase. É também frequentemen- demon trar qualquer associação entre o uso do mctroni-
te utilizada nos casos de infecção urinária de repetição, como dazol durante a gravidez e efeitos teratogênicos no feto.
profi lática, em doses bem mais baixas que a terapêutica. Du- Recomenda-se, entretanto, que seja evitado o eu u o no
rante a amamentação, passa através do leite, podendo causar primeiro trime. tre. 2 -
hemólise, anemia c hiperbilirrubinemia no recém-nascido O trimetropim apresenta risco teórico de teratogcni-
portador de deficiência de glicose-6-desidrogenasc 2 - cidade, sendo, portanto, contraindicado o seu uso na gra-
A eritromicina é indicada no tratamento de infecção videz. Para o sulfametoxazol, é vá lido o mesmo raciocínio
genital por Chlamydia e pneumonias comun itárias não das sulfonamida .2 -
complicadas. Não deve ser utilizada para o tratamento da
sífilis na gestação, pois os níveis alcançados na circu lação
feta l com as doses maternas terapêuticas são muito baixos, A NT IT U BERCULOST Á TI COS
não endo capazes de tratar o feto. A eritromicina deve ser
utilizada na gravidez sob a for ma de base ou estearato, es- Apesa r de a isoniazida ser potencialmente hepatotó-
tando a forma de estolato contraindicada devido ao risco xica, a terapia durante a gestação é aceitável nos caso de
de hepatotoxicidade. 2 - tuberculose matcrna. 2•7

Medicamentos 137
O ctambuto\, pirazinamida e rifampicina tambem são tante ressaltar que as gestantes em uso de antirretrovirais,
compatíveis com o uso na gestação.!·? além de vigilância clínica rigorosa, devem ser mo nitoradas
por meio de exames labo ratoriais (hemogram a com pla-
q uetas, função hepática, fu nção renal e, nos casos de uso de
MED ICAMENTOS UTILIZAD O S NO inibidores de protease, am ilasc) mcnsalmente. 2•7

T R ATAMENTO DA TOXOPLASMOSE Os estudos em humanos, dispo níveis até o momento,


em relação ao uso do aciclovir e ganciglovir na gestação
A espi ram ici na é um macrolídeo utilizado no tratamen- não evidenciaram incidência aumentada de defeitos con-
to da toxoplasmose aguda durante a gravidez, sendo consi- génitos na prole exposta. Sendo assim, em situações de in-
derada segura para o feto. As doses no cordão umbilical são fecções graves como encefalite herpética e pneumon ia por
muito mais baixas que as encontradas no sangue materno, varicela, seu uso parece adequado. O uso tópico do acido-
mas, em compensação, a concentração da espiramicina na vi r não apresenta riscos aumentados na gestação. 2 -
placenta é aproxi madamente duas a quatro vezes maior que A ribavarina é o ún ico antivira l da categoria X.45
no sa ngue materno.2 -
A pirimetam ina é a ntagon ista do ácido fá lico e usada
em associação com outros medicamentos no tratamento ANTIFÚNG ICOS
da malária e da toxoplasmose. Seu uso deve ser, se possível,
evitado no primeiro trimestre da gravidez. Quando pres- Anfotericina e o clotrimazol são da categoria B. Os ou-
crita, deve ser sempre assoc iada à suplementação de ácido tros antifúngicos, incluindo, nistat ina, miconazol, cetoco-
folínico, para prevenir deficiência de folato. 2·7 nazol, fluconazol, itraconazol, terconazol, são categoria C. 2 -

ANTI -HELMÍNTICOS ANALGÉSICOS E ANTI-INFLAMATÓRIO S

À exceção da piperazma, que é considerada categoria B, O uso de ácido acetilsalicílico (AAS) durante a grav i-
todos os anti-helmínticos são classificados na categoria C. dez, especialmente em altas doses, de forma crônica ou in-
Os dados disponíveis na literatura consideram que, principal- termitente, deve ser ev itado. Nessa posologia, pode afetar o
mente em países pobres, os benefícios do tratam ento das hel- mecanismo de hemos tasia da gestante e do recém-nascido,
mintíases durante a gravidez superam os riscos teóricos do uso acarretando risco aumentado de hemorragias. Próx imo do
do praziquantel e do mebendazol. Aconselha-se a adiar o tra- termo, o AAS pode prolongar a gestação, adia ndo o início
tamento para os segundo e terceiro trim estres da gestação.5 ·7 10 do trabalho de parto mesmo em doses baixas. 2 ·7
O uso do AAS em doses baixas, como ind icado para
prevenção da pré-eclâmpsia em mulheres com alto risco de
ANTIVIRAIS desenvolvê-la, tem se mostrado seguro para a mãe c feto,
devendo, preferencia lmente, ser iniciada a terapêutica de-
O uso da zidovudina (AZT) nas gestantes seroposi- pois de completada a fase da em briogênese, ou seja, após
tivas para o H IV tem sido associado a reduzido risco de 12 sem anas de amenorreia. Deve ser s uspensa com inter-
transm issão vertical do vírus. O s trabalhos disponíveis valo mínimo ideal de sete d ias antes do parto. 2 7
têm considerado que o AZT é seguro quando admin istra- O acetominofen, ao contrário do AAS, não afeta a fun-
do no segu ndo c terceiro tri mest res de gestação. 2 7 ção pbquetária e não existe risco aumentado de hcmor·
Os fármacos atualmente disponíveis para o trata mento ragias se o med icamento é ad min istrado à mãe, mesmo
da infecção pelo H IV são classificados pela FDA nas cate- qu ando usado em gestações a termo. É medica mento de
gorias B (d idanosina, saq ui nav ir, rito navir, nelfi navir) e C escolha na gestação, como analgésico e antipirético. É ex-
(zidovudina, zalcitabina, estavud ina, lamivud ina, abacavi r, cretado no leite em baixas conccntrações. 1 -
indinavi r, a mprenavi r, nevirapina, delavi rd ina, efavirenz), Não existem muitos dados dispon íveis sobre o uso da
podendo, portanto, ser utilizados na gestação. É impor- dipirona na gravidez, pois a mesma não é aprovada para uso

Noções Práticas de Obstetricia


clínico nos Estados Unidos c em vários países europeus, mina aumento no débito cardíaco com taquicardia reflexa.
devido ao risco de agranulocitosc potencialmente fatal. 6 Entretanto, quando a hidralazina é combinada com agen-
Os anti-i nflamatórios não esteroides agem a partir da tes ~-bloqueadores, a taquicardia reflexa é prevenida, com
in ibição da síntese das prostagb nd inas. Podem produzir melhore resultados nos níveis prcssóricos. Pode também
dim inuição ignificativa do volume de líquido amnióti- ser utilizada associada à metildopa. Atravessa rapida mente
co, devendo, nos caso de uso prolongado, ser rea lizado a placenta c alca nça concentrações séricas no feto, que são
acompa nhamento rigoroso do líquido amn iótico. São iguais ou superiores àquelas encontradas na mãe. Os ris-
util izados como tocolíticos c no tratamento de pol idràm- cos fetais, com o uso intravenoso, são secundários ao risco
nio, principalmente em gestantes diabéticas c no polid- materno de hipotensão grave. Embora a hidralazina seja
râm nio idiopática. As complicações associadas ao uso da tradicionalmente considerada medicamento de primeira
indometacina dura nte a gravidez incluem o fechamento escolha para o tratamento da crise hiperten iva na gesta-
prematuro do ductus artenos11s, que resulta cm hipertensão ção, essa superioridade tem sido questionada 2 7·11 13
pulmonar primária do recém-nascido, podendo ocorrer Os in ibidores do canal de cálcio podem ser utilizados na
morte neonata l. Entretanto, a constrição do ductus é, apa- gravidez como Jnti-hipertensivos ou na inibição do traba-
rentemente, dependente da idade gestaciona l, sendo rever- lho de parto pré-termo. Embora os dados atuais indiquem
sível se o medicamento é usado antes de 34 semJnas de que a nifedipina e o verapamil seja m medicação provavel-
gestJção. Se o parto ocorre dentro de 48 horas do início da mente segura durante a gravidez, devido ao uso ainda limi-
terapêutica, o recém-nascido tem alto risco de apresentar tado em humanos devem er admini trados com cautela,
he morragia intraventricular, displasia broncopulmonar e pri ncipalmente no primeiro trimestre da gestação. A nife-
enterocolite necrotizantc. !·" di pina é tcratogênica cm ratos quando em do cs elevadas.
Por via intrJvenosa, em macacas Rhcsus, tem sido associada
,\ hipoxemia e Jcidosc fetal. Seu emprego no trat:~mcnto da
ANTI-HIPERTENSIVOS crise hipcrtcnsiva deve ser cautelo o quando associado ao
su lfato de magné io, devido ao risco de hipotens.1o grave
T:1nto a metildopa quanto .1 clonidina são antagoni~tas e de difícil controle. Dados recentes revelam sua eficácia
ad renérgicos de ação centraI. A metildopa foi oprimeiro a n- também no controle da crise hipertcnsiva.2 ·7•11 •12
ti-hipertensivo us:1do no tratamento da hipertensão dura n- ~-bloqueadores, como o pindolol, têm sido utilizado
te a gravidez. Apesar de a metildopa associar-se à redução cm alguns centros como medicamento de primeira escolha
do número de abortamentos de segundo trimestre, ,1 so- no controle da hipertensão arterial crónica durante a gravi-
brevida neonatal ou o crescimento fetal não são alterados. dez. O pindolol é considerado, pela FDA, compatível com
Considera-se a metildopa como de primeira linha no tra- gestação e aleitamento. Diversos estudos consideram que
tamento medicamentoso da hipertensão crónica na gravi- alguns ~ -bloqueadores não scleti vo , como o propranolol e
dez. É excretada no leite materno em pequenas quan tida- o metoprolol, aumenta m o risco de crescimento intrauteri-
des, sendo compatível com o aleitamento materno. r t l.lz no re trito, além de estarem as ociado a elevado risco de
Aclonidi na tem ido utiJizada no segu ndo e terceiro tri- hipoglicemia e letargia neonatal. O propranolol não deve
mestres sem efeitos adversos para o feto. ão existem mui- ser util izado como hipotcn or na gestação, mas pode ser
tos dados referentes ao uso da clonidina no primeiro tri· prescrito, por tempo limitado, no controle da taquicardia
mestre, o que torna difíci l a avaliação de seus riscos quando em pacientes com hipertireoidismo de controlado. O ate-
usado ncs a fase. Atenção especial deve ser dad:~ ao risco de nolol é contraindicado na gestação, pois é associado a alto
hipertensão rebotc cm c:~so de suspensão abrupta da cloni- risco de crescimento intrauteri no restrito c redução do peso
dina. Complicação neonatal rara é hipertensão tr.1nsitón.1 da placenta. Além disso, existe também o risco de o rccém-
no recém-nascido. Filhos de mulheres que fizeram uso de ·nascido apresentar bradicardia se exposto ao mesmo na
clonidina na fase final da gestação devem ter a pressão san- vida intrauterina ou através do leite materno 2 ·7·11 •12
guínea monitorada.2 "· 12 A frequência de anomalias congênita encontrada cm
A hidralazi na é fármaco vasodilatador relativamente recém-nascidos expostos à rcscrpina durante o primeiro
ineficaz qua ndo u ada isoladamente por via oral. Deter- trimestre de gestação é mais expressiva que a esperada

Medicamentos 139
ao aca o. A rc erpma atravc a a placenta e o cu u o cm A 111 uUna, hormônio natural, é a e ·colha no controle
gc ta õcs próximo do termo pro,·oca lctargta c anorcx1a de diabete na gravidez. A 1n ulina huma na não atrave~\a a
no recém-na cido. omo é excretada no leite, ·cu u o placenta em quantidades clmicamcnte ign1fi atiV.IS, nem
durante a amamentação extge monitorização do recém- pa a atravé do leite materno.2 · p,
na cido.2"11 11 Os análogos de ação dpida da insulina humana in-
O emprego de diuréticos du rante a gravide; é contra- ·ulina asfmrt c msulina l1spro - ão con iderado cguro
ver o. Con tdcra- c que a introdução do diu rético durante para o u o na gestação, sendo categoria B pela FDA. O
o cu r o da gestação deveria fica r restrita às pacientes com análogo de ação longa insulina Jctemir e in ulina glar-
imu ficiência card ía a conge tiva descompcn ada. gina não tem, até o momento, estudo adequados que
Ex1stcm e~tud io.sos que onsideram que, na p.1cicntcs perm itam a avaliação de ris o ou ·egura nça, ·cndo elas i-
portadoras de hipertensão arterial crôn ica c usuárias crô- ficados como categoria C, devendo, poi~. ter o u o restnto
nlcas de diuréticos, esse mcd1camento poderiam <,crcon- na gravtdcl." 1s
tmuados durante a gestação, enquanto outro propõem a O u~o do aspartame, como ado ante artific1al, é con
sua su pcn ão durante a me ma.2-,, 12 idcrado compatível com a ge tação, de\'endo-'e apcna<,
omo p comentado antcnormentc, ou o de m1b1do- ter re tnçõc no casos de mulheres om (entl etonuna.
rcs da ECA c dos bloqucadore do receptor de ang1otensi- O ciclamato atrave a a placenta cm hum.mos, ma não
n.1 :io contr.1i ndicado~ na gravidez, ma compatíveis com exi tem evidencia de efc1tm adversos obre o recém-
o aleitamento. 1• 1112 -na cido exposto intraútero. Embora não existam relatm
de teratogenicidade com ou o de acarina na ge tação, a
A oci.1ç:io Médica Americana recomenda cautela com o
ANTIDIABÉTICOS uso dcl.sa substâ ncia na grav1de1. 1sto se deve ao f:tto da u.1
eliminação er muito m.1is lenta no feto, podendo ,tcarretar
O antidiabéticos orai não e tão rotineiramente mdi- a úmulo de sacarina no feto.1 1"
cados du rante a grav1dcz, apcs.tr de eu t:feito deletérios
no feto não serem claro . Há relatos de possível teratogeni-
c1d.1dc, alem de ri co aumentado de perdas gcstac1ona1~. 1 - MEDICAMENTOS UTILIZADOS
Aglibencbm ida (gliburida), uma ulfonilurc1a de cgun- NAS TIREOIDOPATIAS
da geração, ''cm endo utilizada cm algun ·crvi os como
alternativa a 111 ulina cm ge tante com diabete gestaclo-
nal c t1po 2. Além de permitir bom controle glicêmico, essa O tr,tta mento do hipertirc01d1 mo materno pode resul-
ubst.incia, aparentemente, não atravessa a placenta, tornan- tar cm hipot1 reoidi mo fetal bc dev1do a níveis ,lu menta-
do ~c. portanto, intcrc SJntc opção.14 IS Entretanto, .1lguns do de ti reotropina fetal. Exi tem rortes mdícios de tcrato
c tudo têm sugerido mais ocorrência de pré-eclãmpMa nas genicidadc as ociada ao uso de mctim.11olc c carbinuwle.
ge,tantc tratadas com gltbenclamida quando comparadas A c col ha para o tratamento m,lterno de hipertireotd1smo,
com o grupo tratado com msulina.1b· 1· durante a gravidez c a amamentação, é o propiltiouracil. 1
A metformina também tem sido util izada em gestante Alcvotiroxina e liotironina :i o cons1dcrada da ategoria
com diabete tipo 2 e gcstacional, pelo seu efeito de redu- A endo, portanto, segura em qualquer fase da gestação.' -
ção d.1 produção da gli o c pelo fígado e aumento da cli-
minaçao da glicose no mú,culo e tecido adipmo. Alguma~
pc qu1 a com reduz1do numero de a os sugere que, ate o UTEROLÍTICOS
momento, não cx1stem cv1dências de mais ri co de malfor-
ma õc maiorc qua ndo a metformina é usada no pnmcl- Atualmente, con idcra- c a ntfcd1p1na med icamen-
ro tnmc tre de ge t,1ção, embora para es a avaliação sejam, to de primeira linha na inibiç:io do p.Hto pré-termo,
ai nda, necessário estudos de grande porte amostral. 1 ~ 20 por ser m,li'> eficaz e mais egura que os p-adrcnérg1co ,
A ociedadc Bra ile1ra de Diabete não re omenda o além de te r u to aceitável qu,tndo comparada ao .lllta-
u o de antidiabético ora1s na gc tação. 1s gonista da ocitocinaY

Noções Práticas de Obstet rícia


140
O efeito colaterais mais importantes dos ~-.Kircnér asma, entre outras). eu uso, quando nece sário, é consi-
gicos manife tam-sc sobre o aparelho cardiovascubr, au- derado cguro durante a gravidcz. 2·-
mentando a frequência c o débito cardíacos, reduzindo A azatioprina é pri mariamente utilizada para prevenir
a pressão va ·cubr periférica. Devido a esse · deitas, sjo rejeição cm órgãos tra nsplantado ou tratar doença intcs-
contraindic.1dos cm pacientes cardiopatas e exigem vigi- tmal inflamatória. Embora teratogênica cm ani mais, tem
lância rigorosa da paciente em uso dos mesmo~. Os efeitos ~ido considerada cgura para humanos. 2 -
metabólicos mais importantes s:io relacionados ao .lu-
menta da gliccmia c diminuição do pot.íssio pbsm,\tico.
As paciente portador,ls de diabetes também n::to devem CARDIOTÔNICOS
receber medicamentos ~-.ldrcnérgicos. Os ~-.1d renérgicos
mais utilizado na prática obstétrica s.'io: tcrbutal in::t, sa lbu- O digitálicos são usado em pacientes portadoras de
ta mol, ritodnna e fenoteroL 2 - cardiopatias, com boa tolerância para mãe c feto. O!Jando
O ulfato de magnésio, medicamento de e~colha na .1dministr.1dos na mãe com o objeti vo de tr,ltar arritm ia
prevenção c tratamento da crises convulsiv.ls de mu- fetais e/ ou insuficiência cardíaca fetal, deve-se ter cuidado
lheres com pré cclámp 1a c eclâmp 1a,!' pode também c~pccial com os riscos de intoxicação digitálica materna. 2 -
\Cr utdindo como uterolítico. Como a dose tcr.1pêutica é
mu1to próxima da dose tóx ica, as pacientes cm u~o de ~u i­
fato dt.: magné io devem ser rigorosamente mon itoradas MEDICAMENTOS PSICOATIVOS
por medida da diure e, frequência respiratóri.l c reflexos
tcndinosos. O sulf.1to de m::tgnésio não deve ser prescri to Os estudos referente · aos riscos de exposição cmbrio-
para pacientes portadoras de insuficiência renal. 2 n.1ria e tctal aos benzodiazepínicos s:io controversos. Al-
Como já citado anteriormente, a indometaci n.l tam- guns os consideram potencial mente teratogênicos, quan-
bém rode ser utili7:1d~ com utcrolítico. do cm dose~ elevadas c de forma contínua no primeiro
tri me tre da gc tação. eu uso nos cgundo c terceiro tri-
me~tre da gravidez predispõe à letargia c à hiperbilirrubi-
lMUNOSSUPRESSORES nemia neonatai ·. O clonazcpan, lorazepan c oxatcpan são
cb\i ficados como categoria C pcl.l FDA, enquanto alpra-
Os corticoides (bctamctasona e dcxamctasona) ~ão wlan, clordiazcpóxido, diazepan e midazolan são classifi-
usados em Obstetrícia com o objetivo de acelerar a m.lturi- C.ldos na cJtcgoria 0. 1.-
dadc pulmonar fct.1L Têm-se mostrado eficazes na preven- Entre os inibidore de rccaptação de erotonma, a fluo-
ção d.1s formas gr.wc de índ rome da membrana h1al111a, xetina, scrtralina, venlafaxina e o citalopram não foram, até
assim como têm d1m inuído a freguênci,l de enterocolite o momento, associados a efeitos tcratogênicos quando pres-
nccroti7a ntc c hemorragia ve ntricular em fetos pré-termo. critos na gestação, sendo categoria C da FOA, com orienta-
As doses prcconin d.1 são: betametasona 12 mg, intra- çjo de cautela no uso.~-" 24 •2 ' A paroxctina foi reclassi ficada
muscular, cm duas doses com intervalo de 24 horas entre como categoria O, passando .1 ser contraindicada na gesta-
as doses ou dexa mctasona S mg, intramuscula r, a c.1d,1 12 ç.io. Estudos epicmiológicos a saciaram o uso da paroxcti-
horas, com total de quatro doses. Além disso, nenhum efei- na no primeiro trime tre ,1 aumento de I,' vez de defeito
to adverso da cort icotcrapia antenatal, ne\\as do cs, tem congénitos, principal mente malformações cardíaca .24 25
s1do ident1ficado. 21 ão existe evidência de benefício cm Os antideprcs ivos tricíclicos (i mipramina, amitriptili na,
repetir do cs de corticoides uma vez completado o c tlUC clomipramina, nortriptilina) não têm 1do a ociado a au-
ma cit,1do. Os cfCitos adver o , já de crito , a\~ociado .1 mento significativo nas taxa de malformações congênitas,
cu r o repetido de corticoterapi.l Jntenatal s.1o: .1tra~o no podendo ser uti lizados quando a indicação for ab oluta.2 '
de envolvimento neu ropsicomotor, sepse neonatal, redu- O recém-na ciclos exposto intraútero à mcd1cação
ção do perímetro cefá lico e peso ao na cimento.4 ,1!1tip\icótica (fcnotiazinas - clorpromazina, flufcnazina,
A prcdnisona pode ser utilizad,1 em diver~a~ ~i tuaçõc~ perfcrazina, prom:~zi na e trifluoropcrazina ; halopcridoli
durante .1 gravidez (doenças autoimu nes, transpl.1nt,1dos, cloz.1pin.1; loxapina) podem apre enta r sintomas seme-

Medicamentos 141
lhantes aos efeitos colaterais manife tados pela usuanas metálica, nas quais a anticoagulação é imperiosa e frequen-
de as mcdicaçõe ( edação, hipoten ão, constipação e si- temente não obtida com o uso da heparina subcutânea.
nais extrapiramidai ). ão existem dados suficientes para Nessas pacientes, preconiza-se substituir o warfarin por
avaliar a segurança do uso de loxapina, risperidona, sulpiri· heparina na fase de alto ri co, ou seja, no primeiro trime -
da, pi mozida e molindona.1 • tre, utilizando-o no egundo tri me tre até em torno de 36
semanas, quando a gestante deve ser intcrnada e submetida
à anticoagulação plena com heparina veno a} ".r
ANTIEMÉTICOS A hcparina é o anticoagulante de escolha. A heparina
não fracionada não atravessa a placenta c é egura para o
Os anticmético - metoclopramida, dimenidrinato feto. cu efeito colaterai mai significativos incluem he-
-são medicamentos utilizado com muita frequência na morragia, plaquetopcnia c o teopeoia materna, exigindo
ge tação, principal mente no primeiro trimestre, c não são monitoração dos níveis das plaqueta e uplementação de
associados a riscos fetais.2-7.26 cálcio na gestante. As hepari nas de baixo pe o molecular
O dimenidrinato não deve ser usado na lactação, por eu parecen1 seguras para uso na gestação, têm menos efeitos
efeito anticolinérgicos que reduzem a produção de lcite.2 '· 26 colaterais, mas seu cu to é fato r limitador cm nosso meio.z.-
Ondanscntrona, prima riamente empregado no con-
trole de náuseas provocadas pela quim ioterapia, pode er
útil em casos de hipcremesc resistente a outras terapêuticas, ANTIÁCIDOS
ficando reservado para após 12 semanas de gestação.H 26
t ão há contraiodicaçõc ao uso de antiácidos que coo-
tenham ais de magnésio, cálcio e alumínio. Os bloquea-
ANTI-HISTAMÍNICOS dores H2 ficam restrito aos casos de intomatologia mais
grave, que não respondem a medidas alimentares e medi-
Os anti-histamínicos bloqueadores dos receptores H I, cação com os antiácidos supracitados.~-7
de primei ra e scgunda gerações, não ·ão considerados tera- Evita-se o uso de bicarbonato de sód io, devido ao
togênicos na espécie humana, cndo a dox.ilamina o anti- riscos de alcalose metabólica c outros distúrbios hid roelc-
-hi tamínico mats estudado até o momcnto. 2·" trolíticos na gestante e no feto. O trissilicilato de magné-
Os bloqueadores H 2 (cimetidina e ranitidina) não têm sio pode causar nefrolitíase ilicosa, hipotonia, di função
sido associado a elevado ri co de anomalia congénitas e respi ratória e falência cardiovascular nos recém-nascidos
podem er utilizados na gestação, evitando-se a cimetidina expostos intraútero a c sa substâ ncia.
no primeiro trimestre e por tempo prolongado.27

PLANTAS MEDICINAIS
ANTICOAGULANTES
O conceito de "medicamento natural" faz com que o uso
O warfarin é abidamente teratogênico. O período crí- dessas substâncias seja feito de forma indiscriminada, acre·
tico para a embriopatia warfarln ica situa-se entre a cxta c a ditando- e que a ausência de substâncias química garanta
nona semanas de gestação. A exposição fetal ao warfarin no a inocuidade das me ma . Entretanto, muitas são as planta
egundo e terceiro trimestre aumenta o risco de defeitos capazes de exercer efeitos tóx icos no organismo humano.
do sistema nervo o central (agcnesia de corpo caloso, ano- Embora nenhum estudo obre efeitos teratogêoicos cm
malia de Dandy-Walker, atrofia ccrebelar média, enccfalo- animais ou em hwnano tenha sido publicado, não é pos ·f.
cele), provavelmente ecundário a pequena hemorragia vel avaliar a egurança de diversos medicamentos "naturais",
nos tecidos ncuronai .r É comum a necessidade de warfa- devendoasge taote scrde acon clhada aconsumi-lo sem
rin durante a gestação em mulheres com vá lvula cardíaca orientação médica.4•6

142 Noções Prát icas de Obstetrícia


LACTAÇÃO E MEDICAMENTOS o~ mcdtcamcntos apre entado!> no Quadro 9.-+ são
comtderados mcompatívets com o .1lcttamento nat ural c,
A 1111 como dur.111tc a gravidct deve ~er d.1d.1 Jtc n~,· .w port.1nto, ~ó deverão ser presentes quando nao houver al-
cspecial .10 mcdic,\tncnto pre cntos p.ua a ge~tantl'. du tcnutt,·a c, nc~~as ttU.\ÇÕC'>, o alett.1mcnto materno dc,·c
rante o pcnodo de alett,\mento deve cr avaltada a nece\~t­ ser suspen so.~-!,
dade do medicamento pre cntos p.u a .1 puérpcra c ~u.1 Algun!> medicamento~, -.e utili1.1dos pela puérpcra por
possível intcraç:io com o aleitamento propriamente dtto, período prolongado, podem dctcrmm,\r ri co nconatal,
bem como com o ~eu\ eleitos para o recém-n.1sctdo (R ). devendo, portanto, na medida do pol>l>Ível, ser evit,\J os:l -.2s
a prática, sao rara!> a~ ttuaçôes n.u. quai é imprcsci ndívcl c teroidcs;
o uso de medicamento pela m:ie, que ca ractcrw.~ contwn- diuréttCOS;
Jicação ao aleitamento natural. .icido nalidíxico;

Q!Jadro 9.4 1l\ lcdtcamento incompattwts com o alett.lmcnto m.llcrno


Medicamento lndtcação Efe1to no RN 'ale1tamento

Zonisamida Antiepiléptico Sonolência. võmitos. agitação. leucopenia


Doxepina Antidepresstvo Sonolência. sucção débil. hipotonia.

~
arada respiratória
Bromocriptina
Cabergolina
Selegilina
----------------------------
=i:
--- Antagonista hormonal
Antagonista horm~ Inibição da lactaçao

Antiparkinsoniano
- -
___
- ·-----
Inibição da lactação

....._ Inibição da lactação

Brometos ~ntidepressivo Sedação


Ant1pirina Analgésico Toxicidade medular
Sats de ouro Tratamento da gota IR1sc~xicação
Lmezoltda Anti-infeccioso Risco teórico de mielossupressão
Ganctclovir Antiviral R1sco teórico de carcmogênese

Amiodarona
Fenindiona
I Antiarrítmico
e mutagênese
- - -R-isco de hipot1reoidismo
Antiagregante plaquetário Risco de hemorragia
~
Androgênios Terapia hormonal Risco de masculinização da genitália
femmina
Estrogênios - flnibição da lactação

Leuprolide Antagonista hormonal ln1b1ção da lactação


- ----.-
Tamox1feno IAntagonista hormonal + nibição da lactaçã_ o____________--;
Clomifeno Indução da ovulação Inibição da lactação
Antineoplás1cos (exceção para alemtuzumab. bleomicina. l Tratamento do câncer
hidroxiureia. metotrexate, teniposide e traztuzumab)
I
Mielossupressão
---..-
Etretinato e isotretinoína Acne e psoríase Sem dados de segurança
Anfepramona Obesidade Sem dados de segurança

Medicamentos 143
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200-;-9·30 1-R

Medicamentos
145
Aspectos Básicos da
10 Genética em Obstetrícia
M arcos José Burle de Aguiar
Regi na Amélia Lopes Pes oa de Agu iar

Importância das Anomalias Congênitas Testes de Triagem


Etiologia das Anomal ias Congênitas Medida da Translucên cia N ucal
Avaliação Ultrassonográfica do O sso asai
Doenças Genéticas
Classificação das Doenças Genéticas Dopplervelocimetria do Dueto Venoso
Testes Bioquímicos e m Soro Materno
Aconselhamento Pré-concepcional
Doença Autossômica Dominante na Família
Diagnóstico Pré-natal
Estudos Ultrassonográficos
Consanguinidade
Estudos C romossômicos
Doença Recessiva Ligad a ao X na Família da Mulher
Estudos d e DNA
Retardo Mental em Parente Próximo
Fish, Citogenética Molecular e CGH Armys
Idade Materna Elevada
Estudos Bioquímico
Perdas Gestacionais
Filho Anterior com Anomalias Múltipla Técnicas de Coleta de Células Fetais
Filho com Defeito de Fechamento do Tubo Neural para o Diagnóstico Pré-natal
Filho com Cardio patia Congê nita Coleta de Vi lo Corial
Mulheres com Diabetes Mellrtw Amniocentese
Mulhe res em uso de Substâncias Teratogênicas Cordocentese
ld ade Paterna Elevada O Heredograma como Medicina Personalizada
Anomalias Congênitas em Parente Próximos
Portadores de Gen es Mutantes para Doenças
Autossôrnicas Recessivas

genética hoje está pre ente em todas as espcciaJi- cessita informar-se e atualizar- e com diver os aspectos da

A dade médicas, sendo neces ána para a boa com-


preensão e atualização nas mesmas. A Obstetrícia
é uma das especialidades méd icas com mais interface com a
genética para a ua prática cotidiana.
Ter fi lhos perfeitos é o desejo d e todo casal que deseja
procriar. Ao se preparar para uma gravidez ou ao vivenciá-
genética. Lida ndo com a vida, o obstetra é testemunha dos -la de forma não pla nejada, os casais buscam conhecer os
processos genéticos na reprodução humana. O obstetra ne- riscos de fil hos com anoma lias congêni tas. A prevenç,1o de
todas as anomalias congén itas é impossível. o entanto, agentes ionizantes: radiação terapêutica, iodo radio-
o estudo de cada casal em particular permite tranquilizar ativo;
muito deles e identificar inúmeras situações de risco, aju- drogas e medicamentos: álcool, cocaína, talidomida,
dando-os a lidar com a gravidez de forma mais adequada. metotrexato, difcn il-hidantoína, ácido valproico,
ácido reti noico e seus derivados, lítio, wa rfarin e
seus derivados, inibidores da ECA (enzima con-
IMPORTÂNCIA DAS versara da angiotensina), carbamazepina e miso-
ANOMALIAS CONGÊNITAS prostol;
agentes mnbienlais: meti! mercúrio c chumbo.

Aprox imada mente 2 a 4% dos recém-nascidos vi- As causas ambientais das anomalias congénitas se-
vos apresentam pelo menos uma anom alia congénita rão abordadas cm mais detalhes em outros capítulos
identificável ao nascimento. Ao fim do primeiro ano desta obra. Neste capítulo, aborda remos apena a etio-
de vida, esse número dobra. Entre as mortes perinatais, logia genética.
essa proporção é ainda mais alta e cerca de 20% dessas
mortes se devem a anomalias congénitas. Com o pro-
gresso das técnicas de cuidados intensivos permitindo DOENÇAS GENÉTICAS
a sobrevivência de mais alto número de recém-nascidos
- morfologicamente normais de baixo peso, a proporção A informação genética das células humanas é tr.llls-
de anomalias congénitas entre as mortes perinatais ten- mitida através do ácido desoxirribonucleico (D A), cuja
de'a aumentar. maior parte se localiza no núcleo celular, sob forma com-
Embora os avanços cm tratamento sejam reduzidos, a plexa, e o restante, de forma mais simples, nas mitocôn-
prevenção, o diagnóstico pré-natal c o aconselhamento ge- drias. Todo DNA mitocondrial de um indivíduo é herda-
nético de um número crescente de anomalias são possíveis do do óvu lo, gameta feminino (herança citoplasmática).
e necessários. O D A nuclear é transmitido ao indivíduo pela fusão
dos núcleos de um óvulo e de um espermatozoide. Assim,
a parti r dos gametas, haploides, tem-se o zigoto, diploide,
ETIOLOGIA DAS que sofrerá inú meras divisões e diferenciações celulare ,
ANOMALIAS CONGÊNITAS formando o ind ivíduo.
Denomina-se genoma huma no o conteúdo haploide
de O A de um gameta humano, sendo composto de 22
É difícil determinar com precisão as causas de as ano- cromossomas autossômicos, nu merados de um a 22, e um
malias congênitas e percentagem significativa das mesmas cromossoma sexual. X ou Y. Dessa forma, o encontro de
permanecerem com etiologia desconhecida. A causas um óvulo e um espennatozoide produzirá o zigoto, com
genéticas, isoladamente ou em conjunto com fatores am- duas cópias genômicas compostas, no total, de 46 cromos-
bientais, estão envolvidas cm um terço dessas anomalias. somos. Todas as células nucleadas desse indivíduo terão,
As anomalias congénitas podem ser classificadas ctiolo- aproximadamente, a mesma sequência de DNA.
gicamcnte em dois grandes grupos: ambientais e genéticas. As moléculas de DNA estão organizadas na forma de
Os principais fatores ambientais que determ inam ano- uma dupla hélice, em que duas fitas de D A estão ligJda
malia congénitas são: por pontes de hidrogênio. Cada fita tem um esqueleto de
Doenças matemas: diabetes mellitus insulina-de- resíduos de desoxirribose unidos por ligações covalentes
pendente, fenilcetonú ria, distrofia miotônica, lúpus fosfodiésteres. O genoma humano contém em torno de trê
eritematoso sistém ico, tumores secretores de an- bilhões de bases. Destas, somente 2%, aproximadamente,
drogênios; são expressas, estando distribuídas em cerca de 30.000 ge-
doenças infecciosas: sífilis, toxoplasmose, rubéola, ci- nes. A posição ocupada por um gene em um cromo somo
tomegalovírus, herpe , varicela, parvovírus; denom ina- c lows.

Noções Práticas de Obstetricia


A in formação genética em determ inado locus deno - D OENÇAS M ONOG ÊN ICAS
m ina-se alelo. Pa ra d iversos genes existe um a apresenta-
ção predomi nante na maioria dos indivíduos, denomi - lJOi~>,i(,A\ J\UJ'OS\Ü.\IIlA~ /)oMINt\,\ rrc;

nada alelo normal ou "selvagem". As demais versões d o Esse tipo de doença é determ inado pela presença do
gene são denomi nadas alclos mutantes, que diferem do alclo mutante cm heterozigose, ou seja, em dose ú n ica. As
alelo no rma l por u ma o u m ais m utações. Uma m utação pri ncipais característ icas das doenças autossôm icas domi-
é u ma m uda nça permanente na sequência dos nucle- tuntcs são descritas no Qyadro IO. L
otídeo s ou no arranjo d o DNA. Q ua ndo existem pelo
menos dois alelos relativame nte comuns na população I
Qjladro 10.1 Pri ncipais características das doenças
normal, diz-se que aquele locus exibe o que se denom ina autossômicas dom inantes
poli morfismo. Distribuição vertical de indivíduos afetados no heredograma.
Além do a leio normal e dos polimorfismos alélicos co- com várias gerações acometidas
muns, podem exist ir, nos loci, um ou mais alclos varia ntes. Os indivíduos afetados. geralmente. têm um genitor com a
Alguns desses alclos foram identi fi cados, in icialmente, doença
por causarem doenças genéticas, enquanto out ros não
Ambos os sexos são afetados em proporções iguais
têm sign ificado pa ra a saúde.
O genótipo de um indivíduo é o conjunto de alelos que Homens e mulheres têm igual probabilidade de transmitir a
doença a filhos de ambos os sexos
forma m sua constituição, colctivamentc, cm todos os seus
loci ou, mais especificamente, em detcrmin,1do lows. Se um dos pais é afetado. há risco de 50% para cada um
dos filhos
Familiares normais não transmitem a doença aos filhos
C L ASS IF I CAÇÃO DAS
Proporção significativa dos casos isolados se deve a muta-
DOENÇA S GENÉTICAS ções novas

Embora outros padrões de herança tcn h a m sido descri-


tos, c serão apresentados neste capítulo, costu ma-se classi- A Figura I 0. 1 mostra hercdograma de doença autossô-
ficar as doenças genéticas em monogênicas (ou mcndclia- mica dominante.
nas), mult ifatoriais (poligên icas ou de herança co mplexa) c
cromossômicas.1•3
As doenças monogênicas são causadas por um alelo
(forma alternativa de um gene) mutante ou um par de aleios
mutantes cm um mesmo lows gên ico. Elas se subdividem
cm doenças autossômic.1s dom inantes, autossôm icas re-
cessivas, dominantes Iigadas ao cromossoma X c recessivas
ligadas ao cromossoma X.
As doenças multifatoriais resu ltam d.1 intcração entre
fatores genét icos c determi nantes ambientais. Acredita-se
que os fatores genético envolvam vários gene , daí o nome
Figura 10.1 I Heredograma de doença autossômica dominante.
poligênicas. Alguns autores preferem referir-se a essas do-
enças como "doenças de herança complcx:l".
As doenças cromossôm icas são causadas por altera- Outras características das doenças autossômicas do-
ções no nú mero ou estrutura dos cromossomas c, assi m, se minantes podem d ificultar o seu reconhecimento:
dividem em anomalias cromossômicas numéricas c ano- Expressividade variável: intensidades c formas d ife-
malias cromossôm icas est ruturais. rentes de expressão clínica do fenótipo;

Aspectos Básicos da Genét ica em Obstetrícia 149


pwetrância illcomplela: possibilidade da ausência de Quadro 10.2 I Principais características das doenças
expre são clínica da doença na presença do gene; autossôm icas recessivas
impressão genômica: alguns genes expressam-se dife- Geralmente a distribuição da doença no heredograma é
rentemente em função de terem sido herdados do horizontal. ou salta gerações. quando são feitos heredogra-
pai ou da mãe; mas longos
mosaicismo: coexistência em um mesmo indivíduo A doença costuma ser vista em irmãos do paciente, mas
de células com genótipos diferentes; não em seus pais ou outros parentes
início tardio: algumas doenças podem se manifesta r Geralmente. ambos os sexos são afetados. em proporções iguais
tardiamente, como a coreia de Huntington;
Os pais dos afetados. geralmente são sadios. São heterozi-
n11tecipação: tendência de algumas doenças a se mani-
gotos obrigatórios e chamados 'portadores'
festarem mais precoce e gravemente em gerações sub-
sequentes, como,\ distrofia miotônica e rins policísticos. Émais freqüente a consangüinidade entre os pais dos
afetados. especialmente em doenças mais raras

Quando um casal sadio tem um fi lho com doença au- Há risco de recorrência de 25% para crianças futuras dos
tossô mica dominante, é importante identificar se ela é re- pais de afetados
sultante de mutação nova ou de não penetrância. Q uando
se trata de mu tação nova, a doença não existe na família Na Figura l0.2 apresenta-se um heredograma de doen-
e os genitores, definiti vamente, não a apresentam. Ela vai ça autossómica recessiva.
começar na família com aquele caso. O risco de recorrên- Exemplo clínico de doença autossômica recessiva na
cia é muito baixo para novos fi lhos do casal e de 50% para prática obstétrica é a hiperplasia congênita da suprarrcnal.
os filhos do afetado. Quando se trata de não penetrância,
a doença existe em parentes próximos ou com expressão
leve em um dos membros do casal, com risco de recorrên-
cia de 50% em fut uras gravidezes. Isto pode exigir exame
cuidadoso não apenas do casal, mas também de parentes
próximos.
Um fator de risco para mutações autossômicas domi-
nantes novas é a idade paterna elevada.
A acondroplasia é exemplo de doença autossôm ica
dom inante, podendo ser transmitida de pai/mãe para fi -
lho/ fi lha. A maioria dos casos de acondroplasia se deve a
mutações novas. Figura I 0.2 1Heredograma de doença autossômica recessiva.
Outras displasias ósseas com as quais os obstetras
lidam, como a displasia tanatofórica e acondrogênese,
também são autossômicas domina ntes, mas se caracteri- DOIN<, :\S /{}u .\SI\'-\\ I J(; ·\ J>AS :\0 CIW.\!OSS0.\10 X
zam por representarem sempre mutações novas, pois são A maioria das doenças ligadas ao cromossoma X é
letai no período perinatal. Assim, o afetado não terá a recessiva. Suas principais características estão listadas no
oportunidade de sobreviver e reproduzir. Q uad ro 10.3.
Ao lidar com casos esporádicos na fa mília, é preciso de-
Dor"'<. AS, \L TOS.'>Ú\1/t A\ Rr cu.~ n A.~ term inar se a mãe é portadora do alelo mutante, com risco
Esse tipo de doença ocorre em homozigotos, pessoas de recorrência de 50% cm fut uros filhos do sexo masculi-
com dois alelos mutantes e nenhum normal, pois nesse no ou se a mutação ocorreu no filho (mutação nova), com
tipo de doença uma cópia do alelo normal em heterozigo- risco de recorrência praticamente nulo em filhos futu ros.
se é capaz de compensar o alelo mutante e impedir que a Para determi nar se a mãe é portadora, podem ser utilizadas
doença ocorra. Suas principais características estão lista- informações do heredograma, testes bioquímicos ou aná-
das no Q\.1adro 10.2. lises de DNA.

150 Noções Prát icas de Obst et rícia


Quadro 10.3 I Principais características das doenças
recessivas ligadas ao X
Afeta principalmente homens
Indivíduos afetados são conectados no heredograma atra-
vés de mulheres não afetadas (heterozigotas portadoras)
Pai e mãe de afetados são geralmente normais. A mãe é
comumente portadora assintomática e pode ter irmãos
afetados.
Cinquenta por cento dos filhos de uma portadora serão
afetados.
Figura 10.3 1Heredograma de herança recessiva ligada ao X.
Cinqüenta por cento das filhas de uma portadora serão
também portadoras
Não há transmissão da doença de pai para filho (o pai passa Quadro 10.4 I Principais características das doenças
para o seu filho o cromossoma Y e não o X). Cem por cento dominantes ligadas ao X
das filhas de um afetado são portadoras. Afetam mais freqüentemente mulheres do que homens
Proporção significativa dos casos se deve a mutações novas
As mulheres costumam apresentar a doença de forma mais
leve que os homens (a mulher tem dois cromossomas X.
enquanto o homem tem apenas um). Além disso. por causa
Outro aspecto importante a ser considerado cm do- da inativação do cromossoma X (ver acima) a doença tem
expressividade bastante variável em mulheres
enças recessivas ligadas ao cromossoma X é o processo de
inativação desse cromossoma nas mulheres. Sua inativa- Mulher afetada terá 50% de chance de ter um filho ou filha com
ção pode permitir a manifestação da doença em mu lheres adoença. independentemente de sexo
heterozigotas, se o gene normal estiver no cromossoma X Todos os filhos de um homem afetado serão sadios enquan-
inativado, na maioria das células, e o gene mutante no cro- to todas as suas filhas serão afetadas
mossoma que escape da inativação. Outra consequência da
inativação do cromossoma X nas mulheres é que isto leva a Do LN<,. A~ Pouct. ICAS, MuLTI FATOR IA IS
mosaicismo em relação a esse cromossoma (algumas célu- OL DI-. H ERA '(,.A COi\IPLEXA
las têm o cromossoma X normal e outra com o gene mu-
ta nte), o que di mi nui a penetrância da doença na mulher. As doenças poligênicas ou multifatoriais não apresen-
Q uando se diagnostica doença recessiva ligada ao X tam distribuição regular no heredograma, embora pos-
em uma mulher, deve-se sempre lembrar da possibilida- sua m padrão de agregação fami liar. São decorrentes da
de de que ela ten ha monossomia X (4S,X; síndrome de interação entre fatores ambientais e genéticos. Acredita-se
Turner). que os fatores genéticos envolvam vá rios genes, daí o nome
A síndrome de feminização testicular ou de insensi- poligênicas. Alguns autores têm preferido referir-se a essas
bilidade ao androgênio é exemplo de doença recessiva doenças como "de hera nça complexa''. Suas principais ca-
ligada ao X. racterísticas estão listadas no Quadro I0.5.
A Figura 10.3 apresenta heredograma com padrão de Para o cálculo do risco de recorrência de doenças mul-
herança recessiva ligada ao X. tif.1toriais, geralmente se utilizam tabelas de risco empírico.
Esses riscos devem ser modLficados levando-se em conta o
/)oJN(A.~ lJOAf u·,'ANll S /.I(;A DAS AO CJ<O.\IOS.\ 0.\10 ,\ sexo do afctado, o número de afetados na família c a gra-
Existem poucas doenças dominantes ligadas ao cro- vidade da doença no afetado. Pode também ser utilizada a
mos omo X. Suas principais características estão listadas chamada "aproximação de Edwards'', segtll1do a qual o ris-
no Quadro 10.4. co de recorrência de uma doença multifatorial em parentes
O raquitismo hipofosfatêmico é exemplo de doença de primeiro grau do afetado é, aproximadamente, igual à
dominante ligada ao X. raiz quad rada da frequência daquela doença na população.

Aspectos Básicos da Genética em Obstetrícia 151


Os defeitos de fechamento do tubo neural são exemplos som ia X (síndrome de Turner). No entanto, estima-se que
de doenças multifatoriais. 98% dos fetos com monossomia X são abortado e esta é a
anomalia cromossómica mais frequente em aborta mentos
Quadro 10. 5 I Principais características das doenças de primeiro trimestre.
poligênicas Outros tipos de doe nças cromossómicas numéricas
Resultam da interação entre múltiplos fatores. genéticos e são as poliploidias. Denominam-se poliploid ias quando
ambientais as células contê m conj un tos extras de cromos omos. as
Geralmente, o componente genético é dependente de triploidias, há u m conjunto extra de crom ossomas, ou seja,
vários genes. cada um com efeito pequeno 69 cromossomas. Geralmente, é causada pela penetração
de dois espermatozoides no óvulo. Podem estar associadas
Acombinação de fatores genéticos e ambientais determina.
para cada indivíduo. um grau de susceptibilidade. Quando esse à degeneração molar. Nas tetraploidias, há dois conjuntos
grau de susceptibilidade excede um certo limiar a doença se extras de cromossomas, ou seja, 92 cromossomas. As po-
expressa liploidias, geralmente, são encontradas em abortamentos,
----------------------------------- em bora alguns casos de triploid ia possa m alca nçar o ter-
Algumas doenças multifatoriais são mais freqüentes em um
dos sexos mo da gestação e evoluir pa ra a morte neonata l.
------------------------------~
D a mesma for ma que as trissomias, as monossomias e
Orisco de recorrência é maior para parentes de primeiro grau e
depende do número de indivíduos afetados na família, da gra- as poliploidias, não costumam ser fãmiliares.
vidade da doença e. em algumas doenças, do sexo do afetado
DOI .\'~ AS CRO.\IOS\Õ\1/(.tl \ bJ RU T'URA I\
As anomalias cromossóm icas estrutura is ocorrem por
D OENÇAS C ROMOS ÔM ICA rea rranjos de segmentos dos cromossomas, sem alteração
no número dos mesmos. Resultam da quebra e fusão de
As doenças cromossôm icas podem ser divididas em segmentos cromossômicos de forma diferente da habitual.
numéricas c cstrutu rais. A diferenciação entre as mesmas é A anomalias cromossômicas estruturais estáveis mais fre-
de fundamental importâ ncia no acon e lhamento genético. quentes são as deleções, duplicações, translocações, inver-
sões, isocromossomos, cromossomas em anéis, sítios frágeis.
D01 :\'!,AS l RO.II O~sõ.\llCAS .\ 'u.\1 FR K A\ Qyando o rearranjo ocorre sem perda de material cro-
Como já vi to, o número normal de cromossomas na mossómica, a translocação se denomina balanceada. Qyan-
espécie humana é de 46. As doenças cromossômicas numé- do ocorre perda (deleção ou monos omia parcial) e/ ou
ricas, também denomi nadas aneuploidias, são determinadas ganho (duplicação, trissomia parcial) de material cromossó-
por um número anômalo de cromossomas. Na ma ioria das m ica, a translocação é não balanceada.
vezes, existe um cromossoma extra (trissomia) ou ausente As anomaUas cromossômicas estruturais balanceadas, ge-
(monossom ia). ralmente, não têm efeito obre o fenótipo e o indivíduo costu-
Geralmente, as trissomias não são familiares. Ocor- ma sernormal,embora ten ha risco aumentado devir a ter fil hos
rem por acidente genético e o mecan ismo envolvido é a com anomalias cromossómicas não balanceadas. As anoma-
não disjunção de dois cromossomas homólogos durante a lias cromossômicas estruturais não balanceadas normalmente
meiose. O risco de ocorrência aumenta com a elevação da determinam anomalias congênitas e/ou retardo mental.
idade materna. As ano malias cromossómicas estruturais podem acon-
A síndrom e de D own (trissom ia do cromossoma 21) é tecer por acidente genético (de novo), com baixo risco de
a trissomia mais frequente na espécie humana. Após ela, as recorrência, ou serem herdadas. Qpando herdadas, o seu
mai comun são as trissomias dos cromossomas 18 (sín- risco de recorrência pode ser alto, algu mas vezes até de
drome de Edwards) e 13 (síndrome de Patau). A trissomia 100%, e depende do tipo de anomalia encontrad a, do cro-
do cromossoma 1.6 é comum cm abortamentos. mossoma envolvido e do genitor portado r (pai ou mãe).
As monossorn ias, gera Imente, são letais no período em- Mu itas vezes, as anomalias cromossómicas estrutura is
brionário precoce e são encontradas em abortamentos. A podem ser familiares. Sempre que for feito o diagnóstico
única encontrada em vivos na espécie humana é a monos- de anoma lia cro mossómica estrutural, impõe-se o estudo

1.52 Noções Práticas de Obstetríc ia


cromossôm ico dos genitores, para identificar se ela ocor- material gue falta va i da banda 25 até o térm ino do
reu de novo ou é fa m iliar. A n istória de abo rtamentos ou braço curto;
natimortos em um casal é comum nesse tipo de anomal ia. 46,XYinv(2)(p13p22): 46 cromossomas, sexo mas-
São exemplos de anomalia cromossômica estrutural culino, inversão envolvendo o cromossomo 2, a
a síndrome do choro em m iado (deleção parcial do braço parte invertida vai da banda 13 à banda 22 do braço
curto do cromossomo 5 ou 5p-) e a associação an irid ia- curto do cromossomo 2;
-tumo r de W ilms (deleção parcial do braço curto do cro- 46,XXt(2;3)(p22-pter:q22-qter); 46 cromossomas,
mossoma I I o u II f ). sexo femini no, tran slocação entre os cromossomas
2 e 3. A parte translocada do cromossomo 2 va i da
banda 22 do braço curto até a parte term inal daquele
COMO LER UM CAR IÓT IPO braço e a parte translocada do cromossomo 3 vai da
banda 22 do braço longo até a sua parte terminal.
Qyando estudados nas metáfases, para constitu ir o q uc
se denomina cariótipo, os pares cromossôm icos são nume-
rados de I a 22 e o par sexual, XX ou XY, de acordo com o Quadro 10.6 I Sinais e abreviaturas utilizados na descri-
seu ta manho e forma. Cada cromossomo apresenta uma ção do cariótipo
constrição, o ccntrômero, que o d ivide cm duas regiões, Smal ou interpretação
denominadas braço longo e braço cu rto. Na notação do abrev1atura
cariótipo, o braço longo representa-se pela let ra q c o braço Significa que há um cromossoma a mais. que
+
curto pela let ra p. Os braços lo ngo e curto dos cromosso-
mas, por sua vez, são subdivididos em regiões e sub-regiões
I será anotado a seguir

I Significa que há duas linhagens cromossômi-


denominadas bandas, que são também numeradas. cas (mosaicismo). representadas pelas nota-
Na notação do cariótipo, escreve-se o nú mero de cro- ções que o precedem e sucedem
mossomas encontrados, seguido pelos cromossomas se- Abreviatura de delação, significando que hou-
dei
xuais. Os polimorfismos e/ ou anomal ias encontrados são ve uma perda de material cromossômico
descritos após os cromossomas sexuais.
dup Abreviatura de duplicação. significando que
O Quadro 10.6 apresenta lista com algu ns sina is e houve duplicação de material cromossômico
abreviatu ras mais comu mente encontrados.
inv Abreviatura de inversão. significando que
A seg ui r, são apresentados alguns exemplos:
houve inversão de uma região do cromossoma
46, XX e 46,XY cariótipos femin ino e masculino
normais; i Abreviatura de isocromossomo. significando
que o cromossoma representado a seguir.
47,XY,+21: existem 47 crom ossomas, o sexo é mas-
entre parênteses. é um isocromossomo, ou
culi no e o cromossomo extra é o 21, t rissom ia livre seja, um cromossoma com dois braços iguais
do cromosso mo 2 1 (síndrome de D own); (não tem um braço longo e um curto, mas ou
46XX/ 47,XX,+21: mosaicismo entre células fe m i- dois braços longos ou dois braços curtos)
ni nas normais e trissomia livre do cromossomo 2 1, t Abreviatura de translocação, significando
sexo femi nino; que os dois cromossomas representados a
46XY/ 47,XXY: mosaicismo entre células mascu- seguir. entre parênteses. trocaram material
linas normais e célu las com 47 cromossomas c o (que também estarão representados entre
cromossomo extra é o X (mosaicismo para síndro- parênteses. após)
me de Klinefelter); r Abreviatura de ring, significando que o cro-
45,X: ex istem 45 cromossomas e só existe um cro- mossomo escrito a seguir. entre parênteses.
tem a forma de anel
mossoma sexual, que é X (síndrome de Turner).
Antigamente representada como 45,XO; add Abreviatura de addition. significando que há
46,XXde/(3)(p25plel): 46 cromossomas, sexo fe- excesso de material no cromossoma e região
indicados a seguir. entre parênteses
mini no, deleção de parte de um cromossomo 3, o

Aspectos Básicos da Genét ica em Obst et rícia 153


PADRÕES AT ÍPICOS DE H ERANÇA GE ÉTICA ou paterna. Até o momento, são conhecidos mais de 30 ge-
nes humanos que se expressam diversamente, dependendo
O desenvolvi mento da genética permitiu evidenciar de sua origem. No entanto, acredita-se que essa lista deve
uma série de doenças de natureza genética, que não se com- au mentar. Denomina-se impressão genômica o proces-
portam dentro dos padrões mendelianos, de anomalias so a partir do qual os genes são diferentemente marcados
cromossômicas ou doenças multifatoriais. Elas apresentam durante a gametogênese dos genitores. Seus mecanismos
outros padrões de herança peculiares. ainda não estão elucidados, mas acredita-se que o processo
de metilação do ONA desempen he papel chave.
HI.RANÇA Ali /'OL'ONDR/1\L Os exemplos mais bem-estudados do papel da impres-
A mitocôndria é sede da maioria das reações oxidativas são genômica nas doenças huma nas são as síndromes de
celulares e produz a maior parte doATP e, portanto, da ener- Prader-Willi e de Angelman. Em ambas há deficiências
gia celular. Uma série de doenças está relacionada a muta- (geralmente deleções) da mesma região (banda ql l-q13)
ções no DNA mitocondrial. O DNAm itocondrial humano do cromossoma IS. Entretanto, as duas síndromes apresen-
é circular, muito pequeno, contendo 16.569 pares de bases e tam fenótipos bastante diferentes, tanto no aspecto físico
situa-se no citoplasma. Cada mitocôndria tem milhares de quanto comportamental. A explicação para esse aparente
cópias do DNA mitocond rial. Diferentemente do DNA nu- paradoxo é que a síndrome de Prader-Willi é causada pela
clear, a maior parte do O\! A mitocondrial (mais de 90%do ausência do segmento crítico no cromossoma IS paterno,
total) é codificante, ou seja, é usada como molde para a sín- enqua nto a síndrome de Angelman está associada a dele-
te e de polipeptídeos, que são constituintes das enzimas da ções do cromossoma IS materno.
cadeia respiratória nas próprias mitocôndrias. lsto confere à Outra doença nas qual o fenômeno da impressão genô-
herança mitocondrial algumas peculiaridades: mica já foi descrito é a síndrome de Beckwith-Wiedeman,
É exclusiva mente materna, já que o óvulo, e não o que tem prevalência mais alta do que a habitual nos proce-
espennatozoide, é responsável por 100% das mito- dimentos de ferti lização in vitro.
côndrias do zigoto. Consequentemente, uma mu-
lher com uma mutação em seu D A mitocondrial DI.\S0 .\11 \ UNIPARJ l•v!AL

a passará a todos os seus filhos e fi lhas. Já o homem Como já visto na seção anterior, para a normalidade, é
não transmite o D A mitocondrial a seus descen- necessário não apenas a existência do número e estru tur<l
dentes. Isto define herança exclusivamente maternai corretos dos cromossomas, mas também a sua origem.
a segregação do D A mitocond rial não é tão es- Conceptos com cariótipo 46,XX, nos quais ambos os ge-
tritamente controlada como no DNA nuclear. Na nomas sejam de origem de apenas um dos genitores (dis-
divisão celular, cada nova célula-fi lha poderá rece- somia uniparental), nunca se desenvolvem normalmente.
ber quantidades aleatórias do DNA mitocondrial A dissomia uniparental paterna pode ser observada nas
normal e do DNA mitocondrial 1nutante. Como molas hidatiformes, nas quais o concepto com cariótipo
a função mitocondrial é essencial para quase to- 46,XX, de origem exclusivamente paterna, exibe hiperpla-
das as células, a expressão fenotípica dependerá da sia acentuada do trofoblasto, no entanto, sem componen-
proporção entre DNA normal e mutante em cada tes fetais e com alto risco de transformação em coriocarci-
célula. Assim, penetrância reduzida, expressividade noma.Adissomia uniparental materna pode ser observada
variável e pleiotropia (múltiplos efeitos sobre o fe- nos teratomas ovarianos. Esse tipo raro de tumor benigno
nótipo de um único gene) são características típicas consiste de tecidos embrionários desorganizados, sem
da herança mitocondrial. membranas extraembrionárias. Eles resultam da ativação
de um oócito não OVLdado.
Atrofia ótica de Leber é exemplo de doença mitocondrial. Resultados diferenciados, em função da origem paterna
ou materna, podem ocorrer ta mbém com pare cromossô-
/\fPRfS~ÃO GI N(l.\1/U micos isolados (especialmente no cromos omos que exi-
Algu ns genes e regiões cromossômicas se expressam bem o fenômeno da impressão genômica). Denomina-se
diferentemente, conforme eles sejam de origem materna dissomia uniparental a presença de lin hagem celular com

l54 Noções Práticas de Obstetrícia


um par cromossômico originado total ou parci~lmen te de somos. No entanto, esse conceito é uma simplificação. Já
apenas um dos genitores. Se dois cromossomas idênticos vimos antes que as mulheres, devido à inativação ao acaso
estão presentes, denomina-se isodissomia. Se ambos os do cromossoma X, apresentam dua populaçõe diferente
homólogos de um dos genitores estão presentes, denomi- de células omáticas: uma em que o cromossoma X paterno
na-se heterodis omia. é o ativo e outra em que o cromossoma X materno é o ativo.
Esse fenômeno foi descoberto no final dJ década de 80 Essa é uma diferença epigenética. Mutações em células iso-
e, mais uma vez, as síndromes de Prader-Willi cA ngelman ladas, tanto na v id:~ pré-natal quanto na pós-natal, podem
tiveram papel importante cm seu esclarecimento. levar a clones de células geneticamente diferentes do zigoto.
Alguns pacientes com síndrome de Pr~dcr-Willi apre- O mosaicismo é fenômeno importante em doenças
sentam isodissom ia materna, ou seja, o eus dois cromos- cromossómicas, podendo levar a fenót ipos mais leves da
somos 15 são de origem materna. Falta-lhes, portanto, o doenças. Eles podem ser devidos a não disjunções preco-
segmento do braço longo do cromossoma I 5 de origem ces na vida embrionária, levando a trissom ias ou mono -
patern~, crítico para que eles fos ·em normais. Semelhante- ·omias em apenas alguma linhagens celulares. O mosai-
mente, alguns pacientes com síndrome de Angelman po - cismo, em anomalias cromo sômicas, pode ser classificado
suem ambo os cromossomas IS de origem paterna, isto é, cm verdadeiro e de baixo grau, de acordo com o percentual
uma isodissomia paterna, e falta-lhes o segmento do braço de células variantes acometidas. Qyando esse percentual é
longo do cromossoma I 5 de origem materna, crítico para igual ou superior a I 0%, geralmente tem significado clínico
que a síndrome não se manifeste. e denomina-se mosaici mo verdadeiro; qua ndo mais bai-
Esse mecanismo também já foi descrito em outras sín- xo, co tu ma não ter significado clínico ou tem significado
dromes, como a de Beckwith-Wiedcman e Russel- ilver. muito leve, denominando-se mosaicismo de baixo grau. A
A isodissomia uniparental também pode ser vista em rcpcrcuss5o clínica do mosaicismo também depende do
algumas doenças autossômicas recessivas, qua ndo o cro- tecido acometido.
mossoma duplicado, de origem materna ou paterna, conti- Os mosaicismos de baixo grau para monossomia do
ver um gene de doença autossômica recessiva alterado. Há cromossoma X ão, muitas vezes, encontrados em mu lhe-
relatos de pacientes com fibrose císti.ca com esse mecanis- res com abortamentos repetidos, embora n5o se saiba se
mo em sua gênese. existe relação de causa e efeito entre os dois achados.
Já foram descritos casos de síndrome de Prader-vVilli em O mosaicismo pode ser detectado tanto em células o-
pacientes submetidos a testes diagnósticos pré-natais, cuja máticas quanto germinativas. Quando em célula gcrmi-
biópsia de vilo corial demonstrou trissomia do cromossoma nativas, podem levar indivíduos sem o fenótipo de doença
IS. E, não tendo havido abortamento, foi solicitada a amnio- autossômica dominante, por exemplo, a ter mais de um
ccnte e para confirmação daquele achado, que revelou cari- fi Iho afetado pela mesma. As mutações omáticas são reco-
ótipo normal. Ao nascimento, os recém-nascidos apresenta- nhecidas como causa importante de vários tipos de câncer.
vam a síndrome de Prader-WiiJi.A explicação para o achado E o~ indivíduos com esse tipo de câncer exibem mosaicis-
é que um dos cromossomas IS (paterno) da trissomia foi mo de célu las somáticas, com uma linhagem de células
eliminado e permaneceram dois cromossomas I 5 maternos. normais c outra(s) de células com a(s) mutação(ões) que
Houve correção da trissomia, mas, por causa da impressão originou(naram) o câncer.
genômica, constatou-se anormalidade fenotípica. Já foram
de ·critas dissomia uniparentai envolvendo os cromo so- EXPANSÕES REPETIDAS INSTÁVEIS
mos?, 11 ,14e22. 1 os tipos de herança discutidos anteriormente, no
caso de uma mutação ela se transmite de maneira estável
\lo!>.\IU'>,\10 de geração em geração. Ou seja, todos os membros de uma
É a presença em um mesmo indivíduo de duas linha- família compartilham a mutação herdada idêntica. o en-
gen de células geneticamente ou epigcneticamente dife- tanto, existe uma classe de doenças devidas a expansões
rente , ambas derivadas de um único zigoto. Estamos aco - repetidas instáveis. Por definição elas se caracterizam por
tumados a pensar como se cada indivíduo ti vesse em todas uma expansão de um segmento do DNA, consistindo em
as suas células o mesmo complemento de genes e cromos- unidades repetidas de tres ou mais nucleotídeos em tandem

Aspectos Básicos da Genética em Obstetrícia 155


(ou seja, adjacentes uma às outras). Os mecan ismo pelo CONSANGUINIDADE
qual essas expansões se veri ficam não são bem conhecidos.
Em geral, os genes associados a esse tipo de doença têm em A consanguinidade é fator de risco para doenças au-
seu alelo selvagem um número v,\riávcl de repetições e à tossômicas recessivas. No entanto, na maioria das vezes
medida que eles são passados de geração a geração o nú- esse ri sco não é alto. Esti ma-se que todos nós sejamos
mero de repetições pode au mentar e levar a anomalia na portadores de pelo me no IOalelos muta ntes para doen-
fu nção e expressão genética. Quase 20 doenças com esse ças autossõmicas recessivas. A prevalência das mesmas se
meca nismo de herança já são conhecidos, entre elas a sín- mantém baixa porque, pa ra que um portador tenha um
drome do X frágil, a distrofia m iotôn ica, doença de H un- fi lho homozigoto ( porta nto, afctado), é necessá rio que
tington, atax ia de Friedreich. Na índrome do X frágil, o ele herde do out ro parceiro ta mbém um a le io mutante da
trinucleotídio repetido é o CGG, as pessoas normais têm mesm a doença. A consang uin idade favorece e a possibi-
seis a 54 repetições CGG no cromossomo X, na região q lidade. Q uanto m ais pró~i m a for a consangui nid ade, m a i
2 7.3 na porção - · do gene F M R I . Quando essas repetições alto o risco.
sit uam-se entre I 00 e 200, o portador tem u 1na pré-mu- R ecomend,1-se que todo casal consa ngu íneo seja en-
tação, que, passando pela meiose femi nina, pode resultar ca m inhado à ava liação genética, a qual, a part ir da histó-
na ampliação para ma is de 200 repetições e determi nar o ria fam il iar, poderá estabelecer esse ri sco com precisão.
apa recimento da doença em seus filhos. Os portadores da ~1ando nessa aval iação for detectada uma d oença autos-
pré-mutação podem apresentar a doença denomi nada sín- sômica recessiva ou a existência d e portadores de genes
d rome do trcmor/ ataxia associada ao X frágil e as mui heres desse t ipo de doença em parentes próximos, cm algumas
podem também ter fa lência ovariana prematura. ocasiões pode haver necessidade de oferecer o diagnóstico
molecula r para identificação de portadores.
O utra recomendação importante aos casais consa n-
ACONSELHAMENTO PRÉ-CONCEPCIONAL gu íneos, mesmo qua ndo não sejam identi ficados parentes
a fe tados ou portadores de doenças autossômicas recessi-
O momento ideal para o aconselhamento genético vas, é a avaliação morfológica fetal pela ultrassonografia na
é antes da gravidez, pois, identificados os riscos, os casais gravid ez, pois considerável número desse tipo de doença
poderão decidir o seu curso de ação, com base no ri scos, exibe mal formações que podem ser d iagnost icadas por
conceitos éticos, morais, religiosos e determinações legais. esse proced imento.
O obstetra necessita conhecer as situações de risco mais
frequentes, para que possa alertar o casal em tempo hábil.'·•
DOENÇA RECESSIVA LIGADA AO X
NA FAMÍLIA DA MULHER
DOENÇA AUTOSSÔMICA
DOMINANTE NA FAMÍLIA Esse tipo de h istória pode representa r risco muito sig-
nificati vo (50% para filhos homens) ou mu ito baixo, em
A situação mais óbvia é qua ndo u m dos membros do função de a mul her ser ou não portadora. A const rução do
casal é afetado por doença com essa etiologia. Quando a heredograma permite ava lia r esse risco c para vá rias doen-
história é de doença em parentes próx imos, será necessá ria ças é possível realiza r te tes moleculares para a identifica-
ava liação cuidadosa do casal em busca de sinais e sintomas ção de portadoras.
mais sutis que perm itam o diagnó t ico.
Situações como expressividade variável, não penetrância,
mutações novas, antecipação, mosaicismo gonadal e expressão RETARDO MENTAL EM PARENTE PRÓXIMO
tardia podem dificultar o aconselhamento genético nesse tipo
de doença, sendo mais prudente uma avaliação pelo médico O reta rdo mental pode ter diversas etiologias, algu-
geneticista. Para um número crescente de doenças já é possível mas implica ndo ri sco aumentado pa ra pa rentes próx i-
o diagnóstico de certeza por meio de técnicas moleculares. mos. Todo casa l que tem parente próxi mo com retardo

Noções Práticas de Obstetrícia


mental merece avaliação genética. Uma situação parti- F I LHO COM DEFEITO DE
cularmente importante é a ex istência do retardo mental FECHAMENTO DO TUBO NEURAL
em pacientes do sexo masculino na família da mul her.
A síndrome do X frágil é a causa mais frequente de retar- Os defeitos de fechamento do tubo neural (anencefalia,
do mental fa mi liar. mcn ingom iclocele, men ingocele, encefa locele) isolados,
geralmente, são multifatoriais, com risco de rccórrência
cm torno de 4%. O fator de risco mais bem-conhecido é a
IDADE MATERNA ELEVADA deficiênci:-t de ácido fólico e o risco de recorrência pode ser
reduzido para menos de 1%, com o uso periconcepcion:-tl
É bem-estabelecida a relação entre idade materna ele- do mesmo.
vada e o risco de doenças cromossômicas nu méricas, es- É necessário lcn1brar que os defeitos de fechamento
pecialmente a síndrome de Down. Assim, mul heres que do tubo neural podem fazer parte de diversas síndromes
desejam engravidar a partir dos 35 anos devem receber c, nestes c:-tsos, o risco de recorrência será o da síndrome.
orientações específicas sobre seus riscos e possibiLdadcs
de diagnóstico pré-natal.
Está indicado o estudo cromossômico pré-natal cm FILHO COM CARDIOPATIA CONGÊNITA
toda mulher grávida com idade de 35 anos ou mais. Nessa
faixa etária, os testes de triagem não são mais adequados, c As cardiopatias congênitas isoladas podem ser
sim o diagnóstico pré-natal. determinadas por di versos mecan ismos, embora na
maioria das vezes seja m de natu reza multi fatorial. O
risco de recorrência dependerá do tipo de ca rdiopatia
PERDAS GESTACIONAIS c da históri:-t fam iliar. Deve-se ter presente que as car-
diopatias também podem fazer pa rte de d iversas sín-
Duas ou mais perdas gestacionais, sejam abortamen- dromes c o risco de recorrência será o d a síndrome.
tos ou natimortos, alertam para a possibilidade de um dos Para melhor ava liação, o casal deve ser enca min hado
mcmbros do casal ser portador de :momalia cromossôm i- ao geneticista.
ca estrutu ral, com risco au mentado para novas perdas ou
filhos com anomalias congênitas. Nestes casos, está indi-
cado o estudo cromossômico do casal para o aconselha- MULHERES COM DIABETES MELLITUS
mento genético adequado.
A incidência de malformações cm fi lhos de mu lhe-
res com diabetes mellitus insulina -dependente, especial-
F I LHO ANTERIOR COM mente de evolução há vá rios a nos, é duas a três vezes
ANOMALIAS MÚLTIPLAS mais alta que na população cm geral. A medida mais
importante, nesses casos, é o controle dos níveis glicê-
Casais que tiveram filhos natimortos ou falecidos no micos no período periconcepcional. Além de malforma-
período neonatal com anomalias múltiplas, sem diagnósti- ções, podem ocorrer macrossomia fetal e complicações
co bem-estabelecido devem ser avaliados pelo geneticista, perinatais.
para tentar definir o diagnóstico etiológico c determinar o
risco de recorrência. a maioria das vezes, será solicitado
estudo cromossômico do casal. Algumas vezes, a história MULHERES EM USO DE
fàmiliar com a construção do heredograma, bem como SUBSTÂNCIAS TERATOGÊNICAS
resultados de necropsias, fotografias, radiogr.1fias c outros
exames complementares poderão levar a uma possível cau- Algumas mulheres necessitam utilizar cronicamente
sa etiológica. medic..1mentos potencialmente teratogênicos. É necessário,
então, plancjar as alternativas possíveis antes de engravidar.

Aspectos Básicos da Genética em Obstetrícia 157


É o caso das mulheres gue usam anticonvu lsivantes. Elas Os testes de triagem tê m como objetivo identi ficar
devem ser alertadas dos seus riscos e, caso optem por engra- gravidezes com risco aumentado de resultar no nascimen-
vidar, deve ser avaliado o melhor esquema terapêutico no to de concepto com a nomalias congênitas. São procedi-
curso da gravidez. mentos não invasivos, com o objetivo d e identificar entre
as gestações u m grupo cujo risco de anomalias fetais é
m ais alto do que o esperado na população. identificado
IDADE PATERNA ELEVADA esse grupo de risco, ele deve ser submetid o ao d iagnóstico
pré-nataJ.S·i
A idade paterna elevada associa-se a alto risco para fi lhos Todo teste de triagem, pela sua própria defi nição, apre-
com doenças autossômicas dom inantes. A idade limite, no senta resultados falso-positivos e falso-negativos. Teste de
entanto, não é ainda bem-estabelecida. t riagem alterado indica situação de ri sco, mas não fi rma
d iagnóstico. Exige teste diagnóst ico específico, posterior,
que confirme ou afaste a doença suspeitada. Po r outro
ANOMALIAS CONGÊNITAS EM lado, teste de triagem normal não afasta a possibilidade de
PARENTES PRÓXIMOS doença.
Em nosso meio, os tes tes de triagem pré-natal mais
Esse tipo de h istó ria requer avaliação na tentativa de es- utili zados são as med idas da tra nslucência nucal e do osso
clarecer o tipo de anomal ia e o risco reprodutivo. Somente nasal, a doppervelocimetria do dueto venoso c os testes
a construção de he redograma com inclusão de várias gera- bioquímicos. Esses testes se dirigem à triagem de doenças
ções irá permitir aconsel hamento genético adequado. cro mossómicas numéricas, especialmente da trisso m ia do
cromossoma 2 1.

PoRTADORESDEGENESMUTANTESPARA
DOENÇAS AUTOSSÔMICAS RECESSIVAS MEDIDA DA TRANSLUCÊNCIA NUCAL

Com a disseminação da triagem neonatal, essa situ- É a medida ultrassonográfica da área anecoica da por-
ação passará a ser mais frequentemente identificada na ção posterior do pescoço fetal entre LI e 13 semanas. É, ge-
prática cotidiana. Sempre que um dos membros do casal ralmente, considerada anormal quando superior a 2,5 rn m.
fo r recon hecidamente portador de um gene para doença Ex istem programas de computado r que relaciona m a me-
autossômica recessiva, o consorte merece investigação dida obtida com a idade gestacional, calculada pelo com-
para avaliação de riscos. Co m a triagem neonatal rotineira pri mento cabeça-nádega. É co nsiderada anormal a medid a
da anemia falciforme (drepanocitose), esta tende a ser a acima do percentil 95 para a idade gestacional. Esses pro -
doença mais frequen temente identificada nessa situação. gramas ta mbém fazem estimativa de risco de anomalia
O desenvolvimento de testes genéticos pa ra elevado cromossômica fetal, associando a medida da tran slucência
número de doenças perm it irá também ampliar de ma- nuca l e a idade m aterna 5 ·8
neira significativa a identificação de portado res de genes Criada para a triagem da trissomia do cromossoma 21,
mutantes para doenças autossômicas recessivas em fami- a translucência nucal pode estar aumentad a em outras ano-
lia res d e afetados por esse tipo de doença. malias cromossôm icas, como trissom ia do cromossoma
18, monossomia do cromossoma X (sínd ro me de Turner),
defeitos anatómicos (principa lmen te ca rdiopatias) e do -
TESTES DE TRIAGEM enças gên icas. Algumas vezes, a translucência po de estar
aumentada e o s exames pré-natais não detectarem qual -
Embora diversas condições de risco aumentado para ano- quer anorm alidade, t razendo dificuldades na o rientação
malias congênitas sejam conhecidas, a maioria das crianças da gestante. A ntes da rea lização do exa me, deve o casal
com esses defeitos nasce de casais nos quais não foram identi- se r alertado sobre a n atureza de triagem d o exa me e so-
ficados fato res de risco. bre todas essas po ssíveis eventualid ades.

158 Noções Práticas de Obstetrícia


Como e trata de método de triagem, c c exame Dü'>A(,[ l\1 DA A I rt\- 1 LTOPROTLÍNA
deve c di rigi r à população de baixo risco, ou scj,l, às mu-
lheres com menos de 3S .1 nos por ocasião do parto. As A alf":!-fetoproteína é uma proteína sintetizada pelo
gestantes com 35 ano~ o u mais devem ~cr sempre oncn- aco vi tel ino, trato gastrointe ti na I c fígado do feto c cm
tada a realizar o diagnó tico pré-natal, a partir do estu- meno r quantidJde pela pbcenta e ri n feta is. Ela a traves-
do cromos ô m ico em vi lo cori al ou líquido amnió tico. a a placenta c é encontrada na circulação materna.
Para elas, o testes de tri agem de anoma lia cromossó- As segui nte situações as ocianH,c a níveis de alfa-
mica não ão o ma i~ indicados. -fetopro teína aumentados na circulação materna: de-
feito de fecha mento do tubo neural (.1ne ncefal ia, cn-
cef:11occle, mcningo m ielocclc), defeitos de fec ha mento
AVALIAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA d.1 p.ucdc .1bdom inal (o nfalocelc, gastro ·quise, cxtrofi,1
DO OSSO NASAL de cloaca), ob truçõe do trato digestivo, agcne ia renal,
rin pol ieí<.ticos, nefro!>c congênita, o tcogcncsc imper-
Outro exame incorporado ao te te de triagem é a ava- feita, higro m a cístico, defeitos de pele e o utras menos
liação ultra sonográfica da presença ou au~~ncia do osso frequentes.
nasal no pri meiro trimc~tre de gestação. Parcela signil1ca- ívc1s reduzidos de :J.Ifà-fetoprotcína âo descritos
tiva do fetos com sínd rome de Down não apre entam o em docnç.1s cromossômicas fetais especia lmente tns-
o so nasal nessa fase. Assi m como no caso da transluccnci,1 somia - c doe nça trofoblá tic:J..
nucal, a avaliação do o so nasal é teste de rastreamcnto c A dos.•gcm da alfa-tetoprotdn,l no soro materno c
não permite fi r mar a presença nem a auscncia da doença.Q 10 uti lizada como teste de triagem pré-natal para doença~
cromos ômica~. especialmente da sínd ro me de Down c
dos defeitos de fechamento do tubo neural. Deve er rea-
DOPPLERVELOCIMETRIA l izad:~ entre IS e 20 scm anJS de grav idez. cus resultado~
DO DUCTO VENOSO são expressos como múltiplos da media na (MoM ). u,1
utilização com e ses objctivm exige laboratório cxpericn
A avaliação pela dopplcrvclocimetria do dueto venoso te e curva de normalidade na população-alvo.
vem endo progressivamente utilizada como um teste de Como os níveis de al fa-fcto protcína va ri:J. m cm fun-
triagem de primeiro tri rne~tre. A diminu ição d:~ veloc id:~de ção da id.1dc gc::.tacional, esta tem de ser conhecida com
do fluxo, especialmente o aparecimento do fluxo reverso certeza. Baixo peso fetal, oligoidràm n io, gcmclaridade c
entre lOe 14 semanas, pode se associar a aneuploidias e a baixo pe o nutcrno podem eleva r os níveis séricos ma-
cardiopatia ."R ternos da alf":!-fcto pro tcína. Morte fe tal c peso materno
elevado são ca u as de níveis baixos.

TESTES BIOQUÍMICOS
EM SORO MATERNO Do., \(,L \I DL <. 0:->ADOTROIINA <OR I ÔNJC.A

Amplamente utili zados cm países desenvolvidos, os É o marcador bioqu ím ico mais sensível para a tria-
testes bioqu ímicos ainda são pouco us:~dos cm no o meio. gem pré-natal da índromc de Down. Er.trc IS c 20
Voltado inicialmente para a triagem de anomalia em a nas de ge tação, o n ívei de gonadotrofi na cor i-
cromo ômicas, hoje eles podem ser empregado!> para al- ó nica no soro ma terno enco ntram-se significativamen-
gumas outras doe nças. Entre eles, o m.lis utiliz:1do é o tes- te elevados cm gravideze de feto~ com essa síndrome.
te trípl ice, com a do :1gem simultânea da alfa-fetoproteína, D iferentemente, na trissom ia do cromossoma 18 ão
gonadotrofi na coriôn ica e e trio! conjugado. Q uando se encontrados n ívei muito baixos da fração liv re d.1 su-
opta por rastreamento bioq uímico no primeiro trimestre, bunid ade ~ da gonadotrofin a coriô nica (~-h CG). cus
a do agem da alfa-fcto protcína é substitu ída pela dos:~gem resultados são expres os em múltiplos da media na da
da proteína plasmática associada à grav idez ( PAP-A).'~ 11 po pulação (MoM).

Aspectos Básicos da Genética em Obstetrícia 159


ESTR IOL NÃO CONJUGADO tico pré-natal utilizadas mais frequentemente são: est udos
ultrassonográficos, estudos cromossômicos, testes bioqu í-
Os níveis de est riol não conjugado no so ro materno micos e análises do DNA. 12
encontram-se d imi nu ídos no segundo trimestre de gra-
videzes de fetos com síndrome de D own. Seus resultados
também são expressos em múltiplos da mediana da popu- ESTUDOS ULTRASSONOGRÁFICOS
lação (MoM).
A ultrassonografi.a é utilizada para estudar a a natom ia
fetal. Ela é capaz de identificar anomal ias estruturais maio-
PROTEÍNA PLASMÁTICA ASSOCIADA A GRAVIDEZ res, como hidrocefalia, hid ranencefalia, defeitos de fecha-
mento do tubo neural, holoprosencefalia, microcefalia,
Esse exame vem sendo realizado em nosso país ape- macrocefalia, cistos de plexo coroide, anomal ia de Dandy-
nas em laboratórios especial izados. A proteína plasmática -Wal ker, higromas císticos, d iversos tipos de cardiopatias,
associada à gravidez (PAP-A) é de origem placentária e hérnias d iafragmáticas, on falocele, gastrosquise, extrofias
aumenta exponencialmente no soro materno, até o fim da de bexiga e de cloaca, atresias do tubo d igestivo, agenesia
gravidez. Níveis reduzidos da mesma, já no primeiro tri- renal, hid ronefrose, ri ns policísticos, cistos renais, obstru-
mestre de gravidez, associam-se a doenças cromossôm icas ções uretrais com megabexiga, entre outras. Pode ta mbém
nu méricas fetais. estabelecer o diagnóstico de algumas d isplasias ósseas e
alertar para a existência de outras. 6•12
Ao ser encontrada uma anomalia feta l, está indicado
TESTES DUPLO E TRLPLO cuidadoso estudo da anatomia fetal em busca de outras
anomalias. É também indispensável o estudo cromossô-
As dosagens bioqu ím icas no soro materno são testes mico fetal, pois as doenças cromossômicas associam-se às
de triagem. Assim, quando alterados, exigem a realização mais diversas anomalias congénitas.
de testes d iagnósticos, como a amniocentese e biópsia de Já existem estudos determ inando a associação de al-
vilo corial, para sua confi rmação. A utilização de apenas um gumas anomalias e alguns parâmetros fetais encontrados
desses marcadores faz com que elevado número de testes à ult rassonografia e algumas síndromes específicas, pri nci-
d iagnósticos tenha resultados normais, o que implica gas- palmente a sínd rome de Down. São os chamados "ma rca-
tos econômicos e estresse emocional desnecessários. Para dores cromossômicos".
reduzir essas perdas, criou-se a estratégia de associar as do- D iante de feto com anomalias estruturais e estudo
sagens de alfa-fetoproteína e da ~-hCG (teste duplo) ou as cro mossô mico normal, é preciso ter mu ita cautela e evi-
três dosagens, inclu indo o estriol (teste triplo). O período tar tentativas precipitadas de diagnóstico sind rômico.
ótimo para a sua realização é entre 16 e 18 semanas de gravi- Mesmo após o n ascimento, com o exame físico com pleto
dez, podendo ser estendido para 15 e 20 semanas. O rastre- e todos os demais exames d isponíveis, os mel hores cen-
amento no primeiro trimestre é feito entre 10 e 13 semanas. tros de diagnóstico d ismórfico do mu ndo não con seguem
Persistem dificuldades para lidar com esses testes em estabelecer diagnóstico sind rôm ico em cerca de 40%
nosso meio, pois eles exigem curvas de normalidade na dos pacientes. A abordagem d essa situação deve ser feita
popu lação, laboratório experiente, con hecimento exato d a preferencialmente por equipe m ultid isciplinar q ue conte
idade gestacional, do peso materno e do número de fe tos e com a pa rticipação de u ltrassonografista experiente em
tabelas específicas de conversão dos resultados em riscos. morfo logia fetal, geneticista, obstetra, neonatologista e,
algumas vezes, cirurgião-pediátrico e psicólogo. Por outro
lado, quando t udo indica q ue a anomalia é isolada, deve-se
DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL ev itar tranqu ilizar os genito res prematuramente com afir-
mações do tipo "o fe to é no rmal, exceto por este achado
O número de doenças passíveis de diagnóstico pré-na- ultrasso nográfico", pois m uitas anomalias só podem ser
tal cresce continuamente. As metodologias para o diagnós- identificadas após o nascimento.

16 0 Noções Práticas de Obstetrícia


ESTUDOS CROMOSSÔMICOS ESTUDOS DE DNA

As principais indicações de estudo cromossômico fetal são: Grande q uantidade dos genes responsáveis pelas do-
Idade matema elevada: como já visto, o risco de fi- enças gênicas já é conhecida. Apesar disso, o diagnóstico
lhos com síndrome de Down eleva-se significativa- molecular nem sempre é disponível, pois muitos desses
mente, nas mulheres, a partir dos 35 anos. Esta é a genes são grandes e o número de mutações possíveis de
indicação mais freq uente de diagnóstico pré-natal; alterar sua fu nção também é muito elevado, chegando, às
resultado anormal em testes de triagem pré-natal: guan- vezes, a centenas. Além disso, muitas doenças apresenta m
do a translucência nucal, ava liação do osso nasal ou heterogeneidade genética e mais de um gene pode estar en-
os testes bioq uímicos indicarem risco aumentado volvido em sua etiologia.
para doenças cromossôm icas; Existem métodos dirctos e indiretos de diagnóstico
filho anterior corn trissomia livre: o risco de recorrên- molecular. Os diretos estudam a própria estrutura do gene.
cia da síndrome de Down por trissom ia livre é de O diagnóstico molecular di reto pode utilizar a rcação em
I a 2% em gravidezes fut uras do casa l. Apesar de o cadeia da polimerase (PC R) e osouthern blot.
risco de recorrência das demais trissomias ser mais Nas abordagens indirctas, são realizados est udos de
baixo, é comum a indicação de estudo cromossô- ligação genética (Jinkage). Para que isso seja possível, é ne-
m ico em gravidezes de casais com filho anterior cessário que se conheça um locus poli mórfico próximo do
com outras trissomias livres; gene envolvido na etiologia da doença. O princípio do es-
anomalias cromossômicas estruturais balanceadas em tudo de ligação é que dois loci que são muito próximos não
um dos membros do casal: os portadores de anomalias sofrem recombinação na meiose. Desta maneira, um locus
cromossômicas estrutura is balanceadas têm risco polimórfico "ligado" a um gene de doença pode fu ncionar
aumentado de terem filhos com anomalias cromos- como sinal que prediz a presença ou ausência do gene com
sômicas estruturais não balanceadas e têm indicação a mutação no feto. Para isto, são analisados os DNAs do feto
de diagnóstico pré-natal cm toda gravidez. Esse risco e dos gen itores, que serão tipados pela PCR, para o locus po-
depende do tipo de anomalia presente c do membro limórfico conhecido.
do casal portador (homem ou mulher). Em alguns Os estudos de ligação são indicados qua ndo o gene é
casos, ele pode ser de até I00%; desconhecido, sendo impossível procurar mutações, ou
anomalias fetais detectadas à ultrassonograjia: como quando possui significativo número de mutações e nenhu-
já visto anteriormente, guando for detectada mal- ma delas é comu m na população, sendo geralmente muito
for mação anatômica no feto, deve sempre ser soli- dispendiosa a procura sistemática das diversas mutações.
citado o estudo cromossômico fetal, uma vez que
as anomalias cromossômicas podem cursar com as
mais diversas malformações; fiSH 1 CITOGENÉTICA MOLECULAR
determinação do sexo fetal: indicada quando a mãe é E CGH AnRAYS
portadora de doenças recessivas ligadas ao X c não
for possível o diagnóstico pré-natal com base em Apesar de essencialmente m oleculares, essas abor-
estudos de DNA; dagens se situam na fronteira entre os estudos cro mos-
outras indicações: muitas vezes, casais que teriam in- sôm icos e os de DNA. Trata-se de estudo de regiões crí-
dicação de avaliação pré-concepcional engravidam ticas do DNA de dive rsas regiões cromossômicas para
antes de real izá-la. Em algu mas dessas situações, identificar a sua presença em dose extra (trissomias, po r
como casais com perdas gestacionais anteriores, exemplo) ou sua ausência (mo nossomias). Em diagnósti-
fil ho anterior nati morto, neomorto ou com ano- co pré-natal, elas são usadas, muitas vezes, para res ultado
malias múltiplas, sem diagnóstico estabelecido, rápido, que não depende de culturas celulares, ou para o
retardo mental em parente próxi mo, anomalias d iagnóstico de algumas síndromes específicas, como de-
congénitas em parente próximo, deve ser avaliada a leçõcs cromossômicas muito reduzidas c síndromes de
realização de estudo cromossômico pré-natal. genes contíguos. 11

Aspectos Básicos da Genética em Obstetrícia 161


A amplificação pela PC R. de microssatélites do cromos- de DNA ou dosagens bioquímicas. A técnica mais ade-
somo 2 1, conju ntamente com densitometria a laser assi stida quada depende da ava liação de cada caso e da experiência
por computado r, vem sendo utilizada por d iversos pesqu i- do obstetra e do laborató rio que vai realizar o exame. As
sadores, especialmente para o d iagnóstico pré-natal da sín- mais impo rtan tes são coleta de vilo corial, am niocentese e
drome de Down, em DN A extraído de célu las fetais, célu- cordocentese.15 A discussão dos detal hes técnicos de cada
las do líqu ido amniótico ou de vilas coriô nicos. D e for ma uma delas é objeto de outros capít ulos deste livro.
semelhante, a citogenética molecular pode ser usada pa ra
o diagnóstico pré-natal das trissomias 13, 16, 18 e 21 e das
anormalidades numéricas do cromossoma X.A lguns labo- COLETA DE VILO CORI AL
ratórios já começa m a oferecer o diagnóstico de trissomias
de todos os cro mossomas, pela citogenética molecular. Consiste na retirada de pequena quantidade do córion
Outra técnica recente que perm ite identificar peq ue- frondoso. Para mais segu rança, deve ser realizada após IO
nas deleções e duplicações de segmentos de D NA, que não semanas de grav idez. É também denominada biópsia de
podem ser vistas pelo microscópio, é a hibridização com- placenta, quando realizada após 12 semanas de gestação.16r
parati va do genoma (CG H ), baseada em m icroarranjos H oje, esse procedimento é realizado exclusivamente
(CG H array). Essa técn ica, usada in icialmente em o nco- pela via tra nsabdo minal, que pode ser utilizada até o fina l
logia, vem sendo empregada para o d iagnóstico de fe tos e da gravidez. A via t ranscervical foi abandonada pelo s riscos
crianças com malformações e sem anomalias detectáveis que acarreta.
no estudo cro mossômico, mas com reduzidas deleções e O volu me de material a ser colhido dependerá da habi-
14
inserções, resultantes de instabilidades genô m icas. lidade do laborató rio e algu mas vezes dos exames a serem
realizados. Em geral, para estudos cromossômicos, a quan-
t idade ideal é de 20 mg de vi lo; no entanto, alguns laborató -
ESTUDOS BIOQUÍMICOS rios conseguem resultados em quantidades bem menores.
O!Jando se deseja m aterial para estudos de DNA (di ag-
Di versas doenças metabólicas, como as mucopolissa- nóstico de doenças gênicas, determinação de paternidade),
caridoses, lipidoses e erros inatos do metabolismo dos ami- este é o método de escolha, pois, para esse tipo de aná li-
noácidos, podem ter o seu diagnóstico pré-natal feito a par- se, não é necessária a realização de cultura. Para estudos
tir de dosagens enzimáticas o u de metabólitos, realizados cromossômicos, alguns laborató rios preferem a cultura de
em líquido amniótico ou vi lo corial. No entanto, em nosso curto prazo (24 horas), q ue permite o resultado entre três
país, mu ito poucos laboratórios domi nam essas técnicas. A e ci nco dias.
metodologia de estudos em DNA vem, aos poucos, substi- A grande vantagem da coleta de vi lo corial é a sua preco-
tuindo com va ntagens os estudos bioq uímicos. cidade, reduzindo o período de incerteza do casal.
Embora seja possível util izar a dosagem de alfa-fetopro- Em torno de 1% dos casos são encontrados mosaicis-
teína e de acetilcolinesterase para o d iagnóstico de defeitos mos cromossômicos. Na maio ria das vezes, eles estão res-
de fecha mento do tubo neural e da parede abdomin al, o tritos a tecidos trofoblásticos. No entanto, para essa defi-
progresso da ultrassonografia tem feito com q ue esses testes nição é necessá ria a realização posterior de amniocentese.
bioquím icos venham sendo pratica mente abando nados. Nos poucos casos em que a amniocentese confirmar o
mosaicismo encont rado no vi lo, o aco nselh amento genéti-
co é complexo e ex igirá a consulta a geneticista co m expe-
TÉCNICAS DE COLETA riência em d iagnóstico pré-natal. 15
DE CÉLULAS FETAIS PARA o O risco de abo rta mento com a realização da coleta d e
vi los caria is é m ais baixo que 1%. O s riscos maternos mais
DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL
frequentes são sangramento vaginal, infecção e sensibiliza-
ção pelo fato r R h.Eles são minimi zados com a experiência
O objetivo dessas técnicas é a coleta de células fe tais dos profissionais envolvidos na coleta e com o diagnóstico
que perm ita m a realização dos estudos cromossôm icos, e c uidados necessários nas mulheres R h negativo. 15

162 Noções Práticas de Obstetricia


Em 1991e 1992, fora m feitos alguns relatos prelim ina- A amniocentese precoce, antes de IS semanas, foi
res, alertando para possível associação entre o defeitos de .1bandonada pelo ri cos que acarreta.
redução de membros e a biópsia de vi lo corial. Diversos es-
tudos colaborati vos conduzidos em vá rios centros dosEs-
tados Unidos e Europa não constataram associação com CORDOCENTESE
significância estatística entre os de teitos de redução de
membros e a biópsia de vilo corial. Estudo conduzido sob É a coleta de sangue diretamcnte do cordão umbilical,
controle da Organ ização Mundial de Saúde abra ngendo orientada pela ultrassonografia. O sangue obtido pode ser
138.996 coletas de vilo corial conclu iu que esse tipo de utilizado para estudos cromossômicos, estudos do DNA,
exa me é seguro, com taxa de perda feta l comparável à da dosagens bioquímica , diagnó ticos de hemoglobinopatias,
amn iocentese c com a mesma incidência de defeitos de dosagens de IgG c lgM fetais c crescente variedade de novos
membro da população cm geral. Esse mesmo estudo exames."
concluiu pela inexistência de qualquer anomalia congéni- Suas indicações mais frequentes são: achado de ano-
ta associada à biópsia de vi lo corial. 1- Em reb ção à perda malias fctai pelo estudo ultrassonográfico, falha em obter
fetal, revisão sistemática publicada pcb Cochrane sugere resultado em líquido arnniótico, resultado ambíguo na am-
que a mesma seja levemente mais ace ntuada nesse proce- nioccntcsc, doenças que só podem ser diagnosticadas por
dimento do que n.1 amniocentesc. 16 testes bioquímicos cm plasma fetal ou células sanguíneas.
Pode ser realizada a partir de 18 semanas de gravidez,
no entanto, sua técnica é mais difícil que a coleta de vilo
AMNIOCENTESE corial e am niocentcse. A perda fetal pelo procedimento
situa-se em torno de 2%.
Consiste na util ização de líquido amniótico colhido Suas complicações mai comuns são sangramento no
pela punção da c.widade amn iótica como amostra para a local da pu nção, hematoma de cordão umbiJic.tl, bradica r-
realização dos estudos necessários. dia fetal, hcmorragi.l feto-materna, sensibilização pelo Lttor
O volume colhido habitualmente é de cerca de 20 mi. Rh, descol.tmcnto prematuro da placenta c parto pré-termo.
São avaliadas célu las fetai s (tibrobbstos) provenientes da
descamação da pele, vias uri nárias c tubo digestivo, .tpós
cultura. Podem ser realizados estudos cromossômicos, Ü HEREDOGRAMA COMO
análise do DNA e estudos bioqu ím icos. O líquido am ni- MEDICINA PERSONALIZADA
ótico pode ainda ser utilizado para dosagens hormonais c
diagnóstico de infecções congênitas.
Geralmente, a amniocentese é realizada a partir de IS O instru mento mais importante da Genética Clínica
semanas de gravidez. O resultado do estudo cromos ôrni- permanece sendo o heredograma. Esse, quando bcm-feito,
co normalmente é obtido após lO a 14 dias, pois depende pode tornar óbvio um mcc,mismo de herança, seja ele tí-
do crescimento celular. Para resultado ma is rápido cm re- pico, como na herança mendeliana, eja nos padrões atípi-
lação às :tnormal idades mais frequentes (trissom ias 21, 18, cos, como na herança mitocondrial, nos mosaicismos de
13, 16, 22, monossomia X, triploidi:ts), permitindo tr.\11- células germinativas c nas doenças de herança complexa.
quilizar o casal, alguns laboratórios ut ilizam técnicas de A determ inação do padrão de herança é importante tanto
citogenética molecular ou FISH, que permitem diagnós- para o diagnóstico do probando qua nto para identificar
tico preliminar cm 24 a 48 horas. Posteriormente, quando outros indivíduos na fam íl ia cm risco da doença e que
concluído o estudo cromossómico cm cultura celular, é necessitam de avaliação genética c aconselhamento ge-
fornecido o resultado dcfinitivo. 15 nético. Apc ar dos exames moleculares e citogenéticos
A amn iocentese é procedimento bastante seguro, com ofisticados, história fa miliar correta com a construção do
risco de abortamento de menos de 0,5%. Suas complica- heredograma permanece como a fe rramenta funda men-
ções mais freq uente são sa ngramento vagi nal e sensibili- tal para o plancjamento e tratamento individual izados dos
zação pelo fator Rh. 1' pacientes. 1

Aspectos Básicos da Genética em Obstetricia


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Noções Práticas de Obstetrícia


Seção 3
Propedêutica Fetal
ll Ultrassonografia
Gui Tarcísio MazzoniJúnior
Hevcrton Neves Pettersen
Marcos Mmilo de Lima Faria

Indicações da Ultrassonografia Segundo e Terceiro Trimestres


Época da Realização do Exame Morfologia Fetal
Movimentação Fetal
Primeiro Trimestre
Cordão Umbiücal
Desenvolvimento Embriológico - Sonoembriologia
Placenta
Gemelaridade
Líquido Amnió tico
Placenta
Avaliação do C rescimento Fetal
Cordão Umbilical
Alterações do D esenvolvimento Avaliação Ultrassonográfica do Colo Uterino
Marcadores Ecográficos de Cromossomopatias

partir da década de 60, o advento d a u ltrassono- Hemorragias no pri meiro trimestre;

A grafia criou um a janela entre o meio externo c


o meio intrauterino, possibilitando a ava li ação
do feto em seu habitat natural. Com o tempo, a melhora da
localização do saco gestacional;
determinação do nú mero de embriões;
datação da gestação;
qua lidade técnica dos aparel hos e o uso de sondas de alta dete rmi nação da viabilidade;
frequência (S,0-7,0MH z) possibilitaram o estudo detalha- determi nação de ano ma lias embrionárias e fetais;
do do embrião e do fe to, fornecendo informações quanto à rast reamento de cro mossomopat ias;
viabil idade, vitalidade c anatomia. Sem d úvidas, a u ltr:~sso­ auxíl io na rea lização de procedi mentos invasivos.
nog rafia é hoje o método de propedêuticJ fetal mais util i-
zado na Obstetrícia, graças às suas c:~r:~cterísticas: método As p rincipais indicações para ultrassonografia no se-
relativamente barato, de fácil execução c sem prejuízos à gu ndo trimestre são:
saúde mate rna c fetal. H emorragias no segu ndo trimestre;
avaliação da localização, estrutu ra e função placentária;
estudo da anatom ia fe tal;
INDICAÇÕES DA ULTRASSONOGRAFIA 1 rastreamento de cromossomopatias;
monitorização do colo uterino (rastreamento do
As principais indicações pa ra u ltrassonografia no pri- t rabalho de parto pré-termo);
meiro trimestre são: auxílio na realização de procedimentos invasivos.
As principais indicações para ultrassonografia no ter- No segundo trimestre, sugere-se que o exame seja re-
ceiro trimestre são: alizado entre 18 e 22 semanas de gestação. Nesse período,
Hemorragias do terceiro trimestre; deve ser dada atenção especial à anatom ia detalhada do feto
avaliação da anatom ia fetal; (ultrassonografi a morfológica) e ao rastreamento para cro-
avaliação do crescimento fetal; mossomopatias (ultrassonografia genética) e reaüzar rastre-
avaliação da vitalidade fetal - perfil biofísica fetal (PBF); amento do trabalho de parto pré-termo. Quando se deseja
avaliação do líquido amniótico; exame anatómico fetal mais acurado, o melhor período para
auxílio na realização de procedimentos invasivos. avaliação é após 20 semanas de gestação. esse momento
é possível associar o estudo dopplervelocimétrico e rastre-
A realização da ultrassonografia de rotina du rante o ar as ge tantes com alto risco de desenvolverem insuficiên-
período pré-natal ainda encontra alguns opositores, que cia placentária e síndromes hipertensivas.H-9·11
por sua vez só recomendam a propedêutica diante de indi-
cação específica. Com a melhora técnica dos aparelhos de Q uadro 11.1 I Política de rastrearnento ultrassonográfico
ultrassonografi a associada ao melhor conhecimento hu- dos centros envovidos no estudo multicêntrico europeu -
mano, mais estudos mostram a eficácia desse método e o EUROSCAN
benefício do exame de rastreamento ultrassonográfico de Centro Pol1t1ca de rastreamento ultrassunograf1co
rotina. Os autores que defendem essa conduta baseiam-se
no fato de a maioria das gestações que evoluem desfavora-
Dinamarca
vel mente não apresentarem fatores de risco. O diagnóstico
de crescimento intrauterino restrito (C IUR) ou de mal-
formação passível ou não de tratamento intrauterino pode
alterar a forma, o momento e o lugar do parto, interferindo
significantemente no prognóstico peri natal. É importa nte
esclarecer que a conduta de rastrea rnento não está baseada
simplesmente na política de interrupção da gestação, mas
sim de oferecer ao casal informaçõe a respeito da doença e
Áustria/ 16-20 semanas+ terceiro trimestre
possibilitar ao feto a melhor assistência disponível. 2 6 Ucrânia
Lituânia Primeiro trimestre + 16-18 semanas

ÉPOCA DA R EALIZA Ç Ã O DO E X AME


Itália Primeiro trimestre + 18-22 semanas + terceiro
A FEBRASGO (Federação Brasileira das Sociedades trimestre
de Ginecologia c Obstetrícia) recomenda que seja reali- Alemanha Primeiro trimestre + 18-22 semanas + terceiro
zado exame ultrassonográfico por tri mestre, sendo essa trimestre
conduta também adotada corno política assistencial por
Espanha Primeiro trimestre + 18-20 semanas + terceiro
alguns países de primeiro mu ndo (Q uadro l l. l). trimestre
Sendo o rastreamento fetal o objeto de mais interesse ul-
trassonográfico, é coerente determinar que a mel hor época Croácia Primeiro trimestre + 18-20 semanas+ terceiro
trimestre
para a realização dos exames deva esta r relacionada ao desen-
volvi mento anatónlico fetal. França Primeiro trimestre + 18-24 semanas + terceiro
trimestre
No primeiro tri mestre, o melhor momento encontra-se
entre I I e 13 semanas, quando é possível confirmar a idade
gestacional, avaliar o número de fetos, estudar a anatomia, No terceiro trimestre, entre 30 e 34 semanas, recomen-
estipular o risco fetal para cromossornopatias e determinar o dam-se a reavaliação da anatomia fetal e o estudo do cresci-
tipo de placentaçjo nas gestações rnúltiplas?·8 mento e da vitalidade. É bom lembrar que aproximadamente

168 Noções Práticas de Obstetrícia


25% das grandes malformações e 12% das malformações do visto a pa rtir de quatro semanas, quando o seu diâmetro
sistema nervoso central são visibilizadas somente no terceiro médio é maior que 2,0 mm.A imagem intrautcrina do saco
trimestre da gestação. Usando a política de rastreamento de gestacional deve sempre ser registrada quando a quanti-
rotina no terceiro trimestre, Malcus (2004) relata que houve ficação do ~-hCG fo r igual ou superior a 1.000 mU I/ mi
aumento no diagnóstico de fetos com restrição de crescimen- (Figu ra I I. I).
to de 50 para 75% (rastreamento de gestante com fatores de
risco versuso rastreamento universal, rcspcctivamcnte). 1· 12

PRIMEIRO TRIMESTRE

Os benefícios do diagnóstico das anomal ias fetais no


primeiro trimestre estão vinculados à orientação, acompa-
nhamento e tratamento precoces. Além disso, permite a to-
mada de decisão quanto à evolução da gestação em período
inicial, principalmente quando se trata de anomalia incom-
patível com a vida. Porém, o maior benefício do exame siste-
mático do primeiro trimestre está na redução da ansiedade
dos casais quanto à possibilidade de malformação maior.
Figura 11.11 Ultrassonografia cndovaginal visibilizando-se
A literatura mostra que a ultrassonografia de primeiro
endométrio espessado c imagem anecoica de 2,0 mm, corres-
trimestre rotineira identifica cerca de 40% das malformações
pondendo a saco gestacional intrauteri no (seta).
maiores. Porém, quando há treinamento direcionado para o
estudo de malformações nesse período, essa taxa ati ngc cifras Com cinco sema nas a vesícula vitelínica já está pre-
de 60 a 80%. Se o estudo é d irigido a uma população de alto sente c deve sempre ser identificada quando o diâmetro
risco de malformação (ex: translucência nucal ~ 2, - mm), a médio do saco gcstacional fo r igual ou maior que IOm 111
taxa de detecção de anomalias aproxima-se de 98%.11.14 (Figura 11.2).

DESENVOLVIMENTO EMBRIOLÓGICO-
SONOEMBRIOLOGIA

A sonoembriologia é a técnica utilizada para descrever o


desenvolvimento embriológico e fetal por meio da ultrasso-
nogralia no primeiro trimestre da gestação. O con hecimento
sobre o desenvolvimento normal é fundamental, pois a maio-
ria das malformações (80%) já está presente por volta da 12ól
semana de gestação. O acompanhamento das primeiras se-
manas de gestação deve scrrealizado comultrassonogra fia en- Figura 11.21 Ultr:monografia endovaginal identificando a
dovaginal. O exame ultrassonográfico com 12 semams pode- vesícula vitelínica (VV) dentro do saco gestacional ( G) em
rá ser feito tanto por via abdom inal quanto endovaginal. Para gestação de cinco semanas.
fi ns práticos, adotaremos aqui a datação da gestação a partir
da data da última menstruação e usaremos o termo "embrião" Com seis semanas de gestação o em brião já pode ser
para gestações até nove semanas completas enquanto "feto" identificado com medida de 2,0-3,0 m111, justapo to J ve-
será aplicado para gestações com mais de IOsemanas.11 sícula vitelínica. O embrião deve rá estar presente sempre
O primeiro sinalultrassonográlico de gestação está re- que o diâmetro médio do saco gcstacional for igual o u
presentado pela presença do saco gestacional, que pode ser m.lior que IS mm (Figura 11.3). Co m o compri mento

Ultrassonografia 169
cabeça-nádega (CCN) de 4,0 mm ou mais o coração c
seu batimentos já podem ser visto . e se momento a
frequência cardíaca e tá próxima de 100 bpm. A partir do
fi nal da semana seis, o embrião torna- e distinto da vesí-
cula e começa a apre cntar detalhe anatómicos (Figura
11.4). O sistema nervoso mostra diferenciação ultrasso-
nográfica, com o tubo neural sendo identificado como
duas linhas paralelas no dorso embrionário.

Figura 11.5 I Ultrassonografia endovaginal identificando


imagem cística empolo cefálico representativa do romboen-
céfalo cm gestação de sete semanas.

Figura 11.3 1Ultra sonografia endovaginal identificando O Q!Jadro 11.2 mostra os pri ncipais marco do desen-
saco gestacional ( G) com vesícula vitelínica (V) apre en- volvimento embrionário identificáveis à ultrassonografia.
tando embrião (E) adjacente no início da sexta semana.

GEMELARIDADE

A ultrassonografia é o método mais precoce de diag-


nóstico de certeza da gemelaridadc. A partir de cinco se-
manas, com exame realizado através de onda endovaginal
de alta frequência (7M Hz), a con tatação de doi acos
gcstacionais corresponde ao diagnó "tico de desenvolvi-
mento gemelar inicial. Por outro lado, o diagnóstico de
gcmdaridade somente pode ser excluído pela ultrassono-
grafia após o aparecimento do embrião (a partir da sexta
semana), visto que até a visibilização da vesícula vitclínica
ai nda pode ocorrer a divisão do disco embrionário, origi-
Figura 11 .41 Ultrassonografia endovaginal identificando nando os gêmeos conjugados.
embrião distinto da vesícula vitelínica no final d,t sexta semana. Além do diagnóstico de gemclaridadc, a ultrassonogra-
fia possui papel fundamental na determinação da corioni-
Com etc semanas (CCN varia ndo entre 10 e 1S mm), cidade, viabilidade c vitalidade, rastrcamcnto de cromos-
o ,\mnio c sua cavidade já podem ser individualizados, apre- somopatia , estudo morfológico de primeiro e egundo
sentando cm eu interior embrião e cordão umbilical. Ne e trimestres, avaliação das complicaçõe e estudo da prema-
período o polo cefálico começa a diferenciar-se do resto do turidade em gestações gemelares. Devido à diferença de
corpo embrioná rio c já é possível serem observadas vesículas prognóstico entre as gestações monocoriônicas c dicoriô-
em seu interior, correspondendo ao ·istema ventricular pri- nicas, é imprescindível que o ultrassonografista descreva o
mitivo. Amedida que o embrião se desenvolve, uma ve ícula tipo de corionicidade no laudo ultrassonográfico, cm espe-
maior pode er vista ocupando quase todo o polo cefálico. cial quando esse exame for real izado no primeiro trimestre
Es a vesfcula corresponde ao romboencéfalo (Figura 11.5). da gestação (vide capítulo 23 - Gestação múltipla).

170 Noções Práticas de Obstetrícia


Quadro ll.2j Épo a de identificaçao d,1 c trutura' embnon,ma~
Estruttrr .1 Idade Gestac1onal de
Surg1111ento (semanas! Desi:lp'lrecrmento

Saco gestacional 4-5 Visível até o final da gestação


-- --
Vesícula vitelina 5 12 semanas
-
Polo fetal 5-6 Visível até o final da gestação
-
Batimento cardíaco 5-6 Visível até o final da gestação
Ventrículo cerebral único 7-8
--
9-10 semanas
-
Coluna 8 Visível até o final da gestação I
Membros inferiores 8 Visível até o final da gestação
- ---
Membros superiores 8-9 Visível até o final da gestação

-
Foice cerebral 9 Visível até o final da gestação -1
Movimentos corporais Il --9
Visível até o final da gestação
- -
I

Movimentos dos membros 9-10 Vtsfvel até o final da gestação


- -
Herniação fisiológica do intestino 9-10 11-12 semanas
- -
Plexo coroide 9-10 Visível até o final da gestação
-- -
Dedos das mãos 12 Visível até o final da gestação
- --- -
Mandíbula 12
--
Visível até o final da gestação -l
-- ---
Dedos dos pés 12-13 Visível até o final da gestação
Adaptado de Tímor-Trnsch et ai IS

P LACEN T A <.:ant ro de áreas anccoic.1 à ultra onografia as o iadas a


fluxo' va~culare exacerbado des ·a áreas e de regtões
O c tudo ultrassonográfico da placenta no pnmeiro \UbJaccntc à placenta ao estudo dopplerveloctmctnco é
tnme tre tem ido real11ado com o objettvo de se a\ altar a .,ugcsttvo de acretismo pbccntáno.
acurácta do método no diagnóstico postenor de pi.Jcentas
prévia e acreta.
a gestação precoce, devido ao r.lpido c rc~CIIncnto da CO RDÃO U M BI L I CAL
massa trofoblá tica .1ssociado à cavidade uterina .1mda pe-
quena, grande parte das ge1>tações possui a futu ra pi.Kcnta A mscrção velamento a do cordão é uma .1nomalia
atmgmdo a regtão mferior do corpo utenno. Aprm. tmada- a~~octatb a várias intcrcorrênet.l obstétricas (rcstnçilo
mente 6,0'\l da placent.l recobrem o onfiCto mterno do de crc-.ctmcnto fetal, p.1rto prc-tcrmo, de cotamento pre-
colo uterino no primeiro tnmcstrc da gestação. O nsco de nutu ro de placenta, desacelaraçâo intraparto, batxo Ap-
placenta prévia no fina l da gestaçilo pode elevar-se t]U.111do gar, ccsanana de urgência e morte fetal). epulvcda c/ ai.
a placenta ultrapas .1 o orifício interno do colo I,6 cm no (2006), utilizando ultra sonografia de primeiro tnme trc,
primeiro trime trc. Cerca de O<ltl da 'i pbcentas ,;io cbsst- av.1lt.1r.1m -33 feto c cncontr.1ram cinco (0,91.\>) Ca\OS de
ficada como baixas com 16 semana de ge tação. in crçao vdamento a de corJâo}h
O dtagnó ttco suge ttvo de placenta acreta também Hascgawa el ai. (2006) avaltaram a po ição da m~crçao
tem sido rcaltzado no primeiro trimestre, gu.111do se as- do cordão umbili ai em relação ao corpo uterino entre
oci.lm a ultra sonografia c a dopplcrvclocimctria. O cn- nove c li \Cm.111as de ge 'tação. Ob ervaram guc m~crçoe

Ultra ssonogra ~a
171
do cordão no terço inferior do útero evoluíram com alta in- à medida que e verifica o de envolvimento fctJI, a frequência
cidência de in crção marginal ou velamento a (p< 0,0001), aumenta, podendo atingir 180 bpm por volta de nove ema-
placenta prévia (p< 0,0001 ), placenta ace ória ou infarto nas de gc tação. 20 O Quadro 11.3 mo tra a evolução da FCF
placentário (p< 0,000 I).1- entre IOe I"' emanas de gestação.

Q uadro 11.3 I Determinação dos valores mínimo , me-


ALTERAÇÕES DO DESENVOLVI MENTO dianos c m:lximos para a frequência cardíaca fetal de acor-
do com .1 idade gcstacional no primeiro trimestre
O diagnóstico da alteraçõe do de envolvimento nes-
ldude FCF lbpm)
se período e tá a ociado ao grau de atenção dado <~os pa- GestclCionill
5 Percentrl Medrar1a 95 Percentrl
râmetro biométrico e anatômico do embrião c do feto. !semanas i

10 157 168 176 I


--
ALTERAÇÃO D O COM PR IMENTO
11 155 166 175 I
CAREÇA-NÁDEGA (CCN ) 12
-- --- 149
152
- -~- ~
161
-
171 I
Como o feto apresenta crescimento contínuo c propor-
cional ao seu estágio de de envolvimento, a suJ biometria
' 13 158
FCF =frequência cardfaca fetal; bpm = ballmentos por mmuto
169 I
pode ser utilizada para estimar a idade ge tacional.
Divcr os p:1ràmctros fetais são utilizado para alcular A altera õe na frequência cardía a fetal no primeiro
a idade ge tacional no primeiro trime trc: diàmetro médio trimc trc têm ~ido a~ ociada a alto ri co de abortamen-
do aco gcstJcional (DMSG), o comprimento cabe a- to, a ltcraçõe~ romo ômicas c malformações cardíacas.
-nádega (CC ), o diàmetro biparietal (DBP), a circun- A avaliação da FCF no primeiro trime tre da ge tação é
ferência ccf.\lica (CC), a circunferência abdominal (CA) procedimento imple c deve ser ,lJ1ali ado não 6 na sua
c o comprimento do fêmur (CF). O de mai acurácia e forma qualitativa {batimentos cardíaco fetai prc entes c
melhor reprodutibilidade é o comprimento cabeça-nádega rítmico ), ma também na sua forma quantitativa.
(CC ). De sa forma, a medida de CCN é extremamente
útil para datar age ta ão naquela paciente que estão in-
certa quanto à t!ata da última menstruação. ALTERAÇÃO DA ANATOM I A hTAL
Por outro lado, em paciente que po ucm ciclos re-
gulares e certeza do último período men trual, a discor- Os ava n os tecnológicos têm possibilitado o di,lgnósti-
dância entre a idat!c gestacional cronológica c ultrassono- co precoce de malformações feta is c, dessa forma, a ultras-
gráfica acima de etc dia pode ser um sinal de alteração sonografia de primeiro trimestre passa a ter nova acudcia.
do de envolvimento embrionário ou fetal. A incidência Obviamente essa acurácia id depender de fatore como
de abortamento c pontànco e cromo omopatia (tris- experiência do examinador, qualidade técnica do aparelho
omias I , I c triploid ia) c tá au mentada quando existe de ultrassonografia, metodologia empregada durante o
discrepância entre a idade ge tacional cronológica e ul- exame de primeiro trimestre, idade gc tacional da avalia-
tra onográficél. 1s 19 ção e o ri co de malformaçõc da população c tudada. E -
sas variáveis interferem de tal forma que a cn ibilidade do
exame ult rassonogr,ífico para o diagnóstico de m,1lforma-
ALTeRAÇÃO DA ~ IUQU~. NC I A CAR D Í ACA FETAL ções fetais ncs c período varia entre 18 c 97%. Em relação à
comparação entre o exame realizados por vta abdominal
A atividadc cardíaca in icia- c por volta de cinco cma- e via transvaginal, a maioria dos autore relata a cficácta do
nél de gestação c a frequência cardíaca fetal (F F) torna- e exame abdominal. Porém, sempre que houver dificuldade
regularcmfa c precoce do de cnvolvimcnto.A FCFéinicial- de avaliação por e a ,ria, a complementação do exa me pela
mente baixa, cm torno de 82 batimentos por minuto (bpm), e via transvagi nal deve -er realizada.' " 4

172 Noções Práticas de Obstetrícia


É importante ressaltar que a ultrassonografi a de primei- to dos fetos qu e merecem atenção especial. H oje, quando
ro trimestre não substitui ou antecipa o exame morfológico se fa la em marcadores ultrassonográficos de anomalias cro-
de segundo trimestre, porém, quando são utilizados como mossômicas nesse período, a medida da translucência nucal
exames complementares, alca nçam sensibilidade no d iag- (TN) ainda ocupa lugar de destaque, não só pela facilidade
nóstico de malformações próxima de 93 a 95%. O Qpadro de realização do método (ultrassonografia primária), mas
11 .4 mostra as anomalias estrutu rais já diagnosticadas no também pela sua sensibilidade, especificidade, reprodutibi-
primeiro trimestre, por meio d a ultrassonografia, e as res- lidade e baixo custo.
pectivas idades gestacionais a partir das qua is é possível fa- A associação de outros marcadores como a hipoplasia do
zer o diagnósticou·21·2l osso nasal e o estudo dos flu xos sanguíneos no dueto venoso
c válvula tricúspide têm como objetivo básico a melhora da
Quadro 11.41 D escrição das malformações d iagnostica- sensibilidade e especificidade do rastreamento nesse período
das no primeiro trimestre da gestação e as respectivas ida- e, consequentemente, a redução do nú mero de procedimen-
des gestacionais do diagnóstico tos invasivos para a determinação do carió tipo fetal.
Malformação Idade gestac1onal (semanas)

Anencefalia 9
J T RA NSLUCÊNC !A NUCAL (TN)
Espinha bífida 9 I
Holoprosencefalia 10 Nicolaides et ai. ( 1992) definiram a TN como sendo
1
J o espaço anecoico localizado entre a pele e o tecido mole
Megabexiga 10 i que circu nda a coluna fetal na região cervical, visibilizado à
Gemelaridade imperfeita 10 I
ultrassonografia em corte sagital do feto. Na literat ura, ou-
tros termos como higro ma, edema de nuca ou prega nucal
Encefalocele 11
J foram utilizados para referir-se ao aumento da região nu-
Body-Stalk 11 I ca l do feto no primeiro trimestre. Atualmente, a literatura
Malformação cardíaca 11 tende a uti lizar o termo translucência nucal para qualquer
J tipo de aumento da região nucal no primeiro trimestre, seja
Displasia óssea 12 I ele cístico o u não, deixando os termos higroma, edema de
Fenda facial 12 I nuca e prega nucal como descritivos de alterações cer vicais
Displasia renal 12 no segundo trimestre da gestação. 23•24
I Apesar da TN poder ser visibi lizada no período entre
Polidactilia 12 I oito e 14 semanas de gestação, os est udos relacionados
Ectrodactilia 12 I
ao rastreamento cro mossômico li m itam o período de
medição entre l i e 13 semanas completas de gestação
Hérnia diafragmática 13
J (CCN:45-8 4 mm). Pa ra que a m ed ida possa ser confiável,
Cisto abdominal 13 a 1J1e Fetal Medicine Foundation determ ina que a metodolo-
I
Gastrosquise 13 gia seja rígida (Quad ro 11.5 e Figura 11.6). 24
I
O aumento da medida da TN está associado a sete pro-
Onfalocele 13 I cessos fisiopatológicos: 1) anomalias cardíacas e alterações
do Auxo venoso; 2) alteração da matriz extracelu lar; 3) al-
MARCADORES ECOGRÁFICOS terações no desenvolvimento dos vasos li n fáticos; 4) con-
DE CROMOSSOMOPATIAS gestão venosa na cabeça e pescoço; 5) falha na drenagem
li n fática por rest rição na movimentação fetal; 6) anem ia
Nos d ias atuais, o diagnóstico de ano malias cromossô- ou hipoproteinemia fetal; 7) infecções congên itas. 24
micas no primeiro trimestre perm ite não só uma decisão A medida da TN é con siderada alterada gu ando
precoce quanto à evolução da gestação, mas também a maior que 2,5-3,0 mm ou acima do percentil 95 para a
conscientização e, consequentemente, o acompanhamen- curva de normal idade. Qpando se util iza um va lor de

Ultrassonograjia 173
corte fixo, au menta-se o número de fa lso-positivos do
te te e, consequentemente, o número de procedi mentos
invasivos para a determinação do cariótipo fetal. Q uanto
mais baixo o valor de corte, mais significativos a sensibili-
dade c o fa lso-positivo.

Quadro 11.5 I Metodologia adeguada para a realização


da medida da translucencia nucal (1l1c Fetal Medicine
Fou nd:ltion) 24
Figura 11.61 Visibilização do espaço represen tantivo da trans-
Ocomprimento cabeça-nádega adequado para a realização luccncia nucal (setas) e d,t membrana amniótica (asterisco).
da medida da TN está entre 45 e 84 mm, o que corres-
ponde. em cronologia. à idade gestacional entre 11 e 13
A medida da TN foi avaliada na população brasilcira.2s
semanas + seis dias;
Em estudo com l.250 fetos normais, o 5° percenti l, a me-
Os resultados das medidas são semelhantes quando obti- diana e o 95° percentil são mostrados no Q uadro 11.6. 25
dos por via abdominal ou endovaginal;
O aumento da translucência nucal está relacionado a
A magnificação da imagem deve ser feita de forma que so- cromossomopatias, anomalias estruturais e gênicas, abor-
mente a cabeça e a parte superior do tórax sejam incluidas ta mento, morte nconatal e infantil. 26
na imagem. Éessencial que a imagem esteja magnificada
Snijdcrs et ai. (1998) descrevera m resultado de estudo
de maneira que a cada movimento do cáliper exista varia-
ção da medida de 0.1 mm; multicêntrico realizado em 22 centros britànicos envol-
vendo 96. 127 gestações entre lOe 14 semanas. Quando foi
Deve ser realizado corte sagital adequado. geralmente o
mesmo que é necessário para medir o CCN; considerado como valor anômalo de T aquele acima do
percentil9 ' da curva de normalidade, encontraram-se 4,9%
A medida da TN deve ser feita com o feto em posição neu-
da população com teste positivo. essas condições, a en-
tra. não devendo existir hiperextensão ou flexão acentuada
do pescoço fetal; sibilidades para trissomia do cromossoma 21 e para outras
cromossomopatias foram, respectiva mente, de 71,8 c 70,5%,
Cuidado extremo deve ser tomado para se fazer a diferen-
com especificidade de 95,6%. Estudos avaliando a validade
ciação entre a membrana amniótica e a pele fetal. sendo
necessário. para isto, a movimentação fetal e o seu afasta- da medida da T N no rastrcamento de cromossomopatias na
mento da membrana; população brasileira mostraram resultados semelhantes.16•2-

Mede-se a espessura máxima do espaço anecoico


(translucência) entre a pele e o tecido celular subcutâneo
que recobre a coluna cervical. Os cálipers devem ser TRA . LUCÊNCI A UCA L AUME TAOAE
preferencialmente do tipo cruz(+) e devem ser posiciona- CARI ÓTI PO ORMAL
dos de forma que a sua linha horizontal fique na linha que
delimita a TN;
--------------------------------~
Fetos com medida da TN aumentada e cariótipo nor-
Mais de uma medida deve ser realizada e será utilizada a mal possuem mais riscos de: defeitos cardíacos, hérnia dia-
de mais alto valor; fragmática, onfalocclc, anomalias genéticas, abortamento,
Se o cordão umbilical estiver em volta do pescoço (circular morte nconatal e infantil.
de cordão). a medida da translucência deve ser feita acima Soub et ai. (2001) avaliaram 980 fetos com medida de
e abaixo do cordão, utilizando para cálculo do risco fetal a TN aumentada e cariótipo normal. Relataram que, estando o
média entre as duas;
exame ultrassonográfico morfológico normal com 20 sent,\·
Em gestações gemelares monocoriônicas, o cálculo dos nas de gestação, o risco residual de o feto ter resultado adverso
riscos fetais deve ser feito utilizando-se a média entre as foi muito baixo (2,2%). Porém, se ao exame morfológico exis-
medidas da TN.
tisse edema cervical isolado, esse risco subi ria para 18,3%. 2g

174 Noções Práticas de Obstetricia


Qpadro 11.6\ Medida da translucencia nucal de acordo ... continuação
com o compri mento cabeça-nádega - CCN) entre l i e 13
Qpa dro 11.6 1 Medida da tra nslucência nucal de acordo
semanas completas de gestação. 25
com o comprimento cabeça-nádega - CC ) entre 1I c 13
CCN Medida de Translucência Nucal (mm~ semanas completas de gestação.2'
(111111 ~ Percentll 5 Percentll 50 Percentll 95 Medida ele Translucência Nucal (111m~
CCN

I 45 0.7 1,3 2,0


J
I mm) Percentil 5 Per centil 50 Percentll 95

46 0.7 1,3 2,0


l 72 1.4 2,1 2.7 I
47 0.7 1.4 2.0 ! I 73 1.5 2.1 2.8
J
48 0.7 1.4 2,0
J I 74 1,5 2,1 2,8 l
49 0.8 1.4 2.1 I I 75 1,5 2.2 2,8
50 0,8 1,5 2.1
J I 76 1,6 2.2 2.9
51 0,8 1,5 2.1 I I 77 1,6 2.2 2.9
52 0,9 1,5 2,2 I l 78 1.6 2,3 2,9
53 0,9 1,5 2.2 I ~ 79 1,6 2,3 2,9
54 0,9 1.6 2.2 I ! ao 1.7 2,3 3,0
55 0.9 1,6 2.2 I I 81 1.7 2.4 3,0
56 1,0 1,6 2,3 ! I 82 1.7 2.4 3,0
57
58
1,0
1,0
1.7
1.7
2.3
2,3
lI 83 1,8 2.4 3,1
84 1,8 2.4 3,1
59 1,1 1.7 2.4 CCN = comprimento cabeça-nádega; mm = milfmetros
'

60 1,1 1.7 2.4


61 1,1 1,8 2.4 :
Ü<;~O NASAL

62 1,2 1,8 2,5 I Os osso s nasais mostra m os primeiros sinais de calci-


63 1,2 1,8 2,5 !
ficação quando o embrião atinge comprimento cabeça-
64 1.2 1.9 2.5 -nádega (CC ) próximo de 42 mm, correspondendo à
I
idade gcstacional de l i semanas. A correlação do osso nasal
65 1,2 1,9 2.5 ·i c a síndrome de Down vem sendo feita desde a descrição
!
66 1,3 1,9 2,6 feno típica dessa síndrome por La ngdon Down (1886), em
67 1.3 1,9 2.6 que o aspecto hipoplásico do nariz já era salien tado. Esta-
I
belecer padrão de crescimento normal durante o período
68 1.3 2.0 2,6
I pré-natal possibilitou o d iagnóstico de hipoplasia nasal c,
69 1.4 2,0 2.7 consequentemente, a oportunidade de usar esse sinal como
I
70 um marcador ultrassonográfico para as cromossomopatias.
1.4 2,0 2.7
J No primeiro trimestre, a aval iação do osso nasal baseia-se
71 1.4 2,1 2.7 I pri ncipalmente na análise categórica de sua presença ou
Continua . .. ausência (Figura 11 .7). Porém, na tentativa de se conseguir
melhor sensibilidade e especificidade desse marcador, cur-
vas de normalidade têm sido descritas nesse período. 19•10

Ultrassonografia 175
Figura 11.71 Aspecto ultrassonográfico do osso nasal no primeiro trimestre da gestação.
A- Osso nasa l presente; B- Osso nasa l ausente.

O osso nasal apresenta crescimento linear com a evolu- circulatória fetal, o DV pode apresentar alterações signifi -
ção da gestação. Em fetos euploides, a probabilidade de sua cati vas em fetos com descompensação hemodinâmica as-
ausência é maior quanto menor for a idade gestacional. Por sociada ou não a defeitos cardíacos.
outro lado, sua ausência em idade gestacional mais avançada
aumenta a probabi lidade de fetos aneuploides. Cícero el ai.
(2003), avaliando fetos cromossomicamente normais, não
encontraram osso nasal em 4,6% daqueles com CCN entre
45 e 54 mm, em 3,9% com CC entre 55-64 mm, em 1,5%
com CC entre 65-74 mm e em 1,0% quando o CC! es-
tava entre 75-84 mm. Em relação à norm alidade, devem-se
ressalt.u, também, as diferenças étnicas. Em fetos cromosso-
micamente normais, a ausência do osso na ai está mais fre-
quente naqueles cuja origem racial materna é afro-caribenha
ou asiática, quando comparados aos de orige m caucasiana. 11

0 .\SO ,\ ' ., , \1 r CR0 .\10\\0 \ IOI'.n-r \ .,

A correlação entre a ausência ecogr:ífica do osso nasal


entre li e 14 semanas de gestação e cromossomopatias foi
descrita inicialmente por Cícero etal. (2001) em 43 (73%)
de 59 casos de trissomia 2 1, ao passo que tal achado só foi F
notado em apenas três (0,5%) de 603 fetos cromossomica- a Figur J 1 U! I Po,,~ .ll> .u l.llÓ1111L.l,ll> dul ll> 'l'lh ' 'l'''b'l'l\ .ll l.!
mente normais. Apurou-se, ta mbém, ausência do osso na- .1 p.utll d l>J't'lt"tT Lh'1'1'1.-r \a l'·l~llld /-(,
sal em 11 (55%) dos 20 fetos com trissomia 18 e dois (25%) A fa lência cardíaca fetal geral mente é precedida por
entre oito fetos com sínd rome de Turner.19 au mento na pressão venosa central, que pode ser d iagnos-
ticada precocemente pelas alterações nas velocidades do
fluxo sanguíneo no dueto venoso. Desta forma, o reconhe-
D ueTO V ENOSO cimento do padrão normal é fu ndamental para se ut iliza r o
dueto como método de rastreamento da falência cardíaca.
O dueto venoso (DV) funciona como um slru11t, ocu- A característica espectra l do fl uxo sanguíneo no dueto ve-
pando posição privilegiada na circulação fetal, entre a veia noso é representada por uma onda tri fásica, com dois picos
umbilica l intra-hepática e a veia cava inferior (Figura 11.8). e um nadi r - sístole ventricular (S), d iástolc ventricular (O)
Devido ao seu importante papel na regulação da fisiologia c contração atrial (A), respectiva mente (Figura 11 .9). 11

176 Noções Práticas de Obstetrícia


Como a cardiopatia estão frequentemente a ceia- fluxo no DV associada à tran lucência nucal deve ser con-
da à cromossomopatia , a investigação da veloc1metria e ~lderado em feto com alto ri co de cromos omopatias,
da morfologia das onda de fluxo do DV pode '>er utilizada podendo diminuir para meno de l,09o a incidência de bi-
precocemente no rastreamento de determin:tdas :tnoma- ópsia de vi lo corial. 14
1ia cromos ôn11cas."
Quando o estudo dopplcrvelocimétrico do DV é re-
alizado no primeiro trimestre, o parâmetro mai simples V.\LVU L,\ T R ICÚSPIDL
de ser ava liado é a velocidade de fluxo dura nte a contração
atrial (onda A). Essa velocidade é considcradJ anómala A avaliação do fluxo cm válvu la tricúspide (VT) refle-
quando a onda A e tá au ente ou rever a (Figura 11.9-b)." te o grau de normalidade da função valvular e ventricular
di reita. Alterações do gradiente de pressão intravent ricular
/)ll I O I '1 'lhO I lJ<0.\10\\(l,\IOI'M IA\ ou da função da válvula tricú pide levam a fluxo rever o
Vá rios autores tentaram demonstrar que" dopplcrve- anômalo cm VT (Figura ll .l0). Como a cromossomopa-
locimctria do DV pode ser utilizada em associação à trans- tias possuem íntima relação com as cardiopatias, o e tudo
lucência nucal alterada para diagnosticar cromo somopa- da \'T no rastreamento tem ganhado espaço.
tia ou doença fetais no primeiro trime tre da ge t.1ção. Faio!J et a/. (200S) fizeram a as ociação do fluxo rever o
M .1t1as el a/. (199 ), e tud.mdo feto entre IOe 14 \emana'>, em v:ilvula tricúspide e cromossomopatias. Avaliaram o flu-
ob ervar:tm fluxo ausente ou reverso em DV cm 90,5°o dos xo na VT cm 718 de 742 (96,8%) fetos c reportaram que 6 %
fetos com cromossomopatias. O estudo da velocidade do dos feto com trissomia 2 I. --tllo daqueles com tri som ia 18

Figura 11.91 Expectro da onda de fluxo no dueto vcno'o com suas três fases: sístole ( ), diástole (D) e contração atrial (A).
A- onda A normal; B- onda A anómala.

Figura 11.1 O I Anlbç5o do fl uxo em v~lvu l,1 tricúspide.


A- lm:1gcm ultr,\ssonogdfica em escal.1 Je cinzas; B !-=luxo espcctd retrógrado anómalo cm válvula tricúspidc ( cta).

Ultrassonogra~a 177
e 14'\> dos com índrome de Turner possuíam fluxo reverso. fator que interfere no exame realizado em idade gestacio-
Por outro lado, do 4S feto com cariótipo normal, 39 (8,S%) nal avançada é a calcificação dos o sos, já que estruturas
exibiam fluxo rever o c, de te , 15 (38,5%) tin ham doença localizadas dentro de compartimentos ósseo (cérebro,
cardíaca. h coração) podem ser encobertas pelas sombras c artdàtos
provocados por esses ossos.
Malformações congênitas referem-se a anormalida-
SEGUNDO E TERCEIRO TRIMESTRES des anatómicas presentes no momento do nascimento.
Algumas, apesar de presentes nesse momento, podem
MORFOLOGIA FETAL não ser detectadas, tornando-se diagnosticadas à med ida
que o te mpo passa. A incidênciJ de anomalias congênitas
A maioria dos exa mes ultrassonográficos visa a consta- dobra ao se comparar o momento do nascimento com
tar normalidade fetal, porém encontram-se malform<tçõcs um ano devida.
cm aproxi madamente 4 \)o dos fetos. Tais anomalias podem As anomalias intituladas menores são encontradas cm
ser de de pequena variante da normalidade até malforma- até 14% da população e têm meno importância, por não
ções complexas. interferirem na viabilidade ou capacidade do indivíduo.
Atualmente, mais de 939o das malformaçõe maiores Também não possuem importância cosmética ou funcio-
podem ser diagnosticadas por pessoas adequadamente nal, não demandando correção cirú rgica (ex: clinodacti-
trei nadas. O estudo ecográfico permite a identificação de lia). Os achados com frequência acima de 4% são conside-
alterações estruturais fctai por i sós ou que, por se asso- rados va riantes da normalidade. A existência de duas ou
ciarem ,1 anomalias cromossômicas ou genicas, sirv.un mais anomalias menores não é comu m, por isso, deve- c
como cu marcadores. suspeitar de um fator causal maior au mentando a probabi-
t importante dividir o exame morfológico de segun- lidade de malformações maiores, síndromes cromossômi-
do trimestre cm dois aspectos: a) ultrassom morfológico cas ou gênicas.
propri:1mentc dito, que é o estudo da morfologia fetal, ou Por outro lado, denominam-se anomalias maiores
seja, da anatomia do corpo fetal; b) o ultrassom genético, aquelas que requerem intervenções clínicas, ci rúrgicas
que é a pesquisa dos ina is fenotípicos de índromes cro- ou, ainda, tratamento cosmético. Acometem 2 a 3% do ·
mossõmicas ou gênicas. A organogénese fetal termina por recém-nascidos, como, por exemplo, malfonnaçõe card í-
volta da nona emana, porém somente com o seu cresci- acas, do istema nervo o central, fenda facial. Apresentam
me nto pode-se identificar a morfologia ao ultrassom. Isto importância relativa cada vez mais expressiva entre os pa-
jJ é possível por volta de 12 semanas, entretanto, tem-se í es desenvolvidos, atingindo por volta de 25% das caus.1s
recomendado estudá-la por volta de 18 semanas. Como os de morbidade e mortalidade. Contrariamente às ano-
sinais fcnotípicos estão presentes somente após 20 sema- malias menores, as maiores possuem alta frcq ucncia de
nas, tem- c c tipulado estudo da morfologia junto com os associação com outras anomalias, cm torno de 2 · a 44%.
sinais fenotípicos (ultras om genético) por volta da 22-24 Deve-se ressaltar que uma alteração citogcnética associa-
semanas de gravidez. -se a anomalias fetais múltiplas. De modo diverso, exame
Apesar do referido período ser adequado porque todas morfogcnético normal reduz 80% do risco de cromosso-
as estruturas feta is já estão desenvolvidas e o estudo do fe- mopatia.16··17
nótipo fetal já pode ser realizado, sabe-se que muitas das Existem milhares de condições c síndromes que cau-
anomalias listadas a eguir já podem ser diagnosticadas sam malformações fetais passíveis de serem identificadas
durante o primeiro trimestre de gestação. A idade gcstacio- pela ultrassonografia. Para descrição detalhada de cada
nal uperior a 28 semanas prejudica o exame desde que o condição, o leitor deve recorrer à literatura específica.
volume fetal é grande para uma cavidade am niótica menor. Os principais marcadores ultrassonográficos das cro-
Ess.1 diminuição relativa da cavidade amniótica dificulta o mossomopatias podem ser identificados e comparados no
estudo de partes feta is, em especial as extremidades. Outro Qpadro 11.7. 18

178 Noções Prát icas de Obste tricia


Quadro 11.7 1 Marcadores ultrassonogdficos em fetos com cromo~~omopatia. (FM F' modificado)

Mdrcddor Ultrdssonografrco T 13 T 18 T 21 S Turner Tr rp lord ra

CiliWcd

Forma de morango . + . . .
I
Braquicefalia + + + .
+ I
Microcefalia + . . + .
J
Ventriculomegal ia . + + . + I
. . . .
Holoprosencefal ia + J
1
Cisto plexo coroide .
+ + . .
. . . .
Agenesia corpo caloso + J
Cisto fossa posterior + . .
+ + I
Aumento cisterna magna + + . .
+ I
Dandy-Walker . + . . .
I
Far I! PI'Sl oco
. . .
Fenda + + J
, Micrognatia - + - - + I
Edema nuca + + + - - I!

I Higroma cfstico - - - + - I

Microtia - + + - - I
Osso nasal ausente - + + + - I
To r dX

Hérnia diafragmática + + - - -
Cardiopatia + + + + + I
Derrame pleural - - + + - I
Alldo rnr'

Onfalocele + + - - - l
Atresia duodenal - - + - - I
Estômago colapsado - + + - - I
Hidronefrose leve + + + + - I
Outra anomalia renal + + + - I + I
Intestino hiperecogênico - - + - - I
Atresia esofágica - + - - I - I
Continua ...

Ultrasso n og ra ~ a 179
... continuação
Quadro 11.7j Marcadores ultrassonográficos em fetos com cromossomopatias (FMF' modificado)
Marcador Ultrasso11ográfrco T 13 T 18 T 21 S Tur11er Trr plord ra

Mrscelá11ea

Hidropisia - - + + -
Restrição do crescimento - + - + + i
Fêmur curto - + + + + I
Clinodactilia - - + - - I
Dedos sobrepostos - + - - - I
, Polidactilia + - - - - I
Sindactilia - - - - + I
Tálipes + + - - + I
, Gravidez molar - - - - + I
Artéria umbilical única + + + - - I
' The Fetal Medicine Foundation
T13 = trissomia do cromossoma 13; T18 = trissomia do cromossoma 18; T21 = trissomia do cromossoma 21; S= sfndrome: +=presente;- = ausente.

MOV I M E NTAÇÃO FETAL primigcsta e um pouco mais precocemente na multigcsta,


talvez devido a mais conscicnlização oriunda do aprendi-
A percepção materna da movimentação fetal é a mais zado a partir das gestações anteriores.
antiga avaliação do bcm-estar fetal, transformando-se num Existem fatores que reduzem a percepção da movimenta-
habitual estudo da vitalidade do feto. Gravidezes em que se ção fetal, como placenta em topografia anterior, obesidade ma-
identifica redução da movimentação fetal apresentam eleva- terna, polidramnia c ansiedade materna. Além disso, há situa-
do risco de complicações perinatais, especialmente C LUR, ções que determinam a redução dos movimentos, como certas
trabalho de parto pré-termo, depressão neonatal grave, mor- anomalias, asfix ia, hipogliccmia, narcóticos e tabagismo.
te ou internação imediata para observação, indução ou parto Enfatiza-se que a percepção materna dos movimentos
de emergência. Porém, para a implantação da metodologia feta is deve ser utilizada como um referencial para se ind icar
de rastreamcnto com base na contagem da movimentação avaliação mais aprofundada, e não ditar uma conduta. Isto
fetal a partir da percepção materna como indicativo de porque a orientação de conduta baseada na monitorização
bem-estar, deve-se buscar compreender quais mudanças subjeti va realizada pela mãe relaciona- c a elevada taxa de
percebidas na atividade fetal se associam ao bom ou adver- falso-positivo.
so resultado da gravidez. Não há clara definição do que seja
movimentação fetal normal, porém existem parâmetros
descritos na literatura, como pelo menos 10 movimentos CORDÃO UMBI L ICAL
percebidos subjetivamcnte pela mãe em 12 horas de obser-
vação e a presença de pelo menos dois movimentos em 30 Anormalidades do cordão umbilical podem estar rela-
minutos de avaliação objetiva através da ultrassonografia. w cionadas a comprometim ento fetal, daí a importância de se
A movilnentação fetal que favorece o desenvolvi mento avaliá-lo sistematicamente durante a execução da ecogra-
do sistema músculo-esquelético pode ser percebida pela fia. Há associação com malformações estruturais, redução
mãe entre 16 e 20 semanas de idade gestacional. Esse fe- do padrão de crescimento fetal, aneuploidias, além de com-
nômeno costuma ser identificado um pouco mais tarde na plicações potenci:1is ao longo da gravidez.

180 Noções Práticas de Obstetrícia


O cordão umbilical é composto de dua~ artérias c um.1 A RTÉRI A U MBILICAL Ú I CA
vci,1 (Figura 11.1 1). As artérias originam-se nas artéria · ilí-
acas internas e conduzem s,tngue pobre cm oxigénio na A artéria umbilical única (AU U) é a mais frequente
di rcção placentária. Já a veia recebe sangue ricamente ox i- anomalia do cordão umbilical. Seu diagnóstico pode ser
genado e dirige-se pa ra o fígado fetal. N.io há como medir realizado por corte transversal de alça livre ou, mais pre-
precisamente o comprimento do cordão, porém se estim a cisamente, pela avaliação dopplervelocimétrica da porção
que ele tenha tamanho similar ao compri mento letal. O int r.t-abdomi nal das artérias umbilicais que apresentam
cordão apresenta-se com espirilamento, o que pode ser trajcto lateralmente à bexiga (Figura 11. 12). Na su.l vigên-
originado com o intuito de proteger o cord.io contra com- ciJ, torn a-se necessária J reali zaçflo de apurada investiga-
pre sõe . T.tl proteçào também é co nferid .:~ pel.1 gelci.l de ção da an.ltomia fetal, pois há au mento de cerca de 50% de
vVarton que se encontra no interior do cord.1o, circund.m- anomalias fetais, incluindo anormalidades cromossômi-
do os vasos sanguíneos. c ts. Mesmo diante da ausência de out ras alterações anatô-
micas detectáveis, deve-se vigiar o padrão de crescimento
fetal, devido ao alto risco de restriçflo de seu crescimento.

Ci sT o D E CoRDÃO

O cisto de cordão no primeiro trimestre é um achado


considerado normal, porém no segundo c terceiro trimes-
tres demanda avaliação detalhada da anatomia fetal, dev i-
do à suJ :~ssociação com anom:~lias fet:~ is.

C IRCULAR DE C ORD ÃO

As circulares de cordão estão presente em quase um


qu.trto de gestações. Q uando ún ica, não eleva a morbida-
Figur.l 11 . 11 jl ,,,t~· '·1~11.11 cJ,, u'rdJ,, umbdtc.lltw <]11.11 o dc ou mortalidade fetal. Porém, deve ser descrita quando
u,),,, ,j,'f'f'kt ~\h~''' tr~·, \ J"'' ,,ln~tlllll'l''· ,lu.h ,11 t~·tt,h ,.
são duas ou mais, pois nessa~ situ :~ções há ch:~nce de ele-
um.1 H't.1 \ ,., l'".~lll·l I,, I
var a mort:~l idade fet:~l quando se encont ram apertadas.

A B
Frgur.1 11 .12 l l c'rt~ tr.lll\\Cr''' d.1 pc•h c 11.1 c]UJI'' cl'il't d''Pf'k·r e \I h,, .trtcna umhdt,.tltlllKJ c dupl.t rc'l'''' li\ .tmcntc'
, trcund.tndc' .1 bc·\1~.1 têt.tl (B.\ ). \à /'•'8""' IS I

Ultrassonograjia 181
A identificação ultrassonogrática é simples, podendo-se passo que mínimas onfaloceles podem estar relacionadas
utilizar a imagem longitudinal n,\ nuca fetal, quando se a cromos omopatias incompatíveis com a vida.
identifica o corte transversal do cordão, ou real izando-se A gastrosquise ca racteriza-se pela saída de vísceras ab-
imagem em plano transversa l na topografia do pescoço domi nais livremente para o interior da bolsa am niótica,
fetal, com o au xílio do color-doppler, identificando-se o sem o reve timento do peritônio parietal, com a inserção
cordão circundando, como demon trado na Figura 11 .13. do cordão umbilical situando-se à esquerda. ão há a so-
ciação entre gastrosquise c aneuploidias.

INSERÇÃO
PLACENTA
A maioria dos cordões apresentam inserção placentá-
ria discretamente excêntrica. A inserção periférica é desti- O estudo ccogrAfico obstétrico inclui, obrigatoriamente, a
tuída de significado clínico, uma vez que não se associa a avaliação anatómica placentária, haja vista ser um órgão que,
aumento de morbidade e mortalidade perinatais. Porém, a além de exercer função nutricional e de troca gasosa, possui
inserção que ocorre nas membranas livres, a in erção vela- a mesma origem do feto. A partir, principalmente, do padrão
mentosa, que pode acometer I%das gestações, é de especial de calcificação, a placenta se classifica como de crito a seguir.
interesse por apresentar os vaso em a proteção da geleia de
Warton. Is to os deixa susceptíveis a traumas e tromboses.
Quando há inserção velamentosa com o trajeto dos vasos GRAUS DA P LACENTA40
sobre o orifício interno do colo uterino, tem-se a denomina-
da vasa prévia, que, pela delicada posição em que os vasos se Gra11 zero: o parênquima encontra-se com unifor-
encontram, coloca em risco o feto no parto vaginal. me aparência granular. A placa coriónica é linear e
A inserção do cordão umbilical na extremidade fetal bcm-definjda. ão se identificam focos de calcifi-
deve ser avaliada cm toda ultrassonografia, haja vista que cações esparsos no interior do parênquim a (Figura
defeitos na parede anterior nessa topografia podem ocorrer. 11.14 A);
As principais anomalias são a onr.1locclc c a gastro quise. Grau l: a placenta demonstra sutis indcntações da
a onfalocdc, há integridade do peritônio parietal, placa coriónica, havendo focos de calcificação es-
ficando, dessa maneira, contidas as vísceras abdominais. parso pelo parênquima (Figura 11 .14 B);
Há ampla diversidade de volume da onfalocele c as de me- Grau /I: notam-se maiores ondulações da placa cori-
nor tamanho possuem mais correlação com aneuploidias. ônica, septação incompleta do parênquima placen-
Dessa forma, grandes onfalocelcs são passíveis de corrcção tário, além de calcificações lineares na placa basal
cirúrgica no pós-natal e podem cursar com sobrevida, ao (Figura 11.14C);

182 Noções Práticas de Obstetrícia


Grau l/T: há septação da placa coriónica até a pla- inferior c o orifício interno do colo uterino. I o é válido tanto
ca basal, a qual pode ser facilmente demonstrada para o diagnóstico de placenta prévia quanto d:.~ va a prévia.
devido à deposição de cálcio. "Lagos venosos- que A placenta prévia complica um:1 em cada 250 :1 300 gravi-
surgem mais frequentemente no terceiro trimestre dezes. Entretanto, deve-se ter em mente que :.~té por volta de
podem ser identificados com base cm :\ rc.1s hi poe- 28 a 30 semanas a placent:1, muito frequentemente, Jtingc o
coicas no interior do parênquima (Figura 11.14 D); orifício interno do colo uterino, pois :.~presenta extensão reb-
tivamente gra nde em relação :10 tam:~n ho uterino. À medida
Deve-se ressaltar que a maturação pbcentári,l não ocorre que a gestação avança, a placcnt:J. "migra", o que, n:J. vcrd:~dc,
de maneira padrão em todas as pacientes. Somente cerca de corre:-ponde à posição placcntári:J. c:tda vez mais cranial cm
20 a 2'% das gestaçõe~ a termo dcmonstr.uão pl.!cent.l com relação :10 orifício interno do colo uterino, pois, por estar Jde-
grau III. Por outro lado, deve-se adotar certo referenci.1l:t fim ridJ ao útero, acompanha o seu crescimento.
de averigua r se a maturação pbccntária encontr:~-se acima do
esperado para dcterminatb idade gestacional. Assim, espera- A consagrada classificação da placenta prévia é:
-se que o grau I seja detect:~do a p:trtir de 28 semanas, o grau Total: cobre inteiramente o orifício interno do colo
II a partir de 32 semanas c o grau IIl a partir de,, ~emanas. uterino;
Apesar de Peter Grannum relatar a sociação entre grau de Pamal: cobre parcialmen te o orifício interno do
maturidade placentária e pulmonar fetal, tais fenômenos não colo uterino;
·ão dependentes, mas, na verdade, coincidcntes40· 0 Marginal: quando a borda da placenta atinge a m:J. r-
A acele ração da matu rida de placentária tem sido descri- gcm do orifício interno do colo uterino.
ta cm associação com C IU R, pré-eclâmpsia e tabagismo.
H:\ relato de aumento de dua a oito vezes na incidência de A pbcent:J. de in erção baixa é aquela que e situa :1
líquido amn iótico meconial, morte perinatal, sofrimento menos de 2,0 cm do orifício interno do colo uteri no sem,
fetal durante o trabalho de p.lrto, escore de Apgar de S' in- contudo, atingi-lo. Essa é uma entidade que deve ser con i-
ferior a sete. Diante di so, alguns autores têm sugerido que derada, pois pode cursar com sangramcnto antenata l.
pacientes com maturação placent:\ria acelerad.1 entre 32 O diagnóstico de placenta prévia é ta refa fácil p:1r:1 o
c 36 semanas devem se submeter à estreita vigilância pré- ultrassonogr:J.fista nos dois primeiros trimestres gestacio-
-natal até o nascimento. Contr;Hi:J.mente, outros autores nais ou quando se situa na região anterior. Porém, quando
questionam a necessidade de se intensificar tal vigilãncia.42 ua localização é posterior, no terceiro tri mestre, há gran-
de chance de não se identificar correta mente a posição da
placenta. Indica-se, nessas situações, a complementação
PLACENl A PR ÉV I A do exame via endovaginal, a fim de assegurar tanto o po-
sicionamento placentá rio quanto descartar a existência de
Um importante papel do ultrassonogratista é estabelecer vasa prévia com o auxílio do color-doppler. Deve-se aten-
a topografia placentária a partir da rebção entre a sua borda t:J.r par:J. o diagnóstico falso-positivo di:J.nte de contraçõcs

A B c o
Figura 11.10 I Grau da placent:1. A - O; B- I; C - II; O - III.

Ultrassonografia
uteri nas e bexiga sobredistendida (para mais informações ecogênicas podem ser visibilizadas à ultrassonografia. Es-
sobre a placenta prévia, ver o capítulo 18- Hemorragias na sas áreas devem ser diferenciadas de normal área hipoccoi-
Segunda Metade da gestação). ca retroplacentária, miomas e corioangiomas placentários.
Miomas podem ser d ifíceis de d istingu ir-se de coágulo
devido à si milaridade da ecogen icidade. O color-dopplcr
VA A PRÉVIA pode contribuir na distinção entre coágulo, leiomioma e
corioangioma placentário.
A vasa prévia representa a inserção velamentosa do
cordão umbilical, situada na porção inferior do segmen-
to. Trata-se de entidade rara, ocorrendo um caso cm cada ACRET ISMO PLACE TÁR lO
3.000 gravidezes. A proteção perivascular do cordão um-
bilical proporcionada pela geleia de Warton está ausente. Ocasionalmente, a placenta pode se aderir de forma
Isso, associado à sua localização sobre o orifício interno do anormal ao útero. Provavelmente esse fenômeno ocorre
colo uterino, torn a-o susceptível ao trauma, principalmen- em consequência d e deficiência na decídua basal.
te no momento da rotura das membranas, podendo levar H á três tipos de acretismo placentário:
a sangramento fetal c possível exsanguinação. A mortali- Placenta acreta vera, na qual se verifica invasão pro-
dade perinatal relatada é e levada, podendo atingir 75%. O fu nda da decídu a, porém sem invasão miometrial.
diagnóstico baseia-se no alto grau de suspeição. Placenta increta, quando ocorre invasão m iometrial.
Placenta percreta, quando há invasão miomctrial,
com os vilos atingindo a serosa, podendo acometer
DESCOLAMENTO PREMATU RO DE PLACENTA bexiga e intestino.

O descolamento prematuro de placenta complica O acretismo placentário é visto em torno de uma vez
.1pruxlmadamente 1% de todas as gravidezes. Ele é defi n i- em cada 2.500 gestações, porém há fatores de risco que ele-
do como a separação da placenta antes da expulsão fetal vam essa freq uência, como placenta prévia, cesárea prévia
após 20 semanas de idade gestacional. ão se conhece e/ ou ciru rgias uterinas e idade materna avançada.
sua etiologia, porém há L'l tores de risco relacionados, como O aspecto ecográfico do acrestimo da placenta reside
placenta prévia, hipertensão crônica, pré-eclâmpsia, rotura na perda da distinção entre a placenta e o miométrio, que
prematura de membranas, trauma, tabagismo, uso de co- habitual mente é uma fa ixa hipoccogênica. Geralmente, há
caína, miomas uterinos e anomalias do útero. au mento no nú mero de "lagos venosos" placentários. Em
Salienta-se que o d iagnóstico de descolamento pre- casos de diagnóstico duvidoso, pode-se lançar mão dares-
maturo de placenta é emi nentemente clínico. A avaliação sonância magnética.
ultrassonográfica placentária e os estudos laboratoriais
são apenas adjuvantes na composição diagnóstica. C las-
sicamente, a ecografia é utilizada para aval iar sa ngra men- LíQUIDO AMNIÓTICO
to antenatal somente a fi m de excluir-se o d iagnóstico de
placenta prévia, e não para d iagnosticar descolamento A avaliação do líquido amniótico (LA) é parte inte-
placentário. Entretanto, a ultrassonografia pode ser útil se grante de qualquer exame ultrassonográfico obstétrico. O
o diagnóstico é incerto. T ão variáveis qua nto o quadro clí- LA possui função de proteção mecânica ao feto, ao amor-
nico do descolamento são os achados ultrassonográficos. tecer eventuais traumas; faci lita o crescimento fetal, ao
Sangramento como resu ltado da separação placentá ria afastar possíveis est ruturas que podem se situar adjacente
pode se colecionar em topografia posterior à placenta e às ao corpo do concepto, evitando-se, por exemplo, malpo-
membranas e tornar-se oculto ou drenar através do canal sionamento das extremidades e permitindo adequada
cervical e torna r-se clinica mente aparente. Se há tal san- expansão da caixa torácica, além de evitar compressão do
gramento, habitual mente não há achados ecográficos. Se o cordão umbilical diante da redução de seu volume; ma n-
sangramento permanece oculto, áreas isoecoicas ou h ipo- tém a temperatura intrauterina estável; permite adequ ada

Noções Práticas de Obstetrícia


movimentação fetal) fator relevante no desenvolvimento 110 cm. Em posterior publicação1 Manning reconsidera o
do sistema músculo-esquelético. ponto de corte para um valor < 2,0 cm p::~m tal diagnóstico.
O volume de líquido amniótico é o resultado entre Na liter::~tur::~, há informação de outros valores de referên-
fontes produtoras e aquelas que o removem. Entre as pri- cia, não havendo consenso sobre qual seja o mais adequa-
meiras, destacam-se os tratos urinário e respiratório, na do. O ILA é uma ferramenta semiquantitativa elaborada
segunda metade da gestação, ao passo que o trato gastroin- por Phelan et ai. (1987). Baseia-se na divisão do abdome
testinal é o principal agente a remover o líquido da cavida- materno em quatro quadrantes a partir da linha mediana
de arnn iótica, através da deglutição. Assim, in fere-se a res- e cicatriz um bilical e soma da mensuração do maior bolsão
peito de processos funcionais, como pelo menos um rim de LA no sentido vertical em cada quadrante. Idealmente,
funcionante diante de volume normal do LA; ou aumento os bolsões medidos não devem conter cordão umbilical
da reab orção tubular renal diante de C I U R, com centra- nem partes fetais. Em relação ao !LA, também não existe
lização de Auxo sanguíneo. Pode-se, também, suspeitar de consenso sobre qual valor deve ser adotado como referên-
processos anatômico-obstrutivos, como a estenose esofa- cia de normalidade, porém é de boa aplicabilidade prática
giana determi nando polidramnia ou obstrução do trato que valores sejam considerados norm::~is qu::~ndo entre 8
urinário culminando em oligoidramnia. e 24 cm. Rcss::~ lta-se que a utilização do color-doppler é
bastante útil na ::~valiação do volume do LA, por permitir
distinguir ::~dcq uadamente as alças do cordão umbilical e o
E ST I MATI VA DO VOLUME DO LíQU IDOAMi': I ÓT ICO LA propri::~mcnte dito 4 H s Para mais informações sobre o
líquido am niótico, ver o capítulo 19 - Alterações no Volu-
Diante da importância do LA, tanto cm relação ao me do Líquido Amniótico.
fato de suas alterações poderem determinar agravo ao feto
quanto por perm itir inferir a respeito de alterações feta is a
partir do achado de modificações em seu volume, estimar AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO FETAL
o volume do LA é uma importante tarefa para o ultrasso-
nografi sta. C RESC I M ENTO I NTRAUT ERI O RESTRITO
Ainda não há como se fazer o cálculo exato do volume
do LA, pelo fato de ele permear o espaço entre o feto e a pa- As tax::~s de mortal idade e morbidade peri mt::~i são in-
rede uterina. Por isso, por mais que se u em os instrumen- versamente proporcionais ao peso ao nascimento. o ge-
tos atualmentc disponíveis, espera-se certo grau de va riabi- ral, crianç::~s nascidas entre 38 e 42 semanas de idade gesta-
lidade. Isso deve incentivar o ultrassonografista a esmerar cional cujos pesos variam entre 1.500 e 2.500 g têm cinco a
na estimativa do volu me do LA. O cálculo mais adequado 30 vezes mais morbidade e mortalidade perinatais do que
é a aval iação subjetiva realizada por profissional experiente, as cri::~n ç::~ cujos pesos estão entre os percentis IOe 90, e
que estuda toda a cavidade uterina após vários movi men- subst::~nci::~lmcnte mais elevados se o peso ao nascimento
tos fetais. Em situações limítrofes, isso permite ter noção é inferior a 1.500 g. Nessa perspectiva, um recém-nascido
mais fiel que uma única rápida avaliaçjo. O feto, ao se mo- com peso de 1.250 g entre 38 e 40 semanas de idade gesta-
vi mentar, permite identificar alguns bolsões de LA que es- cional tem mais risco de mortalid::~de perinatal do que ou-
tavam ocultos atrás do seu corpo ou, inversamente, passa a tro com peso similar com 32 semanas. Daí a importância
ter bolsõe sobrepostos pelas partes fetais. de se esforç::~ r p::~ra o diagnóstico pré-natal do crescimento
em todo ultrassonografista encontra-se num estágio intrauterino restrito (C IU R) a fim de aprimorarem-se os
profissional de muita experiência, o que torna a adoção de cuidados pré-natais, reduzindo-se as complicações perina-
metodologi ::~ objctiv::~ de particular interesse. O dois méto- tais. O crescimento fetal normal depende d::~ combinação
dos m::~is utilizados são o cálculo do maior bolsão de LA no de fatores maternos, feta is, placentários e ambientais com
sentido vertical, desprovido de partes fct::~is c cordão um- o potencial geneticamente predeterm inado. Constatar a
bilical, e o índice do líquido amniótico ( ILA). O primeiro redução do padrão de crescimento fetal significa pesquisar
método proposto por Manning, Hill e Pbtt (1981) consi- e buscar a compreensão da fisiopatologia subjacente que
der::~n oligoid r::~mnia o maior diâmetro vcrtic::~l inferior a esteja determinando tal desvio do crescimento. Deve-se

Ultrassonografia 185
identificar também a gravidade da condição fisiopatológi- tes conotações c perfis de risco, devendo ser considerado en-
ca, seu grau de progressão, bem como o nível de re posta tidade diferente . Macro somia é condição a ociada acres-
às medidas terapêuticas instituída . Tal procedimento fun- cimento fetal exce ivo, rc ultando em recém-nascido maior
damentará o aconselhamento ao pai , consulta ao neona- que o e perado para a idade gestacionaL Historicamcnte,
tologista e tomada de deci ão do momento e via de parto macrossomia tem sido definida como o peso igual ou aci ma
mais adequados ao na cimento. Ape ar da importância de 4.500 g, entretanto, cm recém-nascidos de gestantes d iabé-
de se identificarem o fetos sob restrição de crescimento, ticas tem-se notado aumento da morbidade e morta !idade aos
não há consenso do que seja C IUR. O conceito prepon- 4.000 g. Grande para a idade gestacional é um peso acima do
derante é o peso feta l abaixo do 10° percentil para a idade 90° percentil para a idade gestacional. 46
gestacional. Esse não pode er o ún ico referencial, pois o A biometria da mesmas estruturas utilizadas na avalia-
diagnó tico de C IUR deve er considerado diante de um ção e diagnóstico do C l U R é utilizada no diagnó tico do
feto que se encontra com pe o acima do 10° percentil, po- feto macrossômico. Deve-se ressaltar que há dois padrões
rém com alteração da curva de crescimento identi ficada de rnacrossomia fetal. No padrão simétrico, identi fica-se
por inadequado aumento das circunferências abdominal c aumento tanto da circun ferência abdominal quanto do
craniana entre duas ultrassonografias realizadas em inter- polo cefálico (DBP e CC) e membros. Esse perfil é encon-
valo de pelo menos duas semanas. Ainda há outras concci- trado no pós-datismo e fi lhos de mães obesas. Já no padr5.o
tuações para C IUR: circunferência abdominal abaixo de assimétrico, nota- c crescimento da CA acima do esperado
dois desvios-padrão da média ou abai.xo do 2,5°; 3°; 5° ou para a idade gestacional, porém com polo cefálico e mem-
I 0° pcrccntil; razão entre as circunferências cra niana e ab- bros dentro dos limites da normalidade. Esse último padr5.o
dominal acima de dois desvios-padrão; razão entre fêmur e é comumente encontrado cm fetos de mães diabéticas.
circunferência abdominal aci ma de 24 a partir de 20 sema- Como a CA encontra-se aumentada em ambos os pa-
nas de idade gcstacionaL Grande desafio é identi ficar feto drões de macrossomia fetal, esse é o parâmetro isolado que
saudável, constitucionalmente peq ueno que, apesa r de se mais se associa ao diagnóstico dessa condição. Já a c timati-
enquadrJr cm alguma definiç.io de C l U R, não apresenta va de peso fetal parece ser a melhor ferramenta para o diag-
risco perinata l elevado. Como numa distribuição normal nó tico de crescimento excessivo. Porém, é fu ndamental a
há cerca de I0% dos indivíduos abaixo do IOo perccntil, o perícia na aquisição das imagens, para elevar a sensibilidade
ultrassonografi ta atua no dia-a-dia com a mi ão de iden- des c marcador. Isto porque o abdome, principal parâmetro
tificar quai feto estão sob risco perinatal elevado entre os para cálculo do peso fetal, é estrutura compressível e se mol-
que se encontram abaixo do I 0° pcrccnti Ic, ta mbém, entre da facilmente à compressão extrínseca, seja por partes fetais
aqueles que, apesa r de acima de tal ponto de corte, apre- ou placentárias, reduzindo a qual idade da mensu ração.
sentam restrição de seu crescimento, não atingindo o ta- Além disso, o feto com cre -cimento acelerado adq uire mas-
manho compatível com eu potencial genético. Para mais sa adiposa em mais quantidade. Como o tecido adipo o é
informações sobre IU R, ver o capítulo 24 - Crescimento menos dcn o que o muscular, pode-se atribu ir peso acima
lntrauterino Restrito. do real, elevando-se a taxa de falso-positivo.

MAC ROSSOMIA AVALIAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA


DO COLO UTERINO
Cresci mento fetal acelerado é importante entidade clínica
devido à as ociação com elevadas morbidade c mortalidade
pcrinatais. A maioria das complicações está relacionada tanto O colo uterino pode ser avaliado ccograficamente na
ao trauma quanto à asfixia ao nascimento e e correlaciona gravidez através de duas vias: transabdominal e transvagi-
bem com o peso ao nascimento. O risco ma i alto parece ser nal. Para o estudo transabdom inal, torna-se necessária a
para recém-nascidos pesando acima de 4.500 g. Apesar dos repleção vcsica l, porém, se a bexiga estiver obredistendi-
termos macrossomia c grande para a idade gestacional (GlG) da, poderá falsamente aumentar o comprimento cervical,
serem frequentemente intercambiáveis, apresentam difercn- além de dar a fal a impressão de que há afunilamento do

186 Noções Práticas de Obstetrícia


-t Clcmcntr H ~toll C lhe luroscan study fd1tonal. Ultr.1
canal ccrvJC,ll. A interposição do polo cetàhco, 111.11. nota- \Ound ob..tct Gynccol. 2001,18:29- -300.
damente no terceiro trime!>tre ge taCion.ll, poder,) invia ~ Hood K, M,1 lonc 1-'D. SLr..:cnmg for fetal abnormahuc; wlth
bilizar o e~t udo ecográfico pel.1 via transabdomirul Lluc uhr.l-;ound. Curr Opm Qb,tet Gynccol. 2008;20(2)- 1\9--tS.
apresenta limitações. Entretanto, por essa vi,l 1111ciou- ~c o (, Coldenbcrg RI., Culh.1ncJ f'.lams JD, Romero R. I p1dem1o-
c tudo ultra sonogr.Hico do colo uterrno .ltl.' 'urgtr a ,.,a log\ and causes ofpretcrm b1rth. L.1ncet. 2008 ri -:;.s-t

transvagmal, que c a mat prco a. \ouka AP, 1'1lalts t\ , 1-..l\alakl' Y, Kosma<, Y, Anr;J I..h, P,
Antsaklrs i\. AS\e\\mcnl offct.1l.1nJiomy at thc li 1-t wcck
O e tudo cervrcal por vra transvagi nal é re.1l11.1do com
uh rasound ex.lmm.!tlon. Uhra ..ound Ob,tct Cynccol
a paciente cm posição supin.1com uso de transdutor na fre- 2004-;24:710 4 .
quência que v,1ri,1 cm torno de 4 a 8 M HL, protegido por 8 Tunor-Tnt..ch I[ , Ba,h~r~ A, Monteagudo A, Ar;lan i\ A
um condom. A ~onda é int roduLrda a meio ca mmho ent re Qualrfied and trameJ \onographcrs rn thc US can pcrform
o rntroito e o colo. A memuração é realizada entrem ori- early fetal arutomy \Cam bctwccn l i and 1-t wccb. Am J
ob,tct c>·nc:coi 2o04. 191 ·124- s2
fício interno c e>.tcrno. Q uando lu afunrl.un cnto caber-
9. CclikE. ro ,\l,<..a,ew,kaK.'>mlthCC. rcolaldc,Kll fetal
tura do orifício interno, mcdc-~e o comprimento residual,
,\lcdJCinc Foundauon . rcond Tnmestc:r . crecnrng Croup.
ou seja, funciorul. Existem algumas contraindrcaçoe' rela- Cervical lcngth .1nd ob,tctnc h1story pred1ct spont.1nc:ou\
trvas ao estudo tran vaginal durante a gravtdcJ: p.1CICnte~ prcterm b1rth dcwlopmcnt and v.111d.1t1011 of .1 modcl ro
cm trabalho de parto pré-termo podem ter sua' contrações pro\ldc md1v1du.1hn:d risk assessment. UltrJ\ound Ob,tct
Cynccol. l008, ~I ';-t9-S-t
estimuladas pelo exa me; dtante de rotura prenutura das
10 \..:hwarzlcr P, '>cnat ,\I V, lloldcn D. Bernard J P, ~!Jm~or I
membranas pode-!>e correr o rrsco de corioamnronrte; há
\ dle Y. Feasrbdrt) of thc \CCond-tnmc\tcr fct.1l uhrasound
risco de sangr.lmento diante de pbcenta pré\'! a. ex.1mrnatron 111 an un,clcctcd populauon .11 IS, 20 or 22 we
O rastreamento do trab,1lho de parto pre-tcrmo a p.utrr ck\ ofpregnanq .I r.llldOmlzcd tnal. Uhr.l\OUild ob ..tc:t Cy
lll'COI. 1999; 14:92 ~
da avaliação ultras onográfica do colo uterrno .1rnd.1 n.lo é
uma real idade. Apesa r disso, cm paciente ~i ntnnütic.1, li t\ lba1gcs G, ,\IJ" Iddcr·l.obm l i, Ice~ C. Parra {\I, 1wlaldl'\
KH One-stage 'lrccrung ti.1r prcgnanq complicallons b,
valores do comprrrnento cervical 'upcrior a \0 mm ,,lo wlor Doppler assC:\\IIlent ofthc utcnnc artcnc., at 2 ~ wcck'
tranquilizadores, enquanto que o comprrmcnto rnf\:rror a gc\tJllon. Obstei G) nelOI 2000:% 'iS9-M
20 mm pode rgnrficar tn uce,so na tocóhsc. li a wntro- 12 (\ l.1lcus P.Antcn.ual fct.1l -;urvcdlancc. Curr Opm Obstei G)
\ér~ra quanto ,10 ' 'alor de retercno.1 ma1s adelju.1do para lll'COI. 2004-;16·12 'I 8
predizer o tr.1b.1lho de pa rto pré-termo, existindo v.1lores I ' '\ouka AP. Pdalis t\ f...1\.1lakrs I,Antsakl" P Papantonrou .
que variam de IS .1 ~S mm. Quanto ma i curto f(Jr o ponto Mc,og1tis S, Anl\.1kli' A ">m:enmg for lllJJOr structu ral .1h
normalities at thc li to 1-t-wcck ultrasound st.ln. Am J Oh,
de corte do comprrmento cervrcal, ma ror o hkddwod mtzo
Il'l <;rnecol.l006,19-l W~ - 6.
(LR). O mar., comum ponto de corte do comprrrncnto cer-
li 1\cLkcr R. \Vcgncr R L) Dct.lllcd.,crccnmgf(xtetalanomalie'
\'tcal utilizado c < 2.- mm:- Para ma" rnfo rmaçõe., ,obre .1 and Lardrac dcfects ai the li I'I "cck s.:an. Ultrasound Ob,
.walração do colo utcrrno na prcdiç.io do parto prc-tcrmo, tc:t Cynccol. 2006.2-61' 8
ver o capítulo 21 Parto Pré-termo. I'\ TrmorTritsch 11· , I .mne D, Rosen MC. A do\cr look .u eMI)
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188 Noções Práticas de Obstetrícia


12 Perfil Biofísica Fetal
Renato Franco Ciodaro
João Oscar de Almeida Falcão Júnior

Parâmetros Mortalidade e Morbidade Perinatais


Resposta Adaptativa Fetal à Hipóxia PBF e Dopplervelocimetria
Perfil Biofísica Fetal Normal e Alterado Conclusão
lnterp retação

década de 80 tro u xe importa ntes subsíd ios relacionava m a índ ices progressivamente elevados de mor-

A para a ava li ação propedê utica do feto, com o


advento dos apa relhos ult rassonográficos de
alta resolução, que apresenta m imagens dinâ m icas, e m
bidade e morta lidade perinatais. Os autores defini ra m os
parâ metros do PI3F que até hoje são utilizados na prática
obstétrica d iária. Vá rios outros estudos tenta ram fazer
te m po rea l. Essa nova tecno logia viabi lizou a estimativa modificações na forma originalmente descrita, porém não
m ais correta da idade gestaciona l, a ava liação estrutural mostraram resultados tão precisos ou não t iveram aceita-
(morfológica) e fu nc io nal (micção c perista lt ism o in- ção c aplicabilidade satisfató rias para uso em larga escala.2•3
testinal) do feto, a lé m d e possibi lita r a análise da dinâ-
mica fetal, permitindo a visibili zação d os movimentos
co rpó reo s, respirató rios, oculares e do tô nu s muscular. PARÂMETROS
O Perfil Biofísico Fetal ( PBF) é o método propedêutico
que fàz a ava liação dos parâmetros biofísicos do fe to, utili- No PBF são avaliados cinco pa râ metros, sendo que
zando a ultrassonografia c a cardiotocografia. Tem por fi- quatro deles são obt idos pela ultrassonografia: movimentos
nalid ade ava lia r as ati vid ades dinâ micas fe tais c associá-las respiratórios, movi mentos fetais, tônus fetal e volu me de lí-
ao a porte de oxigênio. quido amniótico. O quinto parâ metro é a ca rdiotocografia
1
C oube a M an ning e/ a/. a descrição objct iva de que basal (CTB), que avalia as variaçõ es na frequência cardíaca
alteraçõe biofísicas observadas cm fetos hipoxêm icos se fetal, c que é abordada no capítulo IS- Ca rd iotocogra fia.4
Os movimentos respiratórios podem ser obscrv:~dos Para a avaliação do líquido amniótico, Manning et ai.'
cm corte longitudinal, incluindo-se na imagem o tórax e propuseram a medida do maior bolsão vertical do líquido,
o abdome do feto. Percebe-se, com a contração e o relaxa- visibilizado à ecografia, aplicando o transdutor obre o ab-
mento do diafragma, que a parede torácica c o conteúdo dome materno. Definiram, inicialmente, oligoidrâmnio,
abdominal e movem em sentidos opostos, simulando quando esse bolsão media menos de L cm. Posteriormente,
inspiração c expiração. ão movimentos episódicos que passaram essa medida para 2 cm, entendendo guc I cm é
ocorrem em fetos hígidos, detectados a partir de 14 sem ::l- próximo da anidramni:t.
nas, tornando-se regubrcs a partir de 20 semanas. Esses
movi mentos são intercalados por períodos de apneia, que
podem durar até 120 minutos. Movimentos rápidos (so- RESPOSTA ADAPTATIVA
luço ) ão considerados indicativos de boa oxigenação FETAL À HIPÓXIA
cerebral. ão controlados por centro localizados na su-
perfície ventral do quarto ventrículo c podem ser incre-
mentados pcb alimentação materna (duas horas após Para o adeguado entendi mento e domínio clínico dos
uma refeição), infusão de glicose e sono materno. Podem achados obtidos pela pesqui a do PBF, é de fundamcnt:tl
estar ausentes, quando a mãe ingere álcool, durante o tra- importância o conhecimento da resposta adaptativa fetal
balho de parto, na insuficiência placentária e nos períodos à hipóxia. Baseando-se em experimentos com animais c na
de hi percapnia materna. análise clínica de evidências indi rctas de estudos com fetos
Os movimentos corpóreos fetais vêm cndo utiliza- de mãe hipoxêmicas, foi dcmon trado que o feto respon-
dos como método propedêutico desde meados do século de à hipoxemia com alteração cm seus movi mentos, tônus,
XX, por meio da percepção materna, c traduzem, quan- respir:tção e ritmo cardíaco. Acredita-segue a hipóxia pro-
do presentes, boa vitalidade do feto. A su:t visibilização à voca disfunção celular no istema nervoso central (S C),
ecografi:t permitiu verificar que nem todos os movimen- com re posta dos guimiorreceptores aórtico fetais, o gue
tos do feto podem ser detectados pela mãe. Movimentos desencadeia as alterações nas atividade biofísicas c circu-
menores, como flexão lenta de membro , movimentos dos latórias fctai .5
dedos e outros podem não ser percebidos. Para a avaliação A resposta mediada pelo NC é aguda, sendo per-
dinâ mica, :1 partir do PBF são considerados movimento cebida a partir de poucos mi nu tos de hipóxia, e provoca,
do feto tanto os do corpo (tronco, abdome, cabeça) quan- gradualmente, a inibição de guatro parâmetros do PBF:
to os de extremidades (membros). Os movimentos fetais aceleração dos batimentos ca rdíacos fetais em resposta
podem ser estimulados pela alimentação materna, infusão à movimentação (aceler:tção transitória da CTB), movi-
de glicose c ingestão de álcool. Sua diminuição pode estar mentos respiratórios, movimentos corpóreos e tônus fe-
associada a tabagismo c uso de fármacos pela mãe, pelo tai . O comprometimento não ocorre, habitualmente, de
sono fetal ou por hipóxia crónica, devido à insuficiência forma simultânea.
placentária. Não e al teram durante o trabalho de parto. Os estudos indicam guc os centros reguladores das ati-
Movimentos mais delicados como os oculares, a sucção, a vidades biofísicas feta is têm sensibi lidade diferente à hipo-
extensão da língua c a deglutição não devem ser considera- xcmia e à acidem ia, sendo gue os mais sensíveis são os que
dos para a pontuação do perfil. aparecem mais tardiamente. Ou seja, a atividade biofísica
Considcr:~-sc tónus normal quando o feto apresent:t gue aparece primeiro é a últim:t a de aparecer nos proces-
movimentos de extremidade (flexão ou extcn ão), com re- sos de hipoxemia crónica.
torno à posição anterior. A mão aberta, com a extensão dos As im, Vintzileos et a/. 6 demon traram que o apareci-
dedos, indica au ·ência de tónus. Essa avaliação, gera lmen- mento dos centros do SNC que controla m as atividades
te, é realizada junto com a movimentação fetal. O centro biofísicas acontece em momentos d iferentes para cada um
de controle do tónus começa a funcionar ao redor da éti- dos p:trâmetros :~nal isados:
ma e oitava semana . É o último parâmetro a se alterar nas O primeiro a aparecer é o centro regulador do tô-
·ituações de hipóxia crônica, quando o feto já está em fase nus, no córtex cerebral, cuja função se inicia entre
term in:~l c já podem existir lesões irreversíveis do "NC. 7,5 c 8,5 semanas;

190 Noções Práticas de Obstetrícia


a seguir, aparece o centro que controla os movi- mesmo na vigência da hipoxem ia. Essa ocorrência é ma e
mentos corpóreo fetais, no núcleo cortical cere- pode estar relacionada a alterações na curva de d issociação
bral, com nove emana ; do oxigênio e ao aumento dos níveis da hemoglobina fetal.
os movimento re piratórios aparecem em torno de A hipóxia ainda produz resposta dos quimiorrecepto-
1-t emana e ão controlados por centro nervoso res da carótida e do arco aórtico. Esses receptores induzem
localizado no assoalho do quarto ventrículo; profunda redistribuição do débito cardíaco, provocando
por último, aparece o centro regulador da acelera- aumento do Auxo para o cérebro, coração e suprarrenais,
ção do ritmo cardíaco em resposta 3 movimenta- enqua nto o Auxo para os demais órgãos fetais é reduzido
ção fetal, que se localiza no hipotálamo, c se torna (centralização do Auxo sanguíneo fetal).
fu ncional no final do segu ndo e início do terceiro No I)BF, esse mecanismo pode ser identificado guando
trimestre. ~c detecta a diminuição do volume de líguido amniótico
nos fetos com hipoxemia. Os rins e os puLnões fetais, sob o
Este último, pela escala do desenvolvimento neuromo- processo de centralização, têm a perfusão sanguínea com-
tor do feto, é o centro mais sensível3 privação de oxigénio, prometida, o que diminui a produção de líguido amniótico
seguido, em ordem decrescente, pelo respiratório, o dos pelo feto. Como esses órgãos são os principais produtores
movimentos e o do tónus fetais. Espera-se, portanto, que o de líquido amniótico na segunda metade da gravidez, pode
feto submetido à hipoxemia crónica responda, inicialmen- ocorrer oligoidramnia cm caso de insuficiência placentá-
te, com perda da aceleração transitória da sua frequência ria. A ohgoidramnia decorrente desse processo se de en-
cardíaca. A seguir, desapareceriam os movimentos re pi- volve lentamente, de forma progressiva e não reversível,
ratórios e, já em fase agônica, ele perderia os movimentos tendendo a ~er mais acentu:tda quanto mais grave é a hipó-
corporais e o tônus (Quadro 12.1). xia (Figura 12.1).
Movimento corpóreos e tônus podem er identifica-
dos precocemente à ecografia (oito a IO emanas), enquan-
to os movimentos respiratórios são detectado a partir de PERFIL BIOFÍSICO FETAL
14 emana . As acelerações transitórias somente poderão NORMAL E ALTERADO
er identificadas à card iotocogra fia, a parti r das 22 semanas.
A diferente sensibilidade à deficiência de oxigénio temam-
pla aplicabilidade clínica, pois permite gue o PBF eja utili- P:tra a avaliação do PBF, utiliza-se um sistem:l de pontu-
zado não ó para o diagnóstico da hipoxemia, mas também ação no qual são creditados dois pontos para cada variável
para prognosticar a gravidade do quadro clínico. biofísica normal e zero para cada variável anormal, poden-
Deve- e ressaltar gue e ses parâmetro , considerado do-se obter os resultados O, 2, 4, 6, 8 e 10. Os critérios para
como marcadore agudos da hipoxemia fetal, podem, a classificação de um parâmetro como normal ou anormal
apó algum tempo, reassumir as caracterí ticas normais, são fixos e definidos conforme descrito no quadro 12.2.

Quadro 12 .1 I Desenvolvimento neu romotor do feto conforme a idade gestacional e deterioração ncu romotora, na presença
de hipóxia
Paranwtro Centro Regulador Perrodo de Sequencra do SequerlCia cLr
Apa recrmento desenvolvrmento deterror a c ao rwrJJ orrwtor a
(semanas) neuromoto r

TOnus Córtex cerebral 7,5 a 8,5


Movimentos corpóreos Córtex cerebral 9,0
Movimentos respiratórios Quarto ventrículo 14
Reatividade cardíaca Hipotálamo 22 a 24

Per~l Biofísica Fetal 191


Estimulação dos
quimioreceptores aórticas

Hipotonia I
Ausência de movimentos respiratórios
Ausência de movimentos fetais
l ,
I Desaceleração
Cardiotocografia basal não reativa tardia (OlP 11)

Aumento do fluxo sangüfneo para: Diminuição do fluxo sangüíneo para:


Cérebro fetal (hemorragia intraventricular?) Rins fetais (oligúria)
Supra-renais Pulmão (Síndrome angústia respiratória)
Coração Intestino (enterocolite necrotizante)
Placenta Ffgado e circulação periférica (CIUR)

Figura 12.1 I Fluxograma dos efeitos biofísicos da hipóxia fetal.

Quadro 12.2 1Pontuação das variáveis do Perfil Biofísico Fetal


Var1áve1s B1ofis1cas Parâmetros norma1s (Oo1s pontos) Parâmetros anorma1s (Zero pontos)

Movimentos fetais Pelo menos três discretos movimentos de corpo ou Dois episódios ou menos de movimentos de
membros em 30 minutos (episódios de movimen- corpo ou tronco em 30 minutos.
tos contínuos são considerados como um único
movimento). I
Tônus fetal Pelo menos um episódio de extensão ativa com Extensão lenta com retorno parcial para I
retorno para flexão dos membros fetais ou tronco. flexão. Movimentos dos membros em
Abrir e fechar as mãos são considerados como tô- extensão completa. Ausência de movimentos
nus normal. fetais com as mão mantidas em completa ou
parcial deflexão.
Movimentos respiratórios Pelo menos um episódio de movimentos de exten- Ausência de movimentos respiratórios fetais
são e contração torácicas. devido à ação dos mús- ou nenhum episódio com duração maior ou
culos intercostais, com duração de. no mínimo, 30 igual a 30 segundos. em 30 minutos.
segundos, em 30 minutos de observação. I
I
Volume de líquido Presença de, pelo menos. um bolsão de LA com Ausência de bolsões de LA ou um bolsão
amniótico (LA) medida igual ou maior que 2cm em dois planos per- com menos de 2cm em dois planos perpen-
pendiculares. diculares.
Reatividade da frequência Presença de, pelo menos. duas acelerações transi- Menos que dois episódios de aceleração da
cardíaca fetal tórias da freqüência cardiaca fetal (FCF) de. no mi- FCF ou aceleração menor que 15 bpm em 30
nimo. quinze batimentos por minuto (bpm) e quinze minutos.
segundos de duração, associada a movimentação
t fetal. em um período de trinta minutos. I

192 Noções Práticas de Obstetrícia


INTERPRETAÇÃO Algu ns fatores devem ser considerados concomitante-
mente ao PBF, quando este é utilizado para indicar a conti-
Estudos de validação do método já foram realizados nuação ou a interrupção da gravidez: as condiçõe clínicas
em vá rios centros e demonstraram existi r relação significa- c obstétricas maternas, a existência ou não de malforma-
tiva ent re o valores do perfil e hipóx.ia fetal e risco de morte ções fetais e a maturidade do feto.
perinatal c de paralisia cerebral. Foi demonstrado que na abordagem de fetos prema-
Em estudo de 26.257 casos, dos quais cerca de 50% fo- tu ros com Cl U R (crescimento intrauterino restrito) e
ra m relativos a gestantes de alto risco, observou-se que o peso inferior a 1.000 g, o PBF apresenta alto índice de
valor prcditivo dos quatro parâmetros ultrassonográficos, falso-positivos e negativos, não sendo recomendada
quando normais (PBF 8/8), era equivalente ao perfi l com- sua utilização isolada na ava liação do bem-estar fetal. 10
pleto com cardiotocografia basal, fosse ela rcativa (10/ 10) Q uanto aos possíveis impactos nos parâmetros do perfi l
ou não reativa (8/ 10), indicando bem-estar fetal. 6 Em vir- associados à utilização de tocolíticos c corticoides, foi
tude desses achados, e considerando a redução de custos e salientado que a utilização de nifedipina ou ato iban
tempo referentes à associação dos dois métodos, a cardio- para inibir o trabalho de parto pré-termo não altera de
tocografia basal é incluída no PBF somente quando forem forma significativa os movimentos, o ritmo cardíaco ou
identificado parâmetros anormais.- o fl uxo sa nguíneo fetal, o mesmo ocorrendo com os cor-
Já os valores intermediários, seis ou quatro, sugerem a ticoides.10·11
ocorrência de resposta adaptativa feta l, mas a eficácia dessa Entreta nto, Kelly et a/., 12 avaliando o PBF de 84 fetos
resposta não pode ser definida. A condução des as situa- pré-termo entre 28 e 34 emanas, antes e após a aplicação
ções só pode ·er realizada individualizando-se os casos. É intra muscular de duas doses de betametasona, enfatiza ram
preciso mensura r os riscos intrauteri nos e/ ou neonatais c, redução da pontuação do perfil em 31 (37%) fetos após 48
ta mbém, os riscos maternos na manutenção ou interrup- horas da administração do corticoide. As dua variáveis mais
ção da gestação. Nestes casos, deve-se salientar que a oli- acometidas foram os movimentos respiratórios e a cardioto-
goidramnia acentuada exige e pecial atenção em relação à cografia. Não houve diferenças nos resultados neonatais en-
resolução do parto. tre aqueles que tiveram redução da pontuação do PBF e os
Apesar de todas as variáveis do PBF terem a mesma pon- que não tivera m alteração das variáveis biofísicas.
tuação, sabe-se que o volume de líquido amniótico é o mais O Q!Jadro 12.3 apresenta a conduta diante da pontua-
fiel indicador da vitalidade fetal, vindo, a eguir, pela ordem, a ção do PBF. Entretanto, é importante destacar que o PBF
rcatividade da FCF, o movimentos re piratórios, a movimen- não deve er o único determinante da conduta obstétrica.
tação e o tônu .8 O oligoidràmnio acentuado é diagno ticado Interrupções ou condutas conservadoras devem ser basca-
ao PBF quando o maior dos bolsões de líqu ido for menor que das na análise global das condições maternas c fetais.
2 cm. A utilização do índice de líquido am niótico (I LA) de-
monstrou boa associação com a medida do maior bolsão.9
Apesar de algumas va riáveis do PBF serem observadas MORTALIDADE E
desde o primeiro trimestre, o exa me, normalmente, é rea- MORBIDADE PERINATAIS
lizado a partir de 28 semanas, momento a parti r do qual o
feto tem mais possibilidade de sobrevida extrautcrina.
O PBF está indicado nas gestações de alto risco e deve cr O pri meiro estudo que avaliou a eficácia clínica do PBF
realizado pelo meno emanalmente, desde que as cond1çõcs na prevenção da mortalidade perinatal foi publicado por
maternas se mantenham estáveis. Dependendo das condi- Manning et a/., 13 em 1985. Foram incluídas 12.620 pacien-
ções maternas e fetais, deve-se aumenta r a frequência para tes de alto risco e registrou- e mortalidade pcrinatal total
duas vezes por semana e, em certos casos, até diariamente. de 7,4/ 1.000 nascido vivo . Excluindo- e as mortes por
Pacientes com gestação prolongada (42 ou mais c- anomalias congênitas maiore , a taxa caiu para 1,9/ 1.000
manas) c a diabéticas devem ser acompan hadas mais nascidos vivos. O falso-negativo (morte perinatal com PBF
frequentemente com PBF, tendo em vista a maior probabi- normal, com intervalo de menos de uma semana) foi de
lidade de comprometi mento fetal. 0,6/ L. OOO nascidos vivos.

Perfil Biofísica Fetal 193


Quadro 12.3 1Condutas diante da pontuação do Perfil Biofísica Fetal
p lllltll il ç do lnter pr PtdCdO Condutil r r! r omendaclil

10 Feto normal. baixo risco Repetir avaliação em intervalos semanais


para hipóxia crOnica Repetir duas vezes por semana em pacientes diabéticas I
la Feto normal, baixo risco Repetir avaliação em intervalos semanais 1
para hipóxia crOnica Repetir duas vezes por semana em pacientes diabéticas
Na presença de oligoidramnia. sugere-se avaliar a possibilidade da interrupção da gravidez
6 Suspeita de hipóxia Repetir avaliação em 4 a 6 horas
crOnica Indicada interrupção da gestação se estiver presente oligoidramnia l
4 Suspeita de hipóxia Para gestação maior ou igual a 36 semanas, indica-se o parto
crônica Para gestação inferior a 36 semanas e maturidade fetal não confirmada, repetir a avalia-
ção em 4 a 6 horas: se a nova pontuação for menor ou igual a quatro, indica-se o parto
I

Oe2 FOrte suspeita de Indica-se a resolução do parto para gestações com idade gestacional compatível com a
hipóxia crOnica sobrevida neonatal

No mesmo trabalho foi encontrado índice de natimor- o


1-
7.40
talidade de 1, 18/ 1.000 nascidos vivos. A natimortalidade lt:
<
a.
!--t.
pode ser considerada o melhor índice para avaliara eficácia w 7.35
1-
do PBF, uma vez que não sofre a influência de fatores como z
<
idade gestacional e maturidade fetal. Baskett et a/.14 encon- ...I 7.30
<
o
traram resultados semelhantes, com índice de natimortali-
...I
dade de 0,9S/ I 000 nascidos vivos. a:l 7.25
:E
O risco de morte perinatal aumenta progressivamente :::1

à medida que os resultados do PBF se tornam mais baixos. < 7.20


lt:
Em estudo posterior, Manni ngel a/. 15 demonstraram que o -w
1-
lt:
índice de mortalidade variou de 0,7/ 1.000 nascidos vivos < 7.10
10
para o PBF normal (8/ 10 ou 10/ 10) a 500/ 1.000 nascidos
vivos, quando a pontuação foi zero.
O PBF, quando normal, além de predizer se existe ou
i 7.05 ~L--.,-,w
---rr---,-,-
8 6
--,-,- - - - ,,- - - , , •
4 2 o
não hipóxia do SNC do feto, pode também inferir sobre a PONTUAÇ ÃO DO PERFIL BIO FI SICO FETAL
normalidade do pH nesse tecido fetal. Pela cordocentese,
verificou-se correlação linear di reta entre a pontuação do Figura 12.2 1 Média das medidas do pH fetal, dosado em
PBF e os valores do pH fetal (Figura 12.2). 16 sangue da veia umbilical obtido por cordocentese, compara-
Na análise das taxas de morbidade perinatal, acidem ia da com os valores do PBF15
fetal e paralisia cerebral aos cinco anos de idade, também
foi encontrado padrão progressivo desses índices, seme- PBF E D OPPLERVELOCIMETRIA
lhante aos da mortalidade perinatal, quando comparados
à últi ma pontuação do PBF. A redução da pontuação do Com o aparecimento da dopplervelocimetria na déca-
PBF se associa significativamente ao incremento dessas va- da de 80, houve tendência natural a comparar essa técnica
riávei (Figura 12.3). 8 com o PBF, com o intuito de definir o método mais fiel
para avaliar a vitalidade fetal int raútero.

194 Noções Práticas de Obstetrícia


100 500 mico fct,ll c a deterioração metabólica 1 tendo cm vista 9ue
0 NORB IDADE
...J
• AC IOENIA < as alterações iniciais já prenu nciam, semanas antes, o de-
90 450 D:
D PARA LISI A CERE BRA L
w
ID sequil íbrio ácido-básico que poderá ocorrer. O PBF sozi-
X OBI TO
80 400 D:
w nho não traz essa informação, cxceto nos casos cm que o
u
comprometimento fetal é grave. O rastrcamento simul tâ-
70 350 <
1/)
neo com a dopplcrvelocimetria e o PBF é vantajoso porque
:i
60 300 <
D: as mudanças no líguido amniótico c o decl ínio dos movi-
<
c.. mentos respiratórios, do tônus c dos movimentos fetais po-
% 50 250 w
o dem ocorrer em curtos período , indicando a interrupção
......'?
<
X da gravidez. Assim, somente a combinação dos métodos
40 200
<
1- propedêutico pode auxiliar no acompanhamento e na
w
30 . 150 w
o
condução desse casos.

20
X
A ..

<
100 o
...J
<
A Figu ra 12.4 mostra a combinação do diversos testes
propcdêuticos fetais c o desvio-padrão (DP) do pH arterial
~·/ /
1-
10 50 D: fetal. Esse desvio está graduado de Oa - IOc, quanto maior
i>,,,'' ..··· o
o NORMAL
.::.:.(J..-------{1' o
~ ele for, maior a acidemia feta l. A elevação dos índices do
6 4 2 o dueto venoso associada ao comprometimento da função
PO N TUAÇÃO DO PERFIL B I OF i SI CO FETAL cardíaca l' o parâmetro mais sensível (73,5 a 95%) para pre-
dizer a acidem ia fetal, com significante decréscimo do pH
Figura 12.3 1 Relação entre a última pontuação do PBF e as
t~txas de mortalidade e morbidadc perinat,lis, ,\Cidcmia fetal
da veia umbilical (variando de -2 a -8DP). Percebe-se que a
c paralisia cerebral ao cinco anos de idadc.8 dopplervelocimctria arterial e/ou venosa apresenta as va-
riáveis mais sensíveis para predizer a acidcmi.l fetal. Mes-
mo assim, dependendo do va o insonado, pode-se obter
Baschat et ai.'" publicaram estudo com 236 pacientes resu ltado alterado cm fetos ainda sem acidose, como, por
com crescimento intrautcri no restrito grave c concluíram exemplo, a aorta descendente. Esta, portanto, é uma vari-
que, na maioria dos casos, as alterações do fluxo arterial e ável menos confiável para o diagnóstico de acidem ia fetal.
venoso fetais precederam as alterações do PBF. Associan- Pode-se, .li nda, observar na Figura 12.4 que as va riáveis
do-se a dopplcrvclocimetria seriada ao PBF, obteve-se me- mais sensíveis da dopplervclocimctria são a artéria cere-
lhora na avaliação do comprometimento fetal, o guc per- bral média (ACM), o índice umbilico-ccrcbral (C PR) e
mitiu determinação mais segura do momento ideal para a o dueto venoso (DV). Elas se altera m quando a acidem ia
interrupção dessas gestações. fetal est,1 em torno do -l DP (AC M) ou no -2DP (C PR e
Deve-se ressaltar que, até o momento, a dopplcrvcloci- DV), se estendendo até a acidem ia fetal cm torno de -8DP.
mctria deve ser reservada para gestantes de alto risco, pois É claro que essa larga faixa de alteração torna difícil separar
existem evidencias de gue o uso roti neiro desta técnica cm fetos menos comprometidos (-2DP) daqueles gravemente
gestantes de baixo risco ou em populaçõc~ não ~eleciona­ acidóticos.
das não traz benefícios para mãe e feto. 1 ~ Por sua vez, observa-se ta mbém, na Figura 12.4, gue as
Baschat 19 verificou que o espectro clínico do C IUR é desacelerações da freq uência cardíaca fetal, detectada à
amplo e que a deterioração fetal pode ser m.m ifcstada por card iotocografia computadorizada, apareceram muito tar-
meio de comportamento biofísica anormal, disfunção cen- diamente (-JDP), guando o feto já estava bastante compro-
tral da função cardiorrespiratória, alterações no tônus vas- metido c, provavelmente, já con1 sequelas devido à hipoxe-
cular e disfunção cardiovascular. Cada uma dessas va riAveis mia e acidose. O mesmo ocorreu com as duas va riáveis do
tem relação independente com o estado met.lbólico fetal. PBF ll llC mais precocemente apa recem, o tônus muscular
A dopplcrvelocimetria tem sido o instrumento que c os movimentos fetais. Oltando deixa m de ser observadas,
melhor interpreta a associação entre o estado hcmodind- já existe grave acidem ia fetal (-5 DP). 19

Perfil Biofísico Fetal 195


Análise Variáveis
biofísicas Dopplervelocimetria
da FCF
o
e @ @
~
AT- Aceleração transitória

\1~
-2 FCF- FreqUência cardíaca fera!

i
"'!!
-4

-~
Q)
o
I~
c;
...
~
ti
(.J
q II
NST - Teste de ocicocina
cCTG - Cardiografia compucadorizada
AFV - Volume de líquido amniórico
FBM- Movimenros respiratórios fecais
FGM - Movimentos corpóreos do fero
Tone- Tônus fecal
AEDV- Diáscole-zero
~
<I)
~
TAO -Aorta torácica
-8 ti ~ ~~
o ~ DAO - Aorta descendente
MCA - Artéria cerebral média
CPR- fndice umbilico-cerebral
- 10
t" ~ ~
~ . o
DV - Dueto venoso

~ }i ~ ; o
~ êi ~ ~ i!i

Figura 12.4 1Diagrama representando a diferença entre o pH normal e anormal (t.ph), na gua l cada teste se mostra alterado1$ .

CONCLUSÃO mente, permanece bem oxigenado, ma ntendo as vari áve is


do PBF dentro da normalidade. Todavia, isso não significa
Passados 30 anos da descrição original do PBF nos ausência de h ipóxia fetal. É necessá ria a avaliação comple-
moldes gue Manning o criou, o método conti nua sendo menta r pela dopplervelocimetria para afastar o processo
importante na avaliação da vital idade fetal intrauterina, de centralização de fluxo sa nguíneo feta l.
após a segunda metade da gestação. Sua fidelidade, pratici- O PBF reconhece os padrões de com porta mento fetal c
dade e simplicidade para a identificação de fetos em situa- sua relação com o estado fetal. Ele proporciona precisão na
ção de risco são altas, sendo, por isso, amplamente uti liza- ava liação fetal e orientação adequada no t ratamento, per-
do e m todo o mundo. m it indo, muita · vezes, que a gravidez continue com baixo
Entreta nto, revisão da Cochrar1e Library na qual fora m risco de perda fetal guando seu escore está normal. Devido
incluídas 2.839 gestantes não demonstrou melhora signi- à sua si mpl icidade de aplicação, o PBF deve ser uti lizado
ficativa nos resultados perinatais com o uso do PBF como rotineiramente para a vigilância do feto de alto risco.2 1
método de rastreamento da vitalidade fetaJ IO Esse resul- A associação dos métodos propedêuticas é indispensável
tado, portanto, não valida o método como evidência de para a correta ava liação do feto, proporcionando informação
avaliação antepa rto fetal. Isso não significa gue ele deva ser ma is segura para estabelecer-se a conduta a ser aplicada.
abandonado. Sabe-se que existem publicações que inclu-
íram dezenas de milhares de recém-nascidos e compara-
ram os resultados do PBF com os perinatais, mos trando a REFERÊNCIAS
redução da morbidade e mortalidade perinatais. Contudo,
I. Manning FA, Platt LO, Sipos L. Antcpartum fetal cvaluation:
essas publicações não fo ram consideradas na revisão da
thc dcvelopment of a fct.ll biophysical profile scorc. Am J
Cochrane) por deficiência metodológica, principalmente Obstet Gynecol. 1980; 136:787-95.
por não ter ocorrido ra ndomização entre as pacientes. 2. ageotte MP, Towers CV, Asrat 1~ Freemark RK. Pcrinatal
Como a revisão da Cochrar·re também não mostrou efei- outcomc with the modificd biophysical profi le. Am J Obstcl
to deletério sobre os recém-nascidos com a utilização do Gynccol.l994; 170: 1672-6.
PBF para definir condutas, deve-se continuar utiliza ndo-o 3. Vintzileos AM, Gaffrcy SE, Salingcr LM, Ca mpbel l WA,
Nochimson DJ. The relationship bctween fetal biophysica l
com as devidas restrições do próprio método. É prudente
profilc and cord pH in patients undergoing cesare,m scction
lembrar gue o córtex cerebral é u ma das regiões protegidas befo re thc onset oflabor. Obstcl Gynccol. 1987;70: 196-20 I.
pela redistribuição do fluxo sanguíneo fetal e, temperaria-

196 Noções Práticas de Obstetrícia


4. Nochimson DJ, TurbevilleJS, Terry JE, Petrie RH, Lundy 14. Baskett TF, AllanAC, Gray JH, Young DC, Young LM. fe-
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Gynecol. l98S; l SI :343-50.

Per~l Biofísica Fetal 197


Doppler
Henrique Vitor Leite
Gabriel Costa Ozanan

Tipos de Doppler Aplicações em Obstetrícia


Doppler Pulsátil Dopplervelocimetria M aterna
Doppler Contínuo Dopplervelocimet ria Arterial Fetal
Doppler Colo rido D o pple r Venoso Fetal
Power-doppler
Índices Dopplervelocimétricos
Relação Sístole/ Diástole
Índice de Pulsatilidade
índice de R esistência
Índice de Pulsatilidade para Veias

O bstet rícia vem, ao longo dos últimos anos, se manifesta m. Isto é típico nos quadros de insuficiência

A apresenta ndo acentuada melhora na assistên-


cia, com o desenvolvimento de métodos prope-
dêuticas de baixo custo, mais aplicabilidade clínica, além
placentária em que a ultrassonografia só consegue realizar
o diagnóstico quando o feto apresenta peso abai xo do per-
centil lO, alteração na relação entre a circu n ferência cefálica
da possibi lidade de propiciar melhor conheci mento dos c a circun fe rência abdom inal ou mesmo quando o volu me
aspectos fi siológicos da saúde fetal. Porém, ainda persiste de líqu ido amn iótico se encontra diminuído.
elevada taxa de mortalidade perinatal, secundá ria a sofri- A partir de 1977, com os estudos de Fitzgerald e Drumm,
mento crónico e ane m ia fetal. O desenvolvimento de mé- incorporou-se à propedêutica obstétrica a ava liação do fluxo
todos de d iagnóstico precoce é, sem dúvid.1, marcante na sa nguíneo através da dopplervelocimetria, fato ma rca nte,
identificação de fetos acometidos, o que pode não apenas por possibilita r o exa me não invasivo dos vasos uteri nos,
reduzir a mortalidade, mas também a morbidade pcrinatal. placentários e da circulação fetal.'
O advento da ultrassonografia possibilitou mel hor As pesqu isas realizadas a parti r de e ntão, com esse m é-
compreensão de muitas das alterações fetais hoje conheci- todo propedêutico, têm demonstrado que, em algumas
das. Se, por um lado, o ultrassom pode realizar diagnóstico situações, o mesmo deve fazer parte da roti na, podendo
precoce, como ocorre nos casos de anomalias fetais graves, ser determ inante na defin ição da conduta obstétrica a ser
em outro pode ser tardio quando as lesões sobre o feto já assum ida.
Praticamente todos os principais va os fetais pa aram POWER-DOPPLER
a ser e tudado , endo que a de crição de curvas de nor-
malidade dos diversos vasos possibilitou melhor conheci- É técnica que possibilita a identificação de va os de
mento e comparação das situações fisiológicas c patológi- pequeno calibre. Em algumas situaçõe específicas pode
ca . Um outro aspecto importante foi o desenvolvi mento apre entar significativo valor clínico. Citam-se os ca os de
de equipamentos com mel hor tecnologia, que têm pos- suspeita de sequestro loba r, em que com esse dispositivo é
sibilitado o estudo de vasos cada vez menores, levando à possível a visualização do vaso anômalo.
melhor compreensão da hemodinâmica fetal.

ÍNDICES DOPPLERVELOCIMÉTRICOS
TIPO S DE DOPPLER
Ao se avaliar o fluxo de um va o s:mguíneo, o ideal seria
Existem de critos na literatura quatro tipo de dop- sua medida quantitativa. Porém, exi te muita dificuldade
pler possíveis de serem utilizados no estudo da paciente para medires e volu me de fluxo, devido ao erro que ocorre
ob tétrica. quando da determinação da medida transversal do vaso es-
tudado c o ângulo de insonação adequada. Isto podere ui-
tar em erro superior a I 0% na estimativa do fluxo sanguíneo
DOPPLER PULSÁTIL em um determinado vaso, tornando inaceitável sua utiliza-
ção clínica.
i: dotado de apenas um cristal, que tem como finalidade Para evitar essas dificu ldades técnicas, foram desen-
emitir e captar as ondas. Está emprc acoplado a um apare- volvidos índices indi rctos de fl uxo, que apresentam pouca
lho de ultrassom, sendo que o vaso avaliado pode ser obser- ma rgem de erro. Esses índices possibilitam a determinação
vado durante o exame. Vem sendo a técnica mais utilizada qualitativa do fluxo, por meio da análise de fluxograma, que
na avaliação ob tétrica, por seus resultados erem ma i segu- reprc enta a velocidade máxima e a mín ima das hemácias
ros, poi ova o a cr avaliado é con tantemente observado. nova o, permitindo análise indireta da impedância de flu-
xo cm determ inado comparti mento vascular. ão descritas
a relação A/ B (sístole/ diástole), o índice de rc istência (I R),
DOPPLER CONTÍNUO o índice de pulsatilidade (IP), índice de pul atilidade para
veia (I PV), índice de pré-carga (relação CA/ SV), relação
Di põe de doi cristais, sendo que um emite e o outro sístole ventricular / contração atrial (SV/ CA) c o índice do
capta a onda rcfletida. Os primeiros estudos de doppler- pico de velocidade para veias (IPVV). Estes quatro últi mos
vclocimetria cm Obstetrícia utilizaram este equipamento, índices são utilizados para o estudo dopplcrvclocimétrico
que não está sendo mais empregado cm nos a especial ida- do compartimento venoso. A maioria dos equipamentos
de, pelas suas lim itações de aplicação, já que, atualmcntc, modernos faz o cálculo automático desses índices.
com va os menores sendo insonados, torna-se difícil sua
identificação com esse tipo de doppler.
RELAÇÃO SÍSTOLE/ DIÁSTOLE

DOPPLER COLORIDO É, sem dú vida, o mais simples, sendo uti lizado para ava-
liação das artérias uterinas materna c da artéria umbilical.
Possibilita o mapea mento colorido dos vasos, mesmo Nos outros vasos fetais não apresenta muita utilidade, não
aqueles de menor calibre, com isto fà.cilitando muito a re- sendo usado. É calculado dividi ndo-se a medida da sístole
alização dos exames. Outra vantagem da técnica está na ( ou A) por aquela obtida na diástole (D ou B). Seu uso
determinação do cntido do fluxo, já que o vermelho de- está impossibilitado nos casos cm que ocorre ausência de
monstra o que se aprox ima do transdutor e o azul. aquele fl uxo diastólico final (diástolc zero ou reversa), pri ncipal-
quc se a f.1sta. mente nas artérias umbilicais.

200 Noções Práticas de Obstetrícia


ÍNDICE DE PULSATILIDADE DOPPLERVELOCIMETRIA MATERNA

Seu uso vem sendo am pliado, sendo que os novos apa- O estudo de vasos maternos tem-se mostrado útil em
relhos realiza m seu cálculo automaticamente, o que muito Obstetrícia, na aval iação da placentação e no rastrea mento
facilita seu emprego. É util izado no estudo de todos os va- da pré-eclâ mpsia. Destaca-se, pa ra esse fim, a análise das
sos da ci rculação fetal. Apresenta como grande vantagem artérias uterinas e oftálmicas.
sobre os demais índices a possibilidade de se qu antifica r a
resistência de flu xo em determinado vaso, mesmo nas situ-
ações em que ocorre a ausência de flu xo diastólico final ou ARTÉR IAS UTERJNAS
fl uxo reverso. O índice de pulsatilidade é obtido utiliza n-
do-se a fórm ula: Na ava liação da circu lação m aterna, têm sido de mui-
ta importância os estudos com o doppler das artérias
Sístole (A)- Diástole (B) uterinas. A maior porção da perfusão uterina é realizada
Velocidade Média pelas a rtérias uterinas, o rigi nadas das artérias ilíacas que
perfun de m a pelve. D urante a gestação, ocorre mudança
de um vaso de alta resistência e baixo volum e para um
ÍNDICE DE RESISTÊNCIA vaso de baixa resistência e alto volum e de sangue. Essas
alterações são responsáveis pela adequada perfusão do
Ta mbém denominado índ ice de Pourcelot, é mais espaço interviloso, através das artérias espiraladas, o que
amplamente util izado nas artérias uterinas e umbilicais, proporcion a cresci mento embrionário e fe tal adeq uados.
sendo mais baixo o seu va lor quando presentes baixos va- A avaliação desse vaso tem como objetivo o estudo do flu-
lores diastólicos e nos outros vasos fetais. É calculado pela xo materno q ue nutre a placenta. Possibilita a detecção de
diferença entre a sístole e a d iástole, dividido p ela sístole u m grupo de pacientes com risco de desenvolvimento de
([5-D/S].). pré-eclâmpsia, além de auxi Iia r no diagnóst ico da insufici-
ê ncia placentária. 2
Após a determinação da localização da placenta, de-
ÍNDICE DE PULSATILIDADE PARA VEIAS vem -se insonar ambas as artérias uteri nas, sendo q ue ma ior
valor é dado quando o vaso alterado é a artéria placentária,
É semel hante ao utilizado nas artérias, exceto pelo fato nos casos de placenta lateral. O exame deve ser real izado
de também se incluir o componente reverso dos vasos após 22 semanas de gestação. A interpretação é realizada
qua ndo o mesmo se encontra presente. O s aparelhos mo- de três maneiras:
dernos fazem automaticamente sua medida. Este índice, presença de incisura protodiastólica: a persistência da
assim com o o lPVV e o índice de pré-carga, são util izados incisura na artéria uterina placentária, ou a sua per-
no estudo do dopp ler venoso. sistência em ambas as artérias uterinas, após 26 se-
manas de gestação apresenta for te associação com
o desenvolvim ento da pré-eclâmpsia e o crescimen-
APLICAÇÕES EM ÜBSTETRÍCIA to intrauteri no restrito. A p ersistência da incisura
diastólica na a rtéria uterina placentária tem sido
Com a melhora dos equipa mentos e a ampliação dos considerada o mel hor pa râmetro para aval iação
estudos, observa-se aumento crescente no número de apli- dopplervelocimétrica da placentação inadequadaj
cações dos exa mes de dopplervelocimetria na prática obsté- relação A/ 8 na artéria uterina placentária: o cálcu lo
trica. Pode-se citar como os mais frequentes o rastreamento da relação entre a sístole (A) e a diástole (B) abaixo
da pré-eclâmpsia, fetos com risco de apresentar sofrimento de 2,6, a parti r de 26 semanas, é considerado nor-
crónico (CIUR), suspeita de anemia fetal, gravidez pós-ter- ma l. Valor igua l ou acima de 2,6 sugere placenta-
mo, gemelaridade e hidropisia fetal não imunitária. ção insuficiente.

Doppler 201
Índice de pulsatilidade acima de 1,63 entre 22 e 24 Os estudos têm demonstrado que na pré-eclãmpsia
semanas apresenta sensibilidade de 69% e especifi- existe aumento do fluxo sanguíneo orbital, com queda na
cidade de 95)%na predição da pré-eclãmpsia. resistência na artéria oftálmica, que parece ser tanto maior
quanto mais grave a doença.3 Também foi demonstrado
As Figuras 13.1 e 13.2 apresentam, respectiva mente, que o índice de pulsatilidade da AO é mais alto nos gru-
sonograma normal c alterado das artérias uterinas. pos de gestantes com distú rbios hjpertensivos na gestação
quando comparadas com o grupo de gestantes normoten-
sas.4 Assim, o índice de resistência sendo baixo na artéria
oftálmica (IR<0,6S), é sugestivo de pré-eclãmpsia grave.5

DOPPLERVELOCIMETRIA
ARTERIAL FETAL

Após os estudos iniciais com a técnica de dopplerve-


locimetria, abriu-se importante perspectiva de avaliação
Figura 13.1 I Sonograma de artéria uterina normal. da circulação fetal em diversas situações cl ínicas. Pode-se
dividir, para melhor compreensão, o estudo da dopplerve-
locimctria feta l em arterial e venosa. Várias são as artérias
fetais estudadas: umbilicais, cerebral média, pulmonares,
renal, aorta torácica, esplênica, mesentérica. Do ponto de
vista da circulação venosa, destaca-se a avaliação da veia
umbilical, dueto venoso e veia cava inferior.

ARTÉR I A UMRILICAL

O estudo da circulação fetal pela dopplervelocimetria


foi, in icialmente, realizado nas artérias umbilicais, pela
faci lidade na obtenção dos traçados e por apresentar im-
portantes informações quanto à perfusão da unidade feto-
Figura 13.21 Sonograma de artéria uterina alterada com placentária.
persistência de incisura protodiastólica. (Setas) Para que ocorra boa oxigenação e nutrição fetal, faz-se
necessária circulação placentária adequada, que possibilite as
trocas gasosas e o aperte de nutrientes para o concepto. Para
ARTÉR I A OFTÁLMI CA estudar as trocas que ocorrem na placenta, foram realizados,
nas décadas de 80 e 90, inúmeros estudos baseados no princí-
Uma das situações clínicas que ainda apresenta m pio de que a resistência do flu xo nas artérias umbilicais reflete
acentuada dificuldade no diagnóstico diferencial são os a dificuldade do sangue em atingir os vasos placentários.
quad ros h ipertensivos na gestação, quando se busca afastar O fluxo nas artérias umbilicais apresenta progressivo
ou mesmo confirmar a possibil idade de pré-eclãmpsia. O aumento com o evoluir da gestação, devido às alterações no
doppler de artéria oftálmica (AO) tem sido proposto como leito placentário, desencadeadas pelo aumento no número e
método auxiliar no diagnóstico diferencial dessas intercor- calibre dos vasos terciários e pelo maior volume sanguíneo
rências e mesmo na determinação da gravidade dos casos, fetal. Isso pode ser identificado na avaliação dopplerveloci-
auxiliando na determinação do momento de interrupção métrica, pela queda progressiva da resistência do flu xo nas
da gravidez. artérias umbilicais 6

202 Noções Práticas de Obstetrícia


Ao estudarmos o Auxo nas artéria umbilicais, no pri- enterocolite necroti2ante, hemorragia intraventricular e in-
meiro trimestre, encontramos vaso de alta resistência, iden- suficiência respi ratória grave.- ão me no importantc,é a as-
tificado pela ausência de fluxo diastólico até a IS• semana sociação da diástole zero às ancuploidias fetais. emprc que
de gestação. Posteriormente, ocorre progressiva alteração na se encontrarem fetos com diástole ze ro, com C IU R simétri-
circulação feto-placentária, que vai ser visuaHzada na dop- co e líqu ido am niótico de volume normal, deve-se avaliar a
plervelocimetria por redução da resistência, tornando cada possibiIidade de alguma a Iteração cromossómica.
vez maior o fluxo diastólico. A dim in uição da viscosidade Vá rios autores correlacionaram os achados da doppler-
sanguínea, o desenvolvimento rápido da rede vascular vilo- velocimetria de artérias umbilica is com o número e o cali-
sitária, com abertura de arteríolas, e a expansão do espaço bre dos vasos placentá rios.~·9 Trudinger~ demonstrou que
intervilo o ão o ma iore re pensáveis por esse efeito. qua ndo o doppler de artéria umbilical se encontra alterado,
O que e pas a a ob ervar, principalmente na segunda reflete comprometimento de 50% das vilosidades terciárias
metade da gc tação normal, é um fluxo diastólico elevado, e, nas situações de ausência de fluxo diastólico, comprom!>
demonstrando perfu ão placentária satisfatória (Figura l3.3). timento de 90% dos vasos terciários.
Várias doenças maternas, como aquelas que cursam com
vasculopatia, como estados hipertensivos e diabetes, entre
outras, podem influenciar, negativamente, na formação da rede
vascular. Isso impede a adequada perfusão fetal que pode ser
identificada na dopplervelocimetria da artéria umbilical. Nes-
sas ituações, progressivamente encontra-se aumento da resis-
tência, identificado no doppler da artéria umbilical pela dimi-
nuição do fluxo diastólico. Outra situação em que é frequente a
alteração placentária são as doenças cromo sómica fetais.

Figu ra 13.4A I Doppler de artéria umbilical alterado. Au ên-


cia de fluxo diastólico final (diástole zero).

Figura 13.3 I Doppler de artéria umbilical normal.

Com o agravamento das lesões vasculares, pode-se atin-


gir ausência de fluxo ao final da diástole, também denomi-
nada diá tole zero (Figura 13.4A) - quadro de alteração de
Figura 13.4B I Doppler de artéria um bilical alterado. Fluxo
fluxo de extrema gravidade c que se associa a elevada mor-
reverso ao final da diástole.
bidade e mortalidade perinatal. Mantendo a hipóxia fetal e a
restrição das trocas, o feto pode evoluir com descompensa- Essas alterações vasculares são as respons3veis pela
ção cardíaca, detectada à dopplcrvelocimetria como um flu- restrição do crescimento intrauterino, sendo a hipóxia fetal
xo diastólico reverso (Figura l3.4B). Os feto com diástole consequência e não o fator desencadeante das alterações
zero e fluxo reverso apresentam mortalidade superior a 50%, hemodinâmicas. Trata-se, portanto, de situação clínica de
além de outra complicaçõe. perinatais importante como difícil controle, por refletir lesão vascular.

Doppler 203
Acorrelação entreos achados de hipóxia eacidem ia em situação clínica que antecede, em pouco, a falência circu-
sangue de cordão com as alterações no doppler de artéria latória e óbito fetal. 6
umbilical e CIUR é bem documentada, devendo toda in-
terpretação clínica levar isto em consideração. 10 •11

ARTÉR I A CEREBRAL MÉDI A

Vários são os vasos cerebrais que podem ser estudados


pela técnica doppler, porém a artéria cerebral média vem
merecendo mais interesse. A sua localização anatômica
facilita a insonação, mesmo quando não se dispõe do do-
ppler colorido 6
A artéria cerebral média normal apresenta Auxo de alta Figura l3.SB I Sonograma de artéria cerebral média alterada.
resistência (Figura 13.SA).
A introdução do uso do pico da velocidade sistólica da
artéria cerebral média (PVS-ACM) na propedêutica não
invasiva da anemia fetal modificou o acompanhamento das
gestações complicadas pela aloimunização materna. 12•13 Vá-
rios autores têm preconizado a utilização da medida do PVS
da ACM na propedêutica de conceptos cm risco de anemia,
reduzindo em mais de 50% a necessidade de procedimen-
tos invasivos propedêuticos. 12 14 O aumento do PVS-ACM
parece estar relacionado à queda da hemoglobina c seus
mecanismos hemodinâmicos compensatórios, estado hiper-
dinâmico, como também a alterações gasométricas do feto
Figura 13.SA I Sonograma de artéria cerebral média normaL hipóxico, principalmente o au mento da pC0/ 5 Os fetos anê-
micos apresentam queda na viscosidade sangu(nea, levando
Várias são as indicações para o estudo dopplerveloci- a estado hiperdinâmico e, consequentemente, aumentando o
métrico da artéria cerebral média, sendo que, seguramente, PVS-ACM.' 6 O feto é considerado de risco para anemia mo-
podem-se ressaltar duas situações em que esse exame tem derada a grave quando o valor do PVS-ACM é<-. 1,5 múltiplo
se sobressaído: no estudo dos fetos submetidos à hipóxia, da mediana (MoM) para determinada idade gestacional. 16 A
quando se observa vasodilatação cerebral, e nos casos de medida do PVS-ACM tem se mostrado fidedigna também na
fetos com anemia. avaliação da anemia fetal, inclusive de causa não imunitáriau
Nos casos de fetos de gestantes com doença vascular, a Deve-se, entretanto, ter cautela no uso da artéria cere-
redução da perfusão placentária determina a diminuição bral média após 35 sema nas c após transfu sões sucessivas,
progressiva das trocas no leito placentário. A hipóxia fetal uma vez que os estudos mostram queda na sua acurácia. 13
desencadeia modificações na circulação fetal, como vaso- O valor do PVS-ACM também tem sido avaliado nos
dilatação na artéria cerebral média (Figura 13.SB). Esse casos de hemorragia feto-materna, alfa-talassemia fetal,
mecanismo tem a finalidade de proteger o sistema nervoso crescimento intrauterino restrito e na transfusão feto-feta l,
central contra hipóxia e acidose. Porém, se a hipóxia per- demonstrando-se significativo potencial de utilização do
siste por longo período, ocorre acú mulo de ácido lático, método nessas situações. 11
que provoca alteração na permeabilidade da membrana
celular, aumento da pressão osmótica intracelular, edema ESTU DO DA CLNTRAI./7.AÇÃO 1>1: FLUXO FFTAL
e morte celular. Com isso, a artéria cerebral média passa A partir dos estudos em animais de experimentação e
a apresentar au mento na resistência vascular. Essa é urna que puderam ser comprovados em fetos hu ma nos, pode-

204 Noções Práticas de Obstetricia


se observar que, diante da redução do número c do calibre nâmica fetal. Por representar mais de 50%do débito cardí-
dos vaso placentários, ocorre dim inuição progressiva das aco, reflete grande parte do fluxo fetal c, diante do processo
trocas gasosas entre a gestante e o feto, além da redução da de centr:~lização de fluxo, pode-se observar modificações
oferta de nutrientes. Esse tàto desencadeia diminuição da importantes, principalmente no seu componente diastóli-
p02 e elevação da co2 no feto, ocasionando acidose respi- co. Outras situações clínicas estudadas com o doppler de
ratória. Mantendo o processo de hipóxia, pode associar-se à aorta torácica são as arritmias cardíacas, algu mas anoma-
acidose metabólica. O quadro progressivo dessas alterações lias cardíacas e os quadros de anemia fetal.
desencadeia restrição no crescimento fetal e diminuição da A aorta deve ser insonada logo aci ma do dueto venoso e
diurese, o que provoca redução do volume de líquido amni- do diafragma. Évaso de difícil avaliação, já que a posição inso-
ótico. Todas essas alterações pioram o prognóstico fetai. 11 •1- nada pode influir nos seus resultados. Qu:~nto mais próximo
0 feto apre ·enta mecanismos de compensação que do coração, mai intensas serão as interferências. O e tudo
buscam ma nter a vida intrauterina. Essas modificações he- \risa a avaliar a velocidade média de fluxo e pode ser realizado
modinâmicas feta is incluem au mento na capacidade de ex- nos casos de fetos com restrição do cresci mcnto secundário à
tração do oxigénio pelos tecidos, aumento do volu me san- insuficiência placentária ou nos casos de anemia fetal.
guíneo na circulação venosa e redistri buição do sangue na Nos fetos com risco de anemia, o estudo do dopplcr de
circulação arterial. As modificações na circulação fetal são aorta torácica descendente tem demonstrado sign ificati-
observadas por aumento de flu xo na artéria cerebral média, va associação da velocidade média com o grau de anemia.
artérias coronarianas c suprarrenais. Por outro lado, ocorre lsso ocorre, provavelmente, devido ao aumento do fluxo
redução do fluxo nos vasos que nutrem órgãos considera- secundário ao débito cardíaco fetal aumentado. Nos casos
dos meno importantes para a sobrevida intraútero, como gravemente .111êmicos, ocorre redução da velocidade média,
as artérias renais, mcscntéricas, pulmonares, entre outras. 11 provavelmente secundá ria à insuficiência cardíaca que esses
O mecanismo de alteração na ci rculação fetal, prova- fetos cxibem. 1s
velmente, está relacionado com a produção dos peptídeos Encontra mos, em nosso serviço, correlação negati va
vasoativos (peptídeo natriu rético atrial, pcptídco natriu- entre a velocidade média de doppler da aortJ torácica des-
rético cerebral c do óxido nítrico). Estudos experi mentais cendente e o nível de hemoglobina em um grupo de fetos
têm conseguido correlacionar o nível de produção desses de gestantes isoimunizadas, demonstrando que este é um
peptídeos com as modificações na circulação fetal. bom método de avaliação desses ca os.19
O doppler tem a capacidade de identificar essas alterações Tem sido proposto o uso da velocidade média da aorta
de fluxo, ou seja, a elevação do fluxo para a área cerebral em torácica descendente (V M- Ao) associada ao PVS-ACM
associação com a redução do fluxo em áreas periféricas do na investigação da anemia fetal. Peres et ai. encontraram
concepto, mecanismo denominado centralização de fluxo. acurácia de 98,6% na pred ição da anemia fetal quando as-
O estudo dopplervelocimétrico para detecção do pro- sociou esses dois parâmetros dopplerfluxométricos. 20
cesso de centralização é realizado a partir da insonação das Nos casos de fetos com hipóxia crônica, o ach:~do de au-
artérias ccrcbr,\1média c umbilical do conccpto. Realizam-se sência de flu xo diastólico na aorta torácica implica prognóstico
o cálculo do índice de pulsatilidadc (I P) em ambos os vasos pcrinatal de favorável.21 Isto aconteceria devido ao fenômeno
e faz-se o dlculo da relação umbilical/cerebral média. Os de centralização de fluxo, que provoca gr:~ve vasoconstrição
valores normais devem situar-se abaixo de 1,0. as situações na aorta abdominal, artéria mesentérica e demais órgãos. Al-
cm que se encontrou relação umbilico/cerebral acima de um, guns :~utores têm optado por avaliar não a medida i olada do
configurando a centralização de fluxo, estavam presentes doppler da artéria torácica, mas, sim, a suJ relação, eja com a
com muita frcqucncia hipóxja e acidosc no sangue fctal. 1 1.~' carótida comum ou mesmo com a artéria cerebral médi:~n

AORTA TORÁCI CA ARTÉR I A RH AL

A aort:~ tod cica :~presenta algumas características que O desenvolvimento dos novos equipamentos de ul-
a tornam vaso de muita importância no estudo da hemodi- trassom com doppler colorido propiciou mu ita facil idade

Doppler 205
na avaliação dopplerveloci métrica das artérias renais. A A RTÉRIA P ULMO AR
inve tigação da artéria renal pode er feita através de corte
longitudinal na altura das lojas renais, em que se visual iza A artérias pulmonares do feto apresentam pulsatilida-
a artéria renal, ramo da aorta abdominal. Em situações de de ao doppler dependente do grau de resistência vascular
normalidade, tem-se relatado aumento da perfu são renal do parênquima pulmona r. Com o cre cimento do pul-
com o avanço da ge tação. A avaliação do fluxo nas arté- mõe , há ma i formação va cu lar, que é evidenciada como
rias rena i tem sido utilizada em duas situações clínicas: n,\ queda progressiva do índice de pulsatilidade das artérias
insuficiência placentária c na avaJi.lção da função renal, em pulmonares. Nas ituações clínicas em que o desenvol-
fetos com anomalia renal. vi mento pulmonar se encontra comprometido, deve-se
o ca os de feto com su peita de crc cimento intrau- esperar alteração também na formaç.ão va cular do órgão,
terino restrito ccundário à hipóxia, pode-se observar antes fato este que se verifica nos quadros de hipoplasia pulmo-
do aparecimento do oligodrâmnio alteração na perfusão nar, independentemente da etiologia.26
renal, ou seja, ocorre diminu ição do indice de pulsatilidade As artérias pul monares devem ser insonadas na altura
das artérias renais. Es a diminuição do índice de pul atili- da vi ão da quatro câmara card íacas, que ão faciJmente
dade na artéria renal pode anteceder muito a redução do localizadas. Deve-se medir a pulsatilidade dos dois vasos,
líquido amniótico. sendo os resul tados comparado com curvas de normali-
Outra situação cm guc se pode uti liz.~r o doppler de ar- dade. Valores são considerados alterados quando abaixo
téria renal é nos caso de diagnósti o diferencial de redução de doi de vias-padrão. Tem-se encontrado correlação
de líquido amniótico devido ao pó -dati mo ou à insuficiên- positiva entre os achados do doppler de artéria pulmona r
cia placentária. No grupo de pós-d,\tismo, o IP das artéria c a hipoplasia pulmonar em casos de hérn ia diafragmática
renais se mantém dentro dos nívci normais, enquanto na- congênita, oligoidrâmnio secundário à anomalia renal fe-
queles com in uficiência placentária se apresenta alterado. 21 tal e algun ca os de derrame pleural.26

ARll RIA [SPLÊ ICA DOPPLER VENOSO FETAL

A im como outros vasos de menor calibre, a artéria O sistema venoso feta l tem mu ita importância na so-
esplênica também passou a ser passível de estudo com os brevivência intrauteri na, uma vez que o oxigên io, essencial
novo equipamento de ultra om e doppler. para a manutenção da vida fetal, retorna ao coração atr,wés
Os estudos da artéri:-t esplênica podem ser realizados da veia umbilical, da veia cava inferior e do dueto veno o. O
com relativa fac iIidade pelo doppler colorido, sendo e te va o fluxo venoso fetal ve m sendo amplamente estudado desde
insonado atrás do estômago, no interior do hilo esplênico. 1980. Inicialmente, foram anal isados fetos norma is com o
O estudos têm demonstrado que, nos caso de fetos intu ito de compreender a alteraçõe fi iológica ; poste-
com restrição de crc cimento devido à hipóxia, verifica-se riormente, foram desenvolvidos estudos nas situações de
di minuição da rc istência ao fluxo neste vaso. O autores hipóx ia, doenças cardíaca e anemia feta l. 27·29
acreditam que essas modificações seriam secundárias aos A pulsati lidade no sistema venoso espelha as alterações
nívei aumentado de eritropoetina, desencadeada pela hi- na diferença de pre são entre o vent rículo direito - leva ndo
póxia fctal. 24 o aumento de flu xo em direção retrógrada para o sistema
A dopplervelocimetria da artéria esplênica também veno o - e o átrio direito, durante o ciclo cardíaco. o caso
tem sido utilizada na avaliação da anemia feta l. Bahado do dueto venoso também existe contribuição adicional da
ing, uti liza ndo o pico da velocidade si tólica da artéria pre são no átrio esquerdo durante a sístole.
e plênica {PVS-ESP), encontrou 80% de sensibilidade e O estudo do compartimento veno o, por meio do dop-
I 2,5% de f.1 l ·o-po itivo usando valor de referência ~ l.S pler, tem-se demonstrado importante método de avaliação
MoM. ão se encontrou risco de anem ia grave quando da hemodinâmica cardíaca, dos mecan ismos de adaptaçáo
o valor do PVS-E P estava abaixo da média para a idade circu latória diante de hipóxia crônica, na cardiopatia con-
ge tacional. 2 ' gênitas, arritmias cardíacas, hidropisia fetal não imunitária

20 6 Noções Práticas de Obstetrícia


e, principalmente, no~ ca~o de anemia fetal, independente- para a Cl e redução da velocidade de flu xo, provavelmen-
mente da etiologia. Para abordar-se adequada mente o siste- te secundária a retorno veno o insuficiente. A alterações
ma vcno o, devem er estudada a veia umbilical, a veia cava no retorno veno o e no enchimento ventricular podem
inferior (VC I) c o dueto venoso. originar aumento diastólico final, resultando em elevação
A veia tm1bilical apre cnta- e, apó o primeiro trime tre, no percentual de fluxo rever o na fa e de contração atrial
como onda de fluxo contínuo, cndo que o padrão pul átil na V ' 1, que pode se prop:1gar em direção ao DV, c:lllsan-
na me ·ma reflete comprometimento da função cardíaca, do perda ou reversão no fluxo dia tólico final na fa ·e de
esta ndo as ociado à in uficiência cardíaca conge tiva e au- contra ão atrial. J c ta fase, pode surgi r pulsatilidade na
mento da mortalidade pcrinatal (Figura 13 6). Fetos com veia umbilical, sugerindo insuficiência cardíaca conge ti-
diástolc zero na artéria umbilical c pul atilidade na veia va. E c achado ão de crito cm fetos com cres imento
umbilical apresentam mortalidade seis vezes mais quando int rautcrino restrito grave associado à hipóxia, transfusão
compar.1dos aos fetos com diá tole zero, cm pu! atilidade feto-fetal, taquia rritmias, anomalia cardíacas congênita ,
na vc1.1 umbilical. A pul~a ão na veia umbilical está, prova- hemoglobinop.ltr.l c hipóxia secundária à .1ncmi.l. 1l.ll
vcl mcnlc, relacionada ao Ju mento da press3o ventri ubr ou
mesmo à diminu iç3o d.1 complacência ventricular. \O

Figura 13.7 1 onogramJ. normal do dueto venoso.

A onda de velocidade de fluxo (OVF) na veia cava in-


Figura 13.61 Sonograma da veia um bilical pulsátil. ferior normal apresenta p:1drão tríf~s ico com trê · picos
di tinto de velocidade, que exibe sincronia com o ciclo
O dueto venoso (D ) conecta a veia umbilical dm:ta- cardíaco, ou eja, ístolc vent ricular, diástolc vcntrrcular e
mcnte na veia cava inferior. Em ituaçõe normai , -o%do contração atrial. A OV F ide:1l da VC I pode cr obtida cm
fl uxo da veia umbilical são di rigidos para o dueto vcno o, qualq uer ponto do cu trajeto, pri ncipalmente entre as
atingindo, dessa manctra, direta mente o fora me oval c o .\trio veias renal e hep.itica. Os movi mentos respiratórios do feto
e qucrdo. Em situaçõe de hipóx.ia ocorre aumento do volu- apresentam profunda influência na OV F da VCI c do DV,
me de fluxo no dueto veno o, devido à diminuição da cir u- f1zendo com que o traçado se apresente irregular, o que
laçâo hepática. 31 impossibilita sua an.llise.
O local adequado de visualização do DV é na origem da as situações clínica de comprometimento feta l se-
veia umbilical, onde pode cr encontrada a maior velo idade cundário à hipóxia, observa-se .lUmcnto ignificativo no
de fluxo. Os índices utilizados no estudo desses va o 5o a fluxo reverso no du to veno o durante a contração atrial. '~
relação ístole ventricular/cont raç.io atrial (SV/CA), o índice Mai recentemente, o dopplcr do dueto venoso tem
de pré-carga (relação CA/ V), o IPV e a IPVV (Figura 13.7). sido utilizado tambcm no primeiro trimestre de gcstaç:io,
os casos de feto ubmctido à hipóxia crónica, há para au mentar a cnsibilidadc da pred ição de anonu lias
aumento da pó -ca rga do ventrículo direito, secundário cromossómica . Fetos com onda reversa no dueto venoso
à v,1soconstrição periférica (ccntralíz,lção de fluxo), c au- entre li e 14 emanas salientam taxa de anomalia de 65
mento do gradiente de prcss3o entre ventrículo direito c .1 90%.n 0 quadro 13.1 resume as principais evidências
átno direito. I to determ ina clevaç3o no fluxo retrógrado sobre a Dopplervcloci metría.

Doppler 207
Q!ladro 13.11 Evidências sobre o uso da dopplervelocimetria
ÜiJJü(IVO lllteiVüllÇÊÍO N1vel de eVIllênclil G1 au de 'r~r.omP.IHiaçao

Predição Doppler de artérias uterinas seleciona pacientes com risco 38 8


aumentado de pré-eclampsia e CIUR. porém com baixa
sensibilidade
Condução Oacompanhamento de gestações de alto risco com odoppler lA A
indica tendência à redução da mortalidade perinatal
Odoppler rotineiro em gestações de baixo risco não está as- lA A
saciado à redução da morbimortalidade perinatal
Adopplervelocimetria da artéria é o método de escolha para o 38 8
acompanhamento de gestações com risco de anemia fetal

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208 Noções Práticas de Obstetrícia


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Doppler 209
14 Procedimentos Diagnósticos Invasivos
Jorge de Rezende Filho
Marcos Nakamur.1 PcreirJ
Carlos Antonio Barbosa Montenegro

Amniocentese Cordocent ese


Jndicações Indicações
Época de Realização Época de Rea.liz.ação
Técnica Técnica
Complicações Complicaçõe
Biópsia de Vila Corial Biópsia de Tecido Fetal
lndicaçõe Biópsia de Fígado
Época de Realização Biópsia de Pele
Técnica Bióp ia de Mú cuJo
Complicações

o s principai procedimento diagnó tico inva i-


vos realizados durante a gravidez ão a amn io-
centc c, a biópsia de vi lo corial (13VC) e acordo-
cente c. A indicação ma i comum de realização de e te te
invasivos é o diagnóstico pré-natal de anomalias cromo só-
pio, corcia de Hu ntington, distrofia miotônica), autossómica
rece iva (por exemplo, alfa-tala em ia, têndcctonúria, doen-
ça de Tay-Sachs) c ligadas ao cromo · ·omo X (por exemplo,
di trofia de Duchennc, hemofilia A c B). o~ erros i nato~ do
mctaboli mo, ta i como as doenças de Gauchcr c iemann-
micas. Atualmcntc, não é mais recomendada a execução de -Pick, também ão passíveis de diagnóstico. O!Jando algum
procedimento invasivo omcntc pela idade materna superior do~ pais é portador de doença genética e/ ou erro inato do
a 3 :mos. A e tratégia de rastreio das ancuploidia fetais, in- metaboli mo ou quando há história familiar de doenças ge-
cluindo idade materna, marcadore bioquímicos e biofí icos nica , pode estar 1ndicada a investigação do concepto. c sas
no t• trime trc, po sui taxa de detecção superior a 80% c c t,\ situações, em algumas rara ocasiõc cm que há limitação dos
con agrada.1 A <.Icei ão da gestante acerca da realiza ão do métodos já apontado , pode h,1ver nccc sidade de realinção
diagnóstico pré-natal é baseada cm diversos fatore , entre os de bióp-ia de tecido fetal (pele, fígado c mú cu lo).
quai o risco de anomalia cromossómica do feto, o risco de A fctoscopia é outro procedimento invasivo que
perda da gravidez. decorrente do procedimento inva ivo c a pode ser utilizado com fin s d iagnósticos. Outror:1 mui-
con cquência do na cimento de criança afetada. to praticada para vi ualizar malformações cxternal> do
Atora a detecção das anomalias cromossômicas, os proce- feto, bem como para obtenção de tecido fetal c realizar
dimento inva ivos também permitem o diagnó tico das do- tran fus:io intrava cub r fcLal, a feto opia diagnóstica
ença gênicas de hcran a autos ômica dominante (por exem- foi aba ndonada na década de 80 pelo avanço da ultras-
sonografia, sendo hoje método exclusivamente de fina- to invasivo é indicado principalmente quando o rastreio de
lidade terapêutica. aneuploidias encontra-se alterado, seja pelo teste combina-
Deve-se ressalvar que a necessidade de realizar procedi- do (translucência nucal, ~-hCG e PAPP-A) no lo trimestre
mento invasivo exige o conhecimento da tipagem sanguí- ou pelos marcadores bioquímicos no 2o trimestre. Esse
nea da paciente. Caso a mulher seja Rh negativo e coombs procedimento também se presta à análise do DNA fetal
indireto negativo, administra-se imunoglobulina antiD quando há necessidade de pesquisa de doenças gênicas.
para profilaxia da doença hemolítica perinatal (DHPN). Além daquelas já citadas, malformação maior ou duas alte-
Jgualmente importante é a solicitação de sorologia para rações estruturais menores (por exemplo, pieloectasia, cis-
HIV e hepatite B e C, pois a gestante deve ser aconsel hada to de plexo coroide, entre outras) por ocasião da ult rasso-
sobre a possibilidade de transmissão vertical nesses casos. nografia morfológica é motivo frequente de cariotipagem
fetal por amn iocentese.
A pesquisa de infecção fetal talvez constitua a segunda
AMNIOCENTESE indicação mais frequente de am niocentese, sendo possí-
vel a identificação de inúmeros agentes infecciosos no LA
Amniocentese é a obtenção de líquido amniótico atra- pela técnica de polymerase-chain reaction (PCR), cultura
vés de punção transabdominal guiada por ultrassonografia ou ensaios imunológicos. Destaca-se a importância des-
(Figura 14.1). Contudo, mesmo antes do advento do ultras- se diagnóstico na conduta da toxoplasmose qua ndo, uma
som, a am niocentese já era praticada e desde o fi nal do sécu- vez identificado acometimento do concepto, permite-se o
lo XIX é aplicada no tratamento da polidramnia. É provável tratamento da infecção. A identi ficação de outros agentes
que tenha sido Henckel (1919) o primeiro a empregar a am- infecciosos, tais como o citomegalovírus e vírus da varicela-
niocentese transabdominal com fi ns propedêuticas, deven- -zoster, também é de grande importância, pois permite me-
do-se a O 'Menees (1930) sua utilização para a amniografia. lhor aconselhamento quanto ao prognóstico da gravidez.
Albano (1933) serviu-se dela no diagnóstico da morte fetal; A am niocentese possui outras indicações, além de
Boero (1935) e Aburel (1937) como tempo preliminar à in- fornecer células para a análise genética e a pesquisa de
dução do abortamento e do parto. Qpando quase esqueci- infecção fetal. A espectrofotometria do LA utilizada na
da, Bevis (1956) restaurou-lhe a prática para analisar o teor propedêutica da DHP revolucionou o tratamento dessa
de bilirrubina presente no líquido am niótico (LA) c Lilcy doença e iniciou a popularização da amniocentese, ten-
(1961) consumou seu uso no acompanhamento às grávidas do sido substituído por método não invasivo (doppler da
aloimunizadas2 Fuchs & Riis3 (1956) fora m os primeiros a artéria cerebral média) de avaliação da anemia fetal. No
determi nar o sexo fetal pela amniocentcse, enquanto Steele entanto, algu ns autores ai nda consideram a possibilidade
& Breg4 (1966) estabeleceram o cariótipo fetal pela cultura de sua utilização em gestações com mais de 35 semanas.-
dos amniócitos. Não demorou até que o primeiro caso de A identificação do Rh fetal no líq uido amniótico também
diagnóstico pré-natal de sínd rome de Down por meio da foi preconizada na conduta da gestante aloimun izada, mas
amniocentese fosse relatado por Valenti 5 (1968). Em 1972, tende a ser abandonada pela identificação do DNA fetal no
Brock & Sutcliffé encontraram altas concentrações de alfa- soro materno. A avaliação da maturidade pulmonar pelo
-fetoproteína no LA em casos de defeitos de fechamento do LA também está em desuso, ainda que possa ter uti lidade
tubo neural. O desenvolvimento das técnicas de citogcnéti- no ma nejo de gestantes diabéticas. Não é demais citar a
ca e da ultrassonografia, além da demanda pelo diagnóstico utilidade da amniocentese no tratamento da polidramnia,
pré-natal, permitiu que a amniocentese se tornasse procedi- sua mais antiga indicação.
mento rotineiro na prática obstétrica.

É POCA DE REALI ZAÇ ÃO


I NDI CAÇÕES
A amniocentese deve ser realizada após 14 semanas
A principal indicação de amniocentese é o diagnóstico completas de gestação.s·9 Tradicionalmente, a amnio-
pré-natal do cariótipo fetal. Nos dias atuais, o procedimen- centcse genética é realizada entre 16 e 18 semanas. Já se

212 Noções Prát icas de Obst etrícia


propôs realizar o procedimento cm períodos anteriores, a cm torno de três semanas para a maioria dos laboratórios.
denominada amniocentese precoce, procedida entre li e Contudo, novas técnica como o PCR c oJluorescence in-sit11
14 emana . O estudo canadense CEMAT 10 randomizou hybridization (FISH) podem apresentar resu ltados parciais
pac1ente para amniocentese precoce (entre li +0 e 12+6 em dois dias. Essas técnicas, juntamente com a COinparati-
semanas) ou amniocentesc de 2• trimestre (entre I' +0 e ve genomic hybridizallOII (CC I I), perm item hoje diagnósti-
16+6 semanas), encontrando alta taxa de perda fetal (7,6% cos mais sofisticados, como detecção de microdeleçõcs c
vs. S,9%; p=O,O 12) e alta incidência de pé torto congénito translocações do material gcnético. 11
(1,3% vs. 0,1%; p=O,OOO 1) no primeiro grupo. Dessa forma,
a :tmniocentese precoce não deve ser praticada, por estar
associada a altas taxas de perd:t da gravidez c compi icações
decorrentes do procedimento.

T ÉC ICA

Antes da realização da amniocente e, deve- e proceder


à análi e onográfica para confirmar-se a idade gcstacional
c determinar a localização da placenta, o volume de LA, ati-
vidade cardíaca fetal, número de feto , presença de miomas
ou outras alterações gue interfiram na técnica habitual 8. É
recomendado guc a amnioccnte e seja praticada com visu-
alização sonográfic:t contínu:t da agulha, o que lhe confere
alta taxa de sucesso, menos necessidade de repetição do
procedi mento e menos ocorrência de amostras mescladas
a va riável quantidade de s:tngue? Ess:t prática permite a
visualização concomita nte das partes feta is, minorando o
ri co de traumatbmo do concepto. A partir da ultrassono-
Figura 14. 1 I Amniocentese de 2• trimestre.
grafia também se pode 1dcntific:tr a localização da placenta
c do cordão umbilical. ão há evidências de que o accs o
transplacentário resulte em expressivas complicações, en- COMPLICAÇÕES
do permitida ua realização quando nece ário par:t atin-
gir mais facilmente o maior bolsão de líquido amniótico, ão h.1 percentual único que po sa ser atribuído ao
evitando-se a in ·crção do cordão.9 o entanto, pode h:tvcr risco de perda da gravidez apó a amniocentese de 2•
mais:tccntuad:t hemorragia feto-m:tterna.~ trimestre. Esse risco é ind ividual, ba eado cm múltiplas
Após asscpsia c antisscp ia adequadas, in ere-se agu- variáveis. Wilson ef a/. 12 (2007), ana lisando inúmeras
lh:J de raquia ncstesi:t, c:tlibrc 20-22 gauge, cm movimen- publicaçõe obre o tema, estimam que o ri co de per-
to único contínuo através do abdome e da parede uterina, da gestacional devido à amnioccntcsc é de 0,6 a 1,0%
ati ngindo o maior bolsão. Aspira-se, então, IS a 30 mi de ( I: 167 a I: 100). Contudo, considerando- c o intervalos
líquido amniótico, retirando-se o conjunto em seguida. de confiança, essas taxas podem ser tão baixa quanto
ão há necessidade, cm gerat de anestesia loca l~ (Figura O, 19% ou tão elevadas como 1,53%. E tudo recen tes
14.1 ). la gravidez gcmelar, a maioria do autores prefere a indicam que esse risco pode ser ainda mais baixo, entre
real iLação de dua punções em sítios distinto , apc arJc al- I:300 c I :SOO quando o proced imento é cfctuado em
gumas série utilizando punção única apresentarem baixas centros e pecializados.n
taxa de complicações.9 Em 2006, Eddleman el a/.14 publicaram análise se-
Tradicionalmente, a grande de vantagem da amnio- cundária do estudo FA TER, cujo objctivo primário era
ccntcse é o tempo para se obter o resultado do cariótipo, comparar o rastreio não invasivo de ancuploidias no 1• e

Procedimentos Diagnósticos Invasivos 213


2° trimestres. Esses autores, compa rando 3.096 mul heres ser realizada pelas vias cervical (Figura 14.2) ou abdomi-
submetid as à am niocentese c 3 1.907 q ue não realizaram nal (Figu ra 14.3). O desenvolvimento desse procedi mento
o procedimento, encontraram taxa de perda da gestação decorre da necessidade de de tecção precoce, ainda no Lo
decorrente da amn iocentese de 0,06% ( I: 1.600), muito in- trimestre, de anomalias cro mossômic 1s, visando à inter-
ferior àq uela no rmalmente estimad a. E ntretanto, eles não rupção da gravidez. A BVC ga nhou signi ficativo impu lso
incluíram na análise as gestações interro mpidas por ano- com o surgimento do rastreio sonográfico e bioqu ímico
malias cromossôm icas. Essas, presumivelmente, estavam, no Io trimestre, que elevou a frequência de sua realização
cm grande parte, desti nadas a encorpar a casuística de p er- e, conseque ntemente, s ua segurança.
das espontâneas, subestimando a taxa de perda no grupo Amostras de vilo corial fora m obtidas, vez primeira,
que realizou a amn iocentese. 12
em casos de interrupção da gestação, por Moh r16 ( 1968)
Quando realizada no 3° trimestre, a amn iocentese não e H ahnema nn 1- ( 1974). Da C hina emerg iram os primei-
parece esta r associada a parto de emergência, porém múlti- ros casos de d eterm inação do sexo fe tal pela BVC, ainda
plas tentativas de inserção c presença de sangue mesclado realizada "às cegas". Na década de 1980, a ultrassonografia
ao líquido ocorrem com mais frequência? Já na gestação começou a ser empregada para g uiar a BVC.''
gemelar, a melho r estimativa de perda da gravidez é de A pri ncipal vantagem da BVC é a possibi lidade de sua
12
1,6% ( IC95%0,3-3,0%). realização no Io trimestre. A lém desta, também se pode ci-
As complicações da am niocentese são infrequentes e tar a maior presteza no diagnóstico de doenças genéticas, já
incluem: vazamento de LA (/eakage) e pequeno sangra- gue nesse caso o DNA é extraído diretamente do vi lo, não
menta vaginal (spotting) em I a 2% dos casos; corioamnio- havendo necessidade de cult ura de célu las.
13
nite em menos de I: 1.000 procedimentos; e irritabilidade
uterina. A lesão do concepto pela agulha é extremamente
rara. Falha de cultu ra das célu las do líqu ido am niótico INDICAÇÕES
ocorre em O, I% dos casos.13
As infecções maternas p elo HI V, hepatite B o u hepatite O rastreio biofísica e bioquímico de I otrimes tre altera-
C são situações especiais q ue suscitam dúvidas q uanto à do constitui a principa l indicação de BVC. Ex istem o utras
segurança da am n iocentese, pela possibilidade de trans- indicações que també m visam à detecção precoce de cro-
m issão vertica l. Os dados escassos da literatura sobre essa mossomopat ia, para as quais a BVC tem primazia: in fa nte
temática demonstram que o risco de transm issão vertical a nterior com trissom ia ou ano mal ia do cro mossoma sexu-
pelo proced imento invasivo em gestantes p o rtadoras de al; pais com inversão ou translocação cromossômica; pais
hepatite B e C é ba ixo. 15 Na in fecção pela hepatite B é reco- com aneuploidia ou mosa icismo de aneuplo id ia.
mendável co nhecer o status do HbeAg, que, quando posi- A BVC tam bém é excelente fonte de DN A e pode ser
tivo, representa mais probabilidade de exposição do feto.Já utilizada na ma ioria dos estudos mo lecula res sem a ne-
na gestante portadora do HIV, deve-se evitar ao máxi mo a cessidade de cultura prévia. Trata-se do método de eleição
prática da am niocentese. A maioria dos estudos já publica- para o diagnóstico de erros in atos do m etabolismo e doen-
dos veri ficou acréscimo da transm issão vertical, sendo que ças mo nogên icas - autossômicas recessivas o u ligadas ao
no 3o tr imestre esse risco pode ser quatro vezes mais alto. X - de alto risco de recorrência, como hemoglobinopatias,
No entanto, algumas pu bl icações recentes sugerem que, hemofilias A e B, doenças de depósito, distrofi a muscular
quando real izada no 2• trimestre em mu lheres fazendo de Duchenne, entre outras.' '
uso de terapia anti rretroviral, a amniocentese não au menta
a taxa de infecção neonatal. 15
ÉPOCA DE REALIZAÇÃO

BIÓPSIA DE VILO CORIAL É possível obter vilo corial a partir de sete semanas de
gestação, 12 havendo consenso atual de que a BVC deve ser
A biópsia de vilo corial (BVC) é a obtenção de amos- praticada somente após IO sema nas de gestação, 8·9•13 pois
tras de vilosidades coriôn icas no cório frondoso, que pode inúmeros estudos demonstraram haver alta incidência de

214 Noções Práticas de Obstetricia


anomalias faciais c de membros quando realizada antes BVC TRA '~ABDü:\II ~AL - pode ser realizada após 10
de c período.'' semanas de gestação, conquanto não ofereça vantagens cm
A BVC tran cervical está limitada à II • e 12• semanas relação ao demais procedimento uwa 1vo~ (i.e. amnio-
de gestação, enquanto que não há impedimento ao proce- centese, cordocente e), a partir da I5• emana. Preconizada
dimento pela via transabdominal no restante da gravidez." por autores dinamarque e , midt-Jcnscn & Hahncmann 19
A principal ind icação de BVC no 2oe 3o trimestres era para (1984), vem sendo a técn ica preferida, ubstituindo a via
obtenção do cariótipo mais rapida mente, o que perdeu va- cervical. O exame ultrassonográfico prévio é indispensável
lor com a introdução de novas técnicas de citogenética, que para precisar a idade da gravidez c apontar o sítio ideal da
fornecem o rc ultado da amniocentese cm até 72 horas. punção, isto é., a área que corresponda à maior massa pla-
centária. Qyando locada n;-~ face ve ntral do útero, o procedi-
mento é realizado com a bexiga repleta. Como artifício, nos
TÉCN i CA casos de inserção dorsal da placenta, procede-se ao exame
após o esvaziamento da bexiga, o que obriga o útero a se an-
A BVC pode er realizada por via transcervical ou tran- teriorizar, expondo sua parede posterior. 19 Utiliza-se agulha
sabdominal. t con enso que, independentemente da via de raquianestesia, calibre 19-20 gaugc/ orientada pelo ul-
adotada, ela deve er efetuada com controle sonográfico tra om c in crida paralelamente à placa corial até penetrar
contínuo.9 A BVC transabdominal tem tido a preferência na ma sa placentária, adapta ndo-a a uma seri nga de 10-20
do c pcc1alista , pela representativa simplicidade de sua ml, com meio de cultura c pccífico. ob pressão negativa,
técnica c mais sucesso na obtenção de material placentá- movimenta- e a agulha para tds c para frente (5-I O movi-
rio, porém muitos preferem a via transcervical em placen- mento ), sempre no maior eixo da placenta, de forma a ob-
tas posteriores e/ ou baixas." ter amostra de ma i · de uma área.918 Mantendo-se a pressão
negativa, retira-se o conjunto (agulha c cringa) c analisa-se
a qualidade da amostra, geralmente contendo 5 a 25 mg de
BVC T RA ''iCI:-RVI CAL - a BVC transccrvical é realiza- tecido oriônico (Figura 14.3). Rara mente a via abdominal
da, preferencialmente, entre 10 e 12 semanas. Entre suas deixa de ser utilizada em virtude de dificuldade de acesso.
contrai ndicaçõcs, enumeram-se: infecção vaginal ativa,
doenças do colo uterino, herpes genital, entre outra~. t
feito o exame com a paciente cm litotom ia, após cuidados
de antissepsia vaginal e sob acompanhamento sonográfico
permanente. O cateter de plástico ou metal dirccionado
paralelamente ao eixo longitudi nal da placenta, distante
do saco gestacional e da decíd ua, é conectado à seringa de
20-30 ml com meio de cultura específico c, sob pressão ne-
gativa, a pira- e o material (Figura 1 4.2). 1 ~

Figura l·U IBiópsia de vi lo corial pela via abdominal.

C OMPLIC A Ç ÕE S

A taxa de perda da gravidez decorrente da BVC tra n-


abdominal é de I a 29o.8 Não há c tudos randomizados
Pigura 14.2 1Biópsia de vi lo coria l pela vi.l cervical. comparando a BVC com grupo-controle,9 o tluc dificulta

Procedimentos Diagnósticos Invasivos 215


esti mar ao certo o risco desse procedimento. Contudo, al- após a realização de BVC. 24 A frequência de anomalias de
guns ensaios clínicos randomizados já compararam a BVC membros e oromandibulares encontra-se elevada apenas
com a amniocentese. Mujezinovic & Alfi revic20 (2007) re- quando o procedimento é realizado em idade gestacional
alizaram revisão sistemática em que computaram as taxas precoce. Esses defeitos parecem ser determinados por hi-
de perda da gravidez até 14 dias do procedimento, antes de poperfusão fetal transitória e fenômenos vasiespásticos se-
24 semanas e total. Os resultados para amniocentese fo- cundários à disrupção vascular na circulação placentária.9
ram 0,6, 0,9 e 1,9%, respectivamente, enquanto para BVC A incidência de redução de membros é de 11.7, 4.9, 3.8, 3.4
apresentaram números similares: 0,7, 1,3 e 2,0%. Porém, a e 2.3 por I0.000 biópsias nas semanas 8, 9, 10, li e ~ 12,
maioria das revisões refere que o risco de perda da gesta- respectivamente/ 1 enfatizando o motivo pelo qual o pro-
ção após a BVC é de 1 a 3% superior ao da amniocentese cedimento só deve ser feito a partir de lO semanas.
realizada no 2° trimestre.9•21 Esses dados levam a crer que Problema particular da BVC é a ocorrência de resulta-
a amniocentese após 15 semanas é procedimento mais se- do com mosaicismo (Figura 14.4), que está presente em 1%
guro que a BVC, sendo esta, no entanto, o procedimento dos materiais obtidos.11 O mosaicismo é a identificação de
de eleição antes desse período?·22 mais de uma )jnhagem celular na análise citogenética. Pode
Apesar de não se constatarem evidências significativas, ser verdadeiro ou pseudomosaico. Este último decorre do
parece haver mais incidência de perda da gestação após a artifício na cultura de células e não tem repercussões clíni-
BVC transcervical quando comparada à via abdomi nal, cas. Quando o mosaico verdadeiro é visto apenas nas célu-
sendo essa conclusão embasada nos resultados de um es- las do cório, mas não no embrião, é denominado de mosaico
tudo dinamarquêsl.l cujos resultados não foram corrobora- confinado à placenta, que determ ina risco acrescido de cres-
dos por outras pesquisas.22 Demais, sangramento vaginal cimento intrauterino restrito e abortamento. A presença de
pode ocorrer em até 32%das pacientes submetidas ao pro- mosaicismo indica a necessidade de outro procedimento
cedimento transcervical. 23 invasivo (amniocentesc ou cordocentese) para confirmar a
A incidência de malform ações fetais não se encontra aneuploidia fetal (I 0% dos casos) ou caracterizar situação
associada à BVC. Análise da Organização Mundial da de mosaico confi nado à placenta, quando o concepto é eu-
Saúde (OMS) contando com 138.996 casos não indicou ploide. Entretanto, é necessário estar atento à interpretação
incidência au mentada de defeitos de redução de membros do estudo cromossômico normal em líquido amniótico

General,zado Confinado ao Feto

-
0

Cvr' J:lu A
Placenta 1CP~.11

rigura 14.41 TipL'' Je nw,.ucl'lll'" \ á J'<iguttt.?. /l1


- ' .

2 16 Noções Práticas de Obstetrícia


após o achado de mo aicismo em amo tra de vilo corial. INDICAÇÕES
Is o porque não é po ível, ne sa ituação, af.1star de forma
ab oluta a ex i tência de uma dissomia uniparcntal. a di - São inúmera as utilidade da cordocentesc na pro-
omia uniparental o feto herda o dois cromossomas do pedêutica fetal: c tudo do cromo orno , diagnó tico de
mesmo lado (paterno ou materno). A di som ia uniparen- doença gênica , do agcn enzimática e bioquímica nos
tal é descrita na etiologia das síndromes de Prader-Willi e erros do metabolismo, pesquisa de anemia, plaq uetopc-
Angclman. Portanto, nos casos de mosaici ·mo em amostra nia, infecções fetais e avaliação do bem-estar do concepto.
de vilo corial envolvendo o cromo somo I " c e tudo cro- Além dessas indicaçõc , a cordocentc c também e presta
mossômico em líquido amniótico normal cs a po ibilida- à admini tração de ub tància , eja para terapêutica fetal
dc deve ser investigada. como para interrupção da gravidez (fcticídio). Re ide, no
A incidência de f:tlha de cultura, vazamento de líquido entanto, como principal indicação de cordo ente e o diag-
amniótico (/enknge) e infecção a pó B C é inferior a 0,5%. 1' nó tico da anemia fetal e realização de T IV na OH P .
O :wanço da técnicas de citogcnética restringiu as ra-
zões de execução da cordocentese para detecção da ano-
CoRDOCENTESE malias cromos ômicas e de doenças gênicas. Mesmo assim,
frente ~ malformação maior ou duas alterações estrutu rai
A cordoccntc c é a obtenção de amostra do sangue fe- menore na ultra onografia morfológica, pode-se optar pela
tal pela punção do cordão umbilical ( Figura 14.5). Rodeck punção do cordão umbilical, desejando- c rc ultado mais rá-
& Campbell 2 ' (1978) foram os primeiros a obter amostra pido (24-4 hora ), ou quando na pre cnça de oligoidramnia
pura de sangue fetal por fetoscopia guiada pela ultrasso- acent uada ou anidramina. Outras indi açõe com cs a fina-
nografia. ão demorou até que e realiza e tran fu ão lidade incluem a presença de mosaicismo na BVC ou na am-
intrava cu lar (TI V) pela me ma técnica.26 Daflo r (19 3), nioccntc ·c (rara) c a falha de cultura do líqu ido amn iótico.
tentando evitar a iatrogenia suscitada pela fetoscopia, des- Da mesma forma, com a consagração da dopplervclocime-
creveu nova técnica de punção do cordão umbilical, na tria c a introdução da técnica de PCR no líquido am niótico,
qual a agulha é introduzida no abdome materno c, com au- a cordocentese excepcionalmente é utilizada na avaliação da
xíl io da ultras onografia, guiada até a veia umbilical. Pela vitabilidade fetal c diagnóstico de infecções congênitas.
ua maior fa ilidade e egurança, e a técnica tornou- e, A utilidade da ordocentese n,\ avaliação de feto ob o
cm pouco tempo, o método de eleição para obtenção de risco de trombocitopcnia aloimu nc é controvcr a. Enquan-
sanguefetal e paraTIV naDH P . to alguns considcrJ m que pos a er útil omente ao ca o
graves ou antes de tentativa de parto vaginal, 11 outros a
contraindicam por con iderarem que o riscos do procedi-
mento 5o mais al tos que os riscos da hemorragia intracra-
niana. Além disso, o ri co de compl icações hemorrágica
nconatais no · c.1sos de trombocitopcnia imune materna
não se correlaciona com a via de pJrto, fica ndo, port.1nto, a
cc ariana restrita para as in dicaçõc ob tétrica .28
A grande indicação da cordocente e é a terapêutica da
D HPN. Presente a aloimunização materna com título >
I :8 de coomb indi reto, indica- c dopplcr criado da artéria
cerebral média (ACM). Uma vez que a velocidade m:lxima
da ACM seja superior a l,S MoM, deve-se cfctuar cordo-
cente e para ate ta r anemia fetal grave (hemató rito < 30%
ou hemoglobina < lO g/ dL) c, nc a me ma oca ião, rea-
lizar T IV. A infecção pelo parvovírus BI9 também cur a
com anemia fetal, cm geral, levando à hidropi ia, podendo-
Figura 14.5 ICordocentc c. - c ta mbém praticar cordoccnte c com TI V nesses ca os.

Procedimentos Diagnósticos Invasivos 2 17


ÉPOCA DE REALIZAÇÃO Ao término do procedimento, é comum observa r per-
da sanguínea em forma de "jato" o riundo do local puncio-
A cordocentese pode ser praticada após 16-18 sema- nado, que cessa em breve intervalo de tempo. A frequência
nas, ainda q ue haja relato de punções do cordão com 12 cardíaca fetal deve ser m on itorada por pelo menos lO mi-
semanas. nutos após a cordocentese.

TÉCNICA COMPLICAÇÕES

Inicialmente realizada por fetoscopia, é hoje proce- A cordocentese não é isenta de compl icações. Bradi-
d imento guiado por u ltrassonografia, a partir do qual se cardia fetal dura nte ou após o procedimento ocorre em S
identifica m o cordão e sua inserção placentá ria, guiando a a 10% dos casos.8 Sangramento no sítio de punção do cor-
agulha até a veia um bilical. dão umbilical é comum ( lO a 40%), porém norma lmente
Real iza-se previamente o exame ultrassonográfico para cessa em menos de 90 segundos 8 A taxa de óbito fetal é
identificar, precisamente, o cordão umbi lical e sua inserção est imada em 2%. 11
placentária, de modo que se possa determ inar a melho r via
de acesso à pu nção.
Antes de iniciar o procedi mento propriamente d ito, BIÓPSIA DE TECIDO FETAL
faz-se assepsia rigorosa do abdome e bloqueio anestésico
local até os planos mais profundos (peritônio visceral). São mu ito restritas as indicações atu ais de biópsias
Para a pu nção, realizada sob a técnica de mão livre, fetai s. Essas, quando real izadas, são d irecionadas ao fíga-
utiliza-se agulha descartável de raquianestesia, calibre 20 do, à pele ou ao músculo fetal e prestam-se a diagnosticar
ou 22 gauge. No caso de placentas de inserção ventral ou síndromes genéticas específicas. Inicialmente esses proce -
lateral, a agu lha é introduzida via transplacentária até que d im entos eram realizados po r fetoscopia, porém hoje po -
a sua extremidade atinja a veia u mbilical. Esta é o vaso de dem ser g uiados por ultrassom .11 Para inserção da agulha
eleição, por ser mais calibrosa, de parede mais delgada e em áreas feta is específicas, requer-se que haja adequad a
po r estar menos associada à brad icardia fetal que a artéria. posição do feto, sendo necessário, por vezes, recorrer à
Qyando a placenta for de inserção dorsal, a agulha seguirá curarização do feto. Os riscos e complicações das biópsias
a via transa m niótica e a pu nção é feita a aprox imadamente são si m ilares àq ueles da cordocentese; particularmente o
1 a 2 cm da inserção do cordão na face fetal da placenta. risco de morte fe tal está majorado se houve r ma lfo rmações
Após a colocação precisa da agu lha, reti ra-se o mandril, maio res ou cresci mento intrauterino restrito.8
aspira ndo-se o sangue fetal em seringa contendo a nticoa-
gulante o u não, dependendo da fi na lidade do procedimen-
to (Figura 14.5). 29 BIÓPSIA DE FÍGADO
Gera lmente o procedimento é rápido, durando me-
nos de cinco minutos. Deve-se, entretanto, ter o máximo A bió psia de Fígado era a única forma de d iagnóstico de
de paciência para encont rar o sítio ideal da punção, de fo r- erros inatos do ciclo da ureia e outras doenças expressas
ma a d iminuir su a duração. M ovimentação fe tal excessi- somente no fígado, como a doença de Von Gierke tipo lA e
va e interposição de partes fetais durante o exame serão a hiperoxaluria pri mária tipo L Contudo, a maioria dessas
obstáculo de difíci l solução. Ra ramente é necessária a condições é hoje diagnosticada pela análise do DN A fetal,
sedação feta l, conquanto ela seja legítima. Nos casos de passível de ser realizada pelas a mostras o btidas d a amnio-
nv, em que já se espera d u ração mais longa do procedi- centese o u da BVC. Mesmo assim, há algumas doenças
mento, alg uns serviços preconizam a c urarização fetal, de enzimáticas que ai nda não são detectadas pela análise do
grande valia. 29 DNA, sendo a biópsia hepática fetal necessária."

218 Noções Práticas de Obstetrícia


B IÓPS IA DE PELE BIÓPSIA DE MÚSCULO

A bióp ·ia de pele ainda é a única to rma de diagno ticar A biópsia de músculo teta! pode ser realizada entre 20
doe nças dermatológica graves ta i como epidermóli e bo- c 22 emana para diagnó tico da di trofia muscular Du-
lho a, albini mo oculocutàneo e ictio e arlequim.n chcnne em ta rnílias de ri co. Ape ar da detecção de sa
doença ser possível a parti r da análise molecular do LA ou
do vilocorial, em algunsca os não é po sível definir o diag-
nó tico, podendo-se recorrer à biópsia.n
O Quadro 14.1 apresenta as evidências atuais cm rela-
ção aos procedimentos invasivos.

Quadro 14.1 I Evidencias científicas nos procedimento invasivos


Proced1n1ento Recomendação Grau de
Ev1dênc1a

Amniocentese ~niocentese precoce (entre 11 e 14 semanas) não deve ser realizada pe~ risco de perda da I A
gravidez e de complicações quando comparada à amniocentese após 15 semanas I I
-- - --- -- -- --
Orisco de perda da gravidez associado à aminocentese é de aproximadamente 1% A
A amniocentese deve ser realizada com visualização sonográfica contínua. o que lhe confere B
elevada taxa de sucesso e menos ocorrência de amostras mescladas a sangue
- -- ------ -- -- -
Oacesso transplacentário pode ser apropriado para melhor acesso ao maior bolsão de líquido B
Odiametro da agulha não deve ser superior a 20 gauges B
-
-
I
- - - -
A amniocentese de 3° trimestre parece não estar associada a risco significativo de parto de
gência
B
-- ---- -- - - -- - ---
mulheres portadoras de HIV, todos os testes não invasivos devem ser utilizados antes B
. de considerar-se a amniocentese genética
- - -r--- -- ---
Biópsia de vi lo corial Orisco de perda da gestação após BVC é superior àquele após a amniocentese de 2° trimestre A
IBVC) 1--- --
A BVC transabdominal deve ser o procedimento de escolha antes de 15 semanas de gestação A
1--- --
t--
A BVC transabdominal parece ser mais segura que a via cervical
-- --- ·~
1---
A
J
A BVC só deve ser realizada após 10 semanas de gestação B
I- -- -
A BVC deve ser sempre guiada por ultrassonografia B

Procedimentos Diagnósticos Invasivos 219


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220 Noções Práticas de Obstetrícia


15 Cardi ato cografia
Manuel Mauricio Gonçalve
Frederico José A.médeé Péret

Cardiotocografia Anteparto Metodologia de Interpretação do Padrão


Cardiotocografia Anteparto Basal dos BCFs na Cardiotocografia
Cardiotocografia Anteparto Estimulada Categoria I (Traçado Normal)
Cardiotocografia Fetallntraparto Categoria Il (Traçado Atípico)
Monitoração Eletrônica da Atividade Uterina Categoria LU (Traçado Anormal)
Monitoração Eletrônica da Frequência Métodos Complementares
Cardíaca Fetal de Monitoração lntraparto
Padrão ormal da Frequênci:t Cardíaca Fetal Monitor:tção Bioquímica
Padrões Anormais da Frequência Cardíaca Fetal Oximetria Fetal de Pulso
Ausência de Acelerações Transitóri:ts Eletrocardiografia Fetal
Alterações da Variabilidade da Linha de Base da FCF
Aplicação Prática da Monitoração lntraparto
Desacelerações ou DI Ps
Prognóstico

cardiotocografia é um método biofísico de CARDIOTOCOGRAFIAANTEPARTO

A avaliação da vitalidade ( bem-estar) fetal, que


pode ser realizado tanto durante a gravidez
(a nteparto) para rastreamento das condições basais do
Acardiotocografia anteparto pode ser real izada de duas
manei ras: a cardiotocografia basal (CT B) e cardiotocogra-
feto, quanto durante o trabalho de parto (intraparto), para fia estimulada. Na CTB registra-se a frequência cardíaca
avaliação de repercussões das contrações uterinas sobre fetal (FCF) diante de situações fisiológicas da gestação -
a vitaJidade do concepto. Embora utilizada amplam en- os movimentos fetais e as contrações uterinas espontâneas
te, essa metodologia carece de evidências científicas que (Braxton Hicks), visando avaliar as condições fetais.1
demonstrem seu real valor na melhora dos resultados Na cardiotocografia estimulada, uma ação é exercida
perinatais, poi foi desenvolvida e posta em prática sem sobre o feto com o intuito de avaliar sua respo ta, como,
ter sido correta mente v:~lidada em gr:tndes estudos. Suas por exemplo, apl icação de estímulo sonoro no polo ce-
bases fisiopatológicas, no entanto, foram bem estudada , o fálico do concepto ou estímulo mecânico a partir dare-
que faz da cardiotocografia o principal método de avalia- al ização de movimentos de lateral idade na cabeça fetal.
ção da vitalidade intraparto. Ainda se pode submeter o feto à contração induzida pela
ocitocina (cardiotocografia de estresse ou teste de Pose) Por se tratar de exame de avaliação do sistema nervoso
visa ndo diferenciar os fetos hipoati vos, comprometidos cent ral (SNC) autônomo e inervação do coração, a CT B
na sua homeostase, daqueles fisiologicamente em repouso está indicada quando há risco de hipóxia no concepto cm
ou, ai nda, deprimidos por ação de fármacos. 1 qualquer uma dessas estruturas, a partir de 26/ 28 sema-
nas de gestação, quando a inervação extrínseca do cora-
ção fetal encontra-se madura, sem o predomínio paras-
CARDIOTO CO GRAFIA ANTEPARTO BASAL simpático observado em fetos pré-termo extremo:1
A diminuição da concentração de oxigênio no sangue
Na década de 70, Lcc et ai. associaram as acelerações fetal (p0 2) é percebida por quimiorreceptores localiza-
transitórias (AT) dos batimentos cardiofetais aos movi- dos no arco aórtico. Esses quimiorreceptores são célu-
mentos fetais (M F) ou contrações espontâneas (Braxton- las especializadas que percebem pequenas variações na
-Hicks) ao bem-estar fetal; propuseram chamar essa ava- p0 2 c enviam sinais aos centros cardiorreguladores no
liação de 11on-stress test, conhecida no nosso meio como cérebro. Esses centros reagem à diminuição da p0 2, or-
c.udiotocografia anteparto, basal ou de repouso. Esses denando diminuição da frequência cardíaca fetal e essas
achados decorrem da baixa mielinização cncefálica na va riações na frequência card íaca fetal são percebidas pela
vida uterina, que resulta cm pouca seletividade dos estímu- cardiotocografia.
los cerebrais, de tal forma que o mesmo estímulo elétrico A freq uência cardíaca fetal também pode cair em fun-
que desencadeia um movimento fetal por ação do córtex ção de reflexo vagai por compressão do encéfalo (desace-
cerebral também atinge o centro cardioacelerador situado lerações precoces) ou por ação dos barorreceptores que
no diencéfalo do concepto. 2 percebem o aumento da pós-carga durante a compressão
Autores europeus consideraram, além das acelerações do cordão umbilical (desacelerações variáveis).
transitórias relacionadas aos movi mentos feta is e contra- Com o agravamento da hipoxemia ocorre a perda da
çõcs uteri nas, os níveis de FCF, sua va riabilidade c apre- variabilidade no traçado cardiotocogránco, devido à hi-
sença ou ausência de desacelerações da FCF, relacionando póx ia cerebral e, por fim, se instala persistente bradicardia,
todos à vitalidade fetal. 1 que indica estado pré-terminal.

BASES CoNCE IT UA I ~ FREQUÊ C IA CARDÍACA I~ ETAL


!3ASAL (FCF) OU LI N II J\ DE BASE
Em agosto de 2007, o Nationallnstitute oj Child Health
and Human Developmenl c oAmerican CollegeojObstetricians Estabeleceu-se como freq uência cardíaca fetal basal ou
mui Gynecologists, entre outros, revisaram a nomenclatura, lin ha de base a linha em torno da qual se mantêm os bati-
interpretação c recomendações dos exames de monitora- mentos cardíacos (BCF) observando-os por lOminutos?
ção cletrônica fetal, conclui ndo por algumas modificações, São considerados normais os BCFs com valores entre
que se passa a adotar neste capitulo.4 ·5·6 110 e 160 batimentos por minuto (bpm). Taquicardia é
A CTB baseia-se no registro simu ltâneo da FCF, dos quando a linha de base está acima de 160 bpm c bradicar-
M Fs e das contrações espontâneas do útero. O feto após dia quando está abaixo de 110 bpm. Mudanças de posição
28 semanas possui amadu recimento dos sistemas intrín- da gestante e/ou do feto, longos períodos de jejum, esti mu-
seco c extrínseco do coração, com modulação adequada lação vagai decorrente de compressão fu nicular, entre ou-
entre o sistema simpático e parassimpático. O aAuxo nor- tros, podem determinar redução temporária dos BCFs, daí
mal de oxigênio aos centros cerebrais cardioacelerador a necessidade de observação por 10 minutos.5
(simpático) e cardiofrenador (parassimpático) situados As causas mais freq uentes de taquicardia são: febre da
no diencéfalo faz com que estes se integrem perfeitamen- gestante, uso de fármacos ad renérgicos, infecção intracavi-
te, resultando na adequada variabilidade da frequência tária, ti reotoxicose e hiperglicemia materna, hiperti roidis-
cardíaca fetal. 2•3 mo fetal, além de lesões morfológicas do coração fetal.

222 Noções Prát icas de Obst etrícia


Re pendem pela bradicardia: anomalia estruturais fe tais decorrentes da integração dos sistemas simpático c
do coração fetal, ação de fá rmacos de ação vaga i, bloqueio para impático as mic ro c macro-oscilações. A m icro-
átrio-ventric ular por doença auto imu ne matern a (lúpus -oscilação (oscil ação de curta duração) altera-se quando
sistêmico com anticorpos anti-Ro) e hipóxia fetal. a repolarização da fibra m iocárdica fica d ificultada pela
hipóxia. O meca n ismo da redução da oscilação de curta
duração (bent to bent) deve-se ao alongamento do com plexo
ACELrR .\ ÇÔJ,"i TRANSITÓRIAS (AT) DA FCF QRS pela hipóxia da fibra m iocá rdica (repola rização len-
ta). O registro das micro-o cilações de curta d uração só é
Durante um movim ento espontâneo fe tal (MF) ou possível a parti r da c a rd io tocogra lia com putadorizada, com
d iante de co ntração de Brax:ton-Hicks ou, ainda, de algum valor de referencia igu al o u superior a 3 milissegundos.8
estímulo externo aplicado sobre o feto, pode haver acele- Já as macro-osc ilações, q ue trad uzem a integração do
ração dos BC Fs. Qyando ocorrem duas acelerações tran- sis tem a nervoso autôno m o fetal, podem ser obt idas pcb
sitórias dos BC Fs com amplitude de pelo menos ISbpm CTB convencional cm regist ro co ntínuo em papel tcr-
a parti r da linha de base durante pelo menos IS segundos, mossensível. A no menclatu ra utilizad a por H ammachcr
diz-se que o feto é "reativo" ( Figu ra 15.1).2 Quando não et a/.9 foi mod ificad a, mas não pe rdeu sua e ssencia origi-
ocorre MF (feto inativo) ou o feto se movimenta e não há nal. A variabilidade da linh a de base é classificad a como
aceleração na FC F fi·ente a esses eventos, diz-se que o feto ( Figura 15.2):
é "não reativo" e po de ter como causas o sono fetal, ação de
fármaco ou a hipóx:ia fetal. estes casos, deve-se usar a car-
diotocografia c timulada com aplicação de estímulo sono-
ro ou mecânico, para afã tar a possibilidade de sono fctal.2

-+ """ . .
~0 n 1+ 1 1 l+f-+-- ttt('
=1=;-t-+ -~ .J t ~ J · f=l=H :ii
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t-
- . r-
r- t-t

J=MF. I - .iJ= t-- MF ~ Jl___JfF T -t r-:v-


I
Figura 15.1 Ca rd iotocografia basal. Aceleração transitó-
ria (AT) relacionada a mov imento fe tal (M F) : Feto ativo.

D
VARIABILIDADE DA FCF

ta oscilação d a FCF consequente à interação do siste-


ma nervoso autônomo simpático, que estimu la o au mento Figura 15.2 1Esq uema da variabilidade da lin ha de ba e:
da FCF e o parassi mpático, que desempen ha mecanismo A - m ín ima; B- moderada; C - moderada; O - m arcante
oposto. Há dois tipos de variações dos batimentos cardio- ou saltado ra.

Cardiotocografia
223
Ausente: quando a amplitude da oscilação é grafica- (movimentos respiratórios, movimentos corporais e tô-
mente indetectável. nus musc ular e volume de líquido amniótico). A introdu-
Mínima (ou silenciosa): quando a variabilidade tem ção do exame computadorizado aumentou a acuidade da
amplitude de Sou menos bpm. CTB pela possibilidade de avaliar a oxigenação a parti r do
Moderada: quando a variabi lidade da li n ha de base registro das micro-oscilações. Além de estímulos vibrató-
tem amplitude de 6 bpm a 25 bpm (ou comprim id a rios e acústicos, a C T B estim ulada também pode utilizar
+oscilatória de H ammacher et ai.). estímulos fetais mecânicos, cujo objetivo é despertar fetos
Marcante(ou saltatória): quando a amplitude é> 25 bpm. que se encontram em sono profundo e não se apresentam
Sinusoidal: padrão específico e definido comova- reativos. O feto pode ser reativo, hiporreativo e não reati-
riabilidade mín ima, em forma de sino, ausência de vo, conforme Quad ro 15.2. 10
acelerações tra nsitórias (AT ) sugerindo a nemia
fetal grave e está relacionada a altas taxas de mor- I
Q uad ro 15.2 Cardiotocografia anteparto com estímulo
talidade perinatal na forma grave da aloi mun ização vibroacústico10
materno-fetai.S Feto Achado no r eg rstr o Interpretação

Reativo Elevação da FCF de Feto normal


Os tipos de macro-oscilação, com a sua interpretação, 20 bpm ou mais, pelo
são apresentados no Quadro 15.1.10 menos 3 minutos
Hiporreativo Elevação de FCF en- Suspeita de hipóxia
Quadro IS. I I Macro-oscilações no registro da cardiotocografia tre 10 e 20 bpm e/ou Ação de fármacos
Padrão Batrmentos Interpretação duração < 3 minutos
por mrnuto Não reativo Ausência de resposta Surdez fetal
Normal Entre 6 e 25 SNA bem oxigenado da FCF ao estimulo ou Hipóxia
-1
(Moderado) I surgimento de DIPs

Marcante Acima de 25 Compressão funicular I


(saltatório) Movimentação fetal excessiva
CARDIOTOCOGRAFIA
Mínimo Abaixo de 6 Fármacos depressores do SNC I
Sono fetal I Prematuridade FETAL lNTRAPARTO

lndetectável Hipóxia I Medicamentos


Ausente
(lisa) sedativos I O parto monitorizado eletronicamente, com registro
das con trações uterinas e da frequência cardíaca fetal nor-
mal, assegu ra a vitalidade fetal em 99% dos casos. Em bora
C ARDIOT O COGR AFI A todo e qualquer trabalho de parto possa ser monitorizado,
ANT E PARTO ES TIMU L ADA está mormente indicado na condução do trabalho de par-
to de gestações de alto-risco ou no surgimento de desvios
É realizada com a aplicação, no polo fetal do fe to, de da norma lidade da evolução do trabalho de parto de baixo
um estímulo vibroacústico padronizado, com duração de risco ou, ainda, no caso de antecedentes de perda fetal de
três segundos, pressão na fo nte sonora de !LO a 120 e fre- causa indeterminada.
quência de SOO a 1.000 H z. 11 ' 12 O feto com audição íntegra
reage com M F com descarga intensa de adrenalina que
desencadeia uma AT de 20 bpm ou mais acima da linha M ONITO R A ÇÃ O ELETRÔNI C A
de base, com duração superior a três minutos. A repetição DA AT IVIDADE UTERI NA
do exame deve ser semanal, na dependência d as condi-
ções clín icas do binómio materno-fetal. O!Jando existe O registro d as contrações uterin as p erm ite d iagnosti-
hipóxia do SNC, é a CTB a primeira a se alterar entre os car as discinesias uterinas e instituir o tratamento adequa-
marcadores de função cerebral fetal do perfi l biofísica fetal do. Na técnica de regist ro interno, a pressão hidrostática do

Noções Práticas de Obstet rícia


224
líquido amniótico é aferida por transdutor ligado à cavida- da fa c sistólica da contração nas partes vizi nhas do marca-
de am niótica, por cateter inserido através do canal cervical. -passo que se encontra no fu ndo da matriz, em relação às
Na cardiotocografia registra-se a FCF na parte superior partes mais afastadas dele; terceiro, a força ou intensidade
e as variações de pre ão da contração são registrada na das contrações é também maior nas partes mais altas do úte-
parte inferior do papel. A análise imultânea dos eventos ro, pelo fato das fibras uterinas altas terem mais concentra-
registradas nos dois canais permite registra r a repercu - ção de actomiosina, proteína dotada da propriedade de con-
sões das contrações sobre a vitalidade fetal intraparto. Na trair-se c que constitui o substrato bioquímico da contração.
técnica de registro externo, a atividadc uteri na é captada A monitoração das contrações também permite detec-
por um transdutor mecânico de pressão no fu ndo uteri no. ta r hipertonia uterina, que pode ser primária, como ocorre
Apesar de menos precisa, não há interrupção no registro, no descolamento prematuro da placenta, ou secundária,
como ocorre, por vezes, na técnica de registro interno por devido ao au mento da intensidade e/ ou duração das con-
obstruções por gru mos de vernix, tampouco risco de in- traçõcs14 c que normalmente permanece em torno de 10-
fecção por manipulação intrauteri na.1 12 mmHg. O aumento do tõnus uterino reduz o volume
Alvarez e Caldeyro-Barcia de Montcvidéo, Uruguai, sanguíneo nos vasos materno que atravessam o miomé-
foram os pioneiros no estudo das cont raçõcs uterinas trio, levando e trazendo anguc materno ao espaço intervi-
durante a gestação, parto c puerpério.11 Foi introduzido o leso, ocasionando asfixia fetal.
conceito de unidade Montevideo para defi nir a atividadc
uterina, que é o resultado da intensidade da pre ão hidros-
tática do líquido amniótico em mm Hg, pela frequência das MONITORAÇÃO ELETRÔNI CA
contrações, em lO minutos. Antes da 30" semana de ges- DA FREQUÊNCIA CARDÍACA F ETA L
tação há uma contração por hora, já descrita por Braxton-
-Hicks, em 1872, que recebe o nome do autor. Raramente A FCF pode ser registrada externamente no abdome
cs as contrações são superiores a 20 m mHg. A sensação de materno fixando-se um tran dutor de multicristais de dop-
desconforto materno urge quando a intensidade da con- pler na região de máxima ausculta fetal.
tração ultrapas a I ' mm Hg. Essas contrações aumentam Também pode ser obtida internamente por um elctro-
de frequência e intensidade com o decorrer da gravidez e do fixado no e calpe da apresentação fetal, desde que haja
transformam-se em contrações de trabalho de parto, isto di latação cervical c a bolsa esteja rota. Nessa situação, o
é, contrações capazes de di latar o colo uterino quando a pico R do complexo P- QJ~S-T alimenta o cardiotacôme-
atividade uterina alcança no mínimo 50 unidades Mon- tro, que transforma o sinais elétricos em batimentos por
tevideo - pelo menos duas contrações com 25 mm Hg, a minuto. Dessa forma, é possível registrar a variabil idade
cada lO minuto . e há três contrações em lO minutos de 50 batimento por batimento. A necessidade de bolsa rota e
mmHg de intensidade, têm-se 1' 0 un idades Montevideo. consequente risco de infecção lim ita o método, que pra-
Os e tudos de Caldeyro-Barcia com microbalões inseridos ticamente é usado apenas cm trabalhos de pesquisa. A
no interior do miométrio concluíram que as contrações análise c interpretação dos traçados permitem classificar a
originam-se de um marca-passo localizado no fundo uteri- vitalidade fetal intraparto cm normal (categoria I), suspeita
no, geralmente à direita, próximo da inserção das trompas. (categoria 11) e anormal (categoria III). L'
Pode haver marca-pa os ectópicos que interagem com o
marca-passo eutópico gerando incoordcnação motora, que
na maioria das vezes se desfaz com o uso de ocitocina, por PADRÃO NORMAL DA
ter o marca-passo original mais afinidade com o medica- FREQUÊNCIA CARDÍAC A FETAL
mento. Quanto mais próx imo do fu ndo, o marca-passo
maior é a intensidade da contração que se faz de cima para A FC F de um feto saudável a termo apre enta uma linha
baixo, de maneira descendente. basal entre II Oe 160 bpm, com aceleraçõe tran itória (AT)
O chamado tríplice gradiente descendente tem três associadas a movimentos corporais reta is (MC) c contrações
componentes: primeiro, o sentido descendente da propaga- uterinas e a variabilidade da linha de base fica normalmente
ção da onda, de cima para baixo; segundo, a duração maior entre 6 e 25 bpm, além da ausência de desacelerações.'

Cardiotocografia 225
PADRÕES ANORMAIS ou transfusão feto-fetal na gestação múltipla. A taquicardia
DA FREQUÊNCIA CARDÍACA FETAL compensatória ocorre depois de prolongadas desacelera-
ções ou após várias desacelerações variáveis seguidas do
A vitalidade fetal está comprometida quando surgem que chamamos de taquica rdia de rebote, caracterizada por
as seguintes alterações da FCF: li nha de base abaixo de 110 FCF elevada e ausência de variabilidade da linha de base. IS
bpm ou acima de 160 bpm, ausência de AT por período su-
perior a 45 minutos c variabilidade da linha de base abaixo
de cinco ou acima de 25 bpm e presença de desacelerações AusÊNCIA DE
tardias ou variávcis.5 ACELERAÇÕES TRANSITÓRIAS

As acelerações transitórias (AT) são elevações da FCF


BR AD ICA RDI A entre IS e 25 bpm, com duração de IS a 30 segundos, o
que sugere feto de padrão reativo. Essas ATs geralmente
É quando a linha de base é inferior a 110 bpm. Pode ser ocorrem associadas a um movimento corporal fetal (MC).
resultado da compressão transitória do cordão umbi lical, No feto em repouso, a AT pode permanecer ausente 20 a
ocasionando elevação instantânea da pressão sanguínea e 45 minutos. Q\.1ando o feto é sadio e está acordado, sempre
ativação do reflexo barorreceptor, ou ser resultado da priva- reage ao MC com um AT (Figura 15.1). Ausência de AT
ção de oxigênio no músculo cardíaco. O utros fatores podem em traçados longos, mesmo com FCF basal normal e varia-
determ inar bradicardia, como: uso de beta-bloqueadores, bilidade adeq uada, deve ser considerada suspeita.
anestesia de bloqueio regional, sem a suficiente reposição
de líquido para compensar a consequente vasodilatação
induzida pela anestesia, síndrome de hipotcnsão-supina e ALTERAÇÕES DA VARIABILIDADE
convulsões epiléticas. Também pode ocorrer se há redução DA LINHA DE BASE DA FCF
da perfusão materno-placentária, como no caso da estimu-
lação excessiva das contrações uteri nas por ocitocina ou Serão consideradas apenas as macro-oscilações que
prostaglandina. Uma circular apertada de cordão dura nte o podem ser aferidas clin icamente num traçado de cardio-
período expulsivo leva à bradicardia. A brad icardia deve ser tocografia (obtenção externa). Ela representa a interação
diferenciada da linha de base baixa resultante da somatória da influência simpática e parassimpática. A estimulação
de várias desacelerações tardias (DI P II). Valores da linha simpática aumenta a FC F e a parassimpática a faz retornar
de base abaixo de I 00 bpm frequentemente associam-se a ao nível basal. Reduzem a variabil idade: os medicamentos
mau prognóstico neonatal. Esse quadro estável associado a anestésicos, narcóticos, barbitúricos c tranquil izantes, a
ausência deAT c redução da variabilidade sugere depressão prematuridade, o sono fetal, a bradi e taqu icardia, a hidro-
do miodrdio c do SNC e pode preceder a morte fetal.1.1 4 pisia fetal, a taqu icardia associada a desacelerações ta rdias,
a hipóxia crónica e o da no cerebral. Aumentam a variabi-
lidade: a cpinefrina, a compressão de cordão umbilical, a
TAQU ICARD IA brad icardia e taquicardia de base, a gestação prolongada e
as contrações uterinas excessivas (Quadro 15.1 ).
É quando a linha de base é superior a 160 bpm. Várias
condições determinam taquicardia como infecção e ane-
mia feta l, febre, hipcrtiroidismo e ansiedade materna e o DESACELERAÇÕES ou DIPs
uso de agonistas beta e atropina. Na infecção fetal a FCF
está elevada, a variabilidade da linha de base reduzida e Hon, em 1963,8 classificou as desacelerações cm pre-
a AT ausente. Na infecção materna a FCF também está coces, tardias c variáveis e as associou a fenômenos fisioló-
elevada, mas existem períodos de variabilidade normal gicos específicos: a precoce foi associada à compressão da
e a AT não desaparece. A anemia pode ocorrer devido à cabeça fetal, que aciona o nervo vago por estímulo durai,
sensibilização pelo fato r Rh, acidente hemorrágico fetal reduzi ndo a FCF; a desaceleração tardia foi associada à

226 Noções Práticas de Obstetrícia


insuficiência placentáriai e a desaceleração variável à com- ~1a ndo esse tipo de desaceleração vem associado à
pressão do cordão umbilical. Defi niram-se como recor- redução da freq uência de base, perda da variabilidade c
rentes as desacelerações que ocorrem cm ' 0% ou mais das ausência de AT, traduz importante comprometimento da
contraçõcs uterinas numa janela de 20 mi nutos e intermi- saúde fetal. A red ução da pOz estimula os qui miorreccp-
tentes se ocorrerem em < de SO% das contraçõcs uterinas, tore do arco aórtico e do seio carotídeo, que determ inam
num mesmo período. vasoconstrição, elevação da pressão arterial do feto que,
por ua vez, estimula os baro rreceptores a desencadear
resposta vaga i, provocando desaccler.1ção dos BCFs. Na
D EsACELERAÇõEs PR Eco cEs o u D I Ps I hi póxia há acli mu lo de ácido lático ocasionando depressão
de miod rdio fetal responsável pela genesc das desacelera-
Graficamente, são simétricas, com queda e retorno ções tardia c redução da variabilidade da linha de base. A
gradua l dos BCFs por 30 segundos ou mais c ocorrem si- acidose fetal de arranja o metabolismo celu lar ao interferir
multaneamente às contrações. O pico da contração coin- no sistema enzi mático das mitocôndrias (Figura I5.4).8
cide com o fundo da desaceleração, retornando à lin ha de
base ao término da contração e graficamente tem o for- Início recuperação
mato da letra V. A desaceleração da FCF é calc ulada do > 30 seg
início da queda ao seu ponto mais baixo e geralmente não
cai abaixo de I 00 bprn.
É ocasionada pela compressão do polo cefálico fetal,
pico
com alteração do flu xo sanguíneo cerebral e estimu lação
vagai (resposta do parassimpático) (Figura I 5.3). 8
contração

Figura 15.41 Representação esquemática da desaceleração


tardia ou D l P 11. Ent re o pico da cont ração c o fundo da
queda dos BCFs decorrem, pelo menos, 30 segundos.

Ü ESAC I:-11-'R A(,.'Ül:.~ VAR I Á\ "EIS ou Ol P II I OLI,


A I ' DA, D IP U MBII ILA L

Figura 15.31 Reprcscnt.1ção esquemática da desaceleração Graficamente, surgem como queda rápida c abrupl:t
precoce ou D l P l. da FCF, geralmente não associadas às contrações utcri n.1s,
ocorrendo aleatoriamente. Res ultam de compressão funi-
cular (veia umbilical), mediadas pelo reflexo barorreccptor
D ESACE Ll:.RAÇ Õ ES T ARDIAS o u DIPs li que determi na incremento da FCF como fator de manu-
tenção do débito cardíaco.
Graficamente tam bém são simétricas, com queda Devem-se considerar: :~ profundidade da queda da
lenta e recuperação gradual dos BCFs, retardada cm rela- FCF, sua duração, o tempo de recuperação, a va riabilidade
ção à contraçào que a provocou c tem o for mato da letra e o nível da linha de base.
U. Inicia-se a partir de 20 segundo do começo da con- São características de mau prognóstico: perda de acele-
tração uteri na. O tempo que decorre entre o fundo da ração inicial, o lento retorno para a linha de base, a acelera-
desaceleração e o valor máximo da contraçào é ig ual ou ção terminal prolongada ou desaceleração bifá ica, a perda
superior a 30 segundos. Aq ui há queda da p0 2 no sangue de va riabilidade durante a de aceleração e taquicardia resi-
estocado no espaço interviloso causado pela contração e dual. As desacelerações variávei ão frequente na presen-
está associada a feto hipoxêmico. ça de oligoidrâm nio (Figura I S.S).~

Cardiotocografia 227
OlP III
/ OIPI / umbilical Variahilidade da linha de hase: Ausente ou mlnima,
-FCF não acompanhada de desacelerações recorrentes.
~ Marcante (saltatória).
~ Acelerações transitórias: Ausentes após estímulo fetal.
DIP 11 Desacelerações periódicas ou episódicas: Desacelera-

~ FCF ções variáveis recorrentes e acompanhadas por va-


riabilidade da linha de base mínima (comprimida)

~ M = metrossístole
FCF = frequência cardíaca fetal
ou moderadas (ondulatórias).
Desacelerações prolongadas 2:. 2 minutos, mas < lO
minutos.
Figura 15.5 I Representação esquemática das desacelera- Desacelerações tardias recorrentes, com variabili-
ções ou DlPs da linha de base. dade da linha de base moderada (6 a 25 bpm).

METODOLOGIA DE
INTERPRETAÇÃO DO PADRÃO CATEGORIA III (TRAÇADO ANO RMAL)

Dos BCFs NA CARDIOTocoGRAFIA


Q uando o traçado apresenta qualquer um dos seguin-
tes achados:
Baseado em cuidadosa revisão, foi criado um sistema Ausência de va riabilidade da linha de base.
de interpretação das FC Fs que as divide em três categorias Desacelerações tardias recorrentes.
(Three-Tier Fetal Heart Ratelnterpretation System) 4 ·5 Desacelerações variáveis.
Bradicardia.
Padrão sinusoidaL
CATEGORIA I (TRAÇADO NORMAL)
Na vigência de comprometimento fetal agudo, a car-
Q uando os traçados da FCF são normais e fortemente diotocografia, junto com o fluxo da artéria umbilical, qua-
preditivos de condição ácido-básica fetal normal no mo- se sempre é o primeiro parâ metro a se alterar a partir do
mento da observação, o traçado apresenta todas as se- surgimento da perda da reatividade fetal. Entretanto, todo
guintes características: método de avaliação da vitalidade fetal não pode ter seus
Linha de base: entre 110 e 160 bpm. resultados interpretados de forma isolada, pois apresentam
Linha de base: com variabilidade moderada ou on- em torno de 55% de resultados falso-positivos. 45
dulatória.
Desacelerações tardias e variáveis: ausentes.
Desacelerações precoces: presentes ou ausentes. MÉTODOS COMPLEMENTARES
Acelerações tra11Silórias: presentes ou ausentes. DE MONITORAÇÃO INTRAPARTO

CATEGORIA II (TRAÇADO ATÍPICO) MONITORAÇÃO BIOQUÍMICA

Qyando os traçados são indeterminados e requerem Em 1963, Saling desenvolveu, na Alemanha, metodo-
contínua e cerrada avaliação, os traçados desta catego- logia para avaliação do estado de equilíbrio ácido-básico
ria não se enquadram nas categorias 1 ou ll l, como, por do sangue fetal durante o parto. 15 Aplicando amnioscópio
exemplo: sólido com luz fria sobre o vértice da cabeça, procede-se à
Linha de base: Bradicardia não acompanhada por limpeza das secreções e do líquido amniótico com gaze
ausência de variabilidade da unha da base. montada sobre pinça. A seguir, insere-se pequena bolinha
Taquicardia. de algodão com éter, mantendo-a sobre o couro cabeludo

228 Noções Práticas de Obst etrícia


por alguns segundos. Depois, apl ica-se nessa região uma Yam et a/. 16 mostraram que foi possível utilizar a oxime-
fina ca mada de vaselina sólida. Com bisturi apropriado, tria de pulso em 70 a 95% das parturientes estudadas, du-
que perm ite penetrar apenas 3 m m, executa-se pequena rante 50 a 89%do tempo de duração do parto. Garite et a/.,17
punção. O sangue que flui fica aderido na vaselina, for- em estudo com 1.0 IO parturientes, observaram que empre-
mando gota espessa. O emprego do éter causa vasocons- gando valor de corte da oximetria em 30%, a taxa de cesárea
trição, seguida de vasodilatação reflexa, o que promove reduziu-se de l0,2 para 4,5%. Ent retanto, inexplicavelmente,
arterialização do sangue na gália. Encostando fino coletor a incidência de cesárea, por distocia, elevou-se de 9 para 19%.
heparinizado sobre a gota formad a, o sangue adentra o O sensor do monitor é hoje comercializado por 120 dó -
tubo, por diferença de tensão superficial. Empregando lares americanos, não podendo ser reutilizado.
microprocessador de pH e de gases, aferem -se o pH, p0 2 e Apesar dos primeiros resu ltados ressaltados, o método
pC0 2, bem como o déficit ou excesso de bases, pela aplica- não deve ser empregado na prática clínica, por falta de evi-
ção do normograma de Siggard-H andersen . dências que assegurem seu valor clínico.
Vários estudos correlacionaram os resultados encon-
trados pela aplicação do método com os eventos da cardio-
tocogra fia. Sali ng demonstrou que a p02 fetal sofre varia- ELETROCARDIOGRAFIA FETAL
ções em curto espaço de tempo e a med ida da pC02 pode
ser desca rtada, já que quadros isolados de hipercapnia são O ECG fetal, tal qu al o do adulto, consiste da ond a P,
raros. Qpando a hipercapn ia integra quadro de acidem ia, o QRS e T, separadas pelos intervalos PR e ST. Isso repre-
valor do pH estará sempre alterado. senta o somatório dos eventos elétricos do coração. Ades-
Nos dias atuais, o método, quando disponível, deve ser polarização dos ventrículos, que inicia a contração, origina
empregado se a cardiotocografia acusa estado d e vitalida- o complexo QRS. O segmento ST e a onda T são partes
de fetal não tranquilizador: do mesmo processo de repolarização, quando o músculo
pH acima de 7,25 exclui acidem ia; entra na fase de estabilização. O segmento ST é usualmen-
valores entre 7,25 e 7,20 indicam nova coleta em 30 te isoelétrico, porque as células ventriculares geralmente
minutos; alcança m, ao mesmo tempo, o mesmo poten cial de despo-
pH inferior a 7,20 caracteriza acidemia; larização. Normalmente, o ápice ventricular repolariza-se
valores inferiores a 7,00 ind icam acidose e geral- antes da base e o epicárdio antes do endocárdio, possibili-
mente se associam a graves lesões celulares, princi- tando o desenvolvimento de onda T positiva. Entretanto,
palmente do SNC. se o endocárd io repolariza-se antes do epicárdio ou a base
antes do ápice, como pode acontecer no lento processo de
despolarização, como numa extrassístole, a onda T será
ÜXIMETRIA FETAL DE PULSO negativa. A aparência da onda ST, particularmente da T,
depende do grau de pressão da parede ventricular, durante
O sucesso alcançado com o emprego da oxi metria de o seguimento da despolarização.
pulso, na anestesia e também na monitoração dos pacien- Experiências com fetos exteriorizados de ovelhas reve-
tes em un idades de tratamento inten sivo, at içou o desen- laram que a hipoxemia, com acidemia, determina progressi-
volvimento de instrumento para m on itoração da satura- vo aumento na amplitude do segmento ST e onda T. Verifi-
ção da hemoglobina fetal. Um sensor é introduzido através cou-se que os fa tores causais são a res trição na inspiração de
do colo, após rotura das membranas, e acoplado sobre a oxigénio pela m ãe, bem como as compressões intennitcn-
fàce feta l, ficando inserido entre ela e a parede do útero. tes da aorta e do cordão um bilical. Razão T/ QRS > I sem-
Durante os primeiros anos de uso, fo ram utilizados pre precede os sinais de falência da função cardiovascular. 18
compri mentos de ond a entre 660 e 735 nm . O sistem a A habi lidade do feto em sobreviver intacto a episódio
Nellc01; comercialmente disponível, emprega 890 n m, o de hipoxemia e acidem ia d epende muito do fu ncionamen-
que resulta em melhor qualidade dos sinais ópticos, ma ior to do sistema autonóm ico e da capacidade de redistribuir
penetração no tecido e alta percentagem de valores de sa- o sa ngue para órgãos prioritários, tais co mo coração, cére-
turação válidos. bro e adrenais. A importâ ncia do metabolismo anaeróbico

Ca rdiotocografia 229
para mlnutenção da função miocárdica, durante a asfixia, maternas. Deve-se levar em consideraçio,também,a deci-
está bem-estabelecida e depende da reserva miocárdica em são da parturiente, obtendo de la consenti mento pós-iníor-
glicogênio. mado sobre as vantagens e riscos inerentes à m etodologia
Durante situação de hipoxemia moderada, alguns fe- proposta. Em todos os partos devem-se e mpregar:
tos sustentam metabolismo anaeróbico e por isso não há Controle do pulso materno, simultâ neo ao da FCF;
elevação na Íorma da o nda ST. A capacidade individual na suspeita de óbito letal, confirmar a ausência de
do feto em uprir oxigenação miocárdica suficiente para FCF com ultrassonografia;
manter um metabolismo anaeróbico, pa ra determinado auscultar os batimentos ca rdíacos do Íeto, de Íorma
p0 1 , depende: intermitente;
Da habilidade em aumentar o fluxo de oxigênio co- registrar qualquer evento no prontuário médico.
ronariano, obtido tanto pelo incremento no trans-
porte de oxigênio quanto pelo aumento do fluxo de Nas parturientes sadias c com gestações não com-
sangue mioc:irdico; plicadas, a ausculta intermitente deve ser empregada no
do consumo m iocárdico de oxigênio. controle da vitalidade fetal. Na Íase ativa, a ausculta deve
ser efetuada após a cont ração, por 60 segundos, a cada 30
Pesquisa realizada em ovelhas demonstrou que q uan- minutos no primeiro período e a cada ci nco minutos no
do a hipoxemia letal era induzid a pelo nitrogênio, a relação segundo período.
T/ QRS aumentava de 0,27 para 0,59, revertendo-se quan- A monitoração contínua (ca rdiotocografia intraparto)
19
do do emprego de oxigênio puro. Observou-se, também, está ind icada quando:
que havia correlação entre a razão T/ QRS e o incremento FCF for interior a 110 bpm ou superior a 160 bpm;
dos níveis de lactato no sangue. houver desacelerações;
Noren e/ a/. 20 divulgaram experiência com a análise do Íor detectado qualquer fa to r de risco intraparto.
segmento ST em4.966 fetos de termo, assistidos na Suécia20•
Dos 29 fe tos com complicações nconatais, em 22 houve Quando estiver indicado o emprego da cardiotocogra-
sinais de alteração do segmento ST, indicativos da necessi- fia intraparto:
dade de intervenção. No grupo assistido com cardiotoco- Datar e acertar o rel.ó gio do mon itor;
grafia, acrescido do estudo do segmento ST, a taxa de en- adequar a velocidade do papel para 1 cm/ min;
ceíalopatia neonatal grave Íoi de 0,04%, enquanto no grupo anotar nome da mãe, data e nú mero do prontuário
assistido somente com cardiotocografia ela Íoi de 0,33%. no início do papel de registro;
Apesar do entusiasmo com esses resultados prelimi- anotar os eventos no registro (por exemplo, toque
nares, a metodologia ainda restri nge-se à área de pesquisa. vaginal);
As maiores dificuldades encontradas com sua aplicação qualquer opinião de terceiro deve ser anotada no
decorrem da dificuldade em manter a captação do sinal prontuário;
conti nuada mente. anotar no fim do registro a hora de nasci mento, tipo
de parto, peso ao nasci mento, nome do neonatolo-
gista, índice de Apgar, pH, p02, pC02 e BE, quando
APLICAÇÃO PRÁTICA executados
DA MoNITORAÇÃO lNTRAPARTO acondicionar os regi stras com vistas à manutenção
por2S anos;
procurar sempre obter a anál ise do equilíbrio áci-
A vigilância do bem-estar letal é apenas um dos com - do-básico do sangue do cordão umbi lical.
ponentes da assistência intraparto. O emprego de qualquer
das tecnologias descritas deve ser sempre questionado, le- A monitoração bioquímica pode ser empregada quan-
vando-se em consideração a segurança fetal e a comodida- do a cardiotocografia intraparto (CTG 1P) exibir traçado
de materna, evitando-se que os resultados obtidos possam anormal, com su speição de acidem ia e/ ou acidose letal. O
incrementar, desnecessariamente, a taxa de intervenções método está contra indicado:

230 Noções Práticas de Obstetrícia


Nas mulheres p ortadoras do vírus HIV; Fatores de R1sco
nas mulheres portadoras do vírus da hepatite; Fetais
Maternos I
nas mulheres portadoras de herpes simples;
Cesariana prévia Prematuridade
na hemofilia fetal;
Pré-eclâmpsia Oligoidrâmnio
no parto pré-termo (menos de 34 semanas\ Gravidez prolongada Doppler alterado
nos casos de desaceleração prolo ngada por mais de Rotura de membranas > 12 horas Gestação múltipla
três mi nutos. Indução do parto Mecônio
Diabetes mellitus Uso de ocitócicos
Hemorragia anteparto Analgesia
O Q uadro 15.3 res ume a conduta clínica fre nte aos va-
Outras doenças Apresentação pélvica
lores do pH aferidos no sangue do escalpe fetal.
Passar para CTGIP se:
Qyadro I 5.31 Conduta frente aos va lores do pH do escalpe Ausculta anormal
fetal Mecônio
pH Conduta Sangramento vaginal AUSENTES
Taquisistolia
>7,20 Repetir se a alteração na CTG continuar
- -------lAusculta intermitente
7,21 a 7,24 Repetir a avaliação em 30 minutos ou inter- Oferecer e
romper o parto se houver rápida queda Recomendar CTGIP
Traçado Atípico ou Anormal:
< de 7,20 Realizar o parto Medir a ressuscitação
Traçado Normal: Tentar determinar a causa
Continuar CTGIP do padrão atípico
Qyando se ca racteriza comprometimento da vitalida- CTGIP pode ser suspensa Continuar monitoração
de fe tal, empregam-se as seguintes medidas clínicas (me- se condições maternas Oximetria ou pH fetal se
e taxa de infusão de disponíveis
didas de ressuscitação):
ocitocina estáveis Reavaliar quadro clínico:
Remoção da cond ição agrava nte, su sp endendo o idade gestacional, fase do
uso da ocitocina; trabalho de parto, altura da
ad ministração de oxigen ioterapia matern a por apresentação, dilatação do
colo, peso fetal estimado
máscara;
Considerar parto se quadro
mudança de decúbito matern o; persistir ou piorar
CTGIP = cardiotocografia intraparto
hidratação;
suporte emocional; Figura I 5.61 A lgoritmo de avaliação feta l d urante o traba-
suspensão da força expulsiva; lho de parto.
muda nça na fo rm a de respi rar;
uso de tocolít icos (em caso de taquissistolia); O Q uad ro l5.4 most ra as possíveis causas dos t raçados
elevação da apresentação, nos casos de comprome- a normais na cardio tocogralia int raparto e as medidas que
timento da circulação funicular (prolapso de cor- podem ser adotadas para tentar m el horar o quad ro.
dão, por exemplo).

Pretende-se, com essas medidas: PROGNÓSTICO


Au mentar o fluxo sangu íneo útero-placentário;
aumentar a ci rculação fun icular; Morte perinatal, paralisia cerebra l (PC) e deficiência
au mentar a oxigên io-saturação do sa ngue materno do desenvolvimento neuropsicomotor (DON PM) são t rês
e fe tal; importantes efeitos adversos da hipóxia fe tal, cuja incidên-
reduzir ou aboli r a atividade uterina. cia a mon itoração intraparto pretende reduzir.
PC é o controle anormal não progressivo dos movi-
A Figura 15.6 ilustra nossa proposta de avaliação fetal mentos ou d a postu ra, limitado à quadriplegia espástica ou
durante o trabalho de p arto. a seus subtipos d isc inéticos.

Cardiotocografia 231
Quadro I S.4 1Causas de padrão anormal na cardiotocogralia e medidas de ressuscitação
Padrão Ar10r 111 ~I Assocracoes ou Possrvr!rs Ci1usas Meclrclas clinrcas

Bradicardia Maternas: 1. Verificar pulso materno e diferenciar a frequência


Hipotensão materna da fetal
Medicamentos 2. Toque para verificar prolapso de cordão ou período
Posição materna expulsivo
Fetais: 3. Hidratação, decúbito lateral esquerdo. oferecer 02
Oclusão do cordão 4. Avaliar uso de medicações
Hipóxia/ acidose 5. Se disponível, avaliar pH fetal ou oximetria
Estimulo vagai como a compressão do 6. Se FCF < 100 bpm, apesar de medidas, preparar para
polo cefálico o parto
Defeito de condução no coração fetal I
Taquicardia Maternas: 1. Avaliar temperatura materna
Febre 2. Abaixar temperatura (se febre) I
Infecção 3. Avaliar uso de medicações
Desidratação 4. Reavaliar tempo de rotura de membranas e fatores de
Hipertireoidismo risco para infecção por strepto p
Adrenalina endógena ou ansiedade 5. Se FCF > 160 por mais de 60 minutos, considerar parto
Medicamentos
Anemia
Variabilidade mínima Sono fetal Se variabilidade < 5 bpm por> 80 minutos ou ~ 25 bpm ~
ou ausente Prematuridade por 10 minutos:
Medicamentos (analgésicos/sedativos) Considerar avaliação do pH fetal
Hipóxia Preparar para o parto
Variabilidade Hipóxia leve Considerar avaliação do pH fetal I Preparar para o parto
marcante Gasping
Padrão sinusoidal Anemia fetal grave (Hb<7,0) Realizar o parto
Hipóxia cerebral Avaliação de anemia no RN
Ausência de acelera- Sono fetal Realizar estímulo vibroacústico
ções transitórias Hipóxia Considerar avaliação do pH fetal I Preparar para o parto
Desacelerações Associadas à compressão do cordão No primeiro estágio do parto, observar o surgimento de
variáveis (OlP III) padrão anormal da CTG.
Muito comuns no final do primeiro estágio e período
expulsivo - acompanhamento expectante
Desacelerações variáveis complicadas Avaliar realização de amnioinfusão. se disponível
podem estar associadas à acidemia Considerar avaliação do pH fetal I Preparar para o parto
Desacelerações Resposta vagai à diminuição do p02 Quando ocasionais. colocar a mãe em decúbito lateral
tardias (OlP III Fluxo diminuído para a placenta esquerdo. avaliar sinais vitais e continuar observando.
(ex: hipotensão maternal
Oxigenação diminuída
Transporte gasoso diminuído na placenta Quando repetitivo:
(ex: insuficiência placentária) Considerar avaliação do pH fetal I Preparar para o parto
Pode estar associada à acidemia fetal
Desaceleração Associada à resposta dos quimiorrecepto- Toque vaginal para avaliar prolapso de cordão ou perío-
prolongada res e barorreceptores fetais com mudan- do expulsivo
ças importantes no ambiente intrauterino.
devido à hipertonia uterina, compressão do Preparar para o parto
cordão, hipotensão materna. convulsões
maternas ou decida rápida do polo cefálico i

232 Noções Práticas de Obstetricia


A DO PM consiste na restrição ou na falta de habili- antes ou durante a expulsão da criança; e como neonatai
dade cm cumprir com determinada atividade relacionada se atuaram após o na cimento. Usa-se o termo peri natal
ao ato de caminhar, sentar e usar o controle cerebral. quando a origem da alteração é indeterminada. O distúr-
Os dois últimos desfechos são raros. Além disso, tanto bio é rotulado como agudo quando o fatore de encade-
na PC quanto na DO PM, o diagnóstico é tardio, pois a antes ocorrem por breve período de tempo até alguma~>
manifestação clínica é tardia. Estudos que pretendem ava- horas e como crónico quando começam num período e
liar a cfctividadc da monitoração na redução da incidência continuam em períodos subsequentes, como dias ou se-
desses eventos precisam integrar grande número de casos. manas, podendo ser contínuos ou intermitentes.
Eles devem acompanha r as crianças suspeitas por longos Aencefalopatia neonatal é defin ida como uma sínd ro-
anos. A taxa de mortalidade perinatal no Reino Unido, por me clínica de disfunção neurológica que ocorre na criança
exemplo, é de oito por mil nascidos vivos e a taxa de para- após o parto ou durante a primeira semana de vida, ma-
lisia cerebral é de O, I por mil nascidos vivos. Em ambiente nifestando-se pela dificuldade cm iniciar e manter a rc -
com essas características, para que se possa inferir alguma piração, depressão do tónu c reflexos, alteração do nível
influência da monitoração intraparto, necessitam-se e tu- de consciência e, frequentemente, convul õe . Ainda não
dar 56.000 mulheres, pelo menos. se abe quais desses sinais prenunciam a doença em pre-
No 1.cntido de contornar essa dificuldade, muito~ estu- maturos. Tem sido evitado o u o do termo encefalopatia
dos analisam desfechos intermediários. Entre esses, estão a isquêmico-hipóxica logo após o parto, quando não se tem
avaliação do equilíbrio ácido-básico fetal, o índice de Apgar certeza do diagnóstico. Em 75% do ca os de cncefalopa-
no quinto minuto, a ocorrência de convulsões nconatais, tia neonatal não se evidenciam sinais cl ínicos de hipóxia
a nece sidade de ventilação mecânica após o nascimento, intraparto.l 1
bem como a ocorrência de encefalopatia neonatal. Con- Estudos retrospectivos, com registres ca rdiotocográfi-
vém aqui considerar que novas técnicas de monitoração cos, geralmente não identificam elementos que perm ita m
idealizadas têm permitido mudar conceitos fisiológicos estabelecer relação entre causa c efeito. Isso porque tanto o
e fi siopatológicos classicamente cstatuídos, que não s:io de envolvimento quanto a funç:io cerebral não podem ser
universalmente aplicados na interpretação dos resultados. monitorados. As compl icaçõc~ que ocorrem no período
Consenso internacional, publicado em 1997, reiterou a antenatal têm papel preponderante na gênese da paralisia
necessidade de se abolir o uso dos termos sofrimento fetal cerebral. Pesquisas epidem iológicas sugerem que em
c asfixia intraparto.- Essa opinião foi endossada pelo Co- cerca de 90% dos casos em que houve hipóxia int raparto
légio Americano de Obstetras e Ginecologistas e pela o- a paralisia cerebral não se desenvolveu. Ao revés, em 10%
ciedade Canadense de Obstetra e Ginecologista , entre dos casos em que a hipóxia intrapa rto esteve associada
outras entidades importantes. O termo sofrimento fetal foi à paralisia, foram identificadas, também, causas antena-
substituído pela cxprcs ão estado fetal não tranquilizador, as- tais.22 Na maioria dos casos, reconhecia-se associação
sociado à descrição do sinal cl ínico ou teste que o determi- com fatores materno-fetais, como prematuridade, restri-
nou. Como exemplo, cita-se a acidosc fetal, definida como ção do crescimento intrauterino, in fecç:lo fetal, desordens
pH da artéria umbilical igual ou inferior a 7,00. da coagulação fetal, gestação múltipla, hemorragia ante-
O termo asfixia tem sido definido como a dificuldade parto, apresentação pélvica e anomalias congênitas ou
na troca de gases, com desenvol vimento de acidosc meta- cromo ômicas.
bólica. Usualmente, o termo está reservado para situações inais de comprometimento fetal, tais como alterações
experimentais, na quais as trocas podem er estabelecidas da FCF e mecónio no líquido amniótico, não são nem
com precisão. o contexto clínico, a asfixia fetal re ulta sensíveis nem específicos para qualquer causa particular e
da hipoxemia e hipercapnia progressivas, com desenvol- raramente estão associados à hipóxia intraparto. Q uando
vimento de acidemia metabólica significativa. O início e a acidem ia metabólica é conclusivamente identificada pela
a progressão dessas alterações podem ser de difícil ou im- determ inação do equilíbrio ácido-básico no nascimento
possível caracterização. Qyando possível, o momento e os ou logo após o parto, resta identifica r se ela provém de situ-
fatores devem ser descritos como fetais ou antenatais, se ação aguda ou crón ica, bem como c o fator determina nte
originados antes do parto; como intraparto, se originados incidiu só no parto ou se ele se associou a fatores prcexis-

Cardiotocograjia 233
tentes. Evidenciou-se, também, que na metade da gestação resta aind a determ inar se a hipóxia foi crónica o u aguda. Se
um episódio de h ipoxemia com 12 horas de duração é su fi - u m ou mais critérios apontados de quat ro a oito estiverem
ciente para determ inar lesão da substâ ncia branca e morte ausentes, o momento da ocorrência do d istúrbio nervoso
neuronal no hipocampo, no córtex cerebral e no cerebelo. deve ser con siderado duvidoso. Com exceção do evento
As complicações intraparto não têm papel preponde- hipóxico sentinela, todos os outros podem ser ocasionados
rante na gênese da paral isia cerebral. Se o feto experi men- por outros fatores, como infecção fetal, por exemplo.
tou lesão do tecido nervoso ou mau desenvolvimento do Apesa r da presença de acidemia metabólica ser impe-
SNC, as lesões, q ue são geralmente multifocais, podem rativa pa ra o diagnóst ico da PC desencadeada no período
afetar áreas responsáveis pelo controle autonómico da intraparto, ela não define o momento de atuação do even-
FC F ou da respiração. A redução da variabilidade da FCF, to responsável. Por out ro lado, ela incide em 2% de todos os
mecônio por ocasião d a rotura da bolsa das águas, o baixo partos e a maioria dessas crianças não desenvolve a moléstia.
índice de Apgar no nascimento e encefalopatia neonatal O ponto de corte dos valores que representam esse
podem todos ser fa tores decorrentes do comprometimen- distúrbio tem sido muito discutido. Aceita-se, atualmente,
to neurológico crón ico. Frequentemente esses si nais indu- que a acidose, com o fa tor de comprometimento do tecido
zem à prática de intervenções instru mentais como a cesá- nervoso fetal, deve ser considerada apenas q uando o pH for
rea, por exemplo, na esperança de que o fator determ inante igual ou inferior a 7,00 e o déficit de base igual ou superior
seja de instalação aguda e reversível. a 16 m moi/L. 23 Acredita-se que déficit de base abaixo de
Não se pode, ainda, identificar o momento no qual o 12 mmoi/L representa critério de exclusão razoável. Se
da no cerebral se torna irreversível na hipoxem ia crón ica. É não há evidência de registro do equilíbrio ácido-básico do
possível que esse ponto seja exatamente aquele no qual o feto ou do neonato na primeira ho ra de vida, não se pode
feto perde a capacid ade de compensar os efeitos adversos considerar a acidem ia como determinante dos outros si-
da contração uterina no parto. nais clínicos. Diferença entre valores de pC0 2 na artéria
O Q uad ro 1S.S representa os critérios aceitos atual- e veia umbilical acima de 25 mmHg sugere existência de
rnente para defi n ição de evento hipóxico agudo. fato r agudo. C onvém lembra r, entretanto, que essa técnica
Todos os três critérios essenciais devem estar presentes é ra ra mente empregada na prática clinica.
para que se possa considerar a PC como originada no pe- Se um insulto intraparto causou dano cerebral perma-
ríodo intraparto. Se um dos critérios está ausente, é muito nente em cria nça com mais de 34 sema nas de idade ges-
provável que o d istú rbio tenha ocorrido em o utro período. tacional, existirão anormalidades de comporta mento no
Se a avaliação do equilíbrio ácido-básico não está d ispo- período neonatal, geralmente de m oderada intensidade,
nível, não se pode considera r os outros sina is como repre- já documentadas nas primeiras 24 horas do parto. Ence-
sentativos. Quando todos os três critérios estão presentes, falopatia neonatal moderada ou grave concomitante com

Q uadro IS.S ICritérios que defi nem evento hipóxico agudo

1. Evidência de acidose metabólica fetal intraparto- pH da artéria umbilical ou em amostra do sangue neonatallogo após o
parto < 7.00 e déficit de base ~ 12 mmoi/L.
2. Encefalopatia neonatal moderada ou grave. de precoce instalação, em criança com ~ 34 semanas de idade gestacional.
3. Paralisia cerebral do tipo quadriplégico ou discinético.
['rr't'r ti' :,r r· t.rrd'r' ,rl '.L'lJBit' ll 111 11· t'llr d I'Jtrap.ll !11 11.11 t''P•'Ciflr IJ'·

4. Evento hipóxico sentinela. que ocorre imediatamente antes ou durante o trabalho de parto.
5. Súbito. rápido e sustentado comprometimento do padrão de normalidade da FCF. geralmente após ocorrência de evento
hipóxico sentinela.
6. Índice de Apgar de 5° minuto entre zero e seis.
7. Evidência de envolvimento multissistêmico precoce.
8. Evidência precoce de imagem representativa de comprometimento agudo cerebral.

Noções Prát icas de Obstetrícia


234
estado fetal não tranquilizador no parto é episódio inco- Resta considera r se as sequelas da h ipóxia intrapar-
mum, ocorrendo apenas em sete para cada 1.000 partos. to são passíveis de prevenção. Os conhecimentos at uais
Por outro lado, a maioria dos casos de encefalopatia grave não permitem apontar, retrospectivamente, q ual o mo-
não está associada a eventos h ipóxicos no parto. mento em que a apl icação de uma intervenção obstét rica
Os poucos e reduzidos estudos randomizados, no que é capaz de evita r os efeitos do episódio hipóxico intra-
se refere ao número de sujeitos observados, ind icam que o parto. O s fetos não são capazes de apresentar resp osta
emprego da C T G intraparto não previne contra paral isia un iforme, em que pese serem dotados de mecanismos
cerebral24 . Nem a presença de desacelerações tard ias ne m q ue lhes perm item resistir à hipóxia por longos pe ríodos
o decréscimo da va riabilidade são capazes de predizer a - minutos e talvez até horas. Pa ra aqueles que assistem
existência de PC, pois se acompanham de taxa de falso- parturientes, resta aplicar as evidências e a tecnologia da
-positivos da ordem de 99,8%. Defeitos neurológicos pree- monitoração in traparto com racionalidade, indicando as
xistentes são a maior causa de redução da va riabilidade da intervenções o bstétricas no con texto d e segurança que a
lin ha de base da FC F. A elevada frequência com que nas- prática o bstétrica moderna exige.
cem crianças em boas condições, nas quais a CTG revelou O Qyadro 15 .6 resume as evidências disponíveis sobre
situação fetal não tranqui lizadora (79%), torna difícil não a cardiotocografia.
só o manejo clínico do parto, como ta mbém lança dúvi-
das sobre o porvir do novo ser.

Q uadro 15.6J Evidências sobre ca rd iotocografia


Período Intervenção Grau de recome ndação
Anteparto A cardiotocografia deve ser realizada quando fatores de risco para hipóxia fetal 8
estão presentes
Na CTG normal. com movimentação fetal normal e sem suspeita de oligodrâmnio. 8
a realização da ultrassonografia é desnecessária I
lntraparto A ausculta intermitente (de 15 a 30 minutos durante o primeiro estágio e de 5 em 5 A
minutos no período expulsivo) deve ser o método de escolha de acompanhamento da
vitalidade fetal intraparto em gestações não complicadas
A cardiotocografia contínua não diminui a mortalidade perinatal quando compara- A
da com a ausculta intermitente
A cardiotocografia contínua deve ser oferecida a todas as pacientes em que se A
detectarem alterações durante ausculta intermitente
I
A cardiotocografia contínua deve ser oferecida para todas as mulheres/fetos com 8
fatores de risco para morte perinatal e/ou encefalopatia hipóxica
A oximetria fetal de pulso não reduziu a morbimortalidade perinatal. nem alterou A
os índices de cesariana
I
A análise do ECG fetal associada à cardiotocografia contínua não diminuiu o núme- A
ro de RNs com acidose. mas reduziu o número de partos operatórios

Cardiotocografia
235
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Noções Práticas de Obstet rícia


236
Seção 4
lntercorrências Gestacionais
Hiperemese Gravídica
Regina Améüa Lopes Pessoa de Aguiar

Etiologia e Fatores de Risco Trata mento


Diagnóstico Medidas Gerais
Achados Clínicos Alimentação
Alterações Laboratoriais lnternação Hospitalar
Exames de Imagem Medicamentos
Hidratação Venosa
Alimentação Enteral e Parenteral
Evidências

N
áuseas e vômitos são queixas frequentes na órgãos, como o aparelho digestivo, rins, pulmões, coração,
gestação inicial, sendo que apenas aproxima- pele c anexos, bem como dos sistemas hormonal e nervoso
damente 25% das gestantes não apresentam central c autônomo, além de vasos, proteínas e sangue. O li-
qualquer queixa relacionada a esses sintomas. Em geral, são mite de privação de água é em torno de dois a três dias; após
autolimitadas e as repercussões que esses transtornos pro- esse período as repercussões metabólicas podem ser graves e,
voca m no organismo - em relação ao nível de água, eletró- se não tratadas, são suficientes para desencadearem a morte. 1
litos e equilíbrio ácido-básico- são insignificantes, embora As náuseas e os vôm itos na gravidez, em geral, surgem
comprometam a qualidade de vida da gestante. antes de nove semanas de gestação e podem persistir até
A hiperemese gravídica representa o extremo da gravi- 14-16 semanas. O surgimento desses sinto mas após nove
dade de náuseas e vômitos na gravidez, acomete 0,3 a 2,0% semanas é sugestivo de outra causa desencadeante. Algu-
das gestantes e é a principal causa de internação hospitalar mas gestantes podem apresentar persistência do quadro ao
no primeiro trimestre de gestação. O diagnóstico é essen- longo do segundo tri mestre e, excepcionalmente, também
cialmente clínico e caracterizado por vômitos persistentes no terceiro trimestre.4
não relacionados a outras causas, sinais de jejum prolonga-
do (em geral, cetonúria) e perda de pelo menos 5% do peso
pré-gestacional. 1•2• 4 ETIOLOGIA E FATORE S DE RISC O
O equilíbrio metabólico necessário em todas as fases da
vida é dinâmico. Requer disponibilidade de água e nutrientes A etiologia de náuseas e vômitos na gravidez é, ainda
adequados na alimentação diária e a participação de vários nos dias atuais, desconhecida_l-2·4.5 Sua fisiopatologia cn-
volve complexa interação entre fatores biológicos, psicoló- O s pri ncipais fatores de risco para o desenvolvimento
gicos e socioculturais. Entre as diversas teorias existe ntes, de hipere mese gravídica são: au mento da massa placentá-
merecem destaque a predisposição psicológica/·8 proteção ria (mola hidatiforme, gestações múltiplas); hjstó ria pre-
embrioná ria e estímulo ho rmonal.9•10 gressa ou familiar de hiperemese gravídica; história pesso-
Várias situações de instabilidade psicológica, como al de enjoos de viagem; e enxaqueca. 1
imaturidade emocional, depedência materna, ansiedade, A maio ria das pessoas possui limiares diversos para os
rejeição à gestação, entre outras, são descritas como asso- vóm itos e responde de maneiras d iferen tes aos diversos
ciadas a m ais predisposição ao desenvolvimento de náuse- métodos de tratamento de seus problemas emocionais.
as e vómitos de difícil tratamento na gestação. 6 Entretanto, Essas diferenças podem determ ina r variações anatomo-
estudos mais atuais questionam essas teorias e sugerem funcionais e clínicas também nos casos de hiperemesc
que esses sintomas são m ais consequência do â nus físico gravídica.
da hiperemese do q ue sua causa propriamente dita?
Estudos clássicos salientam que as náu seas e os vóm i-
tos na gravidez filZem parte de um processo de proteção ao DIAGNÓSTICO
embrião, já que impediriam as gestantes de inge rir substân-
cias que poderiam ser tóxicas ao desenvolvimento normal ACHADOS CLÍNICOS
deste.~ Essa visão de pseudoproteção tem determi nado,
em algumas situações, trata mento inadequado de náuseas Embora exista a crença de que náuseas e vómitos sejam
e vómitos em sua fase m ais leve, favorecendo o desenvolvi- predominantemente matutinos, a maioria das gesta ntes
mento de hiperemese gravídica. apresenta os sintomas ao longo do dia e, não raro, queixam-se
A íntima relação temporal entre os picos da gonadotrol:ina também de excesso de sa livação. IS
coriônica humana (hCG) e os sintomas de náuseas e vóm itos A náusea pela manhã caracteriza-se inicialmente por
na gravidez enfatiza que o hCG é determinante na fisiopato- anorexia, varia ndo desde estado nauseante até vóm itos ao
logia destes. É bem-estabelecido que, a semelhança do que levantar após a noite de sono. No tra nscorrer do dia, muitas
acontece na pré-eclâmpsia, o trofoblasto - e não o fe to (já mulheres se recuperam, enquanto outras permanecem nau-
que náuseas e vôm itos acontecem também nos casos de mola sead as. O habitual é perdura r por tres semanas. As náuseas e
hidatiforme) -é determinante na ocorrência desses eventos. os vómitos vespertinos são tão raros quanto os que aparecem
Sabe-se, também, que quanto maior a massa placentária, mais com a fadiga, odores de alimentos, quando a paciente prepara
chances de desenvolvimento de quadros mais graves. Postula- a refeição noturna, realiza cuidados de casa ou percebe ore-
-se que o hCG causa náuseas e vómitos por estimulação da torno do marido após o traba lho. A recorrência dos vómitos
atividade secretória do t rato gastroinstestinal superior ou por pode desencadear mialgia, referida, especial mente, aos inter-
estímulo nos receptores de TSH. Gestantes com hiperemese costais. Na maioria dos casos, apesar da gravidade das quei-
gravídica apresentam alterações na função tireoidiana (hiper- xas subjetivas, os si nais de deficiência nutricional são poucos
tireoidismo induzido pela gonadotrofi na coriônica). 4·5·9·10 ou inex istentes. O s sinais vitais são habitualmente norma is.2
Os níveis de estrogênios, principalmente o estradiol, Po ucas mulheres persistem vomitando a ponto de pro-
também têm sido mencionados como possíveis desencade- voca r cetose, desidratação e alterações eletrolíticas, caracte-
adores de náuseas e vô m itos na gravidez. A associação entre riza ndo, então, o quadro de hiperemese gravídica. A desid ra-
estrogênios e náuseas é bem conhecida nos casos de contra- tação é identificada pela d iminuição do turgor e elasticidade
ceptivos hormonais o rais. Estudos mostram que a h ipere- da pele, olhos encovados, mucosas secas e língua áspera. Ta-
mese gravídica é mais comum nos casos de fetos femininos, quicardia e hipotensão podem estar presentes, assim como
quando os níveis de estradiol c irculantes seriam mais altos, hipotennia e torpor em casos mais graves. O Quadro 16. 1
10
em conseq uência à sua origem materna e fetal.5· apresenta os achados clínicos mais frequentes na hipereme-
O utros hormónios como progesterona, lep tina, hor- se gravíd ica. A alcalose h ipoclorêmica é ra ra, porque muitas
mô nio de crescimento placentário, prolactina e hormôn ios mulheres no início da gravidez possuem hipo ou acloridria e
adrenais estão implicados na gênese da hiperemese graví- a perda de íons é predominantemente de sódio e potássio; só
d ica, sendo alvo de g randes estudos.5 mais tarde, de cloreto.1•2•4

240 Noções Práticas de Obstetrícia


I
Quadro 16.1 Características cUnicas da hiperemese gravídica de vómitos incoercíveis.2 O Quadro 16.2 apresenta os pri n-
Vômitos incoercíveis cipais d iagnósticos diferenciais da h iperemese gravíd ica.

Perda de peso (pelo menos 5% do peso pré-gestacional)


Quadro 16.2 1Diagnóstico diferencial da hiperemese gravídica1"' 11
Desidratação: diminuição do turgor e elasticidade da pele,
Condrções Gastrorntestrnars
olhos encovados, mucosas secas e lingua áspera.
Gastroenterite
Taquicardia
Gastroparesia
Hipotensão
Acalasia
Torpor
Doenças do trato biliar

A hiperemese gravídica pode apresentar complicações Hepatites


como a encefalopatia de Wernicke, mielinose ponti na Obstrução intestinal
centrat estado vegetativo permanente, perfu ração e rotu-
Úlcera péptica
ra esofagianas, redução do crescimento fetal, síndrome de
Apendicite
Mallory-Weiss, hemorragia renal, pneu monia de aspira-
ção, psicose de Korsakoff, av ulsão esplên ica e reações me- Pancreatite
dicamentosas. A desidratação leva a d istúrbios h idroele- Condições do trato genitourinário
trolíticos, especialmente à acidose metabólica. A inanição
Pielonefrite
provoca hipoproteinemia e hipovitaminose, miocard ite
degenerativa, hepatite, nefrite e polineurite. A icterícia, a Uremia
diátese hemorrágica pela deficiência de vitamina C e do Torsão ovariana
complexo B e a h ipoprotrombinem ia conduzem à hemor-
Nefrolitíase
ragia, principalmente das mucosas. A paciente clinicamen-
te grave requer avaliação oftalmológica frequente pararas- Degeneração de mioma uterino
trear hemorragia retiniana e o descolamento da retina, que 01Jl)I1ÇélS 'lll!tc:IJUIICdS

representam sinais prognósticos desfavoráveis. O encontro


Cetoacidose metabólica
de lesão aguda da m ucosa gastrointestinal e icterícia (devi-
Partiria
da à hepatite tóxica) constitui prognóstico reservado.
As repercussões no fe to vão depender da gravidade do Doença de Addison
quadro materno, mas, em geral, para as mul heres q ue após Hipertireoidismo
a recuperação apresentam ganho de peso satisfatório ao
Dcerlr,;ds r1cur uluq rcds
longo da gestação, o resultado perinatal não é afetado. Para
as gestantes que após a resolução do q uadro o ganho de Pseudotumor cerebral
peso é insatisfatório, têm sido relatadas ma is ocorrências Lesões vestibulares
de baixo peso ao nascimento.
Enxaqueca
Nos dias atuais, a letalidade materna é ra ra e, mais fre-
quentemente, se associa a tratamento inadequado_'.2.4·5•11 Tumores do sistema nervoso central
E ntretanto, é importante estar atento aos princípios da ' CornplrccJr,;ues dcJ qr avrcJei
terapêutica, já que a lg umas complicações estão associadas
Fígado gorduroso agudo da gravidez
ao não cumpri mento desses princípios, principalmente a
encefalopatia de Wernicke e a mielinose pontina central. Pré-eclâmpsia
A pri meira manifestação de náuseas após nove semanas l'v1rsr l'ldrltJd
de gestação ou antecedendo a gravidez, dor abdom inal, fe- Intoxicação medicamentosa
bre, cefaleia, bócio, leucocitose, anemia, trombocitopenia ou
Psicogênica
exame neurológico anormal são sugestivos de outras causas

Hi perem ese Gravídica 241


ALTERAÇÕES LABORATORIAIS MEDIDAS GERAIS

Nos casos de hiperemese gravfdica, a avaliação laborato- O médico é, por si, agente terapêutico. O acolhimento,
rial é útil ta nto para ajudar no diagnóstico diferencial quanto ouvindo as queixas da gestante, as visitas, o exame, o apoio e a
para aquilatar a gravidade do evento. O Quadro 16.3 mostra atenção são essenciais. A confiança e a respeitabilidade, a confi-
as alterações laboratoriais mais encontradas na hiperemese dência e a cumplicidade são a essência do cuidado e do acolhi-
gravfdica. mento. A arte ultrapassa a ciência quando a pessoa é valorizada.
O valor terapêutico do médico é o realce dessa circunstância;
Q!ladro 16.3 I Alterações laboratoriais na hiperemese na hiperemese gravídica, essa valorização é fundamental. Ore-
gravídica '·3•11 pouso relativo é recomendado. O trabalho cansativo deve ser
Hiponatremia. hipocalemia e hipocloremia diminuído. A terapia ocupacional agradável pode constituir-se
Hemoconcentração em real benefício para a interrupção de náuseas e vômitos.1•11

Cetonúria
Elevação de ureia e creatinina ALIMENTAÇÃO
Elevação da densidade especifica da urina
As gestantes nauseadas são especialmente sensíveis à apa-
Elevação da enzimas hepáticas (geralmente < 300 U!LI
rência, textura ou cheiro dos alimentos. É preferfvel aconselhar
Hiperbilirrubinemia (em geral. <4 mg/dl) refeições dimi nutas e fre<luentes, com alimentos secos, ricos
Elevação de amilase e lipase (até 5 vezes os valores normais) em carboidratos, como torradas ou biscoitos, ingeridos sem lí-
quidos. Estes alimentos podem ser retidos e previnem a cetose.
Alcalose metabólica hipoclorêmica
Os alimentos gordurosos devem ser evitados. O chá tluente e o
TSH suprimido ou T41ivre aumentado gengibre gelado são mais bem tolerados do que a água e devem
ser oferecidos em quantidades diminlltas entre as rcfeições_2.4.J J
EXAMES DE IMAGEM Nas gestantes com hiperemese gravídica, a suspensão da
dieta oral na abordagem inicial é recomendada. Após a reso-
Nos casos em que a ultrassonografia obstétrica ainda não lução dos vômitos, programa-se a reintrodução gradativa da
tenha sido realizada, a mesma deve ser solicitada, o mais rápi- alimentação por via oral, até obter-se boa aceitação de dieta
do possível, para afasta r mola h idatiforme e identificar preco- sólida, em seis pequenas refeições diárias, com ingestão de
cemente gestações múltiplas.4 líquidos uma hora após cada refeição.

TRATAMENTO INTERNAÇÃO HOSPITALAR

O sucesso terapêutico requer atenção para a multiplici- A admissão hospitalar deve ser priorizada quando as náu-
dade da possível fisiopatologia de náusea, vômito e hipere- seas e os vômitos progridem para hiperemese gravídica. Nes-
mese gravídico . A abordagem inclui va riedade de condutas se caso, há depleção de água, eletrólitos e calorias (desequilí-
desde a presença do médico como agente terapêutico até o brio hidroeletrolítico e má-nutrição) pela falta de ingestão de
uso de grande variedade de medicamentos, hormônios, vi- ali mentos, proporcionando cetonemia, cetonúria persistente
taminas e hipnose. Nenhum tratamento mostrou superiori- e emagrecimento, que pode atingir S% ou mais do peso. 1
dade ou benefício no tratamento da hiperemese gravídica. A
melhor terapêutica consiste na profilaxia precoce de náuseas
e vômitos, evitando-se a ocorrência de casos graves. Na hipe- MEDIC AMENTOS
remese gravfdica, a terapêutica baseia-se na correção da desi-
dratação e dos distúrbios hidroeletrolíticos, na prevenção de Diversos agentes farmacológicos e não farmacológicos
complicações conhecidas e no alívio dos sintomas.4 •12 podem ser utilizados no tratamento de náuseas e vômitos

242 Noções Prát icas de Obstetrícia


na gravidez. A escolha da terapêutica varia coma disponi- dovenosa, a cada 2-3 dias enquanto durar a reposição volê-
bilidade da medicação e a grav idade do caso.UA·11 ·13·14 mica. A necessidade diá ria de tiami na na gestação é de 1,5
Cápsulas de gengibre, 250 mg, quatro vezes ao dia por m g/ d ia e, após a recuperação, pode ser mant ida a reposição
via oral, representam alternati va efetiva e segura para o tra- por via oraiY ·4·13
tamento de náuseas e vôm itos. 14 Não existe ind icação pa ra o uso de medicações anti-
A esti mulação elétrica ou por pressão do ponto P6 ti reoid ianas nos casos de hipercmesc gravídica com alte-
(ponto de Neguia n), local izado no lado interno do punho, ração laboratorial da função tireoidiana, sem evidências
tem sido adotada no tratamento de náuseas e vôm itos na de doença ti reoid iana ( bócio ou p resença de ant icorpos
gestação, com resultados confl itantes. 15·16 antireoidianos). Essas a lterações não repercutem clini-
A administração de vitamina B6 (piridoxina), 25 a 50 camente e tendem a regredir próximo de 20 semanas de
mg, por via o ral, três a quatro vezes ao dia é considerada a gestação.1•2 .4·13
terapêut ica in icial de náuseas e vôm itos na gravidez.l. 13 Em A Figura 16.1 apresenta abordagem hierarq ui zada para
nosso meio, a vitamin a B6 é encontrada comercialmente a terapêutica nos casos de náuseas, vôm itos e h iperemese
apenas nas doses de 40 ou 100 mg. Em associação com o gravíd ica.
dimenidrato, é disponível comercialmente a piridoxina na
dose de IO mg.
Adoxilamina, um antagon ista do receptor H I, é consi- HIDRATAÇ ÃO VENOSA
derada segura e eficaz no trata mento de náuseas e vômitos
na gestação. Não d ispomos de apresentações comerciais de Na hiperemese gravfd ica, a desidratação corresponde
doxila mina isolada ou em assoc iação. O utros antagonistas à desidratação isotônica do espaço extracelular. As alte-
dos receptores H I (d imenidrato, defenidra mina e hidroxi- rações cl ín icas va riam de acordo com o grau de depleção
zina) são também considerados seguros na gestação_I.2.4.IJ e velocidade da perda da solução gástrica. Além da perda
Os antagonistas da dopamina, como os anti-histamíni- gástrica, as alterações hidroeletrolfticas podem ser agrava-
cos e fenotiazinas (clorpronuzina e prometazina), também das pelas complicações renais e seguestro interno de lígui-
podem ser empregados no trata mento de casos moderados dos. A paciente apresenta fraqueza, apatia, cefaleia, anore-
e graves de náuseas e vôm itos na gestação.l.l.4.li.IJ xia, vôm itos e não tem sede significativa. A pele fica seca, a
A metoclopramida, um estimulante central da motili- língua exibe estrias longitudina is, há taqu icardia, a pressão
dade gástrica, tem-se mostrado segura nas doses habituais venosa central dim inui, há tendência à hipotensão, oligú-
para o controle dos vôm itos na gravidez. 1.D. 17 ria com densidade u ri nária normal ou elevada, podendo
A ondansetrona, um antagonista da serotoni na, muito evoluir para o choque.3·4 O sódio uri nário é baixo, c1n geral
utilizada no tratamento de náuseas e vômitos na vigência in ferior a 20 m Eq/ L, e a relação entre creati nin a u ri n~1ria e
de qui mioterapia, tem sido empregada, com boa resposta, c reatinina plasmática torna-se superio r a 20.
em casos não responsivos aos antieméticos habituais na O objetivo da h idratação venosa é a obtenção de volu-
grav idez, apresentando perfil de segurança relativa no pri- me urinúio cm torno de 1.500 mi/ dia, com densidade uri-
meiro trimestre da gestação. 1•13 •18 nária de 1.01 2 ou menos, proporciona ndo o surgimento de
Estudos de série de casos têm sugerido benefício da cloreto e o desaparecimento da cetonúria. O uso de gl icose
pulsoterapia com m etilpred nisolona em casos refratários, em soluções m ais concentradas pode ser necessário para
mas o seu uso deve ser evitado nas primeiras IO semanas impedi r a cetose. Soro fisiológico isotônico ou solução de
da gestação cm decorrência da possível associação com H a rtmann são recomendados para a correção da hipona-
fendas orais. 1·4• 13 tremia. D eve-se ter cautela na resolução da h iponatrem ia,
A tiam ina é, em geral, defi ciente nas mulheres que vo- pois a correção muito rápida pode levar à mielinolise pon-
mitam por mais de três semanas. A deficiência de tia m ina ti na central. Se necessário, pode ser admin istrado cloreto
pode provocar a síndrome de Wern icke e su a reposição de potássio para correção dos níveis de sódio c potássio.
deve fazer parte da terapêutica da hiperemese gravídica. Durante a internação hospita lar, a hidratação venosa é
A dose recomendada da tiam ina é de 100 mg, por via cn- associada a a ntie méticos para controle dos vômi tos.

Hiperemese Gravídi ca 243


MONOTERAPIA
Vitamina 86(Piridoxina): 10-25 mg, via oral. 3-4 vezes/dia

SE NÃO HOUVER MELHORA. ADICIONAR


Doxilamina: 12,5 mg, via oral. 3-4 vezes ao dia

!
SE NÃO HOUVER MELHORA, ADICIONAR
Dimenidrato: 50-1 00 mg, via oral, a cada 4-6 horas
(Dose máxima diária de 400 mg, se associado à piridoxina, e 200 mg, se associado à doxilamina)
ou
Prometazina: 12,5-25 mg, via oral. 4/4 horas

r
COM DESIDRATAÇÃO

Metoclopramida: 5-10 mg, via oral ou


intramuscular, 8/8 horas
ou
Prometazina: 12,5-25 mg, via oral ou Dirnenidrato: 50 mg em 50 mL de solução salina
intramuscular, 4/4 horas (correr em 20 minutos). via endovenosa. a cada 4-6 horas
ou
Metoclopramida: 5-1 Omg, via endovenosa, 8/8 horas
ou
Prometazina: 12,5-25 mg, via endovenosa. 4/4 horas

SE NÃO HOUVER MELHORA. ADICIONAR

Metilprednisolona: 16 mg, via oral ou endovenosa, 8/8 horas por 3 dias.


Reduzir até dose miníma efetiva. Uso máximo por 6 semanas
ou
Ondansetrona: 8 mg, via endovenosa, 12/12 horas.

*Em caso de não obter-se melhora. passe para a opção seguinte no fluxograma.
Figura 16 .1 I Tratamento farmacológico de náuseas e vômitos na gestação •.

A tiamina deve ser administrada antes da infusão de gli- tensão ou choque requer instalação de pressão venosa cen-
cose, na dose de I 00 mg, por via endovenosa, pois soluções tral, que ajuda sobremaneira na reposição venosa de líqui-
contendo dextrose ou al imentos ricos em carboidratos po- dos, sem promover sobrecarga hemodinâmica. A velocidade
dem precipitar o surgimento da encefalopatia de Wernicke. de infusão depende do grau de depleção e da capacidade de
U ma programação de reposição volêmica deve incluir, adaptação cardiovascular da paciente. A ausência de altera-
no mín imo, os seguintes volumes a cada 24 horas: ções hemodinâm icas, a hipotensão e o choque estão relacio-
Soro glicosado (SG) a 10%: 2.000 mi; nados com a perda de água em torno de menos de 8%, de 8 a
cloreto de sódio (NaC!) a 0,9%: 1.000 mi. 15% c mais de I 5% da água corpórea total, respectivamente.
A hipopotassem ia se associa a vômitos ou diarreias
A infusão hidroeletrolítica pode ser baseada nesse es- prolongadas, sucção gástrica, estresse, uso de diuréticos ou
quema proposto, bem como na composição especifica do alcal inos e administração parenteral de grandes quantida-
vômito ou na diminuição aguda do peso corpóreo. Hipo- des de líquidos livres de potássio. A alcalose determ ina a

244 Noções Prát icas de Obstetricia


movi mentação do potássio para o líquido intracelula r, pro- mEq/ L.Areposição do p otássio pode ser feita p or intermé-
movendo, conseq uentemente, hipopotassemia. A inanição, dio da seguinte fo rmulação: K necessário= (K normal - K
que acompanha as fo rmas graves da hiperemese gravídica, paciente) x água corpórea total mais o potássio diário, que
proporciona diminuição da ingestão de potássio; o rim sofre é em torno de L mEq/ kg do p eso corpóreo. O somatório
o impacto da h ipovolemia e do hiperaldosteronismo, conse- desses valores dividido por dois deve ser dado em quatro
quentes às perdas digestivas. Mesmo diante de hipopotasse- horas e o restante nas 20 horas que faltam para completar
mia,continua eliminando o potássio, o que reduz mais ainda as pri meiras 24 horas de tratamento.
seus níveis séricos. O utra possibilidade de hipopotassemia, Nos casos em que a potassemia é superior a 2 ,5 m Eq/ L,
associada à desnutrição, ocorre na recuperação nutricional. é preferencial o uso da via oral ou sondas nasogástrica ou
Pacientes depletadas de potássio e que começam a receber nasoentérica; se o potássio é inferior a 2,5 m Eq/ L, é ma n-
alimentos iniciam a reconstituição de suas proteínas e glico- datário a infusão endovenosa, resguardando-se que a infu-
gênio. Para isso, elas precisam de ingestão concomitante de são ho rária não supere 20 mEq e que a diária seja inferior
potássio, caso contrário, ele se desviará do líquido extracelu- a 40 0 mEq. A refratariedade à normalização do potássio
lar para o intracelular, agravando a hipopotassemia. exige ava liar a associação com hipomagnesemia, que tam-
O potássio (K) só deve ser dado por infusão se hou- bém deve ser corrigida, se necessário. 19
ver boa diurese. A abordagem da hipopotassemia req uer a Na depleção de proteínas séricas acrescentam-se aos
monitorização eletrocardiográfica, especialmente qua ndo cristaloides os preparados com aminoácidos por via endo-
os valores do potássio plas mático estiverem abaixo de 2 ,5 venosa, SOOmi, duas vezes ao dia.

Quadro 16.41 Esquemas para cálculo da hidratação venosa na hiperemese gravídica


Necessrdades drárras

água ----------35 a 45 mi /kg


sódio --------- 1.5 mEq/kg
potássio ----- 1 mEq/kg
cloro ---------- 1.5 a 2 mEq/kg
calorias ------ 15 kcal/kg (1 grama de glicose= 4 kcal)
CcJICIIID c~u iH"ICr'llllliil ri<" pP.rtlc~s

- desidratação leve: ausência de alterações hemodinâmicas => < 8% de perdas


- desidratação moderada: hipotensão => perda entre 8 e 15%
- desidratação grave: sinais de choque => perda > 15%
VultlllH-: llt' LP.SSdrrtt

- peso corporal (em kg) x 0.60 x % de perda de lfquido corporal


- no primeiro dia de internação, infundir metade do volume necessário nas primeiras 4 horas e o restante nas outras 20 horas
Rqllls car: t!r' til IS

-quantidade necessária = (íon normal- íon paciente) x peso corpóreo x % água corpórea+ necessidade diária do íon
- metade da necessidade total deve ser infundida nas primeiras 4 horas. o restante nas outras 20 horas
P,lld () pot,lSSI[J rrilliSdU llldXIIlld dldlld

- se K> 2.5 mEq é 20 mEq/h (até 400 mEq/dia)


- se K< 2,5 mEq é 1OmEq/h (até 200 mEq/dia)

Hiperemese Gravídica 245


O Quadro 16.4 apresenta, de forma sintética, os cál- Nenhum estudo randomizado comparou o uso da nu-
culos para a reposição volêmica na hiperemese gravídica. trição enteral com a parenteral na gestação. As pesquisas
Nos casos de choque, o ionograma deve ser repetido após disponíveis salientam que a sonda enteral é bem tolerada
as pri meiras quatro horas de reposição. Na ausência de na gestação e, em geral, é preferível. Nos casos em que a nu-
melhora clínica ou laboratorial, pode-se repetir o esquema trição enteral não suprir as necessidades fundamentais da
calculado para as primeiras quatro horas. O ajuste da hi- gestante, pode ser indicada a nutrição parenteral.
dratação volêmica deve ser feito diariamente por meio de Para os casos de nutrição enteral ou parenteral, é ne-
avaliação clínica, pelo ionograma e pela avaliação urinária cessária a participação de profissional habilitado para esse
(densidade e cetonas). procedimento no acompanhamento diário à gestante.

ALIMEN T AÇÃO E NTERAL E PARE NTERAL EVIDÊNCIAS

A principal indicação para a utilização de nutrição en- O Qpadro 16.5 apresenta os graus de recomendação
teral ou parenteral é a persistência da perda de peso apesar no tratamento de náuseas e vómitos na gravidez. 20
do tratamento adequadamente instituído.

Quadro 16.5 I Graus de recomendações no tratamento de náuseas e vômitos (NV) na gravidez


lr1\eiV81lCélO ResultiHio Gr dll de
Rt: c onw mi él ç ao

Uso de multivitaminas no perfodo periconcepcional Redução da gravidade de NV na gestação A i


Vitamina B6 ou vitamina B6 + doxilamina Terapêutica de primeira linha no tratamento de A
NV na gestação
Não uso de medicamentos antitireoidianos nos casos de
- A
hipertireoidismo induzido pelo hCG
, Tratamento precoce de NV na gestação Prevenção contra hiperemese gravfdica B
I Cápsulas de gengibre como opção não farmacológica Melhora de NV na gestação B
Segurança e eficácia do uso de antagonistas de receptOr Melhora de NV da gestação B
H1 e fenotiazinas para o tratamento de casos refratários Ausência de risco fetal J
Segurança do uso de metoclopramida Melhora de NV na gestação B
Ausência de risco fetal
Uso da metilpredisolona como último recurso medicarnen- Tratamento da hiperernese gravfdica refratária B
toso nos casos graves
Hidratação venosa em casos de desidratação e intolerancia Melhora do quadro clfnico c
a alimentos por via oral
Correção da cetose com uso de soluções de dextrose Melhora do quadro clfnico c
I Reposição de tiamina Prevenção de encefalopatia de Wemicke c
Uso de nutrição enteral ou parenteral por gestantes que, Tratamento/prevenção da desnutrição c
apesar do tratamento, mantêm perda de peso

Noções Práticas de Obstetrícia


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Hiperemese Gravídica 247


Hemorragias na Primeira
Metade da Gravidez
Frederico José Amédcé Péret
Mário Dias CôiTea júnior
Maurício Gui lherme Campos Viggiano
Liv Braga de Paula

Abortamentos Gravidez Ectópica Cornual


Conceitos Gravidez Ectópica na Cicatriz de Cesariana Prévia
Etiopatogenia Prevenção da Isoirnunização pelo Fator Rh
Formas Clínicas Doença Trofoblástica Gestacional
Esvaziamento da Cavidade Uterina Incidência
Profilaxia da lsoimunização pelo Etiopatogenia
Fator Rh Pós-abortamento Aspectos Cromossômicos da Mola Hidatiforme
Contracepção Classificação
Gravidez Ectópica Mola Hidatiforme
Etiologia e Fatores de Risco Tumor Trofoblástico Gestacional
Gravidez Ectópica Tu bária Outros Sangramentos Genitais
Gravidez Ectópica Ovariana Doenças do Colo Uterino
Gravidez Abdominal Traumatismos Genitais
Gravidez Ectópica Cervical

T
odo sangramento genital durante a gestação é ABORTAMENTOS
preocupante e deve, em princípio, ser consid era-
do anormal. Identificar a sua origem é o primei- CONCEITOS
ro passo para estabelecer-se a conduta adequada.
Na pri meira metade da gravidez os problemas mais Abortamento é a interrupção da gravidez antes da
importantes e que mais frequentemente determinam san- viabilidade fetal. Consideram-se inviáveis fetos com me-
gramento genital são o abortamento, a gravidez ectópica e nos de 20 semanas de idade gestacional ou peso inferior
a doença trofoblástica gestacional. a SOO gramas.'
Outras complicações, menos frequentes, também Abortamento ocorre em 9% das gestações entre mu-
podem determinar sa ngramento genital na grávida. Isso lheres na idade entre 20 e 24 anos, sendo que o risco au-
acontece nas doenças que afetam o colo uterino (póli- menta com a progressão da idade materna, podendo ati n-
pos, cervicites e câ ncer), nos traumatismos genitais (la- gir 75% das gestações em mulheres acima de 44 anos.2
cerações na vu lva e vagina) e na perfuração uterina ou Em geral, a taxa de perda clinicamente detectável é
rotu ra uterina. de cerca de lO a 12% das gestações. A ma ioria das perdas
ocorre antes de oito semanas.Apenas 3% das gestações são Ai'v! EAÇA DEABORTAME TO E
perdidas após nove semanas e 1% após 16 semanas. Apro- ABORTAM ENTO I MI NENTE
ximadamente 0,4 a 1% das mulheres pode ser acometido
por duas ou mais perdas. 2 Constituem-se em quadros muito semel hantes cuja
diferença baseia-se principalmente no seu prognóstico:
enquanto na ameaça de abortamento a probabilidade de
ETIOPATOGENIA interrupção da gestação é de 20 a 30%, no abortamento
iminente alcança 70 a 80%.
A causa mais comum de perda gestacional precoce são O diagnóstico clínico da ameaça de abortamen to é
anomalias cromossómicas. Cerca de 50 a 65% das perdas definido pela existência de sangramento vaginal durante
gestacionais abaixo de 20 semanas possuem anormalidade o primeiro trimestre da gestação. É de ocorrência comum,
cromossóm ica. O tipo de anormalidade pode diferir das podendo apresenta r-se em até 25% das gestantes.
encontradas em recém-nascidos, mas, mesmo assim, as tris- A ameaça de abortamento consiste em sangramento,
somias autossómicas representam 50% das anormalidades geralmente de reduzido volume, que pode persistir por
(em número significativo de casos nos pares 16 e 22).3 dias ou semanas e traduz anomalia decídua! e/o u descola-
A associação entre anomalias uterinas congénitas mento do ovo. As cólicas surgem horas ou dias após o iní-
como causa de perda gestacional no segundo trimestre cio do sangramento. Podem ser descritas como dor lombar
tem sido discutida. A maioria dos estudos é observacio- persistente, associada à sensação de pressão pélvica ou dor
nal. Algu ns estudos sugerem prevalência mais elevada de suprapúbica de intensidade moderada. 1
anomalias mü llerianas em portadoras de abortamento de O abortamento iminente tem sintomatologia mais
repetição (7%) comparadas a controles (2%).4 acentuada: o sangram ento é m ais volumoso e com mais
D istúrb ios endócrinas como diabetes descompensado duração, acompanhado da eliminação de coágulos. As có-
e alterações tireoidianas com repercussão clín ica podem licas são mais constantes e de mais intensidade.1
ser causa de perda fetal precoce. Entretanto, não foi com- Ao exame ginecológico, observa-se o útero aumentado
provada associação de anovulação crónica, hiperprolacti- de volume, compatível com o esperado para a idade gesta-
nemia ou alterações da fase lútea com abortamento.5 cional. Na ameaça de abortamento o colo uterino encon-
A associação de Chlamydia trachomatis, Ureaplasma e va- tra-se inalterado, porém, no abortamento iminente, já se
ginose bacteriana é sugerida em alguns estudos isolados.6•7 observa apagamento e possível dilatação do colo. 1
Metanálise demonstrou que a persistência de níveis ele- Na ameaça de abortamento, o exame ecográfico en-
vados de anticorpos antifosfolípides (principalmente anti- dovaginal pode auxiliar na avaliação do prognóstico ges-
coagulante lúpico) é associada à perda gestacional após nove tacional. Pacientes com hemorragia na primeira m etade
semanas. A mutação do fato r V - fator V de Leiden - carac- da gestação devem ser investigadas quanto à hemorragia
terizando trombofilia congénita foi associada a risco três retrocoriónica. Já foi dem on strado que o volume da he-
vezes mais alto de perda gestacional no segundo trimestre.8 mo rragia retrocoriónica pode predizer a evolução do abor-
tamento. Quando a área de hemorragia é inferior a 60 mi
ou corresponde a menos de um quarto da á rea do saco ges-
FORMAS CLÍNICAS tacional, o prognóstico gestacional é favorável.9
A terapêutica constitui-se basicamente em apoio e
O s abortamentos espontâneos podem ser classificados orientações:1
em ci nco grupos: 1 Repouso relativo com aconselhamento para absten-
Ameaça de abortamento e aborta mento iminente; ção de exercícios físicos exagerados. Não existe evidên-
aborta mento inevitável; cia de que repouso absoluto previna abortamento; 10
abortamento em evolução, abortamento completo abstinência sexual: a ati vidade sexual não é proscrita, en-
e abortamento incompleto; tretanto, orienta-se o uso de preservativos durante o coito;
abortamento retido (Missed abortium)i analgesia: tem por objetivo inibir a sensação dolo-
abortamento de repetição. rosa provocada pelas contrações uterinas;

Noções Práticas de Obstet ricia


250
é recomendável a utilização da imunoglobulina entretanto! aindanão foi expulso nos genitais externos. A
a nti-Rh naquelas pacientes com R h e O u negativos, paciente queixa-se de cólicas uterinas persistentes, quase
pelo potencial risco de isoimunização. contínuas, e sangramento genital.
Ao exame constata-se, p elo toque vagi nal, o embrião
O uso de progesterona na ameaça de abortamento ca- ou feto no canal cervical ou cavidade vagi nal.
rece de evidências c ientíficas confiáveis, não sendo, portan- O tratamento visa à remoção total do ovo, por vezes
to, recomendado como conduta de rotinaii utiliza ndo a pinça de Wintere aspiração manual ou cureta-
A gestante deve receber in formações científicas sobre gem para esvaziamento da cavidade uterina.1.13
a possível evolução de sua gravidez; evidências recentes
mostram que a ameaça de abortamento está associada a
potencial piora do resultado gestacio nal - placenta prévia, ABORTAMENTO COMPLETO
sangramento de terceiro trimestre, rotura pré-termo de
membranas e bai.xo peso fe tal. Portanto, devem receber Caracteriza-se pela elimi nação total de todos os com-
12
atenção diferenciada na assistência pré-natal. ponentes da gravidez. É frequente até oito semanas de ges-
tação. No abortam ento completo o útero involu i rapida-
mente, cessam as cóli cas e o sangramento genital.
ABORTAMENTO I NEVITÁVEL O diagnóstico baseia-se inicialmente nas in formações
da paciente: após cólicas intensas e sangramento acentua-
Nessa for ma clínica, a gravidez não tem possibilidade do, elimi nou algo pelos gen itais que acred ita ser o produto
de prosseguir. M anifesta-se de três fo rmas principais: conceptual e, desde e ntão, o sangramento e as cólicas ces-
Rotura das membranas amnióticas com evid ente sa ram ou dim inuíram significativamente. 1 Em gestações
perda de líq uido amniótico pelos gen itais externos; ma is avançadas a gestante pode perceber in icialmente a
sangramento volumoso, com coágulos e cól icas in- expulsão do feto e a segu i r da p lacenta.
tensas e d ilatação cervical ao togue vagi nal; Dependendo do tempo transcorrido entre a expulsão e a
infecção intracavitária que, além de ser possível consulta, o exame físico pode revelar involução uterina total.
determinante da morte fetal, pode resultar em q ua- No exame especular comprova-se pouco ou nen hum sa n-
dros infecciosos maternos potencialmente graves. gramento e colo uterino aparentemente fechado. Ao toque
vagina l, além do colo fechado com sangramento d iscreto,
Ao exa me clí nico comprova-se o volu me do sangra men- identifica-se o útero de volume e consistência semelhante
to e a existência de coágulos ou líqu ido amniótico no canal ao observado fo ra da gravidez. A rea li zação da histerome-
vaginal. No toque observam-se a dilatação cervical e o volu- tria contribui para a confirmação clínica do abortamento
me uterino, que pode ser compatível ou um pouco in fe rior ao completo. Nessa situação, a histerometria é inferior a lO cm.
esperado para a idade gestacional. Diante de infecção intra- Sal ienta-se que a histcrometria deve ser realizada com os
cavitária, tem-se secreção vaginal purulenta ou piossa ngu í- cuidados usuais recomendados na realização desse procedi-
nea com odor fétido advinda do orifício do colo uteri no, que mento. Na ultrassonografia, a cavidade uterina está vazia, às
se mostra doloroso à mobilização du rante o toque vaginal. 1 vezes com coágulosY 3 A conduta é a observação. 11
Ao se con fi rmar o diagnóstico de abortamento inevi-
tável, o tratamento consiste no esvaziamento da cavidade ABORTAMENTO INCOMPLETO
uterina, que pode ser rea lizado por meio de curetagem ou
aspiração manual a vácuo, descritos posteriormenteY 3 O feto e a placenta podem ser expelidos ju ntos até 10
sem anas de gravidez. Após esse período, as vilosidades co-
riôn icas aderem-se ao útero, provocando sa ngra mento va-
ABORTAMENTO EM EVOLUÇ ÃO ginal intermitente, ora volumoso e importa nte. A história
revela expulsão de massa ca rnosa, com sa ngue e coágulos.
O processo de interrupção da gravidez encontra-se em Somente nos abortamentos ta rd ios a paciente consegue
anda mento: o ovo já se desprendeu da cavidade uterina, distinguir entre a placenta e o concepto.1

Hemorragias da Primeira Metade da Gravidez


251
O útero mostra-se amolecido e de volume aumentado, O abortamento infectado pode ser subd ivid ido em
entreta nto, menos que o esperado para a idade gestacional, três estágios, confo rme a extensão do processo e gravida-
e o ca nal cervical entreaberto. de clínica:1
O exa me ecogránco pode se r úti l, qua ndo existem tipo I: é o mais comum, localizado apenas na cavi-
dúvidas em relação à retenção de produtos gestacionais. dade uterina e decídua; o útero está aumentado de
Como descrito, nos abortamentos espontâneos incom- volume, com o canal cervical pérvio, por o nde flui
pletos existe retenção da coriodecídua. Esse tecido tipica- secreção piossanguínea. O estado geral da paciente
mente aparece como material ecogênico no lú men uteri no, está preservado e inexistem sinais de resposta infla-
associado, às vezes, a saco gestacional irregular.9 matória sistémica e irritação peritoneal;
Confirmado o diagnóstico, é sugerido o esvaziamento tipo 11: a infecção pode progredir para o m iométrio,
da cavidade uterina por meio de aspiração manual e, se ne- paramétrios, anexos e peritônio, agrava ndo-se o
cessário, curetagem.13 quadro clínico. Há febre, taqu icard ia, íleo pa ralítico
Entretanto, a ind icação sistemática de esvaziamento e dor abdomi nal. O exame físico pode demonstrar
uteri no imediata nos casos de abortamento espontâ neo defesa abdomina l, toque vaginal extremamente do-
incompleto e não complicado é questio nada. Recente es- loroso e empastamento dos paramétrios;
tudo observacional incl uindo 1.096 pacientes com abor- tipo III: quadro grave e com alta morbidade e mor-
tamento espontâneo, acompanhadas cl inicamente e com ta lidade, caracterizado por resposta infla matória
ultrassonografia, demonstrou resolução completa, carac- sistémica acentuada e sepse intra-abdom inal.
terizada pela ausência de sangramento genital e endomé-
trio com espessura menor que l S mm, em 9 I% dos casos.14 No tipo I, além de exames laboratoriais para sepse, o
Revisão sistemática de cinco estudos ra ndomizados com t ratamento do abortamento incompleto infectado con-
total de 689 mulheres com perda fetal precoce (gestação siste na remoção do foco infeccioso por meio de cureta-
anembrionada, aborto retido, abortamento incompleto e gem uterina, com uso simultâneo de antibióticos endo-
abortamento inevitável) evidenciou que o gru po subme- venosos, com cobertu ra para os germes mais frequentes
tido a esvaziamento uterino apresentou mais risco de in- nesse tipo de infecção: gram negativos e anaeróbios.
fecção, enq uanto que nos casos com conduta expectante Recomenda-se inicialmente am inoglicosídeo (genta m i-
houve mais necessidade de esvaziamento cirúrgico do cina o u am icacina) associado a um anaerobicida (geral-
útero e sangramento. 15 mente metronidazol ou clindamicina). O esquema deve
ser prescrito independentemente da gravidade do quadro
clínico1•13
ABORTAMENTO I COM PLETO I FI:.CT A DO Nos tipos II e III a abordagem deve abranger as medi-
das de suporte do paciente em sepse grave, bem como o
O abortamento infec tado decorre d a eliminação tratamento cirú rgico mais invasivo, visando ao controle
incompleta do ovo, do em brião ou da placenta, q ue de- de foco infecccioso (laparotom ia e histcrectomia total). As
term ina a manutenção da abert ura do canal cervical, med idas de avaliação e controle da sepsc grave são discuti-
favorece ndo a ascensão de bactérias d a flora vagi nal e das no capítulo 49- Urgências C línicas não Obstétricas.
intest inal à cavidade uterina, em um processo denom i-
nado progressão aeróbio-a naeróbia. É ma is comum em
abo rtamentos instrumentais provocados, mas não é ex- ABORTAME TO RETIDO
clusivo d estes. 1
O d iagnóstico baseia-se em dor hipogástrica e mobi- Define-se como a retenção de produtos da concepção
lização do colo uterino, febre e corrimento vaginal com sem vida, no útero, por várias semanas. Ocorrem sangra-
o dor fétido. Por vezes, há relato de sangramento vagi nal mente e cólicas uteri nas que cessam: o ovo morre, mas não
prolongado ou tentativa de interru pção voluntária d a é expu lso,1 ta mbém denominado abortamento frustrado e
gravidez. 1 missed abortium.

Noções Práticas de Obstetrícia


252
Não há aumento do abdome e, eventualmente, tem- Optando-se pela intervenção imediata, a conduta de-
-se regressão do seu volume. Pode ocorrer diminuição do penderá da idade gestacional: 13
peso corporal e da consistência das mamas. O processo de Abaixo de 12 semanas: aspiração ma nual e/ ou cure-
expulsão tem prazo variável, habitualmente não mais que tagem;
quatro semanasi·13 a partir de 12 semanas: amadurecimento cervical com
o exame ultrassonográfico, deve-se estar .1tento para prostaglandinas ou análogos (misoprostol), ocitóci-
a visualização do embrião quando o saco gestacional apre- tos em altas doses e curetagem após expulsão fetal.
entar diâmetro de 18 mm no exame com sonda vaginal e
25 mm na via abdomina l. A vesícula viteli na deve ser ob- O diagnóstico diferencial das formas clínicas está resu-
servada em todas as gestações com o saco gestacional de mido no Quadro 17.1.
20 mm (por via abdominal) c de 13 mm (por via endova-
ginal). Os batimentos cardiofetais devem ser visualizados
cm todos os embriões com comprimento cabeça-nádega ABORTAMENTO OE REPETIÇÃO
(CC ) de S mm (entre cinco e seis semanas em exame
por via vaginal).9 Ex iste alguma discordância em relação ao conceito de
as retenções prolongadas, geral mente nas gestações abortamento de repetição. Algu ns c tudos considera m a
de segundo trimestre, pode haver distúrbios da coagulação. perda consecutiva de três gestações, outros conceituam
Assim sendo, para os casos que serão acompanhados com como duas perdas consecutivas c algu ns autores já chegam
conduta expectante, deve- e solicitar a dosagem do fibrino- a questionar a sua real existência. 1•16 Esse tema será abordado
gên io, plaquetas e tempo de tromboplastina parcial ativada.1 em detalhes no capítulo 29 - Perda gcstacional de repetição.

Quadro 17. 1 I Diagnóstico diferencial entre as formas de abortamento


Forma clrnrca Hemorrag ra Colrcas Utero Colo UItra sso nog r afr a

Ameaça de Pouco volumosa Pouca intensidade Volume proporcional ao Fechado Variável


abortamento esperado para a IG
-
Abortamento Moderada, com Média a grande Volume proporcional Entreaberto Saco gestacional
iminente sangue vivo intensidade ou ligeiramente inferior desprendendo
à idade gestacional Colo com dilatação
Abortamento Volumosa. associada Intensas Volume proporcional ou Presença de Diminuição do
inevitável com perda de líquido ligeiramente inferior à dilatação líquido amniótico
amniótico idade gestacional cervical Alterações sugesti-
vas de infecção
Abortamento Abundante. com Média a grande Volume menor que o Entreaberto Restos ovulares
incompleto restos ovulares intensidade esperado para a idade
gestacional
--
Abortamento Pequeno volume ou Ausentes Volume menor que o Fechado Ausência de conte-
completo inexistente esperado para a idade údo intracavitário
Eliminação do concepto gestacional
e anexos
I
Abortamento Pequena. opalescente e Intensas e acampa- Volume variável com Entreaberto Variável
infectado com restos ovulares nhadas de febre e consistência amolecida
outros sintomas, a Mobilidade reduzida
depender da fase
Abortamento Não Não Menor que o esperado Fechado CCN ~ 5mm
retido sem BCF
BCF - batimentos cardíacos fetais; CCN - comprimento cabeça-nádega; IG- idade gestacional.

Hemorragias da Pri meira Metade da Gravidez 253


A defin ição e causas de perda de repetição envolvem levar à perda gestacional de repetição. A IC é responsável por
umJ série de processo fisiopatológicos, com diferentes 13% dos abortamentos de repetição no segundo trimcstrc. 1
relevâncias de acordo com a idade gestacional. Portanto, é A causa de IC pode ser congcn ita ou adquirida. Duran-
fundamental a estratificação de acordo com o estágio da te o segundo trimestre, verifica-se o fenômeno de conver-
gestação para adequada investigação. 1" são uteri na, quando a matriz, então de forma globosa, passa
Sugere-se: a cilíndrica, maneira de amenizar a tensão interna provo-
A investigação pode ou não ser justificada após dois cada pelo ovo em expansão. H avendo incompetência ou
abortamentos, dependendo da icLldc materna c de- insuficiência na musculatura cervical, haverá a abertura
sejos pessoais. Após três perdas, a avaliação é sempre espontânea do ori fício interno.1
recomendada c inclui detalhada história fam iliar, A história revela abortamentos ta rdios, sem sangra-
exame físico completo, discussão dos riscos c aval ia- mentos e/ ou cólicas e eliminação do ovo quase sempre ín-
çõcs complementares devidamente ind ic:1dasi 14 ~­ tegro. A di latação do colo uterino resulta na exposição das
cariótipo: aproximadamente S%dos casais com perda membranas ao ambiente vaginal, com possibilidade de co-
de repetição apresentam alguma anomalia cromossó- rioamnionite e, por mecanismo reflexo, induz contraçõcs
mica estrutural, identificada em um dos membros do silenciosas, sem dor, ocasionando abortamentos tardios
ca ai. Em geral, a anomalia identificada é uma translo- ou partos pré-termo. A rotura das membranas acontece na
cação balanceada, que é sabida mente associada a risco maioria dos casos no momento da expulsão. Esta sequên-
aumentado de perdas e de nascimento de fi lhos com cia de eventos tende a repetir-se em gravidezes subsequen-
alterações cromossômicas não balanceadas; 1.4•1" tes, caracterizando-se perda fetal de repctição. 1
nas perdas de segundo trimestre devem ser excluí- O diagnóstico é firmado a partir da história clínica c,
das anomalias müllerianas, por meio de ccografi a, du rante a gravidez, pelo ras trea mcnto clín ico c ultrassono-
histcrografia c cndoscopia/ 1
- gráfico do canal cervical, que aval ia o comprimento do colo
a pesquisa dos anticorpos antifosfolípide está in- uterino e a dilatação do ori fício interno. Fora da gravidez o
dicada cm perdas de repetição após 10 semanas de diagnóstico da IC inclui, além da história clínica, o teste da
gestaç.io, principalmente em caso de quadro clínico vela de Hegar. 1 a primeira semana após a menstruação, o
de decesso fetal. A literatura tem ressaltado a possível orifício interno do colo incompetente deixa passar, sem di-
associação entre SAF e abortamento habitual (três ficuldade, uma vela de Hegar número oito. Esse teste pode
perdas consecutivas de primeiro trimestre), sugerin- ser complementado pela histerografia c histcroscopia. 1
do sua pesquisa quando se excluírem anomalias ute- O tratamento é a cercbgem, realizada clctivamente en-
rinas e o estudo cromossômico do casal for normal{ tre 12 e 16 semanas ou mais tarde, cm caráter de urgência,
rastreamcnto de diabetes e anticorpos antitireoidc quando detectada abertura do canal cervical.
cm pacientes assintornáticas é desnecessário/' As técnicas mais utilizadas são as de McDonald e a
agentes infecciosos (Ureaplasma urealyticulll, Chla- de Aqui no-Salles. A técnica de McDonald (Figuras 17. 1,
myrlia lrachomatis) podem ser causa de perda espo- 17.2 e 17.3) consiste em sutura em bolsa, no colo uteri no,
rádica, mas não existem evidências de associação imediatamente abaixo da reflexão .1ntcrior da bexiga. O fio
com abortamentos de repetição; 6 deve ser inabsorvível (polipropileno), monofilamentado c
não foi determinado benefício na determ inação espesso (número I ou 2). Os pontos devem ser profundos,
rotineira de tipagcm HLA e anticorpos citotóx icos sem alcançar o canal cervical, deixa ndo o nó anteriormen-
antipaternos. 17 te e com pontas compridas (cerca de 2 cm) para faci litar
sua remoção no fi nal da gravidcz. 11
J.\i\l. //U/ ,\ 'C/11 Ci R\' ICIIL A técnica deAquino-Salles (Figuras 17.4 e 17.5) consiste na
A insuficiência cervical (IC), inicial mente definida como colocação de três pontos em "U" paralelos entre si, atingindo
incompetência cervical, foi descrita em 1948 por Palmer & toda a espessura do colo, devendo o primeiro ponto ser o mais
Lacome. Decorre de dilatação cervical, no segundo trimes- próximo possível da região correspondente ao orifício interno
tre, de maneira indolor, sem contrações, sem sangramcnto, do colo uterino. Cuidar para não transfixar a bolsa amniótica,
por falência do sistema oclusivo da matriz uteri na, podendo às vezes proeminente, e também para não atingir a bexiga.1

254 Noções Práticas de Obstet rícia


Figura 17. 1 IInsuficiência cervical. Cerclagem pela técnica
de MeDO A LO modificada. O esq uema mostra a sutu ra
cm bolsa, rea lizada mais profundamente apenas nas paredes
!atera i~ da cérvix, pa ra poupar os vasos sa nguíneos. Figur,l 17.3j lnsuliciência cervical. CcrciJgem pcl.ttécnica
de i\ilcDONALD mod ificada. ota-sc que a primeira sutura
já foi concluída. A segunda utura c t~ sendo completada; o
dedo comprova o fechamento do colo.

Figura 17.2 jlnsuficiência cervical. Ccrclagcm pela técnica


de MeDO NA LO modificada. Início das suturas, na parte
anterior do colo. Como se vê, a primeira sutu ra localizada
próximo do orifício interno, e a segund,t, paralela, cerca de
um centímetro abaixo. hgu r,t 17.41 Cerclagcm pela técn ica de Aqui no- alies.

Hemorragias da Primeira Metade da Gravidez


255
A incidência de complicações como perfu ração uteri-
na, laceração cervical, hemo rragia, remoção incompleta
e infecção é mais alta nos procedimentos cirú rgicos após
o pri meiro trimestre. Por essa razão, indica-se o esvazia-
mento pri mário da cavidade uteri na por curetagem e/ou
aspiração manual intrauterina (AM IU) para gestações até
12 semanas. A partir de 12 semanas de idade gestaciona I é
necessário aguardar a expulsão do feto, que pode ser indu-
zida por técnicas medicamentosas antes da realização da
curetagem uterina ou AM IU. 13
Nos casos em que se faz necessária a d ilatação do colo
uterino antes da curetagem, pode-se optar por uma das se-
gui ntes alternativas:
Laminárias: hastes cilínd ricas introduzidas no ca nal
cervical que, ao entrar em contato com meio úmido,
ficam intumescidas e expandem-se. Provocam dila-
tação gradual e progressiva do colo uterino;
velas de Hegar: consistem em cilind ros metálicos
Figura 17.5 IVisão lateral da sutura pela técnica de Aquino-Salles.
com diâmetros variáveis, que são introduzidos na
cérvice, em ordem crescente de diâmetro, até que
O uso de tocolíticos é controverso. A ava liação dos se obtenha a d ilatação necessária para a rea lização
pontos deve ser feita a cada consulta de pré-natal, monito- da c uretagem uterina. Esse procedimento deve ser
rando o apagamento e a dilatação cervical. O fio pode ser realizado sob a nestesia.
seccionado na 37• semana, em regime ambu latorial, sem
retirá-lo por tração. Com o início das contrações e a di lata- Após a dilatação realiza-se o esvaziamento d a cavidade
ção do colo, os fios são eli m inados, caso contrário deverão uterina através da AMI U ou cu retagem. Revisão sistemát i-
ser removidos na revisão pós-parto.' ca com parando a eficácia e segurança dos métodos cirúrgi-
Os fios devem ser seccionados antes do termo nos cos demonstrou que a AM I U foi associada a menos perda
casos de óbito fetal ou início de franco trabalho de parto sanguínea, menos relato de dor e tempo reduzido de du ra-
(pelo risco de amputação ou rotura parcial do colo) e não ção do procedimento comparado à curetagem.13
há ind icação de retirada da cerclagem na rotura prematura
pré-termo das membranas. 18
Revisão sistemática com 2.175 mulheres aval iou a cer- CU RETAGEM UTERI N A
clagem profilática na perda gestacional e conclu iu que em
mulheres de risco baixo e moderado, independentemente A curetagem uterina deve ser feita sob a nestesia geral
dos achados da ultrassonografia, não houve d iferença signi- ou bloqueio anestésico (paracervical, raqu ianestesia ou
ficativa na redução d a prematuridade, exceto cm um estu do peridural). A paciente deve esta r em posição gi necológica.
que encontrou modesta redução de partos abaixo de 33 se- O procedimento da cu retagem propriamente dito é prece-
manas. O papel da cerclagem quando do achado de altera- dido do toque bimanu al para adequada avaliação do útero
ções cerv icais na ultrassonogra fia não foi dctcrminado.19•20 (ta manho, forma e posição). A segui r, realiza-se a antissep-
sia da vulva e cavidade vaginal, com posterior colocação do
cspéculo vaginal. Uti lizando a pinça de Pozzi, p romovem-
ESVAZIAMENTO DA CAVIDADE UTERINA -se o pinçamento e tração do lábio anterior do colo uteri-
no. A tração do lábio anterior deve ser vigorosa, de modo
O esvaziamento da cavidade uterina pode ser feito por a ma nter retifi.cado o ângulo entre o corpo uterino e a cér-
métodos cirúrgicos ou medicamentosos. vice, dim inuindo a chance de perfuração. A h isteromctria

Noções Práticas de Obstetrícia


deve ser realizada com o objetivo de avaliar o tamanho e com dissolução das pontes de colágeno e au mento de con-
direção da cavidade uterina. A seguir, introduz-se a pinça centração de água na camada submucosa; além disso, de-
de Winter (ou pinça-ovo) para reti rada de partes fetais ou termina aumento da contratilidade uterinaY 3
fragmentos placentários dispersos na cavidade e, posterior- O misoprostol pode ser administrado pelas vias oral ou
mente, realiza-se a curetagem, que deve alcançar toda a pa- vaginal. As diferenças entre as duas vias são o início da ação
rede uterina, para extração de todos os restos placentários. 1 medicamentosa (30 minutos para via oral e I a 2 horas para
a via vaginal) e incidência mais elevada de efeitos colate-
rais, como febre, vôm itos, diarreia e hiperesti mulação ute-
ASPI RAÇÃO MA UA L l NTRAUTER I NA rina com taquissistolia com a ad ministração oral.
Existem vários esquemas posológicos para a administra-
O equipamento para AMIU consiste de seringas com ção do misoprostol. O Ministério da Saúde preconiza, para
capacidade de 60 mi e válvulas simples ou duplas, podendo casos de óbito fetal, a administração de um comprimido de
conter cânulas com diâmetro entre 4 e 12m m.A seringa serve 200 mg via vaginal de seis em seis horas até a expulsão fetalP
como fonte de vácuo para aspirar o conteúdo uterino através
da cânula até o cilindro. Nas gestações até oito semanas utili-
za-se a cânula de até 8 mm e nas gestações de até 12 sema nas ANTI BIOT!COPROFlLAXIA
as cânulas de até 12 mm. O procedimento deve ser realizado
sob anestesia, podendo ser utilizado o bloqueio paracervical.21 Apenas um ensaio clínico envolvendo 140 mulheres
O uso da AM IU comparado à curetagem em ensaios avaliou a eficácia da antibioticoprofilaxia pós-abortamento
clínicos foi associado à redução significativa da perda san- incompleto não infectado. Nenhu ma diferença foi de-
guínea, da dor (redução de 26%) e menos tempo de dura- monstrada na taxa de infecção pós-abortamento entre os
ção do procedimento. Não foram relatadas complicações grupos. A adesão ao uso do antibiótico foi baixa. Os auto-
maiores como perfuração uterina e infecção. 22 res concluem que não há evidências suficientes para reco-
mendar antibiótico profi lático de roti na pós-abortamento
incompleto, sem si nais ou sintomas de infecção. H
ABORDAGEM MED I AM ENTO A

ÜCJfOC/"!A PROFILAXIA DA ISOI MUNIZAÇ ÃO PELO


É possível a indução de abortamentos no segundo FATOR RH PÓS-ABORTAMEN TO
trimestre de gestação com altas doses de ocitocina, admi-
nistrada em pequenos volumes de solução intravenosa. Após qualquer uma das formas clínicas de abortamento
Segundo o protocolo do American College oj Obstetrics and deve-se realizar a tipagem sanguínea da mãe. Caso a mãe
Gynecologists (ACOG), prepara-se a solução com 200 uni- seja Rh(D) negativo, deve-se realizar o teste de Coombs
dades de ocitocina (40 ampolas) em SOO mi de soro fisio- indireto. Se este se mostrar negativo e o cônjuge masculi-
lógico ou R.inger. O gotejamento deve ser de 50 mi/hora no for Rh(D) positivo ou desconhecido, é preciso realizar
(20.000 mU/ hora), o que resultará em uma dose aproxima- a profi laxia da isoimunização Rh(D) por meio da imune-
da mente 10 vezes mais alta que a dose máxi ma preconizada globulina anti-R.h(D). Embora a dose de 50 mcg por via
para a indução do parto com o feto vivo (1.800 mU/ hora). intramuscular seja suficiente nos casos de abortamento, em
O risco de intoxicação hídrica é mais elevado, com altas nosso meio dispõe-se apenas da apresentação de 300 mcg,
doses de ocitocina, e a paciente deve ser monitorizada com do- que deverá ser, então, empregada.
sagem diária de íons enguanto estiver recebendo esse regime.23

PROSTAG LA ND/ NAS CONTR ACEPÇÃO


No Brasil, o agente mais utilizado é o misoprostol
(análogo da prostaglandina El). A aplicação local de pros- A fertilidade feminina retorna quase que imediata-
taglandinas determi na mudanças histológicas na cérvice, mente após um abortamento. Assim sendo, a mulher e seu

Hemorragias da Primeira Met ade da Gravidez 257


parceiro devem receber informações sobre sua fertilidade imediata do dispositivo intrauterino (DIU) é considerada
c orientações sobre os métodos anticoncepcionais d ispo- segura e com baixa incidência de expulsão. 15 No ~1.1dro
nívci . Caso não existam complicações maiores decorren- 17.2 estão listadas algumas considerações sobre os méto-
tes do aborta mento, os métodos contracepti vos devem dos contraceptivos no período pós-abortamento.z6
ser começados no momento do trata mento.'~ A inserção

Quadro 17.2 1Métodos contraceptivos pós-abortamento.


Metodos Dr rent~çoes Vantagens Des v ~ntagens

Condom e Iniciar tão logo volte a ter vida Útil até a definição de método mais Eficácia menor que DIU ou métodos
espermicidas sexual ativa efetivo hormonais
Não necessita de supervisão médica Requer motivação e uso regular
Proteção contra DST Uso relacionado à atividade sexual
Fácil interrupção quando houver
desejo de engravidar I
Diafragma Após abortamentos de primeiro Idem ao condom Idem ao condom
trimestre: uso imediato I
Em abortamentos de segundo
trimestre: aguardar a involução
uterina
• Ant1concepc1
. .o- Iniciar uso, de preferência. no Alta eficácia Requerem uso contínuo e motivação
nais orais dia do abortamento Podem ser iniciados mesmo se houver Acesso ao medicamento
infecção A eficácia diminui com o uso conco-
Não estão subordinados à atividade mitante de outras medicações. como
sexual antibióticos
Anticon- Iniciar no mesmo dia do esva- Alta eficácia Sangramento irregular
cepcionais ziamento uterino Podem ser iniciados mesmo se houver Retorno mais lento da fertilidade
injetáveis infecção após suspensão
Não estão subordinados à atividade Acesso ao medicamento
sexual Retorno médico periódico
Implantes A inserção pode ser realizada Alta eficácia Sangramento irregular ou amenorreia
logo após o abortamento Proteção por período prolongado Menos eficaz em mulheres obesas
Retorno imediato da fertilidade após Custo elevado
a remoção
Uso não relacionado à atividade
sexual
DIU Pode ser inserido após Alta eficácia Aumento do fluxo menstrual e I
abortamentos espontâneos no Proteção prolongada cólicas uterinas
primeiro trimestre sem infecção Retorno imediato da fertilidade Risco de complicações maiores em
associada Não relacionado à atividade sexual casos de DST
Nos abortamentos de segundo
trimestre a inserção deve ser
realizada após 6 semanas
Esterilização Não permitida no pós-aborto Método permanente Procedimento cirúrgico
feminina Alta eficácia
Não necessita de seguimento
IAbstinência Não recomendada no pós-aborto Sem custo Difícil compreensão para o casal
periódica
Adaptado de Benson. 26

Noções Práticas de Obstetrícia


GRAVIDEZ EcTÓPICA FATORE TuBÁRIOS

Gravidez cctópica é aquela na qual o ovo e implanta São os cguintcs:


c desenvolve- c fora da cavidade uterina. Essa implanta- Doença inflamatória pé!J,ica: provoca alterações na
ção pode ocorrer cm uma das tubas uterinas, em um dos luz da tu ba, dimi nuindo a quantidade de cílio ele-
ovários, na cavidade abdominal, no canal cervical ou até vando a obstruções. Também pode alterar a motili-
mesmo em corno uterino (Figura 17.6). Há, ainda, a pos- dade tu bária. É considerada a pri ncipal responsável
sibilidade de gestação tópica juntamente com a ectópica. pelo aumento da incidência de gravidez cctópica;
acotovclmllcllto tubârio: pode ser provocado por
aderências resul tantes de infecções (DI P, .!pendi-
cite), cirurgi.ls prévias sobre ,\s trompas (gravidez
ectópica prévia, alpingotrip ·ia), cndomctriosc ou
tumores paratubários (miomas c cistos ovarianos);
anor111alidades 110 desel/volvi111cnto das 111/Jos: trompas
longas, de ca li bre reduzido, com divcrtículos ou
com óstios .1ccssórios.
Figura 17.6 J Localizações da Gravidez Ectópica
I - Cor·nual; 2 Abdominal; 3 - fstimic.t; 4 - Ampular;
S- Fimbrial; 6 - Ovariana; 7 - Cervical.
FATORI:.S F UNC IO!':AI S
A localiz.tç:lo mais frequente da gravidez ectópica é nas
trompa . Pisarka c Carson, em 1999, relataram que 98,3<fo Trompa anatomicamcnte normais podem apresentar
das gestações cctópicas foram tubárias, 1,4% abdominais, di túrbio funcionais que dificultam ou impedem a passa-
0, 15% ovJ rianJs c 0,15% cervicais.2- gem do ovo:
A gravidez cctópica excepcionalmente evolui até a viabi- Co11lraceptivos à bnse de progestcro11n: a motilidade
lidade fetal, resultando no nascimento de feto vivo e sem pro- tu bária é ,\Iterada pela progcstcrona;
blemas c isso só acontece na grJvidez abdominal. Na gravidez píiHin do d111 seg11inte: as ,1ltas dose de progcstagê-
tubária, a clá sic.l frase de Weth sinaliza o prognóstico feta l: n ios presentes na contracepção de emergencia t.1m-
"Na trompa o ovo cava, ao mesmo tempo, o leito c a tumba·. bém alteram a motilidade tubá ria;
Além disso, a gravidez ectópica rota é importante causa disposiftiJOi11trmrteri1to (DiU) : pode f.1 lhar no seu ob-
de mortalidade materna, sendo responsável por l3% das jetivo de evita r a fecundação c contribuir para a ocor-
mortes maternas nos EUA, o que equivale a 38 mortes para rência da gravidez tubária, alterando os movimentos
cada I00.000 gestações ectópicas.28 peristáltico da tuba e retardando a passagem do ovo;
Finalmente, a gravidez ectópica traz prejuízos para a tabagis111o: está relacionado à alta incidência de gra-
fertilidade materna, sendo que as taxas de gravidez bcm- videz ectópica.
-sucedida, apó uma ectópica, giram cm torno de 60%.
Ai ncidcncia au mcntou nos últimos anos, pri ncipa Imen-
te devido ao desenvolvimento de tratamentos mais efctivos ÜUTROS FATORES
para as salpingites e da utilização de técnicas de reprodução
assistida. 'os EUA a incidência saltou de 4,5/ 1.000 gesta- I~eprorlllçiio assistida: é considerada um dos fato-
ções em 1970, para 19J / 1.000 gestações em 1992. 29 res mais importantes no aumento da incidencia de
gravidez ectópica. Tanto a cstim ulaç:10 da ovulação
quanto .1s técnicas de transferência de embriões
ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO estão relacionadas não apenas ao aumento da in-
cidência de gravidez ectópica, mas também a mais
Todo c qualquer fatorque interfira no trajcto por onde o ovo proporç:lo de localizações extratubária · (ovariana,
tem que pas ar para chcg,u à cavidade uterina é fator de risco. cervical) e de gravidezes hctcrotópicas;

Hemorragias da Primeira Metade da Gravidez 259


classe socioeconômica: mulheres de classe socioeco- em 6,2%; e na intersticial, em 1,9%. 1i A gravidez tubária,
nômica baixa têm alto risco de desenvolver gravidez na maiori a das vezes, é ún ica; contudo, é possível também
ectópica, provavelmente relacionado ao elevado ris- a gestação gemelar: dois ovos na mesma trompa ou então
co de adqu irir doenças sexualmente transm issíveis; u m em cada tuba ou, ai nda, um na trompa e o outro na ca-
hiper ou hipoatividade do ovo: um ovo que se de- vidade uteri na (gravidez heterotópica).
senvolva mais rápido tem m ais chance de se im- A coexistência da gravidez in tra uterina com a ectópica
plantar na tuba, enquanto que aguele com desen- ocorre em uma para 3.889 gestações.31
volvimento m ais lento pode aumentar o risco de A incidência de gestação ectópica na literat ura varia en-
gravidez cervical; t re 9,6 e 26,4 pa ra cada 1.000 nascidos vivos. 12
endométrio ectópico: o endométrio localizado na
tuba, ovário ou parede uteri na pode facilitar a im-
plantação do ovo nesses locais. H I ST Ó RIA AT U RAL

O Q uad ro 17.3 mostra os principais fatores de risco da A evolução da gravidez tu bá ria vai depender do local de
30
gestação ectópica. implantação do zigoto. Nas regiões m ais d istais da t rompa
(fi mbrial e am pula r), frequentemente há o aborta mento
tu bário. A implantação em regiões mais delgadas pode le-
GRAVIDEZ ECTÓPICA TUBÁ RIA var à rotura mais precocemente. São possíveis evoluções da
gravidez tu bária:
As tubas uteri nas constituem a localização ma is fre- Morte e reabsorção do embrião: devido ao suprimen-
quente de gravidez ectópica: entre 95 a 99% dos casos. to sangu íneo deficiente para o desenvolvimento da
A implantação do ovo pode se dar em gualquer seg- gravidez, pode ocorrer a morte do embrião com re-
mento das trompas (Figura 17.6). Na região am pular acon- absorção do mesmo em fases precoces d a gestação,
tece em 79,6%; na região íst m ica, em 12,3%; na fi mbria l, com da nos m ínimos à saúde da mãe.

Q uad ro 17.3 1Fatores de risco de gravidez ectópica


Fator ele R1sco Oclcls Rat10 IIC 95' I Oclcls Rat1o A)uStdclo IIC 95 I

Cirurgia tubária prévia 8.816.4 -12,3) 4,012.6- 6,1) I

Infertilidade > 2 anos 5.0 13.7 - 6,8) 2.7 11.8- 4,2) I

Infecção genital prévia confirmada 5.4 14.1 - 7,2) 3.4 12.4 - 5,0) l
Aborto prévio 1~3) 4.7 12.5 - 8,8) 3,011.3- 6,9)
Aborto induzido prévio 1~2) 3,0 11.7- 5,3) 2,8 11.1 - 7,2) !
Passado de tabagismo 2,5 11.8- 3.4) 1.5 11.1 - 2,2)
Tabagismo atual 1~ 20 cigarros) 3.7 12.8 - 5,0) 3,9 12.6- 5,9) I
Idade maior que 40 anos 5.7 13.2- 10,2) 2.9 11.4- 6,1) I
Uso prévio de DIU 1,611.3- 2,0) 2.411.2- 4,9) I
Gravidez ectópica prévia 8,3 16.0 - 11.5) - I
Doença tubária documentada - 3.7 11.2- 4,8) I
Cinco ou mais parceiros sexuais 1,6 11.2- 2,1) NS I

Uso de dietiletilbestrol 5,612.4 -13.0) - I

260 Noções Prát icas de Obstetrícia


Abortamento tubário: o ovo se descola completa- tando o volume do ovo, distendendo atr0111p:1 eC:iUS:indo
mente do epitélio tubário, sendo eliminado para a dor local.
cavidade abdominal. Verifica-se geralmente entre a Sangramento genital de pouca intensidade é outra
sexta e a 12• semanas de gestação e o sangramento, queixa frequente, sugerindo ameaça de abortamento. Esse
em pequena quantidade, pode levar a desconforto sangramento decorre da descamação do endométrio pre-
e dor abdominal. Caso o ovo não se descole com- parado para receber o ovo que aí não chega. A produção
pletamente, alguns fragmentos de trofoblasto po- deficiente de progesterona, consequente à inadequada
dem ficar aderidos à trompa (abortamento tu bário produção de go nadotrofinas, provoca sua descamação e o
incompleto). A persistência do sangramento pode sangramento genital.
levar à hematossalpinge, quando este fica retido na O sangramento pode decorrer, ainda, de refluxo de
tuba, ou a acúmulo de sangue no fundo-de-saco de sangue da trompa para a cavidade uterina e, daí, pelo canal
Douglas e ao abdome agudo hemorrágico. cervical, até os genitais externos.
Rotura tubária: o trofoblasto corrói a parede da Dor no baixo ventre com atraso menstrual ou distúr-
trompa até a sua rotma. Geralmente ocorre entre bio no ciclo menstrual, em mu lheres na fase reprodutiva,
12 e 16 semanas de gestação. Quando a gravidez impõe que se pense sempre na possibil idade de gravidez
se implanta na porção ístmica, acon tece mais cedo. tubária. Essa suspeita aumenta ai nda mais se a paciente
Determina quadro de abdome agudo hemorrágico. é usuária de dispositivo intrauterino (DIU). Admite-se
Evolução para o termo:é muito rara e, quando ocorre, que esse dispositivo aumenta o risco de gestação tubária.
frequentemente o feto vai apresentar deformações O mesmo acontece quando existe história de doença in-
secundárias à compressão extrínseca dos órgãos do flamatória pélvica, de cirurgia sobre as trompas ou uso de
abdome materno. técnicas de reprodução assistida.

EXA M F. FÍS ICO

D I AGNÓSTICO A palpação abdom inal contribui pouco para o diagnós-


tico de gravidez ectópica íntegra; apenas permite identificar
Classicamente o diagnóstico da gestação tubária ínte- a região abdomi nal onde se localiza a dor e, assim, ajudar
gra fundamenta-se na anamnese (si nais e sintomas), em no diagnóstico diferencial com outros quadros dolorosos
exame físico (palpação abdominal e exame pélvico) e em abdominais. O exame pélvico tem por objetivo determ ina r
exames complementares (ultrassonografia transabdomi- o volume uterino e a existência ou não de massa anexial.
nal e transvaginal, determinação de alguns marcadores Na gravidez tubária o útero inicialmente aumenta de
hormonais, culdocentese e laparoscopia). volume; contudo, esse crescimento é mais reduzido do que
o registrado na gravidez tópica e não prossegue com o evo-
ANA MNF.S[. lui r da gestação.
A gravidez tubária íntegra, nas suas fases iniciais, apre- Outros dados importantes no exame pélvico são a
senta sintomatologia semelhante à encontrada na gravidez identificação de massa em um dos anexos e a dor à mobili-
tópica: atraso menstrual e, algumas vezes, distúrbios neu- zação do colo.
rovegetativos (náuseas e vômitos). Com o evoluir da ges- A limitação dos achados no exame pélvico reside na
tação, essa si ntomatologia se modifica, assemelhando-se dificuldade de sua realização, pela falta de colaboração da
agora a outras intercorrências gestacionais ou até mesmo a paciente, que em decorrência da dor local impede que se
doenças abdominais associadas à gravidez. faça exame adequado. No passado superava-se esse proble-
A queixa inicial é de dor persistente, progressiva, quase ma anestesiando-se a paciente. Desse modo, cl inicamente,
sempre unilateral, localizada no baixo ventre; isso acontece com exame pélvico cuidadoso, por exami nador experien-
na maioria dos casos de gestação tu bária. te, conseguia-se, algumas vezes, o diagnóstico da gravidez
Duas são as razões para essa dor: uma é a penetração ectópica íntegra.
do trofoblasto na mucosa tubária, provocando irritação lo- O diagnóstico bem precoce, entretanto, só se consegue
cal e dor. O outro motivo é a multiplicação celular aumen- recorrendo-se a exames complementares preferentemente

Hemorragias da Primeira Metade da Gravidez 261


associados: ultrassonogra fia transvaginal seriada, associa- A dopplerveloci metria colorida aumenta a sensibilida-
da à dopplerveloci metria e à dosagem da gonadotrofina de diagn óstica do ultrassom transvagi na l na ident ificação
coriônica. precoce da gestaçáo normal ou anormal e de pequenas
massas extrauterinas. w A realização concomitante da
{\'A \f/\ (U,\f l'l.J..\I F.'\1TAR I .\ dopplervelocimetria colorida tem ajudado no di agnósti-
A propedêutica complementar tem contribu ído mui to co guando se comprova at iv idade trofoblástica na massa
para diagnósticos cada vez mais precoces de gestação ectó- a nexial (Figura 17.7)
pica tubá ria íntegra. O Q!.•adro 17.4 descreve os principais .1chados ultras-
Os avanços tecnológicos permitem agora o diagnósti- sonogrMicos que levam à suspeita de ges tação ectópica.
co da gravidez ectópica antes que apareçam os sintomas
clínicos. 13 Qpadro 17.4 I Sinais ultrassonográficos indicativos de
gestação ectópica (cm pacientes com teste de gravidez
U/1JH550110grt!fia posit ivo e ausência de saco gestacional intrauteri no)
A ultrassonografia pode identificar massas até mesmo
Visualização de saco gestacional extrauterino com vesícula
in feriores a lO m m de diàmctro e fo rnece informações so- vitelina ou embrião
bre o caráter da massa e de seu conteúdo. 14
Massa anexial heterogênea separada do ovário
Estudos têm mostrado que a ultrassonografia transva-
ginal .1presenta alta sensibilidade (89,9%) e especificidade Moderada ou grande quantidade de líquido livre na pelve
(99,8%) no diagnóstico da gravidez ectópica." Ressalte- Sinal do anel ao Doppler
·se, no entanto, que a contribu ição da ultrassonografia no
Presença de pseudossaco gestacional intrauterino
diagnóstico precoce da gravidez tubária relaciona-se in-
timamente à experiê ncia e habilidade do examinador e à
qual id.1de do equ ipamento util izado no exame. 16 ,\larcadorcs Harma11ais
O saco gestacional pode se r visto ao ultrassom em tor- Para o diagnóstico precoce da gravidez, seja tópica ou
no da segunda semana após a implantação (quarta sema na ectópica, frequentemente recorre-se também a dosagens
de gestação). Contudo, a identificação do embrião viável hormo nais.
exige a observação de movimentos cardíacos, o que pode O principal marcador hormonal da gravidez é a gona-
se r visto entre a quinta e a sexta sema nas de gcstação.1; dotrofina coriônica humana, subunidade beta (~-hCG).
Os dados ultrassonográficos que mais sugerem a gra-
videz tubária são a ausência de saco gestacional intraútero Dos<lg_t:IIS scnadcl.' dt· g_vnacfoiJ'(~fi llclillllllclllcl Sllilllllllfclcfc /Jrta
c a presença de massa <ll1exial, levando ao valor preditivo (p-lrCG)
positivo de 96,3% e va lor preditivo negativo de 94,8%. 18 A produção da gonadotrofi na coriônica humana subu-
Um único exame ecogdfico pode não ser suficiente n idade beta pelo tro foblasto geralmente começa seis di.ls
para o d iagnóstico de gravidez tubária íntegra; às vezes, após a ferti Iização c três aci nco dias depoi s t raços desse hor-
necessita ser repetido. môn io podem ser identificados na circulação m aterna.14

hgur.1 1-.-~ . \ - Lltr.l'>\l'lll'~r.di.l lllt''tr.ullk' 111.1'-'>·1 .ule\1.11 ~'r''\1111.1 Jl, '" .llll'- H- I )''f'plcn·do.:JI11l'tnJ llll''tr.111do Jupl,'
.1ncl ,-,1~cul.!r 110 ,lfll'\ll ú'I'J''' lute,, lll' OY,lrll' l' gr.n·ldl'L tu b.ll'l.ll~l\d,ltCrJl I l'l f'clSJIIcl 2<'2

262 Noções Práticas de Obst etricia


Nas gestações tópicas de evolução normat o crescimen-
to rápido do trofoblasto determina produção crescen-
te de ~-hCG. Seus níveis dobram a cada 48 a 72 ho ras
(aumento de pelo menos 66% em 48 horas). N as gesta-
ções anormais, como na ectópica, a produção de ~-hCG
é d ife rente; cresce menos o u permanece estável ou, en-
tão, d im inui. As dosagens seriadas podem revelar essas
ano rmal idades.
Vá rios estudos correlacionaram o valor do ~-hCG
com a ultrassonografia na tentativa de estabelecer um
"l im iar de detecção" - valor acima do qual a gestação
obrigatoriamente deve ser vista dentro do útero. Esse va-
Figura 17.8j Culdocentese.
lor var ia de 1.000 a 2.000 Ul/ml pela ultrassonografia
transvaginal, dependendo da resolução do aparelho e da
experiência do exam inador. Para a ultrassonografia tran- Luparoscopia
sabdominal, a visua lização do saco gestacional intraútero Considera-se a laparoscopia o recurso propedêutico
é obrigatória quando a concentração de ~-hCG é superior mais con fiável no d iagnóstico de gravidez tu bária íntegra;
a 6.000 UI/mi. nos casos duvidosos deve sempre ser rea lizada. Inconve-
Deve-se lembrar de que em gestações múltiplas as con- nientes desse método propedêutico: agressivo, ex igindo
centrações séricas de ~-hCG podem ser maiores quando local, eq uipa mento e pessoal adequados para realizá-lo, o
comparadas às concentrações na gestação única, possibi- que na p rática nem sempre é possível.
litando exame falsamente positivo na suspeita de gestação Com a melhoria dos aparelhos de ult rassonografia, a la-
ectópica. paroscopia atual mente é usada quase que exclusiva mente
Isoladamente, as dosagens seriadas de ~-hCG são in- como método terapêutico, ficando seu uso propedêutico
suficientes para o diagnóstico da gravidez ectópica íntegra. restrito às gestações em local desconhecido.
Isto porq ue o au mento abaixo do esperado do hormônio
também acontece em abortamentos. Contudo, níveis de
~-hCG acima do limiar de detecção, associados à compro- D IAGNÓSTICO DIFERENCJAL
vação da ausência de saco gestacional na cavidade uterina
pela ultrassonografia, sugerem o diagnóstico de gravidez A sintomatologia da gravidez tubária assemelha-se à de
ectópica. outras enfermidades abdominais, o que torna o di agnósti-
co, às vezes, difícil. Como a conduta gera lmente é diferente,
Dosag~11s de progeslcro11cJ torna-se necessá rio que se identifiq ue com certeza qual o
Níveis de progesterona podem ser úteis na identificação problema abdom ina l.
da evolução da gestação. Acima de 25 ng/ ml associam-se A gestação tu bária pode ser con fundida, pri ncipalmen-
a gestações normais em 98% dos casos. Valores abaixo de te, com anexite, cisto de ovário, rotura de folícu lo ovariano
5ng/ m l sugerem gestações anormais. Infelizmente, na maio- e com apendicite.
ria das vezes, os valores da progesterona estão entre 5 e 25 ng/
mi, sendo inconclusivos, não ajudando no diagnóstico.40.4 1 ANI' XIIT

Nesse quadro infeccioso, as dores abdom inais são


Culdoccntese m ais difusas, bilaterais. Gera lmente surgem hipertermia e
A punção do fundo-de-saco posterior é de pouca uti li- resíduo vaginal purulento. Não existe história de gravidez,
dade no d iagnóstico de gravidez tu bária íntegra. nem sintomatologia. A velocidade de hemossedimentação
É recomendada quando se suspeita de sa ngue na cavi- está elevada e os testes para gravidez são negat ivos.
dade abdom inal, quando não se dispõe de ultrassonogra- A despeito de tudo isso, o d iagnóstico pode ser difícil,
fia. (Figura 17.8). porque na gravidez tu bária nem sempre a dor é localizada c

Hemorragias da Primeira Metade da Gravidez


muitas vezes a paciente não apresenta atraso menstrual ou OuTRO~ QuAoRosABnO\!INAJS
sintomas de gravidez. Toda e qualquer enfermidade que determine dor pél-
Os testes seriados de ~-hCG, a ultrassonografia e, quan- vica pode ser confundida com a gravidez tu bária. A ana m-
do necessária, a laparoscopia fornecem elementos seguros nese bem-conduzida, o exame físico adequado e os exames
para o diagnóstico diferencial entre esses dois quadros. Esse complementares perm item o diagnóstico correto.
diagnóstico é essencial porque a abordagem terapêutica
pode ser totalmente diferente: na anexite frequentemente é TRATAM ENTO
clínica e na gravidez tubária habitualmente é cirúrgica.
No passado, o tratamento da gravidez tubária era sempre
C.. Is n> n1 OI'ti R10 cirúrgico; o que variava era o tipo de cirurgia e a maneira de
Quando sofre processo de torção, geralmente surge realizá-la. inicialmente a cirurgia implicava a realização de la-
quadro doloroso, passível de ser confundido com o re- parotomia; na atualidade, sempre que possível, recorre-se à vi-
gistrado na gravidez tubária. A história clínica e o exame deolaparoscopia. Em casos bem-selecionados já se adota a te-
ginecológico quase sempre esclarecem o diagnóstico. A rapêutica medicamentosa e até mesmo a conduta expectante.
história já pode revelar a existência do cisto. Estudos comparando o tratamento cl ínico com o
No exame ginecológico, comprovam-se útero de tama- cirúrgico mostram que o tratamento cirúrgico ainda é
nho normal e massa cística em um dos anexos. Se persis- o mais efetivo no tratamento da gravidez ectópica (O R
ti rem as dúvidas, recorre-se aos exames complementares: 0,39; lC95% 0,19-0,80), não havendo diferença nas taxas
ultrassonografia ou laparoscopia. de gravidez intrauterina subsequentes (OR 0,99; IC95%
0,34-2,87).42
Ro1 URA nr FoLíCULO OvA IUtl o r n 1
CoRPO LúrF.O H r.\IORRAC. ICO TFRtiP(UTICA CiRúRC:IlA
Podem determinar sangramento pélvico, provocando A terapêutica ci rúrgica continua a ser o tratamento pa-
sintomatologia semel hante à da gravidez tu bária rota. drão da gravidez ectópica. Ela pode ser empregada como
A história, nesses casos, mostra que o problema come- primeira escolha ou na fal ha do tratamento clínico ou da
çou na metade do ciclo menstrual, bem antes da data pro- conduta expectante.H Na terapêutica cirú rgica a !aparato-
vável da menstruação. mia vem cedendo lugar à videolaparoscopia.
O exame ginecológico revela útero não gravídico e au- A videolaparoscopia é superior à laparotomia em pa-
sência de massas pélvicas. A culdocentese pode ser positi- cientes hemod inam icamente estáveis. Ela implica baixos
va, aumentando as dúvidas. custos, tempo mais curto de hospitalização, menos tempo
Dos exames complementares, a lapa roscopia, a ultras- operatório, menos perda de sangue, analgesia mais rápida e
sonografia com dopplervelocimetria e as dosagens seria- tempo de convalescença mais curto.44
das de ~-hCG são os recursos que permitem o diagnóstico Na prática diária existem, no entanto, limitações ao uso
diferencial com a gravidez ectópica. Confirmado o diag- generalizado da videolaparoscopia no tratamento da gravi-
nóstico, justi fica-se a conduta conservadora: observação dez tubária íntegra: a inexistência de equipamento e pessoal
rigorosa da paciente. Nas hemorragias por rotura de folí- habilitado, sempre que necessário, e em todos os hospitais.
cu lo ovariano ou corpo lúteo hemorrágico, há regressão Em casos de urgência, com sangramento importante
espontâ nea da sintomatologia. e/ ou instabilidade hemodinâmica, a laparotomia com sal-
pingectomia deve ser sempre a opção.
APFNTllCI I 1

No quad ro agudo, com a sintomatologia clássica, o Tipo de Cmugw


diagnóstico diferencial é fácil. Algu mas vezes, no entanto, Na videolaparoscopia e laparotomia, sempre que possí-
somente após exame físico cuidadoso e emprego de exames vel, pratica-se a salpingostomia linear contramesentérica-
complementares consegue-se chegar ao diagnóstico exato. incisão linear na trompa com remoção do produto concep-
A coexistência de apendicite e gravidez pode ser um tual. A região da trompa que foi aberta pode ser sutu rada,
fator de confusão. cauterizada ou permanecer aberta.

Noções Práticas de Obstetrícia


Nas pacientes que desejam manter a fertilidade, con- sucesso de 95%, fut uro reprodutivo sim ila r ao obtido com
sidera-se a salpingostomia linear o padrão-ouro no trata- o tratamento ci rú rgico e custo mu ito baixo.41
mento cirúrgico da gravidez tubária.45 A ordenha tubária, Vários auto res propuseram c ritérios para selecionar os
uti Iizada no passado, não deve mais ser realizada, pois existe casos em que o t ratamento clínico seria mais eficiente.
o risco de não se retirar todo o produto conceptual, resul- Elito J r. 47 propôs um índice orientador do tratamento
ta ndo em gravidez ectópica persistente. sistêm ico com o metotrexato, demonstrando que em pa-
As vezes, torna-se necessária a ressecção da região ute- cientes com nota acima de cinco o tratamento foi bem-su-
rina onde a trompa se implanta, nos casos de gravidez ec- ced ido em 95% dos casos, enquanto q ue em pacientes com
tópica intersticial. nota~ 5 houve insucesso no tratamento clínico na maioria
Q\lando não existe a preocupação em manter a fertili- dos casos (Quadro 17.5).
dade, po de-se realizar a salpingectomia total ou parcial. A gravidez tubá ria íntegra corretamente conduzida
permite o tratamento clínico; contudo, necessita de trata-
TRATAA![.NJ"O CLíNICO mento cirúrgico quando há atraso no d iagnóstico ou sur-
A gravidez tu bária íntegra, diagnosticada precocemen- gem complicações:13
te, em casos selecionados é passível de tratamento clínico. Metanálise recente mostrou q ue as chances de sucesso
Vários medicamentos fora m propostos para o t rata- com o tratamento clínico de dose ún ica são de 88,1 e 92,7%
mento clínico da gravidez ectópica, entre eles o cloreto de com mú ltiplas doses (OR 1,7 1; IC95% 1,04-2,82).As taxas
potássio, a glicose hiperosmolar, as prostaglandinas, o RU- de sucesso aumentam quando o ~-hCG encontra-se em
486, a actinomicina O, o etoposide e os anticorpos mo no- níveis m ais baixos e a atividade cardíaca não é detectável.
clonais anti-hCG. D esses, o que vem apresentando melho- Houve menos efeitos colaterais com o tratamento em dose
res resultados no tratamento clínico é o metotrexato. ú nica (OR0,44; IC95% 0,31 a 0,63).48
O metotrexato é um antagonista do ácido fólico, que
inibe a síntese de purinas e pirim idinas, interferindo na sí n- COI'\DUlll EXPLCTANTL
tese de DNA e na multiplicação celula r. Existem adeptos da conduta expectante na gravidez tu-
O diagnóstico precoce e correto da gravidez tubária bária íntegra: aguardar sua resolução espontâ nea.
permite identi ficar número significativo de casos passíveis A conduta expectante é uma opção na gravidez tu bária
de tratamento clínico, desde que se dispon ha de excelente íntegra, em pacientes cuidadosamente selecionadas e com
controle ultrassonográfico e hormonal.46 critérios bem-definidos. Isso é possível em IS a 20% das ges-
O tratamento com metotrexato da gravidez tu bária ín- tações ectópicas.48 Ausência de dor ou sangramento genital e
tegra, com menos de 3,5 cm no seu maio r diâmetro, apre- de sinais de sangramento abdom inal, níveis decrescentes de
senta eficácia clín ica, efeitos colaterais mín imos, índice de ~-hCG, sendo o inicial aba ixo de 1.000 U l/m i, monitoração

Q1adro 17.5 IÍndice orientador do tratamento sistêmico com metotrexato (índice de Elito-Camano)
Parâmetros Pontuação
o 1 2 I
13-hCG (mUI!ml) > 5.000 1.500 - 5.000 < 1.500 I
Aspecto da imagem Embrião vivo Anel tubário Hematosalpinge I
Diâmetro da massa (cm) >3,0 2,6-3,0 ~ 2,5 I
!

Doppler colorido Risco elevado Risco médio Risco baixo


Nota > 5 ~ 95% de sucesso no tratamento clínico
Nota ~ 5 ~Tratamento clínico contraindicado
Risco elevado: fiuxo com IR < 0.45 em mais de 2/3 da massa.
Risco moderado: fluxo com IR < 0.45 em 1/3 a 2/3 da massa.
Risco baixo: fluxo com IR < 0.45 em menos de 1/3 da massa, ou fluxo com IR > 0.45. ou fluxo de alta resistência (diástole zero ou reversa) ou ausência de
vascularização detectável.

Hemorragias da Primeira Metade da Gravidez


contínua da paciente com dosagens seriadas de ~-hCG, de GRAVIDEZ ECTÓPICA OVARIANA
hematócrito c ultrassonografia transvaginal até o desapareci-
mento do ~-hCG. Com níveis persistentes ou em elevaçáo de a gravidez ovariana a fecu ndação do óvulo acontece
~-hCG, a paciente deve ser tratada com metotrexato. 49 antes de sua expulsão do ovário. O utra possibilidade é o
Elson e/ a/.50 relataram sucesso de 96% da conduta ovo abortado para a cavidade abdominal fixa r-se e desen-
expectante quando os níveis de ~-hCG eram inferiores a volver-se na superfície do ová rio.
175 Ul/ ml, 66% com ~-hCG entre 175 e l.SOO UI/ mi e Diagnóstico precoce de gravidez ovariana íntegra só
21% com ~-hCG superior a 1.500 Ul/ ml. No grupo com com recu rsos laboratoriais: dosagens seriadas de ~-hCG c
~-hCG entre 175 e 1.500 U l/mi, as taxas de sucesso fora m ultrassonografia pélvica. As dosagens de ~-hCG são posi-
mais altas quando a progesterona sérica era inferior a 10 tivas, porém seus níveis não au mentam progressivamente,
ng/ ml e a gestação tinha menos de seis semanas (42 dias). como acontece na gravidez intrauterina.
Concentrações decrescentes de ~-hCG indicam gra- O exame ultrassonográfico mostra ovário au mentado
videz em involução. Quando a dosagem sérica do ~-hCG de volume e ausência de saco gestacional na cavidade ute-
indicar níveis decrescentes, a conduta expectante pode ser rina. A dopplervelocirnetria colorida demonstra tecido tro-
adotada. Níveis crescentes do ~-hCG ou aumento da mas- foblástico no ovário. .A certeza diagnóstica obtém-se com a
a anexial contrai ndica m a conduta conservadora. videolaparoscopia ou com a laparotom ia.
As Figuras 17.9 e 17. 10 resumem a conduta sugerida na A terapêutica consiste na remoção parcial ou total do
gravidez ectópica. ovário.

Atraso menstrual, dor abdominal e sangramento vaginal

Hemodinamicamente sim Realizar ~-HCG


estável
1
não
Positivo Negativo

Conseguir 2 acessos venosos calibrosos


e iniciar reposição volêmica US disponfvel Diagnóstico Diferencial

Solicitar hemograma. tipagem


sanguínea e fazer reserva de
sangue e plasma

Grande/moderada quantidade Realizar culdocentese


laparotomia com salpingectomia de liquido livre na pelve
!
[ Não

Avaliar cirurgia Seguir o fluxograma de


gestação ectópica integra

Figura 17.91 Primeiro atendimento da paciente com suspeita de gravidez ectópica.

266 Noções Práticas de Obstetrícia


Paciente com atraso menstrual, dor abdominal e sangramento vaginal

~-hCG quantitativo

1
~-hCG Positivo ~-hCG Negativo
T
Ultrassonografia transvaginal (USTV) Diagnóstico Diferencial

Gravidez intrauterina
I
~-hCG < 1.500 e
~·~~-hCG ~ 1.500 e
gravidez em local gravidez em local
desconhecido desconhecido ou Gravidez Ectópica
Pré-Natal massa anexial

Repetir ~-hCG quantitativo


em 24 horas Massa s; 4,0 cm Massa > 4.0

Tratamento Tratamento
~-hCG decrescente ~-hCG ascendente ou estável clfnico ou cirúrgico
cirúrgico

expectante
~-hCG seriado
(a cada 48 horas)
1 Nota s: 5
fndice de
Elito-Camano
Repetir USTV semanalmente
ou quando ~- HCG ~ 1500 Nota > 5

Metotrexato
~-hCG dobrando ~-hCG aumentando menos
a cada 48 horas + que o dobro a cada 48 horas
Saco gestacional e/ou massa anexial
tntraútero

Gravidez intrauterina

Pré-natal

Figura 17. 1OJ Fluxograma de conduta na paciente com suspeita de gravidct cctópica íntegra.

GRAVIDEZ ABDOMIN A L
primariamente na trompa é abortado para a cavidade .lb-
O ovo implanta c de envolve- e na cavidade abdomi- dominal c aí continua seu de envolvimen to.
nal. I o acontece quando o óvulo expulso do ovário cai É ba "tantc rara. Sua incidência é de um para 8.000 par-
na cavidade abdominal onde é fecundado ou então o ovo tos c de 1,4"'<> entre as gc taçõcs ectópica~. \()

Hemorragias da Primeira Metade da Gravidez


A gravidez abdominal pode evoluir até o termo, mas cerclage é a medida inicial visando coibir o sangramento.
geralmente o feto apresenta deformações. Se fal ha, as soluções são cirúrgicas: ligadura das artérias ilí-
A queixa mais comum na gravidez abdomi nal é de dor, acas internas ou então a histerectomia total.51
principalmente depois que começam os movimentos fetais.
A palpação abdominal e o exame pélvico permitem
identificar o volume uterino menor do que o esperado e GRAVIDEZ ECTÓPICA CORNUAL
massa cm alguma região da cavidade abdominal.
A ultrassonografia con firma o diagnóstico. Apesar de extremamente raro, o ovo pode se implantar
A conduta é sempre cirúrgica: laparotomia para extração em corno uterino acessório quando existe essa malformação.
de feto e placenta. Esta nem sempre deve ou pode ser remo- A ultrassonografia ou a videolaparoscopia permitem
vida durante a cirurgia. Conforme o local onde se implantou, o diagnósticoi e o trata mento consiste na remoção do
sua extração pode determinar sangramentos abundantcsi corno uteri no.
melhor é aguardar sua involução e removê-la posteriormente.
Gestações mais avançadas, acima de 26 semanas, sem
malformação fetat e se a sintomatologia permitir (sem dor, GRAVIDEZ ECTÓPICA NA CICATRIZ DE
sem sangramento, sem obstrução intestinal), realizando-se CESARIANA PRÉVIA
a monitoração constante das condições maternas e fetais,
pode-se aguardar a maturidade pulmonar fetal ou induzi- os últi mos anos, com o aumento da incidência de
-la com corticoide, antes da retirada do feto. cesarianas, esse novo tipo de gestação cctópica tem se tor-
nado mais comum. O pri meiro caso foi descrito em 1978
e até 2001 só haviam 19 casos descritos na literatura. De
GRAVIDEZ ECTÓPICA CERVICAL 200 I a 2006, outros 142 casos foram dcscritosY
A implantação do saco gestacional na cicatriz de cc-
Na gravidez cervical, a implantação do ovo ocorre sariana leva a risco aumentado de rotu ra uterina precoce.
no canal cervical. Sua incidência varia entre 1/ 2.500 e Caso a gravidez prossiga, o risco de acretismo placentário
1/ 12.422 gestações.U São fatores predisponentes à gravi- é elevado, assim como a possibilidade de invasão trofoblás-
dez cervical: as doenças cervicais, as dilatações c cureta- tica de órgãos adjacentes, como bexiga e alças intestinais.
gcns prévias, a síndrome de Asherman, as cesarianas pré- Sangramento vagi nal leve, não doloroso pode ser a mani-
vias, as ci rurgias sobre o colo e a fertilização in vitro. 45 festação inicial, evoluindo até casos de abdome agudo hemor-
O exa me pélvico permite identificar o canal cervical rágico, quando se detecta a rotura uterina. Em muitas pacien-
alongado, amolecido, globoso e discreto aumento uterino, tes o diagnóstico será dado em ultrassonografia de rotina.
discordante da idade gestacional. Confi rma-se o diagnós- Pela ul trassonografia suspeita-se de gravidez ectópica
tico quando o exame ul trassonográfico revela ausência de em cicatriz de cesariana, quando se observa saco gestacio-
saco gcstacional intraútcro c presença de tecido trofoblásti- nal implantado no segmento anterior do útero, com pouco
co no canal cervical. ou nenhum tecido miometrial entre o mesmo e a bexiga.
Em gestações mais ava nçadas constata-se sangramen- Como poucos casos foram descritos na literatura, não se
to geni tal sugestivo de gestação anorma l. sabe ao certo qual a mel hor forma de tratamento.Alguns auto-
Em função do elevado risco de hemorragia grave no res sugerem o metotrexato como primeira escolha, mas em ges-
tratamento cirú rgico da gravidez ectópica cervical, o mcto- tações mais avançadas a abordagem cirúrgica se faz necessária.
trexato tem sido considerado por alguns autores a primeira Na abordagem cirúrgica já foram descritas curetagem
opção terapêutica nessa situação. uterina, histeroscopia, laparoscopia c laparotomia. A currc-
O tratamento cirú rgico consiste de d ilatação do colo tagem apresentou altas taxas de complicações devido à difi-
e retirada instru mental do ovo, seguida de curetagem. Na culdade de conter a hemorragia. A ressccção do saco gcsta-
maioria das vezes, mesmo após a curetagem, persiste o san- cional e das bordas uterinas comprometidas (histerotomia)
gramento. A compressão do canal cervical por meio de ba- e nova histerorrafia parece ser a modalidade de tratamento
lão (sonda de Foley insuflada), tamponamento com gaze e cirú rgico com melhores resultados.52

268 Noções Práticas de Obstetricia


PREVENÇÃO DA I SOIMUNIZAÇÁO I NCIDÊNCIA
PELO FATOR RH
A incidência de mola hidatiforme é geralmente ex-
,\s mulheres Rh negativo não imunizadas, com gravi- pressa em relação ao total de gestações em uma comuni-
dez ectópica, qualquer que seja a terapêutica adotada reco- dade. É estimada em I :2.000 nascidos vivos nos países do
menda-se a administração de imunoglobulina hu mana anti- Ocidente e I: 1.000 nascidos vivos na Ásia, mas a verda-
-Rh (D) na dose de 300 me~ por via intramuscular. Caso deira variação geográfica é desconhecida. No Brasil, um
disponível, a dose de 50 mcg também pode ser empregada.53 único estudo num centro de referência estimou 1:215
O Quadro 17.6 mostra as principais evidências existen- gestações.54•55
tes na literatura sobre gravidez ectópica.

Quadro 17.61 Evidência sobrcgravidezectópica ETI OPATOGEN IA


lntervencrw Nrvel de Grau de
evrdêncra recornendaçao Como a etiologia é ai nda incerta, estudamos uma va-
riedade de fatores de risco que podem estar relacionados à
Conduta expectante em casos 18 A
selecionados DTG c são descritos a egu ir.
I
Tratamento clínico com meto- 18 A
trexato sistêmico em casos
IDADE MATe RNA
selecionados
l aparoscopia como primeira 18 A
A idade materna tem sido considerada importa nte fato r
escolha
de risco. Percebe-se mais freq uência de casos na adolescên-
Uso da lmunoglobulina para 38 8 cia e, de form a mais acentuada, em mulheres com mais de
prevenção da lsoimunização Rh
40 anos.54

DOENÇA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL HISTÓRIA R E PRO DU TIVA

Doença trofoblástica gestacional (DTG) engloba gru- Muitos estudos têm relacionado a DTG à idade na pri-
po heterogêneo de lesões carac terizadas por proliferação meira gestação, abortos prévios, intervalo intergestacional
anormal do trofoblasto. A conduta na DTG é principal- e história de infertilidade. A mola hidatiforme parece ser
mente clínica e indepcnde, na maioria da vezes, de d iag- fator de risco de mola de repetição, estando aumentado em
nóstico histológico. Considerando a grande dificuldade cincoa !Ovezcs.' 4·55
de padronização da nomenclatura, a O rga nização Mun- Gestação gemelar pode, também, aumentar o risco de
dial de Saúde (OM S, 2003)' 4 recomendou a classificação mola hidatifonn e. Existe alto risco cm usuárias de contra-
histopatológica apresentada no Quadro 17.7. cepção hormonal oral - sendo este relacionado à duração
do uso da mesma.54
Quadro 17.7 I Classi ficação histopatológica da doença
trofoblástica gestacional (OMS)
FATORÉTN I CO
Mola hidatiforme
completa
parcial Diferenças geográficas podem ser devidas a fàtores am-
Mola hidatiforme invasora bientais, cultu rais, sociocconômicos ou raciais. A incidên-
Coriocarcinoma cia em países asiáticos tem declinado, sendo este fato as-
Tumor trofoblástico do sítio placentário sociado a mudanças de estilo de vida e comportamento. 54
lesões trofoblásticas (miscelânea)

Hemorragias da Primeira Metade da Gravidez 269


FATO R GENÉTICO ótipo d iploide. Quase sem pre, por cu idadosa inspeção, o
d iagnóstico é macroscópico (Fig ura I 7. 13).
Estudos recentes têm demonstrado mutação no gene
N PRL 7 no cromossoma 19q l3.4 (que determina sequ-
ências de proteínas relacionadas a apoptose) associado a

®
mola familiar e/ ou de repet ição 5 •

~®:®
ÜUT ROS FATOR ES

Alguns estudos caso-controle relaciona m a deficiência


de caroteno à mola hidatifor me na forma completa. Parida- SOMENTE
CROMOSSOMOS 46 XX
de, grupo sanguíneo, fato res paternos, álcool e tabagismo PATERNO

são fatores controversos.54

I
Figura 17. 11 Mola hidatiforme completa, androgenética.

ASPECTOS CROMOSSÔMICOS DA
MOLA HIDATIFORME

®
A s molas completas são lesões diploides, com cariótipo
46,XX, que é o mais comum. Todos os cromossomas são
paternos (Figura 17.11). Ocasionalmente, encontra-se um
padrão tetraploide ou triploide. Se um feto está presente, G\
-+V-
TRIPLOIDIA

provavelmente é um exemplo de gestação gemelar, um a


das quais é molar. Nas molas pa rciais, o cariótipo mais fre-
q uente é t riploide (69 cro mossomas), com dois genomas
paternos e um materno (Fig ura 17.12) 54•56
DISPERMIA DIANDRIA

'@
Figura 17.121 Mola hidatiformc parcial, co m cromossomas
materno e paterno.
CLASSIFICAÇÃO

Cli n icamente, a DTG engloba a mola hidatiforme


(completa c parcial), a mola invasora, o coriocarcinoma e
o tumor trofoblástico do sítio placentário. O termo tumor Q uadro 17.8 1Características clínicas das molas completa
trofoblástico gestacional (1TG) defi ne estado da doença e parcial
em que há evidência clínica de mola invasora ou coriocar- Caracter1St1ca Mola Completa Mola Parc1al
cinoma c que tem comportamento maligno.
Apresentação Abortamento Abortamento retido
O Quadro 17.8 mostra as características cl ínicas das
clfnica espontâneo ou espontâneo
molas hidatiformes 56
[ Idade gestacional 16-18 semanas 18 a 20 semanas
Tamanho uterino Grande para a data Pequeno para a data I
MOLA HIDATIFO RM E COM PLETA
~-hCG plasmático ++++ +

A mola completa é ca racterizada pela degeneração hi-


Comportamento 8% a 29% < 5% desenvolvem
desenvolvemTIG TIG
drópica das vilosidades coriôn icas (vesículas). Tem cari-

2 70 Noções Práticas de Obst etrícia


ausência de vilosidades coriônicas. A incidência varia
amplamente no mu ndo, pri ncipalmente pela discrepante
metodologia aplicada (não há sistematização do estudo
anatomopatológico da le ão). O coriocarcinoma pode e!.-
ta r associado a qualquer tipo de gestação, seja após aborto,
gravidez ectópica, mola h idati forme ou gestação a termo.' 6

TUMOR TROFOBLÁSTICO DO SíTIO P LACEI TÁ RIO

É tumor que ocupa a cavidade uterina (endométrio c


miométrio), composto predominantemente de trofobbs-
F1sur.1 1-1\ 1 :\ J,,J.l h,,!,nJI,,rm,· C:l'lllf'kt.l. l .l r.Ktl'n \ tJ, ,l d,,,
\'C\Illd.l\ \;I J'·l~lll.l 2- I
to intermediário, com baixa produção de gonadotrofi n:~
coriônica c elevada produção de hormônio lactogênio pla-
ccntci rio. Tem como antecedente gcstacional tanto a mola
MOLA H I DAT I FORME PARC IAL hidatiforme como a gest:~ção a termo ou aborto.' 6

A mola parcial tem duas populações de vilosidades co-


riônicas, uma normal e out ra com degeneração hidrópica. MOLA HIDATIFORME
Geralmente tem cariótipo triploide. Um feto está sempre
presente. O diagnóstico é, na maioria das vezes, microscó- QuADRO CLfN ICO
pico e/ou genético. ormalmentc, não é difícil distinguir
mola completa de mola parcial, mas algu mas vezes essa dis- A aprescnt.1ção clínica mais comum é o sangr.1mento
tinção pode ser di fiei I. O diagnóstico diferencial entre mola genital na primeira metade da gestação. Urn dos aspectos im-
completa e mola parcial é importante para o prognóstico, portantes da doença trofoblá tica, pelo menos quanto à su,\
entretanto, a conduta clínica é similar. A molas completas, forma mais frequente, é a mudança da forma de apresentação
pelo diagnóstico cada vez mais precoce, são caracteriz:ldas nas últimas décadas. Assim, quadros clínicos com molas de
por altcr.1ções morfológicas sutis, que podem levar a fa lsos grande volume, eliminação de vesículas e anem ia são cada vez
diagnósticos, como mola parcial ou aborto não molar.' 6 menos frequentes. Situações de emergência tornaram-se mai
raras, mas continuam a exigir atenção. Entre elas, são ainda
detectados insuficiência respiratória após o esvaziamento da
MOLA HJDATifORJ\lE I~Vi\SORA mola, pré-eclàmpsia, hipertireoidismo c crise tireotóxica.55
A mola completa geralmente torna-se sintomática entre a
Denomina-se mola invasora quando há tecido trofo- sexta c a oitava semanas de gravidez e, se não tratada, havcd
blástico n.l i i]Í:~idade do miométrio, nos espaços vascu- o aborto espontâneo em torno da 16• e 18• semanas de gra-
lares ou em l'õ6is à distância, principal mente vagina ou videz. A mola parcial pode apresentar sintomatologia mais
pulmões. Écomplicação da mola hidatiforme, completa ou tard i:~, pela presença do feto e pouco tecido molar na placenta
parcial. É difícil determinar a frequência de mola invasora, (Qladro 17.9).
porque muitos casos são diagnosticado somente cl inica- Os sinais e sintomas mais frequentes são:
mente, sem confirmação patológica.56 Sangramento uterino: o sintoma é quase un iversal.
Está presente em quase 97% dos casos. É geralmen-
te descrito como "suco de ameixa", por causa da li-
CORIOCARCI OMA quefação do coágulo intrautcri no;
aumento uterino: é o segundo aspecto clínico mais
É tumor maligno composto de células trofobl ásticas, importante. Para ser considerado grande para a ida-
cm arranjo dimórfico (cito c sinciciotrofoblasto), com de gcstacional, o tamanho do útero deverá ter quatro

Hemorragias da Primeira Metade da Gravidez 2 71


semanas a mais que o tempo de amenorreia. É consi- DIAGNÓSTI CO C LÍNICO
derado fator de risco para complicações respiratórias Os sinais e sintomas presentes na m ola hidatiforme
(embolização trofoblástica) e para subsequente TTG; são variáveis em frequência e intensidade. A gestante pode
hiperemese gravídica: é encontrada em cerca de 30% apresentar quadro clínico semelhante ao de ameaça de
das pacientes e parece esta r associada ao útero abortamento, com sangramento gen ital intermitente,
grande para a idade gestacional e níveis elevados de acompanhado de cól icas. O sangramento uterino pode
gonadotrofina coriôn ica; ser importa nte, cursando até mesmo com hemorragias
hipertensão e proteinúria: é outro sinal clássico da que ameaçam a vida. É comum encontra r o taman ho
gestação molar. É encontrada em cerca de 20% uterino maior que o esperado para a idade gestacional. As
dos casos. O fator importante aqui é o seu apare- náuseas e vômitos també m podem ser frequentes e, a lgu-
cimento precoce, na p rimeira metade da gestação. mas vezes, tão intensos que caracterizam quad ro de h ipe-
Existem relatos de casos de mola hidatiforme com remese gravídica 5 6
eclâmpsia e também com síndrome H ELLP; 56
complicações da mola hidatiforme: a perda sanguínea DIAGNÓSTI CO U 1TRASSONOGRÁ FICO
excessiva e prolongada pode levar à anemia. Alguns A ultrassonografia é muito importante no diagnóstico
casos podem apresentar tireotoxicose, coagulação da mola hidatiforme completa (MHC). Tanto o desenvol-
intravascular disseminada, embolização trofoblásti- vimento máximo das vesículas na cavidade uterina como
ca, cistos teca-luteínicos. Metade das pacientes apre- a eventual eliminação das mesmas acontecem durante o
senta cistose ovariana, que é exclusivo de pacientes segundo trimestre. Nesse período, a ultrassonografia pode
com importante elevação de gonadotrofina coriôni- mostrar o aspecto de múltiplas vesículas, que é devido ao
ca e subsequente superestimulação ovariana. 56 acentuado edema das vilosidades. As imagens ultrassonográ-
ficas são, no caso da mola hidatiforme completa, altamente
sugestivas desse diagnóstico. Nessa situação, a cavidade ute-
Quadro 17.9 I Características clínicas das molas completa rina está preenchida por ecos amorfos, com imagem caracte-
e parcial
rística em "flocos de n eve", além de ser identificada ausência
Característica % de embrião. Com relativa ITequência podem ser visibilizados
Metrorragia 97 I os cistos teca-luteínicos, uni ou bilaterais. (Figura 17.4) En-
tretanto, apenas metade das gestações molares de primeiro
Anemia 62 I trimestre tem a aparência clássica à ultrassonografia.55
Aumento uterino 52 I
Cistosteca-lutefnicos 34 I
Hiperemese gravídica 28 J
Pré-eclãmpsia 18 !
Dor 15 1
Hipertireoidismo 5 I
Embolização trofoblástica 2 1

DIAGNÓST ICO

Apesar do diagnóstico p recoce ser possível hoje, a fre-


quência de doença persistente mesmo entre esses casos
permanece a mesma. O d iagnóstico é essencialmente feito Figura 17. 141 C istose ovariana: imagem ultrassonográfica
por meio dos dados clínicos e da ultrassonografia.55 de cistos teca-luteínicos.

272 Noções Práticas de Obstetrícia


A ultrassonografia pode contribuir para o diagnóstico o tempo para se efetuar uma curetagem pode ser muito
de mola hidatiforme parcial (MHP). Alguns achados são longo, o que aumenta a perda sanguínea. O procedimento
considerados bastante sugestivos, como alterações císticas deve ser completado com a curetagem das paredes uteri-
focais na placenta e aumento da relação entre o diâmetro nas para con fi nnar a remoção completa do material molar.
transverso e o ân tero-posterior. As modificações no for- O material obtido pela curetagem apresenta baixo índice
mato do saco gestacional são indicativas da embriopatia de autólise e necrose, sendo mais adequado para histopa-
relacionada à triploidia. Qyando am bas as alterações estão tologia, devendo ser enviado separadamente. Em situações
presentes, o valor preditivo positivo chega a 90%. Outros especiais ad mite-se o uso de ocitocina para mini mizar o
achados relacionados à MHP são: restrição do crescimen- sangramento após o esvaziamento.55•57-59
to e malformações fetais associadas à placenta focalmente A histerectomia pode ser uma alternativa para a abor-
hidrópica.55 dagem inicial para mulheres com mais de 40 anos, ent re
as quais o risco para doença invasora é mais alto. Embora a
l)fA(;;v()snco LABORATORIAL histcrectomia elimine o risco da doença invasora, doença
A dosagem de gonadotrofi nas coriônicas (hCG) pode metastática pode ocorrer, o que exige o seguimento de to-
complementar as informações da ultrassonografia, parti- das as mul heres nessa situação. 55
cularmente se os títulos forem superiores ao valor esperado
para a idade gestacional. Os níveis de ~-h CC na M HC são ClsTOSTFCA L UTFfNICOS
bastante elevados e quase metade das pacientes tem níveis Os cistos teca-luteínicos regridem de forma espontâ-
superiores a 100.000 mU I/ mi, podendo ser observados nea, paralelamente à regressão do ~-hCG. Excepcional-
valores superiores a 5x 106 mUI/ mi. No entanto, os níveis mente, eles necessitarão de aspiração no momento does-
são bem mais baixos entre os casos com MH P e valores vaziamento molar ou da histcrcctomia.56
superiores a 100.000 mUl/ml são observados num per-
centual mais reduzido de casos 5 5 Ou·1 1<0~ Cu I nAnO.\
Antes do esvaziamento da cavidade uterina, recomen-
da-se a realização da radiografia de tórax.56•58·59
Co D UTA As pacientes Rh(Du) negativo deverão receber imu-
noglobuli na anti-Rh após o esvaziamento molar, porque
Quando do diagnóstico de gravidez molar (completa como o fator Rh(Du) está expresso no trofoblasto, existe o
ou parcial), a paciente deve ser avaliada quanto à existência risco de sensibil ização materna também nessas situações. ' 6
de complicações médicas, inclusive anemia, hipertensão e
proteinúria, hipertireodismo e insuficiência respiratória. CoNTIWLFAPó'i o T'rRATAMLN ro INICIAL
Exames como tipagem sangu ínea, VDRL, hematócrito e O objetivo mais importante do seguimento é detectar
hemoglobina, dosagem quantitativa de ~-hCG e função precocemente os casos que apresentem persistência da do-
tireoidiana devem ser realizados.56 ença. Desta forma, a maioria deles será classilicada como de
baixo risco, podendo ser tratados com monoquimioterapia,
EsVAZIAMENTO i\! oLA R e apresentando prognóstico melhor. A recomendação atual
Q\.lando há suspeita ultrassonográfica ou clínica de para o seguimento prevê dosagem semanal de ~-hCG até
M HC ou MHP, deve-se proceder ao esvaziamento da ca- que haja três dosagens consecutivas negativas. O valor abai-
vidade uterina. Não se recomenda o uso de medica mentos xo do qual o teste é considerado negativo varia, mas cm geral
que provoquem contrações uterinas, pois a indução dessas é inferior a 5 mUl/ml. Em seguida, as dosagens podem ser
antes do esvaziamento da mola aumenta o risco de evolu- mensais por seis a 12 meses, sendo o seguimento por um
ção para doença persistente e de embolização trofoblástica ano reservado para as pacientes tratadas com monoquimio-
para vasos pulmonares. Para o esvaziamento, é recomen- terapia para doença persistente de baixo risco55
dada a vácuo-aspiração, devendo ser evitada a curetagem A dosagem de ~-hCG não é o único componente do
no início do procedimento, pelo risco aumentado de per- seguimento. O exame ginecológico deve ser realizado na
furação. Além disso, no caso de molas de grande volu me, pri meira consulta após o esvaziamento, não sendo neces-

Hemorragias da Primeira Metade da Gravidez 273


sário nas avaliações subsequentes, à exceção de eventuais de incisura protodiastólica. Éimportante exame para
queixas. Relato de sangramento genital deve ser valoriza- avaliação de resposta à quimioterapia (Figura 17. 16);
do. Deve ser oferecido método contraceptivo eficiente e de
fác il adesão, sendo os contraceptivos orais e injetáveis os
mais adeq uados. Os contracepti vos não aumentam o risco
de doença persistente."
A utilização de métodos de imagem só se justifica em
caso de queixas de sangramento anormal ou para estadia-
menta nos casos de elevações dos títulos de ~-hCG.
Para os casos de evolução espontânea (sem neces-
sidade de monoquimioterapia), o seguimento por seis
meses após a negativaç:i.o das dosagens de ~-hCG é con-
siderado adequado.55
O risco de doença persistente - caracterizado pela per-
sistência ou elevação dos níveis de gonadotrofina coriôn ica
é de cerca de 20% na MHC c de 1% na MHP, sendo con-
sideradas de mais risco as mulheres com elevado aumento
do volu me uterino, presença de cistos teca-luteínicos c ní-
veis muito elevados de ~-hCG. 14 .ss.s7

TuMOR TROFOBLÁSTICO GESTACIONAL Figura 17.1S 11magem ultrassonográfica do tumor trofoblásti-


co gestacional (TTG): invasão miometrial cm "olho de coruja".
O risco de desenvolvi mento de TIG após gestação mo-
lar está relatado entre 8 e 29% (essa variação na incidência
resulta de diferentes critérios diagnósticos).56
A

D IAGNÓSTICO

É necessário associar o quadro clínico c laboratorial


para real izar o estadiamento da doença. Para estabelecer o
diagnóstico de "JTG será útil avaliar:
Qtadro clínico: a paciente poderá apresentar sangramen-
to de origem uterina, sintomas gestaciona is persistentes, B
útero subinvoluído, cistos tcca-luteínicos e metástases;
curva de regressão do rhCG: é o exame mais acura-
do, confiável e decisivo. Pode apresentar platecw por
três semanas consecutivas ou elevação por duas se-
manas consecutivas;
rdtrassonograjia: identificação de imagem miome-
trial, mista, hipo ou hiper-refringente ("olho de co-
ruja") é altamente sugestiva de TTG (Figura 17.15); Figura 17. 16 ! Dopplervelocimetri a. A - Padrão normal da ar-
dopplervelocimelria: a análise das artérias uterinas téria uterina (incisura protodiastólica, relação A/ B maior que
mostra padrão característico, com índices de resis- 2,6. B- Padrão de tumor trofobl,\stico gestacional (ausência
tência e pulsatilidade baixos (menos de 1) e ausência de incisura protod iastólica, relaç:10 A/ B menor que 2,6).

274 Noções Práticas de Obstetrícia


estudo radiológico: a radiografia simples de tórax é As pacientes que alcançam pontuação igual ou infe-
útil para diagnóstico de metástases pulmona res. rior a seis são considerada de baixo risco, enquanto as
Quando normal, recomenda-se solicita r tomogra- que alcançam sete ou mais pontos são consideradas de
fia computadorizada, principalmente na paciente a lto ri sco. 57·56•59
de alto risco. A tomograha computadorizada eLltil
para ava liação abdominal e a ressonâ ncia m agnéti-
ca para avaliação cerebral. CON DUTA

E~TADIAMFNTO Uti liza-se quimioterapia a saciada o u não à ciru rgia c,


O cstadiamento anatómico do TIG está sintetizado no eventualmente, rad ioterapia.
Quad ro 17. 10.
A Federação Internacional de Ginecologia e Obstet rí- QU! MIOf'I'RAf>I A
cia (F IGO) combinou esse estadiamento com o sistema de A quimioterapia é o tratam ento de eleição do TrG,
fatores de risco da OM , resultando em manei ra mais ade- com índices de c ura em torno de 95%, mesmo com doença
quada para se estad ia r um caso de TIG (Qyadro 17. 11).60 meta tática. U ma das complicações consequente ao trata-
mento do 1TG é a ocorrência de malformações vasculares
no útero, levando a metrorragias importantes. Para essas
I
Q uadro 17.10 Estadiamcnto ,\natômico da doença troFo- situações, o tratamento proposto é a embolização das artt'-
blástica (FIGO 2000) rias uterinas, principalmente naquelas pacientes e m que há
Estac!lo CCHactenst1cas interesse de preservar a fertilidade.
O esq uema terapêutico va i depender do estadiamcnto
I Tumor confinado ao útero I
• da doença, conforme esquematizado no Q\.mdro 17.12.
11 Tumor estende-se a outras estruturas genitais:
vagina. ovário. ligamento largo e trompa (por
CIRURGI A An;uvAN7 r
metástase ou extensão direta)
A h isterectomia poderá ser útil para controlar hemor-
III Metástase para pulmão, com ou sem ragia uterina grave e retirar doença confinada ao útero,
envolvimento do trato genital
que porventura esteja leva ndo il resistência quimiotcrápica
IV Outras metástases à distância. com ou sem (Figu r,\ 17. 17). É o tratamento de escolha no tumor trofo -
envolvimento pulmonar 1 blástico do sítio placentário com qu imioterapia adjuvante.

Q\Jadro 17. 11 IEscore da FIGO para a doença trofoblástica gestacion,\ 1


Fator de r1sco o 1 2 4

Idade (anos) s 39 >39 - -


i
Antecedente gestacional Mola Aborto Gestação a termo - I
Intervalo gestação/ TIG (meses) <4 4a6 7 a 12 > 12 I
~-hCG pré-tratamento 10" a 105
< 10
---
3 1Q3a10 4
> 10 5
I
Tamanho do tumor (cm) - 3a4 5 - I
Local das metástases - Baço. rim Gastrintestinal Cérebro, fígado
J
Número de metástases - 1a 4 5a8 >8 I
Falha em OT prévia - - Monoterapia Politerapia I
TTG = Tumor trofoblástico gestacional
OT =Quimioterapia
FIGO = Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrfcia

Hemorragias da Primeira Metade da Gravidez 275


Quadro 17.121 Tratamento do tumor trofoblástico gestacional,de acordo com oestadiamento da FIGO.
Estadranwr1to Tr atdmer1to
I Monoquimioterapia (esquema de oito dias):
Metotrexato: 1,0mg/kg, intramuscular nos dias 1, 3, 5, 7
Ácido folfnico: 0,1mg/kg, intramuscular nos dias 2. 4, 6. 8
Monoquimioterapia (esquema de um dia):
Metotrexato: 100mg/m2• endovenoso, infusão em solução salina, em 30 minutos
Metotrexato: 200mg/m2• infusão em soro glicosado a 5%, por 12 horas
Ácido folfnico: 15 mg de 12/12 horas. via oral no total de 4 doses. iniciadas 24 horas após o uso do metotrexato
11 Baixo Risco: mesmo protocolo do estadiamento I
Alto Risco: poliquimioterapia - EMA-CO I
Dia 1 Etoposida: 100mg/m2, infusão de 250ml de soro fisiológico, 30 minutos. endovenosa
Actinomicina-0: 500mg, endovenosa
Metotrexato prescrito em duas etapas:
100mg/m2 de área corporal, endovenoso, direto
200mg/m2 de área corporal. diluidos em solução glicosada e administrados por via endovenosa,
durante 12 horas
Dia 2 Etoposida: 100mg/m2de área corporaL diluidos em 200ml de solução salina e administrados por
via endovenosa. em 30 minutos
Actinomicina-0: 500mg, endovenosa
Ácido folfnico: 15mg/m2 de 12/12 horas. IM ou VO, no total de 4 doses. iniciadas 24 horas após o uso
do metotrexato
Dia3 Vincristina: 1,0mg/m2 de área corporal, endovenoso
Ciclofosfamida: 600mg/m2 de área corporal, dilufdos em solução salina e administrados por
via endovenosa
III Poliquimioterapia pelo sistema EMA-CO

~ IV Poliquimioterapia pelo sistema EMA-CO


Cirurgia adjuvante (histerectomia. ressecção de nódulos metastáticos)
FIGO= Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia
EMA·CO = etoposida. metotrexato, actinomicina D. ciclolosfamida. vincristina
IM = intramuscular
VO =via oral

A B

Figura l7.l7 1Útero aumentado de volume, com abaulamento ao nível do fundo.


A- Aberto mostra cavidade uterina ocu pada por tecido de aspecto hemorrágico que se alonga através do canal cervica l.
B- Nota-se infiltração miometrial evidente, com tecido avermelhado, alcançando proximidade dos limites externos subserosos.

276 Noções Práticas de Obstetrícia


Algumas metástases poderão demandar intervenção equipe multiprofissional experiente;
cirúrgica para melhora do quadro clínico: utilização de métodos diagnósticos no rastreamen-
Pulmonar: toracotomia está indicada quando há to de mctástases;
resposta inadequada à quimioterapia; disponibilidade de quimioterúpicos;
cerebrais: realização de craniotomia, quando há hemor- intercâmbio científico com centros mais experien-
ragia cerebral ou aumento da pressão intracraniana; tes (protocolos para DTG de alto risco, novas op-
gaslroinleslinais: nos casos de obstrução ou perfu ra- ções terapêuticas).56•58
ção intcsti na I;
hepáticas: a cirurgia pode ser a única alternativa nos A Figura 17. 18 sintetiza fluxograma de conduta nos ca-
casos de hemorragia maciça; sos de doença trofoblástica gestacional.
vaginal: cirurgia para exércse utilizando sutura com
ponto cm X.
ÜUTROS SANGRAMENTOS GENITAIS
R A nt0 /1 RA PI\
!?. pouco util izada e indicada apenas em casos de mctás- DOEN ÇAS D O C O L O UTE RIN O
tases cerebrais c hepáticas. 54
Os melhores resultados na condução da DTG são obtidos Infecções vagina is levando à cervicite e ao sangramen-
em centro · de referência que valorizam os seguintes critérios: to são a pri ncipal causa de hemorragia não obstétrica du-
registro de pacientes (acompanhamento adequado); rante a gestação. O tratamento pode ser feito por via tópica
controle pós-molar com dosagem de ~-hCG, utilizan- ou sistémica, dependendo do patógeno determi nante da
do técnicas sensíveis (evitar f.1 lsos positivo c negativo); in fecção.

Diagnóstico de DTG
I
F
l
I Mola hidatiforme Mola invasora Coriocarcinoma Tumor trofoblástico
Completa ou do sftio placentário
Parcial
I
I Avaliação: ' Considerar
- Clfnica histerectomia
- Laboratório
- Ultrassonografia
- Dopplervelocimetria
- Raio Xtórax
- Tomografia

Estadiamento e
Escore prognóstico

I
Estadiamento r . Poliquimioterapia
TIG Baixo risco Alto nsco Cirurgia
Radioterapia

Figura 17.18 1Doença trofoblástica gestacional: Auxograma de conduta.

Hemorragias da Primeira Metade da Gravidez 277


Os pólipos cervicais também ão causa comum de san- 6. Sozio J, less RB. Chbmydial lower gcnttaltract infcction and

gramcnto, sendo facilmente diagnosticados e removidos spontaneou abortion. lnfect Ois Obste!Gynecol. 1998;6:8-12.
durante o exame especula r. 7. Ralph SG. Rutheford AJ Wilson J D. lntluence ofbacterial ,·a-
ginosis on ceonception and miscarriage in the first trimcstcr
O câncer de colo uterino acomete uma a cada 2.000 a
a cohort study. BMJ. 1999;319:220 1.
2.500 gestações c seu diagnóstico precoce c correto esta-
8. Robertson I, Wu O, Langhornc P, TW,tdh: S. Cla rk P, Lowe
diamcnto sjo fundamentais no tratamento das pacientes. O, et ai. ·lhrombophili.t in prcgnancy: a systcmatic rcview.
O sangramcnto genital pode ser um dos primeiros sinto- BJH. 200· ;1365:2-26.
mas e o papel do obstetra em detectar a doença é ainda 9. Fleischer CA, Kepplc DM. Transvaginal Sonography ofb rly
mais importante, quando se considera que grande parte Ontrauteine Pregn.mcy ln: Fleischer CA, Mann ing F,Jeanty
P, Romero R. Sonography in Obs t cric~ .1nd Gynccology. St.l·
da nossa população tem dificuldades de acesso aos servi-
mford: Churchill Linvigstone; 200 1. p. S3-82.
ços de saúde. A oportunidade de diagnóstico mais precoce 10. Aleman A, Althabc F, BdilanJM, Bergcl E. Bed rc t durinn
não deve ser perdida. Para mais informações, ver capítulo pregnancy lor preventing miscarriagc. Cochranl' Oatabasc
42 - Câncer do colo uterino. S)•St Rev. 200.S Apr 18;(2):CD003576.
11. Wahabi HA, Althagati NF, Elawad M. Progcsteronc for trc-
ating th rcatencd miscarnage. Cochra ne Datab.1se Sy~t Rev.
2007 Juii 8;(3):CDOOS9.J.3.
TRAUMATISMOS GENITAIS
12. ara wat , Bhattach.u ya ~. Mare~hwari A, Bhatt.Kharra
S. Maternal c perinatal outcome in womcn with th reat ncd
As lacerações na vulva e vagina podem ser causadas por miscarriagc in thc fi rst trimester: a systcmatic review. HJOG.
relação sexual, introdução de corpos estranhos ou trau mas 20 10;117:245-2.
(queda a cavaleiro). A anamncse e o exame ginecológico 13. Brasil. Ministério da Saúde. Sccrctari.l de Atenção ii s ,,úde.
comprovam a origem do sangramento. Departamento de Ações Progr.11n.ltic.1~ Estratcgic.ts. Aten-
ção Hum,llliz,lda ao Abortamento: norma técnic.1. Br,1sliiJ:
O sangramento pode ser intenso e a sutura da lacera- Ministério d,, Saúde; 200S.
ção soluciona o problema. 14. Luise C, Jcrmy K, May C, Costello G. Coll in> W P, Bou rnc
Em Gtsos mais graves, principalmente após a introdu- T H. Outcome of expcctant managcmcnt of spont.meous
ção de corpos estran hos na tentativa de provocar aborta- firsttnmester miscarriagc: obscrv.ll ion.ll tudy. Br Med J.
mento, pode haver perfuração e até mesmo rotu ra uterina. 2002;324:873-.S.
I .S. anda K, Pellogia A, Crimes D, Lopez L, 'anda G. Expec-
Nessas situações, além do sangrarnento genital, ocorre
t,mt care versus surgical treatment for misc,lrriag..:. Cochranc
sangramento intra-abdominal, levando a quadro de ab- Database Syst Rev. 2006 Apr 19;(2):CD003518. Revicw.
dome agudo hemorrágico, necessitando de tratamento 16. Reindollar RH . Contemporary is~ u c' for Spont.1ncous .lbor-
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278 Noções Prát icas de Obst etrícia


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Hemorragias da Primeira Metade da Gravidez 279


Hemorragias na Segunda
18 Metade da Gravidez
Mário Dias Corrêa Júnio r
Mári o Dias Corrêa
Renato Ajeje
Adrian a Wagner

Descolamento Prematuro da Placenta Diagnóstico


Incidência Diagnóstico Diferencial
Fisiopatologia e Fatores de Risco Acompanhamento da Gestação
Tipos Clínicos Via de Parto
Diagnóstico Profilaxia da Isoimunização Rh
Tratamento Complicações
Complicações Rotura Uterina
Prognóstico Etiologia
Placenta Prévia Classificação
Tratamento
Importância
Incidência e Fatores de Risco Vasa Prévia
Etiologia Rotura da Vasa Prévia
Fisiopatologia Rotura do Seio Marginal

s hem o rragias continuam a ser uma das mais A história de sangramento na gravidez deverá ser sem-

A ominosas complicações da gestação, poden-


do levar a internações hospitalares, morbida-
de e mortal idade materna e intervenções operatórias.
pre seguida de investigação das condições maternas e da
ava liação do bem-estar fetal. Deve-se, ainda, considerar o
início, a evolução e a duração do sa ngramento e associá-lo
O s resultados perinatais mostram elevados índices de a dor, perda de líquidos e movimentação fetal. É também
prematuridade e mortalidade perinatal se comparados de extrema importância a determinação da idade gesta-
com os resultados de gestações sem sangramento. A cional para que se possa avaliar a conduta ideal. No exame
acu idade e a pronta identificação da etiologia do san- físico geral, ava liam -se as condições hemodinâm icas da
gramento, além de equipe treinada para o atendimento gestante (pressão arterial, freq uência cardíaca, perfusão
e protocolo sistem atizado, conduzirão à melhoria da periférica, auscu lta cardíaca e pulmo nar). No exame obs-
assistência materno-fetal. tét rico abdominal faz-se a medida da altura uterina para
As principais causas de hemorragia obstétrica signifi- determ ina r a idade gestacional, ausculta da frequê ncia car-
cativa na segunda metade da gestação são o descolamento díaca fetal e avaliação da contratilidade uterina. O exame
prematuro da placenta, a placenta prévia, a rotura uterina, a especular servi rá para afastar as causas ginecológicas de
rotura da vasa prévia e a rotura do seio marginal. sangramento, certificar se o mesmo é oriundo do orifício
do colo uterino c, e possível, c..xcluir a placenta prévia. O O sangramcnto no DPP pode resultar cm hemor-
toque poderá ser realizado com cautela, preferencialmente ragia pelos genitais, líquido amniótico hemorrágico ou
após ser excluído o diagnóstico de placenta prévia.1 pode hcar retido em forma de coágulo retroplacentário.
O exame ultrassonográfico é útil para avaliar a loca- Cerca de 20% dos DPPs são ocultos, não e exteriorizan-
lização e as condições da placenta. A ultrassonografia é do em forma de hemorragia e levando a graves complica-
o meio de mais acuidade para o diagnóstico da placenta ções. O sangramento para o miométrio resulta em apo-
prévia, servindo, ainda, para determinar a idade gcstacio- plexia útero-placentária ou útero de Couvelai re, sendo
nal, o volume de liquido amniótico, avaliar a vitalidade frequente, nesses casos, a instalação de coagulopatia de
fetal (por meio de perfil biofísica fetal e dopplervelocimc- consumo.
triJ) e, quando necessário, guiar a punção para o estudo Os casos com hemorragia externa são a maioria (80%
da maturidade fetal pela amniocentese. dos OPPs), com complicações geralmente menos graves.

D ESCOLAMENTO FISIOPATOLOGIA E FATORES DE RISCO


PREMAT URO DA PLACENTA
Grande variedade de fatores médicos, sociais c de risco
obstétrico tem sido identificada na fisiop.ttologia do DPP,
O descolamento prematuro da placenta normalmente porém a causa primária é ai nda desconhecida. A ma iori.t
inserida (DPP) caracteriza-se pelo descolamento espontâ- das possíveis explicações está cent rada nas anormalidades
neo, parcial ou total da placenta, durante a gravidez, a partir vasculares ou placentárias, incluindo aumento da fragilida-
de 20 semanas ou du ra nte o primeiro ou segundo período de dos vasos, malformações vasculares ou anormalidades
do pMto.2 da placentação.6
Os fàtores de risco ão:
DPP prévia: Konje c cols.,4 relataram a recorrênci.l
INCIDÊNCIA de aproximadamente 11 % após um episódio de
DPP em gravidez prévi,\ c 2 ~% após doi~ episódio ;
A incidência de DPP é muito variável, ocorrendo cm doença hipcrtcnsiva materna, pré-ccl,\mpsia grave
torno de I a 206 de todas as gestações. Em nosso meio, traba- e hipertensão crónica aumentam significativame n-
lho realizado por Camano c Bcrtini encontrou frequência te o risco;9•10
de O, 16 c 1,7% ao analisar dados de 12 autores nacionais.'
Deve-se ressaltar que o DPP tem alto índ ice de mortali-
dade perinatal e materna, sendo responsável por I5 a 20%
cocaína e substâncias vasoconstritoras, levando a
baixo fluxo útero-placentário c à redução da inte-
gridade decídua!;
o
das mortes pcrinatais.4 ·' Segundo HalJ,l a taxa de mortali- tabagis1110: o tabaco está associado a necrose deci-
dade materna é de aproximadamente 1%, estando associa- dual, hemorragia no vilo coriônico c trombose in-
da também a causas importantes de morbidade materna, tervilosa;11•12
como a coagulação intravascular disseminada (CIVD), gravidez múltipla; 1
f.1lência renal, transfusões maciças e histerectomia. O risco rotura prematura das membranas (RPM) devido à
da recorrência do DPP cm gestação subseguente é cerca de súbita descompressão do útero. A RPM representa
lOvezes mais alto.6 Segundo Ananth c cols.,- as condições um processo agudo associada ao OPP;
associadas à isquemia placentária, como a pré-eclàmpsi.t, corioamnionite; 11
C IU R c DPP, tem substancial risco de recorrência, isoladas trauma abdominal ou manipulação uteri na com
ou combinadas, em gravidez subsequente. versão externa;
Estudos epidemiológicos relatam incidência de DPP outros fatores associados, tais como: idade materna,
gue varia de 5,9 a 6,' para cada 1.000 gestações únicas c de paridade, polidramnia, anormalidades placentárias
12,2 para cada 1.000 gestações gemelares. 8 (placenta circunvalada) c trombofilias.

282 Noções Práticas de Obstetrícia


Os estados hipertensivos são responsáveis por cerca Tipo IV: hemorragia retroplacentária, com des-
de "0 % dos casos de DPP, destaca ndo-se a pré-eclàmpsia colamento de grande área placentária, hipcrtonia
/ cclàmpsia c a hipertensão arterial crônica. 1 A pré-cclàmp- constante e morte fetaL esse tipo são frequentes
sia causa arteriolite degenerativa, levando a alterações dos as discrasias sanguíneas e o" útero de Couvebire ".
vasos espira lados da decídua, com fechamento da luz do ·
mesmos. Posteriormente, ocorrerão roturas intra e extra- Considerando-se a manei ra como o sangramcnto se
vasculares, além de infa rtos hemorrágicos, favorecendo o man ifesta, são três as possibilidades (Figura 18. 1):
desenvolvi mento do descolamento p rematuro d a placenta. Sangramento ret roplacentário;
O tabagis mo é relacionado a risco au mentado de DPP. sangramento externo;
Q pando associado à hipertensão materna, aumenta seis sangramento para dentro da cavidade am niótica -
vezes o risco de DPP, se comparado com a pré-cclâmpsia hemoâmnio.
isoladamente. Esse sinergismo aparente pode esta r relacio-
nado ao efeito vasoconstritor do tabaco sobre a vascul atu ra
já comprometida pela hipertensão. 6
O uso materno de cocaína está relacionado ao aumen-
to do DPP.14 Em bora o uso de cocaína possa se associar a
o utras drogas, ao tabagismo e à ausência do pré-natal, au-
mentando a incidência de DPP, seu emprego isoladamente
perma nece como sendo o de ma is alto risco.
H istorica mcnte, a idade materna c a multiparidadc têm
sido associadas ao DPP, porém estudos recentes sugerem
que há mais risco qua ndo a esses fa tores soma m-se o taba-
gismo, o uso do álcool c o sobrepeso pré-gcstacionaL6
A chave da fisiopatologia do descolamento prematu ro
da placenta é o sangramento na interface materna d.1 decí-
dua basaL Com esse sangramento, ocorrerá a separação da
decídua, favorecendo a separação da placenta da decídua Figura 18.1 J Tipos de descolamento prematuro da placenta.
basaL Macroscopicamente, observa-se hematoma organ i- A - H ematoma retroplacentário. B - Hemorragia externa.
zado que deprime a face materna da placenta, levando ao C - Hemoâmnio.
descolamento."
DIAGNÓSTICO

TIPOS CLÍNICOS O diagnóstico é essencialmente clín ico. Os sina is c sin-


tomas são claros nos casos moderados e graves. Em algu-
Dependendo das características do sangramento e de mas situações, entretanto, o di agnóstico ocorrerá somente
suas repercussões sobre o útero e sobre o feto, o descola- após o parto na avaliação da placenta e observação do he-
mento prematuro de placenta determ ina quadros clínicos matoma retroplacentário. A ultrassonografia poderá ajudar
diversos:' no diagnóstico nos casos d uvidosos, principalmente para
Tipo 1: faz-se o diagnóstico após o parto, ao se cons- exclusão da placenta prévia.
tatar, na placenta, coágulos formando cratera no Sinais e si ntomas:
leito placentário; Dor abdominal forte e súbita;
Tipo 11: sa ngramento externo de pouca intensida- hipcrtonia uterina acentuada, devido à existência
de, com discreta hipertonia uterin a, levando a sofri- de sangue, levando à irritação miometrial;
mento fetal; sa ngramento vaginal intenso, escuro c sem coágu-
Tipo fll : sangramento externo abundante, sofri- los, podendo não se exteriorizar cm 20% dos casos,
mento fetal importante ou morte feta l; com for mação do hcmoâmn io;

Hemorragias na Segunda Metade da Gravidez


sofrimento fetal agudo ou morte fetal; Os seguintes exames deverão ser colhidos para afastar
hematoma retroplacentário causado pela formação anemia aguda e coagulopatias e preparar a transfusão, caso
' . '
. necessan
do coágulo na região posterior da placenta; se1a o:-
sinal da crate ra, que é a impressão do coágulo no Dosagem da hemoglobina;
leito da placenta, sendo o sinal patognomô nico de dosagem das plaquetas;
DPP. prova cruzada do sangue;
dosagem dos eletrólitos séricos;
A pesquisa labo ratorial inclui a avaliação eritrocitá- avaliação de gasometria nos casos de choq ue hipo-
ria, tipagem sanguínea e prova cruzada, para eventua l volêmico;
hemotransfusão, e estudo da coagulação. No diagnósti- coagulograma.
co, torna-se impe rativa a avaliação da coagulopatia. Ela
ocorre d ev ido ao aumento do con sumo local dos fato -
res de coagulação e pela passagem de tromboplastina COMPLICAÇÕES
para a circulação m aterna, o que ativa o sistema extrín -
seco, leva ndo à coagulação intravascular disseminada As complicações m ais frequentes do DPP são:
(CIVD). Hemorragia: pode levar à rápida deterioração do
quadro hemodinâ mico, q ua ndo atingir o n ível
de perda de 25% do total volume sa nguínco, 16 p o-
TRATAMENTO dendo evoluir com choque hipovolêmico e suas
complic ações:
O tratamento do DPP deve ser individualizado, ba- Discrasia sanguínea devido ao consumo dos fa-
seando -se na extensão do descolamento, nas condições tores de coagulação (fatores V11, VI II e X) na
maternas e fetais, nas complicações associadas e n a idade form ação do coágulo retroplacentário;
gestacional. ins11jiciência renal (pré-renal) causada pela he-
Nos casos de fetos vivos e com o diagnóstico de certeza mo rragia;
de descola mento prematuro d a placenta, deve-se estabili- síndrome de Sheehan: pan-hipopituita rismo por
zar a m ãe e realizar prontamente o parto. 2 isquemia da hipófise causada por hemo rragia
A conduta expectante pode rá ser adotada nos casos de m aciça.
dúvida, quando condições maternas e fetais estiverem es- Atonia uterina p6s-pnrto devido à in fi ltração de san-
táveis. Esse tratamento deverá ser individualizado até que gue entre as miofibrilas do miométrio, impo ssibi-
se ten ha certeza do diagnóst ico. 2 litando as contrações, caracterizando o útero de
A amniotom ia deverá ser realizada sempre que possí- Couvelaire ( Figura 18.2).
vel, para d im inuir a hipertonia c viabilizar a interrupção
imediata da gravidez pela cesárea. Nessa situação, o parto
vaginal somente será indicado se for iminente. A hemo-
transfusão deverá ser realizada se necessá rio.
Nos casos de DPP e óbito fetal e em condições cervicais
favoráveis, o parto vagi nal poderá ser uma opção, desde que
as condições clínicas maternas permaneçam estáveis. O
uso da mep eridina é indicado para o alívio da dor e a am-
niotomia é realizada para dim inui r a pressão intrauterina.
A coagulação materna deve ser avaliada, pois aproxi-
madamente um terço das pacientes com descolamento
prematu ro da placenta e óbito fe tal desenvolverá coagulo-
patia, por meio de dois possíveis mecan ismos: coagulopa-
tia de consumo ou coagul ação intravascular disseminada.

Noções Práticas de Obstetrícia


PROGNÓSTICO

O prognóstico materno é reservado, com alto índice


de mortalidade, que pode ati ngir percentuais em torno
de 30%, além do distúrbio de coagulação e do possível
choque hipovolêmico. O prognóstico neonatal é também
sombrio, perfazendo incidência de óbito entre 90 e 100%e
mais possibilidade de prematuridade.1

PLACENTA PRÉVIA

Placenta prévia (PP) é aquela que se insere total ou par-


cialmente no segmento in ferior do útero, localiza ndo-se
próxi ma ou sobre o orifício interno do colo uterino, a partir
de 20 semanas de gestação. A PP é a principal causa de sa n-
gramento no tercei ro trimestre da gestação, podendo levar
também à hemorragia no pós-parto.1
Tradicionalmente, a placenta prévia tem sido classifica-
da em quatro tipos:
PlacCIIta prévia central: quando a placenta recobre to- Figura 18.3 1Tipos de placenta prévia.
talmente o orifício interno do colo (Figura 18.3 A). A- Placenta prévia central ou total. B- Placenta prévia parcial.
Placenta prévia parcial: quando a placenta obstrui C- Placenta prévia margi nal. D - Placenta de implantação baixa.
parcialmente o orifício interno do colo uterino (Fi-
gura 18.3 B). Quadro 18.1 I Morbidade materna associada à placenta
Place11ta prévia margi11al: quando a borda inferior da prévia
placenta atinge o orifício interno do colo uterino
Compl1cação RISCO Inte rvalo de
sem ultrapassá-lo (Figura 18.3 C). Relat1vo Conf1a nça a 95%
Placenta de implantação baixa: qua ndo a borda da
Hemorragia anteparto 9,81 8,92-10,79 I
placenta se encontra até a 2 cm do orifício interno
do colo, porém sem atingi-lo (Figura 18.3 D). Hemorragia intraparto 2.48 1.55- 3,98 I
Hemorragia pós-parto 1,86 1.46- 2,36 I
Septicemia 5.5 1,31-23.45
IMPORTÂNC IA
Tromboflebite 4,85 1,50- 15,69 I
A placenta prévia está relacionada à morbimortalidade Necessidade de transfusão 10.05 7.45-13.55
materna e fetal aumentada. Nos Estados Unidos, a morta-
Necessidade de histerectomia 33.26 18.19-60.89
lidade materna em pacientes com placenta prévia chega a
Modificado de Grane et al.'1
0,03% (em comparação com 0,0 11 %na população obstétrica
de maneira gcral). 1' Diversas complicações, como hemorra-
gia anteparto, intraparto e pós-pa rto, acrctismo, septicemia, Cranc c cols./ 9 referi ram gue os fi lhos de mul heres
tromboflebite e necessidade de transfusão sanguínea e histe- com PP tinham mais chances de nascer com menos de 37
rectomia t:1mbém já foram associadas à PP (Ql.1adro 18. 1).18 semanas (46,6%x 7,3%) c de desenvolver síndrome da an-
A placenta prévia também está associada a parto pré-ter- gústia respiratória (OR: 4,94i IC 95% 3,45- 7,08) e anemia
mo e morbimortalidade perinatal aumentada. A mortalida- neonatal (OR: 2,65i IC 95% 1,70- 4,15). Nesse estudo re-
de perinatal na PP varia, segundo a literatura, de 2,3 a 37%.19 trospectivo que avaliou 92.983 gestantes (305 com placen-

Hemorragias na Segunda Metade da Gravidez 285


ta prévia), houve também risco au mentado de a nomalias de maneira u ni fo rme ao redor do saco gestacio nal e, pos-
fc t® no grupo d:1 PP (OR: 2,48; l C 95% 1,50- 4,11), em- terio rmente, localizando-se apenas na região da placenta
bor.l :1s caus:1s não tenham ficado bem-est:1bclccid as. ( Figura 18.4).

INCIDÊNCIA E FATORES DE RISCO

A placenta prévia complica 0,28 a 1,96%das gestações.20


Entre os fatores de risco pa ra a PP, pode-se cita r: tabagismo,
multiparidade, uso de coca ína, curetagcrn ou cirurgia uteri-
na prévia, gravidez múltipla c cesariana anterior.'"
A cesariana anterior constitu i o fator de risco ma is im-
porta nte, com a possibilidade de impla ntação a nômal a da
placenta aumentando progressivamente com o número de
proced imentos (OJ.•adro 18.2). Figura 18.41 Baixa impla ntação do ovo, com crescimento
do tecido trofoblástico sobre o canal cervical.

Quadro 18.21 As~oci,lção entre placenta prévia c o número


de cesarianas anteriores At ualmcntc, sabe-se que cicatriz anterior predi spõe à
Numero de ce- Razao ele Chances Intervalo de implantação da placenta no segmento inferior, talvez de-
sar1anas prev1as I Odds Ratto) con f1 i1 nç a a 9 5°1o vido à ncovascula rização naq uele local. C om a progressão
da gravidez, mais de 90%das placentas co m a implan tação
I 1 4.5 3,6-5.5 ~
baixa, identi ficadas no in ício da gestação, vão se dista ncia r
I 2 7.4 7.1-7.7 l do colo. Em bora o termo "m igração" seja usado, não se
I 3 6,5 3,6- 11,6 I acredita guc a placenta realme nte se mova. O guc p.trccc
I <! 4 44,9 13,5-149,5 I
ocorrer é o cresci mento do tecido trofoblástico cm d ircçâo
a á reas mais vascularizadas, com atrofia e reabsorção do
Modificado de Ananth et al.10
trofoblasto impla ntado sobre o colo, habitual mente menos
vascularizado. Em algu ns casos, essa atrofia pode de ixa r
apenas os vasos livres sobre a membrana, ocasionado a in-
ETIOLOGIA serção vclamentosa do cordão c a vasa prévia.'-
0 movimento apa rente da placenta também pode ser
O motivo pelo qual algu mas placentas se impla nta m devido à expa nsão do segmento uterino, com deslocamen-
no segmento inferior do útero em vez do fu ndo não é claro. to caud al do tecido trofoblástico.
Alguns autores acredita m que a hipoatividade do ovo po-
deria ser responsável. A maturação ta rd ia deste faria com
que o ovo alcançasse a fase de implantação ( blastocisto) FISIOPATOLOGIA
apenas q ua ndo já estivesse próximo do segmento inferior
do útero. A hemo rragia, sinal m ais comum da implantação
Deficiéncias na vascularização endometri al na região baixa da placenta, vai ocorrer dev ido a pequenos descola-
fúnd ica do útero, provocadas por processos infecciosos, mentos da placenta ocasio nados pe lo crescimento do úte-
curetagens ou gestações anteriores, poderiam também le- ro, pelas contrações uterinas c pelo apagam ento do colo.
var a placenta a c rescer cm d ireção a um local onde a vascu- Qualquer dessas situações pode leva r a rompim entos dos
larização estivesse mais preservada. lagos venosos placentá rios q ue, por sua vez, vão leva r a
Já em 1904, H ofmcicr acred itava que a baixa implan- peq uen as hemo rragias. A proximidade do sangue com o
tação da placenta devia-se tão somente à não reabsorção orifício de sa ída (o colo uterino) permite a exteriorização
do cório fro ndoso que, na fase in icial da gestação, cresce desse sa ng ra mento.

286 Noções Práticas de Obstetrícia


Duranteode envolvimento da gestação, os sangramen· A ultrassonografia transvaginal é atualmente o . pa-
to ão habitualmente de pegucna monta e autolimitados. drão-ouro" no diagnóstico da placent,l prévia, pois permite
As contraçõcs uterinas e o apagamento do colo no início do avaliar com muita precisão as relações entre o colo uteri no
trabalho de parto favorecem o descolamento de áreas maio- c a placenta (Figura 18.5).
res da placenta, acentuando o volume do sangramcnto. Embora a ultrassonogralia por via abdominal seja fre-
quentemente utilizada para descrever a localização da pia·
ccnta, essa técnica carece de precisão no diagnóstico da PP.
D I AGNÓSTICO Numerosos estudos ressaltaram que a acur.ícia da ultrasso-
nogralia transvaginal é superior à da transabdominal nessa
O quadro clínico típico da placenta prévia cursa com situação. Em estudo realizado por Smith e cols} 1 26% dos
sangramcnto vermelho vivo, rutilante e indolor, com tônus casos inicialmente diagno ticados como PP pela ultrassono-
uteri no normal c sem sofrimento fetal, o que o diferencia grafia transabdom inal tiveram seu diagnóstico mod ificado
do descolamento prcmatu rode placenta, outra importante após a complementação do exame pela via cndovaginal.
causa de hemorragia na segunda metade da gravidez. O único estudo random izado que comparou o diag-
O sa ngramcnto genital é o intorna marcante da PP. nó tico da PP pelas ultrassonografias transvaginal e tran-
Geralmente, manifesta-se na segunda metade da gesta- sabdominal confirmou a uperioridadc d,\ primeira.22
ção, com mais freq uência no terceiro trimestre, de início e Na ultrassonografia transabdominal, a visual ização da
cessar súbitos, repetitivo e, em geral, progressivo. Um terço placenta posterior é dificultada, o polo cefálico do feto pode
das pacientes relata o primeiro episód io de sangramcnto interferir na visualização do segmento inferior, a obesida-
antes de 30 semanas, um terço entre 30 e 36 semanas c o de e o enchimento incompleto da bexiga ta mbém podem
restante somente apó 36 semanas. Em aproximadamente atrapalhar o diagnó tico da PP, dificuldades cst,\S afastada
10% dos caso a paciente não apresentará qualquer tipo de com a realização do exame pela via transvaginal. 21
sangramento até a hora do parto.'' Frequentemente, relata Outro aspecto que deve ser realçado sobre a u ltrassono-
sangramento após relação sexual. grafia endovagi nal no diagnóstico da PP é a sua segurança.
O exame especular permite avaliar a intensidade do Nen hum estudo enfatizou risco aumentado de angramen-
sa ngra mento c a condições do colo. O toque vaginal não to com a via transvaginal. Is o é devido ao fato de a sonda
deve ser realizado na suspeita de PP, pois o mesmo pode transvagi nal ser colocada em um ângulo obre o colo ute-
provocar o descolamento de áreas maiores da placenta, rino, c não diretamentc no orifício como o dedo durante
com o desencadeamento de hemorragia vultuosa. o toque (Figura 18.6). Além disso, a distância ideal para a

Figura 18.5 Jlmagcm de ultrassonografia transvaginal mostrando: A - Placenta prévia parcial. B - l)lacenta com implantação baixa.

Hemorragias na Segunda Metade da Gravidez 287


visualização ori fício do colo e da placenta é de aproxima- A ultrassonografia transvaginal também é bom méto-
da mente 2 a 3 cm do colo, de maneira que a sonda não é do para a&1star o risco de PP. Mulheres que com 20 sema-
introduzida o suficiente para fazer cantata com a placenta. 17 nas de gestação não tiverem a placenta recobri ndo o orifí-
cio interno do colo não terão placenta prévia a tenn o.17
T
Uma boa forma de rastrea mento da placenta prévia se-
ria oterecer a ultrassonograha transvaginal a todas as ges-
tantes nas quais se suspeitasse de implantação baixa da pla-
centa, quando da realização de ultrassonografia entre 20 e
24 semanas_2 6 A partir daí as pacientes seriam distribu ídas
em três grupos:
Pacientes com placenta distando mais de 2,0 cm do orifí-
cio interno do colo: afastada a PP. Acompanhamento
habitual.
Pacientes com placenta distando menos de 2,0 cm do
orifício interno do colo: caso permaneçam assintomá-
ticas, nova ultrassonografia transvaginal deveria ser
realizada entre 32 e 36 semanas para reclassificação.
Pacientes com sangramento devem ter a conduta
Figura 18.6j Desenho mostrando as relações entre o trans-
individualizada.
dutor da ultrassonografia transvaginal, o colo uterino, a pla-
centa e o feto. O tra nsdutor fica a aproximadamente 2 cm do Pacientes com a placenta ultrapassando o orifício interno
lábio anterior do colo. O ângulo entre o transdutor e o canal do colo em mais de 2,0 cm: provável persistência da
cervical é de aproximadamente 35°, demonstrando que a PP até o parto. Programa r parto por via abdominal.
sonda não entra no colo. T =Transdutor. A= Lábio anterior
do colo. P = Lábio posterior do colo.
DI AGNÓ STICO DIFE R ENCI A L
Com a popu larização da ultrassonografia, a maioria
das placentas prévias é diagnosticada atua lmente em um O diagnóstico diferencial deve ser feito com outras
exame de rotina, em paciente assintomática. causas de sangramento na segunda metade da gestação,
Deve-se atentar para o fato de que placentas prévias como descolamento prematuro de placenta (DPP), rotura
parciais ou de baixa implantação diagnosticadas no início de seio ma rginal e rotura uterina. O Quadro 18.3 mostra as
da gestação podem "migrar·, não sendo mais encontradas características que facilitam o diagnóstico diferencial entre
no terceiro trimestre. Lauria e cols./ 4 demonstraram, em PP, DPP, rotu ra de seio marginal e rotura uterina.
estudo que acompanhou 2.910 mulheres entre IS e 20 se-
manas de gestação, que apenas 14% das PP diagnosticadas
no segundo trimestre persistiram até o parto. Ainda segun- A COMPANHAM E NTO DA GESTAÇÃO
do esses autores, as placentas que ultrapassavam o orifício
interno do colo em mais de IOmm tinham mais chance de Gestantes assintomáticas, com o diagnóstico ultras-
permanecer como prévia até o fi naI da gestação, com sensi- sonográfico de PP devem ser reavaliadas periodicamente
bilidade de 100% e especificidade de 85%. pela ultrassonografia.
Q uando o diagnóstico é feito com a gestação mais As pacientes que apresentam sangramento devem ser
avançada, há menos possibilidade de "migração". Becker acompanhadas segundo a importância do mesmo:
e cols./5 evidenciaram que 28% das pacientes com o diag- Na paciente sem diagnóstico prévio de PP, o toque
nóstico ultrassonográfico de placenta prévia entre 20 e 23 vaginal deve ser evitado, pois ele pode provocar
semanas permaneceram com a placenta recobrindo o ori- sangramento catastrófico.
fício interno do colo até o termo.

288 Noções Práticas de Obstetrícia


A avaliação inicial deve ser feita pelo exame especular banco de sangue do hospital de referência deve ser alertado,
para avaliar o volume do sangramento, a dilatação do mantendo em estoque pelo menos quatro unidades de con-
colo c, se possível, a placenta sobre o orifício do colo. centrado de hemácias reservadas para essa paciente.26
A ultrassonografia transvaginal confirma o diag- Alguns autores recomendam que pacientes que tenham
nóstico de placenta prévia. apresentado sangramento importante ou com placenta pré-
Pacientes com diagnóstico prévio de PP e sangramen- via total sejam hospitalizadas a partir de 32-34 semanas,
to de pequena monta ou contrações uterinas deve- para diminuir o risco de hemorragia aguda não assistida.
riam ser hospitalizadas até a estabilização do quadro. Apenas um pequeno estudo randomizado, com 53
pacientes, avaliou o acompanhamento domiciliar versus
No pré-natal de pacientes assintomáticas ou com san- hospitalar de pacientes com placenta prévia. As pacientes
gramento de pequena monta, os níveis hematimétricos de- haviam sido hospitalizadas entre 26 c 34 semanas com
vem ser monitorados regularmente e a suplementação de sangramento e diagnóstico de PP. Não houve diferenças
ferro prescrita. As recomendações de repouso e abstinên- significativas nos resu ltados maternos c perinatais entre
cia sexual ão úteis, mesmo não havendo estudo que tenha os dois grupos, confirmando a alternativa de acompanha-
avaliado a eficácia de tais medidas. mento ambulatorial, desde que as normas básicas de segu-
Nas pacientes com hemorragia mais importante, é fun- rança sejam respeitadas.27
damental a hospitalização e as transfusões sanguíneas deve- As contrações uterinas podem levar a pequenos desco-
rão ser utilizadas, caso necessário, para assegu rar o prolon- lamentos da placenta prévia, por estimularem o apagamen-
gamento da gestação até a viabilidade fetal. Nas pacientes to e a dilatação do colo. Por isso, alguns estudos sugeriram
estáveis, após 48 horas sem sangramento, o acompan ha- o uso de tocolíticos nessa situação. Dois pequenos estudos
mento pode ser ambulatorial, desde que algu mas normas que avaliaram a tocól ise com betami méticos mostraram
sejam cumpridas: a paciente deve permanecer próxima do prolongamento da gestação (cerca de lO a 14 dias) e au-
hospital de referência, com acesso a meios de transporte que mento no peso ao nascimento (cerca de 300 a 400 g) no
a permitam chegar rapidamente em caso de hemorragia; o grupo que utilizou a tocól ise. 28•29 Outro estudo não mos-

Qyadro 18.3 I Diagnóstico, conduta e complicações da placenta prévia, descolamento prematuro de placenta, rotura de seio
marginal e rotura uterina
Placenta Prev1a Descolamento Rotu ra do Ro tura Utenna
Prematuro da Placenta Se1o Marg1nal
Sangramento Súbita. abundante, Pequena quantidade. contí- Periparto em pequena Súbita. abundante.
genital vermelho vivo. cessa nua, com sangue escuro OU quantidade. contínua contínua
espontaneamente sangramento intrauterino
~ Dor abdominal Sem dor abdominal Súbita, forte. contínua. Discreta Forte e súbita. que
persistente cessa abruptamente
Tônus uterino Normal Hipertonia uterina Própria do trabalho de Parada de contra-
persistente parto ções após hipertonia
Condições fetais Sem alterações Sofrimento ou óbito Sem alterações Sofrimento ou óbito
Ultrassonografia Placenta no segmento Área de descolamento. Diagnóstico definitivo Partes fetais fora do
inferior do útero hematoma retroplacentário após a saída da placenta útero
Conduta Gestação pré-termo: Sempre resolutiva Condução do parto Sempre resolutiva
expectante.
Gestação a termo:
resolutiva
Complicação grave Sangramento Útero de Couvelaire. Nenhuma relacionada ao Discrasia sangufnea.
persistente discrasia sangufnea quadro histerectomia

Hemorragias na Segunda Metade da Gravidez 289


trou benefícios no uso prohlático de tocolíticos em pacien- Nos casos de placenta previa margi nal, diversos estudos
tes com placenta prévia. 10 tcnt,\ram estabelecer qual seria a distância segura entre a pla-
Acredita-se gue os tocolíticos podem ser utilizados centa c o colo para que o parto vagi nal pudesse ser tentado.
nas pacientes gue apresentam hemorragia e contrações Nos casos em que a placenta distava mais de 20 mm do ori-
uterinas cm idade gcstacional precoce, como medida com- fício interno do colo, a taxa de sucesso no parto vaginal va-
plementar, na tentativa de prolong.1r a gestação. Eles não riou de 63 a 100%. Para distâncias inferiores a essa, as taxas
devem ser utilizados, no entanto, em pacientes assintomá- de suce so ficaram na casa dos 40 a 60%, sendo a cesariana
ticas, por estarem associados a efeitos colaterais. Os benefí- indicada na maioria das vezes por hemorragia intraparto.13
cios não foram comprovados. Acredita-se, portanto, que o pa rto vagi n:!l pode ser tenta-
Os benefícios da cerclage nos casos de placenta prévia do com segura nça sempre que a borda da placenta estiver a
foram avaliados cm uma metanáli eY Dois estudos fo- mais de 2,0 cm do orifício interno do colo, na avaliação pela
ram incluídos, com o total de 11 4 pacientes random izadas. ultrassonografia transvaginal com 36 semanas ou mais. Para
O grupo que recebeu a cerclage teve menos chance de ter distâncias inferiores a essa, a cesariana estaria indicada.
parto antes de 34 semanas (R R 0,45; IC 95% 0,23- 0,87) e
de ter peso ao nascimento inferior a 2 kg (RR 0,34; lC 95%
0,14- 0,83). Contudo, o autor chama a atenção para o fato PROFILAXIA DA ISOIMUNIZAÇÃO RH
de que os e tudos foram pequenos (114 pacientes no total)
e a análise não foi por intenlionlo lreat, concluindo que mais O momento é apropriado para recordar que as pacien-
pesquisas devem ser real izadas para avaliar melhor o assu n- tes RhD negativo, não sensibilizadas, que apresenta rem
to. Até o presente momento, a cerclage não deve ser utilizada sangramentos duran te a gestação deverão receber imuno-
rotineiramente em pacientes com placenta prévia. globulina para prevenir a sensibilização.
Uma opção que atualmente vem sendo utilizada para A dose utilizada no Brasil é de 300 microgramas, por
diminuir o risco de parto pré-termo é a adoção da progeste- via intra muscular. A mesma deve ser aplicada na vigência
rona, 100 mg/dia por via vaginal. 12 Embora não haja estudos de sa ngramentos, a cada 12 semanas, até o parto, lembran-
específicos sobre seu uso em pacientes com placenta prévia, do, ,linda, que um teste de Coombs fraca mente positivo é
acredita-se que, como ela dimin ui as modificações cervicais, esperado após a aplicação da imunoglobulina antiR hD.
poderia, consequentemente, reduzir o risco de sangramen-
to, além de Jpresentar baixa incidência de efeitos colaterais.
COMPLICAÇÕES

VIA DE PARTO ACRETISMO PLACENTÁRIO

Nos casos cm que a placenta recobre totalmente o orifí- Uma das complicações mais sérias da placenta prévia é
cio interno do colo, a opção é a cesariana, devido ao risco de o acretismo placentário. Nessa condição, a placenta adere
hemorragia e descolamento de placenta. Nas pacientes bem de forma anormal ao útero, devido à invasão mais pronu n-
controladas, a cesariana pode ser agendada para 39 sema- ciada do trofoblasto. Na placenta acreta, a invasão trotoblás-
nas. Cuidados especiais devem ser tomados nas placentas tica se estende, na decídua, além da fronteira normal, esta-
anteriores, principalmente em pacientes com cesárea pré- belecida pela camada fibrinoide de Nitabuch. Invasão mais
via, devido ao risco de acrctismo na cicatriz da h isterotomia. profunda, atingi ndo o miométrio, é cha mada de placenta
Em pacientes com sangramento e necessitando de hos- increta e a invasão que vai além do miométrio, ati ngindo a
pitalização c transfusão, a cesariana pode ser realizada, se serosa do útero e, algumas vezes, órgãos adjacentes como
possível, após 34 semanas de gestação. Em casos de hemor- a bexiga c os intestinos, é chamada de placenta percreta. A
ragias maciças cm idade gestacional inferior, a mãe deve ser placenta acreta pode levar à hemorragia obstétrica maciça,
estabilizada por pelo menos 48 horas antes da cirurgia, requerendo, muitas vezes, a realização de histcrectomia.
tempo suficiente para que seja realizada a corticotcrapia A placenta prévia é um dos principais fatores de risco de
para amadurecimento do pulmão fetal. acretismo placentário, com a incidência passando de I em

290 Noções Práticas de Obstetrícia


20.000 (0,005%) nas mul heres sem PP e chegando a quase Quadro 18.4 I Sinais ultrassonográficos de acretismo
l em \0 (9,3%) quando a placenta tinha baixa irnplantação, placentário
com risco relativo superior a 2.000. \\ Adelgaçamento do miométrio
A combinação de cesariana anterior com placenta pré-
Perda do "espaço claro" retroplacentário
via é particularmente perigosa, sendo associada ao alto ris-
co de acretismo, principalmente se a placenta esti ver situa- "Lagos placentários" de aspecto irregular
d:~ sobre a cic:~triz d:~ ces:~ri:~n:~. No estudo de Cla rk c cols.,34 Protusão de tecido placentário para dentro da bexiga
I0% das pacientes com cesárea anterior e placenta prévia
Vascularização aumentada na interface entre a serosa
apresent:~vam algum grau de acretismo placentário, com
uterina e a bexiga
o número chegando a impressionantes 67% se a paciente
Fluxo turbulento ao doppler nos "lagos placentários"
apresent:~va qu:~tro ou m:~is ces~ui:~ n :~s anteriores.

O diagnóstico de acretismo placentário deve ser sus-


peit:~do empre que deparar com placenta de implantação O tratamento depende do grau de invasão do útero.
baixa, localizada ex:~ta men tc sobre a cicatriz de cesaria na a maioria das vezes, a histerectom ia se faz neccss;iri,l.
anterior. A ultrassonogr:~fia (Figura 18.7) permite observar Com a suspeita de acretismo placentário, a equipe médi-
algu ns sinais indiretos de acretismo placentário (Quad ro ca já deve entrar na sala de cirurgia p ronta para realizar
18.4). 1- Quando se suspeit:1r de acretismo placentário, ares- a histerectomia, logo após a cesariana. Um cirurgião ge-
sonância magnética pode complementar a ultrassonografia. ral deve estar presente ou de sobreaviso, diante da possi-
bilidade de invasão de outros órgãos. O cordão deve ser
cortado bem próximo da placenta, já gue a histerectomia
deve, preferencialmente, ser rea lizada com a placenta Í/7
situ. A tent:~tiva de extrair a placenta pode levar à hemor-
ragia maciça.
C:~so o diagnóstico seja feito no pcropcmtório, a remo-
ção da placenta pode ser deixada para um segundo tempo.
Mais uma vez a placenta deverá ser deixada 11'1 situ. Poste-
riOI·rnente, com a equipe preparada, pode-se proceder à
histerectomia eletiva.
Atualmente, algu ns relatos têm revelado sucesso na
manutenção da placenta acreta intraútero, principalmen-
te se há inv:~são de estruturas adjacentes. Nessa situação,
a hemorragia pode ser controlada com a embolização dos
vasos uteri nos. Mussalli e cols.,'5 relataram três casos de
manutenção da placenta in situ e uti lização de mctotrcx;-t-
to, com sucesso cm duas pacientes. Entretanto, a conduta
conservadora na placenta acreta deve ser restrita a casos
especiais, não podendo ser recomendada rotineiramente.

B
ROTURA UTERINA
Figura 18.7 1 Imagem de ult rassonografi a transvaginal
demonstrando placenta prévia increta.
A - Observa-se ausência de miométrio entre a placenta c a A rotura uterina é emergência obstétrica com ex pressi-
parede da bexiga, com presença de lago placentá rio atípico. va morbimortal idade materna e fetal. Tem ocorrência ma is
B- Mesma imagem com o auxílio do power dopp!et; demons- exacerbada após 28 semanas de gestação c du rante o parto.
trando vasc ularização anômala entre a placenta e a bexiga. A incidência é de 1:2.500 p;-trtos. Segundo Lynch e Pardy, •r.
Ver Prancha Colorida. a incidência de rotura uterina é de 0,05%.

Hemorragias na Segunda Metade da Gravidez 291


ETIOLOGIA na! está presente, principalmente,após 28 semanas
de gestação.
Os fatores etiológicos mais frequentes são:
Hipercontratilidade uterina por uso indiscrimina-
do de ocitocina c prostaglandinas; TRATAMENTO
cesariana anterior (principalmente com histeroto-
mia corporal); O tratamento é cirúrgico, sendo considerado emergên-
cirurgias uterinas anteriores (miomectomias); cia obstétrica. A conduta cirúrgica dependerá das caracte-
traumatismos abdominais; rísticas da rotu ra uterina e poderá variar desde uma sim-
manobras de versões internas e externas. ples sutura até histerectomia. Nos casos de histerectom ia, a
mais indicada é a subtotal, devido ao mínimo tempo cirúr-
gico e ao baixo risco de complicações, tais como ligadu ra
CLASSIFICAÇÃO do ureter, lesões de bexiga e intesti nais.

Pode ser classificada como:


Iminência de rotura uterina; VASA PRÉVIA
rotura uterina incompleta;
rotura uterina completa. A condição conhecida como vasa prévia refere-se aos
vasos que correm livres sobre as membranas (sem aposi-
A iminência de rotura uterina mostra sinais caracterís- ção de tecido placentário), na frente da apresentação fetaL
ticos, como: as contrações subentrantes intensas e excessi- Essa situação pode ocorrer em uma inserção velamentosa
vamente dolorosas; o sinal de Bandl, que é a distensão do da placenta, com o cordão passando sobre o colo, ou quan-
segmento inferior do útero (útero em ampulheta), forman- do os vasos que interligam a placenta com lobos acessórios
do depressão em anel na região infraumbilical e refletindo atravessam o canal cervicaL
possível separação entre o colo e o corpo uterino; o sinal Na placenta de implantação baixa, a reabsorção do te-
de Frommel, que é o retesamento dos ligamentos redon- cido placentário próximo da região cervical menos vascu-
dos com desvio anterior do órgão, formando dois "cordões larizada pode propiciar o surgimento da vasa prévia. Essa
fibrosos" laterais, nas fossas ilíacas. condição se faz importante, pois, quando não diagnostica-
A rotura uterina incompleta é precedida dos sinais de da, pode levar à rotura desses grandes vasos durante o tra-
iminência de rotura uterina e diagnosticada no momento balho de parto, ocasionando a exsanguinação e morte do
da cesárea, quando se visualizam partes fetais através do feto. A mortalidade fetal da vasa prévia não diagnosticada
peritônio visceral íntegro. aproxima-se de 60%.37
A rotura uterina completa tem como sinais: O diagnóstico pode ser realizado pela ultrassonografia,
Dor muito intensa e lancinante na região hipogás- por meio da insonação com o doppler, sempre que for ob-
trica, seguida de alívio doloroso transitório; servada placenta com implantação baixa. A via transvagi-
deformação da estruturação abdominal, mostrando nal favorece a observação de vasos sobre o colo e na frente
útero vazio e feto presente na cavidade abdominal; da apresentação fetaL
sinais de choque hipovolêmico conseguente à he- A realização de cesariana eletiva, antes do início do tra-
morragia e irritação peritoneal; balho de parto e da rotura de membranas, evita o rompi-
paralisação do trabalho de parto (parada das con- mento da vasa prévia.
trações uterinas);
sinal de Clark, que é a crepitação na palpação do
abdome, devido à entrada de ar na cavidade abdo- ROTURA DA VASA PRÉVIA
minal, através do fundo-de-saco vaginal;
sinal de Recaserzs, que indica a subida da apresenta- É pouco comu m e consiste em grande hemorragia que,
ção. Não se consegue tocar o colo uteüno. Esse si- freq uentemente, leva a óbito fetaL É a rotura dos vasos do

292 Noções Prát icas de Obst et ricia


9. Mat a.seng T, Bagratee j , Moodleyj. Pregnancyoutcomcs
cordão, nos ca o de in erção velamento a, anteriorà apre- m patients w1th previou h1story of abruptio placentae. Int J
sentação fetal. A hemorragia ocorre juntamente com a ro- Gynecol Obstei. 2006;92:2S3 4.
tura das membrana . 10. Hall DR, Grové D, Carstens E. Early pre-cclamp 1a: what
Normalmente ocorre a lesão da artéria umbilical. c a proportion of women quahfy for cxpectant management
and if not, why not? Eur J Ob~tct Gynecol Reprod Biol.
le ão for de apcna uma artéria, a ci rculação fetal poderá
2006;128: 169-74.
er mantida pela outra artéria e o diagnóstico poderá ser
11. Ananth CV, Savitz DA, Bowes WAJr, Luther ER. lnflucncc
precoce, levando à antecipação do parto e evitando- e o ofhypcrtcnsivc disorders and cigarctte smoking on placenta!
dece o fetal. abruptlon and uterinc blccdingdunngprcgnancy. BrJ Obstet
Gynaecol. 1997; IO~ :S72- 8 .
12. Kaminsky LM, Ananth CV, Prasad V, ath C, Vmtz1lcos
AM; Ncw Jersey Placenta! J\bruption tudy lnvest1gators.
ROTURA DO SEIO MARGINAL "lhe influence of maternal Clgarcttc smok.ing on pbccnt.JI
pathology in prcgnancies comphcatcd by abrupuon. Am J
Con titui cau a frequente de hemorragia no terceiro Obstct G)•nccol. 2007; 197:27S.cl-".
tri me tre. O eio marginal da placenta é formado pela bor- 13. Nath CJ\, Ananth CV, imuli.m JC, Shen- chwarz ·, Ka-
da periférica do corpo placentário (espaço interviloso), que minsky L; New Jersey-PlacentaI Abruption Study lnvestiga-
tors. l-li tologic cvidcncc of mflamation and risk of pb ccntal
circunda toda a placenta, coletando anguc veno o mater- abruption. AmJ Obstet Gynecol. 2007; 197:31 9.e 1-6.
no. O diagnó tico é de exclusão e c a emelha ao da pla- 14. M1llerJ, Boudreaux MC, Avcry FA. Obstetncs: a case control
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Hemorragias na Segunda Metade da Gravidez 293


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294 Noções Práticas de Obstetrícia


Alterações no Volume do
19 Líquido Amniótico
Victor Hugo de Melo
Juliana Barroso Z immermmann
Lau ra Maia

Composição D iagnóstico
Conduta
Formação
Prognóstico Materno-fetal
Reabsorção e Circulação
Oligoidrâmnio
Volume Etiologia e Fisiopatologia
Avaliação do Volume Diagnóstico
Ultrassonografia Conduta
Amniocentese Prognóstico Materno-fe tal
Polidrâmnio Líquido Amniótico Meconial
Etio logia Evidências

N
o passado, acreditava-se que a fun ção do cas c d a infecção intraútcro, assim como a ava liação da ma-
líquido amniótico (LA) era a nutrição d o turidade pulmonar.
embrião. Nada se conhecia sobre sua for- O vo lurne de líquido amniótico é dos parâmetros fu nda-
mação, fun ções, com posição c reabsorção. mentais no contexto da vigilância da vita lidade fe tal. As suas
Com o advento da propedêutica invasiva, J cJvidade am - alterações (oligoidrâmn io e polidrâmnio) estão associadas a
niótica foi desvendada. Foi Henckel (1919) o primeiro a em- aumento na morbidade e mo rtalidade peri11atais.
prega r a amniocentcsc transabdo minal para fi ns propedêu-
ticas. Sabe-se, hoje, que o LA apresenta importante papel no
crescimento e desenvolvimento do embrião, possibil itando a COMPOSIÇÃO
movimentação do feto c protegendo-o contra traumatismos.
Além d isso, favorece o c qui Iíbrio térmico, P·' rticipa da ho me- No iníc io da gestação, o líquido amniót ico é a extensão
o tase de flu idos c eletrólitos, au xilia no desenvolvimento do da matriz extracelu lar fetal, ocorrendo difusão entre o feto c
pulmão fetal, revela importantes informações concernentes à o compartimento extracelu lar. Sua composição é, predom i-
vital id,tde e maturidade do feto, bem como d istribui, ho mo- nantemente, de 98% de água c 2% de elementos sólidos, or-
geneamente, a pressão resulta nte das metrossístoles durante gâ nicos c inorgânicos. Tong et a/.1 demonstraram que o líqui-
o trabalho de parto. Portanto, entender a função do líquido do amniótico não é apenas resultado da filtração sa nguínea,
amniótico contribui para o melhor entendimento do desen- mas um líquido com características próprias. Os eletrólitos
volvimento embrio nário, do d iagnóstico de doenças genéti- e a pressão osmótica na primeira metade da gravidez apre-
sentam a mesma composição observada no sangue materno urinárias, d a cavidade oral, das vias aéreas e até célu las dava-
e no cordão umbilical, mas substâncias orgânicas possuem gina, no caso de sexo fem inino.
diferentes concentrações, sendo o fe to o principal produtor Além disso, m icrorganismos podem habitar a cavidade
desses componentes. amniótica. A detecção pré-natal perm ite a administração
Ao estudarem a composição bioquím ica do líquido am- dos antibiót icos específicos, d iminuindo a mortalidade pe-
n iótico, Oliveira et af.2 relataram estreita associação entre a rinatal. Observou-se que, cm 4 1 gestantes com membranas
dosagem de creatinina e a maturidade renal fetal, ressaltan- intactas, 9,8% apresentaram cultura do líqu ido amniótico
do que, à medida que a concentração de creatinina aumenta positiva, sendo alto o índice de infecção int rauterina assin-
no LA, mais probabilidade existe de maturidade renal fetal. tomática por micoplasmas, cm especial Ureaplasrna urealyti-
Outros eletrólitos (cálcio, magnésio, ferro, zinco, potássio) cum, seguido por Mycoplasma hominis e Peplostreptococws sp. 5
não se alteram sign ificativamente com a evolução da gravi-
dez. Por outro lado, à medida que a gravidez ava nça, as con-
centrações de sódio e cloro d iminuem. A creatinina e o ácido FoRMAÇÃO
úrico aumentam progressivam ente, enquanto a ureia penna-
nece inalterada. Encontram-se ainda no LA aminoácidos, O s mecanismos de produção e reabsorção do líquido
lipídios, carboidratos, pigmentos biliares, prostaglandinas, amniótico variam de acordo com a idade gestacional. No
enzi mas, fatores de crescimento e marcadores tumorais. início da gestação (primei ro trimestre), o líqu ido amn iótico é
Po r isso, a dosagem bioquímica de alguns elementos po- isotón ico em relação ao sa ngue fetal e materno, representando
derá ser de importância na prática obstétrica. To rricel li et ai. transudato do trofoblasto. A principal fonte de líquido amni-
avaliaram d iferentes marcadores no líquido amnió tico em ótico, nessa fase, é a membrana amniótica. Líquidos e solutos
pacientes com trabal ho de parto pré-termo e observara m atravessam a membrana através de gradiente osmótico.
dim inuição impo rtante da urocortina no líquido amniótico No final do primeiro trimestre, a pele fetal é permeável à água
dessas pacientes. O mecan ismo de ação da u rocortina rela- e solutos, permitindo a troca di reta entre o feto e o líquido amnió-
3
cionado com o trabalho de parto ainda está sendo estudado. tico. Após a queratinização da epiderme, a partir da segunda me-
Baquero el a/. 4 associaram a diminu ição da glicose no lí- tade da gravidez, reduz-se a passagem da água através da pele fetal.
quido amniótico à infecção intra-amniótica em pacientes em No segundo e terceiro trimestres, os rins feta is corres-
trabal ho de parto pré-termo, enquanto Casteneda el af.S verifi - pondem à ma io r fo nte de LA. Por isso, obstrução na excreção
caram elevação de desidrogenase lática (LDH) no LA na pre- da urina determina oligoid râm nio.
sença de corioamnionite. As fosfolipascs A 2 e C, produzidas Os pu lmões fetais também contribuem para a fo rmação
pelas bactérias existentes na corioamnionite, encontram-se, do LA. O fluido se move dos pu lmões em dircção à garganta
ta mbém, na membrana amniótica, sendo liberadas em respos- fetal, podendo ser deglutido ou eliminado pela boca, alcan-
ta à invasão bacteriana. A partir daí, são ativadas as prostaglan- çando a cavidade amn iótica. Além disso, sendo o plasma fetal
dinas Fralfa e E2, estimulando contrações. Além disso, outros h ipertôn ico em relação ao Iíqu ido, permite a passagem de água
produtos, como leucotrienos e tromboxano, atuam causando dos capilares brônquio-alveolares para a cavidade amniótica.
necrose focal. Essas reações locais enfraquecem as membra-
nas, predispondo-as ao rompimento e ao parto pré-termo.
Assim, a elevação da dosagem de desidrogenase lática REABSORÇÃO E CIRCULAÇÃO
( LDH) no líquido amniótico pode ser considerada um marca-
dor de lesão das membranas amnióticas. Estudo rea lizado por A reabsorção do líquido amn iótico ocorre, principalmen-
Uchide eta/.6 sa lientou a possibilidade de aplicação diagnóstica te, pela deglutição fetal (mucosa do t rato gastroi ntestinal). A
da dosagem de LDH em pred izer a extensão de lesão tecidual deglutição feta l inicia-se em torno de 16 semanas de gestação
de membranas induzida pela replicação do vírus da infl uenza. 6 e a guantidade de líquido amniótico absorvido aumenta pro-
No liquido amniótico, encontram-se, em suspensão, cé- gressiva mente. Por isso, a obstrução do aparelho gastrointes-
lulas esfoliadas do âmnio que, por descamarem normal men- tinal poderá resultar em polid râmnio.
te em ritmo reduzido, são pouco representativas. Também, O utra possibilidade é a absorção do flu ido através do âm-
podem ser encontradas células fetais d a epiderme, d as vias nio e da rede capilar da placa corial.

296 Noções Práticas de Obstetrícia


VOLUME do maiores boi ões do líqu ido, dividindo- c o abdome em
quatro quadrante , tomando como centro a cicatriz umbili-
O volume de líguido amniótico é muito va riável, com ten- cal. A oma das medidas rc ulta no !LA. O método de ava-
dência a aumento progressivo. Acredita- e guc o aumento c- liação do LA por meio do !LA apresenta algumas va ntagens:
manai médio entre lOe 14 semanas é de 20 mi e de aproxima- permite a reprodutibilidade na medida de quantificação do
damente 50 mi até 2 semana . Atinge volu me máximo entre LA por ultra onografia (U ) entre observadores diferentes
36 c 38 semanas, decrescendo a partir daí até o nascimento.- c, para o mesmo observador, cm momentos di ver o ; permi-
A im, o volume tem e treita relação com 3 idade gc tacional, te a avaliação prospectiva e sequencial desse índice ao longo
aumcntandode2S0mlpara800mlentre 16e32 emana .~ da gc tação; po ibilita a tomada de dcci õc no seguimento
No início da gravidez, o volume do LA é maior que o do gestacional (Figuras 19.1 e 19.2).
feto. Por volt:! do quinto mês, esses volumes igualam-se c, no
final da gravidez, e a proporção inverte- c, já que o feto ocupa
a maior p3rte d,1 cavidade amniótica.

A VALIAÇÃO DO VOLUME

O volume do líquido amniótico é importante parâmetro


de 3valiaç:io do bcm-estar fetal. omo o LA é mantido cm
equilíbrio dinâmico, o volume ava liado é proveniente da dife-
ren 3 entre 3 produção e absorção fetal. ua avaliaç:io é proce-
dimento rotineiro em Obstetrícia, podendo ser realizad3 por
meio de propedêutica n5o invasiv.l c invasiva.

ULTRASSONOGRAFIA

Figura 19.1 I Esquema ilustrativo, mostrando a divi ão do


Aultrassonografiaob tétrica é método de imagem guccvo-
abdome materno cm quatro quadrJnte para a mcn uração
luiu muito nos último ano , fornecendo informaçõe sobre o
dos maiores bolsõcs, tendo a cicatriz um bilical como ponto
feto, a pia enta e o líquido amniótico. A. aval iação do volume de referência.
do líquido amniótico é p3 rtc d3 rotina do exame ultra sono-
gráfico ob tétrico, podendo ser rc3 lizada de maneira subjetiva
e/ou emiquantitativa, por meio de meditbs específica~.

AVA LIA(,:AO QUA LITAT I VA

Consiste na dcscriç5o subjetiva: o líguido pode e ta r nor-


mal, aumentado ou diminuído. Embora sujeita a erro , é mui-
to utiliz3da, mas é importante rcss,lltar a neces idade de exa-
minador experiente para que esse erro sejam minimizados.

AVALIAÇAO I ~IIQLAi\:TITATI \ \

Atualmente, utiliza- e o índice do líquido amniótico Figura 19.2 1 Medida ecogdfica do ma ior bolsão do LA
(ILA), criado por Phcl,1n et af.Y Es es autorc propu~cr3m a cm doi quadrante . O valor do ILA corresponde .i soma da
avaliação do volume do LA por meio da med id;~ ecográfica medidas dos quatro quadra ntes.

Alterações no Volume do Liquido Am niótico 297


Outra forma para avaliar o volume do LA é utilizar a pendencia da idade gestacional, e mediram os maiores bol-
medida do maior bolsão, que consiste na mensuração do sões de cada quadrante, confo rme a proposta original. Ava-
diâmetro vertical máximo dos bolsões de líquido amniótico liaram 791gestantes normais, encontrando valor médio de
existentes, registrando-se a maior medida encontrada. 11,5 nas gestações a termo (6,8 pa ra o percentil Se 19,6 para
Há mu ita controvérsia na literatura a respeito do me- o percentil9S). A curva obtida a partir dos dados do Quadro
lhor parâmetro para predizer o oligoid râmnio e, conse- 19. I está representada na Figu ra 19.3.
quentemente, o res ultado perinatal. Assi m, existem estu- No Brasil, Velho el ai.'' ava liaram o índice de líquido
dos que mostram melhor predição par,\ a medida do maior amniótico entre 12 e 42 semanas de 471 gestantes normais
bolsão vertical, enquanto outros indicam melhor predição e confirmaram que o LA aumenta gradat iva mente no início
a partir do !LA. da gravidez e, no começo da segunda metade, atinge valores
Brace e Resnik,10 ana lisa ndo a literatura sobre essa con- que permanecem em platô até por volta de 38 a 40 semanas,
trovérsiJ, observaram que os dois parâmetros provêm esti- quando dim inuem de forma expressiva. Nesse estudo, o me-
mativas razoáveis do volume do LA e sugerem aná lise con- nor I LA med ido foi 3,7 cm gestação de 12 semanas e o maior
junt,t dos dois parâmetros em benefício do feto e, como todo foi 24,9 cm gestação de 32 semanas.
exame subsidiário, deve ser interpretado à luz dos aspectos
clínicos maternos e da propedêutica fetal complemen tar.
Nablun e Abdel moula, 11 em metanálise de estudos ran- AMNIOCENTESE
domizados cont rolados, não observara m superioridade de
um dos métodos (!LA e medida de maior bolsão) na preven- Consiste na obtenção do LA por meio da punção do
ção de resultados perinatais desfavoráveis, como ad missão abdome materno, sob visão ecográfica. Foi inicialmente uti-
em UTI, pH <7, I do sangue da artéria umbilical, presença de lizada para determi nação de bilirrubina fetal, na doença he-
mecônio e Apgar <7 no qu into minuto. Entretanto, foi ob- molítica perinatal. Hoje é mais utilizada para determinar o
servado elevado número diagnóstico de oligoidrâmnio com cariótipo c a maturidade pulmonar fetal. Pode ser empregada
a medida de ILA e, consequentemente, .tlta taxa de indução tam bém na pesquisa de doenças metabólicas fetais c no diag-
de parto e cesarianas, sem melhora da morbidade nconatal. nóstico de infecções do feto (Quadro I9.2).' 6
Ott 12 também demonstrou que a medida de I LA é fr.1Co
predito r de resultados perinatais, d iferente de como tem sido
sugerido. O bservou, nas pacientes com oligoidrâm nio (I LA POLIDRÂ MNIO
menor S cm), desacelerações dos batimentos cardíacos fetais
somente durante o trabal ho de parto pré-termo e não hou- Polidrãmnio é clinicamente defin ido como o exces o de
ve associação com o descolamento prematuro de placcntJ, liquido amniótico (vol ume acima de 2.000 ml).A frequência
baixo va lor de apgar no quinto minuto ou a via de parto. é relati va mente baixa, varia ndo de 0,2 a I,S%.
Houve aumento de incidência de cesárea cm pacientes com
polidrãmnio em fetos a termo, provavel mente associado à
macrossomia. ET IOLO G IA
Phelan et a/. 13 referiram que resultados do !LA menores
que S cm se associara m a mais frequência de complicações O compartimento âmnico está em equilíbrio com o com-
fetais, como alterações dos batimentos cardíacos (mais comu- partimento fetal e materno. Alterações resultantes no processo
mente bradicardia) e mecônio, com consequente aumento do de produção ou reabsorção poderão determ ina r o polid râ m nio.
número de cesarianas. Para esses autores, os valores do ILA Apesar de toda propedêutica d isponível, cm aproximadamen-
aci ma de 20 indicam polidrâmnio e os inferiores a S, oligoi- te 60% dos casos não se identifica, du rante o pré-natal, uma
drãmnio. causa para o polidrâmnio e, nesses casos, a maioria dos recém-
Moore e Cayle 14 idealizaram a realização da curva de -nascidos é saudável. Existem, entretanto, algu mas alterações
normalidade do JLA, ,\partir de 16 semanas de gestação. maternas, placentárias e fetais que podem estar associadas ao
Pa ra ta l, subdividiram o útero em quatro quadrantes, na de- polidrãmnio e que estão relacionadas no Quadro I9.3?

298 Noções Práticas de Obstetrícia


Quadro 19.1 \ Va\orc' do lLA n,t gestação normal c respectivo pcrccntis, de acordo com ::t idade gcstacion::tl
Idade Gestac10nal Medrda dos bolsões do ILA I Perc en tr s
-
\semanas\
2,5 5 50 95 97,5
16 I 7,3
1 7,9 12,1 I 18,5 1
20,1 I
17 7.7 8.3 12.7 19.4 21.1 !

8.0
-- 8.7 13.3 20.2 22.0
18 I
-- -
19 8.3 9.0 13.7 20.7 22.5 _j
20 8.6 ,___ 9.3
-- - 14.1 21 .2
-
23.0
--
21 I 8.8 9.5
-- --
14.3 21.4 23 .3
-- ~I
22 8.9 9.7 14.5 21 .6 23.5
-- ---
23
24
25
9.0
9.0
8.9
9.8
9.8
9.7
14.6
14.7
14.7
21.8
21.9
22.1
+ 23.7
--
23.8
24.0
_ j

-J
26
1---
8.9 9.7
- --
14.7 22.3 I 24.2 _I
27
28
8.5
8.6
I 9.5
9.4
-
14.6
14.6
~~24.95 -
-
29 8.4 9.2 14.5 23.1 25.4
- --
30 8.2 9.0 14.5 23.4 I 25.8
-
31 7.9 I 8.8 14.4 23.8 26.3
~

32 7.7 8.6 14.4 24.2 26.9


33 7.4 8.3 14.3 24.5
- r-
27.4
-
r- 1- -
34 7.2 8.1 14.2 24.8 27.8
7.0
1---- --
14.0
- r-
27.9
-
35 7.9 24.9
~

36 6.8 7.7
-
13.8 _j_ 24.9 27.9
--
37 6.6 7.5 13.5 24.4 27.5
38 6.5
- r-
7.3
-
13.2 23.9 26.9
--
-· J
39 6.4 7.2 12.7 22.6 25.5 _ j
-
40 6.3 7.1 12.3 I 21.4 24.0
·--
L - i
-i
41 6.3 7.0 11.6 19.4 21.6
-
42 I 6.3 6.9 11.0 17.5 19.2 _I
Fonte· Moore & Cayle 9

Alterações no Volume do Liquido Amniótico 299


350 O pohdrâmnio crônico é caracterizado pelo acúmulo de

-- --
líquido em período relativamente longo, podendo alcançar
300

250 ..,.,..,.--"""' .... ........ . . . .


' '' grandes volumes, e o aumento do útero se faz gradativa mente.

····-...'..
O diagnóstico d iferencial do polidrâmnio inclui: erro de
200
/
.--... .. .. ... .. .. .. ------------- ~

data, gemelaridade, cistos ovarianos e miomatose uterina, ma-


~
crossomia fetal, ascite, obstrução intestinaL
150

100 .... ·:.:: :.:.-:.:::.:: ::-:..:-::.. .. .. .. ....... .... -........ . Q!Iadro 19.3 1 Alterações associadas à polidramnia

50
----- · ÜIICJP.Ill Causfls

Materna Diabetes I
o +T~~_,~r-r-r-~~,_~-r-r~
16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 lsoimunização I
Semanas de Gestação
Placentária Placenta circunvalada I
Fig ura 19.3 1 Curva do ILA: As linhas tracejadas externas Corioangioma I
representam os percentis I e 99; as linhas internas os percen- Fetal Obstrução das vias digestivas I
tis 5 e 95; a linha central, o percent ii SO.
Deglutição fetal dificultada por anomalias do SNC
Compressão esofágica por massas torácicas
I
Quadro 19.2 Principa is doenças metabólicas e in fec- (inclusive hérnia diafragmática)
ciosas fetais que podem ser d iagnosticadas pela análise do
líquido amniótico
Anomalias cromossOmicas l
DoenccJs Orilgrlostrco
Distrofia muscular !
Poliúria fetal I
Metabólicas Galactosemia I Transfusão feto-fetal na gravidez gemelar I
Acidemia propiOnica I Insuficiência cardiaca com alto débito I
Acidemia metilmaiOnica
I Anemia fetal I
Acidemia isovalérica I Infecções congênitas (sifilis, hepatites) I
Acidúria glutárica tipos I e 11 ! SNC=Srstema Nervoso Central
Fonte: Belfort.•
Tirosinemia tipo I !
Déficit múltiplo da carboxilase mevaiOnica S INTOMAS

Infecciosas Toxoplasmose
I Depende do volume uterino e da velocidade de cresci-
Rubéola !
I
mento. O aumento gradativo pode ser bem tolerado. Nos
Citomegalovirus
l casos mais g raves, aparece d ispneia acentuada, acompan ha-
da por taquicardia, palpitação, cia nose e edema de membros
in fe riores. H á desconforto c dores difusas no abdome.

DIAG N ÓSTICO
EX AME F íS ICO
O polid râ mnio agudo é caracterizado pelo acúmulo relati-
vamente rápido de líquido am niótico, em poucas horas ou d ias, O exa me revela o acentuado aumento do volu me uteri-
com incremento brusco do volume uterino. Tem mortalidade no e a pele do abdome torna-se d istendida, lisa e brilhante,
perinatal elevada, associando-se a anomalias fetais e a parto podendo surgir estrias extensas. Há edema nas porções mais
pré-termo. baixas do abdome.

300 Noções Práticas de Obstetrícia


A palpação, a consistência do útero é cística, dificultando sed controlado pela pressão intrauteri na. Com isso, evita-se
a percepção do feto. Os batimentos cardíacos fetais são de a descompressão brusca, que pode desencadear contrações
difícil ausculta ou imperceptíveis e é importante não haver uterinas e determinar o parto pré-termo. As pri ncipais com-
precipitação no diagnóstico de morte fetal. O colo uteri no plicações associadas ao procedi mento são: parto pré-termo,
pode e tar entreaberto e as membranas tensas, pelo grande infecção intrauterina, de ca lamento prematuro da placenta,
incremento da pressão intrauterina. lesão fet,tl e rotura prematura de membrana .
A amniocentese de alívio é paliativa e controla o quadro
apenas temporariamente, considera ndo que a produção do
EXAMES COMI' LI . Mf.NTARE~ líquido amn iótico é constante.
A medicação mai utilizada para reduzir o volume
Podem ser oli itados: do LA é a indometacina, na dose de 100 mg/dia, durante
Ultrassm10grn.fia: permite ava liar, quantitativamen- três dias. É potente inibidor da síntese das prostaglandi-
te, o volu me de LA (!LA >18 ou acima do percentil nas, aumentando a reabsorção de líq uido am niótico pelos
95), a anatomia fetal (principalmente a integridade pulmões fetais, diminu indo a produção de urina fetal e au-
da coluna e a pre ença da bolha gástrica), a presen- mentando .\ mobilização de líquido do co mpa rti mento fetal
ça o u não de gestação múltipla e de :111orma lidades para o materno. Recomenda-se cuidado na admini tração
placentárias; da medicação, pela possibdidade de redução acentuada do
exames labomlonais: pe qui a de diabetes, isoimuni- volume de LA, levando a oligoidrâmnio.17 Além disso, pode
zação Rh, doenças infecciosas (sífilis, toxoplasmo- induzi r hipertensão pulmonar, enterocolitc e fechamento
se, rubéola c outras); precoce do dueto arterial, tü o devendo ser utilizada após
amniocentese ecordocentese: permitem obter material 32 ema nas. O acompan hamento fetal é realizado por meio
para estudo genético e pesquisa de doenças infec- da ultrassonografia scriad.t, que ava lia o volume do líq uido
ciosa . amniótico, c pela dopplervclocimetria e perfi l biofísica, que
avaliam as condições fctai .

CONDUTA
PROGNÓSTICO MATERNO-FETAL
O sucesso na conduta dependerá de vá rios fatores: ida-
de gestacional, anomalias fetais e sintomatologia matern a. O prognó tico materno é relativa mente bom, sendo o obi-
os fetos com anomal ias incompatíveis com a vida, poderá tuário semel hante ao da gestação normal. Podem ocorrer pro-
ser discutida a possibilidade de interrupção da ges t.tção, em blcn1Js no trabalho de parto por hipossistolia, devido à grande
benefício materno. distensão uterina, e hemorragia graves no quarto período.
Nas pacientes com sintomatologia grave, com feto mor- O prognóstico fetal é pior, com elevado obituário perina-
fologicamente normal, opta-se pela internação da paciente e tai. Isso ocorre não apenas pela prematuridade, mas também
repouso no leito, na tentativa de equi librar as cond ições he- pelas malformações e doenças as ociadas. Estudo realizado
modinàmica . Pode-se tentar o esvaziamento do polidràm- cm 1999 encontrou que os dois principais fatores de risco fe-
nio através de amnioccntese transabdomi na l, bem como tal foram o parto pré-termo ( I0,47%) e a rotura prematura de
a utilização de medica mentos que reduzem a produção de membranas (3,49%). A morbidade e mortalidade perinatal
urina feta l. encontradas fora m 70,9 e 17,4%, respectivamente, associa-
A amniocentcsc tra nsabdomina l para redução do vo- das a macrossomia, prematuridade e malformaçõcs. 18
lume do LA deve ser realizada com rigorosa técnica de as-
scpsia e guiada pela ul trassonografia. O volume máx imo a
ser esvaziado cm 24 horas deverá ser cm torno de 1.500 a ÜLIGOIDRÂMNIO
2.000 mi. Es c c vaziamento deve ser realizado de forma
lenta, conectando-se equipo de oro à agulha ou jelco loca- Conceituaimente, oligoidr:im nio é a di minuição do vo-
lizado no abdome materno, de forma que o esvaziamento lu me de líq uido amn iótico, ou seja, volu me de LA menor

Alterações no Volume do Liquido Amniót ico


3 01
que o esperado para a idade gestacional. A incidência de quer seja pela redução da produção urinária ou por retenção,
oligoidrâmnio varia de 1 aS%. devido a processos obstrutivas do próprio trato urinário. Ain-
da podem ser causas de oligoidrâmnio as alterações cromos-
sômicas e o pós-datismo.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA

Oligoidrâ mnio decorre do dec réscimo da produção ou M EDICAl\! EN TOS


excreção fetal ou da perda de líqu ido amniótico.
Na vigência de oligoidrâ mnio, deve-se ava liar a forma- Determ inados medicamentos podem leva r à diminu i-
ção renal fetal e o volu me pré-rena l, assim como desca rta r ção do volume de LA, como é o caso de alguns anti-infla-
a possibilidade de rotura prematura das membranas. Para matórios, dos inibidores da enzima de conversão da angio-
tanto, basta realizar o exame obstétrico, a fim de detectar tensina e dos antagonistas da angiotensina. A indo metacina
a integridade ou não das membranas amn ióticas. Na dú- tem sido uti lizada no tratamento do polidrâmn io e sabe-se
vida, podem-se util izar outros testes diagnósticos, como que ela diminui o flu xo glomerular, com consequente redu-
pH vaginal, cristalização do re íduo vaginal e pesquisa de ção do volume de líquido amn iótico.
células fetais (para mais infor mações o leitor deve se reportar O Q uadro 19.4 sin tetiza as principais causas de oligoi-
ao capítulo 22- Rotura Prematura das Membranas). drâmnio.
Nos casos de dificuldade de visualização fetal à ecografia
ou na suspeita de alterações estrutu ra is fetais, pode ser neces- Q uadro 19.4 J Principais causas de oligoidrâmnio
sário realizar a amnioinfusão para a avaliação fetal à ultras- Or1gem CilliSilS
sonografia.
Materna Hipertensão arterial crônica
Ao contrário do polidrâmnio, são raros os casos de oligoi- J
d râmn io idiopática, o que induz mais preocupação no que se Pré-eclâmpsia I
refere aos resultados perinatais.
Sfndrome dos anticorpos antifosfolípides
I
Insuficiência útero-placentária
J
Do ENÇAS MATER1 A~
Fetal Anomalias geniturinárias I
Algumas doenças maternas, ao determ inarem hipóxia Outras anomalias congênitas I
fetal, promovem o aparecimento de meca nismos compen- Anomalias cromossômicas I
satórios de redistribuição do fluxo sanguíneo, determinando
redução do fluxo sanguíneo glomerular, com consequente d i-
Crescimento intrauterino restrito
I
mi nuição do volume uri ná rio c oligoidràmn io. Destacam-se Rotura prematura das membranas I
as mais frequentes: hipertensão arterial crónica, pré-eclâmp- Placentária Transfusão feto-fetal na gravidez geme lar !
sia, síndrome dos anticorpos antifosfolípides, insuficiência
útero-placentári a por outras causas e o uso de determinados
medicamentos. Importante ressalta r que o oligoidrâmnio DIAGNÓSTICO
pode estar associado ao crescimento intrauterino restrito
(C IU R) em 20 a 80% dos casos. O diagnóstico, na maior parte dos casos, é ecográfico, mas
a ava liação clínica pode sugerir a existência de oligoid râmn io.

Dot: N<;As FETA IS


S t NTOM ATOLOG LA.EEXA M I:. F í SICO
As principais malformações fetais responsáveis pela di-
minu ição de LA são as de origem geniturinárias (agenesia re- A diminuição do volume de LA pode ser suspeitada pela
nal, rins micropolicísticos, valva de uretra posterior e outras), diminuição do volume uterino, especialmente qu ando existe

302 Noções Práticas de Obstetrícia


a sociação ao CI UR. Adiminuição do volume de líquido po- Revisão da Cochrane Libraryevidenciou quea amnioin-
derá determinar compressão do cordão umbilical, gerando fu ão (tran cervical ou transabdommal), nos casos de oligoi-
alteração dos batimentos cardíacos do feto c diminuição da drâmnio durante o trabalho de parto, pode er benéfica cm
sua movimentação. ituaçõc de de aceleraçõe do batimento card íaco fetal ou
de líquido meconial_ll Metanálise demonstrou que a amn io-
infusão intraparto, na existência de mccônio, reduz significa-
Ut TRA~~ONOCRAFIA tivamente a frequência de síndrome de aspiração de mecônio
(OR:0,30; IC 95%: 0, 19 - 0,46), a acidem ia neonatal e a reali-
Permite ava liar quantitativa mente o volume de LA, a zação de cesarianas e não aumenta as t.1 xas de cndometrite.22
morfologia fetal e a placenta. A determinação do I LA permite
estabelecer a gravidade do oligoidrâm nio, auxi liando na defi-
nição da condut.l obstétrica. 11 1nR 'tA<,. \o !\lATE R~ A

Tem ido utilizada para aumentar o volume de LA, desde


CONDUTA que não haja contraindicação para sobrecarga circulatória.
O volume de liquido a ser infundido, bem como o período
O tratamento do oligoidrâmnio vi a a restaurar o volume de tempo a ser ut ilizado, são ainda controver os na literatu-
do LA c irá depender de sua etiologia. Várias alternativas para ra. Revisão da Cochrane de 2009 mo trou aumento do ILA
tratar o oligoidràmnio já foram experimentadas, mas até o apó hidratação hipotônica veno a em pacientes com oligoi-
presente momento não se tem um recur o efic.rt para o tra- drã m n io. 2\
tamento intrautcrino.

' J"LRRU P(, AO DA GESTAÇÃO


BA.:-.110 lll I '>li f{<.,,\0
Por se associa r com muita frequência a prognó~tico perina-
Con iste em ubmeter a gestante a banho de imersão, em tal desf.worável, o oligoidrâmnio constitu i situação obstétrica
banheira. Embora não utilizada rotineiramente, alguns estu- que indica a vigilância fetal, com acompanhamento por ultra -
dos citaram seus beneficias. Aires et af.i9 avaliaram as modi- sonografia e provas de vitalidade fetal. Por i o, na vigência de
ficações no índice de LA estimado pela ultras o nografia em grave comprometimento fetal intraútero, ituaçõe de gravida-
gestante com oligoidrâmnio. Conclu íram que a imersão de materna e oligoidrâmnio diagnosticado no fi nal do terceiro
subtotal de gestante em água é segura, prática c capaz de mo- trimestre, a melhor opção pode ser a interrupção da gestação.
biliza r os fluidos durante a gestação, aumentando o volume
de líquido amn iótico.
PRO G N ÓSTICO M A TE RNO -FETAL

Em geral, os risco maternos estão as ociado à doenças


de base. Por outro lado, a mortalidade perinatal é elevada, não
Consiste na infu ão intrauterina de solução salina, mas os apenas pela prematuridade, mas pela pos ibilidade de altera-
resultados são controversos, dependendo, principalmente, da ções cromossómica e congénitas.
etiologia do oligoidr.lmnio. Leite et a/.,20 objetivando ava liar a O oligoidrãmnio prolongado, principalmente quando ini-
eficácia da amn ioi n fu ão para a propedêutica do oligoid rã m nio ciado no segundo trimestre, pode originar várias anormalida-
acentuado, realizaram o procedimento em 12 gestantes. Embo- des fetais, decorrentes da compressão fetal no interior da cavi-
ra todos os fetos tenham evoluído para o óbito, a amnioinfusão dade uterina, tais como deformidades de p.trede torácica, face e
mo trou- e ser método propedêutico útil nesses casos, para o membros e hipoplasia pulmonar. Esta última pode associar-se
estudo morfológico. a taxa de mortalidade neonatal que variam de 52,5 a 82, -"'o.i6

Alterações no Volume do Liquido Amniótico


303
LÍQUIDO AMNIÓTICO MECONIAL Metanálise da Cochrane de 2002 (atualmente em fàse de
revisão) avaliando a prática da amnioinfusáo durante o trabalho
O mecôn io é constituído pela secreção da mucosa intes- de parto, na vigência de líquido meconial, selecionou 12 estu-
tinal e por células descamad as dessa mucosa, associadas a cé- dos, todos com baixo n úmero de participantes. A mn ioi nfusão
lulas epiteliais e pelos fe tais, presentes no líqu ido am niótico associou-se à redução de desacelerações da frequência card ía-
deglutido. Pigmentos biliares tornam o LA verde escuro. ca fetal (RR: 0,65; !C 95%: 0,49 - 0,88); SAM (RR:0,24; IC
ormalmente, a contração do esfíocter anal impede sua 95%: O, 12 - 0,48); encefalopatia hipóxico-isquêmica neona-
passagem para a cavidade amn iótica durante a grav idez. Vá- tal (RR: 0,07; JC 95%: 0,01 - 0,56); ventilação neonatal ou
rios fato res, no entanto, podem desencadea r o relaxamento admissão em UT I (RR: 0,56; IC 95%: 0,39- 0) 9). H ouve
do esfíncter anal, perm itindo a liberação do mecônio, tais tendência à redução da mortalidade peri natal (R R: 0,34; IC
como: 95%: 0,11 - 1,06). A conclusão dos autores é de que a amni o-
Au m ento d a motilid ade fisiológica intestinal na infusão, na presença de líquido meconial, associou-se a bons
gestação a termo; resultados perinatais, pri ncipalmente em locais desprovidos
apresentação pélvica; de métodos mais modernos de vigilância fetal. Contudo, os
comp ressão do cordão umbi lical; estudos aind a apresentam baixo número de pacientes e não
so frim ento fetal. são conclusivos 14

O mecôn io associa-se ao aumento da m orbiletalidade


perinatal, decorrente da síndrome de aspiração mecon ial EVIDÊNCIAS
16
(SA M), e à elevação dos índices de cesariana.
As evidências sobre o volume de líquido am niótico estão
sumarizadas no Q uadro 19.5.

I
Quadro 19.5 Evidências sobre o líqu ido amniótico ( LA)

Cilrélcterrstrcas Evrdêncras Gr<lu de


recornendacao

Composrcao

O líquido amniótico não é apenas resultado da filtração sanguínea. mas líquido c


com características próprias e o feto é o principal produtor desses componentes I
Pacientes em trabalho de parto pré-termo podem apresentar diminuição da C
urocortina no líquido amniótico e isto poderá ser utilizado como marcador do
trabalho de parto
A elevação da dosagem de desidrogenase lática ILDHl em líquido amniótico C
pode ser considerada um marcador de lesão das membranas amnióticas. suge-
rindo corioamnionite
Avillraçoo ecografrcél
elo LA

OLA aumenta gradativamente no início da gravidez e. no começo da segunda C


metade. atinge valores que permanecem estáveis até 38 a 40 semanas, quan-
do diminuem de forma expressiva
ILA diagnostica oligoidramnio com mais frequência, levando à alta taxa de in- A
dução de parto e cesarianas sem, contudo, melhoria da morbidade neonatal
Continua ...

304 Noções Práticas de Obstetrícia


... continuação
I
Q ua d ro 19.5 Evidências sobre o líquido am niótico (LA)

Não há evidências de que utilizar o ILA, em vez da medida do maior bolsão do


LA. reduz morbidade perinatal
Ométodo com mais sensibilidade para avaliar o volume do lfquido amniótico é A
a medida do maior bolsão
Para estabelecer melhor predição de oligoidramnio e polidramnio. pelo ILA. B
sugerem-se os valores de < 5 e > 25
111!!'1 Vt'I1Cd0

A produção fetal de urina e, consequentemente, o ILA são significativamente A


reduzidos com o uso de indometacina por um perfodo de 48 horas I
A imersão subtotal de gestantes em água é segura. prática e capaz de mobili- c
zar os fluidos durante a gestação, aumentando o volume de lfquido amniótico I
A amnioinfusão mostrou ser método propedêutico de alta acurácia, permitindo c
o diagnóstico etiológico do oligoidramnio acentuado em aproximadamente
75% das vezes
Hidratação materna simples aumenta o volume do LA e pode beneficiar o feto A
nos casos de oligoidramnio, reduzindo-a durante o trabalho de parto I
A amnioinfusão intraparto, na presença de mecOnio. reduz significativamente A
a frequência de sfndrome de aspiração de mecOnio, a acidemia neonatal a
realização de cesarianas e não eleva as taxas de endometrite
Amnioinfusão. na presença de lfquido meconial, associou-se a bons resultados A
perinatais. principalmente em locais desprovidos de métodos mais modernos !
de vigilancia fetal I

LA = Uquido amniótico.
ILA = fndice do Líquido Amniótico.

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Alterações no Volume do Liquido Amniót ico 305


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306 Noções Práticas de Obstetrícia


Anomalias da Placenta,
2Q do Cordão e das Membranas
Ana Mari a Arruda Lana
Daniel. Ribeiro Moreira

O Exame Anatomopatológico da Placenta Principais Alterações Patogênicas da Placenta


Modo de Envio Alterações Vasculares
Bases da Observação Macroscópica Alterações da Maturação e Diferenciação Vilosas
Aspectos N o rmais Alte rações Inflamató rias
Alterações de Peso e Volume Neoplasias Primárias
Anomalias de Forma e lmplantação Neoplasias Metastáticas
Anomalias da Inserção das Membranas
Alte rações da Superfície Fetal e das Membranas
Placentárias
Alterações da Superfície M ate rna
Alterações do Cordão U mbilical
Placenta Gemelar

placenta é, em dúvida, o órgão mais disponível 0 EXAME ANATOMOPATOLÓ G ICO

A para o b ervação di reta na prática médica, de o b-


tenção fácil e cuja cole ta não implica, geral men-
te, procedimento que coloquem em risco a saúde da mãe
DA PLACENTA

O exa me anatomopatológico sistemático da placenta


o u do feto. No entanto, em muitos centros, até hoje ela é deve ser recomendado de rotina, pelo menos em algum:ts
de cartada, não 6 nos pa rtos no rmais, como em elevado situações. A morte peri n:ttal é ind icação absoluta, sendo
número de ituações anormai . endo órgão formado por o exame da placenta um elemento extre m:tmente va lio o,
massa con iderável de tecido feta l, seu exame oferece aux í- imprescindível na autópsia peri natal. 1 Q uando esta não c
lio valioso na identificação e na complementação do diag- realizada, por fa lta de consentimen to o u por qua lq uer o u-
nóstico da causa morfis e de doe nças fetais ou maternas e tro motivo, o exame completo da placenta pode, muitas
seu aspecto macro cópico pode ser indicativo de d iversas veze , contribuir no esclarecimento da cau a do óbito fetal
condições, su peitadas o u não. Po r isso, a observação cui- o u neo natal. Em outra situ:~ções, como no diagnóst ico de
dadosa d:t placenta deve fazer parte d:t roti na dos profissio- re trição do crescimento fetJI, hidropisia não imune, ma l-
nais da s:tla de parto e seu exa me completo pode se r facil- formJções e infecções, a ob erv,tção macro e microscópi-
mente req uerido e m situações q ue representem indicação ca da placenta pode acre centar elementos úteis do ponto
relativa ou .tbsoluta, devendo, preferencialmente, ser reali- de vista da etiologia. o entanto, :1 faixa de indicaçõe
zado por patologist:t com cxpericncia na área perinatal. pode varia r de acordo com fato re como a capacidade de
um laboratório de anatomia patológica ou a natureza aca- acontece, quando se pode perder a oportunidade de se
dêmica do mesmo. obterem dados diagnósticos complementares ou mesmo
Na visão de Wigglesworth,2 o exame de rotina da pla- a explicação para a causa do óbito fetal. Po r esse motivo e
centa é de pouco valor em casos de algumas doenças ma- pela possibilidade da utilização em processo judicial, reco-
ternas, como hipertensão arterial crônica, diabetes e tuber- menda-se que pelo menos as placentas q ue não sejam de
c ulose, ou no diagnóstico etiológico de algu mas infecções gestações inteiramente normais sejam guardadas em refri-
congênitas, quando as info rmações mais importantes po- gerador por até sete dias, de forma que possam ser resgata-
dem ser obtidas no exame do feto e não da placenta. das, se necessá rio. 6 Recomenda-se, ainda, que as placentas
Em casos de óbito perinata l ou de sequelas neurológi- anormais sejam fotografadas, o gue se torna útil em caso de
cas, é freque nte o patologista ser solicitado a informar se extravio do espécime.
o exame da placenta pode fornecer elementos que expli-
quem os eventos, principalmente em se tratando de pro-
cessos judiciais. 3 MODO DE ENVIO
De acordo com Altshuler,4 constituem ind icações para
o exa me anatomopatológico da placenta as condições ma- De modo ideal, a placenta é exam inada fresca. Até ser
ternas ou fetais listadas a seguir (Quadro 20. 1). enviada, deve ser colocada em saco plástico devidamente
identificado, inteira, sem secção prévia das membranas ou
do cordão, apenas retirado o excesso de sa ngue e refrige-
I
Quadro 20.1 Condições maternas e fetais que constituem rada a 4°C. Dessa forma, pode ser preservada por até sete
indicação para o exame anatomopatológico da placenta dias, sem prejuízo da gual idade do exa me. Nunca deve ser
Colld1ções Milte1nas Cond1çoes Feta1s ou NeonatiliS congelada ou refrigerada descoberta ou envolta em com-
Diabetes mellitus Morte fetal ou perinatal pressas. Na falta de condições de refrigcraçáo, pode ser
I
acondicionada em recipiente de tamanho adequado, con-
Pré-eclampsia/eclampsia Gemelaridade I tendo solução de formo! a 10% em volume de, no míni mo,
Pós-maturidade Prematuridade I três vezes o volu me da placenta, no gual deve ser colocada
História de perda Hidropisia sem dobras, para não deforma r e para permitir a penetra-
reprodutiva I ção do fixador. De qualquer forma, a fixação altera subs-
Oligoidramnio ta ncialmente aspectos m acroscópicos como a coloração e
Eliminação de mecônio I a consistência do órgão, além do seu peso, que aumenta em
Febre Admissão em CTI neonatal I cerca de I 0%. A refrigeração por tempo prolongado pode
Infecção Depressão do SNC (Apgar ~ 3 no igualmente modificar a cor da placenta, do cordão e das
quinto minuto) membranas.
História de uso de drogas Distúrbio neurológico I No caso de gestação gemelar, é importa nte gue os cor-
Hemorragia de repetição dões umbilicais sejam marcados, de forma gue o patologista
Suspeita de infecção I identifique o cordão gue pertence ao primeiro gêmeo e o
Descolamento da placenta I gue pertence ao segu ndo ou aos demais, se for o caso.
A reguisição do exame deve ser a mais completa pos-
sível cm termos de informações relevantes, as quais são
Essas mesmas indicações estão contidas em protocolo necessárias para o patologista faze r o diagnóstico correto.
elaborado pelo College ojAmerican Pathologists, juntamente É interessante observar que, mesmo no caso de países
com recomendações sobre procedimentos de envio e de do pri mei ro mundo, onde o acesso à infor mação e os re-
requ isição de exame.5 cursos técnicos são abundantes, pode ainda existir adesão
H á centros onde todas as placentas passam por exame relativamente restrita aos protocolos de exa me da placenta,
apurado, no mínimo uma avaliação macroscópica, antes em relação às indicações e até ao preenchimento das infor-
de serem descartadas. Entretanto, o contrário também mações na reguisição.6

308 Noções Práticas de Obstetricia


B ASES DA OBSERVAÇÃO MACROSCÓPICA circub o angue materno, proveniente do va o da decí-
dua ba ai). a placa vilosa, processam-se as troca gasosas
O obstetra é o responsável pela primeira observação materno-fetais.
macroscópica da placenta, cujos dados devem ser anota-
dos, como o comprimento do cordão umbilical c o nú-
mero de vasos, o aspecto das membranas placentárias
c o das upcrfície fetal e materna do di co placentário,
procedimento que requer apena alguns minuto .- Nio
é demais enfatizar que este poderá ser o único regi tro da
observação da placenta, caso o obstetra não veja necessi-
dade ou possibilidade de enviá-la para exame. O peso não
preci a er tornado de roti na, uma vez que o valore de
referência existentes são relativo ao peso aferido após a
retirada do excesso de sangue, das membranas e do cor-
dão umbilical, durante o exame anatomopatológico.
este tópico, serão descritas :-~s alter:-~ções que podem Figura 20. 1 I Placenta normal de gestaç:lo a termo, vi$ta dJ
er identificadas cm um primeiro e superficial exame e superfície fetal, com cordão umbilical. A membranas foram
que ão indicativ:t das anormalidade m:-~is frequente . retiradas. Ver Prancha Colorida.

ASPECTOS NORMAI S ALTERAÇÕES DE PESO E VOLUME

A placenta normal de gestação a termo tem form:t ha- A placenta volumo a e pesada (pe o acima de 6 Og na
bitualmente di coide ou ovoide, com variações que não ge tação .1 termo) pode er indicativa de diabetes. Quan-
nccessari:tmcnte representam alterações patogenicas. A do, além disso, for pálida c com nítidos si nais de edema -
superfície feta l é revestida pelo :imnio, normalmente fino, fria bilidadc dos cotilédones e com líquido fl uindo da placa
liso, brilhante c tr:tnsp:trente, ob o qual se ob erv:t o có- vilos.t o feto é, cm geral, hidrópico, seja cm consequência
rion, onde correm o va o coriônicos ou ala ntocoriai , de isoi rnun ização materno-fetal, quando a hidropi~ia feto-
derivados do cordão umbilical a partir do seu ponto de -placentária pode e r extremamente grave, sej:t na hidropi-
inserção, mais cornumentc excêntrico ou paracentral (Fi- sia não imune de qualquer causa.
gura 20. 1). As membranas se inserem na margem do di co Pl.tcent,ls pequenas estão presentes em casos de cres-
pLtcentário e são representada por àmn io c córion, ao cimento intrauterino restrito, quando e a ceiam fre-
quais c adere :l decídua cap ul,tr. A face materna - cm con- quentemente a outr.1s alterações do parênquima.s
tato com o leito de inserção da placenta é rcpre entada
pela placa bas:-~ 1, constituída por fina camada de material
fibrinoide c decídu :-~ basal, podendo ou não ser total ou ANOMALIAS DE FORMA E I MPLANTAÇ ÃO
parcialmente dividida em cotilédones ("lóbulos" dividi-
do por septo que partem da placa ba ai). Tem coloração A forma da placenta pode va riar de ,tcordo com as con-
normalmente vermel ho-e uro, brilhante, podendo conter dições do eu leito de impl.tntação. 1 ão é rara a pre cnça
focos esbranquiçados de calcificação. O cordão umbilical, de lobos placentas bi lob:-~das, multilobadas - em geral
em geral com comprimento de cerca de 50 cm e di.! metro separados do di co principal por uma área de membrana
médio de 1,0 cm, tem geleia esbranquiçada c três va os onde correm vasos cal ibrosos. Tais vasos, de providos
- dua · artérias e uma veia. Entre a face fetal e materna, do suporte oferecido pelo parênguima placentário, ~:io
·itua- ·c a placa vilo a, representada pelos troncos viloso e suscetívei · de compres ão por partes fetais ou de rotura,
vilosidades coriõnicas (onde circula o sangue fetal, prove- à maneira do que ocorre com a inserção velamcntosa do
niente dos vasos coriônicos) e o espaço interviloso (onde cordão umbil ical, com consequências sobre a saúde do

Anomalias da Placenta, do Cordão e das Membranas 309


feto. Lobos acessórios podem ser causa de complicações cídua capsular), constitui ndo as membranas placentárias
resultantes de sua retenção na cavidade uterina. ou fetais. O âmnio do disco placentário é uma membrana
As anomalias de implantação incluem: absolutamente fina, lisa, transparente e incolor, através
Anomalias de localização, representadas pela placen- da qual se veem o córion e os vasos coriônicos e, comu-
ta de inserção baixa e pela placenta prévia. Diagnos- mente, na placenta a termo, placas brancacentas de fibri na
ticadas geralmente antes do período expulsivo, náo subcoriônica.
mostram características macroscópicas próprias,
além do ponto de rotura das membranas, mais pró-
ximo da margem do disco placentário, quanto mais
baixa a inserção da placenta em relação ao óstio in-
terno da endocérvice/
placenta acreta: quando há deficiência de formação
de decídua e os vilos placentários e o trofoblasto
estão em contato direto com o miométrio. Distin-
guem-se três tipos, de acordo com a profundidade
desse contato: placenta acreta simples, quando os
vilos estão em contato com o 1/ 3 interno do mio-
métrio; placenta increta, quando os vi los alca nçam
o I / 3 médio da parede; e placenta percreta, quan- Figura 20.2 1 Placenta extracorial, circunvalada, com mem-
do se infiltram até a serosa uterina. Tais anomalias branas recortadas. Notar borda de parênguima totalmente
de implantação costumam causar hemorragia no exposto, não recoberto por córion. Notar ainda coloração
amarelo-esverdeada conferida por impregnaç.i.o meconial.
pós-parto, frequentemente resulta ndo em histerec-
Ver Prrmcha Colorida.
tomia, única situação na qual o patologista pode
diagnosticá-las inequivocamente.
I MI' IUG AÇÂO MECO lJAL

ANOMALIAS DA INSERÇÃO DAS MEMBRANAS


Caracterizada por coloração esverdeada ou verde-
-amarelado da superfície fetal e das membranas, conferida
O tipo mais importante de placenta extracorial é a pla- por deposição de mecônjo eliminado intraútero em situ-
centa circunvalada, na qual as membranas se inserem e ações de hipóxia antenatal (Figura 20.2). Quanto mais
se refletem internamente à margem do disco placentário, longo o tempo de exposição ao mecõnio, mais intensa será
deixando borda de parênquima viloso praticamente desco- a impregnação e a coloração, mais amarelada, traduzindo
berto, apenas frouxamente aderido ao córion (Figura 20.2). fagocitose e degradação do pigmento meconial pelos ma-
Verifica-se em 6% das gestações e seu significado clínico é crófagos do córion. Mecônio recente (verde-escuro) pode
ainda obscuro, sendo relatada associação a crescimento ser visto em partos de apresentação pélvica.
intrauterino restrito, hemorragia materna e malformações,
entre outras condições.-
CoR IOAMN ION ITE Acu DA

ALTERAÇÕES DA SUPERFÍCIE FETAL E DAS Resultado geralmente de infecção transamniótica,


MEMBRANAS PLACENTÁRIAS mais comumente bacteriana. Neste caso, o âmnio do disco
placentário e também das membranas perde a transparên-
A superfície fetal da placenta é constituída pelo âmnio cia e se espessa, em grau variável, adquirindo coloração es-
e pelo córion subjacente, os quais se refletem na margem branquiçada, amarelada ou esverdeada e, por vezes, aspec-
do disco placentário, formando a bolsa amniótica, à qual to francamente purulento, dependendo da intensidade da
adere parte da decídua que reveste a cavidade uterina (de- inflamação e do agente etiológico (Figura 20.3).

310 Noções Práticas de Obstetrícia


das ocasionam, no feto, fenômenos disruptivos de gravidade
variável, como amputação de extrem idades, gastrosquise,
fenda labial e palatina e defeitos de fechamento do tubo neu-
ra l, compondo o q uadro da sequência da rotura am niótica,
podendo também causar constrição do cordão umbil ica l.

TROMBOSE DE VASOS COR IÔN ICOS

Resulta de compressão, inflamação e o utros meca nis-


mos menos conhecidos, quase sempre com acometimen-
I
Figura 20.3 Corioamnionite aguda. Supertfcie fe tal to feta l de gravidade variável. Os vasos trombosados são
mostrando perda difusa da transparência e espessamento e dilatados e de consistência rígida, mostrando estrias de
coloração esverdeada do âmnio. Ver Pra11cha Colorida. cor variável, de vermelho-escu ro a bra nco-am arelado, de
acordo com a idade do trombo, ao longo da luz vascu lar.
ÂMNIO NODOSO A trombose de vasos coriônicos (fetais) não causa infarto,
mas oclusão dos vasos tronculares e vilosos, com esclerose
Aparece como numerosos e pequenos nódulos ou placas, e h ipotrofia das vilosidades, aparentes m acroscopicamente
dispostos nasuperflcie do âmnio placentário (Figura 20.4), que como áreas pálidas nas regiões correspondentes.
podem também ser vistos nas membranas e no cordão. Está
presente no oligoidrâm nio e resulta do atrito de partes fetais
com a superfície do â m n io, com esfoliação do epitélio a mn ióti- CISTOS COR IÔ lfCOS
co e de elementos da epiderme fetal e vérnix, que se depositam
sobre o âmnio e se aderem a ele, formando as placas. C istos isolados o u, mais raramente, mú ltiplos na super-
fície fe tal da placenta originam-se de áreas de deposição
de fibrina subcoriônica, com proliferação de células do
trofoblasto intermed iá rio. Contêm líquido seroso amare-
lado ou hemorrágico, frequentemente gelati noso (Figura
20.5). N ão possuem sign ificado clínico-patológico, a não
ser quando associados à trombose subcorial maciça.

Figura 20.4 1Amnio nodoso. Múltiplos nódulos presentes


difusamente na superfície do àmnio em caso de agenesia renal
bilateral. Ver Prancha Colorida.

ROTURA AMN l ÓT ICA

De causa pouco conhecida, pode ser de difícil percepção I


Figura 20.5 C istos coriônicos múltiplos, de conteúdo claro
quando discreta ou formar faixas de âm nio roto - as bridas ou hemorrágico, em caso de crescimento fetal restrito.
ou bandas amnióticas - que envolvem partes fetais. As bri- Ver Prancha Colorida.

Anomalias da Placenta, do Cordão e das Membranas 311


ALTERAÇÕES DA SUPERFÍCIE MATERNA

As alterações mais comuns e de significado variável são


representadas por:
Edema, palidez e fria bi lidade, presentes na placenta
hidrópica;
infartos: são de ocorrência comum e vistos mais fa-
cilmente aos cortes (Figura 20.6). Na superfície ma-
terna, são mais aparentes quando antigos, como áreas
nodulares branco-amarelado, de consistência firme;

Figura 20.7 1 Hematoma retroplacentário. Notar extensa


depressão crateriforme deixada pelo volumoso hematoma
visto ao lado da placenta. Ver Pranc/1(1 Colorida.

ANOMALIAS D[ I NSERÇÃO

As anomalias de inserção são representadas pela inser-


ção marginal (na periferia do disco placentário) e pela inser-
ção velamentosa, quando o cordão se implanta nas mem-
branas c os vasos percorrem trajeto nas mesmas antes de
se inserirem no disco placentário (Figu ra 20.8). O cordão
marginal é associado a aumento discreto no risco de restri-
Figura 20.6 llnfartos placentários recentes (avermelhados) e
ção do crescimento fetal e de natimortalidade. Já a inserção
antigos (brancos), vistos na superfície de corte da placenta cm
velamentosa tem sign ificado patogên ico claro, por ser mais
caso de pré-eclâmpsia/ cclámpsia. Ver Prancha Colorida.
frequente no diabetes materno, tabagismo, idade materna
avançada e em síndromes malformativas7. É causa de hipó-
Hematoma retroplaccntário: expressão morfológica do xia fetal atribuída à compressão do vasos, com trombose
descolamento prematu ro da placenta, apresenta-se como co- subsequente, e de complicações mais graves, como a sua ro-
águlo de volu me e localização variáveis (central ou marginal) tura - especialmente na existência de vasa previa, levando à
aderido àsuperfície e que, ao ser retirado, deixa depressão crate- perda sanguínea fetal, potencialmente catastrófica.
riforme (Figura 20.7), onde, em geral o parênquima apresenta-
se infartado. Tem cor vermelho-escuro quando recente e ama-
relada quando antigo, da mesma forma que o infarto adjacente.
Calcificações: são muito comuns, aparecendo como pe-
quenas irregu laridades endurecidas e brancacentas como giz,
em quantidade variável. Não têm significado clínico e costu-
ma m representar apenas um sinal de maturidade placentária.

ALTERAÇÕES DO CORDÃO UMBILICAL

Considera-se que o comprimento do cordão tem rela-


ção com a intensidade dos movimentos fetais no útero é Figura 20.8 I Inserção velamentosa. O cordão se insere a
de aproximadamente 50 cm na gestação a termo. O cor- alguns centímetros da borda placentária c os vasos percorrem
dão umbilical contém três vasos, sendo duas artérias e uma trajeto nas membranas antes de alcançar o disco placentário.
veia, e é recoberto pela geleia de Wharton. Ver Pra11clw Colorida.

312 Noções Práticas de Obstetrícia


COMPRIME TO A 1 0R~lAL através da geleia. Está presente em infecções bacte-
rianas por via amniótica ou hematogênica, como na
Cordões curtos (menores que 35 cm no feto a termo) sífi lis (ver adiante);
são vistos cm condições associadas à baixa movimenta- impregnação meconial: pode ser acentuada no cor-
ção fetal c, mais raramente, como parte de malformações dão, com alteração da cor, de fo rma semel hante à
complexas, a chamada anomalia do body stalk ou sínd rome que ocorre com as membranas. É causa de vaso-
do cordão curto, quando mede lO c m ou menos. Cordões constrição e, quando prolongada, de lesões dege-
muito longos favorecem o apareci mento de circulares, nós, nerativas das células musculares da ca mada média
prolapso ou entrelaçamento em gêmeos monocoriônicos dos vasos umbi licais, com repercussões fetais que
monoamnióticos. ós verdadeiros podem ter importância podem ser graves.
na morbimorta lidade quando apertados o su ficie nte para
causa r compressão vascular, o que deixa sinais macroscó-
picos (edema, trombose, estreitamento). PLACENTA GEMELAR

A mo rbidadc c a mortalidade pcrinatal são m ais ele-


ToRçÃo ExcnssrvA E CoNSTRiçõ ~.:s vadas nas gestações gemclares, comparadas com as gesta-
ções únicas, sendo mais im portantes nas monocoriônicas,
São raras, mas podem estar associadas à m orte fetal, devido à possibilidade de síndrome de tran sfusão feto-fe-
especialmente as con strições localizadas a 3 cm ou me- tal (mo rtal idade de a té 70 %), bem como a com plicações
nos d a ext rem idade fe tal. Deve-se procurar por ba ndas relacionadas com inserção a norma l do cordão e à maior
amnióticas. incidencia de corioamnionite.
Além da observação das alterações já comentadas, a
placenta gemelar deve ser examinada pelas razões citadas
A 1T I RA('()Fs no<; VAs os UM HI LI CAI S a segu ir.

Artéria lllllbilical única: presente em 1% das gesta-


ções. Apesar de seu achado isolado não indicar CARAL 'If: R IZ A(,ÃO Di\ ZIGO\ID.\ DI:-
risco fetal aumentado, é encontrada mais frequen-
temente quando existem malformações fetais; As placentas monocoriônicas são características de
também mostra frequência aumentada no diabetes gêmeos monozigóticos. Entretanto, quase 1/ 3 dos gêmeos
materno, especialmente em mulheres que desen- monozigotos tem placentas dicoriônicas, fundidas ou se-
volvem acidose, e nas placentas gcmclares; paradas. Exa me por transiluminaçào do septo de membra-
trombose, edema, hemorragias: trombose isolada é nas que divide as bolsas, bem como a inserção vclamentosa
rara, mas pode estar associada à compressão vascu- do cordão, orientam na caracterização da placenta mono-
lar; edema da geleia é comum no diabetes e cm pla- coriô nica?
centas hidrópicas e seu significado é desconhecido;
hemorragias perivasculares surgem comumente
durante a extração e não tem sign ificado. É impor- lDEI':TIII A<,:ÃO DEANAST0\1()<;('<, VA'\<... U L\RE~
tante lembrar que procedimentos invasivos, como a
cordoccntcsc, podem se complica r com trombose e Em geral presentes nas placentas monocoriônicas, as
hemorragias do cordão; a nastomoscs vasculares são mu ito frequentes, mas clinica-
fimiwlite 011 junisife: a infla m ação dos vasos umbi li- mente importantes apenas quando resultam na "sínd rome
cais, especialmente quando intensa c acompanha- de tra nsfusão fe to-fetal", obscrvJda de forma clássica na
da de necrose - funiculite nccrosantc - ,pode ser existência de a nastomoses artério-venosas. A o bservação
identificada macroscopica mente como acentuado de anastomoses é obtid a da injeção de ar ou de substâncias
espessamento esbranquiçado dos vasos, visíveis corantes durante o exa me d a placenta fresca.

Anomalias da Placenta. do Cordão e das Membranas 313


PRINCIPAIS ALTERAÇÕES ou mais do volume placentário e pri ncipalmente se
PATOGÊNICAS DA PLACENTA são centrais e extensos, são fortemente associados à
morbidade perinatal, com restrição do crescimento
A placenta reage às agressões com respostas nem sem- intrauterino, hipóxia fetal e óbito;
pre específicas do ponto de vista etiológico e algumas de
.·,
suas alterações patogênicas são ainda pouco conhecidas
em sua gênese e seu significado. Como a placenta se de-
.·,
senvolve continuamente e se modilica com a ocorrência da "
morte e retenção do concepto, a avaliação da normalidade '• '•
\. I

e a diferenciação com alterações patogénicas são, por vezes, ' .


dificultadas nesses casos. As principais condições que afe-
tarn a placenta e que são causa de doença ou morte peri na-
tal podem ser agrupadas nas categorias descritas a segui r.

ALTERAÇÕES VASCULARES . -
~
São decorrência de distú rbios tanto na área de circula- Figura 20.9J Arteriopatia decidual. Microfotografia de corte
ção do sangue materno - vasos útero-placentários e espaço histológico de leito placentário em caso de pré-eclâmpsia, mos-
interviloso - quanto em vasos fetais (coriônicos) ou, ainda, trando necrose fi brinóide e macrólãgos espumosos na parede
relacionados a edema do parênqu ima viloso. de arteríola cspiralada. \ler prmrclra f'rclllclra colorida.

hematoma retroplacentário: apresenta-se clinicamente


VASO.) M ATER NOS E ES PAÇO I NTERVJ LOSO como descolamento prematuro da placenta (DPP)
e é três vezes mais frequente na pré-edãmpsia/
Arteriopatia decidual: lesão descrita originalmente na eclâmpsia, origi nando-se de rot ura de vasos da decí-
pré-eclãmpsia/ eclãmpsia e na hipertensão crôni- dua. Em 1/ 3 dos casos, não há DPP clínico e o inver-
ca, é vista também cm doenças de base imunitária, so pode ocorrer. Foi descrito, ainda, em associação
como o lúpus eriternatoso e a síndrome de anticor- com uso de cocaína em forma de crack e trauma. É
pos antifosfolípides. Acomete arteríolas do leito pla- fato r de hipóxia fetal, especialmente quando associ,\-
centário ou da decídua capsular, não modificadas do à doença vascular, e causa direta de óbito, quando
pela invasão do trofoblasto, e caracteriza-se por volumoso e de localização central;
necrose fi brinoide da parede arteriolar e presença trombose do espaço intervi/aso: recente ou antiga, é
de macrófagos contendo lipídios (Figura 20.9). Está lesão comu m, de causa não inteiramente conheci-
associada a crescimento intrauterino restrito e perda da, sendo mais frequente em casos de incompati-
fetal, por alteração da per fusão placentária, c mostra bilidade sanguínea (R h ou A BO) e pré-eclâmpsia/
correlação com alterações da dopplervclocimetria cclâmpsia. O trombo é composto de mistura de
de artérias uteri nas maternas na pré-eclâmpsiaY sangue fetal e materno. Tem, em geral, pouca im-
lnjartos: ocorrem em gravidezes não complicadas, portância clinica, exccto quando se relaciona à he-
mas estão presentes caracteristicamente nas condi- morragia feto-materna (transplacentária), que pode
ções associadas à doença vascular útero-placentá- causar anemia fetal, arritmias, hidropisia, isoimu ni-
ria, corno a pré-eclâmpsia/eclâmpsia, a hipertensão zação materna e óbito fetal;
essencial, o diabetes e o lúpus eritematoso sistémi- trombose subcoriônica: foi considerada anteriormen-
co. Ocorrem sempre em consequência a isquemia te uma alteração secundária à morte fetal, por ser
por interrupção ou redução do suprimento sanguí- vista quase sempre em abortos de segundo tri mes-
neo pelos vasos maternos. Quando envolvem I 0% tre e cm natimortos, por vezes de forma maciça, for-

314 Noções Práticas de Obstetrícia


mando a chamada "mola" de Breus. Hoje se adm ite intraútero, mas, por alguns autores, considerada even-
que possa ser a causa da morte, por ser encontrada, to secundário ou terminal. Parece estar relacionada
e mbora raramente, em nativivos (geralmente as- a condições que aumentam a pressão transmural, em
sociada a outras alterações na placenta) e no parto eventos como compressão ou trombose de vasos um-
pré-termo com morbidade perinatah bilicais, observando-se lesão endotelial, extravasamen-
deposição deJibrina perivilosa: está presente em até 22% to de hemácias e alterações vilositárias subsequentes.''
das placentas a termo. D e patogénese pouco conhe-
cida, pa rece mais relacionada a turbulência, estase
c trombose do espaço interviloso do que a doença EDEMA
vascular útero-placentária. Relaciona-se à restrição
do crescimento intrauterino,8 em geral quando aco- Edema das vilosidades coriônicas, difuso ou em áreas lo-
mete ma is de 30% da área placentária. Deposição calizadas, pode ser encontrado no diabetes, incompatibilida-
de fibrina perivilosa difusa e cordão umbilical mui- de R h c processos inflamatórios (vilosites) associados a infec-
to longo são comumente associados c sua principal ções. A placenta hidrópica, com edema generalizado, em geral
consequência é o tra nstorno no fluxo do sangue m a- acompanha a hidropisia fetal, qualquer que seja a sua causa.
terno no espaço interviloso; Entre os mecanismos de morte fetal relacionada ao edema vi-
''ilifarto" do assoalho materno: causa já estabelecida de loso, estão a redução do fluxo de sangue materno no espaço
perda fetal e morte perinatal, além de crescimento interviloso e a compressão dos capilares vilosos exercida pelo
intrauteri no restrito, impropriamente denominado aumento da pressão hidrostática no estroma dos vilos.
"infarto" do assoal ho materno (deposição de fibrina
no assoalho materno), é condição rara e de etiologia
ALTERAÇÕES DA MATURAÇÃO E
obscu ra, provavelmente relacionada a causas imu-
DIFERENCIAÇÃO VILOSAS
nológicas, embora arteriopatia decídua! possa estar
presente. Apresenta risco significativo de recorrência
cm gestações subsequentes. MATURAÇÃO V I LOSAACELERADA

"Aceleração do amadurecimento" das vilosidades cori-


VASOS FETAIS (COR IÔ ICOS) ónicas é observada na doença vascu lar útero-placentária,
como na h ipertensão arterial crónica ou pré-eclâmpsia.
Trombose: apresenta mais frequência em casos de dia- Representa, de fato, resposta adaptativa à hipoxemia vilo-
betes materno e para a lgu ns autores é considerada sa crônica e tentativa (na verdade ineficaz) de aumento da
elemento d iagnóstico da doença.10 Pode ta mbém re- superfície vilosa de trocas, qua ndo, juntamente com a re-
presentar extensão de trombose de vaso umbilical. É dução do tama nho dos vi los e aumento do número de nós
causa de morbidade e mortalidade quando compro- si nciciais, observa m-se espessa mento da membra na basal
mete extensão significativa do leito vascular (SO%),na trofoblástica e h iperplasia do citotrofoblasto. Correlacio-
ausência de outras lesões placentárias importantes; na-se com crescimento intrauteri no restrito e óbito fetal.
corioangiose: número aumentado de capilares vilo-
sos (mais de 10 vasos, em 10 ou mais vilos por 10
campos microscópicos em aumento de lO vezes). É RETARDO NA MATURAÇÃO YILOSA
associada a diabetes materno, hipóxia fetal crônica e
lesões inflamatórias e parece representar hiperplasia Presente em condições diversas como diabetes mater-
vascular compensatória.' ' A extensão do acometi- no, infecções como a sífi lis, anem ia ou insuficiência cardí-
mento viloso varia e pode se relacionar com morbi- aca fetal e na hidropisia imune e não imu ne, pode também
dade perinatal. Não raro se associa a corioangioma; ser observada em natimortos pré-termo ou a termo, sem
endovasculopatia hemorrágiw: lesão não inflamatória, de causa explicável. Quando d ifusa, é considerada responsá-
significado e origem incertos, associada à morte fetal vel por hipóxia fetal.

Anomalias da Placenta, do Cordão e das Membranas 315


Ol~MATURIDAOE V I LOSA de infecção neonatal (pneumonia, otite média, meningite),
sepse e óbito perinatal.
Termo usado para definir padrão irregular de matura-
ção que, em gerat ocorre de forma difusa, encontrando-se
diferentes fases de maturação vilosa em áreas adjacentes. É
frequentemente observada nas inflamações e em placentas
de fetos portadores de cromossomopatias, como a trisso-
mia do cromossoma 18.

ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS

CO RIOAMN IONITEAGUDA
Figura 20.10 I Cordão umbilical na infecção por Car!dida
Na maioria das vezes, é associada a infecções bac te- albicans. o ta r pontilhado esbranquiçado na superfície.
rianas ascendentes, também chamadas transam nióticas, Ver Pm11clza Colorida.
que atingem a cavidade amniótica via canal cervical, com
membranas rotas ou aparentemente íntegras. A rotura das V I LOSIT!o
membranas pode se dar já na vigência de inflamação das
mesmas e está relacionada a fatores ainda pouco desvenda- Infl.1mação focal ou difusa do parênquima viloso é
dos, entre eles a ação da fibronectina, de prostaglandinas e frequentemente indicação de infecção hematogênica, tam-
o equilíbrio entre as proteases leucocitárias e bacterianas. bém chamada transplacentária, que atinge a placenta pelo
A corioamnionite é causada por várias bactéri as anacróbi- espaço interviloso e causa inflamação das vilosidades cori-
cas e aeróbicas, sendo mais frequente a infecção por ente- ônicas, de intensidade e morfologia que podem variar con-
robactérias, Staphylococcus coagulase-positivos, Esdrerichia fo rme o agente infeccioso e a fase da infecção. No entanto,
coli, fuso bactérias e Neisseria go11orrlroeae. Streptococws a maioria das inflamações crónicas de vilosidades observa-
beta-hemolíticas do grupo B são causa de pneumonia ne- das na prática cotidia na do patologista representa processos
onatal grave. Ultimamente, tem sido mais diagnosticada a de natureza não infecciosa (vilosite crônica de etiologia não
in fecção por Mycoplasma hominis, Chlamydia trachomalis e determ inada).
Ureaplasma urealiticum. A Listeria mo11ocytogenes é respon- Em vá rias vilosites infecciosas, o aspecto histológico
sável por infecções tanto ascendentes quanto por via he- pode ser muito semelhante (proliferativa, nccrótica, repa-
matogênica. Além de bactérias, a corioamnio nite também rativa, fibrosante) e o agente etiológico não é detectado, o
pode ser causada por vírus (herpesvírus) e fungos como a que leva à necessidade do uso de métodos como cultura,
Candida sp, quando os focos inflamatórios aparecem ma- inoculação animal, microscopia eletrônica c técnicas de
croscopicamente como um pontil hado esbranquiçado na biologia molecul ar. 12
superfície fetal das membranas e, mais caracteristicamen- Os agentes etiológicos podem ser vírus (citomega-
te, do cordão umbi lical (Figura 20. 10). lovírus, rubéola, parvovírus 819, HI V, herpes simplex),
A corioa rnnionitc aguda caracteri za-se microscopica- bactérias (Treponema pallidum, Listeria monocytogenes)
mente por infiltrado inflamatório de polimorfonucleares e protozoários (Toxopla sma gorrdii, todas as espécies de
neutrófi los no âmnio e no córion, de intensidade vari ável, Plasmodium nas áreas endêmicas de malária e o Trypa-
podendo se acompanhar de necrose, m icroabscessos e vas- nosoma cmzi) (Figura 20.11). Na infecção por Listeria
culite, com trombose. Os agentes microbianos nem sem- ocorrem vilosite e intervilosite agudas, com tendência 3
pre são visíveis, mas podem ser faci lmente encontrados, formação de abscessos que podem ser vistos m acroscopi-
como no caso da Listeria, vista no epitélio amniótico. camente apenas na superfície de corte da placenta. Ainda
Seu significado clínico é de gravidade variável, sendo na infecção por Listeria, bem como por Treponema e por
causa frequente de aborto tardio c de prematuridade, além certos vírus, a vilosite acompanha-se de corioamnionite;

316 Noções Práticas de Obstetricia


e na sífilis e em outra infecções, de funicul ite necrosante, NEOPLASIAS PRIMÁRIAS
rica ern e~ pi roque ta .
EOPLA. IAS TROFO BLÁ TICAS

Segundo a classificação da Organização Mundial de


Saúde (ver capítu lo 17 - Hemorragia na Pri meira Metade
da Gravidez), o termo "doença trofoblá tica gestacional"
compreende, entre outras lesões, dois produto patogêni-
co da concepção (a mola hidatiforme completa e a mola
hidati formc parcial) e duas neoplasias (o coriocarcinoma,
tumor nuligno c o tu mor trofoblástico do sítio placentário,
que pode e r benigno ou maligno). Embora d istin tas na sua
origem c genética, serão consideradas em conjunto neste
tópico, por se tratar de entidades relacionadas do ponto de
vista biológico c clínico. A abordagem será estritamente
Figura 20.11 I Vilosite crônica de tipo granulomatoso em
morfológica, devendo-se sempre ressaltar que o diagnósti-
infecção chagásica congênit,\.
co não vai depender apenas do patologi ta, ma da atuação
conjunta c do diálogo entre o patologista c o clínico.
Nas infecções hcmatogênicas, o aspecto macroscópico
da placenta pode ser apa rentemente normal, especialmente
se o recém-na ciclo for as intom:ítico ou oligo intomático. MOLA (( J0,\1 l i'OR~II::.CO t PU.TA
as infecçõe mais grave , aumento de pe o c tamanho, hi-
potransparência da upcrfícic fetal e friabilidade e edema da Resul ta, na maioria das vezes, de um erro de fertilização
face materna ou hidropisia franca costumam estar presen- no qual um cspcrmatozoide X fertiliza um óvulo "vazio"
tes, bem como a fu niculite, em algunu infecções. - desprovido de genoma - e duplica, sendo, portanto, um
A morbidade e a mortalidade fetal c perinatal, diante produto de origem genética exclusivamente paterna, andro-
de vilo ite infcccio a, ão mai relacion:~das à infecção fetal genética. este tipo de erro, verifica-se perda muito precoce
i têmica, embora o grau de comprometimento da placen- do embrião c a placenta desenvolve alteraçõe características
ta po sa inAuir nas troca g:~ osas c na nutrição fetal. que, atualmcnte, graças ao avanço da técnicas de biologia
O ut ras in fecções que mais r:~ ramcn te podem atingir molecular, já são reconhecida em fase inicial. As vilosidade
a placent,\ por via sanguínea são o s.\rarnpo, a caxumba, coriônicas perdem os vasos e apresentam edema progre sivo
lcish maniose visceral, esquistossornose, brucelose, hanse- do estronu, ao lado de proliferação do trofoblasto, responsável
nía e, tuberculose e criptococo c.12 pela produção de níveis elevados de gonadotrofina coriônica.
A mola hidatiforme completa, plenamente de envolvida,
é con tituída por vc ícula de cerca de 1,0 a 1,5 cm de diâme-
V t LOSI I"I::.S DI:. CAUSA IJ\0 l l I H .. <..IO'>A tro, de parede fina e tran parente, preenchida por líquido
claro e unidas por ha te fi nas, formando uma massa volu-
Também denominada vilo ite crónicas de etiologia não mosa que ocupa a cavidade uterina, não se individualizando
determinada. ão cornumente vista na prática, com incidên- embrião, membranas e cordão um bilical (Figura 20.12). As
cia que vJria de 6 a 26%, de acordo com nível de amostragem vesículas correspondem microscopicamente a vilosidades
de tecido das placentas examinadas, c só devem ser assi m coriônicas intensamente expandidas por edema, com a
denominadas quando inexistir infecção hematogên ica. 11 Sua formação de cavidades, ou cisternas, ci rcundada por faixa
etiologia é muito discutida, com evidências que favorecem de cstroma avascular. O reve timento trofoblástico mostra
mecanismos imunes maternos contra tecidos fetais. t asso- proliferação de intensidade variável, que no pa ado recebeu
ciada :1 crc cimento intrauterino restrito e natimortalidadc, elas ificação em graus, con iderada, então, de importância
quando compromete área vilosa significativa.8 prognóstica, que atual mente não é mais utilizada.

Anomalias da Placenta, do Cordão e das Membranas 317


para exa me; além disso, quanto mais precoce a morte do
embrião, menos modificações sugestivas são encontradas
na placenta. Estas estão presentes mais frequentemente
quando o embrião malformado ultrapassa oito a nove se-
ma nas de gestação e são caracterizadas por edema vi lo o
va riável e irregular, com formação parcial de vesículas, fi-
brose do estroma, contorno irregular dos vi los e inclusões
de sincício e de citotrofoblasto no estroma vi loso. Prolife-
ração trofoblástica, quando presente, é, em geral, discreta.

Figura 20.121 Mola hidatifom1e completa. Peça de histe- COR l OCA RC I OM A

rectomia, com a cavidade uterina preenchida por massa de


vesículas de conteúdo claro. Ausência de feto, membranas e É a neoplasia maligna trofoblástica mais conhecida,
cordão umbilical. Ver Prancha Colorida. em geral precedida de mola hidatiforme completa, em-
bora possa se originar de qualquer tipo de gravidez, tendo
MOLA I VASORA sido, inclusive, descrita como originada em placentas a
termow· 15 Caracteriza-se macroscopicamente por tumor
Recebe essa denominação a mola hidatiforme que in- sólido, extensamente necrótico e hemorrágico, vi to no
filtra o miométrio - como uma placenta acreta - ou que útero como massa polipoide que se projeta na cavidade e
apresenta localização extrautcrina, geral mente intravascu- infiltra a parede. Histologicamente, é constituído por uma
lar, mais raramente em órgãos distantes, como pulmões e população celular bifásica ou bimorfa, de citotrofoblasto
cérebro. Os mesmos critérios morfológicos da mola com- ou trofoblasto intermediário e sinciciotrofoblasto, sem vi-
pleta se aplicam para o diagnóstico da mola invasora, o losidades coriônicas. A análise genética mostra geral mente
qual só é feito pelo anatomopatologista em exame de peça população celular diploide c auxi lia na determinação da
de histerectomia ou de outro espécime cirúrgico. Em caso origem do tumor, se de mola hidati forme ou de outro tipo
de doença trofoblástica ge tacional persistente, as vilosida- de gravidez e se de origem gestacional ou não.
des coriônicas com alterações molares no material de cure- Metástases acontecem mais comumente para os pul-
tagem uterina distinguem a mola invasora do coriocarci- mões, considerados o pri mei ro sítio de dissemi nação he-
noma, mas não é suficiente para a caracterização do caráter matogên ica, para o cérebro e a vagi na, podendo também
invasivo da lesão. estar presentes em outras local izações, como fígado e rins.

MOLA HIDATIFORM E PARCI A L T UMOR DO SíT IO PLA CFNT.Í.RIO

É considerada at ualmente a doença trofoblástica ges- Constitui forma rara de doença trofoblástica gestacio-
tacional mais comum e se forma geralmente a partir de nal e foi descrito em 1976 com o nome de "pseudotumor
um concepto triploide, de origem diàndrica, ou seja, de trofoblástico".16 Origina-se do trofoblasto intermediário e
um erro de fertilização em que um óvulo é fertilizado por é antecedido, em geral, por gravidez a termo, podendo se
dois espermatozoides. 14 Neste caso, desenvolve-se um manifestar até vários anos depois, tendo sido relatado em
embrião com anomalias variáveis, as quais, ju ntamente qualquer idade do período reprodutivo. Na maioria dos
com as alterações observadas na placenta, podem formar casos, tem comportamento benigno, mas metástases são
um quadro morfológico que indica o diagnóstico de tri- relatadas em lO a 15% dos casos. 1s O tumor cresce como
ploidia, na impossibilidade de realização de cariótipo. Na pólipo na cavidade uterina, mas também pode ser visto
maioria das vezes, no entanto, o embrião é perd ido pre- como massa intramiometrial expansiva ou infiltrando-se
cocemente c apenas restos autolisados estão disponíveis no miométrio difusamente. É constituído por ninhos de

318 Noções Práticas de Obst etríc ia


trofoblasto mo no nuclear o u ocasionalmente multi nucle- São muito raros no cordão umbilicat onde crescem na
ado, que se infiltram nos feixes de músculo liso e que cir- espessura da geleia ou fo rmam massas ped iculadas.
cundam e invadem a parede de vasos, com deposição de No feto, os principais efeitos do shunt sa nguíneo em co-
material fi brinoide, imita ndo o comportamento do trofo- rioangiom as sinusoidais são no tados no caso dos tumores
blasto intermed iá rio do leito placentário. Em espécimes de gra ndes, de até 7,0 cm de diâmetro, ou nos meno res e m ú l-
cu retagem, o diagnóstico pode ser difíci l e o diagnóstico tiplos, sendo causa de po lid râm nio, insu fic iência card íaca,
difere ncial deve ser feito com a chamada" reação exagerada hidropisia, anemia, sequestro de plaque tas, hipertro fia Cl.r-
do ítio placentário". díaca c hipoalbuminem ia neonata l.

N I:O I' LAS IAS NÃO T ROrül3LÁST ICAS NEOPLASIAS METASTÁTICAS

O tumo r primário não trofoblástico ma is comum na pla- Em bora a placenta seja alvo potencial da d issem ina-
centa é o corioangioma (hemangioma, ham;1rto ma vascular), ção, po r via sangu ínea, de neoplasias a partir de dois or-
cuja incidência méd ia é de l:1.194 gestações, com acentuada ganismos, materno e fetal, tumores metastáticos não são
va riação nos diversos relatos, de acordo com a amostragem do comuns, por se tratar de g rupos e tá rios o nde os tumo res
parênqu ima placcntário. 1i Único (8S% dos casos) ou múltiplos malig nos são incomun s. Vale també m observar q ue é a in-
(dois a quatro tumo res), os corioangiomas podem apresentar da mais ra ro o encontro de metástases placentá rias no seu
d imensões que variam de microscópicas a volumosas e, quan- conceito mais estrito, ou seja, o da colonização c infi lt ração
do suficientemente grandes, podem ser vistos à ultrassonogra- do parênquima do órgão. A m aioria dos relatos e refere a
fia como massas nodulares hipoecoicas. êmbolos neoplásicos no espaço intcrvi loso ou na luz deva-
São tumo res benignos, em geral sólidos, fo rmados pela sos coriô nicos c intravilosos.
proliferação de ca nais vasculares - capilares, sinusoida is
ou cave rno o - em meio a tecido conju nt ivo c estão pre-
sentes predominantemente no disco placentá rio, nas se- TU MO RES Dr ÜR IGE M FETAL
gui ntes loca lizações:
parenquimatosa: na espessura do parênquim a, geral- O tumor sólido maligno congênito mais comum é o
mente cm posição central; neuroblasto ma, mas o nú mero de relatos de metástases
margir1al: na borda placentária, c rescendo em d ire- placentá rias é baixo.18 Na placenta, o tu mor é visto à m i-
ção ao centro; croscopia, in fi ltrando-se no estrema d as vi losidades c na
litord11ea: na placa coriô nica, faze ndo protrusão na luz de capilares vi losos. Associam-se comumente hid ropi-
superfície amn iótica (Figura 20. 13). sia fetal e placentária à doença neonatal gene ralizada, por
vezes diagnosticada pelo exame d a placenta. 18
M a is raramente a inda, são relatados casos de d issem i-
nação placentá ria de hepato blasto ma fe tal e de terato ma
intracrania no.
N as leucem ias congênitas, d eve ser feito d iagnóstico
d iferencial com neuroblastomatose intravascular e eritro-
blastose feta l (doença hemolítica do recém -nascido).

TuM OR ES DE ÜRIG EM M AT ERNA

Figura 20.131 Corangioma de localização litorânea, fazendo Os tumores malignos sólidos m aternos mais freq uen-
proeminência na superfície fetal - placenta fixada. Ver Prclllclw te mente encontrados na placenta são o câncer d a m a ma,
Colorida. do pulmão e o melano ma. O mela no m a é o tu mor ma-

Anomalias da Placenta, do Cordão e das Membranas 319


8. Oliveira LH, Xavier CC, Lana AMA. Alterações morfoló-
!igno quem:üs comumenteformaverdadeiras metástases gicas placentárias de recém-nascidos pequenos para a idade
placentárias e o único que comprovadamente se disse- gestacional. J Pediatr. 2002;78:397-402.
mina para o feto, com mortalidade elevada. Uma revisão 9. Aguia r RALP. Associação entre a incisura bilateral das arté-
da literatura mostra risco fe tal de 22% quando a placenta rias uterinas maternas ao exame pelo Dopplcr e a histologia
do leito placentário [tese de doutorado]. Belo H orizonte:
está acometida.19
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas
Outras neoplasias que podem fo rmar êmbolos para o Gerais; 2000. 122 p.
espaço interviloso são o carcinoma hepatocelular e o carci- lO. Benirschkc K, Kaufmann P. Pathology ofthe human placen-
noma gástrico, que podem ser visíveis macroscopicamente ta. New York: Springer-Verlag; 1995.
como nódulos brancacentos na superfície de corte, se adis- II. Redli ne RW. Disorders of the Placenta! Parenchyma. ln:
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York: Churchill Livingstone lnc; 1999. p.I -26.

320 Noções Práticas de Obstet rícia


21 Parto Pré-termo
Mário Di a Corrêa júnio r

Conceito Fisiopatologia
Incidência Predição do Risco de Parto Pré-termo
Etiologia Anarnnese
Fatores D e mográficos Exam e Físico
Hábitos se Vida Registro G ráfico daAtividade Ute rina
Condi ções Socioeconô micas e Culturais Alterações dos Marcadores Bioquimi cos
Antecedentes G ine cológicos Ultrassonografia E ndovaginal
Antecedentes O bstétricos Conduta
lntercorrências Gestacionais P rimeira Et apa - P revenção do Parto Pré-termo
Fatores Assistenciais Segunda Etap a - Inibição do Parto Pré-termo
Fatores latrogê nicos Terceira Etap a - Condução do Parto Pré-termo

prematu rid ade, mesmo com os significativos so país, é mais d ifícil, exige equipe méd ica mais prep arada,

A ava nços científicos e tecnológico ocorridos nas


últimas décadas, persiste como grande problema
médico, hum ano e ocial: um imenso desafio. Suas ta xas
é muito mais onero o e os resu ltados são insatisfatórios e
mu ito aqué m do desejado. Sua perma nência no ho pita! é
prolo ngada e d ispendiosa. Após sua alta, ele continua exi-
permanecem ainda elevadas em todo o mu ndo. gindo cuidado especiais e, não raro, reinternações. No ano
A prematuridade é a inda a maior causa de morbidade e de 2005, foram gastos aproxi madamente 26 bilhões de Dó-
mo rtal idade perinata l, sendo responsável por aproxim ada- la res em c uidados com p rematuros nos EUA (5 1.600 Dó-
mente 75% dos óbito ne e perfodo. 1 la res por criança), o que corresponde a aproxi m ada mente
Ressalta-se, ainda, que as implicações da prematuri- 50% de todos os gastos com saúde d a cria nça. 2
dade não c restringem às suas repercussões imediatas - Por tudo isso, teme-se a prem atu ridade; c o gra nde de-
taxas elevadas de morta lidade perinatal - mas continuam safio d a mo derna Obstetrícia é preveni-la.
por muito te mpo, às vezes por tod a a vida: seque las físicas e Aproximadamente 45% dos casos de pre matu ridade de-
mentais permanentes. Cerca de 50% das equelas neu roló- correm de pa rto pré-termo com as membra nas am nióticas
gicas podem ser atribu ídas à prematuridadc.1 íntegras; 30% em consequência de rotura prematura das
O atendimento imediato ao prematu ro, idealmente em membranas amnióticas e em 25% o parto pré-termo é indu-
unidades de terapia intensiva, abidamente escassas no nos- zido, como solução para complicações maternas e/ ou fe tais. 3
Os números demonstram que a principal causa da pre- mas. Aqueles com crescimento intrauterino restrito são os
maturidade é o parto pré-termo espontâneo. que apresentam peso abaixo do esperado, independente-
mente da idade gestacional ao nascer (capítulo 24 - Cres-
cimento lntrauterino Restrito).
CONCEITO A d iferenciação entre esses três grupos é necessária,
considerando-se que as cond utas na gravidez e no parto
A conceituação mais aceita para o parto pré-termo é a são diferen tes, assi m como os resultados perinatais e a evo-
cronológica: idade gestacional em semanas. Por esse crité- lução fu tura.
rio, parto pré-termo é o que acontece a partir de viabilidade Em relação ao parto pré-termo, há de se considerar, ai n-
fetal - 20 semanas para a m aioria, 22 semanas para algu ns da, se ele é espontâ neo ou induzido.
e, enquanto não existir a maturidade fe tal cronológica, ges-
tação inferior a 37 sem anas.
A evolução no atendimento ao recém-nascido prema- INCIDÊNCIA
turo e as d ife renças nos resultados perinatais de acordo
com a idade gestacional ao nascimento têm contribuído Difícil é determ ina r, com segurança, a incidência de
para que se estabeleça uma subdivisão nos partos pré-ter- parto pré-termo. Fato res diversos influem na sua incidên-
mo, da mesma m aneira que já se faz para os recém-nascidos cia: população estudada, qualidade da assistência pré-na-
em relação ao peso. tal, ca racterísticas da instituição onde se real iza a pesquisa,
No que se refere à idade gestacional, Kierse 4 propõe conceituação de parto pré-termo e sua subdivisão em es-
como pontos de corte a 28•, a 32• e a 37• semanas de gesta- pontâneo e induzido.
ção. Assi m, classifica-se com o parto pré-termo o que ocor- As estatísticas revelam alta incidência de partos pré-ter-
re com menos de 37 semanas de gestação, sendo subdivido mo nos países subdesenvolvidos. Na Europa, a taxa se situa
em pré-termo moderado entre 33 e 36 semanas; muito entreS e 9 %. Nos EUA, a incidência da prematu ridade tem
pré-termo entre 28 e 32 semanas incompletas; e pré-termo aumentado nos últimos a nos, tendo passado de 9,5% em
extremo aqueles com menos de 28 semanas ( Figura 21. 1). 198 1 para 12,7% em 2005 2 Parte desse aumento nas taxas
de premat uridade pode ser explicada paradoxalmente pelo
100 . -- - -- -
aumento na tecnologia de cuidados médicos. Técnicas de
90
reprodução assistida aumentam a incidência de gestações
80
múltiplas - fator de alto risco para pa rto pré-termo - os
70
ava nços na monitoração da vitalidade fe tal permitem d iag-
60
nosticar o comprometimento fe tal indicando, muitas ve-
% 50

40
zes, a interrupção antes do termo. Além d isso, a melhoria
30
nos cuidados neonatais encoraja os médicos a interrompe-
- - Mortalidade
20
rem as gestações mais precocemente.
10 Segundo os dados oficiais, no Brasi l, a taxa de prematu-
ridade foi de 6,6% em 2007 e vem se mantendo estável des-
38 40 42 de 20 01 (6,3%). Esses dados devem ser vistos com cautela,
I
Figura 21.1 Morta lidade neonatal X idade gestacional ao pois provavelmente sofrem subnotificação, uma vez que
nascimento (modificado de Mercer).s em várias regiões do país as gestantes têm dificu ldades de
realizar ultrassonografia para confirmar a idade gestacio-
Na conceituação há a necessidade de se considerar tam- nal. Em 2007, a idade gestacional ignorada ao nascimento
bém duas outras categorias de recém-nascidos que, frequen- estava presente em 1,2% de todos os regis tras de nascidos
temente, se confundem com os prematuros: os de baixo vivos no Brasil, enquanto a idade gestacional ignorada
peso ao nascer e os com crescimento intrauterino restrito. no período de 1994 a 1996 era superior a 20%. O exame
Usa-se o critério ponderai peso ao nascer para concei- dos dados relativos ao peso revela que, em 2007, 8,2% dos
tuar o recém- nascido de baixo peso: entre SOO e 2.500 gra- 2 .891.328 nascidos vivos registrados no Brasil tinham peso

322 Noções Práticas de Obstetrícia


inferior a 2.500 g (sem diferenciar por prematuridade ou culas sinalizadoras, existentes dentro do tecido uterino.
C IUR) o que corresponde a 236.957 RNs. Em 1994, a taxa Predomina a ideia de que fatores produzidos localmente,
de R de baixo pc o era de 7,4% (Figura 21.2).6 dentro da placenta, da membranas fetais e do útero, em
conjunto com sinai não identificado do feto, atuam de
maneira complexa, porém coordenada, para iniciar a par-
turição a termo. A questão, no enta nto, permanece. Éo par-
6
5
to pré-termo o re ·ultado da ativaçâo precoce do processo
Taxa
%4 normal de indução do parto ou é devido a acontecimentos
3 fi iopatológico que pertu rbam o delicado equil íbrio c pre-
1 cipitam o parto a partir de mecanismos anormais?10
0 ~,--r~--~--~--r--r~--.-,-~--~ Dizon-Tow nson e Wards11 admitem predisposição ge-
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2!XXI 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
nética para o parto pré-termo e apre cntam como argumen-
- Ba1xopeso
- Premawros to em favor de sa hipótese o fato de que o parto pré-termo
Figura 21.21 Taxa (%) de nascidos vivos prematuros e de pode se repeti r. Esse risco aumenta sign ificativamente
baixo pc o no Br,tsil (1994-2007). quando já aconteceram dois ou mais partos pré-termo. Há
tendência fam iliar: filha de mães com parto pré-termo têm
Revisão de todos os últimos estudos brasileiros sobre a alto risco- duas vezes mais frequente na raça negra e há ten-
incidência da prematuridade mostrou aumento das taxas de dência a se repetir na mesma idade gestacional.
parto pré-termo no país, variando de 3,4 a IS%entre 1978 e Aceita-se, também, que processos infecciosos sejam
2004 nas regiões ui e Sudeste. o Nordeste as taxas varia- rcsponsávei por elevado número de partos pré-termo.
ram entre 3,8%e 10,2%entre 1984 e 1998, respectivamente." Muitos e tudo demon tram infecçõe intrautcrinas, sub-
clínicas, em pacientes que tiveram parto pré-termo.
Lettierc e/ a/.,12 analisando a etiologia de 50 parto pré-
ETIOLOGIA termo espontâneos, encontraram causas para expl icá-los
cm 96% do ca os, sendo que em mais da metade existiam
Numerosas hipóteses já foram aventadas, elevado nú- duas ou mais causas possíveis.
mero de pesquisas continua acontecendo, visando decifrar Segundo Milner e Enkin, identificam-se muitos fatore
o en igma do parto pré-termo, o que leva ao início prematu- de risco de parto pré-termo, porém a separação daquele
ro da contrações uterinas. que real mente podem determ iná-lo e dos que a ele estão
Acredita-se que vá rios fatores atucm sinergicamente ligados apenas indiretamcnte ainda não é possível e, prova-
fazendo com que as contraçõcs uterinas improdutivas, velmente, jamais o será. 13
presentes dura nte toda a ge tação, se tornem produtivas, Ressalte-se, ai nda, que existem fatores de risco que con-
determi nando a dilatação cervical e a expulsão do feto. tribuem para o parto pré-termo espontâneo c outros para o
O parto pré-termo espontâneo é doença multifa- induzido. este, o reconhecimento do fator de risco é mai
torial, mais do que um problema com múltiplas causas fácil: são problemas maternos ou feta i que exigem a inter-
indepcndcntes. 8 rupção antecipada da gr:widez.
Apesar da etiologia do parto pré-termo er multifato- Não se conhecendo exatamente a etiologia do parto
rial, parece necessária a existência de um camin ho comum pré-termo e ·pontàneo, a olução encontrada para c tcnt.tr
fi nal. Esse caminho envolve reversão da relação entre o es- sua prevenção é valorizar o chamado fatore de risco: pro-
trogênio c a progesterona. Dessa reversão resultam nu me- blemas já existentes ou que e man ifest:tm durante a gravi-
rosa muda nças-chave neces árias antes do parto a termo dez e que frequentemente se associam a essa complicação
e pré-termo. Essas mudanças ão bem-caracterizadas na ob tétrica.
espécie animal e, não tão bem, na espécie humana, porque Da extensa lista de fatores de ri co de parto pré-ter-
nesta não se pode investigar diretamcnte.9 mo encontrados na literatura sobre o assunto, relacio-
A parturiçâo humana caracteriza-se pela participação nam-se no Q uad ro 2 1.1 os que apresentaram associação
complexa de fatore autócrinos e parácrinos e de molé- estatística.

Parto Pré-termo 323


QJJadro 2 1.1 I fatore de risco estatisticamente a ociado ao parto pré-termo
F,i\ur dt• Rr~t u OR UL. RR riC95 I Fc~tur rle Rrst u OR u 1r RR 11(95 I

F.l!wes Oemografrcos lrl!ercorre ncrils na gestdÇdO

Idade Materna < 18 anos 1.79 (1.31 -2.46) Sangramento 1' metade 1,83 (1,55-2,161
------~--·------------~----------
Idade Materna > 35 anos 1,35 (1,04·1,751 Sangramento 2" metade 5.44 (4,67-6,341
------------+---------------
Estatura < 148 cm 1.71 (1,02-2,86) Bacteriúria assintomática 1,21 (0,96-1,531
Peso < 45 kg 2.27 (1.23-4,19) Doença periodontal 1.6 (1.1-2.31
------------+--------
Raça negra 1.56 (1,02-2.40) Vaginose bacteriana 1.4 (1 ,1-1,8)
-
Pré-eclampsia 4,12 (3.18-5,321
____________,___
Fumo (10-20 cigarros/dia) 1,18 (1.0-1.39) Hipertensão prévia
----4--------------------------+-
4,06 (2.29-7.221
Fumo (>20 cigarros/dia) 1.39 (1,15-1.70) Gestação múltipla 6.0
Álcool (+ de 7 doses/semana) 1.77 (0.94-3,31)
Hrstorra Obstetrrca Conct rcoes socra rs

Intervalo entre partos < 12 meses 5,13 (1.55-17.1) Evento estressante 2.1 (1 .5-3.0)
Trabalho excessivo (+ de 42 horas por 1,33 (1,1-1,6)
Parto pré-termo anterior 2.45 (1.55-3,89)
semana)
Primigesta 1.29 (1.08·1,55) Trabalho(+ de 6 horas de pé por dia) 1,26 (1,1-1,5)
Paridade ~ 3
Aborto induzido
Abortamento espontaneo
Perda fetal 1.84 (1.34-2.55) Amputação de colo
História familiar de pré-termo (irmã) ' 1,94 (1.26-2.99) Técnicas de reprodução assistida 1,93 (1.36-2.74)
Modificado das referêncras 14 a 24.

O papel de cada um desses fatores de risco é contro- inferior a dois ano . o extremo oposto, pn m1gesta
verso, di cutível, questionável. Este capítulo se limitar,\ a idosa - idade cronológica acima de 35 ,\nos - ão
analisar, sumariame nte, aqueles que a maioria dos estudos mais frequente as malformações fetai , que, não
ad mite como mai prováveis e mais importantes. raro, determi nam parto pré-termo induzido;
raça: muitos afirma m ser o parto pré termo mais fre-
quente cm gestantes da raça ncgr.l, com taxas duas
fAT ORES DEMOGRÁFICOS vezes mai altas do que as da raça branca, mesmo
quando as variáveis sociocconômi as são controla-
Admite-se a innuência de determinadas características da daszs. Em 2006 a taxa de prematuridade no · EUA
gestante na evolução de gravidez e até mesmo na sua duração: foi de 11,496 em caucasiano e de I ,796 cm negros.
Idade: o parto pré-termo é mais frequente nas pri-
migestas muito jovens; idade cronológica inferior a
18 ano . Também a idade ginecológica intervalo HÁBITOS DE VIDA
entre a primeira menstruação e a primeira gravi-
dez - parece interferir. O parto pré-termo é mais O s hábito de vida da mulher antes c durante a gravidez
frequente na pacientes com idade ginecológica repercutem na sua evolução e na sua duração. Estatística-

324 Noções Práticas de Obst etrícia


mente já se demonstrou que o tabagismo1 o alcoolismo1 o mento prematuro da placenta, in uficiência placentária)
u o de determi nadas droga , o trabalho excessivo e esta- contribuem para a antecipação do parto. As doenças siste-
fante contribuem para o parto pré-termo. micas prévias que se agravam na gestação ou, então, doen-
Ati vidade sexual: são conflitantcs as opiniões sobre o ças própria da gravidez, como pré-cclâmp ia c J eclàmp-
assunto. Isoladamente talvez a atividade sexual na gravidez sia, podem determinar o parto pré-termo induzido.
não interfira na sua duraç,io. Pode, contudo, aumentar o Traumatismo e cirurgias na gravidez também contri-
risco quando existe infecção genital. buem par:~ o parto pré-termo. A participação do trau mati -
mo no parto pré-termo depende do tipo, da intensidade c
da regi:io do organismo mJterno atingido. TrJu matismo
CONDIÇÕES SOC IOECONÔMICAS E violento sobre o abdome podem determi nar rotura uteri-
CULTURAIS na, descolamento prematu ro da place nta, óbito fetal ou iní-
cio das contraçõe uterina . Tudo i o contribuindo para o
Pobreza, mi éria, ignorância, analfabetismo são par- parto pré-termo espontâneo ou induzido.
ceiro onstantc de outro fatore de risco. A sociam-sc a Estressc - ta nto o estresse físico corno o emocional po-
ali mentação deficiente, trabalho excc sivo, cuidados defi - dem contribui r para liberação excessiva de catecolami nas
cientes de higiene, mais frequência de infecções gen itais c c cstin1ular as contraçõcs uteri nas. Coo per e/ a/.,28 acompa-
cuidado pré-nata i deficientes ou au entes. Tudo is o, i o- nhando 2.-93 ge ta ntes entre 2S c 29 semanas, comprov,l-
lado ou em conjunto, constitui-se em fatore de risco para ram que o e tre e e a ociou ignificativamente ao parto
o parto pré-termo. Estudos realizados em I.S13 gestantes pré-termo (O R 1,16, p=0,003).
demon traram que condi ões socioeconômicas adversas
associ,1ram-se a parto pré-termo. 2 '
fATORES ASSISTENC IA l $

ANTECEDENTES GINECOLÓGICOS lndi reta mente, a as i tência pré-natal inadequada ou


Jusente tam bém contribui para o parto pré-termo: não se
Algumas doenças ginecológicas associam-se a parto identificam nem se afastam possíveis fatores de risco.
pré-termo. É o que acontece com a miomato c uterina, a
incompetência cervical, a hipoplasia, aderências e malfor-
maçõe do útero. fATORESIATROGÊNICOS

Ainda acontecem partos pré-termo por i,ltrogenia, ou


ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS seja, retirada prematura do feto em indicação médica.

A história de parto pré-termo é seguramente o fator de


ri -co mai importante para parto pré-termo ub equentc, e- FISIOPATOLOG I A
gundo se comprova cm dados de literatura.26 Q uanto mais
precoce o parto anterior, mais alto o risco de recorrência.!' O desconhecimento da fi siopatologia do parto pré-
termo é uma das principais razões para a falhas na ua
prevenção. Aument.1m as evidências cl ínicas e laborato-
lNTERCORRÊNCIAS GESTACIONAIS riais de que muitos partos pré-termo resultam da ativação
de células no colo, na decídua e nas membranas fetais,
Determinadas intercorrências gestacionais prc entes cm reposta a mediadores do c trcssc m:ttcrno ou fetal, à
no início da gestação - gravidez gemelar ou que se ma- infecção a cendentc do trato genital e/ou a hemorragias
nifestam na sua evolução: alterações no líquido amniótico deciduais. 29 A infecção no trato gen ital materno e/ ou co-
(poli ou oligoidrâmn io) e alterações nas condições anatô- lonização podem ser um dos mais importantes fatore de
micas ou funcionais da placenta (placenta prévia, descola- risco para o parto pré-termo. ' 0

Parto Pré-termo 325


A Figura 21.3 sintetiza os possíveis fatores envolvidos baseados em fatores de riscos, em achados de exames físi-
na etiologia do parto pré-termo.10 cos e em dados laboratoriais ainda são incapazes de predi-
Melhor conhecimento da fisiopatologia e do diagnós- zer com certeza o risco de parto pré-termo.
tico do parto pré-termo permanece como um dos maiores Na predição do risco de parto pré-termo, o que se re-
desafios da assistência obstétrica nessa década. 31 comenda é a análise e o confronto dos fatores de risco en-
contrados na anamnese com os achados do exame físico e
o resultado de exames complementares.
PREDIÇÃO DO RIS C O DE
PARTO PRÉ -TERMO
ANAMNESE

Trata-se de tarefa importante, porém difícil, se consi- A anam nese bem-conduzida colabora na identificação
derarmos gue os recursos disponíveis na atualidade não dos fatores de risco do parto pré-termo já discutidos ante-
apresentam índices confiáveis de valor preditivo, positivo riormente; se presentes, procura-se quantificar seu papel e,
ou negativo, para o parto pré-termo. Sistemas de predição se possível, atuar sobre eles.

Stress Infecção Hemorragia

Cortisol. CRH. ll-1/TNF Hipoxemia


noradrenalina. ± endotoxinas
ocitocina. ADH
+

ll-8
Ieervix I

L-
Granulócitos

Ocitócitos: Proteases:
Prostanoides elastases
endotelinas colagenases
leucotrienos

Alterações cervicais,
,___ __ _ Parto Pré-termo - -- -4 separação cório-decidual.
ME, RPM

Figura 21. 3 1Fatores envolvidos na etiologia do parto pré-termo.


CRH = hormônio liberador de corticotropina, I L= interleucina, ME= matriz extracelular, TN F = fator de necrose tumoral,
AOH = hormônio antidiurético.

326 Noções Práticas de Obst et rícia


EXAME FÍSICO monitorização domiciliar da atividade uterina mostraram
resultados conflitantes. Colton et ai., após avaliarem seis
Objetiva comprovar alterações na atividade uterina e estudos com 697 pacientes, observaram redução de 24%
modificações no canal cervical. na incidência de p arto pré-termo, de 52% de redução no
Já se demonstrou que durante toda a gestação o útero "diagnóstico ta rd io" (pacientes admitidas já com dilatação
apresenta atividade contrátil indolor e improdutiva: não superior a 2 cm) e aumento no peso ao nascimento de 126
provoca modificações no canal cervical. São as chamadas g, em média.34 Grimes el a/}5 no entanto, encont raram
contrações de Braxton-Hicks. Precedendo a parturição, seja deficiências metodológicas nos estudos ava liados e con-
ela a termo ou pré-termo, a atividade uterina se modifica: as cluíram qu e não havia evidências suficientes para apoiar o
contrações aumentam progressivamente de intensidade, de uso rotineiro da monitoração domiciliar. Na prática, esse
duração e de frequência. Na predição do parto pré-termo método não é rotineiramente empregado.
seria desejável que se identificasse o momen to em que isso O utro método empregado no registro gráfico da ati-
começa a acontecer. A pessoa mais indicada para perce- vidade uterina é a cardiotocogralia. Ela perm ite o registro
ber essas mudanças é a própria gestante. Contudo, mesmo do padrão das contrações uterinas no momento do exame.
aquelas bem orientadas du rante a assistência pré-natal não Con tudo, esse rec urso praticamente só é utilizado nas pa-
conseguem realizar com sucesso essa missão. Elas COI1Se- cientes em observação ou já internadas e pouco contribui
guem identificar IS% das contrações registradas por equi- para a predição do parto pré-termo.
pamentos específicos (tocodinamômetros). Mais de 50%
delas identificam menos de 10% das cont rações. 32 Em fases
precoces do trabalho de parto, o próprio obstetra, pela palpa- ALTERAÇÕES DOS MARCADORES
ção abdominal, tem dificuldade em perceber as contrações. BIOQUÍMICOS
Modificações na atividade uterina precedendo o tra-
balho de parto repercutem no canal cervical. Neste, com- Evidências clínicas e laboratoriais sugerem q ue mu itos
prova-se o apagamento, o início da sua dilatação e, às vezes, partos pré-termo são precedidos por alterações em mar-
modificações nas membranas amnióticas, com formação cadores bioq uím icos presentes no organismo das gesta n-
da bolsa das águas e até mesmo a descida do polo fetal na tes: hormôn ios liberadores da corticotropina no soro e no
pelve materna. C linicamente tenta-se identificar todas es- sangue materno; o estrogênio salivar; a colagenase sérica;
sas alterações pelo exame pélvico. Este exige experiência e as citocinas cérvico-vaginais; a elastase granulocítica e a
deve ser repetido periodicamente. Questiona-se seu valor fibronectina fe taP 2 Desses marcadores o mais estudado é
na predição do parto pré-termo. a fribronectina fetal.
Buekens et a/.33 acompan haram 2.803 gestantes com
exames pélvicos e 2.797 sem esse exame. A incidência de
parto pré-termo no grupo de estudo foi de 6,7% e no gru- f JBRONECT INA FETAL
po-controle de 6,4% OR 1,05 (!C 95% 0,85-1,29). Segundo
os autores, esses dados mostram que não se justificam os É o marcador bioquím ico mais valorizado e mais em-
exames pélvicos, de rotina, durante a gravidez. pregado na predição do parto pré-termo. A fibro nectina é
gl icoproteína de significativo peso molecula r, encontrada
na interface materno-fe tal da membrana amn iótica, entre
REGISTRO GRÁFICO DA o córion e a decídua. Em cond ições normais, sua concen-
ATIVIDADE UTERINA tração na secreção cérvico-vaginal é muito baixa. Por m e-
canismos ai nda desconhecidos, ela aparece na secreção
A mbulatorialmente, isso é possível adaptando-se equi- cérvico-vaginal antes do parto, sendo bom marcador de
pamentos especiais (tocodinamômetros) ao abdome da parto pré-termo quando encontrada em concentrações su-
gestante. Assim se consegue o registro contínuo, ou alter- periores a 50 ng/ ml após 22 semanas. 36
nado, da atividade uterina e pelo tempo que se julgar ne- A fibronectina fetal positiva indica risco significativo de
cessário. Duas metaná lises que avaliaram estudos sobre parto pré-termo e a negativa é sina l tranqu il izador3 7

Parto Pré-termo 327


Para melhorar o valor preditivo positivo das dosagens devido à fibronectina no plasma. Líquido amniótico na
da fibronectina fetal, o espécime deve ser colhido pelo secreção cérvico-vaginal causa resultado falso-positivo. O
menos 24 horas depois de manipulação vaginal (relações mesmo acontece com exames pélvicos recentes. O uso de
sexuais ou exame pélvico). 3s lubrificantes pode causar resultados falso-negativos42 .
A fibronecti na fetal na secreção cérvico-vaginal prediz A fibronectina fetal pode ser pesquisada de duas ma-
o parto pré-termo dentro de sete dias com mais exatidão neiras: o teste imunológico (ELISA) com resultado em
do que a dilatação cervical e o padrão das contrações uteri- torno de 24 a 48 horas e o teste rápido (teste de membra-
nas nas pacientes de risco. 39 na), em aproximadamente uma hora. Com qualquer dos
A coleta do material para a determinação da fibronec- dois testes o resultado é positivo quando igual ou superior
tina feta l pode ser realizada no orifício externo do colo ou a 50 mg/ ml e negativo quando in ferior a 50 mg/ ml.42
no fundo-de-saco posterior da vagina. O espécime cervical Segu ndo Bittar,43 o teste rápido da membrana se com-
apresenta sensibilidade mais alta e especificidade mais bai- para ao teste imu nológico na identificação da fibronectina
xa, porém as diferenças são pequenas. O valor preditivo po- fetal, na secreção cervical entre 24 c 34 semanas de gesta-
sitivo é baixo, comparado com o valor preditivo negativo. ção. Ambos são bons na predição do parto pré-termo nas
Menos de um terço das mulheres com teste positivo tem pacientes assintomáticas e com risco elevado.
parto antes de 37 semanas. 40
Faron el a/.41 estudaram por metanálise 29 trabalhos e
concluíram que a fibronectina teta! na secreção cérvico-vagi- ÜUTR01:. MARCADORES BIOQUÍMICOS
nal associou-se a parto pré-termo tanto nas pacientes de alto
como de baixo risco. A associação é mais forte entre um úni- Diversos ma rcadores bioquímicos já foram estudados
co teste positivo e o parto antes de 37 semanas, nas pacientes na predição do parto pré-termo. Muitos mostraram asso-
de baixo risco (OR 7,5; I C95~~> 4,5- 12,3). Houve associação ciação estatística, mas até hoje nenhum deles se mostrou
ta mbém nas pacientes de alto risco (OR 3,5; IC95w; 2,6-4,6). bom o suficiente para ser adotado como método de rastre-
Nas pacientes de alto risco, o resultado negativo se associou à amento, seja na população em geral ou na popu lação com
redução do risco pré-termo (OR 0,4; IC9s96 0,3-0,S). risco elevado de prematuridade.44 O Quadro 21.2 mostra
Existem vários fatores que potencialmente podem di- os principais ma rcadores bioquímicos avaliados na predi-
mj nuir a acuidade do teste da fibronectina. ~a ntidades ção do parto pré-termo, sendo a fibronecti na fetal a única
mínimas de sangue podem levar a resultado falso-positivo com aplicabilidade clínica no momento atual.
Quadro 21.2 1 Marcadores bioquímicos do parto pré-termo
MaJcadoJ Mecan1smo
Fibronectina fetal Glicoproteína encontrada entre o córion e a decídua. que aumenta sua concentração na
secreção cérvico-vaginal antes do parto
lnterleucina 6 Marcador de infecção que apresenta concentração plasmática elevada em pacientes com
infecção intra-amniótica e em risco de parto pré-termo
i
Prolactina Seu achado na secreção cérvico-vaginal foi associado ao risco de parto pré-termo
Hormônio liberador de Componente importante no desencadeamento do trabalho de parto a termo e pré-termo.
corticotrofinas (CRH) Oaumento de sua concentração plasmática foi relacionado ao trabalho de parto pré-termo
Estriol salivar A alteração na relação estrogênio/progesterona parece anteceder o trabalho de parto e o
aumento na concentração do estriol salivar pode ser útil para a predição do parto pré-termo
Metabólitos do óxido nítrico Oóxido nítrico é poderoso relaxante miometrial. com concentrações que diminuem progres-
sivamente ao longo da gravidez. Concentrações elevadas dos seus metabólitos na secreção
vaginal foram associadas a parto pré-termo
Alfa-fetoproteina Alfa-fetoproteina sérica elevada no primeiro trimestre de gestação (em pacientes sem mal-
formações fetais) está associada a risco aumentado de parto pré-termo

328 Noções Práticas de Obstetricia


ULTRASSONOGRAFIA ENDOVAGINAL mente dita é a avaliaç.io do comprimento da porção cervi-
cal remanescente, também chamada de porção funcional
A ultrassonografia endovagi nal seriada perm ite acom- do colo. Em caso de funilização, a medida deve ser realiza-
panhar altcraçõe no canal cervical e na membranas am- da apena na região cervical que não apre enta a herniação
nióticas. Ela representa acentuado avanço na tentativa de da bolsa (Figura 2 1.4).
c predizer o parto pré-termo. A perda da região glandular cervical faz parte do pro-
lams et a/.45 demonstr,\ram, em 1996, que a espessura do ces o de maturação cervical c indica risco aumentado de
colo vista à ultra onografia varia, em média, de 35,2 mm com parto pré-termo. Já foi demonstrado que a "lama am n ióti-
24 semanas a 32,7 mm com 28 semanas. Eles observaram tam- ca· nada mais é do que in filtrado leucocitário, correspon-
bém que o risco de parto pré-termo aumenta progressivamente dendo à in fecção intracavitária, que é fator de risco para
com a dim inuição do tamanho do colo. O risco rebtivo, para parto pré-termo.48 ~o
parto pré-termo, de pacientes que apresentavam o comprimen- De maneira geral, esses outros marcadores são comple-
to do colo abaixo do perccntil - (22 mm) para 24 emanas foi mentares à avaliação do comprimento cervical, não endo
de 9,49 c abaixo do percentill (13 mm) foi de 13,99 vezes. úteis para avaliação isolada.
O ponto de corte de 2' mm na avaliação cervical entre Em função do alto valor preditivo negativo da ul tras-
20 c 24 semanas geralmente é o mais aceito para scleciona r sonografia endovaginal na predição do parto pré-termo,
a pacientes com risco aumentado de parto pré-termo. Uti- tanto oA111erican College ojObstetrics and Cynecology quanto
lizando esses parâmetros, revisão recente destacou risco a Society oj ObstetriClans and Cynecologysts aj Canada con i-
de parto ante de 32 semana de 2,38 (IC 9596 1,67-3,39) e deram que tal exame pode ser utilizado para afastar o risco
antes de 35 semanas de 2,78 (IC 9596 2,22-3,79).46 de prematuridade naquela pacientes com queixa de con-
O momento ideal para realizar o rastreamento do risco trações c medida do colo normaJ.5'·52
de parto pré-termo também é motivo de discu são. Diver-
sos protocolos de avaliação do comprimento cervical já fo-
ram avaliados, de de exames únicos entre 20 e 24semana , CONDUTA
até avaliações semana i entre 16 e 26 semanas.
A m,lioria dos autores concorda que em pacientes sem A conduta compreende três etapa distintas com carac-
fatores de risco a ultrassonografia endovagi nal para rastrc- terísticas e cuidados próprios. a pri meira etapa, o objctivo é
amento do ri co de parto pré-termo não deve ser realizada. prevenir o parto pré-termo. É a prevenção primária que visa
A identificação do colo menor que 25 mm, quando feita a eliminar ou reduzi r o fatores de risco de parto pré-termo,
em população de baixo risco, scleciona aproximadamente em toda gestante. A segunda etapa, consequente de falha da
lO% da mulhcre e apre enta cnsibilidade de apenas 36%, primeira, é a prevenção ecundária: visa a inibir o tr,\balho já
com valor prcditivo positivo de 18%.45 iniciado. A terceira etapa decorre da falha na etapas anterio-
Estudo que avaliou combinação de medida do colo entre res. Seu objetivo é conduzir o parto de modo a reduzir a mor-
22 c 24 semanas associada à história de parto pré-termo ante- bimortalidade pcrinatal consequente ao parto pré-termo.
rior con eguiu identificar 69%da pacientes que tiveram o par-
to antes de 32 semanas, com taxa de fal o-positivo de l0%. 4-
Antes de 16 semana a ultras onografi a cndovaginal PRIM EIRA ETAPA - PREVENÇÃO DO
tem pouco valor, pois é diÍíciIdiferenciar o colo do segmen- PARTO PRÉ-TERMO
to uteri no.
O utro par.\ metros ultrassonográficos também já foram Es a primeira etapa depende funda mentalmente da
avaliados na tentativa de predizer o risco de parto pré-termo. qualidade da assistência pré-natal. Quanto mais cedo inicia-
São ele a funilização da membra na amniótica, a perda da do, mais há participação da gestante, envolvi mento da equi-
·área glandular" do canal cervical e a "lama amniótica". pe obstétrica e seguramente mais possibilidades de sucesso
A funilização da membrana reprc enta o proce so de na prevenção. Dois são os tópicos a serem considerado · na
apagamento do colo, que resultará na diminuição de seu prevenç.1o do parto pré-termo: eliminação de fatores de ris-
comprimento. Mai importante que a funilização propria- co e adoção das medidas terapêuticas próprias da prevenção.

Parto Pré-termo 329


Figura 21.41 Ultrassonografia endovaginal mostrando colo normal e alterado.
A- colo de tamanho normal. B- colo dim inuído de tamanho e apresentando hern iação da bolsa. A medida foi realizada
apenas na região fun cional do colo. C - setas indica m ··lama amniótica". O - setas indicam área glandul ar cervical normal.
A perda dessa área indica risco aumentado de parto pré-termo.

ELI\11 AÇÃO D OS FATORF<; DE RI SCO A h istória obstétrica deve revelar abortamentos espon-
tâneos tard ios (após 14 semanas), com elimi nação de feto
L-.; I fR\ 'J\1 o f.NIRL" PAR/"()\ vivo, sem sangra mento prévio ou então partos pré-termo
Estudo epide m iológico que analisou dados de 173.205 precoces (a ntes de 26 semanas), sem cólicas prévias e quase
gestações concluiu que o intervalo ideal para nova gesta- sempre preced ido pela rotura das membra nas am niót icas.
ção era ent re 18 e 24 meses. Mulheres que engravidava m O comu m é a repetição desses fatos (t rês ou mais perdas).
menos de seis meses após a gestação anterior t inham ris- Já o exame pélvico revela apagamento cervical, in ício
co mais alto de parto pré-termo (OR 1,5- IC 95% 1,3- 1,5). de dilatação do colo e até formação da bolsa das águas. A
Para gestações acima de 120 meses após a a nterior, o risco ultrassonografia endovaginal tem pouco valor nos casos de
também era elevado (O R 1,5 - IC 95% 1,3- 1,7).51 história típica de incompetência cervical, sendo mais útil
nos casos em que a história não é carac terística.
/.\"<.0.11/'/ /I:.\ C/;\(. fRI /t \L O tratame nto é pela cercb ge - discutida no capítulo
Trata-se de fator d e risco importante e passível de cor- 17 - Hemorragias na Primeira Metade da G ravidez.
reção na gravidez. C ontudo, não é fácil decidir quais ges-
ta ntes necessitam desse tratamento e qua ndo reali zá-lo. A AI/OAI \/0\ 1

determ inação do momento pa ra o tratamento baseia-se A miomatose uteri na é outro fator de risco para o parto
na histó ria obstétrica, no exa me pélvico e, ocasiona lmen- pré-termo. Seu d iagnóstico pode preceder a gestação ou
te, na ultrassonografia. ser feito no transcurso da gravidez.

330 Noções Práticas de Obstetricia


Os miomas de localização ub erosa ou intramural ão tivo recomenda-se a ad ministração de anti-inAarnatórios
passíveis de crem removido durante a gravidez. I to ó e não esteroides.
faz neces ário quando se tornam sintomáticos: dores ab- Entre os anti-infl amatórios, a preferência é pela indo-
dominais, compressão de estruturas vizinhas ou torção de metacina. Esta inibe a síntese das prostaglandinas e redu z
pedkulo. Removido com boa técnica u ualmcntc a gc ta- o fluxo urinário fetal, principal responsável pela formação
ção prossegue. do lfquido amniótico. Diminui também a quantidade de
Recomenda- e o emprego de tocolíticos no período líquido produzido pelo àmnio e pelo cório.
perioperatório. A indometacina reduzi u o volume de líquido am nióti-
Em pacientes assintomáticas, adota-se a conduta con- co em mais de 96% dos casos de polidramnia e com doses
servadora. similares às usadas no tratamento do parto pré-termo. Seu
mecanismo de ação parece er diminuir a produção de uri-
(JRA~'InLZ (II \1// \R na fetal e de aumentar a respiração e a deglutição feta is.s''
A gravidez gemelar é sabida mente im portante fator de Administra-se, como dose de ataque, a indometacina
risco de parto pré-termo. Aproximada mente 30 a SO% das na dose de I00 mg pela via reta! ou SO mg pela via oral;
gestações múltiplas resultam em parto pré-termoY Diante completa- c o tratamento, com 25 a 50 mg a cada quatro
desse risco, no pré-natal adotam-se medidas que possam horas, por dois a três dia . Avalia- e volume do líquido am-
ser úteis para retardar a interrupção da gravidez. niótico ante c 48 hora após o tratamento.>tt
Consultas mais frequentes e mais orientações à gestante O emprego da indomctacina exige o controle ultras-
aj udam na identificação mais precoce de alterações na evo- sonográfico periódico do volume do líquido amn iótico,
lução da gravidez. O exame pélvico seriado, cuidadoso, rea- porque pode ocorrer importante redução desse volume. A
lizado pelo mesmo examinador permite registrar alterações indometacina não deve ·cr usada após 32 semanas de ges-
no canal cervical. A ultrassonografia endovaginal eriada é tação, pelo ri co de fechamento do canal arterial.
recurso útil no acompanhamento desse tipo de gestação.
Na gravidez gemelar, justi fica-se a reduç.:io da atividade I \/I t ~ ot'
física a partir da viabilidade fetal, 20 emanas de gestação c Ape :tr do consenso sobre o trata mento de in fecções
repouso domiciliar, caso se comprove alteraçõe na ativi- na gestação em função do risco maternos e fetais, poucos
dade uterina ou no canal cervical. estudos con eguiram demonstrar correlação entre a tera-
Aadmini tração de tocolítico pela via oral éguestionável. pia c a diminuição da incidência de prematuridade.
A cerclage de rotina não tem indicação na gravidez gemelar; O tratamento das infecções por chlnmydia, tricomonía-
não e mo trou eficaz na prevenção do parto pré-termo.52 A sc c ureaplasma não reduziu as taxas de prematuridade.57-59
profilaxia com proge terona também não proporcionou be- O tratamento da bactcriúria assintomática foi associa-
nefício na ge tação gemelar.' 4 do à diminuição do número de recém-nascidos de baixo
peso (RR 0,66- lC9S% 0,49-0,89), mas não .\ di minuição
f>ot IDRA .\I\/() do número de partos abai.xo de 37 sernanas.60
A remoção parcial e seriada nos casos de polidràmnio O trata mento da vaginosc bacteriana só foi cfeti vo cm
intomático por meio da amniocentese transabdominal é reduzir a prematu ridade qua ndo realizado cm ge taçõcs
medida útil. ontudo, não é isenta de riscos. A remoção com menos de 20 semanas (R R 0,72 - IC 95%O,SS-0,9 ·).61
de grande volu me de líqu ido, provocando descompressão O utra metanáLise mostrou que a clindam ici na por via
brusca, pode determinar início de contrações ou descola- vaginal foi mais efetiva em reduzir as taxas de prematurida-
mento prematuro de placenta. As amniocenteses repeti- de em pacientes com vagina c bacteriana do que o mctro-
das, frequentemente necessárias, além de estimularem a nidazol (RR 0,68- IC9S96 0,49-0,9 ·).62
atividade uterina, aumentam o risco de rotu ra prematu ra
das membranas. ATI\ /Ll.J..lll fiS/( ...
No polidrãmnio não basta reduzir periodicamente o Nas pacientes de risco recomenda-se a redução da ati-
volume excessivo do líquido amniótico, é neccs ário tam- vidade fí ica. Is o é necessário no traba lhos árduo c ca n-
bém que se consiga reduzir sua produção. Com es c obje- sativos, como levantar e carregar objcto pesado , pcrma-

Parto Pré-termo 331


necer em pé por tempo prolongado, subi r e descer escadas. A progestero na promove o relaxamento da musc u-
Arestriç3o dessa atividade para alcançar seu objetivo deve latura lisa de diversos 6rgãos, incluindo o útero. Além
ser instituída cedo na gestação, a partir da viabilidade fe tal, disso, tem ação imunossupressora bloqueando a a ti va-
20 semanas. ção dos linfócitos T, d im inui a ação uterotônica da oci-
Em pacientes de baixo risco, atividade físicas leves, tocin a, altera a expressão dos receptores de estrogênio
como ca minhadas breves ou hidroginástica, podem ser no miométrio c potencializa a ação dos beta-adrenérgi-
mantidas c j:í foram relacionadas com diminuição de risco cos sobre seus recepto res uterinas. Talvez o efe ito m ais
de parto pré-tcrmo. 63 importante sobre as célubs miometriais seja sua ação
inibidora na síntese de proteínas intercitoplasmát icas
HABI rm m I ·IDA (gap junction) responsáveis pela propagação coordena-
O ideal é que o tabagismo, alcoolismo e uso de drogas da da contração. 66
seja m evitados an tes da gestação ou logo no seu início. Na Fonseca et a/. 67 ad min istra ram 100 mg de progestero-
paciente já com risco aumentado de pa rto pré-termo, pou- na natural, em supositórios intravaginais, para uso diá rio,
co se pode fazer. entre a 24• e a 34" sema nas de gc tação, nas pacientes de
Metanálise que ava liou programas com o objetivo de alto risco de parto pré-termo. Observa ram incidência de
interrupção do tabagismo na gravidez mostrou dimin ui- 28, l% de parto pré-termo no grupo com placebo e 13,8%
ção do risco de parto abaixo de 37 semanas ( RR 0,84 - nas pacientes que receberam progcstcro na. Concluíram
lC95% 0,72-0,98).64 que existem fortes evidências de que a adm inistração vagi-
nal de progesterona em pacie ntes de a lto risco diminu iu a
A ri\ 'IDADF ,)F\l ;\/ frequência dessa complicação obstétrica.
Diante das incertezas quanto à influência da ati v idade Outros autores util iza ram a proge terona (caproato de
sexual no parto pré-termo, a única medida que se recomen- 17 alfa-hidroxiprogesterona) por via intramuscular na dose
da é reduzir a ati v idade sexual e o uso de preservativo (con- semanal de 250 m~ também com bom re ultado.68 Con-
dom) pelo parceiro. tudo, tal formulação não está di pon ívcl comercialmente
no Brasil.
i\D.vllNISI RA\1\0 DF 1\IF/l/l \MI \dOS Metanálise de seis estudos com 988 pacientes de-
Na prevenção do parto pré-termo os medicamentos pas- monst rou que o uso da progcstcrona cm pacientes de risco
íveis de serem utilizados são os antibióticos e a progesterona. aumentado para parto pré-termo reduzi u a incidência de
parto a ntes de 37 semanas (RR 0,65 - lC 95% 0,54-0,79).
I .\ ' TI BIÓTICOS O nascimento de crianças com menos de 2.500 g (quatro
Metanálise de li e tudos, com 7.428 p acientes, não estudos - 763 pacientes) tarnbém sofreu redução no grupo
demonstrou o benefício da admi nistração de anti biótico que recebeu a progesterona ( RR 0,63 - lC 95% 0,49-0,81).69
profi lático para pacientes com traba lho de parto pré-termo A progcstcrona também foi útil em prevenir o parto pré-
espontâneo e bolsa íntcgra.65 -termo nas pacientes com colo muito curto (< IS mm), obser-
Atualmente não se recomenda o uso de antibióticos na vado à u ltrassonogra fia. Nesse grupo de pacientes de alto risco,
profi laxia no trabalho de pa rto pré-termo. O s a ntibióticos a progesterona natural por via vaginal (200 mg) à noite redu-
devem ser utilizados apenas em caso de infecção ou para ziu a incidcncia de parto antes de 34 semanas cm 44% (19,2%
a profilaxia da sepse neonatal precoce pelo Streptoccocus no grupo da progesterona X 34,4% no grupo placebo).-0
p-hemolítico, como será discut ido a seguir. Em gestações múltiplas, no e ntanto, a admin istração
de progestcrona não mostrou bene fício na prevenção
flROt, L \l/RO \ 'A do pa rto pré-termo ( RR 1,1 -lC 95% 0,9 -1,3), ta lvez por-
A ideia de se administrar progcstcrona na prevenção que nesse grupo de pacientes o mecanismo que leva ao
do parto pré-termo é antiga. Baseia-se na hipótese de que desencadeamento prematuro do t rabalho de parto seja
talvez o parto pré-termo fosse provocado por desequilíbrio diferente, possivelm ente mais relacionado à distensão
da relação progesterona-estrogênio. excessiva d o útero.54

332 Noções Práticas de Obstetrícia


Atualmente, recomenda-se o u o da proge terona na- D IAG 'ÓSTICO [)J~ TR,\ B \t HO DL PA RTO P RL-TlR MO
tural por via vagi nal (100 a 200 mg) de 20 a 34 semanas,
para pacientes com história de parto pré-termo anterior, As medida inibitórias ó e justificam quando se com-
malformações uterina e colo curto diagnosticado à ui- prova o diagnóstico de trabalho de parto. a prática, com
Ira sonografia (< 2 - mm).A aplicação deve er feita à noite, certa frequência, in titui- e a terapêut ica inibitória em pa-
antes de dormir, pois o óvulos vaginais se dissolvem, po- ciente que não e tão em trabalho de parto. ão inibições
dendo levar à perda do material se a paciente permanecer de nece sárias e até prejudiciais.
cm ortostatismo após a apl icação ( Figura 21.5). O diagnóstico correto do parto pré-termo, repetimos,
nem sempre é fácil e feito de imediato. Os parâmetros en-
tre o falso e o verdadeiro trabalho de parto, cl inicamente,
SEGUNDA ETAPA- I N I B IÇÃO não são bem-caracterizados, o que torna difíci l o diagnós-
DO PARTO PRÉ-TERMO tico precoce e correto. Es e d iagnó tico é e encial para e
con egui r êxito na sua inibição. Aguardar que c ma nifes-
~1:111do não se consegue prevenir o parto pré-termo, tem nitidamente o inais do parto também é perigo o. O
as contrações e intcn ificam c a gestante procura a a is- di.1gnó tico cm fa c já adia ntada leva à falha na tentativa
tcncia ob tétrica Já em trabal ho de pa rto. de inibição.
• abc-~c que nem todo trabalho de parto pré termo Metade das paciente tratadas com diagnó t1co de tra-
pode ou deve ser inibido. À vezes, é melhor para o feto sair balho de parto pré-termo, na realidade, teve o diagnóstico
do tlue permanecer na cavidade uterina. Antes de se decidir crrado.8
pela inibi ão do tr,1b,11ho de parto, an.1li am-sc as cguintc O diagnó tico de trabalho de pa rto pré-termo com
variáveis: ba c somente na atividade uterina rc ulta cm 8096 de f.1lso-
A paciente está realmente em trabalho de p:lrto? Há -po itivo e no emprego desnece ário de tocolítico .8
certeza quanto ao diagnóstico? as pacientes que tiveram assit.tência pré-natal ade-
A idade gcstacional é adequada à inibição do parto? quada, o diagnó tico precoce do trabalho de parto pré-ter-
Não ex i tem contrai ndicaçõcs para a inib1ção? mo é mcno difícil. Ela ão orientada para procu rarem
QJ.tJis as po ~i bilidadc de êxito com a inibi ão? a 1 tência ob tétrica logo que per cbcrcm o apareci mento
(índice de risco de parto pré-termo). dos intomas c ina i que caracterizam o início do trabalho

História de parto pré-termo

!
IG < 24 semanas IG :<!! 24 semanas
ou l ou
!
Avaliar cerclage US seriado quinzenal Progesterona vaginal
entre 16e 26 100 mg/dia
1
Colo < 15mm Colo< 25mm I
Progesterona vaginal
200mg/dia

Figura 21.5 I Prevenção do parto pré-termo.

Parto Pré-termo 333


de parto: contrações uterinas, modificações na secreção berçários com bom nível de atendimento neonatal. Em lo-
vaginal, nos hábitos uri nários e intestinais e peso na região cais com piores condições, aceita-se a inibição do trabalho
lombar e no baixo ventre. de parto até 36 semanas.
A anamnese cuidadosa pode identificar fatores de risco O limite inferior da idade gcstacional para a inibição
ou esses sinais e sintomas referidos. do trabalho de parto também é questionável. Aceitando-se
O exame físico do abdome visa, principalmente, a iden- que recém-nascidos com mais de 20 semanas são viáveis,
tificar as contrações uterinas. Na literatura internacional justifica-se tentar inibir o parto a partir dessa época.
considera-se que a presença de pelo menos seis contrações
cm 60 minutos de observação (uma a cada 10 minutos) já
caracteriza diagnóstico de trabalho de parto pré-termo se Ausf. CI A DE CoNT RA I ND ICAÇõEs
houver dilatação cervical ~ 3 cm e apaga mento~ 80%. Nós À I N I BI ÇÃO 00 PARTO PR~-T I'RMO
acreditamos que para melhor precisão diagnóstica deverí-
amos ter no mínimo duas contrações em lO minutos du- Nem todos os partos pré-termo devem ser inibidos.
rando pelo menos 25 segundos (2/ 10'/25"). Dessa forma, Existem circunstâncias nas quais o nascimento do feto,
reduzimos o nú mero de diagnósticos falso-positivos. mesmo prematuramente, é melhor para ele do que sua
O exame pélvico fornece elementos valiosos para o permanência em ambiente desfavorável à sua vida e ao seu
diagnóstico de trabalho de parto, principalmente quando desenvolvi mento.
se pode comparar os achados do exame atual com os obti- Existem contrai ndicações obstétricas à permanência
dos cm exames anteriores. A preocupação principal é com do feto dentro do útero ou ao emprego de fármacos inibi-
as modificações no canal cervical - apagamento e dilatação dores das contrações uterinas. Algumas dessas contraindi-
- pri ncipa~nente do orifício interno. lnteressa também a cações são absolutas, indiscutíveis; outras, no entanto, são
altura do polo fetal e, quando já existem condições de per- relativas e devem ser analisadas individualmente.
ceber a dilatação cervical, o estado da bolsa das águas. Consideram-se contraindicações absolutas:
A ultrassonografia endovaginal também fornece da- Jnfecç:'io intrauterina.
dos importantes no que se refere ao apagamento cervical. Rotura das membranas amnióticas, com certeza ou
Em pacientes com queixa de contrações, mas com o colo suspeita de infecção.
grosso à ultrassonografi a (> 25 mm), podemos afastar com Insuficiência placentária de qualquer etiologia contri-
segurança o diagnóstico de trabalho de parto pré-termo. buindo para o sofrimento fetal crônico, para o cres-
Se, mesmo com toda essa propedêutica, permanece- cimento intrauterino restrito e para a oligoidram nia.
rem as dúvidas, recomenda-se internar a paciente, mantêla Malformações feta is incompatíveis com a vida cx-
cm repouso e sob observação constante. trauterina ou malformações múltiplas.
Na incerteza quanto ao diagnóstico, interna-se, hidra- Doenças maternas graves, de difícil controle ou
ta-se, seda-se (uma ampola de meperidina) e observa-se, descompensadas, envolvendo risco de morte para
antes de se decidir pela conduta defi nitiva. as gestantes.
A importância do diagnóstico correto justifica todas Obito fetal comprovado.
essas medidas propostas. Maturidade fetal comprovada por alguns dos re-
cursos propedêuticas existentes.

fDADEGESTACIO AI São contraindicações relativas:


Sangramento dasegunda metade da gravidez. Discute-se
Ainda hoje se discute qual a idade gestacional própria a conveniência da inibição do parto pré-termo asso-
para a inibição do parto pré-termo. Classicamente, o limite ciado à placenta prévia sangrante. Isto dependerá da
superior é de34 semanas de gestação, isto porque a partir idade gestacional e da intensidade do sangramcnto.
dessa idade gestacional são mínimos os riscos para o re- Este pode aumentar quando se usam alguns tipos de
cém-nascido. Ressalte-se, contudo, que isto acontece nos tocolíticos. Não recomendamos a inibição.

334 Noções Práticas de Obstetrícia


Rot.ura prematura das membranas amnióticas (RPM). inferiores a seis não existe risco iminente de parto pré-ter-
Muitos in ibem o parto por 72 horas, tempo julga- mo e não se justificam as medidas inibitórias.
do suficiente para que ocorra a maturação dos pul- Entre seis e IO pontos, caracteriza-se o risco iminente
mões fetais após a rotura das membranas. Estudos e, se não existirem as contraindicações já citadas, insti-
que ava liaram a tocólise após a RPM não mostra- tuem-se imediatamente medidas inibitórias.
ram benefícios para o RN e ainda suge riram que Valores acima de lO pontos caracterizam trabalho de
poderia haver aumento nas complicações infeccio- parto em evolução e não mais se justifica tentar inibi-lo.
1
sas maternas? Além do insucesso nas tentativas, aumentam-se os riscos
Colo com dilatação superior a 4 cm. Nessas cond ições, de problemas com o recém-nascido. O s medica mentos
a possibilidade de sucesso com a in ibição é pouca e usados na inibição passam para o feto e criam problemas
o risco de complicações é alto: infecção ascendente, no recém-nascido.
rotura das membranas, prolapso do cordão umbili- A utilização da ultrassonografia endovaginal na ava-
cal ou de membros fetais e de efeitos colaterais dos liação das condições do colo, da altura da apresentação
tocolít icos sobre o recém-nascido. Contudo, em cir- e d as mod ificações da bolsa das águas e da cardiotoco-
cunstâncias especiais, com a paciente hospitalizada grafia para comprovar o padrão das contrações dá mais
e rigorosamente monitorizada, justifica-se tentar a credibilidade ao índice de risco de parto pré-termo. Sem-
inibição. É o que acontece com pacientes com pas- pre que possível, esses mé todos propedêuticas devem se r
sado obstétrico desfavorável - nenhum fi lho vivo - e realizados.
idades gestacionais inferiores a 32 semanas. Valad ares,72 em estudo realizado com 23 1 gestantes,
mostrou que quando o índice de risco de parto pré-ter-
mo (lRPP) era igual ou superior a dois, apenas 29% das
ÍN DICE DE R tSCO DE PARTO PR É-T ERMO gestantes tiveram parto pré-termo (VPN: 71 %), enquan-
(íN DICE DE TOCÓ LI SE) to que naquelas com 1R PP superior a sete todas tiveram
o parto antes de 37 semanas (VPP: IOO%), concluindo
Após a aná lise das variáveis citadas e antes de se op- que o IRPP é bom método para avalia r o prognóstico
tar pela in ibição do trabalho de parto, questiona-se qual o d a gestação.
risco real de parto e quais as possibilidades de êxito com
as medidas inibitórias. Na identificação e qua ntificação
do risco, consideram-se as condições do colo, a altura da T ERAP ÊUT ICA i N I BI TÓR I A
apresentação fetal, as características das membranas am-
nióticas e o padrão das contrações (Q!.Iad ro 21.3). Confirmado o diagnóstico de trabalho de parto pré-
A soma dos pontos registrada nessa avaliação é qu e temo e selecionadas as pa rtu rientes ca ndidatas à inibição
perm ite caracterizar o ri sco. Assim, quando os pontos são do parto, institui-se a terapêutica in ibitória. Esta envolve a

I
Quadro 21.3 fndice de risco de parto pré-termo
Resultado elo exame Valores atr1bl11dos

o 1 2

Posição do colo Posterior Intermediário Centralizado j


Apagamento Imaturo 30a 50% > 50%
J
Dilatação Nenhuma 2a4cm > 4cm I
Altura da apresentação Alta (móvel) Média (fixa) Baixa I
Bolsa d'água Não formada Formada Herniada I
Contrações < 1 I hora 1 I lO'/ 15· ~ 2 /10'/25. !.

Parto Pré -termo 335


adoção de medidas gerais, a administração dos tocolíticos Parece-nos que os tocolíticos usados em hora certa, na
e, qua ndo conveniente, o emprego de corticoides. dosagem correta, em pacientes e feto s bem selecionados c
rigorosamente mon itorados permitem prolonga r a gesta-
,\J JIHO:\~ (;1/Ud \ ção, propicia ndo a possibilidade de se induzir ou acelerar a
A inibição se faz sempre com a paciente internada. maturação fetal ou, então, transferir a gestante para centro
Antes de se instituir a terapêutica medica mentosa, são ne- de referência. Deste modo, d ireta ou indiretamen te, eles
cessárias a avaliação clín ica e a realização de exames com- contribuem para a redução da morbidade e da mortalidade
plementa res que comprovem condições adequ adas da par- peri natal. É indispensável, entretanto, usá-los com critério.
turiente para se submeter à inibição. Os agentes tocolíticos empregados na inibição do par-
Após a internação, recomenda-se a hidratação intrave- to pré-termo podem ser divididos nos grupos segu intes:
nosa com base em evidências de que a hipovolemia pode Estimuladores dos receptores beta-ad renérgicos.
associar-se ao aumento da atividade uterina.73 Embora a Inibidores da síntese e liberação das prostagland inas.
hipovolemia possa alterar as contrações uteri nas, não exis- Antagonistas dos receptores da ocitocina.
tem com provações de que a hidratação ajude a prolongar Bloqueadores dos canais de cálcio.
a gravidez. Recomenda-se muito cuidado na hidratação Sul fato de magnésio.
intravenosa porque o uso posterior de tocol íticos também Doadores de Oxido Nítrico.
pela via intravenosa, com grande quantidade de fluido,
pode aumentar o risco de edema pul monar?4 Ltmllll,uiore.' dos Receptores Beta <ldrmérg1cos
Foram durante muitos anos os fármacos mais uti liza-
I I R 11 1cos 1.\.JillllOR I S L>A , \nl llJADI. C'o ,\ IRA 111 L'n R I \lA dos na in ibição do parto pré-termo. Os mais empregados
Nu merosos fármacos são adm inistrados visando inibir no Brasil são o salbutamol, a terbutali na e a ritodri na.
ou, pelo menos, reduzi r a ati vidade contrátil prematu ra do O mecanismo de ação, a eficácia e os efeitos colaterais
útero e, assim, evitar o parto e prolongar a gestação. A ex- desses agentes tocolíticos são similares.
perimentação e as observações clínicas já demonstraram As doses, vias de adm inistração e duração do tratamen-
que esses medicamentos não são perfeitos, nem sempre to também pouco diferem. Podem ser administrados pela
eficazes e podem determ inar efeitos colaterais, de mais ou via parenteral (intravenosa, intramusculare subcutânea) ou
de menos gravidade, tanto na gestante como no feto e no pela via oral. O início do tratamento deve ser sempre pela
recém-nascido. Por isso, recomenda-se admin istrá-los com via intravenosa, com doses baixas, au mentando-as a cada
cautela e somente em casos bem selecionados. 30 mi nutos até que se consiga o efeito desejado - interrup-
Por várias razões, é d ifícil comprovar a eficácia e a segu- ção das contrações - ou, então, que se comprove fal ha no
rança dos tocolíticos. Primeiro, porque se desconhecendo tratamento ou efeitos colaterais na gestante ou no feto.
a etiologia do parto pré-termo não se consegue tratar seu Uma vez alca nçado o objetivo - in ibição das contra-
fator causal específico. Segundo, porque em cerca de 30% ções - , faz-se a d iminuição progressiva da infusão, até se
das pacientes em apa rente trabalho de parto, as contra- conseguir determinar a dose mínima capaz de manter o
ções cessam espontanea mente, sem qualquer tratamento. útero inativo. Deve-se monitorar cuidadosamente as pa-
E, por últi mo, porque o d iagnóstico de trabalho de parto cientes em uso de tocolíticos.ss
pode estar errado em até 80% d as pacientes que receberam M etanál ise mostrou que os beta-adrenérgicos são efi-
5
a terapêutica medicamentosa.' cazes em inibir o trabal ho de parto por 48 horas (RR 0,63
Estudos por metanálise de t rabalhos relativos à tocó- - IC 95%: 0,53-0,75), mas não por sete d ias. Não houve re-
lise revelaram reduzido aum ento na duração da gravidez dução na morbimortalidade perinata J.76
quando comparado com placebo (em méd ia, 48 horas O uso dos beta-ad renérgicos está associado a uma série
a sete d ias)?6 · 81 Contudo, os dados foram insuficientes de efeitos colaterais, tais como: taquicard ia, palpitação, dor
para mostrar efeitos benéficos sobre a morbidade e a torácica, dispneia, tremores, náuseas, vômitos, cefaleia, hipo-
mortalidade neonatal. Doses d e manutenção d omicilia- calemia, hiperglicemia e taquicardia fetal. Signi ficativo nú-
res após a inibição inicial aparentemente têm pouco ou mero de pacientes tem que suspender o tratamento em fun-
nenhum valor. 82 94 ção dos efeitos colaterais (R R 11 ,38 - !C 95%: 5,21-24,86).'6

336 Noções Práticas de Obstetrícia


O salbutamol é certamente o beta-adrenérgico mais em- Metanalise que avaliou os inibidores da síntese de
pregado no Brasil. A via de escolha é a intravenosa, na dose prostagland inas incluiu 13 estudos pequenos, com o total
de 10 a 12 mcg/ min. O salbutamol é encontrado cm ampo- de 713 pacientes. Foi possível observar, no grupo de estu-
las de I mi com S mg do produto ou em comprimidos de 2 do, redução no nascimento antes de 37 semanas, porém
ou 4 mg. Prepara-se a solução colocando-seS g (10 ampo- sem red ução na morbimortalidade neonatal. A incidência
las) em SOO mi de soro glicosado isotônico (I mi da solução de efeitos colaterais necessitando de interrupção do trata-
equiva le a lO mcg de salbutamol); o gotejamento pode ser mento foi inferior à dos beta-ad renérgicos.77
aumentado de 5 mcg/ min até atingir a dose de 48 mcg/ min
e por período nunca superior a 48 horas.86 !llltrlgomstas dos R.captorcs de Oâtomw
Os dados d isponíveis não con firmam o papel dos Os a ntagonistas da ocitocina foram as pri meiras d ro -
agon istas beta-adrenérgicos pela via oral na terapia de ma- gas desenvolvidas com o objetivo específico de inibi r o
nutenção, após a resolução do episódio agudo de pa rto trabalho de parto pré-termo. O atosiba no compete com
pré-termo. Seu uso não mostrou redução da morbi morta- a ocitocina, pela ligação com os receptores, dificu ltando
lidade neonatal, nem prolongamento da gestação, além de sua ação. Como a ocitocina está diretamente relacionada
ter au mentado a incidência de efeitos colaterais.82 ao estímu lo da cont ração uteri na, tanto no parto a termo
quanto no pré-te rmo, o uso do atosibano reduz a contrati-
lni/Julorcs da Smtc:;c c Ubcmçâo d<1:; J>ro:;t,Jglandu!tl.> lidade uterina. A lém d isso, por ter ação específica sobre os
Porque as prostaglandinas pa recem desempenhar pa- receptores de ocitoci na, ele apresenta baixa incidência de
pel obrigatório no início do parto, não é surpresa que os efeitos colaterais. No entanto, parece haver número mais
inibidores da prostraglandina sejam usados na inibição do reduzido de receptores de ocitocina nas gestações pré-ter-
parto pré-te rmo. Alguns estudos sugerem o uso dos inibi- mo e, na prática, a eficácia do atosiba no é comparável à de
dores das prostaglandinas como tocolíticos. Contudo, eles outros tocolíticos.s?.ss
devem ser evitados nas pacientes portadoras de problemas O atosiba no deve ser util izado po r via intravenosa, ini-
renais ou hepáticos, de úlcera péptica, asma, d istúrbios de cialmente com dose de ataque de 6,75 mg cm bolus lento.
coagulação, trombocitopenia ou sensíveis a agentes não- Posteriormente, inicia-se a infusão de 300 mcg/ m in du-
-esteroides.87 rante três horas. Por fi m, ma ntém-se a infusão de 100 mcg/
Desse grupo de drogas já fo ram utilizados em pesqui- min por até 45 horas, totaliza ndo 48 ho ras de tratamento.
sas o sulindaco, o refecoxib, a nimesu lida, o ceto rolaco e o A infusão pode ser interrompida antes de 48 horas se as
celecoxib, mas a mais estudada é a indometacina. contrações cessarem .
A indometacina é utilizada na dose inicial de 100 mg Aspecto negativo do atosibano é seu custo elevado. Em
(reta!) ou 50 mg (oral), repetida uma hora depois, se não valores atu ais, estima-se que o tratamento completo com o
dim inu ir-se a frequência das contrações.A manutenção se atosibano esteja em torno de R$ 3.000,00, enquanto que
faz com 25 a 50 mgacada quatro horas, por dois a três dias. um tratamento de 48 horas com nifed ipina não supere R$
Deve-se determin ar o volume do líquido amniótico antes I0,00. O custo elevado estaria plenamente jus ti ficado se a
e 48 horas após o tratamento. A indo metaci na só deve ser d roga fosse mais eficiente que as outras na prevenção do
usada em gestações inferiores a 32 semanas e por até 72 parto pré-termo, o q ue, na p rática, não acontece.
horas87• A indometacina atravessa a placenta e aparece na Estudos que compara ram o atosibano com os agon istas
circulação sa nguínea fetal dentro de IS mi nutos. Associa- beta-adrenérgicos mostra ra m que a mbos eram semelhan-
-se potencial mente a efeitos colaterais graves, como cons- tes quanto à incidência de parto em até 48 horas, em até sete
trição do due to arterial fetal, o que pode levar a hipertensão dias ou até 37 semanas. O atosibano só foi superior quanto
pulmonar, dim inuição da fu nção renal causando oligoid- à necessidade de interrupção do tratamento em fu nção de
râ mn io, hemorragia intraventricular, enterocolite necro- efeitos colaterais (RR 0,04 - IC 95%: 0,02-0,11)?9
tiza nte e hiperbili rrubinemia. Esses efeitos colaterais, no Estudos recentes avaliando nova substância da classe
entanto, só acontecem em tratamentos de longa du ração, dos antagonistas da ocitocina - barusiban - demonstram
com altas doses do medicamento e realizados após 32 se- que ainda existem esperanças de se desenvolverem med i-
manas de gestação. ca mentos ma is eficazes na inibição do parto pré-termo.

Parto Pré-termo 337


O barusiban tem mais afinidade pelos receptores de oci- Como terapia de manutenção domiciliar, após a inibi-
tocina que o atosibano, além de apresentar meia-vida mais ção inicial a n ifedipina não mostrou bons resu ltados, sen-
longa. A eficácia dos seus resultados ainda não foi compro- do, logo, contrai ndicada. 83
vada, mas deve-se aguardar o surgimento de novos estudos
antes que se possa recomendar ou contraind ica r o seu uso. 81 S11lji1to de 1\ fagnésw
O sulfato de magnésio (MgSO) foi uma das pri meiras
Bloqllcndorcs dos Canar~ de Ctilcro substâncias utilizadas pa ra inibir o trabalho de parto pré-
Os a ntagonistas do cálcio são grupo heterogêneo de termo, ainda sendo largamente utilizado em vários locais
compostos que in ibem o refluxo dos íons do cálcio através no mu ndo.
d a membra na celular do músculo e reduzem a resistência O mecanismo pelo qua l o sulfato de magnésio inibe as
vascular. A di m inu ição do cálcio intracelular resulta em re- contrações ute rinas ainda é discutível. Ele pa rece ter dois
dução de atividade miometrial. Eles são usados na redução locais de ação com o agente tocolítico: at ua n a supressão da
das contrações uterinas no parto pré-termo?3 tran sm issão nervosa para os músculos lisos do útero e tem
A nifed ipina é o protótipo desses bloqueadores e vem efeito d ireto sobre as células m iometrais. Os dados clín icos
sendo usada como tocolítico. É ab sorvida rápida e quase su stenta m a teoria de que ele exerce ação tocolítica por seu
que completamente no trato gastrointestinal após sua ad- antagonismo com o cálcio.
ministração oral. Por essa via atinge concentração sanguí- As concentrações plasmáticas de sulfato de magnésio
90
nea m áxima entre IS e 90 m inutos. necessárias para inibir as contrações uterinas situam-se
A nifedipina deve ser utilizada por via oral, com dose entre 5,5 e 7,5 mg/ dL (1,2 mg/ dL é igual a I m Eq/ L). A
de ataque de 30 mg e dose de manutenção de I O a 30 mg infusão de I g, 2 g ou 3g produz concentrações médias de
a cada quatro a 12 horas, não devendo exceder 90 mg/ dia. 4 mg/ dL, 5, l mg/dL e 6,4 mg/ d L, respect iva mente. Assim
A metanálise realizada por K ing et a/.78 mostrou que sendo, para se conseguirem concentrações terapêuticas,
a nifedipina tem eficácia semelhante à dos bloqueadores necessita-se de infusão constante de 3 a 4 g/ h. A dose de
beta-adrenérgicos em inibir o trabalho de pa rto pré-term o atague deve ser de 4 a 6 g.91
por 48 horas (RR 0,80 - IC 95% 0,61-1,05), sendo mais efi- Gordon e lams92 propõem o emprego do sulfato de mag-
caz na inibição por até sete dias (RR 0,76 - IC 95% 0,60- nésio no esquema seguinte: inicialmente, 6 g de sulfato de
0,97) e até 34 semanas (RR 0,83 - IC 95% 0,69-0,99), além magnésio em solução de lO a 20%, pela via intravenosa, du-
de apresentar número mu ito mais baixo de efeitos colate- rante IS minutos. A dose de manutenção é de 2 g hora (40
rais ( RR 0,32 - IC 95% 0,24-0,41). Os RNs cujas mães usa- g de sulfato de magnésio adicionadas a 1.000 mi de solução
ram nifedipi na tiveram menos necessidade de internação salina a 9% ou ringer lactato), à velocidade de 50 mi/hora.
cm UTI (RR 0,78 - IC 95% 0,64-0,95), menos incidência Aumenta-se a infusão em l g/ hora até que não existam
de desconforto respiratório (RR 0,63 - !C 95% 0,43-0,88), mais contrações em lO minutos ou até atingir-se a dose
hemorragia intraventricular (RR0,59 - IC 95% 0,36-0,98), máxima de três gramas. Nos casos de sucesso, manter a to-
entcrocolite necrotizante (R R 0,21 - IC 95% 0,05-0,96) e cólise por 12 a 24 horas. D ura nte esse período, mon itorar
icterícia (RR 0,73- IC 95% 0,57-0,93). Esses autores suge- as condições maternas: pesquisa do reflexo patelar, frequ-
rem que a nifedipi na seja a primeira escolha na in ibição do ência respiratória e volume urinário.
traba lho de parto pré-termo?8 Di m inui-se a infusão de I g/ h a cada 30 minutos até ter-
O s efeitos colaterais descritos são cefaleia (20%), rubor m inar a tocólise. Se as contrações reaparecerem, reaval iar
(8%), náuseas (6%) e hipotensão. a paciente para julgar a necessidade de tratamento tocolí-
Contraind icam-se os inibidores dos canais de cálcio tico adicional. Embora o sul fato de magnésio ultrapasse a
nas gestantes hipotensas - pressão arterial inferior a 90 x 50 placenta, seus efeitos colaterais no feto são pouco comu ns.
mmHg. Deve-se evitar também o uso concomitante com o Adm ite-se, no enta nto, que seu uso prolongado possa deter-
sulfato de magnésio, pelo risco de bloqueio neuromuscular.73 minar letargia, hipotonia e hipermagnesemia. Pela via oral,
Entretanto, em estudo com mais de 200 gestantes com o o magnésio tem pouca ação na inibição do parto pré-termo.
uso concomitante de nifedipina e sulfato de magnésio, não Contraind ica-se a tocólise com sulfato de magnésio nas
se constataram evidências de bloqueio neuromuscular.90 gestantes com doenças renais ou com miasteniagravis.

338 Noções Práticas de Obstetrícia


As metanálises mais recentes mostram que o sulfato de bloqueadores de canal de cálcio 2% (11/542), o atosiban 0,2%
magnésio apresenta baixa efetividade em prevenir o parto (l/575) e a indometacina não apresentou efeitos colaterais,
em até 48 horas, em até sete dias ou em prolongar a gestação mas o número de pacientes avaliados foi baixo (0/ 35).94
além de 34 ou37 semanas.N° Além disso, ele apresenta taxas A associação de substâncias não deve ser utilizada,
elevadas de efeitos colaterais, sendo os mais comuns calor, pelo risco de potencialização dos efeitos colaterais, sem
rubor, náuseas, vômitos, hipotensáo, cefaleia e · barramento mel hora dos resultados.
visual". Efeitos colaterais mais graves como a parada respi- O Q!Jadro 21.4 mostra os pri ncipais medicamentos e
ratória são mais raros, mas devem ser prontamente tratados doses utilizadas na inibição do parto pré-termo.
com gluconato de cálcio lOmi a 10% por via endovenosa.
Quadro 21.4 1Medicamentos utilizados na inibição do
Do.ulon:s de ()xulo Nítnco trabalho de parto pré-termo
A nitroglicerina é potente relaxante da musculatura lisa Droga Ataque Manutenção
e vem sendo usada para inibir a ati vidade uteri na, inclusive
Nifedipina 30 mg VO 10 mg 6/6h
no parto pré-termo.7.l·81
A nitroglicerina geralmente é utilizada através de ade- Salbutamol 10- 48 mcg/min EV 10 - 48 mcg/min EV
sivos tra nsdérm icos (patches) de 10 mg. Os adesivos são lndometacina 100 mg VR ou 25 a 50 mg 4/4h por
trocados a cada 24 horas e utilizados por dois dias. 50mgVO 2 dias
Duckitt e 1hornton 81 revisaram cinco estudos (466 pacien- MgS04 4g a 20% EV 1 a 3g/h EV I
tes) sobre a utilização da nitroglicerina na inibição do trabalho
Atosibano 6.75 mg EV 300 mg/min - 3h
de parto pré-termo. Eles demonstraram que embora o grupo
100 mg/ min - 45h
que utilizou a nitroglicerina tenha tido baixa frequência de par-
MgS04 =sulfato de magnésio
to antes de 37 semanas, não houve diferença quanto ao parto
abaixo de 34 semanas, prolongamento da gestação por mais de
48 horas ou sete dias nem na morbimortalidade neonatal. TrRAI'Itllli M ANLJL\'<,AO
O uso de tocolíticos de forma profilática ou como te-
i\ FSCOI II A L>O 1OCOL/ 1/C.:O rapia de manutenção após a inibição, já que existe risco de
Náo existe tocolítico ideal. Todos eles apresentam baixa recorrência, não mostrou bons resultados e não é recomen-
eficácia (inibem o parto por apenas 48 horas a sete dias) e dado na atualidade.
efeitos colaterais. Essa pequena inibição é suficiente, no en- Três metanálises avaliaram a terapia de ma nutenção
tanto, para que sejam tomadas outras medidas, como apli- com beta-adrenérgicos, magnésio e bloqueadores de ca-
cação de corticoides e transferência para centros com UTI nais de cálcio e não exibiram qualquer benefício.82-84
neonatal, para melhorar as chances do RN prematuro. O uso profilático de beta-adrenérgicos em pacientes
Uma vez que os tocolíticos apresentam eficácia seme- com gestação simples ou gemelar também não proporcio-
lllante, outros fatores como baixa incidência de efeitos colate- nou benefícios?5•96
rais e custo devem ser levados em consideração. Desta forma,
as primeiras escolhas recairiam sobre a nifedipina e a indo- AssOliil<, AO DL PRoc..t ~ 1 LRO.\lA
metacina. Metanálise recente mostrou que em gestações Dois trabalhos que empregaram a progesterona após
abaixo de 32 semanas a indometacina parece ser mais eficaz a in ibição do trabalho de parto pré-termo mostra ram
que a nifedipina.93 A indometacina deve ser também a pri- bons resultados.
meira escolha se a gestação for complicada com polidrâm nio. Facchinetti et a/.97 aplicaram 34mg de caproato de 17-al-
Estudo multicêntrico em 28 hospitais da Holanda e Bél- fa-hidroxiprogesterona, por via intramulscular, de quatro
gica (1.920 pacientes) avaliou os efeitos colaterais dos tocolí- em quatro dias, em pacientes internadas para inibição de
ticos. A incidência de efeitos colaterais foi de 0,7% quando os trabalho de parto pré-termo, entre 25 e 34 semanas. Após
tocolíticos foram usados isoladamente e de 1,9%quando usa- 48 horas de tocólise,60 pacientes foram randomizadas para
dos em associação. Os agonistas beta-adrenérgicos tiveram receberem a progesterona ou nenhum trata mento. O grupo
taxa de efeitos colaterais de 4% (quatro em 175 pacientes), os que recebeu a progcsterona teve mais prolongamento da

Parto Prê-termo 339


gestação (35 ± 19 dias X 25 ± IS dias), alta taxa de parto Toda paciente candidata à tocólise deve receber, tam-
após 37 sem anas (57% X 16% - RR O, IS) e mais peso médio bém, corticoides antes do p arto, na dose de 12 mg de beta-
ao nascimento (3. 103 g ± 468 g X 2.809 g ± 3 I7 g). metasona intramuscular, duas doses com intervalo de 24
Em outro estudo, também avaliando pacientes inter- horas entre elas ou então 6 mg de dexametasona, intra mus-
nadas para inibição de trabalho de parto pré-termo, 37 cular, a cada I2 horas, no total de quatro doses. Nas ges-
delas receberam 400 mg de progesterona por via vaginal tantes com complicações como síndromes h ipertensivas e
e 33 não receberam trata mento. O grupo que recebeu a diabetes, com parto previsto para antes de 34 semanas de
progesterona teve idade gestacional maior ao n ascimento gestação, também se deve administrar corticoides. 101
(36,7±1,5 semanas X 34,5±1,2 semanas), mais peso (3. 101 Recomenda-se cort icoide nas gestantes com risco de par-
g ± 588 g X 2.609 g ± 663 g) e baixa incidência de descon- to pré-termo, com idade gestacional entre 24 e 34 semanas.
forto respiratório (I 0,8% X 36,4%).98 Em casos especiais, como em locais onde a assistência neo-
Apesar dos resultados favoráveis, como se trata de es- natal é deficiente, aceita-se o uso até 36 semanas de gestação.
tudos pequenos, recomenda-se aguardar novas pesquisas Metanálise de trabalhos randomizados na terapia com cor-
antes de se adotar essa medida na prática clínica. ticoides provou, de manei ra irrefutável, sua eficácia e segurança
na maioria das situações clínicas em gue se pode usá-los. Houve
redução da mortalidade neonatal da ordem de 40% (OR 0,60
ÜUTROS MEDI CA MENTOS - IC 95% 0,48-0,75), redução da síndrome da angústia respira-
tória (OR0,53 -IC 95%0,44-0,63) e da hemorragia intraventri-
Na inibição do parto pré-termo, além das dúvidas em cular (OR 0,48 - lC 95% 0,32-0,72), sem aumento signi ficativo
relação ao emprego dos tocolíticos, discute-se também a das taxas de infecção materna (OR 1,3 1 - lC 95% 0,99-1,73). 102
conveniência ou não de se administrar corticoides, antibi- O efeito máximo dos corticoides ocorre entre 48 horas
óticos e neuroprotetores. e sete dias após sua aplicação, mas há estudos mostrando
que mesmo se o parto ocorrer antes de 4 8 horas (oito a IS
( ·w~ I /COI DE\ horas) já existem efeitos benéficos. 103
Na década de 70, Liggi ns e H owie99 recomendaram a Se a gravidez se prolongar por mais de sete dias, não se
administração de corticoides à gestante, visando induzir recomenda a repetição da dose dos corticoides.
ou acelerar a maturação pulmonar fetal nos partos pré-ter- Estudos que avaliaram a repetição da dose de corticoi-
mo espontâneos ou induzidos. Desde então, discutem-se des a cada sete ou 14 dias após a aplicação inicial não obser-
as vantagens e os inconvenientes dessa terapia. vara m redução na mortalidade neonatal e ainda indica ram
O emprego de corticoides na gestante, para a matura- redução no peso ao nasci mento e na circ unferência cra nia-
ção fetal, é uma das intervenções mais estudadas na medi- na dos recém-n ascidos que recebera m múltiplas doses. 104
cina perinatal. Têm-se demonstrado muitos efeitos benéfi-
cos para o recém-nascido prematuro, incluindo a redução AN/"1/l/O rt <..OTr: RA PIA PH OHI A I / LA
d a incidência e d a gravidade da depressão respiratória, da O emprego de antibióticos no trabalho de parto pré-
hemorragia intraventricular, da enterocolite necrotisante termo é aceito para prevenir a infecção neonatal por Strep-
e d a mortalidade neonatal. O tratamento com corticoides tococcus do grupo beta e d iscutido mais ad iante.
melhora as funções pulmonar, circulatória e do sistema
nervoso. Até os níveis de Apgar do recém-nascido melho- M I Ll /Ct\,\ 1~ :,:-t O\ PARA. i'YFLIWPROI L<,.ÃO DO R. r U.\ 1 \A\C/00
ram. Crianças que receberam corticoides antes do parto Sequelas neurológicas estão entre as piores complica-
estão menos propensas a apresentar problemas neurológi- ções da prematuridade extrema. Estudo norueguês que
cos até um ano de idade, quando comparadas com aquelas avaliou 903.402 indivíduos desde o nascimento até a idade
com idade gestacional semelhante e que não foram trata- adulta demonstrou que a taxa de paralisia cerebral era de
das. O acompanhamento por longo tempo das crianças 9,1% entre aqueles n ascidos entre 23 e 28 semanas,6% entre
que receberam corticoides antes do parto não demonstrou 28 e 31 semanas, 1,9% entre 3 1 e 34 sema nas, 0,3% entre 34
efeitos indesejáveis desse hormônio.100 e 37 sem anas e 0,1% nos nascidos acima de 37 semanas. 105

340 Noções Práticas de Obstetrícia


Alguns pesquisadorc observaram que em mulheres tantes no que se refere ao desenvolvimento físico e mental.
que haviam recebido ulfato de magnésio para inibição do Isto vem acontecendo naqueles centros médicos onde a as-
parto pré-termo, as taxas de recém-nascidos com paralisia sistência obstétrica c neonatal é valorizada e bem executada.
cerebral eram mais baixas. Leva ntou-se ,1 hipótese de que o
sulfato de magnésio teria efeito neuroprotetor para o feto. A
droga agiria estabilizando a membrana dos vasos cerebrais c P REV L ÇÃO DA I NHt. ÇÃO HJ \ 'I L PELO
diminuindo a incidência de lesões relacionadas à hipóxia.106 Snul'mcoccus noCRL-I'OBII ''
Metanálise recente de seis estudos, com 5.357 pacien-
tes, mostrou que o u o do sulfato de magnésio reduz a inci- Segundo as atuais recomendaçõe do Centersfor Disease
dência de paralisia cerebral (RR 0,69 - IC 95%0,55-0,88). 10 ' Control a11d Prevetion (CDC), 108 sempre que houver a possi-
No maior dos estudos avaliados nessa metanálise, os re- bilidade de o parto ocorrer antes do termo, deve ser reali-
sultados foram melhores cm gestações abaixo de 28 sema- zada a profilaxia antibiótica para a infecção neonatal pelo
nas (RR0,45 - IC 95%0,2 -0,87). O su lfato de magné io foi Streptococws do grupo beta (SGB), a não ser que a paciente
empregado na dose de ataque de 6 g, por via EV, seguido de tenha cultura negativa nas últimas ci nco semanas.
infu ão de 2 g por hora por pelo menos três horas. 106 A profi laxia deverá ser feita com penicilina cristali na, na
Em função desses achados, acreditamos que caso o dose de ataque de 5.000.000 UI por via cndovenosa, com
parto ocorra antes de 28 semanas, o sulfato de magnésio novas doses de 2.500.000 U I de quat ro em quatro horas
poderá ser empregado para tentar minimizar as complica- até o parto. Caso o trabalho de parto seja inibido, a penici-
çõe neurológicas do recém-nascido. lina deve ser ma ntida por 48 horas. Se disponível, a cultura
para SGB deve ser colhida no momento da admissão. Se
a cultura for negativa e a paciente entrar em trabalho de
T E RCEI RA ETAPA - C ONDUÇ ÃO parto nas próxi mas cinco semanas, não é necessário f.1zcr
DO PARTO PRÉ- T E RMO novo trata mento. Após cinco semanas, deve ser realizada
nova cultura (ver capítulo 52 - In fecções pcrinatais).
Muito frequentemente não se consegue evitar o parto Para evitar o uso desnecessário de antibióticos, uge-
pré-termo: ou as terapêuticas preventivas ou inibitórias rimos que a profilaxia só seja real izada naquelas pacientes
não foram corretamente instituídas ou se mostraram ine- com índice de risco de parto pré-termo acima de 10, ou seja,
ficazes. Mesmo quando a tocólise é eficaz, ela raramente quando as chances da inibição forem poucas.
prolonga a gestação até 37 semanas. A prematu ridade es-
tará sempre presente e compete à equipe obstétrica adotar
medidas capaze de proteger o feto prematuro, sempre sus- V I A DE PARTO
ceptível a problemas intraparto como tocotraumatismo,
hipóxia, anóxia, infecção e hemorragia intraventricular. A Q uestiona-se qual o verdadeiro papel da via de parto
evolução imediata c futura do recém-nascido prematuro, nos resultados peri natais dos prematuros. Ex istem muitas
mesmo daquele muito prematu ros, está intimamente re- controvérsias.
lacionada à assi tência obstétrica c neonatal. Quanto me- Acreditamos que a decisão quanto à via de parto deve
lhor essa assistência, mais possibilidades de sobrevida e ser precedida pela análise criteriosa de variávci que po-
mais baixos os riscos de sequelas imediatas e futuras. dem inAuenciar nos resultados perinatais.
Na prematuridade, os resultados perinatais e cm longo Assim, não se pode considerar apenas a idade gesta-
prazo dependem muito da qualidade da assistência obs- cional e o peso estimado do feto, mas também a apresen-
tétrica e também da qualidade da assistência nconatal. As tação fetal, o padrão das contraçõcs uteri nas, as condições
estatísticas demonstram nitidamente a importância dessa do colo, a integridade ou não das membranas amnióticas,
intcr-rclação assistencial: recém-nascido de idade gcsta- a possibilidade ou não de se mon itor<~ r adequada mente as
cional muito precoce (igual ou inferior a 26 semanas) e de condições fetais. H:i de se considerar também a experiência
peso muito bai..xo (igual ou inferior a 750 g) tem apresentado e os recursos da equipe responsável pelo atendimento ao
bons índices de sobrevida, inclusive sem alterações impor- parto e ao recém-nascido: obstetra, nconatologista, aneste-

Parto Pré-termo 341


sista e pessoal paramédico. Deve-se levar em conta, ainda, Jáno parto pré-termo induzido, por problemas fetais ou
se se trata de pa rto pré-termo espontâneo ou induzido. maternos, julgamos que a via abdom inal é a preferencial.
Coorte ret rospectiva envolvendo 2 .466 recém-nasci- Raramente existem as cond ições ideais para a indução do
dos com peso inferior a 1500 g, e m apresentação de vér- parto; nestas circunstâncias, os riscos da indução são mais
tice, demonstrou que a cesariana não melhora a sobrevida altos do que seus possíveis beneFícios.
neonatal, especialmente em fetos sem crescimento intrau- Ressalte-se, contudo, que a via transabdominal não é
109 isenta de riscos. O pri ncipal risco é a d ificuldade na extra-
terino restrito.
N ão existem evidências sobre a melhor via de parto ção do feto prematuro. Essa complicação é consequente à
para gestações inferiores a 28 semanas. 110 falha na realização da laparotomia e principalme nte da his-
terotomia. Laparotomias mu ito reduzidas e histerotomia
<..'0\-Dl'<. {O[)() P -\RTO PfL\ I I\ I/{ ~ .'\!-oi'LU /lA segmentar, quando ainda não houve expansão adequada
Os cuidados na condução do parto pré-termo espon- do segmento inferior do útero, dificultam a cxtração fetal
tâneo pela via transpélvica pouco diferem dos adotados e aumentam o risco de tocotraumatism o e da aspiração de
na gestação a termo. Recomenda-se, sempre que possível, líquido amn iótico.
evitar o uso de ocitócitos e sedativos; se necessários, usá-los Na ausência de formação do segmento, nas apresenta-
com cautel a e monitorando consta ntemente as contrações ções anó malas, nas malformações fetais e em fetos de mui-
uterinas para evita r hipersistolias e avaliar as cond ições fe- to baixo peso, fazemos e recomenda mos a histerotom ia
tais para combater o sofrimento fetal. corporal clássica.
Qyestiona-se a realização rotineira da episiotomia. Outros autores também concorda m que na apresen-
Parece-nos absolutamente necessário realizá-la; ela reduz tação fetal alta ou quando são previstas dificuldades na
a duração do período expulsivo, fàcilita o desprendimen- extração fetal, deve-se considerar a realização de incisão
to fetal, podendo dim inuir a incidência de he morragia corpora I clássica. 11 1
intraventric ul ar. Não se entende que se utili ze a via transabdominal para
A amniotomia, sempre que possível, deve ser reta rda- facilita r a extração fetal e evitar traumatismo para d epois
da até o fin al do período de d ilatação. A rotura prematura extraí-lo com dificuldade, quase sempre depri mido, atra-
das membranas ou sua rotura logo no início do parto é vés de incisão segmenta r baixa, insuficiente para a remoção
cont rai nd icação relativa para o parto tra nsp élvico. A au- feta l, exigindo que se faça outra incisão no sentido longitu-
sência da bolsa das águas desde o in ício do trabalho de dinal. Isso não apenas pro longa o tempo operatório como
parto favorece a formação de bossas serossanguíneas e aumenta suas complicações.
traumatismo cra niano. A Figura 21.6 resume a conduta na paciente em traba-
O fórcipe de alív io é boa opção para reduzir o período lho de parto pré-termo.
expulsivo, qua ndo realizado por quem sabe aplicá-lo. Ao final, fica-nos a impressão de que, apesar de todos
os esforços dos pesquisadores, de todos os progressos cien-
lONDUÇAODOJlti/1/'0PHA \ 'iA 'fRAN\AIWOMINAI. tíficos c tecnológicos, pouco se progrediu na prevenção da
Há tendência quase que generalizada em se ad m itir prematuridade. O que se conseguiu foi reduzi r a morbida-
que a via transabdominal seja ma is favo rável ao nasci men- de e a mortalidade perinata l decorrente da prematuridade,
to de fetos prematu ros; seriam baixos os riscos de compli- graças à melhor assistência intraparto e, particularmente,
cações perinatais. aos progressos da assistência neonatal e à difusão do centro
Os números, contudo, não confirmam essa hipótese. de terapia intensiva para recém-nascidos.
Há consenso de que a cesariana de rotina em fetos pre- Qyanto à prevenção do parto pré-termo, o desafio ain-
maturos ma iores não se justi fica. Para os de muito baixo da não foi vencido pelos obste tras; o enigma d a sua etiolo-
peso, permanecem as controvérsias.110 gia ainda não foi decifrado pelos pesquisadores.

342 Noções Práticas de Obstetrícia


Paciente com contrações
uterinas regulares e modificações
cervicais abaixo de 37 semanas

indice de tocólise

<6

1
Hidratação.
analgesia e observação IG< 34 sem IG ~ 34sem IG ~ 34 sem IG <34 sem

Contraindicação Profilaxia para Strepto (3; Profilaxia para Corticoterapia;


para tocólise? hidratação; observação Strepto (3; profilaxia para
aguardar parto Strepto (3;
espontaneo aguardar parto
espontaneo

IG ~ 28 sem _ Nifedipi~a; corticoterapia;


IG < 28 sem
profilaxia para Strepto (3

lndometacina ou Nifedipina;
corticoterapia; profilaxia para Strepto p

Sucesso na inibição?

Alta em uso de MgS04 para neuroproteção;


progesterona 400mg/dia aguardar parto espontaneo

Figura 21.61 Condução do trabalho de parto pré-termo.


IG = idade gestacional; MgS04 =sulfato de magnésio

Parto Pré-termo 343


I
Quadro 2 1.5 Evidências sobre o acompanhamento da gestação em risco de trabalho de parto pré-termo

Objet1vo Intervenção Nível de evidência Grau de recomendação


Prevenção Intervalo de 18 e 24 meses entre partos reduz a 2B B
incidência de parto pré-termo I
Programas para parar de fumar reduzem a incidência de parto 1A A
I
pré-termo (

Cerclage diminui a prematuridade em pacientes com diagnóstico 1B A


clínico de insuficiência cervical I

Progesterona reduz a incidência de prematuridade em pacien- 1A A


tes com passado de parto pré-termo I

Progestreona reduz a prematuridade em pacientes com colo 1B A


curto (<15 mm) diagnosticado à ultrassonografia l
Tratamento Tocolfticos têm pouco efeito (inibição 48 horas a sete dias). mas lA A
significativo I
Corticoterapia reduz a morbimortalidade neonatal 1A A I
Antibioticoprofilaxia não melhora a morbimortalidade neonatal 1A A I
Profilaxia para strepto 13 pode ser benéfica 1A A I
MgS04 parece ter efeito neuroprotetor abaixo de 28 semanas 1A A I
MgS04 =sulfato de magnésio

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col. 199S;3S:780-9.

Parto Pré-termo
347
22 Rotura Prematura de Membrana
Néli ucli Teixeira de Souza
Regina Amélia Lope Pe oa de Aguiar

Conceitos Complicações da RPM


Incidência Complicações Fetais e Neonatais
Complicações Maternas
Etiologia
Fisiopatologia Con duta
Conduta na RPM em Gestações a Termo
Diagnóstico Conduta na RPPTM
Diagn óstico Clinico
Con clusões
Diagnóstico Laboratorial
Diagnóstico Ecográfico

veis pa ra a mu lher e para o recém-na cido. O risco a -

A
prematuridade representa o maior fator de
risco de co m plicações em Ob tetrfcia, devi- ociados à rotu ra prematura da membranas são infecção,
do à sua frequente associação com a morbi- compressão de cordão umbi lical, descolamento prema-
d ade e a mortalidade perinatais. Apesa r das inúmeras tu ro de placenta e desencadea mento do traba lho de par-
pesquisas nessa á rea, as taxas de partos pré-termos au- to. Em idades gcstacionais muito precoces associam-se,
me ntaram 38% d e d e 198 1. 1 ainda, os riscos de hipopb sia pulmonar e defo rmidades
A causas da prematuridade podem ser divididas cm fetais, tais como lu xação de qu ad ril, torcicolo ·, pé to rto,
três gr upos: interrupção eletiva pré-termo da ges tação por entre outras.
doenças maternas e/ou fetais; rotu ra premat ura pré-termo Qua ndo a R PM ocorre cm gestações a termo, a prio-
de membranas; e trab,tlho de pa rto pré-termo. ridade é evita rem-se a compl icações associada à rotura
A interrupção eleti va da ge tação por causas materna prolongada de membra na , em aumentar a incidência
ou fetais representa 20 a 0% de todos o partos pré-termo , de cesarianas. Q.iando acontece antes do termo, a esses
enquanto a rotura prematu ra de membranas (RPM) c o riscos e associam as complicações da prematuridade,
trabalho de parto pré-termo reprc e ntam 70 a 80% dos ca- como síndrome da angústia respiratória (SAR), d isplasia
so .1 A rotura prematura de membranas responde por apro- broncopuLno nar, dueto a rtcrioso patente, entcrocolite
ximadamente um terço de todos os nascimentos pré-termo. necrosante, hemorragia intraventricula r (Hl Y), apncia,
Os quadros de RPM constituem grande desa fio, pois septicemia neonatal, sequelas neurológicas, fib roplasia re-
nem sempre os resu ltados obtidos ·ão igualmente favorá- trolcntal e morte. 1
CONCEITOS durecimento, em que a quantidade de colágeno do córion
d iminui progressivamente com o avançar da gravidez. Esse
Considera-se rotura prematura de membranas fenôme no ocorre tanto em gestações complicadas com
(RPM) aquela verificada antes do início do trabalho de RPM quanto naquelas em que a rotura espontânea é de-
parto. Quando a RPM ocorre antes de 20 semanas de tectada durante o trabalho de parto. 6
gestação, é caracterizada como abortamento inevitável. Diminuição das concentrações de fosfatidilinositol
Qyando acontece antes de 37 semanas, é denominada ro- nas membranas também é descrita nesse fenômeno. O
tura prematura pré-termo de membranas (RPPTM).4 fosfatidil inositol tem papel lubrificante na interface, entre
O intervalo entre a rotura das membranas e o início do o córion e o ârnnio, e sua diminuição leva a menos d isten-
trabalho de parto é conhecido como período de latência. sibilidade das membranas, favorecendo a rotura 6
Este é inversamente proporcional à idade gestacional. Após Discute-se se a infecção intrauterina seria causa ou con-
a rotura de membranas em gestações a termo, na ausência sequência da RPM. Evidências indiretas sugerem que as in-
de qualquer intervenção, 90% das pacientes entram em fecções do trato genital possam ser fatores desencadeantes,
trabalho de parto espontaneamente dentro de 24 horas, sendo que estudos ressaltam que 32 a 35% dos casos de RPM
enquanto que nas gestações pré-termo em 80% das vezes têm cultura de líqu ido am niótico positiva.A identificação de
o trabalho de parto inicia-se dentro de até uma semanaY microrganismos patogênicos na flora vaginal imediatamen-
te antes da rotura das membranas (RM) demonstra o papel
das infecções genitais na patogênese da RPM. As bactérias
INCIDÊNCIA infec tantes produzem enzimas (proteases, colagenases e
elastases) que atuam sobre as membranas, levando-as ao en-
A RPM é registrada em 5 a 10% de todas as gestações. fraquecimento e à rotura?·8
Cerca de 60% dos casos ocorrem em gestações a termo. A A resposta inflamatória à infecção bacteriana constitui
RPPTM é observada em 3% das gestações e é responsável outro mecanismo potencial para a rotura das membranas nos
por aproximadamente um terço dos partos pré-termo. 5 casos de infecção do trato genital e é mediada por polimor-
fonuclea res neutrófilos e macrófagos, que são recrutados para
o local da infecção e produzem citocinas, metaloproteinases
ETIOLOGIA e prostaglandinas. Outro componente da resposta do hospe-
deiro à infecção é a produção de glicocorticoides. Na maioria
As membranas fetais são constituídas por duas ca- dos tecidos a ação anti-inAamatória dos glicocorticoides é me-
madas denominadas âmnio e coriodecídua ou córion. O diada pela supressão da produção de prostaglandinas. Entre-
córion é mais espesso que o âm nio e é celular. O âmnio tanto, em alguns tecidos, incluindo o âmnio, glicocorticoides
é avascular, representa 20% da espessura das membranas paradoxalmente estimulam a produção de prostaglandinas.
fetais, mas domina a resposta mecânica da integridade das Em cultura de células epiteliais amn ióticas, a dexametasona
membranas. As subcamadas do âmnio secretam colágeno reduziu a síntese de fibronectina e colágeno tipo 111 9
dos tipos I, ll, Ill e IV e glicoproteínas fundamentais na in- Diversos fatores de risco têm sido associados à RPM.
tegridade das membranas fetais. Acredita-se que a rotura Estudo prospectivo com 2.929 gestantes encontrou como
das membranas seja consequência direta de um processo fatores de risco associados à RPPM: história de RPPM
de fragiJização bioquimicamente mediado, que pode ser (OR3,1; !C 95% 1,8-5,4) ou de trabalho de parto pré-termo
visto em coordenação com forças físicas 6 (TPPT) anteriores (OR 1,8; IC 95% l,l -3,1); medida do
São múltiplos os fato res responsáveis pela RPM. Alte- colo do útero com 23 semanas inferior a 25 mm (OR 2,5;
rações no colágeno, conteúdo de fosfolipídeos nas mem- l C 95% 1,4-4,5); IMC baixo (OR 1,8; !C 95% 1,1-3,0) nas
branas, forças mecânicas, enzimas maternas, citocinas, pacientes multíparas. Nas primíparas, os fato res de risco
fosfol ipases e colagenases de origem bacteriana estão en- encontrados foram: IMC bai.xo (OR 2,0; IC 95% l,0-4,0);
volvidos e podem desencadear o processo. trabalho durante a gestação (OR 3,0; !C 95% 1,5-6, 1); colo
Na gravidez a term o, a rotura espontânea das membra- curto à ultrassonografia (OR 3,7; lC 95% 1,8-7,7); compli-
nas parece estar associada a um processo natural de ama- cações médicas na gravidez (OR3,7; lC 95% 1,5-9,0); con-

350 Noções Práticas de Obstetricia


trações sintomáticas (OR 2,2; IC95%1,2-7,5); e vaginose rios estfmulos, incluindo o estiramento das membranas
10 e infecção do trato reprodutivo, produzindo mediadores
bacteriana (OR2,1; IC 95% 1,1-4,1).
O utros fatores como tabagismo, sangramento genital, como prostaglandinas, citocinas e hormônios, que regu-
insuficiência cervical, hiperdistensão uterina (polidrâm- lam as atividades das enzimas que degradam a matriz6•13 .
nio, gestação múltipla, macrossomia fetal), realização de A elasticidade das membranas parece envolver um
procedimentos invasivos (biópsia de vilo corial, am nio- equil íbrio entre a síntese e a degradação dos componentes
centese, cordocentese, fetoscopia), deficiências nutricio- da matriz extracelu lar.
nais (principalmente de vitamina C e cobre) e doenças Considera-se que diminuição na quantidade de colá-
maternas com deficiência de alfa-1-antitripsina, doença geno, alteração em sua estrutura ou aumento da atividade
falciforme e síndrome de Ehler-Danlos também têm sido colagenolítica possam favorecer a RM.
descritos associados a risco aumentado de RPM.11 •12 A integridade das membranas é ma ntida pelo controle
O Q\,1ad ro 22. 1 si nteti za os principais fatores de risco de degradação do colágeno. As metaloprotei nases, media-
para RPPM. doras dessa degradação, têm sua ação controlada pelos ini-
bidores teciduais. Momentos antes do parto, o equil íbrio
Quad ro 22.1 I Fatores de risco para RPM entre a atividade das metaloproteinases e seus inibidores
teciduais é direcionado para a ação proteolítica, levando à
Trabalho de parto pré-termo ou RPM prévios
degradação da matriz extracelular das membranas feta is.
Tabagismo
--------------------------------- As membranas que se rompem prematuramente pare-
Sangramento genital cem possuir defeitos localizados, e não enfraquecimento
Insuficiência cervical generalizado.
O papel de hormôn ios como a progestcrona, estradiol e
Vaginose bacteriana
relaxina, embora importantes no processo reprodutivo, ai n-
Útero distendido (polidrâmnio, gemelaridade, macrossomia) da não é bem defi nido na RPM. A morte celular programa-
Procedimentos invasivos (biópsia de vi lo corial. amniocente- da (apoptose) c seus efeitos sobre a elasticidade das mem-
se, cordocentese) branas também ainda precisam ser mais bem-estudados na
---------------------- fisiopatologia da RPM-"
Deficiências nutricionais (vitamina Ce cobre)
Doenças maternas como a deficiência de alfa-1-antitripsina,
drepanocitose, sfndrome de Ehlers-Danlos
D I AGNÓST ICO
APM =rotura prematura de membranas

Diante de gestante com queixa de perda de líquido


Embora cada fator de risco possa, isoladamente ou em pelos gen itais, impõe-se a necessidade da investigação da
associação, ser causa de RPM, em muitos casos a rotura possibilidade da rotura prematura de membranas. A con-
das membranas acontece na ausência de fatores de risco firmação diagnóstica e a correta determinação da idade
identificáveis. gestacional e das condições fetais intraútero são determi-
nantes para a adoção da conduta mais oportuna.

FISIOPATOLOGIA
DIAGNÓSTICO CLÍNICO
Embora a RM tradicionalmente seja relacionada ao
estrcsse físico, particularmente associado ao trabalho de Na maioria dos casos, o diagnóstico é baseado na histó-
parto, as evidências propõem que processos bioquímicos, ria clínica e no exame físico cuidadoso.4
incluindo a rotura do colágeno da matriz extracelular do A gestante geralmente relata expressivo fluxo de líqu ido
âmnio e do córion e a morte programada das células da pela vagina, segu ido de fluxo menos intenso ou sensação de
membrana fetal, também estejam envol vidos. Sabe-se que umidade. Perdas urinárias, corri mento vaginal, cervicites e
as membranas fetais e a decídua materna respondem a vá- sêmen devem ser considerados no diagnóstico diferencial.

Rotura Premat ura de Membrana 351


O exame especular (cspéculo estéril), além de permitir T 1 WL no PAPEL DL NITR \/1:\:\
a confirmação da saída de líquido amniótico (LA) através
do orifício externo do colo ou formação de um "lago" no O líqu ido amniótico tem pH entre 7,1-7,3, enquanto o
fundo-de-saco posterior, constitui-se também em oportu- pH da vagi na varia de 4,5 a 6,0. O papel de nitrazina muda
nidade para avaliar ccrvicites, prolapso de cordão ou partes de amarelo para azul quando colocado em contato com
fetais, dilatação c apagamento do colo uteri no, bem como substâncias de pH entre 6,5 e 7,5. Testes falso-positivos
obter material para culturas ou outros exames específicos, podem ser encontrados em sangue, muco cervical, sêmen,
quando indicados. vaginosc bacteriana ou tricomoníasc e uso de antissépticos
O toque vagi nal não deve ser realizado, pri ncipalmente alcalinos. Assi m como para o teste de arborização, o teste
quando a idade gestacional for pré-termo. Além de forne- do pH vaginal pode dar resultado fa lso-negativo nos casos
cer poucas informações adicionais às obtidas pelo exame de rotura prolongada com oligoidrâmnio secundário. A
especular, o toque vaginal aumenta o risco de infecção, acurácia é de 90-98%.4•5
devendo ser feito, portanto, apenas nos casos de trabalho
de parto ativo ou parto iminente e nos casos cm que a con-
duta será a interrupção da gestação, para avaliação das con- DI:: II<..<. \0 DA l iCROGLOHLII'\ \ PL \LE:\TAIU \
diçõe do colo uterino.4 ooTIPOALI-\ I (PAJviC-1)
e a rotura das membranas ocorreu muito antes do
exame, deve-se considerar a possibilidade da ausência de A PMAG-1 é uma proteína expressa por células da
líquido amniótico. Manobras de Valsalva ou pressão sobre parte decídua! da placenta. Presente no líquido amniótico,
o fu ndo do útero podem permitir a saída de líquido rema- ela não é encontrada normalmente no resíduo vaginal. No
nescente. caso de rotura das membranas, a PM AG-I é detectada na
Em algumas situações, a avaliação clínica, conforme vagina por um teste próprio que, segundo a literatura, apre-
descrito, não permite fi rmar ou afastar a possibilidade de senta sensibilidade de 98,9%, especificidade de I00%, valor
rotura das membranas. Para e ses casos, a investigação la- preditivo positivo de 100% e negativo de 99,1 %. 14
boratorial e ultrassonográfica pode contribuir para a defi-
nição diagnóstica.
DIAGNÓSTICO ECOGRÁFICO

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Embora a ultrassonografia não permita o diagnósti-


co da rotura das membranas, a ol igodramnia associada à
11'>11 DI ARBORILA(,:ÃO perda de líquido reforça o diagnóstico. Além de fornecer
o volume de líquido am niótico, o exame ultrassonográfico
O líquido amniótico, quando colocado seco sobre uma pode informar a idade gestacional, peso e apresentação fe-
lâmi na e observado ao microscópio, mostra desenhos no tais e localização placentá ria.
formato de folha de samambaia. Este achado é denomi- Para as situações de exceção nas quais a associação do
nado "arborização" típica. Resultado falso-positivo pode exame clínico com a avaliação de marcadores (pH e teste
ocorrer se o muco cervical for colhido. Para evitar a con- de arborização) não foi suficiente para firmar ou descartar
tami nação com muco cervical, a amostra do líquido a ser o diagnóstico de rotura de membranas, a amniocentese
analisada deve ser obtida no fundo-de-saco posterior ou na com injeção de corantes, como o índigo carmim (1 mi
parede lateral da vagi na. A contaminação com sangue não cm 9 mi de soro fisiológico), pode de maneira inequívoca
compromete o resultado. Resultado falso-negativo pode firmar o diagnóstico de rotura das membranas. Após sua
ser visto no casos de rotura prolongada com volume resi- injeção, a paciente deverá usar absorventes para que seja
dual de líquido amniótico reduzido. A acurácia do teste de possível a detecção do corante. Não há relato da sensibili-
"arborização" é de 85-98%.4•5 dade dessa técnica.4•5

352 Noções Práticas de Obstetrícia


COMPLICAÇÕES DA RPM CoMPLICAÇÕES MATERNAS

COMPLICAÇÕES FETAIS E NEONATAIS A infecção intra-amniótica subcl ínica e a corioamnio-


nite franca são também complicações graves ta nto para o
A prematuridade representa o mais alto risco para o feto/ neonato quanto para a mulher.
feto, sendo a síndrome de angústia respiratória a complica- O risco de in fecção é inversamente relacionado à idade
ção mais comum. Outras morbidades incluem enterocoli- gestacional na qual a RM ocorre, sendo mais alto quanto
te necrosante, hemorragia intraventricular e septicemia.4·s mais distante do termo estiver a gestação. Entre as mulhe-
Além da prematuridade, a incidência de apresentações res com RPM, 13 a 60% apresentam infecção intra-amnió-
anômalas, descolamento prematuro de placenta, prolapso tica e 2-13% terão infecção pós-parto.19
e compressão de cordão é alta. Alterações da frequência Entre 25 e 30% das pacientes com RPM sem sinais de
cardíaca fetal por compressão de cordão são mais frequen- corioamnionite têm cultu ra do líquido amn iótico positi-
tes em pacientes com RPM. va, sugerindo que a colonização assintomática é de risco
Metanálise concluiu que mul heres com RPPTM têm significativo, sendo os microrganismos envolvidos aeró-
três vezes mais risco de descolamento prematuro de pla- bios e anaeróbios?·8
centa (DPP) do que mul heres sem rotura de membranas.15 Os riscos maternos associados à infecção intra-am-
Outra grave complicação da RPM é a infecção. A rotu- niótica incluem bacteremia, anormalidades no trabalho
ra das membranas promove quebra na barreira que protege de parto, necessidade de cesariana, hemorragia, endo-
o feto do ambiente externo. Em consequência dessa rotura, miometrite e infecção de parede. Bacteremia ocorre em
microrganismos da flora vaginal alcançam a cavidade uteri- S a 10% das gestantes com infecção intra-am niótica, mas
na, provocando amnionite e infecção fetal pela ingestão ou é mais comum nos casos de infecção por estreptoco-
aspiração do líquido amniótico infectado ou, ainda, por via co do grupo B ou Escherichia coli. Os riscos maternos de
hematogênica. Para as gestações pré-termo, o risco de coria- choque séptico, coagulopatia e síndrome de desconforto
mnionite clínica é mais alto nas primeiras 72 horas e diminui respiratório do adulto são mais preocupantes quando o
à medida que o período de latência aumenta.16 A infecção tratamento com antimicrobianos de largo espectro não é
intra-amniótica é importante fator de risco para morbidade instituído oportunamente. 8
neurológica pós-natal. Metanálise publicada em 2002 in-
formou que a corioamn ionite clínica foi significativamente
associada à paralisia cerebral (RR 1,9, IC95% 1,5-2,5) e à leuco- D IAGNÓSTICO DE l N PI CÇÃO lNTRA-AMNIÓTICA
malácia periventricular cística (RR 2,6, IC95% 1,7-3,9).' 7
A oligodramnia pode causar anomalias estrutu rais fe- A infecção intra-a mniótica ocorre em 40% das gestan-
tais, sendo a mais grave a hipoplasia pulmonar. O desen- tes com RPPTM admitidas com contrações uterinas e em
volvimento pulmonar é depe ndente de volume adequado 75% daquelas que desenvolvem trabalho de parto após a
de líquido amniótico. A porcentagem de recém-nascidos admissão por RPPTM.R
(RN) com hipoplasia pul monar depende da idade gesta- O quadro clínico clássico da corioamnionite ou in-
cional em que a RM ocorreu, sendo que nas RPPTMs no fecção intra-amniótica é caracterizado por febre materna
segu ndo trimestre de gestação a incidência é de 16%. O pe- (temperatura ax ilar > 38° C) e pelo menos duas das se-
ríodo mais crítico para alterações no desenvolvimento pul- guintes condições:
monar induzido pelo oligoidrâm nio é entre 17 e 28 sema- Leucocitose materna (leucócitos globais > 15.000
nas de gestação (período canalicular do desenvolvi mento cels/ mm 3);
pulmonar). O utras anomaljas secundárias à oligodramnia taqu icardia materna (mais de 100 bpm);
prolongada são a artrogripose e compressão e deformação sensibilidade uterina;
da cabeça fetal.'6•18 líquido am niótico com odor fétido.~

Rotura Prematura de Membrana 353


A proteína C reativa, embora seja teste muito inespe- inclu ídas em um estudo sobre o efeito do a ntimicrobiano
cífico, é elevada na corioam nionite (> 2 mg/d L). Outros na RPPTM, conclu iu que o oligoidrâmnio não deve ser
ma rcadores como dosagem de interleucina-6 também contraind icação à conduta conservadora.20 Excluídas es-
auxiliam no diagnóstico, principalmente quando os sinais sas situações, a conduta na RPM é, mais frequentemente,
8
clínicos de infecção não são inequívocos defin ida pela idade gestacional.
O diagnóstico de infecção intra-am niótica determin a a
interrupção da gestação, independentemente da idade gesta-
cional, precedida da introdução de esquema de antimicrobia- CoNDUTA NA RPM EM GESTAÇÕES A TERMO
458
nos de largo espectro, como será abordado mais à frente. · •

Em gestações de 37 semanas ou ma is, a indução ime-


diata do parto com ocitocina ou prostagla nd inas di minui
CONDUTA a incidência de infecções maternas, como corioamn ionite
(RR 0,74; IC95%: 0,56 - 0,97) e endometrite (RR 0,30;
C lassicamente, dois tipos de conduta podem ser adota- IC95%: 0,12- 0,74), e au menta o grau de satisfação mater-
dos na RPM: intervencionista e conservadora. Na conduta na (RR0,45, IC 95% 0,37-0,54).A indução im ediata também
intervencionista, o parto é induzido assim que se confirma reduziu as ad m issões no CTI neonatal (RR 0,72; IC95%:
o diagnóstico; e na conduta conservadora agua rda-se o iní- 0,57- 0,92). Não houve diferença entre os grupos de con-
cio espontâneo do parto. O tipo de conduta a ser adotada duta intervencionista e expectante na taxa de cesariana,
varia segundo a idade gestacional, condições da mãe e do parto vagi nal operatório e in fecção neonata l. 21
feto e experiência do obstetra. Todas as gestantes com ro- A tenção especial deve ser dada à profilaxia da sepse
tura prematura de membranas devem ser internadas. neon atal por estreptococo do grupo B. O uso da profilaxia
Apesar da grande va riabilidade nas condutas entre os deve ser indicado baseado nos resu ltados da cultura prévia,
serviços, é consenso geral que, diante do diagnóstico de se disponível, ou havendo fatores de risco se a cultura não
RPM, é imperativa a determinação acurada da idade ges- foi realizada ou o resultado n ão foi disponível. Nos casos
tacional. Essa avaliação deve ser baseada na ultrassonogra- indicados, a profilaxia deverá ser feita com pen icilina cris-
fia precoce, quando d isponível, e, na ausência desta, por talina, na dose de ataque de 5.000.000 U I p or via endo-
meio da avaliação clínica (data da última menstruação) e venosa, com novas doses de 2.500.000 U I de quatro em
ultrassonografia no ato da admissão. A ultrassonografia quatro horas até o parto 4 •22
realizada na adm issão tam bém fornecerá informações
acerca do volume de líqu ido amn iótico, da vitalidade fetal,
além de auxiliar n o diagnóstico das apresentações fetais CoNDUTA NA RPPTM
anómalas. A carditocografia anteparto também é útil na
ava liação de sina is de compressão do cordão umbilicaJ.3·S As complicações relacionadas à prematuridade consti-
Na vigência de corioa m nionite, descolamento p re- tuem a grande preocupação nos casos de RPPTM . A condu-
maturo de placenta, sangramento gen ital ou comprome- ta conservadora é mais defendjda em gestações abaixo de 32
timento do bem-estar fetal, a melhor conduta é a realiza- semanas. O limite inferior a partir do qual a conduta conser-
ção do parto:ls M ul heres infectadas pelo HIV ou com vadora deve ser instituída é tema de debate na área da bioéti-
infecção genital pelo herpes-ví ru s, preferencialmente, ca, pela indefinição do que seria o "limite da viabilidade" fetal.
devem ser acompanhadas com conduta intervencionis-
ta, ficando a conduta conservadora reservada para casos
cxcepcionais.3 Embora o oligoidrâm nio - ca racterizado GESTAÇÕES ENTRE 34 E 36 SEMANAS COMPLETAS
por índ ice de líquido am n iótico (ILA) inferior a 5,0 cm
ou medida vertical do máior bolsão inferior a 2,0 cm - seja Nas gestações com idade gestacional de 34 semanas ou
classica mente associado a risco aumentado de com pli- mais, as complicações da p rematuridade são poucas e os be-
cações infecciosas, a análise secundária do resultad o de nefícios neonatais em se prolongar a gestação, mínimos. 23 O
290 gestações únicas entre 24 e 32 semanas, que fora m risco de complicações maternas é aumentado com a conduta

354 Noções Práticas de Obstetrícia


con ·ervadora. Esta aumenta o risco de corioa mnion ite ( 16% sobrevida nconatal aumenta cm torno de 3%, favorecen-
x 2%) e o tempo de internação hospitala r (' ,2 x 2,6 dias), do a opção pela conduta con crvadora cm detrimento da
em alterar os resultados perinatais e levando à tendcncia a interve ncionista. Por outro lado, como a infecção é um
aumento da sepse neonatal. A indução do parto com a oci- dos principais fatores envolvidos na RPPM, as taxas de
tocina ou prostaglandina traz melhores resultados do que a infecção são mais altas com <~ conduta conservadora.26
conduta conservadora. 24 A profi laxia para estreptococo do Metanálise publicada pela Cochrane não encontrou
grupo está indicada, como já mencionado anteriormente.4 22 evidência uficientc para orienta r a prática cl ínica na
adoção da conduta con crvadora ou intervencionista na
RPPTM. esse estudo não foram detectadas diferenças
GESTAÇÕES ENTRE 32 E 33 SEMANAS COMPLETAS na mortal idade perinatal, nem na morbidade nconat.\1
(hemorragia intraventricular, enterocolite necrotisa nte,
Embora diver o centros preconizem a antecipação do sepse nconatal, síndrome de desconforto respiratório c
parto a partir de 32 emana de gestação, outros defendem duração da internação do RN). Entretanto, a conduta
a conduta conservadora nesse grupo, a menos que a maturi- intervencionista com parto imediato foi associada a alta
dade pulmonar seja comprovada.4.s.n Testes de maturidade frequência de cesariana c de endometrite e curta duração
pulmonar (contagem de corpúsculos lamelares, detecção de da internação materna. 25 ~1a ndo a conduta con erva-
fosfatilglicerol, relação de leciti na/ esfingomielina, relação dora é adotada, na ausência de complicações que de ter-
urfactante/ albumi na - TDx FLM - podem ser realizados minem a antecipação do parto, a mesma é ma ntida até
em amostra de LA colctada na vagina ou obtida por amnio- 32-34 semanas.4 · 5
ccntc e.5 A conduta ne a faixa de idade gestacional deve, Como já mencionado .H1tcriormcnte, a conduta con-
preferencialmente, ser baseada nas estatística de sobrevida servadora é contraindicada, independentemente da ida-
c seguimento pós-natal do erviço de neonatologia no qual de gestacional, na presença de infecção materna ou fetal,
age tante está vi nculada. Em nosso meio, considerando os descolamento prematuro da placenta, malformações fc-
resultados dos serviços de nconatologia, é defendida a con- tais graves, óbito fetal e trabalho de parto espontâ neo. '~
duta conservadora até a idade gcstacional de até 34 semanas. Atenção especial deve ser dada à história de sangramento
Embora não haja consenso, alguns estudos preconi- genital, pois esse dado associa-se a risco aumentado de
zam o uso da corticotcrapia antenatal para indução da ma- descolamento prematuro de placenta. 2 ~
turidade pulmonar, bem como o uso de anti bióticos para A conduta conservadora é caracterizada por monito-
prolonga r o período de latcncia, respeitando-se, obvia men- ração contínua e prolongada da gestante e do feto, asso-
te, as contraind icações a esses medicamentos.4 ciada a repouso no leito para favorecer o reacúmulo do
Qyando disponível, à admissão da gestante, durante o líquido amniótico.5 A admissão, pe quisas de infecção ge-
exa me especular, deve ser obtida a mostra de secreção cervi- nital por clamíd ia e gonococo e in fecção urinária devem
cal para cultura de clamíd ia e gonococo. Também deve ser ser solicitadas.'
realizada urocultura para investigação de infecção urinária O rastrea mcnto de infecção intra-amniótica deve er
associ ada.~ rigoroso e b.lseado na curva térmica, frequência cardíaca
Avia de parto deve ser individualizada, não havendo con- materna, lcucograma e exame especular. As dosagens da
senso de qual a melhor via de parto a ser e colhida. A profila- proteína C reativa, interleucina-6 c cultura de LA podem
xia do estreptococo do grupo deve ser realizada, lembrando ser util izadas como auxiliare no casos de diagnó ticos
que nos casos de cesaria na o tempo mínimo entre o início da duvidosos. 1· ~.R
infusão do antibiótico e a ci rurgia deve ser de quatro horas.4 22 A avaliação fetal deve er realizada diaria mente (au -
culta dos bati mentos cardíaco e/ ou cardiotocografia),
com repetição da ultrassonografia a cada dois a três dias,
GESTAÇÕES ENTRE 24 E 31 SEMANAS COMPLETAS para rea lização do perfi l biofísico feta l (PBF) e avaliaç.io do
LA. o entanto, e a medidas têm valor limitado na pre-
Abaixo de 32 emanas, a mortalidade perinatal ainda dição de rc ultado perinatal desfavorável. O valor preditivo
é alta c a cada d ia de pcrma ncncia no ambiente uterino a positivo do PBF para a orioamnionite varia de 25 a OUo,

Rotura Prematura de Membrana 355


com taxas de falso-positivo de 2 a 9%. 28•29 A avaliação do tâncias de escolha são a betametasona 12 mg IM, duas do-
líquido am niótico mostrando oligoidrâmnio persistente, ses com intervalo de 24 horas, ou a dcxametasona, 6 mg
apesar de indicar alto risco de infecção30 e curto período de lM a cada 12 horas, quatro doscs.H·.\6
latência/ 0 não deve ser utilizada isoladamente para indicar Evidências comprovam que a corticoterapia reduz a ocor-
a antecipação do parto. rência de SDR, hemorragia intraventricular e enterocolite ne·
O uso de corticoterapia, antibióticos e tocolíticos será crosante, sem aumentar a infecção materna c neonatal. 34 "36
discutido a seguir. Entretanto, efeitos maternos adversos podem poten-
A via de parto na RPPTM é, preferencialmente, ab- cialmente ocorrer, incluindo infecção (corioamnionite,
dominal. A via vaginal deve ser reservada para os casos endometrite e infecção na ferida cirúrgica), hiperglicemia,
de trabalho de parto espontâneo avançado, desde que a edema pulmonar e supressão adrenal, mas, sem dúvida, os
apresentação fetal seja cefálica Aetida. A profilaxia para o benefícios superam muito os riscos da medicação, desde que
estreptococo do grupo Btambém deve ser realizada, como respeitadas as indicações, posologias e contraindicações.
já mencionado anteriormcntc.4•21
Quadro 22.2 I Conduta na RPM de acordo com o Colé-
gio Americano de Ginecologista c Obstetras4
GE TAÇÕES ABAIXO DE 24 SEMANAS COMPLETAS lclacle Gest<wonal Conduta

~ 34 semanas Interrupção da gestação, em geral por


A gestante e os familiares devem ser informados dos indução do TP
riscos c benefícios da interr upção imediata da gestação ou Profilaxia para estreptococo do grupo
de sua manutenção. B. se indicada
--------
Os estudos mostram baixas taxas de sucesso na con- 32 e 33 semanas Conduta expectante. a menos que ma-
duta conservadora em gestações abaixo de 24 semanas, turidade pulmunar seja documentada
associadas a elevado risco de infecção materna, morte ne- Profilaxia para estreptococo do grupo B
onatal e lesão neurológica grave.H 31•31 Na RPM abaixo de Corticoterapia antenatal
23 semanas, a taxa de sobrevivência neonatal é de 17%, sem Antibióticos para prolongar o período
de latência
abordar as complicações neurológicas.33
O Colégio Americano de Ginecologistas e Obstetras 24e31 Conduta expectante
considera que nessa faixa de idade gestacional não há in- Profilaxia para estreptococo do grupo B
Corticoterapia antenatal
dicação para o uso de corticoides e de profilaxia para sepsc Antibióticos para prolongar o período
nconatal pelo estreptococo do grupo B. Refere, também, de latência
que não há evidências sobre os efeitos dos antimicrobianos Sem consenso em relação ao uso de
no período de latência desse grupo.4 tocolíticos
O Q uadro 22.2 sintetiza a conduta proposta pelo Co- 24 a 31 semanas Aconselhamento à gestante
légio Americano de Ginecologistas e Obstetras nos casos Conduta expectante ou indução do TP
de RPM. Não recomendado:
Corticoterapia antenatal
Antibióticos
Profilaxia para estreptococo do grupo B
Uo;o nt. COT ICO IDLS A RPPTM
RPPM = rotura prematura pré-termo das membranas; TP = trabalho de parto.

O uso de corticosteroides antenatal em mulheres com


risco de parto pré-termo é a intervenção obstétrica mais
eficaz cm reduzi r morbidade e mortaüdade perinatal. Em Uso DI- ANT I BIÓTicos A R PPT~l
gestações entre 24 e 34 semanas, na ausência de sinais de
infecção materna e fetal, o emprego da corticotcrapia, em Vários estudos preconizam o uso de antibióticos para
curso único, reduz a morbimortalidade neonatal. As subs- tratar ou prevenir infecções ascendentes e prolongar a

356 Noções Práticas de Obstetricia


gestação pelo aumento do período de latência, reduzindo, paí es de envolvido . e e estudo foi estimado que o
com is o, a morbimortaHdade neonatal. uso de antimicrobianos na RPPTM pode produzir re-
as pacientes longe do termo, nas quais a conduta dução de 4% na mortalidade global por complicações da
conservadora será adotada, o uso de antibióticos diminui a prematuridade e 8% de redução na mortalidade por sepse
morbidadc nconatal e o risco de corioam nion ite (R R 0,57, nconataP9
lC95~ 0,37-0,86) e au menta o período de latência, cja no os casos de infecção intra-am niótica, o uso de an-
prolongamento da gestação em 48 horas (RR 0,7 1, IC95'lb tibióticos de largo espectro está indicado c a terapia deve
0,58-0,87) ou em sete dias (RR 0,80, IC 9,.~ 07 1-0,90), em- ser iniciada antes da interrupção da gravidez. O esquema
bora a mortalidade neonatal não seja alterada. 37 padrão é associação de ampicilina (2 g de 6/ 6 horas, via
O N IC HD-MFMU (NntionnllnsfituteojCilifd J-lenlth endovcnosa) ou penicilina cristalina (2 milhões de UI de
and HwtWII Development Matemal-Fetnl Medicine Researc/1 4/ 4 horas, via endovenosa) com gentamicina (5 mg/ kg/
Units e/111ork) elegeu o uso de ampicilina (2 g de 6/ 6 h) dia ou 1,5 mg/ kg de 8/ 8h, via cndovcnosa). Nos casos de
c critromicina (250 mg de 6/ 6 h) por via endovcnosa por interrupção por cesariana, após a clampagem do cordão
48 horas, seguido de terapia oral por cinco dias de amoxi- deve ser acrescida ao esquema antimicrobiano clindamici-
cilina (250 mg de 8/ 8 h) e eritrom icina-base (333 mg de na (900 mg de 8/ 8 horas, via endovenosa) para cobertura
8/ 8 h) entre 24 c 32 semanas de gestação. Quando com- de anaeróbios. A terapia deve ser suspensa após período de
parado com placcbo, o esquema reduziu a ocorrência de 48 horas afebril, não sendo recomendada ma nutenção de
corioamnionite, au mentou o período de latência cm até antibiótico oral. 8
três semanas c reduziu a morbidade e mortal idade ncona- A antibioticoterapia por tempo prolongado é responsá-
tais (SA R, sepse, hemorragia intraventricular, enterocolite vel por efeitos colaterais na gestante, tais como: c.mdidíase,
nccroti zante). 18 diarreia, coi lite pseudomembr.mosa e infecção int rauteri-
O utra metanálise avaliou o uso de critromicina, ácido na por organi mos resistentes.
cl:wulãn ico ou ambo , durante lO dias após RPPTM. Os
resultados mostrara m aumento do período de latência de
até sete dias e redução na frequência de hcmoculturas po- Uso DE TocoLÍT Jc os N' RPPT~I
sitivas, sem, entretanto, melhorar os resultados neonatai .
A amox icilina-ácido clavulànico, embora tenha adiado o ão há evidencias de que o uso de tocolítico com o
parto, c teve associada ao aumento do ri co de cntcroco- objetivo de prolongar a gestação melhore a morbimortali-
litc nccrotisante.- dadc neonatal nas pacientes com RPPM. ão se verificou
Em nosso meio não d ispomos da critromicina para ad- diferença no período de latência nas mulheres que recebe-
mi nistração venosa, ·endo que alguns serviços a utilizam ram tocolítico profiláticos qua ndo comparadas com as
por via oral. Deve ser lembrado que a eritromicina na for- que não receberam.4 0 4 2
ma estolato é contr.1indicada na gravidez, por sua hepato-
toxicidadc.
O Colégio Americano de Gi necologistas c O bstetras AMN I O I NFU"iÃO Nr\ RPPTM
considera que um curso de sete dias de antibioticoterapia
parenteral ou oral com ampicilina ou amoxicilina c eritro- Em gestante com RPPM e oligoidrãm nio, com idade
micina é recomendado durante casos de conduta expec- gcstacional entre 24 c 33 semanas, a am noinfusão aumen-
tante de gestações entre 24 e 3 1 semanas, com o objctivo ta o período de latência quando comparada à conduta ex-
de prolongar a gravidez e reduzir infecções c morbidadc pectan te (21 dias x 8,7 dias), mas não há diferença quanto
neonatal. 4 à morte neonatal por hipoplasia pulmonar.4 1 Estudos re-
Revisão sistemática recentemente publicada concluiu alizados em RPPTM no segundo trimestre da gestação
que o uso de antimicrobianos em países cm desenvolvi- demonstraram redução da mortalidade neonatal com a
mento, onde infecções na gestação são mais prevalcntcs am nioinfusão real izada semanal mente cm pacientes com
c os cuidados com as gestantes e recém-nascidos mais oligoidrâmnio c ausência de sinais de infecção materna e/
limitados, pode ter impacto mais forte que o vistos cm ou fetal.44' 45

Rotura Prematura de Membrana 357


CONCLUSÕES A corticoterapia antenatal, em gestações entre 24 e 34
semanas, é uma das mais importantes intervenções na pre-
O prognóstico matemo-fetal está na dependência de venção da morbidade e da mortalidade induzida pela pre-
muitos fatores. Não existem estatísticas fiéis nem resu lta- matu ridade. Entretanto, os cursos repetidos de corticoide
dos precisos. M uitas vezes, mesmo adotando-se as con- têm se mostrado deletérios para os recém-nascidos, não
dutas preconizadas, os resultados não serão os esperados. devendo ser uti lizados.
Com o rápido desenvolvimento tecnológico e aperfeiçoa- A a ntibioticoprofilax ia, ta nto com o objetivo de re-
mento das un idades de cuidados progressivos neonatais, duzir o risco de infecção pelo est reptococo do grupo B
o prognóstico do recém-nascido tem melhorado, embora como para prolongar o período de latência, tem se mos-
ainda esteja longe do ideal. trado eficaz.
Na prematuridade, os resultados peri natais e de longo Apesar de alguns estudos mostrarem benefícios, a
prazo dependem muito da qualidade da assistência obsté- amnio infusão com o objetivo de prolongar a gestação na
trica e também da qualidade da assistência neonatal. As RPPM com oligoidrâmnio não deve ser adotada rotineira-
estatísticas demonstram nitidamente a impo rtância dessa mente na prática clínica.
inter-relação assistencial: recém-nascido de idade gesta- A escolha da via de parto deve levar em consideração,
cional muito precoce (igual o u inferior a 26 semanas) e de principalmente, a idade gestacional e o peso fetal estimado,
peso muito baixo (igual o u inferior a 750 g) tem apresen- a apresentação fetal e as condições do colo uterino. Em ge-
tado bons índ ices de sobrevida, inclusive sem alterações ral, nas RPPTMs o colo é imaturo e a indução do parto em
importantes no que se refere ao desenvolvimento físico e idades gestacionais abaixo de 34 semanas pode submeter o
mental. Isto vem acontecendo naqueles centros médicos feto a sofrimento desnecessário, devendo a via abdom inal
cuja assistência obstétrica e neonatal é valorizada e bem- ser preferível. Nos casos de ausência de segmento uteri no
-executada. formado, a h isterotomi a corporal se impõe. Todos os cui-
A conduta expectante na RPPTM só se justifica até a dados com o rigoroso c umprimento da técnica cirú rgica
maturidade pulmonar fetaL Assim que a maturidade pul- devem ser segu idos em benefício da mul her e do feto.
monar fe tal fo r comprovada, o parto deverá ser realizado O Qyadro 22.3 sintetiza as principais evidências sobre
para reduzi r o risco de infecção intrauterina e a morbimor- a rotura prematura das membranas amnióticas.
talidade perinatal.

358 Noções Práticas de Obstetrícia


Quadro 22.3 1Evidências sobre a Rotura Prematura de Membranas

Per1odo Intervenção Grau da


Recomendação
Pré-concepcional Diminuição do tabagismo reduz risco de RPPM B
J
Pré-natal Tratamento de vaginose em pacientes com TPPT prévio reduz risco de RPPM A I
Gestação < 32 semanas Elevação dos leucócitos polimorfonucleares indica infecção A I
sem evidência de CA ou SF
PGR pode ser um indicador precoce de CA B I
Oligodrãmnio pode ser associado a risco aumentado de CA B I
A CTG e o PBF são preditores fracos de CA B I
A conduta conservadora. reduz a incidência de endometrite, mas não diminui A
a morbimortalidade perinatal I
ATB profilático (estearato de eritromicina) reduz a morbidade neonatal A I
Corticoterapia reduz morbimortalidade neonatal sem aumentar risco de A
infecção I
Tocólise não traz beneficio A I
Gestação entre 34 a 36 Indução do parto reduz infecção materna A
semanas
I
Gestação ~ 37 semanas Indução do parto reduz infecção materna A
ATB para SGB reduz morbidade infecciosa materna e neonatal A
Cesariana de rotina não traz beneficias A i

RPPM =rotura prematura pré-termo das membranas; TPPT =trabalho de parto pré-termo; CA = corioamnionite; SF = sofrimento fetal; PCR proteína Creativa;
CTG = carditocografia; PBF = perfil biofísica fetal; ATB =antibiótico; SGB =estreptococos do grupo beta_

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Rotura Prematura de Membrana


Gestação Múltipla
Marco Muril o de Lima Faria
H everto n Neves Pettersen

Incidência Gestação Monoamniótica


Etiopatogenia Gemelaridade Imperfeita - Gêmeos Siameses
Zigosidade Conduta no Pré-natal
Corionicidade Consulta Pré-natal e Orientações Básicas
Diagnóstico Ultrassonografia
Diagnóstico Clínico Dopplervelocimetria
Diagnóstico Ultrassonográfico Cardiotocografia
Complicações Fetais Administração do Corticoide
Discordância de Crescimento e Crescimento Tocólise
lntrauterino Restrito (CIUR) Cerclagem
Síndrome de Transfusão Feto-Fetal (STFF) Crescimento lnt rauterino Restrito (CIUR)
Síndrome Acéfalo-acárdico ou Síndrome da em um dos Fetos
Perfusão Arterial Reversa (TRAP)
Morte de um Gemelar
Morte Unifetal
Anomalias Fetais
Gestações Monoamnióticas
Prognóstico Materno-fetal Condução do Parto
Momento do Parto
Gestação Multifetal Via de Parto
Redução Fetal

o uccsso dos serviço de reprodução a istida


associado à opção das mulhcrc de conce-
berem seus filhos cada vez mais tarde têm
au mentado a incidência das gestações m últipla . Como
rc~ultado de c aumento, as complicações associadas a
O uce o dos erviços de reprodução assistida asso-
ciado à opção das m ulheres de conceberem seus filhos
cada vez mais tarde têm aumentado a incidência das
gestações múltiplas. Como resultado desse aumento,
as complicações associadas a c se tipo de gravidez têm
esse tipo de gravidez têm se tornado mais frequente no se tornado mais frequente no con ultório ob tétrico.
consul tório obstétrico. O aco mpanhamento adequado O acompanhamento adequado dessas ge taçõcs, bem
dessas gc taçõcs, bem como o reconhecimento c trata- como o reconhecimen to e tratamento preco e da com-
mento precoce das complicações podem interfe rir de for- plicações podem interferir de forma significativa no prog-
ma significati va no prognóstico peri e neonatal. nóstico peri e neonataL
INCIDÊNCIA Existe diminuição na incidência de gestações gemelares
relacionada ao au men to da idade gestacional c que ocorre à
A hipótese de Heliin ( 189S) que calcula a incidência custa do desaparecimento de um dos fetos ( vanishing twin ).
de gestações múltiplas espontâneas -I / 80("·'), sendo n o Dessa forma, há redução espontânea de gestações geme-
número de fetos da gestação - tem cada vez mais assumido lares para gestações si mples em 80% dos caso , endo que
caráter histó rico. As incidências espontâneas de gestações grande parte dessa redução ocorre no primeiro trimestre
gemelares, triplas, quádruplas e quíntuplas são, res pectiva- ( Quadro 23.1 ).6
mente, de I / 80, I / 7.000, 1/ 600.000 c I / I S-20 milh ões.
H oje as gestações múltiplas correspondem a 2 a 3% das Quadro 23. 1 j l ncidência de gestações gemclares de acor-
gestações, sendo que 98% delas são gemelares. 1•3 do com a idade gestacional
A incidência natural de gestações gemelares monozigó- Idade Gestac1onal ( semanas~ Gestações gemelares (%~
tica permanece con tante na população (3,5/ 1.000 nasci-
I 6 5,4 I
mentos), não estando associada a idade materna, raça, nu-
trição ou qualquer o utro fator. Em contrapartida, incidência I 7 3,3 I
natural de gestações gemelares dizigóticas varia de acordo
com a maior prod ução do hormônio folículo estimulante
I 14 2,0 I

(FS H), estando aumentada em mulheres com idade avan- I Ao nascimento 1,0 I
çada ( mais incidência aos 37 anos), determinadas fàmíüas,
países, raças ( maior cm mulheres negras e menor em mu- ETIOPATOGENIA
lheres asiáticas) e determinados aspectos nutricionais. 3•4
Atualmente, o fa to r que possui mais importância na O número de fetos e o tipo de placentação ( corionicida-
incidência das gestaçõe múltiplas é a intervenção dos de) são os principais fa tores relacionados às compl icações
serviços de reprodução assistida. Em estudo realizado no em gestação múltipla. Qyanto mais al to o número d e fetos,
EUA entre os anos de 1972 e 1990, ho uve au mento das mais alta a chance de anemia materna, diabetes gestacional,
gestações gem elares de 65%, triplas de I 56%, quádruplas de síndromes hipertensivas, restrição de crescimento, trabalho
356%, quíntuplas o u mais de 182%. Nesse mesmo período de parto prematuro, hemorragia pós-parto, morte materna,
1
o aum ento de gestações simples fo i de 32%. O aumento da morte perinatal c paralisia cerebral. As gestações monocori-
incidência está relacionado ao tipo de tratamento utilizado. ó nicas possuem risco de mortalidade fe tal e neonatal mais
O uso do clomifeno aumenta a taxa de gestação múltipla alto q ue as gestações dicoriônicas. 1' 1·6
para 6 a 17%, enquanto o uso de hM G (gonadotro fi.na mc- Quanto ao diagnóstico, a ultrassonografi.a tem sido um
nopáusica humana) aumenta essa taxa para 18 a 54%Y O importante aliado na condução das gestações múltiplas,
número de embriões transferidos também contribui para o possuindo carátcr decisório na determi nação do número
aumento da incidência, cndo que no caso de três embriões de fetos, corionicidade c no diagnóstico de doenças correla-
transferidos, a chance de gêmeos é de 25% c trigêmeos de tas ( restrição de crescimento, transfusão feto-fetal).
8,3%. Após a transferência de três, quatro ou cinco embri-
ões, a incidência de gestação tripla é de 8,0 11 ,0 e 15,0%,
respectivamente.5 A incidência de gestações monozigóticas Z IGOS IDADE
também está aumentada em gestações resultantes de trata-
mento para infertilidadc.4 Das gestações assistidas, I 0,0% Um terço ( 1/ 3) dos gêmeos origi na-se de um único
são monozigóticas, o que resulta na incidência de 13/ 1.000 ovo (zigoto) e são denominados monozigóticos ( MZ).
gestações ( três vezes mais alta que na população geral). Dois terços ( 2/ 3) origi nam-se de dois ovos diferentes ( dois
Esse aumento da incidência pode estar relacionado à lesão óvulos), sendo denominados dizigóticos ( DZ).6 Qyando
ou rotura da zona pelúcida (hatching), que culmina com a existem dúvidas quanto à zigosidade, os segui ntes estudos
bissecção do disco embrionário. A implantação de embri- poderão ser realizados: anatom opatológico da placenta,
ões na fàse de blastocisto também pode estar relacionada grupo sanguineo dos recém-nascidos, dermatóglifos, men-
ao aumento das gestações monozigóticas. su rações antropológicas, cor da íris, forma da o relha.3

Noções Práticas de Obstetricia


CoruoNICIDADE DIAGNÓSTICO CLÍNICO

A corionicidade refere-se ao número de placentas. A A gestação gemelar pode ser suspeitada clinicamente
gestação será monocoriônica (MC) se existe uma única diante da história de hiperemese gravídica excessiva, de exame
placenta para os dois fetos e erá dicoriônica ( DC) se os físico em que o volume uterino está acima do esperado para
fetos possuírem placentas diferentes. 1 a gestação DC sem- a idade gestacional e a ausculta mostra dois focos cardíacos.7
pre haverá duas bolsas amnióticas - diamn iótica (DC/ DA). Laboratorialmente, a suspeita pode ser feita a partir de
Nas gestações MC, os fe tos podem estar na mesma bolsa resul tado de ~-hCG (gonadotrofina coriônica) acima da
amn iótica - monoamniótica (MC/ MA) ou cada feto pode f.1ixa esperada para a idade gestacional. Urban csek et ai.
4
ter a sua própria bolsa amniótica - diamniótica ( M C / DA). (2002),8 acompanhando gestações resultantes de fertiliza-
Enquanto todas as gestações MC são sempre MZ, as ção in vitro, observaram que ~-h CG acima de 135 mUI/mi
gestações DC podem ser M Z ( 1O a 20%) ou DZ ( 80 a no 11 o dia após a transferência dos embriões possuía sensi-
90%). Nas gestações MZ, o que estabelece a formação do bilidade de 80% e especificidade de 88% para o diagnóstico
número de placentas e de bolsas amnióticas é o período de gravidez múltipla. Porém, o diagnóstico pela quantifica-
cm que a divisão do ovo oco rre. Se a divisão ocorre até o ção do p-hCG em gestações espontâneas é impreciso, visto
terceiro dia da fecu ndação (aproxi madamente 1/ 3 dos ca- que existem variações quantitativas individuais em peque-
sos MZ), a gestação será D C / DA; se a divisão ocorre entre no intervalo de tempo.
o quarto e o oitavo dias (aproximadamente 2/ 3 dos casos
MZ), a gestação será MC/ DA; se a divisão ocorre en tre
o nono e o 12° ( 1-2% das gestações MZ), a ge tação será DIAGNÓSTICO ULTRASSONOGRÁFICO
MC/ MA; e se a di visão ocorre após o 12° dia da fecunda-
ção, os gêmeos serão unidos (gemelaridade imperfeita ou O diagnóstico de certeza da gestação gcmelar é realiza-
gêmeos siamcse ·) ( Figura 23.1 ).6 do por meio da ultras ·onografia. A partir de cinco semanas,
utilizando sonda endovaginal de alta fi-equência (7 MHz),
a presença de dois sacos gcstacionais é diagnóstico de de-
DIA GNÓST ICO senvolvimento gemelar inicial. Por outro lado, o diagnós-
tico de gcmelaridadc somente pode ser e..'i:cluido apó o
A confirmação do diagnóstico de gravidez m últipla tem aparecimento de um embrião na sexta semana, pois até o
sido feita cada vez mais precocemente, em e pecial devido momento da visibilização da vesícula vitelínica ainda pode
ao u o da ultrassonografia. Porém, in tomas e sinais clínicos ocorrer divisão do disco embrionário originando os gême-
podem sugerir a gemclaridade. os siameses.2

1-3 dias 4-8 dias 9-13 dias Acima de 13 dias


(DC/DAl (M C/DA) (MC/MA) (Siame es)

Figu ra 23.11 Períodos de divisão do ovo na gestação gcmclar monozigótica.

Gestação Múltipla
Além do diagnóstico de certeza da gestação gemebr, diferencia uma gestação DC de uma MC é a presença de
a ultrassonografia possui importância na determinação da córion (tecido placentário) entre as duas membranas amni-
corionicidade, sendo mais acurada guanto mais precoce a óticas na inserção placentária. Esse sinal ultrassonogránco é
gestação. Em gestações iniciais, a existência de dois sacos denominado sinal do lambda (Figura 23.4A). a gestação
gestacionais separados caracteriza gestação DC ( Figura monocoriônica não existe córion entre as membranas am-
23.2 ). Saco gestacional único com duas vesículas vitelínicas nióticas na sua inserção placentária, sendo a imagem ultras-
caracteriza gestação MC (Figura 23.3 ). sonográfica do "sinal do T" (Figura 23.4!3 )Y Em gestações
monocoriôrlicas e diamnióticas, a visibilização do âmnio
separando os fetos pode ser feita a partir de seis semanas,
contudo, essa diferenciação pode ser difícil até oito semanas
de gestação.

Figura 23.4A I "Sinal do lambda" mostrando tecido placen-


Figura 23.2 1 Ultrassonografia mostrando gravidez inicial tário entre as membranas amnióticas (gestação dicoriôn ica).
com dois sacos gestacionais- gestação gemelar dicoriônica
(De).

Figura 23.4B I"Sinal do T" mostrando ausência de tecido


placentário entre as membranas amnióticas (gestação
monocoriônica).
Figura 23.3 I Ultrassonografia de gestação monocoriônica
(MC/ DA) inicial mostrando um saco gestacional e duas
vesículas vitelínicas.
Após 14 semanas de gestação, a determinação da corio-
nicidade pode tornar-se mais difícil, porém, utilizando-se de
Amedida gue a idade gestacional avança, pode ocorrer determinados passos, pode-se concluir:
a aproxi mação entre os sacos gestacionais de uma gestação Número de placentas (não csguecendo gue duas
DC e a massa placentária pode parecer única, tornando-se placentas podem estar fu ndidas);
mais difícil a diferenciação com a gestação MC. Qyando descrição da espessura da membrana amn iótica
existe massa placentária única, o fato r ultrassonográfico gue gue separa os fetos. Se a membrana mede 2,0 mm

366 Noções Prát icas de Obstetrícia


ou mais ela é preditiva de gestação gemelar DC em No segundo trimestre, diferença de peso entre os fetos
95%dos casos. Se a membrana é mu ito fi na e de di- acima de 20% ou diferença entre as circunfe rências abdo-
fíci l mensuração, provavelmente é de gestação MC; minais acima de 20 mm são significativas e passam a inter-
observar o sexo dos fetos; se d iferentes, é gestação fe rir no prognóstico fetal. 2•4
OC. A discordância de peso é calculada pela diferença entre
os pesos dos dois fetos, dividida pelo peso do maior feto,
Usando-se os parâmetros ultrassonográficos de forma sendo o resultado dado em percentual (%) de peso.4 A dis-
adequada, a acurácia na determinação da corionicidade é cordância pode ser classificada em leve (< I 5%), moderada
de 97% no primeiro trimestre e de 90% no segundo e ter- (15 a 30%) e grave (>30%). Oemissie et ai (2002) 11 obser-
ceiro trimestres.9 varam que o risco de morte fetal para o menor gemelar era
diretamente proporcional ao aumento da discordância. Se
a discordância encontrava-se entre I O e 19%, a odds ratio
COMP LICAÇÕES FETAIS ( OR) para morte intrauterina era de I ,4 1; entre 20 e 29%,
de 1,74; entre 30 e 39%, de 3,06; e quando a discordância
Como comentado anteriormente, as complicações encontrava-se acima de 40%, a OR era de 4,29. Também
estão principaL11ente associadas ao número de fetos e ao foi registrado aumento da mortalidade fetal para o gemelar
tipo de placentação. Elevado número de fetos ou gestações de mais peso. Quando a diferença de peso é significativa, o
MC é condição que aumenta a chan ce de complicações. As diagnóstico diferencial entre restrição de crescimento e sín-
complicações fetais mais frequentes nas gestações gemela- drome de tran sfusão feto-fetal (STFF) deve ser feito.
res são: discordância de crescim ento entre os fetos; cresci- A restrição de crescimento em pelo menos um dos fe-
mento intrauterino restrito ( CIUR); síndrome de transfu- tos gemelares está presente em cerca de 30% das gestações
são feto-fetal; síndrome acéfalo-acárdico (TRAP); morte (variação na literatura de 12 a 47%). Pode ocorrer tão cedo
de um ou ambos os fe tos; anomalias fe tais. Discutiremos a quanto 23-24 semanas, levando às mesmas alterações fisio-
seguir cada urna dessas condições. lógicas neonatais de uma gestação única. Se ocorrer restri-
ção de crescimento nas gestações gemelares, 85% dessas
crianças estarão dentro da curva de normalidade para a ida-
DISCORDÂNCIA DE CRESCIMENTO E de após um ano de nascimento.' Observou-se que o Cl UR
CRESCIMENTO INTRAUTERINO RESTRITO foi mais comum na presença de gestações DC (56%) do
(CIUR) que em gestações MC (22% ).6

De forma geral, o crescimento do feto gemelar é seme- SíNDROME DE TRANSFUSÃO


lhante ao do feto de gestação simples até 30-32 semanas. FETO-FETAL (STFF)
Após esse período, existe diminuição do peso do feto geme-
lar em relação ao peso do de gestação simples. Por volta de A STFF é uma condição que ocorre em 15% das gesta-
36 semanas de gestação, o peso fetal médio do gemelar é de ções gemelares monocoriônicas, caracterizada pela trans-
2.500 g, enquanto de gestação simples é de 2.800 g.4 fusão de sangue de um dos fetos (doador) para o outro
A discordância de tamanho e peso entre os fetos não fe to ( receptor).6. 12 Em 90 a 100% das gestações monoco-
significa n ecessariamente uma complicação, podendo ser riônicas existem anastomoses entre os dois fetos que po-
fisiológica. A partir do momento em que essa diferença pas- dem ser do tipo artéria-arterial (A-A), veno-venosa (V-V)
sa a ser significativa, a chance de complicação estar presente ou artério-venosa (A-V) . As anastomoses A-V, também
aumenta. chamadas de terceira circulação, são mais profi.mdas e são
No pri meiro trimestre, diferença na medida de CCN as responsáveis pela STFF. As anastomoses A-A e V-V são
(comprimento cabeça-nádega) que corresponda à diferen- superficiais e não causam a STFF. Ao contrário, acredita-se
ça em idade gestacional acima de três dias é preditiva de dis- que as mesmas sejam responsáveis pelo equ~íbrio da circu-
cordância de peso ou restrição de crescimento no futuro. 10 lação entre os fetos.

Gestação Múltipla
A síndrome de transfusão entre os fetos ocorre quando as Clinicamente, pode ser suspeitado todas as vezes que hou-
anastomoses superficiais não são suficientes para compen- ver crescimento intrauterino exagerado e manifestação da
sar as anastomoses profundas. Os futores que desencadeiam polidramnia, desencadeada no feto receptor.
o processo são aqueles que levam ao desequilíbrio das pre -
sõc sanguíneas entre um feto e outro (aumento da resistên-
cia ao fluxo feto-placentário de um dos fetos, compressão de PARÂMETROS U LT RASSONOGRÁF ICOS ()A STFF
um cordão velamentoso, áreas desiguais de vascularização
dentro da placenta). Considera-se que as anastomoses A-V As condições particulares criadas nos fetos doador e
sejam o f.·ltor predisponente, enquanto a alteração na pres- receptor podem ser diagnosticadas por ultrassonografia. O
são sanguínea dos fetos o futor desencadeante. Em verdade, doador torna-se pequeno, possui be>.iga pequena ou não vi-
o processo inicial é nutricional em sua origem, seguido por sível e está associado à oligoidramnia ou anidramnia (stuck
au mento de pressão na circulação do feto menor, o que, por twi11). O receptor torna-se grande, possui coraçáo aumen-
sua vez, de encadeia o desvio de sangue para o feto de me- tado, apresenta polidramnia e a bexiga está aumentada. A
nor pressão (receptor) a partir das anastomoses A-V sem hidropisia pode existir no feto doador ou no receptor, en-
compensação pelas anastomoses A-A ou V-V.6•12 do mais frequente no último. São sinais ultrassonográficos
A transfusão de sangue de um feto (doador) para outro utilizados para o diagnóstico de STFF: 16
(receptor) cria condições específicas em ambos os fetos. O Disparidade e11lre o lama11iro dos geme/ares: circun-
doador é pequeno e desenvolve hipovolemia, hipotensão, oli- ferência abdominal e/ ou peso fetal estimado, com
gúria, oligoidramnia (que em casos extremos cria a condição diferença, entre os fetos, acima de 20,0%;
denomi nada gêmeo preso - stuck-twm), hipertrofia cardfaca polidranmia e oligodramnia: polidramnia na bolsa do
e fàlência. O feto receptor é grande e desenvolve hipervole- maior feto (maior bolsão vertical > 8,0 cm) coligo-
mia, hipertensão, poLúria, polidramnia, hiperviscosidade e hi- dramnia na bolsa do menor feto (maior bolsão ver-
pertrofia cardíaca. Embora o doador seja inicialmente o feto tical< 2,0 cm);
com maior estresse, o receptor geralmente morre primeiro. disparidade entre o enchzmento vesical dos f etos: mega-
A morte de um dos fetos culmina com fenômenos descritos bexiga no feto receptor e bexiga pequena ou ausen-
posteriormente no tópico morte de um gemelar. te no feto doador;
Clinicamente, a STFF pode ser dividida em: disparidade entre o tamanho e anatomia do cordão:
Forma cr6mca: inicia-se durante a gestação e pode cordão grande no feto receptor e cordão pequeno e
ocorrer tão precocemente quanto 13 semanas, estan- com inserção velamcntosa no feto doador;
do bem desenvolvida por volta de 20 a 22 semanas; hidropisia: hidropisia pode ocorrer em 28% dos fe-
forma aguda: ocorre no momento do parto, quando to receptores e em 12%dos doadore .
a tra nsfusão acontece entre a ligadura do cordão do
primei ro gemelar (aumento da press::io) c o nasci- Q.Jintero et ai. ( 1999) n propuseram classificação da
mento do segundo gemelar. STFF de acordo com o grau de gravidade avaliado pela ul-
trassonografia. Os autores definem a existência de STFF to-
A mortalidade da STFF varia de acordo com a forma das as vezes em que ocorre polidramnia em uma bolsa (bol-
dínica e o tipo de tratamento empregado. Se o diagnóstico são > 8,0 cm) c oligodramnia na outra (bolsão< 2,0 cm).
é realizado antes de 28 semanas, não sendo instituído trata- Consideram como fatores importantes na classificação:
mento, a mortalidade perinatal varia de 80 a I00%dos fetos. Ausência de urina na bexiga do feto doador (bexiga
Q uando há sobrevida, o risco de deficiência mental pode não visfvel à ultrassonografia);
chegar a 30%. As deficiências fetais estariam relacionadas à alterações dopplerveloci métricas significativas (di-
trombocitopenia, C IURdo doador, hipoglicemia, hipóxia e ástole ausente ou reversa em artéria umbilical, con-
deficiência do cre cimento cerebral.6 tração atrial negativa em dueto venoso e pulsação
O sucesso da terapia está relacionado ao diagnóstico venosa em veia umbilical);
c tratamento precoces. O diagnóstico da STFF deve ser hidropisia em um ou ambos os fetos;
suspeitado sempre que houver gêmeos monocoriônicos. morte de um ou de ambos os fetos.

368 Noções Práticas de Obstetrícia


Sugerem a subdivisão em estágios, de acordo com a gra- Co o u TA A TH
vidade:
Estágio 1 - existe polidramnia no receptor (bolsão O diagnóstico precoce da STFF está associado ao prog-
> 8,0 cm) e oligodram nia no doador (bolsão< 2,0 nóstico. Quanto menor o estádio na classificação de Q\.Jin-
cm), sem demais fatores presentes; tero, melhor o prognóstico fetal. 13
Estádio 11 - existe polidra mnia no receptor (bolsão
> 8,0 cm), oligodramnia no doador (bolsão < 2,0 Co, DL'TA Co.,·srRI'ADORA
cm) associado à não visibilização da bexiga do feto A opção pela conduta conservadora está relacionada à
doador; alta mortalidade fetal ( 60 a I 00%), em especial nos casos
Estádio fll - alterações dopplervelocimétricas sig- e m que a transfusão ocorre de forma grave e precoce (antes
nificativas; de 28 semanas) .3.6. 12 H avendo a sobrevivência fetal, o risco
Estádio IV- h idropisia; de deficiência mental chega a 30%.6
Estádio V - morte de um ou de ambos os fetos.
Trl{Al'IAM FDICAMENTOSA
6 O uso da indometacina com o objetivo d e diminuir a
São sinais ultrassonográficos preditivos da STFF:
Translud11cia nucal: diferença superior a 20% entre produção de líquido amniótico no feto receptor associado à
as med idas das translucê ncias nucais dos fetos de digoxina com o objetivo de melhorar a insuficiência cardía-
gestações monocoriôn icas (valo r preditivo positivo ca em ambos os fe tos (doador/ receptor) tem sido relatado,
de 30% para desenvolvimento d a STFF); porém os resultados são questionáveis. 14
membrana amniótica: dobra na membrana amnió-
tica (folding) de gestações monocoriônicas entre A..\.I N / (l{)RF.NAGF~\ 1

15-18 semanas evolu i em 50% com STFF entre 18 A amniodrenagem tem como objetivo diminuir o volu-
e 24 semanas. me de líquido amniótico na cavidade do feto receptor, ainda
podendo atuar na dinâmica circulatória da STFF (dimin ui-
São sinais dopplervelocimétricos sugestivos de STFF: 6 ção da pressão sobre os vasos placentários com diminuição
Doppler de artérias umbilicais: diferença na relação do trabalho cardíaco dos fetos receptor e doador), melho-
A/ 8 igual o u superior a 0,4 entre as artérias umbili- rando a função placentária. Apesar dessas possibJidades
cais dos dois fetos; fisiológicas da anmiodrenagem, os resultados conseguidos
doppler de dueto venoso: diminuição na velocidade com esse procedimento no tratamento da STFF ainda são
da onda A traduzindo sinal de sobrecarga cardíaca controversos. A sobrevida fetal geral varia entre 30 e 80%
em um (preferencialmente o feto receptor) ou em dos fetos, com pelo menos 40% das gestações evoluindo
ambos os fetos. com um feto vivo. Com o procedimento, até 25% dos fetos
podem evoluir com lesão cerebral.6
São parâmetros hematológicos sugestivos de STFF: 2•6 Tecnicamente, o procedimento envolve a drenagem de
H emoglobina: diferença entre as hemoglobinas dos líquido amniótko da bolsa com p olidramn ia a partir d e um
dois fetos ou recém-nascidos acima de 5,0g!dL, o que nem sistema fechado. A velocidade da drenagem deve ser d e cer-
todos os recém-nascidos com STFF possuem obrigatoria- ca de 50 ml/ min ( 1,0 l/20min) . São descritas drenagens de
mente e, algumas vezes, o menor feto pode ser pletórico ao volumes que variam de 225 a 5.000 mi. As principais com-
nascimento devido à STFF aguda perinatal. pUcações associadas à amniodrenagem são: descolamento
É importante salientar que nem toda STFF evolui obri- prematuro da placenta, corioamnionite, rotura p rematura
gatoriamente com discordância de crescimen to o u dife- de membranas, lesão fetal e parto pré termo.12
rença hematimétrica? Ainda, a discordância de tamanho A amniodrenagem pode ser acompanhada da septos-
e a alteração no volume do líquido amniótico podem ser temia (abertura proposital da membrana amniótica que
complicações presentes em gemelares, monocoriônicos ou separa os fetos), porém com resultados controversos. O
dicoriônicos e resultantes da insuficiência placentária e do objetivo da septostomia é equilibrar as pressões entre as
CIUR. duas bolsas, bem como oferecer, d e forma abrupta, uma

Gestação Múltipla
quantidade de liquido amniótico para o feto doador com monoconomcas nas quais estão presentes anastomoses
oligodramnia/ anidramnia. placentárias. Ainda no período de embriogênese, em vez de
um dos fetos receber fluxo oxigenado oriundo da placen-
W\fR ta, ele recebe sangue pouco oxigenado a partir de um fluxo
Esse método utiliza a oclusão vascular com r1eodymium: reverso do outro feto (perfusão arterial reversa). O sangue
YAG laser. Tem como objetivo fechar as anastomoses res- pouco oxigenado leva à hipotrofia ou atrofia cardíaca, bem
ponsáveis pela STF F, impedindo a transfi:1são de sangue como outras malformações fetais múltiplas (acefalia, au-
do feto doador para o receptor. A sobrevida fetal total com sência de órgãos ou extremidades). Com a acardia de um
o procedimento varia entre 50 c 70%. A sobrevida de pelo dos fetos (feto acárdico-acéfalo - receptor), o outro passa
menos um feto é de 70 a 80%. A morte dos dois fetos ocorre a funcionar como bomba cardíaca para ambos (feto domi-
em 18 a 28% das gestações. Com o uso do laser, a ocorrência nante - pump twin). A síndrome acéfalo-acárdico pode ser
de lesão cerebral fetal descrita é de 4%.15 considerada uma situação extrema da STFF e as principais
É razoável inferir que o prognóstico fetal esteja relaciona- complicações dessas gestações são: insuficiência cardíaca
do ao nível de gravidade da síndrome no momento do trata- do feto domi nante, polidramnia, trabalho de parto preter-
mento. Utilizando a classificação de Quintero el a/. ( 1999 ), 11 mo, morte do gemei ar normal.A mortalidade perinatal para
citada anteriormente, Huber et a/. (2006) 16 referiram que o o gemelar normal (domi nante) é próxima de 50%.w
sucesso do tratamento com a fotocoagulação estava intima-
mente relacionado ao grau de gravidade da TFF. O autores
descreveram que o percentual de sobrevida dos dois fetos foi MORTE UNI FETAL
de 75,9% para o estádio I, 60,5% para o ll, 53,8% para o lll e
50% para o N . Houve sobrevida de pelo menos um feto em O risco de morte de um dos fetos na gestação gemclar
93, I% no estádio I, 82,7% no 11,82,5% no lll e 70% no rv. está inti mamente associado à idade gestacional e ao tipo
Fortes evidências indicam a fotocoagulação a laser como de placentação. Aproximadamente metade dos óbito · de
tratamento de escolha da STF F. 15 Em revisão publicada pela um dos gemelares ocorre ainda no primeiro trimestre (va-
Cochrane Librmy comparando a fotocoagulação a laser c a nishing lwin). Após o primeiro trimestre, o ri co de morte de
amniodrenagem, houve diferença estatisticamente signifi- um dos fetos é dependente da placentação. Para gestaçõe
cativa a f.wor da fotocoagulação quando foram avaliados o DC, esse risco é de 2%. Para gestações MC/ DA este risco é
risco de morte dos dois fetos (RR - 0,33; !C 95%: 0,16-0,67), de !2% até 24 semanas e de 4% após essa idade gestacional.
risco de morte perinatal (RR - 0,59; lC 95%: 0,40-0,87), Para gestações MC/ MA, a mortalidade é ainda mais alta,
morte neonatal (RR - 0,29; IC 95%: 0,14-0,61 ) c problemas variando entre 35 e 50%.6·12. 14 A al ta incidência de morte em
neurológicos avaliados com seis meses de vida (RR - 1,66; um dos fetos das gestações MC está associada a acidente de
95% !C: I, 17-2,35). Porém, não houve diferença nas altera- cordão, descolamento de placenta, insuficiência placentária
ções neurológicas quando a avaliação foi realizada mais tar- resultante de doença materna, anomalia fetal e transfusão
diamente (RR - 0,58; IC 95%: 0,18- 1,86).15 feto-fetal (Quadro 23.2).14
As complicações fetais e maternas relacionadas à mor-
te de um dos gemelares também são relacionadas à idade
SíNDROME ACÉFALO-ACÁRDICO ou gestacional do óbito e ao tipo de placentação.2•6•17 Qyan-
SÍNDROME DA PERFUSÃO ARTERIAL do o óbito ocorre no primeiro trimestre ( vanishing lwin),
REVERSA (TRAP) a gestação evolui sem intercorrências.18 Após o primeiro
trimestre, as complicações fetais relacionadas ao óbito
do cogemelar estão intimamente relacionadas ao tipo de
A sínd rome acéfalo-acárdico, também denominada placentação. Beja rela/. ( 1990) 19 reportaram que necroses
síndrome da perfusão arterial reversa (do inglês: Twin Re- cerebrais periventriculares (leucomalácia periventricular)
verse Arterial Peifusion - TRAP), ocorre em incidência de ocorriam em 30% das ge tações MC e somente em 3,3%
lI30.000 - 35.000 gestações ou de I/ l 00 gestações geme- das gestações D C após o óbito de um dos fetos. Fusi e
lares MZ2• Essa síndrome acontece em gestações gemelares Gordon ( 1990) 17 de creveram que se o óbito acomete

370 Noções Práticas de Obstetrícia


um dos gcmcbrc de uma gestação M , o gcmela r sobre- Em rcbção ~ complicações matenus rcl.lCIOil.lda~ ao
vivente evolui com óbito ou com le ão cerebral cm 25 c óbito de um dos feto~. a coagulação intrava ular d1 em•-
~ 8,0'\l do ca os, re~pectivamente. Em revi :lo istcm.ítica, nada ( ' ID) foi de crita no pa ado. o entanto, a m.uona
Ong c/ a/. (2006}2° relataram as difere nça c tatística do do e tudo não e'~dcnciou relação entre mo rte fetal c Cl D
eventos pós-morte de um gemelar comparJndo às pia en-
- I
maternJ nas gc taçocs geme are . --
~ - .,,,

rações: mo rte do o utro gemelar (M C = 12'1o 11s D = 4"o; 0 trabalho de parto pré-tcrn1o (TPP) tem ido rela-
O R - 6,04); .mormalidade neurológica no gcmclar sobre- tado como complicação da morte de um dos gcmcbre~,
'~ventc ( MC = 18% vs DC = I%; OR - 4,07) c prematuri- sendo encontrado cm fi·eq uência duas vezes mais alta (70
dade ( I =68°o 115 DC S7%, ) ( QJadro 2 '.3 ). a 80%) quando compa r:~do a gestações gcmclare sem óbi-
to (30 a 40~o ). 11

Quadro 23.2 1 R1 co de aborto/ morte fetal cm gc taçõcs


imples c multiplas de acordo com a idade gcstacion.1l c o
ANOMALIAS FETAI S
tipo de placentação
Trpll d1• lji'SLI( .111 Ailo1 to Mot!l' f1!!dl
A maioria do autorc de crcvc aumento na incidência
Plltre 12 -24 .11 rtlld de
de aneuploidia em ge taçõc gcmclarc DZ. I to ocor-
semanas 1 I 24 Sl!llldlldS I I
reria devido ao fàto de dua gestações evoluírem ~imul­
Gestação simples 2,0 0,5 I tancamente, cada uma om o cu ri · o individual. Dessa
Gestação gemelar DC
--
2,0 2,0 _j forma, o risco de pelo menos um dos feto~ ser anômalo é o
dobro d.1quele descrito p.tra gest.tçõcs ~impb. Avaliando
Gestação gemelar 12.0 4.0
MC/DA o risco, o fe to de gestan te com 35 anos possui o risco de
- I
I / I 00 para c ro mossomopati,ts. Se a ge~t:l ão for geme lar
Gestação gemelar - 35,0
c dizigótica, cada feto terá o risco de I I I 00 c, po1tanto, o
MC/MA I ri co tina! de pelo menos um dos feto~ ter cromos omo-
Gestação trigemelar 3,0 6,0 1 patia crá de 1/' 0 ( 1/ 100+1 100=2/ 100=1/ 50). 14 las
DC = diconOmca. MC/ DA = monoconõnica e dtamniótica. gc taçõe monozigótica , o n co de cromos om opatia
MC/ MA = monocouOmca e monoammótica
não c tá aumentado, endo o me mo Jc uma gc tação
implcs.' 4 e te ca o, ambo o fetos possuem o me mo
ca ri ótipo e, e este for anômalo, ambos tcr,io .1 mesma cro-
Quadro 23.3 1 Evento que afctam o cogemelar d1antc do mo omopatia. Porém, a literatura cita raro~ CJ os de ca-
obito de um do gcmclarc riótipos d iferen tes em fe tos MZ, provavelmente rc ult,m-
PldCPII!.lCdll Olirtll do SI]CJlllldo Li!Sdll 1 t'ti'IJrdl do tcs de um mosaicismo inicial, em que uma não di junção
fjl'llll!lilr 1", I SI!CilllldO IJI'Illl' ldil ' ,) oco rreu após a for mação de um zigoto no ml.11.
MonocoriOnica 12.0 18,0 Malfornuções estruturai também ·ão m.tis frequen-
tes cm gestaçõc gcmelarc (2,12"u) tjuanJo comparada
Dicoriônica 4.0 1.0
a gc t.1 õcs imple ( 1,0-'\l).'' 6 QJanJo comideramo
malformaçõe menore , a incidênci.1 cm gcstaçõc ge-
A reditava- c que e a comp~cJ õe fo~ em decor- mclares e imple ão, respectivamente, de 4, I c 2,4°o.
rente~ de le ões tromboembólica cau ada pela liberação As malfo rmações ão mais freq uente~ c m gest.1ções M Z
de trombopla tina a partir do feto morto. Porém, cm publi- (3, 1t'o) Jo que nas gestações DZ ( 1,9°o ). As altcraçõe
caçõe mai recentes, o óbito c a lc ões cerebrais no feto anató m icas mais comuns são: .tncncct:1lia, hidroccf.1lia,
sobrevivente de uma gestação MC têm sido creditados espin ha bffida, defeitos cardíacos, onfalocclc, defeitos do
mai à hipovolemia c à hipóxia.'w Dessa forma, as lesões trato urinário e artéria umbilical ún1 a. Es-.a 111.11or mci-
e o óbi to ocorreriam imediatamente ao óbito do outro ge- dc ncia deve-se principalmente à malform.wóe c trutu-
mclar, não se justificando conduta intempestiva cm gcs- rai que ocorrem na ge taçõe MZ com gemebndade
taçõc muito prematuras. im perfeita c TR.AP.'.t>

Gestação Múltipla 371


A5 anomalias de cordão são mais frequentes nas ges- ria! é similar àquela da gestação simples, sendo a pressão
tações múltiplas. A inserção anômala do cordão umbilical diastólica menor. O aumento do vol ume uterino também
foi encontrada em até 70% das gestações MC c em 25% é maior, causando compressão dos órgãos abdominais e
das gestações DC. A inserção marginal do cordão é duas do diafragma e tendo como consequência mais dc~con­
vezes mais comum cm gestações MC quando compara- forto materno.
da às gestações DC. A inserção velamentosa é até lO ve- Qyanto às complicações maternas nas gc taçõcs
zes mais frequente nas gestações MC. A artéria umbilicaJ gcmclarc , estão aumentado os risco de pré-eclâmp-
única está presente em 4% das gestações MC c cm 2,6% sia, eclâmpsia, hemorragia pós-parto e morte materna
das gestações DC, e em 0,7 a I% das gestações simplc .6 (Quadro 23.4). 1'

Quadro 23.41 Riscos materno associados à gestação gemei ar


PROGNÓSTICO MATERNO-FETAL
C o rnp l , c t~coes materncJs Rrsco re lntrvo IRRI IC d ~~ "

O parto pré-termo c o baixo pe o fetal são fatores im- Pré-eclampsia 2.2 1,9·2.5
portantes na predição do prognóstico fetal. Em relação à Eclampsia 3,0 2.9-3.3 1
prematuridade, embora somente 3% dos recém-nascidos
Hemorragia pós-parto 2,0 1.9-2,0
vivos sejam resultantes de gestações múltiplas, I 5% de to-
dos os RNs com prematuridade extrema ( <32 semanas) Morte 2,1 1,1-3.9
c 2S% daqueles com muito baixo peso ( < I.' 00 g) são re- AR = risco relauvo. IC = intervalo de confiança.
sultantes desse tipo de gcstação.22"24 A mais alta incidência
de prematuridade cm gestações gemelares está relaciona-
da ao trabalho de parto pré-termo (TPP), rotura prema- O risco pcrinatal também está aumentado nas gcsta-
tu ra da membrana ( RPM), complicaçõc fctai (CIUR) çõe múltiplas. A taxa de mortalidade perinatal para gesta-
c complicações materna ( índromcs hipcrtcnsivas). O ções geme lares é de 50/ 1.000 nascimentos ( três a IOve-
TPP é responsável por S41ln da prematuridade e a RPM zes maior do que aquela para gestações simples). O risco
é re ponsável por 22%. 1 A idade gestacional do parto está de b.1ixo peso ( <2.500 g) e de muito baixo peso ( < 1.500
inti mamente relacionada ao número de fetos c ao tipo g) é IO vezes mais alto para geme lares que para gestações
de placentação. As medianas para a idade gestacional do simples. Apesar de n:'io ter existido decréscimo na prema-
parto em gestações gcmelares, trigemclarcs c quadrige- turidade em gcstaçõc múltiplas desde 1960, houve dimi-
mclares são, respectivamente, de 36, 33 e 3 1 scmanas.4 nuição na mortalidade nconatal graça às melhoras nos
Q!lando consideramos a idade gestacional crítica de 32 cuidados neonatais. 26
semanas, 5% das gestações gemelares dicoriônicas e I0% As anomalias placentária ão mais comuns em ges-
das monocoriônicas terminam antes desse pcríodo.6 .24 tações gemelarc que em gestações simples. Ananth el a/.
As alterações maternas que acontecem durante a (2003 ) 2' avaliaram placenta prévia c encontraram inci-
gestação estão relacionadas às modific.lçõcs orgânicas dência 40% maior nas ge taçõc gcmclares (incidência
associadas a esse período. Deve ser lembrado que nas em gestações simples: 2,8/ 1.000 vs incidência cm gesta-
gestações gemelares essas modificações são mai acen- ções gernelares: 3,9I 1.000). O descolamento prematu-
tuada .4 Há aumento no volume de sangue de 60% (na ro placentário também foi mais frequente cm gestações
gestação simples esse aumento é de 509-o ), o que equivale gemelares ( 12,2/ 1.000) c triplas ( I5,6/ 1.000) quando
a SOO mi a mais de sangue na gestante de gcmclarcs. Sem comparado às gestações simples ( 6,2/ 1.000 ). 28
o acompanhamento do volume globular, o resul tado é No tocante à apresentação fetal, cm aproximadamen-
''anemia fisiológica" mais pronunciada, sendo a hemoglo- te 45% das vezes ambos os fetos estão em apresentação
bina média da grávida de gêmeos de LOg%. T Jmbém há cefálica, o que significa dizer que cm 5 ~% das veze pelo
aumento no debito cardíaco à custa de volume cjctado menos um feto encontra-se ern apresentação anômala.
c frequência cardíaca, que se verifica principalmente no As apresentações rnai comuns estão representada na
segundo c terceiro trimestres. A variação da pressão arte- Figura 23.5. 29

372 Noções Práticas de Obstetrícia


7%

Outras

Pélvica-Pélvica

43% Pélvica-Cefálica
11%
D Cefálica-Transversa

Cefálica-Pélvica

• Cefálica-Cefálica
26%
Figura 23.5 I Frequencia das apresentaçõe em gestações múltiplas.

GESTAÇÃO MULTIFETAL ti ticamente significativa após a implantação de três embriões.30


Após a transferência de três, quatro ou cinco embriões, a inci-
O termo gestação multifetal tem sido utilizado para ges- dência de gestação tripla é de 8, I I e I5%, respcctivamente.5
taçõe com três ou mais fetos (Figura 23.6).29 Como comen- As complicações maternas, fetais c neonatais estão dire·
tado anterio rmente, a incidência de gestações multifetais tem tamente relacionadas ao número de fetos. Anemia materna,
,\Umentado consider.wclmente à custa dos serviços de repro- diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, HELLP síndrome, morte
dução assistida. Esse aumento está intimamente rci.Kionado fetal, trabalho de parto pré-termo, morte neonatal, Apgar bai·
ao número de embriões transferidos, porém o uso de induto- xo c paralisia cerebral são complicações mais frequentemente
res de O\'Uiação po sui sua parcela de responsabilidade. a ociadas a gestações multifctais (~adro 23.5 ).6·!9·1112
A morbidade materna pós-parto também está aumenta·
da c se associa à alta incidência de distóc.ia c cesariana. Em
estudo retrospectivo realizado cm Flander , que avaliou
562.92 1 partos, a incidência de cesarianas foi de 20,4 e 86,6%
para gemclares e trigemelares, re pectivamente.10
Dessa forma, pode-se deduzir que gestações multifetais são
indesejadas e devem ser evitadas. Uma ação que vai de encon-
tro a essa prevenção é a limitação da implantação do número de
embriões nos casos de fertilização in vtfro. Em revisão sistemáti-
ca realizada por Pandian ef n/. (2004),11 os autores avaliaram os
resultados da transferência de um, dois, três e quatro embriões.
Figura 23.6 1Ultrassonografia mo trando gestação multi fe- Compararam a transferência de um c dois cmbriõc rrcscos e
tal com cinco acos gestacionais resultantes do uso de indutor observaram que as taxas de gravidez ( OR · 2,08; IC 95%: 1,24-
deovubção. 3,50; p=0,006), nascidos vivos (OR · 1,90; IC 9'%: 1,12-3,22,
p=0,02) e de gestação múltipla (OR · 9,97 1C 95%:2,6 1-38, 19;
o tratamen to dos casos de infertilidade a partir da FIV, p=0,0008) foram mais altas no grupo em que houve a transfe-
a taxa de gravidez é proporcional ao número de embriões rência de dois embriões. Quando compararam os grupos com
tran feridos. Des a forma, existe o ímpeto de se tran ferir mais transferência de dois e quatro embriões, não houve diferença
embriõe para mais sucesso do procedimento. Quando são estatisticamente significativa para as taxas de gravidez ( OR
transferidos dois, três ou quatro embriões, a chance de gestação · 0,75; IC 95%: 0,26-2,16; p=0,6), nascidos vivos (OR · 0,35;
aumenta de 18 para 26%, parecendo não haver diferença esta· IC 95%: O, I I- I,OS; p=0,06) e de gestação múltipla (OR · 0,44;

Gestação Múltipla 373


IC 9·%: 0,10-1,9 ; p=0,2 ). O autore comentam que não O autores concluem que a taxa de nascidos vivos foi
encontraram trabalho com e tudo randomizado que com- mais baixa nos ciclos em que foi transferido um embrião
para em a tran ferência de doi c trê embriõe . fre co quando comparada à transferência de dois embri-
Em revisão recen te, os mesmos autores avaliaram a ões. Contudo, não houve diferença estatisticamente sig-
tran ferência de dois e três embriões fresco e não con tata- nificativa entre taxa acumulada de nasci mentos e taxa de
ram diferença estati ticamente ignihcativa quando toram nascidos vivos quando se comparou a transferência de um
comparadas as taxa de na cidos vivos (OR 0,40, IC 95% embrião fresco seguida pela transferência de um embrião
0,09-1,85; p=0,24) e de gestação múltipla ( OR - 0,17; IC congelado vers11s a transferência de dois embriões frescos.
9 · 06: 0,0 1-3,85; p=0,27)."' Também não detectaram dife- Por outro lado, a taxa de gestações múltiplas foi ma i baixa
rença estatisticamente significativa na taxa acumulada de quando somente um embrião foi transferido.
nascimentos quando compararam: Diante desses resultados, alguns serviços de reprodu-
a transferência de dois embriões frescos versus a ção assistida têm limitado a dois o número de embriões
transferência de um embrião fresco seguida pela transferidos. Porém, já existem serviço· que começam a
tra nsferência de um embrião congelado (OR- 0,81; pregar a política de transferência de embrião único. Tii-
IC95%: 0,59- 1, 11; p=0, 18); tincn e/ a/. (2003) 1 ~ mostraram, em estudo retrospectivo,
a transferência de dois embriões fresco versus a que a taxa de ge taçõe múltipla poderiam reduzir- e de
transferência de um embrião fresco seguida pei.J 25 para 5% com a tran ferência de somente um embrião.
tra nsferência de outro embrião fresco (O R - 1,23; Obvia mente, cada serviço de reprodução assistida deve co-
IC 95%: 0,56-2,69; p=0,60); c) a transferência de nhecer as suas taxas de gravidez, na cidos vivo e gemei ari-
dois embriões frescos em dois ciclos versltS a transfe- dade c, assim, optar pelo número de cmbriõe tran ferido
rência de três embriões frescos em dois ciclos (OR de acordo com c as taxa e com o prognóstico individua-
- 0,77; lC 95%: 0,22-2,65; p=0,67); lizado para cada ca ai. Com i to, o serviços com melhores
a transferência de dois embriões fresco em três ci- taxa de gravidez tenderiam a impl.lntar um número cada
clos versus a transferência de três embriões fre cosem vez ma i baixo de embriões.
trêss ciclo (OR - 0,77; IC 95%: 0,24-2,52; p=0,67). 34

Q uadro 23.5 I Incidencia de complicaçõe materna , fctai e neonatai associada à ge taçõc implcs, gemelare , trigemc-
brc e quadrigemclarc 6· 29111 ~
Cornplrc~coes Srmples I I Gemeos I I Trrqe111eos I .1 Ouildr r9elllPOS · 1"" 1

Anemia 10,0-20,0 22,0 44,0-58,0 25,0 I


Diabetes gestacional 3.0 5,0-8,0 10,0-40,0 7,0-25,0 1
---
Pré-eclampsia 5,0 - 10,0 9,0-26,0 17,0-50,0 32,0-50,0 I
HELLP síndrome 0.4 1,0 2.0-11.0 - I
Hemorragia pós-parto 7.0 6.0- 9,0 12,0-44,0 - I
, Mortalidade materna 0,4-0,8 3,0 6,0 - j
-
Morte fetal (> 24 semanas) 0,5 2,0 . 23.0 - I

CIUR 3.0-10,0 7,0 - 37.0 62,0 - I


TPP 7,0-10,0 40,0-67,0 50.0-81,0 83.0 !
Prematuridade (< 32 semanas) 1.0 5,0 30.0-42,0 53,0 - l
Morte perinatal 1,0 3.0-5,0 4,0 - 24,0 7.0 I
Paralisia cerebral 0,2 0.7-0.9 3,0 11.0 I
' Pequeno número de casos avaliados.

374 Noções Práticas de Obst et rícia


REDUÇÃO FETAL Quando se compara gestações triplas reduzidas para
gemelares versus gestações gemelares espontâneas, o risco
A redução fetal ou desvitalização (termo preferido pe- de complicações está aumentado no grupo em que houve
los especialistas em MedicLna fetal) é procedimen to em- o procedim ento. É mais frequente o abortamento antes de
pregado com o objetivo de reduzir o número de fetos nas 24 semanas ( 12,6% versus 2,5%; p <O,OO l ), o trabalho de
gestações m ultifetais. É reahzada em alguns países onde a parto p ré-termo antes de 32 semanas ( 17,1% versus 7,6%;
legislação permite e tem como objetivo reduzir a incidên- p<O,O1) e meno r peso fetal (p<O,OO 1) .37
cia de complicações associadas a esse tipo de gestação6
T ecnicamente, consiste em procedimento invasivo, rea-
lizado preferencialmente no fi nal do primeiro trimestre, GESTAÇÃO MONOAMNIÓTICA
que tem como objetivo a punção do tórax fetal ( cardio-
centese) e infusão de cloreto de potássio (KCI). O re- As gestações monoamnióticas (MC/ MA) correspon-
sultado final é a parada dos batimentos cardíacos do feto dem a 10% das gestações monozigóticas, em decorrência
selecionado 6 Em geral, nos casos de gestações multifetais da divisão do zigoto entre o nono e o 12° dia após a fecun-
opta-se pela evolução da gestação com dois fetos vivos, dação.6·12 Está associada à alta taxa de mortalidade fetal (30
comportando-se, então, como uma gestação gemelar. a 68%),3•11·14 sendo a principal causa o entrelaçam ento e/
Por ser procedimento invasivo, existe risco estimado ou nó no cordão. Em geral, o entrelaçamento entre os cor-
de perda gestacional, que é de cerca de 5% para cada feto dões acontece em um período em que existe significativa
desvitalizado no primeiro trimestre. 6 Esse risco está re- mobilidade fetal (abaixo de 30 semanas de gestação). Ou-
lacionado ao procedimento invasivo p ropriamente dito tras causas envolvidas na alta mortalidade são a prematuri-
(risco aproxim ado de 2%) acrescido do risco causado dade, anastomoses placentárias, restrição do crescimento
pela reação inflamatória do tecido desvitalizado (risco fetal e anomalias congênitas. 14
aproximado de 3%), sendo este último mais alto quanto
maior a idade gestacional6 Dessa forma, o risco-beneficio
do procedimento deve ser avaliado. Para gestações com GEMELARIDADE IMPERFEITA-
quatro ou mais fetos, a literatura mostra não haver d úvi- GÊMEOS SIAMESES
das quanto ao beneficio da redução. 36 Porém, em gesta-
ções trigemelares reduzidas para gestações gemelares a
conduta ainda é controversa. Em metanálise realizada por Gemelaridade imperfeita ou gêmeos siameses ocor-
6
Papageorghiou et ai. ( 2006)/ as gestações triplas tratadas rem raramente, com incidência reportada entre 1/ 25.000
de forma conservadora fo ram comparadas às gestações e I/ 165.000 nascidos. Esse tipo de gestação resulta da di vi-
triplas reduzidas para dois fetos. O risco de abortamen- são incompleta do disco embrionário q ue se verifica após o
to (antes de 24 semanas) foi mais alto no grupo em que 12° dia da fecundação. As taxas de mortalidade intraútero e
houve intervenção (8, 1 versus 4,4%; RR- 1,83; IC 95%: neonatal são altas, sendo reportadas em 40 e 35%, respec-
1,08-3, 16; p=0,036). Em contrapartida, o risco de parto tivamente.
pré-termo (antes de 32 semanas) foi mais baixo no gru- A classificação é feita de acordo com as partes coladas
po em que houve redução para dois fetos ( 10,4% versus do corpo: 12,14,38
26,7%; RR- 0,37; 1C 95%: 0,27-0,5 1; p<0,0001) . Os au- Região anterior do corpo: tóraco-onfalópagos (28%),
tores comentam que seriam necessárias sete reduções to racópagos (18%) eonfalópagos (lO%);
para prevenir um parto pré-termo (antes de 32 sema- região posterior do corpo: pigópagos (20%);
nas) e 26 reduções para causar um abo rtamento (antes região cefálica: cefalópagos (6,0%);
de 24 semanas). D evido à diminuição na incidência de região caudal: isquiópagos (5,0%).
partos pré-termos extremos, o número de crianças vivas
com retardo mental reduziu de 2,1% (no grupo tratado A situação descrita como jetus in jetus (massa embrioná-
conservadoramente) para 0,5% ( no grupo tratado com ria vertebrada encontrada no interior de um feto) é incluí-
redução).6 da como gemelaridade imperfeitai.3

Gestação Múltipla 375


CONDUTA NO PRÉ-NATAL ULTRASSONOGRAFIA

A gestação gemelar deve ser conduzida sempre como Os exames ultrassonográficos são recomendados men-
gestação de alto risco, mantendo-se a atenção contín ua para salme nte até 32 sem anas, e qui nzenalmente após esse perí-
as complicações maternas e fe tais peculiares a esse tipo de odo. Porém, em gestações monocoriôn icas, devido ao risco
gestação. Sendo assim, a assistência pré-natal nessas gestan- de STF F e óbito fetal, os exa mes devem ser realizados qui n-
tes possui quatro objetivos básicos: zenalmente, a partir do diagnóstico da gemela ridade.m
Diagnosticar e tratar as complicações maternas; Como método de rastreamento de cromossomopatias,
d iagnost ica r d iscordâncias (a natôm icas, cro mossô- a ultrassonografia assume acentuada importância na ge-
m icas e crescimento) precocemente; melarid ade. Isto porque sign ificativo número de gestações
evitar prematuridade extrema; múltiplas é registrado em gesta ntes proveniente dos servi-
dete rm inar o melhor momento do parto. ços de reprodução assistid a ou com idade materna elevada
e, devido à va lorização d a gestação, é mais resistente aos
Luke et ai. (2003) 22 referiram que o acompanhamento procedi mentos invasivos pa ra determinação do cariótipo
adequado de gestações gemelares melhorou o resultado fetal. A u ltrassonografia deve ser realizada com o objetivo
final da gestação. Houve diminu ição nas incidências de de rastrea mento por volta de 12 semanas (avaliação da
pré-eclâmpsia (O R=0,4 1), rotura prematu ra de mem brana anatom ia fetal, medida da translucência nucal, ava liação
(0 R=0,35), parto antes de 36 semanas (0 R=0,62), recém- do osso nasa l, estudo dos fluxos em dueto venoso e vál-
· nascido de baixo peso (0 R=0,42) e supo rte ventilató rio vula tricúspide) e entre 22 e 24 semanas (ultrassonografia
ao recém-nascido ( 0 R=0,44). Após três anos de vida, essas morfogenética terciária). 6 O s estudos têm most rado que os
crianças fo ram menos propensas a reinternação ( 0R=0,3 1) testes de rastrea mento ultrassonográfico possuem eficácia
e atraso mental ( 0,65 ). semelha nte àq uela das gestações simples.
Em gestações gemela res, a medida da translucência nu-
cal (T N) possui taxa de detecção para as cromossomopatias
C ONSULTA PRÉ- NATAL E de 75% e falso-positivo de 5%. No primeiro tri mestre essa
O RIENTAÇÕES BÁSICAS sensibilidade pode au menta r ainda mais se forem feitas as as-
sociações da med ida da TN e teste bioqu ímico (90%) ou da
a ausência de complicações, a consuta pré-natal deve medida da TN e dueto venoso (94%).39 Qyando se util iza a
ser mensal até 24 semanas de gestação, quinzenal até 34 se- medida da T N em gestações gemeiares, existe nú mero mais
manas e semanal após esse período. A dieta deve ser hiper- alto de fetos cromossomicamente normais com medida aci-
proteica, hipolipídica e hipoglicídica, devendo-se estimu lar ma do percentil95 da curva de normal id ade. Isto resulta em
ganho de peso total entre 12,0 e 14,0 kg. O valor calórico di- percentual mais alto de falso- positivos pa ra cromossomopa-
ário estará relacionado ao índice de massa corporal (1M C ) tias, mais frequente em gestações MC quando comparado
materno prévio à gestação. De forma geral, deve variar entre às DCs.6.4u Monn i ef ai. (2000) 40 relataram medida de T N
3.000 e 4.000 kcal/dia, estando as calorias divididas em 20% aci ma do percent il 95 em 4,2% das gestações simples, 14%
de proteína, 40% de carboidrato e 40% de gordura, que se- das gestações gemela res DC e 23,3% da gestações gemela-
rão distribu fdas em três refeições e três lan ches. Existe a re- res MC. Nas gestações gem elares MC, a medida anômala da
comendação para suplementação aLmentar com ferro (30 TN, além de aumentar o risco de cromossomopatias, elevou
mg/ di a) e ácido fólico (300 pg/ dia) acima de 12 semanas também o risco para STFF (0R=3,5).6
de gestação. O acompanha men to em serviço de nutrição é A utilização d a ultrassonografia no d iagnóstico da d is-
recomendado.4•7•22 cord ância de crescimento/ C TU R de geme lares, apesar de
Apesar dos estudos mostrarem que a permanência no ser o método de mais acurácia disponível, deve ser anal isa-
hospital ( repouso hospitalar) não interfere na idade gesta- da com ressalvas. A maioria dos serviços uti liza nonnogra-
cional do parto, existe a recomendação para que a gestante mas de gestações simples para determinar o crescimento
diminua o estresse físico e men tal, bem como aumen te o fetal dos gemelares. G ru mbach et ai. ( 1986) 4 1 salientaram
período de repouso diurno após 24 semanas de gestação.m que o crescimento dos fetos de gestação gemclar se equ i-

376 Noções Práticas de Obstetricia


para ao crescimento do feto de gestação simples até 31-32 Sério desafio na atualidade é reconhecer a gestante de
semanas, di mi nuindo após esse período. gemelares q ue irá entrar em trabalho de pa rto pré-termo,
A partir da década de 80, a ultrassonografia passou a em especial antes de 32 sem anas de gestação. A ultrassono-
ser o exame complem entar mais utilizado na aval iação do gra fia endovaginal entre 22 e 24 semanas para a medida do
bem-estar fetal, e rapidamente o seu desempenh o passou a colo uterino vem demonstrando ser importante método
ser reconhecido também nas gestações gemelares, obser- p reditor de trabalho de parto pré-termo. Quanto menor a
vando-se boa correlação do perfil biofísica fe tal (PBF) com medida do colo uterino, mais alto o risco da prematuridade
a cardiotocografia. D esta for ma, apesar de poucos estudos (Q\Jadro 23.7).4.43 Se a medida do colo uterino é:;; 2,5 cm,
avaliarem especificamente gestações gemela res, a ultrasso- existe chance de trabalho de parto pré-term o antes de 32
nografia tem sido ampla mente ut ilizada para avaliação do semanas de cerca de 30%; e se a m edida do colo é~ 1,5 cm,
bem-estar fetal nessas gestações. 42 a chance é de cerca de 70%. A determ inação de alto risco
Para d iminuir o risco de testes falso-posit ivos e falso- para parto pré-termo permite o estabeleci mento de ações
42
-negativos em gestações gemelares, Devoe (2008) su- profiláticas (repouso, uterolítico, corticoide e cerclagem)
geriu que os métodos de investigação (cardiotocografia, bem como o planejamento (onde nascer), mel horando,
ultrassonografia e dopplervelocimetria) deveriam ser em- dessa forma, o prognóstico dos gemela res.
pregados de for ma associada. O autor ressaltou, ainda, que
novos estudos sobre métodos de rastreamento e diagnós- Quadro 23.7 1Aumento do risco de parto pré-termo cal-
tico do crescimento/ bem-estar fetal devem ser realizados culado pela OR (odds ratio) de acordo com o comprimento
especificamente em gestações gem elares. do colo uterino*
O diagnóstico d iferencial entre CI U R e ST FF pode ser di- Compr rnwnto do Co lo OR para parto..- 28 semanas
fícil, principalmente nos casos em que existe discordância de Uter rr1o (cm)
tamanho/peso entre os fetos de gestações MC ou, ainda, nos < 2,0 4.43
I I
casos nos quais os fetos são do mesmo sexo e não é possível
determinar a corionicidade. O Quadro 23.6 mostra algumas I < 2,5 1,94 I

diferenças ultrassonográficas e dopplervelocimétricas entre I <3,0 0,97 I

CIUR e STFF, que podem auxiliar no diagnóstico diferencial. 6


Nas gestações geme lares com placentação DC, a discordância
I >3,0 1.0 I

*O risco foi calculado para partos com idade gestacional inferior a 28


de peso é sempre resultante de restrição de crescimento. semanas quando comparados a partos com idade gestacional acima de
35 semanas.

Quadro 23.61 Diferenças ultrassonográficas e dopplerve-


locimétricas entre os quadros de crescimento intrauterino
restrito (C! U R) e síndrome da transfusão feto-fetal (STFF)
DOPPLERVELOCIMETRIA
Parametro CIUR STFF
Corionicidade MCou DC MC A dopplervelocimetria tem sido uma fer ra menta utili-
J zada em grande escala na abordagem de gestações si m ples.
I Sexo fetal Iguais/diferentes Iguais
Partindo de raciocínio fisiológico, as alterações vasculares
Gestação gemelar
MC/MA
- 35,0
~ a rteriais (artérias umbilica t cerebral e aorta) e venosas
(dueto venoso, veias cava inferior e um bilical) antecedem a
Polidramnia Ausente Presente (receptor) restrição de c rescimento, hipoxem ia, acidose e morte fetal.
Oligodramnia Presente Presente (doador) Dessa forma, poder-se-ia estabelecer a seguinte sequência
fisiológica: di mi nu ição do fluxo sanguíneo em artérias
Doppler artéria Alterado Normal/alterado I umbilicais, restrição de crescimento, evolução da h ipoxe-
umbilical (doador)
mia, centralização do fluxo em a rtéria cerebra l, acidemia,
Doppler dueto venoso Normal/alterado Alterado (receptoriJ
falência cardíaca, alteração do fluxo venoso e morte fetal.
CIUR =Crescimento intra uterino restrito; STFF = Sindrome de transfusão Em gestações gemelares, a dopplervelocim etria tem
feto-fetal; MC = Monocoriônica; DC = Dicoriônica.
apresentado melhor acurácia para detecção da hipoxemia

Gestação Múlt ipla 377


e acido e do que o volume de líqujdo amniótico ou PBF. A TOCÓLISE
ensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo, valor
preditivo negativo e acurácia do doppler foram, re pectiva- O uso profilático de ~-miméticos orais não se mo trou
mente, 49,0, 90,0, 63,0, 84,0 e 80,0%.4 2 efetivo na prevenção de parto pré-termo em ge taçõe gc-
Em gestações gemei ares, devido ao alto ri co de discor- melares.4- A progesterona vem e mostrando efetiva em
dância entre os fetos, restrição de cre cimento c TFF, a reduzir a taxa de parto pré-termo em ge tações simples
dopplc rvclocimctria tem sido utilizada, por analogia à ges- com alto ri co de prematu ridade. Todavia, em recente me-
tação im ple , como um importante aliado no rastreamen- tanálise, Norma n e/ ai. (2009)48 não encontraram benefí-
to e diagnóstico dessas doenças. A frequência de sua utili- cio da medicação quando ad ministrada de rotina como
zação na gestações gcmelares deverá er individualizada, profilática para parto pré-termo cm gestações gcmelares.
lembrando que a gestações MC merecem mais atenção. Em vigência de trabalho de parto pré-termo, a escolha
do melhor uterolítico deve er rea lizada de forma individu-
alizada, devendo ser levado em con ideração a condição
CARDlOTOCOGRAFIA materna, os efeitos colatcrai e a idade ge tacional. Devido
às particularidades da ge taçào gemclar, como maior volu-
A cardiotocografia (CTG) compõe o PBF e deve cr me sanguíneo e débito cardíaco, existem contraindicações
utilizada em a ociação à ultrassonografia e à dopplervc- relativa ao uso do ~- mimét ico , havendo relatos de insu-
locimetria, para avaliação do bem-estar fetal.42 t u ada a ficiência cardíaca e edema agudo de pulmão. 4 'là mbém a
partir de 2 emana , com frequência que irá depender da nifedipina tem sido relacionada à dispnea e à dor toráxica
complicaçõe a ociada à gestação gemelar. em gestantes de gemelarcs. Da mesma forma, efeitos adver-
Em ge taçõe gemelare monoamnióticas, Smith-Lc- sos típicos da indometacina, como o fechamento do dueto
vitin e/ ai. (1999)1 ugercm CTG diária após 26 semanas, arterioso e diminu ição do líquido amniótico, foram relata-
com o objetivo de detectar desacelerações consequentes do para as gestações gernelare .
ao entrelaçamento dos cordões, realizando-se o PBF so- M,1is recentemente, o atosiban (bloque,1dor dos recep-
mente nos casos de CT G não reati va. tores de oxitocina) tem ido de crito como droga com efe-
tividade ernelhante à dos demai tocolítico , porém com
meno efeito colaterai . E tudos com e se medicamento
ADMINISTRAÇÃO DO CORTICOIDE cm gestaçõe gemelares são escas os. Em revi ão realizada
por Vayssicre (2002),49 os medicamentos de escolha para
Os estudo realizado com o objeti vo de avaliar a efi- inibição de parto pré-termo nas gestações gemelares ão os
cácia do uso do corticoidc cm diminuir distúrbios respi- bloqueadores de cálcio e os bloqueadores da ocitocina.
ratórios nos recém-nascidos de gestações gemelares não
mostraram a mesma evidência que em gestações simples.44
As explicações para esse resultado desfavorável são: meia- CERCLAGEM
-vida mais curta da medicação na circulação das gestantes
de gemelares ou mais necessidade de concentração da dro- A realização da cerclagem tem ido di cutida naque-
ga devido à maior hemodilu ição.45 Apesar das incertezas e le ca o cm que há apagamento precoce e progre sivo do
da au ência de estudos pro pectivo , a maioria dos autores, colo uterino cm ge tações únicas ou múltiplas. O proce-
ainda a sim, preconiza o uso do corticoidc em esquema di mento e taria ind icado quando o comprimento do colo
de do e única (beta metasona 12,0 mg IM e repetida no fosse menor que l,S-2,Scm, com o objetivo de prolongar a
intervalo de 24 horas) na imi nência de parto pré-termo?·29 gestação até idade gestacional acima de 28 a 30 semanas.
Quanto ao esquema de corticoterapia, também não houve Especificamente para gestações gemei ares, a cerclagem (de
diferença estatisticamente significativa quando o corticoi- forma profi lática ou diante do encurtamento do colo uteri-
de foi utilizado em doses repetidas a partir de 24 semanas no) não mo trou melhora na idade gestacional do parto ou
ou dose única na iminência do parto pré-termo.46 no resultado neonatal.' 0

378 Noções Práticas de Obstetrícia


CRESCIMENTO lNTRAUTERINO MORTE DE UM GEMELAR
RESTRITO ( CIUR) EM UM DOS FETOS
Como citado anteriormente, as complicações decor-
rentes da morte de um dos gemelares apó o primeiro tri-
A re trição de cre cimento acometendo somente um mestre dependem exclu ivamcntc do tipo de placentação.
do feto na ge tação gemelar é um grande de afio. I to as ge tações DC, o ri co de coagulação intravascular
porque :1 interrupção precoce d:~ gcst:~ção vi s:~ndo ,\0 be- disscmin:~da para o feto sobrevivente c :1 nüc é mínimo c
nefício do feto com C IU R traduz-se, consequen temente, a conduta conservadora deve cr tomada. De form:~ profi-
cm prematundadc iatrogênic:~ de nccc ária par.1 o feto lática, coagulograma materno deve ser avaliado periodica-
cut rófico. Dcl>~J forma, o melhor momento par.1 essa in- mente após a quarta semana do óbito. 2
terrupção deve ser plancjado par:~ beneficiar :~o m.íximo o ca o de gc tação monocoriônica. o óbito e a lc-
o feto hipotrólico, em prejudicar de forma significativa o õc cerebrais no feto que obre,·ive , ão hoje relacionadas
feto cutrófico. Es c momento erá baseado na av,tli.tção de ao processo de hipovolcmia c não a distúrbios de coagula-
testes de avaliaçao do bem-estar feta l: perfil biofísica fetal c ção. Ern gc tações precoce (cm especial ante de, 4- sema-
dopplervcloc1metria. na ), a conduta sugenda pela literatu ra é conservadora, Já
O 1dc.tl é 111tcrrompcr a ge tação antes que hap aci- que não existe justificati va para interrupção imcdiata. 12 20 "
dose fetal, pro cs o altamente associado ao prognóstico O prognó tico do feto obrcvivcntc deve cr acompanha-
nconatal. O processo de interrupção da gcst:~ção deve do por meio de exame ultra sonográfico qui mcnal, com o
er cogitado d1.mte dos diJgnó ticos de centralização ou objctivo de :~val iar o parênquima cerebral. Havendo lesão
alteração da velocidade da onda A no dueto venoso, altc- cerebral no feto sobrevivente, ela irá manifc ta r- e ultras-
raçõc biofís ic.t~ que antecedem a acidose. as ge!.tações onografica mente em torno de dua a trê ~eman a apó o
gcmcbre ma i prematura~ (<32 emanas), recomenda- óbito do out ro gemelar.\2
-. e m:tis toler.in i:~, sendo que :1 alteração na velocidade
da onda A no dueto venoso seria o melhor indicador p:~ r:~
o momento do parto. Em ge taçõe ma i ava nç:~da (> 2 GESTAÇÕES MONOAMNIÓTICAS
~ema na~). indi a- e a interrupção da gc t:~ção diante do
proccs!>o de centralização da artéria cerebral do feto hi- es a modalidade de gc tação gcmclar, a principal c:~u-
potrófico. É importante rc altar que o prece o de de- a de mortalidade é o entrelaçamento entre o cordões. Pa ra
cisão d.t interrup ão da ge tação não deve c ta r b.1 cado reduzir a mortalidade, alguns autores advogam a d im inui-
somente nas alterações fisiopatológicas e biofísic:~ , mas ção do líquido amniótico (anti-infl amatório , am niodre-
também n:~ idade gc tacional, no tipo de placentação c no nagcm) com o propó ito de reduzir a mobil idade dos feto~
·uportc neonatal di ponívcl.~ entre 24 e 29 emanas.q O p:~rto pré-termo, depois de 32
Se a idade gcstacional for < 2 semanas, o tipo de pla- sc m:~nas, :~pó o uso de corticoide c confirmação da maturi-
centação indicará a conduta. Se a gestação for dicoriónic.t, dade fetal, tem sido defend ido com o intuito de evitar a alta
a conduta deve cr conservadora, aguardando a m:~tu ri­ mortalidade intraútero. Essa conduta tem como suporte os
dadc do Ícto eutrólico. e a gestação for monocoriôn ic.t e achados de Roqué e/ a/. (2003Y4 que, cm c tudo rctro pec-
estiver entre 26 c 32 emanas, o parto deve cr considcr.tdo tivo avaliando 133 ge taçõc gemebrc monoamniótica ,
quando se fizer o diagnóstico de de compen ação cardí:~c:~ ob crvaram que a mortalidade perin :~tal praticamente do-
do feto com restrição (a lteração do dopplcr venoso). Essa br:~ :1 c:~ da duas semanas a partir de 30 semanas de gestação.
conduta c tá ba cada nas complicações decorrente do
óbito de um feto na ge taçõcs monocoriôn1ca , com n -
co elevado para o feto eutrólico obreviventc (vide com- CONDUÇÃO DO PARTO
plicaçõc~ descritas no tema morte de um dos gemelarcs).
c a idade gestacional for < 26 emanas, a literatura tem Apc :~r dos cuidado bá:,icos com .1 gemelípara não
aventado a po ibilidade de de vitalização clctiva do feto serem diferentes daqueles com a gestante de feto único,
comprometido, a partir de oclusão do cordão umbilical. deve-se lembrar que a gestação múltipl.t precisa ser con-

Gestação Múltipla 379


duzida como gc tação de alto-ri co. Atenção e pecial deve iterati,·a e o ofrirncnto fetal. O autor ugerc que feto com
er dada à determinação do momento e da \'ia do parto. meno de 1.000 g, devido ao prognó tico om inoso, devam
Para adequada dcct ão, parâmetro materno c fetais de- nascer por via vaginal. Entre 1.000 c 2.000 g, a via de parto
vem er con idcr.1do . Os parâmetros maternos de mais dependerá da apre entação. Se ambos estiverem cefálicos,
importância são .1 p.1rid.1de, história prévia de histcrorrafia a via de opção é a vagi nal. a · demJt apre cntações, o
e as intercorrências durante o pré-natal. Por sua vez, os pa- parto deve er por ce aria na. Se o pc o fetal c tiver acima
râmetros fetais envolvem a idade gestacional, o peso feta l de 2.000 g e o primeiro feto estiver cefálico, a via de parto
e timado dos conccpto , a corionicidade, a apre cntaçõc , deve er a vaginal. Havendo necessidade, .1 versão externa
a vitalidade e a complicações fetais oriunda da gcmelari- para cef.ílico ou a versão interna acompan h:tdJ pela cxtra-
dade (discord.'tn i.1~, TFF, TRAP, gestações monoam ni- ção pélvica deve cr realizada. É prcci!>o saltcntar que, para
ótica ). 29 ss.>õ A condução do parto deve sempre ser feita de a realização da manobra ncces ária~. ão imprcscindívei
forma individua Iizada. treinamento e prática.
Rezendc (199")>6 preconiza guc o p:trto vaginal deva
cr realizado somente ~c ambos os conceptos esti verem
MOMENTO DO PARTO ccf.ílicos. Boleti m emitido pelo Colégio Americano de
Gi necologia c Obstetrícia {ACOG) cm 1999 ugcre que,
Estudo retrospectivos têm sugerido que a gestação estando ambo o feto cm apresentaçao ccf:-\li .1 c pesan-
gemelar tem duração fi iológica mais curta que ,1 gc tação do mai que I. ·oo g {ou maior que 33 emana ), a via de
única, cndo que apó 38 semanas completa~ veri fica-se parto preferencial é a vaginal. c o pri mei ro gemei ar estiver
aumento da morbilctalidade perinata!.S Revi ão si te- pélvico, .1 via de parto deve ser a cesariana.w
mática rc.tlizada pela "/11e ochrane Lybrmi s ava liou as Existem aqueles que defendem o parto via esariana
condutas "indução clctiva com 37 semanas" versus ..con- para todo os gcmclarcs, porém es a conduta não é con-
duta expectante·· c não revelou diferença estatistic:1mcntc firmada pela literat ura. Revi ão si temática rL'alizada por
sign ifica tiva quanto às vari.íveis: taxa de cc aria na (RR - Hoglc ct n/. (2003)w comparou o grupo "ce anana pro-
o,· 6; IC 95%: 0,16-1,90), taxa de cesariana para sofri men- gra mada a termo" 11ersrts "pa rto vaginal". O rc ultados
to fetal (RR -0,37; I 9-lliJ: 0,02-8, · 3), hemorragi:1 mater- encontrado foram, respectivamente: Apgar de ci nco mi-
na (RR - O, 7; IC 9-<ln: 0,02- , · 3), líquido meconial (RR nutos baixo, estando o primeiro gemelar em apresentação
- 0, 10, IC 959o: 0,0 1-1,77) c peso neonatal inferior .1 2."00 pélvica (O R - 0,33; IC 95%: OF-0,6 -); Apgar Je cinco
gramas (RR - 0,95; IC 95%: 0,49-1,82). omentc um pe- minuto baixo c tando o primetro gemclar cefaltco (OR -
queno estudo randomizado foi encontrado, mas não ava- 1,99; I 9"'\l: 0,37-10,82); mortalidade pennatal oum~ona­
liou a mortalidade perinatal. Por is o, o autorc concluem tal (OR - 2,06; IC 9S9o: 0,29- 14,66) e morbidadc neonatal
que os dado foram insuficientes para suport:1r .1 prá tica (OR- 1,94; IC 95%: 0,89-4,25). Os autores concluem que a
de parto cletivo com 37 semanas nas gestações gemelarcs. programação da via alta a termo não trouxe benefícios sig-
Na gravidez múltipla dicoriônica de boa evolução, o início nificati vos, a não ser nos ca os cm que o primeiro gemclar
do trabalho de parto deve ser aguardado.Já n,1· ge tações encont rava- c pélvico.
monocoriônicas cujo risco de complicações fctai é mais Devido ao alto ri co da gc t.1çõe mono oriônicas
alto, ex i te a recomendação para que age tação cja tnter- (MC), cm e pecial em relação à TFF c à possibi lidade de
rompida tão logo alcance o termo {após 37 semana ). sua ocorrência intraparto, algu ns especialistas defendem
a ideia de parto ce aria na ao termo da gc ta ão. Sau e/ a/.
(2006) 60 decrcvem estudo de coorte retrospectivo avaltan-
VIA DE PARTO do a morbiletalidade fetal entre os grupo de "gc taçõe
MC, "gc ta õe DC, gcstaçõe IC interrompida por
Cama no {2000) 29 relata, nos últi mo anos, aumento na parto normal (· MC via baixa"), ge~taçõe MC interrompi-
taxa de cesarian.t cm ge tações gcmclares de 4, ·% {1969) das por parto cesariano ("MC via alta") c gestaçõc DC in-
para 47, % (1996), sendo as principais indicaçõc para o terrompida por parto normal {" D 'vi,1 baixa"). Em gcr.1l, a
parto cirúrgico as apresentaçõe · não cefálicas, cesari.1na~ idade gcst.tcional do partos nas gestaçõc MC antecedeu,

380 Noções Práticas de Obstetricia


em média, uma semana a idade gestacional do grupo DC. ralmente, acreditamos que a atenção do obstetra-assistente
Não houve diferença na incidência de cesariana entre os deva ser proporcional ao número de fetos, ou seja, redobra-
grupos MC e DC (56,6 versus 53,6; p >O, 1). Apesar da inci- da na gemelaridade, triplicada nas gestações triplas, e assim
dência de Apgar de cinco minutos menor que sete ser mais por diante. A atitude preventiva e o diagnóstico precoce
alta no grupo "MC via baixa· quando comparado ao grupo podem fazer a diferença no prognóstico dessas gestações e
"DC via baixa" (19,0% versus 5,0%; p<O,OO l), não houve di- de seus recém-nascidos.
ferença estatisticamente significativa quanto ao pH<7,2 em
artéria umbilical (14%versus 14%, NS), internação em UTl
neonatal (5,6% versus 4,4%, NS) e morte neonatal (0,0% R EFERÊNCIAS
versus 0,5%, NS). Também não houve diferença estatistica-
mente significativa quanto ao pH<7,2 em artéria umbilical I. Mashiach, S. High-order multiple pregnancy. ln : Kurjk A,
Chcvernak FA, editors. The Fetus as a Patient. New York: ·n,e
ent re os grupos "MC via baixa" versus "MC via alta" (14%
P.Jrthenon Puplishing Group; 1994 .
versus 24%, NS). Os autores não constataram diferença es- 2. Smith-Levitin M, Skupsk i DW, Chervenak FA. Multifetal
tatística significativa quanto ao resultado neonatal entre os Pregnancics: Epidcmiology, Clin ical Characteristics ,md
grupos •·MC via baixa" versus "MC via alta". Management. ln: Reece EA, Hobbins JC, editors. Medicine
O Qpadro 23.8 apresenta as contraindicações absolu- ofThe Fctus & Mot hcr. Ncw York: Lippincot-Raven publi-
shcrs; 1999.
tas ao parto normal."
3. Bcrnirschke K, K.im C K. Multiplc prcgnancy (first of two
parts). Englj Mcd. 1973; 288: 1276-84.
Quadro 23.8 I Contraindicações absolutas ao parto pela
4. Ayres A, Johnson T R. Managcmcnt of multiple pregnancy:
via vagina Inas gestações gemeiares prenatal care--part I. Obstet Gynccol Surv. 2005;60(8):
Gestação com mais de dois fetos 527-37.
Cohen J. Associated multiple gcstation- ART. Cli n Obstct
Primeiro feto com apresentação pélvica ou oblíqua Gynecol. 2003;46:363-74.
Idade gestacional entre 28 e 34 semanas 6. Nicolaidcs KH, Figueiredo BD. O exame ultra-sonográhco
entre li - 13 semanas. Disponível cm: . http:// www.fctalmc-
Bolsa rota com colo imaturo d ici nc.com/ fm f/ FM F-portugut'Sc.pdf
Gestação monocoriOnica e monoamniótica 7. Gonçalves MM, Péret FJA. Prcnhczgcmelar. l n: Corrê,l MO;
Melo VH, Aguiar RA LP, Corrêa Jr MO. Noções Práticas de
Gemelaridade imperfeita Obstetrícia. 13• ed. 2004. Coopmcd. p.339-48
8. Urbancsek]. H,w zman E, Fcdorcsák P, Halmos A, Dévényi
A indução do parto deve ser evitada e o uso do ocitóci- N, Papp z. Serum human chorionic gonadotropin measure-
mcnts may prcdict pregnancy outcomc and multiple gcsta-
no deve ser cauteloso. O intervalo para o desprendimento tion afterin vitro fcrtilization. Fertil Stcril. 2002; 78(3):540-2.
dos fetos no parto normal não deve ultrapassar l0-20 mi-
9. Sepulveda W, Scbirc NJ, Hughes K, Odibo A, Nicola idcs KH.
nutos.29 Entre os fatores que pioram o prognóstico do se- The lambda sign at 10-14 weeks ofgcstation as a prcdictor of
gundo gcmelar estão o intervalo interpartal prolongado e chorionicity in twin pregnancics. Ultrasound Obstet Gync-
a discordância de peso. col. 1996;7(6):421-3.

Na sala de parto, além do obstetra e do auxiliar, deverão 10. Kalish RB, Chasen ST, Gupta M, Sharma G, Pern i SC, Cher-
venak FA. First trimcster prediction ofgrowth discordance in
estar presentes o anestesiologista e neonatologistas em nú-
twin gestations. Amj Obstct Gynecol. 2003; 189(3):706-9.
mero igual ao número de fetos. Após o parto, a revisão do l i. Dcmissie K,Ananth CV, MartinJ, HanleyM L, MacDorman
canal de parto deve ser rigorosa e a infusão de ocitócinos MF, Rhoads GG. Fetal and neon<~t a l mortal ity among twin
poderá ser mantida nas primeiras horas do pós-parto com gestations in thc United States: the role ofintrapair birth wei-
o objetivo de minimizar o sangramento por hipotonia ute- ght discordancc. Obstct Gynecol. 2002; 100(3):474-80.

rina. O quarto período do parto não pode ser desprezado, 12. Ayres A, Johnson TR. Managcmcnt of nmltiple pregnancy:
prenatal carc-part 11. Obstet Gynecol Surv. 2005;60(8):
pois, devido à grande distensão uterina, existe alto risco de 538-49.
hemorragia. 29 13. Quintem RA, Morales WJ,Allcn MI-l, Bornick PW,Johnson
As gestações múltiplas são de alto risco não só no pe- PK, Kruger M. Staging oftwi n-twin transfusion syndromc.J
ríodo pré-natal, mas também durante e após o parto. Lite- Pcrinatol. 1999; (8 Pt 1):550-5.

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Gestação Múltipla
Crescimento lntrauterino Restrito
Mário Dias Corrêajúnior

Etiopatogenia Sequência dos Exames


Aporte Materno Inadequado de Nutrientes e Oxigênio Conduta
Mau-funcionamento Placentário Interrupção da Gestação
Lesão Direta sobre o Feto Q!.Iando Interromper?
Fases do Desenvolvimento Fetal Prevenção
Classificação Prevenção Primária
Tipo I - Simétrico Prevenção Secundária
Tipo II - Assimétrico Complicações Neonatais e
Tipo W - Intermediário ou Misto
Sequelas em Longo Prazo
Fisiopatologia
Diagnóstico
Ultrassonografia
Dopplervelocimetria
Perfil Biofísica Fetal
Cardiotocografia
Exames Invasivos

o feto com crescimento intrauteri no restrito


(CIU R) é aquele q ue não ati ngiu todo o seu
potencial de desenvolvimento.
O tempo de vida intrauterina é o período de cresci-
mento mais rápido da espécie humana. Esse crescimento
rio e fetal. Essas alterações podem interferir no desenvol-
vi mento dos órgãos fetais, no seu metabolismo e no seu
padrão de crescimento, causando repercussões que podem
ser temporárias ou defi niti vas.
Até 1960, todos os recém-nascidos (RN) com bai-
ocorre em função do aumento do número c do taman ho xo peso eram classificados como prematuros. Em 1961 ,
das células. Já foi calculado que o embrião humano passa a Organ ização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu
por 42 ciclos de divisão celular dentro do útero e apenas que gestações de duração no rmal também po deriam
por mais cinco ciclos de divi ão fora dele.• produzir RNs com menos de 2.500 g, sugerindo que
Qyaisquer fatores adversos que acometam a gestação estes fossem chamados de RN de baixo peso ao nasci-
poderão levar a alterações no de envolvimento embrioná- mento.2 Po tcriormente, com o surgimento das curvas
Peso
de crescimento fetal, como a c urva de Oenver (Lub-
4000
che nco, 1963) \ foram estabelecidas as bases para o re-
3500
conhecimento daqueles RNs que tinham peso abaixo
d o espe rado para a idade gestacional (IG). Os RNs pas- 3000

sa ra m a er classificados como adeq uados para a idade 2500

gestacional (AlG), peque nos para a IG (PIG) ou gran-


des para a lG (G lG).
2000
I ....
o

Baixo peso
1500
I
O feto com C l U R, geralmente, é aquele que se en- 1000 ~I
contra com o peso abaixo do percenti! JOpara a lG. É im-
500
I
porta nte ressaltar que nem tod os os fetos com peso abai- I
o
xo do I 0° percenti I o serão por restrição d e crescimento. 24 26 28 3o 32 34 36 1 38 4o 42
A lgu ns serão constitucionalme nte peque nos (como o s Semanas pré-termo + --'- - - __. termo
37
filhos de pais de baixa estatura), sem terem passado por
processo patogên ico. Para dimi nui r a classificação incor-
I
Figura 24.1 Classificação dos RNssegundo o percentil
do peso.
reta de fetos cons titucionalmente pequenos como fetos
com C ! U R, algun s autores sugeri ram que o d iagnóstico
de restrição de crescimento fosse feito apenas qua ndo os O c resci mento intrauterino restrito é fator importante
fetos estivessem com o peso abaixo d o percentil cinco de morbimortal idade perinatal. A mortalidade neonatal
ou, ainda, do percentil três da curva de c rescimento.4·s dos RNs com C I UR é seis a 10 vezes mais do que a da-
Essas medid as leva m, entretanto, ao risco de não se de- queles que cresceram normalmente na vida intrauterina.
tecta rem os fetos com C IUR inicial, que poderiam ser Q uanto mais baixo o percentil do peso ao nascimen to,
beneficiados por acompanha mento mais minucioso mais morbimortalidade. 2
(Qpadro 24.1 e Figura 24.1). Além d a mortalidade aumentada, esses R Ns têm mais
morbidade, apresentando altas taxas de asfixia intrapa rto,
hipogl icemia c retardo mental.6 Parece existir tam bém
Quadro 24. 1 I Classificação dos recém-nascidos
risco aumentado de essa população desenvolver doenças
ClasslfiCi1CilO Cilractenst1ca
crônicas na vida adulta, co mo h ipertensão arterial, d iabe-

~
RN Pré-termo Abaixo de 37 semanas de tes mellitus e doença coronariana.1
gestação Estima-se que 3 a 10% dos RNs apresentem algu m ti po
RN Baixo peso Peso abaixo de 2.500 g ao de restrição de crescimento, podendo esse nú mero chega r
nascimento a 30% nos países em desenvolvimento.-
RN Muito baixo peso Peso abaixo de 1.500 g ao Segundo dados do National Institute.1 of Health, acred i-
nascimento ta-se que aproxi madamente 40.000 crianças por ano nos
1 EUA apresentem crescimento intrauteri no anor rnal.s No
RN Adequado para idade Peso entre os percentis 1Oe
gestacional (AIG) 90 para a IG Brasil, a incidência de Cl UR variou de 6,8 a 12%.9· 10

RN Grande para idade Peso acima do percentil 90


gestacional (6161 para a 16
ETIOPATOGENIA
RN Pequeno para idade Peso abaixo do percentil1 O
gestacional (PIG) para a IG
Diversas são as causas que impedem o feto de atingir
RN Com CIUR (simétrico) Peso abaixo do percentil 1O todo o seu potencial de c rescimento. C lassicamente, a etio-
para a idade gestacional, em
logia do CIUR é dividida em causas de origem materna,
I função de processo patogênico
fetal e placentária (Qpadro 24.2). 11
RN Pequeno constitucional Peso abaixo do percentil10 Acreditamos, no entanto, que seria melhor divid irem-
para a idade gestacional, sem
se as etiologias do C I U R segundo o mecanismo fi siopato-
I causa patogênica
lógico que levaria à doença.

386 Noções Práticas de Obstetrícia


Quadro 24.21 Cau a~ de desenvolvimento de ClUR

Orrqem fr!tdl ÜIICJ8111111il!8111d Arwxrdl

Anomalias cromossOmicas Nutricional Placenta I


Trissomias (13. 18 e 21 I Desnutrição Placenta prévia
Monossomia X(Turner) Doença inflamatória intestinal Placenta circunvalada
Delações (4p-. Sp-, 13q-. 21q-) lnfartos placentários
Descolamento prematuro da placenta
Corioangiomas
Gestações múltiplas
Erros inatos do metabolismo Hipóxia Cordão
Infecções
I
I l
Virais Asma Inserção velamentosa do cordão !.

Citomegalovlrus Fibrose clstica


Rubéola Cardiopatia cianótica
Herpes Bronquiectasia
Varicela-zoster Cifoescoliose
Bacterianas
Slfilis Vascular
Listeriose : Pré-eclêmpsia
Tuberculose Hipertensão crOnica
Protozooses Colagenoses
Malária Diabetes mellitus
Doença de Chagas
Malformações Renal
Microcefalia Glomerulonefrite
Anencefalia Nefrose lipoide
Malformação cardiovascular Nefrosclerose arteriolar
Malformação gastrointestinal
Hematológico
Malformação genitourinária
Displasias esqueléticas Anemia falciforrne
Ambientais
Altas altitudes
Fumo
Álcool
Herolna
Metadona
Cocarna
Antimetabólitos
Anticoagulantes
Anticonwlsivantes
Modrficado de Pollack & Drvon. 1992

APORTEMATERNO INADEQUADO
DE NUTRIENTES E OXIGÊNIO
Três são a causa bá ica que levam ao C l UR:
Aporte materno inadequado de nutrientes e oxigênio; Nesse grupo, a principal cau a seria a de nutrição ma-
mau-funcionamento placentário; terna, levando a pouca capacidade de nutrir o feto. Doen-
lesão di reta no feto. ças que diminuem a ab orção c o transporte do oxigênio

Crescimento lntrauterino Rest rito


também se enquadram nesta categoria. Exemplos: anemia, CiRCULAÇÃO 01:.~ 1 I E TE A

asma grave, doença pulmonares, cardiopatias cianosa n- FACE FETAL DA PLACb TA


tes, efeitos do tabagismo na função respiratória e habitação
em altitude elevada. O angue das artéria e piraladas irriga a vilo idade
coriônicas (parte fetal da placenta). As trocas de oxigênio e
nutrientes vão ocorrer entre o sangue materno (no espaço
MAU-F UNC IONAMENTO PLACENTÁRIO interviloso) e o fetal (dentro das vi losidades coriônicas).
Com o avançar da gravidez, as vilo idades coriônicas ra-
Este grupo pode er ubdividido em trê subgrupos, mificam-se e ampliam ua rede capilar, permitindo maior
segundo o tipo de acometi mento da placenta. volume de trocas fetais.
Alterações na estrutu ra da vilo idades, no seu nú-
mero e no nú mero de capilare no seu interior induzem a
PLACE TA ESTRUTURALMENTE DEF I I EN TE dimi nuição das troca materno-fctai . In fecções podem
origi nar inflamação das vilosidade e proce sos autoimu-
Acentuada variedade de genes é expressa nos tecidos nes podem conduzir à lesão direta dos mesmos. Processo
placentários e têm papel preponderante na implan tação e trombóticos no espaço interviloso ou nos vasos da placen-
desenvolvimento da placenta. Mutações ne c genes ou ta e do cordão ta mbém fazem parte desse grupo.
qualquer outro tipo de defeito genético ou cromo ômico
levam a grau va riado de di fu nção placentária. Um exem-
plo típico é o mo aici mo confinado à placenta, em que a LESÃO DIR ETA SOBRE O F ETO
placenta é trissômica e o feto normal. 12
Por fim, agressões di retas sobre o feto também levam
à restrição de crescimento. Entre ela estão as causas gené-
CIRCULAÇÃO DEF IC IENTE N A ticas, infecciosas e exposição à radiação ou a substà ncias
FACE MATERNA DA PLA CENTA teratogênicas (Q!adro 24.3).

Para o perfeito de envolvimento da gravidez, é necessário


fluxo sanguíneo adequado à placenta. Para que isso ocorra, o FASES DO DESENVOLVIMENTO FETAL
trofoblasto invade a artérias espiralada (que irrigam a decí-
dua) e destrói sua camada músculo·elástica. Essa alteração O feto não apresenta crescimento homogêneo dura nte
fisiológica deixa as artérias espiraladas mais complacentes e toda a gravidez. Ex istem três fases de desenvolvimento fe-
menos responsivas aos efeitos de substâncias vasoconstritoras. tal identificadas:"
A invasão trofoblástica ocorre em duas ondas. A primei- Primeira fase - hiperplasia celular: aumento do
ra vai da implantação à 10" semana c as artérias são invadi- número de célu las devido à multiplicação e divisão
das até a junção decíduo-miometrial. A segunda onda de celular. Va i da concepção à 16• semana de gc tação;
invasão ocorre da 16• semana ao termo c a porção miome- Segunda fase - hiperplasia e hipertrofia celular: a
trial das artérias espiraladas é atingida.13 A ausência dessas célu las ainda continuam aumentando em nú mero
modificações fisiológicas pode levar a um fluxo de sangue e começam a aumentar em tamanho. D ura da t6• à
diminuído para o espaço interviloso, com consequente di- 32• emana de gestação;
minuição do aparte de nutrientes e oxigênio para o feto. Terceira fase - hipertrofia celular:verifica-se apenas
Doenças vasculares maternas e processos autoimunes o aumento do volume das células. Estende-se da 32•
podem conduzir à lesão do endotélio das artérias espira- semana ao fi nal da gravidez.
ladas, com formação de trombos c oclusão das mesmas.
Pré-eclãmpsia, lúpus eritematoso sistêmico e hipertensão Agressõe nas diferentes fases da gravidez vão ter repcr-
arterial são algumas das doenças que vão contribui r para o cussõc diferentes no crescimento do feto.
CIU R por esse mecanismo.

388 Noções Práticas de Obste t rícia


Quadro 24.3j Classificação etiopatogênica do CIUR
Apu1te lllatelllO llldclt~qtJdcio

Nutrientes Oxigênio
Desnutrição Doenças pulmonares (asma. bronquiectasia. fibrose cfstica)
Má-absorção intestinal Cardiopatias cianóticas
Anemias
Ambientais (altitude elevada. tabagismo)
i'v1dll flii1CIO!léllll81ltU pidLI'IlldiiO

Placenta estruturalmente deficiente Circulação deficiente na face materna Circulação deficiente na face fetal
da placenta da placenta
------ -------+------------------------;----------------------------,
Anomalias cromossOmicas Pré-eclampsia Placenta prévia
Mosaicismo confinado à placenta Hipertensão arterial lnfartos placentários
Colagenoses Gestações múltiplas
Diabetes mellitus Trombose de cordão
Infecções
Sfndrome de anticorpos antifosfolfpide
Lt~sdü d1reta suiJie u f~;tu

Anomalias cromossOmicas Erros inatos do metabolismo Radiação


Malformações Infecções ISubstancias teratogênicas
Modificado de Pollack & D1von. 1992

CLASSIFICAÇÃO

Os feto com C IUR não constituem um grupo único apena do fator cau ai, ma ta mbém da idade gc tacionaf
com di túrbios semelhante . Identificam-se trê tipo , com em que acontece a agres ão c dos órgãos acometidos. E c
alterações orgânicas diferentes c evolução distinta, tanto três tipos ão denominado imétrico, assimétrico c misto
intraútero como pós-nJtaf. Es J difercnciaçj o decorre não (Figu ra 24.2). 11

CIUR Simétrico CIUR Assimétrico


Peso Peso
4000 P90 4000 P90
3500 3500
3000 3000
2500 2500
2IXXI 2000
1500 1500
1000 1000
500 500
o o
24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42
semanas semanas
Figura 24.2j Curva de rc imento de fetos com diferente tipo de CIUR.

Crescimento lntrauterino Restrit o


389
TIPO I- SIMÉTRICO de se adaptar ao aporte diminuído de oxigénio e nutrientes.
A placenta deficiente realiza menos quantidade de trocas
Responsável por cerca de 20% dos casos de CIUR. gasosas e, ern consequência, o sangue que vai para o feto
Nesse tipo enquadram-se os fetos com restrição de cres- passa a apresentar diminuição na concentração de oxigénio
cimento de todos os seus órgãos. A agressão ocorreu pre- (hipoxemia). Os primeiros a perceberem a redução na P0 2
cocemente, na fase de hiperplasia celular. É de evolução (pressão de oxigénio) são os quimioreceptores localizados
crônica e usualmente relacionado a infecções maternas, no arco aortico. Eles sinalizam a mudança para o SNC, que
alterações cromossômicas ou malformações congênitas. promove vasoconstrição periférica e vasodilatação nas arté-
Os feto constitucionalmente pequenos também apre- rias cerebrais, coronarianas e suprarrenais, processo conhe-
sentam padrão de crescimento simétrico, o que pode difi- cido corno centralização de fluxo. 14 O objetivo dessa mudan-
cultar o diagnóstico diferencial. Os recém-nascidos desse ça é preservar o suprimento adequado de 0 2 para os órgãos
grupo geralmente não apresentam hipóxia neonatal. essenciais à sobrevivência do organismo. Os órgãos "nobres"
ficam em normoxemia devido ao au mento do fluxo para
eles, enquanto que nos outros tecidos, já prejudicados pela
TIPO II -ASSIMÉTRICO diminuição da P0 2, a dimi nuição do fluxo leva à hipóxia.15
A hipóxia tecidualleva os órgãos periféricos a utilizarem
A agressão ocorre na fase de hipert rofia celular. A di- o metabolismo anaeróbico, a partir da utilização do glico-
minuição da oferta de nutrientes nessa etapa leva à redis- gênio hepático, o que resulta na produção de ácido lático.
tribuição dos fluxos sanguíneos para privilegiar órgãos Caso o processo se mantenha por período prolongado, o
(cérebro, coração e suprarrenais). Consequentemente, feto entra em acidose. A troca gasosa ineficiente na placenta
a cabeça continua crescendo de maneira adequada, en- também provoca acúmulo de co2 no feto c hipercapnia.
quanto o fígado (principal responsável pelo taman ho da O suprimento diminuído de gl icose acarreta hipoglice-
circunferência abdom inal do feto) passa a crescer aq uém mia fetal e, com isto, verifica-se di minu ição na produção de
do esperado, devido ao au mento no consumo de glico- insulina e aumento na produção de glucagon. Para com-
gênio, o que leva à desproporção entre o crescimento da bater a hipoglicemia, as ad renais aumentam a produção
cabeça e do abdome feta l. de cortisol. O feto mobi liza seus depósitos periféricos de
Ocorre em aproximadamente 75%dos casos de CIU Re a gordura em busca de energia e pode apresentar hipotireoi-
insuficiência placentária é a principal responsável. Os recém- dismo, o que implica na di mi nu ição do seu metabolismo e
nascidos são mais susceptíveis à hipóxia e à hipogl icemia. menor gasto de energia. A li pólise da gordura fetal produz
hipertrigliceridemia, que já foi comprovada por meio de
cordocentese em fetos com Cl U R. 16•1-
TIPO III- INTERMEDIÁRIO OU MISTO A privação de proteínas conduz à alteração na razão ami-
noácidos não essenciais/ essenciais (medida pela razão glici-
Alguns autores reconhecem a ex istência de um tercei- na/ valina), semelhante à encontrada em crianças com Kwa-
ro tipo de CIUR, com características comu ns aos tipos l shiokor, mostrando a gravidade da desnutrição intraútero. 18
e II: o CIUR misto. Ele verifica-se por agressão na fase de A hipóxia induz, ai nda, au mento da produção de eri-
hipcrplasia e hipertrofia celular c responde por aproxima- tropoetina. Há tam bém queda no sistema imunológico
damente S a 10% dos casos. fetal. '9 O flu xo sanguíneo dimi nu ído para os rins provoca
Seu diagnóstico clínico é difícil e os fetos acabam sen- diminuiç5o da produção de urina e, consequentemente, o
do enquad rados como tipo I ou 11. oligodrâmn io.
Caso a hipoxemia se agrave, cérebro e coração também
começam a sentir o efeito da falta de ox igênio. No cérebro,
fi SIOPATOLOGIA pode haver edema e a hipóxia causa alterações perceptívei
à card iotocografia, como perda da variabilidade. No cora-
O feto com restrição de crescimento passa por uma série ção, o metabolismo anaeróbico provoca alterações percep-
de mudanças metabólicas e hcmodinâmicas, com o intuito tíveis ao ECG fetal. 20 A insuficiência cardíaca se instala e,

390 Noções Práticas de Obstetricia


caso o processo não seja interrompido, o agrava mento das de crescimento, quando o feto passa a receber menos su-
condições fetais cul minará no óbito intrauterino. primento de nutrientes, e é, portanto, o parâmetro mais
sensível para o d iagnóstico do C IUR assimétrico. O cres-
cimento do polo cefálico e do fêmur só sofrerá os efeitos da
DIAGNÓSTICO desnutrição depois de longo período de aporte nutricional
diminuído e, geralmente, não é afetado nos casos de C IU R
O primeiro passo para o diagnóstico do CIUR é a de- assimétrico. Essas diferenças no padrão de crescimento
terminação correta da idade gestacional. Uma anamnese podem ser observadas em relações como CC/ CA ou CF/
bem-feita e, se possível, ultrassonografia no primeiro tri- CA (CA: circu nferência abdominal, CC: circunferência
mestre da gestação vão ser fu ndamentais para determinar craniana, CF: compri mento do fêmur). 21 O Q!Jadro 24.4
se o feto é pequeno por ter menor idade gestacional (data indica os achados ultrassonográficos que aumentam a acu-
da última menstruação incerta, por exemplo) ou por es- rácia no diagnóstico do C IUR.
tar apresentando crescimento inadequado.6 A anamnese
permite identificar fatores de risco de crescimento intrau- Q!Iadro 24.4 I Achados de valor diagnóstico no CIUR
terino restrito: doenças maternas, hábitos de vida, uso de lndrcaclores ele atraso de crescrmento
medicações e passado obstétrico desfavorável.
Determinação ultrassonográfica do peso abaixo do percentil10
No exame físico, atenção especial deve ser dada ao ga-
nho de peso materno e à medida da altura uteri na. Ganho Circunferência abdominal abaixo do percentil 5
de peso inadequado, bem como crescimento mensal do CC/CA abaixo do percentil1 O
útero menor que 4 cm são sinais de alerta que justificam
CF/CA > 23,5
o emprego da propedêutica complementar: ultrassonogra-
fia, dopplervelocimetria, perfil biofísica fetal (PBF), cardio- Crescimento da CA menor que 11 mm em 2 semanas
tocografia c exames invasivos. Manrfestuçoes curclrovasculares era clrsfurlÇélO placentarra
Tanto a dopplervelocimetria quanto o PBF e a cardio-
Índices dopplervelocimétricos aumentados na artéria uterina
tocografia, métodos que avaliam a di minuição da oxigena- e/ou persistência da incisura
ção fetal e sua vitalidade, serão mais úteis no acompanha-
Índices dopplervelocimétricos aumentados na artéria umbilical
mento do feto com CIU R assimétrico. Nos casos de Cl UR
simétrico, esses exames geralmente não se alteram e os exa- Índices dopplervelocimétricos diminuldos na artéria cerebral
mes invasivos ajudam na tentativa de avaliar-se a etiologia média
da restrição de crescimento. Índice umbilico-cerebral aumentado
Maior bolsão de liquido amniótico < 2 cm
Índice de liquido amniótico < 5
U LTRASSONOGRAFI A
CC= Circunferência craniana; CA =Circunferência abdominal; CF=Comprimento
dofêmur.
Para o diagnóstico do CIU R, deve-se avaliar a biometria Modificado de Miller. 2008.
fetal e o peso fetal estimado (PFE). Este, abaixo do percentil
10 para a idade gestacional, com as medidas fetais também
pequenas, sugere restrição de crescimento simétrica. Como a medida da circunferência abdomi nal abaixo
O uso de curvas de crescimento fetal personalizadas do percentil 10 é uma das primeiras alterações a serem
utilizando dados maternos como altu ra, peso, paridade observadas, nos fetos em que tal alteração for encontrada
e etnia perm ite aumentar a sensibilidade diagnóstica do a vigilância deverá ser mais frequente (pelo menos quinze-
C! U RY lnfclizmente, não dispomos de curvas personali- nal) e o doppler deverá ser realizado para complementar a
zadas para a população brasileira. propedêutica.
No CJUR assimétrico deve-se valorizar principalmen- A diminuição do volu me de líquido amniótico tam-
te as diferenças no crescimento das medidas fetais. A cir- bém sugere sofri mento fetal crónico e é útil para diferen-
cunferência abdominal é a primeira a diminuir o padrão ciar fetos PlGs constitucionais de fetos que apresentam

Crescimento lntrauterino Rest rito


391
C l U R. O oligoidrâmnio pode preceder as alterações nas PERFIL BIOFÍSICO FETAL
medidas da biometria fetal. Manning et al. 23 encontraram
incidência de C lU R de 6% quando a ultrassonografia mos- O PBF consiste da avaliação de quatro parâmetros feta is
trava o maior bolsão de líquido amniótico maior que 2 cm, mais o líquido amniótico, atribui ndo-se pontos para cada
de 20% com o maior bolsão entre l e 2 cm e de 39% com o um deles até um total de IO. O PBF não diagnostica Cl U R,
maior bolsão menor que I cm. mas pode ser utilizado na avaliação da vitalidade feta l.
As alterações do PB F são posteriores às do doppler e va-
lor inferior ou igual a quatro indica que o feto já se encontra
DOPPLERVELOCIMETRIA em h ipóxia. O PBF e o doppler avaliam parâmetros dife-
rentes do bem-estar do feto e, por isso, quando utilizados
O doppler é uma ferra menta de extremo valor no em associação, mel horam a detecção do comprometimen-
CIUR, auxiliando no rastreamento, no d iagnóstico e na to fetal.
condução do caso. No rastreamento, o doppler alte rado
das artérias uterinas, mostrando a persistência das incisu-
ras protodiastólicas após a 26• semana (indicando resistên- CARDIOTOCOGRAFIA
cia aumentada na circulação materno-placentá ria), chama
a atenção para possível evolução desfavorável da gravidez Pode ser utilizada como um dos parâmetros do PBF ou
e indica acompanhamento mais rigoroso. Já é possível se- isoladamente. Também só vai apresentar alterações (per-
lecionar gestações de alto risco para desenvolver C IUR da da reatividade e desacelerações) quando o feto estiver
ainda no primeiro trimestre, quando o doppler das artérias com prometido, com o coração fazendo uso do metabo-
uterinas, realizado entre li e 14 semanas, mostra aumento lismo anaeróbio. Para mais informações sobre o PBF e a
no índice de pulsatilidade. 24 cardiotocografia (CTG), recorrer ao capítulo 12 - Perfil
No diagnóstico, ajuda a diferenciar os PIGs constitu- Biofísica Fetal.
cionais (doppler normal) dos fetos com restrição de cresci-
mento (doppler alterado).
O aumento da resistência na artéria umbilical indica EXAMES INVASIVOS
fu ncionamento placentário prejudicado, enquanto a di-
minuição da resistência na artéria cerebral média p reco- Diante de um caso de C IU R si métrico, a obtenção de
n iza vasodilatação cerebral, sugerindo que o feto já esteja material fetal para estudo genético e pesquisa de infecções
apresentando processo de centralização de fluxo. Esse fe- pode ajudar no diagnóstico etiológico. A amn iocentese e a
nômeno pode ser quantificado dividindo-se o índice de re- cordocentese são os métodos uti lizados com esse intuito.
sistência da artéria umbi lical pelo índice de resistência da
artéria cerebral méd ia, medida que ficou conhecida como
índice umbi lico-cerebral (IUC). Valor de IUC > I sugere SEQUÊNCIA DOS EXAMES
centralização de flu xo. Uma variação do IUC é o CPR ou
cerebroplacmtal ratio, que nada mais é do que a divisão do Estudos de acompanhamen to lo ngitudinal de fetos
índice de resistência da artéria cerebral pelo índice de re- com C IUR mostrara m que os exames complemen-
sistência da artéria umbilica l. Valores do CPR inferiores a tares tendem a se altera r seguind o uma sequência, de
1,08 também si nal iza m centralização de fluxo. 25 acordo com o agravamento das condições. As formas
Na condução de fetos com suspeita de C IUR, o dop- de agressão e os mecanismos de compensação são vari -
pler ajuda a determinar o melhor momento para interrom- áveis, o que implica dizer que a sequência de alterações
per-se a gravidez, visando à diminuição nas taxas de com- nos exa mes nem sempre é constante. A combinação de
plicações fetais e neonatais. Para mais informações sobre múltiplos testes para avaliar os diferentes parâmetros do
a dopplervelocimetria, o leitor deve referir-se ao capítulo bem-estar fetal é essencial para minimizar as falhas no
13- Doppler. acompanhamento.

392 Noções Práticas de Obstetricia


Segundo trabalho real izado por H eche r et ai., 26 os administração intravenosa de glicose;
achados anormais ocorrem na seguinte ordem: índice de expansão de volume;
pulsatilidade da artéria um bilical, índ ice de líquido am- hormon ioterapia;
niótico, artéria cerebral méd ia, aorta, mic ro-ocilações na hiperoxigenação materna;
card iotocografia computadorizada, dueto venoso e veia introdução de nutrientes no líquido amniótico;
cava inferio r. bloqueadores de ca nais de cálcio;
Baschat & H arma n 27 observara m que o atraso no betamiméticos;
crescimento antecede a centralização. As desacelerações doadores de óxido nítrico (L-arginina)
tardias na CT G seguem a centralização e, geralmente, são
coi ncidentes com o surgimento de pulsações na veia um- Desses, apenas o repouso no leito e a suplementação
bilical. Essas alterações vão ocorrer em 80% dos fetos com die tética são uti lizados na prática e, mesmo assim, sem re-
C IUR grave, de início precoce. A progressão desde o sur- su ltados satisfató rios. Os out ros esquemas, além de difícil
gimento da centralização até o apa recimento de pulsações aplicação prática, apresentara m resultados questionáveis.
na veia umbilical ocorre em duas a três semanas. Alguns U m estudo com I08 pacientes com peso fetal esti-
fetos, no enta nto, podem mostra r fluxos a norma is por vá- m ado abaixo d o pe rcentil 10, cujos 78 recebera m a L -
rias semanas. arginina e 30 não receberam tratamento algum, mos-
28
H ershkovitz et a/. realçara m que o surgime nto de trou que no gru po da L-arginina a incidência d e fe tos
di ásto le zero ou reversa na arté ria umbilical não é co- P!Gs foi d e 29%, enq uanto que no grupo-contro le foi de
mum e m fe tos com C IUR de início após a 32• semana, 73% (p<0,0 1). 29 Esse tratamento, no entan to, d eve ser
e que, nesses casos, deve-se basear apen as na central i- considerad o exp erime ntal até q ue ma is estudos tenham
zação e no PBF ano rmal pa ra determinar-se a conduta sido realizad os.
( Figura 24.3).

INTERRUPÇÃO DA GESTA ÇÃO


Diminuição do crescimento (CA < percentil10) I
Aumento da resistência na Art. Umbilical I Na impossibilidade de trata r o feto dent ro do útero,
Diminuição da resistência na ACM I a única conduta que resta é retirá-lo do ambiente uterino
Oligodramnio I desfavorável antes que o quadro se agrave.

Diminuição dos Movimentos Respiratórios I


Diminuição dos Movimentos e TOnus I
Q UANDO I NTERROMPER?
Ruxo reverso no DV I
Desaceleração na CTG I Se nas gestações próximo do termo a interrupção
ÓbitO Dias Semanas preco ce be neficia o fe to, ga ra ntindo-lhe m aior sobre-
Figura 24.31 Sequência de alteração dos exames de vitalidade vivência e melhor q ual idade de v ida, nas gestações
fetal no CIUR. distantes do termo as compl icações da pre ma turidade
são temerárias e, por vezes, até mais g raves q ue as do
próprio C lU R.
A melho ria nas unidades d e tratamen to intensivo nc-
C ONDU TA onatal vem auxilia ndo m uito o obstetra nas indicações
d e interrupção precoce, mesmo assim essa medida deve
Diversos esque mas de tratamento já fo ra m propos- ser adotada com pa rcimôn ia. O ponto-chave do trata-
tos para o crescimento intrauterino restrito. Ent re eles, m ento está em saber equi libra r os riscos da prematurida-
po de-se cita r:6 de com a ameaça de com plicações intrauterinas.
Repouso absoluto no leito; Como já dissemos, a dopplervelocimetria é muito
suplementação dietética; útil para a condução do C l UR, mas, caso não esteja di s-

Crescimento lntrauterino Restrito 393


ponível, a ultrassonografia e a cardiotocografia podem Em casos onde o ri co de morte feta l é iminente (di-
cr utilizadas. Lembramos que esses exames podem ástole revcrsa na artéria umbilical, doppler venoso alterado
apresentar resultados falso-negativos e que a associação ou padrão comprimido na CT G), deve-se interromper a
dos métodos propedêuticas é desejável para minimiza- gravidez sem realizar a corticotcrapia.
rem-se as fa lhas. A interrupção nessa faixa de idade deve ser fei ta por
Revisão da literatura 14 recomenda que o acompanha- cesariana.
mento de fetos com C IUR seja feito com doppler c PBF
a cada duas semanas. Caso haja o surgimento de diástole
zero, diminuição do líquido amniótico ou centralização e CESTAÇÕPSABA I XO D E30SrMA ' A .
opte-se por não se interromper a gestação, o intervalo dos
exa mes deve ser diminu ído para tres ou quatro dias, com O CI U R de surgimento precoce (principalmente
ênfase na CTG c dopplcr venoso para detectar deteriora- abaixo de 26 semanas), notada mente do tipo simétrico, é,
ção cardíaca. Fetos com doppler venoso alterado devem er mu itas vezes, relacionado a cromo somopatias c infecções
examinados dia riamente. fetais. Portanto, nesses casos, deve ser realizada ultrassono-
grafia para procurar malformações fetais e, e possível, um
procedimento invasivo (a mnioccntcse ou cordoccntcsc)
CcsTAÇÕE. A r,\1 D~ 34 EMA A · para obtenção de sangue fetal ou líquido am niótico para
realização de cariótipo c pesqui a de infecções.
Com37 emanas, 991\l dos fetos já apresentam maturi- o caso de cariótipo anormal indicando anomalia in-
dade pulmonar. Com 34 scmanas, a maturidade pulmonar compatível com a vida, a legislação brasileira não permite
fetal já está assegurada em 80% dos casos e, mesmo nos de- a interrupção da gravidez. Deve-se, portanto, adotar con-
mais 20%, a obrevivência em berçários de boa qualidade duta expectante, aguardando-se o início espontâneo do
é excelente. 30 trabalho de parto ou o óbito intraulerino. O parto dcvcr:í
A interrupção da gravidez deve ser realizada quando o ser feito por via vaginal.
doppler mostrar centralização de fluxo (I UC > 1) ou quan- c o cariótipo está normal ou mostra ndo alterações
do houver oligoidràmnio (índice de líquido amniótico:::; compatíveis com a vida (síndrome de Down, por exem-
5). Nesses casos, o parto vagi nal pode ser tentado, caso haja plo), deve-se tentar levar a gravidez a até, pelo menos, ..,0
condições favoráveis para a indução c a monitoração fetal semanas, mesmo com o doppler anormal e o líquido dimi-
contínua possa ser realizada. Em caso contrário, a interrup- nuído, pois as chances desse feto sobreviver fora do útero
ção por cesariana é a mais indicada. Por outro lado, se o são mu ito pouca .
exames complementares j:í sugerirem possível hipóxia fetal Um estudo que avaliou 604 fetos com C IUR relatou
(PBF :::; 4, CTG com desacelerações ou dopplcr de artéria que a idade gestacional ao nasci mento era o principal pre-
umbilical com diástolc zero ou reversa), a cesariana será a ditor de mortalidade neonatal em gestações abaixo de 27
via de escolha. semanas c de morbidade grave abaixo de 29 semanas. Aci-
ma dessas idades e com peso superior a 600 g, o doppler vc-
no o alterado c tornava o principal preditor do resultado
GcsT.\ ÇÕE · E T R E 30 1- 33 EJ\I ANAS neonatal adversoY
Dado como estes sugerem que, me mo com ~i nais in-
Quando o doppler apresentar cent ralização (IUC > 1) dicativos de agravamento da condição fetal, em gestações
ou diástole zero ou se o volume de líquido amniótico dimi- abaixo de 30 semanas, a man utenção do feto intraútero
nuir (ILA:::; S), deve-se realizar a corticotcrapia para ama- apresenta mais ganho do que a reti rada de um pré-termo
durecer o pulmão fetal (Betametasona 12 mg IM, em duas extremo. Cada dia a mais dentro do útero, entre 24 e 28
doses, com intervalo de 24 horas) e interromper a gestação, sema nas, representa diminu ição de 2% na mortalidade
pois o feto apresenta boa chance de sobrevivência em UTI nconatal. 11 A incidência de paralisia cerebral e de outra
neonatal. compl icações neurológicas ta mbém diminui signi ficativa-

394 Noções Práticas de Obstetricia


mente com o avançar da idade gestacional (incidência de Quadro 24.5 ISinais de agravamento do qu:~.dro c de com-
pensação fetal
9,11loentre2 c28semanas e 1,996 entrc31 c34- emanas). 11
Quando o exame complementarc mo tram o agra-
vamento da condição fetal (QJ.1adro 24.') cm idade abai- Diástole zero na artéria umbilical
xo de 30 semanas, deve-se preparar o feto para o nasci men-
lndice S'//CA aumentado no dueto venoso
to antes do termo, utilizando-se a corticoterapia.
O sinais de descompensação (Quadro 24.5) devem Peso ou circunferência abdominal ~ percentil 3
ser utilizados par:1. indica r o momento de interrupção da Maior bolsão de liquido amniótico ~ 2 cm
gestação (Figura 24.4), preferencialmente por ce ariana. lndice de liquido amniótico ~ 5
Perfil bioffsico fetal6/10
PREVENÇÃO S 111d 1s ele clt~sro·''iltellSacao h'td '

Diástole reversa na artéria umbilical


A prevenção do CIUR pode ser dividida cm primária
Auxo reverso no dueto venoso
(n:1. população cm geral) e secundária (em pacientes com
f:~.torcs de risco). Fluxo pulsátil na veia umbilical
Perfil bioffsico fetal ~ 4/1 O
Desacelerações na cardiotocografia
SV = slstole ventricular. CA = contração atrral.

Figura 24.41 Fluxograma de conduta no acompanhamento ao feto com CIUR.


CIUR =crcs 1mento intra uterino restrito; CA = circunfer~ncia abdominal; PBF =perfil biofísica fetal.

Cresciment o lntrauterino Restrito 395


PREVENÇÃO PR I MÁ RI A apresentou pouca, mas ign ificatlva, redução (cerca de
10%) na incidência do PIGs. O re ·ultado ão melhores
A medida de prevenção primária mais efetiva no C l U R quando o AAS é iniciado ante de 20 emanas.18
é a diminuição do tabagi ·mo. Programa de redução do ta- PaCiente portadora de trombofi!Ja podem apre entar
bagi modiminuíramaincidênciadc IURematé 191lu.33 melhora do resultados perinatai quando rc ebem heparina e
Outra medida simples e cfctiva é a adoç:io de intervalo AA . Em e tudo com 33 pacientes portadora~ de trombofilias
com ma i de sei meses entre gestaçõe . Zhu el ai. demonstra· c com passado obstétrico ruim, os autores demonstra ram que o
ram, cm estudo epidemiológico com 173.20" nascidos vivos, uso de AAS (100 mg/dia) e heparina de b:lixo peso molecular
que quando o intervalo entre gestaçõe era menor que seis me- (40 mg/dia) aumentou significativamente a idade ge racional
c , ocorria aumento na incidência de 30% de recém-nascidos de na cimento (37 ± 2 vs. 32 ± • emana ) c o pe o (2.719 g
PIGs c de 40% de recém-nascidos de baixo peso. Segundo eles, ± S26 g vs. 1.175 g ± 590 g) 11.1 gcst.1çjo ~ub equcntc.w
o intervalo ideal entre os partos deveria cr de 18 a 24 me e .14 Ape ar do doppler de artéria utenna realizado entre
Estudo que .waliaram repou o no leito, redução de 22 e 24 cm:1na identificar um grupo de paciente com
exercício fí ico , uplcmentação nut ricional e redução de ri co aumentado de C IU R, ou o de AA ne e grupo não
peso materno não referiram benefícios.'~ diminuiu a incidência da restrição de crescimento.40
A realinção da ultra sonografia no primeiro trimestre
de gesta ão melhora a datação da gravidez e, com isso, di-
mi nui o nú mero de falsos diagnósticos de fetos PIG em CoMPL ICAÇÕEs NEONATAIS E
função de erro de data. 3~ SEQUELAS EM LONGO PRAZ O
Em países com alta incidência de mal,\ ria, ou o de an-
tim,llárico reduziu cm até 45% o nascimento de recém-
nascido PIG . 16 Devido à multiplicidade de etiologias c ao!> diferentes
graus de restrição de crescimento intr.llltcrino, não é de se
surpreender que as sequelas sejam t.1m bém vari :~das. As
P REVENÇÃO SECUNDÁRI A evidências indicam, no entanto, que quanto mais grave o
CI U R, piores serão as con equência .
Paciente hipcrtcn as têm risco aumentado de te r feto Um estudo baseado no peso ao na cimento reportou
com C IUR, no entanto, o tratamento da hiperten ão leve que crianças PIGs apre entavam, ao~ sei ano , maior in-
não conseguiu diminuir a incidência de C IUR nessas pa- cidência de parai i ia cerebral e atra o no de envolvimen-
cientes. r Uma po ívcl explicação para cs e efeito ena a to neuromotor do que criança que foram AIG ..4 1
possibilidade da dimi nuição da pressão arterial poder re- Em outro e tudo dcjolotll 11p com crianças de ~ete ano ,
duzir a perfusão placentária, diminuindo, de a forma, o ficou demonstrado que aquelas com C IU R que tiveram
aporte de nutriente para o feto. O uso de beta-bloqueado- redução extrema do flu xo sanguíneo na artéria umbilic.1l
res ne c grupo de pa iente aumentou o risco de IU R. (diástolc zero ou revcrsa) apresentavam atra o no del>cn-
Atualmcnte, não é indicada a terapia anti-hipcrtcnsiva volvi mento c diminuição na capacidade intelectual, quan-
cm pacientes com hipertensão leve que cngravidJm. P.1ra do comparadas a crianças com Cl U R c doppler nornul. 4!
mais in formações, consult,lr o capítulo 32 - Hipertensão Me mo indivíduos que apresentam desenvolvimento
Arterial Crónica. cognitivo e neuro! gi o normal podem vir a apre cntar
Os efeitos anticoagulante do ácido acctil alicíli o a equelas do CIUR na vida adulta. Os estudo do epide-
(AA ) em baixas do ·e podem er útci para melhorar a miologista inglês David Barkcr revelam que pessoas que
perfu :io placentária, beneficiando- e, dessa forma, o fluxo foram PIGs ao na cimento têm alto risco de desenvol-
para o feto. Uma metanáli c de · 9 estudo (3 .560 pacien- ver hipertensão arterial sistêmica, re istência à insulina,
te ) mo trou que ou o do AAS profilático (100 mg/dia) diabetes mellitus e doença coronariana. Esses individuo
em gestantes de ri co para C IU R - pacientes com história apre cntam mais morbimortalidadc por causa cardio-
de C IU R ou pré-cclâmpsiJ .Interiores, hipertensas, portJ· v,lscularcs e AVC e menor obrcvid.1 do que aquele · que
doras de trombofil ias c portadorJs de doenças vascul.1res tiveram o peso adequado ao na~c imcn to. 1

396 Noções Práticas de Obstetricia


A importância das sequelas imediatas e tardias do engrandecendo nosso papel na melhoria das condições
C ! UR chama a atenção para o fato de que o acompanha- de saúde da população.
mento obstétrico adequado e com intervenções oportu- O Qyadro 24.6 enfatiza as mais recentes evidências
nas melhora não apenas o prognóstico do neonato, mas científicas sobre C ! UR.
também a qualidade e a expectativa de vida do indivíduo,

Q!ladro 24.61 Evidências no acompanhamento do CIUR


Pertodo Intervenção Ntvcl de Grau de
evtdêncta recomendação
Pré-concepcional Intervalo entre partos entre 18 e 24 meses diminui o risco de PIG 28 8 I
Programas de interrupção do tabagismo diminuem o risco de CIUR 1A A I
Primeiro trimestre Doppler de artérias uterinas entre 11 e 14 semanas seleciona pacientes 18 A
com risco aumentado de CIUR. porém com baixa sensibilidade I
A datação precoce da gestação pela ultrassonografia diminui a incidên- 1A A
cia de RNs PIGs I
A suplementação vitamfnico-mineral não diminui a incidência de CIUR 1A A I
Segundo e terceiro Ouso do AAS 100 mg/dia, iniciado antes da 2()8 semana. em pacientes de 1A A
trimestres risco. leva a pouca, mas significativa, diminuição na incidência de CIUR I
A medida da altura uterina tem baixa sensibilidade e especificidade no 28 8 !
diagnóstico do CIUR
Odoppler de artérias uterinas no segundo trimestre tem valor limitado 1A A
na predição do CIUR (VPP baixo e VPN alto) I

Peso fetal estimado e circunferência abdominal abaixo do percentil 10 28 8


são os melhores parâmetros diagnósticos I
As medidas do líquido pela técnica do maior bolsão ou do ILA têm acurácia 2A 8
semelhante I
I
Oacompanhamento com doppler de artéria umbilical diminui a mortali- 1A A
dade perinatal !

Terapia com hormônios. expansão de volume. oxigenioterapia ou suple- 1A A !

mentação nutricional não traz benefício no CIUR


A administração de corticoide em gestações inferiores a 34 semanas 1A A
diminui a mortalidade perinatal

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398 Noções Práticas de Obstetrícia


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Crescimento lnt rauterino Restrito 399


Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia
Mário Dias Corrêa Júnior
Mário Dias Corrêa

Incidência Forma Grave


Epidemiologia Prevenção de convulsões
Mecanismo de Ação
Etiopatogenia
Considerações sobre o Emprego do
Fisiopatologia Sulfato de Magnésio
Manifestações Clínicas
Administração de hipotensores
Predição
Síndrome HELLP
Diagnóstico Fisiopatologia
Classificação Sintomatologia
Pré-eclâmpsia Conduta
Eclâmpsia
Eclâmpsia
Pré-eclâmpsia Superposta à Hipertensão Arterial
Conduta
Crônica
Hipertensão Gestacional Pré-eclâmpsia Superposta à Hipertensão
Formas Clínicas Arterial Crônica
Forma Leve Prevenção
Forma Moderada Sequelas em Longo Prazo

A
pré-eclâmpsia caracteriza-se, essencialmente, por Responsabi liza-se por elevadas taxas de morbimorta-
incertezas, dúvidas, divergências, controvérsias, lidade perinatal. É causadora de complicações maternas
qualquer que seja o aspecto considerado. Talvez, graves: crise convulsiva, acidente vascular cerebral, edema
por isso mesmo, seja a complicação obstétrica mais estuda- agudo do pulmão, insuficiência renal aguda, rotura hepáti-
da, a que desperta mais interesse e mais discussão entre os ca, distúrbios de coagulação, descolamento prematuro da
pesquisadores. Todos respeitam e temem esse problema placenta e morte materna ante, intra e pós-parto.
obstétrico. O que mais intriga e confunde nessa doença é o fato dela
A despeito de tanto estudo, de tanto avanço, de tanto pro- ser exclusiva da mu lher e somente quando grávida. Inicia-se
gresso, a prevenção e o tratamento correto da pré-eclâmpsia na gravidez, agrava-se durante sua evolução, complica-se
e da eclâmpsia permanecem como um grande desafio a ser quase sempre na sua fase final e desaparece totalmente após
vencido, como um difícil enigma a ser decifrado. o término da gestação, quase sempre sem deixar sequelas.
O utra peculiaridade da doença é que sua evolução é EPIDEMIOLOGIA
imprevisível; às vezes lenta, gradual, alterando pouco as
condições maternas e fetais, permitindo que a gravidez al- Diversos fa tores epidemiológicos influe nciam na in-
cance seu termo. Outras vezes, no entanto, seu início é pre- cidência da pré-eclâmpsia. Contudo, o papel de cada um
coce, sua evolução rápida, sua sintomatologia exubera nte, deles é discutível e nenhum estudo conseguiu comprovar
suas repercussões d ramáticas, colocando em risco a vida e quant ificar a in fluência exata desses fatores.
do feto, da gestante e da parturiente, exigindo solução ur- A parid ade sempre foi considerada fa tor capaz de in-
gente e definitiva: a interrupção da gravidez. fluencia r na incidência da pré-eclâmpsia, mais nas nulípa-
Trata-se de síndrome inconstante no início, variável ras. lsto, contudo, é discutível; há sempre risco de recorrên-
nas suas man ifestações, imprevisível na sua progressão e cia, que aumenta quando a pré-eclâmpsia se instalou mais
incurável, a não ser pela interrupção da gestação.' precocemente na gestação a nterior?
Doença fasci nante sob todos os ângulos em que se ana- Robillard et al.s relacionaram como fator epidem iológi-
lise, motiva discussões infindáveis, hipóteses etiológicas co não a paridade materna, mas, sim, a paterna. A doença
mirabolantes, antológicas, suscita medidas às vezes folcló- não seria mais frequente na primiparidade e sim na primi-
ricas na sua prevenção, propicia o emprego de recursos pro- p aternidade. Assim, com o mesmo parceiro, a incidência
pedêuticas os mais d iversos, quase sempre imprecisos, não de pré-eclâmpsia nas primigestas foi de 11,9% e nas mul-
confiáveis e, finalmente, permite que se empregue na sua tigestas de 4,7%. Q uando as multigestas m udaram de par-
prevenção e tratamento quase todo o arsenal terapêutico ceiro, a incidência subiu para 24,1%.
existente na assistência obstétrica. Tudo isso sem sucesso. O utro fator importante encontrado por esses autores foi
Nada altera a evolução da doença e a solução é sempre a o tempo de atividade sexual, com o mesmo parceiro, prece-
mesma: a interrupção da gravidez. dendo a gravidez. Ele foi inversamente proporcional à inci-
A pré-edâmpsia é cond ição clín ica que apa rece sem si- dência de pré-eclâmpsia: quanto mais tempo de coabitação
nais de alarme, tem vida curta e, usualmente, não se repe- sexual, mais baixa a incidência de pré-eclâmpsia. Conside-
te.2 A pré-eclâmpsia ainda se responsabiliza por 200.000 ra ndo mulheres com atividade sexual superior a 12 meses
mortes maternas por ano no mundo e determina reper- como grupo de referência, no grupo de zero a quatro meses
cussões significat ivas na saúde da mãe e de seu fi lho.3 É de atividade sexual a odds ratio foi de 11 ,6; entre cinco e oito
doença idiopática, multissistêmica e específica da gravi- meses de 5,9; e entre nove e 12 meses de 4,2.
dez e do puerpério. Mais especificamente é uma doença Klonoff et a/.9 fizeram um estudo tipo caso-controle
d a placenta4 comparando a incidência da pré-eclâmpsia nas mulheres
que usaram método anticoncepcional de barreira (con-
dom) antes da gestação. Anal isaram 110 primigestas com
INCIDÊNCIA pré-eclâmpsia e 115 sem pré-eclâmpsia. O s resultados
mostra ra m risco 2,4 vezes m ais alto naq uelas usuárias de
A incidência de pré-eclâmpsia varia segundo o local e a métodos que impediam o contato entre a secreção esper-
população estudados. A maioria dos estudos epidemioló- mática e a mucosa vaginal.
gicos ressalta incidência variando entre 5 e 8%.5 Dekker10 observou que o sexo oral reduz a incidên cia
Em u ma coorte com 763.795 mulheres na Suécia, de pré-eclâmpsia. Nas mu lheres que faziam sexo oral, 18
H ernandez-Diaz et ai. demonstraram que a incidência de em 4 1 (44%) tiveram pré-eclâmpsia; no grupocontrole,
pré-eclâmpsia foi de 3,0% na população em geral, sendo de sem sexo oral, 36 em 44 primigestas (88%) tiveram pré-
4,1% na primeira gestação e de 1,7% nas gestações subse- -eclâmpsia (p=0,0003).
quentes. Nas mulheres que tiveram pré-eclâmpsia na pri- Gestações que resultaram de insem inação artificial
meira gestação, o risco de desenvolver a doença na segunda com esperma do doador tiveram risco duas vezes mais
gestação foi de 14,7% e o risco na terceira gestação foi de alto de desenvolverem pré-eclâ mpsia. O mesmo aconteceu
31,9% se as duas primeiras foram afetadas.6 com gestações com inseminação de o ócitos de doadora.''

402 Noções Práticas de Obstetrícia


Dados famili ares sugerem que o genótipo materno como doença exclusiva da gestação huma na, necessita do
responsabil iza-se por transmiti r susceptibilidade para a trofoblasto, m as não necessariamente do feto, para se de-
pré-eclâmpsia. 12 senvolve r, u ma vez que pode haver PE em gestações mola-
O risco aumenta aproximadamente quatro vezes se a res. Quanto mais massa placentária, m ais alto o risco, fa to
mãe da gestante teve pré-eclâmpsia e seis vezes se a acome- que pode ser comprovado p ela alta frequê ncia em gesta-
tida foi uma irmã.5 ções gemelares (Q!Jadro 25.1). A lém di sso, a ún ica inter-
Tanto a mulher como o homem que nasceram de ges- venção capaz de resolver a PE é a retirada da placenta.
tações com pré-eclâmpsia têm m ais possibilidades de pro- Estudos da década de 80 chamaram a atenção para a
11
duzirem gestações com essa complicação o bstétrica. importância da invasão trofoblástica d as arteríolas espi-
Q!Jando o ho mem cuja mu lher teve pré-eclâmpsia raladas na etiopatogênese da PE.20·2 ' Durante a gestação
mud a de parceira, esta também tem alto risco de desenvol- normal, as célu las do citotrofoblasto invadem as arte ríolas
ver a doença.14 espiraladas, substitu indo as células endotel iais, m imeti-
Doenças maternas prévias também se corre lacionam zando um novo endotélio e destruindo a musculatura da
com risco aumentado de pré-eclâmpsia. Revisão de 2005 ca mada méd ia dessas artérias. Essas modificações promo-
salientou risco (O R) de 3,56 para gestantes previamente vem aumento no calibre arteri al e permite m mais apo rte
d iabéticas, 2,37 para h ipertensas, 2,47 pa ra obesas e 9,7 de sangue para a placenta.
para pacientes com trombofilias. Doença renal e doenças Na gestação norm al, o trofo blasto invade as artérias
autoi munes também mostrara m associação com o desen- espiraladas no sentido retrógrado e em duas o ndas: na
volvimento de pré-eclâmpsia. 15 primeira, o trofoblasto invade o segmento decídua! das
Contrapondo-se a esses fatores de risco de pré-eclâm- artérias e, na segund a, o mio metrial. Nas gestantes com
psia, cita-se um que teria efeito pro teto r: o tabagismo. O pré-eclãmpsia, as mudanças fisiológicas nas artérias espira-
tabagismo se associa à redução do risco de hipertensão ladas se restringem ao seu segmen to decídua!.
na gravidez. Esse efeito pro tetor parece continuar mesmo Com a invasão incompleta, as artérias terão calibre re-
quando a mu lher para de fuma r. Estudos prospectivas duzido; e o aporte sa ngu íneo para a placenta, consequen-
con firmara m que o tabagismo reduz o risco de hiperten- temente, será menor, pod endo levar à hipóxia placentária
são gestacio nal e de pré-eclâmpsia. A proteção é dose- (Figura 25.1).
dependente: q uanto maior a quantidade e quanto mais As razões pelas quais a implantação trofoblástica vai
16
tempo de tabagismo, ma is baixo o risco. ocorrer de m ane ira ins uficiente em algu m as gesta ntes não
England et a/.'7 con firmaram os achados de o utros tra- são conhecidas, mas duas hipó teses pri ncipais são aven-
bal hos: o bservou-se redução dos riscos de síndromes hi- tadas: m á-adaptação imunológica e incompati bilidade
pertensivas nas fumantes. Contudo, não se encontraram genética.
evidências de redução do risco nas mulheres que pararam Alguns d ados epidemiológicos da PE fa lam a favor da
de fu ma r antes da g ravidez. h ipó tese d a m á-adaptação imunológica:
O Q\.1adro 25.1 apresenta os fa tores de risco associados É mais comum em nulíparas.
à pré-eclà mpsia.8·' 5·' 8·'9 t ma is comum com a mudança de parceiro e com
menos tempo de coabitação sex ual entre os par-
ceiros.
ETIOPATOGENIA O sexo o ral e o sexo sem preservativo com o mes-
mo parceiro antes da concepção agem como fàtor
H ipóteses existem em abundância. As pesquisas con- de proteção.
tinuam intensa mente, mas a inda não se sabe que fator O risco é mais alto em gestações que ocorrem após
ou fato res se responsabiliza m pela etiopatogenia da pré- inseminação artificial com scmen de doador.
-eclâmpsia. Todas essas ca racterísticas sugerem q ue menos
Sabe-se, desde o início do século XX, que a placenta tempo de exposição aos antígenos paternos au men-
tem papel fu nda mental na etiologia da PE. Ca racterizad a tam o risco d a doença.

Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia 403


Quadro 2S.ll Fatores de risco associados à pré-eclâmpsia
Fator de Rrsco ORou RR (I C 95 %) lncrdêncra (% )

Exposição limitada ao esperma . 8-10


0-4 meses 11,6 .
5-8 meses 5,9 -
9-12 meses 4.2 .

Trombofilias . 10-40
SAAF 9,72 {4,34. 21.751 -
Fator V de Leiden (heterozigoto) 2,34 {1,56. 3.51) -
Mutação do gene da protrombina 2.54 {1,52- 4,23) -
Hiper-homocisteinemia 3.49 (1.21 - 10,11) -
Pré-eclêmpsia prévia 7,19 25 (5.85- 8,83) 20-30
Doenças autoimunes 6.9 (1.1 • 42.3) -
Diabetes - 10-15
Classe B-C . 35
Classe F-R j

Doença renal 2.94 25


Gestação gemelar 2.93 (2.04 - 4,21) 10-20
Primiparidade 2,91 (1,28- 6,61) 6-7
História familiar de PE 2,90 (1.70 - 4,93) 10-15
IMC elevado pré-gestacional 2.47 (1.66- 3,67) 10-15
PAS ~ 130 mmHg na 1• consulta 2,37 (1.78 . 3.15) -
PAD > 80 mmHg na 1• consulta 1.38 (1.01 -1,87 -
Idade ~ 40 anos (multrparas) 1,96 (1.34- 2.87) 10-20
Intervalo entre partos > 59 meses 1,83 (1.72. 1,94) .
Idade ~ 40 anos (primiparas) 1,68 (1.23- 2,29) 10-20
IMC elevado na 1• consulta 1,55 {1,28. 1,88) 10-15
PE abaixo de 28 semanas . 50
Parceiro que teve PE com outra parceira - 10
OR =odds ratia. RR =risco relativo; IC95% =intervalo de confiança de 95%; PE =pré-eclâmpsia; IMC =índice de massa corporal; SAAF =síndrome de
anticorpos antifosfolípides.

Em rápida revisão sobre os t ipos de reação infla mató-


ria, é relevante lembra r que os lin fócitos T estão envolvidos Miométrio
n as reações in flamatórias dos tipos l e 2. Os linfócitos T
CD4+ são responsáveis pela reação inflamatória do tipo 2,
que leva à indução de imun idade humora l com fo rmação Decfdua
de anticorpos e produção de vários tipos de interleuci nas.
Já os li nfócitos T CD8+ vão ser responsáveis pela reação
inflamatória do tipo I com produção de interleucina 2, Figura 25.1 I Invasão trofoblástica.A - ausência de invasão
interferon gama, fa tor de necrose tumoral beta e imun ida- trofoblástica; B- invasão trofoblástica incompleta; C - invasão
de celular. 22 trofoblástica completa.

404 Noções Práticas de Obstetrícia


Wegman et ai., em 1993, enfatizaram que na gestação su a superfície, como parte do sistema de reconhecimento
de evolução normal ocorre predomínio da reação inflama- imu nológico. O s três subtipos mais comumente expressa-
tória do tipo 2 (R lt-2), que é responsável por estimular a in- dos são os HLA A, B e D. As célu las do citotrofoblasto e
vasão trofoblástica sobre a reação tipo I (R lt- 1), que tende do sinciciotrofoblasto não expressam esses subtipos mais
a inibi-la. Já nas gestações de mulheres que desenvolveram comuns, mas out ros subtipos: o HLA C, G e E. Essa ex-
pré-eclâmpsia, a reação inflamatória do tipo I foi a mais en- pressão diferenciada do HLA é funda mental para que a
contrada. Esses autores levantaram a hipótese de que falha mãe não reconheça o feto como non-seif e desta forma não
na mudança do perfil da reação inflamatória do tipo I para comece reação de rejeição aos tecidos feta is? 6
o tipo 2 poderia ser uma das origens das alterações que le- Essas pesquisas mostraram que os linfócitos 11aturai-
variam à pré-eclâmpsia. 23 killer (N K) exercem papel fundamental na "aceitação" da
Pesquisas posteriores conseguiram demonstrar que gravidez. Eles se ligam com os HLAs do citotrofoblasto e
após a deposição de sêmen na mucosa vaginal veri fica-se esti mu lam a produção de citocinas que, por sua vez, vão
uma reação pós-coitai provocada pelo fato r de c resci men- favorecer a invasão trofoblástica.U
to ~- 1 derivado da vesícula seminal, que vai, por sua vez, Os NKs representam lS% dos linfócitos circulantes,
gerar uma reação inflama tória do tipo 2. 24 Esse fato levou mas são 70 % dos linfócitos presentes n a decídua no início
Robertson et ai. a conclu írem que a reação inflamatória da gravidez e na época em que ocorrem as ondas de inva-
provocada pela deposição do sêmen na vagina ou no trato são trofoblástica. N o final da gestação sua concentração no
gastrointesti nal, no caso do sexo oral, programari a o or- útero cai drasticamente. 27
ga nismo d a mãe a reagir aos ant ígenos paternos com rea- Hiby et ai. informaram, em 2004, que qua ndo um sub-
ção inflamatória do tipo 2, o que contribu iria para limitar tipo específico dos N Ks conhecido como AA se ligava a
a reação d o tipo 1 vista n as mulheres que desenvolvem um subtipo específico dos H LA-C, conhecido como C2,
pré-eclâmpsia. 25 a produção das citocin as estimulatórias do trofoblasto
O s estudos epidemiológicos também revelam possível era bem menor e essa combinação específica de NK-AA
origem genética da PE: c HLA-C2 era encontrada mais frequentemente nas mu-
Pacientes com história familiar positiva têm risco lheres que desenvolviam pré-eclâmpsia. Como o gene que
três vezes mais alto de apresentar a PE. si ntetiza o H LA é herdado do pai e o que sintetiza o NK
O risco de apresentar PE tem origem tanto mater- é herdado da mãe, eles sugeri ram que este poderia ser u m
na quanto paterna, sendo três vezes ma is alto na dos meca nismos envolvidos no pad rão de herança genéti-
paciente cuja mãe teve PE e duas vezes mais alto ca da pré-eclâmpsia. 28
quando o pai da gestação atual também nasceu de Esses autores sublin haram, ainda, que os d iferentes
uma gestação com PE. subtipos de HLA-C em combinação com os diferentes
Existe também o chamado "homem de risco". Se subtipos de NK poderiam esti mu lar ou inibir a invasão
o cônjuge masculino já teve histórico de gcstaçâo trofoblástica em graus diferentes, reforça ndo a ideia de que
que resultou em PE, na gestação com nova parceira a ocorrência da PE vai depender também d a compatibili-
o risco é 80% mais alto. dade genética do casal. 28
Desta forma, a predisposição genética (relacionada,
Vários genes já foram estudados na tentativa de identifi- principalmente, à interação entre os linfócitos N K d a mãe
car pacientes com mais susceptibilidade a desenvolver PE. e aos antígenos HLA do feto) assim como a má-adaptação
Muitos desses genes mostraram de fato associação com a imu ne (relacionada ao pouco tempo de coabitação sexual
PE, mas a maioria deles é rara e o c usto-benefício de se rea- que influencia na baixa exposição mate rna a antígenos pa-
lizar essa pesquisa rotineiramente não compensaria. ternos levando à falha na mud ança de reação inflamatóri a
Pesquisas recentes realçam possível envolvimento do do tipo 2 para o 1) podem induzir a invasão trofoblástica
sistema de reconheci mento de ant ígenos a pa rti r dos antí- deficiente que, por sua vez, vai ser fu ndamental para esta-
genos leucocitários humanos ou HLA. Sabe-se que as cé- belecer a sequência de eventos que acabarão culminando
lulas do nosso organismo apresentam esses antígenos em na PE (Figura 25.2).

Pré -eclâmpsia e Eclâmpsia 405


flamatória sistêmica exacerbada. A reação in flamató ria,
por sua vez, co ntribuiria pa ra a d isfunção endo telial sistê-

Tempo pequeno de
mica, agravando ainda mais o quadro.30
coabilitação sexual N essa teoria, esses p esq uisadores fo ram capazes de
com provar que ta nto os granulócitos quanto os m onócitos
estava m muito aumentados nas mu lheres com PE q uando
compa radas com as gestações sem PE e com as não grávi-
das. A lé m disso, os níveis desses leucócitos eram compara-
dos aos de pacientes sépticos q ue estava m internados cm
terapia intensiva. Eles identificara m, a inda, que mesmo na
gestação sem PE a concentração de célu las inflam atórias é
superio r à de mu lheres não g rávidas. Com isso, eles suge-
riram q ue a grav idez, por si só, já é um estado inflamatório
e que a PE poderia ser apenas uma reação exagerada, u m
Figura 25.2 1O rigens genética e imunológica da invasão
extremo dessa reação in fla matória que ocorreria fisiologi-
trofoblástica deficiente.
ca mente na gestação .31
Investiga ndo q uais seria m os fatores que poderiam
M as a PE apresenta m anifestações cl ín icas mui to va- levar a essa reação inflamatória da gravidez, as p esq uisas
riáveis, indo desde uma doença grave com início precoce preconiza m como possível responsável a apoptose das
e acometimento fetal importante, até u ma doença leve, de células da placenta com Liberação na corrente sanguínea
in ício tardio e sem comprometimento feta l sig nificativo. de mic rofragmentos de sinciciotrofoblasto, deno m inados
Além disso, a invasão t rofoblástica deficiente, apesar de pelos auto res de .. debris placentários", que podem causar
muito frequente, não é encontrada em todas as pacientes da no endoteli al e, possivel m ente, têm tam bém ação pró -
que apresentam PE. in fla mató ria. Esses" debris", g ue estão aumentados na ges-
Os estudos epidemiológicos, mais uma vez, indica ram tação normal e muito aumentados na P E, estimu lariarn a
que mulheres que apresentavam algumas doenças prévias à reação infla mató ria materna. Esses achados perm itiram a
gestaç.1o tinham risco aumentado de desenvolver PE, inde- elaboração de uma teoria que conectasse os do is tipos de
pendente mente de apresentarem invasão trofo blástica defi- PE, a placentária e a materna.11
ciente ou não, como no caso das diabéticas, das hipertensas, Segundo a hipó tese dos" dcbris placentários", a invasão
das o besas, das pacientes com SAAF (Q uad ro 25. 1). trofoblástica deficiente e doenças m aternas com acome ti-
Todas essas observações levaram N ess e Roberts a su- mento vascular levariam à perfusão placentária reduzida,
geri rem, em 1996, que existiriam dois t ipos de PE. Um de que promoveria destruição celu lar au mentad a. Gestações
origem placentária, que seria explicado pela invasão trofo- com m assa placentária aumentada, como gestações a ter·
blástica deficiente, e um de o rigem materna, que seria mais mo, gestações em mulheres diabéticas, gestações múltiplas
comum em pacientes com doenças preexistentes. Essas e gestações molares, apresentariam, por sua vez, ma is apop-
duas fo rm as de PE teriam como meca nismo comum a indu- tose das células placentárias em função do ma ior tama nho
ção da hipóxia placentária e a disfunção endotelial sistêrnica da placenta. Essas d uas situações cursa riam com ma is li-
que, por sua vez, levariam às manifestações clínicas d a PE.29 beração de "debris" estimulando a resposta in fla matória
Em 1999, Red man, Sacks e Sargent, baseados també m sistém ica, a d isfunção endo telial e, consequentem ente, a
nessas observações, concluíra m que a invasão trofoblástica PE. Os casos gue cursa m com g rave acometimento fetal
de ficiente não era fato r fundamental pa ra o desenvolvi- poderiam, nessa hipótese, ser explicados pelo estresse ox i-
mento da PE, mas apenas um poderoso fato r de risco.30 dativo placentário que acontece na gestação com placentas
Esse mesmo grupo propôs, também, que o meca nismo de ta manho anormalmente pequeno."
q ue conectava as du as condições eram a hipóxia placentá- A inda seg undo a h ipótese de q ue a PE seria uma reação
ria e a d isfunção endo tclial e que essas cond ições leva riam inflam ató ria exacerbad a, alguns autores propuseram q ue
às man ifestações clínicas da PE po r induzirem reação in- qualquer fato r gue contribuísse para desencadea r a reação

406 Noções Práticas de Obstetrícia


inflamatória poderia ser também o gatilho para o desen- mostrou, ainda, que quando os dois fatores estavam presen-
volvimento da PE. Dessa forma, processos infecciosos po- tes, o risco era 30 vezes mais alto do que quando apenas um
deriam ser a origem do estímulo que culminaria com a PE, deles era encontrado, mostrando potencialização do efeito.35
observação corroborada por estudos epidemiológicos que O utros aspectos realçam a importância dos fatores an-
mostram risco aumentado de PE em pacientes com diver- giogênicos e antiangiogênicos na PE:
sos tipos de infecção, tais como do trato urinário (O R=2,5), O VEGF induz a produção de óxido nítrico e pros-
periodontal (0R=2,3), por citomegalovírus (0R=3,89) e taciclinas que, por sua vez, diminuem o tônus vas-
herpes (OR=3,57).32 cular e a PA.
As hipóteses mais recentes classificam a PE como do- Estudos experimentais que utilizaram o sFit-1 em
ença de duas etapas. A primeira etapa, pré-clínica, ocasio- ratas induziram o surgimento de endoteliose glo-
nada pelos fatores mencionados anteriormente e a etapa merular, lesão característica da PE.
clínica, na qual as ma nifestações sistém icas da doença le- O VEGF foi capaz de recuperar a endoteliose vas-
va riam ao conjunto de sinais e sintomas conhecido como cular, que é a lesão característica da PE, em estudos
pré-eclâmpsia. O elo fundamental que liga essas duas eta- experimentais.
pas é a disfunção endotelial sistémica e essa disfunção está Inibidores do VEGF que foram uti lizados em trata-
intrinsecamente ligada a outra hipótese sobre a etiologia da mentos experimentais para câncer por di mi nuírem
PE, que é a hipótese dos fatores antiangiogênicos. 31 a neovascularização levaram ao surgimento de sin-
Os fatores angiogênicos são secretados pelas células tomatologia PE-Iike, com hipertensão c proteinúria
da placenta e pelos linfócitos NK na decídua materna. Os em pacientes do sexo masculino.
principais fatores envolvidos são o fator de crescimento A nicotina diminui a produção do sFit-1, o que po-
do endotélio vascular (VEGF) e o fator de crescimento deria indicar o mecanismo pelo qual as fumantes
placentário (PlGF). Esses fatores, além de estimular o sur- apresentariam baixa incidência PE.
gimento de novos vasos, vão ter também o papel funda-
mental de manutenção da estabilidade do endotélio e de O descobrimento dos fatores antiangiogênicos estimu-
reparação de lesões endoteliais. Esses fatores exercem suas lou também o surgimento de nova hipótese sobre a etiologia
funções a partir da ligação com receptores presentes na su- da PE, a hipótese do conflito de interesses entre a mãe e o
perfície das células endoteliais, conhecidos como Flt-1 ou feto. Segundo essa hipótese, a perfusão placentária diminu-
fms-like tirosino ki nase do tipo 1.34 ída levaria à hipóxia fetal e à nutrição fetal deficiente. O feto,
Maynard el a/. apuraram, em 2003, que na PE, apesar por sua vez, ao tentar melhorar sua oxigenação e nutrição,
da concentração dos fatores angiogênicos estar aumenta- liberaria os fatores antiangiogênicos para provocar hiperten-
da, eles não se ligam aos receptores porque a concentração são na mãe, o que poderia melhorar a perfusão placentáriaY
de uma variedade do receptor, que é o receptor solúvel ou O sFit-1 é produzido pelo citotrofoblasto e estudos re-
sFit-1, está mu ito aumentada. Esses receptores solúveis se feriram que a angiotensina-2 estimula sua produção. Pes-
ligariam aos fatores angiogênicos, impedindo sua ligação quisas recentes também descobriram autoanticorpos que
com os receptores endoteliais e diminuindo sua ação.34 estimulam os receptores da angiotensi na-2, conhecidos
Pesquisas subsequentes confirmaram concentração como ATi. Esses autoanticorpos (ATI -AA) potenciali-
aumentada dos fatores antiangiogênicos nas mulheres com zam a ação da angiotensina-2 e parecem exercer importan-
PE, mencionando, ainda, que a concentração desses fatores te papel na etiopatogenia da pré-eclâmpsia.16
era mais elevada nos casos de PE em gestações pré-termo do A endoglina é o receptor para o fato r de crescimento te-
que nos casos a termo e, também, que esses fatores já esta- cidual tipo beta (TGF-~) e sua versão solúvel (sEng) tam-
vam elevados na corrente sanguínea algumas semanas antes bém está au mentada na pré-eclãmpsia c parece ter papel
do início da PE clínica. Assim, os autores sugeriram que es- complementar ao do sflt-1 na etiologia da pré-eclãmpsia.
ses fatores poderiam ser utilizados como preditores da PE.3s O TG F- ~ tem papel complementar ao do VEGF no rela-
Outro fator avaliado nesse mesmo estudo foi a endoglina xamento e na estabilidade endotelial. 36
solúvel (sEng), também potente fator antiangiogênico que A Figura 25.3 resume as hipóteses mais atuais sobre a
mostrou correlação semelhante à do sflt-1. Essa pesquisa etiologia da pré-eclãmpsia .

Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia 407


Fatores Fatores Doenças Placenta
Genéticos Imunológicos Maternas Grande
c T
Invasão Trofoblástica
deficiente Infecções

~ Hipóxia T Apoptose
CIUR Placentária L_ aumentada

Anticorpos ~--­
anti-AT1
.---:-j
Disfunção - -- - - - - - ---1
I
Reação Inflamatória
Endotelial Sistêmica

- I
Manifestações
Clfnicas

Figura 25 .3 1 H ipóteses atuais sobre a etiologia da pré-eclâmpsia.

A compreensão da etiopatogenia da pré-eclâmpsia me- M edidas conservadoras propiciam evolução m ais pro-
lhorou muito nos últimos anos, no entanto, ex istem muitas longada e te ndem a se associar a comprometi mentos mais
questões que permanecem sem resposta. Pré-eclâmpsia graves e à lesão de elevado nú mero de órgãos, como se ob-
e eclâmpsia provavelmente são o reflexo final de di fe ren- serva na eclâmpsia e na síndrome HELLP.
tes doenças primárias qu~ combinam a susceptibilidade D ado ma rca nte c peculiar na fisiopatologia é que, ter-
genética, a placentaç~o anorrnflll;l ii disfu nç~a l;lndotelial minada a gestação, desaparecem q uase tod as as alterações
ampla.3 provocadas pela doença e, nas suas formas puras, desapare-
cem sem deixar sequelas. As medidas clínicas usualmente
recomendadas e adotadas pouco ou nada interferem na
FISIOPATOLOGIA sua fisiopatologia ou na sua evolução.
A disfunção endotelial desempenha papel-chave na
Como tudo na pré-eclâ mpsia, sua fisiopatologia tam- fisiopatologia da pré-eclâmpsia. O aumento da permeabi-
bém ainda não está completamente esclarecida. Sabe-se lidade endotelial vai levar ao surgimento do edema e da
que a doença é multissistêm ica, capaz de compro meter o proteinúria. A agregação plaquetária aumentada estimula-
func ionamento de vários órgãos e sistemas da gestante. A da pelo endotélio disfu ncional vai levar a distúrbios de coa-
intensidade desse comprometimento e sua extensão va- gulação e à alteração na relação trornboxano-prostaciclina
riam de acordo com a forma clínica, com o tempo de evo- q ue, juntamente, com a não perda da reatividade vascular
lução da doença e, ind iretamente, com a conduta. e com o estímulo ao sistema renina-angiotensina, vão leva r
A pré-eclâmpsia se associa a vasoespasmo, a lesões vas- à hipertensãoY
culares patogénicas em múltiplos ó rgãos e sistemas, inclu- O VEGF é necessário para o reparo capilar, principal-
sive no leito vascular útero-placentário e aumenta a ativa- mente do endotélio fenestrado, que é encontrado nos glo-
ção plaquetária com consumo de plaquetas e subsequente mérulos renais, no plexo coroide e nos sinu soides hepáticos
ativaçào do sistema de coagulação nos microvasos. - órgãos intensamente afetados na pré-eclâ mpsia. 36

408 Noções Práticas de Obstetrícia


MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS até a síndrome HELLP. Esta representa doença grave e se
associa à morbidade materna sign ificativa. 41
As manifestações clínicas mais freq uentes da pré-
-eclâmpsia são sobre a pressão arterial, rins, fígado, sistema
nervoso central e sistema de coagulação. ALTERAÇÕES NO SISTEMA NE RVOSO CENT RAL

As mais comuns são a cefaleia e os distú rbios visuais


ALTERAÇÃO NA PRESSÃO ART ERI AL (escotomas). Na eclâmpsia ocorrem as convulsões.

É a mais frequente, mais precocemente identificada e


decisiva para o diagnóstico de pré-eclâmpsia. A elevação da A LTERAÇõEs NO S rs T EMA DE CoAGU LAÇÃO
pressão arterial na pré-eclâmpsia é devida principalmente
à reversão da vasodilatação característica das gestações de Pode acontecer trombocitopenia. Qpanto mais grave a
evolução normal e substitu íd a por aumento importante da forma clínica, ma is acentuada a trombocitopenia.
resistência vascular periférica. Mulheres com pré-eclâmp-
sia, em geral, não manifestam hipertensão franca antes da
segunda metade da gravidez. Contudo, a influência deva- PREDIÇÃO
soconstrição pode se verificar mais cedo. 38
A pressão arterial normaliza-se no pós-parto, em geral, Apesar dos muitos esforços despendidos, ainda não
dentro de poucos dias. O retorno aos níveis normais, con- existe método preciso e confiável de predizer qual paciente
tudo, pode levar duas a seis semanas, especialmente nas for- irá desenvolver a pré-eclâmpsia.
mas mais graves. Qpanto mais cedo começa a pré-eclâmp- Diversos marcadores bioquím icos já foram estudados,
sia, mais longa é a duração da hipertensãoJ 9 muitos se associaram ao d esenvolvimento da doença, mas
nenhum se mostrou bom o suficiente para ser adotado na
prática (Quadro 25.2).
ALTERAÇÕES R ENAIS Revisão da Organização Mundial da Saúde (OMS)
que avaliou 87 trabalhos concluiu que em 2004 ainda não
A lesão renal característica da pré-eclâmpsia é a en- existia método confiável de se predizer a pré-eclâmpsia.42
doteliose glomerular. Tanto a filtração glomerular como Estudos mais recentes têm focado principalmente os mar-
o fluxo sanguíneo renal diminuem, sendo que o primeiro cadores de angiogênese e disfunção endotelial como o VEGF,
diminui mais que o segundo, levando à redução da fração PIGF, sFlt-1 e sEng, para o rastreamento da pré-eclâmpsia43
filtrada.38 Tanto o sFlt-1 quanto a sEng já se encontram aumenta-
A proteinúria pode aparecer mais tarde na evolução dos no segundo trimestre de gestação naquelas pacientes
clínica. A pré-eclâmpsia se associa à hipocalciúria, ao con- que virão a desenvolver a PE. A relação sFit-1/ PlGF tam-
trário do que acontece nas gestações normais, em que a bém se altera precocemente e esses marcadores podem vir
excreção uri nária de cálcio está aumentada 4 0 a ser utilizados no futuro na predição da PE.44
A excreção de sódio na urina pode estar diminuída, Métodos biofísicos, como a dopplervelocimetria, tam-
enquanto que as concentrações séricas do peptídeo atrial bém despertam muito interesse dos pesquisadores. A dop-
natriurético (ANP) estão aumentadas. 41 plervelocimetria permite o estudo da circulação materna e
feto-placentária. É um teste rápido, simples, não invasivo.
A dopplervelocimetria das a rtérias uterinas permite
ALTERAÇÕES H EPÁT ICAS avaliar de maneira indireta a invasão trofoblástica das ar-
teríolas espiraladas. No início da gestação, as artérias ute-
Incluem a hemorragia periportal, lesões isquêmicas e rinas apresentam flu xo de alta resistência. À medida que
deposição de fibri na. Elas podem variar de necrose hepa- a gestação avança, a invasão trofoblástica transforma as
tocelular moderada com alterações nos níveis de enzimas arteríolas espiraladas em vasos d e baixa resistência. A di-

Pré-eclãmpsia e Eclãmpsia 409


minuição da resistência nas arteríolas espiraladas pode ser ... continuação
observada a partir da queda nos índices de resistência (I R)
Quadro 25.2 I Marcadores empregados na tentativa de
e pulsatilidade (l P) e no desaparecimento das incisuras
predizer a pré-eclâmpsia
protodiastólicas das artérias uterinas (para mais informa-
Testes relacronaclos a pelfusão placentarra e a
ções veja o capítulo 13 - Doppler.
drs!unção da resrstêncra vascular
Revisão de 27 estudos (n=12.994) mostrou que ges-
tações com doppler de uterinas anormal no segundo tri- Contagem de plaquetas
mestre tinham risco seis vezes mais alto de desenvolver Citoeinas
pré-eclàmpsia. Entretanto, o valor preditivo positi vo do Fibronectina
método era baixo, variando de 6 a 40%.45
Endotelina
Q!Iadro 25.2 1 Marcadores empregados na tentativa de Prostaciclina
predizer a pré-eclàmpsia
Tromboxano
Testes relacronaclos d perfusdo placentarril e a
Homocistefna
clrsfunçao ela resrstencra vasculdr
Resistência à insulina
PAM no segundo trimestre I lsoprostanos
Ro//-overteste
Lipfdios séricos
Teste do exercfcio isométrico
Moléculas de ativação p0 1aquetária e adesão de células
Infusão intravenosa de angiotensina 11
endoteliais
i Ligação entre plaquetas e angiotensina 11 Anticorpos antifosfolfpedes
Dosagem de renina
Inibidor do ativador do plasminogênio
Resposta do cálcio placentário à arginina I Leptina
Doppler de artérias uterinas I Hematócrito
Testes r eldcrorlaclos d clrsfunc;du enclocrrna ela
Protefnas totais
unrclacle feto-placr!rrtdrra
Antitrombinalll

Alfa-fetoprotefna
IMagnésio
Cálcio
Estriol
Ferritina
lnibinaA
Transferrina
PAPP-A (protefna plasmática associada à gravidez)
AtivinaA Haptoglobina

HormOnio liberador da corticotropina Peptfdeo atrial natriurético (ANP)

Testes reldcronaclos d clrsfurlÇdO renal P2 microglobulina


Acido úrico sérico Marcadores genéticos

Microalbuminúria PIGF (fator de crescimento placentário)

Excreção urinária de cálcio VEGF (fator de crescimento endotelial)

Calicrefna urinária Endoglina solúvel (sEng)

Microtransferrina sflt-1(fms tirosino kinase solúvel)


PTX3 (pentraxina 3 longa)
IN-acetii-B-glucosaminidase
(PP-13) Protefna placentária 13
PAM = pressão arterial média
Apolipoprotefna E
Continua...

410 Noções Práticas de Obst etrícia


Estudos que avaliaram o doppler de artérias uterinas m ento uterino são úteis n a definição da forma clí-
no primeiro trimestre (entre t l e 14 semanas) ta mbém nica da doença.
encontraram a lto risco de desenvolver PE naquelas pacien- Exames laboratoriais: pa ra o diagnóstico solicitamos
tes com IR e IP aumentados.46 As incisuras não devem ser a dosagem de proteína da urina (proteinúria). Ou-
utilizadas como parâmetro no primeiro trimestre, pois seu tros exam es como hemograma, contagem de pla-
achado nessa fase é fisiológico. quetas e dosagem de enzimas hepáticas são pedidos
Quando usado em populações de alto risco para desen- na suspeita de síndrome HELLP.
volver PE (hipertensas, diabéticas, pacientes com passado
de PE grave e portadoras de trombofil ias), o doppler de O diagnóstico de pré-eclãmpsia, na m aioria das vezes, é
artérias uteri nas apresenta melhor sensibilidade e especi- clín ico. Não se deve nem se pode agua rdar todas as m ani-
ficidade46 festações citadas para se chegar ao d iagnóstico; nem sem-
Na prática, o doppler de artérias uterinas não deve ser pre elas estão presentes ou são identificadas pelo obstetra.
utilizado como método de rastreamento na população em O achado de hipertensão (PA ~ 140 x 90 mm H g) após
geral. Em populações de alto risco, sua utilização pode se- a 20a semana de gestação em paciente previamente nor-
lecionar um subgrupo de pacientes que necessita de acom- motensa, acompanhado de proteinú ria c~ 300 mg em 24
pan ham ento m ais rigoroso. horas), fi rma o d iagnóstico de pré-eclâmpsia.
No passado considerava-se que o aumento de 30
mmHg na pressão sistólica e de IS mmHg na diastólica
DIAGNÓSTICO também poderia ser ut ilizado como critério d iagnósti-
co de PE, porém, o Work:ing Group on High Blood Pressure
O diagnóstico de pré-eclâmpsia é fácil nas gestantes que (WGHBP),41 valendo-se de evidências colhidas da litera-
iniciaram o pré-natal precocemente e o fizerem corretamen- tura, recomenda q ue se abandone esse c ritério e que sejam
te. É difícil nas que começam tardiamente ou então não rece- uti lizados apenas os valores absolutos da PA. Também o
beram qualquer tipo de assistência pré-natal. O diagnóstico edema não deve ser valorizado como critério diagnóstico,
se fundamenta na epidemiologia, na sintomatologia clínica, pois pode estar presente em mulheres com gestações nor-
no exa me físico e em determinados exames laboratoriais. mais e é marcador pouco específico de pré-eclâmpsia.
Todas essas variáveis permitem não apenas diagnosticar, Para nós, esses achados (elevação da PAe edema) ainda
mas também identificar as várias formas clínicas da doença. servem como bons sinais de alerta.
O diagnóstico é estabelecido combinando-se a na mne- Pacientes com hipertensão antes da 20• sema na de
se e exames clínico e laboratoriais: gestação, com ou sem proteinúria, provavelmente já eram
Epidemiologia: a parti r da anam nese proc ura-se ve- h ipertensas a ntes da gestação. A única situação na qual a
rificar se existem a lguns dos fatores de risco para pré-eclâmpsia pode ocorrer antes da 20• semana é na do-
doença, já descritos. ença trofoblástica gestacional.
Sintomatologia: em alguma etapa da gestação sur-
gem os sinais e sintomas que caracterizam a do-
ença, tais como cefaleia, edema, distúrbios visuais, CLASSIFICAÇÃO
epigastralgia, hiperexcitabilidade. A frequência,
intensidade e importância de cada um deles são Conceit uar, definir, classificar a pré-eclâmpsia é fu n-
variáveis e discutíveis. Contudo, devem sempre ser damental para que se possa adotar a conduta adequada.
pesquisados e valorizados. Esta varia conforme a forma clínica da doença. Trata-se de
Examefísico: considerando-se o exame físico apenas tarefa importa nte, porém difícil. Isto porque não existem
para o diagnóstico da pré-eclâmpsia, os dados que li m ites n ítidos precisos, bem-defin idos, que permitam di-
mais interessam são os níveis pressóricos anteriores ferenciação clara entre as vá rias formas. Falta consenso até
e os atuais. Outros como edema, sua localização e mesmo quanto ao número delas e q ua nto às suas ca racte-
persistência, ganho ponderai e padrão do cresci- rísticas clín icas e laboratoriais.

Pré-eclâmpsia e Eclâm psia 411


Classicamente as principais síndromes hipertensivas ECLÂMPSIA
de gravidez são agrupadas da seguinte maneira:
Pré-eclãmpsia - Eclâmpsia; Ocorrência de convulsões que não podem ser atribuí-
H ipertensão arterial crónica; das a outras causas em mu lheres com pré-eclâmpsia.
Pré-eclâmpsia superposta à hipertensão arterial
crónica;
H ipertensão gestacional. PRÉ-ECLÂMPSIA SUPERPOSTA
À HIPERTENSÃO ARTERI AL CRÔNICA

PRÉ-ECLÂMPSIA A pré-eclâmpsia pode se desenvolver em gestantes com


hipertensão arterial crónica. A diferenciação entre pré-
Como critérios para o diagnóstico da pré-eclâmpsia, o eclàmpsia superposta e o agravamento da hipertensão ar-
Working Group on High Blood Pressure 41 propõe: terial crónica não é fácil. Os elementos sugeridos para o
Pressão arterial: níveis pressóricos superiores a 140 diagnóstico de PE superposta à H AC são:
mmHg na sistólica e 90 mmHg na diastólica após Surgimento de proteinúria ~ 0,3 g cm amostra de
20 semanas de gestação, em mulheres previamen- 24 horas na segu nda metade da gestação de muIhe-
te normotensas. Salientam, ainda, que na pressão res previamente hipertensas sem protci nú ria;
diastólica se deve considerar a fase V (cinco) de Ko- nas mulheres com hipertensão e proteinúria antes
rotkoff A determinação da pressão se faz com ages- de 20 semanas o aparecimento de:
ta nte assentada e deve ser medida no mínimo duas - Aumento súbito da proteinúria;
vezes, com intervalo de seis horas entre os registras. - Aumento súbito da pressão arterial, em mulheres
Proteimíria: excreção urinária de proteína igual ou com níveis pressóricos previamente bem contro-
superior a 0,3 g na urina de 24 horas. Esses valores lados;
correspondem a aproximadamente 30 mg/ d L (I+ na - Trombocitopcnia com contagem de plaquetas
leitura com a fita). Sempre que possível, a proteinúria abaixo de 100.000 mm 3;
deve ser determinada na urina colhida em 24 horas. - Elevação da alanina aminotransferase ou aspar
tato aminotransferase, atingindo níveis anormais.
Para o WC H B?11, a certeza do diagnóstico de pré-
-eclâmpsia grave existe quando estão presentes os segui n-
tes critérios: HIPERTENSÃO GESTACIONAL
Pressão arterial: pressão sistólica igual ou supe-
rior a 160 mmHg e diastólica igual ou superior a Diagnóstico de hipertensão na segunda metade da
l!OmmHg; gestação sem protei nú ria. Esse é um diagnóstico inespe-
proteimíria: igual ou superior a 2 g/ 24h ou 2+ ou 3+ cílico e pode incluir desde mulheres que desenvolverão
em espécime único; pré-eclâmpsia, com aparecimento posterior da proteinúria
creatinina sérica: acima de 1,2 mg/ dL, a não ser que até as com hipertensão arterial crónica que não ti nham
anteriormente já estivesse alterada; diagnóstico prévio. Nos casos em que ao longo da gestação
contagem de plaquetas: inferior a 100.000 mm 1 e/ ou não surge proteinúria e os níveis pressóricos retornam aos
DHL elevada (anemia hemolítica microangiopática); níveis normais após o parto (até 12 semanas), o diagnósti-
enzimas hepáticas: TCO e/ou T G P elevadas; co de hipertensão transitória é firmado.
sintomatologia: cetàleia persistente ou outros dis-
túrbios cerebrais e visuais e dor epigástrica per-
sistente. FORMAS CLÍNICAS

Na ausência desses critérios de gravidade, a pré- Nossa classificação difere um pouco da proposta pelo
-eclâmpsia é classificada como leve. WC HBP - forma leve e grave - , pois acreditamos que sen-

412 Noções Prát icas de Obstetrícia


do a pré-eclâmpsia um a doen ça evol utiva, sua divisão em fORMA MODERADA
formas leve, moderada e grave f.1cilita a conduta. A classifi-
cação que adotamos é a seguinte: pré-eclâmpsia leve, mo de- Nas classificações usualmente adotadas não existe a
rada e grave, síndrome H ELLP, eclâmpsia e pré-eclãmpsia fo rma moderada; consideram-se apenas as formas leve e
superposta à hipertensão arteria l crônica. grave. Contudo, parece bastante útil, sob o ponto de vista
prático, que se considere também uma forma intermediá-
ria, a que denominamos de moderada.
FORMA LE VE O reconhecimento da forma moderada evita que se
continue considerando como leve a pré-eclâmpsia que já
Etapa inicial da doença, como o próprio nome já suge- se agravou, porém ainda não apresenta os va lores que ca-
re, ainda com manifestações clínicas discretas, leves, que racteriza m a fo rma grave. Evita também que se conti nue
apenas permite m suspeitar d a existência d a doença. Essa adota ndo a cond uta conservadora, própria da forma leve,
suspeita começa com algun s fa tores epidem iológicos que qua ndo na verdade já se necessita de mu ito mais cuidado
frequentemente estão presentes na pré-eclâmpsia: e atenção sem, contudo, ser necessária a conduta resolutiva
Primigesta, muito jovem - abaixo de 16 a nos- ou ido- da forma grave. Essa subdivisão facilita a conduta e, indi re-
sa- acima de 38 anos; tamente, inAui nos resultados peri nata is.
históriafamiliar da doença - mãe ou irmã ou então da As manifestações clínicas e laboratoriais da forma mo-
própria paciente (multípara); derada são mais nítidas, mais típicas da doença e m ais fáceis
troca de parcei ro; de serem identificadas do que as propostas para a forma leve:
intercorrências gestacionais: gestação múltipla, polid- Pressão arterial: níveis pressóricos > 140/ 90 e ~
râ mnio; 160/ 100 mm Hg. A pressão arterial começa a se ele-
condições sociocconôm icas desfavoráveis; var ma is cedo do q ue na fo rma leve. Em geral, isso
pressão arterial: níveis pressóricos de até 140/ 90 acontece em torno de 30 semanas;
mm Hg ou elevação de 20 mmHg na sistólica e de lO proteinúria: superior a 0,3 g c in ferior a 3 g em uri na
mmHg na diastólica. Essas alterações ocorrem tar- de 24 horas;
diamente, em geral após a 34• semana de gestação; edema: persistente, progressivo, atingi ndo membros
proteinúria: negativa na urina de amostra única c den- inferiores, superiores e face;
tro dos limites da normalidade na pesq uisa realizada ganho de peso já ultrapassa 400 g/ semana, mas ain-
em urina colhida em 24 horas, ou seja, até 0,3 g; da não atingiu 1.000 g /semana;
edema: persistente, porém restrito aos mem bros in- sintomatologia: ainda não existem sintomas p róprios
feriores. O edema não desaparece com o repouso; da doença;
ganho ponderai: sem alterações; exames laboratoriais: hemograma, contagem de
sintomatologia: nada que possa caracteriza r a doença. plaquetas e enzimas hepáticas dentro do limite de
no rmalidade.

Co ' DUTA
Co ' DUTA
Persistindo a forma leve, a gravidez pode evoluir até o
início espontâneo do parto. Na assistência pré-natal, ape- Assistência pré-nata l mais cuidadosa. Consultas ma is
nas deve-se sempre procurar identificar qualquer alteração freq uentes, entre sete e lO d ias; ava liação mais rigorosa das
na evolução da gravidez. A gestante deve ser orientad a para condições feta is e placentárias: perfil biofísica fetal e dop-
que também possa observar mo dificações como aumento plervelocimetria materna e fetal qua ndo se ju lgar neces-
do peso, edema e cefaleia. A ava liação das condições fetais sário, geralmente com intervalo de sete a dez d ias. Orien-
segue as normas usuais adotadas na assistência pré-nata l. tação clara, precisa e constante, no que se refere aos sinais
Em resu mo, na fo rma leve o que é necessário é uma boa e si ntomas sugestivos do agrava mento da doença: edema,
assistência pré-natal. ga nho de peso, cefaleia.

Pré- eclâmpsia e Eclâmpsia 413


Sempre que for impossível o acompanhamento ade- O dlagn6stico é primariamente clínico. Não se deve
quado da gestante, é mais prudente interná-la e observá-la esperar que todos os sinais e sintomas citados estejam pre-
antes de decidir a conduta. sentes para firmá-lo.
Enquanto permanece na fo rma moderada e for possível
a monitoração das condições maternas, fetais e placentá-
rias, pode-se aguardar o início espo ntâneo do parto. Caso CON D UT A
haja dificuldade ou impossibilidade de se realizar a mon i-
toração adequada, é mais prudente interromper a gestação Na forma grave a única conduta eficaz e defi nit iva é a
depois de alcançada a maturidade fetal cronológica, ou interrupção da gravidez, com a extração do feto e de seus
seja, mais de 37 semanas. Existindo cond ições para a in- anexos. Todas as outras condutas são paliativas e perigo-
dução do parto, isto deve ser realizado. Caso contrário, a sas; não interro mpem a evolução da doença. Apa rente-
interrupção deve ser pela via abdomi nal. mente algumas medidas clínicas propostas melhoram as
Estudo multicêntrico com 756 pacientes com PAD condições maternas, porém a pré-eclâm psia continua sua
~ 90 e proteinúria ~ 300 mg/ 24 horas entre 36 e 4 1 se- evolução, podendo chegar a crises convulsivas, inclusive
manas registrou baixas taxas de complicações maternas com óbito fetal e, às vezes, materno.
(R R=0,71 - IC95%: 0,59 a 0,86) no grupo q ue teve o parto Nas formas graves, com fetos maduros, as opiniões
induzido, quando comparado ao grupo que foi colocado convergem : deve-se interromper a gestação. Há consenso
em conduta expectante.47 un iversal de se interrom per a gestação na pré-eclâmpsia
grave, após 34 semanas, antes de surgi rem evidências de
sofrimento materno e/ ou fetal.48
fORMA GRAVE Contudo, em gestações longe do termo, principalmente
abaixo de 30 semanas, questiona-se qua l a melhor conduta:
A pré-eclâmpsia pode manifesta r-se na forma leve e manter o feto em ambiente hostil até que ati nja maturidade
evolu ir até a forma grave ou então já se manifestar w rn as ou exlraí-lo premaluramente e cu idar do recém-nascido em
ca racterísticas da fo rma grave. C lassica mente, a conceitua- locais apropriados? Dentro do útero a única medida capaz
ção da forma grave é a que se segue: de ajudar o feto é acelerar sua maturidade com cor ticoides.
Pressão arterial: níveis superiores a 160/ I 00 m m H g; As outras medidas só protegem a gestante e, assim mesmo,
proteimíria: igua l ou superior a 3 g em 24 horas; parcialmente, e por pouco tempo.
edema: generalizado, atingindo membros inferiores,
superiores, face e abdome; l ONDUTA CONSERVADORA
ganho ponderai: excessivo e rápido igual ou superior A conduta conservadora p roposta por alguns pesqui-
a J.000 g/ semana; sado res só pode ser adotada em centros de referência, com
volume urinário: di minu ído, frequentemente infe- condições de moni torar permanentemente as condições
rior a 600 m 1/24 horas; maternas e fetais. Pacientes com pré-eclâmpsia grave, abai-
si~1 tomatologia: cefaleia intensa e persistente; d istúr- xo de 34 semanas devem ser encamin hadas para centros
bios visuais - escotomas, diploplia, epigastralgia e de referência logo que se fi zer o d iagnóstico. A conduta
hiperexcitabilidade. Geralmente essa sintomatolo- expectante com monitoração permanente das condições
gia precede as crises convulsivas; maternas e fetais pode ser benéfica em grupos seleciona-
exames laboratoriais: hemoconcentração e plaqueto- dos, mas só é possível em centros terciários.49
penia são comuns. O objetivo principal da conduta conservadora na PE
longe do termo é melhorar os resultados perinatais sem
A identificação da forma grave é fácil quando as pacien- comprometer a saúde materna. O uso de corticoides em
tes tivera m boa assistência pré-natal e são portadoras de gestações entre 24 e 34 semanas melhora as condições
cartão pré-natal corretamente preenchido. Na prática, no do recém-nascido prematuro e di minu i a mortalidade ne-
entanto, isso nem sempre acontece. onatal. Sempre que as cond ições maternas perm itirem, a

414 Noções Práticas de Obstetrícia


corticoterapia deve ser empregada caso o parto aconteça a via vaginal pode ser tentada. Exige-se, no entanto, a moni-
a ntes do termo (pa ra mais informações veja o capítulo 2 1 toração permanente d as cond ições maternas e feta is, o que,
- Parto Pré-termo). na prática, nem sempre é possível. Na maioria das vezes a
Estudo randomizado que avaliou a corticoterapia em melhor solução é a via transabdominal.
218 gestantes com PE grave entre 26 e 3 4 semanas relatou
redução na incidência de síndro me do desconfo rto respi- Quadro 25.3 1Condições maternas e fetais que indicam
ratório (RR=O,S3 - IC9S%: 0,35 a 0,82), de hemorragia a interrupção imediata d a gestação
intraventricular ( RR=0,3S - IC9S%: O, IS a 0,86) e da mor-
Hipertensão grave e de ditrcil controle (PAS ~ 160 mmHg
talidade neonatal ( RR=O,S - IC9S%: 0,28 a 0,89). 50
ou PAD ~ 110 mmHg) apesar da dose máxima de dois
Dois estudos randomizados avaliaram a conduta con- agentes anti-hipertensivos
servadora em pacientes com PE grave e gestação abaixo de
Eclâmpsia
34 semanas.
Odendaal e/ a/.51 conduziram estudo em 58 mulheres IEdema pulmonar
com PE grave entre 28 e 34 semanas e enfatizaram prolon- Oligúria (<0,5 mi/kg/hora) não resolvida com administração
gamento médio de 7, 1 dias nas pacientes com conduta con- de fluidos
servadora, sem aumento nas taxas de complicações maternas
Sinais de iminência de eclâmpsia (cefaleia grave e persis-
e diminuição nas taxas de RNs necessitando de ventilação tente ou distúrbios visuais)
mecânica (li x3S%). É importante observa r que 20 pacientes
Dor epigástrica persistente ou sensibilidade no quadrante
(345 %) não puderam ser randomizadas porque apresenta-
superior direito
ram agrava mento do quadro materno ou fetal, necessitando
de interrupção da gestação dentro das primeiras 48 horas. Deterioração rápida dos exames indicando srndrome HELLP
48
Sibai et a/ avaliaram 95 pacientes com PE grave entre Plaquetopenia (< 100.000/mm3)
28 e 32 semanas. Após as 48 ho ras de observação inicial e
corticotcrapia, os autores conseguira m prolongar a gesta-
IDeterioração da função renal (creatinina sérica ~ 1.4 mg/dl)
ção, em média, em lSA d ias no grupo da conduta conser- Comprometimento fetal grave (desacelerações na CTG.
vadora, possibilitando peso m aior ao nascimento (1.622g oligodrâmnio grave. PBF s; 4, Doppler com diástole reversa
na artéria umbilical ou Doppler venoso alterado)
X 1.233g) e taxas mais baixas de adm issão em UT I neo-
natal (76 X 100%). Mais uma vez, 16% das pac ientes não PAS = pressão sistólica: PAD = pressão diastólica: CTG = cardiotocografia:
PBF = perfil biofísico fetal.
puderam ser randomizadas devido à instabilidade materna
ou fetal nas primeiras 48 horas.
Esses estudos descreveram que a conduta conservadora O Q uad ro 25.4 si ntetiza as características das formas
por mais de 4 8 horas apresenta altos riscos e só deve ser ten- clínicas d a PE, conforme nossa classificação.
tada em centros terciários e em pacientes bem selecionadas.
O Quadro 25.3 mostra as ind icações maternas e fetais
para interrupção da gestação dentro das pri meiras 48 horas.52 PREVENÇÃO DE CONVULSÕES

CONDUTA R ESOLUT I VA Imediata mente após a hospitalização in icia-se a ad m i-


Toda gestante com forma grave de pré-eclâmpsia deve nistração de medicamentos capazes de prevenir as crises
ser internada imediatamente e só terá alta após a interrup- convulsivas que podem surgir a qualque r momento.
ção da gravidez e mel hora de seu q uad ro clínico. Deverá, Pratica mente todos os anticonvu lsivantes conhecidos
ainda, receber sul fa to de magnésio para prevenção de con- já fo ram utilizados na prevenção e controle das crises con-
vulsões e fazer uso de anti-hipertensivos, se for necessário. vu lsivas da pré-eclâmpsia e da eclàmpsia. Apesar de gera l-
Na pré-eclâmpsia grave, o t ratamento definitivo é a in- me nte eficazes, eles determ inam efe itos colatera is indesejá-
terrupção da gravidez. A conduta resolutiva pode ser por veis no feto e, principal mente, no recém-nascido. De todos
meio d a indução do parto ou, então, recorrendo-se à cesá- os testados, o mais eficaz e que menos interfere nas condi-
rea. Nas gestações próximas do termo e com colo m aduro ções do recém-nascido é o sulfato de magnésio (MgSO J
Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia 415
Quadro 25.41 Formas clínicas da pré-eclâmpsia
Forrnil PA Prote111ur1a Edema Ga11ho de peso Sr11tomas Volume ur111arro

leve 140/90 s;0,3 g/24h leve s:400 g/semana Ausentes ~600 ml/24h I
Moderada >140/90 e >0,3g e Persistente >400 g/semana e Ausentes ~soo ml/24h
s;160/100 <3g/24 h <1.000 g/semana I
Grave >160/100 ~3 g/24 h Generalizado ~1.000 g/semana Presentes <600 ml/24h I
Eclêmpsia Qualquer <::0,3 g/24 h Qualquer Qualquer Convulsões Qualquer I
HEllP Exames laboratoriais alterados em paciente com qualquer forma de pré-eclêmpsia I
Metanálise de seis estudos com 11 .444 pacientes com- Co !CE TR AÇÕES
parando o uso do su lfato de magnésio com placebo na pre-
venção das convulsões eclâm pticas evidenciou redução de As concentrações sangu íneas fisiológicas do sulfato de
S9% no grupo estudo (RR=0,4 1 - IC9S%: 0,29 a O,S8) e magnésio oscilam entre I,S e 2,S m Eq/ L. As terapêuticas
NNT (número necessário para tratar) de IOO,ou seja, é ne- entre 4,S e 7,S mEq/ L; concentrações entre 8 e 12 m Eq/ L
cessário aplicar o MgSO 4 para 100 pacientes para prevenir determinam perda do reflexo patelar; níveis de IS mEq/ L
um caso de eclâmpsia.53 produzem parada respiratória; e de 2S m Eq / L parada car-
Qj..tando comparado a outros medicamentos, o MgSO 4 díaca (Qj..tadro 2S.S).
mostrou-se mais eficaz em prevenir as convu lsões eclâmp-
ticas do que a fenitoína (RR=O,OS - IC9S%: 0,00 a 0,84) 53, I
Quadro 2S .S Concentrações séricas do MgS04
a nimodipi na (RR=0,33 - IC9S%: 0,14 a 0,77),53 o diaze-
Fisiológica 1,5 - 2,5 mEq/l I
pan (RR=0,4S - IC9S%: 0,3S a 0,58)54 e o coquetel lítico
(RR=0,09 - IC95%: 0,03 a 0,24).55 Terapêutica (anticonvulsivante) 4,5 - 7,5 mEq/l I

Apesar do MgS04 ser eficaz, de fácil manipulação e Tóxica (perda de reflexos) 10 mEq/l I
aplicação e barato, ele não é perfeito; nem sempre evita
as convulsões e ainda pode causar intoxicação. Por isso, é Tóxica (parada respiratória) 15 mEq/l I

necessário que seja m conhecidas suas propriedades, su as Tóxica (parada cardíaca) 25 mEq/l I

doses terapêuticas e tóxicas e suas vias de administração.

O início da ação do medicamento e sua duração relacio-


MECANI SMO DE AÇÃO nam-sediretamentecom a dose e a via utilizadas naadmin is-
tração (Quadro 2S.6).Assim,2 g MgSO4 a 20% por via endo-
A inda não se sabe exatamente qual o mecanismo de venosa produzem concentrações sanguíneas de SmEq/ L
ação do sulfato de magnésio como anticonvulsivante. Ele dentro de cinco a 10 minutos. Contudo, esses níveis de-
produz vasodilatação seletiva em vasos cerebrais, proteção crescem rapidamente, estabilizando -se em 2,S mEg/ L.
das células endoteliais contra sua lesão por radicais livres, A dose de 4 g a 20%, também intravenosa, no prazo de
prev ine a retirada de cálcio de células isquêmicas e tem cinco a lO minutos ati nge concentrações de 8 mEq/ L, que
efeito antagônico competitivo com os receptores do gluco- caem para 4 mEq/ L. D oses de 10 g a SO% intra muscular
nato N -meti l-aspartato, que é epiletogênico.56 atingem níveis terapêuticos no prazo de 60 minutos e per-
O sul fato de magnésio reduz o índice pulsáti l e o índice sistem por aproximadamente quatro a seis horas. Esse tem-
de resistência da artéria cerebral média das gestantes. Seus po de ação depende da diurese.
efeitos vasodilatadores nos vasos cerebrais intracranianos In fusões contínuas de 2 g pela via intravenosa m antêm
distais da artéria cerebral média podem aliviar a isquemia ce- níveis de conce ntração estáveis. A via intravenosa produz
rebral, dimi nuindo a atividade convulsivante. Este pode ser níveis terapêuticos mais rápidos e a intramuscular níveis
o efeito máximo do sulfato de magnésio na pré-eclâmpsia.57 terapêuticos por mais te mpo.

416 Noções Prát icas de Obst etrícia


I
Quadro 25.6 Vias de aplicação X início de ação e con- CONSIDERAÇÕES SOBRE O EMPRE GO DO
centração sérica SULFATO DE MAGNÉSIO
Vra ele lnrc ro ele
Dose Concentr dCdü
diJirCélCdll aç~o O sulfato de magnésio não trata a pré-eclâmpsia
ou a eclâmpsia. Seu emprego visa exclusivamente a
5a 10
2g a 20% EV 5,0 mEq/L prevenir ou controlar as crises convulsivas e seu uso
minutos I
é por tempo limitado. Se a gravidez prossegue por
5a 10
4ga20% EV 8,0 mEq/L dias ou semanas, o sul fato de magnésio não evita as
minutos I
convulsões;
10g a 50% IM ± 60 minutos 4,5mEq/L 1 o sulfato de magnésio não é hipoten sor e não deve
4ga20%+ 5a 10 ser utilizado com essa finalidade;
EV+IM 6.0mEq/L
10g a 50% minutos I seu emprego exige monitoração rigorosa das con-
dições maternas, já que existe risco de intoxicação
Vários esquemas existem para o emprego do sulfato com esse medicamento. A dose não pode ser repe-
de magnésio na prevenção das crises convulsivas na pré- tida sem que se comprove que as condições mater-
-eclãmpsia ou o controle das convulsões na eclâmpsia nas são adequadas: d iurese superior a 100 mi em
(Quadro 25.7).58. 61 quatro horas, reflexo patelar presente e frequência
respiratória superior a 12 incursões por minuto;
Quadro 25.7 1 Esquemas de uso do sulfato de magnésio não deve ser empregado em pacientes com miaste-
nia gravis, pois pode precipitar crise miastênica;
Autor Dose ele Ataque Mantrtt!llcdo
seu uso concomitante com bloqueadores de canal de
Eastman 10ga50%.1M 5g a 50%, 1M. de cálcio pode desencadear hipotensão grave e refratária;
6/6h é necessário antídoto do sulfato de magnésio para
Pritchard 4ga20%, EV+ emprego imediato se surgirem sinais de intoxica-
5 g a 50%. IM. de
10ga20%.1M 4/4h ção. O antídoto é o gluconato de cálcio a 10%, para
uso intravenoso. Deve ser aplicado I g lentamente
Zuspan e Ward 4 a 6 g a 20%, EV 2 g/hora, EV. em
infusão contrnua (ci nco a 10 minutos);
a aplicação do sulfato de magnésio por via intraveno-
Sibai 6 g em 100 mi. EV 2 g/hora, EV. em
sa deve ser lenta, cerca de I Oa 20 minutos. A admin is-
infusão contfnua
tração rápida provoca efeitos colaterais indesejáveis:
Norowitz 4a6g, EV 2 a 3 g/h. EV ou sensação de calor, sudorese, taquica rdia. A aplicação
10 g a 50%, 1M
i ntramuscular exige c u idados especiais: aplicação na
Corrêa 4ga20%, EV 4 g a 20%. EV. de região glútea, profundamente, espalhando-se o me-
4/4h ou 6/6h dicamento em vários pontos - aplicação em leque;
preparação da solução a ser aplicada: na maioria
Na pré-eclâmpsia preferimos administrar 4 g a 20% IV, dos centros obstétricos brasileiros só existe o sulfa-
segu idas de mais 4 g a 20% de quatro a seis horas, depen- to de magnésio aSO%, em ampolas de lO mi. Para
dendo da diu rese, da gravidade do caso e principalmente se conseguir a dose de 4 g a 20%, retiram-se 8 mi
do tempo para se interromper a gestação. do sulfa to de magnésio, aos quais se acrescentam
O inconveniente da via muscular é a dor local- que pode 12 mi de soro glicosado isotônico ou água destila-
ser superada acrescentando-se anestésico ao sulfato de mag- da, obtendo-se, assim, a concentração desejada. Já
nésio - e a formação de abscessos - que podem ser evitados a solução de sulfato magnésio para se aplicar 2 g/ h,
com o cumprimento rigoroso das técnicas de aplicação. IV, é conseguida colocando-se 20 g (quatro ampo-
Qualquer que seja o esquema util izado, o sulfato de las de I OmI aSO%) em 460 mi de soro. A velocidade
magnésio deve ser empregado até 12 horas, no máximo 24 do gotejamento deve ser de cerca de 20 gotas por
horas, após a interrupção da gravidez. minuto, aproximadamente SO m i/ h da solução.

Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia 417


ADMINISTRAÇÃO DE HIPOTENSORES terminar bloqueio neuromuscular. Mais de 200 pacientes
foram tratadas com a combinação de nifedipina e sulf.:1to
Na forma grave raramente há indicação para o uso de de magnésio sem evidências de bloqueio neuromuscular.64
h ipotensores. lsto se justifica nas crises hipertensivas ou Contudo, a hipotensão provocada pela associação nifedipina
quando se ado ta conduta co nservadora em gestações longe - MgS04 pode ser grave, devendo tal associação ser utiliza-
do termo, o que só é possível em centros terciários. Nas cri- da com cautela.
ses hipertensivas, enquanto se prepara a interrupção da gra-
videz, administra-se o hipotensor para se evitarem compli-
cações graves, principalmente o acidente vascular cerebral. SíNDROME HELLP
Qpestiona-se a partir de que nível pressórico deve-se
usar o hipotensor, quanto reduzir a pressão e qual h ipoten- Na m aioria das vezes, essa síndrome manifesta-se em
sor é mais indicado na gravidez. O risco de acidente vascu- gestantes com pré-eclâmpsia. A síndrome H ELLP é u ma
lar cerebral relaciona-se diretamente à elevação da pressão variante d a pré-eclâmpsia grave ca racterizada por anem ia
arterial sistó lica, porém não independente da diastólica. A microangiopática, disfunção hepática e trombocitopen ia. 65
maioria dos pesquisadores recomenda tratamento apenas Pode-se manifestar em qualquer momento durante a
quando a pressão d iastólica é superior a lOS a li O mmHg e gravidez e no puerpério, m as, à semelhança da pré-eclâmp-
a sistólica 160 m m H g ou mais. 4 sia, é rara antes de 20 semanas. Um terço dos casos aconte-
Geral mente administra-se hipotensor quando a pres- ce no pós-parto. 66
são diastólica ultrapassa 110 mmHg, co m o objetivo de A denom inação síndrome H ELLP relaciona-se às alte-
reduzi-la para 90 a 100 mmH g. rações laboratoriais: H de hemól ise, EL (eievated liver) ele-
Baseado em sua longa história, na segurança e na efi- vação de enzim as hepáticas e LP (iow platelet) número bai-
cácia, a hidralazina é o med icamento de escolha no trata- xo de plaquetas.A comprovação de sua incidência é d ifícil.
mento das crises hipertensivas na gravidez. É preparada A síndrome HELLP, muitas das vezes, é o agravamento
d ilu indo-se uma a mpola de 20 mg (1 m i) em 19 m I de água da pré-eclâmpsia e quase sempre consequente a condutas
destilada, obtendo-se solução com 1 mg / ml. A dose inicial conservadoras adotadas na pré-eclâmpsia grave; 10% das
é de S mg pela via intravenosa, seguida de mais S a lO mg a gestações complicadas pela pré-eclâmpsia grave e eclâmp-
cada 20 a 30 mi nutos. Se a dose de 30 mg não controlar a sia são também com prometidas pela síndrome HELLP. 66
pressão, deve-se mudar para outro hipotensor6 2 A sínd ro me H ELLP responsabiliza-se por elevadas
C omo segu nda opção, geralmente administra-se o la- taxas de morta lidade m aterna e perinatal. Relata-se mor-
betalol. Sua ação se inicia em torno de cinco minutos e o talidade m aterna de até 24% e perinatal entre 30 e 40%.
pico de concentração é entre 1O e 20 m inutos, mantendo-se Mesmo com intervenção obstétrica oportu na e cuidados
por 45 m inutos a seis horas. A dministra-se em doses pro- especiais no atend imento, ainda assim podem ocorrer
gressivas de 20, 4 0 e 80 mg a cad a 10 mi nutos, até a dose morbidade e mortalidade m aterna e perinatal. 67
máxima de 300 mg ou q uando a pressão diastólica atingir O d iagnóstico é baseado no achado das alterações la-
62
n ível inferior a 100 m mHg. O labetalol não está d isponí- boratoriais, próprias da sínd ro me, encontradas em gestan-
vel comercialmente no Brasi l. tes com a sintomatologia da pré-eclâmpsia .
A nifedipina é um dos med icamentos m ais usados no O Q uad ro 25.8 descreve os achados laboratoriais ne-
controle das crises h ipertensivas na pré-eclâmpsia, devido cessários para o d iagnóstico.
à sua fáci l ad m inistração. Recomenda-se sua adm in istra- Pode-se, ainda, classificar a gravidade da sínd rome
ção pela via oral na dose de I O mg, repetida a cada 30 m i- H ELLP considerando-se o nú mero das plaquetas. Martin
nutos até se reduzir a pressão d iastólica a n íveis infe riores et ai. 68 subdividem o número das plaquetas em três classes:
a 110 m mH g. Não deve ser usada por via sublingual, pois Classe!:número de plaquetas inferior aSO.OOOm m 3 ;
leva a variações súbitas da pressão, podendo estar associa- Classe 11: número de plaquetas entre 50.000 e
da a aumento da morbimortalidade materna e fetal.63 lOO.OOOmm\
Q uestiona-se a interação da nifedipina e do sulfato de Classe III: nú mero de plaquetas superior a 100.000
magnésio usados na pré-eclâmpsia grave, que poderia de- e in ferior a LSO.OOO mm 3

418 Noções Práticas de Obst etrícia


I
Quadro 25.8 Critérios para o diagnóstico da síndrome CONDUTA
HELLP
-

Hernol1se A conduta nas pacientes com sínd rome HELLP é bas-


tante polém ica. Várias são as medidas terapêuticas descri-
Esfregaço do sangue periférico anormal: equinócitos.
esquizócitos tas para reverter esse quadro. A maioria delas é semelhante
às adotadas na pré-eclâmpsia grave, longe do termo.
Enz1mas hepat1cas elevadas
A despeito de se afirmar que a conduta conservado-
Aspartato aminotransferase (ASn ::!! 70 U/l ra na síndrome HELLP pode ser benéfica, há elevado
Desidrogenase lática ILDH) ::!! 600 U/L risco para a mãe e para o feto quando se protela a inter-
rupção: edema pulmonar, descola mento prematu ro da
Plaquetas contaqem 1Ja1xa
placenta, coagulação vasc ular disseminada, insuficiên-
Plaquetas :s; 100.000 mm3 cia renal aguda, asfixia neonatal e mortalidade materna
e fetal. 69
Nas gestações aci ma de 34 semanas predomina a con-
duta resolutiva, ou seja, a interrupção imediata da gravidez.
FISIOPATOLOG I A Nas gestações longe do termo as opiniões divergem.
Com poucas exceções indica-se a interrupção imedia-
Também na síndrome H ELLP a fisiopatologia não ta da gravidez, independentemente da idade gestacional.
está inteiramente esclarecida. Como em outras microan- A decisão de retardar o parto para adm inistrar-se a dose
giopatias, a principal alteração envolve a lesão endotel ia!. A completa de corticoides deve ser individualizada.67
ativação das plaquetas libera substâncias vasoconstritoras, As pacientes com sínd rome HELLP distante do termo
inclui ndo a scrotonina e o tromboxane A2. A agregação devem ser encaminhadas para centros terciários e o trata-
plaquetária causa mais lesões endoteliais, dificultando a mento será igual ao adotado nos casos de pré-eclâmpsia
produção de prostaciclina. Há obstrução dos sinusoides grave. A prioridade é avaliar e estabil izar as condições
hepáticos produzindo lesão hepatocelular, podendo cau- maternas.
sar hemorragia subcapsular e dor. 67 A conduta conservadora na síndrome H ELLP é difícil,
cara e perigosa. Prolonga-se por poucos dias a gestação e os
resultados perinatais são semelhantes aos obtidos na con-
S INTOMAT OLOGIA duta resolutiva.
A maioria dos autores não recomenda a conduta con-
O quadro clínico é bem variado. A sintomatologia servadora além das 48 horas de observação inicial, na qual
pode sugerir também diversas enfermidades clínicas e ci- se busca a estabilização da mãe e adm in istração de corti-
rúrgicas em órgãos abdominais. A maioria das pacientes coides para induzir a maturidade pulmonar fctal.66
se queixa de mal-estar, fadiga, náuseas e vômitos. Ocorrem
ainda prurido, icterícia e dor epigástrica. T ERAPÊUTI CA C LÍNI CA
O diagnóstico diferencial deve ser feito com hepatite, Precedendo a interrupção da gravidez, faz-se necessária
colecistite, colelitíase, urolitíase, apendicite, púrpura trom- a adoção de algumas medidas clínicas visa ndo melhorar as
bocitopênica trombótica, lúpus eritematoso sistémico e condições de gestante e reduzir os riscos de complicações:
esteatose hepática 69 Preve11çâo de convulsões: o risco de convulsões é se-
A síndrome HELLP surge, na maioria das vezes, du- melhante ao que existe na pré-eclâmpsia grave. Por
ra nte a gravidez, mas pode se manifestar também no pós- isso, logo após a internação da gestante, inicia-se a
-parto. O parto não é sempre curativo, já que em 30% dos terapêutica anticonvulsiva nte. Aqui também a op-
casos as pacientes apresentam manifestações da doença ção é o sulfato de magnésio, nos mesmos esquemas
nos dois dias (em média) subsequentes ao parto.68 já descritos para a pré-eclâmpsia grave;

Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia 419


controle da pressão arterial: nas pacientes com crises Em gestações a termo, com colo maduro e condições
hipertensivas adm inistra-se hipotensor. Os mais usa- maternas estáveis, pode ser tentada a indução do pa rto.
dos são a hidralazina, o labetalol e a n ifedipina, tam- Nas gestações longe do termo, a melhor opção é o parto
bém nos mesmos esquemas citados anteriormente; tra nsabdominal.
correção da plaquetopenia: quando for comprovado Magam & Martim relatam índice de cesa riana de 68%
acentuado decréscimo no número de plaquetas em gestações entre 30 e 34 semanas; abaixo de 30 sema-
recomenda-se sua administração antes da inter- nas, a taxa de cesariana atingiu 87%.67
rupção da gravidez. Nos partos vaginais, os níveis A cesariana, opção frequente na síndrome H ELLP,
de plaquetas devem estar acima de 20.000/ m m3 e exige algumas medidas especiais na sua realização. A la-
nas cesarianas acima de SO.OOO/ mm3 Com níveis parotomia mais recomendada é a mediana in fra umbilical.
mais baixos deve-se administrar seis a lO unidades Na Pfannenstiel há mais possibilidade de sangra mento e
de plaquetas antes do início da intervenção; e quan- formação de hematomas. A h isterotomia na ausência da
do o sangramento for maior, repete-se o esquema expansão adequada do segmento, o q ue é muito comum,
no final do parto; 67 não deve ser segmentar. A nossa opção é pela histerotom ia
administração de corticoides: nas gestações inferiores corporal se o segmento não estiver formado. Consideran-
a 34 semanas se as condições maternas permitirem; do-se o elevado risco de sa ngramento na ferida operatória
deve-se retardar a interrupção da gravidez para a de até 20%, recomenda-se a colocação de drenos com suc-
administração de corticoides, visando induzir ou ção contínua, p eritoneal e subcutâneo.
acelera r a maturação pulmonar fetal. No pós-parto há necessidade de vigilância constan-
te em relação a sa ngramento e formação de hematomas.
Magam & Martim 67 recomendam a administração ~ando necessário, administrar plaquetas.
de 10 mg de dexametasona, IV, logo que se diagnostique
a síndrome HELLP, repetindo a dose a cada 12 horas até a
interrupção da gravidez. O objetivo não é apenas induzir a ECLÂMPSIA
maturação pulmonar fetal, mas também melhorar as con-
d ições maternas. No pós-parto empregam duas doses de A eclâmpsia é a etapa final da evolução da pré-eclâmp-
1O mg de dexametasona pela via intravenosa, com interva- sia. Apesar de se afirmar que a eclâmpsia pode manifestar-
lo de 12 horas entre elas, e depois mais duas doses de S mg, se sem sintomatologia prévia, típica da pré-eclâmpsia, acre-
também de 12 em 12horas. Com esse esquema a recupera- dita mos que a si ntomatologia sempre existe, apenas não foi
ção das pacientes foi mais rápida, houve menos morbidade identi ficada no momento oportu no.
e menos necessidade de terapia intervencionista. A eclâmpsia, na maioria das vezes, é uma iat rogenia:
Estudos mais recentes reporta ram que apesar da de- falha na assistência pré-nata l; fal ha da gestante, que não
xametasona levar à recuperação mais rápida da plaqueto- procurou a assistência obstétrica no momento certo; ou do
penia, ela não diminui a morbimortalidade materna, não pré-nata lista, que não identi ficou ou não valorizou os sinais
devendo ser utilizada como rotina.66 e sintomas que precedem as crises convulsivas.
Acreditamos ser a eclâmpsia sempre evitável, apesar de
que nem todos pensem assim.
V I A DE PARTO Sibai61 analisou retrospectivamente 254 casos de
eclâmpsia e conclu iu que aprox imadamente 30% deles
Decidida a interrupção da gravidez, resta determi nar eram inevitáveis.
qual a via mais recomendável, com menos risco; se a trans- A eclâmpsia caracteriza-se pela ocorrência de uma ou
pélvica ou a transabdominal. ma is convu lsões em gestantes com pré-eclâmpsia, não
A síndrome H ELLP, por si só, não exige cesariana. O portadoras de doenças neurológicas que possam justificar
parto pode ser induzido em gestação superior a 32 sema- as convu lsões.
nas. Contudo, se as condições para indução forem desfavo- Exames de imagem mostram que, assi m como na ence-
ráveis, deve-se considerar a realização da cesariana.67 falopatia hipertensiva, na eclâ mpsia ocorre perda da autorre-

420 Noções Práticas de Obstetricia


gulação do fluxo sanguíneo cerebral, com edema vasogênico mum, deve-se oferecer 0 1 por máscara facial a 8-10 L/min.
em 93 a 100%das pacientes.Areas de infartos e hemorragias A ox.imetria de pulso também deve ser realizada e, caso a
focais também já fora m observadas em autópsias. 61 saturação de 0 2 caia abaixo de 92%, a análise dos gases ar-
Existem, na atualidade, duas teorias que tentam ex- teriais deve ser pedida, pois pode ocorrer acidose em fun-
plicar as convulsões eclâmpticas: hiperfluxo e vasoespas- ção da hipoxemia.
mo.61 De acordo com a pri meira, o aumento da pressão ar- Além disso, deve ser administrado o sulfato de magné-
terial leva inicialmente à vasoconstrição. Ent retanto, uma sio para tratar as convulsões. Os esquemas propostos para
vez que o limite da autoregulação é atingido, verifica-se a utilização do MgS04 no tratamento da crise convulsiva
vasodilatação cerebral, levando à hiperperfusão local com são os mesmos usados na sua prevenção.
edema (intersticial ou vasogênico) subsequente. A investigação laboratorial para avaliar a ocorrência da
De acordo com a teoria do vasoespasmo, a hipertensão síndrome H ELLP deve ser feita.
arterial leva à perda da autorregulação do fl uxo ccrebrat A crise hipertensiva também deve ser tratada. Geral-
com subsequen te isquemia, edema citotóx.ico e infarto. 61 mente admi nistram-se hipotensores quando a pressão
A incidência de eclâmpsia é de quatro a cinco casos por diastólica ultrapassa 110 mmHg. O objetivo é reduzi-la
10.000 nascidos vivos nos países desenvolvidos e de seis a para 90-100 mmHg.
100 casos por 10.000 nascidos vivos nos países cm desen- Os hipotensores recomendados são a hid ralazina, a ni-
volvimento.-0 fedipina e o labetalol, cm doses semelhantes às utilizadas
O diagnóstico da eclâmpsia, na maioria das vezes, é fá- no controle da pressão em mulheres com pré-eclâmpsia
cil e imediato: convulsões em gestantes com pré-eclâmpsia grave.
sem uso de anticonvulsivantes, as quais, no in ício, come- Após a estabilização da paciente, pode-se preocupar
çam e param espontaneamente. São quase sempre prece- em realizar o parto - trata mento definitivo da eclâmpsia.
didas de cefaleia intensa e persistente, de distúrbios visuais Na eclâmpsia anteparto, a extração pela via abdominal é a
e de dor epigástrica. mais aconselhável: a indução pode ser demorada, agravan-
As crises convulsivas podem surgir na gravidez, no mo- do ainda mais as condições maternas. Na eclâmpsia intra-
mento do parto ou no pós-parto. Contudo, são mais fre- parto e em casos selecionados, pode-se conduzir o parto.
quentes antes do parto. Em função da hipóxia materna durante a crise convul-
Aproximadamente metade dos casos de eclâmpsia siva, o surgimento de bradicardia fetal é comu m e não deve
acontece durante a gravidez. Destes, cerca se 20% antes de ser utilizada como ind icação para o parto imediato. Com
31semanas de gestação. Quase sempre, as convulsões ces- a estabilização materna, a frequência cardíaca fetal tende a
sam poucas horas após o parto. Contudo, existe a cclâmp- se recuperar. A persistência da bradicardia fetal por mais de
sia tardia, que se manifesta com mais de 48 horas e menos IOa IS minutos após o controle da convulsão materna leva
de quatro semanas após o parto.-1 à suspeita de descolamento de placenta e, então, a extração
fetal imed iata se faz necessária.
Nas eclâmpsias pós-parto, uma das medidas reco-
CONDUTA mendadas é a curetagem uterina, visando remover todo o
tecido placentário - membranas e/ ou cotilédones - que
O tratamento defi nitivo da eclâmpsia é a extração do estiver retido na cavidade uterina e que contribui para a
feto e de seus anexos. Mas, durante a crise convulsiva, o ob- persistência das convulsões.
jetivo é estabilizar a mãe o mais rapidamente possível para A remoção imediata do feto e de seus anexos faz com
garantir seu bem-estar e o do feto. que cada vez menos haja a necessidade do sulfato de mag-
A paciente deve ser contida para evitar lesões, coloca- nésio. A medicação anticonvulsivante deve ser mantida
da em decúbito lateral para evitar aspiração de secreções por 24 horas após o parto. Nos casos em que após a inter-
e uma espátula pode ser colocada entre os dentes para que rupção da gravidez, mesmo com o emprego de sulfato de
não haja lesão nos mesmos ou na língua. A utilização da magnésio, as convulsões persistam, recomenda-se a subs-
cânula de Guedel é opção ideal para proteção da língua. tituição desse medicamento por anticonvulsivantes mais
Como du rante a crise convulsiva a hipoventilação é co- potentes, como fenitoína ou benzodiazepínicos.

Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia 4 21
Nas crises recorrentes, Norwitz et a/. 4 recomendam 250 O primeiro dado a chamar a atenção é o aumento súbito
a SOO mg de fenitoína pela via oral ou intravenosa, repetida da pressão arterial emgestantes,nas quais os níveispressóri-
após 12 horas ou, então, diazepam na dose de lO mg/ hora cos estavam controlados, com ou sem o uso de hipotensores.
em infusão intravenosa. Cont ribuem também para o diagnóstico o aparecimen-
Nos casos mais graves, recomenda-se a transferência to da proteinúria e, principalmente, o au mento rápido de
da paciente para centros de terapia intensiva, isto após a seus níveis, ganho ponderai importante e rápido e queda
interrupção da gravidez. Na maioria das vezes, no entanto, acentuada das plaquetas. Apesar de na maioria das vezes
sendo possível mon itoração adequada das condições ma- essa superposição se manifestar mais tard iamente na gesta-
ternas, não há necessidade dessa t ransferência. ção, Rey & Couturier73 observaram que em 5% das pacien-
O Qyadro 25.9 resu me as medidas a serem adotadas tes isso ocorreu ent re 20 e 24 semanas de gestação.
em caso de eclâmpsia. Sibai33 sugere como elementos para o diagnóstico o apareci-
mento de proteinú ria, o aumento da pressão arterial, o edema e a
Quadro 2S .9J Conduta na eclâmpsia
hiperuricemia. Nas pacientes com hipertensão arterial crônica,
1. Contenção materna para evitar lesões os hipotensores não previnem a superposição de pré-eclâmpsia.
2. Decúbito lateral esquerdo para melhorar retorno venoso e A frequência foi similar nas mulheres recebendo hipotensores
evitar aspiração antes da gravidez e as que não fizeram uso (23,7 e 17,4%).
3. Máscara facial com 02 a 8-1 OL/min A superposição da pré-eclâmpsia à h ipertensão arterial
crônica aumenta a mortalidade perinatal, a prematuridade
4. Monitoração dos sinais vitais maternos (oximetria de
e o crescimento intrauterino restrito. A incidência de mor-
pulso, PA, FC)
talidade perinatal foi estatisticamente mais elevada nas
5. MgS04, na dose de ataque de 6g EV em bolus lento mulheres com pré-eclâmpsia superposta n
6. Controle da crise hipertensiva (hidralazina EV)
7. Programar parto após estabilização materna
PREVENÇÃO
8. Transferência para o CTI no pós-parto
9. Manter o MgS04 por pelo menos 24 horas Se a pré-eclâmpsia in icia-se com a implantação do tro-
PA = pressão arterial; FC= frequência cardíaca; EV =endovenoso; foblasto, como se acredita atualmente, a única maneira de
CTI =centro de terapia intensiva.
preveni r a doença seria impedindo a gravidez, o que na prá-
tica é inadmissível.
PRÉ-ECLÂMPSIA SUPERPOSTA À O que se tem tentado, sem sucesso, é alterar a evolução
HIPERTENSÃO ARTERIAL CRÔNICA da pré-eclâmpsia, reduzindo suas complicações. Medidas
as mais va riadas já fo ram propostas, adotadas e abandona-
das; em nada in fluí ram na evolução da pré-eclâm psia. Isso
Em pacientes sabidamente hipertensas podem surgir du- aconteceu com as dietas assódicas, hipossód icas e até m es-
rante a gravidez sintomas e sinais próprios da pré-eclâmpsia. mo hipersódicas; com o uso de diuréticos, hipotensores e
Em I 5 a 30% das pacientes com hipertensão arterial crô- sedativos; com o aumento da ingestão de líquidos; redução
n ica ocorre a associação com pré-eclâmpsia.A frequência da do ganho ponderai; e internações periódicas das gestantes.
superposição da pré-eclâmpsia varia de 5,2 a 18,4% na hiper- Na década de 70, estudos experimentais mostraram
tensão moderada e de 54 a I 00% na hipertensão crôn ica gra- que, na pré-eclâmpsia, em algum momento ocorrera m al-
ve. A discrepância observada na incidência pode ser explica- terações na produção de dois dos derivados do ácido ara-
da pelos diferentes critérios utilizados para o diagnóstico da quidônico - as prostaciclinas e o tromboxame.
hipertensão arterial crônica e da pré-eclâmpsia superposta 71 Essas alterações levam ao desequilíbrio da produção
A distinção entre pré-eclâmpsia superposta e o possível de prostaciclinas, p redomin ando o tromboxane A2, sabi-
agravamento da hipertensão arterial crôn ica é difícil, prin- damente vasoconstritor, agregador plaquetário e estimu-
cipalmente naquelas gestantes com assistência pré-natal lador da atividade uterina, características essas frequentes
inadequada. na pré-eclâmpsia. Diante desses fatos, acred itou-se que,

422 Noções Práticas de Obst etrícia


estimulando-se a produção das prostaciclinas e/ ou redu- não foram eficazes em reduzir a incidência de pré-eclâmp-
zindo-se a produção de t romboxane, seria possível impedir sia e não devem ser adotadas de rotina. 43
a evolução da pré-eclâmpsia, conseguindo-se, assim, pre-
venção secu ndária. Isto seria possível com o emprego de
ant i-inflamatórios, entre eles o mais acessível, mais barato SEQUELAS EM LONGO PRAZO
e mais fácil de ser usado é o ácido acetilsalicílico (AAS).
Metanálise de 59 estudos (37.560 mul heres) info rmou Estudos epidemiológicos identificaram relação entre
que, em pacientes com risco aumentado de pré-eclâmpsia a h istória de pré-eclãmpsia e o desenvolvimento de doen-
(pacientes com pré-eclâmpsia grave e/ ou C IUR de in ício ças cardiovasc ulares. É possível que a disfunção endotelial
precoce em gestação anterior, portadoras de doença vascu- grave pela qual essas pacientes passa m durante o período
lar e pacientes com trombofilias), o uso de AAS em baixas da doença possa potencializar uma cascata de eventos que
doses (100 mg/ d ia) reduz em 17% a recorrência da doença levaria à aterosclerose?6
(R R=0,83 - 1C9S%: 0,77 a 0,89), diminuindo também o Outra possibilidade é a de que a pré-eclãmpsia seja
risco de nascimento antes do termo (RR=0,93 - IC95%: apenas a man ifestação inicial de um fenótipo associado ao
0,88 a 0,97) e o ri sco de morte fetal e neonatal ( RR=0,86 - surgimento precoce de doenças cardiovasculares.'6
4
1C95%: 0,76 a 0,98)? Revisão sistemática de estudos q ue avaliaram o risco
A suplementação com 2 g de cálcio por dia em popula- de doenças cardiovasculares em pacientes com h istória de
ções com deficiência desse mineral e pacientes de risco para pré-eclâmpsia relatou que estas apresentavam risco aumen-
hipertensão gestacional também levou à redução da inci- tado de desenvolver hipertensão (RR=3,70 - IC95%: 2,70
dência de pré-eclâmpsia (RR=0,36 - IC95%: 0,18 a 0,70)?; a 5,05), isquemia miocá rdica (RR=2, 16 - IC9S%: 1,86 a
Essas duas medidas (uso de aspirina e suplementação 2,52), AVC (RR=l,81 - IC95%: 1,45 a 2,27) e tromboem-
de cálcio) podem ser usadas atualmente, a p artir de 14 bolismo venoso ( RR= l,79 - IC95%: 1,37 a 2,33). O surgi-
semanas, como tentativa de impedir o surgi mento da pré- mento dessas doenças foi notado num período de observa-
·eclâmpsia em pacientes de risco, mas não se justificam na ção de cinco a IS anos e acredita-se que os riscos podem ser
população em geral. ainda mais altos se o período de observação for estendido.-6
Outras med idas como suplementação de vitami nas E O Q uadro 25.1Oresume as evidências cientí ficas sobre
e C, magnésio, óleo de peixe e aconselhamento nutricional o acompan hamento da pré-eclàmpsa/ eclâmpsia.

I
Quadro 2 5 .10 Evidências sobre pré-eclâmpsia/ eclâ mpsia
N1vel de G1 au de
01JJei1VO lnte1 vencao
ev1dencJa recomendaçao
Prevenção Aspirina em baixas doses reduz a incidência de pré-eclampsia em populações de risco 1A A ·,

Suplementação de cálcio (2 g/dia) reduz a incidência de pré-eciAmpsia em 1A A


populações com dieta deficiente I
Predição Doppler de artérias uterinas seleciona pacientes com risco aumentado de 38 8
pré-eciAmpsia, porém com baixa sensibilidade I
Tratamento Osulfato de magnésio é omelhor medicamento para a prevenção e tratamento 1A A
da eclampsia e deve ser usado em todas as pacientes com pré-eclampsia grave
eeciAmpsia
Anti-hipertensivos são eficazes em prevenir complicações em
I
1A A
gestantes com crise hipertensiva I
A administração de corticoide em gestações menores que 34 1A A
semanas diminui a mortalidade perinatal !
A conduta expectante em pacientes com pré-eclampsia grave, longe do termo. 28 8
pode ser tentada em pacientes bem selecionadas I

Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia 423


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Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia 425


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426 Noções Práticas de Obstetrícia


26 Doença Hemolítica Perinatal
Mário Dias Corrêa júnior
Mário Dias Corrêa

Etiologia Assistência à Gestante não Imunizada


Causas Imunológicas Assistência Pré-natal
Incidência Assistência ao Parto

Fisiopatologia Prevenção da Aloimunização Rh


Indicações
Assistência ao Casal com
Assistência Pré-natal à Gestante Imunizada
Incompatibilidade Rh Anamnese
Exames Complementares
Conduta

doença hemolítica perinatal (DHP) é ocasiona- imaturas encontradas na circulação e no fígado. Esse qua-

A da pela destruição das hemácias fetais, levando


ao surgimento de anemia intraútero e hiperbi-
lirrubinemia no recém-nascido que, por sua vez, resultam
dro se refere a uma fase mais grave da anemia e representa
apenas pouca percentagem dos casos de DHP. 1
Aaloimunização evolu i de maneira d iferen te, peculiar;
em índices elevados de morbi mortal idade perinatal. não apresenta sinais, nem sinto mas, não causa ndo proble-
A principal causa de DHP é a aloi munização R h, quan- mas na gestante. Contudo, fetos normais sofre m alterações
do anticorpos maternos contra os antígenos R h das hemá- mórbidas progressivas, que podem ser leves c que desapa-
cias feta is atravessa m a placenta, provocando hemól ise. recem completamente após o nascimento; ou, então, com-
O avanço do conhecimento sobre a doença levou tam- prometi mentos graves, que podem determinar seu óbito
bém a mudanças na sua nomenclatura. O termo "aloirnuni- ou do recém-nascido.
zação" passou a ser empregado no lugar de '' isoimunização", A história dessa doença pode ser d ividida em ci nco
por traduzir melhor o fato de que anticorpos "externos" de- etapas: 2
sencadeiam a doença. Da mesma manei ra, o acometimento Era da observação: identifica-se a doença, porém,
do concepto passou a ser chamado de doença hemo!ítica não se conhece sua etiologia, nem como tratá-la;
perinatal, em substituição ao termo "doença hemolítica era da razão: descobre-se sua causa, o antígeno ~h e
do recém-nascido", por refletir o diagnóstico mais precoce, como ela acontece: passagem transplacentá ria do an-
ainda dentro do útero. A doença também já foi chamada de tígeno nas hemácias feta is para a circulação sanguí-
eritroblastose fetal, devido ao elevado número de células nea materna, c ujas hemácias não têm esse antígeno;
era do tratamwto: descoberta a etiologia c a fisio- tígeno presentes nas superfíciesdashemáciasjá foran,
p.ltologia, tornou-se possível tratar a doença. A !acionados ao surgimento da doença hemolítica perinata.
solução inicial era retirar o feto prematuramente c A aloimunização materna pelo fator Rh acontece LJUM1·
tratar o recém-nascido com exanguineotransfu são. do as hcmácias R h positivo (hemácias que possuem o antí-
Com o progrcs os da propcdeutica na década de geno D em ua superfície) entram n.l circulação sanguínea
50 e a introdução do estudo espectrofotométrico da mulher Rh negativo, estimulando seu sistema imune a
do líquido Jmniótico, tornou-se po sívd selecionar produzir anticorpos contra tal antígeno. Isso é possível nas
feto para tratamento intraútcro c os que deveriam situações segui ntes:
ser retirados antes do término de gestação e trata- Na tmnsfusrio de sangue ilrcompatível: embora muito
dos externamente. Avanço ma rcante nessa era foi rara, ainda acontecem: fulhas humanas na elas incação
.1 possibilidade de tratar fetos gravemente compro- do sangue do doador e do receptor; excepcionalmente,
metidos com a transfusão de sangue intrautenna; em emergênci:ts cm que se necessita de transfusão ur-
era da preve11çtio: surgiu, finalmente, a era da preven- gente e não existe sangue compatível no sistema Rh;~
ção. Esta se tornou possível desde o início da décad.1 durante a gravide::.: hemorragias feto-maternas, comuns
de 60, com a descoberta e a posterior comprovação durante a gestação, determinam que hemãcias fetais Rh
clínica da utilidade da imunoglobulina humana positivo penetrem na circubção materna, cuj.ls bcm,í-
Rh(D) na prevenção da isoimu nização Rh(D); cias são Rh ncg,ltivo. Essa imun izaç5o ocorre cm 1,3%
era do diagnóslrco 11ão invastvo: com o advento da ul- d.1s gestações~.:, quase sempre, no terceiro trimestre;'
trassonografia e, principalmente, da dopplervdoci- no parto: é quando existe mai possibilidade de .lloi-
mctria, passou a ser possível diagnosticar a anemia munização, em aproximadamente 92% das vezes.'
letal sem a necessidade de procedimentos invasivos. Esse risco au menta nas cesari.1nas, na extraç5o ma-
Avanços nos testes genéticos permitem determinar nual da pl.lcenta, nas hemorragias intraparto (de\CO-
o grupo anguíneo do feto a partir de exames reali- Iamento prem.lturo da placenta, placenta prévia) e na
zados no sangue da mãe. gravidez gemei ar;
anli.'Sdo nasCÍIIICIIIo. ilrfmútero: existe rbco teórico qu:m-
A eliminação d.1 doença hemolítica Rh tornou-se pos- do fetos Rh ncg,ltivo recebem sangue Rh positivo de
sível desde o advento da imunoglobulina Rh(D).' O utras sua mãe pela transfusão transplacentária materno-fc-
causas de OH P continuam sem forma de prevenção. tal ou, então, na gravidez gemei ar com fetos com~.: sem
Adoença R.h, causa mais comum da DHP, tecnicamente é o fàtor Rh. A sensibilização intraútero é muito r.1ra. O
100%prcvcnível e esse deve ser o nosso objetivo. Para alcanç:\- sistema imunológico do feto é imaturo e, geralmente,
lo, é necessário reconhecer as pacientes de risco e adotar as me- não é capaz de reconhecer os antigenos maternos nem
dida. recomendadas. la pdtica, no ent,mto, a imunização pelo de produzir anticorpos. Recém-na ·ciclos Rh negatrvo
fator Rh ainda acontece por falhas na assistência obstétrica. fi lhos de mães Rh positivo tiveram títulos de anticor-
pos anti Rh(D) detectados portécnicas especi.lis.6

ETIOLOGIA
S JSrl ,\.IA RH
A DHP ocorre em função da destruiçáo ou f.1lha na
produção das hemácias fetais. Causas imunológicas, gené- O fator Rh foi descoberto cm 1940 por Landsteincr c
ticas, infeccio as e hemorrágicas já foram descritas. Wicner. Em 1946, Fisher e Race propuseram que os princi-
pais ant ígenosdo grupo Rh{D, E, c, C e c) eram codificados
por três alelos (D/-, C/c c E/e)l. Em 199 1, Chcrif-Zahar ct
CAUSAS IMUNOLÓGICAS a/. localizaram o /ows do grupo Rh no braço curto do cro-
mo omo 1.- Apenas dois genes foram identificado - RhD
O antígeno D do grupo Rh é o principal respons.\vd e RhCE, derrubando a teoria de Fisher e Race de que três
pela hemólise intrauterina. Contudo, mais de SO outros an- gene · distinto codi ficari,\m os principa is antígenos do gru-

428 Noções Práticas de Obstet rícia


po Rh. Cada gene tem lO éxons de comprimento e existe Apredisposição genética também influi na incidência. Até
uma homologia de 96% entre eles, sugerindo que ambos 30% dos indivíduos Rh negativo não respondem imunolo-
são oriundos da duplicação de um gene ancestral comum. A gicamente; não se sensibilizam, mesmo quando estimula-
produção de duas proteínas distintas pelo RhCE provavel- dos com grandes volumes de sangue Rh positivo. 12
mente ocorre devido a uma divisão do RNA mensageiro.8 A incompatibilidade no sistema A BO exerce proteção
Existem diversas variações do antígeno O, chamados O parcial contra a sensibilização Rh. Na primeira gestação
fracos ou O parciais, segundo o tipo de expressão. O tipo mais com incompatibilidade no sistema ABO e feto Rh positi-
conhecido de D fraco é a variante OU. Esta variante pode ser vo, a incidência de imunização é de somente I a 2%. Parece
falsamente tipada como Rh negativo. Isto tem importância que as hemácias incompatíveis no sistema ABO são rapi-
clínica, uma vez que eritrócitos DU positivo podem estimu- damente elim inadas da circulação materna, antes que haja
lar a produção de anticorpos antiRh(O) em indivíduos Rh a sensibilização pelo fator Rh.13
negativo, o que pode levar a falhas na prevenção com a imu- A hemorragia transplacentária feto-materna desempe-
noglobulina Rh(O). Indivíduos Rh(D) negativo, mas OU nha importante papel na incidência da imunização. Cerca
positivo, devem ser acompan hados como Rh(D) positivo.9 de 50% dos partos normais apresentam hemorragia trans-
placentária antes ou durante o parto. 14
Se a quantidade de sangue é inferior a 0,1 mi, a incidência
ÜUT ROS SlSTEMA de imunização até seis meses após parto é de somente 3%. Se
mais de 0,1 mi entra na circulação materna, a incidência é de
Além dos antígenos dos sistemas Rh e ABO, nossas aproximadamente 14%. Para as mu lheres Rh negativo, inde-
hemácias apresentam em sua superfície uma série de ou- pendentemente da hemorragia transplacentária, na primeira
tros antígenos de menos importância, por serem menos gestação com feto Rh positivo e compatível no sistema ABO o
comuns ou por apresentarem menos antigenicidade (capa- risco é de 7 a 8%. Na segunda gestação, o risco é de IS a 16%.14
cidade de estimular a produção de anticorpos). Mais de 50 Intercorrências gestacionais como cesariana, extração
antígenos já foram descritos na superfície das hemácias.10 manual da placenta, sangramento por placenta prévia e des-
Com a crescente aplicação da profilaxia antiRh(D) nos colamento prematuro da placenta ou gravidez gemelar podem
últimos anos, a aloimunização por outros antígenos tem determinar hemorragias transplacentárias significativas. 15 A
ganhado mais importância. O Quadro 26.1 apresenta os maioria das hemorragias feto-maternas excessivas ocorre em
antígenos de superfície das hemácias, de acordo com sua ca- pacientes sem fator de risco e que têm parto vaginal sem com-
pacidade de provocar hemólise no feto.10 plicações. Nenhum fato clínico ou da história da gestante pode
predizer as pacientes de risco identificável para qualquer tipo
de hemorragia feto-materna. Isto foi demonstrado examinan-
INCIDÊ NCIA do-se 186 gestantes Rh negativo com fetos Rh positivo. 15
O sexo do feto pode ser um fato r determ inante da imu-
A incidência da aloimu nizaçáo materna pelo fator Rh nização. Durante a primeira gravidez, observou-se predo-
é in Auenciada por vários fatores. A raça exerce inAuência mi nância de imunização nos fetos do sexo masculino. 16
na incidência: na raça branca, de origem europeia, aproxi-
madamente IS% da população são R h negativo; na negra,
os números variam de 5 a 8%; e nos asiáticos é de I a 2%. 11 FISIOPATOL OGIA
Na raça branca, a possibilidade do casal ser incompatí-
vel no sistema Rh é de cerca de 10%, podendo chegar a 13% A aloimunização materna pelo fator R.h resulta da for-
na população em geral. 11 mação de anticorpos anti R.h na sua circulação sanguínea.
O Rh do feto é fator decisivo na isoimunização. Os anticorpos são produzidos quando as hemácias fetais
Dos homens Rh positivo, cerca de 60% são heterozi- com o fator Rh positivo (antígcno D) entram na circulação
gotos e 40% são homozigotos. Como os heterozigotos vão materna, através de hemorragias transplacentárias, estimu-
determinar chance de 50% do feto ser Rh positivo, a possi- lando seu sistema imune. As hemorragias transplacentá-
bilidade global do feto ser Rh positivo é de cerca de 70%. 11 rias acontecem em aproximadamente 75% das gestantes. 17

Doença Hemolítica Perinatal 429


I
Quadro 26.1 Antígeno de uperfície da hemá ra e ... continuação
ua cap.lCidadc de provocar doença hemolítica perinatal
S1stt~tnd AtllllJf~'w
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·----- Are posta primária é lenta, geralmente leva vária e-
C. Ce. CW. C•. ce m.mas para se desenvolver, é fraca c predominantemente
o· produz lgM (anticorpos lgM não atravcs am a placenta).
1----
E. Ew. Evans. e Após a resposta primária, qu ando ocorre a segunda ex posi-
ção a hemácia Rh po itivo, a respo ta imu nológica ecun-
G. Go" 1 d ária é rápida (d ias), mu ito forte e produz lgG, que cruza

Rh ~ Hr. Hr·= ----- - - - - --1 a placenta. Essa segunda exposição pode ocorrer com um
JAL volume m ínimo (fração de mi).''

IHOFM Quando a lgG cruza a placenta, ela e liga à hcmácia


fetal Rh posit ivo e produz hemólise extravascu lar, prim a-
LOCA riamente no baço. A medida que a hemólt e aumenta, o
RN,Rh29, Rh32.Rh42. Rh46 feto responde aumentando a produção de hemácias, pri-
mariame nte no fígado e no baço. O título (q uantidade) c .1
STEM
ligação constante (avidez para o ant1D) do antígeno mater-
Tar no determinam o grau de hemóli c c, portanto, a gravidade
Continua ... da doença hemolítica. Em 50% dos casos o compro meti-

430 Noções Práticas de Obstet rícia


mento do feto é tão leve que o recém-nascido sobrevive -nascidos vivos e sem problemas ou recém-nasci-
sem tratamento. Em 25% das vezes, os fe tos estão em boas dos ictéricos, exigindo algu m tipo de tratamento
cond ições no final da gravidez, porém, após o nascimento, - fototerapia, transfusão ou exanguineotransfusão;
ou morrem de kernicterius ou sobrevivem com distúrbios história de recém-nascidos hidrópicos, nati mortos
mentais graves. O s demais 25% têm graus mais elevados de ou neomortos. Em casos de abortamentos, se foram
hemólise e desenvolvem hidropisia. 1- espontâneos ou induzidos, com ou sem curetagem
0 in ício da resposta primária depende tanto da fre- uterina. O utro dado m uito importante na h istória
quência como da quantidade das hemácias Rh positivo do obstétrica é a existência de recém-nascido sem pro-
feto que penetram na ci rculação sa nguínea materna. Do- blemas, depois de alguns acometidos. Isto sign ifica
ses de 0,1 mi de hemácias Rh positivo são suficientes para que o pai é heterozigoto e o recém-nascido não aco-
provocar a resposta pri mária. A secund ária exige doses ain- metido provavelmente é R h negativo - dado im-
da mais baixas (0,0 1 ml).18 portante no acompan hamento de outras gestações.
Finalmente, questiona-se se a gestante recebeu
a imu noglobulina Rh, popularmente conhecida
AS SISTÊNCIA AO CASAL C OM como "vacina pós-parto", em gestações anteriores.
INCOMPATIBILIDADE Rh Exame físico- em nada difere do usualmente reali-
zado na assistência pré-nata l em geral.
Exames complementares - além dos realizados de rotina,
Na primeira consu lta, comprova-se a incompatibilidade mais alguns são solicitados na gesta nte Rh negativo:
do casal no sistema Rh: gestante Rh negativo e parceiro Rh Determilwção de anticorpos Rh - prova de Coombs
positivo. A etapa segu inte é verificar se a gestante tem ou não indireta. Sua fu nção é verificar se surgiram anti-
anticorpos antiRh na sua circulação sanguínea. isto se conse- corpos antiRh (D) (ou de outros tipos) no sa ngue
gue pela determinação qualitativa de anticorpos anti R h, pro- materno. Enquanto não existi re m anticorpos na
va de Coombs qualitativa indireta. A prova negativa significa gestante, não existe risco para o fe to. Permanecen-
que a gestante não está imunizada; verificando-se o inverso, do negativo, repete-se a prova a cada quatro a seis
prova de Coombs positiva, a gestante já está imunizada. sem anas, até o final da gravidez;
Painel de hemdcias - permite identificar quais os anti-
corpos presentes na circu lação materna. Alguns anti-
ASSISTÊNC IA À GESTANTE corpos provocam formas graves e, outros, formas mais
N ÃO IMUNIZADA brandas da doença hemolítica perinatal (~adro 26. 1).
Determinação genética da zigosidade paterna - permite
determinar se o pai é heterozigoto ou homozigoto
AssiSTÊNCIA PRÉ-NATAL para o antígeno Rh(D). Caso ele seja heterozigoto, o
feto pode ser Rh(D) negativo. Esse exame ainda não
Além dos cu idados usualmente adotados na assistên- está disponível comercialmente no Brasil.
cia pré-natal, na gestante Rh negativo não imun izada al- Determinação genética do Rh(D) fetal no sangue materno
guns outros cuidados se faze m necessários: - permite, pela análise de DNA fetal circulante na cor-
Anamnese - questiona-se, sempre, se a gestante em rente sanguínea materna, determ inar se o feto possui
algu ma época de sua vida recebeu transfusão de o gene responsável pela produção do antígeno Rh(D).
sa ngue, fator de alto risco para a imun ização. Inda- Caso o feto seja Rh(D) negat ivo, não é necessário
ga-se, também, se já foi submetida a algum tipo de acompanhamento especial.
cirurgia. Nestas, há sempre a possibilidade de trans-
fusão de sangue. Ainda na a na mnese, investiga-se As Figuras 26.1 e 2 6.2 mostram o acompanhamento
a história obstétrica de pacientes que já gestaram. tradicional da gestante R h negat ivo e o acompanhamento
Nas multíparas, interessa saber como evoluíram as atual, quando os métodos de determinação genética da zi-
gestações a nteriores e como term inaram; recém- gosidade paterna e do R h fetal estão d ispon íveis.

Doença Hemolítica Perinatal 431


Acompanhamento especializado

Pai Rh(D) positivo Pai Rh(D) negativo Acompanhamento habitual


ou desconhecido

Acompanhamento especializado

Aplicar imunoglobulina antiRh(D)


Profilaxia antenatal
após o parto se RN Rh(D)
disponfvel?
positivo e coombs negativo

Aplicar imunoglobulina antiRh(D) com


28 semanas e após o parto se RN Rh(D)
L _ _ - - -• 1 Sim -------
positivo (após a aplicação da imunoglobulina
o coombs ficará fracamente positivo)

I
Figura 26. 1 Acompanhamento da gestante Rh (D) negativo pelo método tradicional.

r Acompanhamento especializado

r Aco;~nhamento habituai ]

Aplicar imunoglobulina antiRh(D)


com 28 semanas e após o parto

I
Figura 26.2 Acompanhamento da gestante Rh(D) negativo utilizando os testes de determinação genética.

432 Noções Prát icas de Obstetrícia


O acompanhamento utilizando os testes genéticos A proteção é assegurada pela destruição das hemá-
de determinação da zigosidade paterna e do Rh(D) fetal cias fetais ligadas aos anticorpos exógenos, antes
permite diminuir os gastos, uma vez que somente se con- que haja produção de anticorpos endógenos. As
tinuará a pedir o teste de Coombs indireto, mensalmente, hemácias ligadas aos a nticorpos são direcionadas
naqueles fetos que forem Rh(D) positivo. Da mesm a for- para a polpa vermelha do baço, onde são rapida-
ma, a imunoglobulina antiRh(D) será aplicada em baixo mente removidas d a circulação e destruídas antes
número de gestantes com 28 semanas se se souber qual o que o processo de sensibilização ocorra. As hemá-
Rh(D) fetal. cias não ligadas aos anticorpos exógenos circulam
até sofrerem apoptose, liberando fragmentos que
poderão chegar à polpa branca do baço, onde o pro-
A SSI STÊN CIA AO PART O cesso de reconhecimento de antígenos ocorre.
A proteção é devida principalmente ao bloqueio
Na condução do parto na gestante Rh negativo não ou ligação, no local antigênico, das hemácias fetais
imunizada, recomendam-se algumas medidas especiais, R.h positivo.
cujo valor é discutível. Deve-se cla mpar a parte fetal do cor- A proteção é por inibição central. A proteção contra
dão umbilical logo após o desprend imento fetal e deixar a formação de anticorpos se faz por um mecanismo
sem clampar sua parte placentária, permitindo que o san- de feedback conhecido como imunossupressão me-
gue do cordão escoe livremente. O objetivo dessa medida diada por anticorpos.
é reduzir os riscos de hemorragia feto-materna após o par-
to. Recomenda-se recol her o sangue do cordão umbilical Das três hipóteses, a mais provável é a primeira. 20
para se realizarem alguns exames: grupo sanguíneo e fator
Rh do recém-nascido e pesquisa de anticorpos antiRh(D)
no seu sangue, a prova de Coombs direta. No período da INDICAÇÕES
dequitação, sempre que possível, deve-se evitar a ext ração
manual da placenta. Essa manobra pode aumentar a he- A prevenção total da aloimunização materna pelo fa-
morragia feto-materna. Após o pa rto, a etapa seguinte, de tor Rh exige o emprego de várias medidas: algumas fáceis,
fundamental importância, é a administração da imuno- outras difíceis; umas práticas, outras de complicada apli-
globulina humana antiRh(D), objetivando a prevenção da cação; algumas são consensuais, outras são questionáveis;
aloimunização materna pelo fator R.h. umas de baixo c usto e outras mais onerosas. Analisaremos
as várias indicações propostas.

PREVEN ÇÃO DA ALO I MUNIZAÇÃO Rh


P ó S- PARTO
Um dos objetivos da assistência à gestante Rh negativo
não imunizada é prevenir sua imunização. Isto se tornou Foi a primeira indicação e continua sendo a ma is rea-
possível desde o final da década de 60, com o emprego da lizada. Cerca de 90% das imunizações acontecem no mo -
imunoglobulina humana Rh(D). Essa imunoglobulina Rh mento do parto. As condições para se admin istrar a imu-
parece ser um imunossupressor quase perfeito. É comple- noglobulina na puérpera são:
tamente atóxica, suprime unicamente a resposta imun itá- Paciente Rh negativo;
ria a que se dirige e não revela efeitos sobre os demais sis- parceiro Rh positivo;
temas humanos. Usada em doses adequadas e em tempo pesquisa de anticorpos antiRh (prova de Coombs
hábil, ela mostra eficácia entre 98,4 e 99%. 19 indireta) negativa durante toda a gestação;
O mecanismo de ação pelo qual a imunoglobulina hu- recém-nascido R h positivo;
mana protege a mulher Rh negativo permanece ainda in- pesquisa de a nticorpos antiRh no sangue do cor-
certo. Três são as principais hipóteses que, no entanto, não dão umbilical ( prova de Coombs direta) negativa
são mutuamente excludentes: para o fator R h.

Doença Hemolítica Perinatal 433


Se o teste de Coombs for positivo, deve-se pedir o painel tais na circulação materna. Assim, após sua admi-
de hemácias, que identifica quais são os anticorpos presentes. nistração, há o desapa recimento total das hem ácias
Se o antiRh(D) estiver presente, a sensibilização já ocorreu e a - prova de Kleihauer negativa. Se esta permanecer
imunoglobulina não deve ser aplicada, pois não trará benefício. positiva, signi fica que as doses de imunoglobulina
Se antígenos de outros sistemas estiverem presentes, aplicada não foram suficientes.
mas não o antiRh(D), a imunoglobulina deverá ser aplica- Citometria defluxo - assim como a prova de Kleihauer
da, pois pode prevenir contra a aloimunização por este fato r. (que utiliza métodos bioquímicos), serve para identi-
A dose de imu noglobulina recomendada é de 250 a 300 ficar bemácias fetais no sangue m aterno. Baseia-se
mcg.Aplica-se no músculo até 72 horas após o parto. Se, por na diferença de tamanho entre hemácias maternas e
algum motivo, a profilaxia não for realizada dentro das 72 fetais. É mais precisa que a prova de Klei hauer.
horas, sugere-se, ainda assim, administrar a imunoglobuli-
na. Deve-se tentar evitar a imunização até o 28° dia após o Bowman5 recomenda que se façam esses testes qua n-
parto, desde que o coombs indireto se mantenha negativo. 19 do há suspeita de hemorragias transplacentárias ma iores:
Metanálise com mais de 10.000 pacientes avaliando o cesariana com extração manual da placenta; hemorragias
uso da imunoglobulina antiRh(D) após o parto para pre- pré e intraparto (placenta prévia, descolamento prem aturo
venir a aloimunização demonstrou que a dose de 250 a da placenta).
300 mcg é efetiva (RR: 0,04 - IC95%: 0,02 - 0,06)_21 Como os fatores de risco só identificam 50% dos casos
As doses usuais de imunoglobulina administradas no de hemorragia maciça, outros autores recomendam que o
pós-parto são capazes de evi tar a imunização em torno de teste de roseta seja feito como triagem em todas as pacien-
85 a 90% dos casos. 22 Grandes hemorragias transplacentá- tes, seguido da prova de Kleihauer ou citometria de Auxo
ri as exigem doses mais altas de imunoglobulina. naquelas com teste de roseta positivo, para quantificar a
Existem evidências de que a dose de 300 mcg de imu- hemorragia.15
noglobulina previne a imunização se a hemorragia feto-
-materna for de até 25 m i de sangue Rh positivo ou de 12
ml de hemácias fetais.22 NA GRAV IDEZ
É importante identificar as pacientes que tiveram gran-
des hemorragias feto-maternas para determinar a necessi- O risco de imunização durante a gravidez é alto (1,6
dade de serem administradas doses mais altas de imuno- a 1,8%).22 Nos Estados Unidos e no Canad á o índ ice de
globulina. Hemorragias maiores que 30 mi vão ocorrer em imunização antes do parto é de I a 2%.23 A sensibilização
0,06% das pacientes.U durante a gravidez ocorre devido a pequenas roturas de
Com o diagnóstico de hemorragia transplacentária ma- vasos placentários que possibilitam a passagem de sangue
ciça (pela prova de Kleinhauer), deve-se admin istrar 300 do feto para a mãe. As hemorragias fe to-maternas (HFM)
mcg em hemorragias inferiores a 25 ml; de 600 mcg, quan- ocorrem em até 25% das gestações, m as geralmente a
do for entre 25 e 49 mi e de 900 mcg entre 50 e 74 ml. 22 quantidade de sangue que entra na circulação materna é
Apesar do risco de fa lha com 300 mcg pós-parto ser bai- insuficiente para provocar a sensibilização. Podem ocorrer
xo, se se deseja o acompanhamento ideal, seria conveniente em qualquer momento da gestação, sendo mais comuns
averiguar se essa dose foi adequada. Essa pesquisa deve ser no terceiro trimestre. Sua incidência é estimada em 3 a 8%
rea lizada entre 24 e 48 horas após a administração da imu- no pri meiro trimestre, 12 a 18% no segundo trimestre e 25
noglobulina. Para isso, se dispõe dos seguintes recursos: a 43% no terceiro tri mestre. O risco de sensibil ização du-
Teste da roseta - reação de aglutinação que permi- rante a gestação é m ais alto no terceiro trimestre, pois, além
te identificar hemácias fetais no san gue materno. das HFM serem mais comuns nesse período, o volu me da
É usado como teste de triagem e não quantifica o hemorragia também pode ser maior. Aproximada mente
volume da hemorragia. 0,5% das mulheres vai apresentar hemorragia superio r a 5
Prova de Kleihauer - identifica e quantifica hemá- mi no terceiro trimestreH
cias fetais na circulação materna. O objetivo d a D iante do risco de imunização dura nte a gravidez,
imunoglobulina Rh(D) é destruir as hem ácias fe- recomend a-se a administração da imunoglobulina Rh n as

434 Noções Práticas de Obstetrícia


gestantes Rh negativo não imunizadas. Deve-se adminis- O ABORTA M ENTO E A AMEAÇA D EABORTAME TO

trar 300 mcg de imunoglobulina Rh(D) a toda gestante


Rh negativo não imunizada na 28·1 semana de gestação, Existe risco de imunização nos abortamentos e até
repetindo-se a dose no pós-parto, quando o recém-nascido mesmo na ameaça de abortamento, quando a gravidez
for Rh positivo. 22 A meia-vida dos anticorpos é de aproxi- continua sua evolução. A circulação fetal se estabelece pela
madamente 12 semanas. quarta semana d e gestação e o antígeno Rh já foi demons-
Estudo aval iando a efetividade da dose de 300 mcg ad- trado na hemácia fetal após 38 d ias da concepçãoi 8
minist rada na 28• semana de gestação e após o parto mos- O risco de imu n ização nas pacientes com abortamen-
trou que a taxa de sensibilização no grupo que recebeu as tos espontâneo ou induzido é de 3 a 6%, aumentando com
duas doses foi de 0,32% contra 1,8% no grupo que recebeu o avançar da idade gestacional. 28
apenas a profilaxia no pós-parto (redução de 82%). 25 Todas as mulheres Rh negativo não sensibilizadas de-
Em cerca de 40% das gestantes Rh negativo o recém- vem receber 50 mcg de imunoglobulina R h até 72 horas
-nascido também é Rh negativo e, portanto, não haverá após abortamento induzido ou espontâ neo e que aconteça
necessidade de imunoglobuli na. 22 no prim eiro trimestre. No segundo trimestre, com 13 se-
A imunoglobulinaadministrada na gravidez geralmen- manas ou mais, rotineiramente se deve administra r a dose
te produz t ítulos de antiD de 1:1 ou I :2. Com esses títu los, total de 250 a 300 mcg. 11
os recém-nascidos não são comprometidos com hemólise A a meaça de abortamento no primeiro trimestre pare-
ou anemia, se bem que em pouca percentagem deles apare- ce aumentar o risco de sensibilização. Já foi descrito caso
ça coombs fracamente positivo. de sensibi lização após ameaça de abortamento no primei-
No Reino Unido, utiliza-se um protocolo alternativo ro trimestre. 11
no qual 100 mcg de imunoglobulina são aplicados com Como no nosso país não existe a dose de 50 mcg, uti-
28 e 34 sem anas de gestação e no pós-parto. Esse esque- liza-se a de 250 a 300 mcg no abortamento, independen-
ma permite baratear os custos, pois menos quantidades de temente da idade gestacional. Na ameaça de abortamento,
26
imunoglobulina são empregadas. recomenda-se administra r a dose de 250 ou 300 mcg. Se a
gravidez prossegue, repete-se a dose a cada 12 sema nas, até
o final da gravidez.
RECÉM - l ASCI DO DO SEXO F EMI I o Rh EGATI VO,
FILHO DEMÃERH Posmvo - T EORIA DA Avó
ÜUTROS TIPOS D E H EMORRAGJAANTEPARTO
Estudos no sangue capilar de recém-nascido de um ou
dois dias de idade mostraram em torno de 2% de hemorra- Em todo tipo de hemorragia intragestJcional, reco-
26
gia materno-feta\. menda-se a adm inistração da imunoglobulina. Toda ges-
Bowen c Renfield 27 recolheram sangue do cordão um- tante Rh negativo não imunizada, com hemorragia antes
bilical de 63 recém-nascidos Rh negativo filhos de mães do parto sem perda do concepto tem risco de hemorragia
R h positivo. O estudo do sangue dessas mesmas crianças, transplacentária e, portanto, de imu nização. Deve-se ad-
entre um e nove meses de vida, salientou que sete das 63 ministrar uma dose completa de imunoglobulina Rh e
(11%) apresentava m título de anticorpos antiRh(D). Con- repeti-la a cada 12 semanas até o parto. 22
tudo, isso só foi possível utiliza ndo-se técnicas especiais, o Na placenta prévia com sa ngramento e nos procedimen-
auto mwlyser - aparelho que permite detectar qua ntidades tos terapêuticos invasivos - amniocentese, cordocentese,
mínimas de anticorpos. biópsia de vilo-corial - em gestantes Rh negativo não imu-
Pesquisas mais recentes refutam essa teoria. Apesar de nizada, recomenda-se adm inistrar a imunoglobulina Rh.
ser teoricamente possível, na prática, o sistema imune do Na placenta prévia, o esquema também é de 300 mcg e, se o
feto e do recém-nascido é imaturo e não p roduz anticor- parto não acontecer dentro de 12 semanas, repete-se a dose.
pos contra as hemácias maternas. Atualmente, o uso da Toda gestante Rh negativo não imunizada submetida à
imunoglobulina não é recomendado em men inas Rh(D) am niocentese deve receber 300 mcg de imu noglobulina, a
negativo nascidas de mãe Rh( D) positivo.' 9 não ser que o pai também seja Rh negat ivo. A dose deve ser

Doença Hemolítica Perinatal 435


repetida 12 semanas depois, se não houver o parto, ou em mulheres Rh negativo, em fase reprodutiva. Quando isso
seis semanas, se fo r realizada outra amniocenteseN ocorre, deve-se tentar evitar a imunização. Recomenda-se
ad min istrar 10 mcg de imunoglobulina Rh(D) para cada
mi de sangue incompatível transfundido.
NA G RAVID EZ ECTÓPl CA

Uma vez que o antígeno Rh(D) está presente nas he- ANT ICO RPOS PRESE t TES NA CIRCU LAÇÃO MATER NA
mácias fetais desde a sexta semana de concepção, existe
risco potencial de sensibilização na gravidez ectópica. Pelo Não se adm inistra imunoglobulina em gestantes Rh
30
menos um caso já foi relatado. negativo com anticorpos antiRh presentes na sua circula-
Em nove das 38 (24%) mulheres com gravidez ectópica ção sa ng uínea. A imunoglobul ina, além de não proteger a
rota, entre seis e 1Osemanas de gestação, encontrou-se signi- mãe, pode aumentar a aloimu nização. Contudo, existe uma
28
ficativo número de hemácias fetais na circulação materna . exceção, quando se detecta m anticorpos em níveis muito
Recomenda-se que toda gesta nte Rh negativo não ba ixos e por meio de técn ica especial, auto-analyser; esses
imunizada, com gravidez ectópica, seja tratada com imu- a ntico rpos não representam imu nização verdadeiran
noglobulina Rh. 3 1 Gesta nte Rh negativo com ant icorpos detectados so-
mente p elo auto-analyser devem receber imunoglobulina
na grav idez e depois do parto, se o recém-nascido for Rh
NA DOENÇA T ROFOBLÁ ST! CA GESTACIONAL positivo.22
O Quadro 26.2 resu m e as indicações pa ra a aplicação
Recorrendo a técnicas especiais por imunofluorescên- da imunoglobulina antiRh(D).
cia, Goto 32 demonstrou a presença do antígeno Rh na vi-
losidade corial da placenta hu mana de gestação entre 12 e
14 semanas. A antigenicidade da hemácia aumenta com a ASSISTÊN CIA PRÉ- NATAL À
maturidade fetal.
GESTANTE I MUNIZADA
Embora haja controvérsias, recomenda-se a adminis-
tração da imunoglobulina na mola h idatiforme embrio-
nada, mas, na anembrionada, questiona-se seu emprego. Presença de anticorpos antiRh no sangue de gestante
Acredita-se que a imunoglobulina Rh não seja necessária Rh negativo significa que ela já está imun izada. Sua assis-
na mola hidatiforme; contudo, seu uso não é prejudicialn tência pré-n atal tem que ser especial, diferenciada, visando
ev itar problemas graves no feto e/ ou no recém-nascido.

NA LAQUEADURA TU BÁRIA
ANAMNESE
Mulheres Rh negativo não imunizadas, em idade repro-
dutiva e submetidas à laqueadura tubá ria pós-parto devem A anam nese, etapa inicial da assistência pré-natal, já
receber a imunoglobulina Rh(D). Existe risco de falha na la- pode fo rnecer inform ações úteis, sugeri ndo a g ravidade da
queadura ou, então, posteriormente, a mulher pode subme- imunização.
ter-se à reanastomose das trompas e engravidar novamente. Nas nulíparas, o único dado úti l é a história de transfu-
são.Jánas mu ltíparas, a história obstétrica pode ser rica e m
informações: recém -nascidos com icterícia necessita ndo
NA TRANSPU ÃO DE SA 1GUE I NCOMPATÍVEL de tratamento - foto terapia, transfusão ou exanguineo-
tra nsfusão - ou recém -nascido, nati morto ou neomorto.
A causa m ais grave de imunização pelo fa tor R h é a trans- A histó ria pode, ainda, revela r um recém-nascido com
fusão de sangue incompatível. Apesar de todos os cuidados problemas e out ro sem q ualquer complicação - certa-
adotados, transfusões incompatíveis ainda acontecem em m ente R h negativo - , o que su gere ser o pai heterozigoto.

Noções Práticas de Obstetricia


Quadro 26.2 I Indicações e doses da imunoglobulina PA INEL DE H EMÁCIAS
antiRh(D)
lnd1cação Identifica quais anticorpos são responsáveis pela aloi-
munização e permite programar o acompanhamento à
Pós-parto
gestação de acordo com a probabilidade daquele anticor-
Gestante Rh(D) negativo po provocar hemól ise.
Récem-nascido Rh(D) positivo

Coombs indireto negativo DETERM l 1 AÇÃO QUA NTITATl VA DEANTICORPOS


Coombs indireto positivo se recebeu imunoglobulina A 'T IRh : PROVA DE(OOMBS INDIRETA Q uA T ITATIVA
durante a gestação ou se o painel de hemácias mostrar
sensibilização por outro antígeno que não o Rh(D) Foi a primeira prova utilizada na pesquisa de anticor-
Mesmo se for realizada a ligadura tubária J pos antiRh na circulação sanguínea da gestante e con-
tinua sendo o pri meiro passo na avaliação da gestante
Durante a gestação
Rh(D) negativo imunizada. A despeito das técnicas de
Gestante Rh(D) negativo realização desse exame terem evoluído, ainda não existe
Feto Rh(D) positivo ou desconhecido consenso em relação aos seus níveis críticos, ou seja, a par-
tir de quais níveis seria necessário utiliza r outros recursos
Coombs indireto negativo
propedêuticas para se saber realmente qual o grau de ane-
Profilática na 2aa semana (ou 28" e 348 semanas) mia fetal. Os resultados variam entre os laboratórios. Se os
Pós-sangramento na gestação títulos de anti D inicial forem inferiores a 1:8 e não houver
história de recém-nascidos afetados, pode-se acompan har
Abortamento a gestação com determinação de anticorpos a cada duas
Gravidez ectópica ou quatro semanas, realizando-se avaliação ultrassono
Gravidez molar gráfica seriada do feto_-~ 3
Títulos superiores a I :8, realizados em laboratórios
Ameaça de abortamento
confiáveis, indicam a necessidade de estender a propedêu-
r Placenta prévia tica, pois o feto já está em risco de desenvolver a hidropisia.
Pós-procedimentos na gestação Em alguns centros médicos, principalmente no Reino
Unido, a quantidade de anticorpos circulantes é medida pelo
I Amniocentese
auto-analyse1: Por essa técnica, as hemácias são misturadas com
Biópsia de vi lo corial agentes para au mentar a aglutinação pelo antígcno antiD. As
células aglutinadas são separadas das não aglutinadas e, então,
Cordocentese
lisadas. A quantidade de hemoglobina liberada é comparada
I Cirurgia fetal a um padrão e os resultados são expressos cm unidades inter-
Pós-transfusão incompatível nacionais (UI) por mililitro. O limite de IS Ul/ ml é utilizado
para recomendar os testes invasivos; abaixo desses níveis, ge-
I Mulher Rh(D) negativo
ralmente a doença hemolítica do recém-nascido é leve. 33
Coombs indireto negativo

ANÁL ISE Es PECTROFOTOMÉTRJ CA


EXAMES COMPLEMENTARES DO LfQU IDO AM IÓTICO

Somente recorrendo-se a determi nados exames com- Em 1956, Bevis observou que as concent rações de
plementares se consegue avaliar as condições fetais e seu bilirrubina encontradas no líquido amniótico correlacio-
grau de comprometimento. nava m-se com a hemólise das hemácias fetais e, portanto,

Doença Hemolítica Perinatal 437


com sua anemia. Propôs, então, a análise espectrofotomé- O líquido amniótico é obtido por amniocentest
trica do líquido amniótico para determinar a anemia fetal cedimento invasivo que não é isento de riscos. Os risco
nas gestantes Rh negativo imunizadas. amniocentese são: rotura prematura das membranas, p•
A espectrofotometria avalia o desvio da luz (densi- to pré-termo1 infecção, hemorragia, morte fetal e aumentt
dade ótica) no comprimento de onda de 450 nm, sendo, dos títulos de anticorpos ocasionados pelas hemorragias
por isso, conhecida como ~OD4SO. A luz se comporta de feto-maternas. 35.36
uma maneira quando o líquido am niótico está límpido Corrêa relatou taxa de complicações de 7,8%em 1.424
e é desviada de forma diferente quando contém a bilir- amniocenteses realizadas para a avaliação de gestações
rubina resultante da hemólíse. Essa variação é que per- aloimunizadas. As complicações encontradas foram: pun-
mite determinar a quantidade de bilirrubina presente no ção hemorrágica (5,6%), parto prematuro (0,8%), rotura
líquido e avaliar o grau de hemólisc com base em gráficos prematura de membranas (0,6%), pu nção branca (0,4%)
específicos. e descolamento prematuro da placenta (0,1%). A ta.xa de
A partir dessas observações, esse exame foi incorpora- perda fetal foi de 0,3%. Observou-se, ainda, hemorragia
do ao acompanhamento das gestantes Rh negativo imuni- feto-materna ern 1796 das pacientes submetidas à amnio-
zadas, sendo utilizado até o início do século XX!, quando o centese. Em 19,6% destas, a hemorragia foi superior a I ml,
avanço das técnicas não invasivas possibilitou que os testes o que poderia levar ao agravamento da doença 3 7
invasivos fossem menos utilizados. Ainda hoje, em locais Para interpretar os resultados da análise espectrofoto-
onde a propedêutica não invasiva ai nda não está disponí- métríca do líquido amniótico, foram criados vários gráfi-
vel, a avaliação do líquido amniótico tem valor e, por isso, cos. O primeiro foi o de Líley, posteriormente modificado
será discutida a seguir. por RobertsonJs Atualmente, o gráfico mais aceito é o
Os títulos de anticorpos antiRh e a história obstétrica proposto por Qyeenan et al.. 39 Esse gráfico é dividido cm
são os dois parâmetros que indicam a época de ser feita a quatro zonas, considerando-se fetos com 14 semanas ou
primeira análise do líquido amniótico. Se os títulos de an- mais de gestação (Figura 26.3).
ticorpos estão nos níveis críticos e, na história obstétrica, Na zona I, a mais inferior do gráfico, estão os fetos Rh
os recém-nascidos anteriores não tiveram problemas, a negativo e, portanto, não comprometidos. Para ter garantia
primeira amniocentese pode ser realizada entre 28 e 29 de que o feto permanece nessa zona, faz-se outra amnio-
semanas de gestação. Se os títulos ou a história sugerirem centese. Se o resultado confirma a permanência, é possível
formas mais graves, faz-se a amniocentese mais cedo. 34 aguardar o parto a termo.

0.20
Risco de morte intrauterina
ec 0.18
oU')
0.16
::!:.
ro
u
·:;::;
0.14
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-o
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OJ
0.08
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ro 0.06
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0.04 Rh negativo
i! não comprometido
o 0.02
000
14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40
Semanas de Gestação

Figura 26.3 I Gráfico de Qj.1eenan.

Noções Práticas de Obstetrícia


Na zona intermediária, metade dos fetos é Rh negativo, AVALIAÇÃO IÃO l VASlVA DAA EM lA FETAL
mas existem também fetos Rh positivo leve ou modera-
damente comprometidos. D evem ser realizadas a nálises Em fu nção dos riscos dos proced imentos invasivos,
seriadas a cada duas a quatro semanas, dependendo da si- desde a década de 60 vem se buscando uma ma nei ra de
tuação clínica. diagnostica r com segurança a anemia fetal, por meio de
Na tercei ra zona, encontram-se os fetos Rh positivo procedi mentos não invasivos. Vários métodos já foram es-
comprometidos. Nessa zona, raramente existem fetos Rh tudados e, mais recentemente, a dopplerveloci metria tem
negativo. Muitos necessitam ser seguidos por avaliações recebido mais atenção dos pesquisadores (Qpadro 26.3).
seriadas a cada uma ou duas semanas. Outros podem se
beneficiar com a realização da cordocentese para determ i- Quadro 26.3 1Métodos não invasivos para avaliar a anemia
nar a gravidade da anemia. O s fetos Rh positivo podem fetal
estar moderada ou gravemente comprometidos. Card1otocoç] 1<1f1a
Na zona superior estão aqueles com risco de morte
Ultr nssonogr nfrn
intrauterina: ou são tratados dentro do útero - transfusão
intraútero- ou são retirados- interrupção da gravidez. Sinais de hidropisia
Diêmetro da veia umbilical
Comprimento do ffgado
ESTUDODOSA GUEFETAL
Perfmetro esplênico
É possível a colheita do sa ngue fetal por cordocentese Medida do diametro biventricular externo
e, assim, a determi nação de seu tipo sanguíneo, o hem ató- Ooppler velo c rmetrr<J
crito e a existência ou não de anticorpos - teste de Coom-
bs direto. Contudo, a colheita do sangue na veia umbilical
Veia umbilical
não é f.-lcil, exigindo habilidade e experiência. Aorta torácica
A cordocentcse apresenta risco ainda ma is alto de per- Dueto venoso
da fetal do que a amn iocentese. O risco geral de perda fetal
Artéria esplênica
após a cordocentese foi de 1,4% em revisão da literatura
feita por Ghid ini et a/..40 Os autores relataram, ainda, que Artéria cerebral média
a compl icação mais comum após a cordocentese foi a he-
morragia no cordão, ocorrendo em até 41% das punções,
mas durando, na grande maioria das vezes, menos de 60 se- Os métodos não invasivos têm também o objetivo de
gundos. Outras complicações foram o surgimento de he- detecta r a anemia feta l a ntes do desenvolvimento da hi-
matomas (17%), bradicardia (3,1 a 12%), trabalho de parto dropisia, po is o feto hid rópico responde pior ao t rata mento
pré-termo (7%), infecção (1%) e descolamento prematuro que o não hidrópico. As adaptações que o feto sofre para
de placenta (um caso em 731 pu nções revisadas). compensar a anem ia se instalam segu ndo o grau da hemó-
41
Bowman et a/. demonstraram que 57% das pacientes lise e d a a nemia.
submetid as à cordocentese apresentavam hemorragia feto- O diagnóstico não invasivo da an emia fe tal baseia-se
-materna variando de 0,03 mi a mais de 5 mi. Em 50% das nas alterações fisiopato lógicas que o feto a nê mico sofre.
pacientes sensibilizadas houve aumento da titulação dos Essas alterações são m etabólicas, he m atopoiéticas e he-
anticorpos de duas a nove vezes. O s autores concluíram modinâmicas.
que a cordocentese aumenta o risco de agrava mento da Nicolaides et a/.42 estabelecera m, med iante resu ltados
doença e que o ideal seria fazer o acompanhamento dessas de estudos de cordocentese, que o valor da hemoglobina
gestações com a combinação de a mniocentescs e ultrasso- fetal é, em média, 12 g/dL com 20 semanas e 16 g/d L
nografias, reservando-se a punção do cordão para procedi- com 40 semanas. Portanto, para que um feto seja classi-
mentos terapêuticos. ficado como anêmico, não se deve utilizar um valor fixo

Doença Hemolítica Perinatal 439


da hemoglobina. Por isso, criou-se o conceito do déficit Com o déficit acima de 7 g/dL, ou anemia grave, o feto
de hemoglobina, cuja definição de anemia seria baseada começa a apresentar hipoalbuminemia e aumento da pressão
na diferença entre a hemoglobina média e a hemoglobina na veia porta, devido à obstrução dos sinusoides hepáticos,
encontrada no feto. O percentil 2,5 corresponde a um dé- pela produção extramedular de hemácias. Pode, então, perder
ficit de 2 g, independentemente da idade gestacional; e as líquido para o espaço extravascular, formando derrames em
anemias moderada e grave seriam observadas com déficit diversas cavidades, como a abdomi nal, pleural e pericárdica,
de Se 7 g, respectivamente. quadro conhecido como hidropisia, característico da forma
Partindo-se do valor normal da hemoglobina e che- mais grave da doença. A ultrassonografia diagnostica a hi-
gando ao déficit de 2 g/ dL, o feto passa a apresentar alte- dropisia por intermédio da visualização dos derrames fetais,
rações hemodinâmicas para compensar a anemia, como o do aumento da espessura placentária e do volume de líquido
aumento do débito cardíaco. A diminuição da viscosidade amniótico. Pode mostrar, ainda, o aumento da área cardíaca.
sanguínea, provocada pela diminuição do hematócrito e O doppler venoso pode revelar sobrecarga e insuficiência car-
associada ao débito cardíaco aumentado, leva ao estado díaca e a cardiotocografia identifica a hipóxia miocárdica.2
hiperdinâmico do feto, que pode ser detectado ao doppler. Geralmente, não se encontram fetos com déficit de he-
O estudo da velocidade do sangue nos vasos fetais permite moglobina superior a lOg/dL, porque esse valor está asso-
diagnosticar o grau de anemia. 2 ciado a óbito intrauterino 2
Com déficit de hemoglobina acima de S g/dL, o feto A Figura 26.4 ressalta as principais alterações sofridas
apresenta alterações hematológicas, como a produção ex- pelo feto anêmico e os exames utilizados para avaliá-las.
tramedular de hemácias no fígado e baço e a liberação para O método não invasivo mais utilizado na atualidade é
o sangue das formas imaturas (eritroblastos) que fazem o doppler da artéria cerebral média. Esse exame tem várias
parte da síndrome clássica da doença hemolítica perinatal características que o aproximam do ideal. É de fácil execu-
que, por isso, também é chamada de eritroblastose fetal. A ção, de ampla disponibilidade e capaz de detectar a anemia
ultrassonografia detecta o aumento de fígado e baço pro- fetal em estágios iniciais, permitindo a instalação de trata-
vocado pela hematopoicsc cxtramcdular.2 mento precoce. Além disso, a posição da artéria cerebral

Anticorpos Maternos

1
Anemia ---

Óbito

Figura 26.41 Métodos utilizados no diagnóstico da anemia fetal.

440 Noções Práticas de Obstetrícia


média permite sua insonação em ângulo próximo de zero dade mediana para a idade gestacional, o valor preditivo
- fundamental para a avaliação da velocidade sanguínea, positivo na predição da anemia fetal moderada e grave era
que utiliza uma fórmula baseada no cosseno do ângulo, de 100%, com taxa de falso-positivo de apenas 12%.
cujo valor é I (avaliação ideal) quando o ângulo é zero. Estudos posteriores confi rmaram que a medida do
Para a adequada avaliação da anemia fetal, alguns cri- PYS na ACM era um método superior aos outros não in-
térios devem ser observados para a realização do doppler vasivos no d iagnóstico da anemia fetal, com a vantagem de
(Quadro 26.4 e Figura 26.5).43 ser menos agressivo. 45
Como o doppler de ACM avalia a consequência he-
modinâmica da anencia fetal (aumento da velocidade de
Q!.ladro 26.41 Critérios para avaliação da anemia fetal pelo fluxo), ele serve também para avaliar a anemia por outras
doppler da artéria cerebral média causas que não as imunológicas. Essa técnica já foi empre-
Feto em repouso e apneia gada com sucesso no acompanhamento de fetos anêmicos
devido a outras causas, tais como: infecção pelo parvovírus
Ampliação da imagem o suficiente para visualizar todo o
trajeto do vaso 819;46 hemorragias feto-maternas maciças;47 transfusão
feto-fetal nas gestações gemelares;48 e aloimunização pelo
lnsonação com ângulo o mais próximo de zero e sempre inferior
fator Keil. Esta última não provoca hemólise e, por isso, não
a 300 (para ângulos entre Oe 300 usar o corretor de ângulos)
é detectada pela espectrofotometria do líquido amniótico,
lnsonar o vaso próximo de sua origem. no poligono de Willis mas sim bloqueio na produção medular de hemácias. 49
Delimitar o pico da velocidade sistólica manualmente A predição da anemia fetal pelo doppler de AC M tem,
Fazer três medidas e utilizar a maior delas no entanto, algumas limitações. Em gestações aci ma de
34 semanas, a avaliação se torna menos confiável devido
a mudanças na hemodinâmica fetal. Outra limitação é a
avaliação da anemia após transfusão intrauterina, uma vez
que a introdução de hemácias de adulto na circulação fetal
altera as propriedades reológicas do sangue (viscosidade e
densidade), modificando a interpretação do doppler.·o
Para solucionar tais problemas, o grupo de pesquisado-
res da UFMG vem trabalhando com a associação de mar-
cadores não invasivos. A associação de parâmetros não in-
vasivos permite avaliar outros aspectos da fisiopatologia da
anemia fetal e aumentar a acurácia diagnóstica. A avaliação
do aumento da área cardíaca, a partir da medida do diâmetro
biventricular externo (DBVE) do coração do feto, mostrou-
Figura 26.5 I Doppler da artéria cerebral média. Ver prancha
-se um bom parâmetro para avaliar a anemia fetal, mesmo
colorida.
depois de o feto ter recebido transfusões intrauterinas.s'
Seis parâmetros são utilizados, sendo atribuídas notas
Após a obtenção do valor do pico da velocidade sis- a cada parâmetro alterado, formando um escore de avalia-
tólica (PVS), utiliza-se a tabela proposta por Mari et a/44 ção não invasiva (Quadro 26.6).
para determinar o grau de anemia fetal (Qyadro 26.5). Se Se a soma da nota for inferior a dois, o valor prediti-
a anemia for moderada ou grave, está indicada a transfusão vo negativo do escore é de 100% e o feto não se encont ra
intrauterina ou a interrupção da gestação, dependendo da anêmico. Com notas superiores a três, o valor preditivo
idade gestacional. positivo é de 100%, sendo significativa a chance de o feto
Mari et a/.44 demonstraram que quando o PVS na ar- apresentar anemia moderada ou grave, estando indicada a
téria cerebral média era superior a 1,5 múltiplos da veloci- cordocentesc para transfusão intrauterina.' 2

Doença Hemolítica Perinatal 441


czyadro 26.5 J Pico da Velocidade Sistólica e Grau de Anemia CoNDUTA
Fetal
A deci ão qua nto ao momento de real ização do parto
ou do tratamento do feto depende do grau da anemia fetal
e da idade ge 'tacional. Três são as condutas na gestante Rh
negativo imu nizada:
A i tência ao parto espontâneo a termo;
interrupção prematu ra da gravidez;
tratamento intrauterino.
15 20,2 26,1 30,3 31 ,3
16 21,1 27,2 31.7 32.7
~------~----~-- A 1ST~, C l A AO PARTO Esro TÂ EO A TERMO
17 22,1 28,5 33.2 34,3
18 23.2 29.9 34,8 36,0 A gravidez pode evoluir até o termo, aguardando-se o iní-
cio espontâneo do trabalho de parto nas seguintes situaçõe :
19 24,3 31,3 36,5 37.7
Fetos Rh negativo, com pai heterozigoto, identifica-
20 25,5 32,9 38.2 39,5 dos pela tipagem intraútero;
21 26.7 34.4 40.0 41.4 Fetos Rh positivo, pouco comprometidos, compro-
vado por qualquer dos recursos propedêutico uti-
22 27,9 36.0 41,9 43,2
lizados, tais como: títulos de anticorpos abaixo do
23 29,3 37.8 43.9 45.4 níveis críticos; estudo do líquido amniótico na zona
24 30.7 39,6 46.0 47,6 inferior de Q!eenan; acompan Iumento não invasi-
vo mostrando baixa probabilidade de anemia.
25 32.1 41.4 48.2 49,8
26 33,6 43.3 50.4 52.1
l TER RUPÇÃO P REMAT U RA DA GRAVIDEZ
27 35,2 45.4 52.8 54,6
28 36,9 47.6 55.4 57.2 Em gestações acima de 34 semanas, com acompanhamen-
29 38.7 49,9 58.0 60,0 to não invasivo e/ ou espectrofotometria alterados, a interrupção
está indicada. A corticoterapia para amadurecimento do pul-
30 40.5 52,2 60.7 62.8 mão fetal pode ser utilizada se os testes indicarem imaturidade.
31 42.4 54.7 63,6 65.7
32 44.4 57.3 66.6 68,8
TRATAI'Vl i::.NTO l TRAUTER I O
33 46,5 60.0 69,8 72.1
34 48.7 62.8 73,1 75.5 Nos fetos comprometidos em gestações abaixo de 34
semanas, a conduta é seu tratamento intraú tero. Este con-
35 51.1 65.9 76,6 79.2
sisteem tran fu ão desanguc nofcto, vi :wdodiminuir ua
36 53.5 69,0 80.2 82,9 anemia até que ele atinja maturidade uficicnte para serre-
37 56,0 72,2 86,8 tirado do útero. E c trata mento, idealizado e realizado por
84.0
Liley, em 1963, vem endo util izado com resultados cada
38 58.7 75,7 88,0 91,0 vez melhore . Inicialmcntc, o angue era injetado na cavida-
39 61,5 79,3 92,2 95,3 de abdominal do feto (transfusão intraperitoneal). A partir
da década de 80, utilizando- c a ultrassonografia para guiar
40 64.4 83,1 96.6 99.8
o procedimento, pas ou- e introduzir o angue diretamen-
MoM = Múltiplos da mediana; PVS =pico da velocidade sistólica. te no va os do cordão umbilical (transfusão intrava cular).

442 Noções Práticas de Obstetrícia


Quadro 26.61 Escore não invasivo para predição da anemia fetal
Pontue1cão do cscotc
Vc~ttdvets Ex<1111P Alte1 e1do
Ex<Hne Notlllill Ex<lllJe Alte1 aelo

DBVE,/Femur o 1 DBVE/Fêmur ~ 0,60 I


Cardiotocografia o 1 CTG não Reativa
Doppler da ACM o 1 PVS > 1,5 MoM
Ooppler da artéria aorta o 1 V. média > p95
Doppler do dueto venoso o 2 SV/CA>p95
Doppler da veia cava inferior o 2 CAISV>0.37 I

ACM =artéria cerebral média; CA =contração atrial; CTG=cardiotocografia; DBVE =diâmetro biventricular externo; PSV= pico da velocidade sistólica: SV =sístole ventricular.

As taxas de sobrevida va riam de 76 a 94%. A sobrevida Em fetos não hidrópicos, geralmente são feitas duas
perinatal dos fetos não hidrópicos ult rapassa 90% e apro- transfusões em intervalo de I5 dias, para garantir a corre-
xi madamente 75% dos hid rópicos sobrevivem após o tra- ção da anemia. Depois disso, são realizadas novas transfu-
tamento." sões a cada três a quatro semanas, até 34 semanas, quando
A transfusão de sangue intrauterina é recu rso extremo a gestação é interrompida. 54
para tratar fetos gravemente comprometidos. Só deve ser A taxa de queda do hematócrito é de aproximadamente
realizada em centros de referência, por equipe médica ha- 2% por dia, após as transfusões. Depois de algumas trans-
bilitada e experiente. fusões, a maioria do sangue circulante no feto passa a ser
A transfusão está indicada se o hematócrito fetal for proveniente de doador e não dele próprio, o que diminui
inferior a 30% ou o déficit de hemoglobina superior a 5 a taxa de hemólise, reduzindo-se a necessidade de novas
mg/ dL para a idade gestacional. O tipo de transfusão mais transfusões, mas pode levar também a bloqueio na produ-
utilizado é a intravascular. Por essa técnica, a veia umbili- ção de novas hemácias. o acompanhamento neonatal,
cal é puncionada com uma agulha (20 gauge) guiada pela geralmente são realizadas transfusões periódicas até que a
ultrassonografia. Os melhores locais para a punção são a medula tenha se recuperado.
inserção placentária do cordão e a inserção no abdome do Fetos com hidropisia podem apresentar descompensa-
feto. Sempre que possível, a punção transplacentária deve ção cardíaca após a transfusão, por isso recomenda-se que o
ser evitada, pois ela apresenta altas taxas de complicações. hematócrito final na primeira transfusão não exceda 25% ou
O objetivo da transfusão intravascular é elevar o hemató- au mento de quatro vezes nos valores pré-transfusionais. Com
crito para 50 a SS%. isso, o objetivo na primeira transfusão é elevar o hematócrito
O sangue a ser transfundido é o O Rh(D) negativo e para 25%. Realiza-se a segunda transfusão em 48 horas para
negativo também para outros antígenos, caso a sensibiliza- elevar o hematócrito para 35% e a terceira em uma semana,
ção seja por antígenos irregulares, sendo também negativo para atingir os 50%, caso a hidropisia tenha dcsapa recido.5 4
para infecções. O sangue é lavado para remover os possíveis
anticorpos e concentrado para atingir hematócrito de 70
a 80%, possibilitando que menor volume seja infundido, F ENOBARBI TAL PARA A CELERAR
diminuindo-se os riscos de descompensação cardíaca fetal A MATU RIDADE H EPÁTlCA
após a transfusão, por hipervolemia. Além disso, os leucó-
citos são retirados (deleucotização) e o sangue é irradiado Após o nascimento, o principal problem,l do recém-
para prevenir uma reação do tipo enxerto versus hospedeiro. -nascido (RN) filho de mãe aloimunizada passa a ser a
O volume de sangue a ser transfundido pode ser cal- hiperbilirrubinemia, pois, enquanto ele ainda está dentro
culado com a seguinte fórmula: 53 volume para transfusão do útero, a bilirr ubina passa pela placenta e é eliminada
= 18,2 + 13,4 x hemoglobina pré-TI U + 6xiG (semanas). pela mãe. No RN pré-termo, com fígado ainda imaturo,

Doença Hemolítica Perinatal 443


o acúmulo da bilirrubina pode levar ao desenvolvimento conjugar e eliminar a bilirrubina. Em estudo com 7 1 ges-
de kernicferus, resultando em sequelas permanentes para tantes aloimunizadas, um grupo recebeu 30 mg de feno-
aquele indivíduo. O tratamento da hiperbilirrubinemia é a barbital três vezes ao dia por sete a 10 dias antes do parto
troca total do sangue do neonato - com hematócrito baixo e outro não recebeu medicação. No grupo tratado, 9% dos
e bilirrubina alta - por meio da exsanguineotransfusão. RNs necessitaram de exsanguineotransfusão, enquanto
Algumas pesquisas mostraram que a administração no grupo não tratado o procedimento foi realizado em
de fenobarbital para a mãe pode reduzir a necessidade de 52% dos casos - redução de 75%.55
exsanguineotransfusão, devido à hiperbilirrubinemia no A Figura 26.6 resume a conduta na gestante Rh(D) ne-
recém-nascido. O fenobarbital estimula a enzima gluron il gativo sensibilizada e o Quadro 26.7 mostra as principais
transferase no fígado do RN, au mentando a capacidade de evidências sobre o assunto.

' Coombs lndireto Positivo I

Acompanhamento habitual

Sim

Feto Ah(D) negativo

Feto Rh(D) positivo


ou desconhecido

Doppler de ACM ou Escore


não invasivo a cada 1-2 semanas.
a partir de 20 semanas

~---------]~
Exames alterados ,...

Exames
I < 34 semanas 1 2! 34 semanas sem alteração

nu periódicas até 34-35 semanas


lnterrupçlo 1·2 semanas apósa última

Figura 26.6 1Conduta na gestante Rh(D) negativo sensibilizada.


ACM =artéria cerebral média; T IU = transfusão intra-uterina.

444 Noções Práticas de Obstetrícia


Q!Iadro 26.7 1 Evidências no acompanhamento da aloi munização

ObjeliVO l11tervencao N1vel de ev1denc1il Grau ele recomendação

Profilaxia no pós-parto 18 A I
Profilaxia antenatal (28 semanas) 28 8 I
Prevenção
Profilaxia após eventos possivelmente 38 8
I sensibilizantes I

I Teste de Coombs 38 8 I
Espectrofotometria de liquido amniótico 38 8 I
Predição da anemia fetal
Doppler de artéria cerebral média 38 8 J
I Determinação pré-natal do Rh fetal 38 8 I
I Transfusão intravascular é preferível à 2A 8
intraperitoneal I
Tratamento
Transfusão intravascular é associada à 38 8
I sobrevida > 90% I

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Noções Práticas de Obstetrícia


Hidropisia Fetal não Imune
Renato Augusto Moreira de Sá
Hermógenes Chaves Netto
Luciana de Barros Duarte

Etiologia Conduta
Fisiopatologia Tratamento lnespecífico
Diagnóstico Tratamento Específico
Avaliação Inicial Básica Acompanhamento da Vitalidade Fetal
Avaliação Materna Acompanhamento Materno
Avaliação Fetal Prognóstico

, Ahidropisia fetal, uma vez identificada, deve ser consid-

E
a hid ropisia fetal doença caracterizada por re-
tenção ano rmal de líquido em toda a economia erada emergência obstétrica, exigindo imediata investiga-
do concepto e que se inicia por derrame seroso ção diagnóstica e, quando possível, terapêutica adequada.
ou por edema dos tecidos moles. No geral, define-se como Atenção especial deve ser dada à sequência dos eventos
hidrópico o feto que apresenta acúmulo híd rico em mais que caracterizam a hidropisia não imune, pois a ordem e
de um de seus compartimentos orgânicos (abdome, pleu- a intensidade do acometimento dos vários setores da eco-
ra, pericárdio, derme), associado ou não à polidramnia e nomia fetal podem orientar o diagnóstico etiológico, usu-
ao edema placentário. Conquanto o derrame isolado em almente difícil.
uma das cavidades do organismo fetal possa acontecer no
estágio inicial da doença, tal ocorrência, por si só, nâo car-
acteriza a hidropisia, por exibir etiologia, conduta e prog- ETIOLOGIA
nóstico próprios.
Ao contrário da hidropisia fetal imune, que decorre d a As causas de hidropisia feta l não imune são d iversas
incompatibilidade sanguínea materno-fetal e que possui e incluem numerosos distúrbios maternos, fetai s e/ ou
rotinas de acompanhamento mais bem-definidas, abor- placentários. Pode ser determinada antes do nascimento
dada em outro capítulo deste compêndio, a hidropisia nâo em 50 a 85% dos casos, 0,5 a 0,8% é classificada como
imune resulta de fatores mú ltiplos, no mais das vezes de idiopática, mesmo após a necropsia. 1 A prevalência dos
origem fetal, que cursam segundo modelo s distintos e que pri ncipais fatores etiológicos varia de país para país. As-
pedem por condutas individualizadas, frequentemente sim, a alfa-talassemia responde pela maioria dos casos da
controversas. Incide em I: I. SOO a I :4.000 partos.'·5 doença em determinadas regiões da Asia, na l nd ia e no
leste do Mediterrâneo. Já a síndrome nefrótica prevalece J á as arrit m ias não relacionadas à lesão anatómica
na Finlândia, a doença cardíaca congestiva nos Estados respondem por 32%: 25% são taquiarritmias e 7%
Unidos e a deficiência de glicose-6-fosfato na Sardenha. bradiarritmias. 14•15 Estas últimas podem decor-
A hidropisia fetal ident ificada antes de 24 sem a- rer de blo queio cardíaco completo ou de doença
nas está usua lmente associada à a neuploidia ou à insu- do tecido conectivo card íaco, como no lúp us er-
ficiência cardíaca. O Qpadro 27.1 lista as moléstias que ite matoso sistémico e na poliarterite; 11
se associa m m ais frequentemente à hidropisia fetal não causas cromossomiais: dos casos de anomalias cro-
imu ne. 6 •7 Entre elas, merecem considerações especiais as mossômicas responsáveis pela hidropisia fetal, 42%
que se seguem: são representados pela síndrome de Tu rner (45X),
Infecções congênitas: diversos são os agentes infecciosos 34% pela trissomia do 21, 9% pela trissomia do 18 e
responsáveis pela hidropisia fetal não imune. Podem 5% pelas triploidias e demais trissomias; 11 •16
acometer o concepto, diminuindo a síntese proteica causas de origem torácica e pulmonar: destacam-se a
ou causando lesão hepática, por meio da hemólise ou malformação adenomatoide cística pulmonar, o
aplasia de células vermelhas, levando à a nem ia fetal e/ sequestro pulmonar, a hérnia diafragmática direita,
ou m iocardite. O agente infeccioso mais comum é o o teratoma, as cond rodisplasias, a atresia de laringe
parvovírus Bl9 (eritrovírus-humano); 8-10 com hiperinsufl ação pulmonar, o quilotórax e o h i-
anemias: a talassemia, a deficiência de glicose- drotórax;17-20
6-fosfato desid rogenase e a aplasia primária de gestação geme/ar: nesses casos, o diagnóstico merece
células vermelhas, entre outras causas de anemia considerações especiais e a definição da etiologia
fetal, aumenta m a hematopoise hepática, compro- é fu ndamental. Em fe tos dizigóticos, a causa pro-
metendo a função do fígado, diminuindo a síntese vavelmente não se relaciona à gemelaridade, mas,
proteica e produzindo hipertensão portal e con- qua ndo monozigóticos, além de todas as causas
gestão da víscera. A talassemia responde por 55% para gestações únicas, é expressiva a possibilidade
dos casos de hidropisia não imune nas populações de síndrome de transfusão feto-fetal, em que o feto
susceptíveis à doença; 11 hidrópico pode ser tanto o receptor (insuficiência
erros inatos do metabolismo: compreende grupo cardíaca por sobrecarga de volume) como o doador
heterogéneo de doenças autossômicas recessivas. (anemia cr6nica)? 1
Decorrem da deficiência de enzimas necessárias ao
metabolismo, provocando acúmulo de metabóli-
tos em determinados órgãos com o cérebro, fígado, FISIOPATOLOGIA
coração e rins. O acúmulo desses metabólitos leva
à congestão de vísceras abdom inais, causando a Embora a etiologia da hidropisia fetal não imune seja
lesão dos órgãos, o que pode diminui r a pressão os- extremamente variada, as condições que produzem a
mótica e au mentar a hidrostática;12- 13 doença levam, por mecanismos distintos, a uma série de
doenças linfáticas: as anomalias cromossômicas, vias comuns que terminam com o acú mulo de líquido no
as fís tulas do dueto torácico e a doença li nfática organismo do concepto. A patogénese dessa alteração ai-
primária interferem na reabsorção de fluido pelos nda não está completam ente esclarecida, de maneira gera l
tecidos, produzem edema subcutâneo, derrame depende de uma das desordens que se seguem :
p leu ral e higrom a cístico; Obstrução da d renagem linfática na cavidade torá-
doenças cardíacas: as malformações estruturais do c ica ou abdominal;
coração, em especial a hipoplasia do ventrícu lo aumento da permeabilidade capilar;
esquerdo, o canal átrio-ventricular, a hipoplasia aumento da pressão venosa decorrente da falê ncia
de ventrículo direito, a estenose do forame oval e miocárdica ou da obstrução ao retorno venoso ao
a fib roelastose são respon sáveis por 40% dos ca- coração;
sos de ca rd iopat ias associadas à hidropisia fetal. redução da pressão osmótica.

Noções Práticas de Obstetrícia


I
Quadro 27.1 Principais causas da hidropisia fetal não imune ... continuação
Q uadro 27.1 IPrincipais causas da hidropisia fetal não imune

Taquiarritmias Causas de l11d rop1S1a fetalnao Imune


Bloqueio cardiaco congênito
Miocardiopatia Gestação Síndrome da transfusão gêmelo-gemelar
Miocardite múltipla Gêmeo acárdico
Defeitos anatOmicos Anexiais Trombose placentária da veia umbilical
Hematológicas Alfa-talassemia Angiomixoma do cordão umbilical
Transfusão feto-materna
Deficiência de Glicose-6-fosfato
Pelo geral, qualquer condição que promova congestão
Respiratórias Hérnia diafragmática hepática aumenta a pressão na veia porta e resulta em as-
Adenoma cfstico do pulmão cite. Esse aumento de pressão no sistema portal é transmit-
Teratoma do mediastino
Ouilotórax ido para a veia umbilical, provocando edema placentário e
Cisto broncogênico contribu indo para a polidramnia por passagem de líquido
Gastrointestinais Atresia do jejuno pela membra na amn iótica. Sob esta ótica, as doenças hep-
Volvo do mediastino médio áticas e os processos infecciosos são facilmente entendi-
Peritonite meconial dos. A congestão hepática é também o resultado da hema-
Duplicação do trato gastrointestinal
topoiese extramedu lar compensatória que acompanha as
Fibrose hepática
Colestase anemias e de algumas anomalias congên itas que compro-
Atresia biliar metem o lado d ireito do tronco fetal, a exemplo da hérnia
Malformação vascular hepática diafragmática d ireita.
Doença policistica do trgado
As hipoprotei nemias, decorrentes tanto da perda pro-
Urinárias Estenose ou atresia uretral teica renal - como na síndrome nefrótica - quanto por
Válvula de uretra posterior deficiência na sua produção - como na congestão hepática
Nefrose congênita
Sfndrome de Prune belly ou na atividade hematopoiética do fígado - , reduzem a
pressão oncótica e contribuem para o acúmulo de fluido
Metabólicas Doença de Gaucher
Sialidose em determinadas áreas do orga nismo fetal, em especial
no tecido celular subcutâ neo. O utros distúrbios, como os
Infecções Citomegalovirose
ocasio nados por doenças vascu lares ou dermatológicas,
congênitas Toxoplasmose
Sífilis ta mbém podem facili tar a perda de proteínas.
Parvovirose 819 As doenças que aumentam a pressão intratorácica são
Herpes também causa de hidropisia, por reduzirem o retorno ve-
Rubéola
Hepatite infecciosa noso ou por causarem insu ficiência card íaca fetal.
O parvovírus Bl9 cursa com crise aplásica transitória;
Cromossomiais Trissomias. em especial dos pares 21 e 18
Triploidia já nas infecções do grupo TORCH é mais comum a fa lên-
Sfndrome de Turner cia de mú lt iplos órgãos. 8 · 10
Nas aneuploidias, o mecanismo de acúmu lo de líquido
Anomalias Artrogripose congênita múltipla
estruturais Osteogênese imperfeita envolve a obstrução ou formação incompleta do sistem a
Acondrogênese li nfático na nuca (higroma cístico) ou abdome, decorrente
Dwarfismo tanatofórico da displasia linfática. Outro mecanismo responsável pela
Sindrome de Neu-Laxova
Higroma cfstico recessivo h idropisia é a cardiopatia congênita, que pode estar pre-
Distrofia miotOnica sente e m 25% dos portadores de cromossomopatias. 22
Sfndrome de Saldino-Noonnan Cabe considerar que a elevação dos níveis plasmáticos do
Teratoma sacrococcfgeo fato r natriurético atrial e da aldosterona está associada à h idro-
linfedema congênito
pisia fetal não imune, embora a relação de causa e efeito com
Continua ... essas substâncias não esteja completamente estabelecida.

Hidropisia Fetal não Imune 449


A Figura 27. I resume os principais mecanismos fi.- D epois de realizado um completo, detalhado e crite-
siopatológicos envolvidos na gênese da hid ropisia fetal. rioso exame ultrassonográfi.co e ecocardiográfico pratica-
do por examinador experiente, os testes a seguir listados
são recomendados para o esclarecimento da etiologia da
DIAGNÓSTICO hid ropisia fetal não imune.

Atesta-se a hidropisia pelo achado ultrassonográfi.co


de acúmulo anorm al de líquido na economia do concep- AVALIAÇÃO INICIAL BÁSICA
to. A identificação dos mecanismos fisiopatológicos da
hidropisia fetal não imune é muito mais fácil do que o di- • O bter história detalhada pessoal e familiar, buscan-
agnóstico da sua etiologia, já que condições distintas po- do doenças hereditárias associadas, tais como talas-
dem se apresentar de modo sim ilar. No geral, em 30% dos semia e sínd romes genéticas - considerar aconse-
casos da doença não se consegue identificar a sua causa. lhamento genético/ 4
O d iagnóstico etiológico torna-se mais fácil quando, • investigar exposição recente a agentes infecciosos e te-
após uma sequência de eventos, o quadro culmina com ratogênicos, em especial os relacionados à ocupação 2 5
o edema generalizado. Cita-se, como exemplo, o edema
do tecido celular subcutâneo, achado tard io na ma ioria
dos casos de hid ropisia, cujo mecanismo desencadeador AVALIAÇÃO MATERNA
foi a redução da pressão oncótica, como nas hipoprotein-
emias. O edema patogênico da pele é definido quando a Na anamnese deve-se pesquisar:
21
espessura do subcutâneo é superior a 0,5 mm. Por outro História materna de doenças vasculares e do colágeno,
lado, o mesmo edema subcutâneo pode ser o primeiro e transplantes de órgãos, t rauma abdomi nal fechado, coa-
mais pronunciado sinal quando dis túrbios linfáticos re- gulopatias, doenças sexualmente transmissíveis, doenças
spondem pela retenção híd rica anormal. Já as cond ições da tireoide, diabetes mellitus, infecções vi rais, teratógenos
que causam congestão hepática apresentam, inicial- ocupacionais, convivência com animais vivos e icterícia
mente, edema placentário e ascite. 23 em outros membros da família.
Os derrames pleurais podem ser uni ou bilaterais e, se Deve-se, ainda, considerar utilização de medicação pela
ocorrem antes de 20 semanas, podem reduzir o crescimen- mãe: indometacina, diclofenaco sódico ou drogas poten-
to e o desenvolvi mento pulm onar, levando à hipoplasia. cialmente teratogênicas durante a gravidez, admi nistração
prévia de sangue e derivados e consumo de drogas ilícitas.

Hipoproteinemia

Hematopoiese ~ ,....__ __ _--.~

Figura 27.1 1Fisiopatologia da hidropisia fetal.

450 Noções Prát icas de Obstetrícia


Determinar aetnia echances de hemoglobinopatias na pesquisa de alfa-talassemia;
população a partir d a o rigem dos pais. Excluir hidropisia pesquisa de infecções congénitas por PC R (polime-
imune. Verificar histó rico de gestações anteriores: icterícia rase chain reaction).
em recém-natos anteriores, síndrome da transfusão feto- Se o sangue fetal for obtido por cordocentese, real izam-
-fetal (STFF), doenças genéticas em fetos anteriores, a nor- se os seguintes exa mes:
malidades cromossômicas, erros inatos do metabolismo, Hemograma completo;
malformações congénitas, defeitos cardíacos, morte fetal, pesquisa de infecções congênitas por dosagem de
polidrãmnios, torches-clap. IgM;
Para esclarecer o diagnóstico, realizam-se os seguintes estudo do cariótipo;
exames: ensaios enzi máticos;
tipagem sanguínea (ABO e Rh); • gasometria arterial;
pesquisa de a nticorpos irregulares pelo pai nel de tipagem sanguínea (ABO e Rh) ;
hemácias; teste de Coombs di reto.
teste de Coombs indireto;
hemograma completo. O volume corpuscular mé- Na evolução pós-natal, avaliam-se:
dio (VCM) inferior a 80 fL na ausência de deficiê n- Exame físico deta lhado;
cia de ferro sugere talassemia; documentação fotog ráfica;
teste de KJeihauer-Bethke para identifica r possível hemograma completo;
transfusão feto-materna; • tipagem sanguínea;
pesquisa de glicose-6-fosfato; eletroforese de Hb;
eletroforese de hemoglobina; teste Kleihauer-Betk;
investigação de infecções congénitas (torches-clap: enzimas eritrocitárias;
pesquisa de Toxoplasma gondii, rubéola vírus, cito- torches-clap;
megalovírus, herpes simplex vírus, enterovírus, sí- • ca riótipo;
fi lis, catapora [varicela-zoster], vírus da doença de pesquisa de erros inatos do metabolism o;
Lyme [Borre/ia burgdojeri], SIDA, parvovirus B 19); ecocardiograma;
dosagem de alfa-fetoproteína; dopplervelocimetria;
tipagem H LA (human leukocyte antigens), depen- RNM de corpo inteiro;
dendo de condições hereditárias. angiorressonância;
Iinfocintigrafia;
• exa me h istopatológico da placenta.
A VALIAÇÃO FETA L 26-28

Para avaliar o feto, deve-se realizar avaliação ultrasson- CASO DE ÓBI TO FETAL OU NEONATAL
cografia completa, conjugando-se ultrassonografia mor-
fológica, ecocardiografia fetal e dopplervelocimetria para A investigação post-mortem é de extrema importância
ava liação do pico de velocidade sistólica da artéria cerebral para definir o prognóstico de futuras gestações e segue
média (rastreio da anemia fetal). várias etapas, começando pela necropsia. O va lor da ne-
Em caso de dúvidas, pode-se utilizar a ressonância nu- cropsia não pode ser superestimado. Se for rec usada a
clear magnética (RNM) fetaL autorização para sua execução, a ressonância nuclear mag-
nética de corpo inteiro é uma alternativa aceitável para as
Realizam-se os exames relacionados no líquido am- famílias envolvidas.
niótico, obtido por amniocentese: Durante a necropsia, são realizadas medições fetai s. As
• Estudo do cariótipo; medidas do compri mento, peso e ci rcunferência do crânio
dosagem de alfa-fetoproteína; são obrigatórias. O comprimento do pé pode ser usado
• testes metabólicos (doença de Gaucher); para determina r a idade gestacionaL Outras medidas po-

Hidropisia Fetal não Imune 451


dem ser úteis, como a distância orbitária interna e externa e -20oC. As amostras devem ser armazenadas sem conser-
comprimento da orelha. Em casos de hidropisia fetal grave, vantes ou fixação.
alguns dos valores podem não ser confiáveis. Os fluidos corporais também podem ser armazenados,
D eve ser feita, ainda, uma documentação fotográfica: incluindo-se plasma, sangue, urina, derrames v iscerais,
imagem de corpo inteiro, imagens faciais em duas direções bile, líquido céfalo -raqu id ia no. Usar papel-filtro para ar-
e imagens de qualquer outra estrutura que se pareça anor- mazenamento.A amostra de sangue post-mortem é possível
mal podem ser importante fe rramenta no d iagnóstico. durante muitas horas após o óbito, por pu nção-intracardí-
Fotografias digitais são aconselháveis, já que tais imagens aca. O líquido céfalo-raquidia no é obtido pela punção da
podem ser mais facilmente utilizadas nas consultas. fo nta nela anterior.
Raio-X de corpo inteiro em duas incidências permite o O estudo im uno-histoquím ico deve ser realizado com
diagnóstico da maioria das displasias esqueléticas e d isos- colorações de rotina em cinco seções de micrótomo, uti-
toses.l ncidências específicas das mãos e dos pés devem ser lizando como anticorpos monoclonais, pelo menos, anti-
feitas se há suspeita de displasia esquelética ou d isostose. corpo C D 31, C D 34, anticorpo contra actina do músculo
Pode ser colh ida amostra de fibro blastos da pele para liso e podoplani n (D2-40). Amostras provenientes da re-
cultivo: amostra d a pele (3-5 m m de diâmetro), que deve gião da nuca são úteis.
ser colocada em meio de cultu ra logo após a coleta. Se não D eve-se pesquisar erros inatos do metabolismo, como
estiverem disponíveis meios de cultura, o fragme nto da as doenças de armazenamento lisossomal: enzima lisos-
pele pode ser colocado em solução salina estéril por curto somai e aná lise molecular em amniócitos cultivados ou
período de tempo. Não congelar. A cartilagem da orelha linhagem celular de trofoblasto. A hidropisia fe tal tem
é o tecido que p ermanece viável por mais tempo. Se hou- sido descrita, ainda, na doença de Gaucher tipo II, doen-
ver morte intrauterina e o parto fo r induzido utilizando- ça de Morquio, síndrome de Hurler, síndrome de Sly, do-
-se prostaglandinas, é aconselhável a obtenção de células ença de Farber, gangliosidose GM I, doença da célula I,
amnióticas antes da indução, pois o crescimento de 6bro- doença N iemann-Pick tipo A e tipo C, doença infan til do
blastos é geralmente mu ito pobre depois do uso de prosta- armazenamento do ácido siálico, deficiência de alfa-neu-
glandinas. roami nidase, deficiência múltipla de sulfatase e doença de
Pode-se, também, realizar o congelamento de tecidos Wolman. Consid erar também doenças não lisossomais,
para estudo posterior. Nesse caso, deve-se incluir biopsia incluindo glicogenose tipo IV, deficiência hid roxiacii-CoA
de múscu lo, coração, cérebro, fígado, intestino, rins, ner- desid rogenase de cadeia longa, hipoti reoidismo, deficiên-
vos periféricos, medula óssea, conjuntiva, am niócitos e da cia de carnitina e síndrome de Smith-Lemli-Opitz. 29
placenta. As amostras devem ser congeladas o mais rapida- A Quadro 27.2 resume a orientação do d iagnóstico de
mente possível a -70oC, se disponível, ou, caso contrá rio, a hidropisia fetal. 30

Quadro 27.21 Resumo das condutas terapêuticas


Intervenção N1vel de Grau de
ev1dênc1a recomendação
Arritmias fetais Podem ser tratadas com cardioversão farma- 2C B
cológica intraútero j
~ Hidrotórax ou de quilotórax Punção ou derivação 4 c
Sífilis e toxoplasmose Medicação materna 2C B I
Infecção por parvovfrus 819 A transfusão intrauterina é opção terapêutica 2C B
nos casos de hidropisia fetal por anemia I
Hidropisia idiopática lnjeção de albumina na sua cavidade peritoneal 4 c
ou por cordocentese I
Síndrome de transfusão feto-fetal (STFF) Coagulação a laser dos vasos da placa corial lA A I

452 Noções Práticas de Obstetrícia


CONDUTA ACOMPANHAMENTO DA
VITALIDADE FETAL
TRATAMENTO INESPECÍFICO
O acompanhamento da vitalidade de fetos hidrópicos
Punções seriadas de cavidades fetais para descom- é tarefa difícil e, com os métodos hoje disponíveis, de valor
pressão de vísceras são, na maioria das vezes, de pequena limitado. No edema placentário, a difusão de oxigênio se
valia, à exceção dos casos de compressão pulmonar por compromete, enquanto a do COzse mantém (o COz é 20
hidrotórax nos quais o procedimento pode permitir avalia- vezes mais solúvel que o 02). Essa situação particular de
ção da capacidade expansiva pulmonar e, segundo alguns hipoxem ia com normocapnia dificu lta a interpretação dos
autores, melhorar o prognóstico do concepto, por possibili- testes biofísicos voltados para a avaliação da higidez fetal,
tar expansão parcial ou total dos pulmões. reduzindo seu poder preditivo e produzindo resultados
Punção abdominal ou torácica para remoção do ex- contraditórios. A avaliação a partir da dopplervelocimetria
cesso de líquido, praticada imediatamente antes do nas- do pico de velocidade sistólica da artéria cerebral média é
cimento, pode fàcilitar a assistência ventilatória neonatal. instrumento útil nos casos de suspeita de anemia fetal.
Para indicar a intervenção, a equipe perinatal há que indi-
vidualizar os casos e considerar os riscos e os benefícios
envolvidos. ACOMPANHAMENTO MATERNO

É alta a frequência de pré-eclâmpsia em gestações aco-


TRATAMENTO ESPECÍFICO metidas pela hidropisia fetal não imune (50 a 60% dos ca-
sos), provável resultado da lesão endotelial produzida pelo
Pode-se utilizar: estresse oxidativo que acompanha a congestão, o edema e
Albumi11a humana: a administração de albumina a consequente hipóxia, que comprometem a placenta.
hu mana por cordocentese pode diminuir o edema Cistos tecaluteínicos e hipertireoidismo materno po-
fetal nos casos de comprovada redução da pressão dem resultar dos altos níveis de hCG (hormônio gonado-
oncótica. Seus resultados, contudo, são transitórios; trófico coriônico) que acompanham alguns casos de hi-
coagulação a laser dos vasos da placa corial nos ca- dropisia fetal.
sos deSTFF; Dificuldades no parto, evento não raro, podem resultar
agentes antiarrítmicos: quando a causa da hidropisia é da sobrcdistensão uterina e de anormalidades das partes
a arritmia cardíaca, a prescrição de drogas antiarrít- moles do concepto ocasionadas, em especial, pela ascite
micas pode melhorar, muito, o prognóstico do con- e pelo edema. Sofrimento fetal por hipóxia secundária ao
cepto. O tratamento, conseguido pela administra- edema placentário pode ocorrer. Nestes casos, há que se
ção dos fár macos à gestante, há que ser cuidadoso, considerar a indicação de operação cesariana.
pelos graves efeitos colaterais que podem acometer A síndrome do espelho (ballantynes sydrome ou mirrar
a mãe. O uso feta l direto é uma opção, desde que o sydrome) refere-se à condição materna de edema generali-
medicamento empregado tenha ação prolongada; zado, por vezes com envolvimento pulmonar que "espelha"
transfusão sanguínea: a transfusão de sangue dire- o ocorrido com o feto e a placenta. A patogenia é desconhe-
tamente no cordão umbilical, indicada nos casos cida, a principal hipótese é que ocorra processo inflamató-
de anemia fetal, realizada através da cordocentese; rio sistêmico iniciado na placentaY
derivações (shunts) : a deri vação tóraco-amniótica
está indicada nos casos de fístula do dueto toráci-
co para cessara progressão do acúmulo hídrico no PROGNÓSTICO
tórax fetal, embora, na grande maioria dos casos,
o pulmão do concepto não consiga se expandir A hidropisia fetal não imune está associada à taxa de
completamente. A morbidade do proced imento mortalidade perinatal global de 50 a 98%.Apesar dos avan-
é alta, em especial nos casos de placenta anterior. ços no diagnóstico e terapia fetal, a taxa de mortalidade

Hidropisia Fetal não Imune 453


5. Anandakumar C, Biswas A, Wong YC, Ch ia D, Annapoor·
não mudou muito nos últimos 1S anos. O prognóstico na V, Arulkumaran S, et ai. Management of non-immune
irá variar segundo a etiologia e idade gestacional em que hydrops: 8 years'experience. Ultrasound Obstct Gynecol.
se desenvolveu a h idropisia, presença ou não de derrames 1996; 8:196-200.

cavitá rios. Em geral, quanto mais cedo se desenvolve a h i- 6. Kessel I, Makhoui!R, Sujov P. Congenita l hypothyroidism
and nonimm une hydrops letalis: associated?. Pediatrics.
drop isia, pior é o prognóstico fetal. O desenvolvi mento de
1999; I 03: E9.
derrame pleural e polidramn ia antes de 20 semanas tam-
7. Lallemand AV, Doco-Fenzy M, Ga illard DA. lnvestigation of
bém se associa a prognóstico desfavorável, pelo risco de nonim mune hydrops feta l is: multidisciplinary stud ics are ne-
hipoplasia pulmona r e de parto prematu ro. Por outro lado, cessary for d iagnosis--review of94 cases. Pediatr Dev Pathol.
a ausência de anomalias estruturais e/ ou cromossômicas 1999;2:432-9.

está relacionada a melhor prognóstico.3 1"33 8. Xu J, RaffTC, Muallem NS, Neubert AG. Hydrops fetal is se-
condary to parvovirus Bl9 infections.J Am Board Fam Pract.
São ind icativos de prognóstico fetal desfavorável:
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Derra me pleural;
9. Barron SD, Pass RF. lnfectious causes ofhydrops fetal is. Se-
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alfa-talassem ia; col Surv. 1997;52: 130-8.

citomegalovirose; 12. Molyneux AJ , Blai r E, Coleman N, Daish P. Mucopolysac-


charidosis type V 11 associated with hydrops fetal is: histopa·
sífilis;
thological and ultrastructural featurcs with genetic implica-
síndromes hereditárias; tions.J C lin Pathol. 1997;50:252-4.
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Hidropisia Fetal não Imune 455


Gestação Prolongada
Maria Júlia Vieira de Oliveira
Regina Amélia Lopes Pessoa de Aguiar

Conceito Determinação da Idade G estacional


Avaliação da Vitalidade Fetal
Incidência
Interrupção da Gestação
Etiologia Acompanhamento lntraparto
Complicações Prevenção da Gravidez Prolongada
Conduta Conclusões

o nascim ento de uma criança traz consigo


uma série de expectativas para a família, para
o médico e para a sociedade. A data provável
do parto, calculada por m eio da regra d e Nagele, represen -
ta apenas estimativa m édia do parto, mas frequentemente
CONCEITO

A duração clássica da gravidez a termo é de 37 sema-


nas completas a 42 semanas incompletas. De acordo com
a Federação Internacional de Ginecologia e O bstetrícia
é confundida com limite para o nascimento do feto sau- (FIGO) 1 e o C olégio A mericano de G inecologistas e Obste-
dável. Como o ciclo menstrual exibe variações significati- tras (ACOG), 2 a gravidez que alcança 42 semanas (294 dias)
vas em sua duração, não é fácil reconhecer com exatidão ou mais é definida com gestação prolongada ou pós-termo.
a idade da gravidez. Entretanto, com a utilização cada vez O termo pós-datismo, utilizado por a lguns autores
mais rotineira da ultrassonografia em Obstetrícia, a ava- para defi nir gestações que ultrapassam a data provável do
liação da idade gestacional tem se to rnado mais confiável, parto até 42 semanas incompletas, ou seja, compreende o
evitando intervenções desnecessárias na evolução fisioló- período de 40 sem anas e um dia até 41 e seis dias, não é
gica da gravidez. bem-definido na literatura e deve ser evitado.
A idade gestacional ao nascimento é um importa nte
determinante do resultado perinatal. Assim como o nasci-
mento antes de alcançado o termo - parto pré-termo - traz INCIDÊNCIA
consequências, po r vezes sérias, para os recém-nascidos, o
prolo ngamento da gravidez para além dos limites fisiológi- Existe muita discrepância na literatura quanto à real
cos determina riscos mais elevados de morbimortalidade incidência da gestação prolongada. Isto é essencial men-
perinatal. te justificado pelas dific uldades na d eterm inação correta
da idade gc tacional. É bem-e tabelecido que a utilização ETIOLOGIA
apenas da informação clínica pela gestante da data da úl-
tima menstruação determina taxas falsamente elevadas Como já mencionado, a principal causa da gravidez pro-
de gc tação prolongada. Os estudos epidemiológicos mais longada é o erro na c timati va da idade gc tacional, urna vez
recente estimam que a ge tação prolongada acometa en- que os critérios dá icos - como data da última menstru-
tre 4 c 10% das gestaçõc . Po tula-se que quando as gravi- ação, avaliação clínica do ta manho uterino, percepção de
deze ão roti neiramente datadas pela ult rassonografia de movimento fetai e época do início da ausculta dos bati-
primeiro trimc tre, a incidência de gravidez prolongada é mentos card íacos fetais - são bastante inapropriadosdos e
de 5%, comparada com 13% quando a datação é realizada tendem a uperestimar a idade ge tacional.
no segundo trimestre.H a maioria das gestações verdadeiramente prolonga-
O utros fatores que podem innuenciar a incidência d.1 das, ou seja, naquela em que a ultra onografia de primei-
gravidez prolongada ão percentagem de primige tas, pre- ro trimestre é utilizada ou para confirmar a idade gestacio-
valência de obe idade, proporção de mulheres com com- nal cronológica ou para determinar a idade gestacional, a
plicaçõc ge tacionai , frequência de parto pré-termo, além cau a não é conhecida.
de pr:it1cas como indução ou cesariana clctiva em gestações uliparidade e história de gestação prolongada prévia
com 40 e 41semanas. Estudo recente publicado por Zhang são fatores de risco bcm-estabclecidos. 6·- Alguns estudos
et a/. (20 10) mo tra importante aumento na taxa de in- têm demonstrado a associação entre obesidade c ge tação
dução clctiva cm gestações com idade gc tacional igual ou prolongada,8 feto ma culino9 c fatore genético 10 como a
superior a 37 emana no Estado Unido da América. exprc ão de genes paterno na unidade fetoplacentária.
De acordo com o estudo, as taxas de indução eleti va eram A deficiência de sulfatasc placentária, doença recessiva
14,3% cm 1992 c 27% cm 2003, com consequente redução ligada ao X caracterizada pela baixJ circulação de estriol
na idade ge tacional c pc o médio ao nascimento. A Figura sérico, insuficência ou hipoplasia adrenal fetal c anenccfJ-
28. 1exibe o percentual de partos por idade gcstacional na lia (n.l ausência de polidrâmnio) ãocausa raras de crita
gestaçõc a termo. Entre 1992 e 2003 nota- c dimi nu ição na literatura."
dos partos apó 40 semanas, em fu nção do aumento de
induçõc clctiva e ce ariana apó c sa idade ge tacional.~
COMPLICAÇÕES
Idade gestacional em semanas
A si m como a prematuridade tem significativo impacto
40 2003 . . na mortalidade neonatal, a gestação prolongada au menta
o risco de mortalidade perinatal, definida como morte an-
35
1992 . teparto - natimortalidade - e morte neonatal prccocc.12
30 A FigurJ 28.2 mostra o risco da mortalidade perinatal na.
gestações aci ma de 37 semanas.
25 A morbidade neonatal também é Ju mentada nos re-
%
cém-nascidos pós-termo, caracterizada principalmente por
20
aspi ração de mecônio, acidem ia neonatal, baixo índice de
15 Apgar, macro omia e tocotraumati mo . A síndrome de
Jspiração meconial manifesta-se com taquipneia, cianose e
10 diminui ão da complacência pulmonar c é uma das com-
plicações mais temíveis da gravidez prolongada, pois deter-
5

o I
37 38 39 40
I
41 I·-I 42
Figura 28.1 I Porcent.1gem de nascimentos por idade gcsta-
mina elevadas t<Lxas de óbito neonatal.1u 1
O ri cos materno associado à gestação prolongada são
Jumento das distócias no trabalho de parto, ri co mais elevado
de lesão pcrineal grave, ma i~ partos v,1ginais operatórios e cesa-
cional na ~ gc~taçõc a termo em 1992 e 2003.' rianas c complicações puerperais como hemorragia c infecção. 14

458 Noções Práticas de Obst etricia


Idade gestacional em semanas
DETERMINAÇÃO DA IDADE GESTACIONA L
6
Para mulheres com ciclos menstruais regulares e que
"' 5
Q)
N
iniciam precocemente o pré-natal, a estimativa clínica da
Q)
-c idade gestacional tende a ser um bom parâmetro. Entretan-
·::;
5, 4 to, a determinação da idade gestacional será mais precisa
o
o se a ultrassonografia de pri meiro trimestre for realizada
o
oo. 3 em todas as gestações, já que nesse período a variação do
Q)
-c
Ctl
método na estimativa da idade gestacional é de mais ou
:E 2 menos sete d ias. Quando realizada nessa fase, a ultrassono-
-rn
t::
o grafia reduz de forma significativa a incidência das gravide-
~
zes diagnosticadas como prolongadas (OR 0,68; !C 95%
0,57-0,82).i.S
o 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43+
Figura 28.2 1Mortalidade perinatal no terceiro trimestre de
gestação. 11 AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL
I = Natimortalidade
2 = Morte neonatal Embora a gravidez prolongada seja indicação univer-
3 =Morte pós-neonatal salmente aceita para avaliação anteparto da vitalidade fetal,
nenhum método disponível para esse fim foi ainda val ida-
CoNDUTA do por estudos randomizados.
Cardiotocografia basal e estimulada, avaliação do vo-
Os elementos-chave na conduta são a determinação cor- lume do líquido amn.iótico e perfil biofísico fetal são méto-
reta da idade gestacional, a avaliação da vitalidade fetal e de- dos utilizados na avaliação fetal. Não existe qualquer evi-
terminação do melhor momento para a interrupção da gravi- dência de benefício da utilização da dopplerveloci metria
dez. A Figura 28.3 sintetiza a conduta na gestação prolongada. no acompan hamento da gestação prolongada.' 6· 20

Oligodrêmnio
Sinais de
comprometimento fetal

Oligodr8mnio
SinaisdeC111J11R111181i~nto
~ feta
~ r-- - -- - - -- ---r
'
cesariana

Figura 28.3 1Fluxograma para condução de gestação prolongada.


CTG = card.iotocografia; LA = líquido amniótico; IG =idade gestacional; US = ultrassonografia.

Gestação Prolongada 459


O Colégio America no de Ginecologia e Obstetrícia ACOMPANHAMENTOINTRAPARTO
(ACOG) recomenda que, apesar da fa lta de evidências, as
gestações entre 41 e 42 semanas devem ser acompanhadas O feto pós-termo possui risco mais elevado de anor-
com mon itoração fetal, sendo a cardiotocografia anteparto malidades na frequência cardíaca, liberação de mecônio
associada à avaliação do volume de líquido amniótico os e acidem ia neonatal. Por essa razão, diversos serviços re-
métodos mais utilizados. Não existe consenso sobre o in- comendam a monitoração fetal cletrônica no trabalho de
tervalo ideal para a realização dos testes, sendo que algu ns parto dessas gestações. 16·19·20
autores sugerem que a cardiotocografia seja realizada duas
vezes por semana e a avaliação do líq uido amniótico pelo
menos semanalmente? PREVENÇÃO DA GRAVIDEZ PROLONGADA

A ún ica forma eficaz de prevenção de gestação prolon-


I NTERRUPÇÃO DA GESTAÇÃO gada é a indução do parto antes que a gravidez alcance 42
semanas. Como já mencionado, e m gestações de baixo ris-
É muito di fícil, à luz do conhecimento atual, determi- co, sem intercorrências e com ultrassonogra fia p recoce que
nar idade gestacional a partir da qual a interrupção da ges- confirme a idade gestacional, os estudos não mostram, até
tação, precedida ou não da indução do parto, é mais b ené- o momento, resu ltados significat ivamente d ifere ntes quan-
fica para o feto e para a gestante, comparada com a conduta do se compara a indução eletiva com 41 semanas com a
expectante. conduta expectante até que a gestação alcance 42 sema nas.
O acompa nhamento das gestações prolongadas em A lgumas intervenções como descolamento das me m-
mulheres de baixo risco é controverso. Em gestações branas/ 121 coito desprotegido24 e acupu ntu ra 25 têm sido
prolongadas com colo favorável (ín dice de Bishop ~ 6), utilizad as para favorecer o início espontâneo do trabalho
a opção pela indução é comum, já que os riscos de fa lha de parto. O descolamento d igital das membranas exige
de indução e cesa ria na subsequente são baixos. 2 Pa ra os colo ute rino suficientem ente di latado para permitir o exa-
casos de colo uterino desfavorável, ambas as condutas - me digital e o alcançar das membranas. O descolamento
expectante ou indução do parto - associam-se a baixos d igital das membranas da parede uterina no segmento in-
índices de complicação e a boas taxas de resultados pe- ferior favorece e estim ula a liberação de prostagland inas
rin atais, com algu ns estudos sugerindo po uca vantagem endógenas do colo uteri no. Os estudos propõem q ue a uti-
para a indução do parto. 11 •16 20 lização desse procedi mento reduz o intervalo d o início do
Embora a gravidez p rolongada seja aquela que alcança trabalho de parto espontâ neo, sem evidências na redução
ou ultrapassa 42 semanas de duração, algu ns serviços pre- de pa rto operatório (vaginal ou cesariana) ou morbidade
conizam a indução eletiva do parto a parti r de 41 sem anas materna e neonatal Y-21 A relação sexual sem uso de pre-
de gestação. M etanálise comparando indução de rotina servat ivos pode estimu lar as contrações uterinas pela ação
versus indução seleti va em gesta ntes com gravidez prolon- das prostaglandinas presentes no sêm en, que tem ação
gada revelou que a indução após 4 1 sema nas foi associada potencial de liberação de prostagland inas endógenas. 24
à taxa de mortalidade perinatal mais baixa (OR 0,23 - A eficácia da acupu ntura na indução do parto, embora
IC95% 0,06-0,90), m as com d iscreto aumento dos índ ices defend ida em algun s estudos, requer ai nda pesquisas de
de cesariana (OR 0,87 - IC95% 0,77-0,99). Alé m disso, a m ais consistência.25
indução rotineira também não determinou qualquer efeito
no índice de parto operatório, uso de analgesia e incidência
de anormalidades na frequê ncia cardíaca fetal. Entretanto, CONCLUSÕES
o risco de síndrome de aspiração m econ ial e convulsões
neonatais não foi afetado.15 A duração clássica da gravidez a termo é de 37 a 42
Na presença de oligod râmnio ou evidência de com - semanas e as taxas de morbidade e mortalidade perinatal
prometimento fetal, a opção pela interrupção da gestação aumentam progressivamente durante esse período, sendo
11
é bem-aceita na literatura. muito difícil determ inar idade gestacional a partir da qual

Noções Práticas de Obstetrícia


a interrupção da gestação, precedida ou não da indução do a conduta expectante. Vigilância antenatal utilizando a
parto, traz mais benefícios do que risco comparada à evolu- cardiotocografia basal e esti mulada e a avaliação ultrasso-
ção natural da gestação. Embora ainda existam controvér- nográfica do volume de líquido amniótico são alternativa
sias, as evidências científicas atuais sugerem que a indução eficiente quando as condições do parto são desfavoráveis
do parto realizada em gestações de 41 semanas - desde entre 41 e 42 semanas de gestação ou as mulheres não de-
que o colo uterino esteja favorável (índice de Bishop > S) sejam a indução.
- e, sistematicamente, em gestações com 42 semanas re- O Qpadro 28.1 apresenta as evidências científicas atu-
duz significativa mente as taxas de mortal idade perinatal ais na gestação prolongada.
e não au menta os índices de cesariana, comparando com

Quadro 28. 1 I Evidências científicas em gestação prolongada


lntervl~llCdO Res ultnrlll Grau ele
Re c o rnenc! a ç ao

Datação da gravidez por ultrassonografia precoce Redução da ocorrência de gestação prolongada A I


Avaliação das condições maternas e fetais em gestações a Redução da morbimortalidade perinatal B
partir de 41 semanas I
Indução de parto x conduta expectante em gestantes com Mesmos resultados perinatais A
colo desfavorável e gestação prolongada I
Prostaglandinas para amadurecimento cervical em gestações Parto vaginal A
prolongadas I
Interrupção da gestação se evidência de comprometimento Redução da mortalidade perinatal A
fetal ou oligodramnio I
Oferecer indução do parto em gestantes com gestação Parto vaginal A
prolongada e colo favorável I
Vigilância fetal intraparto (monitoração) Redução da mortalidade perinatal B J
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Noções Práticas de Obstetrícia


Perda Gestacional de Repetição
Regina Améüa Lopes Pessoa de Aguiar
Renato Augusto Moreira de Sá
Fernanda Campos da Silva
Laudeli no Marques Lopes
Marcos Jo é Burle de Aguiar

Etiologia Diabetes Mellitus


Disfunções da Tireoide
Aspectos Genéticos
Aneuploidias Doenças Autoimunes
Anomalias Estruturais Síndrome dos Anticorpos Antifosfolípides
Mosaicismo Trombofilias H ereditárias
Outras Doenças Genéticas Outros Fatores Imunológicos
Anomalias Uterinas Causas Infecciosas
Fatores Endócrinas Perdas Gestacionais Repetidas
Defeitos da Fase Lútea sem Causa Aparente
Síndrome dos Ovários Policísticos Considerações Finais

s egundo a Organização M undial de Saúde


(OMS), denomina-se aborto a interrupção
espontânea o u provocada da gravidez antes
das 22 sem anas de gestação, cujo produto tenha peso
inferior a SOO gram as. 1 Para o American College oj Obs-
ne a perda gestacional recorrente qua ndo esta acontece ao
menos duas vezes, documentada por ultrassonografia e/ ou
exame histopatológico, e sugere que algu ma investigação
seja feita após cada perda e avaliação completa após a ter-
ceira perda.3 Tendo em vista os conhecimentos atuais da
tetricians and Gynecofogists (ACOG), o limite para a de- fisiopatologia da perda gestacional, os riscos de recorrência
finição de aborto é de 20 sem anas, com feto pesando de novas perdas e, principalmente, os aspectos emocionais
menos de SOO gramas. De acordo com a época da gesta- envolvidos na perda de repetição, questiona-se a necessida-
ção na q ual tenha ocorrido a interrupção, denomina-se de de aguarda r a terceira perda para propor investigação 4 •5
aborto ovular (até a semana 3), embrionário (sema nas A perda gestacional não é uma exceção na espécie hu-
4-8) e fetal (a partir da semana 9 até a 22)? mana. Sabe-se que I 5 a 20% das gravidezes clinicamente
Existem controvérsias quanto ao conceito de aborto re- reconhecidas evoluem para a interrupção espontânea. Es-
corrente. Classicamente, eles são considerados quando se tudo prospectjvo considerando o d iagnóstico de gravidez
verificam pelo menos três perdas consecutivas. No entan- firmado por meio de medidas seriadas dos níveis uri nários
to, a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva defi- de hCG identificou taxa de perda de 43% das gravidezes
ocorridas. 6 Wilcox et af.7 utilizaram a dosagem diária de têm sua etiologia determinada. Em geral, a origem das per-
P -hCG em 198 casais férteis que desejavam engravidar. As das envolve fato res genéticos, uteri nas, endócri nas, imuno-
dosagens seriadas fo ram feitas a partir da época esperada lógicos, trombofílicos e ambientaisw
da implantação (dia 20 do ciclo). D as gravidezes diagnos- As entidades clínicas que têm mais evidência científica
ticadas, 31% foram perdidas, sendo 22% no período pré- de relação causa-efeito estabelecida na etiologia das perdas
-clínico e 12% após o reconhecimento clínico da gravi- gestacionais de repetição são as anomalias cromossômicas
dez. Como os abortamentos pré-implantacionais não são do casal e as malformações uterinas maternas. Há também
diagnosticados pela dosagem de P-hCG, as taxas totais de evidência crescente da associação dos fatores imunológi-
perda fetal pós-fertilização são mais altas ainda e podem se cos, tanto autoimunes, representados principalmente pela
aproximar de 50%. 8 síndrome anticorpo antifosfolípide, quanto aloimunes,
A prevalência de casais com perda de repetição varia de com a perda gestacional de repetição. Outras entidades,
0,4 a l,O%. Após um primeiro abortamento espontâneo, como doenças maternas (hipertireoidismo, diabetes), em-
o casal tem aumento muito discreto (15%) no risco basal. bora possam ser causa de abortamento espontâneo, não
Após dois abortamentos, o risco se eleva para aproxima- são consideradas causas de abortamento de repetição, já
damente 25% (va riando de 17 a 35%) e após o terceiro que o determina nte da interrupção da gravidez nessas situ-
abortamento é de aproximadamente 33% (variando de ações, geralmente, é a descompensação endócrina materna
25-49%)_2.4,6•9 Essas relações matemáticas ajudam o racio- que, via de regra, exige tratamento clínico.
cínio clínico, mas não levam em consideração aspectos im-
portantes como a idade materna e a idade gestacional por
ocasião da perda. Qj.Ianto maior a idade materna e menor a ASPECTOS GENÉTICOS
idade gestacional, mais alto o risco de aborto. Por exemplo,
com menos de seis semanas o risco de recorrência é de 22 H á várias décadas tem sido observado que número
a 57%; entre seis e lO semanas, de IS%; e 2 a 3% ap ós lO importante de embriões abortados espontanea mente
semanas de gestação? apresenta anormalidades cromossôm icas. Os estudos
A investigação da causa da perda gestacional é, muitas baseados em culturas fetais têm descrito prevalência de
vezes, tarefa árdua para o casal e para o médico que acom- pelo menos 50% de anormalidades. Essas anormalidades
panha a paciente, embora de muita importância não só do cromossômicas podem ser divididas em dois grupos prin-
ponto de vista médico, como também do ponto de vista cipais: aneuploidias e anomalias estruturais. 11 •12 Proporção
emocional, já que a compreensão do motivo da perda pode significativa de abortos de repetição também p ode ter essa
ajudar os casais a lidar com os sentimentos de culpa, fre- origem.13
quentemente envolvidos nesse processo.

ANEUPLOIDIAS
ETIOLOGIA
A an euploidia consiste no achado de número an ormal
Historicamente, muitas causas de perda gestacional de de cromossomas. Geralmente resulta da n ão disjunção
repetição têm sido propostas, sem comprovação científica de um par cromossômico durante a meiose I, com conse-
aceitável, levando à introdução de terapêuticas com resul- quente formação d e gameta que possui esse cromossoma
tados no míni mo questionáveis. Sabe-se que a cha nce de duplicado. Após a fec undação, o ovo terá 4 7 cromosso-
resultado gestacional satisfatório (nascimento de criança mas e não 46, com a trissomia d aquele cromossoma. A
saudável) em casais com perda gestacional de repetição, não disj unção pode também estar envolv ida na o rigem
sem nenhu m tratamento específico, é de pelo menos 50%, de monossomias.
podendo alcançar índ ices de até 75%. As trissomias constituem as anomalias mais frequentes
Casais que tiveram uma p erda gestacional anterior têm nos abortamentos espontâ neos. A Figura 29. 1 apresenta ca-
duas preocupações: a causa da perda e o risco de recorrên- riótipo com trissomia do cromossoma 21. Nos abortos pre-
cia. Infelizmente, só 50% dos casos de aborto de repetição coces encontram-se as anomalias mais letais (por exemplo,

Noções Práticas de Obst et rícia


trissomia 16), enquanto nos abortamentos mais tardios se ranjas cromossôm icos estão presentes em 3 a 5% dos casais
encontram as trissom ias mais viáveis ( 13, 18 e 2 1). com abortamento de repetição, enqua nto que na população
A monossomia que tem mais importância e elevada geral a prevalência é de 0,7%. A translocação é a t ra nsposi-
frequência é a do cromossoma X (4S,X), que corresponde ção de u ma porção de um c romossoma para outro cromos-
à sínd rome de Turner. somo e é resultado da quebra desses cromossomas.
As poliploidias (triploidias; 3n ou 69 cromossomas; As translocações podem ser balanceadas, qua ndo não
tetraploidias: 4n ou 92 cromossomas) também podem ser ocorre perda de material genético e o ind ivíduo é fenotipi-
encontradas em material de abortos. N ão existe relação de camente normal, mas predisposto a ter fil hos com altera-
causa-efeito bem-estabelecida entre anomalias cro mossô- ções não balanceadas (Figura 29.2A e 29.2B). Nas trans-
micas nu méricas e perd a gestacional de repetição.a 9•14 locações não balanceadas, o ind ivíduo apresenta perda ou
O risco de aneuploidia aumenta com o alto número duplicação de parte do seu material genético, com possi-
de abortos prévios. A relação do cariótipo do aborto e do bilidade de várias alterações morfológicas e funcio nais,
risco de aborto recorrente ainda demanda novos estudos podendo, inclusive, ser incompatível com a vida (Figura
para defi nição de quais anomalias têm mais chance de re- 29. 3).5•15•16 As translocações balanceadas são mais comu ns
corrência.'' no sexo feminino e a tra nslocação de origem materna tem
mais cha nce de causar perda gestacional.
Nas inversões ocorre q uebra de um segmento do c ro-
ANOMALIAS ESTRUTURAIS mossoma, rotação desse segmento e fusão no mesmo cro-
mossoma, mas com as sequências gênicas invertidas. As
As anomalias estruturais significam rearranjos no con- anomalias cromossômicas estruturais, embora sejam mais
teúdo genético dos cromossomas e são representad as mais raras, são impo rtantes na abordagem das perdas gestacio-
frequentemente pelas translocaçôes e inversões. Os rear- nais de repetição, porque podem ser familiares. 5•15

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I
\K 20 21

' 2Z y

Figura 29.1 Trissomia do cromossoma 21. Fotografia gentilmente cedida pelo GENE- Núcleo de Genética Médica.

Perda Gestacional de Repetição


to; história de três ou mais abo rtos; história de dois ou m ais

l\
aborto em uma irmã ou nas m ães de qu alquer um dos
parceiros. 18 História fa m tliar de natimorto o u de criança
\... com anomaHa cromossôm ica tam bém parece aumentar o
risco. 19 o entanto, é importante notar que cariótipo anor-
mal cm um dos pais não é d iagnóstico fina l da origem da
perda recorrente, de modo que não exclu i a necessidade de
um a avaliação completa. 20

•-p:,!,..-- - - - ---)l-
-
-" -- , -~- ----
· -,_,..._
.. 22
A

.......
0 • •• ~-~-~~
13 . ·~ •• ••
• .. ---•i-
13 •• 70
" 11

Figura 29.3 1Trissomia do cromossoma 13, por translocação


2 13, 14. Fotografia gentilmente cedida pelo G E E- úcleo de
Genética Médica.

8 B
I
Figura 29.2 A e B Translocaçáo balanceada entre os cro-
MOSAICISMO
mos omo 2 c 13. Fotografia gentilmente cedida pelo GENE
- 1 úclco de Genética Médica. Ve,. Pmnclzn Colondn.
O mosaicismo cromossôm ico consiste na coexistê n-
cia de du as linhagens celu lares, diferindo em constitu i-
A idcnti ficaçáo desses casais, q ue é feita por meio da re- ção crom ossômica, no mesmo indivíduo, por exemplo,
al ização de estudo cromossôm ico em sangue periférico, é 4 6,XX/ 4S,X. A associação entre mosa icismo cro mossô-
importante não ó devido à alta taxa de recorrê ncia de per- m ico e perdas d e repet ição é mais controversa. Existem
das fetais nessa situação, mas também porque exi te risco estudos demo nstrando m ais frequência de mo aici mo
aume ntado de nasci mento de nat ivivos com aberrações entre casais com perdas gestaciona is de repet ição do
cromossôm icas c, portanto, com anom alias congênitas c/ q ue a encont rada na população geral. Algun s estud iosos
ou retardo mentaP·5 r consideram que o mo aicismo - principalmente quan-
Há mais cha nce de o aborto recorrente ser relacionado do envolve o cro mo om o entai -, em bora n ão eja
ao cariótipo anorm al do casal quando uma das seguintes relacionado de forma causal com as pe rdas fetais, po de
características e tá presente: mãe jovem, no segundo abor- representar ma n ifestação d e aumento de eventos de não

Noções Práticas de Obstetrícia


disju nção no ind ivíd uo, pred ispondo à produção de ga- ANOMALIAS UTERINAS
metas com anormalidades cromossômicas, sugerindo
a necessidade do diagnóstico pré-nata l nas gestações As anormalidades uterinas congén itas ou adquiridas
s ubsequentes. O utros estudos não têm confi rmado essa parecem ser respo nsáveis por I Oa SO% dos abortam entos
associação e ntre perdas gestacionais de repetição e mo- de repetição (Figura 29.4). 23 Elas estão presentes em I 5%
saicismo cromossõmico. 2 1. 22 das mulheres com perdas recorrentes e em 7% de todas as
mulheres. 24 O meca nismo que envolve a perda em úteros
anômalos pode estar relacionado à d im inu ição da capaci-
ÜUTRAS DOENÇAS GENÉTICAS dade de diste nsão uteri na, à implantação ano rmal por d i-
m inuição da vascu la rização em u m septo ou dim inuição
Outras doenças genéticas que não as cromossôm icas da sensibilidade aos hormônios esteroides. 25
podem estar envolvidas nas perdas de repetição, principal- Na vigência de abortamentos repetidos, parto pré-ter-
mente as do segu ndo e terceiro trimestres (por exemplo, mo o u apresentações fetais anôma las, é adequado ava li ar
defeitos de fechamento de tubo neural, doenças monogê- a possibilidade de anomal ia estrutural uteri na. A combi-
nicas) e, nessas situações, o estudo anatomopatológico do nação de técnicas de imagem radiológica, histeroscópica,
embrião e da placenta é imprescind ível na busca do diag- ultrassonográfica e laparoscópica permite o d iagnóstico
nóstico etiológico.3 acurado nesses casos.3•4•26•27
A existência de doenças hered itárias com ba ixa via- O útero uni corno tem sido associado à perda gestacional,
bilidade na fam ília pode se associar a perdas gestacio nais principalmente no segu ndo trimestre. Nos casos de útero
repetidas, pri ncipal mente ta rd ias. Este é o caso de doenças d idelfo, o prognóstico gestacional é bem melhor, sendo en-
dominantes ligadas ao X, como incontinência pigmentar e contrada taxa de nascidos vivos de até 75%. O útero bicorno
síndro me de Aicardi, e de doenças genéticas levando à hi- apresenta resultado melhor que o útero unicorno, da ordem
dropisia não imunitária. 3 de 60% de sucesso, sendo que a compi icação mais frequente

F
Figura 29.41 Anomalias uterinas. A - útero didelfo; B e C - útero bicorno; O e E- útero septado; F - útero unicorno.

Perda Gestacional de Repetição


é o parto pré-termo. O útero eptado é geralmente associado O padrão-ouro para o diagnóstico de insuficiência lú-
a pobre resultado obstétrico, sendo, entre a anomalias uteri- tea continua endo a biópsia de cndométrio, que deve ser
nas congênitas, o que mais se associa à perda fetal. Os defeitos realizada na egunda fase do ciclo. Para o diagnó tico de
uterinas adquiridos, como defeitos secundários à exposição insuficiência lútca, é necessário que na avaliação histo-
ao dietilestilbc trol, síndrome de Asherrnan c rniomato e, lógica haja di cordância em pelo menos três dias da data
principalmente os miomas submucosos, são reconhecido menstrual, por dois ciclos separado . ão existe consenso
como fatores que podem contribuir com a perda fetal. 1•4•9•16•17 também em relação ao tratamento. Embora alguns auto-
eptos uterinos, aderências e miomas submucosos po- res considerem sufi ciente a ad ministração de progestero-
dem er corrigido ciru rgicamente por hi teroscopia. ão na natural por via vaginal ou intramuscular para corrigir a
há pesquisas randomizadas sobre o desfecho gestacional fa e lútea deficiente, out ro advoga m o u o de indução da
após esse procedi mento. Um estudo observacional clássico ovulação, com suplementação de progesterona natural. 2 u
relata diminuição na incidência de aborto de 84% antes da
cirurgia para 1296 após o procedimento.28 0 problema de -
se estudo, e de outros semelhantes, é que a pacientes fun- SíNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
cionam como seus próprios controles.
A in uficiência cervical é entidade ob tétrica fortemente A incidência de abortos em pacientes com síndrome
associada a perda fetais de repetição. Es as perdas ocorrem de ovários policí tico - cerca de 20 a 40% - é major que da
classicamente no segundo trimestre ou no início do terceiro, população geral - cerca de lO a 20%. O mecani mo de perda
de forma que não é con iderada causa de abortamento precoce. nessa situação não é bem-defin ido, mas parece ter relação com
Caracteriza-se pela dilatação cervical indolor, com prolapso e nívei elevado do hormônio luteinizante (LH) e de hormà-
hern iação das membranas para dentro da vagina, seguida de ro- nios androgênico como a testo terona e a andro tenediona.11
tura das membranas e expulsão do feto imaturo (abortamento Está sendo avaliado o uso de metform ina para reduzir a taxa de
tardio ou parto pré-termo extremo). aborta mento, ainda sem resultados conclusivos.
O tratamento é cirúrgico, por cerclagem realizada pre-
ferencialmente no início do segundo trime tre, por volta
de 14 semanas, após a u ltrassonogra~a confirmar gestação DIABETES MELLITUS
com feto vivo, em anomalia estruturais grosseiras. As téc-
nica mai utilizadas em no so meio ão a de McDonald e O diabete mellitus não rcpre enta fàtor de risco significati-
a de Aquino-Salles. vo para a perda gestacional de repetição. Embora mul here com
diabetes mellitus pré-gestacional insulino-dependente (tipo 1)
tenham alto ri co de abortamento, a prevalência de diabetes
FATORE S ENDÓCRINOS subclínico na população de mulheres que apresenta aborta men-
to de repetição não é maior do que na população geral. O ri co
O papel dos f.1torc endócrinas como causa de perdas de abortamento, assim como o de anomalias congênitas nas dia-
gestacionai de repetição é controverso/ embora eles possam béticas insul ina-dependentes, está associado à hiperglicemia no
estar associados a I ' a 60% de ses casos. A hipótese de asso- período periconcepcional e no primeiro trime trc, pela prc cnça
ciação desses fatores com perdas recorrentes baseia-se no fato de doença vascular e pos ivcl mente por fatore imunológico .H
de que hormônios produzidos pelo corpo lúteo são necessá- Portanto, o controle glicêmico rigoroso é determinante para re-
rios para o uces o reprodutivo cm mamíferos. 29 11 duzir as taxas de perda ge tacionais ne a população.2·u9

DEFEITOS DA FASE LÚTEA DISFUNÇÕES DA TIREOIDE

Os defeitos da fase lútea têm sido questionados, pois não Embora a literatura tenha relacionado as doenças tireoi-
exi tem métodos acurados para o diagnóstico c não há evi- dia nas às perdas gestacionais de repetição, não cxi te qual-
dência convincente da correção com o tratamento.3•4·32 quer evidência que confirme essa associação. 1·4•9

Noções Prãticas de Obstetricia


A presença de anticorpos a ntitireoidianos, como a an- com parada ao uso de AAS isoladamente. A combinação
titireoglobul ina e a antiperoxidase, tem sido associada ao da heparina de baixo peso molecular com AAS ainda não
aumento do risco de abortamentos, mas o m ecanismo não se mostrou vantajosa em relação ao uso isolado do AAS. 38
está completam ente elucidado. Nen hum a opção de trata- Da mesma forma, o AAS sem o uso concomitante de outra
mento tem se mostrado eficaz nessas pacientes:11 ·32•H medicação, ou seja, quando usado isoladamente, não redu-
ziu a chance de perda feta J.39

DOENÇAS AUTOIMUNES Quadro 29. 1 J Critérios diagnóstico da SAAF


C1 1te1 10s c lllliC OS C11te11o s liliJOI ator1a1s
SíNDROME DOS ANTIC ORPOS
Trombose vascular: - Anticorpo anticardiolipi-
ANTIFOSFOLÍPIDES - Um ou mais episódios de na lgG ou lgM em tftulos
trombose arterial, venosa moderados a altos (> 40 GPL
Diversas doenças autoimunes têm sido relacionadas à ou de pequenos vasos em ou MPL) em, pelo menos.
perda gestacional de repetição. A síndrome anticorpo ant ifos- qualquer órgão ou tecido. duas ocasiões. com intervalo
folípide é, no entanto, a única na qual a perda recorrente é cri- confirmada por doppler ou mfnimo de seis semanas
exame histopatológico. entre as amostras.
tério de diagnóstico. Ela é responsável principalmente pelas
---------~ -Anticorpo anticoagulante
perdas tardias, após IOsemanas de gestação. Sua relação com Morbidade gestacional: lúpico positivo em pelo me-
as perdas precoces não foi tão bem-comprovada. Algu ns - Uma ou mais mortes de nos duas técnicas diferentes
autores acreditam que os anticorpos antifosfolípides não feto morfologicamente (PTTa. tempo de coagulação
seriam responsáveis por perdas no período embrionário.35 ·38
normal, com 34 semanas com Kaolin - KCT e tempo
ou menos, devido a PEJE
O fato de os anticorpos serem encontrados em ind ivídu- ou CIUR de coagulação com o veneno
da vfbora Russel (dRWT).
os assintomáticos dificulta a confirmação da relação causa- - Um ou mais nascimentos
-Anticorpo antiP2-
-efeito entre esses anticorpos e o evento clínico adverso, de RN morfologicamente glicoprotefna lgG e/ ou lgM
pri ncipa lme nte q ua ndo este não é raro, como a perda gesta- normal. com 34 semanas acima do percentil 99 _
ou menos. devido a PE/E
cional antes de IOsemanas.
ou CIUR
Os critérios clínicos para o diagnóstico da sínd rome - Três ou mais abortamen-
anticorpo anti fosfolípide incluem: trombose venosa, trom- tos espontâneos. antes de
bose arterial, perda gestacional recorrente e trombocitope- dez semanas de gestação,
nia. Se a pacie nte tiver pelo menos um dos critérios clínicos com causas cromossômi-
cas ou maternas exlcuídas.
presentes, deve ser investigada laboratorial mente com pes-
quisa do a nticoagu lante lúpico e anticorpos antica rdioli-
pina. A existência de um critério clínico c um laboratorial Outra opção terapêutica é o uso da prednisona. A pred-
39
fi rma o d iagnóstico. (Quadro 29.1) n isona é habitualmente uma substância de pri rneira Iin h a no
A avaliação histopatológica do material expulso é suges- tratamento de doenças autoimu nes e sua eficácia na redução
tiva de síndrome de má-adaptação vascular, caracterizada, de perdas fetais também já foi testada. Recente revisão da Bi-
principalmente, por infartos e necrose placentários extensos. blioteca Cochrane concluiu que a prednisona associada ao
Os achados de necrose fibrinoide, atcrose dos vasos decidu- AAS não foi superior ao placebo na redução do risco de per-
ais (i nfiltração da parede vascular por células com citoplasma da gestacional (RR 0,85; IC 95%: 0,53 - 1,26). Além disso,
claro e espumoso) e espessamento da íntima, que caracteri- o grupo que usou a prednisona teve ma is efeitos colaterais,
zam a chamada vasculopatia decidual, têm sido descritos em com mais incidência de parto pré-termo, pré-eclâmpsia e
pacientes com síndrome de anticorpos antifosfolípides.2. 17 diabetes gestacional 40 Seu uso deve ser desestimulado_4 1.4 2
O tratamento proposto mais aceito, e com mais baixa Outros esquemas terapêuticos têm sido propostos,
ta xa de efeitos colaterais, é a associação de baixas doses de como a imunoglobulina intraven osa, mas carecem de uti li-
ácido acetilsal icílico (AAS) (100 mg/ d ia) e heparina não dade clínica, seja pelo alto custo, seja pela falta de compro-
fracionada, na dose de 10.000 u nid ades/ d ia. Essa associa- vação científica da sua utilidad e.32•37 De modo geral, o uso
ção parece diminu ir a perda gestacional cm 54%, quando de medicações antitrombóticas para a prevenção d as per-

Perda Gestacional de Repetição 469


das recorrentes tem melhores resultados no caso de perdas prescindível, para o sucesso da ge tação, que algum meca-
fetais. eu emprego nas perdas precoces, ainda no período nismo de imunoproteção impeça o reconhecimento desse
4
embrionário, é controverso. H 4
zigoto como not self, pois isto determi naria a el iminação do
mesmo. Falhas nesse processo de imu noproteção do zigoto,
definidas como cau as aloimu ne , têm ido aventada como
TROMBOFILIAS HEREDITÁRIAS possível origem de abortamentos J c repctição.l·951 "
A perda gcstacional recorrente pos ivclmente at ribuída
As trombofilias hereditárias constituem grupo de alte- a esses fatore · alogênicos se daria por urna resposta seme-
raçõe da coagulação associado à predisposição a eventos lhante à reação enxerto-hospedeiro ob ervada em pacien-
trombóticos. Embora as trornbofil ias hereditárias sejam tes transplantados. e o blastocisto se de envolve de forma
associada a perdas ge racionais tardias, a sua relação com normal e intacta, o embrião é inteiramente protegido por
abortamentos precoces é controversa.45 4- células trofoblásticas. Caso o blastocisto seja genetica-
A mutação de Leiden no f.·nor V da coagulação foi re- mente mal formado e não intacto, esses antígenos paternos
centemente identi ficada como a predi posição genética podem fica r expostos ao si tema imune materno, levando
mais frequente dos fenômenos tromboembólicos. Os a uma resposta de rejeição. Outro mecani mo proposto
achados de trombos placentário em pacientes com a sín- seria uma fa lha materna na proteção imu nológica ao em-
drome de anticorpos antifo folípides, c de hipofi brinóli e brião em formação, provavel mente por falta de produção
e deficiência do fator X li de coagulação cm pacientes com de proteínas reguladoras do sistema complemento, com
perdas ge racionais recorrentes, levaram alguns investi· aumento da atividade das células natural-k.i/ler derivadas do
gadores a aventar a possibilidade da hi percoagulabilidade útero.54 Esses e outros aspectos da imunomodu lação n5o
e ta r envolvida etiologicamcnte com essa perdas. Os estu- estão bem-definidos.
dos têm enfatizado freq uência aumentada des a mutação Apesar do mecanismo proposto, as evidências não têm
em mulheres com perdas gestacionais repetidas bem corno sido unânimes na demonstração das doenças aloimune
no fetos abortados.~ 6•4 ~ 50 como causa de abortamento recorrente. Muitos mostra-
O utras trombofilias hereditárias, como mutação no ram pouca correlação entre o desfecho gestacional e hi -
gene da protrombina, poJjmorfi mo na metilenetetra hi- tocompatibilidade ou a presença de anticorpos leucocito-
drofolato-reduta e (hiper-homocisteinern ia), re istência à tóxicos antipaternos. 55
proteína Cativada c deficiência de proteína S também têm Apesar do mecan ismo de perdas gestacionais por esta
sido associadas às perdas gestacionais de repetição.46 causa não estar estabelecido, diversos e quemas terapêu-
A terapêutica nos casos de trombofilias, à exceção da ticos imunológicos foram propostos. O con en o atual é
hiper-homocistei ncmia, é a mesma proposta para a síndro- de que nenhuma das propostas ma is estudadas, como a
me de anticorpos antifo folípides. As ge ta ntes com hiper- imunização de células paternas, a imunização com linfó-
·homocisteinemia devem receber suplementação de ácido citos de doadores e o uso de imunoglobulina venosa, teve
fól ico e vitaminas 86 e B12.4 s melhores resultado que o placebo na melhora das taxas de
nascimento vivo.~6

ÜUTROS FATORES I MUNOLÓG I COS


CAUSAS INFECCIOSAS
O sistema imunológico é capaz de recon heccr tecidos selj
c ao mesmo tempo proteger o organismo contra a inva ão Embora frequentemente investigadas na prática clínica,
por tecido 1101 selj Os antígcnos responsáveis por essa ação não existe nenhu ma evidência associando causas infeccio-
são os antígeno leucocitários humanos (HLA), o complexo sas a abortamentos de repetição. A prevalência de infecção
de histocompatibilidade maior (M HC) e o sistema ABO, (Iisteriosc, sífilis, clamídia, micoplasma, herpes simples, he-
entre outros. O i ternas H LA e MHC são responsáveis patite, citomegalovírus, rubéola, parvovírus, entre outras)
pela resposta de aceitação ou não de um enxerto.2..l Como na população de mulheres com abortamento de repetição
o zigoto expressa antígenos H LA materno e paterno, é im- não é maior do que a encontrada na populaç5o geraJ. l·4•9•51

470 Noções Práticas de Obstet rícia


PERDAS GESTACIONAIS Somente dois estudos random izados, com algumas talhas
R EPETIDAS SEM CAUSA APARENTE metodológicas, tentaram esclarecer essa questão. Tulpalla
et a/.58 observaram que o AAS não melhorou o desfecho
gestacional em relação ao placebo. Já Cris el a/.59 demons·
Em número significativo de casais, apesar de toda prope· traram bons resultados com o uso de heparina em relação
dêutica bem-fundamentada, não é possível identificar a causa ao AAS. Contudo, os dados ainda são insuficientes para que
das perdas gestacionais. É interessante notar, e deve ser levado a terapia trombolítica seja recomendada nessas pacientes.60
em consideração, que a chance de uma gestação com nasci·
mento de feto vivo nessas pacientes chega a 50%sem qualquer
intervenção.57 Algumas modalidades terapêuticas têm sido CoNSIDERAÇÕEs FINAIS
oferecidas a essas pacientes, como mudanças no estilo de vida,
uso de progesterona, uso de AAS e/ou heparina, terapia com Os aspectos envolvidos na perda gestacional de repeti·
hCG c procedimentos como fertilização in vitro com diagnós- ção são múltiplos, complexos e muitos deles ainda carecem
tico genético de pré-implantação ou doação de óvulo. de comprovação científica.
Estudos epidemiológicos realçam melhora da fertilida- A contribuição da investigação histopatológica cm todos os
de com algumas mudanças no hábito de vida, tais como in- casos de perda gestacional, especialmente se realizada por pro·
terrupção do tabagismo, do uso de álcool e de cafeína, além fissional habilitado em patologia fetal, é fu ndamental. A asso-
de diminuição do índice de massa corporal em pacientes ciação de história clínica detalhada, avaliação histopatológica
obesas. Essas medidas não foram testadas em estudos ran- bem-realizada e análise por equipe interdisciplinar composta
domizados. A progesterona tem sido muito prescrita para por obstetras, clínicos, geneticistas e patologistas certamente
paciente com perdas recorrentes sem causa aparente. Ape· não só poderá propiciar a identificação da causa da perda gesta·
sar de também não ter sido testada em estudos randomi- cional em nú mero significativo de vezes, mas também ajudará
zados, muitos estudos observacionais revelam sua eficácia. a selecionar os casos que se beneficiarão de abordagem mais
A profi laxia para eventos trombóticos comAAS ou hc- complexa. O uso racional de toda a propedêutica disponível
parina em pacientes com abortamento de repetição sem poderá beneficiar casais que vivem o sonho de ter um filho e
causa aparente ainda é motivo de discussão. Seu uso se sentem a angústia de perdê-lo se repeti r inúmeras vezes.
baseia em estudos não randomizados e nos resultados po· O Qyadro 29.2 apresenta as evidências mais relevantes
sitivos do tratamento na sínd rome de ovários policísticos. sobre a perda gestacional de repetição.

Quadro 29.21 Resumo dos graus de recomendação sobre a perda gestacional de repetição
lntervençao N1vel de Grau de
ev1dênc1a recomendação

Avaliação de perda gestacional Avaliação de perda gestacional após 2 ou 3 perdas 2C 8


recorrente consecutivas I
ICausas genéticas Cariótipo do casal 28 8
Causas uterinas Correção cirúrgica de septo uterino ou útero bicorno 2C 8
Causas imunológicas Uso de imunoterapia não recomendado 1A A
Uso de corticoide 18 A
Causas endócrinas Tratamento da hiperprolactinemia. diabetes mellitus e 28 8
hipotireoidismo
Sfndrome anticorpo antifosfolfpide Uso de heparina + AAS 1A A
Causas aloimunes Uso de imunoglobulina. imunização com células paternas. 1A A
imunização com linfócitos de doador não recomendado

Perda Gestac ional de Repetição 471


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472 Noções Prát icas de Obstetrícia


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Perda Gestacional de Repetição 473


Mortalidade Materna
Regina AméHa Lopes Pessoa de Aguiar
Suzana Maria Pires do Rio

Conceitos Etiopatogenia
Morte Materna Prevenção
Razão da Mortalidade Materna Planejamento Familiar
Epidemiologia Assistência Pré-natal
Assistên cia ao Parto
Assistência ao Puerpério
Assistência a Intercorrências Gestacionais

s chamad as estatísticas vitais, que incluem as ta- produção humana e estima-se que para cada morte materna

A xas de nascidos vivos, mortalidade geral, óbitos


fetais, óbitos infantis, mortalidade materna, óbi-
tos por causa externa e mo rtal idade por cânce r, são fo rmas
ocorrida pelo menos outras 20 mulheres sobreviveram com
sequelas ou lesões secundárias ao processo da reprodução,
tendo a maioria dessas sequelas repercussões em longo prazo.
numéricas de avaliar a qualidade de vida de uma popula- Embora os dados publicados pela Organização Mun-
ção e, em consequência, a qualidade dos serviços de saúde d ial de Saúde (OMS) em conjunto com o UNICEF, o
d isponibilizados para essa população. Ta mbém podem ser Fundo de População das Nações e o Banco Mundial mos-
util izados como importante fonte para formulação de pro- trem queda de 34% no número de mortes nas duas ú ltimas
gra mas em saúde pública c análise do impacto de progra- décadas, no ano de 2008 a estimativa foi de 358.000 mor-
mas específicos. tes maternas em todo o mundo, com 99% dessas mortes re-
Entre as estatísticas vitais, a mortalidade materna e amor- gistradas em países em desenvolvimento, principalmente
talidade perinatal têm profunda relação com a qualidade de no continente africano. 1
vida das mu lheres e com a assistência obstétrica, sendo, por- Em 2000, a Organização das Nações Unidas, ao a nali-
tanto, importantes indicadores de saúde para a Obstetrícia. sa r os maiores problemas mundiais, estabeleceu oito objeti-
A mortalidade materna é considerada uma das mais gra- vos, denominados Objetivos do Milênio (ODM). O quinto
ves violações dos d ireitos humanos, pois é, na maioria dos objetivo refere-se a "melhorar a saúde das gestantes" bus-
casos, evitável e ocorre, principalmente, entre os mais pobres. cando fo rmas de assegurar mais gestações planejadas, aces-
O estudo da mortalidade materna permite também esti- so ao acompan ha mento pré-natal de qual idade, assistência
mativa indireta das sequelas relacionadas ao processo de re- ao parto, aborto e puerpério por profissionais habi litados. 2
Como forma de men urar o a lcance desse objetivo, fo i esta- MORT I·. MAT ER NA OBST ÉTR ICA
belecida em 75% a meta de redução das taxas de mortalida-
de materna em todo o mundo. As mo rtes maternas obstétricas podem ser de do is gru-
o Brasil, desde a décad a de 80 com a introdução pos: obstétricas d iretas c obstétricas ind iretas.
da Polít ica de Assistência Integral :\ Saúde da M ulher A morte obstétrica d ireta é aq uela que acontece por
(PAISM), delineada em 1984 pelo M inistério da Saúde a complicações obstétricas ocorridas no curso da gestação,
preoc upação com a mo rta lidad e mate rna se faz presente parto e/ ou puerpério, devido a intervenções, om issões, tra-
nas agendas políticas. Nessa época fo ra m impla ntados tamentos incorretos ou a uma cadeia de eventos resultante
os primeiros com itês estaduai s de mo rte m atern a, que de quaisquer das condições citada . Nesse grupo estão in-
têm como u m dos o bjctivos dar visibilid ade à q uestão cluídas as causas exclusivas do processo gcstacional, como
da mortal idade m aterna, subsidi ando os gesto res na hemorragias da gravidez, complicações do parto e puer-
con st rução de estratégias q ue b u q uem a excelência na pério, m as também complicações relacionadas à anestesia
assistência à saúde da mu lher. Em 2004, foi ass inado o ou qualquer outro p rocedimento que tenha sido realizado
Pacto acio nal pela Red ução da Mo rtal idade M aterna para assistência na gravidez. Além dis o, in fecção do trato
e N eonatal como estratégia prioritária adotad a pe lo Go- urinário, diabetes que se desenvolve no cu rso da gestação,
verno do Brasil para a redução da mortalidade matern a e tromboembolismo venoso, síndro me de Shechan, transtor-
neonatal e tendo como funda mento a mpla mobi lização nos mentais e compo rtamentais associados ao puerpério
de gestores e da sociedade c ivi I na pro moção de políticas e osteom alácia puerperal são caracterizados como causas
e ações integradas que promovam a m elho ria d a saúde obstétricas diretas de morte materna 4 O Q uadro 30.1
m atern a e infantil. 3 sintetiza as causas de morte matern a caracterizad as como
A especialidade da Obstetrícia e G inecologia te m pa- morte obstétrica di reta.
pel fundamental nesse processo. Esses profissio nais têm a A morte obstétrica ind ireta é a resu ltante de doenças
oportunidade de cuidar da vida das mulheres desde antes preex istentes ou daquelas gue se desenvolveram dura nte a
do nascimento até a senectude, podendo reverter as es- gravidez (exceto as de causas obstétricas diretas), mas que
tatísticas utilizando de forma responsável todo o conhe - foram agravadas pelos efeitos fisiológicos da gravidez. e e
cimento da fisiologia femi nina, aliad o aos avanços cien- grupo são incluídas, ta mbém, doenças infecciosa c para i-
tíficos e tec nológicos, sem perder o enfogue na questão tárias que compliquem a gravidez, como tuberculo c, sífilis,
específica de gênero, d iscutindo a saúde d as mu lheres sob infecção pelo gonococo, ma lária e hepatite. Gesta ntes ou
a persp ectiva mu lt idisciplinar e mu ltipro fissional. puérperas infectadas pelo vírus da imu nodeficiência huma-
na que evoluem para óbito são categorizadas, em gera l, no
grupo de morte obstétrica ind ireta, desde que a ava li ação
CoNCEITos criteriosa do caso demonstre que a gestação foi determin an-
te no óbito.4 O Q uadro 30.2 sinteti za as causas de morte ma-
MORTE MATERNA terna classificadas como obstétrica indireta em nosso país.

egundo a C lassificação internaciona l de D oenças, na


sua lO• edição (C ID -lO), de 1995, morte matern a é o óbi- MORTE MATERNA NÃO ÜBSTÉTRICA
to femini no dura nte a gestação ou dentro de um período
de 42 d ias após o térm ino da mesma, independentemente É resulta nte de causas incidentais (neoplasias mal ig-
da duração ou localização da gravidez, devido a qualq uer nas, in fecções graves ou out ras) ou acidentais (suicídios,
causa a e la relacionada ou por ela agravada ou, ainda, em hom icídios, acidentes) não relacio nadas à gravidez ou seu
decorrência de medidas tomad as em relação à gestação, acompan hamento.4 Esses óbitos não são incluídos no cál-
4
excctuando-se causas acidentais ou incidentais. culo da razão da mortalidade materna. É chamada por ai-

476 Noções Práticas de Obstetrícia


guns estudiosos de morte não relacionada. Cada vez mais Quadro 30.21 Causas de morte materna obstétrica indire-
vem sendo reconhecida a importância de se conhecerem ta de acordo com a C ID -lO
essas mortes. Seriam elas, de fato, não relacionadas à gra- CodJgo CID 10 Ciwsas
videz? Ou esse grupo de mulheres estaria mais exposto a
determinados riscos, como, por exemplo, os ac identes ou
o10 Hipertensão preexistente complicando a
gravidez. parto e puerpério
o crescimento acelerado de um tumor ou mesmo o adia-
O24.0 a O24.3 Diabetes mellitus preexistente I
mento de seu tratamento para preservar o feto? As páginas
policiais frequentemente se reportam a assassinatos que O24.9 Diabetes mellitus na gravidez, não espe-
têm na gravidez, se não o ú nico, um fator determinante. cificado
Q!Jantas mulheres recorrem ao autoextermín io ao desco- O25 Desnutrição na gravidez I
brir uma gravidez indesejada e socialmente não aceita?
o98 Doenças infecciosas e parasitárias mater-
nas classificáveis em outra parte, mas que
complicam a gravidez. parto e puerpério

Q uadro 30.1 I Causas de morte materna obstétrica direta A34 Tétano obstétrico
de acordo com a C ID-lO B20 a B 24 Doenças causadas pelo vfrus da imunode-
CociJqo CI0 -10 CilUSéiS ficiência humana

O00 a O08 Complicações de aborto. gestação ectópi-


ca e mola hidatiforme
O11 a O16 Pré-eclâmpsia e eclâmpsia MORTE MAT ERN A TARD IA
I
Io2o Hemorragia no infcio da gravidez 1 É a que se verifica por causa obstétrica di reta ou indircta
o 21 VOmitas excessivos da gravidez I após o período de 42 dias pós-parto, não ultrapassa ndo um
o 22 Complicações venosas da gravidez I ano do término da gestação. A CID-lO ainda estabelece o
código 0.97 para morte materna ocorrida por sequela obs-
023 Infecção do trato genitourinário na gravidez
tétrica d ireta ou indireta até um ano ou mais após o parto.4
024.4 Diabetes mellitus que surge durante a
gravidez I
026 Assistência materna por complicações MORTE R ELAC IONADt\ À GESTAÇÃO
ligadas predominantemente à gravidez
029 Complicações de anestesia administrada É a morte de uma mulher grávida ou dentro de até 42
durante a gravidez dias do término da gestação, qualquer que tenha sido a causa
030a048 Assistência prestada à mãe por motivos do óbito.4
ligados ao feto e à cavidade amniótica e
por possíveis problemas relativos ao parto
O60a O75 Complicações do trabalho de parto e parto MORTE MATERNA ÜECLA RADA

080a084 Parto
É a morte materna corretamente registrada na declara-
085a092 Complicações relacionadas predominante- ção de óbito (DO) pelo médico, ou seja, a simples leitura da
mente ao puerpério
DO permite a classificação d a morte como materna.4
D39.2 Mola hidatiforme invasiva ou maligna I
E23.0 Necrose pós-parto da hipófise I
MORTE MATERNA NÃO DEC LARADA
F53 Transtornos mentais e comportamentais
associados ao puerpério
É considerada como não declarada quando as informa-
M83.0 Osteomalácia puerperal 'I
ções registradas na DO não permitem classificar o óbito

Mortalidade Materna 477


como materno. Apenas com os dados obtidos na investiga- não receberamhabilitação adequada para opreenchimen-
4
ção é que se descobre tratar-se de morte materna. to correto da DO ou não valorizam a importância do do-
cumento e, em consequência disso, não especificam a rela-
ção da causa da morte com a gravidez, parto ou puerpério.
MORTE MATERNA PRESUMÍVEL OU MASCARADA São relativamente comuns as situações nas quais mulheres
que morrem por complicações de eclâmpsia, hemorragias
É considerada morte materna mascarada aquela cuja da gravidez, infecções puerperais ou abortamento tenham
causa básica, relacionada ao estado gravídico-puerperal, não na decla ração de óbito apenas a causa fi nal da morte, por
consta na DO por fa lhas no preenchimento. Ocorre quando exemplo, acidente vascular cerebral, pneu monia de aspira-
se declara como causa do óbito apenas a fator terminal das ção, insuficiência renal aguda, choque hipovolêmico, sep-
afecções ou a lesão que por último na sucessão de eventos ticemia, síndrome da resposta infla matória sistémica sem
culminou com a morte. Por exemplo, puérperas que evo- menção alguma ao estado gravídico-puerperal da mul her.
luem para o óbito após infecção puerperal têm a causa pre- Outro fator complicador para a subnotificação são as DOs
enchida como septicemia, sem qualquer referência na DO sem assistência médica quando a declaração do óbito é fi r-
de que a sepse foi secundária a uma infecção puerperal.4 mada em cartório por duas testemunhas 4
Buscando m ini mizar essas falhas no preenchimento
da D Os, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publi-
RAZÃO DA MORTA LIDADE MATERNA cou, em parceria com o Ministério da Saúde (MS), a car-
tilha intitulada "declaração de óbito: documento neces-
A razão de mortalidade materna (RMM) expressa o sário e importante" no qual, além de ensinar ao médico o
número de mortes maternas obstétricas diretas e ind iretas preenchimento passo a passo, ainda disponibiliza toda a
em relação ao número de nascidos vivos na mesma área ou legislação pertinente ao tema. 5 Nesse documento, o CFM
região. É calculada dividindo-se o número desses eventos ressalta que o preenchimento da DO é ato médico e o seu
pelo número de nascidos vivos, na mesma área e período, correto preenchimento é "imperativo ético".
multiplicando-se por 100.000.4 O sub-registro ou subnumeração é representado p ela
Pode ser calculada com as mortes maternas específicas, omissão do registro do óbito em cartório. A existência de
mortes maternas declaradas, mortes maternas não declara- cemitérios clandestinos, ainda comuns em algumas regiões
das e mortes maternas presumidas: do país, e a falta de conhecimento por parte da população
quanto à importância da DO como instrumento de cida-
RMM =No de óbitos maternos x 100.000 dania favorecem essa falha epidemiológica.'
N o de nascidos vivos Os dados publicados pela OMS em 20 IOestimam que
a razão de mortalidade materna no Brasil seja de 58, varian-
do da estimativa míni ma de 38 e máxima de 87 a 100.000
EPIDEMIOLOGIA nascidos vivos. 1
Os dados preliminares disponibilizados no site do DA-
Embora do ponto de vista teórico o con heci mento da TASUS para o ano de 2008 informam a notificação de
magnitude da mortalidade materna seja simples para paí- 1.540 óbitos maternos, dos quais 1.275 ocorreram durante
ses que tenha m modelos padronizados de declarações para a gravidez, parto e até 42 d ias após o término da gravidez.
registras oficiais de nascimento e morte, esse é na verdade Para o mesmo ano, o número informado de nascidos vivos
um dos grandes desafios a serem vencidos nos d ias atuais, foi de 2.917.432 . Levando-se em consideração esses dados,
pois enfrentamos graves problemas de subnotificação dos a razão de mortalidade materna notificada no Brasil no ano
óbitos maternos e sub-registro das DOs e das declarações de 2008 é de 43/ 100.000 NVs. O relatório d ivulgado pelo
de nascidos vivos (DNV) no nosso país. MS em maio de 20 10 acusava queda de 50% da mortal ida-
A subnotificação é, fundamentalmente, responsabili- de materna de 1990 a 2007. Os dados do relatório indica-
dade dos médicos e resulta do preenchimento incorreto ram que a razão da mortalidade materna em 2007 foi de 75
das DOs. Isso se deve ao fato de que diversos profissionais por I 00.000 nascidos vivos.6•7

478 Noções Prát icas de Obstetrícia


No ano de 2002, o Ministério da Saúde, em parceira ETIOPATOGBNIA
com a Escola de Saúde Pública da Universidade de São
Paulo, rea lizou pesquisa em todas as capitais do Brasi l Na dependência das tecnologias d isponíveis, prevê-se
para estimar u m fator de correção a ser aplicado na razão que 80 a 92% das mortes maternas podem ser evitadas.
de morte materna oficial. Os pesqu isadores concluíram Cerca de 80% das mortes registradas são por causas
q ue, para as capitais, o f.1to r a ser utilizado seria 1,4, ou obstét ricas di retas. A Figura 30.2 apresenta a d istribuição
seja, os dados o ficiais devem ser mu ltiplicados por esse das principais causas de mortalidade materna no mu ndo.
fator para estimativa m ais fided ign a da razão da morte No Brasil, a principal causa d e morte materna é a hi-
materna. Essa pesquisa foi uti lizada no relatório publica- pertensão, segu ida por hemo rragia, infecção puerperal,
do pela OMS para a estimativa da mortalidade materna abo rto e doenças do aparelho circu latório.
no Brasil. 8
Existe acentuada diferença no risco de morte por
complicações da gravidez, parto e puerpério nas d iversas
partes do mu ndo. O determi na nte da d ife rença é a pobre-
za da população. Para os dias atuais, estima-se que a pro-
babilidade de um a adolescente de 15 anos vir a morrer ao
longo de sua vida por causa materna na Africa subsaaria-
13% 13%
na seja de I :3 1; no Brasil, é de 1:860, e nq uanto nos países
desenvolvidos esse risco é de I :4.300. Como salientado
anteriormente, o relató rio da OMS revelou redução na Hemorragia (24%) • Parto obstruído (8%)
morte materna em todo o mundo no período estudado
• Infecção (15%) • Outras di retas (8%)
( 1990 a 2008), mas essa redução está abaixo d a esperada
• Eclâmpsia (13%) • Causas indiretas (19%)
para o cumprimento dos Objetivos do M ilênio. 1 A Figu ra
30. 1 mostra a d istribuição da razão da mortalidade ma- • Aborto inseguro (13%)
terna estimada e m todo o mundo.
Figura 30.2 1Principais causas de mortalidade materna no
mundo.

o o

...
o

oo o

o o

'
'•
o

D <20 - 550 - 999


~ 20 - 99 - ~1000
- 100 - 299 O População < 250.000 não incluldas na avaliação
- 300 - 549 - Não aplicável
I
Figura 30. 1 Razão de mortalidade materna estimada no mundo.

Mortalidade Materna 479


PREVENÇÃO Para as gestantes com d oenças intercorrentes, como
hipertensão, diabetes, cardio patia, doença falciforme,
A prevenção da mortalidade materna deve ser centrada entre o ut ras, a identificação precoce d o risco com aces-
nos pilares dos cuidados à saúde da mulher, tendo como so p rioritário aos serviços de referência em gestação de
essenciais o acesso ao planejamento fam iliar com ênfase alto risco contribui para a redução d os ó bitos nesse g ru-
no risco reprodutivo, a assistência pré-natal de qualidade, po d e mulheres. Não se espera e não é factível q ue os
a assistência ao parto e aborto seguros? profissio nais da atenção tenham habilitação e acesso à
tecnologia necessári a para a condução desses casos, en-
tretanto, é exatamente na atenção básica que pode ser
PLANEJAMENTO FAMI LIAR garantida a correta identificação do risco e o encami-
nham ento responsável.
Inquestionavelmente, a principal causa do elevado nú- Apesar dos dados numéricos indicarem melho r co-
mero de abortos inseguros em nosso país é a gravidez in- bertura d a assistência pré-natal em nosso m eio, ainda
desejada. Além d isso, mu lheres com doenças crónicas têm, há m uito a ser conquistad o no que se refere à qualidade
frequentemente, expressiva limitação de acesso aos serviços d a assistência.
de planejamento familiar. O nú mero de gestações de alto
risco é mais elevado entre os grupos menos favo recidos.
As mulheres enfrentam dificuldades para controlar sua ASSISTÊNCIA AO PARTO
fertilidade, tanto por problemas de acesso à informação e
métodos anticoncepcionais, como em decorrência da ca- Atend imento ao parto de qu alidade é a principal es-
pacitação insuficiente dos profissionais que as atendem. tratégia para reduzir o número de mortes por hemorragia,
Assim, ações de governo que promovam a qualificação da sepse, doenças da placenta, distócias da contração uterina,
assistência e facilitem o acesso aos métodos contraceptivos embolia e outras complicações ocorridas nesse período 10 •
são essenciais para o sucesso dessa intervenção. Essas causas são responsáveis por quase 40% das mortes
maternas no Brasil. Melhorias no atendi mento ao parto
poderão também contribuir para redução no número de
AssiSTÊNCIA PRÉ-NATAL mortes pelos distúrbios hipertensivos da gestação, aborto
e outras causas d iretas e indiretas.
Levando-se em conta que cerca de 80% das mortes O atendimento ao par to adequado requer a presença
maternas são por causas obstétricas d iretas e que entre es- de equipe treinada, medicamentos ind ispensáveis (in-
sas causas as complicações de pré-eclâmpsia e eclâmpsia clu indo ocitocina, anti-hipertensivos e anticonvulsivan-
representam, em nosso meio, a causa mais comum, fica tes), capacidade para a realização de anestesia, cesariana
clara a necessidade da melhoria da qualidade da assistên- de emergência, acesso facilitado à hemoterapia e d isponi-
cia pré-natal. Embora, à luz do conhecimento atual, não bilidade de equipamentos (respirador, aparelho de cardio-
existam fo rmas eficazes de prevenção da p ré-eclâm psia, é versão e acesso imediato à unidade de terapia intensiva).
bem-estabelecido que a identificação precoce dessas ges- Embora representativo número de partos evolua sem in-
tantes é capaz de prevenir a quase totalidade d as mortes. tercorrências se respeitados os princípios da fisiologia e da
O uso do sulfato de magnésio para prevenção e tratamen- assepsia, as complicações nesse períod o exigem rápidas
to das crises convu lsivas, o uso de hipotensores para o tra- tomadas de decisões.9
tamento da crise hipertensiva e, sobretudo, a identificação Mais de 90% dos partos no Brasil ocorrem em hospitais
do momento oportuno de interrupção da gestação cons- ou unidades de saúde e 88% são atendidos por profissionais
tituem o s pilares da prevenção da morte materna nessa t reinados, especialmente méd icos (77% do total de partos).
situação. Além disso, o d iagnóstico e t ratamento correto Partos domiciliares e sem atendimento por profissionais
das infecções, como bacteriú ria assintomática e vaginose treinados são mais frequentes na região Norte. Apesar des-
bacteriana e anemia durante a gravidez, contribuem para sa ampla cobertura de partos institucionais, os resultados
menos riscos no parto e puerpério. revelam qualidade inadequada do atend imento.

Noções Práticas de Obst etrícia


Grande desafio na assistência ao parto no Brasil é o de métodos contraceptivos, promovendo futuras gesta-
enfretamento do signi ficativo número de cesarianas reali- ções planejadas. Para as mulheres com doenças crônicas, a
zadas sem indicação obstétrica. Toda e qualquer cirurgia consulta puerperal é fundamental para o aconselhamento
apresenta riscos de morte por hemorragia, infecção ou reprodutivo e encaminhamentos específicos.
complicação anestésica. Infecção hospitalar é problema
importante de saúde pública no Brasil. Além disso, a cica-
triz uterina é fator de risco para acretismo placentário c ro- ASSISTÊNCIA A
tura uteri na em gestações subsequentes, com consequente INTERCORRÊN CIAS GESTACIONAI S
aumento no risco de hemorragias. Considerando apenas
os nascidos vivos no ano de 2008, no Brasil a taxa geral de A gestação nem sempre evolui como processo fisioló-
cesariana foi de 48,4%. É bem difundido gue esses dados gico e a vigilância a toda e qualquer intercorrência pode
sofrem muita influência do número de cesarianas realiza- fazer a diferença nos resultados epidemiológicos. Assim,
das no sistema de saúde suplementar, já que em algumas é imprescindível que o profissional que atenda à gestante
instituições privadas as taxas de cesariana alcançam cifras seja sempre capaz de lembrar que ao lidar com o processo
próximas de 100%. natural da reprodução humana não pode dei xa r de estar
Reduzir os coeficientes de cesarianas é tarefa muito alerta para a identificação e/ou intervenção precoce que
complexa, pois envolve diversos setores da sociedade. Não busquem resgatar ou manter a saúde materna e perinatal.
há intervenções comprovadamente eficazes contra a reali- A saúde materna é parte fundamental da saúde repro-
zação desnecessária de cesarianas. Ações como esti mular dutiva e deve estar inserida no enfoque integral da assistên-
nas equipes obstétricas a necessidade de segunda opinião cia à saúde.9•10 A atuação adequada de serviços com visão
médica antes da realização da cesariana, melhorar o acesso integral e de equidade, em um sistema regionalizado e de
à analgesia tanto por técnicas convencionais como alterna- complexidade crescente, é o modelo ideal de assistência,
tivas, apri morar o treinamento na assistência ao parto va- principalmente no que se refere ao combate à morte mater-
ginal, melhorar as condições de trabalho dos profissionais na. A Obstetrícia e a Ginecologia são as especialidades em
que realizam a assistência ao parto aliadas a campanhas que a ação preventiva suplanta, via de regra, as ações cura-
educativas voltadas para a sociedade sobre os benefícios do tivas e esse enfoque deve permear qualquer modelo assis-
parto normal tendem a impactar positivamente na redução tencial. O obstetra e o ginecologista que atendem à mulher,
das taxas de cesariana. durante ou fora do período gestacional, deve buscar exerci-
tar a ideia de que, para que os resu ltados sejam adequados,
é preciso ir muito além do cuidado com os órgãos genitais
ASSISTÊNCIA AO PUERPÉRIO da mulher. É preciso cuidar do corpo para a cabeça ir bem.
É preciso cuidar da cabeça para o corpo ir bem. É ter e da r
O período puerperal carece, ainda, em nosso meio, de direito à vida, respeitando a cidadania.
devida atenção. As altas precoces e o não acompan hamen-
to à puérpera trazem desastrosas consequências para o
resultado materno e perinatal. A revisão precoce no puer- REFERÊNCIAS
pério permite a identificação dos casos de infecção puerpe-
ral, caso comum de morte materna, como já mencionado. I. W HO . UN ICEF. UN FPA. The World Bank. Trcnds in Ma-
ternal Mortality: 1990 to 2008. W HO; 20 IO. SSp.
Além disso, é importante no estímulo ao aleitamento ma-
2. Brasil. Ministério da Saúde. Objctivos de desenvolvimento
terno, que beneficia tanto o recém-nascido como a mulher.
do milên io relativos ao setor saúde. Disponível cm: http://
A avaliação no puerpério tardio é momento adequado para portal.saude.gov.br.
discussão sobre o benefício do intervalo interpartal, para 3. Brasil. Ministério da Saúde. Pacto pela Redução da Mortal i·
a identificação de riscos para novas gestações e para estí- dade Materna. Disponível em: http://dtr2002.saude.gov.br/
mulo a hábitos saudáveis de vida e cuidados com a saúde. proesf/Site/ Arqu ivos _pd f_ word/ pdf/ Pacto%20A prova-
do%20na%20Tripartitc.pdf
É momento oportuno para programação de introdução

Mortalidade Materna
4. Brasil. Ministério da Saúde. Manual dos Comitês de Mortali- 8. Brasil. Ministério da Saúde. Estudo da Mortalidade de Mu-
dade Materna. 3 ed. Brasíl ia: Ministério da Saúde; 2007. 103p. lheres de lOa 49 anos, com ênfase na Mortalidade Materna.
5. Brasil. Ministério da Saúde. Adeclaração de óbito: documen- Brasília: Ministério da Saúde; 2006. 126p.
to necessário c importante. Brasília: Ministério da Saúde; 9. Rio SMP, Aguiar RALP. Mortalidade Materna. ln: Chaves
2006.40p. Netto H, Sá RAM. Obstetrícia Básica. 2 ed. São Paulo: Athc-
6. Brasil. Ministério da Saúde. SIM / MS - Sistema de Informa- neu; 2007. p.l O11-20.
ções sobre Mortalidade. Ministério da Saúde, Brasil, 2008. 10. WHO.The WHO Reproductive Hea lth Library2006. (CD
Disponível cm: http://www.datasus.gov.br. Room). Geneva: WH 0;2006.
7. Brasil. Ministério da Saúde. RIPSA. Rede lntcragcncial de
Informações para a Saúde. Indicadores e dados básicos. Bra-
sil, 2007. Dispon fvel em: http:// www.datasus.gov.br.

Noções Práticas de Obstetrícia


Seção 5
Gravidez e doença coexistente
- \'v ,v. :• •lj''\.}"'
I 1'\
Infecções Genitais e Gravidez
Geraldo Duarte
Silvana Maria Quintana
Conrado Milani Coutinho
Patrícia El Beitune

Vaginose Bacteriana Candidíase Vulva - vaginal


Complicações Maternas e Fetais Diagnóstico
Diagnóstico Tratamento
Tratamento Herpes Genital
Tricomoníase Complicações Maternas e Fetais
Complicações Maternas e Fetais Diagnóstico
Diagnóstico Tratamento
Tratamento Resolução da Gravidez
Infecção Genital pelo Gonococo Infecção Genital pelo
Complicações Maternas e Fetais Human Papillomavírus
Diagnóstico Complicações Maternas e Fetais
Tratamento Diagnóstico
Clamidíase Genital Tratamento
Complicações Maternas e Fetais
Diagnóstico
Tratamento

pesar do avanço tecnológico e científico propi- sob o prisma reprodutivo elas assumem importância que

A ciando diagnósticos mais precisos e mais efe-


tividade terapêutica, as infecções genitais ainda
representam grave problema de saúde pública em todo o
extrapola a perspectiva singular do diagnóstico e adqui rem
condição que obriga o profissional de saúde a fazer aborda-
gem pluralista, preocupando-se não só com seus efeitos lesi-
mundo. Parte dessas infecções é transmitida sexualmente, vos sobre a genitália feminina (estético e reprodutivo), com
devendo-se considerar que sua prevalência e incidência o feto e o parto, mas também com a terapêutica, que, em al-
são respostas às transformações sociais, culturais, políti- guns casos, é mais danosa à gravidez que a própria doença.1
cas, econômicas e tecnológicas, constitu indo exemplos Sabe-se que a gestação representa período de relativa e
as mudanças de hábitos e costumes sex uais, o advento e seletiva depressão imunológica, tornando a gestante mais
liberação de métodos anticoncepcionais, a urbanização, susceptível às formas septicêmicas de algumas infecções
migração e industrialização crescentes. transmitidas sexualmente. Essas alterações também po-
Além de ser problema multidisciplinar interessando dem acarretar desequilíbrio da Aora cérv ico-vaginal,
obstetras, ginecologistas, dermatologistas, urologistas e fragilizando as defesas naturais desse ecossistema e au-
infectologistas, quando se analisam as infecções genitais mentando o risco de infecções maternas e perinatais.
Em relação à gravidez, deve sempre er lembrado que pré-termo, rotura prematura das membranas, infecção in-
a ge tantc conti nua com vida sexual ativa c, consequen- tra-amniótica e puerperal, alterações que, potencialmente,
temente, a terapêutica das infecções genitais deve envolver comprometem o prognóstico materno e perinatal.' 6 Os
o(s) parceiro(s) exual(is). 2 Outro detalhe relevante é que grupos bacterianos envolvidos na vaginose bacteriana pro-
a vigilância obre essas infecções não deve se ater apenas à duzem fosfolipase-A2, enzima que atua nos depósito de
primeira consulta pré-natal, mas, de modo dinâmico, deve precursores da produção de prostagbndi nas, dcAagadoras
er exercida até o parto. ão se observa ndo estes preceitos, de trabalho de parto pré-termo.
os resultados inva riavelmente tendem ao insucesso.
Atendendo aos objetivos editoriais deste livro, serão
consideradas as infecções genitais mais frequentes c que DIAGNÓSTICO
trazem problemas mais complexos ao tocoginccologista,
seja porque comprometem o prognóstico gestacional com Entre os critérios clínicos c laboratoriais utilizados para
mais gravidade ou porque promovem exuberante quadro o diagnóstico sindrômico da vaginose bacteriana são uti-
clínico materno. Entre elas serão abordadas vagi nosc bac- lizados o "critério de Amsel ",- listados a seguir:
tcrian.l, tricomoníasc, candidíase vulvo-vaginal, infecção Características física do conteúdo vaginal;
genital pelo gonococo, infecção pel.1 clamídia, infecção pH vagi nal;
pelo herpes vírus tipo II e infecção pelo H PV. eliminação de bioaminas volátei (odor de agradável);
presença de e/ue-ce/Is no exame a fresco.

V AGINOSE BACTERIANA Do ponto de vista da abordagem sindrômica, a existên-


cia de pelo menos três desses critérios indica o diagnóstico
A vaginose bacteriana resulta da substituição dos lac- de vaginosc bacteriana.' Apesar da acurácia limitada dos
tobacilos vaginais produtores de H 20 2 decorrente de mo- critério de Amsel para esse diagnóstico, eles ainda são
dificaçõc que reduzem sua concentração no meio vagi nal, muito utilizados em todo o mundo.
permitindo a colonização predominante de germes anae- Durante o exame ccto cópico vagi nal, detecta-se dis-
róbios (Prevotella sp. e Mobilhmws sp, Gard11erella vagirwlis e ociação entre as manifestações do conteúdo vagi nal (ho-
MycoplasmalronlllliS, entre outros) e de lactobaci los rüo pro- mogênco, leitoso e baixa visco!.idade) c ausência de sinais
dutores de H,0 2. 1 Todos os grupos bacterianos arrolados innamatórios correspondentes nas paredes vaginais c no
nessa .1lteração podem ser isolados em mulheres sem ma- colo. Ademais, algumas pacientes portadoras de vagi nosc
nifestações clínica ou exames subsidiários que configurem bacteriana são assintomáticas.'
v.1ginosc bacteriana. Por esta razão, atualmente a vaginose O pH vaginal observado na vaginosc bacteriana situa-
bacteriana é considerada mais como um desequilíbrio da se acima de 4,5 c, normalmente, o teste de li beração de bio-
microbiota vagi nal do que uma doença causada por uma aminas com oKOH a 10% é positivo. Se ex istem bioami nas
espécie bacteriana única. Hoje, acredita-se que a Gardnerella na amostra avaliada, elas são liberadas cm decorrência do
vag111nlrs possa estar presente em até 50% das mulheres con- pH alcalino propiciado pelo KO H, exalando forte odor de
·idcrada~ normais do ponto de vista de colonização bacte- peixe em decomposição. A citologia ··a fresco·· detectando
riana vaginal. No passado, essa bactéria no ambiente vaginal clue ce/Is e ausência de polimorfomonuclcarcs no csfrcgaço
era sinônimo de vaginosc bacteriana. Essa moderna concci- indica presença maciça de bactérias na superfície da célula,
tuação da vaginosc bacteria na f.1z com que ela não seja mais mas, isoladamente, não é suficiente para o diagnó tico de
considerada un1.1 doença sexualmente transmissívcl.4 vaginose bacteriana. '
Sem dúvidas, o melhor método diagnóstico para iden-
tificar vaginose bacteriana é a identificação c quantificação
COMPLICAÇÕES MATERNAS E FETA I S relativa dos diferentes morfotipo bacterianos, uti lizando-
se a coloração de Gram.~ As técnicas de biologia molecu-
Um dos mais importante aspectos clínicos da vagi- lar de tempo real poderiam ajudar nesse diagnóstico, ma
nose bacteriana é sua associação com o trabalho de parto eriam necessárias sondas para todos os tipos bacterianos

486 Noções Práticas de Obstetrícia


que, potencial mente, podem estar presentes nesse dese- mana tipo I (HIV- I) faz com que o utros auto res indiquem a
9
quilíbrio da microbiota vagi nal. Isto limita objetivam ente terapia em gestantes, a despeito de serem assi ntomáticas. 1'·'6
sua utilização na prática diári a.
O cultivo do conteúdo vagina l não tem indicação e não
deve ser uti lizado para esse diagnóstico, pois induz mais a TRICOMONÍASE
3
erros que acertos.
A tricomoníase vu lvo-vaginal é causada pelo Tricho-
monas vagina/is, protozoário que acomete mais freq uente-
TRATAMENTO mente mu lheres de baixo poder aq uisitivo, com precários
hábitos higiênicos e/ o u mú ltiplos parcei ros sex uais."
Atualmente, o metronidazol via oral é considerado o D epois de se isolar o Trichomonas vagina/is e m 30 a 40%
tratamento de escolha para vaginose bacteriana durante a dos parceiros das mulheres portadoras de t ricomo níase c
gravidez, sendo indicado pela maioria dos autores pa ra o as elevadas taxas de concomitâ ncia com outras doenças
controle dessa doença. 10 As diferenças na distribuição das sex ualmente transmissíveis, não existe mais qualquer dú-
doses diárias desse medicamento (tornando os esquemas vida de que a transmissão sexual seja a principal fo rma de
mais simples e aumentando as taxas de aderência) não in- disseminação desse parasito. Apesa r de não ser aceita por
terferem na sua efetividade, pois a dose diária não muda. todos, é importante citar a capacidade desse protozoário
Boas taxas de adesão e cura são obtidos com 400 mg de de desenvolver endocitobiose com o gonococo, p erm itin-
12/ 12 horas, pelo período de sete dias.' ' Como a vaginose do sua replicação. Este dado deve ser considerado se existe
bacteriana não é considerada de transmissão sexual, não a concomitância de d iagnósticos, trata ndo as duas doenças
3
está indicado o tratamento do parceiro. ao mesmo tempo. '-
O Centers for Disease Contrai and Prevention indica o
metronidazol (250 mg de 8/ 8 horas ou a cli ndamicina via
oral 300 mg, de 12/ 12 horas, po r sete dias) como regime COMPLICAÇÕES MATERNAS E FETAIS
12
alternativo. A vaginose bacteriana causada pelo Mobil-
luncus mu/Jieris não respo nde à terapia com metronidazol, O s efeitos deleté rios da tricomoniase sobre os indicado-
mas responde bem à clindamicina e à ampicil ina. Os re- res de saúde materna e perinatal se associam a fetos de baixo
gimes alternativos são indicados, principalmente, nos peso, rotura prematura das membranas, infecções pós-natais,
casos de resistência bacteriana ou intolerâ ncia gástrica ao prematuridade e febre puerperal. 18 No entanto, não se pode
metron idazol. D ose ún ica do metro n idazol assim como a afi rmar se a tricomoníase seria a real causadora destas com -
clindam icina na forma de cre me vaginal não são indica- pl icações ou se seriam consequências de outras infecções
dos nesse período.u a ela associadas, como, por exemplo, a vaginose bacteriana,
Por vários anos os obstetras evitaram o uso do metro- gonorreia e infecções causadas pelo estreptococo do grupo
nidazol no tratamento da vagi nose bacteriana em gestan- B e pelo papilomavírus. Sem dúvidas, essas associações re-
tes, temendo seus efeitos mutagênicos. Em 1993, os res ul- forçam as iniciativas já ex istentes, visando mel hor controle
tados de Pi per el a/. 14 trouxeram importantes in formações dessa vaginite no período pré-natal.' '
para esses profissionais, demonstra ndo que o uso desse
medicamento era seguro e m gestantes, o que já foi confir-
mado por outros autores. 15 D I AGNÓST ICO
Um dos dilemas sobre a vaginose bacteriana assin-
tomática em gestantes (diagnosticad a por meio da colo- Entre as manifestações clínicas da tricomoníase, destaca-
ração de G ram e baseada na frequência dos morfotipos se a volu mosa descarga vagi nal amarelo-esverdeada, bolhosa
bacterianos presentes nessa doença) é o seu tratamento. e com odor, que varia na dependência da flora a naeróbia as-
Enquanto alguns negam a necessidade de tratamento nesta sociada.11 A imagem colposcópica mostra inúmeros pontos
condição, a associação de vaginose bacteriana com altas avermelhados decorrentes da ação flagelar sobre a parede
taxas de novas in fecções pelo vírus da imunodeficiência hu- vaginal e superfície do colo, traduzidas como cérvico-colpite.

Infecções Genitais e Gravidez


Em aproximadamente 70% dos casos essas lesões não apre- COMPLICAÇÕES MATERNAS E FETA IS
sentam a ampliação necessária para serem detectadas à visão
desarmada. O pH geralmente é superior a 4,5. 1i Recentemente comprovou-se a capacidade da Neis-
O "exame a fresco" do esfregaço vaginal é o recurso seria gonhorrhoeae para aumentar a replicação do HIY-1,
que apresenta a melhor relação custo/ benefício para o explicando por que pacientes com gonorreia se infectam e
d iagnóstico da tricomon íase em gestantes de países em transmitem o Hl V-1 com mais frequência. 22 Estes achados
desenvolvi menta. Além de identificar morfologicamente o também reforçam a teoria de que gesta ntes com gonorreia
protozoário, o número elevado de leucócitos no esfregaço podem aumentar a transmissão vertical desse vírus.
é bastante sugestivo desse d iagnóstico. 19 Utilizar a colora- Para o lado materno, as complicações da gonorreia
ção de hematoxilina-eosina pode ser uma alternati va, mas genital podem ser por contiguidade (Bartholi nite e peri-
a sensibilidade não é boa. As técnicas de biologia molecu- hepatite) ou septicêm icas (lesões de pele, artrite, endocar-
lar apresentam sensibilidade e especificidade elevadas, mas dite e meningite).Atualmente, a disseminação septicêmica
o custo aind a é limitante.11 da Neisseria gonorrhoeae é fenômeno raro, mas não deve ser
esquecida. Segundo as estatísticas sobre o assun to, essas
complicações são mais frequentes em gestantes do que em
TRATAMENTO mulheres não grávidas e homens. Estes fatos obrigam o
obstetra a exercer mais rigor no controle de gestantes por-
Durante o tratamento da tricomoníase em gestantes, é tadoras dessa doença, que estão sob sua responsabilidade.
importante lembrar as medidas gerais, como banho diário, Os órgãos mais acometidos são pele e articulações e, mais
roupas íntimas que perm itam aeração dos genitais, vestes raramente, as valvas card íacas e as meninges. 12•19
folgadas e controle dos possíveis contaminantes. Pa ra o O papel da Neisseria gonorrhoeae como causa de aborta-
tratamento específico, indicam-se cremes ou óvulos vagi- mento foi amplamente d ivulgado no passado,ll mas ainda
nais à base de imidazólicos, duas vezes ao d ia por cinco a carece de estudos que possam dar a resposta defi nitiva.24
sete di as. Não se observando boa resposta clíni ca ou em ca- No entanto, são relatados casos de infecção das mem bra-
sos de recidiva, está indicado o t ratamento sistêm ico com nas corioamnióticas, rotura prolongada dessas membra-
metron idazol (400 m~ via oral de 12/ 12 horas, por sete nas, prematu ridade e ofi:almite, complicações temidas e
dias), aguardando fi ndar o primeiro trimest re gestacional. relativa mente frequentes.11 A septicemia gonocócica do
Os esquemas em dose única são preferidos para tratar o recém-nascido é rara, mas frequentemente fatal. 12
parceiro, por apresentarem taxas de adesão mais elevadas.
No trata mento sistêmico, orienta-se abstinência alcoólica,
tanto para a gestante corno para o parceiro. 11•19 DIAGNÓSTICO

Sem acometimento uretra!, o diagnóstico clínico da


INFECÇÃO GENITAL PELO GONOCOCO gonorreia em gestantes não é tão simples como parece,
visto que o corrimento amarelado decorrente da invasão
O agente etiológico da gonorreia é a Neisseria gonor- do epitélio cilíndrico, nesse período, sofre influências que
rhoeae e sua transmissão é essencialmente sexual. Embora reduzem sua sensibilidade como fator ind icativo de d iag-
a prevalência da gonorreia seja mais elevada em países não nóstico. Apesar do quadro clínico da ecto/ endocervicite
industrializados, essa doença não é exclusiva de popula- ser geralmente frusto, ele pode manter o germe em paci-
ções carentes. 20 entes oligo/ assintom áticas. Por outro lado, se a gestante
Para as manifestações clínicas genitais, aceita-se q ue o apresenta acometimento uretrat as manifestações clínicas
período de incubação para a Neisseria gonorrhoeae seja de são exuberantes, lideradas por disúria e piúria.21
dois a 10 d ias, verificando-se que, em algumas mulheres, Em face das d ific uldades com o diagnóstico clínico
esse período pode ser mais prolongado. Considerando-se da gonorreia e suas potenciais complicações durante o
apenas as man ifestações urinárias, 8S% das pacientes apre- período gestacional, é imperativo que se utilizem exames
sentam sinais/ sintomas entre dois e cinco dias. 21 complementares para confirmação. A for ma m ais prática e

488 Noções Práticas de Obstetricia


simples de identificar a Neisseria gonorrhoeae em casos sin- prc aten to, a exemplo da concomitância de gono rreia com
tomáticos é utilizando a coloração de Gram (o gonococo a infecção genital por Chlarnydia trachomatis. Detectando-
é gram-negativo) em csfregaços uretra is, de fundo-de-saco -se a concomitância do diagnóstico, o tratamento deverá
vaginal c do endocérvix (obtido com prudência para se evi- ser simultâneo. 12
tar corioam niorrexe). Em casos assintomáticos, prefere-se Para controle de tratamento, orienta-se a cultura de
a identificação do gonococo utilizando-se cultivos (meio endocérvix/ uretra/ fundo-de-saco vaginal 72 horas após
de 71-rayer-Martin ou New York City), métodos imunoenzi- a terapêutica, com provando a eficácia do tratame nto. Se
máticos (ELISA) ou as reações em cadeia da polimerase realizado dentro desse tempo, permite identificar preco-
(PCR) ou da ligase (LCR). O s métodos de biologia mole- cemen te falhas terapêuticas e institu ir nova medicação. 11
cular apre~entam mumeras vantagens, tais como rapidez e
confi abi lidade, mas o custo talvez ainda t:steja elevado para
aplicação clínica ro ti neira em países em desenvolvimento, CLAMIDÍASE GEN ITA L
como é o caso do Brasil. 19
abe-sc q ue já foram 1dcnti ficados pelo me nos IS
difere ntes sorotipos da Chlamydia trachomatis, identifica-
TRATAMENTO dos por letras do alfabeto. Para a infecção gen ital, inte-
ressam os sorotipos que v.io de O a K. O s sorotipos A,
Em relação ao tratamento medicamentoso para B e C causam o tracoma ocular c os sorotipos L1, L 2 c L 1
grávidas, opta-se pelos injetáveis e administrados e m causam o linfogra nu lo ma venéreo. Apesa r de poss uírem
dose ún ica, baseando-se a escolha nos dados epidemio- ácidos nucleicos e alguns sistemas en zimáticos, esses
lógicos d a comun idade sobre resistência do gonococo.25 microrganismos não conseguem produzir energia pa ra
Dentre as cefalosporinas, a ceftriaxona (250 mg por via seu metabolismo.17 Acredita-se que essa dependência
intra muscular) e a cefotaxima (1,0 g via intra musc ular) metabólica tenha impl icações negativas sobre a capaci-
são as mais uti lizadas. Segundo os Centers for Disease dad e da clamíd ia de promover resposta imune eficiente,
Contrai m1d Prevention em 2006,11 todas as ccfalospori- explicando as reinfccções freq uentes e as provas imuno-
nas mais recentes apresentam bons resultados contra lógicas inconstantes, praticame nte inviabi lizando o diag-
o gonococo, mas nenhuma com resu ltados melhores nóstico sorológico da i n fecção. 11
que aqueles obtidos com a ceftriaxona. No H ospital d as Apesa r das várias possibilidades de tra nsmissão da
Clínicas d a Faculdade de Medici na de Ribeirão Preto da Clrlamydia trachomatis, para o tocoginecologista importam
Universidade de São Paulo (H C FMRP-USP), orienta- as transmissões sexuais, as contaminações através do canal
se a admi nistração de SOO mg de ceftriaxona intram us- de parto e a controversa infecção ovular ascendente. Em
cula r, em dose ún ica. A resistência crescente do gano- todas as formas de infecção, esse microrganismo acomete
coco aos antibióticos ~-lactâmicos e a dificuldade de se epitélios não estratificados.
encontrar no mercado nacional a penicilina G procaína,
4.800.000 U, têm inviabilizado essa opção te rapêu-
tica. No po nto de vista prático, as medicações via oral, COMPLICAÇÕES MATERNAS E FETAIS
apesar de efetivas (quinolon as), têm acei tação limitada
entre gestantes, devido ao incremento dos transtornos A hipótese de que a in fecção clam idiana aumenta a
d igestivos próprios desse período. Profilaxia da oftalmia ocorrência de complicações obstétricas, como aborta men-
gonocócica do recém-nascido com nitrato de prata a 1,0% to, rotu ra prematu ra das membranas, trabalho de parto
tem eficácia comprovada. A utilização de colírio de eritro- pré-termo e restrição de crescimento i ntrauteri no, 28•29•30
micina também pode ser aventada, pois além de prevenir não é aceita sem ressalvas. 31 •32 Entreta nto, existe unan imi-
a oftalmia gonocócica faz também a profilaxia da oftalmia dade de que o diagnóstico e o tratamento anteparto podem
neonatal por Clrlamydia trachomatis. 26 efetivamente reduzir indiscutíveis complicações maternas
A associação da gonococcia com outras infecções vagi- (endomet rite pós-parto) e perinatais, como a conjuntivite,
nais constitui problema ao qual o médico deve estar sem- pneumonia inte rsticial atípica, bronquite e otite média.12•19

Infecções Genitais e Gravidez


DIAGNÓSTICO xual. Apesar de haver casos de transmissão inequívoca por
esta via, parece que essas infestações dependem mais das
As mani fes tações clínicas da clamidíase genita l variam condições do hospedeiro para se man ifes tarem do que da
desde quadros assintomáticos à pelviperiton ite. Devido à atividade sexua l contaminante.24 Independentemente des-
inespecifi cidade de seus sinais e sintomas, o diagnóstico ses aspectos, observa-se que essa doença é bastante frequen-
cl ín ico é d ificultado. N o exame especular, a ectocervicite te durante a gravidez, t razendo incômodos para as pacientes
sangrante (clamídia frag iliza o epitélio) apresenta boa as- e dificuldades adicionais ao obstetra.
sociação com o d iagnóstico dessa infecção. No entanto, Considera-se que a cand idíase genital seja uma vulva-
somente os exames laborato riais podem confirmar o di- vaginite causada pela Candida albicans, visto que es ta espé-
agnóstico. A citologia cérvico-vagi nal, quando pos itiva, é cie respo nde por mais de 90% de todas as vulvo-vaginites
~

confiável, mas o resultado negativo não invaLda a possibi- fúngicas durante ;;·~ravidez. O percentual restante é causa-
lidade diagnóstica.Asorologia é inconstante e não oferece do por o utras espécies do gênero Candida, destacando-se a
a especificidade necessária para esse diagnóstico em ges- C mdida glabrata. 12
tantes.' ' Atualmente, com preço m ais acessível, as técnicas Epidem iologicamente, observa-se llue candidíase vulva-
de biologia molecular vêm paulatinamente substituindo vaginal incide preferencialmente em pacientes d iabéticas,
tanto a cultura em célul as de McCoy como a utilização de imunodeprimidas e gestantes. O au mento do glicogênio
anticorpos monoclonais para o diagnóstico laboratorial no epitélio vaginal durante a gravidez promove redução do
desse microrganismo. 19•33 pH em n.íveis infe riores àqueles considerados normais, pro-
A despeito das relações de custo/ benefício serem fa- movendo acidificação desse meio e o desenvolvimento de
voráveis ao rastreamento de gestantes portadoras de in- ca ndidíase.19
fecção clam id iana, sua implantação de forma ampliada na FeLzmente, tanto a infecção ascendente como a transm issão
rede pré-natal brasileira ainda não é realidade, principal- transplacentária da Candida albicans levando à contaminação
mente porque o custo das técnicas de biologia molecular fetal são raras. Nas duas situações, o prognóstico gestacional é
ainda é elevado em nosso mcio. 26 extremamente comprometido.''

TRATAMENTO DIAGNÓSTICO

Para o tratamento da infecção genital por Chlamydia As manifestações clínicas da candidíase vu lva-vaginal
19
trachomatis durante a gravidez, os CDCs recomendam a em gestantes geralmente é típica, caracterizando-se por
utili zação de azitromicina (1 g/ d ia, via oral, dose ún ica). A prurido genital e leucorreia espessa, sem odor. Ao exame
eritromicina (2 g/ d ia, via oral, por 14 dias) o u amoxici.lina genital detecta-se genitália avermelhada, sinais de coça-
(2 g/ d ia, via oral, por sete d ias) também podem ser utiliza- geme comprova-se a gu eixa de corri mento, observando-se
dos como alternativas. O utra opção terapêutica é o tian- leucorreia, algumas vezes fo rmando placas esbranquiçadas
fenicol (1,5 g/ dia, via oral, por sete dias). Para o recém-nas- na superfície vaginal e no colo. Ao exame colposcópio é
cido de mãe infectada, o uso do colírio de eritromicina está p ossível confirmar intensa cervicocolpite.24
for mal mente ind icado, lembrando-se de que não previne Para demonstração do fu ngo, o exame mais prático, de
pneumonia. Em alguns serviços, esse colírio é usado de baixo custo e rápido é o "exame a fresco" do conteúdo vaginal
forma a mpl iada em recém-nascidos, evitando-se a ofi:al- (KOH a I 0%), evidenciando tanto os esporos como os m icé-
m ite clamidiana e a gonocócica. lios do fungo. Coloração de hematox.ilina-eosina também
pode evidenciar o fungo, mas a sensibilidade é mais baixa.
A cultura do conteúdo vagina! tem indicação apenas em
CANDIDÍA SE VULV O-VAGIN AL casos de falha terapêutica. Utiliza-se o meio de cultura de
Sabouraud ou de Nickerson, possibilitando identificar outras
Atualmente questiona-se a infes tação vulva-vaginal cau- espécies de Candida, como, por exemplo, a Candida glabra ta e
sada por fungos do gênero Candida como de transmissão se- a Candida tropicalis. 19

490 Noções Práticas de Obstetrícia


/

TRATAMENTO se como primoinfecção o primeiro episódio clinicamente evi-


denciado, com diagnóstico médico ou referido pela paciente.
Especial ênfase é dada ao controle das alterações que Como recorrência, consideram-se os episódios posteriores.
predispõem à candidíase genital durante a gestação. Os
cuidados higiênicos da região perinea l são importa ntes
e devem ser corretamente orientados. Roupas íntimas COMPLICAÇÕES MATERNAS E FETAIS
de algodão, tecido que permite melhor ae ração dos geni-
tais, assim como o uso de roupas largas também ajudam Segundo a maioria das citações, o HSV-2 pode cau-
no processo de recuperação. A correção dos desvios do sar abortamento, microcefa lia, restrição de crescimento
metabolismo glicíd ico (d iabetes) é de fundamental e intraúteo, óbito fetal, herpes congénito e herpes neonatal.
particular importância no controle da candidíase. 11 Apesar da possibilidade de transmissão transplacentária, a
Para o tratamento fungicida específico durante a forma mais frequente de contaminação desses fetos é as-
gravidez, preferem-se os cremes ou óvulos vagi nais de cendente ou no canal de parto, causando herpes nconatal,
compostos azólicos. Por questões metabólicas, nesse complicação de elevada morbimortalidade.As lesões peri-
período prefere-se o nit rato de isoconazol (cre me vaginal natais mais frequentes são na pele, mas as mais graves são
por sete dias ou óvulo em aplicação única). A não ser em nos olhos, rins, intestinos e meningocncéfalon·36
situações especiais, não se indicam os azólicos sistêmicos A frequência da tra nsmissão vertical desse microrganis-
para tratamento da candidíase genital em gestantes. 19 mo é maior se a primoinfecção ocorre durante a gestação do
Um dos grandes problemas sobre a candidíase na que nos casos de recorrência. 12 Felizmente, em nosso meio,
gravidez é a recidiva. Recomenda-se o exaustivo con- a infecção herpética primária não é frequente em mulheres
trole de todos os fatores predisponentes (entre eles coito na idade reprodutiva. 11
anal e vagi nal sequencial e o diabetes) e aferição de ade-
são ao tratamento. Após esgotar todas essas med idas,
tenta-se a correção do pH vaginal com banhos de assen- DIAGNÓSTICO
to (1 g de bicarbonato de sódio para cada litro de água)
e aplicação de violeta de gencia n a. 1 ~· 24 Reafirma-se que De forma prática, na maioria das vezes, o diagnóstico de
esta é medida de exceção, requerendo total anuência da herpes genital é clínico, visto que a cronologia e o tipo das
paciente, explicando ser medida opcional ao tratamento lesões são bastante sugestivos. Em gestantes hígidas do ponto
sistêmico com fluconazol ou itraconazol, a princípio fá r- de vista imunológico, existe cronologia para o aparecimento
macos contraindicados para uso em gestantes. das lesões herpética : prurido, dor, vesícula, erosão/ úlcera e
formação de crosta. As lesões genitais decorrentes da pri-
moi nfecção costumam ser acompanhadas de febrícula, mal-
HERPES GENITA L estar e sintomas uri nários. Em pacientes imunodeprimidas,
a evolução para ulcerações extensas nos genitais é rápida e a
Aproximadamente 95% dos casos de infecção herpética paciente pode nem perceber os estágios iniciais das lesões. 11
genital são causados pelo Herpes siltrplex vír1.1s tipo 2 (HSV-2). Os exames laboratoriais são importantes para o auxílio
O percentual restante é atribuído ao HSV-1.34 no diagnóstico diferencial das úlceras genitais. O exame ci-
A tra nsmissão do HSV-2 se faz pelo ato sexual e por trans- tológico corado para evidenciar as células de Tzank é a ava-
missão vertical (transplacentária e contarn inação no canal de liação complementar mais utilizada para o diagnóstico da
parto). A possibilidade de haver a infecção pri mária do HSV-2 infecção pelo HSV-2. 11 •19 Do ponto de vista prático, o exa-
de forma assintomática dificulta precisar o período de incuba- me sorológico não se presta para o diagnóstico, havendo
ção desse microrganismo nas lesões genitais.' 5 Com esta res- indicação somente para estudos de soroprevalência. 35•37·38
salva, refere-se que, para as contaminações horizontais que re- Havendo dúvidas, realizar biópsia, sugerindo ao patolo-
sultam em casos sintomáticos, o período de incubação é de seis gista, além do exame histopatológico comum, a reação de
dias, em média. Por não haver metodologia disponível em nos- imunoperoxidase. O cultivo virai é oneroso e vem sendo
so meio para detectar esses casos, de forma prática considera- substituído paulatinamente pela PC R. ' 9

Infecções Genitais e Gravidez 491


TRATAMENTO disc utidos com as mães com h istória de herpes recorrente
e q ue desejam esse tipo de intervenção.
Na melhor das hipóteses, as terapias vigentes para o
controle do HSV-2 reduzem o período sinto mático da
doença e conseguem aumentar o intervalo entre as crises, RESOLUÇÃO DA GRAVIDEZ
visto que a cura definitiva não existe. Na crise, é freq uente
a necessidade de a nalgésicos/ anti-inA amatórios sistémi- Para pacientes sem lesões herpéticas genitais ativas, a
cos. Na gravidez, se os fenômenos inAam atórios não são conduta atual é a via vaginal. Entretanto, d iante de lesões
intensos, prefere-se a analgesia com paracetamol. Havendo ativas, as opiniões são discordantes. Resumindo, ex istem
pronunciada reação inAamatória, estão liberados os anti- os defensores do parto operatório independentemente
inAamatórios sistémicos não hormonais. Nas grandes u l- de qualquer variável e os defensores da cesaria na na de-
cerações, orienta-se li mpeza com perma nga nato de potás- pendência de a lesão ser primoinfecção e de as mem branas
sio a 1/20.000, duas vezes ao d ia. 11 estarem íntegras ou rotas (menos de quatro ho ras). Essa in-
Durante a gravidez, o antiviral indicado para controle defi nição e a falta de exames q ue possam a fi r ma r com segu-
do H SV-2 é o aciclovir. Embora os resultados obtidos até rança se a lesão é primária o u não resultam em d iscordâ n-
o momento com o uso de famciclovir e valaciclovir du- cia quanto à conduta obstétrica na vigência de lesões ativas
rante a gravidez não ten ham detectado problema, ainda do H SY-2 (podem não sign ificar lesão prim ária).
não existem dados suficientes para indicá-los formalmente Como todas as condutas conhecidas até o momento
nesse período. Nas lesões iniciais isoladas o u em reduzido derivam de experiências pessoais, limitadas c não contro-
número, o creme de aciclovir é utilizado duas a três vezes ladas devida mente, não é possível traçar um plano tera-
ao di a. O resultado terapêutico é incerto, mas tanto melhor pêutico isento de críticas. Um princípio lógico é não expor
quanto mais precoce seu in ício. Em lesões mais ex tensas, o feto/ recém-nascido a riscos de infecção, nem impor à
util iza-se o tratamento sistêm ico (via oral ou endovenoso). mãe uma cesaria na que defin iti va mente não beneficia seu
Para o aciclovir via o ral, por questões de tolerâ ncia, prefere- fil ho, desde q ue obstetricamente desneccssária. 11 O crité-
se a dose de 200 mg cinco vezes ao dia, por sete a 10 d ias. rio tem sido a rotura das membranas e o tempo decorrido
Outro esquema é usar essa substância na dose de 400 mg, entre este evento até a internação da gesta nte. Nos casos
três vezes ao dia, po r igua l período de tempo. Para o trata- de membranas íntegras ou ro ta até quatro horas, indica-se
mento endovenoso, a dose indicada é S-10 mg/ kg de peso, a via abdom inal pa ra resolução da g ravidez. Se a paciente
três vezes ao dia, geralmente por sete a lO d ias. refere rotura das membranas há mais de q uatro horas, a
Os dados d isponíveis sobre terapia supressiva ainda cesariana não protege o feto, sendo, portanto, desneces-
não permitem indicá-la ampl amente durante a gravidez, sária. Acredita-se que essa po lémica só será resolvida com
visto que as pesquisas ainda não conseguiram mostrar seu estudos prospect ivas e controlados. No entanto, na prát ica,
real benefício. Alguns autores defendem amplamente sua verifica-se forte pressão dos médicos em se ind ica r cesaria-
utilização,40 enquanto out ros a recomendam apenas nos na na ex istência de lesões ativas, independentemente da
casos em que a paciente apresentar infecções recorrentes integridade d as membranas corioa mnióticas.
durante a gravidez.41 Recente avaliação da Cochrane Library
(2009) 42 revelou que gestantes com herpes genital recor-
rente devem ser informadas de q ue o risco de transmissão INFECÇÃO GENITAL PELO
vertical do herpes vírus é baixo e não há evidências de que
HUMAN PAPILLOMAVÍRUS
a profi laxia com o antivi ral reduza o risco de herpes neo-
natal. Na realidade, o uso profilático de antiviral durante a
gravidez reduz a taxa de cesáreas cuja indicação seja herpes O condilom a acuminado tem como agente etiológico
genital. Adicionalmente, info rma que não há suficientes o Human papillomavínts (H PV), um DNA vírus com mais
dados sobre a segura nça do uso profilático desses antivi- de 100 d iferentes subtipos já descritos. Dos 36 subtipos que
rais. Concluindo, sugere que os riscos, benefícios e as al- acometem humanos, vá rios causam lesões genitais, m as os
ternativas sobre a profilaxia do herpes neonat al devem ser mais frequentes são 6, 11, 16 e 18.41.44

492 Noções Práticas de Obstetrícia


Considera-se que os subtipos 6 e l i são de baixo risco Detectar HPV-DNA no aspirado gástrico do recém-
de malignidade e têm sido demonstrados em lesões papila- nascido não confirma contaminação exclusiva no canal de
res genitais e papiloma de laringe. Por outro lado, os tipos parto. Por sua vez, a constatação de H PV-DNA no líquido
16, 18, 30, 31, 33, 34, 35 são considerados de alto risco de amniótico e a contaminação em casos de cesariana com
transformação das lesões em neoplasia.12As Os diferentes bolsa íntegra sugerem a transmissão transplacentária. 48•4950
critérios diagnósticos empregados para detecção da in- Por esses motivos acredita-se que a cesariana não protege
fecção pelo HPV (clínico, citopatológico ou usando técni- todas as crianças da transmissão vertical. 12
cas de biologia molecular) inviabilizam comparações refer-
entes à frequência dessa infecção em gestantes.46
As modificações e adaptações gravídicas que ocorrem no DIAGNÓSTICO
organismo materno resultando no aumento de um idade geni-
tal facilitam o aparecimento e exacerbação das manifestações Dados de anamnese como parceria sexual mú ltipla, ou-
dessa infecção. Apesar de não existir consenso sobre o au- tras infecções genitais, hábitos higiénicos deficitários e pas-
mento da incidência e exacerbação da infecção H PV durante sado de lesões condilomatosas são valiosas para a hipótese
a gravidez, essas alterações têm sido observadas no Setor de diagnóstica de infecção pelo HPV. O relato de lesão verru-
Moléstias infecto-Contagiosas em Gi necologia e Obstetrícia cosa nos genitais, associada ou não a prurido, corri mento ou
do HC/ FMRP-USP. Por estes motivos, o diagnóstico clínico ulceração, está fortemente ligado ao diagnóstico dessa virose.
do H PV no período gestacional pode ser facilitado.46 Lesões exofíticas do H PV manifestam-se com aspecto
papi lar, com aparência de couve-flor, ún icas ou múltiplas,
localizando-se na vulva, períneo, vagina, colo do útero,
COMPLICAÇÕES MATERNAS E FETAIS à nus e meato uretra!.
A citologia cérvico-vaginal e a colposcopia (rotineiras
Em gestantes portadoras do HPV com lesões clinicamente no pré-natal do HCFMRP-USP) são imprescindíveis nesse
evidenciadas, observa-se frequência mais elevada de complica- atendimento, pois, do ponto de vista prático, diagnosticam
ções, como abortamento, rotura prematu ra das membranas, quase a totalidade dos casos dessa infecção, reservando a
restrição de crescimento intraútero, prematuridade e corioam- biópsia para as lesões planas e endofíticas. Na citologia, os
nionite. No entanto, essas complicações dependem das outras aspectos mais característicos da infecção H PV são a coi-
condições associadas ao HPV e parecem não depender do locitose (principal), a disceratose e a binucleação. 11
vírus (infecção pelo gonococo, vagi nose bacteriana, tricomo- Mesmo detectando antígenos virais, o exame imuno-
níase, hepatite B e C, infecção pelo vírus da imunodeficiência histoquímico (imu nofluorescência ou imunoperoxidase)
adquirida, estreptococo do grupo B, entre outras). 11 •19 é considerado limitado, visto que não diferencia os diversos
Do ponto de vista obstétrico, ressalta-se a possibilidade subtipos do H PV. Por sua vez, as técnicas de biologia molecu-
de transmissão vertical do H PV, que pode ocorrer por via larpossibilitamidentificaros vários subtipos do HPY; além de
hematogênica transplacentária, por contaminação via as- apresentarem boa sensibilidade e especificidade. Entre essas
cendente ou no canal do parto, potencialmente causando técnicas, as mais utilizadas são a PCR e a hibridização pelo
a complicação mais temida no binômio HPV/gestação - a método da captura do antígeno.515253 Entretanto, nesse perío-
papilomatose de laringe. 11 Entretanto, essa associação não do específico sua utilização durante a gravidez não contribui
tem sido verificada em nosso meio, talvez em decorrência para mudança da conduta terapêutica e torna-se dispensável.
da baixa prevalência dos tipos virais especificamente liga-
dos à papilomatose laringeana.46 O percentual mínimo
de crianças expostas ao HPV e que se contaminaram em TRATAMENTO
relação ao nú mero elevado de crianças expostas e que não
se contaminaram deve ser considerado para qualificar a Antes de qualquer medida terapêutica para destru ir as
transmissão ve rtical do H PV como de baixa efetividade na lesões provocadas pelo HPV durante a gestação, orienta-se
disseminação desse vírus. A literatura também salienta a o controle das infecções associadas, com o objetivo de evi-
ra ridade dessa complicação, fcl izmente.47 tar as infecções secu ndárias.

Infecções Genitais e Gravidez 493


Como regra básica, durante a gravidez, preferem-se os inferiore a 80% prolonga a terapêutica, incrementando a
tratamentos físicos que destroem a lesão. Entre eles, podem ta xas de evasão ao tratamcnto.11
ser utiliudos a eletrocauteri'l.,ação, criocauterização, laser de O embasamento derivado da observação sistematizada
C02 c método cirú rgico .11 •12 A c..xci ão cirúrgica pode com- tornou majoritária a orientação de parto vaginal para resol-
plicar- c com perda anguínca excessiva (recomenda- e sua ver as ge taçõe de mulheres portadora do HPV, conduta
execução cm sala cirúrgica) c permite a implantação virai no orientada também pelo CDC. 12 Entretanto, a cesariana c -
tecido perilesional, mas não é contraindicada nesse período. tará indicada nos casos em que as lesõe obstruam o canal
Emle õe extensa ,cuja terapêutica pode re ultaremmu- de parto. Além do quadro distócico em questão, as taxas de
tibçõc vulvares, é prudente aguardar o período puerperal laceração aumentam, elevando, con equentemente, o risco
para tratamento. Ne c período, ob erva- e notável redução de cata trófica hemorragias. 54
das lesões, faci litando a abordagem e reduzindo as taxas de Encerrando este capítulo sobre as infecções genitai e
deformidades genitais decorrentes dessa intervenção. suas influências sobre o prognóstico ge tacional, parece
O métodos químico , quimjoterápicos e imunote- que a lição mais importante para obstetras e ginecologistas
rápi o são contraindicados durante a gravidez, poi ão é de que essas infecções em gestantes (direta ou indireta-
embriotóxicos (podofilina, bleomicina c o S-fluoruracil). mente) trazem prejuízo ta nto materno guanto perinatal.
Por interferirem nas funções do fígado, da medula óssea c De posse das informações disponívci na literatura, a con-
do istcma imune materno e fetal, as medicações imune- clusão é que o custo-benefício do diagnóstico e do trata-
estimulante também não são indicadas no período gesta- mento é favorável sob todos os aspectos.~ 5
cional. A limitação do ácido tricloroacético e deve ao fato O Q uadro 31.1 apresenta uma síntese da terapêutica
de não ser conhecido cu padrão de absorção pela pele e das infecções genitais na gravidez.
ao ri co de provocar vasoconstrição dos va os umbilicai , O Q uadro 31.2 sintetiza a principais evidência da
consequentemente, hipóxia fetal. Utilizar concentrações infecções genitais na gravidez.

Quad ro 31.1 ITratamento das infecçõe genitais na gravidez


111 lt'( l d li Te- Jpeut 1cd c!l' f·sco l 'lil Tt'l ,1pt'll: Cil il 1t'li1d1 1\ il
1

Vaginose bacteriana Metronidazol400 ou 500 mg, 12/12 horas. por sete dias Metronidazol. 250 mg. 8/8 horas. via oral.
por sete dias
Clindamicina 300 mg, 12/12 horas. por
sete dias t
Tricomonfase' Metronidazol. 2 gramas, dose única (parceiro! Metronidazol. 400 ou 500 mg.
Metronidazol creme vaginal, 1aplicação 1500 mgl duas vezes 12/12 horas. por sete dias
ao dia por cinco a sete dias
Gonococcia' Ceftriaxona. 125 ou 250 mg,IM. dose única Cefotaxima, 1,0 g .1M. dose única I

Clamidfase' Azitromicina. 1 grama. VO. dose única Amoxicilina, 500 mg, 8/8 horas. por sete dias
Eritrornicina. 500 mg, 6/6 horas. por sete dias2
Candidfase Nitrato de isoconazol. 1 óvulo vaginal(600 mgl à noite. Nitrato de isoconazol. 1 aplicação vaginal
dose única à noite, por sete dias
Infecção pelo herpes Aciclovir. 200 mg. cinco vezes ao dia. por sete a 10 dias Aciclovir. 400 mg, três vezes ao dia, por
vírus sete a 10 dias
Infecção pelo HPV Eletrocauterização das lesões exoffticas Criocauterização. laser de C02 e métodos
cirúrgicos

494 Noções Práticas de Obstetricia


Quadro 31.21 Quadro de evidências em infecções genitais
l nterverlÇdO Re s ui t rlll o Gr dtl ele
Rt~( IJIIl81HiélCél0

Uso de antimicrobianos Erradicação da vaginose bacteriana A


Não realização de rastreamento e tratamento de vaginose Redução de parto pré-termo e rotura prematu- A
bacteriana assintomática em gestações de baixo risco ra de membranas
Tratamento da vaginose bacteriana antes de 20 semanas Redução do risco de parto pré-termo A
de gestação I
ITratamento de tricomonrase na gestação Redução de prematuridade. rotura prematura c
de membranas e febre puerperal
Tratamento de clamidrase Redução das complicações maternas e fetais 8
Oferecer parto cesáreo para gestantes com pródromos ou Redução do herpes neonatal 8
lesões de infecção por herpes vfrus
Uso de aciclovir em gestantes com infecção recorrente por Redução de cesarianas A I
herpes vrrus com 36 semanas

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Infecções Genitais e Gravidez 497


Hipertensão Arterial Crônica
Regina Amélia Lopes Pessoa de Aguiar
Carolina Am o rim Barros

Conceito Crise Hipertensiva


Classificação das Doenças Hipertensivas Tratame nto
Etiopatogen ia Interrupção da Gravidez
Complicações Tratamento da Hipertensão no Pós- Parto
Diagnóstico
Acompanhamento Materno
Acompanhamento Fetal
Conduta
Medidas Gerais
Repouso e Estresse
Dieta
Hipotensores

hipertensão arterial crônica (H AC) o u essen- Mesmo as mulheres com hipertensão crônica leve e

A cial é doença comum em nosso meio, com


predomínio n a raça n egra. Sua p revalência
entre mulhe res varia d e acordo com as diversas faixas
m oderada bem controladas durante a gestação apresen-
tam risco aumentado de descolamento prematu ro de
placenta e associação com pré-eclâ mpsia. Do ponto de
etárias, alcançando cifras de até 22% e ntre mulheres de vista fetal e neonatal, o crescimento intrauterino restrito, o
30 a 39 a nos. 1 parto pré-termo e o óbito apresentam frequê ncias au men-
A incidência d a hipertensão crônica na gestação é de tadas nesse grupo de gestantes. Obviamente, quanto mais
aproximad amente 3%. 2 A tendência atual de mulheres gravidade tiver a doença, mais há complicações, tanto ma-
adiare m a maternidade revela a possibilidade d e aume n- ternas qua nto perinatais.
to da incidência. O cuidado pré-natal diferenciado para essas muU1eres c,
As síndromes hipertensivas, incluindo hipertensão pre- preferencialmente, o acon selhamento pré-concepcional de-
existente, pré-eclâ mpsia e eclàmpsia são a maior causa de finindo o melhor momento para a gestação são essenciais no
morbidade e mortalidade materna e perinatal. resultado materno e perinatal.
CONCEITO após o parto 39%das pacientes que tinham tido pré-eclâmp-
sia grave ainda estavam hipertensas, enquanto que após dois
Hipertensão é definida como pressão sístólica (PS) anos esse número caiu para 18%. Segundo os autores, o
igual ou superior a 140 mmHg ou pressão diastólica (PD) tempo para a resolução da hipertensão aumentava 60% para
igual ou superior a 90 mmHg, medidas em pelo menos cada 10 mmHg de aumento na PA Sistólica máxima c em
duas ocasiões, com intervalo mínimo de quatro horas en- 40% para cada 10 mmHg na PA diastólica máxima.6
tre as medidas. Considera-se pressão sistólica o pri meiro
som de Korotkoff; ou seja, o aparecimento do primeiro
ru ído na ausculta da pressão sanguínea. Por definição, na CLASSIFICAÇÃO DAS
gestação a pressão diastólica se refere ao qui nto som de Ko- DOENÇAS HIPERTENSIVAS
rotkof{ ou seja, o desaparecimento do som.2. 4
a primeira medida, a pressão deve ser aferida em ambos
os membros superiores c, em caso de diferença, considerar o Em 2000, o National High Blood Prem1reEducation Pro-
valor mais alto. Deve-se investigar doenças arteriais caso haja gram Working Group or1 High Blood Pressttre in Pregnancy
diferença de 20/ 10 mmHgparaa pressão sistólica/diastólica.4 publicou guia de acompanhamento para gestantes com
Hipertensão crôn ica na gravidez é definida como pressão hipertensão. O Qpadro 32.1 ilustra a classificação dos di-
arterial (PA) elevada, que está presente e documentada antes ferentes quadros hipertensivos na gravidez, conforme pro-
da gestação. Nas gestantes cuja pressão sanguínea pré-ges- posto por esse grupo.3
tacional é desconhecida, o diagnóstico é baseado na hiper- Os itens edema e elevações nos níveis pressóricos ba-
tensão sustentada antes de 20 semanas de gestação. Pode-se sais foram elimi nados como integrantes do diagnóstico da
também f..ner o diagnóstico quando a paciente tem elevação pré-eclâmpsia. A justificativa para abandoná-los se deve à
da PA com 20 semanas ou mais de gestação e essa pressão se ampla variabilidade que esses valores apresentam durante
mantém elevada além de 42 a 74 dias após o parto.5 a gravidez e puerpério. 3
Nas pacientes com pré-cclâmpsia grave, o retorno da PA A hipertensão arterial crônica é essencial, quando não
ao normal no pós-parto pode ser mais lento. Em trabalho existe doença de base que a desencadeie, e secundária,
publicado em 2009, Berks el a/. mostraram que três meses quando doenças de base são as responsáveis por ela.

Quadro 32 .1 I Classificação de hipertensão na gravidez3


Hrpertensão c r ônrca

Hipertensão que está presente antes da gestação ou que é diagnosticada antes de 20 semanas de gestação.
Hipertensão diagnosticada pela primeira vez na gestação e não se resolve no pós-parto.
Pre·eclãmpsra

PA :!!: 140/90 mmHg após 20 semanas acomflanhada de proteinúria (:!!: 0,3 g/24 horas).
Eclâmpsra

Convulsões que não podem ser atribuídas a outras causas. em gestante com pré-eclâmpsia.
Pre·eclâmpsra sobreposta a hrpertensiln rriH1rri1

Proteinúria :!!: 300 mg/24 horas em gestante hipertensa crOnica, sem proteinúria nas 20 primeiras semanas de gestação.
Aumento súbito da proteinúria ou da hipertensão prévia.
Trombocitopenia (plaquetas < 100.000/mm3) em gestante com hipertensão crOnica.
Elevação das enzimas hepáticas (TGO ou TGPI em gestante com hipertensão crOnica.
Hrpertensão gestacroniil

Hipertensão surgida na gestação. após 20 semanas. que não se associa à proteinúria (esse diagnóstico só é possível de ser
firmado no pós-parto). •

soo Noções Prát icas de Obstetrícia


A hipertensão crônica pode, ai nda, ser classificada em for- ETIOPATOGENIA
ma leve, moderada, grave e maligna. O Q!.1adro 32.2 sintetiza
a classificação dessas formas clínicas de hipertensão crônica. A hipertensão arterial crônica (HAC) é, na maior parte
das vezes, idiopática (80%), mas pode ser também ecu n-
Baseando-se nos dados da história clínica e dos exames dária. Entre as causas de hipertensão secundária, citam-se:
complementares, a gestante com hipertensão arterial crônica doença renal (doenças de parênquima renal, obstrução de
poderá ser classificada como de baixo ou alto risco? saída de ureter ou bexiga), glomerulonefrite crônica, nefrite
São consideradas características de baixo risco: intersticial, glomeru lo clerose diabética, nefropatia por lgA),
hipertensão primária ou essencial não complicada; hipertensão renovascular (estenose de artéria renal, displasia
nenhuma perda perinatal prévia; fibromuscular, doença ateroesclerótica, coarctação da aorta),
PS< 180 mmHg e PD < llO mmHg. doenças endócrinas (aldosteronismo primário, síndrome de
C11shing, feocromocitoma, hipo ou hipertireoidismo, hiper-
As características de alto risco são: paratireoidismo), coarctaçâo da aorta, entre outras?·8
hipertensão secundária; Em pacientes jovens (<30 anos) e sem fatores contri-
lesão de órgão-alvo (disfunção ventricu lar esquer- buintes, como a obesidade, deve-se procederã investigação
da, retinopatia, dislipidemia, doença microvascubr, djagnóstica mais criteriosa. Nessas pacientes, o diagnósti-
acidente vascular cerebral); co etiológico no início da doença pode possibilitar a cura,
idade materna acima de 40 anos; o que pode não ser possível após instalação da mesma por
perda perinatal prévia; longo período. Outras características da H AC secundária
PS ;::: 180mm Hge PD ;::: llOmmHg. são a ausência de história fam iliar, evolução mais grave da
hipertensão e intolerância a med icamentos específicos. 8
Aclassificação do risco é realizada no início do pré-natal, A causa mais comum de hipertensão secundá ria é a
independente do uso de anti-hipertensivos. insuficiência renal crônica, principalmente devido às ano-

Quadro 32.2j Formas clínicas da hipertensão crônica


Forma clrnrca

Car ac ter rstrcas Leve Moderada Grave Mal rgna

PAD 90a99mmHg 100 a109 mmHg 2:110 mmHg 2:110 mmHg I


I PAM < 105mmHg 105 a 129 mmHg 2: 130 mmHg 2: 130mmHg
IÁrea cardfaca Normal Aumentada Muito aumentada Muitoaumentada
ECG Normal Hipertrofia Hipertrofia ventricular Hipertrofia ventricular
ventricular esquerda esquerda e isquemia esquerda e isquemia
Fundoscopia Normal ou Alterações Alterações espásticas e Hemorragia e exsudatos.
alterações espásticas e escleróticas. hemorragias papiledema
mfnimas escleróticas ocasionais. exsudatos
'Clareamentode i!: 125 ml/min 90 a 124 ml/min <90ml/min Decrescente
creatinina I
Creatinina sérica s; 0.8mg/dl 0,9 a 1.4 mg/dl 2: 1,5mg/dl Crescente
ISintomas I sinais Ausentes Ausentes Cefaleia, palpitação. oligúria Cefaleia. palpitações. dor
precordial, sinaisde encefalo-
patia e/ou ICC. hematúria
PAD = Pressão anenal drastólica; PAM =Pressão arterial média; ECG =eletrocardiograma; ICC =Insuficiência cardíaca congestiva.

Hipertensão Arterial Crõnica 5 01


ma lias de parênquima renal. A en fermidade que mais leva A ativação simpática e as repostas humorais, como conse-
à doença renal c rítica é a nefropatia d iabét ica. Nas doenças quência aos episód ios repetidos de hipoxemia, causam va-
do parênquima renal veri fica-se aumento de creatinina, soconstrição, d isfunção endotelial, elevação da proteína C
d imi nuição do clearance de creati ni na e alterações na se- reativa, au mento dos níveis de fibrinogênio, das citocinas e
di mentoscopia urinária. A paciente deve ser avaliada pelo da pressão arterial. O tratamento inclui uso de CPAP du-
ncfrologista para determi nar-se a necessidade de biópsia rante o sono e perda de peso. O tratamento cirúrgico fora
renal. O ultrassom de rins e vias uri nárias também auxilia do período gestacional pode ser ind icado.8
muito na investigação d iagnóstica. O Quadro 32.3 mostra um roteiro para a investigação
A doença renovascu lar pode acometer jovens, devido d iagnóstica da h ipertensão secundária.
à displasia fibromuscular, ou idosos, devido à estenose ate-
rosclerótica de artérias rena is. A insuficiência renal aguda I
Quadro 32.3 Roteiro para investigação de hipertensão
(IRA) após introdução de inibidores de enzi ma conversara secundária em mulheres jovens9
de angiotensina (iECA) ou bloqueadores de angiotensina Doença lr1ves tr gaçao
sugere estenose arterial bilateral. Os exa mes d iagnósticos
Feocromocitoma Perguntar sobre ·ataques
são a angiotomografia computadorizada com contraste ve- de panico· e sobre a trlade:
noso e a angiorressonância com gadoli n iu m. Fora da ges- cefaleia (pulsátil). palpitação e
tação a revascularização renal pode ser opção terapêutica. 8 sudorese
Proteína, hemácias e cilindros no exame de urina po-
Doenças da tireoide Dosagem de TSH sérico
dem indicar alteração glomérulo-renal. Nessas pacientes,
deve-se proceder à investigação de causas secundárias de
IHiperaldosteronismo Dosagem de potássio sérico I
h ipertensão, como lúpus eritematoso sistêm ico e, em situa- IDoença de Cushing Observar presença de facies
ções especiais, avaliar a ind icação de biópsia renaP de ·1ua cheia· e obesidade
Hipertensas com obesidade central e hirsutismo, com
centrlpeta I
irregularidade menstrual, suscitam duas hipóteses diagnós- Hipercalcemia Dosagem de cálcio sérico I
ticas: anovulação crônica e hiperadrenocorticotropismo 1
Doença renal Dosagem de creatinina sérica
ou hiperplasia congênita da suprarrenal, na forma adulta. e exame de urina rotina
No esclarecimento diagnóstico, são úteis teste de tolerância
Estenose da artéria renal Procurar sopro renal (princi-
à glicose, dosagem de cortisol livre em urina de 24 horas, palmente quando unilateral)
17-hidroxiprogesterona e testosterona, cortisol plasmático e - confirmar com doppler de
teste de supressão com dexametasona? artéria renal
É essencial excluir feocro mocitoma em gestantes com ICoarctação da aorta Buscar pulso femoral atrasado
hipertensão maligna. Para sua identificação, inicialmente, ou ausente
dosam-se catecolam inas (adrenalina, noradrenalina e dopa-
mina) em urina de 24 horas?
IApneia do sono Perguntar sobre ronco e sono-
lência diurna
Pressão elevada no braço direito e normal no esquerdo
indica oclusão vascular (coarctação) no arco aórtico proxi-
Uso de substancias Perguntar sobre uso de álcool, I
tabaco e medicamentos
mal. A confirmação requer comprovação angiográfica?
O achado de hipopotassemia (potássio in ferior a 3,2
m mol/L) em gestantes que não estejam em uso crônico COMPLICAÇÕES
de diurético sugere h iperaldosteron ismo primário. Nessas
situações, a avaliação da atividade da ren ina plasmát ica, A gravidez pode ser considerada teste preditivo para a
aldosterona plasmática, dosagem de aldosterona em urina HAC, porque gesta ntes que se mantêm normotensas, espe-
de 24 horas, sódio, potássio e creatin ina são úteis no d iag- cialmente após os 25 anos de idade, têm pouca probabilida-
nóstico defi nitivo.' de de desenvolver hipertensão arterial crônica no futuro.10
A síndrome da apneia obstrutiva do sono também está As complicações obstét ricas da HAC, primordial-
relacionada ao desenvolvimento da h ipertensão arterial. mente, são a pré-eclâmpsia superposta e o descola mento

50 2 Noções Práticas de Obstetrícia


prcrnaturo da placenta (DPP). O registro desses evento é DIAGNÓSTICO
muito variável na publicações nacionai e internacionai ,
ma é cmpre enfatizado.8 Em pacientes com HAC de alto O diagnóstico é clínico c realizado por meio da mensura-
risco há também a possibilidade de haver complicações ção da PA, idealmente cm aparelho com coluna de mercúrio.
graves como edema pulmonar, enccfalopati,l hipertensiva, Considera-se hipertensa a gestante que apresente P 2:. 140
hemorragia cerebral e in uficiência renal aguda. 2 mm Hg ou PD 2:. 90 mmHg. Es as medidas devem cr con-
O risco da hipertcn âo arterial crônica para mãe c firmadas em pelo menos dua ocasiõc , com intervalo míni-
feto podem ser c timados a partir do trata mento necessá- mos de quatro horas entre as medidas. 2· 1
rio para o controle da PA. Muitas mulheres têm a pressão Os critério para mensuração da pre são arterial na gra-
controlada com o emprego de apenas um anti-hipertensi- videz ão:14
vo antes da gravidez. E sas, cm geral, não apresentam séria paciente em po ição sentada c, preferencial mente,
compli a ões quando ·e tornam grávida . após período de repouso; não haver praticado exer-
O prognóstico da gravidez é incerto, com elevado ri co CÍCIO 60 a 90 minutos ante ; não ter fumado, toma-

para mãe e feto, quando a gestante, apes:~r do tratamento, do café ou álcool 30 minutos antes;
mantém a pre ão diastólica de 11 0 mm Hg ou mai , re- PA deve er medida no braço di reito;
quer múltiplos anti-hipertensivo para o controle da PA ou o braço deve e tar apoiado com a mão po 1 iona-
quando a creatinina érica está acima de 2 mg/ dL.- 10 da no nível do coração; palma da mão vi rad,\ para
A p.1ciente hipertensa com insuficiência renal crônica tem cima e cotovelo ligeiramente fletido.
alto ri co de complicaçõe . A in uficiência renal moderada c a borda inferior do manguito deve ser colocada a 4
grave tem seu cur o acelerado pela gestação. O baixo pe o ao cm acima da prega cubital;
na cer associa- c dirctamente à taxa de crcatinina plasmclti- estimar a P com base no desaparecimento do pul-
ca materna. O reconhecimento da pré-eclã mpsia upcrposta o radial;
pode c tornar difícil, já que na gestantes com lesão glomeru- o manguito deve er insuflado até o me111 co de
lar a proteinúria tende a aumentar progressivamente. - mercúrio situar-se 20 a 30 mmHg acima do valor
H ipcrtensas com história de trombose ou hemorragia ce- em que de aparece o pu lso radial
rebral, mfarto do miocárdio ou in uficiên ia ca rdíaca devem liberar o ar do manguito lentamente e, utilizando o
ser desestimuladas a engravidar em decorrência das altas ta- método de ausculta, determinar os 1° e 5° son de
xas de complicaçõe , tanto materna quanto perinatais.- Korotkoff; que correspondem a P e PD, re pecti-
A :-uperpo ição de pré-eclãmp ia à H AC (aparecimen- vamente.
to de proteinúria c agravamento da hipertensão) é compli-
cação ,ldicional do quadro, podendo de envolver hemor- Q!.1ando a p.Kicnte tem a pre ão arterial abidamente
ragia (coagulação intravascular disseminada), acidente elevada antes da gravidez, o diagnó tico de HA é óbv1o.
va cular cerebral e in uficiência cardíaca, renal ou hepáti- c sa ituaçõc , a época mai apropriada para planejar
ca.- O risco de pré-cclâmpsia sobreposta cm pacientes com a conduta clínica durante a gestação é no período pré-
HA grave chega a ' 0%. 2 -concepcional. A acuid.1de do diagnóstico de hipertensão
A insuficiência útero-placentária com crescimento in- primána ou ecundária depende de inve tigação rigoro a
trautcrino restrito e/ ou morte fetal são também observadas para detenninar a causa básica da doença. Inclui história cui-
nessa circunstância!>. O parto pré-termo é compl icação dado a, exame fí ico criterioso e completa avalia ão renal c
frequente, principalmente na hipertcnsas graves e mal- cardía a.2·-
controladas. A prematuridade, que é muitas vezes induzida Entretanto, muita mulheres de conhecem o valor de
como ún ica forma de minimizar o agrava mento materno sua prcs ão sanguínea. e a PA estiver elevada na primeira
ou rc olvcr a insuficiência placentária, contribui para eleva- metade da ge ta ão, pode-se classificar como hiperten ão
das ta xas de mortalidade neonatal, bem como determ ina preexistente, portanto, crónica.
sequela em curto c longo prazos entre os recém-na ciclos Mais de 30% das mulhcre com PA ,\cima de 140 x 90
sobreviventes.- O risco de morte perinatal aumenta trê a mmHg experimentam queda da pre ão para nívei con i-
quatro veze , comparado à população gcral. 2 dcrados normai durante o primeiro trimestre. Nessas pa-

Hipertensão Arterial Crônica


503
cientes, o d iagnóstico de hipertensão crônica pode ser di fí- ACOMPANHAMENTO FETAL
cil, se não existe informação prévia desse evento.
Gestantes com história de hipertensão prévia, principal- Como o crescimento intrauterino restrito é complica-
mente aquelas de longa data, devem ser avaliadas criterio- ção frequen te e m gestantes hipertensas, a correta datação
samente na identificação de possível lesão de órgãos-alvo, da gravidez tem, nessas situações, importância fundamen-
incluindo hipertrofia ventricular esquerda, retinopatia e tal. Assim, a solicitação de ultrassonografia precoce, para
doença renaP A realização de anam nese e exame clínico confirmar idade gestacional, deve ser rotina em todas as
rigoroso, eletrocardiograma, fundo de olho e função renal gestantes com hipertensão crônica.
permite a classificação da forma din ica da HAC, como apre- O seguimento fetal é variável com as condições clíni-
sentado anteriormente no Quadro 32.2. Além disso, quando cas d a mãe e gravidade da doença.
da suspeita de hipertensão arterial secundária, devem-se en- Apresenta-se, no Quadro 32.4, proposta de acompa-
vidar esforços na busca da etiologia da doença. nhamento das gravidezes complicadas com HAC, no que
A pesquisa positiva para proteína na urina, utilizan- se refere ao seguimento fetal.
do-se a fita, indica a necessidade de sua dosagem na urina
de 24 horas. Valores iguais ou superiores a 300 mg em
urina de 24 horas são considerados anormais e, se pre- CONDUTA
sentes antes de 2 0 semanas de gestação, são sugestivos
de nefro patia. 2-7 O controle da hipertensão durante a gravidez está as-
sociado a menos ocorrência de crise hipertensiva, mas não
altera a incidê ncia de pré-eclâ mpsia sobreposta.
AcoMPANHAMENTO MATERNO Para as gestantes classificadas como de baixo risco, não
existe consenso do benefício da terapia medicamentosa,
Os exames solicitados para diagnóstico da forma clí- sendo aconselháveis apenas medidas gerais de hábitos de
nica da HAC, conforme apresentado no Quadro 32.2, vida saudável e repouso. Gestantes consideradas de alto
deverão ser repetidos caso ocorram evidências clín icas de risco ou aquelas que, no curso da gravidez, apresentaram
agravamento materno. agravamento de sua doença, passando a ter algum critério
D iante da suspeita de sobreposição de pré-eclâmpsia, de alto risco, merecem terapia medicamentosa.
devem ser solicitados: u
hemograma com plaquetas;
hematoscopia; MEDIDAS GERAIS
proteinúria de 24 horas;
creatinina e ácido úrico; A gestante deve ser aconsel hada sobre os riscos do
dosagem de bilirrubinas; consumo de álcool e tabaco d urante a gravidez. Ambos
dosagem de enzimas hepáticas: TGO, TGP, LDH; têm efeitos deletérios para o feto e para a mãe. O consu mo
fundo de ol ho. excessivo de álcool pode promover agravamento d a h iper-
tensão materna. O uso do tabaco é fortemen te associado
A hemoconcentração, além de ajudar no diagnóstico ao risco de descolamento prematu ro de placenta e ao cres-
de pré-eclâ mpsia, é indicadora de gravidade da doença. cimento intrauterino restrito. 3
O surgimento de protei nú ria significativa, assi m como de Programas agressivos de controle do tabagismo resul-
elevação do ácido úrico, sugere associação de pré-eclâmp- tam em diminuição de consumo individual e associam-se
sia. Sinais de he mólise, trom bocitopenia, níveis alterados à diminuição de mo rtes por doenças cardiovasculares em
de creatinina sérica e elevação de enzimas hepáticas são curto prazo.4
compatíveis com forma grave de pré-eclâmpsia. A obser- A gesta nte hipertensa deve ser internada todas as vezes
vação de vasoespasmo arteriolar nos vasos retinianos é que a PAse tornar instável, tanto para iniciar como parare-
sinal precoce de pré-eclâmpsia sobreposta. aval iar a terapia anti-hipertensiva. O su rgimento de outras

504 Noções Práticas de Obstetrícia


complicações e pecíficas, como o crescimento intrauteri- tividade cardiovascular ao cstresse é um fator prognóstico
no restrito, trabal ho de parto pré-termo e hemorragia, tam- do desenvolvimento de HAC.4
bém é indicação de internação ho pi talar.

DIETA
R E P O USO E ESTRESSE
A dieta DASH (dietary approches to stop hyperteuswu) de-
ão existe experiência comprobatória de que o repou- monstrou vários benefício à saúde, de tacando-se a redução
so seja tratamento eficaz para a hipertensão. Admite-se nos níveis de pressão .uterial. A alimentação balanceada com
que eja um do fatores integrantes do tratamento. ão verduras, fruta , legumes, cercais, tubérculos, leguminosas,
é necessá rio em todas as situações, nem é estratégia útil c:unes magra , leite c derivados desnatado c óleo vegetai
confinar a paciente no leito durante toda a gravidez, mas está associada à redução do risco de desenvolvimento de hi-
é fundamental reduzir os exccs os físico e a sobrecarga pertensão arterial pelo impacto da a ão i olada ou combinada
p íquica. Essa conduta pode ter importância destacada, fa- de eus nutrientes. É importante que esses cuidados nutricio-
vorecendo o controle da hipertcnsão.2•7 nais sejam adotados desde a infância c a adolcscéncia.4
Durante o pré-natal, é boa norma repouso físico de, Não se comprovou que regime alimentar agrave ou
pelo menos, dua hora por dia, após as refeições, cm decú- amenize o quadro hipertensivo na ge tação. Particularmen-
bito lateral esquerdo. te, a restrição de sódio é considerada positiva no tratamento
H:\ positiva relação entre e tresse emocional e aumen- da H AC em pacientes não grávidas, mas não adiciona bene-
to de pressão arterial c da reatividade cardiovascular. A rea- fício algum ao tratamento da hiperten ão no pré-natal. Ao

Quadro 32.41 Seguimento fetal na gestação complicada com HAC


Clil SSifll dCdO EXdl11l!S Slllj!'ll li OS

Leve Ultrassonografia no 1° trimestre: determinação da idade gestacional


Ultrassonografia no 'ZO trimestre (18-22 semanas): avaliação da morfologia fetal
Dopplervelocimetria de artérias uterinas com 26 semanas: avaliar risco de pré-eclampsia
Ultrassonografia no :r' trimestre (28-30 semanas e 34-35 semanas):avaliação do crescimento e vitalidade fetal
Cardiotocografia semanal a partir de 34 semanas de gestação
Perfil bioffsico fetal, se cardiotocografia nio reativa ou hiporreativa
Dopplervelocimetria arterial fetal entre 32-34 semanas: avaliar insuficiência placentária, ou antes. se ocres-
cimento fetal for insatisfatório
Moderada Ultrassonografia no 1° trimestre: datação
Ultrassonografia no de 'ZO trimestre: morfologia
Dopplervelocimetria de artérias uterinas com 26 semanas: avaliar risco de pré-eclampsia
Ultrassonografia seriada a partir de 30 semanas, com intervalo de 3 a 4 semanas: crescimento fetal
Cardiotocografia semanal a partir de 32 semanas
Perfil bioffsico fetal, se cardiotocografia não reativa ou hiporreativa
Dopplervelocimetria arterial fetal. quinzenal, a partir de 32 semanas. ou antes. se ocrescimento fetal for
insatisfatório
Grave e Ultrassonografia no 1° trimestre: datação
Maligna Ultrassonografia no de 'ZO trimestre: morfologia
Dopplervelocimetria de artérias uterinas com 26 semanas: avaliar risco de pré-eclampsia
Ultrassonografia seriada quinzenal a partir de 24 semanas
Dopplervelocimetria fetal (artéria umbilical e cerebral média) a partir de 26 semanas e repetido com intervalos
individualizados. a critério clfnico
Cardiotocografia diária a partir de 26 semanas
Nos casos de cardiotocografia nio reativa, realizar imediatamente PSF
HAC=hipenensão anerial crOnica; PBF =perfil biofísica fetal

Hipertensão Arterial Crõnica


SOS
contrário, a restrição de sódio é prejudicial às gestantes que Os hipotensores m ais usados na gestante com h iper-
apresentam contração do volume intravascular por au men - tensão crón ica são metildopa, nifedipina e ~-bloq ueadores.
to da resistência ou constrição vascular periférica.Ui Deve-
-se, no entanto, evitar o uso excessivo do sal, por exemplo,
retirando-se o saleiro da mesa e evitando-se alimentos in- M ET I LDOPA
dustrializados como enlatados, conservas, frios, embutidos,
sopas, temperos, molhos prontos e salgad inhos.4 Metildopa é o anti-h ipertensivo m ais u sado para tratar
hipertensão durante a gravidez, sendo considerado por
mu itos estudiosos o med ica mento de primeira linha para
HIPOTENSORES o tratamento da hipertensão crónica na gestação. 1
Reduz a pressão a rterial pelo estímulo de receptores
O tratamento da hipertensão arterial crón ica na gra- centrais a-2, via a-metil-norep inefrina (a forma ativa da
videz tem como objetivo a red ução dos riscos maternos, metildopa). Age também como bloqueador peri fé rico, atu -
perm itindo o prolonga mento da gravidez e, desse modo, ando nos receptores a-2. O cont role da pressão é gradu al,
favorecendo a maturidade fetal. Os medicamentos devem ocorrendo em seis a oito horas, devido à ação indi reta do
ser eficazes no controle da PA e seguros pa ra o feto. medicamento. 12
Como já citado, as gestantes consideradas de alto ris- O trata mento com a metildopa parece prevenir a pro -
co tê m indicação formal para o uso de anti-hipertensivos. gressão para hipertensão grave na gestação e não parece ter
Por outro lado, para gestantes de baixo risco, a terapia efeitos adversos na hemodinâ mica útero-placentária ou no
medicamentosa não tem apresentado vantagens, quando bem-estar fetal. 12
comparada com apenas terapia não medicamentosa. 2•3 O O efeito colateral mais freq uente é a sonolência?·- De-
tratamento medica mentoso na H A de baixo risco pode di- correntes d a ação central pode haver também: sedação, fa-
minuir o risco de h ipertensão grave, porém não diminui o d iga, boca seca, hipotensão postural e d isfunção sexual. Ela
risco de pré-eclâmpsia associado e não altera os resultados é contraindicada na vigência de lesão hepática.4
maternos ou perinatais. 11 A dose utilizada na gestação varia de 750 mg a 2 g por
Muitas mu lheres com hipertensão crónica experimen- d ia. Embora a dose máxi m a permitida seja de 4 g/ d ia, a
tam queda significativa d a PAno início da gestação, poden- o corrência de h ipotensão postural é fator lim itante na ges-
do não precisar de tratamento com agente anti-hipertensi- tação quando se util iza m doses acima de 2 g/d ia.
vo geralmente até o in ício do terceiro trimestre. Caso a metildopa não seja bem-tolerada, constituem
O objet ivo do tratamento é alcançar pressão diastólica boa alternativa os antagonistas de canais de cálcio, os
inferior a li O mmHg nas gestantes considerad as de baixo p-bloqueadores com at ividade simpatomimética intrínse-
risco. Para gestantes de alto risco, o o bjetivo é manter a PD ca (pi ndolol) e a clonidi na.
entre 80 e 90 mmH g. Dessa forma, defende-se o uso de h i-
potensores nas gestantes de bai xo risco quando a pressão
diastólica fo r superior a lO O m m H g e nas gestantes de alto N i FEDIP INA
risco quando a diastólica fo r superior a 90 m m H g.
Deve-se lembrar que, devido às alterações fisiológicas A nifedipina é antagonista de canal de cálcio e vem sen-
da gravidez, a farmacocinética dos medicame ntos utiliza- do utilizad a no controle da HAC na gravidez com resulta-
dos pode se alterar. O aumento do volume plasmático leva dos satisfatórios. Age inibindo a passagem do cálcio iónico
à redução da concent ração de albu mina e, consequente- do espaço extracelular para o citoplasm a das fibras mus-
mente, a menos ligação a certas medicações, com alteração culares lisas, reduzindo a resistência vasc ular periférica.
em sua distribuição. Há mais filtração glome rula r com me- Embora a experiência com a nifedipina na gravidez ainda
nos clareamento dos medicamentos de excreção renal. No seja lim itada, os estudos disponíveis mostram segu rança
fígado, a progesteron a e o estrogên io podem induzir ação no seu u so.13•14
em algumas enzimas do citocromo P4SO e podem inibir a Qyando admi n istrada por via oral, mais de 90 % da
ação em outras. 11 dose são absorvidos rapidamente. A ingestão simultâ nea

so6 Noções Práticas de Obst etrícia


de alimento retarda, ml não redm a ab orção da nifedi- Algun dado naliteratura referem que e es efeitos não
pina. A ligação às proteína é mu ito alta (92 a 98'\l). A bio- c tão prc ente quando e utilin m outro ~-bloquead re ,
di ponibdidade é de 6' a 75%. 213 14 como metoprolol, pindolol e oxprenolol.
O início da ação é igual para dp ula e compri mido, cm O propranolol, ~-bloqueador de custo mais acc ível,
torno de 20 minutos. já o tempo para atingir a concentra- além de associar- e a C IUR, induz no recém-na Ctdo alto
ção pia mática máx ima varia, endo alcançado 30 a 60 mi- risco de hipogliccmia e hipotermia. A Food Drug mui Ad-
nuto apó a ingc tão da cápsula e uma a duas horas apó a lllilli.llmtion, órgão controlador do uso de medicamentos e
ingestão do comprimido. A nifedipina é também disponi- ali mentos no E tado Unido da América, contra indica o
bilizada sob forma de comprimido de liberação lenta, sen- seu uso na gest.tção.
do ne a apre entação a concentração máxima alcançada O pindolol pode er util izado na do c de S a 30 mg
l,S a 4,2 horas apó a deglutição. 2·1u 4 por dia. Pode er pre crito corno do c única diária de até
A mci.t-vida da ni fcdipina é de aproxi madamente du.ts ISmg. A partir da dose de 20 rng, recomenda-se fr.tcionar
hora . a dose total em duas a trê tomadas ao dia.
A duração da a ão é de quatro a oito horas, quando c O labetalol, ape ar de cr prccontn do na gestação por
utilizam cápsula c comprimido. O comprim ido de ação autores estrangeiro , não está disponível para u o no Bra ii.
prolongada age durante 12 a 24 horas.
A dose da nifedipina, como qualquer medicamento,
deve ser individualizada, va riando de 20 a 60 mg ao dia, ' tO IDI
endo a do e média de lOmg, via oral três vezes ao dia.
O efeitos colaterais mais comun ão taquicard i.t, pal- A clonidina atua como esti mulador ccntd nos recep-
pitações, edema periférico, cefaleia c jlushi11g facia l. I! Até o tores a-dois, reduzi ndo, no sistema nervoso impático, o
momento, não se dispõe de estudos cont rolados sobre o flu xo adrenérgico para o sistema cardiocirculatório, pro-
uso da nifedipina na gestação. t de crito que a nifcdipi na movendo diminuição d:l resistência periférica."
é teratogénica c cmbriotóxica em animai de experi men- A do e va ria de 0,1 a 0,3 mg/dia de 12/ 12 hora , não
tação. Como muitos processos da embriogênese humana excedendo 1,2 mg/dia.
pare cm er cálcto-dependente , recomenda-se que a ni- Pode ocorrer hiperten ão de rebotc com retirada súbita
fcd tptna não ep admini trada no primeiro trime tre da do medicamento, ma é fármaco eficiente no trata mento
gestação, a menos que impre cindível para a gestante. da hiperten ão na gravidez.
Exi te a preocupação do uso simultâneo da ni fcdipina
e do ulfato de magné io na prevenção c trata mento da
eclãmpsia. A interação medicamento a pode cau ar blo- C RISE HIPERTENS IVA
qucto neuromuscular, depre são miocárdica ou colapso
circulatório. .1 prática, no entanto, c as medicações são Considera-se crise hipertensiva o achado de níveis
comumcntc u adas juntas em risco aumentado.ll pre · órico iguai ou uperiorc a 160 x l i O mm Hg,
.tcompan hado de Sintomas CO I11 0 cera leia, n .ÍU~Ca~ O U VÓ·
mitos. Ncs as situações, existem riscos mate rno~ c fct.lis
~- BLOQUEADOR I: $ que justifica m medid:l terapêutica capaze de promover
redução mais rápida da pressão angufnea.
Diver o ~-bloqucadore têm sido de crito como O objctivos principais do tratamento são prevenir
úteis no cont role da HAC na ge tação. Esse fármaco encefalopatia hipertcn iva e acidente va cularc cere-
atua m pela dim inuição generalizada no tônus simpatico- brais. ~ importa nte ressaltar que O ' acidentes vascula-
mimético." '' res cerebrais se associam mais a níveis elevado da prc -
u~o do atenolol du rante o prunciro e cgundo tri- âo i tólica. Devem-se evitar quedas superiores a 20°o
mestres é as ociado ao rcscimento intrauterino re trito nos nívci pressórico durante o tratamento da cri c
(C IUR) e à diminuição do tamanho c peso placcntários. 2 h ipertensiva.

Hipertensão Arterial Crônica 507


TRATAMENTO Embora a nifedipina apresente efeitos hemodinâmicos
favoráveis, é importante estar atento para o risco de hipo-
Quando o tratamento está indicado, o medicamento ide- tensão grave, que pode também comprometer a vitalidade
al deve ser capaz de reduzir rapidamente a pressão sanguínea fetal devido à redução brusca da perfusão placentária. Cui-
para niveis seguros, não alterar o débito cardíaco materno, dados especiais devem ser tomados quando a nifedipina
não reduzir o fluxo útero-placentário e não ter efeitos adver- ou qualquer antagonista do cálcio for utilizada em associa-
sos para mãe ou feto. ção com o sulfato de magnésio. Nessas situações, o risco
de hipotensão grave é mais alto.2·3·13•14 Em metanálise pu-
blicada em 2003, a nifedipina oral foi considerada agente
Ht DRALAZ I A de pri meira linha para tratamento de crise hipertensiva, en-
quanto a hidralazi na foi classificada como segunda linha.
A hidralazina é potente vasodilatador. Constitui-se no A hidralazina foi mais associada a complicações maternas
fármaco de eleição para o tratamento da hipertensão agu- e pcrinatais, como hipotensão materna, cesariana, descola-
da na gravidez. Por via endovenosa, alcança efeito máxi mo mento de placenta,Apgar < 7 e oligúria-' 1
em 20 minutos, mantendo sua ação por seis a oito horas. A nifedipina não é medicamento aprovado pela US
Essas características em sua farmacocinética permitem o Food and Drug Administralion (FDA) para trata mento da
seu uso em bolus.3 A hidralazina é preparada diluindo-se hipertensão ou emergência hipertensiva, devido a relatos
uma ampola de 20 mg (l mi) em 19 mi de água destilada, de compi icações cardiovasculares graves, incluindo morte,
obtendo-se solução com l mg/ ml. especialmente em pacientes mais velhos.3
A dose preconizada é de S mg (S mi) por via endoveno-
sa, infundida em cinco minutos, repetida a cada 20 minutos
até estabilizara PAem níveis próximos de ISOx 100 mmHg. ITROPRUSS I ATO DE SóDIO
A dose máxima não deve ultrapassar 20 mg (20 mi). Uma
vez que o controle da pressão sanguínea seja alcançado, O nitroprussiato de sódio pode ser indicado em raros
repetições podem ser feitas, se necessário, respeitando-se casos, após a fa lha de hid ralazina e nifedipina. A dose pre-
intervalo mínimo de três horas. Quando não se obtém con- conizada é de 0,5 a 3,0 mg/ kg/ min, por via endovenosa.
trole da pressão sanguínea com a utilização da dose máxi- As gestantes em uso de nitroprussiato de sódio devem ser
ma, o uso de outro hipotensor deve ser considerado. acompan hadas em unidades de terapia intensiva.
Os efeitos colaterais mais frequentes são hipotensão e
taquicardia. Hipotensão grave ou persistente pode inter-
ferir com o fluxo útero-placentário. Para evitar hipotensão INTERRUPÇÃO DA GRAV IDEZ
grave, é fu ndamental a cateterização de veia periférica an-
tes do início da hidralazina, bem como monitorização rigo- A interrupção da gravidez baseia-se nas condições ma-
rosa dos níveis pressóricos. 3 ternas c fcta is.
Em gestantes com bom controle pressórico, sem lesões
de órgão-alvo, com feto apresentando crescimento adequa-
l t FED I PI NA do, é possível aguardar o trabalho de parto espontâneo. A
vigilância da vitalidade fetal deve ser rigorosa durante todas
A nifedipina age rapidamente promovendo redução na as fases do trabalho de parto.
pressão arterial lOa 20 minutos após a degl utiçào.2•13·14 As principais indicações maternas para a interrupção
A dose preconizada é de S a IOmg, via oral, podendo ser da gravidez são:
repetida uma vez, após 30 mi nutos, nos casos em que não falha no trata mento da crise hipcrtensiva;
se obtém resposta satisfatória. Caso seja obtido controle da descontrole pressórico;
pressão sanguínea com essa dose, poderá ser feita a manu- piora do quadro cl ínico, quando presente doença
tenção do efeito hipotensorcom doses de lO a20 mga cada de base;
quatro ou seis horas, via oral. descolamento prematu ro da placenta.

soa Noções Prát icas de Obst et ricia


A principai mdicaçõe letais para interrupção da gra- de PA de 1-0 mmH gou PAD de 100 mmHgapós os pri-
vidc.t ão: meiro quatro dias de puerpério.12
crescimento intrautcrino restrito; ão exi tem muitas informa õe obre a excreção do
oligoidr.l mnio; hipotensores no leite humano c no recém-na ciclo. Os da-
alteraçõe na vitalidade fetal. dos disponíveis sugerem que todo os fármacos dispon í-
vel até o momento são excretado no leite materno. '
O momento mais oportuno para interrupção d., gr.l- A concentração da mctildopa e do propranolol no leite
vidcz diante de indicação fetal deve ser individualizado. O materno é rcdllzida c seu uso du rante a lactação é con ide-
f.1tor mais importante da decisão é a idade gcstacional. Oli- rado cgu ro. 2 1
goidram nia, crescimento intrauterino restrito em feto com Algumas mulhere podem er ma i~ bem controladas
idade superior a 32 semanas são indicativos de interrupção com os inibidores da conver ão da angiotcnsina, principal-
imediata da ge tação. Em idade ge tacionai mai precoce mente as com d iabetes IIJellitus c cardiomiopatia. Sua con-
o risco da manutenção d.l gc tação deve cr pesado cm rcl.l- centração no leite materno parece cr baixa, mas existe o ris-
ção ao ri co da prematuridade. es as ituaçõe , a utilinção co teórico de alteração na fun ão renal do recém-na cido.2 1
de dopplcrvclocimetria c perfil biofísica fetal é útil na decisão. A concentração dos diurético no leite materno é baixa,
Au ência de fluxo dia tólico final ou diá tolc rcvcrsa mas eles podem induzira di minuição da produção do leite,
à dopplervelocimetria da artéria umbilical é indicação de devendo ser utilizado apena quando imprc cindívei .~.-
interrupção da gestação. Em fetos com "centralização de Existem poucas informa õcs obre a Lran ferênCJa dos
fluxo", também identificada à dopplervelocimetria, o mo- bloqueadores do canal de dlcio no leite materno, entre-
mento da interrupção deve er individualizado, levando-se tanto, até o momento, nenhum efeito colateral aparente toi
cm conta, pri ncipalmente, a idade gestacional. demonstrado. 1·"
O utra questão que deve ser individualizada é o uso de O Quadro 32.5 sintetiza as pri ncipais evidências sobre
corticotcrapia ,lf1tcnatal cm feto com idade gcstacional ,, hipcrten ão arterial na gc tação.
inferior a 34 emana . a maioria das vczc , os benefício
da corticotcrapia superam os risco , desde que a gestante
esteja internada em unidade hospitalar que possa garanti r Q!Jadro 32.5 I Grau~ de recomendaçóc' no tratamento
monitorização rigoro a dos níveis prcs óricos. da hipertensão arterial crônica na gravidez
ln ter ver1c JO Reslllt~do Gr dll de
RPcon'erH1JCJO
TRATAMEN T O DA HIPERTENSÃO Evitar o Redução de morte por A
NO PóS-PARTO tabagismo doença cardiovascular
Controle do Redução dos níveis B
estresse pressóricos e
O monitoramento da PA por pelo menos 48 horas após reatividade vascular
o parto é fundamental, princip:~ lmente na gc tJntc com Alimentação Redução do risco de A
H AC de alto risco. Algumas mulhcrc previamente norma- balanceada desenvolvimento de
tensas podem apresentar aumento da PAno pó -parto, com hipertensão arterial
pico no quinto dia pó -parto. Isso ocorre em consequência Evitar uso Controle dos níveis B
ao aumento do volume plasmático na gestação c a redistri- excessivo de pressóricos
buição desse volume apó o parto}2 sal e alimentos
Muitas mulhcrc com hipertensão arte rial crónica industrializados I
nccc ~itam da manutenção da terapia hipotcn ora apó o Anti- Utilizar apenas nas A
parto, principalmente, quando c mantêm nívci elevados hipertensivos pacientes com
c persistentes de PA. Alguns autores sugerem a introdução hipertensão grave ou
com fatores de risco
de anti-hipcrtcmivos qua ndo são mantidos va lores acima

Hipertensão Arterial Crônica 509


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200 I. p.l209-22.

510 Noções Práticas de Obstet rícia


33 Diabetes e gravidez
Anelise lmpclizicri oguetra

Definição Acompanhamento Oftalmológico


Avaliação do Bem-estar Fetal
Classificação
Complicações Maternas
Diabetes Mellitus Tipo 1 Hipoglicemia
Diabetes Mellitus Tipo 2 Cetoacidose Diabética
Diabetes Mcllitus Gestacional
Distúrbios Hipertensivos
Ajustes Metabólicos Maternos Retinopatia Diabética
na Gravidez Normal Nefropatia Diabética
MetaboHsmo Durante a Gestação Normal Infecção d o Trato Urinário
Metabolismo Durante a Gestação Diabética Complicações Fetais e Perinatais e
O Feto de Mãe Diabética na Vida Adulta
Primeira Metade da Gestação Óbito Fetal
Segunda Metade da Gestação Malformações Congénitas
Diabetes Pré-gestacional Macrossomia e C rescimento Lntrauterino Restrito
Classificação do Diabetes na Gravid ez Policitemia, Hiperviscosidade e Trombocitopenia
Orientação Pré-concepcional Hipoglicemia Neonatal
Prevenção das Malformações Congénitas e Abortamento Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR)
Prevenção das CompHcações Maternas Hipocalcemia e Hipomagnesinemia
Acompanhamento Ambulatorial Hiperbili rrubinemia
Obesidade e DM2 na Vida Adulta
da Gestante Diabética
Monitorização Glicémica Decisão quanto ao Parto
Tratam ento para Gestantes com DMPG e DMG Pós - parto e Lactação
Acompanhamento Laboratorial Contracepção

Existem mai de ISO milhõe de pessoas com diabe- de e aumenta com a idade, chegando a 17% na faixa etária
te no mundo. De acordo com a O rganização Mundial de do 60-69 anos.
Saúde, a projeção par,\ o ano 2025 é que esse número du- Além da prevalência elevada, outro dado importante é
plique, chegando a 300 milhões. o Brasil, a prevalência que, apesar das campanhas para detecção do diabetes, cer-
da doença é de 7,6% na população entre 30-69 anos de ida- C,\ de 50% das pessoas que o têm desconhecem sua condi-
ção. Por isso, devido às graves com plicações causadas por DEFINIÇÃO
ele, é im portante que seja realizado o d iagnóstico precoce.
Atualmente, aproxi madamente 4% das mu lheres grá- O diabetes mellitus (DM) é uma doença crônica e evo-
1
vidas nos EUA' ão diabéticas e no Brasil são 7,6% . Des- lutiva, caracterizada po r alterações no metabolismo dos
tas, 88%apresenta m diabetes gestacio nal c as demai s tê m carboid ratos, lípides e proteínas, identificada pela presen-
diabetes tipo L c tipo 2 pré-gcstacional. Estudos recentes ça de hiperglicemia, seja no estado de jejum, pós-alimentar
sugerem que a prevalência do tipo 2 tem aumentado em ou segu indo-se a tes tes orais padronizados de sobrecarga
mulheres em idade rcprodut iva, assim como cm crianças de gl icose. H iperglicem ia e outras a Iterações bioq uIm ic as
e adolescentes. Ac red ita-se q ue essa incidência aume n- ocorrem devido à secreção ou ativ idade insul ínica re duzi-
tará progressivamente devido à elevação na detecção do da. O grau de privação insu línica determina a gravidade
tipo 2 c à sua correlação estreita com o besidade e hábitos dos sintomas da doença, os quais va riam desde a ausên-
de vida inadequado .1 1 cia de sintomas até graus extremos de gravidade, cm que
O d iabetes se reveste de m uita importância, po r ser coma e morte estão incluídos. 1
intercorrência comum na gravidez c apresentar riscos m a- o estado diabético crôn ico, há alterações característi-
ternos potencial mente letais como cetoacido ·c diabética cas c progressivas na reti na, rins, nervos peri féricos e tecido
e risco aumentado de in fecções, pré-eclârnpsia e piora das conju ntivo. Há também doença aterosclerótica acelerada
complicações d iabéticas previamente existentes, a lém de dos vasos coronários, cerebrais e perifér ico .1
consequências desfavoráveis para o concepto: elevada in-
cidência de morte fetal, distúrbios metabólicos, infecções,
parto pré-termo, malformações congên itas, SARI, além de CLASSIFICAÇÃO
obesidade c di abetes t ipo 2 na idade adu lta.3
A ntes da introdução da insulina cm 192 1, a gravidez A classificação do d iabetes mellitus atualmentc mais
em m ulheres diabéticas era incomum c frequentemen te util izada data de 1979. Fo i elaborada pelo National Diabe-
acom panhada de morte feta l e elevado risco de mortali- tes Data Group do Nationallnslilule of Health ( DDG). O
dade materna. Com o aumento da compreensão da fis io- Q!.1adro 33.1 mo tra essa ela ificação já com a modifica-
patologia do diabetes na gravidez, assim como o desen- ção precon izada pela Associaç;io Americana de D iabetes
volvimento de técn icas pa ra preven ir s uas complicações, (A DA), em 2003 .1
a mo rta lidade peri natal reduziu-se de aprox imad amente Corno todos os t ipos descritos nessa classificação po-
65% na época da introdução da insul ina para 2 a 5% na dem acometer mu lheres em faixa etária reprodutiva, as
atualidade. Essa d ramática melhora nos resultados pe- alterações metabólicas sobrepostas à gravidez tornam-se
rinatais tem ido atribuíd a aos esforços clín icos para es- bastante ind ividua lizadas, sendo descritas ma is adiante.
tabelecer melhora no controle gl icêm ico m aterno. Se o
cont role '"ót imo" é atingido d ura nte a gestação, a taxa de
mo rtal idade fetal c pcrinatal é semelhante à obse rvada DIABETES MELLITU S TIPO 1 ( DMl)
3
cm gestações não d iabét icas.
A g ravidez ind uz várias mudanças fi siológicas na mãe, H abitualmente, tem seu início na infância ou no adulto
que são benéfica para o desenvolvimento fetal. Mães pre- jovem, é um tipo de diabetes i mu nomediado po r dcstru ição
viamente diabética parecem estar sob os mesmos ajustes das célu las ~- É associado a a ntígcnos leucocitários huma-
fisiológicos d ura nte a gestação. A lém d isto, a gravidez é dia- nos específicos (H LA) no cromos o ma 6. Em caucasiano ,
betogênica, habitua lmente a partir de sua segunda metade, esse antígenos H LA são B8/ DR3 e/ou BlS/ DR4. Históri a
quando se ob crv.1 elevado grau de insulino-resistência. É fami liar de d iabetes está presente cm apenas I 0% dos casos,
nessa ocasião que o diabetes pode se manifestar pela pri- preva lência que não é diferente para não d iabéticos. Há 25 a
meira vez. As gesta ntes devem ser acompanhadas periodi- 50% de taxa de concordância cm gêmeos idênt icos.
camente d urante a gestação para o melhor ajuste metabó- A alteração patogênica encontrada no pâncreas desses
lico no intuito de dim inuir os riscos de mo rbimorta lidade pacientes é a insulite, com infiltração predom ina ntemente
maternos e fetais. lin focítica. Há ausência quase total de células sec rcto ras de

512 Noções Práticas de Obstetric ia


in ulina, apesa r de quantidade normai de outra célula DIABETES MELL ITUS TIPO 2 (DM2)
e tarem pre entes no pàncrca .
Corre ponde a cerca de 909o da população diabética.
Quadro 33. I I Classificação etiológica do diabetes mellrtus Normalmente, desenvolve- e apó o Oano e aproxima-
I D1abetes T1po lidestruJCdO das celuli.ls )I usudlmente damente 70 a 80%dos pacientes são obesos, principalmen-
leVdlldü d tleliCJICilCid lllSUIIIIICd CUIIlple!tli te com gordura abdominal. H:í inú meras diferentes causas
A. Autoimune par,\ o DM 2, porém a etiologia ex ata é desconhecida. l i is-
tória familiar de DM 2 é mu ito frequente, não havendo,
B. Idiopática
entretanto, associações com antígenos H LA específicos.
11 D1abews TqJO 2 (Villlil de predolllllllu de JllsuiJno - As taxas de concordãncia cm gêmeos idênticos são de 95
resJstêncJd COill progreSSIVil lllSUIIIlO d!~f1Ciêi1Cii.l)
a 100%, indicando uma ba e predominantemente gené-
III Outros t1pos espeLJflt·os tica para essa forma de doença. Mcno de '9o do pacien-
A. Defeitos genéticos na função da célula ~ tes têm anticorpos circulantes cont ra células da ri/rola c a
população de célula ~ pancreáticas encontra-se apenas
B. Defeitos genéticos na função insulinica
mode ta mente reduzida em quadro iniciai , com redução
C. Doenças do pancreas exócrino progressiva. A resposta da in ulina pia mática à ingestão de
O. Endocrinopatias nutrientes é habitualmente nornl.ll ou aumentada cm fase
in icial da doença.
E. Induzido por drogas
O mecanismo fi iopatológico bá ico é a rc i tência in-
F. Infeccioso sulínica ou uma dcpleção de receptores rcsponsivos à ação
IV 01abetes mellitus gestacJonal (diabetes d1agnostJcddo da insulina, além de mecanismos pós-receptores, c uma de-
durilnte a CJeStilcao) ficiência relativa, progressiva e quase absoluta de insulina. 1· 5
Essa forma de diabete pode permanecer sem diagnó -
A hipótese prevalente sobre a patogêncsc do DM I asso- tico durante anos, pois os pacientes são geralmente oligo
cia susceptibilidade genética individual a alguma infecção ou assintomáticos. Muitas vezes o diagnóstico é realizado
ou outra agre ão de qualquer natureza à célula pancreáti- cm exames casuais ou durante o pré-natal ou, ainda, de-
ca. Anticorpo anti-ilhota ão encontrado no pia ma em vido a complicaçõe como rctinopatia, ncfropatia, hiper-
mais de 85% dos caso . O DM 1 é ocasionalmente asso- tensão, neuropatia. Verifica-se com frequência elevada cm
ciado a fenômenos autoimunes em outro órgãos como a mulheres que apresentaram d iabetes gestacionaL
tireoide, ad rcnal e e tõmago. Isto leva a pensar em um pro- O tratamento geralmente inclui mudança de estilo de
cesso imunológico, resultando em anticorpo circulantes vida, com bon hábitos dietético , exercícios fí icos e antid ia-
contra as células da ilhota c sua subsequente destruição.4 béticos orais. Com o progredir da doença, diminui a produ-
O intoma ào de início súbito porque praticamente ção da insulina c insuli na exógena pode ser necessária, uma
nenhu ma in ulina é produzida pelas células pancreáticas. vez que esses pacientes podem torna r-se propensos à cetosc5.
H~ relativa superprodução de hormónios contrai nsulíni- Fora da gestação, o diagnóstico de diabetes (DM I c
cos e utilização prejudicada de glicose c corpos cctônicos, DM 2) pode ser feito de vá rias formas:1· H 1
a im como mobil ização dos ácidos graxas livre que pre- Glicemia em jejum ~ 126 mg%.
di põem à cctose. c não tratados, o d iabéticos tipo I de- Glicemia casual (sem jejum) ~ 200 mg% em pa-
senvolvem a cetoacido c diabética. ciente sintomático (poliúria, polidipsi.l).
Complicações em longo prazo inva riavelmente acon- Glicemia 2 horas após a ingestão de 7 g de dextro-
tecem em alguma extcn ão em ambos os grupo , porém, sol ~ 200mg%.
paciente portadora de DM I as apre entam em alta fre-
quência antes da gestação. Essas complicações incluem re- Duas out ra categorias de anormalidade no metabo-
tinopatia, nefropatia, neuropatia e aterosclerosc prematura, lismo da glico e também ão definidas, ambas colocam o~
todas elas repre cntativas de riscos significativos ao cresci- indivíduos cm risco de desenvolver DM 2 no futuro e apre-
mento c desenvolvi mento fetal adequados.4 sentam incidência aumentada de doenças cardiovascula res:

Diabetes e Gravidez 513


intolerância à glicose (IGT): se a glicemia 2 horas tes para suprir as demandas necessárias. As causas da dis-
após a ingestão de 75 g de dextrosol estiver entre função da célula ~que levam à insuficiência de insulina
140 e 199 mg%. no DMG não são muito claras. Foram identificadas, até
Glicemia em jejum prejudicada (IFG): se a glicemia o momento, três categorias de alterações: 1) disfunção
em jej um é> 100 e < 125 mg%. autoimune da célula ~; 2) anormalidades genéticas alta-
mente penetrantes, que levam ao prejuízo de secreção de
insulina; e 3) disfunção da célula~ relacionada à insulina-
DIABETES MELLITUS GESTACIONAL -resistência crônica.
(DMG) Na mulher que desenvolve DMG, são detectadas
duas formas de insulino-resistência: a primeira é uma
A associação entre intolerância à glicose e história resistência fi siológica relacionada a fatores hormonais
prévia de macrossomia, natimorto e morte neonatal foi induzidos pela gravidez, especialmente pela placenta, em
inicialmente descrita na década de 40. Foi Priscilla Whi- sua segunda metade e que termina assim que a gestação
te quem primeiro elaborou uma classificação de diabetes é interrompida. A segunda forma d e insulino-resistência
na gravidez, utiliza ndo a classe A para designar o diabetes no DMG é a crônica, relacionada a fatores que antecedem
diagnosticado du rante a gestação.1•6 •7 a gestação e que é exacerbada pelas alterações fisiológicas
da gravidez. Desta forma, a maioria das mulheres com
DMG tem uma combinação da forma adqu irida e crôni-
DEFINIÇÃO ca de resistência insulínica, tornando-as um grupo com
resistência insulínica ainda maior do que a esperada ape-
H á 30 anos, a definição mais aceita para o DMG é a in- nas pela gestação.
tolerância aos carboidratos, de gravidade variável, de início Quase sempre o DMG surge quando existe resis-
ou primeiro reconhecimento na gestação. 1 Nessa definição tência insulínica significativa, um estad o semelhante ao
não se d iscute a gravidade da doença nem mesmo as for mas DM 2. Devido a esse fato, vários casos de DMG revelam
de tratamento, assim como a persistência ou não da intole- ou desmascaram uma paciente com DM 2 em estado
rância a carboidratos após a gestação. Não está, portanto, pré-clínico.
excluída a possibilidade de que a intolerância a carboidratos T ipicamente se desenvolve durante a segunda meta-
possa ter antecedido a gestação. D esta forma, é reconheci- de da gestação, quando a resistência insulínica, típica da
do como portador de DMG um pequeno grupo de mulhe- gravidez, é máxima. No entanto, é pouco provável que
res com DM I e/ ou DM2 sem diagnóstico prévio. seja a única responsável pelo desenvolvimento do DMG.
É possível que nessas gestantes haja também diminuição
na secreção insulínica e aumento na produção hepática de
PREVAL ÊNC IA glicose, entre outros.
Vários estudos têm demonstrado que o DMG é impor-
A prevalência de DMG varia de I a 14%, dependen- tante fator de risco para DM2, especialmente uma a duas
1
do da população e dos critérios diagnósticos adotados • décadas após o diagnóstico, principalmente em mu lheres
No nosso meio não contamos com um estudo que revele de grupos étnicos de alto risco; em obesas; que apresenta-
a prevalência real do DMG, porém parece que o mesmo ram DMG precoce antes da 24• semana de gestação; que
vem sendo subd iagnosticado. Pesquisas pontuais demons- utilizaram insul ina durante a gestação.
traram taxa de 7,6% 1

fATO RES DE RISCO


F lSJOPATOLOGlA
Os fatores de risco associados ao DMG são semelhan-
Como em todas as fo rmas de hiperglicemia, o DMG tes aos descritos para o DM 2, incluindo, ainda, os listados
é caracterizado por níveis de insulin a que são insuficien- no Quadro 33.2.

514 Noções Práticas de Obst etrícia


Quadro 33.2 1 Fatores de ri co para DMG Em no sa ob ervação cm 20 anos de atend imento cm
Idade > que 25 anos ambulatório e pecial izado no Ho pita! das Clínica da
UFMG, constatamos elevada incidência de fatores de ris-
Etnia hispânica. asiática, índios norte-americanos. negros.
' co em nossa população, grupo étnico de alta prevalência de
latino-americanos
diabete , obesidade c hiperten ão pré-gc tacional.
Obesidade (IMC > 27) ou ganho excessivo de peso na gesta- Uma vez que os critério línico i oladamente não
ção atual
são suficientes para se fazer o diagnóstico, inúmeros cri-
Disposição central da gordura corporal térios e divergência pas aram a fazer parte do cenário do
Baixa estatura (< 1.50 m) diagnóstico.
Atualmente, são aceitos no Brasil pelo menos três mé-
História familiar de diabetes tipo 2 em parentes de 1° grau
todos de ra treamento e diagnóstico do DMC, ou seja, um
Antecedente de intolerância a carboidratos que é adotado pela As·ociação Americana de Diabete~
Hipertensão. pré-eclâmpsia. polidrâmnio e crescimento fetal (ADA), outro preconizado pela Organização Mundial da
excessivo na gravidez atual Saúde (OMS) e um terceiro, sugerido pela Sociedade Br:l-
Antecedentes obstétricos de macrossomia, morte fetal ou ileira de Diabete ( BD) e pela ociedade Brasileira de En-
neonatal e malformações docrinologia e letabologia ( BEM). O primeiro é o pr~­
------ ferido por quase 75%dos obstetras americano ; o segundo,
Diabetes gestacional em gestação anterior ou filhos nascidos
com peso > 4 kg mu ito difundido entre os europeus; e o terceiro, adotado
pelo Ministério da aúde no Bra ii. Os critério utilizados
Síndrome dos ovários policfsticos
por essa instituições estão su marizados no ~adro 33. ~ .
DMG=diabetes mellitus gestacional; IMC =índice de massa corporal.

Quadro 33.3 I Critérios diagnó ticos do diabetes gestacio-


C RIT ÉRIOS DI AG 1Ó T ICOS DO DMG nalutilizado no Brasil em 20 I O(glicemias em mg<'o)
Rastr eame11to TOTG lOOç1 TOTG 75 G
O diagnóstico do DMG permanece controverso, com
métodos que va riam conforme o local estudado e a preva- ADA IGlicemia 1 h pós 50g Glicemias: Glicemias:
dextrosol ~ 140 Jejum ~ 95 Jejum ~ 92
lência do DMG. Porém, há consenso sobre o impacto nega-
1 h ~ 180 1 h ~ 180
tivo da hiperglicemia materna e os resultado fetais e ncona- 2 h ~ 155 2 h ~ 153
t.li adver o , conforme demon trou o e tudo pro pectivo 3 h ~ 140
H APO (Hyperglicemia and Ad11erse Preglw11cy Outcome).s·9
OMS Glicemia jejum ~ 126 Glicemias:
O diagnóstico envolve duas fases distintas - rastrea- Jejum ~ 110
mento e confirm ação diagnó tica. Os critérios e teste utili- 2 h ~ 140
zados para o rastreamento e diagnóstico do DMG ão con-
SBD/ Glicemia jejum 2: 126 Glicemias:
troversos, pela existência limitada de estudos comparativos. SBEM Glicemia jejum 85 - 125. Jejum 2: 95
Determinado aspecto da história médica, familiar realizar TOTG (75g) 1h ~ 180
e ob tétrica foram identificado em uma população de 2 h ~ 155
mulheres com risco aumentado de de envolver DMG. TOTG =Teste oral de tolerância à glicose. ADA= Associação Americana de
Entretanto, quando considerados apenas esses aspectos Diabetes; OMS= Organização Mundral de Saúde; SBD = Sociedade Brasrlerra
de Diabetes; SBEM =Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologra
considerados fatores de risco, o diagnóstico de DMG é
realizado cm ,1penas 37 a SODo das ge tantcs. Desta forma,
esses fatores de risco tem baixa sensibilidade em detectar o L tu rtR ro-; Pn 1 < c>.\ '1/A DO\ I'I 1 A:\ DA
DMG, sendo, então, insuficientes para elecionar um gru- A ADA e o Colégio Americano de Gi necologia e Obste-
po de gestantes com risco aumentado de apresentar esse trícia apoiam o teste gue se ba eia nos trabalhos pioneiros de
distúrbio. Por isto, recomenda-se o rastrca mento do DMG ullivan e Mahan, de 1964, preconizando a bu ca do diag-
para todas a gc tantes, independentemente da ex istência nóstico conforme avaliação de risco, entre 24 e 28 semanas
de fatores de ri co. de gestação, utilizando, para rastreamento, a gliccmi:l I hora

Diabet es e Gravidez 515


após 50 gramas de dextrosol. Caso a glicemia seja igual ou 24 e 28 semanas de gestação, dosando-se glicemia 2 horas
superior a 140 mg%, deve-se realizar o teste oral de tolerância após 75 g de dextrosol, com os critérios referidos.
à glicose (TOTG) com 100 gramas de dextrosol, com os se- Aqui, também, há inúmeras divergências:
guintes valores de referência: jejum até 95 mg%, I hora até 180 Alguns utilizam outros valores de corte para gli-
mg%, 2 horas até I55 mg%e 3 horas até 140 mg%. O TOTG cemia em jejum: se o nível em jejum for igual ou
pode também ser feito com 75 g de dextrosol, tolerando-se va- superior a 110 mg% em duas ocasiões, é firmado o
lores de jejum abaixo de 92 mg%, de l hora até 180 mg% e de diagnóstico de diabetes gestacional.
2 horas até 153 mg%. Dois ou mais valores acima desses con· Alguns definem que o valor da 2• hora seja > 165
firmam o diagnóstico de DMG. Pacientes com baixo risco de mg% para que se estabeleça o diagnóstico de diabe-
desenvolver DMG não necessitam de rastreamento, enquan- tes gestacional.
to aquelas de alto risco devem realizá-lo no início do pré-natal
e repetí-lo, caso negativo, entre 24 e 28 semanas de gestação. Para mi nimizar a variabiljdade do TOTG, ele deve
Há, porém, inúmeras cont rovérsias em relação a esses ser aplicado de forma padronizada (vide Quadro 33.4), de
parâmetros: acordo com a normatização da OMS, em geral entre 24 e
1. Alguns estudos têm demonstrado que rastrear mu- 28 semanas de gestação.
lheres sem f.·üores de risco seria desnecessário, pela
baixa prevalência de DMG nesse grupo, com custo Quadro 33.4 1Padronização do TOTG com75g de dextrosol
muito elevado para o sistema de saúde. Desta forma, 1 - Alimentação com pelo menos 150 g de carboidratos nos
recomendam que o teste não seja universal e, sim, três dias que antecedem o teste. Atividade física habitual
baseado na presença de dois ou mais fatores de risco. 2 - No dia do teste, observar jejum de 8 horas (ingestão de
2. Tanto o valor de corte do rastreamcnto quanto os água é permitida)
valores da curva são questionados por alguns. Su-
3 - Não fumar ou caminhar durante o teste
gere-se adotar para o rastreamento valores de corte
4 - Medicações e intercorrências que podem alterar o teste
mais baixos: entre 130 e 135 mg% e, caso haja dois
devem ser cuidadosamente anotadas
ou mais fatores de risco, o valor de 125 mg%.
3. O rastreamento precoce das gestantes consideradas 5 - Ingerir 75 g de glicose anidra dissolvidas em 250-300 mi
de alto risco para desenvolver DMG vem sendo ado- de água em no máximo 5 minutos
tado por alguns autores que seguem as orientações TOTG =teste oral de tolerância à glicose.

da A DA, sempre com a repetição do exame entre 24


e 28 semanas de gestação no caso de negatividade Ctun Rim Ptu·cO,\ ' T7ADOS PILA SBf..\ 1
do teste inicial. Há também aq ueles que defendem O Consenso Brasileiro de Diabetes Gestacional, patroci·
a repetição do teste novamente com 32 semanas de nado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabo-
gestação, caso os anteriores sejam negativos. logia (SBEM), sugere um rastreamento precoce, a partir da
primeira consulta pré-natal, utilizando a medida da glicemia
CR ITÉRIOS PRLCONI/.ADO.\ PFLA OI'v1S em jejum, com o objeti vo de detectar diabetes preexistente.
Não bastassem tantas controvérsias na ADA, resta ainda Recomenda-se o rastreamento do DMG para todas as ges·
o fato de que a Organização Mundial de Saúde (OMS) apli- tantes, independentemente da eristência de fatores de risco.
ca e aconselha out ro método de rastreamento e diagnóstico Estabelece-se a dosagem da glicemia plasmática cm je·
do DMG, adotados pela quase totalidade da comunidade jum como rastreamento e diagnóstico de DMG. A associa-
europeia. Nesse esquema, a glicemia em jejum deve ser reali- ção glicemia cm jejum+ fator de risco é método alternativo
zada no início do pré-natal; se?! 126 mg% em duas ocasiões, de rastreamento, orientado pelo Ministério da Saúde do
é estabelecido o diagnóstico de DMG; valores entre 110 e Brasil, considerando-se a praticidade e o baixo custo, pois a
125 mg% indicam a necessidade de realização do TOTG, GJ é exame de rotina e a investigação de riscos para DMG é
com 75 g de dextrosol; se o valor da 2• hora for ?! 140 mg%, obrigatória na anamnese da primeira consulta no pré-natal.
o diagnóstico é de DMG. Com glicemia em jejum no início Durante o primeiro trimestre de gestação, os níveis gl icê-
do pré-natal < 110 mg%, o TOTG deve ser realizado entre a micos tendem a valores mais baixos, contudo, mais estudos

516 Noções Prát icas de Obst etrícia


ão necessano para a determinação de valore de referên- rastreamentodo Dr-- IG para toda a ge tante ,independente-
cia para e a fa e. Como não exi te clara definição, valores mente de fatores de risco (Figura 3 .1). Os testes já existentes
aci nu de I 00 mg9o devem ser considerados alterados. foram anal i ados e compilou- e o c qucma a egu ir, adaptado
A partir de 24 emana da gravidez, rcalin-se out ra para nossa realidade, a partir de dados da OMS c da SBEM:
medida da glicose plasmática de jejum, com ponto de cor- Gliccmia em jejum no início do pré-natal, em qualquer
te de mgl\l, vi ando à detecção do DMG. E e ponto de idade gestacional, n;io deve ser superior a 110 mg%.
corte apresenta sensibilidade de 69% e especi ficidade de Ca o eja esse o valor encontrado, repetir o exame para
6 'ln para o diagnó tico de diabete e, portanto, aproxima- que e assegure o resultado alterado. Se esse valor for
damente 35% das gestantes deverão realizar teste diagnós- con firmado (~ 110 mg%), o diagnóstico é de DMG.
tico definitivo. O TOTG é o procedimento de escolha, mas Se glicemia cm jeju m entre 90 c 109 mg%: realizar
cm pacientes já com glicose plasmática em jejum acima de TOTG a qualquer momento da gestação, com 75 g
126mg/dL nora treamcnto, apenas uma nova medida da de dcxtrosol.
gli o c em jejum para confirmação é suficiente. O diagnós- c pós-7Sg de dcxtrosol ~ 140 mgl\l, diagnó t1co de
tico de DMG é confirmado com a realinção do TOTG DMG.
soltCJtado entre 2-l c 2 emanas de gestação. e a gestante Se pós-7Sg de dextro ol < 14-0 mg%, o TOTG deve
apresentar fatores de ri co, o TOTG pode er fc1to ma i pre- ser repetido entre 24 e 28 semanas de gestaçilo,
cocemente, a partir de 20 semanas. Caso o exame seja nor- e glicemia em jejum < 90 mg%: real iza r cm toda~
mal, mas haja forte uspeita de diabete na gestação atual a gestante , entre 24 c 28 emanas: glicemia 2 ho-
(crc cimento fetal exagerado, polidrãmnio), deve-se repetir ra · após 75 gdc dcxtrosol: se~ 140 mg%, o diagnós-
o teste cm um mês próximo da 32• semana de gestação. tico é de DMG.
Se no início do pré-nata l gliccmias cm jejum < 90
l /{ III R/( h l"/11// \Llll\ \ () //(l\PJI \1 /J. 1\ l LI\ /l ~' /l. I l I \ f( I mgl\l, porém com doi ou mais fatore de risco, re-
o Hospital d.1s Clrn icas da UFMG, desde ju lho/ 2009 alin r glicemia após 75 g de dcx trosol e utilizar o
um novo protocolo de diagnóstico e acompanhamento de valor normal até 140 mg% como ponto de corte,
gestante portadora de D IG tem sido utilizado. Adota-se o conforme descrito no subitem anterior.

G1icemia de jejum na 1"consulta

<90 mg/dl 90-109 mg/dl <!110 mg/dl

Normal G1icemia 2 hapós Repetir g1icemia de jejum


75 g de dextrosol

G1icemia 2 h após <! 110mg/dl = DMG


75 gdextrosol. 24-28 sem
<140 mg/dl =Normal <!140 mg/dl = DMG

<140 mg/dl =Normal <!140 mg/dl = DMG Glicemia 2 h após


75 g dextrosol. 24-28 sem

<140 mg/dl =Normal <!140 mg/dl = DMG

Figura 33.1 I FllLxograma de diagnóstico do DMG no HC-UF IG.


DMG =diabetes me/111us gestacional

Diabetes e Gravidez 517


OurRo~ lRIII RIOs gestantes, exceto naquelas em que o diagnóstico de DMG
Apesar de tantas controvérsias, atualmente não exis- é realizado no primeiro trimestre da gestação. Além disto,
tem dúvidas de que o DMG eja uma entidade clínica que cm médio e longo prazos poderá acarretar obesidade e ris-
coloca em risco o feto e o recém-nascido. Sabe-se também co de DM 2 para e as crianças.8·910•12 "
que é prcditor de DM 2 para essas mulhere . Portanto, é O tratamento e acompanhamento a gestante por-
fundamental a busca do exame de realização ra ional para tadoras de DMG deve ser abordado cm conjunto com o
o rastreamento e diagnó tico do DMG. mesmo tópico no qual se abordam gestantes portadoras de
Ao escolher um teste para ser utilizado na prática cl íni- d iabetes pré-gestacional (DMPG).
ca, o profissional deve estar sempre atento às características
c pecíficas de cada um deles, tendo em mente as suas va n-
tagens c limitaçõc . Todo te te "novo" deve ser introduzi- AJUSTES METABÓLICOS MATERNOS
do na clínica diá ria após ter seus resultados validados por NA GRAVIDEZ NORMAL
protocolos de pesquisa eticamente conduzidos, de modo a
garantir um bom prognóstico materno e peri natal.
Também a dosagem de glico-hemoglobina e/ou fruto- A gestação normal está associada a vá rias alterações
samina foi proposta para detecta r o DMG.Aprcsentou, po- metabólicas nos compartimentos materno, placentário
rém, menos sensibilidade e especificidade no d iagnóstico, e fetal. O metabolismo materno se adapta no sentido de
quando comparada com o teste de rastreamcnto. fornecer nutrição adequada à unidade feto-placentária em
O reconhecimento das gestantes portadoras de DMG de envolvimento. a vigência de O I pré-gestacional ou
é de muita import.incia, visa ndo não apenas minimizar gcstacional, tais alterações tornam-se ainda mais comple-
o efeitos adversos dessa desordem metabólica sobre o bi- xas c d iversi fi cadas.
nómio mãe-fi lho, como também identificar as mulheres
com risco aumentado de desenvolver diabetes no futuro.
A maioria das gestantes com diagnó tico de DMG retorna METABOLISMO DURANTE A
à tolerância normal ao · carboidrato no puerpério, porém GESTAÇÃO NORMAL
apresenta risco aumentado de desenvolver doenças meta-
bólicas c vascula res no decorrer da vida, como o DM 2, PRI J\II I RA METADI DA CLSTAÇAO
dislipidemia e doença coronariana9 Recentemente, vários
trabalhos têm demonstrado disfu nção cndotelial vascular Caracteriza-se por aumento na secreção de insulina em
cm pacientes euglicêmica com história de DMG, o que resposta à glicose, uma sensibilidade periférica normal à in-
apoia a hipótese de intcr-relação entre .1ltcrações no meta- suli na ou até ligeiramente aumentada, tolerância à glico ·e
bolismo de carboidralos, alterações no SRA e a disfu nção normal ou ligeiramente aumentada e acúmulo de gordura
cndotclial. 10 na mãe.
As mulheres com DMG devem cr reavaliadas com a essa época, os níveis de glicose no estado de jejum
medida da glico e de jejum e/ ou com o TOTG oito sema- estão reduzidos em cerca de IOa 20%. Essa redução decor-
nas apó o par to, com ,\ fi na Iidade de rcclassificação do seu re da hipcrplasia de células beta, mediada por estrogênio
estado mctabólico1•7•11 c a intervalos regulares, principal- e proge terona, com sub equcntc aumento na ecreção
mente na preparação de uma futura gc tação, uma vez que insulínica. Há dimi nuição nos níveis glicêmicos maternos
a recorrência do DMG é evento comum. de jejum, aumento no armazenamento e di minuição na
Do ponto-de-vista do concepto, o DMG não controla- produção hepática de glicogênio, além de aumento na uti-
do tem sido associado ao risco au mentado de vá rias com- lização peri férica de glicose. Com a progressão da gestação
plicações, entre elas morte fetal, tocotraumatismo, parto normal, permanece a hipertrofia das células pancreática e
pré-termo e parto cesáreo, macrossomia, ARI, hipogli- há aumento da resposta insulínica à glicose ou ao estímulo
cemia neonatal, hipocalccmia, hipomagncscmia, hiperbi- ali menta r. 1 4 • 1 ~
lirrubi nemia, entre outras. Malformações congénitas, en- Éimportante sa lientar que a glicose atravessa livremen-
tretanto, não se mostram mais frequentes nesse grupo de te a placen ta, mas o mesmo não acontece com a insulina.

518 Noções Prát icas de Obstet rícia


Desta forma, o feto produz sua própria insulina c mantém insulina circulante, uma vez que o pâncreas, em mulheres
seu equ ilíbrio metabólico. Também os cetoácidos atravcs- não diabéticas, compensa a demanda periférica aumenta-
s::un livremente a placenta e, cm altas concentrações, são da, mantendo as glicemias em níveis normais. Se a com-
extremamente lesivos para o SN C fetal (Figura 33.2). pensação adequada não é ati ngida, defeito subclínicos na
homeostasia dos carboid ratos podem ser desmascarados,
resultando no DMG .16·" 1114 16
•.EGU OAM.ETADE DA GESTAÇÃO Há contínua retirada de nutrientes do sangue materno,
ocasionando um padrão metabólico que consiste na utili-
Associa-se a aumento na resistência à insulina, sendo zação predominantemente de gorduras pela mãe. Esse es-
caracterizada pelo crescimento acelerado do feto e eleva- tado metabólico foi primeiramente descrito por Freinkel,
ção crescente de vários hormônios, entre eles o hormô- que o chamou de " jejum acelerado". Como o concepto reti-
nio lactogênico placentário ( HPL), prolactina, glucagon ra também aminoácidos da circulação rnaterna, há limita-
c cortisol. O H PL é produzido pela placenta c começa a ção na gliconeogênese hepática, com consequente aumen-
ser detectado a partir de 12 semanas, com concentrações to na lipólise c dos ác idos graxos li vres no sangue materno,
progressivamente maiores a partir da segunda metade da que são a principal fonte energética materna.14
gestação. O principal papel do HPL, o maior responsável Em resumo, na mulher grávida, o metabolismo de car-
pela resistência à insulina, é assegurar constante supri- boidratos é paradoxal. Após as refeições, há tendência a au-
mento de nutrientes ao feto, especialmente de glicose. O mento da glicose e dos níveis de insul ina, com estímulo ao
resultante da produção aumentada de HPL c outros hor- estoque de gordura. Durante o jejum, entretanto, os níveis
mônios placentários contrainsulínicos é um estado de de glicose caem e a lipólise é estimu lada. Essas alterações
insulina-resistência com aumento da produção hepática ocorrem para manter suprimento ali mentar adequado à
de glicose e diminuição dos estoques de gl icogênio hepá- mãe c ao feto.1
'

tico c elevação evidente no valores da insulina materna O crescimento do feto durante os nove meses de gesta-
em jej um, que objetiva manter os níveis de glicose dentro ção depende do transporte de quantidades adequadas de
da normal idade, sob equi líbrio. Em razão da resistência à nutrientes pela placenta.'" Essa demanda gera signi ficativo
insul ina, a gestação é caracterizada pelo nível elevado de estresse metabólico na mãe. As moléculas de glicose atra-

Glicose Aminoácidos (AA) Ácidos Graxas


Livres
MÃE

Trasnf. Tras nf. Sem


Rápida Lenta Trasnf.
PLACENTA Difusão
Faci litada + Grad iente Dependente
de Difusão

• • • AA Essenciais e ~
Não Essenciais -----
-....__- Ácidos Graxas Livres e
Síntese de Ácidos Graxas
FETO

Figura 33.21 Passagem placentária de nutrientes.

Diabetes e Gravidez
519
vc ama placenta por transporte facilitado. As concentra- orientadas a realizar "estrito" controle metabólico antes de
ções de glicose fetais são 20 a 40 mg mais baixas que níveis engravidarem.
maternos simultâneos. A passagem de insulina, no entanto, Em verdade, a embriopatia diabética parece ser multifà-
é bloqueada pela placenta. O metabolismo do feto é regu- torial, dependendo não apenas de níveis elevados de gl ico-
lado pela insulina produzida pelo pàncrea fetal a partir se no período da embriogênese, mas ta mbém de concen-
da nona semana de gestação. A glicemias maternas ele- trações elevadas de beta-h idrox ibutirato, hipercetonemia,
vada têm imediato acesso à circulação fetal, estimulando hipoglicemias graves, aumento de radicais livres no tecido
a ecrcção de insulina fetal e a utilização de glicose. Desta embrionário, entre outros. 3•18•19·20·21
forma, o metabolismo da glicose no feto é regulado pela in-
sul ina produzida pelo pâncreas fetal. Essa distinção entre o
metabolismo materno e fetal da glicose e da insulina é de SEGUNDA METADE DA GESTAÇÃO
muita importância na compreensão do tratamento e das
complicações fetais do diabetes na gravidez. 14 15•1" A partir da egunda metade da gravidez, há aceleração
do cre cimento somático fetal. O papel da gl icemia mater-
na é fundamental para esse crescimento. Porém, é necessá-
METABOLISMO DURANTE A rio que o aportc de glicose ao feto se faça de forma equili-
GESTAÇÃO DIABÉTICA brada, pois se há hiperglicemia materna, há hipergliccmia
fetal, com consequente estímulo .\ hiperplasia de células
Sendo ""diabetogênica" a adaptação hormonal normal beta fetai c hipcrin ulinemia fetal, com aceleração do ana-
na gravide:t, a gestação impõe estresse significativo às mu- bolismo e do cre cimento somático fetal. 8•12 •1-
lheres portadoras de diabetes pré-gestacional. a pri meira
metade da ge tação há aumento ignificativo na rc po ta
insulínica à glicose, consequentemente, há tendência a hi- D IABETES PRÉ-GESTACIONAL (DMPG)
poglicemia de jejum c melhora do controle glicêmico, com
aumento acentuado dos episódios hipoglicêmicos. O ní- A importância do controle glicêmico materno antes
veis de glico e materna di minuem e, em substituição, há au- e durante a gestação tem se tornado evidente nas últi mas
mento da produção de ácidos graxos livres c cetonas. 14·"· 18 quatro décadas. O controle glicêmico •ótimo • durante
Durante a segunda metade da gravidez, o metabolismo o período pré-concepcional e organogêne e determina
de carboidratos é modificado pela elevação do hormô- baixo ri co de malformaçõe congenita . Por outro lado,
nios contrainsulínicos. Há elevação nos níveis glicêmicos resultados maternos c risco de macrossomia fetal são de-
materno e necessidade de aumento de do -e de in ul ina terminados pelo controle glicêmico no segundo c terceiro
ou introdução da me ma para melhor controle glicêmico trimestres.
materno.14•16 Até recentemente, a maioria das mulheres com DM PG
que engravidava m era portadora do DM I, entretanto, de-
vido a dois fenômenos sociais: aumento da idade materna
o FETO DE MÃE DIABÉTICA para a gravidez e aumento das taxas de obesidade (com
consequente insulino-re i tência), o DM 2 tem se tornado
PRIMEIRA METADE DA GESTAÇÃO o mais frequente. A preva lcncia de DM PG aumentou de
0,81% em l999 para 1,82% em 2005 cm estudos realizados
1 o período de embriogênc e, até 12 semanas de ge - nos EUA.'S,t92o
tação, é fundamental que o aporte de nutrientes se faça Avaliação e aconselhamento pré-concepcional da mu-
de forma adequada. A hipcrglicemia materna nesse mo- lher portadora de DMPG são críticos para mini mizar o
mento exerce sabida ação tcratogênica sobre o feto, sendo risco tanto para a mãe quanto para o feto. Mulheres com
fundamental o controle metabólico materno para que não controle glicêmico insatisfatório du rante a organogênc c
ocorram malformações congénitas. Desta forma, mu- apresentam alta incidência de abortamento e malforma-
lheres portadoras de diabetes tipo I ou tipo 2 devem er ções congênitas. Em adição às complicações fetais, as ai-

520 Noções Práticas de Obstetrícia


terações fisiológica relacionadas à gravidez podem resul- Q!Jadro 33.6 1Classificação de Gabbe
tar em impacto negativo à aúde da mulher com DMPG. Grupo Oeswção
Retinopatia, nefropatia, hipertensão arterial, doença car-
TOTG alterado, com normoglicemia mantida pela dieta
diovascular, neuropatia e doença ti reoidianas podem ser
afetadas de maneira negativa pela gravidez. 18•19 11 Diabetes gestacional em controle com insulina,
diabetes tipo 1ou tipo Z. sem doença vascular
As três maiores complicaçõe relacionadas à gravidez
de mulheres com DM PC são: abortamento, malforma- III Diabetes tipo 1 ou tipo 2. com doença vascular
ções e macro somia, toda relacionado à hiperglicemia TOTG =teste oral de tolerância à glicose
materna. Daí a importância da normalização da glicemia
tanto antes guanto durante a gestação.
O R I ENTAÇÃO PRÉ-CONCEP CI ON AL

CLASSI FICAÇÃO DO DIABETES NA GRAVIDEZ PREVENÇÃO DAS MALFORMAÇÕES


CONGÊNlTAS E ABORTAMENTO ESPONTÂNEO
Marco importante no conhecimento do diabetes na ges-
tação foi a classificação proposta por Priscilla White, na dé- O diabetes que antecede a gestação, DM PG, pode ser
cada de 40, que introduziu a avaliação mais apurada dos ris- tanto do tipo I quanto do tipo 2, ambos muito associados
cos matcrno-fcta is. H isto ricamente, a classificação de White a malformações congénita . Apesar do último er definido
foi de muito valor para uso clínico, uma vez que a frequência como não dependente de insulina, a mesma pode se fazer
de perdas fetais tem correlação li near tanto com a hipergli- necessária àquela paciente cm que apenas a dieta é insu-
cemia quanto com vasculopatia maternas. Aconselhar uma ficiente para manter níveis glicêmicos adequado mesmo
mulher diabética obre os risco da ge tação deve levar em antes da gc tação.
conta tanto os riscos maternos, em relação à deterioração da As malformações, a sim como o abortamento espon-
doença, quanto o risco fetais, perinatais e na vida adulta. 18 tâneo, apre entam forte associação com níveis elevados de
Em 1981, Gabbe propôs um esquema que "simplifica· a clas- glico-hemoglobina (acima de 7,0%) e hipergliccmia, ta nto
ificação de White, tornando-se mais dinâmica, conforme à época da concepção guanto du rante as 12 primeiras se-
mostram os Q\.ladros 33.5 e 33.6, respectivamente. manas de gestação. Com o aumento de incidencia do DM
2, o gue se observa nos dias atua is é tendência ao aumento
Q uadro 33.5 I Classificaçáo de White modificada das malformações congênitas, pois muitas vezes a mulher
desconhece o diagnóstico de diabetes antes de engravidar
Classe Oescnçao
ou, muitas vezes, mesmo conhecendo-o, ignora a necessi-
A TOTG alterado. Ausência de sintomatologia. dade do controle glicemico para minimizar complicaçõe
Normoglicemia mantida apenas com dietoterapia futuras para ela e para o feto. Para reduzi-las, o aconsel ha-
--
8 DM iniciada no adulto (> 20 anos) e com duração mento pré-concepcional deve ser iniciado precocemente
inferior a 1Oanos para a mul her diabética, com planejamcnto pré-concepcio-
C DM iniciada até os 19 anos de idade e com duração nal para controle glicêmico estrito pelo meno três a sei
entre 10 e 19 anos meses antes da concepção.
-+--
D DM iniciada antes dos 1Oanos de idade ou com du- Para mulhere portadoras de DM I, a informação e acon-
ração igual ou superior a 20 anos ou com evidência selhamento sobre gravidez devem ser feitos ainda no início da
de doença vascular mínima (p.ex: retinopatia não vida rcprodutiva, preferencialmente durante a adolescência.
prol iterativa) A glico-hemoglobina tem e mostrado eficaz nessas
K Doença renal I situações, revelando correlação entre bom controle glicê-
-
H
-t- - - - ---------~
Doença cardíaca aterosclerótica ______ I
___,
mico no início da gestação e período pré-concepcional c
menor incidência de malformações congênitas. Para engra-
R Retinopatia proliferativa 1
vidar, a diabética deve realizar controle adequado pré-con-
TOTG = teste oral de tolerância à glicose: DM = diabetes mellitus cepcional e só após níveis de glico-hemoglobina < 7,0 %.

Diabet es e Gravidez 521


Há, provavelmente, inúmeros mecanismos pelos quais Os inibidores da enzima de conversão da angiotensi-
a hipcrglicemia leva à dismorfogênese. Sabe-se que um na c os bloqueadores da angiotensina são contrai ndica-
ambiente hiperglicêmico leva a distúrbios complexos no dos durante qualquer momento da gravidez, devendo ser
metabolismo do embrião, gerando grave estresse oxidati- substituídos ou descontinuados ainda no período pré-con-
vo, que inibe a ex pressão de genes reguladores, como, por cepcional, porém é interessante salientar que inúmeros
exemplo, o Pax3, resultando em apoptose, assim como di- estudos clínicos têm demonstrado gue as mulheres com
ferenciação e proliferação celulares anormais. microalbuminúria ou proteinúria leve beneficiam-se com
Outros fatores associados à teratogênese em mulheres o tratamento com esses agentes pelo menos seis meses an-
com DMPG são: excesso de corpos cetônicos, inibição da tes de engravidar, por iniciarem a gestação com níveis mais
somatomedina, deficiência de ácido aracdó nico, excesso baixos de proteinúria.21
de radicais livres e possivelmente hipoglicemia. 10 Esta ti nas, muito utilizadas por mul heres diabéticas, de-
A suplementação com altas doses de ácido fólico (4 aS vem ser descontinuadas antes da gravidez, apesar de estu-
mg/dia) é recomendada a mulheres diabéticas, três a seis dos ainda não conclusivos sobre seu uso para o feto.
meses antes da concepção e durante o pri meiro trimestre A avaliação do fundo de olho deve ser realizada antes,
de gestação, com o intuito de reduzi r o risco de defeitos de durante e após a gravidez, com correção de possíveis pro-
tubo neural, mu ito prevalentes nessa população. 1 • 1 8• 1 ~· 20 blemas com fotocoagu lação a /ase1: Especialmente formas
A incidência aumentada de abortamento deve-se, além mais graves de retinopatia, como a proliferativa, podem
da hiperglicemia e malformações no primeiro trimestre de piorar durante a gestação, mas normalmente estabilizam
gestação, à doença vascular materna, insuficiência útero- após o parto. Poucas apresentam progressão no pós-parto.
placentária e possíveis fatores imunológicos. A contracepção deve ser mantida até que os níveis de
glico-hemoglobina sejam atingidos (preferencialmente
próximo de 6,0%). Não há método contraceptivo especifi-
PREVENÇÃO DAS camente contraindicado para a mulher diabética, entretan·
COMPLICAÇÕES MATERNAS to, recomenda-se que contraceptivos orais sejam utilizados
em baixas doses, especialmente estrogênio em dose in fe-
Devem ser incluídas na avaliação pré-concepcional a rior a 35 mcg.
verificação dos níveis pressóricos, a pesquisa de ncfropatia
c de reti nopatia e a avaliação da função tireoid iana, espe-
cialmente nas portadoras de DM I. O s níveis pressóricos ACOMPANHAMENTO AMBULATORIAL
devem ser inferiores a 130 x 80 mmHg para minimizar-se DA GESTANTE DIABÉTICA
a progressão de vasculopatias preexistentes.18•19
A prevalência de hipertensão e pré-eclâmpsia é aumen-
tada em mulheres com DMPG e pode ou não estar asso- É importante que uma equipe tmdtidiscipljnar com-
ciada à doença vascula r. Em recente revisão, a prevalência posta de médicos, nutricionistas, enfermeiros, psicólogos e
de pré-eclâmpsia em diabéticas com e sem vasculopatia fisioterapeutas acompanhe essas gestantes. Esse é um perí-
foram, respectivamente, 17 e 8%, comparadas com as taxas odo de muita instabilidade emocional, especialmente para
de S c 8%entre não diabéticas. essas gestantes que apresentam alguma comorbidade que
Tanto microalbuminúria quanto proteinúria significa- possa afetá-la e ao feto, e que requer cuidados intensivos.
tiva são associadas a aumento da taxa de parto pré-termo e São essenciais o adequado aporte emocional, orientação
pré-eclâmpsia, além de crescimento fetal restrito. Mulheres sobre dieta, atividade física, informações e aprendizado so-
que já apresentam proteinúria sign ificativa antes de engra- bre diabetes c o uso correto da insulina.
vidar tendem a exibir piora da mesma durante a gestação, As consultas ambulatoriais dessas pacientes devem ser
com retorno aos níveis após o parto. Aproximada mente tão frequentes guanto se faça m necessárias, de maneira a
45% daquelas com alteração na depuração da creatinina orientar, corrigir problemas e instituir o suporte emocio-
antes de engravidar manifestam piora tanto durante quan- nal necessário, preferencialmente com equipe multiprofis-
to após a gestaçãoY sional. Recomenda-se que as visitas ao médico assistente

522 Noções Práticas de Obstetrícia


devam ocorrer, cm média, a cada dua emana até a 30• e detectarem alterações que ncce item er corrigidas. c,
emana de gc tação e pelo menos semanalmente a partir apó esse prazo, a glicemia permanecerem norma i c o
de então. Eventualmente, cm ituaçõc de ma1 imtabilida- paràmctros fetais adequado , deve-:.c reduzir a mcnsura-
de, mais consultas emanai devem cr realizadas. çõe para uma ou duas vczc ao dia até o final da gc~tação.
A internação hospitalar deve ocorrer sempre que o V;tlores glicêmicos considerados adequados para glicc-
controle ideal da gliccmia não estiver sendo alcançado, mia cm jejum 1üo devem exceder 95 mg% e n:io devem ser
evitando-se, as im, complicações. As pacientes portadora inferiores a 60 mg%. O nívci pó -prandiai (dua hom)
deva culopatia, hipcrtcn ão ou com cont role prcdrio ou não devem exceder 120 mgllo e não devem ser inferiores .1
au ente durante a gc tação devem ser internada ante de 80 mg06. Para valores de I hora pós-prandiais, recomenda-
37 semanas. Tal medida vi a a estabelecer avali.1ção ade- -se não ultrapassar 140 mgi\J. alorcs pré-prandiais não
quada do bem-c!>tar fct.ll c permitir a interrupção da ges- devem ser superiores a I 00 mg%, con rorme dc momtra o
taçjo tão logo haja confi rmação de maturidade pulmonar Quadro 33.7. Alguns autores correlacionaram aumento de
fetal, uma vez que esses feto apresentam alta Incidência de incidcncia de macros om1.1 com nívci de I hora pó -pran-
morb1mortalidade perinatal. dial acima de 120 mg9o, porém c:.sc valores ainda não j o
validado ou recomendado pela A DA.
' omo demonstrado antcnormcnte, e ~c nívci en-
MON I TO RI ZAÇÃO GLICÊMICA contram-se muito aci ma do ob crvado em gcst.mtc n:io
diabéticas. t possível que esses valores ven ham a er rea-
A meta de controle metabólico durante .1 gcstaçj o é daptado cm futuro breve. o Serviço de Endocri nolog1a
manter a gliccmi.l tão próxi ma do normal qu.mto po ível, do HC-UFMG, procu ra-se adot.lr valores mais baixos,
ev1t.1ndo- c hipoglicemia . Es c controle melhora o desfe- tendendo a não ultrapassar 120 mg<lo na egunda hora pós-
chos clínicos tanto para a mãe quanto para o feto, especial- -prandial c I Omg% na primeira hor,l.
mente na redução da in idência de macrossomia.
A introdução da monitorização da glicem1,1 com o u o Quadro 33.7 I lívci~ glicêmicos desejáveis durante a gc -
de glicosímctros foi responsável por significati vo ava nço no t.1çjo (ADA - 2009)
mane1o da mulher diabéti a grávida. A monitorização domi- Hora da coleta Glrcer111alm~J ", I
Ciliar da gliccmia é habitual mente realizada pela própna pa- Jejum e pré-prandial 70 a 95
lente, utilizando sangue capilar. empre que possível, deve ----------~------- -------~
1 hora pós-prandial !>140
<,er util izada, uma vez que é a melhor forma de controle glicê- ---------"
mico, principalmente na gestação. Esse controle da ghcemia 2 horas pós-prandial s 120
c.lpilar informa muito bem sobre as variações glicêmicas do
dia-a-dia, orientando sobre o controle mais imediato. Gc tantc portadoras de OMC que não alcancem c·-
Gliccmias de jejum c prandiais devem er realizadas sas meta glicêmica e tipulada~ c J:Í. c encontrem cm dic-
periodicamente (a frequência deve ser estabelecida pelo toterapia deverão receber insulina para adequar o ont role.
grau de in tabilidade de cada paciente), preferencial mente a impo ibilidade do controle gl iccmico capil.tr, de-
com quatro a eis do agcns ao dia atravé de anguc capilar ve-se realizar o maior número possível de gliccm1a , prefe-
(glicemia:. em jejum, antes e após o almoço, antes c após rencialmente em horários diferentes do dia, em servi os de
o jantar c, eventualmente, à horas da man hã), c pccial- aúde ou cm esquema de ho pit:d-dia.
m~nte em mulhere:. portadoras de DM P , e aquela~ com
DM , u~uárias de in ulina.
As 1111 que realizado o diagnó tico de DMG, a ge tan- TRATAMENTO PARA GESTANTES
tc devem ser instruídas a iniciar o tratamento adequado, COM DMPG E DMG
com dieta e atividadc fí ica c eventualmente com in ulina.
aquelas cm controle exclu ivo com dieta, recomenda- e, A gli o e materna atrave sa a placenta livremente, po-
nos primeiros lOdias, realização de vária medidas de gli- rém a in ulina não aprescnt.1 c a capacidade. De ·ta for-
ccmia c.1pilar ao d1a, em vá rio horário , com o intuito de ma, a fetopatia diabética resu lta de hiperinsulincmiJ fetal

Diabetes e Gravidez
523
secundária às altas concentrações de glicose materna e o gravidez tende a ser acentuada no período da man hã. To-
tratamento deve ser realizado visando m anter normais es- das as gestantes devem ser estimuladas a seguir contagem
sas concentrações. 2· l,?, ls.n. 2 1 de carboidratos c, no caso de uso de insulina, saber m ane-
jar adequadamente a contagem de ca rboid ratos e as neces-
sidades de insulina rápida ou ultrarrápidaY9·13
0 1FTA EATI V IDA D E Fís i C A Adoçantes não calóricos devem ser usados com m ode-
ração, sendo recomendado pela FDA o uso de aspartame
Durante a gestação, a dieta deve ser modificada em re- ou sucralose.14
lação àquela prescrita para a mulher não grávida, uma vez A ati vidade física, especialmente aeróbica, deve ser es-
que as necessidades nutricionais e calóricas do concepto timulada, evitando-se exercícios de alto impacto ou que
devem ser atendidas. predisponham à perda de equilíbrio, exceto em pacientes
O ganho de peso considerado adequado para a gestan- portadoras de vasculopatias ou naquelas em que houver
te diabética depende da relação peso -altura da paciente ao contraindicação obstétrica para o exercício. Hiperglicemia
iniciar a gestação. Mul heres com índice de massa corporal acima de 250 mg/ dL com cetose ou acima de 300 mg/dL
(lM C = peso/ altura 1) abaixo do ideal (<19,8 kg/ m 1) devem sem cetose é cont raindicação à realização de atividade físi-
ganhar até 12,S e 16 kg; aquelas com IMC entre 19,8 e 26 ca do ponto de vista metabólico. 19
kg/ m 2 devem ganhar entre II,S e 14 kg, enquanto mulhe-
res com IMC entre 26 e 29 kg/ m 1 devem ganhar entre 7,S
e li ,S kg. Mulheres com IMC > 29 kg/ m 2 devem ganhar I NSULI NOTERAPI A
pouco menos que 7,S kg.
As modificações da dieta variam, conforme se trate de Em gestantes portadoras de DMPG, no pri meiro tri-
gestante obesa ou não. Recomenda-se que o gan ho de peso mestre, principalmente naquelas gesta ntes bem controla-
durante a gestação seja relacionado ao peso prévio à gravi- das previamente, pode haver necessidade de redução entre
dez, variando de 7 kg para mulheres obesas até 16 kg para 20 e 25% na dose de insu li na, devido à tendência à h ipo-
as muito magras. Como prescrição inicial, são sugeridos: glicemia, também comu m naquelas gesta ntes com hipere-
40 kcal/kg de peso atual para IMC < 22; mese gravídica.
30 kcal/kg de peso atual para IMC entre 22 e 27; Já o segu ndo trimestre caracteriza-se por necessidades
24 kca l/kg de peso atual para IMC entre 27 e 29; lentamente crescentes de insulina e o d iabetes torna-se
12 a IS kca l/kg de peso atual para IMC > 30. mais estabilizado ou mais facilmente controlado. Eleva-
ções crescentes das necessidades de insulina são comuns
Para gestantes obesas, recomendam-se restrições ca- durante o terceiro trimestre de gestação, exceto nas úl-
lóricas e acompanhamento cuidadoso para detecção de timas semanas, quando a redução da necessidade pode
possível cetonúria.1 acontecer. Há tendência mais acentuada à hipoglicemia,
Os esquemas dietéticas devem ser individualizados, principalmente noturna, com resolução dos si ntom as pela
com atenção especial para aquelas gestantes portadoras de redução nas doses. Quando há necessidade de reduções
obesidade, hiperlipidemia, nefropa tia e para as nutrizes. Die- bruscas c acentuadas nas doses, deve-se estar atento para
tas com altas concentrações de fibras melhoram o controle a possibilidade de insuficiência placentária e sofrim ento
metabólico, por reduzirem os níveis de glicemia c colesterol. fetaL A média de aumento na necessidade de insu lina du-
Recomenda-se que a quota calórica diária seja fracio- ra nte a gestação em mulheres com DMPG é de 114%, em
nada c m seis refeições. Os carboidratos devem contribuir comparação com SO% de aumento nos níveis de insulina
com 40 a 50% das calorias consumidas, além de 20% de em u ma gravidez no rmaL Esse aumento relaciona-se di re-
proteínas e 30 a 40% de gorduras, sendo que, destas, os áci- ta mente com o ganho de peso materno durante as sema-
dos graxas saturados devem corresponder a no máx imo nas 20 a 29 de gestação e o peso pré-gestação e relaciona-se
10%, além do acréscimo de 50 gramas ou mais de fib ras inversamente à duração do diabetes. A necessidade de in-
(IS a 30 g/ 1.000 cal). Os ca rboidratos devem ser reduzidos sulina aumentada é significativamente mais acentuada nas
no desjejum, uma vez que a insulino-resistência natural da pacientes com DM 2 que nas do tipo I.

524 Noções Práticas de Obstetrícia


Devido /t neces idade de controle rigoro o do metabolis- elevad3 afinidade da insulina glargina por receptores IGF-1
mo materno du rante a gestação, podem se tornar neces árias e aumento da incidência de macrossomia. Q\Jestõe como o
doses mai freguentes c elevadas de insulina. A meta da te- efeito tcratogênico das mesmas c as alteraçõe no equilíbrio
rapêutica é atingir nívei de glicemia em jejum entre 70 e 90 dos receptores de proliferação celular (IG F-1 ), além da descri-
mg%e concentrações glicêmica I hora pós-prandial inferio- ção em vários trabal hos sobre o aumento do ri co de rctinopa-
re a 140 mg%e 2 horas pós-prandiais abaixo de 120 mg%. tia diabética, não autorizam, até o momento, seu uso durante
Os e gucmas de aplicação de insulina são sempre in- a gest,\ção.Já o análogos da insuli na de ação rápida apresen-
tcnsific3do , visando às meta de controle da glicem i3 de - tam 3utorização para uso na gc tação, poi não ·e demon trou
critas anteriormente. As insulinas humanas são as indic3- o estímulo persistente a receptores IG F-1com o mesmos.26·27
das. Os análogo de ação rápida lispro e aspart, com in ício Alternativa mentc, a bomba de in fusão de insuIina pode
de ação em lOa I ' mi nutos c pico entre uma e duas hora , ser utilizada, preferencialmente já desde antes da gravidez,
são comp3ráveis em imu nogenicidade à insulina regular; c pccialmente em portadora de DM !, utilizando- e in u-
demonstram perfis aceitáveis de segurança, melhoram as li na aspart ou lispro.19•22' 24' 25·26
excursõe pós-prandiais da glicemia, de maneira seme- Em gestantes portadora de DMG, o tratamento deve
lhante à insul ina regular e são considemdo categoria 13 de er iniciado com dietoterapia. Mesmo naquelas em que a
risco de drog3s na ge tação. admi nistração de insulina se fizer necessária, a dieta tem im-
Idealmente, a doses de insulina de ação rápida devem portância fu ndamental na condução do tratamento. O uso
ser calculadas segundo o conteúdo de carboidratos da re- de in ulina em paciente com DMG deve cr iniciado assim
feição (contagem de carboidmtos) e a medida da glicemia que caracterizada ua necessidade, com o intuito de reduzir
pré-prandial. o início da gc tação, uma unidade de insu- a ocorrência de complicações materno-fetais. Pacientes com
lina para cada IS gramas de carboidrato pode ser suficien- gliccmia cm jejum superior a IOS mg%à época do diagnósti-
te. Com a piora da resistência à insulina durante a gravi- co são fortes candidatas à terapia com insuli na. A indicação
dez, a razão carboidrato-insulina pode dimi nuir para I0:I de insulina ocorre quando, apesa r do uso adeguado da dieta
ou menos, sendo necessárias doses mais altas de insulina. prc crita, a glicemia em jejum permanece acima de 95 mg%
Para compensar a hiperglicemia pré-prandial, uma a duas ou a glicemia 2 horas pós-prandial acima de 120 mg%. Entre
unidade de in ul ina ultrarrápida podem er u adas para IS e 22%das gestantes portadoras de DMG necessitarão de
c3da 2- a 50 mg/dL acima de 120 mg/ dL. insulina em adição à dietoterapia para manter níveis glicê-
Inú meros regimes de ad ministração de insulina têm micos aceitáveis dura nte a gestação.l.l.l.-
ido utilizado , endo o mai comum a admin istração de Para indicar a insuli noterapia, além do grau de controle
múltiplas do e combinadas de insulina de ação interme- glicêmico, o critério de crescimento fetal também pode ser
diária (N PH) pela manhã, no início d3 ta rde e ao deitar- utilizado. O tratamento in ulínico está recomendado se,
-se, com insulina de ação rápida (regul3r) ou ultrarrápida em ecografia realizada entre 29 e 33 semanas de gestação,
(li pro ou a part) ante do café da manhã, do almoço, do a medida da circu nferência abdomi nal fetal for igual ou su-
lanche da tarde c ante do jantar. perior ao percentii 7S.2s
A necessidade média de insulina em gestantes com Nas gestantes com controle inadequado ou cetonúria
DM I é de 0,7 unidade/ kg no primeiro trimestre; com au- importante, a internação é indicada para melhor avaliação
mento de 0,8 U/ kg de 13 3 28 semanas; 0,9 U/ kg de 29 e controle glicêmico.
a 34 semanas; c 1,0 U/ kg de 35 semanas até o termo. Em
gestantes portadoras de DM2 ou naquel<lS com DMG gue
nece item de in uli na, a doses iniciai são tão elevada A TIO IAR ÉT ICO.S ORA IS
quanto 1,5 a 2,0 unidades/ kg, com necessidade crescen-
te até o fi na Id3 gestação. 1S.I9.l.1 ls Tradicionalmente, o uso de agentes antidiabéticos não
A in ulina glargina e detemir, ambas análogos da é recomendado du rante a gestação. Entretanto, ta nto 3 ul-
insuli na de ação prolongada, são contrai ndicadas durante fonilu reia gliburida (glibenclamida) quanto a metformina
a gestação, por falta de estudos que autorizem seu uso nessa demonstraram eficácia no controle glicêmico em gestan-
condição (categoria C). Alguns estudos tem demonstrado tes portadoras de DMG, resultando em ba ixos índices de

Diabet es e Gravidez 525


macrossom ia e outras complicações em algun s estudos cultu ra com freq uência, especialmente naquelas com ne-
isolados, tornando seu uso m uito p rom issor. A passagem fropatia, d ific uldade de controle glicêmico e portadoras de
placentária de gliburida é muito baixa, acarretando m ín i- neuropatia diab ética. A bacteriúria, mesmo assintomática,
ma exposição fetal à mesma. precisa ser adequad amente tratada.
No momento, ainda não se recomenda o uso de anti-
d iabéticos dura nte a gestação, até q ue mais estudos pos-
sam va lidá-los, conforme o rientações da ADA (2009). ACOMPANHAMENTO OFTALMOLÓGICO
Casos individuais devem ser analisados sepa radamente e
as gestantes informadas sobre a falta de estudos, até o mo- Deve ser iniciado mesmo a ntes da gestação, com contro-
mento, que permitam sua utilização com segurançaY·29· 10 le adequado de possível retinopatia previamente existente.
Mulheres portadoras de DM 2 devem substituir os an- D urante a gestação, deve ser realizado no m ínimo trimes-
tidiabéticos orais por insulina, idealmente ainda antes da tralmente nas gestantes com DMPG, sendo desnecessário
gravidez. Na primei ra metade da gravidez, as necessidades nas portadoras de DMG, exceto quando ho uver forte sus-
de insuli na são semelhantes às observadas em gesta ntes peita de que o diabetes tenha se iniciado antes da gestação.
com DM I, entretanto, na segunda metade, a necessidade O tratamento com laser pode ser utilizado durante a gesta-
de insulina aumenta proporcionalmente mu ito mais nas ção, devendo ser iniciado antes mesmo da gestação.
portadoras de DM2, especialmente n as obesas. Apesar da gravidez estar associada à progressão da rc-
tinopatia, vigilância oftalmológica meticulosa e adequada
e terapia com fotocoagulação, quando necessária, podem
ACOMPANHAMENTO LABORATORIAL tratar e controlar suficientemente as alterações prolife ra-
tivas para permitir-se a continuação da gestação na maior
Nas gestações complicadas por diabetes, as dosagens parte dos casos. A reti nopatia representa comprometimen-
de glico-hemoglobina são recom endad as para avalia r o to do compa rtimento vascular e associa-se a importantes
controle metabólico, devendo ser reali zadas antes de engra- complicações maternas, fetais e perinatais, como hiperten-
vidar, na primei ra consulta de pré-natal e a cada três meses. são arterial, crescimento intrauterino restrito, nefropatia,
A frutosa mi na deve ser empregada mensalmente. Tanto os nat imortal idade e complicações perinatais. 20
valores da glico-hemoglobina quanto da fru tosam ina (pro-
teína glicada) devem ser reduzidos em cerca de 20% em
relação aos valores fora da gestação. Valores considerados AVALIAÇÃO DO BEM-ESTAR FETAL
adeq uados va riam entreS e 6% para a glico-hemoglobina
c até 2,5% para a fr utosamin a. Gestantes que apresentam Métodos para a determinação do bem-estar fetal ante-
glico-hemoglobina e fr utosamina elevadas no terce iro tri- parto vêm sendo desenvolvidos e aprimorados no sentido
mestre encontram-se com elevado risco de com plicações de melhorar a avaliação do filho de diabética. No entanto, é
ma tern as, fe tais e perin atais, p rincipalmente macrossomia, importante salientar que nenhu m método apresenta acurácia
pré-eclâmpsia c parto pré-termoU.I9 elevada para identi ficação de fetos em risco, devendo o exame
Eritrograma, para detecção de anemia e referência para ava- clínico e o controle metabólico se associarem a esses resulta-
liação da glico-hemoglobina, deve ser efetuado trimestralmente. dos para a definição do acompanhamento mais adequado.
Para aq uelas com DMPG, recomend am-se a avaliação
e o controle pré-concepcional da fu nção renal. D urante a
gestação, o controle deve ser feito com urinálise, urocu ltu- U LT RASSOM ÜB TÉTR ICO
ra c dosagens de ureia, creatinina, potássio, depuração de
creatinina e microalbum inú ria ou protei núria. No primeiro trimest re, deve ser realizado para avaliar
Os exames devem ser realizados trimestralmen te ou com mais precisão a idade gestacional e a existência de
com mais frequência, caso se faça necessário. Especial aten- anomalias congénitas grosseiras.
ção deve ser dada à bacteriúria assi ntomática, evento muito Recomenda-se a realização de um segundo exame en-
comu m nessas mul heres. Aconselha-se a realização de u ro- tre 20 e 24 sem anas pa ra a detecção de anomalias congê-

526 Noções Práticas de Obstetricia


nitas, com adequado estudo de toda a morfologia fetal. As tária e teja totalmente desenvolvida. e normal, estudo
anomalias congénitas ão mais prevalentes em gestantes de acompanhamento devem ser realizados a cada quatro
portadoras de DMPG, com glico-hemoglobina acima de emanas ou ante , ca o nece ário.
7% e cm gestantes portadoras de DMG com diagnóstico Enq ua nto a dopplervelocimetria anormal se correla-
precoce, antes de 24 emanas de gestação. Crescimento in- ciona bem com piores resultados fetai (particularmente
trauterino restrito c polidràmnio precoce associam-se com diante de doença vascular estabelecida, hipertensão ou
frequência a malformações congênitas. Exame detalhado restrição relativa de crescimento int rauterino), muito cui-
do coração fetal é importante, uma vez que as anomalias dado deve ser tomado nos exames de doppler com resulta-
cardíacas ocorrem com frequência aumentada nesse gru- dos normais que não indicam, necessariamente, melhores
po, cndo muitas vezes indicada a realização do ecocardio- condições fetais ou ausência de riscos maternos' 4
grama fetal para mai detalhamento. 3132
A partir de 28 emanas, a ultrassonografia tem indica-
ção na avaliação do perfil biofísica fetal, do crescimento CARDIOTO OGRArlA
fetal c de hidrâmnio, sendo recomendada a cada três se-
manas ou mais frequentemente, caso se faça necessária. É um teste não invasivo que correlaciona atividade fetal
A macro somia é habitualmente detectada nas gestantes com alterações na frequência cardíaca fetal basal e após es-
com DMPG ou DMG malcontrolado. Há descrições de tímulo durante um intervalo de tempo preestabelecido. t
macro somia fetal manifc tando-se a partir de 20 sema- habitualmente utilizado como teste primário de determi-
nas, de forma que deve haver cautela na determ inação da nação do bem-estar fetal. lnicia-se a ua realização a partir
idade gestacional a partir desse período.' 1•32 de 30 semanas, verificando-se a superioridade na predição
A detecção de macro omia é de extrema importância, de morbimortalidade fetal e perinatal quando realizado
no sentido de se evitar a morbimortalidade feta l. É de muita duas vezes por semana.
importância a realização de curvas para a avaliação adequada
da mudança nos percentis de peso fetal, circun ferência abdo-
minal e volume de líquido amniótico, e ti mados ao ultras- E c o c ARDIOGRAn FETAL
om. A relação entre circunferência craniana/circunferência
abdomi nal (CC/CA) é de vital importância na detecção de Indicada a realização de ecocardiografia fetal a partir
macros omia as imétrica, principalmente observada em ge - de 18 semanas de gestação, assi m como no terceiro tri mes-
tantes portadoras de diabetes malcontrolado. Em gestantes tre, devido à elevada incidência de malformaçõe cardíaca
portadora de DMG, a avaliação seriada da circunferência em fi lhos de diabéticas, além do risco au mentado de car-
abdominal fetal ao utras om pode ser um método adicional diomiopatia hipertrófica.
de avaliação da necessidade de introdução de insulina.33
Também o crescimento intrauterino rc trito é mais
prevalente nas ge tantes diabéticas, especialmente nas por- COMPLICAÇÕES MATERNAS
tadoras de vasculopatia ou quando há pré-eclâmpsia sobre-
po ta, e tando altamente relacionado com complicações Verificam-se com menos frequência quando há controle
maternas e perinataisY· 12 pré-concepcional do diabetes, exceto as hipoglicemias leves,
que denotam melhor controle metabólico, especialmente
nas portadoras de DM I . Estão li tadas no Quadro 33.8.
DO PPLI:RVELOC IMETR IA

Tem sido proposta como auxiliar na avaliação do bem-estar H IPOGLl CEMIA


fetal em gestações de risco para doença va cular placentária.
Em ge tantes com va culopatia e/ ou hipertensão arte- Uma vez que o controle glicêmico estrito vem sendo
rial, o exame deve ser realizado a partir de 26 semanas de preconizado, o risco de hipoglicemia tem aumentado. as
gestação, quando e e pera que a circulação útero-placen- pacientes com doença de longa duração, a resposta adre-

Diabetes e Gravidez 527


nérgica :\ hipoglicemia pode ser inadequada, incorrendo crônica nas gestações diabéticas (todos os tipos) foi rela-
em risco de lesão neurológica secundária:\ hipoglicemia tada como sendo de 9,6%. A frequência de pré-eclâmpsia
grave. Q uando presente nas fases tardias da gestação, a hi- nesse grupo foi de 11,7%.19•35
poglicemia materna pode também levar à morte fetal e pe-
ri natal de cau a não identificada, entretanto, episódios de
hipoglicemia leve a moderada não se correlacionam com RETINOPATIA D I ABÉTICA
danos maternos ou fetais.'-7·35
Em geral, a retinopatia não proliferativa não progride
OJ.!adro 33.8 I Complicações maternas do diabetes na para a proliferativa du rante a gestação. A rctinopatia pro-
gestação liferativa pode avançar durante a gravidez, particularmen-
Hipoglicemia te se for grave, como foi demonstrado no Diabetes in Early
--------------------------------~ Pregnancy Sturly. esse e tudo observacional, foi encon-
Cetoacidose diabética
trada progressão dura nte a gravidez em mais de 50% das
Parto pré-termo e rotura prematura de membranas mulheres que tinham alterações proliferativas na retina de
amnióticas
moderadas a graves durante o período pré-concepção. São
Pré-eclampsia claramente identificados quatro fatores de risco na predi-
----------------------------~
Piora de hipertensão preexistente ção de quais gestantes diabéticas evoluirão para retinopa-
tia proliferativa: I. evidência de algum grau de retinopatia
Piora das vasculopatias diabéticas (nefropatia. retinopatia.
neuropatia)
prévia; 2. HbA lc elevada na concepção; 3. normalização
rápida da glicemia; 4. proteinú ria.19•35
Infecções do trato urinário
É importante reforçar a nece sidade de cuidados pré-
Candidíase vaginal concepcionais, incluindo avaliação oftalmológica c trata-
Mais frequência de parto cesáreo mento com fotocoagulação, antes da gestação, se indicado,
--------------------------~ e manutenção de controle do diabetes próximo do ideal
Diabetes tipo 2 no futuro. nas com DMG
nos seis meses prévios à concepção. O acompanhamento
pelo oftalmologista deve ser realizado a cada trime tre.
CETOACIDOSE DIABÉTI CA

A incidência dessa complicação tem sido estima- N EFROPATIA DIABÉT I C A


da em 9,3% da gestações diabéticas. Agentes agonistas
~-adrenérgicos utilizados na inibição do parto pré-termo, Tem importantes implicações durante a gravidez, uma
assim como corticostcroides para aceleração do amadu- vez que frequentemente associa-se à hipertensão arterial
recimento fetal, resultam em au mento da incidência de crônica e à maior incidência de pré-eclâmp ia. As com-
cetoacidose. A formação de cetoácidos, desencadeada plicaçõe fetais são mais comuns nessas gestantes, obser-
pela secreção deficiente de insulina c pela própria ge ta- vando- e maior prevalência de prematuridade, C IUR,
ção, além de aumento de hormônios contra rreguladores, SAR I, hipoglicemia, hiperbili rrubinemia e malformações
repercute di retamente sobre a oferta de oxigênio para o congénitas. Pode complicar o DM PG, mas não o DMG.
feto. A incidência de morte fetal atinge a quase totalidade Quando existe nefropatia leve, a piora da função renal
dos casos.19•35 habitualmente n.io ocorre. A filtração glomerular pode
d im inuir-se mais rapidamente nas gestantes com insufici-
ência renal crônica ou proteinúria. Em geral, após o par-
DISTÚRBIOS HIPERTENSIVOS to, a função renal e a pressão arterial retornam aos níveis
pré-gestação. Medidas repetidas de pressão arterial, crea-
Alguma forma de hipertensão arterial complica cerca tinina plasmática e proteinúria devem ser realizadas com
de IOa 20%de toda as gestaçõe e resuIta em aumenta da frequência no acompanhamento pré-natal das mulheres
morbimortalidade materno-fetal. A prevalência de HAS com diabetes.' 9·' 5

528 Noções Práticas de Obstetricia


INFECÇÃO DO TRATO U RINÁRIO ÓBITO FETAL

Necessita de consideração especial na gravidez, aco- Óbito fetal ocorre com frequência aumentada entre as
metendo até 20% das gestações diabéticas e podendo ser gestantes diabéticas sem controle metabólico adequado,
responsável por hiperglicemia. A bacteriúria as intomática quando comparada com aquelas com bom controle. De
é evento comum, devendo ser rastreada com frequência e particular interesse é o fato de que mesmo aqueles fetos
tratada adequada mente quando detectada. A incidência com pe o adequado, sem macros omia evidente, com 37
total de pielonefrite nessas gestantes é estimada cm 4,3%. semanas de gestação encontram-se em risco de ofrer mor-
te intrauterina súbita, especialmente se há mau controle
metabólico materno.
CoMPLICAÇÕEs FETAIS E PER INATAIS A etiopatogenia mais aceita seria a hiperglicemia mater-
E NA VIDA ADULTA na, com hiperinsulinemia fetal e resultante hipóxia e anóx ia
fetais. A morte fetal súbita ainda é evento comum, especial-
mente para aquelas pacientes que não recebem cuidados
A taxa de mortalidade perinatal para a população não pré-natais adequados. Os natimorto têm sido ob ervados
diabética nos EUA é de aproximadamente I a 2%, en- com mais frequência a partir de 36 semanas em pacientes
quanto em filhos de portadoras de DMPG é da ordem de com complicações vasculares, controle glicêmico precário,
2a 10%. polidràmnio, macrossômicos ou pré-eclâmp ia.
Morbidade e mortalidade perinatais como morte fetal O diabetes pode produzir alterações n:1. liberação de
súbita, doença da membrana hialina, hipoglicemia, hipo- 0 2 pelas hemácias e no fluxo sanguíneo placentário. Tam-
calcemia, hiperbilirrubinemia e hiperviscosidade, hipo- bém a hiperinsulinemia fetal leva ao aumento do consumo
magnesinemia, macrossomia, polidrà mnio, infecçõe e de oxigénio sem que haja aumento na oferta do me mo.
prematuridade têm apresentado redução nos últimos anos. Essa "hipoxemia" induz a aumento na concentração de
O número de mortes secundária a malformações congé- noradrenalina e epi nefrina circulantes, elevando a pressão
nitas maiores tem se elevado proporcionalmente, pois sua sanguínea e a frequência cardíaca fetais, um do po íveis
incidência não tem se alterado significativamente com os mecanismos de morte fetal súbita. Há também estímulo à
anos, conforme demonstrado nos Quadros 33.9 e 33.10. produção de eritropoietina, com consequente policitemia
e eventos tromboembólicos fetais.

MALFORMAÇÕE S CONG Ê N I TAS


Quadro 33.9 I Complicações fetais e perinatais do diabe-
tes na gestação
A prevalência de m:1.lformações congénitas m:1.iores é
Macrossomia fetal de 6 a 12% em filhos de portadoras de DMPG, aproxima-
Malformações congênitas damente dua a oito vezes mais que na população geral, e é,
Abonos de repetição no presente, a pri ncipal causa de morte perinatal entre es-
ses recém-nascidos em países desenvolvidos. Nas portado-
Óbito fetal intrauterino
ras de DMG, é incomu m, pois essa doença habitualmente
Trauma no pano desenvolve-se a partir da segunda metade da gestação.
Hipoglicemia neonatal A frequência dessas anomalia é maior entre a ges-
----------------------------~ tantes diabéticas sem controle metabólico no período
lctericia e policitemia
pré-concepcional e no primeiro trimestre do que naque-
Sindrome do descontono respiratório las com bom controle metabólico nessas ocasiõe . as
--------------~

Hipocalcemia e hipomagnesemia gestantes sem controle metabólico adequado, pode incidir


------.. em até 40% dos RNs. Malformações maiores são mais co-
Risco aumentado de obesidade e diabetes tipo 2 na vida adulta
muns com glico-hemoglobina acima de I 0%.

Diabetes e Gravidez 529


a paciente com níveis de glico-hcmoglobina nor- Habitualmente, na vigência de vasculopatia, o cresci-
mais no período periconcepcional, o risco de malformações mento fetal é reduzido, caracterizando- e o crc cimento
congênita se a emclha ao da população não diabética. intrauterino re trito (C IUR).35
O tipo mai encontrados de malformações em filhos
de diabéticas envolvem o sistema nervoso ccntrat cardio-
vascular, gastrointestinal, genitourinário c esquelético, POLIC ITEMIA 1 HIPERV I SCOSIDADE
conforme de crito no Quadro 33. 10. O defeito congêni- E TROMBOCITOPENIA
to mai caracterí tico (mas não patognomônico) da em-
briopatia diabética é a agenesia sacra! ou displasia caudat No período neonatal, a policitemia é definida a partir
acometendo 200 a 400 vezes mais os fil hos de diabéticas. de um hcmatócrito superior a 65% e sua incidência cm fi-
Outras malformaçõc comumentc encontradas podem ser lhos de diabética é de 16 a 34%. Dois mecanismo básicos
vi ta no O!Jadro a cguir.20•35 ·36 parecem explicá-la: a) a hiperglicemia materna é causa de
hiperi nsulinemia fetal que, por sua vez, e timula direta-
mente a eritropoie e, com con equcnte hipcrviscmidadc;
b) o aumento do metabolismo basal decorrente do estado
hiperinsulinêmico resulta em hipóxia tissular, que, por si
só, cstimub a critropoietina e, consequentemente, a ativi-
Regressão caudal dade eritropoiética medu lar. 16
A associação entre o hematócrito feta l elevado c os
Defeitos do SNC 2x altos níveis de glico-hemoglobina revela c treita relação
(espinha blfida. hidrocefalia)
entre o descontrole glicêmico prolongado c o desenvolvi-
Anencefalia 3x mento de policitcmia.
Anomalias cardlacas 4x A associação entre policitemia fetal, hipcrviscosidadc
e trombocitopenia pode expl icar o aumento de incidência
Atresia anal/reta! 3x
de trombose intravascular no fil ho de diabéticas. Con-
Anomalias renais 6x sequentemente, pode haver acidemia fetal, contribuindo
Duplo ureter 24x para as mortes intrauterina de etiologia não e clarecida.
Situs inversus 84x

HIPOGLICEMIA NEONATAL
MACROSSOMI A E CRESCIMENTO
I NTRAUTERINO RESTRITO to distúrbio metabólico mais comu m c mais bem-esta-
belecido que acomete fil hos de diabéticas. Tem sido atribu-
A macrossomia é reconhecida quando o peso ao nas- ído à hiperinsul inem ia feta l e, consequentemente, à rápida
cimento é superior ao percentil 90 para aquela idade ges- utilização da glicose por parte do concepto. E se aumento
tacional ou quando o pe o ao nascimento é superior a da insulina plasmática, por sua vez, decorre de hiperglice-
-!.OOOg. É caracterizada por organomcgalia, aumento da mia materna durante o decorrer da gestação e no pré-parto
adipo idade e da massa muscular. O tama nho despro- imediato. Pode, portanto, ser exacerbada tanto pela falta de
porcional do abdome e ombros comparado com o crâ nio monitorização adequada quanto pela ad mini tração ina-
contribui para um parto vaginal traumático, associado a propriada de Auido glicosados no momento do parto. 16
risco de distocia de ombro e mais morbidade perinatal. Esses fatores predisponentes à hipoglicem ia alertam
Ocorre em er a de 50% dos casos de DMG e em 40% das para a necessidade de avaliação frequente do níveis glicê-
gestações de mães previamente diabéticas, cndo ma i fre- micos no período neonatal. as crianças com hipoglice-
quente em paciente com cont role glicêmico inadequado mia no período neonatal não exi tem evidências de acome-
durante a gcstaçãoY ' 6 timento do sistema nervoso central em inúmero estudos

530 Noções Práticas de Obstetrícia


de acompanhamento, desde que a correção do di túrbiose concentrações elevadas de glicose materna, mesmo na
faça em tempo hábil. au ência de diabete , inAuenciam negativamente o re-
sultados perinatais.12 Além di to, metaboli mo glicêmico
prejudicado durante o período intraútero possivelmente
SÍNDROME DO DESCONFORTO altera a expressão gênica do feto, acarretando problemas
RESPIRATÓRIO (SDR) na vida adulta, como a in iJência aumentada de DM2 e
obesidade. 38
A bios fntese de surfactante é di retamente afetada pela
hiperglicem ia e hiperi nsulinemia, ambos os fatores aca rre-
tando atr,\SO na m.ltu ração pulmonar. Parece haver di mi- DECISÃO QUANTO AO PARTO
nu ição na formação de glicerol ou inibição na formação de
fosfad itilglicerol devido aos níveis elevados de mioinositol a ausência de complicaçõe e com controle glicêmico
materno. 1- adequado, a gestação pode ser a termo. Se o parto cletivo
A DR é cerca de seis vezes mais frequente em fil hos for considerado, só deve ser realizado caso haja maturidade
de diabéticas com idade gestacional inferior a 38 emanas, fetal, desde que o diabete esteja bem controlado e que o
desde que não haja controle glicêmico adeq uado. acompanhamento anteparto não denuncie complicaçõc .
Amniocentc e, para avaliação de maturidade pul mona r,
deve er realizada ante de parto eletivo nas pacientes com
HIPOCALCEM IA E HIPOMAGNESINEMIA controle precário, macrossomia (com c timativa de peso
fetal > 4.000 g), controle não documentado, pré-eclâmpsid,
Têm sido as ociadas à incapacidade em aumentar a piora de hiperten ão preexistente, C IU R, cesárea prévia ou
síntese do paratormõnio após o nascimento. Verifica m-se na vigência de dúvida na avaliação anteparto da condição
habitualmente du rante a primeiras 72 horas de vida. Ou- fetal. Nas pacientes não enquad radas nesses critérios, tenta-
tros fatores implicados seriam decorrentes da hipoxemia -se atingi r as 38 emanas. Caso o colo uterino esteja imatu-
que, teoricamente, leva a níveis elevados de calcitoni na e ro, aguarda-se a evolução.
diminuição de álcio e Magnésio. 16 O valor da relação L/ E é question.\vcl no diabetes,
ma há baixa incidência de SARI quando o valor é igual
ou superior a 2,5. Já fo faditilglicerol, que denota o fato r fi-
HIPERBILI RRUBINEMIA nal da maturação pulmonar fetal, é o melhor par5metro de
avaliação da maturidade pul monar em diabéticas, correla-
Icterícia clinica mente ignificativa ocorre em até 53% cionando- e positiva mente com o bom controle glicêmico
da gestaçõe complicadas por DM PG e 38% por DMG. materno. Desta forma, para mai baixo risco de SAR.I, a
A imaturidade do fígado fetal na degradação enzimática rebção L/ E tem que c ta r na faixa de segurança e o fosf~­
das células vermelhas ou o excesso de hemácias a partir da ditilglicerol deve estar presente.38 e sa situação e com os
policitemia pode ser o mecanismo etiopatogênico. Fi lhos testes de bem-estar fetal denotando sofrimento, a retirada
macrossômico de mãe diabética têm risco aumentado do concepto deve ser considerada.
de desenvolver hiperbilirrubinemia, particularmente devi- A via de parto é controversa. Parto cesáreo é geralmen-
do a mais degradação da hemoglobina. te preferido quando há comprometimento do bem-e tar
fetal e na vigência de retinopatia proliferativa materna. Na
maioria dos erviços, o índice de cesariana va ria de 38 a
ÜBESIDADE E DM 2 NA VIDA ADULTA 56%, ma mesmo índice mais elevado têm ido de cri-
tos. Desde que haja bom controle glicêmico c paràmctros
Estudo animais e epidemiológicos têm relacionado fetais dentro da normalidade, a via de parto pode ser vagi-
exposição intraú tero a níveis elevados de glico e mater- nal, exceto se houver alguma contraindicação obstétrica.
na com o aumento de incidência de obesidade e DM2 na O período da man hã deve er preferido para a realização
vida adulta. Estudos como o H APO demon trar,\m que do parto.

Diabetes e Gravidez 531


A nccc idade de in ulina diminuem- c no trabalho I, pois a prevalência de tireoiditc pós-parto é superior a
de parto cm razão do período de jejum e do aumento da 25% ne as mulhere .
utilização de glico c. A gliccmia deve ser monitorizada a Nas mulheres que apresentam DMG, recomenda- c
cada duas hora na fa c latente c a cada hora na fase ativa a realização de gliccmia cm jejum c 2 horas pós-7Sg de
do trabalho de parto. Para manter a glicemia nos níveis dextrosol, a partir de oito semanas pós-parto, objetivando
fisiológicos de variação (70 a 120 mg/d L), sugere-se uti- detectar ,J possibilidade da permJnência de diabetes após
lizar infusão contínua de insulina endovenosa em baixas o parto c tratamento adequado do mesmo. Recomenda-se
dose (uma a dua unidades/ hora: 10 g de glicose) ou que o teste seja repetido anualmente naquela com re ulta-
com injeçõcs subcutâ neas de insulina de Jção rápida, dos norma i e antes de uma nova gc t ação. 3 u9.~0
conforme as glicemias.
A gliccmia materna deve ser ma ntida cm torno de
100 mg% ou menos, antes c durante o parto, no intuito CONTRACEPÇÃO
de prevenir hipogliccrnia nconatal. Pacientel> em jejum
devem receber glico c, para evitar-se o ri o de hlpogli- Todos o métodos contraceptivos podem cr utilizados
ccmia, ou in ulina regular intraveno a, para corre ão de pela mulher diabética, incluindo O!> contraceptivo:. orai .
hiperglicemia. 19 33 Contraindicaçõcs ao uso de contraceptivo orai incluem:
tabagismo, hipertensão, quJiqucr vasculopatia. leste cJsos,
recomenda-se o uso de pílulas apenas com proge t ágcno .19
PóS-PARTO E LACTAÇÃO

a pri meira 24-48 hora apó o parto, é nccc sária a REFERÊNC IAS
monitorização glicêmica cuidado a (a cada dua ,\q uatro
horas) para prevenção de hipoglicemia ou cctoacidosc, I. Amcrican Diabetes Association. Su mmary of Rcvt'-1011> for
thc 2009. Clinical Practicl.' Rcconllncndatton' lJtJbctC\
comun nesse período. As necessidades insulínic:~s são,
Carc. 2009;32(Suppi):S62-7.
habitualmente, menos que na gestação, c ainda menos
2. chmidt MI, Reichelt AJ. Comcn~o ~obre Dt.tbcte ~ Gcstacto
na nutrizc . nal c Diabetes Pré-gesta tonal. Arq Bra~ Fndocnnol lctah
A rcsi tência à insulina desaparece em pouca horas 1999;43: H· .
apó o parto. As necessidades de insulina diminuem até 1. 1hc Gutdcline Developmcnt Group. .\lanagemcnt of dtabc
60% cm comparação com a dose pré-ge tação. E c fato tes from preconception to 1hc poqnatal pcnod. ummary of
ICE gUtdance. BMJ. 200 :316.- 14--.
acontece pelo estado transitório de hipopituitari mo c
4. I !JIIcr MJ. Type I Diabetes Mdlttu\: cttology, prc~cnl.llton ..tnd
pela uprcssão da secreção de hormônio de cre cimento
managcment. Pediatr Clin North Am. 2005;52(6): ISS VS.
no pó -parto. o primeiros dias após o parto, ugcrc- c
S. Davtdsol1 MH. Global riskma11agcmcnt 111 pattcl11\ wtth typc
admi ni trar um terço da dose usual pré-gravide7 c fazer 2 Dtabct.: Mcllitus. AmJ Cardiol. 2007;99(suppl):411ViOR.
uplcmcntação com insulina regular ou análogo de a ão 6. Lmdsay R . Gestatio11al diabetes: cause~ a11d co11scqucnccs.
rápida, conforme a medida de glicemia capilar. As neccs- BniJ of Dtabctes Vasc Disease. 2009;9:27-31.
idadcs de insulina cm cinco a seis dias voltam às ,\lltcrio- 7. Metzger BE, Buchana11 TA, Coustan DR, Lciva A, lJungcr
rcs à gc tação. 39 Dfl, Hadde11 DR, cl ai. Summary and rccommend,lliom o(
thc fifi h i11tcrnatio11al workshop·co11fcrc11cc 011 Gc;t,tltonal
Q uase 98%da gestante portadoras de DMG apresen-
Dtahetc~ Mellitus Diabete•< Can.' 200-;30(. upp12):S2SI-60
tam nívci glicêmico dentro da normalidade após o parto,
!!. Yogcv Y, Menger BE, Hod 1. E~tablt sh mg dtag11ow. of gc,.
podendo interromper o u o da insulina e da dieta. Aquela tJitonal dtabete mellttus: lmpacl of the h)·perglycemta and
portadoras de DM 2 podem retornar ao uso de antidiabéti- adw r e prcgnancy outcome study. cmtn Fetal 1 conatal
co or.1is, porém é preferencial que a insulina seja ma ntida Mcd. 2009;14: 94-100.
durante o período de lactação. 9. llcttnttcr 'M,Solomon CG, MttchciiGF, ' kalt-Ounts , ' c
cly EW. Subclt11ic.tlt11flammatton and vascular dy~functton
A realização de testes de função tireoidiana no pós-
tn womcn wtth prcvtous gestatto11al dtabctcs mellttus.J Clm
-parto é de fundamental importância em portadoras DM Endocnnol Mctab. 200' ;90(7):39 3· .

532 Noções Práticas de Obstetrícia


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Diabetes e Gravidez
533
Cardiopatia e Gravidez
Cezar Al encar de Lima Rczcnde
Cbúdia Maria Vila Freire
Clóvi. Antônio Bacha

Alterações Hemodinâmicas Fisiológicas Repercussões Sobre o Feto e o


Efeitos do T rabalho de Parto Recém-nascido
Sintomas e Sinais Cardiorrespiratórios na Gravidez Normal
Uso de Medicamentos
Avaliação Clínica e Diagnóstica de Cirurgia Cardiovascular e Cardioversão
Cardiopatia Durante a Gravidez
Anamnese
Exame Físico
Condução da Paciente Internada com
Exam es Complem entares Descompensação Cardíaca
Repercussões da Gestação na Portadora Conduta no Trabalho de Parto
Anestesia
de Cardiopatia
Aconselham ento Pré-gestacional Assistência no Pós- parto
Estimativa de Risco da Doença Cardíaca e Métodos Anticoncepcionais
Acompanhamento Pré- natal Métodos Definitivo
Prevenção e Controle de Lnfecção Mé todos Reversíveis
Prevenção de Fenô menos Tromboem bólicos
Co nduta no T rabalho de Parto Pré-termo

A
ca rdiopatia na g rav idez é a prime ira causa alta quando comparada a dado e tatístico de centro
de mo rte mate rna não obstét rica e a qua rta inte rnacionais.3 A etiologia ma i freque nte é a reumática,
cau sa d e mo rte ma terna no gera l, vindo logo seguida da congên ita, da chagásic.t c de ou tra menos pre-
após as infecções, as hem orragias e a hipe rte nsão.' Em va len te . A relação reu mático-congén ita vem di m inuindo
nosso meio, cerca de 5 0% d as m ul here s com ca rd iopa- em todo o mundo devido à profilaxia da febre reumática c
tia tem o di agnóstico fir m ado dura nte o p ré-nata l, o que ao desenvolvimento do tratamento cirúrgico para as car-
demo n stra a impo rtânc ia da au c ulta ca rd íaca n a ava- d iopati a congénitas, propiciando que as portadoras das
liação de toda gesta nte.2 mesma atinjam idade reprodutiva. Em nos o paí , es a
A incidência de ca rd iopatia na gravidez é, em cent ros relação é de 4/ 1, porém, em algu ns paí es desenvolvido , a
de referência nacional. de até 4,2'\J, ou eja, o ito vezes ma i cardiopatia congénita já é mais freq uente que a reum ática.2
Entre as lesões anatômicas, a estenose mitral pura ou Q uadro 34.1 I Alterações cardiovasculares que ocorrem
associada é a mais frequente. 4 no decorrer da gravidez e no parto5•7•
A gravidez é um estado de alto flu xo hemodinâmico e Alteração Gr aVICicz Parto
baixa resistência, com progressiva adaptação cardiovascu-
Débito cardíaco i 30-50% i 60-80%
lar que persiste por semanas após o parto. Pacientes com
doença cardiovascular preexistente ou aquelas que desen- Volume sistólico t 30-40% t 60-80%
volvem a doença du rante a gestação têm risco aumentado Frequência cardíaca i 10-15 bpm J. 15-20bpm
de morbimortalidade materna e fetaJ.S
As evidências científicas sobre cardiopatia na gravidez Volume sanguíneo i 40-50% ! 5-15%
ai nda são restritas, fazendo com que muitas recomenda- Resistência vascular sistêmica ! 15-21% ! I
ções que são classificadas como IA (evidência de benefí- I
Resistência vascular pulmonar J.
cio baseada em ensaios clínicos random izados ou meta-
nálises) em não grávidas sejam consideradas na gestação Pressão arterial média J. discreta i 10%
como !C (evidência de benefício baseada em consenso de Pressão arterial sistólica ! 3-5 mmHg
especialistas).
I
Pressão arterial diastólica J. 5-10 mmHg !
Pressão coloidosmótica ! 14% I
ALTERAÇÕES HEMODINÂ MICAS
Hemoglobina ! 2.1 g/dl :i

FISIOLÓGICA S
*Alterações máximas em posição supina. As alterações do parto não es·
tão superpostas às da gravidez.
J. diminui; i aumenta; bpm: batimentos por minuto.
A gestação é um estado hiperdinâmico, provocando
várias alterações no aparelho cardiovascular, caracteri- Durante as contrações uterinas mais intensas, a pres-
zadas por aumento superior a 50% do volu me sanguíneo são arterial sistémica média eleva-se aproximadamente
circulante, da frequência cardíaca, do débito card íaco e do 10% e significativa quantidade de sangue (300 a SOO mi)
volume de ejeção e dim inu ição da pressão arterial diastóli- é lançada para dentro da circulação materna. O aumento
ca (devido à diminuição da resistência vascular periférica e do retorno venoso e transitório aumento na freq uência car-
à baixa resistência do leito vascular placentário). díaca resultam em aumento do débito cardíaco (IS a 20%),
O aumento do volume sanguíneo, principal fator de seguido de bradicardia reflexa. Essas alterações são mino-
descompensação da gestante cardiopata, atinge seu pico radas com o uso da anestesia de condução.2•7
máximo na 30• semana de gestação e, então, permanece em As mudanças circulatórias que imediatamente se seguem
um nível relativamente elevado até o termo (Quadro 34.1 )? ao período expulsivo são, necessariamente, influenciadas pela
A diferença relativa entre o aumento do volume plas- quantidade de sangue perdida, que é, cm média, de SOO ml ou
mático (50%) e o da massa eritrocitária (20 a 40%) é res- mais no parto vagi nal e de cerca de 1.000 ml na cesariana?
ponsável pela "anemia fisiológica" da gravidez.2•6 A pressão arteriat tanto sistólica quanto diastólica, nos
A hidratação tiss ular aumentada é considerada univer- primeiros quatro dias do puerpério tende a evoluir com acrés-
sal na gestação normal e o edema clínico é encontrado em cimo de S% dos valores do término da gestação. Por volta de
50 a 80% das mulheres grávidas saudáveis. 2 12%das pacientes normotensas antes do parto terão pressão
arterial diastólica acima de 100 mmHg no pós-parto?
As alterações no débito cardíaco, frequência cardíaca e
EFEI TOS DO TRABALHO DE PARTO volume sistólico durante o parto, sendo mais acentuadas
que durante a gravidez, impõem sobrecarga ao coração.
O Quadro 34.1 apresenta algu mas modificações do As pacientes com lesões graves, portanto, podem apresen-
apa relho cardiovascular, que ocorrem normalmente du- tar congestão e edema pulmonar, insuficiência cardíaca e,
rante a gravidez e o parto. mesmo, falecerem durante o parto e puerpério imediato 5

536 Noções Prát icas de Obstetrícia


S I NTOMAS E SINAIS CARDIORRESP I RATÓR IOS AVALIAÇÃO CLÍNICA E DIAGNÓSTICA
NA GRAVIDEZ NORMAL DE CARDIOPATI A

A gravidez normal, não complicada, é acompanh ada


por sintomas, sinais fi icos, eletrocardiográficos, radioló- ANAMNESE
gicos e ecoca rdiográficos que si mulam cardiopatia c que
podem er indevidamente atribuídos à doença cardíaca D ispneia paroxística noturna, dispneia de repouso,
(Quadro 34.2). angina o u síncope dura nte esforço, taq uicardia de in ício e
término súbitos acompanhadas ou não de manifestações
de baixo débito, tosse não produtiva associada à d ispneia
Quadro 34.2 I Sintomas e si nai cardiorrespiratórios na e sem sinais de infecção de vias respiratórias e a hemopti-
gravidez normal se são sugestivas de doença cardíaca. Na histó ria pregres-
Dispneia sa é impo rtante pesquisar diagnóstico de sopro durante a
infância ou na vida adulta fora da gestação, passado de fe-
Hiperventilação
--------------------------~ bre reumát ica ou sintomas q ue sugi ram descompensação
Fatigabilidade fácil card íaca fora da ge tação ou em gestação anterior.8
Diminuição da tolerância ao exercicio
--------------------~
Tonturas
EXAME F Í SI C O
Sincope
Edema periférico Sopros sistólicas são comuns na gravidez, mas aqueles
de intensidade Ill / IV ou ma is requerem ava liação. Sopros
Estertores da base nos pulmões (desaparecem após tosse de fluxo valvar átrio-ventricular podem ocorrer com o dé-
ou respiração profunda)
bito card íaco aumentado da gravidez, mas o opro dias-
Pequeno pulso em martelo d'água tólico é tão raro que justifica o d iagnóstico de cardiopatia
/crus ventricular desviado para a esquerda quando e tem o cuidado de excluir os o ns do fluxo da
artéria mamária interna (sopro mamário) e de sopro ve-
Aumento na primeira bulha
noso que ten ha componente distólico, ambos comu ns na
Desdobramento constante da segunda bulha gravidez normar
----- - Geral mente os sopros das lesõe estenóticas tendem a
Terceira bulha presente
- --------------------- aumentar durante a gravidez. O inverso ocorre com as le-
Sopro mesossistólico pulmonar ou sistólico supraclavicular sões valvares que cursam com regu rgitação.
Sopro continuo Ausência de pulsos periféricos e sopro interescapu-
la r (coartação de aorta), hepato megalia dolorosa asso-
Mudanças eletrocardiográficas no ritmo, eixo e repolarização
ciada a ingurgitamen to jugu la r, arritm ia ca rdíaca grave
Raios-X com deslocamento do ápice. aumento da trama ou sugestiva de fibrilação atria l, desdobram e nto cons-
pulmonar. aumento da silhueta cardfaca tante e invariável da 2• bu lha e pulso venoso anormal
são alterações no exame físico de pacientes com cardio-
patias dura nte a gestação. Baqueteamcnto digital acom-
Todas essas alteraçõe na sintomatologia, nos exa mes panhado d e cia nose e impulsões paracsternais são ca-
clínicos complementares, levam a dificuldades na diferen- racterísticos das cardiopatias congênitas qu e c ursa m
ciação entre o fisiológico e o patológico, entre a normali- com cianose. Em pacie nte longilínca, com palato em
dade e a doença, exigi ndo experiencia prática para lidar c úpula e dedos longos, deve-se suspeitar de sí ndrome
adequadamente com esse grupo de pacientes.z de Marfan (Quadro 34.3).

Cardiopatia e Gravid ez
537
Quadro 3 4.3l lndicadore clínicos dedoençacard íaca na o RX de tórax com proteção abdominal, a tomografia
grav idez computadorizada, a ressonà n ia nuclear magnét ica, o
SllltOillélS teste e rgométrico e o holter podem, eventualmente, ser
necessários.
Piora da capacidade funcional

Palpitações
REPERC USSÕES DA G E STAÇÃO NA
Hemoptise
PORTADORA DE CARDIOPATIA
Dispneia paroxfstica notuma ou ortopneia
Dor precordial ao esforço
As mod ificações da hernodi nâ mica materna poderão
Sfncope
acarretar à paciente portadora de cardiopatia aume nto da
Tosse seca notuma frequência do episódios de descompensação cardíaca
S l llél i S
que serão mais intensos e freq uentes n as portadoras de
lesões do tipo estenóticas (estenose mitral, aórtica, suba-
Cianose órtica hipertrófica) e/ o u cianogê n icas.4 Embora as sobre-
Baqueteamento digital viventes à gestação e ao pue rpério pareçam não ter suas
sobrevida encurtadas, existem ainda quest ionamentos
Distensão jugular persistente
sobre a pos ibilidade de a gestação ocasionar calci ficação
ISopro sistólico grau III/VI ou mais m ais precoce das pró te es valvu lares, agravamento de a r-
Sopro diastólico ritm ias cardíacas, alé m de favo recer o desenvolvimento
de fe nô menos tromboe mbólicos.
Cardiomegalia
A estenose mitral é a lesão anatómica mais frequente-
Arritmia persistente mente encontrada. Assim como as demai lesões com es-
tenose e as congên ita cianóticas, ela tende a cu r ar de for-
Desdobramento fixo de 82
ma desfavorável durante a gestação; ao contrário, a lesõe
Critérios de hipertensão pulmonar com regurgitação valvar e as cardiopatias congên itas não
acompanhadas de ciano e tendem a ter evolução favorável.
Mesmo pacientes h ígidas até o início da gestação po-
EXAMES COMPLEMENTARES dem ter o seu coração le ado durante e e período. A mio-
cardiopatia periparto é diagnó tico de excl usão. Trata- c
Os exames com plementa res incluem o eletrocardio- de miocardiopatia d ilatada especificamente relacionada
grarna e o ecoca rdiogram a, que não apresentam riscos à gestação que acomete a gestante ou a puérpera previa-
conhecidos para a gravidez. Alteraçõe difusas da repo- mente sadia. Gera lme nte manifesta-se um a dois meses
brização, sinais eletrocard iográfico de obrecarga de câ- ante do parto ou nos primeiros cinco meses de pós-parto.
maras ca rd íacas, o nda delta associada a intervalo P-R c ur- Um ele mento essencial no d iagnóstico é a demo nstração
to, sinais de bloqueios de ra mos e de outras alterações da de d isfunção ve ntricula r sistólica esque rda, de preferên-
condução interventricular do estímulo ca rd íaco sugere m cia, comprovada por alterações ecoca rdiográficas que in-
card iopat ia e arri tmias com elevada frequência quando cluem fração de ejeção < 45%, fração de enchimento (FE)
pre entes no estudo eletroca rd iográfico. < 30%, ou am bos, e volume diastólico final >2,7 cm / m 2
Assim como o cletrocardiograma, o ccocardiograma e intoma de insuficiência card íaca.9 O curso clínico é
é exame com plementa r que apresenta modificações com variado. Est ima-se q ue 23 a 32% dos casos evoluem pa ra
as alterações hemodinâ micas da gestação. Muitas das re- recuperação completa ou quase completa da função ven-
gu rgitações valvares detectadas no exame ecocardiográ- tricula r, nos primeiros seis meses. As de mais ou apresen-
fico, não au cultadas ao exame cl ín ico, ão fi siológicas e ta m melhora progressiva da função ventricular mais lenta,
devem ser analisada com critério. O utros exa mes, como podendo demorar um a três a nos para a regressão com -

538 Noções Prát icas de Obstetrícia


plcta, ou evoluem para piora clínica com morte precoce A CON SELHAMENTO P RÉ-GESTACIONAL
(10-U "o) ou neces idade de transplante cardíaco ou, ain-
da, permanecem com in uficiência cardíaca (I ) crôn1ca. Importância fundamental tem a orientação pré-gesta-
A normalização da função ventricular é mai frequente d ona!. 1 e a oca ião procura-~e determinar e o ri~co ob -
naquela pacientes cuja FE é > de 30% por ocasião do tétrico é aceitável ou não para aquela paciente. Caso o risco
diagnóstico. 10 eja demasiadamente elevado e a le ·ão card íaca não propicie
A gestação posterior pode estar associada à recorrên- correção cirúrgica, deve-se dis utir com a paciente ~obre a
cia d.1disfunção ventricular (21% das que normalizaram contraindicação médica de uma provável gravidez e sugeri r
a fu nção ventricular), à deterioração clínica (até 44% das a realização da salpingotrip ia. Em ca o de lesão corrigível
que permaneceram com função comprometida) c até ciru rgicamente, deverá ser estudado o momento adequado
óbito (ao redor de 79o entre a que permaneceram com para o tratamento: e antes ou ap6s uma poss1.veI gcstaçao.
- 11
disfunção residual). A permanência de disfunção ventri- A paciente que planeja engravidar deverá ser orientada
cular a ocia-se a alto ri co de prematuridade c perdas a substituir, entre outros, os anticoagulantes orais c os ini-
feta l~ por aborto espontâneo ou terapêuti o. 10·11 bidorc da enzima conver ora de angiotcn ina.
A congestão pulmonar cm suas formas grave (dcs- Deverá ainda ser informada sobre a nece ~1dadc da
compcnsa ão cardbca e edema agudo de pulmão) é a continuidade da profilaxia para febre reumática c do uso de
pri ncipal cau a de óbito materno, sendo responsável por antibioticoterapia profilática para endoca rdite bacteriana à
60 a 90% dos casos, seguindo-se os fenômenos trornbo- época do parto e durante outros procedimento ci rú rgico~
crnbólicos, a endocardite bacteriana e, mai raramente, o e trata mentos dentários.
infarto agudo do miodrdio.1 A cardiopata portadora de próte c metálica, cm u o
A mortalidade pcrinatal e a materna va riam di rcta- constante de anticoagulante orais, deverá ser orient,1da a
mentc com a elas e funcional e com o tipo de lc 5o car- re peito dos risco desses medicamentos para o feto.
diovascular, ocorrendo óbito em 0,4% das gestantes de Deve-se realizar a imunização contra viro c ante da
cl.1 c l/ li e 6,8%da de elas e III/ IV (Quadro 34.4). 12•13 concepção (rubéola, hepatite B, influcnza).

Q uadro 34.4 1Clas ificação do risco materno asso iado a lesões cardíacas específicas'

Regurgitação valvar e outras lesões valvares, cardiopatias congênitas. arritmias e miocardiopatias não inclufdas nos grupos 11 ou
III. Cardiopatias congênitas corrigidas cursando sem cianose_Prótese valvar biológica.
GRUPO 11 MorLtlriLI(I(' r11<1Wr11a erltrP ~J I' Ei",

Estenose mitral' ou aórticabgrave. lesões valvares acompanhadas de hipertensão pulmonar<. Válwla metálica_Cardiopatias congêni-
tas cianóticas_Coartação de aorta não complicada. Sfndrorne de Marfan com aorta normal. Miocardiopatias com moderado compro-
metimento da função cardfaca" e arritmias potencialmente fatais. Miocardiopatia com grave comprometimento da função cardfaca'.
Miocardiopatia hipertrófica com obstrução acentuada do fluxo'. Arterite de Takayasu_Angina instável. lnfarto prévio do miocárdio.
GRUPO III Mort.tlr(i.rrll' lllilterna entre 15 I' 50 ,

Hipertensão pulmonar primária ou secundária ao trornboembolismo de repetição, à esquistossomose pulmonar ou à estenose


valvar em bioprótese_Coartação de aorta complicada. Sfndrome de Marfan com envolvimento da aorta_Miocardiopatias com
grave comprometimento da função cardfaca e com arritmias potencialmente fatais_Sfndrorne de Eisenrnenger. lnfarto agudo do
miocárdio, trombose em prótese ou endocardite bacteriana durante a gestação atual. Aneurisma dissecante de aorta_
"Cmérros ecográficos
• Área valvar < 1cm 1;
• Área valvar < 0.75 cm' + gradiente transvalvar médto > 50 mmHg +hipertrofia ventricular.
' Pressão em arténa pulmonar > 30 mmHg;
d Fração de e1eção s 0.45 e> 0.411Teichholzl:

' Fração de ejeção s 0.40.


' Gradrente da vta de safda do ventrfculo esquerdo > 50 mmHg

Cardiopatia e Gravidez
539
EsTIMATIVA DE Risco DA DoENÇA infecções, hipertireoid ismo, tratamento med icamentoso
CARDÍACA E AcoMPANHAMENTO inadequado, arritmias e tromboembolismo.11
As complicações card iovasculares mais frequentes
PRÉ-NATAL
são insuficiência card íaca, arritmias, tromboem bolismo,
angina, h ipoxemia e endocardite infecciosa 4
Deve-se constitui r equipe médica composta de obs- Adotar d ieta rica em ferro c vitamina C. O uso pro-
tetras, cardiologistas, anestesiologistas e pediatras treina- filático da suplementação de ferro após 20 semanas é
dos nos cuidados a gestantes com doença cardiovascular. obrigatório nesse grupo de gestantes e é benéfica a asso-
Avaliação apropriada e aconselhamento adequado ao ciação com ácido fó lico na redução de níveis baixos de
casal, o mais precocemente possível na gestação, são de hemoglobina e da anemia megaloblástica. 11
extrem a importância. A paciente, de maneira ideal, deve O Q uad ro 34.5 apresenta a síntese dos fatores predi-
ser encaminhada a um centro de cuidados terciários. tores de complicações maternas.
O diagnóstico anatomofuncional da doença e a esti-
mativa do risco gravídico permitem estabelecer as cond i-
I
Quadro 34.5 Fatores preditores de complicações maternas
ções que se associam ao mau prognóstico.
O Quad ro 34.4 auxilia na avaliação. As pacientes Classe funcional III/IV da NYHA
com lesões cardíacas com menos gravidade (GRUPO Cianose (saturação de 02 < 90%)
I) geralmente evoluem bem durante a gestação, sendo o
Disfunção ventricular esquerda moderada/grave (FE < 40%)
prognóstico favorável tanto para a mulher quan to para
o feto. Para as pacientes do GRUPO ll seria permitido Hipertensão arterial sistêmica moderada/grave
term inar a gestação atual e um método de esterilização Hipertensão arterial pulmonar grave (PAP média > 30 mmHg)
deveria ser proposto no pós-parto. Pacientes pertencen-
tes ao GRUPO III ou em classe funcional IV no início
Obstrução do coração esquerdo
da gravidez, apesar de terapia medicamentosa adequa- Regurgitação pulmonar grave
da e em impossibilidade de tratamento cirúrgico pa ra a
Disfunção ventricular direita
cardiopatia em q uestão, são cand idatas ao abortamento
terapêutico, que deverá sempre ser d iscutido consideran- Antecedentes de eventos cardiovasculares (tromboembolis-
mo. arritmias. endocardite infecciosa. insuficiência cardíaca)
do-se a vontade da paciente. Esse só se justifica em idade
gestacional inferio r a 20 semanas, período após o q ual é NYHA = New York Heart Association
FE =!ração de ejeção
preferível tentar atingir no mínimo a viabilidade fetal, já PAP=pressão da artéria pulmonar
que a interrupção terapêutica passa a ter risco semel han-
te ao de se continuar a gestação.12
A assistência pré-natal deve obedecer à rotina habitual O tratamento da insuficiência card íaca congestiva in-
e as consultas simultâneas com o obstetra e com o cardio- cipiente é importante, mas o m anuseio do edema agudo
logista, em geral, devem ser mensais na primeira metade da de pulmão é crítico. A falência cardíaca deve ser tratada
gestação, qui nzenais após 2 1 semanas e semanais nas últi- pro nta e energicam ente, sendo indicada restrição de ati-
mas semanas. Em algu ns casos, de acordo com a gravidade vidade física ou mesm o repouso no leito, além da d igitali-
do quadro clínico, pode haver necessidade de internação zação, diuréticos, restrição de sal e prevenção e tratamen-
hospitalar pro longada. 11 to das causas agravantes e precipitantes.
Os fato res que contribuem para agravar a doença car- Quanto à alimentação, devem ser ma ntidos os ní-
díaca ou causar complicações devem ser identificados e veis proteicos e calóricas adequados pa ra a nutrição,
removidos ou, pelo menos, minimizados. Entre os fatores evitando-se o aumento excessivo de peso e a consequen-
precipitantes devem ser pesquisados: ansiedade, reten- te sobrecarga card íaca. O ganho de peso deve-se limitar
ção de água e sódio, d istúrbio elctrolítico, exercício físico de nove a li quilos. A ingestão de sódio, em geral, será
brusco, extenuante e isométrico, calor e um idade, anemia, restrita a 4 g por dia.

540 Noções Práticas de Obstetrícia


PREVENÇÃO E CONTROLE DE INFECÇÃO região periapical dos dente ou quando há perfu-
ração da muco a oral);
O rastreamento da bactcriúria assintomática no iní io indicada cm infecçõc gastrointcstinai ou genitu-
do pré-natal c da colonização vaginal e/ou reta! pelo estrep- rinárias ativas e que ncce itam de manipulação
tococo do grupo B próximo do termo (3 a 37 semanas) genitourinária não clctiva;
rotineiramente preconizado na gestaçõe de risco h.1bitual parece razoável a indica ão de profilaxia antibió-
ganha ma i importância no grupo de gestantes cardiopatas. tica no casos de parto vagi nal c cc ,triana nas le-
O Br;1sil :~ i nda apre cnta alta frequência de febre reumá- sões de moderado risco (valvu lopalias ,1dquiridas
tica (FR), endo a sim, a antibioticoprofilaxia para es~,l situ- incluindo estenose c regurgitaçõc , cardiopatias
ação específica deve ser continuada durante a gestação, con- congênita acianóti a c miocardiopatia hipertró-
forme os eguinte critérios: 11 fica), até que estudos mai consistentes compro-
FR com ilistóna de cardite e/ou lesão Palvular: até os 40 vem a segura nça de sua não utilização.
ano~ de idade;
FR co11r lristórra de cardrte e sem leseio valvular: até I O Todas as pacientes com ri co de EI devem ser orienta-
anos apó o urto de FR; das a manter boa higiene oral, incluindo avaliaçõc odon-
FR sem lustorra de cardrte e sem lesão valvular: por cmco tológicas de rotina, ser cn inada a reconhecer os si nais c
ano após o urto reumático ou atéo 21ano de1dade. mtomas de EI e procurar rccur o médico com mais brcvi-
d.Jdc possível qua ndo houver u peita da doença.
O antibiótico recomendado é a penicilina G benza tina, na
dose de 1.200.000 UI, intramuscular profunda, a cada trê se-
manas. Em casos de alergia à penicilina, está indicado o este- ESQUENt AS IH·. PROF I LA X I A PARA
arato de eritromicina na dose de 250 mg VOa cada 12 horas. E DO CARD I fE I 1FECC IO <;A 11

a ma antic treptocócicas c tão contrai nd icadas cm


pacientes com antecedente de FR, pois a proteína M na Para o parto: ampicilina ou amoxicilina 2,0 g, IV,
vacinas pode de encadear a doença reumática aguda. as o iado à gentamicina I, - mg/ kg, I V (não exce-
A ocorrência de endocardite, embora rara durante a der 120 mg) 30 minutos ante do parto; c ci ho-
grav1dc1, pode levara rápida deterioração do c tado clínico ras após: administrar ampicilina ou amoxicilina,
da paciente. ormalmente tem como fator prcdi ponente l,OgporVO;
uma lesão cardíaca, mais frequentemente secundária à car- para pacze11te alérgzca ti pemalma: vancomi ina 1,0 g,
diopatia rcumáti a. O tratamento medicamentoso ou ci- IV, cm infusão por uma ou du as horas, ma i genta-
rúrgico agressivo é crucial nas pacientes com endocardite micina l,S mg/ kg, IV, 30 minutos antes do p:11to;
inlccciosa (E I), pois a mortalidade materna pode er de até para as pacientes co11sideradas de risco 111oderado:
30%. Apc ar dessas constatações, não existe consenso nas amoxicilina 2,0 g, VO, uma hora antes do par-
recomendações de profi laxia ,tntibiótica. Resumida mente, to; ou ampicilina 2,0 g, IM ou IV, 30 minutos
a rccomcndaçõe!. do Colégio Americano de Obstetrícia ante do parto. Se alérgica à penici lina: va nco-
c Gi necologia (A 'OG) e da Americmz Heart Assoczal1011 micina 1,0 g IV cm in fusão por uma ou duas
(A H A) para a profilaxia da endocardite infecciosa são:11 horas antes do parto;
t opcional cm parto vaginal não complicado, na pa- para os procedimwlos dwtários: amoxicilina 2,0 g,
ciente cardiopatas con idcradas de alto ri co para EI; O, uma hora ante do procedimento ou ampici-
indicada cm parto vagi nal complicado com in fec- lina 2,0 g, IM ou IV, ou cefazolina ou cefiriaxone
ção intra-amniótica nos casos de alto risco, ou seja, l,Og, IM ou IV,30 minutos ante do pro cdimento.
próte c valvares mecânica c biológica , pa ado de Para as gestantes alérgicas à penicilina: ccf.1lexina
EI, cardiopatias congénitas complexas ou cianóticas 2,0 g, VO, ou clindamicina 600 mg, VO, ou azitro-
c cirurgias de comu nicação sistêm ico-pulmona r; micina ou claritromicina SOO mg, VO, uma hora
indicada no procedimentos de risco para bac- antes do procedimento ou ccfazolina ou cefiriaxo-
tcrcmia tran itória (manipulação da gengiva, da ne 1,0 g, I M ou IV,30 minutos antes.

Cardiopatia e Gravidez
541
PREVENÇÃO DE FENÔMENOS Quadro 34.6 I Lesôes cardíacas com elevada po ibilidade
TROMBOEMBÓLICOS de trombose
Válvulas metálicas
A gravidez e o puerpério, por si só , são período que
Hipertensão arterial pulmonar
cursam com estado de hipercoagulabi lidade, favorecendo
a ocorrência de fenômeno · tromboembólicos. Além disso, Cardiopatias congênitas cianóticas
----------------~
fatore de ri co transitório , como desidratação, hiperemese, Grande dilatação de câmaras cardiacas
repou o por mais de quatro dias, infecçõe , cesariana, he-
morragias são relativamente comuns durante age tação. 1 ~· 16 Associação de trombofilias
As cardiopatias com insuficiência cardíaca são fatores Passado de fenômenos tromboembólicos
de risco independentes e au menta m esse risco em oito
Insuficiência coronariana
vezes. Outro fatore de risco para tromboembolismo ve-
no o (TEV) são: h i tória prévia de tromboembolismo não
relacionado a trau ma, mas relacionado age taçôes prévia CONDUTA NO TRABALHO DE PARTO PRÉ-TERMO
ou ao uso de anticoncepcional, trauma com imobil ização
prolongada, obesidade mórbida, índrome antifosfolípede A conduta inicial é o repouso c a observação par<~ a
e as trombofilias hereditária . confirmação de que se trata realmente de trabalho de par-
Ainda é um desafio determ inar quais pacientes devem to pré-termo. O trabalho de parto não deverá ser inibido
receber profilaxia c não lü ensaios randomizado sobre a nas paciente com cardiopatia descompensada. O trata-
profilaxia de TEV na gestação, existi ndo vários esquemas mento da descompen ação cardíaca com consequente
encontrado na literatu ra. A conduta são feitas por orien- melhora da perfusão tissula r frequentemente interrompe o
ta ão de e.Yperls, ba eadas em estudos ob ervacionai .16 trabalho de parto pré-termo. Após a compensação card í-
A uti lização de ter.lpi<~ anticoagul<~nte durante a ge ta- aca, permanecendo com contraçõe importantes, podem
ção é cercada de controvérsias. Em geral, dá-se preferência à ser utilizados como tocolíticos a indometacina ou o atosi-
heparina, devido ao risco de malformações secundárias aos ban.19 A indometaci na é empregada na dose inicial de 100
dicumarínico (embriopatia warfarínica), que ocorrem na rng, por via reta!, seguida de 25 mg, via oral, de 8/ 8 horas.
frequência de I a 'llo.1- Embora a heparina de alto pe o mole- Deve ser re trita a gestações com mcno de 32 semanas c a
cu lar não ultrapasse a placenta, existem relato que dernon - duração do uso não deve ultrapassar quatro dias (ri co de
tra m que ela pode ocasionar morbidade fetal, assi m como fecha mento precoce do dueto artério-venoso, enterocolite,
a heparina de bai.xo peso molecular. Essa última, apesar de hemorragia int raventricular e oligoidr5m nio).
atrave ar a placenta e do seu elevado custo, tem demonstra- O corticoidc, nas doses habituais para indução dn matu-
do menos efeito colaterai tanto na gestante como no feto. ridade pulmonar fetal, poderá er utilizado mesmo em pa-
Para a paciente portadora de prótese metálica, a maio- ciente di cretamente de compen ada , de de que em idade
ria do autores ainda indica o uso de anticoagulante oral, ge tacional entre 24 c 34 semanas c com perspectiva de parto
ape ar do efeitos dano o obre o feto, porque o risco de num período de 24 horas a sete dia .11 A retenção hídri a po-
trombo c de válvula nes a pa ientes é elevado.18 derá ser combatida com uma dose ma is alta de diurétricos.
Uma .1ltemativa para a pacientes portadoras de prótese
valva r metálica, buscando-se mini mizar os riscos fetais, é
utilizar a hepari na no primeiro trimestre e após 35 semanas REPERCUSSÕES SOBRE O
de gc tação. Entre 13 e 3' emanas utiliza-se o warfarin.
FETO E o RECÉM-NASCIDO
Em pacientes com fibrila ão atrial secundá ri,\ à e tenose
mitral, desde que seja po sível economicamente à paciente,
faz-se uso da hcparina em dose de anticoagulação por toda Vários fatores levam a mais morbimortalidade peri-
a gestação. A anticoagulação profilática ou terapêutica deve natal. Entre eles, a hipóxia, a utilização de medicamentos,
er empre avaliada para a cardiopatias com grande proba- a hered itariedade de certas cardiopatias e a possibilidade
bilidade de formação de trombos (Quadro 34.6). de infecção fetal pelo Trypa11ossoma cruzi. Esses fatores

542 Noções Práticas de Obstetrícia


acarretarão, entre outra po íveis repercussõc , alta in- A dcplcção do volume pia mático materno pode rc ultar
cidência de prematuridade, de recém-nascidos pequenos em prejuízo no crescimento fetal. Além di so, têm ido re-
para a idade ge tacional, de abortamento c de anomalias latados distúrbio eletrolíticos, icterícia c trornbocitopcni.1
congénitas cardía as e não cardíacas. c um do pai tiver fetaii> c pancreatitc aguda materna associada ao u o de tia71-
cardiopatia congénita, o recém-nascido terá ri co de até dicos durante a gravidez. A fu rosemida é o diurético de e\-
1" % de ter anormalidade emelhantc. Em algu n casos, colha durante a gravidez.. Durante o u ·o de diu réticos, exis-
o risco pode ser de até SO%, quando a anomalia é autos- te a necessidade de monitorar o nível érico de pot:ís io c
ômica dominante, como ocorre na estenose subaórtica complementá-lo se estiver abaixo dos valores de referência.
hipertrófica idiopática ou na índrome de Marf.1n, c tan- Quanto à arritmias, deve-se sempre ter cm mente que
do, pois, indicada a realização da ecoc:~rd iogr:tfia fct:tl. 20·21 apenas as potencialmente f.1tais para a mãe e/ ou o feto de-
O de envolvimento de episódios de dcscompcns:tção vem ser tratadas. A princípio, devem ser removidos fatores
cardíaca durante a gesta ão pode acarretar pior prognós- de encadeantc como o tabagi mo, o u o aumentado de
tico pcrinat:t l. Entre as possíveis repercussões está descrita cafclna, a intoxicação digitálica, o di túrbio hidrodc-
alta incidên 1a de baixo pc o, prematuridade c índice de trollticos, o hipcrtireoidi mo, a ansiedade c outros, para
Apgar < 7, além de redução de 300 g no pe o médio no gru- ó então avaliar a real ncce idade de antiarrítmico . O
po de conccpto cujas mães desenvolveram complicações mesmos devem cmprc cr utilizado na míni ma dosagem
clín1ca ·ecundárias à cardiopatia em relação àqueles cujas c pelo mais curto espaço de tempo necessário.
gestações não apre entar.un essas cornplicaçõcs. 13 Q uando for utilizada a amiodarona, o pediatra dcver.í
A cianosc materna aumenta o risco fetal, embora cm ser informado, devido ao fato de e a sub tânCJa poder pro-
formas cianót1cas de doença cardíaca congênita cxist:tm voca r hipo e hi pertireoidismo no recém-nato. Geralmente
ccrt:ts respostas que servem para facilit:tr o recebimento de é reservada para os casos de arritmia potencialmente fJ-
oxigénio pelo feto. Apesar desse meca nismo de compensa- tais sem resposta adequada a outros antiarrítmicos como a
ção, a maioria do recém-na ciclos de mães com cianosc é quinidina c a procainamida. Entretanto, par.1 pacientes em
pequena para a idade gcstacional e/ ou prematura. Observa- uso dessa medicação, de forma ju ti fidvcl, Jntc do início
-se também clcv:~da frequência de abortamentos, cuja inci- da gestação, usualmente não se tenta a substituição. 11
dência aumenta em paralelo com o hcmatócrito materno.
a avaliação fetal, a ultra onografia é importante para
c limar a idade gestacional, a vitalidade, a morfologia c o CIRURGIA CARDIOVASCULAR E
perfi l de crc 1mcnto fetal. e for detectada algu ma anorma-
CARDIOVERSÃO DURANTE A GRAVIDEZ
lidade, a avali.1ção deve ser complementada por exame ma i
c pecífico como dopplcr fetal, perfi l biofí ico fetal e ccocar-
diograma fetal. A periodicidade dos exame é decidida pelo Os riscos relacionados ao procedimento cirúrgico não
obstetra de acordo com a gravidade dos ca os c o parâmetro jo diferentes aos de mulhere~ não gráv1da\, contudo, J
a ~cr ava liado. Portadora de cardiopatia cianótica ou com mortalidade materna, que varia de 8,6 a 13,3%, tem sido
.tltcrações hemodinâmicas importantes podem ncccssit.tr relatada como maior na ge tação porque geralmente a ci-
de reavaliação fetal, por ultrassom, até mesmo semanal. rurgia cardíaca é indicada em situações de extrema gravi-
dade. A mortalidade fetal ocorre cm I Oa 35%do ca~o~ de
comi urotomia c troca valvarc Y
USO DE MEDICAMENTOS A melhor época para a intervenção Cirúrgica é entre 18
c 26 semanas, período no qual já se ultrapassou a fa~c de
O d1gllálicos ão o ma i cmpregadm como cardiotõ- alto ri co de teratogêne e e ainda não c atmgiu o piCo de
nicos. Embora ultrapassem a placenta, não foram demons- sobrecarga hcmodi nãmica. 11
trado efeito teratogênico ou prejudiciai para o feto. Nos últimos anos tem- c uti lizado a di latação do ori fí-
Os diuréticos devem ser evitados durante a grav1dcl, a io valvular atravé do cateter com balão com alta frequên-
não ser quando indicados no tratamento da insuficiência cia, já que acarreta menos morbidadc ao feto. Sempre que
cardíaca congcstiva ou com insuficiência renal associada. disponível e indicado, deverá ser esse o método de eleição.

Cardiopatia e Gravidez
543
As indicações da valvotomia percutànea por cateter A Figura 34.1 mostra o fluxograma para a conduta na
balão (VPCB) supcrpõcm-se às indicações ci rúrgicas, grávida cardiopata descompensada, sem melhora com o
principalmente na estenose mitral refratária ao tratamento tratamento clínico.
clínico ou impossibilidade do tratamento percutãneo por
cateter-balão. As causas mais frequentes são: insuficiência
lesão corrigível cirurgicamente lesão não corrigível
cardíaca, endocardite infecciosa, trombose de prótese val- cirurgicamente
va r e di secção de aorta.
As recomendaçõe durante o procedimento para me- Mortalidade neonatal para a
idade gestacional do momento Discutir interrupção
lhor resultado materno-fetal são: manter alto fluxo na cx-
da gestação
tracorpórea, normotcrmia, fluxo pulsátil, pressão arterial
média superior a 60 mmHg, manter o hematócrito acima Inferior a 20%• Superior a 20%
de 25%, utilizar uterolítico profilático, realizar cardiotoco-
gra fia e/ou dopplcrvclocimetria contínua: 1 Interrupção Cirurgia
A cardioversão elétrica sincronizada pode ser neces á- da gestação
ria em pacientes com taquiarritimias supraventriculares ou
ventriculares que não respondem ao uso de medicamentos Figura 34.1 J Fluxograma da abordagem clínica e cirúrgica
ou quando de envolvem instabilidade hemodinàm ica. O das cardiopatas grávidas descompensadas.
procedimento pode ser real izado com segurança em qual- ·Percentual de mortalidade fet al para ci rurgia com toracotomia.
Mais liberdade de tratamento cirúrgico para as candidatas à
quer idade gestacional e o feto pode apresentar bradicardia
dilatação valvar por cateter.
transitória, que se resolve espontaneamente. Episódios em-
bólicos podem ocorrer após reversão de fibrilação atrial, es-
tando indicado u o de anticoagulante por três semana an-
te da cardioversão e por, no mínimo, quatro semana , após. C oNDUTA N o TRABA LHO DE P A RTO
Aanestesia pode ser realizada com propofol, etomidato (alta
incidência de mioclortia), midazob n ou thiopcntal. Todos Aguardar o trabalho de parto espontâneo ao termo é
atravessam a placenta e midazolan c thiopental provocam a conduta na maioria das gestações complicadas com car-
mais sedação feta l quando comparado ao propofo(.l' diopatia materna, devendo a cesariana ser reservada para
as indicações obstétricas. Para os casos nos quais há indi-
cação de indução do parto, os óvulos de prostaglandinas
C ONDUÇÃO DA PACI ENTE INTERNADA podem ser utilizados para amadurecimento do colo ute-
COM D ESCOMPENSAÇÃO CARDÍACA ri no. Ent reta nto, a cesariana é preconizada nas pacientes
com lesões da artéria aorta com possível formação aneu-
rismática (estenose e coartação de aorta, síndrome de
Os procedimentos preconizados para as gest;Jntcs com Tabyasu e Marfan).
quadro de de compensação cardíaca são: Nas gestantes em uso de hepari na não fracionada, a
Ava liar o u o de digoxina ou cedilanide, diu réticos, mesma deve ser suspensa no início do trabalho de parto e
hepari na profi lática, oxigenoterapia (geralmente 3 reiniciada quatro horas apó o parto.
a S litros/ minuto)i os casos ind icados, deve er feita a antibioticoprofila-
elevar a cabeceira e prescrever dieta hipossódica xia para endocardite bacteriana.
(iniciada apenas após a melhora da pacicnte)i O fórcipe de alívio deve ser util izado no encurtamento
realizar rad iografia de tórax, quando necessário do segundo período do trabalho de parto e na di minuição
(utilizar o avental de chumbo para proteção fetal)i do esforço materno, minimizando as alteraçõe cardiovas-
evitar discutir a interrupção da gestação cm pacien- culares próprias desse estágio.
te dcscompensada que ai nda não se beneficiou do Nas pacientes com ca rdiopatia grave, com repercus-
tratamento medicamentoso e cirúrgico adequados sões fetais, as condições do concepto devem ser monitora-
e do repouso sob observação ho pita lar. da continuamente.

Noções Práticas de Obstetrícia


544
Para as gestantes com cardiopatia grave que toleram O acompanhamento ob o regime de internação por
o trabalho de parto e com indicação de contracepção de- período mais longo no puerpério é indicado devido ao ris-
finitiva, tem-se no puerpério imediato a oportunidade co de de compensação cardíaca e de fenômenos trombo-
adequada para ser realizada a salpingotripsia por meio de embólicos.
inci ão infraumbilical. Os riscos da ligadura de tubas ute- No pós-parto imediato deve-se minimizar a quantida-
rina no puerpério, aprovettando inclusive a mesma ane - de de líquido ingerido c utilizar oroterapia apena:. após a
tesia, ão inferiores aos de nova gestação para esse grupo cesariana.
de mulheres. Para o controle da dor no pós-parto, o emprego de
No controle da perda sanguínea no tercei ro período, analgésicos como o diclofenaco de sódio deverá serre trito
empregam-se a ocitocina (lO UI diluídas em SOO mi de apenas aos dois primeiros dias, devido ao seu efeito anti-
oro glico ado i otônico) e a curetagem uterina, quando diurético, cndo posteriormente substituído por hio cina
necessário, para minimizarem-se as perdas sanguínea . Os e/ ou paracetamol.
derivados ergotínicos devem ser evitado porque podem Para a · gestante sem contracepção instituída no mo-
produzir elevações na pre são veno a central c hipertensão mento do parto, é imprc cindível o encaminhamento para
arterial transitória. avaliação c controle com a equipe de planejamcnto fam iliar.
Gestantes com indicação de anticoagulação deverão ter
a heparina reintroduzida quatro horas apó o parto. O anti-
ANESTES I A coagulante oral deverá ser iniciado 24 hora apó o parto.
A heparina ó deverá ser suspensa quando a atividade de
Éimportante manter o bem-estar da paciente, visto que protrombina estiver entre 2- e SOo (e tável por doi dia )
o diminui a sobrecarga cardíaca, sendo necessário utili- ou o RN I entre 2,5 e 3. Nesse momento a paciente poderá
zar analgésicos sistémicos no início do trabalho de parto e receber alta com controle ambulatorial agendado cm três a
induzir anestesia de condução (bloqueio epidurallombar cinco dia , para novo controle da prova de coagulação.
egmentar) o mais cedo possível. O decúbito lateral deve
ser adotado para diminuir a re posta hcmodinâmica às
contrações uterinas. Oxigenoterapia é indispensável no MÉTODOS ANTIC ONCEPCIONAIS
pcrfodo expulsivo.
A escolha do tipo da anestesia depende do tipo de lesão O planejamento fami liar da mul her cardiopata apre-
cardíaca e de experiência e habilidade do anestesista. as senta três aspectos fu nda mentais: fatores intrínseco do
pacientes portadoras de hiperten ão pulmonar grave ou casal, fatores relacionado à cardiopatia e os referente aos
com esteno e aórtica grave e sintomática, utiliza-se aneste- contraceptivo .11 2'
ia geral e a cesariana for indicada por motivo ob tétricos. São fatores intrínsecos do casal a idade, paridade, núme-
ro de filhos vivos, modo de vida, c tado psíquico. A tendên-
cia é redu zi r a prole de pacientes cardiopata cm função da
ASSISTÊNCIA NO PóS-PARTO pior qualidade de vida e menor sobrevida dessas mulheres.
Entre os fatores relacionados à cardiopatia, devem er
A deambulação precoce e a amamentação devem ser considerados o diagnóstico anatomofuncional e a fase clí-
incentivadas, a não er que haja contrai ndicaçõc e pecífi- nica da história natural da cardiopatia, além da terapêutica
cas (classe funcional I V da NYHA ou uso de amioda rona). essenetal utilizada pela paetente. 2H 6
Na indicações de inibição da lactação recomenda-se Cardiopatas com classe funcional III ou I V da YH A,
enfaixamento da mamas e boi a de gelo. O u o de medi- cianose, fração de ejeção do ventrfculo esquerdo< 40%ou
camentos como a bromocriptina ( Parlodcl®) é desaconse- com evento cardiovascular prévio (arritmia, edema pul-
lhável porque estão as ociados a complicaçõe como: va- monar, acidente vascularccrebral,1clus isquêmico transitó-
soespa mo, hipcrtcn ão arterial, acidente vascular cerebral rio) apre entam risco adicional de evento cardíaco de 27%
isquêmico e hemorrágico, IAM, arritm ias, convulsões e durante a gestação. E diJnte de dois ou ma i desses fatores
p ico e puerperal.4 o acrésci mo é de 75%. 26

Cardiopatia e Gravidez
545
A gestação deve ser evitada quando existir alto risco Para a escolha do melhor método cont raceptivo, além
de mortalidade ou morbidade materna e, se ocorrer nes- dos fatores já relacionados (fatores intrínsecos do casal e
se grupo de m ulheres, deve ser considerada a interrupção relacionados à cardiopatia) devem ser valorizadas a eficá-
terapêutica da gravidez. Segu ndo a recomendação da cia do método, o utras contra ind icações médicas, a aces-
OMS 26•27, são classificadas como contraindicação à gesta- sibil idade aos mesm os e as interações medicamentosas
ção as seguintes situações (classe de risco 4): (substâncias que aumentam a metabolização hepática de
' · grave com area
Estenose aortJCa ' va Ivar < 1 cm2; derivados do estrogên io e da progesterona ou que reduzem
hipertensão arterial pu lmonar de qua lquer etiologia; bactérias que transformam metabólitos inativos em ativos,
síndrome de Marfan com d iâ metro de raiz de aorta reduzindo a eficácia e favorecendo gestações indesejadas). 11
>40mm; É de c rucial importância que os card iologistas que
mioca rd iopatia periparto prévia com disfunção prestam assistência à mu lher no menacme estejam aptos
ventricular residual; não só para in formar sobre os riscos de grav idez em rela-
disfunção ventricula r grave (NYHA II I ou IV ou ção à cardiopatia, como também o rientar com segu ra nça
FE <30%). qua l o método mais adequado para evitar gestações desa-
conselhadas, o q ue, infelizmente, ocorre frequentemente
A OMS inclu i como alto risco e com contraindicação à no nosso meio. Devem integrar equipes multidiscipli nares
gravidez as situações com grande obstrução no ventrículo de planejamento fam ilia r constituídas por clínicos, obste-
esquerdo, como estenose aórtica grave e estenose m itral tras, g inecologistas, anestesistas e urologistas, entre outros
27 1
grave. No entanto, na diretriz da SBC (2009)/ a esteno- especia Iistas.
se mitral grave é reclassificada como de risco intermediá- As cardiopatias de risco intermediário durante a gesta-
rio por estar associada à alta morbidade, com frequência de ção,30 consideradas classe de risco 2 ou 3 na classificação da
eventos cardíacos de 63,5% em pu blicação brasileira,4 mas OMS, são aquelas associadas a reduzido aumento no risco
sem mortalidade. A modificação do g rau de risco é justifi- de morbimortalidade materna. O risco é considerado mais
cada pela baixíssima mort alidade associada a essa doença alto quando há agravante como disfunção ventricula r, uso
na gestação e pelos bons resu ltados da intervenção percu- contínuo de anticoagulante, entre outros. São consideradas
tânea por cateter balão nos casos com deterioração clínica cardiopatias de risco intermediá rio à gestação (classe de ris-
sem resposta à terapêutica adequada 28 co 2 ou 3 da OMS) as prótesesval va res cardíacas mecân icas,
A gestação em portadoras de hipertensão arterial pul- a estenose mitral e aórtica, as cardiopatias congénitas cianó-
monar (HAP qua lquer etiologia), além de estar associada ticas, as card iopatias congén itas complexas pós-cirurgia, a
a elevada mortalidade materna, pode agravar a hipertensão coarctação de aorta não corrigida, a d isfunção ventricular
pulmonar. 26 A mortal idade materna observada na síndrome leve a moderada, a estenose pulmonar grave, a miocardio-
de Eisenmenger pode ser de até 36%, na H AP primária de patia periparto prévia sem d isfunção ventricu lar residual e a
30% e na secundária de 56%. São frequentes o abortamento necessidade de uso contínuo de anticoagulante.
espontâneo, o crescimento intrauterino restrito e a prema- As cardiopatias de baixo risco à gestação, segundo a
turidade. A mortalidade perinatal pode variar de 13 a 28%. OMS (risco l), são aquelas e m que a gestação não oferece
Na síndrome de Marfan, a gravidez é desaconselhada, ri sco maior ao da população em geral 2 7 En tre elas estão a
pelo risco materno de dissecção de aorta associada à mor- m iocard iopatia hipertrófica n ão com pl icada, as valvulo-
talidade de 22% e pelo risco de 50% de os fetos herdarem patias com lesões leves, as próteses biológicas, a síndrome
a doença.26 de Marfan sem dilatação de aorta, a coarctação de aorta
A gestação posterior ao d iagnóstico de miocardiopat ia corrigida, sem hipertensão ou aneurisma, as m ulheres
periparto pode determina r piora fu ncional de 21% nas pa- pós-transplante cardíaco, a d isfunção leve de ventrícu lo
cientes que normalizaram a função ventricu lar e de 44% esquerdo e a cardiopatia congênita corrigida e sem sequela.
naquelas q ue permaneceram com comprometimento fu n- Uma vez estabelecido o risco da cardiopatia no caso
cional residual. Estas têm mais necessidade de interrupção de gestação, é imperativa a aplicação do método de contra-
terapêutica da gravidez (25%), alta incidência de prematu- cepção q ue exige a integração de eficácia, tolerância, aceita-
ridade (50%) e risco de óbito em 25%dos casos.Z9 ção e baixo risco de compl icação.

Noções Práticas de Obstetricia


MÉTODOS DEFINITIVOS rais que os combinados orais. Além disso, a admin istração
pa renteral apresenta a vantagem da eli m inação da primeira
Para portadoras de card iopatias de alto risco, a reco- passagem pelo fígado. Entretanto, como é m étodo relativa-
mendação é a contracepção definitiva, por meio da lague- mente novo e sem estudos de seus efeitos em longo prazo,
adura tu bária, que deve obedecer a parâmetros criteriosos possui as mesmas restrições de uso dos combinados orais.
e ser muito bem-analisada pelo casal devido à sua reduzida Atualmente são d isponíveis as seguintes combinações de
possibilidade de reversão. injetáveis mensais:
Enantato de estradiol lO mg + acetofenido de d iid roxi-
p rogestero na I 50 mg - Perlutan®.
MÉTODOS REVERSÍVEIS Valera to de estradiol S mg + enantato de norestisterona
50 mg - Mesigyna®.
As portadoras de ca rdiopatias de risco intermediário Cipionato de estradiol 5 mg + acetato de medroxipro-
ou de risco aceitável são beneficiadas pelo uso de contra- gesterona 25 mg- Cyclofemi na®.
ceptivos reversíveis.

CoNTRACE PT i vos H o R MON A I S C oMB i N ADOs


Quadro 34.71 Situações clínicas em que não é recomendado
uso de contraceptivos hormonais orais (OM S classe 3 e 4)24
Os contraceptivos orais são os mais utilizados, mas es-
Próteses valvulares cardíacas mecânicas
tão associados a efeitos cardiovascula res indesejados. Os
ant iconcepcionais hormonais combinados orais (AH CO) Doença coronariana aterosclerótica
aumentam o risco de tromboembolismo venoso (TEV),
Vários fatores de risco para doença cardiovascular
que é mais alto com preparações com > 50flg de etiniles-
t radiol (EE). A redução da dose EE para 20 a 30 flg diminu i Idade ~ 35 anos associada a tabagismo
o risco de eventos venosos, mas ainda se associa a aumento Hipertensão arterial sistêmica não controlada e/ou com
11
de eventos arteriais como IAM e AVC. Estudo multicên- comprometimento vascular
trico conduzido pela OMS demonstrou que os AH CO
Hipertensão pulmonar de qualquer etiologia
aumentam o risco de IAM cinco vezes, de AVC isguêm ico
três vezes e hemorrágico 1,5 a duas vezes 27 Circulação de Fontan
Em relação ao componente progestagênico, o levonor- Miocardiopatia dilatada de qualquer etiologia (FE < 30%)
gestrel é considerado de baixo risco para trombose, en-
Doença de Kawasaki
quanto gestodeno, desogestrel e ciproterona são considera-
dos de alto risco. O risco da drospirenona é comparável ao Diabetes com comprometimento de órgãos-alvo
do gestodeno e do desogestrel (o dobro do risco em relação
Trombofilias
ao levonorgestrel). 11
No enta nto, se se considerar o risco absoluto de t rom- Tromboembolia venosa prévia ou presente
bose dos cont raceptivos hormonais, percebe-se que é mui- Acidente vascular cerebral
to reduzido (de 2 a 3/ I 0.000 usuárias/ ano) e deve ser sem-
Valvulopatias complicadas (com HP. FA. El. AE > 4 cm)
pre comparado ao de uma gravidez indesejada.
Ao decidir qual a melhor opção de pílu la anticoncep- CIA não corrigida
cional, deve ser fe ita avaliação dos riscos basais da paciente,
Enxaqueca com aura em qualquer idade
corrigir os fa tores de risco controláveis e ponderar os efei-
tos adversos de cada componente (Quadro 34 .7). Enxaqueca sem aura em idade ~ 35 anos
O injetável mensal é eficaz e, por utilizar estrogên ios na- HP =hipertensão pulmonar; FA =fibrilação atrial; EI =endocardite infecciosa;
AE =átrio esquerdo
tura is em sua composição, parece ter menos efeitos colate-

Cardiopatia e Gravidez
547
CONTRACEPTIVOS CONTENDO desde que não apresentem lesões de alto ri sco de endocar-
DERIVADOS DA PROGESTERONA dite infecciosa, sendo a frequência de fa lha inferior a 2%
em cinco a nos.
Existem hoje disponíveis contraceptivos contendo de- Seu uso aumenta o risco de doença in flamatória pél-
rivados da progesterona na forma oral, injetável e implan- vica e não é recomendado para pacientes com vá rios par-
te. Apresentam a vantagem de não aumentarem o risco de ceiros e mais expostas a doenças sexualmente transmissí-
trombose em doses contraceptivas. 10·31 veis. Nulíparas são mais suscetíveis a fal has e expulsão. No
Os progestagênios por via oral - noretisterona 0,35 mg momento da inserção ocorre reação vagai em até 5% dos
(Micronor®); linestrenol 0,5 mg (Exluton®); levonorgestrel casos e pode ser fatal em portadoras de circulação de .Fon -
0,030 mg (NortreJ®, Minipil®) - frequentemente utilizados tan ou doença vascular pulmonar. Portanto, não é método
durante o aleitamento materno exclusivo têm eficácia redu- recomendado para essas pacientesu ;
zida em não lactantes e, por isso, não são recomendados para Pode ser utilizado em portadoras de valvulopatia não
cardiopatas de alto risco fo ra do período do aleitamento ma- complicada. As contraindicações ao seu uso são prótese
terno exclusivo, por apresentarem falha de 0,5 a lO% no pri- valvular, endocardite infecciosa prévia, cardiopatia con-
meiro ano de uso.27 O desogestrel 75 ttg (Cerazette®) supri- génita cianótica não corrigida, síndrome de Eisenmenger,
me melhor a ovulação e é mais eficaz, sendo uma opção de hipertensão pulmonar de qualquer etiologia, circulação
contraceptivo oral para quem não pode usar osAHCOs.30 de Fontan, estenose e insuficiência aórtica e insuficiência
O acetato de medroxiprogesterona (Depoprovera®) 150 mitral 2 7
mg/ampola utilizado por via 1M de 3/ 3 meses tem a vanta- O DIU de cobre pode levar à bacteremia durante a in-
gem de não afetar a coagulação e a fibrinólise. 32 Mais da meta- serção ou remoção em 13% dos casos e a literatura não é
de das usuárias apresenta amenorreia e hipoestrogenismo. Es- concordante quanto ao uso de antibiótico profilático para
tudo conduzido pela OMS não comprovou aumento de IAM endocardite infecciosa.27 A tendência é que não seja reco-
e AVC em usuárias de progesterona injetável. Em mulheres mendado seu uso roti neiro, mas também é sugerido uso
muito jovens(< de 21 anos) seu uso foi associado à redução de eritromicina SOO mg, VO, uma hora antes da inserção e
da densidade mineral óssea, fazendo com que a orientação da seis horas após, para evitar infecção pélvica.
OMS seja considerar se os benefícios superam os riscos. 11 O DIU contendo progestagênio (levonorgestrel 52mg
Os progestagênios sob forma de implante subdérmi- - M irena®) pode aumentar a incidência de cefaleia e ame-
co - levonorgestrel (Norplant®; JadelJe®) ou etonorgestrel norreia, além de depressão, perda de libido e aumento de
(lmplanon®) - possuem eficácia comparável à da esteriliza- peso. Pacientes em uso crônico de ant icoagulante sebe-
ção, mas essa eficácia pode ser reduzida se a paciente apre- neficiam do DIU com progesterona por provocar menos
sentar excesso de peso. Alguns efeitos indesejados, como sangramento uterinon
distúrbios menstruais, cefaleia, ganho de peso e acne, fazem
com que só 50% das pacientes permaneçam com o implante
ao término do quinto ano. MÉTODOS DE BARREIRA E COMPORTAMENTA IS
Durante a inserção deve ser levado em consideração o
risco de endocardite infecciosa em pacientes com lesões de Os métodos de barreira (diafragma, esperm icida, pre-
alto risco para a doença. Apesar de não haver orientação es- servativo) apresentam índices de falha bem superior aos
pecífica para o procedimento, é recomendado que se utilize métodos anteriormente citados e não são métodos ade-
cefalexina (Keflex®) 2 gramas, VO, uma hora antes da in- quados para mulheres em que a gestação imponha signifi-
serção do implante, para evitar infecção por Staphylococcus. cativo risco clínico.
Os métodos comportamentais são inócuos às cardio-
patas, p orém apresentam alto índ ice de fal ha, não sendo
DlSPOSlT IVO l NTRAUTERINO (D l U ) recomendados para essas pacientes.
O Quadro 34.8 apresenta as evidências científicas na
É uma alternativa para as mulheres cardiopatas que assistência à gestante com cardiopatia.
não podem usar contraceptivos hormonais combinados,

Noções Práticas de Obstetricia


Quadro 34.8 1Evidencia na assi tência à cardiopata du rante a gravidez

Per1odo Intervenção Grau de


Recomendaç~o

Pré-natal Ouso profilatico da suplementação de ferro após 20 semanas éobrigatório nesse grupo de gestante. A I
Ébenéfica a associação com acido fólico na redução de nlveis baixos de hemoglobina e da ane- A
mia megaloblastica.
A antibioticoterapia profilatica deve ser continuada durante a gestação nos casos de: febre reu- B
mática (FR) com história de cardite e/ou lesão valvular - até os 40 anos; FR com história de
cardite e sem lesão valvular- até 10 anos após o surto de FR; FR sem história de cardite e sem
lesão valvular- por cinco anos após o surto reumatico ou até os 21 anos de idade. Oantibiótico
recomendado é a penicilina Gbenzatina. na dose de 1.200.000 UI. intramuscular profunda. a cada
três semanas.
Realizar profilaxia para endocardite infecciosa nos procedimentos que provocam manipulação da B
gengiva. na região periapical dos dentes ou quando há perfuração da mucosa oral.
Otrabalho de parto não deverá ser inibido nas pacientes com cardiopatia descompensada. c
Ocorticoide. nas doses habituais para indução da maturidade pulmonar fetal. poderá ser utiliza- A
do mesmo em pacientes discretamente descompensadas. desde que em idade gestacional entre
24 e 34 semanas e com perspectiva de parto num perfodo de 24 horas a sete dias.
A retenção hldrica secundaria à corticoterapia antenatal poderá ser combatida com alta dose c
de diuréticos.
Durante valvotomia percutanea por cateter balão manter alto fluxo na extracorpórea. normoter- c
mia. fluxo pulsatil. pressão arterial média superior a 60 mmHg. uterolltico profilático. cardiotoco-
grafia e/ou dopplervelocimetria continua e manutenção do hematócrito acima de 25%.
Parto Profilaxia para endocardite infecciosa nas lesões consideradas de alto e moderado riscos no c
parto vaginal e cesáreo.
Esquemas de profilaxia para o parto com ampicilina ou amoxicilina 2.0 g IV mais gentamicina c
1.5 mg/kg IV (não exceder 120 mgl. 30 minutos antes do parto; e seis horas após administrar
ampicilina ou amoxicilina. 1,0 g por VO.
Nas pacientes com lesões da artéria aorta com possfvel formação aneurismática (estenose e c
coartação de aorta. sindrome de Takayasu e Marfanl. a cesariana é preconizada com anestesia
raquidiana ou peridural. devido ao risco de rotura da aorta durante o trabalho de parto.
Ofórcipe de alivio deve ser utilizado no encurtamento do segundo periodo do trabalho de parto e na c
diminuição do esforço materno. minimizando as alterações cardiovasculares próprias desse estágio.
Nas pacientes com cardiopatia grave. com repercussões fetais. as condições do concepto devem c
ser monitoradas continuamente.
A paciente portadora de cardiopatia grave. que tolera o trabalho de parto e com indicação de c
contracepção definitiva tem no puerpério imediato aoportunidade adequada para ser submetida
à salpingotripsia por incisão infraumbilical. Os riscos da ligadura de tubas uterinas no puerpério.
aproveitando inclusive a mesma anestesia. são muito inferiores aos de uma nova gestação. para
esse grupo de mulheres.
I
Os derivados ergotinicos devem ser evitados no controle da hemorragia pós-parto. porque po- c
dem produzir elevações na pressão venosa central e hipertensão arterial transitória.
Continua ...

Cardiopatia e Gravidez 549


... continuação
Quadro 34 .8 1Evidencias na assistência à cardiopata durante a gravidez
Pl!rturlu l i i(l!l Vl!I I CdO Gr éHI ri P
Rec o111 c11 dd c <lo

Pós-parto Nas indicações de inibição da lactação (classe funcional IV da NYHA ou uso de amioda- B
rona). recomendam-se enfaixamento das mamas e bolsa de gelo. Ouso de medicamentos
como a bromocriptina (Parlodel• ) é desaconselhável porque está associado a complica-
ções como vasoespasmo, hipertensão arterial. acidente vascular cerebral isquêmico e he-
morrágico, IAM, arritmias. convulsões e psicose puerperal.
Oacompanhamento por periodo mais longo no puerpério é indicado devido ao alto risco de c
descompensação cardiaca e de fenômenos tromboembólicos.
Minimizar a quantidade de liquido administrada e indicar soroterapia só no pós-operatório c
de cesariana.
O emprego de analgésicos como o diclofenaco de sódio deverá ser institufdo apenas nos c
dois primeiros dias de pós-parto devido ao seu efeito antidiurético, sendo posteriormente
substituido por hioscina e/ou paracetamol.
Sempre oferecer encaminhamento para avaliação e controle com equipe de planejamento c
familiar.
Para as portadoras de cardiopatias de alto risco a recomendação é a contracepção de- c
finitiva, por laqueadura tubária, que deve obedecer a parametros criteriosos e ser muito
bem-analisada pelo casal. por se tratar de método contraceptivo definitivo.
Os métodos comportamentais são inócuos às cardiopatas, porém apresentam alto indice c
de falha, não sendo recomendados para essas pacientes. I

FR =febre reumática: UI= unidades internacionais: g=grama: IV = intravenosa: mg =miligrama: Kg = quilograma: VO =via oral: NYHA = New York Heart Association:
IAM = infarto agudo do miocárdio

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Cardiopatia e Gravidez
551
\ ~
í '(l~\0
35 Doenças Hematológicas
Wellington Morais de Azevedo
Lctícia Rocha Borge

Anemias Anemia H emolítica Microangiop ática


Anemia por Deficiência de Ferro Hemoglo binúria Paroxistica Noturna ( HPN )
Anemia Hemolítica Autoimune (AHAl)
Anemia Associada à Doença Crônica
Anemia por Perda Aguda de Sangue Neoplasias Hematológicas
Deficiência de Folato Linfomas
Deficiência de Vitamina B 12 Leucemias
Anemia Aplástica Trombocitopenias
Hemoglobinopatias T rombocitopenia Gestacional
Hemoglobinopatias SS, SC ou $ -beta-talassemia Púrpura Trombocitopênica Imuno lógica
Talassemias Doença de von Willebrand ( DvW) Tipo 2B
Anemias Hemolíticas Esteatose Hepática Aguda
Esferocitose H ereditária Trombocitopenia Associada à Pré-eclãmpsia e
Deficiência de Piruvato-quinase Síndrome HELLP
D eficiência de Glicose-6 Fosfato Desidrogenase Trombocitopenia Associada à Púrpura Trombocitopênica
(G6PD) Trombótica e à Síndrome Hemolltico-urêmica

gavidcz constitui sério desafio para os órgãos gestação. Com isto, garante-se ao binóm io mãe-filho toda a

A e sistemas do corpo da mu lher, responsáveis


pela homeostase sanguínea e pelas funções
hematológicas em geral. Qualquer antecedente de doença
assistência necessária pa ra atingir bon resultado pa ra am-
bos, no fi nal da gravidez.
Alterações hematológicas ocorrem devido a mudanças
hematológica que po sa ter ocorrido previamente à gesta- fisiológicas próprias da gravidez, q ue podem confu ndir o
ção poderá trazer graves com plicações para o binómio diag nó tico de vários d istúrbios hem atológicos reais, ou
mãe-filho. estão relacionadas a doenças especificas da gestação ou,
Por sua vez, os problemas hematológicos que surgem no ai nda, a paciente j;i é portadora de hematopatia antes de
decorrer da gestação - a ociado o u não a doença hema- engravidar. Em to dos esses casos, a as ociação e ntre doen-
tológicas prévias - implicam abordagem multidisciplinar, ça hematológica e gravidez é preocupa nte e, muitas vezes,
envolvendo obstetra, hematologista e pediatra, para que demanda atendimento especializado e conjunto entre o
possa ser defi nida a melhor fo rma de acompanhamento da o bstetra e o hematologista.
ANEMIAS 55%cm mulheres grávidas, dur.wte o terceiro tn mc tre. A
O rganização Mundial da aúdc (OM ) cstinu que 52tlo
A gravtdez pode pro\'Ocar anemia dilucional, con idc- das gestantes cm paí cs cm dc:,cnvolvimcnto scj,tm anê-
rada fisiológica, pelo incremento de proporcional entre micas, sendo c sa doença rc pon ávcl por 3,7 a 12,8% das
o volume plasmático c o critrocitário. A partir da cxta mortes maternas durante a ge tação c parto na África c
emana de gestação, inicia-se a expansão do volume plas- Ásia, respectivamente. Dur.1ntc o::. pri meiro Joi tri me -
mático, que atinge o máximo ao redor de 24 emanas, mas tres da gestação, a anemia ferropriva aumenta o risco de
que pode continuar ~e expandindo até 7 emanas. O in- parto pré-termo, de baixo peso ao nasci mento, de morta-
cremento d.1 massa critrocitária não ocorre proporcional- lidade infantil e é fator pred itivo de deficiência de ferro em
mente ao do volume plasmático, mas .10 final da gc tação crianças de até quatro me c~ de idade.'~
a cxpan. ão deste último cessa, enqu:ll1to a massa eritroci-
tária continua acre ccr. A sim, a redução no hematócrito Q!Jadro 35. 1 I Causas mais comuns de anemia dura nte
e na concentração de hemoglobina já pode er evidente a gravidez
entre a sexta c a séttma emana de uma gestação nornul,
com progressão até 16 a 22 semanas. o~ valores estávei~ de
Anemia por deficiência de ferro
hcmatócrito c hemoglobi na são, em média, 33% c ll g/ d L, ---
rc pcctivamcntc. Verifica- e também aumento da ma s.l Anemia causada por perda sangufnea aguda
entrocitária entre 1- c 2 - ~.com aumento maior quando Anemia da inflamação ou doença maligna
é realizada suplemcntação de ferro. o puerpério, o volu-
Anemia megaloblástica
me plasmático volt.t ao normal em uma a três semanas, cm
parte devido à perda de anguc dura nte o parto, e o valor da Anemia hemolftica adquirida
hemoglobina Au tua de levemente diminuído a va lore que Anemia aplástica ou hipoplástica
excedem o de não grávidas. Hereclrtarrds
Em 1990, o Centers oj Discases Contrai mui Prevwl1011
(C DC) defini u como anemia na gestação a dosagem de Talassemias
hemoglobina com valore inferiores a 11,0 g/ dL no primei- Hemoglobinopatia SS
ro c terceiro trimc trc e inferiore a 10,' g/ d L no cgun- Outras hemoglobinopatias
do trime trc. ~ando a concentração de hemoglobina for
Anemias hemolíticas hereditárias
inferior a 10,5 g/dL, está presente a redução rea l da massa
cntrocitá ria, devendo ser investigada uma causa !.ccundá-
na da anem ta. O Quadro 35. 1apre enta a cau a mais co- A gestação constitui a causa mais comu m de perda real
mun de anemia durante a gravidcz. 1•4 das rc ervas de ferro da mul her cm idade férti l, com cada
gestação re ultando em perda média de 6 O mg de fcr
ro da mãe, o que equiva le a 1.300 mi de s.mgue (Quadro
ANEM I A POR DEFICIÊNCIA DE FERRO 35.2). Em mulheres no pós-parto, a anem i,\ ferropriva está
asso iada a instabilidade emocional, depressão, cstrc se c
O ferro é um micronut riente essencial para o homem. baixo desempenho em testes cognitivos. Gestaçõc múlti-
Um balanço adequado de ferro no organismo é c encial pla , de nutrição, para itoses e doença mtercorrente ão
para o bcm-estar e a qualidade de vida. Em mulheres grávi- condições que favorecem o aparccuncnto de forma mai
da , um stalrtS favorável de ferro é pré-requisito c scncial pronunciadas da anemia.
para a boa evolução da ge tação, desenvolvi mento normal Estudos mo tram que a maioria das mul hcrc cm
do feto e maturidade do recém-nascido. idade rcprodutiva, não grávidas, tem baixa reserva de ferro.
A deficiência de ferro é a complicação mai~ frequente Em alguns trabalho , -t2% dela têm ferritina infcnor a O
da gestação c, juntamente com a hemorragia aguda, é a mcg/ L e, portanto, pouca ou au~cnte reserva de ferro. Isto
causa mai comum de redução real dos níveis de hemoglo- significa que cerca de 40% têm status de ferro pré-gestacio-
bina na gravtdez e no puerpério. ua prevalência é de 16 a nal desfavorável.

554 Noções Práticas de Obstetrícia


Q uadro 35.2 1Cinética de ferro na gravidez de ferro estão relacionadas com as reservas maternas c do
cordão umbilical.
Ferro Ouarltrdade lmg)
Durante a gestação, a necessidade de ferro aumenta
Medra Varraçao
de 0,8 mg/dia de ferro elemento no pri meiro trimestre
Perda para o feto 270 200-370 para 6,0 a 7,5 mg/dia na cgunda metade, com média de
- 4,4 mg/ dia, qua ntidade que não consegue ser suprida pcb
Perda para a placenta e cordão 90 30-170
dieta. Portanto, cuidado pré-natal adequado demanda u-
Perda sangornea durante oparto 150 90-310 plcmentação de ferro mesmo em rnulhere não anêmicas.
Perda normal de ferro corporal 170 150-200 a ua ausência, a anemia ferropriva frequentemente acon-
tece, com manifestação usual no terceiro trimestre.
Acréscimo devido à expansao do 450 200 - 600
A deficiência de ferro é eficientemente prevenida com
volume plasmático
- suplementação na do c de 30 a 40 rng de ferro elemento por
Total 1.130 670 - 1.650 dia, tomados no intervalo das refeições ou antes de dormir,
Retomo às reservas após o parto 450 200-600 pois a alimentação reduz a ab orção do ferro medicinal em
("contração da massa eritrocitária"l aproxi madamente dois terços, do início da ge tação até o
Perda real I parto. É importante retirar o ferro do polivitamínicos
470- 1.050 -minerais habitualmente ut il izados para suplementação c
Nove meses 680
administrá-lo separadamente, pois os metais iônicos diva-
Por dia 2,5 1.7 - 4,0 lente presente como zi nco, cobre e manga nê competem
entre si na absorção gastrointestinal, reduzindo a absorção
A alta incidência de deficiência de ferro corrobora a ne- do ferro. Estudos controle-placcbo mostram que mulhe-
cessidade de sua suplemcntaçào durante a gravidez. Ela é res cm uso de ferro suplementar têm, significativamente,
e ·pecialmente importante porque a demanda de ferro da maior stat11s de ferro e meno frequência de anemia do
mãe e do feto está aumentada c esse aumento não pode ser que mulhere que u aram placebo. A prevalência de anc-
alcançado sem uplementação. Durante a gestação, a neces- mia pré-parto no terceiro tri mestre varia de 14 a 52% nas
idadc extra de ferro pode chegar a 800 mg (ferro elemen- mulheres em u o de placebo c de O a 2 96 na em u o Je
to), endo cerca de 300 mg para o feto e a placenta c o res- suplementos de ferro.
tante para a expansão da massa critrocitária materna. Cerca Durante a amamentação, há perda diária de ferro de
de 200 mg a mais são perdidos por via intestinal, urin;hia c aproxi madamente 0,5 a I mg, sendo que a qua ntidade pre-
cutânea. E a quantidade total de 1.000 mg praticamente sente no leite materno não se altera de acordo com a~ re-
excede as reservas de ferro da maioria das mulheres, até servas da mãe. No entanto, corno durante a ama mentação
mesmo em paíse desenvolvidos.6 a mulher usualmente não menstrua, a quantidade de ferro
Apesar de o ferro utilizado para expansão da massa exigida pela lactação aproxima- e daquela da perda mcn -
eritrocitária da mãe não representar perda real, tendo em tru.1l no período.
vista que, apó o parto, ele retorna ao estoque, a gestação Para o diagnóstico da anemia ferropriva, os critério que
constitui a causa mais comum de perda real das reservas devem ser utilizados ão:
de ferro da mulher em idade fértil. Cada gestação resulta Redução na hemoglobina, corno citado anterior-
cm perda média de 680 mg de ferro da mãe, o que equivale mente.
a 1.300 mi de sangue. O feto é capaz de obter o ferro de que Redução da ·aturação de tran ferrina para valores
nccc sita, independentemente das re ervas da mãe, pois a infcriorc a I '%, o que indica fornecimento ina-
quantidade revertida para ele é sim ilar em mães normais ou dequado de ferro para os eritrócitos e os te idos,
com ferropenia. e essa quantidades c tiverem baixas, ele sendo a manifestação morfológica de hi pocrornia e
irá adquiri-lo da destruição de critrócitos ou da absorção in- microcitose menos evidente na gravidez. Os níveis
tc tina I da mãe. Habitualmente, neonato de mãe com anc- de ferro circulante podem estar baixos e a capaci-
mia grave não sofre de anemia ferropriva, mas uas reservas dade total de ligação de ferro aumentada, me mo

Doenças Hematológicas 555


em grávidas sem deficiência, devido à alta captação Transfusão de concentrado de hemácias não deve ser
placentária, dificultando a interpretação. realizada para tratamento de anemia ferropriva, à exceção
Baixa concentração de ferritina sérica. Em geral, das pacientes com anemia grave provocada por hemorra-
níveis de ferritina inferiores a 30 mcg/ L são indica- gia e com repercussão hemodinâmica.
tivos de baixa reserva e níveis inferiores a 12 mcg/ L O Qpadro 35.3 mostra a equivalência das diferentes
são associados à anemia ferropriva. Em mulheres combinações de ferro.
com doenças inflamatórias ou infecciosas, a ferri-
tina pode estar falsamente elevada, não refletindo Quad ro 35.3 I Equivalência do ferro elemento com as
adequadamente as reservas de ferro. diversas formas de tratamento oral à base de ferro
M eclrc anwnto Dose (mg I Ferro elernent o I mu)
A alta capacidade de absorção de ferro é favorável ao
tratamento da anemia ferropriva com ferro oral em mu- Sulfato ferroso 150 30 I

lheres grávidas. Durante o tratamento, há mais absorção Fumarato ferroso 90 30 I

nas primeiras duas semanas e depois diminui. Por consen- Gluconato ferroso 250 30 I
so, a terapia com ferro oral deve ser a primeira opção de
tratamento no primeiro e no segundo trimestres. A cons-
tipação intestinal pode ser efeito colateral especialmente ANEM I A ASSOCIADA À DOENÇA CRÔNICA
problemático e, portanto, deve-se recomendar o aumento
gradual das doses até se atingir a dose preconizada. O au- D urante a gravidez, várias doenças crônicas podem
mento dos níveis de hemoglobina é equivalente em mu- causar anemia, sendo que as mais comumente encontra-
lheres em uso de ferro oral ou de ferro parenteral. Há limi- das são doenças renais, inflamatória intestinal, lúpus erite-
tada experiência com uso de ferro parenteral no pri meiro matoso sistémico, artrite reumatoide, infecções granulo-
trimestre em relação ao potencial teratogênico ou efeitos matosas, neoplasias malignas e quim ioterapia e infecção
tóxicos para o feto. pelo vírus H IV.
As principais recomendações para tratamento são: Nesses casos, a anemia tipicamente se intensifica com
Anemiajerropriva leve a moderada (hemoglobina entre a expansão do volume plasmático em desproporção à ex-
9,0 e 10,5 g/ dL): pansão da massa eritrocitária, mas raramente a concen-
- Uso de ferro oral no primeiro e no segundo tri- tração de hemoglobina é inferior a 7,0 g/dL. A morfologia
mestres, na dose de 160 a 200 mg/dia de ferro ele- celular não está significativamente alterada, mas pode ha-
mento, segui ndo-se as mesmas recomendações ver leve microcitose e hipocromia. A morfologia da medu-
da profilaxia, como admi nistração entre refeições la óssea não está alterada e, normalmente, a concentração
ou antes de dormir, preferencialmente como tera- sérica de ferro está di minuída, a capacidade total de ligação
pia isolada; na faixa da normalidade, o índice de saturação de transfer-
- Nas não respondedoras, isto é, se não há aumen- rina normal ou diminuído e os níveis de ferritina normais
to da hemoglobina para >10,0 g/ dL em duas se- ou au mentados.
manas, considerar uso de ferro parenteral se >14 Não há tratamento específico para anemia associada à
semanas de gestação; doença crôn ica, devendo-se manter a doença de base con-
- Qyando a hemoglobina atingir nível >10,5 g/ trolada. Deve-se manter a suplementação de ferro como
dL, a dose pode ser reduzida para 60 a 80 mg/ dia citado, para evitar-se agravamento da anemia por uma fer-
como terapia de manutenção. ropenia associada.
Anemiaferro privagrave (hemoglobina< 9,0 g/ dL): O trata mento com eritropoetina recombinante hu ma-
- Uso de ferro endovenoso e >14 semanas de ges- na tem sido usado com sucesso em anemias por doença
tação em doses separadas de 200 mg até hemoglo- renal crônica, doenças crônicas inflamatórias e doenças
bina >10,5 g/dL; malignas/ quimioterapia, mas os relatos de seu uso durante
-Terapia de manutenção com ferro oral. a gestação são limitados. Um efeito colateral preocupante é

556 Noções Práticas de Obstetrícia


a hipertensão arterial, endo de crito um ca o de descola- A placenta po ui significativo número de receptores
mento de placenta associado à hipertensão. de fol:l.to, que é ativamente tran portado para o Ícto de
modo tão eficaz que este tem estoques normai , mesmo
que,\ mãe apresente anemia grave. Essa demanda preferen-
ANEMIAPORPERDAAGUDADESANGUE cial de folato para o feto pode causar ou agravar a deficiên-
cia na mãe.
Em fa cs iniciais da gestação, as causas mais frequentes Quando a deficiência está presente, a grande maioria
são abortamentos, gravidez ectópica c mola hidatiformc. dos diagnóstico vai ser realizada no terceiro trimestre ou
Hemorragias por motivos obstétricos são encontradas logo após o parto. Isto porque os estoque adequados de
mai comumentc no pós-parto. foi ato uprem a carência por cerca de 20 semanas. A neces-
Hemorragias maciças com hipovolcmia demanda m ne- sidade cresce no decorrer da gestação, sendo que a maioria
cessidade de hemotransfusão. Q\Jando atingida a estabili- das dietas é insuficiente para suprir a demanda. Nem todas
dade clínica ou em anemias leves a moderadas, o tratamen- as pacientes com dosagem baixa de folato irão desenvolver
to com reposição de ferro deve ser iniciado e realizado de anemia megaloblá tica, mas a que a desenvolvem usual-
manei ra semel hante ao da anemia por deficiência de ferro. mente têm dosagens reduzidas no início da ge tação.
Gestantes com deficiência de folato praticamente não
apresentam intomas c a anemia tende a ter níveis de he-
DEFICIÊNCIA DE FOLATO moglobina entre 6,0 e 9,0 g/ dL no terceiro trimc tre e no
pós-parto imediato. À medida que a deficiência se acentua
A anemia macrocítica na gravidez é, usualmente, mcga- c, consequentemente, a anemia se agrava, podem surgi r
loblástica e, na maioria das vezes, resulta da deficiênci,\ de intoma como fraqueza, can aço, palpitaçõe , queilo e c
folato. Com exccção da desnu trição cm crianças, a gesta- glossite, manife tando- c leucopcnia c trombocitopenia.
ção com baixa ingc tão de folato é a cau a mais comum de A deficiência de folato está claramente a saciada a
anemia megaloblá tica no mundo. A incidência de medula defeito no tubo neural do feto c fe nda palatina, os quais
óssea megaloblástica ao final da gestação nos Estados Uni- surgem precocemente no desenvolver da ge tação, muito
do , anadá e Reino Unido é de aproximada mente 25%, ante de a anemia mcgaloblástica franca ser detectada na
mas a evolução para anemia no E tado Un ido é rara. a mãe. Outra con equência de sa deficiência :lo prematu-
f nd ia, pode chegar a 55%. A necessidade diária de foiato em ridade e possível aumento na incidência de de colamento
mulhcrc não grávidas é de 50 a 100 mcg/ dia e na gestação prematuro da placenta, sangramcnto uterino e baixo peso
e lactação há significativo aumento na demanda de fobto, ao nascimento. Nesse conte>:i:o, é recon hecida a hiper-ho-
usualmente > 400 mcg/dia, para crescimento do feto, pla- mocisteinernia folato-rc ponsiva como fato r de ri co para
centa, mamas e outros tecidos maternos. Estudos também mulheres com história de abortos recorrente .
mostram aumento do catabolismo de folato durante ages- O diagnóstico da deficiência depende, a princípio, d:1
tação como outra c,\usa de deficiência." 8 identificação de anemia megaloblástica. VCM au mentado
Os fatores de risco mais comuns são multiparidadc, ges- (> JOO fl), com macrócitos e neutrófilos h iper cgmcntado
tação na adolc cência c intervalos curto entre ucessivas no sangue periférico e baixa contagem reticulocitá ria po-
gestações. A deficiência de folato é oito vezes mais frequente dem ser suficiente , mas, na dúvida, deve-se realiza r um
cm gc tações gemela rcs c a causa ma is comum é o aumento mielograma. Posteriormente, deve- c disti nguir,\ deficiên-
de ua nccc idade as ociado à baixa ingestão, fato e te que cia de folato da deficiência de vitamina 8 12, com dosagem
independe da ela se ocial. Ela é u ualmente encontrada do níveis éricos. omo a anemia na gestação é frequen-
cm mulheres que não consomem verd uras frescas, legumes temente causada por carência de ferro, a deficiência combi-
ou proteína an imal; c o cozimento pode destru ir todo o nada de ferro e folato é a apresentação clín ica mais comum,
fol:\to prc ente no alimentos. O uso excessivo de álcool, o podendo, portanto, não haver macrocitosc ao hcmograma.
uso crônico de medicamentos anticonvulsivantes e hipere- A do c recomendada para ·uplcmentação profilática é
mcse gravfdica com vômitos e anorexia, durante a gestação, de 0,4 mg/ dia, e não mais que isto, já que doses superiores
ão também causas de deficiência de íolato. podem mascarar a anemia perniciosa devido à ausência

Doenças Hematológicas
557
de fato r intrínseco e de deficiência de vitamina B 12. Em deficiência, devido à redução d as concentrações sé ricas das
pacientes portadoras de outras doenças, principalmente transcobalam inas, q ue são as proteínas ca rreadoras. Aten-
anemia hemolítica crônica, essa suplementação pode ser tar para o fato de que algumas pacientes podem ter defici-
aumentada para l mg/dia. O regime de tratamento para ência conjunta de vitamina Bl 2 e folato.
a deficiência estabelecida é feito com reposição oral, sendo Se a deficiência de vitamina 812 for confirmada, o
que doses de l mg/ dia geralmente são suficientes. Doses tratamento é feito com terapia parenteral (intramuscu lar
mais altas profiláticas podem ser prejudiciais ao feto, não profundo), iniciando-se com doses de 1.000 mcg de ciano-
sendo recomendado seu uso. cobalamina ou hidroxicobalamina uma vez por semana,
durante oito semanas, e, a seguir, em intervalos mensais.

DEFICIÊNCIA DE VITAMINA Bl2


ANEMIA APLÁSTICA
A anem ia megaloblástica causada por deficiência de
vitamina B12 durante a gravidez é extremamente rara. A li- Na anem ia aplástica idiopática, a associação com gesta-
mentos de origem animal, como carnes e laticín ios, são as ção parece ser ocasional na grande maioria dos casos. No
únicas fontes naturais de vitamina B12 e, portanto, a defici- entanto, a própria gravidez tem sido citada como uma das
ência nutricional de vitamina Bl2 é mais comu mente vista prováveis causas da anemia aplástica, em relatos recentes
em vegetarianos estritos. A necessidade diária de vitam ina de mulheres com aplasia pura de série eritrocítica associa-
BJ 2 é de aproximadamente 2,0 mcg e, na gestação, esse nú- da à gestação, devido à melhora ou, até mesmo, desapare-
8
mero aumenta, mi nimamente, para 2,2 mcg/ dia. cimento do quadro após o parto. Houve relatos de anemia
A anemia perniciosa, em que a ausência de fato r intrín- a plástica grave diagnosticada no primeiro trimestre de ges-
seco gástrico leva à incapacidade de absorção da vitami na tação, com remissão espontânea parcial ou completa após
B 12, é doença autoimune incomum em mulheres em idade parto ou aborto; e de mulheres que desenvolveram a do-
fértil, já que seu inicio se dá tipicamente após os 40 anos ença cm gestações consecutivas, com intervalos liv res de
e, na deficiência grave, a infertilidade pode ser uma com- doença entre elas.
plicação. Em gestantes, é mais comumente encontrada A doença é caracterizada por pancitopenia grave e me-
deficiência de vitamina 812 após gastrectom ia parcial ou du la óssea hipocelu lar, com substituição gordurosa na his-
total. Outras causas são doença de Crohn, ressecção ileal e topatologia, sem evidência de transformação maligna ou
supercrescimento bacteriano no intestino delgado. doença m ieloprol ife rativa.
Quantidades m ín imas de vitamina B 12 são necessárias Nas aplasias, os mais altos riscos para a gestação, inde-
para o desenvolvimento fetal e os níveis são, usualmente, pendentemente da etiologia, são infecções e hemorragias,
mais altos nas crianças do q ue nas mães. E ntretanto, tem responsáveis por mais de 90% da mortalidade materna,
sido descrita síndrome em neonatos que mamam exclusi- o que exige acompanhamento rigoroso das pacientes. O
vamente no peito de mães com deficiência importante de abortamento é frequente e, assim como o parto, traz sério
vitam ina Bl 2, caracterizada por atraso no crescimento e risco para a gestante.
desenvolvimento e anemia, manifestando-se, usualmente, As pacientes com diagnóstico prévio à gestação pa-
aos seis meses de idade. Em mães com dieta vegetariana recem ter melhor resultado perinatal e sobrevida do que
estrita, pode ocorrer deficiência de vitami na B 12 em neo- aquelas diagnosticadas em qualquer época da gestação.
natos de gestantes assintomáticas. 1•3•7 A possibilidade de recuperação completa, ou pelo menos
O diagnóstico é realizado pelos achados de macrocito- parcial, após o parto deve ser considerada sempre que uma
se, pelo aumento do VCM, neutrófilos h ipersegmentados anemia aplástica é diagnosticada na gestação. A antecipa-
com medu la megaloblástica, semelhantem ente à defici- ção do parto está ind icada se o bem-estar materno não
ência de folato, assim como por sinais e sintomas clínicos. pode ser mantido com terapia de suporte.
Faz-se, portanto, a determi nação dos níveis séricos de vi- O tratamento na gestação emprega modalid ades dife-
tam ina Bl2, salientando-se que os níveis de vitam ina B l 2 rentes das usadas em pacientes não grávidas. O transplante
podem estar d iminuídos durante a gravidez normal, sem de m edula óssea, que é o tratamento de escolh a para pa-

ssB Noções Práticas de Obstetrícia


ciente portadores de anemia apHstica, c tá contraindi- Q uadro 35.41 Frequência da diferentes hcmoglobino-
cado, a im como o uso de med icamentos androgênicos, patias no c tado de Mim Gerais
principalmente em mulheres grávidas de feto femininos. Ht!IIHHJio IJ 111 o pat 1a AIJI!!VI cl \ lllil Flt!(jlH!I lCI(I

Para o u o de globulina antitimocítica, não existem estu-


Traço Falciforme HbAS 1:30
do · suficientes. J
Pode- e fazer u o de cortico teroide a partir do pnmei- Anemia Falciforme
--
HbSS 1:2.581
J
ro trimestre, porém .1ltas dose podem induzir rc posta Doença se HbSC 1:3.357
cm uma pequena proporção de pacientes, mas associado a
Doença da hemoglobina C HbCC Desconhecida
grande quantidade de efeito colaterai .'A
Qualquer que ep a opção terapêutica, o ma1 impor- Traço da hemoglobina C HbAC 1:77
tante é o uso de medida de suporte adequada. A anemia Hemoglobinopatia HbS-Jl-Tal Desconhecida
grave pode levar à rc trição do cre cimento e morte fetal. A S-P-Talassemia
diminuição de plaquetas c leucócito conduz a alto ri co de Fonte NUPAD - Núcleo de Pesquisas em Apoto Dtagnósuco da Faculdade
hemorragias c infecções. Recomenda-se manter os níveis de Med1c1na da UFMG

de hemoglobina > 8,0 g/ dL para melhor:1 r a oxigenação fe-


tal e níveis de plaqueta >20.000/ mm3. A via de parto pre· O diagnóstico de certeza d:1 existência de hcmoglo-
ferida é a vaginal, por apresentar menos risco de infecção c bi nopati:l é realizado pela eletroforese de hemoglobina
hemorragia. (Quadro 35.5).

HEMOGLOBINOPATIAS Q uadro 35.5 I Padrão clct roforético da hemoglobina


n:1 hcmoglobinopatia
As hemoglobinopatias são doença resultantes de al-
tcr:lçõe estruturai , funciona is ou quantitati va na pro-
dução da hemoglobina. A anemia é, em geral, normocítica
e normocrõmica. Os níveis de hemoglobina tendem a er
ma i· baixo na hemoglobinopatia S. as ta lassem ias, o ss
V Me o HCM podem c tar discretamente diminuídos e
os níveis de hemoglobina podem estar próximos da nor-
se 40-45 50-60 2-3
malidade. la hcmatoscopia, podem cr identificados drc- S-P-Tal 55-80 o 2-3 3-10
panócitos (Hb c Hb ) ou hemkia cm alvo (HbCC
c t:1lasscmia ). O Qpad ro 35.4 apresenta a frequência das
diver a hcmoglobinop:1tia , com ba c nos dados da tria- COM I'l.ICAÇÕJ-:S
gem nconatal na população de Mi na Gerai .
Em pacientes portador:1 de hcmoglobinop:1ti:1 ~ exi te
risco aumentado de complicações durante a grav1de1, com
HEMOGLOB I NOPAT I AS SS, SC OU altas taxas de morbimort:1lidade para a mãe c para o feto.
S - BETA-TALASSEM I A o entanto, es c ri co não é tão alto que justifique a inter-
rupção da gravidez.
Paciente portadora de anemia falei forme não são pro- As complicações são mais frequentes na port:1dor:1s
pri:lmente infértcis, mas :1presentam puberdade rct:1rd:~d:1, de hcmoglobi nop:1tia ·, cndo mcno comu ns n:1 hcmo-
com a primei ra gestação ocorrendo, usualmente, em idade globinopatia se e na 5-bcta-talasscm ia.
rnai avançada. Problema ginecológico como atra o na A complicações fctai , relacionadas ao fluxo sanguí-
mcnarca, di menorre1a, ovário policí ticos, infccçõe pél- neo placentário comprometido, incluem aumento da mci-
vicas c doença fibrocística das mama ão mais comuns cm dência de abortamento c pontãnco, crescimento intrautc-
portadora de anemm falei forme. rino restrito, parto pré-termo, baixo peso ao n:1scimento c

Doenças Hematolôgicas
559
morte. A história de morte perinatal em gestação prévia ou os episódios de cefaleia, pois podem ser pród romos
gestação gemelar são fatores de risco frequentemente asso- de eventos do SNC;
ciados a resultado desfavorável. Sequestro esplênico: é caracterizado pela diminuição
As complicações maternas incluem aumento dos epi- da concentração de hemoglobina~ 2 g/ dL, compa-
sódios de crises dolorosas, das infecções (trato uriná rio, rada ao valor basal, aumento de eritropoiese e esple-
pneumonia, endometrites), anemia progressiva grave de- nomegalia. D eve-se realizar exame físico no perío-
vido à gestação em si ou deficiência de ferro ou de folato do pré-parto para documentar-se a esplenomegal ia.
associadas, pré-eclâmpsia e morte. A crise de sequestro esplênico resulta em alto risco
As complicações da gestação relacionadas às doenças para mãe e fe to e deve ser tratada imediatamente
falcitormes mais frequentes são: com transfusões.
Episódios dolorosos: há aumento da frequência das
crises dolorosas durante a gestação, que exige trata-
mento adequado. D eve-se evitar tratar a crise álgi- ALTERAÇÕES DA PLACEN TA
ca com transfusão, mas naquelas situações em que
a dor não melhorar com hidratação e analgésicos, A placenta de pacientes portadoras de hemoglobinopa-
a terapia transfusional pode ser utilizada. É impor- tias é anormal, em tama nho e localização, com peso méd io
tante o diagnóstico diferencial da crise álgica provo- menor que o de gestações normais, devido, provavelmente,
cada pela doença falciforme com gravidez ectópica, ao baixo fluxo sanguíneo e oxigenação.
descolamento prematuro da placenta, pielonefrite,
apendicite, colecistite e outras situações que causem
dor e/ou anemia; ABORTAMENTO
Anemia: há piora da anemia, que está relacionada
possivelmente a perda sanguínea, hemodiluição, su- Nas pacientes portadoras de hemoglobinop atias, as
pressão da medula óssea por infecção ou infla mação, taxas de abortamento são aparentemente mais elevadas,
deficiência de vitam inas e de ferro e crise aplástica; mas, em alguns casos, são sim ilares às da população nor-
Infecções: ocorrem em aproximadamente m eta- mal. Sua etiologia é descon hecida, provavelmente devido
de das pacientes e os principais sítios são os tratos a danos na microvascul atura útero-placentária. É descrita
urinário e respiratório . A bacteriúria assintomática elevada incidência de episódios dolorosos agudos após
deve ser tratada, pelo aumento da incidência de pre- abortamento terapêutico, sendo indicada hid ratação en-
maturidade e baixo peso ao nascimento. Infecções dovenosa antes e por mais 24 horas após o procedimento.
menos frequentes são endometrite, hepatite, bacte-
remia transitória, osteomielite e colescistite aguda;
Síndrome torácica aguda (S TA): pode surgir, sendo CRESCIMENTO I NTRAUT ERI NO R ESTRITO (CIUR)
diagnóstico diferencial importante com insu fici-
ência cardíaca congestiva ou pneumonia e pode O C JUR é mu ito frequente na hemoglobi nopatia SS,
ocorrer por piora da anemia. C linicamente, a STA mas não necessariamente na hemoglobinopatia se e na$-
é mais grave que a pneumonia, com aparecimento -beta-talassemia. Vá rios eventos estão relacionados, mas os
multilobar, hipóxia intensa e rápida evolução; fatores mais importantes são hipóxia e desnutrição. A h ipó-
Doença renal: hipertensão arterial crónica e pré- xia ocorre devido à anemia, que leva à baixa quantidade de
-eclâmpsia podem potencializar doença renal pre- oxigénio na placenta - reduzi ndo o transporte de substra-
existente; tos para o feto - e a episódios freq uentes de vaso-oclusão,
Sistema nervoso central (SNC): é importante docu- que levam à hipoperfusão. O estado clín ico-nutricional da
mentar passado de convulsões ou eventos do SNC. mãe influencia, já que o ganho de peso do feto depende do
Na vigência de crises convulsivas, deve-se pensar peso materno inicial e do gan ho ponderai durante a gesta-
em trombose, hemorragia, hipoxemia, excesso de ção. Pode haver também efeito do uso de medicamentos,
narcóticos e eclâmpsia. M onitorar cuidadosamente álcool, tabaco e analgésicos na rcóticos (Q uadro 35.6).

s6o Noções Prát icas de Obst etricia


Quad ro 35.6 I Fatores que contribuem para ClUR na Q uad ro 35.7 I Fatore que contribuem para o parto
doença falciforme pré-termo em paciente com doença faleiforme
Assocrddos d doPrlca talclforme R!~ldCIOildclos il clo!~I1Cd fdlcrtorrlH:

Anemia grave
Doer1Ç,l plc~centélllél

Pré-eclampsia
Gemelaridade
IPlacenta prévia
Insuficiência placentária
Assoe rd c i:HJ d CiPS ta c ao

Pré-eclêmpsia Uso de substancias qufmicas


Gemelaridade trabagismo
Assocrdclos d rrl.tC Analgésicos narcóticos
Nutrição materna
Peso prévio à gestação (lndice de Massa Corporal < 19) Co o TA
Ganho de peso inadequado durante a gestação
Tabagismo A gestante portadora de doença fa lciforme deve ser
imediatamente encaminhada para atendimento em servi-
Narcóticos
ço especializado de pré-natal de alto risco. a pri meira con-
sulta, deve-se colher história clínica detalhada, com atenção
ão existe terapêutica específica para prevenção de para fatos que podem influenciar na evolução da gestação,
crescimento intrauterino restrito. Alguns especialistas re- como o passado obstétrico, doença renal, dependência quí-
comendam tran fusões profi lática . Entreta nto, grande e - mica, hipertensão arterial crônica, uso excessivo de analgé-
tudo controlado mostrou que, ape ar dos sintoma da mãe ico narcóticos, álcool e tabagismo. A melhora dos resulta-
di minuírem, não há mel hora em relação ao feto. dos maternos e fetais nos últimos anos e deve a acentuado
aumento nos cuidados antenatais e obstétricos?
Deve-se realizar acon elhamento específico cm relação
MORTALIO OE P ER I ATAL a fatores de impacto para a ge tação, como demanda nutri-
cional e suplementação vitamínica. O u o de ácido fálico é
A mortalidade perinatal é bastante aumentada na he- mandatório e deve ser ad ministrado na dose de 1 mg/ dia.
moglobinopatia SS, com mortalidade fetal e nconatal entre Dieta hipercalórica e hiperproteica deve ser con iderada.
20 e 50% e também alta mortalidade materna. Houve re- Orientara paciente a manter boa hidratação oral c a observar
dução acentuada nos últimos ano , possivelmente devido sintomas como cefuleia, edema, dor no quadrante superior
à melhora nos cuidado pré-natai e neonatais. Verifica-se direito, escotomas, câimbras e pressão no abdome inferior.
menos mortalidade peri natal na hemoglobinopatia e se
na S-beta-tala semia que, no entanto, é mais alta que na CUI/ >A/)()Ç D URA ,\ 'TF o f>Rt NATAl
população normal. Deve-se monitorar a pressão arterial, o ganho de peso
Mães com HbSS podem ter elevado número de par- e os indicadores de pré-eclâmpsia, com visitas emanai
tos pré-termo (Quadro 35.7). O uso profilático de trans- ou quinzenais. o segundo e terceiro trimestres, repeti r
fusões não tem demonstrado eficácia na redução da pre- hemograma completo e contagem de reticulócitos, urina
maturidade. rotina e urocultura. t fundamental a monitoração fetal

Doenças Hematológicas
com útero-fita e ultrassonografia seriada, para avaliar o de hemoglobina acima de 20% do nível basal da paciente e
crescimento fetal. A partir de 26 semanas, é necessário níveis inferiores a 5,0 g/ dL ou hematócrito inferior a I 5%.
realizar ultrassonografia com dopplervelocimet ria do cor- Nessas situações, o objetivo é manter a hemoglobina en-
dão umbilical, para avaliar o fluxo sanguíneo útero-pla- tre 8 g e IO g/ dL e o hematócrito em torno de 25%. Se a
centário e o perfil biofísico fetal, com intervalos semanais hemoglobina está entre 8,0 e I 0,0 gl dL e a transfusão está
ou quinzenais (Qpadro 35.8). A suplementação de ferro indicada por uma dessas razões ou existe algum risco de so-
elemento fica restrita às pacientes com ferritina baixa.10 brecarga cardíaca, a exsanguineotransfusão parcial deve ser
realizada (p.ex. sangria de 400 a SOO mi e transfusão de duas
Quadro 35.8J Abordagem inicial da gestante com hemo- unidades de concentrado de hemácias). Como já citado, o
globinopatia sangue deve sempre ser deleucotizado e fenotipado.9•11
HistOria clfnica (anamnese)
CUIDADOS NO PA RI'O
Exame ffsico detalhado
Durante o parto, nas gestantes portadoras de ane-
Estudo laboratorial: hemograma completo, contagem de mia crônica, há aumento do padrão hi perdinâmico da
reticuiOcitos. eletroforese da hemoglobina, cinética de
ferro. bilirrubinas e função renal, ácido úrico e sorologias anemia, com incremento do débito cardíaco pelas con-
trações, sendo que a função cardíaca é frequentemente
lmunofenotipagem eritrocitária para pacientes que reque-
comprometida. Complicações como pré-eclâmpsia e
rem transfusões
infecções podem au mentar o risco de insuficiência ven-
Ultrassonografia para avaliar idade gestacional e gestação tricular. Os cuidados principais são:
múltipla
Uso mais libera l dos analgésicos: a mulher deve
ser ma ntida confortável, mas não excessivamen-
As gestantes portadoras de hemoglobinopatia SC te sedada;
e S- beta talassemias, mesmo assi ntomáticas, devem ser anestesia peridural;
tratadas como as pacientes com hemoglobinopatia SS. manter boa ox igenação, avaliando-a continua-
mente com oximetria de pulso e repondo volume;
TR ANSrusõl ~ ·ANGUfNEAS monitoração fetal contínua, pois é comum ocor-
A maior dúvida no cuidado à grávida portadora de do- rer insuficiência placentária;
ença faleiforme tem sido a transfusão de sangue. Há mais a cesariana deve ser realizada somente por indi-
de três décadas, foi sugerido que a exsanguineotransfusão cações obstétricas, já que a via de parto não pa-
deveria ser usada para prevenir complicações, mas até rece representar problema. Tanto o parto normal
o presente momento a eficácia real não foi determinada. quanto a cesariana são bem tolerados.
Os resultados apresentados nos estudos são controversos,
pois a maioria dos protocolos inclui pacientes diferentes Cu 1n11 nos NO /\'1<:.-PA Rro
(HbSS, HbSC, S-beta-talassemia) e a transfusão é rea- Os principais cuidados sugeridos no pós-parto são:
lizada em diferentes tempos da gestação. Não existem Não usar heparina em baixas doses: prevenir
evidências se a melhora obtida deve-se à transfusão ou à tromboembolismo, com o uso de meias elásticas,
melhoria dos cuidados pré-natais, mas complicações rela- e deambulação precoce;
cionadas à transfusão, como aloimunização, precipitação evitar piora da anemia por perda sanguínea;
de crises dolorosas e transmissão de infecções levam à re- fazer hidratação adequada;
avaliação do seu uso profilático. A transfusão sanguínea realizar investigação neonatal para hemoglobinopatias.
profilática deve ser individua lizada e, quando necessá ria,
o sangue deve ser deleucotizado (ou lavado) e fenotipado.
A terapia transfusio nal é indicada para pacientes com TALASSEM IAS
pré-eclâmpsia, gravidez gemelar, morte perinatal prévia, sín-
drome torácica aguda, insuficiência renal aguda, bacteremia, Essas hemoglobinopatias são caracterizadas por com-
eventos no SNC, cirurgia ou angiografia, queda dos níveis prometimento da produção de uma ou ma is cadeias de glo-

562 N oções Práticas de Obstetrícia


bina normal. A taxa anormai de íntesc, determinadas te leve ou au ente. A evolução da gc taç.:i.o é emclhante à
genetica mente, podem resultar em crit ropoiese ineficaz, da população normal. O screemng genético pré-natal é fun-
hemóh c e graus vanáveis de anemia. A mcidência de talas- damental para men urar- c o risco de doe nça da hemoglo-
cm ias cm todas suas forma e em todas as raças é de I em bina Bart, pois ne ta exi te elevado ri co de complicaçõe
~oo a SOO gc~taçõc .14 9 ob tétricas como pré-eclãmpsia, polidrã mnio c retenção
A cxpansao do volume plasmático se dá de forma nor- de plJcenta.
mal. ma há di creta redução na expan ão da ma a eri- Em mulhere portadora de doençJ da hemoglobina
trocit,\ ria. A incidência de crescimento fetal restrito c oli- H, a gestação também é bem tolerada, mas pode haver
goidràmnio e~tá aumentada cm duas vezes cm mul heres exacerbação aguda da anemia crônica, com os níveis de
.1fetada . hemoglobina da mãe chegando a 6,0 g/ d L, com nece i-
d.tde de hemotransfusõe . A incidência de pré-eclâmpsia
e de prematu ridade é aumentada, a sim como o risco de
in uficiência cardíaca congestiva.
O tratamento durante a gc ta ão é prima riamente pre-
O diagnó tico das forma inter111édia c 111ajor é, usual- ventivo e suportivo, com avaliação dos índices hcmatológi-
mente, feito na infància. As pacientes com a forma llltnor cos basai , obrecarga de ferro, função ardíaca c hepática,
ão, geralmente, a tntomática c o diagnó tico deve em- colclitía e e e plenomcgalia, alerta ndo-se para a possibi-
prc ser pensado n.1quelas com índices hemati métri o lidade de hiperesplenismo e crise aplá tica. Evitar uso de
uge tivo de anemia ferropriva (hemoglobina c VCM medicamentos oxida nte , além do pronto tratamento de in-
diminuídos), ma com cinética de ferro normal. A eletro- fecções. A uplementação com ácido fóli o é re omendada
forcsc de hemoglobina mostra clcvJção da Hb A2 (>4%). c a com ferro somente se a deficiência esti ver documentada.
Esplenomegalia leve pode ser encontrada.
,1 tala cmia 111ajor; a mulhere que obrcvivcm além
da infância, gerJlmcnte, são inférteis. Embora a gravidez scp ANEMIAS HEMOLÍTICAS
rara, toram con tatada alguma bcm-sucedidas, pois .1 tera-
pia tran fusional agre siva c a quelação de ferro mel horaram As anem ia hemolítica ão caracterizadal. por aumen-
a expectativa de vida des as pacientes e sua fertilidade. to da destruição eritrocitária. Essa hemólise prematura
as tab cm1.1 intermédia c 111mor, não há tratamento ocorre, u ual mcnte, devido a defeito intrín eco do critró-
e pccífico durante a gravidez, sendo recomendada apenas cito ou pela ação de fator cxtrín eco ou ambiental. 14 1! O
suplcmentação com ácido fólico na dose de I mg/dia (do e · Quadro 3-.9 mo tra a anemia hemolítica mais comuns.
mai alta podem cr considerada ). A suplementação de fer-
ro deve er feita somente para paciente com anemia ferropri-
va comprovada. Na maioria das vezes, as evoluções da mãe c ESFEROCITOSE HEREDITÁRIA
do feto ão satisfatórias. A nece sidade tra n ·fusional é baixa.
O aconselhamento genético é um importa nte aspecto A csfcrocitosc é cl inicamente car.Kterizada por divcr-
do atendi mento de pré-natal a c ses paciente , endo que o grau de hemóli e om anemia, icterícia intermitente,
o screenmg do parcei ro com hemograma e eletroforesc de csplenomega Iia e, ocasionalmen te, colclitíase. A nem ia per-
hcmoglobma deve l>er feito para avaliar- c o ri co de o feto \i tente e cri c aplástica podem ocorrer. O diagnó tico é
ser portador de talassemia. A investiga .io adequada pré- confi rmado pela pre cnça de e feró 1to no sangue peri-
-concepçao está altamente indicada. férico, reticulocitose e por au mento ela fragi lidade osmó-
tica do eritrócito. a fa cs finais da gravidez, pode haver
aumento natu ral da fragil idade critroci tária, dificultando
TALA.,~I'M I A ALFA o diagnóstico de certeza. A c ferocito e, u ualmente, é de
etiologia autossàmica dominante.12
A gestação é bem tolerada em portadoras de Foram de crito ca os de c fero 1to e na grav1dez com
a-talassemia-I c a-talassemia-2, cndo a anemia geralmen- boa evolução. Parece haver mais incidência de perda fe-

Doenças Hematológicas
tal no primeiro trimestre. As necessidades de folato estão A gravidez em mulheres portadoras de deficiência de
aumentadas dev ido à dema nda da gravidez, sendo neces- piruvato-quinase é relativamente bem-tolerada, mas, em
sária a reposição com I mg/dia. As infecções devem ser algu ns casos, o estresse gerado pela gestação pode ativar
detectadas c rigorosamente tratadas. Em algu ns casos foi episódios de hemólise.
reportada aplasia de série critrocítica concomitantemente
à infecção pelo parvovírus Bl9.
D EFI C IÊNCIA DE GLICOSE-6 FOSFATO
DESIDROGENASE (G6PD)
Quadro 35.91 Anemias hemolíticas mais frequentes na
gravidez A deficiência de G6PD é das mais comuns alterações
Anem1as Hemolltlcas Herecl1tar1as metabólicas do eritrócito, sendo que ·uas manifestações
Anormalidades da membrana eritrocitária clínicas estão associadas à anemia hemolítica episódica.
Geral mente, a hemólise intr:.wascular ocorre após exposi-
Esferocitose hereditária
ção a certos medicamentos oxidativos ou após ingestão de
Deficiências enzimáticas determinados alimentos. Várias infecções, principal mente
Deficiência de piruvato-quinase as pneumonias, são associadas à hcmólisc aguda. O grau
Deficiência de G6PD de hemólise varia de quedas discretas da hemoglobina a
Anem1as Hemolltlcâs Aclqu1rllléls processo hemolftico grave com hemoglobinemiJ, hemo-
globinúria e icterícia.I.4•12
Anemias hemolfticas microangiopáticas
Na gravidez, a deficiência de G6PD está a ociada a
Pré-eclampsia - sfndrome HELLP efeitos va riados. Tem sido verificado aumento dos episó-
Sfndrome hemolftico-urêmica dios de bacteriúria assi ntomática, das taxas de abortamen-
Hemoglobinúria paroxfstica noturna tos espontâneos, dos natimortos e dos recém-nascidos de
Anemia hemolrtica autoimune (AHAI) baixo peso com icterícia neonatal.

Agentes físicos: injúria térmica


Valvas cardfacas protéticas ANEMIA HEMOLÍTICA MICROANGIOPÁTICA

A anemia hemolítica microangiopática é caracterizada


Qu:~ndo o feto herda a esferocitose, a icterícia pode ser por achados de hemólise intravascular com fragmentação
mais intensa, demandando a realização de ex anguinco- eritrocitária, além de trombocitopenia e le ões trombóti-
transfu ão. t importante o diagnóstico diferencial com cas vascula res. O utras características são teste de Coombs
isoimunização ou incompatibilidade AB0. 12 negativo, hemoglobinemia, hemoglobinúria c ausência de
haptoglobinas. Pré-eclâmpsia, índromc H ELLP, anemia
hemolítico-urêmica e púrpu ra trombocitopên icJ-trom-
DEFICIÊNCIA DE PIRUVATO-QUINASE bótica são as doenças que mais comumente originam esse
tipo de anemia. 1412
É a deficiência que mais comumcnte causa anemia he-
molítica, sendo herd:~da de forma autossôm ica recessiv:~.
uas manifc tações clínicas são muito variáveis, indo de H EMOGLOBI N Ú RIA PAROXÍSTICA
grave icterícia neonatal, que req uer múltiplas exsanguinco- NOTURNA (HPN)
transfusões, a prece so hemolitico total mente compen a-
do. A anemia é, frequentemente, associada à csplenomcg,\- Trata-se de doença hemolítica adquirida, de origem
lia c bem-tolerada devido ao desvio para a di reita na curva clonai, que resulta em episódio de hemólisc intravascular
de dissociação hcmoglobina-oxigênio. Tem-se verificado aguda ou crônica e, apesa r de defi nida como um tipo Jc
hidropisia fetal recorrente em homozigotos.1A·12 anemia hemolítica, ela é uma desordem da célula-tronco

Noções Práticas de Obstetrícia


hematopoiética, com formação de plaquetas, granulócitos e por hemólise grave no início da gravidez e que de aparece
eritrócitos deficientes, com variáveis grau · de pancitopenia. somente meses apó o parto.
O defeito clonai leva à produção de uma proteína âncora Praticamente todos os anticorpos frios são lgM e, por-
anormal da membrana de granulócitos e eritrócito , o que tanto, não atrave sam a placenta. Já o anticorpo quente
deixa a célula u ceptívei à li se por complementoL4.12 são lgG mediados, podendo atrave sara placenta e destruir
A hemoglobinúria é in idio a e pode não e ta r presente hemácias do feto. Causas como LES, Icucemias c li nfomas
e, na doença crônica, são comuns episódios de trombo- devem ser investigadas. Quando presente no neonato, a he-
se venosa, e pecialmentc da veia hepática (síndrome de mólise é usualmente leve.
Budd-Chiari). Cerca de 40% das pacientes apresentam O tratamento inicial para pacientes com AH AI por
trombose, assim como disfunção renal e hipertensão. anticorpos quentes deve ser feito com corticoide (pred-
O grau de fertilidade de sas pacientes parece er baixo nisona l mg/ kg/ dia ou equi valente), com resposta ent re
e ex i tem pouco casos na literatura de gravidez associada à cinco e lO dia de tratamento. Para pacientes gravemente
H PN. A suplcmcntação com ácido fólico é importante de- anêmicas, pode ser neces ária a tran. fusão anguínea, ma
vido ao aumento da eritropoiese. O u o de cortico teroides que é complicada pela existência de anticorpos antieritró-
pode aj udar a di rn inlll r o grau de hemól i e durante a fa c citos circulante .
aguda. Recomenda-se a anticoagulação plena durante todo
o puerpério, por causa do aumento da incidência de fenô-
menos trombóticos. Há relatos de taxa de mortalidade ma- NEOP LASIAS HEMATOLÓGICAS
terna de 10% e incidência de trom bose pós-parto de 50%.
Ou o do anticorpo monoclonal eculizumab (Sol iri ®) Doenças hematológicas mal ignas, como um grupo,
inibe a ativ:tção do complemento, reduzindo a hemólise repre enta m 2 ' % dos cânceres que complicam a gestação,
intravascular, estabil iza ndo a hemoglobina e minorando estando atrás somente dos carcinomas da mama (26%) e
o efeito tromboembólico e a neces idade transfusional, do colo uteri no (26%). Não é comum a associação de leu-
com melhora na qualidade de vida dos pacientes. Existe cemias e linfomas com a gravidez e, portanto, as neoplasias
apenas um caso na literatura sobre a ad ministração de ecu- hematológicas representam um desafio para o obstetra e o
lizumab em mulher no terceiro trimestre gestacional com hematologi ta, já que nenhu m profissional, isoladamente,
boa evolução, mas estudos adicionais são necessários, prin- tem experiência suficiente para er considerado especialis-
cipalmente para uso em fases mais precoce da gestação. ta. A ocorrência rara e a apresentação súbita dessas doenças
levam à demora no diagnóstico, além do fato de que .tlgu-
mas alteraçõe típicas da gestação podem mascarar deter-
ANEMIA HEMOLÍTICA AUTOIMUNE minadas anormalidades labora toriais.1•4•11·14
(AHAI) O maior desafio tem sido determ inar o trata mento,
sendo o balanço entre toxicidade e efeti vidade terapêutica
A A H AI é causada por anticorpos quentes ou frios, o fator m.tis importa nte no manuseio dessas pacientes. O
produzidos pelo sistema imu ne, de causa desconhecida. ob tetra tem também importante papel no aconsel hamen-
O diagnóstico é confirmado pelo teste de Coombs di reto to à paciente c à sua fa mília em relação à definição do me-
po itivo, e ferocito e cm sangue periférico e reticulocito- lhor momento para in iciar a terapêutica e pa ra defi ni r a via
se. Pode er primária {idiopática) ou ecundária a doenças para o parto. O ri co do uso de medicamentos citostáticos
como linfomas, leucemias, infecções, doenças do tecido para o feto se divide em: efeitos imediatos teratogcnicos e
conjuntivo, doença in flamatórias crôn icas ou induzidas abortamentos; efeitos tardios, menos conhecidos, como os
por drogas. A doença por anticorpos frios pode ser indu- problema de crescimento e de envolvimento, as altera-
zida por infecção por Mycoplasma pneumoniae ou mononu- ções gonadais c outros problemas endócri nas, o envolvi-
cleose infecciosa.'-412 mento do SNC e alterações genéticas e teratogênicas em
MuI heres com A H A!, geralmente, apre cntam :tu men- futura gerações, além de imuno supre ão.
to importante da hcmólise du rante a gravidez. Pode haver Efeito teratogênico e abortivo tem sido demon trado
também A HAI induzida pela gravidez, que se caracteriza em todos o medicamentos citostáticos e, portanto, muitos

Doenças Hematológicas
autorc contraindicam eu u o no primeiro trimc trc. Já grávida com LH estavam em estágio precoces (c tádio
no egundo e terceiro tri mestres, a quimioterapia não leva 1- 11), com sobrevida de 83% em oito anos.
à maior incidên ia de anomalias cm rela ão às gestações
norma i!.. A tox1 1dadc, tardia, devido ao pequeno número
de observações, é mcno conhecida. Estudo mostra m não LI fOMAS AO HODG h.l (L 11)
haver alterações no crc ,cimento c no dc~envolvimento
intelectual dessas crianças, mas o potencial eleito carci- Os LN Hs são um grupo hetcrog<:neo de doenças ma-
nogênico dcs cs medicamentos ainda deve ser elu idado. lignas do tecido linforrcticular, com origem de células B ou
e possível, o parto deve cr programado para duas a tres T, de etiologia ainda não claramente dcfinid,\ c que diferem
emana após quimioterapia, para evitar- e o ri co de mie- 11<1 apre cntação, estágio ao diagnó tico e prognó t1co. Al-
lo upre~ ão neonatal. guns têm cu r o indolente c outros ão tumores agressivos,
de evolução rápida. ta ge tação, c cm pac1cntc .1baixo de
- ano , parece haver número de proporCional de fenóti-
LINFOMAS pos T ou indeterminado. A incidência cstim.1d.\ durante a
gestação é de O, ca os em 100.000 mulhcrc . A maJoria
Pouco ca o de linfoma e gravidez foram regi trados das pacientes (66%) tem linfadenomegalia e :~penas 20%
na literatura, mas o li nfoma não altera o curso da gravidez. apresentam sintomas.
A terapia deve cr baseada no e tadiamento, tipo h i tológi- De modo geral, mulheres com diagnóstiCO no terceiro
co c tempo de gestação ao diagnóstico. tri mestre da gestação e aquelas em estágio micial tendem
Linfomas de baixo grau podem scrobserv,tdos até o par- a ter melhor prognó tico, ma , infeli'lmente, a maioria das
to. Para os linfomas de grau intermediário ou de alto gr:~u gestantes vai ter doença agressiva, isto é, de .tlto grau e em
diagnosticados no pri meiro trimestre, deve-se considcrc~r a estágio· avançados c, portanto a quimioter,tpia não deve
rcaliz.tção de aborto terapêutico, a não cr que o linfoma se !>e r adiada. Após o pri mei ro tri mestre, a intcrru pç.io da ges-
localize J ima do diafragma, quando pode ser realiz:tda a tação não é indicada para benefício da mãe.
radioterapia de ca mpo, acompanhada de e va7iamento ab- Outro ri co potencial é a transmi ão materno-fetal de
dominal. Quimioterapia combinada pode cr admini tra- célula maligna da mãe, sendo que existem casos de mc-
da, com l>UCc~ o, no egundo e terceiro trimcstrcs.14 tást,\Se para placenta, para o feto ou para ambo , estando,
então, recomendados estudo anatomopatológico da pla-
centa c segmento neonatal apropriado.
LI NI-01\ IA'> DE HODGKI~ (LH)

A doença de Hodgkin é neoplasia que se origina no LEUCEMIAS


linfonodos c de etiologia provavelmente mult1f.1torial, de-
vido à predi posição genética e fatores ambicnt,tis (basea- As leucemias ão um grupo hctcrogêneo de doenç:t
do no achado do O A do vírus Ep tei n-Barr cm mai de malignas derivada de alteraç.io gcnéti a clonai de genitorc
-o"b das b1 psias). Ela é subclassificada de acordo com os mieloidcsoulinfoidcs da medula óssea c, 11.1 gcstaç.lo, a maio-
achados histológicos, sendo o subtipo c clcrosc nodular o ria delas é ela si ficada como aguda. A ma nitest.l õcs clínica
ma i encontrado na gravidez. A idade média de d1agnó ti- não ão específicas e as pacientes podem apresentar fadiga,
co entre mulhere grávidas e não grávidas é de 25,5 anos. dispneia, falta de energia, entre outra . 1 a leucemias agu-
Ela rcprc cnta 51'\> da neoplasias maligna hcmatológica das, a infiltrJção medular leva à uprc ão d:1 hcmatopoic c
que comph ama ge tação e é o qua rto tipo de câncer mais normal, com o aparecimento de pancitopenia progre siva e
comum encontrado dura nte esse período. ri co de angramento e/ ou infecções rc orrentc . Para diag-
A gcstaçao cm 1 não parece afetar o e tadiamcnto ao nóstico adequ:1do, é c sencial a realização de a piração de
diagnóstico, a resposta à terapia e as taxas de sobrevida medula óssea para exames morfológico , 1munoícnotípico c
global c, obrctudo, a interrupção da ge tação não parece citogenético . A incidência na gestação é de conhecida, mas
melhorar o quadro da mãe. Cerca de 70% das pacientes estima-se que esteja entre 1/75.000 e I/ I 00.000 gcstações.14

566 Noções Práticas de Obst etrícia


LEUCL ~ 11 <;AGUDA re u ltados de obrevida, c te pa ou a er hoje a opção te ra-
pêutica de primeira linha contra c ·sa doença. eu uso du-
Não há evidências de que a gravidez influencie a his- rante a gesta ão não era recomendado, devido ao risco po-
tória natural da leucemia aguda , exi tindo con en o de tencial para o feto, mas, recentemente, têm sido publicados
que o~ efeitos no resultado ·ão devidos ao atraso no trata- estudos com o uso de imatinib na gravidez e no aleita men-
mento adequado por alguma emana , endo que a indu- to, ~ugcrindo que é seguro, apesar do cícitm d.1 exposição
ção da remissão, as im como na popul.1ção não gcst.u1tc, crônica da droga 3 criança serem ainda de conhecido ·.
deve ser o primeiro objetivo do tratamento. Apesar do limitado nú mero de ca os, sugere-se o uso dessa
Como cm pacientes não gestantes, o tratamento upor- droga durante o segundo c terceiro trimestre e dur.mtc
tivo é e· encial. O objctivo incluem manter plaqueta en- o aleitamento -, desde que o ca o cja m ava liados inde-
tre 0.000/ mm3 c 50.000/ mm3 na vigência de sangramcn- pendentemente e a dcci jo individuali lada.
to ou próximo do parto c hemoglobina em torno de 9,5 e
10,0 g/dL, devido ao risco de complicações pcrinatais.
om o uso de quimioterapia combinada, a morte TROMBOCITOPENIAS
materna é rara c a sobrevida fetal se aproxima do 90%.
Entretanto, no momento de decidir pelo tratamento qui- A trombocitopenia afeta cerca de 10% de toda · a ges-
miotcrápico, alguma particularidade da gestação devem tações e, apesar de a maioria dos ca o er conduzida pelo
ser levadas em consideração, como o risco aumentado de próprio obstetra, os ma i complexo devem ·cr encami-
trombo e (cm rcb ção ao uso de L-asparaginase) c de dia- nhados ao hematologista. Estudos recentes mostram que
bete secundário (cm relação 3 corticotcrapia). a gestação normal está a ociada à di creta, c geralmente
A literatu ra 1.ugere mais incidência de prematuridade c de percebida, dim inuição da contagem plaquct~ria. Essa
baixo peso ao nasci mento, sendo os efeitos adversos mai dim inuição "fi iológica" é reportada mais comumente
ignificativo quanto mais precocemente na gestação for no terceiro tri mc tre. No QJadro .10 estão listadas as
realizado o diagnóstico da leucemia. O ri co de tcratogc- cau as mai comuns de trombocitopenia na gc ta ão e na
nicidadc parece c ta r confinado às primeira 12 semanas Figura 35.1 um flu xograma para diagnó tico das causas
de gestação, principalmente com o uso de antagoni tas de mais comun yu6
folato ou agente alquilante . que c tá claro, entretanto,
é que atr:-tsar o tratamento quimiotcrápico por ma i que al-
guma~ emanas .i exccção do final do terceiro trime tre TROMBOCITOPEN IA GESTACIONAL
se associa à elevada mortalidade fetal (299o).
A placenta deve também er enviada para e tudo ana- Também conhecida como plaquctopcn ia incidental
tomopatológico, pois já foi referida doença metast.ítica ou plaquctopcnia benigna da gesta ão, ocorre cm aprox1·
para o feto c a placenta. madamentc S'\J de toda as ge taçõe1. e corresponde a mai
de 75% de todos os casos de trombocitopcn ia :~ssociada à
gr.widcz de mulherc audávei , i to é, de gestações sem
LL UCI.~Il Cltó ICAS omplicações. A patogênese não é onhecida, podendo c -
tar relacionada à hemodiluiçjo ou de truição .1cclerada por
Nas leucem ias crônicas, em especial na leucemia mieloi- mecanismos imunes ou não imu ne~. Caracteriza- e por
dc crôn1ca (Uvle), o tratamento na gestação baseava-se no pbquetopenia le,·e a moderada, com contagem plaquetária
controle da esplenomegalia, contagens sanguíneas periféricas acima de 70.000/ mm3 em 95%dos casos c normalização da
e intoma constitucionais a ·ociado ao e tado hipermeta- contagem plaquetária cm torno de doi me c apó o parto.1«>
bólico. Aproximadamente 96'\! das paciente com lcuccmi.l É altcr.1ção benigna, sem incidênCia aumentada de san-
mieloide crônica sobreviviam até o parto e 4'\J do fetos o- gramentos e de recém-nato portadores de trombocitope-
brcviviam durante tod.1a gravidez sem tratamento específico. nia. Não há qualquer efeito sobre a saúde d:~ mãe, do feto ou
Com o de envolvi mento do imati nib, terapia-alvo na do recém-na ido, endo que não e tá indicada a ontagcm
translo ação BCR-ABL e com impacto significativo nos plaquctária do feto.

Doenças Hematológicas
Deve- e realizar anamnese e exame físico detalhados, trimestre, correspondendo a aproxi madamente um a dois ca-
com medida da pressão arterial e hemograma com análise sos de trombocitopenia para cada 1.000 gestações e aS% de
do esfregaço de sangue periférico e, em caso de suspeita de todas as trombocitopenias relacionadas à gestação. À seme-
PT I, rever a contagens plaquetárias pré-ge tacionais. lhança das pacientes não grávidas, a patogénese na gravidez
envolve atividade de anticorpos antiplaquetários (anticorpos
antiplaquetários que reconhecem glicoprotefnas). 17
P ÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA IMU NOLÓGICA Apesar de a gravidez não ser contrai nd icada em pacien-
tes portadora de PTI prévia, as complicações maternas e
A púrpura trombocitopênica imunológica (PT I) é a fetais podem ocorrer e tratamento e terapias adicionais po-
causa mais importante de plaquetopenia grave no terceiro dem ser necessários.

Quadro 35.10 I Causas de pbquetopenia na gravidez


Pla q uet o pI! 111 d rso ln ri d PI<Hiuet ope 111 d d s so c 1<Hl a d ri cw 11 ç as s1 s te lllr c as

Espec1f1Cll ri c~ q1 av1clet N ,w I! s p e c lf 1c d c! d ÇJI il v 1c! e 1 Especlf1c d dd \JI dVIlil!l Ndo espec 1f1cd c!d CJillVIc!ez

Gestacional Pseudoplaquetopenia Pré-eclampsia Microangiopatias trombóticas


(PTieSHU)
PTI Sindrome HELLP LES

Induzida por droga Esteatose hepática aguda Anticorpos antifosfolipides


da gravidez
DvWtipo2 CIVO

Congênita Infecção virai


Disfunção medular
Deficiência nutricional

Hiperesplenismo !
PTI =púrpura trombocitopênica imunológica; DvW =doença de von Willebrand; PTT =púrpura trombocitopênica trombótica; SHU =síndrome hemolftico·urêmica;
CIVD =coagulação intravascular disseminada.

Hemograma + lamina de sangue periférim

Descartar pseudoplaquetop 1 - - -- - - - + - - - -- -----l Descartar pancitopenia

Plaquetopenia isolada

Plaquetas gigantes: Descartar plaquetopenia


suspeita de plaquetopenias congênitas inWzida por droga

Pressão arterial normal, Hipartanslo, protainúria,


sem protein(Jria 1-------..l_---~ suspeita de pré-ecllmpsia

Primeiro e segundo trimestres Terceiro trimestre


Plaquetas < 70.000/IJIIIII Plaquetas > 70.000/lllllt3
Suspeita PTI Suspeita de plaquetopenia gestacional
Figura 35 .1 I Diagrama para diagnóstico de trombocitopenia na gravidez.

568 Noções Práticas de Obstetrícia


O diagnóstico não é difícil em paciente com hi tória V JA DE PARTO
prévia de PT!, na exi tência de outras doenças autoimu-
nes ou cm pacientes com contagem plaquetária inferior a A pecto importante é o risco de plaquctopenia cm nc-
50.000/ mm3, mas pode ser difícil distinguirtrombocitope- onatos de mães com PT ! e se es c fato tem alguma impl i-
nia gc tacional de PT! quando a contagens são ma i alta . cação na deci ão da via de parto. Recém-na cido de por-
Pode haver muita disparidade entre a contagem plaquetá- tadoras de PTI podem desenvolver plaquetopenia devido
ria materna e fetal. a ausência de dados pré-gcstacionais, à pa sagem de anticorpos pela barreira placentária, princi-
o início precoce de plaquetopenia importante (< 100.000/ palmente no terceiro trimestre, sendo lOa I5% com conta-
mm3) na gestação e/ou declínio da contagem plaquetária gcn inferiores a -o.OOO/ mm3 c 5%com níveis inferiores a
com o desenvolver da mesma é mais consistente com PT!. 20.000/ mm3 no momento do parto. O valorc aumentam
A contagem plaquetária deve er monitorada pelo me- em poucos dias após o parto. O trata mento da mãe não re-
nos mensalmente no primeiros dois trimestres, quinze- duz eficazmente o risco de trombocitopenia fetal.
nalmente no terceiro trimestre e cmanalmentc quando angramento no momento do parto ocorre em apro-
próximo do parto (após 36 semanas). ximadamente 2' a 50% do neonatos com plaquetopcn ia
A ncces idade de tratamento é ba eada no grau de grave, mas sangramentos graves ou hemorragia mtracra-
plaquetopenia e em c.1so de sa ngramcnto ativo. Pacientes niana verificam- e cm menos de I% dos caso , risco consi-
com contagens acima de 30.000/ mm3 e sem sangramento derado alto qua ndo comparado com o de recém-nascidos
ativo, usualmente, não necessitam de tratamento e, à me- de mãe hígidas. Esse risco é ma1 alto quando e tão pre-
dida que e aproxima o parto, deve- e tentar manter níveis sentes aloanticorpos.
em torno de SO.OOO/ mm3, para minimizar a necessidade Nenh um estudo conseguiu, ainda, defini r características
de transfusão de plaqueta . da mãe portadora de PT! que possam predizer se o neonato
Q!1ando se opta pelo tratamento, ele deverá ser feito terá plaquetopenia e qual o tipo ideal de parto a ser realizado,
da me ma forma que em paciente não grávidas, cndo a sendo que o único dado consistente para trombocitopenia
corticoterapia a opção de primeira linha, por ser eficaz c de neonatal é a história de parto anterior com feto portador de
baixo cu to. É importante estar atento para o aumento da trombocitopenia. Não há pesquisas que comprovem que o
incidência de hipertensão, diabete gestacional, perda 6 - ri co de hemorragia int racraniana c tá reduzido na ce aria-
sea e ri co de rotura prematura de membranas. na e, portanto, na prática clínica não se altera a via de parto.
Uma alternativa à corticoterapia é o u o de gamaglo- ão ex i te consen o obre o valor mínimo de plaqueta para
bulina int ravenosa cm altas doses, considerada, por algu ns, realizar-se anestesia epidural, com .1 ma ioria dos autore afir-
como primeira linha devido à baixa toxicidade, mas repre- mando crem eguro valore acima de SO.OOO/ mm3.
sentando alto custo de tratamento, além de possuir efeito Sobre a via de parto, duas abordagens podem ser uti-
tran itório. eu u o é re ervado para quando é neccs ário lizada :
utilizar doses de corticoide acima de lO a IS mg/dia ou Com base nos dados indicando que sangramentos
para o preparo pré-parto. graves são ra ro e que não há evidência de redução
Pacientes refr,ltárias à corticoterapia c ao uso de ga- do risco de sangramento no C com a realização
maglobulina reprc cntam problema de difícil solução. de cesariana, opta-se por acompan har o trabalho de
As opções são o emprego combinado de corticoide com parto, independentemente da via, evitando-se pro-
imunoglobulina, .1mbos em altas do c , e a esplenecto- cedimentos invasivos;
mia, que, quando indicada, deve ser realizada no segundo realiza-se procedimento invasivo para contagem
trime tre, preferencialmente por via laparoscópica. A ci- plaquetária, geralmente por punção pcrcutãnca do
clofosfamida, vincristina ou danazol devem ser evitados cordão umbilical, indica ndo- c ce ariana e a con-
devido ao potencial tcratogênico. A experiência com o tagem de plaquetas do feto for inferior a 50.000/
uso de imunoglobulina antiD é limitada. Ciclosporina mm3. Entretanto, muitos advogam que o n co re-
A, azatioprina c rituximabe não apresentam aumento de lacionado à punção percutãnea excede o risco de
malformações congênitas, mas foram usados cm baixo hemorragia intracraniana, sendo e ta última abor-
número de casos. dagem menos indicada atualmente.

Doenças Hematológicas
569
Independentemente da via de parto, deve ser colhido rios clínicos e o tratamento consiste na indução do parto e
sangue do cordão umbilical dos recém-nascidos de mães na corrcção da hipoglicemia e do distúrbio hid roeletrolí-
portadoras de PT I imediatamente após o parto, para tico, assim como da coagulopatia. Podem ser necessários
contagem plaquetária, com monitoração d iária nos pri- mais de IOdias após o parto para que as alterações nas pro-
meiros quatro a ci nco dias após o parto, devendo-se ini- vas de coagulação se normalizem. A mortalidade fetal é em
ciar terapia apropriada nos casos de trom bocipenia grave torno de 15%e a materna em torno de 5%.
(<30.000/ mm3 ) . PTL não é contraindicação para o aleita-
mento materno.
TROMBOCITOPENIA ASSOCIADA À
PRÉ-ECLÂMPSIA E SÍNDROME HELLP
DOENÇA DE VON WILLEBRAND (DvW)
TIPO 2B A pré-eclâmpsia atêta mais de 4% das gestações e os
critérios diagnósticos são hipertensão e proteinúria na se-
O fator de von Willebrand é um cofator da coagulação gunda metade da gestação. Tanto a hipertensão quanto a
responsável pela interação das plaquetas com a parede vas- proteinúria caracteristicamente regridem após o parto.
cular, pela interação das plaquetas com as plaquetas e pelo Cerca de 50% das pacientes com pré-eclãmpsia de-
transporte do fator Vlll. Clinicamente, a DvW é atual- senvolvem plaquetopenia, com a gravidade normalmente
rnente um grupo heterogênco de 20 desordens funcionais relacionada à gravidade da doença de base. Trombocitope-
envolvendo alterações do complexo do fator VIII e disfun- nia pode ser a primeira manifestação de pré-eclâmpsia, às
ção plaquetária. Na DvW tipo 2B, acontece redução na vezes precedendo as outras manifestações da doença. As
síntese do fato r vW, com mais afinidade pela glicoprotcína causas da plaquetopenia não estão bem-defin idas, relacio-
Ib. A gestação pode precipitar ou agravar a plaquetopenia nando-se à destruição acelerada e/ ou destruição, devido à
c o risco de sangramento se correlaciona com a contagem aderência das plaquetas circu lantes ao endotélio lesado e
pbquetária. A evolução da gestação é boa e o parto vaginal ativado e it ativaçâo e consumo de plaquetas, como conse-
parece não aumentar o risco hemorrágico, mas hemorragia quência da ativação do sistema hemostático, ou clearance
pós-parto é encontrada em mais de 50% dos casos. Pode- das plaquetas lgG-ligadas pelo sistema retículo-endotelial.
se fazer uso de crioprecipitado ou de concentrado de fator A ativação subclínica da cascata da coagulação é referida
von Willebrand. na maioria das pacientes com pré-eclâmpsia. Uma mani-
festação da ativação de células endoteliais é que a superfície
endotelial pode mudar de um estado antitrombótico para
ESTEATOSE HEPÁTICA AGUDA um fenótipo protrombótico, mas Cl VD grave é rara na au-
sência de descolamento placentário. Há redução dos valo-
A esteatose hepática aguda atinge uma em cada 5.000 res de proteína C e antitrombina e aumento de dímero-0.
a 10.000 gestações, desenvolvendo-se tipicamente no ter- A queda nos níveis de antitrombina não acontece na P1T,
ceiro trimestre e, mais comumente, em primigestas. Clini- o que pode ser de valor diagnóstico. 18
ca mente, a paciente apresenta náuseas, mal-estar geral, dor Na síndrome H ELLP, os critérios diagnósticos incluem
no epigástrio e no hipocôndrio direito, dispneia, alterações anemia hemolítica microangiopática, aumento de enzimas
do estado mental e alterações colestáticas das provas de hepáticas e trombocitopenia de grau variável, usualmente
função hepática. Podem ocorrer diabetes insipidus; e a hi- com contagem plaquetária inferior a I00.000/ mm3, sendo
poglicemia é comum e usualmente grave. que não há definição padronizada dos critérios. Ocorre cm
Os níveis de fibri nogênio c de antitrombina são baixos cerca de 10% das mulheres com pré-eclãmpsia grave, com
e o PITa está aumentado, com evidências laboratoriais de risco de recorrência em outras gestações de aproximada-
coagu lação intravascular disseminada (CJVD) em 75% mente 3% e pode, frequentemente, ser complicada pela
dos casos. A hemólise microangiopática e a trombocitope- CIVD (coagulação intravascular disseminada).
nia são menos graves, mas 50% das pacientes preenchem A abordagem da pré-eclâmpsia e da síndrome H ELLP
critérios de pré-eclâmpsia. O diagnóstico é feito por crité- é geralmente suportiva, com o intuito de estabilizar a pa-

570 Noções Práticas de Obstetricia


ciente ante do parto. .l pré-cclâmp ia, a realização do - c .tpó o parto (média de 26 dias pó -parto), tipicamen-
parto é ainda o único tratamento cíctivo. A mortalidade te com insuficiência renal oligürica c microangiop.ttia
pcrinatal a ociada à índrome H ELLP é de lOa 20%, sen- trombótica de início subagudo .lpós gestação c parto em
do atribuída à isqucrnra placentária, extrema prematurida- complicações. Por último, pacientes com PTT ou ' H U
de ou asfixia intrauterina. geralmente apre cntam nívei normai de antit rombina,
O u o de corticosteroides antes e apó~ o parto pode cst,mdo esses níveis ba i xo~ na pré-eclàmpsia ou índrome
au mentar a recuperação da contagem de plaqueta c di- H ELLP, provavelmente por aumento do consumo.
minuir a hcmólise. A transfu ão de plaquetas pode cr nc- A evolução da PTT na gesta ão é imilar à de não ges-
cc ária antes da ccs.tria na, para manter níveis superiores a tantes, cndo que a PTT não tratada não só c tá a o iada a
' O.OOO/ mm3, as im como o u o de plasma fresco congela- m.w prognóstico para a mãe assim como para o feto, como
do, no ca o de coagulação int rava cular dis cminada. a resultado de iní:lrto pia cntários levando a crescimento
maioria das vczc~, as mani testações desaparecem nos pri- intr.tutcrino re trito e morte fet.tl.
meiro dia apó o parto, ape ar de a plaquctopcnia poder .1 PTr ou SH U, a interrupção da gestação náo e te-
c agr.war nas primeiras 24 a 4 horas. Alguma pa icntes rapêuti a, ma gestante portadora de PTT re~pondcm
desenvolverão plaquctopcnia prolongada, com disfunção bem à pia mafcrese, as rm como as não gestante , com re-
orgânica múltipla c aumento de LDH apó o parto, o que missão cm mais de 759o do casos. A gestação não parece
pode cr revertido com o u o de cortico tcroides ou plas- influenciar o resultados. Portadoras de PTT crónica po-
maícrese. A terapiJ com transíu ões de plasma ou pia ma- dem apresentar recidiva du rante a gestação c rc~pondem
fere c não é eficaz durante a gestação c pode au mentar o bem à plasmafercse ou.\ infusão de pia ma. O parto c t.1
ri co para a mãe e para o feto.'' recomendado ·omente par,t aq ucb que não respondem à
trJn fusão de pia ma.
Ao contrário da PTT, a SH U a ociada à ge tação tem
TROMBOCITOPENIA ASSOCIADA prognó tico ruim e responde mal à plasmafere~c. lmufi-
À PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA ciência renal crónica é comum c cxi tem informaçõe de
TROMBÓTICA E À SÍNDROME t.1x.1 de mortalidade de ate • Y'o. A rc posta ao u\o de cor-
tico tcroidc ·, drogas antrpLtquct.iri.t. , heparina ou e ple-
HEMOLÍTICO-URÊMICA
ncctomia não e tá bem-documentada. O tratamento deve
ba car- e em terapia de !~u portc com diálise c transfusõe~.
A púrpura trombocitopênica trombótica (P"t r) c a se necessário. Os benefícios da pia materese ão incertos.
~índrome hcmolítico-urêmica (SH U) ão doença que Em ge tan te com microangiopatias trombótic.1 , é co-
compartilham achado único de anemia hemolítica micro- mum .1 perda fetal, devrdo à bquemia placentán.t ou pcl.t
angiopática c plaquctopcni.t. Apesar de não serem cxclusi- mortalidade associada à prematuridade; e n.tJYJ r ou H u
vJ da gest.tção, ua incrdên i,l é au mentada nc a ituação, pode haver recorrência em gestações ubscqucntcs.
com cerca de 109o dos c.tsos de PTT durante a gravidez. A
prcv.tlência de recidiva cm gestações ubscqucntc reforça
o f.1to de que age tação pode er fator precipitante. R EFERÊN CIAS
Diferenciar PTT de ' HU é difíci l, assi m como das
outra · trombocitopenias relacionadas à gestação, como I. Cunnmgham FC, Gam 'F,I cvcno KJ. Gl!.l<.trap LC. II.1Uih
J , Wcnstrom K O. l lcmatologJcal disordcr\ ln. Cunnmg-
pré-eclãmp ia c índromc HELLP. A princípio, a anemia ham FG, editores. VVdl iam~ Ob~tetrics. 22• cd. Ph1ladd ph1.1:
hemolítica microangiopátrca é, geralmente, mai!. grave McGraw Hill; :WOS. p.l l~ ' ·62
na PTT ou H U do que na pré-cclâmpsia ou síndrome 2. i\IJn nho Hi\I,Chavc,CD.I kmatopauas. ln: ReLcndcJ Ob,rct
li ELLP; e a PTT e de envolve mais precocemente na rio.1. 9• cd. Rio dcj .1nmo: GuanabarJ Koogan; 2002: -n646
gestação, com méd ia de início de aproxi madamente 23,5 3. llo A'man R,l3ent E, h.111d S, Fu ric B, Cohen l l. llcm.llology.
R.I~IC Principies .llld PrJlllc ~· cJ El~ev1cr lnc. 2005.
emanas, enquanto a maioria dos casos de pré-ccl.impsia e
~ . Lcc G R. Para<kcva~ F. FocNcr J. Lukens J. Grel'r JI' \\'m
\Índrome H ELLP de envolve-se no terceiro trimestre. Em trobc's Cli nlcal Hcmatology. Phdadelph1a: W1lhanv, ,lJlJ
contraste, cerca de 90'11 dos ca o de H U de envolvem- Wdkms; 1998. 262~ p.

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572 Noções Práticas de Obstetrícia


36 Trombofilias
Daniel Dias Ribeiro
Ana Flávia Leonard i Ti búrcio Ribeiro

Seleção das Mulheres a serem Investigadas Como Investigar Trombofilias


Trombofi lias a serem Investigadas Por que Investigar Trombofilias?
Aumento na P ro dução d e Proteínas Plasmát icas Razões para Pesquisar as Trombo filias
Pró-coagulantes Desvantagens d a Pesquisa das Trombo filias
Diminuição ou Disfu nção dos Anticoagulantes Naturais Complicações Gestacionais
Anormalidad es d o Sistema Fibrinolítico Trombo filias e Com plicações Gestac ionais:
Defeitos Metab ólicos Causa o u Associação?
Trombofilias Adquirid as
Evidências com a Terapia Anticoagulante
Momento Ideal da Investigação Tro mbofilias Adq uirid as
das Trombofilias Trombofilias Congênitas

o termo trombofilias, do latim thrombos e plrrlos,


deve ser entendido como tendência a desen-
volver trombose diante de algum fator prcdi -
ponente, seja congênito ou adquirido, relacionado a algum
do componentes da hcmostasia (endotélio, plaquctas, l:llo-
uma em cada 1.000 mu lhere vai apre e ntar T E
ríodo pós-parto, fazendo desta um a causa importante de
no pe-

rnorbidadcc m orta lidadc nc sas paciente . O ri co de T EV


deve ser sempre individua lizado, pois fatores como idade
(acima de 35 ano), índice de massa corporal (acima de 29
res pró c anticoagulantes, fatores pró e anti fibrinolíticos) de Kg/ m 2), pa ridade (acima de quatro ges tações prévias), tipo
forma di reta ou não. 1 de parto (cesa riana com m,lior ri co), presença ou n.io de
As trombofi lias podem estar relacionad as à alta inci- trombofilias e história pregre a ou f<1mi liar de trombo c
dên ia de complicaçóe · gestacionais cc undán a à msufi - interferem nessa avaliaç~o. É importa nte ressaltar que 70
ciência placentária c de tromboembolismo veno o (TEV) a 90<\! das trombo e de membro mfcnorc na gc tantc
c arterial. acontecem à esquerda c acomete m va o~ proximai~ (veia
A gestação é fator de risco independente para a ocor- ilíaca e fe morai ), provavel mente pela compre ão da veia
rência da TEV, estando associada à probabilidade de cinco i!faca esquerda pelas a rtérias ilíaca direita c ovarianas.2
a c1 vcze ma1 de trombose quando comparada a mulhe- Cinco ão a que tõe a ercm rc pendida quando c
res n ~o gr:lvidas pareadas pela idade. Aproximadamente correlacion,lm as trombofilias .\s gestantes:
uma cm cada 1.000 gc taçõcs é complicada pela TEV c Quem deve er inve tigada?
Quais trombofilia pe qui ar? A paciente com complicações gestacionais com ind i-
Q uais exa mes laboratoriais a serem realizado ? cação de serem e tudada para trombofilia são:
Em qual momento a inve tigação deve -cr feita? Com três ou mai aborta mento con ecuti vo an-
Por que investigar trombofi lias' tes de IO emana de gestação sem cau a aparente;
com uma ou mais mortes fetais após lOsemanas de
gestação de fetos morfologicamente norma is;
SELEÇÃO DAS MULHERES A com um ou ma i parto pré-termo antes de 34 sema-
SEREM INVESTIGADAS nas de ge tação de feto morfologicamente normai
devido a in uficiência placentária, pré-cclâmp ia ou
eclâmp ia.
A prevalência das trombofilias va ria nas populações
com T E devido à d iferença no critério de selcção c mé- A força de associação dessas complicações gcstacio-
todo diagnóstico , indo de relativamente al ta em popula- nai é bem-estabelecida com a sínd rome do anticorpo
ções com história familiar positiva c trombo e de repetição antifosfolípide ( AA F), o que nâo ocorre com as demais
à baixa cm pacientes consecutivo não selccionado .1 Exis- trombofilia . Ape ar di o, ex i te tendência a estudar to-
te ainda diferença signifi cativa ent re diferentes etnias na das as trombofi lias conhecida ne a mulheres. É extre-
prevalência das trombofi lias congênitas mais comuns (fa- mamente importa nte lembrar que todas as outra po sí-
tor V de Leiden e mutação do gene da protrombin:1). Mes- veis causas dessas complicações gestacionais devem ser
mo cndo con idcrada elevada cm algumas ituações, sua afastadas ante de qualquer investigação (doenças vas-
pc qui a não é ju tificávcl na população assi ntomática de culares, alteraçõe hormona i , doenças infecciosas e alte-
form:1 profilática, isto é, antes de situações abid:1mente de raçõe genética , entre outras). G111de/mcs recente , tanto
risco de trombose. A invc tigação de todas as trombofili:1s americano quanto europeu , questionam a utilidade da
conhccid:1s está indicada cm todos os pacientes com cpi- investigação d.1s trombofilias hereditárias em mulheres
ódio de tromboemboli mo venoso idiopática c com me- com complicações gestacionai e consideram que, do
no de 50 anos. Ape ar da idade ava nçada e da existência ponto de vista prático, a decisão de prescrição de trom-
ou não de algum fator de cncadeante serem importante boprofi laxiJ ou anticoagulação terapêutica na gravidez
qu:1 ndo c avalia o ri co de recorrência de trombose, c ta deve er baseada muito mais na história clínica de even-
não podem ser vista corno fatore limitantes para a indica- to prévio de tromboembolismo venoso.4 ' Esse e tudo1-.
ção de c tuda r ou não :1 trombolilias. sugerem que a investigação de trombofi lias hereditári a1-.
Con iderando a popu b ção cm geral, pode-se d istri- deveria ficar restrita a mul heres com história pessoal e/
buir 011 paciente em doi grupos. Os "fracamente trom- ou fa mil iar positiva de tromboembolismo venoso pré-
bofílico " ·ão aquele aci m:1 de 65 anos, com fator de ri co vio secundá rio a fator de baixo risco, pois nesse grupo
bcm-documentado, em trombose recorrente, hi tória fa- o achado de trombofilia hereditária mudaria a cond ut.1
miliar negativa para trombose c obstruçõc cm lo ai u u- durante age tação.4•5
ais (membros inferiores ou nos pulmões), nos quais .1 pe - Nos ca os de trombo e arterial, em paciente jovens
qui a das deficiências da antitrombina, proteína CeSsão com f.1tores de risco de doença arterial (fumo, dislipidemia,
de necessárias. Os "altamente trombofíl icos'' são aqueles obesid:1dc, di:1betes melliiHs, cdentarismo e hipertensão
que apresentaram o fenômeno tromboembólico antes dos arterial), sugere-se a pesquisa de AA F, hiper-homocistci-
Oano , com hi tória fa miliar positiva para trombo e (pa- nemia c nívci do fator VIII. Naquelas em fatore de risco
rente de primeiro grau) ou com quadro de trombo e de de doençJ arterial recomenda- c o rastreamento completo
repetição. Alguns pacientes não e encaixam cm qualquer de trombofi lia .6
do dois grupos c a literatura não é clara na ma neira como c te capítulo será dada mai- ênfase à trombofilias
eles devem ser abordados, indicando, assim, que cada caso hereditárias, já que a SAA F scd abordada com mais deta-
seja avaliado individual mente. lhes no capítulo 41 - Doenças reumáticas.

574 Noções Práticas de Obstetricia


T ROMBOFILIAS A S EREM tipo I (PA 1-1). Esta última pode ser causada pela mutação
4C/ 4C. A elevação do inibidor da fibrinólise ativado pela
INVESTIGADAS
trombina (TAF I) também pode estar relacionada a alto
risco de trombose.
Considerando que um desequilíbrio em qualquer par-
te do si tema hemostático pode levar à mais alta incidência
de trombose, diversas são as situações a serem estudadas? DEFEITOS METABÓLI COS

A hiper-homocisteinemia ou homocistinúria é uma


AUMENTO NA PRODUÇÃO DE PROTEÍNAS condição rara associada a elevados níveis de homocisteina
PLASMÁTICAS PRÓ- COAGULANTES (> lOO mcmol/L), doença arterial prematura, tromboem-
bolismo venoso, atraso no desenvolvimento neurológico
Elevação do fator Vlll não relacionada a processos c características fenotípicas semelhantes à síndrome de
agudos; Marfan. Esta é causada por mutações em homozigose ou
mutação no gene da protrombina, que leva ao au- cm hcterozigose, composta na ci tationina-~-sintetase,
mento de função do fator ll; tendo já sido de crita mai de 90 mutações. Outro gene
elevação dos fatores IX, Xl e do fibrinogenio tam- envolvido é o da metilenotctrahidrofolato-redutase. Uma
bém é considerada por alguns autores. mutação tcrmolábtl (C667T) em homozigo e pode levar
a discreto aumento da homocisteína. Dependendo do va-
lor de referência utilizado, S a 10% da população podem
DIMINUIÇÃO OU DISFUNÇÃO DOS ter au mento leve da homocisteína. O gue ainda está em
ANTIC OAGULANTES NATURAIS debate é se esse discreto aumento está associado a risco
aumentado de trombo e.
Deficiência da proteína C;
deficiência da proteínaS;
deficiência de antitrombina; TROMBOFILIAS ADQUIRIDAS
re istência à proteína C ativada: a mutação no fa-
tor de Leiden é responsável por 90 a 95% dessa A SAAF é caracterizada por sintoma clínico (trom-
condição, sendo esta a trombofilia congénita mais bose arterial ou venosa cm qualquer parte do corpo) ou
prevalente, podendo estar presente em S a 12% da complicaçõe gestacionais (trcs ou mais abortamentos
população geral. As mutações conhecidas como antes de 10 semanas de gestação, perda de feto morfolo-
fator V de Cambridge e fator V de Hong Kong tam- gicamente normal sem causa apa rente após 10 semanas
bém podem levar à resistência à proteína Cativada. de gestação e um ou mais partos pré-termo de fetos mor-
fologicamente normais antes de 34 semana · de gestação
devido a pré-eclâmpsia, eclâmpsia ou insuficiência pla-
ANORMALIDADES DO SISTEMA centária), associada a duas dosagens po itivas com inter-
FIBRINOLÍTICO valo de 12 semanas dos anticorpos anticardiolipinas (lgG
ou lgM), dos anticorpos a nti- ~2-glicoprotcína I (lgG ou
Em geral, qualquer dificuldade de promover fibri nólise lgM) ou do anticoagulante lúpico. A do agem do anti-
pa rece estar associada a aumento no risco de trom bose, en- corpos anticardiolipinas lgM oulgG devem ser iguai ou
tretanto, d importância dos componentes do sistema fibri- superiores a 40 M PL e 40 C PL, re pectivamente. ASA A F
nolítico isoladamente não está clara. Nenhu ma correlação pode ser primária ou secundária quando a ociada a algu-
foi encontrada com a di minuição dos níveis de plasmino- ma doença autoi mune.
gênio e resultados conflitantes foram detectados com a ele- O Quadro 36.1 sintetiza as trombofilias a serem inves-
vação do in ibidor do ativador do plasminogênio tecidual tigadas na prática clínica.

Trombofi lias
575
I
Quadro 3 6 .1 Trombofilias a serem investigadas ant itrombina, proteínaS e C e resistência à proteína C ati-
' Trombofr lras a serem rnvestrgadas vada) estão indicados após quatro a seis meses do fe nôme-
no tromboemból ico. O uso do anticoagulante oral inter-
Fator VIII c
fere nas dosagens das proteínas C e S, que são vitamin a K
Resistência à proteína Cativada dependentes. São necessárias no mínimo duas semanas de
Fator V de Leiden suspensão do anticoagulante oral para que essas dosagens
possa m ser realizadas com segurança. A gestação, os dois
Gene mutante da protrombina
primei ros meses do pós-parto, o uso de anticoncepcional
Homocisteína sérica oral e a terapia hormonal também interferem nas dosagens
Proteína Cfuncionallcromogênica) dos anticoagulantes naturais (antitrombina, proteína S e
Proteína S livre lantigênica) c). o uso das heparinas dim inui os níveis de antitrombina
e positivam a pesquisa do anticoagu lante lúpico. A respos-
Antitrombina lcromogênica)
ta inflamatória secu ndária ao fe nômeno tromboembólico
Anticorpos anticardiolipinas lgM e lgG pode interferir na pesq uisa de SAAF, positivando as dosa-
Anticoagulante lúpico gens das cardiolipi nas e da ~2-glicoproteína l. Estas devem
ser pesquisadas após o primeiro mês da trombose. Para
que o diagnóstico da SAAF seja confirmado, é necessário
As dosagens dos anticorpos anti-~2-glicoproteína I que os critérios clín icos e laboratoriais sejam p reench idos.
IgG e IgM são real izadas apenas nos pacientes com antico- O Quadro 36.2 apresenta a confiabilidade dos testes
agulante lúpico e anticorpos anti-cardiolipinas IgG e IgM das trombofilias mais importantes em situações clínicas
negativos e forte suspeita clínica da SAAF. específicas, incluindo a gestação.

Quadro 36 .21 Confiabilidade dos testes das trombofilias


MOMENTO I DEAL DA INVESTIGAÇÃO hereditárias
DAS TROMBOF ILIAS Trombofll ra Na Durante Durante uso de
gestação trombose ant rcoagu lante
aguda
A propedêutica deve ser realizada somente q uando
FatorV de Sim Sim Sim
seus resultados puderem interferir na conduta médica. leiden I
No ca mpo das trombofilias, esses resultados n ão irão
Gene mutante Sim Sim Sim
mod ificar a conduta imediata do paciente. Pacientes com
da protrombina
trombose devem ser conduzidos durante o quadro inicial
de forma idêntica, independentemente de tere m ou não Resistência Sim Sim Não
à proteína C
alguma trombofi lia. Em princípio, os resu ltados desses
ativada
exa mes influenciam na duração de a nticoagulação. Cada
caso é avaliado individualmente quanto ao risco de recor- Deficiência de Sim• Não Não
antitrombina
rência da trom bose e de sangramento associado ao anti-
coagulante oral e a conduta será manter ou não a anticoa- Deficiência de Sim• Não Não
proteína C
gu lação. O estudo das trombofi lias é um dos ma rcadores
de risco de recorrência da trombose. Deficiência de Nãob Não Não
A resposta in fl amatória desencadeada pelo quadro proteínaS
agudo de tromboembolismo venoso interfere nos resul- • valor de referência: atividade < 60%
b valor de referência (utilizada apenas em situações especiais na gestação):
tados dos exa mes, exceto nos testes que utilizam o DNA
atividade < 30% no 2" trimestre e< 24% no terceiro trimestre
para a análise. Os testes realizados no plasma (dosagens de Adaptado de American College of Obstetricians and Gynecologists'

576 Noções Práticas de Obstetricia


COMO INVESTIGAR TROMBOFILIAS Entretanto, a trombofilia não exclui a possibilidade da
existência de alguma outra cau a e a recíproca também
A existência de laboratórios especializados em hernos- é verdadeira. Por exemplo, uma mulher de 60 anos com
tasia é fator determinante na segurança do resultado dos diagnó tico de TVP proximal em membro inferior idio-
exames para a avaliação das trombofilias. Em geral, são testes pática pode ser portadora de alguma trombofi lia ou de
caros, mal-remunerados pelo istema único de saúde e pela uma neopla ia oculta. Sendo assim, uma não exclui a pos-
maior parte dos convênios. Concentrar os exames em labo- ibilidade da outra.
ratórios especializado permite dimi nuição dos custos fixos O argumento mais importante a favor da pesquisa das
com calibradores e controles, di minui a perda de reagentes, já trombofi lias é o fato de que estas são importante no mo-
que este , uma vez colocados em uso, não podem ser rcarma- mento de avaliar o risco e o benefício de se manter o anti-
zenados, e possibilita ganho de experiência com esse te tes, coagulante oral. A existência da deficiência da antitrombi-
que possuem várias particularidades técnicas. t de extrema na, a síndrome do anticorpo antifosfolípide, a homozigosc
importância a a ociação laboratorial com o quadro clínico. para o fator V de Leidcn ou mutação da protrombina, a
De todos os testes, os que utilizam a metodologia coa- dupla heterozigose e a combinação de trombofilias da -
gulométrica são os que sofrem mais variabilidade analítica sificam os pacientes como de alto risco de recorrência
e por esse moti vo devem ser evitados. Ape ar de serem tes- de trombo c, cndo, a im, justificada a manutenção da
tes funcionais e, assim, detectarem as deficiências quanti- anticoagulação por tempo indeterminado. É importante
tativas e qualitativas dos anticoagulantes naturais, não são salientar que o risco de recorrência deve ser sempre corre-
mais recomendados na pesquisa destes. as dosagens de lacionado com o risco de sangramento associado ao uso
antitrombina e proteína C, a metodologia cromogênica do anticoagulantes orais.
deve ser utilizada c a dosagem de proteínaS deve ser reali- O alvo da razão normatizada internacional (RN I) po-
zada por um te te antigênico capaz de medir a fração livre deria ser outra justificativa para a pesquisa da trombofi-
desta. E pecial cuidado merece a pesqui a do anticoagu- lia , mas a dim inuição da do c do anticoagulante oral com
lante lúpico. Existem pelo menos cinco diferentes métodos, a per pectiva de obter RN ! entre 1,50 c 2,00 não diminuiu
cada qual com suas limitações e vantagens. Como devem o risco de sangramento, com aumento na incidência de re-
ser feitos no míni mo dois testes, sugere-se a realização pelo corrência de trombose.8 A busca por um alvo de R ! en-
veneno de víbora de Russell associado ao tempo de coagu- tre 3,00 e 4,00 nos pacientes com SAA F não se mostrou
lação pelo Caulim ou ao tempo de tromboplastina parcial cu to-efeti va, ou seja, aumento no ri co de angramento
ativado, que se utiliza da sílica como ativador. Os demais sem diminuição no risco de recorrência.9 A correção da
testes não possuem problemas na sua realização. hipcr-homoci teinemia poderia ser mais uma razão para
a pesquisa das trombofilias, mas aparentemente o risco de
recorrência associado à hiper-homoci teinemia leve é bai-
PoR QUE INVESTIGAR TROMBOFILIAS? xo e a correção desta com a reposição de vitam inas parece
não dim inuir a chance de rccorrência.10
Atualmente, uma alteração trombofílica é encont rada A possibilidade de e e tudara fam ília é outro potencial
em cerca de 50% do pacientes com tromboembolismo benefício que a pesquisa das trombo fi Iias pode trazer. Esses
venoso. Entretanto, a uti lidade e o custo-efetividade de se familiares têm risco de tromboembolismo venoso duas a
realizar esta pesquisa ainda constituem terna de debate. lOvezes mais alto que a população não portadora." Ape ar
do significativo aumento no risco relati vo, o risco absoluto
permanece baixo. É questionável c os portadores assinto-
RA Z ÕES PARA PESQUISAR máticos se beneficia m de profilaxia cm situações de risco
AS TROMBOFILIAS (gravidez, pós-parto, cirurgia , imobilizações c traumas) e
de medidas que visem a diminuir a exposição a essas situ-
Frequentemente, os pacientes e seus médicos procu- ações. O melhor exemplo di to é a escolha do anticoncep-
ram por uma causa, explicação para o fenômeno trom- cional oral ou de algum outro método anticoncepcional. É
boembólico e algu ma trombofilia pode ser e sa causa. bem-descrito que o risco de sangramento relacionado ao

Trombo~ l ias
577
uso de ant icoagulantes orais (anticoagulação plena) é mais dos fàmiliares em que os casos foram ident ificados dev ido
alto que o risco do primeiro evento nesses pacientes, o que ao seu passado de tromboembolismo venoso. Desde então,
torna seu uso profilático contraind icado. vários estudos vêm investigando a relação das trombofilias
congénitas com as complicações gestacionais. Entretanto, a
seguinte pergunta ainda é tema de debate na literatura: a de-
DESVANTAGENS DA PESQUISA tecção das trombofilias como causa das complicações ges-
DAS TROMBOFILIAS tacionais deve resultar em tratamento com anticoagula ntes
e/ ou a ntiagregantes plaquetários~ 14
O custo econômico dos testes é de aproximadamente
R$ 1.200,00 (SOOEuros). Os estudos vêm demonstrando
que existe viabilidade econôm ica destes nas situações de TROMBOFILIAS E COMPLICAÇÕES
alto risco. Revisão sistemática publicada em 2006 avaliou GESTACIONAIS: CAUSA OU ASSOCIAÇÃO?
quatro cenários: testar todas as mulheres antes do início
do anticoncepcional oral e iniciar apenas naquelas com o A defi nição das relações de causa ou associação é, por
estudo negativo; testar todas as mu lheres antes do in ício si, tema complicado. A associação entre duas variáveis sig-
da terapia hormona l e iniciar apenas naquelas com o estu- nifica que a probabilidade da ocorrência de uma depende
do negativo; testar todas as mulheres antes da gestação e da ocorrência da outra ou de mais variáveis. A associação
realizar profilaxia após o parto naquelas com estudo posi- estatística entre duas variáveis pode ter natureza causal ou
t ivo; e testar todos os pacientes previa mente a cirurgias or- não. A defi nição d a cau sa de uma doença é a presença de
topéd icas eletivas e realizar profilaxia estend ida naquelas um evento, condição ou característica que precede a doen-
com resultados positivos. O estudo concluiu que quando ça, sem o qual esta não aconteceria, ou pelo menos não na-
correlacionado às outras situações, apenas o segundo ce- quele momento. Entretanto, a maioria das doenças possui
nário (testagem de mu lheres antes do in ício da terapia hor- o componente de multicausalidade. A m aior evidência da
mon al) pode ser custo-efetivo, mas demonstrou também relação de causa seria um experimento em que a introdu-
que a história pregressa ou familiar de tromboembolismo ção ou a remoção do agente mudaria o desfecho. D esta fo r-
venoso é o melhor marcador de risco . Desta for ma, a ana- ma, a única m aneira de provar realmente a relação causal
mnese bem -realizada é a mel hor conduta antes das situa- seria a situação hipotética na qual uma mu lher teria uma
ções de risco de trombose. 12 "vida" com trom bofilia e outra "vida" sob as mesmas con-
O impacto psicossocial e as consequências de ser taxado dições, só que sem trombofilia e as complicações gestacio-
como portador de uma mutação genética trombofílica de- nais avaliadas.
vem ser considerados como importantes fa tores negativos da O s estudos observacionais são métodos vál idos para
pesquisa das trombofilias. Os portadores podem se sentir es- estabelecer essas relações de causalidade e estudos experi-
tigmatizados e serem discriminados pelos planos de saúde. 13 mentais random izados são absolutamente necessários para
estabelecer se as terapias são benéficas para as mulheres
com trombofi lias e compl icações gestacionais 4 ·s·14 Outro
COMPLICAÇÕES GESTACIONAIS problema que existe nos estudos é a falta de padronização
das complicações gestacionais. É extremamente comu m
Dois são os objetivos de estudar as trombofi lias nas mu- autores defin irem de maneira diferente o que é um aborta-
lheres com complicações gestacionais: definir a causa do mento de repet ição precoce, por exemplo.
evento e impedir que este se repita. As m anifestações trom- As associações entre as trombofilias tendem a ser mais
boembólicas arteriais e venosas, bem como as complica- fo rtes q uando as complicações gestacionais são m ais gra-
ções gestacionais, são consideradas manifes tações clínicas ves (abortamentos de repetição ou perdas gestacionais tar-
da SAA F Aná logas a essas m an ifestações das trombofilias d ias) e quando as outras causas são afastadas (infecciosas,
adquiridas, na década de 90 a associação entre trombofilias cromossômicas, hormonais, im unológicas e ano rmalida-
congénitas e complicações gestacionais foi descrita em estu- des anatómicas uterinas).

578 Noções Prát icas de Obst etrícia


EVIDÊNCIAS COM A TERAPIA mindos correlacionando placcbo com tratamento.4 ' 1 ~
Cada caso deve er avaliado individualn1ente e a decisão
ANTICOAGULANTE
de cu ar ou não alguma medi ação que interfira na he-
TRO MBOF ILIAS ADQ U IRIDAS mosta ·ia deve, preferencialmente, ·er dividida com a pa-
ciente. Esta deve ser bem informada dos possíveis riscos
En ato clínico controlado rand01mzado bem-reahtado e benefício do tratamento .
mostrou aumento absoluto de nascidos vivos em pacien- O Colégio Americano de b tctr,\ c Ginecologista!>,
te com AA F c abort.1mento de repetição de 41 para 72% cm recente publicação, recomenda que, à luz do conheci-
quando omparado o ácido acetil alicílico (AA ) i olado mento atual, mulheres com história de complic.tçõc gcs-
com a hcparin.1 não fr.Kionada as octada ao AA , 1 ~ Um t.lctonais relacionadas à di fu nção placentária, com ou sem
cgundo ensaio clínico randomizado agora com hcp.Hina trombofilias, sejam acompanhadas em a prescrição de hc-
de baixo peso molecular no lugar da hcparina não fra iona- parin.l profil:ítica, à exceção dos casos cuja ind icação seja
da não dcmon trou benefício (72 e '\> de na cido vivos prevenção de tromboemboli mo vcno o.~
nos grupos AAS e hcpari na mai AA , rc pcct ivamcntc). 1 ~ O Quadro 6.3 apre cnta a. evidêncta atuai ~ referen-
Es c segundo estudo po sui falhas metodológicas tmpor- tes a trombofilia e gravidez.
tantc , pot mclui pacientes com baixos títulos de .1nticor-
pos c intcta o tratamento tardiamente. Os dado di poní-
vcis n.1 .1tualidade referem que o tratamento de mulhere
Q}.lad ro 36.31 Evidência~ cm trombofil t.l na gc tação
com dtagnóstico de AAF e complicações gestacionais
deve ser feito com ,1ssociação de AA.' c hcparina_l" Intel vençao Resultildo G1 att d1~
Recomendaçao

Pesquisa de SAAF Aumento da taxa A


T ROMBOFI LIAS CONGÊN I TAS em mulheres de nascidos vivos
com perda fetal
A utilidade da terapia anticoagulante na mulhcrc inexplicada
com trombofilias congênitas e complicações gcstacionai Pesquisa de SAAF Aumento da taxa A
encontra-se em debate. A ba e científicas para eu ar a em mulheres com de nascidos vivos I
hcpanna nessa pa tente estão fundamentada~ cm e tu- abortamento
habitual
dos observacionais c cm séries de casos não controladas, ...
--
na quai mulhcrc com passado obstétrico cm sucesso Pesquisa de SAAF Redução da c
ão utilitada como controle. 1 ~ em mulheres com recorrência da
PE ou CIUR grave complicação
O acompanhamento a essa paciente aind,1 é incer- ou de repetição
to. Algumas coortcs mostraram .1 existência da .1ssocia-
ção da trombolilias congênitas com as complicações Pesquisar trombo- Redução das D
filias hereditárias complicações ges-
gcstacionais; e o benefício dou o das hcparina foi ob- em mulheres com tacionais associa-
servado. O mesmo ocorreu em mul heres com compl ica- perda fetal recor- das à disfunção
ções gestacionais na ausência das trombofi lias. Até hoje, rente ou DPP placentária
pode- c conclui r ape nas que ex i te tendência ao .lumen-
-- --
AAS + heparina Aumento da taxa A
to no numero de n.1 ctdo vivo quando a heparina ão em mulheres com de nasc1dos v1vos
utilizadas nas mulheres com complicações gestacionai SAAF
t.udi.l!> ligadas à imuficiência placentária. Não h.\, até o Não recomendar Redução das B
momento, evidencia uficiente que ju ti fiq uem o uso AAS +heparina complicações ges-
das hcparinas de rotina nessa paciente . ão nece ária a mulheres com tacionais associa-
padronizaçõe dos critérios para definição de cada tipo trombofilias here- . das à disfunção
de complicação ge tacional e ensaios clínicos rando- Iditárias 1 placentária

Trombo~ l ias
579
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sao Noções Práticas de Obstetricia


Doenças Tromboembólicas:
Tromboembolismo Pulmonar e
Trombose Venosa Profunda
Cláudia Maria Vilas Freire

Fisiopatologia e Fatores de Risco Tratamento


Trombofilias Anticoagulantes Orais
Diagnóstico H eparinas
Trombose Venosa Profunda Parto
Embolia Pulmonar Complicações
Diagnóstico Diferencial Profi laxia

s eventos trombocmbólicos são causas im- do ao risco em mulheres não g ráv idas.' A incidência de

O porta ntes de morbimortalidade materna e


potencialmente passíveis de prevenção.
O diagnóstico ta rd io, o trata mento postergado ou ina-
trombose venosa profunda (TVP) cl inicamente mani-
festada, cm relação ao tipo de parto, é de 0,08 a 1,2% no
parto vagi nal e 2,2 a 3,0 % após ce ariana. 2
dequado e a profilaxia imprópria são responsáveis po r O t ro mboembolismo p ulm ona r (TEP) de envolve-
muitas das mortes por t ro mboembolismo venoso. A -se em 16 a 24% dos casos de TV P não tratada, com taxa
tro mbose venosa profunda (TV P) e o tro mboembo lis- de mo rtalidade em torno de 13%. · a pacientes adequa-
mo pulmonar (TEP) são considerados a mesma doen- damente tratadas, a embolia pulmo nar ocorre cm apro-
ça. A verdadeira incidência d e tromboembol ismo veno- ximadamente 4,5% e a mortalidade é inferior a 1%. 1
so (TEV) associado à gestação edesconhecida, porém,
há nítida impressão clínica d e q ue o risco e tá aumen-
tado nesse período. ão parece haver preponderância FISIOPATOLOGIA E FATORES DE RISCO
do episódios embólicos em nenhum do t rim estres d a
gestação, entretanto, o pucrpério merece atenção espe- Há mais de um éculo, o anatomista Virchow identifi-
cial. Estima-se que o risco global do desenvolvimento cou trê componente primários fundame ntais na forma-
de trombose venosa profunda na gravidez seja de 0,76 ção da trombose venosa:
a 1,7296o, cinco a eis vezes mais alto quando compara- Modificaçõe na parede dos vasos (lesão);
modificação nos componentes sanguíneos esti mu- doenças associadas - lúpus, drepanocitose, diabe-
lando os fenômenos da hipercoagulabilidade; tes, cardiopatia;
estase venosa. varizes do membros inferiores;
história familiar ou pessoal de trombofi lias e/ ou
Na gestação, devido a fatores anatómicos, fisiológicos hereditárias.
e bioquímicos, os três componentes dessa tríade estão pre-
sentes: Acredita-se que a existência de dois ou mais desses fato-
A estase IICIIosa aumenta em consequência a efeitos res de risco ou apenas a história de trombose prévia confere
hormonais c compressão da drenagem venosa dos risco 4,8 mais alto na gravidez. '
membros in feriores pelo útero gravídico. A estase
se mantém até cerca de seis semanas de pós-parto;4
Veia femoral comum
classicamente, a gravidez é um estado de hipercon-
gulabi/idade fisiológica, no qual ocorre elevação dos
fatores da coagulação VIl, VIII, IX, X e XII e redu-
ção dos níveis de anticoagulantes natu rais, como a
antitrombina III (AT lll) e proteína S. Associa-se a
essas modi ficações a redução da fibrinólise secun-
Veia poplítea do
dária a aumento do inibidor do ativador do plasmi- canal do adutor
nogênio I c 2 (PAI-I e PAl-2);5
o parto é responsável pelo trau111a vascular, ca racte-
rizando o terceiro elemento da trí,1de.

O local mais comum de TV P é o segmento ilíaco-fe-


moral do membro inferior esquerdo (aproximadamente 70
J 90% dos casos). Essa preferência se deve ao efeito com-

pressivo da artéria ilíaca direita sobre a veia il íaca esquerda. Figura 37.1 I Locais mais comuns de TVP.
Por isto, a incidência de TVP isolada da veia ilíaca é mais
alta na gestação, o que dificulta o diagnóstico c aumenta
a chance de embolização. 6 A prevalência de trombose pél- TROMBOFILIAS
vica é responsável por cerca de 10% dos casos de TVP na
gravidez e puerpério, sendo muito rara fora da gestação ou Trombofilias são estados de hipcrcoagulabilidade con-
cirurgia pélvica (Figura 37.1).' gênitos ou adquiridos. Sua prevalência depende da popu-
Alguns fatores de risco, além da própria gestação, estão lação estudada, va riando entre 0,1 c 7,0%. Cerca de 50%
associados à incidência ainda mais alta de trombose veno- dos fenômenos tromboembólicos (FTE) na gravidez estão
sa nesse período: associados a esses estados. Entretanto, a trombofi lia, isola-
História de fenômeno tromboembólico prévio; da mente, mesmo na gravidez, não resulta necessariamente
gravidezes múltiplas ou por reprodução assistida; em tromboembolismo. Alem disso, a raridade de um FTE
idade acima de 35 anos; na gravidez e a elevada incidência de trombolilias hereditá-
operação cesariana- especialmente quando cmcr- rias não justificam o rastreamento dessa doença.8
gencial; A gestação é estado predisponente a algumas trombo-
obesidade; fi lias corno, por exemplo, a resistência à proteína C, que é
infecções; um anticoagulante natural. A trombofi lia está associada
uso de contraceptivo oral no pós-parto; a duas principais ocorrências adversas na gestação: FT Es
hi tória de cirurgia abdomi nal ou pélvica prévia, venosos e complicações associadas ao infarto placentário,
fraturas, trauma; tais como o crescimento intrauterino restrito (CIU R), a
repouso prolongado (> 4 dias); perda fetal, a pré-eclâmpsia, o descolamento prematuro

582 Noções Práticas de Obstetrícia


da pbccnta e a morte intrauterina.9 O rastreamcnto das comuns na gestação e, geralmente, de natureza não trom-
trombofilia tem valor limitado em mulhere com FTE bóti a. Mesmo as im, a suspe1ta clblica é a chave principal
agudo durante a gravidez, pois não modifica a conduta para desencadear a bu ca diagnó tica (Quadro 37.1).
clínica. A pe qui a de a doença deve ser con idcrada
no final da gravidez, apó a u pen ão do uso de antico-
agu lante , pois ore ultado pode modificar a conduta cm Quadro 37.11 Sinais e sintoma mais comuns d.ttrombo-
gestações futu ras. c venosa profunda c da embolia pulmon.tr
A pesquisa de trombofilia deve ser sempre considcr.1da
Trombose ver1osr~ Elllbolrd
cm: profundél pullllülldl
Pacientes jovcn que apresentem FTE recorrente ;
pacientes com perdas fetai aci ma de 20 emana Sintomas Dor no membro Dor torácica
de gestação ou pré-cclãmpsia grave abaixo de 4
acometido
Mudança na cor do
I Diaforese

emanas; membro
cp• ódio de trombo e veno a, em fatore de m. o
Peso no membro Dispneia
apa rente ; inferior Apreensão
trombo c cm locai pouco usuais, como cm veia - - ---:
Tosse
me entérica ou veia cerebral;
Sfncope
• hbtória familiar de fenômenos tromboembólico . - ---
Hemoptise i
--
As anormalidades laboratoriais que estão associ.ltbs ao Sinais Sinal de Homan Cianose
trombocmbolismo recorrente são .1 deficiência congênita r-
de antitrombina 11 1 (AT 111), de proteína C, de proteína
Edema ipsilateral Taquipneia _ j
ou de pl.t minogênio. Mulheres a intomáticas, com defi- Palidez e/ou verme- Febre
lhidão do membro Estertores
ciência ongênita de AT 111, proteína C e proteína têm, acometido Taquicardia
cerca de cinco vezes mais chance de ter tromboembolismo Veias colaterais Segunda bulha
na graVIdez. O ri co ab oluto, porém, não é muito dcvado superficiais hiperfonética
(aproximadamente 4,1'\J). A hiper-homocisteinemia e ní- F1ebite
veis clev.tdos de .tnticorpo antHo folípides são associados
.10 aumento do FTE .
A re istência congênita à proteína C ativada por mu- T ROMB O SE VENOSA PROFUN DA
tação do fator V (fator de Leidcn) carreia aumento de
nove vezes no ri co de FTE na forma heterozigóti a e de Abu ca diagnó tica inicia-se com a anam ne e c exame
34 vezc na forma homozigótica. Alguns estudos apontam clínico cuidadosos. A baixa confiabilidade na mani festação
incidência de 60'\J de fator V de Lcidcn em mulhcrc que clínica e a implicaçõc , tanto da tcrapêutic.1 anticoagu-
desenvolvem FT E na gestação. A mutação do gene da pro- lante prolongada desncccs ária quanto da não util i7ação
trombina (G202 10A) também eleva o ri co de TEV na for- do anticoagulante, demandam exames objcti vos para a
ma hctcrozigótica cm etc vezes e na forma homo7igótica con fi nnação d iagnó tica. Além d isl>o, deve-se Iem bra r que
em 26 vczes. 10· 11 12 a morte úbita é comum cm gestantes com sinais c into-
ma compatívei com FTE. A im, essa!. paciente~ devem
er obJelrva e raprdamerrlc inve tigadas. erca de .)O<Jg da
DI AG NÓSTI C O pacientes com sinais clín icos compatíveis com trombose
veno a apre entam venogramas norma i , por outro lado, é
O diagnó tico clínico da TVP c da embolia pulmonar frequente encontrarem-se pacientes sem sinais clín1cos de
é pouco prcci o, tanto na gestação como fora dela. Edema T P c com venograma alterado ." O Qj.Jadro 7.2 lista
e dor nos membros inferiores (mimeti zando TYP) c dor os exames complementares utilizados para o diagnóstico
torá i a c di~pncia (m imetizando emboliJ pulmonar) são da trombose venosa profunda.

Doenças Tromboembólicas: Tromboembolismo Pulmonar e Trombose Venosa Profunda


Q uadro 37.2 1Métodos diagnósticos de trombose venosa dos membros inferiores
Metodos dldgnost1cos Acurac1a Vantagens Desvantagens

Exame físico S=25-35% Inócuo I pode sugerir Nenhuma


E=J0-50% outros diagnósticos I
Dosagem do dlmero-D S= 100% Excelente valor preditivo Deve ser associado à US
E=60% negativo I
US de compressão I S= 96% para veias suprageniculares Baixo custo Sem complicações
Duplex Scan E=98% Fácil repetição j
AngioRM S=91,5%* Trombose pélvica e de Custo
E=94,8%* veias illacas I
AngioTC venosa S= 95,5%* Pode ser realizado junto Custo
(venografia por TCl E= 95.2%* com angioTC pulmonar Uso de contraste
Radiação
S =sensibilidade; E= especificidade; RM =ressonância magnética; TC = tomografia computadorizada: US =ultrassonografia.
• dados de metanálise de estudos com acentuada heterogeneidade;

Uma abordagem prática diante da suspeita de trom- advento de novos testes diagnósticos como a angioresso-
bose venosa profunda inicia-se com a utilização da ul- nância magnética (A R.M) e a venografia por tomografia
trassonografia de compressão do membro acometido. computadorizada (TC), a flebografia vem sendo muito
A análise da compressibilidade das veias por meio da pouco utilizada para diagnóstico de TVP, especialmente
ultrassonografia (US) apresenta sensibilidade de 96% e na gestação. Deve-se lembrar que a tomografia computado-
especificidade de 98% para o diagnóstico de trombose rizada, como a venografia, também expõe o feto à radiação,
venosa acima do joelho e um pouco mais baixas para as mas tem quase a mesma sensibilidade c especificidade para
tromboses abaixo do joelho, mas, mesmo nestas, a chance o diagnóstico de TVP que a US. A AR.M não expõe o feto
diagnóstica é substancial. 14 à radiação, porém o seu papel no diagnóstico da TVP ainda
O duplex-scan, isto é, a combinação da ecografia bidi- precisa ser mais bem-avaliado.s· 16•1-·18. 19
mensional com o doppler em tempo real, é capaz de mos- A dosagem do dímero-0 está cada vez mais presente
trar outras alterações que firmam outros diagnósticos tais no algoritmo diagnóstico dos FTEs. Na gestação, sua do-
como hematomas, cistos poplíteos e outras causas de sinto- sagem mostra aumento no decorrer da gestação, contudo,
mas nos membros inferiores. Se o teste é positivo, confirma- a sensibilidade do teste é de I 00%, especificidade de 60%e
-se o diagnóstico e inicia-se imediatamente o tratamento; valor preditivo negativo 100%.20 A interpretação varia de
caso seja negativo e a paciente permanece com sintomas, acordo com o teste utilizado. Um teste de dímero-D nega-
deve-se repetir o exame a cada três a sete dias e iniciar o tra- tivo não descarta necessariamente TEV, ele deve ser usado
tamento quando o diagnóstico se confirmar. em combinação com outros testes, especialmente a US. 21
A ultrassonografia venosa seriada é segura para utiliza- No caso de toda investigação ser negativa, deve-se pro-
ção na gestação e, apesar da necessidade de mais estudos curar outra causa para o quadro clínico da paciente.
para sua melhor validação, é o método de escolha para o
diagnóstico de T VP na gestação.15 Para o diagnóstico de
trombose ilíaca cm gestante, situação em que a US não é EMBOLIA PULMONAR
de boa resolução, deve-se utilizar a ressonância magnética
A pletismografia de impedância seriada foi rigoro- Os exames de eleição são a cintilografia pul monar de
samente avaliada na gestação e é segura, entretanto, sua ventilação e perfusão (V/ Qj ou angiotomografia pulmo-
sensibilidade c especificidade são mais baixas do que a nar. inicialmente, na busca do diagnóstico de embolia
ultrassonografia c, atualmente, é pouco utilizada. Com o pulmonar, pode-se solicitar a US de compressão, apesar de

Noções Prát icas de Obst et rícia


sul po itividade er de apenas 20 a 4096 nes a situação.22 ncado na Figura 37.2. Deve-se lembrar que, no no o país,
A cintilografia pulmonar de ventilação-perfusão atinge o ainda se utiliza a H F no lugar da H BPM, devido ao alto
feto com do c de radiação mais alta do que a angiotomo- daquela custo.
grafia (640a 800 ~tGy vs 3 a 131 f!Gy), sendo que a realiza-
ção apenas da cintilografia de perfusão reduz essa dose. A
do c de radia ão para a mãe é ma i alta com a angiotomo- DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
grafia (2,2 a 6,0 mSv vs 1,4 mSv). Mulheres com suspeita
de tromboembolismo vcno o devem cr alertada de que O diagnóstico diferencial do tromboembolisrno pul-
a cintilografia de ventilação-perfu ão expõe a criança a ris- monar é mu ito amplo, pois a embolia pulmona r é doença
co de câncer mais alto do que a angiotomografia (um caso com manifestações clínicas va riadas. Quando quadro clí-
cm 280.000 v <I cm 1.000.000. Por outro lado, reduz o nicos de pneumonia, in uficiência cardíaca ou infa rto não
risco de dnccr de mama na mãc.23 respondem ao tratamento adequado, é prudente descartar
Deve ser ~olicitado Raio-X de tórax para de cartar ,\vigência de embolia pulmonar coexistente.
diagnóstico alternativo , caso outros exames não con- Muitas condições ostcomusculare!. mimetizam a
firmem o diagnóstico de TEP ou haja suspeita clínica de trombose venosa profunda, ta i como tcndinite, di tcn ·ão
outra doenças. O fluxograma diagnóstico de TEP c TVP muscular, ci 'to poplítco, aneu risma de poplítca, hemato-
durante a gestação sugerido por Marik e Plante8 está deli- ma, celulite,linfangite, índromc pó -trombótica.

Suspeita CUnica 1VP Suspeita Clinica TEP

Iniciar HBPM Iniciar HBPM

US de compressão US de compressão
..,. J
I I I I
Negativo Positivo Positivo Negativo

Asma
Dosagem Dlmero . O Continuar HBPM RXtórax
T
Positivo
I Negativo
ou outras
Normal

Suspeita de AngioTC AngioTC Pulmonar


lVPilfaca Pulmonar ou cintilografia V/Q
I T I I
Sim Não

ARM AepetirUS Normal


I I
Positivo
Resultado
não-diagnóstico
em 5-7 dias
I
ou Positivo
ou alta suspeita

L-..: Reiniciar HBPM Continuar HBPM Angiografia pulmonar


US seriado ou ARM ou
Ouplex-scan ou duplex-scan
TC de veias ilfacas

Figura 37.21 Fluxograma para a investigação diagnóstica do trombocrnboli mo venoso na gestação.


TVP =trombo e venosa profunda; TEP =tromboembolismo pulmonar; HBPM =heparina de baixo peso molecular; U =ultrassom
de compressão; TC = tomografia computadorizada; ARM =angiorcssonância magnética ; V/Q =vcntilaç.io/ perfusão.

Doenças Tromboembólicas: Tromboembolismo Pulmonar e Trombose Venosa Profunda S8S


TRATAMENTO dicação), devendo-se evitar o uso entre seis e nove semanas
e próximo do parto, por serem, respectivamente, o período
Para a anticoagulação, habitualmente utilizam-se as de mais alto risco de teratogcnicidade e de sangramento.
heparinas (não fracionadas ou de baixo peso molecular) Além disso, a intensidade e duração dos efeitos dos warfa-
na fase aguda e o anticoagulante oral na fase de manuten- rínicos podem ser aumentadas ou reduzidas por uma série
ção. A heparina não fracionada (H NF) foi utilizada como de fatores, como dieta, medicações e cond ições que modifi-
padrão de tratamento por muitos anos, tanto na gravidez quem sua absorção, metabolismo e elimi nação.
quanto no puerpério. Atualmente, as di retrizes recomen-
dam a hepa rina de baixo peso molecular (H BPM) como
tratamento de escolha. Entretanto, devido à falta de dispo- HEPARINAS
nibilidade desse tratamento em muitos locais deste país,
optou-se por descrever os dois ti pos de tratamentos. 2H 6 As heparinas exercem sua ação ligando-se a dois cc-
fatores plasmáticos: a antitrombina III e o cofator II. Sua
ação antitrombótica está associada ao prolongamento do
ANTICOAGULANTES ORAIS tempo de tromboplastina parcial ativado (PTra).
A HNF não atravessa a placenta e os dados atuais não in-
Os anticoagulantes orais são derivados cumarínicos e dicam problemas fetais com o uso das HBPMs. Entretanto,
seu principal modo de ação é a interferência no metabolis- não estão isentas de causar problemas maternos. A necessi-
mo dos fatores da coagulação dependentes da vitamina K dade do uso prolongado da hcparina na gestação aumenta o
(II, V II, IX e X) c dos anticoagulantes naturais (proteína C risco de osteoporose, hemorragias, reações alérgicas e trom-
c S). Sua ação é controlada com base no tempo de protrom- bocitopen ia, sendo menos frequente com o uso das H BPMs.
bina e do RN I (lnternational Normalized Relatio11). Esta afccçáo induzida pela heparina ocorre em até 3% dos
O uso de anticoagulante por tempo prolongado duran- pacientes expostos, sendo rara na gravidez. Há dois tipos de
te a gravidez merece algumas considerações. Os derivados trombocitopenia induzida pela hcparina: tipo I, que se verifica
cumarínicos, sendo o Warfarin® o mais utilizado no nosso em poucos dias de exposição, é autolimitada c benigna; tipo
meio, atravessam ,1 placenta e são capazes de causar terato- 11, que é observada em três a 21 dias da exposição, é autoimu-
genicidade e complicações hemorrágicas no feto, além de ne e está associada à trombose venosa e arterial. O uso da he-
perdas fetais e mortes neonatais. A embriopatia warfarínica parina deve ser suspenso quando as plaquetas caírem abaixo
ocorre em torno de 6,4% dos fetos expostos ao warfari n, en- de 150.000 ou 50% da contagem inicial. O Quadro 37.3 mos-
tre seis e 12 semanas de gestação.A característica mais mar- tra as diferenças entre os dois grupos de heparina. 28.l9·10
cante dessa síndrome é ahipoplasia nasal, apresentando, ain-
da, encurtamento das extremidades e anomalias vertebrais Quadro 37.3 I Características das heparinas
(condrodisplasia punctata). Hemorragias intracranianas,
HepéHrnil Hepa·rnél de IJarxo
microcefalia, retardo mental, atrofia do nervo ótico ou mes-
na o li ucronada peso moleculur
mo morte fetal podem ocorrer com a utilização do anticoa-
gulante oral no segundo e terceiro trimestres. Fetos expostos Vida média mais curta Vida média mais longa
aos cumarínicos, iu utero, têm risco mais alto de disfunções Biodisponibilidade de 30% Biodisponibilidade de 90%
neurológicas míni mas e baixo coeficiente de inteligência. As- Mais hemorragia (3 a 8%) Menos hemorragia
sim, o uso dos anticoagulantes orais deve ficar reservado para
Mais osteoporose (± 15%) Menos osteoporose (± 2,5%)
o período pós-parto. E para pacientes portadoras de prótese
mecànica cardíaca, em qualquer outra situação, os cumaríni- Mais plaquetopenia (2 a 20%) Menos plaquetopenia
cos devem ser substituídos pelas heparinas.2- Necessita de controle Não necessita de controle
Nas pacientes portadoras de próteses valvares cardía- laboratorial laboratorial
cas metálicas, anticoagulantes orais devem ser utilizados
com cautela, usando-se sempre a míni ma dose possível (a
IMais estudos validados Menos estudos validados I

Custo mais baixo Custo mais alto I


teratogenicidade tem também relação com a dose da me-

586 Noções Práticas de Obstetrícia


O trat;uncnto na fa c aguda inicia- e com /lolus de he- laboratorial c tem menos incidência de efeitos colaterai . As
parina njo fracionada (H F) de -.000 a 10.000 U por H BP~I podem cr utilizada como pnmwa opção de tra-
\'tJ endovcno a (E ), mantendo bomba de infusão a 18 tamento c deverão er suspensas 24 hora ante do parto,
U, kg hora ou entre 1.000 e 2.000 U/ hora, por cinco a quando cm do c terapêutica , c 12 horas qua ndo cm do es
lOdias. A dose de heparina deve er aju tada para manter profilática .30 . 12 A do e utilizadas e o tipo da H BP1'vl e -
P1Ta entre 1,5 c 2, - vezes o controle. Parece haver neces- tão n.:l.tcionados no Q uadro 37.5.
sidade de do c ma i alta de heparina no primeiros dias de
tratamento. O Quadro 37.4 ilustra os ajustes de dose da hc- Quadro 37.5 IAnticoagulação com H BPM
parina não fracionada (HNF) na TV P baseado no tempo Tq)() tlt! HBPM Ouses I UII
de tromboplastina ativado (PTra).
A contagem de plaquetas deverá cr realizada diaria-
Nadroparina cálcica 186 antiXa UI/kg Se
' (duas vezes ao dia)
mente, na busca por trombocitopenia, nolt primeiro trc
dia de tratamento c, depois, emanalmcnte. E sa compli- Enoxaparina 1mg/kg se·
(duas vezes ao dia)
cação é encontrada cm meno de Itio do paciente tratado ----------4-- -----------~
por cinco a sete dias e não é comum ao final de 14 dias de Dalteparina 200 antiXa UI/kg se••
(uma vez ao dia)
uso. Após o tratamento da fase aguda, util iza-se a me ma
H r F cm injcção ubcutânea ( C). Aju ta- c a do e até o SC = uso subcutaneo. HBPM = heparma de ba1x0 peso molecular.
UI = umdades mternac1ona1s, Kg= quilograma
PITa alcançar a faixa de 1, - a 2,5 vezes o controle, real. lado • Pode ser utilizada dose de 1,5 mg/ kg/d1a
sei hora · apó a injeção subcutànea. Esse esquema deverá • • Não exceder a dose de 18.000 UI
er manttdo até o parto. A H F deve er u pensa quatro a
eis hora antes do parto, quando a via administrada é cn-
dovcno a. Quando a via utilizada for a subcutànca, a inter- PARTO
rupção deverá idealmente cr 12 a 24 hor.t antes do parto.
O reinício da administração da hepa ri na deverá cr ci a I O Pacientes com TEP no final da ge tação devem usar
horas após o parto, por via cndovenosa, preferencialmente. ox igenioterapia para alcançar aturação de O, > 9'% c
E a opção c deve à interrupção mais r.\pida de sua ação H N F. Deverão ser transferidas p.ua ho pita! de cuidado
em ca o de angramento. Entretanto, c a paciente for usar terciário com unidade neonatal c ca rdiova~cular. e con-
H BP I cm doses terapêuticas no pó -parto, da deve ser firmado o diagnó ti o, deve- e implantar um filtro de veta
rcini iada 12 hora pós-parto ou 24 hora após no caso de cava temporário e suspender a hcp.wna no 111tCtOdo traba-
anc te ta pendurai ou cpidural. lho de parto ou quando e considerar o parto operatório.11
Apesar de nenhum estudo ter validado eu u o na gra- lo cgundo dia p -parto, 1111Cta- e o antt oagulantc
videz, as H13PMs podem cr utilizadas em qualquer mo- oral. A H N F ou a H BPM deverá ser mantida até atingi r a
mento durante a gestação c no pós-parto, para tratamento dose adeq uada da anticoagulação oral. O .tnticoagulante
.tgudo c de acompanhamento das tromboses. Apre cnta oral é aju tado para unu dose tal que o tempo de protrombi-
facilidade de ad ministração, não necessita de monitoração na (T P) alcance uma faixa de R I de doi .1 trê . Es c nível

Quadro 37.41 Aju te de doses de hcparina para terapia da T P


PTLrlsr•qur1dosl Bulus I U kql lrlfusdo lU liordl Rr•petrr PTTd lelll horas)

< 50 I 70 +200 4 I
50-59 o + 100 4 I
60-80 o o diário I
~--
81-99 o -1 00 4 )
I > 100
I o
TVP = trombose venosa profunda. PTTa = tempo de tromboplastma parcial auvado
I -200
I 4 I

Doenças Tromboembólicas: Tromboembolismo Pulmonar e Trombose Venosa Profunda


de anticoagulação (RN I entre 2,0 e 3,0) deve ser mantido Quadro 37.6 1 Protocolo para introduzir e manter o war-
por três a seis meses, nos casos de TEP/ TVP durante ages- farin no período pós-parto (British Society for Haematology
tação. Iniciar com dose diária de S mg e aumentar à medida Guidc/i11es)
que for necessário, a cada três a cinco dias. Esse esquema é 0 1a do tratamento RNI Dose do warfar1n (mg)
mais lento para a anticoagulação plena, porém reduz o risco com o w ar f ann
de quadro hemorrágico. Primeiro 7.0 I
t imprescindível que a paciente esteja em uso de hepari- 7.0
Segundo I
na ao ser iniciado o anticoagulante oral, pois, nos primeiros
dias, ele pode estimular a coagulação, podendo causar púr- Terceiro <2.0 7.0 I
pura vascular. O uso do anticoagulante oral não contraindi- 2.0-2.1 5.0
I J
ca a amamentação. 24
2.2-2.3 4.5 I
O Quadro 37.6 indica o ajuste da dose do warfarim no
2.4-2.5 4.0 I
pós-parto.
2.6-2.7 3.5 I
2.8-2.9 3.0 I
COMPLICAÇÕES
3.0-3.1 2.5 I
A complicação matern a mais freq uente da anticoagu- 3.2-3.3 2.0 J
laç:io é o sa ngramento. Cerca de 5% das pacientes tratadas 3.4 1.5 I
com hepari na SC ou EV têm sangramentos signi fica tivos, I
3.5 1.0
ou seja, aqueles que necessitam de he motransfusão. O ris-
co de sa ngra mento é m ais alto em pacientes com PITa pro- 3.6-4.0 0.5
longado (apesar de haver sa ngramento, por doses elevadas I >4.0 0.0
de heparina sérica, sem alterações significativas do PTTa), I
Quarto < 1.4 > 8.0 I
em pós-operatório recente, doença hepática, trombocito-
penia ou em uso de outras medicações potencializadoras, I 1.4 8.0 I
como os antiplaquetários. As HBPMs provocam menos 1.5 7.5
I
episódios he morrágicos. Q uando necessário, deve-se utili- 1.6-1.7 7.0
zar o sul fato de protamina para controle dos sangra mentos
1.8 6.5
causados pelo uso das hepa rin as. !
Na terapêutica com anticoagulante oral, o risco de 1.9 6.0 !

sa ngramento é mais alto quanto mais prolongado estiver 2.0-2.1 5.5 i


o tempo de protrombina (TP). Pacientes em uso de war-
2.2-2.3 5.0 I
farin com RN I muito elevado, mas assintomáticas, podem
ser tratadas apenas com a interrupção da medicação (se o 2.4-2.6 4.5 I
R N I < 6) ou usar vitamina K (oral, SC ou EV). No caso de 2.7-3.0 4.0 I
sangra mento, deve-se interromper o warfarin, adotar me-
3.1-3.5 3.5 I
didas locais p ara controlar o sangra mento e, se necessário,
3.6-4.0 3.0 I
adm inistrar vitam ina K, plasm a ou concentrado de fator
IX. Considerar a colocação de fi ltro em veia cava inferior 4.1-4.5 Omitir a dose do próximo dia
em pacientes com tromboembolismo recente. 34 e então administrar 2 mg
>4.5 Omitir a dose dos próximos
dois dias e então adminis-
trar 1 mg
RNI = lntemational Normalized Relation. mg = miligrama.

588 Noções Práticas de Obstetrícia


PROFILAXIA à recorrência. Primeiramente, verificar se ela ai nda tem
sinais de trombose venosa e c é portadora de trombofilia.
Os eguintcs regimes podem ser usados para profilaxia Após es a avaliação inicial, deve- c classificá-la conforme
do fenómeno trombocmbólico na ge tação: o eguintes iten :
HNF projilática: ' .000 U de HNF subcutânea FTE recente cm tratamento com esquema de an-
(SC) de 12/ 12 horas; ti oagulação terapêutJ a ou FTE agudo durante a
H F dose inter111ediária: lO.OOO U de H N F (ou gravidez;
dose suficiente para uma do agem de fator antiXa p.1ssado de FTE, com fator de ri co transitório;
entre O, I c 0,3 U/ ml), SC, de 12/ 12 horas; único FTE idiopática prévio, sem uso crónico de
H N Fajustada: H N F, SC de 12/ 12 horas para che- anticoagulante;
gar ,\ um PTT.1 ajustado para do c terapêutica único FTE, a ociado .\ trombofilia, sem uso de an-
(1,5 a 2,5 vezes o controle); ticoagulante;
HRPM projiláltca: 5.000 U, C, de dalteparina trombofilia sem passado de FTE;
de 24/ 24 horas ou 40 mg, C, de cnoxaparina de dois ou mais episódios de FTE e/ ou em uso de anti-
24/ 24 horas ou 4. 00 U, C, de tinzaparina; coagulante crônico, por FTE idiopática ou a ceia-
HBPM dose intennediária: 5.000 U, SC, de daltepa- do à trombofili a.
rina de 12/12 horas ou 40 mg, C, de enoxaparina
de 12/ 12 horas;
H RPM dose a;11sfada: doses ajustadas terapêuticas O Qpad ro 37.7 apresenta a uge tõe do Amencan
da H BPMs (dalteparina 200 U/ kg ou 100 U/ kg ollege of Chest Physicians e American College of Obstetncs
131O ou enoxaparina I mg/ kg de 12/ 12 horas); a11d Cyllecology dos regimes profil:itico para es a itua-
anticoag~tlante pós-parto: warfa rin por quatro a seis ções, entretanto não há c tudos random izados na li tera-
semanas, com RN I entre 2,0 e 3,0 com HNF ou tu ra para guiar as decisões em relação a essa profi laxia.
H BPM inicialmente até o R I chegar a 2,0 ou Assim, as recomendações são baseada cm c tudo re-
H BPM profilática. trospectivos e opiniões de especialista (nfvel de evtdên-
W I C). O ri co para cada paciente deverá ser individua-
A paciente com risco aumentado de fenômeno trom- lizado para avaliar quão agressiva va i ser ,\ profilaxia na
bocmbólico (FTE) na ge tação deve ser avaliada quanto ge tação. 24 l\

Doenças Tromboembólicas: Tromboembolismo Pulmonar e Trombose Venosa Profunda


ssg
Quad ro 37.7 1 Regimes de profilaxia recomendados cm gestantes em vários cenários clínicos

HIS!OI Id CIII11Ld Rf!91 rnes P1 oh lilt 1c os SIICJPr~clos G1du de


Recornenclacao

1 passado de FTE com FR transitório não presente Observação clfnica anteparto c


sem trombofilia Profilaxia anticoagulante pós-parto I
1 passado de FTE com FR transitório relacionado Observação clinica ou dose profilática ou intermediária c
ao uso de estrogênio ou gravidez sem trombofilia de HNF/HBPM anteparto
1 passado de FTE idiopática Profilaxia anticoagulante pós-parto
1 passado de FTE com trombofilia confirmada Dose profilática ou intermediária de HNF/HBPM ou c
observação clfnica anteparto
Profilaxia anticoagulante pós-parto
Pacientes com trombofilias de alto risco*. com Dose profilática ou intermediária de HNF/HBPM c
passado de um FTE anteparto
Profilaxia anticoagulante pós-parto
<! 2 FTE Dose profilática ou intermediária ou ajustada de HNF/ c
HBPM anteparto
Profilaxia anticoagulante pós-parto
Pacientes em uso de anticoagulante continuo por Dose ajustada de HNF/HBPM ou 75% da dose ajustada c
passado de FTE de HBPM ou dose intermediária de HBPM anteparto
Anticoagulante pós-parto
Todas as gestantes com FTE prévio Meias elásticas anteparto e pós-parto c
Pacientes com trombofilia. exceto deficiência de Observação clínica ou dose profilática de HNF/HBPM c
AT III. sem FTE prévio anteparto
Profilaxia anticoagulante pós-parto
Pacientes com deficiência de AT III. sem FTE prévio Profilaxia anticoagulante anteparto e pós-parto c 1
HBPM = heparina de baixo peso molecular; HNF = heparina não !racionada; FTE =fenômenos tromboembólicos; FR = fator de risco.
• Trombofihas de alto nsco: deficiências de AT III. anticorpos antifosfolipídios positivos. homozigose ou heterozigose para fator V leiden ou mutação do
G20210A

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Doenças Tromboembólicas: Tromboembolismo Pulmonar e Trombose Venosa Profunda


591
38 Doenças do Aparelho Urinário
uzana Maria Pire do Rio
Beatriz Amélia Monteiro de Andrade

Alterações Fisiológicas do Sistema Urinário Pacientes em Tratamento Dialítico


Anatomia Renal Recomcndaçõc para o Controle da
Hemodinãm1ca Gc tante cm Tratamento Dialítico
Elctrólitos e Agua Controle da Hipertensão
Equilíbrio ÁCido-básico Controle da Anemia
Infecção do Trato Urinário utrição
Conceito Transplante Renal
Etiologia Condições Ideais par,\,\ Gravidez
Complicações Matemas Associadas à ITU Controle Pré-natal da Gestante Transplantada
Complicações Pcrinatais Associadas à ITU Uso de lmunossupressores
Diagnóstico Parto
Quadro Clínico Aleitamento
Tratamento Contracepção Pós-parto
Q\Jimioprofilaxia Nefropatia Diabética
Acompanhamento da Paciente com Efeitos da efropatia Diabética obre a Gravidez
Doença Renal Crôn ica Efeito da Gravidez sobre a Nefropati,l Diabética
Aconselhamento Pré-concepcional Avaliação Pré-concepcional
Exame Pré-conccpcion,li Acompanhamento Durante a Gravidez
Testes de Avaliação da Função Renal Nefrite Lúpica
Evolução da Gravidez com Doença Renal Fatore Prognósti os
Controle Pré-natal AvaUação Pré-concepcional c Seguimento Pré-natal
Parto e Doença Renal Tratamento
O rientação Pós-parto Amamentaçjo
Graus de Recomendação

o di cutir infecção do trato urinário (ITU) c do- As ITUs repre entam a forma mais frequente de in fec-

A enças renais na gravidez é preciso ter cm mente


que e e tá diante de amplo leque de po ibili-
dade que vão desde a incidência das doenças às manifes-
ção bacteriana no ciclo gravídico-pucrperal, com ex prc sivo
potencial de complicação tanto no prognóstico materno
corno no perinatal, se não reconhecidas e tratadas a tempoY
tações clínic,\s, diagnóstico c tratamento até o prognóstico A grávida portadora de doença renal, a pesa r das pro-
materno e fetal. fundas modificações que ocorrer.1m nos últimos 40 anos
em relação ao resultado perinatal, ainda é vista por mui- HEMODINÂMICA
tos profissionais como uma mulher que não deve engra-
vidar, pois, se o fizer, compromete seriamente as chances Na gravidez normal, ocorre aumento do fluxo renal plas-
de sobrevida do concepto e o seu próprio prognóstico. 3 mático (FRP) de 50 a 80% e do ritmo de filtração glomeru-
Contudo, é preciso ter consciência de que, com a evo- lar (R FG) em torno de 50% acima dos níveis não gravídicos.
lução do tratamento da paciente renal, a restauração da Essa hiperfiltração não gera aumento da pressão capilar glo-
função endócrina passou a ser realidade e, cada vez n•ais, merular ou efeitos adversos em longo prazo sobre a morfolo-
essas mulheres estão engravidando, seja pelo desejo de se gia do gloméru lo. O aumento do ritmo de filtração glomeru-
tornarem mães ou por fa lha na orientação médica quan- lar e do fluxo renal plasmático pode estar presente já na fase
to a essa possibilidade. Nos Estados Unidos, em 1999, a lútea do último período menstrual.6 Ambos estão signi fica-
taxa de nascidos vivos de mulheres com história de do- tivamente elevados com seis semanas de gestação, quando,
ença renal foi de 6,6: 1.000.4 No entanto, o importante paralelamente, detecta-se diminuição da resistência periféri-
é, diante de uma mulher com comprometimento renal ca e elevação do débito cardíaco. Essas modificações do rit-
e grávida, saber que ela necessita de acompanhamento mo de fi ltração glomerular e do FRP atingem o máximo no
multidisciplina r extremamente rigoroso para que se pos- segundo trimestre (entre IS e 18 semanas). Após a 36• sema-
sa prevenir ou tratar precocemente as complicações que na de gestação verifica-se diminuição fisiológica do ritmo de
venham a surgir. filtração glomerular de mais ou menos 15%, retornando aos
Tal acompanhamento exige dos profissionais pleno valores pré-gestacionais três meses após o parto.'·6
conheci mento das alterações fisiológicas que aconte- O aumento do ritmo de filtração glomerular não se
cem no sistema renal durante a gravidez. Assim, estarão acompanha de aumento significativo na produção de crea-
aptos a reconhecer complicações, intervindo a tempo, tinina e ureia, levando à diminuição dos níveis plasmáticos
além de min imizar erros diagnósticos por interpretação desses solutos.-1•6 No caso da ureia, a dimi nuição deve-se,
incorreta de resultados de exames que refletem essas também, ao decréscimo na degradação de proteínas. Isso
modi ficações. significa que achados laboratoriais normais desses solutos
para mulheres não grávidas, quando encont rados em ges-
tantes, podem significar di mi nuição da função renal.
ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS Ainda como consequência do aumento do ritmo de
DO SISTEMA URINÁRIO fi ltração glomerular, observa-se aumento da excreção de
aminoácidos, vitami nas hidrossolúveis, sódio, potássio,
cálcio, proteínas e glicose.
ANATOMIA RENAL Aglicosú ria pode ocorrer em mais de 50% das mulhe-
res grávidas devido ao aumento do RFG sem a correspon-
Modificações anatômicas signi ficativas surgem no iní- dente elevação na capacidade de reabsorção tubular. No
cio e acentua m-se no decorrer da gestação. Observa-se au- entanto, costuma ser intermitente e sem relação com os
mento de 30% do volu me renal, resultado do aumento do níveis plasmáticos de glicose. 3·s
ritmo de fi ltração glomerular e do fluxo renal plasmático.
A dilatação do sistema coletor é uma das alterações mais
marcantes. A progesterona, por sua ação miorrelaxa nte, ELETRÓLITOS E ÁGUA
associada à compressão mecânica do útero, promove dila-
tação ma rcante nos ureteres, favorecendo a estase urinária A gravidez é estado de absoluta hipervolemia. Grande
de até 250 mi nessas vias, levando à hidronefrose. Cerca de parte do peso acumulado pela gestante advém do ga nho de
90% das gesta ntes a termo apresentam esse quadro, que é água corporal total, entre seis e nove litros, dos quais qua-
mais acentuado no lado direito e pode persistir por 12 a 16 tro a seis litros estão d istribuídos no espaço extracelular. O
semanas após o parto, dificultando, sobremaneira, a inter- volume plasmático aumenta 40 a 50%, sendo mais expres-
pretação de exames radiológicos ou ultrassonográficos.s sivo no meio da gestação. Já o aumento no volume intersti-
Estes, se possível, devem ser postergados. cial é mais significativo no terceiro trimestre. As alterações

594 Noções Práticas de Obst e tricia


no volume do líquido corporal ão decorrentes da retenção ETIOLOGIA
tubu la r cumulativa de mais ou menos 900 m Eq de sódio
durante toda a gestação. A retenção diária é de, mais ou me- A contaminação do trato urinário da ge tantc pode
nos, 2 a 6 m Eq. E e aumento de água e sódio é distribuído se dar por três vias: ascendente, hematogênica e linfática.
ent re os produtos da concepção e no espaço extracelula r Considera-se a via ascendente a mai importante na pato-
materno. O incremento no volume intrava cular materno gênese das infecções urinárias. Dentro do espectro bacte-
leva à hemodilu ição fi iológica ob crvada na gestaçãoY ria no que pode causar !TU na gesta nte, a Eschenclun coli
Devido ao incremento do RFG, a grávida encontra-se é o patógeno mais comum, responsável por cerca de 80%
sob balanço precário de ód io e, na ausência de um meca- do ca o . Outras bactéria aeróbias gram negativo con-
ni mo compen atório, ela poderia entrar em colapso circu- tribuem para a maioria dos casos restantes, tais como Kle-
latório. Assim, de envolve-se fisiologicamente reabsorção bsrelln pnetmtoniae, Protcus llllrnhilts c bactérias do gcncro
de ódio no túbulos prox imais, regulada pela pressão Ertterolmctcr: Bactérias gram po itivo também causam !TU,
oncótica e hidrostática dos capila res peritubulares, onde :tpe ar da baix:1 prevalência, destacando-se o taphylococcus
ocorrem 70%da reab orção. O ódio restante crá reabsor- snproplryticus, treptococcus agalactiac e outros estafilococos
vido nos túbulos distais, a partir da estimulação do siste- coagulase negativos, principalmente em ca o de infecçõe
ma rcni na-.mgiotcnsina-aldosterona. Portanto, a restrição complicadas com litíase.7
à ingestão de sa l na gravidez só deve ser prescrita quando
houver indicação preci a.15
COMPLICAÇÕES MATERNAS
ASSOCIADAS À ITU
EQUILÍBRIO ÁCIDO-BÁS ICO
As complicações maternas da !TU são mais frequente-
a gravidez normal, observa-se associação de alcalo e mente ligada à pielonefrite, que pode causar le âo tccidual
re piratória e acido e metabólica. A mudança ocorrem no pela endotoxinas bacterianas. Assim, pode ocorrer insu-
início da gestação c são mantidas até o termo. Aalcalose re pi- ficiência rc piratória, disfu nção renal tran itória c choque
ratória deve- e ao aumento na ventilação alveolar promovido éptico.
pela progesterona, que se soma, no final da gestação, ao efeito Outras complicaçõe incluem anemia, corioamnioni-
me à nico do útero aumentado de volume obre o diafr,\gma, tc c endomctrite. A anemia hemolítica pode aparecer cm
promovendo queda da pressão arterial do COr A acidose 25 a ""'0% das gestantes com IT U, como con equcnci,l da
metabólica é resultado da diminuição do bicarbonato plas- destru ição critrocitária decorrente da atividade das cndo-
mático. Essas alterações fisiológicas, no entanto, podem trazer toxi na bacteriana . Qpadro como ob ·trução urinária,
alguma desvantagen para a gestante. Por exemplo, ela terá ab cc o e celulite perinefrética são mais difícei de serem
mais dificuldade para manter o pH diante de acidose metabó- encontrados c, quando presente , e tão a sa ciados a cálcu-
lica aguda, uma vez que a pC0 2 já e tá reduzida.'-' lo ou quadros resistentes ao tratamento. Embora alguns es-
tudos demonstrem que há relação entre !TU e hipcrtcn. âo
na gravidez, essa associação é controversa.'
INFECÇÃO DO T RATO URINÁRIO

CONCEITOS COMPLICAÇÕES PERINATAIS


ASSOCIADAS À !TU
Como ITU entende-se a prcsenç:1 e repl icação de bac-
téria no trato urinário, provocando da nos ao tecido do As principais complicações perinat.lis são: prematu-
sistema uri nário. ridade; recém-na cidos de baixo peso; rotura prematur,\
Essas infecções podem ser agrupadas em quatro enti- das memb ranas; restrição de crescimento fetal intraúte-
dades clínicas diferentes, mantendo, toda,ria, relaçõc entre ro; paralisia cerebral ou retardo mental na inf.1ncia; bito
ela : bacteriúria a intomática, uretrite, cistite c pielonefrite: perinatal.-

Doenças do Aparelho Urinário


595
DIAGNÓSTICO vem como testes de screeningpara diagnóstico, a menos que
sejam utilizados em associação com outros testes. 10
Em 1999, Pastore et a/.8 conduziram estudo de coorte for-
mado por mais de 6.000 gestantes em seguimento pré-natal,
tentando identificar características epidemiológicas predito- GR AM DE C OTA
ras de infecção urinária. Encontraram dois fortes indicado-
res: história de infecção urinária prévia à gravidez e infecção Segundo o conhecimento atual, parece que a coloração
urinária na gravidez atual antes do início do pré-natal. de amostra urinária pelo gram é o melhor dos testes rápi·
Vários métodos laboratoriais podem ser utilizados para dos disponíveis para rastreamento de ITU, apresentando
o diagnóstico da infecção urinária. sensibilidade e especificidade satisfatórias (9 1 e 89%, res-
pectivamente). Consiste na observação microscópica da
urina corada pelo gra m, melhorando a acurkia da uroaná-
U RI A R OTI A ( U Rl A T I PO 1) lise microscópica. No entanto, não supera a urocultura.11.1 2

Entre as alterações passíveis de detecção no exame de


urina tipo l, estão leucocitúria, hematúria, proteinú ria e a U ROCU LTU RA
presença de cilindros no sedimento urinário. Elas podem
traduzir ITU, mas, na realidade, correspondem apenas a si- É considerada o padrão-ouro para o diagnóstico labo-
nais de inflamação e nem sempre indicam infecção uriná- ratorial das IT Us, com elevada sensibilidade. Tem como
ria, podendo estar presentes também em outras doenças. inconvenientes o preço, o tempo gasto para se obter o nú-
Deve ser lembrado ta mbém que um exame de urina mero de colônias bacterianas e o antibiograma e a neces-
tipo I normal não afasta o diagnóstico de infecção uri- sidade de profissionais habi Iitados para sua rea Iização.l l.ll
nária, não sendo o ideal para rastreio da infecção assinto- Em casos assintomáticos, o achado de mais de 100.000
mática entre gestantes. O exame de urina tipo 1 também colônias de bactérias/mi colhidas em jato médio e de manei-
é normal nos casos de infecção pelo bacilo de Koch. No ra asséptica sugere infecção. Valores entre 10.000 e 100.000
entanto, em pacientes sintomáticas, aceita-se esse exame correspondem à infecção em 50% dos casos. Se o resultado
para sustentara indicação de início da terapêutica até que o for inferior a I 0.000 colônias/ ml, existe risco de 2% de haver
resultado do cultivo urinário seja conhecido.-·9 processo infeccioso. Se a urina for colhida por cateterismo
vesical, o encontro de valores entre 10.000 e 100.000 signi-
fica infecção e, se colhida por aspiração suprapúbica, a infec-
T ESTES BIOQUÍM ICOS ção é diagnosticada com qualquer número de bactérias. 11

Atualmente, têm-se buscado testes rápidos e de baixo


custo para o diagnóstico de infecção urinária, baseados na H EMOG RAM A E Fu ÇÃO R ENAL
mudança de cor dos reagentes de acordo com a bioquími-
ca urinária. Dois desses testes se revestem de importância: Hemograma com contagens globais e diferenciais de
o teste do ni trito e o da csterase de leucócitos. O primeiro glóbulos brancos, ureia e creatinina são exames importan-
baseia-se na capacidade de certas bactérias para reduzirem tes para identificar a agressividade da infecção traduzida por
o nitrato uri nário em nitrito. Tem sensibilidade de 50% e alterações hematológicas e parâ metros da fu nção renaF
especificidade de 97 a 100% e pode apresentar resultados
falso-positivos quando utilizado em urina contami nada
por germes vaginais ou urina concentrada, uma vez que H EMOC ULT U RA
segue princípios colorimétricos. O teste da esterase de leu-
cócitos possui baixa sensibilidade e especificidade (25%) e Diante de quadro clínico de pielonefrite a hemocultura
também pode apresentar resultados falso-positivos. Am- pode ser útil na identificação do agente etiológico (nem sempre
bos apresentam baixa sensibilidade e, portanto, não ser- identificável na urocultura), além de indicar o risco de sepse. 12

596 Noções Práticas de Obstetrícia


FxAMI.~ D I ht At.L\t moglobinopatias, as nefropatias · independentemente
de sua etiologia -, as anemias, a hipertensão arterial, o
A ultrassonografla, a tomografia computadorizada e diabetes mellitus, as anormalidade do trato urinário e o
a re onância magnética têm indicação restrita àq ueles tabagismo.' 6 · 1• O rastrea mento precoce c o tratamento
casos de cistite/ pielonefrite não resolvidos com terapia da bactcrillria assintomática na gravidez tem benefícios
empírica; a umcm ma i importância para o d iagnó tico maternos e fetais. Em revisão da Cochranc, 14 ensaios
de compiicaçõcs c, também, para evidencia r aIter,tçõcs es- cl ínico randomizados foram avaliados quanto ao re-
truturai e/ ou fu ncionais do si tema uri nário. 12 sultados, comparando-se o tratamento com antibióti-
cos versus placcbo ou não tratamento. O uso do antibió-
tico foi significativa mente mais efetivo na resolução da
QUADRO C LÍNIC O bacterill ria (OR-0.07; IC 95%: 0,05-0,10), na redução
da incidência de pielonefrite (OR-0.24; !C 95%: 0, 19-
BACI [ R I ÚR I AA~\ 1 TOi\IATKA 0,32) c na d iminuição das taxas de traba lho de parto
pré-termo ou de recém-nascidos de baixo peso (OR-
Bacterillria ocorre em 2 a li % das gestações, particu- 0.60; !C 95%: 0,45-0,80).' 8
larmente em multíparas de baixo nível ociocconômico, Embora o dado da literatura permaneçam inconclu-
com prevalência imilar à de mulheres não grávidas. O sivo em relação à duração c ao melhor e quem a a cr uti-
microrgani!>mos também ão imilare cm rcl.l ão a e · lizado p.tra o tratamento da bacteriúria assintom:itica, este
pécic c virulência. Assim, pode-se considerar que o rnc- deve ser iniciado para toda gestante com urocultura positi-
c.mismo b:\sico de entrada da bactéria no trato uri n.lrio é, va.'920 V.l rios esquemas são propostos e devem ser escol hi-
provavel mente, o mesmo para ambos os grupos. 11 dos de acordo com o antibiograma, ,\idade ge tacional e a
Bacterill ria qua e sempre surge no primeiro mê de adesão da paciente.
gravidez e, frequentemente, está associada à dirnimnção
na habilidade de concentração da urina, sugerindo envol-
vi mento do ri m. O relaxamento da musculatura lisa c a CJ~ I I 1'1 :
dilatação urctcral também facilitam a a censão da bacté-
ria da bcx1ga para o rim. O resultado de sas modificaçõe A cistite pode o orrer i\oladamcntc ou progredir para
fisiológica\ é a alta probabilidade da bacteriúria progredir pielonefrite. a grávida, a c i ti te aguda, gcr.tl mcntc, é con-
para pielonefrite (até 40%) durante a gestação. siderada infecção complicada. Clinicamente, manifesta- e
Caracteriza- e pela colonização bacteriana do trato por disll ria, urgênci,l miccional, polaciLJri.t, nictúria c dor
urinário sem qualquer manifestação clínica. Tendo em uprapúbica. Febre, nc seca o, não é comum, não havendo
vista os benefício do d iagnóstico precoce, algun estu- comprometi mento do estado geral. A cs~.l si ntomatologia
dos consideram a utilização de apenas um exame com associa-se urocultura com contagem ma1or de I00.000
mais de 100.000 colônias/ ml como diagnó tico de UF / mi. Na anamnesc, a ocorrência prévia de quad ros
bacterillria assintomática.' 1 Entretanto, o conceito mais semelhantes, diagnosticado · como cistite, deve cr valori-
aceito na literatura é o de duas uroculturas positiva , ou zad.t. Muitas vezes os si ntomas mencionados podem estar
seja, com mais de 100.000 colônias de um único tipo presentes na gestante sem infecção urinária em decorrên-
de bactéria por mililitro de urina.'4 Tal definição vi a a cia da alterações fi iológica · do trato urinário.''
evita r os resultados fa lso-positivos, que podem chegar
a 40% qua ndo ba eados em uma ú nica urocultura.11 14
O rastreamento deve ser realizado entre 12 c 16 sema- Pllll)\;LJ RITE
nas de gc tação.'~ ovo rastrea mento, gera lmente, não
é realizado em gestantes de baixo risco, mas deve ser A mcidência de pielonefntc aguda na gravide7 e tá di reta-
considerado naquelas com alto risco de infecção. Entre mente relacionada com a identificação c o tratamento eficaz
as cond ições que contribuem para o aumento da bacte- da b.lCtcriúria assintom:1tica, sendo esse riKo reduzido 70
rillria a sintomática entre gestantes destaca m-se a hc- a '09o se a bacteriúria for crradicada.'x Estudo prospectivo

Doenças do Aparelho Urinário


597
identificou, em um período de dois anos, incidência de pielo- Na revisão da Cochrane realizada por Villar et a/. 20
nefrite de 14:I000 partos. Aparentemente, o risco foi discre- foram analisados resultados da antibioticoterapia para
tamente mais alto em nulíparas.A maioria dos casos ocorreu bacteri úria assi ntomática com esquemas de diferente
no segundo trimestre (53%), comparado com 21 e 26% para duração de tratamento. Os autores concluíram que as
o primeiro e o terceiro trimestres, respectivamente.21 evidências são insuficientes para afirmar que o tratamen-
As manifestações clínicas da pielonefrite aguda não to de dose única seja equivalente ao tratamento de mais
complicada habitualmente iniciam-se como quadro de longa du ração (q uatro a sete dias). Por isso, recomenda-se
cistite, acompanhado de febre geralmente superior a 38•C, que sejam uti lizados os regimes padrões de tratamento
calafrios e dor lombar, uni ou bilateral. Essa tríade febre, ca- durante a gravidez.
lafrios e dor lombar está presente na maioria dos quadros Em relação ao trata mento da !TU sintomática, outra
de pielonefrite. A dor lombar pode se irradiar para o abdo- revisão da Cochrane analisou os agentes antimicrobia-
me ou para o(s) flanco(s) e, mais raramente, para a virilha. nos mais efetivos para o tratamento dos quadros de lTU
Ao exame, a paciente encontra-se com o estado geral com- sintomática em termos de taxa de cura, recorrência da
prometido, às vezes desidratada, com dor a punho-percus- infecção, incidência de parto pré-termo c necessidade de
são (Giordano positivo). A gestante pode apresentar com- troca de antibiótico. Nessa revisão, todos os antibióticos
plicações graves tanto do ponto de vista clínico quanto foram efetivos e as complicações ra ras. ão foi possível,
obstétrico, tais como: anemia (23%); bacteremia (17% nos no entanto, devido à falta de evidência, recomendar o es-
casos pesquisados); insuficiência respiratória (7%) e dis- quema ideal de tratamento. 1 ~
função renal (2%). Estima-se que aproximadamente 20% Pesquisa realizada em 2002 no Hospital das Clínicas
das gestantes com pielonefrite grave desenvolvam compli- da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universi-
cações graves como choque séptico ou síndrome de angús- dade de São Paulo avaliou as taxas de sensibilidade bacte-
tia respiratória aguda (SARA). Em relação ao resultado da riana de amostras urinárias de gestantes com diagnóstico
gestação, na maior série de casos já publicada, e que incluiu de ITU. As mais baixas taxas de resistência foram obser-
440 gestantes com pielonefrite, o parto pré- termo ocorreu vadas com utilização dos aminoglicosídeos, ccfalospo-
cm 5%, número similar ao da população geralY Quanto rinas de terceira geração, cefuroxima, quinolonas mono
aos achados laboratoriais, a leucocitose com desvio para a e bifluoradas e nitrofurantoína. A ampicilina, cef.:"llotina,
esquerda corrobora o diagnóstico de pielonefrite. Nesses cefàlexi na c amoxicilina apresentaram taxas de resistência
casos também se recomenda a avaliação da função renal. acima de 40%.24
Levando-se em consideração que não existe un ifor-
mização de protocolos para o tratamento antimicrobiano
TRATAMENTO de ITU na gestação, são apresentados no Quadro 38.1
os antibióticos e esquemas mais recomendados para
Em relação à segurança dos antimicrobianos durante a o tratamento da bacteriúria assintomática e da cistite
gravidez, nota-se acent uada dificuldade para se encontrar na gravidezY 5
estudos controlados na literatura. De forma geral, as infor- É muito frequente o achado de resistência à amoxici-
mações disponíveis são escassas, oriundas de casuísticas lina e sulfona mida em antibiogramas, mesmo para E.coli.
limitadas ou com limitações metodológicas impostas pe- Por isso, esses fármacos apenas devem ser utilizados se
las próprias dificuldades de se efetivarcm pesquisas dessa forem sensíveis ao agente isolado na urocultura.
natureza cm gestantes. 21 ·23 A sulfonamida não se associa a efeitos adversos, se uti-
lizada no primeiro tri mestre. No entanto, ela cruza a pla-
centa e pode impedir a ligação da bilirrubina plasmática no
BACTER I ÚR I A ASS I NTOMÁTICA / CJST I TE recém-nascido, levando a risco au mentado de kernicterus.
O trimetropim é antagonista do ácido fólico e seu uso
Na prática, a escolha do antibiótico para tratar a bacteri- durante o primeiro trimestre tem sido associado a mal-
úria assintomática é orientada mais pelos padrões de resis- formações estrutu rais, como defeitos de tubo neural e
tência e pela experiência local do que por ensaios clín icos. cardiovasculares.

598 Noções Prát icas de Obst etrícia


Qladro 3 '.1 IAntibioticoterapia para bacteriúria assintomática e cistite n.1 gravidez
Meci1Cdl1iell!O OosP illHjl V1él ele c~elrnmlstrac<~o lntervél iO rjr; liSO D111 dCdO elo tratdnlento
(ilOI dSI (diaS I

Cefalexina 500 Oral 6/6 7 I


--
Nitrofurantoína 100
--
Oral 6/6 I 5a7
Amoxicilina/Ciavulanato 500 Oral 8/8 7
--
Cefuroxima 250 Oral 8/8 5a7
-
Sulfametoxazol I Trimetoprim 320/1600 Oral 24/24 7
-- -- --- _,__
Norfloxacina 400 Oral 12/12 7

Embora exi ta ,1 po ibilidadc de anemia hemolítica via or,1l quando existe remissão do quad ro clínico agudo
cm recém-nascidos com deficiência de glicose-6-fo~fato­ por ma i de 48 hora , podendo receber alta para completar
-dc idrogena e que utilizaram nitrofurantoína até o termo, o tratamento cm seu domicílio. O tratamento da pielone-
o risco c timado é inferior a 0,0004%. A:.sim, o ob tctra frite deve se e tender por lO a 14 dias." A escolha do antibi-
deve avaliar o risco-benefício da utilização da medicação. ótico, inicialmente, deve ser orientad.1 pela microbiologia
Em metanáli c realizada em 2008, o u o de quinolo- local c pelos dado de u ceptibilidade. Os beta-lactâm ico
na (norfioxacina) não se mostrou a sociado a alto risco de parcnterais são os agente de e colh.1.
malformações maiores, partos pré-termo ou recém-nasci- A eficácia dos bcta-lactâmicos loi demonstrada cm
dos de baixo peso.!6 Entretanto, devido ao alto custo desses en ·a1o cl ínico no qual 179 gc tantes com pielonefrite di.lg-
agente c ao elevado número de patógenos com rc i tência nosticada antes de 24 emanas foram ra ndomizadas para
a e cs antibiótico , as fluorquinolona não ão antibiótico tratamento, utilizando-!>c um do seguintes esquema : cc-
de primeira linha para tratamento de ITU na gestação. fazoli na cndoveno a; ampicilina e gcntamici na cndoveno-
Age tante deverá Í:llcr urocultura de eguimento en- sa; ccftriaxona intramuscular. :io foram encontradas di-
tre uma e duas semanas .1pós o tratamento, para confirmar fcrcn as na re ·po ta linica ou no rc ultado perinatal com
a erradi ação da bactcriúria/ infecção. qualquer dos três esquemas uti lizados)4 •
Deverá ser institu ída terapia uprc iva nas pa ientcs O antimicrobiano mais indicado estão demomtra-
cuja bactcriúria/ infccção persi ti r após dois ou mais ciclo dos no Q uadro 38.2.
de tratamento. ormalmente, utiliza-se nitrofurantoína na
dose de -oa 100 mg/dia durante o restante da gravidez. O Qu:1dro 38.2 1Antibioticoterapia para pielonefrite na grav1dcz
emprego de cefàlexina 2 -o a -00 mg/dia é alternativa para Med1 c dlllCil!O Dose Vld ele lnt ervd lo ele
a terapia supressiva. lmq\ aclmllllstrdcao liSO lhorcJsl

Cefuroxima
I 750 Venosa 8/8 I
PJ LLO LfR I TI:. ~eftriaxon;-+ 1.0~0 Venosa 24/24
J
Aztreonam 1.000 Venosa 6/6
O tratamento da pielonefrite du r.1ntc a gravidez deve
ter abord.1gcm diferenciada, levando- c em con idera :io
Cefazolina 1.000
-- t-
Venosa 8/8 l
o risco elevado de complicações. Portanto, recomcnda-~c
a ho pitalinção para monitorização dos si nais vitais, in-
Sulfametoxazol/ 320/ 1600
Trimetoprim
Norfloxacina
-- -
400
1---
Oral

Oral
- --
24/24

12/ 12
_I
clumdo débito uriná no. O controle d.1 dor e da febre pode I
ser necessário c é obtido com analgésicos, antitérmicos e
antic pasmódicos. Antiemético ão indicado no casos Aztreonam deve er indicada para casos de alergia aos
com exuberância de náuseas c vômitos. A terapêutica anti- bcta-lact:i micos, pois apresenta menos probabilidade de
microbiana é iniciada por via parenteral, só passando para rcaçõc de sensibilidade cruzada.

Doenças do Aparelho Urinário


599
Opçõe de tratamento como cefalotina (1 grama a não deve ser estimulada antes do terceiro mês de puerpério,
cada ' eis hora ) ou ampicilina (I grama a cada eis horas) observa ndo- c o período de regre ão da modificaçõe de-
só c JUStificam se forem ba eadas em antibiograma. a pendentes e/ou induzidas pelo processo gcstacional.
pielonefrite, o tratamento se estende por lO a 14 dias.
Re ervam- c os c quema de mais risco para o feto
apenas cm casos orientados pelo antibiograma c para pic- ACO MPANHAMENTO DA
loncfritcs complicada . o Qpadro 3 .3 estão li tado os PACIE NTE COM
antimicrobianos recomendados para essas situações.
D OENÇA R ENAL CRÔNICA ( DRC)
Qpad ro . IAntibioticoterapia para pielonefrite compli-
cada na gravidez AcoNSELH AMENTO PRÉ-CONCEPCIONAL
Meclrcdmento Dust> Vra de lnter vdlo
I 11HJI adrnrnrstracão ci!' IJSIJ A literatura é unânime ao afirma r que o resultado pcri-
lilllldSI natal melhora quando o cuidado obstétrico inicia- e ante
1.000 da conccpção.2- Nessa fase, é possível oferecer à mulher a
Cefepime
-Meropenem
i Venosa I 12/12 I orientaçõe nece árias, melhorar sua fu nção renal, imu-
~ - ~00 Venosa 8/8
~ nizá-la contra algumas viroses, prevenir algu mas malfor-
Imipenem 00 Venosa 6/6 mações, propiciando-lhe condições razoáveis para assumir
a gravidez. Por exemplo, as pacientes que se submetem ,\
Se os sintomas persisti rem além de 48 horas de tratamen- diálise perdem vitaminas hidra solúvei durante a terapia
to, deve- c repetir a urocultura c realiza r exames de imagem e necessita m fazer suplementação com ácido fá lico (0,4
para descartar outras doenças do trato urinário. No caso de mg/ dia), iniciando um mê ante da concepção, no e forço
haver recorrência da pielonefrite durante a gravidez - o que para diminuir os defeitos de fechamento do tubo ncu raJI S
ocorre em 6 a 8%dos casos - , assim corno na bactcriú ria as- A paciente deverá realizar perfil sorológico, incluindo
intomática, a paciente deverá utilizar antibioticoprofilaxia rastreamento para rubéola, va ricela, citomcgalovírus, toxo-
com nitrofurantoína ou cefalexina pelo restante da gravidez. plasmose c hepatite B e C. As que não e tão imunizada
devem receber vacina (rubéola e hepatite B), cndo orienta-
das a adiar a gravidez por três meses, nos casos de vacinação
Co ·r Ro t '"DL CuRA DA IT TO~ I ÁT I C \ contra rubéola, evitando, as im, o ris o teórico de tran mis-
são vertical quando se utiliza vacina com vírus atenuado.
O controle do tratamento é realizado solicitando-·e Exceção crá feita à paciente que c ubmeteram a tran -
urocultura ete dia apó o término do trata mento, mcn- plante renal. Estas não devem receber vacina para rubéola
al mente, nos três primeiros meses e, caso sejam negativa , e varicela c emente devem engravida r doi ano apó o
bimcn ai mente a ·eguir, até o térmi no da gc tação. tra n plante, já com a função renal normal i1..ada.28
Nas pacientes cuja doença renal é o resultado de diabe-
tes nrellitus, a incidência de malformações no feto associa-se
Q U I M IOPR OFILAX IA dirctamcnte ao mau controle glicêmico. Assim, a paciente
deve apresentar nívei -satisfatórios de glicemia pelo menos
A profi laxia das infecçõe urinárias e tá indicada na três meses antes da gravidez. 2s
seguintes circunstâncias: mais de dois epi ódio de ITU
na ge tação atual; dua pielonefrite ; um episódio de pielo-
nefrite as ociado a outros fatores de risco. O medica mento EXAMES PRÉ -CONCEPC IONAlS
ma i utiliz,tdo para c te fi m é a nitrofurantoína, na do c de
100 mg ao dia, até o fi nal da gestação, não se deixando de O conhecimento do grau de acometimento renal pré-
lado as medidas de higiene c hidratação. lrwc tigação diag- vio à gestação é de importância fundamental para o acom-
nó tica de po sívei alterações anatómicas do trato urinário panhamento da gestante com doença renal.

6oo Noções Práticas de Obstetrícia


Os exames complementares passíveis de serem realiza- UR EIA E C REAT IN INA
dos na pré-concepção são os mesmos utilizados para ava-
liar a fu nção renal dura nte a gravidez. No entanto, a gesta- São indicadores grosseiros da função renal, pois, na
ção provoca modificações nos resultados de alguns testes, ausência de doença renal pode-se ter 50% de perda da
como descrito a seguir. função, com d iscreto aumento das escórias. Por outro
lado, quando existe comprometimento da fu nção renal,
pequena queda do ritmo de filtração glom erular pode
TESTES DE AVALI AÇÃO DA FUNÇÃO RENAL elevar significativamente os níveis de ureia e creati nina
no sangue. Níveis de ureia acima de 14 mg/dL e de cre-
CLEAR.ANCE DECRE.AT IN I NA atini na acima de 0,9 mg/d L já são suspeitos de possível
( R ITMO DE F ILTRAÇÃO GLOMERULAR) d isfunção renal. 3

A fórmula modificada da Diet and Renal Disease


(MDRD), que estima o RFG usando a combinação de ÁCID O Ú RICO
marcadores séricos e parâmetros clínicos, tornou-se mé-
todo-padrão para estimar a fu nção renal em pacientes N ão é usado para avaliação da fu nção renal. Entretan-
com doença renal crônica. No entanto, essa fó rmula não to, devido ao aumento da sua depuração durante a gravi-
foi testada em gestantes e, por isso, a orientação é de que, dez, tem sido utilizado como marcador bioquím ico para
para essa população, a fórmula não seja utilizada, uma vez pré-eclâmpsia e crescimento fetal restrito, refletindo, quan-
que seu resu ltado pode estar subestimado quando o RFG do aumentado, d iminuição do volume plasmático, hemo-
encontra-se acima de 60 ml/min/ m m 2 , fato frequente nas concentração e decréscimo do FRP.
grávidas, mesmo nas portadoras de doença renal. Vários
estudos têm demonstrado essa deficiência do exame. 29·30
Por isso, o teste ideal para a avaliação da função renal nas SEDIMENTO U RI NÁR IO
mulheres grávidas com doença renal é o clearance de crea-
tini na. Mulheres com doença renal leve usualmente apre- As principais alterações do sedimento unnano que
sentam aumento do RFG durante a gravidez, embora me- alertam para a existência ou agravamento de doença renal
nos do que o observado em gestantes saudáveis. A elevação são a hematú ria e proteinú ria. C ilindros e células epiteliais
do RFG fica comprometida com o agravamento da doen- sem hemácias e/ou proteínas não têm significado impor-
ça renal de base: apenas 50% das pacientes com doença tante. Deve-se estar atento quando do achado de piúria,
moderada e, provavelmente, nen hu ma com doença grave que pode indicar processo infeccioso do trato urinário. A
mostrarão qualquer aumento deste durante a gestação. infecção urinária, por sua vez, pode levar a graves compli-
A magnitude das alterações do RFG na gravidez é cla- cações da gravidez em pacientes com nefropatia e, portan-
ramente percebida nas mulheres submetidas a transplante to, deve ser t ratada com muito rigor. 3
renal e que evoluem com boa fu nção do órgão. Elas apre-
sentam aumento semelhante ao encontrado em grávidas
saudáveis. Isso é mais impressionante ainda quando se PROTE IN ÚR IA D E 24 HORAS
constata que a maioria dos rins doados provém de homens,
estão hipertrofiados, denervados e são ectópicos. Fora da gravidez, a excreção diária de proteínas é de
O teste está normal quando se encontra valor igual ou aproximadamente ISO mg. Na gestação, essa excreção do-
superior a 125 ml/minuto. É importante ressaltar que a d i- bra e a eliminação de até 300 mg/ d ia é normal. Mul heres
latação do trato urinário pode levar a erro na coleta, princi- aparentemente sadias podem excretar, ocasionalmente,
palmente quando é necessária a utilização de urina de 24 valores superiores. Isso ocorre principalmente p róximo do
horas. Esse erro pode ser minimizado se a gestante for bem termo, devido à proteinúria postural causada pela posição
hidratada, para se obter grande volume urinário, desde que lordótica assumida pela gestante, além de esforço físico e
isso seja possível. hipertermia 3 1-32

Doenças do Aparelho Urinário 601


A proteinúria reflete comumente, nas mulh eres com mente que os dados apresentados pela literatura apresen-
DRC, o grau da lesão glomerular e prediz o prognósti- tam limitações. A maioria dos estudos tem amostras pe-
co para a progressão da doença. O grau de proteinú ria à quenas de pacientes de um único serviço, o que compro-
concepção é fator de risco independente para a redução mete a generalização das conclusões. Em segundo lugar, a
progressiva do RFG durante a gravidez. 13 A maioria das maior parte dos estudos é retrospectiva, comprometendo
doenças renais pode evoluir com protein úria. Nas doenças seus achados devido a variáveis de confundimento. Final-
funcionais e benignas essa perda limita-se a 1,0 g em 24 ho- mente, poucos estudos fazem comparações entre grupos
ras. Perdas acima de 3,0 g/ dia geralmente estão associadas de mulheres saudáveis e mulheres portadoras de doença
a formas graves de pré-eclâmpsia (PE), glomerulosclerose renal ou realizam aná lise multivariada.Apesar dessas con-
diabética, glomeru lonefrite ou nefrite lúpica. 3 siderações, ainda assim a literatura existente é útil para a
compreensão da DRC na grav idez.33
A medida que a doença renal progride, com conse-
M EDI DA DA PR ESSÃO ART ERIA L quente queda da função renal, a chance de engravidar e
manter a gestação diminu i drastica mente e, por outro lado,
Alguns aspectos devem ser observados em relação à hi- as complicações maternas como hipertensão e deteriora-
pertensão com DRC. Em pri meiro lugar, nessas mulheres ção da função renal (FR) aumentam.31 O prognóstico é,
a hipertensão ocorre com mais frequência e a hipertensão assim, baseado no grau de comprometimento da função
preexistente tende a se agravar. Além disso, o surgi mento rena l à concepção que, arbit rariamente, é dividida em três
ou piora da hipertensão associa-se fortemente à deteriora- categorias: leve, moderada e accntuadaY Pode-se acres-
ção do RFG. Finalmente, a hipertensão agrava o resultado centar uma quarta categoria, representada pelas pacientes
perinatal com aumento da prematuridade, baixo peso e com doença terminal.
morte feta!.3' Para Lindheimer e Katz, 3 o achado de pres-
são arterial diastólica de 75 mmHg no segundo trimestre
e de 85 mmHg no terceiro trimestre constitui os valores Fu ÇÃO R E NAL L EVEM ENTE ÜIMI NU ÍDA
considerados como limite superior da normalidade para a
pressão arterial nessas pacientes. Neste gmpo estão incluídas as pacientes que apresen-
tam valor sérico de creatinina inferior a 1,3 mg/ dL antes
da concepção.33
B IÓ P IA R E AL Embora as complicações sejam comuns nesses casos,
elas geralmente não são graves e a gestação não afeta nega-
Raramente deve ser realizada durante a gestação. Sua tivamente o curso da doença. Essa observação não é válida
indicação restringe-se a mulheres que apresentem súbi- quando a doença de base for nefrite lúpica, glomerulone-
ta deterioração da função renal antes de 32 semanas, sem frite membrano-proliferativa, esclerodermia e periarterite
razão aparente. Nesses casos, pode-se estar diante de uma nodosa. Nesses casos, o papel da gravidez na progressão da
forma de glornerulonefrite focal progressiva, que poderia doença é imprevisível.
se beneficiar com a corticoterapia. Mesmo assim, para a A maioria das pacientes apresenta aumento do ritmo
sua realização, é imprescindível que a pressão arterial esteja de filtração glomerular, porém menor que as gestantes
controlada, o coagulograma se encontre dentro da normali- normais. Proteinúria ocorre em 50%, podendo ser maciça
dade e que a paciente não tenha infecção do trato urinário. 3 (maior que 3,0g/ 24 horas) e com edema significativo. A hi-
pertensão pode agravar-se ou manifestar-se pela primeira
vez em torno de 25% das pacientes. Essas alterações ten-
EVOLUÇÃO DA GRAVIDEZ dem à resolução no puerpério.
COM DOENÇA RENAL A sobrevida fetal pode atingir 95 a 98%. No entanto,
a incidência de recém-nascidos pré-termos, de pequenos
Ao iniciar a discussão sobre a evolução da gravidez de para a idade gestacional e de morte fetal, nessa categoria,
uma mulher com doença renal é imprescindível ter em é levemente mais alta quando comparada à de gestantes

602 Noções Práticas de Obstetrícia


normais.34 A gestação que evolui com mel hor prognóstico fUNÇÃO RENAL A C EN TUADAM ENTE DIMINUÍDA
ocorre nas pacientes que se mantém normoten sas, já que
a pressão arterial malcont rolada é fator importante na de- A creatinina atinge valores superiores a 1,9 mg/ dL pré-
terioração da fu nção renal. Esses achados têm sido consis- -gestacional. 13 A maioria d as pacientes nessa situação é
tentemente confirm ados pela literatu ra.B anovulatória ou amenorreica, por disfunção hipotalâm ica.
A mulher urêmica, embora tenha níveis de estradiol, pro-
gesterona e FSH comparáveis aos n íveis da fase folicular de
FUN ÇÃO REN AL MODERA DA MENTE D IMI N UÍDA mulheres normais, não atinge o pico de L H. Hiperprol act i-
nemia é encontrada em 70 a 90% dessas mulheres, dev ido à
Esses casos são representados por aq uelas mulheres com dimi nuição do clearancerenal, ao au mento da produção pela
valores de creatinina entre 1,3 e 1,9mg/ dL pré-gestacional. 33 hipófise anterior e à resistência da hipófise anterior aos efei-
Embora um terço d as gestantes apresente aceleração de tos regulatórios da dopam ina. As que engravidam o fazem
sua doença, a maioria es tará livre dessa complicação, prin- por falta de orientação médica quanto à necessidade de se
cipalmente as que engravidaram com n íveis de creatinina protegerem, uma vez que a chance de engravidar é reduzida.
inferiores a 2,0 mg/ dL e pressão arterial diastólica igual Redução progressiva da doença renal pode ocorrer em
ou inferior a 90 m mHg pré-gestacional. As mulheres com 25%, principalmente nos casos de creatinina acima de 2,0
função renal moderada mente d im inu ída podem apresen- mg/ dL. O risco materno de complicações graves é de 84
tar agravamento considerável da hipertensão, sendo de versus 47% de gestações bem-sucedidas. Esse nú mero di-
fu ndamental importância o controle da pressão arterial m inu i para 8% se as complicações - representadas basica-
para se alca nçar resultado satisfatório. mente por exacerbações graves de hipertensão arterial e/
A sobrevida fetal pode atingir 90%. A taxa de mortali- ou pré-eclâmpsia associada - surgirem antes de 28 sema-
dade fetal tem caído progressivamente ao longo dos anos, nas. Prematuridade e restrição do c rescimento fetal podem
de 25 para 7%. Essa melhora significativa é consequência atingir porcentagens de 73 e de 3 1%, respectivamente. 33
do progresso no cuidado obstétrico, p ri ncipal mente neo- O ideal p ara essas mulheres com função renal rema-
natal, uma vez que são inúmeras as complicações nessas nescente é preservar o que existe dessa função, por m ínima
mulheres durante a gravidez. que seja, o u tentar a reabilitação com diálise ou transplante
Parto pré-termo e restrição do crescimento fe tal exce- para, só então, considerar a possibilidade de gravidez.
dem 50%. Recém-nascidos pequenos para a idade gestacio-
nal, agravamento da hipertensão arterial, superposição de
pré-eclâmpsia e mais tendência à anem ia também são ob- DOENÇA RENAL TERMI N AL
servados. D as pacientes que evoluem com deterioração da
fu nção renal, 25% desenvolverão insuficiência permanente. Essa categoria é d efin ida utilizando-se o clearance de
5
lmbasciati et a/} embora tenham utilizado a fórmula creatinina, que se encontra abaixo de IS m l/min / 1,73 m 2
do MDRD (não val idada em gestantes) para cálculo do Trata-se de pacientes que evoluíram ao longo de anos com
RFG, comparara m prospectivamente a perda do RFG nefropatia progressiva, cujo resultado é lesão no rim, que
antes e após a gestação, em uma coorte de 49 mulheres se to rna contraído bilateralmente e não funcionante. São
não diabéticas com função renal de moderada a acentu- pacientes dependentes de diál ise o u transplante.
adamente dimi nuída. A taxa de redução do RFG não foi
significativamente d ife rente pré e pós-parto quando a taxa
de creatinina sérica era > 1,5 mg/ dL. Entretanto, redução CONTROLE PRÉ- NATAL
acelerada do RFG foi apurada no subgrupo de mulheres
com RFG <40 m l/mi n/ 1,73 m 2 e com proteinúria >1,0 A medida que a doença renal progride e a fu nção cai, a
g/ d pré-concepcional. Para os autores, esse grupo deve ser possibilidade de manter uma gestação viável decresce e a
considerado de alto risco tanto de perda da fu nção renal chance de complicações maternas au menta. O prognósti-
quanto de complicações durante a gravidez, e esta deve ser co materno-fetal deve ser baseado no grau de acometimen-
desaconselhada. to renal à concepção 36

Doenças do Aparelho Urinário 603


O ideal para mulheres com nefropatia é que elas te- morbidade e a mortalidade perinatais, determ inando in-
nham rigorosa avaliação pré-concepcional e que a gravidez suficiência renal feta l reversível ou irreversível, natimorta-
possa ocorrer apenas naquelas cuja função renal estiver lidade, hipoplasia craniana fetal, anúria e oligoidrâmnior
preservada. Esses casos correspondem às gue apresentam Deve-se tratar a hipertensão arterial a partir do achado
creatin ina até 1,9 mg/dL e pressão arterial diastólica igual persistente de níveis pressóricos acima de 150/ 90 mm Hg.
ou inferior a 90 mmHg. Grande variedade de hipotensores tem sido util izada du-
rante a gestação. A escolha do agente deve considerar a
eficácia e a segurança do medicamento. Entre os m,li uti-
CoNSULTAS lizados estão: meti ldopa, beta-bloqueadores, bloqueadores
de canal de cálcio, clonid ina, hidralazina, entre outros.28 O
As consultas devem ser mais frequentes. Propõe-se que objetivo do tratamento é man ter a pressão arterial d iastó-
sejam quinzenais até 28 a 32 semanas e, a partir daí, sema- lica cm nível igual ou inferior a 90 mmHg. Finalmente, a
nais. A hospitalização deve ser mais liberat para esclarecer hipertensão grave, refratária à terapia hipotensora, é indica-
diagnósticos c realiza r tratamentos. Torna-se imperati va ção de interrupção da gravidez, devido aos riscos de maior
caso ocorra uma das seguintes situações: agravamento da morbi mortalidade materna.
hipertensão arterial; deterioração da função renal; detec- A detecção da pré-eclâmpsia superposta pode ser
ção de cre cimento fetal restrito grave; sofrimento fetal; muito d ifícil, pois hipertensão e proteinúria podem ser
suspeita de pré-cclâmpsia.36 m:~nifcstaçôes de doença renal subjacente. A confirmação
diagnó tica de pré-cclâ mpsia quase sempre é indicação de
interrupção da gestação.
Co~TROLEDA FuNçÃo RE ' AL

O controle da função renal é imprescindível e deve ser AVALIAÇÃO fETAL

feito mensalmente, por meio do clearance de creatinina ou,


se necessário, mais amiúde. ! o enta nto, em qualquer mo- A ava liação do crescimento e do bem-estar fetal não
mento da gravidez, se a paciente apresentar dim inuição da pode ser negligenciada c, para tal, deve-se lançar mão de
função renal, é imperioso afastar as causas reversíveis, tais todos os recursos disponíveis: medida do útero pela fita,
como infecção do trato uri nário, desidratação e distúrbio ultrassonografia, cardiotocografia e dopplervelocimetria.
hidroeletrolítico. Este último acomete, principal mente, pa- Esses exames, em conjunto, dão in formações quanto à
cientes que usam diuréticos. ocorrência de restrição do crescimento fetal c do sofrimen-
É importante lembrar que, próxi mo do termo, a função to fetal crónico.
renal decresce aproximada mente 15%, com mínima altera- Segundo a literatura, esse acompa nhamento deve co-
ção nos níveis de crcati nina. Se nenhuma dessas causas for meçar em idade gestacional na qual uma intervenção, se
detectada ou não e conseguir resposta adequada, deve- e necessária, possa ser realizada. Sugere-se que esse rastrea-
interromper a gravidez o mais rapidamente possível. mento seja iniciado com 26 scmanas 28

Co TROLE DA PRESSÃO ARTEJUAL ÜUTROS CU I DADOS

Elevações da pressão arterial nessas gestantes devem A pesqu isa de infecção do trato urinário deve ser di-
ser corrigidas precoce c rigorosamente, uma vez que o seu ligente e a sua confirmação requer trata mento rigoroso e
agravamento ou mau controle são os fatores de pior prog- imediato. Junta , a hipertensão arterial ma !controlada e a
nóstico na progressão da doença. Muitas vezes será neces- in fecção do trato uri ná rio são os dois marcadores de pior
sário trocar o anti-hipertensivo utilizado antes da gravidez, prognóstico para gestantes com doença renal.
principalmente os inibidores da enzima de conversão da A correção da a nem ia deve ser observada com rigor nes-
angiotcnsina (inibidores da ECA), que incrementam a sas pacientes. Sob regime dialítico, a transfusão de sangue

Noções Práticas de Obstetrícia


pode ser necessária em até 35%delas, principalmente antes rial estiver bem controlada. Além disso, o estrogênio dos
do parto. Nessas pacientes tam bém é utilizada a eritropoe- anticoncepcionais orais pode melhorar a libido e retardar o
tina, na dose de 50 a 200 U l/kg, EV, três vezes por semana. surgimento da osteoporose.
Se a paciente ainda considera a possibilidade de nova
gestação, ela deve ser informada dos potenciais riscos para
P A RT O E DOENÇA RENAL si e para o concepto.
Não caberá ao obstetra propor ou indicar tratamentos
Se a evolução da gravidez encontra-se dentro de limites ou qualquer outra intervenção que se fi zer necessária, do
normais, pode-se aguardar que chegue ao termo. Entre- ponto de vista da doença renal. No entanto, é necessário
tanto, o termo para essas pacientes está em torno de 38 se- que o obstetra conheça essas situações para que possa
manas. Para a maioria dos autores, o risco de insuficiência apoiar sua paciente e estimulá-la a seguir as orientações,
placentária é alto a partir dessa idade gestacional, podendo uma vez que, em muitos casos, levar a gravidez a termo, e
verificar-se decesso intraútero. em boas condições, demandará grande esforço da pacien-
Indica-se a interrupção da gestação antes de 38 sema- te. Além disso, o conhecimento dessas particularidades
nas nas seguintes situações: deterioração grave da função evitará o choque de informações com o restante da equipe
renal, sinais de sofrimento fetal, pressão arterial de difícil multidiscipl inar. Descrevem-se, a seguir, algumas situa-
controle e associação com pré-cclâmpsia. ções que envolvem nefropatas grávidas e que demandam
O parto vaginal pode acontecer se as condições obstétri- cuidados e atenção especiais.
cas, maternas e fetais forem favoráveis e a evolução do traba-
lho de parto estiver dentro dos parâmetros de normalidade.
A cesariana estará indicada nos casos de sofri mento PACIENTES EM TRATAMENTO
fetal crônico, C IUR, rotura prematura de membranas ou DIALÍTICO
trabalho de parto pré-termo cm que não haja condições
para o parto normal e as demais indicações obstétricas. Em
paciente transplantada, a incisão cirúrgica deve ser vertical, A partir de 1971, quando foi relatada a primeira ges-
para evitar trauma potencial ao rim transplantado. ~!a n­ tação bem-sucedida em mul her sob tratamento dialítico,
do a paciente realiza diálise peritoneal, o abdome deve ser vários trabalhos surgiram, mostrando que a gravidez para
drenado antes da cirurgia e, se possível, a cesárea deverá ser essas mulheres poderia ser uma realidade.
realizada extraperitonealmente. A diálise pode ser reinicia- A literatura anterior à dos anos 90 apresentava taxa de
da 24 horas após o parto, com pequenos volumes. Devem- 21% de recém-nascidos vivos, abortamento eleti vo em 12%
-se toma r todos os cuidados para evitar sobrecarga de vo- dos casos e espontâneo em 55%. No entanto, em anos mais
lume e infecção. recentes, perspectivas mais otimistas têm surgido, pois os
resultados revelam a melhora da sobrevida fetal em torno de
52%, com 21% de queda nas taxas de abortamentos espon-
Ü R I E N TAÇÃO PÓS -PARTO tâneos entre as gestações que atingem o segundo tri mestre
e de 4% nas interrupções eletivas. Esses dados revelam a
Este é outro aspecto importante para ser discutido com melhora progressiva nas condições gerais das pacientes em
a paciente, uma vez que a gravidez e o parto já foram con- diálise e melhor controle da paciente que deseja engravidar.
cluídos. O ideal em termos de planejamento fam iliar para Aproximadamente 10% das mulheres em diálise apre-
a mulher nefropata, principalmente nos casos cm que o sentam ciclos ovulatórios. Entre as que menstruam, 59%
comprometimento renal é maior, é a contracepção defini- têm ciclos irregulares. Parece haver também diminuição
tiva pela salpingotripsia bilateral. do desejo e da atividade sexual quando essas mulheres são
Anticoncepcional hormonal pode exacerbar a hiper- comparadas com controles pareados pela idade. 38 Apesar
tensão e aumentar o risco de doença tromboembólica. No disto, a concepção em mulheres dialisadas está se tornando
entanto, alguns autores acreditam que as pílulas de baixa mais frequente, passando de I para 7% ao longo das últimas
dosagem não estariam contraindicadas se a pressão arte- décadas. Esse aumento é atribu ído à utilização da eritropo-

Doenças do Aparelho Urinário 6os


ctina, que tem efeito po itivo obre o eixo hipófise-ov5rio. 3• do ao risco de diuresc o mótica, hipocalcmia e alterações
Por isso, os profis ionais que cuida m de mul heres cm diá- hematológicas.
lise precisam orientá-la!. quanto ao ri co de po ívcl gra- Cerca de 80% das gc tante cm diáli e apresentarão
videz, a de peito da dimi nuição da libido c da fertilidade. 18 elevação da pressão arterial, neces ita ndo uti lizar hipoten-
O diagnóstico de gravidez ne as mul heres pode ser sor. Em mais da metade das gestante com hiperten ão, a
difícil Jcvido à irrcgulariJade memtrual. Sintoma~ wmo prc:.:.jo drtcrial c tará acima de 170/ 11 0 mmHg. Em caso
náuseas, frequentemente, são atribuídos a outras causas. de trabalho de parto pré-termo, não havendo contra indica-
Os testes urinário não ão confiávei , me mo na1. não ção à in ibição, e ta deve cr realizada. Ao e colher o agente
anúrica , c o níveis de ~-hCG podem e tar elevados nas tocolítico, é importante considerar seus potenciai efeito
não grávidas, uma vez que ele é elimi nado pelos rins. A colatcr,1 is.A boa evolução da gravidez dependerá de fatores
maioria das gc tantcs cm diálise tem o diagnóstico da gra- demográficos, de correta estratégia dialítica c das compli-
videz em torno de 16 semanas. Assim, a ultrassonografia é caçõc que porventura venham a ocorrer.
indispcn ávcl para a correta datação da gravidez, devendo lão está claro por que a taxa de concepção entre pa-
cr rcabL.Jda tão logo haja uspeita. Deverá er rea lizada cientes em hemodiálise é mais alta do que naquelas que es-
ccografia seriada ao longo da gestação para que se possa tão em diá lise peritoneal ambulatorial contínua (CAPO).
acompanhar ocre ci mento do feto ..ll> Isto pode ser re ultado de diferenças endócrinas ou, de
Além disso, a avaliação da oxigenação fetal por meio algum modo, relacionada à própria CA PD. Peritomtes
do perfil biofísica c da dopplervelocimetria podem pre- decorrente do proces o dialítico poderiam resultar em
dizer hipoxcmia fetal progressiva e, mesmo d iante de feto obstrução tu bária e consequente gravidez ectópica. No en-
pré-termo extremo, o parto pode ser realizado antes que a tanto, nenhuma gravidez tubária foi relatada cm ge tantc
a fixia progre siva leve ao eu deces o. cm CAPO. t. po sívcl que a glicose hipcrtônica lese o óvu-
As gc~tantes em trata mento d ialítico têm mais prcdis- lo ou que o volume de líquido intrapcritoncal interfi ra no
po ição J sobrecarga de volume, exacerbação da sua hipcr- transporte do óvulo em dircção à trompa.
tcn ão e/ ou supcrposição de pré-eclâmpsia, aumento da Os dados da literatu ra indicam que não há diferença
incidência de descolamento prematuro da placenta, piora no prognó tico do re ultado perinatal entre hcmodiáh e e
da o teodi trofia materna c au mento da nece idade de CAPO. Algumas diferenças entre a duas técnicas referem
tra nsfu ão de anguc. Polidrâmnio pode resulta r da diurc- que os recém-na cido de mães cm CAPO apre cntam
~c osmótica fetal, induzida pela elevação da ureia que chega mais pe o ao na cimento e meno a ociação com pré-
ao rim fetal, cuja fu nção está normal, e/ ou pela remoção -eclâmpsia. As alterações metabólica~ não ão tão abrupta ,
rápida de olutos durante a essão de diálise, provocando a remoção do volume é gradual e não ocorrem epi ód1o
queda da prc são o~ mótica e de vio da água para a cavida- de hipotensão. o entanto, essas pacientes podem de en-
de amniótica. Felizmente, são pouco os caso de morte volver peritonite e têm mai dificuldade em manter nutrição
materna ob crvados na literatura.38 adequada. As vantagen da hemodiálise incluem baixa inci-
Cerca de 80% dos recém-nascidos nascem prematura- dência de trabalho de parto pré-termo, cmpachJmento ab-
mente (idade gestacional média de 32,4 semanas). A pre- dominal, infecçõe e maior idade ge tacional ao n,l ci mento.
maturidade é o fator i olado mais importante associado à Não há razão para a troca de uma forma de diá lise por
morte c à lesão permanente no período nconatal, em vá rio outra apenas por cau a da gravidez. c houver nece idade
si tema , como o neurológico, o respi ratório e o oftalmoló- de iniciar diálise durante a gestação, pelo meno nos casos
gico.\s O!Janto ao peso de nascimento, 36% estão abaixo de de insuficiência renal secundária à nefropatia diabética,
1.500 g c cerca de 30% ão pequeno para a idade gc tacio- sabe- e que a diálise peritoneal tem mostrado resultados
nal. A mortalidade perinatal é alta nesses recém-nascido!>, satisfatórios.
sendo cinco a lO vczc mai alta que no adequados para A diáli e deve ser iniciada precocemente (ureia nitro-
a idade ge tacional. A mcidência de equclas neu rológica genada acima de 100 mg/ dL) nas pacientes com doença
no · recém-na cidos que apresenta ram restrição do cresci- renal crônica que se encontram cm tratamento con erva dor
mento int rauterino pode chegara 35%. Os recém-nascido e inten ificada naquelas que já se encontram em programa
de mãe submetidas à diálise devem ser monitorados devi- dialítico.

6o6 Noções Práticas de Obstetrícia


RECOMENDAÇÕES PARA O CONTROLE DA lume. No enta nto, na vigência de pré-eclâmpsia, a remoção
GESTANTE EM TRATAMENTO DIALÍTICO de volume pode agravar a hipoperfusão de órgãos. ' 8

São as seguintes:
Pacientes que faze m hemodiálise devem aumentar CONTROLE DA ANEMIA
50% a du ração das seções, de quatro para seis horas.
A frequência passa a ser de cinco a seis vezes na se- As pacientes d ialisadas usualmente são anêmicas e, na
mana. N a prática, isso q uase nunca é possível pela gravidez, a anemia tende a se agravar. A transfusão de san-
recusa da própria paciente; gue será quase sempre ma ndatória nas pacientes que não
ma nutenção da ureia nitrogenada abaixo de 50 faze m uso de eritropoeti na. No entanto, ela pode exacerbar
mg/ dL ou do clearance de creatinina acima de I 5 a hip ertensão e dificu ltar o controle da sobrecarga circ ula-
m i/minuto melhora o prognóstico obstétrico, evi- tóri a. O perigo pode ser m ini mizado se o sangue for trans-
ta ndo o surgimento de polidrâ mn io; fund ido dura nte a seção de d iálise.
evitar h ipotensão durante as seções, pois di mi nu i Além d isso, deve-se utilizar suplementação com fer ro
o fluxo útero-placentário. A hipotensão é mais fre- e ácido fólico. Embora a segurança do emprego do ferro
quente no final da gravidez, qua ndo o útero au men- venoso não esteja estabelecida, sua uti lização é ampla. No
tado de volume reduz o retorno venoso. Além d isso, entanto, existem dados mostrando que o ferro pode ser
a remoção aguda de líqu ido que ocorre d urante a desproporcionalmente transferido para a o feto e causar
diá lise pode agravar o quadro. Essa complicação intoxicação aguda. Assim, ao optar por seu uso, p recon iza-
pode ser evitad a uti lizando-se baixa taxa de ultra- -se a ut ilização d e pequenas doses. O n ível de hemoglobina
filtração do sangue; não deve estar abaixo de 10 a li g/d L e, cada vez mais, tem
evitar flu tuações rápidas no volume intravascular, sido preconizad a a utilização da eritropoetina huma na re-
restringindo o aumento de peso ent re as seções a combina nte. Esta pode eleva r o hematócrito cerca de 3096,
aproximadamente um qui lo até o fi nal da gravidez; além de não mostrar efeitos negativos sobre m ãe e con-
reduzi r o volume e aumentar o número de trocas cepto, um a vez que estudos em animais demonst raram
no fi nal da gestação; que ela não atravessa a placenta. Normalmente, é preciso
veri fica r o surgimento de contrações uterinas, uma aumentar 50 a I 00% a dose utilizada fo ra da gravidez com
vez que elas podem desencadear o trabalho de par- a finalidade de aumentar o hematócrito de 33 para 36%.3q
to pré-te rmo. A in ibição deve ser realizada utiliza n-
do-se, preferencial mente, os beta-agonistas;
util izar calcitriol (vitam ina o) e cálcio no ba nho NUTRIÇÃO
d ialítico, pois a paciente com doença renal crô -
n ica apresenta hiperparati reoidismo secundário. A necessidade de ingestão de proteínas em urna mulher
Portanto, é impresci ndível o controle dos níveis de adu lta sadia é de 0,9 g/ kg/ dia; na gravidez, há demanda
cálcio plasmático, pois a paciente pode desenvolver adicional de 15 g/ d ia. Ingestão proteica deficiente é fre-
hipercalcemia. quente nas pacientes em d iálise, pa rticularmen te nas que
se submetem à CAPO, em cujo processo existe perda con-
tínua de proteína no dialisado, aumentando drasticamen-
CONTROLE DA HIPERTENSÃO te a sua demanda. Vários autores sugerem que a ingestão
diária de proteínas deve ser de 1,5 g/ kg para paciente em
A pressão arterial tende a ser lábil e a h ipertensão é co- hemodiálise e de 1,8 g/ kg para as pacientes em CA PD.
mum, afeta ndo 80% das pacientes em d iálise. Os níveis A ingestão de água deve restringi r-se a 750 e 1.500 m i/
pressóricos elevados podem ser controlados com di álise e d ia. A dieta ta mbém deve conter 1.500 mg de cálcio, 50
uso de hipotensores. A pressão d iastólica deverá ser man- mmol de potássio e 80 mmol de sódio por dia. Deve-se au-
tida entre 80 e 90 m m H g. A d iálise ajuda no controle da mentar a oferta de vita m inas dia lisáveis como vitam ina C,
hipertensão, removendo adequada mente o excesso devo- tiam ina, riboflavina, niacina, B6 e fola to.38

Doenças do Aparelho Urinário 607


TRANSPLANTE RENAL submetidas a tra nsplante renal cm um período de 40 anos
(1966 a 2005). Foi observada queda na taxa de fertilidade
Em 19 , ocorreu a primeira gravidez bcm-sucedida absoluta, ma não na relativa, ao longo das décadas, sendo
em mulher submetida a transplante renal. Desde então, que 97% das gestaçõe ocorreram após o primeiro ano do
milhare de ge taçõe têm ido con tatada em pacientes tran plante. Comparando com a primeiras década , a
ncs a situação. proporção de nativivo dobrou na última década, enquan-
A mulherqucscsubmctc a transplante renal tem sua fun- to que o abortamento clctivo diminuiu. A taxa de sobre-
ção endócrina restaurada em aproximadamente seis meses e vida materna após o parto não se modificou ao longo das
uma cm cada 50 pode engravidar. O intervalo entre o tran - década!>, a im como a taxa de perda do rim transplantado,
plante e a ge tação é, cm média, de 40 meses. Geralmente, confirmando que os melhores resu ltados maternos c pcri-
a gravidez ocorre sem que a paciente tenha consciência do natais são observados quando a gravidez ocorre após o pri-
retorno da fertilidade, endo ela u peitada pelo aumen to meiro até o quarto ano após o tra n plante, com sobrevida
volumétrico do útero ou pela percepção dos movimento do materna de 96%e neonatal de 72,71lo.42
feto. Por i so, é indispensável que a paciente seja informada
quanto à possibilidade de engravidar c orientada quanto à
utilização do métodos contraceptivo adequado . Além da CONDI ÇÕES I DEAIS PARA A GRAVIDEZ
possibilidade de gravidcL., a paciente tranl>plantada convive
com a ameaça de rejeição do transplante, o ri co de infecção A concepção deve acontecer apó 18 a 24 me cs do
c a incidência aumentada de neoplasia c doenças cardiovas- transplante. Essa espera se justifica pela necessidade de
culares. A taxa de rejeição (9%) não é mais alta que a taxa de c tabilizar- e a função do rim transplantado c reduzi-
rejeição c perada para paciente não grávidas. o enta nto, rem-se o imuno supres ores à doses de manutenção
o diagnó tico de rejeição na grav idez pode ser muito difícil, que, em geral, são mai baixas. Os principais riscos ão
·endo nece ária, muita vezes, a realização de bióp ia renal. in fecção, proteinúria, anemia, hipertensão arterial c rejei-
Felizmente, a maioria dos estudos indica que a gravidez ção ao rim transplantado.
por si não tem impacto deletério obre o rim transplan- A condiçõe indispcn áveis para a mulher com rim
tado e na obrcvida de mulhere com níveis de crcatinina tran plantado engravidar estão listadas no ~adro 38.4.
até 1,5 mg/ dL.40
Q!.1.1dro .\8.-t J Condiçõcl> ideais p<~ra a grav idez cm mu-
Davi on & Milne 41 publicaram, em 1997, os resulta-
lher transplantada
dos da mais importa nte érie de eguimento de gestaçõe ·
após tran plante renal. Entre 1961 e 1994, foram avaliado Função renal estável (creatinina abaixo de 2,0 mg/dl, prefe-
os re ultados de . 82 gestações de 2.049 mul heres trans- rencialmente abaixo de 1.5 mg/dll
plantada ·. O aborta mento ocorreu em 4%, endo 20%te- Nenhuma evidência de rejeição
rapêuticos. Das gestações que ultrapassaram 20 semanas, Ausência de hipertensão arterial ou hipertensão facilmente
93<16 do fetos nasceram vivos. o entanto, foi elevada a controlada
incidência de parto pré-termo (50%) e de crescimento in- - -- --
Ausência de proteinúria ou. quando existente. miníma (<0,5 g/dia)
trauterino restrito (40%). A hipertensão, principalmente se
prc ente desde a concepção, associou- c a resultado peri- Ausência de distensão pielocalicial em exames recentes
natal desfavorável. O prognóstico foi melhor nas paciente Dose estável e baixa de imunossupressores: prednisona
cujo rim transplantado veio de doador vivo. O recém- (menos de 15 mg/dia) e azatioprina (menos de 2 mg/ kg/dia)
-nascidos de mães submetidas à terapia imunossupressora Doses seguras de ciclosporina A ainda não foram esta-
apresentaram evolução normal, embora alguns apresen- belecidas. principalmente por sua reduzida utilização na
taram atrofia tími a, leucopenia transitória, infecção pelo gravidez. mas acredita-se que doses abaixo de 5 mg/ kg/dia
citomegalovírus c hepatite B, hipopla ia da medula ó sea, sejam aceitáveis
hipoglicemia e hipocalccmia. Micofenolato mofetil (MMF) e tracolimus estão contrain-
Em 2009, Lcvidiotis et ai. 4 2 realizaram c tudo longi- dicados e devem ser suspensos pelo menos seis semanas
tudinal para avaliar o re ultado de ge taçõcs de mulheres antes da concepção

608 Noções Prát icas de Obstetrícia


CONTROLE PRÉ-NATAL DA uso do imunossupressor com medo de efeitos ne-
GESTANTE TRANSPLANTADA gat ivos sobre o feto. Esse fato precisa ser investigado
quando existe sus peita de rejeição.
Essas mulheres compõem o g rupo de alto-ri sco obs- inj ecções maternas: o risco de infecção, principal-
tétrico e o seu acompanhamento exige a participação de m ente as virais, como o herpes simples, o citome-
equipe mu ltidiscipl inar para alcançar bons resu ltados. Os galovírus ou va ricela-zoster, é consideravel mente
cuidados a essas gesta ntes devem ser concentrados nos se- mais alto na gestante transplantada, pelo uso com-
g ui ntes pontos: binado dos imu nossupressores. A atenção deve
Função renal: a maioria das gesta ntes apresenta me- também estar voltada para infecções do trato uri-
lhora da função renal que, no entanto, é menor do nário, que ocorrem c m 40% dos casos. D eve serre-
que a observada na gravidez norm al, o que é confir- alizada urocultura mensalme nte. As infecções têm
mado pelo aumento médio de 34% do RFG na IOa q ue ser tratadas rigorosamente, desde a bacteriú ria
semana. Aproximadamente I 5% irão apresentar assinto mática até a pielonefrite, pois essas afetam
deterioração da função renal. Esse grupo é repre- d rasticamente o curso da gestação e a estabil idade
sentado, principalmente, pelas pacientes diabéticas. do enxerto.
Proteimíria: pode surgir ou elevar-se nos últimos
tres meses da gestação, mas normal mente desapa-
rece após o parto. Geralmente, a proteinúria só tem Uso DE IMUNOSSUPRESSORES
impl icação cl ín ica quando associada à hipe rtensão
arterial. A maior parte dos dados disponíveis quanto ao uso de
Hiperten.são/pré-eclâmpsia: a pré-eclâ mpsia ocorre imunossupressor provém de gestações nas quais as subs-
em 25 a 30% dos casos e nem sempre o seu diag- tâncias utilizadas era m azatioprina e prednisona. A experi-
nóstico é fácil, uma vez que a paciente transpla nta- ência com ciclospori na é restrita a centenas de pacientes e
da pode apresen ta r n íveis séricos elevados de ácido o emprego de novos agentes como t racol imus e m icofena-
úrico e pro teinúria, sem significado diagnóstico. A lato mofetil é ainda incipiente. O consenso atual é de que a
hipertensão arterial deve ser rigo rosamente contro- paciente deve manter o regime imu nossupressor que util i-
lada e, muitas vezes, será necessária a associação de zava antes d a gravidez, desde que esteja ma ntendo controle
vários medicamentos, assim como o reajuste das constante. D evido às alterações fisiológicas da grav idez,
dosagens. ocorrem modificações do metabolismo e biodisponibili-
Rejeição: vários auto res relatam chance de até I 0% dade dos imunossupresso res.
de rejeição ao transpla nte durante a gravidez, po- Aproxi madamente I 5 a 40% das pacientes necessitarão
rém sua confirm ação nem sempre é possível. Se a reajustar as doses dos medicamentos. Devem ser exausti-
paciente apresentar febre, oligúria ou deterioração va mente o rientadas quanto à necessidade de manter sua
da função renal, com hipersensibilidade lombar, medicação. Para muitas delas existe a crença de que esses
a hipótese de rejeição deve ser pensada imed iata- med icamentos possam ser prejud icia i ao feto, o que, em
mente. O d iagnóstico d ife rencial entre rejeição agu- parte, pode ser verdade. M as, nessas situações, o concep-
da, rejeição crônica, recorrê ncia d a doença de base to é totalmente dependente da saúde materna e, q uando o
(exacerbação do lúpus com nefrite lúpica), toxici- imunossupresso r é retirado abruptamente, ocorre a rejei-
dade do imu nossupressor (ciclosporina), sínd ro- ção ou a perda do rim transplantado.
me hemolítica urêm ica e insu ficiê ncia renal aguda
pode ser extremamente di fícil, porém deve ser bus-
cado exaustivamente para q ue o tratamento ade- PrtEDNISONA
quado possa ser instituído. Sem a rea lização de bi-
ópsia renal torna-se mu ito difícil distinguir rejeição Embora atravesse a placenta, a relação da concentra-
de pielonefrite aguda, glomerulopatia recorrente ou ção de prednisona no sangue m aterno/ cordão umbilical
pré-eclâmpsia. Algumas pacientes interrompem o é de 10:1. Po r isso é classificada na categoria B do FDA.

Doenças do Aparelho Urinário 6og


Insuficiência de suprarrenal e hipoplasia tímica podem radas a 18, o.o das gestantes que utilizam outros regime
a ometer recém-nascido , c pecialmcntc se a do c utiliza- terapêutico . A creatinina érica pode apre cntar nívei
d:~ pela mãe é uperior a 20 mg/dia. lnfecçõc maternas acima de 1,' mg/ dL. Essa. variávci~ podem explicar a alta
grave podem acontecer nas gestantes que utiliz.1m doses incidência de bai);o peso ao nascimcnto.4 144
de prcdnisona aci ma de IS mg/dia. Mesmo assim, cm ca- A ciclosporina A aumenta a produção de tromboxano c
so~ de rcjci ão aguda, crá nccc sário tratar a gestante com cndotelina, ambos implicados nJ gênc~c da pré-cclâmp~i.t,
altas do c de c tcroide _n 44 o que explicaria a ocorrência de ta cm 3006 da gestante
tratada com e sa ub tància.

A7 i\ fi O PRI A fRACOL/.\ 1U\


É ainda muito limitada a experiência com e sas subs-
Embora cja ela ificada como categoria D pelo FDA, tâncias na gravidez. O tracolimus parece associar- c a
o feto está relativamente protegido contra cus efeito , pois, diabetes mellitus, hipcrcalemia c insuficiência renal nos
para ser ativa, a azatioprina deve ser convertida cm 6-mer- recém-na ciclos. Comparativamente à ciclo ponna, a gc -
captopurina c o fígado fetal não possui a enzima ino inato- tantc em u o de tracolimu exibe meno incidêncra de hi-
-pirofosforila c neccs ária à conversão para a forma ativa pertensão c hipcrlipidemia. f: con, idcrada categoria C, na
(áCido tioinosínico).41 44 Altas doses (6 mg/ kg/dia) de .1Za- classificação da FDA.
tiopri ru mostrar.1m-sc tcratogênicas em ani mai .
Exi te a ociação do c-dependente na miclo ~uprcs- Mtl'!li'/ J\0/ \/0 ,\ IOH//L

ào do feto, ma leucopenia, normalmente, não é problema Por razões de segurança, n.io existem estudo controla-
p.1ra o recém-nascido, se a contagem de leucócitos materna do utiliza ndo micofenolato em ge tantc . Estudos em ani-
to r mantida .1cinu de 7. -00 célula / mm. Algumas anoma- mai mo traram ação teratogênica, cau ando reabsorção
lia cromo sômica têm sido relatadas em crianças expos- fetal e malformações. Na literatura existem vários relatos
tas intraútcro à azatioprina. de malformação fetal re ultantc de cu emprego durante a
A avaliação da função hepática é neccs :iria nas pa- gc!.tação, principalmente cm mu lhcrc~ pós-transplantadas
ciente!> em u o de azatioprina devido ao cu efeito hc- (categoria D da FDA).
patotóxico. Em ca o de alteração, deve-se reduzir a dose 'c a paciente estiver u ando algum Inibidor da calci-
da droga. neurina a ub tituíção do medicamento deve er individu-
alizada, devido ao risco de rejeição do rim transplantado.

I III D ORE DACALC I EUR I A


PARTO
Esses agentes são, nos dias de hoje, os mais comumentc
utilizados na manu tenção da imunossupressão. Seu cm- Embora a prematuridade eja comumcnte ocJ ionada
prego diminuiu o eventos de rejeição e au mentou a sobre- por complicaçõe maternas e/ou fetais, o parto vagina Ideve
vrda do rim tran plantado. Ciclosporina c tracolimus são ser o de escolha, caso não haja evidência de lesão mcc.1 nica
as substâncias mais empregadas nesse grupo. sobre o rim tran plantado. Indicação frequente de cc:.ari.l-
na nc a paciente é a osteodi trofia pélvica, relacion;~da à
l/t/ ll~PtlR/\ ~.i insuficiência renal prévia c di,\ lisc ou à terapia prolongada
O u~o clínico da ciclo porina A tem demonstrado que com cortico teroide , principalmente se in iciado ,111tc
a me!>ma não aumenta a incidência de anom,1lia congéni- da puberdade.45
ta~ (categoria C da FDA). Entretanto, o risco de recém-n.ls- Dessa mulheres, 20% podem apresentar necrose ava -
cido~ pequenos para a idade gestacional é mais ,1lto. Existe cular da cabeça do fêmur. O u o de antibiótico profiLítico
mais morbidade materna nes e grupo: 51,796 da u uária é amplamente recomendado, me mo nos casos de parto
de ciclo porina A apre cntam hipertensão arterial, compa- normal sem qualquer intercorrência.

610 Noções Práticas de Obstet ricia


ALEI TAMENTO As lesões podem ser d ifusas ou nodu lares, sendo as ú ltimas
específicas do diabetes. A glomeruloesclerose faz parte das
Existe pouco conhecimento sobre a excreção dos imu- lesões vasculares generalizadas da doença.
nossupressores e seus metabólitos no leite humano e se as Durante muitos a nos o prognóstico materno e fetal foi
concentrações que alcança m o leite são biologicamente tido como som brio no caso de gesta ntes diabéticas. Ao se
ativas. Até que essas dúvidas sejam esclarecidas, o aleita- compararem os resultados de trabalhos mais antigos com
mento permanece contrai ndicado para puérperas e m uso aqueles publicados a partir da década de 1980, observa-se
dessa medicação. que o cuidado rigoroso com o controle da glicemia e da
h ipertensão, associado aos avanços do c uidado obstétrico
c neonatal, promoveram expressiva redução na morbimor-
CoNTR ACEPÇÃO Pós-PARTO talidadc materno-fetal.
Além disso, sabe-se, hoje, que a gravidez não acelera a
Embora os contraceptivos orais possam causar ou progressão da nefropatia nessas pacientes.47 Entretanto, a
agravar o tromboembolismo e levar a alterações no siste- nefropatia diabética traz algumas repercussões im porta n-
ma imunológico, não existe contra indicação absolu ta à sua tes na gravidez.
utilização, desde que sob rigorosa supervisão. 46
O DIU pode agravar os problemas menstruais, além de
ter sua eficácia reduzida pelos imunossupressores. Porém, EFEITOS DA NEFROPATIA DIABÉTICA
a maior restrição ao seu emprego em mul heres transplan- SOBRE A GRAVIDEZ
tadas é o risco em longo prazo de infecção pél vica, já que,
durante a inserção e a troca do DlU, pode estar presente Destacam-se os efeitos mais frequentemente encon-
bacteremia em, aproximadamente, I 0% delas. trados nessas gestantes, em decorrência do acometimento
O ideal para essas pacientes é a realização de salpingo- rena l:
tripsia bilateral. Anemia: provavelmente ocorre devido ao dano
glomerular, que leva à diminuição da produção de
eritropoetina, tendendo ao agravamento dura nte a
N E FROPAT IA D I ABÉTICA grav idez. Mesmo fazendo uso rigoroso de ferro e
folato durante a gestação, anemia acentuada pode
A nefropatia que acomete a paciente diabética de longa acometer aproximadamente 42% das pacientes.
evolução é caracterizada por proteinúria persistente, supe- CJUR: a nefropatia diabética é secundária à lesão
riora 0,3 g/ 24 horas, fi ltração glomerular reduzida, frequen- microvascular generalizada. Esse mesmo processo
temente associada à hipertensão arterial e à retinopatia. Pro- pode envolver a circu lação útero-placentária, d imi-
gride inva riavelmente para insuficiência renal terminal em nuindo a liberação de oxigênio e nutrientes para a
um terço dos pacientes diabéticos insulino-dependentes e placenta. A taxa de C J UR é elevada e os trabalhos
em 40 a 60% dos não insulina -dependentes. Nos Estados reportam incidência em torno de I S%.48 Na ausên-
Unidos, a nefropatia diabética é a causa mais frequente de cia de nefropatia, os fi lhos de mães diabéticas ten-
insuficiência renal terminal, representando 35% dos pacien- dem a ser macrossômicos, devido à hiperglicem ia
tes em diálise. Pacientes com essa síndrome apresentam ris- m aterna crônica.
co relativo de morte prematura 100 vezes mais alto do que Sofrimento fetal: é secundário à diminuição da per-
na população não diabética. Aproximadamente 6 a 10% das fusão útero-placentária e, mu itas vezes, pode ser
gestantes com d iabetes têm nefropatia, o que irá afetar ore- causa de interrupção eletiva prematura da gravidez.
sultado da gravidez. Qpase sempre a mulher é portadora de Polidrâmnio: pode acometer aproximadamente 27%
diabetes desde a infâ ncia ou adolescência. O comprometi- das gestações.
mento renal ocorre primariamente nos glomérulos. Entre- Taxa de cesariana elevada: pode chegar a 72%.
tanto, os túbulos e o interstício, bem como os vasos renais, Mortalidade perinatal: quando analisada global-
sofrerão também alterações durante a evolução da doença. mente, a taxa de mortalidade é de 6,5%. Ao serem

Doenças do Aparelho Urinário 611


excluído os feto com anomalia incompatível com ta xas de PE em462 gestantes com diabetes in talado
a vida, a taxa corrigida é de 2,8%. com classificação B, C, D c F/ R de White foram II,
Bactemína assllllcmrálrca: o aumento da bacteriúna 22, 21 c 36'\l, respectivamente, dcmon trando que a
nas gestantes diabéticas torna-as mais susceptíveis sua ocorrência aumenta com a gravidade do acome-
às infecções do trato uriná rio. timento do diabetcs. 4~ Existem evidências também
Proteimírra: cerca de O"o das gestante diabéticas de que o mau controle glicêmico durante a primei ra
irão apresentar aumento da excreção de proteína no metade da gravidez au menta o ri co de PE.4~
tercei ro trimc trc, associado à deterioração da fun- Dofllça cardrovasc11lar: a gestação aumenta al- de-
ção renal c clevaç.io da pressão arterial. No enta nto, manda sobre o coração c, se a gestante é portadora
c e inais tendem a melhorar no pó -parto. a de doença atero clerótica coronariana, cxi te alto
gestante di,1béticas, a protcinúria pode ser maciça, risco de morte materna.
atingindo nívei upcriorcs a IOg cm 24 hora . 4~ Doença fireoidrmza: existe associação entre diabete!:.
Alalfomração fetal: a prevalência varia de 8 a 12% na c a di função imunológica da tireoide. O risco de
ausência de normogliccmia. Estudos experimentai desenvolver disfu nção da ti reoide varia de - a IOl\J
têm evidenciado que o aumento muito acentuado de anual mente em mul heres com diabetes tipo 1. ~0 As-
ubstrato causa cstrc~se oxidativo (pcroxidação lipíd i- sim, para essas p:~cicntc o ra treamento da função
ca), levando à excc siva formação de radicais livres de tireoidi na é recomendável.
oxigênio que, por sua vez, teriam efeito tcratogênico. Neuropatia periférica e mrlon6nrica: a gestação, prov.l-
Ocorre, também, diminuição de pro taglandina E2 vcl rncnte, não altera o cu r o da neuropatia omát r-
no embnõc cxpo tos a alta taxa de glico c. Es a ca e periférica. o entanto, a ge tantes portadoras
PG E2 é necessária para a formação normal do · C. apre entam ri co aumentado de hipereme e graví-
Prenral11ndade: cerca de 50 a 65% do recém-nasci- dica, relacionada à gastroparesia, hipoglicemia im-
do de mães com nefropatia diabética nascem com prevista, hipotensão ortostática, retenção urinária,
menos de 37 ·emanas. Geralmente, c sa prematuri- ~índrome do túnel do carpo. Adaptações fi iológi-
dade é decorrente de agravamento da hipertensão, cas, como o aumento do débito cardíaco c a expan
supcrposição de pré-eclàmpsia e sofrimento fetal ão do volume anguínco, podem e ta r diminuída~
crônico, comou cmCIUR.4 nas diabéticas com neuropatia.
lnfecçtio:o risco de ITU encontra-se aumcnt,1do en-
tre trê c cinco vezes, especialmente entre aquelas
EFEITOS DA GRAVIDEZ SOBRE A com mau controle glicém ico e com doença renal
NEFROPATIA DIABÉTICA terminal. É importante lembrar que a infecção au-
menta o risco de trabalho de parto pré-termo c de
Apesar dos efeitos da gravidez obre a função renal e- cctoacido c diabética.
rem bem conhecido , tem sido difícil determinar e a gra-
videz altera a progrc são da ncfropatia diabética. O risco de
perda permanente da fun ão renal parece estar relaciona- AVALIAÇÃO PRÉ-CONCEPCIONAL
do com a concentração sérica da creatinina pré-concep-
cional. Estudo ret rospectivo envolvendo 3- mul here que r a ituaçõe em que é po ível realizar a avaliação
apre entavam creatinina ~ 1,4 mg/dL no in ício da gravi- pré-concepcional, sugere-se realizar:
dez mostrou perda permanente da função rcn,1l em 45%.4' Avaliação da função rmal ccstadramenlo da nefropalra:
A cguir estão li tado o efeitos mais frequentemente essa análise deve cmprc ser solicitada, uma vez que
encontrados cm decorrência da gravidez sobre a nelropatia a gr.lVidez pode dificultar <1 interpretação de exa-
instalada. mes como a proteint'1ria c o clearance de crcatinina.
Hrperlensão: a prevalência de hipertensão c PEé mais Exameoftalmológico: muitas pacientes diabética com
alta e e tá relacionada à existência de hipertensão pré- nefropatia têm também algum grau de alteração da
via c de doença va cular. Em um estudo de casos, as retina. Q rando presente, a rctinopatia prolifcrativ.l

612 Noções Práticas de Obstet ricia


deve estar em remissão espontânea ou tratada por fo- prontamente para prevenir a perda da visão. TSH e T4 livre
tocoagulação a laset; antes que a paciente engravide. devem ser solicitados devido à elevada incidência de disfun-
Avaliação cardiovaswlar: essas pacientes apresentam ção da tireoide em mulheres com diabetes tipo 150 Gestantes
elevado risco de doença coronariana. Assim, o exa- com sintomas cardiovasculares, hipertensas ou com suspeita
me físico rigoroso, ECG (eletrocardiograma) e/ou de vasculopatia devem realizar eletrocardiograma para ras-
ecocard iograma são indispensáveis para detectar trear doença coronariana isquêmica a qualquer momento.
qualquer sinal ou sintoma de doença isquêmica, in- Os exames de seguimento do diabetes devem ser real i-
suficiência coronariana, doença vascular periférica zados periodicamente:
ou isquemia cerebral. Hemoglobina glicada (HbA lc) a cada quatro a seis
Controle glicêmico:sabe-se que as anomalias congênitas semanas;
e as perdas espontâneas da gravidez podem ser preve- a dosagem da glicemia deve ser diária (entre quatro
nidas se a paciente estiver com bom controle glicêmico e oito dosagens);
antes de engravidar. Isso é válido para todas as diabéti- a cetonúria deve ser investigada quando os níveis de
cas, independentemente da presença ou não de doença gliccrnia estiverem acima de 200 mg/dL;
vascular. proteinúria em amostra simples deve ser realizada
Controle da pressão arterial: o controle da pressão ar- a cada consulta e a proteinúria de 24 horas trimes-
terial, desde o período pré-concepcional, melhora tralmente;
o prognóstico fetal e reduz o risco de dano perma- a fundoscopia e a avaliação da fu nção renal devem
nente para a mãe com nefropatia diabética. O uso ser solicitadas idealmente a cada tri mestre ou na
de inibidores da conversão da angiotensina associa- presença de altcraçõc que exijam a realização des-
do ao controle glicêmico rigoroso três a seis meses ses exames.
antes da concepção mantém o efeito nefroprotetor
durante toda a gravidez. No entanto, durante a gra- A ultras onografia no primeiro trimestre é essencial
videz esses agentes deverão ser substituídos devido para a estimativa da idade gestacional e a medida da trans-
ao seu efeito teratogênico. Opção terapêutica ra- lucência nucal, assim como o exame morfológico e a eco-
zoável são os bloqueadores de canal de cálcio, que cardiografia no segundo trimestre. No terceiro tri mestre, o
também têm efeito nefroprotetor similar. exame ultrassonográfico é necessário para rastrear o cres-
Suplementação com ácido fálico: o Colégio Ameri- cimento e a vital idade fetal.
cano de Ginecologistas e Obstetras (ACOG) re- O ideal seria que essas gestantes pudessem alcançar o
comenda a suplementação de ácido fólico (4 mg) termo com controle glicêmico adeq uado c boas condições
no período pré-concepcional e durante o primeiro feta is. No entanto, a indicação de interrupção pré-termo
trimestre, para mulheres com risco elevado de de- da gravidez é muito frequente e esta rá na dependência das
feitos do tubo neural, embora a fisio patologia des- condições materno-fetais.
cs defeitos na gestante diabética possa não estar l ndependcntemente do tri mestre, du rante toda a gesta-
relacionada à deficiência de ácido fálico. ção é importante realizar:
Prevenção de hiper e hipoglicemia: deverá ser realizado
controle dietético rigoroso e uso correto de insu li-
ACOMPANHAMENTO na. O ideal é que a paciente ma ntenha gliccmia de
DURANTE A GRAV IDEZ jejum abaixo de 90 mg/ dL, pré-prandial abaixo de
100 mg/ dL e, fina lmente, duas horas pós-prand ial
Na primeira consulta deve-se solicitar, além dos exames abaixo de 120 mg/ dL.
de rotina de pré-natal, avaliação da função renal, quantifica- Controle da pressão arterial: introduzir, trocar ou
ção da proteinúria em amostra isolada de urina, ultrassono- ajustar o uso dos agentes anti-hipertensivos. As
grafia para datação da gravidez e exame oftalmológico para medicações de escolha são a metildopa, os bloque-
a investigação de rctinopatia. Nos casos em que for diagnos- adores de canal de calico e os beta-bloqueadores.
ticada retinopatia proliferativa, a paciente deve ser tratada Apesar de os bloqueadores de canal de cálcio terem

Doenças do Aparelho Urinário 613


efeito menos potente na redução da pressão arterial, A nefrite lúpica ati va à concepção tem forte im pacto
eles apresentam importante efeito nefro protctor, re- sobre a perda fetal, que pode ocorrer entre 25 e 57% dos ca-
duzindo a excreção de proteínas. sos, enquanto as gestantes lúpicas com doença quiescente
Dieta: uma grande dú vida na orientação dietética apresentam 8 a 12% de perda.51
à paciente grávida c diabética é quanto à restrição Em 2008, Andrade etaf.S 2 anal i aram os rc ultado adver-
:1 ingestão de proteínas. Quando se produz doença sos da gestação cm mul heres americanas com LES. O envolvi-
renal experimentalmente, as dietas ricas cm proteí- mento renal foi uma va riável significativamente independente
nas aceleram a progressão da doença. No enta nto, para o resultado adver o perinatal, aumentando o risco de per-
as dieta h ipoproteicas não estão totalmente valida- da gc tacional, natimortalidade e prematuridade em 5,2 vezes.
das no caso de gc tantcs e, assim, muitos serviços lmbasciati et a/.51 conduziram estudo multicêntrico
utilizam como rotina a orientação de ingestão diá- cm mulheres com nefrite lúpica, na tentativa de identificar
ria de proteínas entre 0,6 e 0,8 mg/ kg. os fatore de risco de complicação e de proteção du rante
Atividadejís1ca: abe- e que o exercício aj uda o con- a gestação. Baixos valores de complemento (hipocomplc-
trole glicêmico. No entanto, são desaconsel hados mcntcmia) foram predi torcs significativos para o resulta-
os exercícios vigorosos. O repouso, principalmente do pcrinatal adverso, tais como .1bortamento espontâneo
em decúbito latera l esquerdo, deve ser estimulado, c morte perinatal. A ativação da nefrite, durante c após a
uma vez que tem efeito positivo sobre ,, circulação gestação, ocorreu em menos de 50% das paciente . E sa ati-
feto-placentária. vação pode ser pred ita pela aval iação da função renal pré-
-concepciona l. Os autores observaram que a maioria das
mulheres, mesmo aquelas com doença renal grave, teve
NEFRITE LúPICA resultado favorável. Normocomplementemia c o u o de
a pirina em baixa dose durante a gravidez foram prcd itore ·
O lúpus eritcmatoso sistêmico (LES) é doença autoi- independentes para o resultado fetal favorável.
mune crônica de caráter sistêmico que acomete principal- Recentemente, estudo retrospectivo avaliou o 1mpacto
mente as mulheres cm idade fértil, numa incidência de 9: I da atividade da nefrite lúpica obre os resultado maternos c
em relação aos homens. Assi m, o impacto da doença sobre fetais. E, mais uma vez, as pacientes com doença ativa Jpre-
.1 gravidez foi sempre motivo de apreensão, principalmente sent:lram alta incidência de complicações quando compara-
diante de acometimento renal, pois, além de poder ser a pri- das às mulhere com doença inativa (57%x li%, p<O,OO I).<4
meira manifestação da doença em 4 a 8% dos pacientes, a A nefrite lúpica, qua ndo se man ifesta pela primeira vez
nefrite lúpica é a principal causa de morte dessas pacientes. no curso da gravidez, pode c r confundida com pré-eclâmp-
Aprox imadamente 6'% das pacientes com LES apresen- ia. Por causa disso, seu diagnóstico pode er negligenciado
tam algum tipo de lc ão renal. Esta pode er di creta c limi- cm detrimento da supercstimação da ocorrência de pré-
tada .10 glomérulo (glomcrul ite) ou estender-se aos tú bulos -cclâmpsia, que pode alcança r 13 a 32% dessas pacientes."
c interstício (glomerulonefritc), forma bem mais grave. Algun s exame laboratoriais podem ser úteis no diag-
A nefrite lúpica quie centc é defi nida pela presença de: nóstico diferencia I:55·56
Proteinúria abaixo de SOOmg/dia; A nefrite lúpica, frequentemente, associa-se à pro-
creati ni na na fa ixa da normalidade ou RFC supe- tcinúria e/ ou sedimento urinário ativo (hematúria
rior a 60 ml/min/ 1,73m2; e cilindrúria), enquanto na PE apenas a protcinúria
sedimento urinário inati vo (menos de cinco hemá- está presente;
cias por campo); A hipocomplementcrn ia fala a favor da atividadc
níveis séricos de C' normais. lúpica, assim como o aumento da excreção uri ná-
ria de cálcio e dos níveis de anticorpos antiONA.
A nefrite lúpica ativa é caracterizada por: a pré-eclâmpsia observam-se aumentos nos ní-
Protcinúria acima de SOOmg/ dia; vei dos complemento c não e verifica excreção
edimento urinário ativo (hematúria e/ou ci lindrúria); aumentada de cálcio. No entanto, nen hu ma dessas
elevação ou não da creatinin.l sérica. diferenças é defin itiva;

614 Noções Práticas de Obstetrícia


Trombocitopenia e elevação dos níveis séricos das AVALI AÇÃO PRÉ- CON CEPCIONAL
enzimas hepáticas e do ácido úrico são mais eviden- E SEGUI MENTO PRÉ-NATAL
tes na PE.
Considerando-se todos os problemas que envolvem a mu-
lher portadora de nefrite lúpica, é essencial o aconselhamento
FATORES PRO GNÓSTICOS pré-concepcional da paciente. O acompanhamento pré-natal
exige equipe multidisciplinar que possa se antecipar às com-
Qpando se analisam as condições da gestante com lú- plicações, minimizando os efeitos adversos sobre mãe e feto.
pus, principalmente a portadora de nefrite, é importante Destacam-se a realização de exames - maternos e fe-
levar em con ta os fatores de bom e de mau prognóstico e tais - e a prescrição de medicamentos, além do suporte
orientar a paciente e sua família quanto às possíveis com- emocional por parte da equipe:
plicações e ao tratamento proposto para m inimizá-los. Exa mes mensais ou bimensais, de acordo com a
Nos Quadros 38.5 e 38.6 estão discriminados os princi- evolução de cada caso: hemograma completo, pla-
pais fatores prognósticos. quetas, avaliação da função renal (ureia, creatinina),
urinálise, ácido úrico, proteinúria de 24 horas e clea-
rance de creatinina.
I
Q uadro 38.5 Fatores de bom prognóstico para a evolu- Pesquisar sínd rome de anticorpos antifostolípides
ção da gestação na paciente com nefrite lúpica associada, por meio da dosagem de anticoagulante
lúpico e anticardiolipina (lgG e lgM), já que o trata-
Dois ou mais anos do diagnóstico da doença. Nesses casos.
existe mais probabilidade de a doença encontrar-se estável. mento com heparina e ácido acetilsalicíl ico (AAS)
com utilização de corticoides em baixa dosagem (abaixo de tem se mostrado eficaz 53
10 m~/dia) Rastrear o crescimento fetal (u ltrassonografia se-
Ausência de atividade lúpica por mais de seis meses riada), com especial atenção aos casos de C JU R e
de comprometimento da vitalidade fetat que po-
Ausência de anticorpos antifosfolfpides. que levam a
infartos placentários e, secundariamente, à insuficiência dem demandar interrupção pré-termo da gravidez.
placentária Realizar dopplervelocimet ria das artérias uterinas
e umbilicaiSj
Ausência de insuficiência renal: creatinina abaixode 1,6 mg%,
pro~inúria abaixo de 1,0 g/24 horas. A gravidez deve ser
Níveis de complemento sérico baixos são, usualmen-
desaconselhada se os valores da creatinina estiverem acima te, indicadores de atividade lúpica. No entanto, a hi-
de 2,8 mg/dl pocomplementemia da via clássica (C4, CS e CH SO)
Hipertensão arterial ausente ou bem controlada pode ocorrer em gestantes que estão clinicamente
bem. Portanto, os indicadores confiáveis de doença
Baixas doses de corticoides
ativa na gravidez são os níveis elevados de antiDNA
e hipocomplementemia de via alternativa (C4A e
CSA). O valor desses exames, entretanto, está vincu-
lado à existência de dosagem basal prévia.
Ecocard iografia fetal, pela possibilidade de blo -
queio átrio-ventricular completo, que pode ocorrer
Qpadro 38.6 1 Fatores de mau prognóstico para a evolu-
quando os anticorpos anti-Ro/ SSA e antiLa/ SSB
ção da gestação na paciente com nefrite lúpica
estão positivos no soro materno.
Atividade da doença durante a gestação, levando a agrava-
mento da nefropatia. principalmente no primeiro trimestre.
quando ocorre a placentação
T RATAMENTO
Agravamento da hipertensão, que provoca deterioração
mais rápida da reserva placentária, principalmente por in- O objetivo do tratamento é manter a gestante com
fartos, levando ao agravamento da insuficiência placentária
doença renal em remissão, fazer profi laxia contra as compli-

Doenças do Aparelho Urinário 615


cações trombóticas relacionadas aos anticorpos antifosfolí- n o United States Library oj Medicine Drugs and Lactation
pides, prevenir e tratar a h ipertensão e a pré-eclâ mpsia, além Data base (LactMed) of the United States National Library
de tentar assegu rar o crescimento e o bem-esta r feta l. Mais oj Medicin~ 7 sugerem q ue o uso de anti-inflam atórios
uma vez, a mulher deve ser aconselhada a se prepara r para n ão esteroides (AI NEs) de ação cu rta, a ntim aláricos,
a gravidez. Isto envolve rigoroso planeja mento fam iliar à es- prednisona ( 15 a 20 mg/ d ia), warfarin e heparina são
pera das condições ideais ou próximas do ideal. A manuten- seguros dura nte a lactação, u ma vez q ue pouco o u nada
ção da hidroxicloroquina e da cloroquina em doses de até d o fárm aco at ivo é secret ad o no leite. Mulheres com
200 mg/ dia é considerada segura, além de reduzir a exacer- a nti-Ro/ SSA po dem apresentar esses a nticorpos no lei-
bação da doença, a restrição do crescimento e o sofrimento te, m as não existem evid ências indicando que o lúpus
fetal. Acido acetilsalicílico em baixa dose deve ser institu- neonatal resulte d a am a m e ntação. No en tanto, alguns
ído como prevenção contra a pré-eclâmpsia e trombose auto res sugere m que, n esse caso, a amamentação d eve-
em gestantes com síndrome de anticorpos antifosfol ípides. ria ser contraindicada. Lactantes em uso de prednisona
Gestantes com ativação da nefrite deverão ser tratadas com ou me tilprednisolona devem a m amentar a ntes da in-
altas doses de corticosteroides. Nessa situação, é preferível gest ão d a med icação, o que mi n imiza a exp osição do
utilizar metilprednisolona em pulso terapia, em vez de doses recém -nascido. Doses elevad as de ácido acetilsalicílico
elevadas de prednisona. A maioria dos imu nossupressores devem ser evitad as. Anti-inflamatórios não esteroides
estão contraind icados durante a grav idez (ciclofosfa m ida, devem ser evitados pelas mães se o recém -n ascido apre-
metotrexato, micofenolato, leflunomida). As exceções são a senta icterícia.
ciclosporina, a azatioprina e o tracoli mus.

GRAUS DE RECOMENDAÇÃO
AMAME NTAÇ ÃO
O Quad ro 38.7 apresenta as evidências sobre o apa re-
A a m amentação é compatível para a m aioria das lho urinário na gestação.
puérperas portadoras deLES. Informações dispo níveis

Quadro 38.7 1Evidências sobre as doenças rena is e o sistema urinário na gravidez


Ever1to Coment<mo I recomendaçuo 1 oco r r encra Grau de
recomendaçao

Alterações Ocorre aumento do FRP de 50 a 80% e do RFG em torno de 50%. Oaumento do RFG leva à D
fisiológicas na redução dos níveis de creatinina e ureia durante a gravidez. I
gestação
Oaumento do RFG leva a mais excreção de aminoácidos. vitaminas. sódio, potássio, o
cálcio, protefnas e glicose. I
Infecção do trato Patógeno mais frequente (80% dos casos): Escherichia coli c I
urinário (ITU)
Complicações maternas mais frequentes. decorrentes de ITU: pielonefrite; insuficiência c
respiratória transitória; choque séptico.
I
Complicações perinatais mais frequentes. decorrentes de ITU: prematuridade; RN de baixo c
peso; rotura prematura de membranas; CIUR; paralisia cerebral ou retardo mental; óbito. I
Caracterfsticas epidemiológicas preditoras de ITU na gestação: história prévia de ITU; B
ITU na gestação atual, antes do início do pré-natal.
I
Urina rotina não é o exame ideal para rastrear ITU c I
Gram de gota é o melhor teste rápido para rastrear ITU, mas não supera a urocultura. o I
continua ...

616 Noções Práticas de Obstetrícia


... continuação
Q uadro 38.7 1Evidências sobre as doenças renais e o sistem a urinário na gravidez

Evento Coment<mo recomendacao ocorrencra Grau de


r ecomendaçào

Infecção do trato Urocultura é o padrão-ouro para o diagnóstico laboratorial da ITU. o


urinário (ITU)
Diagnóstico de bacteriúria assintomática: duas culturas positivas (mais de 100.000 A
colônias) apresentando o mesmo tipo de bactéria.
Tratamento de bacteriúria assintomática: utilizar os regimes-padrão. evitando A
regimes curtos ou de dose única.
Evolução da grávida A fórmula modificada da Diet and Renal Disease (MORDI para estimar o RFG não foi B
com doença renal testada em gestantes e. por isso. não deve ser utilizada. uma vez que seu resultado
pode estar subestimado quando o RFG encontra-se acima de 60 ml/min por mm2•
fato frequente nas grávidas. mesmo nas portadoras de doença renal.
Ureia e creatinina: níveis de ureia acima de 14 mg/dl e de creatinina acima de o 1.

0,9 mg/dl na gestação são suspeitos de possível disfunção renal. \

Hematúria e proteinúria são alterações que indicam agravamento da doença renal. o


Proteinúria de 24 horas: reflete o grau da lesão glomerular e prognostica a progres- o
são da doença.
Pressão arterial: diastólica de 75 e 85 mmHg, respectivamente. no segundo e o
terceiro trimestres. são os valores máximos de normalidade.
Biópsia renal: só se justifica durante a gestação em mulheres com súbita deteria- o
ração da função renal antes de 32 semanas.
Função renal levemente diminuída: creatinina inferior a 1,3 mg/dl antes da concep- c
ção. Bom prognóstico gestacional materno e fetal.
Função renal moderadamente diminuída: creatinina entre 1.3 e 1,9 mg/dl antes da c
concepção. Sobrevida fetal de 90%. Prognóstico materno: 1/3 piora a doença de
base; agravamento da hipertensão e superposição de PE.
Função renal acentuadamente diminuída: creatinina acima de 1.9 mg/dl antes da c
concepção. Mau prognóstico materno e fetal.
Controle pré-natal Ocontrole da função renal deve ser realizado mensalmente, por meio do clearance c
de creatinina.
Tratar a hipertensão arterial a partir do achado persistente de níveis pressóricos c
acima de 150/90 mmHg. Oobjetivo do tratamento é manter a pressão arterial
diastólica em nfvel igual ou inferior a 90 mmHg.
Pacientes em Profissionais que cuidam de mulheres em diálise devem orientá-las quanto aos c
tratamento dialftico riscos de possível gravidez. a despeito da diminuição da libido e da fertilidade.
Gestantes apresentam mais predisposição à sobrecarga de volume, exacerbação c
da sua hipertensão e/ou superposição de pré-eclâmpsia. aumento da incidência de
descolamento prematuro da placenta, piora da osteodistrofia materna e aumento
da necessidade de transfusão de sangue. I
A mortalidade perinatal é alta nesses recém-nascidos - cinco a 10 vezes mais que c !
nos adequados para a idade gestacional. i
continua ...

Doenças do Aparelho Urinário 617


... continuação
Quad ro 38.7j Evidência sobre a doença renais e o sistema urinário na gravidez

Even to Co men tar ro 1 recome nd açao; ocor renc ra Grau de


recom end acao

Pacientes em Não há razão para a troca de uma forma de diálise por outra apenas por causa c
tratamento dialítico da gestação. Se houver necessidade de iniciar diálise durante a gestação. sabe-
-se que a diálise peritoneal tem mostrado resultados satisfatórios.
f--
I
A diálise deve ser iniciada precocemente (ureia nitrogenada acima de 100 mg/ c
dl) nas pacientes com doença renal crOnica que se encontram em tratamento
conservador e intensificada naquelas que já se encontram em programa dialitico.
--

Durante oprocesso dialítico a PA diastólica deverá ser mantida entre 80 e 90 mmHg. c


Pacientes dialisadas geralmente são anêmicas e. na gravidez. a anemia tende a se c
agravar. Deve-se utilizar suplementação com ferro e ácido fólico. Onfvel de hemo-
globina não deve estar abaixo de 10 a 11g/dl. Tem sido preconizada a utilização
da eritropoetina humana recombinante, que pode elevar ohematócrito aproxima-
damente 30%. além de não mostrar efeitos negativos sobre mãe e concepto.
Gravidez após A concepção pode ocorrer após 18 a 24 meses do transplante. Essa espera se c
transplante renal justifica pela necessidade de estabilizar a função do rim transplantado e reduzir
os imunossupressores às doses de manutenção que. em geral. são mais baixas.
Uso de imunossupressores durante a gravidez: a paciente deve manter o(s) c
i
medicamento(si que usava antes de engravidar.
Parto: o parto vaginal deve ser a escolha. desde que não existamsinais de lesão c
mecanica sobre o rimtransplantado.
ir
Aleitamento materno: contraindicado para puérperas em uso de imunossupressores. c
FRP =fluxo renal plasmático: RFG=ritmo de filtração glomerular: ITU =infecção do trato urinário: RN =recém-nascido: CIUR =crescimento intrauterino restrito.

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2009;24:3-H-:-.

620 Noções Práticas de Obstetrícia


Aparelho Digestivo e Gravidez
José de Laurentys Medeiros
José de Laurentys Medeiros Júnior

Fígado Outras Alterações do Aparelho Digestivo


Fígado e Gravidez Normal Boca
Hepatopatias Exclusivas da Gravidez Doença do Refluxo Gastroesofágico
Hepatopatias Concomitantes com a Gravidez Úlcera Gastroduodenal
Tumores Hepáticos Benignos e Malignos Pancreatite
Infecções Bacterianas, Abscessos, Parasitoses Constipação
Litíase Biliar Hemorroidas
Gravidez em Hepatopatas Doença Inflamatória Intestinal
Transplante Hepático Apendicite Aguda
Gravidez Ectópica no Fígado

s doenças do aparelho digestivo na gravidez po- de letalidade evoluíram satisfatoriamente, graças aos mé-

A dem apresentar-se em pacientes anteriormente


portadoras de doenças digestivas ou as manifes-
tações surgem no decorrer da gestação. Por outro lado, ou-
todos propedêuticas e terapêuticos, atingindo o avanço
máximo no tratamento das hepatopatias - o transplante
hepático. Algumas doenças são exclusivas do estado ges-
tras doenças são exclusivas do estado gestacional, como as tacio nal, o utras o correm simultaneamente com a gestação
hepatopatias da gravidez. e, finalmente, a gravidez se instala em pacientes anterior-
mente hepatopatas. Incluiremos ao lado dos itens enu-
merados o fígado na gestação normal, aspectos atuais do
FíGADO transplante hepático na gestante e a gravidez ectópica no
fígado. As alterações hepáticas na gestação são, também,
As alterações hepáticas durante a gestação e puerpério intitu ladas icterícia na gravidez e icterícia da g ravidez. De-
são importantes para o obstetra e irão dem andar atenção nomi nação pouco significativa, pois a icterícia nem sem-
mu ltid isciplinar, incluindo hepatologista, gastroentero- pre está presente. O Qyadro 39.1 apresenta situações clíni-
logista, internista, intensivista, hematologista e neonata- cas específicas nas quais o fígado está envolvido c merece
logista. Muitas alterações gue apresentava m alto índ ice especial atenção.
~ adro 39. 1 I Ituaçõe clmi a nas quais o fígado pode FÍGADO E G R AV I DEZ NO R MAL
e\lar envolvido
Hepcl!Opdtrcls exclusrvas da gravrclt>/ Embora a alterações hepática na gravidez normal e-
jam discretas, elas merecem con idcraçõcs. A hcmodilui-
Hiperemese gravidica
ção que ocorre a partir do primeiro trimestre gc tacional
Colestase intra-hepática da gravidez au menta o volume circulante, com rcJuç:io do hematócrito
--------------~
Pré-eciAmpsia - eciAmpsia c da albu min,\ érica. O nívci de cole tcrol e triglicerídios
elevam-se por ação hormonal, contribuindo par,\ ,\ forma-
Síndrome HELLP - hemólise - elevação enzimática -
trombocitopenia ção de c.ílculos biliares. As altera õcs d.1 prova b.\ ic,\ de
funcionamento dos hepatócitos (.1minotransferase ), embo-
Esteatose aguda da gravidez (EAG)
ra discretas, são importante na verificação de doenças hep.í-
Rotura hepática ticas concomitantes ou preex istente~ à gestação. A fo~fata c
Ht•pdtopatras COili'Dinrtantes com a qr dvrilt'/ alcalina eleva- c pela forma ão pia cnt,\ria c ós ca c o au-
mento da --nucleotida e, amda que moderado, e importan-
Hepatites virais:
A. B. C. O. E. G. te no diagnóstico da colcsta!-C Ja gravideL.. 0~ ácido~ bil i,Hl~
Citomegalovirus encontram-se com valores de rcfcrênci.l c au mentados cm
Herpes jejum na colestase intra-hepática da gravide7 (C IG).1 '
Outros vírus A coagulação, cujo fatore determinantes são ,\\ pla-
Síndrome de Budd-Chiari e infarto hepático quetas, endotélio vascular, proteínas pró-coagulantes, pro-
Tumores benignos e malignos teínas anticoagulantes, protcín.1 fibrinolítica c antifibrino-
------- lítica evidenciam pequena alteraçõe com dirnim11 .io c
Infecções bacterianas/abscesso/parasitose
,\llmcnto u fi ientes par.1 pcrm Iti rem a melhor coagu laça o
Litlase biliar no momento do parto. Como os fàtorcs da coagulação sao
Gr avrrle; em llepatopatas diversos, é importante rcaliz.u anamnc c cuidado .1 obre
a hi tória de doença hemorrágica na gc tantc c fàmiliare~.~
Hepatites crOnicas
o exame fi ico são dete ta do:., por vc7e~, aranhas va~­
Hepatite autoimune I
culares e eritema palmar, que de aparecem com o parto,
Cirrose e hipertensão portal
at ribuído a aumento do e trogênio (Figura 9. 1).
Doença de Wilson
Hepatite alcoólica
Hemocromatose
Hiperbilirrubinemias congênitas
Cirrose biliar primária
Colangite esclerosante primária
Drogas
Adenoma - hemangioma
Porfiria
Doença hemolítica I
Gravrrlt•; e trcJnsplante hepatrco

Grdvrrlc; ectoprca 110 ligado Figura 39. 1 I Eritema palmar cm gestante. Ver pra11cha
colorula.

622 Noções Prá t icas de Obst etrícia


A palpação hepática, pelo crescimento uterino, torna-se MAN IFESTAÇÕES C U N TCAS
cada vez mais difíci l com o evoluir da gestação. Edema dos O principal sintoma é o prurido genera lizado, especial-
membros inferiores, originado da compressão venosa, deve mente à noite, com predom inância nas palmas das m ãos e
ser diferenciado da pré-eclâmpsia. A ultrassonografia (US) p lantas dos pés, causando esco riações, se intenso, e desap a-
abdominal pode mostrar aumento de volume da vesícula recendo com o parto. A icterícia sem prurido é exceção. O
biliar (estase) em jejum que, associado à hiperlipidemia, diagnóstico diferencial com outras colestases simultâneas
precipita a litíase biliar. O exame histopatológico não mos- com a gravidez é importante. A associação com infecção
tra alterações dignas de nota. urinária é frequente e agrava o quadro.

EXA Mt S COMPLEMENTARES
HEPATOPATIAS EXCLUSIVAS DA GRAVIDEZ As aminotransferases podem encontrar-se elevadas,
com predomínio da ALT, atribuídas à lesão da membran a
H IPEREMESE CRAVÍD ICA e não à necrose de hepatócitos. Qyando os níveis são eleva-
dos, impõe-se o diagnóstico diferencial com hepatites viró -
Náusea e vômitos ocorrem em 75% das gestantes no ticas. A hiperbilirrubinemia é moderada, à custa d a fração
primeiro trimestre da gravidez. A hiperemese é a presença di reta. A determinação dos ácidos biliares em jeju m parece
de vômitos intensos, levando à desidratação, às vezes à ce- ser o teste mais específico. A síntese da GGT é reduzida pe-
tose, em 0,3 a 2,0% dos casos. Alterações hepáticas são mo- los hormônios da gravidez. A fosfatase alcalina e 5-nucleo-
deradas e de evolução favorável, como elevação das amino- tidase são inespecfficas, pelas alterações gravíd icas. A ativi-
transferases e das bilirrubinas, e é descrita associação com dade de protrombina é diminu ída e, consequentemente, o
hipertireoidism o. A hiperemese é observada com frequên- R N l é elevado na dependência do grau da colestase, o que
cia nas gestantes magras e tabagistas e não são observadas pode ser corrigido p ela administração de vitam ina K.
alterações histológicas. É importante o diagnóstico com A ultrassonogra fia é inespecífica, salvo ao demonstrar
enferm idades intercorrentes como hepatites. A etiologia cálculo biliar, achado freque nte. A histopatologia mostra
é discutível, sendo enumerados fatores hormonais e psi- trombos biliares e ausência de necrose.
cológicos. O tratamento é sintomático e, nos casos graves,
recomenda-se hidratação e correção eletrolítica. O uso de PATOGÊNESf
corticoides é controverso. O quadro pode se repetir em no- É complexa e interligada a fatores genéticos, hormo-
vas gestações?·8 nais, exógenos e a infecções que agravam o quadro. Conti-
nua indefi nida e, como chamo u Reyes, enigmática.A Figu-
ra 39.2 sintetiza a patogênese da C IG Y- 10
C O LESTASE I NTRA-H EPÁTICA DA GRAVIDEZ (C IG)
fFatores genéticos
Acomete a gestante no segundo e terceiro trimestres da
gravidez. C aracteriza-se por icterícia colestática e prurido.
Epidemiologia (fatores familiares)
Este, alg umas vezes, está presente na ausência de icterícia e
é denominado prurido da gravidez. A evolução é benigna
para a mãe, entretanto, pode ocorrer restrição do cresci-
Disfunção do estrogênio /ou progesterona
mento fe tal, parto pré-termo ou morte do concepto.

[PIJ)Ei\1 /0LOGIA Múltiplas gestações


Embo ra descrita universalmente, sua maior prevalên-
cia é observada na Escandinávia, C hile e Bolívia, e em ges-
tação gemelar.
Figura 39. 21Patogênese da colestase intra-hepática da
gravidez. Modificado de Bacq?

Aparelho Digestivo e Gravidez 623


TR,\ TAMENTO especialmente hipocôndrio direito, náusea c vômito inicia-
A meta principal é o alívio do prurido. As opções tera- dos no segundo para terceiro tri mestre da gestação.
pêuticas incluem: Os exames complementares evidenciam icterícia,
H idroxizina - 25 a 30 mg/ dia; nem sempre intensa, bil irrubinemia indi rcta (hemólisc),
Colestiramina - 8 a 6 gramas/dia; trombocitopcnia e aumento das aminotra nsferascs. As
S-adenosilmetionina - seu uso é discutível; alterações hepáticas, classicamente, salientam hemorragia
Ácido ursodesoxicólico - 14 mg/ kg durante 3 se- subcapsuL1 r c intra-hepática c deposição sinusoidal de coá-
manas; gulos de fibrina com hcrnorragia nos espaços de Disse, que
as gestantes com redução importante da ativida- poderão levar à degeneração, necrose hepatocelular e infil-
de da protrombina, deve-se avaliar a possibilidade tração lipídica microvcsicular. O quadro é, por vezes, in-
de admi nistração de vitami na K. tenso, com infarto intra-hepático, febre, aminotransferascs
ati ngindo níveis elevados c leucocitose, mimetizando ab -
CONDUTA OBSTÉTRIC A cessos que, puncionados, mostram acú mulos de leucócitos
Sabendo-se que o término da gestação é :1 medida defi- e material necrosado. Compl icação temível é a formação
nitiva no tratamento, a monitorização materno-fetal indica de coleção subcapsular c rotura com hemorragia intraperi-
o momento oportuno da interrupção da gravidez. O qua- toneal. A monitorização é feita pela US, TC c ressonância
dro pode ser repetido em gestações futuras, ma nifestando- magnética (RM). Outras vezes evolui para coagulação in-
- e, também, na mãe e irmã c com o uso de anticoncep- travascular disseminada (Cl 0). Diante dessa última hipó-
cionais. tese diagnóstica está indicada a assistência cm Centro de
Tratamento Intensivo (CTI) (Figura39.3).

PRÉ-EC I.Â\.II'S IA ECLÀ~IP~IA

A pré-eclâmpsia é complicação séria da gestação, mais


frequente nas pri migestas, manifestando-se no terceiro
trimestre. A suspeita diagnóstica se faz pelo surgimento
de hipertensão arterial e proteinúria, iniciado geralmente
no final do segundo trimestre. O casos graves (eclâmp-
sia) apresentam os mais variados sintomas: neurológicos
(distúrbios visuais, cefaleia e convulsões), circulatórios
(hipertensão arterial, insuficiência cardíaca e querda e ede-
ma pulmonar), renais (oligú ria, protcinúria e insuficiência
renal), digestivos, especialmente hepáticos (náusea, vômito, Figura 39. 3 I Tomografia computadorizada: imagem
dor no quadrante superior direito do abdome e cpigástrio) sugc tiva de hematoma hepático.
e hematológico , por vezes intensos (formação de hemato-
ma periportai e ubcap ulares). O quadro histopatológico FsTJ ATOS[AG U OA DA CR ;\V I D I / (EAG)
mostra depósito de fibrina e hemorragia periportal, hemor-
ragia subcapsular c formação de hematomas, detectados O primeiro relato de esteatose hepática em gestantes
por tomografia computadorizada (TC) ou us.u..s.l I I~ coube a Tarnier, cm 1856, que, entretanto, não a conside-
rou uma entidade nosológica. Em 1934, Standcr c Caddcn,
referi ndo-se à então denominada "atrofia amarela aguda
S í N OROJ\1 E H ELLP do fígado na gravidez", observaram uma paciente cuja nc-
crop ia não mostrou a necrose maciça dos hepatócitos, res-
Ocorre simultaneamente com a pré-eclàmpsia ou in- saltando degeneração gordurosa e di creta fibrose. Atribuí-
dependentemente, parecendo inter-relacionados. A ma- ram a alteração a uma agressão hepát1ca que não progrediu
nifestações clínicas são: dor no andar superior do abdome, para necrose maciça, sendo, possivelmente, para eles, uma

624 Noções Práticas de Obstetricia


lesão inicial. Clinicamente, a sintomatologia era semelhan- seguindo-se a icterícia. O diagnóstico diferencial é feito
te à atrofia amarela aguda de outras causas.5•16 -24 especialmente com as hepatites por vírus e doença biliar
Sheehan, estuda ndo a patogenia da atrofia amarela calculosa. Nos casos graves pode haver distúrbios da co-
aguda em 1940, considerou três tipos: agulação, com hemorragia em diversos sítios, sendo mais
Verdadci ra atrofia amarela aguda (rara na gravidez), grave a coagulação intra vascular disseminada. Outra séria
com necrose dos hepatócitos; complicação é a insuficiência renaLSe não tratada oportu-
atrofia ama rela aguda obstétrica, entidade defi nida namente, a evolução da EAG grave será para encefalopatia.
cl inicamente, semel hante à primei ra, porém com O diabetes insípido e a pancreatite são, também, relatados.
alterações patogênicas distintas. À autópsia, todos Salientam-se, também, distúrbios metabólicos dos quais o
os casos mostraram infiltração gordurosa maciça, mais grave, e às vezes fatal, é a hipoglicemia. Complicação
Os hepatócitos encontravam-se repletos de fi nos também possível é a rotura hepática.
vacúolos gordurosos, os núcleos normais e a necro-
biose ausente, com aspecto intei ramente diverso da Quadro 39. 2 J Cond ições associadas à esteatose micro-
verdadeira atrofia amarela aguda de outras etiolo- vesicular
gias. Isso mostrava ser a infi ltração gordurosa uma Esteatose aguda da gravidez
doença diferente, ligada a distúrbio metabólico dos Síndrome de Reye
lipídios. Uma das suas pacientes apresentou con- Vômito da Jamaica
vulsões, edema e albuminúria; duas outras, hiper- Medicamentos:
Valproato de sódio
tensão, album inem ia e edema.
Amiodarona
O terceiro tipo de lesão, devido ao uso de cloro- Hicantone
fórmio, apresentava caracterfsticas próprias e dife- Warfarin
rentes das anteriores e de valor somente histórico. Infecções viróticas
No Brasil, o primeiro relato é de Szneider (1962) e, Hepatite delta
Febre amarela
posteriormente, de Alvariz e/ ai. (1965) e Rocha et
Morte súbita do recém-nascido
ai., em Minas Gerai (1984). Deficiência de ornitina transcarbamilase
Deficiência de oxidação de ácidos graxos
E T IOLOG IA Doença de armazenamento de colesterol
Não está definida, mas é provavel mente ligada a distú r- Síndrome de Alpers
bios do metabolismo intermediário dos lipídios, alterações Modificado de Hautekeete. Degott. Benhamou.28
enzimáticas, mitocondriais e dos ribossomas.Alguns auto-
res atribuem a doença a uma deficiência de 3-hidroxyacyl-
-coenzima A de-hidrogenase. A baixa da enzima no feto ExA,\rrc; l ü,\ LPL ULI ,, URL\
determina na mãe heterozigótica, para essa deficiência, al- Os níveis de aminotransferases são elevados, em graus
terações na oxidação dos ácidos graxos de cadeia longa, em variáveis, o mesmo acontecendo com a fosfatase alcalina,
nível mitocondrial. Substâncias tóxicas ão formadas, apa- permanecendo a GGT nos valores de referência. Aseme-
recendo a infiltração lipídica, à semel hança do que ocorre lhança da pré-eclâmpsia, o ácido úrico eleva-se e a hiper-
cm outras enfermidades, caracterizadas por infiltração mi- bilirrubinemia se estabelece com o predomínio da direta.
crovesicular (Qladro 39.2) Admite-se que a pré-eclâmpsia No quadro hematológico observam-se: trombocitopenia,
seja fator condicionante para o aparecimento de EAG na plaquetas gigantes, normoblastos (provavelmente por he-
mãe portadora de distúrbio genético. O aumento de trigli- matopoiese extramedular) e leucocitose com neutrofi lia.
cerídios no último trimestre pode facilitar a instalação da
doença.''·'1,1S.23-2S ALTERAÇÕES M ETAB ÓLJ Ci\ S
São importantes, sendo a hipoglicemia da maior re-
MA N I FESTAÇÕES CLINI CA S levância, atingindo, em casos graves, níveis críticos ca-
A sintomatologia é iniciada ent re 30 e 38 semanas pazes de determi nar alterações neurológicas e morte. O
de gestação, com vômitos e dor no hipocôndrio direito, diagnóstico diferencial é feito com afecções da vesícula

Aparelho Digest ivo e Gravidez 625


e vias bil1are ·, pela U , e com as hepatites viróticas pelos a difusa distribuição microvcsicular de lipídios, carac-
marcadores especifico . O diagnó 'tico defin itivo é con- terística da EAG. Dani et af.l\ em relato de 10 casos de
firmado pela histopatologia, nem empre possível, em ra- pré-eclâmpsia, encontraram esteatose microve ·icula r leve
zão dos distúrbios da coagulação, a rneno que se utili ze a moderada em 100%dos casos.
biópsia tran juguL1r. hcrlock, entretanto, considera que
o exame anatomopatológico nem sempre é indispen ável. TRJI fAMCNTO E PROGNÓSTICO

A microscopia, em material corado pela HE, mostra mi- Uma vez diagnosticada a EAG, a gestação deve ser mo-
cro e macrove ículas c balonamcnto dos hepatócitos. O nitorizada. O término da gravidez interrompe o curso da
achado dominante é infiltração gordurosa microve icular. enfermidade. A monitorização permite avaliar a viabilida-
O nú lco do hepatócitos é denso c central e, por vezes, de fetal e interromper a gestação no momento oportuno,
ob~crvam-~e corpúsculo acidófilos, necrose e infiltrado pois a incidência de parto pré-termo, feto morto e morte
inflamatório, scmelh.tntcs à hepatite virótica. A colestase materna, embora redu zida com os cuidado gerais, é, ain-
tem sido descrita cm grau va riáveis, às vezes formando da, preocupante. A certeza de morte fetal com.titui indi-
trombos biliare , que alertam para o fato de outras causas cação imediata de esvaziamento uterino. O ca o grave
de colcsta c. Hipertensão portal, ascite e varizes e ofagia- exigem internação em CTI para tratamento da!. com-
nas são achado raros. pl icações, especialmente hemorragias e hipogliccmia, c
A micro copia elctrônica mostra alterações do retículo também diálise na insuficiência renal. Em casos extremos,
cndopla mático c mito ondriai plcomórficas. Em muitos e gotada todas as medidas con ervadora , estando em
ca os a infiltração gordura a microvc icular é encontrada ri co a vida da paciente, indica- e a interrupção da gravi-
no coração, rins c pâncreas. dez. O tr.tnsplante hepático é, também, medida uti lizada
Os métodos de imagens, como US, TC e RM, são úteis. com sucesso.26 Após a recuperação, o prognóstico é bom
A U c a RM apre entam como v.111tagem a ausência dera- c a recidiva, antes negada pela maioria dos autore~, é hoje
d1açõe ionizante . ão fatore que dificultam o diagnóstico: aceita. O prognó tico, inicialmente considerado ombrio,
Evolução benigna, às ve7e não e pensando na com morte de cerc,\ de 80% de feto c 70% das mães, me-
doença; lhorou bastante, à medida que evoluíram os cuidados in-
impossibilidade de biópsia pelas alterações da coa- ten ivos c o conhecimento da doença. A estatísticas mos-
gulação; tram que a mortalidade fetal caiu p.1 ra 25% e a materna
a biópsia não foi indicada, cm vista do de apareci- para, aproximadamente, I -%.26·2 8
mento da sintomatologia, ou realizada tardia mente,
cm fa e de recuperação;
não utilização de coloração específica para lipídio ROTURA H EPÁ IICt\
( udan III, mi orl, carlat R). A presença de c tcatose
no fígado do feto natirnorto foi descrita em alguns Decorre de diversas etiologi,ls. A mais freq uente é a
ca o. rotura de hematoma subcapsular, formado na síndrome
H ELLP e pré-cclâmpsia. Outras causas podem ser ade-
A uperpo ição de ina is e internas de pré-ecl.'tmp ia, noma, hemangioma e EAG. Ra ramente pode ocorrer
cclâmp ia, HELLP c EAG é referida por quase todos o rotura espontânea ou secundária a absces o hepático. O
autores. Minakani considera as sínd romes como tendo si ntoma principal é a dor no hipocôndrio direito. A ro-
a me ma origem. Outros autores, como I ak e Rolfcs, tura pode levar a choque hipovolêmico. Os método de
negam .1 emelhança anatomopatológica, embora se re- imagem (US, TC e RM) mostram o hematoma antes da
~iram ,\as ociação do quadro clínico. Riely considera as rotura. Esta é confirmada quando do diagnóstico de he-
síndrome H ELLP, EAG e rotura hcp.\tica (RH) doenças mopcritônio.
associadas à pré-ecllmp ia. Muitas paciente portadoras O tratamento, no início, é expectante; na rotura, é ci-
de H ELLP apresentam esteato c, sem, entretanto, ati ngir rúrgico. Preconiza-se, também, a crnbolização arterial.

626 Noções Práticas de Obstetrícia


HEPATOPATIAS CONCOMITANTES de vida). Essas medidas são importantes, pois qua nto ma is
COM A GRAVIDEZ precocemente se der a contam inação, maio r a possibil ida-
de evolutiva para hepatocarcinoma. Pelo potencial impre-
Nesse grupo, a doença hepática manifesta-se em qual- visível e, por ser oncogênica, J.conselha-se a vaci nação nas
quer período da gestação, embora, às vezes, a hepatopatia gestantes HBsAg negativo.
já existisse antes da concepção de forma silenciosa, igno-
rada pela paciente. São mais frequentes as hepatites por I /1 P.\'111 1 DruA
vírus, cujo diagnóstico se torno u seguro com a utilização É de distribuição regional. O vírus, sendo defectivo,
dos marcadores específicos. As manifestações cl ínicas não exige a presença do vírus B para a sua repl icação. oBra-
diferem das hepatite agudas cm não gestantes. il, omente foi detectada na Amazônia ocidental. Entre as
hepatites vi róticas, é a de evolução mais grave, pouco des-
crita na gravidez, sendo raramente transm itida ao feto. A
profil axia consiste na prevenção da hepati te B pela vacina-
ção. O diagnóstico é confirmado pela prcsençJ. sorológic.1
HFPATIILA do HBsAg c anti-HBc lgM positivo, ao lado de an ti-H VD
De transmissão fecal-oral. É auto!imitada, de evolução positivo na coin fccção. Na superinfecção encontram- c
benigna, não apresentando acentuada gravidade na ges- H BsAg positivo, anti-HBc lgM negati vo e J.nti-H VD po-
tação. A formJ. colcstática, quando no terceiro trimestre, sitivo. A primeira hipótese q uanto à contam inação pelo~
deve ser diferenciada da colcstasc da gravidez. Não é trans- vírus B c D é que ocorram de fo rma concomitante. a c-
mitida ao feto, alvo se J. mãe estive r cm período de vi rem ia gu nda, o portador de vírus Bse contam ina com o vírus D.
no momento do parto. Normalmente, o recém-nascido é
protegido pelo anticorpo formado pela mãe. O diagnóstico H U'ATIILC

é confirmado pela positividade do anti-H VA lgM no soro. Responsável pela maioria das hepatites pós-transfu-
Sabendo-se da existência, embora rara, de fo rma fulminan- sionais em usuários de drogas. É mínimo o risco de trans-
te, aconselha-se a vaci nação na grávida anti-H VA lgG ne- missão materno-fetal. O risco de transmissão é aum entJ.do
gativo. O anti-H VA IgC positivo traduz infecção pregressa quando a mãe apresenta vi rem ia elevada ou, na coinfecção,
e imunidade. em gestantes H IV positivo. As manifestações clínicas são
pouco evidentes: a icterícia tende a ser ondula nte e a bio-
HIPA/lfEB química é semelhante às demais hepatites. O marcador so-
O contágio materno se faz por diversas vias e o vírus rológico é o anti-HVC e/ ou a detecção do RNA do víru .
pode ser tra nsmitido ao feto de ma nei ra vertical, através do Não existe vacina.
cordão ou durante o parto ou pelo sangue das lacerações
do canal de parto. As mães portadoras de H BsAg, quando l i EPATITF E
apresentam HBe e/ ou DNA positivos, têm a possibilidade Semelhante à hepatite A cm sua epidemiologia e evo-
de transmi são ampliada. Embora a hepatite B possa ser lução, já foi registrada no Brasi l. É grave nas gestantes,
mais grave na gestante é, também, auto!imitada e o poten- quando 30 a 40% evoluem para a fo rma fulminante, espe-
cial evolutivo para cronicidade e ci rrose não é acirrado pela cialmente no terceiro tri mestre, impondo-se o d iagnóstico
gravidez. O diagnóstico na fase aguda é confirmado pela diferencial com esteatose agudJ. dJ grJ.videz. O dügnósti-
sorologia (HBsAg e anti-H Bc lgM positivos). A pesquisa co é confi rmado afastando-se as hepatites A, B, C e D, pela
do H BsAg, mesm o na ausência de hepatite aguda, é impor- negatividade dos marcadores específicos e pela presença
tante, não se limitando ao grupo de risco. Uma vez confir- de anti-HVE no soro.
mado que a mãe é portadora do vírus B e, especialmente,
HBc e/ ou DNA positivos, o recém-nascido deverá receber OuTRAs I rFT'ATITF\
globuli na hiperimune para a hepatite B (0,5 mi/TM) na A hepatite G é de descrição recente, apresentando ain-
sala de parto ou nas primeiras 24 horas, seguindo-se a va- da controvérsias, sem relatos de acometimento na gestante,
cina para hepatite B (dia do nascimento, um c seis mese com escassos trabal hos e transmis ão materno-fetal.

Aparelho Digestivo e Gravidez 627


Ahepatite pelo vírus 1TV e pelo vírus EM, recentemen- quente dos blastomas benigno , geralmente as intomático ou
te descritas, ainda não tem registro de ocorrência na gestação. manifestando-se por mal-est,u e dor no quadrante superior
A hepatite pelo vírus do herpes simples é de alta letalida- direito do abdome. Raramente, ao aumentar de volume, cau ·a
de na gestante, evoluindo, frequentemente, para a forma ful- hemorragia em razão da rotura. São diagnosticados pelos mé-
minante. Na história da paciente encontram-se antecedentes todos de imagem com os devidos cuidados na utilização de
de lesão cutânea herpética. O exame histopatológico hepáti- radiação ionizante. O hepato arcinoma pode estar as ociado
co confirma o diagnóstico. Recomenda- e tratamento com à cirrose, endo a letalidade próxima de 10096 para a mãe e,
aciclovir, entretanto, o uso deve ser muito bem-avaliado, pois consequentemente, para o filho. Entretanto, foi descrita evolu-
a segurança da droga na gestante ainda não está defin ida.10 ção fàvorável em um caso de carcinoma fibrolamelar.11
Hepatites por citomegalovírus, rubéola e mononucleo-
se ão ra ras. Devem ser confirmadas por testes sorológicos
próprios e exame anatomopatológico orientados pela clíni- INFECÇÕES BACTERIANA~
ca c epidemiologia. ABSCESSOS1 PARASITOSES

Outras doenças intcrcorrentes, como hepatites bac-


Si. DR0,\ 11:. DE B DD -CI II AR l E 1J'.:FARTO H EPÁTICO teriana , ab cesses piogênicos e doenças parasitárias não
apresentam aspectos especiais, devendo segui r a conduta
Hepatopatia ligada a distúrbio da coagulação, ocorrendo de rotina para tais situações.
durante age tação ou logo apó o parto. A apre entação clí-
nica consiste em hepatomegalia, dor no hipocôndrio direito
c ascite, de início agudo, existindo, porém, a apresentação LITÍASE BILIAR
crónica semelhante à cirrose e sua complicações. Diversos
fatores s5o descritos con1o capazes de precipitar a síndrome, Manifestações clínicas de calculose na gravidez são
como alterações hormonais e da coagulação, hemoglobinú- pouco frequentes, de alta prevalência cm gestantes ido as,
ria paroxística noturna e uso de anticoncepcionais. 3 em predileção pelo tri mestre da gestação. Os fatores de-
O diagnóstico é orientado pelos métodos de imagem sencadeantes são o aumento do colesterol, triglicerídios,
(TC, RM c U com doppler). A biópsia hepática é impor- hipotonia da ve ícula biliar e redução dos ácidos biliares.A
tante, porém de indicação cuidado a, pelo risco de hemor- US é o método de escolha para o diagnóstico. A conduta,
ragia, demonstrando congestão venosa central, dilatação nos casos sintomáticos de cólica biliar, colccistite, colan-
inusoidal e necrose. O tratamento é multidisciplinar, gite, obstrução coledociana e pancreatite é expectante,
orientado por hcpatologista, hematologista e cirurgião. aguardando-se o momento mais oportu no para a interven-
Preconiza-se como decisivo o transplante hepático. ção. Recomenda-se, como ideal para a cirurgia, o segundo
O infarto hepático na gestação é, especialmente, ligado trimestre. Em ca ·o de urgência não resolvida clinicamente,
a pré-eclãmpsia c índrome HELLP, de diagnóstico difícil, a cirurgia se impõe, em qualquer período, à semelhança
simulando absces o, sendo orient.tdo pela T C. O quadro da apendicite aguda. A endoscopia com esfinctcrotomia
é raro, as emclhando- c à síndrome de Budd-Chiari, com e a colangiopancreatografia retrógrada têm -ido utilizadas
ausência de ascite. A biópsia é útil, porém deve ser indicada com cuidados especiais, seguindo-se a colecistectomia
com cautela. após o parto, convencional ou laparoscópica.11

TuMORES HEPÁTICOS GRAVIDEZ EM HEPATOPATAS


BENIGNOS E MALIGNOS
Mulheres com doença hepática prévia podem apresen-
São de baixa incidência na gestação. Entre os benignos, tar dificuldade para engravidar. Entretanto, o clínico deve
o adenoma, raro até 1960, aumentou sua prevalência apó o estar atento, porque frequentemente ovulam, levando a
u o de anovulatório ·.O hemangiorna cavernoso é o mais frc- gestações com prognóstico materno c fetal reser vados.

628 Noções Práticas de Obstetrícia


HLPAT I I"L RÔJ ICAATI VA rara é a formação de aneurisma esplênico com rotura c
slwnt esplenorrenal.
Pode er de diversas etiologias, como hepatites B, C, O A monitorização da paciente é indispensável cm face
c G (discutível), doença de Wilson, hemocromatose, he- da complicações, com conduta especial para cada tipo de
patite autoimu nc c outras. É de prognóstico reservado, cm hepatopatia. O tratamento com inle1jeron e nbnvirinn deve
virtude do potencial incerto de evolução, não agrava ndo o ser adiado para o término da gestação e a conduta cirúrgica
risco para a mãe. Pode, entretanto, aumentar a incidência ou a ligadura das varizes realizada no momento oport uno,
de pré-cclâmpsia, natimorto e prematuridade. e não de roti na.

HHA"J I rr Au rO JMUNE ÜU TRAS H E PATO I'ATI AS

Doença que acomete a mulher, podendo ocorrer cm Na doença de Wilson, o prognó tico é reservado, de-
dois momentos: adolescência e menopausa. O quadro vendo-se manter o uso de penicilamina.
clínico é de hepatite crónica, que pode se manifestar de As síndromes de Gilbcrt c Rotor, pela benignidade,
forma aguda, com marcadores próprios e diagnóstico di- não requerem cuidado e pedais. a síndrome de Dubin-
fíci l, às vezes, nas síndromes de superposição. ão raro, ·Johnson, o nível de bilirrubina direita aumenta nos trau-
está associada à amcnorreia com infertilidade. A resposta mas e nas infecções, sem relato de ação lesiva para o feto.
à terapêutica com azatioprina e corticoide é satisfatória c a ão existem medidas terapêuticas específicas.
supressão do medicamentos pode levar à agutização. Os Na cirrose biliar primária, o prurido c a colestase são
medicamentos não são tidos como teratogênicos e muitos elementos fundamentais no diagnóstico, devendo ser feita
pacientes apresentam melhora da doença com a gravidez. a disti nção com a colestasc intra-hepática da gravidez.
O prognóstico é reservado, pelo potencial evolutivo para A colangite esclerosante primária não apresenta impor-
cirrose c distúrbios da coagulação. tância, por ser rara na mulher.
a porfiria, quando o quadro é agravado pela ocorrên-
cia de cri e materna du rante age tação, pode ocorrer res-
C t RRO ·r: L H r rrRTC 'SÃO PORTAL trição de cre cimento fetal

a síndrome de hipertensão portal a lesão é sinusoi-


dal, pré c pós-sinusoidal. A últi ma foi vista na síndrome H EPATITE A LCOÓLJCA
de Budd-Chiari c está ligada, preferencialmente, à csquis-
tossornose IIIQ~Isoni c trombose portal. A lesão sinusoidal É suspeitada pela história de alcoolismo, icterícia, dor
é representada pelas vá rias formas de cirrose hepática. As no hipocôndrio direito, febre, hcpatomcgalia, leucocitose,
lesões dos hepatócitos quase sempre levam à infertilidade, elevação das am inotransferases, fosfatase alca lina c GGT.
mas, por vezes, falta essa característica e a gestação se ins- O diagnóstico de certeza é con fi rmado pela hi topato-
tala. Entretanto, o quadro é muito mais acentuado na lesão logia, e possível, e pela negatividade dos marcadores das
sinusoidal pelas alterações da função hepática simultâneas. hepatites vi róticas. A incidência de aborto é mais alta no
A hcmodinâmica da hi pertensão portal é alterada pelo primeiro trimestre.
aumento do volume sanguíneo, altcraçõc no retorno ve-
noso, aumento de débito cardíaco. Esses fatores favorecem
a formação de va rizes e angramcnto. As consequência da H EPATO PAT IA PO R D ROGAS
hipertensão portal são abortamentos espontâneos (IS a
20% dos casos), partos pré-termo e morte fetal. São responsáveis por aproxi madamente I a 2% de alte-
As causas de morbidadc são sangramentos, insuficiên- rações do fígado na gravidez, que não diferem das mudan-
cia hepática, encefalopatia, hemorragia obstétrica, agrava- ças observadas nas não grávidas. O diagnóstico se faz pela
da por distúrbios da coagulação c hipcresplcnismo. Causa anam ncsc cuidadosa e por exames laboratoriais, cvidcn-

Aparelho Digestivo e Gravidez 629


ciando o tipo de icterícia, se hemol ítica, hepatocelular ou eclâ mpsia e/ o u insuficiência renal com hiperpotasemia.
colestática. Os marcadores afastam as hepatites viró ticas. Pode haver nefrotoxidade transitória no recém-nascido,
A interrupção da droga é a chave diagnóstica e, na m aioria d evido à amame ntação. As doses e a evolução do uso de
das vezes, o mecanismo é po r hipersensibilidade. N a profi- imunossupressores impõem rigorosa monitorização du-
laxia devem ser evitados medicamentos sabidame nte tóxi- rante a gestação.
cos para o feto e para a mãe.

GRAVIDEZ ECTÓPICA NO FÍGADO


ADF I(.)MA E H E/\ IANGIOMA
A implantação de gravidez extrauterina no fígado é de
Afecções ben ig nas de ocorrência frequente, especial- ocorrênc ia ra ra. Quando presente, man ifes ta-se po r tu mo-
mente o adenoma, após o uso de anovu latórios. É causa de ração, abdome agudo, hemoperitô ni o o u é revelada pelos
hemo rragia intraperito neal, pelo cresci mento progressivo métodos de imagem ( Figu ra 39.4). 11
e rotura da massa. A gestação deve ser ev itada a ntes de ade-
quada ava liação pela ultrassonografia (US) em pacientes
em uso de anovulatório oral por longo tempo.

DoE ~ ~·A s H EMOL ÍT ICAS

As a nem ias megaloblásticas, a drepanocitose e a ta-


lassemia, embora sem alterações hepáticas, evoluem com
icterícia, podendo ter o curso agravado na gestação com
correção da anemia. A chave para o diagnóstico é a hiper-
bili rrubinemia indireta, reticulocitose e níveis séricos ele- Figu ra 39. 41Gestação cctópica hepática.
vados de dcsidrogenase láctica e aval iação hematológica.

ÜUTRAS ALTERAÇÕES DO
TRANSPLANTE HEPÁTICO APARELHO DIGEST I V O

O transplante hepático na gestante pode ser abo rdado


de dois ângulos. Está demo nstrado que a portadora de hc- BOCA
pato patia crô nica com infertilidade volta a menstruar após
a cirurgia e pode engravidar até ma is de uma vez, aconse- Alterações ocorrem na mucosa o ral durante a gestação,
lha ndo-se, ent retanto, inte rvalo de dois anos entre as ges- sendo as mais sig nificativas a gengivite, habitualmente in i-
tações. Po r o utro lado, o tra nspla nte realizado na vigência ciada no segu ndo mês de gestação. Ati nge m ais intensida-
da gestação é também possível com sucesso, mesmo em de no último mês, pela má-h igiene oral, regredi ndo após o
caso de hepatopatias agudas como a EAG e a hepatite ful- parto. Podem surgir os granulomas da g ravidez (piogên i-
m inante o u o retra nspla ntc. Com plicações diversas inter- cos) assinto rnát icos e, por vezes, sa ng rantes. O cloasma é
correntes fora m bem controladas c, mais recentemente, o manifestação especial mente periora l. 14
tran splante auxiliar intcrvivos fo i realizado com êxito.32
Qua nto ao uso de imunossupressorcs, parece não
haver teratogênese nos fetos, que, entreta nto, podem ser DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO
de baixo peso ou pré-te rmos. A gestação também pode
ser complicada por pré-eclàmpsia. Com o uso de tracoli- Carac teriza-se por soluço e pirose (queimação retro-
mus, ao lado da pre maturidade pode su rgir hipertensão, esternal) ou, simplesmente, azia. O utras vezes, o reA u xo

Noções Práticas de Obstetrícia


se manifesta por tosse, asma ou dor torácica não ca rdíaca. primordialmente ao uso de anti-i nfl am ató rios ou devida
A sintomatologia pode surgir durante a gestação ou ser ao Helicobacter pylori. Na primeira hipótese, o medica-
exacerbada, se existia anteriormente. Complicações como mento deve ser suspenso. Na segunda, se possível, pode-
esofagite intensa e sa ngramento são raros. O d iagnóstico é -se aguardar o término da gestação para o tratamento
baseado na si ntomatologia, dispensando-se a endoscopia, co nvencional, com antibióticos e inibidores da bomba
exceto quando há complicações, especialmente sangra- de prótons.
menta ou suspeita de síndrome de Mallory-Weiss, que po-
derá ocorrer em virtude de hiperemese. 3s·36
A endoscopia deve ser evitada, pois, às vezes, necessi- PANCREATITE
ta de sedação com meperidina ou midazolan, contraindi-
cados na gestação; e, também, pela compressão do útero De ocorrência rara na gestação (0,009%), possui sin-
sobre o estômago, dificultando a visão do arco duodenal e tomatologia idêntica à da pancreatite em não gestante e
detalhes da mucosa gástrica. a principal etiologia é biliar. O diagnóstico é primordial-
mente realizado pela ultrassonogralia. Se for necessário
desobstruir a via biliar, é importante cuidadoso estudo da
ETI OLOG I A técnica a ser uti lizada, se endoscópica ou a céu aberto.

É atribuída ao relaxamento do esfíncter inferior do esô-


fago. A si ntomatologia é acentuada pelo aum ento de ten- CoNSTIPAÇÃO
são intra-abdominal.
Sintoma frequente na gestação. Pode ser atribuído à
compressão colônica pelo útero e redução da motilidade
TRATAMENTO intestinal pela progesterona, durante o terceiro tri mestre.
Outros fatores podem colaborar, como a ingestão de fer ro
Não existindo risco para o feto, a conduta deverá ser a e o hipotireoidismo, ent re outros. Complicações não raras
menos agressiva e baseada, inicialmente, em medidas ge- são o aumento de dor lombar, impactação fecal e apareci-
rais, como: elevação da cabeceira; alimentação pobre em mento ou acentuação de hemorroidas.
gorduras; restrição de alimentos que estimulam a hiperse-
creção (frutas cítricas, tomate, café, chá, refrigerantes, álco-
ol, achocolatados e ami láceos); supressão do fumo; não se TRATAMENTO
deitar após as refeições; evitar refeições volumosas e medi-
camentos irritantes. Antiácidos, se necessários, devem ser Aumento de libras na dieta e de ingestão hídrica. Es-
usados com moderação, evita ndo-se o uso de magnésio e tão contraindicados os laxativos à base de antraquinona e
constipantes. Os modernos inibidores da secreção gástrica cáscara, pelo risco de malfo rmação fetal. Também o óleo
como inibidores H2 e da bomba de prótons (omeprazol) de castor deve ser evitado, por aumentar o risco de contra-
requerem estudos mais profundos e são utilizados somen- ções uterinas. Medicação que poderá ser usada é a Cassia
te em casos extremos. O sucalfrate (ranitidina, cimetid i- angustifolia (tamari ne), adaptando-se a posologia.
na), de baixa absorção, é o mais indicado dos antiácidos.

HEMORROIDAS
ÚLCERAGASTRODUODENAL
Enfermidade causadora de desconforto, prurido e san-
Na vigência de sintomatologia intensa, é ind icada gramento, fe nômenos acentuados pela constipação, espe-
gastroscopia para di ferenciar a úlcera iatrogênica, ligada cialmente no últi mo trimestre.

Aparelho Digestivo e Gravidez


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Aparelho Digestivo e Gravidez 633


40 Doenças da Tireoide na Gestação
Anelise lmpelizicri Nogueira

Fisiologia e Função Tireoidiana Materna Bócio, Nódulos Tireoidianos e


Proteínas Ligadoras de Tiroxina Câncer da Tireoide
Estimuladores Tireoidianos na Gestação Aconselhamento Pré-concepcional
Metabolismo d o Iod o Hipertireoidismo sob Tratamento
Concentrações de Tiroxina (T4) e Tri-iodotironina (T3) Tratamento Passad o com Radioiodo
Concentrações d e TSH para Doença de Graves
Determinação de Anticorpos Antitireoidianos Tratam ento Passad o com Radio io do
Determinação de Anticorpos Antirrecepto res de TSH para Carcinoma da T ireoide
A Placenta e a Função Tireoidiana Hipotireoidismo sob Tratam ento
Função Tireoid iana Fetal T ireoidite Crônica em Paciente Eutireoidea
Doenças da Tireoide e Gravidez Tireoidite Pós-parto
Hipertireoid ismo e Gravidez
Hipotireoid ismo e Gravidez

F I SIOLOGIA E FUNÇÃO vezes mais mu lheres que homens e seu curso pode ser afe-
TIREOIDIANA MATER NA tado por alterações imunológicas que se verificam na gra-
videz e no período pós-parto.
No início da gravidez, há significativa mudança no pa-
A gravidez exerce efeitos radicais na fi siologia tireoidia- drão de secreção de hormô nios tireoidianos, devido prin-
na. Ocorrem alterações no metabolismo do iodo, na ativi- cipalmente ao aumento da globulina carreadora de ti roxi-
dade da glândula tireoide, no transporte dos hormõ nios na (TBG), efeito estimu latório do hCG nos receptores de
tireoidia nos e no metabolismo periférico da tiroxina (T) e TS H e au mento do clareamento renal de iodo secu ndário
J
da tri-iodotironina (T Essas mudanças exercem acentu- ao au mento da taxa de filtração glome rular. A glândula
ada repercussjo no diagnóstico e tratamento das doenças ti reoide norma l é capaz de compensar essas demandas,
da tireoide na gestante, conforme demonstrado no Q ua- ,\Umentando a secreção de hormônios ti reoidianos e man-
dro 40.1. Desta for ma, é recomendável que as mulheres tendo normais os níveis dos hormônios livres. Ent retanto,
com doenças crônicas da tireoide planejem suas gestações. em situações nas quais há anormalidades prévias ou sub-
As doenças autoimunes da tireoide acometem cinco a oito clínicas na função da tireoide, os mecan ismos de compen-
sação podem estar omprometidos, colocando cm risco a a implantação do ovo, a concentraçõc én as de hCC
progre ão da gravidez} E as alteraçõc. erão d1 cutida elevam- c rapidamente, dobrando a cada dia até atingir um
eparadamente a seguir. pico de concentração no fi nal do primeiro tnmc trc. Apó
es e período, há redução de S a 10'\l até o fi nal da primeira
Quadro 40.1 I Re ultados do testes de função tireoidiana metade da gestação. Durante esse período, as concentra-
na mulher grávida ções das formas livre de T3 e T4 elevam- c discretamente,
Testt~ EIP1to usualmente dentro da fai xa superior d.1 normalidade, en-
quanto o TSH tem seus níveis reduzidos par.t os li mites
T4 total Aumentado l inferiores da normalidade. Ao me mo tempo cm que as
T41ivre Inalterado • 1 concentrações de hCG caem, há sub tituição por formas
TJ total Aumentado mais isonegativa , com meno potência tireotrópica. De ta
I
forma, o efeito e ti mulante da tireoide é máxi mo no pri-
TSH Inalterado • I meiro trimestre da gestação. Na maioria das gestações nor-
Tireoglobulina Aumentada I mais, esse efeito c timulatório da hCG sobre a tireoide é
de curta duração c, geralmente, não detectável. Para ser cli-
• Os resultados são listados como inalterados quando comparados com
valores de referência para mulheres não grávidas. Nem sempre rsto acon· nicamente aparente, os nívci circulante da hCC devem
tece. mas os valores referem-se ao que é mais comum estar acima de .,00.000 m iU/ mL e \C nuntercm elevado
du rante período ma i prolongados. '

PROTEÍNAS LIGADORAS DE T IROX I NA


M E TA BOLISMO DO IODO
As concentrações séricas das globulinas ligadora de
tiroxina (TI3G) tornam-se aproximada mente 2, vezes Há aumento na captação de iodo peb tireoide duran-
maiore durante a gc tação, com pico de concent ração cm te a gestação, provavelmente dev ido ~ elevação do hCG e
torno da 2 1• semana. Es a elevação é devida à grande pro- do clarca mcnto do iodo renal, cau ando diminui :io na
du ão de estrogênio ccrctado pela placenta. A T BG e- concentrações de iodo inorgânico materno e, secunda-
crctada cm rc~po ta ao c tímulo estrogêmco são rica~ em riamente, por autorrcgulação, aumento no cla rcamento
cadeia tipo -acetilgalactosamina, que fazem com que do iodo inorgânico pela tireoide. O iodo c tran portado
a TBG cpm clareadas mais lentamente que a T BG da mãe para o feto por difu ão placcntári.l. As demanda
de mulheres n.1o grávidas, ocasionando aumento n.1s con- fetais têm fraco impacto sobre o balanço de iodo mater-
ccntraçõe · pia mática da mesmas, o que leva ao aumen- no, poi ua ncce sidade :io muito b.1ixas. Apesar di -
to na concentrações de T 1 e T4 totais, porém não interfere to, a tireoide fetal é extremamente vulnerável à deficiên-
nas formas livres. Na gravidez também se verifica discreta cia de iodo, devido à imaturidade fetal na autorrcgulação
hipoalbumincmi,J, mas que não interfere na ligação ou di - da captação de iodo. A Organ ização Mu ndial da aúde
tribt~~ção do T4 sérico.2 (OMS) recomenda a ingestão diária de 250 [Ag/dia de
iodo para mulhere grávida ( ISO !-IS dia para n:io grávi-
da ). De acordo com a O M , distúrbio!> decorrentes da
ESTIMULADOR ES T IRE OIDIA NOS deficiência de iodo afetam 740 milhões de pessoa e O"'o
NA GESTAÇÃO da população mundial correm o risco de apre entar essa
dcficiência. 4 A ingestão limítrofe desse elemento, croni-
Durante a gestação, outros esti mulantes da atividade ti- camente, leva à estimulação da tireoide c ao bócio, que
reoidiana que não a ti rotropina (T H) são encontrado no pode per i ti r apó o parto, principalmente cm mulheres
sangue materno, c pecialmente a gonadotropina coriônica que amamentam. O neonatos dessas mulheres com de-
humana (hCG) c .1 asialo-hCG, que possui atividadc tire- ficiência iódica também apre cntam volumes tireoidia-
otrópica ainda mai acent uada do que a hC '· Logo apó no ma iore .'

Noções Práticas de Obstetrícia


CONCENTRAÇÕES DE TIROXINA (T4) E Para a avaliação de disfunção tireoidiana autoimune,

TRI-IODOTIRONINA (T3) os anticorpos antiperoxid ase (antiTPO) ou anti m icrosso-


mais e antitireoglobulina têm sido utilizados como marca-
As concentrações de T 3 e T4 tendem a aumentar no dores, demonstrando-se que cerca de 10% das mulheres
início da gestação, com modesta diminuição no terceiro tri- férteis têm AntiTPO positi vo.9
mestre. Em regiões iodoprivas, há tendência de níveis mais Alguns estudos prospectivas encontram-se em anda-
baixos de T4 durante toda a gestação. Recomenda-se, prin- mento com o intuito de determinar se AntiTPO positivo
cipalmente durante a gestação, que a função tireoidiana seja durante a gestação seri a um fator de risco para desordens
ava liada utilizando-se os horm6nios em sua forma livre, de- no desenvolvimento cognitivo da criança. 10
vido ao aumento das concentrações da TBG que interferem
na dosagem do horm6nio total, mas não de sua forma livre.
As concentrações de T 3 e T4livres permanecem den- DETERMINAÇÃO DE ANTICORPOS
tro dos li mites de normalidade considerados para mulhe- ANTIRRECEPTORES DE TSH
res não grávidas, porém encontram-se no limite superior
no inicio da gestação devido ao estímulo do hCG e nos A determinação do ant icorpo anti rreceptor de TSH
li m ites mais baixos no fi nal da gestação. 6·8 (TRAb) é indicada em ci rcu nstâncias mu ito especiais, es-
pecialmente na gestante, para predizer a possibilidade de
d isfunção tireoidiana fetal ou neonata1?·11
CoNCENTRAÇÕES DE TSH Esses anticorpos são imunoglobu linas, geralmente da
subclasse lgG, com atividades funcionais diversas, ou seja,
As concentrações de TSH tendem a permanecer den- atividade est imulante ou TSAb (quando se trata de pacien-
tro da faixa de normalidade considerada para não grávi- tes com hipertireoidismo) e inibitória (em pacientes com
das. Dentro desses limites, a gravidez exerce efeitos nas hipoti reoidismo).
concent rações de TSH, com discreta redução nos níveis Essas imunoglobulinas atravessam a placenta e podem
no primeiro trimestre e discreta elevação até o terceiro tri- alterar a função tireoidiana fetal e neonatal. É possível de-
mestre. Apesar das Iimitações na interpretação do TSH no terminar o TRAb comercialmente, mas os ensaios não dis-
primeiro trimestre, ele continua sendo o teste mais prático, criminam entre a nticorpos estimuladores ou inibidores.
simples e económico para rastrear a disfunção tireoidia- Qpa ndo os anticorpos estimuladores encontram-se em altas
na na gestação. Níveis elevados de TSH são consistentes concentrações no sangue materno, podem resultar em hiper-
com hipotireoidismo pri mário, enquanto que níveis supri- ti reoidismo fetal ou neonatal, enguanto altas concentrações
midos requerem a determi nação de T4 livre para melhor de anticorpos inibidores podem ocasionar hipoti reoidismo
ava liação diagnóstica. Níveis baixos de T SH e elevados de fetal ou neonatal, ambos transitórios, devido à curta meia-
T4 livre são compatíveis com hipcrtireoidismo ou tireo- -vida desses anticorpos. As chances do filho ser afetado por
toxicose. Existe uma condição cm que o hiperti reoidismo esses anticorpos são muito baixas, acometendo aproxi mada-
pode estar presente com T4 livre normal, sendo necessária mente 2% dos casos. Valor de TRAb três a cinco vezes maior
a verificação do T 3 livre, que pode encontrar-se elevado.5· 8 que o normal, no terceiro trimestre de gestação, é conside-
rado preditivo de disfunção tireoidiana fetal ou neonatal. 10 11

DETERMINAÇÃO DE ANTICORPOS
ANTITIREOIDIANOS A PLACENTA E A FUNÇÃO TIREOIDIANA

A presença de anticorpos antitireoidianos isoladamen- A adm inistração de T SH à mul her grávida não estimu-
te não parece afe tar a taxa de concepção, mas tem sido la a função t ireoidiana fetal, indicando que a placenta é im-
associada à elevada taxa de abortamentos recorrentes, permeável ao T SH porém o mesm o não acon tece quando
aproximada mente duas vezes mais frequentes que nas mu- se administra TRH, havendo, nessa situação, aumento de
lheres com anticorpos antitireoidianos negativos. secreção de horm6nios tireoid ianos fetais (Qpadro 40.2).

Doenças da Tireoide na Gestação 637


I
Quadro 40.2 Transferência placentária de hormônios e FUNÇÃO TIREOIDIANA FETAL
med icamentos tireoid ianos
Hormôn1o/M ed 1c amenta Transferência A glândula tireoid iana fetal desenvolve-se em torno da
sétima semana de gestação. A secreção ativa de hormô-
lodo sim ! nios tireoid ianos pela glândula tireoide fetal inicia-se apro -
Tionamidas srm I ximadamente com 18 semanas de gestação, ent retanto, a
1TRAb sim I captação de iodo ocorre entre lO e 14 semanas, q uando
a fo rmação de folículos e coloide já pode ser evidenciada
ITRH sim
na glându la. É nesse momento que a glându la tireoid iana
T3 mínima fetal se torna especialmente vu lnerável ao iodo exógeno e
T4 mínima às medicações antitireoid ianas. 1•8
TSH nenhuma O eixo hipotálamo -hipófise-tireoide fetal parece ter
função independente da materna. O papel dos hormô -
nios tireoidianos maternos no desenvolvimento feta l pre-
Ao contrário do que se pensava, os hormônios tireoi- coce permanece desconhecido. A transferência de tiroxi-
dianos maternos atravessa m a placenta, antes e após o na da mãe para o embrião acontece apenas no início da
início da função tireoidiana fetal. O T4 é encontrado no gestação. A tiroxi na materna foi demonstrada no líq uido
flu ido celômico entre a quarta e a sexta semanas de ges- amniótico em fetos de seis semanas c no cérebro de fetos
tação. A demonstração de que neonatos com agenesia da com nove semanas. Essa transferência persiste até o parto
glândula ou defeitos completos de orga nificação apresen- apenas em situações d e hipotireoidismo fetal. Recepto res
tavam concentrações de T4 correspondentes a 30% dos de hormôn io tireoid iano fo ram demonstrados no siste-
níveis normais circulantes sugere que a transferência trans- ma nervoso central (SNC) de fetos de oito sem anas de
placentária con tinua até o nascimento. A identificação de gestação, evidenciando importan te papel do hormônio
receptores de T3 no cérebro fetal por volta da lO• semana tireoidiano no desenvolvimento cerebral feta l no p rimei-
e a observação da primeira fase de rápido desenvolvimento ro tri mestre de gravidez. 6·8
cerebral no segu ndo trimestre, período no qual o supri- Estudos recentes sugerem q ue mesmo leve deficiên-
mento de hormônios tireoidianos se faz principalmente à cia tireoidiana materna no primei ro t ri mest re de gestação
custa da passagem materna, sugerem que baixas concen- pode resultar em prejuízo no desenvolvimento neuropsi-
trações maternas de T4 podem resultar em déficit neuroló- comotor da criança. 12 ·13
gico irreversível na criança.6
Durante toda a gestação ocorre mod ificação do
metabolismo dos ho rmônios m aternos por meio de DOENÇAS DA TIREOIDE E GRAVIDEZ
sua desiodação pela placenta. Três enzimas catalisam
a desiodação dos hormônios tireoidianos ( H T) nos te- As desordens da tireoide ocorrem em quase 0,2% de
cidos humanos. A atividade da desiodase tipo I parece todas as gravidezes, com incidência provavelmente mais
não ser modificada na gestação, enqua nto a do tipo 2 é elevada em regiões iodoprivas. Enquanto o estado eutireói-
expressa na placen ta, porquanto sua atividade represen- deo parece ser benéfico para a concepção e ma nutenção da
ta mecanismo homeostático para manter a produção gestação, o papel exato da glândula tireoide na reprodução
mais acirrada de T 3 local, quando as concentrações de é pouco compreendido. 1•2•5
T4 maternas são reduzidas. A placenta contém grandes O d iagnóstico e seguimento de disfunções tireoidianas
quantidades de desiodases tipo 3 que con vertem T4 durante a gestação é assu nto atual e complexo (Quadro
em T3 reverso (rT3) e T3 em T2. Essa intensa ativida- 40.3). A complexidade advém das alterações fisiológicas
de d urante a vida fetal pode explicar as concentrações que se registram durante a gravidez e que interferem não
baixas de T3 e altas de rT3, que são características do só na fisiologia tireoidiana, mas ta mbém nos testes utili-
metabolismo dos HT fetaP ·7 zados para sua aval iação. 14 Além das alterações marcantes

Noções Práticas de Obstetricia


nos níveis de proteínasséricas, inclusive TBG, os níveis ele- de tratar, mas a crise ti reotóxica é complicação grave, asso-
vados de gonadotrofi na coriônica, em especial no primeiro ciada algumas vezes a gestantes sem diagnóstico ou sem
trimestre, desempenham importante papel no processo fi- tratamento adequado. 16 O controle adequado do hiperti-
siológico. Desta forma, há necessidade de precisa defi nição reoidismo é essencial para o bem-estar materno-teta!, uma
da faixa da normalidade dos níveis de TSH e T4livre, ao vez que a doença não controlada é associada à au mentada
longo da evolução da gestação. Alguns autores têm sugeri- incidência de malformações congênitas e morbidade peri-
do adaptar os valores de referência de TSH e T4 livre pelo natal resultante de parto pré-termo e baixo peso ao nascer,
trimestre gestacional, como descrito na Quadro 40.4.8•14 além de insuficiência cardíaca materna. Há controvérsias
se a pré-eclâmpsia é mais comum nessas gestantes. 1'

HI PERT IRE OIDISMO E G R AVIDEZ


D IAG ÓSTJC O C LÍN ICO
A gravidez complicada por hipertireoidismo não é
evento raro. Sua prevalência tem sido estimada entre 0,02 e O hipertireoidismo leve pode ser difícil de diagnosticar
3,0% de todas as gestaçôes.16 Enquanto as desordens mens- durante a gestação, uma vez que sinais e sintomas hiperdi-
truais são comuns em mulheres hipertireóideas, a fertili- nâmicos comumente ocorrem durante a mesmal7 Alguns
dade parece não ser afetada. Não há evidências de que a sinais que auxiliam na identificação do hipertireoidimo na
gravidez piore a evolução da doença ou a torne mais difícil gravidez incluem:

Q uadro 40.3 1Testes de função tireoidiana em diversas situações clínicas


Teste GravrcJeL Normal Admrnrstração de Hrpertrreordrsmo Hrpotrr eorclrsrno
Est r oger110

TSH Sem alteração Sem alteração Diminuldo Aumentado I


T4 total Aumentado Aumentado Aumentado Diminufdo 1
Globulina carreadora de tiroxina (TBG) Aumentada Aumentada Sem alteração Aumentada I
T41ivre Sem alteração Sem alteração Aumentada Diminufda I
T3 total Aumentado Aumentado Aumentado Diminufdo I
T31ivre Sem alteração Sem alteração Aumentada Diminufda I
Quadro 40.4 1Distribuição de valores de TSH e T4 livre, por trimestre da gestação, em gestantes sem doença tireoidiana,
com AntiTPO negativo
Hormonro:Trrmestre Mrnrrno p25 p75 Maxrrno Med 1él Desvro· P,Hirao
-------·------------ ----~-------- ------------

Primeiro 0,01 0,62 1,87 6,54 1,37 1,05


Segundo 5,98 2,25 1,29

Segundo 2,30 0.45


Terceiro 0.40 1.00 1,90 0,94 0,24
Adaptado de Neto et al. 8

Doenças da Tireoide na Gestação 639


hi tória clínica de sintomas hipcrmetabólicos que hCG induzido da doença de Graves. A ausência de bócio,
precedem a gravidez; exofialmo e níveis de antiTPO e TRab negativos sugerem
perda de peso, apesa r de ingesta ali menta r adequada; tratar-se de hipertireoidismo induzido pelo hCG. Como
insuficiência cardíaca de início úbito, sem cau a a mulher grávida tolera bem o hipertireodi mo leve a mo-
aparente; derado, o mai prudente é monitorizar cuidadosamente a
taquicardia em repouso; função ti reoidiana, evitando-se o uso de tiourcias, pois se
títulos elevados de AntiTPO ou TRAb; trata de situação que raramente requer tratamento. Me mo
bócio ou exofialmo. cm pacientes com hipertiroid ismo grave as medicaçõe an-
titiroidiana devem ser utilizadas com cautcla.1' 18

CAL'-.\ <,()! IIII'LRIIRLOIDISI\IO'\;\(.L'-1 \ (,.AO Dlll \<, I I ., I 0111 o\\/ \ (, \J'\liO\ \1

A mola hidatiforme c o coriocarcinoma podem ser a -


Dentre as causas mais comuns, estão o hipertireoidi - saciados a concentrações extremamente elevadas de hCG
mo induzido pela gonadotrofina coriônica c a doença de e o hipertircoidismo bioquímico é documentado em 50%
Graves. Menos comuns são: o bócio nodular tóxico, a tirc- das mu lheres. O tratamento dessa condição subjacente
otoxicose factícia, a doença trofoblástica gcstacional, a fase restaurará a função normal da glândula tireoide. Tiona-
de tireotoxicose da tireoidite de Hashimoto, entre outra . mida e B-bloqueadore poderão er neces ário antes do
tratamento cirúrgico da mola.1-
llll'fRT/Rill//ll\\f() l\lllll(l(l

1'11 I (,(l.\ Hl<l IIWII\ I l <>RIO\ l l I f><ll-\'1, I ll/ (;k 11 I\


Também chamado de hipertireoidismo gcstacional ou Habitualmente o hipertireoidismo precede a gravidez e
tran itório, ocorre habitualmente entre 8 c 14 emanas de reprc enta 90 a 95%das etiologias de hipertireoidi mo na ges-
ge tação, com prevalência de cerca de 2,5%. Pode resultar de tação Trata-se de processo autoimu ne específico usualmente
níveis circulante elevados de hCG. O TSH c o hCG têm em associado a anticorpos antirreceptores de TSH (TRAb), na sua
comum em sua estrutura a subunidade alfa, c cm altas concen- forma estimuladora da tireoide (T Ab). E e anti orpo mi-
traçõe , o hCG pode e timulara tireoide a produzirT4eT3.1- metizam a atividade do TSH em ua habilidade de e timular
o primeiro trime tre da gravidez, o hCG frequente- a função tireoidiana, consequentemente, eles parecem ser os
mente ati nge níveis tão altos quanto IOO.OOOmUI/ mL e agentes responsáveis por ambos: hiperfunção e aumento da ti-
pode ser respon ávcl pela queda no TSH. Gestações ge- reoide.t interes antere saltarquee se anticorpo u ualmente
melares apresentam níveis mais alto de hCG, assi m como declinam sua atividades durante a gestação, o que é oh erva-
paciente com condições neoplásica , como portadoras de do com mulheres com doença de Graves que experimentam
mola hidatiformc ou coriocarcinoma. Níveis de hCG acima remissão espontânea dos sintomas no transcorrer da mesma. 19
de 300.000 mUI/ mi podem associar-se a hipcrtircoidismo. Caracteriza-se pela existência de bócio com opro e, algu-
Mesmo níveis normais de hCG podem associar-se a leve mas vezes, de oftalmopatia. o início da gestação, a elevação
hipertireoidi mo clínico e laboratorial, sugeri ndo que al- do T4 em mulhere com doença de Graves habitual mente
gumas paciente pos am apre entar uma variante do hCG não é associada a mudanças na atividade do TSAb, mas sim
com mais atividade c timulatória tireoidiana. Vários estu- à resposta exagerada ao estímulo cau ado pela gonadotrofina
dos têm demon trado que o hCG deglico ilado c de ia li la- coriõnica.Já após o parto os mecanismos autoimunc pare-
do aumentam sua potência tireotrópica. Es as forma têm cem ser o responsávei quando ocorre a tireotoxicosc.
ido isoladas de molas hidatiformcs e cm mulheres com Podem ocorrer várias situações:
hiperemese gravídica, entretanto, o mecanismo cxato de Hipertireoidismo diagnosticado durante a gestação:
emese induzida pelo hCG permanece desconhecido. sintomas de hipcrmetaboli mo que precedem a
Habitualmente, o hipertireoidismo induzido pelo hCG ge tação, bócio, exoftalmopatia c anticorpo antiti-
e re olve espontaneamente após o primeiro trimc tre, reoidiano po itivos.
quando o nívei de hCG diminuem. No primeiro tri- Paciente sob terapia antitireoidiana: se os níveis de T4
mestre pode ser difícil distinguir entre hipcrtireoidismo livre e T3 livre encontram- e normais, a do c do

Noções Práticas de Obstetricia


antitireoidiano deve ser ajustada para mantê-los Níveis elevados de anticorpos antitireoidianos (antiT-
nos níveis superiores da normalidade. Caso o T SH PO) confirmam a presença de um processo autoimunc c
esteja normal, a tioureia pode ser desconti nuad a e podem predizer o desenvolvimento de tireoidite pós-par-
testes laboratoriais refeitos com seis semanas. to. Para a predição d e tireotoxicose neonata l, a dosagem de
Hipertireoidismo em remissão após o uso de tioureias: TRAb deve ser realizada no te rceiro tri mestre. 20
muito comumente há recorrência do hipertireoid is-
mo, principalmente na primeira metade da gravidez,
sendo necessária a reintrodução do antitireoidiano, C OMPLI CAÇ Õ ES
muitas vezes por curto p eríodo de tempo.
História de hipertireoidísmo prévio tratado com radio- O diagnóstico e tratam ento precoces do h ipertireoi-
iodo ou cirurgia: geralmente há necessidade de re- dismo são de funda mental importância pa ra preveni r a
posição hormo nal com T4, com reaj uste constante morbidade e mortalidade fetais e maternas. As compl ica-
das doses du rante a gestação ou de introdução d a ções são mais graves e frequentes em pacientes que perm a-
levotiroxina durante a mesma, com o intuito de necem hipertireóideas na segunda metade da gestação e
reduzir níveis de TSH mesmo discretamente eleva- e ncontram-se listadas no Q\ladro 40.5. Naquelas pacie n-
dos. Na maiori a das pacientes, os níveis de TRAb tes sem diagnóstico pré-gestacional, o fato de serem pre-
se m antêm elevados, mesmo após o controle do h i- viamente hígidas e geralmente jovens faz com que tolerem
pertireoidismo. Como se trata de uma IgG, diante bem a doença até que se apresente complicação intercor-
de altos títulos maternos, há passagem placentária rente (quadro infeccioso, anemia, h ipertensão, trabalho de
e estímulo à tireoide fetal, produzindo hipertireoi- parto) que pode desencadear u ma crise ti reotóxica, com
dismo fetal e neonatal, habitualmente t ransitórios. taxa elevada de morta lidade materna e fetal. 17•19
O hipertireo id ismo neonatal transitório é complicação
Em cada situação clí nica, a decisão terapêut ica baseia- incomum, acometendo fi lhos de mulheres que apresentam
se em cuidadosa avaliação clínica e obstétrica, achados de títu los elevados de TRAb no terceiro t ri mestre da gestação.
exa me físico e de exa me laboratoriais. 17·19·20 Já o hipotireoidismo neonatal transitório é relatado quan-
O curso natural da doença na gestação se faz com exa- do altas doses de med icações a ntiti reoid ianas são usadas
cerbação dos sintomas no pri meiro trimestre, atribuída à pela m ãe nas últimas sem anas de gestação.
estimulação da glândula pela hCG placentá ria,17• 19 seguida
de melhora, na segunda metade da gestação, cm decorrên-
cia da imunossupressão que se manifesta, volta ndo a se Q\ladro 40.5 I Compl icações Materno-Fetais do Hiper-
agravar no período pós-parto. tireoidismo

Maternas Fet a1s/ Neonata1s

Pré-eclâmpsia Hipertireoidismo neonatal _I


DI AG ÓSTICO L A BO RATOR IA L
Parto pré-termo Hipotireoidismo neonatal I
O d iagnóstico de hipertireoidismo é con fir mado pela Insuficiência cardíaca Crescimento intrauterino
elevação do T4livre e níveis indetectáveis de TS H . Ocasio- congestiva restrito I

nalmente, os níveis de T4livre podem estar no rma is ou no Crise tireotóxica Pequeno para a idade
limite superior da normalidade, sendo necessária a ava lia- gestacional I
ção do T3l ivre. É importante mencionar que aproximada-
Abortamento Prematuridade !

mente 15% das gestantes no rmais apresentam TSH supri-


Descolamento prematuro Natimorto ]
mido o u abaixo da fa ixa da normalidade, principalmente
de placenta
no primeiro trimestre da gestação2i assim, valor subno rmal
de TSH nesse período gestacional deve ser interpretado Infecções Malformações (não relacio-
nadas às tioureias)
com cautela. 19

Doenças da Tireoide na Gestação


TRATA J\ I E TO metimazol. Entretan to, tem sido demonstrado que o ht-
pertireoidi mo não tratado durante a organogênc e é a o-
Como de rito anteriormente, na gc tação a maJoria ciado a elevadas taxas (69o), enquanto o u o da medicação
do ca o de hipcrtireoidi mo se deve à doença de Graves. associa-se a 1,706 de malformaçõc .
As opções terapêuticas durante a ge tação ão limitadas Amplamente divulgada no pas ado, a a ociação de
devido aos potenciai efeito · adver o~ obre o feto. Entre- tiroxina à tioureias é hoje absolutamente cont ra indicada,
tanto, os bon rc ultado materno-fetais dependem espe- uma vez que o · hormônios tireoidi:mos não atr:wess:11n
cialmente do bom controle do hipertircoidismo mntcrno. a placenta e dificultam a avaliação clínico-laboratorial da
A meta do tratamento é manter os nívei de T-t livre nos gc tantc, sendo associada à alta incidência de hipotireoidis-
limite superiore da normalidade, u ando a mínima dose mo fetal, por au mentar a necessidade de medicações ,\nti-
pos ível de antitircoidiano . É nece ária avaliação fre- tireoidianas nece sá ria ao controle do hipertircoidi mo
quente da função ti reoidiana a cada quatro a ci emanas, materno. 19
com aJU te adequado e contínuo da medicação. A administração de propranolol (20 a 40 mg, duas a
O tratamento do hipertircoidismo dur,1ntc a gestJçjo trê vezes ao dia) à mulher grávida para melhorar o in-
é químico e, cm casos elecionados, pode ser cirúrgico. O tomas pode ser utilizada na fase inicial do tratamento, en-
u o de radioiodo é ab olutamcnte contra indicado durante quanto ai nda não há ação adequada da tiourcias, pois tem
a ge ta ão. O medicamentos utilizados são as tiourcias: sido associado a placenta pequena, crescimento mtrauteri-
o mctimazol (MTZ) ou o propiltiouracil ( PTU), ambos no restrito, prejuízo na rc postas ao strc anóxico, bradi-
com di ácia semel hante. Hi toricamente, entre o ame- cardia pós-natal e hipoglicemia no recém-nascido. Desta
ricano , há preferência pelo uso do propiltiouraci l, pois forma, não deve ser utilizado como agente primário de tra-
existem evidências de aplasra cutis exclu iva mcntc com o tamento ou como terapêutica em longo prazo, porém pode
uso de MTZ. A FDA (Food mrd Drug Admrmstratio11) reco- auxiliar no rápido controle da tireotoxico e.1-· 1920
menda o u o preferencial de propiltiouracil na gestação c A tireoidectomia é reservada par.1 casos especiais nos
lactação. 11 quai o controle com medicamentos orais é incllc.lZ ou há
Tanto o mctimaLOI quanto opropiltiouracil atrave am intolcrància ao u o dos mesmos.
a placenta e podem mduzir ao bócio ou hipotireoidismo fe- Hiperti rcoidismo nconatal é resultado da pas agem
tal. Para minimizar c cs efeitos sobre o feto, é importa nte placentária de anticorpo c timulantc. da tireoide (TRAb),
manter o T-t livre no limite upcrior da normalidade e o quando este ão elevado na mãe, c pc 1almcntc no ter-
T H indctectavel. ceiro trimestre de gestação.
A do c do medicamento utilizado é empírica e depen- Durante a lactação, ca o ·e faça necessário, indica- e
de da gravidade dos si ntomas, endo em torno de 300 a ou o de propiltiouracil, por ter excreção no leite materno
450 mg de do c inicial para o propiltiouracil, fracionado muito inferior à do mctim.1zol, porém este último pode ser
em dua a três vezes :~o dia, ou metimazol, cm torno de 20 utilizado em baixas dose ( 10 a IS mg/ di,l). ão há con-
a 30 mg cm dose única diá ria. 20 Se necessário, e as do c trai ndicaçõcs à lactação e uso do propiltiouraci l, de de que
podem cr aju tad,\ a cada quatro a eis emanJs, até que tanto a mãe quanto o recém-nascido tenh:tm acompa nha-
a gestante pcrmane a apenas levemente hiperti reóidea c mento periódico c a dosagem de TSH c T4 seja realizada
os níveis de T4 livre permaneçam ligeiramente uperiore periodicamente no recém-nascido.21
à normalidade. O hipotireoidi mo deve er evitado, reco-
menda ndo- c que a do e sejam lentamente reduzidas ou JiUI\\If.\'TOtHlRISI ltRJOI().\It \
descontinuada até o final da gestação. 17 o pcrfodo pós- A cri e tireotóxica é incomum e con iderada uma
parto pode haver exacerbação da doença e nccc idade de emergência. a gravidez acomete ge tantcs sem trata men-
rcintrod uç5o da med1cação. ta adequado ou sem diagnóstico prévio. Pode seguir-se ao
Há ri co conhecidos de malformação fetal atribuídos parto, cirurgia ou algum processo infeccio o. Caracteriza-
ao u o de ·as mcdicaçõe durante a gestação: onfalocele se por e tado hipermctabólico exagerado, com hiper-
c aplasw wttS congênita, e ta última relacionada ao uso do pirexia, taquicardia e agitação. Habitualmente os níveis

Noções Práticas de Obstetrícia


pressóricos são normais. Podem ocorrer taquiarritm ia e prematu ro de placenta, pós-datismo, hemorragia pós-par-
insuficiência cardíaca congestiva grave. to, disfunções cardíacas e recém-nascidos de baixo peso.
O tratamento oral ou venoso com propranolol deve ser Atualmente, gestantes hipotireóideias têm prognós-
iniciado e uti lizado com cautela devido ao risco de insufici- tico mais favorável, provavelmente devido à detecção e
ência cardíaca. Hidratação é de funda mental importància tratamento precoces do problema. Entretanto, mesmo o
na recuperação e ma nutenção da gravidez. Redução da pro- hipotireoidismo subclínico tem sido associado ao au men-
dução de hormónios tireoidianos é conseguida com rapidez to dessas complicações. Ainda não é possível estabelecer
após a introdução de iodeto de sódio intravenoso (SOO mg se essas complicações se devem ao hipotircoidismo por si
de 12 em 12 horas por 24 horas) ou solução saturada de io- ou ao fato de que a causa mais comum do hipoti reoidismo
deto de potássio por via oral (cinco gotas de 6/ 6 horas). É subclínico é a doença autoi mune e se a mesma se associa à
importante salienta r que essas soluções atravessam a placen- aumentada incidencia de abortamento. 22
ta e podem bloquear a síntese de hormónios tireoidianos fe- O hipotireoidismo também pode apresentar efeito ad-
tais. O propi ltiouracil deve ser iniciado imediatamente, com verso sobre o desenvolvimento neu ropsicomotor fetal. 12
doses entre 600 e 1.000 mg/dia e reajustado conforme cada Em estudos comparando fi lhos de mães com hipoti reoi-
caso. Devido a evidências de redução na secreção de ACTH dismo no primeiro trimestre de gestação e fi lhos de mães
durante a crise, o uso de esteroides parenterais está indicado: eutireóideas houve elevada incidência de crianças com
dexametasona 2 mg de 6/6 horas. Os glicocorticoides atu- atraso no desenvolvimento neuropsicomotor no primeiro
am sinergicamente com o iodo e o propiltiouracil, inibindo a grupo.12.1
ljberação de T4 e a conversão periférica de T4 a T3.20

CAUSAS
HIPOTIREOIDISMO E GRAVIDEZ
O hipoti reoid ismo na gestação é habitualmente d iag-
A prevalência de hipotireoidismo durante a gestação nosticado antes da gravidez e se deve, geralmente, à ti reoi-
é de 0,3 a 0,5% na forma manifesta e de 2 a 3% na forma dite de Hashimoto, doença autoi mu nc cm que há pro-
subclínica (em que há níveis pouco elevados de TSH e dução de anticorpos que inibem a síntese de hormônios
níveis normais de T4livre) e é habitualmente leve, pois as tireoidianos, levando à destruição progressiva da tireoide;
formas mais graves se associam comumente à infertilidade passado de tireoidectomia; ou, ainda, com uso de radioio-
e a abortamento. Em regiões iodoprivas é relatada alta inci- do para tratamento da doença de Graves. Em algu mas regi-
dência, porém faltam estudos conclusivos. Os anticorpos ões do mundo, uma importante causa do hipotireoidismo
antitireoidianos estão presentes em S a I 5% das mulheres ainda é a deficiência de iodo al imentar.
em idade reprodutiva e a tireoidite crônica autoimune é a
causa mais comu m de hipotireoidismo. 17·22
O hipotireoidismo não é uma barrei ra completa à con- D IAGNÓST ICO CLi ICO
cepção, mas há di minuição da ferti lidade, de tal forma que a
associação entre hipotireoidismo e gravidez era considerada O diagnóstico clínico do hipotireoidismo pode ser
extremamente rara. As primeiras descrições de gravidez as- extremamente difícit pois na maioria das vezes é assin-
sociada ao hipotireoidismo datam de 1943. As gestantes sem tomático. Sinais c sintomas inespecíficos como letargia c
tratamento apresentaram risco aumentado de aborta mento fraqueza podem estar presentes, assi m como ganho exage-
espontâneo, parto pré-termo, mortalidade perinatal, reper- rado de peso e hipersensibilidade ao frio, edema (mixede-
cussões no desenvolvimento in fantil e anomalias congénitas. ma), queda de cabelo e pele seca e fria, relatados com mais
A partir da década de 80 surgiram estudos sobre o se- frequência na gestação. 17•22
guimento de gestantes hipotireóideas. As gestações com- Devem ser avaliadas quanto à função ti reoidiana ges-
plicadas pelo hipoti reoidismo, além do alto risco de abor- tantes com:
ta mento, passaram a ser associadas a outros resultados si nais e sintomas de hipoti reoidismo;
adversos: desordens hipertensivas, anemia, descolamento bócio;

Doenças da Tireoide na Gestação


pa ado de doença tireoidiana; A dose de levotiroxina é muito variável e deve cr indi-
em uso de medicações que interferem no metabolis- vidualizada. A dose média na gestação é de 2,0 a 2,4 pgkg
mo do iodo, como, por exemplo, amiodarona c lítio; de peso itlcal, com reaju te , cmprc que neccssáno, com
hi tória familiar de doença tireoidiana; o intuito de manter os níveis de TSH dentro dos limites
outra doença autoimu ne como diabetes tipo I, viti- da normalidadc. 23 As mu lheres cujo diagnóstico tiver sido
ligo, anemia perniciosa, entre outras; estabelecido durante a gestação deverão iniciar uso de lc-
u o de radioiodo, tioureias ou tireoidcctomia no votiroxin,t na dose de ISO pg/ dia ou 2 pg/ kg de peso atual/
pas ado. dia. 1-·21 As concentrações de TSH c T4 deverão ser mensu-
radas apó ' quatro semanas do início do trata mento. O te -
te de fu nção tireoid iana devem ser normalizados o mai
DI \(, !\Ó~ fiCO L \ LIORATOR I AL rapida mente possível c a meta é manter a concentrações
de TSH cm valores abaixo de 2,5 pU 1/ mL no pri mei ro tri-
O TSH é o teste mais sensível para detectar o hipoti- me tre da gestação ou 3 pU I/ mL no segundo e no tercei-
reoidismo primário. ·c elevado, deve- e determinar o T4 ro trime tre .21 Após a concentrações de T H e T+ livre
livre. A combinação de T H elevado e T4 livre normal ou terem atingido a faixa de normalidade para a idade gc ta-
baixo é virtualmente diagnóstica de hipotireoidi mo pri- cional, as aval iações quanto à fu nção tireoidiana deverão
mário. Valores limítrofes de T4livre c discreta elevação de ser realizadas a cada seis a oito scmanas.12 O rcJjustc
T H podem ser encontrados no hipotircoidi mo ubclíni- nccc sário deverão ser implementado com base na con-
co, no qual também se de creve incidência aumentada de ccntraçõe de T H.23 Em sua maioria, as mul heres grávi-
infertil idade, aborta mento c pré-cclâmpsia. das são joven e livres de doença cardiova cular, de modo
Talvez c ta seja a forma mais comu m de apresentação que, qua e empre, é seguro iniciar o tratamento com dmc
na gravidez, caracterizado pela falta de intoma , nfvci ele- plena. Recomenda-se admi nistrar a dose de lcvotiroxina
vados de T H e habitualmente níveis normais de T3 c T4 no início da ma nhã, em jeju m. Porém, ,tlgumas mulheres,
livres, mas reposição com tiroxina é recomendada. O teste particularmente no primeiro trimestre, poderão não tole-
TS H após estímulo com TRH não é mais utilizado para o rar a medicação nessa hora ; cndo as im, deverão ingerir
diagnó t1co do hipotircoidi mo primário, endo rc crvado a medicação po tcriormcntc, cm horário ma i convenien-
para o raro ca os de su:.pcita hipotireoidismo central hi- te, quando não apresentarem náu ea ou vómito . luita ·
pofisária. utilizam o sulfato ferroso e/ou cálcio durante age tação.
Es a substância podem formar complexos i nsolúvci ~
com a tiroxina c reduzir a absorção do medicamento. Des-
I R\1\\IL TOCACO \I I'i\ H A M I:.NTO sa forma, é importante frisar que a ingestão des as outras
medicações deverá ser feita com intervalo de, no mínimo,
As mulhcre com diagnóstico de hipotircoidJ!>mo dua horas.
Jurante a ge tação, me mo que subclínico, deverão ser As gestantes portadora de hipoti rcoidismo e que en-
tratadas com J oscs de reposição de lcvotiroxina (T4). O gravidam nccc 'Sitam de acompanhamento dos níveis de
tratamento deve ser instituído assi m que realizado o diag- T41ivrc c T H, pois pode haver necessidade de alteração
nó tico, iniciando-se com do c relativamente baixa , com nas doses de reposição hormonal. o passado, acredi-
aumento gradual da mesma, caso se faça necessário. Du- tava-se que a dose utilizada an te da concepção poderia
rante a gestação há necessidade de doses muito mai altas ser mantida até o final da ge11ta ão, em neccs idade de
Jc T4 do que aquelas empregadas para mulhere não grávi- reaju te na me ma. Com métodos laboratoriai cada vc1..
da!>, a sim como aumento ignificativo nas do c utilizada mais precisos, tem-se observado que pode haver necessi-
fora da ge tação. V,\rias razõe explicam es a situação: o dade de alterações nas dose de repo ição hormonal. É
rápido aumento da TBG; o aumento de volu me circulan- comum que as dose ejam aumentada em Oa 100% a
te; c o aumento de tran porte placentário c metabolismo dose inicial, mas, até mesmo redu ão na do c pode ser
materno de T4.21 nccessá ria. 1-·22

Noções Práticas de Obstetrícia


Após o ajuste da dose, T SH e T4livre devem ser reali- da, baseada no tipo de carcinoma, período da gravidez e o
zados a cad a seis a oito semanas para a reavaliação da dose estágio tumo ral. Os carcinomas d iferenciados da tireoide
de tiroxina, até que os mesmos se encontrem dentro da não são afetados adversamente pela gravidez/ 5 desta forma,
faixa da normalidade. Depois de ati ngido o controle ideal, a menos que haja acelerado cresci mento do tumor ou evi-
deve-se ma nter a realização das mensu rações de T SH e T4 dência de metástase, a tireoidectomia pode ser protelada até
livre, com o mesmo intervalo descrito. Após o parto, a dose o pós-parto ou ser realizada, preferencialmente, no segundo
utilizada antes da gravidez deve ser reintroduzida e o T SH trimestre da gestação. Q uando o diagnóstico do nódulo é
22
dosado por volta de seis semanas após. estabelecido no terceiro trimestre, a abordagem ci rúrgica
deverá ser postergada para o período pós-parto. Neste caso,
a avaliação citológica também poderá ser ad iada para depois
BÓC IO, NÓDULOS TIREOIDIANO S do parto, uma vez que nen huma conduta será adotada. No
E C Â N CER DA TIREOIDE caso de tratar-se de carcinoma anaplásico ou carcinoma me-
dular da tireoide, a tireoidectomia não deve ser protelada. 17•25
Não há estud os que revelem aumento do risco de re-
O bócio tem sido associado à gravidez desde a Antigui- corrência do carcinoma da tireoide durante ou após ages-
dade. O volume ti reoidia no au menta cerca de lO% em regi- tação. Mu lheres que recebem doses supressivas de levoti-
ões não iodoprivas, provavelmente como resu ltado do au- roxi na para t ratamento do carcinoma da tireoide antes da
mento da atividade tireotrópica, e aprox imadamente 30% gestação poderão mantê-la, desde que os n íveis de T4livre
em regiões com deficiência leve de iodo, onde também se não se encontrem aci ma do li mite superior da nonnalida-
observa que o T SH tende a ser um pouco mais elevado. A de. Apesar da ausência de estudos neste sentido, parece
habi lidade do T SH e, provavelmente, de outros estimul a- adequado ma nter a mesma orientação utilizada no perío-
dores tireoid ianos em promover o crescimento tireoidiano do pré-conconcepcional. 17
é pote ncializada d iante da deficiência de iodo. O aumento
da tireoide na gestação é considerado anormal em mulhe-
res com ingestão adequad a de iodo . ACONSELHAMENTO
Nódulos tireoid ianos são detectados, com certa fre- PRÉ -C ONCEP C IONAL
quência, cm mulheres du rante a gravidez e isto decorre,
principalmente, d a atenção médica mais detalhada o fereci-
da às mu lheres grávidas, que, muitas vezes, são avaliadas por É impo rtante pa ra o méd ico saber aconselhar sua pa-
médicos pela primeira vez. Na maioria das vezes, os nódulos ciente sobre o momento ideal para e ngravidar e sobre os
são ben ignos e não funciona ntes. 24 Tem sido es timado que riscos para ela, para o feto e pa ra a criança, especialmente
os carci nomas papilíferos ou folicula res afetam uma em em relação à existência de hipertireoid ismo materno e em
mil gestantes. 25 outras situações especiais:
A abord agem d a doença nodular tireoidiana não di fere
daq uela empregada nas mu lheres não grávidas. As pacien-
tes requerem, pelo menos, a dosagem de T SH e a realização HIPERTIREOIDISMO SOB TRATAMENTO
da pu nção aspirativa com agulha fina (PAAF) do nó du lo
maior que I cm. A realização do ultrassom é desejável p or Caso a mu lher esteja em uso de medicamentos a ntiti-
várias razões: para a caracterização do tipo de nódulo (só- reoidianos, os efeitos d os mesmos para o feto e RN devem
lido ou não, hipoecogênico ou não), pa ra a identificação de ser d iscutidos a ntes d a gestação . Caso opte-se pelo uso do
microcalcificaçõcs (que são suspeitas para malignidade), iodo rad ioativo, nunca fazê-lo durante a gravidez. Após
pa ra a detecção de outros nódulos e/ oulinfonodos suspei- ingeri-lo, aguardar em torno seis meses para engravidar,
tos, assim como para mon itorar o crescimento do nódulo. evitando-se seus efeitos deletérios sobre o feto. A ci ru rgia
Métodos de imagem com radioiodo são formalmente não traz sérias consequências pa ra o feto, mas, como nas
contraindicados. Caso a biópsia sugira carcinoma, a decisão situações descritas anteriormente, aconselha-se que a mu-
de quando realizar a tireoidectomia deve ser individualiza- lher esteja eutireóidea no momento da co ncepção. Estudos

Doenças da Tireoide na Gestação


bem-conduzidos têm revelado o dobro de malformações -parto. Testes de fu nção ti reoidia na são indicados antes,
congenitas em mulheres hipertireóideas no primeiro tri- durante e após a gestação para detectar precocemente alte-
mestre de gestação, assim como taxa elevada de infertilida- rações nos níveis de TSH e início de terapêutica em tempo
de e abortamento naquelas com TSH elevado. adequado para prevenir complicações.17

TRATAMENTO PASSADO COM RADIOIODO TIREOIDITE PóS-PARTO


PARA DOENÇA DE GRAVES
Tanto o hipertireoidismo quanto o hipotireoidismo
esta situação, dois aspectos são importantes: ( I) ava- podem ocorrer no período pós-parto como resultado de
liar a dose de reposição de tiroxina para que o TSH esteja tireoidite. Essa é uma forma de disfu nção tireoidiana autoi-
dentro da normalidade c (2) apesar do eutireoidismo, altos mune que ocorre entre o terceiro e sexto meses após o par-
títulos de TRAb podem estar presentes, expondo o feto e o to. Habitualmente, há um período inicial de hiperti reoidis-
RN .l.lUmentado risco de hipertireoidismo, apesar da mãe mo transitório, seguido por hipotireoidismo e recuperação
estar eutireóidea. Nestes casos, a gestante deve ser acom- completa na maioria dos casos.
panhada com mensuração dos níveis desses anticorpos, Histologicamente, é caracterizada por uma tireoidite
especialmente no terceiro trimestre de gestação. linfocítica destrutiva. Como não há síntese hormonal au-
mentada, não há indicação para o uso das tioureias, sendo
indicado o uso de beta-bloqueadores quando há sintoma-
TRATAMENTO PASSADO COM RADIOIODO tologia mais grave. Cerca de 70% dessas mulheres evoluem
PARA CARCINOMA DA TIREOIDE para resolução do processo e as demais apresentam quadro
de hipotireoidismo transitório três a oito meses após o
A gravidez não afeta a história natural do carcinoma da quadro inicial. O hipoti reoidismo deverá der tratado com
tireoide. Abortamento espontâneo pode atingir 40% no tiroxina por período variável de três a seis meses. Algumas
primeiro ano pós-tratamento com radioiodo. É recomen- mul heres poderão manter o quadro de hipoti reoidismo
dável que as mul heres que receberam radioiodoterapia indefinida mente. Há tendência à recorrência da tireoidite
agua rdem mais ou menos um ano para conceberem. Ajus- pós-parto em gestações futuras. 17
tes de dose de tiroxi na devem ser realizados no início da H á significativa associação ent re tireoidite pós-parto e
gravidez e pelo menos a cada seis semanas. O TS H deve ser doenças autoimunes, principalmente o diabetes tipo I. Por
mantido abaixo do valor mínimo da normalidade. isso, as gestantes portadoras de d iabetes, especialmente o
tipo I, devem ser rastreadas com dosagem de TSH durante
o primeiro ano pós-parto.6•10
HIPOTIREOIDISMO SOB TRATAM E N T O Correlação positiva tem sido descrita entre tireoid ite
pós-parto e depressão pós-parto, porém mais estudos são
Mulheres em tratamento para hipotireoidismo podem necessários para confirmar essa afirmativa. Sendo assim, re-
necessitar de reaj uste da dose de tiroxina logo após a con- comenda-se rastreamento com TS H c T4 1ivre nesses casos.
cepção. Os reajustes de dose variam conforme a etiologia Para realizar-se o diagnóstico de tireoidite pós-parto, os
do hipotireoidismo. seguintes critérios devem ser seguidos: a) não deve haver
história de anormalidades tireoidianas antes ou durante a
gestação; b) deve haver um TSH alterado (tanto elevado
TIRE OIDITE CRÔ NIC A quanto diminuído) durante o primeiro ano pós-parto; c)
EM PAC I E NTE EUTIREÓIDEA não deve haver anticorpo anti rreccptor de TSH positivo
ou nódulo tóxico.
Pacientes com tireoidite de Hashimoto apresentam Q.1ando há suspeita de tireoidite pós-parto, o método
risco aumentado de abortamento espontâneo, ma nifesta- de rastreamento mais sensível e barato é a dosagem do
ção de hipotireoidismo durante a gestação e tireoidite pós- TSH. Se o TSH é alterado, deve-se realizar a dosagem de

Noções Práticas de Obstetricia


·tireoide durante a gravidc7. Arq Bra~ Endocrinol hletab.
T4 livre c anticorpos antitireoidianos. O T RAb deve ser 200-l;448(4):43-98.
dosado cm pacientes com TSH suprim ido, com a intenção 9. Negro R, Formoso C, l'vlangtcn T, Pezzarossa A, Dazzt D,
de afastar possível doença de Graves em fase inicial. c o Hassan H Le\'Othyroxinc trcatmcnt 111 euthyr01d pregnant
T H é normal no rastrca mcnto inicial, mas os sintoma women wit h autoimmunc thyr01d dtscase: eflects on obstet·
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são muito sugestivos, sugere-se que o mesmo seja reavalia-
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vos de disfun ção tireoid iana, naquelas portadoras de doen- v.trez-Marfany M, Davics T F. lictcction of.Jt ri;k pregnancy
u<~n g htghly ~c n ~i ti w as~ay~ for thyroid autoan t ibo d ic~.
ças :.llltoummcs, especialmente o diabetes tipo I, naquelas
JAMA. 1990;264:1422--.
com anticorpos antiTPO elevados e nas que apresentaram
12. Haddow JE, Palomaki GE, Albn \VC. vVtlltam\ jR, Kntght
tircoiditc pós-parto cm gestação anterior. Caso o TSH seja CJ, Gagnon J, et ai. ~latcrnal thyrotd dcfimncy dunng preg-
superior a 10 ~tU/mL em mulher sintomática, introduzir nancy and subsequent neuropsychologKal devclopment of
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Na ausência de método de rastrcamcnto universal, , old111 SJ Trimcster·speofic cha ngc~ 111 mato:rnal thyroid
hormone, thyrotropin, and thyroglobultn conccntrations
vários casos de tircoidite pós-parto pcrnuncccrJ.o não
during ge tation: trends and assooattOn\ acro'' tn mcster' 1r1
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Doenças da Tireoid e na Gestação


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Noções Práticas de Obstetrícia


Doenças Reumáticas
Cristina Costa Duarte Lanna
Maria Vitória Pádua de Qpintero
Walter Souza Barbosa

Lúpus Eritematoso Sistêmico Artri te Reumatoide


Manifestações Clínicas e Diagnóstico Diferencial Esclerose Sistêmica
Alterações Laboratoriais Espondiloartrites
LES e Infertilidade
Lombalgia
Evolução da Gravidez
Acompanhamento Pré-natal Contracepção
Lúpus Neonatal Medicações Antirreumáticas na
Síndrome dos Anticorpos Antifosfolípides Gravi dez e na Amamentaçã o
Critérios Diagnósticos Acetaminofeno
Manifestações Clínicas Anti-inflamatórios
Fisiopatologia da Placenta Corticosteroides
Abordagem Terapêutica Agentes Modificadores de Doença
Tratamento Após o Parto

o período gestacional pode provocar modifi-


cações na evolução de várias doenças reu-
máticas, do mesmo modo como essas en-
fe rmidades podem afctar o curso da gravidez. Durante o
período gcstacional o embrião age como um corpo estra-
Aa matórias (fator de necrose tumoral alfa, fato r de necrose
tumoral beta, interferon gama, interleucinas c outras), que
irão alterar o equilíbrio imunológico do organi mo grávido. 2
Saber d iferenciar, nesse grupo de pacientes, as altera-
ções inAamatórias das estruturais pode ser um desa fio e va i
nho, desencadeando reaçõcs de tolerância imunológica. O determinar a condutas a serem tomada . Muitas mulheres
organismo materno imunologicamente comprometido va i com doenças re um áticas vão desenvolver gravidez egura,
reagir de modo diferente a essa tolerância, interferindo na com boa evolução. No en tanto, é comum a ocorrência de
segurança de ambos: mãe e concepto. 1 parto pré-termo, especial mente por rot ura prematura de
Os linfócitos T C D4 ão os respon áveis pelo de envol- mem bra nas, pré-edãmp ia, ofrimento fe tal ou piora da
vimento da imunidade celula r, mediada por células T helper doença materna. H oje são ra ras as situações em q ue a pa-
Th I, e pela imunidade humoral, mediada por células T hei- ciente é aconselhada a não engravida r e as mulherc com
per Th2. O equilíbrio entre Th I e Th2 va i fàvorece r a gesta- perdas gestacionais de repetição podem ter esperança de
ção segura. Ambas, Th I e Th2, produzem citocinas pró-in- gravidez com sucesso. u
Este capítulo discorre sobre complicações maternas e tos em 1997, havendo a substituição da pesquisa de células
fetais que acontecem no ciclo grávido-puerperal envolvendo LE, já obsoleta, pela presença dos anticorpos antifostolípides
mulheres com diagnóstico de lúpus eritematoso sistêmico, (Q!.Iadro 41.1 ). Esses critérios não são específicos do LES e
síndrome antifosfolípide, artrite reumatoide, esclerose sistê- outras doenças podem preenchê-los, como a sífi lis, a hanse-
mica, espondiloartrites e lombalgia. Aborda, ainda, o uso dos níase, a SIDA e a síndrome dos anticorpos antifosfolípides.
medicamentos mais comumente empregados no tratamento
dessas doenças e sua relação com a gravidez e a amamentação. Quadro 4I.ll Critérios doAmerican CollegeojRheumatolo-
gy para classificação do LES, revisados em 1997*
Eritema malar: eritema fixo, plano ou elevado. sobre as
LúPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO eminências malares, poupando o sulco nasolabial. _____ ....;

Lesão cutânea crônica (discoidet placas eritematosas ele-


Lúpus eritematoso sistémico (LES) é uma doença infla- vadas, com descamação aderente e obstrução folicular; em
matória crônica que ati nge, principalmente, mulheres jovens, lesões antigas pode-se observar fibrose atrófica.
-----
acometendo múltiplos órgãos e sistemas. Caracteriza-se por Fotossensibilidade: rash cutâneo resultante de reação à ex-
alterações da resposta imunológica, com anticorpos dirigi- posição à luz solar, observado pelo paciente ou pelo médico.
dos contra proteínas do próprio organismo. Tem evolução Úlcera oral ou nasofaríngea: ulcerações orais ou nasolabiais.
crônica, marcada por períodos de atividade e remissão. A geralmente indolores, observadas pelo médico.
gravidade da doença é variável: desde formas leves c inter-
Artrite não erosiva: acometendo duas ou mais articulações.
mitentes a quadros graves e fu lmina ntes. De causa ainda não caracterizada por edema. sensibilidade ou derrame articular.
completamente esclarecida, o desenvolvi mento da doença
Pleurite (dor. atrito. derrame) OU pericardite (dor. atrito,
deve-se à interaçào de fatores genéticos, hormonais e am- derrame. alterações ao ECG).
bientais. Predomina entre as mulheres, com frequência de
Acometimento renal· proteinúria persistente (> 0.5 g/dia ou
nove para cada homem, com pico de incidência entre os 16 e
~ +++)OU existência de cilindros celulares.
SS anos, ou seja, durante grande parte da idade reprodutiva 4
Convulsão ou psicose: crises convulsivas. na ausência de
medicamentos possivelmente envolvidos ou distúrbios me-
tabólicos (por exemplo. uremia. cetoacidose ou distúrbios
MANIFESTAÇÕES C LÍN ICA S E hidroeletrolíticos) ou psicose. na ausência desses.
DIAGNÓST I CO DIFERENC IAL Alterações hematológicas: achados em duas ou mais ocasi-
ões de anemia hemolítica com reticulocitose OU neutrope-
O LES é doença multissistêmica cujo diagnóstico ba- nia < 4.000/ mm3 OU linfopenia < 1.500/mm3 OU trombocito-
seia-se no reconheci mento de grande variedade de achados penia < 100.000 mm3 • na ausência de uso de medicamentos
possivelmente envolvidos nesses achados.
clínicos e laboratoriais. 4 Nenhum achado isoladamente faz
o diagnóstico, apesar de alguns serem bastante sugesti- Alterações imunológicas: títulos elevados de anticorpos
vos. A s manifestações clínicas iniciais mais frequentes do antiDNAn OU presença do anticorpo anti-Sm OU de anticor-
pos antifosfolípides baseado em:
LES, e ao longo de sua evolução, são: artralgia (75%); ar-
a) Teste positivo para o anticorpo anticoagulante lúpico
trite (67%); febre (50%); rash malar (46%); emagrecimento usando método standard.
(43%); alopecia (38%); hipodina mia (37%); fotossensibili- b) nfveis elevados de anticorpos séricos anticardiolipina
dade (37%); e hipertensão arterial (30%). lgM ou lgG;
c) teste falso-positivo para Treponema pallidum por pelo
Baseando-se nesse largo espectro de manifestações, têm
menos seis meses e confirmado por testes de imobiliza-
sido elaborados critérios diagnósticos para tentar uniformi- ção ou fluorescência.
zar as populações estudadas em diferentes centros, evitar
Anticorpos antinucleares: um título elevado de ANA pela IFI
o superdiagnóstico, determinar a atividade ou remissão da
ou teste equivalente. em qualquer época de investigação.
doença. Os critérios diagnósticos universalmente usados na ausência do uso de medicamentos capazes de induzi-los.
são os elaborados pelo American College oj Rheumatology • Um individuo poderá ser identificado como portador de LES se quatro ou
(1982), que proporcionam confiabilidade de 85% de sensi- mais desses 11 critérios estiverem presentes. simultanea ou periodica-
mente. durante qualquer intervalo de observação.
bilidade e 95%de especificidade. Esses critérios foram revis-

6so Noções Práticas de Obstetricia


Apesar de vários critérios de ativid,\dc e dano orgânico c sugestivas para o diagnó tico c acompa nh.\111Cnto da evo-
do LES terem ido validados em diversos estudos (cerca de lução clínica e terapêutica do LES.4
60 índices foram até hoje descritos), não há ainda consen-
o sobre qual deles poderá ser mais fiel para o acompanha-
mento clínico dos pacientes. PROVA., or: f.\sEA~ u D,\ D \ 1;\/FLA"tA<; \o
A estratégia diagnóstica do LES compreende o reco-
nhecimento da doença multissistêmica, determ inadas A velocidade de hemo sedimentação (VHS) costuma
alterações sorológicas e a exclusão de outras doenças gue estar elevada no LES, cm es pecial nas fases agudas, sendo
possam mimeti zar tais achados, o que não é tarefa Fácil, incspccífica, mas útil para acompanhar a atividade da do-
pois o LES é das doenças de mais diversidade clínica c so- CilÇ.t . O mesmo acontece com a proteína C rcativa (tam-

rológica entre todas as doenças estudada pela clínica mé- bém rotineiramente aferida pelos laboratório ) c outras
dica. Os achado clínicos e laboratoriais não tem especifi- proteínas, menos frequentemente solicitadas, como muco-
cidade, podendo cr encontrados em várias doenças, mas proteínas, cd -glicoprotcína .kida, antitripsi na, ccru loplas-
:dguns deles, como :1 lesão cutâneJ em "asa de borboleta" mina e macroglobulina.
c o encontro de altos títulos séricos de anticorpos anti D-
NAn ou anti-Sm, sugerem fortemente o diagnóstico. O s
quadros clínicos nem empre são clássicos ou "completos", A L 10.\ " li( ORI'O '\
podendo muitas vct.c apresentar, cm determinado mo-
mento, número insuficiente de critérios necessários p:1ra o Autoanticorpos contra antígcnos nucleares (A A) e
diagnóstico. citopbsmáticos ocorrem com urpreendente variedade
Os sinais e sintomas do LES são, em ·ua maioria, inespc- no LE , sendo sua detecção de representativo significa-
cíficos e comuns, como, por exemplo, a artrite reu matoidc, do, não ó para o diagnóstico, como também parJ defini r
esclerose sistemica, dermatopoliomiosite, doença indiferen- subgrupos de pacientes. Sua sensibilidade e especificidade
Ciada do tecido conjuntivo e com diversas outras síndromes, variam mu ito, mas alguns podem ter mais significado p:1ra
como as vasculitcs, a sarcoidose, as doenças infecciosas o diagnóstico: anticorpo antiD An e anti-Sm, na forma
como a hanscnía c, a tuberculose, a SI DA, infecções vi róti- idiopática; anti-hi tona, nas forma induzidas por drogas;
cas, neoplasias, doenças endócrinas e hcmatológica . anti-SSA/ Ro e anti-S B/ La, no lú pus neonatal, no lúpus
cutâneo subagudo e formas associadas à síndrome de Sjo-
gren; anticardiolipina e anticoagulante lúpico associados
ALTERAÇÕES LABORATORIAIS aos aborto de repetição (Quadro 41 .2). Embora úteis, ge-
ralmente não c prestam ao acompanhamento da ativida-
O achado de alterações imunológica é mais marcante dc da doença, poi os título podem permanecer alterados
em relação às alterações de imu nidade hu moral, que são as por muitos anos, retornar ao normal ou mesmo desapa re-
m:J is conhecidas no LE , traduzindo-se por hiperga ma- cer sem qualq uer intcrfcrênciJ externa ou relação com a re-
globu lincmia, detecção de autoanticorpos c imunocom- missão da fase aguda da doença - cxccção para o antiO A
plcxos. A imunidade celular também está al terada no LES nativo, cujo valor quantitativo pode er um parâmetro de
e pode caracterizar-se por linfopenia e monocito e. atividade renal da doença.
O teste laboratorial mais simples e útil para o diagnós-
tico do LES é a pesquisa de autoanticorpos por imunoAuo-
ExAMeS LABORATORIAl ~ DE ROT I NA rcscência indi reta que, embora não seja específico, é mu ito
sensível. Teste positivo cm títulos superiores a 1:80 (usando
Podem-se encontra r alterações no hcrnograma, como célu las Hep2 como substrato) é altamente sugestivo para
citopcnia (leuco e/ ou linfopcnia, trombocitopcnia, ane- o diagnóstico, enquanto teste negativo cm paciente que
mia), aumento das c cória~. alterações no cdimento uri- não esteja recebendo corticosteroidcs torna o diagnóstico
nário, no clarcamento de creatinina e protcinúria. São exa- alta mente im provável, mas não o inviabi liza. Em algu m.1
mes muito si mples que podem dar pistas importantíssimas pacientes com LESa pesquisa convencional pode ser reite-

Doenças Reumáticas 651


radamente negativa, o que no passado se verificava em I0% Essas pacientes apresentam alta incidência de rash cutâ-
dos casos, quando se utilizavam substratos animais para a neo, fotossensibilidade, fenômeno de Raynaud, serosite e
realização do exame. A utilização de substratos especiais anticorpos anti-Ro (SSA). Assim, ao receber resultado de
na pesquisa de autoanticorpos por imunofluorescência ANA negativo de paciente com clínica de LES, deve-se
usando como substrato as célu las H ep-2 (cél ulas de cultu- analisar não só a credibi lidade do laboratório que executou
ra de carcinoma de la ringe) tem demonstrado que 95% dos o teste, como também verificar os substratos util izados na
pacientes com teste negativo têm, na realjdade, autoanti- pesquisa dos autoanticorpos.
corpos circula ntes que não podem ser detectados pelos Como o teste não é específico do LES, outras doenças
substratos inicialmente util izados (fígado, rim de rato, reumáticas e mesmo doenças multissistêm icas crônicas
leucócitos humanos). Essas pacientes, com ANA negativo, não reu máticas podem apresentar achado positivo de au-
constituem hoje três categorias: toanticorpos. Pacientes com artrite reu matoide, por exem-
Pacientes com síndrome dos anticorpos anti fosfo- plo, 40% podem ter ANA positivo, e m títulos baixos. O
lípides; achado de ANA positivo, isoladamente, em paciente sem
doença crônica, com ANA positivo previamente, clínica do LES e sem out ros autoanticorpos típicos tam-
mas tratada com corticoides e imunossupressores; bém to rna muito pouco provável o diagnóstico da doen-
pacientes com nefrite grave. ça. Indivíduos jovens normais podem apresentar 37,7% de
ANA positivo no t ítulo de 1/ 40; 13,4% na diluição 1/ 80;
5% a 1/ 160; e 3,3% a 1/ 320, sem significado clínico e sem
explicação clara até hoje. A incidência de resu ltados falso-
I
Quad ro 41.2 Associação entre auto-anticorpos e acha- -positivos aumenta gradativamente em pessoas acima de
dos clínicos no LES 40 anos. Essa po rcentagem é ainda mais alta na população
Ant1corpo Frequência leio) Espec 1f1 Cl(i ade com mais de 65 anos.
Anticorpos contra componentes individuais da cascata
dsDNA 60-90 ++ (altos tftulos)
de coagu lação (fatores VIl!, IX e XII) e contra o comple-
ssDNA 90 - I xo conversor da protrombina têm sido descritos, sendo o
Histonas 50-70 + anticoagulante lúpico e a anticard iol ipina os mais impor-
i tantes. São acompanhados de a lterações laboratoriais
SSA/ Ro 20-60 +
como PTT prolongado ou VDRL falso-positi vo (este últi-
SSB/ La 15-40 + '! mo pode preceder em mu itos anos os sinais e sintomas da
Smith 10-30 ++ :! doença básica). Podem estar presentes tanto na síndrome
RNP 10-30 I do anticorpo antifosfolipídico pri mária (não ligada a do-
+
enças autoimunes) quanto na secu ndária (ligada ao lúpus,
U1RNP 10 + I a quadros lupus-/ike e a out ras doenças). Mais de I / 3 das
Membrana neural 10-15 ++ pacientes lúpicas apresenta-os no soro, mas nem todos de-
Ribossomo P
sencadeiam q uadros oclusivos vasculares ou abortos de
Neurofilamentos I repetição. Ganharam importância constitu indo, inclusive,
28SRNA 8-12 ++ I um dos critérios da atual classificação do LES (1997) revi-
Ku/Ki 10 + I sada e proposta pelo Colégio Americano de Reumatologia.
Os níveis de complemento sérico (total, C3 e C4) es-
Cardiolipina 10-30 - I tão geral mente reduzidos nas fases agudas, reAetindo seu
RA33 + I consumo pelos imu nocomplexos, não sendo esse fenô me-
Fator reumatoide 18 - I no específico do LES. Testes para detecção de imunocom -
++Altamente específico;+ Anticorpo presente em outras doenças auto-imunes; plexos no soro o u depositados nos tecidos são pouco úteis
-Anticorpo presente em outras doenças inflamatórias não auto-imunes. p ara o diagnóstico ou segu imento clín ico dessas pacientes.

Noções Práticas de Obstetrícia


LESE INFERTILIDADE menos tromboembólicos que podem ser intensificados na
vigênciado uso decorticosteroide ou com SA f.
O índice de fertilidade em mulheres com LES é conside- Estudos recentes demonstraram que 35 a 70% de todas
rado normat todavia, há fatores que podem reduzi-lo. (nsufici- as gestações nas mulheres com LES irão evoluir com au-
ência renal grave e uso de altas doses de corticosteroide podem mento no índice de atividade da doença. Em IS a 30%des-
provocar irregularidades menstruais e amenorreia. Tratamen- sas mulheres a atividade será considerada moderada a grave
to prévio com agentes alqu ilantes, em especial a ciclofosfami- (Quadro 4 l.3)Y
da, pode induzir falência ovariana precoce.~ A incidência de fa-
lência ovariana relacionada ao uso de ciclofosfamida depende Quadro 41.3 llmpacto da gestação na atividade do lúpus
da idade de início e da duração do tratamento e, ainda, da dose eritematoso sistêmico
acumulada utilizada. 6•7 No estudo de Boumpas ela/., amenor- Gesta ç ao pro v ave lm ente a um ent a a a t IV 1ri ad1~ rio Iup u s
reia sustentada foi observada em 12% das pacientes com me-
Cerca de 50% das mulheres terão doença ativa durante a
nos de 25 anos de idade, 27%das pacientes com idades entre gravidez. Essa atividade será. com mais frequência, leve a
26 e 30 anos e 62%das pacientes com mais de 31 anos.8 moderada. Cerca de 15 a 30% das mulheres terão o lúpus
muito ativo na gravidez.
Man1festnçoes ele at1v1dade ma1s frequentes durante
EVOLUÇÃO DA GRAVIDEZ a gestacao

Cutâneas
A gravidez deverá ser planejada e deve-se considerar a Articulares
atividade e a gravidade da doença, além da toxicidade dos Hematológicas
medicamentos em uso. Poderá ser contraindicada em ca- Fatores de 11sco de aumento ela atiVIdacle do lupus
sos de nefrite cm atividade.9· 12
O LES interfere na evolução da gravidez em três pontos Doença ativa nos seis meses que antecedem a concepção.
Vários perfodos de ativação da doença nos anos que ante-
principais: aumenta o risco de perda fetal por hipertensão cedem a concepção.
ou insuficiência renal (IR) maternos; pode causar bloqueio Descontinuação da hidroxicloroquina.
cardíaco no concepto; au menta o risco de aborto e rotura
Adaptado de Clowse 12007).9
prematura de mcmbranas. 10
O risco de aborto é mais alto, mesmo em pacientes sob
controle clínico, e torna-se especialmente elevado naquelas A gestação nas pacientes com LES deve ser considera-
com sínd rome do anticorpo antifosfolípide (SAF),9.12·13 hi- da de alto risco e necessita de acompan hamento multidis-
pertensão arterial ou insuficiência renal. A taxa de morte fe- ciplinar até o puerpério. Na mulher grávida podem ocorrer
tal intrauteri na é cinco vezes mais alta do que na população eritema palmar e facial, artralgias e elevação da velocidade
geral. Doença renal ati va e hipertensio arterial da mãe são, de hemosscdimentação, dificultando o diagnóstico dife-
por si sós, fatores pred itivos de perda fetal e de resultado ges- rencial com a atividade do LES. A gravidez pode induzir
tacional desfavorável.9-11 A prematuridade poderá ocorrer trombocitopenia, simulando atividade do LES, e não será
em 33%das gestações e pré-eclâmpsia em mais de 20%. Há útil para diferenciar entre as duas cond ições. .I: importante
aumento da incidência de crescimento intrauterino restrito a pesquisa dos anticorpos antifosfolípides e do anti-Ro/
(C! U R) e diabetes. Hipertensão, uso de corticoide à época SSA e antiLa/ SS B, devido à possibilidade de sínd rome an-
da concepção, doença ativa durante a gravidez, proteinúria tifosfolípidc c lúpus nconatal, respectivamcntcY- 10
nefrótica e presença de SA F estão associados à prematuri- A maior dificuldade surge quando é necessário diferen-
dade. São f.1tores de risco independentes para perda gesta- ciar a atividade do LES de pré-eclâmpsia. Hipertensão arte-
cional a protcinú ria, trombocitopenia, hipocomplemente- rial, proteinú ria e trombocitopen ia poderão ser constatadas
nemia e hipertensão no primeiro trimestre.9 ' 12 em ambas as situações. Proteinúria discreta (até 300 mg/ 24
As alterações nos mecan ismos de controle da coagula- horas) pode ocorrer em gravidez normal, sem que isso indi-
ção que ocorrem durante a gravidez vão manter a paciente que doença. Todavia, aumento significativo na proteinúria
em estado de hipercoagulabilidade, predispondo aos fenô- é sinal de alerta, especialmente diante de hipertensão.9• 1 ~

Doenças Reumáticas 653


As manifestações da pré-eclâmpsia surgem, geralmen- ACOMPANHAMENTO P RÉ-NATAL
te, de forma aguda, entram em remissão após o parto c não
estão associadas às demais alterações do LES. A etiologia A monitorização dessas pacientes deve ser frequente,
lúpica será considerada quando a pré-eclâmpsia surgir bem como o acompan hamento sistemático, na busca de
mais precocemente, de fo rma menos aguda, e com anticor- sinais de atividade do LESou de complicações da gestação
pos antinucleares (FAN) positivos. (Quadro 4 1.5).
Na ava liação da proteinúria as segui ntes situações in-
d ica m o d iagnóstico de glomerulonefrite: sinais clínicos I
Quadro 41.5 Monitorização da paciente lúpica grávida
de ativid ade do LES; queda dos níveis séricos de comple-
Fruquerlcrd SucJerrda Teste
mento; surgimento de anticorpos a ntiONA nativo o u o
aumento dos seus títu los; he matú ria. 4 Na pré-eclãm psia, Primeira visita Hemograma completo*
Urina rotina
a trombocitopenia, a elevação d e transaminases e a evi-
Urocultura
dência de hemólise intravascular no sangue periférico Teste de Coombs
tendem a ser mais exageradas do que o normal mente VDRL
observado na atividade lúpica. Complemento sérico PTT
norma l sugere pré-eclâmpsia. O Quadro 41.4 resume Clearance de creatinina
Proteinúria de 24 horas
os achados laboratoriais e clínicos na pré-eclâmpsia e na
Anticorpo anticardiolipna
nefrite lúpica.9•14 Anticoagulante lúpico
Anticorpos anti-SSA/Ro e SSB/la
Anticorpo antiDNA
Quadro 41.4 1Comparação entre pré-eclâmpsia e nefrite
Complementos (C3 e C4 ou CHSO)
lúpica
Mensalmente Plaquetas I
L,liJur dtorru e Pr e l!t idlll psrd Nefrrtt• ltrprt .t
t:ilfll( d Trimestralmente Clearance de creatinina
Proteinúria de 24 horas se o exame
C3. C4. CHSO Pode estar baixo Quase sempre baixo
de urina rotina estiver alterado
Uriná lise Hematúria é raro Hematúria é frequente Anticorpo anticardiolipina
Complemento
Inicio da
proteinúria
Geralmente
súbito
Gradual ou súbito
Anticorpo antiDNA l
Entre 18 e 25 semanas Ecocardiografia fetal
Transaminases Podem estar Geralmente normais
aumentadas (mães com anticorpos
anti-SSA/Ro e
Quantidade de Semelhante Semelhante anti-SSB/la)
proteinúria
Terceiro trimestre Dopplervelocimetria obstétrica I
Trombocitopenia Semelhante Semelhante (para mães com com 26 semanas (a repetição do
Hiperuricemia Semelhante Semelhante anticorpos exame e os intervalos dependerão
antifosfolfpides) das alterações encontradas e dos
Hipertensão Semelhante Semelhante fatores de risco)
Sammaritano & Lockshin (2001)." Cardiotocografia basal anteparto
semanal, a partir de 28 semanas**
Perfil bioflsico fetal após 28
semanas I
Em resumo: o surgimento ou piora do rash cutâ-
Adaptado de: Sammaritano & Lockshin (2001 )."
neo associado a li nfade nopatia, artrite, febre, a nticorpos
·A hemossedimentação está frequentemente alterada em gravidez não
antiDNA e redução dos n íveis de complemento são fortes complicada e não é utilizada como controle.
razões para se considerar as alterações u ri nárias e hema- • • A avaliação de cardiotocografia basal anteparto e perfil biotrsico fetal
deverá ser individualizada caso a caso, dependendo das alterações encon-
tológicas como sendo secundárias à ativid ade do LES.9· 14 tradas com a evolução da gravidez.

654 Noções Práticas de Obstet rícia


Geralmente, os critérios para tratamento não diferem à síndrome de Sjogren secundária em menos de 1%dos ca-
daqueles usados para pacientes que não estão grávidas. A sos.18 A mães assintomática apre entam risco de de en-
opção pelo uso de anti-inflamatórios ou imunos upres o- volver mani festações clínicas de doenças autoimuncs no
re é re trita e leva em con ideração o risco fetal e o benefí- decorrer de sua vida, particularmente sínd rome Sjogren e
cio materno. Anemia (hemoglobina<8,0 g/dL), febre per- LES. 16 Parece que as crianças que receberam diagnóstico
sistente (>38,5°C) e hipoalbuminemia (albumina < 3,0 g/ de LNN também têm risco levemente aumentado de de-
dL) merecem trata mento mais agre sivo na paciente grávi- senvolvi mento de doença autoimuncs em fases tardias da
da do que na não grávida, porque essas anormalidades vão infância ou durante a fase adulta. Martin et a/. acompanha-
intcrferi r no crescimento fetaI. ra m 49 crianças com es e diagnóstico e puderam ob erva r
A ,ttividade do LE por si só não indica interrupção o desenvolvimento de doença em sete delas, por volta do
da gravidez. As complicações maternas que vão definir o 12 anos de idade: artrite idiopática juvenil, tireoidite de
término da gestação, apesar da imaturidade fct:tl, são mais Hashimoto, hipotireoidismo congênito com síndrome ne-
fortemente relacionadas a complicações da gravidez do frítica, artralgia com FA po itivo, p oria e e irite e diabete
que à atividade lúpica: pré-eclãmpsia, síndrome HELLP mellitus tipo I com psoría c.19
(hemo/ySIS, elevated Ir ver CIIZJ111es, l01il platelets) e trombocito-
penia isobda grave. A gravidez pode conti nuar dia nte de
insuficiência renal grave (inclusive sob diálise), trombo- LESÕE'i Cu rà EAS
citopenia leve ou tratada e doença neurológica materna/
embora o prognóstico de as ge tações não seja bom. A pele é o órgão mais frequentemente acometido. As
O uso de anticoncepcionais nas lúpicas pode ser ad- lesões cutâneas são transitórias e muito emelha ntes às ob-
mitido para mulheres com doença inativa ou estabilizada servada no lúpu eritemato o cutâneo ubagudo, motivo
como leve a moderada, em h i tória prévia de tromboem- que deu nome à síndrome. urgem poucas semanas após o
bolismo venoso ou artcri,tl, par:t as não fumantes c norma- parto, mas podem já estar presentes ao nascimento. Apre-
tensas. Para contracepti vos combinados, usar doses míni- sentam-se como máculas ou pápula · eritematosas anulare
mas de etini lestrad iol (<35 ~tg) e evitar pílulas de tercei ra ou descamativas. Podem ter curso policíclico. Regridem
geração contendo de oge trel ou ge todene, que podem e pontaneamente, em geral, até os seis meses de idade, sem
::tumenta r o risco de tromboembolismo venoso. Conside- deixa r cicatrizes. Entretanto, em uma minoria das crianças
rar a possibilidade de contraceptivo contendo apen::ts pro- podem persistir teleangiecta ia .
gestínicos.15

L ESÕES CARDÍACAS
LÚPUS NEONATAL
As alterações cardíacas exigem eguimento mais de
Lúpus neonatal (L ) é uma sínd rome que acomete perto c inspiram mais cuidado . A incidência estimada de
o recém-nascido, desencadeada pela passagem transpla- bloqueio cardíaco congénito (BCC) na população geral é
ccntária de anticorpos maternos do tipo IgG, anti- SA/ de cerca de I/ 20.000 na cimentos (0,005%). A incidência
Ro e/ou anti-SSB/ La e, mais raramente, antiU I RN P. Ma- cm filhos de pacientes com LES varia de 0,6 a 2,7%, en-
nife ta- e por lesões cutâneas, bloqueio cardíaco congêni- quanto em filhos de pacientes lúpicas com anticorpos anti-
to (BCC), citopenias e doença hepatobi Iiar.16·17 -Ro/ A va ria de I,S a 259o, em média, em torno de 7,2"o.
o momento do diagnóstico do LES neonatal, en- O risco da recorrência de bloqueio átrio-ventricular (BAV)
tre 33 e 50% das mães que tiveram filhos com L são em uma gravidez subsequente é de 12 a 16%. 17
assintomáticas. Apresentam anticorpos circulantes sem O BAV total (BAVT) pode erdetectado ainda intrall-
doença. O utras, porém, podem exibir doenças reumáti- tero e está associado a au mento de mortalidade e morbida-
cas autoimunes: síndrome de Sjogren (20%), L.E (18%), de. Aproximada mente IOa 30% dos neonatos com BAVT
uperpo ição LES/ Sjogrcn (7%), doença do tecido con- morrem antes do nascimento ou duran te o trabalho de
juntivo não definida (18%) c artrite reumatoide associada parto e, dos demais, a maioria va1 requerer marca-pa o.

Doenças Reumáticas sss


O bloqueio cardíaco congênito completo desenvolve-se lar. Se as lesões forem leves, não há necessidade de trata-
no segu ndo trimestre da grav idez e traduz-se, semiologi- mento específico. Manifestações como trombocitopenia
ca mente, por bradi ardia estável que pode ser detectada e a nemia he molítica podem er tratadas com cort icoide,
por método não inva ivos (ex.: ultras onografia, doppler, na d ependência de ua gravidade. o caso do BCC, para
ecoca rdiograma, cardio tocografia). O bloqueio pode ser o tratame nto do processo infla mató rio no tec ido fetal,
isolado ou esta r a · ociado a o utras lesões cardíacas, como recomenda- e o u o de corticoide não metabolizado
mio ardite, pcricardite, defeitos septais, persistência do pela II -beta dehidrogenasc placentá ria, como a bcta me-
dueto arterioso. O utros defeitos de condução também têm taso na o u a d cxamctasona. ão h~\ na lite ratura ca os d e
sido de crito :bloqueio átrio-ventricular de pri meiro g rau, reversão do BCC com o tratamento, mas há descrições
fe nômeno de Wenckenback e bloqueio de ramo. Existem de melhora de bloqueios incompletos e d a miocardite. 22
relato de BAV de primeiro grau que de apa recem e po n- H á relato de s uce so com a implantação de marca-passo
tanea mente, mas, uma vez instalado o BAVT, este é irre- feta l intraútcro d iante de brad icardia e de f.1lência ca rdí-
ver ívcl. Ecoca rd iografia criada deverá er realizada entre aca. As indicações para colocação do marca-passo são
16 e 30 semanas de gestação (especialmente entre 18 e 24 bradicardia < 50 bpm, intervalo QT prolongado c a la r-
emanas) e pode detectar bloq ueio incompleto o u disfun- gamento do complexo QF.. .
ção do miodrdio.161 " Esse bloqueio é identificado no fi nal A ad ministração de predn isona à mãe no in ício d a gra-
do egundo trimestre, quando o trata mento intrautcrino videz não previne o desenvolvi mento do bloqueio cardía-
ainda é possível. co e não há justificativa para qualquer tipo de terapia pro-
fi lática. ão há indicação do emprego de pia maferese o u
imunossupressores no tratamento intraútero do bloqueio
ÜUTRA A LT LRt\ ÇÓES cardíaco de terceiro grau. 1" O s anticorpos anti-SSA/ Ro c
anti- B/ La não são transferidos pelo leite matcrno.U
Doença hcpato biliar surge cm aproximadamente 10%
da crianças com L , geralmente associadas a alteraçõe
cutâneas o u cardíaca . Três são as forma de apresentação: SíNDROME DOS ANTICORPOS
insufic iência hepática intraútero ou imediatamente após o ANTIFOSFOLÍPIDES
parto, revela ndo-se como hcmocromatose neonatal; coles-
tase com hipcrbilirrubi ncmia conjugada e di c reta altera-
ão da transaminase , que surge alg umas semanas após o Os anticorpos a ntifosfolfpides (A FL) ão um a fa-
na cimento; manifestação ma i tardia, que surge sema nas m ília de autoanticorpos dirigido contra complexos de
a me cs após o nascimento, com elevação tra nsitória das fosfolípides combinados com proteínas plasmáticas. A
tran aminase!..18 prc en a des c autoa nticorpos e tá relacionada à d iá-
A citopenia mais o b ervada é a plaqucto pc nia. Podem tese trombó tica, causando principalmente trom boses
ocorrer ai nda neutropen ia, ane mia hemolítica ou pa ncito- venosas o u a rteriais recorrente e perdas fetais. Outras
penia. Acomete até 10%das crianças, tende a ser tra nsi tó ria m anifestações associadas aos AFLs são t rombocitopc-
c a recuperação é completa.'- O envolvi mento do sistema nia, a nemia hemolítica e lesões c utânea , endo olivedo
nervo o central no L é q ue tionávcl. Há de crição de reticular a m ais comum. Es cs achados clínicos, d iante
macrocefalia c hidroccfa lia, que tendem a se normal iza r de AFL defi nem o d iagnóstico de síndrome do a nticor-
com o tempo. 2021 po antifo folípide (S A F).HH
ASA Fé, porta nto, causa tratável de perda ge racional
(fetal, no período embrionário o u pré-embrionário), rc-
TRAT ME TTO lacionnda à presença de anticorpos con tra fo folfpidc d a
membrana celular. As perda fe tai tendem a cr recorren-
O trata mento do L depende da forma de apre- tes e podem acontecer em qualquer período de gestação;
sentação. O q uad ro cutã neo habit ua lmente é tratado no entanto, perdas tardias (no segu ndo e terceiro trimc -
com corticoidc tó pico e prevenção da exposição à luz so - trcs) são mais frequentes.

Noções Práticas de Obstetrícia


CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS podem ocorrer em qualquer estágio da gestação. O risco
de perdas subsequentes é cinco a 20 vezes mais alto.
A SAF é reconhecida, atualmente, como a t rombo- A fu nção trombogênica dos anticorpos ant ifosfol ípides
filia adquirida mais comum. Deve ser considerada no relaciona-se ao seu efeito geral sobre as plaquetas, sobre as
d iagnóstico diferencial de tromboses arteriais e venosas células do endotélio, os mecanismos de coagulação e as
recorrentes, bem como nas perdas fetais de repetição e pré- vias fi brinolíticas. Exercem ação local no trofoblasto e nas
-eclâmpsia precoce. D e acordo com o critério estabelecido células vilosas, levando à redução da produção de anexinas
na Conferência Internacional sobre Anticorpos Antifosfo- V, além de inibir sua fu nção anticoagulante. Esses anticor-
lípides realizada em 1998, em Sapporo, o diagnóstico de- pos podem interferir na formação de prostaglandinas ou
finitivo de SAF é considerado quando há no míni mo um na sua liberação da parede dos vasos.
critério clínico e um laboratorial (Quadro 41 .6). O anticorpo anticard iolipina, in vitro, prolonga a eta-
pa da coagulação dependente de fosfolípides, competin-
Quadro 41.6 1Critérios para a classificação de SAF do com os fatores da coagulação que se liga m ao fosfo -
lípide: proteína C, p roteínaS, protrombina e anexi na V
Cntenos Cllnlcos
Desse m odo, interfe re na m anutenção da coagulação,
Trombose vascular ativa as células endoteliais, estimula a produção de subs-
Um ou mais episódios de trombose arterial, venosa ou de
tâncias pró-coagulantes pelos monócitos e a agregação
pequenos vasos em qualquer órgão ou tecido, confirmada
por doppler ou exame histopatológico. plaq uetária, interage com a anexi na V da placenta e ativa
a cadeia d e complemento. Todos esses fatores estão rela-
Morbidade Gestacional cio nados à perd a fetal. A ativação da cadeia de comple-
Uma ou mais mortes de feto morfologicamente normal. mento é etapa necessária e parece ter importante papel
com mais de 10 semanas de idade gestacional.
no mecanismo patogênico da perda gestacional. Os anti-
Um ou mais nascimentos de feto morfologicamente nor-
corpos antifosfolípides também podem interferir na fase
mal, com 34 semanas ou menos, devido a pré-eclâmpsia/
eclâmpsia ou crescimento intra-uterino restrito. de implantação do ovo, desencadeando perdas no perío-
Três ou mais abortamentos espontâneos, antes de 1O do p ré-embrionário. 24
semanas de idade gestacional. com causas cromossõmi- O bserva-se, geral mente, a elevação dos títulos de am-
cas ou maternas excluídas. bos os anticorpos: anticardiolipina (aCL) e anticoagulan -
Cnter1os Laboratona s te lúpico (aL). Recente metanálisé s avaliou a relação dos
diferentes anticorpos antifosfolípides (aCL, aL e beta 2
Anticorpo anticardiolipina lgG ou lgM em títulos modera-
glicoproteína I) com perda fetal recorrente em mulheres
dos a altos em, pelo menos, duas ocasiões. com intervalo
mínimo de seis semanas entre as amostras. sem doenças autoimunes. A associação mais forte ocor-
Anticorpo anticoagulante lúpico positivo. reu entre aL e perda fetal antes de 24 semanas. Ambos os
isotipos da aCL (IgG e IgM) também estavam associados
SAF = síndrome de anticorpos antifosfolípides
à perda feta l antes de 24 semanas. Essa associação não foi
demonstrada com a beta 2 glicoproteína I. Baixos títulos de
aCL não au mentam risco de eventos quando comparados
MANI FESTAÇÕES C LÍNICAS com testes negativos. Por outro lado, é elevado o risco de
complicação associada a esse anticorpo, particularmente o
Na gravidez, os anticorpos antifosfolípides estão asso- isotipo IgG, em títulos médios a altos, ou ao aL.
ciados à pré-eclâmpsia, CIU R e sofrimento fetal, levando Os níveis de anticorpos podem fl ut uar, apresentando
ao parto pré-termo ou óbito fetal. O s AF Ls provocam vas- variações espontâneas entre períodos grávidos e não grá-
culopatia das arteríolas espiraladas, levando a trombose e vidos e durante u ma mesma gravidez. Parece haver asso-
infartos placentários múltiplos. A consequência é insuficiê- ciação entre esses anticorpos e infertilidade, interfe rindo,
nica do flu xo útero-placentário, causando perdas fetais que inclusive, no sucesso da fertilização in vi tro. 23

Doenças Reumáticas
657
FISIOPATOLOGIA DA PLACENTA MULH ERES COM ANTECEDE TES PR ÉVIOS
DE ABORTAMEN TO DE REPETIÇÃO NO
Em relação às perdas fetais, acredita-se que o mecanismo PRIMEIRO TRIMESTRE
principal seja a trombose de vasos placentários. A. perda fetal
na SA.F é preced ida por crescimento intrauterino restrito, oli- Ind ica-se o ácido acetilsalicílico (A.AS) 100 mg/ d ia
godrâmnio e sinais de hipóxia fetal. Todas essas alterações são isoladamente para as pacientes que não preencham es trita-
causadas por insuficiência útero-placentária atribuída à vascu- mente o critério de ab ortamento de repetição (três ou mais
lopatia que envolve os ramos terminais das arteríolas espirala- perdas consecutivas de primeiro trimestre). Se a gestante
das que nutrem o espaço interviloso da placenta. Há restrição apresentar antecedentes de abortamento, mesmo em uso
ao Auxo sanguíneo materno para o espaço interviloso, que de AAS em ba ixa dose, indica-se a associação de hepari na
limita a troca gasosa, e de nutrientes entre os compartimen- não fracionada 5.000 UI, por via subc utânea, a cada 12 ho-
tos materno e fetal. Todavia, não há quadro histopatológico ras, diariamente, a partir do teste de gravidez positivo, até
específico e patognomônico de SA.F. As artérias da decídua pelo menos o final do pri mei ro trimestre.
apresentam d iâmetro reduzido, com espessamento da ínti ma,
necrose fibrinoide, infiltrado mononuclear e trombose intra-
luminal, associado à vasculopatia das arteríolas espiraladas. MuLH ERES coM A ncoRPO Pos i TIVO,
Não há evidência de trombose intravascular no feto 26 A TECEDENTES PRÉV IOS DE PERDA FETAL
Mecanismo alternativo proposto seria o deslocamento DE SEGU DO OU TERCEIRO TRLMESTRE OU
de anexina V de seus sítios de ligação nos fosfolípides pla- GESTAÇÕES COM EVOLUÇÃO ADVERSA
centários. A anexi na V - que pode ser classificada como
um cotàtor placentário - é um anticoagula nte natural pre- Indica-se AAS 100 mg/ dia e 5.000 U I de heparina
sente na placenta. Os AFLs compet iria m com a anexina V não fracionada, subcutâ nea, a cada 12 horas, durante
pela ligação com os sítios placentários. 23·24•26 todo o período gestacional. É importante confirmar q ue
as complicações adversas da gestação anterior ( prema-
tu ridade, p ré-eclâmpsia, crescimento in trauterino restri-
ABORDAGEM TERAPÊUTICA to e outras) sejam consistentes com a SAF, evitando-se
tratamentos desnecessários. Se for usada a enoxapari na,
O aconselhamento ao casal em relação a riscos clínicos recomendam-se 40 mg/ d ia até a 12• semana e, a partir
e obstétricos é muito importante, informando que o trata- daí, 40 mg de 12 em 12 horas o u deltaparina 5.000 UI,
mento adequado da SAF durante a gravidez pode melho- no mesmo esquema. O tratamento deve ser iniciado após
rar de forma significativa a evolução da mesma tanto para a confirmação da gestação e deve con tinuar até 4 8 h o-
a mãe quanto para o feto. Admite-se que o risco de perda ras antes do parto programado (para permitir bloqueios
fetal em pacientes com SA.F não tratada durante a gravidez anestésicos). Rei n iciar quatro horas após o parto e manter
esteja em torno de 80%Y por ma is seis semanas.
O tratamento tem como objetivos: preven ir trombose e
suas complicações: melhorar o Auxo placentário; e reduzir
o risco de perda fetal. O tratamento de escolha para a SA.F MULHERES COM ANTECEDENTES PR ÉV IOS DE
é a anticoagulação. Está indicada durante a gravidez p ara TROMBOEM130LISM O EANTLCORPO POSITIVO
mu lheres com história prévia de perda fetal atribuída à SAF.
Não deve ser utilizada no tratamento profilático de indiví- Para todas as gestantes com antecedentes prévios de
duos assi ntomáticos, mesmo na presença dos AFLs. 23•28 fenôme nos tromboembólicos indica-se o uso de AA.S 100
Em casos refratários ao tratamento com o esquema citado, mg/ dia e 5.000 U I de heparina subcutânea a cada 12 ho-
o uso de imunoglobulina endovenosa tem sido ponderado, ras, até seis semanas pós-parto.
sempre associado à terapia antiagregante e anticoagulante. 28

658 Noções Práticas de Obstetrícia


~~ liii:.RES A . I TOMÁTICAS, CO I A T ICORPOS a sensação de bem-esta r atinge o seu pico próximo do térmi-
ANTIFOSFOLÍP IO E. IRC ULA 'TI:. . no da gravidez. Não há como definir qual grupo irá evoluir
com mel hora durante a gravidez. Essa rc posta indcpcnde
ão há consenso sobre a abordagem terapêutica. Há de fator reumatoide, do tipo de envolvi mento articular, da
autores que recomendam o uso de AA 100 mg/ dia para duração da doença, do número de fi lho ou do sexo do feto.
toda~ a gestantes com anticorpos antifosfolfpidcs ci rcu· O comportamento da AR em uma gr,tvidez anterior nao
Jantes. O utros sugerem que o uso de AAS cm baixa dose prediz o que vai ocorrer em uma nova gestação. Se há ativa-
promove os mesmos resultados gestacionais das mulheres ção da A R em uma gravidez, pode haver remissão em uma
não tratadas. Ressa lta· e que anticorpos anticardiolipina gestação futura. Uma experiência de reativação no período
positivos em baixos títulos podem ser encontrados em pós-parto não prediz nova piora após uma nova gravidez.
aproximadamente 7,5% da população normal e tal achado O mecanismo que leva à melhora clínica que as gestan-
não está associado necessariamente a efeitos deletérios ma- tes com A R experimentam ainda é um enigma, mas certa-
terno ou fetai .24 z·.z9 mente é multifatorial e envolve va riaçõc hormonais c imu-
nológica . Pode ser que o aumento da concentração sérica
de estradiol, 17-alfa hidroxiprogestcrona c 11-desoxicorti-
TRATAMEN TO APÓS O PARTO sol durante a gravidez, desencadeiem efeito anti-i nflama-
tórios e imunossupressores. A prolactina, considerada um
Por causa do risco de trombose, é prudente que a anti- imunoestimulador, seria a responsável pela indução/ reati-
coagulação seja mantida por seis a 12 semanas após o par- vação da ARno período pós-parto. 31
to e interrompida gradualmente. Se desejado, a conversão A artrite reumatoide não interfere na fertilidade e
de heparina para warfarin pode ser feita após uma a duas não aumenta a incidência de abortamento ou de parto
semanas do parto. O aleitamento é autorizado com o u o pré-termo. As pacientes com comprometimento da coluna
de AAS, heparina ou warfarin. Contraceptivos orais com cervical podem apresentar risco de luxação atlas-axis no
cstrogênios são contra indicados na SA F. 21 momento da intubação, se for realizada anc tesia geral. O
feto de mãe com AR geralmente não corre riscos, exceto
nos casos em que a mãe tem o anticorpo anti-Ro ou antiLa,
ARTRITE R E UMAT OIDE predispondo, assim, ao surgi mento de bloqueio cardíaco. O
risco de fenômenos tromboembólicos é baixo, consideran-
Artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória do-se que é rara a associação de antifosfolípide e AR.3132
sistêmica que se caracteriza por dor, edema e rigidez de
articulações inoviais, associada a queixas de fraqueza e
queda do estado geral. Com distribuição simétrica, pode ESCLE ROSE SISTÊ MICA
comprometer qualquer articu lação. Manifestações extra-
-articulares podem complicar o curso da doença e, even- Trata-se de doença do tecido conjuntivo, de causa des-
tualmente, piorar o prognóstico: nódulos subcutâneos, conhecida, que compromete a pele, o trato gastroi ntestinal,
sero ite, doença intersticial pulmonar, vasculite e compro- os ri ns e pu lmões. Descrições de gestação têm sido pouco
metimento ocular.10 frequentes na E clerose Sistêmica (ES), devido à baixa pre-
Desde as primeiras descrições de casos de A R nota-se valência da doença, ua potencial gravidade e ua ocorrên-
que há melhora nos sintoma durante a fa e gcstacional, cia predominante a partir da quarta década de vida. ll
eventualmente levando à remissão. Estudos prospectivas e A gravidez de uma mulher com ES, de forma geral, deve
retrospectivos têm demonstrado melhora da atividade in- ser considerada de alto risco, principalmente pela ocorrên-
flamatória em pacientes com AR durante a gestação. 11·.l2 Em cia mais frequente de nascimentos pré-termo . ão e ob-
torno de três quartos das mulheres grávidas com A R a doen- erva m alterações da fertilidade de a pacientes quando
ça melhora no primeiro ou no segundo trimestre. As demais comparadas à população geral. Há consenso de que o es-
têm a doença persistentemente ativa ou até pioram durante a tado da doença tende a permanecer inalterado com a gra-
gestaçãoY Nota-se redução da necessidade de analgésicos e videz. O fenômeno de Raynaud pode melhorar, enquanto

Doenças Reumáticas 6sg


a artralgia e o si ntoma decorrentes do refluxo gastroe o- ESPONDILOARTRITES
fágico tendem a piora r. Geralmente, não há significativa
deterioração pulmonar c de outro órgãos. 14· 1' Este é um grupo de doenças ca racterizada~ por dor c
As pacientes com cardiomiopatia grave, doença pul- rigidez da coluna vertebral c artrite periférica, que frequen-
monar restritiva, insuficiência renal ou índrome de má- temente acomete adultos jovcn e adolescente c há impor-
-ab orção intc tina! têm pior prognóstico na gravidez e ta nte associação com o H LA 1327. Evolui com retilicação
devem ser desencorajadas a engravidar. da lordo c c perda da mobilidade da coluna lombar.1-
A pré-eclâmp ia pode ser uma complicação, surgi ndo de Multíparas com cspondi loartrite (EA) podem apre-
modo abrupto c com gravidade va riável. Sua frequência não sentar instabilidade da articulação sacroilíaca c até sublu-
c tá ignificativamente aumentada nas paciente com E c xação. Artrite periférica pode ocorrer em 20 a 0% do ca-
cu ma i importante diagnóstico diferencial é com a crise re- sos c ainda pode haver altcraçõc oculares (uvcítc a ntcrior),
nal, que é a mais éria complicação da enfermidade. A cri e fibro e pulmona r, in uficiên ra aórtica c defeito de condu-
renal caracteriza- e pelo urgimcnto abrupto de hipertensão ção cardíaca.
arterial c protcinúria, geralmente por volta do terceiro tri- O comportamento da EA durante a gravide? é diferen-
mestre, e pode o a ionara morte materna. Uma da mel ho- te daq uele da artrite reu matoidc. Pacientes com EA não ex-
res maneiras de diferenciá-las é a partir da medida da ativi- perimentam remissão do quad ro e, muita vczc~, apre cn-
dade da renina pia mática, que, geralmente, c tá aumentada tam piora do sintoma no egu ndo e terceiro tnmestre ,
na ES; c normal ou reduzida na pré-eclâmp ia primária. Por com m.wifc tações de dor lombar, rigidez matinal, dor no-
e te motivo, deve lu ver, desde o início do pré-natal, uma mo- turna c aumento da necessidade de anti-inAa matório não
nitorização da prc são arterial, exame do clenrmrce de creati- hormonal (A I NH). Dor lombar e aumento de velocidade
nina, urina de rotina, protci nllria de 24 horas, assim como o · de hemos edimentação cm grávidas não devem cr inter-
procedimento adequado para o eguimcnto fetal. 16 pretados como sinais de atividade da doença, poil:. podem
As alterações cutâneas de fibrose e vasoconstrição fazer parte das alterações fisiológicas da gravidez.
podem dificultar o manejo da paciente grávida e também ão se observa interferência na fertilidade ou no
do feto. Pode haver redução da expansão da parede abdo- prognó tico fct:tl. Os estudo não informam aumento de
minal e da pelve, dificuldades de palpação abdominal, do tendência ao aborto c pontã neo, parto pré-termo ou nati-
acc so veno o e da aferição de pre são arterial. A atrofia do mortaIid:tde.r,lb
aparelho genital pode resultar em constrição vaginal, difi- O tr.ltamento tem por objctivos a redução da dor com o
culta ndo o parto normal. 16 uso de analgésicos e AI H c a manutenção da expansibili-
A ane te ia pcridural é preferível à geral, obrctudo na- dade torácica e da mobilid:tde lombar com exercício c natJ-
quela pacientes com déficit na rc~crva card íaca, pulmo- ção.Aanquilo e da arti ulaçõe acroilíaca podcrálevarà
nar e renal. Há, amda, a dificuldade de intubação, devido opção pelo parto abdominal. Se houver comprometimento
à reduzida dimensão do orifício buc.1l (microstomia), bem da coluna cervical, pode haver dificuldade de oxigenação;
como o risco de aspiração, pela dismotilid.1de esofágica. e se a coluna lombar estiver retificada, com calcificação de
Devido ao fenômeno de Raynaud, a sala de parto e as com- ligamentos, a anestesia pcridural crá mai difícil. ,- 1 ~
pres as devem cr aquecidas, as im como a paciente deve
ter a extremidades agasalhadas com luvas e meias. Não há
problemas de cicatrização caso haja indicação de ce ariana. LOMBALGIA
O agrava mento do refluxo gastroe of.igico pode ser com-
batido com aconscl h.1mento postural, mcd idas dietéticas cu o Dor lombar é queixa freq uente entre mu lheres grávi-
do antiácido , que podem incluir os bloqueadores da bomba da , em geral secundá ria a au mento da lordosc c à redução
de prótons. Para o trJtamento do fenômeno de Raynaud c hi- do tónu da mu culatura .1bdom inal, levando à obrecarga
pertensão pulmonar, o uso de nifedipina é seguro durante a do mll culos e dos ligamento da colu na lombar. Essas
gravidez. o caso de crise renal com risco de vida para a mãe, manifestações se tornam mais evidentes se há, nessa re-
os inibidores de enzima conver ora da angioten ina, apesar do gião, alteração prévia à gravidez (c pondilite anquilo ante,
ri co de teratogenicidade,são o medicamento indicados. doença d iscai degenerativa, cscolio e e outras). 19

660 Noções Práticas de Obstetricia


No segundo o u tercei ro trimes tre, as alterações hor- MEDICAÇÕES ANTIRREUMÁTICAS NA
mo nais vão promover relaxamento da pelve, ind uzindo GRAVIDEZ E NA AMAMENTAÇÃO
alterações nas artic ulações sacroilíacas e na sínfise pú-
bica. Po de h aver dor e instabilidade nessas articulações,
particula rme nte aos esforços. Durante o exame da bacia O uso de medicamentos antirreumáticos durante a
notam-se pontos dolorosos sobre essas artic ulações e gravidez deve levar em conta seus efeitos maternos e fetais.
sua mobilização também va i desencadear dor, por vezes O objetivo é a melhora da atividade da doença, mas devem
intensa, que pode im ped ir a marcha. É possível q ue haja ser considerados os efeitos adversos sobre a mãe, o poten-
dor sobre po ntos de inserção de tendões, especialmente cial teratogên ico, os efeitos sobre o desenvolv imento fetal e,
no arco do púbis. O trata mento con servad or com re- ainda, na fase de aleitamento, os efeitos imediatos e ta rd ios
pouso e a nalgesia, pelos med icamentos o u med idas fí- sobre o neonato. A maioria dos dados sobre gestação em
sicas, pode ser suficiente. Em casos de dor mais in tensa, condições reumáticas autoi munes é originária de análises
o uso de corticosteroides pode ser úti l. Não há impedi- ret rospectivas, mas alguns estudos prospectivas envolven-
mento ao parto vaginal.40 do o uso de medicamentos antirreumáticos foram real iza-
Pode ser observada dor no cóccix (coccidinia), es- dos nas duas ú ltimas décadas. No entanto, esse campo per-
pecialmente após partos prolongados. A dor do cóccix ma nece com poucos estudos clínicos randomizados 40.4 1
irrad ia-se para a região lombar, piora ao subi r escadas ou A suspensão profilática do medicamento, quando se
durante a evacuação. Exame local cuidadoso pode afastar planeja uma gestação, é mandatária em pacientes em uso
abscesso e lesões ósseas. Uma almofada em anel é útil para de lefluno mida, metotrexato e ciclofosfamida. Este ta m-
assentar-se. Pode haver remissão espontânea após alguns bém é o proced imento para aquelas que fazem uso de
meses e o uso e medidas físicas, anti-in flamatórios não abatacepte e rituxi mabe. Os inibidores do fator de necrose
hormonais ou infiltração com corticosteroide e anestésico tu moral poderão ser continuados até a concepção.40
pode ser útil. M ulheres usando heparina na prevenção de complica-
ções da síndrome do ant icorpo ant ifosfolípide durante a
gravidez devem tomar as medidas para prevenção de perda
CONTRACEPÇÃO de massa óssea e utilizar suplemento de cálcio e vitamina D .
Durante o aleitamento materno, sulfassalazi na, h i-
A variedade disponível de métodos contraceptivos per- droxicloroqui na e baixas doses de prednisona podem ser
mite que a maioria das pacientes com doenças reumáticas utilizadas. Se for necessário o uso de pred n isona em doses
escolha um que seja eficiente e seguro. superiores a 20 mg/d ia, recomenda-se intervalo de quatro
Os contraceptivos orais são boa opção para as mu lhe- horas entre o uso da medicação e a amamentação. Q uando
res que não têm anticorpos antifosfolípides, LES ativo ou o emprego de imunossupressores for inevitável, a opção é a
outros fatores de risco de trombose. Os contraceptivos azatioprina em baixas doses. C iclofosfamida, leflunomida
progestagênicos, de uso intramuscula r ou via dispositivo e metotrexato são contraindicados.
intrauteri no (DIU), não aumenta m o risco de trom bose Entre os chamados agentes modificadores de doença, o
e, por isso, são indicados para as mulheres que apresentam tratamento com sulfassalazina e hidroxicloroquina pode ser
contraindicação ao estrogênio. Uma vantagem do acetato continuado durante a gestação. Drogas citotóxicas podem
de progesterona e dos endoceptivos (DIU com impla nte ser utilizadas após o primeiro tri mestre no tratamento de
progestínico) é a suspensão do ciclo menstrual para as compl icações da doença materna com risco de morte. C i-
mulheres em uso de warfarin. Entretanto, a medroxipro- closporina e azatioprina podem ser admi nistradas por toda
gesterona é causa de osteoporose, especialmente para as a gestação, se fo r necessário, para o controle da doença 40
pacientes em uso de corticoide.15 A seguir, são apresentadas informações detalhadas so-
b re alguns desses medicamentos 40•4 1

Doenças Reumáticas 661


ACETA MINOFENO festaçõe extra-articulares. Doses de estresse de corticos-
teroide devem ser oferecidas durante o trabalho de parto
~ útil para o alívio da dor e pode ser usado em perío- ou no momento da cesariana a todas a paciente que e ti-
do gc tacional. ão tem efeito anti-inflamatório. Cruza a veram em uso crônico de corticosteroide (por mais de um
placenta livremente, mas não há evidências de alterações mês até pelo menos seis meses antes do evento). H idrocor-
fetais quando usado cm doses terapêuticas. tisona por via endovcnosa na dose de 100 mg a cada seis ou
oito horas durante três dias é um esgucma aceitável.
Durante a lactação, baixas doses são aceitáveis. Menos
ANTI-INFLAMATÓRIOS de I% da dose oral de S mg de prednisolona ou prcdnisona
é encontrada no leite materno. Q!.iando doses mai altas
SALICI LATO que 20 mg/dia são recomendadas à mãe, ugerc-sc obser-
vação atenta do lactente, buscando sinais de insuficiência
Devem ser mantidos na mínima dose possível, preferen- da glândula suprarrenal.
cialmente menos que a dose anti-inHamatória (3-4 g/ dia), Doses baixas ou moderadas de corticoesteroidcs são
c suspenso no fi nal da gravidez, quatro semanas antes do relativamente seguras durante toda a gestação. Analgési-
parto, devido a significativo sangramento que pode ocorrer cos, como o acetaminofen, também são seguro durante
no parto c no puerpério imediato. Em pacientes com histó- toda a gestação.
ria prévia de infarto miodrdico e/ou derrame cerebral, o
potencial benefício de conti nuar o AAS até o parto supera
os riscos. t eliminado no leite e deve er evitado du rante a AGENTES MODIFICADORES DE DOENÇA
amamentação.
M1 ' 01-ENOLATO MoFETlL (MMF)

OUTRO'>A IN H'> ~ considerado pela Organização Mundial da Saúde


(OMS) como categoria D, ou seja, evidência positiva de
Devem ser evitados du rante toda a gravidez, cm espe- dano fetal. Existem relato sobre o aumento no risco de
cial após 32 semana . Seu uso e tá relacionado a csteno e abortos no primeiro tri mestre de gestação c malforma-
do dueto artcrioso, hiperten ão pulmonar no feto, hipo- ções congénitas, especialmente as do ouvido externo,
perfusão renal e oligoidrâmn io. Se estritamente necessá- anormalidades faciais, incluindo lábio e palato leporinos,
rio , dar preferência aos que têm meia-vida curta (ibupro- anomalias dos membros distais, coração, esófago e rim,
feno, naproxeno, cetoprofeno). Deverão ser utilizados de associados ao uso desse medicamento durante a gravidez.
forma intermitente, por curtos período e em do agem Recomenda-se que as mulheres com potencial para engra-
mais baixa possível. Durante a amamentação, quantidades vidar, assim corno as puberais, realizem o teste de gravi-
muito peguenas desses anti-inflamatórios são encontradas dez assim que in iciem o medicamento. Além disso, essas
no leite materno, o gue sugere sua segurança durante esse mu lheres devem receber aconselhamento cont raceptivo e
período, exceto a indometacina, que atinge níveis elevados usar um método de contracepção efctivo. Os profissionais
no leite materno e deve ser evitada. de saúde e as pacientes devem estar cientes de que o mi-
cofenolato mofetil reduz os níveis séricos hormonais dos
contraceptivos orais e pode, teoricamente, reduzir sua efi-
CORTICOSTEROIDES cácia. Além disso, a FDA (Food a11d Drug Administratio11)
recomenda que pacientes que estejam plancjando engra-
Pode-se usar predn isona ou prednisolona. Do es bai- vidar não devam utilizar esse medicamento, a menos que
xas ou moderadas são relativamente seguras durante toda ela não possa ser satisfatoriamente tratada com outro imu-
a gestação A dose ideal deve fica r ent reS e lOmg/ dia, não nossupressor. Aleitamento em pacientes usando MM F
excedendo 20 mg para sinovite. Doses mais elevadas po- não é aconselhável, em decorrência do risco au mentado
dem cr necessárias para controlar vasculitc c outras mani- de infecções e li nfoma. 42

662 Noções Práticas de Obstetrícia


)ULfA'iS.\l \ LI \ ('SZ)

Pode ser usada na dose de 2 g/ dia du rante toda a gesta- A gravidez é expressamente proibida durante o uso do
ção, mas requer uplcmentação com :ícido fólico. medica mento e até dois ano apó ua ~u pen ão. A mu-
lher em uso de leAunomida e que engr:tvida, ou que deseja
engravidar, deve interromper o uso do medicamento e se
I I JDROÀICL.OROQLII ::\A submeter a procedimento que elimine de nuneira mai rá-
pida o metabólito ativo. Indica-se o uso de colesti ram ina, 8
Seu uso não tem sido associado a malformações congê- g três vezes ao dia, por li dias ou até que os níveis pia má-
nit.ts, nem a anormalidades em longo prazo da visão, audi- ticos do medicamento se encont rem em valores seguros.
ç;io, cre cimento ou das funções mentais nas crianças que Essa recomendação ta mbém vale para homens que quci-
ti veram exposição intraú tero. Reduzidas quantidades do r.tm se tornar pais c estejam cm u o de letlunomida. Deve
medicamento são tran ·feridas ao leite materno e tem 'lido ~er evitada também durante .1 ama mentação.
consideradas cgura para uso ne sa fase.

Ct<..LO f O ' f A ,\ IJ J);\


1\I J fOTR I \\10 (MTX)
O risco do u o no primeiro trimestre é as ociado a alte-
A expo ição a essa medicação no primeiro trime tre ra ões esquelética e palatinas, malforma õc de membros
da ge tação au menta o risco de malformações crânio-ver- c oculares. O uso durante o segundo e terceiro tri mestres é
tebrais, nos membros e no palato do feto, induz ao aborto associado a risco muito reduzido, mas pode induzir a pan-
c deve ser de continuado pelo menos três meses ante de citopenia e comprometi mento do crescimento fetal. Pode
c planejar a gravidez. A mulher cujo parceiro faça uso de ser considerado seu uso a partir do segundo tri mestre c o
MTX não deve planejar engravidar até que ele interrompa recém-nascido deve er acompanhado para detecção de
a medicação por tn!s me e . É excretado no leite materno e imuno supre ão ou de envolvimento de mal ignidade se-
seu uso é contra indicado nessa fase. cundária.
t encontrada em concentração sub tancial no leite
m,ttcrno e foi relacionada a neutropenia nconatal, supres-
,\ / \ rJOPRI \ são imune e carcinogênc e, o que contraindica seu u o
nc a fase.
ão tem e mostrado mutagênica em humanos.
Pode ser utilizada dura nte toda a gravidez e a dose não
deve exceder 2 mg/ kg/ dia. Há ecreção do medicamen-
to c eu mctabólitos no leite materno c, mesmo não
estando relacionada a alterações hematológicas e cresci- Indicada para o tratamento da esclerose sistêmica. eu
mento do recém-natos, não é recomendado seu u o na u o deve ser de continuado ante da concepção ou quan-
amamentaç;\0. do a gravidez for confi rmada. Não existem estudos sobre
seu emprego durante a lact,lçâo. Possui meia-vrda curta c li-
ga- e a proteína plasmáticas; des a forma, emente pouca
l l l l OWOR I'\ \ qu.tntidade da d roga deve estar presente no leite materno.

A taxa de 31\l de malformaçõe congénita ob crvada


em gesta nte que fizeram u o de ciclospori na não excede I N JJI XI J\I AOF, ETANcR<. 1- P IT 1- AnALJ \I U \tABL
aquela relatada na população geral. Pode ser mantida du-
rante toda a gravidez. Amamentação deve er cvit.tda ou ão inibidore da ação do fàtordc necrose tumoral, indi-
descontinuada. cados para os casos de AR e cspondilo.trt ritcs graves e resis-

Doenças Reumáticas
tentes a outras formas de trata mento. Pouco e tudado du- ça ou ao inibidore do fator de necrose tumoral. ão há
rante a gravidez, não se conhece muito bem seu efeito sobre dados publicados na literatura relatando experi~ncia com
o concepto. Sugere-se à paciente que manten ha contracep- os mesmos durante a gestação. H á inforrnaçõe de que ta i
ção durante o u o. A amamentação deve ser de estimulada. medicamentos atravessam a placenta e recomenda-se sua
desconti nuação pelo menos I O sem anas antes de planejar
a gestação.
ABATA EPT E 1:. RITU X IM BE O Quadro 41.7 apresenta os medicamentos anti rreu-
m áticos q ue não devem ser utilizados dura nte a gestação e
São u ados e m paciente com art rite reum atoide refra- o Quadro 41.8 mostra as categorias desses med ica mentos,
tária aos medicamentos modificadores do curso da doen- de acordo com a Food and Drug Admil1istration ( FDA).

Q\ladro 41 .7 1 Med icamentos que NÃO deve m ser adm inistrados durante a gravidez
Med1camentu Tux1c1ddde Recomencaçdo

Metotrexato Efeitos tóxicos em animais e humanos Descontinuar 3 meses antes da gravidez :1

Leflunomida Efeitos tóxicos em animais Descontinuar 2 anos antes de planejar a


gravidez ou usar o procedimento de wash out
-
Ciclofosfamida Risco de malformações e efeitos tóxicos em humanos. Descontinuar antes de engravidar
Pode ser usada se os beneffcios forem consideráveis apesar
do risco
Micofenolato Efeitos tóxicos em animais e humanos Descontinuar antes de engravidar
lnfliximabe Sem efeitos tóxicos em animais. Relatos em humanos Descontinuar quando em amenorreia ou se
insuficientes para determinar toxicidade confirmada a gravidez
Etanercepte Sem efeitos tóxicos em animais. Dados insuficientes para Descontinuar quando em amenorreia ou se
gravidez em humanos confirmada a gravidez
-
Adalimumabe Sem efeitos tóxicos em animais. Dados insuficientes para Descontinuar quando em amenorreia ou se
gravidez em humanos confirmada a gravidez
Rituximabe Causa depleção de células B em animais e humanos se Descontinuar 12 meses antes da gravidez
administrado no 'l' ou 'Jl trimestre
Abatacepte Efeitos tóxicos em animais. Dados insuficientes em humanos Descontinuar 1Osemanas antes da gravidez
Adaptado de Ostensen et al (2006)."

Noções Práticas de Obstetríc ia


Quadro 41.8 1Fatores de risco atribu ídos aos medicamentos, com base nos níveis de evidência de risco que cada medicamento
possui no feto,de acordo comestudos emanimais e humanos, segundo a Food andOrug Admir~istratiofl
Ca tegor 1a Just lf1cat1va Exemp lo

A Estudos controlados sem evidência de risco fetal no primeiro trimestre Acido fólico. vitamina O
I ou depois.
--- - I
B Estudos animais sem risco fetal sem estudos controlados em humanos Acetaminofeno. AAS. sulfassalazina,
OU estudos animais com risco que não foi comprovado em humanos no agentes antiTNF,
primeiro trimestre (sem evidência de risco mais tardiamente).
c Estudos em animais revelaram efeitos teratogênicos e não existem Certos AINHs/0, inibidores de COX-2/0.
estudos controlados em humanos. ou estudos em animais e humanos prednisona. prednisolona/0. hidroxiclo-
não estão disponíveis. São substâncias que só devem ser utilizadas se roquina. ciclosporina. gama globulina
os benefícios potenciais justificarem os potenciais riscos para o feto. endovenosa I

o Evidência positiva de risco humano fetal. Usada se os beneffcios forem Azatioprina. penicilamina, AINHs (3° I
consideráveis apesar do risco (risco de morte). trimestre). micofenolato mofetil, ciclo-
fosfamida. warfarin (2° e 3° trimestres)
~ -- -
X Anomalias fetais em estudos com animais e humanos. Ouso não Metotrexato. leflunomida
justifica qualquer benefício possível. Contraindicado em mulheres com
possibilidade de se tomarem grávidas.
AAS =ácido acetilsalicílico; AINHs = anti-inflamatórios não hormonais.

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666 Noções Práticas de Obstetrícia


42 Câncer do Colo Uterino e Gravidez
Agnaldo Lopc da ilva Filho
Mariana Ataydc Leite Seabra

Etiopatogenia Tratamento
Rastreamento e Diagnóstico do Lesões Pré-invasoras d o Colo Uterino
Neoplasia Cervical Invasora
Câncer do Colo Uterino na Gestação
Sintomato logia Aspectos Relevantes
C itologia O ncótica Atraso no Tratamento Versus Inte rrupção da Gestação
Colposcop ia Escolha da via de Parto
Bióp sia Com pro met imento Fetal
Con ização Resultados Neonatais
Implicações Legais e bticas
Estadiamento
Considerações Finais

os EUA é estimada a ocorrência de uma 3 precariedade dos programa de rastreamento.4 o Brasil,

N neoplasia maligna a cada 1.000 gestações.


Apesar de não haver protocolo específico
para abordar c sa ituação, algu ns princípio d evem er
1
a incidência em 2008 foi estimada em 18.680, co m risco
previsto de 19 ca o a cada 100 mil mulhere . ~ Constitui
a neoplasia maligna mais comumentc diagnosticada na
seguidos: 2 gravidez, com incidência que varia de I, a 12 por 100.000
Prioriza r e preserva r a vida materna; gcstaçõc .6·' Cerca de ..,01\J da mulhere com câncer de
procurar instituir terapia adequada 3 grávida colo ute rino encontram-se no mcnacme e 39o dela estão
com neopla ias malignas curáveis; grávidas no momento do diagnó tico.
proteger o feto e o R dos efeitos advcr os da tera- A abordagem do câncer de colo uterino na gc tante re-
pia oncológica; presenta um dilema para a paciente e o méd ico.~ O binômio
preservar o potencial reprodutivo da mãe para futu- materno-fetal pode ent rar em conflito, envol vendo questõe
ras gravideze . éticas, emocio nai c ociais, que exigem abordagem multi-
O câncer de colo uterino repre enta um grande proble- disciplina r. O ideal seria o tratamento e feti vo da nco plasia
ma de saúde pública, com cerca de 490.000 novos ca o e com pre ervação do futuro da paciente, cm comprometi-
270.000 morte ao ano em todo o mundo. l A m aioria do mento do feto. o entanto, es c desfecho!> podem ser com-
ca o está presente nos países em de envolvimento devido prometidos pelo tratamento cirúrgico e/ ou radiotcrápico.
ETIOPATOGENIA SINTOMATOLOGIA

A infecção pelo papiloma vírus humano {HPV) exer- Os sinais e sinto mas do câncer de colo uteri no na ges-
ce papel central na carcinogênese do colo uterino, relacio- tante dependem do estadiamento e tamanho da lesão. A
nando-se tanto à neoplasia intraepitelial cervical (N IC) maior parte das pacientes com estád io 1é assintomática ao
quanto ao carcinoma invasor.6 Outros Fatores relacionam- diagnóstico. O s sintomas mais comuns são o sangramen-
-se com o vírus, de form a a potencializar sua ação na célula to, em I 5 a 87% dos casos, e a secreção vaginal.8·20 Esses
hospedeira e a facilitar o desenvolvimen to dos processos sintomas podem ser atribuídos à própria gravidez, oca-
de imortalização e carcinogênese.9·10 sionando atraso no diagnóstico. A duração média entre o
Existem mais de 100 subtipos de HPY, dos quais 40 surgimento dos sintomas até o diagnóstico é de 4,5 meses.8
podem infectar o trato genital. A detecção do H PV, por Em estádios ava nçados e na doença metastática, várias são
meio de técnicas de biologia molecular, é evidenciada em as manifestações clínicas, incluindo dor pélvica, dor abdo-
95 a 100% das pacientes com carcinoma de células esca- minal, obstrução intestinal, insufi ciência renal por obstru-
mosas (CCE), 80 a 92% daquelas com adenoca rcinomas ção ureteral c anem ia.
de colo uterino e cm 16% das mulheres assinto máticas. 11 • 13
Estudo caso-controle salientou taxa semelhante na de-
tecção do HPV por PC R em mul heres grávidas (13,9%) e CITOLO GIA ONC ÓTICA
não grávidas (1 5, 1 %). 1 ~ A tipagem do HPV realizada tri-
mestralmente mostrou variações na distribuição em rela- Estudos sugerem que a citologia oncótica (CO) consti-
ção ao trimestre de gestação e tendência à dim inuição na tui método de rastreamento eficaz na gravidez. A incidên-
taxa de detecção 20 semanas após o parto ( 1,2%). O utro es- cia de CO anormal na gravidez é de 5 a 8%, que é idêntica
tudo do HPV na gestação avaliou a presença de ,1nticorpos à da população não gráv ida.21 Em torno de 1,2% dessas
contra o HPV 16.15 Esse estudo mostrou prevalência de citologias o ncóticas anormais é diagnosticada uma neo-
28% na detecção do HPV em grávidas, que é semelha nte à plasia invasora do colo uteri no 22 A concordância do exa-
de não grávidas. Os fatores de risco para detecção do H PV me com o diagnóstico final é de 55,6%, o que não difere
em grávidas foram: cinco ou mais parceiros sexuais, início da sua uti lização em pacientes não grávidas. 2 \ o entanto,
das atividades sexua is há mais de seis anos, baixo nível de o citopatologista deve ter conhecimento de que se trata de
escolaridade e infecção por Neisseria gom10rrhoeae. paciente grávida, tendo em vista o risco de supcrcstimação
De forma semelhante às pacientes não grávidas, o tipo de achados fisiológicos da g ravidez, como a hiperplasia das
histológico mais comum das neoplasias cervicais invasivas células endocerv icais e a metaplasia esca mosa, que podem
que se originam do colo uterino é o carcinoma de células ser interpretados como displasia.14 Apesar de se obterem
escamosas(> 80%) e o restante são adenocarcinornas. 16•17 melhores resu ltados com a uti lização da escova cndocervi-
cal para a coleta de amostras, a sua util ização cm grávidas é
motivo de controvérsias devido ao risco teórico de sangra-
RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO mente e/ ou abortamentos. 25
DO CÂNCER DO COLO UTERINO
NA GESTAÇÃO
COLP O SCO P I A

A assistência médica à gestante durante o pré-natal O utro método propedêutico é a colposcopia. Pacien-
representa ótima oportunidade para o rastreamento do tes com achados anormais na citologia oncótica devem
câncer do colo do útero, permitindo o diagnóstico pre- ser encaminhadas para a colposcopia com o objetivo de
coce dessa neoplasia. A comparação das grávidas com as afastar carcinoma invasor e di recionar biópsias. Algumas
não grávidas mostra estádios mais precoces nesse primeiro alterações fisiológicas da g ravidez ocorrem no colo uteri-
grupo, aumentando de duas a três vezes a chance de a pa- no ocasio nando peculiaridades do exame colposcópico
ciente ser diagnosticada em estádios c irú rgicos. 18•19 da grávida. A cversão da mucosa endocervical favorece a

668 Noções Práticas de Obstetrícia


colposcopia pela visua lização da junção escamo-colunar Dessa forma, esses procedimentos devem ser realiza-
cm toda a sua extensão, proporcionando colpo copia satis- dos com objetivo propedêutico, e não terapêutico.21 Po-
fatória em mais de 90% das pacientes. 23 Outra alterações dem ser importantes para afastar carcinomas invasores ou
incluem a ocorrência de metaplasia escamosa, o Schiller microinvasores do colo uterino e devem ser rcalüados de
iodo escuro devido à existência de grande quantidade de preferência entre 14 e 20 semanas de gestação, pelos baixos
glicogênio, além da dilatação do orifício externo do colo e riscos de abortamento e sangramento. Após 24 semanas
amolecimento deste. 26•27 de gestação a conização deve ser adiada até que se tenha a
A colposcopia da grávida apresenta algumas dificulda- maturidade pu Imona r fetal. 8
des, como a exposição dificultada do colo uterino devido A utilização da conização para tratamento de lesões
aos prolapsos vaginais e a vigência de muco aumentado pré-invasoras deve ser adiada para o pós-parto. A cureta-
de difícil remoção. Os efeitos do aumento da vasculari- gem endocervical é contraindicada na gravidez.29
zação tornam o colo friável e de sangramento fácil. Essa
alterações fi siológicas podem levar à superestimacão das
lesões, sugerindo malignidade. Contudo, a concordância ESTADIAMENTO
da colposcopia com o diagnóstico fi naIocorre em 72% das
gestante e a superestimação dos achados colpo cópicos O estadiamento do câncer do colo uterino na gestação
em apenas 17% delas.21 Os achados colposcópicos são os é definido pela Federação Internacional de Ginecologia e
mesmos das pacientes não grávidas. O bstetrícia (FIGO) com base no exame clínico, sem dife-
rença em relação às pacientes não grávidas (Q!.1adro 42.1).
O cstadiamento do câncer do colo é clínico, ao contrário
BIÓPSI A das outras malignidades ginecológicas. História clínica
e exame físico devem ser obtidos de todas as pacientes. A
A realização de biópsia de colo em pacientes grávidas avaliação pélvica, particularmente o exame rcto-vaginal,
é procedimento seguro, com risco de sangramento de I a é importante na determinação do tamanho da lesão e da
3%.8·28 Apresenta, ainda, boa acurácia, mostrando concor- disseminação vaginal ou parametrial. Deve ser realizada ra-
dância com o diagnóstico final de até 96%. t. fundamental diografia de tórax. A urografia excretora pode ajudar, já que
para o planejamcnto terapêutico. Considera-se aceitável a detecção de hid roureter ou hid ronefrose muda o estadia-
a não realização de bióp ia nos casos em que um colpos- menta e o prognóstico. O estadiamento da FIGO permite o
copi ta experiente obtém colposcopia satisfatória c não uso da cistoscopia ou a retossigmoidoscopia para avaliação
tem dúvidas quanto à existência de neoplasia invasora ou da bexiga e do reto; e o comprometimento desses órgãos
microinvasora.n2s O patologista deve er empre infor- deve ser afastado antes de se instituir a terapia. O utros mé-
mado do estado gr.avídico, devido às alterações fisiológicas todos, como a tomografia computadorizada, lin foangiogra-
encontradas nas glândulas e estrema da cérvi x uterina, se- fia, ultrassonografia, ressonância nuclear magnética, cinti-
cundárias aos altos níveis estrogênicos gestacionais. lografia e laparoscopia podem ainda ser usados, porém não
mudam o estadiamento proposto pela FIGO.

CONlZAÇÃO
TRATAME N T O
A rea lização da conização, convencional (bistu ri frio)
ou CAF (cirurgia de alta frequência), constitui conduta de Apó o estadiamento da gestante com câncer do colo
cxceção na gestante.29 Apresenta altas taxas de ma rgens uterino, para a defi nição terapêutica é necessária uma pri-
cirú rgicas comprometidas e doença residuaJl8 e taxa ele- meira abordagem à gestante, incluindo avaliação minucio-
vada de complicações, como hemorragia em até IS% das sa da gestação, com definição correta da idade gestacional e
pacientes, perda fetal em 25% delas e desencadeamento de exame ecográfico fetal detallu do, com o intuito de rastrear
trabal ho de parto pré-termo em 12%.26·28 possíveis anomalias. 30

Câncer do Colo Uterino e Gestação 66g


Quadro 42.1 1-Estadiamento do câncer de colo uterino (FLGO - 1994)
Estad1o I O ca rc111oma esta restrito ao colo do utero
la Câncer invasor identificado apenas microscopicamente. A invasão é limitada ao estrema com profun-
didade máxima de 5 mm e diâmetro inferior a 7 mm I

la1 Invasão do estrema inferior a 3 mm em profundidade e inferior a 7 mm em diâmetro


~
la2 Invasão do estrema superior a 3 mm e inferior a 5 mm em profundidade, diâmetro inferior a
7mm
lb Lesões clínicas confinadas ao colo ou lesões pré-clínicas maiores que o estádio la I
lb1 Lesões clínicas menores que 4 cm I
lb2 Lesões clinicas maiores que 4 cm I
Estád1o li O carc1noma ultrapassa o colo, mas não se estende à parede pel v1ca. O tumor en volve a vag1na, mas
não o 1/3 1nfenor

lia Sem óbvio acometimento parametrial. Envolve os 2/3 superiores da vagina


llb Acometimento parametrial óbvio. mas não a parede pélvica
Estád1o III O carc111oma se estende à parede pélv1ca. No toque retalnão se ev1denc 1a espaço l1vre de neo plas1a
entre o tumor e a parede latera l da pelve O 1/3 1nfenor da vag1na é ac omet1do Todos os casos com
h1dronefrose ou 1nsuf1c1ênc1a renal devem ser 1nclu1dos, exceto se at r1buídas a outras causas

llla Otumor envolve o 1/3 inferior da vagina, sem extensão à parede pélvica
lllb Otumor se estende à parede pélvica e/ou causa hidronefrose ou insuficiência renal
Estad1o IV O tumor 1nvade a mucosa da bex1ga ou reta e/ou ultrapassa a pelve verdade1ra
IVa Disseminação tumoral aos órgãos pélvicos adjacentes

I IVb Disseminação tumoral a distância I

L E SÕES PRÉ-INVASORAS D O COLO UTERINO NEOPLASIA CERV ICAL I N VASORA

O adiamento no tratamento das lesões pré-invasoras na A conduta no câncer do colo do útero na gestação
grav idez é possível em virt ude de ser rara a progressão da depende da idade gestacional ao diagnóstico, do estádio/
NIC para carcinoma invasor nesse p eríodo.26•27·29 Durante exten são da doença, do desejo da gestação e do desejo da
a gravidez, deve-se realizar o controle por meio da citologia paciente de preservar a fertilidade. 21
oncótica e colposcopia a cada 6-8 semanas (Figura 42.1). Com raras exceções de lesões iniciais d iagnosticadas
Biópsias são raramente necessárias, sendo indicadas na sus- precocemente, o trata mento definitivo do câncer de colo
peita de progressão para carcinoma invasor. No caso de sus- do útero leva à esterilização, seja por exérese ou dano irre-
peita de microinvasão, deve ser realizada a conização pro- versível do órgão reprodutivo fem ini no. A gestação, consi-
pedêutica (bisturi frio ou CAF) 2 1 As pacientes devem ser deran do a presença do feto intraútero, dificulta a tom ada
reavaliadas no pós-parto: confirmando-se NIC 2 ou 3, está de decisão e o in ício do tratamento.
indicada a conização seis a oito semanas após o parto. 20•21

670 Noções Práticas de Obstet rícia


Citologia alterada

Colposcopia e Biópsia dirigida

NIC

Microinvasão

Suspeita de progressão Lesão estável

Biópsia dirigida I Conização Avaliação pós-parto

Neoplasia invasora

Estadiamento e tratamento

Figura 42.1 I Abordagem de gestantes com citologia oncótica anormal.


IC = neoplasia intracervical epitelial.

EsTÁDIO l A EsTA DI o I "2 1- I BI

Em pacientes que não de ejam preservar ua ferti lida- Apesar da complexidade do dilema que envolve a abor-
de, a h i terectomia extrafa cial é o tratamento de escolha. dagem do câncer do colo uterino na gravidez, é consenso
A linfadenectomia pélvica está dispensada, pois a frequên- que abaixo de 20 semanas de ge tação, ou eja, em feto não
cia do acometimento ga nglionar é baixa. A ooforectomia é viável, a e colha é tratar a paciente, com o objetivo de im-
opcional e não deve ser feita em mulheres joven .'0 pedir a progre são da neopla ia, e não pre erva r o concepto
as gestantes que optam por tratamento imediato, po- (Figura 42.3). 10
de-se realizar a histerectomia com feto intraútero ou realizá- Nas gestações com fetos com idade gestacional acima
-la apó a interrupção da gestação e o esvaziamento uterino. de 20 semanas, a defi nição do melhor momento do início
As indicações tradicionais de conização em pacientes do tratamento é polêm ica. A prematuridade fetal c a matu-
não grávidas, como já referido, não são aplicáveis na ges- ridade pulmonar devem ser consideradas na deci ão, en-
tação. cs c caso, a única indicação ab oluta é confirmar do aceitável individualizar cada caso e postergar o início do
ou excluir neoplasia invasora, pois e se diagnóstico pode- tratamento até 32 semanas, sem que haja repercussões na
rá alterar o momento dare olução da ge tação c a via de morbi mortalidade materna. 29
parto. 22 Ca o contrário, esse procedimento com intenção N os estádios IB I ou liA com lesõe ' menorc que 4
terapêutica será adiado e realizado apenas no pós-parto?9 cm as opções são a qui mioirradiação com braquiterapia e
O tratarncnto conservador em gestantes estadiada como teleterapia a saciada à quimioterapia com cisplatina ou a
FIGO la I que desejam preservar o futuro reprodutivo pode histerectomia radical com linfadcnectomia pélvic.1 bilate-
ser adotado ca o o tipo histológico eja o carcinoma de células ral e para-aórtica. 8•31 •32 Uma da va ntagens do tratamen to
escamo a . O adcnocarcinoma são geralmente multifocais, ci rúrgico é a possibilidade de realização do exame hi to-
o que limita a definição anatomopatológica sobre o compro- patológico da peça cirúrgica, importante na indicação de
metimento de margens cirúrgicas (Figura 42.2). 10 terapia adjuvante e no estabelecimento do prognó tico4 . A

Câncer do Coto Uterino e Gestação 671


técnica cirúrgica é preferível cm paciente muito jovens, já cinco ela ses de hi terectomia, que se diferem no local da
que se pode preservar a função hormonal ovariana H ligaduras nas artérias uterinas e vesicais superiores, na dis-
A histerectomia radical consiste na remoção do úte- secção ureteral e na extensão da ressecção parametrial e
ro e do tecido peritumoral, constituído pelo paramétrio, vaginal. A ressecção vaginal é variável, podendo ser retira-
paracolpos e margens vaginais.34 O termo histerectomia do apenas o seu terço superior (Piver II), metade superior
radical é genérico e inadeq uado para de crever a extensão (Piver li I) ou 3/4 superiores (Piver IV).35
do procedimento realizado. Pi ver et a/. (1974) descreveram

Feto Estádio IA Feto


Pré-viável Viável

Sim
Paciente deseja continuar a gestação? ~-------------. Interrupção da gestação: Cesariana
Corticoterapia antenatal se imaturidade pulmonar
Não j
Paciente deseja preservar
~------,
o futuro reprodutivo Paciente deseja preservar
o futuro reprodutivo
Não

Histerectomia simples
Sim Sim I Não

com feto intraútero CAF ou conização Cesariana +


pós-parto Histerectomia
CAF ou conização pós-parto simples
após interrupção da gestação

Figura 42 .21 Abordagem da gestantes estádio IAI da FIGO.


CA F =cirurgia de alta frequência.

Feto Estádio IA2. 181 Feto


Pré-viável Viável

Sim
Paciente deseja continuar a gestação? r - - - - -- - - -- Interrupção de gestação:

Não I
Histerectomia radical
Cesariana + Histerectomia radical
Corticoterapia antenal se imaturidade pulmonar

com feto intraútero

Linfonodos Negativos Linfonodos Positivos

Invasão linfovascular Ouimioirradiação


Profundidade de invasão estromal
Invasão parametrial
Histologia

Sim

Radioterapia com ou sem


Quimioterapia

Figura 42 .3 1Abordagem das gestantes estádio IA2, IBl da FIGO.

672 Noções Práticas de Obstetrícia


As tnas de sobrevid:1 d:1~ paciente~ irradiadas outrata- de coagulação intr:wascular disseminada.Alguns autores
das cirurgicamente são semelhantes, variando de 74 a 9396 têm defendido o uso do misoprostol de rotina para esvazia-
cm cinco anosY Caso o tratamento cirúrgico seja escolhi- mento uterino e início da terapêutica (Figura 42.4). 30
do, é indicada terapia adjuvante na dependência dos acha- Caso o diagnóstico do câncer do colo uterino tenha
dos da peça cirúrgica. Pacientes com acometimento gan- ocorrido no terceiro trimestre da gestação, atraso de duas
glionar são beneficiadas com quimioirradiação adjuvante.36 a quat ro semanas para o início do tratamento é permiti-
Invasão parametrial, invasão linfovascular, profundi- do, sem impacto no prognóstico materno. 19 É um prazo
dade da invasão estromal são fatores prognósticos impor- razoável considerando-se o benefício para fetos pré-temo
tantes que estão associados a mais recorrência tumoral e limítrofes, minimizando as sequelas da prematuridade c
baixa taxa de sobrevida em cinco anos. 37 Essas pacientes au mentando as chances de sobrevida neonatais.
também se beneficiam da adoção da terapia adjuvanteY Adiar o início da terapêutica implica vigilância do tu-
mor, com realjzação de exames pélvicos periódicos para
detecção imediata de possível progressão tumoral. A resso-
L ~ l \DIO'>IB2AIVA nância nuclear magnética (RNM) pode ser utilizada nes e
pcríodo.10
Inicialmente, a radioterapia isolada, incluindo a braqui- Sobre o prognóstico na gestação, estudos caso-controle
tcrapia e a telctcrapia, foi utilizada nos casos avançados de sugerem que pacientes com câncer de colo grávidas não
câncer do colo uterino. Ent retanto, a quimioirradiação pél- apresentam diferenças cm relação à sobrevida e achados
vica tornou-se o tratamento padrão após vários estudos te- anatomopatológicos de mau prognóstico em compa ração
rem mostrado que a quim iossensibilização com cisplatina °
às não grávidas. 18•4 Considerando-se o cstadiamcnto pela
ou com 5-flou roracil aumentava o tempo livre de doença e FIGO, não houve diferença nas características do tumor,
a taxa de sobrevida.10 na evolução da doença e nas taxas de sobrevida nas grávi-
A quim iossensibilização com cisplatina (com ou sem das em relação às não grávidas. 8•1R
fluorouracil) com duração de seis ciclos é iniciada simul-
taneamente ao tratamento radioterápico (tele e braqui-
terapia). "·38 QUIM I OTERAPI A 1-0ADJ U VA Tr
Nas gestações iniciais, abaixo de 20 semanas, a qui-
mioirradiação pode ser iniciada com o feto intraútero com Em situações em que não se pode adiar o início do
grandes chances de evolução para o abortamento e expul- tratamento por neoplasia avançada, uma opção é o uso da
são do concepto. Caso não ocorra o abortamento espon- quimioterapia neoadjuvantc.30 Pode-se obter redução do
tâneo, a remoção cirúrgica ou o uso de fármacos devem tamanho tu moral propiciando o término da terapêutica
ser utilizados como prevenção de proce sos infecciosos e adequada após a resolução da gcstação. 41

Feto Estádio 182. IVA Feto


Pré-viável Viável
I
Interrupção de gestação:
Imediata X Adiada
Não

Quimioirradiação
Avaliar quimioterapia Quimioirradiação
neoadjuvante
Avaliar esvaziamento uterino se
ausência de abortamento espontâneo

Figura 42.4 1Abordagem das gestantes estádio IB2 - IVA da FIGO.

Câncer do Colo Uterino e Gestação 673


Entretanto, todos os estudos sobre o uso de quimiote- laceração do colo, hemorragia e implantação tumoral no
rápicos na gestação são limitados a relato de casos. Teori- sít io da episioto mia_2 L43
camente, todos os fármacos são teratogên icos. O grau de
acometimento fetal depende do agente utilizado, do tempo
de uso, da dose e da farmacoci nética do medicamento.21 COMPR OMETIMENTO FETAL

A ocorrência de metástases pa ra o feto e m gestantes


AsPECTOS RELEVANTES com neoplasia mal igna é ra ra. Foram relatados IS casos
na literatura de metástases fetais, sendo sete de melanoma,
ATRASO NO TRATAMENTO VERSUS sete de leucemias e um de linfoma. Não foi descrita m etás-
I NTERRUPÇÃO DA GESTAÇÃO tase fetal de câncer do colo uterino, apesar de haver referên-
cia a um caso de metástase para a placenta1
Uma questão relevante sobre o prognóstico das pacien-
tes é a repercussão do ad iamento do tratamento aguardan-
do a viabilidade fetal. R ESULTADOS NEO NATAIS
Revisão de 13 estudos, de 1981 a 2005, mostrou que o
atraso médio no trata mento foi de seis semanas, chegando O câ ncer do colo uterino na gestação associou-se à alta
a seis meses. Nove pacientes foram d iagnosticadas no pri- morbidade neonatal, como: baixo peso e muito baixo peso
meiro trimestre e adiaram o tratamento para o pós-parto. ao nascimento, perma nência hospitalar ma is longa, alto
N ão se evidenciou recorrência em 47 das 49 pacientes tra- custo e elevada taxa de morte neonatal. 6
tadas. D essa forma, o atraso no tratamento para aguardar
a viabilidade fetal não parece comprometer a sobrevida
dessas n1ulheres 4 2 I MPLICAÇÕES LEGAIS E ÉTICAS
O adiamento para o início do tratamento pode ser de
até 12 semanas para o estádio IBl e de seis sema nas para o O Código Penal ad m ite a interrupção da g ravidez para
1B2. Durante esse período, as pacientes devem ser avaliadas preservação da vida materna, em detrimento do feto. No
a cada 2-4 sema nas e, caso exista suspeita clínica de progres- entanto, a paciente tem direito de decidir livrem ente sobre
são da neoplasia, deve ser realizada RNM de pelve e abdo- a opção terapêutica. É necessário o consentimento livre e
me.8A corticoterapia antenatal para a maturação pulmonar esclarecido.
fetal não apresenta contraindicações para as gestantes com
câncer do colo uterino e deve ser administrada. Com a viabi-
lidade fetal ou após a corticoterapia antenatal completa nas CoNSIDE R .t\;Ç ÕES F I NAIS
pacientes com lBl, a opção é a interrupção da gestação com
rea lização de cesariana eletiva e posterior histerectomia ra- É inerente o i~pacto emocional para o casal, a família
dical comlinfadenectomia pélvica e para-aórtica.8 e a sociedade diante do diagnóstico de câncer, principal-
A opção de adiar o tratamento do câncer do colo uterino mente q uando se consideram o prognóstico c a radicalida-
deve sempre considerar a idade gestacional, o estádio da neo- de dos trata mentos instit uídos. A abordagem do câncer do
plasia ao diagnóstico e as possíveis sequelas da prematuridade. colo uterino na gestação envolve, além desses fatores, vá-
rias questões éticas, pela presença do concepto intraútero.
A ava liação multidisciplinar desde o diagnóstico até a
ESCOLHA DA V I A DE PARTO definição de condutas é fundamental. O binómio mãe-feto
deve ser sempre ser levado em consideração e os riscos e
A cesariana constitui a via preferência de parto p ara benefícios para ambos devem ser avaliados. O objeti vo é
mulheres com câ ncer de colo uterino 43 O parto norm al, abordar o câncer do colo uteri no com base nos conceitos
ainda que possua a vantagem de menos perda sanguínea, oncológicos de tratamento, tentando assegurar bom prog-
pode estar associado à disseminação tumoral, alto risco de nóstico materno e, se possível, fetal e neonatal.

674 Noções Práticas de Obstetríc ia


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Noções Práticas de Obstetrícia


43 Câncer de Mama e Gravidez
Henrique Moraes alvador Silva
Mari a Lctícia Lcone Rocha
Gilberto ilva Pire

Definição e Incidência Tratamento


Diagnóstico Tratamento Cirúrgico
Mamografia Radioterapia
Ultrassom Quimioterapia
Ressonân cia Magné tica Hormonioterapia
Punção Aspirativa Efeitos sobre o Feto e a Gestação
Biópsia Percutânea Lactação
Bió psia Cirúrgica G ravidez após Câncer de Mama
Estadiamento Abor tam ento
Data do Parto
Conclusões

mbora muito se tenha avançado no que d iz res- problemas de o rdem clínica, ética e p icológica, assim como

E peito ao métodos propedêuticas, diagnó tico


precoce c fo rmas de tratam ento do câncer de
mama, a incidência c taxa de mortalidade da doença con-
dúvidas quanto ao diagnósti co c o tratamento. A escolha do
trata men to para o câncer de mama depende da avaliação
individual e criteriosa de cada caso. O parâmetros a serem
tinuam alarmantes.U Além de ser heterogênea, com ma- anali ados levam cm conta as características do tu mor, o es-
nifestaçõe e repercus ões clínicas variáveis, a doença tem tadiamento da doença, as condições di nicas da paciente e a
impacto psicológico importante, desde o momento do idade gestacio nal em que é feito o diagnó tico. 2
diagnóstico até o tratamento e expectativa de vida. O câncer
de mama as ociado à gravidez é, felizm ente, pouco fi-eq uen-
tc, porém de extrema gravidade, apresentando fo rte impac- DEFINIÇÃO E INCIDÊNCIA
to emocio nal, pois acomete mulheres jovens e em período
especial de suas vida . A doença põe em risco a vida da mãe São defin idos com o câ ncer de m ama n a grav idez
e do conccpto c leva o profissional, na maioria das vezes, a todos os carcino m as d iagnosticados no c urso da gesta-
ção c até um ano após seu término. Apenas 9% desses MAMOGRAFIA
casos ocorrem durante a primeira gestação. A incidên-
cia do câncer de mama na gestação va ria de aproxima- Devido ao au mento da densidade das mamas durante
damente um caso para cada 3.000 gestações a um para a gestação, a mamografia apresenta sensibil idade e especi-
10.000, correspondendo a 0,2-3,8% dos casos de câncer ficidade diminuídas para o diagnóstico de nódulos, micro-
de mama. Essa taxa vem aumentando nos últimos anos calcificações c comparação com a ma ma contralateral, sen-
concomitantemente ao aumento do número de mulhe- do um exame pouco útil para essas pacientes em especial.
res que têm a primeira gestação na quarta década de Quando necessária, a mamografia é considerada segura
vida. 1 O câncer de mama associado à gravidez apresenta se realizada com proteção de avental de chumbo, sendo a
mau prognóstico, por ser geralmente diagnosticado em dose estimada para u feto Je 0,4 mrads. Ao exame mamo-
fases mais avançadas da doença, pois, além das altera- gráfico, geral mente são observados nódulos opacos de alta
ções mamárias decorrentes da gravidez dificultar a ava- radiodensidade, irregulares e maldel im itados. A presença
liação cl ínica, o exame rotineiro das mamas nem sempre concomitante de sinais radiológicos de espessamento ou
é realizado pelo obstetra. ' retrações de pele ou mamilo e de microcalcificações, com
ou sem distorção de parênquima, pode ocorrer em alguns
casos. Outras vezes, a mamografia mostra apenas uma
DIAGNÓSTICO área densa ou de contornos irregulares ou espiculados,
com convergência trabecular. Merecem destaque os novos
O diagnóstico do câncer de mama na gravidez é qua- achados mamográficos sem correspondência em exames
se sempre difícil e tardio. As alterações da mama durante mamográficos anteriores. As microcalcificações suspeitas
,\ gestação e amamentação, como o aumento do volume, ou malignas são frequentemente irregulares, heterogéneas,
da densidade, vascularização e da nodularidade, podem de densidades distintas, agrupadas, adquirindo formas de
dificultar o exame clínico, retardando as indicações de bi- letras do alfabeto (X,Y,Z e T), associadas ou não a massas. ~
ópsia e, consequentemente, o diagnóstico fin al. O atraso
médio do diagnóstico é de aproximadamente cinco meses
cm relação às pacientes não-gestantes. O exame detalha- ULTRASSOM
do das mamas nas primeiras fases da gravidez, quando as
alterações gravídicas ainda estão discretas, é funda mental A ecografia da mama é cada vez mais empregada para
para individualizar lesões suspeitas que poderiam poste- confirmar achados palpatórios suspeitos em gestantes, sen-
riormente se confundir com as alterações fisiológicas da do considerada a primeira escolha para essas pacientes cm
estrutura mamária. O exame da mama deve constar de: particular, por não implicar risco para a mãe nem para o feto.
lnspeção estática e dinâmica, quando serão ava- Possibilita distinguir os nódulos sólidos dos císticos c os
liados o desenvolvimento, a forma, o volume da benignos dos potencialmente malignos. Os nódulos benig-
mama, retrações ou assimetrias, bem como as ano- nos geralmente apresentam paredes regulares, fin as e com
malias de desenvolvimento (aréola proeminente, limites nítidos, os ecos internos são homogéneos c regula-
mama supranumerária, ausência completa das ma- res, exibindo também forte refri ngência da parede posterior
mas, hipertrofia ou hipoplasia glandular; retrações com sombra lateral. Os nódulos suspeitos possuem bordas
ou alterações cutâneas; pele, mamilos c aréola); irregulares, denteadas ou pol imorfas, os ecos internos são
palpação das mamas e regiões linfonodais. A do- heterogêneos c irregulares, com atenuação da parede poste-
ença surge, na grande maioria das vezes, como um rior e sombra acústica medial. t consenso que todas as ges-
nódulo ou área dominante suspeita. Na mulher tantes com nódulo de mama suspeito devam ser submetidas
grávida, o achado de anormalidades na consulta à verificação histológica ou citológica. 2 Os critérios de Ko-
exige planejamento mais agressivo em relação ao bayashi são os mais utilizados na diferenciação dos nódulos
adotado nas mulheres de mesma idade. 2 benignos dos malignos (Quadro 43. 1).

Noções Práticas de Obstetrícia


Q uad ro 43.1 ICritério de Kobayashi para diferenciar nódulos mamários
Nodulas Bordas Tumorars Ecos l 1ter nos Ec os Ret rotumorars

Benignos Paredes regulares. finas Homogêneos. regulares Fortes refringências da parede posterior
Limites nftidos Sombra lateral I

Malignos Irregulares, denteadas, Heterogêneos, irregulares Atenuação da parede posterior


polimorfas Sombra medial

RESSONÂNC I A MAGNÉT ICA secretor nas células ductais (ácinos) epiteliais dos lóbulos.
As complicações das biópsias por agulha podem aconte-
A ressonância nuclc:u magnética não é recomendada cer quando njo se respeitam as normas relativas à correta
no diagnó tico, devido ao eu alto custo, à incapacidade técnica de execução. Relativa mente frequentes são as com-
de detectar microcalcificações e à incerteza em relação aos plicações hemorrágicas como hema toma e equimoses. As
efeito da exposição do feto a campos magnéticos intensos complicações infecciosas são excepcionais. O pneumotó-
e ao Gadolfnio.4 rax é raro, mas de mais gravidade.'

PUNÇÃO AS P IRAT IVA BIÓPSI A C IRÚRG I CA

A punção aspirativa por agulha fina (PAAF) possibilita A biópsia de mama "a céu aberto" é frequentemente
o diagnó tico imediato dele ão cística e galactocele , bem necessária. Pode ser realizada nos ca os em que os outro
como a retirada de células das lesões sólidas para exame ci- métodos meno invasivos, já descrito anteriormente, não
tológico. As complicações mais frequente da PAJ\F ão: forem conclusivos. O risco de complicações devido ao
hematoma, infecção e pneumotórax. Qyando a punção é procedimento ser realizado cm pacientes grávidas deve ser
realizada antes da mamografia, pode produzir falsa ima- enfatizado. Está aumentado o risco de hematomas no pós-
gem sugestiva de malignidade.5·6 -operatório, atribuído a mais vascularização das mama na
ge tação, devendo er realizada rigoro a hemostasia duran-
te o pro edimento, bem como a utilização de drenes, que
BIÓPSI A PERCUTÂN.EA são úteis para a prevenção de hematoma e/ou seroma no
pós-operatório imediato. t mais alto o risco de infecção da
A bióp ia percutânea geralmente é um método bem ferida operatória, principalmente c a mãe estiver amamen-
tolerado, pode ser realizada por meio de vário dispositivos tando, urna vez que o leite materno é excelente meio de cu1-
e pedais: Vim- ilvermann, Tru-Cut, Forage e pistola de tura para bactérias, o que podere ultar no desenvolvimen-
Core-Biopsy. Todos esses métodos reti ra m pequenos frag- to de uma n tula mamária. A técnica anestésica de no a
mentos para exame anatomopatológico, levando ao diag- preferência é o bloqueio intercostal, tendo como objctivo
nó tico definitivo. Possui indicação formal cm tumores reduzir os riscos para o feto bem como permitir excelente
maiores. Deve-se lembrar de informar ao patologista que o abordagem da mama.8•9
material enviado trata-se de um fragmento de mama de pa-
ciente gestante, devido à possibilidade de confusão do lau-
do anatomopatológico pela alterações decorrentes da ge - E STADIAMENTO
ta ão. Os mai ignificantes efeitos morfológicos durante a
ge tação são observados nos lóbulos. O número de ácinos O cstadiamento para o câncer de mama segue o ente-
por lóbulo aumenta significativa mente na gestação. A ativi- rios da classificação T M com base em parâmetros clíni-
dade proliferativa está aumentada durante as primeiras 20 cos e cirúrgicos (Quadros 43.2 e 43.3). Devem ser realizados
emanas da gestação, refletida pela existência de numerosas anamne e c exame clínico detalhado. A avaliação sanguínea
figuras de mitose. Pode ocorrer, ainda, acúmulo de material consiste de: hemograma completo, bilirrubinas, tran am i-

Câncer de Mama e Gravidez 679


nases, fosfatase alcalina (a fosfatase alcalina pode estar eleva- principalmente na avaliação de metástases hepáticas. A cin-
da na gravidez, sem associação com lesão hepática ou metás- tilografia óssea está contraindicada na gravidez, no entanto,
tase óssea) e desidrogenase lática. O Raio-X de tórax em PA em pacientes com sintomas suspeitos ou quando a avaliação
e perfil é pouco útil nos estádios iniciais (estádio I e II), pois é considerada essencial para definir alguma conduta, a cin-
a incidência de metástases subclínicas nessa fase varia de 1 a tilografia pode ser feita procurando-se realizar hidratação
1,5%, entretanto, está indicado como avaliação pré-cirúrgica vigorosa e uso de sonda vesical de demora, o que diminui
e deve ser usada proteção da paciente com avental de chum- a exposição fetal à radiação.A tomografia computadorizada
bo (dose do feto estimada em 0,06 mrad). O ultrassom de deve ser evitada e a ressonância magnética não deve ser utili-
abdome é um exame considerado inócuo e está indicado zada no primeiro trimestre de gravidez.8•9•10

Quadro 43.21 Sistema de estadiamento do câncer de mama: sexta edição da AJCC


Tumor prrmárro (T)

Tx Tumor primário não pode ser avaliado


TO Nenhuma evidência de tumor primário
Tis Carcinoma in situ
Tis (DCIS) -Carcinoma ductal in situ
Tis (LCIS)- Carcinoma lobular in situ
Tis (Paget)- Doença de Paget do mamilo sem tumor
Nota: doença de Paget associada a tumor é classificada pelo tamanho do tumor
T1 Tumor de 2 cm ou menos na maior dimensão
Tlmic - Microinvasão de 0.1 cm ou menos na maior dimensão
T1a- Tumor maior que 0,1 cm, mas não que 0,5 cm na maior dimensão
T1b- Tumor maior que 0,5 cm. mas não que 1 cm na maior dimensão
Tlc- Tumor maior que 1 cm. mas não que 2 cm na maior dimensão
T2 Tumor maior que 2 cm. mas não que 5 cm na maior dimensão
T3 Tumor maior que 5 cm na maior dimensão
T4 Tumor de qualquer tamanho. com extensão direta à parede torácica ou à pele. só como descrito a seguir: I
T4a- Extensão à parede torácica. não incluindo o músculo peitoral.
T4b- Edema (incluindo casca de laranja) ou ulceração da pele da mama ou nódulos cutâneos satélites confinados
à mesma mama.
T4c - Tanto T4a quanto T4b.
T4d- Carcinoma inflamatório.
Lrnf onodos Regronars lN)

Nx Linfonodos regionais não podem ser avaliados (p.ex .. previamente removidos) I


NO Nenhuma metástase de linfonodo regional I
N1 Metástase em linfonodo(s) axilar(es) ipsilateral(is) móvel( is) I
N2 Metástase em linfonodos axilares ipsilaterais isolados ou em cadeia ou em nódulos mamários internos ipsilaterais
clinicamente aparentesA na ausência de metástase de linfonodos axilares clinicamente evidentes
N2a - Metástase em linfonodos axilares ipsilaterais fixos uns aos outros (emaranhados) ou a outras estruturas
N2b - Metástase só em nódulos mamários internos ipsilaterais clinicamente aparentesA e na ausência de metás-
tase em linfonodos axilares clinicamente evidentes
Continua.. .

680 Noções Práticas de Obstetrícia


continuação
Quadro 43 .2 1Sistema de estadiamento do câncer de mama: ex ta edição da AJCC

L111fonodos Reg1ona1s lN I

NJ Metástase em linfonodo(s) infraclavicular(es) ipsilateral(is) ou em linfonodo(s) mamário(s) interno(s) ipsilateral(is)


Iclinicamente aparente(s)A e na metástase em linfonodo axilar clinicamente evidente ou metástase em linfonodo(s)
supraclavicular(es) ipsilateral(is) com ou sem movimento de linfonodo mamário interno ou axilar
N3a - Metástase em linfonodo(s) infraclavicular(es) ipsilateral(is) e linfonodo(s) axilar(es)
N3b - Metástase em linfonodo(s) mamário(s) interno (s) ipsilateral(is) e linfonodo(s) axilar(es)
N3c - Metástase em linfonodo(s) supraclavicular(es) ipsilateral(is)
LlllfOilOdos reg 1or1a1s lpNI

pNx j Linfonodos regionais não podem ser avaliados (p.ex.• previamente removidos ou não removidos para patologia)
pNO Nenhuma metástase de linfonodo regional histologicamente. nenhum exame adicional para células de tumor isoladas
(ITC)0
pNO(i-) - Nenhuma metástase de linfonodo regional histologicamente, IHC negativo
pNO(i+)- Nenhuma metástase de linfonodo regional histologicamente. IHC positivo. sem indicação de IHC maior que 0.2 mm
pNO(mol-)- Nenhuma metástase de linfonodo regional histologicamente. achados moleculares negativos (RT-PCR)E
pNO(mol+)- Nenhuma metástase de linfonodo regional histologicamente, achados moleculares positivos (RT-PCR)E
pNlmi Micrometástase (maior que 0,2 mm, nenhuma maior que 2 mm)
pNl Metástase em um a três linfonodos axilares e/ou nódulos mamários internos com doença microscópica detectada por
dissecação de linfonodo-sentinela, mas não clinicamente aparenter
pNla- Metástase em um a três linfonodos axilares
pNlb- Metástase em nódulos mamários internos com doença microscópica detectada por dissecação de
linfonodo-sentinela, mas não clinicamente aparenteFG
pNlc- Metástase em um a três linfonodos axilares e em linfonodos mamários internos com doença microscópica
detectada por dissecação de linfonodo-sentinela. mas não clinicamente aparenter
pN2 Metástase em quatro a nove linfonodos axilares ou em linfonodos mamários internos clinicamente aparentesAna
ausência de metástase em linfonodos axilares
pN2a - Metástase em quatro a nove linfonodos axilares (no mfnimo um depósito de tumor maior que 2 mm)
pN2b - Metástase em linfonodos internos mamários clinicamente aparentesA na ausência de metástase em
linfonodo axilar
pNJ Metástase em 10 ou mais linfonodos axilares ou em linfonodos infraclaviculares ou em linfonodos mamários internos
ipsilaterais clinicamente aparentesAna presença de um ou mais linfonodos axilares positivos ou em mais de três linfa-
nodos axilares com metástase microscópica clinicamente negativa em linfonodos mamários internos ou em linfonodos
supraclaviculares ipsilaterais
pN3a- Metástase em 10 ou mais linfonodos axilares (no mrnimo um depósito de tumor maior que 2 mm) ou metás-
tase para linfonodos infraclaviculares
pN3b - Metástase em linfonodos mamários internos ipsilaterais clinicamente aparentesAna presença de um ou
mais linfonodos axilares positivos ou em mais de três linfonodos axilares em linfonodos mamários internos com
doença microscópica detectada por dissecação de linfonodo-sentinela. mas não clinicamente aparentar
pN3c - Metástase em linfonodos supraclaviculares ipsilaterais
Metastase drstante IMI

Mx Metástase distante não pode ser avaliada


---1-

~Nenhuma metástase distante

Ml IMetástase distante

Câncer de Mama e Gravidez 681


Q uadro 43.3 1Grupamento de estádio

I o Tis NO MO
I ns NO MO
--

liA TO N1 MO
ns N1 MO
T2 NO MO
---
118 T2 N1 MO -1
T3 NO MO
IIIA TO N2 MO
ns N2 I MO
T2 N2 MO
T3 N1 MO
T3 N2 MO
1118 T4 NO MO
T4 NO MO
T4 N1 MO
T4 N2 MO
--
III C QualquerT N3 MO
- - --
I IV QualquerT Qualquer N M1
AJCC = Ameocan Joint Commmee on Cancer.
• Clinicamente aparente é definido como detectado por estudos de representação (e~c eto linfocintilografia) ou por e~ame clfnico.
8 T1 1nclui T1 m1c
t Esta classificação é baseada em d1ssecação de linfonodo a~ilar com ou sem dissecação de linfonodo-sentinela. A classificação baseada exclusivamente em disse·
cação de linfonodo-sentinela sem subsequente dissecação de linfonodo axilar é designada (sn) para nódulo sentinela. Por exemplo. pNO(i')(sn).
°Células de tumor isoladas (ITC) são definidas como células de tumor únicas ou pequenos grupos de células não maiores que 0,2 mm. geralmente detectadas so·
mente por métodos moleculares ou imuno1stoquímicos (I HC). mas que podem ser verificadas pelo método da hematoxllina e eosina.ITCs geralmente não evidenciam
ativ1dade metastática (p.ex .. proliferação ou reação estromal).
1
RT·PCR. reação em cadeia transcriptase-polimerase reversa.
r Nãoclinicamente aparente é defimdo como não detectado por estudos de representação (exceto lmfocintilografia) ou por exame clínico.
G Se associados a mais de três hnfonodos a~ilares positivos. os nódulos mamários internos são classificados como pN3b para refletir a gravidade aumentada do tumor.

TRATAMENTO TRATAM E NTO C I RÚ R G IC O

O trata mento do d ncer de mama na gravidez deve A mastecto mia radical modificada é a abordagem lo-
considerar a idade da gestação e o estádio da doe nça. Em cal preferida para a pacientes com câ ncer de mama as-
linha gerais, o tratamen to segue os me mos princípios sociado à gravidez. A princip al limitação para a cirurgia
e orientações que os casos fora do período gestacio nal, conservadora consiste no risco de da nos fe tais relaciona-
pois não há evidência de que o câ ncer de mama e m ges- dos à radiote rapia. A anestesia geral durante a gravidez
tantes seja biologicamente diferente daquele em mulhe- deve ser realizada com cuidado, pois vários fatores devem
res não-gráv idas na p ré-menopausa. A interrupção da ser lembrados, incluindo au mento do volume sang uíneo,
gravidez não melho ra a sobrevida c o aborto em nosso do débito cardíaco, d a contagem de plaquetas e níveis de
meio só encontra amparo médico -legal nos casos de ris- fibrinogênio, h ipotensão cm posição supina, d im inuição
co de morte materno comprovado. Além disso, o possí- da capacidade pulmona r funcional residua l, elevação do
vel risco teratogen ico da terapêutica, isolad amente, não diafragma, esvaziamento gástrico prolongado e hiper-
justifica a interrupção. 1112 vascu la ridade da m ucosa do sistema respiratório. O risco

682 Noções Prát icas de Obst et rícia


teratogênico da associação das drogas anestésicas é quase ncoadjuva ntc. A quimioterapi.l durante a gravidez tem riscos
inexistente. 11· 14•1' O tratamento cirú rgico conservador da reais para o feto além das toxicidades conhecidas para a mãe.
mama com irradiação pode ser planejado com a radiote- Antes de se completar a organogênese, a malformação fetal
rapia feita apó o parto, o que geralmente ocorre quando devido à exposição i11 ulero a quimioterápicos pode ser de até
o diagnóstico é feito no final do segundo ou terceiro tri- 20'\J, sendo que os riscos mais altos acontecem com o empre-
mestre de gravidez. As principais restrições relacionadas go de antimetabólitos (como o metrotexato, por exemplo) e
à radioterapia n:1 gravidez ão, essencialmente, as doses de alcaloides da vinca (vincristina, por exemplo). Após o pri-
absorvidas pelo feto em relação à idade gestacional e os meiro trimestre, a exposição do feto à quimioterapi:t parece
efeitos sobre o prognóstico da radioterapia para após o oferecer poucos ri cos de teratogênese, ma pode re ultar
parto. 16•1' A abordagem da axila pela biópsia do linfonodo- em crescimento intrauterino restrito, baixo peso ao na~cer
- enti nela pode ser realizada durante a gravidez. 18·19•20 A ou parto pré-termo. Considerando os riscos inerentes ao pri-
dose de radiação para o feto é desprezível, no entanto, uso meiro trimestre, o adiamento da terapia istêmica até após 12
de corante azul não é recomendado devido ao caso de a 13 emanas de gestação seria a conduta mais prudente a ser
reações anafi lática .20 tomada. Em um estudo conduzido por Berry et ai., 24 mulhe-
res tratadas com 5-fluoracil, doxorrubicina c ciclofosfam id,l
durante o segundo c terceiro trimestres da gravidez comple-
RADIOTERAPIA taram com sucesso a gcst.1ção c o parto, com complicações
míni mas no período pré-parto. Não foram relatados abortos,
A radioterapia está contra indicada dura nte a gr,widcz. parto pré-termos ou anormalidade fetai logo após o par-
Exceto para os casos cm que se pode realizar o tratamento to. A avaliação clínica das cri.1nças expostas à quimioterapia
radioterápico no pó -p.lrto, a técnica padrão de irradiação in útero não demonstrou atrasos neurocognitivos ou de de-
do campo mamá rio é inaceitavelmente alta para o feto. senvolvi mento nessas crianças, que foram avaliadas durante
Um tratamento completo irá expor o conccpto a doses de seus primeiros 11 anos. As paciente submetidas à quimio-
20 a 100 cGy, dependendo do campo e da altura uterina. tcrapi.l durante a gestação devem ser consideradas grávidas
Sabe-se que o ri co de malformações aumenta quando a de alto risco, devido ao aumento de prematuros c de menos
dose de irradiação é superior a 1OcGy. A sensibilidade fe- crescimento intrauterino. A quimioterapia dada adjuvante
tal máxima verifica-se durante o período de orga nogênese. ou neoadjuvantemcnte pode levar à menopausa precoce, sen-
Porém, no último trimestre, devido à proximidade do feto do idade, droga e dose-relacionada. Para mul heres gue foram
com os campos de radioterapia, h,\ consideráveis riscos de tratadas com sucesso c que permaneceram férteis, a gravide?
efeito · adversos. 11 subsequente não tem sido associada a piores re ultado para
a paciente ou a anormalidades fetais.2 211·24

QUIMIOTERAPIA
HORMONIOTERA P IA
A quimioterapia adJuva nte deve ser adiada, de preferên-
cia, até o término do primeiro trimestre, sendo considera- A gravidez pode diminu ir o nívei de rcccptore hor-
da ótima terapia si têmica a partir do segundo trimestre e, monai no citoplasma da células do càncer de mama, cul-
mesmo assim, o uso de anti metabólitos como mctrotexato minando cm resultados fal o-negativos, porque os altos
c 5-fluoracil deve ser evitado. Como regra geral, os guidelines teores de estrogênio circulante nas gestantes causam trans-
de administração de terapia sistémica a pacientes não-grávi- locação dos receptores no núcleo c ocupam todos os cito-
das podem -er adaptado para pacientes grávidas. Por isso, plasmáticos. A dificuldade de definir se o tumor é receptor
mulheres que têm doença linfonodo positiva, com tumores hormonal positivo ou negativo é mais um entrave à hormo-
maiores ou iguais a 1 cm, pouco diferenciados, devem ser niotcrapia, pois não se sabe e o tumor rc ponderá ou não à
candidatas à terapia sistémica adjuvante. Aquelas com tu mo- ma nipulação hormonal. Em pacientes jovens, independen-
re maiore , ou seja, maiores que 5 cm ou aquelas com status temente da gravidez, os tumores são geralmente indiferen-
axilar clínico N2 devem ser candidatas à terapia sistémica ciadas e receptores hormonais negativos. O uso do tamo-

Câncer de Mama e Gravidez 683


xifeno durante a gravidez é ainda controverso e tem sido dez, porém existe uma tendência a supri mir a lactação pelo
considerado inapropriado devido à possível teratogênese e à desconhecimento dos riscos. Nos casos em que após o parto
falha na sua eficácia nesses casos. Não há informações sufi- há indicação de quimioterapia antineoplásica, a amamenta-
cientes sobre o uso de outras formas de hormonioterapia. 25 ção está contraindicada porque os medicamentos geralmen-
te utilizados podem atingir níveis significativos no leite.2

ESTÁ DIO I F ll
GRAVI DEZ APÓS CÂNCER DE MAMA
São tumores operávei . A mastectomia é uma opção
apropriada, ma o tratamento conservador pode ser ofe- A gravidez após o tratamento do câncer de mama não
recido se o diagnóstico for feito próximo do termo. A qui- está cont raindicada. Recomenda-se aguardar dois ano
mioterapia adjuvante poder:i ser admi nistrada, quando após o tratamento para ultrapassar o período de alto risco
houver indicação oncológica, preferencialmente a partir da de recidiva da neoplasia. A gravidez durante o uso dotamo-
20• semana e sem agentes antimetabólicos.21 xifeno não é recomendada. 2 ~

ESTÁDIO'i I III' I V ABORTAMENTO

São tumores localmente ava nçados ou doença sisté- A interrupção da gravidez não melhora o prognóstico
mica. O tratamento inicial é clínico, com quimioterapia. A da doença se o trata mento adequado for instituído e está
cirurgia indicada, mastectomia ou tumorectom ia, depen- indicada apenas nos casos de risco de morte materna. 16
derá da resposta ao trata mento clínico. 13

DATA DO PARTO
EFEITOS SOBRE O FETO E A GESTAÇÃO
Quando a paciente está em tratamento quimioterápico, a
O período embrionário dura até a nona semana de data do parto deve levar em consideração seu estado imuno-
gestação e a partir da lO• semana inicia-se o período fetal. lógico, visando diminuir os riscos de infecçõe perinatais 2 '
Agravos à gestação durante o período embrionário resul-
tam em abortamento espontâneo ou malformações im-
portantes, enquanto que no período fetal predominam as C ONCLUSÕES
alterações de crescimento e de envolvimento. A suscepti-
bilidade a drogas teratogênicas e à rad iação di minui com Durante muitos anos o mau prognóstico do câncer de
a evolução da gr,widez e torna-se mínima após a organogê- mama durante a gravidez foi ressaltado como decorrente
nese. As metástase para o concepto são ra ras. Os estádios de :~Iterações específicas que ocorrem du rante a gestação.
l e li não interferem na evolução da gravidez, já nos casos Acreditava-se que os altos índices hormonais, a vasodila-
avançados e metastáticos pode haver agravamento do esta- tação sanguínea e linfática e a imunodeficiência própria da
do geral, podendo comprometer o crescimento int rauteri- gestação fossem responsáveis pelo prognóstico ombrio em
no. O tipo de parto não interfere na evolução da doença e a muitas situaçõe . Atua lmente, sabe-se que o prognóstico
indicação da via de parto é apenas obstétrica.25 não depende da gravidez em curso, mas sim do estad ia-
menta da doença e da idade da paciente ao diagnó tico. O
exame clínico das mamas deve ser realizado rotineiramente
LACTAÇÃO pelo obstetra e, em caso de su peita clínica, a investigação
nunca deve ser postergada. Propedêutica de imagem pode
ão há evidências de que a supressão da lactação melho- ser utilizada, sendo a ultrassonografia o método de esco-
re o prognóstico de pacientes com câncer de mama na gravi- lha nessa fase. Os métodos invasivo podem ser úteis, en-

Noções Práticas de Obstetrícia


9. Puckridge PJ, Saundcr CM, lvcs AD, Semmen~ J B. Brca~t
treta nto, o patologista deve ser informado da existência de Canccr and Prcgnancy: A Diagnosttc and Management Dt·
gravidez, pois há altcraçõc cito e histológicas significativas lcmma. A ZJ Surg.2003;73:500-503
durante cs c período. Após definição do diagnóstico, o cs- 10. Loibl S,Minckwitz C,Cwyn Kel ai.Brcast Carcinoma during
tadia mcnto deve ser feito o mais breve possfvcl, avaliando- Prcgnancy: lntcrnatJOn.tl Recomcndattons from na Expcrt
Mecting.Canccr 2006; 106:237-246.
-se os ri cose benefício dos métodos di poníveis. Exames
11. Gemignani ML,Petrck JA.Breast CJnccr during Prcg-
laboratoriais, radiografia de tórax e ultrassom de abdome
nancy: Diagnostic and Thcrapcutics Dtlcmmas.Adv
são realizados com segurança. A ci ntilografia, qua ndo in- urg.2000;34:273-286.
dicada, poderá ser feita, tomando- e o cuidados necessá- 12. Robinson OS, Sundar.1m M,Laki n GE.Carcinoma of thc
rios. Outros métodos propedêuticas como a tomografia c Brcast in Prcgnancy and Lactation.l n:Biand KI,Copeland
ressonância devem ser evitados. A escolha do tratamento EM,cd1torcs. 'lnc BrcJ\l: Comprchcn,avc Managcmcnt f
Benign and Maligna! D1scase. Phdadclphia: WB Saundcrs;
deve levar em consideraç:-10 o estadiamcnto da doença, ca-
1998.p. l433-1445.
racterísticas preditivas e prognósticas do tu mor c a idade
13. Ring AE,Smith IE, EIIis PA.Breast Cancer and Prcgnancy.
gestacional. O tratamento cirúrgico pode ser instituído em Ann Oncol. 200S;I6:18SS· I860.
qualquer fase da gravidez. A quimioterapia deve ser efetua- 14. Barthclmcs L,Davidsoni .A,GafrneyC,GateleyCA.Prcgnancy
da preferencialmente apó o primeiro trimestre e a radiote- and Breast Canccr. Br Mcdj.2005;330: 1.)75-1378.
rapia reservada para o pós-parto. A interrupção da gestação IS. White 1T.Carcinoma of Brcast and Prcgnancy:Analysis of
não influencia no prognóstico da doença e sua indicação 920 case collcctcd from the Literaturl! and 22 Ncw Cases.
AnnSurg. l9' 4;139:9-18
deve ser feita com muito critério, equilíbrio e discutida am-
16. PctrekJA,DukofrR,Progatko A.Prognom ofPregnant-As o-
plamente com a paciente c sua famíl ia.
ctated Brea t Cancer .Ca nccr 1991 ;67:869-872.
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Breast Ca nccr. N Engl J Mcd.2003;348:1672-1680 20. Pandit-Task ,Da,•cr LT,Montgomery L et ai.Organ and
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Câncer de Mama e Gravidez 685


Neoplasias não Ginecológicas
Roberto Carlos Duarte
Renato Nogu eira Costa

Incidência Melanoma
Aspectos Gerais do Diagnóstico Câncer Colorretal
e Tratamento Câncer da Tireoide
Linfomas Fertilidade e Gravidez em
Lin foma de Hodgkin Sobreviventes ao Câncer
Linfom a não Hodgkin Preservação da Fertilidade em
Leucemias Pacientes Oncológicos
Mieloma Múltiplo Conclusões

terapêuticas e o tempo de sua utilização devam ser individu-

O
câncer é doença ligada a modificações compor-
tamentais das células, que tem como causa alte- alizados, obstetras e oncologistas devem oferecer, si mu ltane-
rações genéticas. Dentre as características adqui- amente, a terapia ideal à mãe e o melhor bem-estar possível ao
ridas pelas células malignas, destacam-se a perda do controle feto. O manuseio des ta delicada situação deve, portanto, ser
de sua replicação e a capacidade de metastatização. conduzido por equipe multidisciplinar de excelência.
Q uase toda célula pode se tornar cancerosa e mais de O diagnóstico e estadiamento desses tu mores devem
250 tipos diferentes de cânceres humanos já foram iden- se limitar a procedimentos que não coloquem em risco a
tificados. Estudos epidemiológicos indicam que a maioria saúde do feto. Especialmente du rante o primeiro trimestre
dos tumores resulta da exposição a fatores ou agentes am- da g ravidez, apenas investigações radiológicas absoluta-
bientais (como tabaco, dieta, irradiação, atividades profis- mente necessárias são justificadas. Biópsias, endoscopias,
sionais, comportamento sexual e estilo de vida). A chance punção lombar, mielograma e biópsia de medula óssea
de desenvolver câncer depende também de outros fatores são exem plos de procedi mentos que podem ser realizados
como idade, sexo, história fam iliar, constituição genética e com segurança, observadas as necessárias precauções.
estado imunológico, entre outrosY Os médicos envolvidos no tratamento dessa condição
Câncer durante a gravidez representa um paradoxo filo- devem ter sempre em mente o benefício da vida materna,
sófico e biológico, um dos eventos mais dramáticos na vida tratando tumores tratáveis, protegendo o feto e o recém -
da mulher, de seu parceiro e de sua família. O diagnóstico e -nascido dos efeitos deletérios da terapia e buscando pre-
abordagem terapêutica são especialmente difíceis porque en- servar o sistema reprodutivo da mulher, sempre que possí-
volvem duas pessoas, a mãe e o feto. Embora as modal idades vel, para gestações fut uras.
Alguns agentes quimiotcrápicos podem ser segura- Não existem dados suficientes no que diz respeito à te-
mente administrados durante o segu ndo e terceiro trimes- ratogenicidade da maioria dos agentes citotóxicos, embora
tre da gravidez, enquanto a radioterapia deve er evitada quase todos tenham demonstrado efeitos teratogcnicos no
durante toda a gestação; contudo, determinadas situações modelo animal.3 Vi to que e a ubstàncias ão geralmente
requerem sua utilização ante do parto. estes casos, tu- utilizadas em combinação, a maioria dos relatos advém do
mores distantes da pelve podem ser adequadamente trata- uso de poliquimioterapia, o que torna difícil avaliar o efeito
do com radiação ionizante fundamentada em cuidadoso exato de cada medicamento. O potencial efeito tcratogênico
plancjamento. O mesmo não é verdade para cânceres pél- de qualquer agente antiblástico utilizado durante a gravidez
vicos, que não podem er irradiados sem graves ou, mais depende da dose total c do estádio de desenvolvi mento do
provavelmente, fatais consequências par,\ o feto. feto à época da exposição. Q.Jimioterapia du rante o primei-
Ci rurgia sob anestesia geral é normalmente egura du- ro t ri me~tre pode aumentar o ri co de abortamento, morte
rante o trê trimestre . fetal c malformações maiorcs.5·6•7 Malformações dependem
Evidências acumuladas na últimas décadas sugerem da idade gcstacional de exposição c o embrião é cxtrcmante
não er a gravidez uma variável independente de pobre vulnerável no período de duas a oito semanas (quatro a IO
prognóstico para a sobrevida dessas pacientes, sendo esta semanas de amenorreia), cm que ocorre a organogcnese. \.~
semelhante para pacientes grávidas e não grávidas porta- Após esse período, diverso órgão como olhos, genitália, sb-
dora do mesmo câncer. tema hematopoiético e sistema nervo o central permanecem
A célula tumorai da mãe podem cr transmitidas vulnerávci à quim ioterapia. 1·~ A exposição fetal a citotóxicos
verticalmente para a placenta e para o feto, fenômeno raro, no primeiro trimestre está associada a aproximadamente
mais comumcnte descrito em melanoma. Exames ma- lOa 2096 de risco de malformaçõe maiores,8 sendo os an-
cro cópicos e histológico da placenta, assim como exame tagonistas do folato os mais fortemente implicados. Além
citológico do sa ngue do cordão umbilical devem er reali- desse efeito, os agentes antiblá ticos podem afctar a gravidez
t.ado de rotina. de várias outras formas, provocando abortos espontâ neos,
Por se tratar de evento dramático, de profundo impacto restrição do crescimento intrauterino e baixo peso ao nasci-
na vida da paciente, de ua família e dos profi ionai envol- mento. Efeitos maternos como náu cas/ vômitos c citopcnias
vidos na assistência, diversos aspectos médicos, psicológi- (com risco de infecção) podem, ind iretamcntc, ,\Cometer o
cos, religiosos, sociais c éticos contribuem para a decisão feto, requerendo uso de anticméticos, fatores de crescimento,
final e o estabelecimento de uma relação de confiança pa- hemotransfusões e antibióticos. A placenta pode ta mbém ser
ciente-médico-fam ília é imperativo. O trata mento des a afetada como, por exemplo, inibição da migração e prolife-
pacientes envolve elevada carga emocional por parte de ração de células trofoblásticas durante o primeiro trimestre
toda a equipe multidisciplinar, a quem deve também cr à exposição à 6-mercapto-purina.9 Q.Jimiotcrapia durante o
oferecido suporte p icológico. segundo e terceiro trimestre de gravidez não está associada
0!-Jando se planeja tratar pacientes grávidas com qui- a efeitos teratogênico , mas aumenta o risco de re trição do
mioterapia, é importante que se considerem as mudanças crcsci tnento intrautcrino e de baixo peso ao nascimento, não
fisiológicas normais que ocorrem durante a gravidez, inclu- associados a compiicações em longo prazo, podendo o u o de
!>ive o au mento do volu me plasmático (cm cerca de 5096) e poliquimioterapia, nes e período, er benéfico para a mulher.
do clareamento renal das drogas, o terceiro espaço criado Existem diversas situações que merecem especial con-
pelo líquido amniótico e mais rapidez de oxidação hcpáti- sideração, uma vez que a administração de quimioterapia
ca.3 Es a muda nças podem reduzir as concentrações ati- pode ser mais flexível c individual izada, de acordo com as
vas dos medicamentos comparativamente à mulheres não circunstâncias. Por exemplo, qua ndo um câncer inicial é
grávidas com mesmo pe o corporal. diagnosticado no fina l do primeiro trimestre, pode-se consi-
A maioria das substâncias com massa molecular infe- derar adiamento da quimioterapia sob cuidado a vigilância
rior a 600 Kilodaltons (KDa) cruza a pia enta. Uma vez clínica. Ao início do egundo trimestre, poliquimiotcrapia
que a maioria do agente citotóxicos tem massa molecu- adequada poderá então ser administrada. Em casos raros,
Ltr entre 250 e 400 KDa, virtualmente todos atrave sam a como linfoma de Hodgkin estádio I restrito a linfonodos
placenta e chegam ao feto. 4 cervicais, radioterapia loca l criteriosa pode ser considerada

688 Noções Práticas de Obstetricia


em substituição à quim ioterapia, sem riscos para o feto. Em INCIDÊNCIA
outras situações, monoquimioterapia com antraciclinas ou
alcaloides da vinca, seguida de p oliquimioterapia ao fim do A coexistênc ia de câncer e gravidez é rara. A incidência
primeiro trimestre, pode ser alternativa adequada. é de aproximada mente uma em l.OOO gestações e varia de
O s princípios da quimioterapia durante a gravidezes- 0,07 a 0,1% de todas as neoplasias malignas, sendo o cân-
tão sumarizados na Figura 44.1 . cer respo nsável por um terço dos óbitos ocorridos durante
a gestação. 10 Tumo res benignos, como feocromocitoma e
tumores dermoides, podem também ser observados du-
cancer diagnosticado durante a gravidez
rante a gravidez.
A mulher grávida não é mais susceptível ao câncer do
que a não grávida, mas as primei ras tendem a desenvolver
determinados tipos de neoplasia que são comuns em sua
faixa etá ria, como câncer de mama, de colo uterino, de ti-
~ possfvel adiar o Administre QT reoide, de cólon, linfomas, leucemias e melanoma m a lig·
tratamentocom adequada
no. O tumor por si geralmente não acomete o feto di reta-
segurança até o fim
do 1° trimestre? mente, uma vez que é raro o processo de metastatização
Adie o parto até para a placenta o u feto. Contudo, qualquer doença ma is
1 perfodo não- grave e potencialmente fatal pode comprometer o feto in-
citopênico d iretamente. Nesses casos a gestação é ra ramente possível,
Não Sim
uma vez que mu lheres gravemente doentes tendem a ser
infé rteis (Tabela 44.1). 11 •12

Tabela 44.1 ICâncer na G ravidez1•6

SitiO Nu111e1 o ele casos Pe1cent ual (%)

Mama 298 26 I

Colo uterino 294 26 I


leucemia 174 15 I
antraciclina, se
1
aplicável ainda no
1o trimestre
Linfoma 119 10 I
Melanoma 93 8 I
Tireóide 45 4 I
Administre QT
adequada ao fim do
Outros 111 11 I
1o trimestre ITotal 1134 100 1
Figura 44. 1 IAlgoritimo sugerido para uso de quimioterapia
(QT) antiblástica durante gravidez.

ASPEC TOS G ERA IS DO


Adiamento do parto por duas a três semanas deve ser
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
considerado após quim ioterapia para permitir rec uperação
medular. Adicio nalmente, recém-nascidos, esp ecialme n-
te prematuros, têm limitada capacidade de metabolizar e Na maioria dos casos, a g ravidez não parece alterar o
eliminar medicamentos devido à imaturidade hepática e comportamento do câncer, embora alguns tipos de cân-
renal. O ad iamento do parto após quimioterapia materna cer possam, ocasionalm ente, assumir comportamento
permitirá excreção da medicação que alcançou a circula- diferente durante a gravidez. Sabe-se que o melanoma
ção fetal via placentária.9 ma ligno, por exemplo, não é causado pelos ho rmônios da

Neoplasias não Ginecológicas 68g


gravidez, mas pode ter seu crescimento estimulado pelas Q uadro 44.1 IEfeitos da dose de irradiação sobre o feto
transformações hormonais que ocorrem nesse período. Dose IGyi Efe1tos Sobre o Feto
Adicionalmente, existem relatos d e ra ros casos d e mela-
<0,1 Ausência de grandes efeitos 1
noma que atravessa ram a placenta e comprometeram o
feto . O diagnóstico de câncer de mama é mais difícil du- 0,1 - 0,15 Risco aumentado I
rante a gravidez (e pode se dar mais tardiamente) devido Anomalias na maioria I
às transformações que esta desencadeia na glândula ma-
>30 Aborto
mária, justificando plenamente o exame das ma mas antes
da gravidez. Sabe-se, contudo, que as c urvas de sobrevida
são semelhantes, independente mente de estar a m ulhe r Quad ro 44.2 I Radiação ion izante na gravidez: dose de
grávida ou não. irradiação no útero
Alguns exa mes necessários para o diagnóstico e esta-
EstilÇJ IO Per 10clo Efe 1tos
diamento de câncer, como os radiológicos e os rad ioisotó- Adve1sos
picos, podem compromete r o feto (Tabela 44.2).
Pré-implantação! Da concepção Letal
Pós-implantação até odécimo dia
Tabela 44.2 I Radiação ioniza nte na gravidez: dose de
imediata
irradiação no útero Organogênese Semanas 2a 6 Teratogênese. restri-
ção do crescimento
SitiO ii1Cicii!I1CiilS Oos1!IGyl OoseiGyl
illCiciei1Ciél EXélme Organogênese Semanas 12 a 16 Restrição do cresci-
tardia I Perfodo manto, comprometi-
cranio AP. PA, LAT <0,01 <0.05 fetal precoce manto neurológico.
í
Tórax AP. PA, LAT 0,01-0,05 0,02 - 0,07 microcefalia

1Mama CC.LAT 3-5 7- 20 IEstágio fetal Semanas 20 a Esterilidade, defeitos


tardio 25 até o nasci- genéticos. cancer
IColuna AP. LAT 11-65 51 - 126 menta I
lombar
Coluna AP. PA, LAT 12- 187 168-359
lombo-sacra Assi m, o estadiamento da paciente oncológica grávida
Abdome AP. PA, LAT 23 - 163 122-245 com métodos de imagem deve se limitar aos exames que
envolvem a m ínima exposição possível à irradiação. Ra-
Pielografia AP,PA, LAT 13-264 686- 1.398
diografias abdominais, ci ntilografias e tomografias com-
endovenosa
putadorizadas devem ser evitadas. Radiografias de tórax
Pielografia AP. PA, LAT 18-220 103 - 213 e ultrassonografi.as (US) podem ser real izadas sem altos
retrógrada
riscos. Em casos específicos (tumo res cerebrais ou feocro-
AP = Ântero·posterior; PA = Póstero·anterior; LAT =Lateral CC =Crânio-caudal
mocitomas), o estudo por ressonância nuclear magnética
(RN M) é recomendado por evitar os efeitos adversos da
radiação ionizante sobre o fe to. De manei ra geral, devem-
A dimensão desse efeito depende da qua ntidade da -se observar as seguintes recomendações para diagnóstico
exposição e da idade gestacional. Sempre que possível, de imagem durante a gravidez:
os exames radiológicos devem ser postergados para além US e RNM não estão associados a efeitos adversos
de I 5 semanas d e gravidez. Altas doses, como as utiliza- sobre o feto. Contudo, não se recomenda R NM du-
das em radioterapia podem, certa mente, comprometer rante o primeiro trimestre até a disponibilidade de
o feto, ind uzindo aborto, morte fetal, anomalias congé- informações mais seguras;
nitas ou mesmo o aparecimento d e câ ncer tard iamente o uso de iodo radioativo na gravidez está contrain-
(Quadros 44. 1 e 44.2). d icado;

6go Noções Prát icas de Obst et rícia


não há contraindicação absoluta à real ização de 1,4 (40% de :1umento na incidênci:l norma l com dose fet.1l
métodos diagnósticos mandatórios na mãe; de 0,0 1 Gy). Para uma criança exposta i11 utero a lO mGy,
o alto risco de retardo mental no feto ocorre quan- o risco absoluto entre zero e IS :1nos de idade é de aproxi-
do este é exposto à irradiação entre a oitava e a IS• madamente uma morte ad icional por câncer a cada 1.700
semanas de gestação. Não existe risco comprova- indivíduos da população em geral. 10 12
do antes da oitava c após a 25" sema nas, ta mpouco Malformações rad iógenas, cm geral associadas a pro-
est:í aumentado o risco de anomalias congênitas, blemas do sistema nervoso central, apresentam-se com
aborto espontâneo ou de crescimento intrauterino limi:1r de 100-200 mGy. Doses nesses nfveis só são en-
restrito consequentes à dose de irradiação inferior contradas em algu ns procedi mentos intervencionistas
a S rad (ou 0,05 Gy). O risco de carcinogêncse in- guiados por fluoroscopia c cm radioterapia. Elas não são
duzida por irradiação não supera uma em 1.000 atingidas mesmo no caso de três ex:1mes por tomogr:1fi:1
crianças irradiadas. computadori zada ou de 20 ex~unes radiológicos conven-
cionais. O sistema nervoso central é particularmente r<~­
O tratamento do câncer que ocorre du rante a gravi- diossensívcl entre a oitava c a Isa semanas de gestação. Os
dez é complicado e as decisões terapêuticas devem ser efeitos mais da nosos são o rct:1rdo mental e a microccfal i:1,
ind ividualizadas. Essas decisões podem ser f.1cilitadas se que têm incidencia de 40% por Gy e limiar em torno de
to madas por equipe mu ltidisciplinar, incluindo o obstetra, 0, 12 Gy. Efeito menos grave é a dim inu ição do quociente
o méd ico da fa mília, o oncologista, o pediatra, o neonato- de intel igência (QJ) em cerca de 30 pontos para uma dose
logista e outros especialistas assistentes. Tal interação deve de ISV. Anomalias também podem su rgi r entre a 16·' e a
ter início ao diagnóstico da neoplasia. Considerações im- 25" semanas pós-concepção, mas nesse período o risco é
porta ntes dizem respeito à saúde imediata da mãe e do feto, m:1is baixo. 13
assi m como à saúde, cm longo prazo, das crianças expostas As doses tumoricidas em radioterapia são muito altas,
a quimioterápicos e irradiação potencialmente teratogêni- em ger:1l entre 30 Gy e 80 Gy. A irradiação direta do con-
cos e carcinogênicos. ccpto, muito provavelmente, implicará letalidade. Mesmo
Q\1ando ocorre qui mioterapia ou exposição do úte- quando o embrião ou o feto est:í longe do volu me-alvo da
ro à irradiação > 0,1 Gy, de forma inadvert ida, du ran te o terapia, :1 dose for:1 do campo (devido a espalhamentos e
primeiro trimestre de gravidez, recomenda-se discutir in- transmissão pelos colimadores) pode ser bastante alta e
terrupção da gravidez. A irradiação do útero antes da con- proibitiva. Como é impossível elim inar totalmente a do e
cepção não é causa de danos genéticos significativos ou no útero (c no feto), a melhor conduta é planejar um tr:l-
de malformações subsequentes em fetos posteriormente tamento que ma nten ha a dose fetal tão baixa quanto ra-
concebidos. Este fato é demonstrado por estudos feitos em zoavelmente exequível. Preferencialmente, sempre que
pacientes expostos a altos níveis de dose (em algu ns casos possível, deve-se postergar o tratamento para depois do
cau ando até esterilidade temporária) que, após a irradia- primeiro trimestre d:1 gravidcz. 14 20
ção, engravidaram e geraram crianças normais. Manter a dose fetal baixa envolve várias atividades da
A radiação ioniza nte pode induzir mutações no código equ ipe de r:1dioterapia, destaca ndo-se:
genético celular. Em particular, a irradiação das gônadas Inicialmente, planejar o tratamento como se a p:1-
pode levar a mutações das células germi nativas c originar ciente não estivesse grávida. Em seguida, conside-
danos genéticos nas gerações subsequentes. A lnternational rar modificações no plano de tratamento inici.1l
Commission on Radiological Protection (lC RP) propõe que o que possam reduzir a dose ao feto, por exemplo,
fator de risco para todas as gerações futuras é de 1,0% Sv 1, di minu indo os tamanhos dos campos, mudando
para :1 vigência de efeitos hered itários graves.-·9 :1 direção de incidenci:1 dos feixes, escolhendo uma
Fetos são altamente r:1diossensíveis quan to ao apare- encrgi:1 maior, entre outras;
ci mento de leucem ia e de outros tumo res da inH\ ncia, que estimar a dose feta l sem blindagem especial usando
se manifesta m geralmente nas duas primeiras décadas de medidas de dose fo ra do feixe feitas em simuladores
vida. O risco relativo de rad ioindução de câncer é pratica- de tecido ou obtidas a partir de d:1dos confiáveis da
mente const:1nte dur:1ntc toda a gravidez e da ordem de literatura. Pelo meno três pontos de interesse de-

Neoplasias não Ginecológicas 6gl


vem ser dosado : o fundo uterino, a sínfise púbica e Qyando há necessidade da ad m inistração de quimio-
o ponto intermediário entre estes dois; terapia, devem-se selecionar medicamentos com menos
caso a dose fetal ultrapasse limites aceitáveis, pro- potencial de efeito deletério para o feto, cm comprometer
jetar c constru ir blindagem especial de espess ura o benefício terapeutico para a mãe. Deve-se também levar
adequada que envolva todo o abdome. Si m ul ar em conta a idade gestacional, outro fator importante na se-
um tratamento que inclua a blindagem especial c leção do ant iblástico (Q.radro 44.3).
ava li ar a dose fetal cm um simulado r de tec ido ou a
pa rtir de dados con fiáveis da literatura; Quadro 44.31 Ant iblásticos adm inistrados durante
providenciar para que o médico c o físico res- o primeiro trimestre de g ravidez e risco estimado de
ponsáveis pelo planejamento estejam presentes anomalia
nas simulações e no primeiro dia de aplicação c Droga Rrsco
que estejam disponíveis para consulta durante
Clorambucil 1:2 1
todo o trata mento, para assegurar que a blinda-
gem especial e teja empre posicionada correta c Mostarda nitrogenada 1:3 I
segura mente; Aminopterina 1:3 I
monitorar a local ização e tamanho fetais d urante 5 - Fluorouracil 1:3 I
todo o tratamento, refazendo as estimativas de dose,
Metotrexato 1:4 I
se nccc ário. o final do tratamento, estimar a
dose to tal ao fe to, incluindo o intervalo de incerteza; Ciclofosfamida 1:6 I
caso o serviço não tenha pessoal ou equ ipa mentos Citosina-arabinosfdeo 1:8 I
necessários para redução e avaliação de doses e ris-
Busulfano 1:9 I
cos, considerar o encam inhamento da paciente para
outro serviço tecnicamente mais bem-preparado.
Dura nte o primeiro trimestre os antagonistas do fo -
Se a terapia antiblástica intensiva estiver recomendada lato nunca devem er admini trados, uma vez que o uso
em fase precoce da gravidez, deve- ·e considerar a interrup- desses agentes tem sido as ociado a anoma li a fetais. 22
ção da gestação, devido ao potenciais dano ao feto. Se a Síndrome de anomalias congêni tas descrita como "sín-
opção for pelo prosseguimento da gravidez c a cura for o drome da aminoptcrina" tem como achado consistente
objetivo real, a terapia não deve ser modificada nem adiada a disostose craniana. 2 ' Outro anti metabólito estão
par,\ não comprometer o resultado. Entretanto, quando não ra ramente a sociados a malformaçõe fctai~. Dados
existe expectativa de cura, nem mesmo de paliação sign ifi- da literatura mos tram que nenhu ma das 20 pacien te s
cativa, o objetivo primário deve ser a proteção do fe to con- grávidas t ratadas exc lusivame nte com mc rcap topu rin a
tra os efeitos deletérios da quimio terapia e/ou radioterapia. aprese ntou anomalias fetais. H !>
Quando o câncer é d iagnosticado du ra nte o primeiro Agentes alq ui lantes podem ser administrados isola-
trimestre, a decisão deve ser fundamentada na possibilida- damente com relativa segurançJ no prime iro trimestre. 26
de ou não de se adiar o tratamento com segurança até o se- Embora o sul fa to de vimblastina seja a ltamente terato-
gundo trimestre ou mais tardiamente. Em caso de tumores gênico no modelo animal, a observação de anomalia con-
diagnosticados após 20 semanas de gestação o adiamento génita é pouco comum quando c sa droga foi ad m in istrada
da terapia deve ser considerado, se tal medida não afctar a grávidas nesse período da gestação. 2- 29 Esse antiblástico é
negativamente o prognóstico materno. O parto pré-termo de mu ita utilidade no tratamento dos li nfomas.
induzido pode ser a melhor opção, e levados em conside- Procarbazina faz parte do esquema poliquimioterápico
ração os riscos para a mãe e para a criança, perm iti ndo a • MOPP", que já foi amplamente utilizado para tratamento
institu ição do tratamento antiblástico mais precocemente. do linfoma de Hodgkin. Anomalias fetais fo ram descritas
Ultrassonografia e análise laboratorial do líquido am nió- após o uso desse fármaco por grávidas no primei ro trimes-
tico podem ser úteis na determinação da melhor época c tre, tanto de forma isolada quanto cm esq uemas de combi-
método a ser uti lizado para o pa rto do feto viável. 21 nação de quim io terápicos. 10

6g2 Noções Prá ticas de Obstetricia


Mono ou poliquimioterapia pode ser administrada contagem leucocitária au mentar a ponto de existir risco d e
durante o segundo ou terceiro tri mestres de gravidez, com eventos vascu lares(~ 2SO.OOO/ mm 3) ou se a esplenomega-
baixo risco de teratogenicidade. No entanto, deve-se sempre lia se tornar um problema, a leucoaferese pode ser útil para
optar pelo esquema com menos potencial teratogênico. A reduzir o número de leucócitos e o volume do baço3 4•35
gestante e a família devem ser informadas dos possíveis efei- Linfomas representam um pro blema mais complexo.
tos colaterais precoces e tard ios do tratamento oncológico. Aqueles de baixo grau são pouco comuns durante a gravi-
Diversos tumores vistos durante a gravidez podem ser dez e frequentemente o tratamento pode ser adiado. Para
curados pela quim ioterapia, como câncer de mam a, leuce- os li nfo mas de grau intermediário e de alto grau é neces-
mia aguda, linfomas de grau intermediário e de alto grau, sária a instituição de esquemas intensivos de quimiotera-
linfo ma de Hodgkin e câncer de ovário. Tumores poten- pia para que se obtenham as taxas de cura relatadas de 40
cialmente curáveis pela radioterapia incluem: câncer de a 70 %. Adiamento da terapia para o segundo trimestre o u
colo uterino, li nfoma de Hodgkin, linfomas não H odgkin para o período pós-parto compromete esses resultados,
e câncer de ovário (epitelial e de células germinativas). Ci- podendo haver necessidade da realização de quimiote-
rurgia pode ser curativa em casos de melanoma, câncer de rapia em altas doses com transplante medular/ células
mama, colo uterino, ovário, vagina, tireoide e colorretal. progenitores periféricas. Por o utro lado, o adiamento da
O câncer d e mama é mais bem-abordado por cirurgia terapia do linfoma de H odgkin para o segundo trimes-
radical do que por cirurgias conservadoras, que reg uerem tre da gravidez não parece comprometer o prognóstico
complementação de radioterapia. As grávidas portadoras da paciente, a menos que haja prejuízos de funções vitais
desse tumor, que tend e a se apresentar com receptores decorrentes da atividade tumoral. Nessas ci rcunstâncias,
hormonais negativos e comprometimento dos lin fono- é razoável o emprego de radioterapia li mitada a áreas
dos axilares (implicando, dessa forma, prognóstico mais supradiafragmáticas e de fá rmacos com baixo potencial
reservado), podem obter benefício d e sobrevida que varia teratogênico, como a vimblastina. Após o primeiro tri-
de 20 a 30% com o uso de quimioterapia adjuvanteY No mestre de gravidez, se indicada radioterapia supradia-
primeiro trimestre da gravidez o esquema poliquimio - fragmática, deve-se proceder a modificações de campos
terápico de escolha é FAC (fluorouracil, adriamicina, e doses, além de proteção abdominal adequada. Deve-se
ciclofosfamida) ou FEC (fluorouracil, epi rubicina, ciclo - estimar a dose fetal sempre! Quimioterapia curativa pode
fosfamida); no segundo e terceiro trimestres podem ser ser ad mi nistrada dura nte o segundo e terceiro tri mes-
utilizados outros esquemas como o CMF (ciclofosfami- tres com baixo risco de efeitos deletérios para o feto. O
da, metotrexato, fluorouracil), mas tendo-se em mente a estadiame nto clínico-oncológico da neoplasia pode, no
pouca eficácia deste último. entanto, constituir-se um problema. Ultrassonografia e
Leucemia aguda requer quimioterapia imediata, inten- resso nância nuclear magnética podem ser úteis e não ex-
siva e prolongada, que pode produzir danos fetais se ad- põem o feto à radiação ionizante.
ministrada durante o pri meiro trimestre. O adiamento da O câncer de ovário, estádio lA, de origem epitelial ou
quimioterapia pode inviabilizar a cura. Durante o primeiro d e células germi nativas, pode ser curado por salpi ngo-
trimestre, se a interrupção eletiva da gestação estiver fora -ooforectomia apenas. Doença mais extensa requer o uso
de consideração, a quimioterapia pode induzir abortamen- de quimioterapia para cura. Devido ao elevado risco de in-
to e anomalia fetal. Durante o segundo e terceiro trimes- dução de aborto, a exploração cirúrgica de massa ovariana
tres, a despeito da intensidade da quim ioterapia, existem assintomática d eve ser ad iada até o segundo trimestre, a
diversos relatos de recém-nascidos normais 32 ··u O melhor menos que o tumor seja muito grande(> 6 cm). O proce-
esquema terapêutico deve ser sempre utilizado, uma vez d imento cirú rgico recomendado para tumores epiteliais é
que as leucemias agudas são potencialmente curáveis, es- histerectomia total, salpingo-ooforectomia bilateral com
pecialmente em pacientes mais jovens. omentectomia e exérese de toda a massa peritoneal su-
Cerca de lO% dos casos de leucemia diagnosticados perior a I cm de diâmetro. Q uimioterapia complementar
durante a gravidez são de leucemia mieloide crônica. Fre- está recomendada. Os tumores de células germinativas
quentemente, as pacientes acometidas podem ser man- podem constitui r até u m terço dos tumores ovarianos na
tidas em observação, sem instituição de tratamento. Se a gravidez e, mesmo que não se consiga fazer a ci rurgia ideal,

Neoplasias não Ginecológicas


693
podem ser curado por radioterapia ou poliquim ioterapia, Alguns estudos mostra m que 3,2% dos casos desse linfa -
como PVB (cispb tina, vimblastim, blcomicina) ou PEB ma foram diagnosticados em mulheres grávidas com idade
(ci platina, etopo ide, bleomicina), sendo este o último média de 26 anos. A prevalência de linfoma não Hodgkin
tratamento de escolha. ' 6 's ( LNH) durante ,, gravidez não é conhecida, ma 3be-sc
A colposcopia deve ser empregada para controle de que sua ocorrência é rara. De maneira geral, o lin foma é o
citologia cervicais su peitas; c o carcinoma ;, situ é guarto tumor mais fregucntemcntc diagnosticado cm grá-
diagno ticado, recomenda-se observação cuidadosa 3té vidas. Até a atualidade, a maioria dos artigos científicos se
o pós-parto. Se a colposcopia for insatisfatória, pode ser refere a rebtos de caso ind ividuai ou de pequenas éric
ncces ária a biópsia em cunha guc, no entanto, pode sig- de pacientes, não existi ndo, ainda, protocolos bcm-estabe-
nificar risco substanci,ll para a gr3videz. A conização deve lecido para avaliação e tratamento do linfoma diagnosti-
er realizada no segu ndo trimestre, sempre que possível. cado durante a gr.widez. 1A 144
Q.1ando é diagno ticado o câncer invasivo da cérvix, pode Os L H tendem a se apre entar com histologias mais
ser razoável o adiamento da terapia defi nitiva 3té o pós- agressivas c em estádios mais avançados na mulher grávi-
parto. e, no entanto, ocorrer rápida progressão da doença, da. Um ubgrupo histológico particularmente agressivo é
a melhor opção é 3 histcrcctomia com d issecção adegua- o li nfoma de Burkitt, de natureza rapida mente progre iv3,
da, ba cada no c tadiamento. A radioterapia fornece re- com tendência a comprometer ma mas e ovários. A infiltr3-
sultados semel hantes. H i terectomia ou cesaria na podem ção linfom3to a da mama parece estar a ociada a prognó -
preceder a cirurgia ou radioterapia, apó gestação de 20 e- tico particularmente sombrio. Alguns autores especulam
manas, naquela raras pacientes nas quais o adiamento da gue altcraçõe hormonai inerente à gravide7 e lactação
terapêutica para o pós-p,nto não for possíveJ.39 possam ser responsáveis por esses tipos raros e ,,gressivos
Melanoma e tumores de tireoide c vagina são mais de linfoma de Burkitt. Existem t.unbém especub çõe obre
adequadamente abordados a parti r de cirurgia, de maneira provável conexão entre o estado fisiológico de imunos li-
cmelhante à mul her n;io grávida, exceto que radioterapia pressão que ex i te durante age tação e a natureza agre iva
e iodo radioativo são contrai ndicados. A quimioterapia nes- desses tumores. Contudo, não existem dados convincentes
c casos não oferece benefício uficientc para justificar o na literatu ra de guc a grnvidcz, por i ó, interfi ra no cur o
risco potencial para o feto. dos Iinfamas ou na sobrevida da pacientes.4 ;·46
Citopenia nconatais têm sido descritas após tratamen- Vá rio aurore afirmam que nem a gravidez nem o par-
to da mãe com quimioterapia; assi m, hcmograma com- to são afctados pelo !infama de Hodgkin, o qual tende a e
pleto deve sempre ser realizado no recém-nascido. Drogas apresent3r de forma semelhante à da mul her não grávida
antiblásticas administradas sistemica mente podem atingir no que diz respeito a histologia, estadiamento e evolução
nívei ignificativos no leite materno e ciclosfo fumid,, já foi clínica. Entreta nto, não é ess3 a regra com o linfoma não
associada a neutropen ia e plaquetopcnia em lactantes.40•41 Hodgkin. A maioria da pacientes portadora de L H
Consequentemente, amamentação é contrai ndicada c a veio a falecer de doença em progressão, freq uentemente
mãe c tá se submetendo à guimioterapia. Um exame mi- ante do parto ou logo após aborto. a realidade, a pri-
nucio o deve cr realizado com o objctivo de se detectarem meira gravidez bem-sucedida associada ao LN H só veio a
anomalias congénita c disfunçõe orgânic3 , da mesma cr descrita em 1977, gu3ndo poligu imioterapia agre iva
forma que é essencial controle clínico em longo prazo da foi utilizada.40 49
criança expo ta;, útero a tratamento oncológico. o intu ito de se evitar teratogenicidadc, e tabclccidos
os diagnósticos histológico c imu no-histoquímico, o esta-
dia menta clínico-oncológico do linfoma deve ser limitado,
LINFOMAS uma vez que tomografia computadorizadas c e tudo. c in-
tilográfico não são recomendado , mesmo porque existe
A incidência de li níomas durante a gravidez não é de- a tendência atual de se adm inistrar quimioterapia em por-
terminada com preci ão. Dado obtidos da literatura onco- tadores de linroma, Hodgkin ou não Hodgkin, ai nda gue
lógica 3 partir de 1949 revelam que a incidência de linfoma nos estádios m3iS precoce . Dessa rorma, o e tadiamcnto
de Hodgkin ( LH) varia de I : 1.000 a I :6. 100 partos.4244 é sumário e inclui anamncsc c exa me físico cuidadosos,

694 Noções Práticas de Obstetrícia


bioquímica de sangue de rotina, miclograma com bióp ia nl.ltica que requer radioterapia pélvica; sintomas constitu-
de medula óssea, radiografia de tórax com protcç:io abdo- cionai ou doença visceral, que são mais bem-tratados com
minal, ultra onogratia do abdome e, po sivclmente, re o- quimioterapia; diagnóstico de linfoma de Hodgku1 nas
nância nuclear magnética. primeiras 10 semanas de gravidez cm paciente para quem
o que se refere ao tratamento, rccomcnd.Jções cspc- o adi.llncnto do tratamento é inaceitável; expo ição fetal
cífi a não parecem v1ávei devido à cscassct de dados c superior a 10 rad ou cujo risco de teratogenicidade induzida
informações disponívci na literatura oncológica. De ma- por quimioterapia for elevado; e, fi nalmente, doença me-
neira geral, se po ívcl, recomenda-se evitar quimioterapia diastinal volumosa, que requer a combinação de modalida-
nas primeiras 12 a 16 semanas de gravidez c adiar-se, ao de!> tcrapeuticas.' 1
máximo, a radioterapia. Contudo, não parece ex i ti r efeito
teratogênico importante decorrente do tratamento local
com radioterapia supradiafragmática (uma vez tomad.1 as E(, :\DA ,\lETADE DA CRi\\'IJ)f:.L
devida medidas de protcção do feto) ou da quimioterapia,
principalmente se administrada no segundo ou terceiro /1\IO.\t 'm Hov<...k.I\ LoCAII/.~IlO
trimc tre da gravidez.w
Para mais praticidade, dado o diferente comportamen- A maioria dos investigadores sugere o adiamento d:t te-
to biológico do linfoma de Hodgkin e não Hodgkin, es- rapia, se pos~ível até o parto, a menos que haja risco para a
tratificarcmo a abordagem terapêutica de acordo com a màc e/ ou ft:to. Se o LH é de localização supradiafragm.\ti-
hi topatologia. ca, a recomendação da tmiforcl Unwmity é de radioterapia
localiz,tda com modi ficação de do c c campo c adiamento
do tr:ttamcnto defi nitivo para apó o parto. Out ros, porém,
LINFOMA DE HODGKIN indi ,tm poliquimioterapia quando o LH é diagnosticado
no segundo e terceiro trimestres da gravidez.' 1"
PR IMEIRA I ~TAJ)l DA GRA\' IDEZ
I J.\ I 0.\1 ' n 1 1/oo(;J..J,, ! '!I R 1/J/,\fR \(, \ tATtco

Pe quisadorc da Univer idade de tanford recomen- Ol \1 \ \~ \/)0


dam interrupção clct1va da gc tação par:t paciente com Es as pacientes são primariamente tratadas com poli-
linfoma de Hodgkin diagnosticado no primeiro trimestre quimioterapia, especialmente se a gravidez ultrapassou o
ou cm fa e preco e do egundo tri me trc da gravidez. Tal primeiro tri mestre e/ou c a terapia não pode ser adiada. 1z.q
procedimento permitiria o completo estadiamento dane-
opla i.l, administração do tratamento ideal c au ência de
n co de teratogcnicidade fetal. O ut ra ind1cação de inter- LINFOMA NÃO HODGKIN
rupção da gestação seria para pacientes que engravidam
durante tratamento para Linfoma de Hodgkin." Ült dados publicados na literatura oncológica sjo
Sutcliffe e Chapman recomendam, se possível, adia- mais escas o para L H do gue para LH. Apc ·ar disso,
mento da terapia para após o primeiro trimestre da gravi- poliguimioterapia é o tratamento preferido para LN H
dez, caso a paciente não aceite a interrupção da gestação. de h i·tologia agressiva, com resultados curativo , par-
Contudo, e o tratamento e fizer ab oluta mcntc neces- ticularmente em pacientes cuja neopla ia foi diagno:.tJ-
ário, c c autores acon elham quim ioterapia, tanto para cada no segundo e terceiro trimestres da gravidez, ·em
doença localizada quanto avançad.l, a ser admini trada aparente con equências deletérias para o feto. Para pa-
apó o primeiro trime trc, por julgarem e te tratamento cientes n,1s quais o tumor se apresenta antes de 20 scm.l-
mais seguro e mais eticaz para controle da ncoplasia que nas de gestação, especia lmente, na primeira oito ,1 12
a radioterapia.52 sem,Jn.ts, exi te elevado risco de teratogenicidadc fetal c
lnve tigadore do Me111onal Hospital limitam a indica- a interrupção da gestação é a opção recomendada. A e-
ção de interrupção eletiva da ge tação a paciente que se guir, in titui- e a poliquimiotcrapia. Se a paciente recusar
apre entam nas cguinte condições: doença infradiafrag- o procedimento, deve-se considerar radioterapia locali-

Neoplasias não Ginecológicas


6gs
zada (se a exposição fetal for aceitável) ou quimioterapia. desconhecida, mas estimada em I: I00.000 gestações/ ano.
Nos casos de LN H indolentes, geralmente as pacientes A maioria dos casos é de leucemia aguda: dois terços são
podem ser observadas até o pós-parto, quando adequa- leucemias mieloides e um terço, leucemia linfocítica. Leu-
do estadiamcnto clínico-oncológico pode ser feito e cemia mieloide crónica compreende menos de 10% dos
apropriada terapia in stit uída. casos, enquanto a leucemia linfocítica crónica é extrema-
Terapias que incluam anticorpos monodonais ou radio- mente rara. 43·61·62
imunoconjugados são cont raindicadas durante a gravidez. A sobrevida dos pacientes portadores de leucemia agu-
Fi nalmente, deve-se ter em mente que a conduta nos da (grávidas e não grávidas) mel horou significativamente
casos de linfoma (LH ou LN H) diagnosticados du ra nte com o advento de quimioterapia e cuidados suportivos
a gravidez não está definitivamente estabelecida (devido à modernos. Taxas de remissão de 70 a 75% e sobrevida me-
escassez de dados disponíveis na literatu ra) e deve ser indi- d iana de seis a 12 meses são atualmente observadas em
vidualizada, além de multidisciplinar. mu lheres grávidas.
Estima-se a dose de irradiação do feto em estádios Não existem evidê ncias de que a gravidez altere a in-
precoce, intermediário e tardio da gravidez consequente à cidência, história natu ral o u prognóstico das leucemias.
radioterapia suprad iafragmática (Mantle) na dose total de Durante o p rimeiro trimestre da gravidez, enquanto a or-
4.400 rad, sem proteção abdominal, em 63, 88 e 220 rad, ganogênese se processa, as populações de células-tronco
respectivamente. A proteção abdominal é mais eficaz no são pequenas, a divisão celular é rápida e a síntese de áci-
estádio tardio da gravidez, mas ainda assim a redução da dos nucleicos e proteínas está aumentada. Não surpreen-
dose fetal é insignificante: 14%. Exposição fetal superior a dentemente, ta is células são alta mente sensíveis aos agen-
10 rad dura nte o pri meiro trim estre da gravidez é um a das tes quimiote rápicos e a administração de med ica mentos
indicações de interrupção da gestação. 55•56 citotóxicos durante o primeiro trimestre de gravidez pode
Radiação ionizante terapêutica está nitidamente asso- trazer consequências desastrosas. Da no celular d ura nte
ciad a a risco de teratogenicidade fetal em qualq uer fase da as primeiras semanas q ue se seguem à concepção resu lta
gravidez. Embora não exista dose segura, acredita-se que em aborto espontâ neo . A adm inistração de quim iotera-
o risco de anomalias feta is esteja relacionado com a dose pia du rante as demais semanas do primei ro trimestre (se-
de radiação c a exposição do feto sempre excede mu ito os manas dois a 12 da gravidez) pode resultar em aberrações
lOrad estipulados como limite máximo para indicação de teratogênicas. Os antifolatos, especialmente, devem ser evi-
aborto terapêutico. Ainda assim, caso haja indicação abso- tados nesse período da gravidez. Uma vez completada a or-
luta de radioterapia, esta deverá ser utilizada após o segun- ganogênese e com o prosseguimento da gravidez além do
do trimestre da gravidez, com as necessá rias modificações primeiro trimestre, o risco de complicações teratogen icas é
de doses e ca mpos. 51 ·5- drasticamente reduzido.63
A indução do parto só deve ser feita quando o feto for Os antimetabólitos (metotrexato, aminopteri na,
viável e as contagens das células sanguíneas da mãe estive- 6-mercaptopu rina, 6-tioguanina e cita rabina) interfere m
rem satisfatórias após recente terapia antiblástica. na síntese de DNA e RNA d ura nte a fase S do ciclo ce-
A amamentação deve ser evitada durante a quimiote- lula r. Algu ns desses fá rmacos são claramente teratogên i-
rapia do linfoma. cos se admin istrados em fase precoce da gravidez. Tais
Não existem casos descritos na literatura de LH me- anoma lias podem incluir hipertelorismo, disostose cra-
tastática na placenta e/ ou feto. Por o utro lado, há relatos niana, micrognatia, anormal idades do conduto auditivo
de comprometimento placentário e/ ou feta l por LNH externo e fissu ra palatina; essa constelação de a nomalias
materno.58' 60 foi descrita como sínd rome da am inopterina. Tais a nor-
mal idades não foram observadas quando o meto trexato
o u am ino pterina foi administrado durante o segundo ou
LEUCEMIAS terceiro trimestres da gravidez. O uso de 6-mercaptopu-
rina durante o primeiro trimestre está associado à eleva-
O prime iro relato de leucem ia em gestantes foi feito por da incidência de aborto, mas com pouca probabilidade de
Virchow, em 1856. A incidência precisa desse fenômeno é deform idades congênitas 63·64

6g6 Noções Práticas de Obstetrícia


Os antibiótico antraciclínicos (doxorrubicina e dau- oito foram partos pré-termos (doi dos quais, natimortos),
norrubicina) atuam como intercaladores do DNA e cons- dois nasceram a termo, dois foram aborto cleti vos c um
tituem parte essencial do tratamento antileucêmico. Não foi aborto espontâneo. cnhum apresentava anomalia
ex i tem relatos de danos fetais induzidos por esses agentes, congénita. Dos 45 fetos expostos à pol iquimioterapia
mesmo se administrados durante o primeiro trime tre da du rante o egundo e terceiro trirne tre de gravidu, 51%
gravidez. Es e fato pode estar relacionado com a inabilida- foram partos pré-termos, mas apena três de 23 (13%) fo-
de do fármaco de atravessar a placenta.6 ' 66 ram natimortos; 2 1(47%) 11.1 ceram a termo c houve um
Os alcaloidcs da vi nca afeta m o crescimento celular, aborto espontâneo. Foi rebtada anomalia oftalmológica
interferindo na função microtubular durante a metáfase, cm uma criança, enquanto outra apresentava polidactilia,
provocando, a im, a interrup ão da formação do fuso mi- já presente em outros membros da fa mília.-0
tótico. Ob ervou-se um caso de malformação congenita Entre 14 caso de leucemia prorniclocítica aguda diag-
entre 14 mulheres grávidas expo tas a agentes alcaloide da nosticado durante a gravidez e tratados com ácido tran -
vinca durante o primeiro trimestre; todas as mulheres tra- retinoico (ATRA), não se observou nenhuma anom.1lia
tadas com tais medicamentos durante o egundo e terceiro cong~nita. Porém, fora m de critos um caso de aborto es-
trimestres de gravidez deram à luz crianças normais.6i pontâneo e um parto pré-termo, na 29• emana de gravidez.'
Os agentes alquilantes, os quais se ligam ao DNA A leucemia mieloide crónica diagno ticada durante a
ao longo do ciclo celular, incluem antileucêm ico como gravidez deve ser tratada da mesma forma que a da pacien-
melfala no, busulfano, clorambucil, ciclofosfamida e ifos- te não grávida. Uma vez que a doença tem fase inicial cró-
famida. Foram ob ervadas taxa de anomalias congénitas nica, ela é geralmente Jbord.tda de maneira conservadora.
induzidas por c as substâncias, quando utilizadas no pri- Tratamentos mais agressivos, como transplante de medu-
meiro trimestre da gravidez, de até 1496, caindo para 496 la Ó!.sca, devem ser considerados para o período pó -pMto.
se empregada!. durante o egundo e terceiro trimestres. Existem relatos limitados de casos satisfatoriamente trata-
Agenesia renal unilateral foi encontrada cm criança cujas dos comleucoforese, hidroxiurcia e intcrferon.
mães foram tratadas com clorambucil durante o primeiro Um único caso de leucemia linfocítica crónica (LLC)
trime tre de gravidez.6S 69 durante a gravidez foi dcscrito.10 lnteressantcmente, a pb-
De acordo com dados da literatura, a leucemia aguda ccnta revelou aumentado número de li nfócitos maduro
pode, apa rentemente, afctar a gravidez e o feto. O trata- no espaço interviloso, consistente com o diagnóstico de
mento deve ser instituído imediatamente após o diag- LLC. O recém-na cido apre entava pequena estatura para
nóstico. A abordagem terapêutica da leucemia da grávida a idade, contudo, sem anomalias congênitas, c a criança
é mu ito difícil c as decisões finais devem ser tomadas em teve evolução pós-parto favorável.
conjunto pelo onco-hcmatologi ta, pela paciente c por Cinco ca o de rcc1diva de leucemia linfocít1ca aguda
ua família. Intcrrupção terapêutica da gestação está re- durante a gravidez foram descritos, com pos fvei causas
comendada se leucemia .1guda é diagno ticada durante atribuídas a transformações hormonais c imunológicas
o primeiro trimestre; contudo, se a paciente expri mir o ineren tes à gravidez. As ci nco pacientes receberam qui-
desejo de prossegui r a gravidez, citostático não tcratogê- miotcr.lpia entre dua emana e 4,5 mesc de gravidez,
nico devem ser uti lizados. quatro deram à luz cnanças normais e audávcis; na ou-
Quimioterapia sistêmica durante o segundo c terceiro tra paciente foi induzido ,1borto terapêutico. Infelizmcnte,
trimestre não está as ociada a ri co de teratogenicidade. quatro das cinco mães morreram de sua doença neoplást-
Uma vez que a mãe tenha obtido remissão completa e aso- ca antes de decorridos dois anos do diag nóstico.'
brevida do feto seja viável, deve-se induzir o parto. Existem Gravidez compl icada por tricoleu emia é extrema-
raros relatos de blastos leucêmico infiltrando a placenta e mente rara. Esplenectomia é opção segura e eficaz durante
um caso de leucemia monocítica ,1guda nconatal causada o segundo trimestre de gestação. Casos e poddicos têm
por transmissão vertical de células leucêmica maternas. sido tratados com sucesso com interferon.1
A poliquimioterapia constitui a base do tratamento da Concluindo, merece ser lembrado que a gestante
leucemia aguda. Em êrie descrita na literatura, entre 13 que desenvolve leucemia não precisa necessariamente
fetos expo to a c sa terapia durante o primeiro trimestre, se submeter à interrupção da gestação; a quimioterapia

Neoplasias não Ginecológicas


antileucêm ica padrão pode ser admin istrada com segu - pele são frequentes e o melanoma, em especial, é doença de
rança durante o segundo e terceiro t rimestres. Antifola- crescimento muito rápido. Os si nais e sintomas são seme-
tos, como o metotrexato, devem ser evitados durante o lhantes aos da população não grávida, porém deve-se lem-
primeiro trimestre, por serem particularmente terato- brar que algum grau de hirperpigmentação da pele durante
gên icos. C itarabina e a ntraciclínicos, agentes essenciais a gravidez está presente pela estimu lação de melanócitos, o
no tratamento da leucemia mieloide aguda, n ão têm sido que poderia levar à demora diagnóstica. Biópsia excisional
associados a defeitos congénitos. O risco de lesão placen- está recomendada para as pacientes com lesões suspeitas e
tária, sepse e aborto espontâ neo ou partos pré-term os seu prognóstico depende da espessura da lesão (Classifica-
está inquestionavelmente aumentado em mulheres q ue ção de Breslow) e d a localização do tu mor.
experimenta m e pisódios periódicos de m ie1ossupressão Evidências ci rcunstanciais sugerem que a gravidez
dura nte o tratamento anti leucêmico. O btida a re missão pode exercer papel negativo na evolução do melanoma,
da neoplasia, decisões referentes a reajustes da intensida- podendo estar associada a estádios mais avançados da
de do tratamento d evem ser individua1izadasi tais alte- doença, com piores características prognósticas (sítio da
rações de doses podem ter implicações nos resultados doença, espessura do tumor, nível de Clark) e, consequen-
terapêuticos, embora possam assegurar a viabilidade d o temente, com menos sobrevida global em 10 a nos. Não
feto. Os descendentes de mães le ucêmicas parecem se parece, entretanto, que a gravidez interfere no prognóstico
desenvolver e reproduzir normalme nte. da doença e seu curso clínico em mulheres grávidas é se-
melhante ao da p opu lação em geral. SlingluffJr. e Seigler
publicaram 100 casos de melanoma maligno dura nte a
MIELOMA MúLTIPLO gravidez e a incidência de doença linfonodal foi mais alta
neste grupo. Contudo, a mortalidade global não foi d ife-
Existem apenas 10 casos descritos na literatura on- rente d aquela da população não grávida.74
cológica de associação de mieloma múltiplo (M M ) com O tratamento cirúrgico não deve ser ad iado em pacien-
gravidez. A raridade dessa associação se deve ao fato de te gráv ida com melanoma, pois a demora pode com prome-
ser o MM neoplasia que acomete, predominantemente, ter as vidas da mãe e do feto. A remoção cirú rgica do me-
pacientes cuja faixa etária ultrapassa a compatível com a lanoma, com margens adequadas, é o trata mento padrão
fertil idade e reprodução. Em nenhum dos casos relatados para a neo plasia:
o recém-nascido foi comprometido pela neoplasia mater- Lesões menores que 1 m m de espessura: 1 cm de
na. D ada a ra ra frequência da associação, nada se pode margem i
conclu ir sobre o efeito d a gravidez no curso do MM, ou lesões entre I e 4 mm de espessura: 2 cm de margemi
vice-versa, tampouco estabelecer protocolos de conduta lesões maiores que 4 mm de espessura: pelo menos
oncológica nessa situação." 1·- 2 2 cm de ma rgem.

Dissecção linfonodal cletiva está cont rai ndicada,


MELANOMA bem como a avaliação do lin fonodo senti nela. Não exis-
tem in formações a respeito dos efeitos sobre o feto do
Melanoma ocorre em 0,2 a 0,3% das gestantes e repre- uso de interferon em doses altas (recomendado com o
senta 8% de todos os tumores malignos diagnosticados du- tratamento adjuvante)i no entanto, a alta toxicidade do
rante a gravidez. Deve-se lembrar que 30 a 35% dos casos de interferon con traindica seu uso na gravidez. Na conduta
melanoma acontecem na terceira e quarta décadas de vida, da paciente com doença avançada, no estád io TV, vários
fase reprodutiva da mulher. Registres da Sociedade Alemã aspectos devem ser considerados: alta toxicidade do tra-
de Dermatologia mostram que 1%das pacientes com mela- tamento, baixa taxa de respostas terapêuticas e o desejo
noma estava grávida e 40% de todos os casos de melanoma da paciente de levar a gravidez a termo, adiando o trata-
foram diagnosticados na pré-menopausa.73 mento. Casos de melanoma que atravessa m a placenta e
Apesar da raridade, deve-se lembrar ao obstetra da im- com pro metem o feto têm sido registrados, na vigência de
portância do exame de pele na visita pré-natal. Tu mores de doença ava nçada. Mela noma representa 8% dos cânceres

6g8 Noções Práticas de Obstetrícia


que acontecem na gravidez, ma cerca de 50% do ca o deve-se considerar o tratamento paliati vo de colostomi:t
em que houve comprometimento fetal transplaccntário. para permi ti r viabilidade fetal.
Câncer colorretal durante a gravidez constitui situação
complexa e se tornou mais frequente com o aumento n3
CÂNCER COLORRETAL médi3 de idade das paciente grávidas. O cu pior prognós-
tico c tá ligado, principalmente, ao atraso no diagnóstico,
O càncer colorretal durante a gravidez é condição rara mas c pecula-se a po sibilidade de doença biologicamente
e sua incidência varia de 0,002, a 0,1%. Revisões da Iitera- mai agressiva ou mesmo de tumor horrnonalmcntc csti-
tura revelam provável aumento de sua incidência nas últi- mu lado pelos :~ltos níveis de estrogênios e progesterona pre-
mas décadas, cndo a maioria de origem rct.1l.75 sentes na gravidez. Existem relatos de tumores colorrctai
Bernstein et a/. relataram 41 casos de câncer colorre- portadores de receptores de estrogenio e progesterona.
tal surgidos durante a gravidez ou no período pós-parto
imediato, assim distribuídos: dois no cólon di reito; dois
no cólon transverso; dois no cólon esquerdo; oito no CÂNCER DA TIREOIDE
sigmoidc e 26 no reta. o estadiamento de Dukcs foi
encontrado: A=O; B= 16; C= 17; 0 =6. Duas paciente não O c.incer da tireoide é 3 neoplasia mais comu m do sis-
foram estadiadas. A idade média foi de 31 anos (limites tema endócrina, mas su:t incidência na gravidez é pouco
entre 16 c 4 1anos). Se con iderados por estádio, não hou- con hecida.
ve diferença na incidência e no prognóstico em relação à Tumores bem diferenciados representam 2/ 3 dos ca-
população geral.' 6 sos de d ncer da tireoide c ocorrem frequentemente em
Em paciente · grávidas portadoras de câncer colorretal, mulheres jovens, o que explica sua rrequência em pacien-
as características mais significativas são: tes grávidas. Acredita-se que 10% dos casos de câncer da
Predominância do câncer de reto cm proporção ti reoide ocorrem du rante 3 gravidez ou até um ano pós-
mais alta que na população geral: 86 c 31%; parto. Sabe-se, ai nda, que 2% da população fem inina cm
a sobrevida global é ernelh.mte nes as pacientes, idade gcstacional têm nódulo tireoidiano c 8 a 17% dele
considerando-se o estádio da doença, porém o são malignos, daí a i mpor t~ ncia de uma boa avaliação da
prognóstico do câncer colorrctal é pior em pacien- r-
tireoide pelo obstetra durante o exame pré-nata Por ou-
tes grávida devido ao diagnó tico ta rdio; tro lado, Doherty et n/. relataram 39 a 439o de malignidade
dor abdomi nal, cólicas, náuseas c vômitos, consti- cm nódulos percebidos durante a gravidcz."M
pação inte tina! e sangramcnto reta! são sintomas A maioria dos cânceres da ti reoide na gravidez é cons-
comu ns na gravidez; tituída de tumores bem diferenciado ·, papilares ou foi i-
frequentemente, o sangramento reta! é atribuído à culares, ~endo o papilarc mais frequentes. Já os tu mores
doença hemorroidária, sem invc tigação adequada; mcdu larc~ e anaplá icos ão raros.
outro fator prognóstico a ser considerado nesse Não existem dados convincentes sobre o pior prognós-
gr upo de pacientes é a idade: o câncer colorretal tico do câncer da tireoide que ocorre du rante a gravidez ou
tem sua maior incidência após os 50 anos e evolu i efeitos adversos do câncer sobre o feto, apesar de relato i o-
com prognóstico pior quando a paciente tem id.H.1e lados sugerirem que po a haver estímu lo do crescimento
inferior a 40 anos. desses tumores pelos altos níveis de ~- h CG observados no
início da gravidez.
Em relação à terapêutica, devem- c levar em conta a a propedêutica de nódulo tircoidiano na gravidez
idade ge tacional, a localização do tumor c a sua extensão deve-se levar sempre cm conta as modificações anatõmi-
locorrcgional. Os tumores diagnosticados antes de 20 c- ca (a gl,1ndula tireoidia na pode aumcnt3r de volu me 20 a
mana podem ser tratados com cirurgia defi nitiva, mesmo 30%durante a gravidez) e fu ncionais (provável estímulo da
em casos de tumorc baixos, mas se o diagnóstico é reali- ti reoide pelo ~-hCG). A investigação di.1gnóstica não dirc-
zado apó 20 semana , a ciru rgia pode ser adiada até a gra- re daquela indicada para p3cientc não grávida, cxceto pela
videz a termo. Nos tu more não resscdvcis ou obstrutivas, contraindicação de estudos que envolvem radioisótopos.

Neoplasias não Ginecológicas 6gg


Para o diagnóstico do tumor primário e o estudo dos linfa- Agentes citotóx.icos e radioterapia podem produz ir dis-
nodos cervicais, ultrassom e biópsia por aspiração de agu- função gonadal tanto em homens quanto em mulheres.
lha fina são métodos sensíveis e inócuos para a mãe e o feto. Perda da função ovariana pode advir dessas terapias e a fre-
Estabelecido o diagnóstico, para definir a melhor q uência da amenorreia depende do tipo de agente, da dose
é poca pa ra a cirurgia, deve-se considerar o fato de que os cumulativa e da idade da paciente (o risco aumenta com
tumores bem diferenciados são neoplasias indolentes, de a idade). Ameno rreia temporá ria resulta da destruição d os
baixo índ ice de crescimento e algumas semanas de atra- folículos maduros, enquanto a amenorreia permanente é
so no tratamento cirúrgico não mod ificam o prognóstico causada pela depleção dos folícu los primord iais viáveis.82•83
ou a cha nce de cu ra. Tu mores diagnosticados no início da Duas dosagens séricas de FS H revelando níveis registrados
gravidez podem ser operados no segundo trimestre, sem na meno pausa, realizadas com intervalo de um mês e as-
riscos para a paciente e seu feto. Terapêutica com iodo sociadas a amenorreia ou oligomenorreia, a lém de baixos
radioativo nunca deve ser reco mendada durante a gravi- níveis séricos de estradiol, são forte mente sugestivas de fa-
dez, uma vez que o 1131 pode atravessar a placenta e ind u- lência ovaria na.
zir hipotireoid ismo e cretinismo no feto. A tireoide fetal Não existem evidências de que a quimioterapia provo-
conce ntra iodo após a oitava semana de gestação. Alguns que danos d iretos ao útero. 84 Po r o utro lado, a exposição do
autores sugerem supressão hormonal da tireoide para ini- útero à rad ioterapia pode ser deletéria, resultando, inclusi-
bir o crescimento tumoral. ve, crescimento fetal restrito e d istúrbio do fluxo sang uí-
O iodo rad ioativo também não deve ser utili zado du- neo. Conseq uências o bstétricas incluem au mentado risco
rante o período de amamentação, pois p ode ser el imina- de abortamento, parto pré-termo, baixo peso ao nascimen-
do no leite materno. Gravidez subsequente à terapêutica to e ac retismo placentário. 85 ·86 As possíveis explicações
com iodo radioativo não oferece riscos para o feto. Casara para comp licações obstétricas após rad ioterapia incluem:
9
el a/.' relatara m 70 pacientes portado ras de câncer da ti- Resposta anormal da vasculatura uteri na exposta à
reoide que eng ravidaram após tratamento com Tu', não radioterapia à invasão citotrofoblástica.
tendo sido registrados aumen to de natimortos, anomalias, Alterações miometriais consequentes à redução da
mortes precoces ou doenças m alig nas nos recém-nascidos. elastic idade e volu me uteri nos induzidas pela rad io-
Empiricamente, nova gravidez deve ser adiada até um a no terapia.
13
após a administração de 1 \ a fim de que se tenha seguran- Dano do endométrio e prejuízo da decidualizacão
ça da completa eliminação do radioisótopo.'9 no rmal resulta ndo distúrbios d a adesão placentária.

Aparentemente, o risco de ter filhos com anomal ias


FERTILIDADE E GRAVIDEZ congén itas o u cromossômicas não está aumentado entre
EM SOBREVIVENTES AO CÂNCER ind iv íduos tratados na infância com quimioterapia, radio-
terapia ou a mbas. 86.92
A descendência de sobreviventes ao câncer não exibe au-
Paralelamente à preocupação com o risco de recidiva mentado risco de desenvolver neoplasia, a menos gue o tu-
da neoplasia, in fertil idade, abo rto espontâ neo o u suces- mor ancestral seja componente de síndrome hereditária (ex:
so de uma gravidez, os sobreviventes do câncer frequen- retinoblastoma).9H 4
Pacientes com tumores sabidamente
temente temem que sua história médica o u tratamento hereditários devem ser informados sobre os riscos inerentes
tenh am impacto negativo em sua descendência, seja por ao desenvolvimento da doença em sua descendência.
colocá-la em aumentados riscos de malignidade, ano ma- Com a possível exceçào da doença trofoblástica gesta-
lias congênitas ou de distúrbio de crescimento/ desenvolvi- cional (DTG), a gravidez não impacta no risco de recidiva
mento. Ainda assim, pesquisas ind icam q ue menos de 60% de q ua lquer tipo de câncer, embora o diagnóstico de neo-
dos pacientes recebem informações sobre fertilidade após plasia possa ser retardado em decorrência de gravidez.
o tratamento oncológico e baixa po rcentagem é infor mad a A gravidez em mu lher com h istória pregressa de cân-
sobre os potenciais riscos à sua descendência, mesmo cm cer po de ser complicada por danos ca rdíacos decorrentes
países desenvolvidos.so·81 do tratamento oncológico (radioterapia to rác ica, uso de

700 Noções Práticas de Obstetrícia


antraciclinas). Desta forma, recomenda- e completa ava- gcn basai senca de hormônio anti müllcriano, hormônio
liação cardiológica prévia à gravidez para mulheres que c folículo-estimula nte, inibina B c cstrogênio.20•21 A conta-
submeteram a essas modalidade terapêutica _Ys gem de folículo ant rai guiada por ultra om pode tam-
bém ser útil para aval iar are erva ovariana. 101104
As paciente podem também optar por adiar o tra-
PRESERVAÇÃO DA fERTILIDADE EM tamento oncológico para se submeter a um ciclo de esti-
PACIENTES ONCOLÓGICOS mulação hormonal seguido de criopre~crvação de oó ito
maduro ou embrião.96•9-· 100•105 Ambas as técnicas requerem
adiamento do trat:1 mento :lntincoplásico por :lté um mês, o
A dualidade ímpar inerente :1 confrontação de um diag- que pode não ser opção adequada para algumas pacientes.
nóstico que ameaça a vida com o profundo de cjo humano A criopre ervação de oócito maduro é, ai nda, con idcra-
de pro riar rcprc!>enta uma "guerra" tanto para paciente da técnica experimental, embora já tenham sido descritos
oncológicos qua nto para os médico envolvidos cm seu ma i~ de I 00 na cimentos com cu emprego_! O<> 10-
tratamento. A pre ervação da fertilidade cm portadora de câncer
Com as crescentes melhoras das taxas de obrcvida c de mama rcceptor(c )-hormonal(i ) po ttivo() que c bc-
qualidade de vida de paciente jovens portadores de câncer c nefictariam do uso de quim ioterapia sbtêmica exige cui-
com as nov,1s técnicas de pre ervação da fertilidade, opçõc dado a consideraçjo! Tai tumorc ão c ti mu lado por
para pbncpmcnto familiar ão inquestionavelmente rea is e hormônio e ua exposição a c trogênio c progestcrona (vi-
oferecidas a pacientes com diagnóstico de malignidade. ando à estimulação ovariana) pode e ·ta r contraindicada!
Moderno método de prc crvação da fcrtilida lc in- Existem técnicas de preservação da fertilidade que não
cluem congelamento de óvulos em mulhcrc c de csper· contemplam expo içào hormonal. O tecido ovariano pode
ma cm homens. ovo método para mulhcrc , tais como ser coletado à época do diagnó tico sem estimulação hor-
matu ração do folículo i11 vitro e transplante tccidual jo mon.tl adicional, dessa forma, interferi ndo min imamente no
agora contcmplados.96 ~~- Decisões quanto :1 abordagem plancjamcnto terapêutico da paciente. Dependendo do dia
terapêutica podem auxil iar na minim ização do efeitos do ciclo men trual, oócito. podem era ptrado do ovário,
col,lterai. do tratamento. Exemplo incluem redução da maturado 111 vitro e criopreservado para utilizaç.i.o futura_l 0~
dose de radioterapia e elim inação de drogas como agen- O transplante de tecido ovariano e tá a~ ociado ao ris o
te alquilantc , etopo ídco ou bleomi ina do e quemas de reintrodução de células tumorais e deve cr con idcrado úl-
qunniotcdpicos admini trado a crianças portadora de tima opção para pre ervação da fertilidade cm paciente on o-
linfoma de Hodgkin de baixo ri coco u o mais seletivo de lógicos. Portadora de neoplasias hcmatológica , como leuce-
pacl itaxei cm portador,ls de câncer de mama.98 99 Ta i~ mo- mia, apresentam c pecial ri co para e e evento adver o_l 011110
dtfi açõe terapêuticas aux il iam na prc crvação da fcrti li- A maturação de oócitos a partir de m:Jturação folicular
d.tdc sem comprometer os resultado finai . O objetivo é i11 vitro, embora experimental, pode ser unportante opção

desenvolver c promover método que permitam um leque para pacientes jovens não candidatas à estimulação ovaria-
de opções p.tra paciente sob cuidado multidi cipli nare na ou ai nda não preparada para toma r a decisão qua nto,\
até que o tratamento oncológico sejam essencialmente criação de um embrião como, por exemplo, na f.tlta de par-
direcionados às células tu morai (terapia alvo-específica). ceiro ou de doador de ua c olha. O utra op ão emergente
Agente alquilantes (p. ex. ciclofosfam ida) são basta nte é a fertilização 111 vitro a parti r do ciclo natural, em que os fo-
tóx icos para o ovários, particularmente para o folículo lículo ão a pirado em cxpo ição a estímulo hormonal
primário , que rcprc enta m a re erva ovariana. Embor,l o exógeno. Contudo, o sucesso dcs a técnica é in ·ati fatório
impacto do regimes quimioterápico sobre a fertil idade c pode requerer adiamento ter:tpêutico, dependendo do e -
dependa da rescrv,t ovari:Jna inicial, o efeitos .tdver~o!t t.ídio do ciclo cm que :1 paciente se encontra.' 11 11 2
tornam-se p.uticularmentc pronunciado à medida que 0 Finalmente, ante que qualquer paciente oncológica ten-
pacientes c aproximam do -+O ano. de idade_l 00 un te engravidar por meio de téc nicas de reprodução assistida,
Os testes mais sensíveis pred itivos de reserva ovari.tna é fundamental que se submeta à completa avali:Jçào clínico·
cm paciente tratada com quimioterapia incluem do .1- -oncológica que permita definir se ela está livre de ncoplasia.

Neoplasias não Ginecológicas


701
CONCLUSÕES reavaliação cl ínico-oncológica para mulhere om h i tória
prcgressa de neoplasia, que plancjam engravida r.
ParJ ma i prati id:tde, enfatiza-se que o tratamento d:t Com o cre cente uce o terapêutico do câncer e
maiona dos tumores das mulhere grávidas é quase sem- evidente melhora da qualidade de vida da pacientes JO-
pre o mesmo que e emprega em mulheres não grávida , vens portadora de neoplas1a, aliado às novas técnica~ de
cxceto que a presença do feto deve ser lcvad,t cm conside- prc erv.1ç.1o da fertilidade, a op oes para plancJamcnto
rJção. Alguma veLe is o pode impli ar intcrrup ão da f.1 milia r sào inquestionavel mente reJis e podem cr segu-
gravidez para gue o tratamento possa ser iniciado; cm ou- ramente contemplada~.
tr:ts situ:tções, :tdi:t-se a ter:~ pia :tté gue o feto tenha ~ tingido
e~tádio de de envolvimento meno vulnerável para que o
parto possa -cr induzido om mais egurança. Algu ma REFERÊNCIAS
vezc deve- e escolher diferente métodos diagnóstico ou
terapêuticos que comprometam menos o feto. I. Antonell i NM, Dottcs DJ, Kt7 VL, Ku llcr JA CallCl'r 1n
prcgnancr: .1 rCVIC\\ ofthc lncrJturc. ob..tcl Cync<.:ol ~un C) .
Independentemente da conduta a cr Jdotada, deve- c 1996; Sl:l2' ··+2.
ter empre em mente que a sobrevivência da mãe é, geral- 2 dverberg E, LubcraJ. C.tnu.•r stat IStlcs. Canccr. 19H6; ~6 :9 2.'>.
mente, o objetivo principal. O adiamento ou modilicação 1 Cardonick E, l.tcohucci A. U c of chcmothcrapy during hu·
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devem con ult:tr eu oncologi ta para acon elhamento prcgnancy. Obstct Gynccol Clin North Am. 200S:.'H:627 40.
6. Zcmltckb D, Lishncr tvl, Dcgcndorfer P, Pant.m:lla T, Sut·
quanto a uma gravidez futura. Atualmentc, muitos tipos de
cltffc B, Korcn G. Fetal outcomc Jficr 111 u1cro c\po urc lo
d ncer ão curaveis, o que torna J concepção de um li lho canccrchemotherapy.Arch lntern Med. 1992;152:573·6.
uma possibilidade muito real. Contudo, o .tdiamento da "i Zcmhck1s O, L1shncr ~1. Frl1ch R, Koren C TeratogenJCat)
gr.1v1dez por vá no ano pode er aconselhável, dependen- and carcinogcmcHy 111 a twm cxposcd in utcro to crclophos
do do tipo de câncer c do tratamento utilizado. pham 1de. Tcratog 'arc111og ~ lutagcn.l99 ~ ; 13.1W 143.
Nenhum teste especial de triagem é ncccss~ rio quando 8. Wc1sz B, Mc1row L), Scl11fl' E, L"hncr M. lmp.tcl .tnd trc.1t-
ment of canccr dunng prcgn.tllC)'· Expcrt Rcv Anuca nu:r
c planeja a gravidez, cxceto <tquele rotineiro , recomenda-
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dos para a faixa etária em que tão, como exame ginecológico,
9 orosky Jl,. ood AK, Bud.cr' 1 [. The use of chemothcra
olpoCitologia, exame das mama , inclumdo mamografia, pcutiC agents dunng prcgnancy. bstct Gynccol Cim a orth
se a idade é igual ou superior a 40 anos. Es:.c procedimento Am 199- ;24:S9 1-9.
deve er realiudo antes da gravidez, mesmo que nenhum 10. 1emmem V, Remes N. Maltgnancy dunng pregnancy. A ta
c.incer eja eventualmente detectado. inJis e -intoma que Obstct Gynecol 'cand. l9-0,·19:315-l .
merecem atençjo c recomenda m a visita ao oncologista in- l i. Lutt. M H, Undcrwood P13 Jr, Row:r JC, cl a/. Gcnlt ,tl maltg·
na ncy in prcgnancy. Amj Ob~tet Gynecol. 19--; 129:536·42
cluem, entre outro , mudança do hábito vc 1cal ou inte tina!,
12 Bct~on JR, Golden t\111. CarKcr and pregnancy. AmJ Ob~tcl
fenda que não 1catriza, discreta ou franca hemorragia inco- Gynecol. l961 ;, 1:- 1 -2
mum, nódulo ou ma a anormal na mama ou em qualquer ll l-has JF. Prcgnancy 111 a~MK iat ion with a ncwly dt,lgno~cd
out ra parte do corpo, tr.msformações em pint.l ou verruga, cancer. A populauon bascd cpadem1olog1c ao,~cso,mcm . ln! J
d1. fagia, dispep ia, rouquidão per istente, dispneia, tosse, Ca ncer. 19 4; 4:229-35.
em.1grecimento c febre ·em causas aparentes. 14 ICRP. Ra ks associated wuh IOillsmgradaauon. Ül.lord, UK
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702 Noções Práticas de Obstet ríc ia


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Neoplasias não Ginecológicas 705


45 Doenças Pulmonares na Gravidez
Valéria Maria Augusto
C láudia Myriam Amaral Botelho
Ricardo de Am orim Corrêa

Fisiologia respiratória Tuberculose


Asma Diagnóstico
Diagnóstico e Avaliação Funcional Tratamento
Monitorização Fetal Profilaxia
Tratamento Cuidados Preventivos para o Recém-nascido
Pneumonias
Fatores modificadores da Gravidez,
Fatores de Risco e de Óbito Fetal
Etiologia
Diagnóstico
Tratamento
Profilaxia

c abe ao sistema respiratório promover troca ga-


sosa eficaz, com venti lação suficiente, bem-d is-
tribuída e proporcional à perfusão adequada,
sob controle respiratório atua nte. Dessa maneira, o sangue
arterial e as estruturas celulares por ele nutridas estarão
FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA

No primeiro trimestre da gestação, antes mesmo que o


aumento uterino possa afetar a mecân ica pu lmo nar, parte
das gesta ntes relata a sensação de dispneia. Eh é atribuída
bem oxigenados, o gás carbôn ico produzido será cl i mi nado ao estímulo da progesterona, agindo diretamente sobre o
e o pH será mantido estável, por mais que variem as deman- centro respiratório ou sobre sua sensibilidade ao gás car-
das metabólicas do organismo. bônico e promovendo ventilação alveola r aumentada, por
Na gestação ocorrem profundas adaptações fisiológi- elevação do volume corrente, e não da frequência respira-
cas, secundárias às variações hormonais e/ou bioquímicas, tória, com a finalidade de privilegia r o sistema feto-placen-
cardiovascul ares e anatômicas, que pouco mod ificam a tário. Contribuem também o volume sa nguíneo pulmonar
função respi ratória na gestante normal, mas podem alterar au mentado, a anemia e a congestão nasal. O descon forto
o cu rso de doenças pulmonares preexistentes, manifestas respiratório conhecido como dispneia fisiológica d a gravi-
ou subclínicas. 1 dez o corre em 60 a 75% das gestantes, tendendo a melhorar
no terceiro trimc trc, por adaptação às modificações meta- pelo grau de anemia, variações do volume intrava cu lar c
bólicas e pelo en aixamcnto do feto na pelve, alivi.tndo a do débito ardíaco. Há di crepàncias nos dado fornecidos
pressão sobre o diafragma. O trei no aeróbico pode reduzir pela literatura sobre o eu comporta mento durante a gesta-
c se de conforto. Di pneia de início agudo, frequência re - ção. Ao que parece, ela ofrc pouco aumento no primeiro
p1 ratória acima de 20 incursõc por mi nuto, pC02 inferior trimc 'tre da gestação, com decréscimo ub cqucntc até
a O mmHg ou uperior a 3" mm Hg c espiromctria ou valores normais entre 24 c 27 semanas de gestação, perma
ecocardiografia alteradas sugerem docnça. 1' neccndo constante até o tcrmo.t. 24 ~
A hiperventilação própria da gravidez aumenta a pres- Di~túrbios do sono como insônia ou onolência diurna
são parcial de oxigênio (pO,) para valore · entre 100 c lOS são frequentes na gestação, que parece também au mentar
mm Hg, no primeiro trimestre, com di creta redução no o ri co de apneia central ou obstruti va. 1
terceiro trime trc. Além disso, reduz .1 pressão arterial de A~ modificaçõe da função pulmonar a ociada à gc -
gá carbónico (pC0 2) para valore de 2 a 34 mm Hg, le- tação ~c revertem, sign ificativamente, na primeira~ 72 ho-
va ndo à alcalose respiratória leve (bicarbonato de IS a 20 ras após o parto e retornam ,\0 valores basais cm alguma~
mEq/ L), aumento da excreção uri nária de bicarbon.tto e semanas. 2·'
con equente desvio da curva de dissociação da hemoglo- No que diz respeito às rcpercus ões obre o feto, a hi-
bina para a direita. ~om i to, há mais liberação de oxig~n1o poten. ão arterial e a hipón1 maternas- quando ocorrem
para os tecidos periférico c, prcsumi velmente, mais trans- - de via m o flu xo anguínco do útero para órgãm v1tai da
ferência de oxigê111o ao feto, atravé da placenta. A respo ta mãe, levando à hipopcrfu. jo útero-placentária, cup~ arté-
vcntilatória à hipóx ia está aumentada durante a gestação, rias não di põem de mecanismo ,\lltorregulador. A alcalo-
provavelmente se undária ao au mento de c trogênio e e re pi ratória também cau a c pa mo de . a vasc ulatura.
progesterona, rctorn,tndo ao normal logo após o parto. 1
Fatore humor,ti contribuem, provavelmente, para o re-
laxamento da musculatura brônquic.t, reduzi ndo a resistên- ASMA
cia ao fluxo de ar na vias aérea durante a ge tação. A con-
dutância fica um pouco elevada ou permanece con tantc. A A a 111.1 é doença in fla matória crônica da vias aérea
complacência (di ten ibilidade) pulmonar permanece relati- inferiores, re ultante de fatores genéticos e ambientais que
va mente ina lterada, não há aumento ignificativo da pressão a desencadeiam e mantem. É a con equênoa de intcraçõe
tran ·diafragmática máxima, ficando prc crvada a incur~;io complexas entre células inflamatórias, mastócitos, macró-
do diafragma até o final da gestação. Também estão preserva- fagos c eosinófilos, orq uestradas por linfócito · do tipo Th2,
da a pre õc in p1ratória c cxpiratória máxi ma c .1 função e célula · e truturais da via .tércas. O proce ·o infla mató-
das pequena vias aéreas, medida pelo volume de oclu ão. O rio a ocia-sc j hiper-rcativJdade brõnquica c à obstrução
efeito hormonai c o au mento progrcs ivo do útero eleva m difu a c va riável ao fluxo de .tr nas vias aéreas, que são, pelo
o diafragmai cm compensação, alargam o ângulo ubco tal meno · cm p.trtc, reversíveis, e vontancamcntc ou com o
c rctificam a costela . Embora haja redução da capacidade trata mento. O resultado fi n.1l é o au mento da reatividadc
residual funcional (CRF), do volume de reserva expiratória da musculatur.l brônquica a e tfmulo divcr o , cau~a ndo
(VRE) c do volume rc idual (VR), há au mento compen ató- distúrbio ventilatório ob truti vo à pas agem de ar. É carac-
rio do volume de reserva inspiratória (VR I), ficando preser- terizada, clinicamente, por ep1 ódio repetido de Jbilàn-
vada a capacidade vital (CV) e apenas levemente reduzida a cia, tos c, dispncia e aperto ou desconforto torácico, cm
capacidade pulmonar total (C PT). O · volumes c flu xos for- proporções e intensidades variáveis, que ocorrem particu-
çado - capacidade vita Iforçada (C V F) e volume ex pi ratório larmente j noite c ao despertar.~> A
forçado no primeiro segundo (VEFI) - são, razoavelmente, Os principais fatore de ri co para a asma podem c ta r
mantido durante to&1 a gestação. a interpretação da e pi- relacionados ao próprio indivíduo {herança mu ltigêni-
romctria da paciente gestante, reduções significativa desses ca, atopia c hiper-reatividadc brõnquica) ou ao amb1cnte
volumes e flu xo traduzem di tú rbio ventilatórios.1 4 (cxposiçao a ácaros da poeira domiciliar, mofos, proteínas
A capacidade de difu ão do monóxido de carbono, que encontradas em pelos de aninuis, barata ). O fatore am-
avalia a exten ão da área de troca gn osa, é influenciada bientais modificam a chance de a doença c desenvolver

708 Noções Práticas de Obstetrícia


nos predispostos, precipitam exacerbaçõc c mantem a in- importância relativa de cada uma dela . São fatore prote-
flam ação e os intornas persi tentemente.6 - torc cm relação a gestante o au mento do cortisol plasmá-
Os pri ncipais fatore desencadeantes da asma são: tico c da progcstcrona. Esta tem efeito permissivo à ação
Infecções respiratórias virais c bacterianas (sinu i- da catecobmina em eu receptare , com redução do
te , cm c pce~al) ; tônu~ da mu culatura h a dos brônquios c con equente
alérgcnos c Irritantes ocupacionais; dimmuição da resistênci.1 nas vias aéreas. Já a elevação da
poluição ambiental intra e extradomiciliar (espe- prostaglandina F2-alfa du rante toda a gestação tem efeito
cial mente a fu maça de cigarro); broncoconstritor, podendo piora r o curso da doença.
medicamento (a piri na, anti-inflamatórios não es- Os sintomas mais intensos costumam acontecer entre
teroidcs, contra te iodados e p-bloqueadore ); 24 c 36 semana de gc tação c o período mais ame no co -
hiperventi lação; tu ma ~cr o mê que antecede o parto. O prognó!>tico das
exercício físico; crianças nascidas de mães asmáticas bem-contro!Jdas é
variações clim ~ ticas; semelhante ao do fi lho de não asmática .-
refluxo gastroc o(,\gico;
manifestações emocionais intcnsas. 6 8
DIAGNÓSTICO E AVALIAÇÃO FUNCI ONAL
A repetição da agre são inflamatória, seguida de repa-
ração e cicatrização, rc.!>ulta cm rearranJO da ar<Juitctura das O diagnóstico da asm.1é baseado na história clínica de
vias aéreas ao longo do tempo, procc so que recebe o nome tosse, dispneia e chieira torácica, que podem ocorrer 1 ola-
de remodelamento brônquico e tem sido re ponsabi lizado da mente ou em conjunto, na maioria das vezes de maneira
pela parcela de obstrução irreversível, frequentemente en- intcrm itente. Pacientes fumantes que apresentam períodos
contrada na asma de longa du ração. A asma controlada não intermitentes de to" c podem ter subc timada a hipóte e
c .1companha de distú rbio da troca gaso a; no cnt,mto, du- de a ma. A hi tória pregressa de -bronquite" na inflncia é
rante a exacerbações moderadas e graves, pode haver hipo- comum. O exame físico é insuficiente, fora das crises.
xcmia ~ccund.iri,l àdesproporção ent re,\ ventilação reduzida Diante de su peita clínica, a utilização de medidas fu n-
pelo c pasmo brónquico c a perfu ão prc crvada. a forma cionai objetiva para a confirmação do diagnó tico, da li-
grave , hipcrcapnia c acido e respir,ltória tardia definem mitação variável c reversível ao fluxo aéreo é extrema mente
a cxistcncia de insuficicncia respiratóri,l aguda por falência desejável. Considera-se essencial o uso de medidas objcti-
muscular e indicam a necessidade de uportc vcntilatório.6 - va da ob trução na abordagem do paciente asmático; não
A a ma c tá entre as doença mais comun durante utilizá-la corresponderia a avaliar um hiperten o sem me-
a gc tação, com prevalência va riando de 3,7 a 8,~0o. 1 Sua dida de pressão arterial ou um diabético ·em investigação
evolução durante a gravidez é variável. Proporçõc scmc- de glicemias.6 õ
lh,ll1tcs de a máticas pioram, melhora m ou permanecem Os critérios para identificação da gestante de risco são
e ·távei nesse período. O curso da enfermidade parece ser os mesmos utilizados para qualquer paciente a mático, ou
semelhante em gestaçõe sucessiva c a a ma mai~ grave ~cja, trc ou ma i vi ita à emergência ou dua ou nu is hos-
tende a piorar dura nte age tação. A gc!>tante asmát1ca ade- pitalizações por asma no último ano, crise prévia com risco
quadamente controlada tem, na maiori,l das vc:tes, gesta- de morte, asma lábil, amplas variações diurna do pico de
ção normal com ri co mínimos ou ausen te para i c para fluxo cxpiratório (PFE), má-percepção do grau de ob~tru­
o feto. A a ma não cont rolada e a cxaccrbaçõc oferecem ção, u o freq uente de corticosteroide sistêmico, uso de dois
riscos ignificativos ao binómio mãe-feto. Para o feto, são ou mais tu bos de broncodilatador por mês, não adesão ao
descritos aumento da mortalidade pcrin.ltal, crescimento trat.uncnto prescrito c comorbidadcs (doença cardiov,ls-
intrautcrino restrito, baixo pc o ao nascer, prematuridade cular, p iquiátrica ou problemas sociais sign ificativos). As
e hipóxia neonatal, proporcionais à hipóxia materna e rela- cri cs moderada e graves exigem abordagem por médico
cionados à gravidade da a ma.t• experiente na avalia ão c condução eficiente dessa emer-
Inúmeras adaptações fisiológica decorrente da gravi- gência. A radiografia do tórax fica reservada para os casos
dez podem alterar o curso da doença, sem que se saiba a cm que há suspeita de pneumotórax ou pneumonia, bem

Doenças Pulmonares na Gravidez


709
como para a cri C!. grave com indicação de internação O utro testes, como a dosagem de óxido nítrico e mo-
ho pitalar; deve cr realizada respcitando-~c o cuidado nóxido de c,ubono no ar exalado ou a quantifica ão de
com a pro te ão do fcto.6 " cosinófilos no escarro induzido, ai nda não têm aplicação
A avaliação funcional das gestante asmáticas não dife- na prática cl ínica, ma podem vi r a er marcadorc útci da
re da de a mática não grávida .A espiromctna é o método inn.tnu çjo no futu ro.-
de eleição par,\ a ,\Valiação da asma. A medida da capaci-
dade vital forçada (CVF), do volume cxpiratório forçado
do primeiro segundo (VEFI) e da relação VEF I/ C VF é MONITORIZAÇ ÃO F ETAL
uficiente. Q uando c~tão abaixo do li mite inferior da nor-
malidade segundo valore previsto cm tabela nacional, A ultra onografia deve cr feita precocemente (en-
con idcrando idade, ~cxo e altura - e ão rever ívc1 após o tre 12 c 20 \emanas) para adequada datação da ge taçâo,
u o de bron od ilat,\dor, total ou parcialmente, evidenciam permitindo posterior acompanhamento do cre 1mcnto
a ob trução c a rever 1bilidade típica de asma. A avaliação fetal. Ultra onografi.1s sequenciais no segundo c terceiro
fu ncional permite, ai nda, ,\ sua classificação como inter- trimestres são úteis se a gestante tem asma modcr,td,\ ou
mitente (história de asma c espiromctria eventualmente gr.wc ou se há suspeita de restrição no cre ci mento do feto.
normal) ou persistente e como leve, moderada ou grave. 6 8 A cardiotocografia deve ser feita de rotina no terceiro tri-
A medida do PFE, real izada por aparelho portátil, me tre da ge tação e empre que cxi ta ,1lguma su peita
pouco onero o e prat1 o para o u o na al.l de urgência c de ofrimcnto fetal. A monitorização clctrôn ica contínua
na enfermaria, é também um parâmetro adequado para pode ser ncce ária du rante cxacerbaçõe com hipoxemia
o diagnó tico de ob\trução. O aumento de 20ut> ou 60 L/ materna, no período pré-parto ou nas pacientes que entram
mi n no PFE, após o uso de broncodilatador, diagno tica a em trabalho de parto dura nte crise não controlada~. q 1

rever ibilidadc. O medidores de PFE ~ão muito úteis no


diagnó~tico dpido, n,\ ,\Valiaçâo da gravidade e no acom-
panhamento da a ma, principalmente na cri~es. A varia- TRATAME NTO
bil idade do PFE med1do peiJ man hã c ao fi nal do dia, ao
longo de váriol> dia!>, e acima de 20l1t>, também é caracte- A prinCipai medida para tratamento da a ma VI am
rí tica de a ma.ó à obtcnçjo do melhor controle possível do intomas du-
Pa iente com história clínica ugc tiva, c pirometria ra nte o ono, a ati vidades habituai c o exercício, à manu-
c medida de PFE normai podem ter asm.l. O teste de tenção d.t mel hor função pulmonar pos ível c à redução do
broncoprovocação, utilizado na identificação da hiper- número c da intensidade da cxacerb.tçõc , com o mm1mo
-reatividade brônqU1c.1 ine pccífica, é muito sensível e é de efeitos colaterais. Durante a gravidez, o principal objeti-
usado para paciente com sintomas compatívci e cspiro- vo do tratamento da asma é ma nter oxigenação suficiente
metria normal. Entretanto, não é utilizado rotineiramente para o feto prevenindo a hipóxia materna e do concepto.4.6 8
cm gr.ívidas. 4•6 M O tratamento da asma é parte d,\ atenção global dada
A oximctria de pul o é de extrema utilidade c, na gc - ã gestante, sendo essencial a integração entre o clínico ou
tante, indica oxigcnotcrapia suplementar sempre que for pneumologista, o ob tetra e a própria paciente. Ante mes-
mferior a 9 -<lo, durante a cri es ou durante o parto, para mo de engravidar, a paciente que tem diagnóstico de asma
garantir, a im, a oxigenação adequada do feto. A gasome- deve receber e clarecimcntos obre a c.\ractcrbtica de a
tria arterial fi a re crvada para ·ituaçõc cm que a atu ra- doença c c ta r consciente da necessidade e da cgu rança do
ção da hemoglobina permanece inferior a 95%, apesar da trata mento de manutenção. Deve, ainda, receber oricnta-
suplementação de ox igênio, e para a identificação da hi- ç.io vcrb.ll c e cri ta sobre como proceder quando surgirem
percapnia e da .Kido~c respi ratória ou mi t.l, indicando a sintomas, para que mãe c feto evoluam satisfatori,\mente
necessidade de suporte ventilatório. dura nte toda age tação. medo de usar medicaçõc nes e
O diagnó ti o da alergia por meio de te te~ cutâneos período, por parte da ge tante c mesmo do médi o, é cau a
tem sido cada ve7 meno util izado em adulto c não e tá import.wte de f..1 lência terapêutica, de controle da asm.1 c
indicado na ge tantc a mática. alto ris o de complicações para a mãe e o concepto. 6 b

710 Noções Práticas de Obstet ricia


É altamente recomendável que a paciente evite ou mi- Aparturiente que estiver usando corticoterapia emdose
ni mize o contato com os fatores desencadeantes, pri nci- superior à correspondente a 7,5 mg de prednisona ao dia
pal mente alérgenos conhecidos e irritantes (em especial, o deve receber corticosteroide parenteral suplementar, geral-
tabagismo ativo ou passivo). mente hidrocortisona 100 mg EV de oito cm oito horas no
Gestantes portadoras de asma moderada a grave po- período periparto. Asmáticas em trabalho de parto pré-ter-
dem receber vacinação contra influenza (vírus morto), mo podem receber ~ 2 -agonistas, sulf.·l to de magnésio e nife-
desde que seja após o pri meiro trimestre.9 d ipina.Já os anti-inflam atórios não esteroides têm contra in-
O re fluxo gastroesofágico, que é mais frequente du ran- dicação relativa, pelo risco de desencadear broncoespasmo.
te a gravidez, po r aumento da pressão abdominal, elevação Não há contraind icação à amamentação, pois a passa-
da cúpula diafragmática, hiperemese e alterações na fun- gem dos medicamentos antiasmáticos pelo leite é mín ima e
ção muscular esofágica, favorece o broncoespasmo c deve considerada segura durante a lactação. O tratamento de ma-
ser suspeitado como fator de piora dos sintomas e de difi- nutenção e das crises no período após o parto é o mesmo re-
culdade no controle da asm a. Neste caso, as medidas antir- comendado para os demais asmáticos. Além disto, o risco de
refluxo, medicações pró-ci néticas e os inibidores da bomba atopia é mais baixo no recém-nascido alimentado ao seio.-·8
de prótons estão indicados.
A rinite alérgica, agravada pelo edema local próprio da
gravidez, pode levar à exacerbação da asm a concomitan- MEDI CAMENTOS
te, além de interferir no bem-estar geral da gestante. Deve
ser tratada com medidas de controle ambiental associadas, O tratamento farmacológico da asma engloba o t rata-
quando necessário, à med icação tópica (cromoglicato de mento de manutenção e o t rata mento da crise. Os riscos,
sódio, bedometasona). A sinusite, q ue compl ica a rinite o u para mãe e feto, da h ipóxia secundária ao mau controle ou
as infecções viróticas das vias aéreas superiores, é ta mbém à exacerbação da doença s uperam muito os possíveis ris-
causa impo rtante de exacerbação da asma, devendo ser tra- cos do uso da med icação anti asmát ica. Assi m, a gestante
tada com antibióticos dirigidos para a flora sinusal. O uso asmática deve receber o mesmo tratamento farmacológico
de solução salina fisiológica ou levemente hipertônica ali- oferecido à não gestante. A mon itorização contínua do feto
via a congestão e o ressecamento da mucosaY ·8 é recomendada durante as crises m oderadas e graves. 1•8
Medidas como homeopatia, acupu ntura, hipnose e A asm a é, na maioria absoluta das vezes, tratável pela via
massagens não apresenta m evidências suficientes q ue au- inalatória. Efeito mais rápido, mais eficácia e baixa incidên-
8
torizem a sua indicação rotineira. cia de efeitos colaterais sistêmicos são os principais argu-
O trei namento físico, por meio de exercícios adequa- mentos a favor da terapia inalatória. Existem diversos dis-
dos à condição de cada gestante, melhora os índ ices de positivos no mercado: aerossóis dosimetrados com e sem
eficiência cardiopulmonar e pode ser recomendado, desde espaçadores, in aladores de pó seco, nebulizadores de jato e
que se tomem as precauções devidas, como uso de medi- outros. A prescrição desses medicamentos exige a compre-
cação profilática em caso de asma induzida por excrcícios 8 ensão adequada da técnica de uso; para isso, ela deve ser
A atividade física não promove melhora docu mentada na exaustiva mente ensinada à gesta nte asmática, devendo ser
gravidade da asma. conferida e reorientada a cada visita (Quadro 45. 1).
Não há restrições aos medicamentos usados pa ra alívio
da dor na parturiente asmática, desde que se evitem aque-
las que liberam histami na e podem piorar a asma, como TRATAMENTO DE MAN UT I:.N Ç ÃO
morfina e meperidina. Quanto à anestesia, o bloqueio re-
gio nal é preferível à anestesia geral; se esta for inevitável, O trata mento de ma nutenção tem como objetivo re-
a kcta mina oferece a vantagem de ser broncodilatado ra, verter, controlar e prevenir a inflamação crônica presente
assim como baixas doses de anestésicos halogenados. A nas vias aéreas de todo asmático, mi nim izando o remede-
ocitocina e a prostagland ina E2 são seguras para uso na lamento, a h iper-reatividade brônquica, a obstrução venti-
indução do parto; já a prostaglandi na F2-alfa, usada no latória e, consequentem ente, os si ntomas persistentes e as
tratamento da aton ia uterina, p ode causa r broncoespasmo. exacerbações.

Doenças Pulmonares na Gravidez 711


Quadro 45 .11 Medicações usadas na asma durante a gestação*

Grupo Uso 11a gravrdez Meca11rsmo de ação Observações

132-agonistas de Salbutamol Sem evidência de Broncodilatador Usados para alívio dos sintomas (de
curta duração Fenoterol risco significativo demanda) e em altas doses nas crises.
Terbutalina Preferir salbutamol4 Uso na grávida como na não grávida.

132-agonistas de Salmeterol Sem evidência de Broncodilatador Usados somente associados a corticos-


longa duração Formoterol risco significativo teroides inalatórios no tratamento de
Preferir salmeterol4 manutenção. como na não grávida.
Anticolinérgicos Brometo de Sem evidência de Broncodilatador Podem ser acrescidos aos ~2 -agonistas
lpratrópio risco significativo de curta duração nas crises moderadas
a graves. como na não grávida.
Corticosteroides Prednisona Beneficio > risco Anti-inflamatório Usados nas crises e na asma grave. Não
sistêmicos Prednisolona Preferir prednisolona4 é certo que aumentem o risco de fendas
Metilprednisolona palatinas. Não se deve postergar o uso
Hidrocortisona devido à gravidez.
Corticosteroides Beclometasona Sem evidência de Anti-inflamatório Medicação de primeira escolha na asma
inalatórios Budesonida risco significativo persistente, como na paciente não
Fluticasona Preferir budesonida4 grávida.
Ciclesonida
Mometasona
Antileucotrienos Montelucast Sem evidência de Anti-inflamatório Não devem ser iniciados na grávida;
Zafirlucast risco significativo mantidos. se já demonstrado extremo
benefício como monoterapia.
Xantinas Teofilina de Sem evidência de Broncodilatador Baixa potência. alta toxicidade, exige mo-
liberação lenta risco significativo nitorização dos níveis séricos; medicação
Aminofilina de terceira linha, como na não grávida. A
parenteral medicação parenteral é coadjuvante em
crises graves de pacientes hospitaliza-
dos.6 Níveis terapêuticos provavelmente
mais baixos (5 a 12 mcg/ml).
Cromonas Cromoglicato Sem evidência de Anti-inflamatório Pouco utilizadas no adulto. Ação modesta,
de sódio risco significativo administrado 4x ao dia. dificultando o uso.
• Referências 3. 4. 6·8.

O tratamento de manutenção costuma ser escalonado TRATAMENTO DA CRiSE


e tanto mais intenso quanto mais grave a asma e é indica-
do em toda gestante portadora de asma persistente e deve As exacerbações agudas na gestante devem ser aborda-
ser monitorizado de perto e individualizado (Figura 45.1). 8 das precoce e agressivamente, no in tuito de evitar a hipóx ia
Q\Jando a paciente permanece estável po r período de três materna e fetal. A crise grave caracteriza emergência mé-
a seis meses, em determinado nível de tratamento, pode-se dica e merece tratamento hospitalar e monitorização fetal
tentar a redução do mesmo, no intuito de se conseguir o contínua. A quase totalidade das mortes por asma aconte-
melhor controle com a mínima quantidade de medicação? ce por asfixia e não pelo abuso de ~2 -agonistas. 3.6-8
Os ~ 2 -agonistas de curta duração são considerados medi- A ênfase do tratamento da crise recai sobre o uso fre-
ca mentos de alívio em qualquer etapa do tratamento. São quente de ~ 2 -agon istas inalatórios de curta duração, asso-
aceitos como medicamento único apenas na asma intermi- ciados à oxigenoterapia e à corticoterapia. Doses de até u m
tente. Na gestante, preferir o salbutamol.·u.s jato po r minuto de ~2 -agonistas inalatório de curta duração

712 Noções Práticas de Obstetrícia


em espaçadores de grande volume podem ser utilizadas lização do medidor de pico de fluxo expiratório. Esse parâme-
nas crises graves. O limite de dose é dado pela presença tro será o principal a orientar a indicação de alta, internação
de taquicardia exagerada (mais de 140 bpm), arritm ias ou ou cuidados intensivos. A internação estará indicada quando
tremor grosseiro intolerável. Nos asmáticos, em gerat a as- não houver resposta satisfatória ao tratamento, com persistên-
sociação de brometo de ipratrópio parece reduzir a taxa de cia dos sinais de gravidade. Apiora desses sinais, com queda
internação nas crises graves e é habitualmente usado nas do PFE a valores inferiores a 35% do melhor valor alcançado
doses de 0,5 mg a cada quatro horas. Oxigénio suplemen- pela paciente, indica a necessidade de cuidados intensivos. 6•7
tar suficiente para manter a saturação da hemoglobina su- No período logo antes do parto, é menos comum a
perior a 95% deve ser fornecido de imediato. crise de asma; caso aconteça, deve ser tratada com o em
qualquer outra época. A mesma afirmativa é válida para o
~~..... sob demanda puerpério e todo o período de lactação 8

AL(se eficaz como


droga única antes PNEUMONIAS
da gestação)
As pneumonias constituem doenças inflamatórias
Cl (dose alta) agudas do parênquima pulmonar, de natureza infecciosa,
r ---
'' que podem ser causadas por vírus, bactérias ou fungos. A
4 - _I'
doença caracteriza-se pela invasão dos espaços aéreos pelos
Cl (dose alta) l
'
'--+ agentes etiológicos e a correspondente resposta inflamató-
+~A-+ Teolonga
ria do hospedeiro. A pneumonia adquirida na comunidade
(PAC) tem incidência estimada de dois a 12 casos/ 1.000
habitantes por ano e é a principal causa de óbitos por doen-
Adaptado das referências 2 e 4. ça infecciosa nos países desenvolvidos. Aproximadamente
~,A""' = ~1 -agonista de curta duração; ~~ = ~,·agonista de longa duração 12 a 20% dos pacientes requerem hospitalização, sendo que,
Cl = corticosteroide inalatório; CS = corticosteróide sistêmico; AL = antileucotrieno;
destes, I0% apresentam doença muito grave com necessida-
Teo..,. = teofinila de liberação lenta
- . = via de progressão preferencial de de tratamento em unidade de tratamento intensivo. No
- - - .. =vias alternativas secundárias ano de 2007, no Brasil, houve cerca de 740.000 internações
I
Figura 45 .1 Tratamento de manutenção da asma na por PAC pelo Sistema Único de Saúde (SUS), constituindo,
gestante: progressão de acordo com a gravidade. naquele ano, a primeira causa de internação hospitalar por
doença. Essa taxa vem diminuindo desde a última década,
O uso de corticosteroides sistémicos, em doses de 40 a sem haver, contudo, redução da taxa de mortal idade, a qual
60 mg de prednisona ou equivalentes, deve ser iniciado pre- é mais significativa nos extremos de idade, ou seja, menores
cocemente, devendo ser mantido por cinco a 1Odias em toda de cinco anos e maiores de 65 anosw Os fatores associados
exacerbação, exceto na crise muito leve e de pronta resolução ao aumento do risco de morte são a idade, comorbidades,
com ~ 2 -agonista. A pesquisa de fatores desencadeantes re- fatores modificadores e gravidade da apresentação da doen-
movíveis (exposição maciça a alérgenos ou irritantes, uso de ça, os qua is formam a base de escalas de avaliação de gra-
drogas e infecções) é fundamental para o controle adequado vidade e modelos prognósticos. 11 •12 A taxa de mortalidade,
da crise. A fisioterapia respi ratória e os mucolíticos não estão medida pelo seu coeficiente, varia conforme a faixa etária,
indicados nas pacientes com força muscular e tosse preserva- sendo mais alta nos m enores de cinco anos e maiores de 70
das. A desidratação deve ser tratada, se presente, não havendo anos. 13 A incidência da PAC na gravidez parece ser similar
indicação de h iperidratação.Antibióticos serão usados quan- à da população geral; entretanto, a maior parte dos dados
do houver coexistência de infecção. Sedativos, ansiolíticos e disponíveis advém de estudos retrospectivos ou observa-
h ipnóticos estão formalmente contraindicados.3.6·B cionais, com boa parte referindo-se a pacientes hospita-
A resposta ao tratamento é avaliada pela evolução clínica e lizadas. A taxa de incidência caiu nas décadas de 70 e 80,
pelas medidas objetivas do grau de obstrução, feitas com a uti- provavelmente devido à introdução da antibioticoterapia e

Doenças Pulmonares na Gravidez 713


à mel hora da assistência à gravidez e ao parto, voltando a su- ca, do uso de medicamentos que alteram a imunidade, da
bir recentemente, talvez em função do aumento do número idade, da procedência e do local de aquisição. 26•11
de pacientes grávidas portadoras de doenças crônicas. 14· 15·16 Os estudos etiológicos da PAC da grávida são escas o
A ocorrência de pneumonia durante a gestação pode c, na maioria das vezes, envolvem publicaçõc retrospecti-
acarretar érios risco para a gestante e também para o feto. vas ou observacionais de pacientes hospitalizadas, em que
A taxa de mortalidade materna e peri natal pode alcançar se procedeu à propcdêutic.t não sistematizada. Apesar disto,
c 4%, respectivamente. Por este motivo, tem sido prática parece não haver diferenças significati vas quando se com-
comu m hospitalizar a maioria das pacientes, objetivando o param os agentes etiológicos com aq ueles que acometem a ·
melhor acompan hamento c avaliação da resposta terapêu- não grávidas. Como ocorre na popu lação geral, a etiologia
tica, muito embora o risco de óbito da grávida com pneu- permanece desconhecida cm mais da metade dos casos in-
monia cja semelhante ao das não grávidas de mesma fai..xa vestigados. O Streptococcus pneunroniae responde pela maior
etária. Entretanto, o tratamento ambulatorial é uma opção parte, seguido pelo Hacnzoplulus 111jluenzae, /llycop/as11rn
v1.ível c com bom de fecho em pacientes selecionadas. Ou- pnerm ronine, Legionella pt1e11nwphila c S. a11reus. 2'
tr.ls consequências da PAC na gravidez são a prematurida- A pneumonia aspirativa pode ocorrer cm função de m.tis
de c o recém-nascido de bai..xo peso. 161 ' predi po ição de a piração durante a gravidez, determina-
da pelo relaxamento do esfíncter esofagcano inferior e pelo
.1umento da pressão intragá trica secundário à compressão
fATORES MODIFICADORES DA GRAVIDEZ, exercida pelo útero, como também pelos procedimentos anes-
FATORES DE RISCO E DE ÓBITO FETAL tésicos a que podem ser submetidas essas paciente . A aprc-
cntação clínica pode ser a de ob trução aguda das vias aéreas
A alterações imu nológicas que ocorrem durante a por corpo estranho, pneumonite quím ica, edema pulmonar e
gravidez têm como objetivo primário a protcção do feto de insuficiência respiratória. A conta minação por germes anaeró-
pos ·{veis rcaçõcs maternas. Essas alterações incluem a re- bicos pode levar à pneumonia necrosantc, abscesso pulmonar
dução da re posta linfoproliferativa, redução da atividade ou empiema pleural. Os Peptoslrcptococcus sp, Peptococws, Fuso-
da célula T kdler, redução do número das células T helpet; lmctcrordes e os Bacterordes sp são os agente predominantes.1-
redução da atividade linfocitária citotóxica, produção de Entre os vírus, de taca-sc o ltrf/ucnzn, cujo sorotipo A
sub tância bloqueadoras do reconhecimento de antígc- foi o implicado em epidemias que causaram doença grave
no de histocompatibilidade do feto, inibição da imu ni- c de alta mortalidade cm mulhcre grávida no passado. A
dade celular pela progesterona, gonadotrofina coriônica, epidemias de 1918 c 1957-8 foram responsáveis por taxa
alfa-fetoprotcína e cortisol. Alterações anatômicas provo- de mortal idade tão altas quanto 30 a 50"'o, cspcci,tlmente
cadas pela elevação do d iafragma ocasionam redução da no terceiro trimestre. a recente pandcmia, devido ao ví-
capacidade residual fu ncional e da capacidade de elimina- rus H IN I, as grávidas constituíram-se cm um dos grupos
ção de secreções, com consequente aumento do risco de de risco de gripe. os EUA, no início da pandcmia, a taxa
infecções e complicações pu lmonares. de hospitalização devida à doença foi superior entre as ges-
O fatores de risco de aquisição de pneumonia na gravi- tantes em comparação com a taxa observada na população
dez são a anem ia, a asma, o uso de corticostcroides antes do geral (0,32 por 100.000 grávidas: IC 95~o O, 13-0,52 vs 0,076
parto (com objetivo de acelerar a maturação fetal), o u o de por 100.000; população em risco: IC 95% 0,07-0,09). 28
agente tocolítico e, provavelmente, o tabagismo. 15·1' O Q uad ro 45.2 sintetiza os agentes etiológicos da PAC
na gravidez.
o Bras iI, na 33• Semana cpidem iológica da pandem ia,
ETIOLOGIA c segundo dados dos registras no is tema de Informação
de Agravo de otificação (Sinan), S7,6Ua dos casos con-
O ·. ptzewtzolltae constitui o agente etiológico mais fre- fi rmados de influenza eram mul heres, sendo que a maior
quente da PAC. Entretanto, a frequência dos microrganis- proporção de casos esteve concentrada no intervalo de 15
mo varia em função da características do paciente, seu a 49 anos de idade. Entre as mulheres em idade fértil com a
estado de imu nidade, da gravidade da apresentação clíni- síndrome respiratória aguda grave (SI'ZAG) por in flucnzaA

714 Noções Práti cas de Obstetricia


(H I N 1), 29,7% eram gestantes, enquanto que para influen- com expectoração purulenta (59,3%). Ao exame físico po-
za sazonal, a taxa observada em gesta ntes era de 25,4%. En- dem ser encontrados taqu ipneia, uso da musculatura aces-
tre 1.980 mulheres em idade fé rtil com SRAG pelo vírus sória, macicez à percussão e aumento do frê m ito tóraco-vo-
influe nza A (H! Nl), 10,5% (207) evoluíram para óbito, cal. A ausculta pode demonst rar atrito pleural, crepitações
sendo que 28% eram gestantes. Das 480 gestantes com re- teleinspiratórias ou redução dos sons respiratórios na área
sultado laboratorial confirmado para influenza A (H I N 1), afetada. O exame físico tem sensibilidade de 47 a 69% e es-
12% (58) evoluíram para óbito naquele período. pecificidade de 58 a 75% e, por esse motivo, casos suspeitos
devem ser investigados radiologicamente. 29
Quadro 45.21 Agentes etiológicos da PAC que ocorrem Não se verificam di fe renças significativas d a frequência
durante a gravidez dos sintomas nos portadores dos chamados germes atípicos
A~Jentes 1l (nu) (M. pneumoniae, Legionella sp, C. pneumoniae e vírus respira-
Streptococcus pneumoniae 28(17) tórios) e aqueles portadores de germes bacterianos. Neste
I
último grupo, também não há alterações clínicas ou radio-
Haemophilus inffuenza 9(5.5) I lógicas definitivas que diferenciem os diversos agentes bac-
Mycoplasma pneumonia 5(3) 1 terianos. A denominação atípica refere-se ao grupo de pató-
L.sgionella sp 2 (1.2) I genos e não ao quadro clín ico, o qual depende da resposta
Staphylococcus aureus 2 (1.2) imunitária do hospedei ro e não do agente etiológico.2i·'0
I Na grávida, em I Oa 20%dos casos o diagnóstico pode ser
lnfluenzaA 2 (1.2) j confundido com outras doenças tais como pielonefrite, apen-
Outros agentes 14 (9) I d icite aguda, colecistite e tromboembolia pulmona r. 20· 23·29
Etiologia desconhecida 99(61) A maior d ificuldade reside na diferenciação com os
Adaptado de: Sape r DE. 29 sintomas relacionados às alterações fisio lógicas origina-
das pela própria gravidez. São comuns o descon fo rto to-
rkico e a dispneia nas fases mais avançadas da gestação e
A pneumonia pelo vírus Varicella tem incidência estimada a tosse, os quais, quando desproporcionais, devem servi r
entre cinco e 10 por 10.000 gravidezes, não havendo evidên- de alerta para o diagnóstico. Outras causas de di spneia já
cias seguras sobre a maior ou menor morbimortalidade nas citadas são a asma, a tromboembolia pulmonar, a e mbolia
grávidas quando comparadas à evolução de mulheres não de líquido amniótico e a pneumonia aspirativa. Altera-
grávidas. Da mesma maneira, não há diferenças significativas ções focais ao exame físico também citadas podem estar
entre esses dois grupos quanto às manifestações clínicas da presentes devido a atelectasias por compressão pu lmonar
doença. Como na infecção pelo vírus lnjluenz.a, a incidência pela elevação diafragmática. D esta ma neira, a ausência de
é mais alta e provavelmente mais grave no terceiro trimestre. sinais localizados ao exame físico do tórax não perm ite
A infecção intrauterina pode ocorrer em 8,7 a 26% dos casos. af..1star o diagnóstico.
Fatores de risco incluem idade gestacional tard ia, tabagismo e
envolvimento cutâneo com mais de 100 vesículas. 29
Outros vírus que podem ser agentes etiológicos de ÜlAG NÓSTlCO R ADTOLÓGICO
pneumonia são o vírus da rubéola, o da mononucleose e os
hantavírus, cuja incidência e gravidade são desconhecidas. A confirmação de pneumonia só pode ser feita com o
auxílio do exame radiológico do tórax, o qual avalia tam-
bém a extensão do acometimento pul mona r, identifica
DIAGNÓSTICO derrame pleural e pode sugerir outras doenças relaciona-
das à gravidez, tais como corioca rcinom a com m etástase
D IAG NÓ TI CO C Lii\ICO pul monar, edema pulmonar (secundá rio aos agentes toco-
líticos) e pneumon ite aspirativa, alem da insuficiência car-
Os sintom as relatados em grávidas com PAC são fe bre, díaca congestiva e processos inflamatórios não infecciosos,
calafrios, dor pleurítica (27,1%), dispneia (32,2%) e tosse como vasc ulites e farmacoderm ia, entre outros. 11

Doenças Pulmonares na Gravidez


715
A radiação que ati nge a grávida, proveniente de uma A po itividade da hemocu ltura é b.tixa ( li a I S0 o), de-
radiografia de tórax em projeção póstero-antcrior (PA) em vendo ser colhidas, sempre que pos ívcl, antes do início do
aparelho oli mados c com o uso de protcção para a mãe, tratamento com antibióticos, nas paciente cand1data ao
é de 5-30 m Rad, sendo que a dose absorvida pelo útero c tratamento ob regime de internação ho pitalar.11
pelo feto é cerca de 100 veze mai baixa. A projcção em A indicaçõc gerai de propedêutica invasiva bron-
perfil ou btcr.1l.1carreta exposição muito maior c n;\o é, ge- coscópica são: su peita de M. tubcrculosrs ou P camrrr cm
ralmente, necessária." pacientes sem ex pectoração; pneumonia grave c doentes
críticos, especialmente em uso de ventilação mcdnica
invasiva; paciente com falência ao tratamento inicial;
[XA.\I L., l \ ntl'l l \ll '\I \R I- ., u peita de docn as cndobrônqui as e paciente imuno-
comprometidos.
Como regra geral, a identificação do agente etiológico tc- Como ocorre na PAC da população gcr.tl, os c tudos
ria como vantagen a identificação de patógcnos resistentes ao sorológico não fazem parte da avaliação laboratorial roti-
tratamento, a adequação do tratamento antibiótico, a redução neira porque requerem amostras criada , não cndo, por-
do cu to e da emergência de re istência bacteriana c permi- tanto, de auxílio na c colha do tratamento inicial. Entre-
tiria a adoção de protocolos de tratamento adequados e ajus- tan to, na vigência de epidemias, nos casos de pneumon ia
tado à microbiota local. Entretanto, este fato não tem sido ve- grave, cm pacientes selccionadas com fàtorc de ri co ou
rificado na prática, tendo cm vista a ensibilidadc insuficiente ex posiçõc especificas, a sorologia pode cr u ada de ,\Cor-
dos testes, a sua influência duvido a obre o tratamento ini- do com a norma locai de aúdc públi a e di ponibilida-
ci.ll, a disponibilidade de antibiótico de e pectro abrangente, dc do teste .11
a necc idade de recur o técnicos e humanos adeq uados à
realização do exame microbiológicos c o impacto que a epi-
demiologia local exerce no rendimento dos me ·mos.11 TRATAMENTO
A investigação microbiológica nos casos de PAC, em
geral, e na grávida, cm particular, e tá re crvada para pa- A c colha inicial do antibiótico é empírica c baseia-se na
ciente com falcnc1a do tratamento empírico inicial, quan- apre cntação clínica e na epidemiologia. Ponto importante
do da uspeita de germes não colonizadorcsi em epidemias do manejo de paciente portadores de PAC é o início rápido
por Legionella sp c por Mycoplas111a sp, para a paCiente do tratamento. A recomendação a tu ai cde que a propedêu-
admitidas no hospital, cm que se con eguc amo tra de es- tica não deve retardar o eu início, o qual deve !>Cr feito ain-
ca rro; c para a portadoras de pneumonia grave. c te úl- da na unidade do primeiro atendimento, como o pronto-
timo grupo, a rea lização de exames microbiológicos pode -socorro, sob pena do aumento da mortalidadc.26
interferi r di reta mente nos desfechos do tratamento, espe- Os antibiótico mais utilizado c com meno risco de
cialmente se houver necessidade de intubação traqueal e danos materno e ao feto incluem as penicilinas, os macro-
ventilação mednica, ituação em que a .111t ibioticotcrapia lídeos (estcar:tto de critromicina, azitromicina c a claritro-
pode cr modificada caju tada ao agente eti lógico~.~~ micina) c .~~ cefalosporin:ts, com os quais c pode tratar a
A .waliação labor.llorial geral acusa a gravidade d.1doen- maioria dos ca o . Deve-se enfatizar a baixa eficácia da
ça, ~ua repercussão si~têmica, pode identific.u comorbida- cefalosporina de primeira geração para o tratamento do
dcs, verifica alteraçõc~ compatíveis com infecção por grupos principais agente etiológicos da PAC ( . pncrmromae e H.
específico de germe e pode, ainda, diagno ticar complica- mflucn::;ac) c a não cobertu ra dos germes ch.u nados "atí-
ções. MUlto embora essa avaliação não tenha valor na dis- picos· pelos bctalactàmicos como grupo, para o quais os
criminação etiológica, recomenda-se a sua realização em macrolfdeos constituem a melhor opç,io. A combinação
pacientes nas quai ,\hospitalização e ·tá sendo considerada. amoxicilin:t-clavulanato é a melhor alternatJ V.l p.tra o tra-
Além da radiografia de tórax, estão indicado hcmograma, tamento de 111fecçõcs por anacróbios, quando su peitos.
do agem de eletrólito , ureia, creatinina, provas de função Os ami nogh o ídeos não devem ser util izado , cxceto em
hepática e oximctria de pul o. A dosagem da proteína C- raros casos cm que a sua introdução seja necc ária para
-rcativa pode ser útil na predição de 6lência do t ratamcnto. o sinergismo de .1ção contra infccçõe graves por ba tone-

716 Noções Práticas de Obstetrícia


te gram negativo, ca oos benefício excedamos riscos de tanto, um problema de muita importância na mulher em
toxicidade fetal c materna. Assim, a recomendação atual idade reprodutiva. As estatf ·ticas nacionai mais recente ,
recai sobre os macrolídeos para casos não graves de trata- entretanto, mostram redução da incidência cm todas a
mento ambulatorial (devido à cobertura simultânea do S. faixa etária . Entre 2007 e 2008, a taxa de incidência da
puewnouiae e do germes atípicos) e da associação de be- tuberculose no Brasil caiu de 38,2 para 37,2/ 100.000 ha-
talactactâmicos de terceira geração não antiPseudom01ws e bitantes e faz supor que a incidência em mulhere grávida
macrolídeos para pacientes que nece sitam de hospitaliza- pos a também e tar se reduzindo em no so meioJs Isto
ção c pacientes grave (Q uadro 4 . c 45.4). 13•29 decorre tanto da melhor política de saúde voltada para a
Entre os agentes antivirais, os novos inibido res de ncu- tuberculose, como do retorno do olhar das escolas de Me-
ramidase ão preferíveis à amantadina; entretanto, o uso dici na para o tema, melhorando o ensino da tuberculose e
rotineiro deve ser evitado, tendo em vista os dado in u- aumentando a capacidade de u peição do ca os clínico .
ficiente a respeito de ua toxicidade. Para o tratamento da Antes da era da quimioterapia da tuberculose, mui-
pneumonia por Varicella, o aciclovir por via endovenosa to se debateu sobre o papel da gravidez na reativação e
constitui a medicação de escolha, devido aos riscos proi- na progressão da tuberculose. Considera-se atualmentc
bitivas de toxicidade fetal e materna da doença em trata- gue a gravidez tem influência mínima sobre a patogenia
mento (~adro 45.3)_33 da tubcrculo e ou obre a probabilidade de a infecção la-
tente evoluir para doença. Com a chegada do tratamento
quimiotcrápico, ficou evidente que mulhere grávidas e
PROF I LA X I A não grávidas respondem igualmente bem à terapia. A mor-
talidade materno-infantil relacionada à tuberculose caiu
A vacinação antipneumocócia não é recomendada significativa mente.36·37·18
para mulherc grávidas ou em fase de aleitamento mater-
no. A profi laxia da gripe com vacinação anti-influem.a não
está, em geral, recomendada, tendo em vista a baLxa morbi- DIA G NÓSTIC O
dade da doença obre a mãe e o feto e o efeitos incertos da
vacina sobre o feto. Seu uso estaria justificado em situações
especiais, como epidemias de alta mortalidade, devendo
cr evitado, de qualquer forma, no primeiro tri mc trc da A apresentação clínica da tuberculose na grávida é se-
gestação. 11 Durante a epidemia de H 1N I foi recomendado melhante à da população cm geral. A inespecificidade dos
que todas as gestantes fossem vacinadas, independente- si ntomas e a reduzida frequência com que e fazem radio-
mente da idade gcstacional, endo dado preferência à vaci- grafia de tórax ne as pacientes podem retardar o diagnós-
na sem adjuvante. tico. O a pecto mai importante a se ressaltar é que, sendo
a forma pulmonar a que ocorre em cerca de 90 a 95% das
pacientes, a tosse é o pri ncipal sintoma. E ta pode ser eca
TuBERCULOSE ou produtiva e, quando produtiva, a expectoração pode ser
mucosa ou mucopurulcnta. Por esta razão, o Ministério da
A tubcrculo c foi considerada por muito tempo um Saúde recomenda que tosse produtiva, por trê emanas
problema de saúde de amplas proporções. Uma vez desen- ou mais, seja indicação para baciloscopias de e carro, eja
volvido o tratamento eficaz, ela passou a ser menos temida a tosse o motivo da consulta ou informada em consulta
e a sua incidên ia vinha decli nando em todo o mundo, por qualquer outro motivo. Isto deve ser particularmente
até que, recentemente, o número de caso começou no- observado na paciente grávida, na gual a baciloscopia po-
vamente a c elevar. A razão m.\is evidente para esse fato, sitiva pode levar ao tratamento, torna ndo desneces ária a
até o momento, é o surgimento da epidemia do H IV e da radiografia do tórax durante a gravidez. A outras manifc -
multirresistência. A maior parte do aumento de incidên- tações, por ordem de frequência, são: perda de peso, febre,
cia tem ido ob ervada em pessoas entre 25 e 44 anos de mal-estar geral, cansaço c hemoptise. Em 19% dos casos a
idade e muitos desses pacientes são mulheres. '~ Ela é, por- doença pode ser assintomática (Quadro 45.5). "

Doenças Pulmonares na Gravidez 717


I
Quadro 45.3 Toxicidade e segurança de diverso antibióticos, medicações antivirais c antifúngicas comumente utilizados
no tratamento das pneumonias ·

Classe Efertos Adversos Seuura nça n<t Gravrdez Classe ela


Antrbrotrca FDA

Penicilinas Sem evidências Boa B


-- ~

--
Cefalosporinas Sem evidências Boa B
Macrolideos Sem evidências; informações menos precisas para Boa Eritromicina: B
azitromicina e claritromicina Azitromicina: B
Claritromicina: C
Aminoglicosfdeos Sem relatos de nefropatia fetal após o uso materno. Potencial nefropatia e ototoxicidade. D
Eliminação renal do feto depende da idade gestacional. Monitorizar níveis séricos. I
~
--
Sulfonamidas Pode causar kemicterus se usadas no final da Evitar o uso. c
gestação; 5.5% de malformações Risco teórico de defeitos centrais.
--
Ouinolonas Artralgias e tendinites em adultos. não observados Evidência atual insuficiente c
após exposição na gravidez
- - ---
Tetraciclinas Uso no segundo ou terceiro trimestre causa altera- Deve-se evitar o uso. especialmente D
ção da coloração dentária e retardo reversivel do a partir da 12• semana
crescimento dos ossos longos
Metronidazol Dados conflitantes quanto ao aumento do risco de Desconhecida B
malformações. prematuridade e baixo peso ao nascer I
Antrvrrars

Amantadina Dados preliminares insuficientes Dados de segurança insuficientes c I


Zanamivir Sem informações em humanos Dados de segurança insuficientes. B
Teoricamente mais seguro do que a
amantadina
Ribavirina Teratogênico e letal para o feto em estudos em animais Não deve ser usado X
Aciclovir Dados preliminares não demonstraram efeitos Uso sugerido em situações de risco B
deletérios para o feto da infecção. Alto risco de efeitos
colaterais
Antrfunurcos

Anfotericina B Relatos de toxicidade fetal: anemia, acidose e Uso sugerido em situações de risco da B
uremia transitórias. insuficiência respiratória infecção. Alto risco de toxicidade fetal.
Toxicidade materna presente
---
ltraconazol Teratogenicidade em animais. Em humanos: 3.2% Evitar o uso. Fabricante recomenda c
de malformações maiores: 1° trimestre contracepção por um mês após
término do uso
Fluconazol Teratogênico em altas doses em animais. Em huma- Evitar o uso c
nos: múltiplos defeitos congênitos relatados. efeito
dose-dependente.
• Categorias de evidências de risco (ver capítulo 9- Medicamentos)
FDA = Food and Orug Admtmsrrarion

718 Noções Prát icas de Obst et rícia


Quadro 4S.4J Doses dos pri ncipais antibióticos empregados no tratamento das pneumonias*

Aggntg~ Doses V1as


- - - - - - - - -- ---------- --- ----- - - -- - -

Pen1cil1nas resistentes a pen1cil1nases

Amoxicilina/clavulanato 500/125 m9 a cada 8 horas EV/VO


875/125 m9 acada 12 horas vo
Ampicilina/sulbactam 1,5-3,0 9 a cada 6 horas EV
Pen1ci11nas ant1 Pseudomonas

Piperacilina 3,0-4,0 g a cada 4-6 horas EV I


Piperacilina/tazobactam 3,375 g acada 6 horas EV I
Ticarcilina dissódica 3,0 9 a cada 3-6 horas EV
J
Ticarcilina/clavulanato 3,1 9 a cada 4-6 horas EV
J
Cefalospor1nas 2 geração

Cefuroxima 0.75-1 ,5 9 a cada 8 horas EV


0,125-0,5 9 a cada 12 horas vo
Cefalospor111as 3' geração

Cefoperazona 2.0 9 a cada 12 horas a 4 9 a cada 4 horas EV/IM I


Cefotaxima 1,0 9 a cada 8-12 horas a 2.0 9 a cada 4 horas EV I
Ceftriaxona 0,5 9 a cada 12 horas a 2,0 9/dia EV/IM I
Ceftazidima 1,0 a 2,0 g a cada 8-12 horas EV/IM \

Cefalospor111as 4 ' geração

Cefepima 1,0 a 2,0 g a cada 12 horas EV


Cefpiroma 1.0 a 2.0 g a cada 12 horas EV
Macrolídeos

Azitromicina 0,5 g no 1° dia+ 0,25 a 0,5 g/dia do 2° ao 5° dia vo


EV l
' Eritromicina 0,25 a 0,5 g a cada 6 horas vo
15-20 m9/kg a 4,0 g/dia EV 1
Claritromicina 0,5 g a cada 12 horas EVNO i
EV =via endovenosa; VO = via oral; IM = via intramuscular.
' Indicações. contra-indicações e classificação de riscos: consulte o texto e a Tabela 45.3

Doenças Pulmonares na Gravidez 719


Quadro 45.5 I Manifestações cl ín icas de tuberculose ta a sensibil idade do diagnóstico. O PPD reator forte, com
cm pacientes grávida baciloscopia negativa, em paciente com suspeita clínica
Manlfestaçoes clrnrcas Frequencra( ~)
0 forte pode ser usado como critério para se recomendar a
radiografia de tórax.
Tosse 74 J
Emagrecimento 41 ! Q uadro 45.6 11 nterpretação do teste tuberculínico
Fadiga I mal-estar 30 1 Orã metro Lertura lnterpr etaçao clrn rca
Hemoptise 20 I transverso (mm)

Assintomáticas 19 Oa4 Não Individuo não infectado pelo


J reatar M. tuberculosis. ou com
hipersensibilidade reduzida
--- - - -
5a9 Reator Individuo vacinado com
fraco BCG, ou infectado pelo M.
tubercu/osis. ou por outras
A prova tubercullnica, isoladamente, quando positi- micobactérias
va, indica apenas infecção e não é suficiente para o diag-
10 ou mais Reator Individuo infectado pelo M.
nóstico de tuberculose. Em estudos epidemiológicos ela forte tubercu/osis. que pode estar
permite verificar as taxas de infecção de uma população. doente ou não. e indivíduos
Nos indivíduos vacinados com BCG, sobretudo nos imu- vacinados com BCG nos
nizados nos dois anos anteriores, a interpretação da prova últimos 2 anos
tubcrculínica é dificultada pelo fato de que a reação pode
ser forte, atingindo lO mm ou mais. Entretanto, na vigência
de quadro clínico sugestivo, ela é indicada como método BACILOSCOPIA
auxiliar no diagnóstico, inclusive na grávida. 19 Nos pacien-
te vacinado na infância - como ocorre em nosso país - o O diagnóstico de certeza da tuberculose é feito pelo en-
te te tuberculínico reata r forte no adulto sugere infecção contro do bacilo em secreções ou tecidos. A baciloscopia c
recente, há menos de três anos.4041 •42 a cultu ra do escarro são, portanto, os esteios fundamentais.
o Brasil, a tuberculina usada é o PPD RT23, aplicado Duas ou três baciloscopias de escarro deverão ser so-
por via intradérmica na face anterior do antebraço esquer- licitadas para as paciente com expectoração. A primeira
do, na dose de O, I mi que equivale a 2 UT (unidades de tu- amostra pode ser colhida sob upervisão médica ou da
bcrculina). A leitura é feita entre 72 e 96 horas após a aplica- enfermagem, durante ou logo após a consulta. A paciente
ção, medindo-se com régua milimetrada o maior diâmetro deve ser orientada sobre a forma correta de coleta domici-
transverso da induração provocada, se houver. O resultado liar de escarro. Esta, idealmente, deve ser feita pela manhã,
é interpretado como: Oa 4 mm, não reatar; 5 a 9 mm, reatar em jeju m e antes da escavação dos dentes, buscando-se
fraco; lOmm ou mais, reator forte (Quadro 45.6). uma amostra de secreção pulmonar e evitando-se a saliva.
Segundo o Manual de Normas Técnicas de Operacio- Pacientes que não têm escarro em quantidade su-
nalização do Plano de Controle Nacional da Tuberculose, ficiente ou que têm tosse seca podem ser submetidas à
a gravidez é uma das situações com possível imu nodeprcs- indução do escarro, que consiste na inalação, no labora-
são tran itória, que pode interferir no resultado da prova tório, de solução saljna a 3%, seguida de expectoração c
tuberculín ica. 19 Entretanto, embora haja alguma evidên- coleta. Deve-se, nesse caso, identi ficar no rótulo que se
cia de fraca resposta linfocitária in vitro ao PPD, estudos trata de escarro induzido, já que este é ma i nu ido e pode
clínicos não mo trara m diferença na reatividadc entre ser confundido pelo pessoal técnico com saliva e, eventu-
grávidas c não grávidas, mesmo entre as infectadas pelo almente, descartado. A indução de escarro cm am biente
HlV. 41'42 Pacientes com tosse crônica produtiva podem, hospitalar ou de laboratório implica risco para os profis-
portanto, fazer, além da baciloscopia de escarro, o teste tu- sionais envolvidos, devendo ser realizada segundo as nor-
berculfnico pela técnica do PPD, sem riscos, o que au men- mas atuais de biossegurançaH

720 Noções Prát icas de Obst etrícia


ÜUTROS MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO quer tecnologia cara, sendo esteo inconvenientepara sua
utilização rotineira.
Além da bacteriologia, da radiologia e do teste tubercu- Provas d iagnósticas basead as em técnicas de biologia
línico, outros métodos de diagnóstico existem ou estão em molecular representam significativo ava nço no estudo da
desenvolvimento. Esses métodos não têm ainda recomen- tuberculose. Seu uso jud icioso pode acelera r ativ idades de
dação clara, já que sua sensibilidade, sua especificidade e controle da tuberculose, já que permitem o diagnóstico
seus valores preditivos não estão bem-definidos. Seu uso rápido da espécie da micobactéria. D e custo muito eleva-
até o momento está restrito a serviços de referência ou ins- do, elas deverão evoluir e se tornar mais úteis no fu turo.
tituições de pesquisa. Serão também importantes para estudos da epidemiologia
Hemoculturas para micobactérias estão indicadas em da doença. No presente, elas acrescentam, mas não subs-
portadores de HIV ou AIDS, com suspeita de micobacte- tituem, o atual arsenal d iagnóstico necessário para o seu
riose disseminada. tratamento e controle.4S.46
A detecção da produção de ca3 Pª' método radiomé-
trico util iza a produção de gás carb~nico pelo bacilo em
crescimento em meio de culturq cQntendo carbono mar- TRATAMENTO
cado. O tempo mais curto para o diagnóstico, em relação
à cultura convencional em meio de Lowenstein-)ensen, é a A tuberculose na gravidez implica significativo risco para
grande vantagem desse método. a mãe, para o feto e para a família. Por outro lado, os medica-
O método de detecção do consumo de 0 2 (Mycobac- mentos dos esquemas .I e IR - rifampicina, isoniazida, pira-
teria Growth lndicator Tube - MGIT) utiliza meios de cul- zinamida e etambutol- têm excelente perfil de segurança na
tura líqu idos que têm uma base de silicone impregnada gravidez e não são associados a malformações fetais.46. 49
de rutênio, metal que emite luminescência na ausência de O tratamento d a tuberculose durante a gravidez é o
oxigénio. O crescimento da micobactéria, consumindo o mesmo indicado para a população geral e tem a mesma du-
0 2, provoca emissão de lu minescências possíveis de serem ração. A doença é curável em praticamente I 00% dos casos
detectadas com luz ultravioleta. É também mais rápido do novos, desde que obedecidos os princípios da qui miotera-
que a cultura convencional. pia. Associação medicamentosa adequada, doses corretas
Testes sorológicos para a detecção de anticorpos con- e uso da medicação por tempo suficiente são imprescindí-
tra componentes doM. tuberculosis têm sido utilizados em veis. A adesão ao tratamento é, contudo, especialmente d i-
estudos experimentais, mas os antígenos usados até o mo- fícil por parte da grávida, o que decorre do medo do uso de
mento têm baixa especificidade, não permitindo distinguir qualquer medicamento durante a gravidez e da ocorrência
entre doentes, infectados ou vacinados. de náuseas e vômitos.
Marcadores biológicos de importância clínica são a O tratamento para a tuberculose realizado no Brasil
adenosinadeaminase (ADA) e o ácido t ubérculo-este- desde 1979 está sendo modificado. As principais mudan-
árico. A atividade da ADA, enzima presente em várias ças propostas pelo PNCT/ MS (Programa de Controle da
células, particularmente o linfócito ativado, pode ser Tuberculose do M inistério da Saúde) são:
determi nada no líquido pleural, utilizando-se o método A introdução de um quarto fármaco, o etambutol
colorimétrico de Giust1. O aumento da atividade da ADA, (E), na fase inicial do tratamento;
associado a outros parâmet ros, como idade inferior a 45 a adoção de associação, em comprimidos, dos qua-
anos, alto teor de proteínas - caracterizando um exsuda- tro fá rmacos de doses fixas combinadas 4 em I
to- e predomínio de linfócitos no estudo citológico do lí- (rifampicina - R, isoniazida- H , pirazinamida - Z,
quido, permite o diagnóstico de tubercu lose pleural, com etambutol - E) para a fase inicial e 2 em I (R, H )
sensibilidade de até 93%.44 O ácido tubérculo-esteárico para a fase de m anutenção;
é um metabólito do bacilo da tuberculose. Sua dosagem a utilização de comprimidos em substituição às
no liquo r permite o diagnóstico de meningoencefalite cápsul as usadas anteriormente;
tuberculosa. Em outros fluidos corporais seu valo r está, a redução das doses de H e Z em adultos para 300 e
ainda, em estudo. Trata-se, entretanto, de exame quere- 1.600 mg por dia, respectivamente.

Doenças Pulmonares na Gravidez 721


Em consequência à mudança para quatro fármacos, ado- com o mesmo esquema básico, porém deverão colher
tau-se a nomenclatura de "esquema básico" (Quadro 45.7), material para cu ltura e teste de sensibilidade antes do iní-
que difere do primeiro apenas em relação à duração da se- cio de tratamento.
gunda fase. 50.si A principal modificação no tratamento da tuberculose
Para todos os pacientes em tratamento de tuberculo- apresentado em nota técnica do PNCT/ MS é consequência
se pulmonar é recomendada a realização da bacilosco- dos dados do "II Inquérito Nacional de Resistência aos fár-
pia de escarro mensalmente. Os que apresentem baci- macos antiT B2007-2008", que mostraram aumento da taxa
loscopia positiva ao fi nal do segundo mês de tratamento de resistência primária à H de 3,5 para 6% e à R de 0,2 para
devem realizar cultura com identificação da micobacté- 1,5%entre 1997 e 2007 (MS/ dados ainda não publicados).
ria e teste de sensibilidade, para investigação da possibi- A combinação dos fármacos antiTB com doses fixas
1idade de resistência. so.'ii no mesmo comprimido vem sendo recomendada pela
O tratamento supervisionado é recomendado para to- O rganização Mundial da Saúde como medida para au-
dos os pacientes e pode ser particularmente úti l para fàcili- mentar a adesão ao tratamento, já que se reduz o número
tar a adesão da grávida. de comprimidos a serem ingeridos.
R, H e Z são hepatotóxicas, mas não mais na grávida do Na vigência de resistência nos testes de sensibil idade
que na população geral. O manual de normas do Mi nisté- ou de hcpatotoxicidade por qualquer das substâncias do
rio da Saúde recomenda a avaliação laboratorial da fu nção esquema, a paciente deverá ser encamin hada para serviço
hepática durante o tratamento nos casos de icterícia ou de referência, já que o seu tratamento será individualizado
manifestações digestivas acentuadas. de acordo com testes de sensibilidade da micobactéria e os
Os medicamentos devem ser administrados todos em riscos das demais opções terapêuticas.
jejum, em uma única tomada ou, em caso de intolerância A estreptomicina e demais aminoglicosídeos devem
digestiva, junto com uma refeição. ser evitados devido ao risco de ototoxicidade para o feto c a
O tratamento da forma meningoencefálica é feito com etionamida, por ser teratogênica. A ciprofloxacina é a alter-
as mesmas medicações do esquema básico, nas mesmas nativa mais segura para uso 11.1 gr.tvidez.48·49
doses, sendo de sete meses a duração da segunda fase. O parto de gestantes com tuberculose em tratamento
Nesta forma, é recomendado o uso concomita nte de cor- pode e deve ser realizado em qualquer matern idade, com
ticosteroide oral - pred nisona na dose de 1-2 mg/ kg/ dia procedimentos de rotina. O isolamento está indicado
por quatro semanas - ou venoso, nos casos graves - dexa- para as pacientes com escarro positivo e/ou na fase inicial
mctasona na dose de 0,3-0,4 mg/ kg/dia por 4-8 semanas, do tratamento (três primeiras semanas). As gestantes não
com redução gradual posterior50•5 i fogem à regra de que o tratamento da tuberculose é basi-
Pacientes que apresentarem recidiva após cura ou re- camente ambulatorial, reservando-se a internação para pa-
torno após abandono de tratamento devem ser tratadas cientes com intercorrências graves.

Q}ladro 45.71 Tratamen to da tuberculose: esquema básico


Reg1me Med 1carnentos Fai xa de peso (kg) N de un 1dades /dose N de meses

Fase intensiva RHZE 36 a 50 3 comprimidos 2


(2RHZE) Comprimido em dose fixa combinada
150/75/400/275 mg > 50 4 comprimidos

Fase de RH 36 a 50 1 comprimido ou cápsula de 4


manutenção Cápsulas ou comprimidos de 300/200 mg 300/200 mg + 1 comprimido
(4RH) ou 150/100 mg ou cápsula de 150/ 100 mg
> 50 2 comprimidos ou cápsulas
de 300/200 mg
R= rifampicina; H= isoniazida; Z= pirazinamida; E= etambutol.

722 Noções Prát icas de Obstetrícia


3. National Hcart, Lung and Blood lnstitute. National Asthma
PROFI LAXIA Education and Prcvention Program. Working group rcport
on managi ng asthma during pregnancy: recommendations
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cia possível, porém de extrema raridade. Pode acon tecer
6. Sociedade Brasileira de Pneumologia c Tisiologia. IV Dirc-
através da placenta, por via hematogênica ou durante a trizcs Brasileiras para o Manejo da Asma. J Bras Pneu moi.
passagem pelo canal de parto - provocando, nesse caso, 2006;32(Supi 7):S447-74.
no recém-nascido (RN), comprometimento gastrointes- 7. National Institutes of Health, National Heart, Lung, and
ti na! ou ofi:álm ico. No exame do RN deve-se ter em conta Blood lnstitute. GINA : Global Stratcgy for Asthma Mana-
gement and Prevcntion, rcvised 2008. Disponível cm: http:/I
essas possibilidades.
www.ginasthma.com
O RN cuja mãe tem a baciloscopia de escarro positiva
8. The British Thoracic Society and Scottish Intercollcgiatc Gui -
deve ser mantido em quarto separado, lim itando-se a sua dclines Network. British guidcline on the managemcnt of as-
relação ao míni mo necessário, até que a baciloscopia de thma. A national clinical guideline, revised 2009. Disponível
escarro se to rne negativa. Durante o contato, a mãe de- cm: http://ww\v.brit-horacic.org.uk/ Portals/ O/ Ci inical%20
I n fo rmat ion / Ast hma/ G uidel ines/ Asthm a_fullg u idei i-
verá fazer uso de máscara nasa-oral (modelo N iosh 95),
ne 2009.
o que dim inui sensivel mente o nú mero de part ículas
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capazes de aerossolização, reduzindo a probabilidade de 1996;39:S6-69.
transmissão. 10. Corrêa RA, Lundgren FLC, Pereira-SilvaJ L, Silva R LF, Ca r-
A vacinação com BCG, no recém-nascido de mãe doso AP, Lemos ACM, et ai. Diretrizcs brasileiras para pneu-
com tuberculose, d eve ser feita depois de afastada a possi- monia adquirida na comunidade cm adultos imunocompe-
tentes.J Bras Pneu moi. 2009:3S(6):S74-60 I.
bilidade de transmissão congênita ou de contágio. Quan-
II. Fine MJ, Fine MJ, Aublc T E, Yealy DM. A Prediction Rule
do há dúv idas, a criança deverá receber quimioprofilax ia
to ldentify Low-Risk Patients with Community-Acquired
primária com isoniazida na dose de LO mg/ kg/ dia duran- Pneumonia. N EngiJ Med. 1997;336:243-SO.
te três meses, após o q ue o teste tuberculínico, se negativo, 12. Lim WS, van der Eerden MM, Laing R, Boersma WG, Kara-
indica a vacinação e, se positivo, a continuidade da profi- lus N, Town GI, et ai. Dcfi ning community acquircd pneu-
laxia medicamentosa. O mesmo procedimento pode ser monia severity on presentation to hospital: an international
derivation and validation study. '11wrax. 2003;S8 (S):377-82.
seguido quando o diagnóstico de tubercu lose da mãe
13. Correa RA, Lundgren FLC, Pereira-Silva JL, Silva RLF, C.H-
ocorrer logo após o parto ou durante a amamentação. O
doso AP, Lemos ACM, ct ai. Dirctrizcs brasileiras para pneu-
teste tuberculín ico deve ser evitado antes dos três meses, monia adquirida na comun idade em adultos imunocompc-
pois pode resu ltar falso-positivo da reatividade matern a, tentes.J Bras Pneumol. 2009;3S(6):S74-60 I.
por transmissão hematogênica ou através do leite 5 0 14. Fang GD, Fi ne M, Diethelm L, Xu H. Diagnostic ima-
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Doenças Pulmonares na Gravidez 723


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724 Noções Práticas de Obstetríc ia


Doenças Neurológicas
Sarah Teixeira Camargos
Débora Palma Maia
Francisco Eduardo Costa Cardoso

Cefaleia Miastenia Gravis


Migrânea ou Enxaqueca Tratamento
Cefaleia Pós-parto Efeitos no Feto
Epilepsia Outras Afeccões Neurológicas
Frequência de Crises Comuns na Gravidez
Risco de Malformações Síndrome do Túnel do Carpo
Recomendações Esclerose Múltipla
Mielopatia Aguda Síndrome das Pernas Inquietas
Coreia Doença Cérebro-vascular
Etiologia e Patogênese
Tratamento e Prognóstico

iversas doenças neu rológicas de gravidade va- CEFALEIA

D riável afetam mu lheres em idade reprodutiva e


podem, consequentemente, estar presente du-
rante a gestação. Embora a maioria delas não comprometa
A lnternational Headache Society (IHS) divide as cefa-
leias em primárias e secundárias.1 As primárias caracteri-
de forma significativa a evolução da gravidez, em algumas zam-se por serem idiopáticas, enquanto que as secundárias
situações podem exigir terapêutica específica com as quais resultam de a normalidade sistêmica ou intracraniana, de
o obstetra deve estar familiarizado. A gestante com doen- natureza metabólica, inflamatória, infecciosa ou estru-
ça neurológica já pode ter conhecime nto do diagnóstico turaL As principais cefaleias primárias são as migrâneas
previamente à gestação e, nessa situação, poderá ser bene- com e sem aura e a cefaleia tensional. Para o diagnóstico,
ficiada pelo aconselhamento pré-concepcional, enquanto é necessária anamnese completa (idade de início da dor,
outras apresentarão os sintomas pela primeira vez durante qualidade e intensidade, localização, frequê ncia, sintomas
a gestação e exigirão do obstetra o dom ínio da investigação associados, fatores desencadeadores, aliviadores e de p iora,
básica em neurologia. história medicamen tosa, hábitos de sono e história fami-
As cefaleias e a epilepsia são as intercorrências neu ro- liar), além do exame físico e neurológico minucioso. Há al-
lógicas mais comuns na gestação e são abordadas nesse ca- guns sinais chamados de "alerta" que nos fazem questionar
pítulo, entre doenças neurológicas de importância maior. o diagnóstico de cefaleia primária (Quadro 46.1). N esses
c:.~sos, exames complementa res (imagem, preferivelmente ... continuação
res onância magnética e análise do liquor) são imperati- Quadro 46.2 I Critérios da I HS para d i:.~gnósticos das
vos, ai nda que eu uso nJ ge tação deva ser ponderado. cefaleias

Quadro 46.1 I Sinais de alerta que podem sugerir M1grânea com aura t1p1ca
cefaleia secundária A. Pelo menos 2 ataques preenchendo os critérios de B a O
Pr1me1ra ou p1or dor
B. Aura consistindo em pelo menos um dos seguintes sintomas:
Dor grave de inicio súbito
1. Sintomas visuais completamente reversíveis incluin-
Dor grave e recorrente do sintomas visuais positivos (espectro de fortificação,
escotomas cintilantes) e/ou sintomas negativos (perda
Dor progressiva
de visão)
Dor crõnica e intratável 2. Sintomas sensitivos completamente reversíveis
incluindo sintomas positivos (agulhadas e fisgadas) e/ou
Dor atípica sintomas negativos (parestesia)
Dor associada a trauma 3. Sintomas completamente reversíveis de disfasia

Mudanças nas características da dor (freqüência, intensida- C. Pelo menos dois dos seguintes sintomas:
de ou sinais clínicos associados)
1. Sintomas visuais homõnimos e/ou sintomas sensitivos
Alteração no exame neurológico unilaterais
2. Pelo menos um sintoma de aura desenvolvendo
Dor associada à doença sistêmica (febre. rigidez de nuca. gradualmente por mais de 5 minutos e/ou auras com
rash cutâneo) sintomas diferentes ocorrendo em sucessão com tempo
Sintomas que não preenchem aura típica maior que 5 minutos
3. Cada sintoma com duração de 5 a 60 minutos
O. Cefaleia preenchendo os critérios de Migrânea sem aura
Os critérios adotados para o diagnóstico das cef:.~ leias
e que começa durante a aura ou segue a aura até o limite
primári:Js e das secundárias m:Jis comuns na Obstetríci:J de 60 minutos
são l ist:.~do no Q!Jadro 46.2.
E. Sintomas não atribuídos a outra doença

Quadro 46.2 I Critérios da I HS para diagnósticos d:.~s Cefale1a t1po tens1onal ep1sod1ca
cefaleias A. Pelo menos 10 episódios ocorrendo em frequência menor
M1grânea sem aura que 1 dia ao mês em média ou menor do que 12 vezes ao
ano em média e preenchendo os critérios de B-D
A. Pelo menos 5 ataques preenchendo os critérios de B a O
B. Cefaleia durando de 30 minutos a 7 dias
B. Cefaleia durando de 4 a 72 horas
C. Cefaleia com pelo menos duas das seguintes
C. Cefaleia com pelo menos duas das seguintes características características:
1. Unilateral 1. Bilateral
2. Pulsátil 2. Pressão/aperto (não pulsátil)
3. Intensidade moderada a grave 3. Leve ou moderada
4. Agravada por atividade física rotineira como andar ou 4. Agravada por atividade física rotineira como andar ou
subir escadas subir escadas
O. Durante a cefaleia pelo menos um dos seguintes sintomas: O. Ambos dos seguintes:
1. Náusea e/ou võmitos 1. Ausência de náusea ou võmito (pode ocorrer anorexia)
2. Fotofobia e fonofobia 2. Não mais de um: fotofobia ou fonofobia
----------------------~
E. Sintomas não atribuídos a outra doença E. Sintomas não atribuídos a outra doença
Continua ... continua ...

726 Noções Práticas de Obst etrícia


... continuação ... continuação
Quadro 4 6 .2 I C ritérios da IHS para diagnósticos das Quadro 46.2 I Critérios da 1HS pa ra d iagnósticos das
cefaleias cefaleias

Cefale1a atlibuida a p1e-eclâmps1a Cefale1a pós-punção lombar

A. Cefaleia com pelo menos uma das caracteristicas abaixo A. Cefaleia que piora dentro de 15 minutos após colocar a
e preenchendo os critérios Ce 0: paciente assentada ou em pé e que melhora dentro de 15
minutos após deitar com pelo menos uma das caracterfsticas
1. Bilateral abaixo e preenchendo os critérios C- 0:
2. Pulsátil
3. Agravada por atividade tisica 1. Rigidez nucal
2. "Tinnitus"
B. Gravidez ou puerpério (até 4 semanas pós-parto). e
3. Hipoacusia
pré-eclâmpsia definida por dois de:
4. Fotofobia
1. Hipertensão (>140/90 mm Hg) documentada em duas 5. Náusea
medidas com pelo menos 4 horas de diferença entre elas I
B. Paciente submetida a punção lombar
2. Excreção urinária de proteína de >0.3 g em 24 horas
1
C. Cefaleia que se desenvolve dentro de 5 dias após punção
C. Cefaleia desenvolve durante períodos de hipertensão
lombar
D. Cefaleia resolve dentro de 7 dias após o tratamento
O. A cefaleia se resolve:
efetivo da hipertensão
1. Espontaneamente dentro de uma semana
E. Exclusão de uso de toxinas vasopressoras. medicamen-
2. Dentro de 48 horas após tratamento efetivo (geral-
tos e feocromocitoma
mente blood patch epidural)
Cefale1a utr1bu1da a eclârnps1a

A. Cefaleia com pelo menos uma das características acima MIGRÂNEA OU ENXAQUECA
e preenchendo os critérios Ce 0:
1. Bilateral A doença neu rológica q ue majs comu mente complica
2. Pulsátil a gravidez é a enxaqueca. Ma is comum nas mul heres, e -
3. Agravada por atividade tisica pecia lmente em idade reprodutiva (frequência aprox imada
B. Gravidez ou puerpério (até 4 semanas pós-parto). e de 19%), na maioria das vezes, mas não sempre, ela melhora
pré-eclâmpsia definida por dois de: co m a gravidez. A lgu mas pac ientes ( 1,3%) têm o pri meiro
ataque m igranoso d u rante a gravidez. Parcela sign ificativa
1. Hipertensão (>140/90 mm Hg) documentada em duas
medidas com pelo menos 4 horas de diferença entre elas (60 a 70%) das mul heres com m igrânea sem aura e m igrâ-
2. Excreção urinária de proteína de >0.3 g em 24 horas nea relacionada à menstru ação apresentam melhora dos
3. Presença de crise convulsiva sintomas durante a gravidez. Geralmente, se a m igrânea
C. Cefaleia desenvolve durante periodos de hipertensão não melhora até o final do primeiro t rimest re, é pouco
provável que vá melhora r até o final da gravidez. As pacien-
O. Cefaleia resolve dentro de 7 dias após o tratamento
tes q ue piora m durante a gravidez geral mente são aquelas
efetivo da hipertensão
d iagnosticadas com m igrânea com au ra.2•1
E. Exclusão de uso de toxinas vasopressoras. A enxaqueca pode ser limitante para mu itas pacientes e
medicamentos e feocromocitoma
o d iagnóstico di ferencial de m igrânea por out ras afecções
F. Exclusão de acidente vascular cerebral q ue ocorrem na gravidez é de su ma importância. Segundo
continua ... a literatu ra, não há risco aumentado de defeitos congénitos
em fi lhos de mu lheres enxaquecosas, no entanto, a migrâ-
nea pode ser fato r de risco para complicações gravíd icas,
como, por exemplo, aumento do risco de pré-eclâmpsia,
eclâmpsia, descola mento prematuro da placenta, convu l-
sões e ac idente vascu lar cerebral.u

Doenças Neurológicas 727


O ri co de pré-cclâmpsia é mai alto nas pacientes TR~ / ~ \1 / \l<lii!OR/11(}/l.\\l'RN\
com quadros migranosos mais intensos, com apare- O acctaminofeno ou paracetamol com ou sem codeína
cimento precoce e mais grave. A dor de cabeça é sinal ou mesmo a codeína de forma isolada podem ser usados na
cardinal na pré-eclâmpsia e pode apa recer precocemen- gravidez com segurança. A aspirina, desde que em baixas
te, principal mente nos caso de eclãmpsia no pós-parto. doses c ocasionalmente, pode ser utilizada, no entanto, deve
As alterações visuai que ocorrem na pré-eclâmpsia são ser evitada próximo do termo, devido ao aumento do tem-
semelhantes à aura visual da m igrânea. Os critérios da po de sangramento materno e feta l. Idealmente, aspirina,
IHS para diagnóstico de migrânea, cefa leia atribuída indometacina e outros inibidore potentes das prostaglan-
à pré-eclâmpsia e à cclâmpsia, estão explicitados no dinas devem ser evitados na gravidez. O ibuprofeno pode
Quadro 46.2. A cefaleia da pré-eclãmp ia é comumente ser usado durante o primeiro tri me tre com segurança.
atribuída à elevação dos níveis pressóricos: a hiperten- Em fases mais tardias da gravidez o anti-inAamatórios não
são por si só não causa cefaleia, a menos que em níveis esteroidai podem cau arcon trição ou fechamento do due-
superiores a 220 x 100 mmHg ou elevação abrupta. a to arterio o, devendo, poi , er evitado . O triptanos (nara-
pré-eclâ mpsia/ eclâmp ia, amba as situaçõe podem triptano- araminqt; rizatriptano - Maxaltqt; sumatriptano
ocorrer. O exame neurológico pode mo trar papilede- - lrnigran®ou Sumaxqt; e zolmitriptano - Zomig®) podem
ma e hemorragia retin ia na.2 ser usados em situações especiais nas quais o risco-benefí-
A migrânea é também fator de ri co para acidente vas- cio seja cautelosamente avaliado. Já a ergotamina c outras
cular cerebral. A maioria deles ocorre no terceiro trime trc drogas ergóticas são contraindicadas na gravidez, pelo sa-
ou no puerpério (isquêmicos e hemorrágicos). O diagnós- bido decréscimo na perfusão uteri na levando à hipóxia e a
tico diferencial da cefaleia relacionada a evento vascula r, restrição do crescimento fetal e aumento do tônus uterino.
migrânea e cefaleia atribuída à pré-cclâmpsia/ eclâmpsia Ataques prolongados de migrânea podem er tratados com
pode er particularmente difícil. 2 corticoides.A prednisona é preferível em relação à predni o-
lona, já que a última atravessa a placenta mais rapida mente.'
fRATA~IE TO DAMIGR ÀN I-. A As náuseas podem ser particularmente limitantes para
DURANTE A GESTAÇÃO a paciente. A metoclopramida é muito útil no tratamento da
migrânea c da náusea relacionada. O dimenidrato, a ociado
Algu mas pacientes grávidas migranosas melhoram ou não à piridoxina (vitamina B6), e a ondasentrona ão be-
com tratamento não farmacológico, tais como biofeedback, néfico no tratamento da náusea, ma não para a cefaleia cm
hid ratação, repouso e diminu ição das atividades estres- si. Em algumas situações, faz-se nece sário o uso de medica-
santc , além do uso ocasional de analgé icos como o ace- ção parenteral como, por exemplo, a clorpromazina, prome-
taminofcno, já que há preocupação em não expor o feto a tazina, proclorperazina e trimetobenzamida. A clorpromazi-
medicações que possam ser prejudiciais, especial mente no na pode ser particularmente eficaz para o controle da dor.'
primeiro trimestre. as mulheres que não experimentam
melhora da crise migranosas com a gravidez, com crise JR ' 1 ' \li '
ro flRI ' 1 'nn> nAs CRN·\
frequentes, incapacitante , associada a náuseas e vômito Em pacientes com dor frequente pode ser necessário
levando à desidratação, o tratamento farmacológico mui- o u o de tratamento diá rio preventivo. O propranolol é a
tas vezc c impõe. medicação preferida para esse fim, embora haja relatos de
Em ca o como esses, a relação ri cc-benefício deve restrição de crescimento intrauterino relacionado ao uso
er avaliada e a decisão terapêutica deve ser tomada cm da mcsma. 2
conjunto com a paciente. Em relação à cefaleia da pré-
-eclâmpsia, o sulf:1to de magnésio, além de prevenir as
convulsões, é eficaz no tratamento dessa cefaleia, assi m CEFALEI A PÓS-PARTO
como em ituações nas quais há dificuldade no diagnó -
tico diferencial entre a cefaleia atribuída à pré-eclàmpsia A cefaleia do pós-parto (até seis emanas pó -parto) é
e migrânea c também nas condições em que as duas cefa- muito comum, acontecendo em 1/ 4 a I / 3 da população
leias se sobrcpõcm.2 obstétrica geral c na metade das mu lheres com história

728 Noções Práticas de Obstetrícia


anterior desse distúrbio. Os fatores de risco relacionado preservação do nível de consciência ou alteração da me ma
são apunçãolombar,multiparidade, idadeehistóriaprévia (as anteriormente chamadas pareia i simples eparciais com-
de cefaleia. A cau as mais comuns são cefaleias primárias, plexas, respectivamente). As crise de início focal podem,
como a migrânea, e cefaleia tensional, embora se deva ter por ua vez, se propagar e tornarem-se secundariamente
muita atenção com o diagnóstico diferencial, entre elas, generalizadas.6 A elas ificação das crises epilépticas aqui
as cef.·deias secundárias, como a trombose venosa cere- abordada é a de 1981 , aceita globalmente c referida como a
bral, acidente vascular cerebral hemorrágico, cefaleia pós- Classificação Internacional, que se baseia em dados di nicos
punção lombar, pré-eclâmpsia e eclâmp ia. 1 e eletroencefalográficos, como mostra o Quadro 46.3.

Quadro 46.3 I Classificação internacional de crises


EPILEPSIA epilépticas
Cnses generalizadas (bilate rais e Slfllet n cas sem
Etimologicamente, o nome epilepsia vem da palavra 1111CIO focal)
grega epilhyia, que ignifica urpresa ou ataque. Os gregos
A. Tõnicas. clônicas, ou tõnico-clõnicas (grande mal)
consideravam que um deus entrava no corpo de um huma-
no, priva ndo-o de sentidos. B. Ausência (pequeno mal)
------------------------~
Epilepsia e crise convulsiva ou crise epiléptica são ter- 1. Com perda de consciência apenas
mo com definições distintas. Aepilepsia consiste em trans- 2. Complexa- com movimento breve tõnico. clõnico ou
torno resultante de causas diferentes que reflete disfunção automático
cerebral subjacente e, por isso, aumentada predisposição C. Síndrome de Lennox-Gastaut
para crises convulsivas. De acordo com a Liga Internacio-
O. Epilepsia mioclônica juvenil
nal Contra Epilepsia (lllterllatiollnl League Agairrst Elilepsy,
--------------------------~
ILAE),4 crise epiléptica é definida pela ocorrência de sinais E. Espasmos infantis (Síndrome de West)
e sintomas tra nsitórios secundários ,\ atividade neuronal
F. Crises atônicas (astáticas, acinéticas), algumas vezes
anormal excessiva ou síncrona no cérebro. Epilepsia é trans- com espasmos mioclõnicos
torno cerebral caracterizado por predisposição sustentada a
Cnses foca1s ou parc1a1s (cr1ses 1111Cia ndo localmentel
gerar crises epilépticas e pelas consequências neurobiológi-
cas, cognitiva , psicológicas e sociais dessa condição. Para a A. Simples (sem perda de consciência ou alteração da
defi nição de epilepsia, é exigida a ocorrência de pelo menos função psíquica)
uma crise epiléptica.> 1. Motora-origninada no lobo frontal (tõnica. clônica.
A classi ficação da epilepsias foi primeiramente propos- tônico-clõnica; jacksoniana; epilepsia benigna da infân-
ta por Gastaut, em 1970, e tem sido revista e redefinida pela cia; epilepsia parcial continua)
2. Somatosensitiva ou sensitiva especial (visual. auditi-
Comissão de Classificação e Terminologia da ILA E desde
va, olfatória, gustativa, vertiginosa)
então. A proposta atual (2006), ainda não adotada mundial- 3. Autonômica
mente, é que se dividam as crises cm duas grandes catego- 4. Pslquica pura
rias: nas autolimitadas e no stntus epilepticus. O status epilepli-
B. Complexa (com alteração de consciência)
wsé definido corno atividade epi leptiforme contínua por 30
minutos ou urna série de crises sem retorno completo do ní- 1. Iniciando como crise parcial simples e progredindo
vel de consciência entre as mesmas. As cri es autolimitadas para alteração de consciência
2. Com alteração de consciência no início
se subdividem, por sua vez, cm início generalizado e início
foca l. As de início generalizado envolvem os dois hemisfé- Síndromes epdept1cas espec1a1s
rios (possivelmente também tronco encefálico e núcleos A. Mioclonias e crises mioclõnicas
da base) e há, geralmente, perda de consciência. As crises B. Epilepsias reflexas
mioclônicas podem ser tão rápida que não é possível esta- C. Afasia adquirida com alteração convulsiva
belecer se há ou não perda de consciência. As de início focal O. Crises febris e outras crises da infância e puberdade
E. Crises histéricas
envolvem inicialmente uma porção do cérebro e pode haver

Doenças Neurológicas 729


o Bra 1l, a prevalência de cpilep ia é de 9,2 para cada trolc ante. da gravidez. Outros fatore como cstrcssc p i-
1.000 habitantes e a prevalência c timada de epilepsia ativa qu ico ou di túrbios do ono não foram comprovado como
é de 5,4 para cada 1.000 habita nte , prevalência esta crnc- capaze de mterfenr na frequência de crise~. Um grande
lhantc à de outros países em de envolvimento. Estima-se estudo prospectivo europeu mostrou que o u o de oxcar-
que um milh,io de pcs~oas no Brasil ejam epiléptica c bazepina, a politerapia c, ainda, a prc cnça de crises parc1ais
que 380.000 não esteja m fazendo tratamento adcq uadu, ~ão ,1ssociada~ a aumento de crise · no 'egundo e terceiro
independentemente da classe so iaI. As taxa de cpi lep ·ia trimc trc cm relação ao primeiro trirnc tre. O me mo tra-
ativa, porém, ão ma i altas no grupos sociais menos favo- balho mostrJ que um bom controle de crises no período
recidos." A porcentagem de grávidas com epilepsia gira cm pré-concepcional e tá relacion;~do a bom prognóstico na
torno de 0,3 a 0,7~.~ gravidez. É con enso na litcratura que há au mento de crises
A grávida epiléptica tem alto risco para si c para o feto no trabalho de parto c no p.Hto cm si, com risco mais alto
quando comparada com a população geral. O problema cm p.tcientc~ que tiveram cri~e~ precoce~ na gravidez. 11
geralmente envolvem de controle de cri c , distribuição Tanto as medicações anticpiléptica (MA E) de pri-
da drogas antiepilépticas, além de toxicidade do trata- meira quanto de segunda linha atrave!>sam a placenta e
mento c tcratogcnicidade. A cri e comrul iva do t1 po ge- e di5tribuem no tecido feta l. A alterações fisiológicas na
neralizada, por induzir acidose lática, pode causar da no ao gravidez, ta i~ como a lcntificação da absorção ga trointcs-
lcto c também bradicardia fetal. O status epdeplrcus pode tinal, aumento do volume de distribuição, diminuição da
oc,l ion.tr morte intrauteri na. Cri es parciai com altera- ligação à proteína, além de alteração na capacidade meta-
ção de consciência encerram ri co pela po sibilidadc da bólica, afetam tanto a concent ração materna quanto a fc-
ocorrcn ia de trauma. ta l. Geralmente, há decréscimo da concentração plasmáti-
ca da ub t.'\ncia ligadas à proteína e cm menor exten ào
à concentração de drogas livre no plasma. Tal decréscimo
FREQUÊNCIA DE CRISES inicia- c desde o primeiro tri mest re. A maioria do e tu-
dos com MAE de primcirJ lin ha njo provou relação
A literatura diverge em relação à frequência de crises entre alteração plasmática dcss.1~ medicações c descon-
c gravidez. O efeito da gravidez em paciente epiléptica é trole de cri c . Em relação à mcdicaçõc ma1 recente~
muito individual, a im omo gravideze diferentes cm de segunda linha, poucas ão a:. informações di ponívci .
uma mesma paciente. Fatore hormonais, farma ocinéti- Pe qui as com lamotrigina provaram que há importante
co , fi iológico , mctaból i o e p icológico estão impli- declínio da concentração plasm,\tica da substância e e se
cados na gênese do descontrole de crises durante a gra- dccl í n io reflete pior controle de crises. E~tudo pro~pectivo
vidcz.8 A maioria do e tudos populacionai mo tra que europeu mo trou pior controle de cri es nas pacientes re-
a frequência de cri e não e altera substancialmente du- cebendo oxcarbazepina cm rclaçjo a outr,l~ medicações c
ra nte a gr.widez, ao passo que a piora ou a melhora ocorre tal achado pode cr secundário a alterações farmacociné-
cm propor õc emclhantc .9 Em relação à frequência de ticas (declínio acentuado da forma livre c, portanto, ativa
crises c o tempo gcstacional, a literatura tam bém é diver- da oxcMbazepina). 8
gente: .1lguns estudo mo tram alterações no pri meiro e
ter eiro trimestres, enquanto outros mostram melhora no
primeiro, com retorno à freq uência de ba c no egundo c RISCO DE MALFORMAÇÕES
terceiro trimc tre . Infelizmente, nenhuma de sas pesqui-
sas incluiu grupo de mulhere com cpilep ia não gráv1das A Incidência de mal forma õc~ fctai em paciente epi-
c cm c a informação fica impo ível determ inar c as lépticas chcg;~ a ser entre duas c três vezes a população ge-
mudanças na frequência de crises ão relacionadas à gra- ral. A literatura é controversa na hipótc ·e em que a própria
videz em si.10 doença possa ter papel na gênc c d,, ma lformação feta l c
A freq uência de crises est:\ também relacionada à do- não apenas o uso de MAE . Mcta náli c com 26 estudo
ença cm si, como o tipo de cpilepisa, localização, tempo de controlado mo trou que cs e aumento se deve pnn ipal-
doença, mono ou politcrapia de anticonvulsivantcs c con- mcnte ao uso de MAEsesc há também história familiarpo-

730 Noções Práticas de Obstetrícia


sitiva para malformaçõe . A malformaçõe maiore ma i a prevenção de eventos hemorrágicos em pacientes tratadas
comuns são os defeitos cardíacos, defeitos no tubo neural, com MAEs indutoras enzimáticas (carba mazepina, feno-
fenda palatina, hipospádia, além de defeitos de redução de barbital, fenitoína, pri midona e oxcarbazepina), a vitami na
membro . A investigaçõe têm re ultado diversos quanto K I deve ser adm ini trada por via oral ( lOmg ao dia) no úl-
ao risco relativo das drogas. Ape ar da evidencia de que a timo mes de gravidez, seguida por 1 mg intramu cular ou
MAEs usadas no primeiro trimestre aumentem o risco de intravenoso no recém-nato. 8·9•12
malformaçõe fetais, não pode er determinado se o ri co
é associado a toda as MA E ou a uma em particular. O
ácido valpróico foi a MA E mais relacionada a malforrna- RECOMENDAÇÕE S
çõe cm c tudo de qualidade, principalmente os defeitos
no tubo neural, fendas faciai c, po sivelmente, hipo pá- cnhuma recomendação há para o tratamento de epi-
dias, com efeito proporcional à dose em diversos estudos lep ia na gravidez em consenso baseado em evidência, já
controlado . O barbitúricos estão mais relacionados a que não há ainda estudos randomizados controlados. O
defeito cardíaco cm menor extensão. A fenitoína c a car- O!,Jadro 46.4 apresenta as dosagens usuais dos principais
bamazepina parecem contribuir com alto risco de fenda anticonvulsiva nte utilizado na gestação_l 1
palatina. A politerapia é ma i relacionada a malformações ~consen so n,\ literatura que as crises generalizadas po-
que a monoterapia em diver o estudo , principal mente se dem ser tão ou mais prejudiciai para o feto do que a MA Es,
uma das medicações for o ácido valpróico.8 •12 portanto, as cri e devem er evitada . A monoterapia deve
O uso de MAEs aument,\ o risco de crescimento in- ser empre encorajada, já que a politerapia está mais relacio-
trauteri no re trito e crianças pequena para idade gestacio- nada a defeitos no feto. As crises devem ser controladas com
nal em aproximadamente dua vezes o e perado, além de a mínima do c po sívcl de MAEs, pois o risco de malforma-
at raso no desenvolvimento pós-natal. No entanto, expres- ções é proporcional à do c. a medida do po · ível, o ácido
siva porcentagem das mãe epiléptica tem fi lhos normais valpróico deve ser evitado tanto em mono como em politcra-
c o uso de MA Es não deve ser considerada contraind ica- pia no primeiro trimestre devido ao alto risco de malforma-
ção para iniciar ou levar a gravidez ao termo.91 1 çõc fetais. Como o período mai crítico é o da organogenc ·c,
abe-se que baixos nívei de folato, vitamina Bl c altos ou eja, no primeiro trime 'tre, idealmente as mudanças nas
níveis de homoci teína ão fatores de ri ·co para defeito MA E deverão er feitas no período pré-concepci01ul (seis
do tubo neu ral e que a suplementação folínica em e tágio me ·es antes da concepção), tendo cm vi ta que a redução du-
pré-concepcional é encorajada por, comprovadamente, re- rante o período gestacional pode ser perigosa, por poder de-
duzir o risco de malformaçõc dessa ordem (de -oa 70%) encadear cri cs convul ivas. Es a mudanças englobariam
e de outras malformações (de lO a 20%). Alguns trabalhos a troca para a MAE de baixo ri co teratogênico, na mínima
mostram baixo níveis de folato em mulheres epilépticas dose terapêutica e em monoterapia.910•14
u~ando MAE . ão e sabe ai nda e a suplementação fo- Em relação ao parto, não há recomendação especial,
línica é capaz de dimi nuir tal risco, mas, apesar da pouca ·alvo se a paciente estiver ob ri co de crise convulsivas
qualidade das informações, a prescrição pcriconccpcional (crises não controladas du rante a gravidez) ou crises p;H-
de ácido fólico é indicada na do e de 0,4 a S mg ao dia. Para ciais complexas frequentes alterando o nível de consciên-

Quadro 46.4 1Dosagens usuais dos pri ncipais anticonvulsivantcs na gravidez


Meclrcarnr?nto Dose llllCral (mg 'd1al Frequênc1a Dose Manutenção Concentraçao Ser1ca
(mg dra) Normal (g 'mil

Carbamazepina- - i 400 I TIO 600-1200 4- 12


I
Fenobarbital 1
100 MIO 100- 200 10-40 ·i

Fenitoina 300 MID/BID/TID 300-500 10 - 20 I


----
Ac. Valproico 500-1000 810 1000 - 3000 50-150 I

Doenças Neurológicas 731


cia e prejudicando a colaboração materna no momento urinária, deverão e realizadas. A pressão arterial istêmica
do parto. O aleitamento materno deverá er encorajado, deverá er minucio a mente cont rolada.''
altcraçõel. no ciclo sono c vigília deverão cr evitada por O nível da le ão medular erá definitivo para a condu-
poderem deflagra r crise convul ivas.9 ção do re tante da ge tação e para plancjamento da via do
parto. O parto por via vaginal poderá cr reali.Gado, m,ts
deve- e observar que lesões medulares acima de TIO são
MIELOPATIA AGUDA capazes de causar trabal ho de parto sem dor. De ta forma,
a gc t.mte com lesões medulares todcicas deverá ter o colo
As doenças que acometem a medula espinhal, conheci- uterino rotineiramente exam inado por meio do toque, a
das como mielopatias, po suem causas diverÍ>a~ c sintoma- cada consulta pré-natal. c houver dilatação ou a paciente
tologia específica, relacionadas à características anatómi- estiver com idade ge racional upcrior a 32 emana , deve-
ca próprias de se órgão. c proceder à internação ho pita Lu.Já as lesões medulares
A medula espinhal é a parte mais simples do sistema acima do exto segmento medular torácico (T6) podem
nervo o central. Formada por fibra a ccndentc c de ccn- evoluir com hiper-reflexia autonómica. Ccf.1 leia, udorese,
dcntes, a medula recebe impu! os ensoriais de receptores congc tão na ai, hiperten ão, bradicardia, va~odi lata ão
periféricos c envia impulso motores ao órgão cfctuado- cutãnea e ereção pilo a acima do nível da lesão podem ser
res somáticos c viscerais. Sendo assim, lesões que acome- desencadeadas pela contração uterina, sendo um do pou-
tem a medula cursam com alterações motora~ c sensitivas cos sinai de início do trabalho de parto nessas pacicntcs. 1s
na região corporal abaixo da lesão. Os sintomas poderão A indicação de cesariana na pacientes paraplégica
ser unilaterais ou bilaterais, a depender do tipo de lesão. O não é absoluta, mas sua utilizaç,\o se torna mais prudente,
controle csfinctcriano também está sujeito a perfeito fu n- principalmente quando existe dclormidadc óssea da pel-
cionamento medular. ve ou da coluna vertebral. 1" 1s
As principais causas de mielopatia são: traumas, com-
pres ões (incluindo hérnia de di co vertebral), al teraçõc
va culare , proce os inflamatórios e infecciosos.' ~ COREIA
A ocorrência de gravidez em mulher com equela de
doença medular prévia não é evento raro, assim como a A coreia é um di túrbio do movi mento caracterizado
ocorrência dele ão medular aguda durante a gestação. A por movimentos involuntário!> que são súbito , breves, usu-
principais causas de mielopatia aguda durante a gravidez .1lmcntc di tai , em propó ito definido, que fluem de for-
ão o trauma c as mielopatia infecciosa .16 ma contínua c imprevisível pelo corpo. Os .1balos podem
Quando um.1lcsão medular acontece durante a gr,wi- cr proximai ou distai , instalar- ·c cm um do membros ou
dcz, deve-se, primeiramente, vi ar aos ri cos c benefícios dimídio (uma das metades) do corpo c se tornarem genera-
para a mulher na realização de quaisquer proced imento lizado a , eguir ou erem generalizados desde o seu início.
que se fizerem necessários, desde o diagnó tico da lesão .lté Os movimentos podem acometer a face, o tronco e os
o seu tratamento. A maioria absoluta das lesões medulares membro em qualquer combinação. Os movi mento do
requer exame radiológico para melhor defi nição do nfvcl tronco c do quadril são os rc pons:iveis pelo aspecto de
da lesão c da sua intcnsidadc.1-· 18 dança do paciente. Comumcnte acompanhada por ou-
A realização de radiografi as e tomografia durante o pri- tras alterações motoras, como hipoton ia e impcr istência
mei ro trimestre da gestação deverá ser feita quando imprcs- motora, a corcia é exacerbada pela an iedadc e desaparece
cindfvcis e com proteção para o feto com colete ou capote durante o sono.20 O grau dos movimentos é bastante vari-
de chu mbo. J:í a ressonância magnética, aparentemente, ável, podendo ·er qua c imperceptíveis como também de
não rcpre enta ri co para a mãe c o feto apó as pri meir,\ tal intensidade que incapacitam o paciente a realizar a ati-
12 emanas de gcstação. 19 vid.tde de autocuidado e de vida diária.11 O Q uadro 46.5
1 as miclopatia agudas, o uso de altas doses de cor- mostra a classificação etiológica das core ias.
ticostcroides geralmente se f.1z necessário. Medidas para A coreia pode er apenas um sintoma de doença prccxi -
prevenir hiperglicemia e infecção, principalmente infecção tente à gravidez ou se iniciar durante a gestação. A coreia que

732 Noções Práticas de Obstetrícia


se inicia durante a gestação é chamada coreiagravidarum (CG), tese de que as alterações hormonais da gravidez ativariam
independentemente da sua causa. A primeira descrição dessa regiões dos núcleos da base, principalmente o núcleo cau-
forma de coreia é datada de 1661, quando Horstius detectou dado, que possuam alguma disfunção prévia (uma cicatriz
hemicoreia em uma paciente grávida. Trata-se de entidade rara, imunológica, por exemplo), produzindo os movimentos
com incidência estimada em torno de 1:139.000 gestações 22 anormais. 22·24

Quadro 46.5 I Classificação etiológica das coreias


Céwsas genetrcas de Cor era T RATAMENTO E PROGNÓSTICO

Doença de Huntington
A corcia gravidarum requer tratamento medicamento-
Doença Huntington-/ike
Neuroacantocitose so apenas quando sua intensidade é acentuada o suficiente
Sfndrome de Mcleod para interferi r nas atividades habituais da gestante.
Coreia hereditária benigna As medicações utilizadas são as bloqueadoras da dopa-
Doença de Wilson mina, como pimozida, risperidona e haloperidol.
Outras
A CG não é indicação para interrupção da gestação ou
Causas não genetrcas de Cor era de cesariana. Não há relato na literatura, até o momento,
Vascular de óbito da mãe e/ ou do feto relacionado di retamente aos
Autoimune movimentos involuntários. Entretanto, por estar frequen-
Drogas temente relacionada à febre reumática, avaliação cardioló-
Metabólicas gica deve ser realizadaY
Infecciosas

A coreiagravidarum (CG), na maioria dos casos, tem seu MIASTENIA GRAVIS


in ício no segundo trimestre da gestação e tende a di mi nuir
de intensidade com a evolução da mesma. Em torno de I / 3 A miastenia gravis (MG) é doença autoimune causada
das pacientes apresenta remissão completa dos sintomas por autoanticorpos contra o antígeno da membrana neu-
no terceiro trimestre da gestação e as demais apresentarão romuscu lar pós-sináptica. Como afeta a junção neuromus-
melhora nos primeiros dias após o parto. Grávidas jovens, cular, a doença causa fraqueza na musculatura esquelética.
com menos de 22 anos de idade, são as mais susceptíveis ao Na maioria das pacientes o anticorpo é contra o receptor
quadro, sendo comum haver recorrência nas gestações se- de acetilcolina, mas em 5% é contra a tirosinaguinase
gu intes. Além dos sintomas motores, a ocorrência de labi- muscular e 5% contra um antígeno indefi nido. O pico da
lidade emocional está relacionada à corei a gravidarwn.23. 24 incidência na população feminina ocorre na terceira dé-
cada de vida, também pico da fase reprodutora da mulher
(média aos 28 anos com relação mulher-homem de 6:4).
ETIOLOGIA E PATOGÊNESE As musculaturas mais afetadas são a ocular extrínseca e a
palpebral. Há flutuação diu rn a (melhora matutina e piora
A coreia gravidarwn está relacionada à coreia de Syde- vespertina) e piora com o esforço contínuo. Infecções, de-
nham (CS), que ocorre no contexto da febre reumática terminadas medicações, cirurgias, anestesia geral, estresse
(FR) em mais de 2/ 3 dos casos. 25 Doenças do tecido con- emocional, menstruação, gravidez e puerpério podem de-
juntivo, como lúpus eritematoso sistémico (LES) e síndro- sencadea r exacerbações. Tanto a gravidez quanto o pós-
me do anticorpo antifosfolípide, também têm sido asso- parto podem desencadear a primeira crise de MG. 26
ciadas ao aparecimento de coreia durante a gestação, além A MG ocorre em I a cada 20.000 gravidezes. A gravi-
de história prévia de encefalite, doenças neurovasculares e dez tem efeito imprevisível no tocante às crises miastênicas.
alterações metabólicas como crise tireotóxica.n 2s Nem o estado clínico no início da gravidez nem gravidez
A patogénese da doença não é totaLnente elucidada, anterior indicam prognóstico. Verifica-se piora em aproxi-
mas a evidente associação da CG com a FR reforça a hipó- madamente 1/ 3 dos casos e as crises tendem a ocorrer no

Doenças Neurológicas 733


primeiro trimestre. As exacerbações no puerpério são geral- parto pré-termo. O s imu nossupressores prednisona e me-
mente agudas, dentro de três semanas pós-parto e associa- tilprednisolo na também podem ser utilizados na grav idez
das à insuficiência respiratória. Em estudo com 47 grávidas e são considerados seguros na lactação. O risco teratogêni-
miastênicas registrou-se piora durante a gestação em 19% e co é baixo e há apenas reduzido au mento na incidência de
no puerpério em 28%. 26·27 H á alto risco de exacerbação da fiss ura palatina (menos de I%). Altas doses de corticoste-
doença quando a gravidez acontece no primeiro ano ap ós roides, no entanto, são associadas à ro tura prematura das
o diagnóstico de MG ou se ocorre infecção no pós-pa rto. A membranas. A azatioprina e a ciclosporina apresentam
taxa de mortalidade materna é de aproximadamente 4%e os risco ao feto devendo ser evitadas na grav idez. O metrotre-
fatores de risco relacionados são: falência respiratória, crise xato é antagonista do ácido fólico e é proscrito na gravidez,
colinérgica 1, tratamento com magnésio para pré-eclâmpsia pelo risco de malformações, especialmente aquel as envol-
(há piora na condução neuromuscular) e hemorragia pós- vidas com o sistema nervoso centra l.26·28
parto. A mortalidade perinatal é referida cinco vezes mais do A fraqueza muscular provocada pela doença pode difi-
que na população geral. 28 Os altos n íveis de alfa-fetopro teína cultar a realização do parto normal. A paciente, pela falência
no segundo e terceiro trimestres de gestação parecem ini- da musculatura esquelética, pode não conseguir cooperar
bir a ligação do anticorpo ao receptor de acetilcolina; esse no período expulsivo. Nesses casos, pode ser n ecessário o
fa to pode explicar a remissão da M G nessa ocasião, além da emprego de fórcipe. A fadiga pode ser ta mbém prevenida
variabilidade do tempo para o desenvolvimento de MG ne- por anticolinesterásicos dados por via parenteral, já que a ab-
onatal. É possível que a queda dos níveis de alfa-fetoproteína sorção gástrica pode ser imprevisível. A dose de neostigmine
6
no pós-parto possa causar exacerbações no puerpério? 1,5 mg intramuscular ou 0,5 mg endovenosa é equivalente
à dose de 60 mg de piridostigmina oral. A cesariana eletiva
pode ser a opção mais segura, no entanto, no pós-operatório
TRATAMENTO porcentagem significativa (43%) das pacientes pode ter exa-
cerbação grave29
O tratamento da MG consiste em basicamente dois O timo tem importante papel na quebra da autotole-
grupos de medica mentos: os anticolinesterásicos (trata- rância na MG e a hiperplasia t ím ica é achado frequente nos
mento sintomático) e os imunossupressores. Outras op- pacientes com MG. A Academia Americana de Neurolo-
ções de tratame nto são a ti mectom ia e, em circu nstâncias gia precon iza que a timectom ia seja realizada a fim de se
especiais, a imunoglobulina intravenosa e a plasmaferese. tentar a remissão da doença eletivamente e antes de uma
As pacientes grávidas deverão ser tratadas sintomatica- gravidez planejada. Idealmente, a ciru rgia deve ser reali-
mente com anticolinesterásicos. Ideal mente, a piridostig- zada dentro de dois anos após o diagnóstico. O índice de
mina (Mestinon®) deverá ser prescrita em doses abaixo de remissão chega a 50% em cinco anos. Em estudo rea lizado
600 mg via oral ao dia (a dose h abitual é de 30 a 90 mg a no Hospital das C lín icas da UFMG, foi observada taxa de
cada seis horas). Atenção deverá ser dada ao ajuste de do- rem issão de 48% em pacientes submetidos à timectomia.
sagem, uma vez que, na gravidez, devido a alterações na Todos os pacientes em rem issão tinham menos de quatro
absorção intestinal, volemia e na eliminação renal, a dose anos de doen ça, reforçando a precon ização de timectomia
eficaz pode ser alterada com mais freq uência. O anticoli- precoce em pacientes com m iasteniagra~;is. 30
nesterásico venoso (neostigmine) deve ser evitado, por Em alg umas situações especiais, como agudização
estimul ar a contração uterina e desencadear trabalho de da MG e recuperação de pacientes com forma grave da
doença, o uso de plasmaferese ou imunoglo bu li na ven osa
1
A crise colinérgica é provocad a pelo excesso de medicação antico- (IGIV) é ind icado. A plasmaferese é relativamente con-
lincsterásica usada para o tratamento da miasteniagravis, causando traindicada na gravidez, pelo risco teórico d e indução de
uma supcrcstimu lação col inérgica muscar ínica e nicotínica. Al-
pa rto pré-termo, pela rem oção de hormônios circulantes,
guns si nais e sintomas são semel hantes à crise m iastênica, com o
alé m do risco de alteração do balanço hídrico e hipoten-
fraq ueza muscular, cianose e fa lência respiratória. Outros sinais
que podem estar presentes são broncoespasmo, sali vação exces- são.26 A lG !V pode ser usada com segurança no trata-
siva, bradicardia, incontinência minária, lacrimejamcnto, diarreia, mento tanto para g rávidas quanto para c rianças e idosos
vômitos e miose. com comorbidades. H á importa nte melhora d a fraqueza

734 Noções Prát icas de Obstetrícia


muscular com o uso da IG IV, o que foi documentada OUTRAS AFECCÕES NEUROLÓGICAS
em estudos prospectivas controlados. O início do efeito COMUNS NA GRAVIDEZ
ocorre de três a seis dias, com pico em duas semanas e
manutenção após quatro semanas. As contraindicações
são episódios prévios de anafi la ia com imunoglobulina SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO
c deficiência de IgA. Efeitos colaterais são ra ros c incluem
meningite asséptica, insuficiência renal aguda, eventos A neuropatia compressiva mais comum na gravidez é
tromboembólicos, reações anafiláticas, excesso volêmico, a síndrome do túnel do carpo (ST C). Outras são a radi-
náusea, cefaleia e febre. Não há superioridade da imuno- culopatia lombossacra, meralgia parestésica, neuropatia
globulina quando comparada à plasmaferese em estudos femoral, neuropatia do obturador c pé-caído no pós-parto
relevantes. A dose preconizada é de 2 g/ kg por dois d ias. (Q\Jadro 46.6).
A IGJV é amplamente recomendada nas exacerbações da A incidência de ST C na população não grávida é de 3 a
MG na gravidez, antes do parto e para MG neonatal. 26•31 30%e na gravidez varia de 2,3 a 35%. É mais comu m no últi-
mo tri mestre, mas pode ocorrer em toda a gravidez. Geral-
mente as mulheres com STC são primigestas aci ma dos 30
EFEI TOS NO FETO anos de idade e com edema de mão ou edema generalizado.
Há alta incidência em pacientes com pré-eclâmpsia e, possi-
As complicações fetais são a miastenia neonatal (10 a velmente, nas que ganharam muito peso com a gravidez. A
20% dos filhos de mães miastênicas) e a artrogripose múl- gênese da ST C parece estar relacionada à retenção hídrica
tipla congênita. A miastenia neonatal é causada peb trans- de forma a pressionar o túnel do carpo no nervo mediano
ferência passiva de anticorpos circulantes via transplacen- (entre o rctináculo dos flexores e os ossos do carpo). Outra
tária. Na maioria das vezes, há correlação positiva entre os possibilidade seria de hipertrofia dos ligamentos tra nsver-
altos títulos de anticorpos maternos e sintomatologia feta l, sos do carpo induzida pela relaxina. Clinicamente, a STC se
o que não se reflete, necessariamente, em correlação da gra- manifesta por dormência ou formigamento no território do
vidade da doença materna e sintomatologia fetal. A miaste- nervo (polegar, primeiro, segu ndo, terceiro e o lado radial
nia neonatal pode ocorrer, inclusive, em fi lhos de mães em do dedo anu lar). Pode também haver fraqueza tenar e perda
remissão da doença. Crianças com títulos de anticorpos an- de discriminação de dois pontos. A piora noturna é sinto-
tiacetilcolina podem também ser assintomáticas? 6 A mias- ma clássico. A maioria das pacientes tem sintomas bilaterais
tcnia neonatal aparece 12 a 48 horas após o parto e pode se (76%). A confirmação diagnóstica é feita por eletroneuro-
prolongar por um a quatro meses. Os sintomas no neonato miografia, que mostra menos velocidade de condução no
podem variar desde dificuldade na sucção e na deglutição nervo media no. O tratamento é conservador e consiste em
até hipotonia generalizada e dificuldade respiratória. Os imobilização do punho a fim de se manter posição neutra
sintomas não aparecem de imediato devido à medicação da mão, com perda de pressão no túnel do carpo, além de
anticolinesterásica usada pela mãe que é passada para o fisioterapia e dieta pobre cm sal. Em 80% dos casos, o tra-
feto e também devido aos altos níveis de alfa-fetoproteína. tamento conservador é eficaz. Caso a paciente esteja muito
O tratamento do recém-nato consiste em medicação anti- sintomática e essas medidas não resu ltem em alívio, pode
colinesterásica, chegando até a plasmaferese em casos mais ser tentada a injeção de esteroides no túnel do carpo. A injc-
graves. Amedida que os títulos de anticorpos caem, há me- ção de corticoide não é isenta de complicações, que podem
lhora da sintomatologia miastênica. A timectomia materna incluir a lesão de nervo mediano c injcção intratendinosa
está relacionada a melhor prognóstico para o feto.28 com rotura do tendão. Geralmente, os sintomas melhoram
A artrogripose múltipla congénita é condição ra ra. O feto após o parto e raramente há necessidade de intervenção
desenvolve múltiplas contraturas nas articulações, secundá- cirú rgica. Quando a STC ocorre tardiamente na gravidez,
rias à dim inuição da movimentação no período gestacional. o prognóstico para a recuperação completa espontânea é
A doença está relacionada a hipoplasia pulmonar, polidrâm- melhor do que quando ocorre em fases iniciais da gravidez.
nio c morte neonatal. Há alto risco de recorrência em gravi- Caso a paciente esteja amamentando, os sintomas podem
dezes subsequentes, mesmo em mães assintomáticasls se prolongar por aproximadamente seis meses e resolve-

Doenças Neurológicas 735


rem-se cm seis semanas apó a interrupção do aleitamen- homcn (2: 1) e também em cauca 1ano . Curiosamente, a
to. Em algumas pacientes, a síndrome pode se manifestar incidência da doença depende da localização geográfica, é
primariamente durante o aleitamento. Há fa lta de consenso mais alta quanto maior a distância do equador. 14
quanto à porcentagem, ma algumas mulhere podem per- Doenças autoimune podem apre entar agrava mento
sistir com a TC apó um ano do parto. É comum que essa ou remissão durante a gravidez, as mediadas por células
neuropatia recorra cm gravidezes subscquentcs. 28 12 · 11 como EM e artrite rcumatoidc tendem a ser mais leves du-
ra nte a gravidez. Is o ocorre porque durante .1 gravidez o
sistema imune predominantemente mediado por células
ESCLE ROSE MÚ LTIPLA (1h 1) se modifica para predom inantemente mediado por
anticorpos (1h2). Tal mudança visa a beneficiar a penna-
A csclcro c múltipla (EM) é doença de origem autoi mu- nência fetal com a metade dos seus antígeno derivado do
nc mediada por célula T muita veze desencadeada por pai c, por tal, não self. Após o parto c a ituação se inverte.
um e tre or ambiental em pacientes geneticamente sus- O utros fatores como estrogênio, progestcronJ, testostero-
ceptíveis. A hipótese fisiopatológica da doença é de que um na, corti ol, alfa-fctoprotcína, autoanticorpos-antiM HC
antígeno de conhecido seja reconhecido como não seif pelo (antígenos de histocompatibilidadc), citocinas presentes
SIStema imune. Com isso, há o desencadeamento da cascata no soro materno, proteínas placentárias, entre outros, po-
de ativação imunológica com linfócitos T citotóxicos, cul- dem agir como imunomoduladores. O hormônios e te-
minando na de mielinização do axônios.l~ Por definição, o roidcs sexuais também inibem a produção de óxido nít rico,
diagnóstico de EM é feito quando se têm eventos neuroló- decrescendo a síntese de citocinas, fator de necrose tumo-
gicos separados no tempo e no espaço. É necessário um se- ral c intcrferon ativado pela micrógha. A alfa-fctoproteína
gundo evento para definir EM. A ma nife tações da doença inibe a proliferação linfocitária e a ativação de uma citocina
ão flutuantes, imprevisíveis e ocorrem cm "surtos" ou crises. ativa com atividadc citostática.
O· intomas ão variáveis e refletem a localização das lc ·õcs O período gcstacional tende a ter efeito positivo no
( ércbro, tronco cerebral, medula c nervos ópticos). As for- prognóstico da EM com redução dos surtos, além de ter
mas da doença são: surto-remis ão, a forma primariamente po ível efeito protctor no de envolvimento da doença (no
progressiva na qual não há surto c a forma ccundariamcn- pó -parto o risco de desenvolver EM torna-se semelhante
tc progressiva (que se segue ao surto-rem issão). ao da população em geral). Outro achado intcrc ante é o
A incidência na população mu ndial é de aproxima- de que a nuliparidade está a ociada a alto risco para o de-
damente 0,1 a 0,2%, com pico entre os 20 e os 30 ano de envolvimento de EM. Suspeita-se também de efeito bené-
idade. A doença é mais comum em mul heres do que cm fico da gravidez no prognóstico global J a EM, achado, po-

Qpadro 46.61 Neuropatias compressivas na gravidez


Nt!r vo Rdr/PS Med1rldrt!s S111tomdtologra Clrn rca

Nervo mediano (STC) C6-T1 Parestesia e disestesia no polegar. 2°, 3°dedos e anular.
Fraqueza tenar.
- -- --
Radiculopatia lombo-sacra L4-S3 Fraqueza em perna, coxa e dedos.
Parestesia e dor em glúteos, coxa e perna.
-

-
Meralgia parestésica
(do nervo cutAneo lateral da coxa)
L2-L3 Dor e parestesia na região antero-lateral da coxa

--- - -
_j
Neuropatia femoral L2-L4 Fraqueza para a flexão da coxa e extensão do joelho
-
Neuropatia do obturador L3-L4 Dor na porção medial da coxa e fraqueza para adução da coxa
- -- -- -- --
Neuropatia fibular L4-S1 Pé caldo
· Adaptado de· Mabie WE.n

736 Noções Praticas de Obstetrlcia


rém1 não reproduzido por outros estudos. A EM também redução de mobilidade, principalmente devido a lesões
não encerra riscos na gravidez per se, como aborta mento, medulares e espasticidade, devem ser advertidas quanto à
prematuridade, baixo peso, eclâmpsia. 34•35 possibilidade de eventos trombóticos. A profilaxia de tais
O PRIMS (Pregnancy and Multiple Sclerosis) foi o primei- eventos é feita com aumento de fisioterapia, meias com-
ro estudo prospectivo que avaliou e seguiu 227 grávidas com pressivas, além de também se considerar o uso de baixas
EM até dois anos após o parto e parece confirmar benefício doses de AAS ou heparina. As drogas imunomoduladoras
temporário em pacientes com EM. H ouve redução nas ta- não são indicadas no aleitamento materno. Essa considera-
xas de surto durante a gravidez, comparativamente às taxas ção deverá ser pesada a fim de retornar o esquema terapêu-
de um ano antes da concepção, com aumento subsequente tico e mi nimizar o risco de surtos no pós-parto. 38
no primeiro trimestre pós-parto em um terço das pacientes
(geralmente aquelas que têm doença ativa no ano anterior à
gravidez). A gravidez também não influenciou a progressão SíNDROME DAS PERNAS INQUIETAS
das sequelas na EM. A taxa global anual de surtos, no entan-
to, permaneceu a mesma de pessoas que não engravidaram. A síndrome das pernas inquietas (SPI), principal dis-
A analgesia epidural e o aleitamento materno não interfe- túrbio de movimento durante a gestação, é definida como
rem nas taxas de s urtos no pós-parto. Outro estudo sobre o sensação de incômodo, dolo rosa ou não, que acomete prin-
segundo ano pós-parto demonstrou que a taxa de surtos se cipa lmente membros inferiores, associada à urgente neces-
manteve a mesma do período pré-gravídico.36•37 sidade de mover as pernas. Os si ntomas pioram durante o
repouso e o período noturno, tendendo a melhorar com a
movimentação. 39 Os sintom as de SPI podem causar d ifi-
TRATAM ENTO culdade para adormecer e perma necer dormindo. Cerca
de 80% das pessoas com SPI têm também movimentos
O tratamento consiste na imunomodulação, manejo dos periódicos dos membros durante o sono (PLMS), q ue são
sintomas e reabilitação. Os agentes imunomoduladores pa- "puxões" a cada 20-30 segundos durante toda a noite, cau-
recem mel horar os surtos da doença em 40%. Os consensos sa ndo m icrodespertares. Por causa da dificuldade de dor-
atuais sugerem que se interrompam as terapias imunomo- mir e manter-se no sono, as pessoas se sentem cansadas e
d uladoras (interferon, acetato de glatirâmere mitoxantrona) sonolentas durante o dia, aumentando irritabilidade, sinto-
pelo menos três meses antes da concepção para gravidez pla- m as depressivos, dificuldade para concentração e memó-
nejada. Não há evidência de segurança de terapia imunomo- ria. Por causa da urgência em movimentar as pernas, são
duladora na gravidez, de forma que as pacientes em gravidez dificultadas longas viagens e atividades de lazer.
não programada devem ser encorajadas a interrompê-la, A gestação é um dos fatores de risco para o aparecimento
lembrando que a própria gravidez tem efeito imunomodu- e a exacerbação dos sintomas da SPI. Estima-se que ll a 27%
lador na doença. A azatioprina pode em situações especiais das gestantes apresentem os sintomas durante algum mo-
ser utilizada na gravidez. Metrotrexato deve ser evitado pc- mento da gravidez, sendo mais comum no terceiro trimes-
los seus efeitos abortivos e risco de malformações. tre. Geralmente, há remissão dos sintomas após o parto.40
Prednisolona e metilpredn isolona atualmente são con- A SPI possui etiologia diversa. Fatores genéticos, ane-
sideradas de baixo risco na gravidez, já que grande parte mia com deficiência de ferro e ácido fólico, doenças crôni-
desses esteroides é metabolizada na placenta e baixa por- cas como neu ropatias periféricas e nefropatias são alguns
centagem atinge o feto. Os esteroides podem ser eficazes dos fatores relacionados à SPI. Na g rav idez, a etiologia d a
em s urtos durante a gravidez. Alguns estudos com metil- SPI é relacionada à insu ficiência de ferro e folato. Du ran-
prednisolona e com imunoglobulina dados no pós-parto te a gestação, a necessidade orgânica dessas substâncias se
mostram que esses tratamentos reduzem a taxa de surtos encontra au mentada de forma significativa - três a quatro
nesse período sem afetar o aleitamento materno. Essas pes- vezes os valores basais. Assim, deficiência de uma dessas
quisas têm valor científico relativo, uma vez que o número substâncias tem sido detectada em gestantes com sintomas
de pacientes arrolados foi reduzido. Há de se ter alguns cui- da SPI. A normalização dos n íveis de ferro e ácido fólico no
dados com os portadores de EM. A lgumas pacientes com pós-parto coincide com a remissão dos sintomas.40

Doenças Neurológicas 737


O diagnóstico da SPI é exclusivamente clín ico, dispen- DOENÇA CÉREBRO-VASCULA R
sando exames complementares (exceto aq ueles destinados
a estudo de ferro), obedecendo aos critérios d iagnósticos A gravidez e o puerpério são períodos na vida da mu-
mínimos de acordo com o Grupo de Estudos Intern acio- lher que estão relacio nados ao aumento no risco de ocor-
nais da Sínd ro me das Pernas Inquietas e da Classificação rência de um evento neurovascular. Felizmente, apesar do
41 2
Internacional dos Transtornos do Sono: .4 risco aumentado, a ocorrência de acidente vascular cere-
N ecessidade irresistível e intensa de mover as pernas, bral (AVC) durante o período gestacional é incomu m.
geralmente acompanhada ou causada por sensações Os principais fatores de risco pa ra AVC durante ages-
parestésicas desagradáveis nas pernas entre o torno- tação e o puerpé rio são si m ilares aos fatores de risco nas
zelo e o joelho. O utros segmentos do corpo (braços) mulheres não grávidas: cardiopatias, hipertensão, d iabetes
além das pern as podem ser acometidos, mas raramen- mellitus, tabagismo, d islipidemia e trombofil ia. Entretanto,
te desacompanhados do acometimento das pernas; há fato res de risco inerentes à gestação, como a hipervo-
A necessidade de mover as pernas ou a sensação de- lemia, pré-eclâmpsia, infecções pós-parto e muda nças na
sagradável de desconforto com eça ou piora durante coagulação, que contribuem para o aumento do risco de
períodos de repouso ou inatividade, como paciente evento neurovascular nesse período.44•45
sentado ou deitado; O risco de ocorrência de evento neurovascular duran-
A necessidade de mover as pernas ou a sensação te a gravidez varia de acordo com o período gestacional: o
desagradável é aliviada total ou parcialmente por AVC isguêm ico tem sua incidência aumentad a no puer-
movimentos tais como ca m inhar, alongar-se, cur- pério e as hemorragias cerebra is têm seu risco au mentado
var-se. Algu ns pacientes sentem a lívio com ma no- tanto durante a gravidez q uan to no pós-parto.46•47 O Qua-
bras sensitivas (banhos frios ou quentes, posturas dro 46.7 mostra as principais causas de AVC isquêmico e
específicas, massagens); hemorrágico du rante a gestação.
A necessidade de mover as pernas ou a sensação de-
sagradável apresenta ca racterística circadiana sur- Q u adro 46.7 1Etiologias doAVC isquêmico na gestação
gindo ou piorando no final do dia e à noite. As quei-
Hematológ1cas
xas são geralmente mais leves durante o dia do que à
noite e ocorrem picos de intensidade na madrugada. Trombofilias
Trombocitose
Doença Falciforme
Para o tratamento da SPI existem vários medicamen-
Policitemia
tos disponíveis no mercado, como agentes dopaminér-
Cardíacas
gicos, benzodiazepín icos, opioides e anticonvulsivantes.
O Grupo Brasileiro de Estudo em Síndrome das Pernas Arritmias
l nq uietas 43
recomenda pa ra o tratam ento de gestantes o Cardiomiopatias
Endocardite
uso de Levodopa em baixas doses (<200 mg/ dia) em dose
Forame oval patente
única noturna, além da suplementação de ferro. Agonis-
tas dopaminérgicos como a pergolida e o ropinirole não Vasculares
são recomendados du ra nte a gestação devido ao risco de Aneurismas
malformação e morte fetal. Medidas não med icamentosas Malformações arteriovenosas
como higiene do sono, suspensão de drogas que agrava m Vasculopatia
Dissecção carotfdea
os sintomas (antidepressivos tricíclicos e inibidores super-
seletivos de recaptação da serotoni na), evitar ingestão de Relacionadas à gestação
cafeína, bebida alcoólica e exercício físico intenso antes de Pré-eclâmpsia/ Eclâmpsia
dormir ajudam no controle dos sintomas. importante que Síndrome HELLP
as gestantes sejam orientadas quanto ao caráter ben igno Embolia por líquido amniótico
dos sintomas e sua provável remissão após o parto. Adaptado de: Kutcher et al.' 9

738 Noções Prát icas de Obstet rícia


O quadro clínico da gestante que apresenta AVC REFERÊNCIAS
isquêmico ou hemorrágico é similar ao de qualquer pa-
ciente que sofra AVC. Na maioria dos casos, o principal I. Hcadachc Classification Subcornrnittee ofthe lnternational Head-
achc Society (l HS). TI1c lnternational Classification ofHcadache
sintoma é um déficit neurológico focal de início súbito
Disorders: 2nd ed. Ccphalalgia. 2004;24 (Suppll ):9-160.
q ue pode, ou não, es tar associado a sintomas inespecífi-
2. Loder E. Migraine in pregnancy.Semin Neuro!. 2007;27(5):425-33.
cos como cefaleia, vôm itos, cri ses conv ulsivas e rebaixa-
3. Silberstein SD. Headachcs in prcgnancy. Neural Clin.
mento da consciência. O s si nais foca is po dem ser os ma is 2004;22:727-56.
diversos, mas d im inuição da força muscular unilateral, 4. Fishcr RS, van Emde Boas W, Blume W, Elger C, Gcnton P, Lcc
alterações na fala e na visão são os ma is comuns. A o bten- P, et ai. Epileptic scizures and cpilepsy: dcfinitions proposcd by
ção de neuroimagem por meio de tomografi a de c rânio the lnternational League Against Epilepsy (I LA E) and the lntcr-
national Bu reau for Epilepsy (IBE). Epilepsia. 2005;46(4):470-2.
ou ressonância magnética é indispensável para o diag-
S. EngelJ Jr. Report of the ILAE classification core group. Epilepsia.
nóstico preciso e definição entre hemorragia e isquemia.
2006;47(9): ISSS-68.
A preferência deverá ser pela realização da ressonância
6. Ropper AH, Brown RH. Adams and Victor's Principie ofN eu-
mag nética, pois é mais segura para o feto, principalmente rology. 8• ed. New York: McGraw-H iii; 2005.
no pri meiro trimestre da g ravidez. Entreta nto, a tomogra- 7. Noronha AL, Borges MA, Marques LH, Zanetta DM, Fer-
fia computadorizada poderá ser realizada nos casos em nandes PT, de Boer H, ct ai. Prevalencc and pattern of cpilcpsy
que a ressonância não estiver disponível, com medidas de trcatmcnt in different socioeconomic classes in Brazil. Epilepsia.
2007;48(5):880-S.
proteção p ara o feto e ava liando-se o s riscos e benefícios
8. Battino D, Tomson T. Managemcnt ofEpilcpsy during Prcgnan·
para a sua realização. O uso de contraste deve ser evitado
cy. Drugs.2007;67(18): 727-46.
durante a gestação.48
9. Aguglia U, Barboni G, Battino D, CavazzutiGB, Citerncsi A, Coro-
O tratamento d a grávida com AVC, idealmente, de- su R,et al.ltalian conscnsus confcrcncc on cpilepsy and pregnancy,
verá ser realizado por equipe mu ltidisciplinar. Nos casos laborand puerperium. Epilepsia.2009;50 (Suppl l):7-23.
em que a anticoagulação estiver ind icada, esta deverá ser 10. Harden C L, Hopp J, Ting TY, Pennell PB, French JA, Hauscr
realizada com heparin a, pois o uso de W arfarin é pros- WA, et ai. Practice Parameter update: Management issues for
women with epilepsy--focus on prcgnancy (an evidence-based
crito pela possível teratogenicidade, principalmente no review): Obstetrical complications anel changc in seizu re frc·
primeiro t rimestre. Para as pacientes que deverão usar quency. Report of the Quality Standards Subcornmittee ,md
antiagregantes plaquetários, o ácido acetilsalicílico é con- Therapeutics and Technology Assessment Subcommittee o( thc
sid erado seguro na dose de 60 a 80 mg/ d ia. Clopidogrel Arnerican Academy of Neu rology and American Epilcpsy Soei·
ety. Neurology. 2009;73(2):126-32.
e dipiridamol parecem ser seguros, mas não há estudos
li . Thc EURA P StudyGroup. Seizure control and treatment in preg-
que os avalie m em longo prazo e em elevado número de
nancy: obscrvations from the EU.RAP epilepsy pregnancy. Neu-
pacientes 50 O uso de agentes trombolíticos em gestantes rology 2006;66(3):354-60.
com AVC isq uêmico tem sido relatado na literatura, m as 12. Harden CL, Meador KJ, Pennell PB, Hauscr WA, Gronseth GS,
não há estudos q uanto à sua e ficácia e segurança durante French JA, et ai. Practice Para meter update: Management issues
a gestação5 1 A neurocirurg ia poderá ser ind icada em ca- forwomen with epilepsy--focuson pregnancy (,mevidence-based
review): Teratogenesis and pcrinatal outcomes. Report of the
sos de AVC hemorrágico.
Quality Standards Subcommittee and Therapeutics and Tech-
O prognóst ico da mulher que sofre AVC durante a nology Subcomrnittee of the Amcrican t\ cademy of eurology
gestação é bastante variável. Entretanto, o risco de o utro andArnerican Epilepsy Society. Neurology. 2009;73(2): 133-41.
AVC em nova gravidez apenas é significativo se houver 13. Browne T R, Holmcs GL. Epilepsy. N Eng! J Med. 2001;
persistência dos fatores de riscos. Quando este for o caso, 344(15):1145-SI.

nova gestação deverá ser bem o rientada, levando-se em 14. Tomson T, Perucca E, Battino D. Navigatingtoward fetal and ma-
ternal hcalth: the challengc oftreating epilepsy. Epilepsia. 2004;
conta os riscos para a mãe e o fe to.
45(10) 11 71-S.

Doenças Neurológicas
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740 Noções Práticas de Obstetrícia


Transtornos Psiquiátricos na
41 Gravidez e Puerpério
Gislene Cristina Valadares
Fabrício Corrêa Durão
Luciana Valadares Ferreira
Miguel Grossi Filho

Efeitos da Gravidez na Transtornos Psiquiátricos no Pós-parto


Saúde Mental da Mulher Blues Puerperal
Depressão Pós-parto
A Vulnerabilidade Feminina
Psicose Pós-parto
Transtornos Psiquiátricos Escolhendo o Medicamento
Pseudociese
Hiperemese Gravídica
Aspectos Psicopatogênicos
Transtornos Ansiosos do Abortamento
Depressão Aspectos Psicopatogênicos da Infertilidade
Transtorno Afetivo Bipolar
Esquizofrenia
Transtornos Alimentares
Abuso de Alcool e Drogas ilícitas

O
sofrim ento psíquico feminino durante a determinação do papel dos hormônios gonadais na
gestação e o puerpério é descrito desde os modulação do funcionamento do sistema nervoso
tempos da Grécia Antiga. O crescente in- central (SNC);
teresse, nas últimas décadas, pelos transto rnos afetivos evidências nos exames de imagem do efeito does-
na gravidez e no puerpério, pelas alterações psicológicas tresse e dos traumas sobre o funcionamento cere-
relacionadas à menopausa e pelos efeitos psíquicos da bral e endócrina.
exposição feminina ao trauma e à violência resultam
dos esforços de organismos multilaterais, de governos Os modelos biológicos atuais demonstram complexa
e setores sociais interessados na m elhoria de qualidade interação neuroendócrina, que determi na o fino equilíbrio
de vida das mulheres. das funções psíqu icas. Sabe-se, por exemplo, gue o estro-
Existe, certamente, a necessidade de individualizar a gênio tem efeito ansiolítico e antidepressivo por interação
atenção à saúde mental oferecida às mulheres, por suas es- com o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal e por ação trófi-
pecificidades: ca também em am ígdala e hipocampo.1
Diferenças de gênero na estrutura, no funciona- Visto que os determ inantes de saúde mental nas mu-
mento, na farmacocinética e farmacod inâmica lheres requerem esforços de promoção e prevenção, é
cerebral; importante relembrar que as mulheres vivem mais que
os homen , ma não gozam de mai aúde. Em países po- Também a família pode negligenciar o sinais c sin-
bre como o Brasil, ,b causa de morte e morbidade e tão tomas apresentados pela gestante ou puérpera, por pre-
relacionadas a pro cs o fi siológico inerentes à função de conceito, medo ou insegurança. É difícil admitir que a
dar a vida, sendo que as taxas de morbimortalidade asso- esposa, mãe, fi lh a ou irmã esteja em sofrimento com a
ciadas a gravidez, aborto, parto c puerpério (inclu indo as maternidade.
hospitalizaçõc p iguiátricas) permanecem elevadas. Isso Esse mesmo preconceito pode invadir o:. profissionais
demonstra a iniquidade ao acesso à saúde, tendo em vista que atendem mulheres gr,\vidas, e pecialmente aqueles
gue a distribuição desses males cst.l relacionada ao sfalus sem formação, obre como abordá-las c ãs ua fà mílias
socioeconômico e ao nível cducacion.1l. nessa situação.As dificu ldades e os sofrimento psíquicos
Não se pode dei xa r de agregar a c cs determinantes são visto quase como um tabu c geralmente são negligen-
de saúde mental o estresse elevado das mulheres gue in- ciado , não relatados pela mulheres, tampouco, interro-
gressam no mercado de trabalho, com repercussão, dife- gado pelo médico.
rentemente dos homens, obre o funcionamento do eixo O médico, por sua vez, encontra- c envolto em mu-
hipotálamo-pitu itário-adren:~l, omado à expectativa de danças sociais gue refletem a insati hção das mul heres
vida mais long.1, cm contexto freguente de olidão, pobre- com o seu papel social c com a sua saúde. r or lidar cons-
za, falta de poder e de representatividade. tantemente com situaçõe de obrcc.1rga emocional c de
O sofrimento p íquico fem inino durante a gc tação e o trabalho, ele acaba se tornando vulnedvcl ã impcrícia c
puerpério pode ter rcpercu sõcs devastadora na vida de to- à má-prática, por não ter tempo, du rante a consulta, pa ra
das as pessoas envolvidas: a própria ge tante, o feto, o recém- permitir que a mãe, geralmente carregada de culp:1 e ver-
na cido (R ), o outros fi lho , o companheiro, enfi m, toda gonha, fa le sobre o seu sofrimento.
a fa mília que dependa do humor materno para o ·eu bcm- Sabe-se que, em todo o mundo, mcno de 2-%do obs-
-c tar. Depre ão no pós-parto signific.1 mãe em desc pcro, tetras perguntam sobre J saúde mental da gc~ta ntc. Isso ·e-
cm energia, com sentimentos dcv.1 tadores, silêncio, absti- ria muito Hcil, bastando somente uma intcrrog.1ção: como
nência do significado da vida, a noite da alma, a exti nção d:~ vocc se sente?
chama. Se isso é percebido pelo RN "como uma nuvem que O risco de o profis ional pouco trein:1do enfrent:1r :1
esconde o sol, não sabemos, somente podemo im.1ginar.. .". 2 ansiedade d:1 sua prática diária, com atitude de ccn ura
Investir na saúde mental da mães ·ignifica inve tir na ou e tigmatização às queixa psiquiátrica de u:1 cliente ,
saúde mental das gerações futura . f: importante, portanto, é alto, :1 im como a generalização de ua experiência pe.-
conhecer os aspectos gerais dos tran tornos p iquiátrico na soai c a imposição de eus próprio valorc podem levá-lo
gravidez c no pós-parto, no sentido de facilitar a identificação a ignorar achados p íquico cli nicamente signi ficativos.
de p,Kiente de risco, a intervenção e o tratamento precoce. r ode também negligenciar pergunta Oll orientações obre
Avaliarediagno ticar os tran torno mentai feminino, a função cxual, conceito e opções sexuai , di funções ·e-
durante a gravidez e o puerpério, torna- e mais difí ii por xuai ccundária ao uso de fármacos, violência doméstica
Jlgumas circun t:lncia gue neces itam de atenção espe ia!, e protcção contra doenças sexualmente transmissíveis.
tanto por parte da paciente e sua família, guanto do médico. Frequentemente, a coleta adequada da história sexual e
A dificuldade diagnó ticas relacionadas à mulher reproduti va pode alertar para reações patogênicas a even-
ocorrem quando ela não apre enta uas gueixas. Estar tos da vida mágoas c culpas não resolvidas - que estabe-
mentalmente perturbada, ansiosa ou deprimida é .1lgo de lecem associação entre gueixas e sintomas psiguiát ricos c
difíci l aceitação pela paciente e pela sociedade. Toda mu- eventos sexuais c reproduti vos recentes ou passados.
lher se sente obrigada a, uma vez constatada a gravidez, ze- Também os provedores de cuidados neonatais têm
lar por ela c cntir-sc plena e feliz durante toda essa etapa. A relacionamento único com as mães e a oportu nidade para
gravidez, por ser período de intensas modificações físicas identificar intomas e promover suporte ou referência adc-
e hormonais, con. titui o evento de vida mais complexo da guada, j.í gue um dos grande · de afios é o tãto de o ofri-
experiência humana. A gravidez e a maternidade ainda são mcnto psíquico fem inino ser, ncs a fase, ba tante ma cara-
vistas como motivo de extrema alegria para a mul her e a do. Estima-se gue mai de 50% dos guadros de depre são
fa mília, mas, infelizmente, não é sempre este o caso. 3 pós-parto permaneça m cm dctccção.4

742 Noções Práticas de Obstetricia


As repercussões dos transtornos psiquiátricos mater- ressaltando, concomitantemente, para as responsa-
nos para o filho e para a família traduzem-se em prejuízo bilidades da m aturidade, que podem ser fantasiadas
no pré-natal, no resultado da gravidez, na interação entre como solitárias pelas gestantes com personalidade
a mãe e o recém-nascido, no desenvolvimento da criança e insegura;
nas relações fam iliares como um todo. em relação ao desempenho doméstico e à identida-
de profissional.

EFEITOS DA GRAVIDEZ NA Na vida fa miliar, a mãe é foco irradiador. Todos os


membros se beneficiam de seu devotamento, ent usiasmo
SAÚDE MENTAL DA MULHER
e disponibilidade em tentar resolver questões. Todos, es-
pecialmente as crianças, sofrem com seu desâni mo e de-
A importância da gravidez e da maternidade varia salento .
consideravelmente de mulher p ara mulher. O desejo de A maternidade é, sabe-se, trabalho exaustivo, que de-
realmente conceber, gesta r, cuidar, alimentar e desenvolver manda muito da mulher e m perícia, habilidade e emoção,
uma ou mais crianças não é exatamente o mesmo desejo sendo, portanto, importante compreender o que é por ela
de saber-se capaz de fazê-lo. D e fato, algumas mulheres sentido, vivido e experimentado. Muitas têm d ificuldade
relatam ter engravidado deliberadamente para provar sua até de encontrar palavras para descrever, explicar ou mes-
capacidade fértil, o gue pode estar de acordo com a estra- mo localizar seus sentimentos e sintomas. É necessário
tificação sócio-religiosa de onde elas vivem, e demandam desprender-se da ignorância a respeito dos transtornos
atenção à sua saúde ginecológica e obstétrica. psiquiátricos das mulheres, para vencer o pessimismo, pois
Enquanto isso, no extremo oposto, aumenta o número muito pode ser feito para auxilia r o retorno à saúde mental
de mulheres que procu ram tratamento médico no intuito dessas mulheres em dificu ldade afetiva ou psíquica.
de realizarem seus desejos e fa ntasias de engravidarem e de
serem mães, mesmo tendo de trilhar um caminho even-
tualmente longo, doloroso, e até frus trante, nas clínicas de A VULNERABILIDADE FEMININA
infertilidade.
A interação de fatores genéticos, biológicos, hormonais, Significativo número de estudos epidem iológicos com-
psíqu icos e socioambientais influencia as atitudes relacio- prova o elevado risco de as mul heres sofrerem transtornos
nadas à fe minilidade, sexualidade, ao companheiro e fa- psiquiátricos, como depressão, ansiedade, transtornos ali-
miliares, assim como as relações com a equipe de saúde. É mentares (anorexia e bulim ia), adição a drogas prescritas e
período de reorganização psíquica, na direção de se tornar outras. Também já foi descrita a vu lnerabilidade feminina
mãe, e que pode despertar vivências inconscientes, com durante o período pré-menstrual, gravídico, pós-parto e do
repercussão positiva em sua atitude diante da maternida- climatério.
de, ou conflitos inconscientes de lem bra nças estressantes A alta prevalência de d epressão em mulheres, ocor-
como abortamentos voluntários, situações de discrimina- rendo du as a três vezes m ais que em homens, inicia-se na
ção, negligência ou abuso vividos previamente. adolescência e é fenô meno cultural que se mantém du-
Alguns exemplos importantes desses confl itos devem- rante a vida reprodutiva feminina. O tabagismo e o uso d e
-se às mudanças: substâ ncias ilícitas cresceram consideravelmente e m mu-
Na imagem corp oral; lheres, constituindo tema, em saúde pública, para preven-
na relação com o ma rido: este, muitas vezes, deixa ção e tratamento e questão importante em Ginecologia e
de perceber a mulher como tal, em suas necessida- Obstetrícia.'
des afetivas e sexu ais, e passa a vê-la exclusiva mente A múltipla determinação das doenças psiquiátricas
como"mãe"; torna-se evidente com a poderosa influência d a genética e
nas relações com seus pais: a gravidez traz à vista a dos hormônios sexuais, assim como os papéis psicossociais
atividade sexual e desperta as atitudes sociais em re- assumidos pela mulher na família, na estrutura econôm ica
lação à sexualidade e à perda da inocência infantil, e na política.

Transtornos Psiquiátricos na Gravidez e Pue rpério 743


As mulheres com história passada, ou atual, de doença depressivos, aparecem em 50% da população clínica nor-
psiquiátrica necessitam de consultaria especializada para mal no primeiro trimestre de gestação. Essas queixas me-
avaliação do manuseio farmacológico e psicoterápico d a lhoram no segundo trimestre e tendem a leve agravamento
gravidez atu a! ou futura. ind ica-se consultaria psiquiátrica no último trimestre, devido às mudanças físicas, psíquicas
6
durante o pré-natal e puerpério para as mulheres: e sociais que as mulheres experi mentam à espera do parto.
Com doença psiqu iátrica durante a gravidez atual Ainda se sabe pouco sobre a influê ncia da gravidez no
ou pregressa; cu rso de doenças mentais preexistentes. No entanto, ela
em uso de psicofármacos, quando descobrem estar não é exatamente o período de estabilidade emocional em
grávidas; que, tradicional mente, acreditava-se.
com h istória de doença psiquiátrica, quando plane- Os transtornos psiquiátricos expõem a mu lher grávida
jam engravidar. a riscos. O fato de não conseguir sair de casa, o desânimo,
a descrença, as ideias obsessivas e cismas podem levar a
A mulher com distúrbio psiquiátrico ativo necessita de descuido com o pré-natal. Atitudes agressivas expõem a
avaliação e acompan ha mento cuidadoso quando desejar grávida com transtornos psiquiátricos a situações de vio-
engravidar e quando engravidar. O tempo para discutir e lência, gerando ciclo vicioso de comportamento impulsivo
preparar as opções terapêuticas c as trocas, se necessárias, de risco e de desafio consigo e com outros.
garante à mu lher mais segurança e tranquilidade com sua Pode haver descuido com a nutrição, uso de drogas ilíci-
saúde e com a saúde de seu fi lho. tas e de álcool. Também pode estar alterada sua capacidade
Por meio da consulta ria, objetiva-se compreender me- de reconhecer os sinais e sintomas precoces do traba lho de
lhor os riscos maternos e fetais associados aos transtornos parto, o desenvolvimento inadequado da gravidez e os mo-
psiqui átricos tratados versus os não tratados, na gravidez e vimentos fetais. As chances de abuso fetal, de neonaticídio e
no pós-parto, e con hecer as necessidades individuais da de su icídio também estarão mais elevadas nessa população
paciente, antes de iniciar, mudar ou descontinuar algum doente. O Q uadro 47. 1 sintetiza os riscos assinalados.
tratamento em andamento. Também o estímulo à provi-
são de informações pa ra as pacientes, familiares e para os I
Quad ro 47.1 Riscos associados a distúrbios psigu iátricos
outros profissionais de saúde pode ser obtido a partir de na gravidez5
boa consultaria.
Ausência ou insuficiência de pré-natal
Má-nutrição
TRANSTORNOS PSIQUIÁT RICOS Abuso fetal ou neonaticídio
Incapacidade de reconhecer ou de relatar sinais e sintomas
O risco de ocorrência do tran storno psiquiátrico gra- do parto
ve durante a gravidez é igual ao de outros períodos da vida
Suicídio ou comportamentos impulsivos de risco
da mulher, verifica ndo-se, entretanto, elevação leve desse
risco no primeiro trimestre, para os transtornos psiquiátri- Uso de drogas ilícitas e álcool
cos menores. In felizmente, existem poucos estudos epide- Resultados pobres da gravidez (parto pré-termo. baixo peso)
m iológicos específicos com essa população que permitam
conclusões definitivas. O agravamento e as recaídas de do-
enças preexistentes devem ser prevenidos. Transtornos de ansiedade c depressão são con sidera-
A incidência dos transtornos depressivos gravíd icos vel mente prevalentes du rante a gravidez, com estimativa
encontra-se em cerca de lO%, porém há indícios de subava- de 10 a 15% para depressão e 10% para quadros de ansieda-
liação d iagnóstica em fu nção do significado da gravidez no de. Ansiedade e estresse du rante a gravidez pa recem causa r
imaginário médico-social. A gravidez de alto risco apresen- resultados negativos, como parto pré-termo e RN de baixo
ta taxas mais elevadas de transtornos psiquiátricos?·8 peso em 32% das gestantes portadoras desse d iagnósticoY
Queixas como insônia, labilidade do hu mor, ansie- A depressão m aterna induz efeitos agudos sobre a saú-
dade, bem como tendência à preocupação e sentimentos de da gestante, como elevação nas taxas de uso de d rogas,

744 Noções Práticas de Obstet rícia


ilcool etabaco.Aumenta tambémas chances de exposição Quadro 47.2j lntervençõe não farmacológicas
ao uso de medicação adicional, como analgésicos e sinto- Eliminação de cafe(na. nicotina. álcool e drogas iUcitas
mático em geral, an iolítico , antidepressivos e remédios - -- -
Sono e repouso adequados
da flora medicinal. Inclui-se, entre os efeitos deletérios da
deprc são sobre a grávida, a diminuição dos cuidados pró- Técnicas de relaxamento
prio , inclusive prejudicando a nutrição e o sono. Grupos de suporte e educação
Alguns estudos tem demonstrado a associação entre
Psicoterapia cognitiva-comportamental
pré-eclâmpsia e depressão na gravidez. Apesar desses indí-
cios, o impacto da depressão durante a gravidez permanece Psicoterapia de casal
bastante controverso, carecendo de estudos transculturais. 10 Redução de estressores psicossociais
- - - - -- ---:
O suporte social percebido pela gestante funciona Comunicação fácil com o serviço obstétrico
como fator de proteção ao tran torno p iquiátrico du-
Observação
rante a gravidez e apresenta evidências de associação posi-
tiva com o crescimento fetal.4 Terapia com luz
De modo geral, os tratamento devem priorizar a in-
tervenções não farmacológicas, com orientação para a A escolha dos fármaco · deve ser criterio a, baseada na
gestante melhorar a sua qualidade de vida, e com as inter- segurança c no mínimo potencial teratogênico e com me-
venções de higiene mental c física, devendo fazer parte das nos toxicidade materna. As doses devem ser monitoradas,
consultas tanto de psiquiatras quanto de obstetras. sempre que possível, por meio de dosagen plasmática ,
A diminuição e interrupção do uso de cafeína, nicotina, atentando para possíveis necessidades de aj uste posológico
álcool e drogas e o uso de técnicas de relaxamento podem no final da gravidez e reajustes no pós-parto imediato. Prc-
facilitar a conciliação do sono e o tempo de descanso da grá- coniza-seo uso de doses mínima , para evitar agravamento
vida, cuja perturbação natural pode desencadear ou agravar ou intoxicação. É boa prática clínica a documentação das
sintomas de quase todos os transtornos psiquiátricos. decisões tomadas com o conhecimento da paciente, do
Quando necessário, a gesta nte - e, sempre que possível, companheiro e/ou da família.
oca ai - deve ser orientada a bu car psicoterapia cogniti- A hospitalização e o uso de eletroconvulsotcrapia
va comportamental, pois as terapias e as intervenções am- (ECT) são recursos para os casos graves e com risco de
bientais acalmam os sintomas de ansiedade e minimizam suicídio, sendo que o procedimento da ECT nece sita de
os fatore p ico ociai de estres e. As terapia em conjunto atenção e cuidados especiais:
com o parceiro servem para minimizar conflitos ante do Avaliação da dinâmica uterina;
parto e devem ser incentivadas como prevenção dos distúr- escolha adequada de antiácidos (citrato de sódio);
bio desadaptativo do pó -parto. A participação em grupos hidratação e oxigenação adequada da grávida;
de suporte educativos c operativos é sempre recomendada, adoção de posição que faci lite a perfusão útero-
mesmo para as gestantes que já tivera m outros partos. -placentária;
A fácil comunicação com o crviço de aúde e com os monitoramento fetal externo após o proced imento.
profissionais transmite segurança e dimi nui a ansiedade da
gestante. Algumas mulheres grávidas, entretanto, necessi-
tam de mai do que medida de suporte psicossocial ou PSEUDOCIESE
psicoterapia para o controle de sintomas importantes.
O ~adro 47.2 resume todas essas recomendações. Essa situação ocorre quando a mu lher não grávida tem
Os tratamento farmacológicos destinam-se aos qua- convicção de estar grávida c de envolve sinais c sintomas
dros com sintomas graves, nos quais os riscos da evolução de gestação. É distúrbio reconhecido na Apócrifa Hipo-
da doença - trazendo sequelas pela ausência ou insufici- crática: ·'[...] mulher que parece grávida sem esta r, que per-
ência de pré-natal, bem como cquelas comportamentai manece ne te erro por vário meses, sem menstruar, obser-
para a mãe c a criança - são contrapostos aos riscos do tra- vando o aumento e o movimento de seu abdome, ofrendo
tamento para a mãe e o feto. de dores na cabeça e nas costas [.. .]."

Transtornos Psiquiátricos na Gravidez e Puerpério 745


Os atuais exames diag nósticos de gravidez diminu- ma ser insatisfatória, leva ndo-as a procurar o utro m édico,
íram sua frequência, sendo descritos na literatura poucos com os mes mos sintomas o u a desenvolver recaída alguns
estudos após a Segunda G uerra Mundial. A pseudociese meses depo is. A psicote rapia auxilia as pacientes a e nca ra-
reflete o intenso desejo de ter filhos, especialmente em rem o fato de não esta re m g rávidas e se prep ararem pa ra
mulheres mais velhas e nuligestas. Em algu ns casos, pode essa realidade. Algu mas necessitarão de medicação anti-
refletir, entreta nto, profunda culpa pe lo medo de engravi- depressiva.
dar. A situação mais bizarra que pode ocorrer é a tentativa
de abortamento realizada po r mul heres que não estão g rá-
vidas. Mu ito raramente, pode ser compli cação de doença HIPEREMESE GRAVÍDICA
psiquiátrica maior, podendo ta mbém anteceder psicoses
paranoides aluci natórias e depressões delirantes. A antiga literatura psicanalítica está repleta de referên-
O quadro clínico apresenta-se com os seguintes aspectos: cias a náuseas e vómitos da gravidez como exteriorização
A paciente acred ita firmemente que está grávida e o u manifestação da ambiva lência psicológica e rejeição d a
prepara-se para receber o recém-nascido; matern idade. A falt a de metodologia adeq uada e de estu-
a amenorreia é usual; dos prospectiva s dificulta a defi nição dos sentimentos das
quando a paciente continua menstruando regul ar- mul heres a respeito da gravidez e se eles rea lmente são a
mente, isso é interpretado como ocorn!ncia normal; causa das náuseas e vómitos, ou vice-versa. Estudos recen-
há aumento do volume abdom inal, secundário à tes destacam essa condição como relacionada à elevação
contração do diafragma e dos músc ulos abdomi - nas taxas do fator de necrose tu moral detectado no sang ue
nais supe rio res e ao acúmulo de gases intestinais; periférico dessas gesta ntes, em compa ração às gestantes-
as mamas podem au me ntar de taman ho, fica r m ais -contro le, assinto máticas, c a mu lheres não grávidas.
flácidas, com aumento superficial de veias e dos tu- Vóm itos associados a distúrbios hidro eletrol íticos e à
bérculos de M o ntgomery, com au mento e escureci- f.1 lta de habilidade para manter a h idratação e nu trição ade-
mento das aréolas e eliminação de colostro; quadas dema ndam administração pa rentera l de fl uidos e
usualmente, ocorrem náuseas matinais, com o u eletrólitos, com ou sem hospitalização.
sem apetite caprichoso, ou pica;
frequentemente a paciente menciona a ex istência
de mov imentos fetais;
pode existir au mento volu mét rico uterino até o ta-
ma nho de seis meses de gravidez; A abordagem da h ipcremese no p assado incluía isola-
a ideia é, geralmente, abandonada antes ou ao tér- mento social, privação de estímulos e outras intervenções
mi no do tempo de uma gravidez no rmal. baseadas na presum ida etiologia psicod inâmica. Atual-
mente, acred ita-se q ue d iversos fatores neuro-hormona is e
O diagnóstico diferencial inclui: hiperprolacti ncmia; emoc io na is encontram-se envolvidos e inter-rel acio nados
tumores ovarianos (sarcoma, teratomas); delírio de gravi- com essa cond ição.
dez (no qual não se encontram os si nais físicos de gestação), Psicoterapia de apoio, técn icas de relaxamento e trata-
que acomete po rtadoras de psicoses agudas o u crónicas; mento sinto m ático dos déficits somáticos são, usualmente,
depressões psicóticas involutivas; demências; simulação importa nte aj uda para a mu lher. O uso de psicofárm acos
de gravidez para propósitos sociais, legais ou mercenários.' deve ser restrito aos casos nos q uais o componente psíqu i-
co seja evidente e resistente às outras abordagens citadas.
A escolha do fármaco deverá obedecer a c ritérios rígidos
TRATA ,\!ENTO de segurança para o feto c para a mãe, o rientada pelos sin-
tomas psíquicos básicos: pa ra a nsiedade e depressão, por
Essas mulheres necessitam de tratamento psiquiátrico exemplo, sugerem-se os antidepressivos; pa ra psicose, os
e psicoterápico.A simples revelação do d iagnóstico costu - antipsicóticos; e assi m por d iante.

Noções Prá t icas de Obst etricia


TRANSTORNOS ANSIOSOS Palpitação;
sudorese;
A gravidez é período gerador de ansiedade para a maio- tremor;
ria das mulheres. A ansiedade é uma experiência hu mana e, respiração curta;
dentro de limites que não interfira m com o curso cotid ia- sensação de sufocamento;
no da vida, pode ser até benéhca. dor no peito;
A ansiedade pode ser o si ntoma inicial de doença orgâ- náuseas;
nica e, como tal, necessita de avaliação, e não a abordagem vertigem;
como se fora somente condição psicológica momentânea. sensação de desmaio e de perda da consciência;
Por outro lado, quando ~e opta por lestes invasivos para ex- sensação de despersonalização ou desrealização;
clusão de doenças orgânicas, graves efeitos adversos também m edo de perder o controle ou de enlo uquecer;
podem vir de investigação imprópria, em especial por meio medo de morrer;
de tratamentos médico-cirúrgicos desnecessários, quando a ondas de frio ou calor.
ansiedade, por outra vez, se apresenta como doença psíquica.
Os transtornos ansiosos têm bom prognóstico quan- Os sintomas de pânico podem evolui r de forma va ri-
do devidamente diagnosticados e tratados. Na gravidez, ável durante a gravidez, com melhora durante o segu ndo
apresentam prevalência aproximada de 10% e, associados trimestre para algumas pacientes e agravamento para ou-
a situações de estresse, podem causar resultados negati vos, tras. É importante ressaltar que o curso do transtorno de
como parto pré-termo e recém-nascidos com baixo peso. pânico pode ocorre r de forma diferente na mesma mulher,
Os fa tores que contribuem para o aparecimento dos e em diferentes gestações. 11·12
distúrbios de an siedade nas grávidas incluem preocupações
quanto às mudanças de papel e de responsabilidades e o im-
pacto da nova criança na vida profissional, social e fami liar. AGORAFOBIA
Sintomas de pânico melhoram em algumas mul heres
e pioram em outras. Já o distúrbio obsessivo-compulsivo Medo intenso que leva a pessoa a evitar lugares ou
parece piorar na gravidez: as ideias obsessivas têm como situações em q ue a saída ou a entrada possa ser difíci l ou
foco a fut ura criança. 6 embaraçosa. A ansiedade não se deve a outro mo ti vo. Pode
O aumento da frequência card íaca e a h iper ventilação acompanhar o quadro de pânico.
também podem contribui r para o aparecimento da an-
siedade e os ataques de pânico p odem resultar de reações
cognitivas catastróficas, vivenciad as a partir de eventos fi- FOBIA SIMPLES
siológicos no rmais.
Por outro lado, a ação da p rogesterona e de seus meta- T emor excessivo e irracional a objetos específicos, ani-
bólicos - que se apresentam em níveis bastante elevados mais, lugares ou situações, cuja presença ou alusão desen-
durante a gravidez - nos receptores do ácido gama-am ino - cadeia resposta ansiosa, imed iata e intensa. As portadoras
butírico (GABA) pode induzir ações sedativas protetoras tendem a evitar as situações estressantes, o que comprome-
6
para os ataques de ansiedade. te sua vida social e ocupacional.
Apresentam-se, a seguir, os distúrbios de ansiedade
mais freq uentes e seus respectivos sintomas.
fOB IA SOCIAL

TRANSTORNO DO PAN ICO Manifesta-se como excessivo medo de situações ou


desempenhos sociais que poderiam causar embaraço
Ca racteriza-se pelo apareci mento súbito e intenso de ou humilhação, como apresentações em público, co m er
medo, terror, sensação de perigo mortal imi nente, associa- o u escrever em locais públicos, e outras situações. Esse
do a, pelo menos, quatro dos seguintes sinto mas: medo é reconhecido pela própria pessoa como irracio -

Transtornos Psiquiátricos na Gravidez e Puerpério 747


na!. A portadoras tendem ta mbém a evitar as situa- TRA:-\STOR O DI:. ANS IEDADI:. (;E ' ERALIZAOA
çõe estre sa ntes, fa to que compro mete sua vida ocial
c ocupacio nal. Quando não tratada, pode evoluir com Pouco se sabe sobre o c urso desse sofrime nto durante a
depres :lo, intoma de pâ n ico e abuso de substâncias, o gravidez. Seus principais sintomas emocionais são:
que torna esse tra nstorno particula rmente problemático Ansiedade excessiva c constante por, pelo menos,
12
durante a grav idez. seis meses;
angústia;
tensão;
TRA 1STORNO ÜR~ESS I VO COMPULSIVO irritação;
insônia;
Pensamentos, impu lsos c visualizações recorrentes dificul dade de concentração;
e preocupação excessiva com problemas cotidianos, impossibi lidade de controle dos si ntomas.
não passíve is d e controle pela paciente. t acompanha-
do de comporta mentos repetiti vos, q ue tê m a função d e o principai intoma n icos são:
prevenir o u reduzir o estre se dos p ensa mentos o b ·e - Taguicardia;
sivo . Pode ter seu início na gravidez ou agravar-sedu - to ntura ;
rante a mesma, com p ensamentos e rituais relacionados cefaleia;
à segurança e higiene d o ambiente c preocupações co m dores muscu lares;
a saúde atual e futura do fi lho, com ri tu ais, por vezes, cpigastralgia;
incapacita ntes. form igamentos;
Age tante percebe a falta de consistência do seu ritu- sudorese fria.
ais, m,1 não consegue deixa r de repeti-los. Os fa tores de-
e ncadcantes e de agrava mento desse transtorno parecem Todos esses si ntom as, associados ou não, cau am ofri-
estar relac ionados à preocupação com mudanças de papel mcnto significativo e preju ízo à vida ocial c ocupacional. 11
c aumento das responsabil idades, com evidente impacto
no fu turo c uidado à cria nça c na vida profissional, ·ocial e
fam iliar da mulher.11 ·13 TRA:-\<;TOR:\0'> H rroco,DRI.\tO<., L DE~0\1 \II/\(, \O

Es cs d i tú rbios também tendem a agrava r- e du rante


TRANSTORNO DEfSTR[SSl PóS-TRAUMATICO a gravidez, com piora da fadiga, onolência, i ola mcnto o-
cial, problema profissionais, leva ndo a excessivo nú mero
R.eação a evento trJum,í.tico, podendo ocorrer sinto- de procedimentos médicos. Torna- e importante ava liar
ma um mê ou mai apó o fato, que é revivido por pcn- os fatores de ri co pe oais e fami liares para esses transtor-
amcnto intrusivos, pe adelo , ações e sentimentos e e - no , que se soma rão à preocupação com as mudanças de-
tre c p icológico intenso dia nte de qualquer ituação que correntes da gestação e à futura fu nção da maternidadc. 14
lembre o evento traumático. Acompanha também esses
into mas uma reatividade fisiológica quando da exposição
a situaçõc que relembrem o fato, como taquicardia, tre-
me re ou diarreia.
Geralmente, há insônia, irritabilidade, d ificuldade em A escol ha do tratamento deve observar o c urso da do-
concentra r- ·e, hipervigilãncia e resposta exagerad a a estí- ença c seu impacto obre a mãe c . ua vida pro fissional, so-
mulos as ociados ao evento. Infelizmente, existem poucos cial e famil iar, bem como eu impacto sobre o feto e recém-
estudos sistemáticos sobre esse tema, de muita importân - -nascido.
cia para a vida psígu ica fem in ina, visto gue as mu lheres são O objetivo do trata mento dos di túrbios an io o du-
as maiores víti mas desse transtorno. 12 rante a gestação ão:

748 Noções Práticas de Obstetricia


Reduzir o estrcssc; nolol, no tratamento dos distúrbios de an iedade, são mais
prevenir complicações; altos do que seus benefícios, devendo, portanto, ser evitados.
prevenir recorrências;
ajudar a paciente J ter comportamento mais próxi-
mo possível do normal. DEPRESSÃO

As principJis complicJções a serem evitadas incluem: O reconhecimento da depressão gravídica data do é-


Fadiga e sonolênciJ diurna exces iva (secundárias culo XIX, mas até a últi mas décadas não houve interes-
à in ônia); se no desenvolvimento de estudos específicos sobre esse
isolamento social (devido ao pânico e às fobias); tema. Comunicações científicas recentes acusam o apa re-
prejuízo profissional e cognitivo; cimento de si ntomas depressivo em, pelo menos, 1/ 3 das
procedimentos médicos desnecessários; grávidas entrevistadas c seus sintomas são tão graves qu Jn-
depressões secundárias; to os encontrados no pós-parto.
prejuízo na autoesti ma; Estimativas revcbm 13,5% das mul heres com 32 ·c-
desencadeamento de sintomas ansiosos em outros manas de ge tação apresentando si ntomas depressivos que
membros da fam!lia que têm contato direto com a não regridem espontaneamente, o que constitui risco de
p:.1ciente. aparecimento da depre são pucrpcr.!l? A prevalência da
depressão durante a gravidez va ria entre 9 e 16%, semc-
A psicoterapia cognitivo-comportamental é tratamen- lhantemente ao que ocorre com mu lheres não grávidas,
to cfctivo para muitas pacientes com pânico e/ ou distú rbio sendo uma das doenças psiquiátricas mais comuns nesse
obsessivo-compu lsivo. Deve ser considerada como alter- período. Os quadros mais graves ão diagnosticados em
nativa à medicação, somada às medidas adicionais, como torno de 32 emanas, com o dobro das taxas observadas
elimi nJção de cafeína e nicotina e redução de estressores. no pós-parto.
A paciente deve ser orient,1da sobre a natureza dos seus Verifica- e, entretanto, reduzido aumento na ocor-
sintomas e sobre técnicas de relaxamento e respiração. A rência de sintomas no início da gravidez, que podem ser
terapia de casal e de fàmília auxilia o tratamento. 14 confundidos com as repercussões da evolução natural, ele-
Qyando os sintomas são tão graves que requerem in- vando o risco de subd iagnóstico. É importante a atenção
tervenção mais agressiva, o antidepressivos tricíclicos e à pacientes que apresentam hiper-reatividade a mínimos
inibidores de recaptação de serotonina ão opções a se con- desconfortos, queixas múltiplas não relacionadas às desor-
siderar. Os benzodiJzcpínicos devem ser evitados no pri- dens fisiológicas espedficas, além de achados sugestivos
meiro trimestre dJ gravidez, em especial entre seis e nove de depre ão, como crise de choro frequentes, aparência
semanas, quando c verifica o fechamento dos lábio c da fatigada, perda de peso c dificuldade de contato visual com
fenda p:.1btina. Se forem imprescindíveis, devem ser usados o examinador.
nas míni mas doses possíveis. No segundo trimestre, com a estabilidade dos hormô-
Por vcze , o uso intermitente de baixa doses dos medi- nios, c pera-se humor mJis estável, o que torna a sintoma-
camento sem metabólitos ativos e de meia-vida curta pode tologia contrária mais evidente. Podem, nessa fase, predo-
ser útil cm diversas ctapJs da gravidez (por exemplo, o lor,l- minar os sintomas ncurovegetativos, insônia, dimi nu ição
zepam). Porém, quando for necessária ação scdJtiva mais dJ energia e alterJçõcs do apeti te.
prolongJda, o clonnepam pode ser utilizado. Para reduzir
os riscos dos sintomas de toxicidade c abstinência neonat.1l,
os benzodiazepínicos devem ser retirado progressivamen- QL \DRO l.LJ'dlO
te - nuncJ Jbruptamcntc (para evitar a abstinência in 1tlero)
- ou mantidos nas mín imas doses possíveis. Apesar de não h:.1ver descrição especifica da depre são
Informações sobre os efeitos da buspirona em humanos na gravidez, seu quadro clínico pode aparecer com alguns
durante a gravidez são muito e ca sos. O riscos fetais do dos sintomas clássicos. A característica essencial de um
uso de carbamazepina, ácido valproico, clon idi na ou propra- episódio depressivo maior é um período mínimo de duJs

Transtornos Psiquiátricos na Gravidez e Puerpério


749
semanas durante as quais há humor deprimido ou perda falta de suporte social e/ ou fam ilia r;
de interesse ou prazer por quase todas as atividades. O in- relação conflita nte com o pai da cria nça;
divíduo também deve experimentar pelo menos quatro desemprego;
sintomas adiciona is, extraídos da lista a seguir:1s disfunções hormonais.
Mudança importante no apetite ou no peso;
sentimento de desesperança; A esses fatores somam-se:
insônia ou hipersonia; Nuliparidade;
agitação ou lentidão psicomotora; abuso de álcool e drogas;
fadiga ou lentidão física; h istória de abortamentos prévios;
baixa autoestim a, ideias de culpa, ruína; ambivalência em relação à gravidez atua!;
d ific uldade em se concentrar ou tomar decisões; eventos estressantes atua is;
pensamentos suicidas recorrentes, pensamentos de ideias negativas sobre a maternidade.
morte.
As mu lheres e nvergonham-se por não estarem felizes
O quadro clínico não apresenta características pró- durante a gravidez e, por vezes, não se referem à sua tris-
p rias de depressão pré-natal, sendo necessária observação teza e depressão. É importante insistir em perguntas do
clínica aguçada para d iferenciar o que seriam mudanças tipo: como se sente? Você está feliz? Se ela responde que
fisiológicas, dos sintomas físicos e neurovegetativos cita- está infeliz, há chance de sofrer de d istúrbio depressivo
dos. Alterações como anemia e transtornos endócrinas gravídico.
como hipotireoidismo e d iabetes podem ser a causa de A depressão na gravidez expõe a mu lher a risco tripl i-
dimi nuição de energia, de apetite e de sono e merece m cado de depressão pós-p arto e o recém-nascido aos riscos
consideração no diagnóstico diferencial com a depressão citados anteriormente.
gestacional. Gravidez n ão é fator protetor em relação ao risco de
Nas gestantes sem história de depressão anterior, são recaídas de um transtorno depressivo ma ior. Mulhe-
mais importantes os sintomas psíquicos como astenia, di- res com história de depressão gue estão e utímicas, mas
ficuldade de tomar decisões, desesperança para o futuro - em uso de terapia antidepressiva, devem estar atentas à
que se apresenta sombrio - ou mesmo a sensação de que associação de recaída do quadro com a interrupção da
não será capaz de cuida r de seu fi lho. A irritabi lidade e a medicação. 16
tristeza ta mbém são sintomas card inais, assim como ideias O tratamento adequado previne agrava mento e com-
suicidas somadas a sintomas de ansiedade, como fobias, plicações. Entre essas, deve-se atentar para o risco de sui-
obsessões e compulsões. cídio, gue ocorre independentemente do nú mero de ges-
Nas m ul heres com antecedentes depressivos, incluindo tações prévias, sendo mais frequente na primeira, em bora
a disforia (tensão, ansiedade, inquietação) pré-menstrual, a aconteça também em gestações subseque ntes.
chance de aparecimento repent ino de episód io depressivo As ta xas de suicídio costu mam dim inu ir no período
gestacional é elevada. Registrou-se na literatura que 5 I% de gravídico, apesar de as ideias perma necerem com freguên-
mulheres com um ou dois episódios prévios apresentaram cia idêntica à do período não gravíd ico. O risco de suicídio
quadro de depressão que demandou tratamento medica- deve ser ut ilizado na decisão guanto ao início ou interrup-
mentoso. Essa taxa elevou-se pa ra 88% nas mulheres com ção de terapêutica fa rmacológica. Os parâmetros utiliza-
três ou mais episódios prévios de depressão 2 dos pa ra essa avaliação incluem:
Portanto, os fatores de risco mais importa ntes de de- História pregressa de tentativa de suicídio ou de
pressão na gravidez são: depressão;
História pessoal e/ ou fa miliar de depressão; associação com delirium ou psicose;
episódios de depressão na gravidez e no pós-pa rto abuso de substâncias psicoativas;
anterior; relatos de sentimentos de desesperança;
gravidez não planejada associada a eventos estres- pensamento de morte como ún ica alternativa;
santes; planos relatados ou escritos de suicídio;

750 Noções Práticas de Obstetrícia


atitudes de preparação para a morte, como testa- Com o já citado anteriormente, qua ndo for necessário
mento ou doação de bens, preparo de seguro de o uso de psicofármacos, deve-se util izar a m íni ma dose
vida, aqui ição de arma e cartas de despedida, ne- possível.
ces itam de atenção redobrada. A descontinuação de psicofá rmacos na gestação, d e-
vido à d oenç a ativa, significa coloca r na balança o risco c
Quando o autoexterm ín io é ameaça imediata, a hospi- o be nefício de deixa r que a doença evolu a para quadros
talização sob cuidados psiquiátricos deve ser feita du rante, m ais graves, indu ivc no pós-parto. Essa é outra a titude
pelo menos, 24 horasl- que ta mbém deve ser decidida junto com a pacien te c
sua famíl ia.
Apesar de não haver causalidade defi nida, estudo suge-
R I <.,(.()<., I' \R\ o F I TO re relação entre ou o de in ibidores seletivos de recaptação
da seroton ina ( ISR ) após 20 semana de gestação e au-
A exposição à doença materna é con iderada o primei- mento no risco de hipertensão pulmonar no neonato. 18
ro evento negativo para o feto. As trocas entre a mãe e o O uso de TS RS após o primeiro tr imestre de gesta-
feto que se dão através da placenta, do cordão u mbilical e ç:'io aume nta o risco de hipertensão gestacio na l e p ré -
do líqu ido amniótico permanecem pouco estudadas, por ecl5. mpsia.19
motivos éticos óbvios. Paroxetina não deve ser considerada tratamento de
A repercussão da a lteração nos níveis de ho rmônios prime ira linha durante o primeiro trimestre de gravidez,
como o cortisol e de outras substâncias du rante os episó- devido à possível associação com malformações ca rdíacas
dios agudos e crônicos de estresse e a ansiedade e depres- fetais. 20·21 Esse fa to motivou a alteração da catego ria de ris-
são tornam o cuidado pré-natal essencial no acompa nha- co ( FDA) para o uso de med icamentos dura nte a gestação
mento e na evolução dessas gráv idas. O risco obstétrico em de C para O.
mulheres com sofrimento psíq uico é aumentado. O uso de ant idepressivos durante a ge taç:'io também
O conceito de exposição direta à doença ou ao seu em mulheres com h istória de depressão foi as ociado ao
tratamento e de exposição ind ireta leva à reflexão sobre as aumento de risco de parto pré-termo, comparadas a mu -
possíveis repercussõe na fase do desenvolvimento fetal e, lheres com história de depressão que descont inuaram o
po teriormente, na neonatal. O estresse pré-natal agudo tratamento medicamentoso. Isso leva a crer que o uso de
está relacionado a baixo peso ao nascer e a an siedade pré- med icação, e não o transtorno do humor, seria o preditor
-natal parece induzir o parto pré-termo. da idade gestacional ao nasci mento.H
As diretrizes da Food a11d Drug Administration ( FDA)
para uso de psicofármacos na gravidez indicam, cm espe-
TRATA \I~ NTO cial, os antidepressivos qu e ten ha m menos potencial anti -
colinérgico c c ujo n ível plasm:ítico possa ser monitorado.
Q uando os sintomas depressivos são leves ou modera- Deve-se evitar a admin istração de mú ltiplos medicamen-
dos, as intervenções não fa rmacológicas deve m ser priori- tos, da ndo-se preferência a um único fá rmaco. 21
zadas, especialmente no primeiro trimestre. Elas incluem A hospitalização e a ele troconvu lsoterapia (ECT) de-
psicoterapia, aconselha mento individual ou em conjunto, vem ser consideradas se houver risco de suicídio, depres-
técnicas de redução de est resse, melhoria das cond ições de são delirante ou resistente ao trata mento convenc iona l. A
saúde geral, mobilização de todos os recursos e suportes ECT parece ser bastante segura e efet iva durante a gravi-
disponíveis na fa m ília e na comunidade, já citadas. dez e deve ter sua aplicação acompan hada por psiquiat ra,
Se, porém, os sintomas são graves, os riscos do trata- anestesista e obstetra. É o tratamento de esco lha q ua ndo a
mento medica mentoso devem ser ava liados, po ndera ndo rápida estabilização é essencial (depressão delira nte, m a-
os riscos da própria doença p iqui:ítrica para a mãe e para nia irascível). Os c uidados co m a ECT já fo ram ci tados
o feto. anteriormente.24

Transtornos Psiquiátricos na Gravidez e Puerpério 751


TRANSTORNO AF.ETIVO BIPOLAR associada a alto risco de novo episódio em mulheres com
transtorno bipolar. O plano terapêutico deve considerar
Os distúrbios bipolares são caracterizados por distin- não somente os riscos relativos à exposição fetal, mas tam-
tos períodos de depressão e mania. Esta se manifesta como bém os altos riscos de recaída c morbidade a ociadas à
estado de humor expansivo, irritado, anormal c persisten- interrupção dos estabilizadores de hu mor. 25
temente elevado, que dura pelo menos uma semana (ou A literatura aponta que as internações psiquiátricas
menos, se for exigida hospitalização). O período maníaco diminuem em comparação com as de mulheres não grávi-
associa-se a no mínimo três dos seguintes sintomas (quatro das, talvez em função de os cuidados médicos com o pré-
se o humor for irritável em vez de elevado ou expansivo): -natal incluírem a observação e a prevenção de recaídas.
Autocstima muito elevada; Essas pacientes sempre ncces itam de consultaria c acom-
diminuição na necessidade de sono; panha mento psiquiátrico.
logorrcia (necessidade mórbida de fala r); O tratamento mais eficaz necessita do uso de estabiliza-
fuga de ideias (pensamento extremamente acelerado); dores do humor como lítio, anticonvulsivantes e antipsicó-
dificuldade intensa de concentração; ticos atípicos. Algun desses medicamentos têm potencial
exce so de atividades e propósitos; de tcratogenicidade conhecido, enquanto outros são pouco
agitação p icomotora; estudados em relação ao seu uso na gestação. A doença traz
envolvimento excessivo em atividades prazerosas conflito entre o risco de elevação das taxa de anomalias
sem avaliação das consequências (gastos excessi- fetais versus a possibilidade de descompensação p íquica
vos, indiscrições sexuais, investimentos ilógicos). grave materna, com ri co de suicídio. Assi m, apesar da res-
trições, nas mulheres com história de doença em ati vidadc
Sabe-se que episódio de mania pode trazer consequên- ou dcscompensada a medicação precisa ser mantida.
cias desastrosas para mãe e feto, como o juízo crítico dim inu- O lítio, a carbamazcpina c o ácidovalproico associam-se
ído, comportamentos impulsivos e de risco - uso de álcool e ao aumento das taxas de anormalidades fetais. Em função
drogas-, direção perigosa de veículos c ausência à consultas do potencial teratogênico do dois últimos ser maior, o lítio
de pré-natal. Episódios de mania disfórica ou psicótica são ainda é o estabilizador de humor mais utilizado nos EUA
ainda mais deletérios, pois colocam a paciente cm risco de du ra nte a gravidez, devendo ser prescrito em múltiplas do-
suicídio e abuso fetal. Tanto as fases de depressão como as de ses diárias, e, preferencialmente, após o primeiro trimestre.
mania podem ter sintomas psicóticos. O risco de recorrência As dosagens plasmáticas devem ser no mín imo mensais,
d.1 doença na gravidez, após descontinuidade do tratamento, pois pode haver diminu ição de níveis com o aumento da
está associado à gravidade da enfermidade (início precoce volemia e do cleara11ce renal. Deve ser solicitada ecocardio-
do surgimento, mais tempo de curso, mais recorrências, ci- grafia fetal, em torno de 18 semanas, para avaliação de mal-
clagem rápida, tentativas prévias de autoextermínio, comor- formação cardíaca. Aproximadamente duas semanas ante
bidades psiquiátricas, uso de antidepressivos). 25 da data provável do parto, a do e de lítio deve ser reduzid:1
em um terço ou até a metade, para evitar lítio-toxicidade na
mãe, devido à rápida perda de fluidos que acontece após o
TRAI'AMI:.l TO parto. Está estabelecido, atual mente, que a associação entre
o uso de lítio na gravidez c o risco aumentado de anomalia
O tratamento das mulheres durante a idade reprodutiva de Eb tcin no feto é mais significativo do que se prcsum ia.26
inclui planejamento fa miliar, conhecimento da herança relati- Nos casos em que a carbamazepina ou o ácido valproi-
va àdoença e as opções terapêuticas na gravidez. Esta, quando co não puderem ser descontinuados no primeiro trimestre,
programada, facilita a escolha do tratamento e os cu idados deve-se proceder à ultrassonografia morfológica para detec-
preventi vos em relação a malformações fetais. A gravidez, por ção de defeitos no tubo neural. uplementação de folatos (4
si, parece ser neutra cm relação ao risco de recaídas da doença, mg/dia) pode reduzir a incidência desses defeitos, devendo
não elevando nem di minuindo a ocorrência de episódios. ser iniciada, em todas as mulheres, no mín imo quatro se-
A descontinuação dos estabiLzadorcs do humor, par- manas antes da concepção c du rante o primeiro trimestre.
ticularmente de forma abrupta (menos de 1S dias), está

752 Noções Práticas de Obstetríc ia


Adota-se como conduta, no Brasil, o tratamento dos após acolhimento e trabalho de c tímulo às habilidades
si ntomas específicos de cada fase da doença, em prejuízo maternais, a incapacidade da mulher de prover cuidados ao
temporá rio da estabilização do hu mor, sempre que o qua- recém-nascido, deve ser olicitado o auxílio da assistência
dro atual da grávida permita, na tentativa de minimizar os ocial ou do Conselho Tutelar.
riscos de teratogênese . O uso de antipsicóticos atípicos (ris- Filhos de mães com esquizofren ia apresentam conside-
peridona, olanzapina, ziprazidona, aripiprazol) ainda não rável au mento do risco de morte súbita. Entretanto, esses
foi suficientemente aval iado e restringe-se, na literatura, a resultados devem ser ajustados às condições sociais e eco-
relatos de casos. A clozapina, pelo risco de agm nulocitose, nómicas, ao abuso de substâncias, ao tabagismo e ao uso de
está contra indicada durante a gestação. Mais pesquisas são medicação psicotrópica pela mãe.
necessárias com essas medicações, que são relativamente
recentes no manejo do paciente psiquiátrico. 27
Entre os anticonvulsivantes mais modernos, com po- QL A DRO CLi. ICO
tencial efeito estabilizador do humor (divalproato, lamotri-
gina, gabapentina, topiramato), a lamotrigina tem diversos Distúrbios do pensamento, com delírios, interpretações
e tudos em modelo animal confirmando não atravessar a delirantes, distúrbios da linguagem e do comportamento,
placenta c com potencial de segurança inicial para uso em com alteração do juízo crítico. É importante diferenciar a
grávidas a cr con firmado. Apesar de não demonstrar for- esquizofren ia do quadro de uso de drogas psicoativas.
te impactos reprodutivos, recente associação com fenda O Qladro 47.3 resume os pri ncipais intomas de es-
palatina foi dcmonstradaP quizofrenia.
A ECT é alternativa segura de tratamento para a mu-
lher que sofre exacerbação de sintomas depressivos ou ma- Quadro 47.3 I intomas positivos e negativos da esqui-
niformcs, resistentes a outras intervenções terapêuticas ou zofrenia
quando estas forem mais deletérias à evolução da gravidez e
S1ntomas pos1t1vos
do concepto. Pode ser utilizada se for necessária rápida esta-
bilização de sintomas, por exemplo, nos casos de depressão Delírio Alteração do conteúdo do pensamento
com crenças errôneas. usualmente
delira nte c mania iracunda (irascível) ou incontrolável. 26
envolvendo interpretação inadequada de
percepções e experiências
Alucinação Percepções sensoriais sem base em estí-
ES QU IZOFREN IA
mulos reais. sendo as mais frequentes as
alucinações auditivas (vozes)
A esquizofrenia pode ter curso variável durante a gra-
Distúrbio do Fala desorganizada superficial. perda das
videz, sendo que algumas mulheres melhoram nesse pe-
pensamento associações e da coerência, neologismos
ríodo, enquanto outras apresentam deterioração do seu formal
quadro clínico.
Comportamento Comportamento grosseiramente desor-
A idade materna mais ava nçada e poucas complicações
psicomotor ganizado, bizarro ou com maneirismos.
físicas são preditores de melhor prognóstico, porém, inde- com postura. excitabilidade e vestimen
pendentemente do prognóstico, a mulher esquizofrênica re- tas inadequadas
quer seguimento cauteloso durante toda a gravidez. Recaída S1ntomas nega t 1vos
ou exacerbação de intomas requerem intervenções agressi-
vas, porque as p ico es na gravidez podem levar a abuso feta l Afetividade Expressão emocional com variação e
intensidade restritas
ou neonaticídio, fuga à assistência pré-natal e incapacidade -----~·

de reconhecer ou relatar sinais do trabalho de parto. Algu- Alogia Pensamento e fala com fluidez e produti-
mas podem ter sua capacidade parental comprometida. vidade diminuídos
~----~---
Mulheres com doenças psiquiátricas graves apre en- Avolição/apatia Dificuldade de iniciar atividades com ob-
tam forte tendência a deixar que seus fi lhos sejam cuidados jetivo definido, diminuição da motivação.
por outros ou que sejam adotados. Quando se comprova, do interesse ou da energia

Transtornos Psiquiátricos na Gravidez e Puerpério


753
TRATAMENTO silhueta. Mul heres com anorexia nervo a apre entam riscos
elevados de complicações du rante a gravidez, especificamen-
Pesquisar o uso abusivo de substâncias é de fu nda- te relacionadas ao cu baixo peso, como hiperten ão gravídi-
mental importância ao planejar-se o tipo de intervenção. ca, depressão, crc cimento intrauterino re trito, malforma-
A redução de estressores p icossociais e a mobilização de ções congénitas e consequente evolução anormal da gravidez.
uporte fam iliar, em colaboração próxi ma com o obstetra e Filhos de mães anoréticas têm Apgar mais baixo e me-
a equipe de saúde, fàcilitam a adesão da paciente aos proce- nos peso ao nascer do que os filhos de mu lheres sadias.
dimentos médicos necessários. Também as taxas de cesariana, compl icações pós-natais
A gestante esquizofrênica deve ser incentivada para a e depressão pós-parto são altas nessas mul heres. As com-
aqu isição ou treinamento de comportamentos maternais. plicações pediátricas incluem hipotermia, hipoglicemia,
Deve receber auxílio para obtenção de abrigo ou moradia, infecções e elevadas taxa de mortalidade perinatal.
sendo que a mobilização dos recursos familiares dispon í- As mu lheres com distúrbios alimentares devem ser
vei , J organização de mínimo suporte fin anceiro, a parti r de orientadas a evitar a concepção até o controle de suas quei-
seguro sociais ou programas de assistência à matern idade xas. Os principais sintomas são o pavor pelo ganho de peso
e ao recém-nascido, podem ser vitais no auxílio à paciente. e a distorção da imagem corporal.
Sempre que possível, o uso de ncurolépticos deve ser evi-
tado du rante o primeiro trimestre da gravidez. Para as que
necessitam utilizar fármacos nesse período (por exemplo, as TRATAi\lE 'TO
gestantes que vivenciam comandos alucinatórios para ma-
chucarem a i mesmas ou ao feto, as pacientes incapazes de O s princípios do tratamento incluem: psicoterapia cog-
cuidarem de i mesmas, em fu nção de paranoia ou desorga- nitiva, antidepressivos e enfoque na nutrição da gestante.
nização intensa do pensamento), recomenda-se administrá- A psicoterapia deve ser realizada antes e durante a gravi-
-los somente durante as crises, evitando-se seu uso regular. dez, focalizando a redução do estresse consequente às mudan-
Para as mulheres com distúrbios psicóticos graves, in- ças da forma do corpo, e de ajuda para es as pacientes. A psi-
capacitantes e refratários às doses diárias, pode ser necessá- coterapia cognitivo-comportamental é a estratégia efetiva de
ria, e é recomendável, a utilização de neurolépticos de alta abordagem para a bulimia nervosa. Quando esses distú rbios
potência, como o haloperidol, cujos efeitos anticolinérgi- colocam em risco a mãe e o feto pelos desequilíbrios hidroc-
cos e hipoten ores são descritos em toda a literatura como letrolíticos secundários aos vômitos, má-nutrição e ganho de
menores do que os encontrados nos antipsicóticos de baixa peso inadequado, a farmacotcrapia pode ser importante.
potência, o que os torna mais seguros dmante a gravidez, O antidepressivos tricíclicos c a fluoxetina são e pc-
além de não haver, na literatura, relatos de teratogenicida- cialmentc indicados para os ca o de bulimia. Deve-se
de. As doses devem ser mantidas no patamar mínimo ne- atentar para o fato de que as mu lheres com anorexia nervo-
cessário para o controle dos sintomas, evitando- e ao má- sa têm alta incidência de amenorreia e podem ter dificulda-
ximo o aparecimento de sintomas extrapiramidais e o uso des para engravidar.
de medicamento para combatê-los, devido ao risco poten-
cial de anomalias congénitas maiores dessas substâncias.
Informações sobre a segurança reprodu tiva dos antip- ABUSO DE ÁLCOOL E DRO GAS ILÍ C I TAS
sicóticos atípicos são ai nda esparsas, sem evidências sobre
a risperidona ou a quetiapina na gravidez. A olanzapina As taxas de mulheres em idade reprodutiva usuárias e
tem perfil de egurança promissor. 18 dependentes de ,i lcool e drogas ilícita vêm aumentando
nas últi ma décadas e causam preocupação, também cres-
cente, nos serviços de saúde, em função da associação com
TRANSTORNOS ALIMENTARES resultados obstétricos e perinatais negativos.
A abordagem a essas pacientes pode ser simples e dire-
O gan ho de peso para mulheres bulímicas e anoréticas ta, com pergu ntas do tipo:
representa a falência de todos os seus esforços para manter sua Você já usou álcool ou droga ?

754 Noções Práticas de Obstetricia


quanto você bebeu, ou usou drogas, no mês ante- Portanto, é importante considerar ou o de TR1 em
rior à gravidez? mulheres que não conseguem manter a abstinência sem
quantos cigarros você fu mou por dia no mês ante- ajuda farmacológica. lesses casos, a quantidade de nicoti-
rior à gravidez? na a ser utilizada na TR deve ser a mínima possível. Até
que mais pesquisas ejam obtidas, os clín icos devem reco-
mendar as preparações de liberação intermediária, gomas
ÁlCO OL de mascar, spray c inalantes de nicotina, c não indicar os
métodos de liberação contínua, como o adesivos.
Sabe-se que os efeitos negati vos do alcoolismo sobre a
gravidez são resultantes da combinação de fatores fa rma-
cológicos, nutricionais e ociais. Perda de proteínas, vita- COCA Í A
mina e gordura interfere no cre cimento fetal e o acetaldc-
ído, mctabólito principal do álcool, exerce toxicidade direta Os efeitos adversos da cocaína sobre o feto são resul-
~obre o cresci mento c o metabolismo fetais. ta ntes, em parte, dos efeitos tóxicos agudos na mãe (hiper-
O uso de álcool, pela mãe, em níveis acima de 0,5 g/ kg tensão, taquicardia), provocando redução do fluxo sanguí-
causam prejuízo ao feto e níveis acima de I g/ kg interferem neo útero-placentário, vasoconstrição c diminuição do
negativamente no reflexo de ejeção do leite. 29 tr.1nsporte de oxigénio para o feto.
Não se conseguiu estabelecer nível eguro de consumo O uso materno de cocaína pode aca rretar malforma-
de álcool c a ab ti nência deve ser sempre recomendada às ções do trato genitouri nário no recém-nascido, bem como
grávidas. Os efeitos teratogênicos são bastante con hecidos aumentar o risco de parto pré-termo, rotura prematura das
c variam desde a índrome de abstinência fetal até anorma- membranas, descola mento prematuro da placenta, cresci-
lidades, isoladas ou não, em diversos sistemas. mento intrauteri no restrito, sofrimento fetal dura nte o tr.l-
balho de parto e baixa avaliação de Apgar.
A síndrome de absti nência fetal pode durar até quatro
TABAG I "oMO me cs c manifesta-se com tremores, labilidadc do humor,
de envolvimento motor anormal, persistência de rdlcxos
A nicotina e seu ubproduto mctabólito, a cotinina, têm primiti vos e diminuição do contato. Os recém-nascidos
efeito deletério no desenvolvi mento fetal, inclui ndo cresci- podem ma nter disfu nção do humor, com redução da cap.1-
mento intrauteri no restrito, aborto cspont.1 nco, neurotoxi- cidade de experimentar prncr.
cidadc fetal, parto pré-termo, hiperviscosidadc pul monar
no RN c outros defeitos pulmonares, com elevação do ri -
co da síndrome de morte súbita. Por is o, a FDA classifica ÜP I ÁCI::O~
o uso de nicotina durante a gravidez como categoria 0. 10
O mecanismo primário de prejuízo para o feto parece As complicações obstétricas incluem crescimento intrau-
estar relacionado 3 redução da perfusão e oxigenação úte- tcrino restrito, rotura prematura de membranas, pré-eclâmp-
ro-placentária, levando a malformação c sofri mento fetal. sia, aspiração de mecônio, infecções neonata is e na timortal ida-
A educação sobre os riscos do desenvolvimento fetal de. Pode-se constatar, também, dim inuição da circunferência
deve ser a prioridade no tratamento da dependência à ni- craniana e elevação dos riscos de morte súbita infantil.
cotina, junto à elaboração de planejamento para a absti- A síndrome de abstinência feta l inclui irritabilidade, di-
nência. A cgurança dos produtos de reposiç.i o de nicotina minu ição da sucção, dificuldade rc piratórias, sudoresc e
não está ai nda estabelecida dura nte a gestação. Entretanto, tremores.
fu mar parece er mais deletério do que a terapia de reposi- A administração de metadona cm do cs baixas na mãe e
ção de nicotina (TRN), já que o cigarro contém mais de no recém-nascido minimiza a síndrome de abstinência, mas
3.000 substâncias químicas potencialmente perigosas aos deve ser instituída com cu idados perinatai apropriados. A
humanos. Um dos principais componentes do cigarro é o estada dcs c RN em Unidade Nconatal pode ser prolongada
monóxido de carbono, com con hecida toxicidade fetal. c depende do tipo de droga de abu o, inclu~ive a metadona.

Transtornos Psiquiátricos na Gravidez e Puerpério


755
MACO ' li A Na paciente com transtorno afetivo bipolar, o período
do pós-parto é associado a alto risco de recrudescência ou
Por ser lipossolúvel, a maconha atravessa a placenta de intensificação dos sintomas. A descontinuidade abrupta da
imediato e, uma vez na circulação fetal, demora por vezes medicação está associada a a lto risco de recaída.25
até 30 dias para ser completamente eliminada p elo feto. A Relacionamento prejudicado com o RN é registrado
hipóxia fetal pode ocorrer induzida por taquicard ia e hi- em lOa 25% das mulheres referenciadas à Psiqu iatria após
pertensão maternas durante o uso da substância. o parto, mesmo na ausência de ansiedade ou depressão.
As síndromes do hu mor no pós-parto são geralmente
classificadas como: pós-parto blues, depressão pós-parto c
TRATAMENTO psicose pós-parto. Q uestiona-se se essas desordens consti-
tuem entidades clín icas o u se representam o apareci mento
A meta principal do tratamento é a elim inação do uso de si ntomas coincidentes com o pucrpério ou, ainda, se
de álcool ou drogas, tratando-se as comorbidades médicas elas também constituem um contimwm.
e psiquiátricas existentes. A paciente deve ser assistida du- Entretanto, são muito claros os prej uízos que elas pro-
rante a gravidez de modo seguro, facilitando-se o treina- vocam na vida fa miliar e no desenvolvimento da criança.
mento de comportamentos mate rnais e a continuação do Além d isso, aumentam os riscos de doenças subsequen tes
tratamento após o parto. para a mãe.
A gravidez constitu i boa oportunidade de resolução da Em relação à depressão, as puérperas são três vezes
dependência dessas mulheres a essas substâncias psicoati- mais susceptíveis que as não puérperas. Os fa tores de ris-
vas, apesar de os índices de recaída serem altos após a gra- co de depressão identificados em diversas investigações
videz, pri ncipalmente quando não se institui tratamento incluem :
multidimensional nesse período (tratamento especializa- Antecedentes de depressão maior;
do, grupos de autoajuda, envolvimento e suporte familiar). transtorno afetivo bipolar;
depressão maior durante a gravidez;
episódio prévio de depressão pós-parto.
TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS
NO PóS-PARTO O s sintomas transitórios leves c de d isforia perturbam
50 a 75% das puérperas com sintomas de desâni mo, tri s-
teza, insônia, choro fácil, fadiga e ansiedade. G eralmente
Para as mulheres, os meses posteriores ao parto cons- são resolvidos espontaneamente, mas podem ser abrevia-
tituem período de vul nerabilidade para d istúrbios psiquiá- dos quando a mulher recebe suporte sociofam ilia r que lhe
tricos. A incidência de admissões psiquiátricas aumenta de perm ite alimentar-se, dormir e descansar adequada mente.
modo significativo nos seis meses pós-parto, comparando- Se, porém, os si ntomas persistem por mais de duas se-
-se com qua lquer outro período de vida da mulher. O perí- m anas e, em especial, se a mulher tem antecedentes de de-
odo pós-parto é o de mais alto risco para o aparecimento de pressão recorrente, é necessária a reava liação para desca r-
transtornos psiquiátricos, variando de leves aos mais graves. tar-se o desenvolvimento de quad ro depressivo mais grave.
Os quadros psicóticos após o parto foram descritos A maioria dos si ntomas de depressão pós-parto apa re-
pela primeira vez em 1858 e, desde então, diversos estudos ce no primeiro mês após o nasci mento ou logo depois, sen-
tentam descrever sua epidem iologia, clínica e trata mento. do que em algu mas vezes já pode ser identificada ao final
As situações de depressão puerperal são bastante pre- da gestação.
valentes, afetando entre 10 e 15% das mulheres. Alguns es- Os si nais e sintomas são, em geral, indistintos dos que
tudos salientam prevalência de até 48% de mulheres com aparecem em quadros depressivos que são relatados em
depressão pós-parto. 3.1°.3 1 outros períodos da vida da mu lher, porém sintomas ob-
Início de quadros de ansiedade no pós-parto tem sido sessivos e de angústia são frequentes. Pode também haver
relatado em 10% das prim íparas. ideias suicidas.

756 Noções Práticas de Obstetrícia


Por ua importância, é necessário ob erva r os potenciai As alterações do humor ão con ideradas transitórias e
efeito negativo que a deprcssõe no pós-parto podem ter insuficientes para, por si sós, causarem incapacitação séria.
nos recém-nascidos. Estudos confirmam que a alteração As mulhcre e seu companheiros podem beneficiar-se de
no vínculo mãe-fi lho, quando esses quadro não ão trata- suporte e da orientação obre a benignidade dos intomas,
do , eleva m. nívci de ansiedade infantil, de altcraçõc do uma vez que a maioria da mulheres recebe alta hospitalar
de envolvtmento comportamental e cognitivo e altcraçocs um ou dois dias após o parto.
eletroencef.1 lográficas do lobo frontal dessas crianças. T.tis Em algu mas mu lhere , entretanto, o distú rbio pode
alterações constituem importantes ind ício de que a doen- persistir além do puerpério inicial, de cortinando desor-
ça depressiva - importante fator de exposição precoce da dem mais séria do hu mor.
criança con titui um do primeiros eventos negativos de Os intomas típicos incluem choro fácil, bbi lidade do hu-
vida, com impacto na sua futura saúde física e mental. mor, irritabilidade e ansiedade. Os fatore de ri co incluem
A etiologia dos distúrbios é de conhecida. t imprová- história de depressão prévia (c pecialmente gravídica) e hi -
vel que um único fator, i oladamente, cja rc pon ável pc- tória de di túrbio disfórico (ansiedade) pr~-mcnstrual.
los sintomas. Listam-se, a eguir, os principais fatores asso-
ciados ao di túrbios psiquiátricos do pós-parto:
Bwlógrcos: hormônio e outra substâncias, tais TRATA .\ll TO
corno o estrogênio, a progestcrona, o corti ol, o
triptofa no, o hormõnio da tireoide, as beta-endorfi- O suporte e a reafi rmaçj o da benignidade e limites dos
nas c a prolactina. A depleção de estrogênio parece sintomas são, cm gerat suficientes, devido à transitorieda-
produzir hipersensibilidade dos receptores dopa- de do bl11es, não sendo necessárias intcrvençõe médicas ou
minérgicos, predispondo à psico e; p iquiátricas.
pstcológtcos: exercem diferentes papéi nos quad ro As mulheres devem receber monitoramento que as e-
pucrperais. O bl11es (tri teza, melancolia) pode ser gurc o término dos sintomas, para preven ir a evolução para
reflexo de exaustão, subsegucntc ao cstrcssc c à cx- depressão pós-parto. Informações prévi:l , :tssim como a
citaçjo da gravidez c do parto. A baixa autoestima orientação para as primige ta e para a mulheres com ri -
contribUI para aumentar a vulnerabilidade aos in- co elevado, auxiliam a prevenção do quad ro.
toma depre sivos pó -parto;
sow115: apesar de a incidência da psicose pós-p<~rto ser
consistente transcultu ralmente e entre grupos étni- DEPRESSÃO PÓS-PARTO
co di ver o , a depres ão pó -parto acontece meno
frequentemente entre mulhcrc de sociedade orien- O perfil dos intomas da depressão pós-parto repete o
tai c cm culturas nas quais elas recebem assistência e descrito anteriormente sobre quadros depre ivo · maiore ,
reconhecimento por seu novo papel como mãe, além vivenciado · em outro momentos da vida. o entanto, é
de educaçjo sobre as técnicas de maternagcm c opor- único cm sua duração c no envolvimento sempre simultâ-
tunidade de ter adequ.1do de canso após o p<~rto. neo da mãe e do recém-nascido, além de, u ·ualmcnte, en-
volve r também toda a unidade fam iliar.
A dcpre são inicia-se, geralmente, dentro de quatro a
BLUESPUERPERAL 1>eis !>emanas apó o parto, I! em algu ma mulheres como
prolongamento do b/11es e, cm outras, urge após período
É con iderada a forma mais leve, prevalcnte e benigna de bcm-estar.
do di túrbios de humor do pós-parto, com descrição de A síndrome caracteriza-se por crises de choro, indiferen-
prevalência entre 25 e 85%, dependendo dos critério diag- ça, labi !idade emocionat di fi cuIdade para dormi r, entimen-
nósticos u ·ados. to de culpa, anorexia e entimcnto de incapacidade para
Os intoma iniciam-se nos primeiros dia apó o par- cuid<~r da criança. Pode haver dificuldade de concentração,
to, com pico no quinto dia e resolução após alguns dias, f.1l has de memória, fadiga e irritabilidade. Muitas mães se
não se estendendo por mais de duas semanas. sentem como pe soa más, inadequada ou pouco afetiva .

Transtornos Psiquiátricos na Gravidez e Puerpério


757
Muita vezes, observam-se sintomas obsessivos, com observada, pois, nesse período, a vul nerabilidade femini na
temorc relacionados ao recém-nascido, temores de desas- está aumentada lO a 20 vezes em relação a outro períodos
tre iminente e compulsões de limpeza, associados a parcs- de vida da mulher.
tcsias c palpitações. Os quad ros c qu izofrênico afctivos e maníaco~ co-
As mul heres com episódios de depressões recorrentes meçam no sexto ou sétimo dia após o parto. O início dos
c <JUC não aderem à tcrapic1 c~nt idepressiva du rante a gravi- quadros depresstvo é ma i frequente na primeira semana,
dez, têm alto ri co de recorrência pó -parto. Joven mãe , mas se distribui na 13 emanas iniciais de modo quase
atenta à expectativa ocial de estarem felize!> e l.atisfeitas, uniforme.
podem ficar relutantes cm revelar cus sentimentos. Além Geralmente, 40% dos distú rbios mais graves sur-
do ma i , fam iliares c médicos focalizando somente o bcm- gem na primeira scmaru. O quadro clínico tem tnfcro
-estar do recé m-na cido podem não perceber os sintomas com período prodrômico, ex ibindo alterações no sono,
na mulher, atribui ndo-o exclusivamente ao estrcssc de inquietação, fadiga, depressão, irritabilidade, cefa leia c
cuidar de criança recém-nascida. labilidade afetiva. Somam- c a tudo i o certa confusão
A ausência ou demora no diagnóstico mantém a pa- mental e perplexidade. egue- e o agravamento, cujos
ciente c sua família sob tensão c expõe a criança .1 prejuízos sintomas definem a natureza da síndrome: psicose atípica
em seu Je envolvi mento emocional e cognitivo. ou reativa breve, di túrbio afctivo maior com mania ou
deprc são, di tú rbio e qu izofrênico, síndrome orgânico-
-cerebra l.
TR:\TA \I L'\ I o Classicamente, os principais sintomas são: labilidadc
afetiva, agitação grave, confusão, incluindo delírio, per-
A abordagem neces ita cr multifatorial e compo ta plexidade, desorganização do pensa mento, alucinações
de atuação educacional, p icotcrapia e grupos de apoio. c insônia. Muitos pesquisadores acreditam que a p ·icosc
Grupos de autoajuda e aconselhamento ao casal (quando pós-parto seja manifestação do di tú rbio bipolar.
o relacionamento conjugal é problemático) são estratégias Após um episódio as mu lheres têm ri co de cerca de
terapêuticas de sucesso. 60% de recidivas maníaco-dcprc ivas não puerperais. As
Encorajar a paciente .1 requerer suporte de famil iare e alucinaçõc e os delírios de conteúdo mí tico, com rejeição
.1migo para o cuidado com a criança, para que ela po sa ao recém-nato ou apego ob c ivo, dão lugar a ideia de nc-
ter o máxi mo de sono c dcscan o pos ível e reduzir outra onaticídio c uicfdio.
responsabilidades e tressantes, é também fundamental. Devido ao risco de morte da mãe e de seu fil ho, indica-
A utilização de antidepressivo é frequentemente muito -se atenção psiquiátrica urgente, por vezes em ambiente
efctiva. A decisão quanto ao uso de medicação deve levar hospit:Jlar especializado e com uso vigoroso de antipsicó-
cm consideração e a paciente ir.í ou não amamentar. O ticos, estabilizadores do hu mor e/ ou antidepre sivos em
parceiro deve ser envolvido no tratamento, pois seu supor- do es elevadas. Algumas veze , é necessário o emprego de
te é essencial para o uccsso da abordagem da depressão ECT. Em situações de risco muito elev:Jdo, justificJm- e
pós-parto. f.lrmacos profiláticos em dose u uai .
Os fatore de risco de psico c puerperal incluem, prin-
cipalmente:
PsicosE PÓS- PARTO Primfparas com história pessoal ou fam iliar de dis-
túrbio psiquiátrico;
Psico c com início agudo no pó ·-parto é mu ito mais h i tória de doença bipolar: 35%;
grave do que o blues ou a depre ão. Felizmente, é rara, história prévia de psicose pós-parto: 20%;
apresentando prevalência de 1/ 1.000 nascimentos. história de ambos, desordem bipolar c psicose
Surge rápida e bruscamente nos primeiros dias até duas pós-parto: 50%.
ou trê emanas após o parto, permanecendo com risco
elevado du ra nte vários meses. Apesar de ser síndrome pou- Doenças como a esquizofrenia, no entanto, não pare-
co comum, a incidência de psico c puerperal nccc sita ser cem aumentar a incidência ou gravidade da doença.

758 Noções Práticas de Obstetrícia


Em todo os ca o , a p icose pós-parto prejudica so- Os tratamentos com base na expo ição à luz (light-
bremaneira a manutenção das funçõe da maternidade. t -therapy) e a privação do sono, entre outros, vêm sendo
fundamental avaliação médica criteriosa para afastar etio- estudado como alternativa para tratar c prevenir as altas
logia orgânicas, como tireoiditc pós-parto, síndrome de taxas de recorrência nesse período tão importante da vida
Sheehan, imunodeficiência pelo HIV, infecção, intoxica- da mul her, do lactente e da família.
ção ou abstinência de sub tância , de ordens autoi munes Em função do risco de negligência, abuso infantil, in-
da gravidez, massas intracranianas c outras. fanticídio e su icídio, a hospital ização pode ser indicada,
sempre que possível, cm unidades conjuntas, pois longos
períodos de afastamento emocional da mãe afetam negati-
l'R ,\IA\IL'\1'10 vamente o desenvolvimento intelectual e comportamental
do lacten te.
A primeira linha de trata mento das desordens de hu- A internação conjunta possibilita que a mãe receba
mor peripartum é a prevenção. Estudos recentes têm iden- orientaçõe sobre os cuidados com o recém-nascido, que
tificado que as intervenções no anteparto e no pós-parto seja ouvida a respeito de seus sentimentos em relação ao
têm, com sucesso, reduzido o nú mero de mul heres cm filho e que receba uportc e encorajamento para a sua a-
risco, que desenvolvem distúrbios de humor agudos pen- ída do hospital. A equipe tem, também, a oportunidade
parl/1111. de ob crvar e orientar o contatos da mãe com o R , o
A abordagem multidisciplinar é a mais indicada, man- estabelecimento do vínculo e ua dificuldades, a ideação
tendo-se a linha biopsicossocial. Os distúrbios do pós- delira nte centrada na criança, a manifestações de rejeição,
-parto ocorrem em contexto social único e, embora não negligência ou abuso.
di firam das cond ições sim ilares em outros períodos da O objetivo do tratamento é, portanto, mi nimizar a ex-
vida da mulher, as intervenções devem ser adaptadas J essa posição neonatal, ma ntendo a aúdc mental materna.
situação específica.
Psicoterapias individuais, conjugais, familiares e de
grupo irão focaliza r inicialmente a transição para a ma- ESCOLHENDO O MEDICAMENTO
ternidade, as relações conjugais e familiares (em relação à
família de origem), as expectativas socioculturais c as rede Como critérios básicos para a escolha dos medicamen-
de suporte ocial. H tos, deve-se:
Quase todos os psicofármacos prescritos para as lac- Reservar a medicação somente para quando o risco
tante ão excretados no leite materno, pois são moléculas para a mãe e o RN superar os riscos da f.1 nnacoterapia;
pequenas e lipo olúveis. O elevado ritmo cardíaco fetal escolher medicamentos com meia-vida curta, eli-
e do nconato acelera a distribuição nos tecidos c, sendo a minação rápida e poucos sintomas de abstinência.
barreira hematoencefálica ainda incompleta, pode haver
elevação da concentração do f.i rmaco no sistema nervoso O tratamento com psicofá rmacos não d ifere daque-
central do lactente. le uti lizado para os distú rbios psíquicos em outras eta-
A quantid:~dc da substância que passa para o RN atra- pas da vida, obedecendo a parâmetros como d iagnósti-
vés do leite é usualmen te reduzida (10% do nível plasmá- co do distúrbio, sintomas-alvo, uso c resposta prévia à
tico materno), podendo a exposição do lactente ser mini- medicação pela paciente ou por familiares, mecanismo
mizada se a mãe toma a medicação logo após completar de ação dos medicamentos, farmacocinética, farma-
.1 mamada. codinâmica, potencial de intcraçõc medicamentosas,
Como são raros os estudos controlados sobre o uso de efeitos adversos. Na dependência dos sintomas c do
psicotrópicos, não se conhece a existência de equelas em diagnóstico, prescrevem-se os psicofármacos, isolada-
longo prazo. Os tratamentos ditos "alternativos", utilizan- mente ou associados.
do ervas, plantas c Acres, carecem de estudos, sendo que Os efeitos fetais e neonatais conhecido das principais
alguns f.1rmacos considerados inócuos demonstram inte- medicações utilizadas no tratamento dos distúrbio p i-
rações med icamentosas graves. quiátricos foram descritos no capítulo 9 - Medicamentos.

Transtornos Psiquiátricos na Gravidez e Puerpério 759


Se há predomínio de sintomas depressivos combina- não desencadear recaídas. Apesar da intensidade e da dra-
dos a sintomas psicóticos, a associação de antidepressivos maticidade dos quadros que surgem após o pa rto, eles têm,
com antipsicóticos está indicada - com cautela para não em geral, bom prognóstico, exceto os de esguizofrenia.
desencadear quadros de curso complicado. A eletroconvulsoterapia deve ser prescrita para os casos
O Quadro 47.4 apresenta as doses dos antidepressivos que não respondem à farmacoterapia ou quando os sinto-
mais comumentc utilizados na gravidez e suas variações mas ão devastadores, exigindo respo ta mais rápida. Essa
diárias. terapêutica é segura, rápida e efetiva, tanto no tratamento
dos quadros depressivos quanto nos psicóticos, gravíd i-
Q uadro 47.4 1 Doses iniciais dos antidepressivos mais uti- cos - com monitoração fetal - ou puerperais. Traz alívio
lizados na gravidez e suas variações diárias dos sintomas em tempo inferior ao início de ação dos psi-
cofármacos, sem repercutir na amamentação. Também
Nome gener1co Dose llliCial Var1ação da
t1p1ca (mg) dose d1ana (mg) apresenta efeitos adversos, sendo os mais importantes: dis-
túrbio temporário da memória recente, cefaleia c confusão
Fluoxetina 20 10 a 80
mental de curta duração.
Paroxetina 20 1oa so - -l Apesar do crescente interesse na saúde mental da mu-
-- lher, as pesquisas baseadas em evidências estão longe de
Sertralina 50 25a200 _ j
- revelar o que torna a mulher tão vulnerável a doenças men-
Fluvoxamina 50 50 a 300 I
- - I
tais durante a gravidez e o pucrpério.
Citalopram 20 10 a 60 O crescente reconhecimento e o au mento da frequên -
- --
Escitalopram 10 5a 20 cia de registres da depressão pós-parto, cm todo o mundo,
Venlafaxina 37,5 podem ser compreendidos em fu nção das mudanças na
18.75 a 375
- -- -- estrutu ra das famílias, no interesse crescente pela saúde
Bupropiona 100 50 a 450 1810)
-- da mulher e na redução dos rituais e tabus do pós-parto li-
Nefazodone 100 50 a 600 gados a cada cultura. Mas ainda persistem, ou estão incre-
--
Mirtazapina 15 15a 45 l mentadas, a pobreza, a exclusão social e a distorção urbana
de valore , tendo as mulheres como foco principal. 11
BID = duas vezes ao dia
Muitas questões necessitam de resposta em relação à
segurança dos psicofármacos, na gravidez e na lactação. A
e os sintomas são psicóticos agudos, com ou sem cfetividade das diferentes psicotcrapias, em combi nação
agitação, ou sugestivos de quad ros orgânicos cerebrais, com as intervenções biológicas, necessita ser estabelecida
utilizam-se o neurolépticos, em e pecial os de alta potên- cm estudos prospectivas, assi m como o impacto dessas
cia, como o haloperidol, ou antipsicóticos atípicos, como a intervenções no bem-estar das fam íl ias e das gerações em
olanzapina, sempre em doses baixas. desenvolvi mento.
e os sintomas são sugestivos de distúrbio bipolar, re- As alianças multi profissionais estão consolidando-se e
comenda-se a ad ministração dos estabilizadores do humor lançando esperança ao fu tu ro do con hecimento do delica-
durante nove a 12 meses, tais como o lítio, a ca rbamazc- do complexo do psiquismo femi nino.
pina e o ácido valproico, dentro das li mitações para o uso O receio de utilizar esses fá rmacos na gravidez vem
nesse período. estimulando a discussão de um somatório de dados. Por
A resposta ao tratamento nas psicoses puerperais é re- out ro lado, o acompa nhamento de filhos de mãe doentes,
gi trada em quatro a oito semanas, mas nos quadros mais sem tratamento, reforça a necessidade de estudos compa-
agudos, com componente afetivo, os resultados são rápidos. rativos para se avaliar a real necessidade do seu uso nesse
Já os quadro esquizofrênicos têm resposta lenta c po- período.
dem acompa nhar-se de sintomas de déficit cognitivo e afe- O Quadro 47.5 resume os principais grupos de medi-
tivo (residuais). camentos utilizados no tratamento dos distúrbios psiqui-
A suspensão da terapêutica deve ser cautelosa e bcm- átricos na gravidez e no puerpério, segundo a classificação
-orientada após alguns meses de estabilidade, no intuito de da Food and DmgAdministration (FDA).'4

760 Noções Práticas de Obstetricia


Q uadro 47.5 I Principais medicamentos utibzados para o tratamento dos distúrbios psiquiátricos na gravidez e puerpério,
egundo a classificação do FDA
Medicamentos Ba1xo R1sco (A) R1sco Moderado (B ou C) R1sco Elevado (0 ou X)
Ansiolfticos e hipnóticos Betabloqueador IAlprazolan
Buspirona Clordiazepóxido
Cloral lorazepan
Clometiazol Oxazepan
Clonazepan Temazepan
Prometazina Zolpiden
Zaleplon
Zoplicone
Antidepressivos Flupentixol Erva de São João Alprazolan
Triptofano IMAO Clordiazepóxido
Mianserina lorazepan
Mirtazapina Oxazepan
Nefazodona Temazepan
ISRS Zolpiden
Trazodona
Triciclicos
Venlafaxina
Antipsicóticos Aripiprazol Zotepina
Butirofenonas Sertindol
Clozapina Clozapina
loxapina Zuclopentixol
Risperidona
Olanzapina
Ouetiapina
Sulpiride
Tioxantenos
Ziprazidona
Anticonvulsivantes Acetazolamida Benzodiazepfnicos
Carbamazepina Fenobarbital
Clonazepan Fenitoína
Etosuccimida Topiramato
Gabapentina Valproato
lamotrigina Vigabatrin
Oxcabazepina
Paraldeído
Tiagabina I
-
Outros Anticolinérgicos Acamprosato
Anticolinesterase lítio
Bupropion Metadona
Dexanfetamina Modanafil
Dissulfiran Metifenidato
Utio
Memantina
Adaptado de Bazire.3'
A = Sem riscos para o feto.
8 = Sem evidências de riscos em humanos. ou achados negativos em animais.
C= Riscos não podem ser exclufdos. porém o benefício potencial justifica seu uso.
O= Evidência positiva de risco.
X= Contra-indicado na gravidez.

Transtornos Psiquiátricos na Gravidez e Puerpério 761


ASPECTOS PSICOPATOGÊNICOS mática da infertilidade e de seu tratamento no psiquismo
DO ABORTAMENTO femini no permanece desconhecida.
Q!Jando não têm experiência própria com a infertilida-
de, os profissionais tendem a em itir opiniões e atitudes sobre
Abortos espontâneos podem ocorrer em uma a cada os limites das tentativas de reprodução artificial, o que dizer
cinco ou seis mulheres. As reaçõcs emocionais mais comuns às crianças que assi m foram geradas, e assim por diante. É
são: luto com tristeza (40%), depressão (12 a 50%) e ansieda- necessário que eles tenham consciência de seus sentimentos
de (22 a 41%). Os fatores de risco para essas reações incluem: e de sua visão da reprodução, além de conhecimen to mais
Antecedentes psiquiátricos prévios; detalhado dos aspectos emocionais e éticos dessa área.
falta de apoio social; Sintomas de estresse são os achados mais comu ns nas
não ter fi lhos vivos; populações inferteis da cultura ocidental e, apesar das quei-
falta de conhecimento sobre gravidez c abortamento; xas subjetivas, dos sintomas psicossomáticos e obsessivos,
ausência de expl icações sobre as causas da perda. a raiva e a depressão são os sintomas mais comu ns entre as
mulheres, afetando sobremaneira sua qualidade de vida.
Nos casos de abortamentos voluntários, em países Os sintomas de estressc, mais comumente descritos
onde a legislação os perm ite, as reações de luto e culpa ten- entre as mulheres (ou casais) com infertilidade, são:
dem a ser transitórias e as mulheres podem sentir-se ambi- Irritam-se com o fato de não terem filhos;
valentes com a decisão. apresentam mal-estar quando indagadas por que
1 essas circunstâncias, as reações das adolescentes são não têm fi lhos;
mais graves que as das mulheres adultas, pois procuram abor- ficam aborrecidas em festas de ani versário de crianças;
tamento em idade gestacional mais avançada c, em longo aborrecem-se quando fica m sabendo que algu ma
prazo, demonstram insatisfação com a decisão, pois sentem amiga engravidou;
que foram obrigadas, pelas circunstâncias, a realizar o proce- depri mem-se quando menstruam;
dimento. Queixam-se, também, que não tiveram informação apresentam dificuldades na vida sexual ou profis-
suficiente e apresentam taxas mais elevadas de estresse. sional, por não terem engravidado;
Estudos informam que metade das mulheres que sentem-se inferiores por não terem filhos;
buscaram abortamento voluntário demonstrou distúrbio estão sempre desconfiadas ou receosas a respeito
psiquiátrico ou crise emocional grave nos primeiros dias dos trata mentos;
após o procedimento; 13% apresentaram sintomas afeti- acham que vão enlouq uecer caso não tenham filhos;
vos após quatro meses; e 30% relataram impacto negativo quando pensam que, realmente, não terão fi lhos,
do aborto sobre sua sexualidade e vida conjugal. Contudo, sentem taquicard ia, falta de ar, pressão no peito, tre-
outras declararam que sua relação se tornou mais sólida mores e sudorese nas mãos;
após o abortamento. 5 apresentam sensação de vazio por não terem filhos;
no seu dia-a-dia, pensam na dificuldade de ter filhos.

ASPECTOS PSICOPATOGÊNICOS As mulheres submetidas a técnicas de reprodução assisti-


DA INFERTILIDADE da costumam ter sintomas de ansiedade, com ambivalência e
preocupações obsessivas durante a gravidez, e incidência au-
mentada de quad ros de ansiedade e depressão no pós-parto,
Diversos profissionais da saúde, mesmo mulheres jo- principalmente aquelas com gestações múltiplas acima de
vens, já se submeteram a técnicas de reprodução assistida dois fetos. A redução fetal constitui preocupação obsessiva e
para infertilidade e tornaram-se extremamente atentas às geradora de culpa, assi m como o congelamento de embriões
experiências das pacientes. Também diversos pro fissionais e o descarte dos mesmos, não havendo ainda estudos sistema-
do sexo masculino foram testemunhas desses procedi- tizados sobre as repercussões psíquicas desses procedimentos
mentos. Apesar disso, a consciência dos efeitos da medi- em mulheres predispostas a quadros depressivos, bem como
cação, da distorção da visão de mundo e da natureza trau- sobre o tratamento mais adequado de seu sofrimento.

762 Noções Práticas de Obstetrícia


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Transtornos Psiquiátricos na Gravidez e Puerpério


48 Distúrbios Dermatológicos
Maria de Lourde Ribeiro de Carvalho
Henrique Vitor Leite

Alterações Cutâneas Fisiológicas da Gravidez Acrodermatite Enteropática


Distúrbios da Pigmentação Pitiríase Rósea
Distúrbios Vasculares Eritema Nodoso
Distúrbios dos Anexos (Pelos e Unhas) Dermatofibromas, Leiomiomas,
Distúrbios dos Tecidos Conectivos Neurofibromas e Queloides
Outros Distúrbios Dermatoses Específicas da Gravidez
Afecções e Tumores Cutâneos Penfigoide Gestacional
Alterados pela Gravidez Erupção Polimórfica da Gravidez
Doenças Infecciosas Foliculite Pruriginosa da Gravidez
Melanoma Prurigo da G ravidez
Nevos Melanocíticos Colestase Intra-Hepática da Gravidez
Acne Vulgar Eczema Ató pico da Gravidez
Pênfigo Vulgar e Foliáceo Fotoproteção
Psoríase Hid ratantes
Manifestações Cutâneas da Síndrome Antifosfolípide Tinturas, Alisantes ou Permanentes e Similares
Manifestações Cutâneas do Lúpus Eritematoso Sistêmico
Conclusão

A
gestante experimenta importantes modifica- ALTERAÇÕES CUTÂNEAS
ções no eu organismo para melhor adaptação
FISIOLÓGICAS DA GRAVIDEZ
ao período gestaciona l. E sas modificações são
influenciadas por vá rios fatores, que podem ter sua origem
no sistema endocrinológico, imu nológico, metabólico e, As alterações cutâneas fisiológicas do período gesta-
também, cm alterações comporta mentais.1 endo assi m, cional podem ser discretas, a ponto de passa rem desper-
para fins d idáticos d ivid imos as alterações cutâneas ocorri- cebidas, ou podem se torn ar constrangedoras do ponto de
das no organismo materno cm trê categorias: 2 vista e tético. Em algumas sit uações essas alterações po-
Alteraçõe cutânea fi iológicas; de m fo rnecer algu ma con tribuição no que tange ao d iag-
afecçõe dermatológicas e tumores cutâneos altera- nóstico de gravidez. No Quadro 48. 1 estão su marizadas
dos peb gr,widez; as pri ncipais alterações fisiológicas do tegumento c anexos
dermatoses específicas da gravidez. encontradas na gravidez. l l
Quadro 48.1 I Alterações dermatológicas fisiológicas da gravidez
Pigmentação IMelasma
Linha nigra
Linha de demarcação pigmentar
Hiperpigmentação (aréola, áreas de dobras. cicatrizes anteriores. nevos. pós-inflamatória ou residual)
Vasculares Aranha vascular (angioma spider. telangiectasia, hemangioma estelar)
Instabilidade vasomotora
Cutis marmorata (livedo reticular fisiológico)
Eritema palmar (localizado ou difuso)
Hiperemia/hiperplasia gengival
Hiperemia vaginal (sinal de Jacquemier-Chadwick)
Granuloma da gravidez (granuloma piogênico. granuloma gravidarum hemangioma lobular capilar)
Púrpura de membros inferiores
Varizes. hemorroidas
Edema fisiológico (edema não depressiva!) I
1
Anexos Hirsutismo leve
(pelos e unhas) Eflúvio telógeno
Alopecia padrão androgenético
Fragilidade ungueal /onicólise
Sulco de Beau (sulco transverso)
Hiperceratose subungueal
-------t
Tecido conectivo Estrias
Acrocórdon (molluscum fibrosum gravidarum
Outras alterações Diminuição da atividade sudoripara apócrina
Aumento da atividade sebácea
I Aumento da atividade sudorfpara écrina (exceto palmas)

DISTÚRBIOS DA PIGMENTAÇÃO a intensidade do melasma, as gestantes devem ser orienta-


das a evitar a exposição solar em excesso, principalmente no
~ I LLA'>\1A período de mais incidência de radiação ultravioleta (10 às 16
horas), e a usar filtros solares adequados a seu tipo específico
Anteriormente chamado de cloasma, é devido à deposi- de pele. Aq uela com pele oleosa devem dar preferência ao
ção de mclaninJ na epiderme e/ ou nos macrófagos da der- gel c as que apresentam peles ressecadas devem usa r creme e
me. Caracteriza-se clinicamente por máculas hipercrômic.ls loção com boa proteção contra a radiação ultravioleta (UV).
acastanhadas, de distribuição na região mal.u,labi.ll superior, O fotoprotetor bloqueia a ação da radi.1ção UV sobre o mc-
centro-facial, frontal e outras. É mais frequente no segundo lanócito, impedindo o estímulo à formação de mela ni na, evi-
trimestre, ocorrendo cm cerca de 70% das gestantes brasi- tando a pigmentação cutânea ou atenuando-a.
leiras. Pode ser dividido em três tipos, que ficam na depen-
dência do nível de pigmento depositado: epidérm ico (70%),
dérmico ( lOa 1596) ou ambos (2096). Fatores hormonais e fa- L l 'J H \ 'JJGRA
tores genéticos associados à radiação ultraviolct.l são impor-
tantes no seu aparecimento. Geralmente as manifestações Esta nada mais é que a hiperpigmentação da lin ha
clínicas tendem a regredir gradual mente após o parto, per- alba que é a linha média abdominal preexistente. Pode-
sistindo em aproximadamente um terço dos casos, podendo -se estender da sínfise púbica até o processo xifoidc, com
ser recorrentes em gravidezes futuras ou após o uso de con- aparecimento mais precoce em gestações posteriores. 14 É
traceptivos orais.u Medicações tópicas despigrnentantes são o exemplo mais freq uente de hiperpigmentação fisiológica
contraindicadas durante a gestação. Contudo, para atenuar da gravidez e sua importância consiste simplesmente na

766 Noções Práticas de Obstetricia


necessidade de esclareci mento à gestante, que às vezes fica hiperpigmentação de cicatrizes anteriores c lesões névicas 7 •8
incomodada com o aspecto estético de tal alteração. Essas alterações de hiperpigmentação são mais freguentes
em gestantes faiodermas e melanodermas, principalmente
desenvolvendo quad ros de l~iperpigmentação residual após
LI lHAS DE DEMARCAÇÃO PIGMENTAR algumas afecções dermatológicas, guc se denominam hi-
percromia pós-inflamatória (Figura 48.2).1 A orientação a
Também chamadas de linha voight ou linha jutchet; ser dada à gestante consiste nos cuidados gerais com a pele e
são divisórias lineares da tonalidade da pele localizadas o banho, prevenção da autoescoriação, que é frequente nesse
na parte externa dos braços e/ou parte posterior das coxas período, guando muitas vezes as manifestações emocionais
de pessoas faiodermas ou melanodermas, que geralmente ocorrem, atingindo a pele, gue é um usual órgão de chogue.
passa m despercebidas até que, por influência hormonal da
gestação, torna m-se evidentes 3 Assim como a linha nigra,
sua importância também consiste no esclarecimento à ges-
tante (Figura 48.1).

Figura 48.21 Hipercromia pós-i nAamatória (residual) em


gestante. Ver pm11cha colorida.

DISTÚRBIOS VASCULARES
Figura 48.1 I Divisória linear na região posterior do mem-
bro inferiores. Ver pra11chn coforidn.
Ao longo do período gestacional observam-se hipercmia
fisiológica e tendência a proliferações vasculares cutâneas oca-
HlPERPIGMLNTA(,:ÃO FISIOLÓG ICA sionadas, na maioria das vezes, pela instabilidade, distensão e
neoformações vasculares, assim como acentuado aumento
A interação de fatores biológicos, endocrinológicos de- da pressão venosa intra-abdominal associada às alterações
vido às secreções hormonais ovarianas e hipofisárias, cons- hormonais inerentes a esse período.3 Sinais de instabilidade
titucionais c psíguicos (estimulando a autoescoriação) é vasomotora também são frequentes e manifestam-se por pa-
responsável por quadros frequentes de hiperpigmentação lidez, rubor facial, acentuação do fenómeno de Raynaud pree-
da pele da gestante. O aumento localizado da pigmenta- xistente e dermografismo, sendo olivedo reticular fisiológico
ção pode ser explicado pela diferença na concentração de (wtis marmorata) manifestação referente à resposta exagerada
melanócitos nas diferentes regiões do tegumento devido ao frio. Clinicamente, a pele mostra rendilhado critêmato-
ao efeito estimulante de estrogénios e progestagênios.5 É -viol:íceo mais freguente em membros inferiores.'
manifestação precoce c extremamente frequente na grávi- Ainda no primeiro tri mestre podem surgir aranhas vas-
da, principalmente nas aréolas, formando, assim, as aréolas culares, telangicctasia ou angiomas spider, sem qualquer cor-
secundárias, bem como nas virilhas, axilas, áreas de dobras relação com algum tipo de hepatopatia. Manifestam-se cli-
e agudas áreas sujeitas à fricção 6 A vulva pode mostrar áreas nicamente com a existência de uma arteríola central pulsátil,
de hiperpigmcntações localizadas, denominada melano- finos ramos radiados e leve eritema ao redor (Figura 48.3).9
se vulvar, sendo importante o diagnóstico diferencial com Podem surgir em áreas drenadas pela veia cava superior, mais
lesões névicas. Também acontece com muita freguência a freguentemente na face, nas proximidades dos olhos, par-

Distúrbios Dermatológicos
te superior do tórax, região cervical e membros superiores.
Gera lmente tendem a desaparecer no pós-parto, com reapa-
recimento mais precoce em gestações subsequentes. Assim
como as aranhas vasculares, o eritema palmar é de apareci-
mento precoce e freq uente em gestantes brancas. Pode apre-
sentar dois padrões distintos: um difuso acometendo toda a
região palmar e um localizado nas eminências tenares e hi-
potenarcs, articulações e extremidades dos dedos. Regridem
na sua totalidade no pós-parto. A incidência dessas alterações
é de aproximadamente 70 a 90% nas gestantes de pele clara.7

Figura 48.41 Granuloma piogênico em gestante.


Ver pnmcha colondn.

d idas preventivas consistem em evitar compressão com


roupas apertadas, uso de meias elásticas adequadas,
elevação dos membros inferiores c o decúbito lateral es-
querdo. Púrpura de membros inferiores é achado relati-
vamente comum no terceiro trimestre de gravidez. 12
As modificações da vagina durante a gestação ão ba -
tante pronunciadas, ficando o introito vaginal e toda a
Figura 48 .3 1 Múltiplas lesões em gestante sem qualquer mucosa com uma coloração azul-arroxeada em virtude de
indício de hepatopatia. Ver pnmcha colvnda. muita vascularização, recebendo o nome de sinal de Jacque-
mier-Chadwick. A vulva congesta e com coloração violácea
já começa a ser percebida à inspeção a parti r da oitava sema-
A hiperemia da gengiva manifesta-se na quase totalida- na de ges tação, podendo ser interpretado como um sinal que
de dos casos. O granuloma piogênico ocorre devido a uma contribui para o diagnóstico de gravidez. Alterações imiJa-
hiperplasia de fibroblasto e capilares. A par ti r do primei ro res do colo uterino recebem o nome de sinal de Goodcll. n
trimestre de gravidez pode ocorrer um tipo especial de gra- Outro fenômeno frequente nesse período é a hemo-
nuloma piogênico localizado nas gengivas, palato, língua e d iluição fisiológica. Trombocitopenia transitória pode
mucosa jugal, denomi nado granuloma gravidaru111 (Figura ocorrer, mas geralmente resolve-se no final da gestação,9
48.4). Devido à sua intensa vascularização, tende a sangrar devendo o ciru rgião fi car bastante atento durante proced i-
facilmente, mas raramente requer intervenção, já que a mentos locais nessa fase. E também, em algumas regiões
maioria regride no pós-parto. 10 da pele, além da vasodilatação, o fluxo sanguíneo cutâneo
O edema fisiológico representa o escape de fluidos dos está aumentado, em especial nas mãos, onde pode ser até
capilares para o espaço extravascular e não deve ser toma- seis vezes maior que fora de gravidez. Cabe, assim, mais
do como sinal de doença. Acomete geralmente a região pe- cuidado em relação ao aumento da absorção de medicação
riorbital e extremidades. Não há tratamento específico c o tópica porventura prescrita nesse período. 11
decúbito lateral esquerdo favorece o seu desapareci mento.
Ressalta-se sua importância no que tange ao diagnó tico
diferencial com o edema da pré-eclâmpsia. 11 DISTÚRBIOS DOS ANEXOS
O útero aumentado de volume comprime a veia cava (PELOS E UNHAS)
inferior, o que contribui para a formação de varizes de
membros inferiores, podendo ocorrer em aproximada- O pelo não é uma estrutura estática, pois seu cresci-
mente metade das gestantcsY Envolve frequentemente mento é cíclico, havendo alternància de fases de crescimen-
plexos venosos da safena, vulvar e hemorroidária. Me- to e repouso. Essas fases são classi fi cadas em: 14

768 Noções Práticas de Obstetricia


fase de crescimento ou fase a11ágena: caracteriza-se gemno segundo trimestre da gestação como lesõeslineares
por intensa atividade mitótica da matriz, tem atróficas, róseas ou violáceas, freq uentemente no abdome,
du ração de dois a cinco anos e aproximada- mama , glúteos, braços e coxa , cndo que algumas pacien-
mente 85% do cabelos estão nesta fasei te relatam prurido discreto a moderado: A biópsia da pele
fase de involução ou catágena: o pelos regridem mostra rotura e retração das fibra elásticas na derme reti-
devido à parada na atividade mitótica e têm du ra- cular. Não há correlação entre a intensidade das estrias e o
ção de aproxi madamente três semanas no couro au mento do volume do corpo, porém, parece haver algu ma
cabeludo - I% dos pelos estão nesta fase i relação entre a tensão da área acometida, a localização e a
fase telógena: o pelo se des prende e tem duração direção das estrias. Acredita-se atualmcntc que a atividade
de aproximadamen te três meses - 14% dos cabe- dos hormônios adrenocorticais tem importante papel na
los estão nesta fase. sua formação. A gravidez proporciona aumento de relaxina,
estrogênio e corticosteroide_sr
Os hormônios da gravidez também modulam o ciclo do Com o tempo, clareiam c se tornam nacaradas, depri-
pelo, aumentando a proporção de tes na fa c anágena, po- midas, brilhantes e finamente enrugadas, porém não desa-
dendo levar, as im, à hipertricose leve em cerca de 90% das parecem.
gestantes. Porém, quando a hipertrico c c torna moderada A despeito da existência de diversas medicações desti-
ou intensa, dcvc-~c pensar em outras fontes produtoras de nadas à prevenção das estrias na gestação, não há evidências
and rogênios, como os tumores v irilizantcs. 1 ~ Existe queda científicas de trata mento que possa evitá-las ou atenuá-las
fisiológica do número de cabelos, cm torno de 100 fios por c essas tentativas feitas fora do período gestacional devem
dia.14 Em aproxi madamente três a quatro meses após o par- ser contra indicadas na gravidez. Também n:io há compro-
to, o complemento normal dos pelos em repouso durante a vações de que loções hidratantes ou óleos possam evitar
gravidez mais aqueles da fase anágena retidos temporaria- a sua formação, mas de qualquer form a a manutenção da
mente são de prendidos, levando ao denominado eflúvio pele completamente hid ratada e com sua função de barrei-
telógeno, que tem duração variável (seis me cs a um ano). ra preservada é de suma importância, principalmente nas
Após esse período, o volume capilar volta ao normaL Excep- áreas onde haverá mais d istensão. Além dis o, melhoram a
cionalmente, aqueles casos com predisposição genética po- xerose e contribuem para o alívio do prurido.
dem evoluir para alopecia androgenética fem inina. 1•8
As alterações ungueais são de etiologia c relação com
a gravidez descon hecidas. Porém, do ponto de vista clíni- Ü UTROS DISTÚRBIOS
co, as unhas apresentam modificações, como cre cimen-
to mais pronunciado, sulcos transversais (sulco de Beau), t observado di creto aumento na secreção udorípara
fragilidade, onicólisc distal e hiperceratosc. E qua ndo écrina, exceto nas palmas, c pode aparecer rn iliária, hipe-
aparecem com mais intensidade deve-se pesq uisar ou- ridrose e eczema disidrosiforme. Ao contrário, a fu nção
tras causas, corno líquen plano, psoríase, onicomicosc c sudorípara apócri na di minui c duas entidades distintas
outras alterações menos frequentes. 16 referentes a essas estruturas podem regredir: a hid radcnite
supurativa e a doença de Fox-Fordycc. 18

DISTÚ RBIOS DOS TECIDO S CONECTIVOS


AFECÇÕES E TuMORES CUTÂNEOS
Fs I R L\S
ALTERADOS PELA GRAVIDEZ

Também chamadas de e trias atróficas ou víbices. In-


cidem cm SOa 90% das grávidas, sendo mais comuns nas DOENÇAS INFECCIOSAS
mulheres brancas do que nas asiáticas e negras. Fatores ge-
néticos, hormonais c físicos (estiramento da pele) parecem Há relatos do efeito de estrogênio, progesterona c an-
ser relevantes no seu desenvolvimento. Geralmente, sur- drogênios sobre o sistema imune. O cstrogên io parece esti-

Distúrbios Dermatológicos
769
mula r a re posta de élu las T e a produção de anticorpo , S,1be-se que a depleção da imu nidade celular está cor-
enquanto proge terona e androgênios inibem a rcspo ta relacionada com infecção sistémica ou local por Candrda
de células Te diminuem a produção de anticorpo . A in- sp. Tal microrgani mo atua como patógeno oportunista.
fecçõe cau ada por organismos int racclulares ou aquela Embora ainda faltem dado sobre a história natural da
causadas por qued:t da imu nidade cclubr podem iniciar, vulva-vaginite por andrda em mulhere contaminadas
recorrer mais frequentemente ou começar de form .1 mais pelo H IV, tem-se observado que ela é das manifcst,lÇÕc ·
grave du rante a gravidez.s.l clínicas mais comuns nessas mulheres e cursa com nívei
relativamente altos de C D4. 22
Para as vulvo-vaginitcs por Caudida sp nas gestante~, in-
dicam- c orientaçõe higiénicas gerais, aeração dos genitais,
controle d,1 condições clínicas predisponente (hábitos sc-
O período crítico para a gestante com hansení,1se é xuai ·,diabete ) e o tratamento local com antifúngicos (creme
compreendido entre o último tri mestre e o período de lac- vagi nal por ete dia ou óvulos em dose única). O tratamento
tação, quando a imunossupre são atinge eu ápice. luitas com antifúngico i. têmico é contr,1indicado na gravidet. 20
vezes o f:ttor dcscnc:tdc.tntc é o parto. Aproximadamente
30% das gestantes com hanseníase mostm m exacerbação
da doença durante a gestação até o eis primeiros meses HERPc~ GLN I I'AL
de pó -parto. Há urgimcnto de nova lc ões, infecções
subclínica que e evidenciam pela primeira vez na gra- A doença herpética genital é produzida por um vírus
videz, recrudescência daquelas que estavam bem cont ro- cujo material genético é composto de DNA de dupla fita,
ladas e aumento na frequência de reaçõe . eurite é uma exi tindo doi tipo ·, o H V- I e o H. V-2. O H V -2 é con-
complicação da gravidez e parturição, tendo em vi ta que siderado de transmi ão sexual, embora a lesõe genitais,
significativo nú mero de mulheres pode sofrer lesão ner- meno frequentemente, possam ser cau adas pelo H V- I.
vosa associada à gravidez c à lactação. O ideal seria que a É frequente du rante a gravidez, podendo surgir ou recor-
gravidez fo se plancjada para a época em que a hanseníase rer. Existe particular interesse, devido à morbimortal idade
e tive e bem controlada! 9 fetal. '- A infecção herpética genital au menta em até cinco
vezes o ri co de transmissão sexual do H I V. 21 A frequência
de transmissão do vírus do herpes simples para o recém-
CA N DIDÍA<.,t- V U I VO-\ A(,(i\A L na ciclo é de cerca de 50% para infecção primária da mãe e
S9o para infecção recorrente. Mai da metade da crianças
Várias espécies de Ca11dida podem ser responsáveis por na cida de mães com evidência clínica de lesões vaginais
causar vul vo-vaginite, porém a Cmrdida albicm1s é a mais podcd adqui ri r infecção neonatal pelo vírus do herpes
prevalente.1°Candidíase vulvo-vaginal é lOa 20 vezes mais simples c um nú mero expressivo apresentarem complica-
freq uente durante a gravidez. A gravidez, por ser situação çõc gr.wes. Herpes neonatal pode manifestar- e de forma
de hipcrc trogeni mo, determina alto nívci de glicogênio. localizada ou dissemi nada, apresenta ndo também lesão
ConSC<.JUCntemente, verifica- c aumento na quantidade de ocular, do si tema nervoso central e de múltiplos órgãos.
substr.1to nutricional dos fu ngos, f.worecendo seu proce so A encef.11ite herpética é frequente na doença disseminada.'
de adesão c germinaç:io. A tran mis ão nconatal pode se o momento, alguns autores adotam a eguinte con-
dar dura nte o parto, qu.mdo a mãe apre enta colonização dut,l em relação à vi.1 de parto cm gc tante :
vaginal. Em decorn!ncia da exposição aos altos níveis de Para gestante sem le ões genitais ativas a via de par-
cstrogênio intraútero, pode haver persistência da coloniza- to é a vaginal, pois não há programas que sustentem
ção ncon.ltal por CallCiida aluicmrs nas primeiras semanas citologias nem culturas virai para cont raindicarcm
de vida, po ibilitando o desenvolvi mento da candidí:tsc a via vaginal nestes casos;
vuko-vaginal nas criança . Todavia, a ma i comum é a in- para gestantes com lesões geni tais ativas, nos casos
fecção orogenital dcs e recém-nascidos, que pode afetar, de membranas íntegras, indica-se a via abdom i n:~l
inclu ive, a amamentação. 22 1 para resolução da gravidez. Se existe rot ura de mem-

770 Noções Práticas de Obstetrícia


brana com até quatro horas de evolução, também se to .1sscgura a cur.1da infecção pelo H PV. Cada caso deve
indic.\ a via abdominal. e a paciente refere rotu ra de ser avaliado para a escolha da conduta mais adequada.20•21
membr,\llaS há mais de quatro horas, a cesariana não Apó a gestação, geral mente a lesõe experimentam im-
protege o feto, endo, portanto, de neces ária (mais portante redução. 10
detalhe no capítulo 52 - Infecções Perinata is).n°~ 1 A podofilina, a podofilotoxina c o imiquimod âo
contrai nd1 ado cm guak1ucr fa e da grav1dcL. 1_ 1 _ Em
rebção .\via de parto cm gc 't.lntes com cond iloma acu
PAPILOMAVf R S (HPV) minado, é direcionada pel.1 condição ob tétri a. Port,m-
to, a via abdomi nal só cst.\ ind icada no c.1sos de lesões
É um víru e pécie-específica, composto de D A de volumosa que obstruam o canal de parto ou haja rbco
dupla-fita. Atualmcnte, ão conhecido mai de 120 tipm de 1mtnente de hemorragia. A po ibilidadc de o orrer pap•-
H PV. endo que aproximadamente 6 deles podem inicct.\r lomato c de laringe nos recém-nascidos de mães cont:t-
o trato genitai.H a gravidez, é frequente a piora da manifes- minadas pelo H PV é extremamente rara cm no o meio,
tação clínica por cau a da redução da atividade imunológica contrapondo-se aos elevados percentuais de complica-
celular. 11 A lc õe cau adaspclo HPV ãocomunsnas mulhe- ções pucrperais. 17•20
rescom HI V, na quai eob erva aumento d,1 prcvalcncia do
dl\·erso t1po de verruga , e~pecialmente a vulgares, planas e
anogenitai (ou condilomas acumi nado ) (Figu r.l 48. '). 24 M E LA NOMA

É tumor constituído por proliferação de meb nócito ·


atípicos localizado 11 :1 ca mada ba ai, produzindo metá ta-
c para gâ nglios e órgão internos, sendo o tumor primário
de pele que apresenta mai alto índice de mortalidade.92 ~
Ainda não exi te con:,cnso na literatura obre a mOucnoa
da gravidez no prognóstico do melanoma. Mu itos autores
tem ugerido que O!> melanoma que se de envolvem du-
ran te a gravidez ão diagnostic:Jdo em e tágio mais avan-
çado do tumor em relação aos melanoma de mul here~
não gr,\vidas. Se essa diferença é causada pelo diagnóstico
mars tardio ou pelo crc!.cimento acelerado do tumor per-
Figura 48.5 I Conddoma acumi nado cm gestante soro-
manece por er esclarecido. Par,\ a maioria do autore o
positiva para o H IV. Ver prcmclrcr colomlcr.
prognóstico do tumor durante a gravide7, como cm qu:Jl-
quer outro indivíduo, continua a ser determinado pelo ín-
O trat;~ mcnto do condi loma acu minado pode er rea- dice de Breslow, que mede a e pe ura do tumor baseado
lrzado por método ablativo químico (com ácido tricloro- 11:1 profundidade das células tumorais a partir da camada
acético) ou físico (eletrocautcrização simples, eletrocoa- gr:1nulosa. 8 Alguns autores ugerem que quando o mela-
gulação com aparel ho de alta frequência, criocoagulação noma ocorre dura nte a gravidez, deve cr rcalrzado exame
com nitrogcnio e laser) ou por meio de cxércsc c1 rúrgica.1- histopatológico da placenta no pós-parto. Apesar de rara,
No trato genital fem in ino, a ressecção com laser de C01 existe a pos ibilidadc de tran mi ão tran ·placentári:l de
mo trou que H PV-D A foi encontrado por sou l/rem blot met.\ ta e para o fcto. 2q
cm hibridização 111 srl u na fumaça dos filtros apó trata-
mento de infecção pelo H PV, demo trando .1 probabili-
dade de contaminação vi rai do trato aé reo superior e das N EVOS MELANOCÍTICOS
conjuntivas do operador, dos .1ssistentes c do p.1cicnte, de-
vendo, assi m, cr tomadas toda a prccauçõc pMa evitar Podem aparecer, crescer e se torn:1rcm ma1 pig-
po ·ível cont.1 minaçiio. 1 ~ 16 cnhu ma forma de trata men- mentados durante a gravidez. Tem sido de mon str.:~do

Dist úrbios Dermatológicos


771
aumento do receptare de e trogênio e proge terona,
podendo explicar as alterações de pigmentação observa-
da nas lesões névicas das gestantes. São inconclusivo
os relatos referentes à alta incidência de malignização
desses nevos. 18

ACNE VULGAR

A acne vulgar tem como fatore etiopatogênicos a


predisposição genética, o estímulo hormonal, a hiper-
secreção das glând ulas sebáceas, a hipcrqucrati nização
folicular c a inflamação resultante da ação de bactérias
que compõem a nora normal da pele, parlicularmente o Figura 48.6 1Pênfigo foli:\ceo inici.1do no segundo trimc -
Propiouibactenum aC/Ies. 28 O efeito da acne na gravidez é trc de gestação. Ver pmuchn colorula.
imprevisível. Algumas mulheres referem melhora, porém
em alguns casos pode ocorrer piora.- Ressalta-se que em PSORÍASE
algumas situações pode aparecer no primeiro, segundo
ou terceiro trimestres da gestação. Do ponto de vista do Mais da metade da gc t.mtc com p oríasc pode apre-
tratamento, é necessária ampla c sistematizada aborda- sentar melhora durante a gravidez, mas a maioria apre cnt.l
gem desse fatores para que haja sucesso cm relação ao piora no pós-parto imediato. Provavelmente a supressão ge-
resultado. Porém, o uso de medicaçõc antiacneicas está ral do i tema imune pelo hormônios da gravidez pos a con-
contraindicado durante a gravidez e em raras exceçõcs, tribuir para a melhora das gestantes com psoríase. Gravide7
pesando-se os riscos e o benefícios, se faz abordagem também pode ser um fator de risco para artrite psoriásica. 111
terapêutica nessa ocasião. 1•8 endo as im, um fator de O impetigo herpetiforme é atualmente con iderado
suma importância é a prevenção da hipercromia residual, uma va riante rara de p oría e pu tulo a generalizada, tal-
normalmente desencadeada, principalmente na gestante vez induzido por hipocalcemia da gravidez. Caracteriza- e
morena, pela autoescoriação. pelo aparecimento de placas simétricas eritemato a com
pequenas pústulas estéreis que ·e localizam inicialmente
na área de dobras, po teriormente podem se tornar vcr-
P ÊNFIGO VULGAR E FOLIÁCEO rucosas. As le õc c tendem- e centrifugamente c di c-
minam para todo o corpo, poupando relativamente a face,
Podem surgir ou agravar-se na gravidez e exigem o as mão e os pé . Começa geralmente no último trimc trc
diagnóstico diferencial com penfigoide gestacional c de gestação, mas há ca os relatados de aparecimento no
outras dermatoses bolhosas, que deve ser fe ito por imu- primeiro trimestre. Geralmente, as gestante com impc-
nofluorescência. A transmissão fetal pode ocorrer pela tigo herpetiformc não têm história pessoal ou fa miliar de
passagem de anticorpo da classe IgG por via transpla- p oríase. O quadro é acompanhado de mal-estar, febre,
centária, levando ao apa recimento do pênfigo neonatal. delirio, diarreia, vômitos e sintoma de tetania, podendo
Normal mente, o pênfigo neonatal é transitório, resol- evoluir para o óbito em decorrência de in uficiência cardí-
vendo-se dentro de duas a três semanas. 2•7•8 Há relato aca ou renal. Os achado histopatológicos ão cmclhantc
de alta incidência de natimortos de mães portadoras de aos da psoríase pustulo a, com a presença das pú tu las cs-
pênfigos (Figura 48.6). pongiformes de Kogoj (acúmulo de neutrófi los na cama-
da de Malpighi). A imunofluorescência direta é negativa.

772 Noções Práticas de Obstetrícia


O principal problema o bstétrico em casos de impetigo her- te nesse período. A gravidez é bem tolerada em mulheres
peti forme é a insuficiência placentári a, aumentando o risco com remissão do lúpus até os três meses, exceto naquelas
de nati mo rtalidade e anoma lias fetais. 2.3.8 pacientes com nefropatia o u ca rd iopatia. Se a concepção
ocorre durante a fase ativa do LES, cerca de 50% poderão
pio rar du rante a gravidez e algumas poderão morrer ou
MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS DA experi menta r dano renal permanente. Aquelas pacientes
SÍNDROME ANTIFOSFOLÍPIDE cm que o LES apa rece pela primeira vez du rante a gestação
te m a lta frequê ncia de complicações. 21 O efeito do LES no
A síndrome antifosfolípide (SAF) é uma desordem fe to associa-se à gravidade do lúpus materno. Pa rto pré-ter-
m ultissistêmica, autoimune, associada a uma varieda- mo ocorre em 16 a 37% e abortamento espontâneo pode
de de a nticorpos circulantes c ujo alvo são difere ntes ser duas a quatro vezes m ais frequente. Se a mãe tem an-
compl exos de fosfolípides. Foi descrita origi nal mente ticorpos anti-Ro (SSA), o recém-nascido pode apresentar
em pacie ntes com lúpus e ritem atoso sistémico e nos lúpus e ritematoso neonatal. Es es a nticorpos atravessam
últimos anos tem sido associada a o utras doenças. Ca- a placenta e podem causar lesão imune no feto. Além do
racteriza-se p or trombose arterial e/ o u venosa, abortos acometimento cutâneo, o recém-nascido pode exibir blo-
recorrentes, morte fetal e trombocitopen ia, acompa- queio card íaco congênito. O risco de um segu ndo filho
nhada de títulos elevados de a nticorpos ant ifosfolípidcs apresentar bloqueio cardíaco é de Y %, au mentando para
(anticoagulante lúpico e/ o u a nticardiolipina). As m a- 50% depois de dois o u mais fi lhos afetado .s.u"
n ifestações de pele são frequentes e cm 41 % dos casos
podem ser o prime iro sinal da síndrome. Na pele, a sín-
drom e pode manifestar-se por li vedo retic ula r, púrpu- ACRODERMATITE ENTEROPÁTICA
ras, equimoses, tromboflebite supe rfic ia l, hemorragias
em esti lhaço, isquem ia c utânea distal, in fa rtos da pele, Exacerbações de erupções cutâneas du rante a gravi-
ac rocia nose, úlcera de membros infe riores e nódulos dez é sinal ca racte rístico da acro dcrmatitc entcropática e,
subcutâneos. O livedo reticu lar e as úlceras c utâ neas em alg uns casos, o diagnóst ico defin itivo só é obtido de-
são as manifes tações dermatológicas de mais prevalê n- pois da ocorrência de exacerbação nesse período. 11· 16 No
cia. Assim, é importante para o obstetra e o dermatolo- paciente t ípico pode haver relato de leve c atípica erupção
gista terem conhecimento dos sinais c utâneos dessa sín- cutânea na infância, q ue entra em rem issão na puberdade,
d ro m e, colabo rando com seu diagnós t ico c tratam ento para reaparecer durante o primeiro ou segundo t rimestre
11
em tempo hábil. da gestação, com progressiva piora até o pa r to, seguida por
rápido e espontâneo clareamento pó -pa rto. 2r ·21
H á relatos de anormalidades congénitas em algumas
MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS DO LÚPUS gestações. 17 Suplemen tações de zinco podem prcven ir essa
ERITEMATOSO SISTÊMICO complicação, bem como reduzir a manifestações cutâne-
as na mãe. 1-
O lúpu eritematoso sisté mico (LES) pode tanto pio-
rar qua nto melho ra r durante a gravidez. Embora estudos
demonstrem índices aumentados de exacerbação do lúpus PITIRÍASE RÓSEA
durante a gravidez, o utros enfatizam que a evolução pode
ser favo rável. Exacerbação c utânea é a mais comum ma ni- É afecção cutânc:~ inflam :~tóri:~ su baguda relativamen-
festação do LES na gravidez, eguido por artrite. Pode se r te frequente, auto li m itada. C linica mente, mostra típicas le-
d ifícil diagnosticar exacerbações do LES durante a gravi- sões eritêmato-escamosas a rredondadas o u ovaladas, com
dez, já que muitas de uas ca racterísticas, como queda de colaretc de descamação nas bordas. As lesões são pa ra lelas
cabelos, ede ma, eritema facial, fadiga, anemia, elevação às linhas de clivagem da pele c a primeira delas é sem pre
da velocidade de hemos ed imentação e dores no apare- m aio r, endo denominada de medalhão ou placa-mãe. A
lho músculo-esquelético também ocorrem normalmen- ua impo rtância é que cm algumas estatísticas ressalta-se

Distúrbios Dermatológicos 773


mais frequência na gravidez. n O diagnóstico diferencial dermatoses era confusa e para a mesma entidade encontra-
com a sífilis secundária é mandatário (Figura 48.7). vam-se nomes distintos. Com isto, os autores Holmcs &
Black estudaram e fizeram revisão detalhada da literatura,
propondo, assim, classificação clínica simplificada, divid i-
da em quatro grandes grupos: 34 ·•15
Pcnfigoidc gestacional (PC);
erupção polimórfica d.l gravidez (EPG);
pru rigo da grav idez (PrG):
fol iculitc pruriginosa da gravidez (FPG).

A colestase intra-hepática da gravidez não é propria-


mente uma dermatose, mas é um diagnóstico diferencial
importante das dermatoses específicas da gestação. Daí,
hoje, alguns autores têm sugerido gue ela seja incluída no
Figura 48.7 1Pápulas eritêmato-escamativas com medalhão
grupo das dermatoses específicas da gravidez. Mais recen-
inicial c colarete de descamação. Ver pnmc/111 colorida.
temente, alguns estudos sal ient.lram gue, das dermatoses
de ocorrência no período gestacional, o eczema foi a mais
ERITEMA NOD OSO comum.33 Baseados nesses achados, sugeri ram a criação de
mais uma dermatose especifica da gravidez, denominan-
Car,Ktcriza-se por lesões eritêmato-cdenutosas c no- do-a de eczema atópico da gravidez (EEG), e propuseram
dulares, dolorosas, localizadas nos membros inferiores, que o prurigo da gravidez e a folicu lite pruriginosa da gravi-
especialmente nas regiões pré-tibiais. Ocorre com mais dez fossem incluídas nesse diagnóstico. 8 · 3 ~> Assim, conside-
frequência durante a gravidez, relacionado ou não com a ramos o eczema específico da gravidez (EEG) como mais
hanseníase. Qpando acontece nessa fase, surge geralmente uma dermatose específica, mas propomos gue não deixem
no segundo trimestre e persiste até o parto. 19· 13 Dentro do de existir o pru rigo da gravidez c a foliculite pruriginosa da
possível, o tratamento deve ser si ntomático e mais conser- gravidez como entidades únicas e distintas.
vador nessas gestantes. Excluindo-se o penfigoide gestacional e a colestase intra-
-hepática da gravidez, nenhum método laboratorial é sufi-
ciente para diferenciar essas dermatoses, o que torna a obser-
DERMATOFIBROMAS 1 LEIOMIOMAS1 vação clínica de suma importância.
NEUROFIBROMAS E QUELOIDES

Podem aparecer e/ ou crescer rapidamente ao longo da PENFIGO I DE GEST AC IONAL


gravidez. Pacientes com neurofibromatose podem experi-
mentar graves complicações devidas ao crescimento desses Esse quadro era conhecido anteriormente como her-
tumores, como, por exemplo, hipertensão e rotura da arté- pes gestacional. É dermatose rara (I :50.000 a I :60.000),
ria renal. Tumores vasculares, como os tumores glômicos, pruriginosa, pertencente ao grupo das doenças bolhosas
podem surgir ou aumentar de tamanho e acredita-se que que ocorrem na gravidez e puerpério. Já foram descritos
tenham frcguência aproximada cm S%das gestantcs. 2·21 casos em tumores como a mob hidatiforme e o coriocar-
cinoma. O dano tccidual é provavelmente causado por de-
pósitos de imunocomplexos na zona de membrana basal
DERMATOSES ESPECÍFICAS DA GRAVIDEZ (ZM B) e posterior ativação do complemento. O primeiro
sintoma é o prurido e o ardor, acompanhados por lesões
São um grupo de dermatoses inflamatórias e extrema- eritêmato-máculo-papulosas, policíclicas, anulares, con-
mente pruriginosas que ocorrem no ciclo grávido-puer- fluentes com vesículas e bolhas, predominando na regijo
pcral. Até o ano de 1982, a nomenclatura atribuída a essas periumbilical, gue em poucos dias comprometem também

774 Noções Práticas de Obst etrícia


membros superiores, membros inferiores, tronco c região (PIC) em gestantes com PG sugere disfunção placentária.
glútea, poupando geralmente a face, áreas palmo-plantares A transferência passiva do anticorpo da mãe com PC seria
c mucosas (Figura 48.8). É um a dermatose do segu ndo c responsável p or S a 10% dos recém-nascidos com lesões
terceiro trimestres da gestação, mas pode ter ocorrência cutâneas transitórias e que desaparecem dentro de uma a
mais precoce, sendo que em 20% dos casos tem seu diag- quatro semanas de vida. Com marcante frequência esse
nóstico no pós-parto imediato. 2•37Pode deixar hipercrom ia quadro é acompan hado por sintomas sistêm icos como fe-
pós-inflamatória residual. Sintomas gerais como mal-estar bre e mal-esta r e a complicação materna mais comum é a
c febre pode m fazer parte do quadro cutâneo. infecção secu ndá ria:15"19
O diagnóstico d iferencial deve ser instituído com as
outras dermatoses bolhosas, farmacoderm ia, erupção po-
limórfica da gravidez, eritema mu ltifo rm e, prurigo da gra-
videz, entre outras. 8
O tratamento é baseado cm cuidados locais com a pele.
Os casos leves podem ser tratados com corticoides tópicos
e anti-histamín icos, apropriados para uso na gravidez, com
a devida precaução de serem evitados nas duas semanas
que antecedem o parto, pelo risco de retroplasia fib rolental
do prematuro. Nos casos mais graves o corticoide sistêmi-
co (20 a 60 mg de prednisona) está indicado ( Figu ra 48.9).8

Figura 48.8 1Placas confluentes em base eritematosa com


vesículas e bolhas, íntegras e rotas acometendo o tegumento
com raras ilhas de pele normal. Ver pmnchn colorida.

O exame histolopatológico evidencia bolha subepidér-


mica e a im unofluorescência direta mostra depósito linear
de C3 na membrana basal da área lesada e perilcsional. De-
pósito de IgC pode ser encontrado em 25% dos casos. No
sa ngue de algumas gestantes pode encontrar-se o fator PC
(que é u m autoa nticorpo da classe lgG l).r
Alguns autores e ncontraram anticorpos anticerati-
nócitos em gestantes com PC com pad rão de imu nofluo-
rescência semelhante aos dos pênfigos. 18 O fato de sofrer
exacerbação na menstruação, com uso d e contraceptivo
oral ou em associação com mola hidantiforme e corioca r-
cinoma, sugere que hormôn ios tenham participação na
etiologia. N a atualidade, tem-se va lorizado a associação
histogenética com a presença de antígenos leucocitários
humanos (HLA), sendo que em 6 1-80% há associação
com HLA DR3, 52% com H LA DR4 e 43-SO% com am-
bos. Os pacientes com PC que tem fo rte associação com
HLA DR4 têm m ais predisposição a desenvolver o utras
doenças autoi munes.u - Em 50% dos casos a recorrência é Figura 4lS .~ 1 A - 1-'apulas e placas cntematosas com vesJcu-
a regra c, quanto mais precoce, mais grave.3 ' las e pequenas bolhas íntegras e rotas; B- Mesma paciente
Atualmente, acred ita-se que a tendência ao parto pré- com 48 horas após início da corticotcrapia sistêmica.
-termo e recém-nascido pequeno para a idade gestacional Ver pmncha colorida.

Distúrbios Dermatológicos 775


ERUPÇÃO POLIMÓRFICA DA GRAVIDEZ associação com autoimunidadc, antígeno de h i topacom-
patibilidadc, atopia e pré-eclâ mpsia. 19
Hi toricamcntc, foi conhecida por muitos nomes, como A maioria da gestante são pri mige tas, entre 36 c
PU PPP (prunl1c urtica na/ papules mui plaques of preguaucy), 39 semanas; o quadro pcrsi te, cm média, ei semana ,
rash toxêmico da gravidez, critema tóxico da gravidez, cri- porém ,1 fase crítica não dura mais que uma semana. Não
tema multiforme da gravidez, prurigo tardio da gravidez.' A fora m descritas lesões mucosas. Existem trcs tipos clín ico~
erupção polimórfica da gravidez (EPG) é uma freguente der- distintos: tipo I (pápulas c placas urticariformcs), tipo 2
mato e e pecífica d:t gravidez, estimando- c ua incidência (eritema, pápula ou vesícula não urticariformcs c tipo 3
entre 1/ 130 e 1/ 300 gestações. É doença inflamatória, pru- (combinação das duas formas).4 u
rigino a, de ctiopatogcnia desconhecida, autolimitada, as O· O diagnóstico é clínico, sendo o exame histopatológi-
ciada ao final da gestação ou puerpério. Para alguns autores, a co ine:-.pecífico e a imunoAuore cências direta c indircta
gravidez múlt ipla, com ma 1s ganho de peso materno, recém- negativas. 8
-nascido grande para a idade ge tacional (C IG) c hormõnios, Exceto pelo de conforto materno, que na maioria da
poderia influenciar no aparecimento da dermatose. 1" vezes leva a gestante a procurar serviço de urgência, o
O guadro típico inicial é de pápu la urticariforme o- prognóstico materno c feta l não é afctado. ão existem
bre as estrias abdominais, poupando a região pcriumbilical, relatos de recorrência na gestações sub cquentcs. O
sendo c te dado importante como diagnó tico diferencial do tratamento é sintomático, dando-se ênfase aos cuidados
penfigoide gcstacion.1l. Po teriormente, as pápula tendem a locais com a pele c o banho. Recomenda- e u ar roupas
c conflui r, formando placa~ urtica riformes c estendendo-se de algodão confortáveis. A hidratação da pele é de sumJ
para o restante do abdome, membros superiorc , membro import.incia para o sucesso do tratamento. A maioria das
inferiores, dorso e região glútca. Podem exibir vesícu las ou gestantes pode ter alívio com U);O de creme de corticoi-
pcguena bolhas, le õe em alvo, pápula policíclicas e aspec- dc moderadamente potente. Os ,tntiprurigino~os tópicos
to imilar ao critema tóxico disseminado, acontecendo, as- à base de mentol em pasta d '.\gua podem cr tentado..
~l m, um polimorfi mo de lesõe , daí a origem do nome atual Raramente os casos ma i graves podem ser tr.ttados com
~c r erupção polimórfica da gravidez (Figura -+8.10). 1 19 prcdnisona oral (1 a 20 mg). ão há boa rc posta ao
anti-histamínicos e estes devem -cr evitados na duas
semanas que antecedem o parto. Há regressão cm pou-
ca sen1Jna após o parto, ·cndo que na experiência do
autores )•\ se nota melhora importante cm alguma hora~
após o parto.

FOLICULITE PRURIGINOSA DA GRAVID EZ

Em 1981, Zolberman & Famcr de creveram pela pri-


meira ve7 casos de foliculite pruriginosa da gravidez (FPG)
como endo uma erupção prurigi nosa pápulo-folicubr do
Figura 48.10 I Pápulas e placas urticariforrnc sobrepon-
do as estrias c poupa ndo a região pcriumbilical. segundo c terceiro trimestre de gravidez, acometendo in-
I 'rr Jlrl111cha colonda. distintamente primigcstas ou multigesta · e com regressão
após o parto. ua incidência é de conhecida, sendo que
alguns autores sugerem que ela é subdiagnosticada. Tem
Estudo preliminar de detecção de DNA masculino em etiologia desconhecida e não mostrou evidência de gual-
EPG indicou guc células fetais podem migrar para a pele guer mediador imunológico.41
materna durante a gravidez. Contudo, ainda c tá no cam- lanifcsta- e por erupção pápulo-folicuiJr, pruri-
po da e pcculação se isso iniciaria as respostas inflama- ginosa, semelhante à acne monomórfica cncontr,tda
tória em ca os de EPG. Até o momento não e mo trou em pacientes em uso de corticoide, que apa rece entre

Noções Práticas de Obstetricia


o quarto c o nono meses de gravidez c que desaparece P RU RIGO DA G RAV I DEZ
entre du.t c trê emanas após o parto. Acred ita-se que
esta seja uma forma de acne induzida por hormônios No passado, teve como sinonímia prurigo gestacional
próprio da gravidez. O diagnó tico é clínico e não há pa- de Be ·nier; prurigo precoce da gravidez; dermatitc papular
drão imuno-hi topatológico específico, sendo a histopa- da gravidez. ''
tologia de uma folicu litc inflamatória aguda. O diagnós- Clinicamente, no egundo ou terceiro trimestre de ges-
ti o diferencial deve er feito com folicu lite infecciosa, tação, aparecem pequenas pápulas prurigino as que evo-
acne por corticoidc, acne vulgar e erupção polimórfica luem para nódulos n,\s superfícies extensoras dos mem-
da gravidez.8 bros, menos frequentemente no abdome c desaparecendo
A aúdc da mãe e/ou do conccpto não é afctada. É auto- no pó -parto imediato. A inCidência e a etiop:ttogenia ão
lim itada c os sintoma desaparecem no pós-parto. Como desconhecidas. A proposição de Holmes & B!Jck ( 1983)
principal complicação ob erva- e a hipcrcromia residual de que o prurigo da gravidc1 rc ultJ do prurido gravlda-
pós-inflamatória. runl, ocorrendo em gestantes atópica é baseada no fato
1

Assim como 131ack ct a/., temos observado alguns casos de que 18% das gestações ão complicadas por prurido c
de lesôe pápulo-pú tula folicula re em base~ critemato- 10%da população são atópicas. Desse modo, cspcrHc que
sas, de aspecto monomórfico, distribu ídas no tronco, mais ambos coexistam em 2% das gcstaçõc , incidência próxi-
intensamente no dor o, mas podendo e e tender para ma do prurigo da gravidez. A imunoglobulina E pode estar
membros superiores. Porém, na experiência própria, cm .lllmentada e não é infrequente históna pe soai ou familiar
algu ns ca o tendem a regredir mesmo antes do término de atopia.14·"
da gestação ( Figura 48. 11 ). H.r O diagnóstico é eminentemente clínico c a histopato-
logia inespecífica, mostrando infiltrado inflamatório celu-
lar crônico. A imunofluore cência é negativa, auxiliando
:tpcnas quando se tem a necc~ idade de diagnóstico dife-
rencial com outras dermato e . Tem como principal diag-
nó tico diferencial o prurigo e trófulo, seguindo a colctase
intra-hepática, ent re outras. Não tende a recorrer nas gcs-
taçôe ub equentes e o prognó tico materno e fetal não
está afetado. 37
A dermatite papular da gravidez, descrita por Spangler
et a/., em 1962, repre enta provavelmente um quadro ma i
grave de prurigo da gravidez.'
O tratamento é sintomático com emolientcs, antipru-
riginoso tópico corticoide tópico c oca ional mcntc
Figura 48.11 I Pápulas e pústulas folicul.tres distribuídas 1

no membro superior. Ver pm11cha colonda. anti-histamínico oral. Hipercromia residual é uma com-
plicação comum ne a dermato e, daí a necc 1dade de se
evitar a autoescoriação.
Como tratamento, algun estudos preconizam o uso de
peróxido de benzoíla a 101\! a ociado à hidrocortisona 1%
com boa resposta.~· r Essa dcrmato c é autolimitada e aco- COLESTASE INTRA-HEPÁTICA DA GRAVIDEZ
mete grande cxtcn~jo do tegumento c o peróxido de ben-
zoíla é classificado pela Food DrugAdministratioll (FDA) na Ao longo do anos recebeu as cgu intes denom ina-
categoria C para u o na gc tação. Desta forma, preferimo ções: cole!>tase da gravidez, pru rigo gmvidar11111, icterícia
não u ar tal medicação, empregando apena emoliente , recorrente da gravidez, prurido da gravidez.•
antiprurigino o tópicos c, raramente, corticoide tópico, A colestase intra-hepática da gravidez (C IHG) mani-
tendo tido boa resposta, as ociando- e à orientaçôe para fe ta-se por prurido inten o, pcrsi tente, generalizado, que
evitar a autoe cori.tçào. quase sempre piora .\ noite. A incidência vari,l entre 0,02

Distúrbios Dermatológicos
777
e 2,-1-% da gravidctc ; é mais comum no Chile, Bolívia e A história familiar é positiva em SO% dos casos. Are-
Escandin;ívia, atingindo 3 a l..J.l\1 das gestações c is o é atri- corrência em gestação subsequente é a regra, mas ta mbém
buído a fatore dietéti o~. A incidência é aumentada em pode recorrer com o uso de contraceptivos orai . O prog-
gravidczc múltipla .1- nóstico materno geralmente é tã vorável, embora a icterí-
t con iderada uma forma de colestase reversível, levan- cia possa ser complicada por esteatorreia subcl ínica, com
do a intenso prurido. É dependente do estrogênio e com conscllucntc dc~ci ~nci J de vitamina K c prolongamento
herança genética. A predisposição genética é sugerida pela no tempo de protrombina, elevando, assi m, o risco de he-
presença na C IHG de mutação no gene 3 c J7 12deiT, para morragia no pós-parto imediato. O s ri co · fetais são de
resistência a multidrogas, bem como na associação aos H LA, prematuridade, mortalidade pcrinatal c sofri mento fetal. 42
subtipos A3 1c B8. A patogénese não é totalmente entendida O tratamento da pele na C IHG é feito com cmolien-
e uma hipótese é que relativa queda do Auxo sanguíneo he- tes e agente antiprurigino os tópico c geralmente os
pático durante a gravidez leve à redução na elimi nação de to- anti-hi tamínico ão pouco eficazcs. 1 O utro fá rmacos
xinas e estrogênios. Há decré cimo do cleanmce de c trogc- incluem a cole tiramina, fenobarbital c fototcrapia, que
nios, quere ulta cm aumento da ecrcção c concentração do têm indicações e resultado controversos. Em casos de
colesterol biliar c também prejudica a capacidade do fígado colestase prolongada, a ad min istração de vitam ina K
de transportar ânions, como a bilirrubinas c o sais biliares. pode ser nece sá ria. Apesar de não er licenciado para
Tem sido po tu lado, também, que o e trogênio regulam as uso na gestação, o ácido ursodeoxicólico (U DCA) tem
moléculas de actina, que agem intracelub rmentc para me- sido relatado por alguns autores como sendo o que me-
diar a excreção da bilc. 19 lhor resultado apre cnta, tanto cm relação ao prurido,
Tem início no egundo e terceiro trimc tres de gcst,tção, quanto ao prognóstico fetal, com diminuição significa-
ma há ca o de ocorrência mai precoce c esses estão ge- tiva da prematuridade, do sofrimento fetal c da mortali-
ralmente a ociado à mais gravidade do quadro. Clinica- dade per inata I.'".4 2
mente, há prurido inten o, persistente, inicialmente palmo- Em conclusão, prurido no último trimc trc d.1 gravi-
-plantar para, em seguida, generalizar-se, notando-se quase dez sem lesão dermatológica primária nunca deve cr nc-
sempre piora noturna. O exame físico da pele não mostra gligenciado.42 A monitorização materna e fetal intensiva é
lesões cutâneas primárias, exceto escoriações secundárias mandatória. Em todas as situações a relação risco/ benefí-
ao ato de coçar. Nletade das gestantes apresenta colúria c cio deverá ser avaliada e individualizado o ca os. bom
.1colia fecal, mas somente 20% desenvolvem icterícia clínica enso médico norteará, junto à paciente c cus fa milia rc~. a
usualmente duas a quatro semanas após o in ício do prurido. melhor dcci ão.1
O achado bioquímico típico é o de níveis ignificati-
vamente elevado de ácidos biliares séricos totais. Outro
achados ão níveis elevados de gama-glutamiltran fera -c ECZEMA ATÓPICO DA GRAVIDEZ
(gama GT), to fatasc alcalina (FA) e, moderadamente,
elevados de bilirrubina érica conjugada. A transamina- É o estado patogénico da pele em que predominam
scs hepática c tão apenas ligeiramente elevadas; nívei condições inAamatórias caracterizadas por eritema, ede-
ignificativamente alto de transaminases indicam que a ma, vcsicular;:io, secreção, pápulo-vesiculação, infi ltração,
causa provável da icterícia é uma hepatite infecciosa. A crostas, escama e liqucnificação, associados ·cmprc ao
anornu lidadc!> ~érica não estão diretamcnte relaciona- prurido, cm intensidades variáveis. Os eczcmas podem ser
da om o risco fetal, endo utilizadas somente para au- divididos cm três tipos que ficam na dependência do eu
xiliar o diagnó tico. Os Jchados ultrassonogrãficos do cstado evolutivo: l 8
fígado são normai . É um diagnóstico de exclusão após Eczema .1gudo, quando há predominància de erite-
afastarem- c hepatites viróticas, hepatites por drogas e ma, edema, vc iculação e secreção;
outra c.lLIS,\S de coles ta c autoimune. A C ! HG é entida- subagudo, quando apresenta os sinai agudos, mas
de associada a prurido, alteração da função hepática, prin- ,\ secreção resseca-se, formando as cro ta ;
cipalmente dos ácidos biliares, e com efeito adverso sobre crônico, quando predomi nam re secamente e lí-
o prognóstico lc tal.d.,o.r quen ificaçao.

778 Noções Práticas de Obstetrícia


Atualmente, baseados na frequência dessa dermatose, Faz o diagnóstico diferencial com penfigoide gesta-
8 36
Ambros-Rudolph et ai. • sugeriram a criação de mais uma cional, erupção polimórfica da gravidez, colestase intra-
dermatose especifica da gravidez, denominando-a de eczema -hepática, pitiríase rósea, escabiose, dermatite de contato e
atópico da gravidez (EEG). Postulam a inclusão do prurigo da reação a d rogas.
gravidez e da foliculite pruriginosa da gravidez nesse grupo. Fundamental no t ratamento é manter a pele umedeci-
Assim, acredita-se que o eczema específico da gravidez, devi- da com emolientes tópicos. Pode-se lança r mão de loções
do àfrequência com que ocorre, seja incluído como ma is uma e cremes sem fragrâ ncia, associados a óleo de macadâm ia,
dermatose específica do período gestacional, mas que conti- a mêndoas, sem entes de uvas e vaselina. A ureia, na concen-
nuem a existir o prurigo da gestação e a foliculite pruriginosa, tração acima de 396, deve ser evitada como constituinte dos
que são duas entidades distintas e reconhecidas, a nosso ver. cremes, devido à co ntraind icação da ANVISA a pa rtir de
Durante a gravidez, tem sido realçada nítida associação 2005 (Parecer Técnico da ANVISA/ 2005). 43 O tratamen-
com história pessoal ou fa miliar de atopia e com apareci- to geralmente é tópico, sendo que em raras exceções o t ra-
mento no primeiro e segundo trimestres (Figu ra 48.12). tamento sistémico está indicado. O manejo das drogas nos
Clinicamente, ma nifesta-se por quad ro ecze matoso, ocor- eczemas da gestante deve sem pre levar em consideração a
rendo em qualquer lugar do tegumento (Figu ra 48.13). O área a ser t ratada, a potência do produto e a concentração
d iagnóstico é clínico, porém pode-se observar elevações crítica, para que a absorção sistém ica seja mínim a, visto
dos niveis plasmáticos de lgE.36 que du rante a gravidez ocorre elevação do fluxo sangu íneo
da pele, levando ao aumento da absorção de substâncias
aplicadas. É frequente o apareci mento de novos fármacos,
porém deve-se ser cauteloso quanto ao seu uso e somente
empregá-los quando os benefícios justi fica rem os riscos.

FoTOPROTEÇÃO

A fo toproteção é definida como qua lq uer medida que


seja capaz de reduzir a exposição ao sol e m ini m izar seus
efeitos deletérios. O s filtros solares são agentes tópicos que
protegem a pele da luz ultravioleta (UV). Eles absorvem,
Figura 4 8.12 1 Pápulas liquenificadas, hiperpgimentadas e
dispersam ou refletem a rad iação ult rav ioleta e a luz visí-
escoriações. Ver prancha colorida.
vel. Os agentes UVA absorvem a radiação na faixa espec-
tral de 320 a 400 nm. Os agentes UVB abso rvem a radia-
ção na fa ixa de 290 a 320 nm. O fa tor de proteção solar
(FPS) dos produtos comerciais é obtido a partir de testes
com aplicação de uma qua ntidade un iforme de filt ro solar,
que é mais espessa do que a que a maioria dos ind ivíduos
usa roti neiramente.
Algumas mod ificações que ocorrem no período ges-
tacional têm relação d ireta ou ind ireta com a rad iação
ultravioleta. Os benefícios do uso diários dos filtros sola-
res com ampla p roteção UVA e UVB são inten sivamen-
te demonstrados e, sendo assim, recomenda-se q ue toda
Figura 48 .13 1 Eczemas atópico em mama de gestante. pessoa, inclusive as grávidas, adotem m étodos eficazes de
Ver prancha colorida. fo toproteçãoH

Distúrbios Dermatológicos
779
HIDRATANTES fase àqueles produtos mais antigos, que sejam mais fam i-
liarizados e que tenham aceitável perfil de segu rança. Não
A pele é uma barreira importante, que deve ser ma n- existem, até o momento, comprovações da qua ntidade mí-
tida íntegra para ter funcionamento adequado. Q ualquer nima que pode ser uti lizada sem afetar o bem-estar do con-
tipo de agressão que remova água, lipídios ou proteínas da cepto. Por outro lado, quase sempre há uma mistura desses
epiderme altera a integridade dessa barreira e compromete produtos, perdendo-se, assim, qualquer referência de qual
sua fu nção. substância está sendo formada e qual é a quantidade absor-
Os hidratantes têm por objetivo restabelecer o grau de vida desse produto.
umidade da pele normal, preservando o manto lipídico, e O utra informação que se deve ter em mente é que,
são indicados na xerose cutânea. Assim, a hidratação é feita virtualmente, todo produto é passível de ultrapassar a pla-
pela reposição conjunta de diversas substâncias que se com- centai e quando algu m deles é absorvido pela gestante,
plementam e vão restabelecer a integridade da pele. Essas dois indivíduos estão sendo expostos (mãe e filho). Sabe-
substâncias são oclusivas (como a lanolina, petrolatum, -se também que a resposta fetal à absorção de produtos ou
propilenoglicol c ceras), umectantes (como ureia, pantenol, fármacos é diferente da reação da mãe, pois a toxicidade
lactato de amónio) ou emolientes (como a ceramida, dime- é mais alta devido à maior permeabi lidade sanguínea ce-
ticona). O tipo de hidratante deve va riar de acordo com o rebral e deficiência da função enzimática de conjugação
tipo de pele e o local a ser usado. Na pele com tendência ao hepática. Por isso, é preciso ter a devida cautela no tocante
ressecamento está indicada a emulsão água cm óleo (A/ O), às informações repassadas à gestante. Sendo assim, com
que forma uma película oclusiva na superfície cutânea, di- as informações obtidas na literatura científica, não se tem,
minuindo a evaporação da água pela pele, enquanto na pele hoje, qualquer segurança em liberar o uso de tais produtos
normal ou oleosa está indicada a emulsão óleo em água durante a gestação.
(0/A). 44 Gestantes com a pele ressecada podem ter mani- O saber médico é terreno fe rtil que está sempre em
festação de pru rido ou ardor. Durante a gravidez, verifica- transformação. Conforme novas pesquisas e estudos fo-
-se aumento do Auxo sanguíneo em diferentes regiões da rem surgindo, norteará nosso conhecimento no sentido de
pele, havendo mais absorção de produtos tópicos aplicados. fornecer informações adequadas e perti nentes a cada ges-
Desde outubro de 2005 existe na legislação brasileira uma tante, beneficiando, assim, cada vez mais, mãe c fil ho.
restrição ao uso tópico da ureia na pele de gest.111tes. Devido
à sua forte absorção e potencial teratogênico nessa f.1se, pro-
dutos de uso tópico contendo ureia na concentração acima CONCLUSÃO
de 3%estão contra indicados na gravidez.4 '
A boa relação médico-paciente e o apoio psicológico são
fundamentais para o sucesso do tratamento das dermatoses
TINTURAS, ALISANTES OU na gravidez. Por sua vez, o reconhecimento das alterações de
PERMANENTES E SIMILARES pele orienta o médico, tranquiliza a gestante e permite esta-
belecer condutas adequadas. Embora o prurido seja o prin-
cipal sintoma cutâneo na gravidez, a própria coceira não tem
Até o momento, na literatura científica, os estudos so- peso diagnóstico. Assim, é essencial a obtenção da história
bre segurança de ti nturas, permanentes, alisantes e simi- e do exame clínico completo para que seja confirmada ou
lares em gestantes são poucos, inconclusivos c controver- excluída a possibilidade de qualquer dermatose. Qualquer
sos. Na maioria das vezes as pesquisas de biossegurança que seja a etiopatogênese do prurido, ele se agrava com o
em grávidas são feitas em modelos ani mais, sendo poucas estresse emocional e melhora mediante conduta de relaxa-
realizadas em humanos. Na gestante, por motivos éticos, mento. Em se tratando de dermatoses da gravidez, a gesta-
geralmente não se tem estudo duplo-cego controlado. As ção é única, não existe padronização de conduta e a decisão
investigações fornecem, na maioria das vezes, informações terapêutica deve ser compartilhada entre dermatologistas e
obtidas de dados epidemiológicos e acompanhamentos obstetras. O Q!.tadro 48.2 sintetiza as evidências c os graus
populacionais, com análise crítica retroativa, dando ên- de recomendação para os cuidados da pele na gravidez.

780 Noções Práticas de Obstetrícia


Q.!Jadro 48.2 1Evidência sobre alterações cutâneas du rante a gestação
Everl!o Oco r rencra lr1ter fpr encrd Gr di I dP
r ecorner1dacao

Melasma Ouso rotineiro de filtros solares de amplo espectro (que protejam contra os raios UVA j c
e UVBI pode prevenir ou pelo menos atenuá-lo I
---- --- - -- - - - - - -
Estrias Não há evidência cientifica de que loções hidratantes ou óleos possam evitá-las ou c
atenuá-las, mas uma pele com as funções de barreira preservadas é de suma impor- I
tância. principalmente em áreas onde há maior distensão da pele. Além disso. esses
produtos melhoram a xerose e ajudam no alívio do prurido
- -- -- !
Hiperpigmentação Os cuidados com a pele e a prevenção de autoescoriações podem diminuir a sua ocor- D
pós-inflamatória rência na gravidez
c
-
Pitiríase rósea Émais frequente durante a gestação e sua importância reside no fato de ser diagnós-
tico diferencial importante de sífilis secundária
-- -- -- - - -
_j
Nevos melanoclticos Podem aparecer, crescer e se tornar mais pigmentados. Quanto à incidência de malig- D
nização. os dados são inconclusivos
---
I
- - - - - - --
Granuloma piogênico É mais frequente na gestação. geralmente não necessitando de tratamento. sendo
-
D
-
que a maioria tende a regredir no pós-parto
- - - -
Colestase intra- Há risco de prematuridade. sofrimento fetal e mortalidade perinatal D
hepática da gravidez

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Janwo: Elsev1er; 2009.

Noções Práticas de Obstetrícia


49 Urgências Clínicas não Obstétricas
Frederico José A.médeé Péret

Edema Agudo de Pulmão Sepse Grave


Etiologia Conceitos e Cri térios Diagnósticos
Mecanjsmos Proped êutica Inicial na Suspeita de Sepse Grave
Marufestações Clírucas e Diagn óstico T ratamento
Exames Comple me ntares Ressuscitação da Paciente Séptica
EAP Induzido Pelo Uso de Terapia Tocolítica Resolução da Gravidez e Via de Parto
Tratam ento Insuficiência Renal Aguda
Morutorização Fetal no EAP Diagnóstico
Síndrome de Angústia T ratamento
Respiratória Aguda (SARA) Parada Card iorrespiratória
Diagnóstico Causas de Parada Cardiorrespiratória na Gravidez
Causas mais Frequentes na Gestação e Pue rpério Co nd uta
Tratam ento Cesariana Perimortem
Resolução da Gravidez e Via de Par to

o atendimento à grávida com intercorrência clíni-


ca não obstétrica, na qual exista risco de morte,
é de extrema importância, não apenas pelo ri co
à aúdc da mulher, como também para o feto. Sua assistência
deve ser rápida, precisa c multidisciplinar, visa ndo estabilizar
Os cu idados cl ín icos com gestantes em condições
c ríticas d evem envolver equipe multid isciplinar para a
obtenção de bons resultado . A prevalência de pacientes
obstétricas que necessita m de cuidados clínicos inten-
sivos é estimada entre O, I e 0,8 % das gest:.1ções. A mor-
as condições clínicas, tratar a intercorrência e determinar ta lidade entre elas va ria de 2 a 11%. Es es números aprc-
qual a melhor conduta cm relação à gestação: resolução ou entam g ra nde va riabilidade entre diferentes populações
pros eguimento. Para tanto, é necessário que o obstetra c os o bstétricas c institu ições. Os principais f.1tores de risco
outros profissionais ligados ao atendimento a essa paciente associados à morbidade gr.wc e necessidade de cuidados
(clínicos, cirurgiões, anestcsistas e intensivistas) estejam trei- intensivos são: idade acima de 3 ' anos, raça afro-ameri-
nados para recon hecer e tratar tais intercorrências da melhor can a, necessidade c modo de t ransferênc ia para centros
forma, lembrando- e sempre do feto c c colhendo condutas te rciários c, em algumas séries de casos publicadas, age!.-
que possam não prejudicá-lo, sempre que possível. tação na adolescência. H
EDEMA AGUDO DE PULMÃO dinâ m ica) e a disfunção ventricular esquerda, que tanto
pode ser sistólica e/ ou diastólica.3
O edema agudo de pulmão (EA P) é emergência clínica
em O bstetrícia que requer pronto d iagnóstico e tratamen- I
Quadro 49.1 Alterações H emodinâmicas e Respirató-
to, sendo cond ição de alto risco materno e fetal. Acomete rias na Gestação
aproximad amente 0,05 a 0,08% de todas as gestações, tan- Parâmetro Alteraçao F1s1olog1ca
to no período anteparto quanto pós-pa rto, dependendo do
Débito cardiaco Aumento de 50% I
fa to r causa!.3·5·6 I
Volume Circulante (gravidez única) Aumento de 50%
Volume Circulante Aumento de até 80%
ETIOLOGIA (gravidez múltipla)
Volume Plasmático Aumento em até 40%
As causas mais comuns na gravidez são:
Frequência Cardiaca Aumento em até 15%
Uso de beta ad renérgicos;
hipertensão arterial crónica e ou pré-eclãmpsia grave; Pressão coloidosmótica Redução em até 20%
(normotensa)
arritmias cardíacas;
va lvulopati as (principalmente a estenose m itral); Pressão coloidosmótica Redução em até 40%
m iocardiopat ias (chagásica, hiperte nsiva, congêni- (pré-eclâmpsia)
ta, idiopática e periparto). Capacidade Pulmonar Redução em até 18%
Funcional Residual
Modificado de Sciscione e cols.5
MECANISMOS

Os mecan ismos na gênese do EAP estão, mu itas vezes, Edema pulmonar secundário à disfunção sistólica
relacionados às mod ificações hemod inâm icas fisiológicas pode ocorrer em pacientes com hipertensão grave, leva ndo
da gestação. As alterações hemod inâ micas, anatómicas e a au mento súbito da pós-carga ou doença card íaca subja-
homeostáticas da gestação por si só tornam a grávida uma cente, como a m iocardiopatia periparto ou card iomiopa-
paciente com alta pred isposição a apresentar edema pul- tias anteriores à gravidez. O desenvolvimento de edema
monar quando submetida à sobrecarga hemodinâmica pulmonar, nesses casos, é facilitado pela q ueda no gradien-
(Quadro 49. 1). O mecanismo básico do desenvolvi mento te de pressão oncótica-h idrostática. A d isfu nção d iastólica
de edema pul monar é regido, geralmente, pela pressão co- foi descrita em gestantes obesas, h ipertensas crôn icas com
loidosmótica do plasma e pelo gradiente de pressão capilar pré-eclâmpsia grave sobreposta.5•6
pulmonar. 3·6
Na gestação c puerpério existe queda acentuada da
pressão coloidosmótica do plasma: 23,2 mmHg no pri- MANIFESTAÇÕES CLÍN ICAS E DIAGNÓSTICO
meiro trimestre; 21,1 mm H g a termo; 16 mmHg após o
parto. A q ueda é ainda mais acent uada nos casos de pré- Nas fases in iciais, a identificação cl ínica do EAP re-
eclâmpsia. A pressão capilar pulmonar pode estar elevada quer elevado grau de suspeita, sendo caracterizado por
por d isfunção vent ricular esquerda, infusão excessiva de taqu icardia persistente, associada a agitação, taquipneia
fl uidos intravenosos ou o fenôm eno de autotransfusão ob- e ocasion ais roncos e sibilas à ausculta pulmonar. Com
servado com cont rações uteri nas no trabalho de parto e a evolução d o q uad ro, h á o aparecimento de hipoxcm ia
no pós-parto imed iato. 3 caracterizada clinicamente por acentuação d a d ificuldade
O utros fa tores associados são o dano endo telial capilar respirató ria, cia nose, uso da musculatu ra respiratória aces-
(justi ficando casos em que há m ín ima d isfu nção hemo- sória e crepitações à auscu lta pulmo nar.s·6

Noções Prát icas de Obst et rícia


EXAMES COMPLEMENTARES alívio da sintomatologia;
rápida identificação do fato r de cncadeante.
Deve-se realizar:
Gasonretria arterral: as alterações iniciais são carac- O tratamento inicial é o po icionamento da paciente
terizadas por redução da pres ão arterial de ox i- em orto tatismo, com inclinação de pelo menos 45 graus
gênio (pa0 2), com pressão arterial de dióxido de e desvio do útero para a esquerda, visando ,\ redução do
carbono (paCO) normal ou discretamente redu- retorno venoso e melhoria da mecâ nica respiratória. A
zida. Com a evolução do quad ro, há acent uação da oxigcnotcrapia por másca ra deve ser administrada visan-
hipoxcmia c retenção de C02, com elevado risco do ma nter a saturação de oxigênio (0 2) aci ma de 95% c a
de óbito fetal; paO , > 70 mmHg (nível mínimo para manutenção da per-
mdrogmjia de tóm;-.:: tem valor limitado nas f.1scs fusão útero-placentária).
iniciais, a não ser na presença de cardiomegalia. O sulfato de mor fi na reduz a ansiedade c produz vcnod i-
a evolução do quadro, podem apa recer ingurgi- latação pul monar e i têmica. A dose é de 3 a 5 mg. endove-
tamento va cular intersticial e peri-hilar, derrame noso, de I -/ I ' minutos, até a dose máxima de lO mg. A am-
pleural c linhas Bde Kerley;56 pola contém I mg de sulfato de morfina por cada mililitro. '·6
ecocardiograma transtorácico: idealmente, deveria ser A furosem ida é potente vcnodilatador c .ltua reduzindo
realizado em todos os casos de EA P, para esclareci- a congc tão pulmonar, mesmo antes de promover diurese.
mento da etiologia. ão é necessário para o trata- Deve ser ad ministrada na dose de 20 a 40 mg, por via cn-
mento inicial. Deve ser obrigatoriamente realizado dovenosa, até no máxi mo 200 mg. Os nitratos podem ser
nos casos de edema pulmonar cardiogênico e seus utilizados como coadjuvantes da furo cmida.' 6
par.i metros são essenciais para o diagnóstico da A hidralazina e o nitroprussiato de ódio podem ser
cardiomiopatia peripa rto.6 utilizados no tratamento da hipertensão grave, se esse for
o fator desencadeante. Entretanto, o uso de nitroprussiato
de sódio pode teoricamente ocasionar o óbito fetal quando
EAP I NDUZ I DO PELO USO da sua utilização prolongada.'·6
DE TERAP l A TOCOLÍTICA A monitorização subsequente com o cateter de Swan-
Ganz na artéria pulmonar pode ser indicada crn alguns ca-
A terapia tocolítica representa aproximadamente 25% sos refratários ao tratamento inicial. A intubação endotra-
das causas de edema pulmonar agudo durante a gestação, qucal está indicada na insuficiência rc piratória, pelo risco
principalmente quando do u o associado de out ro medi- materno e também justificada pelo ri co de óbrto fetal. O
camento (por exemplo, ulfato de magné io c tcrbutali- parâ metros maternos que asseguram oxigcn.1çjo fetal ade-
na).6A prevalência esti mada é de um em 350 a 400 casos quada são: 5·6
de tocólisc, apresentando risco mais alto nas gestações pa02 > 70 mmHg;
múltiplas." paC0 1 < -40 mm Hg;
A fisiopatologia é multifatorial, por sobreca rga hídrica, hemoglobi na~ IOg/ dL;
obrccarga mio árdica pelo uso de beta-agonista ad renér- saturação de O 2 > 9 5%.
gicos e doenças preexistentes não identificadas (cardiopa-
tia, infecção materna).-
MON I TORI ZAÇÃO FETAL NO EAP

TRATAMENTO Na ocorrência de EA P na gravidez, está indicada a mo-


nitorização fetal eletrõnica continua. O parâmetro de
O objctivos do tratamento ão: ·'· 6 atividade cardíaca fetal (alterações da frequência c variabi-
Manutenção da oxigenação tecidual; lidade da linha de base) podem ser indicJdorcs ind iretos de
re tabelecimento dos parâmetros hemodinâmicos; condição materna crítica. 5'6

Urgências Clínicas não Obstétricas


SíNDROME DE ANGÚSTIA C \U', .\<., ÜBST( rJUCAS:
RESPIRATÓRIA AGUDA (SARA)
Pré-eclârnpsia gravei
choque hemorrágicoi
A síndrome de angústia respiratória do adulto (SARA) embolia por líquido amniótiCOj
é uma forma de insuficiência respiratória, causada por lesão edema pulmonar associado a tocólise;
pulmonar aguda. O resultado fin al é a lesão da mem brana sepse de origem obstétrica.
alvéolo-capilar, lcv.111do a aumento da permeabilidade,
acú mulo de células inAa matórias c edema pu lmonar não
cardiogênico c hipoxemia aguda grave. Pode ser causada TRATAMENTO
por uma série de eventos (trauma, poli transfusão, scpse,
pré-eclàmpsia grave) que tenham como base a sínd rome O tratamento é basicamente suportivo. A identificação
de resposta inAamatória sistémica (S I RS).~ precoce da hipóxia e o pronto restabeleci mento da ox ige-
A mortalidade materna por SARA na gestação e no nação tecidual são fundamentais para o sucesso da terapia
puerpério pode chegar a 2'%, verifica ndo-se também au- e manutenção de ambiente intrauterino seguro para o feto.
mento do risco de óbito fetal c morbidadc pcrinatal pela Na maioria dos casos, a intubação endotraqucal é neces-
prematuridade espontânea e/ou induzida. 9 sária e indicada precocemente para a introdução da ven-
tilação mecânica. Embora adultos não gestantes possam
suportar níveis de pa0 2 abaixo de 70 mmHg, estes não
DIAGNÓSTICO são tolerados pelo feto, ben• como níveis de paC0 2 acima
de 40-45 mmHg, os quais anulam o grad iente míni mo de
O Consenso Europeu-Americano definiu, cm 1994, os passagem transplacen tária (lO mmHg), levando a acidose
critérios para o diagnóstico da síndrome de angústia respi- respiratória fetal e óbito.8·10
ratória do adulto (SARA): A ventilação mecânica é indispensável, sendo baseada,
Infiltrados pulmonares bilaterais agudos na radio- hoje, no uso da pressão positiva nas vias aéreas ao final da
grafia de tóraxi ex piração, denominada PEEP, e na introdução de baixos
relação entre paO, e concentração de oxigênio ins- volumes e pressões em vias aéreas na tentativa de reduzir
pirado (Fi0 2) inferior a 200i potencial dano pulmonar. a SARA, exi te colap o alve-
ausência de evidências que indiquem insuficiência olar devido ao au mento da pressão e perda do surfactante.
ou sobrecarga de volume. 8 O princípio da PEEP é abrir os espaços aéreos através do
au mento da pressão intra-alveolar. Entretanto, o uso da
A injúria pulmonar aguda pode ser definida pelos mes- PEEP pode acarretar instabilidade hemodinâmica, redu-
mos critérios, mas com hipoxem ia aguda menos grave zindo o retorno venoso, barotrau ma e sequelas em curto
(relação entre pa0 2 e concentração de oxigênio inspirado c longo prazos. O uso de baixos volumes (volume corrente
- FiO}- inferior a 300).8·9 .s. 6 mi / kg de peso predito), pressão de platô respiratório .s.
30 cmH 20 e fração inspirada de 0 2 o mais baixo possfvel
foi associado à redução da mortalidade. Entretanto, ex iste
CAUSAS MAIS FREQUE NTES NA a possibi lidade de desenvolvi mento de hipercapnia, o que
GESTAÇÃO E PUERPÉRIO pode ser danoso ao feto se esta não for adequadamente
monitorizadas 10
( ' AU~A~ Àü Ü13S' I ~TR i lAS: O uso de outras estratégias de ventilação mecânica,
como o decúbito cm pronação, não foi avaliado do ponto
Pneumonia bacteriana e virat de vista do risco fetal c, portanto, não é recomendado. 10
piclonefritei A monitorização fetal deve er realizada por meio dos mé-
outras causas de sepse grave não obstétricai todos utilizados na prática obstétrica- cardiotocografia basal
traum a. e perfil biofísico fetal. Recomenda-se a avaliação fetal precoce

786 Noções Práticas de Obstetrícia


e repetida em intervalo mínimo de dua vezc por emana, CONCEITOS E C RIT ÉRIOS DIAGNÓSTICOS
no ca ·o de mudança do quadro clínico (piora de hipoxemia,
hipotensão) e/ou necessidade de intervenções (incremento
de ventila ão medni a, u o de a mina va oativas).'
É detinida como a presença confi rmada ou u peita de
mfccção, as ociada a pelo meno~ dua~ da~ vanávct~ abaixo:
RESOLUÇÃO DA GRAV IDEZ E a) Vc1riávezs ge11trzcas
V IA DE PARTO Febre (temperatu ra centra l > 3R.3 oC) ou hipoter-
mia (temperatura central < 36°C);
ão existe consenso se a resolução imediata da gcst,\· Frequência cardíaca> 90 bpm;
çjo melhora ore ultado de gestante com ' ARA, submett· taquipneia;
da à ventilação mecânica. A ob ervaçõe · são limitadas a altcraçõe no estado ment,tl;
éne de casos, demonstrando redução de 2 llo das neces- edema importante ou ba lanço hídri o> 20 mi/kg
sid,tde de incremento de aportc de oxigênio na primei- cm 2-t hora ;
ras 24 horas pós-parto. Entretanto, não houve impacto na hiperglicemia > ISO mg/d L na ausência de diabetes.
mortalidade materna e tempo de ventilação me ànica.11
O parto vagi nal pode cr meno tolcr.tdo pela paciente l1) \lc~riávcrs inflcmwtónas
cm ventilação mecânica, ma não há indicação absoluta de Leucocitose >12.000/ m m' ou leucopen ia < 4.000/
ce .uiana ne se ca o .12 m m 1 ou > I 01\l forma )0\ ens;
As decisões devem ser interdiscipl inares, levando-se proteína C reativa acinu de 2 vezes o limite supe-
em con ideração a idade ge tacional (a ima de 34 sema- rior da normalidade (LS ).
nas,\ indicação é mais liberal), a reversibilidade do quadro
materno, as condições feta i e o risco fetal pelo quadro ma- c) Outras l'ilrtcivczs rclnczo11ndas à pctj usiio tcrulunl
terno e/ ou pela ncce sidadc de incremento nas c tr,\tégia~ Saturaçjo vcno a de 0 2 > 70'\>;
de tratamento com ri co de dano intrauterino ou nconatal. índice ca rdíaco > lS L/min/ m '.

SEPSE GRAVE ~LP~E CRA\ ' L

A epsc grave dura nte a gravidez é rara, ma potencial- É a epse a sociada ,1 disfunção orgânica, htpopcrfusão
mente fat,tl. E tt ma- e que aproximadamente 8'\l da gc - ou hipotensão, descrita a eguir: 1 ~
t,tntes apresentem bacterem ia, endo que, ent re e ta , 12tlo a) Vcmtivczs de disfimçtio orgrl11rca
podem de~envolvcr sepse grave.11 H ipoxemia arterial (Pa0/ Fi02 < 300);
O diagnósti o e as diretrize terapêuticas que atual- oligúria aguda (débito uri nário < O,S mi/kg/ h);
mcnte são empregados para pacientes não grávidas devem crcatinina > 2,0 mg/d L;
er aplicados na abordagem du rante age tação." altcraçõc da coagulação ( R I > I, S ou Pl ra >
Existe pouca evidência direta pa ra validar .1 extrapo- 60 ), plaquetopcnia (plaquetas < 100.000/ mm);
lação de alguma modalidades de tratamento da ep c de Hiperbilirrubincmia (BT > 2,0 mg/d L).
outra populaçõe de paciente não gestantes. o entanto,
o diagnó tt o precoce e preciso e o tratamento agressivo b) Variáveis ele perfusiio tccrdual
adequado ão c tratégia que podem melhorar ignifica- Hiperlactatemia (> 2 mmol/L).
tiva mcnte o de fecho. Abordagens como as orientaçõe
11nnvmg cpsrs Campazg11 não foram testadas cm gestantes, c) Vnnáveis lremodi11tlmicas
ma a comprovação científica na melhora do resultado em Hipotensão arterial (PA < 90 mmHg, PA 1 < 70
pacientes ,tdulto justifica sua aplicação em Obstctrícia.1'· 14 ou queda na PAS > 40 mm Hg).

Urgências Clínicas não Obstétricas


C HOQUE SÉPTI CO lacta to sérico;
proteína C reativa;
ta fa lência circulatória aguda sem outra causa provável. gasometria arterial e venosa;
Falência circulatória aguda é a hipotensão arterial persis- creatinina;
tente (PAS < 90, PAM < 60 ou queda na PAS > 40 mmHg), coagulograma;
apesar de expansão vol~m ica adequada. 1• Os graus de gra- bilirrubinas;
vidade e as complicações estão resumidos no Quadro 49.2. glicemia;
hcmocultura;
investigação do foco séptico: urina rotina, Raios-X
CAU ' t\ . DE C HOQUE St. PT IC O de tórax, ultrassonografia.

a população obstétrica, as causas mais comuns de


choque séptico, em ordem de frequência, são: T RATAMEN TO
Abortamento infectado;
infecção puerperal; A abordagem da sepsc grave envolve o diagnóstico
pielonefrite; imediato, cuidados precoces em unidade de terapia inten-
pneumonia; siva c prevenção das complicações subsequentes. 141 '
corioamnionite; O tratamento clínico atual é baseado nas intervenções
fasciíte necrotizante; que restabeleçam a perfusão sistémica c o fornecimento de
síndrome do choque tóxico. oxigênio. Esse conceito é fundamental na gestante, pois a
vitalidade fetal só será assegurada se houver adequada pcr-
Qyando consideradas somente as gestantes, a causa fus.io uterina. 13
mais comum é a pielonefrite. 16 O tratamento inicial dever ter os seguintes objetivos:
Melhorar o volume circulante:
estabelecer via aérea segura;
PROPEDÊUTICA I NIC IAL NA manter a perfusão tecidual;
SUSPEI TA D E SEP SE GRAVE identificar o foco séptico;
instituir tratamento antimicrobiano empírico e de
Devem ser solicitados: 13• 15 amplo espectro;
Hemograma completo; abordagem cirúrgica precoce nos casos necessários.

Quadro 49. 2 1Graus de gravidade do choque séptico


Alte racoes S1ste1111Lds Choque lllCiiJICilte Choque Avanc i!do Choque lrrever SI VI~ I

Estado Mental Ansiedade Agitação psicomotora Obnubilação


--
Temperatura Instável Hipotermia Hipotermia grave
Alterações respiratórias Taquipneia Cianose Insuficiência respiratória
Função renal Alterações leves Oligúria Anúria
--
Metabolismo Hiperglicemia Hipoglicemia Hipoglicemia
Alcalose Respiratória Acidose metabólica
Alterações hematológicas leucocitose leucopenia Coagulação intravascular
disseminada
Débito cardiaco Aumentado Diminuído Insuficiência ventricular
esquerda I

788 Noções Práticas de Obstetrícia


ExP.\ ·~ . \O Vm ÊM ICA TRA rAME TO A T I MI<..ROBIANO

O pilar do tratamento agudo do choque éptico compre- A evolução do choque séptico pode er r:ípida e fulmi-
ende a expan ão volêmica e a correÇ<io da ab oluta ou relativa nante. Portanto, o tratamento anti microbiano empírico
hipovolemia. A pressão arterial, a frequência cardíaca, o débi- deve ser iniciado precocemente. A hcmocultura pode aju-
to urinário e o hematócrito são, convencionalmente, usados dJr na selcção da antibioticotcrapia em algu ns casos.
para indiretamente avJiiJr o volume intravascular. Embora A terapia empírica deve cobrir ampla variedade de bac-
e ses critério sejam adequados para a iniciação da ressus- térias aeróbi.ls c anaeróbias (gram-negativo e gram-posi-
citação volêmica, eles não são bons padmetros para guiar a tivo). Um esquema sugerido é ampicilina (I a 2 gramas a
manutenção do tratamento c o uso de drogas inotrópicas. cada quatro a seis horas) associada à gentamicina (1.5 mg/
O cateter de artéria pulmonar (cateter de Swan-Ganz) kg em dose única diária) c clindamicina (600 a 900 mg a
é a melhor técnica para monitorar a terapia, pois a pressão c,1da oito hor.1s) ou mctronidazol (15 mg/ kg inicialmente
venosa centr::d (PV' ) é menos precisa na gestante c não c então 7,5 mg/ kg a cada seis horas).
permite a determinação do débito cardíaco e das vari:íveis
relacionadas com o débito e utilização peri férica de oxigê-
nio. Estudo multicêntrico de gestantes com scpse tratada · TRA rAMI- ro CIRúRG I CO
com monitorizaç.io baseada na cateterização da artéria
pulmonar demonstrou que as alterações hcmodi n.lmicas c No abortamento infectado, o esvaziamento uterino
os fatores de melhor prognóstico nessa população não dife- deve ser cfctuado logo após o início da antibioticotcrapia.
ria m dos parâmetros util izados 11;1 população não obstétri- Nos casos graves, com persistçncia das alterações sistémi-
ca, ou seja, a normalização da resistência vascular sistêm ica cas e/ou suspeita de perfuração uterina, a laparotomia ex-
e melhora da capacidade funcional do ventrículo esquerdo. ploradora está indicada.
Na corioam nionitc, o parto é o pilar da terapêutica
inicial. Prefere-se o parto vagi nal nas gestantes hemod in:i.-
A<,E TL~ l OTRÓI'ICO~ L A~OAl l\'0~ micas est:íveis c nas situações de inviabilidade fetal. A cc a-
riana só deve ser indicada em benefício fetal ou diante da
a hipotensão persistente e se houver necessidade de necessidade de rápida remoção do foco infcccio o.
melhor,lr o débito e o consumo periférico de oxigênio (de- A histerectomia será indicada se forem identificados
nomi nado de 00 1) , o uso de suporte inotrópico c de ami- rn icroab cesso no miométrio ou se houver evidência de
nas vasoativas está ind icado. Uma combinação terapêutica deterioração clínica, apesar do tratamento anti microbia-
utilizada atualmcntc é a associação de dobutamina c um no e clín ico adequados, c na pos ibilidade de miometrite
agente vasoativo, como a norad rcnalina. necrotizantc por Clos/ridiu111 (hcmólisc, hemoglobi núria,
insuficiência renal c gás cm tecidos pélvicos).

ÜXIG I- NAÇAO E TRA1AMENTO I)A


lMUIICII:.NUA RE. PI RATÓRIA RESSUS CITAÇÃO DA PACIENTE SÉ PTICA

Pacientes sépticas apresentam aumento da demanda Deve ser realizada o mais rápido possível e fin alizada
metabólica por oxigénio e reduzid.1 capacidade de utiliza- nas PRIMEIRA SEIS HORAS: n 16
ção periférica, resultando em hipóxia tissular. Metabolis- Solicitar lacta to ·érico e hemoculturas (duas amos-
mo anaeróbico c progressivo déficit de oxigénio levam a tras) antes da ad ministração de antibióticos;
acidose lática, disfunção orgânica e morte. O uso do cate- iniciar antibióticos de amplo espectro dent ro das
ter na artéria pulmonar permite a avali.1ção c cálculo dos primeiras horas do diagnóstico;
parâmetros relevantes para o débito e consumo periférico caso haja hipotensão ou lactato > 4 mmoi/ L, iniciar
de oxigénio. A oferta de oxigénio deve ser au mentada até infusão de líquidos com bolus de 20 mi/kg de cris-
que o níveis de ácido lático retornem ao normal. taloidcs ou equivalente de coloides; as reinfusões

Urgências Clínicas não Obstétricas 789


de líquido nccc ária er:io de 500-1.000 mi a INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA
cada 0-60 minutos;
indicar u o de medicações vasoativas (dopam ina ou Nos países desenvolvidos, a incidência de insuficiência
norad renalina) para a pacientes que persistem com renal aguda (IRA) vem decaindo nos últimos ano , princi-
hipotensão apc ar da infusão volêmica, a critério palmente pela melhora da assistênciJ pré-natal e redução
clínico. A infu :iode dobutamina será necessária na das infecções pó -abort,Hnento (uma cm 2.000 gc -rações
su peita de comprometimento cardíaco importante; há 30 ano e, Jtualmente, uma em I 0.000). As causa ma i
manter a prcss:io venosa central (PVC) ,\Cima de 8 prevalcntcs incluem pré-cclàmp ia e sua complic.1ções,
mm Hg com infusões adicionais de volume. O aces- hemorragias anteparto e pós-parto, scp c, pielonefrite c
so venoso central c o intra-,utcrial serão necessários outras complicações mais raras, como c tcato c aguda da
quando a paciente persistir hipotcnsa, a partir da gravidez e síndrome hemolítico-u rêmica. 1-
infusões iniciais de volume e qu:111do da necessida- Pacientes com pré-eclâmp ia apresentam va ocon trição
de de uso de substância va oativas; sistêmica, hemoconcentração c redução do volume intravas-
manter a s.lturaç:io venosa central ( ' vcO) > 70% cular, sendo altamente vulneráveis à perda sanguínea, evo-
ou v0 2 > 65%. Es e parâmetro é alca nçado com as luindo para insuficiência renal, principalmente na vigência de
infusões volêmicas repetida , uso de aminas vasoa- descolamento prematuro da placenta c síndrome H ELLP.18
tivas (avaliar o uso de dobutamina), 11.1 au ência de
hipoperfusão e doença coronariana; tolerar hcmo-
globi na (H b) de até 7 g/d L; DIAGNÓST ICO
havendo critérios de di fu nção pulmonar e/ou
ARA., está indicada a intubaç:io 01·otraqueal e ven- Os critérios para definição do quadro de IRA na ges-
tilação mecânica. tante são: 17
Oligúria: diurese < 25 mi/h cm du.1s medidas sepa-
radas ou < 400 mi em seis horas;
R E SOLUÇÃO DA GRAV IDEZ E VIA DE PARTO anú ria: diurese <SOO mi em 24 hora ;
elevação progres iva de ureia c crcati nina;
Não há indicação de resolução da gestação, exceto quan- redução progressiva do cleamllcc de creatinina.
do houver evidência de que a causa da scpse ·eja intrautcrina
(corioamnionite), e/ ou haja ri co de óbito fetal ou materno A avaliação da IRA na gestante implica diagnóstico di-
pela gravidade do quadro clínico ou indicação de tratamen- ferencial amplo com as situaçõe clínic.1 apre cntadas no
to suportivo com alto ri ·co de perda gestacional. 11 Quadro 49.3.

Qyad ro 49. 3j Diagnó tico diferencial da IRA na ge ta ão e puerpério


Esteatose Aguda S111drome P1elonef11te Necrose Pr e·eclâmps1a/
da Grav1del Hemolrtrco Urêrnrca Tubular Aguda Sr11drome HELLP
Período da Gestação Terceiro trimestre Pós-parto Todos Todos Todos. exceto
primeiro trimestre
-- 1----
Alterações associadas Icterícia Oligúria Febre Hemorragias Dor epigástrica
Coagulopatia Trombocitopenia Dor lombar DPP Hipertensão
Hipoglicemia Anemia hemolítica Sepse Choque
Alterações hepáticas SI RS
Sepse
--
Exame de urina Proteinúria Proteinúria Bacteriúria Hematúria Proteinúria
Cilindros Cilindros
Nitrito positivo granulosos I

Interrupção da gravidez Tendência à melhora Independente Independente Independente Tendência à melhora

790 Noções Prát icas de Obst etricia


TRATAMENTO PARADA CARDIORRESPIRATÓR I A

O tratamento, cm li nhas gerais, não difere d,1 paciente O conceito de parada cardiorrc piratória (PCR) é .1
não grávida. Os objetivos principais são:1- cessação súbita de ati vidade mcdn1ca cardíaca, resultando
Evit,tr a obrccarga de volume c a complicaçõe cm .1u ência de pul o cent ral, em mdivíduo não portador
c,trdiovasculares associada ; de doença term inal. É considerado evento raro no ciclo
prcvcn ir e tratar as compiicaçõcs metabólicas, corno gravídico-pucrperal, ma de con equênci.ls graves para o
hipcrpotasscmia c acido e; binómio materno-fetai.1Y
tratar a hipertensão; Nas pacientes cm monitorização clctrocardiográfi ca,
evitar dano renal adicional por medicamento (an- a PCR pode manife ta r-se por fibrilação vcntri ular (FV),
ti-inflamatórios, ami noglico rdeo ); taquicardia ventri ular (T ), assi toli:t e atividadc clétrica
fazer nutrição balanceada: adequada ingc tão caló- sem pu lso (AESP) - definição para os traçados cletrocar-
rico-proteica e redução de sódio e pot:\s io; diográfico cm atividade mecânica (idiovcntricular, di -
avaliar o bcm-c ta r fetal; sociação, bradiassistol ia). 1011
interromper a gravidez, quando indicado; a a sistência à gesta nte com P R, além dos princí-
realizar o tratamento dialítico, quando indicado. pios básicos do uporte bá i o c avan ado de vida, quatro
ponto fundamentai devem ~c r obedecidos, ba~cados na
O Quadro 49.4 apre enta, de forma sintética, o trata- alterações fi iológicas da gc taçjo:
mento da IRA . deslocamento uterino para a c qucrda;
E tá indicada diáli c peritoneal nas seguintes ituaçõcs:1- abordagem precoce c enérgica da~ v1a aérc.1s;
Sobrccarga de volume refrat.íria; parto dentro de cinco mi nutos de PCR c, se houver
acidosc metabólica refratária; viabilidade fetal, realizar cesariana perimortem de ime-
hipcrpotas emia rcfratária; diato, con idcrando que e e pro cdimcnto é p.ute
ureia acima de SO mg/dL; das manobras de ressuscitação;
crcatinina aci ma de 6 mg/ d L; reposição de volume ir ulantc c controle ambiental
urcmia intomática - incluindo alteração mental, pcn ando cm cau a e pecificamente relac1onadas à
neuropatia, pericardite. gravidez e/ ou ao trabalho de parto c parto.11

Quadro 49.4 1Tratamento da IRA


lngestio Liquida: perdas insensfveis + volllll8 urinêrio de C AUSAS DE PA RADA CARDIORR E PI RATÓRI A
24 horas N A GRAV IDEZ
Diuréticos de alça (furosemidal: 5 mg/ Kg em bolus;
40 a 80 mg/ h. continuamente As cau as ma i comun de PCR na gr,widcz são:
---
Controle metabólico e hiperpotassemia: _ _ _ _ _ ____J
Tromboembolismo venoso;
hipertensão induzida pela gr,widez;
Eletrocardiograma epsegrave;
--------------------------~
lonograma diário embolia am niótica;
Gasometria arterial hemorragia e coagulação intrava~ ui ar di em inada;
trauma;
Correçlo da Hiperpotassemia: erro de medicação ou alergia;
----
Potássio menor que 6mEq/ L: diuréticos e resinas de complicaçõc anesté ica ;
troca iõnica hipermagncscm ia;
Potássio maior que 6mEq/L: soluções polarizantes doença cardíaca aguda ou complicação de doen a
l50g de glicose+ 10 UI de insulina regular) ou diálise preexistente.

Urgênc1as Clínicas não Obstétncas


791
CONDU T A reduzida 30 a 40%. Portanto, os proced imentos de ressus-
citação devem ser realizados com o deslocamento do útero
ALGORITMOS DE RESSUSCITAÇÃO para a esquerda.2 1
(ARDIOPUL,\IONAR (RCP) Caso a paciente esteja intubada, não é necessário co-
ordenar a massagem com a ventilação, que deve ser de, no
Os algoritmos de ressuscitação não devem se modifica- m áximo, 20 por minuto. N a paciente não intubada, coor-
dos na gestação. Entretanto, algumas manobras essenciais denar massagem/ ventilação na o rdem de 30/ 2. 21
devem ser implementadas no sentido de se otimizar a RCP As possíveis complicações da massagem card íaca são
e o resultado materno e perinata l: fraturas de costelas e esterno, hemotórax, rotura de víscera
Desfibrilação precoce (au mento da mortalidade e laceração hepática e esplênica.
em lO% a cada mi nuto); A massagem cardíaca interna está cont raindicada na
deslocamento uterino para a esquerda (aumento do gestante. 21
débito cardíaco);
intubação preco._ce;
\
cesariana (red ução da mortalidade materna e redu- ACESSO RÁP I.DO ÀS V IASAfREAS E
ção da morbidade neonatal). I NTUBAÇÃO PRU.:.OCI:.

A necessidade de intubação rápida é uma d ifere nça


fundamental entre as mu lheres grávidas e não grávidas e m
parada ca rdíaca. Gestantes no terceiro trimestre apresen-
A desfibrilação precoce é a medida mais impo rtante tam acentuada redução da capacidade residual funcional
para obter sucesso na ressuscitação e deve ser realizad a pulmo nar (baixa reserva) e redução d a complacência to -
de acordo com o protocolo Adva1·zced Cardiac Life Support rácica (dificuldade de ventilação), apresenta ndo, portanto,
(ACLS). Oli:tndo a PCR ocorrer em paciente que não se piores resultados diante de hipóx ia aguda. Exibem, ainda,
encont ra em decúbito dorsal ho rizontal, deve-se desfibri- alto ri sco de aspiração de conteúdo gástrico e edema de
la r antes de mudar o decúbito. Na gestante, a desfibrilação vias aéreas superio res, podendo d ificultar o processo de
deve ser realizada em decúbito lateral esquerdo, não haven- intubação, se este for realizado ta rd iamente. Portanto, é
do indicação de modificar as posições das pás do desfibri- imperativo intu bar a paciente o ma is rapida me nte possí-
lado r, pois não há diferença de impedância transtorácica vel para max im izar a oxigenação e mini m izar o risco de
pelas modificações da gravidez. 19•21 aspiração.19 •21

,\IAs \AGEM CARDíAcA 1::. o~.sLocA~I E To UTERINo CESARIANA PERIMORTEM

A maneira mais comum de promover circu lação artifi- Dados de estudos observaciona is com bo ns resultados
cial durante a PCR é por meio da massagem cardíaca exter- após rea nimação e cesariana mostram que a ext ração fetal
na, apoiando as mãos sobrepostas sobre a região esternal, d urante os primei ros cinco minutos de PCR pode mel ho-
três dedos acim a do apêndice xifo ide, com os membros rar o progn óstico feta l e materno, provavelmente por faci li-
superiores retificados. No terceiro trimestre da gestação tar as manobras de ressuscitação. 21•22
esta é a técnica mais adequada devido às modificações Na falta de perfusão cerebral adequada, a anóxia pode
torácicas, com o desloca mento do eixo cardíaco no senti- levar à lesão irreversível do sistema nervoso central. Pre-
do superior. Utilizando a a rticulação do qu adril, joga-se o coniza-se, por isso, a realização de cesaria na no intervalo
peso do tronco sobre o tóra x da paciente, em movimentos de até c inco minutos após a PC R, sobretudo na gestante
ritmados, na frequência de 80 a 100 por m inuto. Na ges- q ue permanece sem pulso após as medidas de rea nimação.
tante, após a segunda metade da gravidez, a realização de Estudos observacionais enfati zara m também a melhora do
massagem ca rdíaca em decúbito dorsal tem sua eficácia prognóstico materno, fazendo com que a cesa riana fosse

792 Noções Prát icas de Obst etrícia


7. Lamont RF.1l1e patophysiology of pulmonary oedema with
adotada, a partir de 2005, como parte dos procedimentos the use of beta-agonists. BJOG. 2000;107:439-42.
do suporte avançado de vida, sendo indicada para benefí- 8. Cole OE, Taylor T F, McCollough O, Shoff DO, Derdak S.
cio materno e fetal em idade gestacional igual ou acima de Acute respiratory distrcss synd rome in pregnancy. Crit Care
24 semanas. 21 Med. 200S;33(10):269-78.

O prognóstico fetal depende do intervalo entre a PCR 9. Afessa B, Oeen B, Delke I, Koch K. Systemic lnAamma-

e o momento da extração, observando-se morte fetal na tory Response Syndrome, Organ tailure, and Outcome in
Critically III O bstetric Patients Treated in a n !CU. C hest.
maioria dos casos em que a PC R ocorreu há mais de 15 mi-
200 1;120 :127 1-7.
nutos. Ainda que haja sobrevida neonataC após esse inter-
10. Campbell LA, Clocke R. Update in Nonpulmonary Criticai
valo a taxa de sequelas pode atingir cerca de 70%. 19•20 Esses Care lmplicatio ns for the Pregnant Patient Am j Respir Crit
dados podem ser mais bem-visualizados no Q!ladro 49.5. Care Med. 200 1;63: IOS I-4.
I I. Tollinson M, Caruthers T, WhittyJ E, Gonik B. Does delivery
Qyadro 49.5 I Prognóstico fetal relacionado ao período improve maternal conditionin the respiratory-compromised
entre a PCR e a cesariana22 g ravida? Obstct Gynecol. 1998 ;91: 108- 11.
12. Jcnkins TM, Troiano N H, Graves CR. Mechanical ventila-
Tempo após a Sobreviventes lntegndade do
tion in an obstetric population:Characteristics and dcl ivery
PCR (m1n) (n) SNC (%)
rates. Am J Obstet Gynecol. 2003; 188:549-SS.

r Oa5 45 98 13. Fernandes-Pérez E, Salam S, Pendem S, FarmerJC. Sepsis du-

I 6 a 15 18 83 ~
' ring pregnancy. C rit Carc Med. 200S;33(S):S86-93.
14. Hotch kiss RS, Karl I E. Thc pathophysiologyand treatment of
I 16 a 25 9 33 ! sepsis. N EnglJ Mcd. 2003;348: 138-SO.

I 26 a 35 4 25 I IS. Oellinger R P, Levy MM, CarletJM, Bion j , Parker MM,Ja-


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I ~36 1 o I guidelincs for management ofseverc scpsis and septic shock:
2008. Crit Carc Mcd. 2008 Jan:36(1):296-327. Erratum in:
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21. Proceedings of the 2005 Intcrnational Consensus on Car-
dity. lntj Gynaecol O bstet. 2009; IOS(3):2S2-6
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Crit Care Med. 2005;33;1616-22.

Urgências Clínicas não Obstétricas 793


Principais Urgências Cirúrgicas não
Obstétricas no Ciclo Grávido-Puerperal
Sávio Costa G onçalves
Wilson LuizAbrantes

Aspecto s Fisiológico s Abd ome Agu do na Gravid ez


Materno-Fetais que Influenciam Abdome Agudo Inflamatório
Abdome Agudo Obstrutivo
na Abordagem Cirúrgico - anestési ca
Abdome Agudo Perfurativo
Sistema Cardiovascular
Abdome Agudo Hemorrágico
Sistema Hematológico
Traumas Abdominais Durante a Gravidez
Sistema Respiratório
Sistema Gastrointestinal
Sistema Urinário
Outras Considerações

s operações não obstétricas são necessárias ASPECTOS FISIOLÓGICOS MATERNO-

A em duas a cada 1.000 gestações. Embora seja


pouco frequente, trata-se de uma situação
especialmente crítica, pois existem dois pacientes em
-FETAIS QUE I NFLUENCIAM NA
ABORDAGEM CIRÚRGICO-ANESTÉSIC A

risco, a gestante e o feto, o que exige tratamento ade-


quado ao bom resultado para ambos. S I STEMA CARDIOVASCULAR
A gravidade da doença cirúrgica, e não a operação,
é o fator determinante na incidência das complicações Na gravidez observa-se progressivo aumento do
como: abortamento, prematuridade, mortalidade peri- débito cardíaco materno, que se eleva em 30 a 50%.
natal e morbimortalidade maternas. Assim, resultados Porém, na gravidez avançada, a gestante em decúbito
desfavoráveis muitas vezes devem-se ao atraso da ci rur- dorsal sofre compressão da veia cava inferior pelo útero
gia, o que propicia a evolução e o agravamento da do- gravídico, o que dificulta o retorno venoso com conse-
ença inicial. guente redução do débito cardíaco em 25 a 30%. Assim
As cirurgias não obstétricas podem ser realizadas com sendo, durante todo o período perioperatório, a gestan-
segurança durante a gravidez, desde que a assistência mé- te deverá ser posicionada em decúbito lateral esquerdo
dica seja adequada às modificações anatomofisiológicas de 15 graus. Essa posição, por facilitar o retorno veno-
gravídicas, conforme descrito a seguir. 1 so, também diminuirá a estase em veias pélvicas e de
m embros inferiores, redu zindo o risco de fenô menos rúrgica do Lltero, existe a possibilidade d e pa agem de
tro mboem ból icos. hem ácias Rh positi vo fetais para a ci rculação de mãe
Gestantes norm ais eventual mente apre enta m aumen- Rh negativo, levando ã sensibilização materna. N essas
to de frequência cardíaca de lOa IS batimentos por m inu- situações, deve-se real iza r a adm inistração de imuno -
to, dispneia, terceira bul ha, ·opros si tól icos, edema e im- globulina anti-Rh à ge tante Rh negativo previamente
pressão clínico-radiológica de cardiomegalia, que podem não sen sibilizada.
ser incorrcta mcn te i nterprctados como descompensação
c11 rdí:1c 1, podendo atrasar a rea lização da cirurgia.
Durante a gravidez, cm decúbito dorsal ocorre pro- SISTEMA RESPIRATÓRIO
gressiva redução na pressão venosa central, veri ficada
pri ncipalmente no últ imo trimestre, quando ati nge, em A partir d o segu ndo trimestre da gravidez, ocorre
méd ia, 6,2 cmH 20 a menos que valore pré-gravídicos, redução de I.S a 20°o da capacid.1de residual funcion al
que deve ser considerada e m reposições volêm icas nas si- mate rna (volume d e ar que pcrnuncce nos pulmões
t uações de cmergê ncia. 2
após a expiração no rmal). Por ~ua vez, o consumo de
oxigénio au menta de 3,0 m l/min / kg para 4,3 m l/min /
kg no terceiro t rimestre. A associação desses fenô me nos
SISTEMA HEMATOLÓG I CO reduz a reserva de oxigênio d a grávida, o que é com pcn-
ado por aumento da venti lação .1lveolar de 40 a .SO%,
O au mento da volem ia m aterna atingindo acréscimo podendo mesmo atingir 160% no final da gr.widcz (de
de 45% ao termo deverá se r considerado na abord.1gcm 3,4 L/ min pa ra 6,7 L/min). Portanto, há risco de hipóxia
de u m sangramcnto. A gestante poderá perder 30 a 35% m aterno-fetal mesmo e m curtos períodos de hipovcnt i-
de sua volemia cm apresentar h ipotensão, graças j vaw- lação. Além d isso, a aplicação de pad rões vcn til:-~tórios d e
con trição adaptativa, que poderá reduzir o Ouxo sanguí- pacientes não grávidas às gestantes poderá resultar e m
neo útcro-placcntírio, podendo prejud ica r o feto. A h ipo- acidose m aterno-fetal.
volem ia na gravide;, portanto, deve ser corrigida precoce
c cfica7mente, o que poderá exigir a infusão de grandes
volumes de soluções. O uso de fármacos vasoconstritorc~ SISTEMA GASTROINTESTINAL
nessas situações é condenado, pois reduzirá ainda mai~ .1
circulação útero-placentária. Durante o primeiro tri mc t rc, os sintomas constitu-
Valores de hemoglobina de lO,S g/d L e hem atócrito cionai gravídico (náusea!., vóm itos c h iporcxia) podem
de 32% são norm ais na gravidez. O nú mero de leucócitos masca rar as primeiras manifes tações de docnç.1s cirúrgi-
pode, cm cond içõc gravíd ica fi iológicas, encontrar-se na cas, como a apendicite aguda.
faixa de 12.000/ mm3, atingindo até 25.000/ mm3 dur.1ntc A fisiológica redução da motilidade gá trica na gra-
o parto. videz, com consequen te aumento do tempo de cl.vazia-
H á aumento na concentração séric 1 de fato res de co- mento, associada à redução d a competência do csfínc tcr
agu lação, com o o V 11, V III, X, c fibrinogê n io c redução csofágico infe rior c à redução do pH g.lstrico, aumenta o
da capacidade fibrinolítica plasm ática, o que ocasiona risco de regurgitação e aspiração quando grávidas ~ão e-
estado po tencialme nte tro mbogênico na gravid ez. Essa dadas ou a nestesiadas. A im, sempre que possível, deve-se
situação, associada ã cstase venosa pélvica e de mem- observar um período adequado de jejum. C aso contrário,
bros inferiores, aume nta a possibilidad e de trombocm - e m u rgências, a ad ministração prévia de um antiácido C-
bo lismo cm até cinco a seis vcze no terceiro trime tre. guida por uma sequência de ind ução rápida com proteção
Assim, nessa f.1se da gestação, alé m d e evitar a posição das vias respiratórias pela manobra de Scllick (compressão
de decúbito dorsal, as gestantes d everão ai nda receber da cartilagem cricoidc para ocluir a luz e of.ígica) permite
profilax ia de tromboembolismo. li mita res c risco.
Por ocasião de t raum atismos - principalmente os Com o crescimento uteri no, :-~s vísceras abdomi nais
diretos sobre o útero gravídico - ou de ma nipulação ci- são deslocadas de suas posições habitu ais, o que poderá

796 Noções Práticas de Obstetríc ia


mod ificar substancialmente as manifestações clínicas de ABDOME AGUDO NA GRAV IDEZ
certas doenças (vide apend icite aguda).
A distensão da parede abdominal na gravidez ou sua As doenças abdominais agudas, ao lado dos traumatis-
flacidez excessiva no puerpério imediato dificultam a per- mos em geral, são as principais indicações de cirurgia não
cepção de sinais de irritação peritoneal (con tratura e defesa obstétrica na gravidezi
musculares, dor à descompressão).

ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO


S I STEMA URINÁRIO
A I'ENDICITI:: AGUDA
A partir da sexta semana de gravidez, inicia-se pro-
gressiva dilatação do sistema pielocalicial materno, É a principal entidade a requerer cirurgia durante a
principalmente à direita, q ue evolui até o termo, retor- gravidez, apresentando incidência que varia de um caso
nando à condição pré-g ravídica até o final do segu ndo para !.SOO a 4.000 gestações. Sua frequência não é alterada
mês no puerpério. Também, o refluxo vesicoureteral pela paridade ou pela idade gestacional.Aetiopatogenia da
é mais frequente nas grávidas, atingindo 3%. Essas al- apendicite não se modifica durante a gravidez. 2 · 4
terações predispõem a gestante a ser acometida por
infecção urinária. Assim, visando reduzir o risco adi- iviANlrLSTAÇÓl:.S C.."uNlCAS
cional de infecção, sempre que possível, deve-se evitar As manifestações iniciais da apendicite aguda, como
o cateterismo vesical na gestação. hiporexia, dor abdom inal central tipo visceral, náuseas e
O aumento do fluxo renal plasmático e da taxa de fil- vômitos, podem ser confundidas com sintomas neurove-
tração glomerular de até 50% poderá leva r à excreção mais getativos da grav idez inicial, atrasando sua valorização no
rápida de medicamentos, podendo exigir alteração na do- diagnóstico. Esses sintomas são mais facilmente valoriza-
sagem dos mesmos. dos após o primeiro tri mestre da gravidez.2·4
Q uando o processo infla matório apendicular ultrapas-
sa os limites do órgão, acometendo as serosas próximas,
ÜUTRAS CONSIDERAÇÕES manifesta-se o quadro de irritação peritoneal visceral e
parietal localizado, que se situa inicialmente no local ana-
IRRADI AÇÕES tômico do apêndice. Na paciente não grávida, caracteristi-
camente, a irritação peritoneal se locali za na fossa ilíaca di-
Exames radiológicos devem ser evitados durante a gra- reita, região onde o apêndice se situa com mais frequência.
videz, principalmente no primeiro trimestre. Porém, quan- Po rém, durante a gravidez esse quadro se modifica
do esse exame puder revelar uma informação crítica para o devido ao habitual deslocamento do apêndice pelo útero
diagnóstico e tratamento da doença aguda na gestação, ele em crescimen to, sendo que, freq uentemente, esse deslo-
poderá ser utilizado. Recomenda-se que a dose de irradia- camento é no sentido superior e posterior do abdome.
ção seja limitada a S-10 rads até a 2Sa semana de gestação. Assim, ao se instalar o p rocesso inflamatório, ocorrerá
Sempre que possível, deve-se dar prioridade ao empre- irritação peritoneal no local da atual posição do órgão,
go do ultrassom e da ressonância magnética, que são con- que ao termo poderá se local izar próximo do rim d ireito,
siderados de primeira escol ha. simulando, inclusive, um a pielonefrite aguda. Dificulta
ainda mais o diagnóstico da apendicite aguda na gra-
videz o fenômeno de q ue nem sempre o apêndice sofre
MANTPULAÇÃO C tRÚRG TCA essa modificação. Assim, ocasionalmente, d evido até às
aderências prévias, o apêndice não se deslocará de sua
A excessiva manipulação uterina durante uma cirurgia posição pré-gravídica, manifestando-se a irritação peri-
aumenta o risco de abortamento ou de parto pré-termo, toneal onde o órgão estiver fixo, como, por exemplo, a
devendo ser evitada. fossa ilíaca d ireita ou a pelve. 2· 4

Principais Urgências Cirúrgicas não Obstêtricas no Ciclo Grávido - Puerperal


797
Poderá ai nda ocorrer que o apêndice C)a afa tado do /)/1(, \ 0\ llU> /)JFl R I \(J \1

peritônio parietal anterior, posicionando-se posteriormen- a gravide:t inicial: gravidez cctópica, corpo lútco he-
te ao útero gravídico. essa ituação, os sinais de 1rritação morrágico, alpingite aguda c hipcrcmc!>e gravídica. a
desse pcritómo ó c ma nifc tarão qua ndo e in talar peri- gravidez ava nçada: pielonefrite, colcci tite e pancreatite
tonite difu ·a, podendo se apre cntar extremamente atípi- agudas. Pós-parto: tromboflcbitc pélvica, vólvulo cecal c
cos ;\ doença, como na fos ,1 ilíaca esquerda ou cpig,lstrio síndrome de O'Gilvic (p cudo-obstrução inte tina!).
(o local mccrto onde o processo infla matóno cm expamão
,\tingir o pcritônio parietal anterior). 2 4 I R I l t\.\ 11 ,'(('()
A ldcr~ descreveu uma manobra para distinguir a dor de Sempre que houver u peita diagnó ti a importante, a
origem uterina da dor cxtrJutcrina na gravidez mais avan- cirurgia deverá ·er indicada sem demora. Ad mite-se erro
çath . O examinador localiza o ponto de máxi ma dor c, en- diagnóstico em 30 a S09o dos caso~ operados. Durante .1
qua nto o mantém pre ionado, olicita àge tante que c vire gravidez, é mcno maléfica a laparotomia ou !aparo copia
cm decúbito lateral. A dor diminui ou de aparece quando bra nca do que as con cqucncias do atraso de uma cirurgia
a ongem é uterina, pois esse órgão e afàsta dos dedo~. • e o na apendicite aguda. 2 4
procc o for cxtrautcrino, peritoneal, a dor não c modi fica.~ A !aparo copia é con idcrada cgura 11.1 gc tação, de -
as fase · iniciai da apendicite aguda, a temperatura de que alguns cuidado sejam tom.1dos, como: gestante
tende a !>Cr normal. Po teriormcntc, haverá febre que geral- cm decúbito lateral c qucrdo de 15 grau , pa agem do
mente n.1o ult rapa a o ~ grau , cxccto cm fà c avança- primeiro trocartc ob visão di reta 11.1 ge taçõc em que o
das da doença. tamanho do útero o coloque cm ris o de lesão pela agulha
Cunn ingham constatou que o toque reta! possibi lita de Vercss, prc ão intraperitoncal entre IOe I5 m H, no
cncont r.1r dor restrita à direita em 0% das gc tantes com máximo e monitorização fetal intraopcratória. 1
apendici te.' Q\Janto ,i via de acesso lap.1rotôm ica, nos caso típico
O volume ocupado pelo útero gravfdico no abdome re- c iniciai , rccomcndd-sc inci ão tra n vcr~a no ponto de
du, a cfic.lcia do omento maior em bloquear a região apcndi- nlJis sensibilidade. Em c:~-;o de dúv id.1 quan to ao d iagnós-
cular, fi ando a ge~tante mai u ceptível à pcrito111tc d1fusa. tico ou cm gestantes com mdíc1o de 1nfccção d1fusa, mdi-
o pucrpério 1med1ato, a apendicite poderá cur ar ca- e inci ão longitudinal. Em caSO\ de penton1te difusa c
com pouca ma nifc taçõcs cl ínicas, geralmente ocorrendo feto viável, deve-se considerar a possibilidade de se praticar
d1stcmao abdommal e dor difusa devido à peritonite, om cc arian.1, po1 o feto c tá cm elevado risco dcv1do ao mal-
ténue smais de irntação peritoneal e agrava mento clínico -c~tado clínico da gestante. 2 '
geral da puérpera.
PROIJ\;()\T/L(J
I\ \.\11 't .(} \ fi'J f \11 \ 1'\RF\. A mortalidade fetal no casos n.io compli ados é de
Leucograma: embora o número de leucócitos até I,S%, atingindo 35,7% na peritonite difu a. A mortalidade
12.000/ mm3 seja considerado normal na gravidez, m.ttcrna é míni ma nos dois primeiro trimc trcs, atingin-
aproxi mad,tmente 20,6%da gesta ntes com apendi- do 7,39o no terceiro.
Cite aguda apresentam até 10.000 leucó itos apenas.
A realização de leu ograma criado poderá eviden-
ciar leucocitose c desvio à esquerda progre si vos;
exame de urmn rol ma: é geralmente normal, embora
o pro cs o inflamatório apcndicular próximo do ·ua incidcncia está cm torno de um ca~o a cad.1 1.000
trato uri nário po sa alterá-lo; a 3.000 gravidezes, embora seja m relatadas c.tsuísticas de
ultmsso111: tem valor no diagnósti o diferencial com até 1/ 11.467 nativ1vos. A metade da mulherc que apre-
colec1 ti te aguda e poderá cviden iar o proccs o in- ·cntam pancrcatite aguda ante de 30 ano de idade está
flamatório apcndicular; grávida. Cerca de 50% dos c.1sos ocorrem no terceiro tri-
laparoscopw: útil em ca os clecionado , pri ncipal- mest rc c 36,9% no pós-parto. 2 4 '
mente cm gravidezes iniciais.

798 Noções Práticas de Obstetrícia


/,H\\1/\/(

Na gravidez, os fatores etiológico mais comuns :..io: Ião modifica na gravidez. sendo, a princípio, clím o.
colclití3sc (67 a IOOilo), pré-cclâmpsi3, uso de fármaco Inclui:
(tinídico e tetraciclina) e álcool e cirurgb abdomi nal. Internação cm CT I;
c~t abilização hemodinàmica com admini. tração
\' \ ~ \( l \ de Au1do ;
Algunus paciente~ poderão relatar sintoma ou mesmo correção de distú rb1o hidroclctrolítico c da h1pcr-
diagn tico de doen a biliar prcgres a. A pancreatite aguda gli cmia;
na gravidez manifesta-se bru camcntc com dor epigástrica jejum e ondagem na ogástnca;
violenta, progre iva, acompanhada de n:\u ca c vómitos analgc ia;
persistentes. A dor se irradiará posteriormente em 50% dos 3ntikidos;
ca ·o . Ao exame, comumente e encontra febre baixa, dis- suporte nutricional, com indi ação mais precoce
tensão abdominal e redução do peristalti mo. as formas de nutrição parenteral a grávidas cm que se preveja
leve , manife tam- e apenas náu eas, vómitos e de onforto período prolongado de JCju m;
epig.btnco.Já no ca os grave , a gc tantc apre cnta c ta r gra- antibJoticoterapia cm casos sclecionados;
vemente cnfcrma,cm cst.1do de choque e com sina i de irrit.l- diagnóstico c tr.ltamcnto cirú rgico oportunos de
ção peritoneal difusos. Também poderá ocorrer icterícia. 1· 1 \ complicaçõe , como absces o pancre:\tico, obstru-
ção biliar, perfuração do trato gastrointe tina!. O
LxA \I' r \I \ tratamento cirúrgico ta mbém c tará indicado cm
Leucogmma: leu ocito e de 20.000 a '0.000; casos de má-evolução clínica.
Wllilase: nornulmcntc se eleva progre ivamente
.lté a 2"• emana de gravidez, tendendo a declin3r f>~'(l(, \0.\ 1/l ()

após, m3s 3ind.1 pcrm3necendo acima de valorc · A mortalid3de fetal atinge li a 20\lo c a materna 2I'\'.
pré-gravídico . Apó a pancrcatite, retorna a valore ·
normais em torno de cinco di3s. A .tmilasc é pouco
específica, endo que valorc elevado podem ocor-
rer cm ca o de úl era perfurada, i quem ia me en- ABDOM E AGUDO OBSTRUTIVO
té rica e colecistitc aguda;
lrpase: é mais específica que 3 amib c c per iste ele- Ons 1RU<,' AO I!\ rrSJIN \L
V3d3 por mais tempo. Valores norm3is até 60 U/ L.
t considerada mai e pecífica no di3gn ti o de ua mc1dência vem aumentando, atingindo até um a
pancrcatitc 3guda na gravidez que 3 amibse; trê c.1 os a cada 10.000 gravide7cs, podendo oca ionar
rdaçdo cmu/asr/ clea rance de crealllltllcl : é te te importante mortalidade materno-fet.1l.
n1.1i específico no diagnóstico (94%) que a do-
sagem isolada de amilasc (58%). O valor normal f'lttl/ )(, '
é de I a 4\lo, estando geralmente acima de a 69o .cr.tlmente relaciona-se a aderênci.1s (609o), devido
na pancrcatitc;6 a cirurgi.l ou infecções prévia . O crc ci mento uterino,
hipocalcemi;~ c hiperglicemia nos C3 o graves; levando a de locamento e d istorções de Jlças prcvi.1-
ultmssom: permite evidenci.tr cdem3 pancreático c mentc Jderida , poder:.\ ocasionar obstrução intc tina!,
colelitía c. que gcrJ imente ocorre na primeira gravide? apó o
evento c.tu ador das .1dcrências. Veritic.1-se alta incidcn-
l>t \(.,\'(l\//("0 Dili Ri \ol/ \/
cia de obstrução quando o útero se torna abdom ina I
Inclui a dor cpigástric.1 da pré-eclâmpsi.t, obstruç.io (quarto ou quinto mê ), no terceiro trimestre (SO%) c
inte tina!, úlcera perfurada, colecistite agud3, hep3litc, in- no puerpério imed iato.2
farto agudo do miocá rdio c aneuri ma di ecante da aorta Por outro lado, qua c 2 llo da~ ob truçõc intc tmai!. na
abdomin.1l. gravidez se devem a vólvulo, pela ordem de frequência, do

Principais Urgências Cirúrgicas não Obst étricas no Ciclo Grávido- Puerperal


799
sigmoide, ceco e tran verso. Mais raramente encontramos ABDOME AGUDO PERFURATIVO
a intus u cepção (69o), hérnia (S9o) e tumores.
ÚLC I R \ P l· I'T ICA P I-RI· R,\ D.\
\I \'vii/.\1\~(J/ \ ( ''·"l \\
A cicatriz abdominal cirúrgica em ge tante com dor Raramente ocorre na gravidez, pois a doença péptica
Jbdominal deve alertar o médico para a possibilidade de geral mente abranda- c nesse período.
ob trução intestinal.
A dor abdominal tende a ser forte, rítmica e em cólica, ,\1 \\/J l \1\(01\ ( .1/\/( "
com intervalo variável de acordo com o nível da obstrução, Seja durante a gravidez ou no puerpério, essa enti-
tornando-se contínua c localizada quando ocorre isquemia dade caracteriza- e pela d ificuldade de diagnó tico. A
da alça. Vómitos frequentes c fecaloidcs são típicos de obs- gesta nte geralmente não apresenta quadro clínico típi-
trução de delgado, sendo tardios em ca os de ob trução coló- co, podendo ser diffcil a percepção de sinais de irritação
nica. Geralmente se associam a distensão abdominal, parada peritoneal. Poderá haver dor abdominal difusa, dor su-
de eliminação de ga es e fezes e aumento do peristaltismo.1 bestcrnal ou nos ombros. Geralmente ocorrem vómitos
persistentes, distensão abdominal e chogue secundário
E\ \,\1/\ l0.\1/'1 UI/ \1 \RI\ à peritonite difusa. 2
1/emograma: poderá revelar elevação do hcmatócri-
to (por desidratação) e di creta leucocito e, que c L\~ r 'L0\1 ·u \li \1~ 1\ 1'

acentua cm caso de necrose intestinal; O emprego de Rx de tórax em orto tati mo ou o de ab-


to11ogmma: possibilitará o diagnóstico e tratamento dome cm decúbito lateral csguerdo com raios horizontais,
de di túrbios hidroeletrolíticos; visando identificar pneumoperitônio, con ti tui a principal
rcssollâiiCW mag11élica de abdome: poderá defini r o alternativa propedêutica.
diagnóstico c auxiliar no diagnostico diferencial;
Rx simples de abdome em decríbito dorsal e ortosta- J)J \ (, \( 1\ 1/CO /)JJ I R I ,\L/ \1
ltS/1 10: está indicado nos casos sclccionados, não Inclui a pancreatite agud.t, apendicite aguda c a perfu-
G t racteríst icos. ração intestinal.

l>Ht. \ ( I " /lo DIITI· I \ l i H IR I I I \fI \ I ()

Inclui o trabalho de parto, gastroentcrite, pielonefrite É ci rú rgico, devendo a paciente ser devidamente pre-
aguda, descolamento prematuro de placenta e a pscudo- parada cl inicamente ante do início da aneste ia, tal com
ob trução intestinal. descrito no tratamento da obstrução intesti nal.

'IR \ 1\ \I 1 ,. rn f>Rc>(, \(l\ fiCO


Inicialmente há a necessidade de rcst.lllração da con- Dependerá pri ncipalmente da pre ocidade do diag-
dições clín icas da paciente, com jejum, aplicação de sonda nóstico c tratamento, sendo, de ma nei ra geral, sombrio
nasogástrica, corrcção de di túrbio hidroclctrolítico e hc- para mãe e feto.
modinãmico. Uma vez atingida essa situação de estabilida-
de, a operação deved cr realizada cm demora. A incisjo
deverá ser mediana c ampla o suficiente para evitar ao má-
ximo a cxcc iva manipulação uterina.2 ABDOME AGUDO HEMORRÁGICO

f>Rtl<, \ 'l J\ I ll 0 RoTuR,\ H1 , ,\ r KA r '\I'ON TAN J i\


Com base na abordagem descrita, a mortalidade ma-
terna tem e reduzido, endo atualmentc inferior a S9o. Embora seja infrequente, sua importjncia se deve ao
Perdas fetais ocorrem cm S a 10%, dependendo da idade mau prognóstico materno-fetal, visto que o diagnóstico
gestacional e do atraso no diagnó tico e tratamento. dificilmente é realizado cm tempo oportuno.'

Soo Noções Práticas de Obstetrícia


1: /lo I oc n em situações extrema , quando não for po ível conter o
As ocia-se à pré-cclâmpsia em 58% e à eclãmpsia em sangramento com utura, devido à fragilidade do fígado, é
16% dos casos. Porém, a rotura é lOvezes mais frequente em ad missível apenas tamponar bem as le õc com compre -
multigcstas que em primigestas. Ra ra mente associam-se sas, deixando-as na cavidade abdomi nal e realizar a síntese
ncoplasias, malária, sífilis c aneurismas. Traumatismos mí- da parede abdominal. A paciente então erá encaminhada
nimos, como os que ocorrem durante o trabalho de parto, à terapia intensiva, com correção de distú rbios da coagu-
os vômitos ou convulsões, podem levar à hemorragia inicial lação e estabilização hemodinãmica. Dependendo da evo-
em áreas de necrose hepática a sociada à pré-eclâmp ia.2•7 lução, alguns dias após, a paciente será submetida à nova
cirurgia para a reti rada da compre as.2·-
.\1 I \III \1\(,'(11 \li 1\ll \\

A paciente típica é multípara cm 90% dos ca os, no P1Wl. \'lh/ILO

início da quarta décad:l de vida, geralmente no terceiro A mortalidade materna é de 70% c a fetal de 77'1o.
trimestre da ge tação, que se inicia abruptamente com dor
epigá trica ou no hipocôndrio direito, irradiando p:1ra o
ombro, acompanhado de náuseas e vômitos. Ao exame, TRAUMAS ABDOMINAIS
nota-se leve dolorimcnto no hipocôndrio direito, que se DURANTE A GRAVIDEZ
intensifica com o evoluir do processo, associando-se o
choque hipovolêmico. Frequentemente h.í sinai de pré- Os traumatismos ocorrem em 6 a 706 das gravidczc c
ecl.i mpsia. O exame obstétrico geralmente é normai. 2·- são a principal cau a de morte materna não obstétrica du-
0casionalmcntc a rotura hepática poderá ocorrer cm rante a gravidez, repre entando 22%dos ca os. Q ua c S0°o
dois tempos, isto é, ocorre a rotura apenas após ter se for- dos traumatismos na gravidez se devem a acidentes auto-
mado um hematoma subcap ular, que permanecerá conti- mobilísticos.
do por tempo variáver o início do primeiro trimestre, o traumatismo rara-
mente influenciam no cu r o da gravidez, chegando a oca-
L' 1.\11' l o.\11'11.\ll,\ IANI\ sionar ,\bortamento. Por outro lado, quando o fu ndo c.lo
Ultrassom: poderá revelar o hematoma subcapsular, útero ultrapassa a borda da pelve, e pri ncipalmente no final
antes que se rompa. Ocorrida a rotu ra, mostrará da gestação, ele se torna mais vulnerável ao traumatismos.
alteraçõe de textura na região subcapsular, com Por sua vez, o feto e tá bem protegido das contusõe , pelo
li mite impreciso e líquido livre na cavidade; líquido amniótico que o envolve c que absorve parcial-
parncenlese: dependendo da idade ge tacional e do mente os impactos.8 11
quad ro clínico, poderá ser útil na confirmação de
hemoperitôn 10 .
TRAL i\t A '' "'"tos A nnm..t ll\A I S PLN FTRA Nn"
Dlll• \(l'f/( (l Dll LRI \ l i \I
Dor epigástrica da pré-eclâmp ia, pancreatite aguda, FI RI \ f i ' fll\ I'OR -\R \r'' I li 1-'nt.o
colccistite aguda, gastrite e infarto agudo do miocárdio. Ao ocupar localização central no abdome, o útero c
torna o órgão abdomi nal mais susceptível à lesão nesse
'l/:\\11\rr\IO
tipo de traumatismo. Corno o útero não é vital à paciente,
É cirúrgico, com o objetivo de hemostasia e interrup- sua lesão isolada se associa a baixa morbidade materna c
ção da gravidez em que há pré-edâmp ia a ociada. e a mortalidade praticamente nula. Contudo, verifica- c lesão
situação, estando o feto vivo, a operação deverá ser inicia- feta l em 59 a 80%do ferimentos uterino por arma de fogo,
da com o tamponamcnto temporário da lesão hepática o que determina mortalidade perinatal de 41 a 7 1%.s 10
com compressas, seguida pela cesariana. Após a cesariana
é que serão tratada definitivamente a le ões hepáticas. fR \I ~ \ri \ I(}
Para tanto, o trata mento de eleição é a utura das lc õcs
Embora o trajeto do projétil de arma de fogo no interior
hepática , associada .l epiploplastia e drenagem. Porém, do corpo humano po sa ser imprevi ívcl, a identificação

Principais Urgências Cirúrgicas não Obstétricas no Ciclo Grávido-Puerperal


dos orifício de cntrJdJ c saídJ orienta a abordagem do ab- a operação. Essa conduta se deve ao fato de que o acom-
dome e/ou tórax. P:.1cicntes c távei c em orifício de Jída panhamento do abdome da gc tante é mais difícil, te-
devem ser submctidJs j propcdêutic,\ radiológi :.1 para de- mendo- e a consequcncias de uma cirurgi,l neccs ária
terminar a posição do projétil. e tardiamente indicada na gravidez. Exceção e faz no
emprc que pos ívcl, deve-se dctcrmirur :.1 idJde ge ra- traumatismos penetrantes no baixo ventre na gravidez
cional c condi õc~ fctai~ Jntc de eventual indicação cirúr- avançada cm que, apó exclusão de lesão vesical por
gicJ. P:.1ra tanto, recorre- e à data da última menstruação, à cistografia e na ausência de sangramento importan te, é
,\ltura do Fundo uterino, à ausculta dos batimentos cardía- aceit~vel a observaç.1o d:~ paciente. Q uan to à conduta
co fetJis c .1 exame ultr.l onográfico ob~tétnco. operatória, é imilar à de crita para traumatismos por
A laparotomia exploradora e tá indicJda para toda as arm,1 de fogo. ~ 111
grávida vítim,1, de trauma abdominal por :.1rma de fogo.
DurJnte :.1 operação, ca ·o não haj,\ ferimento uterino, a
gravidez não deve cr interrompida, .1 menos que o csva-
ziJmento uterino ~ejJ imprescindível no tr:~tamento de
lesõc m,1tcrn:1 .~.w A maioria de traumatismos ontusos graves .1 ponto
Havendo le~ão uterma, a conduta dependerá da avalia- de ,Hneaçar a gravidez se deve :.10 acidente'> automobi-
ção pré-operatória fetal, daí a importância do exame ob té- lístico . Outro mecanismo incluem agrcs ões, tlueda
tnco e ultra sonogr..lfico prévio: e e magamento .9•11
e, na avaliação pré-operatória, o feto já estiver mor- O traumati mo\ contusos ~ão frequentemente múl-
to c o sangr.lmento uterino for control~vel por sutu- tiplos, envolvendo o crânro, tór,tx e cx trcm id:~dcs, o que
ra, não c tá indiCada a ccsariJna. t preferível que o não deverá desviar a atenção quanto :1 pos ívcl lcsão intra-
parto cp vaginJI, o que geralmente ocorre dentro -abdominal. Lc õe de vísceras ocas, como o c tômago c
de 4 ' hora .J.i nos ca os de lesão utcnna ex tema ou rnte tino , manite tam-se clrnrcamente de nuneira rrnrlar
com angramento incontrolável com ~utu ra. deve- ao abdome agudo perfurativo, levando algum tempo pJra
e realinr o e ·vaziamento uterino seguido de histc- exteriorizar sinais e sintomas. Lc õe de vísceras maciça .
rorrafia. Ca~o a h i terorrafia não controle o sangra- como o baço e o fígado, manifestam- e imilarmcntc ao
mente, ;~ind.1 scr.í possível o útero com a ligadura .1bdomc agudo hemorrágico. Na gravidez, as contusócs
bilateral de Mtérias ilíacas interna em pacientes Jbdomi nais determinam ,\Ita incidência de lesão de vísccr:~
com baixJ p:.1ndade. Eventualmente erá nece ária maciça, destacando-~c a le õcs de baço.9 11
a hrsterectomra: As prrncipais consequênCia de contu õe obre o utc-
c o feto e ti,•er vivo c próximo do termo com ca- ro gravídico são: de calamento prematuro de placcnt,l, ro-
pacidade de sobrevivência fora do útero (viável), tur.l uterina, rotura tÜs membrana · ele ão VJ cu lar.
deve- c considerar a possibilid:~de de retirá-lo e
trJtJr seu possível feri mento, mesmo com os riscos I\ 1111 ' ( ·o\1/'I 1 111 'I·\111'
d:~ prcmatundade. Ca o o feto seja invi.ível, não He111ogranzn: útil no acomp:~nh:~mcnto de con-
e tá indrcada a interrupção da grJvidez. esta si- tusõc em guc c ~u peite de le ão de \'Í cera oc.t.
tuação, mesmo que tenha sido lesado, o feto ainda es~e caso, haverá hcmoconccntração e dcsvro à
terá mar ch,\nce de obrevivcr c pcrmJnecer no c guerda progressivos;
interior do útero. mdiologin: indicada na suspeita de fratura {sempre
que possível utiliza ndo proteç5o p:~r,l o feto) c, oca-
F I Rl.\ 11 \ /( )\ J'(l/{ ·\ R.\1 I /~R\ \"l \ ,o,ionalmentc, no acompanhamento do abdome.
Em cerca de 309o do ferimentos por f:.1ca, punhal ultra so111: possibilita ;:rvaliação fetal c de víscerJs
ou estilete, o agente agre or lesa a parede abdom inal m;:rci as;
sem penetrar na cavidade peritoneal. estes ca os, não pnrncclltesc: contraindicada na gravidez avança-
haverá necc sidade de rea lizar laparotomia. E uma vez da. ,\ gravidez inicial, poderá di:~gno ticar hc-
comprovada a penetração na cavidade, estará indicada moperitôn io.

802 Noções Práticas de Obstetrícia


IR~ IA.\fl '\' Hl REFERÊNCIAS
Envolve abordagem global da gestante e feto. Inicia-se
com cuidados no transporte e posicionamento da pacien- I. Kort 13, Katz VL, Watson W). 1l1c cffcct ofnon obstctric opcrJ-
tion duri ngprcgnancy. Surg Gynccol Obstei. 1993; 177:37 1·6.
te, manutenção de ventilação adequada c rest.w ração pre-
2. Augustim G, M.IJCrovu: J'vl. Non-ob~tc t rica l
.1cutc .~hJo­
coce das condições hemodinãmicas.9 11
men during pregnanq •. Eur J Ob<;t C.yncc Reprod BIOI.
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4. Kilp.ltrick CC, O rcj ucl.! FJ. Man.1gcmcnt uf thc ,1cutc ,Jb-
~RAT U R A P ~! \' ICA domcn in pregn.1 ncy: ,1 review. Curr Opm Ob,tct Gynccol.
2008:10:S.H -9.
S. AIJcrs N. A >lgn lor d1tlcrcntiating utcri nc from e~trauten
Ocasionalmente, pacientes com fratu ra pélvica recente
ne complication' of prcgnancy and pucrpcrium. Br ~l cd J.
iniciarão trabalho de parto. Caso o desvio d.1 fratura seja 1951;2: 1194 -5.
pequeno, não há necessidade de se realizar cesariana, cxcc- 6. Devore RC, l3r,tckcn M, Bcrkowitz RL. Thc amyl.lse/ cre-
to por indicações obstétricas, sendo bem tolerado o parto ,ltininc clcarancc r.1tio in norma l prcgnancy and prcgnancics
através da pelve fraturada.8 10 complicated by )MIICrc.ltltiS, hy percmc~i s grav1darum . .md
toxcmia. AmJ Ob,t Cynccol. 1980; 136:--1--54.
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nccol. 1990;75:33 7.

Principais Urgências Cirúrgicas não Obstétricas no Ciclo Grávido-Puerperal


"', Ir- \ J; \
~, 1,., I ri/\;
v
Infecção pelo Vírus da
lmunodeficiência Humana
Victor Hugo de Melo
Beatriz Amélia Andrade Monteiro
Fabiana Maria Kakehasi
Jorge Andrade Pinto

Aspectos Epidemiológicos Assistência Pré-natal


História Natural da Doença A Primeira Consulta
Consultas ubsequentes
Aspectos Biológicos e
Imunizações
Patogênese do Vírus lntcrcorrências Gestacionais
Transmissão do Vírus A Via de Parto
Sexual
AZT Endovenoso no Trabalho de Parto
Pcrinatal
c ,m tes da Cesariana Eletiva
Resposta Imunológica da Gestante Os Cuidados no Parto Vaginal
Diagnóstico Sorológico Rotinas para a Realização da Cesariana Eletiva
O Teste Rápido Puerpério
A Evolução da Doença e a Gravidez Medidas Gerais
Os Antirretrovirais na Redução da Inibição da Lactação
Transmissão Perinatal Efeitos Adversos dos Antirretrovirais
Qyando Iniciar a TARV Sobre a Mãe
Sobre o Feto c o Recém-nascido
Os Cuidados com o Recém -nascido
Comentários Finais

sínd romcdaimunodeficiênciaadquirida (AIOS)

A
heterossexuais com história de hcmotransfusão, entre mu-
foi descrita como uma nova entidade clínica em lheres c, finalmente, em dezembro de 1982, foram descritos
1981, quando o Centers of Diseasc Contrai and os primeiros casos de transmissão perinata l, com o surgi-
Preventio11 (C DC) relatou casos de pneu mon ia causada mento de crianças infectadas. A identificação de retrovírus
pelo P11eumocystis carinii (PPC) e de sarcoma de Kaposi en- como agente etiológico da AIOS ocorreu cm 1983, quase
tre homossexuais. 1 simultaneamente, por cientistas franceses e amcricanos. 2
As pesquisas iniciais indicavam que se tratava de doença A infecção pelo vírus da imunodcficiência humana
infecciosa transmitida através do ato sexual. A seguir, foram (HlV) induz imunossupressão progressiva, que resulta
descritos casos entre usuários de drogas injetávcis e entre em profundo desequilíbrio da imunidade celular, levando
ao aparecimento de in fecções oportuní tica , neopla i.1 c 1980 e junho de 2009 foram registrada 21-.091 morte em
outra~ manife.,taçõcs clínica~. como demência c caqucxia. decorrência da doença. Entre elas, SS<lo estão na fai xa etária
A AID · é a nunife~tação clínica avançada de ,t mfecção. de 20 .129 ano . Entre 2000 e 2009 foram notilicad.wr .- os
gestantes in fectadas pelo HI V no Brasil. Anual mente, três
milhõe de mulheres dão à lu7 no BraSil. Em 2004, nu ma
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS pcst]uisa com ,\mostra reprcscnt.lliva J c partunentc de I
a 49 anos de idade, de toda~ as regiões do pa ís, .1t.1xa dl· pre-
O Program.l das Nações Unidas par:t o HI V/AIOS valência de mulheres portadoras do H IV no momento do
{U AIO ') c~t imou que, no fi nal de 200R,33,4 milhões de parto foi de 0,42%, o que corresponde à cstim :~ ti v:1 cm torno
pc o:ts viviam com o vírus da imunodcficiênci.t hununa de 12.644 p.1rturicnte infectada. .s
{H IV) cm todo o mundo. De te total, cerca de metade (apro-
xi mada mente 15,7 milhões) eram mulherc .1 C tlcuiHc que
S'\J dcl.1\ c tav.1m em 1dade rcprodutiva, o que duma c pc- HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA
cial atenção p.m o ri~ o de transmi ão vertical do H I . Es-
se dado tém, amda, m,1ior rclcvâ nci:t quando e onsidcr.1 Exbtem vária fases no procc~so da docnç.1 pelo HIV,
que, dos ca ·os novos de infecção pelo H IV, quase 200u ocor- desde a infecção até o de envolvimento da AIO. :q 14
rem cm crianç.t\ abaixo de I5 anos, sendo 90'\J dcl.1 conta- Na infecção rctroviral aguda, a pc so.t de envolve
minada durante a gr.widez, parto ou amamentação. doença cl inicamente cmclhante ã mononucleose
Percebe- c .1 muda nça no padr.1o de tr.111srn i~~ão do cm até 70% do ca os. O tempo decorrido entre a
H IV Atualmcntc, a v1.1 cxual (homo ou hetero) é a pnn- cxposi ão e o início da smtomatolog1.1 v,nia entre
cip.ll vi.1 de intêcção, sendo respons.ível por cerca de 80% dua c quatro semanas. E ·a fa c é de alta viremia,
dos novos ca o.,. podendo durar uma a quatro scm.1nas;
A cxp.tnsão da epidcmi:t tem, na via hetcros cxual, im- a soroconvcrsão ocorre ci a 12 cm.tnas .1pó
port.ultc aliado: as doença cxualmcntc tran mi íve i ~ o evento responsável peb transmiss;io do I II V
(DST ). Têm- c observado incremento no~ diagnóstico Atualmcntc, utilizando- c os te.'>tc~ orológico de
de gonorre1a c 1fil i c de outra D T . Por outro lado, os rotina, mai de 95°o dos pacientes apresentam soro-
adolc ·ccnte c t.to iniciando ,·ida cxual ma i precoce- po itividade no decorrer dm e1 me c seguintes à
mente e sabe- c que rclaçõe exuai precoce!> a~~o iam-se exposição;
a múltiplm parcc1ro , aumentando o risco de trammi ão na tàsc de infecção a intomática, .1s pcs oas não
das D Ts, mclumdo- c o H I . exibem outros achados, além de linfàdcnomeg.tlia
Ainda não se ~abe e a menor sobrevida após a infecção generalizada e persistente cm doi <, ou m.11s ítios cx-
ent re as mulheres deve-se ao gênero c a possíveis v.1riáveis tr.tinguinais. Os linfonodos têm altas conccntraçõe
biológica ou .1 diferente acc o ao istcma de saúde. 1 ' do vírus em c t.1do latente, pois o tecido linfoidc fun-
Problema complcment.u à transmissão heterossexual c ciona como cu principal rc crv.ttório. Es'a fàsc pode
que expõe sobremaneira .1 mulheres é que .1 transmis ão durar, em médi.1, lO anos;
do vírus é ma is eficiente do homens para as mulheres, a infecção sintomática ini ia I inici.t- c com sina i~ e
quando de rela oes exua1s sem protcção. . 1ntoma~ constitucionais que ocorrem cm deficiên-
Outra~ situa ões contribuem para mai vulncr.tbilidade cia imu nes de forma geral. Ta i m.m 1 fc~taçõe ap.1-
das mulhcrc~ ao I II :o .lUmcnto do u o de droga ln)etã- rcccm cm pacientes com contagem de linfócitos T
vei ; o crescimento do comércio exual; o empobrecimento C D4 ·entre 200 e -00 célula!. mm 1• Es .1 fase inclui
da população; c a precariedade dos serviços de atenção à condições cl ínicas existentes, ma · aind.t não indi-
saúdc.6 O Brasil cguc as característica mundi.1is da epide- cadora de AIO , tais como cand1d íasc orofarin-
mia. egundo dados recentes do Mini tério da , aúdc, cerca gcal e/ou vulvo-vaginal. di p!J!tia ervica l, hcrpe!t
de 630 mil pes oas vivem com o HIV no Bra 11. O numero Zo ter, doença inflamatória pélvtca c outr.ts;
é estimado, pois ão notificados apenas o casos de soropo- a AIOS, como doença totalmente m.1nifcsta, carac-
itivos que tomam medicamento antirretrovirai!.. Entre teriza- c por contagem de linfócito~ T C 04' ab.tixo

8o6 Noções Práticas de Obst etrícia


de 200 células/ mm ', sendo freq uentemente asso- em indivíduos que tiveram algum conta to com o continente
ciada a doenças encontradas especificamente em africano ou sua população. 13
pacientes com grave disfunção da imunidade celu- Os passos iniciais da patogênese virai incluem:
lar. o caso do HIV, essas doenças são chamadas Ligação c penetração vi rai nas célu las-alvo;
"indicadoras". Geralmente, são complicações in- perda do envoltório virai;
fecciosas secundárias, usual mente tratáveis, como ação da transcriptase reversa;
tuberculose, pncumocistose pulmonar, ca nd id íase integração ao genoma do hospedeiro;
esof..1.gica, toxoplasmose e outras. O câncer cervical ação da proteasc.
invasivo é doença indicadora de AI OS.
a infecção avançada é diagnosticada cm todos os A molécula de CD4 é o receptor celular de superfície
casos cm que a contagem de linfócitos T CD4 · está das células susceptíveis à infecção, ao qual irão ligar-se os
abaixo de 50 células/ mm3. As doenças da fase avan- componentes da glicoproteína l 20 (gp 120).
çada, como retinite citomegálica, micobactcriose, A enzima virai transcriptasc reversa auxilia na trans-
leucoencefalopatia multifocal progressiv.l c linfa- crição do DNAde dupla hélice a partir do RNA virai, que
mas costumam ser mais refratárias ao tratamento. então é transportado para o núcleo celular, integrando-se
ao genoma da célula do hospedeiro. Após essa integração,
O Q.1adro 51.1 ilustra a definição de casos de AIOS, pro- o Dr A virai induzirá a produção das proteínas próprias
posta pelo coe, em 1993, ainda hoje utilizada. do vírus. A velocidade de produção dessas proteínas virais,
com os fatores regulatórios celu lares, é que determina se a
Quadro 51. 1 I Deli n ição de caso de AIOS em adolescentes infecção será latente ou ativa. 12
c adultos, para fins de vigilância epidemiológid ' A atividade citopática virallcva à depleção dos Iinfócitos
Contagem de Categonas clinicas' auxiliares (T CD4+), acarretando a imu nodeliciência, com
lmfóc1tos TC04 A R C
o subsequente desenvolvi mento de infecções secundárias e
neoplasias. Existem outros receptores na membrana celular
500/mm3 em que o H IV pode se fixar para penetrar nas células, os
200-499/mm3 receptores CCRS e CXR4. Eles atuam como correceptores
do vírus, faci litando não apenas sua entrada na célula, mas
podendo também contribuirdiretamente para a progressão
'Pacientes nas categorias A3.83 e Cl, C2 eC3 são notificados como tendo AIOS. da doença. Verificou-se que pessoas portadoras dos recep-
A= Assintomática ou infecção aguda.
B = Sintomática (exceto A e C). tores CCRS e suas variações são mais suscetíveis ao vírus.
C= Condição indicadora de AIOS (1987)

TRANSMISSÃO DO VÍRUS
ASPECTOS BIOLÓGICOS E
PATOGÊNESE DO VíRUS O vírus pode ser transmitido por três vias: sexual, san-
guínea e, na mulher grávida, da mãe para o feto.
A transmissão sexual é, atualmentc, a via mais impor-
O H IV é um RNA-vírus da família dos retrovírus. Pos- tante de disseminação do HIV. A transm issão sanguínea
sui envelope lipídico externo que contém diversas glicopro- ocorre por transfusões com sangue contaminado ou seus
teínas estruturais (gpl20, gp4 l, pl7/ 18, p24/ 2S) envolven- derivados ou pelo compartilhamento de seringas contami-
do o núcleo central (core) cilíndrico, que contém as proteínas nadas, quando da in fusão de drogas por via endovenosa.
estrutu rais, o RNA e as enzimas transcriptase reversa e pro- A tra nsmissão vertical pode se da r em três momentos:
tcase. Foram descritos dois subtipos capazes de levar â sín- no período pré-parto (intraútero), em qualquer momento
drome de imunodeliciência adquirida, o HTV-1 e o HIV-2. da gestação; no período periparto, durante o trabalho de
O primeiro é o subtipo mais prevalente no Brasil e o último parto ou ao nascimento; no período pós-parto, através do
é identificado em diferentes regiões do mundo, mas sempre aleitamento materno.

Infecção pe lo Vírus da lmunode~ciência Humana


807
A transmissão através do sêmen de doadores já foi fatores físicos: ectopias cerv1ca1s, não circunc1sao
con firmada, sendo necessária a realização de testes soro- masculina, doença inflamatória pélvica;
lógicos dos doadores para a pesquisa do HIV ou de outros práticas sexuais: não uso de protetores de barreira,
retrovírus patogênicos. O H IV não é transmitido dire- relação sexual durante a menstruação, atividade
ta mente através das células germinativas do hospedeiro sexual com múltiplos parceiros ou com homens de
humano. alto risco c prática de sexo anal;
consumo de drogas ilícitas.

SEXUAL
PERINATAL
Desde as primeiras investigações sobre a nova doença
e seu agente etiológico, as práticas sexuais foram identifica- Já está bem-estabelecida a transmissão do Hl V da mãe
das como importante via de transmissão do HIV Estudo para o feto no decorrer do ciclo grávido-puerperal, seja atra-
realizado em 1992 indicou que aproximadamente 75% das vés da placenta, no parto ou aleitamento. A possibilidade de
infecções por HIV ocorridas no mundo todo relaciona- transmissão materno-fetal varia entre I 5 e 40%, dependendo
va m-se às práticas sexuais. 14 de fatores materno-fetais, eventos obstétricos e característi-
Está bem-estabelecido que qualquer forma de relação cas do vírus; risco adicional de transmissão após o parto por
sexual em que haja troca de fluidos entre os parceiros repre- meio do aleitamento materno é estimado entre 7 e 22%. 16
senta risco de transmissão do vírus, com diferentes graus de
infectividade, na dependência das diversas práticas sexuais.
O sexo anal desprotegido tem sido referido como a prática DETERM INANTES E FATO R ES DE R ISC O
de mais alto risco, tanto em homens como nas mu lheres. 12•15
O vírus é encontrado em mais concentração no sêmen No Q!Jadro 51.2 estão listados os principais fatores de
do que nas secreções vaginais. Por outro lado, a mul her risco que possibilitam alta taxa de transmissão do vírus du-
expõe grande superfície de mucosa bem vascularizada rante o ciclo gravídico-puerperal.
durante o ato sexual, tanto da cérvice uterina quanto da Uma série de publicações vem demonstrando diversos
vagi na, o que pode explicar a grande fac ilidade de trans- fatores de risco que aumentam a taxa de transmissão peri-
missão do vírus do homem para a mulher. Estudo europeu natal do HIV. Entre os fatores obstétricos, especial atenção
apresentou resultados que sugerem a transmissão homem- deve ser dada à rotura das membranas. Verificou-se que
-mul her duas vezes mais signi ficativa do que a transmissão mais tempo de rotura se associava a elevada taxa de trans-
mulher-homem. 16 missão perinatal do vírus, com aumento de 2% a cada hora
Estudos prospectivas realizados em diferentes países tra nscorrida.18 . 21
em casais sorodiscordantes têm mostrado eficácia de pro- Vários estudos têm demonstrado que a carga vira! ma-
teção contra a infecção em praticamente 100% dos parcei- terna está diretamente relacionada à alta ou baixa probabi-
ros soronegati vos quando os casais usam o preservativo lidade de transmissão vertical do vírus. Apesar de não estar
em todas as relações sexuais. Estudo nacional, multicêntri- estabelecido o nível de viremia plasmática materna capaz de
co confi rmou essa assertiva. 15 predizer individualmente o risco de transmissão, esse parâ-
Vá rios estudos têm demonstrado a importância de di- metro é considerado o principal determinante na transmis-
versos fatores e cof~1tores que faci litam a transmissão hete- são vertical do HIV. 22' 24
rossexual do vírus: 1- O estudo WITS (Women and lnfan ts Transm ission Study
Doenças sexualme11te transmissíveis (DST): ulcerativas Group), analisando 552 grávidas seropositivas, reportou
(mais frequência de transmissão) e não ulcerativas; percentuais diferenciados de transmissão peri natal do ví-
na injecção pelo H IV: fase aguda ou avançada da rus, na dependência da carga virai materna ( RNA). Ql1an-
infecção (pela maior vi remia), baixa contagem de to mais expressiva a carga virai, mais alta a probabilidade de
linfócitos T CD4+, não adesão aos antirretrovirais, transmissão do HIV. Para as grávidas com virem ia abaixo
homozigosidade para o receptor CCR5; de 1.000 cópias/ mi, não houve transmissão peri natal. 2s

808 Noções Práticas de Obstetrícia


Quadro 51.21 Categorias e fatores de risco para a transmis- infecção periparto: se os testes d iagnósticos anterio-
são perinatal do HIV res forem negativos em amostras de sangue obtidas
Categonas de Fatores de r1sco du rante a primeira semana de vida e torna rem-se
riSCO positivos entre o sétimo e o 90° d ia de vida, na au-
Virais Viremia plasmática e genital sência de aleitamento materno.
Genótipo e Fenótipo virai
Resistência genotípica a anti-retrovirais Os resultados positivos obtidos no período neonatal
Maternos Antigenemia p24 devem ser confirm ados após o segundo mês de vida.
Doença avançada (AIOS) Apesar de o HIV já ter sido detectado em material de
Carga virai elevada abortamento, confirmando a possibilidade de que a trans-
Baixa contagem de linfócitos T C04t m issão possa ocorrer precocemente na gestação, existe
Não uso do AZT
consenso entre os autores de que o momento do parto é
Infecção cérvico-vaginal
DST o m ais impo rtante para a transmissão do vírus. De acordo
Gravidez na adolescência com a literatu ra, em cerca de 70% das vezes a transmissão
é constatada nesse p eríodo; os restantes 30% ocorrem in-
Comportamentais Sexo desprotegido
Múltiplos parceiros traútero ou no p ós-pa rto, com o aleitamento materno.nzs
Tabagismo
Uso de drogas na gravidez
Baixa ingestão de vitamina A RES POSTA IMUNOLÓ GICA
Amamentação
DA GESTANTE
Obstétricos Procedimentos invasivos
Corioamnionite
Rotura das membranas > 4 horas
A resposta hu moral da mulher grávida aos antígenos pro-
Parto vaginal ou instrumental
Episiotomia teicos estruturais do HIV é pronta e rápida, produzindo-se
Laceração no canal do parto anticorpos em grandes concentrações. Na gestação existe, nor-
malmente, alta contagem de linfóci tos. Portanto, a contagem
Fetais Prematuridade
Gemelaridade fenotípica dos linfócitos (CD4 e CDS) deve ser analisada não
somente em termos numéricos, mas também em percentuais.29
A gravidez não contribui pa ra reduzir os linfócitos T
C D4+, mas a contagem de linfócitos T CDS+aumenta nos
Ü MOMENTO DA T RANSMJSSÃO diferentes mom entos da gestação, incluindo o pós-parto
MATERNO -FETAL DO VfRUS imediato . A imun idade celular é mediada pela produção
de citoci nas. As citocinas do t ipo 1 (interleucina, gamain-
Diversos estudos têm sido realizados para verificar em terferon e outras) associam-se a respostas citotóxicas, en-
qual momento do ciclo gravídico-puerperal a transm issão quanto as do tipo 2 (isoleucinas) associam-se a respostas
vertical ocorre de forma mais predominante. No ponto de de supressão. Acredita-se que a gravidez é caracterizada
vista preventivo, é fundamental detectar esse momento para por resposta celular do tipo 2 e que as citocinas do tipo l
que se p ossam tomar as medidas individuais e coletivas ade- esta riam bloqueadas para proteger o fe to (enxerto alógra-
quadas para a redução da infecção perinatal. fo) da resposta imunológica materna.
O AIDS Clinical Trials Group (ACTG), em 1992, es-
tabeleceu critérios para diagnostica r o período em que se
veri ficou a tra nsmissão vert ical, com base na avaliação la- DIAGNÓSTICO SOROLÓ GICO
boratorial do sa ngue do recém-nascido:26
Injecção intra útero: quando a PCR-DNA ou a cultura O d iagnóstico da infecção pelo H IV pode ser feito di-
virai forem positivas em amostra de sa ngue periférico retamente, p or meio de isolamento em material de cultura
colhido nas prim eiras 4S horas após o nascimento; ou indi reta mente, pela detecção de R NA virai, anticorpos

Infecção pelo Vírus da lmunodeficiência Humana 8og


ou antígcno vi rai . A utilização do anticorpo ( orologia ou pc soai especiali7..ado, além de fornecer o resultado cm
convencional) é o maL~ difu ndido. Todo o dado epide- tempo inferior a 30 minuto . A Portaria n° ISI, de 14 de ou-
miologicos e da htstona tl.ltur.ll da doença pro edem de tubro de 2009, do ~ t ini tério da aúde, normatiza o :~lgo­
C!> tudo que empregaram cn aio com anticorpo .111ti-H IV. ritmo para o diagnó tico d,1 infecção pelo H IV utilizando
Os te tes mais utilizados para a detecção do anticorpo .'to exclusivamente te te ráptdo . E- a normativa c tá fu nda-
a técnica de irnuno.tbsorçjo enzimática (ELISA), o teste de mentada na realização do c tudos de valid,tção do te te
teestem blot (WI3) c a imunoAuorcscência (I FI). rápidos e na extensa di cu~~jo com diversos !tcgmcntos da
O te tes enzimático · (ELI SA e outros) são os testes comunidade científica c instituições governamcntais. 10
de triagem padrão cm todo o mu ndo. A sensibi lidade O Mini tério da Saúde, cm cooperação com o Cc11/ers.for
dos teste é de IOO'lo e .1 e peci fi cidade de 99,43"o. cu!> D1sease Colltrol rmd Prel'clltioll (CDC), avaliou o desempe-
rc ultado~ po~tlt vos devem er confirmado pela técnica nho dos te te regi tr:~do no país para o diagnóstico da in-
de W l3, que tem cmibtlidadc e e pecificidadc de 100''11. fecção pelo H I utilinndo omentc te te rápido . O!> te!> te
O WB é considerado positivo nas situações cm guc pelo r.ipidos sdccionado para o c!>tudo tiveram seu de!>empcnho
menos dois de trê antígenos c pecificos do Hl ão ( cnsibilidade e e pecilicidadc) comparado ao do tc~tc
identi ficados: p24 (core), gp4 1 (envelope) c gpl 20 (cn- imunoenzimático de triagem e do confirm:~tório pela me-
''elopc). A probabilidade de teste falso-po itivo ao Wl3 é todologia ll'cstcm blot testes que compõem o .tlgontmo-
de 1: 10.000 p.!ctentc . A imunotluore cência (I r i), com -padrão para o diagnóstico da infecção pelo III V no Brasi!.
praticamente IOO"o de c pccificidade, também pode ser egundo as novas regra , o diagnóstico rápido da in-
uti lizad.l n.1pr.1t1ca cl ínica. fecção pelo Hl é realizado excl u siv:~men te com testes
A _ccrcta ri.1 de VigiL'tncia Sanitária do I in1 tério d.1 rápido v,1lidado pelo departamento de DST, AIOS c he-
Saúde, cm Port.1ri.1de jun ho de 1988 (Port.1ri.1 +8, 198< ), patite vi r.li c di tribuídos ao c tadm pelo M 111 ist~no da
indica os procedimentos necessários para confirma r ou S<1úde. A im, foram validados o cguintes teste~ rápidos:
não a pre~cnç.1 do vírus no sangue de pacientes que c sub- Rnp1d ileck H I I &2T M
metem ao exame sorológico. 30 Teste r.ípido HI V I/ 2TM - Bioma ngumho
Dctcrlllille HI V I/ 2TM
Umgold HI VTM
Ü TESTE RÁPIDO BD Chcck H I V M11lti-test
H I V I 2 Colloulnl Gold
O te te~ rápido~ para a detecção de anticorpo antt-
-H IV s.1o testes de triagem, produzindo re~ultado~ em, no 0 !. tc~tc1> rápido ,·alid.1do podcrjo 'er adq umdos
máximo, 30 minutos. Existem diversos testes atual mente pelo Min istcno da aúde e pelo crvtços de \aúdc priva-
no mercado, todos de metodologia relativamente simples do p.m a realização do diagnó tico d.1111 fccç,'lo pelo H IV.
n:~ ua execução, cm ernbal.tgcn i nd ividu:~l iz.ldas, que apre- Não devem ser utilizados para grandes rotli1.1S, em razão
~cnt:~m cn ibilidade e e pecificidadc imibres ao ELI A. da~ suas limitações técnico-opcracion.tis. Como regra gc-
Comba e nos resultados descrito n:~ literatura mu n- r:~ l , c cs tes tes são indicados n.1s seguintes situações: 10
dial, J.Í cm 199 - recomendava-se a tc~tagem volu ntária Regiões em infraestrutura laboratorial ou de difícil
para toda~ a ge tante c zidovudina cm qualquer mulher ace o;
grávid:~ c infectada pelo H IV. A partir de 200 I, foi orienta- Centro de Te tagcm c Acomclha mento (CTA);
do o u~o do te te r.ipido anti-H I para toda~ a mulhere cgmcnto populacional móvc1 (flutuante );
cm t rab:~ lho de parto ou que estivessem no período pós- segmentos populacion,m m.m vulncr.ivci à infcc-
-p.uto ainda cm sorologia conhecid.1. çjo pelo HI V e outras I) 'T, de a ordo com a itua-
Atu.1lmentc, existe a pos ibilidadc de realizar o diag- ção epidemiológica loc.11;
nthttco da mfccção pelo H IV cm uma única consulta, com parceiros de pessoas vivendo com H IV/AIO
o te te r.1p1do, eliminando- e a nccc sidadc de retorno d,1 .Kidcntes biológicos ocupacionais para teste no
gc tantc .10 erviço de aúdc para conhecer eu e tado o- paciente-fonte;
rológico. Esse te te não demandam estrutura laboratorial violencia sexual para teste no agre sor;

810 Noções Práticas de Obstetricia


gestantes que não tenham sido testadas durante o gestação, cuja avaliação epidemiológica justifique
pré-nata l ou cuja idade gestacional não assegure o novo estudo sorológico, e na gestante em q ue o
recebimento do resultado do teste antes do parto, fluxo normal do teste anti-Hl V não perm itirá a ob-
particularmente no terceiro tri mestre de gestação; tenção do resu ltado em tempo hábil;
parturientes e puérperas que não tenham sido tes- nas situações de acidente ocupacional.
tadas no pré-natal ou quando não se conhece o re-
sultado do teste no momento do pa rto; Em qu alq uer situação, a confi rmação diagnóstica pos-
abortamento espontâneo, independentemente da terior seguirá o fluxo proposto pela Secretaria d e Vigilân-
idade gestacional; cia Sanitária, citado anteriormente.
pessoas que apresentem di agnóstico estabelecido Em nosso meio, Duarte et a/. 31 reali zaram teste rápido
de tuberculose; em 443 gestantes para d iagnóstico da infecção pelo HI V.
pessoas que apresentem alguma doença sexual- Encontraram alta prevalência (3,6%), com valor preditivo
mente transm issível; positivo de 87,5% e negativo de 100%.
pessoas que apresentem diagnóstico de hepatites
virais;
pessoas com manifestações clínicas presumivelmen- A EVOLUÇÃO DA DOENÇA E A GRAVIDEZ
te relacionadas à infecção pelo HI V e suas in fecções
oportunistas, incluindo os casos clinicamente graves. As primeiras publicações confi rmavam a impressão
de que a gravidez acelerava o processo evolutivo da AIOS.
Os testes rápidos (TR) devem ser realizados imedia- Esses estudos, contudo, não foram conclusivos e pequenas
tamente após a coleta da amostra, para que o resultado séries de casos foram publicadas demonstrando a não in-
seja liberado prontamente. Atual mente, o diagnóstico da terferência da gestação no processo evolutivo da doença.
infecção pelo HIV por meio de testes rápidos é realizado Existe consenso entre os autores sobre a redução da imu-
mediante a positividade de dois diferentes testes rápidos nidade celular induzida pela gravidez, mas não existem evi-
previamente validados pelo Ministério da Saúde. Amos- dências de que ela estimule o surgimento da AIOS ou de
tras com resultado reagente no TRl deverão ser subme- suas com pi icações nesse p eríodo. 28·30
tidas ao teste rápido 2 (T R2). A mostras com resultados Assim, até o presente momento, n ão existem evidências
reagen tes no TRI e no TR2 terão seu resultado definido de que a gestação influa no processo evolutivo d a AI OS.
como: "amostra reagente para HIV" sem a necessidade de Segundo H ocke3 2, em uma coorte de mulheres infectadas
qua lquer outro teste adicional. As amostras com resu lta- p elo HL V comparando as que engravidaram com as que
dos discordantes entre TR I e TR2 não terão seu resultado não engravidaram durante o est udo, todas com imunossu-
defi nido. Nesse caso, o laudo n ão será liberado e uma nova pressão leve a moderada, a ex istência de gravidez não ace-
a mostra deverá ser coletada por punção venosa e submeti- lerou a progressão paraA ID S ou para a morte. Já Cavalo e/
da ao flu xogra ma sistema habitual de diagnóstico, inician- ai}' em uma coorte comparativa de gestantes em uso pro-
do-se pelo ensa io enzimático.30 fi lático ou terapêutico de A R V, relataram que a suspensão
O Ministério da Saúde recomenda a realização dotes- dos antirretrovirais após o parto promoveu signi ficativo
te rápido em gestantes admitidas ou não em maternidades, aumento da carga virai, associado ao declínio da contagem
nas situações que demandam intervenções profi láticas de de li n fócitos T C D4+.
emergência, tais como:30
Prevenção da transmissão vertical do Hl V: deve ser
realizado rotineira mente nas parturientes com so- ÜS ANTIRRETROVIRAIS NA REDUÇÃ O
rologia desconhecida. Aquelas que apresentarem
DA TRANSMISSÃO P ERINATAL
teste rápido positivo deverão ser submetidas à pro-
filaxia anti rretroviral;
gestantes no terceiro trimestre: pode ser real izado As taxas de transm issão vertical do HI V, sem qualquer
nas pacientes com diagnóstico negativo prévio na intervenção durante a gestação, situam-se entre 25 e 30%.

Infecção pelo Vírus da lmunodeficiência Humana


Bu
De c percentual, 2 '1\J referem-se à tran mi ão intralltero não nccc ita ria m da TA RV em benefício próprio. Chama-
e T 0o à transmissão intraparto. 30 - c regime terapêutico a aplicação da TA R em ge tante
O Proto olo o-6 do Pcdratnc A II) Clmrwl Trrals que nc cssitam dos medicamentos para melhorar seu c -
Gro11p (PACTG 076), ensaio clínico randomizado publi- tado imunológico. O antirretrovirai , a dosagen c o es-
cado cm 1994, rcprc cntou acentuado avanço na redução quemas terapêuticos são idênticos, não havendo diferença
da transmiss.io perin.ltJI ao demonstrar que ,1 ,!d mini:;- ,1lgum,1entre o regi me profi lático c o tcrapÇut icu dur,lllle
tração da zidovudin,l (AZT) às grávidas oropositi vas a gravide? em relação à TA RV. A grande d ifercnç.1entre os
reduzia aproxi mada mente 68% do ri co de tra nsmissão dois regimes é que, no profi lático, tão logo .1 paciente tenha
perinatal do vírus. 111 ~ Foram observado mínimo~ efei- o parto, ela deve interromper a medicação. lo outro regi-
to colaterais nas mães e no recém-na cido no PAC- me, ela continua a tomar a mcdicaç.lo.
TC 076. Da mesma forma, não houve diferenças entre A 'oordenação acional de D T AIDS do ,v !ini -
as criançal> expo ta ao AZT ou placcbo na avaliação do tério da 'aúdc do Brasil tem um grupo consultivo que
crescimento somático c do desenvolvi mento ncuropsico- revisa periodicamente a rccomcndaçõc~ para profilaxia
motor. Estudo posterior confi rmou a eficácia do AZT cm da tran!>mi ão materno-infantil do H I V c tcr.1pia an-
grávidas com doença avançada.16· r tirretrovira l cm gestantes. Este grupo, cm revis;lo com
Pe qui as ub cqucntes avaliaram a chcácia de diferen- ver ão preliminar, publicada recentemente, e~tabcleceu
tes esquemas antirretrovirais na redução da tr:msmis ão as regras para a TARV na gestação, que rcprod u timo~
vertical do H I \1. 16 19 O efeito protetor da terapia antirrctro- parcialmente a cguir. 10
viral (TAR ) aumenta com a complexidade c a duração
do esquema empregado: terapia antirretroviral combin.1da
altamente potente a ocia-se a baixas taxa~ de transmi ão. QUANDO INICIAR A TARV
O grande dcsa fio é tornar esses medicamentos acessívci :\s
gestante~ soropo~itiva de todo o mundo. 1- Toda gestante infectad:J pelo H I V deve receber TARV
Princípim básicos do uso desses medicamento ·, durante a gestação. No entanto, é nece ;\rio detecta r a
contudo, não podem ser negligenciados. A escol ha do dificuldade de compreen ão por parte d.1 paciente, em
medi amcnto , o momento da ua introdução c o tempo relação ao medicamentos, bem como outro po ívcis
de utili7ação ão variávci importante a ercm comi- ob táculo à ade ão ao tratamento, garantmdo o acc o da
dcradas para impedir a toxicidade materna c nconatal c ge tante :\informação clara obre: 10
prevenir problemas futu ro para a mãe e cu filho. O cm- O objetivo do tratamento;
prego de antirrctrovir::u é apena um do componentes o stgnificado dos exames de carga virai c de conta-
dos cuidados pré-natais :\s gestantes soropo iti vas, que gem de linfócitos T C D4+;
demand.1m m.1is atenção no d iagnóstico de comorbida- a necessidade de adesão ao regime terapêutico
dcs como anemia, má-nutrição, consumo de álcool ou propo to;
drogas, doenças coexi tentes (hepatite , infecções geni- os efeito adverso potenciais para mãe c feto;
tais, diabetes) c outras afecções.40 os medicamento que compõem o esquema e eus
A carga virai elevada é o principal fator de ri o as ocia- mecani mo de ação;
do à tran mi ão vertical do HIV. Devido ,,o seu potencial a importância de evitar bebida alcoólic.1s c drogas
de inibição da replicação virai, reduzido risco de rc i tência recrcacionai ;
virai cm curto pra7o e mai segurança do antirretrovirats, a importância do u o sistcmáttco de prc ervativos;
a terapia .wtirrctrovira l tríplice (TA RV) deve ser admi nis- a necc idade de realização periódica das con ultas
tr,lda a todas a gc tantcs infectada pelo Hl , indepen- c dos exame de seguimento.
dentemente da itu.1ção virológica, clínica ou imunológica.
Chama-!>e regime profi lático ou o de TARV em gestante~ omo mencionado anteriormente, a tndicação de
com o un1co objetivo de evitar a tra n mi são vertical do ví- TARV na gestação pode ter dois objctivos: profilaxi.l da
rus. São gestantes relativamente imunocompctente c que tran mi são vertical ou tratamento da mfecção pelo H I .

812 Noções Práticas de Obstetrícia


PROFILAX IA DA TRAN t\IISSÃO VERTICAL DO HIV apresentamcritérios para que seja iniciado o tratamento, de-
vendo iniciá-lo com o objetivo de tratar a doença ou reduzir
Tem como objetivo apenas a prevenção da transmissão o risco de progressão.
vertical c está recomendada para gestantes que não pos- Os principais objetivos da TA RV em gestantes com in-
suem indicação de tratar a infecção pelo HTV, já que são dicação de tratamento antirretroviral são:30
assintomáticas e o dano imunológico é reduzido ou ausen- Reduzir o risco de progressão da doença, diminu in-
te (linfócitos T CD4+ ~ 350 céls./mm3), havendo baixo do a morbidade e a mortalidade associadas ao H TV;
risco de progressão para A IOS. Essas mul heres não seriam melhorar a qualidade de vida;
candidatas a receber algum esquema antirretrovi ral caso preserva r e, quando possível, restaurar o sistema
não estivessem na gestação. O início do esquema deve ser imunológico;
precoce, após o pri meiro tri mestre, entre 14 c 28 semanas supri mi r de forma sustentada a replicação virai, pre-
de gravidez. A profilaxia deve ser suspensa após o parto.30 venindo a transmissão vertical do H TV.

Gestantes cm tratamento antirretroviral deverão manter


TRATAMENTO DA l FECÇAO PELO a medicação após o parto. Éessencial reforçar junto à gestan-
H IV NA GESTAÇÃO te o impacto positivo do tratamento no momento em que se
decide iniciá-lo. O QuadroS 1.3 apresenta as recomendações
Mulheres que apresentam repercussão clínica e/ou imu- principais para iniciar a TARV na gravidez. As recomen-
nológica grave da infecção do HTV têm indicação de trata- dações de TARV são apresentadas em diferentes cenários,
mento, independentemente da gravidez, e em qualquer idade levando-se em conta a idade gestacional, história prévia de
gestacional. Assim, gestantes sintomáticas ou assintomáti- exposição a antirretrovirais, manifestações clínicas do H TV,
cas, com contagem de linfócitos T CD4+ .!> 350 céls./mm 3 contagem de linfócitos T CD4+ c vi remia plasmática.30

Quadro S1.3 1Recomendações para início de terapia antirretroviral na gestação


lclacle gestac1onal Status ciJnJco-laboratorJal Conduta
da gestante

Entre 14 e 28 semanas de Assintomática, com contagem de LT Profilaxia com TARV combinada (associação de três ARVs)
gestação CD4+ :<!:350 céls/ mm3
Após 28 semanas de Assintomática. sem contagem de LT Coletar sangue para contagem de LT CD4+ e CV, iniciar
gestação CD4+ disponfvel imediatamente a profilaxia com TARV combinada
(associação de três ARVs). independentemente do
resultado de LT CD4+ e CV I
< 14 semanas e contagem Assintomática, com contagem de LT Introduzir TARV após a 14' semana de gestação
de LT CD4+ próximo de 350 CD4+ entre 200 e 350 céls/mm 3
céls/mm 3
< 14 semanas e contagem Assintomática. com contagem de LT Introduzir TARV e manter após o parto
de LT CD4+ próximo de 200 CD4+ entre 200 e 350 céls/mm3
céls/mm3
Independentemente da IG Assintomática, com LT CD4+ <200 Introduzir TARV, mantendo após o parto. Introduzir
céls/mm3 quimioprofilaxia para infecções oportunistas
Independentemente da IG Sintomática Introduzir TARV. mantendo após o parto. Introduzir I
quimioprofilaxia para infecções oportunistas
TARV = terapia antirretroviral(esquema trfplice); ARV = antirretroviral; CV = carga virai; LT = linfócitos T; IG=idade gestacional.
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde.30

Infecção pelo Vírus da lmunodeficiência Humana 813


O Quad ro 51.4 .1prescnta o ARVs mai utilizado no f::.SUliiiA llll\ 1\ JRIDOR/ \ \ 't l i l(hfl)f(l\
13ra il, todo di ponibiliLados pelo Mini tério da aúde e DA 'IR \.\'\UUPTA \1 RTI I Jl\ I (1/R ,\ )
P·' sívcis de serem utilizados na gestação, na dependência A associação zidovudi na/ bmivudina (AZT/ TC) é a
da categoria da FDA (Food (llld Dmg Ad111uustratioll) c do mai~ e tudada em gestante infectadas pelo H IV; apresen-
percentual de pa · agem placentária do mcdicc~ mento. tare posta virológica eqUivalente a outras combinaçõe de
doi!> ITR em adu ltos, sendo habtrualmenre bcm-tolera-
da. Pos ·ui a vantagem de c tar di ponível cm coformu bçjo
CO,\ H) I IC I \ RATARV (contribuindo para a comodidade posológica) c ser ampla-
mente utilizada em todo o mu ndo. Recomend.l- c evitar
De\'e- c utiltLar c qucma ompo to de trê antlrre- AZT cm ca os de anemia (I Ib < 8 g/dL) e/ou neutropenia
trovi rai ·, de duas ela ·se diferentes, cja profilático ou (neut rófilo < 1.000 cél . mm 1), com monitoramcnto mat
p.ua trat,lmcnto. frequente ca:.o a hemoglobtna sep inferior a lOg/d L. 10

Quadro SIA IAnt irrctrovi rais, Cc~tegorias de Ge ·taçâo do FDA e passagem tran placentária
Alil i llt'I'O\ I' di [d!t'ljlJI I ,I~ dt• Gt•Stdl olll ild FDA P.~sso~qc111 pe l e~ p l d< t'll\.1
IFood diH~ Or uq klilll l lll~t r ,lt•t J III

llrll)l{ilJit~s lit~ trdnscrrptdst~ reversd dll.tloqos dt~ Hrclcosrdt>os e de nucleot1dt!OS IITRN e IT RNtl
:
I Abacavir c Sim(ratos) !

Oidanosina B Sim (humanos) 1:

lamivudina c Sim (humanos) !

Estavudina c Sim (humanos) I

~
Tenofovir B Sim(humanos) I

Zidovudina I c I Sim (humanos) I


l1r1blliolt!S dt• tloiiiSl lljlt:Jst• rt•vt·rsd lidO diLiloqos dt• II LJCieosld!'os IITRNNI

Efavirenz c Sim (ratos. coelhos)

Oarunavir Ignorado
Fosamprenavir c Ignorado
lndinavir c Sim (humanos)
l opinavir/ritonavir C!B Sim (humanos)

Adaptado de. MS Pubhc Health Serv1ce Task Force."

814 Noções Prát icas de Obstetrícia


A toxicidade hematológica é um dos principais eventos l \L 01./JA 1>0 i.\ /Bll>OR lJA PtWl 1 A.\1 (IJ>)
adversos em gestantes que usam AZT, podendo resultar na Esquemas envolvendo l P devem ser sempre combi nados
modificação do tratamento. Nos casos de im possibil idade com ritonavir como adjuvante fa rmacológico, o qual tem a
do emprego do AZT, a didanosina entérica (dd l EC) ou vantagem de proporcionar níveis sa nguíneos do lP ma is ele-
a estavudina (d4T) permanecem como alternativas para vados e estáveis, por tempo mais longo, o gue determina me-
substituí-lo, sempre combinados com a lamivudina. nos risco de mutações que confiram resistência virai. A sus-
A associação ddl/d4T continua excluída dos esquemas pensão do esquema profilático com lP potencializado com
A RV para gestantes, devido aos relatos na literatura de casos ritonavir está menos associada à ocorrência de mutaçõe de
com acidose lática fatal. Não existem dados suficientes para resistência, devido à alta barreira genética e à meia-vida mais
recomendar tenofovir como medicamento de primeira li- curta deste, quando comparado à nevirapina.30
nha na gestação. Para sua ind icação, deve ser considerada a O inibidor da protease (I P) de escolha para terapia in i-
relação risco-benefício, como no caso de gestantes mul tiex- c ial deve ser o lopinavir/ r (LPV/ r), com base na sua a mpla
perimentadas em TARV (orientado por genotipagem) e/ experiência de uso, na alta potê ncia de supressão virai e no
ou coi nfec tadas com HIV/ H BV.A associação AZT/ 3T C perfil de segurança na gestação. Sua posologia na gestação
vem sendo mantida como a dupla de IT RN de primeira es- deve ser de duas tomadas d iárias (dois comprimidos de
colha para compor o esquema ant irretroviral inicial. 30 12/ 12h), po i não há dados que subsid iem sua utilização
uma vez ao dia. Já c m relação a mul heres em uso prévio à
ht 0 / H.\ J)()<; 1:-..tfl/DORI S \\O \.\':\LOt.<h /li gestação de l P, pode-se considerar o aumento da dose do
;\'tt/Hl\1/)/(l\[l\ rn~\\CR/1'1~\1 RIIIJ.(\1(/lR\'\) LPV/ r para t rês comprim idos em duas tom adas, particu-
Qpanto à escolha dos ITRNNs na gestação, a nevira- larmente no te rceiro t rim estre: contudo, os dados ai nda
pi na ( N VP) continua sendo a opção dessa elas e, devido são insuficie ntes para de fi n ir essa recomend ação.
ao potencial teratogênico do efavirenz (EFZ). Entretanto, O saquinavir tem pe rfil fa rmaco cinético mais está-
a nevirapina não pode ser utilizada de fo rma indiscrimina- vel, não necessita nd o de ajuste de d ose; porém , está as-
da na gestação, devendo ser selecionadas as gestantes com sociado a expressiva co m plex idade posológica e ri sco de
potencial indicação para seu uso. l sto p orque vá rias publi- hepatotoxic id ade.
cações na literatu ra mostra ram elevada toxicidade hepáti- Em situaçõ es específicas, o indinavir pode ser ind ica-
ca e/ ou cutânea em gestantes durante a adoção de nevira- do e m associação com o ritonavir. Seu uso está ligado, no
pina, varia ndo de 2,7 a 29%, acometendo pri ncipalmente entanto, à formação de cálculo renal na gestante e no con-
mulheres com contagem de li n fócitos T C D4+ acima de cepto, alé m de potencial elevação de bili rrubina ind ireta.
250 céls./m m 1. O atazanavir (ATV), reforçado com ritonavir, apre en-
O utro fator associado à toxicidade hepática da nevira- ta pouca alteração fa nnacocinética, passagem transplacen-
pi na é a coin fecção com hepat ites virais. Assim, existindo tária ao redor de JO% do risco de aumentar a bilirrubi na
elevado ri sco de hepatotox.icidade (9,8 vezes ma is alto) indireta no recém-nascido. Existem poucos estudos ava-
associada à nevirapina em mulheres com imun idade m ais liando sua uti lização durante a gravidez.
preservada ( partic ularmente com contagem de linfócitos Em relação ao fosamprcnav ir (FPV), não existe m da-
T C D4+ ~ 250 cél ./mm 3) ou que apresenta m doença he- dos que demonstrem sua segurança na gestação. O FPV e
pática (como, por exemplo, coinfecção com hepatites vi- o LPV/ r na apresentação solução oral são contraindicados
rais), esse medicamento somente poderá ser utilizado em na gestação, devido à presença de propilenog:icol.
gestantes com imu nidade mais comprometida. O Comitê Assessor do Ministério da Saúde recomen-
Q pando indicado o tratamento com nevirapina, suas da que a associação LPV/ r seja a opção preferencial no ca-
doses devem se escalonadas para d im inuir o risco de efei- sos em que a terapia in icial envolva a escolha de in ibido r da
tos adversos, notada mente o exa ntema. Inicia-se com u m protease. O s Q uad ros 5 1.5 e 5 1.6 sintetiza m os esquemas
comprimido ao d ia durante os pri meiros 14 dias, passan- para iniciar TARV na gestação. lo
do-se à dose plena de um comprimido a cada 12 horas, a Apesa r das evidências da eficácia dos antirretrovira is
partir do 15° dia. 30 na redução da transmissão vertical do HIV, existem dados

Infecção pelo Vírus da lmunodefi ciência Humana


815
demonstrando a indução de mutações virais associada à daquelas que não estejam ob cuidados e/ ou tratamento
rc istência aos antirrctrovirais, com potencial impacto im- cm relação ao H IV. A revisão de sistemas deve buscar evi-
portante na opções futura de tratamento para mulhere!. dência de progre ão ou e tabilidade da doença. A abor-
c riança!..40 H egundo Kakehasi et n/.43 , pode haver signi- dagem dos aspectos sociais c psicológicos dessas mulheres
ficativa redução de opçõe terapêutica para a pacientes (c é de extrema importância para a avaliação da po ívei
seu filho infectados) que de envolverem, após a suspen- repercussões da doença nas uas vidas c na gravidez, vi-
são dos ARYs no parto, mutações vi rais resi tentes aos me- sando à adesão dessas paciente às medida terapêutica e
dicamentos u ados du rante a gestação. Neste estudo, foi preventivas.
detectada alta taxa de rc istência ao nelfinavir (23,"%) cm
mulherc expostas ao regime-padrão de TARY utilizado
Q u.1dro -t.sj E quemas para iniciar TARY na gc tação
durante a gravidez no 13rasil (zidovudina/ lamivudina/ ncl-
finavir) c que interromperam após o parto. Lyons et n/.41 e Esquernil Grupos dt? ARV

Kakcha 1 ct a/.43 não constataram mutaçõe rc~istente am Preferencial 21TRN +lP/r


ITRN N cm grupos de mulheres que receberam TARY ------
Alternativo 2 ITRN + ITRNN
contendo ncvirapi na e interromperam apó o parto. Entre-
ITAN = inibidor da transcriptase reversa análogode nucleosideo ou
ta nto, alta prevalência de mutações associadas à resistência nucleotideo;
à ncvirapina em monoterapia tem sido dcscrita.42 lP= rnrbrdor da protease; r - ntonavir como ad1uvante farmacológrco.
ITRNN = inibidor da transcriptase reversa não análogo de nucleosfdeo

ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL
Quadro 51.6 j Medicamentos e esquemas para iniciar
Na a sistência pré-natal à grávida soropositiva, deve-se TA RV na ge tação
levar em consideração, em primeiro lugar, a época do diag- Grupo Prrrnerril Seçjtrrldn escolhél
nóstico. A abordagem da paciente diagno ticada recente- ldrmacologrco escolha
mente difere cm alguns a pecto da grávida já portadora
crônica do vírus. Os pontos fundamentai e a diferenças
21TRN IAZT+3TC- - +ddl-EC- +3TC ou d4T + 3TC
na abordagem e tão sumarizado no Quadro ' 1.7. lP I LPV/r SQV/r
ITRNN NVP•
AZT = zidovudina; ddl EC = didanosina entérica; 3TC = lamivudina.
A PR I ME I RA CONSU LTA d4T = estavudina; NVP = neviraprna
LPV = loprnavir. r= ritonavir como adjuvante farmacológico. SOV = saqurnavir
' A NVP deve ser usada com cautela em mulheres com lrnfócrtos T CD4+
Deve- c obter a história atuai e prévia abra ngendo- c os O!250 céls./mm1 devido ao risco elevado de hepatotoxicidade.
aspectos cl ínicos c obstétricos da paciente, principalmente

Quadro Sl.7 j Aspectos fundamentais na assistência à gestante seropositiva


Ternpo dl? 1nfecc ao Conrluta

Infecção CrOnica Verificar data do diagnóstico. tempo de infecção e infecções oportunistas


Avaliar contagem de linfócitos T CD4+ e carga virai já realizados
Avaliar terapia antirretroviral atual e prévia
Orientar sobre a prevenção da transmissão vertical
Diagnóstico Recente
-------------------------
Aconselhar sobre história natural da doença. prevenção de infecções e prognóstico
Oferecer suporte psicológico e social
Avaliar o estado atual da infecção. através da dosagem de carga virai e CD4
Avaliar terapia antiretroviral atual e prévia
Orientar sobre o uso de antirretrovirais para a prevenção da transmissão vertical

816 Noções Práticas de Obstetrícia


A análise da história sexual e social permite abordar a Todos os procedimentos invasivos (amniocentese, bi-
necessidade do condom durante a gestação, enfatizando ópsia de vilo corial e outros) estão contra indicados durante
seu papel complementar na prevenção da transmissão ver- a gestação, no trabalho de parto e no parto, pois envolvem
tical. Deve-se também identificar possíveis fatores adver- mais possibilidade de infecção fetal. O rastreamcnto de
sos, como o tabagismo, consumo de drogas endovenosas malformações deve ser realizado com métodos não invasi-
e alcoolismo. vos (ultrassonografia morfológica e marcadores bioquím i-
A propedêutica laboratorial inclui os exames básicos do cos de primeiro e segundo tri mestres).
pré-natal acrescidos dos exames necessários para avaliação
da progressão da doença, de possíveis alterações causadas
pelos anbrretrovirais c das sorologias e testes para infec- CONS U LTAS SUBSEQUENTES
ções oportunistas. Alguns exames não estão disponíveis
em larga escala nos serviços públicos, devendo ser reali- Baseando-se em achados clínicos, o exame físico de-
zados em centros de referência. Nas pacientes previamente talhado deve ser repetido, caso haja suspeita de evolução
seropositivas à gestação, deve-se verificar a realização e data da doença no curso da gravidez. O exame geni tal pode ser
desses exames e repeti-los conforme necessidade ou indica- novamente realizado a cada trimestre, independentemente
ção clínica (Quadro 51.8). de queixas. Na presença destas, torna-se obrigatório.
O exame físico inicial deve ser o mais detal hado possí- Deve-se discuti r com a gestante o risco adicional de
vel, com especial atenção aos sistemas mais afetados pelo transmissão do vírus através da amamentação e as op-
H IV e aos possíveis sinais de imunodeliciência que elas ções de alimentação de seu fi lho. A amamentação está
possam apresentar, tais como: contraindicada e fórm ula láctea substituta é fornecida nos
Candidíase vaginal de repetição; centros de referência de atendimento a pacientes portado-
candidíase oral e esofagiana; res do HIV 30
pneumonia atípica; Os exames laboratoriais a serem repetidos ou realiza-
herpes zoster recorrente; dos estão detalhados no Quadro 51.9.
molusco contagioso extragenital;
neoplasia intraepitelial cervical (NIC) recorrente;
herpes geni tal recorrente e atípico.

Qyadro 51.8 1Exames laboratoriais na primeira consulta da gestante seropositiva


Exames Comentar1os

Hemograma Acompanhamento da toxicidade dos antirretrovirais (principalmente o AZT) I


Linfócitos TCD4+ e Carga Virai Avaliação, estadiamento da doença e indicação do uso dos antirretrovirais I
Função Hepática e Renal Acompanhamento da toxicidade dos antirretrovirais I
VDRL. Hepatites B e C Co-infeccão HIV/Sífilis. Hepatite C/HIV e vacinação para Hepatite B I
Toxoplasmose Risco de reativação, se os linfócitos T CD4+ estiverem abaixo de 100 células/mm3 I
Rubéola, urocultura, grupo Exames básicos
sangüíneo, fator Rh e glicemia
I
Citomegalo vírus (CMV) Risco de reativação I
PPD Teste positivo (>5mm): realizar profilaxia de tuberculose I
Cultura e/ou PCR para Não obrigatórios
clamfdia e gonococos I
Citologia oncótica cervical Rastreamento de neoplasia intraepitelial cervical !
Infecção pelo Vírus da lmunodeficiência Humana 817
Quadro 51.9 1Exames subsequentes e sua periodicidade no decorrer da gestação
Exame Per1od 1c1dade Comentar10s
Hemograma Mensal Avaliação da toxicidade pelo m I
Função Hepática e Renal Mensal Avaliação da toxicidade por inibidores de
protease e nevirapina I
--
Carga Virai Trimestral (realizar a última entre 34 e Indicação de terapia antirretroviral e via de parto
36 semanas)
Linfócitos T CD4+ Trimestral Avaliação da progressão da doença e indicação
de terapia antirretroviral
Glicemia pós-dextrosol 24 a 28 semanas Rastreamento para o diabetes gestacional
Amilase Mensal Avaliação da toxicidade dos inibidores de protease
VDRL Trimestral Reduzir a morbidade perinatal
Sorologia para CMV e Trimestral para gestantes com lgG Avaliar reativação da doença materna
Toxoplasmose positiva e lgM negativa Avaliar o risco de infecção congênita
Mensal para gestantes com lgG e lgM
negativas
Swabdo introito vaginal e perianal
para cultura do Streptococus 8
35 a 37 semanas Reduzir a morbidade perinatal
_j
Rastreamento para vaginose. 24 e 32 semanas (quando for possível) Prevenção de parto pré-termo
clamídia e gonococo
Ultrassonografia Primeiro. segundo e terceiro trimestres Determinação da idade gestacional. morfologia e
acompanhamento do crescimento fetal
CMV = citomegalovfrus; AZT = zidovudina.

I MUNIZAÇÕES As vacinas com vírus vivos não devem ser realizadas


durante a gestação. Estão contraindicadas: tríplice virai
Em gestantes portadoras do Hl V, considerar a imuni- (contra sarampo, caxumba e rubéola) e a vacina contra a
zação quando: varicela. A vacina contra a febre amarela deve ser evitada.
O risco de exposição a determinado patógeno for No entanto, em regiões de alto risco da doenç.a ela poderá
considerado elevado; ser realizada dura nte a gravidez, no terceiro trimestre, con-
o risco de infecção tanto da mãe quanto do recém- sideranto-se a alta morbimortalidade da infecção.
-nascido for elevado; Sempre que possível, deve-se adiar a admi nistração de
a vacina dispon ível não causar sabidamentc danos à vacinas em pacientes sintomáticas ou com imunodeficiên-
saúde da mãe c do recém-nascido. cia grave (contagem de linfócitos TCD4+ inferior a 200
céls./mm3) até que um grau satisfatório de reconstituição
A admi nistração de vacinas com vírus vivos atenuados imune seja obtido com terapia antirretroviral, o que pro-
em gestantes e/ ou pacientes com imu nodeficiência está porciona melhora na resposta vacina i e reduz o risco de
condicionada à análise individual de risco-benefício e não complicações pós-vacinais.
deve ser realizada em casos de imunodepressão grave. AJém Alguns estudos demonstram elevação transitória da
dos aspectos que dizem respeito à gestação, é preciso con- carga virai após a imunização, fenômeno denominado
siderar as condições imunológicas da gestante. Na infecção transativação heteróloga, que pode du rar aproximadamen-
pelo HIV, à medida que aumenta a imunodepressão, reduz- te quatro semanas. Essa elevação da viremia, mesmo que
-se a possibilidade de resposta imunológica consistente. tra nsitória, pode aumentar o risco de transmissão vertical

818 Noções Práticas de Obst etríc ia


do HIV, o que configura mais uma razão para postergar o Em relação ao peso fetal, não parece haver diferenças na
início do esquema vacinai para após o início do tratamento evolução do ganho ponderai du rante a gestação, nos países
antirretrovi ral. Também devido à transalivação heteróloga, a industrializados. Entretanto, estudos realizados em países
vacinação deve ser evitada no final da gestação, já que este em desenvolvimento têm descrito a redução do peso fetal
é o período de mais risco de transmissão fetal. das crianças de mães seropositivas, quando comparadas às
. 44
Na gestação, a recomendação na rotina do pré-natal soronegattvas.
geral é realizar a imunização para o tétano. No entanto,
dependendo das condições locais e da história de vida da
gestante H I V positivo, podem ser indicadas outras vacinas A VIA DE PARTO
durante a gravidez (Qpadro 51.1 0).
A transmissão intrapa rto do vírus pode ocorrer através
da via ascendente, mediante o contato direto do sangue
l NTE RCORR ÊNClAS GE STACI O NAIS materno e feta l ou, ainda, através do contato do feto com
as secreções cervicais e vaginais maternas, quando do des-
Alterações tubárias causadas pela coinfecção com ou- prendimento. A pri mei ra grande polêm ica na literatura a
tros patógenos causadores de DST (clamidiose e gonor- respeito das grávidas seropositi vas envolveu a discussão da
reia) au mentam o risco de gravidez ectópica. De forma via de parto mais aconselhável para essas mulheres, com a
semelhante às mu lheres soronegativas, os abortamentos atenção voltada para evitar a transmissão vertical do vírus.
de prime iro tri mestre podem ocorrer em até IS% e os do Estudos europeus mostraram redução das taxas de trans-
segundo trimestre cm somente l %das gestações. missão vertical quando se realizava cesariana eletiva em todas
O HIV pode ser fetotóxico, desencadeando lesões em as gestantes, conduta que não era aceita universalmente.46.4-
múltiplos órgãos do feto, com seu mais forte impacto no Metanálise publicada no início de 1999 confirmou as evi-
ti mo, com perda dos linfócitos da camada córtico-medu- dências da proteção para os fetos ao ser realizada a cesa riana
lar,levando a processo infla matório (timite) com posterior eletiva. Em 8.533 pares selecionados cujas mães eram seropo-
imunossupressào scletiva.45 sitivas e receberam antirretrovirais, a cesariana eletiva reduziu
a taxa de transmissão vertical a 2%(OR = 0,4Si lC: 0,33-0,56)
(Figura SJ.1} 48

Q\Jadro 51.10 IVacinas recomendadas em gestantes seropositivas para o H I V


l mtllll/íiÇdO Recomr.IHiilc<HJ

Vacina para tétano e difteria Indicado o reforço caso a última dose tenha sido administrada há mais de 5 anos. Se a gestante
(dT) não for vacinada ou o estado vacinai for desconhecido, indicar três doses (esquema-padrão).
Vacina para hepatite B Recomendada para as gestantes suscetíveis (Anti·HBs negativo). em situação de risco. A dose
deve ser o dobro daquela recomendada pelo fabricante: momento O, 1, 2 e 6 ou 12 meses.
lmunoglobulina humana para Recomendada para as gestantes suscetíveis (anti-HBs negativo). as usuárias de drogas que com-
vírus da hepatite B(HBIG) partilham seringas e agulhas, aquelas que tenham tido contato sexual desprotegido com pessoas
HBsAg positivo ou em caso de vítimas de violência sexual. Deve ser iniciada ainda nos primeiros
14 dias de exposição.
Vacina para hepatite A Recomendada para as gestantes suscetíveis (anti-HAV negativo) coinfectadas com hepatite Bou C.
! Realizar duas doses com intervalo de 6 meses.
lnfluenza Recomendada anualmente para os infectados pelo HIV, antes do período da influenza. Vacina
inativada trivalente, 1 dose anual, pode ser feita na gestação. i
!
lmunoglobulina para vírus da Recomendada para as gestantes suscetíveis (antiWZ negativo), após exposição em ambiente
varicela-zoster (WZ) doméstico. hospitalar ou com vizinhos próximos. l
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde.JO

Infecção pelo Vírus da lmunodeficiência Humana 819


Ma mi

,A.CTS

ECS

v...
MICS

wrrs
--
-
LACIIJSC•

P2C2•
E..:adoond•~ I
m . . •Nirrt- ~
Aaftdom..tfecl•
m . .. . , . ..,_ ~
obl OI IJ) I
Odds fta110

OR - 0,43 (0,33 - 0,56)

Figura 51.1 I Estudos de coorte de mães soropositiv.ts, mostrando a protcção da ce ariana eletiva na transm is~ão do H I
durante a ge~taçâo.
4~
Fonte: 1l1e lnternational Pcrinatal H IV Group.

Embora os dados atuais ainda ejam limitados, acre- AZT ENDOVENOSO NO TRABALHO DE
dita-se que o benefício adicional da cesariana clctiva na PARTO E ANTES DA CESARIANA ELET IVA
prevenção da tran mis ·ão vertical com nível de carga
vira i i ndetcct~vel cja irnprovávcl. 49 Baseado em estudo Toda gc tante oropositiva para o H IV deve receber
internacionais, o 1inistério da aúde recomenda o par- AZT cndovcno o no início do trab.tlho de parto até o
to por cc ariana eletiva em toda as mulhcrc com carga nasci mento do recém-na cido, independentemente do
virai igual ou superior a 1.000 cópias/ mi, determinada a esquema antirrctroviral utilizado no pré-m tal e do nível
parti r de 34 semanas, ou naquela · cm que esse parâmetro da carga vir.tl.
laboratorial não e tiver d i ponível. Para mulheres com Os antirrctrovirais que a gestante estiver usando du-
carga virai inferior a 1.000 cópias/ mi, aferida a parti r de ra nte o pré-natal devem ser mantido no período da in-
34 emana de ge tação, a via de parto é por indicação ternação para o parto, independentemente do período
obstétrica.lo de jejum e do uso de AZT injetável, para maximizar o
A incidência de complicações pós-operatórias cm pa- efeito de protcção da transmissão vertical c reduzir o ri~­
cientes seropositivas parece ser mais alta do que na popula- co de desenvolvimento de resi tência ao antirrctrovirai .
ção obstétric.t cm geral. Existem algu ns estudos retro pccti- Se os medicamentos forem interrompidos após o parto
vos c outros prospectivas, mostrando elevadas taxas de febre, (TARV para fin profilático ), toda~ a droga devem cr
endomctritc, infecção da ferida operatória e pneumonia nas uspen as conJuntamente, cxccto os esquemas contendo
pacientes H 1V positivo submetida à cesariana (eletiva ou ncvirapina ( V P), no quai e ta deverá cr retirada ini-
de urgência), quando comparadas às que tiveram parto por cialmente, mantendo-se AZT c 3T por um pcrfodo de
via vaginai.'IS.w Estudo realizado em Belo Horizonte com- uma a duas semanas, para evitar resistência à VP. Ca o
parando a morbidade de puérpera portadora (n=82) c a gestante esteja utilizando cstavud ina, esse medicamen-
não portadoras (n= 123) do H 1V, com segui mento .lté suas to deve ·er interrompido ante da administração de AZT
semanas apó o parto, mo trou que a morbidade é muito endovcno o. 30
semelhante, apesar do risco au mentado de endomctrite no Em gc tante que forem ubmetida à ce ariana clcti-
grupo portador do vírus.'1 v,t, a infusão de AZT deve ser iniciada três horas an tes da

820 Noções Práticas de Obstet ric ia


ciru rgia e mantida até o na cimento do recém-na cido. Conforme recomendação do Ministério da aúde,
A~ pacientes H IV positivo que chegam à maternidade em !>ituaçõc de não di ponibilidadc da AZT injet.ível no
cm trabalho de parto c que não fizeram a profilaxia com momento do parto pode- e utilinr AZT oral n.1 l>cguin-
AR durante a gc tação iniciarão imediatamente AZT te do c: 300 mg de AZT oral no começo do trabalho de
endoveno o. parto ou ã ad mi ão, eguida de 00 mg a cada trc hora
até o clampeamento do cordão umbilical. Entretanto, a
orientações para a utilização desse esquema provêm de ca-
ESQllf \ IA DA Z IOO\'U DI A I J ETÁVI:.L suísticas limitadas que ai nda não possuem evidências na
literatura. 10
É a cgui ntc a ap re cntação comercial da zidovudina
(AZT) para er infundida por via endovenosa: fra coam-
pola de 200 mg com 20 mi (IOmg/ ml). A parturiente deve Ü S C UI DADOS NO PA RTO VAGINAL
receber AZT por via endoveno a desde o in ício do traba-
lho de parto até o clampeamento do cordão umbi lical. Cu10 oos C OI\t A Gt "iTA n
Po11ologia e do el>: iniciar a infu ão, em acc o vcno o,
individual izado, com 2 mg/ kg na primeira hora, seguindo Havendo condições favoráveis para a realização do par-
com a infu ão contínua com I mg/ kg/ hora até o clampea- to vaginal, o Mini tério da aúdc rccomcnda: 10
menlo J o cordão umbili ai. Diluir em oro glico .u.1o a -<lo Administrar AZT endovenO!>O de de o inícto do
c gotcpr, conforme recomendado no Q uadroS 1.11 . A con- trabalho de parto até o cbmpcamcnto do cordão
centração não deve exceder 4 mg/ ml. 10 umbi lical;
evitar, emprc que po ívcl, a realização da cpi io-
tomia;
monitorar adequadamente o tr:tbalho de parto evi-
Q uadro 1. 11 I Esquema posológico da zidov udin:~ inje-
tável (AZT) de acordo com o peso da parturiente tando toque repetido ;
evitar o trabalho de parto prolongado;
Atdq11e I 2mu klJI correr nd p riTnerra lwrd
evitar que as parturientes permaneçam com bol-
Pe so cid pil c rente Ouant1dade Numero sa rota por mais de quatro hora~. podendo utilizar
lJ(Iovud1na
dt! !gotas JIIJJI!
ocitócico , de de que de forma adequada c com
I 40 kg I 8ml 36 acompanhamento contínuo, re!.pcitada as was
10ml 37 contraindicaçõcs. No caso de rotura precoce das
l_ sokg
membranas corioamnióticas c prevendo-se longo
60 kg 12 mi 37
t-- período de trabal ho de parto, pode cr indic.tda a
70 kg 14 mi 38 cesari:~ n a para evitar :~lto risco de transm iss.:io ver-

~
80 kg 16ml 39 tical nesses casos;
ob erva r o padrõc de segurança já conhecido. ao
90 kg 18 mi 39
util izar farmaco · que aumentam a atividade uteri-
Mdlllltençao llm\Jik\J/horal em1nfusao con t Jntlil na, apesar destes não estarem contra indicados;
40 kg 4ml 35 I
não us:~r procedimento invasivos (escalpo cefáli-

I 50 kg
- -
5ml 35 I
co), que e ·tão cont ra indtcado , a im como fórcipe
e vácuo-extrator;
l_ 60 kg
70 kg
80 kg
6ml
7ml
8ml
35
36
36
-1 I
ma nter a bolsa íntegra, sempre que possível, até o
período expulsivo;
clampar imediatamente o cordão após a cxpul ão
- fet:~l;
90 kg 9ml 36 I não isolar a paciente portadora do H IV, tendo o cu i-
Fonte. BRASIL Ministério da Saúde.30 dado de lhe rc crvar banheiro privativo.

Infecção pelo Vírus da lmunodeficiência Humana 821


f>RI C.\l ÇÔI'> UI\.!\ l-R'>AIS OA FQU I PI utilizar equi pamentos de protcção individual
(EPI) na manipu lação da placenta, do cordão um-
As precauções básicas e universai são medida de bilical e nos cuidados imediatos ao recém-nascido,
prevenção que devem er adoradas em qualquer paciente, devido à possibil idade de exposição a sangue e lí-
independentemente do diagnó tico definido ou pre u- quido amniótico.
mido de doença infecciosas, quando d.1 manipulação de
angue, ecreçõe , excreções, mu osa ou pele não íntegra.
Essas medidas incluem a utili zação de equipamento de ROTINA S PARA A REALIZAÇÃO
protcção individual (luvas, m,íscara, óculo de proteção, DA CESARIANA ELETIVA
capotes c aventais), com a finalidade de reduzir a exposição
da pele c das mucosas do profis ional de saúde ao sangue A cesariana clctiva deve ser rea lizada com 38 semanas
ou fluidos corpóreos de qua lquer paciente. \O completas de gravidez, utilizando, para estabelecer a cor-
Segundo o Ministério da Saúde, os profissionais de reta idade gcstacional, parâmetro clínicos e ccográfi cos.
saúde (cm especial os cirurgiões), a equipe de limpeza, Estudo publicado cm 2009 ava liou 13.258 ccsáreas clcti-
de laboratório e todo o pessoal do ho pi tal que lida com vas, mostrando aumento de risco de desconforto respira-
materiais perfurocortantc devem tomar outros cuida- tório e outros eventos adversos no recém-nascido quando
dos especiais para prevenir acidente . Em caso de ex- a interrupção ocorria antes das 39 semanas de gestaçãoY
po ição ocupacional ao HIV, ainda não cx.istc qualquer Esse c tudo confirmou a preocupação das sociedades
tipo de quim ioprofilax ia ab olutamente segura, o que internacionai de Obstetrícia e Pediatria com o elevado
reforça a necc sidade do rigoroso e ·tabelecimento de número de interrupções precoce (entre 36 e 38 sema-
normas universais de bio egurança para reduzir o risco nas) da gravidez por ce ariana eletivas, cm detrimento
dessa exposição. 10 da saúde nconatal.
O Ministério da Saúde recomenda o seguinte cuida- Definida a cirurgia eletiva e tendo sido confirmada
dos específicos para a proteção dos profissionais de saúde a idade gcstacional adequada para a interrupção, após a
durante o parto (vaginal ou cesárca) da mulher infectada internação da ge tante o AZ T veno o deve er aplicado
pelo HI V: 10 três hora antes do procedimento, para gue o med ica-
Preferir cmprc seringa de plástico (isso se aplica mento atinja níveis intracelu lares satisfatório no feto.
para a cpi. iotomia, quando não puder ser evitada); lsso corresponde à dose de ataque e a duas dose de
preferir sempre te oura cm vez de bisturi; manutenção, gue deve ser mantida até o clam pcamcn-
nunca utiliza r l:i mina de bi turi de montada (fora to do cordão umbilical. O esguema utili zado é o pro-
do cabo); posto pelo Pediatrics AlDS Clinical Trials Group Prol oco/
preferir fio de utura agulhados; (A TG 076) e padronizado pelo M inistério da alldc
evitar agulhas retas de sutura, pelo alto ri co de aci- (O!Jadro ~ 1. 1 1 ).
dente pcrcutânco; A cirurgia deve er realizada por profis ional experien-
uti Iiza r sempre pi nças auxiIia res nas suturas, evita n- te, obedecendo-se a criteriosas regras de bios cguran a.
do manipulação dos tecidos com os dedo durante Deve-se proceder à cuidado a hemo tasia em todos os
a sutura da episiotomia (quando esta for necessá- plano cirúrgicos e somente real izar a amniotomia imedia-
ri a), durante o fechamento por planos na operação tamente antes da extração fetal, sempre após completar a
cesariana e outro procedimentos; histerotomia, minimizando o contato do anguc materno
evita r utu ra por dois cirurgiões, simultaneamente, com o feto. O!Jando a extração feta l pelicada não for pos-
no me mo campo cirúrgico; sível, orienta-se a aspiração do líquido amn iótico anterior
atentar para que a passagem de materiai perfuro- à retirada do feto. Realiza-se o clampeamento imediato do
cortantes (bisturi, porta-agu lha montados c ou- cordão umbilical. Todas as pacientes devem receber anti-
tro ) do auxiliar para o cirurgião cja feita por meio bioticoterapia profilática após a ligadura do cordão umbi-
de cubas, após aviso verbal; lical, com cefazolina ou cefalotina (2 g cm dose ll nica). 10

822 Noções Práticas de Obstetricia


PUERPÉRIO a determinados fármacos. A cabergolina na dose de l mg
(do c única) é alternativa bastante eficaz, mas de custo
Alguns cuidados à puérpera soropositiva são impor- elevado. Os fármacos com altas do e de e trogênio (hexa-
tantes mencionar, tendo em vi ta a sua proteção, a do re- -hidrobcnzoato de estradiol), embora sejam eficazes na in i-
cém-nascido e da equipe as istente. bição da lactação, aumentam significati va mente os riscos
de fenómenos tromboembólicos.

MEDIDAS GERAIS
EFEITOS ADVERSO S
A puérpera deve ser adequadamente orientada sobre os DOS ANTIRRETROV IRA I S
riscos da transmissão do vírus através do leite e da contrain-
dicação do aleitamento materno.
A equipe deve estar atenta para ina i de depressão e/ O s antirretrovirais (ARV) recon hecidamente trazem
ou baixa autocstima que possam surgir nesse período, diver o efeitos colaterais, principalmente com uso pro-
principal mente pela proibição da lactação, oferecendo longado. As alterações fisiológicas que ocorrem durante
sempre apoio psicológico e social. a gestação podem afetar a cinética da absorção, distribui-
Para a pacientes que não necessitarem da manutenção ção, biotransformação e eliminação dos medicamentos,
da TARV após o parto, deve-se ter cuidado especial caso alterando potencialmente a susceptibilidade da gestante à
o esquema adotado inclua a nevirapina. Nessas situações, toxicidade aos diferentes fármacos.
como já sugerido anteriormente, a suspensão da nevirapi- A maior parte das informações referente!> à segurança
na deve anteceder a suspensão dos outros nucleosídcos em dos medicamentos na gestação é oriunda de estudos reali-
uma a duas semanas. Essa medida tem como objetivo di- zados em animais, relatos de caso c registres de dados de en-
minuir o risco de resistência vi rai devido à maior meia-vida saios clínicos. Os dados pré-clínicos não se correlacionam
da nevirapina. necessariamente com os eventos adversos em humanos.
É fundamental que seja garantido o retorno da paciente Entre os antirretrovirais disponíveis, a zidovudina é a que
à maternidade (ou ambulatório) entre sete e lO dias após o mais apre enta dados relativos à segurança na gestação; as
parto, além da revisão puerperal habitual no pucrpério tar- informações sobre os outros antirretrovirais ão limitadas. 10
dio. Como as puérperas infectadas pelo H I V têm a lactação
inibida, a introdução de método contraceptivo deve ser dis-
cutida já na alta hospitalar, podendo ser iniciados os contra- SOBRE A MÃE
ceptivos hormonais orais ou injetáveis quat ro semanas após
o parto. A puérpera deve er orientada sobre a importância t bastante conhecida a pancitopenia que pode ser cau-
do método de barreira associado à contracepção escolhid:1. sada por.AZT dura nte a gravidez, levando a grave anemia e
linfopenia em algumas mulheres. A frequência de anemia
observada em gestantes cm uso de zidov udina para profi-
INIBIÇÃO DA LACTAÇÃO laxia da transmi são vertical do H IV varia de 2 a 40% nos
diferentes estudos, incluindo esquema profilático usados
O enfaixamcnto das mamas deve ser realizado logo por períodos muito va riáveis. Ela deve ser interrompida
no pós-parto imediato, com o objetivo de inibir a lactação. quando a hemoglobina e tá abaixo de 8 g/ dL ou quando
Essa medida clínica res ulta cm inibição efetiva da lactação os neutrófilo estão abaixo de 1.000 células/ mm 1.
cm cerca de SOOu da pacientes. O enfaixamento deve ser O fenômeno da toxicidade mitocond ria l, provoca-
mantido por período de etc a lOdias, tomando-se o cuida- da pelos inibidores da transcriptase reversa nuclcosídco
do de orientar a puérpera para não promover manipulação (ITRNs), também foi registrado em algu mas gestantes.
nem estimulação das mamas. Alguns investigadores têm levantado a hipótc c de que a
Ql.Jando necessário, nos casos de insucesso do enfai xa- toxicidade mitocond rial seja mais comum nas grávidas do
mente contínuo na inibição da lactação, pode-se recorrer que nos outros paciente que usam esses medicamento 9 ·40

Infecção pelo Vírus da lmunodeficiência Humana 823


Em inúmeras pesquisas, a nevirapina- em dose única no também podem produzir efeitos advcr os nos conceptos,
parto - provocou o aparecimento de vírus mutantes resisten- quando de sua utilização pela mãe, durante age tação.
te cm vária mulheres.42 Entretanto, quando o medicamento Atualmente, não se conhece efeito tcratogênico provo-
é utilizado como parte de um esquema antirretroviral com- cado pelos inibidores da transcriptase reversa nucleosídeos
binado, não se observa o desenvolvimento de resistência.41•43 (ITR s), do grupo do AZT. Entretanto, como são utili-
Existem relatos isolados de casos de hepatopatia grave, zados ai nda em alguns pabc:; como monotcrapia ou em
com morte materna, associados à nevirapina na gravidez, combinação dupla, têm surgido casos de desenvolvi mento
o que indica a necessidade de monitoração materna ade- de resistência virai. O principal efeito colateral desses antir-
quada quando do uso desse medicamento. O raslz cutâneo retrovirais é a anemia transitória que provocam no ncona-
nem sempre precedeu a fa lência hepática.40 to, que regride após a suspensão do mcdicamento.q
Foram informadas três mortes maternas cm mulheres A evidências do efeito teratogênico do efavircnz sur-
que receberam o esquema didanosina (DOI) c cstavudina giram de estudos prelimi nares feitos cm modelos animais,
(d4T) associado ao de envolvimento de acidosc lática du- que demonstraram efeitos deletérios em células progenito-
rante a gravidez. Portanto, não se recomenda a utilização ras de diferentes modelos ani mais. Po teriormente, foram
da combinação desses dois medicamentos no esquema a descritos quatro casos de anomalias congénitas do sistema
ser iniciado na gravidez, devendo ser restringido para as nervoso central em crianças ex postas ao cfavirenz no pri-
mulheres que porventu ra já estiverem usando esses medi- meiro trimestre da ge tação, consistente com os achados
camento ante da gestação.5 ' experimentais em animais. No registro americano de antir-
Levantou-se certa preocupação sobre possível efeito retrovi rais e gestação não foi observada alta frequência de
diabetogênico dos inibidores da protcasc na gravidez e de anomalia congênita associada ao efavircnz na gestação.10
possível ação desses medicamentos sobre os derivados do Reduzido número de casos chamou a atenção para a
ergot, provocando hemorragias no parto. São ainda relatos possibilidade de toxicidade mitocondrial de diversos ór-
de séries de ca o · que demandam mais investigação.40 gãos e sistemas dos fetos e recém-nascidos primaria mente
O antt rretrovtrais na gravidez também podem estar expostos aos ITRN . Houve acidosc lática fatal em alguns
associados ao desenvolvi mento ou piora de outros distúr- recém-nascidos, atribuída à disfunção mitocondrial gene-
bio metabólicos previamente existente cm adultos infec- ralizada ne sas crianças.' 3 Contudo, coorte de gestantes
tado pelo HI V. Avaliação i temática do perfi llipídico de acompanhadas nos EUA, em uso de ARV, não evidenciou
248 gestantes na Itália, em profilaxia com medicamentos efeitos adversos neonatais que pudessem ser atribuídos a
antirrctrovirai ·, mostrou que os valore de cole tcrol total esses medicamentos."'
e de triglicéride aumentaram progressiva e significativa- Estudo prospectivo europeu envolvendo crianças ex-
mente dura nte a gravidez e que, em todos os trimestres da postas aos ARVs na gravidez ou no período neonatal traz
gestação, o aumento de trigl icérides foi ignificativa mcn- resultados que, de certa forma, ão tranquilizadores. Es as
tc mais acentuado nas mulheres que recebiam esquemas crianças não se infectaram e, com o seguimento de pouco
contendo inibidores de protease.30 O Qpadro S 1.1 2 apre- mais de dois anos, não foram evidenciadas alterações adversas
senta os principais efeitos colaterais maternos quando do significantes que pudessem ser atribuídas aos medicamentos.
uso de .wtirretrovirais. Não houve, inclusive, anormalidades mitocondriais.55
Prematuridade e baixo peso ao nascer também já foram
referido com possívei eventos as ociados ao ARV durante a
SOBRE O FETO E O RECÉM-NASCIDO gestação. Os estudos não são conclusivos, além de serem con-
traditórios. Estudo europeu, inclui ndo 3.920 pares mães-
Os AR.Vs durante a gravidez, em especial a zidovudi- -filho, mostrou a ocorrência de 17'\J de parto pré-termo, e
na (AZT), têm sido de suma importância na redução da os fatores associados à prematuridade foram imunossu-
tra nsmissão perinatal do HI V, tendo em vista que esses pressão materna grave, consumo de drogas endovenosas e
medicamentos reduzem significativamente a carga virai de esquemas profiláticos contendo outros medicamentos
materna a níveis indctcctáveis em paciente que aderiram antirretrovirais além da zidovudina. No entanto, em coorte
aos diversos esquemas. No entanto, os antirretrovirais de 11.32 1 crianças nascidas de mães infectadas pelo HJ V,

824 Noções Práticas de Obstetrícia


acompanhadas no período entre !989 a 2004, observou-se não recebeu ARV durante a gestação)não encontroualtas
que a proporção de crianças com baixo peso ao nascimento taxas de prematuridade, natimortos ou baixo peso ao nas-
dim inuiu de 35% para 21% e a de partos pré-termo dimi- cer em associação com ARV.5 4
nuiu de 35% para 22% no decorrer do tempo, sugerindo um Coorte de gestantes infectadas pelo H IV e seus recém-
papel protetor da profilaxia antirretroviral nessa população. -nascidos, recrutadas em centros de estudos da América
No mesmo estudo, quando fora m anal isadas as 8.793 mães Latina que fazem parte do N ISDI Perinatal Study, salientou
que possuíam registras de acompanhamento pré-natal, resultados maternos e neonatais de 68 1 pares. Todas as ges-
não houve correlação entre profilaxia ant.irretrovira l e bai- tantes fizeram uso de TARV por, pelo menos, 28 dias du-
xo peso ao nascimento. A ocorrência de prematuridade foi rante a gravidez. A incidência global de baixo peso ao nascer
associada a drogas ilícitas, A IOS, in ibidores de protease du- foi de 12,2% e de parto pré-termo foi de 8,4%, taxas compa-
rante a gravidez e infecção pelo H IV na criançaJ 0 rativamente mais baixas (ou semelhantes) às de gestações
Coorte de 2.123 pares de gestantes infectadas pelo de alto risco dos centros de pesquisa envolvidos. Não foram
H IV e seus fi lhos, entre os quais u m grupo (n=l590) re- encontradas associações significantes entre TARV durante
cebeu TARV (com diferentes esquemas) e outro (n=ll43) a gestação e parto pré-termo ou baixo peso ao nascer.56

Qj1adro 51.121 Efeitos colaterais primários maternos associados aos antirretrovi rais

Class1f1cação e
t1pos de Efe1tos colaterais pnmános e tox1c1dade
ant1rretrov1ra IS
- - - - ----------- ~-- - - - -

Inibidores da Transwptase Reversa Nucleosídeos (ITRNs)

Zidovudina (AZT) Anemia. neutropenia. náusea, cefaleia. insônia, dores musculares e astenia I
Lamivudina (3TC) Dores abdominais, náusea, diarreia. rash e pancreatite I

Estavudina (d4T) Neuropatia periférica; cefaleia, diarreia, náusea, insOnia, anorexia, pancreatite, provas de função hepática
aumentadas; anemia e neutropenia
Didanosina (ddl) Pancreatite. acidose lática, neuropatia, diarreia, dores abdominais e náuseas I
Abacavir (ABC) Náusea. diarreia. anorexia, dores abdominais, fadiga, cefaleia. insônia e reações de hipersensibilidade !
ln1b1dores da Transcnptase Reversa não Nucleosídeos (ITRNNs)

Nevirapina (NVP) Rash (incluindo síndrome de Stevens-Johnson), febre, náuseas, cefaleia, hepatite, e provas de função
hepática alteradas
Delavirdina (DLV) Rash(incluindo síndrome de Stevens-Johnson). náuseas. diarreia. cefaleia. fadiga e provas de função
hepática alteradas
Efavirenz (EFV) Rash (incluindo síndrome de Stevens-Johnson), insônia, sonolência. tontura. distúrbio de concentração e
anormalidades do sonho
ln1b1dores de Protease (IPs)

lndinavir (IDV) Náuseas, dores abdominais. nefrolitíase e hiperbilirrubinemia indireta


Nelfinavir (NFV) Diarreia. náuseas, dores abdominais, astenia e rash I

Ritonavir (R1V) Astenia, diarreia, náuseas, parestesia perioral. alterações do apetite e aumento de colesterol e triglicerídeos
Saquinavir (SOV) Diarreia, dores abdominais. náuseas. hiperglicemia e provas de função hepática alteradas
I
Amprenavir (AMP) Náuseas. diarreia. rash. parestesia perioral. alterações do apetite e depressão I
Lopinavir/ Ritonavir Diarreia, fadiga, cefaleia, náuseas e aumento de colesterol e triglicerídeos I

Inf ecção pelo Vírus da lmunodeficiência Humana 825


Os CuiDADos coM o recomenda-se a não amamentação e substituição
RECÉM-NASCIDO do leite materno por fórmula infantil após o aconse-
lhamento. Em situações especiais, pode ser utilizado
leite humano pasteurizado proveniente de banco de
Os cuidados imediatos com o recém-nascido incluem leite credenciado pelo Min istério da Saúde, como é o
aspiração delicada de vias aéreas, evitando o trau matismo caso de recém-nascidos pré-termo ou de baixo peso;
de mucosas, e a limpeza de todo o corpo com água e sa- são termi nantemente contra indicados o aleitamen-
bão. O recém-nascido deve permanecer junto da mãe, em to cruzado (amamentação da criança por outra
alojamento conjunto. Não há indicação de isolamento da nutriz), o aleitamento misto e o leite hu ma no com
gestante infectada das demais parturientes, desde que lhe pasteurização domicilia ri
seja garantido banheiro privativo. a criança deve ter alta da maternidade com consulta
Está contraindicado o aleitamento materno, devido ao agendada em serviço especializado para seguimento
risco de transmissão por essa via. Deve-se, por outro lado, de crianças expostas ao H! V. A data da primeira con-
garantir o acesso a substitutos adequados do leite materno sulta não deve ultrapassar 30 dias após o nascimento;
por período mínimo de 12 meses. Em situações de prema- deve-se anotar no resumo de alta do recém-nascido
turidade, baixo peso ou restrições a fórmulas lácteas, indicar as informações do pré-natal, as condições do parto, o
leite humano pasteurizado proveniente de banco de leite cre- tempo de uso de AZT injetável na mãe, tempo de iní-
denciado pelo Ministério da Saúde. Contraindicar pasteuri- cio de AZT xarope para o RN, com dose e periodici-
zação domici liar do leite humano e amamentação cruzada. dade, além das mensurações antropométricas, o tipo
Inicia-se a ad mi nistração oral de AZT solução entre de alimento fornecido à criança e outras informações
seis e oito horas de vida. Devido ao risco aumentado de importantes relativas às condições do nascimento.
anemia associada ao A Zl~ recomenda-se a realização de
hemograma na primeira e na sexta semanas de vida, ao tér- O recém-nascido deve receber alta da maternidade
mino do tratamento. com encami nhamento para serviço de referência em aten-
As recomendações do Ministério da Saúde sobre os ção à criança exposta ao H IV e com esquema vacinai ini-
cuidados com o recém-nascido de mães infectadas pelo ciado (BCG intradérmico e hepatite B).
HI V são:30 .A profilaxia para pneumonia por Pneunrocystis carinii
Limpar, com compressas macias, todo o sangue deve ser iniciada a parti r da quarta semana de vida com sul-
e secreções visíveis na superfície corporal do RN, fametoxazol associado ao trimetoprim (SMX+TMP) na
logo após o nascimento, e encaminhá-lo imediata- dose de 750 mg de SMX/ m2 /dia, em dias alternados. Essa
mente para banho em água corrente. Está contra in- medicação deve ser mantida até que se confi rme ou não o
dicado o primeiro banho em banheiras pediátricasi diagnóstico de infecção. Entre os lactentes infectados, esse
quando for necessária a realização de aspiraç.:io de esquema deve ser mantido durante todo o primeiro ano de
vias aéreas do recém-nascido, deve-se proceder deli- vida, independentemente da contagem de células CD4.10
cadamente, evitando-se traumatismo em mucosasi O diagnóstico da infecção é feito a partir da determ ina-
iniciar a primeira dose do AZT solução oral prefe- ção de carga virai em duas ocasiões . .A primei ra determina-
rencialmente ainda na sala de parto, logo após os ção deve ser feita entre dois e quatro meses e a segunda entre
cuidados imediatos ou nas primeiras duas horas quatro e seis meses de idade. Dois resultados negati vos nessa
após o nascimentoi época praticamente excluem a possibilidade de infecção.Y~
dada a possibilidade de ocorrência de anemia no
recém-nascido em uso de AZT, recomenda-se a
realização de hemograma completo, possibilitando COMENTÁRIOS FINAIS
avaliação prévia ao in ício da profilaxia e o monito-
ramento após seis e L6 semanasi A epídem ia do H IV continua em expansão nos países em
é recomendado o alojamento conjunto em período in- desenvolvimento e, mais recentemente, tem aumentado na
tegral com o intuito de aprimorar o vínculo mãe-filhoi Ásia e Leste Europeu, o que tem preocupado as autoridades

826 Noções Práticas de Obstetrícia


anitária mundiai . c, por um lado, o antirretrovirais têm e das gestantes para serem utilizado.. Os outros dois proce-
permitido que portadores do víru levem ua vida pratica- dimentos importantes para evitar a transmi são vertical s.io
mente normal, por outro, os medicamento produzem, em o não aleitamento - com o fornecimento gratuito da fórmula
longo prazo, efeitos colaterais importantes e que devem ser láctea para o neonato - c a cesariana elctiva nas situaçõe de
monitorizados continuamente. Do ponto de vista da trans- risco, principalmente qua ndo a carga vi rai está elevada.
mis ão vertical do vírus durante a gestação, os antirretrovi- O Quadro 51.13 apresenta os graus de recomendação
rai são um dos pilares fundamentais para evitar o contágio atuais obre a gravidez em paciente portadoras do H I c a
do feto, de de que estejam à di posição da equipes de aúdc profilaxia da transmi ão vertical do víru .

I
~adro' 1.1 , Grau de recomendação para a intercorrências gestacionai e a profilaxia da transmi ão vertical do H IV
_ Grau de
CaracterJStlcas Ev1denc1as d -
recomen açao

Transmissão heterossexual j A transmissão do vírus é mais eficiente dos homens para as mulheres. quando
do vírus de relações sexuais sem proteção. j B

Osexo anal desprotegido é a prática sexual de mais riscos para a transmissão. A


tanto em homens como em mulheres.
Ouso sistemático do condom por casais sorodiscordantes tem demonstrado ~ B
eficácia de proteção à infecção em 100% dos parceiros soronegativos. quando
os casais usam o preservativo em todas as relações sexuais.
Transmissão perinatal do A transmissão vertical pode ocorrer em três momentos: durante a gestação A
vírus (intraútero); no período periparto. durante o trabalho de parto ou ao nascimen-
to; no período pós-parto. através do aleitamento materno.
- --
A amamentação está formalmente contraindicada. pois o vírus pode ser ;
rans-+ A
mitido pelo leite materno e a transmissão é tempo-dependente.
Quanto mais alta a carga virai. mais probabilidades de transmissão do HIV. B
Grávidas em uso de ARV. com viremia abaixo de 1.000 cópias/ mi na época do I
parto praticamente não transmitem o vírus aos seus recém-nascidos. --f-
0 diagnóstico da transmissão vertical intra útero ocorre quando a PCR-DNA ou c
a cultura virai forem positivas em amostra de sangue periférico colhido nas
primeiras 48 horas após o nascimento.
Terapia antirretroviral Oefeito protetor da terapia antirretroviral (TARV) aumenta com a complexidade A
(TARV) e a duração do esquema empregado: terapia antirretroviral combinada alta-
mente potente (esquema tríplice) reduz dramaticamente as taxas de transmis-
são em pacientes adeptas do tratamento.
Oinicio do esquema de ARV na gestação deve ocorrer após o primeiro trimes- B
tre. entre 14 e 28 semanas de gravidez.
A associação AZT/3TC vem sendo mantida como a dupla de ITRN de primeira B
escolha para compor o esquema antirretroviral inicial.
----------------~--J_----------
Continua . ..

Infecção pelo Vírus da lmunode~ciência Humana 827


... continuação

Quadro 51.13 1Graus de recomendação para as intcrcorrências gestacionais c a profilaxia da transmissão vertical do H IV

A nevirapina somente poderá ser utilizada em gestantes com imunidade mais


comprometida. ou seja, em mulheres com contagem de linfócitos T CD4+ abaixo de
250 céls./mm3.
Oinibidor da protease UP) de escolha para a terapia inicial na gestante é o 8
lopinavir/r (LPV/r).
Apesar das evidências da eficácia dos antirretrovirais na redução da transmissão
vertical do HIV. eles induzem o surgimento de mutações virais associadas à resis-
tência a esses medicamentos. principalmente entre as gestantes que suspendem a
TARV após o parto (regime profilático).
----
lntercorrências Não existem evidências de que a gestação influa no processo evolutivo da AIOS.
gestacionais
A toxicidade hematológica. principalmente a anemia, é um dos principais eventos
adversos em gestantes que usam Alf.
Todos os procedimentos invasivos estão contra indicados durante a gestação, no C
trabalho de parto e no parto. pois envolvem mais possibilidades de infecção fetal.
Somente podem ser administradas vacinas com vírus vivos atenuados em ges- C
tantes infectadas pelo HIV. As vacinas com vírus vivos não devem ser realizadas
durante a gestação.
Parto Realização de cesariana eletiva reduz as taxas de transmissão vertical. A
Não existe benefício adicional da cesariana eletiva na prevenção da transmissão C
vertical com nível de carga virai indetectável.
OMinistério da Saúde recomenda o parto por cesariana eletiva em todas as mu- 8
lheres com carga virai igual ou superior a 1.000 cópias/mi. determinada a partir de
34 semanas. ou naquelas em que esse parâmetro laboratorial não estiver disponí-
vel. Para mulheres com carga virai inferior a 1.000 cópias/mi, a via de parto é por
indicação obstétrica.
A incidência de complicações pós-operatórias em pacientes seropositivas parece 8
ser mais alta do que na população obstétrica em geral.
---------------+--------~
Toda gestante seropositiva para o HIV deve receber Alf endovenoso no início A
do trabalho de parto até o nascimento do recém-nascido. independentemente do
esquema antirretroviral utilizado no pré-natal e do nível da carga virai.
A cesariana eletiva em gestantes portadoras do HIV. quando indicada, deve ser 8
realizada com 38 semanas completas de gravidez. sendo necessário utilizar parâ-
metros clínicos e ecográficos para estabelecer a correta idade gestacional.
------------------+---------~
Eventos adversos Atualmente. não se conhece efeito teratogênico provocado pelos inibidores da trans- 8
devido ao ARV criptase reversa nucleosídeos UTRNs). do grupo do Alf.
Não foram encontradas associações significantes entre TARV durante a gestação e 8
parto pré-termo ou baixo peso ao nascer.

828 Noções Práticas de Obst et ricia


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Infecção pelo Vírus da lmunod ejiciência Humana 829


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Noções Práticas de Obstetrícia


52 Infecções Perinatais
Júlio Cé ar de Faria Couto
Juliana Moy é Leite
Qpésia Tamara Mirante Ferreira illamil

Diagnóstico da Infecção Materna Rubéola


Cinética do Anticorpo Materno Epidemiologia
apó uma Infecção Aguda na Gestação Manifestações Clínicas
D•agnó l1co Laboratorial Rastreamento Pré-natal
Diagnó t1co da lnfec ão Fetal Tmnsmissão Fetal
Toxoplasmose Diagnóstico Pré-natal
Epidemiologia Prevenção
Agente Etiológico c Ciclo de Vida Estreptococos do Grupo B
Manifestações Clínicas Infecção 1 eonatal
Rastrcamcnto Pré-natal Col01m.t ão Matcrn.t
Acompanhamento d:1 Toxopb srno c n.t Gestação Rastrc:~mcn to Pré-n:tt:tl
Prognóstico Fetal Prevenção da cp c Pcrimtal Precoce
Prevenção Hepatites Virais
Citomegalovírus llepat1te A
P.ltogêncse Hepat1te B
Epidemiologia Hepatite -
Lnfccção Materna Aguda Sífilis
Reativa ão ífih~ Adqumda
Ra treamento Pré-natal Oiagnó t1co
Transrn1 são Materno-fetal ífi lis e Gestação
Diagnóstico Pré-natal Ti·atamento
Tratamento Fetal
Herpes Simples
Prevenção
Lnfecção Materna
DiagnóstiCO
Infecção fetal e eonatal
Tratamento
Prevenção

A
s infecções maternas contribuem de forma fetai c iniciar, guando possível, o tratamento durante a
importante para o aumento da morbimor- gestação, a fim de diminuir o risco potencial de acome-
talidadc perinata l. Seu rastreamento tem timento fetal. Neste contexto, as infecções perinatais
como objctivo diagnosticar precocemente as infecções causadJ pelo toxopla ma, Treponema pallidum, citomc-
galovírus, herpesvírus e pelo vírus da rubéola ocupam Os anticorpos IgA são detectados no fina l da primeira
lugar de d estaque, tanto pela sua frequência quanto pela semana após o contato com o toxoplasma. Na toxoplasmo-
gravidade do acometimento fetal. As infecções pelo se aguda, os anticorpos IgM e lgA au mentam em paralelo,
Streptoccocus do grupo B e pelos vírus da hepatite tam - sendo que estes últimos persistem, em média, por três a
bém serão abordadas pelas suas possíveis complicações q uatro meses após a infecção. D essa forma, a p resença de
no recém-nascido. lgM associada a anticorpos IgA é ind icativo de infecção
recente (Figura 52.1).
Os anticorpos IgE parecem ser os primeiros a serem
DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO MATERNA produzidos após o contato com o toxoplasma. Sua cinéti-
ca é semelha nte à da IgM. Altas concentrações desses an-
Nas infecções congenitas, o exa me laboratorial assume ticorpos podem ser observadas nos primeiros dois meses
papel fundamental, uma vez que a maioria dessas infecções após o contato com o pa rasito e não são mais detectadas
são assintomáticas e, quando apresentam sintomas, estes após quatro meses. Sua utilização prática no diagnóstico
são normalmente inespecíficos. Dessa forma, é funda- da toxoplasmose aguda ai nda não foi estabelecida, um a
mental, ao trabal har com rastreamento de infecções con- vez que esse isotipo é menos estudado q ue os precedentes.
genitas, conhecer não só a cinética dos diferentes tipos de Tem sido utilizado atualmente como método auxi liar no
anticorpos, mas também dominar a técnica utilizada pelo diagnóstico de reativação da toxoplasmose em gestantes
laboratório de referência, para identificação dos mesmos. imunodeprimidas (Figura 52.1 ).
Os anticorpos IgG são detectados entre du as e três se-
manas após a infecção, atingindo sua concentração máxi-
CI NÉT ICA D O S ANTICORPOS MATERNOS ma após dois meses, quando seus valores se estabil izam em
A PÓ S UMA I NFECÇÃO AGUDA NA GESTAÇÃO um platô por um período méd io de três a q uatro meses, de-
crescendo a partir daí até atingir concentração variável se-
Durante a fase aguda da infecção, altas concentrações gundo os indivíduos, ma ntendo -se positivos durante toda
de anticorpos lgM específicos são detectados no plasma a vida, como testemunha de infecção antiga (Figura 52.1).
materno. Em infecções causadas por protozoários, parti-
cularmente no caso da toxoplasmose, duas outras classes
de imunoglobulinas podem ser detectadas na fase aguda
da doença: os anticorpos lgAe lgE.Já na fase crônica, a IgG
é a imunoglobulina predominante, embora eventualmente
possam ser encontrados anticorpos IgM residuais.
Os anticorpos IgM são detectados entre sete e I 5 dias
após a infecção, atingindo seu pico um mês após a con- '
--- r-A·-------------------
tami nação, quando sua concentração começa a diminuir 1
Eg Limiar de detecção
progressivamente. Sua detecção é mais prolongada con- o2 4 2 4 6 21 2 3 4 5 6
forme a técnica laboratorial ut ilizada. N as décadas de 70 ----.--------~~---------·
e 80, quando se utilizava a técnica de imunofl uorescência Semana rv'eses Anos

para pesquisa de IgM, acred itava-se que esses anticorpos Figura 52. 1 J Cinética dos anticorpos.
permaneciam positivos entre três e seis meses após a in-
fecção. N o entanto, a pa rti r do in ício dos anos 90, com
o desenvolvimento de técnicas de captura de IgM como D I A GNÓST ICO LABORATORI AL
ELFA (Enzyme Linked Fluorescent Assay) e ELISA (En-
zyme Linked lmmunosorbent Assay), pôde-se observar a Uma vez compreendido como o organismo materno
persistência desses anticorpos por um ano ou mais após responde aos processos in fecciosos em geral, é necessário
a infecção inicial, sendo denominados de IgM residuais conhecer os métodos laboratoriais que se encontram dis-
(Figura 52.1). poníveis para detectar a presença desses anticorpos.

Noções Prát icas de Obst etrícia


Os testes imu nológicos são exames que se baseiam n a Além d isso, sua sensibilidade para detecção de a nticorpos
interação antígeno-anticorpo para detectar antígenos ou IgM é consideradabaixa.Esses problemas fizeramcom que
a nticorpos na circulação. Qpando esses testes surgiram, a imu nofluorescência in direta para pesq uisa de IgM fosse
apresentava m uso li m itado, pois eram realizados de fo rma substituíd a pelos testes de captura, comentados a seguir.
artesanal utiliza ndo-se antígenos vivos. No enta nto, com
a produção industrial de antígenos mais pu ros e ba ratos, ,\tr nmos nt ( t\PI URA
iniciou-se ampla utilização desses testes no diagnóstico Constituem -se na técnica de escolha para pesquisa de
das doenças infecciosas. Os progressos tecnológicos evo- IgM específica. Baseia-se no princípio da imunocaptura
luíra m de tal maneira que na décad a de 80 surgira m os pri- das moléculas de lgM por uma imu noglobulina anti-IgM.
meiros testes de captura, aumentando a sensi bil idade na Trata-se de técn ica que apresenta alta sensibilidade (de-
detecção dos anticorpos IgM e fo rnecendo informações tecta baixas concentrações de IgM) e boa especificidade
m ais detal hadas sobre o comporta mento desses a nticor- (ausência de interferência com o fator reumatoide). Além
pos nas infecções agudas. disso, também pode ser utilizada pa ra pesqui sa de IgG,
apresenta ndo sensibilidade semelhante à imunofluores-
cência indireta.
TÉCNJCAS DE PESQUISA DE ANT ICORPOS
Tu..J 1 m i\l'tnrz Di\ I<; C
Os testes que investigam lgG e IgM são os mais utili- O teste de av idez da IgG é exame auxil iar utilizado para
zados e permitem defini r o per@ sorológico das pacientes, caracterizar se a gestante é portadora de infecção recente
além de estabelecer correlação entre a resposta imunoló- ou c rônica.
gica e doença ativa ou não. Entretanto, é preciso lembrar Nas reações imunológicas, a interação entre o anticor-
que as concentrações de anticorpos específicos não podem po e o antígeno é feita por meio de ligações iôn icas. O ter-
ser consideradas indicadores de gravidade da infecção, o u mo que defi ne a força dessa ligação é denom inado avidez.
seja, títulos elevados de anticorpos não traduzem doença Em qua lquer resposta imunológica primária os a nticorpos
clínica de muita gravidade.Atualmente, várias técnicas es- produzidos inicialmente apresentam baixa avidez. Com o
tão disponíveis para avaliação dos anticorpos séricos, com passar do tempo, à med ida que a resposta imu nológica vai
sensibilidades d iferentes, de acordo com o isotipo de imu- amadu recendo, os ant icorpos da classe IgG vão apresen-
noglobulina pesquisad a. Entre as técnicas mais importan- tando cada vez m ais avidez.
tes, pode-se destacar: Para avaliação da avidez util iza-se técnica baseada em
lmunofluorescência indireta m ais o u em menos faci lidade com que esses anticorpos são
Métodos de captura dissociados de complexos com a ntígenos específicos. O
ELISA captura (Enzyme-Linked lmrmmosorbent teste de avidez da IgG é realizada em várias etapas:
Assay) Primeira etapa: coloca-se o soro da paciente conten-
ELFA (Enzyme-Linked FluorescentAssay) do lgG sobre placa com antígenos do m icrorganis-
M ElA (Micropartic/e Enzyme lmmunoassay) mo em estudo. Em segu ida, é feita a leitura da reação
Teste de avidez d a IgG a ntígeno-anticorpo por meio do teste de ELISA;
segunda etapa: a placa contendo as molécu las de IgG li-
IM U \iOJ LU>JU q ' 1 'ú 1~ / .\ DJRLJ ,\ gadas ao antígeno é lavada com solução de ureia, com
É a técn ica mais d ifund ida para pesqu isa de IgG. No o objetivo de romper as ligações antígeno-anticorpo;
entanto, trata-se de método ''a rtesanal", de leitura subjetiva terceira etapa: real iza-se nova leitura util izando-se o
e com resultados quantitativos menos reprodutíveis do que teste ELISA pa ra verificar a porcentagem de anti-
os obtidos por meio de testes automatizados. corpos IgG que permaneceram ligados ao antígeno
A pesq uisa de lgM pode ser realizada por essa técnica, após a tentat iva de separação da ureia.
porém pode apresentar resultados falso- negativos (por
bloqueio ou competição com os anticorpos lgG) e falso- O resu ltado do exame é expresso em porcentagem da
-positivos (por reação cruzada com o fator reumatoide). seguinte fo rma:

Infecções Perinatais 833


< 30% = Baixa avidez --+ Infecção recente l< 4 meses) ToxoPLASMOSE

>50%= Alta avidez --+ Infecção tardia l> 4 meses)


A toxoplasmose é um a doença de d istri buição mu ndial
31 % <Avidez < 49%--+ Teste inconclusivo (aguardar duas norm almente assintomática ou associada a sintomas ines-
semanas e repetir o exame) pecíficos. No entanto, quando acomete a gestante, pode le-
var à infecção feta l com sequelas neurológicas ou oculares
graves e, mu itas vezes, à morte. A tualmente, a adoção de
DIAGNÓSTICO DA I NFECÇÃO FETAL med idas higiênico-dietéticas de profilaxia, a utilização do
rastreamento sorológico na gestação e o tratamento pré-
Uma vez con firmada a in fecção matern a aguda, é -natal da infecção fe tal são as form as de dim inu ir a incidên -
necessário continuar a propedêutica, q ue consiste na pes- cia de in fecção aguda nas gestantes, de reduzir a transmis-
15
quisa de infecção fetal. são fetal e o número de casos graves da doença. '

Atualmente, o d iagnóstico da conta mi nação feta l é A incidência da toxoplasmose aguda na gestação varia
realizado pela aná lise do líquido a mniótico utilizando- entre 0,2 e 1,0%. A transmissão fe tal encontra-se direta-
-se a técnica da reação em cadeia da polimerase (P C R). A mente relacionada à idade gestacional na qual o correu a
análise do sangue fetal tem pouca utilidade, sendo em pre- infecção materna, aumentando de l S para 60%entre o pri-
gada somente nos centros q ue não têm acesso à bio logia meiro e o terceiro t rimestres. Se a infecção é adqu irida nas
molecu lar. últim as sem anas de gestação, o risco de transmissão pode
A PCR baseia-se na am pl ificação da sequência de ge- chegar a 90% (Quad ro 52.1),2
nes do patógeno em estudo. Teoricamente, a par tir de um
único patógeno na amostra, a PC R permite obter m ais de
I
Q pad ro 52. 1 Risco de transm issão fetal e gravidade da
toxoplasmose congên ita segu ndo o momento da infecção
1.000.000 de cópias de um fragmento de geno m a de al-
materna6
g umas centenas de pares de bases. Rápida e simples, essa
técn ica pode ser realizada no líquido a mnió tico a partir Infecção R1sco de Grav1dade relat1va
materna transm1ssão da doença
de 18 semanas de gestação para o diagnóstico da toxo-
(tnmestre) fetal(%)
plasmose e da rubéola e 21 sem a nas pa ra o d iagnóstico
do citomegalovírus. I Primeiro 17 Grave
I
No entanto, por ser muito sensível, essa técnica de am -
plificação de DNA pode apresentar resultados falso-posi-
I Segundo 25 Moderada I
tivos, pri ncipal mente por conta m inação com produtos de l Terceiro 65 Leve ou assintomática
ampli ficação. A fim de evita r esse problema, as etapas de
realização do exa me são efetuadas em locais estritamente Por outro lado, a possibilidade de o feto desenvolver
separados e utilizando material descartável. doença grave é inversamente proporcional à idade gesta-
Resultados falso-negativos são me nos freq uentes cional. Se a infecção materna é adquirida precocemente na
e encontram-se associados à presença de ini bidores da gestação, a infecção fetal pode provocar perda fetal precoce
reação de a m plificação na mesma a most ra analisad a, ou tard ia ou, ainda, doença fetal grave. E ntretanto, quando
principalmente sangue e heparina. Por isso, a coleta d o ocorre tardiamente, o resultado usual é o parto de recém-
material deve ser realizada de for ma menos traum ática nascido com in fecção subclínica.'
possível a fim de evita r-se contaminação com sangue
materno.
A sensibil idade da técnica da PCR para d iagnóstico EPIDEMIOLOGIA
de infecção fe ta l varia na literatura de 62,5 a 97,4%I· 1 Sua
uti lização permite diagnóstico rápido, podendo ser rea- Avaliações epidem iológicas em todo o mundo têm
lizada no segu ndo e terceiro trimestres d a gestação, be- dem onstrado q ue a prevalência da toxoplasmose é bas-
neficia ndo o feto e o recém-nascido com um tratam ento tante va riável, entre 50 e 90%. A lguns países apresentam
específico. ba ixa prevalência da doença, com índices inferiores a 40%,

Noções Práticas de Obstetrícia


como a Escandinávia, Tailândia, Malásia, Hong Kong, Irã A pri ncipal via de contaminação é oral, pela ingestão
e Austrália. No Brasil, a prevalência também tem ampla de cistos teciduais ou oocistos excretados junta mente
variação, de acordo com o estado/cidade estudado: Cea- com as fezes do gato. Uma vez na luz intestinal, esses cis-
rá: 83,7%, R io de Janeiro: 77,1%, Manaus: 7 1%, São Paulo: tos se rompem, liberando os parasitos que se multiplicam
67%, Goiâ nia: 65,8% e Belo Horizonte: 43%? rapidamente, invadindo as células do epitélio intestinal
O oocisto pode ser encontrado no solo ou na água, c adquirindo a forma de taquizoítos. No interior dessas
contaminando o ambiente no qual o homem está inseri- célu las, o toxoplasma se multipl ica de forma sucessiva c,
do. Logo, o inadequado saneamento ambiental associado após o rompimento da célula parasitada, os taqu izoítos são
à baixa instrução cria oportunidade para ingestão de ao- liberados na corrente sanguínea, onde se disseminam por
cistos existentes no solo, a parti r da contaminação da água todo o orga nismo, estimulando a produção de anticorpos.
usada para ingestão ou higiene dos alimentos. A fà lta de A resposta imunológica materna leva ao controle da in fec-
educação sanitária contribui para aumento do risco em ad- ção, interrompendo a replicação dos taquizoítos e estimu-
qui rir a infecção, o que pode ser modificado adotando-se lando a formação de cistos teciduais, principal mente no
medidas de prevenção primária durante a assistência pré- tecido muscular, reti na e placenta. Um único cisto pode
-natal. Essa afi rmação pôde ser confi rmada em um estudo conter até 3.000 bradizoítos, que se encontram em estado
brasileiro sobre a incidência da toxoplasmose aguda cm de "equilíbrio imunológico" com o hospedeiro, uma vez
mulheres em idade reprodutiva,quemostrou que a fa lta de que induzem pouca ou nenhuma resposta inflamatória
saneamento básico não é um fato r de risco para se adq uirir cm indivíduos sadios.
a toxoplasmosc aguda quando medidas de prevenção pri- Esses cistos apresentam caráter dinâmico. O parasito,
mária são utilizadas. em seu interior, encontra-se em lenta c contínua multipli-
A transmissão da infecção também depende de veícu- cação. Eventualmente, qua ndo da sua rotura, pode ocorrer
los de tra nsmissão de oocistos. O s insetos coprofágicos c a liberação dos parasitos, que imediatamente invadem as
os animais transportadores de oocistos (moscas, baratas células locais, iniciando a reativação da doença. Esta ocorre
c ratos) podem contaminar os alimentos acondicionados principalmente na retina, podendo levar a lesões graves e,
de forma inadequada, por meio de suas patas. A ingestão no caso da gestante, acredita-se que esse fenômeno possa
de formas císticas do parasito presentes na carne crua, leite ocorrer também na placenta.
não pasteurizado, ovos crus ou de oocistos presentes cm A reativação é favorecida principal mente por alterações
verduras não lavadas de forma adequada, relatada como no sistema imune, por isso as gestantes são mais suscep-
fator de risco para se adqui ri r a infecção aguda, em nosso tíveis ao desenvolvi mento desse quadro. Imediata mente
meio mostrou-se importante apenas entre as gestantes, após a rotura do cisto e liberação dos parasitos, grande
cujo risco variou conforme o alimento ingerido. A trans- quantidade de macrótàgos, imunoglobulinas específicas
missão oral da infecção pode ocorrer ainda por conta- de memória da classe IgG e linfócitos C D4' c C DS', pro-
minação acidental de reservatórios de água provocando dutores de citocinas, dirigem-se ao local, com o objetivo
surtos epidêmicos e, neste caso, atingi ndo pessoas de de eliminá-los, destrui ndo-os rapidamente sem que haja
qualquer classe social. parasitemia secundária. Deve-se salientar que se trata de
fenômeno local. Gestantes imu nodeprim idas poderão de-
senvolver parasitem ia secundária. Por isso, devem ser ras-
AGENTE ETIOLÓGICO E C I CLO DE VIDA treadas quanto à possibilidade de reativação.
A fase aguda da doença é caracterizada por parasite-
O Toxoplasma gondi é um parasito intracelular obriga- mia importante, devido à intensa multiplicação do pa-
tório que possui complexo ciclo de vida. É encontrado na rasito c ausência de meca nismos protctorcs da resposta
natureza sob três formas: imune do hospedeiro. É normalmente assintomática e,
Taquizoíto: forma observada na fase aguda da doença; quando os si ntomas clínicos estão presentes, são ines-
bradizoíto: forma cística encontrada na fase crônica; pecíficos. As manifestações mais frequentes consistem
oocisto: forma encontrada no hospedeiro de fi nitivo cm febre, sintomas gripais c enfartamento ganglionar. A
(gato), na terra e em vegetais. doença nessa fase está relacionada ii distribuição do pa-

Infecções Perinatais 835


rasito e à intensidade da parasitem ia, que normalmente é deve-se realizar controle sorológico periód ico, idealmente a
prolongada, durando acima de quatro semanas em 30% cada mês ou pelo menos trimestralmente, além de orientar
dos casos. sobre medidas de prevenção primária.
Para essas gestantes, as orientações h igiênico-dietéti-
cas são a forma mais eficaz de prevenção da toxoplasmose
MAN IFESTAÇÕES CLÍNICAS congênita. Elas devem ser cuidadosamente orientadas na
primeira consulta p ré-natal e as m ed idas profiiMicas de-
As manifestações clínicas da toxoplasmose aguda são vem ser reforçadas a cada consulta. 8
cl inicamente inaparentes em 90% dos casos. Os primeiros As principais medidas profi láticas são:
sintomas, como cefaleia, astenia e linfadenopatia sem fe- Evitar conta to com ani ma is, principal mente gatos;
bre, su rgem após período de incubação de nove a lOdias. caso possua gatos, adotar medidas para evitar a
A linfadenopatia eventualmente pode cu rsa r com febre, infecção dos ani mais: manter os animais bem al i-
acompanhada de mal-estar geral, mialgia e odinofagia. O s mentados para que, ao caçar, não comam sua caça;
sintomas normalmente persistem por poucos dias e são não alimentá-los com carne crua e evitar que saiam
facilmente confundidos com resfriado, gripe ou mesmo à rua. Caso possua caixa de areia, deve-se revolvê-la
mononucleose infecciosa. Em alguns pacientes, a linfa- pelo menos uma vez por semana exp ondo-a ao sol
denopatia pode persisti r por até seis meses. A retinocoroi- para evitar a maturação dos oocistos. T roca r a areia
dite raramente ocorre na infecção aguda (I a 2%), sendo com frequê ncia;
geralmente unilateral. Todos os indivíduos apresentando usa r luvas ou evitar a man ipulação de terra como
infecção aguda devem receber apenas tratamento sin- du rante a jardinagem;
tomático. No caso de gestantes, é importante que sejam lavar as mãos após as atividades a nteriores c após a
encaminhadas para propedêutica especializada devido ao manipulação de frutas, verduras e legumes;
risco de acometimento fetal. 2•7 retirar a casca de vegetais e frutas o u lavá-los com
Do po nto d e vista clínico, a reat ivação é assintomá- água e sabão e enxaguar bem antes do consumo;
tica (exceto em ind ivíduos imunodepri midos), sendo o lavar verduras e legu mes com água e sabão antes do
diagnóstico realizado exclusivamente por meio de exa- consumo;
mes laborato riais. controlar moscas, baratas e ratos, evita ndo que conta-
minem verduras, frutas, legumes e outros al imentos;
cozinhar bem a ca rne e lavar as mãos após sua ma-
RASTREAMENTO PRÉ-NATAL nipu lação; evitar passar as mãos sujas de carne crua
nos olhos e boca;
A situação ideal seria que toda mulher em idade fer- evitar a ingestão de carne mal-passada, especial-
til fosse testada e orie ntad a para as infecções do grupo mente coração de galinha;
TORC H S (toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus,
hepatites, sífil is) antes de engravidar, o que evita ria mui-
tos quadros de infecções congênitas graves. No caso de GESTANTESAP RESENTA 100
gestante que iniciam o pré-natal e não têm sorologia de l GG POS I T I VA~:, (c I EGATIVA
toxoplasmose prévia, deve-se solicitá-la já na primeira
consulta. D ia nte dos resultados, pode-se e ncontrar as se- Aprox imadamente 44% d as gestantes apresentam
guintes situações (Figura 52.2): 3•7 esse perfil sorológico. Trata-se d e gesta nte imu ne, sujeita
à reativação da infecção. Em gesta ntes imunocom peten -
tes, como não há ri sco d e infecção fetal, não é necessá rio
GESTANTES APRESENTANDO [GG E lt;M NEGATI VAS o acompanha mento sorológico. Em gesta ntes imuno-
deprimidas, o risco de contaminação fetal com lesões po-
Trata-se de gestante susceptível. Aproximadamente te ncialmente graves justifica o rastreamento periódico
54% delas apresentam esse perfil sorológico. Nesses casos, da reativação.

Noções Práticas de Obstetrícia


Abandonar
rastreamento

Avaliação trimestral
em imunodeprimidas

Tratar a gestante
Encaminhar para
propedêutica fetal
Tratar a gestante Tratar a gestante
Encaminhar para Encaminhar para
propedêutica fetal propedêutica fetal

Figura 52.2 1Rotina pré-natal da toxoplasmose conforme resu ltado da sorologia materna.

G ESTA TES APRES E tTANDO lGM P OS IT I VA forte estímu lo à resposta humoral general izada, portanto, é
comu m encontrarem -se reações falso-positivas em vá rios
Os anticorpos IgM podem ser detectados laboratorial- testes sorológicos, inclusive IgM fa lso-positivas.
mente entre sete e IS dias após a infecção, atingindo seu Atualmente, com a utilização rotineira de métodos
pico aproximadamente um mês após, a pa rt ir de qua ndo diagnósticos cada vez m ais sensíveis, tornou-se frequente,
sua concentração diminui progressivamen te até a nega- du rante os exames de pré-natal de rotina, a detecção de
tivação dos testes, em três a seis meses. Na maioria dos lgM em baixas concentrações. Esta pode perma necer por
pacientes, esses anticorpos encontram-se ausentes na f:1se meses ou mesmo anos após o episód io agudo inicial. Logo,
crônica/ latente da doença. Entretanto, em 5% dos casos a presença d e IgM pode não ser um indicador seguro de
podem persistir por alguns meses ou mesmo anos, sendo fase aguda nesses casos. Por isso, diante de uma gesta nte
denominados de anticorpos IgM residuais. Nesses casos, apresenta ndo lgM +, deve-se pensar em várias possibilida-
sua concentração no rmal mente é baixa, sempre acompa- des diagnósticas:
nhados dos anticorpos lgG em quantidades estáveis. Infecção aguda já com produção de lgG;
OJ.•ase 2% das mul heres apresentam lgM positiva du- lgM residual;
rante a gestação. É importante ressaltar que a gravidez é u m IgM falso-positiva.

infecções Perinatais
Por isso, a positividade para anticorpos lgM impõe reações cruzadas com anticorpos pertencentes
a realização de exames adicionais para esclarecimento ao repertório imune natural (imunoglobulinas
diagnóstico: naturai ).
Repetição do exame pelo mesmo método e no
mesmo laboratório, para avaliar níveis de anticor- Nesse caso, a conduta indicada varia de acordo com a
pos, sempre com pareamento de amostras: resgate idade gestacional:
da primeira amostra de sangue examinada em pa- IG ~ 16 semanas: real izar nova sorologia entre IS e
ralelo com a segunda (os laboratórios conservam 20 dias após o primeiro exame para verificar se há
as amostras em soroteca por até seis meses). Um viragem dos an ticorpos lgG:
aumento de no mínimo quatro vezes é sugestivo de Se lgG- e lgM+= IgM falso-positiva: propor
produção ativa de anticorpos. Títulos estáveis indi- orientações higiênico-dietéticas
cam o contrário. Se IgG+ e IgM+= infecção aguda. Iniciar tra-
Pesquisa da avidez de anticorpos lgG: trata-se de tamento e encam inhar gestante para prope-
uma reação de ELISA e baseia-se no conhecimento dêutica fetal
imunológico no qual, na fase aguda, os anticorpos
apresentam menos afinidade funcional/avidez pelo Uma outra opção é solicitar dosagem de lgA:
antígeno e essa avidez aumenta com a cronifica- Se lgA- = lgM falso-positiva: Propor orienta-
ção da doença. Assim, numa gestante com perfil ções higiênico-dietéticas
lgG+/ IgM+, um resultado de baixa avidez (avidez Se lgA+ = infecção aguda. Iniciar tratamento e
< 30%) reforça a hipótese de que a infecção ocorreu encaminhar gestante para propedêutica fetal
nos últimos quatro meses; e aquele de alta avidez lG >16 semanas: considera r infecção aguda. Deve-
(avidez > 60%) a afasta. Em nossa casuística, mais -se iniciar o tratamento e encaminhar gestante para
de 99% das gestantes assintomáticas que são sub- propedêutica fetal.
metidas ao teste são portadoras de lgM residual,
portanto, refletindo apenas a alta sensibilidade dos /( ;(; I· /(,i\( [ \J.\1/ 11' \ S
métodos atuais para lgM. Ressalta-se que, para ex- Aproximadamente I% das gestantes apresenta esse
cluir a ocorrência de infecção aguda durante uma perfil sorológico. Considerar a idade gestacional:
gestação cm andamento, o teste de avidez deve ser lG ~ 16 semanas: nesses casos, para diferenciar
realizado preferencialmente até 16 ou 18 sema nas infecção aguda de anticorpos IgM residuais, a me-
de gestação. Além desse tempo, fica impossível dis- lhor opção é solicitar o teste de avidez da lgG, que
criminar se a infecção aguda aconteceu antes ou deve ser interpretado conforme descrito anterior-
durante a gestação. mente.
IG >16 semanas: considerar infecção aguda. Deve-
/(, (_; \'I t ;A I 11'11 F /( ; AfJ >ml ri\ ~-\ se iniciar o tratamento e encaminhar a gestante
Aproxi madamente 1% das gestantes apresenta esse para propedêutica fetaL
perfil sorológico. Anticorpos lgM na ausência de anticor-
pos IgG podem sugerir duas situações:
byecção aguda: como os anticorpos lgG tornam-se ACOMPANHAMENTO DA
positivos somente no final da segunda semana após TOXOPLASMOSE NA GESTAÇÃO
a infecção, pode tratar-se de quadro infeccioso ini-
cial, no qual os anticorpos IgG ai nda não puderam O acompanhamento da toxoplasmose na gestação é
ser detectados; fonte freque nte de dúvidas, tanto na terapêut ica a ser ins-
IgM falso-positivo: os testes laboratoriais utilizados tituída à gestante, quanto na propedêutica para a pesquisa
atual mente para o rastreamento da toxoplasmose da infecção fetaL A seguir sintetizamos as principais reco-
são m uito sensíveis, apresentando alto número de mendações baseada em evidências científicas atuais. Vide
resultados falso-positivos, pela possibi lidade de algoritmo na Figura 52.3.

Noções Práticas de Obstetrícia


Rastreamento sorológico:
antes da concepção e durante opré-natal

Intervalo entre as sorologias

Sorologia Sorologia Amniocentese Parto


negativa positiva

1---- 4 semanas 2 a 4 semanas


Avaliação do
recém-nascido

1 !
' PCR -: Manter PCR +: Iniciar tratamento
.. l
espiramicina (g/
3 dia r com pirimetamina (50 mg/dia) I
ln1c1ar
Espiramicina
+ sulfadiazina (3 g/dia) +
ácido folinico (15 mg/2 vezes/semana)
(3 g/dia)

Reduz a
transmissão
fetal

Gestantes não tratadas: Gestantes tratadas:


transmissão de 60% transmissão de 23%

rigura 52.3 [ Algoritmo para diagnóstico e tratamento da toxopbsmose na gestação (adaptado de Gilbert6) .
PCR= Reação de cadeia de polimerase; + = positiva; - = negativ,L

1~ E J APA: ToxoPLASMOSE MA Jt· RNA sença de parasitos na placenta) de 95 para 80%. A tra ns-
A<.un,\ Co ' rtRMADA missão fetal cai de 60% (em pacientes não tratadas) para
239o (com uso de espiramicina). No e ntanto, a ação da cs-
Após a con fi rmação do d iagnóstico da infecção mater- piram ic ina tem sido questionada, colocando em dúvida
na, deve-se in iciar o uso de cspiramicina na dose de 3 g/ dia sua eficácia na diminuição da transmissão da toxoplas-
(2 comprimidos de SOO mg - 1,5 m U, de 8 em 8 horas). A mose ao feto. Cont udo, até o mo mento, não existe m evi-
espi ram ici na ati nge altas concentrações na placenta e possui dências científicas que just ifiquem a suspe nsão da sua
ação parasitostática obre o T gondil. Dessa fo rma, caso haja uti lização c, sendo assim, a espiram icina deve continuar
rotura de a lgu m cisto placentá rio, as altas concentrações de a ser prescrita a todas as ge tantes portadoras de toxo-
cspiramicina na placenta impedirão a replicação do taquizo- plasmo e aguda.
íto, permitindo que os mecanismos imunológicos da placen- É necessário ressaltar que a espiramicina pode prevenir
ta atuem de forma mais eficaz. Por isso, deve ser uti lizad a de a infecção fetat mas não permite tratar fe to já infectado .
forma contínua até o final da gestação. Sua utilização reduzi- Por isso, todas as gestantes devem ser encamin hadas para a
ria em 50 a 60% o risco de contam inação fetal. rea lização do diagnóstico pré-natal da infecção fetal, a par-
Estudos mostram que o tratamento com espiramicina tir do qu al os fetos serão divididos em dois grandes grupos,
cm gesta nte infectadas reduz a infecção placentária (pre- c uja condu ta e acompanhamento são diferenciados.

Infecções Perinatais
2a ETAPA: D IAG ÓST ICO PR É-NATA L DA nas células hematopoiéticas da medu la óssea. Após sete a
I Nf'ECÇÃO FETAL 10 d ias de tratamento, pode-se observar o apa recimento
de trombocitopenia, anemia macrocítica e leucopenia, às
O diagnóstico d a contami nação fetal é rea lizado a par- vezes, até agranulocitose.
ti r d a análise do líquido am niót ico utiliza ndo-se a técn ica A su lfadiazi na é ut ilizada com m ais frequência as-
da reação em cadeia da polimerase (PCR), que tem sensi- sociada à pirime tamina. In ibe de forma competitiva a
bilidade de 62,5 a 97,4% para diagnóst ico de infecção fetal. d ihidrofolato sintetase, enzima responsável pe la síntese
A PCR, reali zada a p artir de 18 semanas de gestação, ao de- do ácido fólico. A diminuição da concent ração de ác ido
monstrar infecção fetal, possibilita trata mento específico.• fól ico no interior do parasito in ibe a formação de coenzi-
mas necessárias à síntese de pu ri nas, piri midinas e outras
fi l O NÃO I NFFCTADO (J>CR ,\ 'FGA Tr\ 'A) substânc ias necessárias ao crescim ento e reprodução do
esse caso, deve-se manter a espiramicina na mesma parasito. Bem absorvida após ad m inistração o ral, é larga-
dose até o final da gestação e realizar controle ult rassono- mente di stribu ída por todo o o rganismo, atingindo con-
gráfico mensal até o parto. centrações importantes no líquido céfalo-raquidiano. Sua
meia-vida plasmática varia de 10 a 12 horas e sua excreção
Frm l Nr ECTA no (PCn Poç1m·A) é essencialmente urinária.
Qyando o d iagnóstico pré-natal evidencia infecção A associação da sulfadiazina à pirimetami na aumenta
fetal, procede-se imediatamente à substituição da terapia. seis vezes a sua eficácia no com bate à toxoplasmose, o q ue
Deve-se suspender a espiramici na e iniciar tratamento permite a utilização de doses não tóxicas para a espécie hu-
com pirimetamina (50 mg/ dia- 1 comprimido de 25 mg mana. No entanto, verificam-se m uitas reações adversas.
de 12 em 12 horas) e sulfadiazina (3 g / dia - 2 compri mi- Sintomas como náuseas, vômitos c perda de peso são fre-
dos de SOO mg de 8 em 8 horas) associados ao ácido fo- quentes com o uso da med icação. Além disso, existe o ri sco
línico ( IS mg/ duas vezes por sem ana) até 36 semanas de de icterícia do recém-nascido, pelo fenô meno de competi-
gestação. As pacientes devem ser a compa n h;~clas q uinze- ção da sul fadiazina com a bilirrubina, que pode ser evitado
nalmente com hemograma completo em fu nção do risco interrompendo-se o tratamento três seman as antes do par-
de pancitopenia induzido pelo tratamento. A medicação to, quando possível. Para facilitar, pad roniza-se a interrup-
deve ser suspensa em caso de trombocitopenia (plaquetas ção do tratamento com 36 sema nas de gestação, quando se
< 90.000/ mm 3), leucopcnia (leucócitos< i.OOO/ mm3) ou deve utilizar apenas a espiramicina.
anem ia (hemoglobina < 9 g%). Além disso, recomenda-se O ácido folín ico atua como coadjuva nte no trata me n-
ultrassonografia quinzenal para monitoração fetal. to. Sua associação previne o u corrige os distúrbios he ma-
A pirimetamina constitui o medicamento de escolha tológicos ocasionados pela pirimetamina no organismo
para o tratamento da toxoplasmose. Ela inibe a síntese materno, a parti r da intermediação da tra nsferência de
de nucleoproteínas por competição com a dihidrofolato- carbonos para a síntese de purinas e pirimid inas. Admi -
-redutase, impedindo a redução do ácido fólico em ácido nistrado por via oral, é abso rv ido no duodeno e porção
folínico pelo parasito. Essa ação determina no parasito superior do jej uno com o auxílio de e nzima presente na
falha da divisão nuclear. A piri metamina atua apenas na me mbrana dessas células. U ma vez absorvido, é rapida-
fo rma de replicação do parasito (taquizoíto), não possuin- me nte transportado para os tecidos. O taquizoíto não
do qualquer ação sobre os cistos. A pirimetamina atraves- possu i m eca nismos de transporte ativo em sua me mbrana
sa a barreira hematoencefálica, perm iti ndo o tratamento q ue permitam a absorção do ácido folínico e, portanto, seu
da doença neurológica fetal. Após a administração oral, é uso não diminui o efeito da sulfadiazina e pirimetamina
completamente absorvida. É fortemente ligada às prote- sobre o parasito.
ínas plasmáticas (87%), com meia-vida variando de 35 a G raças à instituição sistem ática desse tratamento trípli-
175 ho ras. É metabolizada pelo fígado e sua eliminação é, ce, a gravidade d as sequelas da toxoplasmose congên ita fo i
principalmente, uri nária, pode ndo ocorrer por várias se- to talmente modificada, observando-se o desaparecimen-
manas após uma única dose. Nas doses utilizadas para o to progressivo das in fecções neonatais graves juntamente
tratamento da toxoplasmose, sua toxicidade se manifesta com o aumento das infecções subcl fnicas.

Noções Práticas de Obstet rícia


PROGNÓSTICO FETAL A incidência da infecção congénita é alta, porque o
vírus pode ser transmitido ao feto após infecção materna
A idade gestacional no momento da infecção materna aguda ou por reativação de vírus endógeno. A presença
é o principal fator determinante do prognóstico fetal. Fetos de anticorpos maternos antes d a concepção não previne a
contaminados no primeiro trimestre normalmente desen- transmissão da doença ao feto, mas auxilia na prevenção
volvem a doença em sua forma mais grave, apresentando de lesões graves.
frequentemente comprometimento cerebral e ocular. O
risco de acometimento neurológico fetal é mais alto nos
fetos contaminados antes de 10 semanas de gestação. Nas PATOGÊNESE
infecções fetais adquiridas entre 10 e 16 semanas, cerca
de 50% dos fetos desenvolverão dilatação ventricular. As O CMV é um herpesvírus humano (HHV), também
infecções fetais adquiridas no segundo trimestre normal- denominado HHV-5, pertencente à família Herpesviridae
mente não estão associadas à instalação de distúrbios neu- e que possui o homem como seu único hospedeiro. Desta
rológicos, apesar da presença inconstante e frequentemen- fàm ília, também fazem parte o vírus herpes simples tipos
te isolada de calcificações intracranianas. 1 e 11, o vírus da varicela-zoster, o vírus Epstein-Barr e o
HH V-8, que recentemente foi denominado de vírus asso-
ciado ao sarcoma de Kaposi. Esses vírus são caracterizados
PREVENÇÃO por uma propriedade biológica peculiar, a latência, que é
definida como infecção não produtiva, provocada p or ví-
Estudos observacionais sugerem que a educação pré- rus competente em termos replicativos. Após a infecção
-natal pode efetivamente mudar o comportamento de mu- aguda, o vírus não é eliminado do organismo e permanece
lheres grávidas em relação à higiene pessoal, cuidado com em seu interior sob a forma latente, podendo ser reativado
alimentos e ani mais, sendo, assim, a m ais eficiente e menos em diferentes circunstâncias, principalmente nos casos de
invasiva maneira de prevenir a toxoplasmose congênita. 8 modificações da resposta imu ne como gestação, uso de
Vários estudos experimentais foram feitos na busca de medicamentos imunossupressores e SIDA?
uma vacina contra toxoplasmose. De fato, uma vacina para A replicação do vírus é intranuclear, o que o torna ina-
uso veterinário foi desenvolvida, porém é cara e incompatí- cessível a ação de anticorpos neutralizantes. No entanto,
vel para uso hu mano? o C MV é vírus frágil, sendo facilmente inativado por nu-
merosos agentes físico-qu ímicos. A contaminação é inter-
-humana, necessitando de cantatas íntimos, em que as
CITOMEGALOVÍRUS secreções biológicas como saliva, lágrimas, leite materno,
secreções genitais e urina atuam como veta res. Outras fon -
Nos países desenvolvidos, aproximadam ente 3% dos tes de transm issão horizontal incluem transfusão sanguí-
recém-nascidos apresentam reta rdo mental e cerca de 10% nea e transplante. A transfusão tem sido associad a a risco de
desses casos são atribuídos às doenças in fecciosas. Entre transmissão do C MV de 2 a 3% por unidade tran sfundida.
elas, a infecção congênita pelo citomegalovírus (CMV) A transm issão vertical do vírus pode ocorrer durante
ocupa lugar de destaque.10 a gestação por passagem transplacentáriai ao nascimento,
Trata-se da infecção congênita mais frequente, acome- pelo cantata da criança com secreção vaginal contaminada
tendo entre 0,2 e 2,2% dos recém-nascidos. Entre os recém - ou no período pós-natal, através do leite materno. No mo-
-nascidos infectados, 5 a 20% são sintomáticos ao nasci- mento do parto, aproximadamente 10% das gestantes ex-
mento (pequenos para a idade gestacional, portadores de cretam o CMV na urina e na secreção cervical. Aproxima-
hepatomegalia, m icrocefalia, icterícia neonatal, pneumonia). damente 12 a 60% dos fetos expostos poderiam apresentar
Entre os recém-nascidos assintomáticos, 10 a 15% apresenta- o vírus na fari nge e/ou urina. O CMV pode ser isolado no
rão sequelas que incluem déficits neurossensoriais, epilepsia, leite materno em 13% das puérperas infectadas, podendo
paralisia cerebra l, atrofia do nervo óptico, microcefalia, atra- ser transmitido ao recém-nascido em 58% dos casos, mes-
so no desenvolvimento psicomotor e retardo mental. 10•11 mo diante de anticorpos neutralizantes. Apesar do possível

Infecções Perinatais
risco de transmissão pelo leite materno, a amamentação não lágri mas, secreções cervical e respiratória, além do trato
deve ser suspensa, pois seus benefícios superam os riscosw·11 gastrointestinal, duran te meses. 10

EPIDEM IOLOGIA R EATI VAÇÃO

A prevalência da infecção materna é de 50 a 85%, va- A incidência de reativação é de difícil avaliação, pelo seu
riando em função do local de domicílio, nível socioeconô- caráter assintomático, manifestando-se clinicamente por
mico e atividade profissional. Em populações de baixo ní- meio da excreção virai por secreções biológicas ou, laborato-
vel socioeconômico, a prevalência é alta (próximo de 85%) rialmente, pelo aumento da concentração dos anticorpos IgG
e a incidência de infecção primária também (4%). Em po- em pacientes imunes. Estudos recentes indicam que, embora
pulações de nível socioeconômico elevado, cerca de 50% em títulos baixos, anticorpos lgM podem ser produzidos du-
das mulheres são seropositivas e a taxa de soroconversão rante os episódios de reativação, sendo identificados por até
na gestação é de aproxi madamente 1,6%. seis a nove meses. O papel da imunidade humoral no controle
No Brasil não existem dados oficiais a respeito da infec- da reativação é mal-conhecido, embora se saiba que a produ-
ção congénita pelo CMV. No entanto, projetando-se inci- ção de anticorpos séricos não é suficiente para impedir reati-
dência média de 0,5% e taxa de nascimentos de 3.000.000 vações. No entan to, os anticorpos maternos parecem proteger
de crianças/ano, estima-se que cerca de I 5.000 crianças o feto de infecção maciça com acometimento e dano sistemi-
nascem anualmente com sintomas da infecção, das quais co grave, uma vez que a maioria dos fetos contaminados após
1.800 (12%) morrem no primeiro ano de vida e as sobre- um quadro de reativação materna são assintomáticos.
viventes apresentarão sequelas em médio e longo prazos.
Além disso, outras 2.100 crianças que apresentam infecção
subclínica ao nascimento desenvolverão déficits mentais e RASTREAMENTO PRÉ-NATAL
auditivos em um período de até sete anos. Nos Estados Uni-
dos, onde nascem em torno de 40.000 crianças infectadas/ A necessidade do rastreamento sorológico universal na
ano, estima-se que o gasto público para custear o tratamen- gestação ainda é controversa. Em verdade, essa discussão
to dessas crianças chegue a 1,86 bilhões de dólares/ ano.10 15 reflete a dúvida da sociedade científica: por que estudar e
diagnosticar uma doença que não pode ser tratada? Dife-
rentes propostas de monitorização do CM V na gestação
INFECÇÃO MATE R NA AGUDA têm sido desenvolvidas, mas nenhu ma tem sido oficial-
mente adotada por qualquer sistema público de saúde.
A infecção aguda pelo citomegalovírus ocorre em 0,7 Dessa forma, o rastreamento de rotina na gravidez não
a 4,4% das gestações. Após o contato com o vírus, segue- é consenso, sendo desaconselhado na maioria dos paí-
-se período de incubação que varia de 28 a 60 d ias, com ses, inclusive no Brasil. Serviços especializados em países
média de 40 dias, quando se desenvolvem os primeiros como Itália e Bélgica têm proposto d iretrizes para o rastre-
sintomas da doença, que podem persistir por vários dias amento pré-natal do citomegalovírus. No entanto, ainda
ou semanas e incluem febre, fadiga, mialgia, fari ngite, tos- não foi possível estabelecer com precisão o impacto desse
se, náusea, diarreia e cefaleia. O sinal físico mais impor- rastreamento no prognóstico de longo prazo. As opiniões
tante é a adenomegalia cervical. A disseminação do vírus nesse sentido são divergentes, porque:
se faz por via hematogênica, infecta ndo, principal mente, Os exames laboratoriais são onerosos;
os polimorfonucleares, linfócitos T e B e as células en- os mecanismos de transmissão virai não estão to-
doteliais. A infecção das células retículo-endoteliais dos talmente esclarecidos;
capilares e das células epiteliais dos canais glandulares não há tratamento pré-natal eficaz até o momento;
provoca lesões de vasculite obliterante e isquêmica, além a imunidade materna prévia à concepção produz
de focos inflamatórios no tecido glandular. Após a infec- proteção substancial, mas não total, contra a infec-
ção aguda, o indivíduo pode elim inar o vírus pela saliva, ção grave pelo CM V.

Noções Práticas de Obst etricia


No enta nto, acredita-se que o rastreamento sorológico Acredita-se que o vírus seja transmitido quando leucó-
pré-natal possa diminuir a incidência de infecção aguda, citos infectados atravessam a placenta. Ao atingir o feto, o
além de perm itir o diagnóstico dos casos de doença congê- vírus aloja-se predominantemente no epitélio tubu lar re-
nita precoce, levando à adoção de cuidados especiais com nal, onde inicia sua replicação. Como consequência, ocor-
o recém-nascido, a fi m de impedir a disseminação do vírus. re excreção do CMV por via uri nária, fazendo com que o
Atualmente, o rastreamento universal não é recomendado, líquido am niótico funcione como verdadeiro reservatório
devendo-se limitar às gestantes com sintomas sugestivos do vírus. Por isso, a carga virai no líquido amn iótico reflete
de infecção pelo CMV (o que é d ifícil, u ma vez que a m aio- a carga virai na urina fetal e, por sua vez, a rephcação virai
ria das gestantes são assintomáticas ou oligossintomáticas), nos rins. O líquido amn iótico infectado ingerido pelo feto
gestantes imunodeprimidas ou que exerçam algum a ativi- permite que o vírus se instale e replique-se na orofaringe,
dade profissional de risco (profissionais de saúde e mulhe- atingindo a circulação fetal e lesando outros órgãos.
res que têm contato com crianças como babás, professoras A maioria das crianças in fectadas não apresenta qual-
e gestantes com filhos em idade pré-escolar)? quer sintomatologia ao nascimento. Mais tarde, porém,
Uma vez optado pelo rastreamento sorológico, os se- parte delas (5 a IS%) irá desenvolver surdez, retinocoroi-
guintes resultados podem ser encontrados: dite ou retardo mental. Essas sequelas são mais graves e de
lgG- eIgM- :gestante susceptível. Deve-se ado ta r medi- apareci mento mais precoce em casos de infecção aguda do
das profiláticas para evitar o contato com o vírus. Não que em casos de reativação virai m aterna.
há consenso sobre a necessidade de repetir a sorologia. Cerca de 20% dos recém-nascidos são sintomáticos
lgG+ e IgM- : gestante imune. Embora esteja susceptí- ao nasci me nto e apresentam a "doença de inclusão ci-
vel a um quadro de reativação, com base nas evidências tomegálica generalizada", caracterizada por hepatoes-
científicas atuais recomenda-se não repetir a sorologia. plenomegalia, icterícia, petéquias, púrpura, bai xo peso,
lgG-e IgM+: deve-se solicitar nova sorologia em duas prematuridade, pneumopat ia intersticial, retinocoroid ite,
semanas e analisar o resultado, conforme se segue: atrofia óptica e trombocitopeni a. N estes casos, a mor tali-
a. lgG- e lgM+ - lgM falso-positiva: a gestante deve dade é de 33% em algun s d ias e, quando sobrevivem, 90%
adotar medidas profiláticas para evitar o conta- das crianças evoluem com retardo mental, hipotonia, pa-
to com o vírus. Não há consenso sobre a neces- restesias e/ou surdez.
sidade de repetir a sorologia. A Figura 52.4 mostra as consequências da infecção pelo
b. IgG+ e IgM+ = infecção aguda: deve-se encami- CMV na gestação. 10
nhar a paciente para propedêutica fetal.
lgG+e lgM+
Se~ 16 semanas: solicitar teste de avidez de lgG DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL
Se> 16 semanas: considerar infecção aguda e en-
caminhar paciente para propedêutica fetal. Mesmo após mais de um a década, existem grupos que
não são favoráveis ao diagnóstico pré-natal e grupos que
consideram que o diagnóstico pré-natal foi um avanço no
TRANSMISSÃO MATERNO-FETAL acompanhamento das gestantes infectadas pelo CMV,
u ma vez que representaria o primeiro passo para a intro-
Quando a gestante é infectada pelo CMV, o risco de dução potencial de uma terapia a ntiviral eficaz no futuro.
contaminação fetal é de 30 a 50%. A idade gestacional não Como o rastrea mento un iversal da infecção pelo C MV
in fluencia no risco de transm issão intrauterina. Entretan- na gestação não é recomendado, a infecção materno-fetal
to, as consequências clínicas para o feto parecem ser mais pode ser suspeitada em três circunstâncias:
graves quando a infecção ocorre antes de 20 semanas de Por ocasião de uma síndrome infecciosa materna: as-
gestação. Quando a infecção aguda ocorre no pri meiro tri- sociação de febre, artra lgias, faringite, diarreia ou sín-
mestre, o risco de sequelas neurossensoriais varia de 35 a drome mononucleosídica sem agluti ninas heterófilas;
45%.Já no segundo e terceiro trimestres, esse risco varia de anomalias fetais descobertas à ultrassonografi a d e
8 a 25% e Oa 7%, respectivamente.12 rotina;

Infecções Perinatais
I Gestantes de nivel Gestantes de baixo
socioecon6mico elevado nfvel socioecon6mico

Oa1%das
crianças infectadas
Oa 1% das crianças
pode apresentar
infectadas pode
doença clinicamente 1Oa 20% dascrianças infectadas 80a00% apresentar doença
aparente ou sequelas podem apresentarsintornas clfnicos das crianças infectadas clinicamente aparente
da doença (moderadose graves) são assintomáticas ou sequelas

5a15%
desenvolvem sequelas•

sequelas•

Figura 52.41 Con equências da infecção pelo M V na gestaç:io.


f-=onte: Adaptado de Revello et al. 10
'Sequelas = microcefalia, retardo mental, hipotonia, parcstesias, perda de visão, surdez, defeito no esmalte do~ dente~. défiCit ncuromu cu lar,
retardo linguagem, dificuldade escolar.

por diagnóstico laboratorial, qua ndo o acompa- ção. De a forma, tem-se observado alta taxa de re-
nhamento orológico regular é realizado durante a ultado fa l o-negativos quando a anál ise do líqui-
ge taçâo. do é realizada precocemente. Por isso, atualmente
preconiza-se que a pesquisa da infecção fetal pela
Embora o CM V possa ser transmitido ao feto tanto du- PC R. seja realizada apenas a partir da 2 1• semana.
rante a infecção .tguda quanto cm casos de recorrência, o
diagnóstico pré-natal invasivo atualmente é proposto ape- Embora a identificação do víru no líquido am niótico
nas às gestantes que apresentam infecção aguda. Devido seja o teste mais sensível e específico para o diagnóstico
à sua alta sensibilidade c especificidade, o isolamento do da infecção congênita, d e não é capaz de identificar a
CM V no líquido amniótico é considerado o método de re- gravidade da lesão fetal. Por is o, dian te de um re ultado
ferência para o diagnó tico pré-natal, sendo a pre ença do positivo, a ultrassonografia fornece informações adicio-
vfru pc qui ada pela PCR. Entretanto, dois fatores devem nais a respeito da gravidade da lesão fetal. Alterações feta is
ser considerados ante da realização da amniocentcsc: associadas à infecção congênita pelo CM V incluem cres-
É necessário aguardar entre seis e nove semanas cimento intrauteri no restrito, a cite, anasarca, dilatação
.tpós a infecção materna para que o víru po · a ser ventricular, polidràmn io ou oligoidr.i mnio, calcificações
encontrado no líquido am niótico; hepáticas, microcefalia, espessamento placentário, calcifi-
o feto excreta o vírus na urina c a diu rese fetal ó se cações periventricu la res, óbito intrautcrino, h iperecogcni-
estabelece plenamente após a 2 i-' semana de gesta- cidadc intesti nal.

Noções Práticas de Obstetrícia


Além da ultrassonografia, a ressonância magnética no tratamento da infecção pelo CMV em indivíduos imuno-
pode ser utilizada no terceiro trimestre para estudo do en- deprimidos, sua utilização no tratamentoda infecção congê-
céfalo. Ela permite análise mais detalhada do cérebro fetal nita ainda permanece indefinida devido à escassa quantidade
particularmente pa ra estudo das circunvoluções cerebrais de dados existentes na literatura, que não permite conclusão
(giros). Nas formas com acometimento cerebral, observa- a respeito da sua eficácia na infecção fetal pelo CMV O obje-
-se polimicrogiria cm 65% dos casos, que não é identifica- tivo da terapia antiviral em gestantes apresentando infecção
da à u ltrassonografia. Além disso, a ressonância magnética aguda é reduzir a transmissão do vírus ao feto e diminuir a
possibilita o estudo da fossa posterior, podendo chamar a incidência de doença fetal sintomática. Entretanto, até agora
atenção para atrofia cerebelar. nenhu m tratamento se mostrou eficaz nesse sentido. As op-
A cordocentese é outro método que tem sido utilizado na ções de tratamento atualmente existentes ainda são poucas e
avaliação do prognóstico fetal, indicado particularmente em seus resultados ainda estão sob avaliação.
fetos acometidos, apresentando ultrassonografia ou ressonân- Estudos recentes parecem indicar que a utilização de
cia magnética normais. Acordocentese permite a pesquisa de globulina hiperimune, talvez associada a drogas antivirais
sinais biológicos que podem auxiliar na avaliação da gravida- apresentando baixa toxicidade, poderia ser uma boa opção
de da infecção fetal. Os principais parâmetros avaliados são: para o tratamento da infecção fetal pelo CMV no futuro.
Siuais especificos de infecção fetal: como o curto período Contudo, será muito difíci l avaliar a eficácia do tratamento
de vircmia fetal não permite a identificação do vírus na prevenção da infecção congênita, uma vez que o diag-
por meio de hemocultura, o sinal mais específico de in- nóstico da infecção materna é realizado, na maioria das
fecção pelo CMV é a IgM específica, que é encontrada vezes, apenas semanas ou mesmo meses após a transmis-
em 45-70% dos têtos sintomáticos. No enta nto, como são da infecção ao feto. Além disso, há amplo espectro de
o feto possui sistema imunitário imaturo, a identifica- manifestações da doença congénita; e lesões irreversíveis
ção desses anticorpos só ocorre a parti r da 20J semana ocorrem muitas vezes antes que qualquer intervenção te-
de gestação. Além disso, é possível haver infecção fetal rapêutica possa ser iniciada. Por isso, são necessários mais
sintomática sem elevação dos anticorpos lgM. pesquisas para se avaliar qual seriam a eficácia e a melhor
Si1wis de acometimento plurivisceral: elevação da opção de tratamento pré-natal da infecção congênita.
fosfatase alcalina, transaminases (T GO e TGP),
aumento da desidrogenase lática e 8-GT, além de
anemia hemolítica c trombocitopenia (encontrada PREVENÇÃO
cm 45% dos fetos sintomáticos).
A infecção congénita pelo CMV é um grande problema
Atualmente, novos métodos de avaliação do prognóstico de saúde pública que não parece ser solucionado por outros
fetal têm sido pesquisados. A avaliação da carga virai no líqui- meios que não a profilaxia imune, isto é a vaci nação. Consi-
do amniótico parece ser o mais promissor. Recém-nascidos derando-se que as infecções maternas agudas são a principal
sintorn:íticos excretam grande quantidade de vírus nos pri- causa das infecções congênitas graves e que a maioria desses
meiros meses de vida em relação aos recém-nascidos assin- quadros maternos são assintomáticos, acred ita-se que a vaci-
tomáticos. Esses dados indicam que a quantificação da carga nação de todas as mul heres soronegativas em idade fértil po-
virai poderia estar relacionada com as condições clínicas, pelo deria prevenir o nascimento de elevado número de crianças
menos após o nasci mento. Carga virai alta(~ I OS cópias/ mi) apresentando sequelas de desenvolvimento." Os esforços
no líquido ,\mniótico parece associar-se ao desenvolvimento recentes que têm tentado mostrar a importância potencial
de doença sintomática no recém-nascido em 100%dos casos. da infecção materna recorrente na gênese de infecções con-
gênitas sintomáticas não deverão interferir no empenho que
objetiva o desenvolvimento de uma vaci na segura c cficaz. 12
TRATAMENTO FETAL Entretanto, ainda não há vaci na contra o CM V. Agen-
tes antivirais ainda não estão disponíveis para utilização
Embora drogas antivirais específicas como ganciclovir c no tratamento da infecção fetal. Dessa forma, o foco da
foscarnet tenham sua ação bem-documentada há vários anos prevenção consiste no esclarecimento das gestantes sobre

Infecções Perinatais
medidas de prevenção primária. Uma da intervençõe grupo populacionais revelaram ·oroprevalência média cm
mais importantes é leva r as pacientes a compreender que a mulhcre de lO a 21 anos de 68:%. Um estudo realizado cm
citomegaloviro c é uma doença exual mente tra nsmissível Belo Horizonte mo trou soroprevalência de 76,296, endo
e que a promiscuidade sexual aumenta significati vamente ma i alta nas gestantes com menos de 2' ano de idade.
o ri co individual de adquiri r a infecção. Por isso, mulhe-
re que po suem múltiplo parceiros devem ·cr orientadas Qu.1dro -2.2 1Alterações observadas nos fetos expostos ao
quanto ao u o de pre ervativos. Outra medida importa nte vírus da rubéob conforme a idade gcstacional
é a orientação de mulheres com ri co de adqui rir a infec-
ção, como profc oras, babá , as que trabal ham cm creches
e berçários, enfermeiras e pediatras c mães de crianças pe-
Risco de infeccão e de malforma-
qucn.ls sobre o risco de adquirir a infecção c que medidas
ção fetal grave varia de 50 a 90%
·implc de higiene são suficientes para evitar o contágio.'; ~-------------+-
13-18 Acometimento menos grave. mani-
festado exclusivamente por surdez
---l-
RuBÉOLA > 18 Não foram observadas alterações
fetais
A rubéola é doença virai normalmente benigna, cau a-
da por um víru RNA da família Tognvírus, que apresenta E ·c dado mo tram que um número ainda impor-
alta infectividade. A infecção congênit.l pelo vírus da ru- tante de gestantes é suscetível à rubéola, provavelmente
béola foi pri meiramente de crita cm 1941, por Norman devido à falta de orientação a respeito da importância da
Grcgg, tendo ido a primeira evidência de tcratogenicidade vaci n:tção antes da gestação ou no puerpério imediato.
decorrente de infecção virai. O pico de incidência ocorre
entre cinco e nove ano de idade, raramente evolui ndo
com ~cquelas graves, como envolvimento do istema ner- MAN I FESTAÇÕES C LÍN ICAS
voso central c trombocitopcnia. 1ô
Aporta de entrada para o víru é o trato respi ratório ~upc­
rior. Após a exposição, ele c propag.1 através do vasos linfi-
EPIDEMIOLOG IA ticos até os linfonodos regionais, onde ocorre sua replicação.
Entre o sétimo e o l l0 dia, o vírus atinge acorrente sanguínea,
a idade rcprodutiva, aproximadamente 75 a 85% da alcançando vá rios tecidos, inclusive a placenta. Entre o nono
população é imune à rubéola devido principalmente a e o 11 ° dia, inicia- e a excreção virai pela nasofari nge, a sim
infccçõe subclínicas. o Brasil, e tudos realizados em corno urina, colo do útero c trato ga trointe tina I. O pico da
algun grupos populacionais revela ram oroprcvalência virem ia ocorre lOa 17 dias apó a expo ição, imediatamente
média cm mulheres de lO:1 21 anos de 68,5%. Entre 1997 antes do aparecimento do msh, e o vírus pode er i olado 11.1
c 2000 foram notificado 876 casos su peitos de sínd rome orofaringe sete dias ante do rash cutàneo. 16 !o
da rubéola congénita no l3rasil. Deste -, 132 foram confi r- Os primeiros si ntomas da doença, quando pre ·entes,
mado , com manife tações clínica cm criança menore · surgem apó período de incubação de aproxi madamente
de um ano, como cardiopatia c catarata. Estima-se que em 16 dias, com apareci mento de rash cutâneo ca racterístico.
uma população com 90% de mulheres imunizadas, a inci- O exantema, de aspc to máculo-papular, inicia-se na face
dência de rubéola congênita cja de -t/ I 0.000 ge rações, c po sui distribuição centrífuga pelo corpo, acompan hado
cuja frequência e gravid;~dc do acometimento cmbriofe- de prurido intenso. o adulto, a erupção é comumcntc
tal vari;~ m conforme a idade gcstacional da soroconvcrsão precedida por período prodrômico caracterizado por febre
m;~tcrna (Qpadro ' 2.2).' baixa, cefaleia, anorexia, conjuntivite, odinofàgia, artralgi.l,
Até o final da década de 80 era descon hecida a verdadcir.l linfadenopatia suboccipital, retroauricular e cervical. Es-
magnitude do problema da rubéola na maior parte do paí e ses sintomas sistémicos inespecíficos normalmente dim i-
da América Latin.1. o Bra ii, estudos realizado · cm algun nuem rapidamente com o apareci mento do rasii.

Noções Práticas de Obstetrícia


Anticorpos neutralizantes podem ser observados 14 lgG - IgM+: deve-se agua rdar duas semanas e repe-
a 18 dias após o contato com o vírus (usualmente dois ti r sorologia:
a três dias após o in ício do rash). Os anticorpos da clas- lgG- lgM+: IgM falso-positiva. Deve- e orien-
se lgM surgem juntamente com os anticorpos lgG logo ta r e repetir a orologia em caso de rash cutâneo
apó o exantema, atingi ndo o pico por volta de 30 d ias, sugestivo ou 9uando paciente referir contato
decrescendo rapidamente a títulos não detectáveis em com pessoa contaminada. Encaminhar parava-
torno de 80 dias. Os anticorpos lgG só podem ser detec- cinação após o parto.
tados pelos exame laboratoriais cinco a 15 d ias após o IgG+ lgM+ : infecção aguda. Se ocorreu nas
raslr. Os títulos de anticorpos aumentam rapidamente, primei ras 18 semanas, o risco de anomalia fetal
atingindo o pico em I5 a 30 d ias, qua ndo diminuem gra- é alto e a paciente deve ser encami nhada para
dual mente, mantendo um título constante que varia em diagnó tico pré-natal da infecção fetal.
cada indivíduo (Figura 52.5).- IgG+ lgM+: a conduta varia conforme a idade ges-
tacional:
Anticorpos
~ 16 semanas: deve-se solicitar teste de avide7
da Rubéola
_).G... .......................... da lgG
Eruptão
.. > 16 semanas: deve-se considerar infecção agu-
Antioorpos da. Se ocorreu nas primeiras 18 semanas, o
. locubação
16dias
.. residuais tipo lgG risco de anomalia fetal é alto e a paCiente deve
....:-- ...
Iir /..
:.....
/ Duração da lgM \
"'-. lgM
\
Seu nível varia
conforme o
indivfduo
ser encaminhada para diagnóstico pré-natal da
infecção feta l.

----- -
~ ... 3a6semanas

Contágio Transmissão FRL' l'<, \O CcTÂ i L\


-8 dias I +8 dias
Figura ' 2. I Cinética de anticorpos da rubéola. A gestante apresenta erupção cutânea sugestiva de ru-
béola. Neste caso, devem-se aguardar duas sem:t n:t~ após o
:tp:trecimento das Ie. õcs cutâneas par:t solicitar a sorologia.
RASTREAM ENTO PRÉ-NATAL Podemos encontrar os seguintes resultados:"
lgG- e lgM- : :t infecção por rubéola é de ·cartada.
O rastreamento sorológico da rubéola na gestação deve Orientar a paciente e encaminhar para vacin:tção
ser individualizado conforme a prevalência da doença em apó o parto.
cada região. Três tipo de itu,\ções podem ·er observadas lgG+ e lgM-: imunização antiga. Não há risco para
durante o pré-natal: o feto.
lgG+ e lgM+ : soroconve rsão. Se ela ocorreu nas
pri meiras 18 semanas, o risco de anomalia fetal é
RASTRE,\ ,\11 '\ ro ORO I Ó(, l(.O alto e a paciente deve ser enc:tmi nhada p:tra diag-
nóstico pré-natal da infecção fetal.
Realiza-se o rastreamento sistemático na pri meira
consulta de pré-natal. Neste caso podemo encontrar o·
seguintes re ultados:- CONTATO C OM O VíRUS
lgG- lgM- : gestante suscetível. Deve-se orientar e
repetir .1 sorologia em caso de rash cutâneo sugestivo A gestante entrou em contato com o vírus da rubéola
ou quando a paciente referir contato com pessoa con- (por intermédio de indivíduo doente). Deve-se aguardar
taminada. Encaminhar para vacinação após o parto. três sem.mas para solicitar a sorologia. A conduta varia
lgG+ lgM - : gestante imune. Deve- ·e aba ndonar conforme os resultados do exame sorológico e é semclh,1n-
acompanhamento sorológico. te àquela já citada.

Infecções Perinatais
TRANSMI SS ÃO FETAL ocorreu a infecção fetal, levando à alteração na embriogê·
nese de órgãos específicos. A infecção congénita caracte·
t. durante o período de vi remia materna que o vírus pode rí tica é representada pela tríade malforma ão cardíaca,
infecta r a placenta e, posteriormente, o feto. A idade gestacional catarata e surdez. A alterações fetai mai · comumente
no momento da infecção é o maior determinante dJ transmi · detectadas são:
ão intrauterina e do acometimento fetal. Adoença é mais grave Crescimento intrautcrino restrito;
c apresenta mais tendência a envolver múltiplos órgão quando micrognati mo;
adquirida nJs primeiras oito semanas. Durante as primeira~ 12 reti11opatia: é o sinal ocular mais comum e ocorre
emanas, mais de 80% das infecções matcrn.1s por rubéola são devido a um distúrbio de crescimento do leito pig·
tran mitida ao feto, com ri co de abortamento de 2011u. Equan· menta r da retina. Catarata bi lateral é observada cm
do agc tação pros cgue, o risco de malformação congénita grave 50% das crianças infectadas, muitas vetes as ocia·
é superior a 9011u. O ri co de tran mi ão fetal diminui progre · da à microftalmia;
1vamcntc apó 12 emana e o risco de malformação é pratica· nricrocejalia: retardo mental c motor ão comun c
mente nulo apó I ' emanas.16 estão di reta mente relaCionada com mcningoence·
Embora o~ rnecani mo re pon ávei pelo efeito tera- falite, que e tá presente em IO a 209o das criança~
togénico do vírus da rubéola não sejam conhecidos, dois infectadas ao nascimento;
dele de empenham importante papel no de envolvimen· 111a![ormação cardi01mswlar: as lesões mais comu m
to da embriopat1a:16 são (cm ordem decrc ccntc): per istência do ca1ul
A capaCidade do víru de provocar resposta infla- arterial, estenose da artéria c válvula pulmonar, co·
matória cm determinados órgãos, levando a qua- arctação da aorta, comu nicação interatrial e inter·
dros de angiopatia com vasculitc fetal e placentária, ventricula r.
alem de comprometer ocre cimento celular e levar
à necrose tccidual c dano celular; Caso a ultra sonografia esteja normal, devc-~e prossc·
o efeito inibitório do víru na multiplicação de cé· guir a propedêutica com a realinção de cordoccntese p.1ra
lula hu manas, levando à interrupção da mitose cm pesqui ·a de sinais de comprometimento fetal istemi o,
determinado grupos celulares. com aumento do níveis de fo~fata e alcalina, tran a mina·
ses (ALT e AST), LDH e crGT, além de anemia, trombo·
Outros defeitos observado em células infectada croni· citopenia, leucocito e e pe qui a de lgM e pecífica. E e
camcnte c que poderiam explicar o mecam mo do defeitos sinab, mesmo com ultrassonografia normal, indicam in-
congénitos incluem quebras cromossômicas, di minuição do fecção multis i têmica com comprometimento fetal grave
tempo de multiplicação celu lar e aumento da produção de e prognóstico normalmente rc crvado.
um inibidor de proteína, que levaria à parada da mitose cm
certo tipos de células.16
PREV ENÇÃO

DrAGN Ó STIC O PRÉ-NATA L Desde a introdução da vacinação cm 1969, a incidência


da rubéola e de~ síndrome de rubéola congênita dimi nu í·
A pesquisa da infecção fetal está indicada cm todo ca o ram 999o. O objctivo do programa de vacinação cont ra a
de rubéola materna ocorrido até a 18• semana de gestação. rubéola é prevenir as graves con cquências da contamina·
O diagnóstico pré-natal é feito a partir da PC R no líquido ção fctJI. A vacina, con tituída de víru VIVO atenuado (RA
amniótico. O resultado negativo assegura a ausência de in· 27/ 3), confere proteção cm 959o dos indivíduos susccptí·
fccção fetal. Diante de um exame positivo, deve-se realizar vei e a imunidade contra o víru é adquirida entre trê e
ultra onografia fetal em bu ca de alterações compatíveis quatro semana após a vacinação. A vacinação é contrain·
com a síndrome da rubéola congênita. 1- cl icada cm ge tantes e em mu lherc~ que plancjam gravidez,
As manifestações pré-natais da rubéola congénita ão devido ao risco teórico de acometi mento fetal, apesar de
va riada c estão relacionadas à idade gestacional na qual não existirem efeitos teratogénicos relatados. Após a va-

Noções Práticas de Obstetrícia


cinação, a mulher deve aguardar período míni mo de três INFECÇÃO NEONATAL
meses até a concepção. 18 20
Em mulheres grávidas suscetíveis expostas ao vírus, é A prevalência da infecção neonatal é de 1-2 ca os por
discutível o uso de imunoglobulina (20 mi, via intramuscu- 1.000 nascidos vivos em países desenvolvidos e de 5-6
lar, até 72 horas),a fim de diminuir o risco de infecção. A imu- casos por 1.000 nos países em desenvolvi mento. O estrep-
noglobulina pode diminuir os sintomas maternos decorren- tococo do grupo B representa a principal causa de morbi-
tes da conta minação, mas sua ação na transmissão do vírus mortalidade peri natal, podendo ocasionar infecção neona-
ao feto não está defi nida. tal de início precoce ou tardio. t considerado o principal
A maioria dos casos de infecção prim:íria por rubéo- agente re ponsável pela i nfccç~o neonatal precoce (até sete
la na gestação ocorre em multíparas (50 a 75%, segundo dias de vida). Aproximadamente 80 a 85% dos casos de in-
dados do Laboratório Nacional de Saúde de Paris). Dessa fecção neonatal ocorrem na primeira semana de vida, cm
forma, percebe-se a necessidade de se difu ndir a vacinação decorrência da transmissão vertical, e manifesta-se como
para todas as mulheres soronegativas no pucrpério ou após pneumonia ou septicemia e, menos frequentemente, com
abortamentos. A aplicação dessa recomendação si mples meningite, osteomielitc c artrite séptica. A mortalidade va-
associada à vacinação das crianças entre 12 c I 5 meses ria de 5% em recém-nascidos a termo a 25% em pré-termos.
(com reforço entre quat ro e seis anos) e de toda mu lher A infecção de início tardio ocorre por tran missão vertical
soronegativa cm idade fértil permitirá atingir o objetivo da ou horizontal, manife tando-se, principalmente, como
Organização Mundial de aúde na luta contra a rubéola meningite, podendo causar sequelas neurológicas em até
congênita (erradicação da doença a partir de cobertura va- 50% dos sobreviventes. A mortalidade é inferior a 10% cm
cinai de 95% da população). recém-nascidos a termo c pré-tcrmos. 15
Antes da utilização da quimioprofilaxia, a incidên-
cia da sepse neonatal variava entre dois e três casos por
EsTREPToc ocos no GRuPo B 1.000 nascidos vivos. Em 1990, com o uso da antibiotico-
profi laxia, houve diminuição na incidência de epse para
O estreptococo do grupo B (Streptococclls agalatiae) emer- 1,8 caso/ 1.000 nascidos vivo nos EUA (scpse precoce:
giu como a principal causa de morbimort,llidade neonatal 1,5/ 1.000 e ·epse tardia: 0,3 ' / I.OOO).Após a melhor divul-
nos Estados Unidos na década de 70, com taxa de mortalida- gação das recomendações do coe em 1999, o nú mero de
de chegando a 50%. No início dos anos 80, diversos estudos casos de sepse neonatal precoce di minuiu 70%, alcançan-
demonstraram que o uso de antibióticos em mulheres com do 0,5 caso/ 1.000 nascidos vivos. Em 2007, o número de
fatores de risco durante o trabalho de parto poderia prevenir casos apresentou pequena diminuição, com relato de 0,4
a epse neonatal precoce. Em 1996, o Colégio Americano de caso/ 1.000 nascidos vivos. 2 w
Ob tetras e Ginecologistas (ACGO) e o Cer1ters for Disease
ontrol and Prevwtion (CDC) publicaram as primeiras reco-
mendações para a profilaxia intraparto, que deveriam serre- COLONI Z AÇÃO MATERNA
alizadas de acordo com fatores de risco reconhecíveis, como
febre materna intraparto, bolsa rota por período superior a 18 O trato gastrointestinal é o reservatório natural do es-
horas e parto pré-termo. Em 2002, o CDC publicou revisão treptococo e, possivelmente, é a fonte da colonização vaginal.
dessas recomendações com o intuito de diminuir a doença Cerca de I Oa 30% das mulheres apresentam colonização por
nconatal associada ao estreptococo, recomendando a realiza- estreptococos do grupo B no trato genital inferior ou reto. A
ção sistemática do ra treamento durante o período pré-natal, maioria das gestantes apresenta infecção assintomática. Ape-
para identificação das gestantes colonizadas e indicação pre- nas 2 a 4% delas evoluirão com infecção do trato urinário. O
cisa da quimioprofilaxia. Em 2007 foi realizada avaliação da maior fator de risco para a infecção perinatal precoce é o
eficácia do rastreamento universal do estreptococo na ges- estreptococo colonizando o trato gcnitourinário da ges-
tação, mostrando, mai uma vez, diminuição na incidência tante. Entretanto, outros fatores também estão associados
de ep e neonatal nas gestantes colonizadas que foram diag- ao au mento do risco de desenvolvi mento da sepse ncona-
nosticadas e adequadamente tratadas. 2 1.22 tal precoce, como pode ser observado no Qjladro 52.3.

Infecções Perinatais
Qjladro 52.3 1Fatores de risco de sepse neonatal precoce Em bora as ta xas de colonização não apresentem
Idade gestacional inferior a 37 semanas; variações na gravidez, sabe-se q ue 4 a 7% das mu-
lheres que apresentam cu ltura vaginal e reta! nega-
Febre durante o perlodo do parto (temperatura acima de 3B°C);
ti va no segundo trimestre possuem cult ura positiva
Rotura de membranas acima de 18 horas; no pa rto e aprox imadamente 33% das que tiveram
culturas positivas durante o segundo trimestre têm
Ocorrência de sepse por estreptococos em gestações
anteriores; culturas negativas no pa rto. Por isto, a cult ura do
materia l deve ser realizada até q uatro semanas an-
Bacteriúria por estreptococos do grupo 8 durante a gesta-
tes do parto.
ção, independente do tratamento adequado da infecção.
A cultura requer período de tempo p rolo ngado
para se obter o resu ltado, uma vez q ue o material
Mulheres colon izadas possuem risco 25 vezes mais deve ser incubado por 18 a 2 4 ho ras c, então, sem e-
elevado de terem recém-nascido com sepse neonatal pre- ado em placas de ágar-ága r. A demora na obtenção
coce. A colonização materna durante o perío do intraparto do resultado do exame é um obstáculo para sua uti-
é o fator mais importante na transmissão peri natal da in- lização durante o trabal ho de parto
fecção e a transm issão vertical ocorrerá após a rotura das
membranas ou in ício do trabalho de parto. A colon ização
pode ser crón ica, tra nsitória ou interm itente. Por isso, mu- PREVENÇÃO DA SEPSE PERINATAL PRECOCE
lheres colon izadas no início da gestação ou cm gestação
prévia devem ser novamente testadas para con firmar a pre- O pilar d a prevenção da sepse perinata l precoce é a
sença do agente no momento do parto. adm inistração de antibioticoterapia durante o parto, que é
A in fecção pelo estreptococo pode ser adquirida no realizada com base em dois tipos de est ratégias:n. 24
útero, por via ascendente. Entretanto, na maio ria dos casos, A parti r do rastreamento un iversal, com coleta de
a contaminação ocorre durante a passagem pelo ca nal de material utilizando swab reta! e/ ou vaginal. A pes-
parto. Cerca de 50% dos neonatos de mães colon izadas quisa do estreptococo é feita po r meio de cultura do
apresentarão colon ização de pele e mucosas e 2% destes material em meio específico entre 35 e 37 semanas
desenvolverão doença sintomática.21•22 de gestação.
A partir da identificação de fatores de risco para
sepse perinatal em gestantes (~adro 52.3). Diante
RASTREAMENTO PRÉ-NATAL de qualquer um desses fato res, ind ica-se automati-
camente a antibioticoprofilaxia durante o parto.
A gestante coloni zada pelo estreptococo é, via de regra,
assi ntomática. Sendo assim, a única forma de realiza r o d iag-
nóstico da colonização materna é por meio de exames labo- QUl M IO PROI' I LA X IA I TRAPART O :
ratoriais. O teste considerado padrão-ou ro para o rastrea- ESQ UEMAS DE A TIB IÓTICOS R ECOME N DAD OS
mento pré-natal é a cultura. Algumas caracterís ticas desse
exa me são importantes e serão detalhadas a seguirY ·23 A penicilin a é considerada o antibió tico de escol ha
As amost ras devem ser obtidas da vagina (introito) para a profilaxia, por apresentar meno r espectro de ação
e reto (através do esfí ncter anal). C ulturas cervicais e, consequentem ente, reduzida seleção de flora bacter ia-
não são recomendadas, pois apresenta m positivida- na. Não há resistência comprovada co m o u so da penici-
de inferior a 5%. lina, mas o em prego da ampicili na pode selec io nar um a
Deve-se utiliza r meio de cultura seleti vo com pro- cepa de E. coli resistente. As pacientes a lé rgicas devem ser
priedade de in ibir o cresci mento de bactérias gram tratadas com m ed icam entos a lternativos. Aquelas q ue
negativo como o meio de Todd-H ewitt. A não uti- possue m hi stória de reações de hipersensibilidade ime-
lização de meios seletivos pode resu ltar cm 50% de d iata, como an afi laxia, angioedem a e ur ticárias, asm a ou
res ultados falso -negativos. ou tros f.1tores agravantes, são consideradas de alto risco

sso Noções Praticas de Obstetrícia


para anafilaxia e devem ser tratadas com clindam ici na HEPATITES VIRAIS
ou eritromicina, de acordo com o resultado do antibio-
gra ma. A prevalência de resistência para esses agentes As hepatites vi rais são doenças infecciosas de distribui-
va ria entre 7 e 25% com o uso da eritromicina c entre 3 ção mundial e de elevada prevalência. A saúde da gestante e
e I S% com a clindamicina. Pacientes resistentes a esses da criança pode ser influenciada pela infecção adquirida na
antimicrobianos devem ser tratadas com vancomicina. gestação (in fecção aguda) ou na gestante portadora da forma
Para as de baixo risco, está indicado o trata mento com crônica das hepatites B e C.25
ccfazolina. Apenas 10% das alérgicas à penicilina apre- A hepatite virai é a hepatopatia mais comum e a hepatite
entarão reaçôes de hipersensibilidade imediata com o virai aguda pode apresenta r problemas na mulher grávida.
uso de cefalosporinas (Quadro 52.4} 22 A evolução natural da hepatite A, B ou C aguda não se .11-
tera na mulher grávida, não estando indicada a interrupção
Quadro 52.4 I Esquemas de antibióticos recomendados da gravidez ou a antecipação do parto. A hepatite B aguda,
para a mãe com o objetivo de rea lizar profilaxia da sepse porém, no segundo ou terceiro trimestre, pode trazer risco
neonatal precoce pelo estreptococo do grupo B de transmi ão ao feto, estando indicada a imu noprofila-
Penicilina Gcristalina xia com globulina hiperi mu ne da hepatite B, bem como o
Dose de ataque: 5 milhões de unidades. EV programa de vacinação regular para o recém-nascido. Por
1• Escolha
Doses subsequentes: 2,5 milhões de unida- razões obscuras, o vírus da hepatite E, que é endêmica no
des, EV, 4/4h até o parto.
Oriente Médio e na Ásia, pode causar insuficiência hepá-
Ampicilina tica fu lminante com alta mortalidade materna ao afCtar
r Dose de ataque: 2 g, EV
Alternativa a mu lher grávida, particularmente durante o terceiro tri-
Doses subsequentes: 1 g, EV. 4/4h até o
mestre. As sorologias para hepatite são úteis no diagnóstico
parto.
diferencia l de possível hepatite virai na gravidez. Deve ser
Pac1entes alerg1cas a pen1cilllla
buscado antecedente de potencial exposição.L\
Cefazolina O médico pré-natalista deve estar atento para os diag-
Baixo risco Dose de ataque: 2 g, EV nósticos diferenciais de provas de função hepática anormais
Doses subsequentes: 1 g, EV. 8/ 8h até o parto. na gestação, corno hepatite autoimu ne ou medicamentosa,
Clindamicina, 900 mg. EV, 8/8h até o parto. doença calculosa biliar, síndrome H ELLP, colestase intra-
ou -hepática da gravidez ou mesmo neoplasia.-
Alto risco Eritromicina, 500 mg. EV. 6/6h até o parto.
ou
Vancomicina. 1g, EV. 12/12h até o parto.
H EPATI TE A
EV = endovenosa.

O vírus da hepatite A (VH A) é um hepatovírus perten-


EF I' ITO~ ADVERSO~ cente à fam ília dos picarnavírus. É agente comum da hepa-
tite aguda, mas não cronilica. A transmissão é tipicamente
O efeito adverso mais importante descrito com o uso fecal-orat com eliminação máxima nas fezes nas duas se-
da qu imioprofi laxia é a seleção bacteriana com aumento de ma nas que antecedem o início da si ntomatologia, estando
infecções causadas por bactérias resistentes. O uso de am- também presente no soro e saliva nesse período, porém cm
picilina tem sido associado ao aumento das infecções neo- níveis muito baixos.25
natais precoces por bactérias gram negativo, especialmente É importante destacar que a hepatite aguda causad.1 pelo
aEscherichia coli. 21 •22 VHA durante a gestação possui mais probabilidade de aco-
As reações de anafilax ia associadas à quim ioprofilaxia metimento hepático grave que cm mulheres não grávidas.
são raras, variando entre 4/ 10.000 e 4/ LOO.OOO com o uso Sobre a ocorrência de transmissão vertical desse vírus, evo-
da penicilina. Cerca de 10% da população poderá apresen- ca-se que seu curto período de viremia e os cuidados duran-
ta r apenas reaçôes alérgicas leves. Os benefícios com a qui- te o parto (evitando o contato do feto com fezes maternas)
mioprofilaxia superam os riscos de reações alérgicas.- explicam a ra ridade dessa forma de transmissão do VH A.

Infecções Perinat ais 851


Gestantes que apresentaram infecção aguda pelo rus, p odendo chegar a 80% se a infecção aguda ocorrer no
V H A devem ser acompanhadas em ambulatório de gesta- final da gravidez.
ção de alto risco. As condutas invasivas sobre o feto estão D e forma geral, a não ser em pacientes desnutridas ou
contraindicadas apenas no p eríodo de viremia, que pode portadoras de outras comorbidades, o prognóstico da in-
ir até quatro semanas após o início da icterícia. Os retornos fecção em portadoras crônicas do VHB não é modificado
ao pré-natal devem ser semanais até o restabelecimento da pela gestação. Por sua vez, a infecção crônica causa pouca
função hepática à normalidade. Com a fu nção hepát ica influência no prognóstico gestacional. No entanto, a infec-
normalizada, os retornos também voltam a obedecer a prá- ção aguda pode causar algu mas alterações que ocorrem
tica normal indicada para cada serviço. mais na dependência do comprometimento materno do
Essas gestantes receberão atenção nas acomodações co- q ue da própria ação do vírus, havendo referência de seu
muns de pré-parto. Para gestantes com hepatite aguda pelo potencial em causar aborto (raro), trabalho de parto pré-
VHA (até duas semanas após o surgimento da icterícia), de- -termo, morte fetal e hepatite neonatal.7
vem ser tomados todos os cuidados de controle da dissemi na- Após a infecção aguda, cerca de 30% dos pacientes
ção do vírus no ambiente hospitalar. Luvas devem ser ut iliza- apresentam icterícia e entre O, I e 0,5% evolui para a for ma
das para qualquer procedimento que envolva sangue e fezes, ful m inante. A infecção apresenta resolução espontânea em
onde se concentra grande quantidade de partículas do VHA? q uase 95% dos casos, com desaparecimento do H BsAg e
Se a paciente defecar durante o parto, proteger o perí- surgimento dos anticorpos anti-H Bs. Em torno de 5% dos
neo com compressas embebidas em polivinilpirrolidona- pacien tes torn am-se cronica mente infectados, com dois t i-
-iodo, evitando o contato com o recém-nascido (RN). pos de evolução, dependendo do status do HBeAg. Pacien-
Recomenda-se q ue a equipe de atendi mento use óculos de tes que contraem infecção perinatal evoluem com hepatite
proteção, enluvamento duplo e avental plástico (além da crônica moderada a grave, com H BeAg positivo e elevação
paramentação usual}? das transa m inases somente após lO a 30 anos (período de
Mesmo na fase aguda da hepatite A, a via de parto é imu notolerância), em cont raste com aqueles que contraem
determinada por condições obstétricas. Se houver necessi- a infecção m ais tardiamente, que evoluem para forma mais
dade de episiotomia, protegê-la com compressa embebida grave em período de tempo mais curto. 2s
com polivin ilpirrolidona-iodo, evitando ao máximo o can- E ntre os portadores crônicos, 50 a 75% são replicantes
tata do feto com o sangue materno. virais (HBeAg positivos) e desenvolverão doença crônica,
Os cuidados com o RN devem contempla r aspiração que pode evoluir à taxa anual de 2 a 5,5% para cirrose, dos
orotraqueal e/ ou nasotraqueal cuidadosa - evitando-se a qua is 20% desenvolverão carci noma hepatocelular.
lesão de mucosas - e limpeza imediata do RN. Não existe Sem tratamento p reventivo, cerca de 90% dos recém-
consenso sobre a adm inistração de imunoglobulina para -nascidos de mulheres com o vírus da hepatite B serão por-
esses neonatos, visto gue a infecção apresenta, de fo rma ge- tadores crônicos do vírus. Estima-se que 25% deles morrerão
ral, boa evolução clínica. por complicações da doença hepática (cirrose ou carcino-
ma), com sobrevida m édia de 50 anos. A projeção de mortes
por complicação da hepatite B crônica causada por infecção
H EPATITE B perinatal é de 3,9/ 100.000/ ano.

O vírus da hepatite B (VHB) é um DNA vírus dedu-


pla-fita incompleta, transmitido por via parentera l, sexual e D IAGNÓSTICO LAI30RATORIAL DA HEPATITE B
vertica l. Do ponto de vista epidemiológico, o fato do VHB
cronificar-se em percentua is que variam de 3- 1S% em O VHB foi descoberto em 1966 e pertence à família
adultos, transm itir-se por relação sexua l heterossexual e in- dos vírus HepaDNA. Seu genoma é constituído por p e-
cidir com mais frequência na idade reprodutiva é de muito quena quantidade de DNA circular. No soro de indivídu-
interesse para o obstetra e para o neonatologista. Aceita-se os infectados, o vírus da hepatite B possu i forma esférica,
que, sem intervenção profilática, o risco de tra nsmissão medindo 42 nm de diâmetro, constituído por um enve-
vertical do V H B seja de 8% em portadoras crônicas do ví- lope fosfolipídico e um capsídeo nuclear (core). A cápsula

Noções Práticas de Obstetrícia


do víru po ui uma proteína na ua uperfície, o .mtígeno preferência da paciente (de de que não haja insuficiência
H B Ag. O cap ídco é formado por uma única proteína, a hepática). Os retornos ao pré-nat.1l devem cr emanais até
proteína core, que exprime o antígcno Hbc. A cgui r, algu- a recuperação da função hepática à normalidade. Com a
ma mformaçõc ~ucmtas a rc peito dos marcadorc da fu nção hepática normalizada, o~ retorno também voltam
infc jo pelo HB:-' 1 a obedecer a prática normal estabelecida para cada serviço.
HBsAg: antígcno da superfrcie virai, utilizado na E:>:>J gesta nte dever,\ ter eguimcnto pré-natal cm servi o
triagem da infecção crôn ica (população geral c em de gestação de alto ri co 1 '
gc tantes). As gestante portadoras da forma crônica da doença
HBcAg: antígcno que indica a replicação virai. Com são, na maioria dos casos, assintomáticas. !': importante
H BcAg negati vo, sem intervenção profi l.ític.1, a TV frisar que as le õe da hepatite crônica não c agravam
va ria de ' a 8%. Com este marcador po itivo, a TV durante a gestação. A gravidcL., contudo, parece influir
aumenta cerca de lO ,·eze . na evolução da infecção, endo ob~ervado aumento da
li BcAg: mar ador do core v1r.1l. 1ormalrncntc, cs e replicação virai. ão se sabe, entretanto, c a gestação in-
marcador não tàz parte dos ex,1mes que avaliam fluencia na frequência de comphcaçõc cm longo prazo
a presença dJ mfccção pelo VHB, vi to que exige d.1 mfccção crôni a pelo H BV. E~sas gc tantc podem ser
técnica ma1 complexa . ' oliCita- c o cu .1nt1 or- acompanhadas cm crviço de pr~-natal de baixo risco,
po corre pendente. com onsultasseguindo o calendário habitual da gc tação,
A11/1-H Bsl\g: ant1corpo contra o antígeno de super- .1 não cr que haja alguma compli ação ocas1onada pela
fície. Sua detecção sérica ocorre após o de .1p.trc- doença crônica.
cimcnto do H l) Ag. Indica que a infecção vi rai foi Parturiente portadoras do V H 13, independentemente
re olvida c que o organi mo ontrolou imunologi- de estarem na fase aguda da infecção ou de serem portado-
camcnte o pro cc~so. ras crónicas do víru , receberão aten ão na acomodações
Alllr-1/Bcl\g: é o marcador uni versal de cxpo ·i ão comun de pré-parto. 1 o entanto, recomcnd.1- c que de-
.10 H B. Como as técnica de detecção do antíge- vem ser tomado todos os cuidado~ de controle da disse-
no {H B Ag) ão ma i compb.1 , olicita- c o .1n- minação do víru no ambiente hmpilalar. Luvas devem ser
ticorpo. a fàsc aguda, a infccç.1o pode cr alcrid.1 utilizada para qualquer proccdm1ento que cnvolv.1 an-
por lgM. ormalmente, em ge tante a intom.ltl- gue, ~e reçõe ou excrcçõc . O. CL11d.1do ão o me mos
ca\, apenas a lg , está po itiva. di pen~ado à parturientes portadora~ do viru!> d.1 imuno-
Aull-11 BcAg: ant1corpo contra o antígeno de rcpli- detiCJcncia humana.
c.1ção {Q uad ro 52.5). 1\ Ic mo na fa e aguda da hepatite B a via de parto é de-
termin.lda por condi õe ob tétn as. ão e comprovou
que a ce área reduz a transmissjo vertical do V 11 13, por
H'" "'' 1111 B1 GeSTAÇÃO isso, primaria mente, a via de parto neste caso é a vagi nal.
Se houver ncccs idade de cpi iotomia (realiz,1da apenas
ão ex i te tr.1t.1mcnto específico p.1ra a hepatite agud.1 em casos cuja indicaçjo cja ind1. utívcl), protcgê-!.1 com
pelo vírus 13 durante age tação. Orientam- c apenas mcdi- compressa embebida com polivinilp1rrolidona-iodo, evi-
d,, de uportc,como repouso (determinado pela tolerância tando .10 máximo o conta to do feto com o sangue nu terno,
da paciente), hid ratação adequada c dieta de acordo com a!> principa lmente as cav1d.1dc bucal c na ai.

Quadro 2.5 I 01agnó tico da fa c da infccçao pelo víru~ da hepatite B, cgundo a anã h ·c do exame) )Orológicos
01dCJilUS!ICU HBsAg Allti-HBs Ar1t1 HBr lqM Ant1-H8c lqG HBeAq Ant r HBc

Infecção aguda +ou- +ou- + - - -


- -
Infecção crOnica + - - + +ou-
Imunidade - -
-- - -+ou-
-
-l
+ +OU- - +

Infecções Perinatais
TRAi'- M ISSAO h T .\L portadoras crônicas (H BsAC positivo) apresentando
anti-HBe: o risco de transmissão é in ferior a 20%,
A incidência de infecção neonatal é mais alta quando a mas, sobretudo, o risco de infecção crónica no
mãe adquire a hepatite aguda durante age tação (48%) do recém-nascido é considerado nulo. As infecçõc
que quando ela é portadora crónica (20%). t importante transmitidas aos recém-nascidos manifestam-se
lembrar que a tran missão ocorre no momento do parto. A por soroconversão anti-H Bs assi ntomática;
tr,lnsmissão tra n placentária do V H Bé considerada nula.7•25 portadoras crônicas apresentando H BeAg e anti-H Be
As consequências da hepatite B aguda na gestação mgativos: nessas pacientes, o risco de transmissão
incluem: da infecção é de 10%.
Abortamento: como a maioria dos casos de hepatite
ocorre no 2° e 3° trimestres, ,1 a ociação com abor- Várias formas de transmis ão são possíveis, sendo rara
tamento é fraca (3,6%); a por via transplacentária. A tran missão peri natal apre en-
prematuridade: alguns autores acreditam que não ta mais relevância, podendo ocorrer pela inge tão de san-
há associação. Outros, no entanto, sugerem que a gue, urina, fezes ou secreção vagi nal no momento do parto.
prematuridade é mais comum quando a hepatite
ocorre no final da gestação (27%);
mortalidade perinatal: 11% - a prematuridade expli- R \'i'l RI \ ,\ I C'\ ro D\ Ht· PA tt rr B
caria a maior parte desses óbitos.
O objetivo primário do ra treamento é identificar a
O risco de transmissão vertical da hepatite B crónica gc tante · portadoras do víru da hepatite B e prevenir sua
está relacionado aos seguinte marcadores sorológico : transmissão ao recém-nascido. Em mais de 90% dos casos,
Portadoras crônicas apresentando HbeAg positivo: o as gc tante ão portadoras crónicas assintomáticas do
risco de transmissão ao feto/ recém-na cido é pró- H B c são identificada apenas com a realização do rastre-
xi mode90%; amento sorológico (Figura 52.6).

HBsAG

I
Negativo Positivo

Abandonar acompanhamento Solicitar HbeAg e Anti-Hbe


Orientar vacinação Solicitar HbsAg do parceiro. Se negativo. encaminhar para vacinação
Verificar se a paciente possui anti-HIV e VDRl

!_
HBeAg - HBeAg +

Risco de transmissão fetal = 90%


Anti-HBe - Anti-HBe +

Risco de transmissão fetal= 10% Risco de transmissão fetal = 20%

Figur:l 52.6 J Proposta p:~ ra r:1streamento pré-natal d:1 hepatite B.


+=positivo; - = negativo.

854 Noções Práticas de Obstetrícia


PREV ENÇÃO DA l NF.ECÇÃO NO R.EC.ÉM-NASCJDO mi nação do vírus na comunidade. O diagnóstico é, em geral,
acidenta l, sendo realizado durante triagem sorológica em do-
Os cuidados com o RN de mães portadoras do VHB ado res de sangue ou para ava liação da possível causa de au-
devem contemplar a limpeza imediata do RN, evitando a mento das transaminases, evidenciado em exames de rotina.
aspi ração orotraqueal e/ou nasotraquea!Aimunoprofilaxia O exame de triagem da hepatite C baseia-se na pes-
está indicada em todos os recém-nascidos de gestantes HB- quisa de anticorpos contra proteínas do vírus, utilizando
sAg positivas. Utiliza-se a vacina, q ue é administrada em testes imunoenzi m áticos sensíveis e de baixo custo como
três doses, sendo a primeira até 12 ho ras após o nascimento o E LISA. No entanto, essas técnicas não conseguem deter-
e as demais admi ni stradas no 3° e no 6° meses de vida. A m ina r a presença do vírus?, 2s
imunoglobulina deve ser administrada ao nascimento, jun- A detecção de anticorpos não indica que a gestante é
tamente com a primeira dose da vacina. Esse esquema apre- portadora do vírus, significando apenas contato prév io
senta eficácia pro te to ra de 90 a 95%. A amamentação e a via com o H CV. Até o momento não se d ispõe de uma técn i-
de parto não influenciam na transm issão do HBV. ca que possa discri m inar com segu rança se esse resultado
está relacionado à hepatite aguda, crônica ou se decorre
apenas do contato prévio com o vírus. Por outro lado, u m
HEPATITE C resultado negativo significa q ue o indivíduo não tem anti-
corpos contra o VHC, quer por não ter tido contato ou por
A identi ficação do agente causador da hepatite pós- não ter desenvolvido anticorpos (p eríodo de janela i mu no-
-transfusional não A, não B, reconhecida em meados da dé- lógica ou imunossupressão). Na avaliação do comprome-
cada de 70, permanecia descon hecida até 1989. O genoma timento hepático, utilizam-se as dosagens da alani na-ami-
do vírus foi clonado por técnicas de biologia molecular a notransferase (ALT ), aspartato-aminotran sferase (AST ),
partir de amostras colhidas de chimpanzés experimental- gama-glutamiltra nsferase (Gama-G T ), fosfatase alcalina,
mente infectados com o concentrado de fator Vlll humano bilirrubinas, pro teínas totais e frações. A biópsia hepática
e foi designado como vírus da hepatite C (VHC). A detec- deve ser evitada du rante a gestação
ção de anticorpos circulantes demonstrou ser este vírus o Apesar da norma lização das transami nases, 80% dos
maior responsável pelas hepatites agudas pós-transfusio nais pacientes evoluem para a forma crônica da doença, q ue
não A, não B e a doença passou a se chamar hepatite c.zs pode ser assintomática (virem ia sem elevação das transa-
Estudos de prevalência do VHC em que foram exam ina- minases) o u si ntomática (virem ia associada à elevação per-
das pelo menos 3.000 gestantes por sorologia e com confir- sistente das tra nsa m inases).
mação virológica demonstraram prevalência de 0,58 a 2,4%. A infecção pelo HCV não influencia no curso da gesta-
Considerando as regiões do Brasil, observa-se que a maior ção ou no peso do recém-nascido, como também não está
frequência da infecção pelo VHC é na região Norte (2, l %). Já associada a aumento na incidência de complicações obsté-
as regiões Sul e Sudeste apresentam taxas de infecção de 0,6%. tricas. No entanto, no fi nal da gestação e no período de p ós-
O período de incubação do H CV é, em média, de seis parto, há alto risco de agudização da hepat ite C crônica. De
semanas, podendo variar de algu ns dias a vários meses. A forma geral, na portadora crônica assi ntomática do V H C,
sua duração parece ser influenciada pela forma de conta- sem repercussão laboratorial da função hepática, o prognós-
minação que determi naria a quantidade do inóculo viraJ.7 tico gestacional não é comprometido e o vírus não está as-
Entre os indivíduos contaminados, apenas 20% apre- sociado a malformações. No entanto, nas fo rmas em que há
sentarão hepatite aguda ictérica, a maioria não desenvolverá alteração da função hepática, o prognóstico perinatal rela-
icterícia e apenas 50% serão sintomáticos, mais da metade ciona-se com grau de acometimento materno. Nesses casos,
apresentando sinais inespecíficos, como astenia moderada, podem-se o bservar taxas au mentadas de trabalho de parto
síndrome pseudogripal e sintomas digestivos. A elevação das pré-termo, prem aturidade e restrição de crescimento intra ú-
transaminases é geralmente moderada (em média, 20 vezes o tero. Resumindo, as repercussões sobre os indicadores de
lim ite superior da normalidade), normalizando-se após algu- saúde perinatal não são afetadas d iretamente pelo V H C. 26
mas semanas. Qj.1ase sempre a gestante portadora do VH C é A t ransm issão vertical varia de 3,3 a 5% e não há tra-
assintomática, dificultando seu controle e facilitando a disse- tamento preventivo, pois não dispomos de imu noglobu-

Infecções Perinatais sss


lina específica ou vacina. Uma viremia materna elevada é, A sífili s é classificada em adqui rida e congéni ta. Por con-
até o momento, o principal fator associado à transmissão veniência epidemiológica, a ffilis adq uirida é dividida em
materno-fetal do víru da hepatite C. Me mo em baixas precoce e tardia, com uma linha divi ória arbitrá ria de dois
taxas, a transmissão vertical do HCV tornou-se o mais im- anos. Na sífilis recente (primária, secundária, latente recen-
portante meio de contágio das crianças, graças aos cuida- te), a doença é infectante. a sífilis tardia (latente tardia, ter-
dos em bancos de sangue, que reduziram drasticamente a ci,1ria), a infcctividade diminui rapidamente com o tempo.
possibilidade de infecção por transfusão. Considera-se que
uma criança nascida de mãe portadora do HCV foi con-
taminada quando a pesquisa da viremia pela reação em SíFILIS ADQUIR I DA
cadeia da polimcrase (PCR) for positiva dois meses após
o nascimento ou quando a pesquisa de anticorpos contra o Cerca de 30% das pessoas expostas ao treponema tor-
HCV for positiva após um ano de idade.U' nam- e infectadas e desenvolvem os primeiros si ntomas
A gestante apresentando hepatite C crônica podem após período de incubação que va ria de nove a 90 dias (nor-
ser acompanhadas cm serviços de pré-natal de baixo risco, malmente duas a quatro semanas). A doença apresenta três
com consultas seguindo o calendário habitual da gestação, estágios distintos e um período de latência entre o segundo c
a não ser que haja alguma complicação ocasionada pela o terceiro estágios.
doença crônica."
A via de parto gera muitas controvérsias sobre trans-
missão do HCV, não havendo ai nda con enso a respeito ' íFI LIS PRI~IARIA
da melhor via de parto nesses casos. ão se comprovan-
do que a cesárca reduz a transmissão vertical do VHC, a Entre lO e 60 dias após a exposição ao trcponema,
via de parto é determinada por condições obstétricas e os surge no local da infecção uma pápula indolor que evolui
cuidados durante o parto são os mesmos dispensados às para uma lesão ulcerada denominada cancro. O cancro re-
parturientes portadoras do vírus da imunodeficiência hu- presenta o sítio inicial de replicação, sendo normalmente
mana ou do VH B. observado no pênis, grandes ou pequenos lábios, região pc-
Os cuidados com o RN de mães portadoras do VHC ria na! ou ao redor da boca. Aba c da úlcera é lisa e em cx-
consistem na limpeza imediata do R , evitando a aspira- sudato c as bordas são elevadas c firmes. A lesão é indolor,
ção orotraqueal e/ou nasotraq ueal. A síntese dos resulta- embora sensível ao toque. É normalmente acompanhada
dos da literatura tem ressaltado que a amamentação parece por lin fadenopatia ingu inal não supurati va. O cancro de-
não aumenta r o risco de infecção perinatal. saparece após quatro a seis semanas.

SíFILIS SíF ILI S SECU D;Í.RIA

Asífil is é infecção sistémica causada por um cspiroq ue- Entre duas e oito semanas após o aparecimento do can-
ta, o Treponema pallidw11. Trata-se de microrga nismo gram cro, surge o rash cutàneo. São lesões maculares discretas que
negativo, móvel e e piralado. É extremamente frágil, sendo medem entre 3 e lO mm de diâmetro, podendo er encon-
facil mente inativado fora do hospedeiro. A maioria dos ca- trada em todo o corpo, endo mais comuns na palma das
sos de sífilis é transmitida por contato sexual. No entanto, mãos c planta dos pés. Dura nte esse estágio de rápida multi-
também pode ser adquirida por transfusão sanguínea.r ·29 plicação c disseminação dos espiroquetas, alguns sintomas
A infecção durante a gestação está as ociada a trabalho podem estar presentes, incluindo febre, mal-estar, faringite,
de parto pré-termo, natimorto e infecção congénita. o anorexia, artralgia e linfadenopatia generalizada, além de
Brasil, estima-se que ocorram mai de 900.000 casos no- dor articular, perda de peso e perda de cabelo. Essas lesões
vo a cada ano, que 4% das gestantes atendidas na rede pú- evoluem para pápulas avermelhadas e em algu ns pacientes
blica são positivas para o teste orológico e que pelo menos progridem para pústulas. Quando os folículos capilares es-
40% dos seus recém-nascidos são gravemente acometidos. tão envolvidos, pode-se desenvolver alopécia temporária.

Noções Práticas de Obst etrícia


Na ausência de tratamento, os sintomas da sífilis secun- sensibilidade, utilizado para rastreamento e monitoração da
dária desaparecem após um a três meses e a doença ati nge atividade da doença após o tratamento, visto que seus títu-
um estágio de infecção latente, no qual não há qualquer los correlacionam-se com a atividade da doença. Entretanto,
sintoma específico e os testes sorológicos para a doença por ser um teste não específico, resultados falso-positivos
permanecem positivos. Esse estágio pode durar poucos podem ocorrer e testes específicos para confirmação do
meses ou toda a vida. Durante esse período, o indivíduo diagnóstico são necessários. Entre as principais causas de re-
infectado apresenta testes sorológicos positivos para a do- sultados falso-positivos, podem-se destacar: gestação, outras
ença. A sífi lis latente é classificada em recente (menos de infecções por espiroquetas (leptospirose), infecções virais
um ano) e tardia (mais de um ano). Entre 30 e 50% dos pa- (mononucleose), vacinação, idade avançada, infecções crô-
cientes nesse estágio evoluirão para sífilis terciária. nicas (hanseníase, tuberculose, malária), doenças autoi mu-
nes (lúpus), neoplasias, uso de drogas injetáveis.
Sua sensibilidade varia com os níveis de anticorpos
Sínus TERCIÁRIA presentes durante os vários estágios da doença. Na sífilis
primária, quando os níveis de anticorpos são normalmen-
Desenvolve-se entre dois e 40 anos após a infecção ini- te baixos, a sensibil idade do teste é mais baixa, variando
cial e caracteriza-se pelo comprometimento do aparelho entre 62 e 76%. Os níveis de anticorpos aumentam com a
cardiovascular e sistema nervoso central. A sífi lis cardio- evolução da doença, atingindo seu pico na sífil is secundá-
vascular é rara e corresponde à dilatação aórtica por ne- ria, quando a sensibilidade dos testes não treponêmicos é
crose medial da aorta. Os sinais clínicos são semel hantes próx ima de 100%. Na sífilis tardia, os títu los decl inam e re-
aos da insuficiência ou do aneurisma sacular da aorta. Na sultados previamente positivos tornam-se não reatores em
neurossífilis, observam-se isquemias focais resultantes de 25% dos casos. Em pacientes com sífilis ta rdia não tratada,
endarterite das arteríolas e capilares cerebrais. A destruição a sensibilidade do teste é de cerca de 70%. Os títulos dos
dos neurônios leva à combinação de manifestações psiqui- testes não treponêmicos declinam ou tornam-se normais
átricas e sintomas neurológicos. Lesões tipo goma estão após o tratamento.
presentes nesse estágio da sífilis e, se não tratadas, frequen - O VDRL torna-se negativo após o segundo ano de
temente, levam à destruição dos tecidos moles ou ossos. tratamento e mesmo na ausência de tratamento torna-se
negativo em 25% dos pacientes nas fases latente e terciária.

DIAGNÓSTICO
TESTES TREPO 1ÊM ICOS
A sífilis raramente é diagnosticada por isolamento do
organismo causador da doença, uma vez que o Treponema São testes gue empregam anticorpos específicos e são
não pode ser cultivado in vitro. Dessa forma, a utilização de utilizados para confirmar reações positivas para o VDRL.
testes sorológicos é o único meio para o diagnóstico da do- Os testes treponêm icos podem se tornar positivos antes dos
ença. Há dois tipos de testes utilizados com essa finalidade, não treponêmicos na sífilis precoce, permanecendo positi-
que são biologicamente não específicos (testes-não treponê- vos guando os não treponêmicos já se tornaram negativos.
micos) e específicos (testes treponêmicos). O teste mais utilizado é o Fluorescent Treponemal Antibody
Absorption (FTA-ABs). A micro-hemoaglutinação (MHA)
e o teste rápido para sífilis também podem ser utilizados.
TESTES NÃO TREPONÊMICOS O FTA-ABs é o teste confi rmatório na sífilis. Torna-se
positivo antes do VDRL. Entretanto, não é utilizado em
Avaliam anticorpos lgM e lgG desenvolvidos contra li- larga escala para rastreamen to da sífilis e não reflete doença
pídeos de células lesadas durante o estágio inicial da doença. em atividade. É o teste mais sensível e mais específico para
O antígeno utilizado nos testes não treponêmicos é a car- o diagnóstico da sífilis. Devido à possibilidade de cicatriz
diolipina. O Venera/ Disease Research Laboratory (V DRL) é o sorológica, o teste positivo não significa doença ativa e o
teste não treponêmico mais utilizado. Équantitativo, de alta aumento da titulação do V DRL deve ser pesqu isado para

Infecções Perinatais 857


que ejam evidenciados fal o-positivos. O FTA-A Bs pos ui -fetal ainda não está claro. Além di o, a história natu r:~ I d:t in-
cnsibil idade de 84% na sífi lis primária e próx imo de 100% fecção intrauterina pelo treponema é pouco conhecida. uma
nos outro estágio da doença, com especi ficidadc de 96%. vez que poucos estudos têm sido feitos a respeito deste tem:~.
No entanto, tem ido demonstrado que os fetos portado-
res de sífilis congênita apresentam, inicialmente, disfu nção
SÍFILIS E GESTAÇÃO hepática e .1lter,1 ões placentária!>, traduzid,t clinicamente
pelo espes amento da placenta. Amedida que a doença fetal
A pesquisa da sífilis é obrigatóri3 durante a gest.tção. O progride, desenvolvem-se alteraçõe hematológicas e conta-
r3streamento pré-natal recomendado pelo Colégio Americ.l- minação do líquido amniótico pelos espiroquetas. Posterior-
no de Ginecologia e Obstetrícia c pela Ac3demia Americana mente, ob erva-se o desenvolvi mento de a cite e a última al-
de Pediatria con iste n3 re3lização do VOR_L na primeira tcrJ.çào registrada !'iio anticorpos lgM no s:tnguc do cordão,
consulta de pré-n3tal e a repetição do exJ me entre 2 e 36 traduzindo respo ta imune fetal à ífili . A evolução da infec-
·emanas de gestação somente nas gestantes em risco de con- ção fetal não tratada é variável. Morte intrauterin,1 ocorre em
tr3i r sífilis. o coe recomenda que o exame eja realiz3do aproximadamente 25%do casos c morte perinatal pode viti-
n3 primeira consulta de pré-natal c, para pacientes com risco mar outros 2S%das infecções neonatais não tratadas.
aumentado, deve ser repetido dur3nte o terceiro tri me tre e
no momento do parto. cgundo a Portaria 570/00 do Mini -
tério da Saúde, o VDRL deve ser realizado na primeira con- TRATAMENTO
sulta de pré-natal, com ~o semanas de gestação e repetido
na Maternidade (internação ho pitalar para o parto ou para O tratamento da sífilis varia conforme o estágio d:t
curetagcm uterina por aborto). A Figura 52.7 apresenta uma doença (Quadro · 2.6). Desde ua introdução, em 19-+0, a
propo ta para o ra treamento sorológico da sífi lis na gesta- penicili na tem sido o antibiótico de escolha p:tra o trata-
ção, elaborada com base nas orientaçõe do Center for Disca- mento da sífil i na gestação, com eficácia uperior a 98%. 2s
se Controland Prevention (www.cdc.gov/ STD/ treatment) e O treponema é um parasito extremamente sensível à
do Ministério da aúde doBra ii (www.aid .gov.br). Confor- penicilina. Concentrações de penicilina tão baixas quanto
me orientação do Ministério da aúde, o diagnóstico de sífi- 0,018 pg/ ml (0,03 U/ ml) durante sete dia em mul heres não
lis é confirmado em toda as gc tante apresentJndo VDRL grávida ão uficiente pa ra inibir a atividade do treponerm
~ 1/ 8, independentemente do resultado do FTA-ABS. ern I00%dos casos. Essas concentrações podem ser obtidas
A transmissão vertical do Trepo11enw pallid11m ocorre com uma única dose de 2,4 milhões de penicilina benz:ttiru .
por via transplacentári:t cm qualquer momento da gestação, Doses terapêuticas de penicilina bcnzatina adm ini trada
sendo mai comum apó 16 emana , quando c verifica a em uma gestante a termo mostraram que, apó uma seman.1,
.ttrofia das células de La ngerhans no trofoblasto. O ri co de a concentração média de penicili na materna era de 0,08 ~tg/
transmis ão vertical está relacionado à treponemia materna mi e 60%das pacientes apresentavam concentrações abaLxo
c, consequentemente, ao estágio da doençai quanto m:tis de <0,018 pg/ ml ou ubtcrapêuticas. Is o poderia ajuda r a
elevado for o número de treponcmas circulantes, mais alto explicar :1 associação entre gestação tardia e tratamento para
será o risco de infecção fetal. Assim, na fase primária ou c- ·ífilis com sub equente ífilis congénita.
cundária da doença, há contaminação fetal em 100%dos ca- o coe, cm 2002, recomendou que a penicilin:t
sos, enquanto que nas fa es latente precoce e tardia, as taxa continuasse a ser utilizada como drog:t de c colha p:tra o
de transmissão vertical são de 80 e 30%, respectivamente. tratamento da sífil is na gestação. Nenh uma outr:t é reco-
Além dis o, a ífilis congénita é mai comum cm mulheres mendada, uma vez que não há eficácia comprovad:t no
apresentando altos títulos de VDRL (~ 1 / 1 6), em gestantes tratamento da infecção fetal. os casos de alergia materna,
em que a evolução da doença é de conhecida, quando há recomenda- e ades en ibil ização util izando-se a penicili-
curto intervalo de tempo entre o tratamento e o parto ou na oral. Esse procedimento c o posterior tr:tt:tmento não
quando a sífilis não é tratada. são isentos de reações alérgica , por isso devem e r executa-
Embora a sífilis congénita seja estudada há vá rio anos, dos em :tmbiente hospitalar. Gestantes que se recusam :1 se
o conhecimento da fi iopatologia da tran mis ão materno- submeterem à de sensibilização podem utilizJr o estearato

858 Noções Práticas de Obstetrícia


de eritromicina (2 g/dia por 14 dias na sífi lis primária e por ção da primeira dose da medicação. Acredita-se seja devida
21dia na fases latente recente c tardia). Cabe lembrar que à reação de hipersensibilidade à destruição dos treponemas
e e antibiótico tem baixa tran ferência placentária e, por e à liberação de ub tã ncia tóxicas pelo mesmos. Na ífi-
isso, sua utilização não previne a sífilis congênita. 28 lis precoce, essa reação é comu m, mas inócua. As pacientes
Um percentual de quase 45% das gestantes tratadas de- normalmente apresentam febre, mal-estar, mialgia e cefaleia.
envolve a reação de Jarisch-Herxheimer. Es a reação nor- 1 a sífi lis tardia, essa reação é pouco frequente, mas perigosa,
malmente ocorre por volta de 12 horas apó a administra- com alta morbidade, podendo levar até me mo à morte.

VDRL
11 consulta do pré-natal

I
Repetir VDRL: L
3" trimestre (30 sem) Negativo Positivo
No parto

Tratar gestante ~ 1/8 < 1/8


Fazer exame clínico detalhado
Solicitar VDRL ou tratar o parceiro
Solicitar ultrassonografia para avaliação fetal Solicitar FTA-ABS
Verificar se a gestante possui anti-HIV e HbsAg

FTA-ABS FTA-ABS
Encaminhar recém-nascido Negativo positivo
para acompanhamento especializado

Pesquisar causas de falso-positivo VDRL falso+ Repetir VDRL

Não tratar

Título crescente Título estável

História de tratamento adequado;


excluída reinfecção

Tratar gestante
Fazer exame clínico detalhado
Solicitar VDRL ou tratar o parceiro
Solicitar ultrassonografia para avaliação fetal
Cicatriz sorológica
Verificar se a gestante possui anti-HIV e HbsAg

Não tratar
Encaminhar recém-nascido
para acompanhamento especializado

Figura S2.7j Rastrcamento da sífi li · na gestação.

Infecções Perinat ais


ssg
Quadro 52.61 Tratamento da sífilis na gestação

Estc~q 1 o d<l 1nlec c<w Drogtl V1C1 Dose

Recente (< 1 ano)


• Primária
• Secundária
Penicilina benzatina 1M 4,8 milhões de unidades divididas em duas doses. com intervalo de 7 dias
• latente recente
Tardia(> 1 ano) Penicilina benzatina IM 7.2 milhões de unidades divididas em três doses. com intervalo de 7 dias
Neurossffilis Penicilina cristalina EV 2 a 4 milhões de unidades a cada 4 horas durante 7 a 10 dias I

Se gestante infectada
Penicilina benzatina IM 7,2 milhões de unidades divididas em três doses. com intervalo de 7 dias
pelo HIV
IM = intramuscular; EV = endovenosa; HIV = vfrus da imunodeficiência humana.

Considera-se que o tratamento é inadequado quando: após o trata mento. Em 70 a 909o dos casos o VDRL é ne-
Utiliza-se qualquer medicamento que não a penicilina; gativo após um ano.
é incompleto, mesmo tendo sido utilizada a penicilina;
a do e não é adequ.lda para a fase clínica da doença;
é realizado menos de 30 dias antes do parto; HERPES SIMPLES
observa-se elevação dos títulos do VDRL após o
tratamento; A prevalência da in fecção genital pelo herpes simples
o(s) parceiro(s) não foi(ram) tratado(s) ou foi(ram) (HSV) tem aumentado no mu ndo c, como consequência
tratado(s) inadequadamente ou não se tem essa in- disto, h.í aumento na incidência do herpes neonatal ( H ).
formação disponível; As manifestações da H N vão desde quadros leves, com in-
Há ausência de documentação do tratamento ou fecção de pele, olhos e boca, à encefalite e quadros dissemi-
da queda dos títulos após tratamento. nados da doença, que podem ser fatais se não tratado!>. A in-
cidência da HN varia de I/ 7500 a I/ 30.000 nascido vivos.
Conceituaimente, o H 1 é diferente do herpes congénito
ACOMPA l i AM!:. TOAPÓSOTRATA M E TO (HC). O H ocorre quando o recém-nascido é exposto .w ví-
rus do trato genital materno no momento do parto, enquanto
a sífil is precoce, os títulos de VDRL refletem a ativi- que a HC é uma rara forma de infecção fetal, adquirida intraú-
dadc da doença. A eficácia do tratamento tem sido defini- tero no momento da p,lrasitcmia materna. Ainda existe outra
da como J diminuição de duas ou mais diluições após o forma de infecção do recém-nascido, pelo contato di relo com
tratamento. Os títulos di minuem mais rapidamente cm lesões orais c genitais, chamada de herpes pós-natal.
pacientes nos estágios precoces da infecção, em pacientes
com tít ulos baixos e naquelas sem história prévia de sífilis.
Após o tratamento, todas as gestantes devem ser acom- INF ECÇÃO M ATERNA
panhadas por meio de exames clínicos e testes sorológi-
cos. O VDRL deve ser repetido mensalmente durante os Existem dois subtipos do HSV: HSV I, responsável
primeiros seis meses após o tratamento e trimestral mente principalmente pela infecção orofaríngca, c HSV 2, agente
durante o segundo ano ou até a sua negativação. O sucesso da infecção genital e nconatal. A infecção genital materna
do tratamento da sífi lis primária e secundária resulta cm é mais comum com o vírus do tipo 2, entretanto a infecção
diminuição de quatro vezes na titulação do VDRL em até pelo tipo I tem aumentado. Os dados referentes à infecção
seis meses c de oito veze , 12 meses após o tratamento. a pelo herpes simples na gest.lção são limitados. 19· 12
sífilis primária e secundária constata-se queda dos títulos A prevalência de anticorpos para o H VS 1 varia de 60
cm duas diluições após três a quatro meses.Já na fase laten- a 80% c para o HVS 2 de 9 a 32%. A infecção materna é
te da doença, a expectativa de queda é de seis a oito meses adqu irida pelo contato direto entre as vesículas e a mucosa

860 Noções Prát icas de Obst etrícia


ou pele lesada. O período de incubação va ria de dois a lO reconhecidas (oligossintomáticas); e 20% são total mente
dias nos casos de infecção primária.Amanifcstação clínica assintomáticas. Dessa forma, o diagnóstico laboratorial é
típica da infecção herpética são lesões bolhosas uni ou bi- fundamental para a confi rmação do quadro infeccioso. Vá-
laterais, com base eritematosa, que evoluem para pústulas, rios métodos podem ser utilizados para o diagnóstico labo-
depois úlceras dolorosas com remissão espontânea em três ratorial da infecção pelos vírus herpes I e 2, destacando-se: 30
semanas. O quadro pode ser acompan hado por febre, mal- Isolamento do vírus por cultura: método diagnóstico de
-estar e mialgia.Após a infecção primária, tem-se formação escolha. ideal para confirmação da infecção. A coleta
de anticorpos seguindo-se um período de latência durante do líquido deve ser feita antes da eclosão da vesícula.
o qual o vírus permanece nos gânglios nervosos. Após es- A transferência do material para o laboratório deve
tímulos variáveis, podem ocorrer quadros de recorrências. ser realizada em meio de cultura adequado (meio de
Estes são caracterizados por repetição das manifesta- Dulbecco's). Apresenta sensibilidade de 95%.
ções clínicas e em 80%das vezes precedidos por um período Exame citológico (esjregaço de Tzank): estudo de cé-
prodrômico, com dor ou formigamento locaL Aproximada- lulas obtidas a partir de raspado da lesão. Consiste
mente 0,5 a 1% das gestantes apresenta lesões herpéticas na identificação de células gigantes muI ti nucleadas,
durante a gravidez, sendo mais comum os quad ros de in- com inclusões intranucleares específicas. Apresen-
fecção recorrente. Cerca de 20% das portadoras do HSV 2 ta sensibilidade de 65%.
apresentam recorrência clínica do herpes genital. Nesses Testes sorológicos: como imunofluorescência indire-
casos, as lesões são mais limitadas em extensão c gravidade ta e Elisa. Aux iliam na diferenciação entre infecção
e com duração inferior a 14 dias. As recorrências do herpes primária e recorrente.
genital são normalmente mais demoradas que as recorrên- Reação w1 cadeia da polimerase (PCR): com esta téc-
cias orais e ocorrem com mais frequência nos primeiros seis nica é po sível o estudo de líquor, material de bióp-
a 12 meses após,, infecção iniciaL Na ausência de história ia, swab de vesíc ulas, sangue, líquido amniótico e
prévia de herpes, até 0,7% das gestantes pode apresentar tes- raspado das lesões. Apresenta alta sensibilidade c
tes positivos para HSV 2 no momento do parto alta eficácia.
Sabe-se que a transmissão virai ocorre através do con-
tato dircto com as lesões ativas. Entretanto, o vírus está
presente na pele ou mucosa já no período prodrômico, nos I NFECÇÃOFETALENEONATAL
quadros de infecção recorrente. A maioria das gestantes in-
fectadas não possui história clínica de infecção primária ou A maioria (70%) das crianças que desenvolvem herpes
de recorrência. Durante a gestação, a forma mais comum de neonatal são filhos de gestantes assintomáticas que desco-
infecção é a rccidivante - sintomática ou não. Em gestantes nhecem serem portadoras da doença. A transm issão ocorre
sabida mente portadoras do HVS 2, 84% apresentam episó- principalmente no momento do parto, através do contato di-
dios de recorrência durante a gestação. Cerca de 20% delas reta do recém-nascido com lesões presentes no trato genital.
excretam o vírus, mesmo durante períodos assintomáticos; No caso de infecção materna primária, há alto risco de H N
e em até 3% dos casos pode-se identificar o vírus no colo (30-50%). Entretanto, quando a mãe tem doença recorrente
uterino no momento do parto. Na ausência de história de e apresenta lesões genitais no momento do parto, o risco de
infecção herpética, até 0,7% das gestantes pode apresentar infecção neonatal é de apenas 2 a 5%, provavelmente devido
o HSV 2 no momento do parto. ao efeito protetor dos anticorpos IgG maternos transmitidos
ao feto pela via transplacentária. Gestante com doença recor-
rente que não tem lesão evidente no momento do parto tem
DIAGNÓSTICO baixo risco de eliminação vi rai pela mucosa (aproximada-
mente I%) e o risco de infecção neonatal é de 0,02 a 0,05%.
O diagnóstico clínico do herpes genital é pouco sensível A infecção fetal intraútero é ra ra, podendo ocorrer por
e inespecífico. Apenas 20% das pessoas infectadas possuem via transplacentária ou ascendente, através do colo uterino.
antecedentes de herpes genital, com sinais e sintomas carac- A infecção congênita é responsável por 3 a 5% dos casos de
terísticos da infecção; 60% apresentam formas clínicas não HN e estima-se incidência de 1/ 200.000 partos. Quando a

Infecções Perinatais 861


in fecção primária materna ocorre no primeiro e segundo tri- 400 mg três vezes ao d ia p or 10 dias nos casos de primoin-
mestres, as principais consequências são abortamento, parto fecção e duas vezes ao dia por ci nco dias nas recorrências.
prematuro e restrição de cresci mento. O!Jando a infecção Sua util ização somente é pertinente quando adm inis-
primária materna ocorre no terceiro trimestre, o risco de HN tradas sistemicamente, pois as apresentações tópicas não
é mais alto, porque não há tempo para produção de lgG. são eficazes e podem levar à resistência sec undária ao faci-
Virtualmente, toda infecção neo natal pelo HSV 2 é ad- litar a seleção de cepas ma is resistentes. A terapia a ntiviral
qu irida de uma mulher com lesão genital ativa no momento não está indicada de rotina na gestação, devendo ser utili-
do parto. A incidência de infecção neonatal é mais elevada zada em duas ci rcunstâncias específicas:
nos casos de infecção primária (40%) guando comparados In fecção d issem inada pelo H SV, em que a mortali-
aos quadros de recorrência (5%), uma vez que gestantes dade materna e fetal é elevada.
com infecção primária excretam mais quantidades de vírus Presença de lesões de herpes gen ital no final da ges-
por um período mais prolongado guando com paradas a tação. Neste caso, o objetivo da medicação é reduzir
mulheres que apresenta m reativação. O risco de transmis- a excreção virai e promover a cicatrização das lesões.
são vertical é de 40 a 50% em gestantes que apresentam in-
fecção aguda e cerca de 5% nos episódios de recorrência. A Em gestantes com lesões ativas (ou sintomas prodrômi-
infecção pós-natal resulta do contato da criança com uma cos) na região genital, deve-se realizar cesariana eletiva como
fonte ambiental do H SV. Essas fontes incluem lesões provo- prevenção da transmissão do HSV ao recém-nascido. No
cadas pelo HSV I (tanto faciais quanto em outros locais) e caso de rotura de membranas, a cesariana deve ser rea liza-
excreção virai assintomática em membros da família ou da da em até quatro horas, devido ao risco do vírus em região
equipe médica. cervical. Após esse tempo, não há evidência de efeito protetor
da cesa riana. Qpando ocorre rotura prematura pré-termo de
membranas e opta-se pelo prolongamento da gestação, é re-
TRATAMENTO comendado uso de terapia antirretroviral até o parto.
No caso de mui heres que apresentam doença recorren-
A escolha da via de parto é peça fundamental na pro- te, estudos random izados most raram que o uso de anti rre-
filaxia da infecção pelo herpes e deve ser realizada apenas trovi ral a parti r de 36 semanas reduz o risco de recorrência
após exa me clínico detalh ado no momento do parto. Pa- da doença nas ú ltimas seman as de gestação e dim inu i a
cientes sem si ntomas prod rôm icos e sem lesões evidentes necessidade de cesariana.
no momento do parto po dem ter parto vaginal. Nas sinto-
máticas está indicada a cesariana. A amamentação deve ser
contraindicada apenas em mulheres com lesões ativas na PREVENÇÃO
12
mama ou nas mãos.31
O uso de medicação antirretroviral controla parcial- Ex iste a recomendação, p or sociedades internacionais,
mente os sintomas da infecção herpética, tanto na infecção de se oferecer sorologia para H SV pa ra mul heres que não
primária quanto nos episódios de recorrência, po rém não têm h istória de infecção herpética, m as que têm um parcei-
erradica o vírus nem afeta o risco, a freq uência ou a gravida- ro com he rpes genital, antes da gestação ou ainda no in ício
de das recorrências após sua descont inuação. Também não dela, para que seja con hecido o risco de adquirir herpes na
há evidência científica para recomendação de uso de medi- gestação. Esse teste deve ser repetido entre 23 e a 34 sema-
cação antirretroviral com o objetivo de reduzir o risco de in- nas de gestação. 11
fecção fetal em gestantes infectadas. Três drogas apresentam Para mulheres com doença ativa no puerpério, reco-
eficácia clínica para o herpes genital: aciclovir, famciclovir e menda-se higien ização das mãos a ntes das mamadas e dos
valaciclovir. Elas podem ser iniciadas por via oral logo no cuidados com o recém-nascido. Se houver lesão orolabial,
início dos sintomas, visto que, quando administradas tar- ela deve usar m áscara. A amamentação só é contrai nd ica-
diamente, não trazem benefício algum, já que as lesões re- da quando há lesões ativas nas ma mas ou nas mãos.
gridem espontaneamente no mesmo prazo. Para gestantes, O Quadro 52.7 resume as evidências científicas sobre
o fár maco de escolha é o aciclovir. A dose recomendada é de as infecções peri.natais.

862 Noções Práticas de Obstetrícia


Q\Jadro 52.71 Evidências sobre infecção puerperal
lt1h•c C<lü 1111!!1 Vt!I1C<lü Gt dll dt~ I t~C011W I HI.l C d0

Rubéola Prevenção pela vacinação na infancia B I


Toxoplasmose Otratamento com sulfadiazina. pirimetamina e ácido folrnico é efetivo B
I
Herpes Mulheres com infecção ativa no momento do parto ou infecção primária B
no 3° trimestre devem ser submetidas à cesariana I
Hepatite B Recém-nascidos devem receber imunização ativa com imunoglobulina A
I
Sffilis Rastreamento sorológico durante a gestação B I
Otratamento medicamentoso é efetivo em reduzir as sequelas neonatais B I
Estrepto B Oferecer quimioprofilaxia intraparto para gestantes colonizadas A I
Oferecer quimioprofilaxia intraparto para gestantes com fatores de risco A I
I A penicilina deve ser usada como primeira escolha A i
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Noções Práticas de Obstetrícia


Seção 6
Parto
53 Assistência ao Parto
MArio Dia~ Corrê.1
Mário D ia CorrêaJúnior

Normas para a Assistência ao Parto Segundo Período: Expulsivo


A gestante está em Trabalho de Parto? Padrão das Contrações Uterina
Qual a Idade Ge tacio nal? Participação da Parturiente
Qual a Estática Fetal? Resistência dos O rgãos Gen itais
Quais as Condições Maternas? Participação da Equipe Obstétrica
Quais as Condições Fetais? Controvérsias na Condução do Segundo Período
Existe Propo rção Feto-pélvica? Terceiro Período: Dequitação
Qual a Evolução do Trabalho de Parto ? Di tócia na Dequitação
Quais as C ondições Hospitalares? Revisão do Canal de Parto
Q!!ais as Condições do Obstetra? Co nduta Ativa do Terceiro Períod o
Como Conduzir o Trabalho d e Parto?
Quarto Período: Observação
Períodos Clínicos do Parto Medicamentos Pós-parto
Primeiro Período: Dilatação Parto Vaginal Após Cesárea Prévia
Medidas Obstétricas
Momento de Encaminhar a Pa rturie nte à Sala de Parto
Controvérsias na Condução do Primeiro Período do Parto

assistência ao parto, para atingir seu objctivo Em rel ação à pa rturie nte o q ue se c pcra é que apó!>

A pri mordial - recém-na ciclo e p.1rturicntc cm


problemas relacionado - ao parto - , exige da
cqu tpc obstétrica responsável an,ílise criteriosa de todos os
o pa rto ela não apre en te qualquer alteração a nató mica
ou funcion al no órgão · q ue pa rti ipa ram da gravide7
e do par to: úte ro, can al cervica l, genitais ex ternos c in-
fato res que, dtrct.l ou indiretarnentc, interferem na evolu- ternos.
ç.'io do parto e em cu re ultado, ou eja, na morbimortali- Apc!>ar de con iderar-sc o parto um acontecimento
dadc pcri natal c mate rna. lisiológico c, portanto, isento de nsco:-, na prática, n ão
'omtdcra-~e re é m-na ·ciclo normal aquele cm que raro, surgem problema logo no -.cu iníeto o u dura nte o
c regi tra índi c de Apgar igual ou upe rior .1 sete no cu de enrolare, pri ncipalme nte, na ua f3 e hnal perí-
quinto minuto, pH no sa ng ue da artéria umbi lical acima odo expulsivo .
de 7,2, cm bossa sero ·sanguínea ou qu alquer o utro tipo Tais problemas podem e devem cr evitado o u, pelo
de tocotrau ma tis mo. me nos, co rrigidos pront.ltTICnt c.
anamnese, o exame físico e exames complementares quan- que é mais comum: cesarianas tardia mente realizadas com
do necessários e até mesmo interconsultas com outras extração fetal difíci l e recém-nascidos cm condições inade-
especialidades perm item o diagnóstico das verdadei ras quadas. Q uestiona-se a proporção quando, após a aval ia-
condições maternas. ção propedêutica, conclui-se que o volu me feta l é maior
- medida do útero pela fita métrica aci ma de 34 cm e peso
fetal estimado superior a 3.500 g e a pelvimctria interna
QUAIS AS CONDIÇÕES FETAIS? clínica é duvidosa- conjuga ta diagonalis menor que 12 cm.
Acrescente-se a tudo isso o fato do polo cefálico feta l
Uma das grandes preocupações na assistência ao par- não ter penetrado no estreito superior da bacia, ainda es-
lu t: com as condições fetais. Trabalho de parlo representa tando móvel. As estatísticas mostra m <JUe em cerca de
sempre riscos de complicações para o feto. Somente aqueles 8096 das nulíparas, antes ou logo no início do trabalho de
em boas condições conseguem superar todo o esforço do parto, o polo cefálico se insinua, encaixa e desce na bacia,
parto, sem repercussões negativas imediatas ou futuras no tornando-se tLxo quando a grande circunferência cran iana
seu desenvolvimento. Essa avaliação inicial permite iden- ultrapassa o estreito superior. Ao exame pélvico percebe-se
tificar aqueles que já têm problemas - sofrimento crônico. o vértice próximo do plano zero de De Lce.
Ela começa com a análise do cartão pré-natal, onde devem Isto se comprova pela palpação abdominal - terceira
esta r registrados os dados sobre as condições fetais, inclusi- manobra de Leopold - c pelo exame pélvico criterioso.
ve a propedêutica complementar, guando foi realizada. Neste, com os dedos utilizados no toque, procura-se mo-
Cl inicamente avaliam-se as condições fetais por meio bilizar o polo cefálico, manobra realizada no intervalo das
do registro de sua freq uência cardíaca c pela observação da contrações. A mobilização do polo fetal com essa manobra
cor do líquido amniótico, quando as membranas já estão reforça a hipótese de desproporção. Diante dessa dúvida, o
rotas; ou então quando se faz a amniotomia. Em condi- que propomos e realizamos desde o fina l da década de 50 é
ções normais, a frequência cardíaca fetal oscila entre li O a chamada PROVA DE TRABALHO DE PARTO.
e 160 batimentos por minuto, mantendo-se quase sempre
em torno de 140 batimentos por minuto. Taquicardia, bra-
dicardia ou oscilações constantes - arritmias - são sinais PROVA DE TRABALHO DE PARTO
clínicos de sofrimento fetal. Como propedêutica comple-
mentar emprega-se a cardiotocografia basal e estimulada Indica-se essa prova em nulíparas com gravidez a ter-
(capítulo IS - Card iotocografia), a ultrassonografia - per- mo, cm trabalho de parto, com fetos com volume acima
fi l biofísica fetal - (capítulo 12 - Perfil biofísica fetal) e a da média c com polo cefálico ai nda móvel. O objetivo da
dopplervclocimetria (capítulo 13 - Doppler), para se certi- prova é comprovar se, com contraçõcs adequadas c em
ficar das condições fetais. A cor do líq uido am niótico aju- obstáculos à sua descida, o polo cefálico penetra na bacia
da no diagnóstico das condições fetais: líquido mcconial e atinge o plano zero de De Lee, tudo isso dentro de um
(esverdeado) sugere sofrimento fetal. prazo determinado. As contrações uteri nas, para alcança-
rem o padrão desejado- três a quatro contraçõc cm 10
minutos, durando de 30 a 40 segundos - necessitam seres-
EXISTE PROPORÇÃO FETO-PÉLVICA? timuladas com ocitocina ou com a amniotomia ou, então,
com o emprego concomitante desses dois recursos. Esta,
Mesmo após avaliação clínica e/ou laboratorial do corretamente realizada - descola ndo-se previamente as
tamanho do feto e da bacia, não raro persistem dúvidas membranas am nióticas c mobilizando-se a apresentação
quanto à proporção. Isso é mais frequente e mais impor- fetal visando permitir o escoamento de grande quan tidade
tante na nul ípara; sua bacia nunca foi testada. de líquido - , estimula as contrações uterinas e afasta o úni-
Q uanto mais cedo se afastam essas dúvidas, melhor co obstáculo à descida do polo fetat a bolsa das águas. Na
para todos: feto, parturiente, equipe obstétrica. Evita-se o maioria das vezes, em prazo de 60 minutos, a amniotomia
trabalho de parto prolongado com todos os seus inconve- atinge seu objetivo; qua ndo isso não acontece, ad mi nistra-
nientes, como fórcipe mal-indicado e mal-executado e o -se a ocitocina.

870 Noções Práticas de Obstetrícia


Os objetivos do exame físico são comprovar se existem QUAL A IDADE GESTACIONAL?
ou não contrações uterinas típicas do trabalho de parto e
se já ocorreram modificações no canal cervical. A idade gestacional é decisiva para a conduta a se adotar.
Comprova-se a existência de contrações palpando-se Na gravidez pré-termo (?:20 e <37 semanas), confirmando
o útero, sob o abdome. Com a palma de um a das mãos o d iagnóstico de trabal ho de parto, há dois procedimentos
colocada na região do corpo uterino, procura-se sentir o possíveis: tentar inibir o trabalho de parto, quando existem
endurecimento, seguindo de relaxamento desse órgão. condições, ou então conduzi-lo, porém adotando medidas
Solicita-se, ainda, que a gestante info rme quando come- adequadas à assistência ao parto pré-termo. A gravidez
ça a sentir a cólica e quando ela desaparece: tudo isso no pós-termo (?: 42 semanas) ta m bém exige condução dife-
período de I Om inutos. Co ntrações características de tra- renciada, pois são altos os riscos de sofri mento ou morte
balho de parto são pelo menos du as em lO m inutos, com fe tal periparto.
duração igual ou superior a 25 segundos (2/ I 0/ 25").
O exame físico completa-se com o exame pélvico. O
que se procura observar é se as contrações provocaram QUAL A ESTÁTICA FETAL?
modificações no canal cervical. Nas n ulíparas, as primei-
ras modificações são seu apagamento - diminuição da A maneira como o feto se posiciona na cavidade uteri na
distâ ncia entre os orifícios externo e interno e amoleci- interfere na condução do parto e na via para o seu nasci-
mento do colo - e o in ício da dilatação cervical, 2 cm ou mento. Por isso, já no primeiro exa me, faz-se o diagnóstico
mais (Figura 53.1). da situação da posição, da apresentação fetal e da va riedade
de apresentação (ver capitulo 4 - Feto, Bacia Ó ssea Mater-
na e Mecanismo do Parto).
Parto transpélvico só acontece quando o fe to se en-
contra na situação longitudinal. Nas outras, tran sversal
ou oblíqua, existem duas soluções: ou se coloca o feto na
posição longitudinal recorrendo-se à versão externa ou se
indica o parto transabdominal (ver capítulo 54 - Apresen-
I
Figura 53 .1 Apagamento e dilatação do colo na nul ípara. tação Pélvica).
Na situação longit udinat as duas apresentações possí-
veis são acefál ica e a pélvica. Na cefálica, parto espontâneo
Nas multíparas não há apagamento prévio: o colo se só acontece na variedade de apresentação de vértice.
apaga e dilata simultaneamente. Na apresentação pélvica, as variedades de apresentação
Distócias de contração, do canal cervical ou, então, compatíveis com o parto transpélvico são as pélvicas com-
gravidez extrauterina podem impedi r a dilatação do canal pleta e incompleta, variedade nádegas.
cervical, apesar de já se haver iniciado o trabalho de parto.

f::\ ,u u ~ CoMPLE.\JEN li\ R E.\ Q UAIS AS CONDIÇÕES MATERNAS?


Quando clinicamente não se chega a um diagnóstico
definitivo, pode-se utilizar a card iotocografia, que permite Trabalho de parto, m esmo com evolução normal, exi-
o registro gráfico das contrações e de suas características. ge sempre esforços físicos e mentais da parturiente. Há,
Quando persistem as dúvidas ou não se dispõe de exa- pois, a necessidade da avaliação inicial de suas condições.
mes complementares, a solução é manter a gestante sob Enferm idades previamente existentes ou que se manifes-
observação por uma a duas horas. Após esse tempo, repete- taram no transcurso da gestação in flue nciam não apenas
se o exame físico. Se não se comprovarem contrações ou na condução do parto, mas também na escol ha da via para
mudanças no canal cervical, a gestante pode voltar para a o nascimento do feto.
sua residência, após receber informações claras e precisas Dados registrados no cartão de pré-natal já podem
sobre o início do trabalho de parto. revelar doenças prévias ou intercorrências gestacionais. A

Assistência ao Parto 86g


NORMAS PARAASSISTÊNCIAAO PARTO O oposto, deixar de internar quando já existe traba-
lho de parto, pode determinar nascimento fora do local
Para facilitar a assistência ao parto e reduzir seus riscos, adequado: em casa, no meio de transporte ou até mesmo
julgamos necessária a análise cuidadosa dos tópicos lista- na rua.
dos no Quadro S3. l, no momento em que a paciente pro-
cura a Maternidade:
D IAGNÓST ICO D E T RABA LHO DE PA RTO
Quadro 53.1 I Perguntas a serem respondidas na ava-
liação inicial da paciente admitida em trabalho de parto Três são as características iniciais do trabal ho de parto:
A gestante está em trabalho de parto? Cólicas abdominais;
perda de líqu ido pelos genitais;
Qual a idade gestacional?
el iminação do tampão mucoso.
Qual a estática fetal?
Quais as condições maternas? JlNAMl\'E5F F ExAMF Ftstco
A anamnese bem-conduzida, a palpação abdominal e
Quais as condições fetais?
o exame pélvico são suficientes para o diagnóstico de tra-
Existe proporção feto-pélvica?
balho de parto; raramente tem-se que recorrer a exa mes
Como evolui o trabalho de parto? complementares como a cardiotocografia.
Quais as condições hospitalares? Na anamnese, procura-se caracterizar como são as
cólicas, quando começaram, qual a sua du ração e qual o
Quais as condições do obstetra?
intervalo entre elas. Gesta ntes bem informadas e com boa
Como conduzir o trabalho de parto? assistência pré-natal conseguem caracterizar correta mente
as contrações uteri nas. Contudo, não raro, ocorrem confu-
sões entre dores no baixo ventre, comuns no final de gravi-
A GESTANTE ESTÁ dez e as verdadeiras dores do trabalho de parto. Em razão
EM TRABALHO DE PARTO? disso, não se pode confiar integralmente nas informações
da paciente.
A preocupação inicial de quem atende uma gestante com O utra queixa é a perda de líquido - "água"- pelos ge-
feto viável, gestação acima de 20 semanas, e que procura nitais. Faz se necessário caracterizar quando (hora) foi essa
atendimento médico com queixas de cólicas abdominais e/ perda e o aspecto do líquido. Pode ser dev ida à rotura das
ou perda de líquido ou sangue pelos genitais externo é certi- membranas am nióticas, que às vezes acontece no início do
ficar-se se ela está ou não em trabalho de parto. A diferencia- trabalho de parto, mas também pode ser perda involu ntá-
ção entre o falso e verdadeiro trabalho de parto é essencial e ria de urina ou até mesmo de resíduo vaginal. H á, ai nda,
nem sempre fáci l no primeiro exame. Erros nesse diagnóstico possibilidade de a paciente informar ter perdido o "sinal de
inicial são responsáveis por condutas incorretas: internações parto". Trata-se de eliminação de secreção mucosa - tam-
desnecessárias por falso trabalho de parto ou, ao contrário, pão mucoso - que se acu mula entre os orifícios externo e
deixar de internar pacientes já em trabal ho de parto. interno do canal cervical e que se desprende pelos genitais
Na primeira hipótese, falso trabalho de parto, as conse- quando começam as modificações do colo.
quências são: internações por tempo mais prolongado do Das três queixas, a mais importante é a cólica abdom i-
que o previsto, afastamento mais longo do lar, altos gastos nal, porque a característica essencial do trabalho de parto
para a família ou para as instituições responsáveis por seu é a presença de contrações uterinas. A perda de líq uido
atendimento. amniótico pode acontecer em gestantes que não estão em
Outra iatrogenia frequente, depois de comprovado o fal- trabalho de parto. O ta mpão mucoso nem sempre existe
so trabalho de parto, é tentar induzi-lo, às vezes sem as condi- ou sua eliminação pode ocorrer e não ser percebida pela
ções próprias e sem necessidade, levando à falha na indução. parturiente.

868 Noções Práticas de Obstetrícia


Pode- c também iniciar a prova de trabalho de parto QUAIS AS CONDIÇÕES HOSPITALARES?
com a ,1dmi ni tração intravenosa da ocitoci na. E~ta é ad-
ministrada cm doses crescentes, com interv.1los de ccrc.1 A qualidade da a istência obstétrica c, consequente-
de 40 minutos, até que a cont raçõcs atinjam o padrão mente, dos cus resultado depende, c muito, das condi-
de ejado. e, no prazo máximo de duas horas, isso não ções hospitalares: bloco obstétrico bem equipado; unidade
ocorrer, realiza- ·c a amniotomia. Alca nçando o padrão de nconatal cm condiçõc p.Ha receber não apenas recém-
contraçõc de ·ejada , afa ta- e o obstáculo que pode difi- -nas idos normais, mas também aqueles com problemas;
cultar a descida do polo fetal na bacia, a bolsa das .'tguas. c equ ipe de suporte - enfermagem, neonatologista, a neste-
Esta não impede, mas dificulta, atrasando a descida. Tudo si 'ta, auxiliares - experientes e empre disponíveis.
i o deve o orrcr cm tempo curto, entre dua c quatro ho-
ras, dependendo da experiência do exami nador. Após esse
tempo, !>C o polo ccWico permanece móvel, no sa conduta Q UA I S AS CONDIÇÕES DO OBSTETRA?
é cxtrm o feto pcb via abdominal. A prova de trabalho de
parto não é perfeita, nem infal ível, porém evita tr.1balho de A assistência ao parto exige a prc cnça de ob tetra não
parto prolongado , com recém-na cido deprimidos, ten- apena competente e experiente, mas também em boas
tativas de fórcipc com toda as uas repercussões negativas condições físicas e emocionais. Con hecimento teórico c
ou cesarianas realizadas após longo período de p.uto c, não prático precário, incxpcnência, c tafa fí ica c de cont role
r.1ro, dcpoi!> de er realizada a epi iotomia. emocional são incompatíveis com :1 boa assi~tência obsté-
A prova de trabal ho de parto é fácil, nada ex ige de es- trica c frequentemente, responsabilizam-se por complic.l-
pecial, a não ·cr a comprovação da altura do polo fetal c, ções intraparto graves com rcpcrcu õc negati va para o
frequentemente, evita compl icaçõe para o recém-na cido recém-nascido, parturiente c, não raro, para o próprio obs-
c a part uriente e também para o próprio obstetra: proccs- tetra, como nos processos por erro médico.
!>OS judicia is por erro médico.

COMO CONDUZIR O TRABALHO DE PARTO?


QUAL A EVOLUÇÃO DO
TRABALHO DE PARTO? Com a parturiente internada, compete à equipe ob té-
trica conduzir o trabalho de parto, ajuda ndo quando ua
O parto, para acontecer no prazo máximo de 12 hora , evolução for normal, e corrigindo distóci.1s, c estas sur-
tem que apresentar evolução normal desde seu in ício. Isto girem. A condução do parto va ria de :~cordo com os seu
se comprova às veze no exame inicial, por meio de ana- período~ clínico : d ilatação, expulsão, dcquit.1ção c ob cr-
mnc c c do exame físico e mcno frequentemente rc a r- vação. Cada um desses períodos aprcscnt,\ c.1ractcrísticas
rendo-se a exames complementares: cardiotocogr.lfia e próprias e conduta diferenciada (Figura 53.2).
ultra sonografia.
a anamnese, procura-se certificar quando começa-
ram as contrações c quais sua~ característica : dur.1ção PERÍODOS CLÍNICOS DO PARTO
c intervalo entre ela . Essas informaçõc são útCI\ se a
paciente é observadora e foi bem orientada no pré-natal. PRIMEIRO PERÍODO: DILATAÇÃO
No exame físico, pela palpação .1bdominal comprova- c
a exi tência de contraçõe e ua caracterí tica . lo exa- É a fase do parto cm que acontece a dilatação progrcs-
me pélvico, a modificações do ca nal cervical mostram-se iva do colo, necessária para permitir a s.lida do feto da
compatívci com uma evolução normal. Qu:mdo i o não cavidade uterina. Começa quando se 1n1cia o trabalho de
for po ívcl Impossibilidade de se comprovar o início do parto c termina quando o colo atinge su,\ dilatação máxi-
trabalho de parto - , a solução é ob crvar a parturiente pelo ma: I Ocm. A duração de c período é de até 12 horas na~
pr.1zo de urna a duas hora , tempo suficiente para deCidir se nullpara e de até oito horas nas multíparas. Rcss.lltc-sc, no
a evolução é normal ou não. entanto, que essa du ração depende de algun fatore!>:

Assistência ao Parto
871
Períodos do parto
Período
...,_ Período preparatório _ _ . dilatatório
cm
10
o
8
a Expulsão'
t 6 ()equitação
a Príodode
ç 4 Green
ã
o 2

2 4 6 8 10 12 14 hofas
Fases da dilatação

Figura 53.21 Períodos clínicos do parto.

Ela é mais curta nos partos de início espontâneo do de 3% dos casos dimi nui o risco de infecção no recém-nas-
que nos induzidos. cido e o uso de antibióticos.2
Ela é mais curta nos partos hospitalares conduzidos
por equipe obstétrica experiente do que naqueles fll' RI I \'0\
[RICO 1 0.\1/A. llO\ 1'11 (}\

cm que não se intervém na sua evolução. Em parturientes portadoras de pelos pubianos, a trico-
tomia - tonsura- feita na sala de pa rto faci lita a antissepsia
dos genitais e a realização de epissiotomia e da epissiografia.
NORI\IA'i PAR·\ A Co:-.~ou~Ao no PrR!ODO 01: DILATA<,. Ao A tricotomia não reduz, no entanto, o risco de infecção
da ferida operatória (RR: 1,52; IC9S%: 0,79 - 2,90).3
Na condução do parto no período de dilatação, algu-
mas medidas gerais, adotadas quase como rotina no passa- AI I.\ fi \TI<, 10

do, são hoje questio nadas e até mesmo abandonadas. Toda parturiente é candidata à anestesia, que traz me-
nos complicações quando o estômago está vazio, por isso
/:.\' IIIW( LI\.\ H L'\'I·.\1.1 ()L LII'A(,I \I 1.\'IT.\ I/,\ lf recomenda-se evitar a ingestão de alimentos durante o
É prescrito logo após a ad missão da parturiente. Seu trabalho de parto. A hidratação, quando necessá ria, o que
objetivo é evitar a eliminação de fezes no período expulsi- raramente acontece, deve ser pela via intravenosa.
vo, momento do puxo, situação constrangedora para a par- A Associação Americana de Anestesia recomenda je-
turiente e passível de contaminar o campo operatório e o jum de pelo menos duas horas para a real ização de proce-
recém-nascido. Saliente-se, no entanto, q ue se contraindica dimento anestésico em caso de ingestão de líq uidos claros
essa medida em traba lhos de parto ma is avançados - d ila- e oito horas em caso de ingestão de alimentos sólidos. 4
tação acima de 6 cm e bolsa das águas rota - , pois passou o
momento próprio para se fazer o enteroclisma. f'0\/1., IOIU f'IR rt'R/1 \H \'0 fltR/0/H) fll l>ll ·\/H, 10
Metanálise de dois estudos com 594 pacientes mostrou Pode adotar a conduta que mais lhe convier, desde que
tendência não significativa à redução da infecção pucrperal no não existam razões médicas que exijam sua permanência
grupo que recebeu o enema (RR: 0,66; IC9S%: 0,42 - 1,04).1 no leito: uso de medicamentos pela via intravenosa; doen-
Beghella et a/., a nalisando o estudo citado, afirma m que ças sistémicas graves que imponham repouso no leito; bol-
o enema provoca desconforto na parturiente, aumenta o sa das águas rota com polo cefálico móvel; e parturientes
custo do parto e seus benefícios são limitados: em menos em uso de anestesia epidural contínua.

872 Noções Práticas de Obstetrícia


MEDIDAS OBSTÉTRICAS determinação do momento de encam inha r a par-
turiente para a sala de parto.
Após a adoção das medidas gerais, compete à equipe
obstétrica implementar medidas específicas da condução Para melhor pad ronização do acompanhamento do traba-
do parto: lho de parto, foi criado o partograma (Figura 53.3), que é um
Monitoração e registro das contrações uterinas; formu lário próprio onde são registrados a dilatação cervical,
monitoração e registro da dilatação cervical; a altura da apresentação, as contrações uterinas, a frequência
monitoração e registro das condições fetais; cardíaca do feto e outros dados relevantes como uso de anal-
monitoração das condições maternas; gesia, situação da bolsa das águas e cor do líquido amniótico.

PARTOGRAMA

Nome: RG: Delee


10 cm - dedos
9 • 5 ·3
• 4
8 . 3 ·2
7 . 2
i-
~.Q.
6
5
• I
o
+1
· I
o
+I
õ 4
•2
3 •3 •2
2 +4
1 +5 +3
Apegamento

Dia de inldo
Hora Real
Hora de
1 2 3 4 5 6 7 8
Registro

180

160
FC F
140
(botlmin)
120

100
80
1- 19
Mg
D
i~ 20 - 39
Mg
~

Bolsa
>40
Mg

LA

OCITOCINA

~
"'~
!Zw 8 w
~-:;, wti;
<t ~ iri
w
~ o
§
a:
w
EXAMINADOR
~
Figura 53.31 Modelo de partograma.

Assistência ao Parto 873


P REENC HiMENTO DO PARTOGRAMA na tentativa de melhorar a evolução do trabal ho de parto
e corrigir possíveis distócias que possam estar se in ician-
O partograma só deve ser iniciado qu ando a paciente do. Isto não sign ifica necessariamente conduta cirú rgica
se encontra na fase ativa do trabalho de parto, ou seja, com (Figura 53.4).
cont rações efetivas (pelo menos 2/10'/30") e dilatação O primei ro regist ro da dilatação cerv ical deve ser feito
cervical (pelo menos 4 cm). no quadrado imediata mente a nterior à linha de alerta na
A abertura do partograma ainda na fase de latência do altura correspondente à dilatação. A dilatação cervical ge-
trabalh o de parto pode levar à adoção de medidas desne- ralmente é anotada na forma de um triângulo sólido (Ã).
cessá rias e até mesmo iatrogênicas. A altura d a apresentação deve ser registrada na coluna
Na forma mais comu m de montagem do pa rtogra- correspondente à d ilatação e na li nha correspondente ao
ma, util iza-se papel quad riculado colocando na abscissa plano de De Lee. A altura da apresentação geralmente é
(eixo X) o tempo em horas e nas orden adas (eixo Y), em registrada como um círcu lo vazado (O) ou representando
centímetros, a dilatação cervical à esq ue rda e a descida as suturas do crânio.
da apresentação à direita. Para a descida da apresentação, A frequência cardíaca fetal é registrada no local pró -
considera-se o plano zero de De Lee - espinhas ciáticas no prio, assi m como as contrações uterinas. Para o registro
estreito méd io da bacia - acima deste ponto estão os valo- das cont rações uterinas, geralmente colore-se o nú mero
res negativos e abaixo os positivos de De Lee ( Figura 53.4). de quadrados correspondentes ao número de contrações.
Com base nos conheci m entos da d ilatação cervical, Colore-se todo o quadrado se a contração durou mais de
constró i-se uma linha de alerta, que serve para identificar 40 segundos e meio quad rado se ela durou e ntre 20 e 40
as pacientes com parto de risco. Não há necessidade de segundos ( Figura 53.5).
intervenção quando a dilatação atinge ou cru za a linha de Em função da melhor padronização das condutas e de
alerta. O ale rta implica, simplesmente, a n ecessidade de ma is fac ilidade na interpretação dos regist res, a O rganiza-
mel hor observação clínica. Num intervalo de quatro ho - ção Mundial da Saúde e o M in istério da Saúde do Brasil
ras, padronizou-se a linha de ação, paralela à de alerta. So- recomendam que todas as maternidades adotem o uso do
mente qua ndo a c urva da dilatação cervical atinge a linha partograma como rotina no acompanhamento do traba-
de ação é que a intervenção médica torna-se necessá ria, lho de parto. 5

RG
O.LM
10
9 : : : ·AM
s :o:~:.:~~-~-.:..· ·3
7 .. ·2
6 •1

II 5
4
3 .•
o
+1
+2
2 +3
+4
Vulva

Tempo (llcnl)
Figura 53.4 1 Partograma mostrando no eixo Y a dilatação cervical à esquerda (cad a quadrado representa I cm) e a altura da
apresentação à direita (cada quadrado representa um plano). No eixo X cada quadrado representa o tempo em horas. A linha
de alerta foi traçada I hora após o primeiro registro da di latação (Ã) e a linha de ação 4 horas após a lin ha de alerta. O símbolo
(O) ind ica a altura da apresentação.

874 Noções Práticas de Obstetrícia


180

160

140
FCF
lbat./min l 120

100
80
1-19
seg.
V>

•o"''-" 20-39
~
co seg.
u
a 40
seg.

Figura S3.S I Partogra ma mostrando o registro da frequência cardíaca fetal (parte superior) e as contr,lçõc uterina~ (parte
inferior).

Mo ITORA ÇÃO E R eG I STRO DA S unidades Montevidéu (UM). Unidade de Montevidéu é o


CONTRAÇÔES UTERI AS produto da intensidade (mmHg) número pela sua du-
r.tç:to - segundos: UM= intensidade X duração. O riginal-
As contrações uterinas são indispensáveis para que mente, a UM era obtida com a monitorização da pressão
ocorra a dilatação cervical c a expulsão do feto e da pb cen- intrautcri na, med ida que não é utilizada rotineira mente c
ta. Durante a gestação o útero apresenta atividade contrátil por i · o caiu em desuso.
de baixa inten ·idade e duração, não perceptíveis pela ges- Com a evolução do trabalho de parto, as contrações
tante, e sem repercu õc obre o canal cervical; ão con- au menta m: 4/ 10'/ 40" e, no final do período de dilatação,
traçõcs improdutivas, conhecidas sob a denominação de podem chegar a S/ 10'/SO". No início, mon itoram-·c as
contraçõcs de Braxton-Hicks. contrações a cada 60 minutos c, da metade para frente,
o fi nal da gravidez, no chamado pré-parto, elas au- a cada "O minutos. Esse intervalo varia não apenas com
mentam ua inten idade e duração e alteram o canal cervi- o pad rão das cont raçõcs, mas também com a dilatação
cal, levando ao apaga mento do colo, nas nulíparas. cervical c as condiçõc fetais. Toda!> as veze em que se
Já as contrações do verdadeiro trabalho de parto apre- monitorizam as contraçõcs faz-se seu registro em fol ha
sentam características próprias; o chamado triplo gradien- apropriada, o partograma (Figura S3.3).
te desce ndente c sua intensidade e duração aumentam
progrcssiv.trncnte. DtswctA nt· CoNTR 1c, io
em sempre as contrações começa m e evoluem nor-
TRtPI o GR \ /)/1 ,\ I f DF\t I'\;/)/ \ JL malmente. Elas podem apresentar anorma lidades, c:t ractc-
As contraçõcs fisiológicas iniciam-se cm marca-passo rizando as chamadas distócias de contração. Estas, se não
próprio situado no corpo uterino, próximo do local onde corrigidas, prejudica m a evolução do trabal ho de parto.
as tubas penetra m no útero. Elas se propagam de cima Elas c nun ifestam de trê maneiras: hipoativas, hiperati-
para baixo, do corpo para o cgmento inferior do útero vas e incoordcnadas.
c para o canal cervical. A inten idade dessas contrações
é mai forte c a duração mais longa no corpo uterino do C o VTR 1\(ll ~ 1-/ I PO. I 11 1· I\
que no canal cervical. O utra característica da contraçõe · São aquelas que apre entam intcn!>idade e duração
do parto c de seu padrão: inten idade e duração. o 1111CIO abaixo do considerado normal na evolução do parto, infe-
ela são cm número de dois a três a cada lO minutos, com rior a 3/ 10/ 30". Comprova-se essa distócia por anamncse,
duração de 25 a 30 segundos, o que equivale a 80 a 100 palpação do útero e exame pélvico. a ana mncse, age tan-

Assistência ao Parto
875
te informa que as cólicas são fracas. N a palpação do útero, a velocidade do gotejamento não pode ultrapassar
registra-se baixa inte nsidade e duração das contrações. No 60 gotas por m inuto;
exame pélvico, não se evidencia m modificações no canal na solução preparad a d essa ma neira, 20 gotas eq ui-
cervical. O bserva-se a parturiente por algum tempo, cer- valem a I mi ( 10 mU); portanto, 60 gotas corres-
ca de duas horas, e, repetindo-se a palpação abdomi nal e pondem a 3 m i/m inuto. O tempo-lim ite para a
o exa me pélvico, conclui-se pela hipoati vidade uterina, au- infusão da solução é de ap roximada mente seis ho-
sência de modificações no colo. Se não se corrigir essa di s- ras, va riando de acordo com a velocidade do goteja-
tó cia, o parto será muito demorado. Adotam-se algu mas mento. In icia-se com lOgotas por m inuto (S m U) e,
med idas visa ndo estimu lar as cont rações: se necessá rio, a cada IS m inutos aumenta-se o gote-
Enteroclis111a: se ainda n ão foi feito, recome nda-se jamento cm lO gotas (S m U) até atingir o máximo
realizá-lo. Ele aumenta o peristaltismo intesti nal, de 60 gotas (30 mU). O tempo-l imite para que isso
o que pode contribuir pa ra melho rar o padrão das aconteça é de 75 m inutos.
contrações;
descolamento das membrm1as anmióticas: já se de- Shyke n c Pctric7 recom enda m com o dose inicial 2
monstrou que, ao descolar as membranas de sua m U/ min (4 gotas/ m in), acrescida d e m ais 2 m U/ m in a
inserção no segmento inferior do útero e do colo, cad a 30 min utos até consegui r-se o resu ltado desejado
ocorre a liberação de substâncias - prostaglandi- ou então atingi r o máx imo d e 40 m U/ m in. A ocitocina
nas, enzimas, citocinas, protease, interleucinas -, em d oses mais baixas (2 m U/ min) ou m ais altas (4 a 6
que se .Ku mulam na interface entre a membran as m U/ m in), no prazo de aproximad am ente d uas horas,
e o útero. Essas substàncias têm a propriedade de ou alca nça seus o bjetivos no rmal izand o as contraçõcs
esti mular as contrações; ou então deve ser interrompid a. A ocitocina após 40
mnniotomia: após a mobilização das membranas m inutos alca nça níveis sa nguíneos estáveis com a dose
c do polo fetal, geralmente forma-se a bolsa das adm inistrada. Em razão di sso, se houver necessidade de
~\guas. Perfura ndo essa bolsa, ocorre a saíd a do alterar a dose, isso deve ser realizado e m inte rva los de 20
líq u ido am n iótico. Qya ndo o volume que sai é a 40 m inutos.
grande, entre 200 e 300 m i, acontecem m odifica- O uso simultâneo da ocitoci na c da a m niotom ia pro-
ções na cavidade uterina q ue esti mu lam as cont ra- duz melhores resultados, em tempo mais curto. A outra
ções. Os efeitos da am nioto m ia surgem em torno m aneira de usar a ocitocina é em bolus, assim ela atua de
de 60 minutos; forma m ais pul Mil, repetindo o que acontece natural-
administração de ocitocina: é, certame nte, o recurso m ente: é liberada no lobo posterior de h ipófise, em pulsos.
ma is util izado pa ra estimular as contrações ute- A inda não ex iste exp eriência clínica suficie nte para se reco-
rinas. Ela exige, sempre, o controle rigoroso das mendar esse tipo de ad ministração de oci tocina.
contrações, pois pode provoca r h iperatividade,
sofrim ento fetal e até rot ura uterina. A ocitocina Co.-...:rR I<, c)/' IITPT RHI\As
deve ser admi nistrada sempre pela via intraveno- Nesta d istócia existem h ipersistol ia e taq uissistolia.
sa, com controle rigoroso do goteja mento. Inicia- A in tensid ade e a duração d as contrações ultrapassam
-se com doses baixas e au menta-se p rogressiva- o considerado norm al: ativid ade M ontevidéu está aci-
mente, de acord o com a resposta, até se atingir a m a de 250. C lin icam ente, comprova m -se cinco o u m ais
d ose máxim a perm itida. contraçõcs c m lO m inutos, com du ração igual o u supe-
rio r a 50 seg undos. Essa d istócia pode levar a sofri m ento
Numerosos são os esq uemas existentes para a ad m inis- ou mo rte fetal, so frimento mate rno, descolamento da
tração de ocitoci na. p lacenta o u à rot ura uterin a. C lin icam ente, o d iagnóstico
O 'D riscol et a/. 6 apresentam normas rígidas a serem baseia-se nas queixas da pa rturiente: contraçõcs m uito
sempre segu idas: seguid as, sem interva lo e mu ito dolorosas. Palpa ndo-se
Prepara-se a solução acrescenta ndo-se lOun idades o útero percebe-se a h iperton ia: p rat icamente não existe
de ocitocina a I litro de dextrose a S%; a fase de relaxamento.

Noções Práticas de Obstetrícia


Tenta- e reduzir imediatamente a atividade contrátil mais amolecida, podendo ocorrer início de sua dilatação
uterina. A peridural contínua, quando disponível, quase (Figu ra 53.1 ).
sempre consegue normaliza r as contrações. A sedação Durante o trabalho de parto a dilatação do colo é de
com mcperidina, aliviando a sen ação dolorosa, tranqui- aproximada mente 1,2 cm/ hora nas nulfparas c de l,S cm/
liza a parturiente c, à vezes, contribui para reduzir a hi- hora nas multíparas, sendo que a dilatação até S cm conso-
pertonia. A amniotomia é o outro recurso recomendado. me 2/ 3 da duração total do parto.
A redução acentuada do volume de líquido intracavitário A monitori1.ação clínica c o registro da dilatação cervi-
contribui para normaliza r as contrações. Como última cal se conseguem por meio de exame pélvico. Este, por seus
opção clínica, principalmente enquanto se agua rda r a solu- inconvenientes - descon farto para parturiente, riscos de
ção cirúrgica - a cesariana - pode-se ad ministrar tocolíti- traumatismo no colo e no próprio feto e risco de infecção
cos pela via intravenosa. Esses medicamentos são pa ívcis -, ó deve ser realizado quando ab olutamente necessário
de cau ar efeitos colaterai graves, exigindo a mon itoração e re peitando-se as normas usuais de assepsia c antissepsia:
rigorosa da condiçõe maternas e fetais, porque as doses limpeza adequada das mãos, u o de luvas estéreis, higiene
para controlar as contrações geralmente são altas. São pou- de genitais.
co empregados na hiperatividade uterina. 1 o exame pélvico, além do regi tro da dilatação cer-
vical, avaliam-se também as condições das membranas
lO\ I R\~ t11 \ hLUORLl/ \ ILH\ amnióticas e a altura do polo feta l. Da mesma maneira que
Começa m em marca-passo ectópico c não seguem o acontece com o padrão das contrações, esses dados tam-
triplo gradiente descendente, não determinando a dilata- bém são registrados no partograma (Figuras 53.3 c 53.4).
ção cervicJI. Frequentemente são dolorosas, porém, impro- Para a avaliação da dilatação cervical utilizam-se os de-
dutivas. Seu diagnóstico clínico é diHcil, quase sempre, por dos empregados no toque. Convencionou-se que cada dedo
exclusão. Existem dores abdominais que não dilatam o colo corresponde a 2 cm. A passagem de um dedo pelo orifícios
e este não têm problemas (d i tócia congênita ou adguirida). externo c interno do colo corresponde a 2 cm de dilatação;
A primeira medida que se recomenda é a administra- dois dedos a 4 cm. Q!Jando se entreabrem os dois dedos
ção de tocolíticos visando interromper as contrações. De- equivalendo a três, corresponde a 6 cm e, como c fossem
pois se aguarda que as cont rações recomecem ou, então, quatro dedos, a 8 cm. Não se percebendo mais o colo ao to-
elas são induzidas com ocitocina. Com e a medida as con- que, i so significa dilatação de lOcm ou dilatação completa.
trações podem tornar-se coordenadas ou per istirem inca- O número de exames pélvicos c o intervalo entre eles
ordenadas. Alguns autores recomendam a admi nistração vão depender da evolução do trabalho de parto. Em parto
de ocitocina visando estimular ainda mais as contrações. de evolução normal, três exame são uficientcs:
Não somo adeptos dessa conduta; parece-no muito pe- O primeiro, na admissão da parturiente;
rigosa. la incoordenação motora persistente, a olução é a o segundo, quando as contraçõcs au mentam e se
retirada do feto pela via transbdominal. pretende fazer amn iotomia c avaliar a analgesia
para a paciente;
o terceiro, guando novamente as contrações au-
,\ J o~ J TORA<,:Ao ~ REG I STRO DA mentam e a par tu ri ente começa ,1 sentir pressão nos
D ll. \I \ Ç \ 0 CLR\ IC:\1 ge nitais, sugeri ndo o início do período expu I ivo.

A dilataç:io completa do colo é indi pcnsável para que Anormalidades na cont raçõe ou na dilatação cervi-
ocorra o de prcndimento tran pélvico do feto. Ela de- cal podem exigir número mais elevado de exames pélvicos.
pende das contrações uterinas e, também, das condições Isto se justifica quando se pretende tomar alguma decisão
anatómicas e funcionais do colo. O canal cervical começa para corrigir distócias, como ou o da ocitocina, amnioto-
a se modificar antes do início do parto, no chamado perf- mia e/ ou analgesia.
odo pré-parto. I o acontece principalmente nas nulíparas, Para a construção do partograma, o exame pélvico
com o apagamen to do colo: a distância entre o orifícios deve ser realizado a cada duas horas na fase de dilatação
externos e interno se reduz. O colo apresenta consistência inicial e com mais frequência quando necessário.

Assistência ao Parto
877
Mo l TORAÇAO E R EG ISTRO Nas gestações e pa rtos de alto risco, o ideal é o emprego
DAS CoND IÇõEs F ETAJS de métodos biofísicos ou bioquímicos para acompanha men-
to das condições fetais (capítulo IS - Ca rdiotocogra fia).
D urante todo o trabalh o de parto as condições fetais O utro recurso clínico para mon itorarem-se as con-
são monito radas periodica mente. Fetos em condições nor- dições feta is é a o bser vação da cor do líqu ido am niótico,
mais apresentam frequência cardíaca em to rno de 140 bati- q uando este se exterioriza pelos genitais da parturiente.
mentos por minuto. Alterações nessa frequência, taquicar- Normalmente sua cor é clara, esbra nqu içada. A elim ina-
dia (acima de 160 bpm), bradicard ia (abaixo de 110 bpm) e ção de líqu ido esverdeado, na apresentação cefálica, sign i fi-
arritmias (osci lações constantes) sugerem sofri mento fetal. ca presença de mecônio, o q ue sugere sofri mento fe tal.
A auscu lta da frequência cardíaca fe tal se faz com in s- O sofrimento fetal int rapa rto, sofi·imento agu do, decor-
trumento próprio, o estetoscópio de Pinard ou o sonar- re de causas con hecidas: h iperati vidade uteri na (hipersis-
doppler. Recomenda-se realizar essa ausculta antes, d uran- tolia e taq uissistolia); descolamento de placenta intraparto,
te e após as cont rações. Geralmente, n o pico m áximo das problem as com o cordão umbilical - prolapso, circu lar,
cont rações ocorre queda nos batim entos ca rdíacos, fato nó - rotura uterina ou hipotensão materna. O sofrimento
considerado fisiológico e que recebe a denom inação de de- crônico precede o parto e relaciona-se a doenças maternas,
saceleração precoce (D IP tipo I) (figura 53.6 -A). fe tais ou à insuficência placentá ria.
Quando essa q ueda é tardia, acentuada e não volta de
imediato aos valores anteriores, considera-se como patológi-
co e sinal de possível sofri mento fetal, caracterizando acha- MONlTORAÇ ÃO DAS COND IÇÕ ES M ATERNAS
mada desaceleração tardia ( DlP Tipo li) (Fig ura 53.6-B).
O trabalho de pa rto representa sempre para a partu-
riente muitos esforços físicos e emocio nais. Daí a necessi-

:~t :··....-. -.;i;;,_~: dade de monitora r as condições maternas durante todo o


seu tran scu rso. Essa monitoração é ainda mais importante

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nas partu rientes com doenças prévias, como intercorrên-
cias gestacio nais ou em uso de medicamentos intraparto,
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como ocitócicos, tocolíticos, sedati vos, a nalgésicos, anti-
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I > 18-30 SEG convulsiva ntes. Alterações nas condições maternas fre-
60- quenteme nte repercutem nas condições fe tais.
controçllos
uterinas
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O- DIAGNÓSTI CO DAS DIST ÓC IAS PELO PARTOG RAMA
IA - DIP tipo I I IB - DIP tipo 11 I
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O uso do partograma pcrnüte diagnosticar a evolução
Figu ra 53 .6 A e B j Desaceleração int raparto tipo l e II. a normal do trabalho de parto a pa rtir da observação do
traçado. A evolução anormal do trabal ho de parto é cha-
A comprovação real dessas a lterações ex ige o emprego m ada de d istócia. O Q uad ro 53.2 m ost ra os tipos de distó -
de instru mento próprio, o cardiotocógrafo, q ue mostra cia d iagnosticados pelo partograma.
graficamente essas alterações. A frequência co m q ue se faz
a mo nitoração e registro da frequência ca rd íaca va ria com FASP ATI VA PIWWNGADA
a fase do parto e com sua evolução. Até a metade do traba- Na fase ativa prolongada, a dil atação do colo uterino ocor-
lho de parto - dilatação de 5 cm - q uando sua evolução re lentamente, numa velocidade menor que I cm/ hora.A cur-
é no rma l, recomenda-se a ausculta a cada 30 minutos. Na va da dilatação ultrapassa a linha de alerta e, às vezes, a linha
segunda metade esse intervalo vai regred indo progressiva- de ação. Essa distócia geralmente decorre de contrações ute-
mente para 15, IOe cinco minutos. rinas hipoativas ou incoordenadas. A correção é feita pela am-
niotomia ou pela administração de ocitocina. ( Figura 53.7)

Noções Prát icas de Obst et rícia


Quadro 53.2 1Di tócia diagno ticada pelo partogr.1ma PARAD.\ \H t 'n.\R/.~ o.~ DIL H:\~ \o
Per 1oclo r 111111 u riu Orstocra A parada ecund.1ria da dilataç.io c diagno ticada quan-
tr dlld 'liu cl~· pdr tu do na mulher cm trabal ho de parto ,,tivo a dilatação cervical
Dilatação Fase ativa prolongada permanece a me ma durante dua hora ou mai , ultrapa~sa
I
a linha de alerta c, por vezes, a linha de .1ç.io (Figura 53.<). Ha
Parada secundária da dilatação a sociação frequente com ofrimcnto fetal agravando o prog-
Parto precipitado nóstico perinatal. A causa principal é .1 desproporção céf.1lo-
Expulsivo Período expulsivo prolongado -pélvic,1 relativ,1 ou absoluta. Desproporção céfalo-pélvica
absoluta traduz taman ho do polo ceWico m.lior que a bacia
I Parada secundária da descida
(feto macrossômico) ou feto de ta nun ho normal e bacia
ob1.tétrica inadequada. Ja ''igencia de Je,proporção céfalo-
-pélvica ab oluta, a re olu ão da ge tação c feita por cc área.
onsidera- c de proporção relativa quando existe defeito de
po ição da apresentação: deAcxão ou v,medades de posição
transversas ou posteriores. estas condições, .1 deambula-

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Figura 53.7 1 P.lrtograma mostrando fase .ltiva prolong.1d.1.

Assistência ao Parto
879
ção, a rotura artificia l da bolsa das águas ou a analgesia pe- para acomodação dos tecidos pélvico , ocorrendo de cida
ridural podem favorecer a evolução normal do parto. os e expulsão do feto de modo abrupto. O parto taquitócico
c.1 os de membrana rotas, a deambulação não é recomenda- pode ser espontâneo cm multíparas, sendo mais raro em
da. A resolução por cesárea deverá ser indicada quando es es primíparas. Também pode acontecer em decorrência de
procedimentos não forem eficientes para corrigirem a evolu- iatrogenia pela admini tração exce siva de ocitoci na. les-
ção anormal da cérvico-dilatação ob ervada no partograma. te caso, deve-se suspender a infusão de ocitocina até o re-
torno a um padrão adequado das contrações.
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O parto precipitado é diagnosticado quando a dilata- /


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ção cervical e a descida e expu! ão do feto ocorrem num O período expulsivo prolongado manifesta- e no parto-
período de quatro horas ou meno (Figura 53.9). O padrão grama com a descida exce sivamente lenta da apresentação
da contratilidade uterina é de taqui i tolia e hiper·i to- (Figura 53.10). otJ-se dilatação completa do colo uterino
lia e, caso a placenta esteja no lim ite de sua função, pode e demora na de cida e expulsão do feto. Essa di tócia geral·
ocorrer sofrimento fetal. Lacerações do trajeto também mente está relacionada à contratilidade uterina deficiente e
ão mais frequentes nesse tipo de parto, pois não há tempo sua correção é obtida pela administração de ocitocina, rotura
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Figura S3.8l Partograma mo trando parada secundária da dilatação.

880 Noções Práticas de Obstetrícia


artificialdabolsa das águas e, ainda,pelautilização do fórcipe, MOMENTO DE ENCAMINHAR A
desde que preenchidos os pré-requisitos para sua aplicação. PARTURIENTE À SALA DE PARTO

J>-\R HH ,)/ ( l ,\"1>.\R/ \ 0.\ Df'\C/DA Também é importante na assistência ao parto a deter-
Considera-se que há parada secundária da progressão minação do momento adequado para encaminhar-se a
da apresentação quando ocorre cessação da descida por parturiente para a sala de parto; muito cedo ou muito tarde,
pelo menos uma hora após o seu início, estando a dilatação geralmente acompanha-se de problemas ou complicações.
completa (Figura 53. 11). Deve ter pronta correção. Há ne- Muito cedo, implica na sua permanência na sala de par-
cessidade de se reavaliarem as relações feto-pélvicas, pois a to por tempo prolongado, em ambiente nem sempre aco-
causa mais frequente desse tipo de distócia é a desproporção lhedor, longe de seus familiares, gerando ansiedade, apreen-
céfalo-pélvica relativa ou absoluta. A desproporção absoluta são, temor e impondo, ai nda, a presença junto à parturiente
requer a indicação de cesárea. r a vigência de desproporção de toda a equipe encarregada de seu atendimento: obstetra,
relativa, com polo cefálico profundamente insinuado e dila- neonatologista, anestesista, enfermeira e auxiliares.
tação completa, é válida a tentativa de fórcipe de tração ou Por outro lado, retardar sua admissão no cent ro obsté-
rotação, dependendo da variedade de posição. Ocorre mais trico acarreta problemas mais graves: nascimento no leito,

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comumente em pacientes submetidas à analgesia.

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alto risco de infecção, dificuldade de desfazer circulares de

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Figura 53.9J Partograma mostrando parto precipitado.

Assistência ao Parto 881


cordão, quando existem; atraso na aspiração das secreções com dilatação completa (10 cm), a multípara com
orais e nasa i . Em relação à parturiente, há mais possi bili- a dilatação em torno de 8 cm c a gra nde multípara
dade de lacerações nos genitais c ausência de anestesia, com dilatação menor, cerca de 6 cm;
quando esta era a sua vontade. pndriio de conlrações: contrações com padrão ade-
A determinação do melhor momento para encamin ha r quado - S a 6/ 10'/50" a 60" provocam a expulsão
a parturiente para a sala de parto exige a avaliação critcrio- rápida do feto. Distócias de cont ração retardam sua
a de algumas variáveis que precedem o período expulsivo. expulsão;
Eb s necessitam ser analisadas em conjunto, pois se asso- condições das mernbranas amnióticas: a bolsa das
ciam e se completam. águas íntegras retarda a descida do polo fetal e o seu
Paridade: cm geral, o período expulsivo é mais desprendimento;
prolongado na nulípara, mais curto na multípara a/tum do polo fetal: quanto mais alto, m:1 i lenta a
e mai rápido ainda na grande multípara, na de- expulsão;
pendência das condiçõe da vagina e do períneo. condições dos genitais: os genitais íntegros constituem
Considerando-se a parid:1dc c a dilatação cervical, obstáculo à saída do feto. ~Jando se pretende fazer
recomenda-se levar a nulípara p:1r:1 a sala de p:1 rto episiotom ia, é necessário rea lizá-la no momento

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Figura 53.10 J PartogramJ. mostra ndo período expulsivo prolongado.

882 Noções Práticas de Obstetrícia


certo: apó a cabeça ultrapa aro plano zero - certe- Concluindo, admitimo que a e colha do momento
za ,1bsoluta do parto transpélvico - c antes de atingir ideal para c enca mi nhar a parturiente para a sab de p;u-to
o plano mais trê de De Lce, quando e ta não mais não é fácil. Porém, avaliando-se cuidadosamente as variá-
alca nça seus objctivos. O momento ideal para 5e veis citadas, a possibilidade de acerto é grande.
realizar a cpisiotomia é nos planos + I, +2 de De Lec;
tipo de rmcslesra: é outra variável que nece ita ser VJ-
Iorizada. Toda parturiente tem direito a :1lgum tipo CoNTROVÉRSIAS NA coNDUÇÃO
de ane te ia. E t a depende não apenas de sua von- DO PRIMEIRO PERÍODO DO PARTO
tade, ma também das condições ho pitalares e da
presença ou não de anestesi ta de plantão. Cada tipo o parto hospitabr, mesmo o de evolução normal,
de a neste ia obstétrica tem eu momento ideal para algumas medida podem er adotada visando diminuir
ser administrado: a local c locorregional demandam sua duração c, também, reduzir as dores deco rrentes eh
no máximo lO minuto ; a raquianc te ia entre 10 c contrações uterina . Essas medidas ão di cutívcis. 'cus
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Figura 53.11 I Partogr.lma mostra ndo parada sccundári,l da descida.

Assistência ao Parto 883


AJ\l lOTOM l A precoce teve o período de dilatação diminuído, em média,
80 minutos, sem au mento nas taxas de complicação ou in-
Q!estiona-se qual o momento ideal para a amnioto- cidência de cesariana. 10
mia em partos de evolução normal: muito precoce, em tor- Na impossibilidade de analgesia com a peridural con-
no de 3 cm; na metade do trabalho de parto, cerca de 5 cm; tínua, a opção é o emprego de meperidina. Esta, na dose
ou, mais tarde, no final do período de dilatação, com 8 cm? de 50 mg pela via intra muscular ou intravenosa, al ivia tem-
Existem boas evidê ncias de que a amniotomia precoce porariamente a sensação dolorosa das contrações. Como
reduz a duração do parto, em média de 60 a 120 minutos, inconven ientes, a meperidina pode provocar náuseas e
particularmente quando é feita após dilatação de 3 cm 8 vômitos na parturiente e depressão respiratória no recém-
A metanálise que abordou o assunto salientou, ainda, re- nascido. Esses efeitos colaterais são controlados com medi-
dução na incidência de Apgar inferior a 7 no 5° mi nuto no camentos próprios: antieméticos e antídotos de meperidi-
grupo da amniotomia (OR: 0,54 - IC 95%: 0,30 - 0,96), na (naloxanc).
porém com aumento na incidência de cesárea (OR: 1,26 - A meperidi na por via intramuscular começa a agir em
IC 95%: 0,96 - 1,66). 8 lO a 20 minutos, apresentando efeito máximo uma hora
Em trabalhos de parto de evolução normal preferi mos após a aplicação, com persistência dos efeitos por quase
realizar a amniotomia quando a dilatação cervical é de três horas. A dose poderá ser repetida a cada três a quatro
aproximadamente 5 cm. Nesse momento, geralmente as horas, lembrando que quanto mais doses forem aplicadas,
cont rações aumentam e a parturiente deseja algu m tipo de mais alto o risco de depressão respi ratória do RN.A fase de
analgesia. mais riscos para a depressão do RN é após a primeira hora
de aplicação da meperidina, durando duas a três horas.
A meperidina é medicamento-padrão para aliviar as do-
ANALGE .,A res do parto e utilizada em quase todos os lugares. Embora
esteja longe de ser a medicação ideal para esse propósito, ela
A maioria das parturientes, em algu m momento do já foi intensamente testada e há concordância generalizada
parto, reivindica alívio para as dores provocadas pelas con- de que é a melhor existente. É segura, quando aplicada em
trações uterinas. Entre nós, sempre que possível, opta-se doses razoáveis, c o total não pode exceder I00 mg. 11
pela analgesia com a peridural contínua. Esta seguramente Métodos não farmacológicos como suporte contín uo
alivia as dores, porém pode alterar o padrão das contrações, por pessoal não médico (doulas), imersão em água, ac u-
exigindo o uso concomitante de ocitocina. Aliviando a dor puntura, eletroestimulação e hipnose se mostraram úteis
ela geralmente interfere na participação da parturiente no para diminuir a sensação dolorosa e a necessidade do uso
período expulsivo; como não sente as contrações, ela não de medicamentos. 11
participa ativamente na expulsão fetal, o que pode levar
a aumento do tempo do período expulsivo (média de I5
mi nutos).9 SEGUNDO PERÍODO: EXPULSIVO
A metanálisc dos estudos mais recentes conclui que
analgesia com a peridural foi mais efetiva em reduzir a dor Começa com a dilatação completa do colo - lO cm - e
do que outros métodos e não se acompanhou de aumento termina com expulsão total do feto. É período mais impor-
nos índices de cesariana (RR: 1,07 - IC 95%: 0,93 - 1,23), tante, mais estressante e de alto risco para o feto, que está
embora tenha se associado a alto número de partos opera- permanentemente sujeito a hipoxia, anoxia, sofrimento,
tórios (RR: 1,38 - !C 95%: 1,24- 1,53).9 tocotrau matismo e morte.
O momento ideal de aplicar a analgesia peridural é Impõe à parturiente esforços físicos contínuos. É o
quando a paciente a solicita, independente da dilatação do momento de muita ansiedade e preocupação para quem o
colo uterino, desde que a mesma já esteja em fase ativa do assiste e o conduz. Complicações podem surgi r a qualquer
trabal ho de parto. Em estudo com 750 pacientes randomi- momento c necessitam de diagnóstico c solução imediata.
zadas para receber analgesia com dilatação menor ou igual Qlestionam-se quais as durações média e máxima
a 4 cm ou superior a 4 cm o grupo que recebeu analgesia aceitáveis para esse período. Não existe consenso a esse

Noções Práticas de Obstetrícia


respeito. O que se regi tra na literatu ra obre o assu nto são uteri no vi ando promover o desprendimento fetal. Trata-
opiniões divergente , à vezes contraditória . Tradicional- - e de manobra de elegante, perigo a e não recomendável.
mente, defi ne-se como fa lha no segundo perfodo quando A solução obstétrica para a d istócia de contração no pe-
não ocorre a expulsão c pontânca no prazo de uma hora. 11 ríodo expu! ivo é a extração fetal com o auxílio do fórcipc,
O uso do partograma mostrou que a duração do se- quando existem condições para a sua aplicação: polo cefá-
gundo período não deve cr upcrior a 90 minuto na nu- lico abaixo do pbno zero de De Lce.
lípara c a 60 minutos na multípara.1•1 A duração média do
egundo e tágio do parto é de 'O minu to na nulípara e de
20 minutos nas multíparas. 1' A análise do sangue da artéri.l PARTICIPAÇÃO DA PARTURIENTE
umbilical sugere que o segundo período não deva ultrapas-
ar 45 minuto . O e forço da parturiente - o puxo - no período expul-
Contraditoriamente, Menticoglon el n/. 16 afirmam que sivo é outro fàtor relevante na sua duração. Q!.tanto mais
não houve relação ignificativa entre a duração do segundo e forço, mai coordenado c mai curto é o período expul-
período e o índices baixos de Apgar no quinto minuto, de sivo. Quando a paciente não participa porque está emo-
convul õcs nconatais c de admis ão cm unidades de ter,l- ciona lmente de preparada, exausta pelo trabalho de parto
pia intensiva. Incxistcm evidencias científicas dcmonstr.ln- prolongado ou não percebe as contraçõc · devido à ane -
do qual a duração média máxi ma e ideal para o período tesia peridural, outra vez a solução é promover a expulsão
expulsivo. fetal empregando- c o fórcipe.
Parece-no neces :\rio que c anal i cm criteriosamente
quais f.1tore interferem na duração de c período c, as im,
determine-se qual deve ser sua duração. RESISTÊNCIA DOS ORGÃOS GENITAIS
A duração do período expu! ivo está diretamcnte rela-
cionada aos seguintes f.1tores: Q uanto mais resistentes os músculos genitais, ma i de-
Padrão das contrações uterinas; morado o período expulsivo. Afa ta- e a resistência desses
particip.1ção d.1 parturiente; órgãos recorrendo- e à episiotomia, que seguramente faci-
resistência dos órgãos genitais; 1ita a expulsão feta I.

participação da equipe obstétrica.

PARTICIPAÇÃO DA EQU I PE OBSTÉTRICA


PADRÃO DAS CONTRAÇÕES UTERINAS
A duração do período expu i ivo c tá diretamentc relacio-
parto ed tanto mais dpido quanto mai eficientes nada à atuação da equipe. e a atuação é passiva, prolonga-se
forem as contrações. Considera-se padrão ,Jdcquado de e e tempo. Já com participação ativa - emprego do Íórcipe c
cont rações no período expulsivo: S a 6/ I0/ SO"a 60" (250 a realização da episiotomia - ele é curto, no máximo 30 minutm.
300 UM). cm emprc é isso que se comprova. Condução Com a parturiente já posicionada na mesa de pa rto re-
incorrcta no primeiro período do parto - trabalho de parto aliza-se novo exame pélvico, com o objetivo de confi rmar
prolongado, uso incorrcto de ocitócitos, de sedativos c de a altura c a variedade de posição do polo fetal, a prcscnçJ
analgésico - altera o padrão das contraçõc no período ou não de membranas amniótica e a dilatação completa
expulsivo. Exemplo mais frequente di so é a admi nistração do colo. e houve engano nas avaliações anteriores, ai nda
incorreta da analge ia peridural contínua. pode er corrigido: realiza- c a rotura da membranas e
Distócia de contraçào no período expulsivo impõe ua completa-se a dilatação do colo com as incisõc. de Durh -
correção imediata. ão se justifica, sob o ponto de vista sen. Esta consistem em completa r cirurgicamente a dila-
obstétrico c, acima de tudo, humano, que a parturiente tação do colo quando i o fornece ário e possível (colo
permaneça por tempo prolongado na ala de parto aguar- apagado mais de SO% e dilatação m.1is de 6 cm). Dürhsscn
dando que se verifique a expulsão espontânea do feto. En- ugere três inci õcs corre pe ndendo a duas, ci c IOhoras
tre nó , é muito comum realizar- c a exprc ão do fundo no mostrador de relógio (Figura 53.12).

Assistência ao Parto 885


adequado e com os cuidados usuais de assepsia e an-
tissepsia. Já existem os que d iscordam disso, apesar da
maioria ai nda acred itar nos riscos de infecção. Julga mos
necessária a proteção da parturiente c do próprio recém-
-nascido: preparo adequado da equipe obstétrica, higiene
rigorosa dos genitais da parturiente e colocação de cam-
pos cirúrgicos protegendo seu abdome, seus membros
in feriores e seus genitais. Essa medida, além de reduzir
os riscos de infecção, evita que a parturiente permaneça
inteiramente despida d iante de pessoas desconhecidas,
situação bastante constra ngedora.

CATETERISMO V ES ICAL

N o período expulsivo a bexiga deve estar vazia. Nem


sempre a parturiente consegue esvaziá-la espontaneamen-
te. Nessas circunstâncias recomenda-se o cateterismo vesi-
6 cal. Realizado com os cuidados devidos, certamente seus
Figura S3. 12 ll ncisões de Dührssen . benefícios superam seus inconvenientes.

CONTROVÉRSIAS NA CONDUÇÃO
DO SEGUNDO PERÍODO AT UAÇÃO DO ÜBST ETRA

Algumas das medidas usual mente adotadas na con- Simplesmente passiva assistindo à expulsão fetal ou ati-
duç.lo do segundo período do parto são, na atualidade, va, de modo a reduzir a duração do período expulsivo? Em
motivo de controvérsias, de questionamento: qual o ver- alguns centros obstétricos o período ex pulsivo é acompa-
dadeiro papel dessas medidas nos resultados perinatais. nhado por obstetras que apenas o assistem. Continuamos
Por meio de estudos estatísticos tenta-se afastar algu mas acreditando na participação ativa do obstetra na condução
dessas dúvidas. do período expulsivo.

POS IÇÃO DA PARTURI E NTE A ME SA D E PARTO EPJSJOTOMIA

O que seria mel hor, deitada, recostada, sentada ou na Na condução ativa, compete ao obstetra decidi r pela
posição de cócoras? Não existe consenso, contudo, acredi- realização ou não da cpisiotomia. Entre as décadas de 50 e
tamos que deva ser a mais confortável para a parturiente c de 80, a episiotomia foi real izada quase que de roti na. Nas
que ao mesmo tempo permita ao obstet ra realizar quais- duas últi mas décadas voltou-se a questionar a utilidade
quer manobras que se fizerem necessárias, como proteger dessa intervenção obstétrica.
o perínco e aj uda r o desprendimento fetal. Alguns autores acreditam que não existem evidências
de que a episiotomia de roti na reduza os riscos de traunu
perineal grave, mel hore a cicatrização perineal, previna
Cu1 DADOS DEA ssE PSI A EA TJ SSEPS JA traumatismos fetais e d imi nua o risco de inconti nência
urinária. 17 Esse grupo prega que o uso da episiotomia de
O período expulsivo é o momento de risco de infec- rotina deve ser abandonado e que não se justi fica m índi-
ção e, portanto, o parto deve ser realizado em am biente ces superiores a 30%. 18

886 Noções Práticas de Obstetricia


Nos trabalhos mais recentes sobre o assunto, observa- Q uestiona-se qual a melhor. A episotomia mediana
-se tendência de se realizar apenas a chamada episotom ia apresenta algumas vantagens sobre a médio-lateral:
seletiva - quando se julga que a rotura peri neal é im inen- É mais anatómica: não secciona múscu los, apenas os
te, ou seja, tarde demais para que possa exercer seu efeito separa na sua intersecção;
protetor sobre o estiramento da musculatura perineal. Mas é mais fisiológica: amplia a região vu lvo-vagi nal exa-
nem todos comungam dessa opinião. G rande estudo ob- tamente no ponto onde ocorre a deflexão do polo
servacional realizado na Holanda com 284.783 gestantes cefálico e por onde passam os maiores diâmetros
mostrou que episiotomia médio-lateral protege contra a fe tais;
ocorrência de rotu ras perineais do terceiro grau (OR: 0,21 é mais fácil de ser realizada, como também de ser su-
- IC: 0,20-0,25), sugerindo que este seria o prime iro recur- turada;
19
so para prevenir inconti nência fecal. apresenta melhores resultados: provoca menos dor no
Com base apenas em observações clínicas por cerca pós-parto, permite deambulação mais precoce e
de 50 anos, sem evidências científicas, defendemos a rea- melhores resultados estét icos, não deixando cica-
lização da episotom ia na maioria dos partos transpélvicos. trizes na região peri neal.
Não se questiona que quanto mais ampla for a regi ão vul-
vo-vaginal, mais curto e mais fácil será o p eríodo expulsivo A episiotomia mediana apresenta um inconveniente:
c menos riscos de traumatismos fetais e de lacerações nos são altos os riscos de se prolongar e atingir o ânus e até
gen itais da parturiente. Desta for ma, a episotom ia e, pos- mesmo o reto. Devido a esse risco, há a necessidade de se
terionnente, a episiorrafia necessitam ser correta mente selecionarem as parturientes nas quais se pode fazer a epi-
realizadas, e no momento oportuno. Assim procedendo, sotomia mediana. Deve-se ta mbé m proteger o períneo e,
ela não apenas protege o feto, mas ta mbém cont ribui para principalmente, saber suturar o ânus e o reto, se isto se fizer
manter a integridade anatômica e funcional dos genitais fe- necessário. Pouco ensinada, pouco aprendida, a episioto-
m ininos, reduzindo em médio e longo prazos a incidência mia mediana é pouco real izada.
de flacidez vagin aCcistocele, retocele e prolapso. A episiotomia méd io-latera l tem como vantagem o
baixo risco de lesão esfincteriana, por d irecionar a incisão
TÉCN ICA para longe do ânus. Ela deve ser utilizada naquelas pacien-
Existem dois tipos de episotomia: mediana (Figura 53.1 3- tes com o períneo curto ou quando o obstetra não for expe-
A) e médio-lateral-direita ou esquerda (Figura 53.13 B e C). riente o suficiente para realizar a episiotomia mediana com
segurança.

ANESTESIA

Princ ipa lmente nos pa rtos em que se faz a episioto-


mia, a anestesia da região é obrigatória. Nas parturientes
submetidas à analgesia de condução, quase sem pre a
anestesia local é dispensável. As anestesias para se rea-
liza r a episiotom ia e a episiorrafia p ode m se r a loca l o u
a locorregio na l. Esta última pa rece melhor, p orque pro-
duz m elhores resultados. Sua técnica é simples. Além de
infiltração da região que se vai seccionar, infi ltra-se tam-
bém a região po r onde p assa m os nervos pude ndos, dos
dois lados das espinhas ciáticas (infiltração em leque)
( Figura 53.14).

Figu ra 53.13 I Tipos de episiotomia.

Assistência ao Parto 887


in crção no cndométrio. Como após a expulsão fetal as con-
traçõe uterinas continuam com a me ma mtcn idade c dura-
ção, conclui- c que, no prazo máximo de IOminuto , cm con-
di õc normais, acontece ode prendimentoda placenta. em
cmprc ela se exterioriza e pontaneamentc, devido à posição
adotada pela parturiente na me a; compete ao ob tetr.t ajudar.
Consegue-se comprovar o descolamento da placenta
fazendo-se a palp.tção do útero no abdome da parturiente.
Observa-se útero mais firme, bastante involuído, a emc-
lhando-se a uma bola. Prcs ionando-sc suavemen te o úte-
ro, geralmente a placenta c de prende pelo genitaiS. Ião
se deve tracionar o cordão para ajudar o de prcndimento
da placenta; além do ri co de rompê-lo, pode ocorrer a in-
Figura 53.141 Aneste ia locorregional.
Ycr ão aguda do útero, compl1caç:lo extremamente grave.
[ ORU I'I Descrevem-se dua maneira como a pl.tccnta se c..xterio-
rin: pelo mccani mo de Baudelocque-Duncan, cm que sur-
O emprego do fórcipe no período expulsivo é ba~tantc con- ge primeiro a face fetal da placenta, membrana-; e o cordão
trovcr o. No Brasil, a medida mais adotada par:1 :1jud:1r a expuI- umbilical - (Figura' 3. 15 A); ou pelo mecanismo de Baudc-
ão fetal é realin r a prc ão obre o fundo utenno. Trata- c de locquc-:chultze, aparecendo inicialmente a face materna da
m::~nobra deselegante, perigosa c que não deveria ser realinda. pbccnta e cotilédones placentário (Figura 53.1- B).
Preferimos, qu.mdo necessário, o emprego do Íórcipc baixo, fór- Após a dcquitação, recomenda-se o exame macroscó-
cipc de alívio, vi ando reduzir a duração do período expu! 1vo. pico da placenta visando certificar-se de ~ua safda completa
ou e ex i te retenção de otilédonc (figura ' 3.16).

DI TÓCI A NA DEQU I TAÇÃO


Algu mas vezes, Já no período expu! 1vo, indica-se o
parto tran~abdominal. Is o é o rc ultado de falha na con- em empre ocorre a expu I ão c pont.inca da placenta no
duç5o do parto, principalmente no diagnóstiCo de propor- prazo previ to; surgem distooa , de contração ou de imcrçâo.
ção fcto-pélvic:l c d,t altura do polo fetal. Este ainda não ul-
trapa ou o c trcito médio, permanece móvel c, portanto,
não existem condiçõc · nem indicação para o u o do fórci-
pc. Apes:u de tardia, .1 solução é a ccs.1riana. Trata-se de si-
tuação dcs,lgradável, perigo a c que pode er evitada. A cc- Também no terceiro período do parto pode ocorrer
sariana com dil.ttação completa do colo, com oligo:lmnio distócia de contração. A contraçõe ão incfiocntc , inca-
e cabeça fetal encaixada é procedimento difícil, que exige pa7c de promover o de prcndimcnto c a expu l ~ão d:t pla-
habilidade con idcrável para e evitar morbidade grave. centa. I o acontece principalmente no trabalhm de parto
prolongados, mal-conduzido .
Diante dessa distócia, existem duas soluções: estimu-
TERCEIRO PERÍODO: DEQUITAÇÃO lar ,1 contraçõc admini trando- e ocitocina ou remover
a placenta, fazendo-se ua extração manual. E a é a nos a
O penodo de deqUJtação, também denommado pcnodo opção. A administração da ocitocina quase cmpre é inc-
de ecundamento ou período placentário, começa após o de - fi J7 c ainda pode criar complicaçao grave, reduzindo a
prendnncnto total do feto e termina com a saída completa da dilatação cervical c encarcerando a pl.tcenta. Q uando isso
placenta. Cientificamente, comprovou- e que dua a trê con- acontece, ne cssita-se anc tcsiar a paciente par.1 ~c conse-
tr,tçõc~ s,io suficiente para que a placenta se descole de ~ua guir dilatar o colo c realizar a extr,tç5o manual da placenta.

888 Noções Práticas de Obst etrícia


A

F igura 53. 15 J Mecanismo de exteriorização da placenta. A - Mecanismo de Baudelocque-Duncan; B - Mecanismo de


Baudclocq ue-Schu ltze.

A B
Figura 53. 16 J Inspeçào da placenta. A - Face materna; B- Face fetal.

Assistência ao Parto 88g


l N E RÇÃO ANÓt\ IALA DA PLACENTA acreta implcs, apó o esvaziamento completo do útero, re-
comenda-se a colocação de dispositivo intrautcrino (DI U)
A outra distócia do período de dequitação é a inserção para evitar a formação de aderência na cavidade uterina,
anómala da placenta. O trofoblasto, ao se fixa r na cavidade porque há destruição acentuada do cndométrio. O DIU
uterin.1, penetra profundamente no cndométrio ou o ultra- deve ser ma ntido no útero até o retorno das mcn truaçõc .
passa, atingindo o miométrio ou até mesmo a serosa, deter- as va riedades increta e percrcta .1s tentat1va~ de extra-
minando o quadro conhecido como acretismo placcnt.írio. ção manual fal ham. Corrige-se essa distócia com a histe-
Na dependência do grau de penetração do trofoblasto rcctomia. O tipo vai depender da localiz,Jção da placenta
acontecem tres tipos de acrcti mo (Figura 53. 17). na cavidade uterina. Pode ser fúndica ou supra istmica.
Placenta acreia sinrples: o trofoblasto penetra profun-
damente no endométrio, mas não o ultrapassa;
placcntatncrcla: o trofoblasto ultrapa sa o cndomé- REVISÃO DO CANAL DE PARTO
trio c atinge o miométrio;
placenta pcrcn:fa: é o grau máxlmo do acreti mo. O Após a dequitação c ante de se realizar a ep1siorrafia,
trofoblasto penetra profundamente no miométrio, é indispensável a revisão do canal de parto. Mesmo cm
podendo alca nçar a camada serosa do útero. partos absolutamente normai , são comun a laccr.Jçõe
no colo ou na paredes vaginais c a retenção, na cavidade
uterina, de fragmentos de membrana ou de cotilédone
placentários. Esses problemas re ponsabilizam-se por he-
NORMAL INCRETA - 17% morragias no pós-parto ou pela perma nência de ló,luios
decidua
sanguíneos, em maior quantidade e por mais tempo do
que o considerado normal.
A revisão do canal de parto exige auxiliJr que, com duas
valv,l , expõe a cavidade vagi nal. Com uma pinça atraumá-
tica long.1, !raciona-se o lábio anterior do colo e, com outra,
PERCRETA- 5% introduzida na cavidade utcrin,J, remove-se o conteúdo
ACRETA -78%
anormal. Po tcriormente, comum a pinça no lábio anterior
e outra no posterior, investiga-se .1 existência de lacerações
no colo, que deverão ser ~uturada (Figu ra 53.18). Isto não
Figura 53. 17 1Tipo~ e incidénci~ de acretismo placentário. apenas previne o sangramcnto, mJs favo rece também .1 re-
generação total do colo.
SuspcitHc des a distócia quando não há dequitação
espontânea. Confirma-se o diagnóstico quando não se
tem sucesso na extração manual da placenta. Na placenta
acrcta simples a extração manual, complementada com
a curctagem uterina cuidadosa, soluciona essa distócia.
A involução normal do útero, a ausência de sangramcnto
e ob crvação de todo o material removido, permite con-
cluir a retirada total da placenta. Se as perdas sanguíneas
persistem c a involução uterina não acontece da maneira
esperada, su~pei ta-se de que não houve a remoção total do
tecido placentário. Repete-se a curctagem c, c ainda a im
o quad ro hemorrágico persiste, fazem-se laparotom i,1 c h is-
terotomia corporal. Corn o útero aberto, se for realmente
placenta acrcta simples, consegue-se completar a remoç.i.o
da placenta, sem necessidade de retirar o útero. Na placenta Figura 53.181 Revisão do colo com sutura de laceração.

Sgo Noções Práticas de Obstetricia


A seguir, ElZ-se a revisão da cavidade vaginal, promoven- A antibioticoprofilaxia é discutível; não se justifica nas
do-se também a sutura de qualquer laceração encontrada. pacientes hígidas e com assistência obstétrica correta. É re-
Finalmente, nas pacientes submetidas à episiotomia, faz- comendada nos trabalhos de parto prolongado e nos casos
-se a episiorrana. Reconstituem-se primeiro os músculos e a de rotu ra prematura das membranas amnióticas.
mucosa vaginal, com sutura contínua, até o introito vulva-va-
ginal. Em seguida, aproximam-se os músculos perineais com
pontos separados e, finalmente, reconstituem-se subcutâneo PARTO VAGINAL APÓS CESÁREA PRÉVIA
e a pele com pontos simples ou com sutura intradérm ica.
Desde o fi nal da década de 50 questiona-se o aforismo
de Craigin:21 "Uma vez cesárea sempre cesárea". Dados
CONDUTA ATIVA DO TERCEIRO PERÍODO estatísticos demonst ram que em casos bem selecionados,
a prova de parto após a cesárea anterior é segura e mais
Visa ndo diminu ir a incidência de atonia uterina e he- econômica. 22
morragia pós-parto, foi criada a conduta ativa do terceiro Em revisão de IOanos e em mais de 12.000 partos, in-
período, que consiste em: clusive em mulheres com mais de uma cesariana, o índice
Clampagem precoce do cordão (entre 30 e 60 segun- de sucesso com a prova de parto foi de 82%.23
dos) - se o RN estiver em boas condições, não neces- O índice de sucesso é alto, porém, questiona-se o risco
sitando de ressuscitação imediata pelo neonatologista; de rotura uterina com a prova de parto. O parto após ce-
tração controlada do cordão umbilical - com cui- sariana apresenta 75% de sucesso e risco de rotura uterina
dado para não levar à inversão uterina; inferior a 1%.24 Apesar do risco médio de rotura ser de 1%,
api icação de 1OU de ocitocina I M após a saída do feto. Lieberman referiu que existe variação considerável nesse
risco: é mais alto com mais de uma cicatriz, na indução do
A adoção da conduta ati va do terceiro período do parto parto, no pequeno intervalo entre os partos e com história
levou à diminuição da perda sanguínea materna, da inci- de fehre na ces:~rea anterior2 5
dência de hemorragia pós-parto (RR: 0,38 - !C 95%: 0,32 Huang et aF6 não encontraram diferenças no risco de
- 0,46) e da incidência de terceiro período prolongado. rotura uterina em gestações com intervalos inferiores a 19
Como efeitos colatera is, essa conduta apresenta alta inci- meses, quando comparado com intervalos mais longos. O
dência de náuseas evômitos. 20 índice de sucesso com a prova de parto é alto e o risco de
rotura uterina é baixo, mesmo com intervalos bem curtos
entre os partos.
QUARTO PERÍODO: OBSERVAÇÃO Dicle eta/2 7 ut ilizaram a ressonância nuclear magnética
para acompanhar a cicatrização do útero após cesariana.
Term inado o parto, deve-se manter a parturiente sob Estudando 17 mulheres, observaram o desaparecimento
observação durante algum tempo, que é variável na depen- do si nal de incisão den tro dos primeiros três meses.
dência ou não de problemas na gravidez e no parto. Nessa Palerme & Friedman 28 relatam incidência de rotura
fase, o que preocupa é o sangramento genital, a involução uteri na de 2,2%na incisão clássica, de 1,3% na vertical cér-
imediata do útero e o estado geral da parturiente. vico-corporal e de 0,07% na segmentar transversal.
Contraindicação para a prova de parto em parturiente
com cesárea prévia é a impossibilidade de se realizar cesa-
M EDICAMENTos Pós-PARTO riana de emergência. 19
A tendência atu ai é realizar a prova de parto após cesárea
Nas pacientes submetidas à episiotomia e à episiorrafia, re- prévia apenas em pacientes bem selecionadas, com possibi-
comendam-se os antiálgicos de acordo com a necessidade. Não lidade de monitoração clínica de todo o trabal ho de parto, e
se justifica o emprego de ocitocina para ajudar na involução ute- de se fazer cesariana de imediato, se isso se fi zer necessário.
rina, a não ser em casos especiais: hipotonia por hiperdistensão O Quadro 53.3 resume as evidências científicas sobre a
uterina, comuns na gravidez gemelar e no hidrâmn io. assistência ao parto.

Assistência ao Parto 8gl


Quadro 53.31 Evidências sobre assistência ao parto
Per rodo llltervellCilO Grilll ele
recomellclação

Pré-Parto Tricotomia de rotina não reduz a incidência de infecções maternas A


J
Oenema de rotina não diminui as taxas de infecção materna ou neonatal A J
!
A internação da paciente apenas na fase ativa do trabalho de parto diminui a incidência A
de cesarianas I

Fase de Dilatação A presença de pessoal de suporte melhora a satisfação materna. diminui a necessidade A
de analgésicos e a incidência de cesariana
A amniotomia precoce acelera o trabalho de parto. mas pode levar a aumento na inci- A
dência de cesariana
A conduta ativa do trabalho de parto diminui a incidência de trabalho de parto prolongado B
A analgesia peridural precoce diminui a duração da fase de dilatação A
A analgesia peridural não aumenta a incidência de cesariana. mas aumenta a necessi- A
dade do uso de ocitocina e o número de partos operatórios I
Período Expulsivo A episiotomia deve ser utilizada de maneira seletiva. e não de rotina A I
A adoção de posições mais verticalizadas diminui a incidência de partos operatórios e a A
duração do período expulsivo (± 4 mini. mas está associada à perda sanguínea um pouco
mais acentuada
Dequitação A conduta ativa do terceiro período diminui a incidência de hemorragia pós-parto A

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8g2 Noções Prát icas de Obstetrícia


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Assist ência ao Parto


893
54 Apresentação Pélvica
M.lrio D ia ' orrêa

Incidência Desprend im ento d o Diâm et ro Biacrom ial


D esprendimento do Polo Cefálico
Etiologia
Variedade de Apresentação Anormalidades no Mecanismo do Parto
Apresentação Pélvica Completa - Pelvipodálica D eflexão d os Me mbros Superi ore
Dificuldad e no Desprendimento do Polo Ccfáljco
Apre entação Pé lvica Incomple ta
Diagnóstico Conduta
Anamnese Conduta na G rav idez
Conduta no Parto
Exame do Abdome
Exame Pélvico Conduçã o do Parto Transpélvico
Exame Comple mentar Condução no Pe ríodo de Dilatação
Mecanismo de Parto Condução do Período E>:pulsivo
D esprendimento do Diâm etro Bitrocantérico Manobras no Parto Pélvico
Conclusões

enomi n.1 -s~: apresentação pélvica, q uando

D
INCIDÊNCIA
o feto está cm situ.tção longitudma l c o
polo pélvico na área do estreito uperior da A mcidência da apresentação pélvtca varia conforme a
b,H:ta ó~<.c,1 materna. idade gc~taciona l que se considera : é m:ti · alta na3 fases in i-
A identificação d.1 apre~entação pélvica é import,llltc ciais d.t gravidez; is o c justifica porque ncs~a t:1 c o polo
t.111to na gravidez como no início do traba lho de parto. Na pélvico é menor que o polo cefálico e a tendência é c-.te
gravtdcl, porque e pode, quando indicado, tran fo rmar ocup;u a região ma i~ ampla da c,wtdade uterina, o corpo.
.1 .tprc~cntação pélvica cm ceHlica, r~:al iza ndo-sc ,1 versao .1 mct,tde da gcstaç,1o, o~ volumes do dois polos tet.us se
externa. o in ício do tr.1bal ho de pa rto, p.H,l que l>C possa equ iv.tlcm c existe pouc,t Jibença n.1 apresentação: t.lllto
decidir qua l a melhor vi:t pa ra o nasci mento do fe to: t rans- pode se r cef.ilica como pé lvica. Já por volta da O• sc m.l-
pélvtc,t ou transabdommal. na e daí para frente o polo pélvico torna-~e mais volu moso
que o cefálico e, por cau a di o, o feto muda a apre enta- APRE ENTAÇÃO PÉLVI C A IN C OMPLETA
ção: cu polo pélvico muda para a região fúndica do útero,
ocorrendo a chamada cambal hota espontânea do feto. I o Varrcdadc ncldcgas - rrádega pura: os membro in-
acontece na maioria da veze , ma não em toda . Ao final feriores fetai estão estendidos sobre seu abdome
da gc t.tção, 3 a 4%dos feto não mudarão de apresentação, c tronco, apenas as nádega c tão próximas da ba-
permanecendo em apre entação pélvica. cia; (Figura 54. 1 B)
variedade dos joelhos: as pernas fletem-sc sobre as
coxas e, em consequência, os joel ho se postam na
ET IOLOG I A região da bacia; ( Figura 54.1 )
variedade dos pés: os doi:> membros infcriorc do
Por que nem todos os fetos ao fi nal da gravidez não feto c tão completamente estendidos: os pés pe-
c ·tão na apresentação cefá lica, a mais favorável ao par- netra m pri meiro na bacia. ( Figura 54.1 D)
to transpélvico? Porque existem fatores que impedem a
cambalhota fetal no momento em que e ta deveria acon-
tecer. Esse!> fatores podem estar relacionados ao próprio
feto- fatore fet.tis; aos cus anexos fatore anexiai ; ou
ao útero - fatore uteri no .
f-atores fetms: ,~norm alidade anatômicas c funcio-
A c
nais no feto contribuem para que este permaneça
na apresentação pélvica: hidrocefalia, anencefalia,
tumores abdominais;
Fatores mrexwrs: alterações no volume do líquido
amniótico - oligoidramnia ou polidramn ia; na
lo alização da place nta - placenta prévia; c no cor-
dão umbilical circular, cordão curto;
Fatores uterinos: modificaçõe na conforma ão ute-
rina - malformaçõe , miomato e c a multiparidadc.

VAR IEDADE DE APRESENTAÇÃO

Duas ~ão as variedades de apresentação: pélvi a com-


pleta c pélvica incompleta; esta c subd ivide em três: ná-
degas, joelhos c pés. ( Figura 54.1)
O conhecimento da va riedade de apre entação é ne-
cessário porque interfere na escolha da via de parto.

AP RESENTAÇÃO PÉLVICA COMPLETA -


PELV I PODÁLICA
Figura 54.1 I Variedades de apresentação pélvic.t.
Nc a v.tricdade a coxas do feto e tão fletida~ l>obre A - Pélvica completa: pelvipodálica; B- Pélvica incompleta:
o abdome e as pernas fletidas sobre a coxas: ficam juntas nádegas; C - Pélvica incompleta: joelhos; D - Pélvica
das n.\dcgas (Figura 54.1-A). incompleta: pé .

8g6 Noções Prát icas de Obstetrícia


DIAGNÓSTICO EXAME COMPLEMENTAR

O d iagnóstico correto da apresentação pélvica é in- Na atualidade, o recurso laboratorial mais utilizado no
dispensável: durante a gravidez para que se possa tentar diagnóstico da apresentação pélvica é a ultrassonografia;
transformá-la em cefálica realiza ndo-se a versão externa; e ela confi rma os achados do exame clínico e fo rnece out ras
no início do trabalho de parto para que se decida qual a via informações como a variedade de apresentação e o peso
mais adequada ao nascimento do feto. aproxim ado do feto. Contudo, necessário se faz lembrar
Esse diagnóstico, como todos, deve se basear na anam ne- que exa mes ultrassonográficos feitos dura nte a gravidez
se, no exame físico específico - exame do abdome e pélvico necessitam de confi rmação no momento do parto: o feto
- e, quando necessário e possível, em exame complementar. pode mudar de apresentação.
O diagnóstico da apresentação, obrigatoriamente, tem
que ser confi rmado no momento da admissão da pa rtu riente.
ANA MN ESE

A anamnese bem-conduzida fo rnece informações MECANISMO DE PARTO


valiosas para o diagnóstico de apresentação pélvica. É
comum a gestante perceber uma estrutu ra arredondada Na apresentação pélvica, da mesma maneira que na
próximo das rebordas costa is; outras decla ram perceber a cefálica, o mecanismo de parto compreende a descida, a
presença dos pés do feto no abdome inferior, próximo do rotação interna e o desprendimento das estruturas fetais;
pube; e as mu ltíparas podem relatar história de parto em dessas, as ma is importantes são os diâmetros bitrocantéri-
apresentação pélvica. co e biacrom ial e o polo cefálico.

EXAME DO ABDOME DESPRENDIMENTO DO


DIÂMETRO BITROCANTÉRICO
A inspeção, às vezes, permite identificar os membros
inferiores do feto próximo da sínfise púbica. Contudo, é Admite-se que o feto, na apresentação pélvica, entre na
a palpação abdom inal, ao se realizar a terceira ma nobra bacia com seu d iâmetro bitrocantérico posicionado num
descrita por Leopold, que perm ite o d iagnóstico ao se per- dos diâmetros oblíq uos da bacia. Dura nte sua descida, ele
ceber o polo pélvico. Este é mu ito diferente do cefálico, é roda sobre seu próprio eixo e ao chegar no estreito inferior
maior, mais irregular e não se consegue mobilizá-lo. O utro -assoalho pélvico - , está voltado pa ra o d iâmetro ântero-
dado importante é que, não se percebendo o poJo cefálico -posterior da bacia, desprendendo primeiro a região pos-
na terceira manobra, deve-se procurá-lo no fundo do úte- terior do diâmetro bitrocantérico, o quad ril posterior e, a
ro; se ele aí estiver, pressiona ndo-o ele vai e volta, manobra seguir, o anterior.
cha mada de rechaço. Na apresentação pélvica completa, os membros infe-
Também a ausculta da freq uência cardíaca fetal ajuda riores se exteriorizam junto das nádegas; na incompleta, os
no diagnóstico, por ser sempre mais alta, m ais próxima do membros infe riores se exteriorizam junto do abdome do feto.
polo cefálico.

DESPRENDIMENTO DO
EXAME PÉLVICO D I ÂMETRO BIACROMIAL

A partir do fu ndo-de-saco posterior da vagina conse- O d iâmetro biacromial com os membros superiores do
gue-se identificar o polo fetal. ~ando já existe d ilatação feto dispostos sobre o seu tórax penetra na bacia também
cervical, identi fica-se o diâmetro bitrocantérico, sulco in- nu m dos diâmetros oblíquos; desce rodando c, ao chegar
terglúteo e os membros inferiores do feto. no estreito in ferior da pelve, após a rotação interna feta l,

Apresentação Pélvica 897


posiciona-se no diâmetro ântcro-postcrior, desprendendo DIF ICULDADE NO
primeiro o ombro anterior c, a egui r, o po tcrior. DESPRENDI MENTO DO POLO CEFÁLICO

Problema gr:we porque exige solução dpida; reta rdo


DESPRENDI MENTO DO P OLO CEFÁLICO no desprendimen to causa hipóxia, anóxia ou óbito do feto.
A principal razão para a dificuldade no dc~prcndimcnt o
O polo cefálico, após ofrer ligeira flexão, penetra na do polo cefálico é a tração sobre o feto impedindo rotaç:w
bacia com seu diâmetro suboccipito-frontal também cm interna espontânea do polo cefálico. Isso se corrige com a
um dos d iàmetros oblíquos da bacia; n.1 sua de cida, vai manobra de Mauriccau ou com o auxílio de fórcipe. A ou-
rodando progressivamente de tal modo que, ao chegar ao tra razão para o não desprendimento espontâneo do polo
estreito inferior, está voltado para o diâmetro ântero-poste- cefálico é quando o colo não e tá completamente dilatado.
rior - pubc c sacro; sucessivamente se desprendem mcnto Erro n,1 condução do parto pode ac:urct:u re ultados t:l-
lUso, fronte e, por fim, o occipital. tais; até se conseguir dilatar o colo já houve o dccesso feta l.
A di1otócia mais grave é a desproporção feto-pélvica: .1
cabeça fica retida, pois existe desproporção. Ocorre óbito
ANORMALIDADES NO do feto e só se consegue extrair o polo cefálico reduzindo-
MECANISMO DO PARTO -se o seu conteúdo: craniotomia ou basiopisia.

As anormalidade no mec,mi mo deputo - distócias CONDUTA


-são, na maioria das vezes, rc ultado de conduta incor-
rera de quem conduz o parto: trações inadequadas sobre Varia con forme a época cm que se tal o diagnóstico d,,
o feto. apresentaç:io pélvica: na gr.widez ou no in ício do trabalho
A mai comuns c mais temidas são a deflexão dos de parto ao se admitir a parturiente.
membros superiores do feto e a di ficuldade no desprendi-
ITtento do polo cefálico.
CONDUTA NA GRAVIDEZ

D EFLEXÃO DOS MEM BROS SUPERIORES Ex PECT ANT E

Acontece quando, .1pós a exteriorização do mem- Até a 33• emanJ de gestação, a conduta é expectante:
bro inferiore e do abdome, traciona-sc o feto visando aguarda-se que ocorra a cambalhota fetal - mudança es-
desprender seu tronco. Essa tração pode determ inar a pontânea da apresentação pélvica para cefálica. A partir
dcflcx:io de seus membros superiorc ; eles sobem, ficam dessa idade gestacional, essa mudança torna-se cada vez
de um lado c de outro do polo cefálico, impedindo odes- mais improvável; justifica-se, então, tentar realizá-la arti-
prend imento dessa estrutura fetal. Quando i so aconte- ficial mente por meio da chamada versão externa cefálica.
ce, ncccs ita- e volta r o membros superiores à posiç:io
anterior. Para tan to, introduzem-se dois dedos junto do
tronco fetal até atingir a região da clavícu la e, mobil izan- Vt- R ~ÃO LX T ERNi\ C I" I'Á LI C o\
do o dedo sobre o tronco, chegar até a região e capular e
fletir c extrair o membro superior desse lado. A mesma Muito realitada no passado c dcpoi esquecida, voltou
coi ·a se fàz com o outro bdo. Trata- c de manobra pe- a ~er recomendada na atualidadc. Reconhecendo-se .1 difi-
rigosa: pode determi n,u frat ura da clavícula. Contudo, culdade de ensinar e aprender a fazer o parto na apre enta-
é a única solução para reverter a deflexão dos membros ção pélvica c ao mesmo tempo o desejo de não aumentar
superiores do feto. ainda mai a taxas de cesariana, a altcrn.ltiva é tentar rc-

8g8 Noções Práticas de Obstetrícia


duzir o número de fetos em apresentação pélvica; c isso se Após a versão, o uso de ci nta abdomi nal contribui para
consegue indicando e realizando a versão externa cefálica. diminuir a moviment,\ção fetal e seu possível retorno à
O American College of Obstetricians and Gynecologists apresentação anterior.
(ACOG) recomenda que se ofereça a versão externa ages- Real izada com base nos critérios propostos, os dados
tantes com fetos cm apresentação pélvica, sendo que o ín- estatísticos existentes demonstram sua uti lidade: redução
dice de sucesso com a manobra varia de 35 a 86%, média de do número de fetos cm apresentação pélvica (Figura 54.2).
53% de sucesso. 1 Na metanálise de 53 estudos sobre versão
externa cefálica, Kocks et ai. encontraram resultados posi-
ti vos em 53%.1 CoNDUTA NO PARTO
Versão externa cefálica é manobra que se realiza atra-
vés do abdome da gestante, de modo a girar o feto e colo- Na ad missão da parturiente, confirmado o diagnóstico
cá-lo em apresentação cefálica. de apresentação pélvica, compete ao obstetr,\ decidi r pela
Qpando se deve realizar essa manobra? A parti r de 34 se- via de parto. Essa decisão ex ige, primeiramente, a anál ise
manas de gestação até o início do trabalho de parto. Nas ver- rigorosa de variáveis que interferem na evolução do parto
sões realizadas no final da gestação ou no início do trabalho e cm seus resultados.
de parto, há necessidade do emprego de tocolítico c, até mes-
mo, anestesia epidural. Versões realizadas muito cedo - antes
da 34• semana - apresentam alto risco de o feto volta r à apre- P R I NC ÍPIOS PARA A Co DUÇÃO DO PARTO
sentação anterior. Outro f.:lto a se considerar é que se houver P ÉLVI CO POR V IA VACINAL
alguma complicação durante a versão - descolamento pre-
maturo da placenta, sofrimento fetal - que exija a interrupção Certeza absoluta da proporçãofeto-pélvica: não se pode
da gravidez, recém-nascidos com 34 semanas ou mais já estão optar pela via transpélvica sem gue se tenha certeza
em condições de sobreviver, com baixo risco de sequelas. absoluta da proporção entre o feto e a bacia. Na apre-
São contraindicações para a versão externa: sentação cef:tlicJ, quando ex iste dúvida, submete-se
história de manipulação cirúrgica sobre oútero: cesariana, a parturiente à prova do trabalho de parto; na pélvi-
miomectomia, história de sangramento na gravidez; ca, não se faz essa prova. Quando, após a avaliação
inserção baixa da placenta; clínica e/ou ultrassonográfica, persistem as dúvidas,
rotura prematura das membranas amnióticas; o que se recomenda é a via transabdom inal.
história de parto pré-termo; Certeza da variedade de apresentação: são candidatas ;1o
oligoidriinmio: contraindicação relativa, já que se parto transpélvico as parturientes cujos fetos no início
pode injetar solução estéril na câmara âm nica - do parto encontram-se na va riedade pélvica comple-
amnioinfusão - antes da realização da versão. ta - pelvipodálica - ou variedade nádegas - nádega
pura. Desaconselha-se a condução do parto nas outras
Precedendo a versão, é recomendável a realização da variedades - joelhos ou pés - devido ,\0 risco de pro-
ultrassonografia obstétrica; esta permite confirmar a apre- cidência dos membros inferiores fetais com dilatação
sentação c a posição fetal, o volume do líquido am niótico e cervical ainda incompleta e/ ou do cordão umbilical.
a localização da placenta. Idade gestacional epeso fetal: desaconselha-se a condu-
O emprego perioperatório de tocolíticos facilita a mano- ção do parto pela via vaginal quando o feto é muito
bra e au menta seus índices de sucesso. Para realizar a versão prematuro- idade gestacional inferior a 32 semanas.
a gestante deve estar deitada, em posição confortável e com O peso fetal adequado para o parto transpélvico é
a bexiga vazia. A manobra se faz com as duas mãos: uma no entre 1.500 e 3.500 g. Muhuri et n/. (2006) afirmam
polo pélvico deslocando-o no sentido do seu dorso; a outra, que nos fetos com menos de 1.500 g os resultados fo-
no polo cefálico, girando este no sentido do seu abdome. r-.unmelhores nos que nasceram por cesariana: a di-
A ma nobra deve ser interrompida quando a gestante ferença foi ai nda mais acentuada quando o peso fct.1l
queixa-se de dor abdominal ou se constatar sofrimento fe- variou entre SOO e 999 g. Nos casos de peso fetal es-
tal por meio de alterações na sua freq uência cardíaca. timado acima de 3.' 00 g, recomenda-se a cesariana. 1

Apresentação Pélvica 8gg


l11tegrulade das membm11as a11miótrms: na condução si ta, auxiliar e a possibilidade de se realizar cesaria-
do parto na apresentação pélvica, o ideal é que as na rapidamente, c is o c fi zer nece ária.
membranas amniótica permaneçam mtact.l até o Obstetra cxperrenle: é a pnnc1pal razão de uce o do
final do período de dilatação. A rotura das membra- parto transpélvico na apresentação pélvica. Este ó
nas antes ou logo no início de trabalho de parto con- pode er conduzido por ob ·tetra com conhecimen-
traindica ua condução, devido ao ri co de prolapso to teórico e prático sobre sua condução, capaz de
de membros inferiores fetais e/ ou cordão umbilical. realizar correta mente, no momento certo, a m.wo-
orrdições hospitalares javorril'cis: o parto em apre- bra que e fizerem nece ~hia .
entação pélvica só deve er conduzido quando as
condiçõe hospitalarc forem adequa las, ou eja, ~1ando não existirem c a condiçõe citada , a olu-
pre ença na ala de parto de nconatologista, anc te- ção é .l via transabdominal.

Figura 54.2 1Versão externa.

goo Noções Práticas de Obstetrícia


CONDUÇÃO DO PARTO TRANSPÉLVICO MANOBRAS NO PARTO PÉ LVICO

A condução do parto pélvico exige vigilàn ra con~tantc O dc~prcndimcn to espontâneo do feto é possível c
de ua evolução no período de dilatação e, ainda ma i , no frequentemen te acontece. Contudo, qua c cmpre é de-
período expu! ivo. morado e com ri co de complicações com o recém-nas-
cido. o parto hospitala r, na maioria das vezes, o ob tctra
participa realizando ma nobr.ts que permitem o despren-
CO NDUÇÃO NO PERÍODO DE DILATAÇ ÃO di mento mai rápido do feto. Realizada corretamcnte,
cL!s influenciam positivamente nos resultados perinatais.
t prati ,1mentc a mesma adotada na ondução na Essa m:tnobras têm por objetivo ajudar no desprendi-
apre entação cefálica. A diferença ão: não se deve fà1cr men to dos d iâmetro. bitroca ntérico, biacromial e polo
amn iotomi,t c n,t distócias de contração e de di!Jtaçjo cefál ico do feto.
ccrvrcal njo e deve tentar corrigi-las; é mais prudente in-
terromper .1 condução e extrair o feto pela vra abdomin.tl.
Gera lmente o período de dilatação é mai demorado do Dt-<.,J>Rl. '\ D i tll E:-\. I ODODI ,\~IIIRO
que na cef51ica. 131 rRO C Ai TLRI CO

O desprendimento do dr.\ metro bitrocantérico - pelve


C ONDUÇÃO DO PERÍ ODO EXPULSIVO fetal - acontece e pontaneamente; porém, geralmente é
demorado; no parto assistido, o obstetra aj uda nesse des-
e . a f.1 e de parto se faz necessária a presença perma- prendimento.
nente de toda a equipe peri natal para ajudar no desprendi- Na pélvicas completas, com os dedos, desprende- c
mento fet.t l c cuidar do recém-nascido. Algumas medidas o pé e o membro inferior loca lizado próxi mo do pube e
ão empre adotada vi ando impedir ou dimi nuir complr- depois faz o mesmo com o me mbro focalizado próxi mo
caçõcs com o feto e o recém-na cido. do acro: promove a saída total dos dor membro infe-
Puxo - .1 participação correta da parturiente é um riores do feto. O e ·forço expubivo materno pro move a
dos fatore de sucesso para o de1.prendi mento c~­ descida do feto até a região do umbigo. Nesse mo mento,
pontàneo do feto. Contudo, ó c deve olicrtar e'>\a l ibera-~e o cordão umbilical - alça do cordão, vi ando
participação quando houver dilataçjo completa do faci litar a circulação anguínea feto-placentária. ão se
colo - lOcm; o puxo ante da dilatação completa pode tracionar o feto: ri co de deflexjo dos membros
do olo é a principal razão para a exteriorização de uperiore .
parte do feto e retenção do cu polo cefálico. a apre entação pélvica incompleta, variedade ná-
O.nge11açtio da parturie11le- um dos temore · do par- dega , quase sempre se faz necessá ria a pa rticipação
to pélvico é a hipóxia ou :móx ia do feto, isto porque, do obstetra. Este ajuda na descida, rotação c despren-
eu polo cfálico é o último a se de~prender. A oxi- d imento do d iâ metro bitrocantérico e dos membros
genação pcrm,mente da parturiente durante todo o inferiore . Coloca seus dedos indicadores nas regiões
período expu! ivo, diminui o risco da hipóxia. inguinocrurais do feto para coloca r o diâmetro biacro-
Catclenzação l'CIIosa - deve- e ma nter uma veia pe- nial empre no diâmetro àntero-posterior da bacia. De-
riférica catetcn:tada para aplicação imediata de me- pai que isso ocorre, de prende a nádega po terior com
dica mento ocitocina, se i so se tornar ncccss.írio. o membro fetal correspondente c, depoi , a anterior.
EpiSioiOIIIlt111lédlo-lateral ampla - quanto mais :tmpb Com essa manobra todo o pofo pélvico feta l se exterio-
for .1 regi.1o vul va-vagi nal, mab fáci l \erá .1 real iLação riza (Figura 54.3).
da!> manobras que aj udam no desprendimento fet:tl.

Apresentação Pélvica
901
Mmrobrn de RoJtlS: apó~ o desprendimento do dià·
metro bitrocantérico e realização da .tlça do cordão
umbilical. com a dua m:lo roda- c o leto da c ·
querda par:t o centro, segurando-o pelo abdome e,
com ligeira tração para baixo, de prende-se um dm
seus membros s u pcriore~. A cguir, rod.t·sc o feto
d.t d ircit,l para o centro c, ab.tixando o corpo fetal,
desprende- c o out ro membro (figura S4.. J.).
Manobra de Dcllwlcr-Mucllcr: a maneira de segurar
o feto é a mesma da manobr.t anterior. ' omplctada
a rotação do diâmetro biacromi,tl, aba1xa-se o feto
para de prender o ombro antcnor c, a egu ir, eleva-
-o para desprender o ombro po\tcrior.

Figura 54.3 1 Dc~prcndunento do diâmetro bitro .mtéri o. l O.\ fl'lll ,,, 1n \i!> J)r \I'R I \1>1 \ fl 'ro nu
L>r 1 \li r Ro Hr \l Polir H
DI '>I' R I DI \I L i\ I o DO DIA~tCTRO Bl \l RO.\ IIA l A complicJção mais comu m é .1 dc ncxão dos membros
superiores - obem c e colocam junto do polo cef:1lico
Contraçõc~ efiCientes e esforço materno pu xo - , tornando impo ívd o desprendimento do feto; isso só
oricnt,tdo c correto 5o uficiente , cm ign1 fic:tt1vo núme- .Kontecc quando c f:1Z tração do feto.
ro de c.1 os, par.t determi nar J cxterioriz:tç:lo do diâmetro A correção des a distócia é difícil, exige que c introdu-
biacromiJI. Contudo, quase cmprc e e de prcndimcnto zam dois dedos até a região da clavíc ub fetal c levem-se os
é dcmor:tdo. No parto :tssistido, o ob ·tetra :ttu:t de maneira dedos até os ombro para c con ~egu i r dcHctir o membro
a Jnteci p~ lo, rc.tlizando manobra próprias; as mai indi- superior do feto; isso tem que ser feito nos dois membros.
cadas são :ts de crita por Rojas e Dcventer-Mücllcr. A parturiente terá de cr a neste iada e a manobra deve ser

Figura 54.41 MJnobra de Roja .

902 Noções Prát icas de Obst etrícia


cxccutadJ com muito cuidJdo: h:i sempre risco de frJtu ra feta is já cxterioriz.H.hs de modo .1 permitir que o
clavicular. Ressalta-se, no entanto, que é .1 única opção parJ ob tctra Jpliquc a colheres do fórcipc ru cabe a
ajuda r na cxtraçâo fetal. fctJI. O fórcipe mJiS recomendado para a cxtraç5o
do polo ccf.ilico na apre enta ão pélvica é o modelo
criado por Piper (Figura -4. ).
Dr. P RL OIMLNTO no PoLO CrFÁ t tco

O desprendi mento c pontànco é po ívcl, por~m, qu.l-


c cmprc dcmor.1do, atllnentando o ri co de hipóxia no
feto c no recém-nascido. o parto assistido é o ob tetra
quem promove o desprendimento do polo cefálico fetal.
PJra isso, sao rea hndas n1:1nobra . A ma i utilizJdas s.lo
a propo tJSpor[\ 1Juriccau ou por Bracht. A outra opção é
extrair o polo ccf.ll1co com o auxílio de fórcipc.
Nlcwohm de Almmceau: a pó o de prendimcnto
dos diâmetro' bitrocantéri o e bi:~crom i.1 l, coloc:~­
- e todo o corpo do feto J·l de prendido sobre o
antebraço do obstetra. Este, .1 segu1r, colo a seus
dedo indiodor c médio do me:,mo braço na
boca do feto e o dedo indicador da outra mão n:1
rcgi.lo occipit.1l. A seguir, com o auxílio dos de-
do realiza a rotação interna do polo cefálico de
modo a coloca r a utura s.1gital no cntido do di-
âmetro ântero-posterior da bacia pubc c acro.
Com ligeira tração na boca c compressão do occi-
pital provoca- c a Acxão do polo ccf.ílico de modo
a permitir primeiro a extcnoriz.lç.io do mcnto, a
eguir da região fronta l e do occipit.1l c, por fim, de Figura 54.5 j Manobra de M:lllriccau.
todo o polo ccf.llico. O que nao e pode fàz.cr é tcn-
tJr flctir o polo cefálico ante'> que o orra uJ rota-
ção intern.1 (Figura S~.S).
Nlmwhm de Rraclrt: após o de prcndimcnto do di-
âmetro bitrocantérico c dos membros inferiores,
segur:1- c o feto com as dua' mãos, ma ntendo-se
seu mcmbrm inferiorc obre cu abdome, com
flexão do feto no sentido do abdome materno, de -
prendendo- c o diâmetro biacromial e, a cguir, o
polo cd:llico (Figura 54.6).
Extmção afórCIJ'I!: fórcipc aplicado obre o polo ce-
f.1l ico é outro recurso realiz:1do p.1ra a cxtração des-
sa estrutura fct.ll; qua c sempre é o último rccur o
utilizado pelo obstetra 11.1 extração do polo ccfilico.
~ando a outr,\s manobra f.1lham, recorre- c ao
fórcipe gue, bcm-.1plicado, pode ser a pri mcir.t op-
ção. Exige gue um auxiliar segure c eleve as p:1rtcs Figura S4.6j Manobr.1 de Br.tcht.

Apresentação Pélvica
903
de parto vaginal de 31,2%. Com base no estudo, os autores
concluíram que quando o critério rigoroso é seguido antes
e durante o parto, o parto vaginal planejado em apresenta-
ção pélvica é opção segura e deve ser oferecido à gestante. 6
As estatísticas demonstram que o parto vaginal em
apresentação pélvica é seguro cm gestantes rigorosamen-
te selecionadas e atendidas por profissionais competentes.
Contudo, como se torna cada vez mais difícil aprender a
conduzir o parto com o feto cm apresentação pélvica c,
ao mesmo tempo, há tendência global em se reduzirem
as taxas de cesaria nas, diante dessas tendências a solução
Figu ra 54.7 I Aplicação do fórcipe de Pi per. seria realiza r a versão externa cefá lica, que reduz em mais
de 50% a incidência de fetos em apresentação pélvica na
hora do parto.
CoNcLusõEs

Per istem dúvidas quanto à via mais segura - melhores REFERÊNCIAS


resultados perinatais - para fetos em apresentação pélvica:
a transvagi nal ou tra nsabdomi nal? O trabalho mais valori- I. Amcrican College or Obstctrician s and Gynecologists. Ex·
terna! Cephalic Version. ACOG Practicc Patterns. Int J Gy-
zado sobre o assunto, Tcrm Breech Tria/, mostrou os resulta-
nccol Obtet 1997; 59:73 - 80.
dos de estudo multicêntrico, randomizado, controlado, re-
2. Kocks M, CnossenJ, Gravendecl L, van der PostJ, Opmecr
alizado cm 121 centros médicos de 26 países, envolvendo B, Moi BW. Cli nical ractors to prcdict the outcomc or exter-
2.088 gestante com feto único cm apresentação pélvica.4 na! ccphalic version: A Metaanalysis. Am J Obstet Cy necol.
Os resultados mostraram redução significativa no 2008: 199:630e l-7.

risco de mortalidade pcri natal e de morbidade neonatal 3. Muhuri PK; Macdorman M F; Menacker F. Method or de-
livery and nconatal mortality among very low birth weigh
grave no nascidos de cesariana planejada quando com- infants in Unitcd Statcs. Matern Child Health j. 2006; 10:47-
parados com os nascidos de parto vaginal planejado: 1,6 c S".
S,O% (p<OOOI). Salienta-se, no entanto, que no nascidos 4. Hannah ME, Hannah WJ, Hewson SA, Hoonett ED, Saga iS,
por cesariana planejada ocorreram também complicações Wiliian AR. Pla nned caesa rean scction l'crsus planed vaginal
graves, como um caso de fratura de base de crânio4 O u- birth ror brecch presentation at tcrm: A Randomiscd Multi-
centre Trial. Lancct 2000; '56: 1375-83.
tro dado importante sobre esse estudo é que seus autores,
S. Whyte H, Hannah ME, Sa igal , Hannah WJ, Hcwson S,
quatro anos depois, publicaram o resultado do acompa-
Amankwah K cl a/. Term Breech tria l Collaborativc Group:
nhamento por dois anos de 920 crianças que nasceram Outcomes ofchildren at 2 Years aftcr planned cesarcan birth
por cesariana plancjada e por parto vaginal planejado e não versus pl,mncd vaginal birth for breech prc cntation .ll tcrm:
encont rara m diferença no desenvolvimento neu rológico 1l1e lntcrnational Randomizcd Term Brccch Trial. Am J
Obstct Gynccol. 2004; 191 : 864-71.
entre os dois grupos.s
6. Goflinct F, Carayol M, Fo1dart JM, Alcxander S, Uzan S, Sub-
Gofli net et a/. relatam os resultados de estudos prospec-
til O, etal.ls planned vaginal delivery ror brccch prescntaliOn
ti vas observacionais de 8.105 gestantes com feto ún ico em at tcrm still an optionl Rcsults of an observational prospec-
apresentação pélvica atendidas em 138 maternidades na tive survey in Francc and Belgium. i\m J Obstet Gynecol.
França e em 36 na Bélgica. A taxa de cesariana foi de 68,8 e 2006; 194: 1002 - 11.

904 Noções Práticas de Obstetrícia


Indução do Parto
Antonio Vieira Machado

Condi ções Favoráveis à Indução Métodos e Técnicas de Indução do


Proporção Feto-pélvica Traba lho de Parto
Colo Uterino Métodos Cirúrgicos
Apresentação Fetal Métodos Mecânicos
Idade Gestacional Métodos Farmacológicos
Condições Fetais Outros Métodos
Equipe e Local Complicações e Riscos
Indicações Indução do Parto de Feto Morto
Indução Eletiva
Misoprostol
Contraindicações Ocitocina em altas doses

CONDIÇÕES FAVORÁVEI S À INDUÇÃO

A
indução do t rabalho de parto é a estimulação e
a implementação artificial das contrações uteri-
nas características do processo, com di latação A indução de trabalho de parto é processo complexo,
cervical progressiva. A decisão de indução do parto de- que leva em consideração vários fatores pa ra o seu sucesso.
pende da ava liação dos riscos materno-fetais de continuar O tamanho, o peso e o bem-estar fetal, as cond ições do colo
ou não a gravidez e, em última análise, de haver finalidade uterino (índice de Bishop) e da pelve materna, como tam-
terapêutica. bém a escolha do método de indução são fa tores que mere-
O colo uterino ou cérvice é constituído por muscula- cem análise cuidadosa. A adm inistração de fármacos na in-
tura lisa, colágeno e tecido conectivo em proporções va ria- dução de parto deve ser cuidadosa, exigi ndo monitorização
das. A musculatura lisa varia de 6 a 25%, sendo menor no da atividade uterina e da frequência card íaca fe tal, para iden-
segmento inferior. tificar a taquissistolia uterina, bem como o sofri mento fetal.
Nas ú ltimas sem anas de gestação, o processo de am a-
durecim ento do colo uterino apresenta mudanças no colá-
geno e no tecido conectivo, promovendo seu m aior a mo- PROPO RÇÃ O FETO -PÉLVICA
lecimento e distensão. Esse processo favo rece o trabalho
de parto e é fator importante no sucesso da indução do A determinação da prop orção ent re o feto e a bacia ós-
I
mesmo. sea m atern a é fundamental. Para isso, recorre-se ao exame
fís1co (manobras de Lcopold, útero-fit.l, pclvimetri:t clini-
Cl, .waliação da altura da apre entação fetal), ao emprego
d.1 ultra onograh.l c, csporadica1T1cnte, da radiologia e/ ou
rc onânci.1 magnética, para determi nar o volu me e o pc o
lct.1l. 'a certeza ou su peita de de proporção, a melhor
conduta é não induzi r o parto.

COLO U T ER I NO

A .waliação do colo uterino gu.lllto ao seu apagamento


pode pred1Lcr .1 facilidade c o tempo de indução do tra-
balho de parto. O índice de Bishop é o método m.1is di-
vulg.ldo cu ·.1do, pela sua faci lid.1dc de cxecuçao (Qu.1dro I
Figura SS.l Colo uterino pcl.1 ultras onogr.1fi.1 tr.m~v.1ginal.
55.1). O colm utcrinos ão ela ific.1do como t:worávc1 0 1=onn 10 interno do canal cerVICJI; O r =onfício externo do
(guando o índ1cc for ~ 9) ou de favoráveis (índice!> s 5). c.111al ccrv1cal.
O mais baixo percentual de fa lha de indução e o mm imo
tempo de trabalho de parto encontram- e em colo utcri- A PRESE NTAÇÃO FETA L
nm f.wor.1veis. '
A indução do tr.1balho de parto só deve 'cr executada
n.1 :~presentações feta is favor.lvei~ ao parto v.1ginal, ou seja,
na apresentação cefálica, v.1riedade de vert1cc.'

IDADE GESTAC IONAL

O parto induzido envolve alto risco par.1 o feto quan-


pagamen o - - - >
cervical (%1 do comparado com o inici,1do c pont.lne.llnente. E c
- - -- ri co é m.1i<. acentu.1do para O\ feto prem.lluro!>. Indu-
Consistência Firme Média Mole - ções de trabal ho de parto cm gcstaçõc com meno · de
cervical 'I
--- 37 scm.mas são perigo a , exigindo an,1h~e riterio a
Posição cervical Posterior Centrada Anterior - I
do ri o c benefício!>. Exigem moniton;açao perma-
- --
Altura da -5/-3 -2 -1 +1/+2 nente das condições fetais. Fie:~ evidente .1 importância
apresentação d.1 confirm ação da id:~dc gestacion:~ l pela datJ da últi ma
fndice ~ 9 = favorável para a indução menstru.1ção, pelo ex:~ mc ob tétrico e com o auxílio da
ultrassonografia real izada no início da gravidez (antes de
20 semanas).
Prov.wcl mentc, a dilatação cervical ep o p.u.lmctro
que mai~ mterfere no uce o de uma indução, apes.u de
receber pontuação igual à do demais parâmetros. CoNDIÇ ÕEs FETAIS
A .waliaç.io das condiçõe do colo uterino t.1mbém
pode er fc1t.1 pela ulrr.1 sonogr:tfia tran vagmal. que ex1be Deve er feita a aval 1aç.lo prévia d:~ v it:~lid.1dc e do bcm-
.1funilamcnto e d1m1nuição do comprimento.' Ess.1 .wa- est.lr fetal pdo perfil biofbico feta l, cardiotocogr,lha b.1 .11
li.1ção ecogr.llica do comprimento cervic.1l não melhora o e/ ou dopplervclocimetri:~ . Caso o ex.1mes mo trem ina i
rc ultado da indução do parto ( F1gura - - .I).4 de comprometimento feta l, J 11\duç.lo est.i contr.1indicad.1.

go6 Noções Prát icas de Obstetrícia


EQU IPE E LOCAL dividido tJmbém cm método direto (amniotomia, onda
de Krau c, de colamcnto da membranas) c indircto (em-
A indução do parto exige equ ipe médica c de ,tuxiliare prego de fár maco ).
bem-treinados,equipamentos para a necessária monitoriza-
ção materno-letal, instJiações adequJdJs c protocolo bcm- Quad ro 55.2 11ndicaçôcs da indução do trabalho de parto
estJbelecido e discutido. É importJntc, t.1mbém, fornecer
Causas Maternas
documentação com orientJções à paciente, bem como indi-
Hipertensão arterial crônica
car os fJtorcs de risco do procedimento. --------------------------~
Pré-eclâmpsia
Cardiopatia
INDICAÇÕES --------------------------------~
Nefropatia

A induçã do trJbJi ho de parto e tá indicada na vigên- Doença hepática autoimune


cia de circun tâncias clínicas maternas, fetais e de anexo Diabetes melittus (insulina-dependente)
feta l em que os benefícios pa ra a mãe c o feto ão evidentes
Neoplagias malignas
e indi cutívcis (0\.rad ro '5.2).
A única indicação rotineira de indução do parto é J Idade materna avançada
gravidez prolongada (42 ou mai semanas), que ocorre em Causas Fetars
aproximadamente 109o das gestações.
lsoimunização pelo fator Rh
Crescimento intrauterino restrito
I NDUÇÃO E LETIVA Gestação Prolongada
Infecções
A induçào do parto clctiva não acolhe indicação por proble-
Macrossomia
ma · materno-fetais. História de trabalho de parto rápido, resi-
dencia longe do ho pita I e conveniencia médica e/ou rmterna Diminuição da movimentaçã fetal
ão a principai indic.1çõe para a indução eletiva. A análise das Morte
condiçõe materno-fetai tiworáveis à indução do parto e a con-
Causas ele arwxos fetars
firmação da idade ge tacional não devem er negligenciadas.
A indução do parto em gestações com mais de -ti sema- Rotura prematura das membranas amnióticas
----~
na reduz o ri co de cesariana e pode diminuir a mortalida- Polidâmnio
de per inat.ll.
Placenta prévia parcial ou marginal

CONTRAINDICAÇÕES MÉTODOS C IRÚRG I COS

A contra indicações são dividida crn ab olutas e rela- A /\1'\ltHO\II.\


tiva (Qyadro 55.3).
A rotura artificiJI da mcmbr,1r1:rs tem técnic.1 f.íci l r
rápida, com a introdução do amniótomo no c.111.1l ccrvi ai
MÉTODOS E TÉCNICAS DE INDUÇÃO f:worávcl. Promove a saída de líquido Jmniótico c con~c­
DO TRABALHO DE PARTO quentc encurtJmento do feixes musculares do miométrio,
c timubndo, a im, a contr.1çôc utcri n.1s. P.1ra a rc:rliz;~ção
da am niotomia, exigem-se colo madu ro c dilatado, paciente
Existem tre método de uso rotineiro para a indução cm po iç:io de Fowler, a sep ia vaginal, e coamento lento do
do parto: cirúrgico, mecânico e fa rmacológico. Podem cr líquido amniótico c monitorização da frcquêncr.~ cardíaca

Indução do Parto 907


fetal, ante~ c após o procedimento. A avaliação da ocorrên- dá- c por vi ão direta e de forma a éptic.1 c, para manter a
cia de prolap~o de cordão umbilical é obng:~tória. Existe um laminária cm posição, recorre- e ao tamponamcnto vagi·
período de tempo imprevisível entre a :~mn iotomia c o início nal. E c. dilatadore higro cópico provoc,\m alterações
das contrJçõc uterinas c, muita vczc , ncccs ita-·e a\ oci.tr cervicab entre eis e 12 hor.l ,1pó ua apltcação. Exi tem
a infu ão de ocitocina para dtminuir c e tempo. Existe fraca e tudo~ demonstrando aumento na incidência de cndo-
evidência de que a amniotomia isolada induz o trabal ho de mctritc materna e sep c nconatal com c~te proce o de
parto. Deve-se con idemr sempre a possibil idade de conta- induç:io. Podem ocor:er também rotura tb !. membrana!. c
minação da CJvidadc .11111)iótica c do feto.6 sangramento uterino·

Quadro SS.3 I Contrai ndicaçõe da indução de parlo


AbsoltiLls CA rt- rt R DL BAL..\0

Distócias de situação e apresentação (situação transversa.


O método de Krau c ou técnica de amadurecimento
variedades de apresentação de bregma. de fonte. de face e
pélvica incompleta • joelhos e pés) cervical por cateter de balão cxtra-am n iótico consiste na in-
trodução desse cateter pela cndocérvix; ao ultrapassar o ori-
Desproporção feto-pélvica absoluta
fício interno, in utla-se o babo. Pode-se acopl.lr um pc o na
Placenta prévia total extremidade di tal do cateter. balão atua, prov,wclmentc,
--------------------------- por pre ão di rcta e estimulação do segmento inte rior do
Tumores e septos do colo uterino
--------------------------~ útero, provoca ndo aumento da secreção de prostaglandi-
Prolapso de cordão
--------------------------~ n,\ no local. ão existe evidência uficiente da didcia do
Herpes genital em atividade cateter de balão e sua ,\s ociaç:io com infu!>.lO de olução
--------------------------~
Sofrimento fetal agudo com colo imaturo sali na cxtra-amniótica no amoleci mento do colo uterino
----------------~ c na indução do parto. N;lo existem, também, diferenças
Descolamento prematuro de placenta
ignihcativas nos resultado pcrinatais, na coriamnionitc c
Insuficiência placentária na cndomctnte com o emprego do cateter de bal,10 i olado
Relat1vas c a ociado à infu ão de olu ;lo alina ex tra-amn iótica.~
Gravidez gemelar A ccrvicitc, o angramcnto vaginal, a cesariana anterior e a
----------------------------~ bolsa rota são contrai ndicaçõc. para o u o do b.1 lão. O ri ·
Grande multfpara
co de infecção a cendente, tanto materna quanto letal, é o
Miomatose uterina mator fator limitante ao cu uso rrequentc.- 9
Cirurgia uterina prévia (miomectomia, correção de malfor- Ext te tendência à ub ti tui ão do método mecânico
mações, cesariana) com o emprego de dilatadorc higro cópicos c de balõe
Gravidez pré-termo pelo método fa rmacológico, devido à sua ~implicidade,
---------------------------
Equipe médica e aparelhos insuficientes
baixo cu to c meno efeitos .1dvcr~o!>.

Dt \COLAM t:.:--.:To DA c; :\I 1 \t nR \'\c;


MÉTODOS MEC ÂN ICOS
O de calamento digit.1l das membrana (nunobra de
l.\\1"\RIAOL Dll \fADOR Ht <..RO. CÓP J(.() Hamilton ou Copcrm man n) é de fJci l rcaliz.1ç.io, neces-
sit.111do de pequena dilatação cervical. Dur.111tc o toque
A tnscrção de dilatador higro ·cópico no colo uterino v.1gi nal, o ob tetra introduz o dedo 111dicador no canal
é muito usada, pri n ipalmente nos ca o de feto morto. cervical, ultrapassando o orirício interno c, com movimen-
Pode-se empregar .1 laminária japomcw11 (alga ma ri nh.1), o tos circulare , promove o descolamento das membranas
Iam icei (sulfato de magnésio) e o dilnpam (hid rogcl de po- cório-am nióticas da face interna da porção inferior do
liacribto - material higro cópico sintético). A introdução útero. O de calamento da membrana~ .llt mcnt.l a taxa

go8 Noções Prá ticas de Obst et rícia


c a velocidade do parto vagi nal. Esse de colamcnto cm e ua fonte naturai ão o âmnio (PGE,), a decídua ma-
ge taçõe com mai de 38 emanas de evolução não pro- terna (PGE alfa) e o miométrio (PGI !: prostacicli na). Tem
2
duz benefícios clínico importantes, ma reduz a duração meia-vida curta: um a doi minutos. A pro taglandinas
da gravidez c a frequência de pós-datismo. Realizado de naturais mais utilizadas para promover :~ molcci mento c
forma inadequada, o de colamento das membrana pode amadurecimento cervical c facil itarem a mdu :lo de tra-
provocar aumento da morbidadc materna, podendo levar balho de parto ão as do grupo E2 (PGE) (di nopro tone)
ao sangramcnto da placenta de in crç:10 baixa ou, princi- (Prepidil~) e a F2 alfa (PGE2:tlfa). A PGE2, :tlém de promo-
p.ll mente, à rotura acidental das membranas, com prolapso ver a maturação cervic:tl, pode estimular .1 sensibilidade
de cordão umbthcal na apre cntaçóe alta .9 miomctrial à ocitocina e, por ter custo clcv:tdo, vem sendo
~ ubstitu ída pela pro taglandinas do grupo E1(PGE1) (mi-
soprostol) (C)'totec ; Pro tokos~).
I \11\l l, l A(, \0 ~I \1\1 \RI\ As pro taglandi na' ão ,1dmini tradas pela vias or:tl,
intravenosa, intravagi n:tl c intraccrvical. A vi.1ora l c a intra-
A c timul.1çjo mamária apresenta algumas va nt.1gens: venosa c tão cndo abandonadas, devido ao exacerbado
permite a gc tante o controle obre o proce o da indu- efeito colaterai , como hipere timulação uterina, bradicar-
ção; é método natural e barato; foi demonstrado que dimi- dia fetal, rotura uterina, náu cas, \'Ômito , dtarreia c febre.
nui o angramcnto pó -parto; e pode aumcnt.u as taxa de É recomendada a monitorização da ati vidadc uterina c
tr.1balho de parto no prazo de 72 hor,\s. Entretanto, ai nda d:t frequência cardíaca fetal na primeiras du.l hora após
ão nccc ário mais e tudo para indicar a estimulação a ad min istração do medicamento. Esse é o período crítico
mamária como método efetivo para indução do parto.10 de ocorrência da hipcrc timulação uterina, da rotura utc-
rin:t c da bradicardia fetal. Existe alto risco de corioa mnio-
nite e de infecção nconatal com a indução de parto com
MÉTODOS FARMACOLÓGICOS prostaglandina intravaginal c cervica l cm pacientes com
bolsa rota.
Os agentes farmacológicos estimul.mtcs do útero ma i~
u ados ão o C'ltrogênio , a fraçõc F2alfa c E2 da\ pro · /) \1 I \ J'(JJ
taglandina c a octtocina. Aprovada pela Food mui Drrtg Adlllilllslmlioll (FDA)
par:~ ser utilizada na indução dotrabalho de p.uto. Empre-
gam- c t.1blctcs intraccrvicai c vagi nai de 1mgdc PGE,
a c:~da ci ou oito hora~. com do e m.lxima de 6 rng/gc~­
tantc. Utiliza-se, também, gel intravaginal de I e 2 mg de
A admini~tração de altas do e de e trogênios por via PG E2, com uma cgund:t dose após eis horas, respeitando
cndovenosa induz certa atividadc uteri na e produz queda a dose máxima de 4 mg para nu ligestas c 3 mg para as ou-
no níveis de proge ·terona. E ·sa alteraçõc esti mu lam a tr.ls gestantes.12
produção de prostaglandinas. Não existem dado consis- Recomenda- e que as paciente com febre, alergia ao
tente na literatura obre a eficácia do c trogênio na indu- fármaco, ~a ngramcnto vaginal ativo, in uficiência hepática
ção do trab.1lho de parto.11Além disso, o uso de c trogênio c renal, bem como glaucoma, não uti li'lcm a · prostaglandi-
pode determinar aumento do ri co de tromboemboli mo na par.1 indução. Em contrapartida, a~-o gestantes asmática
materno, não existindo, portanto, indicação para seu uso c tão liberadas, poi a PGE2 tem efeito broncodilatador.
na pratica chnica. Em ca. o de a ociação com ocito ina, recomenda-se
aguardar ci a 12 hora apó o u o do dinopro tone para
inic1.1r a ocitoci na. 11
PRO<;')\(,[ \ N DI'\ \\

,, /,oi'Ro\1()/ (J>(;r J
As prostagland inas são hormônio!> produzido por Recentemente, tem !>ido muito uti lindo o mi opro -
vários órgão . Tem como prccur oro ácido araquidónico to!, .ll1:ílogo sintético de prostaglandina EI (PG E1), para

Indução do Parto gog


.lmadurecimento cervical c indução de trabalho de parto, A o 1tocina pode ser administrada por via oral, nasal,
apcs:~r de não ter seu uso aprovado pela FDA. Sua eficácia é intramu ·culare cndovenosa.A via oral c a na ai cstào aban-
emelhan te à do métodos convencionai . Pode ser u ado don:~das, pela alta incidência de f.tlha de indução. A via en-
por via oral, subli ngual, intracervical e intravagi nal. A via dovcno:.a é a mai u ada, com bomba de infu ão con tantc,
mtravaginal é a preferida, devido ao baixo número de efei- paramaissegurança.A do c inicialé de I a2 mUI/ minuto.
tos adversos, pri ncipalmente o gastroi nte:.tinai:.. E:. a do:.c pode ser aumentada de I até no máxi mo 6 m U1/
O misopro tol atua sobre a matriz extracelular com minuto a cada Oa 60 mi nuto , não excedendo -tO mU I/
di solução das fi bras collgenas, aumento do ácido hia- minuto. A dLiatação do colo uteri no de I cm/ hora, na fase
lu rônico e aumento do conteúdo de água da cérvice. Aiém ativa do trabalho de parto, indica que a dose de ocitocina é
clis!>o, relaxa o mú ulo liso da cérvice c facilita a dilatação, adequada. O tõnus uterino de repouso deve fica r em torno
ao me mo tempo em que permite o acré cimo do cálcio de20 mmHg. 1' 1t- OQuadroS -.-tmostraa do c dcocito-
mtracelular, promovendo contração uteri na. Todos e es cina, de acordo com o método de infu ão vcno a.
mecani mo permitem o progressivo esvaeci mento e dila-
tação cervical, concomitantemente ao aumento da ati vida- Quadro 55.4 I Do :~gcm de ocitocina de :~corda com o
de uterina, o que ga rante, na maior parte dos casos, uma método utilizado para infusão venosa
mdução bem- uccdida do trabalho de parto.
A dose va ria de 25 a SO mcg, com intervalo de quatro
a ei hora , ma recomenda- c utilizar a mínima dose. O
ri co de elimi nação de mecônio intraparto c de hipere ti-
mulação uterina com consequente rotura uteri na é mais
frequente na do c de SO mcg e cm paciente com cirurgia
uterina prévia. Não é recomendado o u o de misoprostol Acréscimo 1a6 6a36 2 a 12
cm paciente com cesariana anterior.14
Dose Máxima 40 240 ao
Ca o seja ncccs ário a ociar a ocitocina, recomenda-
~e in iciá-la omcntc ci!> a 12 horas após o uso do m iso-
pro tol. O efeitos colaterai da ocitocina sobre o organ 1~mo
materno são a alergia, a hipertonia uterina, a rotu ra uteri-
na e a intoxicação hídrica. Sobre o organismo fetal têm-se
OCJI OCI' \ hiperbil irrubincmia, hipóxia, asfix1a, morte e h1perten ao e
hipotensão arteriai . A bradicardia fetal é re ultante da bai-
A ocitocina é a ub tã ncia produzida na hipófi e po - xa perfu ão útero-placentária, do au mento do tônus c da
tcrior, que c~timula e coordena a contraçao uterina. A hiperc timulação uterina. O u o prolongado de ocitocina
ocito ina sintética tem meia-vida de um a eis mi nutos no pode leva r à disrunção de secundamento c hemorragia no
in ício da gest:~ção c um a trê minuto no terceiro tri me - pós-parto imediato. A ocitocina tem pou o efei to antidiu-
trc e amamentação. A sensibilidade e a resposta uterina à rético, podendo levar à intox icação hídrica cm caso de u o
oc1toci na aumentam com o evoluir da gestação, ou scp, prolongado e com in fu~ão superior a 20 mU l/minuto. Po-
utiliza-se menor dose guanto maior for a idade ge tacional. dem ocorrer convulsõc , coma c até me mo mortc. 1 ~
A ocitocina é cfctiva na indução do trabalho de parto. A administração de ocitocina ex ige rigorosa c conti-
A d iluição da ocitocina pode er feita com uma ampola nuada monitoração da atividade uterina c da freguência
de • U l cm SOO mi de soro glicosado isotônico. Assim, em cardíaca fetal por profi sional treinado. o caso de sofri-
cada I mi (20 gotas) da olução tem-se lO mUi de ocito- mento fe tal ou taquissistolia, a infusão deve ser suspensa
cma. até o retorno da condições normai . Às veze , o u o de
A vantagcn do u o da ocitocina l.ào: ação rápida, bai- tocolít1co é necessário.
xo índice de hipcrc t1mulação uterina, rápida elim inação e A ocitocina e o misoprotol apre entam resultados obs-
cessação da atividadc após sua suspensão. tétricos e ta xa de complicações scmelhantcs.n R

910 Noções Práticas de Obstetricia


ÜUTROS MÉTODOS em centros ci rúrgicos apropriados c bem eq uipados, que
permitam adequada mon itorização c supe rvisão de todo
Existe m diversos out ros métodos pouco utilizados e de o proces o.
valor incerto para induzir o apagamento cervical e o traba- Recente metanálise mostrou que a indução elet iva do
lho de parto, entre eles o emprego do hormónio relaxina, o parto não aumenta sign ificativamente a morbidade peri-
encma com óleo mineral, os corticosteroidcs, a terapia ho- natal. Foram avaliadas as segui ntes v:triáveis: sínd rome
meopática (cnulophyllum) e até mesmo a acupuntura. de aspiração de mecônio; Apgar < 7 aos ci nco minutos de
A indução do parto cm colos desfavo ráveis (imatu ros), nascimento; :tcidemia nconatal; sofrimento fetal ag udo;
com índice de Bishop abaixo de nove, deve ser preced id a síndrome de a ngústia respiratória; taquipncia transitória;
de amolecimento e amadurecimento cervical com pros- sepsc neonatal; encefalopati a hipóxico-isquêmica; h ipo-
taglandina. Já nos colos uterinas maduros, com índice de glicem ia; convulsões; icterícia; policitcm ia! 8
Bishop igual ou superio r a nove, a combi nação de método
mecânico (a mniotomia) c método farmacológico (infu-
ão de ocitocina) é muito utilizad a. INDUÇÃO D O PARTO DE FETO MORTO
É importante ressaltar a importância de ser levada c m
conside ração a paridade d a paciente, as condições do colo O s método util izado na indução do pa rto de feto
c do corpo uterino, a integridade das m embrana a mnió - morto são os mesm os utilizado para o fe to vivo. o en-
ticas, a cond ições do útero, a condição clínica materna, a tanto, a preocupação com o efe itos d :t hipcrtonia uterina
idade gestacional e, sobre tudo, o bem-estar feta l, quando sobre o concepto obviamente não existe, cndo possível o
da indução do trabal ho de parto. uso de doses mais altas das medicações estim uladoras.
As pacientes devem receber orientações antecipadas A indução pode ser in iciada (após a confi rm ação do
sobre o procedimento, para erem esclarecidas, reduzin- decesso fetal) a partir de 12 emanas de gestação, pois,
do- e ua a nsiedade e temores. antes d isso, a dilatação e a curetagem serão mais eficaze
para o esvaziamento d a cavid ade uterina.

COMPLIC A ÇÕES E RISCOS


M ISOPROSTOL
a decisão c execução da indução do trabalho de par-
to, corre-se risco de graves complicações m aternas c fetais, Nos casos d e dccesso fe tal, o mi sopros to! pode er uti-
mais frequente nas multípara . As complicações ma is co- lizado na do e de 200 mcg po r via o ral ou vaginal a cada
mu ns ão a h ipcrcstimu lação uterin a com possível rotura qu atro horas.
uterina, o prolapso ou a compressão do cordão umbilical, Um estudo mostrou que, para gestações entre 13 e 24
a i n fccção intrauteri na, a prematuridade iatrogên ica, sofri- sem anas, o uso do misoprostol na dose de 200 mcg por via
mento e morte fetal. A falha de indução é, talvez, ,t compli- vagina l a cada qu atro horas leva 80 a 90% das gestações ao
c tção mais frequente. Pode ocorrer também d ificuldade c vaziamento uterino no prazo de 24 horas! 7
na dequitação c, à vezes, hemorragia pós-parto. Para gestações mais avançada s, os dados ão ainda in-
O risco de pa rto cesariano .1pós indução do trabalho conclusivos.
de parto é m ais alto nas nulíparas e nas mul heres com
cc a ria nas anterio rc .19 A indução do parto aumenta sig-
ni ficativa mente o risco de parto cesariano e, não signifi- ÜC ITOCI NA EM ALTAS DOSES
cat iva mente, de rotura uterina em mulheres com cesa ri a-
nas a ntcriorcs. 20·21 A ro tu ra uteri na ocorre principalmente O American College oj Obstelncwlls and Gyllccologists
com o emprego de prostaglandina. (A OG) recom enda o uso de alta doses de ocitocina
Para minimizar essas complicações, só se deve rea- para a indução do parto do feto m o rto, principalmente
lizar J indução do parto, por qualquer m étodo, apó · cri- qu a ndo essa indução vai o co rrer a ntes de 24 semanas
terios:t an álise das cond ições cl ín icas maternas c fe tai s, de gcst.tção.

Indução do Parto
911
Quadro SS .S I Evidências sobre os métodos e técnicas de
22
Segundo o protocolo do ACOG, prepara-se a so-
lução com 200 un idades de ocitocina (40 ampolas) em indução do traballio de parto
SOO mi de soro fi siológico ou ringer. O gotejamento deve lntervençao Grau de
ser de 50 mi/ hora (20.000 mU/ hora), o que resu ltará recomendação
numa dose aproximadamente 10 vezes ma is alta que a Ocitocina é efetiva na indução do parto A I
dose máxima preconizada para a indução do parto com
Prostaglandina é efetiva no amadureci- A
o feto vivo ( 1.800 mU/ hora). A indução d eve ser precedi-
menta e na indução do parto I
da da avaliação da dosagem de Na+ sérico. O achado de
hiponatremia contraindica o uso desse esquema. Além Descolamento das membranas aumenta A
as taxas e a velocidade do parto vaginal
disso, antes de iniciar o uso das altas doses de ocitocina,
deve ser testada a sensibilidade uterina às doses habituais Estimulação mamária pode aumentar a A
de S-6 mU/ minuto. taxa de parto no prazo de 72 horas
O risco de intoxicação h ídrica é mais alto com altas Acupuntura tem fraca evidência no ama- A
doses de ocitocina e a paciente deve ser monitorada com durecimento e na indução do parto
dosagem de íons diária, enquanto estiver recebendo esse Cateter de balão e laminaria têm fraca A
regime. evidência no amadurecimento e na
indução do parto
Cateter de balão no amadurecimento e A
COMENTÁRIOS FINAIS na indução do parto aumenta as taxas
de infecção materna
A indução do parto, principalmente nas gestações de Amniotomia tem fraca evidência para a A
alto risco, representa estratégia importante para a redução indução do parto ~
das taxas de cesariana, que aumentaram progressivamente Indução do parto não aumenta significa- A
nas duas últimas décadas na maioria dos países e, cm espe- tivamente a morbidade perinatal I
cial, no Brasil.
A indução do parto em gestações com mais A
Atualmente, têm-se disponíveis vá rios métodos alter- de 41 semanas reduz o risco de cesariana
nativos de preparação da cérvice uterina para a indução
do trabalho de parto, além de con hecimentos baseados
em evidências científicas. Assim, a indução deve ser seria- REFERÊNCIAS
mente cogitada na atenção obstétrica como opção para a
resolução do parto. I. Uldbjcrg N, Ekman G, Malmstrom A, Olsson K, Ulmstcn
V. Ripcning of thc human utcrinc cervix related to chJngcs
Contudo, apesar da segurança atual dos métodos de
in coiiJgcn, glycosaminoglycans and collagenolyt ic activi ty.
indução, eles somente devem ser empregados quando fo r Am Obstct G)•necol. 1983:147:662-6.
absolutamente necessário que o parto ocorra antes de ser 2. Bishop EH. Pclvic scoringfor eletive induction. Obstet Gync-
desencadeado espontanea mente, com indicação clínica e/ col. 1964;24:266-8.
ou obstétrica para tal. 3. Watson WJ, Stevens D, Weltcr S, Day D. Factors predicting
Fi nalmente, a indução do traba lho de parto somente succssfu l labor induction. Obstct Gynccol.l996;88;990-2.
deve ser realizada em locais apropriados e com profissio- 4. Hatficld AS, Sanchez-Ramos L, Kaunitz AM . Sonographic
cervical asscssment to predict the success oflabor induction:
nais e instalações adequados pa ra a necessá ria vigilância
a systematic review wit h mctaanalysis. A mJ Obstct Gynccol.
durante sua execução, para garantir a segurança à mãe e 2007; 197(2): 186-92.
ao concepto. O Quadro 55.5 apresenta os graus de reco- 5. Corrêa M D. Indução ao Parto. In: Corrêa M D. Noções pr,\-
mendação atuais para os mé todos e técn ica de indução ticas de Obstetrícia. 12• cd. Belo Horizonte: Mcdsi; 1999. p.
do parto. 194-200.

912 Noções Práticas de Obstetrícia


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Indução do Parto
913
Parto Vaginal Operatório
Mário Dias Corrêa

Fórcipe Vácuo-extração
Função Versão Interna e Extração Podal
Classificação Condições para Realização da Versão Interna
Modelos Indicações
Condições para Aplicação Técnica
Indicações
Distócia de Ombro
Técnica
Complicações Mate rnas
Prognóstico
Complicações Neo natais
Co nduta

O
parto vaginal espontâneo, o desejável, acon- preparado para realizar o parto vagi nal operatório: mu ito
tece na maioria das gestações de evolução utilizado no passado, hoje sua incidência é baixa.
normal. Não raro, no entanto, surgem pro- No mundo ocidental, em aprox imadamente um em
blemas - distócias - no período expulsivo que tornam cada lO partos recorre-se ao parto vaginal operatório.'
o desprend imento fetal espontâneo demorado, difícil e No Brasil, atualmente, ele é pouco ensinado, pouco
perigoso para o feto. Nessas circunstâncias, a solução é aprendido e, consequentemente, pouco utilizado. Contu-
sua extração por meio de manobras que ca racteriza m o do, acredita-se q ue, em livros de Obstetrícia, esse assunto
denominado parto vaginal operató rio; a extraçâo do feto deve ser amplamente analisado.
se faz com o auxílio de fórcipe, do vácuo-extrator ou da
versão interna.
Ind icado para solucionar problemas que surgem no FÓRCIPE
período expulsivo, real izado quase sempre em regime de
urgência, o parto vagina I operatório envolve riscos de com- O fórcipe, instru mento idealizado e utilizado visa ndo
plicações. Cont udo, indicado e realizado corretamente, aj udar o feto na sua passagem pelo canal de parto, é em-
seus benefícios superam seus possíveis riscos. pregado desd e o século XVI I. Nessa longa história de uso,
Como não se pode prever quando vão surgir distócias muitas alterações ocorreram. Em passado bem distante,
no período ex pulsivo, o desejável é que se esteja sempre era a solução para todos os problemas obstétricos, cxccp-
cionalmente se realizava cesariana. A partir da década de Fó RU PI:. M ÍJ) IQ
60 do século XX, a situação inverteu-se: di minuiu o em-
prego do fórcipe e aumentou o da cesariana. Ressalta-se, O polo cefálico já ultrapassou o estreito méd io, mas
no entanto, que o fórcipe continua sendo instrumento ai nda não ati ngiu o estreito in ferior; encontra-se nos pla-
úti l; bem indicado e, se realizado corretamente, beneficia nos +I ou +2 de De Lee. O fórcipe médio tem como fu n-
o Feto e a parturiente. ção: completar a descida do polo cefálico até o estreito
O fórcipe, para atingir seus objetivos- proteger o feto in ferior (plano +3); completar a rotação interna; rodar 45
e a parturiente -, exige não apenas que se respeitem suas graus nas variedades de posição oblíguas (O EA; ODA;
indicações, mas que se conheça exatamente suas funções, OEP; ODP); e rodar 90 graus nas variedades de posição
que existam condições próprias à sua realização e, acima transversas (OET e ODT). Finalmente, ele faz a deflexão
de tudo, que se saiba teórica e praticamente como realizá- do polo cefálico.
-lo. Dificuldades no seu ensino e, consequentemente, no
seu aprendizado são os responsáveis pela redução do seu
emprego na atualidade. FóRC JPJ: BA IXO
Muitos jovens professores que ensinam Obstetrícia
nos cursos de residência médica não têm experiência com O polo cefálico já desceu inteiramente na bacia; encon-
o uso do fórcipe.2 tra-se no plano +3 de De Lee c, também, já houve toda a
rotação interna: as variedades de posição são OP ou OS;
falta apenas a deflexão. O fórcipe baixo- profilático ou de
FUNÇÃO alívio - tem por objetivo reduzir a du ração do período ex-
pulsivo, beneficiando o feto e a parturiente.
O fórcipe foi ideal izado e é empregado com o objeti-
vo de ajudar na passagem do polo cefálico pela bacia óssea
materna, ou seja, realizar integralmente ou apenas parcial- MODELOS
mente o mecanismo do parto quando este não acontece de
forma espontânea. Não se sabe exatamente guantos modelos de fórcipe já
foram criados. Admite-se a existência de mais de 200. De
todos eles, na prática, basta reconhecer três: SIMPSON,
CLASSIFICAÇÃO KIELLAND e PIPER. Com esses três modelos conse-
gue-se sempre fazer a aplicação do aparelho.
Conforme a altura do polo cefálico fetal na sua relação Todos os fórcipes, qualquer gue seja o modelo, são
com os estreitos da bacia óssea materna, classifica-se o fór- constituídos de dois ramos, cada um composto de um
cipe em alto, médio e baixo; essa é a classificação mais sim- cabo, u ma haste e uma colher. O gue va ria é o taman ho
ples, mais prática e mais útil. de cada um dos seus componentes e o modo como os dois
ramos se articulam. O gue caracteriza essencialmente o
modelo SIMPSON (Figura 56.1 - A e B) é que sua arti-
FóRC IP[ ALTO culação é fixa : existe um encaixe próprio dos dois ramos.
Já no modelo KIELLAN D ( Figura 56.1 - C e D) a arti-
O polo cefálico encontra-se acima do estreito médio: culação é móvel, permitindo gue um ramo deslize sobre o
planos -I, -2 ou -3 de De Lee: o poJo cefálico está móvel. outro. O modelo PIPER (Figura 56.1 - E e F) apresenta
Nessas condições o fórcipe terá que realizar toda a desci- articulação fixa, porém as hastes são maiores e com dupla
da, toda a rotação interna e, fi nalmente, a deflexão. Muito curvatu ra e as col heres também são mais encurvadas.
utilizado no passado, hoje inteiramente contraindicado: é Tudo isso fàcil ita sua aplicação sobre o polo cefálico na
difícil e perigoso. apresentação pélvica.

916 Noções Práticas de Obstetrícia


A B c o E F INDICAÇÕES

Didaticamente, classi ficam-se as indicações de fórcipe


em fetais e maternas. Nas primeiras, o que se pretende é so-
lucionar problemas com o feto, ao passo que, nas m aternas,
as complicações sáo, primaria mente, com a parturiente.

I N DI CAÇÕES fETA IS

As p ri ncipais indicações fetais são:


I
Figura 56.1 Modelos de fórcipe: Sofrimento fetal: por motivos diversos o feto pode
A e B- Simpson. C e D - Kiclland. E e F - Pipe r. sofrer durante a gestação - sofrimento c rônico -
ou, então, no transcurso do parto - sofrimento
CONDIÇÕES PARA APLICAÇÃO agudo. Em am bos, quanto ma is cu rto for o perío-
do expulsivo, melhor para o feto e melhores os re-
Para se realizar o fó rcipe e alcançar seus objetivos - be- su ltados perinatais. o sofrimento fetal, existindo
neficiar o feto e a parturiente- é indispensável que algumas condições para a sua aplicação, o fórcipe é a solução.
condições próprias para a sua aplicação estejam presentes: Parada de progressão do paio cifálico no período expul-
Feto vivo: não se justifica o emprego do fórcipe na sivo: às vezes, a despeito de existir proporção e as
extração do feto morto; em nada o beneficia e pode contrações uterinas serem normais, a cabeça para
prejudicar a parturiente. Existem outros recursos de rodar e, consequentemente, de descer. Pode-se
para se conseguir a expulsão do feto morto, como completar a rotação e a descida do polo cefálico
a embriotomia. com o fórc ipe. Trata-se, nesse caso, do chamado
Proporçãofe to-pélvica: só se utiliza o fórcipe quando há fórcipe médio, gue exige mais habilidade e m ais ex-
certeza da proporção entre o volume fetal e o tama- periência na sua aplicação.
nho da bacia óssea materna- polo cefálico abaixo do Fórcipe pro.filático: seu objetivo é simplesmente pro-
estreito médio (plano +I ; +2 ou +3 de De Lee). mover ma is rapidamen te a deflexão do polo cefálico,
Dilatação completa do colo: para aplicar as colheres do reduzindo a duração do período expulsivo. É a indi-
fórcipe sobre o polo cefálico fetal, é indispensávelL]Ue cação mais freq uente para a aplicação do fórcipe.
o colo esteja completamente di latado - lO cm. Em si-
tuações especiais, com todas as outras condições pre-
sentes, pode-se completar ci rurgicamente a d ilatação DICAÇÕES MATER N AS
do colo, realizando-se as incisões de Dürhssen.
Bolsa das águas rotas: a bolsa das águas dificulta ou Ind ica-se o forcipe também para solucionar problemas
impede o diagnóstico da variedade de posição, in- com a parturiente, q uando ela não consegue ou náo pode
d ispensável para a aplicação do fórcipe. Trata-se, no ajudar adequadamente na expulsão do feto:
entanto, de condição fácil de ser alcançada, bastan- Hipoatividade uterina: a atividade contrátil uterina
do realizar a am niotom ia. própria do período expulsivo é fator essencial na ex-
Indicação correta:as indicações para aplicação do fórci- pulsão do feto. Por motivos vários (trabal ho de parto
pe são bem conhecidas e seráo apresentadas a segu ir. prolongado, uso abusivo de ocitócito ou analgésico),
Somente quando presentes ele pode ser aplicado. essa atividade se torna inadequada e a ún ica maneira
Domínio da técnica de aplicação:o fórcipe não é inter- de superar esse problema é a utilização do fórcipe. Na
venção isenta de riscos, portanto, só pode ser apli- prática atual, uma das razões mais frequentes para al-
cado por q uem con hece, teórica e praticamente, a terações de atividade uterina no período expulsivo
técn ica de sua aplicaçáo. é a pouca ou nen hum a participação da parturiente.

Parto Vaginal Operatório 917


Quando se utiliza a ,\nalgesia com a pcridural con- D t AG . óc., nco DA VAR I EDADL o~:- Po tÇAO
tínua, com dose elevada de anestésicos, a paciente
não sente as contraçõcs e, por isso, não ajuda. O fórci- em es e diagnóstico, não ·e abe onde colocar as col he-
pe é a solução obstétrica para essa iatrogcnia. res do fórcipc para fazer a pega correta, nem como completar
Doe11çns siste1mcns 111ntemas: o período expulsivo o mecanismo do parto - rotação interna, descida e denexão.
exige muito esforço tísico da parturiente. Em algu-
mas circunst:lncia c se esforço é contra indicado. É
o que Jcontece com as portadoras de cardiopatias,
de distúrbios mentai , de .1lgumas doenças neuro-
lógicas c de cclâmpsia.
J-lemorrngws do mlmparlo: quadros hemorrágicos
da gravidez podem ·c manifestar ou agrava r no
período expu lsivo. Quanto mais curto for, menos
sangra mento m:1tcrno haverá. O fórcipe é a solução
para abreviar o período expulsivo.

ÜUTRA'> (:"\O IC \(,.ÜI C.,

O fórcipe é indicado no desprendimento do polo cefá-


lico na apresen tação pélvica; no prolapso do cordão um-
bilical, qu.mdo existem cond ições para a sua aplicação, é
a maneira mais rápida de se extrair o feto c evit.~r o seu
óbito. É também empregado para promover a cxtração
do polo cefál ico na cesariana, quando outras manobras Figura 56.21 Aplicação correta do fórcipc
(paricto-malar-mentoniana).
re.1lizadas com esses objetivos falham.

A ALGESIAA PARTUR I FNTE


T ÉC N ICA
É obrigatória a analgesia prévia da parturiente. ó as-
O resultado com o fórcipe dependem da maneira im se consegue sua colaboração, que é decisiva para a re-
como ele é realizado e do conhecimento exato da técnica alização do fórcipe. O tipo de analge ia depende da~ con-
para sua aplicação. Essa técnica apresenta alguma pecu- dições hospitalares e da presença ou não de anestesista. Na
liaridades que necessitam ser aprendidas. .lllsência de anestesista, o próprio obstetra pode solucionar
esse problema fazendo a anestesia locorregional (bloqueio
bilateral do nervo pudendo): não é a solução ideal, mas,
Pu.\ CoRRETA no f>OLO CEFÁLICO correta mente realizada, permite a .1plicação do fórcipc.

ó existe uma região no polo cefálico para se colocar


as colheres do fórcipe sem causar tocotraumatismos: é no f- p J<; to ro~ JJ A
di:lmctro parieto-mabr-mentoniano, pega biparietal (Fi-
gura ' 6.2). esta, .1s colheres c adaptam sobre os ossos emprc, ante de colocar as colheres do fórcipc, faz-se
parietais, não traumatizam, não deslizam c não aumen- cpisiotomia. Esta, ampliando o canal de parto, fãcilita a in-
tam muito o conjunto cabeça e fórcipe - que vai passar trodução adequada da mão-guia e das colheres. orrct.1-
pelo canal de parto. Todas as outras pegas são incorretas e mcnte realizada, ela facilita a aplicação do fórcipe e diminui
responsabilizam-se por tocotraumatismo graves. os risco de traumatismos nos genitais da parturiente.

918 Noções Prát icas de Obstet rícia


CATET ERISMO VES ICAL da e que se posiciona no lado esquerdo da pelve materna
(Figura 56.4).
Antes de apl icar o fórcipe, há de se ter certeza de que a
bexiga da parturiente está vazia. Isto se consegue fazendo
o cateterismo vesical com sonda de alívio, do tipo nelaton,
número lO ou 12.

APLICAÇÃO DAS COL HERES DO fÓRCI PE

A aplicação das colheres do fórcipe varia conforme a


variedade de posição. identificada essa variedade por meio
do exame pélvico, o obstetra deve articular as colheres an-
tes de introduzi-las, para certifica r-se de qual a primeira co-
lher a ser colocada e como elas ficarão no polo cefálico do
feto (apresentação do fórcipe).

APLICAÇAO NAS \ 1ARTFDADES DTRFTAS

OccrPrm-PúllTCAS (OP) L· ÜCCII'f'f"O·SACRA (OS)


Figura 56.4 1Colocação da colher esquerda (mão-guia).
Articulando-se as colheres externamente, sabe-se
como elas fica rão dentro da cavidade vaginal (Figura 56.3).
Previamente, introduz-se a m ão-guia na cavidade
vaginal enquanto se segura a colher com a outra mão,
perpendicu la rmente aos gen itais. O obstetra introduz a
col her m ovimentando-a progressivam ente sobre a m ão-
·gu ia até que ela se posicione na posição desejad a. Todos
esses movimentos são realizad os suaveme nte, sem força.
A segu nd a colher (colher direita) será introduzida com a
m ão d ireita e a mão-gu ia será a esquerda. As Figuras 56.2
e 56.5 mostram as colheres corretamente colocadas sobre
a cabeça do feto.

Figura 56.31 Art ic ulação externa do fórcipe.

Nas variedades di retas, a primeira colher a ser introduzi-


da é a esquerda - a que o obstetra segura com a mão esquer- I
Figura 56.5 Aplicação em OP.

Parto Vaginal Operatório 919


A única função do fórcipe nas va riedades di retas é pro-
mover a deflexão do polo cefálico. Para e alcançar cs e
objetivo, na variedade occipito-púbica (OP), elevam-se as
colheres c desprende-se pri meiro o menta. Na va riedade
occipito- acra (OS), abaixam-se a colheres no sentido do
acro.

·\ T'llt ~~. \() \ -\~ \ ARirll.\/)1\ 0HII<_!t A\


Quando a sutu ra sagital acompanha o sentido do pri-
meiro diâmetro obl íquo da pelve materna, as varicd,ldcs
de posição erão a occipito esquerda anterior (O EA) ou,
então, a occipito direita posterior (O DP). e sas va rieda- Figura 56.7 1Aplicação em OEA.
de , a primeira colher a c introduzir é a posterior, a mais
próxima do acro; e a egunda, a anterior (Figura 56.6).

Figura 56.8 1Aplicação em ODT.

.II'Lil H,\()"\\ I ARIT DAVI \ I R \ N\ \ 'f'RSA\


A utura sagital encontra- ·c no diâmetro tra nsver-
so da bacia. Q uando a pequena fontanela localiza- c
ã esquerda, a va riedade é occipito c qucrda transvcr a
Figura 56.6 1Dcmon tração externa da aplicação na (OET ) e, c ã direita, occipito direita tran versa (ODT).
variedades oblíqua . Na OET, a colher posterior é a esquerda e a anterior a di-
reita. A rotação ser:í de 90 graus (posterior), da esquerda
O que é diferente nas va riedades oblíquas é a rotação até o pube. la ODT, a primeira colher a ser introduzida
interna pelo fórcipe. Na OEA, a rotação é de 45 graus da es- é a di reita (posterior). A rotação, ta mbém de 90 graus, se
querda para a direita até a sínfi c púbica (Figura S6.7).Já na fará da direita até o pube (Figura 56.8). Nas va riedades
ODP, a rotação será também de 4- graus, porém da direita transvcr a , o emprego de fórcipe modelo Kl ELLA D
para a esquerda até o sacro ou, então, de 135 graus até o facilita sua aplicação: as colheres são colocadas dirctcJ-
occipital ficar junto da ínfi se púbica. Essa rotação é difícil, mentc nos parieta is.
perigo a c exige que as colheres sejam retiradas após a rota- Tanto nas variedades obl íqu a~ como nas transve rsas
ção c nova mente colocada , agora com o polo cefá lico cm o objetivos do fórcipe são completar a rotação interna c a
OP. ão c recomenda essa rota ão de 135 grau . de cida e promover a deflexão do polo cefálico.

920 Noções Práticas de Obstet rícia


PROGNÓSTICO O vácuo extrator compõe-se de uma campânula (ven-
tosa) e de uma bomba com função de criar vácuo na cam-
Realizado por quem sabe, tem experiência e respeita pânula e, assim, fixá-lo no polo cefálico do feto (Figura
todas as normas para a sua aplicação, o fórcipe é manobra 56.9). A campânula tem a forma de taça e pode ser de con-
obstétrica bastante útil; ajuda tanto o feto como a partu- sistência rígida - feita de metal - ou maleável, de plástico.
riente. Por outro lado, incorretamente indicado e mal- Adapta-se a campânula na região da sutura sagital a apro-
-aplicado, é um verdadeiro desastre, contribuindo para au- ximada mente 3 cm da fontanela posterior. No momento
mentar a morbimo rtalidade perinatal e trau matismos nos da contração uterina, segurando a haste de campânula,
genitais da parturiente. traciona-se o feto (Figura 56.10).
Acredita-se, firmemente, que o parto operatório vagi-
nal deveria ser ensi nado em todos os programas de treina-
mentos de residentes. Aplicados por aqueles que adquiri-
ram habilidade com seu uso, o fórcipe nada mais é do que
forma de arte obstétrica que pode, segura e rapidamente,
livrar o feto do perigo.
Uma das preocupações no prognóstico das crianças
nascidas de fórcipe é com seu desenvolvimento intelectual.
Nenhum estudo bem-controlado mostrou efeitos adver-
sos do fórci pe médio nos testes de QJ (quociente de inteli-
gência). Não se observou diferença significativa no Q! em
crianças nascidas de parto a fórcipe m édio quando com- Figura 56.9 IVácuo extrator.
paradas com as nascidas de parto espontâneo. Com base
nesses dados não se confirmou a associação entre parto a
fórcipe e desenvolvimento cognitivo adverso 3 As indicações, condições para seu emprego e as com-
plicações decorrentes do seu uso são semelhantes às do
fórcipe. Pouco utilizado no passado, seu emprego vem se
VÁCUO-EXTRAÇÃO ampliando gradativamente: em algu ns países já é mais em-
pregado do que o fórcipe. No Canadá, o emprego do vácuo
A extração do polo cefálico com o auxílio do vácuo extrator aumentou de 6,8%, em 1991, para 10,6% dos par-
extrator é outro recurso empregado no parto vaginal ope- tos em 2001 .4
ratório.

I
Figura 56.10 Extração fetal com o vácuo extrator.

Parto Vaginal Operatório 921


o Bra ii, o vácuo cxtrator ainda é muito pouco em- Ja cesnrimrn: quando não se consegue extrair o
pregado. Não temos experiência com esse equipamento; polo cefálico com recurso u ualmcntc recomen-
preferimos fazer a extração letal com o auxílto do fórcipe. dado - manobra de GEPERT -, uma das soluções
para re olver o problema é a versão interna.

VERSÃO INTERNA E ExTRAÇÃO PoDAL


TÉCN I CA
t outra ma neir,\ de se extrair o feto peb viJ vaginal. A
ver ão interna tem empre o objetivo de coloc.tr o feto cm Faz-se a versão interna na ala de parto, com a partu-
apre cntação pélvica c extraí lo imediatamente. riente a neste iada e re peitando- c a normas u uais de an-
Exige condtçõc c pccífi as para sua rcaltzaçao, tem indi- tisscpsia. Antes de iniciar a manobra é indispen ável diag-
cações restritas c ó pode er realizada por quem tem conhe- nosti ar a po ição fetal para que c introduza a mão no lado
cimentos teóricos c práticos d.t maneira de executá-la. Muito certo do útero, onde estão os membros inferiores do feto.
pouco ensinada, raramente realizada, a dc~pcito de ser ma- om o dedos, empurra-se o polo cefálico no sentido do
neira correta c rápida de cxtraçâo fetal nos caso indicado . cu dor~o; a seguir, introduz- c .1 mão onde c tão os mem-
bros in Íeriorcs do feto; a mão interna traciona o membro
e a outra mão, através do .tbdomc, empurra o polo cef:iltco
CONDIÇÕES PARA para cima. Após a rotação fetal c a exteriorizaçjo do cu
REALI ZAÇÃO DA VERSÃO I NTE R N A me mbros inferiores, realiza-se ~ua extração.

omentc quando as segui ntes condições estão presen-


tes é gue se pode fàzcr a ver ão interna: DISTÓCIA DE ÜMBRO
Certe?J de proporção feto-pélvica;
dilatação omplcta do colo; O termo d istócia origina-se do grego ~vs, que ·ignifica
analge ia capaz de relaxar o útero e permitir a Intro- mal, e tokos, que tgnifica parto. Rcpre enta. então, qual-
dução de uma da · mãos até a cavidade uterina; quer parto anômalo que transcorre patogcnicamente al-
indicação preci~a; terado cm sua di nâmica ou mcdnica. Ocorre a distócia
conhecimento da técnica e experiência na sua execução. de ombro quando, durante a expulsão do polo efálico,
não há insinuação do di.imctro biacromial, fi cando o
ombro do feto prc o na borda 1.uperior do pubc. egun-
I NDICAÇÕES do o Colégio Americano de Obstetra e G inccologi~tJs
(A ' O ,), ve rifica- c distócia de ombro quando é cxigid,1
A seguir, apre cntam- c alguma indicaçõc da ver ão outra manobra para a extração do ombro do feto, além
mtcrna: da habitual traçào da cabeça fct.t l após o desprendimento
Segu11do feto 11a gravidez geme/ar: apó o desprendi- da mcsma.5
mento do primeiro feto e o egundo encontrando- É das mais dramática complicaçõe durante o par-
-se em apre cntação cefálica, a expectativa é de gue to e representa uma emergência no período expu! ivo.
eu dc~prend imcnto ocorra rápida c espontanea- Su.1 prevalência varia, na literatura, entre 0,2 e 3,09o do~
mente. No entanto, nem emprc isso ocorre, pois as partos vaginai , podendo alcan ar cifra de até -oOo cm
cont rações uterina podem não ser ~u ficientes para fetos com peso aci ma de 4. 00 g.6 A ta xa de recorrência
expu! :tr o cgundo feto. Nessas circunstància , a cm gestações ub equentes é estimada em torno de J2l'o.-
solução mais adeguada é realizar a versão interna e Os làtores de risco mais frequentemente a sociados .10 :
promover a extra ão fetal. macrossomia fetal; história prévia de distócia; diabetes
Prolnpso do cordão rmrbdrcnl:quando cxi tem as condi- materno; obe idade materna; segundo período do parto
ções necessárias, o que rara mente acontece, a versão prolongado; gravidez pós-termo; parto opcr.1tório (fórci-
interna é a maneira ma i rápida para se extrair o feto. pc ou v.kuo-cxtrator). Entreta nto, em número significa-

922 Noções Prát icas de Obstetrícia


tivo de casos não é identificado qualquer fator de risco, movimentos no primeiro ano de vida, a lesão pode ser per-
fazendo da distócia de ombro evento frequentemente não manente e m esmo mais grave. 6
previsível nem prevenívet.S i

CONDUTA
COMPLICAÇÕES MATERNAS
D iante de um caso de distócia de ombro, é imprescin-
Em decorrência da necessidade de realização de ma- dível a participação de, pelo menos, dois auxiliares habilita-
nobras e do prolongamento do período expulsivo, existe dos nas manobras obstétricas. Deve-se evitar q ualquer tra-
alto risco de hemorragia pós-parto secu ndária a h ipo- ção feta l fora do período das contrações, pois isso só agrava
tonia uterina, rotura uterina, lacerações do canal de par- a compressão dos nervos braquiais, aumentando o risco
to e infecção puerperal. Na dependência das manobras de lesão. Também está contraindicada a pressão no fundo
utilizadas para extraçâo fetal, a vigência e gravidade das uterino, pois, ao pressionar o ombro impactado contra a
complicações maternas variam, sendo que a m anobra de sínfise púbica, aumenta-se a probabilidade de rotura ute-
Zavanelli é certam ente a que se associa à maior morbidade rina. Além disso, é ind icada episiotomia ampla. Vá rias são
materna. 5·6 as manobras descritas para a resolução da distócia de om -
bro. Os estudos sugere m que a conduta in icial de associar
a pressão suprapúbica à ma nobra de M cRoberts mel hora
COMPLICAÇÕES NEONATAIS os resultados, com sucesso e m m ais de 50% dos casos.5•6·8

As complicações mais tem íveis acometem o feto e in-


cluem: fratura de clavícula e/ ou do úmeroi lesão do plexo MANOBRA DE R UBIN l
braquiali hipóxia/ anóxia perinatali morte perinatal. Essas
complicações podem estar presentes em até 20% dos casos Também conhecida como pressão suprapúbica. Deve
de distócia de ombro.5•6 ser realizada em associação com a m anobra de McRoberts.
Entre as lesões do plexo braquial, a mais comum é se- Ela visa a aduzir o ombro impactado. Deve ser realizada p elo
cundá ria à compressão dos segme ntos de CS a C7, deno- auxi liar, que deve esta r posicionado do lado do dorso do feto
minada pa ralisia de Erb- Duchenne. Embora na maioria para otimizar a adução (Figu ra 56.11). Alguns estudiosos
dos casos (85%) a paralisia seja transitória, respondendo consideram que a posição da mão sobre o abdome materno
ao tratamento fisio terápico com recuperação completa dos deve ser espalmada e não com o punho fechado. 5•6·8

I
Figura 56.11 Pressão supra-púbica, ou manobra de Rubin L Note o posicionamento da mão do auxiliar que pressiona a
flexão do ombro fetal. A pressão deve ser lateral e o auxiliar que a executa deve se posicionar do lado do dorso do feto.
Figura gentilmente cedida pelo Dr. Álvaro Luiz L age Alves.

Parto Vaginal Operatório 923


1\1 \:-..OARA oF M c RoBEiu s

A manobra de McRoberts consiste crn colocar a par-


tu riente cm decúbito dorsal, com hipcrflexão das cox.1s
sobre o abdome. Essa hipcrAcxão deve ser real izada pelo·
auxiliares, sendo que cada um deve remover a perna da
pernci ra e promover a hiperflcxão desta contra o abdo-
me. Esse posicionamento da mu lher promove o alinh:J.-
mento vertical da pelve, a redução da lordose lombar, a
retificação do promontório e a rotação cefálica do pubc, Figura 56.13 I A figura mostra o "aumento" funcional d.1
pelve, promovido pela hiperflexão das perru~ sobre o abdo-
incentiva ndo o "aumento" funcional da pelve materna.
me m.lterno, durante a manobra de McRobcrts.
Isso propicia a queda do ombro posterior na concavida-
Figu r:~ gentilmente cedida pelo Dr. Álva ro Lui'l L1ge Alve~.
de do sacro, favorecendo a liberação do ombro anterior
(Figuras 56. 12 c -6. 13). ' 6·8
OuTRA<; MM\OHR \~DE Rm \ ç.\ o

A m.1nobra de Rubin II é realizada por vi:1 v:1gi nal c visa


a obter a flexão anterior do ombro impact.1do. A manobr,1
fica mais eficaz quando c con eguc a penetração de toda a
mão. Par.1 isso, os dedo~ devem c tar bem unidos. Sugere-
-se que os dedos mínimo e polegar estejam posicionados
na face p:1lmar, sobre os dedos indicador, médio c ,111lllar.
Apó o ucc soda penetração de toda a mão, a me ma er.í.
deslocada para a face posterior do ombro, pressionando-o
e promovendo a flexão ,111tcrior. Caso não se obtenha su-
ce o na penetração de toda a mão, a tentativa de execução
da ma nobra deve cr com os dedo indicador c médio jus-
tapostos c pressionando-se o ombro posteriormente. e~­
sa situação, os dedos an ula r e mínimo ficam flexionado e
o polegar c tendido, o · trê fora do canal de parto.'·6 s
A manobl\1 de Woods também é realizada por via vagi-
nal e consiste na flexão anterior do ombro po ·terior, segui-
da da rotação do ombro em L80°. O objetivo é a inversão
dos ombro (tra nsformação do ombro posterior cm ante-
rior e vicc-versa). Os princípios para a execução são seme-
lha ntes aos da manobra de Rubin li, modificando apenas o
ombro a er abordado. ~·6· 8

1\ l A OARA LW EXTRAÇ AO DO Ü~l BRO P ü \ I I R l O R

Figura 56.1 2 1Posição das pernas durante a manobra de Denomi nada manobr:.1 de Jacqucmicr, consiste n:.1
McRoberts A. Associa-se esta manobra ~ de Rubin I B- remoção do braço po ·terior. Indicada nos caso de dis-
para desprender o ombro an terior. tócias grave~ que não foram resolvida com as manobras
Figura gentilmente cedid.1 pelo Dr. Álvaro Luiz Lage Alvc . anteriores. Para sua execução é necessária a penetração

924 Noções Prát icas de Obstetrícia


do antebraço no canal do parto, sendo realizada cm três Ou rRAS M \ '1\0BR.\S
tempos. Primeiro, o braço é apreendido com a mão do
obstctr,l po icionando-se paralelamente ao úmcro do Diante de falha das manobras dc!.crit.ISanteriormente,
feto. O dedo polegar se apoia na fo sa cubital e as pontas outras manobras de última instância podem ser tentadas. A
dos dedos indicador e méd io pressionam a face externa fratura intencional da clavícula pode ser obtida por meio de
da cxtrcmid.Kie do braço, promovendo o seu de~loca­ prei>são na porção média da me ma. Atenção c pccial deve
mcnto cm di rcção ao centro do corpo fetal. O segundo ser dada ao risco de pncumotór.1x no rccém-nascidoY·H
tempo inclui a apreensão d:1 mão fetal. O terceiro tempo é A manobra de Zavanclli consiste na recolocação do
a cxtração sucessiva da mão, antebraço c braço, pas~ando polo cefálico na vagina, seguida de ccsari.tna. Deve ser efe-
o me mos à frente do rosto do feto. Com a aída do bra~-o tuada cm três tempo . O pri mei ro tempo inclui a reversão
posterior, ocorrem a rotação do tronco fetal c a liber.1ç.io da rotação externa, seguida da flexão do polo cefálico. o
do ombro anterior.' 6 ·H cgundo tempo é executada a recolocação do polo cc(;\lico
na vagina. Por fi m, procede-se j cesariana, com retirada do
feto por vi:1 abdominal. Para se obter sucesso é necessário
;\! \1\0BR \ 1)1 C \..,1\.ll'\ que ,1 p.~rturicntc receba anestesia geral para promover o
relaxamento mú cu lo-c quclétJco c uterino. Essa manobra
A manobra de Gaskin é .1 única de~crita que, vcrd.l- não pode ser efetuada nos casos cm que o cordão umbilical
dci r.lmente, altera as dimensões ósseas da pelve materna, tiver sido previamente seccionado.'· 6·$
promovendo aumento de mais de lO mm na conjugata
obstétrica c de mais de 20 mm no diâmetro sagit.1l d.1 pel-
ve. A posição na qual a paciente deve ser coloc.1da é a mos- REFERÊNCIAS
trada 11:1 rigur.156. 14. O princípio da manobra de Gaskin
é desprender o ombros no sentido inverso. Ao alterar .1 I. EJ oLren LC. Toward~ safe pracucc 111 instrumcnt.ll vaginal delr
very. Best Pract Rc; Clrn Olv,w Gyn.Jccol. 2007;2 1(4):639-SS.
po ição da parturiente, o ombro posterior, que agora est:l
2. Yonuns ER, Khank im GDV. O pcrativc V.1girul Delivery in
posicionado anteriormente, ser:í liberado primeiro, por
thc 1990"s. Clrn Ob,tct Gynccol. 1992;35- 48-.
meio da ma nobra de tração da cabeça-ombro. Isto facilitJ
3. Wesley BD. Vandernber Bj. Reccc EA. 'lhe cfli:ct offorccp\
a liberação, cm eguida, do ombro anterior.'b" J cl l\·ery on cognrti,·c dcvclopment. Am J Obste! Gynecol.
1993; 169:1091 -95.
4. Cargill Yi\1, i\ tackinnon JC Socictr of Obstctricrans ,md
G)nccologist~ ofCJnad,l (SOCr.). Clrnrcal Pratrce Gurde
lrnes No. 148. Gu rdclr ncs for Opcratr vc Vagrnal ~r rt h. Dispo
nível em: http:www.>ogc.org/gu idcloncs/publ rc/ 148e-CPG
S. Amcrican College of Obo,tctncr,lm and CynccologJsts.
Shoulder dystocra. ACOG Pr,lctrcc Bullctrn Oh\tcl Gynccol.
2002; 100: 1045-SO.
6. Co11lrcb AG, Cabn H L. Shouldcr dystoci,l: .111 upd.1te. Ob-
stei Gynecol Clrn 1Am. 2007;"4:SOI-11.
flinghamJ, Chauhan · p, Hayc<. F, Gherman R, Lcw1; D. Rc·
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201 0;65: 183-88.
Figura S6.14 j Manobra de Gaskin.
8. Gurewrtsch ED. Optumzrng shouldcrdy toc1a managcment to
Figura gentilmente ccJidJ pelo Dr. Álv,uo Lui7 L1gc Alvc .
prevem bi rth inJury. Clm Obstct Cynecol. 200-;SO W2-606.

Parto Vaginal Operatório


925
57 Cesariana
Ma rcel o Zugaib
Wagner Rodrigue Hcrnandez

Conceito Variantes da Técnica


Incidência Dificuldades, Acidentes e Complicações
Indicações Hemorragias
Cesariana de Emergência Lnfecção
Cesarianas Eletivas Extração Fetal Difícil
Complicações Urinárias e Intestinais
Técnica Preferencial
Trombose Venosa e Embolismo
Preparo
Complicações para Futuras Gestações
Abertura
Extração Fetal
Fechamento

operação cesariana é, provavel mente, uma

A
terotomia). Essa concepção do termo não inclui a extração
da mai antigas ciru rgias na história da fetal d:1 cavidade abdominal, como acontece na rotura ute-
Medicina. Há longa data tem sido o proce- rina completa e nas ge tações abdominais.
dimento cirúrgico de porte mais freque nte no mundo.
A melhoria nas técnicas anestésicas, n.1 antibioticoterapia
c na técnica cirúrgicJ propriamente dita tornou o procedi- INCIDÊNCIA
mento de baixo ri co materno, o que estimula !.ua indicação.
A discu ão das restriçõe!> à cirurgia tende a se resumir Impossível estatuir a incidência atual da operaçao ce-
n.1s consequências para futuras gestações e partos, com au- SJrianJ, tão variado o · índices, conforme a origem de onde
mento na incidência de complicações como: placenta prévi,l emanam. É crescente, entretanto, em todo o mundo. Muitos
c acretismo placentário. fatores são responsáveis por essa mudança substanci.1l, sendo
os principais a melhoria nas técnicas operatórias e anc tésicas
e as mudanças cultu ra i do mundo moderno. Além disso, atri-
CONCEITO bui-se a ela proteção contrJ a incontinência urinária ao esfor-
ço , incontinência anal c algum distúrbios sexuais. A reduç:io
Ce ariana é o parto que ocorre por dupla incisão, a pri- do risco de comprometimento fetal e a conveniência médic.1
meira abdomi nal (laparotomia) e a segunda uterina (his- são também importante fatores que elevam a taxas de cesJ-
ria na. As taxas muito variáveis no mundo refletem o incontro- Apresentações anômalas: pélvicas, córmicas e defletidas.
lável montante de fatores que interferem na sua determ inação. Macrossomia fetal.
Tentativas de se definir ou até impor a taxa ideal são fúteis e Gestações múltiplas.
devem ser abandonadas. A cesariana atingiu as culminâncias Aloimunização feto-materna.
de seu aperfeiçoamento técnico. Os riscos da intervenção se Placenta prévia centro total/acretismo placentário.
amenizam dia a dia, manifestados em resultados insuperáveis. Oligoidrâmnio.
A prática da cesariana recebeu, nos últimos anos, indicação Prematuridade extrema.
outrora insólita, polêmica, hoje admitida: a cesariana a pedi-
do. A informação consentida, que obriga o médico a acatar a
decisão da paciente, é sinal dos tempos, da subversão que mo- CA USAS MATER NA S
lesta a ética tradicional da nossa profissão e envolve desafios
outros que nos mantêm atônitos. As críticas que se elevam Tumores prévios, obstrutivas.
aqui e ali contra os elevados índices de operação cesariana de- Doenças maternas:cardiopatias, síndrome HELLP,
correm, em sua maioria, de motivos subalternos. doenças infecciosas, herpes genital.
Cicatriz uterina prévia.
Cesarianas prévias.
INDICAÇÕES Correção de incontinência anal, urinária e fístulas.
Preservação do assoalho pélvico.
As indicações da operação cesariana são maternas, fetais Cesariana a pedido.
e anexiais e podem ter caráter absoluto ou relativo. A tendên-
cia atual da assistência obstétrica é incrementar o número de
indicações relativas, visando atender na plenitude o conceito TÉCNICA PREFERENCIAL
de saúde, tanto para a mãe como para o produto conceptual.
Relacionando apenas as indicações mais constantes, Nos nossos dias, a cesariana atinge as culminâncias de
vale enumerar: seu aperfeiçoamento técnico. Ato de urgência, urgência ex-
tremada muitas vezes, a operação cesariana se cristalizou em
CESARIANA DE EMERGÊNCIA técnica de simplicidade requintada, a demandar, cont udo,
execução primorosa. Não se iludam, porém, aqueles queima-
Sofrimento feta l. ginam ser este o campo adequado para neófitos. Esse proce-
Síndromes hemorrágicas agudas: descolamento dimento, aparentemente singelo, requer tocólogo experiente,
prematuro de placenta e placenta prévia. hábil e com domín io completo de cirurgia abdominal.
Iminência de rotura uterina.
Cesariana post-mortem.
Prolapso de cordão umbilical. PREPARO
Distócia funcio nal.
Desproporção céfalo-pélvica. A anestesia de escolha é a de condução: raquidiana,
Acidentes de punção (amniocentese/ cordocentese). peridural ou duplo-bloqueio. A anestesia geral é medida de
Eclâmpsia. exceção, na dependência do quadro clínico da gestante.
Nas cesarianas eletivas, todos os preceitos cirúrgicos
devem ser obedecidos, desde o jejum até as correções dos
CESARIANAS ELETIVAS distúrbios orgânicos eventualmente presentes. A tricoto-
mia suprapúbica em sala, a degermação de todo o abdome
CAUSAS fETO-ANEX IA IS e a sondagem vesical de demora são medidas protocolares.
Enquanto se aguarda o início da cirurgia e antes que
Malformações fetais: gemelaridade conjugada, hidro- ocorra a extração fetal, o anestesista manterá o corpo ute-
cefalias, espinha bífida, onfalocele, gastrosquise. rino desviado para a esquerda, com o objetivo de evitar a

928 Noções Práticas de Obstet rícia


compre ão da veia cava inferior e conseguente compro- A hemostasia é rea]jzada por meio do elctrocautério, con-
metimento do fluxo útero-placentário. comitantemente à abertura do tecido celular subcutâneo, re-
Além de todos o cuidados de antissepsia adotados, a alizada por divul ão digital ou com afastadorc de Farabeur.
antibioticoprofilaxia é medida rotineira tanto nas ce aria- O plano aponeurótico é aberto com corte inicial feito
nas eletivas quanto nas intrapartos. O antibiótico de eleição com bisturi c complementado com tesoura de Metzen-
é a cefalosporina de pri meira geração, por via intravenosa, baum, lateralmente, I a 2 cm além da borda lateral da inci-
na dose de I a 2 g, ad ministrados logo após o clampeamen- são na pele (Figura 57.2).
to do cordão umbilical. Estudos recentes demonstram que
o uso do antibiótico an te da incisão da pele é mais cfetivo
cm reduzir as complicações infecciosas, incluindo endome-
trite pós-parto, sem afetar os resultado neonatais. A ala
cirúrgica deve conter equipamentos que garantam hemos-
tasia por termocoagulação e efetiva aspiração e oxigenação.
A temperatura ambiente deve ficar entre 22 e 24•c.

ABERTURA Figura 57.21 Abertura da aponcuro c no mesmo sentido


da cutânea, mas em nível ligeiramente superior e prolon-
Utilizamos, para a abertura do ventre, incisões trans- gada cm ambos os lados l a 2cm por baixo da pele.
versas. Estas estão associadas a meno dor no pós-opera-
tório, melhor cicatrização da ferida e melhores resultados Pinçando-se com pinça de Kochcr as bordas superiores
cosméticos que as incisões longitudinais. Vale lembrar que e inferiores da aponeu rose, disseca-se esse plano muscular
incisões longitudinais geralmente são mais rápidas, com por meio de divulsão digital ou com bi turi, quando existe
menos sangramento e lesões nervosas e podem ser faci l- mais aderência entre os planos, como nas cesarianas pré-
mente prolongadas, se necessário. vias. A dissecção da aponeuro c do plano muscular é feita
ossa técnica preferencial e a mais utilizada mundial- aproximadamente até a altura da cicatriz umbilical, deven-
mente é a de Pfan nenstiel, na qual a incisão na pele é trans- do ser suficiente para permitir uma incisão longitudinal
versa, suprapúbica (I a 2 cm aci ma da borda do púbis), lcvc- adequada (Figura 73). A hemostasia deve ser muito cui-
mcnte arciforme, com concavidade uperior e extensão de dadosa, cm especial nas artérias perfurantes.
IOa 12 cm (Figura 57. 1).

INCISÃO PElA
U NHAM.;DIA

Figura 57.31 Descolamento da aponeurose. o ret,1lho


superior, numa extensão de 8 a IOcm, os dedo indicado-
res do cirurgião e do assistente levantam a parede anterior
Figu ra 57.1 I T ipos de laparotomia: as incisões transver- das bainhas dos retos de cada lado da linha branca, colo-
sas de Pfanncnstiel (arciforme) c de Joel-Cohen (transver- cando-a sob tensão. Surge assi m septo mediano tendinoso
sa reta) c a incisão mediana. curto que será seccionado à tesoura.

Cesariana 929
Procede-se, então, ao afastamento dos músculos retos
abdomi nais c pir,umdat da linha média por divulsão digi-
tal ou om auxílio de uma te oura.
A fásci.1 transversal c a gordura pré-peritonial ão então
dts c ad.1 , atingindo-~c o peritônio parietal. Este é aberto em
u.1parte uperior (para evitar Ic :lo ve td), pinçando-sc com
dua\ pinça de Kclly c ~eccionando- e com tesoura curva de
dissecção. Épreciso ter cuidado com adcrcncia de alça · inte -
tin:tis ou do gr:tndc cpiplon durante esse ato (Figur.l 57.4).

Figura 57.5 I De colamento do peritônio visceral, nu mJ


cxtcn ão de 2 a "'cm , para baixo c para cima, com gJLe
montada em pinça ou envolvendo o dedo.

Figura 57.4 11ncis:io do peritônio pariet:tl, no cntido


longitudinal.

Após a .1bcrtura do peritônio parietal, sugerimos a in-


trodução de compre as umedecidas em oluç.io fisioló-
gtca morna nas goteira panetocólicas para protc .io local.
.1 colocaç.'io, deve- e si tematicamcntc uttlizar ,1 valva de Figura 57.61 fvlarcação da histcrotomia a bi tu ri, de
Doycn p.1ra apre cntação da cavidade. fo rmJ curvilínea com o ângulo elevado pJra ctma.
Com a ajuda de valva suprapllbica par.1 ,1 aprescntaç;lo,
1:17- c ,1 abert ura do pcritônio vi cera I na prcg.1 ve icoutcrina,
tr,tnsver aimente. O pcritônio vi ceraIé de apegado do lltcro,
num.1 exten s~o de 2 cm para cima e para baixo (Figura 57.5).
lnci ão no rn iométrio é feita a bisturi, de enhando-lhc
superficial mente a forma, transversa e arciforme, clevad.t
no .ingulo paraimpediro extr.lVio nadi reção do gro ~o
vaso!>. O in ~tru mento corta apenas a camada upcrficial do
segmento in b ior, aprofu ndando-se no centro até ati ngir
as membr.1na ovularcs ( Figura -7.6).
A entrada romba cuidado a com pinça de Kclly para
penetrar n,1 c,tvidade pode er oportutu. Aspira- c a egut r
o líquido amniótico. omplementa- c então a histeroto-
mia, por divul 5o digital (Figura 57.7). a cesariana itcrati-
v,t ou n.1 clcti va com 1.egmento espes o, .1 complementação Figura 57.7 1Histerotomia propriamente dita por divul-
será fcit.1 com te ou ra curva tipo Mayo. são bidigital.

930 Noções Prát1cas de Obstetrícia


EXTRAÇÃO FETAL A dcquitação pode ser espontânea, mantendo-se tração
controlada do cordão, ou manual, sendo esta última técnica
Na execução da cesariana, o acesso ao feto deve serrá- desvantajosa por aumentar o risco de endometrite puerperal.
pido, mas sua extração deve ser lenta. Esse tempo do ato
cirúrgico, obstétrico por excelência, demanda presteza e
combinação ha rmoniosa entre o operador e seus auxilia- FECHAMENTO
res. A cxtração fetal pode ser realizada de maneiras diver-
sas. A cxtração fetal com auxílio da alava nca de Scllhei n A histcrorrafia pode ser feita em pontos separados c cm
protege a histerotomia e ameniza os prolongamentos late- uma única camada, com exclusão do endométrio. Utili-
rais. Outra opção i a utilização da manobra de Geppert: zam-se, preferencialmente, fios de absorção lenta semissin-
o occipital feta l deve estar voltado para a incisão e a mão téticos, de ácido poliglicoico, comercialmente disponíveis
esguerda do ciru rgião deve ser posicionada entre o pube e a como Vicryl ou Dexon O. Na ausência dos mesmos, poderá
apresentação (Figura 57.8). Após a reti rada da valva supra- ser utilizado categute cromado (Figura 57.9).
púbica, a introdução da alavanca, ou simplesmente da mão
esguerda do cirurgião, deve ser feita concom itantemente
com ligeira pressão no fundo uterino, procedida pelo anes-
tesista ou pelo auxiliar. É também nesse momento que o
ocitócico pode ser injetado, por via intravenosa, para pro-
vocar a contração uterina, de cuja energia dependem a de-
quitação e a boa retração da matriz. Imediata mente após o
desprendimento do poJo cefálico, procedem-se à aspiração
das vias aéreas superiores e fi naliza-se a extração fetal.
A laqueadura do cordão é executada a seguir. Nas
apresentações pélvicas, a cxtração podálica é semelhante
à do parto pélvico por via vaginal. Já nas córmicas, dá-se
preferência à extração podál ica, em função de mais faci-
lidade de apreensão dos membros inferiores do feto. Por Figura 57.9 1Histerorrafia em plano único com pontos
vezes, há necessidade de se lançar mão de versão interna separados, extradeciduais.
nas apresentações cefál icas altas em gue se torna difícil
apreender o polo cefálico. lsso é comum também na pre- O peritônio visceral deve ser sutu rado por chulcio sim-
matu ridade extrema. ples, com os mesmos fios, de espessura menor (2-0). Após
esse passo, procede-se à cuidadosa revisão das cavidades
pélvica e abdominal. A retirada das compressas protctoras
e a limpeza da cavidade são etapas obrigatórias. I nspecio-
nam-sc também os órgãos genitais internos. Para o fecha-
mento do peritônio parietal uti liza-se o mesmo fio c tipo
de sutura, praticados no peritônio visceral. Os músculos
retos abdomi nais são aproximados com pontos separados,
usando-se o Vicryl ou Dexon 2-0. Após cuidadosa revisão
da hemostasia, procede-se à sutura da aponeurose com
pontos separados do mesmo fio número O(Figura 57. 10).
A fáscia superficial e o tecido celular subcutâneo de-
vem ser aproximados com pontos separados de Mono-
cryi 3-0 ou, de forma alternativa, utilizando categutc 00.
Figura 57.8 1Extração fetal pela manobra de Geppert Por fi m, a pele deve ser suturada com pontos separados
modificada. ou intradérmicos, usando-se Mononylon 4-0.

Cesariana 931
urinárias e intestinais observad as especia lmente n as ce-
sarian as iterativas.

HEMORRAGIAS

As hemorragias provindas da histerotomia são fre-


quentes, porém, raramente ameaçadoras. O cirurgião deve
rapidamente proceder à sutura, enquanto a contração ute-
I
Figura 57.10 Síntese das aponeuroses em plano único. rina induzida mecânica ou far m acologicamente colabora-
rá para atenu á-las. Caso seja preciso, novas su turas simples
ou em forma de X p odem ser realizadas para hemostasia.
VARIANTES DA TÉCNICA As hemorragias por lesão dos gra ndes pedículos vasc ula-
res é acidente visto excepciona lmente. C umpre ao obstetra
Parece totalmente impertinente qualquer modificação prontamente identificá-lo e coibi-lo com pi nças, para pos-
fundamental à técnica tão primorosamente estruturada terior e imediata sutura, tomando muito cuidado com a
através dos anos, por experientes e imaginosos tocólogos. localização dos ureteres (Figura 57.12).
Existem, entretanto, propostas como: cesariana minima-
mente invasiva, inclusão da decídua ao se transfixa r o seg-
mento inferior na histerorrafia, sutura do miométrio em
chuleio (Figura 57.11) e não fechamento dos peritônios
parietal e visceral.

Figura 57.121 Ligadura do ramo ascendente da artéria


uteri na, incluindo porção substa ncial do m iométrio.

Figura 57.11 IA histerorrafia em chuleio. INFECÇÃO

A in fecção de fe rida operatória acontece geralmente


DIFICULDADES, ACIDENTES quatro a sete dias após a cesa riana. O uso de antibiótico
E COMPLICAÇÕES profilático e uma boa técnica cirúrgica reduzem significa-
tivamente sua incidência, sendo o uso rotineiro de antibió-
t ico no pós-parto não ind icado.
Entre os problem as encontrados na realização da Nos casos de celulite leve, o tratamento deve ser realiza-
operação cesariana, destaca m -se: hemorragias, in fec- do ambulatorialmente com antibióticos ad mi nistrados por
ção, a extração fetal difíc il, t rom boses e as complicações via oral com cobertura para germes de pele (Staphylococws e

932 Noções Práticas de Obst etríc ia


'treptococws sp.). lo ca o grave , com comprometimento para eliminar gase · e fezes. e acompa nhado de febre, uma
!-1:.têm1co, o tratamento deve ·er ho pitabr com antibioti- le ão intestinal oculta deve er descartada. O tratamento
coterapia endoveno a. Quando as ociado a hematoma para o íleo inclui uplcmentação volemica e de eletrólitos.
ou colcçõe , dc,·e- e proceder .1 abordagem deste em am- 1 os casos mais graves, faz-se necessária passagem de son-
biente cirú rgico para limpeza, hcmostasia, dcsbrida mcnto c da nasogástrica para de compressão.
coloc.1ç.io de dreno, se nccc ário.
TROMBOSE VENOSA E EMBOLISMO
EXTRAÇÃO FETAL DIFÍCIL
Vá rio c tudo popubcion.li dcrnon traram que a ce-
Em alguns c.t~o~ especiai a extração fct.1l pode cr :tri:tna Jumenta o ri co de trombme veno a profu nda c de
omphcada e diferentes e tratégia podem ser utili'lada~. A embolia pulmonar qu:tndo comp.11·ado JO p:trto v:tginal.
hi~tcrotomia corporal (cesari:ma clássica) pode ser útil na A de:t mbubção precoce ajuda a d iminuir esse ri co. o
prevenção de algunus dessas complicações. ' jo d.ts: ca o de alto risco, a profilaxia mcdnica e medicamentosa
Iioma ocupando o egmento inferior. de,·e er con iderada.
àncer de colo mva or.
Aderências lo ais excessiva por cirurgi.1 prévia. COMPLICAÇÕES PARA FUTURAS GESTAÇÕES
Placenta prévi.l anterior com acrcti mo.
Gcmelaridade conjugada. A placentação inadcqu.1d.1 c n.1 região segmcnt.u jun-
Cc ariana posl-111or1L•m. to à cic:ttriz uterina anterior prcdi ·põe à ocorrência de
Ausência de "cgmento uterino fonn:tdo, como 11:1 placenta prévia e acretismo placentário. A incidência de -
pn:maturichdc extrema. ses eventos .wmenta cm paciente com cc aria na an terior
c o ri co torm-se ainda ma i alto conforme o número de
Um.1 vez fcit:t a hi ·tcrotom i:t segmentar tr:tnsvcrsa, ccsarian:ts prévias.
fre nte .1 unu adversid:1de pode-se ampliar a brecha reali- A pre,ença de acreti~mo placentário é sempre motivo
Lando-\c uma incisão cm T invertido ou em J, prolongan- de enorme preocupação por parte do ob tctra. ~ando não
do uma d.1s extrem1dadc de histcrotomia inic1al com te- d1agno tic.1do previamente, pode findar- e cm des:tstre c, até
'>our.l de J\ l.lro. me mo qu.llldo é sabida u.1 cx1 tênm, a de peito de todo pre-
paro para t.1l, ainda a im cursa com ele\'ada morbidadc.
COMPLICAÇÕES URINÁRIAS E INTESTINAIS

Lesões do trato urin.í rio c intestinal são raras. A., lesões REFERÊNCIAS
de bexiga podem cr cv1t.1das com a sondagem vcsical de
demora, abertura cu1dado a do peritônio parietal a partir Amcn an CollcgcofOb-.~etnCtan and Grnccolog1st. Placcn
1.1 accn:t,t. ACOG Comm1t1cc Opm1on.ln1j Cynccol Oh-te\
da vcriticaç.1o da tr,111sparcncia antes de cort:í-lo c cuicb do 2002: ~7; -, 8.
n.1 histcrorrafi:t, principalmente nas paciente!> com ccsa· 2. Ayrc' JWT, Morlcy GW ~urgJCalmct'>lon for cc~arc.1n ~cc·
ri.1nas prévi,1s. O diagnóstico e reparo imediato no intrao- t1on. ObMcl Grnccol198-; -o:-06-8.
peratóno são fundamcntab para prevenir sequela ~ c sérias .t Berghella V, Ba"xlerJ K, Ch.1uh.1n SI'. Ev1Jcncc-b.t-.cJ ~urgcry Úlr
cc~arca n dclívcry. AmJ ()b,tCI.11ld Gynccol. 2005; 191: 160- I~
complicaçôcs. As peguenas lesões de bexiga podem sem
4 Cun nmgham FG, Lc,cno KJ Rloom SI .. I !au1h JC. Gd•.~rap
repa rada., por sutura com lio absorvível em doi pl.1no ,
li! I C. \\'enstrom KD. CtC'-JrCan dd1\Cr) anJ pcnpartum
com manutenção da sondagem \'C ical de demora por in- hy~tcrcclomy. \\'ilham~ oh\lelncs, 22 J I:.J "" York: l\(-
co a '>etc d1a . P.ua lc õc ma1ores e possível acometimento graw-hd i 200S; pS 7-606

urcteral, o auxílio do urologista torna-se imperativo. S. G1.1cal on~ PL, Daurc' J P, V1gnal J, I fcnsson C. Hcdon B,
Latfargue F. Plànncmucl vcr'u' 1\ I.1)'IJrd 111C1\1011 for cC\.IrC·
Nos c:tsos sem compli :tções, :1 dieta ólid,1 pode cr
an dclívery: a randonlllcd wn1rollcd tn.1l Obstet Gynccol.
oferecida oito horas :tpó a cirurgia. Entretanto, .1lguns 2002; 99:- .JS-SO
.1'>0 podem evoluir com íleo adinàmico. O. sintomas in- 6. I lema K R,Johanson R. Tcdtll1lJIIC~ for pcrform111g cac-.arcan
lucm d i~tcnsão abdomin.1l, cólica intestin:tl c diGcukbde ~cc 11on . Bc~t
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Cesariana
933
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934 Noções Práticas de Obstetrícia


58 Analgesia e Anestesia em Obstetrícia
Paulo César de Abreu Sales
Newton Teixeira Franco

Avaliação Pré-anestésica Ane stesia para a Cesariana


Jejum Pré-anestésico Anestesia em Situações Especiais
Estado Físico Síndromes Hemorrágicas
Fisiologia da Dor do Trabalho de Parto Urgências Hipertensivas
Técnicas de Analgesia para o Parto Vaginal Anestesia na Gestante Cardiopata
Métodos não Farmacológicos Anestesia na Gestante Asmática
Métodos Farmacológicos

o longo da história da Medicina, cirurgia e anes- J EJ UM PRÉ-ANESTÉSICO

A tesiologia caminharam juntas, sendo que uma


não poderia ter sobrevivido sem a outra. Da
mesma forma, desde a bem-sucedida int rodução, no Brasil,
A gestante apresenta cond ição peculiar em relação ao
jejum pré-anestésico. Independentemente de a gestação
da analgesia de parto com clorofórmio, realizada por Ro- ser fisiológica ou patológica, a parturiente apresenta grave
drigo de Bivar em 1848, obstetras e anestesistas vêm tra· combinação de esvaziamento gástrico lento e resíduo gás-
balhando juntos nas maternidades, cuidando do bi nômio trico com volume superio r a 25 m i e pH inferior a 2,5.
materno-fetal. Essa associação torna a gestante bastante suscetível à
regurgitação do conteúdo gástrico e à aspiração pulmo-
nar, com consequente desenvolvimento de pneumonite
AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA química e insuficiência respirató ria fatal (sínd rome de
Mendelson). Portanto, para d iminui r o risco de tal com-
Assim que a parturiente é admitida no hospital ou na plicação, é recomendado q ue, na iminência de intervenção
maternidade, além da avaliação de suas condições obstétri- que exija anestesia, seja feita a admi nistração de antiácidos
cas, deve fica r claro que ela poderá, brevemente, submeter- e jejum de oito horas para alimentos sólidos e duas horas
se a algum procedi mento anestésico. para líquidos sem resíduos.
Para que este seja realizado com segurança, a avalia- Apesar da necessidade do jejum de oito horas, as ges-
ção e o preparo pré-anestésico são fundamentais e obri- tantes não devem ficar em jejum prolongado. A hipogli-
gatórios. cemia pode ser prejudicial ao feto. Nesses casos, pode ser
realizada infu . ão venosa de · 00 mi de olução fi io lógica a Q1anto mais alta a classilic:tção, mais morbidadc c
0,9% ou ringcr lactato associ:tdo a 20 mi de glicose a 006 mortalidade relacionada à anestesia. Portanto, ,, doença
par:~ cada oito horas de jejum. Ressalva deve ser feita em as ociad,l, prévia ou decorrente da gestação aumenta o
relação à gest:tntes diabéticas, uma ve7 que essa repo ição risco anc té ico. Condições como hipcrten ão arterial,
deve er orientada cgundo a glicemia capilar. diabete , cardiopatia , pncumopatias, obe idade mórbida,
Durante o trabalho de parto, quantidades moderadas insuficiência renal, entre outra , devem ter sua avaliação
de líquidos claros podem ser ofertadas .\s gest,\ntcs hígidas. individualizada por profissional.
Alimentos ólidos estão contraindicados. Restrições cspe-
ciai para paciente com ri co de aspiração ou de resolução
por via alta. FISIOLOGIA DA DOR DO
TRABALHO DE PARTO

ESTADO FÍSICO
O tr:tbalho de parto caracteriz:t-se pelo aparecimento
As gestantes apresentam ao termo condição sistémica das contraçõe · uteri nas, geralmente dolorosas, suficiente-
que inAuencia c modifica todo o corpo, dificultando ua mente cfctivas c frequente para dilatar a cérvix uterina,
condução ancstésica e au ment:tndo o ri co ancstésico-ci- permitindo, assi m, a pass.1gcm do feto pelo canal vaginal.
rú rgico. Um:t ela ificação de e tado fí ico foi propo ta, cm O trabalho de parto é dividido cm quatro c t:ígio dilata-
1941, por aklad, rebc1onando a mortalidade cm decor- ção, expulsão, dequitação e observação.
rência da ane te ia c as condiçõe clínicas pré-operatórias. Cada um do estágio do trabalho de parto po sui im-
E sa ela ificação, apre cntada no Qu,\dro 58. 1, foi adotada plicações anestésicas peculiares, perm itindo a técnic,\ mais
pela Americnn Society oj Anestheswlogisls (ASA) c é ampla- adcquad:t da :tnalge ia de parto.
mente aceita cm todo o mu ndo. A percepção dolorosa é vari,ível de acordo com o es-
tágio do trabalho de parto, havendo basicamente quatro
Q.ladro - .I I Cla ilicação da Amencm1 . oc1cty ~( Allestilc- componente :
swlog,sts (A A) Dor abdominal devido à contraçõe~ uterina ;
Cate\JOIIil s Alte1 açao dor lombar durante as contra ões utcn na ;
dor lombar contínua devido à dilatação do colo
ASAI Paciente sadia, que apresenta apenas a
Idoença cirúrgica
---r---
uterino;
dor pcrineal dura nte a fase de expulsão do feto.
ASA li Paciente com doença ou condição sistêmi-
ca leve ou controlada
:-- ----t Diversos fato re obstétricos estão relacionados com a
ASA III Paciente com doença ou condição sistêmi- intensidade da dor du rante o trabalho de parto:
ca leve. porém não controlada. ou doença
Panrlade: as nu lípara , principalmente as adolescen-
grave
tes, parecem experimentar dor mais intcn a que as
ASA IV Paciente com doença sistêmica grave que
I ASAV
apresenta risco à sua vida
---
multípara ;
varrcdade de posição fetal: as posteriores tem ~ido re-
Paciente moribunda. que não possui ex- lacionadas à dor de ma i inten idade;
pectativa de sobreviver sem a intervenção gestantes com histórico de dismenorrcia;
cirúrgica
ASA VI
-
Paciente com diagnóstico de morte cere-
preparo e apoio psicológico du rante o período pré-
natal para o trabalho de parto.
bral e cujos órgãos estão sendo extraídos
para doação
Durante o trabalho de parto, a dor tem participação de
componente vi cera! c somático. O componente visceral
emprc que o procedimento for emcrgcncial, deve ser c relaciona principalmente com a di ten ão da cérv1x c do
acre cida a letra E à elas ificação. segmento inferior do útero, podendo envolver todo o útero

936 Noções Práticas de Obste t ríc ia


e seus anexos. O componente somático origina-se na d is- rineal, o nervo pudendo (S2-S3-S4), o nervo sacrococcígeo
tensão do assoalho pélvico, vagina e períneo. (54 -SS) e o nervo gen itofemoral (LI-L2). Esses impulsos
Durante a primeira fase do trabalho de parto, os estí- nociceptivos são conduzidos principalmente por fibras A-
mulos dolorosos que se originam no colo e corpo uteri nas -delta e C, que p enet ra m na medula e faze m sinapse com
são tra nsm itidos ao sistema nervoso central pelo plexo hi- interneurônios da colun a dorsal, podendo ascender através
pogástrico inferior, que se une aos nervos simpáticos e atin- do feixe espi notalâmico o u fazer si napse com neurônios
ge a medula espin hal entre TI Oe L I. Nesse ponto, a dor é envolvidos em arcos reflexos medu lares. N esse ponto, os
referida principalmente no abdome. Já, na segunda fase do impu lsos dolorosos podem sofrer modu lação de impulsos
traba lho de pa rto, ocorre sacralização da dor, envolvendo descende ntes superiores, resu ltando no quadro fina l de
os nervos responsáveis pela percepção da dor somática pe- resposta à dor (Figura 58.1).

>
.:
N ervo femor?<=utãneo

Nervo pudendo
postenor

Ligamento Nervo
hemorroidário Nervo labial
sacroespinhoso
inferior posterior

Plexo

Plexo
h i pogástrico
superior

Plexo pélvico
Nervo pudendo

I
Figura 58.1 As vias somáticas e visceral da dor associada ao traba lho de parto.

Analgesia e Anest esia em Obstetrícia 937


Embora a dor represente resposta fi siológica do orga-
50
nismo materno, ela desencadeia inú meras alterações que
são prejudiciais à mãe e ao feto: Primeiro parto
(sem preparo)\ 40 Arracamento
Sistema respiratório: dor provoca aumento do con- \__ - de um dedo
sumo materno de oxigênio e da ventilação alveolar Primeiro parto_
(com preparo) 30
em cerca de 300%. A hi perventilação promove :11- - - Ciática
calose respiratória e desvio da curva de dissociação Partos seguintes
(com ou sem preparo)
Í 20_ Dor de dente
da oxi-hemoglobina para a esquerda, prejudicando - Fratura
10
o fornecimento de 0 2 para o feto; . - Corte
sistema cardiovascular: ocorre aumento progressivo Parto sob pendurai- --
do débito cardíaco, principalmente por au mento da Figura S8.2 J Qyantificação da dor relacionada ao tr:1balho
volemia, além de discreto aumento da frequência de parto.
card íaca materna ( 10 a 25%);
sistema endócrino-metabólico: aumento importante MÉTODOS NÃO FARMACOLÓGICOS
na concentração de p-endorfinas;
s1sfema nervoso C11ilànomo: aumento das catecolami- Os métodos não f:1 rmacológicos incluem as técnicas
nas circulantes. Dar atenção às gestantes com do- psicoprofiláticas, hipnose, ac upuntura e esti mu lação elétri-
ença hipertensiva, já que elas são mais sensíveis às ca transcutànca. Essas técnicas atenuam a dor, principJI-
catecolaminas. O aumento da catecolam ina pode mente durante a primeira fase do trab:1lho de parto, entre-
causar intensa di minuição no Auxo sanguíneo ute- tanto, necessitam de complementação durante o segundo
rino, levando alterações transitórias à frequência estágio. Os métodos psicofísico con istcm em escla recer,
cardíaca fetal. educa re preparar psicologicamente a gestante para o traba-
os níveis de adrenalina, noradrenalina, cortisol e ai- lho de parto, focalizando o relaxamento, a concentração na
do terona fetais aumentam em resposta ao cstresse respiração, a massagem suave, a participação do parceiro c
do parto, enquanto a liberação de insulina diminui. de encoraja o uso de medicações antiálgicas. A hipnose e a
Observou-se que níveis de noradrenali na pia máti- acupuntura são pouco util izadas no Brasil. A estimulação
ca fetal superiores a 90 ng/ ml estavam associados elétrica é método não fa rmacológico, seguro e fácil de ser
ao prejuízo da vitalidade fetal avaliada pelo índice realizado, porém, pouco difundida cm nosso meio.
de Apga r. Os método não farmacológicos são limitados, mas
possuem seu benefício, uma vez que tornam a parturiente
mais relaxada c cooperativa, reduzem as ncces idade de
TÉCNICAS DE ANALGESIA analgé icos e permitem a participação ativa da paciente du-
PARA O PARTO VAGINAL rante o período expulsivo.
Estudos têm mostrado que o pessoal de suporte ao
parto, ou doulas, está entre os métodos não farmacológi-
A dor do parto é fenómeno estigmatizado, passado de cos mais eficazes de mi nimizar a sensaçõe dolorosas do
geração a geração ao longo dos anos, como marcante c de- trabalho de parto e do parto.
sagradável. Por ser puramente subjetiva, a dor não pode ser
facilmente quantificada, sendo sua intensidade compará-
vel à amputação de um dedo (Figura 58.2). M ÉTODOS FARMACOLÓG I COS
O momento adequado da analgesia é aquele que a
gestante julgue necessário. A técnica analgésica deve ser Podem ser aplicados na analgesia sistémica e regional,
adaptada no momento em que a analgesia for requerida, com suas diversas formas de realização. Precedendo a anal-
garantindo conforto e segurança para mãe c fi lho. gesia farmacológica, as pacientes de vem ser adequadamen-
A analgesia pa ra o parto vaginal pode utiliza r método te mon itoradas (cardioscópio, pressão arterial não invasiva
não farmacológicos e farmacológicos. e oximctria) e uma venóclise deve ser instalada. Monitori-

938 Noções Práticas de Obst etrícia


zação fetal ante e após a analgesia é mandatária. Não há A i\ I G I 'i i A R EG IO'\J,\ L

necessidade de cardiotocografia contínua.


Ex i tem vá ria formas d iferentes de aplicar esse tipo de
analgesia.
A A LG LSJASJS' I Ei\11 ( \

RIOQliiOP\R\UR\1< \I
A a na lgesi::~ ·istêmica foi a primeira modalid.1dc de O bloqueio paracervical deve ser realizado durante o
analgesia de parto empregada. Era realizada pela vi,\ inala- primeiro período do trabal ho de parto, com di latação do
tória, usando- c agente · anestésicos gerais, como clorofór- colo uterino de no máximo 9 cm. Com au xílio de espé-
mio c éter. Atualmcntc, a analgesia de parto inalatória foi culo vagi nal, realiza-se a injeção de 3 aS rnl de lidocaína
abandonada c mesmo,\ analgesia sistêmica venosa pa ·sou em epinefrina na po ições de trê c nove hora da sub-
a cr técnica de exceção, em virtude do efeito colatcrai , mucosa paracervical. A agulha não deve ser introduzida
tanto obre a mãe, como obre o feto. Deve ser indicada mais que 5 mm, para não haver punção da artéria uterina.
quando não é possível a realização de anestesia regional. Esse bloqueio está associado à hipotonia uterina, quando
São utilizados basicamente tres medicamentos: realizada injcção intr,tmiometrial do anesté~ico local. O
Aleperulma: é o analgé ico mais empregado por via is- bloqueio está contraindicado nos casos de insuficiência
têmica. Administra-se por via intramuscular, na dose placentária crónica e evidências de doença preexisten-
de 50 a I00 m~ ou por via veno a, na dose de 20 a -O te no feto.
mg. Pode provocar náuseas e vómito , sendo aconse-
lhável admini trá-lo JUntamente com um anticmético. Ht OQUI(I /)() .\'J R\ o Pt /)/ \J)()
Pode, aind.1, causar depressão ventilatória dose-depen- O bloqueio bilateral dos nervo pudendo deve ser rea-
dente. Trata- e de fármaco relativamente eguro para o lizado no início do segundo período do trabalho de parto.
feto quando respeitadas as doses c ad ministrado, pelo Pode ser feita abordagem tra nsvagi n::~l ou transpcrineal. A
menos, 60 minu tos antcs do nascimento; ,1bordagem tr.111svaginal con i te na introdução de uma
Jenlaml : trata-se de analgésico opioidc intético, 100 agulha 2' x 7 protegida entre o dedos até ating1r a espi-
vcze ma1 potente que a morfina. Em virtude de nha isquiática. Depois de tocá-la, deve ser recuada ' mm e
sua grande potência, provoca dcprc são rcl> pirató- redirecionada para trá . A pira- e, para evitar inJeção intra-
ria com mai frequencia e mai intcn idade que a va cular, e injetam- e lO mi de olução de lidocaína a 2'\l,
mcperidma. É eguro para o feto, quando adminis- sem epinefrin a.
trado por via parenteral na dose de 25 a 50 mg; A abordagem transperineal deve cr preferida quan-
ketamma: anestésico não opioidc, admi nistrado por do o feto já e encont ra no canal vaginal. Localizando-se
via intramuscular (5 a mg/ kg) ou venosa (0, - a a espinha isguiática com o segundo c terceiro dedos pelo
1,0 mg/ kg). as doses habituais, possui efeito anal- togue vaginal, introduz-se agul ha 25 x 7 cm ua dircção.
gésico intenso, porém induz efeito sedati vo que, Q!.1ando tocad.1, deve cr recuada c rcd irecionada para
frequentemente, é acompanhado de .1lucinaçõcs c trás, procedendo- e à as pi ração c à injcção de IO mI da
pesadelo . Provoca, também, estimulação adrcnér- mesma solução. Proporciona anestesia de duração de cer-
g1ca com taquicardia, hipertensão c ialorrcia, além ca de 90 minu tos.
de l>er muito cmetizante. É eguro para o feto. O bloqueio do nervo pudendo c tá a!.sociado à distó-
remrfeutaml: diferencia-se dos demais opioides por cia de rotação devido ao relaxamento da musculatu ra do
apresentar alta potência, baixa latência (90 segun- as oalho pélvico (aumentando a incidência de parto com
dos), meia-vida curta (tres minutos) c cr mctabo- instrumentação). ão provoca hipotensão arterial, hipo-
l1zado por c tcrases pia máticas c tcciduais. ão há ton ia uteri na ou bradicardia fetal. Pode ocorrer toxicidade
relatos de depressão respiratória materna. A depres- sistêm ica, devido à injeção intravascular do ane té ico lo-
são respiratória neonatal após a administração do cal, verificando- c excitabilidade, convul õc e até p.1rada
remifentanil é geralmente rápida c de fácil rever ão. cardíaca. Em razão dessa possibilidade, todo o aparato de
cccssita de bombas de infusão para sua utilização. reanimação cardiorrespiratória deve cst.1r presente.

Analgesia e Anestesia em Obstetrícia 939


; \.\'/SI/ SI.\ Sl'BAR!Il 'V(Í//)f .l l{AQU/Dir\NA com hipotensão devido à compressão da aortoca-
A raquianestesia, ou anestesia subaracnóidea, é técnica va. Não deve ser permitida hipotensão delibcrad.1,
eficaz c segura para analgesia do parto, porém limitada ao fi- pois ocorre diminuição do fluxo útero-placentário,
nal do primeiro e início do segundo períodos do trabalho de com prejuízo para o feto. Atual mente, a profilaxia
parto. Entre as principais vantagens da raquianestesia, além c tratamento da h ipotensão materna combinam
da simplicidade, estão o curto período de latência, a profun- cm limitar o nível do blogueio simpático, posição
da analgesia e a pequena dose de anestésicos uti lizada, pro- de céfalo-decl ive, deslocamento lateral esquerdo
porcionando mínimas concentrações maternas c fetais. do útero, compressão c elevação dos membros in-
A técnica foi descrita inicialmente pelo cirurgião alemão feriores e uso de vasopressores. Embora interven-
August Bier, em 1899, c consiste na administração subarac- ções tais como expansão volêmica e compressão de
nóidea de anestésico local. Com a gestante sentada em "posi- membros inferiores possam reduzir a incidência de
ção de Buda", realiza-se punção lombar com agulha apropria- hipotensão, nenhuma delas eli mina a necessidade
da, tendo o cuidado de rc.1liz.1-L1 exclusivamente nos espaços do tr.lta mento da hipotensão materna durante a
intervertebrais de L3-L4, L4-L5 e L5-Sl, para que não exista ragui,1ncstcsia. Como não existe método que ga-
a possibilidade de punção acidental do cone medular, que ranta a prevenção da hipotensão e o bem-estar fetal,
termina em L2. Para tal, deve-se tornar corno ponto de refe- defende-se a mon itorização rigorosa da pressão ar-
rência li nha imaginária que une as cristas ilíacas e passa exa- terial, pelo menos a cada mi nuto após a realização
tarncnte sobre o corpo vertebral de L4. O liquor gotejando da raquiancstesia, desv io lateral do útero c, se neces-
pelo canhão da agulha indica que sua ponta se encontr.1 no sário, o tratamento da hipotensão com vasoprcsso-
espaço subaracnóideo e a punção foi realizada com sucesso. rcs. Os vasopressores de escolha são a efedrina c a
O agente anestésico mais utilizado pela via subaracnói- fcn ilcfrina. Podem ser usados em doses suficiente
dea é a solução de bupivacaína a 0,5%. A lidocaína a 5% foi para manter a pressão arterial, prevenir náuseas c
muito utilizada, mas, em razão de muitos relatos de compli- vômitos, sem induzi r a acidose fetal.
cações neurológicas, seu uso foi praticamente abandonado bloqueio motor illlmso: os anestésicos loca is, por via
em Obstetrícia. subaracnóidea, promovem bloqueio motor de mais
Recentemente, a utilização de opioides lipossolúveis, intensidade. A associação de opioides praticamente
como fentanil e sufentanil, na raquianestesia, ganhou bas- abol iu tal complic"ção, que interfere diretamentc
tante espaço em analgesia do parto, associando excelente na dinâmica do trabalho de parto, podendo causar
qualidade da analgesia a menores doses de anestésico lo- distócia funcional e conversão para cesárca ou par-
cal. A administração de solução de 2,5 mg de bupivacaína to sob instr umentação;
associada a 25 mcg de fcntanil ou 5 mcg de sufcntani l no cefaleia pós-raqui: para atingir o espaço subaracnói-
final do período de dilatação (d ilatação total) promove ex- dco, é preciso atravessar .1 du ra-mátcr. O orifício dei-
celente analgesia, sem alterar a dinâmica do parto e com xado pela agulha provoca fístula liquórica, que scr,í
mínimos efeitos sobre a vitalidade fetal. tanto maior, quanto maior o diâmetro do orifício. A
A raquianestesia contínua surgiu para prolongar a téc- perda de liquor provoca vasodilatação reflexa dos
nica e torná-la mais flexível, porém esbarra em dois pro- vasos intracrania nos, causando cefaleia, que é bem
blemas: a util ização de microcatcteres, que está associada característica. Su rge aproximadamente 24 horas
à elevada incidência de déficit neu rológico pós-operatório, após a punção, é holocran iana, piora com a posição
e o uso de cateteres peridurais convencionais, que provoca ortostática e mel hora com o decúbito. A cefàlcia pós-
incidência inaceitável de cefaleia pós-raqui. -raqu i foi durante muitos anos fator limitante para a
técnica, o qual foi superado com o desenvolvimento
lVIII/'frúlÇÕt'S de agulhas de fino calibre do tipo "ponta de lápis".
As complicações mais comuns relacionadas à raqu ia- A incidência diminuiu muito, ficando em torno de
ncstesia são: 0,5 a 2%. As gestantes constituem o grupo de mais
Hipotensão arterial: ocorre devido ao bloqueio incidência dessa complicação. O tratamento deve
simpático. Deve ser feito diagnóstico diferencial constituir-se de repouso relativo ao leito, hidratação

940 Noções Práticas de Obstetrícia


adequada e apoio psicológico. A amamentação não indu ive, no parto prolongado e naquele que evoluem
deve er mterrompida, a menos que a cefalera eja para cesárea.
incap.1cit.mtc. Acafeína mo trou- c muito cfica7 no A técnica peridural con i te na admini tra ão da o-
ontrolc da cefaleia, podendo er utilizada, também, lução anesté ica no espaço cpidural. Como n.io ocorre
por via oral ( 120 a 130 mg até de eis cm seis horas). necessariamente penetração no si terna nervoso central,
O .mtidepressivo possuem apena efeito edativo, a princípio :1 punção pode ser realizada em qualquer seg-
não interferindo na gênese ou intensidade da dor. mento da colu na vertebral.
Nos casos de cefaleia grave, incapacitante ou acom- Com a paciente entada cm "po iç.1o de 13uda" ou cm
panhada de intoma neurológico ou naquelas cujo decúbito lateral esquerdo (posição preferível para gestan-
tr.1ta mcnto conservador fa lhou após 48 horas, deve tes no termo), loca liza-se pela palpação um c pa o inter-
~cr tentado tampão anguíneo peridural na tentativa vertebral entre L2 c I. Após a infiltração de anc té ico
de fechar o orifício deixado na dura-m.ítcr. local, procede-se à introdução de agulha romba apropriada
pmrido: é .1 complicação mais comum do opioi- pelo espaço intervertebral até entir rcsi~tência à progrc -
Je~ por via ubaracnóidea. Q!.ranto mail. potente o ão provocada pelo ligamento amarelo. A cguir, realiza-se
.1gcnte, mais intenso o prurido, que du r.1 enquanto a introdução da agulha auxi liada pelo teste da perda de
o opioidc exerce cu efeito analgésico. A morfi ru, resistência de Dogliotti ou da gota pendente de Guticrrez.
por cr agente hidrossolúvel, provoca prurido tar- Esses teste ão reali1.ados para localizaç,io do espaço epi-
dio, que pode durar até 12 horas. O prurido não cst:í dural. Uma vez localizado o c paço, procede- c .\ injeção
ligado a rea ão alérgica ou liberação de histamina. da olução anc té ica e, atravé da própria agulha, é intro-
o11/ras: náuseas e vómitos pó -parto são comuns de- duzido o cateter peridu ral.
vido à ati v.1ção dos receptorc opioidcs c, cm geral, A olução anestésica utilizada deve ter baixa concen-
rc:.pondcm bem aos antiemético tradiCionais (mc- tração para não interferir no trabalho de parto. Para deter-
toclopr:unida, dropcridol, ondansetron:t c .l lizapri- minar a concentração ideal, deve er informado o grau de
da). Rctcnç.io urinária também é ba tantc comum, dilatação do colo uterino. Quanto mais precoce for o tra-
podendo . er neces ·ária e vniamento vcsical por balho de parto, menor a concentração de ancsté ico local.
sond:~gem. Depressão re piratória é a complicação Util iza-se bupivacaína com concentração entre 0,0625 c
mar-. grave c, felizmente, é murto rara. Pode ser ne- 0,2 ' l\1 ou a ropivacaína de 0,2 a O, ' l\1. Podem era ociados
cessjrio reverter o efeito do opioide com um anta- opioide lipo solúvei (fcntanil ou ufentanil) para mel ho-
goni<,ta, como a naloxona. rar a qualidade da analge ia.
Apó controle inicial da dor, a analgc ia por vi,\ peri-
t tllllr.wrdh",rçcil' dural pode cr feita por meio de: a) bol11s interm itente de
' cmprc que o ri~co for mais alto que o benefício para anestésico local; b) infusão contínua de anestésico local; c)
a execução do bloqueio subaracnóidco, a técnica não deve analgesia controlada pela paciente.
ser indicada. É necessário analisar adcq uad.1mente as
condiçõc ·li ica da paciente, as condições técnica para a (. tHIIJI/1, 11\"tll'.'

exc ução do bloqueio, além de relatos de problemas neu- A analge ia pcridural é mai!> flexível c dur.1doura guc a
rológico prccxi tente . A principais contraindicaçõcs raqurane tcsia, porém é tecnicamente ma i~ difícil e sujeita
ão: rccu .1 da paciente, hipovolemia, infecção no local da a mais complicações, destacando-se:
punção, cpsc, hipertensão intracraniana, coagulopatias l~tpoterrstio arlerrnl: acontece devrdo ao bloqueio
ou trombo itopcnia. Pacientes cm u o de anticoagula ntes simpático, semelhante ao da raquianc!>tesia, porém
devem er analisada com cautela e ind ividualmente. com menos intensidade. Também neste ca o deve
cr feito diagnó tico d iferencial com compres ão
I'\ I ,, I " l I aortocava;
A analgesia pela técnica peridural contínua é a mais uti- peifumção i11advertrda da d11m-má/er: complicação
lizada c difundida no Brasil. É técnica muito eficaz para to- pouco ma i frequente no grupo obstétrico que nos
dos O'> estágio~ do trab.1lho de parto, podendo ser utilizada, dcm,lis pacientes, devido à maior dificu ldade técni-

Analgesia e Anestesia em Obstetrícia


941
ca de realização cm ge tantcs. As agulhas utilizadas A técnica combinada raqui e peridural foi idealizada
para peridural são mais calibrosas e, portanto, o para associar a egurança da primeira à flexibilidade da se-
orifício produzido na dura-máter será maior, com gunda. Produz analgesia profunda e de boa qualidade para
pos ibilidade de cefaleia cm 7S9o das pacientes. Os toda~ as etapas do trabalho de parto, inclusive nos casos
cuidado com a paciente, ca o ocorra cefaleia pós- que evoluem para parto cesariano (Figura 58.3).
-punção du rai, são os mesmos da cefaleia pós-raqui;
toxiCidade sistêmicn: a do e e o volu me de anestési-
co local utilizado na analgesia peridu ral são muito
maiores do que na raqu ianestcsia. O espaço peridu-
ral possui intensa vascularização, o que possibilita
mais absorção para a circulação c injcção intravas-
cular inadvertida. Devido a esses fatores, há mais
possibilidades de toxicidade i têmica pelos ane té-
ico . A gc tantes também ão mai cn ívei ao
Figura 58.31 Técnica duplo-bloqueio punção única com
efeito\ do anestésico locai . O primeiro inai
cateter pcridu ra I.
de Intoxicação e tão relacionados à intox icação do
C, com zumbidos, dormência sublingual, agita-
ção, confusão mental, convulsões c coma. A toxici- As complicJções são as mesmas de ·critJ · nJ raquianes-
dade cardíaca ocorre em doses mais elevada , com tesia e na peridural, mas uma delas é peculiar a e~sa técn ica:
intensa depressão da cont ratilidade e parada car- o orifício feito na dura-máter pode permitir a passagem do
díaca. Deve- c sempre contar com monitorização cateter peridural pa ra o espaço subaracnóidco. E sa pos-
adequada e material para reanimação; sibilidade, apesa r de remota, pode ocorrer, mas ai nda não
lll)t'Çiio s11barawóidea ilwdvertida: complicação extre- existem relatos de casos descritos na literatura.
numcnte rara (uma cm 11.000 ca os). Pode ocor-
rer de rorma di reta, através da agulha de punção, ou
atravé de um cateter colocado acidentalme nte no ANESTESIA PARA A CESARIANA
c paço subaracnóideo. Tais fatos reforçam J impor-
tância da estreita vigilância que deve ser prc tada à Para que cja realizada com cgurança, é fundamental
gestante apó a injcção do anestésico local, avalian- que o anc ·tesiologista esteja fa miliarizado com os princí-
do-se a imtalação d:1 analgesia e o nível segmentar pios específicos da anestesia obstétrica. O anc te 1ologi t.l
da mesma, para que se possa reconhecer c tratar a deve prover anc te ia segura para a mãe, cm comprometer
complica õe que certamente ocorrerão nessa si- o feto. e se contexto, deve ser dada preferência à ancstesia
tuações, como hipotensão arterial c apncia; regional, pois a realização da anestesia geral está associada
dor lombar: n5o se conhece evidênciJ que apoie a dor à incidência muito mais alta de morbimortalidJde mJtcrna
lombar crônica causada pela anestesia pcridural. c fetal, resultante, na maioria dos casos, de fa lha na int uba-
ção traqueal, dificuldade para ventilação c oxigenação e/ou
As pri ncipai contrJind icações quanto à realização aspiração pulmonJr de conteúdo g,istrico.
do bloqueio pcrid ura l são semelhantes às do bloqueio As vantagen da anestesia regional incluem mcno
raq uidiano. exposição fetal e nconatal a substâ ncias potencialmente
depressoras, manutenção da com ciência materna e menos
1, -u (,.,H<. o .\1111\ 1/l:\ n \t..tu 1 P1 RJVL R.u sangramento intraoperatório. A escolha da técnica regio-
Consiste na realização de r:1qui nos espaços habituais nal para a cesJriJnJ rccJ i sobre .1 raquianestcsia, peridural
(de L.., a 1) c, logo após, J inserção de cateter peridural no c a técnica combinada raquiperidural. Todas são bastJntc
mesmo espaço (:1gulha pela agulha) ou no espaço acima satisfatórias e dependem da experiência do anestesiologis-
(dupla-punção). A instalação adeq uada do cateter perm ite ta que conduz o caso, dJs condiçõe clínica da paciente c
doses sucessivas de anestésico local, caso seja necessário. do tempo cirúrgico estimado.

9 42 Noções Práticas de Obst etricia


Qyando a anestesia geral c ti ver indicada, deve-se levar ANESTESIA EM SITUAÇÕES ESPECIAIS
cm consideração alguns aspectos peculiares à gestação c
suas principais complicações: SíNDROMES HEMORRÁGICAS
]CJ11111: embora seja comum respeitar o jejum habi-
tual nas situações eletivas, a paciente obstétrica é As intcrcorrencias hemorrágicas que merecem conside-
sempre considerada de estômago cheio; a
rações especiais relacionadas aneste ia durante a gestação
pré-oxigmaçiio: a redução da capacidade residual são as que ocorrem por abortamento ou mola, a placenta pré-
funcional associada a mais consumo de ox igênio, via, o descolamento prematuro da placenta, a atonia uterina,
que são características da gestante a termo, fazem a retenção placentária, a lesão do canal de parto e hematoma.
com que a paciente desenvolva hipoxemia com Cada uma dessas situações clínicas exibe fi siopatologia pró-
muito mai facil idade cm caso de apneia; pria bastante característica, que interage de forma diferente
i11dução rápida: pode-se utilizar medicações de com os medicamentos c técnicas anestésicas.
ação rápida sempre associadas à manobra de elli-
ck, para a profilaxia de aspiração. Um auxiliar deve
manter pressão na cartilagem cricoide para ocluir o A ESTL'>L\ PARA Ct..RETA(.;L.\1 UT[RI ' \
csôfago até que o tubo traqueal seja inserido corre-
ta mente e seu balonete esteja insuflado; A anestesia geral é a de eleição se a paciente estiver cm
dijiwldade de i11tubação traqueal: ava liação cuidado- jejum e se age taçâo for inferior a 12 semanas, sem outros
sa da vias aéreas da gestante. Deve ser utilizado Í.1torcs complicadores. Também obrigatória no caso de a
tubo de menor calibre, pois a mucosa das vias aé- paciente estar hemodinamicamcnte instável, mesmo se
reas superiores das gestantes são mais estreitas c não estiver cm jejum. Nessas pacientes sem jejum, a intu-
cdemaciadas. O ingurgitamento vascular precipi- bação traqueal é obrigatória.
ta sangramento da mucosa da via aérea, dificultan- Para gestação superior a 12 semanas, gestante estável e
do ainda mais a intubação traquea l. A dificuldade cm jejum, o bloqueio do neurocixo pode ser a técnica de
de intubação é aproximadamente quatro a oito escolha.
vezes mais freq uente nas gestantes do que na po-
pulação geral;
depressão IICOIIIllal: a indução da anestesia geral só PJ \ LE:'\1A PRÉVIA I
é realizada quando o obstetra está pronto para DL\COLA\11:.:'-:TO PRLMATLRO D \ PL \Ll:\TA
iniciJr a cirurgia. A anestesia geral reduz o flu xo
sanguíneo placentário e, dessa for ma, quanto me- As modificações gravídicas determi na m alterações
nos tempo de indução-nascimento, menor será a cardiovasculares e hematológicas que alteram a rcspo ta
quantidade de medicamento transferido para o do organismo à perda sanguínea, além de impor dificulda-
feto c mais curto o tempo de exposição ao regime des na interpretação dos parâmetros hemodinâmicos. O
de hipofluxo. atendimento à paciente com síndrome hemorrágica requer
preparo e diagnóstico precoce, pronto-atendimento c or-
O relaxamento mu cu lar é desejável para as cirurgias ga nização com estrutu ra mínima para oferecer segurança.
abdominais. Para tal, deve ser utilizado bloqueador neu- Uma das principais di ficuldades relacionadas à pacien-
romuscular. As gestantes são ma i· sensíveis à ação de a te com sangra mento é o critério de avaliação da perda san-
substâ ncias, portanto, os agentes de longa duração devem guínea. Alguns parâmetros podem ser uti lizados:
ser evitados, dando-se preferência aos de curta c média Visão diretn: nem sempre é adequada, já que pode
duração. ser mais lenta, repetida e por longo período (pla-
A manutenção inalatória deve ser parcimoniosa. As centa prévia) ou pode estar oculta (descolamento
gestantes possuem tendência a hiperventilação c são mais prematuro da placenta);
sen ívcis ao agentes inalatórios, com prcdispo ição a rápi- hematócrito: a gesta nte apresenta hcmodiluição fisio-
das variações no plano anestésico. lógica, que pode levar o hematócrito a valores aba i-

Ana lgesia e Anestesia em Obstetrícia 943


xo dos toleráveis, requerendo transfusão de sangue. R EPOSIÇAO liOLÊM ICA
Dependendo de a anemia se instalar aguda ou cro- Existem controvérsias quanto aos fluidos utilizados
nicamente, os fenômenos adaptativos são diferentes, para restabelecer o volume intravascular (cristaloides co-
assim como os níveis de hemoglobina e hematócrito loides e solução hipertónica de cloreto de sódio). Embora
que indiquem transfusão sanguínea (Qyadro 58.2). os estudos clínicos não revelem redução da morbimorta-
Os li mites toleráveis de hemoglobina e hematócrito lidade entre os diferentes tipos de líguidos admi nistrados,
são 8 g/dL e 25%, respectivamente; existem vantagens e limitações dessas soluções para tratar
as pacientes com choque hemorrágico.
Quadro 58.21 Adaptações do organismo materno à anemia Os cristaloides são soluções aguosas com baixo peso mo-
lecular, enquanto as soluções coloidais contêm substâncias de
Crôn1ca
alto peso molecular, tal como proteínas (albuminaS a2S%) ou
Organismo adaptado substâncias sintéticas (gelati nas e dextranas). As soluções de
Volemia normal (aumento de 2,3 DPG) coloides mantêm a pressão coloidosmótica, permanecendo
por tempo prolongado no comparti mento intravascular (três
Hemoglobina mínima aceitável de 6 g/dl
a seis horas), ao passo gue os cristaloides permanecem por me-
As transfusões são mais frequentes nos tempo no intravascular (20 a30 minutos). O custo elevado
Aguda dos coloides e as eventuais complicações limitam as suas in-
dicações. As gelatinas estão associadas a reações alérgicas me-
Organismo não adaptado
diadas pela histamina. As dextranas 40 e 70 estão associadas a
Hipovolemia
efeito antiagregante plaquetário, reações alérgicas, insuficiên-
Hemoglobina e hematócrito mínimos aceitáveis de 8 g/dl e cia renal e interferem na tipagem sanguínea. Os hidroxietila-
25%. sem hipovolemia minos atualmente em uso são o HEA 200/05 (Haes-Steril®) e
As transfusões são mais raras 130/ 04 (Voluven®). São soluções eficazes e de custo mais bai-
DPG =difosfoglicerato
xo que a album ina. .As reações alérgicas são raras e com pou-
cas repercussões na coagulação e sangramento. As soluções
hipertónicas de cloreto de sódio a 7,5% empregadas no choque
pressão arterial: modifica-se muito durante a gesta- hipovolêmico devem ser admi nistradas lentamente, preferen-
ção, pelo aumento do débito cardíaco e redução da cialmente pela via central, por causarem hemólise.
resistência periférica. Não reflete a real perda san- Os cristaloides administrados em volumes adequados
guínea. Em pacientes hipertensas, a interpretação podem ser tão efetivos qua nto os coloides para restaurar-se o
da pressão arterial é ainda mais difícil. No desco- volume intravascular. O uso associado dessas soluções pode
lamento prematuro da placenta, o grande aumento ser útil quando há necessidade de administração de grandes
do tónus uterino au menta a resistência periférica. volumes (três a quatro litros), previamente à transfusão san-
Dessa forma, nessa entidade, sangramentos ocultos guínea. Geralmente são aceitáveis a infusão de 3 mi de cris-
importantes podem cursar com frequência cardíaca taloide para cada mi de sangue perdido e a reposição de co-
normal e pressão arterial normal, apesar de a pacien- loide 1:l, até que a transfusão esteja indicada (Quadro 58.3).
te estar hipovolêmica. Na placenta prévia, a pressão A reposição das células vermelhas deve ser feita com
arterial reflete mais di reta mente a perda sanguínea; concentrado de glóbulos. O sangue fresco, ou seja, aquele
pressão venosa central: altera-se pouco durante a gesta- coletado com menos de 24 horas, não é atualmente dis-
ção, desde que seja realizada a descompressão da veia ponível. Cada unidade de concentrado de hemácias eleva
cava. É bom método para avaliação da perda sanguínea; o hematócrito de 3% e a quantidade deve ser a necessária
diurese: a gestação impõe ao organismo materno para manter o hematócrito da paciente em 30%.
alta taxa de reabsorção tubular, por isso qualquer A diurese é um dos parâmetros para avaliar a reposição
redução na filtração glomerular reduz imediata- volêmica, além da avaliação dos sinais vitais. O débito uri-
mente o volume urinário, sendo esse um sinal pre- nário de 30 mi/h ou mais é sugestivo de adequado restabe-
coce de hipovolemia. lecimento do volume intravascular.

944 Noções Práticas de Obst et rícia


Q!adro 58.31 Soluções intravenosas esuas composições (ORREÇÃO DA ( OAG ULOPATIA
Solucao Plasma Rrr1ger NaCI il Glrcose
Lactdto 0,9 ', 5" A coagulopatia ocorre em 10% dos casos de descola-
mento prematuro da placenta, com coagulação intravas-
pH 7.4 6.5 5.0 4.0
cular disseminada e fibrinólise. O consu mo de fatores de
Osmolaridade 300 272 308 252 coagulação ocorre em duas fases: a local, quando da forma·
(mOsm/L)
ção do coágulo retroplacentário, e, posteriormente, a dis-
Sódio (mEq/L) 140 130 154 o i seminada, quando a tromboplasti na passa para a corrente
Potássio (mEq/L) 4 4 o o ~ sanguínea. A fi brinólise é desencadeada pela hiperativida-
de do sistema fibrinolítico e introdução na circulação de
Cálcio (mEq/L) 5 3 o o .I
fibrinoquinases e lisoquinases a partir do útero isquêmico.
Cloro (mEq/L) 103 109 154 o l O controle hematológico frequente é funda mental,
Lactato (mEq/Ll 1 28 o o I sendo que na fase de consumo ocorre h ipercoagulabi lida-
l Bicarbonato (mEq/l) 27 o o 5.000 de. Instala-se, em seguida, a hipercoagulação, com fi brino-
gênio inferio r a 50% e plaquetas inferiores a SO.OOO/ mm 3.
Glicose (mEq/l) 100 o o o I Va le lembra r que, nessa fase, estão contraindicados os blo-
mEq/ L= miliequivalentes por litro: NaCI =cloreto de sódio queios regionais.
A terapêutica básica consiste em reposição volêmica,
A manutenção da normovolemia previne coagulopatia, manutenção do hematócrito em torno de 30%, admin istra-
acidose metabólica e fib rilação ventricular (Quad ro 58.4). ção de sa ngue e seus derivados (reposição de fatores de co-
agulação), correçào do choque, da acidem ia e de distúrbios
Q uadro 58.4 J Ressuscitação da paciente portadora de metabólicos. A reposição dos fato res de coagulação deve ser
síndrome hemorrágica criteriosa, sendo fundamental a correção prévia da volem ia.
Mon rtor rn11 adequada mente A elevação plasmática dos produtos de degradação
da fibrina causa relaxamento uterino, inibindo a ação da
Pressão arterial não invasiva
ocitocina. Nessas condições estão ind icados os in ibidores
Cardioscópio de produtos de degradação da fibrina, como a aproti nina
Oximetria (TrasyloP!!I), na dose de 500.000 un idades por via venosa,
aplica ndo-se 200.000 u nidades/ hora até o controle do
Diurese
sangramento.
Pressão venosa central
Estar pr!!parado pürü o quadro TÉCN ICAANESI'11SJCA

Vias de infusão: duas vias de grosso calibre (cateter 14G) Nos casos em que não existe alteração hemod inâmica
importante, na ausência de coagulopatia, com hemorragia
Hemoderivados
controlada e reposição volêm ica eficiente, pode ser indica-
Repor voltrr rw da a anestesia regional raqui ou peridura l, dependendo da
Cristaloides rapidez com q ue se precisa extrair o feto.
Na vigência de instabilidade hemodinâmica, a aneste-
Coloides
sia geral é obrigatória (Quadro 58.5).

TRATAMENTO llO 'oPRi iiiFNTO Fl·T!IL

O sofrimento fetal deve ser rapida mente assistido com: ArON IA UTERIN A
a) deslocamento lateral esquerdo do útero; b) aumento da
fração inspi rada de oxigénio; c) correção da hipotensão ar- A fu nção do anestesiologista na atonia uteri na é auxi-
terial materna; d) redução da atividade uterina, pela inter- liar o obstetra na correção da hipovolemia, da coagulopatia
rupção de ocitócitos. e nas intervenções invasivas. Utiliza-se anestesia local sob

Analgesia e Anestesia em Obstetrícia 945


cdação c monitorização para embolização endova cubr. lizado c a paciente estiver hemodi namicamcntc estável. A
a laparotomia, para controlar a hemorragia, a ancste ia ane te ia geral é empregada cm manipulaçõc cirúrgica
geral é a técnica de escolha. maiores (hematoma rctroperitoncal) ou nos estados de hi-
povolemia. Atenção especial cm grandes hematoma , que
~1.1dro S8.S j Anestesia geral nas pacientes com hemorragia geralmente podem ser oculto , para reposição volêm ica.

Monitorização e adequação volêmica


Pré-oxigenação URGÊNC I AS H IPERTENSI VAS
Ketamina 2 mg/kg + Succinilcolina 0.5 mg/kg
O conhecimento da doença hipcrtcnsiva e pecífica da
Manobra de Sellick + intubação traqueal
gravidez é importante para o ane te iologi ta . E te e tão
Manutenção: doses fracionadas de fentanil + ketamina + envolvidos no tratamento de paciente!> com essa comple-
N20/ 02
xa e frequente doença ligada à gesta ão, que provoca alte-
raçõc em diferente órgão e istema . A grávida com
o pós-operatório, e as ge tante devem er en ami- pré-cclàmp ia, eclàmpsia c índromc H ELLP ão conside-
nhada para a unidade de trata mento intensivo para acom- radas de alto risco, cau ando controvérsias à indicação de
panhJmento e correção final de volemia e coagulopati.l. a neste ia para o parto. A gestante variam de hcmodina-
micamcntc c ·táveis, consciente c cooperati vas .llé pacien-
te comato as, com hipcrtcn ão :~rtcri:~l de d ifícil controle,
R I II . ~AOP LAU ' TÁR I A anemia e coagulopatia.
A pacientes hiperten as frequentemente con!>tltuem-
A escolha ane ·té ica depende da pre cnça ou njo de . c cm grupo de emergência obstétrica, especial mente J
hemorr:~gia. A parturiente:- :-ubmetidas à analgesia para o iminência de cclâmpsia, ,, ccl:impsia c a síndrome H ELLP.
parto norm:~l, na maioria das vezes, não requerem comple- c c grupo, o cuidado pré-operatório ão fundamen-
mentação ane té ica para cxtração manual, curagem oure- tai para que o ato anesté ico cja adequado à paciente, di-
vi ão do anal de parto. Ge tantc em angra mento e que minu indo o ri cos materno-fetais.
não receberam analgesia para o parto vaginal podem ser Ideal mente, a paciente deve pa · ar por e t:ígio que a
ubmct1dJ à raquianeste ia. o casos cm que o c tímulo conduza m a condiçõe clíni a ati fató ria :
doloroso é pequeno, pode-~e rea lizar analgesia com óxido Cuidados com as vias aéreas superiores e oxigenação;
nitroso a SO'!o ou kctam ina na dose de 0,1 a 0,5 mg/ kg. controle do quadro convul ivo (profilaxia c trata-
Quando o útero formJ anel de contrição, o relaxamen- mento);
to utcnno é nece sário para a extração da placenta. Utiliza- controle da pressão arterial;
. c anc te ia geral com do es elevadas de halogenados. adequação volêmica;
Após a remoção da placenta, agentes inal.ltórios e toco ava liação da hemo ta ·ia materna.
líticos devem er su pcn o e a infusão contínua de ocito-
ina deve ser real izada.
Cu 1n \n o<> lO \I A · VIA~ A l.RL"-.,
UP I RIORI'.~ l- ,\ Ü}.. IGL;\A(,Aü
LL~.\O no C\"-"'' DI P\RTO 1: HI:.M.\1 0\1 ,.,
Im porta promover a aspira ão e a de ob trução da
O t1po de ane te ''' para re olução da. laccrJçõc c via aérea , particula rmente na tà e de rccuperaçao da
drenagem de hematoma depende do grau de urgência, da crise convulsiva (quando a gestante promove inspiração
necessidade d.1 cirurgi.l c estado clínico da paciente. Nor- violenta), sabendo-se que as complicaçõe pulrnon.uc por
malmente, requer analgc ia e anestc ia de mais profundi- eclàmp ia constituem-se hoje na principal causa de morte
dade. Bloqueio regional (raquiane te ia ou pcridural) é uti- materna ne a entidade.

Noções Práticas de Obstetrícia


PROF- I LAXIA r. Col':TROLJ: no Qu ORO Corw LSIVO cardíaca e edema agudo do pulmão. Como consequência
da protcinúri,l, h.í hipoprotcincmia e redução da pressão
O ulfato de magnésio é o medicamento de primci r::t coloido mótica plasmática. A utilização de grande volu-
e colha para profilaxia e terapia de cri e convulsivas em me de cristaloidc cm tais paciente está a o iada à obre-
p::tcicntes com pré-eclâmpsi::t c cclâmpsia. Sulf::tto de mag- carga hemodinâm ic:1 c à má-filtr:1ção tccidual, sobretudo
nésio dimi nui o risco c a incidência de cri _cs convul ivas pulmonar. levando a du.1 complicações ma i freq uente ·
e é superior ,\ ubstàncias como, por exemplo, fcnitoín::t no período pré-operatório: edema agudo de puJmjo c in-
ou diazcpa m no efeito anticonvul ivo. P::tra dct.llh::tmen- uficicncia respiratória pós-operatória.
to do uso do ui fato de rmgné io, o leitor deve e reporta r A cxpan ão volcmica é cspccihc:1mcntc perigosa c for
ao c.1pítu lo 2 ~ - Pré-eclãmpsia e Eclãmpi.L feita na ausência deva odi latadorc , pois h.wcr.í aumento
da pré-c.1rga, sem diminuição d:1 resistência peri féricJ. Vale
res :1ltar, porém, que a cxpan ào volêmica determina, por
Co r TRO LEDA PR E SÃO ARTI: RI AL si só, pequena queda d:1 resistência pcriféric,L Desde que
njo existam insuficiências e:1rdbc:1 e renal, .1 expan ão vo-
A p.1rtir de terapia anti-hipertensiva consistente c dis- lcmica pode ~er feita critcrio :1mentc, sem moni torização
ponibi lidade de medicamento sem Jccntuados efeitos inva iv:1. Caso contrário, a monitorização invasiva está
colatcrai , o número de mortes maternas rel.1cionado à indicada. Um c guema p.ua .1dequ:1ção volêmica dcs as
pré-eclãmp ia foi redu zido drasticamente. O objetivo d::t paciente é apresentado na Figura 58.4.
terapia anti-hiperten iva é a redução da pressão arterial A noss:1 preferência é por não obrccarrcga r a paciente
materna sem o comprometimento da perfu ão útero-pla- com a ad ministração de volume, especialmente de colo ide ,
cent:íria. Além disso, a diminu ição do volume intrava cu- já guc no momento do nascimento haverá :1 autotransfus:'lo
Llr c o edema (hipoalbuminemia, pressão coloidosmótica uterina, que se acomp.1nhará de signífic:1tivo aumento d.1
reduzida) representam um desafio terapêutico a mais. A resistência periférica, o gue poder,\ c:1usar f:1lcnci:1 cardíaca.
eficácia medicamentosa de sub tância. an ti-hipertensivas A interpretação do · parâmetros hcmodinàmicos nc c
é reduzida em pacientes com pré-cclàmp ia. grupo de paciente deve ser feita à luz de suas alteraçõe fi
De acordo com as recomendações atu,lis, toda grávida iopatológic:ls. Sobretudo, a pressão vcnm,l central (PVC)
com prc ào .1rtcrial si tólica ~ 160 mmHg ncccssit,l de te- pode er indevid.1mente interpretada como consequência
rapia anti-hipcrtcn iva. A principal função da tcr<1pia anti- do aumento do tônus vcno o, podendo- c ter PVC .1lt.1
hipcrtensiva é evitar complicações materna graves como com hipovolemía.
o ,\ identc vascular cerebral materno, tomando cuidado Em 30% dos cJso n.io exi te corre pondéncía entre a
para njo reduzi-la muito rapidamente, o que poderia dimi- pre jo venosa central e a pres ·ão capil.1r pulmon.u, o que
nuir :1 perfusão útero-placcnt:íria c prejudicar o feto. não deve invalida r a PVC como parâmetro útil cm 70%das
No c.1pítulo 2 ~ - Pr~-eclâmpsi.1 c Eclâmpia o leitor p:1cientes. Conduta prática que c pode adotar, para que
encontra mais detal hes sobre .1 terapia an ti-hipertcn iva ·cja conferido o e tado volêm ico da paciente antes de ·c
aguda. proceder à anestc ia de condução, é o teste da est:1bilidade
volêmica. A medida da PVC é re:1lizada :1ntc c :1p6 a in-
jcção de pequena dose de vasodilatadores, como a hidra-
A DI:.QUAÇÂO VOLÊ,\II CA LlZina c a lcvomepromazin:1; o tônus v:1 cu lar diminui r,\ e
a medida d.1 PVC será ma i apropriad:1. Todos o cuidados
O conhecimento da características hemodinâmicas devem ser tomados p,1ra gue sejam cvit:1d:1s sobredo ·es
da pré-eclâmpsia é importante como base para a adequa- desses va odilatadorc , ob o risco de promover hipotcn-
ção volê mica da paciente para a anestesia. sões maternas grave c sofrimento fetal.
Ca racteristicamente, a paciente tem seu volu me plas- :1 adeq uação volêmica da paciente, as soluçõc crista-
mático contraído, é hemoconccntrada c o débito card!aco loidc têm a nossa preferência, :1 não cr cm p,1cientes com
c a re ·i tência periférica estão elevados. Em a lgu n casos, hipoprotei nemia grave e/ ou anas:1rcl, na qu:1l a infusão de
pode haver prejuízo da fu nção cardíaca, com insuficiência albumin,1 se faz neces ária.

Analgesia e Anestesia em Obstetrícia 947


ADEQUAÇÃO VOL~MICA
Ringer Lactato 500ml

Diurese < 0,5ml/min

~
RL 500ml
I

PVC > 2cmH20


PVC < 2cmH 20
Sp02< 95%
Sp02> 95%
PVC < 2cmH 20
Coloide
Diurese > 0,5ml/min 100/100ml Sp02< 95%
PVC > 2cmH20
Sp02> 95%

Prova de estabilidade Cateter Swan-Ganz


hemodinâmica (PCPmmHg)

< 10 10-15 > 15

Coloide lnotrópico Diurético


cristaloide

ANESTESIA

RL = Ringer lactado: PVC = pressão venosa central; Sp01 = saturação da pressão de oxigênio; PCP= pressão capilar pulmonar

rigura S8.+ IAdequação volêmica na pré-eclãmpsia.

Caso a paciente apresente hipotensão arterial antes da plaquetas e no tempo de sangramento, que deve ser fei ta de
extração fetal, é mais oportuno, mais dpido e mais seguro forma padronizada.
ad ministrar pequenas doses deva opres or (efedrina), em A pad ronização para a realização do tempo de angra-
a sociação a quantidades moderadas de volume. menta é necessária para que se tenham informações confi-
áveis. A punção do lobo da orelha deve ser feita com lanceta
própria, que produza incisão padronizada de 3 mm de pro-
AVALIA(,AO DA li !:.MO<;TASIA MA I"ERNA fu ndidade e a gotas de sangue devem er absorvidas com
papel de filtro, sem fricção. e a quantidade de plaquetas está
As pacientes graves e, sobretudo, as pacientes portado- abaixo de SO.OOO/ mm 3 (tempo de sangria upcrior a lO mi-
ras de síndrome H ELLP podem apresentar plaquetopenia nutos), a ane tesia regional está contraindicada. c a quanti-
intensa, com alterações do tempo de sangramento, cons- dade de plaquetas está entre SO.OOO e I OO.OOOmm \o tempo
tituindo contraindicação para a anestesia regional. Nossa de angramento normal definirá a favor da anestesia regional
conduta em relação a esse a pecto ba eia- e no número de e o tempo de sangrarnento anormal a contraindicará.

Noções Práticas de Obstetrícia


T ÉCN ICAANESTÉSICA sentam sério desafio para o anestesiologista, dada à com-
plexidade de alguns quadros clínicos.
A anestesia regional, particularmente a peridural, é a
mais indicada em casos de pré-eclâ mpsia ou iminência de Qpadro 58.71 Anestesia geral para gestante hipertensa
eclâmpsia, a menos que exista contraindicação à sua prá- Preparo e monitorização da paciente: pressão arterial,
tica. As principais contraindicações são as alterações de cardioscópio. oximetria e capnógrafo
coagulação e o prejuízo da consciência materna. A téc nica
Venóclise com cateter 20G no membro superior
de anestesia regional pa ra cesá rea está desc rita no Quadro
58.6.A prevenção da h ipotensão a rterial em pacientes com Pré-oxigenção
pré-eclâmpsia grave não requer grandes quantidades de Indução: fentanil 5 mcg/ kg + etomidato 0,2 mg/ kg +
líquidos intravenosos, mas cuidadosa profilaxia da síndro- succinilcolina 0,5mg/kg
me hipotensiva postural. Se, apesar dos cuidados, ocorrer Manobra de Sellick + intubação traqueal
hipotensão arterial, peq uen as doses de efedrina (2,5 a 5
Administração de bloqueador neuromuscular
mg) podem ser admini stradas para restaurar a pressão ar-
terial. Com essas condutas não haverá agravamento do so- Manutenção com N20/ 02 e doses fracionadas de fentanil e
etomidato, se necessário
frimento fetal e depressão neonatal, mesmo que a anestesia
peridural ten ha sido indicada para a operação cesariana de
urgência, por sofrimento fetal. As modificações da pré-carga, da pós-carga e da fre-
Caso a anestesia geral seja uti lizada, a técn ica anestési- quência cardíaca que ocorrem durante o parto são bem
ca deve ser suficiente para dar adequada proteção hemo- acomodadas na paciente com boa reserva cardíaca, toda-
dinâmica materna, evita ndo -se riscos maternos e redução via, podem não ser toleradas pela gestante cardiopata não
adicional do fl uxo sa nguíneo útero-placentário. A técnica compensada. O planejamento da anestesia nessas pacien-
sugerida encontra-se descrita no Quadro 58.7. tes deve prever e, ideal mente, absorver essas profu ndas e
rápidas transições hemodinâmicas, tanto no intra como
I
Quadro 58.6 Anestesia peridural para cesá rea na ges- no pós-operatório imediato.
tante hipertensa Ao ser planejada a anestesia para a gestante cardiopata,
Monitorização da pressão arterial. cardioscópio. oximetria e deve-se considerar:
diurese Fisiop;J.tologia;
classe func ional (New York.HeartAssociation I a 4);
Correção das condições clínicas. incluindo adequação volêmica
evolução durante a gestação;
Anestesia peridurallombar contínua: bupivacaína a 0,5%
exames subsidiários (ecodopplercardiograma, ele-
sem epinefrina. dose inicial de 100 mg. Se necessário,
completar até dose total de 150 mg trocardiograma);
monitorização d isponível.
Expansão volêmica com 500 mi de ringer lactato até o nasci-
mento, seguidos de mais 500 mi até o final do procedimento
A gravidade de cada caso, com base na classe fu ncio-
Caso a pressão arterial sistólica se reduza abaixo de 20% nal, não constitui indicação ou contraindicação fo rmal de
do controle, utilizar efedrina em bolus de 2,5 a 5 mg
nen huma técnica anestésica. Algu mas pacientes podem
apresentar-se assintomáticas e a doença contraindica r as
técnicas regionais (por exemplo, comu nicações interatrial
ANESTESIA NA GESTANTE CARDIOPATA e interventricular ou persistência do ca nal arterial) ou po-
dem apresentar-se em classe funcio nal quatro e a anestesia
Duas situações de emergência são possíveis nesse regional ser não somente adequada, como também repre-
grupo de pacientes: uma, em que a emergência obstétrica sentar importa nte instru mento terapêutico (por exemplo,
independe da ca rdiopatia; e outra, em que a emergência estenose mitral com edema agudo de pulmão).
obstétrica é desencadeada pela própria ca rdiopatia. Inde- Conhecendo-se a ação de medicamentos e técnicas
pendentemente da situação, as gestantes cardiopatas repre- anestésicas sobre a pré e a pós-carga e sobre o inotropismo

Analgesia e Anestesia em Obstetrícia 949


e cronotropismo cardíacos, bem como o que cada uma des- A hiperexpan ão volcmica e o uso dos agente haloge-
sas variáveis representa para estabilidade cardiovascular de nado são as cau a mJi frequentes de de compensação
cada paciente, é possível traçar um plano geral de indicação dJ gestantes cJrdiopata relacionada com a ane te iJ. a
anestésica para esse grupo de gestantes (Q!Jadro 58.8). pacientes mais propensa a desenvolverem conge tão pul-
monar e eden1:1 Jgudo de pulmão, principalmente na pre-
en a de anestesia geral, o emprego de diun!ticos já no intra-
Q uadro ·s. ITécnicas ane tésicas na cardiopatias
operatório pode ser útil para reduzir a sobrecJrga volêmica.
Card1opat1a FC CC Anestes1a

Estenose mitral N/0 N Regional I

ANE S TES I A N A GESTANT E A SMÁTIC A


Insuficiência N/A N/A Regional
mitral
A asmJ é a doença respiratória mais comum em mu-
Estenose aórtica N N Geral lheres em idade fértil. Aproxi mada mente 4% de todas as
--
Insuficiência N/A N/A Regional ge ·tações são complicada pela sua pre ença.
aórtica 1 as gestante a máticas, as alteraçõc rc pi ratória fi io-

Estenose N N Geral lógicas, que habitualmente são bem tolerada cm paciente

-
pulmonar
Hipertensão
pulmonar
Cardiomiopatia
Hipertrófica
N

N/0
N/A

D
Geral

Geral
1 l:
normais, podem signifi car sobrecarga ventilatória adicio-
nal. Além disso, mascaram os sintom.1s de piora da doença,
dificultando o diagnóstico precoce das crises asmáticas.
A avaliação c cuidados pré-anc tésicos sjo de mu ita
importância para a obtenção de informaçõe a re peito
- das características e dJ gravidade da doença. Informações
--
ShuntE-D N N Geral l relativas dos fatores agrava ntes ou precipitante do bronco-
ShuntD-E N N Geral espasmo em cada paciente, das med icações cm uso com
Coronariopatia N N/D Regional(?) respecti va resposta individual e sobre o curso clínico da
doença influem di retamcnte na técnicJ e nos cuidados
FC = frequência cardfaca; CC = contratlhdade cardfaca; N =normal;
O= d1mmufda; A= aumentada. anesté ico . Deve-se investigar cuidadosamente ou o pré-
vio de corticoide por via oral, pela ncces idade de repo i-
ção pré, intra e pós-operatória na ge tantes que a utilizam
A técnica de anestesia regional de eleição para essas cronicamente. A hidrocortisona, 100 mg por via venosa a
paciente é a ane tesia peridural contínua. O cateter pcri- cada oito horas, parece suficiente para suprir qualquer ne-
dural deve ser mantido no pó -parto imediato, pois, ca o cessidade adicional de corticoides que possa haver du ran te
,1 paciente desenvolva sobrecarga volêmica, poderá er uti- o trabal ho de parto e puerpério imediato.
lizado para desenvolver o bloqueio simpático. oca o das
miocard iopatias dilatadas, a preferência é pela anestesia su-
bar.lcnóidea, já que grandes massas de anestésico local po- T(:c I CA A EST ÉSI CA
dem determinar prejuízo da função do músculo cardíaco.
Ca o a anestesia geral eja indicada, a técnica utilizada O proced imento anestésico na gestante asmática Jpre-
deve garantir boa estabilidade hemodi nâmica, devendo senta peculiaridades próprias da doença, do estado fisioló-
er previ ta a po sibilidade de sobrecarga cardiovascular gico da paciente e da interação entre ambos. A princip.1is
apó a extração fetal e no puerpério imediato, já que não medidas desejáveis para a conduta anestésic.l cm partu-
se poderá contar com os efeitos protctorcs da anestesia re- rientes asmática consi tem em:
gional. Além das contraindicações da anestesia regional, as O tirnizar as condições respiratórias ante da Jne -
pacientes anticoaguladas também constituem cont raindi- tcsia;
cação formal à prática do bloqueio e pinhal, ob risco de evitar agente capazes de desencadcJr broncocs-
desenvolverem hematoma espinhai . pasmo (fármacos que liberam histamina);

950 Noções Práticas de Obstetricia


8. Ngan Kee WD, Khaw KS. Vassopresors in obstetrics: what
evitar o estímulo das vias aéreas pela presença de should we bc using.Curr Opin Anacsthcsiol. 2006; 19(3):238-43.
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Consideram-se, então, os bloqueios neuroaxiais, par- patch in preventing post durai puncture hcadache in par-
ticularmente a peridurallombar contínua e a combinada turicnts afi:cr inadvcrtcnt durai puncture. Anesthesiology.
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Analgesia e Anestesia em Obstetrícia


951
59 Assistência ao Recém-nascido
Ennio Leão
J\tlaria Albertina Santiago Rego
Eduardo Carlos Tavares
Luiz Megale

Terminologia Aplicável ao Período Perinatal Exame do Recém-nascido


Instalação de Serviço de Assistência ao História Gestacional
História do Parto
Recém-nascido
Classificação do Recém-nascido
Assistência Pediátrica ao Nascimento Exame Físico do Recém-nascido
Assistência Imediata ao Recém-nascido na Sala de Parto
Particularidades do Exame Físico
O Recém - nascido Criticamente Enfermo
Amamentação e Medicamentos

E
indiscutível o progresso da assistência ao -se, o mais possível, fazer com que tenham possibilidade
recém-na ciclo (R ), particularmente para os de uma vida útil. Estudos vêm sendo de envolvidos para
que necessitam de cuidados especiais. Há não proporcionar não só assistência médica adequada às sua
muitos anos, o pediatra (não existia o neonatologista) era equelas, mas também à manutenção de estado nutricional
obrigado ,1 improvisa r estufas, cercar os RNs prematuros ou adequado, que possa as egurar bom desenvolvimento não
de baixo pe o com algodão, manter a temperatura através de 6 físico, mas também mental.
lâmpadas elétricas e o oxigénio através de tendas rud imen- Há algum tempo, também, a assistência imediata ao
tares ou de cateteres nasais. I to ocorria em locais não muito R era prestada pelo obstetra, mu itas vezes pela parteiras
longe dos grandes centro , os quais, diga- e de passagem, e outro tanto por "curiosas· e amigas. Com a introdução
tam bém não eram possuidores de expressivos recursos te- do parto hospitalar e das unidade neonatais, surgiu a ne-
rapêutico . A mortalidade daqueles recém-nascidos era alta. cessidade da assistência ao RN pelos então pediatras, agora
Felizmente os tempos mudaram e hoje se vê o R de neonatologistas. O melhor atendimento gerou elevado nú-
extremo baixo pe o mantido vivo e podendo apresentar mero de casos mais complexos e o desenvolvimento de no-
desenvolvimento satisfatório, em função das medidas te- vo recu r o técnicos. É preciso ficar bem claro, entretanto,
rapêuticas atualmente disponíveis. Há, entretanto, muita que a melhoria técnica exige, também, mais cuidado com a
preocupação com o futuro de tai · crianças, procurando- hu manização da Medicina.
H oje, a assistência ao RN de risco exige local que d is- óbito fetal: é a morte de produto da concepção, antes
ponha de recursos adequados. Q\.tanto ao R normal, da expulsão ou da extração completa do corpo da
torna-se necessá rio apenas o conheci mento das medidas mãe, independentemente da duração d a gravidez;
iniciais rotineiras. indica o óbito o fato de o feto, depois d a separação,
O acompanhamento pré-natal requer o trabalho con- não respirar nem apresentar qualquer out ro sinal
junto de obstetra e pediatra, sendo necessária, mu itas vezes, de vida com o batimentos do coração, pulsações do
a presença de outros profissionais de saúde, principalmente cordão umbilical ou movimentos efetivos dos mús-
nas gestações de alto risco. Esse conjunto de profissionais culos de contração voluntária;
pode ser também importante pa ra a atenção ao RNs que peso ao nascer: é primeira medida de peso do feto ou
apresentem problemas mais sérios. recém-nascido obtida após o nascimento, preferen-
Na abordagem pediátrica feita neste capítulo, pretende- c ialmente durante a primeira hora pós-nascime nto;
-se trazer apenas aqueles conhecimentos c informações idade gestacional: é a duração da gestação calcu-
julgados necessários para o obstetra. Qj.1ando for preciso lada a pa rtir do primei ro dia do ú ltimo período
acompanhamento para situações mais complexa do RN, menstrual. É defi nida cm dias o u em se m anas
o respo nsável pelo tratamento deverá proc urar em livro completas. Quando a data do último período
especial izado a terapêutica indi cada para o problema cm me nstrual não é dispo n ível, a idade gestaciona l
que tão. deve ser basead a na melho r estimativa clínica,
que poderá ser obtida pela u ltrassonografia rea-
lizada nas primeiras 20 sema nas, exame clín ico-
TERMINOLOGIA APLICÁVEL AO -obstét rico ou após o nascimento pelo exa m e de
PERÍODO PERINATAL matu ridade física e neurológica do recém-nasci-
do. O m étodo mais utilizado pelos pediatras é o
Ne11' Bnllard (Figura 59.1 A c 59.1B);
A pad ronização de conceito , méto dos e c ritério de período neonatal: corresponde aos primeiros 28 dias
utilização de bancos de dados é condição essencial pa ra de vida pós-natal (zero a 27 dias de vida);
a anál ise objctiva dos indicadores de saúde perinata l pa ra coeficiente de mortalidade peri11alal: é o número de
a tomada de decisões baseadas cm evidências. A utili - óbitos fetais (a pa rtir de 22 ·emanas de gestação)
zação de modelos de históri a clínica codificados para a acrescido dos óbitos neo natai precoces (zero a
análise computadorizada das info rmações permite a ca- seis dias) por 1.000 nascimentos totais (óbitos fe-
racterização da população atendida e o estudo de fatores tais mais nascidos vivos) em determ inado período
de risco, pos ibilita ndo a m elhoria da assistência intra c e local;
interi nstitucio nal.u coeficiente de mortalidade r1eonata/: é o nú mero de
As seguintes defi nições foram adotadas pela Assem- óbitos neonatais por 1.000 nascido · vivos em de-
bleia Mundial de Saúde e enunciadas no CID-IOJ term inado período e local. As mortes neonatai
Nascido llll!O: é a expulsão completa ou extração, do podem ser subdi vididas em mortes nconata is pre-
corpo da mãe, independentemente da duração da coces (do momento do nascimento até seis dias, 23
gravidez, de produto de concepção que, depois da horas e 59 minutos) e mortes neonata is tard ias (dos
separação, respire ou apresente q ualquer outro sina l sete aos 27 d ias, 23 horas e 59 minutos).
de vida, tais como batimentos do coração, pulsa-
ções do cordão umbilical ou mov imentos efetivo Outros coeficientes poderão ser ca lculados (mortali-
dos músculos de cont ração voluntá ria, estando ou dade neonatal hospitalar, proporcional por grupos de cau-
não cortado o cordão umbil ica l e estando ou não sas, por limites de peso e outras), indicando :~ frequência
desprendida a placenta; de resultados adversos por períodos e grupos específicos
da população.

954 Noções Práticas de Obstetrícia


Reg.ulro
-I o I 2 3 4 5 doucore

Postura
cQ=: ~ « c?t cÇt
Ângulo do
punho
[ ct ~ ~ [
Recolhimento
do braço
~ ~ ~ o(}
180" 140" a 180" 11 0" a 140" 90" a l i O"
ir < 90"

Ângulo
poplilco ~ cú â5 có ~ ~ có
180" 160" 140" 120" 100" 9()- < 90"

!Sinal do 'lale ..........

Manobra
~ - ~ - Ôv - ~
-ª -a
®~
calcanhar!
orelha ~ eiS' &3 @ a:i;; I
-
E.scotr tot'ill d.l rn.1t11rid.KI~ neuromu!l'cul.tr
---_j
(a)•

--
Figura 59.1 A IAva!.ação da idade gesta 1onal pelo método ew Ballard (maturidade neuromuscular).

[Sinal de-
maturidade -I o
-

I
Escore
2 3 4 5
Registro
do escore
l
Pele Pegajosa. Vermelha. llomogenea· Rash ou I issuras fApcrgaminha<b. EnnJectda.
\ I~SD. gelounosa e mente rosca c !P<'elilrg superfictats. 1endêncao a enrugada.
fnóvcl c tratblúctda \ elOS \I iVCIS superficial e Arcas páhdas e fissuras profun- fi ura
1mnsparen1e poucns vetas mms \ Ctas kJas e nchum profundas
visive•s VtSÍVCIS vaso vislvcl
Lanugem Auscnle Escasso Abundamc Rarefeito Areas sem IMatona
lanugem sem lanugem

Supcrficic Calconluir- Calcanhar- Troços Pregas Pregas Prega.


plantar hálu~ hã lux -.nnelhos piamares plnmar~ nos sobre toda a
40-50 mm -I > 50 mm. indt llniOS transversas 2/3 anteriores supcrllcic
< 40 mm -2 ausênctn somente no I 3 plantar
de prega nntenor
Nódulo lrnpcrccpthcts Pouco
-
Aréola plana. Aréola som- Aréola elevada. Mola
mnmãno. aréola pcrctpÚ\CI ausêncta de breada. pontua- nódulo d;:,em oh tda.
nódulo da. nódulo mam~no nódulo
mam:lno mamário com com 3-4 mm mománo
1-2 mm de de dtómctro com 5-10 mm
diâmc1ro dediitn~ '-
Escore lotai da mamndade llstca (ii)
-
E ore total de mmundadc j (a+b)
bcore totnl de m31undade - lO -5 o s lO IS 20 25 30 35 40 45 50
Idade em sem:mas 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 -12 44

Figura S9.1 B I Avaliação da idade ge taciona l pelo método cw Ballard (maturidade fís1ca).

Assistência ao Recém-nascido
955
INSTALAÇÃO DE SERVIÇO DE administração do surfactante ao~ recém-nascido~
AS SISTÊNCIA AO RECÉM-NASCIDO pré-termos com a doença d.1 membrana h1.1lina
imediatamente após a sua mdicaç.io clím a;
controle de condiçõc b:ís1c.l de .1údc materna no
A redução da morbimortalidade pcrinatal, om conse- pré-natal para prevenção de evento adver o ao
guente rcduç;io nas taxas de mortalidade infantil, requer o ll .l ~ci mc nlo;

controle de fatores que atuam desf.woravdmcntc na gr.wi- adequado controle nutricional, atravé~ da nutrição
dcz c no na cimento, rc ·ultando em baixo pe o ao na~ccr enteral mín ima c parenteral.
devido a prcm.1turidadc e/ ou desnu trição fetal, sínd romes
asfix iante , infecções crónicas e aguda e anomalias congé- As distorçõe de qualid.1de da as i tência pcri nata l ele-
nita~. E sas condições estão vi nculadas, cm grande parte, va m as taxas de mortalidade e a~ sequelas no recém-na -
às cau a prcvcnivcis, determinadas principalmente pelo ciclo~ que sobrevivem, inclutndo .1~ ncuropsicomotoras, m
a c ~o c utilização do serv1ço de aúdc, além da qualida- distúrbio de aprendizagem, cegueira, urdcz, deficiência~
de da assi tên iJ àgestante no pré-natal c parto c ao recém- de cre cimento, di tú rbios respiratório\ crónico~, negli-
-na CJdo. gência c mau trato , entre outro . A .1 1 tência pennatal
o~ imlicadores epidemiológicos c assistcnciai para deve er c truturada cm rede com intcgr.1ção do cuid.1do
av.1li.tção da aúdc pcrinatal no 13rasil indicam a impor- obstétricos c neonatai , ambulatoriai\ c hospita lare~. com
tância de açõc para .1 melhoria da atenç.io pcrin.1tal. Os definição de critério de respons.tbilizJç.io ad ministrativa
últimos dados oficiais disponibilizados pelo Ministério da c técnica.
aúdc / Secretaria de igil.!n ia cm Saúde / Departamen- O Progr.una de Humanizaç:io do Pré-n.1tal c a~­
to de An.11isc c Situaç:io da aúdc- Si~tcm a de lnforma- ci mcnto (PH P ), propmto pelo Mini tério da Saúde, é
çõc obre Mortalidade - 1M referentes .10 ano de 200 importante estratégia de reorgan1za .'lo e qualific.1ção da
mo tram que a · afecçõe perinatai foram re~pon'>:í,•ei .1 i tência pcrinatal c tem como objetivos:
por 58,8(\odas morte em menore de um ano c que 68,4!l.o C.tptação precoce da~ ge\tantc~;
do óbito infanti ocorreram no período neonatal. A di ponibiliza ão de, no mínimo, ei~ con ulta de
taxas de mortalidade materna continuam muito alt,ls na pré-natal c oito ex.1mc b.1sicos;
m.1iona das regiões brasileiras c não são compatíveis com vinculação da gestante desde J atenção pri má na até
o grau de de envolvimento do país, refletindo msat isfató- o níveis mai elevado~ de complexidade de assis-
ria prestação de serviços de saúde a es c grupo. ' De .1cordo tência, de forma rcgionalitada c hierarquizada.
com a Funda :io EA DE ( istema E tadual de An.\li c de
D.tdos/ ' P), 71% das mortes neonatai eriam prcvcnívci& As cgura a melhoria do aces~o, da cobertura c da quali-
por açõc& no pré-nat.1l, parto, a i tência no período neo- dade do acompanhamento pré-natal, da ,1 i tênci.1 ao par-
natal c parceria com outro ctorc . to e na cimento, da ,1 si tência ao período nconat.tl c pucr-
Também .1 otimiz.1ção da obrevida do~ recém-nasci- pério. O JSPRE ATAL é o i tcm.1 inforn1.1ti'l.1do que
do pré-termo~ com redução de equela requer .1 avalia- po ibilita o cada troco acompanhamento da gc tantes c
ção da utilizaç.io de tecnologias pcrinatais disponíveis c de puérperas, faci litando a gestão do programa.
comprovada efidCJa, omo: O ' i~tema de Registras de Informação Ambulatorial
Regionalização e hierarquização da as istência pe- c Hospitalar é importante estratégia de qualificação da a -
rinatal, provendo o cuidado no nível de complexi- ~~~tencia perinatal. O cartão perinatal que .1companha a
dade adequado; gestante durante todo o pré-natal incorpora o conceito de
u o do corticoide antenatal no ca o de partos pré- rede ao disponibilizar as me ma~ informaçõe .uquivada~
-termo para induzi r a maturidade fetal, prevenir no erviço ambulatorial, no lug.u c no momento que dela~
ou diminuir a gravidade d.1 doença da membrana se neccs ita. Durante a intcrnJção ho pital.tr o partograma
hiali na c a ocorrência de hemorragi.1 pcri c intra- é instrumento de acompanh.1mcnto ao traba lho de parto,
ventricul~u; de comprovada eficácia na tom.llÜ de Jeci ~õc no trab,1lho
tr.ltamcnto adequado da corioamnionitc; de parto e parto.

956 Noções Práticas de Obstetrícia


O Sistema Informático Perinatal (SlP), instrumento de- 3.016 de I9/ 06/ 1998, 3.0I8 de 19/ 06/ I998, 3.477
senvolvido no Centro Latino-Americano de Perinatologia de 20/ 08/ 1998 e 3.482 de 20/ 08/ I998;
(CLA P/ OPS), é composto do cartão perinatal, história clínica Comissão Nacional deMortalidade Ma tema: Portarias
perinatal e de programas para análise computadorizada dos da- GM/ MS 773 de 07/ 04/ 1994,256 de 01 / 10/ 1997 e
dos. O sistema inclui a informação mínima indispensável para o 3.907 de 30/ I0/ 1998;
adequado acompanhamento da gravidez, parto e puerpério de Comitê Técnico Assessor em Assistencia Pcrinatal e Neo-
baixo risco, além de formulários complementares para o acom- natal: Portaria GM/ MS 1.359 de 25/ 07/ 2002;
panhamento à gestante e ao recém-nascido de risco. A análise estím11lo à presença do pediatra na sala de parto:Portaria
dos dados permite reorganizar continuamente a assistência, a GM/ MS 569 de O1/ 06/ 2000;
docência e a pesquisa a partir do conhecimento da população Programa Nacional de Triagem Nconatal: Portaria
atendida, da identificação dos principais problemas e da priori- GM/ MS 822 de 06/ 06/ 2001;
zação das ações dirigidas à solução desses problemas 4 ·; estímulo à prática do parto normal: Portaria MS/ GM
A Declaração de Nascido Vivo (DN) e a Declara- 2.815 de 29/ 05/ 1998;
ção de Óbito (DO) são documentos padronizados nacio- restrição aos partos cesáreos: Portaria MS/ G M 2.8 16
nalmente e distribuídos pelo MS, os quais, além do caráter de 29/ 05/ 1998;
legal, alimentam os sistemas de in formação de nascimen- regulamentação dos Bancos de Lei/e: Portarias CM/
tos (SINASC) e de mortes (SIM), respectiva mente. MS 322 de 26/ 05/ 1988, 698 de 09/ 04/ 2002;
Os protocolos de assistência perinatal formulados com regulamentação do Prêmio Nacional Professor Galha
a participação ativa da equipe responsável pela assistência de Araújo: Portaria GM/ MS 1.406 de 15/ 12/ 1999;
e baseados nas normas recomendadas e regulamentadas incentivo ao Registro Civil de Nascimento: Portaria
pelo MS quali ficam a assistência, além de fundamentar as GM/ MS 938 de 20/ 05/ 2002.
discussões cl ínicas e a vigilância do óbito fetal, neonatal e
materno, nos hospitais e nos mun icípios. Outros programas contemplam indiretamente a saú-
O alojamento conjunto mãe-filho (Portaria C M/ de perinatal: Programa de Saúde da Fam íl ia, Programa
MS 1.016 de 26/ 08/ 1993) é imprescindível para mães e Nacional de lmunizações, Programa Nacional de Acre-
recém-nascidos saudáveis, possibilitando a assistência inte- ditação Hospitalar, Programa de Cont role de Infecções
gral e f.worecendo ações educativas, além da promoção da Hospitalares, Centros Colaboradores para a Qualidade de
amamentação e desenvolvimento do vínculo afeti vo. Gestão e Assistência Hospitalar no Âmbito do SUS, Co-
A implementação de Unidades de Cuidados In- mitê Técnico de Hu manização de Serviços de Saúde, Car-
termed iários (Portaria GM/ MS 1.091 de 25/ 08/ 1999) tão Nacional da Saúde, Prêmio de Qualidade Hospitalar
possibilita a flexibilização da assistência neonatal com as e Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na 1nfância.
Unidades de Cuidados Intensivos em uma mesma área fí- São também necessárias a regulamentação e a norma-
sica, dispensa ndo o transporte de prematuros extremos e lização, pelo departamento de normas técnicas de estabe-
de recém-nascidos critica mente enfermos. lecimentos de saúde do MS, de níveis de luminosidade, ru-
A assistência intensiva neonatal e materna (Portaria ídos e temperatura em salas de parto e unidades neonatais,
GM/ MS 3.432 de 12/ 08/ 1998) é indispensável aos servi- padrões já definidos internacionalmente.
ços que atendem a gestantes e recém-nascidos de risco.
A atenção humanizada ao recém-nascido de baixo
peso a partir da implementação do método mãe-canguru ASSISTÊNCIA PEDIÁTRICA
(Portaria GM / MS 693 de 05/ 07/ 2000) é tecnologia peri- AO NASCIMENTO
natal de baixo custo e de forte impacto na redução da mor-
bi mortalidade neonatal.
Outras iniciativas para melhoria da atenção perinatal A assistência imediata ao RN não deve ser vista como
do MS nos últimos anos são: fato isolado na assistência perinatal, mas sim como resul-
Sistemas Estaduais de Referência Hospitalar para tado da atenção que a gestante e o feto receberam na gra-
Atendimento à Gestante de Risco: Portarias GM/ MS videz e o início da atenção que o RN passará a receber.

Assistência ao Recém-nascido
957
Portanto, além dos aspectos med n icos c bioquímicos, que A anam nese pré e intrapa rto é útil para se prever o nas-
são aba e das ma nobras de reanimação, o tema deve ser cimento de RN deprimido ou asfixiado. Situações poten-
inserido nu m contexto maior que enfoque a organização cialmente geradoras de depressão no RN estão descritas
integra l da assistência biopsicossocial à mãe, ao parto, ao no Qpadro 59.J.
recém-nascido e à fa míl ia.
Aproximadamente 5 a lO% dos R vão necessitar de
,\lgu m tipo de reanimação ao nascimento e em torno de I a ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO
I 0%dos nascimentos hospitalares vão evoluir com situações RECÉM-NASCIDO NA SALA DE PARTO
clínicas que exigem ventilação assistida. Embora frequente-
mente a reanimaçao possa ser prevista, várias circunstân- ANTES DO PARTO
cias que levam à necessidade de medidas de rea nimação
surgem repenti namente. É possível otimizar a assistência em A equipe deve apresentar-se à mãe e à fam ília antes do par-
sala de parto com equipamento c pessoal adequadamente to e tomar conhecimento da história clínica perinatat para ava-
treinado para atuar na reanimação neonatal. Pelo menos liar o grau de risco da gravidez c do parto. Procurar informar-se
uma pessoa habilitada a iniciar a reanimação deve estar pre- sobre: condições clínicas antes c durante a gestação (diabetes,
sente a cada nascimento e outra também habilitada deve es- hipertensão, doenças autoirnunes, doenças genéticas c doen-
ta r disponível para atuar cm caso de necessidade.2 6·- ças infecciosas passíveis de transmissão ao feto); caractcrís-

Quadro 59.1 ISituações geradora de depres ào no RN


Período pré- parto Período 1ntraparto
Idade materna <16 e >35 anos Cesárea de emergência ou eletiva
I
Diabetes materno Apresentação anormal
Pré-eclâmpsia Trabalho de parto pré-termo
Hipertensão arterial crônica Rotura de membranas prolongada (>18 h) I
i
lsoimunização Rh ou anemia Liquido amniótico meconial
J
Nati ou neomorto pregresso Bradicardia fetal I
Sangramento no 2" ou 3" trimestre Parto prolongado (>24 h) I
I
Infecção materna Período expulsivo prolongado (>2 h)
-- I
Polidrâmnio Uso de anestesia geral
-
Oligoidrâmnio Hipertonia uterina
---
Rotura prematura das membranas Opioides ministrados à mãe até 4 horas antes do parto
- ---
Pós-maturidade Prolapso de cordão
-
Gestação múltipla Descolamento prematuro da placenta I
Discordância peso I idade gestacional Placenta prévia
Dependência de drogas Corioamnionite
- i
Anomalia fetal
Diminuição da atividade fetal
Ausência de pré-natal
-
Uso de medicações como:
--
'.
carbonato de ht10. magnésto, bloqueadores adrenérgtcos

958 Noções Práticas de Obstetrícia


tica · de gestaçõc anteriore ; e evolução e intcrcorrencia da Deve- e oferecer apoio emocional c afeti vo à parturien-
gestação atual {uso de medicamento , fumo, álcool e tóxicos). te e fa miliares presentes na sala de parto, tra nsmitindo-lhes
Em casos de emergência, na impossibilidade de colcta do · ~egurança c tranquilidade.
dado completo , pelo menos quatro infonnaçõe são indis- Aspirar, sempre que possível, secreção de orofaringe,
pensáveis, pois podem altera r o plano inicial da assistência: antes da completa expulsão do tronco, para evitar possível
Gravidez lllúltipla:o parto múltiplo exige que a equi- sínd rome aspirativa no recém-nascido. Essa manobra é
pe esteja preparada para a possibilidade de reani- especialmente importante em casos de líq uido amniótico
mar duas ou mais crianças simultaneamente; com mecôn io.
premal11ridade: no parto pré-termo há mais proba-
bilidade de manobras de reanimação c, portanto,
deve-se ter disponível material adequado para rea-
nimação de crianças de pesos variáveis; Q uadro 59.21 Material necessário para o atendimento ao
líquido 111ecollial: o líquido amn iótico com mccônio recém-nascido na sal,1 de parto
ex ige mai cuidado com a aspiração de orofaringe Fonte de oxigênio
e traqueia sob visualização di reta, para prevenir a Fonte de calor
síndrome de aspiração meconial; -----------------
Pera de borracha
uso de jár111acos: o uso de medicamentos e drogas
ilícitas deve ser investigado com cuidado, inclusive Aspirador a vácuo
obtendo-se informações sobre dose, frequência de Bolsa para fornecimento de oxigênio sob pressão comvolu-
uso c tempo decorrido desde a última admi nistra- me máximo de 750 mi (se autoinflável. deve ter reservatório
ção. Algumas substãncias podem atravessar a pla- para atingir concentrações próximas de 100%)
----------------~
centa e, dependendo do tipo, da farmacocinética c Máscaras faciais de tamanhos 00 e 01
do tempo transcorrido desde a última dose, podem
Laringoscópios com lâminas retas número Oe 1
causar depressão respiratória, distú rbios metabó-
licos, síndromes de ab ti nência e out ras repercus- Pilhas e lâmpadas sobressalentes
sões indesejadas no concepto. Alguns desses efeitos Tubos orotraqueais número 2,5; 3,0; 3,5 e 4,0
podem er minorado ou evitado com terapêutica
Fio guia
imediata adequada.
Sonda de Guedel
A necc sidade de reanimação pode ser prevista pelos Sondas para aspiração de calibres variados (6. 8 ,10 e 12)
f.1tores de risco, no entanto, em alguns casos ela pode não Sondas gástricas número 8
ser antecipada. Por i to, ambiente aquecido com equ ipa- ------------------------~
Aspirador de mecônio
mentos de reanimação c medicações devem estar disponí-
veis em perfeitas condições, sempre e onde o parto ocorrer. Material para fixação dos tubos e sondas
O funcionamento e a qualidade do material para o atendi- Seringas de capacidade variada (1 .10, e 20 mi)
mento ao recém-nascido devem ser verificados c testados ----------:
Estetoscópio pediátrico
previamente (~adro 59.2).
Material para cateterismo umbilical
Medicamentos em diluições apropriadas
Dl R\~ltllP \ R l ll
Adrenalina (1 :10.000)

Deve- c acompan har atentamente todo o processo do Bicarbonato de sódio - 4.2%


parto, avaliando- e as repercussões para o feto e recém- Naloxane (0,4 mg/ml)
-nascido. Atenção especial ao uso de medicamentos na Expansores de volume
parturiente, episódio · de hipotensão e outras complica-
çõc pcriparto. Água destilada

Assist ência ao Recém - nasc1do


959
APO<; O PARTO , bpmlçcit>
Aspirar delicadamente as secreções da orofari nge c na-
:\\"-\//\~ 1(1/.\/ll\1 ri nas, nesta ordem. A aspi ração inicial poderá ser feita com
Logo após o de prendimento, avaliar o recém-na cido pera de borracha ou aspirador mecânico montado com
levando- e em conta a eguintes situações: sonda de aspiração de calibre adequado (lOa 14). Sondas
Ausência de mccônio? de menor calibre podem ser ob truídas por secreção mais
Respirando ou chorando? viscosa. Aspiração vigorosa e prolongada, bem como aspi-
Bom tônus mu cular? ração gástrica nos primeiros mi nutos de vida, podem ser
Cor rosada ou apenas acrocianosc? causa de laringocspasmo ou reAexo vagai, resultando em
Gestação a termo? arritrnias cardíaca , bradicardia ou apneia, devendo, por-
tanto, er evitadas.
Se a rc posta for po itiva para todas elas, aspirar ra- OJ,Jando o líquido am niótico est:í tinto de mecônio, a
pidamente orofaringc c narinas, secar a criança c dcix:í- aspiração da boca, furinge posterior e narinas deve ser rea-
-la sobre o abdome ou o tórax da mãe, proporcionando lizada assim que haja desprendimento do polo cefálico (as-
o contato físico e vis ual entre os dois, o que é muito im- piração intraparto). Esse procedimento antes do desprendi-
portante para o desenvolvimento do vínculo afetivo. e mento dos ombros parece diminuir o risco da síndrome de
a respo ta for não para uma ou mais dessas perguntas, aspiração meconial. Se o RN se apresenta vigoroso, deve-se
iniciar imediatamente os chamados cuidados iniciais da levá-lo para a fonte de calor radiante, complementar a a pira-
reani mação neonatal. ção com sonda calibrosa (12 ou 14) para retirar a ecreções
e o mecônio existente na boca c no nariz, não sendo neces-
f>H I I \I/I PJ IW.\ /)f l' 11 ()R sária a intubação traqueal. Se o líqu ido é meconial e o R
A causa mais importante da perda de calor no pós-par- tem respiração deprimida ou apneia, hipotonia ou frequên-
to imediato é a evaporação do líquido am niótico. Lembrar cia cardíaca (FC) abaixo de 100 bpm, realizar laringoscopia
que a perda de calor é altamente nociva para os R , cm di reta imediatamente após o nasci mento para aspiração do
especial para os de baixo pc o, pré-termo c asfíxicos, cau- mecônio residual da hipofaringe c intubação traqueal para
sando acido e, hipoxemia c hipoglicemia, entre out ras altc- sucção da traqueia. Aquecimento ob fonte de calor radian-
rações.2·6·7 Desta forma, os cuidados in iciais para prevenir a te deve er providenciado e ecagem e estimulação devem
perda de calor ão: ser realizadas somente após aspiração cuidadosa. Aspiração
Colocar o RN ob fonte de calor radiante; traqueal deve ser realizada a partir de intubação traq ueal e
secar com compressa c terilizada, se possível aque- deve ser repetida até que pequena quantidade de mecônio
cida, e remover os c.1mpos úmidos após ter sido fei- eja a pirada ou até que a FC indique que a reanimação deve
ta aspiração de orofaringe e narinas. ser iniciada imediatamente. Se a FC ou a respiração está de-
Deve- e ai nda ter o cuidado de evitar a hipertermia. primida, pode ser necessário iniciar ventilação com prc são
positiva (VPP). Sucção de rnecônio por sonda de aspiração
através do tubo não é recomendada. Atrasar a aspiração gás-
trica até que as manobras de reanimação estejam term ina-
Jh,u tlHciiiiL'IlltJ das. Recém-nascido com lfquido mcconial, que desenvolve
O RN deve ser colocado sobre o dorso, em posição apneia ou esforço respiratório deve ser intubado para aspi-
neutra, com o pescoço em discreta extensão. Hipcrextcn- ração da traqueia ante da ventilação com pressão positiva,
são ou Aexão podem produzir obstrução de vias aéreas c mesmo que ele esteja in icial mente vigoroso.
devem ser evitadas. Compressa enrolada c colocada sob
os ombros (coxim) é útil para ma nter a posição adeq uada, .-h 11111, \0 no N.1u 11 '~'cwo
especialmente em prematuros e R com occipital proe- Esses procedimentos iniciais de crito não devem se
mi nente. Se houver ccrcçii.o copiosa a cabeça deverá ser prolongar por mais de 20 a 30 segundos, quando então se
vi rada para o lado para facilitar a aspi ração. deve avaliar o RN.

g6o Noções Práticas de Obstetrícia


O índice de Apgar é excelente forma de docu mentação mãe, pelo tempo mais longo possível. Recomenda-se
das condições do R a intervalo específicos após o nasci- levar o R ao seio materno, ainda na sala de parto, o
mento. E a avaliação deverá ser feita no primeiro e qui nto que proporciona vínculo psicoafetivo mais forte do
minutos de vida. Caso, no quinto minuto, o índice persi ta binômio mãe-filho c estimula o aleitamento natural;
abaixo de ete, reavaliar periodicamente a cada cinco mi- providenciar o transporte adequado da criança
nutos, anotando o tempo que demorou a atingir esta marca para a unidade de neonatologia, cuidando para não
(Quadro 59.3). haver perda de calor. Sempre que po sível, o RN
deve ir di retamcnte para o alojamento conjunto,
Quad ro 59.3 I Índice de Apgar acompanhado de sua mãe;
S111al o 1 2 avaliar o aspecto macroscópico da placenta, mem-
branas e cordão umbilical. Caso haja algu ma anor-
Frequência ausente < 100 bpm > 100 bpm
Cardíaca malidade, enviar para exame anatomopatológico. Se
o R e a placenta não apresentam anormalidade
Respiração ausente lenta. irregular Choro forte
imediatamente identificáveis, recomenda-se guar-
Tõnus flacidez alguma flexão Im?vimentos dar a placenta em geladeira ou formo! a 10%, pois
muscular atiVOS o exame anatomopatológico poderá er de grande
-
Irritabilidade ausente careta tosse ou valia para o diagnóstico de doenças neonatais, cuja
reflexa espirro sintomatologia pode aparecer mais tardiamente.
Cor cianose ou tronco róseo. completa-
palidez extremidades mente róseo Rc(t'lll 1/cl.\Odo Ctllll RDJ'II'<IIdll \,/,·,JIItiLI.r.l ( > JO(l H/',\ I.
I cianóticas COIII lrcllrosc Ccllatl/r;::,u/o
Administrar oxigênio inalatório, sem pressão positiva;
O índice de Apgar não deve ser usado para determinar utilizar c,\teter de oxigênio conectado a uma máscara ou
a necessidade de reanimação. Essas manobras, quando envolvido pela mão do reanimador colocada em forma de
necessárias, devem ser iniciadas imediatamente, não se es- concha bem próximo à face do RN, com fluxo de 5 litros/
perando o tempo de um minuto, quando é feita a primeira minuto, para oferecer concentrações de oxigênio próximas
avaliação do Apgar. a 100%. Caso a criança melhore, o oxigênio deve ser reti-
Os procedimentos seguintes serão condicionados pelo rado afastando-se o cateter progressivamente da face do
estado clínico do recém-nascido, avaliado pelo trê sinais recém-nascido e dar continuidade à sequência de cuidados
vitais: frequência cardíaca, respiração e cor.26·" básicos. Caso isso não ocorra, deve-se iniciar, imediatamen-
te, ventilação com pressão positiva com bolsa e máscara.
/{((<"II I lhl.>Cu lo.i ((1111 Rc:;pmlçcio :tdC!Jllllllt!. n. > /()t) H/ 1
,\ / ,·

l !llcldtl.> 011 (0111 -\aoChllltJ~,· Rcct'lll lltlictclo co111 /~,··'/'IIIIÇcl<l lrn~~rdtu: H. ... 100 HP.\ I
Não necessitam de medidas especiais de reanimação. Se- Wlll ( .ltlllt>.'t (;t:/ICitlft_tldtl

guir o procedimento para recém-nascido em boas condições. Estímulos táteis com piparotes nas solas dos pés ou es-
A acrocianose é comum e não é reflexo de má-oxigenação. fregando uma compressa no dorso do RN no máximo por
Exame sumário, com especial atenção para a ectos- duas vezes podem desencadear movimentos respiratórios
copia (defeitos externos, malformações múltiplas, efetivos. Oferecer oxigênio inala tório durante esses proce-
inais de má-nutrição fetal e permeabilidade dos dimentos.
orifícios natu rais), ausculta pulmonar c cardíaca,
palpação abdomi nal (abaulamentos, ma a c vis- Rlll.\1 · :\ \\Lll>OUl\1 f-L < /tlt!JW.\1 Ol l \1 \P\11\0l

ccromegalias), genitália, sistema nervoso (tõnus l 0.\f RI \/'IR I<,..Ül /N.I{/l.l I \ R I LI \.\0\1 <.ll I i~\()
muscular); 1\1 \P<l\'lll \1 \(l 0\/l,/ \lO/\ \1 \ICll·'/(1/ I ,1/\ll/ ()\I\ I

identificar correta mente o RN; Caso os batimentos cardíacos caiam abaixo de I 00


não havendo anormalidades importantes, propor- bpm, a despeito do fornecimento de maior concentração
cionar o contato visual c corporal do RN com sua de oxigênio e em casos de apncia ou respiração irregu lar

Assistência ao Recém-nascido g 61
que não respondem a estímu lo tátil ou, ainda, na presença dequada insuflação pulmonar ou hipoxem ia grave e pro-
de cianose persistente, deve-se iniciar ventilação compres- longada. O passo mais importante, portanto, é manter boa
são positiva (VPP) com balão e máscara. Após 30 segun- oxigenação por meio de ventilação eficaz. Medicamentos
dos de ventilação positiva a criança deve ser reavaliada. só serão utilizados naqueles casos de FC igual a zero e nos
Caso a cria nça melhore (FC superior a lOO bpm), a casos em que, apesar de adequada ventilação com oxigên io
pressão e a frequência d a ventilação deverão ser progressi- em concentrações próximas de 100% e compressões torá-
vamente diminuídas até recuperação da respiração espon- cicas tecnicamente bem realizadas, a frequência cardíaca
tânea, quando se fará a retirada completa da V PP, manten- persistir abaixo de 60 bpm.
do-se oxigênio inalatório. Os medicamentos e os expansores de volume são uti-
Se, apesar das manobras de ventilação adequadamente lizados para estimular o coração, melhorar a perfusão teci-
instituídas não houver melhora do quadro clínico e a fre- dual e restaurar o equilíbrio ácido-básico.
quência cardíaca estiver abaixo de 60 bpm, conti nuar com O prim eiro fármaco administrado geralmente é a adre-
a ventilação assistida, iniciando compressões esternais e nali na. Comercialmente encontrada na concentração de
intubação traqueal. 1:1.000, deve ser d iluída para 1: lü.OOO (I m i de adrenalina
Essa criança necessita de imediatas e eficazes mano- e 9 mi de água bidestilada) e adm inistrada pelo tubo tra-
bras de rean imação. Os objetivos dessas manobras são o queal ou na veia umbilical na dose de 0,0 1 a 0,03 mg/ kg
restabelecimento de permeabilidade das vias aéreas, da (O, La 0,3 mi/kg), podendo ser repetida a cada três a cinco
ventilação adequada, da circulação e, finalmente, terapêu- m inutos se não houver resposta adequada (aumento da
tica defin iti va do processo que desencadeou a asfixia. frequência cardíaca acima de I 00 bpm). Estudos têm utili-
Após verificar que as vias aéreas estão permeáveis, zado megadose de adrenalina (0,2 a 0,3 mg/ kg) nos casos
mantém-se a ventilação já em curso com balão e máscara que não respondem às doses habituais; no entanto, não há,
ou intubação traqueal. ainda, evidências clín icas que confirmem essa prática na
Após ventilação adequada por 30 segundos, o próximo reanim ação neonatal.
passo vai depender da FC. Durante a reanimação, volta- Na evidência ou suspeita de sangramento agudo ou
-se a verificar a FC periodicamente a cada 30 segundos, com sinais de choque hipovolêmico (palidez persistente
tomando-se a decisão de manter ou interromper a ação: após oxigenação, pulsos fracos, má-perfusão periférica e
FC < 60 bpm: iniciar imediatamente as compres- má-resposta à reanimação), deve ser indicado o uso de ex-
sões esternais, mantendo-se a VPP; pansores plasmáticos. Em nosso meio, o mais utilizado é a
FC entre60 e 100 bpm: interromper as compressões ester- solução de cloreto de sódio a 0,9% (soro fi siológico). lnfu-
nais e manter a VPPaté a FC atingir I00 bpm ou mais; dir 1Omi/kg, em cinco a 10 minutos, podendo ser repetido
FC> 100 bpm: avaliar movimentos respiratórios es- caso p ersistam os sinais de hipovolemia.
pontâneos. Se presentes e eficazes, a pressão e a fre- Não há dados su ficientes para recomendar o uso ro-
quência da ventilação deverão ser progressivamente tineiro do bicarbonato de sód io na reanimação neonatal.
diminuídas até a suspensão completa da V PP. Após Seu emprego deve ser desencorajado nos proced imentos
essa suspensão, oferecer oxigênio inalatório; de reanimação rápidos. Utilizá-lo somente dura nte para-
FC persistentemente abaixo de 60 bpm após 30 segun- das prolongadas, não responsivas às outras man obras de
dos de ventilação e massagens cardíacas eficazes: me- reanimação e após certifica r-se de que a ventilação e as
d icamentos só serão utilizados naqueles casos em compressões esternais estão sendo eficazes. Geralmente, é
que, apesar de adequada ventilação com oxigênio encontrado na concent ração de 8,4%, devendo ser di lu ído
em concentrações próximas de 100% e compres- para 4,2% (10 mi de bicarbonato de sódio a 8,4% e IOmI de
sões esternais tecnicamente bem real izadas, a fre- água bidestilada), antes de ser utilizado na reanimação de
quência cardíaca p ersistir abaixo de 60 bpm. recém-nascidos. A dose indicada é de 2 a 4 m i da solução/
kg de peso (1 a 2 mEg/ kg) administrados lentamente em
Raramente será necessário usar medicamentos em re- no mínimo dois minutos (1 mEq/ kg/ min).
an imação neonatal. É importante notar que a disfunção O naloxane será utilizado no caso de depressão respira-
m iocárdica e o choque, no recém -nascido, se devem à ina- tória com história de adm inistração de opioides à mãe, nas

g62 Noções Práticas de Obstetríc ia


últimas quatro horas antes do parto. Encontrado comer- LIMITES DA VIABILIDADE E DA Deu sÃo MLDILA
cia lmente na concentração de 0,4 mg/ ml, deve ser uti lizado Regras clara para iniciar, manter ou u pender as ma-
na dose de O, I mg/ kg (0,25 mi/kg) injetada rapidamente nobras de reanimação cm sala de parlo, principalmente em
através do tubo traqueal, pela via venosa ou subcut:lnea. casos especiais, seriam de grande ajuda tanto para os pro-
Essa dose poderá ser repetida uma a quatro horas após, se o fi sionais de saúde quanto para os familiares, bem como o
efeito do opioide administrado exceder o tempo de ação do respeito às reais necessidades c direitos do recém-nJscido.
antc~gonista. Evitar o seu uso caso a mãe seja sabidamentc No entanto, a complexidade dessa decisão dificilmente
usuária de drogas opioides, pelo risco de sínd rome de absti- permitirá consenso uni vcrsJimente aceito, já que envolve
nência, com crises com ulsivas no recém-nascido. ,1spectos científicos, tecnológicos, econôm icos, rei igiosos e
Durante a reanimação, observa-se inicialmente exprc - morais que apresentam peculiaridades nJcionais c loc.lis.
siva mobilização de glicogênio hepático c pode haver f.1se Mesmo assi m, deve-se empenhar nJ ciJboração de pro-
transitória de hipcrglicemia, seguida de hipogliccmia. O tocolos com Jdaptações regionais, para facilitar a deCisão
r.1strcamcnto dessa hipoglicemia torna- e imperativo após médica de investir ou não na reanimação de cada cJso es-
as manobras de reanimação ou mesmo durante o processo pecial. Esses protocolos devem ser revistos pcriodicJ mentc
nos casos muito prolongados. A correção da hipogl icemia à luz dos avanços rus práticas de reanimação e tratamento
será feita com soro glicosado a 10% na do c de 5 a 8 mg/ intensivo neonJtal c de sua repercussão na qualidade de
kg/ min, apó dose de ataque, nos casos mai!> graves, de 200 vidJ dos recém-nascidos assistidos.
mg/ kg (2 ml/kg à velocidade de I ml/mi n). Com os recu rsos atuais, parece ser adequJdo não rea-
Njo existem evidê ncias convincentes de que atropi- nimJr cm sala de pa rto R com idade gc tJcional confir-
na e cálcio tenham real eficácia na fase aguda da reani- madJ menor que 23 semanas ou PN inferior a 400 g, bem
mação neonatal. como criJnças com diagnósticos confirmados de anonlJ-
liJs incompatíveis com a vida (JnencefJiiJ, trissomiJs dos
CUIDADOS APÓS A REANlMAÇÃO cromo o mos 13 c 18, entre outras). Essa decisão deve in-
Após as manobras de reanimação, o recém-nascido cluir discussão com os pais ou tu tores Jinda no pré-natJI,
dever:í ser tran portado para uma sala de observação baseJndo-se em exames como ultrassonografi,, ou amnio-
onde será acompanhado de perto pela equipe respon- centcsc, opinião de equipe mu ltidisciplinar c con ulta J
sável. Me mo que e tenha alcançado a e tabilização um ou mais profissionais de referência. Os R s devem re-
da ventil.1ção e da circulação, o R continua sob risco ceber atenção do médico-assistente, na sJla de parto, pJrJ
c deverá ser monitorizado pa ra que medidas preventi- confirmJr ou refutJr o di,lgnóstico pré-natal. a dúvida,
vas ejam tomadas. A monitorização pós-ressuscitação devem- e instituir os cuidado necessários até a possibili-
deve ser individualizada e poder:í incluir monitorização dJde de novos dados cl ínicos confi rrnatórios. 2
cardíaca e respiratória, saturimetria, análise de gases san- Atualmente, há tendência a se consider<~r J não inicia-
guíneo·, triagem metabólica e infecciosa c RX de tórax, ção do suporte ou suJ posterior retirada como eticamente
a fim de elucidar c1usas subjacentes do evento ou para equivalentes, sendo que no últi mo caso pode-se gJnhar
dctect:u complicações. tempo para mel hor avaliação clínica c obtenção do con-
De acordo com a evolução de cada recém-nascido, po- sentimento familiar. o entanto, deve ficar claro que ape-
dem ser necessários, e devem ser prontamente disponibi- nas retJrdar a morte com suporte pJrciJI ou gradati vo não
lizados, cuidados pós-reanimação continuados, tais como trJrá benefícios.
tratamento de hipoten ão, convulsões, infecção, distúrbios O utrJ indicação para suspender JS manobras de re-
metabólicos c hidroeletrolíticos. animação seriJ a persistência de as i toliJ por mJis de
É fundamental a adequada documentação, na folha IS minuto . A experiênciJ tem mostrado que .1 sobrcvi-
de evolução da criança, de todas as observações c atitudes dJ de crünças com mJis de 10 minutos de JssistoliJ é
rcalizad,\s. O registro deve inclu ir os e cores de Apgar no muito rJra c, quando acontece, quase emprc c .lssociJ
pri meiro c quinto minutos e a cada cinco minutos até a a graves sequelas.
cstabilizJção, usado para quantificar J resposta do rccém- Independentemente da naturczJ ou grJvidJde, todos
·nJscido às mJnobrJs de rcJ ni mação. os recém-nascidos vivos devem ser admitidos cm local

Assistência ao Recém-nascido
apropriado, com conforto e cuidado pal iativos. Esse cui- os sinai e sintomas da principais doença que acome-
dados incluem nut rição, ambiente térmico e alívio da dor. tem os neonatos, pois, ao acompanhar todo o pré-natal c
Os pai devem ter a oportunidade de tocar e ficar junto do realizar o parto, estarão capacitado para melhor entendi-
seus filhos durante e se período. mento do processo de de envolvimento do recém-na!>cido
A Figura ' 9.2 apre enta o fluxograma da reanimação no primeiros dia de vida. O obstetra é valioso auxiliar do
na sala de parto. nconatologi ta, seja fornecendo a informaçõe~ da hi tória
obstétrica, seja discutindo cada caso e, pri ncipalmente, na
tran missão de informaçõe sobre a aúde do recém-nas-
EXAME DO R ECÉM- N ASCIDO cido aos pais, sendo, nesse momento, o profissional mais
envolvido com o binómio mãe-filho e a família.
O exame físico do R po ui características e peciais O exame clínico deve !>er constituído pelos seguintes
que devem ser do conhecimento de todo pediatra, mesmo tópico!>: conhecimento da hi tória da gestação, ht tória
que não cja nconatologista. Os ob tetra também devem detal hada do parto, classificação do R com avaliaçao da
dominar a técnica de ex,\ me do recém-nascido c conhecer idade gestacional c do exame físico istcmatizado.z

Colocar o RN sob calor radiante


Posicionar
Aspirar a boca e depois as narinas
Avaliar a respiração
(Aspirar traquéia, se houver Apnéia ou
mecOnio em RN deprimido) gasping
Espontânea
Secar e remover os campos úmidos
VPP COfl}Ü Avaliar FC

>100
<100
Avaliar FC
I I
! Cianose
Rósea ou
acrocianose
<60 60 a 100 >100
Continuar aVPP Continuar VPP e reavaliar Se respiração
Iniciar compressões periodicamente a FC a espontanea.
0 2 inalatório Observar e
estemais cada 30 segundos suspender ventilação monitorar

Medicações se FC < 60bpm após 30 segundos de VPP com 02 a 100%


e compressões esternais eficazes

Depressão narcótica Adrenalina 1:10000 FC> 60


Naloxane 0,1mg/Kg 0,1 - 0.3 mi/Kg Suspender

Hipovolemia?
Expansor volume
..--IFC < 100
Reanimação prolongada
Acidose metabólica?
10mlJI(g NaHCo 3 2meq/Kg

Figura 59.21 Fluxograma geral da reanimação ru ala de p:Hto.

Noções Práticas de Obstetrícia


HISTÓRIA GESTACIONAL Complicações surgidas durante agravidez: p ré-eclâmp-
sia, h emorragias, doenças infecciosas adq uiridas
Devem ser registrados todos os momentos da evolu- durante a gestação, anemia, gestações múltiplas,
ção. É importante saber se a gravidez foi planejada e se foi oligo ou polidrâmnio, tabagismo, uso de álcool ou
bem aceita. Deve-se conhecer a saúde materna antes da outra d rogas.
gestação. É necessário saber se a grav idez foi natural ou Condições socioeconômicas: ausência de assistência pré-
após técnicas de reprodução assistida. -natal, alimentação deficiente, precárias cond ições de
Os exames realizados du rante o pré-natal deverão estar higiene, trabal ho excessivo, analfabetismo, impossi-
d isponíveis no prontuário para avaliação do neonatologista. bilidade de observação de cuidados de saúde.
A ava liação da idade fetal é importante ta nto para o obs-
tetra quanto para o pediatra e pode ser feita com certo grau
de precisão por meio de avaliação clínica e ultrassonogránca. HISTÓRIA DO PARTO
Algumas situações clínicas desenvolvidas du rante a
evolução da gestação merecem atenção especial. O cres- Acompa nhar o t rabalho de parto ou con hecer sua evo-
cimento intrauterino restrito pode estar associado a doen- lução é fundamental para a antecipação à assistência ao
ças cromossôm icas, infecções intrauteri nas, h ipertensão recém-nascido tanto na sala de pa rto quanto nos primeiros
materna, tabagismo, cardiopatias e má-nutrição fetal. A d ias de vida. O tipo de parto, as características e em que
macrossom ia fetal está, frequentemente, relacionada com situação ocorreu são m uito importantes na avaliação do
diabetes materno. Ta nto a restrição qua nto a aceleração prognóstico do RN. Febre, necessidade de anestesia geral e
do crescimento intrauteri no aumentam o risco de d istúr- hipotensão por compressão da veia cava são sit uações que
bios metabólicos da glicose, do cálcio e do magnésio nas podem levar a risco de infecções ou hipóxia peri natal. Bol-
primeiras horas de vida do RN, necessitando de controle sa rota prolongada (mais de 18 horas) aumenta o risco de
clínico e ou laboratorial. A dimi nuição dos movimentos infecção e necessidade de investigação no recém-nascido,
fetais é mais observada em doenças neu romuscu lares e com o objetivo de detecta r-se precocemente qualquer sina I
doenças cromossômicas. O polidrâmnio está, geralmen- de septicem ia neonatal.
te, associado a atresias das partes altas do tubo digestivo Gestantes colonizadas no trato genital pelos estrepto-
e defeitos de fechamento do tubo neural, enquanto que o cocos do grupo B ou não triadas dura nte a gravidez devem
oligoidràmnio associa-se a anomalias do sistema renal. ser submetidas a med idas pron láticas durante o t rabalho
Infecções do trato uriná rio podem comprometer o de parto e o parto segundo protocolos especiais. Os RNs a
bem-estar fetal e desencadear pa rto pré-termo. Esses p re- termo assintomáticos devem fica r sob observação clínica
maturos podem desenvolver quadros infecciosos gene- durante48 horas e os R Ns pré-termo, também assintomá-
ralizados e, após o nascimento, devem ser submetidos a ticos, devem ser submetidos à triagem laboratorial para
controle clínico rigoroso e avaliações laboratoriais, com sepse. Nos R Ns sintomáticos, o tratamento antirnicro-
hemocultura, hemogramas seriados, contagem de plaque- biano deve ser iniciado após coleta de hemograma, PCR,
ta e proteína C reativa. hemocultu ra, urocultura, exame bioquím ico e cult ura de
Alguns fatores podem ser relacionados como sendo de liguor e RX de tórax.
risco para a gestante e o feto e devem ser bem pesquisados: Protocolos especiais existem também para gestan-
Características físicas da gestante: idade menor que 16 tes HI V positivo e p ortado ras do vírus da hepatite B.
anos e maior que 35 anos, peso abaixo de 35 kg e ga- Recém -n ascidos d e m ães HI V positivo devem com eçar
nho inadequado de p eso em cada etapa da gravidez. a receb er nas primeiras ho ras de vida zidovud ina oral
Antecedentes obstétricos: ciru rgias obstétricas a nterio- n a dose de 2 mg / kg de peso a cada seis horas. A m edi-
res, nati ou neomortalidade, pa rto prematuro, apre- cação deve ser ma ntida pelo menos durante seis sema-
sentações anôma las, sensibilização pelo fator Rh. nas. Recém-n ascidos de mães HbsAg positivo d evem
Antecedentes mórbidos: hipertensão, d iabetes, do- ser vaci nados logo após o nascimento e devem receber
ença rena l, cardiopatias, transtornos psiquiátricos, do se de imunoglob ulin a a nti-h epatite B n as p rimeiras
problemas neurológicos, doenças infecciosas. 12 horas de vida.

Assistência ao Recém -nascido g6s


O aspecto do líquido amniótico revela dado impor- Q.t \;\;r o\ ln\IH C1·~r \Cio:-.; \I
tantes obre o feto e o recém-na cido e deve er do conhe-
cimento de todos que vão dar assistência ao recém-nasci- I' I l I \I \ \j l(l h I ~ ll

do. Líguido meconial sugere sofrimento fetal com risco É o que tem a idade gestacional (IG) menor que 37
de aspiração e hipóxia. Líquido com odor fétido sugere semanas completa . A prematuridade é fator de ri co para
corioam nionite. síndromes asfixia ntes, imaturidade pulmonar, hemorragia
A e cala de Apgar fornece dados acerca das condições pcri c intraventricular, encefalopatia bilirrubinêmica, in-
do recém-nascido nos primeiros minutos de vida e deve es- fecções, distúrbios metabólicos c nutricionais, retinopatia,
tar presente em toda papelet,L atraso do desenvolvimento neurop icomotor e outros.
O pediatra que deu assistência ao recém-nascido em A C ID-1Oclassifica dois subgrupos:
sala de parto deverá fazer relatório detalhado sobre o parto P07.2: imaturidade extrema, determi nada por IG
c as condições do recém-na ciclo que deverá ser consulta- < 28 semanas de gestação;
do antes de se iniciar o exame físico. P07.3: outros R.Ns de pré-termo, ou seja, R de 28
a 36 semana de gestação.

CLASSIFICAÇÃO DO RECÉM-NASCIDO I I l I \ \ \l /l)(l \ I U' I (l

São os que nascem entre 37 c 41 emanas.


Os recém-nascidos não constituem grupo homogé-
neo; a classificação permite definir ri cos de morbimorta- I I \ \ \l ' 1

lidade neonatal p.tra ações preventivas. Os critérios utili- São os que nascem com IG ~ 42 semanas de idade ges-
zados ão peso ao nascer, idade gestacional, relação peso e tacional. Os eventos indesejáveis associados ao nascimen-
idade gestacional e estado nutricional. to pós-termo decorrem da possibilidade da ocorrência de
insuficiência placentária, principalmente síndromes a fi-
xiantes. A codificação na C ID-lO é P08.2.

\\\I) Hi \ )J>/\(l /~\H/'


) Q_uA~ r o\ Rt LAÇ \O P1 su 1 I n \Lll ( :1 sr \CIO:\ \I
Apresentam peso ao nascimento inferior a 2.500 g, in-
dependentemente da idade gestacional. A CID-IO, 199-, Para cada época da gestação, existe variação de peso
ela ifica dois ubgrupos: considerada normal entre os pcrcentis IO c 90 para uma
P07.0: R de peso extremamente baixo ao nascer dada população. A partir daí, o RN pode ser classificado em:
(PN < 1.000 g); Grande para a idade gc racional (C IG), e acima do
P07.1 : outros RNs de baixo peso ao na ·cer (PN percentil90;
entre 1.000 e 2.499 g). apropriado para a idade gcstacional (AIG), se entre
o percentiiiO e 90;
Embora a C ID-lO não separe o subgrupo de RN de pequeno para a idade gcstacional (PIG) , se abaixo
PN < 1.500 g, muito baixo peso ao nascer (RN MBPN), na do percentillO (Figura 59.3).
prática isto é feito porgue é um referenoal importante para
risco aumentado de morbimortalidade quando compara- O Rt pode ser PJG em consequência de constituição
do ao grupo situado entre 1.500 e 2.499 g, embora não tão genética, infecções crõn icas durante a gravidez, hiper-
alto quanto no grupo abaixo de 1.000 g. tensão materna, d isfunções placentária , m.1lformações
congênitas, ·índromes cromo à micas, entre outras. O
RI ti I \I'( )j) l L \ll \ I \ I grupo de RN PIG, conforme denominação do C ID-lO,
ão os recém-na ciclos com peso ao nascimento compreende dois subgrupos:
igual ou superior a 4.500 g. Na C ID-IO a codificação é POS.O: RN PIG, com PN abaixo do pcrccntil 10,
P08.0. porém com estatura acima do pcrccntii iOpara a IG;

g66 Noções Práticas de Obst et ric ia


P05.1: RN PIG, com peso e est.1tura ao nascer da devido à maior ·obrevida de R cada vez menores. As-
abaixo do pcrccntiiiO. sim é que a prematuridade extrema passa a ter como ponto
de corte o P1 abaixo de 650 g e a I , abaixo de 2- ~emanas,
O R pode er ,JG por con tituição genética ou cm e não como a especificada anteriormente, de 1.000 g e 28
consequência de diabete materno. O filho de m:le diabé- emana , respectivamente.
tica aprcsent.l ri co aumentado de mortalidade perin.ll.tl,
prematuridade, asfi xi.l, hipoglicemia precoce c outros dis-
túrbios metaból icos, distúrbios respiratórios, tocotrau ma- EXAME FíSICO DO RECÉM-NASCIDO
ti~mo~. infecções e anomali:l congênitas.
A C ID-10 subdivide o grupo cm: A aparência geral do RN, o aspecto da pele, a cor, a ati·
P08. 1: outros RNs C IG (exclui R > 4. ·ao g); vidade, o tônus, o ritmo respiratório (regul.tr ou com esfor-
P70.0: R s de mães com diabetes gestacional; ço) são observações feitas antes do início do ex.11nc si te·
P70.1: R s de mãe diabéticas. matizado. Ocorrência durante o parto que repercutem no
recém-nascido, como impregnação pelo mccônio, tocotrau-
5000.----- - -- -- - -- - -- - - - - , mati mo , in fecções e o estado nutricional, ão também ob-
Grande para a 1dade gestac1onal
servadas logo no início do exame. Atenção c pccial deve cr
4 000 d;~da para a detecção de qualquer malformação congénita.
O exame fí ico, isto é, as avaliaçõe de maturidade neu-
"'~ romu ·cular e física citadas na terminologia (Figura 59.1 ),
!!!
~3. 000 deverá er realizado entre eis c 12 horas de vida, de prefe-
QJ

rência quando o R esti ver cm estado de alerta cm estar


~
onolento ou chorando muito. O R deverá estar tot.ll-
2 000
mcntc despido c, se não estiver sob calor radiante, o exame
nJo poderá ser muito demorado, pelo risco de hipotcrmia.

Pré-termo : Termo : Pós-termo


S1~ 1 1 \1.-\ t · \RDlORRI ~P1R \ ró1uo
0+--2~5~2~7~~~3~1~3~3~
35~3~7~3~
9 ~41~4~3~4~
5~
Idade gestacional em semanas
A corda pele é provJvel mcntc o mdicc mais objctivo do
Figura 59.3 I Classificação do RN de acordo com o peso c a bom funcionamento cardiorre pirat rio. Recém-na cido
1dadc gc~tacional.to nas imento ( Lubchenco, 1966). ro ·ado e com ritmo respiratório regular dificilmente apre-
cntará qualquer problema cardiopulmonar. A ciano e pe·
Q_l ,\:\ I O ,\O F~ lADO '\L liU( lOl\. \1 rifé rica, chamada de acrocianose, acontece pelo frio c não é
indicati vo de sofri mento cardiorrc piratório. A frequênci a
Os pn ncipais sinais clínicos da má-nutrição fctJ I são respiratória é de 40 a 60 incursões por minu to. A maioria
perda de vérn ix, pele seca e apergaminhada, com desca- dos R apresenta o ritmo periódico de respiração, que
mação e fissuras, diminuição do tecido subcutâneo e do consiste em incur õe r.ipida intercaladas com pequena~
turgor da pele, confenndo à criança o aspecto de de nu- pau .ls re piratórias, com duração inferior a cinco cgun-
trido agudo. Podem estar associados sinais de sofrimento dos c não acompanhadas de bradicardia.
neurológi o. A m.\-nutrição é quantificada em grJus I, II
c III, de acordo com a intensidade das manifestaçõc. Os
distúrbio nutriCJonai maternos, as síndrome hipcrtensl· i \L'Sl L' L I ,\ ( . \R ()fACA
vas c outr.ts situaçõc que levam à insuficiência placcnt.1ri.l
e tJo a ~o 1ado .\de nutrição fetal. ' opros nas primeira~ horas de v1da em R corado,
t importante mencionar que nos países desenvolvidos acia nótico c em e forço re piratório não devem ser indica-
essa nomcncl.ltura vem cndo modificada c complementa- tivo de cardiopati.l congén ita grave, as quais quase sempre

Assistência ao Recém-nascido
967
apresentam alterações significativas na função cardiopul- ao ortopedista. A palpação do o so é medida roti neira
monar. A frequência cardíaca é normalmente entre 120 e para afastar a possibilidade de fraturas principalmente nas
160 batimento por minuto. Algu n recém-na cido a ter- clavículas.
mo apresentam frequências card íacas abaixo de 100 bpm. Orelhas e condutos auditivos devem ser exJmi na-
Normalmente, qu.wdo estimulados, esses recém-nascidos dos com rigor. A boca e a muco a oral também devem er
voltam a apre cntar frequência acima de 100 bpm e, nes- detalhadamente examinadas.
te c,l o , não há nccc idade de profundas investigações. A forma e o aspecto do crânio são observados e o ta-
O pulsos femorai devem ser palpados. Se houver al- manho e a tensão da fontanclas deve rão ser anotados no
guma dúvida, a pressão arterial nos membros superior e prontuário. Avaliar o pescoço c a glândula tireoide.
inferior deve er verificada. Os olhos são examinados para detectar qualquer anor-
malidade do tipo mancha branca no cristalino, sangramen-
to conjuntiva!, suspeita de glaucoma e rnicroftalm ia.
ABDO.t\11- O exame neurológico é iniciado pela avaliação da
postura, do tônus ati vo e pa sivo e, fi nal mente, do reflexos.
Inicia- e o exame físico do abdome pela ob crvação, Paraii ias por lesões de plexos nervosos também precisam
venficando- c c c tá abaulado ou e cavado, se é simé- er avaliadas.
trico, se está distendido e com circulação colateral ou se
apresenta hérnia umbilical ou inguinal. A palpação super-
ficia l deve ser delicada e palpa-se o fígado com facilidade PARTICULARIDADES DO EXAME FÍS IC O
cerca de 2 cm Jbab:o do rebordo co tal direito. O baço
normalmente não é palpado nos recém-nascidos. A palpa- P111:
ção profunda é possível em função da delicadeza da pa-
rede abdominal c os rins são normalmente palpados nos Na avaliação da pele podem ser detectados:
primeiros dias de vida, podendo se avalia r seu tamanho, Erile111a tóxico: é lesão critematosa, mk ulo-papu-
l.Ua forma c ua po ição. lar, cmclhante à picada de inseto, podendo conter
pequena vesícula cm ua parte central. É de cará-
ter migratório, aparecendo em algumas partes do
CI'\IT\11\ corpo enquanto se de vanecc cm outras. Pode
coaie cer e, às vezes, estender-se por todo o corpo.
O exame da gen itália masculi na inclui a avaliação do A etiologia é de conhecida, provavelmente relacio-
formato c ta manho do pênis, a posição do oriflcio uretra I, nada a irritação por roupas e sabonete . De apare-
o c croto c J palpação dos te tículos, avaliando-se seu ta- ce espontaneamente ao final de alguns dias, não
manho c con i tência. a genitália feminina ob ervam- c nece sitando de cuidados especiais.
os grandes c pequenos lábios, o orifício h imen ia I, o aspecto Manchas mongó/,cas: são manchas de coloração
da mucosa v.1ginal c corrimentos ou cistos. arroxeadas que c localizam principal mente na
região sacra! e nas nádegas. Não tem signi ficado
clínico c desaparecem espontaneamente nos pri-
Cl R.\L meiro anos.
Mancha sal111ão: caracteriza-se por le õc plana ,
Rotineiramente anotam- ·e peso, estatura e perímetros róseas ou avermelhadas, muita vezes telangectási-
cefálico, torácico e abdomi nal. cas, de localização preferencial na nuca, pálpebras,
Os linfonodos podem cr palpados em cerca de 30% glabela e região nasolabial. Es a le õe são presu-
dos RNs, geralmente pequenos e nas regiões inguinais c mi vel mente composta de capilarc dérmico ectá-
cervical. sicos, que regridem espontaneamente no primeiro
A articulações devem ser todas pc guisadas e, na ma- ano de vida. As lesões localizadas na nuca podem
nobra de O rtolani po itiva, o R deverá er encami nhado persistir até a vida adulta.

g68 Noções Práticas de Obst etrícia


Hiperplasia sebácea: são pequenos pontos esbran- Bossa serossanguínea: tumefação difusa, edematosa,
quiçados ou amarelados localizados comumente localizada no subcutâneo do cou ro cabeludo o u
no dorso do nariz. Ocorrem pela h iperplasia de outras regiões correspondentes à apresentação obs-
glândulas sebáceas e não devem ser espremidos. tétrica. O "sinal de godê" está presente, a tumefação
Desaparecem nas primeiras semanas de vida à me- tem limites imprecisos, ultrapassando as suturas.
dida que diminui a taxa de hormôn io materno cir- Não necessita de t ratamento, desapa recendo e m
cu lante no recém-nascido. poucos d ias.
Mi/ia: são placas bran cas peroladas de 1 a 2 m m de Céfalo-hematoma: tu mefação de consistência elásti-
d iâmet ro localizadas frequentemente na face, prin- ca, bem del imitad a, não ultrapassa ndo a sutura ós-
cipalmente nas bochechas, q ueixo, sulco nasolabial sea, por ser coleção sa nguínea subperióstea. 't. mais
e fron te. Não tê m significado clínico e desaparecem frequente sobre os parietais, uni ou bilateralmente.
nas primeiras semanas. Geral mente é reabsorvido, porém em tempo mais
Miliária: é eritema pápulo-vesiculoso causado pelo longo que a bossa serossanguínea. As vezes pode
aumento de secreção de glândulas sudoríparas. calcificar. Pode ser causa de anemia e icterícia.
Ocorre principalmente no pescoço e face, dorso
e superfície de flexão dos membros. O tratamen-
to consiste e m usar roupas leves, dar banhos para ÜL HOS
refrescar e enxugar bem a criança e usar pastas re-
frescantes. Na avaliação dos olhos é possível encontrar:
Adiponecrose: man ifesta-se por nódulos ou p lacas Conjuntivite neonatal (ophtalmia neonatorum): re-
endu recidas, arroxeadas, normalmente sobre sa- ação conjuntiva! de origem quím ica, com pouca
liências ósseas (face, om bro, nádega), de tamanho secreção e edema discreto, pelo efeito irritativo do
e formato variados, não aderentes aos planos pro- nit rato de prata que se usa no método de Crede.
fu ndos. Geralmente está associado a feto grande c Hemorragia conjuntiva!: consiste na presença de áre-
parto laborioso, sendo sua etiologia descon hecida. as hemorrágicas na esclerótica. Aparece em alguns
Não necessita de tratamento, desaparecendo em recém-nascidos em consequência ao trabal ho de
geral até o sexto mês. São contraind icadas massa- parto. É reabsorvida esponta neamente, não neces-
gens, fricções ou pomadas. sitando de cuidados especiais.
Traumatismos de parto: escoriações, lacerações, ede-
mas, hematomas e lesões corto-contusas podem
ocorrer como consequência traumática do parto BocA
natural ou instrumental. Quando não associados a
sinais neurológicos, são de bo m prognóstico, neces- Ao exa me, o RN pode apresentar:
sitando apenas de cuidados locais. Cistos na cavidade oral: são cistos de cor esbranqui-
çada, encontrados no palato e na gengiva. Quan-
d o se localizam na linha média do palato, recebem
o nome de pérolas de Epstein; e q uando locali-
zados nas gengivas, são chamados de cistos de
O recém-nascido pode apresentar: Bohn. Desaparecem espontaneamente e m poucas
Cavalgamento de suturas: superposição de bordas sema nas.
ósseas com desaparecimento da sutura correspon- Calos de sucção: consistem em placas bem demarca-
dente. t devido à moldagem da cabeça fetal ao es- das, elevadas, de epitélio cornificado, que aparecem
paço intrauterino e ao canal de parto. Não necessita nos lábios durante as primeiras semanas. São acha-
de tratamento especial, uma vez que regride com o dos normais, dispensam trata mento e regridem es-
crescimento do encéfalo. pontaneamente.

Assistência ao Recém-nascido g6g


Lh 11\JGO nervo facial no seu trajcto esterno do crânio, geral-
mente pela colher do fórceps ou por aliência ó -
O exame do umbigo pode revelar: scas no canal de parto. O prognóstico é geral mente
Gmllltlomaumbrlicnl: con i te em tecido de granula- bom e a recuperação é lenta e gradativa.
ção avermelhado que se localiza na profundidade da Paralisra braqwal: o diagnó tico é ferto pela po tu-
cicatriz umbilical c mantém secreção serosa, às vc- r-.r do recém-n,lscido, pcrm,lncccndo com o br.1ço
zel. hemorrágica, du rante os primeiro dias de vrda. estendido em rotação interna ao longo do corpo
O tratamento é cauterização com lápis de nitrato de e, assim, mantendo rcncxo de Moro assi métrico. É
prata trê vcze ao dia, até seu desaparecimento. causada pelo esti ramcnto do plexo braqu ial cm ma-
Oufalrte: é caracterizada pela presença de sinais no- nobra obstétricas que envolve m tração exagerada
gísticos na região umbilical, principalmente odor do braço ou da cabeça, mais frequente cm parto
fétrdo, hipercmia e edema periumbilical, podendo pélvico ou distócia de ombro.
apresentar ecreção purulenta. O agentes etiológi-
cos são estreptococos, estafilococos e entcrobaclc-
ná ca . Deve- c colher matenal para bacterio o-
pi.r c cultu ra c iniciar tratamento com a a sociação
de ammoglicosídeo c oxacilina. O tratamento local Ao exame, pode-se detectar:
deve ser feito com olução anti ~éptica c pomad<1s à Luxação coxojemoml: a u peita é levantada quando se
ba~c de neomicina c bacitraci n.l. encontra restrição àabdução da articulação coxofemo-
ral. A ultrassonografia confirmar.i o diagnóstico. los
casos leves ou qua ndo se tem dúvidas de que a articu-
lação esteja anormal, o quadril deverá er mantido cm
posição de Acxão e abdução, com o auxilio de fraldas
Podem estar prc ente : dobrada entre a coxa . É importa nte o controle clíni-
orrrmw to vagural: a genitália da maioria das meni- co periódico pelo ortopcdbta. o., casos ma i~ grave\, a
na~ pode apre entar- e com edema de grandes lá- articulação é imobilizada com gc~~o ou aparelho orto-
bio~ c corrimento leitoso, mas raramente hcmorrá- pédico, endo a cirurgia alguma \I!ZC nece sana.
gi o. Isto ~c deve à pa sagem de estrogênio materno Frcrtum de clavfwla: é trauma ó co relativamente fre-
par.1 o feto nas última emana de gcstaçjo. De~a­ quente, que e manifesta por choro à manipulação
parccc cm alguns pouco dias c não há nccc idade da clavícula, edema na região upraclavrcular e cre-
de cuidados especiais. pitações à manipulação. O prognóstico é muito bom
TcstrwlosJom da bolsa: e age tação não .1tingiu o ter- e cm poucos dias já se nota a formação do calo ósseo.
mo, os testículos poderão estar no abdome ou no c:r- Fratura de Jemur e de rínrero: são traunu raros e de
nal inguinal e o escroto liso c pouco pigmentado. Al- fácil diagnóstico devido à dor, ao edema, às deform i-
guns R a termo apre entam criptorquia c devem dades e à incapacidade fun ional do membro lc ado.
ser acompanhados du rante o primeiro ano de vida. Em todos os casos deverá ~cr feita a radiografia par;r
melhor avaliação. O tratamento deverá ser orientado
pelo ortopedista.
P.\R \ 1 1'-1 "-

Em situações especiais, o R pode apresenta r: o R ECÉ M-NAS C IDO


Pamlrsw Jácral: o diagnóstico é feito pela assimctri.1
CRI T IC AMENTE ENFERMO
fc1cial dura nte o choro, com desvio da com is ura la-
bial para o l.1do não lesado c dificuldade de oclusão
da pálpebra e enrugamento da testa do lado lesa- O diagnóstico pré-natal de doença fetal que requer
do. Dcvc-~e à cornpre~são ou ao esmagamento do assistência nconatal de alta complexidade vinc ul.1o nasci-

970 Noções Prát icas de Obstet rícia


mcnto à 111 titui ão de alldc que responda àquela deman outra técnica que pode ser empregada é coletar o
da. Quando não for po ível prever o nível de complcxid,l- leite materno para a mamada egutnte antes deu ar
dc da a 1 tência, a transferência é feita após o nasc1 mento, o medicamento;
cm condiçõe adequadas, por pc soai treinado c h.tbilitado o leite do fim da ama mentação contém ma i gordu-
cm reaninuçào c tra nsporte c somente apó a c tabilitação ra c pode concentrar medicamentos lipo!-solllveis;
clínica da criança. Mesmo as maternidades de baixo risco sempre que a nutriz c tiver cndo medicada, é con-
devem ter condiçõe!.t de prestar assistência de qualidade a veniente manter .1 m.ic c a crianç.1 sob observação. O
recé m-nascido doente até,, sua transferência. fato de o medicamento poder ser us.1do não significa
A qualidade d:t assistência ao recém-nascido prcnu- que será inócuo para todas as pcsso.ts;
turo ou doente na sala de parto c nas primeiras horas de o emprego de tópico (cremcs,spray n,t ai ou inalante )
vida é fator importante no prognó tico de a cria nças. As pela mãe pode tambem determinar mcos para a crian-
altcraçõc!.t hcmodi nãmicas, a hipotcrmia c hipertcnnia, os ça. Embora haja menos concentração e transferência
di túrbios hidrocletrolíticos e metabólicos e as infecçõc do medicamento, é re omendável manter observação;
agravam o prognóstico neu rológico. em :~ lgumas situ:~çõcs, é conveniente avali.u a con-
Apó os cuidados da ala de parto c a c tabilização ini- centração, no angue da criança, do fármaco que e tá
Cial, recém-na cido com batimento. cardíacos est:ívc1 c co- sendo usado pela m.ie.
lor,lção rosada, mesmo à custa de ventilação manual ou me-
cânica, pode ser tr.tnsportado em in ubadora de transporte Para mais informações ~obre o uso de medicamentos,
para a Unidade Nconatal para a continuidade da assistência o leitor poderá con ult:~r o capítulo 9 - Medicamentos.
ou até er referenciado a serviço de mais complexidade.

REFERÊNCIAS
AMAMENTAÇÃO E MEDICAMENTOS
Orgamzação ~l undral de Saude. C!J,,rfit.u;.ro lntcrnacron.rl
de Doenças. 10' revis5o. v. I. São Pau lo: OJ\ IS; 1995.
O u o de medicamentos pela nutriz pode trazer pro-
2 FanaroA.AA.I\.Iarun RJ '\conatal - Pcnnatal J\ lcdiCmc: Drsea\e
blema para o lactente. A pa · agem de medicamentos c ofthe Fetusand lnfànt, 9cd St Lom~ Mo byYcar Book: 2011.
poluente atravé do leite vai depender de vários fatores, fa- 3. Bra~rl. 1inisténo da .lUde lnformaçóes de audc L),\TA
zendo com que a concentração de se elemento po~!.ta ou u . Drspom\·cl cm: htt r '"""" data'>U\.gov.br
não tra;er ri~co para a criança.s·9 as situações nas quais a 4. CLAP. Salud Pcnn.ltal. 11olctin dei Centro Lumo Amcrica
mãe c tá crn u o de alguma medicaç.io, é importa nte cui- no de Perinatologra e De~arollo Humano de la OPA~ 0~1~
199S: 2:25-30.
dado c pcCI.II\ a aber:
S. CLAP. ·aúdc Pcnnatal: Srstema lnformauw l'cnnatal (SI P).
Prc c rever apcna o indi pcn ável; Dr ponrvel em: http:. ww\\.clap.op-.-orm.org
avalia r se o tratamento pode ser adiado; 6. 1\mcrican Hcart A ~socr.llion, Amcncan Ac.1dcrny of Pcdiat-
usar .tmíni ma dose c pelo míni mo tempo possível; rics. lntcrnational Guiddmc~ for Nconat.1l Rcsuscnauon : An
u ar medicamento com o qual j:í se tenha ex periên- Excerpt from Nconatal Rc-.u~crtauon : 20 10 Arnerican Ht•art
A~ ocration Guidclrncs for Cardiopulmonar Rc'>U'>crtatron and
cia e que eja m,tis seguro para a criança; Emcrgcncy Cardiovascular Care. D1sponrvcl cm http: W\\ " ·
ou o do medicamento logo após a m:tmada (prin- pcdratncs.org cg1 contenl full 126. ) cl400
cipalmente quando se sabe que o período de sono 7. Bloom RS, Cropley C. Tcxtbook of 'conatal Rc~u~cuatron.
da cria nça erá longo) pode di minui r a pas agem Dallas: Amencan Hcart A"oc1atron, 1994
do medicamento pelo leite, pois é possível que a 8. Amencan Acadcmy ofPcd1.1trics - Conumttec on Drug' :1hc
tran<fcr ofdrug and other chemrcal~ rnto human mrlk Pcdr·
concentração do me mo e tcja menor no fim do in- atncdOOI ; IO (]V-6·89.
tervalo. Q uando a amamcntaç.io é frequente c irre-
9. llr.1sil. Ministérro da , aúdc Amamcnt.1c;.io c U\O de mcdrca·
gular, e~~a técnica pode não fu ncionar, .1ssim como mentes c outras ~ ub'>t.tn cl .l \ . Br.1~1h.1 · ~ecrct.m.t de Politicas
para substâ ncias de ação c liberação prolong.tdas; de Saúde. Area T~cn1ca de Saúde da ri.uwa. Mini>téno da
·aúdcdoBra il;2010.

Assistência ao Recém -nascido


971
Seção 7
Puerpério
60 Puerpério Fisiológico
ClovisA ntonio Sacha
Cézar Alencar de Lima Rezende

Modificações do Organismo Ori entações Gerais


Materno no Puerpério
Mamas e Aleitamento
Útero, Vagina e Períneo
Digestivas
Urinárias
Circulatórias

ão existe período de mais folclore e segredos puerpério tardio: entre o li o c o 40° dia após o parto;

N do que o puerpério. Nossas avós não tomavam


banho e deixavam de lavar a cabeça enquanto
não eram tra nscorrido os 40 dia ; ai r de ca a, nem pen-
puerpério remoto: do 41 ° dia até o 60° dia apó o
parto.

sar. Nessa fase a gestante cumpriu ua função e agora se Ao fi nal desse período, nas puérper:ls que não amamen-
transformará cm nutriz. Várias atividades deixam de ser ta m o orga nismo reassume todas as suas funções, incluindo
exercida · e ncce sitam er desativadas c outras tantas se- a ovul,tção e a menstruação.
rão de envolvida . E sas modificações extrema c rápidas,
algumas vezes, trazem alterações não compreendidas ade-
quada mente por quem as observa. É necessário, portanto, MODIFICAÇÕES DO ÜRGANISMO MA-
ter conheci mento do assunto para que não se intervenha TERNO NO PUERPÉRIO
de forma de ncccs ária, ou mesmo inadequada, durante o
pucrpério. Entretanto, ainda ão poucas as orienta õe ba-
eada cm cv1déneta . MAMA E ALEITAMENTO
Com poucas divergência , classifica-se o pucrpério em
três fases:1 Durante a primeira metade da gestação, o duetos lactí-
puerpério imediato: do período de observação até o feros proliferam formando lóbulo c se preparando para e -
10° dia após o parto; tarem apto à produção de leite apó o parto. Depois de e
período, a proliferação diminui e o epitélio se diferencia cm sozimas. O volume de leite maduro sccrctado ati nge a
epitélio ccrctor, as ociando-se a aumento da trama vascu- média de 600 mi/dia. Mostra-se isotónico com o plasma
lar, tecido conjuntivo c gorduroso que, ao fi nal da gestação, materno. As mais importantes proteínas encontradas são
fazem com que a maioria das glândulas ma márias pratica- a alfa-lactalbumina, a beta-lactoglobulina c a ca eína. Pos-
mente duplique ou triplique seu volume inicial. sui, ainda, boa quantidade de interleucina-6 c vitamina ,
O estrogênio e a progesterona, que participam ativamcn- com cxccção da vitamina K, que deve ser admi nistrada ao
te do período de mamogênese, serão inibidos pela prolacti- recém-nascido logo após o nascimento. O leite materno
na e esse declín io é fundamental para a adequada lactação. A contém pequena quantidade de ferro c os depósitos mater-
administração de cstrogênios durante a fase de implantação no desse elemento parecem não ser afctados pela lactação.
da lactação (lactogênese) levará à diminuição da produção Entre todas as oricntaçoes de cuidados com a mama na
láctea. O hormônio lactogênio placentário também exerce hora da amamentação, a mais efi caz para prevenir fi ssuras
função inibitória sobre a prolacti na, enquanto a insuli na e os mamárias parece ser a adequada pega labial do recém-nas-
glicocorticoidcs são estimulantes da lactogênese. cido, abocan hando toda a aréola e não somente o mamilo.
Estabelecida a amamentação, inicia-se o período de ga- t de suma importância que essa orientação seja passada no
lactogênese, no qual ainda os hormônios exercem a sua período do pré-natal e, de preferência, com aulas prática ·.4
ação, mas o principal fator mantcncdor da lactação passa a As demais orientações, como tomar sol nas mamas, passar
ser o reflexo da sucção. 01Janto mais a puérpcra ama men- pomadas c atritar a aréola durante a gestação ão mcno
tar o recém-nascido, mais forte ser:í o reflexo neuronal com importantes. Se as fissuras se instalam, existem no merca-
liberação de ocitocina c inibição da dopami na. A dopa- do pomadas cicatrizantes como alternativa terapêutica. A
mi na é in ibidora da liberação de prolactina. Sendo assim, aplicação deve ser cm pequena quantidade de modo a não
a inibição da dopamina permite a manutenção de níveis ser necessário retirar o exces o posteriormente.
elevados de prolactina, essencial para a manutenção da a mama ingurgitada, a região da aréola deve ser esva-
lactação. Q uando se de eja inibir a lactação ne ·se período, ziada manualmente antes de ser oferecido o peito à criança;
a primeira atitude é inibir a ucção e produção láctea pelo caso contrário, a sucção não será feita de forma adequada c
cnf::1ixa mento das mamas, pois a medicação dopaminérgi- apenas o mamilo será apreendido, favorecendo o apareci-
ca, apesar de eficaz, não é isenta de efeitos colatcrais. 2 mento de lesões. Para o esvaziamento mamário, quando
O istema nervoso central também modula ,\ liberação necessário, utiliza-se a ordenha manual ou o esvaziamento
de ocitoci na e fatores externos, como ansiedade c depres- durante o banho. Deve ser evitado o uso das bombinhas de
são, que podem atuar de forma desastrosa nesse período, ordenha, que trau matizam a mama. Bicos de silicone são
endo importante a participação das pessoas que rodeiam úteis para nutrizes com mamilos invertidos ou para min i-
a puérpera na criação de ambiente adequado para essa fase. mizar a dor durante a cicatrização das fissuras mamárias.'
A gestante, na hora da amamentação, deverá procura r o A maioria dos medicamentos é compatível com a ama-
ambiente mais calmo e confortável possível. O cotovelo mentação. Em caso de dúvida, o leitor deverá consultar o
deve esta r apoiado, evitando-se, assim, dores nos ombros capítulo 9 - Medicamentos. Pacientes H IV positivo não
c fissuras por tração na parte superior do mamilo. A higie- deverão amamentar.1 ·6·;
ne da .1réolas é desnecessária e passa a ser prejudicial se A insegurança quanto à amamentação é dos principais
feita rotineiramente antes de cada mamada, por retirar a fatores para que a mesma não ocorra de forma adequada.
camada de células queratinizadas que protegem a mama, A gestante deve ser orientada a respeito da importância da
favorecendo o apa reci mento de fissuras. 1 amamentação para o recém-nascido, da capacidade nutriti-
Comparado com o leite maduro, o colostro contém va e imunitária do colostro, dos inúmeros benefícios do leite
ma•~ minerai , proteínas, globulinas, porém, menos açú- materno, inclusive mais capacidade intelectual das crianças
carc c gorduras. Sua secreção persiste por cinco dias e, amamentadas em relação às que não receberam o leite ma-
gradualmente, é substituído pelo leite maduro. lmu noglo- terno ou foram amamentadas por curto período. Amamen-
bulinas do tipo A protegem o recém-nascido de infecções tar deve ser, sobretudo, um momento de intimidade e troca
intestinais. Fornecem proteção extra os complementos, de carinho entre mãe e fil ho c a adequada orientação pode
macrófagos, linfócitos, lactoferina, lactopcroxidase c li- ser a diferença entre ser ou não um momento de prazer.

976 Puerpério Fisiológico


ÚTERO} VAGINA E PERÍNEO o cu tamanho normal. De ocupando lugar no abdome
inferior, o útero em involução deixará espaço que crá pre-
Logo após o parto, o útero procura se acomodar à sua enchido pelas alça intestinais, que haviam ido deslocada
função antenor. Tentando minimizar as perdas anguí- cranialmcnte, di minuindo, as im, o indc cjávcl volume ab-
neas, contrai-se levando à compressão vascular, que é co- domi nal. A partir da redução da hipertrofia d,1s fibras mu -
nhecida como "ligaduras vivas de Pinnard ". Para que i so cularcs, de contrações vigorosas de mai de ISO mm Hg
ocorra de forma :~dequada, é necessário que toda a placenta c da absorção parcial de flu idos c fibras de colágeno pelos
ten ha sido expu is:~ c que não exista infecção ou hipcrdis- macrófago·, o útero reduz rapida mente cu volume.
tcn ão. O anc~té icos e os bloqueios regionab t.1mbém A utilização de crgotamínicos dcvcr.í se restringi r aos
podem cr rcspon áveis por uma involução aquém do es- casos de real necessidade, já que poderão ocorrer efeito
perado. A ma sagem uterina, retirando os coágulos que e colaterai como elevação do nívci prc:,sóricos e inibição
acumularam, tem papel fundamental para minimizar o da lactação.2
sangramcnto nesse período.' Outra prática comum é o uso de cintas cl.í tica . Em-
A utilização de ocitocina intramuscular no pó -parto bora e a pos am, momentaneamente, modelar e dar
com o intuito de mini mizar a ocorrência de hemorragia firmeza ao corpo, por outro lado apertam, comprimem os
puerperal mo trou- c tão eficaz quanto a ergotarnina c va o abdominai e têm custo não de prczívcl. para algo
com meno incidência de efeitos colaterais, tendo, por isso que se utiliza por tão pouco tempo. Não apresentam, no
ganhado a prcfercncia da maioria do autorc .s.•l entanto, contra indicações.
Com três dias de pucrpério já e inicia a regeneração cn- O colo uterino mostra dilatação de IOcm no período
dometrial no leito placentário. lnicialmcntc, instala-se pro- expulsivo do trabalho de parto. o pucrpério imediato, re-
cesso inflamatório regenerativo, descrito histologicamcnte duz essa dilatação para 3 a 4 centímetros c cm uma semana
como endometrite, porém, em componente infeccioso. se encontrará fechado, caso não tenha ocorrido bccração
Embora, na maioria das pacientes, o endométrio se encon- du rante o parto ou se não houver retenção de resto placen-
tre completamente reconstituído no 16° dia, em algumas tário e/ ou infecção.
c sa reconstituição poderá se completar apenas na sexta Depois do parto, a mucosa vaginal se mostrará hipc-
emana de puerpério. O sangramento que ocorre no pó - rcmiada c cdcmaciada devido ao trauma ti mo local. Passa-
-parto {lóquio ) vai mudando de caractcrí tica com o pa - da alguma emana , haverá atrofia ccundárra ao hipo-
ar do dra . Inicialmente, é chamado lóquia rubra, quando estrogcni mo, que poderá se prolongar na paciente que
é constituído praticamente por angue e resto de decídua. amamentam devido à liberação de prolactrna. A aplicação
Po teriormcnte, torna-se serossanguinolento c, ao fi nal de de cremes loc,1is à base de estrogênios de baixa absorção
duas a três semanas, torna-se lóquia alba, quando se aprc- si têmica ou apcna de gel lubrificante atenua os intomas
enta muco o e discretamente amarelado devido à grande decorrentes desse e tado.'
qua ntid:~de de leucócitos. G.!Jando ocorre inadequada in- O hímen previamente rompido é i.lccrado cm vário
volução do sítio pbcent;\rio, o sangramento não cederá e a pontos durante a pa agem do polo cefálico. O processo
curctagem mo tr.1r:l va os hialinizado c parcialmente obli- fibroso que ali se instala dará origem às chamadas carún-
terados. O diagnóstico diferencial com restos placentários c ulas himenais ou mirtiformes.
se fará apcna por meio do estudo histológico. 2 A região perineal também !>e mo trará cdcmaciada.
O peso do útero, ao final da gestação, excluído a pla- Devido ao aumento da pressão abdominal durante o pe-
centa, o líquido e as membranas amn ióticas c o feto, é de ríodo expulsivo, as hemorroidas frequentemente inco-
qua c 1.000 g. o final da primeira semana, pesará 500 moda m no pós-parto. Porém, assim como as varizes de
g, no final da segunda semana, 300 g c, cm pouco tempo, membro inferior, não requerem tratamento nc se período,
atingirá o seu peso ginecológico de ·o a 100 g. E sa redu- porque irão regredir até o final do pucrpéno. Quando o
ção ponderai e processa rapidamente. Logo apó o parto, desconforto for significativo, poderão ser utilizadas dietas
o útero se contrai a ponto de ter o fundo medido na altura laxante , aplicação de cremes com anesté ico e anti-infla-
da cicatriz umbilical. Duas semanas mais tarde, já c en- matórios e banhos locai . A intervenção crrúrgic,l 6 será
contra intrapélvico c, na sexta semana de pucrpério, ati nge necessária nos casos de trombose.

Puerpério Fisiológico
977
A região perineal deverá ser lavada com água e sabão, glomerular e do débito ca rdíaco, como pela desidratação
sem necessidade de out ros cuidados locais. As duchas va- devido às perdas sa nguíneas, ao esforço físico da pacien-
ginais são proibidas, embora os banhos de imersão sejam te e ao período de jejum. Proteinúria moderada e fisio-
perm itidos. Em partos mais traumáticos, como os realiza- lógica é encontrada em até 50% das pacientes durante o
dos a fórcipe, utilizam-se compressas de gelo para diminuir puerpério imediato. Ocorre também elevação da uremia
o edema local e o desconforto da paciente.5 e potassemia (secundárias ao trauma tissular) e interrup-
ção da glicosúria.

DIGESTIVAS
CIRCULATÓRIAS
Pacientes que receberam aplicação de enema no início
do trabalho de parto rara mente apresentarão fu nciona- Verifica-se aumento do volume sanguíneo circulan-
mento intestinal nas 48 horas subsequentes. O ambiente te durante a gestação, em média, de quatro para seis litros.
hospitalar e o medo de dor e de contaminação da região Esse volume voltará à normalidade aproximadamente três
perineal também colaboram para a dificuldade no esvazia- semanas após o parto. Grande parte dessa perda (cerca de
mento intestinal. Geralmente, a simples orientação resolve 1/ 3) se dá durante o parto, mais 1/ 3 até o final da primeira
o problema, mas, quando necessário, pode-se fazer uso de semana e o restante é decorrente do processo de amamen-
supositórios à base de glicerina. tação, que chega a extrair do organ ismo materno um litro
A alimentação após parto vaginal pode ser restabeleci- de líquido por dia. A retirada da placenta (um leito de baixa
da imediatamente. Caso a paciente tenha sido submetida resistência) e a interrupção de produção de substâncias va-
à analgesia com peridural, o ideal é que se aguarde uma a sodilatadoras pela mesma reduzem o leito vascular mater-
duas horas após o parto p ara restabelecer a alimentação. no em torno de 15%.
N o pós-operatório de cesárea, esse tempo deverá ser de Embora o volume sanguíneo materno decline no pós-
quatro a seis horas. Nesse caso, nas pri meiras 24 horas, o -parto, o hematócrito só acompanha essa queda quando
ideal é que se util izem dietas líquidas, à base de sopas, com o parto tiver sido cesáreo. A suplementação de ferro no
poucos resíduos, com o objetivo de evitar a distensão ab- puerpério é desnecessária para as pacientes nas quais o san-
dominal por gases. gramento não ultrapassou a normalidade e que não apre-
A hidratação, venosa a princípio e oral posteriormente, sentaram anemia durante a gestação. A perda de sangue
também é importante p ara o bom funcionamento intesti- estimula a medula óssea e se observará reticulocitose. O
nal e fundamental para a amamentação. mesmo estímulo será um dos responsáveis pela leucocito-
No puerpério remoto, com o objetivo de retorno ao se e trombocitose observadas nesse período. No puerpério
peso ideal, a utilização apenas de exercícios físicos não foi imediato, o leucograma é de pouca valia, já que leucocitose
suficiente para ocasionar significativa perda de peso. O de até 30.000/ m m 3 poderá ser fisiológica.3•11
contrário o correu quando se utilizaram dietas, associadas O débito cardíaco no puerpério fi siológico geral-
ou não à prática de esportes. Essas práticas não interferi- mente decai em 20% dos níveis gestacionais. Isso se deve
ram na amamentação. 10 à diminuição da frequência cardíaca e à involução uterina.
Portanto, a observação de taquicard ia no p ós-parto deve
suscitar a possibUidade de anormalidades, como perda
URINÁRIAS sa nguínea excessiva ou descompensação cardíaca. O débi-
to cardíaco tende a se normalizar ao final da segu nda se-
O traumatismo vesical decorrente da compressão mana. Entretanto, a hipertrofia do miocárdio induzida pela
do poJo cefálico e passagem de sonda poderá ocasionar gestação demora mais tempo para regredir.11 •12
disúria e algúria. A dilatação do siste ma pielocalicial A pressão arterial, tanto a sistólica quanto a diastólica,
e dos ureteres po de persistir até o terceiro mês de pós- nos primeiros quatro dias de puerpério tende a evoluir com
parto. A diurese geralmente se encontra reduzida, não acréscimo de 5% dos valores do término da gestação. Qua-
só pelo progressivo retorno à normalização da função se l2% das pacientes normotensas antes do parto terão

978 Puerpério Fisiológico


pre são arterial dia tólica acima dos 100 mmHg no pós- fusão de soros durante o ato cirúrgico, a complementação
-parto. Caso seja necessário um anti-hipertensivo no pós- só é necessária após a cesárea. Cerca de 1.000 a !.SOO mi de
-parto, o medicamento de escolha deverá er aquele com soro fisiológico geralmente são suficientes. Associa-se gli-
que o médico tenha experiência, já que não cx.istem estu- co e hipertônica para combater a hjpoglicemia. O goteja-
dos com metodologia confiável sobre o assunto. 13 mento de 60 gotas/ minuto faz com que esse volume corra
O sistema de coagulação du ra nte a gestação c en- em período de oito horas, liberando-se, posteriormente, os
contra fisiologicamente estimulado. Devido ao parto e ao braço da puérpera para a amamentação.
sangramento decorrente, ele é ati vado de forma intensa. A movimentação da puérpcra deverá ser limitada no
Inicialmente, nas pri meiras horas, existe consumo dos primeiro cinco a sete dias de pucrpério, devido à possibili-
fatore da coagulação para estanca r o sangramento. En- dade de deiscência da ferida cirúrgica e para mi nimizar a dor
tretanto, já no segundo dia de pós-parto, observa-se incre- pós-operatória. Devem, no entanto, ser e timuladas a deam-
mento desse fatores, inclui ndo a contagem de plaquetas. bulações curtas, que min imizam o risco de trombose e f.wo-
Concent ração elevada de elementos de fibri nólise (prote- rccem a eliminação de gases. Evita- e subir e descer escadas.
ínas C e S e antitrombina III) também é fisiologicamente Pas ado esse período inicial, c c tando a paciente com a cica-
encontrada nesse período, protegendo parcialmente a triz operatória apena dolorida, não existem motivo racionats
puérpera dos fenômenos tromboembólicos. para se restringirem pequenas viagens e direção de automó-
Embora, durante a lactação, cerca de 1.000 mi de lí- veis. Após 40 dias de pós-parto, j:i são permitidos todo os
quido po am er retirado do organi mo materno por exercícios e o início da atividade sexual. Antes, entretanto,
dia, não se observam diferenças hemod inâmicas ent re as é necessário iniciar um método contraceptivo. Dá-se prefe-
que amamentam ou não. Edema de membros inferio- rência ao dispo itivo intrauterino ou aos anticoncepcionais à
res, progres ivo até o 10°-12° dia, é comumente veri fica- base de progestagênio, na forma de depósito ou comprimidos,
do. Entre os fatores que contribuem para seu surgimento por não interferirem na amamentação. O método anticon-
e ma nutenção, podem-se citar: necessidade do organi mo cepcional deve ser institu ído ci nco dias antes de serem reini-
materno de reter líquido para a amamentação, compressão ciadas a relações exuais. Ressaltar que o primeiros coito
do va o abdominai pelo ütero em regres ão - o que é podem er doloro os e que, geralmente, a lubrificação vaginal
exacerbado pelo uso de cintas - e a relativa imobilização no se normaliza apenas com oito semanas de pós-parto. 14
pós-operatório. Como é processo limitado e sem repercus- Aamenorreia da lactação não se mostrou ma i frequen-
õe clínicas, geralmente a imples orientação é suficiente te quando foi utilizada orientação de amamentação com
para tranquilizar a puérpera. O diagnó tico diferencial com horário regulare , em comparação quando e amamen-
trombose de membro inferiores deve ser sempre aventado. tava sem a preocupação com os mesmos. A sua utilização
como método anticoncepcional i olado é questionável. 1 ~
A diástase dos músculos retos abdominais registrada
ORIENTAÇÕES GERAIS no puerpério é faci lmente recuperável com a prática de exercí-
cios de fortalecimento dessa musculatura. Muitas das hérnias
A dieta é liberada após o parto normal. Após a cesárea, de parede abdominal observadas na gestação regredirão no
entretanto, deve-se aguardar um período mínimo de qua- pó -parto devido à dimjnu ição da pressão intra-abdomi nal e
tro a eis horas para reintroduzir alimento. A introdução de da distensão da musculatu ra pelo útero gravídico. Uma reava-
dieta antes desse período favorecerá a distensão abdomi nal liação deverá ser feita com trê meses de puerpério.
por ga es e o ·urgimento de vómitos. O peso materno, devido ao esvaziamento uterino e à
As perdas anguíneas, a inanição c o efeito vasodila- perda anguínea, decai em cerca de cinco a eis guilo no
tador da aneste ia regional (que per iste por hora após o pucrpério imediato. Posteriormente, ocorrerá ainda a per-
bloqueio motor) produzirão mal-estar na puérpera, que da de dois a três quilos devido à diurese. Ao fi nal do sexto
não deverá se levantar ante de receber ali mento. Geral- mê de pó -parto, a puérpera chega ao seu peso fin al, em
mente, no parto normal, a perda de sangue é de SOOmi, en- média, L,4 quilo acima do peso pré-gestacional. A volta ao
quanto na cesárca a média de perda é de 1.000 mi. Devido eu peso anterior dependerá de sua alimentação e de ativi-
à expansão do volume plasmático durante a gestação e à in- dadc frsica, como relatado anteriormente.10

Puerpério Fisiológico
979
O puerpério é o período adequado para serem prescri- pacientes vacinadas para rubéola, esses raramente causam
tas vacinas. Puérperas não imunizadas previamente deve- manifestações com importância clínica no recém-nasci-
rão receber vacinas para hepatite B, dupla-adulto e rubéola. do.16 Pacientes Rh negativo, quando indicado, deverão re-
Às pacientes grávidas, assim como no puerpério, deve-se ceber imunoglobulina antiD (Rh). 17
ofertar a vacina para gripe durante o inverno. Embora ví- O quadro 60.1 sintetiza as principais evidências sobre
rus atenuados possam ser detectados no leite materno de o puerpério.

Quadro 60.1 I Evidências sobre o puerpério


Assunto lr1ter venção Grt1u de
Recomendação

Lactação Quando se deseja inibir a lactação nesse período, a primeira atitude é inibir a sucção 8 I
A higiene das aréolas é desnecessária e passa a ser prejudicial se feita rotineiramente antes c
de cada mamada
A amenorreia da lactação não se mostrou mais frequente quando foi utilizada orientação 8
de amamentação com horários regulares em comparação quando se amamentava sem a
preocupação com os mesmos. A sua utilização como método anticoncepcional isolado é
questionável
A adequada pega labial do recém-nascido, abocanhando toda a aréola e não somente o B
mamilo. Éde suma importancia que essa orientação seja passada no período do pré-natal e.
de preferência, com aulas práticas
Hemorragia A utilização de ocitocina intramuscular no pós-parto imediato com o intuito de minimizar a A
pós-parto ocorrência de hemorragia puerperal mostrou-se tão eficaz quanto a ergotamina
Perda de peso Apenas exercícios não são eficazes para a perda de peso. o contrário ocorre quando se B
da puérpera utilizam dietas, associadas ou não à prática de esportes. Essas práticas não interferem na
amamentação
Medicação Opuerpério é o período adequado para serem prescritas vacinas. Puérperas não imuniza- A
das previamente deverão receber vacinas para hepatite B. dupla-adulto e para rubéola. Às
pacientes grávidas, assim como no puerpério, deve-se ofertar a vacina para gripe durante
o inverno
Pacientes Rh negativo, quando indicado, deverão receber, imunoglobulina antiD (Rh) A
Tempo de A alta precoce deve ser preconizada. Embora o único beneficio demonstrado tenha sido o A
internação de mais prevalência de amamentação, por outro lado não foi detectado malefício materno
ou neonatal, como necessidade de reinternação, infecção ou mortalidade materna e/ou
I neonatal18·19

g8o Puerpério Fisiológico


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Puerpério Fisiológico g81


Hemorragia Pós-parto
Renilto n Aires Lima
Mariana Ataydes Leite eabra
Agnaldo Lopes da Silva Filho

Fatores de Risco Retenção de Coágulos ou Produtos


da Concepção (Tecido)
Etiopatogenia
Distúrbios de Coagulação (Trombina)
Prevenção
Hemorragia Persistente
Diagnóstico Tamponamento Uterino
Abordagem Inicial Embolização de Artéria Uterina
Controle da Hemorragia Pós-parto Intervenções Cirúrgicas
Anormalidade de Contração Uterina (Tônus) Choque Hemorrágico
Trauma do Trato GenjtaJ (Trauma) Diagnóstico
Tratamento

um quarto de todas as mortes maternas no mundo, corres-

E
xi tem vá rias definições para a hemorragia pós-
-parto (H PP). A maioria dos autores a defi ne pondendo a cerca de 125.000 mortes ao ano. Em países em
como uma perda angufnea estimada superior desenvolvimento, a cada 1.000 partos uma mulher morre
a SOO mi após parto vaginal e 1.000 mi após cesariana. 1 de HPP.3 A HPP ta mbém é importante causa de morbida-
Como a e timativa da perda sangufnea no pós-parto é de materna, estando associada a choque hipovolêmico, co-
pouco precisa, algu ns defi nem HPP como a perda san- agulação intravascular dissem inada (CI VD), insuficiência
guínea suficiente para causar queda de 10% nos níveis de renal, hepática e/ ou respiratória, hemotransfusões e sua
hemoglobina ou hcmatócrito e sintomas de hipovolemia complicações e perda da ferti lidade. 2 Uma complicação
ou necessidade de hemotran fusão para seu tratamento.1 rara, porém grave, da H PP é a síndrome de Shechan, pan-
A H PP é classificada como primária ou precoce qua ndo -hipopituita rismo permanente causado por necrose ava -
ocorre nas primeiras 24 horas apó o parto e secu ndária cular da hipófise anterior, que re ulta em au ência de lac-
ou tardia e for diagnosticada entre 24 horas e seis sema- tação, amenor reia, hipotireoidismo e insuficiência adrenal,
nas após o parto. 1 instalada no período pó -parto.4 A prevenção, o diagnósti-
A HPP ocorre cm 6% dos partos, sendo importante co precoce e abordagem si~tematizada são fundamentais
causa de morbimortalidade materna. É rc ponsável por para di minuir seu impacto.
FATORES DE RISCO Quad ro 61.2J Etiologia, fatores de ri co e tratamento das
hemorragias uterinas relacionadas às anormalidades de
Os principais fatores de risco para HPP estão listados contração uterina (tõnus)
no Q!.1adro 61. 1.5 Também são considerados fatores de ris- Anormalidades de contração utenna (tónus)
co a obesidade, idade materna avançada e gestações com
Et1olog1a Fatores de r1sco Tratamento
fetos constitucionalmente grandes. Partos cirúrgicos, es-
pecialmente cesarianas de emergência, elevam o risco de Hiperdistensão Polidrâmnio Massagem e
uterina Gestação múltipla compressão uterina
sangramento pós-parto.6
Macrossomia Medicamentos
uterotônicos
Quadro 61.1 I Fatores de risco para hemorragia pós-parto~ Fadiga uterina Trabalho de parto
acelerado
Fator de r1sco Odds rat10 Trabalho de parto
Terceiro estágio prolongado 7.6 prolongado
I Multiparidade
Pré-eclâmpsia 5.0 I Infecção Rotura prolongada Antibióticos I
Episiotomia médio-lateral 4.7 I intra-amniótica de membranas Massagem e
Febre compressão uterina
Hemorragia pós-parto prévia 3.5 I Medicamentos
Gemelaridade 3.3 t uterotônicos
Parto acelerado 1.7 '! Alteração Miomatose uterina Massagem e
funcional ou Placenta prévia compressão uterina
Uso de fórceps ou vácuo extrator 1.7 I Medicamentos
anatômica do Anomalias uterinas
Episiotomia mediana 1.6 I útero uterotônicos
Tratamento
Nuliparidade 1.5 I cirúrgico

E TIOPATOGENIA

A etiologia da HPP pode ser dividida em quatro pro-


cessos fisiopatológicos disti ntos, que podem ocorrer iso-
Quadro 61.3 I Etiologia, fatores de risco c trata mento das
ladamente ou em combinação, chamados de "quatro Ts":
hemorragias uteri nas relacionadas à retenção de produtos
Tónus - anormalidades na contração uteri na, Tecido - re-
da concepção (tecido)
tenção de produtos da concepção ou coágulos, T rauma -
lesões no trato genital e T rombi na - distúrbios de coagula- Retenção de produtos da concepção (tecido)
ção (Q\Jadros 61.2,6 1.3, 61.4 c 61.S)Y Fatores de
Et1olog1a Tratamento
A principal cau a de H PP pri maria é a atonia uteri na, fiSCO

que corresponde a 80% dos casos 1 Na presença de contra- Placentação anômala Oequitação Extração
ção uterina adequada, a H PP primária deve-se principal- Retenção de incompleta manual
mente ao trauma e placentação anômala.2 Os distú rbios cotilédones Cirurgia uterina Curetagem
de coagulação são causas incomuns de H PP pri mária e Placenta sucenturiada prévia uterina
Acretismo Medicamentos
normalmente ocorrem como consequência de significati-
uterotônicos
va perda sanguínea 1 A HPP secundária é causada pri nci-
palmente por retenção de produtos, subinvolução do sítio Retenção de coágulos Atonia uterina Medicamentos
uterotônicos
placentário e infecção uterina.1•2

Noções Prá t icas de Obstetrícia


OJ!adro 61.4 I Etiologia, fatores de risco e tratamento das hemorragias uteri nas relacionada a lacerações do trato genital
(tr,lllma)
Leso1~s do trato gerrltdlltrdtrrna)

Et1oiOQiil Fatores de r 1sco Tratamento

laceração do colo. vagina ou períneo Parto operatório Revisão do canal de parto


Parto precipitado
Laceração da histerotomia Má-posição fetal Sutura das lesões
Encaixamento fetal acentuado
Rotura uterina Cirurgia uterina prévia Laparotomia e tratamento da rotura
Trabalho de parto mal-conduzido uterina
------
Inversão uterina Multiparidade Tratamento da inversão uterina (Mano-
Manobras obstétricas incorretas i brade Taxe ou laparotomia)
I
Inserção fúndica da placenta

OJ!adro 61.5 I Etiologia, fatore de risco e tratamento das hemorragias uterinas relacionadas aos distúrbios de coagubç:lo
(trombina)
D1sturiJ10S de coagulaçao (tromblna\

Et 1olog1a Fatores de r1sco Trdt<liTWirto

Doenças preexistentes (hemofilia A. História familiar de coagulopatia Infusão de hemoderivados: concentra-


doença de von Willebrand) Hepatopatia do de hemácias, plasma fresco conge-
-- - -- lado. crioprecipitado. concentrado de
Pré-eclampsia Aumento da pressão arterial
plaquetas
Síndrome HELLP
-- - --
Púrpura trombocitopênica idiopática Rash cutâneo
Coagulação intravascular disseminada Decesso fetal
Descolamento de placenta Hemorragia anteparto grave
Infecção grave Febre
Leucocitose
--
Uso de anticoagulantes Trombofilias
História de tromboembolismo pulmonar
l e trombose venosa profunda

PREVENÇÃO menos de 40% das mulheres com algum fator identificado


desenvolvem H PP.8
A avaliação antepa rto dos f.1tores de risco individuais A melhor estratégia na prevenção da H PP é a adoção,
implica di minuição da morbimortalidade materna por em toda as pacientes, da conduta ativa no tercei ro estágio
meio de abordagem preventi va como a instalação de aces- do trabalho de parto, que consiste na admi nistração de
so venoso .tdequado, tipagem e reserva de anguc, avalia- droga uterotônica após o desprendimento do ombro ante-
ção laboratorial c até mesmo a transferência de algumas rior e tração controlada do cordão umbi lical.9·ro Essa con-
paciente para centros terciários.- Entretanto, a predição da duta está associada à redução de 62% nas taxas de H PP. 11
H PP baseada cm fatores de risco é baLx:a.s A maioria dos Aocitocina é a medicação de e colha porque tem eficácia
ca os de H PP ocorre em pacientes sem fatores de ri co e igual ou melhor que os alcaloides do ergot c está as ociada

Hemorragia Pós-parto
gBs
a menos efeitos colaterais.9.12 As doses recomendadas são: IO CONTROLE DA
unidades intramuscular (IM) ou 20 unidades diluídas cm HEM O RRAGIA Pós-PARTo
SOO mi de solução fisiológica em bolus intravenoso (lV). 13
O mi oprostol por via oral ou sublingual deve er usado
quando outros agentes uterotônicos não estiverem di poní- O tratamento da H PP pode variar dependendo da etio-
veis? Adose de 400 ~teg está associada a menos efeitos cola- logia do sangramento e opções terapêuticas disponíveis
terais e parece ser tão efetiva quanto 600 !lcg. 14 (Quadros 61.2, 61.3, 61.4 e 61.5).2

DIAGNÓSTICO ANORMALIDADE DE
CONT R AÇÃO UTER I NA (TôNUS)
O obstetra deve monitorizar a paciente após o parto c
e tar atento para os sinais de angramento exces ivo e de O diagnóstico de atonia uterina é feito por meio do exa-
choque hemorrágico. me pélvico bimanual após o cateterismo vesical. A compre -
são ou massagem uteri na podem diminuir o sangra mento
até que outras medidas sejam instituídas (Figura 61.1 ). 1
ABORDAGEM INICIAL A ocitocina c os alcaloides de crgot são considerados
agentes de primeira linha no tratamento da HPP (Quad ro
Veri fica ndo-se HPP, medidas suportivas gerais devem 61.6).9•16 A dose recomendada é de 20 A 40 UI diluídas em
ser adotadas, incluindo acesso venoso calibroso, infusão de I L de solução fisiológica a 250 mi por hora.9
cri taloide e coleta de amostra de angue para exames la-
boratoriais e reserva de hemoderivado .1
Os !tios preferenciais de punção venosa são os antebra-
ços c as fossas antecubitais. A utilização de acesso venoso
central (veia subclávia ou jugular interna) pode ser útil para
a monitorização da pressão venosa central ou em caso de di-
ficuldade na punção de acesso periférico. o entanto, não se
presta de forma adequada para a infusão rápida de grande vo-
lume de líquidos. As melhores opções para esse fim são cate-
teres periféricos curtos e calibro o (mínimo de 16 gaugc). 15
Inicialmente deve-se solicitar hemograma comple-
to com contagem de plaquetas, coagulograma e dosa-
gem de fibrinogênio. 1 Figura 61.1 I Manobra de compressão uterina.

Quadro 6L.6j Medicamentos utilizados no tratamento da atonia utcrina1•16•22


Med1camento Dose Efe1tos colaterais Contra111d1cações

Ocitocina 10 a 40 UI/ litro a Frequentemente nenhum Hipersensibilidade à droga


250 mi/hora Contrações uterinas dolorosas
Náuseas e vOmitas
Intoxicação hrdrica
Metilergonovina 0,20 mg IM Vasoespasmo periférico Hipertensão arterial
Ergometrina 0,25mg IM Hipertensão arterial Hipersensibilidade à droga
Repetir a cada 5 minutos, se Náuseas e vOmitas
necessário Imáximo de 5 doses)
- -+--
Misoprostol 200 - 400 mcg sublingual ou reta I Distúrbios gastrointestinais
+/- 200 mcg oral Febre i

g86 Noções Práticas de Obst etric ia


TRAUMA DO TRATO GENITAL ( TRAUMA) D ISTÚRBIOS DE
COAGULAÇÃO (TROMBINA)
As lacerações de trajeto devem ser afa tadas pela ins-
peção do trato genital inferior.• O tratamento con iste na A H PP pode ser causada menos comumentc por di -
utura das lcsõcs.9 túrbios da coagulação. Es es distúrbios podem er u pei-
O hematomas podem provocar perda sanguínea signi- tados pela história cl ínica prcgressa e familiar:
ficativa c estão associados a dor e/ou pres ão pélvica e reta I. A coagulação intravascular di cminada (C ID) é con-
O aumento progressivo de um hematom:~ ind ica a neces- dição associada a vá rias complicações obstétricas, poden-
sid:J.dc de abord:1gem cirúrgica. A incisão e drenagem do do ser desencadeada pelo descolamento prematuro de
sangue com utura da inci ão e, se necessário, colocação de placenta, rotura uterina, embol ia por líquido amniótico,
dreno e/ ou tamponamcnto vaginal ão efetivos na maioria infecção intrauterina, pré-cclâmp ia, mola hidat1formc c
da vezes. A radiologia intervencionista é outra opção_! choque hemorrágico. 6
Caso e identifique inversão uterina, esta deve ser pron- Suspeita-se de quadro agudo de CID qua ndo o testes
tamente revertida (Figura 61.2). Após a reversão utcrin:J., de coagulação permanecem :1normais apesar da transfu-
deve-se utilizar agentes uterotônico para prevenção da são de plasma fresco congelado. A avaliação labor:J.torial
recorrência.9 mostra fibrinogênio abaixo de I ,Og/dL e tempo de trorn-
A rotura uterina deve er tratada por meio de reparo do bina au mentado (superior a dua vezes o controle). o
defeito ou histcrcctomia.9 ca o de sangramento persi tente ou no pacientes que
necessitarão de intervenção cirúrgica devem ser admini -
tradas lO unidades de crioprecipitado (2 a 3 g de fibrino-
gênio) c concentrado de pl,tquetas, elevando o número
destas acima de 80.000. 6

H EMORRAGIA P ERSIST ENTE

A hemorragia pode não ser controlada, apesar de ins-


tituídas todas a medida de critas anteriormente, consti-
tu indo risco iminente para a vida da paciente. essa situ-
ação é necessária equipe multidi ciplinar constituída por
cirurgião experiente, intcnsivi ta e anestesiologista. A re ·-
Figura 61.21 Manobra de Taxe para correção de inver ão u citação volêmica da paciente deve er continuada com
uterina. infusão de cristaloides c hemoderivados.

RETENÇÃO DE COÁGULOS OU PRODUTOS


DA CONCEPÇÃO ( TECIDO) TAMPONAMENTO UTERINO

Quando e considera a possibilidade de retenção de O tamponamento uterino por meio de colocação de


produtos da concepção, a ultrassonografia (US) pode ser compres a ou cateter de Folcy pode er eíetivo em até 84'\l
útil no diagnó tico.Adctccção de ma sa ecogênica uterina da vezes em diminuir o sangramento cau ado pcl.t ato-
é sugestiva de retenção placentária_! O tratamento consiste nia uterina após parto vagi nal. 1•17 É importante realçar, no
na curetagcm uterina. Após o esvaziamento uterino, rea- entanto, que o tamponamento é procedimento paliativo c
lizar massagem, compressão e ad ministração de medica- deve ser util izado apenas no controle de dano até que po -
mentos uterotõni os. a ser tomada medida definitiva.

Hemorragia Pós-parto
987
EMBOLIZAÇÃO DA ARTÉRIA UTERINA (Figu ra 61.4). Essa técnica promove significativa di mi nui-
ção do fluxo sanguíneo uterino, permitindo, ainda, apre-
A cmbolização da artéria uterina é eficaz cm até 90% servação do útero c a ma nutenção da fertil idade. Apresenta
das vezc no controle da H PP. 6·- 1- 18 É realizada em centros como desv:~ ntagens mais dificuldade técnica e risco de le-
de hemodinâmica por meio do catctcrismo da artéria ute- são da veia ilíaca e do urcter. A taxas de uces o variam de
rina via artéria femoral e ilíaca internal 9 O procedimento 42 a I00%.6 -
tem duração de uma a duas horas c deve ser realizado em
pacientes estáveis hemodinamicamente, com sangramcn-
to persi tcnte. 1 Apresenta como va ntagens a preservação
uteri na, não necessitar de anestesia geral, menos interfe-
rência nos fatore de coagulação, além da po ibilidadc de
er repetida no caso de recorrência do sangramentoY 18· 19

INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS

Havendo falha desses método descrito , torna- c


imperativa a abordagem cirúrgica para controle da H PP. 1
Pacientes pós-parto vaginal devem ser submetidas à lapa-
rotomia exploradora por meio de incisão mediana ampla
para mel hor exposição'. Existem vá rias técnicas operató- Figu ra 61.3 1Técnica de ligadur.t dos vaso~ uterino:..
rias para controle da H PP.

LIGADUR \DO \' \ \OS UTLR i t\0. Artéria


illaca
comum

Essa técnica consiste na ligadura da artéria uterina na


porção superior do segmento uterino, no caso de cesa-
riana, 2 a 3 cm inferiormente à histcrotomia. A ligadura
é realizada com agulha atraumática c inclui a artéria, veia
Artéria
11íaca "l";------- Arténa
illaca
.ntema
externa
uterina c o miométrio (Figura 61.3). De início, é realizada
unilateralmente e caso o sangramento persista deve ser
Ve1a
realizada no lado contralateral. A margem de sucesso no 11iaca
controle da H PP va ria de 80 a I00%. Apresenta como van-
tagens a baixa taxa de complicações, a facilidade técnica de
sua execução c os altos índices de succsso. 6·;
Caso o sangramcnto persista, pode ser realizada si mul-
taneamente a ligadura dos vasos ovarianos. Figura 61.4 1Técnica da ligadura da artéria ilíaca intern.1.

L ICADURADAA R'I ~ RI A I LíACA I Te R ' A

A técnica de B-Lynch foi a primeira a ser descrita e é


É realizada através de acesso ao retroperitônio e identi- a mais utilizada, sendo descritos mais de 1.000 procedi-
ficação da bifurcação da artéria ilíaca comu m c do urctcr. mentos na literatura, com apenas sete fa lhas. zo A sutu ra de
A ligadura é realizada na artéria ilíaca interna, 2,5 cm di - B-Lynch é fácil de cr executada e tem a va ntagem de pre-
tal mente à bifurcação das artérias ilíacas interna e externa servar a fertilidade ( Figura 61.5). 20

g88 Noções Práticas de Obstetricia


Figura 61S. I Técnica da sutura de B-lynch.

HtSTI-RFCTOJ'v!IA PFRII'ARro

É a modalidade de tratamento mai comu m quando laparotomia quando a condições clínicas da paciente o
a HPP nccc sita de intervenção cirúrgica. ua incidência pcnn itirem.
varia de sete a 13 por I0.000 nascimentos, sendo mais ele-
vadas após cesarianas.6·" A técnica utilizada é a clampagem,
ccção e ligadura, sendo mai frequentemente realizada a CHOQUE HEMORRÁGICO
h i tercctomia subtotal devido ao menos tempo cirúrgico c
mcno perda sanguí nea. É procedimento de uso rotineiro Choque pode ser defi nido como anormalidade do sis-
entre os ginecologistas c obstetra , tornando e sa técnica tema circulatório, que rc ulta cm perfusão e oxigenação
bem fa mi Iia r e de fâci I execução. 21 tcciduai inadequadas. Hemorragia é definida como perda
aguda de volu me sanguíneo ci rc u l a nte.'~

SAi'\GRAMfl'\TO P1 R~l., ITNn A Pó., lll~HRH r0\11 \


DIAGNÓST ICO
O angramcnto pode per i tir na uperfícic pélvica de-
vido ao distúrbio da coagulação c ao trauma da man ipula- O diagnóstico do choque é feito por meio de exame clí-
ção cirúrgica. Frequentemente, os sítios de sangramento são nico e constatação de perfu ão c oxigenação tecidual inade-
pequenos e difuso , tornando difícil a hcmosta ·ia por meio quada . A avaliação cuidadosa do e tado circulatório da pa-
de sutu ra ou coagulação. Uma tentativa de controle pode ser ciente é importante para a identificação das manifestações
realizada pela técnica de embolizaç.io da artéria uteri na. iniciais do choque, que incluem taquicardia e vasoconstri-
Nas pacientes submetidas à nova laparotom ia pode ção cutânea. A utili7,ação apena da pre são arterial istólica
ser rea lizada a ligadura das artérias ilíacas internas. os como indicador de choque pode oca ionar atra o no seu
ca os mais grave. , com distúrbio de coagulação, choque reconhecimento porque os mecanismos compensatórios
hemorrágico de difícil controle, acido c metabólica c hi- podem minimizar a queda da pressão sistólica até perda
potermia, uma opção é o empacotamento da pelve com de 30% do volume circulante. A dosagem de hemoglobina
compressas estéreis('· damage conlrol"} A paciente deve er c hcmatócrito não são Lltcis para c ti mar a perda anguínea
cnc:11ninhada a uma unidade de terapia intensiva para e - aguda, cndo inapropriadas para o diagnóstico do choque. 15
tabilização hemodin.lm ica e correção da coagulopatia. As A sintomatologia geralmente re Aetc o comprometi-
compressas estéreis ão retiradas pela via vaginal ou por mento hemodinâmico c a perda volêmica (Qyadro 61.7).

Hemorragia Pós-parto
g8g
Q uadro 61 .7 1C la sificação e tratamento do choque hemorrágico"

Class1hcaçao do choque na hemorrag1a pos-parto

Compensado Leve Moderado Grave

Perda sanguínea (% volemial < 15 15a 25 25a35 >35 I


Perda sanguínea (mil 500 a 1.000 1.000 a 1.500 1.500 - 2.000 > 2000 I

~
FreqUência cardíaca (bpml < 100 100- 120 > 120< 140 > 140
-
Pressão arterial Normal Normal Diminuída Diminulda
~

~
Amplitude de pulso Normal Diminuída Diminuída Diminuída
Frequência respiratória (irpml 14-20 20 - 30 30-40 > 40
Débito urinário (mi/hI > 30 20 - 30 5-15 Mlnimo I
--
-
Estado de consciência Ansiedade leve Ansiedade moderada Ansiedade e confusão Confusão mental, torpor e
mental letargia
--
Tratamento Cristaloides Cristaloides Cristaloides e Cristaloides.
Ocasionalmente hemotransfusão hemotransfusão e cirurgia
I hemotransfusão

TRATAMENTO cristaloidc que necessit.l ser reposto é a infu são de 3 mi


de solução c ristaloide para cada I mi de sangue perdido
O tratamento do choque deve ser institu ído imulta- ("regra 3: 1"). 1'
ncamcnte ao seu diagnó tico. Inicialmente é direcionado Os mesm os parâmetros clínicos utilizados pa ra o
à re tauração da perfusão tecidual c o rgâ nica por meio diagnóstico de pcrfu ão inadequada, tais como pressão
da restauração do volu me anguíneo circulante. Vaso- sanguínea, a mplitude de pulso e frequência ca rdíaca, po-
pres ores são contrai ndicados no tratamento do choque dem servi r como parâ metros de estabilização hcmodinã-
hemorrágico." mica do paciente. O débito urinário é excelente indicador
Deve-se estabelecer via aérea patente, ventilação e da te rapêutica institu ída, via de regra, débito de aproxi-
oxigenação adequadas, mantendo saturação de oxigén io madamente 50 mi por hora sugere reposição volêmica
acima de 95%; oferecer oxigcn io suplementar por cateter adeq uada. 1'
nasal ou másca ra facial; e real izar catcterismo vcsical de A resposta da paciente à ressuscitação volêmica inicial
demora pa ra mon itorização da diurc c. 15 é fundamen tal para determi nar-se a terapia subsequente.
A · soluções eletrolíticas isotõn icas são u .tdas na res- Essa resposta pode identificar as pacientes cuja perda foi
suscitação volêmica inicial do tratamento do choque, por superior à estimada, aquelas com hemorragia persistente e
promover expansão do volu me circula nte, mesmo que que requerem t ratamento cirúrgico; além de defin ir a ne-
transitoriamente. O ringer lactato é a olução de primeira cessidade de hemotransfusão (Quadro 61.8)."
e colha. A solução fisiológica, apesar de repor adequada- A reposição de sa ngue está ind icada qua ndo o hemató-
mente a volemia, tem a possibilidade de causar acidosc crito encontra-se aba ixo de 35 a 30%. Em pacientes jovens
hiperclorêmica, particularmente em paciente com insufi- e saudáveis, n íveis de hemoglobina em torno de 7,0 g/dL
ciência renal." são bem tolerados, desde que estáveis hemodina m ica men-
A repo ição é feita cm bolus, admin istrando-se 1.000 te c com a hemorragia controlada.
a 2.000 m i de ringer lactato. Esti mativa do volume de

ggo Noções Práticas de Obstetrícia


Quadro 61.8J Respo ta à re su citação volêmica iniciaP 5
Resposta a ressuscrtação volênliCa rnrcral (2 000 mi de solução de rrnger lactato)

Resposta raprda Resposta transrtorra Sem resposta

Sinais vitais Retorno à normalidade Melhora transitória (retorno da Permanecem alterados


hipotensão etaquicardia)
Perda sanguínea estimada(% valemia) Mínima (1-0-- 2-0_%_) -l--
M-oderada e persistente (20-40%) Grave(> 40%)[
~----------------~
Necessidade de mais cristaloide Baixa Alta Alta I
- - · - - --+-- - - - - - - -- - l - - -- - -
Necessidade de hemotransfusão Baixa Moderada-alta Imediata 1

Preparação de sangue Tipagem e prova cruzada Tipo específico Onegativo (emergência)


-----+------·----
Necessidade de cirurgia Possível Bem possível Muito passivei I

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Hemorragia Pós-parto
991
62 Infecção Puerperal
William Schneider da C ruz Krettli
M aria Am élia Sarmi ento Dias da Silva
Mário Dias CorrêaJúnior

Fatores Predisponentes Choque Séptico


Fasciite Necrotizante
Patógenos
Tromboflebite Pélvica Séptica
Patogênese
Outros Processos Infecciosos Puerperais
Formas Clínicas M astite P uerperal
Infecção do Canal do Parto
Infecções do Trato Urinário
Infecção de Ferida Operató ria Pós-cesariana
Endometrite e Endomiometrite
Prevenção
Parametrite, Anexite e Abscesso Pélvico
Peritonite

enom ina-se in fecção puerperal qualquer infec- Febre baixa nas primeiras 24 horas após o parto, sem

D ção bacteriana que acom eta os órgãos genita is


fe mi ninos após o parto. Ocorre, na maioria
das vezes, devido à contami nação da cavidade uterina com
evidência de bacteremia, geralmente é consequência de
resposta endócrino-metabólica ao trauma ou atelectasia
pós-operatória. Todavia, febre superior a 39° C nas primei-
bactérias presentes na flora vaginal ou na pele. 1 A endo- ras 24 horas após o parto sugere infecção grave, geralme nte
m iometrite constitui forma clínica frequente de infecção causada por estreptococos dos grupos A e B, devendo ser
puerperal, podendo estar associada ou não à infecção d a prontamente tratada.
episiotomia, fe rida operató ria ou da parede abdomi nal. O utros processos infeccioso s - como as mastites, infec-
A infecção puerperal, também conhecida como febre ções urinárias ou respiratórias - també m podem acomete r
puerpcral, constitu i importante causa de morbidade ma- a mãe no puerpério.
terna, sendo a terceira pri nci pal causa de mortalidade ma-
terna no Brasil, ficando atrás apenas dos processos hiper-
tensivos e das hemorragias. FATORES PREDISPONENTES
O principal si nal da infecção puerperal é a febre. O US
Joint Commission on Maternal Welfare defin iu como febre Os principais fatores de risco para a oco rrência de in-
puerperal a temperatura axila r ~ 38° C , medida em quatro fecção puerpe ral são :
ocasiões distintas, com técn ica adequada, em dois dos pri- Durante a gravidez: baixo nível socioeconômico,
meiros lOd ias após o parto, excluídas as primei ras 24 horas.1 desnutrição, diabetes, obesidade, procedim entos
invasivos (amniocentese, cordocentese) e infec- PATOGÊNESE
ções maternas (genitais, urinárias e respiratórias);
Cook e Lynch, em 1986, mostraram gue o papel da A flora vaginal da grávida é muito parecida com a da
anemia materna no desenvolvimento da infecção mul her não grávida e é composta de microrgan ismos ae-
puerperal é controverso. 1 róbios e a naeróbios. Os lactobaci los (aeróbios) predomi-
No parto: trabalho de parto prolongado, rotura nam na flora vaginal e são considerados m icrorgan ismos
prematura das membranas, excesso de toques va- protetores, pois p roduzem substâncias com propriedades
ginais, antissepsia inadequada, monitorização fetal bactericidas. Entretanto, vá rias bactérias da flora vaginal
interna, uso de fórcipe, via de parto (risco LO vezes sâo potencialmente patogênicas. Diversos fa tores prote-
mais alto após cesariana), 3 fatores relacionados à gem a mulher contra a ascensão desses microrganismos
técnica operatória, tempo cirúrgico muito aumen- patogênicos1 como a acidez vaginal, o muco cervical e os
tado e complicações cirúrgicas. anticorpos maternos contra vários desses microrganismos.
No puerpério imediato: retenção de restos placentá- Durante o trabal ho de parto, e especialmente após a
rios, hemorragias e precária higiene pessoal. rotura das membranas1 alguns dos mecanismos protetores
encontram-se ausentes. Toques vaginais e monitorização
fetal interna facilitam a ascensão da flora vaginal para a ca-
PATÓGENOS vidade uterina. Após o parto, as bactérias que ascenderam
até a cavidade uterina atingem o sítio de inserção p lacentá-
Antes da descoberta dos conceitos de antissepsia e da ria. A decídua necrótica e o sangue intraútero constituem
penicilina, a morte materna ocorria, na maioria das vezes, excelente meio de cultura para crescimento bacteriano. No
em caráter epidêmico devido às infecções causadas por parto cesariana, o trau ma cirúrgico1 a rotura da decídua
bactérias gram positivo, principalmente pelos Streptococ- basal com desvitalização de tecidos, a formação de hema-
cus beta-hemolíticas do grupo A. Atualmente1 as infecções toma na li nha de sutura e os próprios fios de sutura fun-
puerperais são poli microbianas (Quadro 62. 1) e, na maio- cionando como corpo estra nho au mentam sobremaneira
ria das vezes1 causadas por bactérias p rovenientes da flora o risco de infecção.6
vaginal, com predomínio dos aeróbios e dos anaeróbios
gram negativo. A bactéria aeróbica mais encontrada é a Es-
cherichici coli, sendo também a maior responsável pelo cho- FORMAS CLÍNICAS
que séptico. D os a naeróbios1 o BacterioidesJragilis é o ma is
importante causador de infecção 4 Nos casos de in fecção INFECÇÃO .D O CA N AL DO PA R T O
puerperal tardia, do 10° dia à sexta semana pós-parto, a
Chlamydia trachomatis é a principal responsável pelas infec- A in fecção do canal de parto é evento pouco comum1
ções genitais 5 incidi ndo e m aproximadamente 0,05% dos casos.

I
Quadro 62.1 Bactérias mais encontradas nas in fecções puerperais
Bacter1as Aerob1cas

Gram negativo: Escllerichia cali, Klebsiella pneumoniae, Proteus mirabi/is, Enterobacter sp


Gram positivo: Streptococcus, Enterococcus, Staphylococcus
Bacter1as Anaerób1as

Gram negativo: Bacteroides fragillis, Bacteroides sp, Fusobacterium sp

Gram positivo: Clostridium sp, Peptostreptococcus sp, Peptococcus sp


Outras bactér1as Mvcoplasma sp, Chlamyd1a trachomat1s, Ureaplasma, Ne1ssena gonorrhoeae

Noções Práticas de Obstetrícia


994
A lacerações do trajeto c da cpisiotomia f.worcccm a de 6 em 6 horas) por via oral por ete a I Odi,\ , cm regime
contaminação por ba téria proveniente da vagi na e pele. ambubtorial.
Antissep ·ia inadequada, lacerações não uturadas, he- Em ca o de celulite cm comprometimento istêmi-
matoma e laceração do reto aumentam o ri co de infecção. co, o tratamento é ambulatorial c envolve cuidados locais
O diagnóstico é cl ínico. A paciente geralmente queixa- c antibioticotcrapia oral com cefalcxina ou amoxicilma-
se de dor no lo ai c, ao exame cl ínico, ob~crvam-se hipe- clavula nato.
rcmia, calor, edema c, algumas vezes, saíd.\ de ·ecreção Em casos de celu lite com comprometimento si~têmico
purulenta. ou formas purulentas, preconiza-se a intcrnaç:to da paciente,
A ferida operatória deve er explorada, com drenagem c quem a antibiótico cndovcnso de amplo espectro - clind.l-
da ecreção purulenta, dei.xando-se a cicatrização perincal micina e gentamicina - além da abordagem cirúrgica.
realizar- e por cgundJ intenção. A coleta de material para
cultura pode ser útil para a escolha de antibióticos em ca-
sos ma i grave . ENDOMETRITE E ENDOMIOMETRITE
O tr.ttamcnto deve incluir o uso de analgésicos c lava-
gem diária da ferida operatória. Em caso cm que não há A cndomctritc, com ou sem o acometimento do mio-
comprometimento sistêmico nem abscesso, o tratamento métrio (miomctrite), é forma de infecção ma i comum no
antibiótico pode er feito por via oral, com pre crição de pucrpério. lnicia-se com a contam inação do leito placcnt.í-
ccfalosporina de primeira geração {ccfalexina -oo mg de 6 rio, com posterior acometimento da mu culatur.\ uterina.
em 6 hora ). o ca o~ mais gra\·es, recomenda- c ou o de Acomete I a 3% da puérperas após o parto vaguul e até
antibióticos por via endovenosa e ampliação do espectro, 30% apó a cc .uiana sem profilaxia antibiótica.-
sendo recomendável a associação de gentamicina 5 mg/ kg 0 principal sinal é a febre (temperatura ax il ar~ 38<>C)
de peso cm dose única diária e clindamicina 600 mg de 8 após a primeira 24 horas de pós-parto, por pelo mcno
cm 8 horas por no mínimo 48 horas.<> dois dos primeiros IOdias pós-parto, ocorrendo, gcr.llmcn-
te, entre o terceiro c o ~étimo dia de puerpério.
O diagnóstico é essencialmente clínico. Ao exame físi-
INFECÇÃO DE FERIDA OPERATÓRIA co, ob erva- e dor à palpação abdominal e o útero aLUnen-
PÓS-CESARIANA tado de volume, de consistência amolecida. O exame gine-
cológico mostra o colo dilatado e el imi nação de secreção
A infecção da parede abdominal mani b ta- e, na maio- purulenta, com odor fétido, ugerindo pre cnç,\ de anaeró-
ria das ve1cs, do quinto ao sétimo dia de pós-opcr:ttório. bio . Ao toque vaginal, ob erva- c dor à mobilitação uteri-
ua incidência é de aproxi mada mente 7%, ca mdo para 2% n,\. Útero doloro o, hipoi nvoluído c amolecido constitui a
quando são utilizados antibióticos profilático de rotina. tríade clássica da endomctritc pós-parto: tríade de Bumm.
Tempo prolongado de internação, diabetes, imu nossupres- Deve-se solicitar hcmograma completo, que geral-
são, desnutrição, má-técnica ci rúrgica, tempo cirúrgico au- mente mostrar:.\ leucocitose importante, com desvio
mentado c infecções cm outros órgão são considerados para a esquerda. Deve-se excluir infecção urin:íri.1 por
fatores de ri co. meio de exa me de urina rotina c urocultura. ao h;i
Inicialmente, observa m-se sinais Aogisticos limitados consenso na litcr,\tura sobre a neccs idade da realiza-
à incisão cirúrgica, sem outras manifc taçõe istêmica . ção de cultura da secreção cervical c de hcmocultu ras
Há casos que evoluem com formação de celulite, ab cesso, em todas .1s pacientes com endom iomctritc. 1·ó Quando
edema de parede, dor, febre e mal-estar geral. A cultu ra da solicitados, o swab da secreção cervical e as hcmocultu-
secreção deve ser colhid:t sempre gue possível, para identi- ras (três <~ m ostras) devem ser colhido antes do início
fica r o m icrorga n i mos envolvidos. do antibiótico. A cultura da ccreç:i.o cervical com an-
Em casos leves, com acometimento apenas da pele/ tibiograma pode ser útil cm ca os rcfratáno à terapia
epiderme, deve- e explorar a ferida operatória, com retira- antibiótica de primeira li nha. As hemoculturas, quando
da dos pontos c limpeza exaustiva da ferida. Quando ne- positiva , podem orientar na e colha de ant1bi ticos em
ce ário, pode-se utilizar ccfalosporina {ccfalcxina SOO mg casos de scpsc.

Infecção Puerperal
995
A curetagem está indicada apenas quando há d iagnós- endomiometrite pós-cesariana. Entreta nto, essa combi-
tico de retenção de restos placentários, seja pelo exame clí- nação não é eficaz contra enterococo, devendo-se associar
nico ou com o auxílio d a u ltrassonografia. ampicili na na suspeita de infecção por esse germe.
O tratamento antimicrobiano é baseado no con heci- Algu ns autores referi ram que a monoterapia com am-
mento dos possíveis agentes etiológicos. Os esquemas te- picili na/ sulbacta m para o tratamento de endomiometrites
rapêuticos mais comu ns são: tem taxas de sucesso entre 80 e 90%.8
Endometritepós-parto vaginal: A permanência da febre por período superior a 72 horas,
Em pacientes com infecção restrita ao útero sem a despeito do manejo correto dos antibióticos, pode indicar
comprometimento sistémico, pode-se utilizar falha terapêutica, devendo-se fazer novo exame clínico cui-
amoxicilina SOO mg, VO, de 8/ 8 horas por sete d ias. dadoso e pesquisar resistência bacteriana, abscesso pélvico,
Em caso de infecção mais grave, com comprometi- focos infecciosos extragenitais, assim como tromboflebite
mento do estado geral, tratar como na endometrite séptica pélvica. Nesses casos, as culturas, caso tenham sido
pós-cesariana. realizadas, podem acrescentar dados para o raciocín io clín ico.
Endometrite pós-cesariana:
Recomenda-se antibioticoterapia endovenosa de
amplo espectro (conforme esquemas a seguir), que PARAMETRITE1 ANEXITE E
deve ser mantida até que a paciente permaneça 48 ABSCES SO PÉLVICO
horas afebril. Após a suspensão da antibioticoterapia,
a paciente será monitorada com curva térmica rigo- Caracterizam-se pela propagação d a infecção para os
rosa por 24 horas e, na ausência de picos febris, será ligamentos (fleimão parametrial) e anexos uteri nos, com
considerada tratada, recebendo alta hospi talar sem possível formação de abscessos. Ao togue vagi nal, pode-
medicação. Hager et ai., em 1989, demonstraram não se perceber dor à palpação dos anexos. A ultrassonografia
haver diferença na morbidade entre pacientes que pode evidenciar abscessos.
receberam ou não antibioticoterapia via oral após o O tratamento é feito com antibióticos por via endove-
tratamento parenteral. Os esquemas mais comuns de nosa, de maneira semelhante ao da endom iometrite.
antibioticoterapia endovenosa para o tratamento da Em casos de abscessos pélvicos não responsivos ao
endometrite ou endomiometrite pós-cesaria na são: tratamento clín ico, deve-se ava liar laparotom ia para a dre-
Esquema duplo: nagem dos mesmos. Em casos de abscesso retrouterino, a
Clindam icina 600 mg, EV, de 8/ 8 horas, drenagem poderá ser realizada por via vaginal.
+
Gentamicina 5 mg/ kg de peso, EV, em dose única
diária. PERITO NITE
Esquema tríplice:
M etronidazol SOO mg, EV, de 6/ 6 horas, Como consequência de endometrite não d iagnostica-
+ da e não tratada, pode ocorrer quadro grave com propaga-
Gentamicina 5 mg/ kg de peso, EV, em dose única ção para os anexos e formação de abscessos. A rotura dos
d iária, abscessos causa peritonite. O quadro clínico é semelhante
+ à peritonite não puerperal, exceto pelo fa to de a rigidez ab-
Penicilina cristalina S m ilhões de unidades, EV de dom inal ser menos proemi nente, devido à distensão abdo-
6/ 6 horas, minal da gravidez.' A febre costuma ser alta (temperatura
ou axi lar .2:39°C) e a dor abdomi nal é in tensa, com irritação
Ampicilina 2 g, EV, de 6/ 6 horas. peritoneal, acom panhada de sinais de comprom etimento
sistêm ico (pulso fino, palidez, queda do estado geral).
Estudos que compararam vários esquem as terapêuti- O tratamento é feito por meio de antibioticoterapia endo-
cos consideraram o antibiótico duplo com gentamicina e venosa de amplo espectro (esquemas semelhantes aos da en-
clindamicina o padrão-ouro para o tratamento da endo/ domiometrite) e exploração cirúrgica, com limpeza exaustiva

gg6 Noções Práticas de Obste tricia


da cavidade abdomi nal. os casos de má-rc po ta ao trata- pia de largo espectro por via endovenosa: associação de peni-
mento clínico, com infecção uterina c necrose tissular, a histc- cilina cristalina, gentam icina, clindamicina e rnetronidazol.6
rectomi,l pode ser a única opção. Nesse caso, a histcrectomia
deve ser sempre total (com retirada do colo). Em alguns ca o ,
pode ser também nccc ária a realização de anexectomia.~ TROMBOFLEBITE PÉLVICA SÉPTICA

Ocorre quando a infecção miornetrial causa a trombo-


CHOQUE SÉPTICO se das veias rn iometriais, com extensão para as veias pélvi-
cas c ovarianas, podendo, cm alguns casos, acometer a veia
O atraso no diagnóstico ou postergaç:io do trata mento cava inferior e a veia rena l. É rara, incid indo cm menos de
cirúrgico da pelviperitonite pode implicar o desenvolvi- 1% das pacientes com endomiomctritc.10
mento de choque séptico, com alta mortalidade (cerca de Deve- c pensar no diagnóstico de tromboOcbite pélvica
50%). O quadro é gravíssimo, apresentando- e com hipo- éptica em pacientes com hipótese diagnó tica de infecção
ten ão arterial, calafrios, febre alta ou hipotcrmia e queth puerperal e que permanecem com picos febris a despeito da
do nível de consciência. antibioticoterapia e da completa remi são dos sintomas. A
Deve-se iniciar ex pansão volêmica, antibioticoterapia tomografia pode mostrar trombose das veias ovariana .
de amplo espectro c remover-se o foco infcccio o. A cirur- 1 o passado utilizava-se o tratamento de prova com

gia nu nca deve ser adiada pela instabilidade da paciente, heparina não fracionada cm doses terapêuticas - heparina
poi a intervenção cirúrgica pode ser exatamente a med ida EV, 20.000 a 30.000 UI por dia cm infu ão contínuaw En-
nece sária para a reversão do quadro.10 tretanto, trabalhos mais recentes mostrar,1m que a adição
Após :1 cirurgia, a paciente deve ser acompanhada cm uni- de heparina à terapia antibiótica para tromboflcbite pélvica
dade de tratamento intensivo até a melhora do c tado geral. não melhorou o resultado nem acelerou o te mpo para a re-
missão da febre ou alta hospitalar. Portanto, o tratamento
atual consiste na manu tenção da antibioticotcrapia até o
fASCIÍTE NECROTIZANTE desaparecimento da febre.11 ·12

A fa oítc nccrotizante é complicação gravíssima da


infccçõc de ferida (tanto na parede abdominal, quanto no Ü U TROS PROCESSO S
pcríneo), de ocorrência rara c alta mortalidade (20 a 50% INFECC IOSOS PUE R PER A IS
do ca os), a despeito do tratamento com antibioticotera-
pia de amplo e~pect ro e cirurgia.' A incidência dessa com-
plicação é de 1,8 cm cada 1.000 cesarianas. MASTITE PUERPERAL
Trata-se de necrose tecidual significativa, atingindo a
f~scia c o subcutâneo, sendo mais comum cm pós-opera- A mastite e o abscesso mamá rio são complicações que
tório de puérpcras com obe idade, diabetes, hipcrten ão e acometem mais frequentemente as prim ípa ras, que apre-
imu nos upre ão. sentam mais dificuldade com a amamentação. A incidên-
As bactérias envolvidas geralmente são os lreplococws cia global é de S a IO%.n
beta-hcmolíticos do grupo A (Streptococws pyogCIIes), ma a A rnastite puerpcral decorre da contaminação das fi.s-
infecção pode ser causada por taplzylococws aurerts ou por \u ras mamária ou dos dueto lactíferos por patógenos da
nora poli microbiana. pele, do meio ambiente c da boca do lactente. As bactérias
O diagnóstico é clínico. Observam-se celulite e crepita- encontra m no leite um excelente meio de cultu ra; e a in-
ção dos tecidos adjacentes às feridas operatórias. A explora- fecção, se não tratada adequadamente, pode evoluir para a
ção cirú rgica da ferida revela áreas de necrose no ubcutâ- formação de um absccsso. O Stajilococws a11rerts é o princi-
neo e fáscia mu cula r. pal agente etiológico.
O tratamento consiste no desbridarnento cirúrgico inten- O diagnóstico baseia-se nas queixas de indisposição c
so, com retirada de todo o tecido nccrosado e antibioticotera- dor ma mária associada à febre. Observam-se edema, hipe-

Infecção Puerperal 997


remi:t e endurecimento localizados n:t mama. O acometi- O uso de antibióticos de rotina na cesariana para pre-
mento é geralmente unilateral. venir infecçõc con titui evidência científica. Deve- e rea-
O ab ·ce o mamários apre entam- e com quadro lizar antibioticoprofilaxia em toda as cesariana , poi c a
clínico mais florido, com dor intensa, febre c prostração. Os medida reduz a morbidez infecciosa pós-operatória em até
absccssos superficiais ex ibem área de flutuação, f.1Cil mcn- 75%.- O uso de do e única de antibiótico profilático teve
tc percebidas ao exame clínico. A ultrassonografia pode mais impacto na redução da incidência c da gravidath: Ja
auxiliar no diagnóstico dos ,1bscessos profundos. febre puerpcral após cesariana do que qualquer outra ino-
O trata mento da mastite é feito com antibiótico (peni- vação no últimos 25 anos.1
cilinas ou cefalosporina de pri meira geração) por via oral as seguintes situações recomenda-se o u o de anti-
c apli ação de compre sas frias. e houver a formação de bióticos profiláticos apó o parto vaginal - cefazolina (ou
absces o, torna-se necessária a drenagem, realizada de pre- equivalente) I g, EV, após a clampagem de cordão:
ferência em ambiente ho pi talar, ob anestc ia. Boi a rota por mais de eis hora!>;
Deve- e encorajar a amamentação, mesmo com se- número de toques vaginais exce sivos (mais de cinco);
creção no mamilo. A mãe deve er informada de que trabalho de parto prolongado (ma i de 12 horas);
c ta não confere ri co , vi to que, na maioria da vezes, parto em condições in.1dequada de antissepsia;
o agente causador vem da orofaringe do próprio recém- uso de fórcipe;
-nascido. a o a mãe não tolere :1 amamentação, a~ ma- cxtração manual de placenta;
mas devem er esvaziadas com ordenha rna nu,d de três curetagem pós-parto;
cm trê horas. diabete em u o de in ulinotcrapia;
obesidade mórbida ( IMC > 40 ou peso atua! aci ma
INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO de I00%do pe o ideal);
u o de corticoterapia (por mais de sete dias);
Aproxi madamente 49o das mulheres apresentam infcc- gestante HIV po itivo ou com out ras doenças imu-
ç:io do trato urinário (ITU) no puerpério. Após o parto, o nossupressoras.
trato urinário inferior c a bex iga manifestam certa hipoto-
nia. E sa hipoton ia, a ociada a outros fatores como cate- ugcre- c o uso de 2 g de efnolina (ou eqUi valente)
tcn mo vc ical, trauma teetdual, toques vagi nai e conta- em pacientes com obesidade mórbida, cm uso de corticoi-
mi nação pcrineal, aumenta o risco de ITU. O intomas des ou com H I positivo.
pnncipais da ITU baixa ão disúria, algú ria c polaciú ria. a prevenção da infecção urinária, deve-se deixar a
Em casos de pielonefrite, constatam-se febre, calafrios c sonda vcsical de demora pelo mínimo tempo po sível.
comprometimento istêmico. Para prevenção da mastite, deve-se c clareccr a gestan-
O diagnóstico pode er presumido pela as ociação te, ainda no pré-natal, sobre algun cuidados com as ma-
da clínica com exames de rotina urinária c gram de gota. ma , preparando o mamilos p:tra a amamentação. Entre
Urocultura com antibiograma deve sempre ser solicitada, esses cuidados, pode-se citar o b:tnho de sol diário por 10 a
porque essas infecções são geralmente nosocomiais, com 15 minutos,antes das 10horas ouapós a 16 hora .
mais probabi lidade de resi tência a antibiótico .9 A lactante deve ser orientada a lava r as mãos e limpar o
O trat.1mento pode ser feito com cefalosporina de pri- mamilo com um algodão úmido antes das mamada . Uma
meira geração por via oral no casos de ITU baixa e por via boa po tura não só da mãe como ta mbém da criança é fun-
cndovcno a em ca o de pielonefrite. damental para que haja uma boa pega, evitando- c, a sim,
a formação de fi suras.
É imprescindível que se esteja alerta aos inais de infec-
PREVENÇÃO ção puerperal, para que o diagnó tico c tratamento ejam
institu ído~ precocemente, prevenindo-se, dessa forma, o
A melhor medida para a prevenção das infecções pucr- surgimento de quad ros mais grave c até mesmo fatais.
pcrai continua sendo a adoção de técnicas que garantam O Qpadro 62.2 resume a evidência científicas obre
anti cpsia adequada. a infecção puerperal

gg8 Noções Práticas de Obstetrícia


Q uad ro 62.2j Evidencias obre mfccção puerpcral
ÜIJJetiVO lntervençéio Grau de
1ecomendaçao

Prevenção Uso de antibioticoprofilaxia de rotina na cesariana A


Tratamento Acombinação clindamicina + gentamicina é eficaz no tratamento da endometrite A I
!--
1 Ouso de antibióticos de largo espectro é eficaz no tratamento da tromboflebite séptica A I

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Infecção Puerperal
999
- ,___- -----
63 Anticoncepção no Puerpério
Amaury Teixeira Leite Andrade
]o é Paixão de ouza

Métodos Anticonceptivos no Puerpério Medicina Baseada em Evidência para


Amenorreia de Lactação Métodos Contraceptivos
DIU
Progestagênio

período pó -parto é época de significativas Métodos contraceptivos para mulheres em amamenta-

O alterações fí icas, emocionai c sociais pJra


muitas mulheres. No entanto, é período
apropriado para acon elhamento de planejamento fami-
ção devem e r seguros para a mãe e para o recém-na cido c
não podem interferir na lactação.

liar, não ó porque a puérpera tem mui to interesse em espa-


çar seus fil hos, mas também por causa de sua presença no MÉTODOS ANTICONCEPTIVOS
hospital, sendo momento propício para er orientada por NO PUERPÉRIO
pessoas especial mente treinadas, objetiva ndo seu retorno
para o ambulatório de planejamento familiar no período
mais apropriado, ou seja, na eis emanas após seu parto. O contraceptivo mais natural é o método da amcnor-
O espaçamento entre os filhos é importante fator de reia da lactação (LAM). Tem 98% de efic.ícia de de que a
saúde pública e fa miliar, pois, além da recuperação física lactante obedeça a três critérios simples: amamentação ex-
da mãe, a amament.tçào é fundamental para a saúde do clusiva no peito, permanência em amenorreia e observar o
recém-na cido (R ), fatores importantes na redução da limite de seis mesc após o parto (Quadro 63. t).l
mortalidade infantil. Estudos do Centro Latino-Ame-
ricano de Perinatologia (CLAP, Montevidéu, Uruguai) Quadro 63.1 I Método da amenorreia da lactação
e do Departmenl oj Public llealtlr ervices oj United Stales Amamentação total no peito
comprovaram que o intervalo ideal entre partos é de trê Permanência em amenorreia
a cinco anos.1
A educação no pós-parto sobre o uso de anticoncepcio- Utilização por um período de até seis meses após o parto
nais é componente de rotina na alta da paciente em mu itos
paíse. . Tal educação é baseada na compreensão da recep- O elemento-chave controlador desse método é o im-
tividade da educação contraceptiva durante o período de pacto do estímulo de sucção no centro gerador de pulso
pós-parto e na presumida fa lta de acesso a essa informação do GnR H: a duraçjo da amenorreia bctacional está Jirc-
depoi do puerpério? tamente relacionad:t com a frequênci.1 da sucção, situ;Jção
ímpar entre a mãe e o lactente. Amamentação exclusiva AMENORREIA DE LACTAÇÃO
prove efeito contraceptivo con fiável nos pri meiros seis me-
ses. 1ndependentemente do mecanismo, a amamentação A usuá ria do LAM deve ser orientada para uma suave
como método contraceptivo permite à mãe usar o único transição para outro método após seis meses ou quando
supressor natura l da fe rti lidade (Quadros 63.2 e 63.3). dimi nuir a frequência d a ama mentação ou, ainda, quando
introduzir outro alimento além do leite materno na dieta
Quad ro 63. 21 Vantagens da amenorreia da lactação do seu fi lho ( Figura 63. 1)
Eficaz na prevenção da gravidez pelo menos por seis meses Co m as mudanças de hábitos de vida, a amamentação
exclusiva deixa de ser confi ável para as mulheres brasi lei-
Estimula a amamentação
ras, pois no terceiro mês do pós-parto apenas 51% estão em
Não há custos amenorreia, que é pré-requisito básico de proteção pelo
Não há efeitos colaterais LAM. Considerando-se esse fato, im põe-se a introdução
de outro método, como, por exemplo, a minipílula, que tem
Supre o RN com o melhor alimento
apenas o progestagênio em sua composição e que não tem
Previne infecções
impactos negativos na qualidade ou na quantidade do leite
Aproxima a mãe do RN materno, sendo, portanto, o método hormonal de escolha
para a mulher lactante (Quadro 63. 4).
Q uadro 63. 3 I Desvantagens da amenorreia da lactação
Q uadro 63. 41Minipílu las, só de progestagénio
Eficácia diminui após seis meses
Progestagên1o comerc1al Dose (mcg) Nome
Amamentação frequente difícil para a mulher que trabalha fora
Desogestrel 75 Cerazette
Ausência de proteção contra DST
Noretisterona 350 Micronor
Possibilidade de passar HIV para o filho
levonorgestrel 30 Nortrel

Anticoncepção
no Puerpério
Amamentação Não Amamenta
Exclusiva (LAM)

.-
~ . -
-

.
.
v

d~

lnjetável Trimestral

Deseja espaçar filhos

Tabela
Muco Cervical AOC
Condom Masculino lnjetável
Condom Feminino Transdérrnico
Diafragma Anel Vaginal
CH Implante
DIU DIU
Figura 63. 1 I Anticoncepção no puerpério.
LAM = método da amenorreia da lactação: CH =contracepção hormonal; AOC= anticoncepcional oral combinado; DIU=dispositivo intrauterino.

1002 Noções Práticas de Obstetrícia


Já a pílula combinada, pela associação do progestagênio Quad ro 63. 5 I Outros métodos hormonais
com o estrogênio, pode alterar a quantidade e a qualidade Admintstração Medtcação Nome Uso
do leite materno, além de encurtar a duração da lactação. Por Comere tal
isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda Oral Combinada EtP Diversos 3 semanas
que a mulher lactante só inicie o uso da pílula combinada
Implante Etonogestrel lmplanon 3 anos
(AOC) após o sexto mês do parto, independentemente da
dose hormonal, pois, uma vez bem-estabelecida a lactação, a Transdérmico EtP Evra 3 semanas
introdução do estrogênio não mais afetará a amamentação.4 SIU Levonorgestrel Mi rena 5 anos
Anel Vaginal EtP Nuvaring 3 semanas
DIU lnjetável Acetato de Depo-provera 3 meses
DMP Contracep
Outra opção interessante para a mulher no puerpério é lnjetável EtP Mesigyna Mensal
o uso do DIU de cobre, método de elevada eficácia, barato, Perlutan
de uso prolongado, que pode ser inserido após seis sema- E ~ estrogênio; P~ progestagênio; OMP ~ depomedroxiprogesterona;

nas do parto. Segundo orientação da OMS, o DIU de co- SIU ~ sistema intrauterino levonorgestrel

bre pode ser inserido logo após a saída da placenta, tanto no


parto vagi nal como na cesariana (<de 48 horas) ou, ainda,
após quatro semanas de puerpério! MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIA
PA RA MÉTODOS CoNT RACEPTivos

PROGESTAG ÊNIO
Estudos de evidência em métodos contraceptivos no
Os outros métodos que usam somente o progestagê- pós-parto são muito escassos.
nio, como o implante de etonogestrel ou o injetável tri- Levantamentos da MEDLI NE e Pré-MEDLINE e
mestral de depomedroxiprogesterona, podem também ser Cochrane Library publicados entre 1980 e 2005 para o
iniciados seis semanas após o parto. método implante subcutâ neo de etonogestrel sugerem
Q!lando a mulher já está amamentando há mais de que não há efeito adverso nos implantes de etonogestrelna
seis meses ou está usando a minipílula e/ ou quando não lactação e no desenvolvimento do recém-nascido.
amamenta (Figura 63. 1), podem estar presentes duas situ- Estudos completos da Cochrane Librarf sobre DIUs
ações: apenas querer espaçar os filhos ou não querer ou não revelam:
poder ter mais fil hos. Na primeira situação (espaçamento São os métodos reversíveis mais usados em todo o
de filhos), qualquer método poderia ser utilizado, até mes- mundo;
mo os chamados naturais ou comportamentais. tanto os Dl Us de cobre como o sistema intrauteri-
No entanto, na segunda situação - quando considera no de levonorgestrel apresentam altíssima eficácia;
sua famíl ia completa ou quando nova gravidez seria risco inserções imediatas após parto e aborto são seguras
de morte -, apenas os métodos de alta eficácia devem ser e eficazes.
utilizados. Se a mulher é jovem, os métodos temporários
devem ser preferidos, como os diversos métodos hormo- Evidência baseada em estudos sistemáticos e testes
nais (Quad ro 63. 5) ou os dispo itivo intrauterinos de co- cont rolados para mulheres no pós-parto também reve-
bre ou sistema intrauterino de levonorgestrel. lam gue os DIUs são seguros e eficazes métodos para esse
Para o casal com idade reprodutiva mais avançada período7.
(mu lher aci ma de 35 anos, homem acima de 40 anos) ou Estudos de evidência da C ! R E (Continuous Jdent!fica-
quando a gravidez representar alto risco para a saúde da tion ojResearch Evidence), da PubMed e da Cochrane Libra-
mulher, também os métodos cirúrgicos (ligadura tu bária ry feitos pela OMS entre 1966 e janei ro de 2008, conside-
ou vasectomia) podem ser considerados. rados alguns dos pilares daquela entidade, indicam:

Anticoncepção no Puerpério 1003


A repetição da injeção tri mestral de acetato de de- categoriza o métodos contraceptivos em quatro grupo ,
pomedroxiprogesterona (DMPA) pode atrasa r até sendo:
quatro emanas, pois o risco de ovulação é mínimo I = Ausência de restrição para uso do método;
apó três meses da injeção anterior; 2 = As vantagens do método, em geral, uperam os ris-
o DIU de cobre e de levonorgestrel podem ser in- cos teóricos ou comprovados do mesmo;
eridos até 48 horas depois do pa rto ou cesariana, 3 = Os riscos teóricos ou comprovados do método su-
inclusive imediatamente após a saída da placenta; peram as vantagens do uso do mesmo;
o u o de esteroides não inflamatórios pode redu zir 4 =Os riscos do uso são inaceitáveis.
o sangramento anormal com a DMPA .
Do ponto de vista prático, significa que, sendo da cate-
4
Nesses mesmos estudos da OMS, evidências mo - gori.1 I, o método pode er usado sem restrição; sendo da
tra m que o DIU de cobre pode ser inserido como categoria categoria 2, pode, em geral, ser u ado; sendo d.1 c;~tcgoria
I (uso cm qualquer circunstância) até 48 horas após o par- 3, o método não deve ser utilizado, alvo cm situaçõe. ex-
to ou após quatro semanas deste, ao passo que o DIU que cepcionais, de risco elevado, se nova gravide? c inexistência
libera levonorgcstrel é categoria I apenas qua ndo a pacien- de outro métodos disponívei ; e sendo da categoria 4, o
te não e t.\ ama mentando, mas é categoria 3 (de preferên- método é contraindicado.
cia não usar o método) quando lactando. Os quadros 63.6 a 63.8 apresentam a categorização dos
A Organização Mundial da Saúde (OMS), em sua publi- métodos contracepti vos em diver JS situaçõe~ clínica. de
cação intitulada Medical elegibility crileria for COillmceplivc 11se/ acordo com a OMS.

QJ.tadro 63. 6 J Categorização dos métodos contr.1ccptivos no pucrpério

< 48 h (incluindo imediatamente


após sarda da placenta)
~ 48 h < 4 semanas 3 3
~ 4 semanas

Infecção puerperal 4 4
SIU-LNG é categoria 1 em não lactante~ e 3 em lactantes no pós-parto; COC =contraceptivo oral combinado; CIC =contraceptivo injetável combinado; T=
transdérmlco. R= anel vagmal. POC = pllula de progestagêmo; OMPA =acetato de medroxiprogesterona depot. NET-EN = enantato de norestisterona; DIU·
·Cu= diSPOSitivo lntrautenno_de cobre. SIU-LNG = sistema intrauterino de levonorgestrel. PS= pressão SIStólica. PD= pressão diastólica: TVP = trombose
venosa profunda. EP =embolia pulmonar. OMG =diabetes mellrtus gestacional.

1004 Noções Práticas de Obstet ricia


Quadro 63.7 \ Categorização dos métodos contraceptivos em situações clínicas comuns

PS 140-159 ou PO 90-99 2
PS ~ 160 ou PO ~ 100 4 2 3

História de TVP/EP 4 4 4 2 2 2 2
TVP/EP agudo 4 4 4 3 3 3 3
TVP/EP em anticoagulação 4 4 4 2 2 2 2

História de OMG
Sem vasculopatia 2 2 2 2 2 2 2
3/4 3/4 3/4 2 3 2 2

Doença falciforme 2 2 2 2
COC =contraceptivo oral combinado; CIC = contraceptivo injetável combinado; T = transdérmico; R= anel vaginal; POC = pllula de progestagênio;
DMPA =acetato de medroxiprogesterona depot; NET-EN = enantatode norestisterona; DIU-Cu= dispositivo intrauterino de cobre; SIU-LNG =sistema
intrauterino de levonorgestrel; PS= pressão sistólica; PD = pressão diastólica; TVP = trombose venosa profunda; EP =embolia pulmonar; DMG =diabetes
mellirus gestacional

Anticoncepçào no Puerpério
1005
Quadro 63. 81Catcgori7.ação do métodos contraceptivos em situ,tçôcs clínicas c pcciais

;?: 35 anos
< 15 cigarros/dia 3 2 3
;?: 15 cigarros/dia 4 3 4
Obesidade UMC > 30 kg/m2) 2 2 2
COC =contraceptivo oral combinado. CIC =contraceptivo 1n1etável combinado; T= transdérmico. R= anel vaginal, POC = pllula de progestagênio.
OMPA =acetato de medroxiprogesterona depot. NET-EN = enantatode norestisterona. DIU·Cu =dispositivo lntrautenno de cobre. SIU·LNG = s1stema
mtrauterino de levonorgestrel; PS= pressão sistólica. PO =pressão diastólica. TVP = trombose venosa profunda; EP =embolia pulmonar: OMG =diabetes
mellrtus gestacional

REFERÊNCIAS

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W H0;2009.

1006 Noções Práticas de Obstetrícia


Seção 8
Medicina Baseada em Evidências
'V :~j~.~~~)
'
Fundamentos da Medicina
Baseada em Evidências
ictor Hugo de Melo
uza na Maria Pire do Ri o

O novo Paradigma Metanálise


Fundamentos Passos Básicos
Lnterpretação
O Desenho dos Estudos
Graus de Recomendação Colaboração Cochrane
Passos para Acessar a Cochrane Library
A Pirâmide das Evidências Com o Lnterpretar os G ráficos
Revisões Sistemáticas Comentários Finais
Características das Revisões Sistem áticas

o s médicos, durante toda a história, basea-


ram -se c m suas ob crvaçõcs pessoais ao
cuidar de seus pacie ntes, nas opiniões dos
especialistas com m ais autoridade no assunto e nas teo-
rias fisiopatológicas para exercerem su a função.
O Novo PARADIGMA
A M BE representa mudança no pa radigma méd1co tra-
di ional, que abrange quatro pressupostos:•
A experiência clínica individual no cuidado aos
A Med i ina Baseada em Evidências (M BE) - ou cm pacientes fornece o instrumental neces ário para o
prova cie ntíficas - é movimento relativamente recente, re- médico estabelecer o diagnóstico, o tr.ltamcnto c o
pre entado por profusão de ensaios, artigos e livros sobre o prognóstico das doença ;
te ma, que urgiu com o objetivo de ajudar n a tomada de o conheci mento da fisiopatologia da doença fornece
decisões clínicas sobre os cuidados à saúde, med iante a ba e pa ra o bom desempenho na prática cl ínica;
a identificação c avaliaçao criteriosa dos estudos existentes o treina mento médico tradicion.t l e o bom senso
c da aplica ão, de form a sist emática e progressiva, da são uficiente para capacitar o médico a avaliar no-
informações mais relevantes c consistentes da lite ratu ra vos teste diagnóstico e t r.ttamcnto ;
méd1ca obre tema específico ! a ex periência clínica e a perícia c m uma especiali-
Utilizar o conhecimento da MBE não implica, nccc - dade são uficicntes para que o médico de envolva
aria mcntc, a obtenção de bons resultados, m as, antes, a paràmetros para o exercício da prática clínic.1.
redução dos maus resultados, aumentando a eficácia c efi-
ciência profissional, com meno desperdício de rec ursos c O novo parad igma proposto pela M 13E compreende
de energia do médico c do paciente. 2 diferentes pressuposições:
Quando possível, o médicos usa m informaçõe to é melhor do que o outro ou se, simplesmente,
provenientes de estudos sistemáticos, de forma a foi um achado casual. Denominam- e diferença
aumentar ua confiança no testes diagnósticos, na significantes no primeiro caso e, no segundo, não
eficácia terapêutica e no verdadeiro prognóstico das significantes. es e caso, se o estudo for repetido,
doenças; poder-se-á encontrar outro resu ltado, anulando o
a compreensão da fisiopatologia é necessária, mas primeiro, porque as diferenças encontrada se deve-
não suficiente para o exercício da prática clínica; ram somente ao acaso, e não a diferenças reais entre
o conheci mento de determinada regras de evi- o medicamentos;
dência é necessá rio para avaliar e aplicar, de forma introduz a sistematização de revisões - procedi-
efctiva e segura, os resultado encontrado na lite- mento científico de alta qualidade c que demanda
ratura médica. con hecimentos clínicos, epidem iológicos, de infor-
mática c c tatística - que é o grande diferencial do
É justamente essa muda nça no paradigma médico tra- novo paradigma - , possibilitando a soma de resul-
dicional que tem trazido tanta re i tência à MBE, ape ar tados de diferentes estudos, o que resulta em infor-
dos benefícios que essa nova abordagem pode trazer no mações de mais confiabilidadc e cgurança;
âmbito da tomada de de i ões clínicas. possibilita, finalmente, a real ização de metanálise,
que representa a íntese da literatura de boa qualida-
de científica sobre determinado tema (ou pergunta
FUNDAMENTOS clínica), permitindo a tomada de decisões.

Como nova concepção do exercício da Medicina, a


prática da MBE implica novos conceitos e fundamentos: Ü DESENHO DOS E STUD OS
T ira a ênfa e da prática médica exercitada com ba e
omentc na intuição e na experiência pessoal, pos- A epidemiologia clínica é um dos esteios fundamen-
ibilitando a agregação do conhecimento médi- tai da Medicina Baseada em Evidência . É a ciência que
co coletivo na tomadas de decisão individuais. A faz pred ições para os pacientes individuais, tomando como
aplicação do bom sen o no cuidado ao paciente ba e informaçõe sobre pacientes imilare - e u ando
continua, somado às informações precisas testadas métodos científicos confiáveis - para assegurar que essas
em elevado número de pacientes, com a con ·e- prediçõe estejam corretas.
quente redução das incertezas no diagnóstico e No mundo atual, é significativa a quantidade de informa-
no tratamento; ção produzida de forma geral e, em particular, na área médi-
especial atenção ao desenho e condução do estu- ca. Nem toda informação veiculada é de boa qualidade, tor-
do, po ibilitando identificar qual tipo de estudo é nando- e nece ário estabelecer proccs o de selcção do que
mais indicado para a pergunta formu lada. Na maior se lê e, fundamentalmente, daquilo em que se deve acreditar.
parte das veze , o en aios clínicos randomizados e Em Medicina, o conhecimento do desenho do estudo
os estudos prospectivo oferecem as melhores res- que gerou a informação é ind i pensávcl para estabelecer
po tas para as dúvidas da prática clínica diária; os lim ites de confiabi lidade nos resultados apresentados.
especial atenção à análise estatística, que é dos De certa forma, existe gradação de qualidade dos dados,
temas mais árduos para os clínicos, mas que, cer- na dependência do tipo de desenho que foi utilizado para
tamente, pode influenciar nas decisõe do dia-a- responder à() pergunta(s) formulada(s).
-dia, na medida em que identifica a interferência O objetivo dos estudos clínico-epidemiológico é in-
do aca o no resultados dos estudos. O!Jando e vestigar a relação entre um desfecho (sintoma, diagnósti-
compa ram, por exemplo, doi tipos de tratamento co, doença, morte e outros) e um fator (causa da doença,
numa série de pacientes, os re ultados ão te tados teste diagnóstico e outros). Existem diferentes formas para
por métodos estatísticos e indicam se as djfcrenças se estudar a relação entre o fatore o desfecho. Citam-se, a
encontradas ocorreram porque um medicamen- seguir, alguns exemplos de desenhos de estudos: 3

1010 Noções Práticas de Obstetrícia


Trmrsl'ersal: avalia a relação entre fator c desfecho O Quadro 6-U ilustra alguma car,1 tcrí ticas de~ses
num determinado momento. ão estudos cm principai desenhos de e tudo, com destaque para o grau
acompanhamento de pacientes, muito util izados de evidência, cu. to e duração.4
para avaliar prcvalcncia de doenças (de fecho); Na hierarquia dos estudos destaca-se o ensaio clí-
caso-Collfrole: identifica pessoas com c sem o de fe- nico randomizado, que representa a evidência de melhor
cho e, a partir daí, olha para o pa ado, para encon- qualidade. Informaçõc geradas por e c ti po de e tudo
traras fatores que possam explicar porque algu mas são bastante confiávei c podem ser generalizadas, obvia-
pc OJSapresentaram o de fecho c outra não. ão, mente dentro do espectro de açõe e efeitos que o estudo
geralmente, estudos retro pectivos; anali ou.
coorfe: envolve o acompanhamento de pessoas com
c cm o de fecho. Permite de crever a incidência da
doença nos doi grupos e ana li ar a associação en- GRAUS DE R ECOMENDAÇÃO
tre o fatore e o desfecho;
ensmo clí111co: expõe intencionalmente as pcs oJs a um Os e tudos podem cr elas ificado de acordo com a
fator e avalia o de fecho. Quando se compara m doi sua qualidade e, consequentente, com sua capacidade de
grupo , exposto c não cxpo to ao fator, trata- c de gerar evidência. O grau de recomendação de dctcrmma-
en aio clínico controlado. Quando o critério para de- do estudo é, atualmente, determi nado exclusivamente
finir qual paciente erá expo to ao fatore qual não erá egundo o de en ho empregado na geração da informação
exposto (critério de alocação) é aleatório, por sorteio, c na obtenção dos resultados. C.rosso modo, o grau de re-
dcnominHe ensaio clínico randomizado. Quando comendação de determinado c~ tudo traduz a força da evi-
o paciente não sabe se está ou não sendo exposto ao dência científica que ele acrescenta.
tàtor, como nos e tudo em que um medicamento é A Associação Médica Bra ilcira c o Conselho Federal
admi nistrado sem que a paciente conheça seu conte- de Medicina têm utiliz.tdo os graus de recomendação nas
údo, diz-se que é um estudo cego. Se também o médi- rcvisõc que estão elaborando, com o objcti vo principal de
co que cleciona a paciente não abe qual tratamento confcrrr mai confiabihdade à informações compiladas
está sendo ad ministrado, o estudo erá duplo-cego. O c introduzir mais transparência na procedência de sas in-
cn aro clínr o randomizado é, atualmente, o melhor formaçõe , ao me mo tempo cm que estimula a avaliação
de enho de estudo paracomparardiferente · interven- crítica dos re ultados apre entado .
õe cm Medicina c avaliar qual é mais efetiva.

Quadro 64.1 I Principais desenhos de estudo utilizado na pe ·qui a clínica e sua re pectivas finalidade , evidências, cu to
e duração
Desenho Fl11dlldJdP Ev1denc1a Custo Ouraçao

Ensaio Clfnico Randomizado Tratamento I ++++ +++


- - f-
+++
-
Coorte
Caso-controle
-
Etiologia. Fatores de Risco. Prognóstico
- - I +++ ++++
- f-
++++
Etiologia, Fatores de Risco. Prognóstico 1 ++ ++ ++
-- -
Transversal
I - -t--
-- - -
Série de casos
. Prevalência
Doenças raras
+

+
++

+
++

+
Relato de caso Doenças novas +
- - - 1-
+ +
I I
Fonte Quadros et ai.'
Evidênc1a validade e confiabihdade nos resultados do estudo
Custo· valor estimado para se realizar o estudo.
Duração: tempo necessário para se realizar o estudo.
(+/++++1 escala de magnitude

Fundamentos da Medicina Baseada em Evidências


1011
Exi tem diver a elas ifica ões dos graus de recomen opinião c experiência do~ cspcciali tas. Essa ela ~i­
da ão dos trabalho científico . Optou- c por apre cntar a ficação pode mudar, caso a dirctriz, o capítulo ou a
compilação .tdotada pelo Projeto Diretrizes, coordenado opinião do c peciali ta tenha como ba c evidência
por c sas in tituições: 5 científicas de melhor qualidade;
Tipo A: revi ão si temática (metanáli e) de en aio as informaçõc provenientes de experimentos cm
clínicos randomizado (ECR) ou de coortes pro - ani mais, em a reprodução cm humano~, devem cr
pectiva com homogeneidade ou EC R com inter- classificadas como O. Embora po :un apre entar
valo de confia nça e treito, que ind icam evidências força de evidência nu is representativa que simples-
uficicntcmcntc forte para possibilitar a tomad,1 de mente a opin ião, os resultados não podem ser intei-
decisões; ramente extrapolado para a espécie humana.
tipo 8: revi ·ão sistemática (metanálisc) de estudos
de coortc histórica ou caso-controle com homo-
geneidade ou ECR de menos qualidade ou outros A PIRÂMIDE DAS EVIDÊNCIAS
ensa ios clínicos ou estudos ob crvacionais que u-
gercm evidência moderadas, ma que podem pos- Existe associação di reta entre o desenho do estudo rc.l-
ibilttar a tomada de decisões; lizado para a obtenção da informação - ou para responder
trpo C: relatos ou série de casos que não apre cntam 3 pergunta do pe ·qui ador c o nível da evidência que c
evidências definitivas; pode esperar do rc ultado obt1do .
tipo 0 : publ icações baseadas cm consensos de As evidências podem ser classificadas no níveis I a ,
cspc ialista ou cm opiniõc individuais de cspc- segundo o método científico uti lizado pa ra a realização d.1
cialist.ts sem avaliação crítica ou fundamcntad.ts pc qui a. A Figura 64.1 ilu tra a pir.'tmidc do diferentes ní-
somente em matéria· básicas (estudos fisiológicos veis das evidencias científica cm Medicina. A base da pi râ-
ou em animai ), que não pos ibilitam a tomada de mide, mais ampla, representa o alto nú mero c diversidade
decisões. de formas de publicaçõc c cornu nicaçõc científicas, nus
a mínimas evidências. O topo, ao contrário, as evidência ·
E a ela ificação apresenta algumas limitações, decor- mais significativas, ou seja, a de melhor qualidade, ma cm
rente da dificuldade de c compilar a força da evidencia baixo número.
científica no graus de recomendação:
ão possibilita diferenciar estudos com qualidade
metodológica c evidências disti ntas, quando classi-
ficados da me ma maneira. Por exemplo, revisão is-
temática de ECRcom elevado nú mero de paciente ,
submetida 3 metanálisc, não se diferencia de ECR
com reduzido número de pacientes, urna vez que
ambos são classificado como A. Teoricamente, o
grau de evidência de cada um é bastante diferente;
o intuito de diferenciar os relatos e séries de caso (tipo
C) da opinião e consenso de especialistas (tipo D) é
porque os primeiro permitem avaliação do de enho Figura 64.1 I Pirâmide da evidência .
do estudo c das suas limitações, o que geralmente não
ocorre com os outros, que refletem a experiência re- A classificação atual das evidências associada ao grau
sultante da observação restrita dos e pecialistas; de recomendação é a cguintc:
acrescentam- c a es a classificação a di rctrize in- 1: incluem a revi õe i tcmJtica c a~ metanálisc
ternacionais (guidelines) e os capítulos de livros, que com homogeneidade, que apre entam íntcsc de
devem ser ela ificados, a priori, como D, porque ge- resultados de diversos estudos com rigorosa meto-
ralmente Jgrupam informações que têm origem na dologia científica (ECR c coortcs prospectivas) ou

1012 Noções Práticas de Obstetrícia


E R com intervalo de confiança e tre1to, produ- A pergunta que urge muito frequentemente é: a práti-
zmdo rc ultados de boa qualidade. ão tr.1balho ca da M BE nos impedirá de exercer o raciocínio cl ínico (c
que aprc1.cntam alto grau de confianç.1 c cxpres i- o bom senso) e nos transformará em repetidores de dado
vo poder estatístico, podendo detectar mínimas estatísticos c de metanáli c obre a nossa indagações? A
diferenças, pois resultam d.1 análise de milhare!> de re posta é muito simplc : o princípio da M BE não sub ti-
ca~o~ !.cmclhante . O grau de recomendação pode tuem o raciocínio c o di cerni mento clín1co. Antes, devem
erA ou B; sub idiá-lo e complementá-lo, na mcdid.l cm que acres-
11: incluem EC R e coorte · históricas de porte me- centam informações que já foram testadas anteriormente
nos m:trca nte, ambos com grupos homogêncos, c lJ UC servirão para orientar a tomada de de i~õcs de forma
demonstra ndo que o proce o de randominção correta e cgura. A boa evidência cicntífic:1 não diminui
(aleatoriedade) foi realilado corretamcntc, possibi- a capacidade global de de 1são do médico. Ao contrário,
litando a análi e adequada do resultado . Incluem amplia-a, proporcionando-lhe, c ao seu paciente, mais con-
também as revisões i temáticas de coortc~ h t ~tóri­ fiabi lidade c segurança.
ca . Têm poder estatístico para detectar diferenças
moderada:.. O grau de recomendação pode variar
dcAa '; REVISÕES SISTE MÁT ICAS
III: incluem as revi õc i temática de estudo
ca o-controle, com grupos homogéneos, ou mc!>- Constituem moderno c efi caz método de compila-
mo C!>tudos c.1so-controlc isolados. São estudos de ção das informações da lite ratura sobre determinado
meno~ conli<tbilidade c de pouco poder c tatí tico, tema c permitem inferir ·obre a convcniênci.l ou não de
sugerindo aguardar estudo maiores p.tra c t.lbclc- crcm tomada deci õe clínicas com ba. c no rc ultado
ccr a pos ívci evidência . O grau de recomenda- obtido .
ção pode ser A ou B; A revisão pode abordar pergu ntas cspccflicas sobre
I V: podem ser propiciadas por c tudos prospecti vas incidênci.l, prevalência, ri co, diagnóstico, tratamento ou
controlados, porém não ra ndomizados. Como tlJO prognó tico da doenças, fornecendo rc umo da literatura
houve aleatoriedade, o grupo podem não 'cr ho- !>Obre um ou vário de c fatore que e tejam relacionado
mogenem c a~ diferença individuai podem inter- a problema clínico definidos. ada pergunta pode ter
ferir no re ultados (fator de confu ão). Recorre-se diferente de cnho de estudo para a obtenção d.t resposta
a e c tipo de pesqu isa quando não são encontrados desejada.
estudos randomizados sobre o assunto. Incluem 'c Apesar de, em te c, não existir de cnho de c tudo me-
também a !>éric de ca o c o estudo de caso- lhor que o outro, o c tudo ra ndomrndo e pro pectrvo~
-controle de mcno qualidade mctodológic.l. a geralmente ão o que proporcionam rc ultado mais con-
ua maioria, são rctro pcctivos, .1prc cntando pro- fi.ívcis c as melhore evidências. Coincidentemente, são os
blema~ na qualidade da in forrm ção obtida e na sc- mais dispendiosos e difíceis de realiza r. O Q uadro 64.2
lcção dos ca os c controles. O maior problcm.1 d.1s mostra as perguntas clínicas m.tis comumcnte formulada
séries de casos ão o vícios de clcção - ou seja, ge- no dia-a-dia do exercício da prática méd1ca.
ralmente ão pa icntc com docn as mars graves- c A revi ão si temática não deve ~cr confundida com a
que não refletem ne e ariamente a evolução natu- revi ão que os autores fazem obre traba lhos publicados
ral do quadro. 'ão de baixa confiabi lidadc. O grau nas revistas médicas que compila somente o que foi publi-
de recomendação é C; cado sobre dctcrmin<tdo tema, cm função de pergunta~ ou
V: opiniões de especialistas, con cn o , capítu lo dúvidas da clínica diárra. l ão c avalta a qualidade cien-
de livro c dirctrizc internacionai sem avaliação tífica c metodológica do c tudo con ultado c, portanto,
crítica e que não foram baseada na evidência de não fornecem recomendações baseadas cm evidência
nívci .I .1 lll. lnclucm também os experimentos em confiáveis para serem utilizadas na condução dos caso~ c
,\nimais. O grau de recomendação é D. na tomada de decisões.

Fundament os da Medicina Baseada em Evidências 1013


Q!Iadro 64.2 I Perguntas mais comuns no exercício da CARACTERÍ STICAS DAS
prática clínica REVI SÕES SI STEMÁTICAS
Anormalidade Opaciente está doente ou sadio?
Já foi apresentado sucinta mente o que diferencia a re-
Diagnóstico Qual a acuidade dos testes para diagnos-
ticar a doença? visão sistemática de outras fo rmas de revisão da literatura.
Na verdade, a revisão sistemática propicia uma série de
Frequência Com que frequência a doença ocorre?
informações importantes para a prática do dia-a-d ia, ao
RISCO Que fatores se associam a alto risco da mesmo tempo em que facil ita a tomada de decisões. Suas
doença? pri ncipais ca racterísticas são:
PrognóstiCO Quais são as consequências da doença? Permite a síntese das informações na medida e m
Tratamento Otratamento muda o curso da doença? que realiza somatório dos casos clínico s e dos re-
sultados;
Prevenção Intervenção em pessoa sadia previne a
integra as informações de forma c rítica: a avalia-
doença? Otratamento precoce previne se-
quelas da doença? ção metodológica é mu ito rígida para que determi-
nado estudo faça pa rte de revisão sistemática;
Causa Que situações levam à doença?
é reprodutível, tendo em vista que segue método
Custo Quanto custará o cuidado com a doença? cientifico bastante defi nido;
explicita as reais diferenças en tre os estudos, caso
ocorram resultados discordantes;
A revisão siste mática implica pesquisa meticulosa au menta o poder e a precisão dos estudos na me-
da literatura e avaliação crítica e m etodológica de d ida em que inc rementa o tamanho da amostra
cada estudo. As conclusões devem ser tiradas de est udos pela soma das informações proporcionad as pores-
que apresentem os mesmos objetivos, ou seja, abordem as tudo isoladamente;
m esm<~s pergu ntas. O processo de integração dos estudos define necessidades de novos ensaios clínicos, o
individuais é qua litati vo. Durante o processo da revisão que pode acontecer quando a revisão não trouxer
sistemática os revisores estarão atentos a determ inados evidências confiáveis ou, ai nda, quando for neces-
parâ metros que irão orientá-los na avaliação crítica e na de- sário complementa r informações (por exemplo,
cisão de o estudo fazer ou não parte da revisão sistemática: dose adequada de medicamentos);
Desenho do estudo: avaliar se ele é observacional ou permite rápida atu alização: pelo sistema de co-
de intervenção, prospectivo ou retrospectivo; leta e análise das in formações é possível incl uir fa-
objetivos: se são compatíveis com as pergu ntas fo r- cilmente outros estudos c ujo enfoq ue tenha sido o
mulad as para a revisão; mesmo, somando os novos casos aos antigos;
critérios deseleção: para minimizar os possíveis vieses detecta tratamentos inadequados caso fique com-
(bias) decorrentes do desenho e da metodologia (ví- provado que um tratamento é melhor que outro;
cios de scleção, confusão e d e aferição); evita duplicação de estudos: se a revisão demons-
tamanho da amostra e critérios de randomizaçcio: ava- trar evidência de boa qualidade sobre determinado
liar se os grupos são homogêneos; assunto, não é mais necessá ria a reali zação de novos
apresentação dos resultados e análise estatística: avaliar estudos sobre esse tema;
se foi realizada corretamente e se as associações en- economiza recursos cm pesquisa clín ica e na as-
contradas são reais ou não; sistência médica na medida em que podem evitar
interpretação dos resultados: veri ficar se é cond izente novos ensaios clínicos desnecessários e aval iar are-
com os achados do estudo; lação custo-efetivid ade das propostas diagnósticas
verifica r se existe plausibi lidade biológica para os e terapêuticas;
resultados encontrados; avalia simultaneamente os r iscos e os benefícios
avalia r a possibilidade de o estudo ser reproduzido. das intervenções;

1014 Noções Práticas de Obstet ricia


resolve controvérsias da literatura: resultados A metanálise integra, de forma quantitativa, os rc ul-
discordantes evidentes apresentam a melhor solu- tados de estudos individuais e pode fornecer estimativa
ção paraos problemas clínicos; acurada do tamanho do efeito (avaliado como risco rela-
permite a generalização dos resultados: tendo tivo ou razão de chances), desde que tenham sido selecio-
concluído que os grupos sclccionados são homogé- nados estudos de boa qualidade avaliando o mesmo efeito
neos, não existem variávei que po am confundir c que o rc umo tenha sido realizado de forma adequada.
os resultados e eles podem ser ampliados a popula- A inclusão de estudos de qualidade duvidosa pode levar .1
ções com perfil semelhante; conclusõc equivocadas e mesmo errónea . Por outro lado,
auxilia no planejamento da políticas de saúde; os estudos precisam ter métodos, pacientes (casos e con-
permite tomadas de decisões na prática clíni- troles) e variáveis (preditivas e de desfecho) emclhantes
ca diária: esse é o maior objetivo quando se reali- para serem comparados. A comparação entre e tudos com
zam revisões sistemáticas. grupos homogêneos produ:t. resultados mais confi áveis
para serem aplicado na clínica.6
As metanálises de boa qualidade incluem teste estatís-
METANÁLISE tico de heterogeneidade para avaliar quão diferentes são
o achado de um estudo em relação ao outro . e o teste
Método que permite realizar a síntese da literatura so- identificar heterogeneidade, os estudos poderão ter dife-
bre determi nado tema (ou pergunta), associando a revisão renças em termos de método , intervenções, populações
istemática a técnicas estatísticas para resumir, de forma estudadas ou qualidade global.'
quantit.ltiva, os re ultados dessa revisão. Análise de sensibilidade ta mbém deve ser incluída nu-
Existem controvérsias na literatura sobre o valor c a ma metanáli e caso seja necessário recalcular os re ultados
confiabilidade das metanáli c para a tomada de decisões segundo os critérios de inclusão de pacientes nos estudos
na prática clínica. Alguns autores acreditam que elas po- ou outras variáveis. Se os novos agrupamentos apre enta-
dem er tão fidedignas quanto os en aios clínico rando- rem sensibilidades semelhantes, confi rmam- e os resul-
mizado (ECRs), enquanto outros acreditam que a técnica tados. Caso contrário, deve-se optar pelos subgrupos (ou
deve ser usada para gerar hipóteses, c não para testá-las. estudos) que devem ser mantidos.
O fato é que o autore que produzem metanáli e têm de Metanálises podem ser poderosos in trumento orien-
lidar com os dados obtidos por outros e que podem ter li- tadores da prática clínica. Contudo, têm benefício e limi-
mitações qualitativas e vieses. I o significa que o proce so tações. A informação resum ida do estudo selecionados
técnico e metodológico da metanálise deve ser construí- não elimina os vieses originalmente presentes neles. As-
do com base nessas possibilidades de erro. Contudo, não sim, deve-se estar atento aos problema inerente aos es-
existindo um grande ECRquc perm ita obter informações tudos originais (limitações dos dados pri mários) daqueles
confiáveis sobre determinado assunto, a metanálise agru- específicos da metanálise. A quantificação dos resultados
pando múltiplos estudos menores é a melhor fonte de da- deve estar acoplada à ua qualificação para que a íntese
do para responder a perguntas cl ínicas. 1 produzida possa expressar a evidência procurada.
Toda metanálise resume resultados de estudos O melhor de enho de estudo para a produção de me-
analíticos. Esses estudos avaliam a a ociação entre va- tanálisc é o ECR. Em geral, ele produz in formações de me-
riáveis, de modo que possam ser identificados fatores de lhor qualidade que a coorte randomizada, a qual provê me-
risco e de prognóstico para determinada doença ou a lhores evidências que o estudo caso-controle. Entretanto,
precisão de exame para o eu diagnóstico, assim corno como ainda é reduzido o número de ECR cm O bstetrícia,
e tabelecer a eficácia c eficiência do tratamento proposto. muitas vezes será necessá rio combi nar dados observacio-
Morbidade c mortalidade como variáveis repre ·entativas nais (de coorte e estudos caso-controle) para testar as hi-
de de fecho co tumam ser mais úteis do que as interme- póteses e obter evidências. Essas revisões são mais difíceis
diárias, como os exames laboratoriais que indicam fatores e trabalhosas, e não necessariamente produzem evidências
de ri co da doença. de boa qualidade.

Fundamentos da Medicina Baseada em Evidências 1015


PASSOS BÁSICOS análise de trabalho científico, obviamente com algumas
especificidades.
Na tradicional revisão narrativa da litcratur.l médica A magnitude do efeito - ou o efeito do tratamento -
(como as realizadas para a redação de capítulos de livros), o apresentado no resumo da metanáli c gerolmentc é des-
autor decide o que é ou não releva nte incluir. Para is o, desta- crito como ri co relativo (RR), ou odds mtio (OR), com
ca os achados de interesse de acordo com a sua opinião e cx- o respectivo intervalo de confiança (!C). É importante
peri~ncia, c não neces a ria mente de acordo com a qualidade entender c se conceitos para a correta interpretação dos
metodológica do estudo e a ma i ou a menos expressiva evi- gráficos apresentados nas metanálises.
dência científica sobre o assunto. Essa forma de revisão e de Risco, genericamente, refere-se à probabilidade de
análise e tabelece diversas limitações, a maior parte devido ocorrência de algu m evento não desejado (doença, morte
a bins (vícios) que se originam da própria política de publica- e outros eventos). Fatores de risco são variáveis associadas
çõe na área médica, passando pela qu.tlidade dos estudos a alto risco de induzi r a doença. Os fatores de risco são uti-
consultado e, finalmente, pelos critérios que o autor da revi- lizados para predizer eventos futuro , ma é importante
são utiliza para selccion:.u suas fontes de informação. salientar que a sua presença não sign ifica que ele causa a
Ape ar de a metanáli e não er imune a esses defeitos doença.
potenciais, a técnica desenvolvida para a ua rea lização per- Ri co relativo é a razão entre a incidência de pc oa ex-
mite reduzir o impacto desses problemas (principalmente postas e a de não expostas a determinado fator. É medida
os vie es), produzi ndo resultado · ba tante confiáveis e que de as ociação utilizada em c tudos prospectivas (coortes
podem ser tra nsferido para a prática cl ínica diária. observacionais c ECR). Indica somente uma razão entre
O pa o básico para o de envolvimento de uma me- riscos, nada relatando sobre o risco absoluto de apareci-
tanálise são: 6 mento da doença, diante do fator. Podem-se encontrar
Estabelecer claramente a(s) pcrgunt,t(s) e a(s) a ociações com altos valores de RR c que, no entanto,
hipótese( ) a ser(em) testada(s); apresentam risco absoluto reduzido, principalmente se a
definir objetivamentc os critérios de indu ão e ex- doença for pouco comum. O RR indica quantas vezes é
clusão dos estudos, as variáveis em estudo c os po - mais ,tlto o risco de as pessoa expostas adquirirem a doen-
sívei fatores de confusão; ça que as não expostas .~
definira metodologia que erá utilizada para .1 bu ca Odds mtto (razão de chance) compara a frequência de
sistemática do ·estudos na literatura c que deve incluir exposição entre casos e controle . É a medida utilizada no
não somente artigos publicados nas revistas médicas, estudos transversais nos quais não é possível estabelecer a
ma também trabalho não publicado , e tudos aca- incidência da doença. ua interpretação é emel hante à do
dêmicos, privados e pesquisas governamentais; risco relativo, sendo que seu valor é mu ito próxi mo do RR
estabelecer ela si ficação dos estudos a serem inclu- na doença com baixa prevalênciaY
ído · de acordo com a sua qualidade metodológica; A magnitude do efeito (R R ou OR) apurada nos estu-
crio r escala quontitativa única para os estudos; dos é chamoda de esti mati va-ponto do efeito. ta melhor
u ar técnicas estatística apropriadas para a compi- estimativa do estudo para o tama nho real do efeito. o
lação dos dados; entanto, é improvável que o verdadeiro tamanho do efeito
determinar o heterogeneidade dos dodos compilado ; eja exatamcnte o encontrado no estudo. Pode haver va ria-
interpretar e analisar o resultado ; ção em torno do valor encontrado. A precisão estatística
identifica r temas de fu turas pesquisas; da magn itude do efeito detectado é expressa como inter-
publicar o re ul tado . valo de confia nça (IC), usualmente 95%, à semelhança do
valor p. O IC descreve melhor a associação existente do
que o va lor p, pois, além de também estabelecer a sign ifi-
INTERPRETAÇ ÃO d ncia e tatí tica, permite avaliar a va riação da medida do
efeito ( R R ou O R), po sibilitando comparar os resultados
A mctanálisc leva rá a resultados fina is que deverão encontrados com out ros já ex i tentes. O intervalo de con-
cr interpretado de forma crnelhante ao que se faz na fiança permite ao clínico conhecer a faixa de valores plausí-

1016 Noções Práticas de Obstetrícia


veis e, assim, decidir se a magnitude do efeito encontrado é e lança em mão de resumos críticos do e tudos clíni-
consistente com o dado do eu paciente.3 co randomizados para avaliar esses serviço . Em 1972, ele
Na análise dos rc ultados, s:lo considerados significan- publicou um tratado considerado clássico nos dias de hoje,
te os que apre cntarem o valor p < 0,05 ou, utilizando-se que foi funda mental para a base das pesquisas cm saúde.
o IC, quando o intervalo não conti ver a unidade (o valor Nele, Cochrane escreveu: "existe 1111za crença disseminada de
1). O u seja, são significantes os intervalos abaixo de I ou que para cada sintoma 011 grupo de sintomas exista 111/lllledica-
acima dele, mas n:lo os que o incluírem. A condu ão desse mellto, uma cirurgia ou algum outro tratamento que pode, pelo
estudo é que um grupo comportou- e significativamente me11os, ajudar o paciente... este espera que o médico faça algo
diferente de out ro para aquela variável em que tão. O ut ro para ajudd-lo: mais e melhor. O 111édico quer ajudat; e ele ttSII -
a pccto importante do IC é a ua va riação, ou eja, os eu allllCHte pmsa em alguma droga nova que ele ainda não expen-
valore mínimo e máximo. Q.Lmnto menor o intervalo en- mentoll (/whilmente assistido pelas compa11hiasfarmacêuticas)
tre es e valores ou quanto menor for o intervalo de con- ou por algum novo teste diag1·1óstico (habilmente assistido pela
fiança, mais precisa será a estimati va. Idealmente, deseja-se pesqLiisa 111édica) q11e ele ainda 11iio tentou".8
encontrar lCs significantes c precisos quando se c tá pes- A sim, Cochrane foi dos pri meiro a dizerem que o
quisando diferença entre o grupo . serviços de aúdc devem er avaliado com base em evi-
Qyando a diferenças não ão ignificantc (intervalo dencia científica, em vez de impressões clínicas, opin i:lo
de confia nça contendo a unidade), existem duas inter- de expert ou tradição. Ele acreditava que o ensaios clínicos
pretações: os grupos realmente n:lo são diferentes para randomizados poderia m, de maneira confi ável, avaliar o
aquela variável ou o nú mero de casos selecionados não foi cuidado com a aúde e promover uma transformação no
suficiente para estabelecer a real diferença entre os grupo . Serviço acional de aúde Britânico.
Nc e caso, deve-se aguardar a publicação de outro c tu- O princípio fu ndamental do e tudo randomizado é
dos para se obter a respo ta à pergunta clínica. distribuir aleatoriamente os participantes do es-
O Q uadro 64.3 imu la as situações hipotética de sig- tudo em dois ou mais grupos; a intervenção será feita
nificância estatística e de precisão, na dependência do IC, em um grupo c o outro (controle) receberá placebo, não
para um mesmo valor de risco relati vo. intervenção ou o tratamento padrão. A randomização do
participantes permitir.\ comparação, cm vié , dos efeito
Q uadro 64.3 I Interpretação do intervalo de confiança das intervenções.
(IC) para um dado valor do risco relativo (RR) Em 1976, Cochranc e timou que menos de 10% da
R1sco IC Comentar1os
intervenções médicas tinham sustentação cm evidências
Relat1vo objetivas c, portanto, era necessário investir cm novos estu-
dos e avançar nas revisões sistemáticas de estudos existen-
1,2 0,3-10,9 Não significante (inclui a unidade)
! Impreciso (IC grande) tes. Ele censurava o ob tetras, dizendo que a c pecialidade
era merecedora da última colocação no rankmg dos ensaio

I 1.2 0,9-1,3 Não significante (inclui a unidade)


Preciso (I Cestreito)
cl ínicos, por ter feito o pior uso de estudos randomizados
até então.8

~
1.1 - 8.7 Significante (não inclui a unidade) a década de 1970, lan Chalmers, que, coincidente-
Impreciso (I Cgrande)
mente, era obstetra c trabalhava com Cochra ne, perceben-

~
1.2 1.1 -1.3 Significante (não inclui a unidade) do a rapidez da evoluçjo tecnológica da Medicina perina-
Preciso (IC estreito) tal e a ausência de dados que pudessem manter a prática
atualizada, desenvolveu um istema de registro perinatal
de c tudo clínicos randomizados com o objetivo de for-
COLABORAÇ ÃO COCHRA NE necer aos clínicos o acesso às melhores evidências dispo-
níveis na Medicina perinatal, permitindo, assim, decisões
A história da Colaboração Cochrane teve início nos clínicas adequadas?
anos 70, quando Archie Cochrane, preocupado com os Durante as décadas de 1970 e 1980, Chalmer trabalha-
custos extraordinários da saúde na Inglaterra, sugeriu que lhou exaustivamente revendo c classificando todo os estu-

Fundamentos da Medicina Baseada em Evidências 1017


dos perinatais randomizados e, em 1985, publicou a Classified A Cochrane Lifn·ary é uma publicação eletrônica atuali-
Bibliography oj Controlled Trials in Perinatal Medicine, que in- zada constantemente, vendida em C D-ROM ou distribuí-
cluía mais de 3.500 estudos. Embora essa revisão tenha re- da pela Internet. Ela contém oito bancos de dados:
presentado um marco na Medicina moderna, era limitada na Base de dados Cochrane de revisões sistemáticas,
sua compreensão e, principalmente, no acesso à informação. que engloba os protocolos de revisões em anda-
A partir dessa primeira empreitada, Chalmers e outros mento e as revisões sistemáticas já concluídas, am-
pesquisadores passaram a utilizar o registro dos estudos bos patrocinados pela Colaboração Cochrane. As
peri natais, preparando o campo para as revisões sistemá- revisões são submetidas à avaliação crítica de seis
ticas que norteariam os cuidados a serem empregados revisores internacionais e são atualizadas por seus
durante a gravidez, o parto e o período neonatal. Em 1989, autores, pelo menos, uma vez ao ano;
foi publicado o EJfective Care in Pregnancy and Childbirth e, base de dados Cochrane de resumos de revisões
em 1991, o EJfective Care oj the Newbom lnjant.Juntas, essas sobre efetividade e que incluem os resumos de re-
duas publicações incluíam centenas de revisões sistemá- visões sistemáticas de boa qualidade e bibliografias
ticas de intervenções nas práticas de assistência à saúde, de outras revisões;
tendo sido os primeiros textos médicos a basearem suas registres de ensaios clínicos controlados da Colabo-
recomendações a partir das evidências dos estudos.8 ração Cochrane;
Archie Cochrane escreveu o editorial do EJfective Care base de dados Cochrane de revisões sobre metodo-
in Pregnancy and Childbirth, quando se retratou em relação logia que englobam revisões completas e protocolos;
à opin ião manifestada anteriormente a respeito dos obste- base de dados de referências de metodologia Cochrane;
tras, dizendo sentir-se honrado por participar de publica- base de dados sobre a Colaboraç.'io Cochrane;
ção de tal importância. base de dados sobre avaliação de tecnologia em saúde;
Como todo livro, esse também estava desatualizado base de dados sobre avaliação econômica para o
ao ser publicado. Assim, no mesmo ano de sua publicação, sistema de saúde.
a Oxford Data base oj Perinatal Trials incorporou o EJfective
Care in Pregnancy and Childbirth, que passou a existir sob a Os resumos das revisões sistemáticas podem ser aces-
forma eletrônica. sados diretarnente na Cochrane Libra ry, pelo site www.co-
Em 1990, Patricia Crowley' 0 publicou a primeira revisão chrane.org. Para obtenção dos artigos completos, sugere-se
sistemática no B}OG, demonstrando o valor da admi nistra- acessar a página da BIREM E no site www.bireme.br, que é
ção antenatal do corticoide para prevenção da membrana gratuito.
hialina em recém-nascidos pré-termo. A revisão desse es- O utro grupo importante da Medicina baseada em evi-
tudo foi publicada posteriormente na Oxford Database oj dências é o da Universidade de Me Master, Canadá, sob a
Perinatal Trials e na Cochrane Library. Esse estudo tornou-se coordenação de David Sacket. 11 Esse grupo desenvolveu
modelo para outros, ao traduzir os achados de pesquisas em vá rias fontes de informação baseadas em evidências, tais
propostas de modificações da prática médica. como o ACP joumal Club, Evidence-Based Medicine e Best
a década de 1990, o Serviço Nacional de Saúde Bri- Evidence, oferecendo a todos a oportun idade de atualização
tânico fu ndou o Cochrane Centre, em homenagem a Archie com as melhores evidências clínicas.
Cochrane, para facilitar a preparação, a ma nutenção e a
disseminação das revisões sistemáticas de intervenções em
saúde. Em 1992, lan Chalmers assumiu a direção e o centro PASSOS PARAACESSARA
passou a chamar-se Cochrane Collaboration (Colaboração COCHRANE LIBRARY
Cochranc), entidade sem fins lucrativos, com a participação
de vá rios centros em todo o mu ndo, incluindo o Brasil. ~1ando for de interesse consultar qualquer revisão sis-
O Centro Cochrane do Brasil foi inaugurado em ou- temática, sugerem-se seguir os seguintes passos:
tubro de 1996 e funciona na Unidade de Ensaios Clínicos Acessar a página da BIREME;
da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de clicar no ícone da Colaboração Cochrane. A página
São Paulo (UFSP). apresenta todos os passos em português;

1018 Noções Práticas de Obstetrícia


na caixa de busca (Expressão) deve-se escrever Nas revisões sistemáticas da Cochrane, pode-se acessar
uma ou mais palavras-chave sobre o te ma a ser pes- os gráficos de cada variável de interesse ind ividual. Na Figu-
quisado. Nessa caixa, os termos devem ser digita- ra 64.3, apresenta-se um gráfico padrão extraído do estudo
dos em inglês; sobre utilização de corticoide profilático nos partos (Pro-
é necessá rio observar na lista que surgirá se o tema phylatic corticosteroidsfor preterm birth), atualizado em 20 I 0.12
já está abordado e disp onível em fo rma de revisão Cada gd .hco que for acessado tera, basicamente, o mes-
sistemática completa ou em forma de protocolo; mo desenho. A primeira linha (re~~iew) informa o título da
se já existe a revisão sistemática publicada, pode- revisão. A segunda (comparison) fala sobre a comparação
-se fazer o acesso de imediato, para ler, imprimi r que está sendo feita, se existem subgrupos sendo ana lisa-
ou gravar. Caso existam somente projetes em a n- dos e, fi nalmente, a terceira linha é a variável que está sendo
damento, é possível saber em que data serão publi- estudad a no gráfico (outcome).
cados os resultados finais. Não estando dispon íveis À esquerda estão listados todos os estudos ou, pelo
revisões sistem áticas, localizar no d iretório de en- menos, parte deles analisados para aquela variável, discri-
saios clínicos controlados quantos deles existem m inando o número de participantes no grupo-teste e no
sobre o assunto; grupo-controle. Abaixo da relação dos estudos que foram
ao ler a revisão sistemática, é imprescindível aces- incluídos para aquela va riável, observam-se: o resultado sub-
sa r os gráficos que analisam as d iversas variáveis da total, quando existem subgrupos, o resultado total e os testes
metanálise. Os gráficos só p odem ser visual izados de heterogeneidade e do efeito global para cad a subgrupo.
quando se clica em cim a da palavragraphs, que apa- A d ireita, ocupando a outra m etade do gráfico, encon-
rece sempre após as referências bibliográficas. tram-se os efeitos (risco relativo, odds raiio ou outros) en-
contrados em cada estudo, com o respectivo intervalo de
confiança. Na extremidade direita do grá fi co estão listados
COMO INTERPRETAR OS GRÁFICOS o peso (weighlj de cada estudo e a medida do risco, além do
IC pa ra a análise em questão.
O símbolo da Colaboração Cochrane é um círculo A linha vertical m arca o efeito nulo ou o grau de incer-
dentro do qual está representada a análise final de cad a u m teza do estudo. As linhas horizontais representam o inter-
dos estudos utilizados na metanálise de Patrícia Crowley. valo de con fiança (IC) dos efeitos encontrados em cada
A escol ha dessa metanálise para simboliza r a Cochrane u m dos estudos que fo ra m incluídos na metanálise, em
reflete não apenas o pionei rismo da publicação, mas tam- relação à va riável q ue está sendo analisada. É importante
bém a magn itude e a importância desse estudo na p rática lembrar que o IC representa o intervalo no qual as propor-
da Medici na Basead a em Evidência (Figura 64.2). ções de eventos seriam verificadas 95% das vezes se o mes-
mo estudo fosse repetido I 0 0 vezes.
E, finalmente, o losango (ou d iama nte) na parte in-
ferior rep resenta o resultado fin~ l da metanálise: qu anto
m ais afastado d a linha vertical, mais fo rte é o efeito.

o IN'I ERVA LO I)[ CONI-IAi\:(,'A

A correta interpretação do intervalo de confia nça (I C)


é fundamental para a leitu ra dos gráficos apresentados nas
metanálises da Cochrane Library.
Pa ra exem plificar, va m os supor que esta mos inter-
preta ndo gráfico d e meta nálise de estudos que p rop u-
seram nova form a d e tratam ento para determinada do -
Figura 64.2 j Símbolo da Colaboração Cochrane. ença, comparado a u m placebo o u ao antigo trata mento .

Fundamentos da Med icina Baseada em Evidências


1019
Qj.1ando o IC regi trado no gráfico da metanálise estiver Qj.1ando o IC não e ti ver totalmente para a direita ou
totalmente à e qucrda da linha vertical, sua interpretação esquerda, encontrando- c obre a linha vertical, o resulta-
é que a v.1riávcl cm estudo mostrou efeito benéfico (ou do é não significativo, ou ~cja, o e tudo não comeguiu re -
protetor) do tratamento em relação ao grupo controle, ponder à pergunta fo rmulada. I o pode representar duas
de forma ignificantc, poi não englobou a unidade (não coisas: ou realmente não existem diferenças entre o trata-
ultrapa ou a linha vertical). Indica que o tratamento mento propostos ou o tama nho da amostr.l de pacientes
aplicado nos casos é melhor que o admi nistr,u1o aos ·elecionado não foi uficicntc c o c tudo deve conti nuar.
controle . Informa também que e o estudo fo r repetido utro aspecto a ser analisado é o ta manho do JC, ou
com a mesma 111ctodologia, o resultado encontrado ed seja, a cxtcn ão da linha horizontal apre~e ntada na frente
emelhantc. de cada e tudo selecionado. Quanto rnab estreita for a li-
Quando o IC encontra- e à direita da linha vertical, nha horizontal, menor é o intervalo de confian a. e ele
em pa ar pela unidade, a interpretação é que o tratamen- não englobar a unidade, será significante c, quanto menor,
to proposto não é melhor que o placcbo (ou que o tr.lta- mai prcci ·o c mai confiável erá o re ultado cm questão.
mcnto anterior) e traz mai ri co . É rc ultado c tati <;tica- Para exempli fic:u de m.111eira sucinta o que foi .1bordado
mentc significativo e sugere que o novo tratamento deve sobre o intervalo de confiança, ~erao apre entado algun
cr abandonado. gráfico de meta nál i~c c ujo~ resultados já foram publicados
Eventualmente, podem ser apre cnt.1do gr.í.ficos cuja pela -ochranc Library (FigurJs 6-t.4, 6-t.S, 6-t.6 c 64.- ).
interpretação n:io é cxatamente a que foi exposta, ou ~ep, O primeiro dele (Figm.16-t.4) refere-se .\ revis:io Magm·-
resultado à esquerda da linha vertical indica proteção c, à siwll sulplwte versus dw::.epn111for eclm11psra, uj:t última .ltuali-
direita, ri co. Quando a interpretação é oposta, percebe-se zação foi real izada em 2010.11O objetivo des~:~ mctanálisc foi
not.1 no rodapé do gráfico dos dois lados da linha verti ai, .w.1liar o efeito do sul fato de magnésio, quando comparado
onde e tad c cri to: favorável ao tratamento ou favorável ao ao di.llepam, no tratamento da eclàmp ia. Um dos resulta-
placebo. Concluindo: nem todo re ultado que se encont ra do ma i importante de sa revi :io fo1a conlirmaç:io de que
à direita da linha vertical é pior ou traz ma i ri co . I sovai o uso do ui fato de magnésio l"l)i melhor que o do diazepa m
depender da variável que está sendo avaliada. no tratamento da convul õc~ na paciente avaliada .

Rtvitw. Prophyfauic conicosttroids for prtttr• binh


Co• parh on: 1 ConicosttroidJ vtrsus pfaubo o r no trn.tn~ tnt
Outco• t : 3 lntn.vtntricu la.r hu11orrhagt

Study o r subgroup Trnt• tnt Control Ptto Odds Ratio Wtight Ptto Odds Ratio
n/N n/N Ptto. Fixtd.,SX CI Ptto.Fixtd.,SX CI
I lntnvtntrlcular hum orrhagt diagnostd li autopsy
AIJCK\NjO U72
DORAN USO
GAMSU UU
6/182
l/80
0/130
14/1 56
2/60
4 / 132
• 65.8"
I 0 .2 X
13., "
0.36 I 0.15. O.U I
0.37 I 0 .04. 3.731
0.131 0 .0 2. o." I
TAIJESCH U7' 0/ 54 31" I 0.2 X 0.16 I 0 .02. 1.631
Subtotal (95'.1(, Cl)
Total tvtnts: 7 CTrntm tnO. 23 (Controll
446 417 1 00.0 " 0.29 1 0.14, o.u I
Htttrogtntíty: Chi' • 1.1 O. di • 3 (P • 0.78); I' : O.OX
T tst for ovtrall tfftct: Z = 3.2, (P = 0.001 0)
2 lntravtntrlcular humorrhagt diagnostd by ultruound
GAAITE I , 2 I /30 "36 , .3" 0.1' I 0.05, 0.731
KAAII ,4 '"5 18"4 • 24 .5" 0.41 I 0.18, 0., 3 1
MO RAlES I ' "
SILVER 1"5
Subtotal (95" Cl)
13/121
25/54
300
33/124
17/42
• • 40.7"
25.5"
0.35 I 0 .1 ' · 0.6 7 I
1.26 I 0 .56, 2.84 I
296 ~ 100.0 " 0.41 I 0. 32, 0.72 I
Total tvtnts: 47 CTrnt•tnO. 77 (Control)
Htttrogtnt íty: Chi> • 8.35. df • 3 <P z 0 .041: I' =64X
Ttst for ovtrall tfftu: Z • 3.53 (P = 0.00041)
Ttstlor subgroup difftrtncts : Chi' • 1.34. df =1 (P. 0.251. I' •25X

0.1 0.2 0.5 5 lO

Figura 64.3 1Hemorragia intr,\Ventricular nos recém-nasc1dos prenuturo~ comparando o uso profi lát1co de cort1coide com
u o de placebo ou nenhum tratamento.

1020 Noções Práticas de Obstetricia


Observa-se no gráfico a reduzida ocorrência de convul- O segundo gráfico (Figura 64.5) descreve um dos re-
sões no grupo que recebeu o sulfato de magnésio. O resulta· sultados da revisão que avaliaram os efeitos do misopros-
do de cada estudo é representado pela linha horizontal (LC), tol vaginal para promover o apagamento do colo uterino e
com pequeno quadrado no centro, que revela a magnitude induzir o trabalho de parto no terceiro trimestre, denomi-
do efeito: o risco relativo (RR). Todos os resultados estão nado Vaginal misoprostoljor cervical ripening a11d induction oj
posicionados à esquerda da Hnha vertical, com alguns ICs labor, cuja última atualização foi feita em outubro de 2010. 14
cruzando-.1. O último losango, que indica a soma de todos O resultado aqui apresentado refere-se à ocorrência de h i-
os resultados, está posicionado à esquerda da li nha vertical. perestimulação uterina sem alteração nos batimentos card í-
Essa é a evidência de que utilizar o sulfato de magnésio é me- acos fetais, ao comparar-se o grupo que utilizou misoprostol
lhor para prevenir a recorrência de convulsão, cm pacientes com o que utilizou placebo ou não tratamento. Observa-se
com eclàmpsia, do que o diazepam. É importante, também, que a totalidade dosestudosencontra-se à direita da linha ver-
verificar o tamanho do LC do losango. Qyanto menor o IC, tical, embora dois deles a tenham cruzado. Percebe-se, clara-
mais alto o grau de precisão e de confiança no achado final. mente,oposicionamentodolosangoàdireitadalinhavertical.

Rtvi tw: lhgnuiu • s ulphatt vtrsus diaupa• for t cllll psi a


Co• parison: 1 lhgnuiu• sulphatt versus diaupa11
Outco• t : 2 Rtcurrtnct of convulsions
Study o r subgroup • agnuiu111 sulphatt diaupa• Risk Ratio Rlsk Ratlo
n/N n/N M-H. Fixtd.95" CI M·H.Flxtd.95" Cl



Bangladuh 1998 5/100 26/100 0.19 I 0.08. 0.48 I
Collab Trlal 1995 60/453 125/452
' 0.48 [ 0.36. 0.631
Egypt 19n 0/59 0/46 o.o I o.o. o.o I
lndla 2001 0/60 2/40 'I I 0.13 I 0.01 . 2.731
Malaysia 1994 0/6 0/5 o.o I o.o. o.o I
Zi11 babwt 1990 5/24 7/27 0.80 I 0.2 9. 2.20 I
Zimbabwt 1998 1/lS 2/34 0.4 9 I 0.05. 5.11 I

Total (95'lr. Cl) 737 704 1.44 I 0. 34, o.s7 I


Total tvtnts: 71 <• agnuiu • sulphattl. 162 (diaupu)
Htttrogtntity: Chi1 = 5.47. df = 4 (P • 0.241; P = 27"
TUI for OVtrlll tfftct: Z • 6.34 (I' < 0.00001)

0.1 0.2 0 .5 2 5 10
MgS04 btntr diaupa• bt n tr

Figura 64.41 Comparação entre sulfato de magnésio c diazepam para prevenir recorrência de convulsões cm mulheres
cclãmpticas.

Rtview:. Vaglnalll lsoprostol for cuv lcal riptnlng and induction of labour
Co11pans on: 3 Mlsoprostol versus plactbo/no trutment: ali womtn. lntact •utbranu unfavourablt ctrvix
Outcomt: 7 Uttrlnt hyptrstimulation without FHR changu '
Study or subgro up misoprostol plact bo Rlsk Ratio Wtight Ris k Ratio
n/N n/N M-H.Fixtd. 95" C1 M· H,Fixtd. 95" Cl

••
02 5 Stittly 2000 1/27 0/33 3.64 I 0.1 5. 85.9 7 I
30.1 "
100C Flttchtr 1993 1/24 0/21 35.5" 2.64 [ 0. 11. 61 .541
1 OOC Srisomboon 1996 12/32 0130 34.4 " 23.48 I 1.4 5, 380.0 2 I

Total (95'lr. Cl) 13 14 10.111 LU, 53.60 I


Total tvt nts: 14 (lllsoprostoO. O (plactbol - - -- 100.0"
Httt rog t ntity: Chi> = 1.45. df = 2 (P = 0.481; 11 = 0.0"
Tut for ovtrall tfftct: Z • 2.72 (I' = 0.00'''

0 .1 0.2 0 .5 2 5 10
Favours 11 isoprostol Favours plact bo

Figura 64.51 Comparação entre o misoprostol vaginal vcrs11s placebo ou não tratamento na ocorrência de hi pcrcstimulação
uterina sem al ter.1ções na frequência cardíaca fetal.

Fundamentos da Medicina Baseada em Evidências


1021
Isto significa que a utilização do misoprostol aumenta de to utilizada quando a variável em estudo não é dicotómica,
maneira significativa o risco de hiperestimulação uterina, mas contínua. Enfatiza-se, também, que, cm vez do número
mesmo que sem alteração da frequência cardíaca fetal. Vale um como ponto central da linha do gráfico indicando a não
notar que os ICs são muito amplos, o que denota baixo grau significância, o que é apresentado é o número zero, ou seja, a
de precisão e de confiança no achado final. Assim, essa evi- não diferença entre as médias. Se a linha horizontal cruzar o
dência não descarta a utilização do misoprostol para este ponto zero, o resultado é não significante c confirma que não
fi m, mas adverte que seu uso pode levar à hiperestimulação. existe diferença entre as médias das medidas avaliadas.
Os revisores concluem que são necessários mais estudos No último gráfico (Figura 64.7) apresenta-se uma das
para estabelecer a via e a dose ideal de administr.1ç.io do mi- va riáveis analisadas na revisão intitulada Mag11esium sul-
soprostol e a sua segurança. phatefor preventing preter111 birth in threatened preterm labour
O próximo gráfico (Figura 64.6) refere-se à mctan:ílisc (última revisão cm agosto de 2010), cujo objctivo foi ava-
Calcitml cluwllel blockers for inhibiting preter111 labow; cujos liar a eficácia e a segurança do sulfato de magnésio em ges-
objetivo foram determinar os efeitos dos bloqueadores tantes com risco de parto pré-termo, comparada a placebo,
de canal de cálcio sobre mãe, feto e neonato, quando ad- não tratamento ou outros agentes tocolíticos.' 6
ministrados como tocolíticos a mulheres cm trab:~l ho de Pode-se verificar nesse gráfico que os resultados distri-
parto pré-termo.15 A última revisão foi realizada em 2010.A buem-se ora à esquerda ora à direita da linha vertical, com
variável analisada é a idade gestacional (em semana com- os ICs cruzando-a. A análise fi nal não apresenta resultado
pletas) ao nascimento. significante, pois o IC engloba a unidade. A conclusão é
Nota-se, como no gráfico anterior, que a maiori:~ dos ICs que o sulfato de magnésio é ineficaz para retardar ou pre-
dos estudos estão à direita da linha vertical. o entanto, não veni r o parto pré-termo.
se pode anal isar esse resultado como se a adm inistração dos
bloqueadores do canal de cálcio implicasse alto risco fetal,
pois o seu uso adiou o nascimento de crianças prematuras em TESTE D E H ETE ROGENI:' IDA D E
alguns dias ou pouco mais de uma semana. Para evitar esse
erro de interpretação, o gráfico traz legenda no seu rodapé, Avaliar a consistência e a qualidade dos dados da meta-
onde está discriminado se tal resultado favorece o tratamen- nálise é passo essencial para garantir a confiabilidade nos
to ou não. Nes e caso, embora, à direita, o resultado fina l (lo- resultados e estabelecer a evidência sobre o tema. Para essa
sango) favorece os bloqueadores de canal de cálcio (favours avaliação, a Colaboração Cochrane utiliza o teste de he-
ca··ca), ou eja: o tratamento prolongou a gestação por terogeneidade nas suas revisões sistemáticas. Os gráficos
mais tempo, o que é benefício e não risco. Ressalta-se que o de metanálise apresentam o resultado do teste no canto
efeito é mensurado pela Weighted Mean Difference, que é mui- inferior esquerdo, logo abaixo da li nha do resultado final.

Study o r subgroup Cl++CB Othtrtocotytic Mun Oltftrtnct Wtighl Mtan Oltftrtnct


N lhan(SOl N Mun(SOl IV. Fiud. '5" CI IV. Fixod. 'S" CI
.,
llncoro U"
Jannu 1"7
Koks IUI
23
43
35
n .4
36 ()I

u.n
32.5 (4.4)
4)
21
35 14)
37., (2.1)
32.9 (3.7)
+---
---,-~
5.3"
31.8"
6.3"
1.00 1· 1.11. ] .11)
0.80 I · 0.01. 1.61 l
-0.40 [ -2.40. 1. 60 l
lar•on UU 57 35.6 65 35.5 0 . 2)

E
(3.7) 16.6" 0.10 1·1.14. 1.34)
Papauonls 1 U7
Wurakul 2002
'5
45
33.4 (4.5)
'o 32.1 14.1) 16.5" 1.30 I 0.06. 2. 54 l
35.67 IUl 44 34 .., (3.07) 16.4" 0.71 [ -0.4,. 2.02 l

Total (t5" Cl) 291


Hmrogonohy: Chi' • 3.11. di . 5 11' = 0.68); I' .o.o"
Tonfor ovorall lfhct Z • 2.72 (I' ~ 0.0066)
219
• 100.0" 0.70 [ o.u, L20 I

·lO ·5 5 10
hvours Othtr toco I. hvours Ca++C8

Figura 64.61 Comparação entre os bloqueadores de canal de cálcio e outros tocolíticos, na inibição do parto pré-termo.

1022 Noções Práticas de Obstetrícia


A interpretação é muito simples: se o teste for significan- que e tá sendo avaliado. Por exemplo, pode haver
te, os resultados não são homogêneos e, portanto, a evi- diferenças nos resultados fi nais dos estudos, que
dência encontrada não é tão forte e deve-se ter cautela na podem varia r de discordâncias menores (variação
ua aplicabilidade clín ica. Considera- e teste de hetero- no tamanho dos efeitos) a discordância maiore
geneidade sign ifi cante quando o valor p encontrado for (resul tados opostos em relação ao tratamento).
inferior a 0,0 I.
O teste de heterogeneidade avalia se existem diferenças O teste é susceptível de erros dependentes principal-
genuína entre o c tudo (heterogeneidade) ou se a va riação mente do número de estudo (ou de paciente) inclu ído
que houve foi fruto somente do acaso e, portanto, os resulta· na metanálise. Se o número é reduzido, o teste pode ser
do ão homogêncos, confiáveis c podem er generalizado . não significante somente pelo baixo número de compa-
A heterogeneidade entre os estudos pode ser devida a rações. Nessa situação, o teste de heterogeneidade resulta
três fatores principais: 9 falsamente negativo, ou seja, pode haver diferença entre
Diferenças wtre os pacientes selecionados (critérios de os estudos que não foram passíveis de detecção. Ao con-
inclusão, critério · diagnóstico ), as vari,\veis em trário, o teste pode er fa lsamente ignificativo, indicando
e tudo (tipo de intervenção, diferenças de dose de diferenças entre os estudos que não são reais. Isso pode
medicamentos, du ração do tratamento) e o desfe- ocorrer principalmente quando o número de e tudo (ou
cho cl ínico (melhora, doença, morte e outras); de pacientes) é muito elevado.
diferenças 111etodológicas no desenho do estudo, no con- Assim, a quantificação da heterogeneidade entre os
trole do possívei viesc e na interpretação dos re- estudos é apenas um dos componentes da invc tigação re-
sultados. Consistem nas va riações relacionada à alizada. O principal, c mais importante, é avaliar a di versi-
forma de randomização, alocação, masca rJmento, dade dos aspectos cl ínicos e metodológicos do estudos. A
perdas e exclusões; interpretação da heterogeneidade entre os estudos v.\i ficar
diferenças 11a mrálrse estatística, como con equência dependente também da aval iação do efeitos produzidos
das diferenças anteriores, levando à variação, en- por cada um dele e, principalmente, e eles acontecem ou
tre os e tudos, dos efeito básico do tratamento não na mesma direção.9

Rtvitw: Ma.gnuiu• sulph1.tt for prtvtnting prttt r• birth in thrnttntd pnttr• labour
Co• puison: 1 Magnuiu• sulphatt versus c o• p:arison group . :l iI includtd trllls
Outco•t: I Binh <48 hours lfttrtril l tntry
Study or subgroup Trtl.tM t nt Control Risk Rl tio Wt lght Risk Rltio
n/ N n/N N ·H, Rlndoii, ,SX (I N -H. Random,,5ll: (I

k•••yo "'o 5/15 3/14


I
6.6 X 1.56 I 0.4 5, 5.33 I
(hlU 1, 2 2/46 4/52 4 .3 X 0.57 I 0.1 1. 2.94 I
j_
Cotton 1984
Fox U93
10/16
1"45
""
2"45 ...!I
13.5 X
16.6 X
1. 32 ( 0.72, 2 .421
0. 66 I 0.44, 0 .98 I
Clock I " 3
Hl ghighl I 999
llrWIOn U99
3/41
12/40
4/65
3/ H
8134
4 /57 -
-=r
4 .8:1:
11 .2X
5., x
0. 95 ( 0. 20. 4 .43 1
1.28 ( 0.5,, 2.751
0.88 ( 0.23. 3.351
N• l"2
Noulu 1"3
T chilinguirlan I 984
Wilkins U88
7/30
8152
"36
5/66
32/35
5/4,
11/31
2/54
--
_.j_
12.8 X
8.1 X
11.6 li:
4 .5 X
0. 26 I 0.13, 0.49 I
1.51 l 0.53. 4 .30 I
0.7 0 ( 0. 34, 1.471
2. 05 ( 0.41 , I 0.131

Total (95% Cl)


Total tvtnts: 84 CTrnt•tnt), 110 (ControO
452 429
Htttrogontity: Tau' • 0.1 9; Chi' = 20.74. df = I O CP= 0.02); I' :52:1:
JI 100.0 " 0.15 I 0.51, L 25 I

Tulfor ovtrlll tfftct: Z c 0.82 (P = 0.411

0. 01 0.1 10 100
Fav ours tre:u• tnt h.vours contro l

Figura 64.71 CompM.lÇào entre o sulf:1to de magnésio e outro tocolíticos, plJccbo ou não tratamento, na redução da ocorrencia
de parto pré-termo, até -t hora~ de início do trata mento.

Fundamentos da Medicina Baseada em Evidências 1023


COMENTÁRIOS FINAIS gia de bu cano · banco de dad s de mformação científica.
Essa estratégia de busca é denominada PICO: P (paciente
A Medicina Baseada em Evidências (MBE) é o elo en- ou população); I (i ndicador ou intervenção); C (compara-
tre a boa pe qui a científica e a prática clínica, ou scj.l, utili- ção ou controle); O (ou/co111e).'g
za dado científico di ponívci no momento, com ba c em É importante reafi rma r que,\ M BE não ncg.1 o valor d.1
ensaios líni os randomizados c com boa validade interna experiência pc~ oal, ma propõe tluc c:,ta seja .1liccrç,,d,1cm
e externa, para que se possa aplicar eu resultado na prá- evidências científica . i a \'erdadc, boa pe qui a científicas,
tica clínica cotidiana. embasad.1s cm estudo cl ínicos bem estruturado , podem
Deve- e, ainda, apre entar a defi nições clínica refe- ajudar a reduzir a incerteza 11.1 ,\rca d.1 aúde para ,\Uxiliar na
rente ao tratamento quando e fala cm evidência~. Aqui, tomada de mel hores decisões clínicas para as pacientes.
refere-se ao conceito de efetividade, eficiência, cfidcia e Final mente, entendemo que é muito importante es-
segu ra nça: timular os clínico a utilin rem a~ boas evidências na sua
A efetividade diz re peito ao tratamento que fu n- prática dtaria, para a continutdade do de cnvolvtmcnto
ciona em condições do mundo real; científico c, principal mente, para incrementar a qualidade
a eficiência diz respeito ao tratamento barato caces- do .1tcnd imcnto aos seus pacientes, levando cm consider.l-
ível para que o paciente po sam dele u ufruir; ção a circunstâ ncias, o .mscio c desejos do pacientes, .1
eficácia e qua ndo o tr.ltamento funciona cm ondi- experiência proh sional do médico e a melhor evidência
ções ideais, por exemplo, em experimento pequeno . dispon ível no momento.
a egura nça significa que uma intervenção possui
características confiáveis que tornam improvável
algum efeito indesejável para o paciente. REFERÊNCIAS

Por ua vez, é importante considerar quat nívet e grau Fnedland DJ , GoA~ . Davorcn J 13.1\ ledKma R.1>cada cm Eva-
dênca,t s: uma estrutura para a prática danaca. rrad. A1cvedo
de evidencias estão cmb,\sando nos a prática clínica no
I F. Rao de Janearo: Koogan, 2001.231 p.
momento. É necessário lembrar, também, que o processo
2. Ft·brasgo. Obstetriua Baseada em F\ldênca.l\ .\ lanual de
da 1\rl BE inicia- c pela formulação de uma questão clínica O ncntaç,io. Atall.th 1A, Soarc\ BO, ~OULJ I V, Bar,lCat EC.
de mtere e. Um,\ boa pergunta é o primeiro c mais impor- antosJ FK,. ,a,~ . S.ao Paulo: Fcbra ~go c Centro Cochranc
tante pa o para o iní io de uma pc quisa de evidências, do 13ra~ il ; 2001. 159p.
pot · di minui a po ibtlidadc de erros (vte e~) durante a 3 Flet her RH, Flctch~:r ~W. Wagner EH. Epademaologta Cla-
mca: elemento\ C\\CI1t:IJIS. 4' cd. Trad Duncan BB, Schmadt
cl,1boração, pbncjamcnto, análi e estatí tica c a conclusão
,\ 11. Porto Alegre· Artc'> .\lédaca\; 2006. 2 p.
de um projeto de pesquisa. Uma boa pergunta consi te cm
+. Quadros LGA, CJ\tdo Filho A, Baracat EC. Avaliação cnli-
quatro iten fundamentai :1- CJ da Literatura 1\ k d1ca: mtrodução .1 Medacma Ba~eada cm
A situação clímca: qual é a docnç.1 ,\ cr inve tigada; Evtdências. Femm.a 2000;28:311 -1S.
a ill fervwçtio: qual é o tratamento - ou tratamento ) . A~\OCI.IÇão 1\lédaca Br.tsileira. Protelo Dirctritc . Di ponívd
- de intcrc1.~e a ser(cm) testado(\); em· hllp: "" 1\ .prot~:todm•tnze .org.br
qual é o gmpo-c01zlro/e (placebo, nenhuma interven- 6. lluckcr SB 1\leta Analym for thc Prawcmg Ob~tctnuan
- Gyn~:cologa\t. 'lm Obstei G) ncwl 1998;41 2-.S- I.
ção ou outra intervenção);
o desfecho cluuco. Hu llry SB. Cummmg' SR, Browncr WS, Grady D, HcaN ,
Newman TB. Del111cando ,, Pc~qlll~.l Clínu.:a uma aborda-
gem ~:pad ~:amológaca Trad. Machad Schm1dt Ounc.1n c An.a
E a propo!>tção de omo formula r uma pergunta clí- Rtt.t Pcrc'> 2• cd. Porto Alegre· Artrn~:d ; 2006 r4 p.
nic,\ de interc c está bem estruturad,1 na proposta deno- <. Dackersan K, Manhcuner E. ·lhe Cochranc Collaborat10n.
minada PICO, recomendada pelo Projeto Oiretrize , da Evaluatton of Hcahh Care and Cr\'accs u~mg )'>temallc
Rc\'ll!W~ of thc Rc\uh., ofRandomJL~:J Control Tnals. Clrn
A ociação Médic.1 Bra ileira. As guestõcs podem serre-
Ob; td Gync ol. 1998;-1 1:315-31.
la ionada a tratamento, diagnó tico, prognó tico ou ctio-
9. H1ggin, J PT, ' l h omp~o n SG, DccbJJ. Ahman DG. lcJ
logza, para a mesma ituação clín ica. Para que a dúvida cja sunng m con'>l~tcncy in mct J -JI1.1 I y~c Briti;h Mcd J 200 ~:
dcvtdamente organtzada, deve cr cotwertida cm e1.traté- 32-:ss- 6o.

1024 Noções Práticas de Obstetrícia


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Fundamentos da Medicina Baseada em Evidências 1025


Índice Remissivo
~-Bloquea dores, 507 Adaptação Materna à Gravidez, 3 1 ftwanil, 939
alterações ca rdiovasculares, 43 ketamina, 939
A alterações da pele e fâneros, 48 meperidina, 939
alterações do aparelho gen ital, 34 rmriftmanil, 939
Abdome Agudo na Gravidez, 797 trompas r ovários, 35 anestesia em situações especiais, 943
ABO ríuro, 34 anttsusia na gttstamtt nsmátira, 950
sistema, 429 11agina t! pubuo, 35 IIJWitSitl na gmmue cardiopnta, 949
Aborro(s), 249 alterações do estado emociona l, 49 anestesia para mretagem uterina, 943
ameaça, 250 alterações do sistema digestivo. 36 IIIOIIill 11/erillll, 945
cerclagem, 254 boca, 36 rrWI(fÍO pl11rentdria, 946
completo, 251 rsôfogo, 36 síndromrs Jumorrágiras, 943
contracepção, 257 mômago, 36 rimirtr anrstisirn, 950
evolução, 25 1 ftgado, 37 rrrgbrcias biparmsivas, 946
faror Rh, 269 i!llttJiinos, 36 anesresia para a cesariana, 942
iminemc, 250 vnírult1 biliar, 37 avaliação pré-anestésica, 935
in ompleto, 251 aheraçõ~s do sistema nervoso cemral, 45 mado físico, 936
in ompleto infectado, 252 órgrios smsoriais, 45 jttjum , 935
inevitável, 251 alterações do sistema respi ratório, 47 fisiologia da dor, 936
isoimunizaçáo, 257 alterações do sistema uriná rio, 40 métodos farmacológicos, 938
medicamentos, 257 bexiga e uretra, 41 métodos não far macológicos, 938
antibiotiprojilaxia, 257 riw, 40 pano vaginal, técnicas de a n algc~ia , 938
oritocinr1, 257 sistmw rolnor, 4 I analg~sirr rrgional, 939
proswglandinas, 257 alterações cndócnnas, 32 mralgnia swhnica, 939
repetição, 253 ptínrrrns, 33 mirodos fomwcológicos, 938
imujici~ncia urvicnl, 254 parnrir~oidtt, 34 mirodos nrio formarológicos, 938
retido, 252 plt~cema, 32 :.índromes hemorrágicas, 943
Ab cc o Pélvico, 996 rirroid~. 33 tll/estesitl para curetagem uteri11a, 943
Acidcm ia, 190, 194 , 195, 229, 230, 233, a Iterações hematolõgicas, 4 2 coagtdoparia, 945
234,300,303,305 collgtilll(fÍO sangtiÍn~a. 43 descolammro prmraturo da plncmra, 943
Ácido Fólico, 40, 64, 66, 69, 70, 100, 126, volunu sanguímo, 42 p!aUIIIfl prlVJa, 943
127, 128, 138, 157, 561,563,565, alteraçóc:. imunológicas, 37 rlcnicn mwrhicrr, 945
737,738,840 alterações metabólicas, 37 técnica anesté:.ica, 949
Acondroplasia , 150 alte rações na radiografia de tórax, 44 urgências hipcrtensivas, 946
alterações nas mamas, 35 adt!quacrio volbnicn, 947
Aconscl hamcnro Pré-concepcional, 63, 7 1,
alterações no ECG, 44 avaliaçrio da hmrostasia maurnrt, 948
156,645
alteraçõe:. no ccocardiograma, 44 co11trole da pmsrio arurial, 947
consangu inidade, 156
alterações o:.reoarricula res, 46 controle do quadro convulsivo, 947
doença autossômica dominante, 156
Adiponecrosc, 969 projilaxi11, 947
doença recessiva ligada ao X, 156
Adolescência, gravidez na, 126, 269, 557, 783, rlrnicn a11mbira. 949
doenças genéricas, 69
809 vias airttas, 946
drftitos do tubo nmrnl, 69
AI DS (ver Vírus da lmunodeficiência Hu mana Anem ia(s)
ftnilmomíria, 70
doenças maternas, 66 ( HI V)) aplástica, 558
l/IIIOÍIIIIIIUS, 67 Álcool, 101 deficiéncia(s)
cnrdiopntiru, 67 Aleitamento Materno, 139, 143,48 1, 548, ferro, 554
diabrm mtt!liws, 66 618, 661' 732, 737, 807, 808, 809, folato, 557
rpilrpsia, 66 vitt1mint1 812, 558
823. 826, 143
hipatmsrio arraial crónica, 66 dilucional, 554
Alfa-talassemia, 204,2 11 ,447,449,454
inftrriosns, 68 d oença crónica, associada à, 556
Aloimunizaçâo, 69, 77, 204, 217, 427, 428.
nefroptllirts, 67 doenças hemolíticas, 127, 630
429,433,434,437,928
drcpanocito~e. 6JO
outras sillwções rlínicm, 68 A madurccimemo Cervica l, 253, 461, 908,
psiquitltricru, 68 hemoglobinopatia~. 559
911 aborrammto, 560
rirttoidianas, 68
Amenorrcia, 39, 69, 74, 80, 548, 653, 664, a!terll(Õt!s drr pfttrt'tllll, 560
hábitos de vida, 64
700.979,980, 1001 , 1002 romplicacó~s. 559
álrool, 65
Amn iocem ese, 163 conduttl, 561
rornína, 65
compl icações, 213 rrrscimemo mrrnuterino restrllo (C!UR).
dina, 64
época d e rca Ii1.ação, 2 12 560
drogas l/fritas, 65
ind icaçõcs, 2 12 cuidados durmrtr o prl-naral, 561
rabaco, 64
técnica, 213 ruidndos 110 parto. 562
idade mat erna elevada, 157
Amnioromia, 907 ruidados no pós-ptmo, 562
idade materna c paterna. 69
medicamcmo:., 65 Analgesia e Anes te~ia em Obstetrícia morralidadt! prrinatrrl, 561
ti/coo/, 65 analgesia regional, 939 rrnnsfusões srmgtiÍIINIS, 562
roct1ína, 65 analgesia peridur11l. 94I hemo!íticas, 563
drogas ilfcirns, 65 anestesia subarncnoidm, rnquidiana, 940 autoimrme (A HAI), 565
vacinação, 70 bloqul!io do !lavo pudmdo, 939 dttjicihrcia dtt glicou-6fosforo d~sidrogmau
bloqueio ptmrurlliral, 939 (CGPD). 564
Aconselhamento pré-gcstacional, 539
analgesia sistêmica, 939 dttjicibrria dtt pirul'tllo-quinau, 564
esftrocitou haeditdria, 563 métodos anriconceptivos, 1001 escala, 966
htmoglobinúria paroxística noturna (HPN), ammorrtia de /ocração (LAM), 1002 índice, 961
564 DIU. 1003 Apresentação Pélvica, 895
microangiopdtica, 564 progtstagênio, 1003 anormalidades no mecanismo do pa rto, 898
hipocrômica (ferropriva), 127 Anriconvulsivanres deflexão dos membros superiores, 898
macrocítica, 127 dosagens, 731 desprendimento do polo cefálico, 898
mega loblásticas, 630 Aparelho D igestivo condução do parto transpélvico, 901
perda aguda de sangue, 557 abscessos, 628 condução do período expulsivo, 901
talassemia, 630 adenoma, 630 condução no período de dilotação, 9 01
Anex ite, 996 a lterações, 630 desprendimento do diâmetro biacromial, 902
Anomalias Congênitas apendicite aguda, 632 desprendimento do diâmetro bitrocantirico,
etiologia, 148 boca, 630 901
importância, 148 constipação, 631 desprendimento do polo cefálico, 903
obesidade materna, 68 doença do refluxo gastroesofdgico, 630 manobras rw parto pélvico, 901
Anoma lias da Placenra doenftt inflamatória intestinal, 632 conduta, 898, 899
a lterações d a maturação e diferenciação hemorroidas, 631 rxprrta11tr, fl9fl
vilosas, 3 15 pancrtatite, 631 versão exterrw cefálica, 898
dismaturidadt vi/osa, 316 ti/cera gastroduodenal, 631 diagnóstico, 897
maturação vilosa acelerada, 315 doença do refluxo gasrroesofágico, 630 anamnese, 897
rnardo na maturação vi/osa, 315 apendicite aguda, 632 exame complementar, 897
alterações parogênicas, 314 constipação. 631 exame do abdome, 897
edema, 315 doença inflamatória intestinal, 632 exame pélvico, 897
vasos fetais, coriônicos, 315 hemorroidas, 631 etiologia, 896
vasos maternos e espaço interviloso, 314 pancreatite, 631 incidência, 895
alterações vasculares, 314 úlcera gastroduodenal, 631 mecan ismo de parto, 897
bases da observação macroscópica, 309 fígado , 621 desprendimmto do diâmetro biacromial, 897
alterações de peso e volume, 309 gravidez normal, 622 desprendimento do diâmetro bitrocantérico,
anomalias de forma e implontação, 309 gravidez em heparopatas, 628 897
aspectos normais, 309 adenoma e bemangioma, 630 desprendimemo do polo cefálico. 898
exame a natomoparológico, 307 cirrose e hipuunsão portal, 629 variedade de apresentação, 896
Ano ma lias das Membra nas, 307 doenças hemolíticas, 630 completa - pelvipoddlica, 896
alterações da superfície fetal e das membra- hepatite alcoólica, 629 incompleta, 896
nas placentárias, 3 1O hepatiu autoimune, 629 Aquino-Salles, 254
âmnio nodoso, 311 hepatite crónica ativa, 629 técnica de, 256
cistos coriônicos, 311 hepatopatias por drogas, 629 Artrite Reu maroide, 659
corioamnionite aguda, 310 outras bepatopatias, 629 Asm a (ver Doenças Pulmona res na Gravi-
impregnação meconia/, 310 hemangioma, 630 dez), 708
rotura amniótica, 3 11 hepatites virais, 627 Assistência ao Parto, 867
trombose de vasos coriônicos, 3 11 hepatite A. 627 controvérsias na condução do primeiro
a Iterações da superfície materna, 312 hepatite 8, 627 período do parto, 883
anomalias da inserção, 3 1O heptuite C, 627 amniotomia, 884
Anoma lias do Cordão Umbilical, 307 heptttite delta, 627 analgesia, 884
alterações do cordão umbilical, 312 hepatite E, 627 controvérsias na condução do segundo
alterações dos vasos umbilicais, 3 13 outras hepatites, 627 período, 886
anomalias de Inserção, 312 sindrome de Budd-chiari e inforto hepdtico, a/unção do obstetra, 886
comprimento anonnal, 313 628 cauterismo vesica/, 886
torção excessiva e comtrirões, 313 heparopatias concomitantes corn a gravidez, cuidados de assepsia e antissepsia, 886
alterações inflamatórias, 3 16 627 episiotomia, 886
corioamnionite aguda, 316 hepatites virais, 627 posição da parturiente na mesa de parto, 886
tJilosites, 316, 317 heparopatias exclusivas da gravidez, 623 medidas obstétricas, 873
neoplasias metastáticas, 3 19 colestttse intra-hepdtiat dtt gravidez (C!G), normas pa ra assistência ao parto, 868
tumores de origem foral, 319 623 diagnóstico de trabalho de parto, 868
tumores de origem materna, 319 esteatose agud<J da gravidez (EAG), 624 existe proporrão foto-pélvica?, 870
neoplasias primárias, 31 7 biperemeSt: gravídica, 623 gestante estd em trabalho de parto?, 868
coriocarcinoma, 318 pré-ecldmpsia, eclámpsin, 624 quais as condiçóes fetais?, 870
mola bidatiforme complna, 3 17 rotllra lupdtica, 626 quais as condições maternm?, 869
mola hidatiforme parcial, 318 slndrome HELLP, 624 qual a estdtica foral?, 869
mola invasora, 318 infecções bacteria nas, 628
qual a idade gmncional?, 869
não trofobldsticas, 3 19 litíase bil iar, 628
parrograma, 873
trofobliísticas, 317 outras alterações do apa rel ho d igestivo, 630 com rações biperativas, 876
tumor do sitio placenrdrio, 3 18 parasitoses, 628
contrarões hipoativas, 875
placenta gemelar, 3 13 transplante hepático, 630
contrn(ões incoordenadas, 877
caractaização da zigosidade, 313 rumores hepáticos
diagnóstico dtu distócias, 878
identificarão de anmtomoses vasculares, 3 13 benignos, 628
distócia de comração. 875
Anribio tico profilaxia , 257, 929 nullignos, 628
momento de encaminhar a parruriente it Stda
Anribioticoterapia, 927 Apendicite aguda, 632
de parto, 881
Anriconcepção no Puerpério Apga r
monitorttção das condições maternas, 878

1030 Noções Práticas de Obstetrícia


monitorn(IÍO e registro da dilatnçáo cervical,
877
orienraçóes, 99
dirtn, 99
c
morritorarão e regisrro das comrnrót's uuri- hábito! dt' vida, 100 Cabeça Fetal, 34, 59
nas, 875 qutixns COI/111111, 103 deAexão, 57
mo11itoricno e rq,isrro das condicóes firais, sinais de alerta, 105 descida. 57
878 Arivid ad e Física, 100 desprendimento, 57
pruncbimrmo do partogmma, 874 encaixamento, 57
mp/o grndimu drsrmdeme, 875 8 Acxáo, 57
per(odos cHnicos do pa rto, 87 1 in~ i nuaçáo, 57
primeiro período, dilatação, 871 Bacia 6 sea M,ncrna, 51 i nsinuaç;io da, 34
nlímmtnçtio, 872 avaliação, 54 rmaç:io
emrroclimw - t'nema ou ÚJr•agem imestinal, estática Íetal. SS rX/fN/11, 57
872 apresmrarito, 55 i111er111t, 51
normas para a condução do perlodo de !Ínta(IÍO, 55 Câi m bras, 105, 110
dilattl(IÍO, 872 varirdadt dr aprumtarão, 56 C:ílcio, 336. 338
posirno da parturimte no período dr variedade dr poliçtlo, 56 bloqueadores do> ca nais de, 336. 338
dilatarão, 872 estreitos, 53 Câ ncer Colorrctal
tricotomia dos pr/os pubitmos, 872 inferior, 54 ca racterí•t icas, 699
prova de trabalho de pano. 870 mMio, 54 Câ ncer d a Tireoide, 645, 699
como conduzir o trabalho d,. parto?, 871 mprrror, 53 Cã n er d e Mama c .ravidcz
quais as rondiçóri do obswra?, 87 1 Bacreriúria Assimomárica, 92, 108,324, definição, 677
quais as condirõri hospitalares?, 871 33 1' 526, 529. 541, 560, 59-. 597, diagnóstico, 678
qual a evolução do trabalho de parto?, 87 1 598,612 biópsia rirrírgim. 679
quarto pcrlodo, observação, 891 Bacuroidt-sfragiliJ, 137 biópsia pt'roi/Ôiua, 679
mrdicammros pós-parto, 891 Bandl , 2?2 mamogmfia. 678
parto vaginal após resdmr prtvia, 891 >inal de, 292 punflÍO aspiratil'll, 679
segundo perlodo, expulsivo, 884 Bartholin ite, 488 rmo11ânrra magnifica, 679
padrão dai comrarões uurinns, 885 Batimcmos Ca rd íacos Fera is (BCF), 75, 80, ulrrmsom, 678
participarão da equipe obsritrica. 885 efeitos sobre o feto c a gestação, 684
90, 172, 3 01 , 458
participarao da pltrmrit!mr, 885 t~bortamr/1/o, 684
Baudelo q uc-Dunca n , 888, 889
m istência dos orgãos genitais, 885 data do parto, 684
Baudelocque-, ch ulrze, 888, 889
terceiro perlodo, dequitaçáo, 888 .v,rnvidez após câncer dr mama, 684
Bcnzodiazcpínicos, 141, 144, 421, 749, 761
conduta ativa, 891 /rtCia(IÍO. 684
~i 6psia
distócia dr com ração, 888 es~ad ia me mo, 679
diltócia na deqrmarão, 888 tecido fetal , 218
f!gado. 218 in idência, 677
inu rcno anômaln da placenta, 890 tmmment o, 682
mJiJâo do mnal dr parto, 890 mrísculo, 219
pr/r. 219 rirrírgiro, 682
As istên ia ao Recém-nascido (ver Recém- bomroniolt'rapia, 683
vilo corial , 214
nascido) quimiourapia, 683
complrcarões, 215
AssiSiência Pré-na tal. 83 rndiotrmpitr, 683
ipora dr rmliznrão, 214
co n~ulta inicial, 84
indirnçóu. 214 Câncer do Colo Uterino
allamlleSt', 85 aspectos rdenmes. 674
tkmrn. 215
exame do abdome, 87 atraso no tratamento, 674
Bishop, 460
rxamr [lsico, 87 biópsia, 669
índice de, 460. 461. 905, 906. 911
rxamr ginecológico, 90 citologia oncótica. 668
consultas subsequenres, 91 BlastocislO, 9, 11 . 12, 16, 17. 28, 74, 76, 286,
colposcopia. 668
exames complementares, 91 470
compromctimcmo fetal , 674
rolporitologia oncótica cervirnl, 97 Blasrô mcros, 9, 15
conização, 669
m udo gmltico 110 prl-llatal, 99 Bloquead o res, 336, 338, 378, 507, 958
diagnó rico, 668
rxamr parmirológico dr feus, 97 ad rcnérgicos, 958
escolha da via de pa rro, 674
glimnitt, 92 bcrn-adrcnérgicos, 338
estadiamenro. 669
hrmograma, 92 ca nais de cá lcio. 336, 338. 339
etiopatogenia, 668
pr1qui1a de rsrrrptocoros do grupo 8, 97 canal de cálcio, 1022
implicações lega is c éticas, 674
sorologia ptmt citomrgalovlrus (CMV), 96 da ocitocina, 378
interrupção da gestação, 674
sorologia para hepatitr 8, 96 de c:ílcio. 378
lesões pré-i nva oras, 670
sorologitr pnm lupatiu C, 96 ~.507
neoplasia cervica l irwa5ora , 670
sorologia para HI V I r 2, 96 Bonnaire
mddio IA, 671
sorologia para H TL V I r 2, 97 sinal de, 76
rsrddio IA2 r 181. 67 1
sorologia para rubéola, 95 Bossa eros anguínea, 52, 342, 867, 969 mddioi/82 a IVA, 673
Iorologra para sífilis, 95 Bracht, 903 quimioruapirr nt!otrdjuvantr, 673
sorologia para roxoplasmosr, 95 manobra de, 903 ra trearnemo, 668
rrsm dr viralrdade fitai, 98 Bradicardia , 24, 218, 222, 223, 226, 232 resultados neonatais. 674
tipagmr sangu fnra, 92 fetal, 24. 218
ulrrassonograjia. 98 simomato logi.t, 668
Braxwn- H icks tratamento, 669
urina rotilla r uroodturn, 92 com rações de. 875
imun i1ações, 105 Canclid íase Vulva-vaginal
contraçócs urerinas, 104 diagnó;tico, 490
objetivos, 84
rratamemo, 49 1

Índice Remissivo
1031
Card iopatia Cariótipo, 153 (ClVD), 624, 983, 985, 987
aconselhamento pré-gestacional, 539 Cavalgamento de Suturas, 969 Cocaína, 65, 101
alterações hemodinâmicas fisiológicas, 536 Cefa leia(s) Colesrase Intra-H epática da G ravidez (CIG),
efeitos do trabalho de parto, 536 epilepsia (ver Epilepsia), 729 623
sinais cardiorrespiratórios na gravidez migrânea ou enxaqueca, 727 Concent rações H ormonais, 7
normal, 537 tratamento abortivo das crises. 728 Cond iloma Acum inado, 492, 771
sintomas cardiorrespiratórios na gravidez tratamento, durante a gestação, 728 Constipação, 631
normal, 537 tratamento preventivo das crises, 728 trata mento, 63 1
assistência no pós-parto, 545 pós-parto, 728 Contracepção, 257, 258
avaliação clínica, 537 primárias, 725 Cordão Umbilical, 307
anamnm, 537 secundárias, 725 anomalias (ver Anomalias do Cordão). 307
exame/fsico, 537 Céfalo-hematoma, 969 Cordocentese, 163, 217
ava liação diagnósrica, 537 Cerclagem, 378 complicações, 218
exames complementares, 538 Aquino-Salles, 254 época de realização, 218
cardioversão, 543 McDonald, 254 indicações, 217
cirurgia cardiovascu lar, 543 Cesariana, 792 técnica, 218
condução da paciente internada com descom- conceito, 927 Coreia, 732
pensação ca rdíaca, 544 etiologia, 733
dificuldades, acidentes e compl icações, 932
conduta no trabalho de parto, 544 patogênese, 733
complicações para futuras gestações, 933
anestesia, 545
complicações urindritu e intestinais, 933 prognóstico, 733
conduta no trabalho de parto pré-termo, 542 embolismo, 933 rraramento, 733
estimativa de risco e acompanhamento pré- extração fetal difícil, 933 Corticoide, 378
natal, 540 hemorragias, 932 Cort icosteroides, 356, 559, 57 1, 662
controle de infecção, 541 infecção, 932 Crescimento I ntrauterino Restrito (CIUR),
esquemas de profilaxia para endocardite trombose venosa, 933 385, 560
infecciosa, 541 incidência, 927 classi ficaçáo, 389
prevenção de fenômenos tromboembólicos. indicações, 92 8 tipo /, simétrico, 390
542
causas maternas, 928 tipo li, assimétrico, 390
prevenção tÚ infecção, 541
c~sariana de em~rglncia, 928 tipo III, intermediário ou misto, 390
med icamentos, 543
cesarianas elnivas, 928 complicações neonarais, 396
métodos anticoncepcionais, 545
Perimortem, 792 conduta, 393
definitivos, 547
técnica preferencial, 928 gestações abaixo de 30 Semanas, 394
reversíveis, 547
abertura, 929 gestações entre 30 e 33 umanas, 394
morbimorralidade perinatal, 542
~xtraçdo fetal, 931 gestações acima de 34 semanas. 394
repercussões da gestação, 54 2
ftchammto, 931 interrupção da gestação, 393
na portadora de cardiopatia, 538
preparo, 928 quandn inurromJ,r?, 393
noftto, 54~
variantes, 932 d iagnóstico, 391
no recém-nascido, 542
Cesariana Perimorrem, 792 cardiotocografia, 392
Cardiopatias, 67
C hedw ick dopplervelocimetritt, 392
Cardiorocografia, 378, 527
sinal de, 76 exames invasivos, 392
anteparto, 221
C hoque, 243, 244, 246 perfil bioflsico fetal, 392
basal, 222
hemorrágico, 786, 989, 990 sequéncia dos exames, 392
estimulada, 224
intraparro, 224 hipovolêmico, 284, 285, 292, 478 ultrassonografia, 391
séptico, 595, 616, 788, 789, 997 erioparogenia, 386
alterações da variabilidade da Linha de base
da FCF, 226 Ciclo Menstrual, 7 circulação deficiente na face fetal da pla-
aplicação prática da monitoração, 230 Cirrose, 629 centa, 388
desacelerações ou D!Ps, 226 Cistite, 597 circulação deficiente na face materna da
monitoração eletrônica da atividade uterina, C itomegalovírus, 96, 841 placellla, 388
224 d iagnóstico pré-natal, 843 desnutrição materna, 387
monitomção eLurônica da frequéncia epidemiologia, 842 lesão direta sobre o foto, 388
cardíaca fetal (FCF), 225 infecção materna aguda, 842 mau-funcionamento placentário, 388
padrão normaL da frequéncia cardíaca fetal, patogénese, 841 placenta estruturalmente deficiente, 388
225 prevenção, 845 fases do desenvolvimemo fera!, 388
padrões anormais da frequrocia cardíaca rastreamento pré-natal, 842 fisioparologia, 390
fetaL, 226 reativação, 84 2 prevenção, 395
metodologia de interpretação do padrão dos sorologia, 96 primária, 396
BCFs, 228 transm issáo materno-fetal, 843 secunddria, 396
categoria 111 (traçado anormal), 228 tratamento fera!, 845 sequelas em longo prazo, 396
categoria 11 (traçado atípico), 228 C lamidíase Genital, 489 Crise H ipertensiva, 507
categoria I (traçado normal}, 228 compl icações fera is, 489 cromossoma X, 149
monitoração inrraparto, métodos comple- complicações maternas, 489 Culdocentese, 263
mentares d iagnóstico, 490 C uretagem, 256, 257, 996
eletrocardiogra.fia foral, 229 tratamento, 490
monitoração bioquímica, 228 C la rk D
oximerria fetal de pulso, 229 sina l de, 292
prognóstico, 231 Coagu lação l ntravascula r Dissemi nad a Decídua, 17, 326, 404, 658 , 890
Defeitos do Tubo Neura l, 69

1032
Noções Práticas de Obstet rícia
Depressão, 749 pr~vcll(áo dns malformaçón conginitas t: Distúrbios Dcrmarológicos, 765
pós-pano, 757 abortammto rspomânro, 521 acne vulgar, 772
Dermarire, 48, 777 pano. decisão quamo ao. 53 1 acroderma1 ire c meropárica, 773
D ermatose, 48, 774, 776 pós-pano, 532 afecções alteradas pela gravidez, 769
D escolamenro Prernaruro d a Placenra , 282, pós-pano e lactação, 532 alrcraçõcs curânea.s fisiológicas da gravidez,
499 ripo I (DMI). 512 765
compl icações. 284 ripo 2 (DM2), 513 candidíase vulvo-vaginal, 770
diagnóstico, 283 rraramemo para gesranrcs com DMPG e colesrase imra-hcpárica da g ravidez, 777
fa tores de risco, 282 DMG, 523 co méricos, 780
fi siopawlogia , 282 acompaniJOmtmo laboratorial. 526 alisanw ou ptrmanmw. 780
incidência, 282 arompanhammto oftalmológico, 526 IJidratttnw, 780
prognóstico, 285 anridirrbtricos orais, 525 timuras para cab~lo, 780
ripos clínicos, 283 dieta r ruividarl~ ftsim, 524 dermarofibromas, 774
rraramemo, 284 imulinourapia, 524 dermaro es específicas d a gravidez, 774
D espro porção Céfalo-pélvica, 91 , 879, 88 1 Diabetes Mellirus (DM ), 512 d istúrbios da pigmcnraçáo. 766
Desproporção Fero- pélvica, 898 Diabetes Mellirus Gesracio nal (DMG), 514 disrúrbios dos anexos (pelos e unhas), 768
Devenrer-Müdler acompanhamento ambu larorial da geMa nre distúrbios dos tecidos conectivos, 769
diabérica, 522 disr(arbio~ vasculares, 767
manobra de, 902
acompan hamemo laboratorial, 526 d oenças in fcccio as, 769
Diabercs Mellirus, 66, 157, 511
acompanhamcnro oftalmológico, 526 eczema a tópico da gravidez, 778
acompa nhamento Jmbularorial da gesranre
avaliação do bcm-estar fera I. 526 erircma nodoso, 774
d iabér ica, 522
classificação. 521 erupção pol imórfica da gravidez, 776
avaliação do bem-esra r fe ra I, 526
classificação. 512 critérios diagnósricos, 515 ptipultu urticariformes, 776
pruonizodos pt:la A DA , 515 placas urticarifomm, . li
Diabn~s M~llims gmacional (v~r Diabnu
pruonizodos pr/a OM , 516 fo liculire prurigino~a da gravidez, 776
M~llirm gmarional (DMG)). 5 14
preconizados paa SBEM, 516 foroproreç:io, 779
Diabnu M~llirus ripo I (DMI), 512
urilizodos 110 1/ospiral das Clfniras da h a nscníase, 770
Diabuu Mdlirus ripo 2 (DM2), 513
UFMG, 5 17 herpes genital, 770
classificação do diabetes na gravidez. 52 1
defi n ição, 514 lciomiomas, 774
complicaçóe fera i e perinarais e na vida
fato res de risco, 514 manifestações cm áneas
adulra, 529
crncimeuto intrrwrerino rutrito, 530 fisioparolog ia, 514 !li pus uimnatoso sistimico, 773
monitorização glicêmica, 523 sfndromt rmrifos[olfpidr., 773
hip~rbilirrubinunirt, 531
o rientação pré-concepcio nal, 521 m ela no ma, 77 1
bip~rviscosidad~. 530
pr~vmrão dm romplicaróes mrut:mas, 522 neurofibromas, 774
bipocalamia, 531
pr~v~nrão dos malfonnarórs ronginitas, 521 nevos mdanocíricos. 771
hipoglimnia II~OIIollll, 530
hipomagnnilumia. 531 prt:vmrrio do abortamt:/1/o ~spomân~o. 521 ourros distúrbios, 769
prevalência, 514 papilomavírus (HPV), 771
macrosso111111, 530
rraramemo. 523 penfigoidc gesracional, 774
ma/formnrón co11ginitrlJ, 529
obnidad~ ~ DM 2 1111 vidaadulca, 531 rmtidiabbicos orais, 525 hupes gmocio11ttl. 774
óbito foral, 529 t1ti11idade físico, 524 pên fi go vulgar e foli:lceo, 772
dina, 524 piri ríasc rósea, 773
policiumitt, 530
sfndrom~ do dnconforto rnpirarório (SDR).
insulillott:rapia, 524 prurigo da grav id e~. 777
531 Diaberes Pré-gesraciona l (DMPG), 520 psorfasc. 772
trombociropmia, 530 acompa nhamemo laboratorial, 526 qucloides, 774
complicações maternas, 527 a o mpanhamemo ofta lmo lógico, 526 ru mores cur.lneos alterados pela gravidez.
rnoacidou dittbitica. 528 rraramemo, 523 769
distúrbios lnpl'rUIIJiiiOJ, 528 amidiablticos omis, 525 Diuréticos, 140, 543
bipoglimnitt, 527 atividade flsira, 524 Doença d e G raves, 640
inftcrão do rraro urinário, 529 dina, 524 Doença de von Willcbrand (DvW) ripo 2B,
nifroptttia diabt'tica, 528 imulinotcrapio, 524 570
minoptttio rlittbitica, 528 Diag nóstico d e Gravidez, 73 Doença do Refluxo Gasrroesof:ígico, 630
contracepção, 532 d efinições. 73 etiologia, 631
crirérios diagnósticos do DMG, 515 d iagnóstico clín ico, 73 rraramenro. 631
decisão quanro .ao pano, 531 111101111/CU, 74 Doença H emolítica Perinaral, 427
definiç:io, 512 ~xanu flsico, 75 assi~ rcncia à gestamc não imunizada, 431
d iabetes pré-gcsracional (DMPG), 520 diagnóstico laboratorial, 76 assistC:ncia ao casal com incompatibilidade
fero de mãe diabética, 520 diagn6stico diftmrrial, 80 Rh, 43 1
gcsraciona l (DMG), 514 diagnóstico ulrmssonogrrljico, 19 assistência ao pano, 433
d~finirrío, 514 idmtijicacrio do hCG na urimr, 77 assistência pré-natal, -13 1
fiuom d~ risro. 514 idmtijicacrío do !JCG no soro, 78 assisrl:ncia pré- n a tal ~ gesramc imun izada ,
jisioparologirr. 514 Die té ticas, ituaçócs Espec ia is, 126 436
pnvalincia, 514 Dispositivo lnrrau rerino (DIU), 258, 259, 11111111/IUU, 436
lactação, 532 548 rmtiRh: prova d~ roombs indireta quantilll-
mcraboli mo, 520 Disrócia(s) til'll , 437
monitorização glicémica, 523 canal cervical, 869 alllrlia(rio não illvaJÍI'fl da anmria foral, 439
orienraçáo pré-concepcional, 521 conrraç:io, 869, 878 estudo do 11111gu~ foral, 439
pr~vmclío dm complicncó~s mournas, 522 ombro, 922, 923 examrs compl~mnrtar~s. 437

Índice Remissivo
1033
líquido amniótico, 437 fu nção renal mod cradamem e d i mi nuída, 603 gram dt gora, 596
conduta, 442 gra us de reco mendação, 616 lu moculwm, 596
twist(nrin no parto t'spomtinl!o a ttrmo, 442 nefr ire lúpica, 6 14 hrmograma, 596
inurruppio prmlllfllrn da gravida, 442 jiuom prognóm ros, 615 ttsm bioquímicos, 596
rraramt'IIIOimrnuurino, 442 ncfropatia diabé cica , 6 11 urina rotina (uri1111 tipo I), 596
etiologia, 428 orienraçáo pós-parto, 605 ttromlmrn, 596
fisioparologia . 429 paciemes cm cratarnemo, d ialít i o , 60 5 infecção do rrato urin.irio , 595
incidência, 429 parto, 610 compliraçõu mau rnru associadiiS II I T U, 595
prevenção d:c ,cloimunizaç:io R h, 433 pa no e doença renal, 605 complicnrõcs p~rina trris OJsoriadas à ! TU,
abortamm to r aml!ti(Odt' ttbortammto, 435 rccomc ndaçóc~ pa ra o com role d a gesra nrc 595
amicorpos pmm u s na circularão mauma, em rrata memo dialírico, 607 triologia, 595
436 conrrolt' da an~mia, 607 quadro clín ico, 597
domra rrofobldsrim gm acional, 436 com rol~ da hipt'rtm sõo, 607 bt~ctcritíria assintomdticll, 597
Jilbo d~ nuí~ Rb positivo, uoria da Avó, 435 1/lltri(ÕO, 607 cisriu, 597
gm vidn, 434 cra nsplantc re nal, 608 pielonifrire, 597
gravidtz rrtópim, 436 Do enças Autoi mccncs, 67 trarn me mo. 598
imlicar6rs. 433 D oenças d a Tireoide, 63 5 bacu ritíria rmimomt!tica - cisriu , 598
l11quradura tubdria, 436 aco nscl hamcm o pré-co ncepciona l, 645 romrolt: dr rum dfl / TU simomrítim , 600
om ros ttpos di! bt!morragia anuparto, 435 biputirl!oidismo sob rmtammro, 645 pielomfrilt', 599
pós-p11rto. 433 bipotirl!oidismo sob trntammto, 646 quimioprojilaxill, 600
rrchn-niiScido, uxo ftminino Rh nrgarivo, tir~oidiu rrónica em parimu rutircoid(ll, Doenças d o C o lo U1crino , 277
435 646 Doenças G e nét icas, 148
trnnsfusiiO dr sangtu inrompmlvrl, 436 tratammro p11ssndo com radioiodo para classificação, 149
sistema Rh, 428 carânoma da tireoidi!, 646 aurossómicas domi11anus. 149, !56
Doença Inn amaró ria l ntcsrinal, 63 2 trntammro pamrdo com radioiodo para aurossómiciiS rl!cessir•as, 150. 158
Doença Rena l C ronica (D RC), 600 domra de grrwl!s, 646 rromossómicas, 152
acompanhamenro da pacieme, 600 bócio, 645 cromossómicas i!Struwrais, /52
acompanhamcnro dura nte a g ravidez, 6 13 càncer d a ci rcoidc. 645 cromossómica.s mmririciiS, !52
aconselhamcnco pré-concepcio nal, 600 fisiologia e função li rcoid iana ma terna , 635 lu ran(J1 complexo, ! 51
dcido tín ro. 60/ amirorpos amirrl!ri!ptorl!s de TS/1, 637 monogtnims. 149
biópsia rmal, 602 11mirorpos amitireoidi11nos, 637 multifiuoriais, 15 1
dmrnncr dt' rrratinina, 601 COIIWI/raçóes de tiroxina (T4), 637 poligtnicas, 151
o :amrs pd -conrt'prionllis, 600 conw u ra(Õt!s de tri-iodotironinn (73), 6.'37 rumivn.s ligrrdas ao aomossomo X. 150, ! 56
mt!düia d11 pmsáo arurial, 602 COIIftiiiTfl(ÓeJ dt T. //, 637 D oenças H e marológ i as, 553
prouimíri11 dr 24 borm. 601 mimulndorrs riri!oidianos, 636 D oenças H c mo líri :t5 , 630
srdimmto urinário, 601 mt't11bolismo do iodo, 636 D oenças H iperrensiva s, 500
wrrs dt' av11liii(IÍO dn fimrno rmal. 601 prou lnOJ ligfldorns di! tiroxina, 636 cl a~~ ifi ca ção, 500
a lciramcnco , 6 11 função ti rcoidiana fe cal , 638 D oe nça s In fecc iosas, 6 8
a mamenc ação, 616 nód ulos ti reoid ianos, 645 D oenças M aternas, 66
ava liaç:io fetal, 604 placenta c funçáo ri reoid ia na, 637
Docn Ç<Js eurológi as, 725
ourros ruidados, 604 ti rcoidite pós-pa rto, 646
afeccócs ncu ro lógicas, 735
aval iação pré-concepcional, 6 12 D oenças d a Tireoide c G ravid ez, 63 8
coreia (ver Coreia), 732
avaliação pré-concepcional c scguimemo hipcrti reoidismo c gravidez, 639
d oença cérebro-vascular, 738
pré-na tal, 615 Cfl/ISIIS, 640
forom di! risco, principtris, 738
w ndiçóes ide:cis p.tra a g ravidC7 , 608 complicafÕN, 641
esclerose mt'•ltipla, 736
11zmioprina, 610 diagnóstico cl!nico, 639 trarammro, 737
ronrroiJ. pri-natal d11 gNtllnU tra11Splamada, diagnóstico laboratorial, 641
m iclopatia aguda, 732
609 domça de gravrs, 640
principais causas, 732
inibidoru d11 mlciluuril/(t, 610 domça trofobldstim grstacional, 640 síndrome(s)
micoftnolato moftril. 610 hiputireoidismo i11duzido pt!la gonadorrofina
pru lnisolltl, 609 pernas inquüras, 737
coriôllicn, 640
t racolwms, 61O IIÍIIi!l do m rpo. 735
trntammro. 642
liSO dt' 1111111/0SSIIpri!SSOrt'S, 609 D o enças Psiq u iát ricas, 68
hipoc i rcoid i~ m o c gravidez, 643
consu lc as, 604 D o enças Pulmo na res na G ravidez , 70 7
11rompanbamruto, 644
comrolt! da fimrao rmal, 604 asma, 708
Cfli/Sas, 643
controlt' da prmtio rtrlt'rial, 604 avaliarão f unciotllll, 709
di11gnóstico rlíniro, 643
conr raccpçáo pó -parco, 61 1 diagnóstico, 709
di11gnóstico laboratorial, 644
co nrrolc pré-naca l, 603 monitori=çõo foral, 7 10
trntammro, 644
doença rcnalccrmina l, 603 rratnmmto da criu, 7 12
Doe nças d o Apa relho U riná rio, 593
cfeiros da gravidC7 obre a nefro pad a d iabé- trata/llt'l/{0 dt lllai/UIUI(IÍO, 7 1/
aheraçóes fi siológi as, 594
ck.c. 6 12 trnt111nn uo nudimmt moso, 7 11
f/1/ltiO/l/Ítl rl!tltr/, 594
cfcicos da nefrop.ccia diabética sobre a gravi- d iagnóscico
i!lnrólilos I! dgu11, 594
dc-t , 611 clínico, 7 15
equilíbrio drido -bdstco, 595
evolução da g ravidc-L. 602 exames romplnnnuart'S. - 16
hmtodillfimictt, 594
função re nal a cncuadarnentc d imi nuíd a, radiológico, 715
d iagnóstico. 596
603 fisiologia rcspiraró ria, 707
ex11mes di! imagem, 597
função renal levemente d im inu ída, 602 pneumon ias, 7 13
J unção m111l, 596
diagnóstico, 715

1034 Noções Práticas de Obstetrícia


niologin, 714 aorrarordcira. 205 boca,969
forom d~ óbito foral, 714 artiria art'bral midia, 204 calos di' mq:ão, 969
fo rom d~ ri.Jro, 14 amrialforal, 202 cisrosna cavidadl' oral, 969
forom modificador(t da grnvidt'Z, 7 14 arrtria ofrd/micrr, 202 cabeça, 969
projilrrxia, 717 artérit1pulmomrr, 206 bossa urossanguínra, 969
rrata/111'1110, 7 16 artéria rmal. 205 cavalga mmto d~ mttlm J, 969
ruberculose (ver Tuberculose), 7 17 artérins uurinaJ, 201 rrfolo-lumaroma, 969
Doenças Reumáticas, 649 artbia umbilical, 202 genitai , 970
anrire reumaroide, 659 111érir1 ~spljnira, 206 rorrimmto vaginal, 970
esclerose sistêmica, 659 índices dopplervclocimétricos, 200 rmímlos fora da bolJa, 970
espondiloartrires, 660 pulJ111ilidad~ para v~ias, 201 olhos, 969
lombalgia, 660 raapio sístoll'ldidsrol~. 200 ronjumiviu 11/'0naral {oph111lmia lll'onaro-
comrncepçtio, 661 ruist~ncia, 20 I rum}, 969
lúpus critemaroso si rêmico (ver Lúpus Er- tipos, 200 lmuorragia conjuntiva!, 969
itematoso istêmico (LES)), 650 dopplrr colorido. 200 o~~os e a n icu lações, 970
medicações a mirrcum.íticas na gr.JVidez e na doppla cotuínuo, 200 fratura di' r/avim/a, 970
amamemaç:io, 661 dopplrr pui.Jdril, 200 fratura dt ftmur I' di' tím~ro. 970
aUit/llliiiOfono, 662 Powu-doppln 200 luxa(IÍO coxofomoml, 970
agmm modifirador(J d( domra, 662 venoso fera! , 206 paralisias, 970
ami-inflamarónor. 662 Dor abdomina l, 104 bmquittl, 970
corricost(roidn, 662 Dosagens de progeste ro na, 263 facial, 9-o
síndrome dos a mi orpo amifosfolípides, 656 Dosagens seriadas de gonadorrofina hum ana pelc,%8
abordagmt t~rrrphnicrt, 658 subunid ade bera (f3 -hCG), 262 adiponrcrou, 969
crirhios diagnósticos, 657 ~riuma rdxico, 968
Drogas llíciras, 65
fisioparologia da plamua, 658 hipt'rplasta Sl'bdrra, 969
maniftsracõn dínicas. 657 mancba salmão, 968
trata mmto após o parto, 659
E mancbas mongólicas, 968
Doença Tireoidianas, 68 Eclà mpsia , 401 ,4 12,420,624 miliária, 969
Doenças Tromboembólicas, 58 1 conduta, 42 1 traumatumos di' parto, 969
compli açõe , 588 Ecoca rdiografia Fetal, 527, 615 umbigo, 970
diagnó tico, 583 Eh le rs-Danlos, 35 1 gmnuloma umbilicnl, 970
diagnóstico diferencial, 585 síndrome de. 351 onfoliu, 970
embolia pulmonar, 584 Embo lia, 584 Exercícios Físicos, I0 0
fatores de risco, 58 1 por líquido a mniórico, 786 Ex r ração a Fó rcipe, 903
fi sio patologia, 58 1 pulmonar. 58 1. SR4. SRS
pan o. 587 Encefalo pa tia, 233 F
profilaxia, 589 nconaral, 233
tra tamento, 586 F.írmacos, 959
Wernicke, 24 1
llnticoagulanus omu. 586 Fato r
Endocardite, 54 1
b~pttrinas, 586 V de Leiden, 250. 404. 574. 575. 576
Endometrire. 995
tromboembolismo pu lmonar, 581 von Wi llebra nd (DvW), 570
Ent crocolitc ecrot i7.a nre. 192
trombofilias, 582 Rh , 257.269
Enxaqueca, 727
trombose venosa profunda, 58 1, 583 FDA ( Food and Drug Adminisrrnrion), 102
Epilep ia, 66, 729
Doença Trofoblástica Gcst3ciona l ( DTG), Fecundação, 3. 7
frequência de crises, 730
269,64 0 Federação I nrernaciona I de G inecologia e
recomendações, 731
classificação. 270 Obstetrícia (FIGO), 669
risco de malformações , 730
coriocarcmoma, 271 Fen ilcetonúri:l, 70
mola bidnrifonn~ rompltta, 270 Epi ioro mia, 886, 887
técnica, 887 Fenobarbital, 443, 444, 73 1
mola hidruifornu inllmom, 27 1
Erire ma Tóxico, 968 Ferro, 100
mola bidnrifomu p11rdal. 271
Erirro blastosc, 3 19, 427, 440 Fert iiidade c Gravidez, 70 0
rumor trofobldstiro do sírio plarmrário, 27 1
Esclerose Mlí ltipla, 736 sobreviventes ao câncer, 700
mola hidariforme, 270,27 1
Esclerose istêmica, 659 Feto, 15, 51. 520
condura, 273
Espinha Bífida, 69, 530 c ircunfcrencia craniana. 52
diagnóstico, 272
dilmerros. 52
quadro Clínico, 271 Espondi loartrites, 660
orripiro-fromal, 52
mola hidariforme omplera, 270 Estado Emo iona l, 49
occipiro-mmroniano, 52
rnob hidatiforme invasora. 27 1 alterações, 49
mboccipiro-brl'gntrítiro, 52
mola hidatiformc parcial, 27 1 Estcatosc Aguda d a Gmvidcz (EAG), 624
csrrururas ósseas, 51
rumor trofoblástico do sÍtio placentário, 27 1 Estetoscópio de Pina rd. 75. 90, 878
fisiologia (ver Fisiologia Fetal), I5
rumor trofobl:ístico gcsraciona l, 274 Estrad io l, 3, 6, 7, 33 m:ic di3béricJ , 520
condttlll, 275 Estreptococo do grupo B, 353, 354, 356, 358
diagnóuiro, 274 Frgado, 621. 622
Esrreprococos do G rupo B, 849 alterações hepáticas. 621
~uadiamrmo, 275
colo nização materna, 849 doença hepática, 628
Doppler, 199 infecç:io neonaral. 849
apli ações em obsrcrrí ia, 201 doenças hemolíticas, 630
rastreamento pré-nar.tl, 850 gravidez ectópica, 630
dopplavl'lociml'tria mauma, 201
Estrias, 35, 48, 88, 769, 776 hcpatoparias, 623
dopplervclocimerria , 20 1, 202,377. 527
Exame Físico(s), 968

Índice Remissivo
1035
dnrrmimi(IÍO da idadt' gmarional, 459
ci"ou biliar primária, 629 G
colangirt tsclrrosanu primária, 629 etiologia, 458
colmast lntrn-Htpáticn da Gravidrz (CIG), Galacto rreia, 80 incidência, 457
623 C11 rdnrr~l/a vagin11lis, 486 interrupção d a ge ração, 460
domra d~ Wilson, 629 Ga kin 11rompanhamuuo inrrapnrro, 460
rclt1mpsia, 624 n1.1nobra de. 925 prevenção da gravide?. prolongada. 460
mmrosr aguda d11 gravid~z (EAC), 624 Gc nét ica, Aspccros Básicos, 147 Gestações Monoamn ióticas. 379
lupa riu alcoólica, 629 aconselhamento pré-concepciona l, 156 Gonadotrofina H uma na, 262
IJtpllliU autoimllltf, 629 anoma lias congênita.s. 158 Gonococo, Infecção Genital pelo, 488
lupamt crónica ativn, 629 anomalias múltiplas, 157 complicações feta is, 488
lupatiw virais, 627 cardiopatia congênita, 157 complicações marernas, 488
biprmnru grnvldicn, 623 c:~ r ió tipo, 153 diagnóstico, 488
bipmrnsáo porra/, 629 colcta de células femis, 162 tratamento, 48?
injimo lupárico, 628 Diabetes Mdlitus. 157 Goodel
outras luparopatias, 629 diagnóstico pré-naral. 160 sinal de, 76
porfiria, 629 doenças genéticas, 148 G ravidez, 535. 869
pri-~cld mpsia, 624 fechamento do tubo neural, 157 a termo, 870
rortmr btpdrica, 626 hcrcdograma, 163 pós-termo, 869
sfndrom~ d~ Budd-chillri, 628 idade materna elevada. 157 pré-termo. 869
síndronu d~ Dubin-jolmson, 629 impon ã n ia das anomalias congênita , 148 G ravide2 Abdom inal, 267
slndromrdr Cilbar, 629 perdas ge>tacionais, 157 G ravidez Ectópica, 259, 266, 268
síndromr dr Roror. 629 retardo mental cm parenre próximo, 156 cervical. 268
sínrlromr H ELLP, 624 te;te bioqu ímicos, 159 cicatriz de cesaria na prévia. 268
hcpatopatias por drogas. 629 te>tcs de triagem. 158 cornual, 268
litíase biliar, 628 dopplrrvaorim ttria, 159 etiologia, 25?
tramplame hepático, 630 mrdidtl d11 ITIIIIS!ucbrcia num/, !58 fatores de risco, 259
tumores ultrmsonogrdjirn do osso 11ma/, 159 fatores funcionais. 259
bmignos, 628 GEPERT farores tubários. 259
malignos, 628 manobra de, 922 ovaria na, 266
Fisiologia Feta l, 15 Gestação Mtdtipla. 363 rubária, 260
aspectos imunológicos. 29 complicações fetah, 367 1/1/a/IIII~St', 261
circulação, 21 flllomalias fir11is, 311 conduta rxpurnnr~. 265
rrrmrurísricas tmnrómiras, 22 condur11 1111 STFF; 369 ruldortmmr. 263
h~modint1mica, 22 cr~scimmto imrnuurino rmrito (C! UR), tli11gnóstico, 261
cresci memo, 20 367 diagnósrico difirmcifll, 263
asprrtos gm i ticos, 20 disrordrl11ci11 d~ rrrscimmro, 367 dos11gm s dt' progmaon11, 263
111puros nurricionnis, 2 1 moru unifiral, 310 t!osagms uriat!ns de gonadorrojimr humarur
dnmvolvimmro dr brônquios, 25 slndrom~ acifalo-flctirdico, 370 mbrmrdadr bna (J3 -hCC). 262
dn mvolvimmro dos p ulmórs, 26 slndrom~ da p1'rfi1S1ío arraial rtvusa rxa m~ físico, 261
fiuorN homronai.s, 2 1 (TRAP), 310 t'Xal/us romplmumarrs, 262
Jarorn maumos, 2 1 s!ndrom~ dr transfusão firo-fitai ( TI-r}, laparoscopia. 263
jiuom rírero-placmrrlrios, 2 1 367 llltlrClltlorrs hormonais, 262
fluido pulmonar, 27 conduta no pré-nata l, 376 lrlllamm/O, 264, 265
surfircranu, 21 crtsrimmto immutrrino restrito (CIU R) mr u!trassonograjia, 262
embriologia, 15 um dos foros, 319 G ravidez Mtdripla, 959
organoghmr, 18 orimtllfórs báJiclfJ, 376 Gravidez ormal , 518
primrira um11na dt dtunvolvimmro, 15 diagnóstico, 365 ajusres metabólicos maternos, 518
srgrmda u m11na dt dtsmvolvimmto, 16 clínico, 365 mnaboliJmo duranu 11 g~sltlft1o nonrut!. 518
uraira u mana d~ d~smvolvimmro, 11 ultrOJsonográjico. 365
quarta à oitfiVfl snmmtJJ dr dtullvolvim~nto, etiopatagenia, 364
/8 H
rorioniridodr. 365
nutrição, 28 zigosidtide, 364 Hegar
>i>tema respiratório. 24 gemclaridade imperfeita, gêmeos siameses, si nal de, 76
Fo lí ulo(s), 4
375 velas de, 254, 256
a natomia, 4 gestaç.io multi fetal , 373 Hemoglobinopatias, 559
pré-ovubtório, 4 incidência. 364 conduta , 561
Fontanela, S2, 56, 57 momcnro do pano. 380 cuidados durt/1/tr o prt-mual. 561
rórc ipc, 888, 903, 904, 9 15, 9 17 prognóstico materno-feta l, 372 cuidados no pnrro, 562
alto, 916 redução fetal , 375 cuidados 110 pós-parto, 562
baixo, 916 gtSifi(IÍO IIIOI/Oamni61iCII , 315 l mflsfwoes JtmgulnrlfJ, 5 62
Kiella nd, 9 16, 9 17 via de parto, 380
méd io, 916 Gc raç~o Prolongada, 457
hcmoglobinopatias ' se ou ·- ~-
Pipcr, 904, 9 16, 91 7 talas;cmia, 559
complicações, 458
'impson, 916. 91 7 abort11mmto, 560
con cito, 457
Fosfatidilg licerol, 27 tJ!u rarõn dtr p larrma, 560
con lusóes, 460
complicarórs, 559
Frommel condut a, 459 rrrscimmro immuurino rrstriro (CIUR).
sinal de, 292 al'flliaráo d11 vi(fl/idade fitai, 459
560

1036 Noções Práticas de Obstetrícia


morra/idade perinnrn/, 561 diagnóJrico, 212 infecção nconar:t l, 861
talassemias, 562 quadro clínico, 27 I prevenção, 862
A/fn, 563 outros sa ngra memos gen itais, 277 trara mcnro. 862
Bera, 563 domras do colo uu rino. 211 H idrocefalia, 136, 656, 896, 928
H emo rragia P6s-pano, 983 rramnatismosgmitais, 2 8 Hidropisia Fetal não Imune, 447
choque hemorrágico, 989 rumo r rrofobl:ísrico gesracional, 274 conduta, 453
diagnóstico do choqtu , 989 conduta, 275 acompanhnmmto dn vitalidade jt'ln!, 453
rrarnmmro do choque hunorrágico, 990 dittgnóstico, 274 acompnnhammto mnumo, 453
d iagnósrico, 986 madiammro, 275 t rnt11m~mo npt'cfjico, 453
abordagem inicial, 986 H emorragias, egunda M erade da Gravidez, trntnmmro innpecfjico, 453
anormalidade de com ração 11/erÜ/fl, tônm, 28 1 diagnó:.tico, 450
986 dcscolamemo prematuro da placema nvnlinção fttn l, 451
comrole dnlumorrngin pó1-pnrro, 986 complirarõn, 284 nvnlincrío inirin/ bdJicn. 450
dimírbioJ de cOtlglllnção, trombina, 987 diagnóstico, 283 n vnlinrão mruemn, 450
embolizn(áo dn arrfria 11u ri nn, 988 fowm de riJco, 283 etiologia , 447
lumorrngin perJiJtmu, 981 jiJiopntolngia, 282 fis iopatologia. 448
histt:ruromin peripnrto, 989 incidbrcin, 282 prognóstico, 453
inurvrncões cinírgicm, 988 prognóJiiro, 285 Hipcrcmese G ravld ica, 239, 623
lignd11rn dn nrtlrin i/Inca interna, 988 tipos dlniros. 283 diagnóstico, 240
lignd11rn dos VMOJ uterinos, 988 trrllflTflfll/0, 284 achados clínicos, 240
rtWI(ÕO de coágulos ou produroJ da conap- placenta prévia, 285 alurncões laboratoriais, 242
rão, tecido. 987 acompanhnmmto dn gntacão, 288 ct iologia c fatore; de risco, 239
snngrnmnuo persiJunu após hüururomia, romplicarõ~s. 290 cviden ia~, 246
989 dingnóJt ico, 287 tratamento, 242
suturnJ comprnsivnJ, 988 dwgnóJtiro diftwu:ia/, 288 alimmta(ÕO, 242
tnmponammro utrrino, 981 niologi11, 286 alimmlnçáo t mem/, 246
rra11mtt do rrnro grniral, tm11mn, 981 fotores dt: risco, 286 alinwunrão prtrmll!rnl, 246
ctiopatogenia. 984 jisiopntologin, 286 hidrnrnção vmosn, 243
f.1torc~ de risco. 984 imporulncitt, 285 inurnnção hospitalar, 242
prevenção, 985 incidtnrin, 286 nudicnmmros, 242
H emorragias, Primeira Merade da Gravidez, profilaxia t!tr isoimuniznrão Rh, 290 medidas ganis, 242
249 via de p11r1o, 290 H ipergliccmia, 66,468,512, 520, 524
abortamentos (ver Aborro(s)) , 249 rm ura uterina, 291 Hi pcrplasia Sebácea, 969
COIIU/101, 249 dasJijicarno, 292 Hipersisrolia, 342, 876, 878
esvazittmmto da cavidttdt uterina, 256 uiologin, 292 Hiperrcns:ío Arte rial Crônica, 66,412,422,
nioparogmia, 250 /Tfltantel//0, 292
499
formas dinicas. 250 va<a prévia, 292
acompanhamento fetal , 504
imuficibJcin urvicnl. 254 rowra da vnsn prlvi11, 292
acompanhamento materno, 504
profilaxia da iJoimtmizncão pelo jiuor Rh rotura do srio m11rgina/, 293 classific:u;5o das doenças hipenensivas, 500
pós-abortammto. 257 Hemorro ida>, 104, 631 complicaçóe , 502
classificação. 270 rratamemo, 632 conceito, 500
doença rrofobl:ísrica gesracional (ver Doença Hemostasia, 573, 577, 929, 948 co nduta, 504
Trofoblástica Gcstacional), 269 Hepatite Alcoólica, 629 diua, 505
aspertos cromossômicos dn mola hidnti[omu, Hepatite Autoimunc, 629 m edidiiS gerail. 504
270 Hepatite C rôn ica Ariva, 629 repolllO t' ~str~sst', 505
eriopatogmin , 269 crise hipenensiva, 507
Hepatites Vira is. 627, 851
inridtncia, 269 rrntnmmto, 508
hcpari re A, 627, 85 1
gravidez abdomi nal, 267
hepatite B, 627. 852 diagnóstico, 503
gravidez cctópica, 259
din!(TtÓJtiro labornwrin/, 852 ctiopa10gcnia , 501
rtiologin e forom de risco, 259 gmtt(áo, 85J hiporcnsorcs, 506
gravidez ectópica cervica I, 268 pr~vmção, 855 donidina, 507
g rav id~z ectópica cornual, 268
Tf/Jfr(fl/1/(lltO. 854 llutildoprt, 506
gravidez ectópica na cicarriz de cesaria na
Trii/IJ111ÍSJÓO ji:ta/, 854 nifodipinn. 506
prévia, 268
hepatite C. 627, 855 ~ -bloq11tndom. 507
prevmplo dn isoimunizncão
hepatirc Delta . 627 imcrrupçáo da gravide-t, 508
pelo fotor Rh, 269
heparirc E. 627 rratamcmo, 508
gravidet cctópi a 1ubária, 260
ourras hepatites, 627 hidrnlazinn, 508
ruldormwe, 263
He rpes Genir:tl, 491 niftdipinn, 508
diagnóstico, 261
complicaçóe< fetais, 49 1 nitropnminlo dt Jõdio, 508
diagnóstico diforrnrial, 263
complicações marernas, 491 1 rata memo no pós-parro. 509
gravidt'z utópica ovariana, 266
diag nóstico, 491 H iperrensão Ges1acional, 4 12
trntnmmto, 264
resolução da gravide?, 492 Hiperrensáo Ponal. 629
hemorragias genirais, 277
tratamenro, 492 Hiperri reoidi mo, 68 , 140, 639,640, 641 ,
domras do colo uurino. 277
Herpes implcs, 860 642.645,646
rraumatitmoJ gmitais, 278
d iagnóstico, 861 Hipo:n ividade U1erina , 9 17
mola hidatiforme, 27 1
infccç:ío feta l, 861
conduta, 213 Hipoglicern ia, 527, 530
infccç:ío materna, 860

Índice Remtssivo
1037
1-f iporensão, 44, 244 , 508, 787, 788, 789, complimçõrs maumas, 493 L
940 diagnóstico, 493
1-fipotircoidi mo, 646 rraramt'IIIO, 493 Lac tação, 115, 117, 119, 126. 143, 532, 684.
l-li terectomia, 273, 275, 672, 987, 989 rricomoníase, 487 823,980. 1002
I Ii rerotomia. 933 romp/imçól's fi rais, 48- Lac togên io Placentá rio Huma no (hPL), 32
III V (ver Vírus d a l munodeficiência l-lu- complicnçóes maurnns. 487 Lam in:l ria , 256, 908
ma na (H I V)), 805, 806 diagnóstico, 487 La ndin
H olzapfcl ou preensibilidade uterina trnrnmmro, 488 sinal de, 76
sinal de. 76 vagino:.e bacteriana, 486 La pa ro copia , 263
Huma n P.apillomavírus (HPV), Infcc~ão complirnçórs forais, 486 Lcopold
.enital pelo, 492 romplimçüs mnumns, 486 m.tno bra de, 870
complicações feraiç, 493 diagnóstico, 486 Leucemias, 566, 696
complicações maternas. 493 tratnmrmo, 487 agudas, 567
d iagnó>r ico, 493 In fecções Perinatais, 831 crõn icas, 567
tratamento, 493 ciromcgalovfrus. 84 1 Lin foma(s), 566, 694
diagnóstico da infecção feta l, 834 H od gkin (LH ). 566, 695
I diagnóstico da infccçlo materna , 832 mfrndiafrngmtltiro ou nvtlll(lldo. 695
estreptococos do grupo B. 849 lom/izndo, 695
Ic terícia , 531, 621, 623
hepatites vi rais, 851 primúrn lllt'tadr da gmvidr<.. 695
Idade G c racional, 869, 966
lupntitr A. 851 ugundn mnadr da gravidrz. 695
lgG, 832. 833. 838
brpatiu R, 852 não llod gkin (LN H ), 566, 695
rem de avidez, 833, 838
lupnriu C, 855 Líquido Amnió tico, 295
l g ~l . 832
herpc imples, 860 circu lação, 296
IM C (fndicc d e M assa o rporal), 68. 69,
rubéola, 846 composição. 295
87. 91
sífilis, 856 formação. 296
l munoglobulina, 29, 107, 433, 434 , 437
gma(lio. 858 reabsorção, 296
l munog lobulina G (lgG), 29
Inc isão, 927, 929, 930, 933 coxoplasmo.c, 834 volume, 297
abdomi nal {laparotomi.t). 927 Insu fi c iência crvical, 254, 255 f/ llllliOCrtiUII!, 298
Dührssen, 886 l n uli na, 2 1, 33, 38, 39, 140,5 12, 513 nt•aliaçáo, 297
em J, 933 aspan . 140 ultrnssonograjia. 29-
em T , 9.)3 deremir, 140 Líquido M econial. 1)')')
infraumbil ical, 545 glargina, 140 Liríase Bilia r, 628
Joci-Cohen (transversa reta), 929 li:.pro. 140
Lom balg ia , 104
longitudinal, 798 l mulilla-likl' (IGF), 7, l i
Lo mba lg ia (ver D oenças Reumát icas), 660
mediana. 929 Isoimu niza áo, Rh. 257, 269
Lúpus Erire maro so istêmico ( LES), 650,
peritônio parieral , 930 773
Pfannenstiel (arciforme), 929 J acompanha mem o pré-natal, 654
transver a, -98
J acquemier, 76 altera ões laboratoriais, 651
uterina (h isteroromia), 927
manobra de. 924 diag nóstico di ferencial, 650
fndi e de Apgar, 961
sina l de, 76 evolução da gravidez. 653
lndom cracina, 139, 30 1, 302,331,337,339,
Jeju m , 93 infertilidade, 653
369, 378
65 lúpus nconara l, 655
ln fecçõe Gen ita is c G ravidez, 485 CCIOSC,
ma nifestações clíuicas, 650
ca ndidíasc vulvo-vaginal, 490 glicem ia , 93. 94. 513, 516
diagnóstico, 490
trarammro, 491 K M
cla midíase genital, 489 M aconh a, 101
romplimrõrs ftraiJ, 4H9 Keil , 430
a nrígenos, 430 Macrossomia Fetal , 186, 527, 965
romp/imrors maurruu, 489
M ãe D iabét ica, 520
diagnóstico, 49 0 Ke lly, 930
fero, 520
trarammto, 490 pinças de, 930
M agnésio
Gonococo. 488 Kern icre rus, 137, 444 , 598. 7 18
sulfaw de, 7 11, 728, 947, 1020, 1021
romplrmrot's ftrai.J, 488 Kcra mina, 939, 946
M a nch a a lm ão, 968
romplicarõrs marunns. 488 Kidland
Mancha Mongólicas. 968
diagnóstico, 488 fó rcipe. 916. 917 Manobra(s),
rraramrnro, 489 Klt'bsil'lia, 595, 994 Brachr . 903
herpes genital. 491 Kle iha uer, 434 Deventcr- lüeller. 902
romplirar/Jrs fitais, 491 prova de. 434 exrraçáo do ombro posterior, 924
complimrors maum as, 491 Kl inefel rer, 69, 153 Gaskin , 925
tliagnósflco, 491
>Índrome de, 69. 153 GEPERT, 922
m olufiiO da gravidu .. 492
Kluge Jacqucm icr, 924
rrnrammto, 492
Í>inal de, 76 Lcopold . 870
l luma n Papi llomavírus (H PV). 492 Mauri e;tU, 898, 903
Korotkoff, 500, 503
romp/irarõrs forais, 493 McRobcns, 923, 924
~om de, 87, 412
rechaço, 897

Noções Práticas de Obstetrícia


Rojas, 902 Melano m a, 698 diagnóstico, 689
Rotação, 924 M em branas. 307 incidência, 689
Rubin I, 923 a no malias (ver anoma lia das membranas). traramento, 689
elli k, 796 307 idaç:io, 3. 9
Taxe, 987 Merabolismo, ajusres na gravidez normal, adesão embrionária, l i
Zava nelli. 923. 925 518 desenvolvimento endomeu ial, lO
M ar ad o re H o rmo nais, 262 d urame a gc~ t açáo d iabélica, 520 imunorrcgulação da impla ntação, 12
M astitc Pucrpc ral, 997 d urante a gestação no rmal, 518 invasão t rofobl:ísrica. 12
M atu rid ad e l lcpá rica, 443 M étOdos Anticoncepcio na is, 545 Nobile- Bud in
defin itivos, 547 inal de, 76
Ma uriceau , 903
reversíveis. 547 N urrição Materna, li )
ma nobra d e. 903
brtrrei m t romportammtnis, 548 ali mentos, 125
M cDona ld , 254
derivados dt1 progmrronn. 548 alteraçóes d icrét icas, 126
M c Robcrrs
dispositivo im rautaino (D!U), 548 dietéticas, ~i tu açócs e,pcciais, 126
manobra de, 923, 924
hormonlfis rombinados, 547 ndolrscrnw. 126
Mecanismo d o Parro. 51,57 alcoólatra, 127
Miastcn ia G ravis (M G). 733
defl exão, 58 nurmitf bipocrômicn (forroprivn), 121
cfeilos no fc10. 735
de~cid a - roraç:io interna, 58 anemia mnrrocítirn, 127
1r:uarncmo. 734
dcsprcndimcmo, 58 domrns lumolítirns, 127
M icroa ng iop:n ia T ro mbó tica, 570, 57 1
imi nuaç:io- cncaixa men1o- Aexão, 57 gmtrerromin, 128
púrpura rro mbocitopênica tro rnbótica, 571
r01açáo externa, 58 gravidtzrS SI/USSiVtli, 126
, ind ro me hemolirico-urêm ica, 57 1
si ncl irismo- assincl irismo. 58 imufiribtrialupdtim. 128
1rombocitopcn ia, 570
Mcd ica mem o(;), 65, 128, 13 1, 143, 242, ituujiribtrin rmnl rrônicn, 128
prl-ecldmpsrn, 570
340, 5 3, 71 1, 759 sfndrom~ HEL LP, 570
rrgimrs nlimmtnrrs ou dicrns e;o:ótirns, 121
analgésicos. 138 mbnurriçtio, 128
M iclom a Mú ltiplo, 69 8
a ruik idos, 142 uso prolongtu!o dr medicamentos, 128
M iclo patia Ag uda , 732
anti oagulantcs, 142 Mig râ nca, 727 gravidez sob o a pecro nut riciona I, 11 6
amid iabér icos, 140 Mi liá ria, 969 necessidade de fe rro, 119
a nrieméticos. 142 M o la H ida ri fo rme (ver Doe nças T ro fo blás- nece sid ade~ de água , 119
a mi-hiperrensivos, 139 necessidades de sais mi nerais, 119, 123, 124
t ica Gesracional), 270
a nti-h ista m íni O>, 142 necc~sid ad cs de vi1 ami nas. 119. 120. 121
Mo rta lid ad e Mare rna , 475
a n1i-infecciosos, 136 necessidades e nergé tic a~. 118
conceitos, 476
antibióticos. 137 neces;idad e> nu1ri iona is da ge>tanle c da
moru mntrrnn, 476
nmifiíngiros. 138 nurriz. 117
mortr materna drrlarttdtf, 477
tmti-lulmlnricos. 138 alimrntnçtio, 117
moru mntrrna ndo dtclnrada, 477
antitubuculostdticos, 137 lactação, 117
morre /JIIIfrrnn ntio obsthrirn, 476
amivirnis, 138 necessidades pr01cicas, 119
mortr mtftcrnn obstltrirn. 476
trnunnmto dt1 toxoplt~smou, 138 mortr mntrrna premmfvel ou masmmda,
anri-inAa ma1ó rios, 138 478 o
ba,e científicd,, 133 moru mtftcmrrrnrdia, 477
O besidade, 50 I, 502, 53 1
palodo crltiro do dcsmvolvimmro. 133 m orre re!Jtrionndn à gestaçtio, 477
Ocirocina, 257
cardiorônicos. 141 epidem iologia, 478
etiop:uogenia, 479 O ligoidr.im nio, 301
classificação, 134
prevenção, 480 am niólico mccon ial, 304
corura indicados, 134
nssist~ncia a inurcorri nci11s gesftfcionais, 481
conduta , 303
imunossupressorcs. 141
assistbtcin no parto. 480 ammoinfusdo, 303
lactdçáo, 143
assistincin ao puaplrio, 481 banho dr imersão, 303
planta medici nais, 142
assistt ncitt p rf-nllllrl, 480 IJidmfft(IÍO mntUiltl, JOJ
psicoa1ivos, 141
plnnejnnwuo jiuniliffr, 480 imcrmpção tia grsttt(IÍO. 303
tireoidopatias, 140
razão da mo rta lidade ma1erna (RMM), 478 prognóstico mnrrmo-Jrrnl, 303
uso restrito na gcs1açáo, 134
Morta lidad e Perina ra l, 56 1 diagnó;li o, 302
ll!crolrricos, 140
Mycoplm m tt hominis, 486 exr11ur Jlsiro, J02
Medici na Baseada cm Evid ências, 1003.
simommo/ogi11, 302
10 09
u!tmssonograjiff, 303
graus de recomendação, I Oli N
eriologia c fisioparo logia, 302
mctanálisc, 1015
Nagele domrtfs [rtnis, .302
rolt1bomção Cocbranc, 1011 dorn(tfS mntrmas, 302
regra de. 457
romo murprrrnr os grdfiros, 1019 mrdirrrmmtos, 302
imrrprntfção. 10 16 Narimo n o. 157. 514, 529
Nefropatias, 67 O ligú ria, 4 15, 790
passos bdsicos, IO16
eoplasias H em a to lógicas, 565 O ncologia , 70 1
passos para armar a Corhrnnr Librnry, 10/ 8
leucem ias, 566 fcnilitl,adc c gravidc1, 700
métodos com raccpt ivos. 1003
novo pa radigma, 1009 agudas, 567 -oo
sobrl'vit•mrrs tiO rtinrrr,
CrÔIIICIIS, 567 preserva ão da feni lidade. 701
deunbo dos mudos, JOIO
linfo ma ~, 566 pacimtri oncológicos, 701
Jundnmemos, 1010
Hodgkiu (LH), 566 On falocd e, 182
pirâmide das evid ênc ias, 10 12
não Hodgkin (LNH), 566 Ovu lação. 3, 4
revisões si temáticas. IO13
Ncoplasias n:io G inc o lógicas, 687 fase lú1c.1. 6
cnracurlsticas, 1014
m ecani~ m o d e ovulaçiio, 5

fn dice Remissivo
1039
p índice de risco, tocólise. 335 indica(Óts, 922
predição do risco, 326 tiCitica, 922
Pancreatite, 631 aluraçón dos marmdort>s bioqulmicos, 327 Parvovirosc, 449, 454
Parada Cardiorrespi ratória (PCR), 416, 791 anamni'Jt', 326 PCR (Parada Cardiorrespiratória), 79 1
Paralisia(s), 970 exam~ foico , 327 PCR (Reaçóes em adeia da Polimcrase),
braquia l, 970 fibronmina foral. 327 489
cerebra l (PC), 231 outros marcadores bioquímicos. 328 Pelve, 18 1, 901
Erb-Duchenne, 923 rtgistro gráfiro da fllividndt uurina, 327
Perda Gc tac ional de Reperição, 253, 463
facial, 970 ulrrassonograjia mdovnginal. 329
aspectos genérico~. 464
Paramctrirc, 996 primei ra etapa, prevenção, 329
nnmploidias, 464
Parasiroses, 628 ndministrnrtio dt nudicnnuntos, 332 nnomnliOJ I'SiruturnÍJ, 465
Parro,379.53 1,569, 867, 870,897, 905 amibióricos, 332
anolllfllias utrrintU, 467
complicações, 911 fllividadt' foicn, 331
mosairismo, 466
cond içõcs favoráveis à induçáo, 905 tliminação dos forom dt risco, 330
causas infecciosas, 470
apr~umação foral, 906 gravidtz gmular, 33 1
doenças auroimunes, 469
colo uurino, 906 hábitos dt> vida, 332
eriologia, 464
condiçó~s firais, 906 mcompttincia arvical, 330
farores endócrinos, 468
idad~ gmacional, 906 inficçõts, 331
dtftiros da fou lríua, 468
proporção firo-pi/vim, 905 inurvnlo mtrt partos, 330
diabrw mtllinu, 468
contraindicações. 907 polidrtimnio, 331
dúfunrõts da rir~oidt, 468
indicações, 907 ~cgunda etapa. inibição, 333
slndromt dos ovários policísticos, 468
indução tkriva, 907 terapêutica in ibitória, 335, 340
sem C.1lasa aparente, 47 1
indução, 905 aruagonistOJ dos rtuprorts dt oâtoâna, 331
síndrome dos anricorpo , amifosfolípides,
induçiio do pano de feto mon o, 9 11 amibiorirourapia projiláricn. 340
469
mérodos cirúrgicos, 907 associação de progmerona, 339
rrombofi lias hercdir:lrias, 470
amnioromia, 907 bloqtuadoru dos canais dt cálcio, 338
outros fo rorts imunológicos, 470
métodos fa rmacológi co~, 909 corticoidts, 340
Perfil Biofísico Fetal (PBF), 189
dinoproston~ (PGE2), 909 doador~s dt óxido nítrico, 339
dopplcrvclocimctria, 194
m rogênios, 909 ucolha do toco/Ir ico, 339
interpretação, 193
misoprosrol (PGEI), 909 tstim ultldor~s dos rtctptores bna-adrmirgi-
norma l c alterado, 19 1
oritocina, 910 ros, 336
parâmetros, 189
outros mitodos, 911 fánnacos inibidor~s da arividnd~ romrátil
resposta adaprariva fera! à hipóxia, 190
prouaglandintu, 909 uterina, 336
Períneo, 35, 977
métodos mecânicos, 908 inibidom da síntese. 337
liberação dns prosraglandinaJ. 337 Periwnitc, 996
cauur dt balão. 908
mrdicammros, 340 Pi per
dt>scolammto dOJ mtmbranOJ, 908
mrdidas guais, 336 fórcipc, 916, 9 17
mimuÚJção mamária, 909
mlforo dt magnb io, 338 Pirosc, 103
laminária ou di/arador higroscópico, 908
riscos. 9 11 terceira cto~pa, condução, 34 1 Piskacck o u Braun-Fernwald
técnicu de indução, 907 prevmção da inftcção nronatal pr/o srrtpto- sinal de, 76
Parto Cesário {ver Cesariana), 927 cocctu do grupo btta, 341 Placenta, 307
Partogra ma, 873 via de part o, 34 1 anomalias {ver Anomalias da Placcnra), 307
distócias, 879 condução do parto p~ln via rramabdomina/, Placenta Prévia, 285
fost ativa prolongada, dilatação, 879 342 complicações, 290
parada ucundária da dtscidtr, txpulsivo, 879 condurão do parro pr/a vin tm111pllvira, 342 acrttismo pwcmrário, 290
parada unmdária dn dilatação. 879 Pa n o Vagi na l, 938 diagnóstico. 287
parto prtripitado, dilatação, 879 Parto Vagina l Operató rio, 915 diagnóstico diferenc ial, 288
pulodo txpulsivo prolongado, txpulsivo, 879 distócia de ombro, 922 arompanbammto da gmação, 288
preenchimento, 874 complicaçóts maumas, 923 fisiopawlogia, 286
Parto Pré-termo, 32 1 complicaçõts llf'Onatais, 923 importância, 285
conceito, 322 conduta, 923 incidênc ia e fatore de risco, 286
conduta, 329 manobra dr f'Xtrarão do ombro poslf'rior, 924 profi laxia da isoimuni1.açáo R h, 290
diagnóstico de traba lho de pano, 333 manobra dt Gaskin, 925 rotura do seio margina l, 293
aushrcia dt contraindicnçóts à inibirão, 334 manobra dt M cRobars, 924 rotura uterina, 291, 292
idadt gmacional, 334 manobra dt Rubin /, 923 clttnijicação. 292
etiologia, 323 outras manobras dt roração, 924 rriologia. 286
anuadmw ginecológicos, 325 fórcipe, 9 15 tratnmrmo, 292
nmutdmus obsrhricos, 325 dOJsijicarão, 9 16 vasa prévia, 292
condiçõts cu/rurais, 325 condiçóts para aplicação, 917 rotura, 292
condiçóts soriotconomictU, 325 f unção, 916 via de pano, 290
forores f/Jsisunciais, 325 indicaçóts, 9 17 Planos
for ores dmrográficos, 324 modtlos, 916 De Lee, 59
fororts iatroginicos, 325 prognóstico, 921 Hodcge, 60
hábitos d~ vida, 324 ticnica, 918 Pneumo nias (ver Doenças Pu lmonares na
iruucorrências gruarionais, 325 vácuo-cxtração, 921 Gravidez), 7 13
fisiopatologia, 325 versão interna e extração podal, 922 Polidrámnio, 298
incidência , 322 condiçóts para rcaliztJ(ão, 922 condu ta, 301

1040 Noções Práticas de Obstetrícia


diagnósrico, 300 pé rio, 975 Receptores
txanu flsico, 300 circulatórias, 978 bct:l-adrenérgicos. 336
rxamts complmmuarts, 301 digmir•as, 978 de oci1ocina, 337
srmomas, 300 mmnas ~ al~itam~llfo, 975 Rojas
c1iologia, 298 urindrias, 9 78 manobra , 902
prognóstico ma1erno-fe1al, 301 títuo, vagina ~ perfn~o. 977 mano bra de, 902
Pré-ecl:imp ia, 4 01 ,4 12,422, 624 oriemações gerais, 979 Rotura H epá tica, 626
adminis~raçáo de hiporensores, 4 18 Puzo Rotura Prematura d e M embrana, 349
classificação, 4 11 sinal de, 76 complicações da RPM . 353
diagnó rico, 411 complicaçó~s neonatais, 353
epidemiologia , 402 Q forais, 353
e1iopa1ogenia, 403 marrmas, 353
fi sioparologia, 408 Quinidin:l, 543 COI1 CCiiOS , 350
alurnráo na prmáo arurial, 409 Quin olo n:~ s, 137,598, 599.7 18 condUia , 354
alumrõrs l~tpdrim, 409 condtua na RPM em gestações a rermo, 354
nlumrõn no siJrrmn tf, coagulnrão, 409 R condu1a na RPPTM , 354
nlurnrõn no sisuma navoso cmtml, 409 diagnóslico, 351
nlrunrón rmnis, 409 Radioterapia, 277, 683, 688, 690, 691 clímco, 351
manifmarüs rlfnims, 409 Raquianestesia, 940 laborarorial, 352
fo rma grave, 4 14 Rasch e1io logia, 350
conduta, 414 sinal de, 76 fi sioparologia, 351
forma leve, 413 Reaçóc~ cm C adeia da Polimerase ( PC R), gesraçócs abaixo de 24 semanas completas,
conduta, 413 489 356
forma mod erada, 4 13 Reca ens ammomfitsáo llfl RPPTM, 357
conduta, 113 sina l de, 292 uso d~ amibióricos nn RPPTM. 356
form•s clrni as, 4 12 Recém -n :~, c id o, 966, 967 uso rir roticoidn na RPPTM, 356
hipertensão a rterial crónica, superposra, 412 amamcmaçiio, 97 1 uso dr rocollricos na RPPTM, 357
incidência, 402 assistência i mediara, na sala de pano, 958 ges 1açõc~ cmre 24 e 31 semanas completas,
predição, 409 rmus do parro, 958 355
prevenção. 422 após o parra. 960 gestações cmre 32 e 33 semanas completas,
prevenção de convu lsõcs, 415 durnJII~ o parto, 959 355
roncnurnrõn, 4 16 assis1êncin pcdiárrica ao nnsci menro, 957 gestações cnrre 34 e 36 sema nas co mpl c~as.
~mpr~go do su/foro d~ magnb io, 417 a rermo, 966 354
11/UtiiiÍJI/IfJ d~ ll(IÍO, 4 16 baixo pc~o (RNBP), 966 incidência, 350
sequelas cm lo ngo prazo, 423 classificação. 966 Ro tura U te rina, 29 1
Prematu ridade. 959 esrado mmicional, 967 elas~ ifi caçiío, 292
Pré-natal, 162 exa me ffsi o. 967, 968 e1iologia . 292
colera de células fetais, 162 abdomr. 968 tratamcmo. 292
arrimlarón, 970 Rubéola. 846
Preservação d a Fertilidade, 701
ausmlra rnrdítJca, 967 diagnósrico pré-naral, 848
pacienres o ncológicos. 70 I
boca. 969
Procedimcm os Diagnósticos Invasivos, 21 1 epidemiologia, 846
cab~ra. 969
amniocemesc:. 212 manifestações eH nica , 846
gmuatJ, 968. 970
ipom d~ rraltzarão, 212 prevenç.io, 848
gaal, 968
indim(ó~s. 2 12 ras1reamcmo pré-natal, 847
olhos, 969
biópsia d e 1e ido fetal , 218 coma to com o vírus, 847
ossos. 970
figado, 2 18 ~ruprão curán~n. 847
paralisias. 9 70
mtísculo, 2 19 sorolóf!.ico. 847
p~l~. 968
p&. 219 ~rans rnissão fc1al, 848
sisuma rardiorr~spiratório, 967
biópsia d e vi lo o rial, 214 Rubin I
umbigo. 970
ipoc11 d~ rmli:utçáo, 2 14 exa mc(s), 964 manobra de, 923
indimçón, 2 14 h ist6ria do par to, 965
tiwic11, 2 15. 218
co mplicaç6e~. 213
his16ria gest.1ciona l, 965 s
idade gesraciona l, 966
cordocemese, 217 info rmações indispensáve is. 959 aco Gcstacional (SG), 79, 169, 262
complicarem, 218 grnvidrz mríltipla, 959 Sa lpingectom ia, 265
ipom d~ mtlizaçao, 2 18 líquido m~ronia/, 959 Scllick
indicnrórs. 2 17 prmtawridad~. 959 manobra de, 796
1écnica, 2 13 in'lalaçáo de serviço, 956 ia lorreia, 103
Progestero na , 26 medicamemos, 97 1 ífilis, 856
do agens. 263 peso ao n a~cer, 966 adquirida, 856
Proporção Feto-pé lvica, 59 pós-rcrmo, 966 primdria, 856
d iagnós1ico. 59 pré-termo, 966 unmddria, 856
planos de De Lee, 59 recém-nascido cri1 ica mem e enfermo, 970 urcrdria, 857
Prostaglandinas, 257 relação peso e idade gesraciona l, 966 diagnóstico. 857
Puerpé rio, a m iconccpçáo, I 00 I !amanho exces~iva m eme grande, 966 gcsração, 858
Puerpé rio Fi io l6gico, 975 1erm inologia nplicável ao período pcrinaral, primária , 856
modificações do organismo materno no puer- 954 sccu ndá ria, 856

indice Remissivo 1041


terciá ria, 857 ~pif~plÍIII r~fl~XIll, 729 448, 45 1, 452
restes orológicos, 857 Mioclonins, 729 tú nel do carpo (STC), 47,612, 735
não rr~ponbnicoJ, 857 espelho. 453 Turner, 151 . 152, 153, 158,448
lr~ponimiroJ. 857 fenitoína. 135 warfarínica , I36
trdtarncmo, 858 gêmelo-gcmela r, 449 Wcrnicke, 243
arompanbammlo, 860 G ilberr, 629 Wcsr, 729
irnpson H ELLP. 4 18,4 19.420,564,570,624,738, X frágil, I56, 157
fó rcipc, 9 16, 9 17 85 1 isrema ervoso Cemral, 45
ina l de condu/ti, 419 aherações, 45
Bonnaire, 76 jhiopa1ologio, 419 istema ren ina-angiotensina-aldoste rona, 45
hcdwick, 76 rinromnrologin, 419 i tema Respiratório. 47
Goodcl, 76 umphuira clinirfl, 419 aIterações. 47
Hcgar, 76 via dt' parlo, 420 tldnpln(Ó~J dt1 fimção pulmonar, 47
Holzapfel o u preen ibilidade uterina, 76 hemolílico-urêmica (S H U), 571 alr"açó~s a11atómims, 47
Jacq uernier, 76 hemo rrágicas, 94 3
ulfaro de Magnésio, 14 1, 338,4 17,947
Kluge, 76 agudas, 928
Su rfacta nrc, 27
Landin, 76 hiperrensão porra I, 629
obi lc-Budin, 76 hipencnsivas, 4 12. 499
Piskacck ou Braun-Fernwa ld, 76 Hipotensão cm decúbito do rsa l, 44
T
Puzos, 76 humor no pós-parra, 756 Tabagismo, 10 1
Rasch, 76 d,prmão pó1-pnrro, 756 Talassemias, 562
Sinal de Godé, 969 pós-parro bltw, 756 Alfa, 563
inal de Parra, 868 psicou p61-pnrro, 756 13cta, 563
índrome(s) Hurler, 452
Tamponamenro Uterino, 987
abstinência fetal , 755 imunoddiciC:ncia adquirida (A IO ) (ver
Taquicard ia, 24 , 222, 226
acéf31 o-ac:írdico (TRAP). 367, 370 Vírus da lmunodcficiência Humana
Taqu issistolia, 876, 878, 880, 905
ácido valproico, 135 (HIV)), 805
Taxe, 987
Aica rd i. 467 infano hepático, 628
in fecciosa ma1erna, 843 manobra de, 987
alcoólica fetal, 65. 10 1
Klinefcl rcr, 69, 153 Tocólise, 335, 378
Alpcrs, 625
aminop1crina , 692 Langdon Down, 175 Tocolírico, 256, 33 1, 336, 339, 357
Angclman, 154, 155 Lennox-Gastaut, 729 Toxoplasmosc, 95, 108, 138, 834
angCISi i:t rcspira1ória da inf:incia (SAR I), 27 m:í-adaptação vascula r, 469 ageme eriológi o, 835
angt'ISiia rc pira1ória do adu ho (SARA), 349, Mal lory-Weiss, 24 1,631 ciclo de vida, 835
786 Marfan , 67, 69. 543, 546 epidemiologia, 834
a no malias congénitas, 692 Mcleod , 733 manife tações clínicas, 836
amicorpo amifosfo lípidc (SAA F), 464, 469, membrana hia lina, 14 1 Trabalho de Pano, 51 , 54, 59,868,869,870
47 1,574,653,656,661,773 Mendelson, 935 a nestesia, 887
apneia obstruliva do sono, 502 111CtOtrCX310, 135 assistência, 868
Ashcrrnan, 268 rnononudcosídica sem aglutininas hercrófi- assistência ao pano, 868
aspiração meconial (SA M), 304, 959, 960 las, 843 cesariana, 888
Beckwi1h-Wiedcrnan, 154, 155 nefrótica , 448, 449 condições do obstetra, 87 1
Budd-Chiari, 565, 628 eu-Laxova. 449 condições fetais , 870. 878
ca rba mn.cpi na, 135 O'Gilvic, 798 lf/01/ÍIOTa(IÍO, 878
choque 1óxico, 788 ovários polidsticos, 468 , 471 rrgistro, 878
choro em miado. 153 P.uau. 152 condições hospitala res, 87 1
ciclofosfa mida, 135 perfusáo ancrial rever a (TRAP). 370 condições maternas, 869
cinzenta em recém-nascidos, 137 pernas inquietas (S PI), 737, 738 moniloroçáo, 878
cin1.cnta fetal , 137 Prader-Willi, 154, 155 condução, 869
clíni ~de disfunçJo neurológica (ver Encc- Prune Belly. 449 condução do pano, 57, 87 1, 873
f.,lopa ria Nconata l), 233 rc~piratóri a aguda grave (SRAG), 7 14 com rações uterinas, 873. 885
cordão curro, 3 13 resposta innarnarória sisrêmica (S I RS), 786 t~tlminiJtraçno d~ ocilocintl, 876
Cushing. 501 Rcyc, 625 f/11/IIÍOIOIIIifl , 876
desconfo rto respir.uório ( DR), 53 1 Rotor, 629 COT/ITII(Ô~I IJip~riiiÍVIIS, 8-6
Down, 69, 152, 153, 157, 159, 160, 16 1, 162, rubéola congênita, 846, 848 ronrraçüJ lupoalivos, 875
175 Russei-Silvcr, 155 comraçõ~J incoordtrllltfos, 877
Dubin-Johnson. 629 aldino- oonnan, 449 d~Jcolam~mo dtU mnnbmnas amnidlicas,
Edwa rds, 152 heehan ,33, 284,983 876
Ehlers-Dan los, 351 sflil is congénita, 95 di11ócia d~ COIIIrtlfÔO, 875
Eisenmenger. 546. 548 jogrcn, 67 1'1//eroclimltl, 876
epiléplicas espe iJis, 729 ly, 452 monilororáo, 875
afiuia adquiridr1 rom alumráo convulsivr1, Smith-Lcmli-O pit1., 452 rrgmro, 875
729 Srevcns-Johnson, 825 lriplo gmdii!IIU dmmdmlt', 875
rriJn da infonria ~ pubadad~. 729 Takayasu, 544, 549 controvérsias na condução do primeiro
crim ftbriJ, 729 taquipneia transitória do recém-nascido, 27 período.883
criJn histiricaJ, 729 1orácica aguda (ST A), 560, 562 nnmiotomitl, 884
crim mioclônictu, 729 1ransfusão fero-feta l (ST FF), 3 13, 367, 377. tlllfllg~sia, 884

1042
Noções Práticas de Obstetrícia
controvérsias na condução do segundo tabagismo, 755 dtftitos metabólicos. 575
período, 886 tratammlo, 756 diminuição dos anticoagultmtes lllllurais,
atuação do obstetra, 886 aspecros psicopatogênicos da infertilidade, 575
cnuurismo vtsical, 886 762 disfunção dos amicoagulamts natllrnis, 575
ruidrtdos dtnsSI!psia e amisupsia, 886 aspectos psicoparogênicos do abortamento, mommto idt'al, 576
tpisiotomia, 886 762 por qur invl'stigar?, 577
posição da parturimtr, 886 depressão, 749 trombofilias adquiridas, 575
d iagnósdco, 868 quadro dfnico, 749 mulheres investigadas, 574
t/1/ttmll~se.
868 riscos para o foro, 751 por que investigar
~xamrfisico, 868 trtllamtmo, 751 rttzóes para pesquisar, 577
examts complmumarrs, 869 efeitos da gravidez na saúde mental da Trombo Aebire pélvica séptica, 997
dilatação cervical, 873 mulher. 743 Trombose, 3 11 ,313
moniroração, 871 esquizofrenia , 753 Trombose Venosa Profunda, 581
rrgistro, 877 quadro clínico, 753 Tuberculose, 7 17
di latação. primeiro período, 871 tmtammto, 754 cuidados preventivos, recém-nascido, 723
distócia. 878, 888 hiperemese gravídica, 746 d iagnóstico, 7 17
COI/I rafáO, 888 tratammto, 746 bttciloscopia, 720
i11urçáo anómala da placmta , 890 medica memo(s), 759 dlnico, 717
enca minhamento, sa la de parto, 881 pseudocicse, 745 outros mttodos di' diagnóstico, 721
a/rum do polo foral, 882 tralttmrmo, 746 u ste wberctdlnico , 720
co11diçót!s das mmtbra11as amnióricas, 882 transtorno afcrivo bipolar, 752 profilaxia, 723
co11dições dos gmitais, 882 tratamento, 752 tratamento, 72 1
padrão dt contraçõrs. 882 rransrornos alimentares, 754 Tumor Trofoblásrico Gestaciona l (TTG),
paridttde, 882 trlltltmento, 754 274
tipo dr mususia, 883 transtornos ansiosos, 747
cpisioromia. 886
técnica, 887
agorrifobill, 747
ansiu lttde gmeraliwda, 748
u
~qui pe obstétrica, 885 estresu pós-trtlumático, 748 Úlcera Gasrroduodenal, 63 1
estática fetal, 869 fobia simples, 747 Ultrassom Obstétrico, 526
evolução, 87 1 fobill soci11l, 747 Ulrrassonogralia , 167, 262, 376
fórcipc, 888 hipocondrlacos, 748 alterações do desenvolvimento, 172
idade gestacional, 869 obsessivo-compulsivo (TOC). 748 anatomiafttal, 172
incisões de Oiihtssen, 886 pânico, 747 comprimmto m bi'ÇII-nádega (CCN), 172
in ibição, 869 somatiwrão, 748 frequt ncia cnrdíacn fotlll, I 72
medidas obstétricas, 873 vulnerabilidade femini na, 743 avaliação do crescimento feta l, 185
normas. 868 Transrornos Psiquiátricos no Pós-parto, 756 aval iação ultrassonográfica do colo uterino,
participação da parturiente, 885 blues puerperal, 757 186
partograma. 873 depressão pós-parto, 757 crescimento inrrauterino restrito, 185
diltgnóstico, 878 psicose pós-parto, 758 época da realização, 168
distócia. 879 Traumatismos de Parto, 969 indicações, 167
prunchimmto, 874 Tricomoníase, 4 87 marcadores ecográficos de cromossomopa-
períodos clínicos, 871 , 872 complicações fetais. 487 tias, 173
primeiro período, 883 complicações maternas, 487 dueto VI'IIOSO, 176
contro11irsias na cont!uráo, 883 d iagnósrico, 487 osso nasal, 175
primeiro período, di latação. 87 1 rraramenro. 488 tmmlucêncittnucal (TN), 173
muroclisma, uuma ou lavagem intestinal, T rofoblasro, 12, 16, 17,422 ,890 morfolog ia fetal , 178
872 Tro mbociropenia(s), 567 primeiro tri mestre, 169
normas para a condurão, 872 doença de von Willebrand (DvW} tipo 2B, cordão umbilical, 17 1
tricotomia dos pelos pubianos, 872 570 gemelnridadt', 170
proporção fero-pélvica, 870 estearosc hepática aguda, 570 placmta, 171
prova de trabalho, 870 púrpura rrombociropênica imunológica , 568 sonoembriologia, 169
prova, 54, 59, 60 pú rpura tro mbociropênica trombórica, 57 1 segundo c tercei ro trimestres, 178
rc istência dos orgãos gcn itai, 885 síndrome hcmolírico-urê mica (S HU), 571 acrnismo placentário, 184
segundo período, ex pulsivo, 884 trombochopcnia gestacional, 567 artlria umbilical única, 181
rquipr obstétriat, 885 via de pa rro, 569 circular di' cordão, 181
p uxo, 885 Tromboembol ismo Pulmonar, 58 1 cisto di' cordão, 181
rrsistt ncia dos orgãos gmitais, 885 cordão umbilical, 180
Tromboli lias, 573
sina I de parto, 868 descolamemo de placenta, /84
complicações gestacionais. 578
terceiro período, dequitaçáo, 888 tstimativa do volume do liquido amniótico,
desvantagens da pesquisa, 578
Translud:ncia Nucal, 174 evidências com a terapia anticoagulante, 579 185
Transtornos Psiquiátricos na G ravidez e trombofilias 11dquiridlls, 579 graus da plaunta, 182
Puerpério, 74 1, 74 4 trombojilias congénilm, 579 insrrçáo, 182
abuso de álcool e drogas ilícitas, 754 investigação, 575 liquido amniótico, 184
dlcool, 755 llnornwlid11des do sistema jibrh10lltico, 575 movimentação fttal, /80
cocafna, 755 11umuuo 1111 produção de protelnas plamuíti- plaunta, 182
nuuonha, 756 CIIS pró-coagulantes, 575 placmta privia, 183
opiduos, 755 como in vestigar. 577 vasa privitt, /84

Índice Remissivo 1043


rgências Cirú rgicas não Obstétricas, 795
;~bdom e agudo hemorrágico, 800
profilaxia da trammisStío vatirn/ do HI V.
8 13
z
rotura /J(pdticn rspomânra, 800 urapin nntirmrovirnl (TARV), 812 Zalcirabina, 138
abdome agudo obsuulivo. 799 tipos, 825 Zavanelli
obstruráo intrstinal, 799 tmnsm issáo ptrinatal. 8 11 ma nobra de, 923, 925
abdome agudo perfu rativo, 800 tratammto, 813
Zidovudina (A Z T ), 138,810,8 12,814,82 1,
tilura ptpucn perfurada, 800 aspectos biológicos, 807
825
aspectos fisio lógicos materno-fetais, 795 aspectos epidemiológicos, 806
Z igosidad c, 3 13, 364
abdom~ agudo inflamatório, 797 assistência pré-natal, 8 16
apmdiciu agudA, 797 ca racteriução da, 313
COI/Jtdtas subuqumus. 8!7
outras comidtraçõts, 797 primâra comulta, 816 Zigom, 7, 15, 76,260,364,37 1, 375
pnncrtntiu ngudn, 798 AZT endovenoso no trabalho d e parto c cl ivagem, 15
sistmw cnrdiovaswlnr. 795 am es da cesariana eletiva, 820 Zinco, 29, 119, 123, 124,773
siJumn gastroimminal, 796 cuidados rom a gmanu, 821 Zona Pclúcida, 8, 9, 364
sist~ma hmuuológico, 796 ruidados no parto vagi11a/, 821
sisttma rt'spirntório, 796 tfi'itos advasos dos amirrnrovirais, 823
siJuma urinário, 797 I'S'fUI'ma da zidovudina injttdvl'l, 821
traumas abdominais durame a gravidez, 80 1 foto I' o ruim-nascido, 824
ftrimmtos por arma bmnca, 802 inibiçtio da lnctaçáo, 823
fratura pllvicn, 803 pruauçón tmiva sais da tquip~. 822
traumatismos abdominais com usos, 802 rotir1111 para a rl'aliznrão da usaria na
trnumatiJmos abdominais pmttranus. 801 ~~~tÍt1a, 822
Urgências C llnicas não Obsrérricas, 783 sobr~ ii mát', 823
cesariana perimonem. 792 cu idados com o recém-nascido, 826
edema agudo de pulmão. 784 diagnóstico sorológico, 809
EAP indur.ido p~lo u.so dt umpia tocolltica, wu rápido. 8/0
785 evolução da doença, 8 11
ttiologia, 784 h istória nat ura l da d oença, 806
txamts romplnn~marts, 785 AIDS. 805.806
maniftstarõu clínictu t diagnóstico, 784 inftrrão assimomdticn, 806
mrrnnismos, 784 inftcrão avtmçilda, 807
monitorizarão fttnlno EAP, 785 inftcrão rttrovira/ aguda, 806
trntamnu o. 785 inftqáo simomáricn inicial, 806
i nsuficiência renal aguda, 790 soroconvtrsáo, 806
diagnósrico, 790 im uni7.ações, 818
trntamtmo, 791 intcrcorrências gestacionais, 819
parada cardiorrespiraró ria, 791 patogénese, 807
scpsc grave. 787 prevenção, 8 11 , 813, 820, 822
ronrátos r critérios diagnóuiros, 787 profi laxia, 813
proptditwca inicial, 788 puerpério, 823
tmtammto, 788 mibirão da lnctarão. 823
sfndrome de a ngústia respiratória agud a m~tlidas gtmis, 823
( ARA), 786 resposta imunológica da gesta nte, 809
musas fr~qutmrs na gtstarão t puerplrio, transmissão, 807
786 pcrinatal, 808
diagnóstico, 786 uxua/, 808
rtsoluçáo da gravida t via dt parto"'" via de pano, 819
parimmromSA RA . 787 c~saria1111 ~l~tiva, 827
tmfl/lll~IJ/0, 786 parto vaginal, cuidildos, 821
von Willebra nd {D vW), 570
v
w
Vacina, 70, 107, 7 17, 8 18, 819
Vagi nose Bac teriana, 486 Warfa rin , 67, 136 , 142. 586, 588
complicações fetais, 486 Wcrnicke, 24 1, 244
compl icações maternas, 486 encefalopatia de, 241, 243, 244
d iagnóst ico, 486 Westc rn blo t, 96
tratamemo, 487 para confirmação H IV, 810
Va ri-zes, 104 W illcbrand
Vasa P révia, 292 doença de von, 570
V d e Lcidcn, 250
Vi lo Corial, 162 X
Vilosidade, 214,27 1, 3 15
Vírus da l m unod cfi ciência H u mana (HI V), X, c romossoma, 149, 150, 151,2 11,465
805
a mirretro,•irais, 81 1 y
rltusificar:ão, 825
tfi'itos colaterais, 823, 825 Y, cromossoma. 151

1044
Noções Práticas de Obstetrícia
Pranchas Coloridas
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Figura 3.21 \ t.un.1 S'·'' lllic.t "'llllúle de H.tller .llc.'la L'


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I\ Noções PrátiCas de Obstetrícia


~onfinado ao feto

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Pranchas Colondas
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tr.111do 1 ,\,Llll.mL.lÇJt1 .lllt'lll.li.l t'lllrt' .1j'l.lu'lll.lt' .1 b.:\1~.1
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'llj'c'rliUI.' f~·t.ll. ct1lllll'l"ci.IO UlllbJ!iclli\' llll'lllbr.lll.l\ k11".111l n.ll' ,,.,,,b,·rtu \'L'r ü'rlt'll '\l1t.1r .und.1, ,,lt'l.l,.h, .un.llt'll' ,.,, t"l
rct1r.1cL1, I,, 1'•1,~111.1 ~tl9. dt\ltb ú'llf~nd.l PL'I llllj'lt'~ll.ll,.ll' llll.'u '111.11 I ~·r J'•ISIII.I ~/ (I

\'1 Noções Prattcas de Obstetric1a


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Figura 20.3 I Corioamnionite aguch Supcrfkic fetal Figura 20.4 1Âmnio nodoso. Mú ltiplos nódulos presentes
mo~tr.mdo perda difus.t da transp.1rénci.1 c cspc-,.;,tmcnto c difus.tmcnte 11.1 superfície dl) im nio ~m ca-.o de .tgenesi.t re1ul
coloração cwerdead.1do .'tmn1o. Ver págllla311. bilater::tl. \lcrpâgllw311.

Figura 20.5 I Cistm coriô nico~ múl tiplos, de conteúdo claro Figura 20.6 llnfartos placentários recentes (avc rmclh.tdos) c
antigos (br.tncos), vistos na superfície de corte d,t pl.tcenta cm
ou hcmorr.ígico, cm c,tso de crescimento fct.tl restrito.
c.t~o de pré-eclàmpsia/ eclàmpsia. Vn· prígllla 312.
h·r pâgllla 311.

Figura 20.71 Henutonu rctropl.Kcnt.irio. Notar extensa Figura 20.8 l l n~crç.io vc!Jmentosa. O cordão se insere .t alguns
dcprcss.io cr.ltcrifi.1rmc deix.td.t pelo volumo~o hcm.t tonu centímetros da bord.t placentária e os VJSO<; percorrem trJjeto na<;
visto .10 l.tdo d,t pl.tccnt.t. Ver pcígllla 312. membr.mas .mtes de alcanç.1r o di<;co placentário. Ver pâgr11a 312.

Pranchas Coloridas VIl


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Figura 20.10 I Cl'rd.1o umhtltcaln,Jil11eLÇ•lo por<. tllld~tlcr


Figur.1 20.91 Artcnop.lll.: dcctdu.1l. ivhcrof(,togr.lna de corte ,d/•rL<III' Not.1r pontdluJ,, csbrJnqutç.Jd,,tl.l -.upertíctL'
lmtok'!;IC'' ,!c lt'ttl1 pl.!c·t'l1t.mo <'lll CJ\L' clt' f'IL'-t'LI.imp'>t,\, \à /'•l_l!lllldlcl.
mostrJndo nco·0.,L' tibrn1l1t,k e m.Kr,,f~~(" L''pumo~L'' 11.1
p.lrt'd,· cit' .trt,•n,,I.J '-''l'u.!bd.t. I o /'•r~u"r H·l.

Figura 20. 13 I C'or,lllgtom.J de lodtt.lÇJo!ttor.111ea. Cw:nJ,,


Figura 20.1 21 !\ fL,I,l ht,btif(,rme Ll'l11f'll't.t flcça de \w;tL' f'rtlL'mmêncta n.1 '>Lipcrliue tetJ! pl.!Lent.l lixJL'!J. I "crJ••IY,III<l l/9.
rcLlt'llll.l. com,\ c.\\'td.1de utennJ preend1td.1por 111.1~~.1 dt'
\'t'\l(UJ.\, de nlnteu,lo Ll.m1. :\u,e11u.1 de l~'lll. mcmbran.l' c
cordJoumbdt,.ll. I ,.,-l'•rgutd 'I~-

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Figura 26.5 I Doppler d.J.trtena cerebrJ! mcdt.l. I ~"~"/-'•l_l!lll!l.f.f/

\ III Noções Práticas de Obstet nc1a


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Fig ura 48.7 ll '.tpul.t- t'nlt'lll,llt>·<'''-·llll,lll\,h "'lllllll',l.tlh.h' Figura 48.8 1 Pl.t....l, "'nllu<.'nt''' .:m h.t\l' cntt·m.ll'"·'"'lll
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\ Noções Prát rcas de Obstetricra


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+S hor.1~ .1pns 111 IL Jll d.lcortiClltL'r,lp1.1 '>J'>l0mJC.\. Ver pagtrl<t ~-;;

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Figura 48.1 O l\1pul.1' L' pi.lCJ.' u rtJc.ml~1rme' '>l1brcpo11· Figura 48. 11 ll\ípul.ts e pu,tu iJ.s fi.llicul.lre' distnhuídJ'>
dl) ·" c'>lrl.l'> c pl~up.1 11do .1 rcgi;\ll pcriumbdic.ll m~ nwmbw '>llf'enor \ ;., P•lgllld ---
\ ;-, 1'"-~111<1 --6.

Figura 48.121 P.ipul.l' liqul'I1Jhc.ld.\\, h1perpguncnt.1Lb, e Figura 48.13 li ocm.l\ .ltOf'llLl cm m.11n.1 de gest,111tl'.
L'\(Orl,l\ÓL'>. \ t'l /'tlgll/il --9. \r r pâgtncl --9.

Pranchas Coloridas
XI
Sumário

PC Pranchas Co lo rid as

Seção 1 - Fisiologia da Gravidez

01 O vulação1 Fecundação e Nidação


Aro/do FtTi ltllltlo l ·tllll t11go.' . ( 'f,llldttl .\',ml/Ttl C.m·,dhtl /) lltlrtc l cntt l.' ,
flu:s /\ ul tTI/111 I )un /11.\CCIIU Ccll'ltffo l 'ru:: t'lrcJ, ,\ lcll'lclclct.' ( ;l'c/Çcl.\ Rocftcl dt' .'>.lllltlllcl ltlll ltllgo.' _ __ 03

02 Fisiolog ia Fet al
A lnn . 1/i·,·., /),·1111t111 ..\ f,mol )tcl' l 'onút /lllltor _ __ _ __ _ _ ______ I S

03 Adapt.1ção M.lterna à G r.w id ez


Cfâucltcl 1\c /1/IO.\ clt· Cc~n •aflt o I :t'ITt'll'cl , I ,ÍI'Icl J\ lurltl I ;111/ l l"t', D tc!llc! ( '&l n ·,d/i,Jh'ITt'l l"c l _ _ ___ J I

04 Feto1 13acia Ó ssea M aterna c M eca nismo do Parto


.\ l tll'lt1 I ) ftl,\ ltH'I't:tl
------- ------ - - - - -- ---- 51

Seção 2 - Assistência Pré-natal

OS Aco nselh amento P ré-co ncepcional


Rc~tllcl . \ ntcfttl L opc.' f>t·s:IOtlc lc. l~lllt ll: .\ l tiiW I ) tcl., Con 't't l/tnllor __________________ 6.3
06 Diagnóstico de Grav idez
i\ laríhet 1-ic/..:cr Hanan, Bernardo Hane111 -------------------------- 73

07 Assistência Pré-natal
J)L:&orctlt nemda::::o Barbosa de i\laga!ltcie~. Estt:f;illia Barbosa i\lagallub, Uvia ,\ furta 'f i u~t~rc - --83

08 Nutrição Materna
jotio Caln·lf:l Marques Fonseca, lvleírcia 1\ochet Pem::i - -- - ---- - -- - - - 115

09 Medica mentos
_ ______ ___ _ _ _ _ ___ 13 1
1\egillcl i\n1élia Lo1Je.' Pcs..;oa de Aguwr

10 Aspectos Básicos d a Genética em O bstetrícia


Alarws jo_q: Burle ele Agwat; n cgll tcl A111éltet Lopes H·ssoa ele Agwc1r ____ _ __ ___ 147

Seção 3 - Propedêutica Fetal

11 Ultrassonografi a
Cw Tard.w J\..la:::o11i ]1Íniln; Hevcrton Neves Pcllcrscll, Murcos Murilo de /,inw J7ana ~-----1 67

12 Perfil Biofísica Fetal


/\mato Frctnco Cwcluro, Joúo Oscar ele A!Incida Falceio f!Ínwr _________________ 189

13 Doppler
_______________________ 199
1/mnque \'tlor Lote. Calmei Co_,lct O:eltlc/11

14 Procedimentos Diagnósticos Invasivos


Jorge ele 1\c::mdc hllw, 1\ lc1r!'o.' c~Lunurct l'crctm, Ct11·los A11lonio Barbosa i\ l o11tcm~gro ______ 211

15 Cardiotocografia
i\ lclllllcl Muurício c:ol/çalvc..;, Frederico josL: 1\/ll ~dd H1rct _______ _ _ _ _ _ 22 1

Seção 4 - Intercorrências Gestacionais

16 Hiperemese Gravíd ic;1


1\cgllttl.illlt:f,tl Lopc.' Pc_.;socl ele Agutctr - - ---- - - - - -- ------- 239

17 Hemorragias na Primeira Metade da Gravidez


Frcdcnco jose Antàlec Pérd, ,\Ieiria DtclS Córrc·ct }tílliUI; Mmcríno Guilherme ( ·,mlpO.' Vtggimw.
Lct' Hrc~ga ele J>aulc1 249

18 Hemorragias na Segunda Metade da G ravidez


,\lemo Dw_, Corrêa júni01; Alâno Dias Corn;a, Renato ;\jc;c, Adriano Wagner ___ ______ 28 1
19 Alterações no Volume do Líquido Amniótico
\'tdor /Iugo de ,\ Ido, /ttliclltct H cl1T050 1-illlntcmtlltclltlt, Lattrct Alctiu _ _ _ _ _ _ _ 295
~

20 Anomalias da Placenta, do C ordão c das Membranas


______________________ 307
t\ nct ;vlcrna Arruda I,ctna, Da1ttcl Ri{Jetro Alornra

21 Parto Pré -termo


t\lcírio /)ia.' Co rrL:a /tínior ------------------------------- 321
22 Rotura Prematura de Membrana
Neil Sr~t·h ](·,wrct de Sou::: a, ncg111a i\ ntâta Lopes l'cssoa de Agtttar _ _ _ _______ 349

23 Gestação Múltipla
A1arcos ,\I urdo de L1111cl h ma, 1-fnnton Ncl't'.' Pchef.'(ll ----------- - - - - - - 363

24 Crescime nto lnt rauterino Restrito


;\ lemo /)ias Conútftínior ------------------------------385

25 Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia
Aluno /)tas Corn!a ]tínun; Mcíno 01a.\ Conú t ------------------------ 401

26 Doença H emolítica Perinata l


,\ lcíno I )ius Corn:a júnior, A lcíriv D111.' Con·c:cl ----------------------- 427

27 Hidropisia Fetal não Imune


Renato :\ugustv Alvrnra de Su, 1/mnogwcs Chlll't'S1 eH o, Lttncma de Harm.; Duarte _ ______ 447

28 Gestação Prolongada
,\lema /tílict \'inrct de Ohl'circt, Regina A111éhct LOJ'CS lh ..;oct de Aguiar - ------------- 457

29 Perda Gestacional de Repetição


Regtltct A111élra Lopes Pc..;soa de Aguuu; Renato Aug11sto J\!loretrct de Sâ,
h:ntct11du ( ·IIII II'"-' ela Stf,,a, IAtttdcl111o MctnflCC.\ l.ol'c.', fvlcliW.' jose Hur!t· de Ag111ar --------- 463

30 Mortalidade Materna
1\ cgtllll ;\mdut Lopes lh soa de Ag111ar, Su:::a11a Manct Pire..; do Rio _______________ 475

Seção 5 - Gravidez e Doença Coexistente

31 In fecções Genitais c Gravidez


Gere tido Duarte. Sdl'c111a Afaria Qtwttctllct, Co11rado A fila111 Coutinlw, Patríctcl t:l Rcrtttllt' ______ 485

32 Hipertensão Arterial Crônica


Reg111a 1\ ntdia Lopes Pessoa de1\gwcu; Cllrof111a !\ 111onm Harros ----------------- 499
33 Diabetes e Gravidez
Anclisc /n,pcli:icri ogucirc1 - - - -- - - - - - -- - - 511
34 Cardiopatia e Gravidez
O:: c~ r t\lcnwr ele l.i111a 1\c:wde, Clc~1ídia Marie I Vila.> Freire, Clóvis Anlànio Bucha - - - - 535

35 Doenças H em atológicas
I \'clll!lglon A/orai.' ele A::cl'cdo. l.ctícicl Roclw Borges ------------------- 553
36 Trombofi lias
Dtmtel D111.' Rdll'l/'0, ,-\ 11c1 Ueíl'lel Lconemli TibiÍrcw Ribeiro --------------- - - 573

37 Doenças Tromboembólicas: Tromboembolismo Pulmonar e Trombose Venosa Profunda


Uclltdlt!l\ lclrlcl \ 'dcl.' Freire 581

38 Doenças do Aparelho Urinário


Su:unei ;\ lc1rie1 J>irc.' elo l<io, lb1tri: A111dit1 ,\ lonlciro de Anclmclc - --------- - - 593

39 Aparelho Digestivo e Gravidez


/o.'L: ele Leutrmlys ;\/celeiros, jose de Lelltrmly.; ;\ lcclnros }1Í1110r ~--------- 621

40 Doenças da Tireoide na Gestação


Anchsc ln1pclt:rcn Nogucrrc1 - ------------------------- 635

41 Doenças Reumáticas
Crislrllel Coslu I )uartc Lm111el,1\ fa ria \litória l%/ua de Quintcro, I \fc dtcr Sou:e1 Barbo..;a _ _ _ 649

42 Câ ncer do Colo Uterino e Gravidez


;\gnc~ldo Lopc.' ele1 Stlvel Fi//1e1, Jvlaridllcl A Iaydcs Leite Seabra - - -------------- 667

43 Câncer de Mama e G ravidez


llennquc i\ lorclcs Sall'ador Sih,a, 1\ fanei Lctícia Lco11c Rodw, Gil/ler/o Silva /'ires --------- 677

44 Neoplasias não Ginecológicas


nobcrto Carlos I )uurlc. Rene1/o Nogucim Cvste1 _ _ __ _ __ _ _ _ _ 687

45 Doenças Pu lmonares na Gravidez


\ íllériel /vlclriel Augusto, Cleíudierlv~vncl/11 Anlclrcrl Botellw, 1\icarclo de A111orir11 Cordu ~--- 707

46 Doenças Neurológicas
Scmr/1 Tcixt'im Ct~lllellgos, Dc.:/10/'cl Pullllrl Alcllcl, Fmnci:it'O I:cluardo Costa Cardoso -------- 725
47 Transtornos Psiquiátricos na Gravide z e Puerpério
(;r.,lcllc Cri..;fillcl \ ;dc7dc1rC:i. 1-'ctlwício Cu1Tc.:a Durcio, Lucitlllcl \ 'alt~clare5 Ferrcirc1, ;\/igurl ( ;rossi hllw _ 741
48 Distúrbios Dermatológicos
,\ lt!rlll de Lourdcs l~ lbnro de Can'cl!lw, HmncfiiC \'Jtor Leite --------------------- 765
49 Urgências C línicas não Obst étricas
f-'l·t'dtTJco/os,· :\ lllcdce l'crd --------------------------------- 783

50 Principais Urgência s C irúrgicas não Obstétricas no C iclo Grávido-puerpcral


Sat'ro Co.'ltl (;,mç,t/1 ·,·.-;. I I 'tf,onl.lll: . \ l'rtllllc.' - --------------------- 795
51 Infecção pelo Vírus da Imunodefic iênci a Humana
\ 'lctor llugo de ,\ leio, /kt~ln: Alllchr~ :\nclnJclc .\ lonlt'l/'0,
F,d,ccllltl ,\ lcll'ltl f(tlk't'ilc/ St. /org.c ,\ndrcldc l'cnlo ______________________ 80S

52 Infecções Perinatai s
/ulw Cc.'clr c/,· Ftll'ltl Couto. fuhtllltl ,\ loy.,,._, l.nlc. Quc~1t1 '/ ;lllltll'tl ,\ lm111lc 1-',·,.,-cll'tl \ 'tlltilllll ____ 83 1

Seção 6 - Parto

53 Assistência ao Parto
1\ Itino D1c15 Conúl, ,\Ir~ no {)ltl.' Conú1/111110r - - -- - - -- - ---- 867
54 Apresentação Pélvica
1\ I r~ no Dlc/S ( 'orrêt1 ~------------------- 895

55 Indução do Parto
Anlo111o \ ·,,·m1 ,\ lc~t'h,1do ----- -- - - -- - - - -- - - 905
56 Parto Vaginal Operatório
.\ (,uw D1t1.' Corr,:tl ------------------------------- 915
57 Cesariana
.\ l,u·,·,·/o /ug,,b, I I ;,_l!,lltT R.oclngucs 1 /,·m,llld,·: - - - -- -- - - -- --- 927
58 Ana lges ia c Anestesia cm Obstetrícia
f>cllllo Cc_,, /I' d,·Al>rm Sr~lc.-;, ,\','11'/vn '/ t'I.\'Cirtl 1-'t-.u1co ---------------------- 935
59 Assistência ao Recém -na scido
1-'111110 Lctio, ,\-lantl !\lhcrlllltl Sllllfiii,I!.OI~cgo, f:'tllltlrdo c·clrlos -, ;ll'tii"CS, Lili:,\ lcgr~lc --------- 953

Seção 7 - Puerpério

60 Puerpéri o Fisiológ ico


Clol 'l.' : \ 111011/() Btlt'hll. c ::tlr. \ lci/Ct/1' de Lilllci l\c:mdc
--- - - - -- - - -- 975
61 Hemor ragia Pós-parto
Rc111lton ;\u-cs Líllla, Mariana Ataydcs 1.cllc Sca lwa, Agnaldo Lopes da Silva Fi/Iro _ _ _ _ 983

6 2 lnfecção Puerperal
Wi//ia /11 Scllllcidcr da Cruz Krettli, Maria A111élia Sannicnto Dias da Sil11a,
M1írio Di11s Corrêa júnior ---------------------------- 993
63 Anticoncepção no Puerpério
Alilmuy 'f t'l.mra Lc1lc Andmde, José Paixâo de Sou:::a ______________________ 1001

Seção 8 - Medicina Baseada em Evidências

64 Fundamentos da Medicina Baseada em Evid ências


I 'icto r Hugo de Melo, Su:::ana Maria Pires do R.io _______________________ 1009

IR Índice Remissivo ----------------------------------- 1029

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