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Protocolo Clínico

PROTOCOLO DE PROFILAXIA PARA TVP


DEFINIÇÃO
A trombose venosa profunda (TVP) caracteriza-se pela formação de trombos dentro de veias profundas, com
obstrução parcial ou oclusão, sendo mais comum nos membros inferiores (80-95% dos casos).
As principais complicações da TVP:
- Insuficiência venosa crônica
- Síndrome pós-trombótica (edema e dor nos MMII, mudança na pigmentação, ulceração na pele)
- Embolia pulmonar (EP): O tromboembolismo pulmonar (TEP) é a complicação aguda mais temível da trombose
venosa profunda, sendo a causa de morte evitável mais comum no paciente hospitalizado.

O termo tromboembolismo venoso (TEV) refere-se às seguintes condições patológicas: tromboembolismo pulmonar,
trombose associada a cateteres venosos centrais e trombose venosa profunda. Portanto, a profilaxia da TVP, irá
consequentemente prevenir outros tipos de TEV.
FATORES DE RISCO PARA TVP
Tríade de Virchow são os principais fatores diretamente ligados à gênese dos trombos:
1- Estase sanguínea;
2- Lesão endotelial
3- Estados de hipercoagulabilidade

CLASSIFICAÇÃO
A TVP nos membros inferiores é dividida, simplificadamente, segundo sua localização:
- Proximal (mais comum) - quando acomete veia ilíaca e/ou femoral e/ou poplítea.
- Distal - quando acomete as veias localizadas abaixo da poplítea.
O risco de EP e a magnitude da síndrome pós-trombótica (SPT) decorrente da TVP proximal são maiores.
SINAIS CLÍNICOS DA TVP
É importante destacar que a avaliação clínica sozinha não é suficiente para fazermos o diagnóstico ou descartarmos
o diagnóstico de TVP, pois em apenas 50% dos casos os achados clínicos se relacionam com a doença, o que significa
isso? Significa que nem sempre iremos achar sinais clínicos de dor, edema, eritema, empastamento da panturrilha, e
aumento da temperatura nos pacientes com TVP e assimetria maior que 3 cm entre as panturrilhas. Apesar de nem
sempre acharmos os sinais clássicos nos pacientes com TVP, isso não excluiu a importância do exame físico.

Quando desconfiar de TVP?

- Os três sintomas principais de TVP são os sinais flogísticos, principalmente quando é unilteral. O principal sinal
flogístico que nos indica que pode ser TVP é o edema. O edema tem uma especificidade de 33% e uma
sensibilidade de 97%.

Depois do principal sinal de TVP, que é o edema, vem a dor que tem uma sensibilidade 86% e calor com uma
sensibilidade de 72% e especificidade de 48%.
AVALIAÇÃO DE RISCO EM PACIENTES CLÍNICOS
RECOMENDA-SE que todos os pacientes internados, sejam avaliados quanto ao risco de desenvolver
tromboembolismo venoso. Caso este risco seja alto, RECOMENDA-SE a avaliação do risco de sangramento, antes que a
profilaxia farmacológica seja prescrita.
Considere o uso do escore de risco de PADUA e do escore IMPROVE para avaliação de risco de TEV e de
sangramento, respectivamente:

- Baixo risco de TEV: julgamento clínico e/ou pontuação < 4 no escore PADUA;

- Baixo risco de sangramento: julgamento clínico e/ou pontuação < 7 no escore IMPROVE;

- Alto risco de TEV: julgamento clínico e/ou pontuação ≥ 4 no escore PADUA;

- Alto risco de sangramento: julgamento clínico e/ou pontuação ≥ 7 no escore IMPROVE.

QUANDO UTILIZAR A PROFILAXIA FARMACOLÓGICA


- Pontuação no escore PADUA ≥ 4 e IMPROVE < 7

QUANDO NÃO UTILIZAR A PROFILAXIA FARMACOLÓGICA


- Pacientes com sangramento ativo ou que sejam de alto risco de sangramento (escore IMPROVE)

- Pacientes com baixo risco de desenvolver eventos tromboembólicos (escore PADUA)

- História pregressa de plaquetopenia induzida por heparina;


- Sangramento ativo – exceto epistaxe leve e sangramento menstrual fisiológico;

- Punção lombar dentro das últimas 04 horas;

- Punção lombar esperada nas próximas 12 horas;

- Procedimento cirúrgico esperado para as próximas 12 horas (se função renal normal suspende anticoagulantes
24 horas antes do procedimento cirúrgico; se função renal prejudicada suspender 48-72 horas da cirurgia)

- Se o paciente deve receber ou está recebendo anticoagulação terapêutica

OPÇÕES FARMACOLÓGICAS PARA PROFILAXIA


Recomenda-se que todos os pacientes sejam estimulados a iniciar a deambulação precocemente.
Considerar uso preferencial de Heparina de Baixo Molecular (HPBM) à Heparina não Fracionada (HNF)
 Enoxaparina (Heparina de Baixo Peso Molecular, Clexane®): 40mg/0,4ml SC 1x ao dia (horário preferencial às
20 hrs)
o Não se recomenda profilaxia com enoxaparina (40 mg) para pacientes com clearance de creatinina
inferior a 30mL/min.
 Enoxaparina 20mg/0,2ml – 1 seringa subcutânea de 24-24h (com horário preferencial as 20h) – essa dose é
reservada para pacientes com injúria renal aguda, insuficiência renal crônica dialítica ou não dialítica estágio IV
ou V (TFG <30ml/min). Todavia, nessa situação, CONSIDERE o uso preferencial de HNF.
 Heparina sódica (heparina não fracionada – HNF- Liquemine®) – ampola de 5.000UI/0,25ml – 1 ampola
subcutânea de 12-12h ou 8-8h.
o Tendemos fazer a HNF de 12/12 h quando o clearance de creatinina inferior a 30mL/min, e também em
pacientes idosos. Para os casos em que se optar pelo uso da heparina não fracionada na dose de 5.000
UI SC a cada 12 horas, sugere-se a coleta de TTPa 6 horas após a segunda dose. Se não houver alteração
neste tempo, podemos passar a administrar de 8/8 hrs, sendo importante outra medida de TTPa 1 dia
após essa mudança.
 Fondaparinux 2,5mg - 1 seringa subcutânea de 24-24h
o Esta droga ficará reservada para pacientes com história pregressa de trombocitopenia induzida por
heparina ou síndrome coronariana aguda. O uso do fondaparinux para profilaxia de TEV é contra
indicado em pacientes com TFG<30 ml/min e em pacientes com peso < 50 kg.

MEDICAÇÕES QUE DEVEM SER EVITADAS:


- Uso de ácido acetilsalicílico (AAS) ou outros agentes antiplaquetários como medida isolada para profilaxia
farmacológica de TEV;
- Utilização de meias de compressão graduada para profilaxia de tromboembolismo venoso em pacientes clínicos.

PROFILAXIA PARA A POPULAÇÃO GERAL


POPULAÇÃO GERAL:
- Neste grupo além dos pacientes sem comorbidades, incluem-se também os hepatopatas e pacientes
oncológicos
- O que MAIS usamos é a Enoxaparina 40 mg SC de 24/24 hrs
- Lembrar de avaliar escore de PADUA e IMPROVE
 PADUA > 4 (alto risco de eventos tromboembólicos)
 IMPROVE <7 (baixo risco de sangramento)- Não fazer a profilaxia quando os riscos do sangramento
superam os prováveis benefícios da intervenção
- Lembrar de avaliar todas as contraindicações
- Lembrar de avaliar função renal do paciente, se TGF< 30 iremos fazer o seguinte esquema:
 1° opção: Liquemine SC 5000 UI de 12/12 hrs
 2° opção: Enoxaparina 20 mg SC 24/24 hrs (se não tiver Liquemine no hospital)
- Em relação ao tempo, usar o tempo que o paciente permanecer internado/acamado.

PROFILAXIA PARA POPULAÇÕES ESPECIAIS


1. OBESOS:
CONSIDERE o uso de Enoxaparina na dose de 40mg a cada 12h para profilaxia de TEV em pacientes obesos, com IMC
acima de 40kg/m2 e que não apresente comprometimento importante da função renal (TFG<30ml/min).
Avalie o peso total do paciente, e não apenas o IMC. Pacientes com estatura baixa e IMC elevado podem não se
beneficiar de doses aumentadas de heparina.
2. PACIENTES COM DISFUNÇÃO RENAL:
CONSIDERE o uso de HNF à HBPM em pacientes com IRA, DRC dialítica e não dialítica estágio IV e V (TFG<30ml/min).
- 1° opção: Liquemine SC 5000 UI de 12/12 hrs – colher TTPa 1 vez ao dia (VR: 1,5 a 2,5)
- 2° opção: Enoxaparina 20 mg SC 24/24 hrs (se não tiver Liquemine no hospital)
3. PACIENTES OBESOS E COM COMPROMETIMENTO RENAL:
CONSIDERE o uso de HNF na dose de 5.000 ou 7.500 UI a cada 8h, para profilaxia de TEV em pacientes obesos, com IMC
acima de 40kg/m2 e que apresentem comprometimento importante da função renal (TFG<30ml/min).

4. AVE ISQUÊMICO:
NÃO realizar a profilaxia dentro das primeiras 24h após a utilização de trombolíticos. Avaliar os fatores de risco e
contraindicações.

5. HEMORRAGIA SUBARACNOIDEA:
NÃO fazer profilaxia farmacológica em pacientes com aneurisma não abordados. Somente iniciar a profilaxia
farmacológica 24 após a clipagem ou embolização do aneurisma, desde que se garanta uma hemostasia adequada e o
risco de sangramento seja baixo.
Considere o uso da profilaxia mecânica, quando disponível, na maioria dos pacientes com HSAE. Quando indicada,
considere o início da profilaxia mecânica, quando disponível, desde a admissão hospitalar.

6. AVE HEMORRÁGICO INTRAPARENQUIMATOSO:


Se disponível, RECOMENDA-SE o uso da compressão pneumática intermitente, o mais precocemente possível, com
início preferencial nas primeiras 72h do quadro.
PROFILAXIA PARA PACIENTES CIRÚRGICOS
RECOMENDA-SE que todos os pacientes sejam avaliados, durante o período pré-operatório, quanto ao risco de TEV
e sangramento. Deve-se levar em consideração o risco intrínseco do paciente (Ex: história pregressa de TEV,
comorbidades) e o risco associado ao procedimento.
Procedimentos não Ortopédicos:
Em pacientes que irão se submeter à cirurgias NÃO-ortopédicos devemos avaliar o risco de TEV de acordo com o
ESCORE DE CAPRINI:
- MUITO BAIXO RISCO: NÃO realizar profilaxia farmacológica, estimular a deambulação precoce.
- BAIXO RISCO: NÃO realizar profilaxia farmacológica, estimular deambulação precoce, hidratação adequada.
- MODERADO RISCO:
 Recomenda-se a profilaxia farmacológica na maioria dos pacientes, além de estimular deambulação
precoce, hidratação adequada.
 Considere o uso da heparina de baixo peso molecular em relação aos outros anticoagulantes. Avaliar se
o paciente tem função renal prejudicada, se tiver usar Liquemine ou ajustar a dose da Enoxa.
 Considere o uso da profilaxia mecânica, quando disponível, em pacientes com contraindicação ao
tratamento farmacológico.
- ALTO RISCO:
 Recomenda-se profilaxia farmacológica, além de estimular deambulação precoce, hidratação adequada.
 Considere o uso da heparina de baixo peso molecular em relação aos outros anticoagulantes. Avaliar se
o paciente tem função renal prejudicada usar Liquemine ou ajustar a dose da Enoxa.
 Considere o uso da profilaxia mecânica, quando disponível, em pacientes com contraindicação ao
tratamento farmacológico.
QUAL O MOMENTO DE SUSPENDER A PROFILAXIA ANTES DA CIRURGIA?
Se função renal normal suspende anticoagulantes 24 horas antes do procedimento cirúrgico;
Se função renal prejudicada suspender 48-72 horas antes da cirurgia.
PROFILAXIA ESTENDIDA
Considere a extensão da profilaxia farmacológica, por um período de 4 semanas, a pacientes submetidos a
cirurgias oncológicas abdominais ou pélvicas, que não apresentem risco aumentado de sangramento
PACIENTES ORTOPÉDICOS
Artroplastia de quadril e joelho e correção de fratura de quadril:
RECOMENDA-SE o uso rotineiro da profilaxia farmacológica (posologia da Enoxaparina: 40mg SC 24/24h).
Durante a internação, CONSIDERE o uso da heparina de baixo peso molecular em relação aos outros
anticoagulantes.
RECOMENDA-SE o retorno da medicação 12h após o procedimento.
CONSIDERE estender a profilaxia por no mínimo 10-14 dias, mas preferencialmente até 35 dias. Para profilaxia
estendida, em nível ambulatorial, considere o uso dos anticoagulantes orais diretos em relação à HBPM.

Pacientes com lesões em MMII distais ao joelho que requerem imobilização:


CONSIDERE o uso da profilaxia farmacológica com HBPM (posologia da enoxaparina: 40mg SC 24/24h), durante a
manutenção da imobilização, nos pacientes que apresentem outros fatores de risco de TEV associados, e não
apresentam contraindicações.
PROFILAXIA NAS GESTANTES
PERÍODO PRÉ-PARTO (GESTANTES NÃO HOSPITALIZADAS):
O risco de tromboembolismo venoso é aumentado em todos os trimestres da gravidez, especialmente no período
pós-parto. Embora a maioria das mulheres não necessitem de tromboprofilaxia, aquelas consideradas de alto risco
podem se beneficiar de medidas preventivas.
Quando uma gestante irá fazer profilaxia:
- História de episódio isolado de TEV idiopática e/ou;
- TEV associada à gravidez ou associada ao estrogênio e/ou;
- Múltiplos eventos tromboembólicos prévios, independentemente da causa
- História de trombofilia

Mantenha a profilaxia com HBPM até o parto, recomenda-se sua suspensão 24h antes da indução do trabalho de
parto ou cesariana. No pós-parto, considere a sua manutenção por 6 semanas.

GESTANTES INTERNADAS POR MOTIVOS QUE NÃO O PARTO:


Fazer a avaliação da presença de fatores de risco de TEV e sangramento a todas as gestantes internadas.
A gestante apresenta risco aumentado de TEV durante a hospitalização quando:
- História de episódio isolado de TEV idiopática e/ou;
- TEV associada à gravidez ou associada ao estrogênio e/ou;
- Múltiplos eventos tromboembólicos prévios, independentemente da causa;
- História de trombofilia;
- Pacientes admitidas por agravos clínicos ou cirúrgicas (Ex: pneumonia, sepse, lesão ortopédica);
- Pacientes com redução da mobilidade (> 3 dias) e um ou mais fatores de risco de TEV associados (Ex: obesidade,
idade materna avançada, doença crítica, malignidade, hiperestimulação ovariana).

GESTANTES INTERNADAS PARA O PARTO:


 Parto Vaginal:
- Se a paciente não tem fatores de risco para TEV, apenas estimular a deambulação precoce.
- Se a paciente apresenta fatores de risco para TEV realizar profilaxia com HBPM se não há
contraindicações.
 Parto cesárea:
- Se a paciente não tem fatores de risco para TEV, apenas estimular a deambulação precoce.
- Se a paciente apresenta fatores de risco para TEV realizar profilaxia com HBPM se não há
contraindicações.

*Lembrar que não precisamos fazer a profilaxia se essa gestante já faz o uso de anticoagulante, isso é válido para
todos os pacientes.

RECOMENDA-SE o uso da heparina de baixo peso molecular em relação aos outros anticoagulantes.

Anticoagulantes que são contraindicados durante a gestação: Dabigatrana, Rivaroxabana, varfarina;

Anticoagulantes que são permitidos na gestação: Apixabana, HBPM (Enoxaparina), HNF


PROFILAXIA PARA PACIENTE ACAMADOS
As evidências científicas são contrárias ao uso de profilaxia para TEV em pacientes acamados, exceto naquelas em
que há indicações precisas, como: FA, AVCi, após síndrome coronariana aguda, doença valvar mitral com ritmo sinusal,
fratura de fêmur ou quadril.
PROFILAXIA MECÂNICA
Meias de compressão graduada ou meias antitrombóticas, conforme disponibilidade;
- As meias de compressão exercem pressão graduada nas pernas, de forma que a pressão que elas exercem é
maior na região do pé e tornozelo e menor na região do joelho (3/4) ou na região da coxa (7/8).
- O grau e o nível de compressão irão depender do objetivo do tratamento. Os níveis de compressão na prática
clínica são: suave compressão (10-20 mmHg), média compressão (20-30 mmHg), alta compressão (30-40
mmHg), extra alta compressão (<40 mmHg)

Meias de compressão pneumática intermitente, conforme disponibilidade:


- Trata-se de um aparelho que envolve as pernas do paciente e que, ao se insuflar de ar de forma intermitente,
comprime as panturrilhas do paciente diminuindo assim a estase sanguínea e consequentemente o risco de
formação de trombos no local

Meia de compressão graduada Meias de compressão pneumática intermitente


*obs.: meias elásticas simples e fisioterapia motora não configuram formas de profilaxia mecânica estatisticamente
testadas e validadas.

Não há estudos suficientes para comprovar melhor eficácia dos métodos físicos, sobre a quimioprofilaxia. Portanto,
esta modalidade profilaxia deve ser escolha apenas nos casos em que houver contraindicação ao uso da profilaxia
química.

CONTRAINDICAÇÕES ABSOLUTAS à profilaxia mecânica:


- Fratura exposta;
- Infecção grave de MMII;
- Doença arterial periférica suspeita ou comprovada;
- Enxerto de pele recente;
- Alergia conhecida ao material de fabricação.

CONTRAINDICAÇÕES RELATIVAS à profilaxia mecânica:

- Presença de úlceras ou feridas;


- Neuropatia periférica ou outras causas de deficiência sensorial;
- Edema de MMII;
- Deformidade dos MMII, impedindo o ajuste adequado.

FLUXOGRAMA
REFERÊNCIAS
1. Protocolo Sírio Libanês. Hospital Sírio Libanês. Disponível em:
https://www.hospitalsiriolibanes.org.br/institucional/gestao-da-qualidade/Documents/2018-11-01-protocolos/
Protocolo%20TEV/Protocolo%20TEV_VF.pdf . Acesso em 15/01/2022
2. AMARAL, Cristina et al. Recomendações Perioperatórias para Profilaxia do Tromboembolismo Venoso no Doente
Adulto. Consenso Nacional Multidisciplinar 2014. Revista Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, 2014, v. 23, n. 3, p. 1-
14, 7 jan. 2014. DOI https://doi.org/10.25751/rspa.4831. Disponível em:
https://revistas.rcaap.pt/anestesiologia/article/view/4831. Acesso em: 17 jan. 2022.
3. Protocolo Santa Casa de BH. Santa Casa de BH. Disponível em:
http://www.santacasabh.org.br/app/webroot/files/uploads/Protocolo%20sobre%20profilaxia%20de
%20tromboembolismo%20venoso.pdf . Acesso em 15/01/2022.
4. Pai M, Douketis JD. Prevention of venous thromboembolic disease in surgical patients: literature review current
through Mar 2018; disponível em www.uptodate.co.
5. National Institute for Health and Care Excellence (2018): Venous thromboembolism in over 16s: reducing the risk of
hospital-acquired deep vein thrombosis or pulmonar embolism (NICE Guideline 89). Disponível em:
https://www.nice.org.uk/guidance/ng89.
6. Caprini JA, Hyers TM. Compliance with antithrombotic guidelines. Manag Care. 2006;15(9):49-66.
Protocolo Clínico

PROTOCOLO CLÍNICO DE PROFILAXIA DE ÚLCERA DE ESTRESSE EM


PACIENTES HOSPITALIZADOS
DEFINIÇÃO
Ulceração por estresse é definida como ulceração do trato gastrointestinal superior (GI) (esôfago, estômago,
duodeno) que ocorre devido à hospitalização.
A hemorragia de ulceração por estresse é o sangramento GI secundário (ou seja, sangramento nosocomial), que
é diferente do sangramento GI primário (ou seja, sangramento GI que resulta em hospitalização).
A prevenção de sangramento gastrointestinal de úlceras de estresse é conhecida como profilaxia de úlcera de
estresse.

EPIDEMIOLOGIA
Sangramento digestivo clinicamente importante em UTI tem incidência de 1,5 a 5%, destes, aproximadamente
40% são realmente devido à úlcera por estresse. Nesses casos, ocorre aumento do tempo de internação em 8 dias, com
mortalidade atribuída de 50%.

FISIOPATOLOGIA
As úlceras de estresse resultam de um desequilíbrio entre a produção de fatores protetores da mucosa e da
produção de ácido gástrico.
A proteção da mucosa fica prejudicada pelo aumento concentrações de sais biliares refluídos ou toxinas
urêmicas, que são comuns em pacientes críticos. Além disso, a síntese da barreira mucosa pode ser diminuída quando
há má perfusão intestinal causada por hipovolemia, choque, sepse ou trauma.
Além disso, ocorre hipersecreção de ácido devido ao excesso de gastrina por estimulação de células parietais. Esse fator
não se apresenta em todos os casos, pois a produção de ácido pode estar normal em muitos pacientes críticos.

QUADRO CLÍNICO
Deve-se suspeitar de sangramento de úlceras de estresse em pacientes criticamente enfermos com evidência de
hematêmese, melena, anemia e/ou hipotensão e choque.
Para aqueles com sangramento evidente e/ou clinicamente significativo, a endoscopia é normalmente indicado,
particularmente quando os resultados podem afetar a tomada de decisão e/ou há suspeita de lesão potencialmente
tratável. O diagnóstico é tipicamente confirmado pela visualização de lesões superficiais/erosões na mucosa gástrica na
avaliação endoscópica.
Nos casos de sangramento oculto, o diagnóstico é presuntivo e a maioria dos especialistas não realiza endoscopia
diagnóstica. A maioria dos especialistas trata o sangramento oculto usando uma estratégia de aumento vigilância e
otimização de agentes profiláticos.

USAR A PROFILAXIA EM TODOS OS PACIENTES?

NÃO. O uso indiscriminado dessa profilaxia em todos os pacientes não se justifica, têm potenciais efeitos
adversos, interações com a alimentação e remédios e implicações de custos.
O uso indiscriminado da profilaxia para úlcera de estresse se iniciou com a disseminação do FAST HUG.
 Análises evidenciam o risco aumentado de pneumonia associada à ventilação mecânica e de infecção por
Clostridium Difficile na unidade de terapia intensiva em pacientes que utilizam medicações para profilaxia de
úlcera por estresse.
 IBP gera diminuição do ácido estomacal, causando inibição da absorção de cálcio.
 Redução da eficácia do Clopidogrel: ocorre por inibição competitiva do citocromo CYP2C19, que é necessário
para metabolizar o Clopidogrel em sua forma ativa.
 A supressão ácida causa redução da absorção de magnésio, ferro e vitamina B12
USAR EM QUEM?
Utilizar em pacientes com ALTO RISCO para sangramento clínico importante.

Estudos mostraram dois principais fatores de risco para sangramento significativo causado por úlceras de
estresse: ventilação mecânica por mais de 48 horas e coagulopatia, definida como uma contagem de plaquetas <
50.000, RNI>1,5, ou um TTPA>dobro do valor de controle.
A incidência de sangramento GI clinicamente importante entre pacientes com um ou ambos desses fatores de
risco foi de 3,7% em comparação com 0,1% entre os pacientes sem nenhum fator de risco.

Pacientes com qualquer uma das seguintes características são considerados com alto risco para sangramento, e,
portanto possuem indicação para utilização de profilaxia:
 Ventilação mecânica > 48 horas
 Coagulopatia (plaquetas < 50.000 ou RNI>1,5 ou TTPA > 2x valor de controle);
 História de ulceração GI ou sangramento GI no último ano;
 Trauma cranioencefálico;
 Trauma raquimedular;
 Grandes queimaduras (>35% da superfície corporal total);
 Uso de AINES ou de antiagregantes plaquetários;
 Paciente em ECMO (Membrana de Oxigenação Extra Corpórea)
 Dois ou mais dos seguintes critérios menores: sepse, internação na UTI mais de uma semana, sangramento GI
oculto por seis ou mais dias ou terapia com glicocorticoides (mais de 250 mg de hidrocortisona ou
equivalente – 60 mg de Prednisona).

OBS: As evidências ainda são insuficientes para justificar o uso da profilaxia em pacientes com nutrição enteral ou com
infecção por Helicobacter pylori, portanto não é indicado até o momento.

PACIENTES DE BAIXO RISCO PODEM FAZER PROFILAXIA?


Entre os pacientes críticos que não são considerados de alto risco para
sangramento GI (por exemplo, pacientes ventilados por menos de 48 horas,
poucas morbidades, sem coagulopatia ou história de sangramento GI), a
profilaxia deva ser ponderada caso a caso.
Lembrar que o benefício será baixo, dada a baixa taxa basal de
sangramento neste população (provavelmente <1 por cento).
Fatores que influenciam na decisão de administrar profilaxia em
pacientes de baixo risco incluem: nutrição enteral, a gravidade da doença do
paciente, número de comorbidades e outros fatores de risco que podem
aumentar o risco de sangramento.
Os fatores que influenciam a escolha do agente e a duração da
profilaxia são semelhantes aos pacientes de alto risco.

QUAL DROGA UTILIZAR?

Um inibidor da bomba de prótons (IBP) oral é preferido em vez de um agente profilático alternativo.
 Essa preferência é baseada em ensaios randomizados e meta-análises que relatam que os IBPs são mais eficazes
do que outros agentes. No geral, as evidências favorecem os IBPs com base em meta-análises que relatam
possível superioridade de IBPs na redução de sangramento GI clinicamente importante em comparação com
bloqueadores H2. No entanto, a evidência é limitada porque muitos dos estudos eram imprecisos ou tinham
outras falhas metodológicas significativas (pacientes com trauma, queimaduras graves ou lesão medular foram
excluídos).
Há preferência de IBP oral do que o endovenoso. Para pacientes críticos que não podem receber medicações enterais,
preferimos um IBP intravenoso (IV).

Nos Estados Unidos, o pantoprazol é o IBP mais comumente prescrito na UTI para profilaxia, embora não haja dados
comparativos entre os IBPs que sugiram que um é superior ao outro. Da mesma forma, não há dados comparando
bloqueadores H2 entre si. Ou seja, dentro de uma classe escolhida, muitos médicos prescrevem um agente que é
determinado pelo hospital ou baseado em sua prática médica.
Exceção é feita aos pacientes em uso de antiagregação plaquetária com Clopidogrel , cujo efeito pode ser reduzido, já
que há uma inibição da enzima CYP2C19 (necessária para conversão da pró-droga) pelos IBP. Nestes casos, deve-se
realizar a profilaxia com antagonista H2.
POSOLOGIA
 Omeprazol 20mg VO MID ou Omeprazol 40mg EV MID
 Ranitidina 50mg EV 8/8 horas ou Ranitidina 150mg VO 12/12 horas.

DURAÇÃO DA PROFILAXIA

A profilaxia deve ser descontinuada quando o paciente não estiver mais em risco de ulceração por estresse. No
entanto, os critérios que indicam quando é seguro retirar a profilaxia, ainda estão em falta. No entanto, a maioria dos
especialistas considera descontinuar a profilaxia após a alta da UTI (ou seja, o paciente não está mais gravemente
doente), a menos que haja permanência dos fatores de risco (por exemplo, coagulopatia, positividade de sangue
oculto).
FLUXOGRAMA

REFERÊNCIAS
Naseem Eisa, MD, Fateh Bazerbachi, MD, Abdul Hamid Alraiyes, MD and M. Chadi Alraies, MD. Do all hospitalized
patients need stress ulcer prophylaxis? Cleveland Clinic Journal of Medicine January 2014, 81 (1) 23-25; DOI:
https://doi.org/10.3949/ccjm.81a.13070

FILHO, Roberto Rabelo. Guia do Episódio de Cuidado - Profilaxia de Úlcera por Estresse. Albert Einstein- Sociedade
Beneficente Israelita Brasileira, 2021.

G.L. Weinhouse. Stress ulcers in the intensive care unit: Diagnosis, management, and prevention. UpToDate. Disponível
em: https://www.uptodate.com/contents/stress-ulcers-in-the-intensive-care-unit-diagnosis-management-and-
prevention. Acesso em: 10 jan. 2022

Elizabeth Buss Lunardelli. Protocolo Clínico – Profilaxia De Úlcera De Estresse. Universidade Federal de Santa Catarina-
Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani De São Thiago- Serviço De Terapia Intensiva. JULHO/2016

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