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ATIVIDADE LABORATORIAL

MOVIMENTO NUM PLANO INCLINADO: VARIAÇÃO DA ENERGIA CINÉTICA E


DISTÂNCIA PERCORRIDA

APRENDIZAGEM ESSENCIAL
Estabelecer, experimentalmente, a relação entre a variação de energia cinética e a distância
percorrida por um corpo, sujeito a um sistema de forças de resultante constante, usando processos
de medição e de tratamento estatístico de dados e comunicando os resultados.

EXPLORAÇÃO DA ATIVIDADE LABORATORIAL


A. REGISTO DE DADOS
Exemplos de valores obtidos na realização da atividade.
Tabela I – Incertezas absolutas de leitura

Instrumento de medida Grandeza medida Incerteza absoluta de leitura

Cronómetro digital Intervalo de tempo 0,0001 s ou 1 × 10−4 s

Craveira digital Largura ou diâmetro 0,00001 m ou 1 × 10−5 m

Régua ou fita métrica Distância percorrida 0,0005 m ou 5 × 10−4 m

Balança digital Massa 0,00001 kg ou 1 × 10−5 kg

Transferidor Inclinação 0,5° ou (5 × 10−1 )°

Uma vez que, a massa do carrinho, o diâmetro do pino do carrinho e o intervalo de tempo de
passagem do pino pelo feixe da fotocélula foram medidos com instrumentos com escalas digitais
(a medida é indicada por um número), considera-se a incerteza absoluta de leitura igual a uma
unidade do último dígito de leitura.
No entanto, o ângulo de inclinação do plano e a distância percorrida pelo carrinho no plano foram
medidos usando instrumentos com escalas analógicas, pelo que a sua incerteza absoluta de
leitura se considera metade do valor da divisão menor da escala. No caso da régua, por exemplo,
a menor divisão da escala é 0,1 cm, pelo que a incerteza absoluta de leitura associada será
0,05 cm, mas pelo facto de esta régua estar marcada na calha não permitindo uma elevada
aproximação da escala à posição inicial do pino do carrinho nem à posição do feixe da célula
fotoelétrica talvez fosse mais correto estimar uma incerteza absoluta de leitura na casa dos
0,5 cm.
Tabela II – Registo das medidas
Largura da tira opaca ou
Grandeza Massa do carrinho Inclinação do plano
diâmetro do pino
Medida 𝑚 = 6,781 × 10−2 kg ± 0,001 × 10−2 kg Δ𝑥 = 6,40 × 10−3 m ± 0,01 × 10−3 m 𝜃 = 5,5° ± 0,5°

Tabela III – Registo de medidas em diferentes posições

Grandeza medida

Distância percorrida Intervalo de tempo de passagem pela célula fotoelétrica


Posição
𝒅 ⁄𝐦 𝚫𝒕⁄𝐬

A 0,150 0,0137 0,0138 0,0137


B 0,300 0,0095 0,0099 0,0099
C 0,450 0,0081 0,0080 0,0081
D 0,600 0,0068 0,0071 0,0070
E 0,750 0,0065 0,0064 0,0065

B. TRATAMENTO DE RESULTADOS
1. Exemplo de tratamento de resultados para completar a tabela do tratamento dos dados/resulta
dos da atividade:
Posição ̅̅̅⁄𝐬
𝚫𝒕 |𝒅𝐢 |⁄𝐬 𝑰𝐚 ⁄𝐬 𝑰𝐫 ⁄% Resultado da medida do 𝚫𝒕 𝒗⁄𝐦 𝐬 −𝟏 𝑬𝐜 ⁄𝐉

0,0000 Δ𝑡A = (0,0137 ± 0,0001) s


A 0,0137 0,0001 0,0001 0,7 Ou 0,467 7,39 × 10−3

0,0000 Δ𝑡A = 0,0137 s ± 0,7 %

0,0003 Δ𝑡B = (0,0098 ± 0,0003) s


B 0,0098 0,0001 0,0003 3 Ou 0,653 1,45 × 10−2

0,0002 Δ𝑡B = 0,0098 s ± 3 %

0,0000 Δ𝑡C = (0,0081 ± 0,0001) s


C 0,0081 0,0001 0,0001 1 Ou 0,790 2,12 × 10−2

0,0000 Δ𝑡C = 0,0081 s ± 1 %

0,0002 Δ𝑡D = (0,0070 ± 0,0001) s


D 0,0070 0,0001 0,0002 3 Ou 0,914 2,83 × 10−2

0,0000 Δ𝑡D = 0,0070 s ± 3 %

0,0000 Δ𝑡E = (0,0065 ± 0,0001) s


E 0,065 0,0001 0,0001 2 Ou 0,985 3,29 × 10−2

0,0000 Δ𝑡E = 0,0065 s ± 2 %


Exemplo para determinar:
• o valor mais provável dos intervalos de tempo de passagem na célula fotoelétrica, intervalo de
̅̅̅), para cada posição;
tempo médio (Δ𝑡
̅̅̅A = Δ𝑡A1 +Δ𝑡A2 +Δ𝑡A3 ⇒ Δ𝑡
Δ𝑡 ̅̅̅A = 0,0137+0,0138+0,0137 ⇔ Δ𝑡
̅̅̅A = 0,0137 s.
3 3

• os valores absolutos dos desvios (|𝑑i |) dos valores dos intervalos de tempo de passagem na
célula fotoelétrica em relação ao valor mais provável, para cada posição
|𝑑A1 | = |Δ𝑡A1 − ̅̅̅
Δ𝑡A | ⇒ |𝑑A1 | = |0,0137 − 0,0137| ⇔ |𝑑A1 | = 0,000 s.
|𝑑A2 | = |Δ𝑡A2 − ̅̅̅
Δ𝑡A | ⇒ |𝑑A2 | = |0,0138 − 0,0137| ⇔ |𝑑A2 | = 0,001 s.
|𝑑A3 | = |Δ𝑡A3 − ̅̅̅
Δ𝑡A | ⇒ |𝑑A3 | = |0,0137 − 0,0137| ⇔ |𝑑A3 | = 0,000 s.
• a incerteza absoluta (𝐼𝑎 ) associada ao valor mais provável dos intervalos de tempo de
passagem na célula fotoelétrica para cada posição;
Neste caso, a incerteza absoluta de observação, que corresponde ao valor absoluto do desvio
máximo, 0,0001 s, é igual ao valor da incerteza absoluta de leitura, 0,0001 s, pelo que a
incerteza absoluta também assume esse valor. Então: 𝐼a,A = 0,0001 s.

Assim, o resultado do valor do intervalo de tempo de passagem do carrinho pela célula


fotoelétrica na posição A em função da respetiva incerteza absoluta é:
̅̅̅A ± 𝐼a,A ) s ⇒ Δ𝑡A = (0,0137 ± 0,0001) s
Δ𝑡A = (Δ𝑡
• a incerteza relativa (𝐼r ), em percentagem, associada ao valor mais provável dos intervalos de
tempo de passagem na célula fotoelétrica para cada posição;
A incerteza relativa em percentagem pode determinar-se pela expressão:
𝐼 a,A 0,0001
𝐼r,A (%) = Δ𝑡
̅̅̅̅ × 100 ⇒ 𝐼r,A
(%) =
0,00137
× 100 = 0,7 %.
A

Então, o resultado do valor do intervalo de tempo de passagem do carrinho pela célula


fotoelétrica na posição A em função da respetiva incerteza relativa em percentagem é:
Δ𝑡A = ̅̅̅
Δ𝑡A s ± 𝐼r,A % ⇒ Δ𝑡A = 0,0137 s ± 0,7 %.
• o valor da velocidade do carrinho, ao atravessar a célula fotoelétrica, em cada posição;
O valor da velocidade do carrinho em cada uma das posições pode ser determinado usando a
Δ𝑋
expressão: 𝑣𝑚 = Δ𝑡
, onde Δ𝑋 corresponde ao diâmetro do pino (ou da tira opaca) e Δ𝑡 ao

respetivo intervalo de tempo de passagem na célula fotoelétrica.


De facto, ao longo da descida o carrinho não apresenta velocidade de módulo constante, o
movimento do carrinho não é uniforme! No entanto, o intervalo de tempo associado à passagem
do pino do carrinho pelo feixe da célula fotoelétrica é extremamente reduzido pelo que a
variação do módulo da velocidade nesse intervalo de tempo também será muito pequena.
Assim, para estes intervalos de tempo muito reduzidos, o módulo da velocidade pode
considerar-se aproximadamente constante e, portanto, equivalente ao valor da velocidade
média nesse intervalo de tempo, sendo, por isso, possível aplicar a referida expressão como:
Δ𝑋
v= Δ𝑡
.
6,40×10−3
Então, para a posição A, o valor da velocidade será: 𝑣 =
0,0137
= 0,467 m s −1 .

Note-se que, tratando-se de um quociente, o resultado deverá apresentar o mesmo número de


algarismos significativos do termo com menor número de algarismos significativos, três, pois
neste caso tanto o numerador como o denominador apresentam três algarismos significativos.
• a energia cinética do carrinho em cada posição.
1
O cálculo da energia cinética para cada posição é determinado pela expressão: 𝐸c = 2 𝑚𝑣 2 .
1
Assim, para a posição A, tem-se: 𝐸c = 2 × 6,781 × 10−2 × 0,4672 = 7,39 × 10−3 J.

Tratando-se de um produto, o resultado também deverá apresentar o mesmo número de


algarismos significativos do termo com menor número de algarismos significativos, neste caso,
três.

2. Utilizando a calculadora gráfica ou uma folha de cálculo, trace o gráfico da variação da energia
cinética do carrinho em função da distância percorrida pelo carrinho no plano e determine a
equação da reta que melhor se ajusta ao conjunto de pontos experimentais.
Para realizar esta tarefa deve começar-se pela introdução, numa calculadora gráfica ou numa
folha de cálculo, dos valores da distância percorrida pelo carrinho e da respetiva variação da
energia cinética, em duas colunas distintas, depois construir-se o gráfico de dispersão com esses
pontos e, posteriormente, adicionar-se a reta de ajuste ao conjunto dos pontos experimentais.

𝒅 ⁄𝐦 𝚫𝑬𝐜 ⁄𝐉

0 0

0,150 7,39 × 10–3

0,300 1,45 × 10–2

0,450 2,12 × 10–2

0,600 2,83 × 10–2

0,750 3,29 × 10–2

C. ANÁLISE DE RESULTADOS
Comunique ao professor os resultados obtidos, destacando, entre outros aspetos:
• a qualidade da reta de ajuste ao conjunto de pontos experimentais;
• a relação entre a variação da energia cinética de translação do carrinho e a distância percorrida
ao longo do plano inclinado;
• a adequação dos procedimentos efetuados aos objetivos a alcançar nesta atividade.
Analisando o gráfico verifica-se que o conjunto dos pontos experimentais estão bastante
alinhados numa orientação oblíqua. A reta de ajuste obtida corrobora esta análise pois permite
constatar que praticamente todos os pontos experimentais pertencem à reta obtida (o que é
ainda comprovado com um coeficiente de correlação, r, muito próximo de 1). Note-se que o
único parâmetro da reta com significado físico é o seu declive. O facto de existir uma ordenada
na origem não nula, quando não se impõe a passagem da reta pelo ponto (0; 0), resulta das
incertezas das medidas.
Assim, a reta de ajuste obtida para o conjunto dos pontos experimentais, 𝑦 = 4,58 × 10−2 𝑥,
corres ponde a uma linha reta que passa na origem. Atendendo às variáveis independente e
dependente presentes no gráfico essa equação traduz a relação, Δ𝐸c = 4,58 × 10−2 𝑑 (J). Pode,
então, concluir-se que a variação da energia cinética do carrinho é diretamente proporcional à
distância percorrida pelo mesmo ao longo do plano inclinado.

Saliente-se que, se a energia cinética inicial for nula, a energia cinética final também será
diretamente proporcional à distância percorrida, mas se existir energia cinética inicial, diz-se
apenas que a energia cinética final é proporcional à distância percorrida.
O procedimento experimental que foi seguido possibilitou a realização de medições, diretas e
indiretas, de várias grandezas físicas que conduziram à obtenção de um conjunto de dados
experimentais para a realização do tratamento estatístico previsto.
O tratamento destes dados, além de permitir verificar experimentalmente algumas das
previsões teóricas, como o aumento da energia cinética do carrinho ao longo do plano, também
permitiu estabelecer, experimentalmente, a relação de proporcionalidade direta entre a
variação de energia cinética e a distância percorrida por um corpo, sujeito a um sistema de
forças de resultante constante, com um grau de confiança considerável.
Portanto, tendo possibilitado o cumprimento integral das aprendizagens previstas para a
atividade pode considerar-se adequado o procedimento realizado.

QUESTÕES PÓS-LABORATORIAIS
1. Se em vez de variação da energia cinética a variável dependente fosse a energia cinética de
translação do carrinho no final da distância percorrida ao longo do plano inclinado, o gráfico
obtido seria igual ou diferente? Justifique a sua resposta.
O gráfico obtido seria igual. Uma vez que o carrinho parte do repouso, a sua energia cinética
inicial é nula. Nesta condição, a energia cinética de translação do carrinho no final da distância
percorrida ao longo do plano inclinado é igual à variação da energia cinética do carrinho nesse
percurso. Então, a energia cinética final também será diretamente proporcional à distância
percorrida, sendo igual o gráfico obtido.

2. Se o carrinho apresentasse uma velocidade inicial, o valor da energia cinética no final da rampa
seria diferente do valor obtido? E que semelhanças e diferenças apresentariam os gráficos
Δ𝐸c = 𝑓(𝑑) e 𝐸c = 𝑓(𝑑)? Justifique a sua resposta.
Sim, o valor da energia cinética no final da rampa seria diferente caso o carrinho tivesse uma
velocidade inicial.
Mantendo constantes as restantes condições experimentais, se o carrinho apresentar uma
velocidade inicial ele inicia o movimento com energia cinética. Assim, a energia cinética
apresentada pelo carrinho ao longo do movimento no plano inclinado seria superior à que
apresenta partindo do repouso, pois neste caso acresce a esse valor a energia cinética inicial do
carrinho.
Assim, o gráfico Δ𝐸c = 𝑓(𝑑) seria igual quer o carrinho partisse do repouso quer apresentasse
velocidade inicial. No entanto, o gráfico 𝐸c = 𝑓(𝑑) seria igual ao gráfico Δ𝐸c = 𝑓(𝑑) no caso em
que o carrinho parte do repouso, mas na situação em que o carrinho apresenta velocidade inicial
não. Neste caso, o declive também é igual, no entanto, passa a apresentar uma ordenada na
origem que corresponde à energia cinética inicial, pelo que apenas se pode dizer que as
grandezas são proporcionais.

3. Considere que o conjunto utilizado na atividade experimental era de atrito reduzido.


3.1. Deduza a expressão que permite determinar teoricamente
o declive da reta que se obtém ao traçar o gráfico da
variação da energia cinética do carrinho em função da
distância percorrida.

Uma vez que se utilizou um carrinho de atrito reduzido, podem considerar-se desprezáveis as
forças de atrito. Assim, no carrinho atuam a força normal do plano e o peso do carrinho.
Então, o trabalho da força resultante que atua no carrinho será: 𝑊𝐹⃗R = 𝑊𝐹⃗g + 𝑊𝑁⃗⃗
Uma vez que a força normal atua numa direção perpendicular ao plano e o carrinho se
movimenta na direção do plano, esta força atua numa direção perpendicular à direção do
deslocamento.
No caso do peso, este apresenta uma direção cujo ângulo relativamente à direção do desloca
mento (α) é igual ao ângulo entre a direção vertical e a direção do plano (β). Pela análise do
triângulo do plano que representa o plano inclinado também se verifica que o ângulo (β) é o
complementar ao ângulo entre a direção horizontal e a direção do plano (θ), logo,
𝛼 = 𝛽 = 90° − 𝜃.
Então:
𝑊𝐹⃗R = 𝐹g Δ𝑟 cos 𝛼 + 𝑁Δ𝑟 cos 90° ⇒ 𝑊𝐹⃗R = 𝐹g Δ𝑟 cos 𝛼 .

De acordo com o teorema da energia cinética, 𝑊𝐹⃗R = Δ𝐸c , logo: 𝐹g Δ𝑟 cos 𝛼 = Δ𝐸c . Sendo o valor
do deslocamento, Δr, igual à distância percorrida pelo carrinho, d, tem-se Δ𝐸c = 𝐹g 𝑑 cos 𝛼 .
Assim, o declive do gráfico Δ𝐸c = 𝑓(𝑑) corresponde a 𝐹g cos 𝛼 , isto é, declive = 𝐹g cos 𝛼 .
Sabendo que cos 𝛼 = cos(90° − 𝜃) = sen 𝜃, o declive do plano inclinado pode obter-se pela
expressão: 𝐹g sen θ.
Resulta então que o declive = 𝐹g sen θ. Note-se que 𝐹g sen θ corresponde à intensidade da
componente da força gravítica na direção do movimento, ou seja, à intensidade da força
resultante (𝐹R ).
3.2. Compare a inclinação do plano obtida (experimentalmente) a partir da reta de ajuste com o
valor medido diretamente, determinando o erro relativo em percentagem.
De acordo com a expressão obtida na alínea anterior, partindo do valor obtido para o declive
da reta de ajuste aos pontos experimentais o valor do ângulo de inclinação do plano é:
declive = 𝐹g sen θ ⇒ 0,0458 = 6,781 × 10−2 × 10 × sen θ ⇔ θ = 4,1°
Assumindo, por exemplo, como valor de referência o valor do ângulo de inclinação do plano
medido diretamente, pode considerar-se que o erro relativo percentual foi:
|4,1−5,5|
𝑒r (%) = × 100 ⇒ 𝑒r (%) = 20 %
5,5

3.3. Explique o que aconteceria ao declive da reta do gráfico da variação da energia cinética em
função da distância percorrida se o carrinho apresentasse o dobro da massa.
Analisando a expressão obtida que permite determinar o declive da reta do gráfico Δ𝐸c = 𝑓(𝑑),
declive = 𝐹g sen θ = 𝑚𝑔 sen θ, verifica-se que a massa do carrinho é diretamente proporcional
ao declive pelo que, aumentando a massa do carrinho para o dobro também o declive duplica,
logo obtém-se uma reta com o dobro do declive.

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