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Sobre a Função do Comportamento-Problema*

Ilma A. Goulart de Souza Britto**


Gina Nolêto Bueno
Paula Virgínia Oliveira Elias
Roberta Maia Marcon
Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Análise do Comportamento é, ao mesmo tempo, um campo de estudo, uma

disciplina e uma ciência que possui uma abordagem empírica para entender e influenciar o

comportamento do indivíduo em uma ampla gama de ambientes. Essa ênfase no

comportamento dos indivíduos tem suas raízes em processos básicos de pesquisa com

sujeitos animais e humanos, com ênfase nos estudos experimentais pioneiros

sistematizados por I. Pavlov (1849-1936) e B. F. Skinner (1904-1990) (Madden, 2013).

Dentro de uma visão geral da Análise do Comportamento, o método de pesquisa

indutivo, juntamente com os delineamentos experimentais de caso único, é adotado pela

análise experimental do comportamento, bem como pela análise do comportamento

aplicada. Esta última se fundamenta na orientação teórica e experimental da ciência

Análise do Comportamento e, como campo de estudo aplicado, se distingue da pesquisa

básica traduzindo os princípios comportamentais à condução de pesquisas em áreas

práticas da vida cotidiana, relativamente inexploradas o que, certamente, ampliará o

impacto e o alcance da ciência do comportamento (Lerman, Iwata & Hanley, 2013).

A análise do comportamento aplicada se preocupa em explicar melhor a função do

comportamento problemático. Uma sociedade disposta a considerar uma tecnologia de seu

próprio comportamento apoiará essa aplicação quando relacionada a comportamentos

socialmente importantes, tais com retardamento, crime, transtorno mental ou educação de

*Britto, I. A. G. S., Bueno, G. N., Elias, P. V. O. & Marcon, R. M (2013). Sobre a função do
comportamento-problema. In A. B. Pereira (Org.), Psicologia da PUC Goiás na Contemporaneidade, (pp.
29-44). Goiânia: Editora PUC Goiás. / ** Os nomes das segundas autoras estão em ordem alfabética.
acordo com Baer, Wolf e Risley (1968). Em outras palavras, os consumidores

serão os juízes finais do trabalho aplicado e a validade social referir-se-á aos julgamentos

sobre três aspectos da análise do comportamento aplicada: (a) o significado dos objetivos

(b), a aceitabilidade de procedimentos, e (c) a importância dos efeitos (Hagopian, Dozier,

Rooker & Jones, 2013).

Assim sendo, a pergunta básica que move um pesquisador analítico-

comportamental aplicado é “Que função tem o comportamento?”. Entender a função dos

problemas comportamentais é necessário para se programar uma intervenção

comportamental. Mas antes de adentrar na forma com que são buscadas respostas para a

função do comportamento, faz-se necessário conhecer o contexto da produção de

conhecimento em ciência aplicada.

Em se tratando de uma pesquisa aplicada, esta está restrita a algumas dimensões

para que seja avaliada como um estudo em análise comportamental aplicada. Deve, pois,

ser aplicada, comportamental, analítica, tecnológica, conceitual, eficaz e demonstrar certa

generalidade (Baer et al., 1968). Essas dimensões têm sido usadas como um guia útil para

avaliar pesquisas no campo aplicado desde quando elas foram propostas.

A dimensão aplicada se justifica pelo comportamento selecionado para estudo

pelos analistas do comportamento, o qual deve ser socialmente importante.

Comportamental porque existe uma preocupação em alcançar uma quantificação fidedigna

do comportamento do indivíduo para avaliar as mudanças do comportamento-alvo.

Analítica significa que a análise dos eventos responsáveis pela mudança comportamental

deve ser confiável. Tecnológica por denotar uma descrição precisa das técnicas para fins

de replicação. Conceitual visto que suas descrições devem ser pertinentes aos princípios

comportamentais básicos. Eficaz por implicar em efeitos com valor prático. Finalmente,
generalidade, expressa a durabilidade da mudança comportamental e sua extensão a outros

ambientes e comportamentos relacionados (Baer et al., 1968).

Do exposto, cumpre salientar que muito tem sido aprendido com pesquisas na área

da análise do comportamento aplicada dado o rigor requerido às mesmas. Dentre os

estudos aplicados, centenas apontam a eficácia de tratamentos para comportamentos-

problema com base no entendimento de sua função (Hanley, 2012). Em estudos dessa

natureza, as respostas para a função do comportamento são buscadas por meio da

avaliação funcional do comportamento-problema. Assim, pergunta-se: o que é uma

avaliação funcional de comportamentos-problema?

Por avaliação funcional entende-se um processo cuja função é a de identificar

eventos que influenciam comportamentos-problema em uma dada condição ambiental. Nas

palavras de O’Neil et al. (1997), avaliação funcional é a denominação geral utilizada para

descrever uma série de processos para definir os eventos em um ambiente que, de maneira

confiável, prevejam e controlam comportamentos-problema.

Uma nova pergunta: por que realizar uma avaliação funcional? Por meio de uma

avaliação funcional reúnem-se informações que podem ser usadas para maximizar a

eficácia das intervenções comportamentais. Desse modo, o processo de avaliação

funcional permite identificar, com precisão, um tratamento eficaz para problemas de

comportamento grave (Hanley, 2012).

Ainda segundo Hanley (2012), realizar uma avaliação funcional é uma forma de

primeiro “perguntar” à pessoa que se comporta de forma problemática, por que ela está se

engajando em comportamentos-problema. De acordo com Hanley, é imprudente modificar

o comportamento sem incorporar as principais causas do comportamento-problema nas

tentativas de intervenção do mesmo. Se assim fosse, estar-se-ia admitindo que não importa
o porquê a pessoa se comporta daquela maneira, mas sim que o comportamento pode ser

modificado.

Por envolver um processo de avaliação, a avaliação funcional oferece estratégias

eficazes para identificar os problemas comportamentais, inclusive os mais graves e

complexos. Assim, a avaliação funcional é, ao mesmo tempo, uma redefinição dos padrões

de intervenções clínicas e o resgate da importância de se estudar os mecanismos básicos

que controlam os comportamentos-problema (Horner, 1994). Essa forma de avaliação

tornou-se hoje uma sólida tecnologia na produção de mudança substancial na vida das

pessoas com problemas de comportamento, inclusive os mais severos.

O emprego de uma avaliação funcional requer um conjunto de estratégias para

identificar os antecedentes e os consequentes que controlam os comportamentos-problema

que, frequentemente, têm sido tratados com medicamentos. Como tal, deve-se avaliar a

tecnologia de avaliação funcional tanto pela forma, isto é, pelos procedimentos conduzidos

para avaliar, identificar e tratar os problemas comportamentais, quanto pelas

consequências futuras responsáveis pelo resultado final: o de contribuir para o

desenvolvimento de uma tecnologia de avaliação que atenda os desafios impostos pela

complexidade de se estudar o comportamento como objeto de estudo científico que,

culturalmente, tem sido descrito como ‘sintoma’ de atividades subjacentes e, por

conseguinte, submetido a tratamento medicamentoso (Britto, 2012a, 2012b). Isso porque,

os perigos de tornar os comportamentos-problema ainda piores são reais: a avaliação

funcional não só ajuda no desenvolvimento de estratégias eficazes, como também ajuda a

evitar erros programáticos (O’Neil et al., 1997).

Dunlap e Kincaid (2001) pontuam que o interesse no processo de avaliação

funcional tem se intensificado de modo surpreendente nos últimos anos. Esse rápido

aumento na popularidade é evidente na literatura acadêmica e profissional, e em profusão


de manuais práticos e de orientações disponíveis por meio de uma gama completa de

opções. Com efeito, o processo de avaliação funcional veio para ser aceito como um

processo adequado e até mesmo precursor obrigatório para o uso sistemático de

intervenções comportamentais e, como tal, demanda o desenvolvimento de materiais e de

ferramentas.

No final da década de 1990, a Associação dos Analistas do Comportamento

(Association for Behavior Analysis) publicou a obra “Direito a um Tratamento Eficaz”

(Right to Effective Treatment), proposta por Van Houten et al. (1988), na qual os autores

incluíram o direito de todos os indivíduos receberem uma avaliação funcional competente,

para que sua assistência seja devidamente estabelecida em função do conhecimentos dos

agentes antecedentes e consequentes de seus comportamentos-problema. Também os

Institutos de Saúde Nacional (National Institutes of Health) realizaram conferências sobre

os comportamentos perigosos e destrutivos, momento em que defenderam o uso de

programas de avaliação funcional (O’Neil et al., 1997).

Com base na literatura da área da análise do comportamento aplicada, Britto e

Marcon (2012) sintetizaram os seguintes passos para a realização de uma avaliação

funcional: (a) identificar e definir operacionalmente o comportamento-problema; (b)

identificar os antecedentes de ocorrência e não ocorrência do comportamento-problema;

(c) desenvolver hipóteses em relação aos eventos consequentes que os mantêm; (d)

observar indireta e diretamente os dados que devem ser coletados para a confirmação de

hipóteses associadas aos eventos antecedentes e consequentes; e (e) incluir procedimentos

ou condições experimentais.

As estratégias de coletas de informações para uma avaliação funcional abarcam

entrevistas, escalas, questionários; também observações diretas e análises experimentais

sistemáticas (O´Neill et al., 1997). Portanto, a etapa de uma avaliação funcional, que tem a
estrutura de um experimento – denominada análise funcional –, seria precedida por duas

etapas de avaliação que se utiliza de recursos (1) de observação indireta e (2) de

observação direta (Carr et al., 1994; Cone, 1997; Martin & Pear, 2007/2009).

Avaliação funcional por observação indireta – Esse processo de avaliação

funcional é viável quando um fenômeno comportamental não pode ser prontamente

observado pelos outros (Martin & Pear, 2007/2009). Considere um cliente que estivesse

interessado em modificar sua ansiedade. Em tal situação, poderiam ser observados os

relatos verbais sobre os estados corporais alterados. Para essa finalidade, procedimentos de

avaliação indireta são utilizados por psicoterapeutas comportamentais (Martin & Pear,

2007/2009).

A coleta de informações, a compor uma avaliação funcional por observação

indireta é compreendida, como destacado por O’Neil et al. (1997), por entrevista com a

pessoa que apresenta o referido comportamento e entrevistas com pessoas que com esta

convivem, sejam familiares, sejam pessoas próximas. Com essa finalidade, para a coleta de

informações, é indicado o uso de questionários e até escalas que favoreçam a obtenção

desse resultado de modo correto e mais ágil. Assim sendo, o investimento de tempo e de

ações, nessa etapa da avaliação funcional, são imprescindíveis.

O’Neil et al. (1997) construíram um instrumento, a entrevista de avaliação

funcional, traduzida e adaptada por Oliveira e Britto (2011). Sua aplicação, como

demonstrado nos estudos conduzidos por Bueno (2013), Bueno e Britto (2013), Curado

(2012), Epaminondas (2010), Felipe (2009), Geraldini-Ferreira (2012), Mello-Gouveia

(2010), Miranda e Britto (2011), Moura (2012), Novais e Britto (2013), Oliveira e Britto

(2011), Silva (2005), dentre outros, produziram resultados eficazes para a identificação

não apenas de topografias comportamentais, mas também de agentes evocadores e

mantenedores dos mesmos.


Avaliação funcional por observação direta – Vários métodos descritivos que

envolvem observações diretas dos antecedentes e consequentes dos comportamentos-alvo

têm sido desenvolvidos. Kahng e Iwata (1998) esclarecem que a tecnologia computacional

tem ajudado os analistas do comportamento a registrarem dados com maior fidedignidade.

Sistemas computadorizados foram desenvolvidos para coletar dados observacionais, em

tempo real, que facilitam a tarefa de observar, calcular e representar graficamente os

dados, aumentando assim a melhora na confiabilidade e exatidão dos registros em vídeo.

Esses sistemas de mensuração direta do comportamento oferecem, também, a

possibilidade de medir algumas características do comportamento que está sendo

observado, como: frequência, duração e latência.

Em situação de pesquisa, estudos em metodologia descritiva (e. g., Elias & Britto

2004; Fernandes & Britto, 2005) têm fornecido dados relevantes a partir do levantamento

de categorias funcionais do comportamento em contextos clínicos, as quais são

possibilitadas pelos procedimentos de avaliação direta. Com base em estudos dessa

natureza, Soares (2010) investigou as variáveis do uso de práticas educativas,

desenvolvidas por Elias e Britto (2004), e de adesão ao tratamento médico prescrito aos

portadores do vírus HIV, conforme Fernandes e Britto (2005), para estudar o

comportamento de profissionais em formação (estagiários) de fisioterapia ao trabalhar com

indivíduos com necessidades especiais. Os resultados referentes às estratégias educativas

mostraram que as mesmas referiam-se às instruções verbais das atividades físicas

propostas. No entanto, o uso de estratégias educativas para promover mudanças

estabelecendo comportamentos funcionais na modelagem sobre saúde, pouco ocorreram.

As variáveis referentes à adesão indicaram que o fisioterapeuta em formação emite

comportamentos favoráveis à adesão.


Uma característica importante para o correto desenvolvimento dessa etapa da

avaliação funcional é a de que a observação direta não interfira na rotina da pessoa que

apresenta o comportamento-alvo. Como forma de garantir a preservação da situação tal

qual observada, o registro em vídeo possibilita reprisar e focalizar os diferentes aspectos

de uma dada situação durante o processo de análise de dados. Este deve ser comparado

para que se possa verificar em que medida há concordância entre os observadores (Vieira

& Britto, 2008). Devem ser analisados: (a) o momento de ocorrência do comportamento-

alvo; (b) os eventos que ocorriam próximo à ocorrência desse comportamento; (c) os

efeitos produzidos por esse comportamento; e (d) o ponto de vista de cada observador

sobre o que acabou de observar.

Análise funcional (experimental) – Um modelo padrão e compreensivo para

conduzir a análise funcional (experimental) foi descrito por Iwata, Dorsey, Slifer, Bauman

e Richmam (1982/1994) sob a denominação de metodologia de análise funcional

(functional analysis methodology). A abordagem é caracterizada como experimental no

sentido de que a análise funcional permite testar hipóteses e identificar relações causais

(Hagopian et al., 2013). Daqui para frente, os termos análise funcional (experimental) e

metodologia de análise funcional serão usados de modo intercambiávies.

O estudo de Iwata et al. (1982/1994) foi construído a partir dos métodos de

pesquisa de Thomas, Becker e Armstrong (1968) e da concepção de que o comportamento-

problema é controlado por múltiplas funções, tal como sugerido por Carr (1977) e Carr

(1994). Por sua vez, a metodologia de análise funcional consiste em uma ferramenta com a

estrutura de um experimento (Carr et al., 1994) que possibilita a observação direta do

comportamento ao longo de três breves condições de teste e uma condição de controle. As

condições de teste têm por função avaliar a sensibilidade de comportamentos-problema

para o reforçamento positivo (atenção), reforçamento negativo (fuga de demandas) e


estimulação sensorial (reforçamento automático) as quais são intercaladas com mais uma

condição, a de controle (Hagopian et al., 2013).

Mais especificamente, o estudo de Iwata et al. (1982/1994) envolveu o arranjo de

quatro condições antecedentes e consequentes que foram delineadas para simular aquelas

que poderiam evocar e manter comportamentos de autolesão emitidos por nove crianças

autistas e que apresentavam algum grau de atraso no desenvolvimento. O reforçamento

positivo era disponibilizado em forma de atenção social (e.g., “Não faça isso. Você vai se

machucar.”) contingente a autolesão, em uma condição de atenção. Para o reforçamento

negativo, uma tarefa com instruções difíceis era apresentada, sendo interrompida quando o

comportamento de autolesão ocorria, em uma condição de demanda. Na condição de

sozinho, o participante era deixado a sós na sala sem acesso a brinquedos ou demais

materiais. Já na condição de controle, o participante era deixado sozinho em uma sala, sem

nenhuma instrução, mas eram-lhe disponibilizados objetos preferidos ou brincadeiras. O

resultado das análises funcionais (experimentais) apontou que a autolesão foi fortemente

influenciada pelas consequências da atenção social (condição atenção) e da fuga de

demanda (condição demanda), se comparadas às condições de controle e de sozinho.

Cumpre destacar que por meio da metodologia de análise funcional, a avaliação

funcional tornou-se experimental e, com efeito, alcançou alto grau de precisão na

identificação das principais causas de comportamento-problema (se mantido por

reforçamento positivo, reforçamento negativo ou por reforçamento sensorial) (Britto &

Marcon, 2012; Martin & Pear, 2007/2009).

Essa metodologia de análise funcional foi usada por Britto, Rodrigues, Alves e

Quinta (2010) para estudar as respostas verbais inapropriadas de uma pessoa diagnosticada

com esquizofrenia em uma unidade de saúde mental. Em uma condição de atenção,

reforçamento positivo era disponibilizado em forma de um comentário (e.g., “Você


poderia falar de modo diferente?”) contingente às falas inapropriadas que, com efeito,

aumentou suas ocorrências. Em uma condição de demanda, reforçamento negativo era

disponibilizado com a interrupção de uma tarefa solicitada, à medida que o participante

falava de modo inapropriado. Na condição de sozinho o participante era deixado a sós em

uma sala. Com efeito, não ocorreram falas inapropriadas nessa condição. Em uma

condição de atenção não contingente, a pesquisadora apresentava comportamento verbal

não contextual (e.g., “O dia hoje está chuvoso”, embora o dia estivesse ensolarado), em um

tempo fixo de 30 em 30 segundos (TF 30s), portanto, independente da ocorrência de fala

inapropriada. Imediatamente após a fala da pesquisadora o participante respondia de modo

apropriado (e.g., “Não está chovendo não, lá fora o sol está quente”). A comparação das

condições de atenção e de atenção não contingente apontou que o modo como a atenção

foi fornecida afetou diretamente o comportamento verbal do participante. Enquanto a

atenção contingente aumentou a frequência da fala inapropriada, a condição atenção não

contingente não evocou falas dessa natureza.

Devido ao arranjo de procedimentos práticos e breves, esse tipo de estudo é hoje

amplamente utilizado no contexto aplicado para identificar as propriedades funcionais de

comportamentos-problema e foi adaptado para estudar uma grande variedade de

comportamentos, tais como o de agressão física a terceiros por pessoas com o diagnóstico

de autismo (Braga-Kenyon, 2001; Mello-Gouveia, 2010), falas bizarras ou inapropriadas

de pessoas com o diagnóstico de esquizofrenia (Britto et al., 2010; Bueno, 2012; Dixon,

Benedict & Larson, 2001; Wilder, Masuda, O’Connor & Baham, 2001; DeLeon, Arnold,

Rodriguez-Catter & Uy, 2003; Lancaster, LeBlanc, Carr, Brenske, Peet & Culver, 2004;

Marcon, 2010; Moura, 2012; Santana, 2008), comportamentos compulsivos como

organizar e ordenar (Rodriguez, Thompson, Schlichenmeyer & Stocco, 2012); arrancar os

fios de cabelo do corpo por pessoas com o diagnóstico de tricotilomania (Rapp,


Miltenberge, Galensky, Ellingson & Long, 1999); birras e desobediências de uma criança

que sofreu abuso sexual (Novais & Britto, 2013); comportamento emocional de

irritabilidade de pessoas com diagnóstico de transtorno bipolar do humor (Curado, 2012),

dentre outros tantos.

Didden (2007) esclarece que as primeiras publicações sobre a metodologia de

análise funcional iniciaram-se na década 1980 e desde então esse tipo de estudo tem

contribuído para uma significativa melhora na qualidade de vida das pessoas que

apresentam qualquer ordem de prejuízos em seu desenvolvimento. A metodologia de

análise funcional objetiva investigar, por meio de manipulação sistemática, as relações

funcionais entre os comportamentos – sejam eles classificados como sintomas de

problemas psiquiátricos ou de qualquer outra natureza –, e os eventos ambientais dos quais

são função (Bueno & Britto, 2013).

Portanto, não é a topografia comportamental o agente definidor do tratamento a ser

selecionado e aplicado durante a intervenção. Isso porque o comportamento-problema não

dever ser conceitualizado como um sintoma de uma característica patológica subjacente ou

de uma anomalia de uma fase do desenvolvimento, mas como uma resposta relacionada às

condições ambientais em vigor (Bueno & Britto, 2013).

Assim, a metodologia de análise funcional estabelece a distinção entre os métodos

(1) descritivos e os (2) experimentais, por ela operacionalizados (Iwata & Dozier, 2008).

Os primeiros, também definidos como não experimentais, compreendem a avaliação

funcional, enquanto os segundos dizem respeito à manipulação das variáveis antecedentes

e consequentes (variáveis independentes), para modificar os comportamentos-problema

(variáveis dependentes), ou seja, a operacionalização da análise funcional (experimental),

isto é, a manipulação dos eventos que antecederam e controlararam os comportamentos-

problema (Bueno & Britto, 2013). Logo, a aplicação dos métodos experimentais, como
salientado por Didden (2007), favorece a que condições ambientais sejam manipuladas,

quando agentes de controle específicos são rigidamente submetidos a condições de

controle, momento em que é possível serem observados os efeitos de variação da taxa de

ocorrência desses comportamentos.

Assim, o processo de avaliação funcional demanda a aplicação de procedimentos

relevantes que favorecem a identificação das relações de funcionais entre os eventos

antecedentes e consequentes do comportamento. Tarefa árdua que remete o analista do

comportamento ao desenvolvimento de importantes etapas de pesquisa dos eventos

históricos e atuais desse comportamento para que um programa de intervenção eficaz

possa ser delineado e, posteriormente, aplicado.

Com todos esses dados em mãos, o analista do comportamento conta com os

recursos necessários à identificação da função de cada classe de comportamento-alvo,

como consequência da análise funcional (experimental) e, assim, o delineamento de um

programa de intervenção, gerador de resultados vigorosos se torna possível. Daí é que, a

metodologia de análise funcional, como destacado por Iwata e Dozier (2008), tornou-se

ferramenta imprescindível à pesquisa aplicada em ambiente natural (Bueno & Britto,

2013).

Em suma, sugere-se uma abordagem funcional para aquilo que,

convencionalmente, é chamado de psicopatologia. Isso em função de que se deve ter como

foco o contexto em que os comportamentos-problema ocorrem, ou não, em suas relações

com as variáveis ambientais. Essas devem ser facilmente manipuladas com o uso de

medidas confiáveis para produzir mudanças pessoais e sociais significativas que a

sociedade requer e reconheça como importante (Baer et al., 1968), na medida em que seus

métodos e resultados possam ser sempre avaliados pelo rigor do empreendimento

científico.
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