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Míriam Leitão

Colheita de soja no Oeste da Bahia — Foto: Fábio Rossi

Por Míriam Leitão


Jornalista há mais de 40 anos, é colunista do
jornal desde 1... ver mais

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O cenário econômico
não é desastroso.
Mas também não é
muito positivo
A conjuntura atual é difícil de definir: há
excelentes notícias e vários complicadores

Por Míriam Leitão


12/03/2023 04h30 · Atualizado há 3 dias

É difícil definir uma conjuntura como a atual.


Há excelentes notícias e vários
complicadores. A inflação de alimentos está
caindo e os preços de grãos e de carnes já
estão baixando, apesar do número ruim do
IPCA de fevereiro. Este é o primeiro alívio
desde o começo da pandemia. Arroz e
feijão, no entanto, permanecerão altos. O
PIB vai desacelerar e crescer 1% este ano,
mas tem chances de subir no ano que vem,
com a recuperação mundial. Os juros estão
muito elevados e o mercado de crédito está
piorando. O governo tem desarmado
bombas herdadas como, por exemplo, o
bom acordo que fez com os estados e
anunciado na sexta-feira, para resolver o
problema da queda forçada do ICMS
imposta pelo governo Bolsonaro.

O economista José Roberto Mendonça de


Barros é taxativo ao analisar as várias
nuances dessa conjuntura.

– Vai errar quem comprou o cenário


desastre, aliás muita gente já está perdendo
dinheiro por acreditar nesse cenário ruim.
Houve quem apostasse em dólar a R$ 5,60
ou mais, mas ele tem ido, no máximo, a R$
5,20. Quem comprar o cenário muito
positivo também vai errar. No meio vai
acontecer muita coisa boa e ruim, que cabe
ao analista ver a combinação.

A queda dos preços dos alimentos é a


melhor notícia da temporada e ela acontece
em parte pela supersafra que está sendo
colhida. Com redução dos preços de soja e
milho, rações ficam mais baratas, o que
derruba o preço de frango e porco. Carne
vermelha já estava em queda antes do
embargo. E isso eu conversei também com
o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que
é pecuarista. Ele contou que está
acontecendo o ciclo de baixa do boi e deu
seu próprio testemunho de estar
comprando agora o bezerro muito mais
barato do que há um ano. E os insumos
também estão em queda. O problema vai
ficar restrito à dobradinha arroz com feijão.

– La Niña atingiu fortemente o Rio Grande


do Sul o que afetou a produção de arroz
que, contudo, é fácil importar. O problema é
o feijão que consumimos aqui que só nós
produzimos, e não adianta o PT falar em
estoque regulador. Feijão não se guarda –
explicou José Roberto.

No governo, a preocupação é com a taxa de


juros que é vista como a causa de todos os
problemas, como me contou um
participante de recente reunião no Palácio.
A avaliação interna é que os juros vão
impedir o crescimento e ampliar o risco de
empresas quebrarem pela piora das
condições do mercado de crédito.

– Vamos ficar entre um cemitério de


empresas ou a necessidade de um pronto
socorro – me disse o político.

José Roberto admite que os juros estão altos


sim e acha que essa parte da crítica está
certa. Prevê queda mais adiante, mas diz
que os problemas no mercado de crédito
são decorrentes da crise das Americanas e
estão restritos ao setor.

– Houve uma reprecificação no volume,


condições financeiras e taxas dos
empréstimos, e isso levará a uma
reorganização do varejo e afetará o
fornecedor do varejo, mas não é o suficiente
para provocar uma crise – afirmou José
Roberto.

Roberto Padovani, do BV, não vê também o


risco de uma crise de crédito.

– Esse é um debate ainda em aberto, mas


na minha avaliação não é uma crise de
crédito. Isso acontece quando a economia
entra em recessão, as empresas têm receita
caindo e há um fenômeno generalizado de
piora das condições financeiras, calotes,
oferta de crédito. Agora o que está
acontecendo pega o varejo e o pequeno
varejo.

Em Brasília, o governo Lula tem agora o


desafio de construir uma base sólida na
Câmara, até porque tem uma pauta
econômica ampla pela frente.

– A reforma tributária vai sair. Se vai ser


melhor ou pior, depende das circunstâncias,
mas o fato é que ela pode ser sim uma
mudança estrutural relevante com impacto
no custo das empresas, aí a inflação vai cair
muito mais do que está caindo – diz José
Roberto.

Ele acha que se o governo confirmar uma


política orçamentária que leve o déficit a
menos de 1% do PIB este ano e perto de
zero no ano que vem, como tem prometido
o ministro Fernando Haddad, e a âncora
fiscal for “minimamente razoável”, o dólar
vai para menos de R$ 5 e o país pode
crescer mais no ano que vem. Até porque,
ele prevê uma retomada da economia dos
Estados Unidos em 2024, e da própria
Europa. Mas, como alerta, “tudo vai
depender da nova regra fiscal”. Nessa
semana, ela será apresentada ao presidente
Lula e o debate vai começar.

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