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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Tema do Trabalho
Análise do cumprimento de prazos de guarda de documentos em
Moçambique: Estudo de caso do INAR e FAA

Nome e Código do Estudante


Tatiana Pedro Rocha Massamba 708191990

Curso: Administração Pública


Disciplina: Gestão documental
Ano de Frequência: 4º
Docente: Eva da C. António

Tete, Julho de 2022

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problema)
 Descrição dos
Introdução 1.0
objectivos
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adequada ao objecto 2.0
do trabalho
 Articulação e
domínio do discurso
académico
Conteúdo 2.0
(expressão escrita
cuidada, coerência /
coesão textual)
Análise e
 Revisão bibliográfica
discussão
nacional e
internacionais 2.
relevantes na área de
estudo
 Exploração dos
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dados
 Contributos teóricos
Conclusão 2.0
práticos
 Paginação, tipo e
tamanho de letra,
Aspectos
Formatação paragrafo, 1.0
gerais
espaçamento entre
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 Rigor e coerência das
Referências edição em
citações/referências 4.0
Bibliográficas citações e
bibliográficas
bibliografia

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Índice

I. Introdução ................................................................................................................................ 1

1.1. Contextualização ............................................................................................................... 1

1.2. Objectivos ......................................................................................................................... 2

1.2.1. Objectivo Geral.............................................................................................................. 2

1.2.2. Objectivos Especificos .................................................................................................. 2

1.3. Metodologia .......................................................................................................................... 2

2. Gestão documental .................................................................................................................. 3

2.1. Objectivos da gestão de documentos .................................................................................... 4

2.2. Fases da Gestão de documentos ........................................................................................... 4

1.1 2.3. Ciclo de vida de Documentos .................................................................................... 5

2.4. A prática arquivística moçambicana e seus contornos na organização dos arquivos ........... 7

2.5. A dimensão da legislação na organização de arquivos em Moçambique............................. 8

2.6. Analise do cumprimento do prazo de guarda de documento no Instituto Nacional de Apoio


aos Refugiados (INAR) e na Fundação Apoio Amigo (FAA) .................................................... 9

3. Conclusão .................................................................................................................................. 11

4. Referências bibliográficas ......................................................................................................... 12

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I. Introdução

Tendo em vista estimular o debate sobre a necessidade de estruturação da área dos arquivos em
Moçambique enquanto um campo profissional, esta pesquisa procura analisar os Métodos de Gestão
de Documentos e Informações nas Instituições Publicas em Moçambique, tendo em conta o
desafio na organização da área, em um país que não conta com instituições arquivistas públicas nem
serviços arquivísticos na estrutura do Estado. Sob este aspecto, Jardim, define a instituição
arquivística como “o órgão responsável pela gestão, recolhimento, preservação e acesso dos
documentos gerados pela administração pública, nos seus diferentes níveis de organização” (Jardim,
2011, p. 4). E considerando as instituições arquivísticas públicas como uma categoria operacional em
sua pesquisa, o mesmo autor define-as como sendo “aquelas organizações cuja atividade-fim é a
gestão, recolhimento, preservação e acesso de documentos produzidos por uma dada esfera
governamental” (Jardim, 2011, p. 7), interpretando o Arquivo Nacional, os arquivos estaduais e os
arquivos municipais. Entretanto, Jardim diferencia instituições arquivísticas de serviços arquivísticos,
definindo estes como aqueles referentes “às unidades administrativas incumbidas de funções
arquivísticas nos diversos órgãos da administração pública, no âmbito dos quais se configuram como
atividades-meio” (Jardim, 2011, p. 7).

1.1.Contextualização

Nos últimos anos, a gestão de documentos e arquivo nas organizações, torna-se um desafio para
todos. Havendo neste caso a necessidade de cada empresa/ instituição estar preparada para
qualquer alteração a sua configuração. E se não se prestar atenção a esta tendência generalizada
pela imposição das novas exigências para a concorrência no mercado, poderá afectar
negativamente o desenvolvimento de uma organização, Leitão (2010).
Portanto, trata-se de um desafio de maior apreensão na Administração Pública e pela presunção
de um sentimento de frustração em alguns funcionários e cidadãos que solicitando os bons
serviços nas Instituições, a resposta tem sido desastrosa, aguarda, quem recebeu o teu documento
não está ou faz outro documento porque o anterior não se localiza.
A gestão documental e a protecção especial de documentos e arquivos são da responsabilidade do
Governo, enquanto instrumento chave de apoio à administração, à cultura, ao desenvolvimento
científico e como elementos de prova e informação.

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Ao longo das últimas décadas, a gestão de documentos e arquivos nas instituições do Estado não
acompanhou a rápida evolução e introdução das novas tecnologias que, actualmente, são usadas
em muitos países do Mundo.

1.2.Objectivos

1.2.1. Objectivo Geral


 Analisar o nível de cumprimentos dos prazos de guarda de documentos em Moçambique.

1.2.2. Objectivos Especificos


 Descrever as fases de gestão de documentos;
 Debruçar sobre a prática arquivística moçambicana e seus contornos na organização dos
arquivos;
 Analisar a dimensão da legislação na organização de arquivos em Moçambique

1.3. Metodologia
A metodologia utilizada na realização do presente trabalho foi a pesquisa bibliográfica, visto que
a pesquisa bibliográfica utiliza material já publicado, constituído basicamente de livros, artigos e
informações disponibilizadas na internet (Silva, 2011).

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2. Gestão documental

Para António (2008) o termo Gestão Documental tem vindo a ser usado para referir as aplicações
informáticas orientadas para a gestão das tarefas relacionadas com o tratamento dos documentos
administrativos, como seja o expediente e arquivo quer se trate dos documentos externos ou
internos de utilização frequente (arquivo corrente) ou de acesso esporádico (arquivo intermédio).

Segundo Leitão (2010) gestão documental é uma expressão muito em voga nos dias de hoje,
mormente associada ás aplicações informáticas que se oferecem no mercado das novas TIC como
soluções de gestão de correspondência e expediente administrativo. Todavia, quando falamos de
gestão documental ou gestão de documentos em rigor, estamos a falar necessariamente de
arquivística ou de gestão de sistemas de informação e não apenas dos documentos na fase de
produção.

Para Barbosa (2016) a gestão documental ou gestão de documentos é um ramo da arquivística


responsável pela administração de documentos nas fases corrente e intermédia. A Gestão
Documental informatizada consiste num sistema de arquivo, que permite a organização e
consulta de documentos num formato eletrónico que contém informação de natureza documental
trocada entre os utilizadores da aplicação. Esta solução permite a colaboração numa organização
através da partilha de documentos, beneficiando e facilitando os processos de negócio da
empresa.

Segundo Almeida (2018) o surgimento da gestão de documentos foi uma resposta ao aumento do
fluxo informacional, principalmente após a II Guerra Mundial, acarretando um volume
imensurável de novos documentos. Almeida (2018, p. 32) “O aumento da população, por sua vez,
provocou a expansão das atividades do governo, e essa expansão afetou a produção de
documentos”. Uma vez que se aplicaram métodos tecnológicos modernos no preparo de
documentos, o volume destes, nas últimas décadas, atingiu um índice de progressão antes
geométrica que aritmética.

Segundo Moreira (2017) a gestão documental possui um papel estratégico para as organizações,
uma vez que permite aos serviços que a informação que pretendem e que criam sejam fornecidos
com sucesso. A melhoria e facilidade de acesso, a eficiência e rapidez nos fluxos informacionais
são aspetos positivos que um Sistema de Gestão de Documentos (SGD) consegue responder, pois

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o tempo de pesquisa de documentos diminui, bem como o tempo de resposta, garantindo que o
documento recuperado é o correto. Como resultado, a comunicação entre os colaboradores e os
clientes é instantânea, fidedigna e relevante, pois os documentos estarão acessíveis apenas aos
colaboradores que tenham permissão para os visualizar, facilitando também a tomada de decisão.

Chisto (2007), a Gestão de Documentos, por meio de metodologias adotadas e instrumentos


como métodos de classificação e tabelas de temporalidade, representa uma atividade estratégica
no universo das instituições arquivísticas, e se constitui em factor determinante para a
constituição dos acervos históricos sujeitos à preservação permanente.

Segundo Silva (2016) a gestão de documentos tem por objectivo controlar o documento
arquivístico desde o momento de sua produção até a sua destinação final, visando à eliminação
ou o recolhimento do documento para a guarda permanente. A fase permanente é quando o
documento passa para a custódia de uma instituição arquivística ou de preservação, em virtude do
seu valor histórico, cultural e de pesquisa.

2.1. Objectivos da gestão de documentos

Fazem parte dos objectivos da gestão de documentos no entender de Rodrigues (2006) os seguintes:
assegurar de forma eficiente, a produção, administração, manutenção e destinação de documentos;
garantir que a informação governamental esteja disponível quando e onde seja necessária ao governo
e aos cidadãos; assegurar a eliminação dos documentos que não tenham valor administrativo, fiscal,
legal ou para pesquisa científica e contribuir para o acesso e preservação dos documentos que
merecem guarda permanente pelo seu valor informativo.

2.2. Fases da Gestão de documentos

Paes (2004, p. 54) descreve a primeira fase, a produção, enquanto um ato de “elaboração dos
documentos essenciais em decorrência das atividades de um órgão ou setor”, inserindo-a numa
visão tanto de optimização da criação dos documentos estritamente necessários ao processo
administrativo como de evitar a produção daqueles documentos não essenciais, com vista a
diminuir o volume de documentos a serem manuseados, controlados, armazenados e eliminados,
e a garantir o uso adequado dos recursos de reprografia e automação (Indolfo, 1995).

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A fase de utilização refere-se ao fluxo percorrido pelos documentos, necessário ao cumprimento
de sua função administrativa, assim como sua guarda após cessar seu trâmite. Esta fase envolve
métodos de controle relacionados às atividades de protocolo e às técnicas específicas para
classificação, organização e elaboração de instrumentos de recuperação de informação (Indolfo.,
1995).
Esta fase, portanto, se dá numa perspectiva, também, de desenvolvimento da gestão de arquivos
correntes e intermediários e de implantação de sistemas de informação gerencial, sendo um
momento indicado para a realização da classificação no seu sentido que designa o agrupamento
de documentos, de acordo com os assuntos que ostentam.

E por fim, a terceira fase da gestão de documentos, a destinação, envolve as actividades de


análise, seleção e fixação de prazos de guarda dos documentos, ou seja, implica em decidir quais
os documentos a serem destruídos e quais serão preservados provisoriamente ou de forma
permanente, mediante o seu valor (Indolfo, 1995).

A realização de todas as atividades previstas nas três fases da gestão de documentos se efetiva
com base num programa de gestão de documentos, cuja função é operacionalizar esta através do
“planejamento, da organização, do controle, da coordenação dos recursos humanos, do espaço
físico e dos equipamentos, com o objetivo de aperfeiçoar e simplificar o ciclo documental”
(Indolfo, 1995).

1.1 2.3. Ciclo de vida de Documentos

Segundo CEDIMO (2017), o documento tem ciclo de vida que se apresenta da seguinte maneira:

1ª Idade: Arquivo Corrente: Documentos vigentes, frequentemente consultados;

2ª Idade: Arquivo Intermediário e/ ou Central:

• Final de vigência, documentos que aguardam prazos longos de prescrição ou precaução

• Raramente consultados

• Aguardam a destinação final

• Eliminação ou guarda permanente;

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3ª Idade: Arquivo Permanente: Documentos que perdem a vigência administrativa, porém são
providos de valor secundário ou histórico-cultural.
Para além da idade, os documentos também classificam-se em documentos de valor eventual e de
valor permanente, conforme as definições que a seguir se apresentam:
 Documentos de valor eventual e guarda temporária: são aqueles que, cessados os
prazos de vigência estabelecidos em tabela de temporalidade, podem ser eliminados sem prejuízo
para a sociedade ou memória da administração.
 Documentos de valor permanente e guarda definitiva são aqueles que, cessados os
prazos de vigência, apresentam no seu conteúdo ou forma, informações que devem ser
preservadas para a memória da administração, para a pesquisa científica ou para servir de prova
ao cidadão e ao Estado.
Ainda na mesma senda, CEDIMO (2017) considera obrigatório e de valor permanente a guarda
definitiva dos documentos de unidade ou órgão consubstanciado em todo procedimento do qual
resultem:
a) Actos de criação, constituição, transformação ou extinção, atribuições e competências
expressos em leis, decretos, portaria, resoluções e contratos sociais;
b) Actos que reflictam a organização da administração, como organogramas, fluxo gramas,
regimentos e regulamentos;
c) Actos relativos ao património imobiliário;
d) Actos que reflictam o desenvolvimento da actividade-fim: Planos, projectos, estudos e
programas; Convénios; ajustes e acordos; Actas e relatórios de departamento e/ou unidade
de níveis intermediário e superior da administração; Actas e relatórios de Conselho ou
Comissões; Séries documentais completas produzidas no exercício da actividade-fim;
Correspondências relativas à actividade-fim das unidades da Administração Superior;
e) Actos relativos a administração de pessoal como: Criação, classificação, reestruturação ou
transformação de carreiras ou cargos; Planos de salários e benefícios; Política contratual;
Termos de posse e registos funcionais; Contratos de trabalho; Processos de aposentadoria;
Inquéritos administrativos.

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2.4. A prática arquivística moçambicana e seus contornos na organização dos arquivos

O primeiro aspecto que ressalta em todas as instituições observadas é a inexistência de arquivos


enquanto unidades orgânicas instituídas. Dos trabalhos de arquivo em curso nestas instituições
nenhum deles se enquadra perfeitamente dentro do conceito de gestão de documentos. Munidas
de instrumentos de gestão de documentos, o Plano de classificação de atividades-meio e Tabela
de temporalidade de atividades-meio, instituídos em 2007 no âmbito do Sistema Nacional de
Arquivos do Estado (SNAE), contudo, a aplicação desses instrumentos constitui um caos, na
medida em que não decorre no âmbito dos procedimentos preconizados pela gestão de
documentos. Todas as atividades relacionadas à organização de documentos de arquivo nestas
instituições refletem uma intervenção sobre massas documentais acumuladas. Faltam rotinas
sistematizadas que traduzam atividades de protocolo e de arquivamento de documentos
enquadradas num programa de gestão de documentos. Embora anunciados pelo discurso dos
respectivos atores, porém, não é possível contemplar a concepção de arquivos correntes e
intermediário nestas instituições. Os arquivos nestas instituições traduzem-se tão somente em
conjuntos de documentos que, a olho nu, parecem estar organizados somente porque estão em
caixas.
Foi observada a realização de acções de capacitação a servidores públicos, pelo Centro Nacional
de Documentação e Informação de Moçambique (CEDIMO) uma instituição, segundo
Nharreluga (2014), não propriamente arquivística, mas estratégica que, mesmo desprovida de
conhecimento técnico arquivístico, representa a hegemonia governamental na área dos arquivos
em sua ascensão repentina nesta área a partir dos anos 2000, em matérias de classificação
arquivística, envolvendo funcionários e chefes de secretarias das instituições públicas. Contudo,
tais ações não se traduzem em sucesso em si mesmas e na perspectiva do acesso à informação,
devido à sua concepção e implementação fora de âmbito profissional. Como indica Nharreluga
(2006, p. 9) para o caso moçambicano, “o caos informacional que assola a administração pública,
em alguns casos, não resulta da falta de conhecimento técnico-profissional da informação, mas da
necessidade de manutenção de estratégias de poder e de interesses patrimonialistas e
corporativistas”.
Para elucidar, Nharreluga (2006) avança com o exemplo do processo de implementação da
primeira versão do sistema denominado “Sistema Nacional de Arquivos” (SNA), de 1992,
indicando fracassos e resistências no seio dos diferentes atores nele envolvidos. Esta debilidade
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arquivística moçambicana fica ainda mais visível nas duas versões do SNAE, de 2007 e 2018.
Assim, não se pode esperar que a Lei do Direito à Informação (Lei n.º 34/2014, de 31 de
Dezembro) por si só venha garantir o acesso à informação, num contexto em que as atividades
arquivísticas continuam a reboque da política sem incorporar a sua dimensão profissional. Como
ensina ainda Nharreluga (2006, p. 9), vão se “avolumando as discrepâncias em relação à
informação governamental em Moçambique, quer em termos de seus pressupostos político-
ideológicos, quer no campo técnico-científico voltado para a gestão de recursos e processos
técnicos de informação”.
Além de graves problemas provenientes da não institucionalização dos arquivos ou de setores de
gestão de documentos nas instituições públicas, constatou-se a falta de programas de gestão de
documentos e de um exercício reflexivo orientado pela análise crítica. Resulta daí que os
arquivos da administração pública moçambicana sejam caraterizados, entre outros, por
documentos sem classificação arquivística ou mal classificados;

2.5. A dimensão da legislação na organização de arquivos em Moçambique

Considerando a área de arquivos em Moçambique, o conjunto de dispositivos legais, decretos


33/92, 36/2007 e 84/2018 e a Resolução 46/2006 estabelecidos, respectivamente, em 1992, 2007,
2018 e 2006, para suscitar a gestão de documentos neste país não conseguiu até hoje trazer uma
resposta efetiva quanto às atividades de classificação, avaliação e destinação de documentos.
Referindo-se à legislação da área de arquivos instituída em Moçambique pelo menos até o ano de
2000, Nharreluga (2006) afirma que a mesma teria sido marcadamente periférica em sua
concepção, permanecendo durante todo o período de sua vigência a enfrentar dificuldades para a
sua implementação. O mesmo autor se refere ainda à falta de arquivos institucionalizados na
estrutura do Estado, destacando o AHM como única referência arquivística no país, porém, com
um papel reservado apenas à gestão de arquivos do período colonial.
Com a aprovação do SNAE em 2007 e dos respectivos instrumentos de operacionalização da
gestão de documentos a ele ligados, Plano de Classificação, Tabela de Temporalidade das
atividades-meio e o Classificador de Informações, suscitou-se uma aparente mudança de rumo
nas práticas arquivísticas nacionais. Contudo, a mudança limitou-se na concepção de tais
instrumentos de gestão de documentos, entretanto, desprovidos de medidas estruturais tendentes a
profissionalizar a área. Sem estrutura de arquivos que compreenda uma autoridade nacional

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dotada de conhecimento arquivístico e de todo o tipo de recursos e meios necessários à
governança arquivística em nível nacional torna-se impossível viabilizar a gestão de documentos
apenas na base de instrumentos, cujo processo de elaboração também não seguiu parâmetros
dignos de recomendação arquivística.

Volvidos 28 anos de implementação do projeto de sistema nacional de arquivos em suas três


versões instituídas pelos decretos 33/92, 36/2007 e 84/2018, respectivamente, em 1992, 2007 e
2018, a gestão de documentos em Moçambique ainda não constitui uma realidade. Esta
deficiência da não efetividade da gestão de documentos neste país, mesmo após sucessivas leis a
respeito, associada à cultura de sigilo que atravessa a situação dos arquivos em Moçambique,
resulta como entrave ao desiderato de organização de arquivos e, por conseguinte, de acesso à
informação arquivística no país.

2.6. Analise do cumprimento do prazo de guarda de documento no Instituto Nacional de


Apoio aos Refugiados (INAR) e na Fundação Apoio Amigo (FAA)

Neste contexto foram selecionadas 2 instituições sendo uma estatal e outra privada: Instituto
Nacional de Apoio aos Refugiados e Fundação Apoio Amigo (FAA) respectivamente.

Em relação ao INAR, após o diagnóstico feito através de um breve inquerito conduzido aos
funcionários daquela instituição e constatou-se que o INAR tem seguido rigorosamente as
diretrizes plasmadas no Sistema Nacional de Arquivos em relação ao prazo de guarda dos
documentos, entretanto, o INAR utiliza o sistema tradicional de guarda de documentos, isto é,
ainda não foi abrangido pelo Governo Electronico, sendo que todos arquivos encontram-se em
papeis, organizados em pastas de arquivos. Em relação ao prazo de guarda de documentos, o
INAR não descarta nenhum tipo de documento institucional, isto deve-se pela natureza das
atividades da instituição, por isso todos documentos encontram-se devidamente organizados e
arquivados segundo a sua classificação. Portanto, pode-se afirmar que o nível de cumprimento de
prazo de guarda de documento no INAR é satisfatório.

Para o caso da FAA, utilizam um sistema de guarda de documento misto (físico e digital). Sendo
a FAA uma organização não governamental que implementa projectos em diversas áreas sociais
(VBG, Unioes Prematuras, Governacao, etc) a nível da província de Tete, surge a necessidade de
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manter arquivados todos documentos relevantes de cada projecto implementado, porque de certa
forma fazem parte do curriculum da organização. Por isso, no final de cada mês, a FAA digitaliza
todos documentos relevantes (demonstrações financeiras, relatórios narrativos, planos de acção,
etc). Após a digitalização os documentos físicos são arquivados em uma pasta de arquivo numa
sala especifica, e o documento digital é guardado em um disco duro institucional. Portanto, a
questão do cumprimento do prazo de guarda de documentos na FAA é excelente, visto que
utilizam um sistema misto de guarda de documento garantindo assim maior segurança dos
documentos em caso de qualquer eventualidade.

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3. Conclusão

A presente pesquisa analisou o cumprimento de prazo de guarda em duas instituicoes INAR e


FAA respectivamente. A literatura sobre o assunto permitiu identificar duas perspectivas: a
primeira é que segundo António (2008) o termo Gestão Documental tem vindo a ser usado para
referir as aplicações informáticas orientadas para a gestão das tarefas relacionadas com o
tratamento dos documentos administrativos e a segunda segundo Balckey (2011) o documento
electrónico ou documento digital é a nova realidade, e é radicalmente diferente dos outros:
assenta em suportes magnéticos ou ópticos, é manipulável, transforma-se, tem uma estrutura
lógica, pode ser replicado indefinidamente, permite múltiplos e simultâneos acessos

Este estudo também permitiu analisar as formas de Gestão de Documentos e Informações nas
Instituições Públicas em Moçambique, a partir do cruzamento e inter-relacionamento entre a
prática arquivística nas instituições da administração pública com ênfase na classificação
arquivística, e a classificação das informações no âmbito da legislação sobre o direito à
informação, contrapondo o sigilo que tende a prevalecer, nesses processos, em relação ao acesso
à informação refreado em todas as suas dimensões.

Como foi possível perceber ao longo da pesquisa, a classificação arquivística enquanto uma
operação técnica que viabiliza a organização dos documentos não encontra enquadramento nas
práticas desenvolvidas nas instituições da administração pública assim como no âmbito da
legislação sobre o direito à informação em Moçambique. Nesta, todas as referências à
classificação estão orientadas somente àquela classificação referente à atribuição de graus de
sigilo desenhando, deste modo, um cenário no qual o cidadão, desprovido do acesso à informação
primária que fica refém da falta de mecanismos claros e de programas de gestão da informação,
associada ao caráter absoluto ou independente do sigilo, não pode controlar o Estado que, sob o
feitiço próprio, também não controla a si mesmo, Leitão (2010).
Assim, enquanto não se transpor a barreira que concebe a prática arquivística, com enfoque na
classificação arquivística, como um mero exercício mecânico que dispensa o protagonismo de
profissionais arquivísticos qualificados, para toma-la dentro do seu escopo técnico-científico e
profissional, a gestão de documentos não pode ser forjada e, consequentemente, o acesso à
informação, subjugado pelo caráter absoluto do sigilo patente na legislação sobre o direito à
informação, também não pode ser exercido.
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4. Referências bibliográficas

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auditoria. UNESP. Campus de Marília Faculdade de Filosofia e Ciências.
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