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Parte 4

Pneumonia gangrenosa

Pode ser uma complicação de outras formas de pneumonia, principalmente quando ocorre
necrose extensa do parênquima. O mais comum é a pneumonia gangrenosa resultante de
aspiração de material estranho contaminado com bactérias saprofíticas e

putrefativas, ou seja, a pneumonia gangrenosa é uma consequência frequente e importante da


pneumonia por aspiração. Nos bovinos, ocasionalmente, pode ser resultado da penetração
direta de corpos estranhos perfurantes nos casos de reticuloperitonite traumática.

Macroscopicamente, observamse áreas de coloração amarelada ou esverdeadoescura (Figura


1.46) com odor pútrido e formações cavitárias repletas de material necrótico (Figura 1.47).
Essas formações cavitárias podem se romper, provocando piotórax e, em alguns casos,
pneumotórax putrefativo, devido à atividade de bactérias produtoras de gás.

Figura 1.45 Suíno. Pneumonia granulomatosa por aspiração de amido. Partículas de amido em
imagem negativa no citoplasma de célula gigante multinucleada.

Figura 1.46 Equino. Pneumonia gangrenosa. Extensa área da superfície pulmonar com
coloração esverdeada e acúmulo de exsudato fibrinoso na superfície da pleura visceral
adjacente.

Figura 1.47 Bovino. Área de consolidação de coloração vermelhoescura; a superfície da pleura


visceral tende ao esverdeado, e a superfície de corte com formações cavitárias corresponde a
extensas áreas de necrose do parênquima pulmonar, características macroscópicas de
pneumonia gangrenosa. Cortesia da Dra. Roselene Ecco, UPIS, Brasília, DF.

Pneumonia hipostática

Com frequência, animais que permanecem em decúbito lateral por períodos prolongados
desenvolvem pneumonia hipostática.

Isso se deve à natureza porosa do pulmão, a qual o predispõe à congestão hipostática e,


consequentemente, ao edema. Esses processos causam desvitalização do tecido e
comprometimento dos mecanismos de defesa do pulmão, favorecendo a instalação de
infecção por bactérias inaladas das porções respiratórias superiores. Nesses casos, a congestão
e a consolidação são unilaterais e afetam o hemiórgão posicionado para baixo durante o
período de decúbito prolongado. Portanto, pneumonia hipostática deve ser considerada como
uma complicação potencial para animais em decúbito, independentemente da doença
primária que levou o indivíduo ao decúbito lateral prolongado.

Pneumonia verminótica

Áreas de consolidação resultantes de infecções parasitárias geralmente se localizam nas


porções caudais, principalmente nos lobos diafragmáticos. A lesão primária causada pelos
parasitas é uma bronquite crônica com broncoestenose e enfisema alveolar (Figura 1.48). A
obstrução parcial ou expiratória dos brônquios se dá pela presença dos parasitas e pelo
acúmulo de excesso de muco e exsudato eosinofílico, além de hipertrofia e aumento de
contratilidade da musculatura lisa brônquica. Em pequenos brônquios e bronquíolos, esse
processo pode levar à obstrução total, com consequente atelectasia do parênquima
correspondente. O processo pneumônico se instala quando os tecidos lesionados pelos
parasitas sofrem infecção bacteriana secundária. As principais causas de pneumonia
parasitária nas diferentes espécies domésticas no Brasil são Dictyocaulus viviparus em bovinos,
Dictyocaulus arnfield em equídeos e Metastrongylus salmi em suínos (ver tópico sobre
pneumonias parasitárias na seção de doenças específicas).

Pneumonia granulomatosa

O modelo típico de pneumonia granulomatosa é a tuberculose pulmonar. Essa doença


acomete todas as espécies de animais domésticos, porém é mais prevalente em bovinos. O
principal agente etiológico nos bovinos é o Mycobacterium bovis, embora o M. tuberculosis
seja capaz de causar infecção em bovinos que são expostos a pessoas infectadas.
Eventualmente, outras espécies do gênero Mycobacterium podem causar lesões
granulomatosas em bovinos, mas a infecção, nesses casos, é autolimitante.

Figura 1.48 Suíno. Áreas pálidas e elevadas em relação ao restante do parênquima, com
padrão lobular, as quais correspondem a áreas de enfisema alveolar secundárias a parasitismo
por Metastrongylus sp. Cortesia do Dr. Raimundo Hilton Girão Nogueira, Universidade Federal
de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.

Macroscopicamente, as pneumonias granulomatosas se apresentam sob a forma de nódulos


de tamanhos variáveis distribuídos pelo parênquima pulmonar (granulomas). No caso da
tuberculose, as porções centrais dos nódulos contêm material necrótico caseoso e, às vezes,
mineralizado. Microscopicamente, a pneumonia granulomatosa caracterizase pela abundância
de macrófagos com aspecto epitelioide e, frequentemente, células gigantes multinucleadas
(Figura 1.49). Esses achados estão associados a quantidades variáveis de infiltrado linfocitário
e fibrose. A pneumonia granulomatosa invariavelmente tem curso crônico.

Outros agentes, como Aspergillus sp., Histoplasma capsulatum e outros, podem provocar
lesões granulomatosas no pulmão em diferentes espécies domésticas. Embora listado na
Tabela 1.2 como causa de broncopneumonia em equinos, o Rhodococcus equi geralmente
provoca uma pneumonia do tipo piogranulomatosa, ou seja, um processo caracterizado pela
associação de uma resposta granulomatosa com uma resposta exsudativa supurada. Nesses
casos, o centro dos nódulos, que macroscopicamente se assemelham a abscessos, contém
grande quantidade de neutrófilos, enquanto, na periferia da lesão, há predominância de
macrófagos epitelioides e células gigantes com abundantes quantidades do organismo. Tanto a
tuberculose quanto a infecção por R. equi estão detalhadas na seção sobre doenças
específicas.

Pneumonia tromboembólica (ou embólico-metastática)

Pneumonia tromboembólica é consequência da fixação de êmbolos sépticos (bacterianos)


provenientes de processos inflamatórios e infecciosos em outros órgãos, que atingem os
pulmões por via hematogênica. As causas mais frequentes em cão, suíno e bovino são as
endocardites valvulares e, nos ovinos, a linfadenite caseosa.

Figura 1.49 Bovino. Pneumonia granulomatosa caracterizada pelo acúmulo de grande


quantidade de macrófagos epitelioides, linfócitos e células gigantes multinucleadas e foco
central de necrose, causada por Mycobacterium bovis.

Macroscopicamente, observamse múltiplos abscessos pulmonares de tamanhos variados, e


alguns se apresentam como pequenos pontos amarelados ou esbranquiçados correspondentes
a microabscessos, localizados principalmente nas regiões dorsolaterais dos pulmões, embora a
distribuição frequentemente seja aleatória. A consolidação, nesses casos, geralmente tem
distribuição multifocal (Figura 1.50).

Pneumopatia urêmica

Pneumopatia urêmica ocorre nos casos de uremia crônica grave no cão. A principal lesão é
degeneração e calcificação da musculatura lisa dos bronquíolos respiratórios e das paredes
alveolares. Macroscopicamente, o pulmão apresenta textura arenosa com distribuição difusa,
podendo ranger ao corte, como se houvesse inúmeros grãos de areia no parênquima
pulmonar. Histologicamente, observase mineralização da musculatura lisa, a qual, em casos
avançados, envolve também a parede alveolar, com acúmulo de quantidades variáveis de
macrófagos nos alvéolos e edema pulmonar (Figura 1.51). A pneumopatia urêmica tende a ser
uma lesão tardia nos casos de insuficiência renal; por isso, geralmente está associada a outras
lesões extrarrenais da insuficiência renal crônica, como mineralização intercostal e da mucosa
laríngea, glossite e estomatite ulcerativas, gastropatia urêmica e endocardite atrial.

Figura 1.50 Cão. Pneumonia tromboembólica, caracterizada por consolidação multifocal, com
área central acinzentada, circundada por área de hemorragia e enfisema alveolar do
parênquima adjacente. Cortesia da Dra. Roselene Ecco, UPIS, Brasília.

Figura 1.51 Cão. Pneumopatia urêmica, caracterizada por mineralização da musculatura lisa e
das paredes de bronquíolos e alvéolos.

Pneumoconiose

Pneumoconiose é caracterizada pelo acúmulo de material inorgânico no parênquima


pulmonar. Tratase de condição incomum entre as espécies de animais domésticos, ao
contrário do ser humano, no qual a pneumoconiose é uma doença essencialmente
ocupacional. O material inorgânico particulado é fagocitado e persiste em macrófagos
alveolares, resultando em inflamação crônica granulomatosa e fibrose. A forma mais frequente
entre os animais domésticos é a pneumoconiose por acúmulo de sílica, enquanto a asbestose
é uma condição rara. A forma mais comum de acúmulo de material inorgânico particulado no
pulmão de animais domésticos é a antracose (discutida em detalhes anteriormente), que é
comum em animais que vivem em grandes centros urbanos ou que têm convivência muito
próxima com fumantes.
Alterações proliferativas

Neoplasias primárias do pulmão são raras entre os animais domésticos e, entre estes, são mais
frequentes nos cães e gatos,

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