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Resumo: No presente artigo analisa-se sobre os casos de furto famélico no Brasil e a incidência do princípio da
insignificância nesse tema, onde o indivíduo furta algum tipo de gênero alimentício para saciar seu extremo
estado de fome ou de outrem. Os dados foram coletados principalmente por meio de pesquisa bibliográfica, a
partir desta, busca se identificar a postura que os Tribunais e os doutrinadores adotam acerca do tema,
delimitando qual suas formas de aplicações e entendimentos como caracterização de crime (fato típico) ou não
(fato atípico), ademais qual sua natureza jurídica. Pode se observar que são recorrentes os casos de furto
famélico no Brasil, uma vez que o indivíduo que pratica está em condições de pobreza extrema e em nosso País
existe uma enorme desigualdade econômica tendo como maior parte da população pessoas de classe baixa, sendo
assim o presente tem como finalidade principalmente, concluir sobre qual a importância do princípio da
insignificância e demais formas de aplicações, como a excludente de ilicitude em estado de necessidade para os
casos de furto famélico no Brasil.
1
Desenvolvimento do Trabalho de Curso apresentado ao Centro Universitário UNA Catalão - GO, como
requisito parcial para a conclusão do Curso de Direito. Orientador(a): Profª Dra. Priscylla Rodrigues dos
Santos
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO;...................................................................................................................................................3
2. CONCEITO DE FURTO NO GERAL E SUA PEULIARIDADES;....................................................................4
3. TIPICIDADE E ATIPICIDADE;..........................................................................................................................4
4. DO FURTO FAMÉLICO;.....................................................................................................................................6
4.1. Breves Considerações sobre o Furto Famélico;.................................................................................................6
4.2. Princípio da Insignificância e a sua incidência nos casos de Furto Famélico no Brasil;...................................8
4.3. Posicionamento jurisprudencial acerca do furto famélico;................................................................................9
4.4. A inexigibilidade de Conduta Diversa no Furto Famélico;..............................................................................11
4.5. Do Estado de Necessidade Nos Casos De Furto Famélico;.............................................................................11
5. CONCLUSÃO;...................................................................................................................................................12
6. REFERÊNCIAS..................................................................................................................................................13
1. INTRODUÇÃO
Ao longo de vários anos o Brasil vem enfrentando a lastimável realidade do alto índice de
criminalidade que assola todo o País, alcançando níveis acima da média mundial, o que gera o
acontecimento de diferentes tipos de crimes todos os dias. Com o elevado nível de
criminalidade surge uma enorme necessidade de repressão, para tanto utiliza se do poder
estatal para fazê-la, com objetivo de alcançar a paz social, acarretando em um problema
organizacional e estrutural ainda maior, que é a superlotação carcerária, existindo celas com
índices de 200% acima de sua capacidade de abrigo.
Nessa linha de raciocínio, com o passar do tempo percebemos que o crescimento dos números
de delitos contra o patrimônio aumentaram consideravelmente, na mesma frequência da
criminalidade em geral, manifestando-se uma grande interrogação acerca do porque desse
aumento e então nos deparamos com a principal causa: a abundante diferença das classes
sociais predominantes; haja vista que a pobreza e a miséria é realidade da maior parte da
população brasileira envolvendo diretrizes estruturais da sociedade.
Pelo prisma da Justiça, observa-se que o equilíbrio é mola mestre para sua materialização de
forma ideal e proporcional, devendo os direitos serem assegurados igualitariamente e
imparcialmente. Suas aplicações práticas variam de acordo com cada contexto social e sua
perspectiva interpretativa, gerando diversas controvérsias no mundo do Direito.
Por conseguinte, é nesse contexto que se inclui o furto famélico, sob a ótica social do indivíduo
e o poder de justiça, uma vez que configura se o furto famélico quando o indivíduo comete
furto de algum gênero alimentício para si ou para outrem, em estado de extrema penúria
impulsionado pela fome ou seja pela inadiável necessidade de se alimentar. Por esta análise de
circunstâncias não seria justo apenar se o indivíduo por este ato, embora tipicamente previsto.
No entanto a motivação jurídica dessa solução é o que nos traz a esta problemática, a questão
seria responder se: o que justifica a não punição do furto famélico seria a causa de excludente
de ilicitude do estado de necessidade, conforme o artigo 24 do Código Penal (CP), Decreto Lei
de N° 2848 de 7 de dezembro de 1940 ou a aplicação do princípio da insignificância e a sua
incidência.
Nesse diapasão, verifica se que o furto famélico no regramento se dá através de
posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais, o adverso de outras problemáticas que se
manifestam pelo Estado através de normas jurídicas.
Posto isto, o trabalho tem por objetivo através de um estudo bibliográfico levantar subsídios
que nos permitem estudar o crime de furto famélico em uma estrutura de pesquisa
dividida em cinco pontos principais sendo, o primeiro baseado na evolução histórica do furto
famélico, conceito e elementos predominantes, o segundo sobre a incidência do princípio da
insignificância nos casos de furto famélico no Brasil, o terceiro acerca do posicionamento
jurisprudencial, sobre qual a natureza jurídica do furto famélico e qual sua aplicação pelos
Tribunais na prática, o quarto dando enfoque a inexigibilidade de Conduta Diversa e por último
se o agente está agindo em estado de necessidade.
Dessa feita, a problemática do tema em estudo visa identificar se ocorre a caracterização do
furto famélico como crime, ademais se o indivíduo que o comete sofre repressão e sanção
penal, Nesse sentido o estudo proposto busca além disso através de pesquisa em doutrina,
decisões, artigos, livros e jurisprudências, firmar entendimento principalmente acerca de qual a
natureza jurídica do furto famélico, e a incidência do princípio da insignificância em tais casos.
3. TIPICIDADE E ATIPICIDADE
De início, destaca-se que crime é todo fato típico ilícito e culpável. Sendo assim, os elementos
do fato típico são: conduta (dolosa ou culposa), resultado naturalístico, nexo causal e
tipicidade, que serão abordados cada um especificamente posteriormente.
Nessa senda, atualmente existe a tipicidade formal que é a relação de adequação entre um fato
concreto e a norma penal. Além disso, temos a tipicidade material que é a lesão ou ameaça de
lesão ao bem juridicamente tutelado. No contexto desta pesquisa o princípio da insignificância
exclui a tipicidade material do furto famélico, tornando o fato atípico.
Em uma breve explanação a tipicidade pode se caracterizar também como a adequação de um
fato cometido à descrição que dele se faz na lei penal. Por imperativo do princípio da
legalidade, em sua vertente do nullum crimen sine lege, só os fatos tipificados na lei penal
como delitos podem ser considerados como tal".
A adequação da conduta do agente ao modelo abstrato previsto na lei penal (tipo) faz surgir a
tipicidade formal ou legal. Essa adequação deve ser perfeita, pois, caso contrário, o fato será
considerado formalmente atípico.
Uma peculiaridade importante a ser salientada é que não se aplica o princípio da
insignificância no crime de roubo por que há emprego de violência ou grave ameaça. Da
mesma forma, não se aplica o princípio da insignificância ao crime de moeda falsa porque o
bem jurídico, fé pública é intangível.
Sobre os elementos abordados incialmente constata se que em se tratando do dolo existe três
teorias atualmente acerca de sua caracterização, sendo elas: Teoria da vontade, onde dolo é
querer o resultado, teoria da representação onde dolo é prever o resultado e teoria do
consentimento, que se concretiza em dolo é assumir o risco de produzir o resultado.
Em relação a culpa entende-se que no crime culposo o que é involuntário é o resultado. Artigo
18, inciso II do CP. No crime culposo, a conduta é voluntária, sendo involuntário o resultado,
porém em alguns casos o agente não tem a intenção de chegar ao resultado, não incorrendo em
crime culposo. incorrendo a culpa também em três modalidades sendo elas imprudência,
determinada como culpa de quem age, negligência, sendo a culpa de quem se omite e
imperícia, caracterizada pela culpa desempenhada na arte ou profissão.
Porquanto, toda conduta gera um resultado, sendo ela involuntária ou não e no caso em
questão para caracterização de tipicidade ou crime, o resultado é importantíssimo uma vez que
existe grandes variações sobre a conduta inicial até o resultado fim entrando também o nexo de
causalidade, nosso último elemento. Já que toda conduta gera um resultado, observar se a
conduta inicial se relaciona intimamente com o resultado é importantíssimo para a baila, uma
vez que para caracterização da tipicidade o nexo o elo de ligação deve existir.
Por fim, em relação a atipicidade, consiste quando há a ausência do que foi abordado em
primeiro momento, ausência de tipicidade, ou seja se não haver tipicidade não existe fato
típico e consequentemente não há crime. Existe milhares de teses de atipicidade, porém para o
nosso tema o mais importante é a atipicidade pelo princípio da insignificância.
4. DO FURTO FAMÉLICO
4.1. Breves Considerações sobre o Furto Famélico
Em se tratando mais especificamente sobre o furto famélico, caracteriza-se quando o indivíduo
subtrai algum tipo de gênero alimentício para si ou para terceiro, com o intuito de saciar a
fome, com tipificação no artigo 155 do Código Penal.
Nessa senda, atualmente é muito discutido sobre a caracterização de tipicidade e qual a
natureza jurídica do furto famélico, fato gerador de grandes posicionamentos acerca do
assunto. Inicialmente analisando pelo ângulo social e governamental que engloba o tema,
observa-se que a caracterização da tipicidade nesse tipo de caso afronta com a realidade
que vivemos atualmente, onde crimes como peculato praticado pelos gestores que vivem em
situação da alta sociedade são relativizados e muitas das vezes despercebidos, e aquele
individuo vivendo em extrema pobreza sem condições e oportunidades de conseguir
emprego abandonado pelo Estado, quando subtrai alimento para saciar sua fome ou de seus
familiares, acaba muita das vezes sendo preso, caracterizando sua conduta como crime,
acarretando em uma sanção penal.
Por conseguinte, no ângulo histórico a atipicidade do furto famélico era reconhecida com o
argumento de que o indivíduo que o praticasse, já estava sendo punido pela sua falta de
dignidade e sua condição de vida.
Segundo Hungria (1967, na idade média, tendo como base o direito canônico, o
furto famélico já era reconhecido como inimputável, onde diziam que não seria punido a
pessoa que furtava em situação de necessidade, sendo assim excluía-se o dolo .
Entretanto, com o passar do tempo a necessidade de reprimir tudo que acontece no País
aumentou e para transmitir a população uma ideia de que o sistema prisional e o poder de punir
do Estado é eficiente, maquiando o enorme problema estrutural que o Estado vive no combate
contra a violência com o encarceramento em massa, tentativa está falha, sendo só mais um
exemplo das aterrorizadoras políticas públicas brasileiras e a má administração dos nossos
gestores que, ao invés de agir dessa forma o Estado deveria garantir em primeiro momento a
redução das desigualdades sociais, protegendo e garantindo a dignidade humana de cada
cidadão.
Nessa perspectiva, o princípio da intervenção mínima do Estado se faz imprescindível,
O Direito Penal só deve ser aplicado quando estritamente
necessário, de modo que a sua intervenção fica condicionada ao fracasso das demais esferas de
controle (caráter subsidiário), observando somente os casos de relevante lesão ou perigo de
lesão ao bem juridicamente tutelado (caráter fragmentário)".
O Direito, independentemente do ramo em que se considere, tem a função precípua de garantir
a manutenção da paz social, solucionando ou evitando conflitos de forma a permitir a reputar
convivência em sociedade. Por isso, normas, por exemplo, de Direito Civil determinam que,
uma vez praticado um ato ilícito, faz-se necessária a reparação, e, por sua vez, a Direito
Processual Civil prevê mecanismos aptos a compelir o autor de tal ato a remediar o dano
causado.
No entanto, há casos em que somente o Direito Penal é capaz de evitar a ocorrência de atos
ilícitos ou de puni-los à altura da lesão ou do perigo a que submeteram determinado bem
jurídico, dotado de relevância para a manutenção da convivência social pacifica. É a partir daí
que se verifica a importância do princípio da intervenção mínima destinado especialmente ao
legislador, segundo o qual o Direito Penal só deve ser aplicado quando estritamente necessário
ultima ratio, mantendo-se subsidiário. Deve servir como a derradeira trincheira no combate aos
comportamentos indesejados, aplicando-se de forma subsidiária e racional à preservação
daqueles bens de maior significação e relevo.
Na lição de Bitencourt (2020, p 10), o princípio da intervenção mínima Orienta e limita o
poder incriminador do Estado, preconizando que a criminalização de uma conduta só se
legitima se constituir meio necessário para proteção de determinado bem jurídico Se outras
formas de sanção ou outros meios de controle social revelarem-se suficientes para a tutela
desse bem, a sua criminalização é inadequada e não recomendável. Se para o restabelecimento
da ordem jurídica violada forem suficientes medidas civis ou administrativas, são estás que
devem ser empregadas e não as penais"
Seguindo a mesma linha, Fragoso (1984 p 37) Desde logo se deve excluir
do sistema penal a chamada criminalidade de bagatela e os fatos puníveis que se situam
puramente na ordem moral, A intervenção punitiva só se legitima para assegurar a ordem
externa. A incriminação só se justifica quando está em causa um bem ou valor social importan
Por fim a Constituição Federal de 1988, especificamente em seu Artigo 1°, inciso III,
estabelece que a dignidade da pessoa humana é um direito fundamental do Estado democrático
de Direito, o qual assegura que as pessoas são iguais perante a lei, não sendo admitido
quaisquer tipos de discriminações ou preconceitos, tendo a pessoa direitos e deveres
fundamentais com intuito de eludir atividades de caráter humilhante e desumano, o qual se faz
digno perante o Estado e a Sociedade.
4.2. Princípio da Insignificância e a sua incidência nos casos de Furto Famélico no
Brasil
Pelo prisma do princípio da Insignificância constatamos que para ser feita uma análise
adequada sobre o tema devemos observar alguns apontamentos acerca da tipicidade penal.
Primeiramente, leva-se em consideração que antigamente a doutrina em sua maior parte
entendia que a tipicidade como sendo a subsunção da conduta empreendida pelo agente a
norma abstratamente prevista. Essa adequação conduta/norma é denominada de tipicidade
formal, porém atualmente a tendência é a de conceituar a tipicidade penal pelo seu aspecto
formal atrelado a tipicidade conglobante.
Atipicidade conglobante, por sua vez, dever ser analisada sob a dois aspectos, sendo o
primeiro, se a conduta representa relevante lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico (tipicidade
material) e a segunda se a conduta é determinada ou fomentada pelo direito penal
(antinormatividade.
Assim, não basta a existência de previsão abstrata a que a conduta empreendida se amolde
perfeitamente, sendo necessário que essa conduta não seja fomentada e que atente de fato
contra o bem jurídico tutelado. Deverá ser feito um juízo entre as consequências do crime
praticado e a reprimenda a ser imposta ao agente.
O princípio da Insignificância tem lugar justamente nesse primeiro aspecto da tipicidade
conglobante, a tipicidade material.
Segundo Manãs (1994, p 22). "o princípio da insignificância surge como instrumento de
interpretação restritiva do tipo penal que, de acordo com a dogmática moderna, não deve ser
considerado apenas em seu aspecto formal, de subsunção de fato à norma, mas,
primordialmente, em seu conteúdo material, de cunho valorativo, no sentido da sua efetiva
lesividade ao bem jurídico tutelado pela norma penal, o que consagra o postulado da
fragmentariedade do direito penal." Para ele, tal princípio funda-se "na concepção material do
tipo penal, por intermédio do qual é possível alcançar, pela via judicial e sem macular a
segurança jurídica do pensamento sistemático, a proposição político criminal da necessidade de
descriminalização de condutas que, embora formalmente típicas, não atingem de forma
socialmente relevante os bens jurídicos protegidos pelo Direito Penal."
A aplicação do princípio da insignificância não é irrestrita. Não é suficiente que o valor do bem
subtraído seja irrelevante. Os Tribunais Superiores estabelecem alguns requisitos necessários
para que se possa alegar a insignificância da conduta. São eles: a mínima ofensividade da
conduta do agente, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau
de reprovabilidade do comportamento e, por fim, a inexpressividade da lesão jurídica causada.
Como bem observa Queiroz (2020 p 34), tais requisitos exigidos pelo STF para permitir a
aplicação do princípio da insignificância parecem tautológicos "Sim, porque se mínima é a
ofensa, então a ação não é socialmente perigosa; se a ofensa é mínima e a ação não perigosa,
em consequência, mínima ou nenhuma é a reprovação, e, pois, inexpressiva a lesão jurídica .
Enfim, os supostos requisitos apenas repetem a mesma ideia por meio de palavras diferentes,
argumentando em .
Pelo aspecto da incidência do principio da insignificância nos casos de furto famélico no
Brasil, constata se que a aplicabilidade do princípio se encontra na análise de todos os aspectos
do caso concreto, a fim de esclarecer se o agente feriu o bem jurídico de forma significativa a
ponto de lhe causar lesão e qual o grau de lesão, ou seja deve-se analisar em conjunto a
culpabilidade, antecedentes, a conduta social do agente, sua personalidade, os motivos os quais
o levou a cometer o crime e as consequências.
Em se tratando mais especificamente sobre a incidencia princípio da insignificância nos casos
de furto famélico no Brasil é notável as negativas dos Tribunais acerca da aplicação do
princípio da insignificância nos casos em que o agente é reincidente ou furta gêneros
alimentícios de elevados valores, superando os requisitos para aplicação.
Por outro lado, observa-se que, se o agente for primário ocorre a aplicação da excludente de
tipicidade, afastando a tipicidade material aplicando o princípio da insignificância, onde se
exclui do tipo os fatos de mínima perturbação social, onde o alto custo social e desgaste
processual não seriam justificados.
Segundo Manãs (1994, p 15), o princípio da insignificância é um instrumento de interpretação
penal, o qual não deve ser considerado apenas em sua perspectiva formal, mais principalmente
na forma material no sentido de lesão ao bem jurídico
Portanto o princípio da Insignificância é de suma importância trazer à baila, pois além de ser o
princípio norteador no entendimento de parte dos doutrinadores é o princípio adotado na
maioria dos Tribunais Brasileiros para a resolução dos casos de furto famélico no Brasil, sendo
assim a melhor forma de enquadramento em sua natureza jurídica é a incidência do mesmo.
5. CONCLUSÃO
Este trabalho teve como objetivo principal a busca pela natureza jurídica do furto famélico e
sua melhor forma de aplicação, visando constatar a incidência do princípio da insignificância
nos casos de furto famélico, além de outras possibilidades que os Doutrinadores e a
Jurisprudência norteiam como excludente de ilicitude em estado de necessidade e excludente
de culpabilidade em inexigibilidade de conduta diversa.
Em primeiro momento na introdução foi abordado sobre o alto índice de criminalidade no
Brasil e suas condições carcerárias, relacionando com o aumento dos crimes contra o
patrimônio, com isto foi discutido sobre o furto como forma geral, seu conceito e seus
contextos sociais e econômicos que o envolve e logo depois sobre o furto famélico como forma
geral no mesmo prisma do furto em geral, levando se em consideração também a justiça e suas
formas de aplicações.
Posteriormente entrou-se na seara do furto famélico de maneira especifica, observando fatos
históricos e atuais, sendo que em suas breves considerações, constatou se que em alguns casos
de furto famélico o indivíduo que o comete é condenado e sofre sanção penal, sendo tal
possibilidade uma lastima para o sistema judiciário brasileiro, uma vez que restou claro que a
intenção do autor não é aumentar seu patrimônio, tampouco causar prejuízo a vítima, mas
suprir sua enorme necessidade de saciar sua fome ou de outrem, para evitar sua morte, em um
contexto onde direitos básicos de sobrevivência não estão sendo garantidos, seja pela família,
sociedade ou Estado, sendo assim o indivíduo não poderia sofrer sanção penal.
Durante a pesquisa, ficou evidenciado que em sua maioria a jurisprudência têm adotado o
princípio da insignificância nos casos de furto famélico quando pesquisado sobre o
posicionamento jurisprudencial acerca do tema, por entender que o valor furtado é ínfimo não
afetando de forma relevante o bem jurídico tutelado.
Verificou-se também que a maioria dos doutrinadores entendem que o indivíduo age em estado
de necessidade, sob a tutela de que o agente estaria correndo perigo atual, com a necessidade
de saciar sua fome e evitar sua morte, porém o estado de necessidade não é a melhor forma de
aplicação para a não punição do indivíduo que pratica o furto famélico, tendo em vista que
ocorre controvérsias negativas em relação a sua formalidade, sobre se o indivíduo estaria
agindo em perigo atual ou iminente, com isto constatou se que o indivíduo age em perigo
iminente, o que contraria o diploma legal da excludente de ilicitude em estado de necessidade.
Conclui-se portanto, que o tema ora em estudo merece toda a atenção dos operadores do
direito, devendo o judiciário analisar o caso concreto em todo o seu contexto, e em caso de
colisão de princípios, fazer prevalecer aquele que menor prejuízo causar ao indivíduo, isto é,
com base na ponderação e com fundamento nos postulados constitucionais, despenalizar a
conduta, quando esta for praticada em estado de extrema pecúnia, devendo ser aplicado o
princípio da insignificância, princípio este de enorme incidência e importância, sendo aplicado
pela maioria dos Tribunais, afastando a tese dos doutrinadores sobre o estado de necessidade
tendo em vista que como já concluído o indivíduo não age em perigo atual e sim em perigo
iminente, além do mais o princípio da insignificância é o princípio ideal para a solução dos
casos, pois afasta a tipicidade do furto famélico, utilizando da melhor forma e enquadramento
para o direito brasileiro, analisando sempre de acordo com cada caso concreto e o contexto
social que o indivíduo vive, sem banalizar a ação do furto, evitando que ocorra a
marginalização que o estado de necessidade e demais aplicações poderia provocar.
6. REFERÊNCIAS