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2. Quem é um fofoqueiro? É quem coleta informações ֵאיזֶ הּו ָרכִ יל? זֶ ה ֶׁשטֹועֵ ן ְּד ָב ִרים וְ הֹולֵ ְך ִמּזֶ ה.ב
e vai de pessoa em pessoa, contando: “Assim disse ּכָ ְך וְ כָ ְך ָׁש ַמעְ ִּתי, ּכָ ְך ָא ַמר ְּפלֹונִ י:אֹומר ֵ ְלָ זֶ ה ו
fulano” ou “Assim escutei sobre fulano”. Mesmo se ֲה ֵרי זֶ ה- ַאף ַעל ִּפי ֶׁשהּוא ֱא ֶמת.עַ ל ְּפלֹונִ י
ele só conta verdades, isso causa a destruição do
mundo.809 Há um pecado ainda mais grave incluído יֵ ׁש ָעֹון ּגָ דֹול ִמּזֶ ה עַ ד809.ַמ ֲח ִריב ֶאת ָהעֹולָ ם
nesta mesma proibição: é maledicência (lashon
810
. וְ הּוא לָ ׁשֹון ָה ָרע,ְמאֹד וְ הּוא ִּבכְ לָ ל לָ או זֶ ה
hará),810 i.e., falar mal do próximo, mesmo que seja אֹומר
ֵ ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש, ַה ְּמ ַס ֵּפר ִּבגְ נּות ֲח ֵברֹו:וְ הּוא
verdade. Já quem divulga falsidades é chamado de מֹוצִ יא ֵׁשם ַרע:אֹומר ֶׁש ֶקר ְנִק ָרא ֵ ֲא ָבל ָה.ֱא ֶמת
difamador. Maledicente é quem senta e conta, em ּיֹוׁשב
ֵ זֶ ה ֶׁש- ֲא ָבל ַּבעַ ל לְ ׁשֹון ָה ָרע.עַ ל ֲח ֵברֹו
tom pejorativo: “Fulano fez isso”, “Assim e assim
eram os pais dele”, “Ouvi isso a respeito dele”. Sobre וְ כָ ְך וָ כָ ְך ָהיּו, ּכָ ְך וְ כָ ְך עָ ָׂשה ְפלֹונִ י:אֹומר ֵ ְו
uma pessoa como essa o versículo declarou:811 “Que וְ ָא ַמר ְּד ָב ִרים, וְ כָ ְך וָ ּכָ ְך ָׁש ַמעְ ִּתי עָ לָ יו,בֹותיו
ָ ֲא
D-us remova todos os lábios afiados, as línguas "יַ כְ ֵרת יְ יָ ּכָ ל811:אֹומרֵ עַ ל זֶ ה ַהּכָ תּוב.ֶׁשל גְ נָ אי
faladoras de grandezas”. ."ִׂש ְפ ֵתי ֲחלָ קֹות לָ ׁשֹון ְמ ַד ֶּב ֶרת ּגְ דֹלֹות
3. Os sábios declararam:812 “Os castigos de três ָׁשלׁש עֲ ֵברֹות נִ ְפ ָרעִ ין812: ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים.ג
pecados são cobrados do homem neste mundo e o וְ ֵאין לֹו ֵחלֶ ק לָ עֹולָ ם,ִמן ָה ָא ָדם ָּבעֹולָ ם ַהּזֶ ה
805- Em hebraico o termo meraguêl significa também “espionar”. Rashi, ao comentar o versículo seguinte em Vaikrá, explica que
um espião e um fuxiqueiro agem de modo similar: ambos colhem informações para levar aos outros.
806- Vaikrá 19:16.
807- Ibid.
808- Em Shmuel I, Cap. 22, lemos que Doêg contou ao rei Shaul que Achimelech, o sacerdote responsável pelo santuário em Nob,
deu a David mantimentos e uma espada. Com raiva pela assistência prestada ao homem que estava perseguindo, Shaul ordenou
o assassinato de Achimelech e de todos os sacerdotes de Nob. Doêg tinha contado a verdade; o próprio Achimelech, se solicitado,
teria contado o mesmo ao rei Shaul. No entanto, a fofoca de Doêg causou a morte de muitos.
809- Como no caso de Doêg, mencionado acima.
810- Em seu Comentário à Mishná (Avót 1:16), o Rambam escreve: “Por falar em maledicência, explicarei do que se trata... pois as
pessoas não dão nenhuma importância a isso. É um pecado muito sério que as pessoas transgridem com frequência”.
811- Tehilim 12:4.
812- Tossefta, Peá 1:2, Arachin 15b. Há também uma alusão a este conceito no versículo citado acima: “Que D-us remova todos
os lábios afiados, as línguas faladoras de grandezas “. Em Hilchót Teshuvá 8:5, o Rambam define “ser removido” como “ter negada
a sua porção no Mundo Vindouro” (Merkavat Hamishnê).
fazem desmerecer a sua porção no Mundo Vindouro: ּוׁש ִפיכּות ְ , וְ גִ ּלּוי עֲ ָריֹות,בֹודה זָ ָרה ָ ֲ ע:ַה ָּבא
Idolatria, relações íntimas proibidas e assassinato. וְ עֹוד ָא ְמרּו813. ּולְ ׁשֹון ָה ָרע ּכְ נֶ גֶ ד ּכֻ ּלָ ן- ָּד ִמים
Mas a [gravidade da] maledicência [equivale] ּכָ ל ַה ְּמ ַס ֵּפר ִּבלָ ׁשֹון ָה ַרע ּכְ ִאּלּו814:ֲחכָ ִמים
a todos os três somados”.813 Os sábios disseram
também:814 “Quem fala mal do próximo é como "א ֶׁשר ָא ְמרּו ֲ 815: ֶׁשּנֶ ֱא ַמר,ּכֹופר ָּב ִע ָיקר ֵ
se renegasse a sua crença em D-us, conforme está
816
."לִ לְ ׁשֹנֵ נּו נַ גְ ִּביר ְׂש ָפ ֵתינּו ִא ָּתנּו ִמי ָאדֹון לָ נּו
dito:815 ‘Aqueles que disseram: Com nossas línguas לֹוׁשה לְ ׁשֹון ָה ַרע ָ ְׁש817:וְ עֹוד ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים
nos fortaleceremos; nossos lábios conosco estão. אֹומר
ֵ וְ זֶ ה ֶׁש, וְ ַה ְּמ ַק ְּבלֹו,אֹומרֹו
818
ְ ָה- הֹורגֶ ת ֶ
Quem é Senhor sobre nós?’”816 Os sábios disseram .אֹומרֹו
ְ יֹותר ִמן ָה ֵ עָ לָ יו; וְ ַה ְּמ ַק ְּבלֹו
819
mais:817 “Contar maledicência causa a morte de três
pessoas: da pessoa que conta, da pessoa que escuta818
e da pessoa sobre a qual se fala.819 Mas pior é escutar
do que contar”.
813- O Chafêts Chaim (Shemirát Halashón, Cap. 1) explica assim este conceito: O estudo de Torá ultrapassa todas as demais
Mitsvót. Por que? Porque ele envolve fala e pensamento, diferentemente das outras Mitsvót que só envolvem ações. Por outro
lado, maledicência – por fazer uso dessas faculdades mais altas para finalidades indesejáveis – é considerada mais severa do que
outras violações que só envolvem ações.
814- Arachin (loc. cit.).
815- Tehilim 12:5.
816- Rabênu Ioná explica que a maledicência é julgada com tanta severidade porque um comportamento como esse mostra que
a pessoa não estrá consciente da presença de D-us. O Maharal (Chidushei Agadót, Arachin, loc.cit.) explica este conceito sob uma
dimensão espiritual. D-us criou o universo através da fala. Portanto, quem usa a sua faculdade da fala contra a vontade de D-us
está negando o poder criativo de D-us.
817- Arachin (loc. cit.), Talmud Ierushalmi, Peá 1:1.
818- Em Hilchót San-hedrin 21:7, o Rambam escreve que também a pessoa que escuta maledicência viola um preceito da Torá.
Pessachim 118a afirma: “Ouvir maledicência é pior do que contar”.
819- Nossos sábios apontam para o caso mencionado na Halachá 1 deste capítulo, a respeito de Doeg contando maledicência
sobre Achimelech para o rei Shaul: ao final, todos os três foram mortos. O Rebe de Lubavitch explicou que o motivo de Lashon
Hará prejudicar também a pessoa sobre a qual se fala – embora ela não tenha cometido nenhuma transgressão, sendo apenas
uma vítima – é que graças à maledicência, que é a revelação de uma verdade (diferentemente de difamação), fica revelado o mau
que está oculto no próximo, e por isso ele é prejudicado.Se não se falasse a respeito, o mau que está nele permaneceria latente, e
não se revelaria (Likutei Sichót Vol. 29 pág. 120; Vol. 5 pág. 44).
820- I.e., embora tal conversa não seja maledicência, ela é uma extensão desse pecado, pois leva as pessoas a dizer (ou, ao menos,
a pensar) coisas negativas a respeito de outrem.
821- Depreende-se das palavras do Rambam que só é proibido falar bem de outrem perante o inimigo dele, mas perante outras
pessoas seja permitido fazê-lo. Isso se coaduna com o que consta acima (Cap. 6 Halachá 3): “É preciso que a pessoa exalte as
qualidades dos outros e se preocupe com os bens deles assim como ela se preocupa com os próprios bens”. No entanto o Alter Rebe,
em seu Shulchan Aruch Harav (156:2), ao copiar a linguagem do Rambam acrescenta: “Contudo, é permitido exaltar as virtudes
dele perante os amigos, desde que não se exagere... para que não se chegue a desprezá-lo”. Ou seja, não há obrigação de falar bem de
outrem, mas só permissão, e mesmo assim, deve ser feito sem exageros (Rebe de Lubavitch em Likutei Sichot Vol. 27 pág. 161 nota 42).
com que falem depreciativamente sobre ela.822 וְ עַ ל זֶ ה ָהעִ נְ יָ ן822.ּגֹורם לָ ֶהם ֶׁשּיְ ַס ְּפרּו ִּבגְ נּותֹו ֵ
Shelomó disse a esse respeito:823 “Quem abençoa "מ ָב ֵרְך ֵרעֵ הּו ְּבקֹול ּגָ דֹול ְ 823:ָא ַמר ְׁשֹלמֹה
seu próximo em alta voz de manhã bem cedo, o ֶׁש ִּמּתֹוְך,"ַּבּב ֶֹקר ַה ְׁשּכֵ ם ְקלָ לָ ה ֵּת ָח ֶׁשב לֹו
terá amaldiçoado”, pois a sua bondade pode causar
danos.824 Similarmente, [deve-se considerar “pó de וְ כֵ ן ַה ְּמ ַס ֵּפר ְּבלָ ׁשֹון824.טֹובתֹו ָּבא לִ ֵידי ָרעָ תֹו ָ
maledicência”] quem conta maledicência em tom de לֹומר ַ ְ ּכ,ָה ַרע ֶּד ֶרְך ְׂשחֹוק וְ ֶד ֶרְך ַקּלּות רֹאׁש
chacota e de maneira frívola, como se não estivesse הּוא ֶׁש ְּׁשֹלמֹה ָא ַמר. ֶׁש ֵאינֹו ְמ ַד ֵּבר ְּב ִׂשנְ ָאה-
instigando seu ódio. Também sobre isso Shelomó "ּכְ ִמ ְתלַ ְהלֵ ַּה ַהּי ֶֹרה זִ ִּקים ִחּצִ ים825:ְּב ָחכְ ָמתֹו
falou em sua sabedoria:825 “Como alguém que se וְ כֵ ן ַה ְּמ ַס ֵּפר." וְ ָא ַמר ֲהל ֹא ְמ ַׂש ֵחק ָאנִ י...וָ ָמוֶ ת
diverte lançando brasas, flechas e morte, e diz: ‘Eu
só estava brincando’”. [Também está incluído nessa וְ הּוא ֶׁשּיְ ַס ֵּפר לְ ֻתּמֹו,לָ ׁשֹון ָה ַרע ֶּד ֶרְך ַר ָּמאּות
definição] quem conta maledicência sobre outrem יֹודעַ ֶׁש ָּד ָבר זֶ ה ֶׁש ִד ֵּבר לָ ׁשֹון ָה ַרע ֵ ּכְ ִאּלּו ֵאינֹו
ardilosamente, se fazendo de inocente, como se não ַיֹודעֵ ֵאינִ י:אֹומר ֵ ֶאלָ א ּכְ ֶׁש ְּמ ַמ ִחים ּבֹו,הּוא
soubesse que está proferindo maledicência; e que ao ֶׁש ָד ָבר זֶ ה לָ ׁשֹון ָה ַרע אֹו ֶׁש ֵאּלּו ַמעֲ ָׂשיו ֶׁשל
ser censurado, se desculpa alegando: “Eu não sabia .ְפלֹונִ י
que se tratava de uma maledicência, ou que fulano
estava envolvido”.
5. É considerado maledicência falar mal do próximo ֶא ָחד ַה ְּמ ַס ֵּפר ְּבלָ ׁשֹון ָה ַרע ִּב ְפנֵ י ֲח ֵברֹו אֹו.ה
tanto na presença quanto na ausência dele; ou contar ִאם,ּגֹור ִמים ְ וְ ַה ְּמ ַס ֵּפר ְּד ָב ִרים ֶׁש,ֶׁשּל ֹא ְּב ָפנָ יו
fatos que, quando passados de um a outro, possam לְ ַהּזִ יק ֲח ֵברֹו ְּבגּופֹו,נִ ְׁש ְמעּו ִאיׁש ִמ ִּפי ִאיׁש
causar a ele danos físicos ou monetários ou mesmo
apenas irritação ou temor.826 [Considera-se que]
826
וַ ֲא ִפּלּו לְ ָהצֵ ר לֹו אֹו לְ ַה ְפ ִחידֹו,אֹו ְב ָממֹונֹו
declarações assim, quando feitas na presença de וְ ִאם נֶ ֶא ְמרּו ְּד ָב ִרים ֵאּלּו. ֲה ֵרי זֶ ה לָ ׁשֹון ָה ָרע-
três pessoas, já tenham se tornado de conhecimento וְ ִאם.נֹודע ָ ְ ּכְ ָבר נִ ְׁש ַמע ַה ָּד ָבר ו- לֹוׁשה
ָ ִּב ְפנֵ י ְׁש
público. Portanto, se uma das três repassar o assunto, - לׁשה ַּפ ַעם ַא ֶח ֶרת ָ ִס ֵּפר ַה ָּד ָבר ֶא ָחד ִמן ַה ְּׁש
ela não estará violando a proibição de falar mal do וְ הּוא ֶׁשּל ֹא יִ ְתּכַ ּוֵ ן- ֵאין ּבֹו ִמּׁשּום לָ ׁשֹון ָה ָרע
próximo, desde que a intenção dela não seja de
alastrar o caso e expô-lo ainda mais.
.יֹותר
ֵ לְ ַהעֲ ִביר ַהּקֹול ּולְ גַ ּלֹותֹו
6. Todos os [exemplos] acima mencionados são de ּכָ ל ֵאּלּו ֵהם ַּבעֲ לֵ י לָ ׁשֹון ָה ַרע ֶׁש ָאסּור לָ דּור.ו
pessoas fomentadoras de maledicência. É proibido ַ וְ לִ ְׁשמֹע,יׁשב עִ ָּמ ֶהם
ֵ ֵ וְ כָ ל ֶׁשּכֵ ן ל,ִּב ְׁשכּונָ ָתם
viver na vizinhança de gente assim, quanto mais
sentar-se com elas e ouvir a conversa delas. A sentença
822- Bava Batra 164b relata que o Rabi Iehudá Hanassí certa vez fez um comentário elogioso para o seu filho acerca de um
exemplar do livro de Tehilim. Quando o seu filho lhe contou quem foi o escriba, o Rabi Iehudá Hanassí lhe disse: “Pare de falar
maledicência!” O Talmud explica que os inimigos do escriba certamente pronunciar-se-iam criticando a sua obra, transformando,
assim, o seu louvor em vergonha. Vide também Rambam, Comentário à Mishná (Avót 1:16).
823- Mishlei 27:14.
824- Vide Arachin 16a. Rashi, em Bava Metsia 23B, explica que divulgar informações sobre a riqueza de alguém é considerado
uma maldição, porque abre as portas para que pessoas malvadas o roubem. Deve-se manter essas informações privadas, ao invés
de deixá-las chegar aos ouvidos de potenciais criminosos.
825- Mishlei 26:18-19.
826- Os comentaristas citam Shabat 33b que relata que o Rabi Shimon bar Iochai teceu comentários desfavoráveis sobre as
autoridades romanas. Ao ouvir suas palavras, o Rabi Iehudá ben Garim, com a melhor das intenções, apressou-se em divulgar
as opiniões do mestre. A notícia se espalhou até que, finalmente, chegou aos ouvidos das autoridades romanas, forçando o Rabi
Shimon a ficar treze anos escondido dentro de uma caverna.
8. Similarmente, quem guarda rancor de outro judeu עֹובר ֵ - ּנֹוטר לְ ֶא ָחד ִמּיִ ְׂש ָר ֵאל ֵ וְ כֵ ן ּכָ ל ַה.ח
transgride uma proibição, conforme está dito:833 "וְ ל ֹא ִתּטֹר ֶאת ְּבנֵ י: ֶׁשּנֶ ֱא ַמר,ְּבל ֹא ַתעֲ ֶׂשה
833
“Não guardarás rancor dos filhos do teu povo”. Como אּובן ֶׁש ָא ַמר ֵ ּכֵ יצַ ד ִהיא ַהנְ ִט ָירה? ְר."עַ ֶּמָך
“guardar rancor” pode ser definido? [Por intermédio
de um exemplo.] Reuven pede para Shimon: “Aluga-
אֹו ַה ְׁש ִאילֵ נִ י, ַה ְׂשכֵ ר לִ י ַּביִ ת זֶ ה:לְ ִׁש ְמעֹון
me essa casa “ ou “empresta-me esse touro”, e Shimon לְ יָ ִמים ָּבא ִׁש ְמעֹון. וְ ל ֹא ָרצָ ה ִׁש ְמעֹון,ׁשֹור זֶ ה
não aceita. Alguns dias depois, é Shimon quem pede וְ ָא ַמר לֹו,אּובן לִ ְׁשאֹל ִמ ֶּמּנּו אֹו לִ ְׂשּכֹר ֵ לִ ְר
emprestado ou alugado alguma coisa e Reuven lhe ,מֹותָך ְ ְ ֲה ֵרינִ י ַמ ְׁש ִאילְ ָך וְ ֵאינִ י ּכ, ֵהא לְ ָך:אּובן
ֵ ְר
diz: “Tome. Eu te empresto. Eu não sou como você, עֹובר ֵ ,עֹוׂשה כָ זֶ ה ֶ ָה- ל ֹא ֲא ַׁשּלֵ ם לְ ָך ּכְ ַמעֲ ֶׂשיָך
não me comporto como você se comportou”. Quem
se comporta dessa maneira viola a proibição “não ֶאלָ א יִ ְמ ֶחה ַה ָּד ָבר ִמּלִ ּבֹו834."ְּב"ל ֹא ִתּטֹר
guardarás rancor”.834 Em vez disso, a pessoa deve נֹוטר ֶאת ַה ָּד ָבר ֵ ֶׁשּכָ ל זְ ַמן ֶׁשהּוא.וְ ל ֹא יִ ְּט ֶרּנּו
erradicar o assunto do seu coração e não abrigar לְ ִפיכָ ְך ִה ְק ִּפ ָידה. ֶׁש ָּמא יָבֹוא לִ נְ קֹם,וְ זֹוכְ רֹו
nenhum tipo de ressentimento. Pois cada vez que traz
o assunto à mente e dele se recorda, ela é capaz de עַ ד ֶׁשּיִ ְמ ֶחה ֶהעָ ֹון ִמּלִ ּבֹו,תֹורה עַ ל ַהּנְ ִט ָירה ָ
querer retaliar. É por isso que a Torá condenou guardar וְ זֹו ִהיא ַה ֵּדעָ ה ַהּנְ כֹונָ ה.וְ ל ֹא יִ זְ ּכְ ֶרּנּו ּכְ לָ ל
rancor, [e ordenou] que se erradique inteiramente ּומ ָּׂש ָאםַ ,ֶׁש ֶא ְפ ָׁשר ֶׁשּיִ ְת ַקּיֵ ם ָּבּה יִ ּׁשּוב ָה ָא ֶרץ
do coração a ofensa, a ponto de que ela se torne 835
.ּומ ָּתנָ ם ֶׁשל ְבנֵ י ָא ָדם זֶ ה ִעם זֶ ה ַ
esquecida. Essa qualidade correta permite a existência
da sociedade e a interação entre os homens.835
Bendito é o Misericordioso que nos concede ajuda ְּב ִריְך ַר ֲח ָמנָ א ְד ַסיְ עָ ן
A explicação destas duas Mitsvót poderá ser .ֵּובאּור ְׁש ֵּתי ִּמצְ ֹות ֵאּלּו ִּב ְפ ָר ִקים ֵאּלּו
encontrada ao longo dos capítulos a seguir.
1- Kidushín 29b depreende esse conceito do uso do termo Beneichêm (teus filhos) – que implica uma descendência masculina
– no versículo em que somos preceituados a ensinar a Torá aos nossos filhos. Uma vez que não consta a obrigação de ensinar
às mulheres, elas não são obrigadas a estudar sozinhas. O Shulchan Aruch Harav (Hilchót Talmud Torá 1:14) cita essa lei, mas
acrescenta que as mulheres têm obrigação de estudar as leis pertinentes a todas as Mitsvót que são requeridas a cumprir. Isso
engloba um grande número de Mitsvót, como por exemplo Shabat, Nidá (pureza familiar) e Cashrut. Elas também são obrigadas
a cumprir as Mitsvót de teor espiritual como por exemplo amar D-us, temê-Lo e crer Nele. Consequentemente, elas devem tam-
bém estudar os aspectos da Torá que dizem respeito a esses preceitos. Vide também a Halachá 13 deste capítulo e comentários.
2- I.e. escravos gentios. Mulheres e escravos têm obrigações idênticas. Além disso, Ketubót 28a afirma que um amo é proibido
de ensinar Torá a seus escravos.
3- Por falta de maturidade intelectual eles são isentos de cumprir todas as Mitsvót da Torá. Esse conceito é tão óbvio que para
alguns comentaristas essa palavra nem deveria constar no texto do Mishnê Torá. De fato ela não figura no manuscrito Oxford.
4- Por que o Rambam inicia as leis do estudo da Torá enumerando justamente as pessoas que estão isentas dessa Mitsvá, ao
invés das que têm obrigação de observá-la? É que como ele quis começar com a obrigação do pai de ensinar ao filho, então
colocou antes que a obrigação é do pai e não do filho, uma vez que o filho por si só é isento da observância tanto dessa Mitsvá
quanto das demais (vide nota a seguir). Portanto o Rambam abre os seus ensinamentos com a lista dos que estão isentos, como
é o caso do menor. Mas por que ele quis começar com a obrigação do pai de ensinar ao filho, e não com a obrigação mais
básica de cada um estudar sozinho? Afinal, antes de ensinar é preciso estudar para aprender! Há duas razões para isso: (1)
Devido a essa Mitsvá, diferentemente das outras, começar a vigorar quando a pessoa é ainda menor de idade, quando precisa
ser instruída pelo pai. (2) Devido às palavras do principal versículo que obriga ao estudo da Torá (Devarím 6:7) ordenarem
explicitamente: “E as ensinareis aos teus filhos”, conforme o Rambam explica em seu Sefer Hamitsvót (Rebe de Lubavitch,
Likutei Sichót, vol. 14, pág. 236, e vol. 19, pág. 38). Vide nota a seguir.
5- O Sefer Hamitsvót e o Sefer Hachinuch consideram essa como uma das 613 Mitsvót da Torá.
6- Nazír 29a menciona o preceito rabínico de treinar o filho na prática das Mitsvót. O Rambam menciona essa obrigação a
respeito de muitas Mitsvót – como em Hilchót Chamêts Umatsá 6:10, Hilchót Sucá 6:1— e também a respeito das responsabi-
lidades de um guardião, Hilchót Nachalót 11:10.
7- Devarím 11:19.
8- Embora esse versículo mencione o ensinamento da Torá apenas para os próprios filhos, o Rambam considera que a Mitsvá de
estudar Torá inclui também o estudo da Torá por um adulto (Sefer Hamitsvót, Preceito Positivo 11). No entanto, ele começa a sua
descrição da Mitsvá pela obrigação de ensinar os próprios filhos, uma vez que isso se encontra mencionado explicitamente na
Torá. Vale notar que o Sefer Hamitsvót (ibid.) depreende essa Mitsvá de um outro versículo, Devarím 6:7: “E os ensinarei aos teus
filhos...” Homileticamente, pode-se explicar que a Torá menciona o preceito de estudá-la apenas com relação aos filhos para nos
ensinar que devemos nos dedicar ao estudo da Torá com a mente desocupada e a fé simples das crianças pequenas.
2. Assim como o pai é obrigado a ensinar Torá para o ּכְ ֵׁשם ֶׁש ַחּיָב ָא ָדם לְ לַ ֵּמד ֶאת ְּבנֹו ּכָ ְך.ב
seu filho, ele também é obrigado a ensinar Torá para 12
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר11.הּוא ַחּיָב לְ לַ ֵּמד ֶאת ֶּבן ְּבנֹו
o filho do seu filho,11 conforme está dito:12 “E ensiná-
וְ ל ֹא ְּבנֹו ֶּובן13."הֹודעְ ָּתם לְ ָבנֶ יָך וְ לִ ְבנֵ י ָבנֶ יָך
ַ ְ"ו
las-ei aos teus filhos e aos filhos dos teus filhos”.13
Isso não se aplica apenas com relação ao filho e ao ְּבנֹו ִּבלְ ַבד ֶאלָ א ִמצְ וָ ה עַ ל ּכָ ל ָחכָ ם וְ ָחכָ ם
14
filho do filho;14 todo israelita erudito15 tem a Mitsvá לְ לַ ֵּמד ֶאת ּכָ ל ַה ַּתלְ ִמ ִידים ַאף עַ ל15ִמּיִ ְׂש ָר ֵאל
de ensinar a todos os alunos, mesmo que não sejam ." "וְ ִׁשּנַ נְ ָּתם לְ ָבנֶ יָך16 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ִּפי ְׁש ֵאינָ ן ָּבנָ יו
filhos seus, conforme está dito:16 “E repeti-las-ei aos 18
לָ ְמדּו ָּבנֶ יָך ֵאּלּו ַּתלְ ִמ ֶידיָך17ִמ ִּפי ַה ְּׁשמּועָ ה
teus filhos”. Por tradição oral17 aprendemos que [a
"וַ ּיֵ צְ אּו19 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ֶׁש ַה ַּתלְ ִמ ִידים ְקרּויִ ין ָּבנִ ים
expressão] “teus filhos” se refere a “teus discípulos”,18
pois “discípulos” são também chamados de “filhos”, ִאם ּכֵ ן לָ ָּמה נִ צְ ַטּוָ ה עַ ל ְּבנֹו20."ְבנֵ י ַהּנְ ִב ִיאים
conforme está dito:19 “Saíram os filhos dos profetas”.20 ְּבנֹו לְ ֶבן ְּבנֹו ֶּובן ְּבנֹו21וְ עַ ל ֶּבן ְּבנֹו? לְ ַה ְק ִּדים
Por que então os mandamentos [mencionam 22
.לְ ֶבן ֲח ֵברֹו
explicitamente] “filho” e “filho do filho”? [É para
nos ensinar] que devemos dar precedência21 ao filho
sobre o neto, e ao neto sobre o filho de um próximo.22
3. Além disso,23 a pessoa tem obrigação de contratar וְ ֵאינּו24 לִ ְׂשּכֹר ְמלַ ֵּמד לִ ְבנֹו לְ לַ ְּמדֹו23 וְ ַחּיָב.ג
9- No entanto, conforme algumas opiniões (vide Shlá, Shaar Haotiót), ela tem obrigação de treiná-lo na prática das Mitsvót.
10- Isso é depreendido também em Kidushín, ibid. Mas o Sefer Hachinuch (Mitsvá 419) escreve: “Contudo, é correto que a
mulher se esforce para que seus filhos não venham a ser pessoas simples; ainda que não seja ordenada a fazê-lo, ela será bem
recompensada pelos seus esforços”.
11- A obrigação que se tem pelo filho de um filho não é a mesma que a obrigação que se tem pelo filho de uma filha, ou pelo
bisneto (Késsef Mishnê).
12- Ibid. 4:9.
13- Kidushín 30a louva o avô de Zevulun ben Dan por tê-lo ensinado “a Lei escrita, a Mishná, o Talmud, Halachót e Agadót”.
14- O Rambam considera que essa obrigação não incide sobre um bisneto. No entanto, o Rashi discorda, apontando para
Bereshit 50:23, onde consta que Iossêf no Egito ensinou aos bisnetos, embora fosse vice rei e vivesse extremamente ocupado,
e embora (conforme Bereshit 46:28) houvesse uma Ieshivá no Egito, dirigida por Iehudá (Rebe de Lubavitch, Likutei Sichót,
vol. 20, pág. 247).
15- No Shulchan Aruch Harav (Hilchót Talmud Torá, Kuntres Acharón 1) consta que essa obrigação se aplica apenas a um
indivíduo merecedor dessa descrição. Um estudioso da Torá só fica vinculado a essa obrigação se atingir esse nível de conhe-
cimento.
16- Ibid. 6:7.
17- Sifrí, Vaetchanán. A expressão hebraica Mipí Hashmuá se refere a uma Halachá transmitida por Moshé no Monte Sinai
para a qual possa ser encontrada uma alusão na lei escrita (Iad Malachi).
18- Vide também Capítulo 5, Halachá 12, para uma dimensão alternativa dessa comparação.
19- Melachím 2:3.
20- Eles saíram para receber Elisha em Beit El. Essa mesma narrativa (ibid. 12) relata como Elisha chamou o seu mestre, Eli-
áhu, de “Pai, Pai.” San-hedrín 68a conta que o Rabi Akiva fez uso da mesma expressão para se referir ao mestre dele, o Rabi
Eliezer ben Horkenos. As palavras do Rambam são citadas do Sifrí. Similarmente, San-hedrín 19b relata: “Quem ensina Torá
para o filho de um colega é considerado como se o tivesse gerado”. Em Hilchót Iessodei Hatorá 7:5 o Rambam define com
maior precisão a expressão “os filhos dos profetas”.
21- Vide também a Halachá seguinte.
22- O Késsef Mishnê questiona a obrigação de dar precedência a um descendente. No entanto, o Siftei Cohên (Iorê Deá 245:1)
e o Shulchan Aruch Harav (Hilchót Talmud Torá 1:8) aceitam esse princípio.
23- I.e. outra diferença entre o próprio filho e o de outros. Em algumas edições do Mishnê Torá esse parágrafo faz parte da
Halachá anterior.
um professor para instruir o seu filho,24 mas não é ִמי ֶׁשּל ֹא25.ַחּיָב לְ לַ ַּמד ֶּבן ֲח ֵברֹו ֶאלָ א ְּב ִחּנָ ם
obrigada a assumir os custos da instrução do filho de 26
.לִ ְּמדֹו ָא ִביו ַחּיָב לְ לַ ֵּמד ֶאת עַ צְ מֹו ּכְ ֶׁשּיַ ּכִ יר
um colega, a não ser gratuitamente.25 A pessoa que ּוׁש ַמ ְר ֶּתםְ "ּולְ ַמ ְד ֶּתם א ָֹתם27ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
não tiver sido instruída pelo pai deverá cuidar da sua
própria instrução quando [estiver suficientemente , וְ כֵ ן ַא ָּתה מֹוצֵ א ְּבכָ ל ָמקֹום."לַ עֲ ׂש ָֹתם
madura para] entender,26 conforme está dito:27 “E ִמ ְּפנֵ י ֶׁש ַה ַּתלְ מּוד28קֹודם לַ ַּמעֲ ֶׂשהֵ ֶׁש ַה ַּתלְ מּוד
os estudareis e os guardareis para cumpri-los”. De ֵמ ִביא לִ ֵידי ַמעֲ ֶׂשה וְ ֵאין ַה ַּמעֲ ֶׂשה ֵמ ִביא
29
modo similar, pode-se encontrar em todos os casos .לִ ֵידי ַתלְ מּוד
[a afirmação] de que o estudo tem precedência sobre
a ação,28 pois o estudo conduz à ação,29 ao passo que
a ação não conduz ao estudo.
4. Se alguém quiser estudar Torá e tiver um filho ָ ָהיָ ה הּוא רֹוצֶ ה לִ לְ מֹד.ד
ּתֹורה וְ יֵ ׁש לֹו ֵּבן
a quem deve ensinar Torá30 – o seu [estudo] deve וְ ִאם ָהיָ ה31.קֹודם לִ ְבנֹוֵ הּוא30ּתֹורה ָ לִ לְ מֹד
preceder ao [do] seu filho.31 Mas se o seu filho for
יֹותר
ֵ ּומ ְׂשּכִ יל לְ ָה ִבין ַמה ֶׁשּיִ לְ מֹד
ַ ְבנֹו נָ בֹון
mais capacitado e sagaz e tiver maior facilidade de
entendimento – [o estudo do] filho tem precedência.32 קֹודם ל ֹא
ֵ וְ ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש ְּבנֹו32.קֹודם
ֵ ִמ ֶּמּנּו ְּבנֹו
24- O Léchem Mishnê questiona a fonte dessa norma citando o Rav Iossêf Kolon: uma vez que a Halachá 7 explica que profes-
sores de crianças podem cobrar por seus serviços, é óbvio que os pais devem pagá-los. Outros explicam que como a obrigação
é colocada sobre a pessoa do pai, pode-se assumir que ela se estende também aos seus recursos financeiros. Assim, como a
pessoa é obrigada a pagar pelos estudos de seus filhos, ela não pode deduzir esses custos do dízimo que tem obrigação de doar
para a caridade. No entanto, não há necessidade de economizar no cumprimento dessa obrigação. Beitsá 16a declara que a
renda de uma pessoa para o ano inteiro é predeterminada, com exceção do que ela necessita para os dias de Shabat e Festas
e para a instrução dos filhos na Torá. Quanto a essas exceções, quanto mais ela gastar, mais ela receberá, e quanto menos ela
gastar, menos ela receberá. Além disso, quando a criança passa da idade de seis anos, as despesas dela podem ser deduzidas
do dízimo se elas se dedicarem ao estudo da Torá (Hilchót Matnót Aniím 10:16). Os comentaristas questionam se a obrigação
de pagar a um professor se aplica também a um neto. Diferentemente do Radbaz, o Maharshál e o Siftei Cohên (ibid.) consi-
deram que sim.
25- Como parte da obrigação da pessoa de ensinar Torá. No entanto, todo judeu é obrigado a doar para caridade, e uma das
maiores prioridades da caridade é a educação das crianças (vide Ramá, Chóshen Mishpát 163:3; Shulchan Aruch Harav, Hil-
chót Talmud Torá 1:3.)
26- O Tsemach Tsédek depreende daqui que por não constar “quando crescer” mas “quando entender”, a obrigação também
recai sobre um menor de idade que já entende. Apesar do menor não ser obrigado de uma forma geral a cumprir as Mitsvót
(conforme nota acima), nesse caso, por estar incluído na Mitsvá do pai de instruir, ele faz parte indiretamente dessa obrigação.
Uma circunstância similar é a da mulher, que embora seja isenta da Mitsvá de reproduzir-se (vide Rambam, Hilchot Ishut, cap.
15 Halachá 2), tem parte ativa nessa Mitsvá, que foi ordenada ao homem (Rebe de Lubavitch, Likutei Sichót, vol. 17, pág. 232).
27- Devarím 5:1.
28- I.e. tem precedência sobre a execução das Mitsvót. Aprendemos em Kidushín 40b que certa vez, quando o Rabi Tarfón e
os anciãos jantavam no sótão da casa de Nitsá em Lod, foi-lhes perguntado o seguinte: “O que é mais importante, o estudo ou
a ação”? O Rabi Tarfón respondeu: “A ação é mais importante”. O Rabi Akiva respondeu: “O estudo é mais importante “. No
fim todos eles concluíram por unanimidade: “O estudo é mais importante, pois ele conduz à ação”.
29- Os comentaristas explicam que a opinião do Rabi Tarfón é que o propósito da vida de um judeu é o cumprimento da von-
tade de D-us, que está revelada nas Mitsvót. Ao cumprir as Mitsvót, a pessoa se eleva sobre a sua condição humana e executa
atos Divinos, estabelecendo assim uma conexão com a essência de D-us. A opinião do Rabi Akiva é que também o estudo é
uma Mitsvá, e portanto, ao estudar a Torá, também se cumpre a vontade de D-us. Além disso, através do estudo a pessoa pode
internalizar a sua conexão com a Divindade e revelar a ligação que tem com Ele, não só no âmbito da ação como também do
pensamento. A opinião dos sábios é que a pessoa deve ser completa tanto na ação quanto no estudo. Assim, o estudo é mais
importante por levar à ação. Isso se aplica principalmente a alguém que nunca tenha estudado (vide Tossafót, Kidushín ibid.)
pois, a não ser que estude, ele jamais ficará apto para executar as Mitsvót adequadamente.
30- Mas só tiver condições financeiras para arcar com os estudos de um dos dois.
31- Kidushín 29b. Segundo o Shulchan Aruch Harav (Hilchót Talmud Torá, Kuntres Acharón 1), um pai não tem direito de
negligenciar inteiramente a instrução do filho, independentemente de sua própria habilidade de desenvolvimento. Portanto,
isso se aplica a quando o filho já conquistou uma base de conhecimento da Torá e procura dar continuidade aos seus estudos.
Mesmo quando seu filho tiver prioridade, [o pai] ֶׁשּכְ ֵׁשם ֶׁש ִּמצְ וָ ה עָ לָ יו לְ לַ ֵַּמד ֶאת.ָיִּב ֵטל הּוא
não deve negligenciar [os próprios estudos], pois 33
.ְּבנֹו ּכָ ְך הּוא ְמצֻ ּוֶ ה לְ לַ ֵּמד ֶאת עַ צְ מֹו
assim como ele é ordenado a instruir o filho, ele é
[também] ordenado a se instruir.33
5. A pessoa deve sempre34 estudar Torá e depois se ָ יִ לְ ַמד ָא ָדם34 לְ עֹולָ ם.ה
ּתֹורה וְ ַא ַחר ּכַ ְך יִ ָּׂשא
casar,35 pois quem se casa primeiro não fica com ְׁש ִאם נָ ָׂשא ִא ָּׁשה ְּת ִחּלָ ה ֵאין ַּדעְ ּתֹו35ִא ָּׁשה
a mente livre para o estudo.36 Mas quem tiver os
וְ ִאם ָהיָ ה יִ צְ רֹו ִמ ְתּגַ ֵּבר עָ לָ יו36.ְפנּויָ ה לִ לְ מֹד
impulsos naturais tão preponderantes a ponto de
não conseguir ficar com a mente livre,37 deverá se יִ ָּׂשא ִא ָּׁשה37עַ ד ֶׁשּנִ ְמצָ א ֶׁש ֵאין לִ ּבֹו ָּפנּוי
casar [primeiro] e estudar Torá depois.38
38
.ּתֹורה
ָ וְ ַא ַחר ּכַ ְך יִ לְ מֹד
32- Kidushín ibid. Mesmo se o pai não tiver nenhuma base de estudo da Torá (Shulchan Aruch Harav, Hilchót Talmud Torá 1:7).
33- I.e. embora capacitar o filho para estudar e fazer o próprio estudo estejam incluídos na mesma Mitsvá, a pessoa não pode
cumprir apenas um lado da obrigação, se dedicando apenas à instrução do filho. Ela deve também dedicar um tempo para
estudar sozinha pois a natureza dessa Mitsvá é dobrada (Késsef Mishnê).
34- I.e. até se ela for maior de dezessete, (idade sugerida pela Mishná [Avót 5:22], segundo a interpretação do Rambam, para
a pessoa se casar) (Merchévet Hamishnê).
35- Kidushín ibid. Em Hilchót Ishut 15:2-3, o Rambam escreve que a Mitsvá de estudar Torá é razão suficiente para a poster-
gação da Mitsvá de procriar. Além disso, uma ânsia tão grande pelo estudo que impeça a pessoa de casar não é considerada
pecado.
36- “Com uma pedra ao redor do pescoço, é possível se ocupar do estudo da Torá?” (Kidushín ibid.).
37- I.e. um indivíduo que tem a mente dominada por pensamentos sexuais. Aprendemos em Iomá 29a, a respeito de alguém
nessa situação: “Os pensamentos pecaminosos são piores do que o próprio pecado”.
38- Kidushín ibid. Ele deve consolar-se por saber que ainda terá dois ou três anos para adquirir conhecimentos antes que os
encargos financeiros se avolumem (Shulchan Aruch Harav, Hilchót Talmud Torá 3:1,2).
39- Embora conste em Avót (5:22): “Deve-se começar o estudo dos Escritos Sagrados aos cinco anos de idade”, o Rambam,
baseado em Sucá 42a, explica que alguns elementos do estudo de uma criança devem ser iniciados mais cedo.
40- Devarím 33: 4.
41- O versículo na íntegra: Torá tsivá lánu moshé morashá kehilát iaakov – “A Torá que Moshé nos ordenou é a herança da
congregação de Iaakov”. Esse versículo enfatiza a conexão fundamental de um judeu com a Torá. Quando um herdeiro nasce,
ele se torna o proprietário legal da herança que lhe foi deixada. Como a Torá é a herança de cada judeu, assim que uma criança
judia nasce, ela obtém a sua parte integral da herança espiritual de nossa nação (vide também Capítulo 3, Halachá 1).
42- Ibid. 6:4.
43- O versículo na íntegra: Shemá israêl ado-nai elo-hênu ado-nai echád – “Ouve Israêl, D-us é nosso Senhor, D-us é Um”.
Esse versículo enfatiza a unidade fundamental entre D-us e a criação e nos ensina que há um único D-us, e também que toda
a criação é unificada com Ele. O Menorát Hamaór e o Rashi (Devarím 11:19) enfatizam que não é necessário que a criança
entenda o que recita. A mera recitação desses versículos refina o poder da sua fala e deixa impressões duradouras em seus
processos de raciocínio, ainda que ela não tenha consciência das mensagens intelectuais que eles contêm.
44- Até essa idade falta maturidade suficiente à criança para que ela se dedique aos estudos com diligência (Bava Batra 21a).
O Késsef Mishnê (2:2) explica que essa decisão não contraria a Mishná em Avót citada acima, que pode ser interpretada como
significando “Deve-se começar o estudo dos Escritos Sagrados após os cinco anos de idade “ – i.e. no começo do sexto ano.
Mas o Sefer Mitsvót Gadól (Preceito Positivo 12) interpreta a regra de Avót como significando que quando a criança chega
à idade de cinco anos, o pai deve ensiná-la em casa a ler, e quando ela atinge os seis ou sete, ela deve ser levada à escola. É
possível também interpretar as palavras do Rambam dessa forma.
7. Se for costume local remunerar os professores de ָהיָ ה ִמנְ ַהג ַה ְּמ ִדינָ ה לִ ַּקח ְמלַ ֵּמד ַה ִּתינֹוקֹות.ז
educação infantil, [o professor de seu filho] deverá וְ ַחּיָב לְ לַ ְּמדֹו ְּב ָׂשכָ ר48.נֹותן לֹו ְׂשכָ רֹו ֵ ָׂשכָ ר
ser remunerado.48 [O pai] tem a obrigação de pagar ָמקֹום.ּתֹורה ֶׁש ִּבכְ ָתב ּכֻ ּלָ ּה
49
ָ עַ ד ֶׁשּיִ ְק ָרא
pela instrução até que [o seu filho] possa ler toda49
a Torá Escrita. É permitido receber pagamento pelo
ֻמ ָּתר51ּתֹורה ֶׁש ִּבכְ ָתב ְּב ָׂשכָ ר ָ לְ לַ ֵּמד50ֶׁשּנָ ֲהגּו
ensino da Torá Escrita50 se for esse o costume local;51 ּתֹורה ֶׁש ְּבעַ ל ֶּפה ָאסּור ָ ֲא ָבל.לְ לַ ֵּמד ְּב ָׂשכָ ר
mas pelo ensino da Torá Oral é proibido receber ְ"ר ֵאה לִ ַּמ ְד ִּתי52 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.לְ לַ ְּמ ָדּה ְּב ָׂשכָ ר
pagamento, como [se depreende] do dito:52 “Vejam, 53
''ּומ ְׁש ָּפ ִטים ּכַ ֲא ֶׁשר צִ וַ נִ י וְ גֹו׳
ִ ֶא ְתכֶ ם ֻח ִקים
eu vos ensinei leis e estatutos, conforme Hashem, ַמה ֲאנִ י ְּב ִחּנָ ם לָ ַמ ְד ִּתי ַאף ַא ֶּתם לְ ַמ ְד ֶּתם
54
meu D-us, me ordenou etc.”;53 [segundo ensinam
os sábios, o sentido dessas palavras de Moshé é o
וְ כֵ ן ּכְ ֶׁש ְּתלַ ְּמדּו לְ דֹורֹות לַ ְמדּו.ְּב ִחּנָ ם ִמ ֶּמּנִ י
seguinte]: “Assim como eu aprendi gratuitamente, ל ֹא ָמצָ א ִמי.ְב ִחּנָ ם ּכְ מֹו ֶׁשּלְ ַמ ְד ֶּתם ִמ ֶּמּנִ י
assim também vocês aprenderam de mim 56
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר55 יִ לְ ַמד ְּב ָׂשכָ ר.ֶׁשּיְ לַ ְּמדֹו ְּב ִחּנָ ם
gratuitamente.54 Ensinem as gerações vindouras da ? יָ כֹול יְ לַ ֵּמד לַ ֲא ֵח ִרים ְּב ָׂשכָ ר57.""א ֶמת ְקנֵ ה ֱ
mesma maneira, sem nenhum custo, assim como ָהא לָ ַמ ְד ָּת."לֹומר "וְ ַאל ִּת ְמּכֹר ַ ַּתלְ מּוד
vocês aprenderam de mim”. Não encontrando
alguém que ensine gratuitamente, será preciso pagar
pelo ensino,55 conforme [se depreende] do dito:56
“Compra a verdade”.57 Poder-se-ia [então inferir que
nesse caso fosse permitido ao aluno] cobrar para
ensinar aos outros? Aprendemos [da continuação do
versículo] que “Não a venda”, que ele é proibido de ֶׁש ָאסּור לֹו לְ לַ ֵּמד ְּב ָׂשכָ ר ַאף עַ ל ִּפי ֶׁשּלִ ְּמדֹו
cobrar remuneração para ensinar, mesmo que o seu 58
.ַרּבֹו ְּב ָׂשכָ ר
professor tenha sido pago para instruí-lo.58
8. Todo homem judeu é obrigado a estudar Torá, ָ ּכָ ל ִאיׁש ִמּיִ ְׂש ָר ֵאל ַחּיָב ְּב ַתלְ מּוד.ח
.ּתֹורה
seja ele pobre ou rico,59 sadio ou enfermo,60 jovem61 ֵּבין ָׁשלֵ ם ְּבגּופֹו ֵּבין ַּבעַ ל59ֵּבין עָ נִ י ֵּבין עָ ִׁשיר
ou idoso desprovido de forças.62 Até um pobre que ֵּבין ֶׁש ָהיָ ה זָ ֵקן ּגָ דֹול61 ֵּבין ָּבחּור60ּסּורין ִ ִי
depende de caridade para sobreviver e mendiga de
porta em porta, mesmo tendo esposa e filhos [para ֲא ִפילּו ָהיָ ה עָ נִ י ַה ִּמ ְת ַּפ ְרנֵ ס ִמן62.ֶׁש ָּת ַׁשׁש ּכֹחֹו
sustentar], deve estabelecer um período fixo de estudo ַהּצְ ָד ָקה ְּומ ַחזֵ ר עַ ל ַה ְּפ ָת ִחים וְ ֲא ִפיּלּו ַּבעַ ל ִא ָּׁשה
da Torá de dia e de noite,63 conforme está ordenado:64 ּתֹורה ַּבּיֹום
ָ ָּובנִ ים ַחּיָב לִ ְקּבֹעַ לֹו זְ ַמן לְ ַתלְ מּוד
58- Em seu Comentário À Mishná, o Rambam interpreta Avót 4:7, que declara: “Não faça dela (da Torá) um machado para
cortar”, como ensinando: “Não a considere como um meio para a obtenção do teu sustento”. Ele prossegue elaborando o quão
indesejável – e proibido – é tirar proveito do estudo da Torá: “Alguns acham tolamente que é obrigatório e adequado sustentar
os sábios e estudiosos... que se ocupam do estudo da Torá... Isso é um erro. Não há base conhecida na Torá nem nos dizeres
dos sábios... que suporte essa ideia. Dentre os sábios [do Talmud], não se achará um sequer que tenha pedido dinheiro aos
outros. Eles não foram sustentados em suas escolas preciosas e gloriosas... D-us não nos permita dizer que essas gerações não
eram generosas e não doavam para a caridade. Se um pobre estendesse a mão, ela seria preenchida com ouro e pérolas. Mas
o pobre não agia assim; ele se contentava com o que pudesse auferir do seu trabalho, por menos que fosse ou por muito que
fosse... Hilêl ‘o ancião’ era um lenhador que estudava diante de Shemaiá e Avtalión e vivia em extrema pobreza. Ele era tão
grandioso que seus discípulos foram comparados a Moshé e Aharón... Se ele pedisse às pessoas em benefício próprio, não há
dúvida de que não o deixariam mais cortar árvores... Os sábios não se permitiam tomar dinheiro das pessoas. Eles considera-
vam que aceitar essa ajuda equivaleria a profanar o nome de D-us em público, pois as pessoas passariam então a considerar a
Torá como similar a qualquer outra profissão e zombariam dela”.
59- O Talmud (Iomá 35b) declara: “Hilêl obriga o pobre [a estudar Torá], Rabi Eleazar ben Charsom obriga o rico”. E em
seguida elabora: “Hilêl trabalhava e recebia um Tarpeik [uma moeda de pequeno valor] por dia. Metade ele dava para o vigia
da casa de estudos e a outra metade ele usava para a sobrevivência dele e da sua família. Certo dia ele não conseguiu encontrar
trabalho. O vigia na entrada não o deixou entrar; ele se dependurou então na janela para escutar ‘as palavras do D-us vivo’
de Shemaiá e Avtalión. Por outro lado, o Rabi Eleazar ben Charsom era extremamente rico. Seu pai deixou-lhe mil vilas em
terra firme e mil barcos no mar. Todo dia ele pegava um saco de farinha sobre os ombros e viajava de cidade em cidade para
estudar Torá... Ao longo de toda a sua vida, ele nunca foi inspecioná-los [as vilas e os barcos], mas sentou-se e estudou Torá
sem parar, de dia e de noite”.
60- Bava Metsia 84b conta que o Rabi Elazar ben Shimon foi afligido por dificuldades físicas implacáveis e no entanto per-
maneceu dedicado ao estudo da Torá. De fato, em Eruvín 54a encontramos a recomendação de que estudar Torá auxilia na
recuperação da pessoa doente.
61- Que na exuberância da sua juventude pode ter maior dificuldade para se concentrar nos estudos.
62- Vide Halachá 10.
63- Menachót 99b. Independentemente das responsabilidades e dificuldades que a pessoa possa ter, ela tem a obrigação de re-
servar uma parte determinada do seu dia para o estudo da Torá. Segundo o Shulchan Aruch Harav (Hilchót Talmud Torá 3:4),
quem tiver o potencial de obter um resultado satisfatório no estudo da Torá deverá se devotar exclusivamente para essa meta.
Mas quem possuir uma capacidade mais limitada deverá estabelecer horários fixos para o estudo da Torá e dirigir as suas
energias para o trabalho, auxiliando com a renda auferida os estudiosos da Torá. O Talmud em Berachót (35b) aponta para
a aparente contradição entre o dito (em Iehoshua 1:8): “Essa Torá não deverá sair da tua boca”, e o que consta (em Devarím
11:14): “Tu colherás o teu grão, o teu vinho e o teu azeite”, implicando um envolvimento em trabalho e comércio. O Rabi
Ishmael soluciona essa contradição explicando que a pessoa deve seguir “o jeito do mundo”, envolvendo-se no trabalho e
devotando apenas uma porção das suas energias no estudo da Torá. Já o Rabi Shimon bar Iochai resolve a contradição di-
ferentemente; ele exclama: “Se a pessoa plantar na época do plantio, colher na época da colheita... o que será da Torá? Ao
contrário: quando os judeus agirem conforme a vontade de D-us, o trabalho deles será realizado pelos outros”. O Talmud
conclui: “Muitos seguiram a opinião do Rabi Ishmael e se deram bem. Muitos seguiram a opinião do Rabi Shimon bar Iochai
e não se deram bem”. Embora a dedicação completa e total exigida pelo Rabi Shimon bar Iochai esteja acima do alcance de
muitos, pode-se depreender dessa passagem do Talmud duas diferentes visões da obrigatoriedade do estudo da Torá: a do
Rabi Ishmael, que a considera uma responsabilidade dentro do contexto de nossas atividades diárias; e a do Rabi Shimon bar
Iochai, para quem o estudo da Torá é a base vital da pessoa, e para a qual ela deve se devotar sem levar em consideração as
demandas da sua situação financeira.
64- Iehoshua 1:8.
9. Dentre os grandes sábios de Israêl alguns foram ְ ּגְ דֹולֵ י ַחכְ ֵמי יִ ְׂש ָר ֵאל ָהיּו ֵמ ֶהן.ט
חֹוט ֵבי
lenhadores,66 outros aguadeiros67 e alguns sofreram 68
.סּומים
ִ ּומ ֶהם ֵ 67ׁשֹוא ֵבי ַמיִ םֲ ּומ ֶהן ֵ 66עֵ צִ ים
de cegueira;68 no entanto69 todos estudaram Torá ּתֹורה
ָ עֹוס ִקים ְּב ַתלְ מּוד ְ ָהיּו69וְ ַאף עַ ל ִּפי כֵ ן
de dia e de noite e foram considerados como [parte
da cadeia de] transmissores da tradição oral que foi
וְ ֵהם ִמּכְ לַ ל ַמ ְע ִּת ֵיקי ַה ְּׁשמּועָ ה.ַּבּיֹום ַּובּלַ יְ לָ ה
passada de sábio para sábio desde a boca do nosso
70
.ִאיׁש ִמ ִּפי ִאיׁש ִמ ִּפי מ ֶֹׁשה ַר ֵּבנּו
mestre Moshé.70
10. Até quando a pessoa tem a obrigação de estudar ּתֹורה? עַ ד יֹום ָ עַ ד ֵא ָימ ַתי ַחּיָב לִ לְ מֹד.י
Torá? Até o dia da sua morte,71 conforme está dito:72 "ּופן יָ סּורּו ִמּלְ ָב ְבָך ּכֹל
ֶ 72 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר71,מֹותֹו
“Para que eles não saiam do teu coração todos os dias וְ כָ ל זְ ַמן ֶׁשּל ֹא יַ עֲ סֹק ְּבלִ ּמּוד הּוא."יְ ֵמי ַחּיֶ יָך
da tua vida”. Se a pessoa não ficar permanentemente
envolvida com o estudo, ela o esquecerá.73
73
.ׁשֹוכֵ ַח
11. É preciso dividir o tempo de estudo em três:74 um ְׁשלִ יׁש74. וְ ַחּיָב לְ ַׁשּלֵ ׁש ֶאת זְ ַמן לְ ִמ ָידתֹו.יא
terço deve ser dedicado ao estudo da Torá Escrita, 75
ּתֹורה ֶׁש ְּבעַ ל
ָ ּוׁשלִ יׁש ַּב ְ 75ּתֹורה ֶׁש ִּבכְ ָתב ָ ַּב
um terço à Torá Oral,76 e um terço deve ser usado
ּוׁשלִ יׁש ִיָבין וְ יַ ְׂשּכִ יל ַא ֲח ִרית ָּד ָבר
ְ 76
ֶּפה
para [o estudo que] busca entender um conceito
65- Por mais que o estudo da Torá requeira devoção total do tempo e dos esforços da pessoa, não dá para exigir esse compor-
tamento de qualquer um. Portanto cada pessoa pode segui-lo por opção voluntária, conforme consta no Capítulo 3, Halachá
6: “Quem se sentir inspirado a realizar esse ato de Mitsvá da maneira adequada, coroando-se assim com a coroa da Torá”.
66- Muitos, inclusive o Rambam (Comentário à Mishná, Avót 4:7), citam o exemplo de Hilêl, embora não se encontre uma fon-
te comprobatória no Talmud ou no Midrásh de que Hilêl tenha se ocupado dessa profissão. Em Avót Derabi Natán (Capítulo
6) consta que o Rabi Akiva tinha essa ocupação.
67- Em Ketubót 105a consta que era com esse trabalho que o Rav Huna ganhava a vida.
68- Como o Rav Iossêf e o Rav Sheshet, dois dos maiores Amoraím (Pessachím 116b).
69- Vide comentário sobre a Halachá 7, e o Capítulo 3, Halachót 9-11.
70- Em sua introdução ao Mishnê Torá, o Rambam relaciona a cadeia de mestres que transmitiram a Torá de geração em
geração. Lá ele menciona que Hilêl recebeu a tradição de Shemaiá e Avtalión e a transmitiu para o Rabi Iochanán ben Zakai.
O Rav Huna transmitiu a tradição para o Raba e o Rav Iossêf, que a repassaram para o Abaie e o Rava.
71- Consta no Talmud (Shabat 83b) que a pessoa não pode negligenciar os seus estudos da Torá nem quando sentir que a sua
morte está próxima.
72- Devarím 4:9.
73- O Talmud (Chaguigá 15a) declara: “As palavras da Torá são tão difíceis de serem conquistadas quanto vasos de ouro, e
tão fáceis de se perderem quanto utensílios de vidro”. Segundo o Avót Derabi Natán (24:6), o sentido dessa declaração é que
é fácil esquecer o conhecimento da Torá. Em Devarím (4:9) está escrito: “Sede extremamente cuidadoso... de não esquecer
dessas coisas”. O Sefer Mitsvót Gadól, o Sefer Mitsvót Katán e outros, consideram esse como um dos 613 preceitos, proibindo
o esquecimento da Torá estudada (vide também Menachót 99b, Rav Ovadiá de Bartenura sobre Avót 3:10 e Shulchan Aruch
Harav, Hilchót Talmud Torá 2:4-10). Em seu Sefer Hamitsvót o Rambam não considera essa como uma das proibições da Torá,
nem menciona essa proibição nas Halachót; provavelmente ele considera esse dever como parte da obrigação de estudar Torá
por toda a vida, conforme disposto na presente Halachá.
74- Em Kidushín 30a o Talmud declara: “A pessoa deve sempre dividir os seus anos: um terço deles deve ser dedicado à Torá
Escrita; outro terço à Mishná; e outro terço ao Talmud”. Na presente Halachá, o Rambam define cada uma das três categorias
mencionadas. Na próxima Halachá ele define o significado de “dividir os anos”.
75- O Tanach inteiro, conforme mencionado na Halachá seguinte.
76- I.e. Mishná. Isso não significa que só se deve estudar a Mishná compilada pelo Rabi Iehudá Hanassí, mas também “deci-
sões haláchicas sem tratar dos princípios que as determinaram” (Rashi, Sotá 22a). Conforme se depreende de sua introdução
ao Mishnê Torá (onde ele define essa sua obra como “uma coletânea de toda a Lei Oral”), o Rambam desejou que o seu Mishnê
Torá servisse a esse propósito. Segundo o Siftei Cohên (Chóshen Mishpát 25:7), o termo Mishná se aplica também às decisões
haláchicas das autoridades contemporâneas. Sendo assim, atualmente, o estudo de textos tais como o Shulchan Aruch Ha-
rav serve para atingir esse objetivo.
desde as suas raízes, inferindo um conceito de outro אׁשיתֹו וְ יֹוצִ יא ָּד ָבר ִמ ָּד ָבר וִ ַיד ֶּמה ָּד ָבר ִ ֵמ ֵר
e comparando conceitos, compreendendo pelas 77
ּתֹורה נִ ְד ֶר ֶׁשת ָּב ֶהן
ָ וְ ִיָבין ַּב ִּמּדֹות ֶׁש ַה.לְ ָד ָבר
metodologias das regras de exegética77 através das עַ ד ֶׁשּיֵ ַדע ֵה ַיאְך הּוא עִ ַקר ַה ִּמּדֹות וְ ֵה ַיאְך
quais se estuda a Torá, até alcançar o entendimento
da essência desses princípios e como são derivadas יֹוצִ יא ָה ָאסּור וְ ַה ֻּמ ָּתר וְ כַ ּיֹוצֵ א ָב ֶהן ִמ ְּד ָב ִרים
as proibições e as permissões, e todas as decisões que וְ עִ נְ יָ ן זֶ ה הּוא ַה ְּנִק ָרא.ֶׁשּלָ ַמד ִמ ִּפי ַה ְּׁשמּועָ ה
foram recebidas por tradição oral. Esse último tema 78
.גְ ָמ ָרא
[de estudo] é conhecido como Guemará.78
12. Como [se faz na prática essa divisão de tempo]?79 ֵ ָהיָ ה ַבעַ ל ֻא ָּמנּות וְ ָהיָ ה79? ּכֵ יצַ ד.יב
עֹוסק
Para quem faz trabalho manual e trabalha três horas 80
.ּתֹורה ֵּת ַׁשע
ָ ִּב ְּמלַ אכְ ּתֹו ָׁשלׁש ָׁשעֹות ַּבּיֹום ַּוב
por dia e [devota] nove horas ao estudo da Torá,80 ao ּתֹורה
ָ קֹורא ְּב ָׁשלׁש ֵמ ֶהן ַּב ֵ אֹותן ַה ֵּת ַׁשע ָ
longo dessas nove horas ele deverá passar três horas
lendo a Torá Escrita e três [horas] lendo a Torá Oral;
ּתֹורה ֶׁש ְּבעַ ל ֶּפה ְּוב ָׁשלׁש ָ ֶׁש ִּבכְ ָתב ְּוב ָׁשלׁש ַּב
as outras três deverão ser dedicadas a depreender por וְ ִד ְב ֵרי81.ִמ ְתּבֹונֵ ן ְּב ַדעְ ּתֹו לְ ָה ִבין ָּד ָבר ִמ ָּד ָבר
meio do raciocínio um conceito de outro.81 Os “relatos 84
רּוׁשן
ָ ֵהן ֵּופ83ּתֹורה ֶׁש ִּבכְ ָתב ָ ִּבכְ לַ ל82ַק ָּבלָ ה
da tradição profética”82 são [considerados como] parte וְ ָהעִ נְ יָ נִ ים ַה ְּנִק ָר ִאים.ּתֹורה ֶׁש ְּבעַ ל ֶּפהָ ִּבכְ לַ ל
da Torá Escrita83 e as explicações deles84 como parte da ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים. ִּבכְ לַ ל ַהגְ ָמ ָרא ֵהן85ַּפ ְר ֵּדס
86
Torá Oral. Os assuntos conhecidos como Pardês85 são
considerados como parte [do estudo] da Guemará.86
ֲא ָבל87.מּורים? ִּב ְת ִחּלַ ת ַּתלְ מּודֹו ֶׁשל ָא ָדם ִ ֲא
A qual circunstância [a divisão em três do tempo de ּכְ ֶׁשּיַ גְ ִּדיל ְּב ָחכְ ָמה וְ ל ֹא יְ ֵהא צָ ִריְך ל ֹא לִ לְ מֹד
estudo] acima referida é aplicável? Ao estágio inicial ּתֹורהָ ּתֹורה ֶׁש ִּבכְ ָתב וְ ל ֹא לַ עְ סֹק ָּת ִמיד ַּב ָ
de estudo da pessoa.87 Mas quando ela crescer em ּתֹורה ָ ֶׁש ְּבעַ ל ֶּפה יִ ְק ָרא ְּבעִ ִּתים ְמזֻ ָּמנִ ים
conhecimento e não tiver mais necessidade de estudar ֶׁש ִּבכְ ָתב וְ ִד ְב ֵרי ַה ְּׁשמּועָ ה ּכְ ֵדי ֶׁשּל ֹא יִ ְׁשּכַ ח
a Torá Escrita nem de se ocupar constantemente com
a Torá Oral, ela deverá [apenas] manter horários
תֹורה וְ יִ ָּפנֶ ה ּכָ ל יָ ָמיו לַ גְ ָמ ָראָ ָּד ָבר ִמ ִּד ְב ֵרי ִּדינֵ י
específicos para ler a Torá Escrita e a tradição oral, de . לְ ִפי ר ַֹחב לִ ּבֹו וְ יִ ּׁשּוב ַּדעְ ּתֹו,ִּבלְ ַבד
modo que não acabe se esquecendo de nenhum aspecto
das leis da Torá. [Mas] ela deverá focar a atenção ao
estudo da Guemará por toda a vida, segundo as suas
aptidões e a sua capacidade de concentração.
77- Por exemplo, os “13 Princípios da Exegese Bíblica” enumerados pelo Rabi Ishmael (na introdução ao Sifrí) e os “32 Prin-
cípios” enumerados pelo Rabi Elazar ben Iosse.
78- Vale notar que em diversos manuscritos e edições antigas do Mishnê Torá figura o termo Talmud no lugar de Guemará,
tanto nesta quanto na próxima Halachá, consistente com a composição do texto quase que excluivamente em hebraico, com
pouco uso de termos aramaicos.
79- O Talmud em Kidushín (ibid.) faz essa pergunta, notando que, a princípio, é impossível dividir o ano da pessoa em três,
uma vez que ninguém sabe quanto tempo terá de vida. A solução, explicada lá, é dividir “cada dia” em três.
80- Os exemplos trazidos pelos sábios refletem situações convencionais. Assim, essas colocações nos ensinam como seria
dividido o tempo de uma pessoa comum na época do Rambam.
81- I.e. Guemará.
82- O restante da Bíblia, i.e. as obras dos Profetas – Neviím e os Escritos – Ketuvím (Kidushín 49a).
83- O Talmud (Berachót 5a) relata que o Tanach todo tem como fonte a revelação no Sinai.
84- I.e. os comentários e a explicação do Tanach.
85- Os segredos místicos que descrevem a natureza da Divindade e o Seu poder criador, que são mencionados resumidamente
nos primeiros quatro capítulos de Hilchót Iessodei Hatorá (em particular vide Capítulo 4, Halachá 13).
86- E devem ser estudados conforme as regras dispostas na Halachá citada acima.
87- O Léchem Mishnê explica que o Rambam acrescentou essa explicação para solucionar a aparente contradição entre a práti-
ca comum das pessoas de dedicar a maior parte do tempo ao estudo do Talmud Bavlí (Babilônico), e a determinação de dividir
o tempo do estudo em três partes. Em resposta a essa mesma questão o Tossafót (em Kidushín 30a) considera que o estudo do
Talmud Bavlí também cumpre essa determinação, uma vez que ele combina todas as três áreas de estudo em um texto único.
13. A mulher que estuda Torá é recompensada. תֹורה יֵ ׁש לָ ּה ָׂשכָ ר ֲא ָבל ָ ִא ָּׁשה ֶׁשּלָ ְמ ָדה.יג
Mas a sua recompensa não é [tão grande] quanto וְ כָ ל.ֵאינֹו ּכִ ְׂשכַ ר ָה ִאיׁש ִמ ְּפנֵ י ֶׁשּל ֹא נִ צְ ַטּוָ ת
a do homem, uma vez que ela não foi ordenada a עֹוׂשה ָּד ָבר ְׁש ֵאינֹו ְמצֻ ּוֶ ה ָעלָ יו ֵאין ְׂשכָ רֹו ֶ ָה
cumprir essa Mitsvá. Toda pessoa que faz algo a que
está desobrigada não recebe uma recompensa tão
88
.ּכִ ְׂשכַ ר ַה ְּמצֻ ּוֶ ה ֶׁשעָ ָׂשה ֶאּלָ א ָּפחֹות ִמ ֶּמּנּו
grande quanto quem cumpre uma Mitsvá a que foi ֶׁשּל ֹא89וְ ַאף עַ ל ִּפי ֶׁשּיֵ ׁש לָ ּה ָׂשכָ ר צִ ּוּו ֲחכָ ִמים
ordenada.88 Embora ela receba uma recompensa, 90
ִמ ְּפנֵ י ֶׁשרֹב.ּתֹורה ָ יְ לַ ֵּמד ָא ָדם ֶאת ִּבּתֹו
os sábios ordenaram89 que [o pai] não deve ensinar ַהּנָ ִׁשים ֵאין ַּדעְ ָּתן ְמכֻ ּוֶ נֶ ת לְ ִה ְתלַ ֵּמד ֶאלָ א ֵהן
Torá à filha, já que a maioria90 das mulheres não תֹורה לְ ִד ְב ֵרי ֲה ַבאי לְ ִפי עֲ נִ ּיּות
ָ מֹוצִ יאֹות ִּד ְב ֵרי
consegue concentrar a atenção no estudo e acaba
transformando as palavras da Torá em leviandades ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים 'ּכָ ל ַה ְּמלַ ֵּמד ֶאת ִּבּתֹו.ַּדעְ ָּתן
91
devido à sua incapacidade de compreensão. Os ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים92.'ּתֹורה ּכְ ִאּלּו לִ ְּמ ָדּה ִּת ְפלּות ָ
sábios disseram:91 “Quem ensina Torá à filha é como ּתֹורה
ָ ֲא ָבל.תֹורה ֶׁש ְּבעַ ל ֶּפה ָ מּורים? ְּבִ ֲא
se tivesse ensinado contos e parábolas”.92 A que eles אֹותּה לְ כַ ְּת ִחּלָ ה וְ ִאם ָ ֶׁש ִּבכְ ָתב ל ֹא יְ לַ ֵּמד
se referem? À Torá Oral. Mas [com relação à] Torá .לִ ְּמ ָדּה ֵאינֹו ּכִ ְמלַ ְּמ ָדּה ִּת ְפלּות
Escrita, apesar de não ser recomendável ensiná-la, se
ele a ensinar não será considerado como se a tivesse
ensinado banalidades.
88- O Tossafót (em Kidushín 31a) explica que a pessoa que é ordenada a cumprir uma Mitsvá tem mais consciência de sua
obrigação e procura executá-la com maior obstinação do que a pessoa que cumpre o mesmo ato voluntariamente. A Chassidut
explica o conceito diferentemente. O termo Mitsvá (“preceito”) tem o mesmo radical que Tsavta (“conexão”). O cumprimento
dos preceitos estabelece uma ligação transcedental com a Divindade. Em contraste, a realização de uma ação que não tenha
sido preceituada, por melhor que ela seja, não passa de um ato humano e não estabelece esse nível de ligação.
89- Sotá 20a.
90- Segundo os comentaristas, o Rambam, ao acrescentar o termo “maioria”, implica que se um pai constatar que sua filha tem
capacidade suficiente para compreender tal matéria, ele deverá dar a ela a oportunidade de estudá-la.
91- Sotá 21b.
92- A tradução desses termos se baseia no Comentário à Mishná do Rambam em Sotá (3:3).
1. Deve-se constituir professores de educação מֹוׁש ִיבין ְמלַ ְּמ ֵדי ִּתינֹוקֹות ְּבכָ ל ְמ ִדינָ ה ִ .א
infantil em toda e qualquer nação, em toda e 93
.ּומ ִדינָ ה ְּובכָ ל ֶּפלֶ ְך ֶּופלֶ ְך וְ ְבכָ ל עִ יר וָ עִ יר
ְ
qualquer província e em toda e qualquer cidade.93 Se 94
וְ כָ ל עִ יר ֶׁש ֵאין ָּבּה ִּתינֹוקֹות ֶׁשל ֵבית ַר ָּבן
as crianças de uma cidade não estiverem estudando
Torá, é imposta aos seus habitantes a sanção de ּמֹוׁש ִיבין
ִ ֶאת ַאנְ ֵׁשי ָהעִ יר עַ ד ֶׁש95ַמ ֲח ִר ִימין
Chérem94 (“excomunhão”)95 até que se constituam הֹוׁשיבּו ַמ ֲח ִר ִימין
ִ וְ ִאם ל ֹא.ְמלַ ְּמ ֵדי ִתינֹוקֹות
professores para ensinar as crianças. Caso não o ֶׁש ֵאין ָהעֹולָ ם ִמ ְת ַקּיֵ ם ֶאּלָ א ַּב ֲה ֵבל.ֶאת ָהעִ יר
façam, a cidade [merecerá ser] destruída, uma vez 96
.ִּפ ֶיהם ֶׁשל ִתינֹוקֹות ֶׁשל ֵבית ַר ָּבן
que o mundo só existe em virtude do alento das
crianças que estudam Torá.96
2. Aos seis ou sete anos de idade97 as crianças devem ַמכְ נִ ִיסין ֶאת ַה ִּתינֹוקֹות לְ ִה ְתלַ ֵּמד ּכְ ֶבן.ב
ser levadas [a um professor] para serem instruídas, 98 98
. לְ ִפי ּכ ַֹח ַה ֵּבן ִּובנְ יַ ן ּגּופֹו97ֵׁשׁש ּכְ ֶבן ֶׁש ַבע
cada qual de acordo com a sua capacidade individual ּומּכֶ ה
ַ 99.ָּופחֹות ִמ ֶּבן ֵׁשׁש ֵאין ַמכְ נִ ִיסים אֹותֹו
e saúde física. Abaixo dos seis anos elas não devem
ser levadas.99 O professor pode empregar punições
וְ ֵאינֹו100אֹותן ַה ְּמלַ ֵּמד לְ ַה ִּטיל עֲ לֵ ֶיהם ֵא ָימה ָ
corporais com a finalidade de incutir temor לְ ִפיכָ ְך.אֹותם ַמּכַ ת אֹויֵב ַמּכַ ת ַאכְ זָ ִרי ָ ַמּכֶ ה
[nas crianças].100 Mas não deve castigá-las com ֶאלָ א,ׁשֹוטים וְ ל ֹא ְּב ַמ ְקלֹות ִ אֹותם ְּב ָ ל ֹא יַ ּכֶ ה
93- Bava Batra 21a declara: “Lembre desse homem para sempre! O nome dele é Iehoshua ben Gamla. Se não fosse por ele, o
povo judeu teria esquecido a Torá. Originalmente a pessoa era instruída pelo próprio pai, e se fosse órfã acabava não sendo
instruída... [Posteriormente] instituiu-se [a prática de] empregar professores de educação infantil em Ierushalaim, [conforme
o versículo]: “De Tsión sairá a Torá”. No entanto, um pai levava o filho [para Ierushalaim], mas quem era órfão acabava não
sendo levado. [Consequentemente] instituiu-se [a prática de] empregar professores em todas as províncias. Eles começavam o
estudo aos dezesseis ou dezessete anos. Mas se um professor se zangasse com o aluno, ele discutia e ia embora. [Essa situação
persistiu] até que Iehoshua ben Gamla veio e instituiu [a prática de] empregar professores de educação infantil em toda e
qualquer nação e em toda e qualquer província e em toda e qualquer cidade. As [crianças] eram trazidas [para as escolas] com
seis ou sete anos”. Essa prática foi mantida nas gerações posteriores, mesmo quando a organização dos assuntos comunitários
ficou prejudicada durante a dispersão do povo judeu e a subjugação aos poderes dos gentios (vide Ramá, Chóshen Mishpát,
163:3; Shulchan Aruch Harav, Hilchót Talmud Torá 1:3.) Originalmente a comunidade cobrava um imposto para arcar com os
custos da educação de todas as crianças, quer tivessem pais ricos ou pobres. Atualmente cada pai paga pela educação de seu
filho, mas se lhe faltarem condições, a comunidade tem obrigação de assumir a responsabilidade.
94- Shabat 119b.
95- Vide Capítulo 7, Halachá 5 para uma definição mais precisa desse termo.
96- Pois o alento delas não está contaminado pelo pecado (Shabat, ibid.). Com base nessa última afirmação as autoridades
rabínicas determinaram que a comunidade só deve assumir a instrução de crianças até a idade de Bar Mitsvá, já que depois
disso elas não têm mais essa virtude.
97- Vale notar a passagem de Bava Batra citada na Halachá anterior e o comentário no Capítulo 1, Halachá 6.
98- Conforme mencionado no Capítulo 1, Halachá 6, mesmo antes da criança alcançar essa idade o pai deve ensinar a ela
determinados versículos da Torá.
99- Por não terem capacidade de absorver o aprendizado (Bava Batra, ibid.). Atualmente as crianças são colocadas nas escolas
com idades mais baixas mas não são submetidas a programas muito rigorosos; a maior parte do tempo é devotada a atividades
e não a estudos.
100- Consta em Mishlei 13:24: “Quem deixa de castigar odeia o filho”. Esse conselho está dirigido aos pais mas serve também
aos professores. De fato, Makót 8a compara o professor a um pai nessa questão. Makót 22b relata que a passagem em Zechariá
13:6: “Que feridas são essas? São as que me foram afligidas na casa de meu amado” se refere às chibatadas administradas às
crianças nas escolas. Vide também Capítulo 3, Halachá 12 e Capítulo 4, Halachá 5.
crueldade, como a um inimigo. Assim, ele não deve ּומלַ ְּמ ָדן ּכָ ל ַהּיֹום
ְ יֹוׁשב
ֵ ְ ו101.ִּב ְרצּועָ ה ְק ַטּנָ ה
bater nelas usando varas ou bastões, mas só uma ּומ ְקצָ ת ִמן ַהּלַ יְ לָ ה ּכְ ֵדי לְ ַחּנְ כָ ן לִ לְ מֹדִ ּכֻ ּלֹו
pequena cinta.101 [O professor] deverá sentar-se e וְ ל ֹא ָיִּב ְטלּו ַה ִּתינֹוקֹות ּכְ לָ ל.ַּבּיֹום ַּובּלַ יְ לָ ה
102
ensiná-las durante o dia inteiro e uma parte da noite,
para acostumá-las a estudar de dia e de noite.102 As ְּבסֹוף103טֹובים ִ חּוץ ֵמעַ ְר ֵבי ַׁש ָּבתֹות וְ יָ ִמים
crianças não podem deixar de estudar em nenhuma ֲא ָבל ַּב ַּׁש ָּבת ֵאין104.טֹובים ִ ַהיָ ִמים ְּוביָ ִמים
hipótese, a não ser no final do dia das vésperas 106
. ֲא ָבל ׁשֹונִ ים לָ ִראׁשֹון105קֹורין ַּב ְּת ִחּלָ ה ִ
de Shabat e das Festas,103 e nos próprios dias das וְ ֵאין ְמ ַב ְּטלִ ין ַה ִּתינֹוקֹות וַ ֲא ִפּלּו לְ ִבנְ יַ ן ֵּבית
Festas.104 Em Shabat não se estuda temas novos,105 107
.ַה ִּמ ְק ָּדׁש
mas se revisa o que já foi estudado.106 O estudo das
crianças nunca deve ser interrompido, nem mesmo
para a construção do Templo Sagrado.107
3. Um professor infantil que sai e deixa os alunos ְמלַ ֵּמד ַה ִּתינֹוקֹות ֶׁשהּוא ַמּנִ ַיח ַה ִּתינֹוקֹות.ג
desacompanhados,108 ou [que permanece] com eles עֹוׂשה ְמלָ אכָ ה ַא ֶח ֶרת ֶ אֹו ֶׁשהּוא108וְ יֹוצֵ א
mas se ocupa de outra atividade, ou que é lento em ּמּודן ֲה ֵרי זֶ ה
ָ ִעִ ָּמ ֶהן אֹו ֶׁשהּוא ִמ ְת ַר ֵּׁשל ְּבל
educá-los, é considerado [como admoestado pelo
versículo]:109 “Maldito é aquele que faz o serviço a
110
.""ארּור ע ֶֹׂשה ְמלֶ אכֶ ת ה' ְר ִמּיָ ה ָ 109ִּבכְ לַ ל
D-us de maneira enganosa”.110 Portanto, só se deve הֹוׁשיב ְמלַ ֵּמד ֶאלָ א ַּבעַ ל ִ ְלְ ִפיכָ ְך ֵאין ָראּוי ל
constituir como professor alguém que tema a D-us, 112
. לִ ְקרֹות ּולְ ַד ְק ֵּדק111יִ ְר ָאה ָמ ִהיר
que ensine em um ritmo acelerado111 e que seja
aplicado112 ao instruir.
101- Bava Batra (ibid.) conta que o Rav instruiu o Rav Shmuel bar Shilat, conhecido professor de educação infantil, a agir
assim: “Para bater em uma criança, use apenas uma correia de sandálias. Se [isso motivá-la] a estudar, então ela estudará.
Se [essa punição] não [motivá-la a] estudar, ponha-a na companhia de outras”. Das palavras do Rav pode-se inferir que é
permitido usar de punição física com o intuito de gerar motivação mas que, se o objetivo não for atingido, ela não deverá ser
repetida pois acabará gerando na criança aversão permanente ao estudo da Torá.
102- Para que quando se tornarem adultos, estejam acostumados a cumprir a obrigação mencionada no Capítulo 1, Halachá 8.
103- I.e. nesses dias elas só devem estudar na parte da manhã. Uma possível fonte para essa declaração do Rambam é o
Talmud (Sucá 28a), que louva o Rabi Iochanán ben Zakai por nunca ter saído da casa de estudos a não ser nas vésperas
de Pessach e de Iom Kipur. Também Pessachím 109a aplica tal louvor ao Rabi Akiva. No entanto, é difícil apontar para esses
relatos como sendo a base da declaração do Rambam. Primeiro, devido às passagens estarem se referindo a adultos e não a
crianças. Além disso, depreende-se dessas passagens que esse comportamento louvável dos sábios foi algo fora do comum e
não uma regra geral.
104- Pois o estudo pode perturbar a concepção da criança do ambiente de alegria e celebração que permeia as Festas. Vale notar
a sugestão do Rambam aos adultos (em Hilchót Shevitát Iom Tov 6:19), de usarem parte do tempo das Festas para estudar.
105- Pois assimilar novos temas pode causar situações que em Shabat devem ser evitadas, como dificuldade e tensão
(vide Nedarím 37a.)
106- Pois isso não envolve uma pressão excessiva.
107- Shabat 119b.
108- Bava Batra 8b relata que certa vez o Rav se deparou com o professor de educação infantil Rav Shmuel bar Shilat passeando
por um jardim. Ele o censurou: “Você abandonou o posto?” O Rav Shmuel retrucou: “Fazem treze anos que eu não aprecio
esse jardim, e mesmo agora é nas crianças que eu estou pensando”.
109- Irmiáhu 48:10.
110- Bava Batra 21b.
111- Em seu comentário sobre a Halachá 6, o Késsef Mishnê interpreta Mahír (literalmente: “acelerado”) como alguém que
ensina uma grande quantidade de matérias. Em seu comentário sobre Tehilím 45:2, o Rav Saadiá Gaón traduz esse termo
como “especialista”.
112- I.e. que não comete erros.
113- Kidushín 82a. Mas um homem casado pode, mesmo se não estiver mais vivendo com a esposa (Maguid Mishnê, Hilchót
Issurei Biá 22:13). Para outras autoridades rabínicas, que se baseiam no Talmud Ierushalmi (Kidushín 4:11), um homem cuja
esposa não se encontra na mesma cidade é proibido de ensinar crianças.
devido às mães que visitam os filhos.114 Nenhuma וְ כָ ל114.ּמֹות ֶיהם ַה ָּבאֹות ֵאצֶ ל ְּבנֵ ֶיהן
ֵ ִמ ְּפנֵ י ִא
mulher115 deve ensinar crianças devido aos pais que בֹות ֶיהם
ֵ ל ֹא ְתלַ ֵמד ִּתינֹוקֹות ִמ ְּפנֵ י ֲא115ִא ָּׁשה
visitam os filhos.116 116
.ְׁש ֶהם ָּב ִאים ֵאצֶ ל ַה ָּבנִ ים
5. Sob [os cuidados de] um professor [pode haver no עֶ ְׂש ִרים וַ ֲח ִמ ָּׁשה ִתינֹוקֹות לְ ֵמ ִדים ֵאצֶ ל.ה
máximo] 25 alunos estudando. Se houver mais de 25, יֹותר עַ ל עֶ ְׂש ִרים וַ ֲח ִמ ָּׁשה ֵ ָהיּו.ְמלַ ֵּמד ֶא ָחד
mas menos de 40, será preciso alocar um assistente מֹוׁש ִיבין עִ ּמֹו ַא ֵחר לְ ַסּיְ עֹו ִ עַ ד ַא ְר ָּבעִ ים
para ajudá-lo no aprendizado.117 Se houver mais de
40,118 dois professores deverão ser alocados.119
118
יֹותר עַ ל ַא ְר ָּבעִ ים ֵ ָהיּו117.ּמּודם ָ ְִּבל
119
.ַמעֲ ִמ ִידין לָ ֶהם ְׁשנֵ י ְמלַ ְּמ ֵדי ִתינֹוקֹות
6. É permitido trocar a criança de professor, para מֹולִ יכִ ין ֶאת ַה ָּק ָטן ִמ ְּמלַ ֵּמד לִ ְמלַ ֵּמד.ו
outro que seja capaz de ensiná-la em um ritmo mais ַא ֵחר ֶׁשהּוא ָמ ִהיר ִמ ֶּמּנּו ֵּבין ְּב ִמ ְק ָרא ֵּבין
acelerado tanto no estudo de Torá Escrita como no מּורים? ּכְ ֶׁש ָהיּו ִ ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים ֲא120.ְּב ִד ְקּדּוק
de gramática,120 desde que ambos se encontrem em
uma mesma cidade121 e não exista um rio que os וְ ל ֹא ָהיָ ה ַהּנָ ָהר ַמ ְפ ִסיק121ְׁשנֵ ֶיהם ְּבעִ יר ַא ַחת
separe. No entanto, a criança não deve ser levada [a ֲא ָבל ֵמעִ יר לְ עִ יר אֹו ִמּצַ ד ַהנָ ָהר.ֵּבינֵ ֶיהם
viajar] de uma cidade a outra nem a atravessar um אֹותּה ָהעִ יר ֵאין מֹולִ יכִ ין ֶאת ָ לְ צִ ּדֹו ֲא ִפּלּו ְּב
rio, até na própria cidade, a não ser que haja uma ַה ָּק ָטן ֶאלָ א ִאם ּכֵ ן ָהיָ ה ִּבנְ יָ ן ָּב ִריא עַ ל ּגַ ֵּבי
ponte resistente sobre o rio, uma construção que não . ִּבנְ יָ ן ֶׁש ֵאינֹו ָראּוי לִ ּפֹל ִּב ְמ ֵה ָרה.ַהּנָ ָהר
corra risco de desabar facilmente.
7. Se uma pessoa [que mora em frente a outras ֶא ָחד ִמ ְּבנֵ י ָמבֹוי ֶׁש ִּב ֵּקׁש לְ ֵהעָ ׂשֹות ְמלַ ֵּמד.ז
casas] em uma rua – ou mesmo em uma vila – ֲא ִפּלּו ֶא ָחד ִמ ְּבנֵ י ֶה ָחצֵ ר ֵאין יְ כֹולִ ין ְׁשכֵ נָ יו
decidir ensinar crianças [em sua casa], os vizinhos וְ כֵ ן ְמלַ ֵּמד ִּתינֹוקֹות ֶׁש ָּבא122.לִ ְמחֹות ְּביָ דֹו
não poderão protestar contra a sua decisão122 [por
ficarem incomodados com o barulho das crianças]. ֲח ֵברֹו ָּופ ַתח ַּביִ ת לְ לַ ֵּמד ִּתינֹוקֹות ְּבצִ ּדֹו ּכְ ֵדי
Similarmente, se um professor infantil abrir uma ֶׁשּיָבֹואּו ִּתינֹוקֹות ֲא ֵח ִרים לֹו אֹו ּכְ ֵדי ֶׁשּיָבֹואּו
classe ao lado da classe de um colega, para que ִמ ִּתינֹוקֹות ֶׁשל זֶ ה ֵאצֶ ל זֶ ה ֵאינֹו יָ כֹול לִ ְמחֹות
outras crianças ou alunos do outro venham estudar
114- “Para não ficar excitado por causa das mulheres” (Hilchót Issurei Biá, loc. cit.).
115- Nem se for casada (Késsef Mishnê).
116- E acabarão transgredindo a proibição de Ichúd (ficar a sós com alguém do sexo oposto em um lugar fechado, conforme
Hilchót Issurei Biá, loc. cit.). Segundo algumas autoridades rabínicas, essas proibições eram vigentes em tempos antigos,
quando as salas de aula frequentemente ficavam em locais particulares e afastados, mas não em nossos tempos, nas escolas
grandes da atualidade. No entanto, à luz do texto de Hilchót Issurei Biá, essa posição é questionável.
117- Segundo o Rashi (Bava Batra, ibid.), o assistente escuta os versículos lidos pelo professor e então lidera as crianças na
repetição.
118- A classe deve ser dividida.
119- Segundo o Shulchan Aruch Harav (Hilchót Talmud Torá 1:3), essa quantidade máxima de alunos por classe se aplica a
aulas de Torá Escrita. Mas aulas de níveis mais avançados requerem um número menor de presentes.
120- O Késsef Mishnê menciona o trecho de Bava Batra 21a que questiona o que é preferível: um professor que ensine em um
ritmo rápido ou outro que ensine com uma precisão maior mas em um ritmo mais lento. O Shulchan Aruch (Iorê Deá 245:19)
conclui ser preferível optar pelo segundo tipo de professor.
121- Segundo o Léchem Mishnê, o Rambam depreende esse conceito de Bava Batra (ibid.), onde consta: “Desde os tempos do
Rabi Iehoshua ben Gamla não se transfere uma criança de uma cidade a outra, só de sinagoga em sinagoga...” O significado
disso é que com a colocação de professores qualificados em todas as comunidades, não houve mais necessidade de transferir
crianças para outras cidades. Contudo, dentro da própria cidade, caso houvesse uma razão válida, elas poderiam ser
transferidas de uma casa de estudos para outra.
122- Em Hilchót Shechením 6:8, 11, o Rambam menciona algumas das restrições que os donos de casas que dão para um pátio
comum podem impor sobre a vizinhança – como por exemplo que não se abra uma alfaiataria ou sapataria, por causa da
inconveniência e desconforto que isso pode vir a causar. Embora a abertura de uma escola possa também causar desconforto
(por causa da movimentação dos pais e do barulho), a importância do estudo da Torá suplanta todas essas considerações.
com ele, o seu colega não poderá protestar, pois está "ה' ָח ֵפץ לְ ַמעַ ן צִ ְדקֹו יַ גְ ִּדיל123 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ְּביָ דֹו
dito:123 “Hashem desejou, em prol da Sua justiça, 124
."ּתֹורה וְ יַ ְא ִּדיר
ָ
engrandecer a Torá e glorificá-la”.124
congregação de Iaakov”.134 [Ou seja], quem quiser135 יָבֹוא135 ּכָ ל ִמי ֶׁשּיִ ְרצֶ ה134."ְק ִהּלַ ת יַ עֲ קֹב
que venha e a apreenda. Para que não passe pela tua אֹותם ַהּכְ ָת ִרים ּגְ דֹולִ ים
ָ ֹאמר ֶׁש
ַ ֶׁש ָּמא ת.וְ יִ ּטֹל
cabeça que as outras coroas são superiores à coroa da "ּבי ְמלָ כִ ים
ִ 136
אֹומר
ֵ ּתֹורה? ֲה ֵרי הּוא ָ ִמּכֶ ֶתר
Torá está dito:136 “Por minha causa os reis reinam e os
governantes legislam, por minha causa os ministros ."יִ ְמֹלכּו וְ רֹזְ נִ ים יְ ח ְֹקקּו צֶ ֶדק ִּבי ָׂש ִרים יָ ׂשרּו
recebem poder”. Daqui se depreende que a coroa da
137
.ּתֹורה ּגָ דֹול ִמ ְׁשנֵ ֶיהם
ָ ָהא לָ ַמ ְד ָּת ֶׁשּכֶ ֶתר
Torá é superior às outras duas.137
2. Os sábios138 declararam que [até mesmo] um ַּתלְ ִמיד ָחכָ ם139 ַמ ְמזֵ ר138 ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים.ב
Mamzêr (“bastardo”)139 estudioso da Torá tem 141
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר140.קֹודם לְ כ ֵֹהן ּגָ דֹול עַ ם ָה ָא ֶרץ ֵ
precedência sobre um Cohên Gadól (“sumo sacerdote”) 143
ִמּכ ֵֹהן ּגָ דֹול- ""יְ ָק ָרה ִהיא ִמ ְּפנִ ינִ ים
142
ignorante,140 pois está dito:141 “Ela é mais valiosa do
que pérolas”;142 [depreende-se desse versículo143 que
144
.ֶׁשּנִ כְ נָ ס לִ ְפנַ י וְ לִ ְפנִ ים
até um bastardo estudioso da Torá é mais precioso
que] um sumo sacerdote [ignorante], que ingressa nas
câmaras mais interiores [do Templo Sagrado].144
3. Nenhuma outra Mitsvá é comparável à do estudo ֵאין לְ ָך ִמצְ וָ ה ְּבכָ ל ַה ִּמצְ ֹות ּכֻ ּלָ ן ֶׁש ִהיא.ג
da Torá; mas o estudo da Torá é comparável a todas as ֶאלָ א ַּתלְ מּוד145.ּתֹורה ָ ְׁשקּולָ ה ּכְ נֶ גֶ ד ַּתלְ מּוד
Mitsvót,145 pois o estudo leva à ação;146 portanto o estudo ּתֹורה ּכְ נֶ גֶ ד ּכָ ל ַה ִּמצְ ֹות ּכֻ ּלָ ן ֶׁש ַה ַּתלְ מּודָ
tem precedência sobre a ação em todos os casos.147
קֹודם
ֵ לְ ִפיכָ ְך ַה ַּתלְ מּוד.ֵמ ִביא לִ ֵידי ַמעֲ ֶׂשה
146
147
.לְ ַמעֲ ֶׂשה ְּבכָ ל ָמקֹום
4. [E] se a execução de uma Mitsvá se apresentar ּתֹורה ִאם ָ ָהיָ ה לְ ָפנָ יו עֲ ִׂשּיַ ת ִמצְ וָ ה וְ ַתלְ מּוד.ד
diante da pessoa ao mesmo tempo que um estudo ֶא ְפ ָׁשר לַ ִּמצְ וָ ה לְ ֵהעָ ׂשֹות עַ ל יְ ֵדי ֲא ֵח ִרים ל ֹא
da Torá? Se a Mitsvá [a ser executada] puder ser
realizada por intermédio de outros – ela não deverá
134- E assim, se torna propriedade de todo judeu assim que ele nasce. Esse versículo é imbuído de uma mensagem tão
fundamental que o Rambam optou por citá-lo, ao invés do versículo em Avót Derabi Natán, ibid. Similarmente, a mensagem
que esse versículo transmite é tão importante que ele é ensinado para cada criança judia assim que ela começa a falar (Capítulo
1, Halachá 6). No entanto, embora todo judeu tenha uma conexão natural com a Torá, é preciso esforçar-se para revelar e
desenvolver essa conexão. Nesse sentido, os sábios (em Avót 2:15) aconselham: “Prepare-se para estudar a Torá, pois ela não
te é [dada como uma] herança”.
135- Em seu Comentário à Mishná, Avót 4:17, o Rambam relata o conteúdo dessa Halachá e usa a expressão: “Quem quiser
ser coroado com a coroa da Torá.”
136- Mishlei 8:15-16.
137- O Sifrí (ibid.) declara: “Quem é maior, aquele que coroa ou aquele que é coroado”? Portanto, a coroa da Torá é mais
elevada do que a coroa da realeza. E como a um rei se concede mais honra do que a um sumo sacerdote, pode-se então inferir
que a coroa da Torá é maior do que a coroa do sacerdócio (Lechem Mishnê).
138- Horaiót 13a.
139- Filho gerado em decorrência de uma gravidez provocada por uma relação sexual proibida. Vide Hilchót Issurei Biá,
Capítulo 1.
140- Esse foi um fenômeno indesejável frequente no período do Segundo Templo, quando os sacerdotes eram nomeados
pelos romanos mediante altos subornos (vide Comentário à Mishná do Rambam, Iomá 1:3).
141- Mishlei 3:15.
142- Em hebraico a similaridade entre Peniním (“pérolas”) e Pním (“interior”) leva a essa interpretação.
143- Horaiót, ibid.
144- I.e. o Santo dos Santos.
145- O Késsef Mishnê cita Peá 1:1 como fonte dessa afirmação. Lá a Mishná relaciona um número de Mitsvót cujos “benefícios
são desfrutados neste mundo, embora a principal [recompensa] fique para o Mundo Vindouro”. A Mishná conclui: “Mas o
estudo da Torá equivale a todas elas”.
146- Kidushín 40b. Pois sem estudar a pessoa nunca saberá executar as Mitsvót da maneira apropriada.
147- Com uma exceção, que será mencionada na próxima Halachá.
5. O primeiro estágio do julgamento da pessoa [no ְּת ִחּלַ ת ִּדינֹו ֶׁשל ָא ָדם ֵאינֹו נִ ּדֹון ֶאלָ א.ה
Mundo Vindouro] estará centrado no estudo da Torá; 150
.עַ ל ַה ַּתלְ מּוד וְ ַא ַחר ּכָ ְך עַ ל ְׁש ָאר ַמעֲ ָׂשיו
só depois os outros atos dela [serão avaliados].150 לְ עֹולָ ם יַ עְ סֹק ָא ָדם151לְ ִפיכָ ְך ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים
Portanto, os sábios declararam:151 “A pessoa deve
sempre se ocupar com [o estudo da] Torá, não
153
ֵּבין ֶׁשּל ֹא לִ ְׁש ָמּה152ּתֹורה ֵּבין לִ ְׁש ָמּה ָ ַּב
importa se Lishmá (com intenção adequada)152 ou
154
.ֶׁש ִּמּתֹוְך ֶׁשּל ֹא לִ ְׁש ָמּה ָּבא לִ ְׁש ָמּה
Sheló Lishmá (sem intenção adequada);153 pois se ela
começar [estudando] sem intenção adequada ,virá [a
estudar] com intenção adequada.”154
148- O Késsef Mishnê cita a seguinte narrativa do Talmud Ierushalmi (Pessachím 3:7): “O Rabi Abahu enviou o filho para
estudar em Tvéria. Quando foi até lá para visitá-lo, ouviu os moradores locais elogiarem seu filho por ele ser piedoso ao se
ocupar com enterros. Ao ouvir isso, o Rabi Abahu repreendeu o filho severamente; ele disse: ‘Será que te mandei para Tvéria
por faltarem sepulturas em Cesarea’”? Moêd Katán 9b depreende assim a prioridade do estudo sobre a execução das Mitsvót:
“Consta em Mishlei 3:15: ‘Nenhum dos teus desejos é comparável a ela [à Torá]’, implicando que ‘os teus desejos’ – i.e. as coisas
que o homem quer – não podem ser comparados ao estudo da Torá, mas ‘os desejos de D-us’ – i.e. as Mitsvót – podem ser
comparados a ela. Em contraste, Mishlei 8:11 declara: ‘Nenhum desejo’ – implicando aparentemente até os desejos de D-us, as
Mitsvót – ‘pode ser comparado a ela’. Como isso pode ser solucionado? Quando for possível realizar a Mitsvá por intermédio
de outrem, nada tem precedência sobre o estudo da Torá. Mas quando não houver outrem para realizar a Mitsvá, é dada
prioridade à realização da Mitsvá”.
149- Berachót 17a ensina: “A finalidade do conhecimento é Teshuvá e boas ações”. Similarmente, o Talmud Ierushalmi
(Berachót 1:2) declara, ao se referir a uma pessoa que estuda sem cumprir as Mitsvót, que melhor seria ela não ter sido
criada. O Talmud Ierushalmi (Shabat 1:2) conta que o Rabi Shimon bar Iochai não interrompia os estudos para rezar, mas
parava para construir a Sucá e montar o Luláv. O fundamento desses casos pode ser explicado assim: Conforme comentado
anteriormente (Capítulo 1, Halachá 3), o homem alcança o nível máximo de realização quando deixa a sua condição humana
e realiza a vontade de D-us, conforme revelada nas Mitsvót. No entanto, é preciso priorizar o estudo da Torá, pois ele possui
uma vantagem dobrada sobre as demais Mitsvót: em primeiro lugar, ele conduz à realização delas; e em segundo lugar, ele
permite o estabelecimento de uma conexão internalizada entre a pessoa e D-us. Mas quando a pessoa ignora o cumprimento
das Mitsvót, essas duas vantagens são perdidas.
150- A declaração está baseada em San-hedrín 7a (e Kidushín 40b). Outra fonte é Shabat 31a, onde consta que a primeira
pergunta a ser feita à pessoa no Mundo Vindouro será: “Você agiu com honestidade nos teus negócios?” O Tossafót (em San-
hedrín ibid.) oferece duas possíveis soluções para essa aparente contradição: (1) A pessoa que nunca estudou é primeiramente
julgada com relação ao estudo da Torá. Já a pessoa que estudou sem estabelecer horários fixos para o estudo é primeiramente
julgada com relação ao seu comportamento na condução dos negócios. (2) Muito embora a primeira pergunta que se faz à alma
diz respeito à condução de seus negócios, o primeiro castigo que ela receberá resultará da sua negligência no estudo da Torá.
151- Vide Pessachím 50b, Sotá 22b, San-hedrín 105b.
152- O Rambam elabora a definição desses conceitos em Hilchót Teshuvá 10:4-5. Lá consta que os sábios das gerações
anteriores falaram: “Será que se deve dizer: ‘Eu vou estudar a Torá para enriquecer, para ser intitulado Rabino, ou para
ser recompensado no Mundo Vindouro?’ A Torá ensina [Devarím 11:13]: ‘[Se fores cuidadoso na observância dos Meus
preceitos...] para amar D-us’; [isso implica] que tudo o que se faz só deve ser feito por amor. Os sábios também disseram [que
o Tehilím 112:1 instrui]: ‘Deseja muito os Seus preceitos’; ‘[você deve desejar os Seus preceitos] e não a recompensa [resultante
do cumprimento dos] Seus preceitos... Aquele que se ocupa com a Torá almejando ser recompensado ou ficar protegido do
castigo é considerado como alguém que não age com intenção adequada. [Por outro lado], aquele que se ocupa com a Torá
não por temer ser castigado nem por esperar ser recompensado, mas devido ao seu amor pelo Senhor de toda a terra e devido
a ter sido ordenado por Ele a fazê-lo, age com intenção adequada’.
153- O Rashi (Berachót 17a) e o Tossafót (Taanít 7a) observam que o Talmud critica duramente quem não se ocupa da Torá
com intenção adequada: em Taanít 7a consta que quando a pessoa não estuda a Torá com intenção adequada, a Torá se torna
para ela uma poção mortal; em Berachót 17a consta que a pessoa que estuda destituída de intenção adequada, melhor seria ela
não ter nascido. Segundo os comentaristas, são duas as maneiras de se estudar a Torá sem intenção adequada: (1) Tendo como
objetivo o enriquecimento, a honra ou outros benefícios. (2) Tendo como objetivo provocar um colega. Os sábios sugerem
ocupar-se com o estudo da Torá mesmo sem intenção adequada, desde que a motivação não seja a de provocar um colega;
pois é a essa condição que as duras críticas se aplicam.
154- A colocação do Rambam tem um sentido mais profundo. O termo Mitóch, traduzido livremente aqui como “se ela começar”,
pode ser traduzido também como “de dentro dela”, no sentido de que todos os elementos da vida de um judeu são motivados pelo seu
potencial Divino; ele pode até achar que está realizando uma Mitsvá com interesse próprio, sem intenção adequada, mas na verdade
o Tóch, o âmago do seu ato, é motivado pelo desejo inato que todo judeu possui, de se ligar a D-us sem nenhum motivo ulterior.
6. Quem se sentir inspirado a executar esse ato de ִמי ֶׁשּנְ ָׂשאֹו לִ ּבֹו לְ ַקּיֵ ם ִמצְ וָ ה זֹו ּכָ ָראּוי.ו
Mitsvá da maneira adequada, coroando-se assim com ּתֹורה ל ֹא יַ ִּס ַיח ַּדעְ ּתֹו ָ וְ לִ ְהיֹות ֻמכְ ָּתר ְּבכֶ ֶתר
a coroa da Torá, não deverá desviar a sua atenção para וְ ל ֹא יָ ִׂשים עַ ל לִ ּבֹו ֶׁשּיִ ְקנֶ ה155לִ ְד ָב ִרים ֲא ֵח ִרים
outros assuntos,155 nem ter a pretensão de assimilar a
Torá simultaneamente com riqueza e honra.156 Assim ּכָ ְך ִהיא156.תֹורה עִ ם ָהע ֶֹׁשר וְ ַהּכָ בֹוד ּכְ ַא ַחת ָ
[pode ser definida] a senda da Torá:157 “Coma pão ַּפת ְּב ֶמלַ ח ּתֹאכֵ ל וְ עַ ל157:ּתֹורה ָ ַּד ְרּכָ ּה ֶׁשל
com sal, beba uma pequena medida de água, durma ּתֹורה ַא ָּתה ָ יׁשן וְ ַחּיֵ י צַ עַ ר ִּת ְחיֶ ה ַּוב ַ ָה ָא ֶרץ ִּת
no chão, viva uma vida de penúrias – mas se ocupe וְ ל ֹא עָ לֶ יָך ַה ָד ָבר לִ גְ מֹר וְ ל ֹא ַא ָּתה158.עָ ֵמל
159
com a Torá”.158 “Não compete a ti completar essa תֹורה
ָ וְ ִאם ִה ְר ֵּב ָית160חֹורין לִ ָּב ֵטל ִמ ֶמּנָ ה ִ ֶּבן
tarefa159 nem tampouco és livre para negligenciá-
la”.160 “Se adquirires bastante [estudo de] Torá, terás
161
. וְ ַה ָּׂשכָ ר לְ ִפי ַהּצַ עַ ר.ִה ְר ֵּב ָית ָׂשכָ ר
conquistado bastante recompensa, e essa recompensa
será proporcional ao sofrimento [investido]”.161
7. Talvez você diga: “[Interromperei os meus estudos ׁאמר עַ ד ֶׁש ֶא ְקּבֹץ ָממֹון ֶא ֱחזֹר ַ ֶׁש ָּמא ת.ז
da Torá] enquanto junto dinheiro, e depois voltarei a עַ ד ֶׁש ֶא ְקנֶ ה ַמה ֶׁש ֲאנִ י צָ ִריְך וְ ִא ָפנֶ ה.וְ ֶא ְק ָרא
estudar”; [ou “interromperei os meus estudos da Torá] ִאם ַּתעֲ לֶ ה162.ֵמעֲ ָס ַקי וְ ֶא ְחזֹר וְ ֶא ְק ָרא
até adquirir o que me é necessário, e então, quando eu
puder desviar a atenção dos meus negócios, voltarei ַמ ֲח ָׁש ָבה זֹו עַ ל לִ ְּבָך ֵאין ַא ָּתה זֹוכֶ ה לְ כִ ְת ָרּה
a estudar”;162 quem pensar assim jamais poderá ser תֹור ָתְך ֶק ַבעָ ֶאלָ א עֲ ֵׂשה163.ּתֹורה לְ עֹולָ ם ָ ֶׁשל
merecedor da coroa da Torá.163 O correto é: Faça [do ׁאמר לִ כְ ֶׁש ֶא ָפנֶ ה
ַ ּומלַ אכְ ְּתָך עֲ ַראי וְ ל ֹא ת
164
ְ
estudo] da Torá a sua ocupação fixa e do seu trabalho 165
.ֶא ְׁשנֶ ה ֶׁש ָּמא ל ֹא ִת ָּפנֶ ה
a sua ocupação secundária.164 Nunca diga: “Quando
eu tiver disponibilidade de tempo, estudarei” – pois
talvez você nunca venha a ter tempo disponível.165
155- A respeito da frase que consta em Devarím 6:7: “Fale sobre elas”, o Sifrí comenta: “Fale a respeito delas, e não a respeito
de outros assuntos”.
156- Pois não é possível que uma pessoa se dedique inteiramente a dois objetivos diferentes (Eruvín 55a).
157- Avót 6:4.
158- O Rambam não defende uma vida de penitências ascéticas (vide Hilchót Deót 3:1), nem necessariamente estipula que
“uma vida de dificuldades” seja condição prévia para um envolvimento completo no estudo da Torá. Acontece que muitas
vezes esse é o melhor caminho para alcançar essa meta. A manutenção de um padrão de vida cercado de confortos exige a
dedicação de grande parte do tempo da pessoa, impedindo-a de devotar-se ao estudo da Torá da maneira apropriada, além de
manter a sua mente ocupada com as suas necessidades e desejos.
159- Ao contemplar a imensidão de conhecimentos da Torá que há para assimilar, a pessoa pode ficar intimidada e desanimada.
É por isso que ela deve saber que não se espera dela que estude tudo o que há para ser estudado.
160- Ibid. 2:16.
161- Ibid. 5:23. Em seu Comentário à Mishná, o Rambam oferece a seguinte interpretação: “A tua recompensa será proporcional
ao esforço que você tiver investido no estudo da Torá”. Vide também a Halachá 12, que trata do tipo de esforço que a pessoa
deve ter ao estudar a Torá.
162- Vale notar a recomendação do Capítulo 1, Halachá 5, de estudar Torá antes do casamento, para que o peso da
responsabilidade financeira não interfira nos estudos da pessoa.
163- Há duas explicações para a afirmação de que esse indivíduo nunca merecerá a “coroa da Torá”: (1) O desejo nunca
se satisfaz. “Quem tem cem deseja duzentos; quem tem duzentos deseja quatrocentos” (Kohélet Rabá 1:34). Quem prioriza
as suas preocupações materiais e não o estudo da Torá tem muita dificuldade para reverter o padrão e passar a dedicar-se
completamente ao estudo da Torá. (2) O tempo perdido enquanto envolvido com os negócios não pode ser recuperado, e
assim, ele nunca alcançará as alturas do conhecimento da Torá que previamente estavam ao seu alcance.
164- Avót 1:15. Em seu Comentário à Mishná, o Rambam escreve: “Torne prioritário o teu estudo da Torá e secundários
todos os teus outros afazeres. Se eles aparecerem em teu caminho, muito bem; se não aparecerem, não terás perdido nada”.
Similarmente, em Hilchót Deót 2:7, o Rambam cita Avót 4:10: “Limite a tua dedicação pelos negócios de modo que possa
se ocupar com o estudo da Torá”. Contudo, a pessoa não precisa temer que o envolvimento no estudo da Torá a impeça de
prosperar. Berachót 35b relata: “Os sábios das gerações anteriores davam prioridade ao estudo da Torá. Os seus negócios lhes
eram secundários. No entanto, eles foram bem sucedidos em ambas as atividades. Nós, que damos prioridade aos nossos
negócios e consideramos secundário o nosso estudo da Torá, não temos sucesso em nenhuma delas”.
165- Avót 2:4.
8. Está escrito na Torá:166 “Ela não está no céu... "ל ֹא ַב ָּׁש ַמיִ ם ִהיא וְ ל ֹא166ּתֹורה ָ ּכָ תּוב ַּב.ח
nem no além-mar”. “Ela não está no céu” significa "ל ֹא ַב ָּׁש ַמיִ ם ִהיא" ל ֹא."ֵמעֵ ֶבר לַ ּיָ ם ִהיא
que não é encontrada em pessoas presunçosas;167 ִהיא ְמצּויָ ה "וְ ל ֹא ִב ְמ ַהּלְ כֵ י167רּוח ַ ְּבגַ ֵּסי ָה
[“nem no além-mar” significa que] também não
é encontrada em [pessoas] que cruzam o mar.168
169
לְ ִפיכָ ְך ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים.ֵמעֵ ֶבר לַ ּיָ ם ִהיא
168
Portanto, nossos sábios disseram:169 “Nem todos וְ צִ ּוּו.'חֹורה ַמ ְחּכִ ים ָ 'ל ֹא כָ ל ַה ַּמ ְר ֶּבה ִב ְס
aqueles que se envolvem com negócios se tornarão .'ּתֹורה ָ ֱ'הוִ י ְמ ַמעֵ ט ְּבעֵ ֶסק וַ עֲ סֹק ַּב170ֲחכָ ִמים
sábios”. E nossos sábios foram taxativos:170 “Reduza
a tua dedicação pelos negócios e se ocupe com [o
estudo da] Torá”.
9. As palavras da Torá foram equiparadas à água, "הֹוי171 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ּתֹורה נִ ְמ ְׁשלּו ּכְ ַּמיִ םָ ִּד ְב ֵרי.ט
conforme está dito: “Que todo sedento venha à
171
לֹומר לָ ְך ַמה ַּמיִ ם ַ 172."ּכָ ל צָ ֵמא לְ כּו לַ ַּמיִ ם
água”.172 Isso ensina que assim como em um declive as
ֵאינָ ם ִמ ְתּכַ ּנְ ִסין ִּב ְמקֹום ִמ ְדרֹון ֶאלָ א נִ זְ ָחלִ ין
águas não ficam estagnadas, mas seguem fluindo até
pararem em um lugar baixo, assim também as palavras ּומ ְת ַק ְּבצִ ים ִּב ְמקֹום ֶא ְׁשּב ֶֹרן ּכָ ְך ִּד ְב ֵרי
ִ ֵמעָ לָ יו
da Torá não podem ser encontradas em indivíduos רּוח וְ ל ֹא ְבלֵ ב ַ תֹורה ֵאינָ ם נִ ְמצָ ִאים ְּבגַ ֵּסי ָה ָ
presunçosos nem nos corações dos orgulhosos, só רּוח ֶׁש ִּמ ְת ַא ֵּבק
ַ ּוׁש ַפל ְ ּכָ ל ּגְ ַבּה לֵ ב ֶאלָ א ְּב ַדּכָ א
em pessoas humildes e modestas, que se cobrem ּומ ִסיר ַה ַּת ֲאוֹות ֵ 173ַּבעֲ ַפר ַרגְ לֵ י ַה ֲחכָ ִמים
com a poeira dos pés dos sábios173 e removem de
עֹוׂשה ְמלָ אכָ ה ְּבכָ ל ֶ ְ ו174.וְ ַתעֲ נּוגֵ י ַהּזְ ַמן ִמּלִ ּבֹו
seus corações os desejos e prazeres passageiros;174 que
trabalham apenas o necessário para se sustentarem יֹום ְמעַ ט ּכְ ֵדי ַחּיָ יו ִאם ל ֹא ָהיָ ה לֹו ַמה יֹאכַ ל
caso não tenham o que comer, mas que dedicam o .ּתֹורה
ָ עֹוסק ַּבֵ 175ּוׁש ָאר יֹומֹו וְ לֵ ילֹו ְ
resto de seus dias e noites175 ao estudo da Torá.
10. Quem resolve176 ocupar-se com o estudo da Torá ָ ֶׁשּיַ עֲ סֹק ַּב176 ּכָ ל ַה ֵּמ ִׂשים עַ ל לִ ּבֹו.י
ּתֹורה וְ ל ֹא
sem trabalhar, derivando o seu sustento da caridade, יַ עֲ ֶׂשה ְמלָ אכָ ה וְ יִ ְת ַּפ ְרנֵ ס ִמן ַהּצְ ָד ָקה ֲה ֵרי זֶ ה
profana o nome [de D-us],177 desonra a Torá, apaga ּתֹורה וְ כִ ָּבה
ָ ִּובּזָ ה ֶאת ַה177ִחּלֵ ל ֶאת ַה ֵּׁשם
a luz da fé; ele faz mal para si mesmo e perde o
direito à vida no Mundo Vindouro, pois é proibido
ְמאֹור ַה ָּדת וְ גָ ַרם ָרעָ ה לְ עַ צְ מֹו וְ נָ ַטל ַחּיָ יו ִמן
tirar proveito das palavras da Torá neste mundo.178 תֹורה ָ לְ ִפי ֶׁש ָאסּור לֵ ָהנֹות ְּב ִד ְב ֵרי.ָהעֹולָ ם ַה ָּבא
Nossos sábios declararam:179 “Quem tira proveito 'ּכָ ל ַהּנֶ ֱהנֶ ה179 ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים178.ָּבעֹולָ ם ַהּזֶ ה
das palavras da Torá tira a própria vida do mundo”. וְ עֹוד צִ ּוּו.'תֹורה נָ ַטל ַחּיָ יו ִמן ָהעֹולָ ם ָ ִמ ִּד ְב ֵרי
Eles também ordenaram e declararam:180 “Não faça
delas uma coroa para engrandecer-te,181 nem um
181
ַ'אל ַת ֲע ֵׂשם ֲע ָט ָרה לְ ִה ְתּגַ ֵּדל ָּב ֶהן180וְ ָא ְמרּו
machado para cortar”.182 Eles também ordenaram e וְ עֹוד צִ ּוּו וְ ָא ְמרּו182.'וְ ל ֹא ַק ְרּדֹם לַ ְחּפֹר ָּב ֶהם
declararam: “Ama o trabalho e recusa o rabinato”;183 183
.'ּוׂשנָ א ֶאת ָה ַר ָּבנּות ְ ֱ'אהֹב ֶאת ַה ְּמלָ אכָ ה
“todo estudo da Torá que não estiver conciliado סֹופּה ְּב ֵטלָ ה ָ ּתֹורה ֶׁש ֵאין עִ ָּמּה ְמלָ אכָ ה ָ וְ כָ ל
com um trabalho acabará se anulando e levará ao וְ סֹוף ָא ָדם זֶ ה ֶׁשּיְ ֵהא ְמלַ ְס ֵטם.גֹור ֶרת עָ ֹון
184
ֶ ְו
pecado”.184 No final das contas a pessoa que age assim
acabará roubando das outras.185
185
.ֶאת ַה ְּב ִרּיֹות
11. É uma grande virtude obter o sustento pelos ַמעֲ לָ ה גְ דֹולָ ה ִהיא לְ ִמי ֶׁשהּוא ִמ ְת ַּפ ְרנֵ ס.יא
próprios esforços.186 Esse foi um dos atributos dos ּומ ַּדת ֲח ִס ִידים ָה ִראׁשֹונִ ים ִ 186ִמ ַּמעֲ ֶׂשה יָ ָדיו
piedosos das gerações antigas.187 O homem que טֹובה
ָ ְ ָּובזֶ ה זֹוכֶ ה לְ כָ ל ּכָ בֹוד ו187.ִהיא
mantém esse comportamento se torna merecedor
de toda [espécie de] respeito e benefícios, neste
190
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר189. וְ לָ עֹולָ ם ַה ָּבא188ֶׁש ָּבעֹולָ ם ַהּזֶ ה
mundo188 e no Mundo Vindouro,189 pois está dito:190 ." ַא ְׁש ֶריָך וְ טֹוב לָ ְך191"יְ גִ יעַ ּכַ ֶּפיָך ּכִ י תֹאכֵ ל
178- Nedarím 62a. Em Hilchót Matnót Aniím 10:18 o Rambam declara: “Até um sábio honrado deverá procurar um trabalho
se empobrecer, mesmo uma profissão degradante, ao invés de pedir ajuda à comunidade. É melhor esfolar as peles de animais
mortos do que dizer às pessoas: ‘Eu sou um sábio, me deem um auxílio’. Nossos maiores sábios foram lenhadores, carregadores,
aguadeiros... Eles não pediram nada da comunidade e se recusaram a aceitar qualquer coisa que lhes fosse oferecida”. O Késsef
Mishnê discorda das colocações do Rambam e alega que não é proibido a um sábio receber sustento dos outros. Ele traz como
prova disso o Tossafót em Ketubót 106a, segundo o qual é permitido pagar a indivíduos que queiram se dedicar a ensinar
Torá ou a servir como juízes e abram mão de ganhar a vida em trabalhos manuais, pois eles na prática estarão sendo pagos
pelo tempo que dispenderem, e não pela Torá que disponibilizarem. O Késsef Mishnê arremata: “Haja visto que todos os
sábios de Israêl, tanto antes quanto depois de nosso mestre, aceitaram ser sustentados pelas suas comunidades. Além disso,
mesmo se a Halachá seguisse a opinião de nosso mestre... é possível que todos os sábios das gerações [anteriores] tenham
concordado com isso porque... se os estudiosos e os professores não fossem assim sustentados, eles não teriam como se
dedicar à Torá condignamente, e a Torá teria sido esquecida, que D-us nos livre disso. Por terem [sido assim sustentados], eles
puderam estudar, ‘e [graças a isso] a Torá é engrandecida e fortalecida’”. Essas ideias são trazidas como Halachá pelo Shulchan
Aruch e pelo Ramá (Iorê Deá 246:5). Para conciliar as ideias do Rambam e do Késsef Mishnê pode-se dizer que a princípio é
proibido estudar a Torá tendo como objetivo o próprio sustento. Mas se um indivíduo que tiver estudado a Torá sem segundas
intenções, Lishmá, com intenções adequadas, tornar-se sábio mas não tiver uma fonte de sustento, ele não terá obrigação de
aprender uma profissão e poderá usar os conhecimentos da Torá que adquiriu Lishmá para sustentar-se (Rebe de Lubavitch,
Likutei Sichót, vol. 16, pág. 534ff.).
179- Avót 4:5.
180- Avót, ibid.
181- I.e. uma fonte de honra.
182- I.e. um meio de sustento.
183- Ibid. 1:10.
184- Ibid. 2:2. Essa Mishná começa com a frase: “A Torá é bela quando acompanhada de trabalho”.
185- Os comentaristas citam Kidushín 29a como fonte: “Não ensinar ao filho uma profissão é ensiná-lo a roubar”.
186- E não depender da caridade.
187- Dentre os exemplos mencionados no Talmud de grandes sábios que exerciam trabalhos manuais para ganhar a
vida figuram o Rav Huna – aguadeiro (Ketubót 105a), o Rabi Meir – barbeiro (Eruvín 13a), o Rabi Iehudá – carregador
(Nedarím 49b), o Rav Iossêf – moleiro, e o Rav Sheshet – carregador (Guitín 67b).
188- I.e. D-us o abençoará e ele terá uma renda respeitável graças aos seus esforços. Em Hilchót Teshuvá 9:1, o Rambam
elabora como D-us concede bênçãos à pessoa que se dedica à Torá e às Mitsvót. Essas bênçãos, por sua vez, possibilitam a ela
continuar e aumentar o seu serviço a D-us.
189- Embora a pessoa tenha proveito também neste mundo, “a principal [recompensa] ficará para o Mundo Vindouro”
(Peá 1:1).
190- Tehilím 128:2.
“Se comeres o trabalho de tuas mãos,191 serás "א ְׁש ֶריָך" ָּבעֹולָ ם ַהּזֶ ה "וְ טֹוב לָ ְך" לָ עֹולָ ם ַ
bem-aventurado e gozarás do bem”. “Serás bem- 192
.ַה ָּבא ֶׁשּכֻ ּלֹו טֹוב
aventurado” neste mundo, e “gozarás do bem” no
Mundo Vindouro, que é inteiramente bom.192
12. As palavras da Torá não se firmam em quem não ָ ֵאין ִּד ְב ֵרי.יב
ּתֹורה ִמ ְת ַקּיְ ִמין ְּב ִמי ֶׁש ְּמ ַר ֶּפה
se esforça [para conquistá-las], nem em quem estuda ּלֹומ ִדין ִמּתֹוְך ְ וְ ל ֹא ְב ֵאּלּו ֶׁש.עַ צְ מֹו עֲ לֵ ֶיהן
rodeado de prazeres,193 em meio [a uma abundância ֶאלָ א ְּב ִמי.ּוׁש ִתּיָ ה ְ ּומּתֹוְך ֲאכִ ילָ ה ִ 193עִ ּדּון
de] comidas e bebidas. Mas [se firmam] em quem
se mata por elas e força o próprio corpo o tempo
ּומצַ עֵ ר ּגּופֹו ָּת ִמיד
194
ְ ֶׁש ֵּמ ִמית עַ צְ מֹו ֲעלֵ ֶיהן
todo até sofrer,194 sem dar descanso nem para os .נּומה ָ וְ ל ֹא יִ ֵּתן ְׁשנַ ת לְ עֵ ינָ יו ּולְ עַ ְפ ַע ָּפיו ְּת
195
191- A respeito desse versículo os sábios comentaram: “Está escrito: ‘O trabalho de tuas mãos’ e não ‘o trabalho de tuas
cabeças’. Quando a pessoa trabalha com as mãos, a sua mente fica livre para pensar em assuntos da Torá. Quando ela volta
para casa, por mais fisicamente cansada que esteja, ela não carrega consigo pressões do trabalho [i.e. tem a mente livre para a
Torá]. Já quem trabalha com a mente tem mais dificuldade em desviar a atenção para assuntos da Torá”.
192- Berachót 8a.
193- San-hedrín 111a.
194- Conforme mencionado no comentário à Halachá 6, o Rambam não alude a uma vida de penitências ascéticas, mas à
dedicação de todas as energias da pessoa na assimilação do conhecimento da Torá.
195- Avót 6:6.
196- Berachót 63b; Midrásh Tanchuma, Noach 3; Shabat 83b.
197- Bamidbar 19:14.
198- Nossos sábios associavam frequentemente a expressão “tendas” a “casas de estudos” (vide os comentários sobre Bereshit
25:27 e Devarím 33:18).
199- Mishlei 24:10.
200- I.e. se devido a adversidades reduzires o teu envolvimento com a Torá, então “o teu poder” – o teu conhecimento da Torá
– será “parco”, i.e. não permanecerá dentro de ti (Lechem Mishnê).
201- Kohélet 2:9.
202- O termo Áf pode significar “também” e “na marra”.
203- Talmud Ierushalmi, Berachót 5:1.
204- Por essa razão é altamente recomendável que se estude em uma casa de estudos (ou em uma sinagoga) sempre que
possível (vide Shulchan Aruch Harav, Hilchót Talmud Torá 4:10).
205- Mishlei 11:2.
206- Vale notar que o Talmud em Berachót 63b critica severamente quem estuda Torá sozinho (quando há a opção de estudar
acompanhado). Similarmente, no capítulo a seguir, no qual o Rambam aborda o processo do estudo em si, ele continuamente
faz referência a um mestre ensinando diversos estudantes. No entanto, o intuito dessa lei é não alardear o que se estuda.
207- O Talmud Ierushalmi, em Berachót 5:1, ressalta que não se deve elevar demais a voz.
208- Consta em Shemuel II 23:5: “Pois Ele estabeleceu comigo um pacto perpétuo, ordenado em tudo e preservado”. O Talmud
em Eruvín 54a interpreta “um pacto perpétuo” como uma referência à Torá, e declara: “Se ele estiver ordenado em todos os
248 membros da pessoa” – ou seja, se o corpo inteiro estiver envolvido em seu estudo – “ele será preservado”.
209- É muito contrastante o estudo de temas seculares, feito em uma biblioteca silenciosa, e o estudo da Torá feito em
uma barulhenta casa de estudos, onde cada pessoa verbaliza as palavras do estudo que está em pauta. O Shulchan Aruch
Harav (Hilchót Talmud Torá 2:12) afirma que o estudo da Torá pode ser comparado a outras Mitsvót ligadas à fala. A pessoa
não cumpre a obrigação se recitar as palavras em silêncio; ela precisa vocalizá-las, ou escutá-las de outrem.
210- Vide Capítulo 1, Halachá 8.
211- Eruvín 65a declara: “A lua só foi criada para o estudo da Torá”. O termo “conhecimento” é interpretado como uma
referência aos aspectos do estudo da Torá descritos como Guemará ou Talmud (Capítulo 1, Halachá 11). À noite, quando a
pessoa está afastada das pressões do dia, ela pode se concentrar mais nesses temas.
212- Em Hilchót Deót 5:1, o Rambam aconselha: “O sábio de Torá não deve ser guloso; ele deve se alimentar para manter o
corpo saudável, sem comer em excesso. Ele não deve comer até ‘ficar cheio’ como aqueles que inflam as entranhas de comida
e bebida”.
213- De um modo geral o Rambam desaconselha a conversa excessiva. Em Hilchót Deót 2:4 ele declara: “A pessoa deve
sempre cultivar o silêncio e abster-se de falar, salvo a respeito de temas relativos à sabedoria ou de assuntos pertinentes às
suas necessidades físicas”.
214- Shemót Rabá, par. 47; Eruvín ibid.
215- Eichá 2:19.
216- Vale notar os comentários sobre Devarím 31:9, que descrevem a Torá como a canção de D-us.
217- Tehilím 42:9.
218- Avodá Zará 3b comenta: “Por que ‘durante o dia Hashem ordena a Sua bondade’? Porque ‘de noite a Sua canção (a Torá)
está comigo’”.
219- Ióv 20:26.
220- I.e. as noites.
221- A Torá.
222- Conforme o Rashi no local, trata-se do fogo do Guehinóm (purgatório) que não precisa ser aceso.
223- Bamidbar 16:31.
224- Essa é a opinião do Rabi Natán, conforme citado em San-hedrín 99a e Sifrí, Shlach.
alguém que põe uma pedra na atiradeira234 é aquele "ּכָ בֹוד ֲחכָ ִמים236 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר235.תֹורה ָ ֶאלָ א
que concede honra a um tolo”. E não há honra além טֹובהָ וְ כֵ ן ָה ַרב ֶׁש ֵאינֹו הֹולֵ ְך ְּב ֶד ֶרְך237."יִ נְ ָחלּו
da Torá,235 conforme está dito:236 “Os sábios terão a ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש ָחכָ ם ּגָ דֹול הּוא וְ כָ ל ָהעָ ם צְ ִריכִ ין
honra como herança”.237 Similarmente, não se deve
aprender de um mestre que não se comporta de .ּמּוטבָ ְלֹו ֵאין ִמ ְתלַ ְּמ ִדין ִמ ֶּמּנּו עַ ד ׁשּובֹו ל
modo adequado, por mais sábio que seja, mesmo "ּכִ י ִׂש ְפ ֵתי כ ֵֹהן יִ ְׁש ְמרּו ַדעַ ת238ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
se todo o povo depender do seu [ensino], enquanto תֹורה ַיְב ְקׁשּו ִמ ִּפיהּו ּכִ י ַמלְ ַאְך ה' צְ ָבאֹות ָ ְו
ele não retornar para um bom caminho, conforme ּדֹומה ָה ַרב ֶ ִ'אם239 ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים."הּוא
está dito:238 “Pois os lábios do Cohên (‘sacerdote’) 241
ּתֹורה ַיְב ְּקׁשּו ִמ ִּפיהּו
ָ ה' צְ ָבאֹות240לְ ַמלְ ַאְך
salvaguardarão o conhecimento e da sua boca será
pedida a Torá, pois ele é um mensageiro do Hashem
242
.'תֹורה ִמ ִּפיהּו
ָ וְ ִאם לַ או ַאל ַיְב ְּקׁשּו
das hostes”. Os sábios disseram:239 “Se o mestre se
parecer com um ‘Malách240 do Hashem das hostes’,
peçam Torá de sua boca.241 Caso contrário, não
peçam Torá de sua boca”.242
2. Como [a Torá] deve ser ensinada? O mestre deve יֹוׁשב ָּברֹאׁש ֵ ּכֵ יצַ ד ְמלַ ְּמ ִדים? ָה ַרב.ב
sentar à cabeceira e os alunos ao redor como uma וְ ַה ַּתלְ ִמ ִידים ֻמ ָּק ִפים לְ ָפנָ יו ּכַ עֲ ָט ָרה ּכְ ֵדי
243
coroa,243 de modo que todos possam vê-lo e escutem 244
.ׁשֹומעִ ים ְּד ָב ָריו
ְ ְרֹואים ָה ַרב ו
ִ ֶׁשּיִ ְהיּו כֻ ּלָ ם
as suas palavras.244 O mestre não deve sentar em uma
cadeira enquanto os alunos dele sentam no chão. וְ ל ֹא יֵ ֵׁשב ָה ַרב עַ ל ַהּכִ ֵּסא וְ ַתלְ ִמ ָידיו עַ ל
Ou todos sentam no chão245 ou todos sentam em ֶאלָ א אֹו ַהּכֹל עַ ל ָה ָא ֶרץ אֹו245ַה ַּק ְר ַקע
cadeiras.246 Originalmente o mestre ficava sentado e ָּוב ִראׁשֹונָ ה ָהיָ ה ָה ַרב246.ַהּכֹל עַ ל ַהּכִ ְסאֹות
os alunos em pé.247 [Mas] desde antes da destruição ּומּק ֶֹדם ֻח ְר ַּבןִ 247.עֹומ ִדים
ְ יֹוׁשב וְ ַה ַּתלְ ִמ ִידים
ֵ
do Segundo Templo Sagrado todos têm tido o ַּביִ ת ֵׁשנִ י נָ ֲהגּו ַהּכֹל לְ לַ ֵּמד לַ ַּתלְ ִמ ִידים וְ ֵהם
costume de ensinar com os alunos sentados.248 248
.יֹוׁש ִבים
ְ
3. Se [desejar, o mestre] poderá lecionar aos alunos ִאם ָהיָ ה ְמלַ ֵּמד ִמ ִּפיו לַ ַּתלְ ִמ ִידים.ג
diretamente. Se [preferir] lecionar [aos alunos 249
וְ ִאם ָהיָ ה ְמלַ ֵּמד עַ ל ִּפי ְמ ַת ְרּגֵ ם.ְמלַ ֵּמד
indiretamente], por intermédio de um Metarguêm,249
עֹומד ֵּבינֹו ֵּובין ַה ַּתלְ ִמ ִידים וְ ָה ַרבֵ ][ה ְּמ ַת ְרּגֵ םַ
o Metarguêm deverá ficar posicionado entre ele e os
alunos. O mestre falará para o Metarguêm250 e este וְ ַה ְּמ ַת ְרּגֵ ם ַמ ְׁש ִמיעַ לְ כָ ל250אֹומר לַ ְּמ ַת ְרּגֵ ם
ֵ
anunciará o ensinamento para todos os alunos.251 ׁשֹואלִ ין לַ ְמ ַת ְרּגֵ ם
ֲ ּוכְ ֶׁש ֵהם251.ַה ַּתלְ ִמ ִידים
Quando os alunos formularem uma pergunta ao וְ ָה ַרב ֵמ ִׁשיב לַ ְמ ַת ְרּגֵ ם252ׁשֹואל לָ ַרב ֵ הּוא
Metarguêm, ele deverá fazer a pergunta ao mestre;252 וְ ל ֹא יַ גְ ִּב ַיּה ָה ַרב253.ּׁשֹואל
ֵ ַוְ ַה ְמ ַת ְרּגֵ ם ֵמ ִׁשיב ל
o mestre responderá ao Metarguêm, e este a quem
וְ ל ֹא יַ גְ ִּב ַיּה254.יֹותר ִמּקֹול ַה ְמ ַת ְרּגֵ ם ֵ קֹולֹו
tiver perguntado.253 O mestre não deve falar mais
alto do que o Metarguêm,254 nem o Metarguêm יֹותרֵ ּׁשֹואל ֶאת ָה ַרב ֵ ַה ְמ ַת ְרּגֵ ם קֹולֹו ְּבעֵ ת ֶׁש
deve falar mais alto do que o mestre ao formular- ֵאין ַה ְמ ַת ְרּגֵ ם ַר ַּׁשאי ל ֹא לִ ְפחֹת255.ִמּקֹול ָה ַרב
lhe uma pergunta.255 O Metarguêm não pode nem ֶאלָ א ִאם ּכֵ ן ָהיָ ה256הֹוסיף וְ ל ֹא לְ ַׁשּנֹות ִ ְוְ ל ֹא ל
diminuir nem aumentar nem modificar [as palavras אֹומר ָה ַרב ֵ .ַה ְמ ֻּת ְרּגְ ָמן ָא ִביו ֶׁשל ָחכָ ם אֹו ַרּבֹו
do mestre],256 a não ser que ele seja pai ou mestre do
לַ ְמ ֻת ְרּגְ ָמן "ּכָ ְך ָא ַמר לִ י ַר ִּבי" אֹו "ּכָ ְך ָא ַמר
mestre. Se o mestre disser ao Meturguemán: “Assim
me disse meu mestre” ou “assim me disse o meu אֹומר ַה ְמ ֻת ְרּגְ ָמן ַה ְּד ָב ִריםֵ ּכְ ֶׁש."לִ י ַא ָּבא ָמ ִרי
pai e mestre”, o Meturguemán, ao transmitir esse ּומזְ ּכִ יר ְׁשמֹו ֶׁשל ַ אֹומר ְּב ֵׁשם ֶה ָחכָ ם ֵ לָ עָ ם
ensinamento aos alunos, deve citá-lo em nome do אֹומר "ּכָ ְך ָא ַמר ַר ָּבנָ א ֵ ְֲא ִבי ָה ַרב אֹו ֶׁשל ַרּבֹו ו
pai ou do mestre do mestre mencionando o respectivo
248- Em Meguilá (ibid.) consta: “Dos dias de Moshé até os de Raban Gamliêl só se estudou Torá em pé. Depois que o
Raban Gamliêl [o ancião] morreu, a fragilidade baixou sobre o mundo; [desde então] tem-se estudado Torá sentado”. Uma
Mishná em Sotá 9:16 relata que “depois que o Raban Gamliêl morreu a glória da Torá foi extinta”. Comentando essa Mishná,
o Rambam associa a extinção da honra da Torá à prática de estudá-la sentado.
249- Há uma diferença de opiniões entre os comentaristas quanto à função desse indivíduo. O Rashi, em Iomá 20b, considera
Metarguêm um tradutor; de fato, esse é o significado literal do termo. Tanto na Babilônia quanto em Érets Israêl a linguagem
popular era o aramaico, embora muitos dos sábios tenham continuado a ensinar em hebraico. Assim, esses sábios ensinavam
em hebraico em voz baixa, e o Metarguêm traduzia os ensinamentos para o aramaico em voz alta. Outros consideram
o Metarguêm um porta-voz, ou “microfone humano”. Ao invés do mestre se desgastar para se fazer ouvir, ele falava em
voz baixa e o seu porta-voz repassava os seus ensinamentos em alto volume para ser escutado por todos os presentes. O
fundamento dessa opinião encontra-se em alguns locais, como em Kidushín 31b, onde o porta-voz é chamado de Amoriá. O
Raavad menciona uma terceira perspectiva, explicando que o porta-voz também explicava as palavras do mestre, de modo
que pudessem ser entendidas e assimiladas pelos alunos. O Rabi Shalom Dovber de Lubavitch tem uma opinião similar,
embora não idêntica. Em seu Maamar “Iom Tov Shel Rosh Hashaná 5666”, ele elabora esse conceito em detalhes, explicando
que o mestre se encontrava em um nível demasiadamente elevado para explicar as suas ideias de maneira que pessoas
comuns pudessem entender. É por isso que ele empregava um porta-voz, que se encontrava em um nível tal que era capaz de
compreender as colocações do mestre e de explicá-las de uma maneira menos sofisticada para os alunos assimilarem (vide
também Kohélet Rabá 7:12, 9:24.) O uso de um porta-voz era também sinal de honra e respeito para com o mestre (vide Rashi
em Devarím 32:44).
250- Em voz baixa.
251- De maneira que eles possam escutar (vide Sotá 40a e Chulín 15a).
252- Em voz baixa, conforme explicado.
253- Em voz alta, para que os outros possam escutar.
254- O Késsef Mishnê traz Berachót 45a, que cita como fonte para essa regra a maneira com que Moshé repassou as palavras
de D-us na outorga da Torá (Shemót 19:19): “O Rabi Shimon ben Pazi disse: ‘De onde [aprendemos] que o tradutor [da leitura
da Torá] não pode elevar a voz acima [da voz do] ledor? Do dito: ‘Moshé falava e Hashem lhe respondia com uma voz’. Não
havia [necessidade] para que [a Torá] dissesse ‘com uma voz’. O que, então, nos ensina [a Torá] ao dizer ‘com uma voz’? [Ela
nos ensina que Hashem respondeu] com a voz de Moshé [isto é, no mesmo volume que a voz de Moshé]”.
255- Demonstrando respeito e deferência.
256- Talmud Ierushalmi, Meguilá 4:10. Para o Raavad a fonte está no relato de Iomá 20b, de que o Rav serviu de porta-voz
para o Rav Shilát e alterou a conotação das palavras dele. O Raavad explica que como como o nível de erudição do Rav era
mais alto do que o do Rav Shilat, ele tinha o direito de fazê-lo. O Késsef Mishnê declara que o Rambam não faz menção a tal
possibilidade pois é muito improvável que um sábio de nível elevado sirva de porta-voz para um sábio de nível mais baixo.
nome, dizendo: “Assim disse tal mestre”.257 [Ele deve . ַאף עַ ל ִּפי ֶׁשּל ֹא ִהזְ ּכִ יר ֶה ָחכָ ם ְׁשמֹו257"ְּפלֹונִ י
agir dessa maneira] mesmo se o mestre não tiver .ֶׁש ָאסּור לִ ְקרֹות לְ ַרּבֹו אֹו לְ ָא ִביו ִּב ְׁשמֹו
mencionado o nome do sábio [i.e. do seu pai ou
mestre], pois é proibido se referir ao próprio mestre
ou ao próprio pai pelo nome.
4. Quando o mestre ensina [um conceito] que os ָה ַרב ֶׁשּלִ ֵּמד וְ ל ֹא ֵה ִבינּו ַה ַּתלְ ִמ ִידים ל ֹא.ד
alunos não [conseguem] entender, ele não deve se ֶאלָ א חֹוזֵ ר וְ ׁשֹונֶ ה259. וְ יִ ְרּגַ ז258יִ כְ עֹס עֲ לֵ ֶיהם
aborrecer com eles258 nem se irritar.259 Pelo contrário,
ַה ָּד ָבר ֲא ִפּלּו ּכַ ָּמה ְפעָ ִמים עַ ד ֶׁש ִּיָבינּו ע ֶֹמק
ele deve repetir e ensinar a matéria várias vezes se
necessário, até que eles entendam a profundidade ֹאמר ַה ַּתלְ ִמיד ֵה ַבנְ ִּתי ַ וְ כֵ ן ל ֹא י260.ַה ֲהלָ כָ ה
da Halachá.260 Similarmente, o aluno não deve dizer ׁשֹואל ֲא ִפּלּו
ֵ ְ ֶאּלָ א חֹוזֵ ר ו261.וְ הּוא ל ֹא ֵה ִבין
“entendi” quando não tiver de fato entendido;261 ele ֹאמר ַ וְ ִאם ּכָ עַ ס עָ לָ יו ַרּבֹו וְ ָרגַ ז י.ּכַ ָּמה ְּפעָ ִמים
deve pedir para [o mestre] repetir [a matéria], várias ּתֹורה ִהיא וְ לִ לְ מֹד ֲאנִ י צָ ִריְך וְ ַדעְ ִּתיָ לֹו ַ'ר ִּבי
vezes se necessário. Se o mestre se aborrecer com ele 262
.'ְקצָ ָרה
e ficar irritado, [o aluno] deverá dizer-lhe: “Mestre,
isso é Torá e devo estudá-la, [mesmo] sendo fraca a
minha compreensão”.262
5. Um aluno não deve ter vergonha dos colegas ל ֹא יִ ְהיֶ ה ַה ַּתלְ ִמיד ּבֹוׁש ֵמ ֲח ֵב ָריו ֶׁשּלָ ְמדּו.ה
quando eles entenderem um assunto na primeira ִמ ַּפעַ ם ִראׁשֹונָ ה אֹו ְׁשנִ ּיָ ה וְ הּוא ל ֹא לָ ַמד
ou na segunda vez mas ele precisar repetir algumas ֶׁש ִאם נִ ְת ַּבּיֵ ׁש ִמ ָּד ָבר.ֶאלָ א ַא ַחר ּכַ ָּמה ְּפעָ ִמים
vezes para entender. Se isso o deixar constrangido,
ele acabará entrando e saindo da casa de estudos זֶ ה נִ ְמצָ א נִ כְ נָ ס וְ יֹוצֵ א לְ ֵבית ַה ִּמ ְד ָרׁש וְ הּוא
sem aprender nada.263 Foi por isso que os sábios לְ ִפיכָ ְך ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים263.ֵאינֹו לָ ֵמד ּכְ לּום
de gerações antigas declararam:264 “Quem se ֵ'אין ַה ַּביְ ָׁשן לָ ֵמד וְ ל ֹא ַה ַּק ְפ ָדן264ָה ִראׁשֹונִ ים
envergonha não consegue aprender, e quem se מּורים? ִּבזְ ַמן ִ ֲא265 ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים.'ְמלַ ֵּמד
enfeza fácil não deve ensinar”. Quando isso265 se ֶׁשּל ֹא ֵה ִבינּו ַה ַּתלְ ִמ ִידים ַה ָּד ָבר ִמ ְּפנֵ י עָ ְמקֹו
aplica? Quando os alunos não tiverem entendido
o assunto devido à sua complexidade, ou devido ֲא ָבל ִאם נִ ּכָ ר.אֹו ִמ ְּפנֵ י ַּדעְ ָּתן ֶׁש ִהיא ְקצָ ָרה
257- O Talmud em Kidushín 31b relata que quando o filho do Rav Ashi discursava, ele dizia ao Meturguemán: “Foi o meu pai
e mestre que disse isso”, e o porta-voz dizia: “Foi o Rav Ashi que disse isso”.
258- Em Hilchót Deót 2:3, o Rambam explica em detalhes como “a raiva é também uma qualidade extraordinariamente
negativa; portanto, é conveniente que o indivíduo se afaste dela e adote o extremo oposto”. Ele prossegue (ibid. 2:5) explicando
como o mestre deve educar os seus alunos “com calma e tranquilidade, sem gritos”. Também aqui, ele não enfoca os próprios
aspectos negativos da raiva, mas a inadequação dela como técnica educacional.
259- Vale notar a Mishná, Avót 2:5, que é citada pelo Rambam na Halachá a seguir. Em Soferím 16:2 consta: “Deve-se ensinar
o Talmud com semblante agradável e a Agadá com um semblante paciente”.
260- Devarím 31:19 diz que a Torá deve ser colocada na boca do aluno. No Talmud em Eruvín 54b esse versículo é interpretado
como uma incumbência aos mestres, exigindo deles que revisem o tema em pauta até que seus alunos o compreendam na
totalidade. A passagem do Talmud prossegue, elogiando o Rabi Pereidá por ter repetido 400 vezes a um dos seus alunos cada
detalhe de uma matéria. Mas embora o exercício da paciência seja requerido de um mestre, às vezes é necessário que ele
demonstre irritação, conforme explicado na próxima Halachá.
261- O Derech Érets Zuta, Capítulo 2, declara: “Se você quer estudar, não diga ‘entendi’ quando não tiver entendido”. Vide
Avót ibid.
262- O Talmud conta em Meguilá 28a que o Rabi Iehudá Hanassí respondeu dessa maneira a um comentário do Rabi Iehoshua
ben Korchá.
263- Em Berachót 63b o Talmud ensina: “Quem se humilha pelas palavras da Torá, no final será engrandecido”. Segundo
o Rashi essa afirmação se refere a um aluno que questiona o seu mestre sempre que não entende algo, não se permitindo
intimidar pelo fato de que alguns dos seus colegas o ridicularizam por isso.
264- Avót 2:5.
265- A regra de que o mestre deve repetir pacientemente suas palavras, várias vezes se necessário, sem demonstrar irritação.
6. Não se deve formular perguntas ao mestre quando ׁשֹואלִ ין ֶאת ָה ַרב ּכְ ֶׁשּיִ ּכָ נֵ ס לַ ִּמ ְד ָרׁש
ֲ ֵאין.ו
ele está entrando na casa de estudos ,enquanto ele וְ ֵאין ַה ַּתלְ ִמיד.עַ ד ֶׁש ִּת ְתיַ ֵּׁשב ַּדעְ ּתֹו עָ לָ יו
270
não estiver concentrado.270 Enquanto ele não sentar וְ ֵאין.נּוח ַ ָׁשֹואל ּכְ ֶׁשּיִ ּכָ נֵ ס עַ ד ֶׁשּיִ ְתיַ ֵׁשב וְ י
ֵ
e sossegar os alunos não devem perguntar. Dois
[alunos] não devem fazer perguntas ao mesmo ׁשֹואלִ ין ֶאת ָה ַרב ֲ וְ ֵאין.ׁשֹואלִ ין ְׁשנַ יִ ם ּכְ ֶא ָחד ֲ
tempo. Não se deve perguntar ao mestre a respeito סּוקין
ִ ֲֵמעִ נְ יָ ן ַא ֵחר ֶאלָ א ֵמאֹותֹו ָהעִ נְ יָ ן ֶׁש ֵהן ע
de um assunto à parte ;só se deve fazer perguntas וְ יֵ ׁש לָ ַרב לְ ַה ְטעֹות271.ּבֹו ּכְ ֵדי ֶׁשּל ֹא יִ ְת ַּבּיֵ ׁש
sobre o tema em pauta ,para não constrangê-lo.271 ַּוב ַּמעֲ ִׂשים272לֹותיו ָ ֶאת ַה ַּתלְ ִמ ִידים ִּב ְׁש ֵא
O mestre pode [deliberadamente] levar os alunos ּכְ ֵדי לְ ַח ְּד ָדן ּוכְ ֵדי ֶׁשּיֵ ַדע273עֹוׂשה ִּב ְפנֵ ֶיהםֶ ֶׁש
ao erro formulando perguntas272 e procedendo de
determinados modos diante deles,273 com o intuito de .ִאם זֹוכְ ִרים ֵהם ַמה ֶׁשּלִ ְּמ ָדם אֹו ֵאינָ ם זֹוכְ ִרים
afiar seus poderes de concentração e testar se eles se אֹותם
ָ לֹומר ֶׁשּיֵ ׁש לֹו ְרׁשּות לִ ְׁשאֹל ַ וְ ֵאין צָ ִריְך
lembram da matéria ensinada ou não. Desnecessário 274
.עֹוס ִקין ּבֹו ּכְ ֵדי לְ זָ ְרזָ ם
ְ ְּבעִ נְ יָ ן ַא ֵחר ֶׁש ֵאין
dizer que ele pode perguntar-lhes a respeito de um
assunto que não esteja em pauta com o objetivo de
estimulá-los.274
7. Não se deve formular uma pergunta em pé275 nem וְ ֵאין ְמ ִׁש ִיבין 275
ׁשֹואלִ ין ֵמעֻ ָמד
ֲ ֵאין.ז
266- Conforme Hilchót Deót 2:3: “A pessoa deverá se apresentar assim diante deles para admoestá-los, mas interiormente ela
deve se manter calma. Como alguém que se faz de furioso em um momento de ira mesmo que na realidade não esteja irado”.
267- Ketubót 103b.
268- Objetivando cultivar essa aura de respeito.
269- Isso não significa que o mestre deva ser exageradamente austero. O Talmud em Shabat (30b) conta que o Raba sempre
iniciava suas aulas contando algo engraçado. Depois das risadas dos alunos, ele iniciava a aula com serenidade.
270- Para não forçá-lo a responder impensadamente. Vide Tossefta San-hedrín cap. 7.
271- Esse conselho o Rabi Chia deu ao Rav após este ter feito uma pergunta ao Rabi Iehudá Hanassí a respeito de um assunto
não-relacionado (Shabat 3b).
272- Questionando acerca de assuntos não-relacionados, para ver se os alunos conseguem seguir a linha de raciocínio.
Berachót 43b relata que certa vez o Raba fez declarações contrárias aos ensinamentos dos sábios. O Talmud explica que ele
agiu assim para testar o conhecimento de seus alunos (vide Eruvín 13a para declarações semelhantes feitas pelo Rabi Akiva).
273- Por exemplo: em Chulín 43b está relatado que o Raba inspecionou um animal (para verificar se ele estava ou não Casher)
utilizando um método que contradizia os seus próprios ensinamentos. Também nesse caso a intenção era testar os alunos.
274- Para incitar a curiosidade e estimular o desejo de aprender.
275- As leis mencionadas nesta e na próxima Halachá, bem como nas Halachót anteriores, constam, em ordem diferente,
na Tossefta, San-hedrín, Capítulo 7.
se deve responder em pé,276 nem de um lugar alto וְ ל ֹא ִמּגָ ב ַֹּה וְ ל ֹא ֵמ ָרחֹוק וְ ל ֹא276ֵמעֻ ָמד
nem de longe, nem detrás dos anciães.277 Só se deve ׁשֹואלִ ין ָה ַרב ֶאלָ א
ֲ וְ ֵאין277.חֹורי ַהּזְ ֵקנִ ים ֵ ֵמ ֲא
perguntar ao mestre a respeito de um assunto que ׁשֹואלִ ין ֶאלָ א
ֲ וְ ֵאין.קֹורין ּבֹו
278
ִ ָּבעִ נְ יָ ן ֶׁש ֵהן
esteja sendo estudado;278 é preciso usar de sobriedade
ao questioná-lo,279 e ao perguntar sobre um tema não יֹותר ִמ ָּׁשלׁש
ֵ וְ ל ֹא יִ ְׁש ַאל ָּבעִ נְ יָ ן279.ִמּיִ ְר ָאה
se deve exceder três Halachót. .ֲהלָ כֹות
8. [As regras que seguem se aplicam a quando] duas ָׁש ַאל ֶא ָחד ּכָ ִענְ יָ ן וְ ָׁש ַאל280 ְׁשנַ יִ ם ֶׁש ָּׁש ֲאלּו.ח
pessoas fazem perguntas simultaneamente:280 Se uma ַמעֲ ֶׂשה.ֶא ָחד ֶׁשּל ֹא ּכָ עִ נְ יָ ן נִ זְ ָק ִקין לָ עִ נְ יָ ן
pergunta for sobre o assunto em pauta e a outra não, 282
ֲהלָ כָ ה281.ּוׁש ֵאינֹו ַמעֲ ֶׂשה נִ זְ ָק ִקין לַ ַּמעֲ ֶׂשה ְ
deve-se priorizar a pergunta sobre o assunto em pauta;
[se uma pergunta for] sobre um assunto prático e a
284
ִמ ְד ָרׁש וְ ַאּגָ ָדה. נִ זְ ָק ִקין לַ ֲהלָ כָ ה283ּומ ְד ָרׁש ִ
outra sobre um [assunto] teórico, deve-se priorizar a ַאּגָ ָדה וְ ַקל וָ ח ֶֹמר נִ זְ ָק ִקין.נִ זְ ָק ִקין לַ ִּמ ְד ָרׁש
286 285
pergunta sobre o assunto prático.281 [Se uma pergunta נִ זְ ָק ִקין288 ַקל וָ ח ֶֹמר ּוגְ זֵ ָרה ָׁשוָ ה287.לַ ַּקל וָ ח ֶֹמר
for] sobre Halachá282 [e a outra sobre] Midrásh,283 ּׁשֹואלִ ים ְׁשנַ יִ ם ֶא ָחד ָחכָ ם ֲ ָהיּו ַה.לַ ַּקל וָ ח ֶֹמר
deve-se priorizar a pergunta sobre Halachá; [se uma
pergunta for] sobre Midrásh e a outra sobre Agadá,284
deve-se priorizar a pergunta sobre Midrásh.285 [Se
uma pergunta for] sobre Agadá e a outra sobre um
Kal Vachômer,286 deve-se priorizar a pergunta sobre o
Kal Vachômer;287 [se uma pergunta for] sobre um Kal
Vachômer e a outra sobre uma Guezerá Shavá,288 deve-
276- Pois sentada a pessoa fica mais tranquila. No entanto, Berachót 27b e Tossafót em Bechorót 36a mencionam casos em
que perguntas foram formuladas em pé. O Beit Hamélech explica que perguntas sobre assuntos que não requerem grande
concentração podem ser feitas em pé, mas sobre assuntos que requerem concentração é preciso que tanto o perguntador
quanto o mestre estejam sentados.
277- Por constituir falta de respeito.
278- O Késsef Mishnê assinala a aparente redundância entre essa afirmação e a declaração similar que consta na Halachá
anterior, e explica que na Halachá anterior o Rambam quis dizer que ao estudar as leis de Shabat, o estudante não deve fazer
perguntas sobre as leis das Festas (i.e. sobre um assunto diferente); ao passo que nesta Halachá, o Rambam ensina que mesmo
dentro do assunto geral das leis de Shabat, ao estudar as leis de uma Melachá (“ação proibida”), o estudante não deve fazer
perguntas referentes a outra Melachá (i.e. sobre um detalhe diferente).
279- Assim como recebemos a Torá no Monte Sinai com temor e reverência, também devemos imbuir o nosso estudo da Torá
de emoções similares (Berachót 22a).
280- O sábio da Torá tem obrigação de responder todas as perguntas que lhe são feitas, independentemente de quem for o
perguntador ou de que assunto se tratar. Assim, essa Halachá não descarta uma resposta a ser dada a uma pergunta específica,
mas estabelece as prioridades para as respostas serem dadas.
281- Já que a grandeza da Torá é que ela conduz à ação, conforme mencionado no Capítulo 3, Halachá 3, dá-se precedência a
perguntas diretamente relacionadas a ação.
282- Leis da Torá.
283- Interpretações de versículos da Torá.
284- Ensinamentos da Torá através de relatos éticos e metafísicos.
285- Embora o Midrásh não contenha leis práticas para o comportamento, ele está mais próximo da categoria Halachá do que
a Agadá (que contém ensinamentos mais pessoais e que exige um esforço maior para assimilar).
286- Kal Vachômer (literalmente: “leve e pesado”), indica um argumento a fortiori; é um dos treze princípios da exegese bíblica
enumerados pelo Rabi Ishmael na introdução ao Sifra. Trata-se de uma argumentação que emprega o seguinte raciocínio: Se
uma determinada rigorosidade puder ser aplicada a um caso normalmente leniente, ela certamente poderá ser aplicada a um
caso mais sério.
287- Como acima, embora o Kal Vachômer não trate de leis comportamentais práticas, ele está mais próximo da categoria
Halachá do que a Agadá.
288- Guezerá Shavá (“Analogia Verbal”) é outro dos treze princípios da exegese bíblica. Conforme este método específico,
quando houver duas palavras ou frases iguais em diferentes passagens da Torá, elas são consideradas interligadas e pode-se
aplicar as regras e leis de um versículo sobre o assunto do outro. Algumas restrições se aplicam ao uso desse princípio, com o
intuito de evitar conclusões infundadas. Por exemplo, ele só pode ser aplicado a casos transmitidos por tradição desde o Sinai;
portanto um sábio só pode aplicar uma Guezerá Shavá se a tiver aprendido do seu mestre.
se priorizar a pergunta sobre o Kal Vachômer. Se dos ַּתלְ ִמיד וְ עַ ם289.וְ ֶא ָחד ַּתלְ ִמיד נִ זְ ָק ִקין לֶ ָחכָ ם
dois questionadores um for sábio e outro for estudante, ְׁשנֵ ֶיהם ֲחכָ ִמים291. נִ זְ ָק ִקין לַ ַּתלְ ִמיד290ָה ָא ֶרץ
deve-se priorizar a pergunta do sábio;289 se um deles ְׁשנֵ ֶיהם ַּתלְ ִמ ִידים ְׁשנֵ ֶיהם עַ ֵּמי ָה ָא ֶרץ ָׁש ֲאלּו
for estudante e o outro for um sujeito simples,290 deve-
se priorizar a do estudante.291 No entanto, se ambos ְׁשנֵ ֶיהם ִּב ְׁש ֵּתי ֲהלָ כֹות אֹו ִּב ְׁש ֵּתי ְתׁשּובֹות אֹו
forem sábios, ambos estudantes ou ambos sujeitos ָה ְרׁשּות ְּביַ ד- ִב ְׁש ֵּתי ְׁש ֵאלֹות ְׁשנֵ י ַמעֲ ִׂשים
simples, se ambos questionarem leis da Torá, ou se . ֵמעָ ָּתה292ַה ְמ ַת ְרּגֵ ם
ambos questionarem determinações, ou se ambos
questionarem aprendizados, ou se ambos questionarem
atos práticos – desse ponto em diante, o Metarguêm292
tem a opção [de priorizar qualquer das perguntas].
9. Não é permitido dormir em uma casa de נַמנֵם ְ וְ כָ ל ַה ִּמ ְת293. ֵאין יְ ֵׁשנִים ְּב ֵבית ַה ִּמ ְד ָרׁש.ט
estudos.293 Quem cochila em uma casa de estudos ְּב ֵבית ַה ִּמ ְד ָרׁש ָחכְ ָמתֹו ֲנַע ֵׂשית ְק ָר ִעים
terá a sua sabedoria rasgada em pedaços.294 Isso 295
וְ כֵ ן ָא ַמר ְׁשֹלמֹה ְּב ָחכְ ָמתֹו294.ְק ָר ִעים
é depreendido das sábias palavras de Shelomó:295
“A sonolência vestirá o homem com trapos”. Não וְ ֵאין ְמ ִס ִיחין ְּב ֵבית."" ְּוק ָר ִעים ַּתלְ ִּביׁש נ ָּומה
é permitido conversar em uma casa de estudos a ֲא ִפּלּו ִמי296.ַה ִּמ ְד ָרׁש ֶאלָ א ְּב ִד ְב ֵרי ת ָֹורה ִּבלְ ָבד
não ser palavras da Torá.296 Até mesmo a alguém ְּב ֵבית298 ֵאין א ְֹומ ִרין לֹו ְ׳רפ ָּואה׳297ֶׁש ְּנִת ַע ֵּטׁש
que espirrar em uma casa de estudos297 não se deve 299
. ְׁש ָאר ַה ְּד ָב ִרים, וְ ֵאין צָ ִריְך ל ַֹומר.ַה ִּמ ְד ָרׁש
desejar: “Recupere-se!”.298 Nem é preciso mencionar מּורה ִמ ְּק ֻד ַּׁשת ָּב ֵּתי ָ ְּוק ֻד ַּׁשת ֵּבית ַה ִּמ ְד ָרׁש ֲח
que é proibido conversar sobre outros assuntos.299
A casa de estudos tem um nível de santidade mais
300
.כְ נֵ ִסּיֹות
elevado do que a sinagoga.300
•
289- Pois temos obrigação de respeitar e honrar os sábios da Torá (vide capítulo a seguir).
290- I.e. iletrado.
291- Embora um estudante não precise ser honrado da mesma forma que um sábio, a dedicação dele pelo estudo da Torá é
merecedora de respeito.
292- O “tradutor” ou “porta-voz” que repassa as perguntas ao mestre (vide Halachá 3).
293- Sucá 28a. O Talmud (Meguilá 28a) relata que os discípulos do Rabi Zeira perguntaram-lhe: “Que [hábito meritório] te
trouxe à longevidade”? Uma das razões que lhes deu foi que nunca tinha dormido (nem mesmo cochilado) dentro de uma
casa de estudos. O Shulchan Aruch (Orach Chaím 151:3) permite dormir dentro de uma casa de estudos. O Shulchan Aruch
Harav (Hilchót Talmud Torá 4:12) explica que essa leniência é aplicável a quem lá permanece dia e noite e não quer perder
tempo se deslocando até a sua casa.
294- I.e. a sua memória ficará deficiente e ele só conseguirá recordar o aprendido em determinados momentos (Rashi em San-
hedrín 71a).
295- Mishlei 23:21
296- Há duas razões para a proibição de conversar dentro de uma casa de estudos: (1) Para evitar desperdício de um tempo
que poderia ser usado para o estudo da Torá (vide Berachót 53a). (2) Como sinal de respeito para com a casa de estudos. De
acordo com esse raciocínio, conversas supérfluas são proibidas até quando não interrompem os estudos (vide Shulchan Aruch
Harav, Hilchót Talmud Torá 4:11).
297- Berachót (ibid.) conta que essa regra era observada na casa de estudos do Raban Gamliêl.
298- O equivalente talmúdico a “saúde!” em português.
299- Chaguigá 12b acrescenta que a pessoa que conversa sobre outros assuntos em uma casa de estudos merece engolir brasas
como punição.
300- Meguilá 27a. Vide Hilchót Tefilá, Capítulo 11, onde o Rambam trata em detalhes da santidade que as casas de estudo e
as sinagogas possuem, e relaciona diversas restrições comportamentais, determinadas a título de respeito (vide também Tur e
Shulchan Aruch, Orach Chaím 151). A maior santidade da casa de estudos está expressa na lei (Hilchót Tefilá, Halachá 14) de
que uma sinagoga pode ser convertida em casa de estudos – mas uma casa de estudos não pode ser convertida em sinagoga.
301- Shemót 20:12 preceitua: “ Teu pai e tua mãe honrarás”. Vaikrá 19:3 preceitua: “O homem deve temer a sua mãe e o seu
pai” (vide Hilchót Mamrím, Capítulo 6, a respeito dessas Mitsvót).
302- Todos os pormenores dessa Halachá se aplicam ao Rabó Hamuvhák, o mestre principal da pessoa, do qual ela tenha
aprendido a maior parte de seu conhecimento (Bava Metsia 33a). No entanto, qualquer mestre que tenha ensinado Torá a ela
merece uma medida de respeito (Halachá 9).
303- I.e. ele a gerou e a proveu de suas necessidades fundamentais.
304- A pessoa, quando estuda a Torá e executa as Mitsvót, conquista uma porção do Mundo Vindouro. O motivo trazido pelo
Rambam está fundamentado em Bava Metsia ibid. Em Keritót 28a consta uma outra razão: “Tanto ela quanto o pai dela são
obrigados a honrar o seu mestre”. O Rambam cita isso em seu Sefer Hamitsvót (Mitsvá Positiva 209).
305- Em seu Comentário à Mishná, Keritót 6:9, o Rambam equipara a remoção de uma carga à devolução de um objeto perdido
e ao resgate de uma pessoa do cativeiro, em todos os aspectos. Portanto, conforme explicado adiante, se o pai for também um
sábio em Torá, a ele deverá ser dada precedência. No entanto, o Késsef Mishnê explica que quando não há risco envolvido, mas
apenas honra, deverá ser dada precedência ao mestre, mesmo se o pai for um sábio em Torá de nível equivalente.
306- Vide Hilchót Matnót Aniím 8:10-18 a respeito dessa importante Mitsvá.
307- Mesmo se ele não se equiparar ao seu mestre (Késsef Mishnê).
308- A decisão a respeito da devolução de um objeto perdido é discutível, como explicado adiante. No entanto, no que diz
respeito ao resgate de cativos, todos concordam que, por estar se tratando de uma questão de vida ou morte, deve-se dar
prioridade ao pai se ele tiver conquistado algum nível de erudição.
que o seu mestre perdeu.309 Não há respeito maior וְ ֵאין לְ ָך ּכָ בֹוד ּגָ דֹול ִמּכְ בֹוד ָה ַרב וְ ל ֹא309.ַרּבֹו
que o respeito [devido] a um mestre, nem temor מֹורא ָ 310 ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים.ּמֹורא ָה ַרב ָ מֹורא ִמ ָ
[maior que] o temor [devido] a um mestre. Os sábios לְ ִפיכָ ְך ָא ְמרּו ּכָ ל.מֹורא ָׁש ַמיִ ם
312 311
ָ ְַר ָּבְך ּכ
declararam:310 “O teu temor pelo mestre deve ser
equivalente ao teu temor pelo Céu”.311 É por isso que .ַהחֹולֵ ק עַ ל ַרּבֹו ּכְ חֹולֵ ק עַ ל ַה ְּׁשכִ ינָ ה
313
309- Os comentaristas apontam para uma aparente contradição entre essa colocação e o que consta em Hilchót Aveidá 12:2:
“[A regra seguinte só se aplica quando] alguém encontrar um objeto perdido pertencente ao seu mestre e um objeto perdido
pertencente ao seu pai: Se o seu pai tiver nível equivalente ao do seu mestre, deve-se dar precedência ao [objeto perdido] do
seu pai. Caso contrário, a precedência é dada ao do seu mestre. Isso se aplica apenas ao mestre principal da pessoa, do qual
ela tenha aprendido a maior parte de seu conhecimento”. O texto de Bava Metsia (ibid.), que é a fonte dessa decisão, está mais
próximo do texto de Hilchót Aveidá. Segundo o Hagahót Maimoniót, o texto em pauta contém um erro de impressão. Mas fica
difícil aceitar essa conclusão, diante do que consta no Comentário à Mishná, Keritót ibid., onde o Rambam ensina que deve-se
dar precedência ao pai que é sábio em Torá, sem requerer que o pai tenha um nível maior que o mestre. O Léchem Mishnê
explica que o nosso texto se refere a uma situação em que é possível devolver os dois objetos perdidos, e a única dúvida é a
qual deles dar precedência. Já Hilchót Aveidá se refere a uma situação em que só é possível devolver um dos objetos perdidos.
310- Avót 4:12.
311- Comentando essa Mishná, o Rashi observa que o Talmud em Pessachím 22b equipara o respeito que se deve ter por um
sábio da Torá ao respeito que se deve ter por D-us.
312- San-hedrín 110a. Ao descrever o preceito de honrar um sábio em Torá, o Rambam cita o trecho inteiro que consta
no Sefer Hamitsvót, Mitsvá Positiva 209.
313- I.e. “coloca-se contra as decisões dele... ensinando e ministrando sentenças sem permissão dele” (Sefer Hamitsvót, ibid.;
vide Halachót a seguir).
314- Bamidbar 26:9.
315- Esse versículo descreve a revolta de Korach. Embora dirigida ostensivamente contra Moshé, a Torá a considerou uma
revolta contra o próprio D-us.
316- Bamidbar 20:13.
317- Bamidbar 20:1-3 descreve que, devido à falta de água, os judeus começaram a brigar com Moshé. Também essa revolta
D-us considerou como dirigida diretamente contra Ele, o próprio D-us.
318- Shemót 16:8.
319- Quando os judeus reclamaram a Moshé e Aharón da falta de comida, Moshé respondeu-lhes com essas palavras. Sobre
esse versículo a Mechilta comenta: “Quem fala contra os pastores do povo judeu é considerado como se falasse contra D-us”.
320- Explicando as declarações e os atos dele de forma desfavorável (Sefer Hamitsvót, ibid.).
321- Bamidbar 21:5.
322- Também nesse caso, o povo dirigiu suas reclamações da falta de comida e água a Moshé; no entanto, a Torá considerou
como dirigidas contra D-us.
323- Conforme mencionado no comentário sobre a Halachá anterior, a Halachá 9 declara: “A qual circunstância isso se aplica?
[Se aplica quando o falecido] tiver sido o [seu] mestre principal, quando tiver sido dele que [o discípulo] aprendeu a maioria
do seu conhecimento. Mas se não tiver aprendido dele a maioria do seu conhecimento, [o discípulo] é considerado como seu
aluno e colega e não tem obrigação de reverenciá-lo em todos esses aspectos”.
É alguém fundar um lugar de estudos e ali sentar, ֶׁשּל ֹא ִב ְרׁשּות324ּומלַ ֵּמד ְ דֹורׁשֵ ְיֹוׁשב וֵ ְִמ ְד ָרׁש ו
explicar e ensinar Torá324 sem o consentimento וְ ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש ַרּבֹו ִּב ְמ ִדינָ ה326 וְ ַרּבֹו ַקּיָ ם325ַרּבֹו
de seu mestre,325 estando o seu mestre vivo326 –
mesmo ele se encontrando em outra nação.327 É
ִּב ְפנֵ י ַרּבֹו328 וְ ָאסּור לְ ָא ָדם לְ הֹורֹות327.ַא ֶח ֶרת
terminantemente proibido decidir um julgamento ּמֹורה ֲהלָ כָ ה ִּב ְפנֵ י ַרּבֹו ַחּיָבֶ וְ כָ ל ַה329.לְ עֹולָ ם
haláchico328 na presença do mestre.329 Quem decide 330
.ִמ ָיתה
um julgamento haláchico na presença de seu mestre
merece a morte.330
324- E emitir sentenças haláchicas. O Shulchan Aruch, Iorê Deá 242:7 (vide também Késsef Mishnê), explica que a proibição
incide apenas sobre a emissão de sentenças haláchicas sobre casos relacionados diretamente com a prática; sobre o ensino de
assuntos teóricos a proibição não recai.
325- San-hedrín 5b. Autorizada por seu mestre e desde que não diante dele, a pessoa pode emitir sentenças haláchicas.
326 É sinal de desrespeito pelo mestre colocar-se como uma autoridade do mesmo nível que ele. Eruvín 62b relata que
enquanto o Rav Huna vivia, seu discípulo Rav Chisda não emitia nenhuma sentença, nem a respeito de coisas óbvias como
mergulhar “um ovo em uma mistura de leite azedo e pão”. Após o falecimento do mestre as restrições são abolidas, só se
exigindo de quem for decidir sentenças haláchicas aptidão (vide Halachót 3 e 4).
327- Isso pode ser depreendido de Eruvín 63a, onde consta que o Rav Hamnuna não emitiu nenhuma sentença enquanto o
Rav Huna era vivo, muito embora morassem em cidades diferentes.
328- Mesmo tendo sido autorizado por ele a tomar decisões haláchicas em geral.
329- O Rambam definirá esse termo na Halachá seguinte. Ketubót 60b relata que, independentemente da questão do respeito
devido ao mestre, há um problema adicional. Influências espirituais podem levar ao erro o estudante que emite uma sentença
haláchica. O Maharík (Responsum 169) declara que o estudante que alcança um nível próximo ao do seu mestre pode fazer
julgamentos haláchicos até na presença dele. Ele cita diversas passagens talmúdicas onde figuram decisões que o Reish Lakísh
tomou diante do Rabi Iochanán (seu mestre).
330- Eruvín 63a explica que Nadáv e Avihú, filhos de Aharón, morreram por causa desse pecado (vide Vaikrá, Capítulo 10,
e Berachót 31b).
331- Cada Mil equivale a 2.000 Amót, aproximadamente 960 metros. Essa distância foi inferida da medição do acampamento
de Israêl no deserto. Lá, todas as questões haláchicas eram formuladas a Moshé, conforme se depreende de Shemót 33:7: “Todos
aqueles que buscavam Hashem iam à Tenda do Encontro” (Rashi, San-hedrín 5b; vide também Hilchót San-hedrín 20:9).
Shemót, Capítulo 18, relata como Moshé nomeou juízes para emitir sentenças haláchicas sobre casos que não requeriam o
conhecimento dele. Eles puderam emitir sentenças por terem sido nomeados por Moshé por decreto Divino.
332- Mesmo não tendo sido autorizada por ele, conforme explicado adiante.
333- Quer ele esteja presente, quer ele se encontre em um raio de doze Mil.
334- Eruvín 63a conta que certa vez, em um Shabat, o Ravina estava na presença do Rav Ashi, seu mestre, quando viu um
indivíduo amarrando seu burro a uma tamareira. A princípio, ele gritou [para avisá-lo que era Shabat e que isso era proibido].
Na falta de resposta, o Ravina decidiu então afastá-lo da comunidade através de um Nidui. Vendo isso, o Rav Ashi interpelou
o seu discípulo, achando que ele estava agindo com desrespeito. Então o Ravina explicou que como o caso envolvia uma
transgressão (fazer uso de uma árvore em Shabat), ele se viu na obrigação de tomar essas medidas.
335- Eruvín (ibid.) depreende isso de Mishlei 21:30: “Não há sabedoria, nem entendimento, nem conselho contra D-us”. A
honra do mestre deriva da honra da Torá e da honra de D-us. Portanto, em todos os casos, é dada prioridade à Torá.
situações isso se aplica?336 A situações ocasionais.337 ֲא ָבל337. ְּב ָד ָבר ֶׁש ְּנִק ָרא ִמ ְק ֶרה336?מּורים ִ ֲא
Mas qualificar a si mesmo como autoridade em יׁשב ּולְ הֹורֹות לְ כָ ל ֵ ֵהֹור ָאה וְ ל
ָ ְלִ ְקּבֹעַ עַ צְ מֹו ל
matéria de Halachá, para sentar e responder a todos ׁשֹואל ֲא ִפּלּו הּוא ְּבסֹוף ָהעֹולָ ם וְ ַרּבֹו ְּבסֹוף ֵ
que buscam orientação, é proibido – mesmo estando
em um lado do mundo e o mestre no outro –,338 até ָהעֹולָ ם ָאסּור לֹו לְ הֹורֹות עַ ד ֶׁשּיָ מּות ַרּבֹו
338
a morte do mestre, a não ser que o mestre lhe tenha וְ ל ֹא כָ ל ִמי.ֶאלָ א ִאם ּכֵ ן נָ ַטל ְרׁשּות ֵמ ַרּבֹו
concedido permissão. Nem todo discípulo cujo ּתֹורה
ָ יׁשב ּולְ הֹורֹות ַּב ֵ ֵֶׁש ֵּמת ַרּבֹו ֻמ ָּתר לֹו ל
mestre morreu pode sentar e decidir julgamentos 339
.הֹור ָאה
ָ ְֶאלָ א ִאם ּכֵ ן ָהיָ ה ַתלְ ִמיד ֶׁש ִהּגִ יעַ ל
haláchicos; só poderá fazê-lo quem tiver alcançado
o nível de decidir julgamentos.339
4. Todo estudante que não tiver alcançado o nível ּומֹורה ֶ הֹור ָאה ָ ְ וְ כָ ל ַּתלְ ִמיד ֶׁשּל ֹא ִהּגִ יעַ ל.ד
de decidir julgamentos mas o faz é considerado tolo, רּוח וְ עָ לָ יו
340
ַ ׁשֹוטה ָר ָׁשע וְ גַ ס ֶ ֲה ֵרי זֶ ה
perverso e arrogante;340 sobre ele está dito:341 “Muitos וְ כֵ ן."נֶ ֱא ַמר "ּכִ י ַר ִּבים ֲחלָ לִ ים ִה ִּפילָ ה 341
mortos ela abortou etc.” Já o sábio que tiver alcançado
o nível de decidir julgamentos haláchicos mas se מֹורה ֲה ֵרי זֶ ה ֶ הֹור ָאה וְ ֵאינֹו ָ ְָחכָ ם ֶׁש ִהּגִ יעַ ל
abstém de fazê-lo, impede [a propagação da] Torá
342
,נֹותן ִמכְ ׁשֹולֹות לִ ְפנֵ י ָהעִ וְ ִריםֵ ְּתֹורה ו
ָ ַמֹונֵ ע
e coloca obstáculos diante do cego;342 sobre ele está ֵאּלּו344." "וַ עֲ צֻ ִמים ּכָ ל ֲה ֻרגֶ ָיה343וְ עָ לָ יו נֶ ֱא ַמר
dito:343 “Atsumím (‘inúmeras’) são as suas vítimas”.344 תֹורה ּכָ ָראּוי ָ ַה ַּתלְ ִמ ִידים ַה ְּק ַטּנִ ים ֶׁשּל ֹא ִה ְרּבּו
Esses estudantes miúdos, que não acumularam וְ ֵהם ְמ ַב ְּק ִׁשים לְ ִה ְתּגַ ֵּדל ִּב ְפנֵ י עַ ֵּמי ָה ָא ֶרץ ֵּובין
conhecimento da Torá suficiente, procuram ganhar
prestígio aos olhos dos iletrados e dos habitantes יֹוׁש ִבין ָּברֹאׁש לָ ִדין ְ ְקֹופצִ ין וְ ְַאנְ ֵׁשי עִ ָירם ו
das suas cidades passando por cima [dos outros] ֹלקת ֶ ּולְ הֹורֹות ְּביִ ְׂש ָר ֵאל ֵהם ַה ַּמ ְר ִּבים ַה ַּמ ֲח
para sentar na cabeceira de todas as questões de וְ ֵהם ַה ַּמ ֲח ִר ִיבים ֶאת ָהעֹולָ ם וְ ַה ְּמכַ ִּבים נֵ ָרּה
julgamentos haláchicos em Israêl. Eles disseminam 346
. ּכֶ ֶרם ה' צְ ָבאֹות345ּתֹורה וְ ַה ְּמ ַח ְּבלִ ים ָ ֶׁשל
controvérsias, destroem o mundo, extinguem a luz "א ֱחזּו לָ נּו ֶ 347
עֲ לֵ ֶיהם ָא ַמר ְׁשֹלמֹה ְּב ָחכְ ָמתֹו
da nossa Torá e estragam345 o vinhedo do Hashem
das hostes.346 Sobre eles Shelomó declarou na ."ֻׁשעָ לִ ים ֻׁשעָ לִ ים ְק ַטּנִ ים ְמ ַח ְּבלִ ים ּכְ ָר ִמים
sua sabedoria:347 “Segurai as raposas para nós, as
pequenas raposas que estragam os vinhedos, pois as
nossas vinhas estão florescendo”.
336- Isso se refere à primeira frase, que menciona a licença de decidir um julgamento haláchico fora da presença do mestre.
337- Por essa ser uma ocorrência casual e o seu mestre não estar presente, a resposta do aluno não é considerada como sendo
desrespeitosa.
338- I.e. a distância geográfica não é um fator.
339- Avodá Zará 19b exige de um estudante a idade mínima de 40 anos para considerá-lo apto a proferir sentenças haláchicas.
340- O Rambam baseia essas declarações em Avót 4:9, que usa esses adjetivos para descrever uma pessoa que “emite sentenças
haláchicas”. Em seu comentário sobre essa Mishná, o Rambam diz que isso se aplica a quem “não se preocupa ao proferir uma
sentença e o faz sem medo ou consideração apropriada”.
341- Mishlei 7:26.
342- O Rambam obviamente não se refere a pessoas fisicamente cegas. Ele chama de cegas as ignorantes ou espiritualmente
deficientes, conforme explicado na interpretação do versículo em Vaikrá 19:14: “Diante do cego não ponhas obstáculo”.
343- Ibid.
344- O termo Atsumím (“inúmeras”) é relacionado a Atsum (“fechar os olhos”) (Késsef Mishnê).
345- O Késsef Mishnê assinala que embora o Mishnê Torá tenha sido composto como uma obra perene de Halachá, a dureza
das críticas do Rambam aqui pode ter resultado da prevalência, na sua época, de estudantes desqualificados que buscavam
posições rabínicas.
346- I.e. o povo de Israêl (vide Ieshaiáhu 5:7).
347- Shir Hashirím 2:15.
nome,348 mesmo se o mestre não estiver presente. וְ הּוא ֶׁשיִ ְהיֶ ה ַה ֵּׁשם ֶּפלִ אי.וַ ֲא ִפּלּו ֶׁשּל ֹא ְּב ָפנָ יו
Nem deve mencionar o seu nome diante dele, וְ ל ֹא יַ זְ ּכִ יר350.ּׁשֹומ ַע יֵ ַדע ֶׁשהּוא ְּפלֹונִ י
ֵ ֶׁשּכָ ל ַה
até quando se referir a algum homônimo – assim וַ ֲא ִפּלּו לִ ְקרֹות לַ ֲא ֵח ִרים ֶׁש ְּׁש ָמם.ְׁשמֹו ְב ָפנָ יו
como com relação ao nome de seu pai. O que ele
deverá fazer é usar outros nomes ao referir-se a ֶאלָ א.עֹוׂשה ְּב ֵׁשם ָא ִביו ֶ ּכְ ֶד ֶרְך ֶׁש,ּכְ ֵׁשם ַרּבֹו
homônimos, mesmo após a morte deles.349 Isso se וְ ל ֹא349.מֹותם ָ יְ ַׁשּנֶ ה ְׁש ָמם וַ ֲא ִפּלּו לְ ַא ַחר
aplica no caso de um nome incomum, quando todos יִ ֵּתן ָׁשלֹום לְ ַרּבֹו אֹו יַ ֲחזִ יר לֹו ָׁשלֹום ּכְ ֶד ֶרְך
sabem a quem se está referindo.350 [O discípulo] não ֶאלָ א351.ּומ ֲחזִ ִירים זֶ ה לָ זֶ ה ַ ּנֹותנִ ים לְ ֵרעִ ים
ְ ֶׁש
deve cumprimentar o seu mestre ou responder a אֹומר לֹו ְּביִ ְר ָאה וְ כָ בֹוד ֵ ְׁשֹוחה לְ ָפנָ יו ו
352
ֶ
uma saudação dele da mesma maneira que amigos
costumam trocar cumprimentos.351 O que ele deve וְ ִאם נָ ַתן לֹו ַרּבֹו ָׁשלֹום.ָ׳ׁשלֹום עָ לֶ יָך ַר ִּבי׳
353
6. Similarmente, [o discípulo] não deve remover וְ ל ֹא354. וְ כֵ ן ל ֹא יַ ֲחֹלץ ְּת ִפּלָ יו לִ ְפנֵ י ַרּבֹו.ו
os Tefilín diante do mestre354 nem reclinar-se na 356
.יֹוׁשב לִ ְפנֵ י ַה ֶּמלֶ ְך
ֵ ְיֹוׁשב ּכ ֵ ֶאלָ א355יָ ֵסב
presença dele,355 mas deve sentar-se diante dele como
וְ ל ֹא לְ ַא ַחר ַרּבֹו357וְ ל ֹא יִ ְת ַּפּלֵ ל ל ֹא לִ ְפנֵ י ַרּבֹו
alguém que se senta diante de um rei.356 [O discípulo]
não deve rezar nem diante de seu mestre,357 nem לֹומר ֶׁש ָאסּור ַ וְ ֵאין צָ ִריְך358.וְ ל ֹא ְּבצַ ד ַרּבֹו
atrás dele, nem do lado dele.358 Desnecessário dizer יִ ְת ַר ֵחק לְ ַא ַחר360 ֶאלָ א359.לֹו לְ ַהּלֵ ְך ְּבצִ ּדֹו
que não pode caminhar ladeando-o.359 O que ele חֹוריו וְ ַא ַחר ּכָ ְך ָ ַרּבֹו וְ ל ֹא יְ ֵהא ְמכֻ ּוָ ן ּכְ נֶ גֶ ד ֲא
deve fazer360 é se distanciar de seu mestre sem ficar 362
. וְ ל ֹא יִ ּכָ נֵ ס עִ ם ַרּבֹו לְ ֶּמ ְר ָחץ361.יִ ְת ַּפּלֵ ל
diretamente atrás dele, e então rezar.361 Não se deve
348- O Talmud em San-hedrín 100a chama uma pessoa assim de Apikores (“herege”). Segundo o Rashi, é preciso acrescentar
uma frase descritiva antes de mencionar o nome de um mestre, a exemplo de Iehoshua (Bamidbar 11:28), que disse: “Meu
mestre Moshé, aprisione-os”. Cf. Hilchót Mamrím 6:3, que descreve a reverência que se deve ter pelo pai: “Ele não deve ser
chamado pelo nome, nem em vida nem após a sua morte; o que se deve usar é ‘Meu pai, meu mestre’”.
349- Conforme consta em Hilchót Mamrím (ibid.): “Se o nome do pai ou do mestre se assemelhar ao nome de outrem, deve-
se alterar o nome deles”. Encontramos um exemplo disso no Talmud. O nome do Abaie era na verdade Nachmani; foi o seu
mestre, o Raba, que criou um nome diferente para ele, por ser homônimo a seu pai (Haaruch).
350- Hilchót Mamrim (ibid.) continua: “A meu ver só se deve cuidar desse detalhe quando for o caso de um nome diferenciado...
Mas se for um nome popular, tal como Avraham, Itschak, Iaakov ou Moshé... é permitido chamar outrem por esse nome,
desde que fora da presença dele”.
351- Berachót 27b declara: “Quem saúda o seu mestre faz com que a Presença Divina se afaste de Israêl”. Segundo o Rashi, isso
se refere a saudá-lo de um jeito trivial, sem demonstrar reverência.
352- Essa prática é mencionada em Sofrím 18:5.
353- Bava Kama 73b declara que é impróprio a um estudante saudar o mestre, como se depreende de Ióv 29:8: “Os moços me
viram e se esconderam”.
354- O Késsef Mishnê cita San-hedrín 101b, que proíbe remover os Tefilín na presença de um rei, como fonte dessa Halachá,
uma vez que Horaiót 13a determina que um sábio da Torá merece mais honra que um rei.
355- Em Hilchót Chamêts Umatsá 7:8 o Rambam menciona que essa proibição incide até na noite do Seder, quando é Mitsvá
reclinar (Pessachím 108a).
356- Pois, como mencionado em Horaiót (ibid.), um sábio da Torá merece a maior honra.
357- Pois ficar de costas para o mestre demonstra falta de respeito; portanto é proibido enquanto o mestre puder enxergá-lo
(Beit Iossêf, Orach Chaím 90, Shulchan Aruch 90:24).
358- O Rashi (em Berachót 27a) explica que se posicionar ao lado do mestre demonstra orgulho, implicando um grau de
equivalência com o mestre. No Shulchan Aruch, Iorê Deá 242:16, consta que a uma distância maior do que quatro Amót dele
não é proibido ficar.
359- Em Iomá 37a consta: “Quem anda à direita do seu mestre é mal-educado” (cf. Capítulo 6, Halachá 5).
360- Ao rezar ou caminhar (Shulchan Aruch, Iorê Deá ibid.).
361- I.e. ficando ligeiramente ao lado e atrás dele.
entrar em uma casa de banhos junto do mestre,362 וְ ל ֹא יַ כְ ִריעַ ְּד ָב ָריו363.וְ ל ֹא יֵ ֵׁשב ִּב ְמקֹום ַרּבֹו
nem sentar-se no lugar em que ele se senta.363 Não וְ ל ֹא יֵ ֵׁשב לְ ָפנָ יו. וְ ל ֹא יִ ְסּתֹר ֶאת ְּד ָב ָריו.ְּב ָפנָ יו
se deve contrariar as suas decisões na presença dele וְ ל ֹא יַ עֲ מֹד ִמּלְ ָפנָ יו עַ ד364.ֹאמר לֹו ֵׁשב ַ עַ ד ֶׁשּי
nem contestar as suas palavras. Não se deve sentar
diante dele enquanto ele não disser: “Sente-se”.364
365
.ֹאמר לֹו עֲ מֹד אֹו עַ ד ֶׁשּיִ ּטֹל ְרׁשּות לַ עֲ מֹד ַ ֶׁשּי
Não se deve ficar em pé diante dele enquanto ele não
366
חֹוריו
ָ ּוכְ ֶׁשּיִ ָּפ ֵטר ֵמ ַרּבֹו ל ֹא יַ ֲחזִ יר לֹו לַ ֲא
disser: “Levante-se”, ou até que se receba permissão 367
.חֹוריו ָּופנָ יו ּכְ נֶ גֶ ד ָּפנָ יו
ָ ֶאלָ א נִ ְר ָּתע לַ ֲא
para levantar-se.365 Ao se afastar não se deve dar as
costas ao mestre.366 O que se deve fazer é andar para
trás permanecendo voltado para ele.367
7. A pessoa deve ficar em pé diante de seu mestre וְ ַחּיָב לַ עֲ מֹד ִמ ְּפנֵ י ַרּבֹו ִמ ֶּׁשּיִ ְר ֶאּנּו ֵמ ָרחֹוק.ז
desde quando a sua vista a alcançar até quando וְ ל ֹא יִ ְר ֶאה368ְמל ֹא עֵ ינָ יו עַ ד ֶׁשּיִ ְתּכַ ֶּסה ִמ ֶּמּנּו
ele [sair do seu campo de visão e] ficar oculto,368 e
וְ ַחּיָב ָא ָדם לְ ַה ְק ִּביל.קֹומתֹו וְ ַא ַחר ּכָ ְך יֵ ֵׁשב ָ
a figura dele não for mais visível. [Só] então [ela]
poderá sentar. É obrigatório visitar o mestre durante
369
.ְּפנֵ י ַרּבֹו ָּב ֶרגֶ ל
as Festas.369
8. Não se deve mostrar deferência a um discípulo ֵאין חֹולְ ִקין ּכָ בֹוד לְ ַתלְ ִמיד ִּב ְפנֵ י ַרּבֹו.ח
na presença de seu mestre, a não ser que o próprio וְ כָ ל370.ֶאלָ א ִאם ּכֵ ן ֶּד ֶרְך ַרּבֹו לַ ְחֹלק לֹו ּכָ בֹוד
mestre tenha também o costume de honrá-lo.370 Um עֹוׂשה
ֶ עֹוׂשה לְ ַרּבֹו ַּתלְ ִמיד ֶ ַה ְמלָ אכֹות ֶׁש ָהעֶ ֶבד
discípulo deve prestar para o seu mestre todo tipo
de serviço que um escravo realiza para o seu amo.371 וְ ִאם ָהיָ ה ְּב ָמקֹום ֶׁש ֵאין ַמּכִ ִירין אֹותֹו371.לְ ַרּבֹו
[Mas] se [o discípulo] se encontrar em um lugar ֹאמרּו עֶ ֶבד ְ וְ ָחׁש ֶׁש ָּמא י372וְ ל ֹא ָהיּו לֹו ְּת ִפּלִ ין
onde não é conhecido e não estiver de Tefilín,372 e 374
. ֵאינֹו נֹועֵ ל לֹו ִמנְ עָ לֹו וְ ֵאינֹו חֹולְ צֹו373הּוא
temer que as pessoas digam: “Ele é um escravo”,373 וְ כָ ל ַהּמֹונֵ עַ ַּתלְ ִמידֹו ִמּלְ ַׁש ְּמׁשו מֹונֵ עַ ִמ ֶּמּנּו
[nesse caso] ele não precisa calçar sapatos [nos pés וְ כָ ל375.ּופֹורק ִמ ֶּמּנּו יִ ְר ַאת ָׁש ַמיִ ם ֵ ֶח ֶסד
de seu mestre] nem removê-los [dos pés dele].374
Quem desobriga um discípulo de servi-lo sonega ּגֹורם ֵ ַּתלְ ִמיד ֶׁש ְּמזַ לְ זֵ ל ָד ָבר ִמּכָ ל ּכְ בֹוד ַרּבֹו
dele a bondade e remove dele o temor ao Céu.375
376
.לַ ְּׁשכִ ינָ ה ֶׁש ִּת ְס ַּתּלֵ ק ִמּיִ ְׂש ָר ֵאל
362- Pessachím 51a. Pois ficar perto dele sem roupas não é respeitoso. Mas se o mestre pedir a sua ajuda é permitido, conforme
o Rambam ensina em Hilchót Issurei Biá 21:16.
363- Kidushín 31b. Declarações similares podem ser encontradas em Hilchót Mamrím 6:3.
364- O Midrásh Rabá (Ruth 4:2) faz declarações similares, baseado nas instruções de Boáz aos anciãos de Beit Lechem.
365- Vide Avodá Zará 19a.
366- Pois ficar de costas para o mestre não é respeitoso.
367- Iomá 53a relata que assim faziam os sacerdotes e levitas quando concluíam o serviço no Templo Sagrado, e que esse
costume deve ser observado pelos discípulos ao se afastarem de seus mestres.
368- Kidushín 33a.
369- Sucá 27b.
370- Quando o próprio mestre demonstra respeito pelo estudante, ele não se sentirá afrontado se outros agirem assim
(Rashi, Bava Batra 119b).
371- Ketubót 96a.
372- Naqueles tempos os homens tinham o costume de ficar o dia inteiro de Tefilín.
373- I.e. um “escravo canaanita”, que não é considerado um judeu de pleno direito. Não estar de Tefilín pode causar essa
impressão, uma vez que vestir os Tefilín é uma das Mitsvót que “escravos canaanitas” estão dispensados de cumprir.
374- I.e. ele fica liberado da execução de todas as tarefas de criadagem que possam criar essa impressão.
375- Um homem sábio se distingue não só por suas realizações intelectuais, mas pela maneira com que o seu conhecimento se
reflete em seu comportamento diário (Hilchót Deót, Capítulo Cinco). Quando um discípulo tem a oportunidade de apreciar
não só os dons intelectuais do seu mestre, mas a totalidade do seu comportamento, ele se torna consciente de como um estilo
de vida baseado na Torá é um compromisso abrangente, afetando todos os aspectos da sua atividade diária. Isso o leva a um
sentimento de reverência por D-us.
9. [Um discípulo] que vê o seu mestre transgredindo אֹומר לֹו ֵ תֹורה ָ עֹובר עַ ל ִּד ְב ֵרי ֵ ָר ָאה ַרּבֹו.ט
alguma instrução da Torá deve dizer a ele: “O וְ כָ ל זְ ַמן ֶׁש ַּמזְ ּכִ יר377.לִ ַּמ ְד ָּתנּו ַר ֵּבנּו ּכָ ְך וְ ּכָ ְך
senhor, nosso mestre, nos ensinou tal e tal”.377 Toda 378
.אֹומר לֹו ּכָ ְך לִ ַּמ ְד ָּתנּו ַר ֵּבנּו
ֵ ְׁשמּועָ ה ְּב ָפנָ יו
vez que mencionar algum ensinamento diante dele,
[o discípulo] deve dizer: “É isso o que o senhor nos ֹאמר ָּד ָבר ֶׁשּל ֹא ָׁש ַמע ֵמ ַרּבֹו עַ ד ֶׁשּיַ זְ ּכִ יר ַ וְ ַאל י
ensinou, nosso mestre’”.378 Só se pode mencionar קֹורעַ ּכָ ל ְּבגָ ָדיו ֵ ּוכְ ֶׁשּיָ מּות ַרּבֹו.אֹומרֹו
379
ְ ֵׁשם
um conceito que não tenha sido dito pelo mestre se עַ ד ֶׁשהּוא ְמגַ ּלֶ ה ֶאת לִ ּבֹו וְ ֵאינֹו ְמ ַא ֶחה
380
o nome do autor for citado.379 Quando um mestre מּורים? ְּב ַרּבֹו ֻמ ְב ָהק ִ ּב ֶּמה ְּד ָב ִרים ֲא.ם ַ ָלְ עֹול
falece, [o discípulo] deve rasgar todas as roupas até
ֲא ָבל ִאם ל ֹא לָ ַמד.ֶׁשּלָ ַמד ִמ ֶּמּנּו רֹב ָחכְ ָמתֹו
deixar o coração à mostra.380 E nunca deve remendá-
las. A qual circunstância isso se aplica? A quando ִמ ֶּמּנּו רֹב ָחכְ ָמתֹו ֲה ֵרי זֶ ה ַּתלְ ִמיד ָח ֵבר וְ ֵאינֹו
ele tiver sido o [seu] mestre principal, a quando עֹומד
ֵ ֲא ָבל.ַחּיָב ִּבכְ בֹודֹו ְּבכָ ל ֵאּלּו ַה ְּד ָב ִרים
tiver sido dele que [o discípulo] aprendeu a maioria ַקֹורע
ֵ ּכְ ֵׁשם ֶׁשהּוא382קֹורעַ עָ לָ יו ֵ ְ ו381ִמּלְ ָפנָ יו
do seu conhecimento. Mas se não tiver aprendido 383
.עַ ל ּכָ ל ַה ֵּמ ִתים ֶׁשהּוא ִמ ְת ַא ֵּבל עֲ לֵ ֶיהם
dele a maioria do seu conhecimento, [o discípulo]
ֲא ִפּלּו ל ֹא לָ ַמד ִמ ֶּמּנּו ֶאלָ א ָּד ָבר ֶא ָחד ֵּבין ָק ָטן
é considerado como seu aluno e colega e não tem
obrigação de reverenciá-lo em todos esses aspectos,
385
.קֹורעַ עָ לָ יו
ֵ ְעֹומד ִמּלְ ָפנָ יו ו
ֵ 384ֵּבין ּגָ דֹול
devendo no entanto levantar-se diante dele381 e
rasgar as roupas [quando de sua morte],382 como o
faria por qualquer falecido a que tivesse obrigação
de se enlutar.383 Mesmo tendo aprendido dele apenas
376- Berachót 27b faz essa afirmação com relação a alguém que reza atrás de seu mestre ou que o saúda de um jeito trivial (vide
Halachót 5 e 6.) O Rambam extrapola que o conceito também se aplica no que diz respeito a outras atitudes desrespeitosas
para com o mestre.
377- Kidushín 32a traz declarações similares relacionadas a quando se vê o pai transgredindo a lei da Torá. O Rambam
infere que um conceito similar é aplicável ao caso de um mestre violando uma lei (Késsef Mishnê). Outra possível fonte
é Berachót 16a-b, que cita os discípulos do Raban Gamliêl repreendendo-o dessa maneira depois de uma série de atitudes que
pareciam contradizer os seus ensinamentos.
378- San-hedrín 99b declara: “Quem é considerado Apikores (‘herege’)? É quem se encontra diante de seu mestre e faz um
comentário assim: ‘É isso o que consta lá a respeito dessa matéria’, ao invés de dizer: ‘É isso o que o senhor nos ensinou,
nosso mestre’”. Moêd Katán 7b traz o Rabi Chia mencionando um ensinamento perante o Rabi Iehudá Hanassí, seu mestre, e
introduzindo as suas palavras com a frase: “É isso o que o senhor nos ensinou, nosso mestre”.
379- Berachót 27b. Em geral é altamente recomendável citar o nome do autor de um conceito (Meguilá 15a: “Quem conta
uma citação mencionando o nome do autor traz redenção para o mundo”), mas nesse caso é obrigatório que o discípulo
o faça, para que ninguém assuma que o ensinamento tenha partido do seu mestre. O Talmud Ierushalmi (Berachót 2:1)
conta o seguinte episódio: Enquanto caminhava apoiado no Rabi Iaakov bar Idi, o Rabi Iochanán comentou desgostoso que
um discípulo seu, o Rabi Eliezer, nunca fazia declarações citando o seu nome. O Rabi Iaakov retrucou-lhe que havia um
precedente para esse comportamento: o Rabi Meir, que contava ensinamentos em nome do Rabi Ishmael, mas nunca em
nome de seu mestre, o Rabi Akiva. O Rabi Iochanán retrucou que não havia nada de errado com isso, pois todos sabiam que o
Rabi Meir era discípulo do Rabi Akiva e que a maior parte dos seus ensinamentos partiram dele. Então o Rabi Iaakov explicou
que a mesma ideia se aplicava ao caso do Rabi Iochanán: “Todos sabem que o Rabi Eliezer é teu discípulo, e que a maior parte
dos ensinamentos dele partiram de você”!
380- Vide Hilchót Ével 8:3, 9:2 e Moêd Katán 22b e 26a.
381- Quando ele estiver a menos de quatro Amót de distância (Késsef Mishnê).
382- Bava Metsia 33a louva os estudantes da Babilônia por demonstrarem esse nível de respeito pelos colegas.
383- I.e. por um irmão, irmã, cônjuge, filho, filha e pais.
10. Todo estudioso de caráter adequado386 jamais ֵאינֹו386עֹותיו ְמכֻ ּוָ נֹותָ וְ כָ ל ַּתלְ ִמיד ָחכָ ם ֶׁש ֵּד.י
deve falar perante alguém que seja mais sábio do que 387
ְמ ַד ֵּבר ִּב ְפנֵ י ִמי ֶׁשהּוא ּגָ דֹול ִמ ֶּמּנּו ְּב ָחכְ ָמה
ele,387 mesmo não tendo aprendido nada dele. .ַאף עַ ל ִּפי ֶׁשּל ֹא לָ ַמד ִמ ֶּמּנּו ּכְ לּום
11. Um mestre principal pode, se quiser, abrir mão 388
ֹ ָה ַרב ַה ֻּמ ְב ָהק ֶׁש ָרצָ ה לִ ְמחֹל עַ ל ּכְ בֹודו.יא
da sua honra em relação a todos esses aspectos ou
388
לְ כָ ל389ְּבכָ ל ַה ְּד ָב ִרים ָה ֵאּלּו אֹו ְּב ֶא ָחד ֵמ ֶהם
a [apenas] um deles,389 a todos os seus discípulos ou וְ ַאף. ָה ְרׁשּות ְּביָ דֹו390ַּתלְ ִמ ָידיו אֹו לְ ֶא ָחד ֵמ ֶהן
a [apenas] um deles.390 [No entanto], mesmo tendo
ele dispensado [a honra], o discípulo tem obrigação וַ ֲא ִפּלּו391עַ ל ִּפי ֶׁש ָּמ ַחל ַחּיָב ַה ַּתלְ ִמיד לְ ַה ְּדרֹו
de respeitá-lo391 até no momento em que ele abrir
392
.ְּב ָׁש ָעה ֶׁש ָּמ ַחל
mão [da sua honra].392
12. Assim como os discípulos devem respeitar o ּכְ ֵׁשם ֶׁש ַה ַּתלְ ִמ ִידים ַח ִּיָבין ִּבכְ בֹוד ָה ַרב ּכָ ְך.יב
seu mestre, também o mestre deve respeitar os seus 393
.ָה ַרב צָ ִריְך לְ כַ ֵּבד ֶאת ַּתלְ ִמ ָידיו ּולְ ָק ְר ָבן
discípulos e aproximá-los.393 Os sábios declararam o ׳יְ ִהי ּכְ בֹוד ַּתלְ ִמ ְידָך394ּכָ ְך ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים
seguinte:394 “Que a honra dos teus alunos te seja tão
apreciada quanto a tua própria”.395 A pessoa deve ser וְ צָ ִריְך ָא ָדם לְ ִהּזָ ֵהר395.ָח ִביב עָ לֶ יָך ּכְ ֶׁשּלְ ָך׳
cuidadosa com os seus discípulos e ter amor por eles, ַה ְּמ ַהּנִ ים396 ֶׁש ֵהם ַה ָּבנִ ים.ְּב ַתלְ ִמ ָידיו ּולְ ָא ֳה ָבם
pois eles são como filhos396 que lhe trazem prazer 398
. וְ לָ עֹולָ ם ַה ָּבא397לָ עֹולָ ם ַהּזֶ ה
neste mundo397 e no Mundo Vindouro.398
384- Pirkei Avót 6:3 declara: “Quem aprende de um colega um único capítulo, uma única lei, um único versículo... ou uma
única letra, deve render-lhe honra. Pois encontramos que David, rei de Israêl, aprendeu apenas duas coisas de Achitófel, e no
entanto ele o chamou de ‘seu mestre, seu guia e seu mentor’”.
385- Bava Metsia 33a conta que quando um aluno do sábio Shemuel faleceu ele rasgou a sua roupa, pois tinha aprendido desse
aluno um ensinamento.
386- I.e. que tenha adestrado o seu intelecto e as suas emoções adequadamente (Rambam, Comentário à Mishná, Avót 5:6).
387- Pirkei Avót 5:7 declara: “Sete são os traços que caracterizam o ignorante e sete [são os traços que caracterizam o] sábio.
O sábio não fala na presença de alguém mais sábio que ele”.
388- Kidushín 32a relata uma diferença de opiniões entre os sábios a respeito desse assunto. Para o Rav Chisda um mestre
não tem o direito de abrir mão da sua honra, porque a honra não é devida à pessoa dele, mas à Torá. Já o Rav Iossêf considera
que o mestre tem direito de renunciar à honra que lhe é devida pois uma vez tendo assimilado a matéria estudada, ela passa
a ser parte dele. E como a opinião do Rava está em concordância com a do Rav Iossêf, o Rambam a adota como sendo a da
maioria (Késsef Mishnê).
389- Kidushín 32b conta que em festas de casamentos o Rava e o Rav Papa relaxavam algumas formalidades e serviam aos
seus alunos.
390- I.e. ele pode restringir essas leniências para apenas um pequeno número de alunos ou estendê-las a todos, conforme
desejar.
391- Levantando-se diante dele, evitando sentar no lugar dele etc. Não agir assim equivale a desrespeitar a Torá.
392- Nossa tradução baseia-se no Avodát Hamélech, que aponta para a aparente redundância do texto e explica que mesmo
quando o mestre abre mão desses requisitos mínimos de respeito, seu discípulo deve mantê-los.
393- Embora se deva tratar todas as pessoas com respeito e carinho, um mestre deve fazer um esforço especial para manifestar
essas qualidades aos seus alunos.
394- Avót 4:12.
395- O Avót Derabi Natán (Capítulo 27) traz como exemplo desse comportamento as instruções de Moshé para Iehoshua
(Shemót 17:9): “Escolhe homens para nós”, onde Moshé compara Iehoshua a si mesmo.
396- Vide Capítulo 1, Halachá 2.
397- Pois a compreensão do mestre se aprofunda graças aos alunos. Além disso, à medida em que eles têm sucesso e evoluem
nos estudos, maior é a sua sensação de satisfação.
398- Pois os atos e estudos dos alunos aumentam os méritos do mestre, que os encaminhou para a direção da Torá. Vide Iomá
87a e Bava Metsia 85a.
3. Não é apropriado a um sábio incomodar o público, ֵאין ָראּוי לֶ ָחכָ ם ֶׁשּיַ ְט ִר ַיח ֶאת ָהעָ ם וְ יַ כְ וִ ין.ג
posicionando-se diante das pessoas de maneira tal ֶאלָ א יֵ לֵ ְך416.עַ צְ מֹו לָ ֶהם ּכְ ֵדי ֶׁשּיַ ַע ְמדּו ִמ ָּפנָ יו
que as obrigue a levantar.416 O que ele deve fazer é ּומ ְתּכַ ּוֵ ן ֶׁשּל ֹא יִ ְראּו אֹותֹו ּכְ ֵדיִ ְּב ֶד ֶרְך ְקצָ ָרה
cortar o caminho e procurar não ser visto, evitando
assim o transtorno de fazê-los levantar.417 Nossos וְ ַה ֲחכָ ִמים ָהיּו ַמ ִּק ִיפין.ֶׁשּל ֹא יַ ְט ִר ֵיחן לַ עֲ מֹד
417
sábios [costumavam] rodear as cercanias [de suas וְ הֹולְ כִ ין ַּב ֶּד ֶרְך ַה ִחיצֹונָ ה ֶׁש ֵאין ַמּכִ ֵיר ֶיהן
cidades] para evitar cruzar com conhecidos, com o 418
.ְמצּויִ ין ָׁשם ּכְ ֵדי ֶׁשּל ֹא יַ ְט ִריחּום
intuito de não importuná-los.418
4. Cavalgar é considerado equivalente a caminhar. ְ רֹוכֵ ב ֲה ֵרי הּוא ּכִ ְמ ַהּלֵ ְך ּוכְ ֵׁשם ֶׁש.ד
עֹומ ִדים
Assim como se deve ficar em pé diante [de um sábio 419
.עֹומ ִדין ִמ ְּפנֵ י ָהרֹוכֵ ב
ְ ִמ ְּפנֵ י ַה ְמ ַהּלֵ ְך ּכָ ְך
que estiver] caminhando, também se deve ficar em
pé diante de um [sábio] que estiver cavalgando.419
6. Ao avistar um sábio no conhecimento da Torá não ַעֹומד ִמ ָפנָ יו עַ ד ֶׁשּיַ ּגִ יע ֵ רֹואה ָחכָ ם ֵאינֹו ֶ ָה.ו
é preciso ficar em pé enquanto ele não estiver dentro 422
.יֹוׁשב ֵ וְ כֵ יוָ ן ֶׁשעָ ַבר.לֹו לְ ַא ְר ַּבע ַאּמֹות
da distância de quatro Amót; assim que ele passar, é עֹומד ִמּלְ ָפנָ יו ִמ ֶּׁשּיִ ְר ֶאּנּוֵ 423ָר ָאה ַאב ֵּבית ִּדין
permitido sentar.422 Ao avistar um Av Beit Din (“líder
do tribunal [rabínico]”),423 é preciso levantar-se e יֹוׁשב עַ ד ֶׁשּיַ עֲ בֹר ֵ וְ ֵאינֹו424ֵמ ָרחֹוק ְמל ֹא עֵ ינָ יו
permanecer em pé assim que ele for visto, mesmo
425
ָר ָאה ֶאת ַהּנָ ִׂשיא.ֵמ ַא ֲח ָריו ַא ְר ַּבע ַאּמֹות
de longe, ao alcance de seus olhos;424 só é permitido יֹוׁשב עַ ד ֵ עֹומד ִמּלְ ָפנָ יו ְמל ֹא עֵ ינָ יו וְ ֵאינֹו ֵ
sentar-se depois que ele se afastar mais de quatro 426
.ֶׁשּיֵ ֵׁשב ִּב ְמקֹומֹו אֹו עַ ד ֶׁשּיִ ְתּכַ ֶּסה ֵמעֵ ינָ יו
Amót. Ao avistar um Nassí (“líder [do Sinédrio]”),425 427
.וְ ַהּנָ ִׂשיא ֶׁש ָּמ ַחל עַ ל ּכְ בֹודֹו ּכְ בֹודֹו ָמחּול
é preciso levantar-se e permanecer em pé assim que
ele for visto; só é permitido sentar-se depois que ele עֹומ ִדים וְ ֵאינָ ן ְ נִ כְ נָ ס ּכָ ל ָהעָ ם428ּכְ ֶׁש ַהּנָ ִׂשיא
se sentar ou [sair do campo de visão e] ficar oculto ּכְ ֶׁש ַאב.ֹאמר לָ ֶהם ְׁשבּו
429
ַ יֹוׁש ִבין עַ ד ֶׁשּי
ְ
da vista.426 Se o Nassí [quiser] abrir mão de suas עֹומ ִדין ְ ְעֹוׂשין לֹו ְׁש ֵּתי ׁשּורֹות ו ִ ֵּבית ִּדין נִ כְ נָ ס
honras, ele poderá renunciar a elas.427 Quando428 um יֹוׁשב ִּב ְמקֹומֹו ֵ ְ עַ ד ֶׁשּנִ כְ נָ ס ו430ּומּכָ אןִ ִמּכָ אן
Nassí entra [na casa de estudos], todos os presentes 431
.קֹומן
ָ יֹוׁש ִבין ִּב ְמ
ְ ּוׁש ָאר ָהעָ ם ְ
devem se levantar; eles só podem [voltar a] sentar
quando ele disser: “Sentem-se”.429 Quando um Av
Beit Din entra [na casa de estudos], duas fileiras [de
pessoas] são organizadas [em honra] dele,430 uma de
cada lado, até que ele entre e se assente em seu lugar.
O restante das pessoas pode permanecer sentado em
seus lugares.431
7. Quando um sábio entra [na casa de estudos], ָחכָ ם ֶׁשּנִ כְ נָ ס ּכֹל ֶׁשּיַ ּגִ יעַ לֹו ְּב ַא ְר ַּבע ַאּמֹות.ז
quem ficar a menos de quatro Amót dele deve se יֹוׁשב עַ דֵ עֹומד וְ ֶא ָחד ֵ עֹומד ִמּלְ ָפנָ יו ֶא ָחד ֵ
levantar, de modo que uma pessoa se levanta e outra
ְּבנֵ י ֲחכָ ִמים וְ ַתלְ ִמ ֵידי.יֹוׁשב ִּב ְמקֹומֹוֵ ְֶׁשּנִ כְ נָ ס ו
422- Essa Halachá inteira é citada do Midrásh Hagadól, Shemót 33:8 e figura ligeiramente diferente em Kidushín 33b.
423- É o segundo sábio em grandeza; acima dele está o Nassí, para o qual ele presta assistência (Hilchót San-hedrín 1:3).
424- I.e. assim que o Av Beit Din aparecer no horizonte.
425- Em Hilchót San-hedrín (ibid.), o Rambam descreve assim a posição o Nassí: “O mais culto dentre os sábios é escolhido
como líder. Ele é o Rosh Ieshivá. É ele a pessoa a quem os sábios chamam de Nassí em todas as fontes, tomando o lugar de
nosso mestre Moshé”.
426- Kidushín (ibid.) depreende isso de Shemót 33:8, onde consta: “Sempre que Moshé saía da tenda, todo o povo se levantava.
Cada um ficava na entrada de sua tenda, fitando Moshé, até ele voltar à tenda”.
427- Embora o povo tenha obrigação de honrar o Nassí, ele pode abrir mão de ser honrado. Mas um rei jamais pode abrir
mão da sua honra, e deve ser tratado permanentemente com reverência (vide Hilchót Melachím 2:3). O Talmud relata uma
discussão acerca dessa lei: “O Rabi Eliezer, o Rabi Iehoshua e o Rabi Tsadók se encontravam no banquete do casamento do
filho do Raban Gamliêl quando este lhes ofereceu bebidas. O Rabi Eliezer recusou-se a aceitar. Vendo que o Rabi Iehoshua
aceitou, o Rabi Eliezer disse a ele: ‘Iehoshua, o que é isso? Nós estamos sentados, enquanto o Raban Gamliêl serve bebidas
para nós’! O Rabi Iehoshua respondeu-lhe: ‘Houve [um precedente] de uma pessoa de maior magnitude ter servido a outras.
Avraham superou qualquer um de sua geração, e no entanto a Torá (Bereshit 18:8) relata que ele ficou em pé [para servi-los].
Não pense que Avraham achou que eles eram anjos; ele achou que eles eram árabes. Sendo assim, por que não deixaríamos o
Raban Gamliêl nos servir?’” (Kidushín 32b).
428- As leis acima se referem a quando um sábio é visto em campo aberto. As leis que seguem se referem a quando um sábio
entra na casa de estudos (Hagahót Maimoniót; vide Horaiót 13b).
429- Pois ele é o líder espiritual de toda a nação e merece essa honra.
430- Atualmente estamos acostumados a auditórios com poltronas fixas e nos é difícil conceber o cenário dessa lei. Acontece
que em tempos talmúdicos as pessoas sentavam-se no chão. Quando o Av Beit Din chegava, as pessoas sentadas entre a
entrada e o lugar dele ficavam em pé e abriam para ele uma passagem de duas fileiras de largura.
431- Talvez a razão de um Av Beit Din merecer um grau menor de honra em uma casa de estudos do que em um lugar
aberto seja minimizar a negligência do estudo da Torá. Horaiót 13b relata que, originalmente, as pessoas mostravam o mesmo
nível de respeito pelo Av Beit Din e outros sábios que pelo Nassí. Foi o Nassí Rabi Shimon ben Gamliêl quem ordenou a
diferenciação do tratamento, com a finalidade de preservar a autoridade de seu posto.
9. Deve-se ficar em pé diante de um ancião de ַאף עַ ל ִּפי441 ִמי ֶׁשהּוא זָ ֵקן ֻמ ְפלָ ג ְּבזִ ְקנָ ה.ט
idade muito avançada, mesmo se ele não for um
441
וַ ֲא ִפּלּו ֶה ָחכָ ם.עֹומ ִדין לְ ָפנָ יו ְ 442ְׁש ֵאינֹו ָחכָ ם
sábio.442 Até mesmo um sábio jovem tem obrigação .עֹומד ִּב ְפנֵ י ַהּזָ ֵקן ַה ֻּמ ְפלָ ג ְּבזִ ְקנָ ה
ֵ ֶׁשהּוא יֶ לֶ ד
432- I.e. há alunos cuja presença é um bem inestimável para o mestre, que por meio de suas perguntas fazem com que o
mestre alcance o âmago do assunto. Portanto, eles são autorizados a entrar e tomar os lugares da frente da casa de estudos, por
mais indelicado que seja para com aqueles que já haviam tomaram seus lugares. Nesse sentido, Ievamót 105b afirma: “Aqueles
que são exigidos pela nação santa podem passar por cima das cabeças da nação santa. No entanto, como se atreve alguém que
não é exigido pela nação santa passar por cima das cabeças da nação santa”!
433- De fato, Berachót 43b lista essa como uma das seis tendências indesejáveis que devem ser evitadas por um sábio.
434- I.e. para usar o banheiro (Horaiót 13b). Alternativamente, o termo Letsórech pode ser traduzido como “para um
propósito necessário” – i.e. para servir ao povo em geral (Tossafót, Ievamót 105b).
435- Fazer com que as pessoas se levantem por sua causa pela segunda vez ou passar por cima delas não é considerado
descortesia para um sábio, já que ele foi obrigado a sair por motivo de força maior. No entanto, caso tenha saído por razões
corriqueiras, ele não deverá retornar ao seu lugar de origem.
436- Embora ainda não sejam suficientemente maduras para merecerem um bom lugar na casa de estudos, permite-se a elas
que se assentem na frente de seus pais como sinal de respeito à posição de destaque deles na comunidade (Rashi, Horaiót ibid.).
437- Avodát Hamélech observa que a expressão “o tempo todo” foi adicionada pelo Rambam ao trecho que é uma citação de
Kidushín 33b. Esse acréscimo implica que a restrição incide apenas sobre os estudantes que permanecem o tempo todo na casa
de estudos, mas que os estudantes eventuais devem se levantar sempre que necessário (vide também Tossafót, Kidushín ibid.).
438- Dentro de uma casa de estudos.
439- Mas ao avistar o seu mestre na rua, o aluno deve demonstrar respeito por ele em todas as oportunidades, ou será
considerado como tendo desrespeitado o seu mestre (Késsef Mishnê).
440- Aceitando o jugo do serviço a D-us através da prece Shemá Israêl, que deve ser recitada toda manhã e toda noite (Késsef Mishnê).
441- Kidushín 33a. O Shulchan Aruch (Iorê Deá 244:1) explica que aqui se refere a um homem de setenta anos de idade.
Outros, enfatizando o emprego da expressão “idade muito avançada”, acham que se refere a Guitín 28a, que emprega essa
terminologia para descrever uma pessoa de noventa anos.
442- É preciso levantar-se diante de um ancião perverso? Não, segundo o Ramá (Iorê Deá 244:1). A esse respeito o Talmud
(Kidushín 32b) relata a seguinte discussão entre dois sábios: “Será que as palavras do versículo ‘Diante do idoso te levantarás’
se aplicam até sobre uma pessoa comum de idade avançada? A continuação do versículo é: ‘E respeitarás o ancião’. [O termo]
‘ancião’ só pode se referir a um sábio, conforme se depreende do versículo [Bamidbar 11:16]: ‘Reúna setenta dos anciãos de
Israêl’. Disse o Rabi Iosse Haglilí: ‘[O termo] Zakên (ancião) significa Zé Shekaná Chochmá (aquele que adquiriu sabedoria)’.
Disse o Issi ben Iehudá: ‘[As palavras do versículo] Diante do idoso te levantarás abarcam todos os [tipos de] idosos’”. Das
declarações do Rambam na Halachá 1, ele parece seguir a opinião do Rabi Iosse Haglilí; mas a presente Halachá parece se
coadunar com a opinião do Issi ben Iehudá.
de levantar-se diante de um ancião de idade muito קֹומתֹו ֶאלָ א ּכְ ֵדי ָ וְ ֵאינֺו ַחּיָב לַ עֲ מֹד ְמל ֹא
avançada, embora não seja preciso levantar-se por ְמ ַה ְּד ִרין אֹותֹו444 וַ ֲא ִפּלּו זָ ֵקן ּגֹוי443.לְ ַה ְּדרֹו
completo, só o suficiente para demonstrar respeito.443 445
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.נֹותנִ ין לֹו יָ ד לְ ָס ְמכֹו
ְ ְִּב ְד ָב ִרים ו
Até para um ancião gentio444 deve-se dirigir palavras
de respeito e estender a mão como apoio, pois o ."מ ְּפנֵ י ֵׂש ָיבה ָּתקּום" ּכָ ל ֵׂש ָיבה ְּב ַמ ְׁש ָמע
ִ
escrito:445 “Diante do idoso te levantarás” engloba
todos os idosos.
443- No entanto, qualquer um que não tenha a qualificação de sábio é obrigado a levantar-se completamente (Tur, Iorê Deá, 244).
444- Kidushín 33a conta que o Rabi Iochanán se levantava diante de um ancião gentio, exclamando: “Por quantas experiências
ele deve ter passado [ao longo de toda a sua vida]”!
445- Vaikrá 19:32.
446- Mesmo assim, os sábios devem arcar com suas partes dos custos de tais projetos (Hilchót Shechením 6:6). Segundo o
Shulchan Aruch (Iorê Deá 243:1-2) eles só são obrigados a pagar o que lhes cabe do custo dos materiais, não precisando
contratar trabalhadores para tomarem os seus lugares. Isso se aplica a uma obra executada pelos próprios membros da
comunidade. Mas se a comunidade terceirizar o trabalho, os sábios deverão participar pagando a sua parte.
447- Em Hilchót Shechením (6:6-7), o Rambam como exemplos a manutenção das estradas e vias públicas e a escavação de
canais de irrigação.
448- Bava Batra 8a explica que se as pessoas comuns virem os sábios executando trabalhos manuais básicos, elas deixarão de
respeitá-los.
449- Em Hilchót Shechením (ibid.) o Rambam explica a lógica dessa lei. Os sábios da Torá são isentos de tomar parte em
qualquer atividade relacionada com a segurança da cidade, pois o mérito dos estudos os protege.
450- Bava Batra (ibid.) menciona também que Artachshasta, o rei persa que enviou Ezra para reconstruir Ierushalaim,
isentou todos os envolvidos nesse trabalho sagrado do pagamento de impostos e tributos (vide Ezra 7:24). Para o Ramá
(Iorê Deá 243:2), se um governo gentio cobrar impostos de um sábio da Torá, a comunidade tem obrigação de pagar por ele.
Segundo o Shulchan Aruch (Iorê Deá 243:2), esse privilégio só deve ser estendido a sábios que devotam a maior parte do seu
tempo ao estudo da Torá e limitam o seu envolvimento em negócios ao mínimo necessário para se sustentarem (vide Siftei
Cohên, Iorê Deá 243:7; Chóshen Mishpát 163:14.)
451- Hoshêa 8:10.
452- Itnú, traduzido como “doem”, também pode ser traduzido como “estudem”, aludindo à ligação com os estudiosos do versículo.
453- Uma alusão ao pagamento de impostos.
454- Uma alusão à isenção concedida aos sábios.
mercadoria] à venda no mercado enquanto a dele וְ כֵ ן ִאם455.ַהּׁשּוק לִ ְמּכֹר עַ ד ֶׁשּיִ ְמּכֹר הּוא
não tiver sido vendida.455 Igualmente, se ele tiver עֹומד ִּבכְ לָ ל ַּבעֲ לֵ י ִּדינִ ים
ֵ וְ ָהיָ ה456ָהיָ ה לֹו ִּדין
algum pleito [judicial]456 e a fila de litigantes for 458
.ּומֹוׁש ִיבין אֹותֹו
ִ 457
ַה ְר ֵּבה ַמ ְק ִּד ִימין אֹותֹו
grande, deve-se-lhe dar prioridade457 e permissão de
permanecer sentado.458
11. Menosprezar sábios ou odiá-los é um pecado עָ ֹון ּגָ דֹול הּוא לִ ְבזֹות ֶאת ַה ֲחכָ ִמים אֹו.יא
muito grande.459 Ierushalaim só foi destruída460 עַ ד460רּוׁשלַ יִ ם ָ ְ ל ֹא ָח ְר ָבה י459.ֹאתן ָ לִ ְׂשנ
quando [os seus habitantes] desrespeitaram os
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר "וַ ּיִ ְהיּו.ֶׁש ָּבּזּו ָבּה ַּתלְ ִמ ֵידי ֲחכָ ִמים
461
seus sábios, conforme está dito:461 “Eles ofendiam
os mensageiros de D-us, depreciavam as suas ֹלהים ּובֹוזִ ים ְּד ָב ָריו ִ ַמלְ עִ ִבים ְּב ַמלְ ֲאכֵ י ָה ֱא
palavras e escarneciam de seus profetas” – ou seja, לֹומר ּבֹוזִ ים ְמלַ ְּמ ֵדי
ַ ְ ּכ."ּומ ַּתעְ ְּתעִ ים ִּבנְ ִב ָאיוִ
desprezavam aqueles que ensinavam as Suas palavras. "אם ְּב ֻחּק ַֹתיִ 462
תֹורהָ וְ כֵ ן זֶ ה ֶׁש ָא ְמ ָרה.ְּד ָב ָריו
Similarmente, o dito da Torá:462 “Se desprezares וְ כָ ל463.ּקֹותי ִּת ְמ ָאסּו ַ ְמלַ ְּמ ֵדי ֻח- "ִּת ְמ ָאסּו
os meus estatutos” [deve ser interpretado como]:
ַה ְּמ ַבּזֶ ה ֶאת ַה ֲחכָ ִמים ֵאין לֹו ֵחלֶ ק לָ עֹולָ ם
“Se desprezares quem ensina os meus estatutos”.463
Quem despreza os sábios não tem parte no Mundo
465
." "ּכִ י ְד ַבר ה' ָּבזָ ה464ַה ָּבא וַ ֲה ֵרי הּוא ִּבכְ לָ ל
Vindouro e se inclui na categoria464 de “quem a
palavra de D-us desprezou”.465
12. Embora quem despreza os sábios não tenha parte ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש ַה ְמ ַבּזֶ ה ֶאת ַה ֲחכָ ִמים ֵאין לֹו.יב
no Mundo Vindouro, se houver um testemunho466 ֶׁש ִּבּזָ הּו466ֵחלֶ ק לָ עֹולָ ם ַה ָּבא ִאם ָּבאּו עֵ ִדים
[de que] uma pessoa tenha desprezado algum sábio
até mesmo através de palavras, ela merece sofrer
455- O Shulchan Aruch (Iorê Deá 243:4) preceitua que essa lei só se aplica quando se tratar de um mercado de vendedores
judeus. Mas se houver mercadores gentios e estes colocarem seus produtos à venda, os mercadores judeus não têm obrigação
de arriscar um prejuízo.
456- I.e. um caso a ser julgado pelo tribunal.
457- Shevuót 30a relata: “O Rav Ula, filho do Rav Ilai, se envolveu em um julgamento diante do Rav Nachman. O Rav Iossêf
enviou [ao Rav Nachman a seguinte mensagem:] ‘O Ula é nosso colega em Torá e Mitsvót’. O Rav Nachman disse: ‘Para que
ele enviou esse [recado] para mim? Para obter de mim favorecimento’. Posteriormente, ele disse: ‘[A intenção dele foi] que eu
julgasse o seu caso primeiro’”. Mas o Tossafót questiona esse ensinamento, por haver uma Mitsvá Positiva que ordena julgar
cada caso pela ordem em que é feita a apresentação para o tribunal. Há duas soluções para o impasse: (1) Se ambos os casos
forem apresentados ao tribunal ao mesmo tempo, o caso que envolver um sábio tem prioridade. (2) O preceito positivo
de honrar o sábio se sobrepõe a esse outro preceito positivo e portanto, o caso do sábio deve ser julgado primeiro, mesmo
tendo sido apresentado ao tribunal depois. O Tur e o Shulchan Aruch (Chóshen Mishpát 15:1) aceitam a segunda solução
(vide também Hilchót San-hedrín 21:6).
458- Em Shevuót (ibid.) consta: “‘E os dois homens permanecerão em pé’ (Devarím 19:17): é Mitsvá que os litigantes fiquem
em pé”. No entanto, como sinal de respeito ao sábio, ele é convidado a sentar. Nesse caso se oferece o mesmo privilégio ao
litigante adversário, para que a honra ao sábio não seja interpretada como uma concessão injusta de vantagem. Vale observar
que em Hilchót San-hedrín 21:5, o Rambam escreve que atualmente o costume é que todos os litigantes fiquem sentados, “pois
não temos mais o potencial de realizar os julgamentos da Torá da maneira correta” (Shulchan Aruch, Chóshen Mishpát 17:2-3).
459- San-hedrín 99b compara esses pecadores a Apikorsím – “hereges”.
460- Shabat 119b. Aqui se refere à destruição da cidade pelos babilônicos.
461- Divrei Haiamím II 36:16.
462- Em Vaikrá 26:15, que antecede a lista de maldições que podem recair sobre o povo judeu.
463- Vide Sifra, Bechukotai.
464- Bamidbar 15:31.
465- San-hedrín 90a e 90b. Em Hilchót Teshuvá 3:14, o Rambam menciona o pecado de desonrar os sábios em uma lista de
transgressões. Ele escreve: “A pessoa que comete essas transgressões com frequência não merecerá uma porção no Mundo
Vindouro”.
466- O Siftei Cohen, Iorê Deá 334:96, diz que nesse caso até o testemunho de mulheres ou escravos é aceito.
Nidui (“afastamento”).467 O tribunal deve anunciar ּומנַ ִּדים אֹותֹו ְ 467.ֲא ִפּלּו ִּב ְד ָב ִרים ַחּיָב נִ ּדּוי
publicamente esse afastamento, e a pessoa, aonde ֵּבית ִּדין ָּב ַר ִּבין וְ קֹונְ ִסין אֹותֹו לִ ְיט ָרה זָ ָהב
468
quer que esteja, deve [também] ser multada em uma וְ ַה ְּמ ַבּזֶ ה ֶאת.אֹותּה לֶ ָחכָ ם ָ נֹותנִ ין
ְ ְְּבכָ ל ָמקֹום ו
Litra468 de ouro, [a ser] destinada ao sábio [vítima do
desprezo]. A pessoa que despreza um sábio através de ֶה ָחכָ ם ִּב ְד ָב ִרים ֲא ִפּלּו לְ ַא ַחר ִמ ָיתה ְמנַ ִּדין
469
palavras deve ser afastada pelo tribunal, até mesmo se אֹותֹו ֵּבית ִּדין וְ ֵהם ַמ ִּת ִירין אֹותֹו ּכְ ֶׁשּיַ ֲחזֹר
ele já tiver falecido;469 [nesse caso] o tribunal poderá ֲא ָבל ִאם ָהיָ ה ֶה ָחכָ ם ַחי ֵאין ַמ ִּת ִירין.ׁשּובה ָ ִּב ְת
cancelar o afastamento quando ela se arrepender. וְ כֵ ן470.אֺותֺו עַ ד ֶׁשּיְ ַרּצֶ ה זֶ ה ֶׁשּנִ ּדּוהּו ִּב ְׁש ִבילֹו
Mas caso o sábio [vítima do desprezo] esteja vivo, לִ כְ בֹודֹו לְ עַ ם ָה ָא ֶרץ471ֶה ָחכָ ם עַ צְ מֹו ְמנַ ֶּדה
[o tribunal] não poderá cancelar o afastamento
enquanto ela não pedir o seu perdão.470 Um sábio tem וְ ֵאין צָ ִריְך ל ֹא עֵ ִדים וְ ל ֹא472.ֶׁש ִה ְפ ִקיר ּבֹו
autoridade suficiente para decretar o afastamento471 וְ ֵאין ַמ ִּת ִירין לֹו עַ ד ֶׁשּיְ ַרּצֶ ה ֶאת473.ַה ְת ָר ָאה
de uma pessoa comum que tenha sido grosseira472 ּומ ִּת ִירין
ַ לׁשה ָ וְ ִאם ֵמת ֶה ָחכָ ם ָּב ִאין ְׁש.ֶה ָחכָ ם
com ele, sem necessidade de testemunhas nem de וְ ִאם ָרצָ ה ֶה ָחכָ ם לִ ְמחֹל לֹו וְ ל ֹא נִ ָּדהּו.לֹו
advertência prévia.473 O afastamento só poderá ser 474
.ָה ְרׁשּות ְּביָ דֹו
cancelado quando ela pedir perdão ao sábio e for
perdoada por ele. Caso o sábio faleça, será preciso
que três pessoas se apresentem para cancelar [o
afastamento]. Se o sábio quiser, poderá perdoar o seu
ofensor sem precisar decretar o afastamento dele.474
13. Se um mestre decretar o afastamento de alguém ּכָ ל ַּתלְ ִמ ָידיו ַח ִּיָבין475 ָה ַרב ֶׁשּנִ ָּדה לִ כְ בֹודֹו.יג
por causa de sua honra,475 todos os discípulos dele ֲא ָבל ַּתלְ ִמיד ֶׁשּנִ ָּדה476.לִ נְ הֹג נִ ּדּוי ַּב ְּמנֻ ֶּדה
são obrigados a se relacionar com a pessoa afastada 477
.לִ כְ בֹוד עַ צְ מֹו ֵאין ָה ַרב ַחּיָב לִ נְ הֹג ּבֹו נִ ּדּוי
conforme os ditames do decreto de afastamento.476
No entanto, se um estudante decretar o afastamento
479
. ַח ִּיָבין לִ נְ הֹג ּבֹו נִ ּדּוי478ֲא ָבל ּכָ ל ָהעָ ם
de alguém por causa de sua honra, o mestre dele
não é obrigado a obedecer os ditames do decreto de
afastamento;477 mas todas as outras pessoas478 são
obrigadas a obedecer.479 Da mesma forma, se uma
467- Os detalhes desse “afastamento” são tratados no próximo capítulo (principalmente na Halachá 4). Um exemplo de um
estudioso decretando o afastamento de indivíduos por terem envergonhado um sábio pode ser encontrado em Moêd Katán
16a.
468- Talmud Ierushalmi 8:6. Unidade de medida talmúdica equivalente a cerca de 168 gramas.
469- Eduiót 5:6 (vide também Berachót 19a).
470- Moêd Katán ibid.
471- Agindo por iniciativa própria, sem levar o caso a um tribunal.
472- Vide Kidushín 70a.
473- I.e. o afastamento pode ser imposto sem a necessidade de seguir o processo judicial padrão (Moêd Katán 17c).
474- O Mishnê Lamélech observa que essa leniência só é concedida quando se trata de um caso entre um homem e seu
próximo. Caso seja preciso decretar o afastamento de alguém devido a um caso entre homem e D-us – por exemplo, por esse
alguém ter proferido o nome de D-us em vão – o afastamento deverá ser efetivado mesmo se o transgressor se arrepender
(vide também Tossafót, Ievamót 22b).
475- I.e. o caso não foi levado a julgamento pelo tribunal mas o mestre determinou o afastamento por sua própria conta,
conforme mencionado na Halachá anterior.
476- Pois eles são obrigados a proteger a sua honra (Moêd Katán 16a). O Beit Iossêf (Iorê Deá 334) sustenta que se pode inferir
das palavras do Rambam que o afastamento não precisa ser observado por outros sábios, nem pelos que tiverem menor nível
que o mestre, que não forem estudantes dele.
477- Ele não é obrigado a honrar o seu aluno a tal ponto.
478- De um nível de Torá mais baixo (Beit Iossêf, Iorê Deá 334).
479- Conforme a próxima Halachá, isso só se aplica a quando o aluno proclama o afastamento para proteger a sua honra. Caso
ele imponha o afastamento devido a uma transgressão, o seu mestre será obrigado a conformar-se.
14. Quando esses casos se aplicam?485 Quando ְּב ִמי ֶׁשּנִ ּדּוהּו עַ ל485?מּורים ִ ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים ֲא.יד
o afastamento tiver sido imposto à pessoa por ֲא ָבל ִמי ֶׁשּנִ ּדּוהּו עַ ל.ֶׁש ִּבּזָ ה ַּתלְ ִמ ֵידי ֲחכָ ִמים
ela ter agido de maneira desrespeitosa para com ְׁש ָאר ְּד ָב ִרים ֶׁש ַח ִּיָבים עֲ לֵ ֶיהם נִ ּדּוי ֲא ִפּלּו נִ ָּדהּו
um sábio. Mas se ela tiver sido afastada por outra
razão merecedora de afastamento – mesmo se ּנָׂשיא וְ כָ ל יִ ְׂש ָר ֵאל לִ נְ הֹג
ִ ָק ָטן ֶׁש ְּביִ ְׂש ָר ֵאל ַחּיָב ַה
o afastamento tiver sido declarado pela pessoa ׁשּובה ִמ ָּד ָבר ֶׁשּנִ ּדּוהּו
ָ עַ ד ֶׁשּיַ ְחזֹר ִּב ְת486ּבֹו נִ ּדּוי
mais simplória do povo israelita –, [tanto] o Nassí עַ ל עֶ ְׂש ִרים וְ ַא ְר ָּבעָ ה487.ִּב ְׁש ִבילֹו וְ יַ ִּתירּו לֹו
[quanto] todos os judeus são obrigados a respeitar 488
.ְּד ָב ִרים ְמנַ ִּדין ֶאת ָה ָא ָדם ֵּבין ִאיׁש ֵּבין ִא ָּׁשה
os termos do afastamento486 até que ela se arrependa (א) ַה ְּמ ַבּזֶ ה ֶאת ֶה ָחכָ ם וַ ֲא ִפּלּו489:וְ ֵאּלּו ֵהן
da razão que a tornou merecedora de ser afastada, e
o decreto do afastamento seja revogado.487 A pessoa
491
. (ב) ַה ְּמ ַבּזֶ ה ְׁשלִ ַיח ֵּבית ִּדין490.לְ ַא ַחר מֹותֹו
– homem ou mulher488 – pode ser afastada devido (ד) ִמי ֶׁש ָּׁשלְ חּו לֹו492.ּקֹורא לַ ֲח ֵברֹו עֶ ֶבד ֵ (ג) ַה
a [qualquer um dos] 24 motivos seguintes:489 1) Por (ה) ַה ְּמזַ לְ זֵ ל493.ֵּבית ִּדין וְ ָק ְבעּו לֹו זְ ָמן וְ ל ֹא ָבא
desprezar um sábio, mesmo depois de sua morte.490 לֹומר
ַ וְ ֵאין צָ ִריְך494סֹופ ִרים ְ ְּב ָד ָבר ֶא ָחד ִמ ִּד ְב ֵרי
2) Por desprezar um enviado do tribunal.491 3) Por
chamar um colega de “escravo”.492 4) Por ter sido
ordenada [a comparecer diante do] tribunal em uma
data específica e não ter se apresentado.493 5) Por
480- A quem todo o povo de Israêl tem obrigação de honrar. Essa lei é mencionada também pelo Shulchan Aruch, Iorê
Deá 334:21.
481- Pois todo o povo de Israêl tem obrigação de honrá-lo.
482- Até mesmo de um estudioso renomado.
483- Também nesse caso, se o afastamento tivesse sido proclamado por outras razões, o Nassí precisaria observá-lo.
484- Por tê-los tratado desrespeitosamente.
485- As leniências que liberam determinadas pessoas de obedecer aos termos de um decreto de afastamento.
486- Moêd Katán 17a relata que a criada do Rabi Iehudá Hanassí certa vez decretou o afastamento de alguém, e durante três
anos todo o povo judeu obedeceu ao afastamento.
487- Vide Capítulo 7, Halachá 7.
488- Embora a maioria dos casos de afastamento mencionados pelo Talmud envolva homens, há casos envolvendo mulheres
(vide Rosh Hashaná 31b, Moêd Katán 16b e Nedarím 7b e 50b).
489- Berachót 19a menciona que há 24 motivos mas só detalha alguns deles. O Talmud Ierushalmi (Moêd Katán 3:1) traz
várias razões. Mas a maioria dos motivos relacionados a seguir pelo Rambam foram recolhidos por ele de diferentes trechos
do Talmud.
490- Berachót 19a conta de um afastamento que foi imposto sobre uma pessoa por envergonhar os sábios Shemaiá e Avtalión
após terem falecido.
491- Kidushín 70b relata que essa seria uma razão válida para que o Rav impusesse um afastamento.
492- Vide Kidushín 28a.
493- Vide Bava Kama 112b e também Hilchót San-hedrín 25:8.
ter desprezado até mesmo um [único] ponto dos (ו) ִמי ֶׁשּל ֹא ִק ֵּבל עָ לָ יו ֶאת ַה ִּדין.תֹורה ָ ְּב ִד ְב ֵרי
ensinamentos dos sábios,494 ou, desnecessário dizer, (ז) ִמי ֶׁשּיֵ ׁש ִּב ְרׁשּותֹו. עַ ד ֶׁשּיִ ֵּתן495ְמנַ ִּדין אֹותֹו
dos ensinamentos da Torá. 6) Por ter se recusado ָּד ָבר ַה ַּמּזִ יק ּכְ גֹון ּכֶ לֶ ב ָרע אֹו ֻסּלָ ם ָרעּועַ ְמנַ ִּדין
a aceitar a sentença [determinada pelo tribunal];
[nesse caso] ela deve ser banida até aceitá-la495 e (ח) ַהּמֹוכֵ ר ַק ְר ַקע496.אֹותֹו עַ ד ֶׁשּיָ ִסיר ֶהּזֵ קֹו
pagar. 7) Por possuir algo passível de causar dano עֹובד ּכֹוכָ ִבים ְמנַ ִּדים אֹותֹו עַ ד ֶׁש ַּיְק ֵּבל ֵ ְֶׁשּלֹו ל
– por exemplo, um cão agressivo ou uma escada עֹובד ּכֹוכָ ִבים ֵ עָ לָ יו ּכָ ל אֹנֶ ס ֶׁשּיָ בֺא ִמן ָה
frágil; [nesse caso] ela deve ser banida até remover (ט) ַה ֵּמעִ יד עַ ל497.לְ יִ ְׂש ָר ֵאל ֲח ֵברֹו ַּבעַ ל ַה ֶּמצֶ ר
o objeto [ou ser] nocivo.496 8) Por vender a sua terra עֹוב ֵדי ּכֹוכָ ִבים וְ הֹוצִ יאְ יִ ְׂש ָר ֵאל ְּבעַ ְרּכָ אֹות ֶׁשל
a um pagão; [nesse caso] ela deve ser banida até
aceitar responsabilidade por todos os danos que o ִמ ֶּמּנּו ְּבעֵ דּותֹו ָממֹון ֶׁשּל ֹא כְ ִדין יִ ְׂש ָר ֵאל ְמנַ ִּדין
pagão vier a causar ao seu vizinho judeu.497 9) Por (י) ַט ָּבח ּכ ֵֺהן ֶׁש ֵאינֹו498.אֹותֹו עַ ד ֶׁשּיְ ַׁשּלֵ ם
testificar contra uma outra pessoa judia em um נֹותנָ ן לְ כ ֵֺהן ַא ֵחר ְמנַ ִּדין
ְ ְ ו499ַמ ְפ ִריׁש ַה ַּמ ָּתנֹות
tribunal pagão, causando embargo de um montante (יא) ַה ְּמ ַחּלֵ ל יֹום טֹוב ֵׁשנִ י500.אֹותֹו עַ ד ֶׁשּיִ ֵּתן
de dinheiro dela que a lei da Torá não [exigir- ) (יב. ַאף עַ ל ִּפי ֶׁשהּוא ִמנְ ָהג501ֶׁשל ּגָ לֻ ּיֹות
lhe-ia pagar]; [nesse caso] ela deve ser banida até
pagar como indenização [a mesma quantia].498 10)
502
.עֹוׂשה ְמלָ אכָ ה ְּב ֶע ֶרב ַה ֶּפ ַסח ַא ַחר ֲחצֹות ֶ ָה
Sendo um açougueiro Cohên (“sacerdote”), por (יג) ַה ַּמזְ ּכִ יר ֵׁשם ָׁש ַמיִ ם לְ ַב ָּטלָ ה אֹו לִ ְׁשבּועָ ה
não ter separado as doações sacerdotais499 e tê-las (יד) ַה ֵּמ ִביא ֶאת ָה ַר ִּבים503.ְּב ִד ְב ֵרי ֲה ַבאי
dado a outro Cohên; [nesse caso] a pessoa deve (טו) ַה ֵּמ ִביא ֶאת ָה ַר ִּבים504.לִ ֵידי ִחּלּול ַה ֵּׁשם
ser banida até dá-las.500 11) Por violar a santidade (טז) ַה ְּמ ַח ֵּׁשב505.לִ ֵידי ֲאכִ ילַ ת ֳק ָד ִׁשים ַּבחּוץ
do segundo dia das Festas na diáspora,501 embora
a sua celebração seja apenas um costume. 12) Por ) (יז506.קֹובעַ ֳח ָד ִׁשים ְּבחּוצָ ה לָ ָא ֶרץ ֵ ְָׁשנִ ים ו
executar trabalho na véspera de Pessach após o
meio-dia.502 13) Por mencionar o nome de D-us em
vão, ou ao fazer juramento sobre assuntos banais.503
14) Por fazer com que vários outros profanem o
nome de D-us.504 15) Por fazer com que vários
outros comam alimentos sacrificiais fora [dos locais
determinados].505 16) Por calcular os anos e inserir
meses [intercalares, declarando um ano como
494- Eduiót 5:6 relata que o afastamento do Eliezer ben Chanóch foi declarado por ele ter questionado a prática da ablução
das mãos, um decreto rabínico.
495- Bava Kama 113a.
496- Bava Kama 15b.
497- Bava Kama 114a.
498- Vide Bava Kama 113b. Em Hilchót San-hedrín 26:7, o Rambam escreve: “Quem tiver o seu caso julgado por juízes e
tribunais gentios... é perverso e é considerado como se tivesse amaldiçoado... a Torá de Moshé.... Se não for possível cobrar
[uma dívida] de uma pessoa conforme a lei judaica, ela deve ser chamada primeiro para um tribunal judaico. Se ela se recusar
a comparecer, dever-se-á solicitar permissão do tribunal para [a abertura de processo] pelo direito secular”.
499- A perna dianteira, a mandíbula e o estômago de todos os animais sacrificados, que devem ser dados a um Cohên (vide
Devarím 18:3; Hilchót Bikurím, Capítulo 9).
500- Chulín 132b.
501- Vide Pessachím 52a.
502- Pois nesse período o sacrifício pascal era oferecido (vide Pessachím 50b; Hilchót Shevitát Iom Tov 8:17).
503- Vide Nedarím 7b; Hilchót Shevuót 12:9.
504- Isso é derivado do Talmud Ierushalmi (Moêd Katán 3:1), que cita como, em uma época de seca, Choni Hameaguêl desenhou
um círculo no chão e clamou a D-us: “Eu não saio daqui enquanto Você não fornecer chuva”! Shimon ben Shetach disse a Choni
que através desse ato ele se sujeitava a ser afastado, pois muitas pessoas perderiam a fé se D-us não respondesse às suas orações.
No final, Shimon ben Shetach não precisou proclamar essa punição pois as súplicas de Choni acabaram sendo atendidas.
505- Pessachím 53a.
embolístico] na diáspora.506 17) Por fazer o cego507 (יח) ַה ְּמ ַעּכֵ ב507. ֶאת ָה ִעּוֵ ר508ַה ַּמכְ ִׁשיל
tropeçar.508 18) Por impedir que outros realizem (יט) ַט ָּבח ֶׁשּיָ צְ ָאה509.ָה ַר ִּבים ִמּלַ עֲ ׂשֹות ִמצְ וָ ה
uma Mitsvá.509 19) Sendo um açougueiro, por vender (כ) ַט ָּבח ֶׁשּל ֹא ָב ַדק510.ְט ֵר ָיפה ִמ ַּת ַחת יָ דֹו
carne não-Casher.510 20) Sendo um açougueiro, por
deixar de inspecionar a sua faca na presença de um (כא) ַה ַּמ ְק ֶׁשה עַ צְ מֹו511.ַסּכִ ינֹו לִ ְפנֵ י ָחכָ ם
sábio.511 21) Por se excitar intencionalmente.512 22) (כב) ִמי ֶׁשּגֵ ֵרׁש ֶאת ִא ְׁשּתֹו וְ ָע ָׂשה512.לָ ַּד ַעת
Por ter, depois de se divorciar da esposa, se associado ֵּבינֹו ֵּובינָ ּה ֻׁש ָּתפּות אֹו ַמ ָּׂשא ַּומ ָּתן ַה ְּמ ִב ִיאין
a ela ou mantido negócios com ela, criando assim לָ ֶהן לְ ִהּזָ ֵקק זֶ ה לְ זֶ ה ּכְ ֶׁשּיָבֹואּו לְ ֵבית ִּדין ְמנַ ִּדין
uma interdependência; [nesse caso] eles devem ser 514
. (כג) ָחכָ ם ֶׁש ְּׁשמּועָ תֹו ָר ָעה513.אֹותם ָ
afastados quando se apresentarem ao tribunal.513 23)
Sendo um sábio, por ter má reputação.514 24) Por
515
.(כד) ַה ְּמנַ ֶּדה ִמי ְׁש ֵאינֹו ַחּיָב נִ ּדּוי
decretar indevidamente o afastamento de alguém.515
506- Berachót 63a relata que o versículo em Ieshaiáhu 2:3: “De Tsión sairá a Torá...” implica que as decisões acima devem ser
tomadas em Érets Israêl, e prescreve essa punição para alguém que as toma na diáspora.
507- Vide comentários sobre Vaikrá 19:14 e também Sefer Hachinuch (Mitsvá 232).
508- Moêd Katán 17a.
509- Vide Talmud Ierushalmi, Moêd Katán 3:1. Vide também Hilchót Teshuvá 4:1.
510- San-hedrín 25a (Késsef Mishnê).
511- Vide Chulín 18a. Em Hilchót Shechitá 1:26, o Rambam determina que essa Halachá é aplicável até mesmo se
posteriormente a faca for vistoriada e constatar-se que ela está Casher (vide Tur, Iorê Deá 18).
512- Nidá 13b. Vide também Hilchót Issurei Biá 21:18.
513- Ketubót 28a. Depois do divórcio, um casal deve ter o menor contato possível, pois a familiaridade anteriormente
desfrutada pode levá-los a uma conduta sexual fora dos limites do casamento (vide também Hilchót Issurei Biá 21:27).
514- Moêd Katán 17a relata como o Rabi Iehudá decretou o afastamento de um sábio por esse motivo.
515- Moêd Katán (ibid.) conta o seguinte episódio: “Contratado como vigia, o Reish Lakísh se deparou com um roubo em
andamento. Apesar de advertido, o ladrão não arredou pé. O Reish Lakísh então proclamou: ‘Decreto o teu afastamento’! O
ladrão respondeu: ‘Pode recair sobre mim uma obrigação de indenizar [pelos prejuízos que estou causando], mas não pode
recair sobre mim um decreto de afastamento. Quem deve ser afastado é você’. Quando o episódio foi analisado na casa de
estudos, os sábios determinaram que o decreto de afastamento do Reish Lakísh não tinha justificativa, mas o do ladrão tinha”.
O Raavad e outros comentaristas mencionam outros atos merecedores da pena de afastamento. De fato, em alguns casos
(como em Hilchót Guerushín 13:20), o próprio Rambam menciona essa punição. Os comentaristas explicam que o Rambam
limita a relação de motivos a 24 por ser esse o número mencionado no Talmud e que se tratam de categorias gerais, nas quais
outras podem estar incluídas.