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Características do RDD

A disciplina do regime disciplinar diferenciado (art. 52 da Lei nº 7.210/84) sofreu algumas alterações
por meio da Lei 13.964/19. É cabível o RDD sobre o preso provisório ou condenado, nacional ou
estrangeiro, quando da prática de fato previsto como crime doloso, que constitui falta grave, nas
situações em que ocasione subversão da ordem ou da disciplina internas. São características deste
regime:

a) duração máxima de até dois anos, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de
mesma espécie;

b) recolhimento em cela individual;

c) visitas quinzenais, de duas pessoas por vez, a serem realizadas em instalações equipadas para
impedir o contato físico e a passagem de objetos, por pessoa da família ou, no caso de terceiro,
autorizado judicialmente, com duração de duas horas;

d) direito do preso à saída da cela por duas horas diárias para banho de sol, em grupos de até quatro
presos, desde que não haja contato com presos do mesmo grupo criminoso;
e) entrevistas sempre monitoradas, exceto aquelas com seu defensor, em instalações equipadas
para impedir o contato físico e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em
contrário;

f) fiscalização do conteúdo da correspondência;

g) participação em audiências judiciais preferencialmente por videoconferência, garantindo-se a


participação do defensor no mesmo ambiente do preso.

Discussão sobre a constitucionalidade:

Desde a sua instituição por meio da alteração da Lei de Execuções Penais (Lei n. 7.210/84), o
conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária posicionou-se contrário a instituição do
regime, entretanto prevaleceu a vontade dos governantes e a confissão do fracasso do Poder
Público na tentativa de melhorar o sistema penitenciário.

O regime por suas características passa a adotar o direito penal do autor, com proximidade ao
direito penal do inimigo de Guther Jakobs

É evidente pelas características do regime tratar-se de uma espécie “sui generis” de pena cruel, cuja
vedação é explícita pela Constituição Federal (art. 5, XLVII, e, da CF). Junta-se a isso a previsão de
visitas gravadas e filmadas, em flagrante ofensa à privacidade dos familiares

Uma das previsões mais criticadas pela doutrina trata-se § 1, II do artigo 52 o qual prevê a aplicação
aos presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, sob os quais recaiam fundadas
suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organização criminosa, associação
criminosa ou milícia privada, independentemente da prática de falta grave. Paulo César Busatto, por
exemplo, questiona “a mera suspeita de participação justifica o tratamento diferenciado. Porém, se
o juízo é de suspeita, não há certeza de participação e, não obstante, já aparece a imposição de uma
pena diferenciada”. Ou seja, é a transformação de meras presunções e suspeitas em certeza.
Dessa forma, é flagrante a inconstitucionalidade visto que do regime fere os princípios da
individualização da pena, pois seria diferente do regime de cumprimento de pena imposto
na sentença, da dignidade da pessoa humana, entre outros.

Apoio judicial

Apesar dos protestos doutrinários e de decisões judiciais pela inconstitucionalidade do regime, há


decisões judiciais também pela constitucionalidade, por exemplo, no STJ:

EMENTA - HABEAS CORPUS. REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO. ART. 52 DA LEP.


CONSTITUCIONALIDADE. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. NULIDADE
DO PROCEDIMENTO ESPECIAL. REEXAME DE PROVAS. IMPROPRIEDADE DO WRIT. NULIDADE
DA SENTENÇA CONDENATÓRIA NÃO RECONHECIDA.
1. Considerando-se que os princípios fundamentais consagrados na Carta Magna não são
ilimitados (princípio da relatividade ou convivência das liberdades públicas), vislumbra -se
que o legislador, ao instituir o Regime Disciplinar Diferenciado, atendeu ao princípio da
proporcionalidade. (grifo nosso). 2. Legitima a atuação estatal, tendo em vista que a Lei n.
10.792/2003, que alterou a redação do art. 52 da LEP, busca dar efetividade à crescente
necessidade de segurança nos estabelecimentos penais, bem como resguardar a ordem
pública, que vem sendo ameaçada por criminosos que, mesmo encarcerados, continuam
comandando ou integrando facções criminosas que atuam no interior do sistema prisional -
liderando rebeliões que não raro culminam com fugas e mortes de reféns, agentes
penitenciários e/ou outros detentos - e, também, no meio social. 5. Ordem denegada.
(grifou-se)"
Entretanto, cabe observamos que a decisão supra foi aplicada no caso concreto, não
vinculando os demais juízes e órgãos da jurisdição nacional. Como as leis gozam de
presunção de constitucionalidade, parte-se do princípio de que o Regime Disciplinar
Diferenciado é constitucional, até que o STF se posicione no controle concentrado de
constitucionalidade.

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