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A Conação

O que são os processos conativos?


O que é um motivo? A resposta é complexa, já que pode ser uma
necessidade, uma vontade, um interesse ou um desejo que orienta o nosso
comportamento. De forma simples, podemos falar em motivação e no conjunto
de forças que mobilizam, dirigem ou sustentam o
nosso comportamento, conferindo-lhe força, direção Conação: refere-se à dimensão
e persistência. psíquica proativa (consciente e
Os porquês que estão na raiz das nossas dirigida) da motivação, que
escolhas e ações, isto é, que estão na base da parte implica esforço pessoal em
proativa da motivação correspondem aos processos direção a um objetivo específico.
conativos. A conação é, portanto, indissociável da Remete para aspetos que se
motivação. relacionam com a iniciativa da
ação.
Existem várias
abordagens e teorias, diferentes e complementares, que procuram
explicar a motivação.

Ideias centrais Conceitos Exemplos Limitações

Ideias centrais
Enfoque em Conceitos
aspetos biológicosExemplos Limitações
Cada umEnfoque
de nós em aspetos psicológicos
Instintos são Sexo Exclui a
está
Os programado padrões do
estímulos Um incentivo é Estudar importância dos
Não consegue
com um conjunto
externos geram comportamento
e uma recompensa para comportamentos
um explicar como
de
dirigem determinados
o externa para a teste aprendidos respondemos
Instinto
Incentivo comportamentos
comportamento biologicamente
qual é dirigida um a
(instintos) e, portanto,
motivado no sentido comportamento não necessidades
essenciais
de um incentivo.à aprendidos sem
sobrevivência recompensa
Quando se perde Um impulso é Fome Não aparente.
consegue
oOs equilíbrio uma
pensamentos, A tensão ou
motivação Abraçarexplicar
Enfoque os
homeostático
expectativas ativação
e intrínsecaque está causas comportamentos
centrado nas
Redução (interno)
interpretações em guia
do ligada o à nobresque procuramsem
cognições
do alguma comportamento.
mundo explicam a satisfação aumentar o nível a
salientar
impulso necessidade
motivação intrínseca pessoal, de ativação.
importância da
Expectativa biológica
e extrínseca. é enquanto a componente
gerado o motivação biológica.
impulso. extrínseca está
As pessoas Ativação ligada Praticar
a Não inclui
necessitam de refere-se ao
recompensas desporto fatores
um nível ótimo nívelexternas de externos,
AtivaçãoEnfoque
de ativação: se excitação
integrador e
(aspetos biológicos ligados
e psicológicos) ao
for
Asalto ou baixo atividade
necessidades do
As necessidades ambiente.
Sentir-se Nem sempre
agem para
formam uma o corpo.
básicas feliz com precisamos de
diminuir ou
hierarquia, sendo relacionam-se a vida ter as
indispensável
aumentar. com os impulsos que tem necessidades
Hierarquia de preencher as mais primários e com a básicas
necessidades básicas para chegar segurança; as preenchidas
às superiores. necessidades para
superiores conseguirmos
relacionam-se atingir as
com o amor, a superiores.
estima e a
autoatualização.

A vontade diz respeito à capacidade de o individuo orientar de forma


consciente a sua ação, à liberdade de deliberar e tomar decisões, ao esforço
dirigido para a realização de objetivos, ao controlo do próprio comportamento.
Trata-se de uma noção mais abrangente do que a de tendência,
fundamentalmente ligada a instintos e a impulsos.
A tendência é o instinto ou impulso que se dirige por si mesmo para um
determinado fim, quando não suporta a força contrária (ex: dormir quando não
aguentamos estar acordados). Como é do senso comum, os seres humanos
não podem eliminar a necessidade vital de dormir. Mas podem, por intermédio
da vontade, adiá-la temporariamente em função de outros objetivos ou projetos
pessoais (como um trabalho para a escola). Manter-se acordado, contrariando
o instinto ou impulso para dormir, é uma conduta intencionalmente dirigida que
envolve vontade e que implica enquanto seres conscientes capazes de fazer
escolhas.
Assim, enquanto as tendências são mecanismos biológicos universais
que orientam o comportamento para a satisfação de necessidades, as
intenções são processos psicológicos e sociais complexos que orientam a
ação para a realização de desejos.
Quando o alpinista bebeu da sua própria urina, falamos de tendência e
de conduta dirigida para a realização de fins ou de metas, isto é, orientada para
a autoconservação, pois o que estava em causa eram motivos fisiológicos,
primários ou orgânicos. Após o seu acidente, o alpinista voltou a escalar, aí
falamos de intenções e de comportamento dirigido para a realização de
objetivos ou de projetos, ou seja, da tentativa de auto-organização que nos
acompanha permanentemente. Trata-se de motivos pessoas, sociais e
secundários.

Tendências Intenções

o Biológicas o Psicológicas
o Universais o Pessoais
o Necessidades o Desejos
o Fins/metas o Objetivos/projetos
o Autoconservação o Auto-organização

A auto-organização da ação pressupõe a consciência de si, dos


objetivos a atingir e das potencialidades da própria conduta. É esta força
autorreguladora que permite às pessoas adiar gratificações imediatas
(satisfação de necessidades) em favor de objetivos a longo prazo (realização
de projetos).
Um dos primeiros estudos sobre este tema foi realizado quando o
psicólogo Walter Mischel deu início a um importante projeto experimental que
pretendia avaliar o autocontrolo e a capacidade das crianças para adiar
gratificações. Mischel realizou o teste dos marshmallows.
Observando os comportamentos das crianças, Mischel e a sua equipa
perceberam que as crianças que as crianças que conseguiam esperar pela
segunda guloseima utilizavam estratégias de autoproibição e de autodistração
(tapar os olhos, dormir, etc), o que indicava que o autocontrolo tinha mais a
haver com a estratégia e esforço consciente do que com o comportamento
natural das crianças.

O papel ativo dos humanos nos processos motivacionais e da tomada de


decisões é igualmente evidenciado pela teoria biopsicossocial da motivação de
Abraham Maslow. Este desenvolveu uma proposta relativa à hierarquia de
necessidades que concilia aspetos biológicos e psicológicos.

Organizando-se numa
pirâmide, a chamada pirâmide de
Maslow inclui cinco patamares: os
quatro primeiros correspondem a
necessidades de défice, devendo
estas ser integralmente satisfeitas
antes de nos podermos focar no topo,
que corresponde à necessidade de
ser.

Se nos sentirmos esfomeados


e sedentos, é provável que tendamos
primeiro a acalmar a sede antes de
nos alimentarmos. A necessidade de
líquidos desencadeia um impulso
mais intenso do que a de nutrientes.
Só quando o primeiro patamar se encontra realizado entram em jogo as
necessidades de segurança, e assim sucessivamente. A meio da pirâmide
encontram-se um conjunto de necessidades que evolvem mais do que aspetos
fisiológicos, chamando a atenção para a componente emocional e cognitiva da
motivação.

Só quando todas as necessidades de défice se encontram satisfeitas


podemos dedicar-nos à autorrealização. A pessoa autorrealizada vive de
acordo com o seu potencial pessoal, encontra sentido na existência, aceita-se
a si mesma e não é indiferente aos que a cercam. É criativa e aberta à
novidade e aos desafios, entre outras qualidades.

Para Maslow, só uma pequena percentagem de seres humanos atinge


este patamar de realização e crescimento pessoais.
Embora alguns princípios subjacentes ao modelo de Maslow sejam
ainda hoje aceites, a aplicação universal da hierarquia é, porem, amplamente
contestada (ex: pessoas que passam fome por estarem em protesto).

Independentemente de precisarmos de ser autorrealizados para sermos


felizes, a classificação das necessidades não é tão simples como propunha
Maslow. Se comer, beber, dormir, entre outros exemplos, são condutas que
visam satisfazer necessidades, a verdade é que maior parte reúne fatores
biológicos e aspetos psicológicos e socioculturais. Assim, se, por um lado, a
conduta motivada pode desencadear-se como consequência de défices,
carências e impulsos fisiológicos, é também possível falarmos, por outro lado,
de conduta motivada na ausência destes sinais (ex: comer sem sentir fome).

Várias regiões do cérebro estão envolvidas no comportamento motivado,


entre elas o sistema límbico e o córtex cerebral, em especial as regiões pré-
frontais dos lobos frontais. Uma outra estrutura importante é o hipotálamo.
Este coordena as respostas fisiológicas e organiza o comportamento que
mantem o equilíbrio interno do organismo.

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