Identificado a 44 anos, a P-gp (glicoproteína-P) gerou inúmeras pesquisas
sobre transportadores de membrana, atualmente centenas de proteínas foram
qualificadas, localizadas e examinadas de acordo com a afinidade gerada por seus substratos xenobióticos e endógenos. Fatores como doenças, polimorfismo genético ou outros categóricos são capazes de alterar a forma de como esses transportadores iram se expressar, levando a alterações da atividade de influxo e efluxo. O transportador de efluxo, primeiramente a ser identificado foi a Pgp, tendo como substratos, além de substâncias endógenas, toxinas, fármacos e outras substâncias xenobióticas. Ela exibe como função, prevenir o depósito de substratos estereoespecífico no interior da célula, o que contribui como um mecanismo de defesa contra substâncias estranhas em órgãos como fígado, placenta, rins, cérebro e intestino. Um estímulo farmacológico pode provocar como resposta, por exemplo, o organismo aumentar a expressão gênica desse transportador, gerando aumento do efluxo do fármaco transportado para o espaço extracelular, finalizando essa reposta como resistência ao fármaco. O conhecimento sobre a localização junto a função dos transportadores, além da especificidade dos seus substratos, durante todo o processo de desenvolvimento de novos fármacos, ajuda no planejamento de medicamentos tendo uma distribuição mais exata, diminuindo as chances de o fármaco adentrar em um órgão que não seja o alvo, o que faz não gerar efeitos inesperados. Conhecendo melhor os transportadores é possível permitir um controle melhor dos seus processos de absorção, distribuição e eliminação, o que gera influência direta na farmacocinética e farmacodinâmica Segundo o Consócio Internacional de Transportadores (Internacional Transporter Consortium), as superfamílias de transportadores ABC (ATP binding cassete) e SLC (Solute Carrier Transporter), agrupam os transportadores que mais alteram os parâmetros de absorção e disposição de fármacos no organismo, fazem parte da superfamília SLC atualmente 395 genes organizados em 52 famílias. A família SLCO, cujo tinha a nomenclatura antiga de SLC21, corresponde aos transportadores OATPs (Polipeptídio Transportador de Ânios Orgânicos), atualmente classificada como uma superfamília subdividida em 6 famílias (OATP1 – OATP6), OCTs (Transportador de Cátions Orgânicos), da família SLC22, e MATEs (Proteína de Extrusão de Fármacos e Toxinas), da família SLC47. Os OATPs são proteínas carreadoras de ânions orgânicos que possibilitam o influxo de substratos endógenos e de substâncias xenobióticas através da membrana celular, contra um gradiente de concentração. OCTs (Transportador de Cátions Orgânicos) são uma família de transportadores de cátions orgânicos através da membrana celular e com especificidade para um grande número de substratos catiônicos que são endógenos e exógenos. MATEs (Proteína de Extrusão de Fármacos e Toxinas) funcionam em associação com os OCTs, que juntos representam uma via eliminatória para cátions orgânicos e zwitterions na urina. Grande parte das proteínas que intercedem o efluxo de fármacos e seus metabólitos para fora das células pertencem a superfamília ABC, existem 49 genes conhecidos para proteínas ABC, que podem ser agrupados em 7 subfamílias, incluindo transportadores de xenobióticos como P-gp (ABCB1), MRP 1-9 (ABCC10-12) e BRCP (ABCG2). Os transportadores ABC obtêm energia através da hidrólise do ATP, os vários transportadores na membrana apical dos enterócitos agem como bombas, sendo que alguns membros dessa superfamília agem como canais, seus substratos endógenos podem ser aminoácidos, peptídeos, proteínas, íons metálicos, lipídios, sais biliares e outros compostos hidrofóbicos. Fármacos e outras substâncias xenobióticas também podem servir de substratos, sendo bombeados para fora da célula contra um gradiente de concentração. No ano de 2010 cientistas da indústria farmacêutica, da academia e das agências regulatórias, especializados em biotransformação, biotransporte, transporte de fármacos e na farmacocinética, fundaram o Consórcio Internacional de Transportes, co-patrocinado pelo FDA (Food and Drug Administration) e pela DIA (Drug Information Association). Esse grupo de pesquisadores identificou dentre os transportadores de membrana conhecidos até o momento, aqueles que são clinicamente mais importantes para a absorção e disposição de fármacos, e os que são envolvidos nas interações medicamentosas. O Consórcio determinou que as superfamílias ABC e SLC são os grupos que reúnem os transportadores que mais modificam a absorção e biodisponibilidade de fármacos no organismo. Como resultado do Consórcio, em março de 2010, foi publicado a revisão “Membrane transporters in drug development”, onde Consórcio definiu como os principais transportadores que alteram parâmetros farmacocinéticos: MDR1, OCT2, OATP1B1, OATP1B3, BCRP (Proteína de Resistência ao Câncer de Mama), OAT1 e OAT2 Posteriormente foram incluídos nessa lista MATE1 (SLC47A1) e MATE2/MATE2K (SLC47A2), em uma atualização publicada pelo Consórcio em 2013, segundo o Consórcio esses transportadores possuem envolvimento em interações fármaco-fármaco e implicados na eficácia e toxicidade induzida por fármaco. Alguns transportadores OAPT tem a capacidade de alterar parâmetros farmacocinéticos, OATP1B1 e OATP1B3 são expressos na membrana basolateral do fígado.
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A expressão de OCT1 (gene SLC22A1) é mais evidente no fígado, membrana
basolateral dos hepatócitos, podendo ser encontrado também no tecido adiposo, intestino delgado, células imunes, cólon, glândula adrenal e mamária, rins, leucócitos periféricos, pulmão, músculo esquelético, coração e cérebro. OCT2 (gene SLC22A2) é predominantemente expresso na membrana basolateral das células do túbulo proximal renais, podendo ser encontrado ainda no ouvindo interno, cérebro, timo, pulmão e intestino delgado. A expressão de MATE1 é predominante no músculo esquelético, fígado, glândula adrenal e rins, localizada na membrana apical das células do túbulo proximal renal e dos hepatócitos. MATE2/MATE2K é predominantemente expresso nos rins, limitados a membrana apical das células do túbulo proximal renal. P-gp é evidente na membrana luminal dos enterócitos do intestino delgado, no epitélio do túbulo proximal renal, na barreira hemato-encefálica e na membrana apical dos hepatócitos. A expressão de BCRP é predominante na membrana luminal dos enterócitos, mas também, pode estar presente na placenta, hepatócitos, testículos, rins, tecido mamário e endotélio cerebral. PMAT (Transportador de Monoamina da Membrana Plasmática) teoricamente tem a importância de influenciar na biodisponibilidade de medicamentos da classe 3 BDDCS, está situado na membrana apical dos enterócitos, responsáveis pela condução da metformina a partir do trabalho gastrointestinal, o Consórcio não assinalou como um importante biotransportador com consequências clínicas.