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Sentença de concurso: essencial é fundamentar bem

É absolutamente comum que um candidato à vaga de juiz fique inseguro quanto a


determinado posicionamento na redação da sentença, já que há muitos temas abordados nas
sentenças de concursos que possuem entendimentos ainda não unânimes na jurisprudência.
Uma boa banca de concurso, que busque verificar a capacidade de argumentação do
candidato e não apenas a sua capacidade de memorização, geralmente não penaliza o candidato
que tenha adotado a solução X ou o candidato que tenha adotado a solução Y para um ponto
específico da sentença. Claro, a menos que já haja, por exemplo, súmula vinculante sobre o tema,
julgamento em sede de repercussão geral ou de recurso repetitivo, além de um ou outro caso em
que, apesar de não haver sido prolatado algum desses tipos de precedentes, realmente os
tribunais convergem para uma interpretação praticamente pacífica. Se essa não for a hipótese, a
tendência da banca examinadora é se concentrar nos argumentos utilizados, não na solução
adotada.
Trago um bom exemplo disso: a sentença cível do XVI Concurso para Juiz Federal
Substituto do TRF da 2ª Região. Um dos itens analisados era a alegação de inépcia da inicial com
relação ao pedido de dano moral coletivo, por ter sido elaborado de forma genérica. No espelho
de correção, assim se manifestou a banca examinadora:

Critério: o candidato que acatar a inépcia, com plena e correta fundamentação,


obtém o ponto integral; o candidato que rejeitar a alegação, com fundamentação
técnica que analise os pontos centrais propostos, também concorre ao ponto
integral, sendo que, em tal caso, disputará 0,5 na preliminar e 0,5 na análise
(mérito) da verba postulada.

Em síntese, a banca distribuiu 1,0 ponto para a questão dos danos morais coletivos.
Receberia nota integral quem reconhecesse que havia inépcia em relação a esse tema, de forma
fundamentada. Mas também receberia nota integral quem rejeitasse a inépcia de forma

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fundamentada, hipótese em que metade da pontuação seria destinada a avaliar o mérito da
questão.
Nessa mesma sentença, em um pouco no qual se discutia qual seria o tipo de
responsabilidade do adquirente de um imóvel em situação ambiental irregular, no tocante a
determinados pedidos, a banca fez a seguinte observação: ͞como a questão não podia explicar
todo o cenário, a Banca aceitou as muitas variações plausíveis͟.
Obviamente, nem sempre será assim, ou seja, há vários casos em que as bancas exigem
um determinado entendimento mesmo que ele não seja absolutamente pacífico, como foi o caso
dessa prova do TRF da 2ª Região em relação à remessa necessária (a banca entendeu que caberia
remessa necessária no caso de procedência apenas parcial dos pedidos na ação civil pública, algo
não pacificado nos tribunais).
De toda sorte, a grande preocupação do candidato não deve ser a descoberta de qual
entendimento deverá ser adotado, mas a construção de uma fundamentação robusta, com
argumentos sólidos, técnicos e, sempre que possível, amparados em um dispositivo legal
expressamente citado na sentença. Feito isso, o passo maior rumo à aprovação na prova de
sentença já terá sido dado.

Alexandre Henry
Professor do JusTutor e Juiz Federal

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