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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAUDE DE PORTO ALEGRE

ROTEIRO PARA AULA PRÁTICA - Capítulo II – Morte Celular.

Monitor: David Mendes

I – Introdução.

Quando ocorre uma lesão à célula, ela desenvolve respostas básicas a um estresse
superior à sua capacidade de suportar. Quando esta lesão é reversível, as alterações
morfofisiológicas características da resposta básica da célula são reversíveis, contanto que o
estímulo nocivo seja removido. Os dois principais padrões de lesão reversível são:

Tumefação celular ou degeneração hidrópica – a célula acumula água em seu interior e uma
série de alterações ultraestruturais ocorrem devido a deficiência de ATP que interfere nas
bombas eletrolíticas, nas sínteses celulares, no pH e em outras funções.

Degeneração gordurosa – em células envolvidas e dependentes do metabolismo de gordura,


manifestada por surgimento de vacúolos lipídicos grandes no citoplasma, devido a lesões
hipóxicas e metabólicas ou tóxicas.

Quando a agressão à célula persiste, ou quando ela é muito nociva, ocorre uma lesão
irreversível e, com o tempo, a célula perde sua capacidade de resistir e morre. Esta morte celular
pode ser de dois tipos:

Necrose – dano acentuado às membranas, levando ao extravasamento das enzimas lisossômicas


ao citoplasma. Este processo é sempre patológico

Apoptose – quando o DNA ou proteínas celulares são lesadas, ocorre dissolução nuclear,
fragmentação da célula sem perda da integridade da membrana e rápida remoção dos restos
celulares. Este mecanismo pode ser fisiológico ou patológico.

As principais causas de lesões celulares são hipóxia ou isquemia, agentes físicos (trauma,
alteração de temperatura), agentes químicos (drogas, venenos), agentes infecciosos, reações
imunes, alterações genéticas, desequilíbrios nutricionais e envelhecimento. Os alvos das lesões
são, normalmente, as mitocôndrias, a membrana celular, o processo de síntese proteica, o
citoesqueleto e o aparato genético. Os principais mecanismos bioquímicos das lesões são:

Depleção de ATP – mecanismo relacionado à isquemia, intoxicação e danos mitocondriais.


Promove tumefação, redução da atividade enzimática, redução da síntese proteica e produção
de proteínas mutantes.

Influxo de cálcio e perda de sua hemostasia – ocorre aumento da quantidade de cálcio


intracelular, levando a deficiência na geração de ATPO, aumento da ação de enzimas de efeito
prejudicial e indução de apoptose por ativação das caspases.

Acúmulo de radicais livres derivados de oxigênio – os radicais livres são produzidos nas células
por reações de oxirredução que ocorrem durante processos metabólicos normais e naturais, por
absorção de energia radiante, por reações de leucócitos em processos inflamatórios, por
metabolismo de xenobióticos, etc. Por outro lado, são removidos por antioxidantes e enzimas
especificas. Os efeitos patológicos dos radicais livres são a peroxidação lipídica na membrana,
modificação oxidativa das proteínas e lesão do DNA.
Defeitos nas membranas celulares a nível da permeabilidade – lesões de espécies reativas,
diminuição da síntese de fosfolipídios, aumento da degradação de fosfolipídios e anormalidades
citoesqueléticas. As consequências dessas lesões são danos as membranas mitocondriais, na
membrana plasmática e a membrana lisossômica.

Dano mitocondrial – as principais consequências são a falha na fosforilação oxidativa e


extravasamento de proteínas estimuladoras de apoptose.

Apoptose.

É a via de morte celular induzida por um programa de suicídio estritamente regulado no


qual as células destinadas a morrer ativam enzimas que degradam seu próprio DNA e as as
proteínas nucleares e citoplasmáticas. A célula em apoptose então se fragmenta em corpos
apoptóticos que são fagocitados.

A apoptose fisiológica ocorre na embriogênese, em tecidos hormônio-dependentes e na


eliminação de células inflamatórias e imunológicas. A apoptose patológica ocorre em casos de
lesão ao DNA, acumulo de proteínas anormalmente dobradas (condição de estresse do reticulo
endoplasmática), células infectadas e apoptose induzida por vírus, atrofia patológica no
parênquima de órgãos após obstrução de ducto.

As características celulares da apoptose são retração celular, condensação da


cromatina, formação de bolhas citoplasmáticas e de corpos apoptóticos e fagocitose dos
fragmentos por macrófagos. As características bioquímicas, por outro lado, são ativação das
caspases, quebra do DNA e de proteínas e alteração da membrana para reconhecimento pelos
fagócitos. Os mecanismos iniciadores da apoptose são dois:

Via intrínseca ou mitocondrial – ocorre por estresse celular, o que leva proteínas da membrana
da mitocôndria a se alterarem, desequilibrando a organização entre pró- e anti-apoptotica e
alterando a permeabilidade da membrana mitocondrial, o que permite o extravasamento para
o citoplasma de proteínas que pode ativar a cascata de caspases.

Via extrínseca ou iniciada por receptor – ocorre quando há envolvimento de um receptor de


morte da membrana plasmática, que, quando reconhecido no seu domínio de morte, inicia uma
cascata enzimática interna que resulta na ativação de caspases.

Quando a apoptose é iniciada, tanto por uma quanto por outra via, o processo segue
por duas fases:

Fase de execução – as caspases desencadeantes ativadas são clivadas e ativam as caspases


executadoras, as quais atuam em muitos componentes celulares, ativam DNAses, degradam
componentes estruturais da membrana nuclear, etc.

Fase der remoção das células mortas – por diversos mecanismos, os corpos apoptóticos sofrem
mudanças em sua conformação, atraindo células fagocitárias que englobam os fragmentos.

Necrose.

A necrose é a morte na qual a célula é incapaz de manter a integridade da membrana e


seus conteúdos sempre extravasam, podendo iniciar uma inflamação no tecido circundante. A
desnaturação das proteínas intracelulares e digestão enzimática das células lisadas dão a
característica morfológica da necrose. A remoção das células necróticas se dá pelas enzimas
lisossômicas da própria célula e de leucócitos recrutados na reação inflamatória.

O aspecto morfológico da necrose é de eosinofilia aumentada, aparência homogênea


vítrea e citoplasma vacuolado. As células mortas tendem a se reduzir a um precipitado
fosfolipídico que então é fagocitado, ou que pode ainda sofrer calcificação. As alterações
nucleares são do tipo cariólise, picnose e cariorrexe.

Os principais tipos de necrose são:

De coagulação – ocorre manutenção temporária da arquitetura básica dos tecidos afetados,


pois a lesão desnatura as proteínas e as enzimas - as células são removidas por infiltração
leucocitária.

Liquefativa – transformação do tecido em uma massa viscosa liquida pela digestão das células
mortas.

Gangrenosa – padrão misto, no qual inicialmente há necrose de coagulação, comprometendo


diversos níveis histológicos, que então sofre ataque bacteriano, levando a infecção e a instalação
de necrose liquefeita

Caseosa - aspecto friável esbranquiçado, normalmente em focos de infecção tuberculosa, na


qual há uma coleção de células rompidas e restos granulares amorfos dentro de uma borda
inflamatória nítida com gigantócitos na periferia.

Gordurosa – áreas focais de destruição gordurosa, nas quais os ácidos graxos destruídos
combinam-se com o cálcio e formam áreas brancas gredosas macroscopicamente visíveis.

Fibrinoide – envolve reações imunes relacionadas a vasos sanguíneos, nos quais os complexos
antígeno-anticorpo se depositam e, em combinação da fibrina extravasada dos vasos, formam
um complexo fibrinoide.

II. Macroscopia.

Imagem 1.
Pé com grande área necrótica,
correspondendo a uma necrose
gangrenosa.
Imagem 2.
Avental epiploico apresentando
pontos esbranquiçados
compatíveis com necrose
gordurosa.

Imagem 3.
Pulmão com área cavernosa
correspondente a necrose caseosa.

Imagem 4.
Encéfalo com área de necrose
liquefativa, normalmente devido a
infarto cerebral com dissolução do
tecido.
Imagem 5.
Necrose de coagulação em coração.
Corresponde à lesão isquêmica após infarto
agudo.

Imagem 6.
Necrose por coagulação em
tecido pulmonar.

Imagem 7.
Pulmão com pontos amarelos de necrose caseosa,
dando aspecto de queijo, compatível com
granulomas de tuberculose.
Imagem 7.
Necrose caseosa calcificada em
suprarrenal.

Imagem 8.
Necrose fibrinoide em focos de artrite
reumatoide.

Imagem 9.
Necrosa de coagulação.
Imagem 10.
Testículo infartado, com necrose
coagulativa.

Imagem 11.
Infarto cerebral com necrose liquefeita.

Imagem 12.
Pâncreas com necrose gordurosa.
III. Microscopia.

Imagem 1.
Necrose gordurosa.

Imagem 2.
Necrose caseosa.

Imagem 3.
Necrose de liquefação.
Imagem 4.
Necrose caseosa.

Imagem 5.
Necrose fibrinoide.

Imagem 6.
Necrose gangrenosa.
Imagem 7.
Necrose de coagulação.

Imagens 8 e 9.
Necroses por coagulação.
Imagem 10.
Apoptose com fragmentação nuclear.

Imagem 11.
Apoptose com condensação periférica de
cromatina.
IV. Exercícios.

1) Faça um quadro comparativo entre necrose e apoptose:

Apoptose Necrose
Características
principais

Quando
ocorre

Ocorrência
fisiológica

Ocorrência
patológica

Principais
mecanismos

Exemplos

2) Conceitue: autofagia, degeneração Walleriana e necroptose. Se necessário, pesquise


na bibliografia indicada ou em artigos científicos.
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3) Qual o tipo de granuloma que encontramos na sarcoidose, na sífilis, na pancreatite, na
paracoccidioidomicose e na retocolite crônica ulcerativa inespecífica?
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4) Conceitue bola fúngica:
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IV. Análise de Lâmina.

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Coloração: _____________________
Objetiva: ______________________
Legenda: ______________________
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