Você está na página 1de 34

GESTÃO FISCAL II

AULA Nº 1: PLANEAMENTO E ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS

1.1 História do planeamento

O planeamento por parte do Estado teve início quando a sociedade encontrava-se com a
necessidade de se reconstruir. Após o fim da Primeira Guerra Mundial, com a crise de
1929, a antiga União Soviética tornou-se a primeira nação a aplicar o planeamento
como ferramenta de reconstrução.

Segundo Dias (2003) "como instrumento governamental de orientação económica" o


planeamento da URSS teve a sua construção de forma sistemática e centralizada, o que
deu ao planeamento um carácter centralizador e demasiadamente controlador dentro da
óptica dos países de economia livre.

Após a Segunda Guerra Mundial foi estendida a sua prática aos países do bloco
comunista e iniciada em países de economias mais abertas chegando, segundo Dias
(2003), à França e ao Japão tendo a sua aplicação em países "subdesenvolvidos" apenas
na década de 1950 a 1960.

O planeamento ganha destaque no cenário internacional, após momentos de crise


global, sendo as crises de mercado as principais motivadoras da adopção do
planeamento por países de economia de mercado. Tendo com exemplos as crises
do México em 1994-1995, dos "Tigres Asiáticos" e outras economias do Sudeste
Asiático em 1997-1998, da Rússia e do Brasil em 1998-1999, e a recente crise
da Argentina de 2001-2002 que impulsionaram governos para actuarem orientando suas
economias; segundo Ángel (2003).

O planejamento ou planeamento é uma ferramenta administrativa, que possibilita


perceber a realidade, avaliar os caminhos, construir um referencial futuro,
o trâmite adequado e reavaliar todo o processo a que o acoplamento se destina. Sendo,
portanto, o lado racional da acção. Tratando-se de um processo de deliberação abstracto
e explícito que escolhe e organiza acções, antecipando os resultados esperados. Esta
deliberação busca alcançar, da melhor forma possível, alguns objectivos pré-definidos.

Algumas acções necessitam de planeamento, mas muitas não. Nas actividades diárias,
estamos sempre agindo, e antecipamos os resultados de nossas acções, mesmo que não
estejamos completamente cientes dessa antecipação. Mas agimos com muito mais
frequência do que planeamos, explicitamente, nossas acções: poucas vezes temos
consciência de estarmos executando um processo de deliberação antes da acção. Assim
que tomamos conhecimento de uma acção, ou quando executamos comportamentos
bem treinados para os quais possuímos planos previamente armazenados, ou quando o
curso de uma acção pode ser livremente adaptado enquanto ela estiver sendo executada,
então, geralmente agimos e adaptamos nossas acções sem planeá-las explicitamente.

Uma actividade premeditada exige deliberação quando se volta para novas situações ou
tarefas e objectivos complexos ou quando conta com acções menos familiares. O
planeamento também é necessário quando a adaptação das acções é coagida, por
exemplo, por um ambiente crítico envolvendo alto risco ou alto custo, por uma
actividade em parceria com mais alguém, ou por uma actividade que necessite estar
sincronizada com um sistema dinâmico. Uma vez que o planeamento é um processo
muito complicado, que consome muito tempo e dinheiro, recorremos ao planeamento
apenas quando é realmente necessário ou quando a relação custo-benefício nos obriga a
planear. Além disso, geralmente, procuramos somente planos bons e viáveis ao invés de
planos óptimos.

É importante que o planeamento seja entendido como um processo cíclico e prático das
determinações do plano, o que lhe garante continuidade, havendo uma constante
realimentação de situações, propostas, resultados e soluções, lhe conferindo assim
dinamismo, baseado na multidisciplinaridade, interactividade, num processo contínuo
de tomada de decisão.

O planeamento é muito importante na área de gestão e administração, pois envolve a


preparação, a organização e estruturação de objectivos e auxilia nas tomadas de
decisões e execução de tarefas. Após a etapa de planeamento, é necessário avaliar se
decisões foram tomadas acertadamente, através do processo denominado de feedback.

1.2 Níveis de planeamento

Observando os níveis hierárquicos, distinguem-se três tipos de planeamento:


Planeamento estratégico, táctico e operacional.

O planeamento estratégico considera a empresa como um todo e é elaborado pelos


níveis hierárquicos mais altos da organização. Relaciona-se com objectivos de longo
prazo e com estratégias e acções para alcançá-los.
No segundo nível de planeamento, o táctico, a actuação é em cada área funcional da
empresa, compreendendo os recursos específicos. Seu desenvolvimento se dá pelos
níveis organizacionais intermediários, tendo como objectivo a utilização eficiente dos
recursos disponíveis com projecção em médio prazo. Em grandes empresas, identifica-
se facilmente este nível de planeamento, ele se dá nos escritórios e superintendências
regionais.

Já os planeamentos em nível operacional correspondem a um conjunto de partes


homogêneas do planeamento táctico, ou seja, identifica os procedimentos e processos
específicos requeridos nos níveis inferiores da organização, apresentando planos de
acção ou planos operacionais. É elaborado pelos níveis organizacionais inferiores, com
foco nas actividades rotineiras da empresa, portanto, os planos são desenvolvidos para
períodos de tempo bastante curtos.

A maioria dos planos é focada em inúmeras projecções, promessas que dependem de


inúmeros factores a serem cumpridas especificamente em um novo negócio. O
planeamento deve ser feito dentro da empresa e de preferência juntamente com os
funcionários e deve estar "exposto" a todos.

1.3 Estratégia

A estratégia é uma palavra com origem no termo grego strategia, que significa plano,
método, manobras ou estratagemas usados para alcançar um objectivo ou
resultado específico.
Na sua origem, a palavra estratégia estava estritamente relacionada com a arte de fazer
guerra de um líder militar, como um general, por exemplo. Mais tarde, passou a ser
mais abrangente, sendo que actualmente a estratégia está relacionada com a vertente
militar, económica, psicológica e política da preparação para a defesa de um país contra
uma determinada ameaça. Pode significar planeamento bélico, ou seja, a combinação e
aplicação dos recursos bélicos no comando de grandes forças militares.

De acordo com Maquiavel, a estratégia estabelecia a ligação próxima e óbvia entre a


política e o militar durante uma guerra. Na altura da Segunda Guerra Mundial, os
avanços tecnológicos mudaram as estratégias militares, tendo sido criados novos tipos
de guerra, como a guerra fria, a guerra revolucionária e a guerra subversiva.
A palavra estratégia tem vários significados e é um conceito que está presente em vários
contextos, sendo por isso difícil a sua definição. Em sentido figurado, uma estratégia
normalmente é estipulada para ultrapassar algum problema, e nestes casos pode ser
sinónimo de habilidade, astúcia ou esperteza.
O pensamento estratégico é essencial para o ser humano, e pode ser aplicado em várias
situações, tanto no âmbito laboral, como no contexto pessoal.
Existem também vários jogos de estratégia, que servem para estimular e desenvolver o
pensamento estratégico dos jogadores. No xadrez, por exemplo, os bons jogadores têm
estratégias bem definidas e conseguir pensar no movimento das suas peças com várias
jogadas de antecedência.
1.3.1 Estratégia empresarial
No contexto organizacional, o planeamento estratégico é usado para melhorar a
produtividade e os resultados da empresa.
Muitas empresas se distinguem umas das outras através de estratégias de marketing,
que têm como objectivo melhorar o posicionamento da organização no mercado onde
actua. A estratégia de marketing pode levar ao sucesso ou fracasso de uma empresa,
porque ela pode criar oportunidades interessantes que fomentam o crescimento e a
rentabilidade da empresa.
Em um mundo cada vez mais competitivo, é essencial que as empresas tenham uma boa
estratégia competitiva e corporativa. A estratégia competitiva é uma forma de actuação
onde uma empresa está em competição com outras e age em resposta às suas estratégias.
Este tipo de estratégia pretende conferir vantagens à empresa em relação aos seus
concorrentes.

Uma área importante na estratégia empresarial é a capacidade de definir metas. De


acordo com o conceito SMART, as metas devem ser: eSpecíficas, Mensuráveis,
Alcançáveis, Realísticas e dentro do Tempo definido para a sua execução.

Referências

Marques, Antonio (19998). comunicação empresarial.)

Ghallab, M., Nau, D. S., and Traverso, P. (2004). Automated Planning: Theory and
Practice. ISBN 1-55860-856-7
Dos Reis, Felipa. SILVA, Maria. 2012. Princípios de Gestão. 1ª Edição. Lisboa pág.59.
GESTÃO FISCAL II

AULA Nº 2: CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE GESTÃO FISCAL

2.1 Introdução

É inerente à racionalidade económica, quer no plano pessoal quer no plano empresarial,


a minimização dos impostos a suportar.

Esta diminuição dos impostos pode fazer-se, no entanto, por diversas vias, se bem que
as fronteiras entre eles sejam, por vezes, difíceis de traçar, a que se adiciona uma velha
querela terminológica e conceptual sobre as figuras em presença.

Uma dela que se designará aqui por gestão fiscal (“tax planning”) e outros denominam
planeamento fiscal, optimização fiscal ou engenharia fiscal, consiste em minimizar os
impostos a pagar (traduzindo-se em aumento do rendimento depois de impostos) por
uma via totalmente legítima e lícita, querida até pelo legislador ou deixada por este
como opção ao contribuinte. Trata-se de escolher a via fiscalmente menos onerosa
consistente com a gestão normal dos negócios pessoal ou empresariais. É o caso das
exclusões tributárias, dos benefícios fiscais e das alternativas fiscais. Trata-se de
situações em que a economia fiscal “é, expressa ou implicitamente, querida, desejada,
ou, ao menos, sugerida pelo próprio legislador fiscal”. Os actos e negócios que lhes são
próprios situar-se-iam, neste caso, intra legem.

Noutros casos, a diminuição dos impostos a pagar efectua-se através do que se designa
por evasão fiscal (“tax avoidance”) e que outros apelidam de elisão fiscal, que se
traduz na prática de actos ou negócios lícitos mas que a lei fiscal qualifica como não
sendo conformes com a substância da realidade económica que lhes está subjacente ou
serem anómalos, anormais ou abusivos. Nesta qualificação detecta-se, ao contrário do
que sucede na gestão fiscal, a intenção do legislador de abranger tais actos ou situações
pela tributação e de acordo com os padrões ditos normais para a realização de tais actos
ou operações. Estar-se-ia, assim, perante uma poupança fiscal realizada através de
factos ou situações que o legislador tem a intenção de cobrir mas que, por esta ou aquela
razão, não se encontram expressamente previstos pela lei fiscal ou, se nela previstos, são
realizados em condições diferentes das normais, e que a lei fiscal, através de normais
gerais ou especiais anti-abuso, combate, promovendo as correcções de impostos a que
haja lugar tomando por referência os factos, situações ou condições que são escolhidos
como referência.

Finalmente, a diminuição dos impostos a pagar pode concretizar-se através do que se


designa por fraude fiscal em sentido amplo (“tax evasion”) e que alguns autores
denominam de evasão fiscal, o que se consegue através de actos ou negócios ilícitos,
infringindo frontalmente a lei fiscal, pelo que se costuma dizer que actuam contra legem
(para se distinguir da evasão fiscal que para alguma doutrina actuaria extra legem). Na
fraude fiscal viola-se directamente a lei, quer por acção quer por omissão, não se
pagando por via dela, no todo ou em parte, um imposto cujo facto gerador se verificou
ou obtendo-se uma vantagem patrimonial indevida. A consequência normal da fraude
fiscal é, uma vez descoberta, além da entrega dos impostos a que haja lugar, a aplicação
de uma sanção penal fiscal, quer de natureza contraordenacional (coima) quer de
natureza criminal (prisão ou multa).

Qualquer destas modalidades de economia fiscal tem grande importância para a gestão
das empresas e para o gestor, constituindo até uma obrigação deste a tomada de
decisões que, sendo lícitas, conduzam à minimização dos impostos a pagar e
consequente maximização da rendibilidade após impostos, ou seja, fazer gestão fiscal.

2.2 Noção e principais modalidades

A gestão fiscal nos tempos modernos caracteriza-se por uma postura activa da parte do
contribuinte, que procura inserir variável fiscal nas suas decisões e, assim,
normalmente, minimizar a factura fiscal que sobre ele recai, desde que isso se reflicta
em aumento do rendimento após impostos. O uso de “normalmente” pretende significar
que, embora o que grande parte das vezes aconteça na gestão fiscal seja a prossecução
de um objectivo de minimização dos impostos a suportar, podem hipostasiar-se
situações em que tal não é o objectivo prioritário dentro da estratégia prosseguida pela
empresa, o que não impede que a variável fiscal seja objecto de atenção de modo a que
possa ser colocada ao serviço dessa mesma estratégia. É que, por exemplo, uma
empresa pode ter no seu horizonte um aumento de lucro distribuível e, por isso, não
poder usar certas alternativas de minimização de impostos a pagar que afectam esse
lucro. Por outro lado, às vezes não se trata de minimizar os impostos a pagar pela
empresa, já que eles são suportados por terceiros, do que se trata é de gerir a liquidação
e o pagamento desses impostos da forma mais vantajosa para a empresa,
designadamente do ponto de vista financeiro ou sob uma perspectiva comercial.

Importa ainda que a gestão fiscal se deve inserir numa abordagem global da estratégia
da empresa, o que significa que a minimização dos impostos a pagar não pode, sem
riscos, ser considerada como um fim em si mesma. Com efeito, essa perspectiva global
implica três ordens de considerações:

Uma abordagem multilateral: a gestão fiscal deve tomar em consideração as


consequências fiscais para todas as partes envolvidas no negócio ou na transacção;

A consideração quer dos chamados impostos explícitos (os que são pagos às autoridades
fiscais) querem dos impostos implícitos ou cultos (os que estão associados às condições
em que se efectivam as opções favorecidas fiscalmente, que podem implicar uma
eventual menor rendibilidade antes de impostos dessas opções);

A importância dos custos não fiscais já que certas opções podem minimizar os impostos
a pagar mas acarretar o aumento de outros custos.

Esta abordagem global significa que, em vez de se considerar a minimização dos


impostos a pagar como objectivo da gestão fiscal, a perspectiva correcta é visar o
aumento do rendimento após impostos.

Por outro lado, resulta desta abordagem a necessidade de integrar o factor fiscal como
um dos múltiplos aspectos a considerar nas decisões de gestão, não podendo estas
resultar apenas de uma ponderação dos aspectos fiscais.

Em qualquer caso, a gestão fiscal recorre sempre, como já se referiu, a práticas lícitas,
queridas ou admitidas pelo legislador como formas legítimas de diminuição desses
impostos.

A principal modalidade de gestão fiscal são, como também já se indicou, as exclusões


tributárias, os benefícios fiscais e as alternativas fiscais.

As duas primeiras já foram abordadas noutros capítulos deste Manual pelo que importa
agora ver de forma especial a questão das alternativas fiscais.
Através da gestão fiscal, as empresas tentam encontrar forma de pagar menos impostos,
fazendo uso das medidas mais adequadas à sua real situação fiscal, mas disponíveis no
quadro jurídico existente.

Uma boa gestão comercial, financeira e fiscal implica necessariamente o dever de


utilizar todas as medidas disponíveis com vista ao máximo lucro nem que seja através
da poupança fiscal.

O princípio constitucional da liberdade de iniciativa económica concede um direito aos


contribuintes que visa na poupança fiscal. A esse propósito, Gomes, (Gomes, 2005, p.
14) assevera “A gestão fiscal consiste no estudo e planeamento do acesso a benefícios
fiscais e incentivos financeiros e no uso de alternativas fiscais, permitidas pela lei, de
modo a que sejam prosseguidos os objectivos da empresa.”

Por se verificar que a gestão fiscal é cada vez mais importante e indispensável no
mundo empresarial de hoje, foram disponibilizados diversos planos de estudos a nível
académico sobre esta temática, com vista a preparar profissionais de qualidade.

De acordo com um plano de estudo da INDEG Business School Borges (2011) afirma.

“ A gestão e o planeamento fiscais têm vindo a revelar-se como elementos essenciais na


gestão global das empresas, sendo reconhecidamente uma fonte de geração de valor. A
performance empresarial passa, cada vez mais, também, pela eficácia e eficiência da
Gestão Fiscal. Trata-se de uma área de grande interesse e actualidade…”

Acrescenta também que são diversos os pontos que exigem uma atenção redobrada ao
planeamento e gestão fiscal das empresas, citando como relevante o peso de cada vez
maior da carga fiscal, as medidas governamentais para reforço do combate à evasão e
fugas fiscais, a crescente integração das economias europeias e mundiais e consequente
contradição entre, por um lado, a tendência para a progressiva harmonização fiscal
internacional e, por outro, a necessidade de cada país ser fiscalmente competitivo.

De acordo com Mallard, Mazas e Selles (1994) a fiscalidade tem uma função social. Os
investigadores são da opinião que essa função representa o mais recente papel
desempenhado pela fiscalidade nessa óptica da fiscalidade, assegurando que “Gerir a
fiscalidade, é intervir nas escolhas fiscais que se oferecem à empresa, mas é igualmente
um estado de espírito.” (Mallard et al.,1994, p. 17). Referem que o gestor tem um papel
a desempenhar que consiste em procurar as soluções fiscais mais vantajosas para a
empresa. Os autores mencionam como indispensável para o desempenho, com eficácia,
do papel do gestor, este deve ser conhecedor e tomar em consideração a situação fiscal
actual da empresa, assim como integrar o contexto económico da empresa e as
desvantagens da operação na decisão fiscal. Apontam igualmente como importante o
saber antecipar ou atrasar uma decisão com vista à obtenção da máxima vantagem
fiscal, o saber avaliar as escolhas entre vantagens económicas e inconvenientes fiscais
em certas situações.

Segundo um estudo de Alesina e Ardagna (2009), os incentivos fiscais baseados em


redução de impostos são mais propensos a aumentar o crescimento económico.

Concluímos, assim, que os impostos são uma evidência inevitável e da maior


importância no dia-a-dia das empresas devido à conjuntura actual dos mercados.

2.3 As alternativas fiscais

Quando se alude às alternativas fiscais como forma de levar a cabo a gestão fiscal não
se pretende fazer referência à forma mais radical de alternativas que é a de não levar a
cabo a actividade ou realizar o facto que por uma lei ter definido como pressuposto do
imposto faz nascer a obrigação fiscal. Ou seja, por exemplo, sendo os rendimentos do
trabalho tributados, há sempre uma forma de escapar à tributação que é a de não
trabalhar, optando pelo lazer.

As alternativas fiscais aqui visadas não comportam a simples obtenção da realidade


sobre que incide o imposto, mas, outrossim, tomando essa realidade como um dado,
pretendem visualizar as alternativas que se colocam ao contribuinte com efeitos no
montante, tempo e modo de pagamento dos impostos que sejam devidos.

Tratar-se-ão a seguir de outras alternativas, que, sem preocupações de enumeração


exaustiva, costumam agrupar-se em quatro grandes grupos:

❖ Forma de realização das operações ou actividades (forma jurídica, estrutura


financeira);
❖ Local de realização das operações ou actividades;
❖ Momento de tributação;
❖ Categoria e tipo de rendimentos.
2.4 A importância da gestão fiscal

Uma grande parte do tecido empresarial existente em Angola é constituída por micro,
pequenas e médias empresas, ficando a gestão das mesmas ao cargo dos próprios
empresários.

No entanto, verifica-se que esses empresários apresentam uma carência significativa a


nível do conhecimento da legislação fiscal em vigor, originado em parte pela sua falta
de formação académica ou pela dificuldade na sua compreensão e nas alterações
constantes.

A concomitante falta de sensibilidade para o tema determina, por vezes, que as suas
tomadas de decisões não sejam baseadas num planeamento fiscal, tendo especialmente
como principal função a manutenção e continuidade do negócio.

Devido ao actual contexto económico, ao mundo da globalização e ao esmagamento das


margens de comercialização, as empresas têm necessidade de se tornarem mais
competitivas. Por essa razão, cada vez mais a gestão fiscal deve tomar um lugar de
destaque na gestão das empresas, a fim de melhorar a rendibilidade das mesmas, usando
as medidas de planeamento fiscal que a lei proporciona através dos benefícios e
incentivos fiscais.

Por conseguinte, os empresários devem rodear-se de profissionais competentes, que os


informem das medidas fiscais disponíveis que possam influenciar as suas decisões, com
vista à obtenção de uma poupança fiscal.

É nesse sentido que profissionais como consultores fiscais, entre outros, têm um papel
importante a desempenhar neste âmbito, usando a sua competência profissional. Estes
devem intervir, prestando esclarecimento sobre a legislação fiscal em vigor e alertando
os empresários para as medidas fiscais susceptíveis de reduzir os impostos a pagar,
podendo provocar uma poupança fiscal, criando assim uma fonte de geração de valor
para a empresa.

Referências:

PEREIRA, Manuel Henrique de Freitas, Fiscalidade, 4ª Edição - Edições Almeidas, S.A –


Coimbra, 2011.
GESTÃO FISCAL II

AULA Nº 3: PLANEAMENTO FISCAL

3.1 Introdução e Conceitos

A poupança fiscal é um direito do contribuinte que assenta no princípio constitucional


da liberdade de iniciativa económica.

As empresas de média e grande dimensão são as que normalmente efectuam


planeamento fiscal recorrendo a serviços de profissionais especializados, tais como
consultores ou gestores fiscais.

É lícito, as empresas e contribuintes, efectuar um planeamento fiscal e aproveitar os


conhecimentos das leis fiscais para pagarem menos impostos.

Sanches (2006, p.21) refere que:

“O planeamento fiscal consiste numa técnica de redução da carga fiscal pela qual o
sujeito passivo renuncia a um certo comportamento por este estar ligado a uma
obrigação tributária ou escolhe, entre as várias soluções que lhe são proporcionadas pelo
ordenamento jurídico, aquela que, por acção intencional ou omissão do legislador, está
acompanhada de menos encargos fiscais.”

O autor (Sanches, 2006, p.9) acrescenta também que “O planeamento fiscal como
actividade lícita e juridicamente tutelada constitui não só um direito subjectivo do
sujeito passivo das obrigações fiscais, mas também uma condição necessária para a
segurança jurídica das relações tributárias.”

Segundo Fabretti (2006, p.32; citado por Lima, 2010),“O estudo feito preventivamente,
ou seja, antes da realização do fato administrativo, pesquisando-se seus efeitos jurídicos
e económicos e as alternativas legais menos onerosas, denomina-se Planeamento
Tributário, que exige antes de tudo, bom senso do planeador”.

Domingues (2000, p. 112; citado por Silva, 2012) define o Planeamento Tributário
como:

“Actividade empresarial que, desenvolvendo-se de forma estritamente preventiva,


projecta os actos e fatos administrativos com o objectivo de informar quais os ônus
tributários em cada uma das opções legais disponíveis, cuidando de implementar aquela
menos onerosa, formando um conjunto de condutas, comissivas, da pessoa física ou
jurídica, realizadas antes ou depois da ocorrência do fato gerador, destinadas a reduzir,
mitigar, transferir ou postergar legalmente os ónus dos tributos.”

Nogueira (1980, p.202; citado por Ferreira e Duarte, 2005) argumenta que:

“Ninguém é obrigado a escolher, entre várias formas possíveis, aquela que seja sujeita a
impostos mais altos (...), pois a possibilidade de uma estruturação, que em face da
legislação tributária seja mais favorável, corresponde ao interesse justo do contribuinte,
reconhecido pela ordem jurídica.”

Para Batista Júnior (2002, p.42; citado por Ferreira e Duarte, 2005)

“(...) existe o direito do contribuinte de se auto-organizar, entretanto, esse direito para


além de não ser absoluto, não está isolado no mundo, mas se situa dentro de um
contexto, que não se circunscreve apenas ao contexto do ato em si, mas a um contexto
dos efeitos que acarreta pelo exercício. Há que se levar em conta não apenas o interesse
de quem pratica o ato, mas o interesse de terceiro e o próprio interesse colectivo.”

Borges (1998, p.56; citado por Ferreira e Duarte, 2005) considera o Planeamento Fiscal

“Uma técnica gerencial que visa projectar as operações industriais, os negócios


mercantis e as prestações de serviços, visando conhecer as obrigações e os encargos
tributários inseridos em cada uma das respectivas alternativas legais pertinentes para,
mediante meios e instrumentos legítimos, adoptar aquela que possibilita a anulação,
redução ou adiamento do ónus fiscal.”

Neste sentido podemos dizer que o planeamento fiscal se baseia no uso das alternativas
e lacunas autorizadas nas leis, visando tomadas de decisões que optimizem a fiscalidade
das empresas.

Resume-se então a eleger entre as opções lícitas disponíveis as que se apresentam mais
vantajosa para a empresa, de forma a obter, através de meios legais, uma redução na
factura fiscal.
Dada essa realidade, revela-se imprescindível ter um conhecimento adequado acerca do
planeamento e gestão fiscal nas empresas, para que possam ser usadas as alternativas
fiscais com vista à criação de valor para a empresa.

O uso dessas alternativas consiste em, através de um bom planeamento fiscal, obter
vantagens competitivas derivadas da redução da carga fiscal.

3.2 Objectivos e Finalidades do Planeamento fiscal

O planeamento fiscal, definido como um instrumento eficaz de estratégia empresarial


para a tomada de decisões que optimizem a fiscalidade das empresas, apresenta-se
evidenciado com as seguintes características:

a) Permite evitar a incidência do imposto, isto é, antes de praticar um facto gerador de


imposto, caso se verifique consequências negativas não compensatórias ou não
desejadas. Por exemplo ao optar pela aquisição de uma viatura de turismo de valor
inferior ao limite estabelecido por portaria de acordo com o artigo 34.º do CIRC, de
forma a evitar o agravamento da taxa de tributação autónoma, sendo agravada se o valor
de aquisição for superior a esse limite.

b) Possibilita reduzir o valor do imposto a pagar (veja-se, citamos a título de exemplo, a


utilização de benefícios fiscais que são de dedução ao rendimento ou à colecta, ou a
opção por um regime de contabilidade mais vantajoso).

c) Diferimento no tempo do pagamento do imposto, com as medidas que assim o


possibilitam. Em que o sentido e a extensão da legislação a aprovar consta:

a) Estabelecer um regime fiscal de pagamento, imediato ou em fracções anuais, do saldo


positivo apurado pela diferença entre os valores do mercado e os valores fiscalmente
relevantes dos elementos patrimoniais de sociedades que transferem….

b) Estabelecer um regime optativo entre o pagamento do imposto, nos termos referidos


na alínea anterior, e o diferimento do imposto para quando ocorra...”

A sua finalidade é essencialmente a poupança na factura fiscal, levando, desta forma, ao


objectivo estratégico fundamental - a criação de valor para a empresa.
3.3 Modos de poupança fiscal

Antunes (2006) refere que a evasão e fraude fiscal não se assemelham aos actos de
poupança fiscal, de planeamento fiscal ou de gestão fiscal.

Existem diferentes vias de actuação que permitem ao contribuinte obter uma diminuição
da sua carga fiscal.

O contribuinte pode agir tendo um comportamento intra legem (planificação fiscal),


extra legem (elisão fiscal) ou contra legem (evasão fiscal), sendo que todas estas
condutas levam a uma redução do seu contributo em impostos. No entanto, nem todas
são consideradas legítimas.

É uma realidade com que os Economistas, os Gestores e os decisores políticos estão


confrontados e que vem assumindo uma dimensão crescente e novas e sofisticadas
formas.

Interessa-nos, sistematicamente, falar das suas causas, modalidades principais e


consequências.

3.3.1 Causas do planeamento fiscal abusivo

Poder-se-ia dizer que a fuga do fisco é determinada pela própria existência do imposto e
pelo natural desejo por parte do contribuinte de minimizar os seus custos.

Mas as causas podem agrupar em 4 grandes categorias: Políticas; Económicas;


Psicológicas e Técnicas.

Causas Políticas: Tem a ver, em 1º lugar com a falta de uma política que assegure uma
efectiva igualdade de todo contribuintes perante o Fisco. Surge a questão:

Há quem tem mais capacidade contributiva, paga menos ou até nem paga, por que razão
devo eu pagar?

Em 2º lugar, se o contribuinte visualizar que a Política Fiscal é orientada por finalidade


que não compreendem ou não aceitam, e está ao serviço dos grupos de pressão mais
activo e influente.

Causas Económicas: O comportamento do contribuinte é muitas vezes norteado por


um simples cálculo Económico: O benefício em não pagar Imposto compensa os
inconvenientes representados pelo risco de ser descoberto? Portanto, quanto > o
Imposto mais compensatória é a fuga ao mesmo.

Causas Psicológicas: A chamada psicologia financeira tem apresentado várias razões


explicativas da fuga ao Fisco.

Em 1º lugar o contexto cultural.

Em 2º lugar existem Impostos irritantes e portanto é evidente que o contribuinte possa


reagir através da fuga ao Fisco que lhe suscintam uma reacção psicológica
especialmente adversa designadamente por serem percepcionados como especialmente
injustos.

Causas Técnicas: Tem haver com a grande complexidade, estabilidade e segurança do


sistema Fiscal.

Um Sistema Fiscal que não permite ao contribuinte saber com alguma precisão s sua
situação tributária.

Em suma, sublinhe-se o contributo para a atitude de fuga ao Fisco que resultam da


prática de Amnistia (Amnésia = Esquecimento geral; Amnistia = Esquecimento dos
débitos ou Crimes cometidos) Fiscal; Ou de uma Política de Controlo Fiscal que não
seja eficaz no combate a fuga do Fisco; Ou uma prática de Cobrança Coerciva que deixe
por cobrar grande parte dos Impostos que são devidos.

3.3.2 Modalidades do planeamento fiscal abusivo

3.3.2.1 Comportamento intra legem

Ao adoptar uma conduta intra legem, o contribuinte está a fazer uso dos meios legais ao
seu dispor, neste caso com o objectivo de um menor esforço tributário, isto é, utilizando
regras expressas nas próprias leis tributárias que determinam normas negativas de
tributação.

Neste âmbito, estão contempladas, entre outras, as exclusões tributárias, as deduções


específicas, os abatimentos à matéria colectável, o reporte de prejuízos, as isenções
fiscais, os benefícios fiscais e as zonas francas.
Este procedimento revela-se como um acto lícito, que sustenta uma tomada de decisão
numa base de rentabilidade, o que se traduz num acto de bom senso por parte de quem o
aproveita, já que a poupança fiscal é um direito que assiste a qualquer contribuinte.

Tal direito ao benefício decorre expressamente de uma norma, logo a sua aplicação
traduz um comportamento intra legem.

3.3.2.2 Comportamento extra legem

A elisão fiscal, que configura uma actuação extra legem, conduz a uma poupança fiscal
através da utilização de negócios jurídicos que não estão expressos nas normas
tributárias.

No entanto, não significa por isso que estejamos perante a prática de actos ilícitos ou
anómalos.

De acordo com Shingaki (2010; citado por Silva, 2012), “ A elisão fiscal é definida
como a economia lícita, mediante toda e qualquer operação anterior à concorrência do
facto gerador que, sem violar a lei, evita, reduz ou posterga o imposto.”

Também subscreve o autor Koch (2003, p.116, citado por Silva, 2012) que declara, “A
elisão fiscal hodiernamente tratada como planeamento tributário consiste em praticar
actos legais, sem dissimulação, sem fraude, visando minimizar o imposto a recolher.”

Este tipo de procedimento resulta de um estudo prévio realizado mediante uma análise
cuidada a possíveis omissões na lei, aproveitando essas ocorrências para alcançar
vantagens tributárias, contudo, sem qualquer transgressão à lei, já que esses factos não
surgem referidos nas normas tributárias como proibidos.

Neste contexto, o contribuinte age intencionalmente na procura da minimização da sua


carga fiscal, antes de ocorrer o facto gerador do imposto mas sem pretender violar a lei.

Elisão Fiscal: É um comportamento extra legem que ocorre o contribuinte age


licitamente visando evitar, minimizar ou adiar a ocorrência do próprio facto gerado que
daria origem a obrigação tributária. Isto é, todo procedimento lícito realizado antes da
ocorrência do facto gerador.
As práticas elisivas aproveitam-se frequentemente das lacunas da lei ou disposição
legais deficientemente formuladas. Mas também acontece que muitas vezes se servem
da letra da lei para fins diversos daqueles que o legislador em mente.

O empresário decide-se pelo regime que lhe será fiscalmente e economicamente mais
favorável.

Sem infringir a lei, o contribuinte procura as soluções que melhor se adequam à sua
vontade em pagar menos, obter mais benefícios e cumprir os seus deveres fiscais.

3.3.2.3 Comportamento contra legem

Já não sucede o mesmo nas situações de comportamentos contra legem, ou seja, de


evasão fiscal. Neste caso, a poupança fiscal resulta da prática voluntária de actos
ilícitos, que normalmente são de origem premeditada.

Constitui evasão fiscal a omissão, a ocultação de informação, a deturpação de


documentos fiscais e as manobras artificiosas que apenas têm um único objectivo o não
pagamento ou a apropriação ilícita de impostos.

Evidentemente que estas lesões ao sistema fiscal põem em causa a eficiência económica
e a equidade fiscal e conduzem a uma concorrência desleal, provocando igualmente na
esfera psicológica um sentimento de injustiça por parte de quem é cumpridor e não vê
devidamente punidos os que praticam esses actos, sendo certo que estes estão sujeitos a
sanções criminais e não criminais, de acordo com a gravidade do ato que se encontra
expressas na Legislação.

Evasão e/ou Sonegação Fiscal: É um comportamento contra legem que ocorre quando o
contribuinte se utiliza de meios ilícitos visando eliminar, reduzir em retardar o
reconhecimento de um tributo já devido pela ocorrência do facto gerador.

As práticas Evasivas têm muitas vezes o seu núcleo na facturação (ou documento
equivalente) ou na falta desta. Isto é, Venda ou P. Serv. S/ Factura ou ainda facturação
sem Venda ou P. S.

Exemplo de comportamento contra legem

No tocante às empresas, são enquadradas nomeadamente as seguintes actuações:


- Ocultação de rendimentos

- Utilização abusiva de operações de reestruturação e participações em entidades não


residentes (pode dar origem a manipulação artificial ou transferência de resultados,
eliminação de mais-valias suspensas de tributação ou para evitar a tributação de mais-
valias latentes com utilização de prejuízos fiscais intra-grupo).

- Irregularidades com preços de transferência

- Não entrega de retenção na fonte

- Registo de gastos fictícios

- Fraude carrossel

- Faturas falsas

- Viciação dos registos de facturação em máquinas registadoras e sistemas informático.

Se dois sujeitos passivos acertarem entre si a emissão de uma factura referente a


aquisições de bens ou prestações de serviços sem que tenha ocorrido qualquer género de
transação entre ambas as partes, somente com o propósito de obter uma redução da base
tributável.

Trata-se de um facto designado por emissão de factura falsa que representa uma fraude
fiscal.

3.4 O combate à fraude e à evasão fiscal

Tem vindo a revelar-se elevada a imaginação do ser humano na busca constante de


formas de evitar a tributação, facto que tem levado o legislador a criar normas
antiabuso, no sentido de combater as mentes criativas dos contribuintes.

Num plano estritamente fiscal, mas com grande incidência económica e social, a
principal consequência é a não concretização do princípio da igualdade.

Mas podemos também sublinhar a concorrência falseada; A Actividade Económica é


artificialmente orientada; Os preços das mesmas mercadorias diferem – se; Lucros
diferentes para o mesmo nível de actividade e diferentes possibilidades de
financiamento.

E por último, a degradação da cidadania pois o pagamento de Imposto é a sua primeira


manifestação (cumprimento da lei).

Quando o pagamento do Imposto não é assumido como um dever, todo ambiente social
se degrada.

Referências:

AZEVEDO, Patrícia Anjos, Breves notas sobre o planeamento fiscal, as suas fronteiras e as
medidas anti-abuso, Vida Económica, Porto, 2011;

CREPALDI, Silvio. 2014. Aparecido Planejamento Tributário - Teoria e Prática (Cód:


4068113) Editora Saraiva.

PEREIRA, Manuel Henrique de Freitas, Fiscalidade, 4ª Edição - Edições Almeidas, S.A –


Coimbra, 2011.

SEQUEIRA, Adilson de Jesus Manuel, Planeamento e Gestão Fiscal em Angola, Editora,


Escolar, Editora, Angola, 2014.
GESTÃO FISCAL II

AULA Nº 4: ELABORAÇÃO DO PLANEAMENTO TRIBUTÁRIO

4.1 Passo-a-passo de um planeamento

O planeamento tributário não é apenas a escolha do regime de tributação para a empresa


naquele ano. Ele envolve as estratégias da empresa a curto e médio prazo, além de
envolver outros sectores. Vamos ao passo-a-passo:

1º Passo: Conheça a empresa:

Não há como realizar um planeamento tributário se não conhece as actividades


desenvolvidas pela empresa, seu ciclo financeiro e operacional, sua estrutura de capital
e a os processos envolvendo não apenas o sector operacional, mas o administrativo
também.

2º Passo: Conheça a legislação tributária

Não é necessário ser advogado, mas é imprescindível ter noções de Direito Tributário,
Legislação Tributária, Contabilidade Tributária e Planeamento Tributário. Há livros e
artigos óptimos a respeito. Uma boa pesquisada será de grande auxílio.

3º Passo: Entenda como é o apuramento dos regimes tributários

Após a pesquisa sobre a teoria, verifique através de exemplos e exercício como funciona
o apuramento do Lucro Real, Lucro Presumido, Lucro Arbitrado e Simples Nacional. A
composição da base de cálculo faz toda a diferença na apuramento, desta forma é
preciso compreender cada uma da forma mais completa possível.

4º Passo: Verifique o impacto dos impostos e incentivos fiscais no planeamento.

Há algumas excepções que deverão ser consideradas. Porém, o mais importante é


considerar a economia tributária como um todo, ou seja, não considerando apenas o
Imposto de Renda e a Contribuição Social.

5º Passo: Conheças os planos da empresa a curto e médio prazo

Apesar do regime de tributação poder ser alterado todos os anos, as empresas, em geral,
não o fazem, pois não é apenas os regimes tributários que mudam, mas os processos que
envolvem a apuramento dos tributos também. Por isso, é interessante conhecer as
expectativas da empresa para os próximos anos, se há uma estratégia de expansão e uma
projecção de orçamento e fluxo de caixa.

6º Passo: Crie cenários

Verifique como seria a tributação em cada opção da empresa através de cenários.


Verifique os prós e contras de cada um. Lembre-se que o contador fornece as
informações, mas nem sem é ele quem decidirá o regime tributário e, sim, os gestores da
empresa.
Com isso, você terá uma ideia muito melhor de qual opção seria a mais interessante para
a empresa. Lembrando que a escolha é realizável a cada ano e é irretratável. Ou seja,
após o pagamento da primeira guia ou cota ou da entrega da declaração de rendimentos,
a empresa não pode alterar o seu regime tributário para aquele ano.

Nota: o planeamento tributário deve ser efectuado com ética, transparência e


substância.

4.2 Como fazer o planeamento tributário

O planeamento tributário será iniciado com uma revisão fiscal com os seguintes
procedimentos:

1. Fazer um levantamento histórico da empresa, identificando a origem de todas as


transacções efectuadas, e escolher a acção menos onerosa para os factos futuros;
2. Verificar a ocorrência de todos os factos geradores dos tributos pagos e analisar se
houve cobrança indevida ou recolhimento a maior;
3. Analisar os casos de incentivos fiscais existentes, tais como isenções, redução de
alíquotas.

4.3 O Planeamento Tributário e a gestão empresarial


Desafios da gestão fiscal num ambiente de mudanças. Uma nova era para a Gestão
Tributária Corporativa:

• Maior controlo;
• Ética;
• Responsabilidade;
• Transparência;
• Eficiência.
4.3.1 Gestão empresarial bem-sucedida, implica:

• Maximização das receitas e diminuição dos custos, de forma a aumentar os


lucros;
• Num mundo onde a concorrência empresarial é cada vez mais feroz, faz com
que as empresas sejam pressionadas a procurar a “optimização fiscal”.
• Implementar estratégias mais eficazes para lidar com a carga fiscal;
• Poupança fiscal corresponderá, no âmbito empresarial a um imperativo de
racionalidade económica e de boa gestão.

Referências:

AZEVEDO, Patrícia Anjos, Breves notas sobre o planeamento fiscal, as suas fronteiras e as
medidas anti-abuso, Vida Económica, Porto, 2011;

CREPALDI, Silvio. 2014. Aparecido Planejamento Tributário - Teoria e Prática (Cód:


4068113) Editora Saraiva.

PEREIRA, Manuel Henrique de Freitas, Fiscalidade, 4ª Edição - Edições Almeidas, S.A –


Coimbra, 2011.

SEQUEIRA, Adilson de Jesus Manuel, Planeamento e Gestão Fiscal em Angola, Editora,


Escolar, Editora, Angola, 2014.
GESTÃO FISCAL II

AULA Nº 5: PARAÍSO FISCAL

5.1 Introdução

Um paraíso fiscal, também conhecido por refúgio fiscal, é uma jurisdição (estado
nacional ou região autónoma) onde a lei facilita a aplicação de capitais estrangeiros,
com alíquotas de tributação muito baixas ou nulas.

As empresas e contas bancárias abertas em territórios beneficiários do estatuto de


paraíso fiscal costumam ser chamadas de offshore.

Actualmente, na prática, ocorre a facilidade para aplicação dos capitais que são de
origem desconhecida, protegendo a identidade dos proprietários desse dinheiro, ao
garantirem o sigilo bancário absoluto. São territórios marcados por grandes facilidades
na atribuição de licenças para a abertura de empresas, além de os impostos serem baixos
ou inexistentes. São geralmente avessos à aplicação das normas de direito internacional
que tentam controlar o fenômeno da lavagem de dinheiro.

O termo "paraíso fiscal" vem de um erro de tradução do inglês, "tax haven", que na
verdade significa "refúgio fiscal". Devido à semelhança entre as
palavras haven (refúgio) e heaven (paraíso), surgiu daí o "paraíso fiscal". [1]

5.2 Definição

Existem várias definições de refúgio fiscal. The Economist adotou a definição de


Geoffrey Colin Powell, ex-conselheiro económico da ilha de Jersey: "O que… identifica
uma área como sendo 'refúgio fiscal' é a existência de um conjunto de medidas
estruturais tributárias criadas deliberadamente para tirar vantagem de, e explorar a
demanda mundial de oportunidades para se envolver em evasão tributária". O The
Economist salienta que, por essa definição, várias regiões tradicionalmente
consideradas "refúgios fiscais" ficariam excluídas.

Frequentemente, autoridades de diversos países se deparam com contas "fantasmas",


para onde são canalizados os recursos oriundos de diversos meios ilícitos,
como corrupção político-administrativa e tráfico de drogas.

A legislação dos refúgios fiscais faz de tudo para proteger a identidade dos investidores
e mantê-los no anonimato.

5.3 Significado de Contas Offshore

O significado de contas offshore está habitualmente associado aos chamados paraísos


fiscais. Até porque a tradução do termo inglês é exatamente “afastado da costa”. Na
prática, são contas abertas fora do país de origem, sujeitas a um menor imposto.
Muitas vezes conotadas com questões ilegais, as contas offshore são contas bancárias
permitidas pela legislação. Elas diferem das contas correntes no simples facto de serem
abertas, “afastado da costa”, isto é, fora do país de origem e, por norma, em ilhas.

5.3.1 Contas em paraísos fiscais

Além do âmbito territorial diferente das contas bancárias comuns, são consideradas
contas offshores aquelas que são criadas em paraísos fiscais, normalmente com o
objetivo de serem sujeitas a um sistema tributário mais vantajoso. Nuns casos, com
redução do imposto. Noutros, até com isenção.

Confira a lista de paraísos fiscais, incluindo a lista negra de paraísos fiscais (países que
não colaboram no combate à evasão fiscal).

A ilegalidade em torno das contas offshore prende-se apenas com situações em que os
seus depositários não declarem esses rendimentos no país de origem ou abram as
contas sob anonimato ou utilizando nomes de sociedades fictícias. Em situações
limite, e sem dúvida ilegais, podem ser usadas para a evasão fiscal ou para
branqueamento de capitais.

5.3.1.1 Lista de paraísos fiscais do mundo em 2017

Andorra; Herm, Little Sark, Gibraltar;


Brechou, Jethou e
Anguilha; Lihou); Ilha de Guam;

Antígua e Barbuda; Ilhas Cayman; Guiana;

Antilhas Holandesas; Ilhas Cocos o Keeling; Honduras;

Aruba; Ilhas Cook; Hong Kong;

Ascensão; Costa Rica; Jamaica;

Bahamas; Djibouti; Jordânia;

Bahrain; Dominica; Ilhas de Queshm;

Barbados; Emiratos Árabes Ilha de Kiribati;

Belize; Unidos; Koweit;

Ilhas Bermudas; Ilhas Falkland ou Labuán;


Malvinas;
Bolívia; Líbano;
Ilhas Fiji;
Brunei; Libéria;
Gâmbia;
Ilhas do Canal Liechtenstein;
(Alderney, Guernesey, Grenada;
Jersey, Great Stark, Ilhas Maldivas;
Ilhas Marianas do Porto Rico; Ilha de Tokelau;
Norte;
Quatar; Tonga;
Ilhas Marshall;
Ilhas Salomão; Trinidad e Tobago;
Maurícias;
Samoa Americana; Ilha Tristão da Cunha;
Mónaco;
Samoa Ocidental; Ilhas Turks e Caicos;
Monserrate;
Ilha de Santa Helena; Ilha Tuvalu;
Nauru;
Santa Lúcia; República de Vanuatu;
Ilhas Natal;
São Cristóvão e Nevis; Ilhas Virgens
Ilha de Niue; Britânicas;
São Marino;
Ilha Norfolk; Ilhas Virgens dos
Ilha de São Pedro e Estados Unidos da
Sultanato de Oman; Miguelon; América;
Ilhas do Pacífico não São Vicente e República Árabe do
compreendidas na Grenadinas; Yémen.
restante lista
Seychelles; Esta lista de paraísos
Ilhas Palau; fiscais encontra-se
Suazilândia
Panamá; estipulada na Portaria
Ilhas Svalbard n.º 345-A/2016, de 30
Ilha de Pitcairn; (arquipélago de novembro.
Spitsbergen e ilha
Polinésia Francesa; Bjornoya)

5.3.1.2 Lista negra de paraísos fiscais

A Comissão Europeia possui uma lista negra de praças offshore que não aceitam
divulgar informação sobre clientes bancários tendo em vista o combate à fraude e à
evasão fiscal. Fazem dela parte:

Andorra; Mónaco; Hong Kong;

Ilha de Guernsey; Panamá; Maldivas;

Liechenstein; Brunei; Libéria;

ilhas Maurícias; Ilha Niue; Antigua;

Seychelles; Ilhas Marshall; Barbuda;

Ilha Cook; Ilha Vanuatu; Bahamas;

Ilha Nauru; Anguila; Barbados;


Belize; Granada; Ilhas Turks e Caicos;

Bermuda; Monserrat; Ilhas Virgens.

Ilhas Virgens São Vicente e


Britânicas; Granadinas;

Ilhas Caiman; São Cristóvão e Nevis;

5.4 Vantagens e desvantagens das empresas offshore

A empresa offshore é assim denominada por ser constituída em paraísos fiscais,


originalmente associados às nações localizadas no Caribe. Paraísos Fiscais são países com
regime tributário diferenciado, ou cuja legislação interna não permita acesso a informações
relativas à composição societária de pessoas jurídicas ou à sua titularidade. Tais países
procuram atrair investimentos internacionais, oferecendo condições favoráveis com
propósito de estimular suas economias.

Os paraísos fiscais são geralmente vistos com preconceito pelas pessoas e até mesmo pelos
governos de outros países que lhes aplicam rigorosos controlos e repressão. Os paraísos
fiscais surgiram por um conjunto de factores, atrelados à globalização, a escassez de fontes
de renda alternativas de tais países e a excessiva tributação e regulação nos países-sede das
empresas que buscam os paraísos para a abertura de offshores.

Os ordenamentos fiscais que isentam certos factos que deveriam normalmente tributar, de
harmonia com os princípios gerais comumente aceites, ou os tributam a taxa anormalmente
baixa, via de regra para atrair capitais estrangeiros, são considerados refúgios, oásis ou
paraísos fiscais. Todos têm em comum legislação para constituição de sociedades,
financeiramente flexíveis, sigilo bancário e profissional quase sempre muito rígido,
liberdade câmbial absoluta, além de eficientes sistemas financeiros e de comunicações e
estabilidade política e social.

5.4.1 Vantagens das empresas em offshore

Deste modo, apontaremos a seguir as vantagens acerca da constituição de offshore, que


serão divididas nos seguintes tópicos (i) o aumento da protecção patrimonial dos
empresários; (ii) gozo de benefícios tributários; (iii) facilidade de acesso a créditos
internacionais; (iv) expansão de empresas brasileiras no exterior; e (v) desvantagens
da offshore.

(i) Aumento da protecção patrimonial de empresários

Blindagem patrimonial é maneira lícita com o objectivo de garantir e preservar o património


da pessoa ou empresa por meio de estrutura jurídica. Tal protecção patrimonial não
objectiva burlar a receita ou fraudar credores, mas sim fornecer aos accionistas ou quotistas
responsabilidade limitada ao valor a ele conferido no capital social da sociedade, não pondo
em risco seu património pessoal independentemente do que possa com o negócio ocorrer.

O empresário deve pagar os impostos e dívidas, porém caso haja crise, os bens adquiridos
até o momento não serão perdidos. No mais, a protecção patrimonial impede que uma
empresa, sujeita a um mercado acirrado e ao fisco, não dê ao sócio prejuízos incalculáveis
somente pela ousadia de empreender.

A blindagem patrimonial feita por uma limitada no exterior pode ser realizada em menos de
um mês, diferente de blindagem feita nalguns países. Por exemplo, no Brasil, a blindagem
patrimonial é sujeita às leis locais, sendo apenas blindagem parcial.

(ii) Gozo de benefícios tributários

Planeamento tributário é a forma de reduzir os impostos pagos por uma empresa para que
ela possa auferir resultados positivos. Constitui-se em uma ferramenta essencial para obter a
economia de impostos e visa facilitar, de forma lícita a redução e impostos, no intuito de
melhorar os negócios, de maneira inteligente e eficaz visando à continuidade dos
empreendimentos, manutenção de empregos e a dignidade humana.

Sendo assim, temos o planeamento tributário como uma ferramenta importante para a
tomada de decisões de uma sociedade, pois este tem como objectivo a economia de tributos
buscando, reduzir, eliminar ou até mesmo retardar licitamente o pagamento de tributos.

Tal que a busca pela economia financeira não é novidade, e as offshore representam
mecanismo para isso de maneira internacional, motivo pela qual as offshore vêm adquirindo
notoriedade e garantindo o êxito económico de organizações, sem que distâncias territoriais
tornem-se obstáculos para o comércio internacional.

Devido à alta carga tributária do país, o número de empresas estabelecidas em países


estrangeiros tem crescido, resultando em maior competitividade económica internacional.
Assim, o interesse das organizações e até mesmo de pessoas físicas residem na redução de
custos, maiores investimentos, estabilidade económica, mais qualidade, segurança e sigilo,
liberdade de cambio, diminuição ou isenção dos tributos, financiamentos a juros menores,
faz com que se torne necessário um planeamento de suas actividades e utilização
das offshore localizadas em jurisdições com tributação favorecida sendo estratégia viável
para controlar as sociedades em âmbito internacional.

Assim, é possível observar em SILVA (1998, pág. 23)[2] a viabilidade do uso de offshores:

“O paraíso fiscal adequadamente montado traduz-se em um instrumento imprescindível,


para aqueles que investem, prestam serviços, ou mantém actividades comerciais de nível
internacional que envolva várias jurisdições, via de regra com sistemas jurídicos
tributários distintos”.

Tais zonas privilegiadas são conhecidas como paraísos fiscais, e para as empresas
constituídas nelas convencionou-se o nome em inglês de offshore. São empresas
constituídas em paraísos fiscais com o objectivo de pagar menores impostos ou isentar-se
deles. São constituídas de acordo com uma jurisdição e apenas podem desenvolver suas
actividades em outra jurisdição.

(iii) Facilidade de acesso a créditos internacionais

Algumas pessoas físicas e jurídicas usam empresas offshore como instrumento a fim de
administrar suas carteiras de investimento, incluindo aplicações em valores mobiliários,
títulos governamentais, depósitos em pecúnia e outros produtos. Depósitos bancários de
empresas offshore podem oferecer juros maiores, por vezes sem imposto retido na fonte, ou
ainda podem ser aplicados em fundos de investimento coletivos.

A offshore que ofereça garantias (i. E. De créditos de exportações), eventualmente obterá


acesso a financiamentos no exterior, a juros e condições melhores do que obteria a
controladora, com sede numa jurisdição como a Brasileira, considerada de alto risco.

(iv) Expansão de empresas no exterior

Muitos países também exigem excessivas burocracias para a constituição o de empresas,


que acabam resultando em elevados custos e extrema morosidade para sua constituição o, o
que acaba sendo um ponto relevante na hora de se decidir sobre a expansão internacional de
uma empresa.

Com a expansão do comércio internacional, chegaram ao fim as barreiras que impediam os


Estados de utilizarem de suas opções negociais em âmbito fiscal. Desta feita, as relações
internacionais vêm ganhando papel de destaque no desenvolvimento da economia nacional
e em diversas espalhadas pelo mundo.

As empresas têm criado filiais em diversos países em busca de mercados de expansão e


lucratividade e no que se refere a temas fiscais, como forma de isenções e sigilo das
informações. Na visão de Polak (2007):

“A terceira revolução industrial determinou inúmeras transformações nos planos


institucionais da sociedade. O Fato, no entanto, é que as forças sociais hegemónicas para a
terceira revolução industrial efectivamente transformaram o direito posto pelo Estado e o
próprio Estado. E tal é a grandeza daquela multiplicação e daquele exacerbamento que
chega ao ponto de importar a atribuição de um novo nome, globalização. Ao processo de
internacionalização económica cuja pratica remota ao passado histórico. Ainda assim, a
mudança não é apenas quantitativa. Pelo contrário, ela induz a reformulação de valores e
conceitos.” (p. 1)

Sendo assim, a globalização foi um factor determinante para e expansão do comércio


internacional, por aumentar a concorrência e o interesse das companhias a buscarem a
redução de custos.

Deste modo, as empresas offshore vêm conquistando destaque e garantindo o sucesso


económico das organizações, sem que distâncias territoriais sejam obstáculos para o
comércio internacional. Assim, acrescenta Corrêa e Lima (2007):

“A opção por uma estratégia de inserção em mercados internacionais deve levar em conta
os objectivos das empresas, além de dimensões estratégicas em relação a recursos e
capacidades das mesmas, mas o fato é que actuar em vários mercados aumenta a
capacidade de sobrevivência em face das dificuldades impostas pelo ambiente altamente
competitivo da actualidade.” (p. 15).

A internacionalização das empresas objectiva a competitividade com investimentos no


exterior, como unidades produtivas ou operações comerciais fora do país de origem. Esse
meio de internacionalização traz um retorno indiscutível, através de avanços tecnológicos,
queda de preços, maximização dos lucros, aperfeiçoamento de produtos, modernização das
empresas, melhores custos.

5.4.2 As desvantagens das empresas offshore

Apesar das diversas vantagens nas operações envolvendo a actividade de offshore como o
melhor aproveitamento da oferta mundial de mão de obra e as melhores alternativas de
reestruturação das empresas, as offshores também possuem desvantagens.

Tendo em vista de se tratarem de longas cadeias de suprimento, são frágeis às bruscas


alterações políticas e ambientais, fazendo com que tais empresas sejam obrigadas a utilizar
grandes lotes e estoques a alto fluxo de custo. Assim, as empresas constituídas
sob offshore possuem menor flexibilidade para se adaptarem as fortes mudanças de
mercado.

Não obstante, os custos relativos à instalação de uma unidade offshore são bastante elevados
e, no que se refere aos postos de trabalho, podem ser consideradas em certa medida como
ameaças aos postos de trabalhos dos países em que a empresa estava instalada antes do
processo de internacionalização.

Outros pontos a serem considerados dentre às desvantagens de uma offshore partem ainda
do próprio processo de internacionalização. Considerando a distância entre os parceiros
comerciais, a organização dos procedimentos, o elevado risco à propriedade intelectual, as
diferenças culturais, sistemas jurídicos ou mesmo valores diferentes do país de origem e do
país da offshore, devem ser ponderados minuciosamente por aqueles que se interessam por
esta forma de actividade económica.

Por fim, é importante destacar que alguns governos (como é o caso do governo do Reino
Unido, da Alemanha e da Rússia) têm optado por colocar na mira de sua fiscalização as
empresas offshores a fim de atribuir-lhes penalidades relativas à prática de evasão fiscal. As
medidas são justificadas em parte pela falta de transparência nos lucros obtidos pelas
empresas, na dificuldade em determinar quem são seus proprietários e a prática de fraudes
que tais condições podem viabilizar.

5.5 Paraísos Fiscais: Liame entre planeamento e evasão fiscal

As elevadas cargas tributárias, destinadas a trazer qualidade de vida à população das


sociedades modernas, podem prejudicar a ampliação das actividades económicas.
Empresários tentam reduzir o custo das transacções para competir no mercado global
“Se o que você faz é engraçado, não é necessário ser engraçado para fazê-lo”. (Charles
Chaplin)

Além de uma ínfima incidência de tributação nos países situados em paraísos fiscais,
oferecem sigilo fiscal e bancário, criação de sociedades com titularidade garantida por meio
de acções ao portador, liberdade cambial e outras facilidades. Esses atractivos levam outros
países a criar mecanismos para inibição da fuga de recursos e controlar a elisão fiscal.

As condições disponibilizadas nos paraísos viabilizam a movimentação dos recursos


provenientes de práticas criminosas.

Contudo, focar somente esse prisma encobre aspectos lícitos indispensáveis à


internacionalização das actividades económicas. Deve-se analisar a legalidade e a
constitucionalidade do planeamento tributário em paraísos fiscais e conciliar as regras
internacionais referentes à movimentação de recursos financeiros entre nações.

Não existe um conceito fechado e objectivo, hábil para caracterizar um paraíso fiscal. As
doutrinas nacional e internacional divergem e os critérios são imprecisos. Paraísos fiscais são
utilizados por pessoas físicas e jurídicas com interesses particulares.

Sedes de bancos, seguradoras, holdings e hotéis situam-se em países de tributação mínima,


sem com isso afrontarem normas administrativas, cíveis ou penais relativas aos países que
transaccionam. Há países considerados paraísos fiscais só para determinadas actividades, v.g.,
USA e Uruguai, para Offshore e Holanda, para Holding.

A ilicitude nos paraísos fiscais manifesta-se basicamente através da sonegação, da lavagem de


dinheiro e da ocultação de valores com origem no desvio de recursos públicos. Contudo, há
práticas supostamente derivadas de planeamento fiscal, que também constituem crimes e são
punidas com rigor pela lei.

Em razão de paraísos fiscais servirem ao planeamento fiscal é interessante explicitar alguns


aspectos positivos e negativos. Embora esses países possam proporcionar lícitos meios de
elisão, há facetas prejudiciais à realidade económica e jurídica internacional.

Entre as principais razões da demanda pelos paraísos fiscais está a garantia de segredo ao
depositante em instituições financeiras e a criação de sociedades de acções ao portador com o
fim de ocultar patrimónios ou movimentações financeiras.

Critica-se o ordenamento jurídico desses países de baixa tributação por haver proibições à
troca de informações relativas à movimentação de recursos financeiros. Não é elogiável a
estreita relação com a evasão fiscal. Falece o planeamento tributário (elisão fiscal) no exacto
momento em que o contribuinte, directa ou indirectamente, desrespeita as regras tributárias.

A facilidade de realizar transacções internacionais em paraísos fiscais é inegável. A


multiplicidade de instituições bancárias e a redução da burocracia para a conclusão de
negócios tornam essas jurisdições sedutoras. O foco da arrecadação desses países não é o
património ou a renda do contribuinte, mas está em atrair investimentos que geram
crescimento económico e condições melhores de vida para a população.
A existência dos paraísos fiscais força a reflexão sobre o modelo fiscal entre nós vigente, que
beira o confisco. A administração tributária aperfeiçoou-se em combater o uso abusivo e
ilícito dos paraísos fiscais. Isso não vai contra a utilização de países de tributação mitigada
por intermédio de operações lícitas e do conhecimento do fisco.

A desmitificação de paraísos fiscais, como locais adequados a práticas ilícitas, requer


compreensão novel, sem olvidar de que as condutas ilícitas não só podem como devem ser
combatidas com firmeza e destreza, para que haja transparência e credibilidade nos
negócios efetuados desse modo.

Referências

SILVA, R. F. Paraísos fiscais. São Paulo: Rumo Gráfica, 1998.

ALEM, A. C.; CAVALCANTI, C. E.. O BNDES e o apoio à internacionalização das empresas


brasileiras: algumas reflexões. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v.12, n. 24, p. 43-73, dez. 2005.

PENTEADO, C. C. Empresas offshore: Uruguai, Cayman, Ilhas Virgens Britânicas. São Paulo:
Pillares, 2007.

POLAK, S.Constituiçãoo de companhias offshore, 2007.

CORRÊA, D.; LIMA, G. T. Internacionalização produtiva de empresas brasileiras: caracterização


geral e indicadores. Informações Fipe. [S. I.], n. 319, p.15-18, abr. 2007.
GESTÃO FISCAL II

AULANº 6: CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA

6.1 Conceitos, Funções e Actividades


A contabilidade tributária é o ramo da contabilidade que tem a responsabilidade de gerir os
tributos incidentes nas distintas actividades de uma empresa, adaptando-se ao dia-a-dia
empresarial as obrigações tributárias, de maneira a não expor a empresa às possíveis sanções
fiscais e legais.

“O ramo da Contabilidade que tem por objectivo aplicar na prática conceitos, princípios e
normas básicas da contabilidade e da legislação tributária, de forma simultânea e adequada.”

A contabilidade tributária tem como objectivo apurar com exactidão o resultado económico
do exercício social, demonstrar de forma clara e sintética os resultados económicos, conforme
a legislação tributária vigente, obedecendo aos prazos estabelecidos.

Conhecer os objectivos da contabilidade tributária é essencial para o contabilista, pois só


então ele poderá elaborar os procedimentos a serem adoptados pela equipa de contabilidade
para atingir os objectivos e as metas traçadas.

6.2 Principais objectivos da contabilidade tributária

- Apurar com exactidão o resultado tributável, ou o lucro real – de determinado exercício


fiscal, com base na legislação pertinente, para cálculo e formação das provisões contáveis
destinadas ao pagamento dos tributos incidentes sobre o lucro da entidade;

- O registo contabilístico das provisões relativas aos tributos a recolher, em obediência


aos Princípios Fundamentais de Contabilidade, pois como parte integrante do sistema de
informações da empresa, a Contabilidade Tributária tem a responsabilidade de informar,
correcta e oportunamente, o valor das diversas provisões para recolhimento dos tributos, de
acordo com o princípio contabilístico da competência de exercícios;

- Escrituração dos documentos fiscais em livros fiscais próprios ou registos auxiliares,


para apurar e determinar o montante do tributo a ser recolhido dentro do prazo após
encerramento do período de apuramento;

- Preenchimento de guias de recolhimento, informação ao Sector Financeiro e de contas


a Pagar da entidade sobre o valor e os prazos de recolhimento, além de emitir e
providenciar a entrega aos respectivos órgãos competentes dos formulários estabelecidos pela
legislação pertinente;

- Orientação fiscal para todas as unidades da empresa (filiais, fábricas, departamentos) ou


das sociedades coligadas e controladas. A correcta orientação fiscal e tributária para as demais
unidades ou empresas pode representar relevantes economias com os impostos. Ex: o local da
instalação da fábrica ou mesmo do local de origem de determinadas matérias-primas, pode
significar menor carga tributária;

6.3 Os Contabilistas e a Gestão Tributária da Empresa

Partindo do pressuposto que a contabilidade é uma ciência que estuda e interpreta os registos
dos fenómenos que afectam o património da empresa tem-se a sua importância na gestão da
empresa e em especial a tributária.

Tendo em vista uma carga tributária elevada, ao emaranhado e o volume de normas legais que
tratam da questão fiscal e tributária, o profissional da contabilidade tem fundamental
importância em sua gestão. Daí a necessidade de o contabilista estar constantemente
actualizado e ser conhecedor profundo da legislação vigente. Inclusive, porque eventuais
falhas por ele cometidas resultam, invariavelmente, em ónus para as entidades por ele
atendidas.

O Contabilista responderá civil, pecuniária e criminalmente pelos seus actos profissionais.

Caracteriza crime, para todos os efeitos legais e judiciais, a elaboração e assinatura de


qualquer documento e/ou demonstração contabilística com informações não verídicas,
tendenciosas, ou preparadas de má-fé.

6.4 Perfil e Responsabilidades do Contabilista

• Deve conhecer os vários tributos que incidem sobre as actividades da empresa para a
qual trabalha.
• Deve sempre verificar quais os dispositivos da legislação tributária são pertinentes a
essas actividades.
• Deve ter muito cuidado na interpretação das leis que contribuem para uma boa gestão
tributária.
• Suprir as necessidades da empresa, baseando-se na lei.
• É necessário que o contabilista faça uma constante actualização, reciclando-se em
cursos que ofereçam as actualizações do mercado e a legislação, contribuindo para a
elaboração do planeamento tributário.
• O contabilista para auxiliar a empresa no planeamento deve manter os registos
contabilísticos actualizados e conhecer as leis tributárias, realizando o estudo dos
encargos e obrigações que a empresa possui, auxiliando o gestor da empresa a planear
com responsabilidade.
• A actuação do planeamento é para economizar evitando a evasão fiscal, que além de
ser considerado um acto ilícito, lesa o fisco de forma deliberada ou por negligência,
por isso, cabe ao contador a devida correcção de escrituração fiscal, evitando a
ocultação do facto gerador.
6.5 Actividades e Funções

• Apuramento do resultado tributável.


• Provisão dos tributos a recolher.
• Escrituração dos documentos fiscais em livros próprios ou registos auxiliares.
• Comprovação de quitação junto aos órgãos competentes.
• Orientação fiscal.
• Interacção com órgãos públicos.
• Planeamento tributário…

Referência:

Oliveira, Gustavo Pedro de. 2013. Contabilidade Tributária - 4ª Ed. (Cód: 4914214)-Editora Saraiva.

Você também pode gostar