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1.

INTRODUÇÃO

A coqueluche é uma doença respiratória comum altamente infecciosa e


grave que afeta predominantemente bebês e crianças pequenas. O agente
causador é a Bordetella pertussis, que é transmitido através das secreções
respiratórias de um indivíduo infectado para o trato respiratório de um novo
hospedeiro humano. O alcance populacional é elevado: apenas nos EUA
são registrados cerca de 5000 novos casos a cada ano. Os casos mais
graves ocorrem geralmente em crianças menores de 1 ano de idade, com
índices expressivos de mortalidade entre lactentes menores de 6 meses de
idade. A infecção resulta em imunidade por tempo prolongado à doença,
mas pode não prevenir contra uma infecção subsequente. Não há
evidências de um portador crônico. Embora a Bordetella pertussis seja
suscetível à maioria dos antibióticos, estes não são eficientes no
tratamento, principalmente porque quando o quadro é diagnosticado, a
bactéria já causou danos ao trato respiratório.

1.1. CLASSIFICAÇÃO E METABOLISMO

O gênero Bordetella é constituído de cocobacilos Gram-negativos


delicados. Eles são aeróbios obrigatórios (necessitam de oxigênio livre para
a respiração) e não fermentam carboidratos como a glicose. Englobam 3
espécies: Bordetella pertussis, Bordetella parapertussis (causa infecção respiratória
semelhante à coqueluche; entretanto, o paciente não apresenta o quadro de
tosse paroxística), Bordetella bronchiseptica (é uma bactéria primariamente
patogênica para animais -coelho, cobaia, rato, porco, cachorro e outros-
sendo suas infecções frequentemente epidêmicas. Raramente causa
infecção no homem).

1.2. CARACTERÍSTICAS CULTURAIS

A Bordetella pertussis cresce somente em meios especiais contendo


sangue. Ela sofre mutações de vários tipos, quando submetida a culturas
sucessivas no laboratório. Estas mutações, que aliás são frequentes,
determinam alterações profundas na estrutura,metabolismo e virulência da
bactéria. Dependendo da existência e do grau dessas alterações,ela pode
se apresentar em 4 fases: na fase 1, característica da fase recém-isolada, a
bactéria é portadora de todas as suas estruturas, produz seus fatores de
virulência e é bastante exigentecom relação aos seus requerimentos
nutritivos. Na fase 4, deixa de apresentar muita de suas estruturas, é
praticamente avirulenta e não apresenta exigências nutritivas. As fases 2 e
3 são intermediárias com relação a essas características. Somente as
culturas de Bordetella pertussis, em fase 1, devem ser utilizadas no preparo de
vacinas.

2. EPIDEMIOLOGIA
A coqueluche é considerada uma síndrome que pode ser causada por
vários agentes, mas apenas a Bordetella pertussis está associada com as
coqueluches endêmica e epidêmica e com o cortejo de complicações e de
mortes em humanos.Os humanos (mucosa respiratória) são os hospedeiros
da Bordetella pertussis e da Bordetella parapertussis. O grupo de maior risco é o
das crianças com menos de seis meses de idade cujo calendário de
vacinação ainda não está completo, mas qualquer pessoa pode ser
suscetível,com exceção daquelas que já foram vacinadas ou aquelas que já
adquiriram a doença.
A transmissão se dá, principalmente, pelo contato direto de pessoa
doente com pessoa suscetível, através de gotículas de secreção da
orofaringe eliminadas por tosse, espirro ou ao falar. Em menor incidência,
pode ocorrer por transmissão por objetos recentemente contaminados com
secreções do doente.
Considera-se que o período de transmissão se entende de sete dias
após o contato com o doente – fase catarral – até três semanas após o
inicio dos acessos de tosse típicos da doença –fase paroxística – caso não
haja uso de terapia com antibióticos. A maior transmissibilidade da doença
ocorre na fase catarral (inicio da doença, logo após o período de
incubação).
A coqueluche é muito comum em muitos países em desenvolvimento.
No Brasil, a morbidade da coqueluche já foi elevada. Na década de 1980,
foram notificados mais de 40mil casos anuais, e o coeficiente de incidência
era superior a 30/100.000 habitantes. A partir de 1983 houve uma queda
acentuada da incidência e, desde então, uma tendência decrescente em
relação a estes números, mantendo-se um coeficiente de incidência em
torno de 1/100.000habitantes.

3. MORFOLOGIA E COLORAÇÃO

A bactéria Bordetella pertussis é considerada uma bactéria pequena, com


aproximadamente 0,8 por 0,4 micrômetros. É um cocobacilo encapsulado e
não produz esporos. Arranja-se isoladamente ou em grupos pequenos e
não é distinguida facilmente da espécie haemophilus.
Essa bactéria possui várias proteínas de membrana, algumas com
função de aderência na célula hospedeira, outras de antígenos de superfície
e muitas ainda com funções desconhecidas.
A coloração utilizada para o estudo microscópico dessas bactérias, é o
método de Gram,que consiste, essencialmente, no tratamento sucessivo do
esfregaço bacteriano, fixado pelo calor, utilizando cristal violeta, lugol, álcool
e fucsina como reagentes. Utilizando essa coloração, podemos constatar
que a bactéria Bordetella pertussis trata-se de uma bactéria Gram negativa,
apresentando-se avermelhada após tal tratamento.

4. CONDIÇÕES DE CULTIVO
Bordetella pertussis tem sido isolada somente do trato respiratório humano. Elas
têm crescimento lento e se duplicam somente uma vez a cada 4 horas, sob
condições ótimas. Elas podem ter dificuldade pra obter crescimento
logarítmico, sugerindo que sob condições semelhantes somente um sub-
sistema da bactéria sofre replicação, até mesmo se a densidade da cultura
é aumentada. Bordetella pertussis é sensível a ácidos gordurosos, e Dacron
swabs,em vez de algodão, são usados para transferir a bactéria. Bordet-
Gengou Agar é o meio decrescimento mais comumente usado para cultivo
em laboratório. O meio base contém infusão de batata, cloreto de sódio e
glicerol, e pode ser complementado com caseína ou peptona digerida.
Depois de autoclavado, 15% de sangue desfibrinado estéril (normalmente
sangue de ovelha) é adicionado ao Agar resfriado. Uma vantagem para o
uso de Agar Bordet-Gengou éque é permitida a visualização de hemólise,
que é mediada pela toxina Adenil Ciclase, uma proteína que só é
expressada quando a bactéria está em estado virulento. Muitos laboratórios
clínicos usam Regan- Lowe charcoal Agar para cultivar B. pertussis de uma
amostra clínica apropriada. O meio Regan-lowe tem maior tempo de uso
que Bordet-Gengou,o que é importante visto que geralmente pertussis é
esporádica e é caro manter constante o estoque do meio que somente é
adequado para o cultivo dela. Colônias de B. pertussis podem ser identificadas
em qualquer um dos dois meios como pequenas colônias cinza que podem levar 7
dias para se desenvolver. As colônias tem um aspecto de “ gotinhade
mercúrio”, ou de “pérola” num campo dissecado. Elas são oxidase positivas
e não crescem em Agar chocolate.

5. PATOGENICIDADE (Fatores de Virulência)

Esta é uma representação esquemática das principais etapas e dos


fatores envolvidos na patogênese da coqueluche, ocasionada pela bactéria
Bordetella pertussis que serão melhor explicados na apresentação.
6. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

Diversos métodos de diagnóstico são descritos para a confirmação laboratorial de


Bordetella:

Isolamento de Bordetella pertussis - cultura: é o método mais empregado para a


confirmação laboratorial e está padronizado. Há mais sucesso durante a
fase catarral. Deve ser feito através de cultura de material colhido
(secreções de nasofaringe, colhida da faringe posterior). O melhor método
para isolamento de Bordetella está em ágar médio de Bordet-Gengou ou
médio de Regan-Lowe. Para melhorar a probabilidade de sucesso,
diferentemente dos procedimentos utilizados para coleta de material por
"swab" (cotonete com algodão), a amostra deve ser colhida com bastão
especial, cuja ponta é coberta por dácron ou de alginatode cálcio, isto
porque o algodão interfere no crescimento da Bordetella pertussis. A seguir, deve
ser transportada para os meios de cultura especiais (Regan-Lowe ou
Bordet-Gengou),contendo sangue. Deve estar incubada a 35-36°C, com
oxigênio e suficiente umidade. O isolamento pode ser obtido em média após
3-4 dias de incubação e as colônias observadas são minúsculas,
acinzentadas. O crescimento (que é lento), em condições ideais, consegue-
se em torno de 60 a 76% das vezes.O segundo método para identificação da B.
pertussis é a técnica de DFA (direct fluorescent antibody), teste direto para anticorpos
fluorescentes em secreção naso faríngea. Tem baixa sensibilidade e especificidade
variável, não sendo usado como critério de confirmação laboratorial.
Técnicas imunológicas também podem ser empregadas, mas a
sorologia deve ser reservada para diagnósticos mais tardios ou
levantamentos epidemiológicos. Anticorpos circulantes no sangue aparecem
na 3ª semana da doença e há um pico entre a 8ª e 10ª semana.Uma
evidência de infecção natural é quando são detectadas específicas Ig A.
Testes sorológicos de anticorpos aglutinantes, Elisa, têm sido, há muito
tempo, usados para coqueluche. Porém, além de não haver uma
padronização, apresentam limitação por sua variação na sensibilidade,
especificidade e reprodutibilidade. O DNA da Bordetella pode ser detectado
através de PCR, técnica de reação em cadeia de polimerase. É rápido e
possui alta sensibilidade. Pode ser realizado desde que acompanhado da
cultura. Em nosso meio, essa técnica não está implantada na rotina, só está
disponível em certos laboratórios e não é padronizado.
Outros Métodos Laboratoriais: neutralização da toxina, detecção do antígeno
pelo método com anticorpos monoclonais e método da adenilatociclase: têm alta
sensibilidade e especificidade, porém não foram padronizados. São aplicáveis ao
diagnóstico de fase aguda.
O hemograma pode evidenciar, nas primeiras semanas de doença,
leucocitose (20.000- 50.000 céls./mm3). Há linfocitose absoluta e
característica no final da fase catarral e paroxística. Mas, pode não ocorrer
leucocitose em crianças ou em casos leves, por exemplo.
Velocidade de Hemossedimentação (VHS): A coqueluche oferece uma
condição singular, apresenta VHS normal ou diminuída, embora seja de
origem infecciosa, o que permite distingui-la dos demais processos catarrais
das vias respiratórias, nos quais a VHS se encontra, em geral, acelerada.

Exames Radiológicos: recomenda-se a realização de RX de tórax em


menores de 4 anos, para auxiliar no diagnóstico diferencial e/ou presença de
complicações.

7. DIAGNÓSTICO CLÍNICO (Sintomas)

O diagnóstico clínico da infecção por Bordetella pertussis, causadora da


coqueluche, é baseado em sintomas bastante característicos da doença. É
uma infecção respiratória aguda marcada por episódios de tosse severa e
espasmódica, que pioram a noite, também apresentando um quadro de
leucocitose. A doença pode apresentar complicações graves como
broncopneumonia e encefalopatia aguda, com quadros de convulsão que
podem levar a morte.
Após um período de incubação, assintomática, de uma a duas
semanas inicia-se a fase catarral, quando a bactéria já se proliferou nos
pulmões e começa a tacar toda a árvore respiratória. Essa fase dura de
uma a duas semanas e é usualmente caracterizada por febre baixa, mal
estar, coriza e tosse progressiva, com secreção clara e viscosa, lembrando
os sintomas da gripe. É uma fase altamente contagiosa. O doente espirra
com frequência, perde o apetite e aparenta cansaço, rosto fica avermelhado
e os olhos lacrimejantes.
A fase subsequente é a paroxística, que dura de duas a quatro
semanas, caracterizada pelos episódios de tosse severa e espasmódica,
podendo ou não ser acompanhada de vômitos.O paciente apresenta
congestão facial e sensação de asfixia. No pico dessa fase, o nível total de
leucócitos no sangue pode atingir níveis parecidos com os obtidos em casos
de leucemia (>100,000/mm3).
A fase convalescente, que dura de uma a três semanas, é
caracterizada por um contínuo declínio da tosse antes que o paciente volte
ao normal. É nesse período que podem ocorrer as complicações já citadas.
Alguns indivíduos podem apresentar formas atípicas da doença, por
não estarem adequadamente imunizados, fugindo dos sintomas clássicos.
Lactentes jovens constituem o grupo de mais propenso a apresentar formas
graves, muitas vezes letais. Além das já citadas, existem outras
complicações da doença como ativação de tuberculose latente,
enfisema,ruptura de diafragma, otite, hemorragias intra-cerebral e sub-dural,
surdez, entre outros.

8. TRATAMENTO

O tratamento varia tanto em relação à gravidade da doença quanto no


que concerne à idade do paciente. Em situações em que a coqueluche se
apresenta de forma a exibir um quadro clínico mais comprometedor ou de
forma já complicada com outras morbidades, e em situações em que se
trata de um paciente menor de seis meses de idade, a internação é
recomendável. Em âmbito hospitalar, todas as medidas necessárias para
que seja possível evitar consequências mais sérias da doença, como
desnutrição e infecções secundárias, devem ser instituídas com rigor e
vigilância constante.
Especificamente, para o tratamento da coqueluche, devem ser
utilizados antimicrobianos, mesmo que seu uso seja controverso devido às
diversas condições: na coqueluche grave, a antibioticoterapia parece não
funcionar tão eficazmente in vivo quanto in vitro; o período catarral é o único em
que uma melhora clínica pode ser evidente com o uso de medicações que
combatem a bactéria; no período paroxístico, os antimicrobianos não
parecem exibir qualquer traço de melhora na evolução da doença. Uma das
melhores justificativas para o uso de antibióticos para o tratamento da
coqueluche, apesar de alguns argumentos, é o de impedir a infectividade do
paciente acometido.
O antibiótico de escolha é a eritromicina, pertencente à categoria dos
Macrolídeos, produzida pelo Streptomyces erytreus. Indivíduos comunicantes
íntimos de pacientes com coqueluche devem receber profilaxia com
eritromicina e uma dose de vacina como reforço.

9. PREVENÇÃO

No Brasil, a imunização contra a coqueluche deve ser feita em toda


criança com 2, 4 e6 meses de idade e, aos 15 meses de idade, realiza-se
uma Quarta dose de reforço. Esta vacinaé conjugada a duas outras, contra
Tétano e Difteria, recebendo então o nome de DPT(Difteria, pertussis e Tétano
Tríplice Bacteriana).
Há dois tipos de vacinas: DPT e DPTa. Ambas são compostas por
Toxoide Tetânico (vacina anti-tetânica) e Toxoide Diftérico (vacina anti-
Difteria). A DPT contém a vacina contra pertussis, cuja bactéria está inteira e
que dá uma maior incidência de efeitos colaterais de moderados a graves,
ou seja, dor e inchaço no local da injeção, febre alta e irritabilidade,que
pode ser muito intensa, semelhante a sintomas de encefalite. Embora não
haja comprovação científica quanto à encefalite associada à vacina DPT, as
estatísticas em saúde pública demonstram seus sintomas parecidos com
encefalite, muitas vezes exigindo exames invasivos, como coleta de líquido
cefalorraquidiano e tratamento hospitalar. Consequentemente, em 1993,
houve uma grande epidemia de Coqueluche, relatada nos Estados Unidos.
Foi desenvolvida então, a partir de 1993, a DPTa (acelular), que
contém apenas alguns componentes da bactéria, que garantem a mesma
proteção que a DPT, porém, com menor intensidade das reações adversas
vacinais.

10. BIBLIOGRAFIA
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 http://www.worldwidevaccines.com/pertussis_sp/bacteria.asp
 http://www.pomerode.vicofarma.com.br

Resumo

A coqueluche ou tosse espasmódica é uma doença imunoprevenível, de grande importância na


infância, em que pode ocorrer complicações graves, inclusive óbito. A coqueluche é
considerada um importante problema de saúde pública nos países desenvolvidos, onde, a
despeito das altas coberturas vacinais, a doença tem reaparecido em todas as idades. Essa
situação suscitou a indicação de um reforço com a vacina tríplice acelular em adolescentes e
adultos nestes países. No Brasil, não há dados que comprovem a emergência da coqueluche
nestas faixas etárias; no entanto, esta coorte de suscetíveis pouco sintomáticos pode ser a
fonte de infecção para crianças menores de 2 meses de idade ou para os incompletamente
vacinados.

Palavras-chave: coqueluche; vacina tríplice bacteriana; DTP.

Abstract

Pertussis or whooping cough is a preventable disease in infancy in which severe complications


can occur including death. Pertussis is considered an important public health problem in
developed countries where, regardless high vaccine coverge, the disease is resurging in all age
groups. This observation suggested the use of an acellular vaccine in adolescents and adults in
these countries. In Brazil, there is no evidence of pertussis resurgence in these age groups,
otherwise, this coorte of susceptible and mild sintomatic patients can transmit the disease for
infants younger than 2 months or that with a not complete vaccine schedule.

Key words: whooping cough; pertussis vaccine; DTP.

Introdução

A coqueluche, tosse comprida ou tosse espasmódica, é uma doença infecciosa aguda,


endêmica e altamente transmissível que se caracteriza por paroxismos de tosse seca. É uma
doença respiratória imunoprevenível de notificação compulsória nacional. A faixa etária mais
acometida é a menor de 1 ano de idade, os não-vacinados ou incompletamente vacinados, que
tendem a apresentar quadros de maior gravidade e complicações.

A doença pode apresentar variações cíclicas em sua incidência e as epidemias ocorrem a cada
3 a 5 anos1,2. A coqueluche é considerada uma doença reemergente nos países desenvolvidos,
em todas as faixas etárias3,4. No Estado de São Paulo não se observa um aumento do número
de casos em adolescentes ou adultos, até o presente momento (Gráficos1 e 2) 4,5.

Gráfico 1. Coeficiente de incidência de coqueluche por faixa etária no Estado de São Paulo,
2000-20075.
Gráfico 2. Coqueluche: coeficiente de incidência e cobertura vacinal em menores de 1 ano no
Estado de São Paulo, 2000-20075,6.

Etiologia

A bactéria Bordetella pertussis, um cocobacilo Gram-negativo e aeróbico, é o agente etiológico


da coqueluche. Vários outros agentes etiológicos podem determinar apresentação clínica
semelhante, conhecida por síndrome pertussis, como a Bordetella parapertussis, os
adenovírus, o vírus sincicial respiratório, o hemófilo, o Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia
trachomatis, Chlamydia pneumoniae, além da Bordetella bronchiseptica. O homem é o único
hospedeiro da Bordetella pertussis1,2.

Transmissão

A transmissão da Bordetella pertussis é respiratória e ocorre na fase catarral, por meio do


contato direto com gotículas de saliva de pessoas infectadas. A contaminação pode ocorrer por
meio do beijo, do compartilhamento de alimentos, de bebidas ou de cigarros, assim como por
contato próximo a pessoas infectadas que estejam tossindo ou espirrando.

O paciente transmite a doença por até três semanas após o início do período paroxístico, caso
não faça uso de antibióticos ou até cinco dias após o início do tratamento com os mesmos. Em
crianças mais velhas, adolescentes e adultos a coqueluche pode não ser diagnosticada por
apresentar um curso atípico; no entanto, estes grupos representam importante fonte de
infecção para as faixas etárias mais jovens suscetíveis1,2,3.

Suscetibilidade

Todos os indivíduos não-vacinados são suscetíveis à infecção pela Bordetella pertussis. Os


recém-nascidos e neonatos até 2 meses de idade que não receberam a vacina e as crianças
que não terminaram o esquema de quatro doses com a vacina DPT ou TETRA têm risco
elevado para a doença.

Os adolescentes e os adultos tornam-se suscetíveis quando a imunidade adquirida pela


vacinação é perdida, ou seja, 5 a 10 anos após a última imunização. A infecção natural confere
imunidade por aproximadamente 15 anos. A coqueluche não confere imunidade
transplacentária e o aleitamento materno não protege contra a doença 1,2.

Sinais e sintomas

A coqueluche compromete predominantemente o aparelho respiratório (traquéia e brônquios) e


clinicamente, após um período de incubação que varia de 7 a 10 dias, os sinais e sintomas
podem ser divididos didaticamente em três estádios:

 fase catarral: caracteriza-se por coriza nasal, febre baixa e tosse, semelhantes a um
resfriado comum, com duração de 7 a 14 dias;
 fase paroxística: caracterizada por acessos paroxísticos de tosse, seguidos de guincho
inspiratório com expectoração de muco claro, viscoso e espesso, seguidos de vômitos,
com duração de 4 a 6 semanas;

 fase de convalescença: o estágio final de recuperação caracteriza-se por


desaparecimento dos guinchos com persistência da tosse, que pode durar semanas ou
meses.

Vale lembrar que em crianças pequenas, em especial no primeiro ano de vida, o quadro clínico
é mais grave e inespecífico. Os guinchos podem não ocorrer e apnéia, cianose e complicações
neurológicas são comuns nesta faixa etária.

Crianças parcialmente imunizadas podem apresentar doença menos grave. Nos adolescentes
e adultos, tosse persistente e pouco característica pode ser a única manifestação da doença,
com duração de vários meses1,2.

Complicações

As complicações são mais comuns entre crianças pequenas e incluem hipóxia, apnéia,
pneumonia e neurológicas, como encefalopatia e convulsões. Em crianças pequenas pode
ocorrer óbito por coqueluche1,2. A maioria das mortes ocorre em crianças menores de 1 ano de
idade (Gráfico 3) 5.

Gráfico 3. Taxa de letalidade por coqueluche no Estado de São Paulo, 2000-2007 5.

Diagnóstico

O diagnóstico de coqueluche é eminentemente clínico e se baseia na presença de tosse por


pelo menos 14 dias, associada a paroxismo, guincho e/ou vômito e presença de leucocitose
acima de 20.000 células/mm3, com linfocitose. O caso também pode ser confirmado por cultura
positiva ou por vínculo epidemiológico1,2,3.

O isolamento da Bordetella pertussis por meio de cultura da secreção de nasofaringe é o


padrão-ouro para o diagnóstico da coqueluche; no entanto, apresenta dificuldades,
necessitando de meios específicos e imediata inoculação no meio após a coleta 1,2,3. As
dificuldades na comprovação laboratorial do diagnóstico de coqueluche levam ao conceito de
que a infecção por Bordetella pertussis não ocorre freqüentemente na população. O raio-X de
tórax com imagem de coração borrado (felpudo) pode auxiliar no diagnóstico 1.

Sistema de notificação

A coqueluche é uma doença de notificação compulsória em todo território nacional. Todo caso
suspeito deve ser notificado à vigilância epidemiológica e registrado no Sistema Nacional de
Agravos de Notificação (Sinan).

No Estado de São Paulo, a partir de 2002, houve a reestruturação da vigilância epidemiológica


da coqueluche com base no modelo sentinela. Desde então, no decorrer dos últimos cinco
anos tem havido um incremento e consolidação deste modelo de vigilância, com avaliações
periódicas semestrais e utilização de indicadores específicos.

Prevenção

A cobertura vacinal da DTP (difteria, tétano, pertussis) no Estado de São Paulo nos últimos
anos é de aproximadamente 95%, semelhante a dos países desenvolvidos (Gráfico 2) 3,6.

Existem quatro vacinas que podem auxiliar na prevenção da coqueluche. A vacina tríplice
bacteriana DTP (difteria, tétano, pertussis) é recomendada a partir de 2 meses de idade. As
crianças devem receber três doses até 1 ano de idade, um reforço após 1 ano e outro entre
4 a 6 anos. A DPT pode ser administrada concomitante a outras vacinas.

O indivíduo é considerado adequadamente vacinado se recebeu três doses a partir de 2


meses de idade e um reforço após 6 a 12 meses da terceira dose. As vacinas TETRA
(difteria, tétano, pertussis e hemófilo) e DTPa (difteria, tétano, pertussis acelular) podem
ser utilizadas nas idades de 2 meses, 4 meses, 6 meses, 15-18 meses e 4-6 anos, em
substituição à DTP. A vacina dT (difteria, tétano) é utilizada a partir de 7 anos de idade com
reforços a cada dez anos3.

Deste modo, o uso destas vacinas permite o surgimento de dois reservatórios de


suscetíveis: 1) crianças menores de 1 ano, pois não completaram o esquema vacinal; e 2)
adolescentes e adultos nos quais ocorre a perda da imunidade. Ainda, com a menor
circulação da bactéria na comunidade ocorre também a redução dos reforços naturais e,
por conseguinte, a reemergência da coqueluche, como nos países desenvolvidos onde são
observadas altas coberturas vacinais3,4. Em 2001, um grupo multidisciplinar de
especialistas internacionais definiu estratégias para diminuir a incidência da coqueluche 7.

A vacina dTpa (difteria, tétano, pertussis acelular) pode ser utilizada a partir dos 11 anos, ou
seja, pode ser administrada a adolescentes e adultos em substituição a uma das doses de
reforço, já que a vacina dT não contém o componente pertussis. Recentemente, a Sociedade
Brasileira de Pediatria recomendou o uso da vacina dTpa aos 14-16 anos como proteção
adicional a coqueluche3,8.

Para as pessoas que tiveram contato próximo com o doente com coqueluche (comunicante), a
vacinação de bloqueio e a quimioprofilaxia são recomendadas. A eritromicina é a droga de
escolha. Outros antibióticos, como a azitromicina e a claritromicina, também podem ser usados.
O hábito de lavar as mãos freqüentemente e evitar compartilhar alimentos, bebidas, pratos,
copos e talheres podem ajudar a interromper a disseminação desta bactéria 1,2.
Tratamento

A hospitalização, em geral, não é necessária. A criança deve ser adequadamente hidratada e


os distúrbios eletrolíticos controlados. Deve-se ter cuidado ao alimentar a criança, preferindo
alimentos semi-sólidos, frios e em pequena quantidade. Durante as crises de paroxismo pode
ser necessário administrar oxigênio sob máscara (em casos mais graves pode ser necessário
suporte ventilatório) e aspirar secreções. O isolamento respiratório é necessário até cinco dias
após o início do tratamento com antibiótico1,2.

O antibiótico de escolha é a eritromicina, um macrolídeo, pela sua boa penetração nas vias
respiratórias. Vale ressaltar que o estolato de eritromicina atua melhor, uma vez que o
estearato e o etilsuccinato não atingem concentrações séricas favoráveis à erradicação da
bactéria, levando a falhas terapêuticas. A dose recomendada é de 40 a 50 mg/kg/dia por via
oral a cada 6 horas, por 14 dias, com dose máxima de 2g por dia. Iniciar o mais precocemente
possível a terapia, de preferência até a fase catarral a fim de atenuar a doença.

Na fase paroxística, apesar de não diminuir o curso da doença, o uso do antibiótico reduz a
transmissibilidade. Outras opções terapêuticas são o sulfametoxazol-trimetropim, a azitromicina
e a claritromicina. Não se deve utilizar ampicilina, pois a mesma não atinge boas
concentrações em secreções das vias respiratórias1,2.

Os corticosteróides podem alterar a gravidade e o curso da doença (hidrocortisona 30


mg/kg/dia IM, 6/6h por 2 dias); os anticonvulsivantes diminuem o número e a intensidade dos
acessos paroxísticos (fenobarbital: ataque com 15 mg/kg/dose 1x/dia e manutenção com
6mg/kg/dia 6/6h); durante a crise convulsiva, pode-se utilizar diazepam 0,3 mg/kg/dose IV, sem
diluir, lentamente; broncodilatadores (salbutamol 0,3-0,5 mg/kg/dia VO 8/8h) 1,2,3,4.

Conclusões

A manutenção de altas coberturas vacinais e um sistema de vigilância epidemiológica eficiente


e eficaz são fundamentais para evitar a reemergência da coqueluche no País.

Referências bibliográfica

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“Professor Alexandre Vranjac”. Manual de Vigilância Epidemiológica de Coqueluche –
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a 2008 [base de dados na internet]. Disponível em:
http://www.cve.saude.sp.gov.br/htm/resp/coque_tab.htm
6. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof.
Alexandre Vranjac”. Divisão de Imunização. Vacinação de rotina, doses aplicadas e
cobertura vacinal em menores de 1 ano. Estado de São Paulo. Série histórica – 2000 a
2006 [base de dados na internet]. Disponível em:
http://www.cve.saude.sp.gov.br/htm/imuni/imu_sh0006.htm
7. Forsyth KD, Campis-Marti M, Caro J, et al. New pertussis vaccination strategies beyond
infancy: recommendations by the global pertissis initiative. Clin Infect Dis.
2004;39:1802-9.
8. Sociedade Brasileira de Pediatria. Calendário de vacinas para crianças/2008
[base de dados na internet]. Disponível em:
http://www.sbp.com.br/show_item2.cfm?
id_categoria=21&id_detalhe=2619&tipo_detalhe=s&print=1

Epidemiologia
A B. pertussis existe em todo o mundo e só infecta seres humanos. Estima-se que
ocorram cerca de 30 a 50 milhões de casos por ano que resultam em 300 000 mortes.
Em termos gerais, os pacientes são crianças com menos de um ano de idade, 90% dos
casos ocorrendo em países em via de desenvolvimento.

A B. pertussis é transmitida pela inalação de gotas expulsas pela tosse de um doente. As


bactérias aderem fortemente ao epitélio ciliado dos brônquios sem invadir as células,
permanecendo sempre no lúmen.

Progressão e sintomas
Após período de incubação de 5 a 10 dias, surge a fase de expulsão de catarro, com
rinorreia, espirros e tosse moderada, que dura duas semanas. A inflamação dos
bronquios, com áreas de necrose, aumenta nesta fase.

Após esta fase estabelece-se um tipo de tosse diferente, convulsiva, continua e dolorosa
durante em média três semanas e pode ser seguida de vómitos. A tosse segue-se a uma
inspiração com som caracteristico, tipo silvo (mais conhecido como "guincho").

Se o doente sobreviver, a fase de convalescença dura também várias semanas. A


pertússis mata 1-2% das crianças com menos de um ano atingidas.

Pode haver encefalopatia, presumivelmente devido à toxina, em 0,4% dos casos.

As complicações possíveis são devidas a organismos (como pneumococos ou


Haemophylus influenzae) que aproveitam as lesões da mucosa para invadir o
parênquima pulmonar, causando pneumonia.

Complicações
As complicações mais comuns afetam as vias respiratórias. Os lactentes apresentam um
risco especial de lesão devido à falta de oxigênio após períodos de apneia (paradas
respiratórias transitórias) ou episódios de tosse. As crianças podem apresentar
pneumonia, a qual pode ser fatal. Durante os episódios de tosse, o ar pode ser
impulsionado dos pulmões para o interior dos tecidos que os circundam ou os pulmões
podem romper e colapsar (pneumotórax). Os episódios de tosse intensa podem causar
hemorragia ocular, nas membranas mucosas e, ocasionalmente, na pele ou no cérebro.
Pode ocorrer a formação de uma úlcera sob a língua quando esta é comprimida contra
os dentes inferiores durante os episódios de tosse. Ocasionalmente, a tosse pode causar
prolapso retal (exteriorização do reto) ou uma hérnia umbilical, a qual pode ser
observada como uma protuberância.
Os lactentes podem apresentar convulsões, mas elas são raras em crianças maiores. A
hemorragia, o edema ou a inflamação cerebral podem causar lesão cerebral e retardo
mental, paralisia ou outros distúrbios neurológicos. A otite média também ocorre
frequentemente em consequência da coqueluche.

Diagnóstico
Em média, os sintomas começam 7 a 10 dias após a exposição à bactéria causadora da
coqueluche. As bactérias invadem o revestimento da garganta, da traqueia e das vias
aéreas, aumentando a secreção de muco. A princípio, o muco é fluido, mas, a seguir, ele
torna-se mais espesso e viscoso. A infecção dura aproximadamente 6 semanas,
evoluindo em três estágios: estágio catarral (sintomas leves semelhantes ao de um
resfriado), estágio paroxísmico (episódios de tosse intensa) e estágio de convalescença
(recuperação gradual). O médico que examina uma criança no primeiro estágio
(catarral) tem de saber diferenciar a coqueluche da bronquite, da gripe e de outras
infecções virais e inclusive da tuberculose, uma vez que todas essas doenças produzem
sintomas parecidos. O médico coleta amostras de muco do nariz e da garganta com uma
zaragatoa. A seguir, é realizada a cultura da amostra em laboratório. Quando a criança
se encontra no estágio inicial da doença, a cultura do material consegue identificar as
bactérias responsáveis pela coqueluche em 80 a 90% dos casos. Infelizmente, a cultura
dessas bactérias nas fases mais avançadas da doença é difícil, embora a tosse esteja em
sua pior fase. Os resultados podem ser obtidos mais rapidamente através do exame de
amostras para detectar bactérias da coqueluche utilizando corantes de anticorpos
especiais, mas esta técnica é menos confiável.

Tratamento
A prevenção com vacina, obrigatória segundo os esquemas de vacinação (é incluída na
antiga tríplice agora, tetravalente) é a única medida eficaz. A vacinação erradicou a
doença dos países onde é praticada eficientemente.

O tratamento com antibióticos como macrolídeos é mais eficaz se administrado durante


a fase catarral. Na fase paroxística já há pouco a fazer.

Incidência
A doença foi uma das principais causas de mortalidade antes da última década de 40 nos
Estados Unidos, período que antecedeu o advento da vacina. Desde a última década de
80, são registrados aumentos cíclicos a cada 3 e 4 anos.[1]

Segundo dados da OMS, a incidência da doença triplicou no Brasil e América Latina


entre 2006 e 2008[2].

Prevenção
As crianças são vacinadas sistematicamente contra a coqueluche. Em geral, a vacina
contra coqueluche é combinada com as vacinas contra a difteria e o tétano, a vacina
DTP (difteria-tétano-pertússis). O antibiótico eritromicina é administrado como medida
profilática às pessoas expostas à coqueluche.

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