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ATO INFRACIONAL E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou


contravenção penal.
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos
às medidas previstas nesta Lei.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do
adolescente à data do fato.

Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas


previstas no art. 101 (medida protetiva).

- Crianças e adolescentes são penalmente inimputáveis. Por tal razão, não


praticam crime (crime é fato típico, ilícito e culpável), já que são desprovidos, por
presunção legal absoluta, da capacidade de discernimento e de
autodeterminação com relação a fins penais.
- Caso crianças e adolescentes pratiquem fatos típicos, para eles isso será visto
como a prática de ato infracional (o comportamento previsto em lei como crime
ou contravenção penal – é a noção ampla de infração penal).
- Entretanto, o ECA, buscando atender ao melhor interesse da criança e do
adolescente, acabou por trazer consequências distintas caso seja adolescente e
caso seja criança a praticar ato infracional:
a) se adolescente pratica ato infracional, ele responderá por medida
socioeducativa, podendo, eventualmente, também ser amparado por medida
protetiva;
b) se criança pratica ato infracional, ela somente estará sujeita a medida
protetiva.

Histórico do direito infracional no Brasil

1) Doutrina do direito penal do menor: início do século XIX até o início do


século XX. Nesse período, não há grandes distinções de tratamento entre
adultos e menores de idade. Os menos apenas possuíam o direito a receberem
uma diminuição de 1/3 da sua pena. A ideia é a de retribuição penal.
2) Doutrina da situação irregular: Código Mello Matos (1927) e Código de
Menores (1979). Nesse período, busca-se ainda dar uma certa equivalência de
tratamento entre adultos e menores de idade, embora surjam previsões
normativas buscando dar atenção à peculiaridade de ser menor de idade. Ainda,
por mais que se tenham leis específicas para os menores, a ideia é a de que são
simples objetos de direitos, e não sujeitos de direitos.
3) Doutrina da proteção integral: Constituição Federal de 1988 e Estatuto da
Criança e do Adolescente. Aqui, passa-se a falar na proteção integral de
menores de 18 anos, tendo o direito infracional se desenvolvido para buscar a
aplicação, não de pena, mas sim de medidas socioeducativas, com finalidades
mais preventivas que repressivas.

Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante
de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade
judiciária competente.
Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela
sua apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos.
Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local onde se encontra
recolhido serão incontinenti comunicados à autoridade judiciária
competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada.
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de responsabilidade, a
possibilidade de liberação imediata.
Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo
máximo de quarenta e cinco dias. (equivalente da prisão preventiva, só que,
aqui, com limitação temporal)

Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear-se em indícios


suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade
imperiosa da medida. (são os requisitos básicos para a concessão de medidas
de urgência – fumus boni iuris e periculum in mora, do processo civil; fumus
comissi delicti e periculum libertatis, do processo penal)
Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será submetido a
identificação compulsória pelos órgãos policiais, de proteção e judiciais, salvo
para efeito de confrontação, havendo dúvida fundada.

Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido
processo legal.

Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as seguintes garantias:


I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação
ou meio equivalente;

II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e


testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa;
III - defesa técnica por advogado;
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei;

V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente;


VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase
do procedimento.

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM ESPÉCIE


- A medida socioeducativa é a sanção estatal que será aplicada ao adolescente
que pratique um ato infracional, visando não primariamente a sua punição, mas
sim a sua readequação ao meio social, a sua educação, a sua recuperação.
OBS.: Quanto à prescrição dos atos infracionais, o STJ acabou acolhendo o
entendimento de que, muito embora a aplicação de medida socioeducativa tenha
um viés educativo e recuperador, há uma nítida restrição à liberdade, em
especial das medidas mais extremas. Por tal razão, esse tribunal editou a
súmula 338: “A prescrição penal é aplicável nas medidas socioeducativas.” Para
tentar chegar a um prazo de prescrição, o STJ segue o seguinte raciocínio:
considera-se o prazo máximo da medida de internação, que é o de 3 anos, para
funcionar como equivalente de pena máxima. Esse prazo de 3 anos é inserido
no art. 109, IV, do Código Penal, que corresponde a um prazo prescricional de 8
anos. E, como se trata de infrator adolescente, por consequência, menor de 21
anos, aplica-se a redução pela metade do prazo prescricional, culminando no
prazo prescricional final de 4 anos.

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente


poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I - advertência;

II - obrigação de reparar o dano;


III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;

VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.


§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de
cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração.

§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de


trabalho forçado.
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão
tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições.
Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. 99 e 100. (medidas
protetivas - princípios)

Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II a VI do art. 112
pressupõe a existência de provas suficientes da autoria e da materialidade da
infração, ressalvada a hipótese de remissão, nos termos do art. 127.

Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre que houver prova da
materialidade e indícios suficientes da autoria.

OBS.: O ECA faz uma distinção quanto aos requisitos necessários para a
aplicação de certas medidas socioeducativas:
a) Quanto à aplicação da advertência: prova da materialidade + indícios
suficientes da autoria;
b) Quanto à aplicação das outras medidas socioeducativas: prova da
materialidade + prova da autoria.

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