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2020/02 – 5º semestre – Direito UFRGS – by: @justo_estudos

Teoria Geral dos Contratos


Profª Maria Cláudia Cachapuz

AULA 1

Fontes do direito

Direito e doutrina das fontes


Trata-se aqui do problema da origem da normatividade, o que a doutrina
considera norma suficiente e capaz de fundamentar qualquer decisão que seja
tomada do ponto de vista jurídico. Ou seja, a necessidade de reconhecermos que
o sistema jurídico deve apresentar uma resposta potente e eficiente ao problema
da identificação do direito. A questão da doutrina das fontes é demonstrar onde
encontraremos fundamentação suficiente para aquelas situações tenhamos que
resolver em termos de conflitos jurídicos.
A positivação e tipicidade busca reconhecer que o sistema de fontes tem que ser
um sistema de fontes suficientes para que toda situação nova trazida ao direito
como um problema/conflito, identifique o problema como jurídico para depois
oferecer uma resposta suficiente a resolução do caso concreto. De uma forma
geral, o sistema jurídico trabalha com a doutrina de fontes de forma a conceder
as decisões do ponto de vista jurídico.
Quando surge o problema dos casos difíceis, e há a ausência de resposta pelo
sistema e racionalidade, as fontes são consideradas razões relevantes que o
intérprete apresenta em favor da decisão considerada correta.
As fontes são tidas como uma prática orientada a erradicar o decisionismo.

Fontes gerais do Direito


Essas fontes têm maior estabilidade no âmbito jurídico. Temos as leis escritas
(fontes-ato) e as leis por costume (fontes-fato).

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 Norma jurídica e fontes ato – as normas jurídicas têm origem a partir de


atos jurídicos de procedimento. Regras de competência legitimam e
confere autoridade à norma (somado a um aspecto de eficácia geral)
e Pressupostos relevantes: (I) existência de resultado institucional
(validade constitutiva) e (II) correção e legitimidade (validade
regulativa)
 Costume e fontes-fato – regra constitutiva estabelece que se ocorre um
certo estado de coisas X então se produz um resultado institucional Y

Costume jurídico
O costume jurídico não se traduz exatamente na ideia que temos de costume que
temos no âmbito das regras sociais, por exemplo. Parte-se aqui de uma
sistematização feita por José Heglan (?) que prevê uma sistematização de como
um determinado ato de conduta pode chegar ao seu reconhecimento como um
costume jurídico. O costume só será aceito como fonte quando efetivamente se
traduzir em um juízo de relevância jurídica.
 Hábito de conduta – repetição de um comportamento em circunstâncias
semelhantes;
 Hábito social – compartilhamento do hábito de conduta por indivíduos de
uma comunidade;
 Regra social ou costume – adquire consequência de obrigatoriedade:
quando o hábito social, ao ser descumprido, gera crítica social;
 Costume jurídico – quando há consequência de obrigatoriedade e juízo de
relevância jurídica a partir de uma ideia de correção e coerência (art. 187
CC).

 Norma jurídica e fontes ato – as normas jurídicas têm origem a partir de


atos jurídicos de procedimento. Regras de competência legitimam e
confere autoridade à norma (somado a um aspecto de eficácia geral)
e Precedente (common law) – (I) declarar e aplicar o precedente, declare;
(II) distinguir o caso no que é próprio, distinguish; (III) anular o
precedente hierarquicamente mal aplicado, overrule

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e Jurisprudência (civil law) – (I) incorporação do Direito por reiteração de


decisões (ideia de standard jurídico); (II) relevância à hierarquia
institucional (decisões colegiadas e duplo grau de jurisdição); (III)
repercussão geral e vinculação (casos destacados e princípio de
igualdade e segurança jurídica)
 Método jurídico – art. 489, §2º, CPC: “No caso de colisão entre normas, o
juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada,
enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as
premissas fáticas que fundamentam a conclusão”.
e Interferência da metodologia na interpretação:
0 Na determinação da linguagem jurídica – lacunas axiológicas e
semânticas;
0 Na equivocidade por conflito aparente de normas – regras e
princípios;
0 Na integração direta das lacunas normativas;
0 No exame de situações consideradas de injustiça extrema
 Dogmática – elementos e conceitos da Ciência Jurídica estabelecidos por
construção doutrinária, tópica, argumentos práticos de tipo geral
e Tarefa da dogmática (Robert Alexy):
0 Análise lógica dos conceitos jurídicos;
0 Recondução dessa análise a um sistema jurídico;
0 Aplicação dos resultados dessa análise na fundamentação das
decisões jurídicas.
 Princípios gerais do direito – geralmente tratado como fonte autônoma
(LINDB). Problema da ambiguidade.
e Conexão entre fontes na perspectiva do sistema: a norma como regra
(em abstrato – qualificação definitiva) e como princípio (na perspectiva
do caso – qualificação a priori)
e Princípios como mandamentos de otimização no maior grau possível,
observadas as condições fáticas e jurídicas do caso – proporcionalidade
(ponderação e peso de condições fáticas e jurídicas)
e Determinação apenas prima facie, exigindo, em concreto, ponderação.

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AULA 2
Fontes das obrigações e teoria geral dos contratos

Classificacao dos fatos juridicos no CC/16 (Pontes de


Miranda)

Fatos jurídicos (stricto sensu) – facticidade simples


Atos-fatos – ausência de intenção finalística
FATO JURÍDICO
Atos jurídicos strictu sensu – (I) negócios jurídicos; (II)
negócios unilaterais
 Fatos strictu sensu – dispensa de ação humana e de vontade dirigida à
consecução de um fim;
 Atos-fatos – movimento humano não conectado a uma determinada
intencionalidade dirigida a um fim;
 Atos jurídicos strictu sensu – atos de coincidência entre o movimento e a
intencionalidade de produção de um fim. Em sua maioria, negócios jurídicos
(contratos) e declarações unilaterais de vontade (renúncia, testamento…).

Relativização da validade de atos de vontade


O professor Clóvis Veríssimo do Couto e Silva aponta duas situações:
 Atos existenciais – correspondem a negócios jurídicos padronizados que
passaram a demonstrar a hipótese de uma intencionalidade implícita à
consecução do ato. Negócios voltados à atividade de manutenção de
sobrevivência do homem, ex.: compra e venda feita em máquina eletrônica,
transporte público, compra e venda realizada por menor de idade em
estabelecimentos
e A intenção dos atos existenciais é tornar flexível a compreensão da
capacidade do sujeito como interferente no plano da validade, não
importando portanto a capacidade daquela vítima de um acidente de
consumo, etc. O professor Clovis deixa claro que apenas é aplicável em
negócios voltados à manutenção de sobrevivência dos homem, ou seja,
alimentação, vestuário e serviços

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 Contrato social – aproxima-se da ideia de ato-fato, mas se caracteriza por


simples contato entre as partes capazes de gerar obrigação específica, ex.:
fase pré-negocial de contratos, que gere expectativas; responsabilidade
pré-contratual, decorrente da caracterização da ilicitude, ex.: rompimento
de noivado
e Geração de uma responsabilização civil extracontratual

Fontes das obrigações


A parte de classificação dos atos nos interessa para que possamos distinguir as
situações distintas de origens das obrigações, pois elas não necessariamente são
geradas por manifestações de vontade.
 Atos negociais – relevância ao conceito de negócio jurídico: contratos, atos
unilaterais (promessa de recompensa) e títulos de crédito (causa em grau
máximo de abstenção)
e A consequência direta é o exame do campo da invalidade dos atos
negociais
e O estabelecimento das obrigações são manifestados claramente,
podem ser obrigações assumidas pelas partes ou por lei
 Atos não-negocias – hipótese de deslocamento injustificado de bens de um
patrimônio a outro. Caso de enriquecimento sem causa (art. 884),
pagamento indevido (art. 876), gestão de negócios (art. 861), sem que
predomina a aplicação do princípio de conservação estática de patrimônio
e A consequência direta é a solução restituitória do patrimônio, não
havendo razão de peso (causa) que justifique o deslocamento
patrimonial
e Há a predominância do princípio da preservação estática do patrimônio
 Ato ilícito – assume relevância o problema da ilicitude culposa
e Art. 186 – responsabilidade civil decorrente da ilicitude culposa;
e Art. 187 – desequilíbrio do exercício de posições jurídicas que permite a
caracterização de situação ilícita a partir do reconhecimento, pela
ponderação, de que autorizada se apresenta a restrição a uma liberdade
individual – situação restrição capaz de gerar obrigações de fazer e não-
fazer, ainda que não necessariamente de reparação civil

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Restrições contratuais no direito privado


 Liberdades colidentes no âmbito das relações entre privados
Teoria da Eficácia imediata
De acordo com a Teoria da Eficácia Imediata (H. C. Nipperdey) o contrato que
infringir os direitos constitucionais fundamentais são automaticamente nulos não
há expressão de vontade que possa ir de encontro com as normas
constitucionais. Há um efeito absoluto e direto das normas constitucionais sobre
as relações entre privados.

Teoria de eficácia mediata


Para G. Durig diz que há efeito imediato das normas constitucionais sobre as
relações entre privados, a norma constitucional de direito fundamental opera
mediante cláusula geral nas relações de Direito Privado.

Teoria de J. Schwabe
Segundo J. Schwabe, o efeito das normas constitucionais sobre as relações entre
privados depende muito do tipo de pretensão específica que se queira trabalhar
em contrato, por isso precisa-se saber quando e como direitos fundamentais
colidem no âmbito do Direito Privado (autonomia pressuposta a priori). Deve-se
observar:
 Se o direito questionado decorre da Lei, cabe o reconhecimento da
inconstitucionalidade ou de uma interpretação conforme a CF
 Se o direito questionado decorre de colisão de liberdades (entre direitos
fundamentais), cabe a ponderação por meio de uma cláusula de
subsidiariedade jusfundamental (ex.: art. 187 aplicado ao 423, caput, CC)

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⏩ Sistema de pretensões em Schwabe (cláusula de subsidiariedade


fundamental

AULA 3
Objeção de consciência em matéria contratual

Objeção de consciência
Um dos pontos mais controversos da objeção de consciência é sobre a sua
natureza jurídica e como será a extensão e tratamento da objeção de consciência.
Define-se objeção de consciência como um descumprimento motivado de um
dever jurídico em razão desse dever ser contrário a um ditame de consciência
(motivo religioso, moral, ético ou humanitário) e vai se diferenciar da
desobediência civil, pois a objeção de consciência tem a finalidade de defesa da
moralidade individual. A desobediência civil não é individual, ela visa uma
mudança política e jurídica sendo exercitada em grupo.
OBJEÇÃO DE CONSCIÊNCIA ≠ DESOBEDIÊNCIA CIVIL
Descumprimento da
Descumprimento da norma jurídica motivado norma jurídica exercida
na moralidade individual em grupo visando uma 7/22
mudança no sistema.
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Resume-se que a objeção de consciência é relacionada a uma isenção de um


dever jurídico devido à moralidade individual, possui caráter pacífico, ocorre em
casos excepcionais e em muitos casos irá impor que o sujeito preste uma
obrigação alternativa, é o que acontece nos casos de alistamento militar
obrigatório, por exemplo.

Natureza jurídica da objeção de consciência


Existem duas principais correntes que tratam do assunto, uma que trata a
objeção de consciência como direito fundamental, por ser um modo de exercício
da liberdade de consciência enquanto a outro corrente entende que não se
relaciona tão estritamente com a liberdade de consciência e que, para o sujeito
fazer uso da objeção de consciência ela deve, necessariamente, estar prevista
previamente na lei. Somente diante do caso concreto que consegue se ver se o
sujeito poderia ou não ter se utilizado da objeção de consciência.
Quando se fala em liberdade de consciência1, deve-se observar que são duas as
dimensões: (I) dimensão interna que é aquela psicológica que não interessa para
o direito pois muitas vezes nem se sabe o porque a pessoa deixou de fazer; e (II)
dimensão externa que é quando expressamente verbaliza-se o motivo de não
prestar determinado serviço. Ex.: caso do confeiteiro que não quis fazer o bolo de
casamento de um casal homossexual, ele poderia ter dito que não conseguiria
fazer o bolo em razão da agenda (dimensão interna) ou, como fez, ter dito que
não faria pelo fato do casamento entre pessoas do mesmo sexo ser contra a sua
convicção moral individual (dimensão externa). Deve-se pensar que, quando a
pessoa exerce a liberdade de consciência de alguma medida ela também está
tocando no próprio desenvolvimento da personalidade do sujeito.
Quando se fala em objeção de consciência na esfera do direito privado tem-se
duas possibilidades: quando se nega a fazer algo por motivos de ordem religiosa,
moral, política e os efeitos dessa decisão afetará somente a esfera jurídica própria
(ex.: testemunhas de Jeová que se negam a transfusão sanguínea) e quando se
nega a fazer algo e essa decisão afeta também a esfera jurídica de outrem.

1 Liberdade de consciência está prevista no art. 5º da CRFB como direito fundamental, em previsões sobre o
serviço militar e no Conselho Federal de Medicina...

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O conflito entre as convicções religiosas, morais e/ou políticas e os eventuais


deveres jurídicos são os mais diversos possíveis, de modo que o legislador não
poderia ter estabelecido quais seriam as situações em que a liberdade de
consciência poderia, ou não, ser exercida. Assume-se então que, existe um
caráter de direito fundamental na cláusula de objeção de consciência, como
forma de concretizar a liberdade de consciência, sendo o exercício dessa
liberdade ilimitado e sujeito a restrição no caso concreto quando entra em colisão
com o exercício de outras liberdades. Conclui-se que a liberdade de consciência
não é um direito absoluto. A liberdade de consciência é aplicada no direito
privado, através do artigo 187 do CC.

Objeção de consciência em matéria contratual


Uma vez feita a oferta, ela vincula, juridicamente, o ofertante ao interessado e
uma vez aceita naqueles termos, forma-se o contrato.
Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar
dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.

(…)

Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos


essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos.

Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua


divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada.

A oferta tem que estar certa, estar detalha, deve ser completa. Quando o
aceitante traz para esse negócio jurídico uma informação que se torna relevante
para quem faz a oferta a ponto do mesmo negar-se a cumpri-la é quando o
assunto torna-se relevante juridicamente. Ex.: uma senhora anuncia um imóvel
para a locação, o locatário preenche todos os requisitos preestabelecidos
mostrando-se apto a alugar o imóvel, entretanto, em algum momento o locatário
traz a esta relação jurídica a informação de que viverá lá com seu companheiro a
senhora diz que não poderá cumprir com sua obrigação.

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Equivocidade em matéria Contratual

Fontes de equivocidade
Deve-se reconhecer que há a possibilidade de se ter origens/fontes diversas da
possibilidade de interpretação a cerca das questões jurídicas que envolvem a
matéria contratual. Com esse reconhecimento, que vai depender muito da visão
que o interprete tem acerca do ordenamento jurídico, poderemos alcançar
situações distintas em relação a matéria contratual.
 Interesses em conflito – interpretação a cerca da extensão de um direito
geral de liberdade ou de igualdade;
 Distintos sentimentos de justiça – construção de juizos axiológicos,
problema do condicionamento;
 Multiplicidade de métodos interpretativos – positivismo/não positivismo;
discurso/utilitarismo;
 Construções dogmáticas – construção e teste acadêmicos dos argumentos
em abstrato para a interpretação dos enunciados normativos.

Indeterminação do Direito
A equivocidade (realidade plural) dos textos normativos pode ocorrer (I) quanto
ao reconhecimento da existência das normas; e (II) quanto à aplicação das
normas pelo sistema jurídico e como isso se dá a partir de uma visão analítica dos
enunciados normativos do Código Civil.
Uma das questões que poderá complicar a análise jurídica do contrato, quando
necessário, é a ambiguidade, que é quando se tem um texto normativo que pode
expressar uma norma N1 ou uma norma N2 a exemplo do art. 13, parágrafo único
do CC.
e Aplicação para questões de normatividade contratual
O que nos compete verificar em concreto é que aplicação nós podemos
reconhecer dessa ideia de indeterminação, em razão da ambiguidade,
especificamente para as questões de normatividade contratual. Nas regras gerais
nós encontramos, desde logo, o texto do artigo 423 do Código Civil que trata e

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demonstra a relevância dessa indeterminação em termos de interpretação


contratual para determinados fenômenos jurídicos.
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou
contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.

Nos contratos regulados por essência pelo Código Civil, havendo a ambiguidade,
a solução não é no campo da invalidação das cláusulas mas sim na interpretação
do que é mais favorável ao aderente. Para a professora, para reconhecer o que é
considerado mais favorável exige uma cláusula geral que permita a condução ao
intérprete a uma resposta a esta questão se dá pelo campo da ilicitude.
 Artigo 435 aplicado ao teste da ilicitude (art. 187, CC)

ESFERA JURÍDICA CONTRATANTE A ESFERA JURÍDICA CONTRATANTE B


LICITUDE ILICITUDE
Pretensão de ação: manutenção das Pretensão de defesa: discutir a
normas contratuais (pacta sunt ambiguidade de cláusula contratual
servanda)
Restrição à realidade de A
• fim econômico ou social
• boa-fé
• bons costumes
Manutenção à configuração da esfera
A
SENTIDO DE MANUTENÇÃO SENTIDO REVISIONAL

e Complexidade
Há uma segunda situação identificada em concreto que é a questão da
complexidade em termos de interpretação, por vezes teremos textos normativos
que podem interpretar norma A ou norma B. A exemplo os Planos de Saúde
(cláusulas abusivas) → discussão quanto à prescrição (art. 205 e 206 CC).
Exemplos de histórico jurisprudencial: Apelação Cível nº 70060034287. Apelação
Cível nº 70060054137. Apelação Cível nº 70053465902.

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e Taxativo/exemplificativo
Há ainda uma terceira situação de indeterminação que diz respeito a
interpretação se determinado a enumeração prevista na norma é
taxativa/exaustiva (interpretação única) ou exemplificativa (o que está na norma
é apenas um exemplo do que pode ser restringido ou não). A exemplo o artigo 20
do CC.
Exemplos: Apelação Cível nº 70081993321
AULA 4

Funções dos enunciados dogmáticos

Dogmática e correspondência
Robert Alexy, em A Teoria da Argumentação Jurídica, afirma que correspondem à
dogmática uma série de enunciados que se referem as normas estabelecidas e a
própria aplicação do Direito, mas que não podem identificar com sua descrição
unicamente, estando em uma relação de coerência mutua discutindo e formando
o marco de uma ciência jurídica que funciona institucionalmente e tem conteúdo
normativo. Ou seja, Robert Alexy propõe que quando se fale em dogmática tenha
que, necessariamente, conectar a ideia da ciência jurídica com a sua interpretação
e exige o reconhecimento de que o sistema jurídico trabalha tanto no plano
normativo, quanto no estabelecimento das normas por interpretação a partir do
caso concreto.

Funções dos enunciados dogmáticos


São seis as funções principais:
 Estabilização – torna estáveis algumas conclusões, exigindo argumentos
novos e sérios para afastar o que é da tradição;
 Progresso – corrige o estável na medida em que ínsita é a ideia prospectiva
de futuro do enunciado jurídico, que é infinito, ilimitado;
 Descarga – marca o consenso, sem razão especial, dispensa nova
comprovação ao que é de consenso.

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 Técnica – permite a visualização de um panorama do ordenamento jurídico,


ou seja, que se identifique a conexão e coerência existente entre os
enunciados e, por consequência, entre os institutos jurídicos;
 Controle – é a própria ideia de fato da razão ao ordenamento jurídico, entre
o parlamentar e o geral. Como se relaciona ao imperativo categórico (e ao
teste de máximas de ação) é ainda a função que impede uma contradição
em termos argumentativos.
 Heurística – qualifica uma abertura ao sistema jurídica: os enunciados
dogmáticos oferecem, para fins de argumentação, um ponto de partida,
mas não necessariamente de certeza quanto ao resultado a ser atingido na
interpretação. É o que explica uma pretensão de justificação. Visa
justamente a correção do que é instável.

Interpretação e metáfora do marco de significados


Indeterminação do significado dos textos normativos → o problema de qur todo
texto normativo expressa uma pluralidade de significados distintos.
Conjunto das possibilidades de interpretação de um texto → “marco de
significado do texto” (Kelsen).
Existem três hipóteses de interpretação:
 Interpretação cognitiva – há um elenco de possibilidades do significado do
texto a partir daquilo que se conhece daquele texto, é o marco de
significados possíveis.
 Interpretação decisória – realiza e justifica a escolha por um dos
significados incluídos no marco;
 Interpretação criadora – atribui ao texto um significado que não está
incluso no marco mas se produz em razão de uma peculiaridade distintiva
ou de um avanço da interpretação.

Interpretação autêntica
Há alguns autores que falam sobre a interpretação autêntica que é a
interpretação do enunciado normativo dada pelo próprio criador da normal (legal
ou contratual). Exemplo: enunciados descritivos em matéria contratual; listagem
descritivas; anexos descritivos… O alcance se dá:
 Limitação a determinar o significado de uma lei preexistente;13

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 Caráter vinculante erga omnes;


 Autêntica é a interpretação que é oferecida pelo mesmo sujeito que é autor
do texto interpretado
Exemplo: STJ, 1ª T -REsp 686932/PR, j. 01.04.08.
AULA 5

Interpretação em matéria contratual


Para iniciar o estudo da matéria é necessário retornar ao Código Civil,
especialmente em seus artigos 112 a 114 que apresentam normas de interpretação
e que marcam o problema da linguagem e da configuração em matéria contratual
para a análise do caso concreto proposto a interpretação judicial. Isso permite
que possa se trabalhar de forma mais expressa com a questão da equivocidade e
o reconhecimento de que podem ser várias as respostas e interpretações e que
dependerá da capacidade do intérprete de trabalhar de forma específica a
questão contratual com atenção necessária.

Interpretação (extra)textual/aspecto jurídico


A questão da configuração para o caso e o problema da linguagem e da
equivocidade em matéria contratual. Alcance jurisprudência.
e Art. 112, CC – “Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção
nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem”.
e Art. 114, CC – “Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-
se estritamente”, ao contrário do sentido mais amplo, mas sem
abandonar a ideia de intencionalidade, a interpretação deve se dar de
forma estrita, independente da intencionalidade. Ação não-intencional.
INTENSÃO ≠ PREVISIBILIDADE Interpretação decorre de uma
tônica não na perspectiva do
Interpretação deve ser centrada na descrição e na agente que persegue um
individualização da conduta a partir da alteração objeto, mas nos efeitos não-
que o agente queria produzir no mundo dos fatos. intencionais.
Quanto mais longe se está da relação de causalidade, maior intervenção
institucional é necessária.
Fórmula trabalhada por Daniel Laguer (???)

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I → MC → A1 → A2 → A3 → (…) → An
I = intenção
MC = movimento corporal
A = alteração no mundo dos
fatos
An = alteração ilimitada

Conformidade à boa-fé/aspecto objetivo


O estabelecimento de relação de confiança. Dimensão interna (configuração) e
externa (restrição).
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos
do lugar de sua celebração.

§ 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que: (Incluído


pela Lei nº 13.874, de 2019)

I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do


negócio; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de


negócio; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

III - corresponder à boa-fé; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e


(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão


discutida, inferida das demais disposições do negócio e da racionalidade econômica
das partes, consideradas as informações disponíveis no momento de sua
celebração. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

§ 2ºAs partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de


preenchimento de lacunas e de integração dos negócios jurídicos diversas daquelas
previstas em lei. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

(…)

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé
ou pelos bons costumes.

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Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato,


como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

Boa-fé e compreensão dogmática


Há duas dimensões da análise da boa fé:
 Subjetiva – ideia de existência de um estado de consciência.
Convencimento individual de obrar em conformidade com o Direito.
Considera-se a intenção do sujeito, sua íntima convicção. Não se adere a
algo porque é bom, mas porque é correto.
 Objetiva – cada pessoa deve ajustar a sua conduta a uma pretensão de
tornar a sua ação algo universal – ideia de arquétipo jurídico, standard.
Parte-se do particular, analisando-o, para chegar ao universal.
e A conduta reta está na coincidência das duas dimensões.
Funções da boa-fé
É a ideia relacionada à matéria de obrigações, pela necessidade de imprimir-se
uma dimensão ética às relações contratuais (ideia de probidade) e uma dimensão
de confiança à realidade dos fatos que levaram os contratantes a se aproximarem
e a estabelecerem algum tipo de vínculo.
 Cânone hermenêutico integrativo – elemento de integração (sistemas) ou
ligação entre particular e universal (art. 113, CC);
 Elementos de teste da confiança e de limite/orientação ao exercício de
direitos subjetivos (art. 187, CC);
 Estabelecimento de deveres jurídicos – deveres acessórios gerados da
relação de confiaça depoisitada na vinculação estabelecidas
e de cuidado e segurança (dever do depositário);
e de aviso e esclarecimento (profissionais liberais);
e de informação (relações de consumo);
e de prestação de contas (mandatários, gestores);
e de colaboração e cooperação (colaborar para o adimplemento da
obrigação);
e deveres de omissão e segredo.

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AULA 6

Função social dos contratos


Para compreender a ideia da função social dos contratos deve-se partir para o
problema da configuração/restrição e autonomia em matéria contratual. A
autonomia privada apresenta um conjunto de possibilidades de interpretação de
um texto a partir do “marco de significado” do próprio contrato e temos então
que entender qual é a extensão da autonomia dos sujeitos contratantes para
fazer valer as normas estabelecidas, do contrário pode-se restringir essa
autonomia.

Configuração/restrição e autonomia em matéria contratual


Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé
ou pelos bons costumes.

Reconhece um Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do
princípio de contrato. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)
segurança
jurídica aos Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais
contratantes fixadas neste Código.
para o alcance
de suas  Fim, função e causa
pretensões.

 Sinalagma contratual – é a reciprocidade de obrigações e correlação de


posições jurídicas para o estabelecimento de direitos e deveres;
 Consenso – fundado na intenção extraída da relação jurídica e na
declaração de vontade (dimensão subjetiva – validade; e objetiva – eficácia
da causa), art. 112 CC;
 Função social – compromisso à tipicidade contratual para fins de
interpretativos e reconhecimento do deslocamento patrimonial para fins
típicos (tráfego jurídico de bens e serviços);
 Atipicidade possível (art. 425 CC) – configuração e restrição em face do
caso, ressalva necessária.

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Configuração/restrição em face do desequilíbrio de posições


jurídicas
Situação de ilicitude pressuposta para fins de interpretação, quando observado
desiquilíbrio de exercício de posição jurídica contratual, ex.: contrato de adesão,
o contratante tem menor participação na formação do contrato, os contratos de
adesão tem por objetivo facilitar o momento de formação de vontade.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé
ou pelos bons costumes.

Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou


contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.

Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia
antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.

Ilicitude e invalidade
Adesividade e autonomia – decorrente do estabelecimento de posições jurídicas
correlatadas (problema de configuração) e a mitigação de uma liberdade de
estipulação.
Direito ← → dever (contrato civil) tônica à autonomia
Liberdade ← → não liberdade (contrato consumidor) tônica à vulnerabilidade.
 Invalidade (art. 424 CC) – resultado mais grave, por atingir à causa
primordial do negócio (desconfiguração de sua natureza típica) → retira
cláusula contratual;
 Ilicitude (art. 423 CC) – resultado por ponderação → interpretação mais
favorável.
Jurisprudências:
• STJ, REsp 469911 / SP, j. em 10.03.20082 (Contrato de seguro-saúde)
• STJ, REsp 1422191 / SP, j, 06.08.2015 (Renovação de contrato de seguro) 3

2 “(…) abusiva a cláusula limitativa de tempo de internação em UTI (…)”


3 “(…) função social do contrato de seguro (…) cláusula que permita à seguradora, em qualquer hipótese,
proceder à não renovação imotivada do seguro (…)”

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• STJ, REsp 1053810 / SP, j. 17.12.20094 (Transplantes)


• STJ, REsp 1315822 / RJ, j. em 24.03.2015 (Forma de celebração e adesão –
efeitos)
• STJ, REsp 1269118 / RJ, j. em 20/09/2012 (Fornecimento de serviços
essenciais – fins e função)
Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do
contrato. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)

Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da


intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual. (Incluído pela Lei
nº 13.874, de 2019)

Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até


a presença de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa
presunção, ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, garantido
também que: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

I – as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a


interpretação das cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou de
resolução; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

II – a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e


(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

III – a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada.


(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

AULA 7

Formação dos contratos


Há, no direito, uma ausência de um conceito específico para a ideia de contrato. A
ideia de contrato historicamente está associada a uma concepção de ação
(realizar, perpetrar, contrair vínculos) e não de objeto. Pode-se dizer que o
contrato é um pacto (noção essencialmente moderna), é um conceito associado
à ideia de vínculo e de troca de concensos. Enzo Roppo tentou conceituar o
contrato como “a veste jurídico-formal de operações econômicas”, pela
necessidade que essas operações devam ser reguladas pelo Direito, que tenham
sempre em vista a perspectiva de segurança jurídica.

4 “(…) ferir o fim primordial do contrato de seguro saúde (…)”

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Emílio Betti, juntou à ideia de segurança jurídica as noções de autonomia


conectas com as noções de função social. Para ele “O ato pelo qual o indivíduo
regula interesses próprios nas relações com os outros (atos de autonomia
privada) e aos quais o Direito confere os efeitos mais adequados à função
econômico-social que caracteriza o seu tipo”. Ou seja, na conceituação de Betti
percebe-se uma abertura por ao conceito anterior de Enzo Roppo, de regulação
pelo direito de atividades econômicas, mas toma uma propriedade específica
através da relação dos sujeitos de direitos uns com os outros (vinculação de
vontade) e a ideia de conferencia de importância ao direito através da ideia de
segurança jurídica e de determinação dos efeitos para cada tipo de contrato.
Ao trabalhar com a conceituação de contrato, Emilio Betti tenta responder trÊs
questões a serem suscitadas em matéria contratual. São elas: (I) como é? –
questão associada à forma; (II) que coisa é? – questão associada ao conteúdo; e
(III) por que é? – questão associada à causa.

Declaração de vontade (forma)


Trata de uma questão de estrutura, é a manifestação de vontade associada ao
comportamento dos contratantes, aqui vê-se a importância da relevância da
intenção pressuposta (art. 112 CC), mas também associamos essa intenção
pressuposta à ideia de boa-fé.
MANIFESTAÇÃO + COMPORTAMENTO = VÍNCULO COM EFEITOS
Declaração de vontade sempre vai ter uma natureza preceptiva ou dispositiva, ou
seja, é série o suficiente e tem capacidade de gerar vínculos. Toda a declaração é
revestida de seriedade, não se traduz em simples revelações de um estado de
ânimo interno, mas há a intenção de, com o comportamento, atingir-se uma
dimensão social.

Declaração e efeitos
A declaração de vontade se submete, institucionalmente, aos efeitos previstos no
ordenamento jurídico (art. 421 CC). Isso é o que se deduz da ideia de função social

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do contrato com a ideia de conformidade (daquilo que se quer contratar) ao os


efeitos jurídicos previstos.

Tipicidade legal (função social):


 Determinar os efeitos jurídicos que se relacionem ao negócio jurídico e de
delimitar seu conteúdo e identificam o tipo contratual. Permite a
identificação de uma segurança jurídica daquilo que se irá atingir,
independente do nome que se dê ao negócio jurídico;
 Distinguir o que é estranho a determinado tipo de contrato para que o
intérprete (juiz) conduza a indagação a cerca da licitude e legitimidade do
negócio realizado.
e Importante: art. 425 permite a formação lícita de contratos atípicos
Alcança-se na ideia de forma aquilo que é da gênese da formação do contrato,
que é a declaração de vontade dirigida a produzir efeitos jurídicos (art. 427 CC). A
ideia de obrigação da proposta de contrato, se explica, a partir do artigo 112 do
Código Civil. Emilio Betti também explica isso definindo que “A vontadeé uma
entidade autonoma que se contrapõe e se reúne à declaração, conservando-se
superior a ela, encontrando na declaração um simples complemento e meio de
expressão”.
Autonomia privada surge com a manifestação de vontade e com o
comportamento, expressando uma relação externa, operando para futuro,
independentemente da pessoa do contratante.

Proposta e aceitação
A proposta capaz de identificar a formação do vínculo, que é o que importa do
ponto de vista jurídico, é toda proposta que tem efetivamente uma seriedade, a
proposta tem que estar fundada na ideia de geração de expectativa no outro
contratante. Deve-se observar que esse estabelecimento de vínculo é aquele que
importa necessariamente em obrigatoriedade (art. 427, CC).
A conclusão do momento de declaração (separação da manifestação efetuada
por quem é o seu emissor (contratante)), essa conclusão pode ser imediata ou
demandar um tempo à configuração (questão das tratativas preliminares,
comportamentos concludentes).

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A aceitação importa, na mesma medida, em comprometimento sério em relação


aos contratantes. Tem relevância do momento em que permite a vinculação (art.
428, 430 e 431 CC).
A oferta pública (art. 429 CC) tem um direcionamento mais amplo e se associa a
ideia de publicidade5, deve estar marcada, portanto, por um princípio geral da
igualdade. O problema central aqui é a não-discriminação 6.

Silêncio e conduta concludente


A discussão acerca dessa matéria é em que medida a inércia consciente permite o
estabelecimento de um ato de autonomia de vontade capaz de estabelecer
vínculos. O artigo 432 do CC diz que quando o negócio for daqueles em que não
seja costume concordância expressa, reputa-se concluído o contrato não
chegando a tempo a recusa. O artigo demonstra relevância dos usos e costumes
próprios ao negócio. Emilio Betti da o exemplo do recebimento de fatura de
mercadoria que altere cláusulas contratuais onde não se considera alterado o
negócio jurídico, salvo se “do uso se consideram aceitas implicitamente as
cláusulas quando a fatura é recebida sem reservas”.
Reconhece-se o silêncio como vinculante, o comportamento silencioso submete-
se aos efeitos do negócio jurídico.
Jurisprudência: REsp. 1306367/SP, j. em 20.03.2014. “O seguro é contrato
consensual e aperfeiçoa-se tão logo haja manifestação de vontade,
independentemente de emissão da apólice. O art. 758 do Código Civil não confere
à emissão da apólice a condição de existência do contrato de seguro (…) Há de
ser aplicado o art. 434 (…) o art. 111 (…) se em um prazo razoável não houve
recusa da seguradora, há de considerar-se aceita a proposta e plenamente
aperfeiçoado o contrato.
(próx: aula 8)

5 Tem que se dar na mesma via de divulgação, ressalvada essa faculdade na oferta realizada.
6 Objeção de consciência.

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