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Cap8 Schultz
Cap8 Schultz
Psicologia aplicada
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vogadosdaempresaperceberamquenãotinhamnenhumaprovaparademonstrar queaquantidadedacafeínano
refrigerantenãotinhaefeitosprejudiciaissobreocomportamentohumano. Precisaramrecrutar umpsicólogopara
conduzir umimpressionanteprogramadepesquisa—etorcer paraqueosresultadosprovassemessaideia.
Primeiro, pediramaJames McKeen Cattell, umdospsicólogos maisfamosos dosEstados Unidos, mas
ele não estavainteressado, assimcomo tambémmuitos outros não estavam. Mas umhomemficou ansioso
paraaceitar o quepercebeu ser umagrandeoportunidade. Seu nomeeraHarry Hollingworth.
170 História da psicologia moderna
“Os pensamentos de Wundt jamais seaclimatarão aqui, pois são antagônicos ao espírito etemperamento
americanos” (Hall, 1912, p. 414).
Osnovospsicólogosnorte-americanostransformaramaformadepsicologiaalemãemumpadrão norte-
-americano dinâmico. Emvez de estudar afunção da mente, começaramaanalisar o seu funcionamento.
Enquanto algunspsicólogosnorte-americanos, emespecial James, Angelí eDewey, desenvolviamaaborda
gemfuncionalista nos laboratórios acadêmicos, outros aaplicavamemambientes foradas universidades. O
movimento rumo àpsicologiapráticaocorriasimultaneamenteàfundação dofuncionalismo como escolade
pensamento independente.
Os adeptosdapsicologiaaplicadainseriramsuapsicologiano mundo real, emescolas, fábricas, agências
de publicidade, tribunais, clínicas de orientação infantil ecentros desaúdemental. Desse modo, mudaram
radicalmente anatureza dapsicologia norte-americana, assimcomo fizeramos fundadores acadêmicos do
funcionalismo. Aliteraturaespecializadadaépocarefleteosseusimpactos. Por voltade1900, 25%dosartigos
de pesquisa publicados nas revistas norte-americanas especializadas empsicologia abordavamapsicologia
aplicadaemenosde3%tratavamsobreométododeintrospecção (O’Donnell, 1985). AsabordagensdeWundt
eTitchener, queacabavamdecriar a“nova” psicologia, estavamrapidamentesendo superadaspor umapsi
cologiaaindamaisatual. MesmoTitchener, ograndepsicólogoestruturalista, reconheceu essatransformação
avassaladoranapsicologianorte-americana. Em1910, escreveu: “Senaquelaépocapedíssemosaalguémque
resumisseemumafraseatendênciadapsicologianosúltimosdez anos, eleresponderia: apsicologia, defini
tivamente, voltou-separaaaplicação” (apudEvans, 1992, p. 74).
NãoháprecedentesnahistóriacomparáveisaodesenvolvimentoacadêmicodapsicologianosEstadosUnidos,
aolongodosúltimoscincoanos. Apsicologiaématériaobrigatórianoscurrículosdegraduação [...] e, hoje,
entreosdiversoscursos universitários, concorrecomasoutrasgrandesciênciasemnúmero deestudantes
interessadosenaquantidadedetrabalhosoriginaisrealizados. (Cattell, 1896, p. 134)
Testes mentais
O espírito funcionalistadapsicologianorte-americanatambémestábemrepresentado navidaeno trabalho
deJames McKeen Cattell, que promoveu uma abordagemprática comaaplicação de testes no estudo dos
processosmentais. Suapsicologia concentrava-se no estudo dascapacidades humanas enão do conteúdo da
consciência, enesseaspecto eleestábempróximo dosfuncionalistas.
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sasdrogas, uma vez que observava o próprio comportamento eestado
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J a m e s M c K e e n Cattell.
f i g u r a 8.1 aulasdelaboratório deHall. Escolheu como temadepesquisao tempo
Capítulo 8 Psicologia aplicada 175
administradores, éque deviamtomar muitas das decisões emrelação àadministração dauniversidade. Para
essefim, ajudou afundar aAmerican Association of University Professors—AAUP (Associação Americana
de Professores Universitários), que existe até hoje. Era considerado pela administração da Columbia uma
pessoadepouco tatoedescritocomo difícil, “grosseiro, irremediavelmentedesagradável esemgenerosidade”
(Gruber, 1972, p. 300). Obiógrafo deCattell escreveu queele, “frequentemente, exibiaumegotismo auto-
complacente, queolevavaaesperar queoutrossesubmetessemaseuponto devista, eumaimpaciênciacom
todososgrupos do qual elenão erao centro”. Eletambémédescrito como difícil, desagradável esarcástico
(Sokal, 2009, p. 90).
Emtrêsocasiões entre 1910e1917, oscuradores dauniversidadechegaramapensar emforçar Cattell a
seaposentar. O golpedecisivo foi desferido naépocadaPrimeira GuerraMundial, quando Cattell escreveu
duascartasparaosparlamentares dosEstadosUnidos, protestando contrao envio desoldadosparaaguerra.
Essa posição era muito impopular, mas Cattell permaneceu inflexível. Foi demitido em 1917, acusado de
deslealdadeaosEstadosUnidos.
Novos dados históricos revelaramqueagentes do FBI invadiramsuacasa, “o queparece (deformanão
surpreendente) tê-lo irritado profundamente ereforçado ainda mais afúria que ele sentia emrelação aos
administradores dauniversidade” (Sokal, 2011, p. 103). Eleprocessou auniversidadepor calúnia e, embora
houvesserecebido 40 mil dólares (somabastantesubstancial paraaépoca), não foi reintegrado. Isolou-sedos
amigos eescreveu folhetos, satirizando aadministração da universidade. Homemamargo no final davida,
Cattell fezmuitosinimigos ejamaisvoltou paraavidaacadêmica. Dedicou-seàssuaspublicaçõeseàAAAS
eoutrassociedadesintelectuais.
Testes mentais
Emumartigo publicado em1890, Cattell empregou aexpressão testes mentais. Declarou: “A psicologia
não serácapaz deatingir acerteza eaexatidão das ciênciasfísicas amenos quesebaseienos fundamentos
da experiência e da medição. Um passo nessa direção pode ser dado, aplicando-se uma série de testes e
mensurações mentais a um grande número de pessoas”. (Cattell, 1890, p.
Testes mentais: testes de 373) EraexatamenteissoqueCattell estavatentando fazer, coletando dados
hab ilidades m otora s e c a p a c id a d e s
se n so ria is; o s testes de
dediversos calouros.
inteligência u sa m m e d iç õ e s m ais Os tipos detestesusadospor Cattell paramedir aamplitudeeavariabi
c o m p le x a s d a s habilidades lidade da capacidade humana eramdiferentes dos testes de inteligência ede
mentais.
capacidade cognitiva, desenvolvidos mais tarde pelos psicólogos, os quais
medemtarefas mentais mais complexas. Os testes de Cattell, assimcomo os
de Galton, lidavamprincipalmente comasmedidassensório-motoras elementares, incluindo pressão do di
namómetro, taxademovimento (por exemplo, comquerapidez amão semove 50 cm), limiar desensibili
dadecutâneadedoispontos, quantidadedepressão natestanecessáriaparaprovocar dor, diferençasnotáveis
napercepção depesos, tempo dereação ao sometempo paranomear ascores.
Emtorno de1901, Cattell haviacoletadodadossuficientesparacorrelacionar osresultadosdostestescom
asmedições do desempenho acadêmico dos estudantes. As correlações mostraram-se muito baixas, assim
como asintercorrelaçõesentreostestesindividuais. Como Titchener obtiveraresultadossemelhantesemseu
laboratório, Cattell concluiu que testes desse tipo não apresentavamprognósticos válidos do desempenho
universitário ou, por suposição, dahabilidadeintelectual.
178 História da psicologia moderna
Comentários
AinfluênciamaisfortedeCattell napsicologianorte-americanafoi medianteseutrabalho como organizador,
executivo eadministrador daciênciaedapráticapsicológicasecomoarticulador daligaçãoentreapsicologia
easprincipaiscomunidadescientíficas. Tornou-seoembaixador dapsicologia, lecionando, editando revistas
epromovendo aaplicação práticanaárea.
Combasenotrabalho deGalton, Cattell investigouanaturezaeaorigemdahabilidadecientífica, usan
do seu método de graduação por ordemde mérito. Os estímulos classificados por váriosjulgadores foram
organizados emuma sequência classificatória final, calculando-se agraduação média atribuída acada estí
mulo. O método foi aplicado ememinentes cientistas norte-americanos eavaliado por colegas igualmente
destacados de cada área. O livro de referênciaAmerican men of science foi escrito combase nesse trabalho.
Apesar do título do livro, eletambémincluíaascientistas norte-americanas. A edição de 1910 relaciona 19
psicólogas, representando cercade 10%dospsicólogosmencionados (O’Donnell, 1985).
Comseutrabalhoarespeito dostestesmentais, damensuração dasdiferençasindividuaisecomapromo
çãodapsicologiaaplicada, Cattell reforçouativamenteomovimentofuncionalistanapsicologianorte-americana.
Quando faleceu, ohistoriador E. G. Boring escreveu aosfilhosdeCattell, dizendo: “Emminha opinião, seu
pai realizou mais atémesmo que WilliamJames, por dar àpsicologianorte-americana esseponto de vista
peculiar etorná-ladiferenciadadapsicologiaalemã, daqual seoriginou” (apudBjork, 1983, p. 105).
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Em 1904, emrazão de uma necessidade prática, surgeaoportunidade de Binet provar o seu ponto de
vista. O ministro daEducação francês criou uma comissão para estudar acapacidade de aprendizagemdas
criançasqueapresentavamdificuldadesnaescola. Binet eThéodore Simon (umpsiquiatra) foramnomeados
parafazer partedacomissãoe, juntos, pesquisaramquaiseramastarefasintelectuaisqueamaioriadascrian
çasestaria aptaadominar nas diversasfaixas etárias. A partir daidentificação dessas tarefas, desenvolveram
umtestedeinteligênciacomposto de30problemasapresentadosnaordemcrescentepor nível dedificuldade.
O testeconcentrava-seemtrêsfunções cognitivas: julgamento, compreensão eraciocínio.
Idade mental
Três anos mais tarde, revisarameampliaramo testeeintroduziramo conceito deidade mental, definida
como aidadeemqueacriançacomhabilidademedianaécapaz derealizar tarefasespecíficas. Seumacrian
çacomaidadecronológicade4anosdesempenhassebemtodosostestes, realizadoscommaestriapelamédia
das crianças de 5 anos daamostragem, por exemplo, então, seriaatribuída a
Idade mental: idade na qual as ela, aidademental de5anos.
c ria n ç a s podem realizar certas
tarefas típicas da idade.
Em 1911, o testefoi revisado pelaterceiravez, mas, depois damorte de
Binet, osEstados Unidos passaramadominar o avanço nos testes de inteli
gência. Seustestesforammaisbem-aceitosnessepaísdo quenaFrança, ondeosesforçosno desenvolvimen
to dostestesdeinteligênciaemlargaescalaforamreconhecidossomentedepois dadécadade 1940.
OtestedeBinet foi traduzidodofrancêsparaoinglêseapresentadoparaospsicólogosnorte-americanos
em 1908, por Henry Goddard (1866-1957), que foi o único treinador de futebol invicto na University of
Southern Califórnia (USC), uma rara distinção para umpsicólogo (Benjamin, 2009b). Goddard, depois,
180 História da psicologia moderna
que setinha pensado anteriormente. Um emcada quatro homens que fez os testes não era capaz de1er ou
compreender os artigos dojornal diario ou, até mesmo, de escrever cartas para seus familiares (Murdoch,
2007, p. 86). Emboraoprogramanão tenhasurtido efeito direto sobreoesforçodeguerra, foi muito impor
tante no campo dapsicologia. A publicidade valorizou aimportancia dapsicologia, eos testes do exército
serviramcomo prototiposparao desenvolvimento deoutros.
1O beisebol é um dos esportes mais populares dos Estados Unidos, e essajogada consiste em rebater abola com o bastão, resultando em bom
lance deataque. (NT)
182 Historia da psicologia moderna
[A curva do sino] (Hernstein eMurray, 1994), umlivro que afirma, combase emresultados de testes de
inteligência, que osbrancos são mais inteligentes que os negros. A predominância da evidência mostrava,
dessavez, que testes de inteligência pesquisados commais seriedade não são distorcidos significativamente
por causadacultura (Rowe, Vazsonyi eFlannery, 1994; Suzuki eValencia, 1997). Maistarde, 52peritosem
testesgeraisendossaramessaconclusão, afirmando: “Ostestesdeinteligêncianãosãodistorcidosemrazãode
aspectos culturais contra afro-americanos ou pessoas de outra nacionalidade falantes de inglês nos Estados
Unidos. Aocontrário, osresultadosdotestedeQI prognosticamigual eprecisamentetodososnorte-americanos,
independentemente daraçaedaclassesocial” (Gottfredson, 1997, p. 14).
Umrelatóriopreparadopelo ComitêdeAssuntosCientíficos (BoardofScientificAffairs) daAPA concor
daqueostestesdehabilidadecognitivautilizadosatualmentenãodiscriminamgruposdeminoria, masrefletem
emtermosquantitativosadiscriminação criadapelasociedadeaolongo do tempo (Neisser et al., 1996).
As contribuicões
i da mulher ao movimento dos testes
Constatamosatéagoraque, namaior partedahistóriadapsicologia, amulher foi proibidadeseguir acarrei
raacadêmica. Por isso, muitaspsicólogasbuscaramemprego no campo daaplicação, especialmente empro
fissões assistenciais, como apsicologia clínica e de aconselhamento, aorientação infantil eapsicologia
escolar. Asmulheres ofereceramsignificativascontribuições nessasáreas, principalmenteno desenvolvimen
to enaaplicação dostestespsicológicos.
FlorenceL. Goodenough recebeu o Ph.D. daStanford University em1924. Eladesenvolveu o Testedo
desenho da figura humana (hoje denominado Teste de Goodenough-Harris), um teste não verbal muito
utilizadoparacrianças. Foi pioneiranaelaboraçãodetestesetrabalhou durante20anosno Institutefor Child
Development (Instituto de Desenvolvimento Infantil), da University of Minnesota. Publicou uma análise
detalhada do movimento dos testespsicológicos (Goodenough, 1949) eescreveu diversos trabalhos relacio
nadoscomapsicologiainfantil.
Capítulo 8 Psicologia aplicada 185
A biografia de Witmer
Nascidoem1867, naFiladélfia, formou-senaUniversity of Pennsylvaniaem1884elecionou históriaeinglês
emumaescolaparticular naFiladélfia, antesderetornar paraauniversidadeafimdecursar direito. Naque
laépoca, aparentemente não demonstrava interesse emseguir acarreira na psicologia, mas mudou de ideia
por razõespráticas. Procuravaumcargo remunerado como assistente, e
umadasvagasdisponíveiserano departamento depsicologiadeCattell.
Esseémaisumexemplo dainfluênciado Zeitgeist económico. Umbió-
i grafo deWitmer declarou:
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danecessidadeextremamenterealistadareceitaadicional queseriaobtida
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por meiodeumcargodeassistente. (McReynolds, 1997, p. 34)
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As clínicas de avaliação
/ infantil
Sendo o primeiro psicólogo clínico do mundo, Witmer não tinha exemplos nemprecedentes para os seus
casos; então, foi elaborando odiagnóstico eotratamento, conformeasnecessidades. “Devido àfaltadequal
quer princípio parame orientar, foi necessário envolver-me diretamente no estudo dessascrianças, criando
métodospróprios, àmedida queprosseguiacomo tratamento” (Witmer, 1907/1996, p. 249).
As crianças encaminhadas àclínica de Witmer apresentavam diversos problemas, alguns dos quais
identificados por ele como hiperatividade, dificuldade de aprendizagem ebaixo desempenho motor e
oral. Quando adquiriu mais experiência ese sentiu mais confiante, desenvolveu programas-padrão de
avaliação etratamento eaumentou o quadro depessoal daclínica, contratando mais médicos, assistentes
sociais epsicólogos.
Witmer reconhecia que osproblemas físicos afetavamo funcionamento cognitivo eemocional; assim,
pediaaosmédicos que examinassemascriançaspara determinar seadesnutrição ou asdeficiênciasvisual e
auditivaconsistiamemfatores contribuintes paraasdificuldades dospacientes. Depois desseexame, ospsi
cólogostestavam-noseosentrevistavam, eosassistentessociaispreparavamohistóricoarespeitodaformação
familiar decadaum.
No início, Witmer acreditavaqueosfatoresgenéticosfossemosprincipaisresponsáveispelosdistúrbios
cognitivos ecomportamentais; mais tarde, porém, percebeu que os fatores ambientais erammais impor
tantes. Eleprognosticou anecessidadedeproporcionar diversasexperiênciassensoriaislogo nosanosiniciais
davidadacriança, antecipando acriação deprogramas detratamento eaperfeiçoamento, como oprogra
maHead Start.2Acreditavano envolvimento dafamíliaedaescolano tratamento dospacientes, alegando
que, seascondições dacasaedaescolafossemmelhoradas, o comportamento dacriançatambémmudaria
paramelhor.
Comentários
Váriospsicólogoslogo seguiramo exemplo deWitmer. Por voltade 1914, quase20 clínicas depsicologiajá
operavamnos Estados Unidos, amaioria seguindo ospadrões da clínica dele. Alémdisso, seus ex-alunos
disseminaramasuaabordagemepassaramparaasnovasgeraçõestudo oquetinhamaprendido arespeito do
trabalho clínico. A influênciadeWitmer atingiu aáreadaeducação especial. Seualuno, MorrisViteles, am
pliou otrabalho, estabelecendo umaclínicadeorientaçãovocacional, aprimeiradessetipo nosEstados Uni
dos. Outros seguidoresdeWitmer aplicaramasuaabordagemclínicaempacientesadultos.
A biografia de Scott
Nasceu emumafazendapróximaàcidadedeNormal, emIllinois. Emcertaocasião, enquanto ojovemScott
aravaaterra, ocorreu-lheaideiadamelhoriadoambientedetrabalho. Seupai estavasempredoente, eassim
o garoto de 12 anos eraresponsável por grandeparte daadministração dapequena fazenda dafamília. Um
dia, depois dearar umtrecho do solo para o plantio, parou no final dos sulcos para oscavalosdescansarem
umpouco eavistou adistânciaosprédios do campus daIllinoisStateNormal University. Derepente, perce
beu que, sealmejavaobter uma vida melhor, não podia mais perder tempo. Eleperdia dez minutos acada
horadearagemparaoscavalosdescansarem! Essesminutos, somados, totalizavamcercadeumahoraemeia
por dia, tempo que poderia usar para estudar. Então, Scott decidiu carregar consigo livros paraler durante
qualquer intervalo.
Parapagar amensalidadedafaculdade, colhiaeenlatavaamoras, recuperavasucataparavender, alémde
fazer trabalhosocasionais. Guardavapartedodinheiroeorestantegastavaemlivros. Com19anos, matriculou-
-senaIllinoisStateNormal University ecomeçou sualongajornadaparalongedafazenda. Doisanosdepois,
Capítulo 8 Psicologia aplicada 191
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nheiro extra. Fez partedo time defutebol americano dauniversidade e,
nessaépoca, conheceu AnnaMarcy Miller, comquemviriaasecasar.
paraaAlemanha eparasecasar.
Em21 dejulho de 1898, Scott esuanoivapartiram. Enquanto eleestudavacomWundt, Anna Miller
Scott trabalhavano seu Ph.D. emliteraturanaUniversity of Halle, cercade30 quilômetros distante. Muitas
vezeselesseencontravamapenasnosfinsdesemana. Ambos receberamo doutorado doisanos depois. Scott
passou afazer partedo corpo docentedaNorthwestern University como orientador depsicologiaepedago
gia, jámostrando suatendênciadeaplicar apsicologiaaosproblemas educacionais.
Algunsanosdepois, seusinteressesmudaramaoser procuradopor umexecutivopublicitário, quepedia
quetentasseaplicar apsicologianosanúncios, comointuito deaumentar aeficáciadeles, ideiaquedesper
tou seu interesse. Acompanhando o espírito do funcionalismo norte-americano, o caminho de Scott
distanciava-se da psicologia wundtiana àmedida que encontrava formas para empregar apsicologia nas
questões davida real.
Scott escreveu Teoria eprática dapublicidade [The theory andpracticeof advertising] (1903), oprimeiro livro a
respeito do assunto, e, emseguida, outros livros eartigos pararevistas. Suaperícia, reputação econtatos na
comunidade empresarial ampliaram-se rapidamente. Eletambémvoltou suaatenção para osproblemas ad
ministrativosedeseleçãodepessoal. Em1909, foi promovido aprofessor depublicidadenaescoladecomér
cio da Northwestern University. Em 1916, foi indicado professor de psicologia aplicada e diretor do
departamento depesquisasdashabilidadesemvendasdaPittsburgh’sCarnegieTechnical University.
Quando osEstados Unidos entraramnaPrimeira GuerraMundial, em1917, Scott ofereceu ao exército
suashabilidadesparaajudar naseleçãodossoldados. No início, Scott esuaspropostasnãoforambem-aceitos,
porque nemtodos estavamconvencidos do valor prático dapsicologia. Ogeneral do exército comquemele
tinhadelidar ficoufuriosoeexpressousuadesconfiançaaprofessores. “Eledissequeerasuafunção enxergar
que osprofessores universitários não conseguiamprogredir eque nós estávamos emguerra comosalemães
enão tínhamostempo aperder comexperiências” (Scott, apudVonMayrhauser, 1989, p. 65). Scott acalmou
o homemirado, levou-o paraalmoçar econvenceu-o do valor dassuastécnicas deseleção. Aparentemente,
Scott conseguiu provar seu ponto devistae, posteriormente, o exército acabou concedendo-lhe umameda
lhapelosserviçosprestados.
Depoisdaguerra, Scott fundou suaprópriaempresa(comonomebem“criativo” deTheScott Company)
paraprestar serviçosdeconsultoriaàsempresasquedesejassemauxílio naseleçãodepessoal enamelhoriada
eficácia do trabalhador. Tambémfoi reitor da Northwestern University, entre 1920 e 1939. O saguão da
universidadefoi batizado deSalão Scott, emhomenagemaWalter Dill Scott eAnnaMiller Scott.
192 Historia da psicologia moderna
Scott alegava que o consumidor pode ser facilmente influenciável, porque, muitas vezes, não age de
maneiraracional. Consideravaqueemoção, simpatiaesentimentalismosãofatoresqueaumentamasugestio
nabilidade do consumidor. Tambémacreditava, como era comumnaquela época, que amulher era mais
sugestionável queo homem. Aplicando sualei dasugestionabilidade, recomendavaàsempresas queusassem
comandosdiretosparavender oproduto, como, “UseosabãoX”. Eletambémpromoveu o uso doscupons,
porquefaziamosconsumidorestomaremumaatitudedireta, como recortar ocupomdojornal, preenchê-lo
comnomeeendereço eremetê-lo paraaempresa, afimdereceber umaamostragrátis. Essastécnicasforam
adotadascomentusiasmo pelospublicitários e, emtorno de 1910, o usojáerageneralizado.
Seleção de pessoal
Paraaseleçãodosmelhoresfuncionários, principalmenteentreopessoal devendas, executivosemilitares, Scott criou
escalasdeclassificaçãoetestesemgrupoparamedir ascaracterísticasdaspessoasjábem-sucedidasnessasocupações.
Assimcomo Witmer napsicologiaclínica, Scott não tinha como sebasear emalgumtrabalho anterior.
Procurou oficiaisdo exército egerentes deempresas, pedindo-lhes queclassificassemseussubordinadospor
aparência, porte, sinceridade, produtividade, caráter evalor profissional para aorganização. Em seguida,
classificouoscandidatosàsvagasdeacordo comasqualidadesconsideradasnecessáriasparaobomdesempe
nho dafunção, procedimento semelhanteaoadotado atualmente.
Scott desenvolveu testespsicológicosparamedir ainteligênciaeoutrashabilidades, mas, emvez deava
liar os candidatos individualmente, criou testes para aplicação emgrupo. Quando há grande número de
candidatosparaser avaliado empouco tempo, ostestesemgrupo sãomaiseficientesemaiseconômicos.
Essestesteseramdiferentesdosqueestavamsendo desenvolvidospor Cattell eoutrospsicólogosdaapli
cação. Scott não apenas media ainteligência geral, como tambémseinteressava emsaber como apessoa
empregava ainteligência. Emoutras palavras, desejavasaber como o indivíduo processavaasinformações e
dequemaneiraainteligênciafuncionava no mundo cotidiano. Eledefiniu ainteligência não emtermos de
habilidades cognitivas específicas, mas emtermos práticos, comojulgamento, rapidez eprecisão, que são
características necessáriasparaarealização de umbomtrabalho. Ele comparava osresultados dos testes dos
candidatos comosdefuncionáriosbem-sucedidos enão sepreocupavacomaindicação queessesresultados
pudessemdar arespeito doselementos mentais.
Capítulo 8 Psicologia aplicada 193
Comentários
Scott, assimcomo Witmer, não foi alvo de muita atenção na história dapsicologia durante muitos anos, e
diversasrazõescontribuíramparaesserelativodescaso. Assimcomomuitospsicólogosdapsicologiaaplicada,
Scott não formulou teorias, não fundou uma escoladepensamento nemtevediscípulosleaisparadar conti
nuidadeaseu trabalho. Conduziu poucapesquisaexperimental enão publicou muito nasprincipaisrevistas.
Seustrabalhosparaasempresas do setor privado eparao exército eramdirecionados aproblemasmuito es
pecíficos. Muitos psicólogos acadêmicos, principalmente osqueocupavamposições detitular nasprincipais
universidades econtavamcomlaboratórios bemfinanciados, menosprezavamo trabalho dos psicólogos da
aplicação, poisacreditavamqueelespouco contribuíamparaoprogresso dapsicologiacomo ciência.
Scott eoutros psicólogos que trabalhavamcompsicologia aplicada contestavamessanoção. Não viam
conflito entre aaplicação dapsicologia eo seu avanço como ciência. Os psicólogos da aplicação alegavam
que, ao trazer apsicologia aos olhos do público, conseguiamdemonstrar o seu valor, eassimaspesquisas
psicológicas nos laboratórios acadêmicos passavamaser mais reconhecidas. Dessamaneira, ospioneiros da
psicologiaaplicadarefletiamo espíritofuncionalistanorte-americano, comatarefadetransformá-laemum
instrumento utilitário.
Lilian Gilbreth
Emtermosprofissionais, apsicologiaindustrial-organizacional tem, historicamente, oferecidooportunidades
decarreiraparaasmulheres. Aprimeirapessoaaobter oPh.D. naáreafoi LillianMoller Gilbreth (1878-1972),
querecebeu o título em1915, naBrown University. Emconjunto comseumarido, Frank Gilbreth, elapro
moveuaanálisedotempo-movimento como umatécnicaparamelhorar odesempenhonotrabalho. Também
foi uma das primeiras areconhecer o valor da filmagemdas pessoas emseu trabalho como uma forma de
analisar seusmovimentos (Belliveau, 2012).
No entanto, muitos empresários daquelaépocanão aceitavamapresençadepsicólogasnos escritórios e
nasfábricas. Equando Lillian eFrank escreveramumlivro sobreaeficiênciaindustrial, o editor recusou-se
amencionar o nome delanacapa, justificando queafetariaacredibilidade do livro. Seu próprio livro sobre
apsicologia gerencial foi publicado somente quando elaconcordou que seu nome aparecesse como L. M.
Gilbreth, emvez deLillian Gilbreth; alegou-se que o empresário não comprariao livro sevisseo nome de
umaautoranacapa. Elasuperou essaeoutrasbarreiraseconseguiuobter umalongacarreiradesucesso(Kelly
eKelly, 1990). Suaimagemchegou atéaser estampadaemumselopostal norte-americano.
Lilian Gilbreth realizou tudo isso enquanto criava doze filhos. “Entre 1905 e 1922, Lilian deu aluz
treze vezes, emintervalos de 15meses; uma criança morreu comidade de 5 anos” (Lepore, 2009, p. 88).
Doisdeseusfilhosescreveram, depois, sobrecomo foi crescer emumafamíliacomo essa, obraquesetornou
umlivro muito popular eumfilmechamado Doze édemais. Elaaindatrabalhou atédepoisdechegar aos90
anosefoi responsável pelasprincipaismudançasno modo como otrabalho égerenciado enaeficiênciacom
queérealizado tanto nasempresas como emcasa. Por exemplo, abraageladeiraevejaasprateleiras quehá
naporta—essaideiafoi deLilian Gilbreth. Como resultado disso, asgeladeirastêmmaior capacidadeeum
desenho mais eficaz. Para saber mais sobre Lilian Gilbreth, visite o site <www.webster.edu~woolflm/gil-
breth2.html>. Atualmente, maisdametadedoscandidatosaPh.D. empsicologiaindustrial-organizacional
são mulheres.
“dotado de uminstinto extraordinário para o sensacionalismo. [Suaj vidapode ser interpretada como uma
sériedepromoções desi mesmo, dasuaciênciaedasuapátria-mãe [aAlemanha)” (Hale, 1980, p. 3).
Eleeraextremamenteegocêntrico epretensioso. OfilósofoGeorgeSantayanaodescreveucomo “pom
poso” e“extremamenteegoísta.” Münsterberg, certavez, disseaSantayana, duranteumaviagemtransatlân
tica, que era “surpreendente ver quantas pessoas estão viajando neste navio só porque estou aqui” (apud
Benjamin, 2006b, p. 419).
No fimdavida, Münsterberghaviasetornado alvo dedesprezo eridículo, retratado emchargesecari
caturasdejornais; umavergonhaparaauniversidadeemquehaviatrabalhadováriosanose“umadaspessoas
maisodiadasdosEstadosUnidos” (Benjamin, 2000b, p. 113). Ao morrer, em1916, poucaspalavraselogiosas
foramproferidasparao homemqueumdiaforaumgigantedapsicologianorte-americana.
A biografia de Münsterberg
Em1882, com19anos, MünsterbergdeixouDanzig, suaterranatal, naAlemanha(hojeGdansk, naPolônia),
eseguiu paraLeipzig, comaintenção decursar auniversidadedemedicina. No entanto, mudou seusplanos
decarreiraquandofezumcurso depsicologiacomWilhelmWundt. Ficou entusiasmado comanovaciência,
maisespecificamentecomasoportunidadespromissoras queapesquisaeapráticadamedicinanão oferece
riam. Fez o doutorado comWundt, recebendo o título em 1885, eformou-se médico doisanos depois, na
University of Heidelberg, na expectativa de que ambas asgraduações aumentariamsua capacitação para a
carreira napesquisaacadêmica. Aceitou lecionar naUniversity of Freiburg einstalou umlaboratório nasua
casa, comfinanciamento próprio, porqueauniversidadecareciadeinstalaçõesadequadas.
Münsterberg escreveu artigos arespeito do seu trabalho experimental napsicofísica e, logo, alunos de
todasaspartesdaEuropa, aosbandos, procuravamseulaboratório. Elepareciatrilhar ocaminho corretopara
assegurar acadeiradeprofessor universitário eareputação derespeitável pesquisador.
Em1892, WilliamJamesseduziuMünsterberg, desviando-o dessecaminho medianteaofertadetornar-
-se umdiretor muito bempago do laboratório depsicologia daHarvard. James lançou mão de elogios, di
zendo aMünsterbergqueHarvard eraamaior universidadenorte-americanaequenecessitavadeumgênio
paradirigir o laboratório. Münsterberg preferiapermanecer naAlemanha, mas suaambição o fez sucumbir
àtentação, levando-o aaceitar aofertadeJames.
Depois depassar dez anos emHarvard, talvez percebendo quenenhuma universidadealemãjamais lhe
ofereceria uma cadeira detitular, escreveu seu primeiro livro eminglês. American traits [Traços americanos]
(1902) consistiaemuma análisepsicológica, social ecultural dasociedade norte-americana. Escritor rápido
etalentoso, Miinsterbergeracapazdeditar paraasuasecretáriaumlivrode400páginasemummês. William
James diziaqueo cérebro deleparecianão secansar nunca.
A calorosaaceitação deseulivro encorajou-o adirecionar ostrabalhosseguintesparaopúblico emgeral
enãoparaoscolegasdaárea. Essesartigoslogosetornarammatériaprincipal depublicaçõespopularesenão
de revistas especializadas empsicologia. Abandonou apesquisapsicofísica sobre o conteúdo da mente para
dedicar-seàbuscadesoluçõesparaosproblemas cotidianos.
Seusartigosabordavamjulgamentos nostribunais eosistemajudiciário criminal, publicidadeparapro
dutosdeconsumo geral, orientaçãovocacional, saúdemental epsicoterapia, educação, questõesrelacionadas
aindústria ecomércio, eatémesmo apsicologia defilmes cinematográficos. Preparou cursos deadminis
tração eaprendizagempor correspondênciaegravou filmessobretestesmentais, exibidosemtodososcine
mas dosEstados Unidos.
Münsterbergjamais fugiu de uma polêmica. Durante ojulgamento sensacionalista de umcriminoso,
administrou cemtestes mentais ao assassino confesso de 18 pessoas, que acusava umlíder sindical de tê-lo
contratado para assassiná-las. Combase nos resultados do teste, Münsterberg anunciou, mesmo antes de o
júri chegar aoveredicto, queaconfissão do assassinoacusando olíder sindical eraverdadeira. Quando ojúri
absolveu o líder sindical, o prejuízo na reputação de Münsterberg foi enorme, eumjornal apelidou-o de
“Professor Monster-work”.
Em 1908, Münsterberg envolveu-se no episódio do movimento de proibição da venda de bebidas
alcoólicas. Posicionava-secontrário àproibição, citando seusconhecimentoscomo psicólogo eexpressan
do avisão de que o consumo moderado de bebida alcoólica seria atébenéfico. Os fabricantes alemães e
norte-americanos de cerveja, incluindo Adolphus Busch e Gustave Pabst, ficaramsatisfeitos por contar
como apoio deMünsterberg ederamcontribuições generosas parafinanciar seus esforços demelhorar a
imagemdaAlemanhaperanteosEstadosUnidos. Emuminfeliz esuspeito espaço curto detempo, Busch
teria doado 50 mil dólares para o Museu Alemão proposto por Münsterberg, apenas algumas semanas
depois dapublicação de seu artigo denunciando aproibição. Essacoincidência foi alvo de muita atenção
damídiajornalística.
Asideias deMünsterberg sobreamulher tambémerampolêmicas. Eleatéaceitavaaideiadapresen
ça da mulher nos cursos de pós-graduação em Harvard, como os exemplos de Mary Whiton Calkins
(Capítulo 7), masacreditava que essetrabalho exigia demais damulher. Dizia que elanão deviaser edu
cadaparaacarreiraprofissional, poisisso aafastavado lar, nemdevialecionar emescolaspúblicas, já que
era umfraco exemplo paraosmeninos. Alémdisso, não deviaser convocada parafazer parte deumjúri,
pois não tinha capacidadepara tomar decisõesracionais, observação quevirou manchete dediversosjor
nais estrangeiros.
O reitor da universidade Harvard eamaioria deseuscolegas condenavamsuatendência deemitir co
mentários sensacionalistas para aimprensa arespeito de questões polêmicas e, alémdisso, reprovavamseu
interessepelapsicologiaaplicada. A tensão nasrelaçõesatingiu oaugequando Münsterberg defendeu publi
camenteasuapátria, aAlemanha, durante aPrimeira Guerra Mundial. A opinião públicanorte-americana
posicionava-se totalmente contrária àquelepaís. A Alemanha eraaagressorana guerra quejá havia ceifado
milhões devidas, masMünsterberg, ainda umcidadão alemão, defendiaabertamente o seu país. Osjornais
acusavam-no deser agente secreto, espião ou oficial dealtapatente do exército alemão eexigiamasuade-
198 História da psicologia moderna
Apsicoterapia
O livro deMünsterberg, Psicoterapia [Psychotherapy], publicado em1909, enfocavaumaáreadiferentedapsi
cologiaaplicada. Münsterbergtratavaospacientesemseu laboratório, enão emumaclínica, ejamaiscobra
vapelosserviços. Alegavaqueessaposição lheproporcionavacertaautoridadeesesentiacomliberdadepara
dar orientaçõesdiretasaospacientesdecomoagir paramelhorar. Acreditavaqueadoençamental erarealmente
umproblemadedesajustecomportamental, enão atribuível aconflitosinconscientessubjacentes, como afir
mava Sigmund Freud. “Não existe o subconsciente”, afirmava Münsterberg (apud Landy, 1992, p. 792).
3Agradecemosao dr. Ludy T. Benjaminjr. por nosfornecer essainformação com baseemsuapesquisa arespeito dostrabalhosdeMünsterberg na
Biblioteca Pública de Boston.
Capítulo 8 Psicologia aplicada 199
Quando Freud visitou aClark University em1909, aconvite de G. Stanley Hall, Münsterberg saiu do país
paraevitar umconfronto. Retornou somentedepoisdeFreud ter voltado paraaEuropa.
Embora olivro deMünsterberg sobrepsicoterapiatenhacontribuído muito paradivulgar o campo da
psicologia clínica, não foi bem-aceito por Lightner Witmer, que instalara sua clínica na University of
Pennsylvaniaváriosanosantes. Witmer jamaischegou aalcançar, nemnuncaalmejou, otipo deaclamação
pública alcançada por Münsterberg. Em um artigo que escreveu epublicou emsua revista, Psychological
Clinic, Witmer queixava-sedequeMünsterberg havia“depreciado” aprofissão, apregoando acuracomo se
estivesseemumafeiralivre. Referia-seaMünsterbergcomo umpouco melhor queoscurandeirosdafépor
causa da “maneira elegante como o professor de psicologia da [Harvard] viajava pelo país, afirmando ter
tratado emseulaboratório depsicologiacentenasdecasosdesseou daqueletipo dedistúrbio nervoso” (apud
Hale, 1980. p. 110).
A psicologia industrial
Münsterberg tambémfoi promotor dapsicologiaindustrial. Começou atrabalhar nessaáreaem1909 como
artigo intitulado “A psicologiaeomercado” [“Psychology andthemarket”], queabrangiadiversasáreasem
queapsicologiapodiacontribuir: orientaçãovocacional, publicidade, administraçãodepessoal, testesmentais,
motivação funcional eefeitosdafadigaedamonotonia no desempenho dafunção.
Trabalhou como consultor dediversasempresas, alémderealizar muitapesquisapráticaparaessasorga
nizações. TambémpublicousuasdescobertasemPsicologiaeaeficiência industrial [Psychology and industrial efficiency]
(1913), obra escrita para o público emgeral, que acabou setornando campeã devendagem. Münsterberg
afirmavaqueamelhor maneiradeaumentar aeficáciano trabalho, aprodutividadeeasatisfaçãoeraselecio
nando trabalhadores para asfunções de acordo comsuashabilidades mentais eemocionais. De que forma?
Desenvolvendotécnicaspsicológicasdeseleçãoadequadas, comotestesmentaisesimulaçõesdetrabalho, para
avaliar o conhecimento, aqualificação eahabilidadedo candidato.
Münsterberg conduziu pesquisassobreasmaisdiversasocupações, como capitão denavio, motorneiro,
telefonistaevendedor, paramostrar quesuastécnicasdeseleçãomelhorariamodesempenho profissional. As
pesquisasdeletambémdemonstraramqueaconversaduranteotrabalhoéprejudicial. Asoluçãopropostanão
era aproibição da conversa entre os trabalhadores, o que podia provocar ahostilidade, mas reorganizar o
ambientedetrabalho deformaquedificultasseasconversas. Sugeriu aumentar adistânciaentreasmáquinas
na fábrica ou separar asmesas dos funcionários do escritório comdivisórias (umprecursor dos “cubículos”
usadosnosescritórios atuais).
Comentários
Münsterbergnãoformulou nenhumateoria, nãofundou umaescoladepensamento nemconduziu pesquisas
acadêmicasdepoisdetornar-seumpsicólogoaplicado. Suapesquisaserviuaospropósitosempresariais, sendo
funcional evisando aajudar dealgumaformaaspessoas. Emborahouvesseestudado ométodo introspectivo
comWundt, criticou oscolegasquenão sedispunhamausar outrosmétodospsicológicosedescobertaspara
melhoriadahumanidade. A principal ideiaquecaracterizou acarreirapitorescaepolêmicadeMünsterberg
foi aênfaseno aspecto utilitário dapsicologia. Apesar do seutemperamento germânico, elefoi aquintessên
ciado psicólogo funcional norte-americano, refletindo eexibindo o espírito do seu tempo.
200 História da psicologia moderna
Comentários
A naturezadapsicologianorte-americanamudou muito desdeosanosemqueHall, Cattel, Witmer, Scott
eMünsterberg estudaramcom Wilhelm Wundt, na Alemanha, etrouxeram apsicologia alemã para os
Estados Unidos. A psicologia não mais serestringe asalas de aula, bibliotecas elaboratórios, mas sees
tendepara diversas áreas davidacotidiana. Hoje, ospsicólogos daaplicação trabalhamcomtestes, psico
logia educacional e escolar, psicologia clínica e aconselhamento, psicologia industrial-organizacional,
202 História da psicologia moderna