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EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE

VERASTEGUI Rosa de Lourdes Aguilar


Universidade Estadual de Londrina
rosaguilar@hotmail.com
Área EDUCAÇÃO sub-área FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

RESUMO
O objetivo do trabalho é apresentar escola como um espaço de respeito à diversidade. A
atitude ética é inclusiva, respeitosa e solidária, porque valorizando a pluralidade e a
diversidade. A falta de ética prejudica a sociedade que sofre com as injustiças, os
preconceitos e a exclusão de minorias. Esta situação instaura um estado de guerra e de
desagregação pela exclusão, que ameaça todos os setores e aspectos da vida e da cultura de
um país. Mas não há como negar que, na vida política, a falta ou quebra da ética tem o
efeito mais destruidor. Nosso maior compromisso deve ser com a sociedade, na vida
pública, na política, isto entendemos porque é mais fácil ser solidário e responsável com
membros da família que com desconhecidos. O ideal é forjar uma sociedade de respeito, de
seres diferentes com igualdade de oportunidades, isto é, construir uma sociedade
democrática. Existe uma necessidade de adquirir valores, os quais atuam como padrões
normativos indicadores de por onde e para onde se deve orientar nossa conduta. Esta
maneira eficiente de adquirir valores é através da educação. Podemos concluir que a
educação oferece instrumentos críticos para entender as relações sociais. O professor
cumpre um papel essencial na reflexão nos discentes, e sua participação é, precisamente, a
de orientar e estimular a reflexão, na procura do desenvolvimento, o respeito e a inclusão.
PALAVRAS CHAVES: educação democrática, ética, respeito às diferenças.

INTRODUÇÃO
O ser humano é um ser social, que se adapta a seu âmbito e, de alguma maneira, ele
também o influencia e modifica. E aqui temos um conceito de ética que não inclui
unicamente regras senão, também, tudo aquilo que ajuda a tornar melhor o ambiente para
que seja uma moradia saudável, em outras palavras, um ambiente materialmente
sustentável, psicologicamente integrado e espiritualmente fecundo (TUGENDHAT, 2000).

O ideal é que a moral ajude a criar uma vida saudável, sadia, Mas que significa ser
sadio será que isso nos leva a tornar-se

Valetudinário ou fanático, ou executante mecânico de exercícios, ou atleta


a tal ponto unilateral, que a ânsia de desenvolvimento físico lhe traz
prejuízo ao coração. [...] Uma vez mais é inegável que o homem necessita
viver com saúde, mas este resultado por tal forma afeta todas as atividades
de sua vida, que não lhe será possível isolá-lo como bem separado e
independente. (DEWEY, 2011, p.145).
Os que se mostram excessivamente exaltados, podem ficar cegos e não perceber o
dano que produzem os exercícios exagerados. O equilíbrio faz parte da saúde, da condição
que não provocar nenhuma lesão ou dano. A saúde física e mental é procurada como ideal
de vida e a ética devem propiciar melhores condições para a humanidade. Deve-se
pesquisara cada situação, porque a conduta humana não tem um catálogo escrito, cada
situação deve ser criteriosamente estudada. Sendo assim, “a moral precisa é aquela de
métodos específicos de pesquisa e de planejamento: métodos de pesquisa para localizar as
dificuldades e os males” (DEWEY, 2011, p.147).

A ética trata de nosso fundamento humanizador, de nossa capacidade de


sociabilidade, na procura de preservar a dignidade humana. A ética ou filosofia da moral é
uma teorização sobre a conduta humana, que tenta apresentar os princípios ou fundamentos
dela, na procura de melhor conduzir nossa vida. Ela é uma referência para os seres
humanos em sociedade, de modo tal que a sociedade possa se tornar cada vez mais
saudável. Mas, a ética não é universal nem absoluta, ela é histórica e vai mudando, revendo
conceitos e adequando seus preceitos à novas situações.
Também é verdade que a ética não garante o progresso moral da humanidade. O
fato de que os seres humanos serem capazes de concordar minimamente entre si sobre
princípios como justiça, igualdade de direitos, dignidade da pessoa humana, cidadania
plena, solidariedade etc., cria oportunidades para que esses princípios possam ser postos em
prática, mas não garante o seu cumprimento. Estes princípios básicos são os que
fundamentam os denominamos direitos humanos. Por isso a ética e os direitos humanos são
conceitos muito próximos.

A ética desenvolvida dentro da democracia é nossa proposta, esta construção deve


permear todas as camadas da sociedade não pode ser uma criação elitizada nem
centralizada, porque isto leva a uma manipulação cultural. “A situação moral é aquela em
que juízo e escolha necessariamente antecedem a ação” (DEWEY, 2011, p.143), de tal
maneira que a construção e revisão da ética, dos “bons costumes”, não pode ser
tendenciosa, deve ser democrática, para evitar preconceitos e injustiças. Porque a crença no
costume absoluta e única, nos leva ao dogmatismo. Continuamente nossos costumes e
crenças devem ser analisados e avaliados.

Neste sentido, observamos que:

Para Dewey, a democracia genuína não se referia simplesmente a agências


e rituais governamentais, mas, pelo contrário, prendia-se com o processo
dinâmico de uma participação diária activa e igual que incluía, não apenas
o aparelho político formal, como também a cultura e a economia, em
essência, todas as esferas da vida. A democracia genuína era, deixou
Dewey escrito, “primariamente um modo de vida associado, de
experiência comunicada conjuntamente”. (TEITELBAUN, APPLE,
2001, p.197)
Esperar um governo democrático significa uma forma de governo em que o povo
tome as decisões importantes a respeito das políticas públicas, não de forma ocasional ou
circunstancial, mas segundo princípios permanentes de legalidade, isto é, como uma força
política comprometida com os ideais democráticos. Mais ainda,

O termo “democracia” comporta múltiplas significações. Mas, se possui


significado moral, este se encontra na explicação de que a prova suprema
de todas as instituições políticas e organizações industriais será a
contribuição que prestarem ao crescimento global de cada membro da
sociedade. (DEWEY, 2011, p.157)
Lembrando que, as nações do mundo já entraram em acordo em torno de muitos
princípios éticos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, pela ONU (1948), é uma
demonstração de o quanto a ética é necessária e importante. Mas, a ética não basta como
teoria, nem como princípios gerais acordados pelas nações, povos, religiões etc. Nem basta
que as Constituições dos países reproduzam esses princípios (como a Constituição
Brasileira o fez, em 1988). Precisa que a sociedade mantenha sua cultura a partir da ética e
possa crescer e transmitir esta ética através da educação.

EDUCAÇÃO E ÉTICA

Existe uma necessidade de adquirir valores, os quais atuam como padrões


normativos e indicadores de por onde e para onde se deve orientar nossa conduta. Assim
entendemos a Dewey quando comenta “A teoria ética iniciou-se entre os gregos como
tentativa de encontrar uma regra de conduta para a vida, regra essa que se apoiasse em base
e propósito racional, em vez de se originar do costume” (DEWEY, 2011, p.141). Claro que
a moral tem uma origem nos costumes, mas estes devem ser revistos e analisados
racionalmente, para tentar melhorar nossa conduta, de maneira crítica e honesta. Cabe à
ética o papel de autoavaliar a sociedade na qual atua.

O trabalho de análise deve ser meticuloso, não só dos fatos senão também das
condições nas quais estes surgem e a influencia do meio. Assim como também devem ser
levados em conta as consequências que estes atos trazem para o indivíduo e a sociedade em
geral.

Toda cultura moral brota única e imediatamente da vida interior da alma e


só pode ser estimulada a partir da natureza humana, e nunca produzida por
maquinações externas e artificiais... O que quer que seja não brote da livre
escolha do homem, ou que seja apenas resultado de instrução e orientação,
não penetra em seu ser mais profundo, mas ainda permanece estranho a
sua própria natureza. Nesse caso o homem não atua movido por energias
verdadeiramente humanas, mas apenas com exatidão mecânica.
(RUSSELL, apud. CHOMSCKY, 2008, p. 83)
Surge uma questão a ser observada, existe uma única proposta ética, fechada,
absoluta? Se isto é assim, então temos uma proposta ética autoritária que não precisa ser
questionada, nem adaptada, só aplicada. Mas isto invalida as regras morais ou éticas e
relativiza todas? Ou “a situação moral é aquela em que juízo e escolha necessariamente
antecedem ação. O significado prático da situação precisa ser procurado – ou seja, a ação
necessária para satisfê-la não é evidente em si” (DEWEY, 2011, p.143). De fato, o trabalho
crítico de rever os princípios e ações não é fácil, muitas vezes é controverso e confuso.

E como encontrar os caminhos ou normas de conduta, que método ou critério


utilizar para decidir qual o caminho a seguir. Mas tendo em conta que

A moral não é catálogo de atos, nem conjunto de regras que devam ser
aplicadas como prescrições farmacêuticas ou receitas culinárias. [...]
Duas consequências éticas de suma importância devem ser focalizadas. A
crença em valores fixos provocou a divisão dos fins em intrínsecos e
instrumentais: fins que têm valor em si mesmos, e fins que só possuem
valor em quanto meios para alcançar bens intrínsecos. (DEWEY, 2011,
p.147)
Neste sentido observamos que existe uma ordem de valores e instituições sociais
originadas a partir das circunstâncias práticas da vida humana. As quais não são nem
criações divinas, nem tão pouco refletem determinado tipo de ideal. A verdade não
representava uma ideia à espera de ser descoberta; só poderia ser concretizada na prática.
Toda instituição e toda crença, deve ser analisada dentro do contexto específico e deveriam
ser submetidas a um teste para estabelecer a sua contribuição, no sentido mais lato, para o
bem público e pessoal. Este revisar constante de nossos valores cognitivos, estéticos e
éticos para melhorar e transmitir é o papel da educação.

Mas a educação tradicional coloca um papel muito limitado à educação, ela está
ligada à imaturidade ou dependência, de tal maneira que os indivíduos maduros e
independentes educam. Mas,

O ponto central da sociabilidade do homem está na educação. A ideia de


educação como preparação, e a vida adulta como limite fixo de
crescimento são dois aspectos da mesma inverdade obnóxia. Se a tarefa
moral do adulto, bem como a do jovem, é experiência crescente e
progressiva, a instrução que procede das dependências e
interdependências sociais é tão importante para o adulto quanto para a
criança. (DEWEY, 2011, p.157)
Com isto podemos observar que revisar nossos valores e tentar melhorar nossa
educação é uma tarefa humana, não especificamente de um ser imaturo ou criança, pelo
contrário de um ser vivo. A vida é identificada com a educação, assim, quem unicamente
ensina e não apreende está ensinando conceitos obsoletos. Educação é renovação,
crescimento, mudança, é completamente diferente da tradição que impera pelo estático,
imóvel e absoluto. Assim caracteriza Freire a educação tradicional como,

Necrofilica, a rigidez reacionária prefere o morto ao vivo; o estático ao


dinâmico; o futuro como repetição do presente ao futuro como aventura
criadora; as formas patológicas de amor ao amor verdadeiro; a
esquematização fria à emoção da vida; o gregarismo à verdadeira
comunhão; a organização dos seres humanos como objetos e não a estes
se organizando como sujeitos; os mitos que são impostos aos valores
encarnados; as prescrições à comunicação; os “slogans” aos desafios.
(FREIRE, 1981, p. 65)
Devemos continuamente renovar nossos conceitos para que eles se desenvolvam, só
assim poderemos ajudar os outros a desenvolver os seus. A democracia é a
responsabilidade compartilhada, ela opõe-se ao totalitarismo que quer centralizar o poder,
inclusive a responsabilidade de ensinar. Esta última tende a ser estática, conservadora e
dogmática. Assim entende Freire ao educador:

[...] é um sujeito de conhecimento, face a face com outros sujeitos de


conhecimento. Jamais pode ser um memorizador, mas alguém que
constantemente refaz sua capacidade de conhecer no exercício que desta
mesma capacidade fazem os educandos. Para ele a educação envolve
sempre uma certa teoria do conhecimento posta em prática. Ele sabe,
porém, que nem todo diálogo é, em si, a marca de uma relação de
verdadeiro conhecimento. (FREIRE, 1981, p. 45)
A experiência social direciona o critério de escolha moral e não os princípios
absolutos. Mas, esta experiência não é qualquer posição arbitrária de tentativa e erro, mas
sim, hábitos que passam um crivo racional. A democracia exige uma população articulada,
ao redor da problemática social, que não esteja manipulada nem articulada por interesses
mesquinhos. Esta postura afasta dos princípios absolutos e imposições autoritárias, na
preocupação por construir uma sociedade mais justa. Mas que é uma sociedade e porque se
caracteriza segundo Dewey:

Sociedade [está constituída por] muitas associações, não uma única


organização. Sociedade significa associação, reunião de pessoas para
levarem a efeito, através de intercambio e ação, todas as formas de
experiência que lucram em valor e vigor, a medida que venham a ser reais
e compartilhadas. Esse é o motivo de existirem tantas associações e tantos
bens que são aumentados por efeito de mutua comunicação e participação.
(DEWEY, 2011, p.171)
Se a sociedade é uma organização complexa de seres que convivem em estado
gregário, em certa faixa de tempo e de espaço, seguindo normas comuns, e que são unidas
pelo sentimento de grupo. Temos que ter em conta que para alcançar o desenvolvimento
harmônico dessa organização é necessária a colaboração mutua de tal maneira que, não seja
desconsiderado nenhum estamento da sociedade. Assim entendemos a Freire quando afirma
a unidade na diversidade:

As chamadas minorias, por exemplo, precisam reconhecer que, no fundo,


elas são a maioria. O caminho para assumir-se como maioria está em
trabalhar as semelhanças entre si e não só as diferenças e assim, criar a
unidade na diversidade, fora da qual não vejo como aperfeiçoar-se e até
como construir-se uma democracia substantiva, radical. (FREIRE, 1992,
p. 78).
Pensar em sociedade e minorias nos leva a pensar em indivíduos e a ressaltar a
questão que Dewey levanta,

A sociedade é composta de indivíduos – esse fato óbvio é básico e


nenhuma filosofia, quaisquer que sejam suas pretensões, pode alterar ou
por em dúvida. Por conseguinte, seguem-se três alternativas: A sociedade
deve existir para o bem dos indivíduos; ou os indivíduos devem ter seus
fins e modos de viver estabelecidos pela sociedade; ou então a sociedade e
os indivíduos são entre si correlativos, orgânicos – cabendo à sociedade
exigir o serviço e a subordinação dos indivíduos e, ao mesmo tempo,
existindo para servi-los. (DEWEY, 2011, p.159)
A unidade de diversos, de diferentes que se respeitam e consideram, permite a
participação de todos para adquirir valores e reavaliar os antigos, já seja para mudar ou
continuar fortalecidos. A educação deve oferecer instrumentos críticos para entender as
relações sociais, apoiar um modelo de “indivíduo na sociedade” e de “indivíduo na cultura”
e, é claro, propiciar em seu próprio ambiente as relações mais convenientes para tudo isso.

DIVERSIDADE E EDUCAÇÃO

O progresso social deve estar unido à educação, formal e informal. A natureza


moral e social da escola servirá como uma pequena comunidade que permite o crescimento
da democracia, e restaura os mecanismos democráticos lesados pelo capitalismo neoliberal.
Neste sentido o papel dos alunos deve ser ativo, longe dos métodos de ensino apoiados na
repetição e divorciados do conteúdo social. Na construção pela democracia e seu
fortalecimento deve estar incluída toda a sociedade e a escola também participará desta
construção, não só os professores, senão também os alunos, juntos nos mesmos objetivos
democráticos.

Se a escola é uma organização, ela nunca será um fim em si mesmo, apenas um


meio de promover a associação, de multiplicar os pontos efetivos de contato entre os
homens, de orientar o convívio social em moldes bem-sucedidos.

A tendência para tratar a organização como fim em si é responsável por


todas as teorias exageradas que subordinam os indivíduos a alguma
instituição, à qual se dá o nome de sociedade. Sociedade é o processo de
estabelecer associações de maneira tal que experiências, ideias, emoções,
valores, sejam transmitidos e passem a fazer parte do domínio comum.
A velha controvérsia entre deveres e direitos, entre lei e liberdade, é outra
versão da luta entre Indivíduo e Sociedade como conceitos fixos.
(DEWEY, 2011, p.172)
A sala de aula deve ter uma prática democrática, preocupada com a dignidade
humana. É a educação a que cria condições para que o próprio aluno sinta a necessidade de
adquirir novos conceitos ou encontrar novas maneiras de aplicar os antigos. A educação
não nos transmite unicamente informações, senão que permite nosso desenvolvimento em
todo sentido, aperfeiçoa nosso senso crítico, dando-nos valores e vontade de crescer. Sendo
assim, a educação deve cumprir o papel de uma socialização das novas gerações de uma
sociedade e, enquanto tal, conservar o modificar os valores dominantes (a moral) naquela
sociedade. Ela é também uma possibilidade e um impulso à transformação, de
desenvolvimento das potencialidades dos educandos.

Toda educação é uma ação interativa, ela propicia informações, comunicação e


diálogo entre seres humanos. Em toda educação há outro em relação e sociabilização, por
isso, a ética está implícita. Uma educação pode ser eficiente enquanto processo informativo
e ao mesmo tempo, eticamente mau, como foi a educação nazista, por exemplo. Pode ser
boa do ponto de vista da moral vigente e, má do ponto de vista ético.

O alheio, o que pertence a outrem é o que enriquece o conhecimento, provoca


curiosidade, estranhamento, mas nessa diversidade é que se reconhece a cultura humana
como uma multiplicidade de expressões. Mas dentro desta diversidade que respeita as
diferenças para preservar a identidade própria temos que reconhecer uma unidade humana,
posto que uma “[...] inteligência complexa propõe a ‘unidade’ em atmosfera de
‘diversidade’” (FREIRE, 1967, p. 12). Essa diversidade enriquece o grupo, a sociedade,
Daí o dever da educação, num grupo social democrático, lutar contra essa
separação para que os vários interesses se possam fortalecer e entrelaçar.
[...] Uma educação que pudesse unificar a disposição da sociedade muito
faria pela unificação da própria sociedade. (EDMAN, 1965, p.197)

Uma escola envolvida com os direitos humanos deve construir um convívio


multicultural, que permita a formação para a cidadania, levando em conta diferentes
representações e racionalidades. Mas, as diferencias sociais e econômicas torna às formas
de exclusão imperceptíveis, por isso a importância da conscientização da população para
poder rever sua situação e condições e desta maneira, poder exigir respeito e dignidade.
Porque a injustiça e discriminação são formas de violência que atentam contra a dignidade
dos indivíduos.

E a escola muitas vezes não percebe as manifestações de violência e discriminação.


A escola deve ser o espaço democrático de convivência da diversidade. Na escola deve se
discutir a problemática de exclusões e ser o centro de respeito e construção de cultura dos
direitos humanos. Na escola é o professor que deve orientar e permitir o desenvolvimento
de ações democráticas, na procura do desenvolvimento de todos, porque como diz Freire,

O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e


não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros. Precisamente
porque éticos podemos desrespeitar a rigorosidade da ética e resvalar para
a sua negação, por isso é imprescindível deixar claro que a possibilidade
do desvio ético não pode receber outra designação senão a de
transgressão. (FREIRE, 2002, p. 35).
O professor permite o desenvolvimento da autonomia do educando, porque esse
respeito faz parte de sua autonomia. O professor também respeitar a curiosidade do
educando, assim como leva em conta suas inquietudes. Tanto educador como educando
aprendem, por isso a experiência educativa é enriquecedora para ambos. E esta
aprendizagem deve ser guiada pela ética de tal maneira que,

É preciso deixar claro que a transgressão da eticidade jamais pode ser


vista ou entendida como virtude, mas como ruptura com a decência. O
que quero dizer é o seguinte: que alguém se torne machista, racista,
classista, sei lá o quê, mas se assuma como transgressor da natureza
humana. Não me venha com justificativas genéticas, sociológicas ou
históricas ou filosóficas para explicar a superioridade da branquitude
sobre negritude, dos homens sobre as mulheres, dos patrões sobre os
empregados. Qualquer discriminação é imoral e lutar contar ela é um
dever por mais que se reconheça a força dos condicionamentos a
enfrentar. (FREIRE, 2002, p. 35).
A prática docente deve permitir o desenvolvimento da autonomia, do respeito e do
convívio democrático. O educador deve ajudar a desenvolver o diálogo e o
desenvolvimento dos saberes, tanto para ele como para os educandos, só assim podemos
crescer, porque crescemos juntos. Respeitar a autonomia, a dignidade implica ser democrata e
saber respeitar a liberdade.

Considerações Finais

Vivemos em uma sociedade onde todos os dias milhões de pessoas sofrem a


violação de seus direitos, que atentam contra sua dignidade, não tem salário digno,
atendimento de saúde, habitação decente, escolas públicas de qualidade. Muito mais
poderia ser dito sobre as desigualdades estruturais desta sociedade, mas ressaltaremos o
papel crucial que a escola pode jogar tanto para reproduzir esta situação, como para ajudar
a mudar essas desigualdades.

Uma educação que respeite a diversidade precisa tratar as desigualdades e injustiças,


para entender e visualizar as práticas democráticas e respeitosas. O convívio na escola
exige um posicionamento de alteridade.
As crianças passam uma grande parte de suas vidas nas escolas, por isso elas
desempenham claramente um papel social fundamental na formação de identidades. Na
escola as crianças se deparam com relações de autoridade, e com relaçoes com o grupo. As
transformações desta organização terá efeitos duradouros sobre o critério de valores da
criança. As escolas são espaços para a ação política e educacional. O compromisso político
deve ser observado com cuidado e com senso crítico.

O direito à liberdade e respeito à diferença deve estar garantido no espaço escolar. A


escola deve estar em permanente luta contra as exclusões e as desigualdades que
privilegiam uns e desconsideram outros. A escola é responsável por cultivar uma cultura de
direitos humanos, que nos permite construir uma sociedade mais justa. A educação é uma
arena importante na transformação da sociedade.

REFERÊNCIAS:

ARISTÓTELES, Ética a Nicômacos, Col. Os pensadores, São Paulo: Nova Cultural, 2000.
___________. Política, em Os pensadores, São Paulo, Editora Nova Cultural, 2000a.
CHOMSKY, N. Problemas do conhecimento e a liberdade. Rio de Janeiro: Editora
Record, 2008.
DEWEY, J. Reconstrução em filosofia. São Paulo: Ícone editora, 2011.
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FREIRE. P. Ação Cultural para a liberdade, Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1981.
________. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra,
1967.
________. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2002.
________. Pedagogia da esperança. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1992.
HABERMAS, J. Consciência Moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo
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KANT, I. Crítica da razão Pura in Col. Os pensadores, São Paulo: Abril Cultura, 1973.
PLATÃO, A república, ou sobre a justiça. Tradução Carlos Alberto Nunes. Belém:
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TEITELBAUN K., APPLE M. John Dewey. Currículo sem Fronteiras, v.1, n.2, pp. 194-
201, Jul/Dez 2001.
TUGENDHAT, E. Lições sobre ética. Petrópolis: Rio de Janeiro, editora vozes, 2000.

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