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A leishmaniose visceral é causada, em todo o mundo, por parasitos do complexo L. donovani que
inclui três espécies de Leishmania:
Leishmania donovani;
Leishmania infantum;
Leishmania chagasi
Nas Américas, Leishmania (Leishmania) chagasi é a espécie responsável pelas formas clínicas da
leishmaniose visceral. Muitos autores têm considerado-a como sinonímia de L. infantum.
CICLO BIOLÓGICO
Nas formas amastígotas de L. chagasi no hospedeiro vertebrado, elas parasitam células do sistema
mononuclear fagocitário, principalmente macrófagos.
No ser humano, essas formas são encontradas em órgãos linfoides como medula óssea, baço, fígado
e linfonodos, frequentemente densamente parasitados. Também podem parasitar outros órgãos e
tecidos como rins, placas de Peyer no intestino, pulmões e pele.
Em casos raros, as amastígotas podem ser encontradas no sangue, em leucócitos, na íris, placenta e
timo. No hospedeiro invertebrado, Lutzomyia longipalpis, as formas amastígotas são encontradas
no intestino médio e anterior, nas formas promastígotas e paramastígotas, incluindo a forma
metacíclica promastígota.
MECANISMOS DE TRANSMISSÃO
Para alguns autores, em decorrência do intenso parasitismo e de enzimas produzidas pelos parasitos
no intestino anterior do inseto, podem ocorrer bloqueio e lesão da válvula proventricular,
provocando a regurgitação dos promastigotas para a derme do vertebrado no momento da
alimentação do flebotomíneo.
Outros mecanismos devem ser considerados em condições especiais:
2. Transfusão sanguínea
PATOGENIA
Nas fases mais avançadas da doença são raros os órgãos onde não se encontra o parasito.
A pele é a porta de entrada para a infecção. A inoculação das formas infectantes é acompanhada da
saliva do inseto vetor, que é rica em substâncias com atividade inflamatória. Esta atividade é muito
importante para o aumento de células fagocitárias neste local e crucial para a instalação da infecção.
Alguns indivíduos podem desenvolver uma lesão nodular local, principalmente nas infecções por
Leishmania donovani.
Quando ocorre, o sinal de porta de entrada é transitório, e representado por reação inflarnatória que
determina a formação de um nódulo, o leishmanioma.
No entanto, na infecção por Leishmania chagasi, o local da inoculação dos parasitos normalmente
passa desapercebido.
O processo pode evoluir para a cura espontânea ou, a partir da pele, ocorrer a migração dos
parasitos, principalmente para os linfonodos, seguida da migração para as vísceras. Nas vísceras, os
parasitos induzem uma infiltração focal ou dihsa de macrófagos não-parasitados, além de infiltra?do
de linfócitos e células plasmáticas, com focos de plasmacitogênese.
As alterações mais particulares são descritas nos tecidos esplênico, hepático, sanguíneo, pulmonar e
renal.
A via de disseminação de Leishmania pode ser a hematogênica elou linfática. Leishmania chagasi
raramente tem sido encontrada no sangue periférico humano de indivíduos considerados
imunocompetentes; no entanto, em cães ou raposas este achado é frequente.
Alterações esplênicas
Ao corte, o órgão apresenta superfície vermelha amarronzada e o tecido é friável e congesto. Podem
ser identificadas áreas de infarto. A cápsula é espessa e mostra áreas de inflamação.
Ocorre hiperplasia e hipertrofia das células do sistema mononuclear fagocitário (SMF), onde os
macrófagos e as células plasmáticas podem ser observados densamente parasitados, na polpa branca
e vermelha.
Alterações hepáticas
Há aumento no número e tamanho das células de Kupffer, que frequentemente estão densamente
parasitadas.
Também podem ser observados graus leves a moderados de fibrose septal e portal ao longo do
infiltrado inflamatório.
A deposição de material hialino, identificado como PAS positivo, no espaço de Disse é comum,
associado ao espessamento reticular e áreas de fibrose intralobular (fibrose de Rogers).
Além disso, em casos de associação entre HIV e Leishmania, foi relatada a ocorrência de
hiperplasia regenerativa nodular do fígado.
A anemia é uma característica predominante nos pacientes doentes, com contagens de eritrócitos
frequentemente muito baixas, variando entre 2 e 3 milhões/mm3 de sangue. Geralmente, a anemia é
do tipo normocítica e normocrômica.
Os mecanismos subjacentes incluem a destruição dos eritrócitos no baço, fagocitose e hemólise, que
podem ter uma base imunológica.
Em quadros graves e letais, a quantidade de plaquetas diminui, especialmente nas fases avançadas
da doença, predispondo a hemorragias.
A presença de plasmócitos é observada, embora haja níveis baixos de linfócitos B (CD19+) no
sangue periférico, uma vez que essas células produtoras de imunoglobulinas são
predominantemente encontradas nos órgãos linfoides.
Alterações renais
A principal alteração que ocorre nos rins está relacionada com a presença de imunocomplexos
circulantes.
A perda de albumina na urina - albuminúria - ocorre em cerca de 50% dos pacientes no Brasil, e
elevados níveis de creatinina, uréia e hematúria são vistos nos casos terminais. Após tratamento
eficaz, estas alterações são revertidas à função normal
Alterações pulmonares
Nos pulmões ocorre, com relativa frequência, pneumonite intersticial com o espessamento dos
septos pulmonares, devido a tumefação endotelial e proliferação das células septais, as vezes com
fibrose septal, e de linfócitos e células plasmáticas.
Como resultado do envolvimento pulmonar, pacientes apresentam como principal sintoma a tosse
seca. Em conseqüência desse quadro de pneumonia intersticial associada a infecções secundárias, o
paciente pode desenvolver broncopneumonia, que é uma importante causa de óbito na doença.
Há, com frequência, excessiva proliferação de células do SMF, especialmente no jejuno e íleo, com
presença de amastígotas. Ocorre edema e alongamento das vilosidades, sem ocorrência de
alterações na arquitetura da mucosa e dos vasos linfáticos.
Alterações cutaneas
Os parasitos podem, por vezes, ser encontrados na pele normal. Pode ocorrer descamação e queda
de cabelos. Na Índia e África, são relatados casos de intenso parasitismo cutâneo, associado a lesões
nodulares, a leishmaniose dérmica pós-calazar.
QUADRO CLÍNICO
A tosse não-produtiva, a diarréia e a dor abdominal são queixas frequentes na fase aguda da
infecção.
Progressivamente. no curso da doença, o paciente pode apresentar anemia epistaxes, hemorragia
gengival, edema, ictencia e ascite.
A anorexia e a desnutrição aumentam a debilidade do paciente. Nestes pacientes, o óbito pode ser
decorrente do parasitismo, porém geralmente é determinado pelas hemorragias e infecções
intercorrentes.
Na doença abrupta e nos pacientes portadores de HIV, o óbito pode ocorrer, antes que os sintomas
sejam desenvolvidos.
Os sinais mais frequentes são as hemorragias gástricas e a icterícia. A relação parasitohospedeiro no
calazar assume caráter espectral e é possível atribuir diversas formas clínicas, variando de uma
forma silenciosa assintomática, considera?da subclínica, ou oligossintomáticas, forma aguda até a
forma crônica ou de evolução clássica.
FORMA ASSINTOMÁTICA
As manifestações clínicas específicas do calazar incluem dor, febre baixa recorrente, tosse seca,
diarreia, sudorese e prostração.
A infecção pode resultar em cura espontânea ou manter o parasito, sem evolução clínica ao longo da
vida.
No entanto, o equilíbrio nesses indivíduos pode ser rompido por fatores como desnutrição, estados
de imunossupressão (como na AIDS) ou infecções por HTLV.
Essa ruptura aparentemente é induzida pela quebra da barreira funcional dos linfonodos,
acompanhada por um aumento da prostaglandina E e uma redução na produção de IL-1.
FORMA AGUDA
A evolução em geral e não ultrapassa dois meses. Muitas vezes o paciente apresenta tosse e diarréia.
Clinicamente, é confundida com febre tifóide, malária, esquistossomose, doença de Chagas aguda,
toxoplasmose aguda, histoplasmose, entre outras doenças febris agudas que apresentam
hepatoesplenomegalia.
DIAGNÓSTICO
Clínico
Baseia-se nos sinais e sintomas apresentados pelos pacientes associados a história de residência em
área endêmica. Entretanto, é preciso especial atenção para outras doenças que apresentam
sintomatologia semelhante, como malária, toxoplasmose, brucelose, tuberculose e esquistossomose,
principalmente em áreas onde ocorre a superposição na distribuição das doenças.
Nos pacientes com AIDS, portadores do vírus HIV, de doenças malignas, como linfomas e lúpus
eritematoso sistêmico, e naqueles submetidos a transplantes de órgãos, em uso de drogas contra a
rejeição, os sinais e sintomas do calazar podem ser influenciados e modificados, de forma que as
manifestações clínicas não mantenham as suas características.
Em particular, nos pacientes com AIDS, os sintomas mais relatados são as lesões de pele,
manifestações hemorrágicas gastrointestinais e respiratórias, por vezes, na completa ausência de
febre e esplenomegalia.
Laboratorial
A punção de medula óssea, realizada no esterno ou na crista ilíaca em crianças, é a técnica mais
comum, com sensibilidade em torno de 60-70%.
O cultivo do aspirado pode melhorar a positividade do resultado, mas é raramente usado na prática
clínica devido ao tempo necessário para crescimento dos parasitos. A biópsia hepática oferece
resultados questionáveis, enquanto a punção do baço apresenta riscos significativos.
A pesquisa de DNA de Leishmania usando a reação em cadeia da polimerase (PCR) tem alta
sensibilidade e especificidade. Embora ainda não seja amplamente utilizado no diagnóstico humano
devido à falta de disponibilidade para uso rotineiro, a PCR tem sido explorada em estudos
epidemiológicos. Sua aplicação em amostras clínicas permite diagnósticos menos invasivos,
reduzindo a dependência de intervenções invasivas como biópsias.
METODOS IMUNOLOGICOS
Diversas técnicas podem ser empregadas, incluindo testes inespecíficos que avaliam a
hipergamaglobulinemia, como a reação de formol-gel, que resulta na precipitação e gelificação de
proteínas do soro dos pacientes quando em contato com formaldeído. No entanto, os testes
direcionados a IgG (e suas frações) e IgM, específicas para o parasito, são os mais utilizados na
prática clínica.
TRATAMENTO
Quimioterapia - Específico
A dose recomendada pelo Ministério da Saúde no Brasil é de 20mg de Sb5+ por kg/dia,
administrada por via intravenosa ou intramuscular, durante até 40 dias.
Imunoquimioterapia
Em algumas situações tem sido usado em pacientes com leishmaniose visceral aguda ou refratários
aos antimoniais pentavalentes, drogas imunorreguladoras, como rHINFg (in?terferon gama humano
recombinante) em associação os antimoniais. Este tipo de medicação é ainda de alto custo, portanto
seu uso tem sido restrito.
Tratamento inespecífico
São medidas paralelas ao tratamento específico que vi?sam corrigir as manifestações clínicas
próprias da doença, como anemia, desnutrição, fenômenos hemorrágicos etc. e dar solução oportuna
as infecções secundárias e/ou concomitantes.
PROFILAXIA E CONTROLE
Três aspectos são importantes no contexto da doença humana: a associação da desnutrição com
risco de infecção, a identificação de portadores assintomáticos em áreas endêmicas e a co-infecção
com o HIV, que pode estabelecer o homem como reservatório na transmissão da doença.
A eliminação de cães soro reativos, praticada por anos, enfrenta maior resistência no ambiente
urbano. Muitos cães soropositivos não apresentam sintomas claros de infecção, e a confirmação
parasitológica em grandes cidades é difícil.
A leishmaniose tegumentar americana é uma doença causada por parasitos do gênero Leishmania
Ross, 1903. Este é um protozoário digenético que tem seu ciclo biológico realizado em dois
hospedeiros, um vertebrado e um invertebrado (heteroxeno). Os hospedeiros vertebrados incluem
grande variedade de mamíferos: roedores, edentados (tatu, tamanduá, preguiça), marsupiais
(gambá), canídeos e primatas, incluindo o homem.
Atualmente são conhecidas várias espécies de Leishmania que causam a leishmaniose tegumentar e
um sem-núme?ro de amostras deste parasito ainda não estão caracterizadas. Neste capítulo nos
deteremos as espécies que provo?cam doença no homem, particularmente as que ocorrem no Brasil:
MORFOLOGIA
Não há flagelo livre, apenas um rudimento na bolsa flagelar. Seu tamanho varia de 1,5-3,0 µm x
3,0-6,5 µm.
As formas promastigotas são alongadas, com um flagelo livre emergindo na região anterior.
Apresentam granulações amrófilas e pequenos vacúolos no citoplasma. O núcleo é semelhante à
forma amastigota e pode variar em posição. Tamanho variável, medindo 16,0-40,0 µm de
comprimento x 1,5-3,0 µm de largura, incluindo o flagelo que é frequentemente maior que o corpo.
São encontradas aderidas ao epitélio do trato digestivo do vetor através do flagelo usando
hemidesmossomas.
REPRODUÇÃO
Nas formas promastigotas existentes no trato digestivo do vetor, o primeiro sinal de divisao é a
produção de um segundo lagelo que sempre permanece menor do que o original.
A reprodução das formas amastigotas ocorre no interior dos fagossomas de macrofagos, também
por divisao binaria, de modo similar ao que ocorre nas formas promastigotas.
HOSPEDEIROS
H.I
H.V
CICLO BIOLÓGICO
CICLO NO VETOR
A infecção do inseto ocorre quando a fêmea se alimenta de sangue vertebrado contendo macrófagos
parasitados por formas amastigotas. No trato digestivo do inseto, os macrófagos liberam
amastigotas, que se multiplicam e se transformam em promastigotas. Essas promastigotas se
reproduzem por divisão binária, seguindo dois caminhos dependendo da espécie do parasita.
CICLO NO VERTEBRADO
Essas formas são interiorizadas pelos macrófagos teciduais em até oito horas após a ingestão de
sangue. A saliva do flebotomíneo contém neuropeptídeos vaso dilatadores que auxiliam na
alimentação do inseto e suprimem a resposta imune do hospedeiro, favorecendo a infectividade das
promastigotas.
Elas se multiplicam por divisão binária até ocupar todo o citoplasma do macrófago.
O curso da infecção nos animais, incluindo o homem, é altamente variável e depende da espécie de
Leishmania, características genéticas e resposta imune do hospedeiro, resultando em diferentes
quadros clínicos
TRANSMISSÃO
Certos macrófagos são capazes de des?tmir os parasitos diretamente, enquantos outros necessitam
ser estimulados.
Somente macrófagos fixos (histiócitos) não- estimulados são hábeis para o estabelecimento da
infecção.
Período de incubação
Este período, que corresponde ao tempo decorrido en?tre a picada do inseto e o aparecimento de
lesão inicial, vana entre duas semanas e três meses, segundo observações feitas no Brasil.
Evolução
Nos estágios iniciais, a lesão é caracterizada por hipertrofia da camada córnea e da papila, com
multiplicação do parasita nos histiócitos.
Um infiltrado celular circunda a lesão, composto principalmente por linfócitos, alguns plasmócitos
e células maiores.
Isso leva a uma reação inflamatória do tipo tuberculóide, com necrose e formação de uma úlcera-
crostosa.
Ela é circular, com bordas elevadas, fundo granuloso e vermelho intenso, coberto por exsudato
seroso ou seropurulento, dependendo de infecções secundárias. As lesões podem ter outras formas
menos características, como úlceras secas, vegetativas ou framboesiformes, semelhantes à
framboesia.
Geralmente, a área cicatricial é despigmentada, com leve depressão na pele e fibrose abaixo da
epiderme, resultando em uma marca distintiva.
FORMAS CLÍNICAS
Um amplo espectro de formas pode ser visto na leishmaniose tegumentar americana, variando de
uma lesão autoresolutiva a lesões desfigurantes.
Apesar da ampla variedade de formas clínicas encontrada em pacientes com LTA, podemos agrupá-
las em três tipos básicos: leishmaniose cutânea (LC), leishmaniose cutaneomucosa (LCM) e
leishmaniose cutânea difusa (LCD). Estas formas clínicas são provocadas por diferentes es?pécies
de Leishmania e estão associadas ao estado imune do hospedeiro.
Leishmaniose cutânea
Resultam em úlceras leishmanióticas típicas, ou, então, evoluem para formas vegetantes verrucosas
ou fiamboesiformes.
A densidade de ara si tos nos bordos da úlcera formada é grande nas fases iniciais da infecção, com
tendência a escassez nas úlceras crônicas.
A forma clínica conhecida como "espúndia" ou "nariz de tapir/anta" é causada pela Leishmania
braziliensis. Inicialmente, a infecção segue um curso semelhante à forma cutânea.
Porém, um aspecto característico da doença causada por essa espécie é a ocorrência frequente de
lesões destrutivas secundárias em mucosas e cartilagens meses ou anos após a lesão primária.
As lesões secundárias nas mucosas podem ocorrer por disseminação direta da lesão primária ou por
via hematogênica. Cerca de 70% das lesões de mucosa surgem nos primeiros cinco anos após a
lesão cutânea, sendo 30% após esse período.
As áreas mais afetadas incluem nariz, faringe, boca e laringe. O comprometimento do septo nasal se
manifesta com eritema, infiltrado inflamatório, coriza constante e ulcerações. A destruição
progressiva pode afetar outras estruturas como asas do nariz, palato mole, úvula, faringe, laringe e
traqueia.
A extensa destruição cartilaginosa pode causar deformidades graves, conhecidas como "nariz de
anta".
As lesões podem se propagar para lábios e face. Isso resulta em dificuldades respiratórias, de fala e
alimentação, frequentemente acompanhadas de complicações respiratórias por infecções
secundárias, podendo levar à morte.
Os mecanismos pelos quais as amastígotas permanecem na cicatriz sem causar reativação são
desconhecidos. A espécie L. guayanensis também pode causar lesões cutâneo-mucosas, embora
sejam raras na região amazônica.
PROFILAXIA
O controle da leishmaniose tegumentar americana (LTA) é um desafio nas vastas áreas florestais do
Brasil.
Medidas individuais, como o uso de repelentes e mosquiteiros, podem ajudar a evitar picadas de
flebotomíneos, mas nem sempre são viáveis. Em áreas de colonização recente próximas a florestas,
é possível evitar a transmissão intradomiciliar e peridomiciliar construindo casas a uma distância
mínima de 500m da mata, devido à limitada capacidade de voo dos flebotomíneos.
Profissionais em contato com áreas endêmicas devem tomar medidas de proteção individual. Uma
solução ideal é a produção de uma vacina contra a LTA. No Brasil, pesquisas para desenvolver essa
vacina foram retomadas nas décadas de 70, lideradas pelo Grupo de Leishmanioses na Universidade
Federal de Minas Gerais. Uma vacina contendo extrato de diferentes cepas de Leishmania está em
avaliação, com resultados demonstrando sensibilização em indivíduos vacinados até 14 anos após a
vacinação e proteção de 50% dos vacinados observada por um ano.
Estudos estão sendo conduzidos para aumentar a eficácia da vacina e sua utilização em áreas de alto
risco. Além disso, pesquisas visam desenvolver uma vacina contra a LTA canina.
TRATAMENTO
O tratamento da Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) foi introduzido em 1912 pelo médico
brasileiro Gaspar Vianna, usando o antimonial tártaro emético. Mais tarde, o antimonial
pentavalente Glucantimeo (antimoniato de N-metilglucamina) passou a ser utilizado.
O esquema terapêutico varia, mas geralmente envolve 17mg de Sb5+/kg de peso por dia, durante
dez dias, seguido por um intervalo de dez dias e outra série de tratamento. A dose máxima por
injeção é de 10 ml. A via de administração pode ser intramuscular, endovenosa ou local. O
tratamento deve continuar até a completa cicatrização da úlcera.
O Ministério da Saúde recomenda 20mg Sb5+/kg de peso por dia, durante 20 dias para LTA cutânea
e 30 dias para LTA cutâneomucosa. No entanto, essa abordagem pode levar a recidivas em alguns
casos. O antimonial é indicado para todas as formas de LTA, com as formas mucosas exigindo
maior cuidado devido a respostas mais lentas e maior possibilidade de recidivas.
O T. cruzi possui em seu ciclo biológico nos hospedei?ros vertebrado e invertebrado várias formas
evolutivas
HOSPEDEIRO VERTEBRADO
O "Cinetoplasto", uma mitocôndria modificada rica em DNA, é uma característica única nas
diferentes formas evolutivas do parasita. O polimorfismo das formas tripomastígotas, variando entre
delgadas, intermediárias e largas, possui correlações com características fisiológicas.
Com o tempo, as formas largas predominam devido à sua resistência a anticorpos e à imunidade
estabelecida. Este fenômeno é observado independente da forma predominante no início da
infecção.
HOSPEDEIRO INVERTEBRADO
O ciclo biológico do 7: cruzi é do tipo heteroxênico , passando o parasito por uma fase de
multiplicação in?tracelular no hospedeiro vertebrado (homem e mamíferos pertencentes a sete
ordens diferentes) e extracelular no inseto vetor (triatomíneos).
Aí, ocorre a transformação dos tripomastígotas em amastígotas, que se multiplicam por divisão
binária simples.
Durante a fase aguda da infecção, a parasitemia é alta, podendo levar à morte do hospedeiro,
principalmente em crianças. Com o desenvolvimento de uma resposta imune eficaz, a parasitemia
diminui e a infecção tende a se tornar crônica. Nessa fase, o número de parasitas na circulação é
baixo e só é detectado por métodos especiais.
A interação entre o parasita e as células do hospedeiro ocorre por meio do processo de endocitose,
envolvendo componentes de membrana de ambos.
Esse processo envolve três fases:
adesão celular
interiorização
fenômenos intracelulares.
TRANSMISSÃO
A doença de Chagas é transmitida por diversos mecanismos, sendo a transmissão pelo vetor o mais
importante do ponto de vista epidemiológico. Tripomastígotas metacíclicos, eliminados nas fezes ou
urina de triatomíneos durante o repasto de sangue, penetram em soluções de continuidade da pele
ou mucosa íntegra do hospedeiro, dando início à infecção.
Outros mecanismos de transmissão incluem:
Transfusão Sanguínea: A transmissão ocorre por meio de transfusão de sangue contaminado. Esse
mecanismo ganha destaque, especialmente em áreas urbanas, onde a prevalência da infecção é alta e
o controle em bancos de sangue pode ser deficiente.
Transmissão Congênita: Cerca de 100 casos já foram relatados no Brasil e no Chile. A transmissão
ocorre quando há ninhos de amastígotas na placenta, liberando tripomastígotas que podem chegar à
circulação fetal.
Transmissão Oral: Pode ocorrer por diferentes vias, como amamentação (o parasita já foi
encontrado no leite materno), ingestão de alimentos contaminados com fezes ou urina de
triatomíneos, ou animais ingerindo triatomíneos infectados.
Coito: Embora não haja comprovação na espécie humana, já foi relatado o encontro de
tripomastígotas em sangue menstrual de mulheres chagásicas e no esperma de animais infectados.
Experimentos em ratas mostraram infecção após a exposição vaginal ao parasita.
Transplante: Receber um órgão transplantado infectado pode desencadear uma fase aguda grave da
doença, especialmente em indivíduos sob tratamento imunossupressor após o transplante.
Além dessas formas, caçadores com ferimentos nas mãos podem se infectar ao manusear animais
infectados recentemente abatidos.
Esses diversos mecanismos de transmissão contribuem para a propagação da doença de Chagas e
requerem atenção para o controle e prevenção da infecção.
PATOGENESE
Na doença de Chagas são inúmeros os fatores que atuam direta ou indiretamente no aparecimento
das lesões produzidas pelo T cruzi.
Fase aguda
A partir da porta de entrada (chagoma de inoculação por exemplo) o T. cruzi pode parasitar
qualquer célula. As mais frequentemente parasitadas são: macrófagos, células de Schwann,
micróglia, fibroblastos, células musculares lisas estriadas e outras.
Durante a fase aguda da infecção o macrófago deve ser a célula que tem mais chances de adesão.
Nesta fase, o pa?rasito ao se multiplicar pode sofrer degeneração, como também a célula hospedeira
ocorrendo liberação do mesmo no interstício seja na forma de amastígota, epimastígota ou
tripomastígota, bem como de organelas citoplasmáticas da célula hospedeira.
Devido a estes imunógenos íntegros ou degenerados e a outras substâncias liberadas pela célula
hospedeira surge uma inflamação aguda focal estabelecendo-se, já na segunda semana, uma
imunidade. Mesmo assim, os parasitos não são detidos no foco inflamatório inicial, indo parasita
aleatoriamente qualquer órgão. Na fase aguda o coração pode ser lesado intensamente.
De fato, o parasitismo é muito grande e se encontram ninhos de amastígotas nas células musculares,
nos histiócitos, nos fibroblastos, nas células gliais e raramente nos neurônios dos plexos nervosos. A
miocardite surge em correspondência com os ninhos rompidos.
Deste modo, a inflamação, de início focal, pode se estender a todo órgão, tornando-se difusa, grave
e podendo levar a morte, como acontece por exemplo na miocardite chagásica aguda ou
meningoencefalite.
FASE CRONICA
Forma Indeterminada: Indivíduos que sobrevivem à fase aguda podem desenvolver a forma
indeterminada da doença. Nessa fase, a infecção permanece latente ou assintomática por muitos
anos, ou até a vida toda.
Forma Digestiva: Durante a fase aguda, o T. cruzi também pode atingir o tubo digestivo,
especialmente o sistema nervoso intramural (plexos de Meissner e Auerbach). Sintomas de
incoordenação motora, secreção e absorção podem ocorrer. Após 10 a 20 anos, surge em alguns
pacientes o megaesôfago e megacólon, caracterizados por dilatações permanentes de órgãos ocas,
devido à despopulação neuronal.
A patogênese dessas formas clínicas envolve diversos fatores, como denervação parasimpática,
alterações morfofuncionais das glândulas intestinais, mudanças no reflexo peristáltico, inflamação
crônica da mucosa, entre outros.
As lesões também envolvem a matriz extracelular, cujas modificações impactam a função dos
órgãos afetados.
As interações entre células como macrófagos, linfócitos e fibroblastos, mediadas por citocinas,
desempenham papel importante nas alterações da matriz extracelular na doença de Chagas,
influenciando o desenvolvimento das formas clínicas da doença.
DIAGNÓSTICO
Clínico
A origem do paciente, a presença dos sinais de porta de entrada (sinal de Romana elou Chagoma de
inoculação) acompanhadas de febre irregular ou ausente, adenopatia-satélite ou generalizada,
hepatoesplenomegalia, taquicardia, edema generalizado ou dos pés fazem suspeitar de fase agu?da
de doença de Chagas.
Laboratorial
Nesta fase, recomenda-se: pesquisa direta e, se necessário, pesquisa indireta do parasito. Na fase
crônica, observam-se: baixíssima parasitemia, presença de anticorpos específicos (IgG). Nesta fase,
a presença de anticorpos IgM é discutida, só sendo detectada esporadicamente em baixos títulos.
Recomendam-se méto?dos sorológicos (imunofluorescência indireta, ELISA, hemaglutinação
indireta ou fixação de complemento) ou a pesquisa do parasito por métodos indiretos
(xenodiagnóstico, hemocultura ou inoculação em animais de laboratório).
PROFILAXIA
A profilaxia da doença de Chagas envolve medidas que visam a melhoria das condições de vida e a
prevenção da transmissão do Trypanosoma cruzi, o parasita causador da doença. Algumas das
principais estratégias incluem:
Combate ao Barbeiro: O uso eficaz de inseticidas e outras técnicas de controle de insetos pode
reduzir rapidamente a população de barbeiros, interrompendo a transmissão do parasita.
Controle de Transmissão Congênita: A transmissão da doença de mãe para filho requer exames
imediatos após o nascimento e tratamento caso necessário.
Vacinação: Embora ainda em estudo, a pesquisa por uma vacina contra a doença de Chagas tem
mostrado resultados variáveis. Diversos métodos foram testados, incluindo parasitas mortos,
parasitas irradiados e glicoproteínas de superfície, mas desafios imunopatológicos podem limitar
o desenvolvimento de uma vacina eficaz.
TRATAMENTO
A terapêutica da doença de Chagas ainda enfrenta desafios significativos, apesar dos esforços de
pesquisa. Diversas drogas foram testadas, porém nenhuma consegue eliminar completamente o
Trypanosoma cruzi e garantir a cura definitiva em todos os pacientes tratados.
Problemas como o critério de cura e a diversidade genética do parasita afetam a eficácia da terapia.
Duas drogas, nifurtimox (Lampit) e benzonidazol (Rochagan), são usadas com cautela e
acompanhamento em casos agudos e de infecção recente. Elas são indicadas em casos de
transmissão natural, transfusão sanguínea, reagudização ou prevenção após transplantes de órgãos.
O objetivo é diminuir ou eliminar a infecção, sendo mais eficaz durante a fase aguda.
O Nifurtimox age contra formas sanguíneas e teciduais, administrado oralmente por até 90 dias.
Seus efeitos colaterais incluem anorexia, náuseas, alergias e polineuropatia.
O Benzonidazol atua nas formas sanguíneas, com efeitos colaterais como anorexia, dermatites,
cefaleia e polineuropatia.
Terapias alternativas estão sendo estudadas, incluindo derivados azólicos e imunoquimioterapia.
Apesar dos desafios, as drogas atuais são usadas para controlar a infecção, principalmente em casos
agudos, e visam reduzir a progressão da doença.
Letalidade: A letalidade é a proporção de casos de uma doença ou condição de saúde que resultam
em óbito. Ela é calculada dividindo o número de óbitos pela quantidade total de casos da doença e
multiplicando o resultado por 100 para obter uma porcentagem. A letalidade é um indicador de quão
mortal ou grave uma doença é, mostrando a probabilidade de que um indivíduo afetado pela doença
venha a falecer como resultado dela.