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Copyright © 2023 Rafa Portto
 
Capa e Diagramação: RP Design Editorial
Revisão: Tati Moura
Ilustrações: Luciana Souza
 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser
reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou
mecânicos sem a permissão por escrito da Autora.
(Lei 6.910 de 19/02/1998)
 
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugar e
acontecimentos descritos são produto da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coinscidência.
 
1° Edição - 2023
Formato digital - Brasil
 
 
 
Mia King sempre teve a personalidade forte, se livra dos problemas
com sarcasmo ao invés de fugir deles. E tudo seria diferente se não fosse
aquela noite a anos atrás.  Era para ser só uma festa à fantasia, e um sexo
casual com um desconhecido.
 
Mas o que Mia não imaginava era que aquele homem vestido de
policial que marcou sua vida, fosse o guitarrista mais famoso e mal falado
de todo o país.
 
Colton Reed é a personificação dos deuses e demônios. O dono da pior
reputação da The Break, a banda dos astros de rock mais cobiçada. Se
Colton fosse uma música, seria intitulada de “vou foder você e seu coração,
e jogo fora o que sobrou dele”.
 
Anos depois, aquele acontecimento ainda parece mexer com ambos de
formas diferentes. E por mais que eles finjam que o passado permanece
apenas lá, tudo muda quando em jogo de apostas, eles são obrigados a
dividir o mesmo apartamento. E durante a convivência forçada, descobrem
coisas um sobre o outro que os fará repensar sobre seus próprios
sentimentos.
 
Ele quer provar que nesse desafio, não irá se render
 
 
Ela quer apenas sobreviver a esses dias ilesa dos danos que Colton
Reed é capaz de causar
 
 
Mas só tem um problema: Existe o clichê do só tem uma cama.
 
 
 
 
 
 
 
 
Nota da Autora
Aviso
Prólogo  
  Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
  Capítulo 7
Capítulo 8
  Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
  Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
  Capítuo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Epílogo 1
Epílogo 2
Recadinho  
The Break
 First Love - Livro 1
Agradecimentos
Biografia
 
 
 
     
First Kiss faz parte da série The Break. Sendo o livro 2. Não é
necessário ter lido o livro 1 para ler este livro, já que são outros
protagonistas nesta história, porém o livro poderá conter alguns spoiler´s da
obra anterior.
 
 
 
 
Este livro pode causar desconforto, contém agressão física e pscicológica, 
ameaças e alcóolismo. Podendo despertar gatilhos em pessoas sensíveis a
este tema.
Essa é uma obra de ficção, destinada a maiores de 18 anos. A autora não
aceita nem tolera este comportamento.
Se for sensível a algum destes temas, não leia.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Você tem seus pecados e eu tenho os meus
Talvez seja uma demolição
Ou apenas um aviso de alerta
Hoje à noite deixarei os pedaços caírem
Pense bem, não seria legal
Se amor fosse a única regra?”
— Love´s The Only Rule - Bon Jovi.
 
 
 
 
“Você me verá em retrospectiva
Enroscada com você a noite toda
Ardendo em chamas
Um dia, quando você me deixar
Aposto que essas memórias
Seguirão você em toda parte”
— Wildest Dreams — Taylos Swift.
 
3   ANOS   ATRÁS
 

 
— Que porra é essa? — Retiro o objeto de metal pesado do meu peito,
me surpreendo ao ver que são algemas, que Aaron as joga em cima de mim
assim que entra dentro do meu quarto. — Deixei isso em algum lugar da
suite?
 
Aaron apenas revira os olhos,  ergue o dedo do meio em minha direção,
retira uma sacola de papel preta em seu braço e a coloca ao meu lado. Ele
sempre fica puto quando dividimos a mesma suíte presidencial após os
shows, pois sempre acabo deixando rastros de putaria por onde passamos.
 
— Na boa? Estou pouco me fodendo pela quantidade de mulheres que
você come, Colton! — ele para, com as mãos na cintura meio pensativo. —
Mas, preciso de você hoje.
 
— Em que sentido? — Encaro as algemas prata em meu peito, me
sento mais ereto na cama. Sorrio como um bom filho da puta debochado. —
Desculpa cara, nada contra, mas… Não tô a fim de ver seu pau, vá bater
uma sozinho. Até deixo fantasiar comigo, sei que sou…
 
— Vai se foder, Colton! — ele pega o celular e termina de digitar uma
mensagem. — Faz tempo desde última vez que viemos para Chicago, a Oli
e eu conseguimos uma babá para cuidar do Ryan, e a Zaya nos chamou para
uma festa que vai rolar da faculdade dela. É em uma propriedade privada da
Record Campbell Company, então ela deu um jeito de irmos.
 
Ok, muito para processar. A The Break ainda estava em turnê, e
aproveitamos que tocaremos em outra cidade próxima a Chicago e então
decidimos passar a noite aqui. Collin queria ver a família, Aaron sempre
aproveitava qualquer chance de ficar com a esposa e Ryan, seu filho.
 
Mas de todas as coisas que eu pensei em fazer hoje... Festa de
faculdade? Quantos anos voltei a ter para encarar esse tipo de festa? Se bem
que faculdade é um antro da perdição. A maioria das festas que já fui só
tem putaria e bebedeira.
 
— E onde me encaixo nisso? — ergo a sobrancelha e levanto a algema
em sua direção.
 
— Collin não quer ir. Kiran e Zaya não se falam a anos. Só sobra você. 
 
— Ai! Quer dizer que fui a última opção? — ele não diz nada, só me
encara. Coloco a mão no peito sentido. — Descarta muito fácil nosso amor,
baby — jogo as algemas no colchão e pego meu celular.
 
Aaron começa a rir e coloca o polegar e o indicador nas têmporas,
tentando algum tipo de paciência. Mas ele sabe que eu me divirto zoando
assim.
 
— É só que pensei que seria divertido.
 
— Ir em uma festa de faculdade?
 
— Ir em um lugar onde não somos os caras da The Break — ele admite
e suspira. — É uma festa à fantasia. Por isso as algemas. Consegui com a
equipe de assessoria fantasias de policiais, óculos, bonés. Lá vai estar
escuro, não vão imaginar que estaríamos em um lugar como aquele.
 
A possibilidade de ser apenas um cara normal, poder andar sem falar
com ninguém, encher a cara e dar PT como qualquer outra pessoa me
excita.
 
— Oli e eu precisamos de um momento assim, normal. Tem sido difícil
pra ela ficar sozinha sempre que novas turnês se iniciam. Ryan é pequeno
pra ficar viajando com a gente. Eu só.... — ele se senta na beirada da cama,
suspira. — Eu só preciso disso, um momento, uma distração, quero fazer
isso por ela.
 
Bom, que péssimo amigo eu seria empacando a vida deles assim?
 
— E porque não vão só vocês dois?
 
— Porque eu quero isso pra você também — ele retira o celular da
minha mão, bem na hora que recebo uma mensagem de uma gata que
encontrei depois do show de dois dias atrás. — Que saia e se divirta sem ser
o astro do rock, porra. Só seja um cara normal.
 
— Tenho planos para hoje — pego o celular de sua mão e o viro para
que ele leia a mensagem safada que recebi.
 
Aaron ergue as sobrancelhas e então suspira, me encara pensativo como
se pudesse me fazer mudar de ideia. Até parece que eu escolheria sair com
um casal como vela, do que encontrar com a...
 
— Pena, porque eu contratei uma prostituta pra te divertir — Aaron diz.
 
Ele o quê?
 
— Quem você pensa que eu sou? — solto uma gargalhada e o empurro
pelos ombros.
 
— Um filho da puta que pensa só com a cabeça do pau — ele diz, e
concordo. Me estica o celular. — Eu só quero que saia dessa bolha. E a
garota é linda, vai estar vestida... de mulher gato... te esperando na casa de
gravação, Zaya te entregará as chaves.
 
Começo a rir e pego o celular da mão dele. Penso em tudo o que tenho
a perder e a ganhar. E bem, por mais que eu não goste de transar com
alguém que foi apenas paga pra isso, sou convencido apenas pela porra do
olhar de Aaron.
 
Ele só quer uma noite normal com sua garota, se divertir, fazê-la se
tornar especial, e quer minha companhia nisso. Como eu posso negar?
 
— Ok, o que não faço pelo nosso amor? — tento abraçá-lo, mas Aaron
apenas começa a rir e puxa meu rosto, bagunça meus cabelos e então se
levanta.
 
— Você tem dez minutos.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
Se existisse uma palavra que fosse capaz de definir a noite de hoje,
seria liberdade. Foi isso o que coloquei na minha mente antes de sair de
casa. Que hoje seria diferente. Eu não seria mais aquela garota triste que
foge de todo mundo por medo de se machucar. Não mais.
 
Esse é um dos processos de libertação de situações ruins: Encarar a
verdade e saber que você é muito mais do que isso.
 
E hoje eu só quero isso. Ser livre. Viver a vida e foda-se todo o resto. É
minha escolha, e eu me priorizo acima de qualquer obstáculo. Se eu não
cuidar de mim, quem vai?
 
—  Ok, parece que o Dj já começou tem uma hora, e ainda nem saímos
daqui —  Zaya comenta sorrindo.
 
Hoje é a festa à fantasia da faculdade, que o pai da Zaya nos deixou
usar a Record Campbell Company. Ainda não me acostumo com a
facilidade e livre acesso que ela tem em qualquer área ou lugar.
 
Zaya Campbell, minha melhor amiga. Nunca imaginei que me sentiria
tão próxima dela. Quando nos conhecemos foi um choque de realidade. Eu
a imaginava toda fútil, a riquinha patricinha de Chicago.
 
E diferente do que eu pensei, ela se excluía de todos que se
aproximavam. Até eu entender que ela era cercada por um mundo de
interesse. Ninguém estava lá por ela, só pelo que ela tinha a oferecer. E foi
aí que começamos a nos aproximar. Mas ainda havia um choque grande de
realidade entre a vida dela e a minha.
 
Pra ela tudo foi fácil, já eu tive que ralar muito pra conseguir estar onde
estou.
 
—  E então? Como estou? —  ela dá uma voltinha, usa uma saia de
paetê vermelho e um cropped preto, asas vermelhas. Segura um tridente e
tem os chifres que acendem presos no cabelo.
 
—  A própria rainha do inferno na terra —  murmuro e ela sorri.—  Vai
fazer os caras pagarem por seus pecados tão cedo?
 
—  Só os filhos da puta —  ela ajeita a fantasia e se aproxima de mim.
 
Estou de frente ao espelho, ajeitando o meu delineado. Eu optei por
uma fantasia de mulher gato. Coloquei um vestido justo preto, e uma bota
alta. Uma máscara com orelhinhas de couro. Passo o batom vermelho, e
então me sinto pronta.
 
— Você está linda, Mia —  ela me abraça por trás e então me dá um
tapa forte na bunda. —  Agora vamos, pelo amor de Deus!
 
— Vamos, eu preciso beber alguma coisa — deixo meu celular em
cima da mesa do estúdio de gravação. — Sem celulares hoje.
 
— É assim que se fala — ela coloca o dela perto do meu.
 
A festa está acontecendo em uma sede restrita da gravadora do pai dela.
E a casa é enorme. Tem o estúdio com mesas grandes e sofás e poltronas
espalhadas. Há um banheiro enorme, uma sala de reuniões, e uma cozinha.
Só Zaya tem as chaves. Mas me deu a cópia caso eu queira entrar para usar
o banheiro da casa ou comer alguma coisa.
 
—  A noite está só começando! —  ela sorri, agarra minha mão e me
puxa até fora da casa.
 
Ela tranca a porta e acena para um segurança parado do lado de fora. E
então seguimos em direção ao gramado. Tem um palco enorme formado lá.
Todo de madeira. Já é da propriedade dos Campbell. Tem tanta gente que
precisamos nos espremer entre as pessoas para conseguir andar.
 
O pessoal levou a festa a sério. Tem cada fantasia mais macabra que a
outra. Chegamos até o bar, e Zaya já pede duas doses de tequila.
 
—  Acho que nossa fantasia não é estilo halloween —  comento. — 
Está mais para sexyloween.
 
—  Eu gosto de estar sexy, eleva minha auto estima —  ela sorri.
 
Vejo Mike ao longe, ele sempre teve uma queda enorme por ela. Ele se
aproxima dela e a abraça por trás e Zaya dá um grito assustada. Que óbvio,
ele veio de jogador de futebol? Não é isso o que ele faz na faculdade? Não
tem nada mais criativo não?
 
— Achei que não fosse vir — ela comenta, a testa franzida, ele se
aproxima e dá um selinho nela.
 
— E perder essa festa? Nem fodendo.
 
— Aqui está — o barman chega e coloca as duas doses de tequila no
balcão atrás de nós.
 
Zaya se vira assim que Mike começa a conversar com um amigo. Sei
que ela tenta. Ela dá o seu melhor para curtir e aproveitar, mas no fundo
sempre acaba bêbada e chorando por Kiran Russell. O cara que ela ama e
lhe deu o maior pé na bunda. O resto é apenas curtição momentânea. Só
queria que ela encontrasse alguém que fizesse ela se curar e se libertar de
tudo isso.
 
— Vamos lá — estico a dose dela.
 
Lambemos o sal, pegamos os copos e brindamos antes de beber. O
líquido desce forte e queima minha garganta, pego o limão e o chupo. E dou
dois pulinhos excitada pela sensação.
 
— A noite é uma criança — ela pede duas garrafas de cerveja, e me
entrega uma. — Ei, vou ficar com a Mia, depois a gente se fala — ela diz
para Mike, que pisca pra ela.
 
O bom é que ela nunca deu a chance de nenhum cara se aproximar. Ela
gosta da liberdade. E amigas sempre em primeiro lugar, esse é nosso lema.
 
Vamos em direção ao palco. E dançamos e cantamos todas as músicas
que eles tocam. É excitante a sensação de poder apenas curtir e mandar
todos os problemas explodirem para longe.
 
— Você e eu precisamos urgentemente aproveitar mais a vida — ela
comenta, bebo um gole da cerveja e ela continua dançando.
 
— Você é a garota dos contatos aqui, não eu.
 
— Contato para o show do meu irmão? Não valeu! — ela começa a rir.
— Que a The Break continue bem longe de mim, um brinde a isso.
 
— A banda do seu irmão?
 
— Não! Um brinde à felicidade por ter meu problema a oceanos de
distância!
 
Mesmo sabendo que isso não é verdade, ergo a boca da garrada e bato
contra a sua. E então bebo o resto da cerveja. Olho ao redor, arrependida
por ter esquecido a merda do meu celular. Eu deveria filmar tudo, guardar
memórias.
 
Vejo Mike se aproximando de nós e já reviro os olhos. Ele e Zaya
ficaram por um tempo, e desde então o coitado vive tentando quebrar esse
muro que ela construiu. É até engraçado vê-lo tentar.
 
— Você é a mais linda daqui, sabia disso? — o ouço dizer ao abraçá-la
por trás.
 
Ele começa a dizer outras coisas em seu ouvido que me recuso a ouvir.
 
— Ok, vou pegar mais uma bebida, meu celular e dar uma volta. —
falo para ela.
 
— Beleza, cuidado, estarei aqui, ok? — ela pisca pra mim e apenas
sorrio.
 
Saio bem a tempo de Mike tomar posse da boca da minha amiga, e sei
que assim será o resto da noite dela. Vou até o bar e pego outra cerveja, e
então olho ao redor. Isso que dá ser uma garota de poucos amigos. Posso ter
uma personalidade forte, problemas como qualquer um e debochar até do
vento que passa ao meu lado, mas no fundo sou apenas uma garota fechada
que usa o humor como escudo. Mas ao mesmo tempo, eu prefiro assim.
 
Solto um suspiro e começo a ir em direção a casa, só vou pegar meu
celular e tentar distrair um pouco minha cabeça. Cumprimento o segurança
na porta, que barra uma pessoa que tenta entrar, e então eu retiro as chaves,
que joguei dentro do vestido entre meus peitos. E por mais bizarro que seja
a cena, foi o lugar mais seguro que cogitei.
 
Abro a porta e já a tranco em seguida. Lá dentro está a perfeita
calmaria.
 
— Eu devo estar ficando velha — murmuro, vou até a cozinha, bebo
um copo de água. — Que tipo de pessoa em plena festa a fantasia da
faculdade prefere ficar dentro de casa?
 
Mas não posso fazer isso. Nada disso, Mia!
 
Você veio para se divertir, se soltar, conhecer pessoas. Agarrar caras
gostosos. Chega de ser a garotinha que faz de tudo pela família, chega de
ser aquela garota virgem que tem medo de abrir o coração e se machucar.
Eu preciso mudar, preciso começar a ditar minha própria vida.
 
Caminho até o estúdio, somente uma luz vermelha ilumina todo o local.
E assim que seguro meu celular ouço um barulho atrás de mim. Me viro
rapidamente, deixo meu celular sobre a mesinha e encaro a porta do
estúdio. O espaço é repleto de poltronas e sofás camas, cheios de quadros e
a logomarca da banda do irmão da Zaya.
 
— Olá? — arrisco chamar alguém.
 
Só Zaya ia estar com as chaves hoje, e ela estava bem ocupada com a
língua na boca do Mike quando sai.
 
Passos começam a se aproximar da porta. E então ele aparece. Juro que
por um momento me esqueço de respirar. Com certeza é o homem mais
lindo e sexy que já vi na vida!
 
Ele entra, sorri de lado, exibindo aqueles dentes perfeitos. Usa uma
fantasia de policial. Ele passa a língua sobre os lábios e então mordisca o
lábio inferior com força, seus olhos vagam por cada centímetro do meu
corpo.
 
— Puta que pariu — o ouço murmurar. — E não é que o Aaron falou
sério.
 
— Quem? — pergunto.
 
— Acho que você deu jus à fantasia de mulher gato, sabia? — ele se
aproxima lentamente de mim.
 
— Ah... valeu — sinto o rubor em meu rosto. Nunca um homem tão
lindo me olhou dessa forma antes.
 
— Você está linda assim pra foder com a mente de qualquer homem
que cruzar seu caminho, é? — ele brinca e leva a mão para trás.
 
— Talvez exista um no meio de todos os babacas que valha a pena —
arrisco e dou de ombros.
 
— Então que bom que encontrei você agora — ele diz e se aproxima
sorrindo, ergue um par de algemas, e sinto todo meu corpo incendiar. — Se
eu provar pra você que não sou um babaca, posso te prender à mim pelo
resto da noite?
 
Eu poderia ter somente dado um tapa na cara dele e ido embora. Mas há
algo nele, em seu olhar. Que me faz querer ficar.
 
— Só depende de você — murmuro e seu sorriso aumenta.
 
— Péssima escolha de palavras, gatinha — sorri e então se aproxima de
mim e se senta na mesa ao meu lado, segura minha mão e encara meu
pulso. — Porque no que depender de mim... — e então ele fecha a algema
sobre meu pulso e faz o mesmo com o dele, nos prendendo em questão de
segundos. — Não saíra do meu lado tão cedo.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quando Aaron me falou mais cedo que tinha contratado uma prostituta
pra me divertir e, consequentemente me convencer a acompanhá-lo nessa
festa, jurei com todas as forças que ele estava tirando uma com minha cara,
pra depois jogar pela milésima vez que eu só penso com a cabeça do meu
pau.
 
Não que fosse uma completa mentira, eu tinha uma reputação a zelar.
Eu sabia o que falavam sobre mim e não estava nem um pouco preocupado
com isso. A vida é pra viver, e quem quiser perder tempo cuidando da
minha vida e com quantas garotas eu saio, o problema não é meu.
 
Mas no fundo é como se algo estivesse errado. Porra, eu tenho a vida
que sempre quis, saio com qualquer mulher que eu quiser, eu tenho
dinheiro, fama, dei uma vida estável e confortável para minha família. Viajo
para qualquer lugar, mas parece que tem algo faltando. Por mais que eu
tente, agradesça a Deus por tudo o que ele permitiu pra mim, ainda assim
existe a porra de um vazio.
 
É como se todos me enxergassem, mas vissem apenas uma máscara,
uma camada superficial do meu eu. E isso é chato pra caralho.
 
— Ok, vocês me dão ânsia! — comento assim que Aaron abraça Olivia
por trás e beija seu pescoço, daqui onde estou ouço o seu gemido aprovando
totalmente as investidas do meu amigo.
 
— Porque está aqui ainda bebezão? — Oli diz e Aaron começa a rir.
Ela me dá um soquinho no braço. — Qual é, se solta! Você está em uma
festa normal, tem mulher bonita pra todo lado. Qual é a última vez que
Colton Reed tomou um pé na bunda?
 
— Shiu, fala baixo, nada de nomes hoje — Aaron a pede e ele só pisca
pra ele.
 
— Eu não levo fora de ninguém meu bem — sorrio debochado — Eu
que rejeito.
 
— É mesmo? Amaria te ver tentar — ela diz e olha ao redor. — Pior
que você ser gato atrapalha... Temos que achar alguém que foque na beleza
intelectual.
 
— Olivia! Ai! — coloco a mão no coração como se tivesse sido
atingido por sua ofensa, e ela começa a rir.
 
— Só quero que seja normal, Colt. Um policial está na minha frente
hoje, não um guitarrista — ela segura minha mão e me puxa em sua
direção, bagunça meus cabelos. — Quero uma mulher que veja seu coração.
 
Olho em seus olhos e sorrio.
 
— Só tem um problema — beijo sua bochecha. — Que coração?
 
— Argh, desisto! — ela revira os olhos e Aaron faz negação e suspira
ao olhar pra mim.
 
— Você pode se surpreender se perder esse medo todo de fugir de
apenas noites casuais — Aaron diz.
 
— Não, obrigado, amo um bom sexo — levanto minha garrafa na
direção deles. — Um brinde a isso. Ao bom sexo!
 
— Sexo com conexão é melhor do que apenas físico, sabia? — Oli diz
e pisca pra mim.
 
— Acho que está na hora de sair e procurar uma nerd, pra focar no meu
intelectual, satisfeitos? Só vão transar e me deixem em paz.
 
— Esse é o meu garoto! — Aaron bate palmas e saio erguendo o dedo
do meio pra ele.
 
Não posso negar que o que Olívia diz faz um pouco de sentido. Mas é
difícil abrir mão de algo ou confiar em alguma mulher, quando sei que não
é no meu coração que estão interessadas.
— Ei, finalmente te achei! — ouço a voz de Zaya, e ela segura meu
braço. — Disse a Aaron que iria dar a chave do estúdio pra vocês, caso
queiram dormir aqui ou ir ao banheiro. Entrega ele pra mim ok?
 
— Oi pra você também — digo e ela para e sorri. — Quanto tempo
Colton! Você está ainda mais sexy do que eu me lembrava.
 
— Idiota! — ela se joga em meus braços e me abraça com força, beija
minha bochecha. — Eu estava com saudade.
 
— Não mais que eu — beijo o topo da sua cabeça e ela deita o rosto em
meu peito.
 
— Ainda dando trabalho por aí? — me questiona.
 
— Zaya? — ouço uma voz masculina a chamar e me viro me
deparando com um cara fantasiado de jogador de time de futebol. — Vamos
encontrar o resto do pessoal. Quer vir?
 
— Sério? — a olho questionando seu gosto para homens.
 
— Vai se fuder, e eu te amo — ela beija meu rosto e sai em direção ao
tal cara.
 
Olho ao redor, nada me chama atenção nessa festa. Devo estar ficando
velho pois antigamente daria tudo por uma festa de faculdade, hormônios lá
no topo, curtição e bebedeira. E agora a única coisa que eu penso é em
deitar, tocar minha guitarra e me esconder disso. Já fiz minha parte de bom
amigo acompanhando Aaron pra ficar com sua garota. Agora preciso do
meu momento com minha garota. No caso da Lila, minha guitarra de
estimação que deixei no estúdio como lembranças dos nossos primeiros
instrumentos quando a The Break explodiu.
 
Sigo em direção ao estúdio, cumprimento o segurança perto da porta e
ergo as chaves para que ele veja que tenho acesso. Entro e fecho a porta e é
tanta paz e calmaria que solto o ar que nem sabia que estava prendendo.
 
Sigo em direção a sala de gravação, mas assim que estou perto da porta,
travo ao ouvir um barulho.
 
— Olá? — uma voz feminina suave e doce sai de dentro da sala, e
começo a me aproximar.
 
E pode cortar o ar com uma faca com o silêncio que se faz à medida
que entro na sala de gravação, luzes vermelhas tomam conta do lugar e
bem, ali está ela. Mesmo com máscara de gatinha ela consegue ser a mulher
mais sexy que já vi na vida.
 
— Puta que pariu! E não é que o Aaron falou sério.
 
— Quem? — ela me questiona.
 
Deve ter sido contratada por alguma empresa sigilosa. Seus cabelos
loiros se destacam perante a roupa de couro preta colada em seu corpo, seus
seios ficam ainda mais lindos e evidentes por causa do decote, e preciso
respirar antes de continuar admirando cada parte sua.
 
— Acho que você deu jus à fantasia de mulher gato, sabia? — me
aproximo dela devagar.
 
— Ah... valeu — ela cora, e isso a deixa ainda mais sexy e vulnerável.
 
— Você está linda assim pra foder com a mente de qualquer homem
que cruzar seu caminho, é? — brinco e levo as mãos para trás, pegando as
algemas de policial que veio com a fantasia que uso.
 
Foda-se ela ter sido paga para me satisfazer, é tanto tesão que sinto que
dinheiro se torna irrelevante.
 
— Talvez exista um no meio de todos os babacas que valha a pena —
ela fala e dá de ombros, gosto do joguinho que ela faz.
 
— Então que bom que encontrei você agora — me aproximo dela e
ergo as algemas.  — Se eu provar pra você que não sou um babaca, posso te
prender à mim pelo resto da noite?
 
Ela solta uma respiração estremecida, parece nervosa. Mas morde os
lábios enquanto me olha, analisando cada parte minha e sei que ela aprova o
que vê. Sei disso pelo fogo em seus olhos, ela está incendiando por dentro.
Suas coxas tremem e ela as aperta uma contra as outras tentando controlar o
quão atraída também está.
 
— Só depende de você — sussurra e sorrio.
 
— Péssima escolha de palavras, gatinha — me aproximo dela, seguro
seu pulso, e ergo em minha direção — Porque no que depender de mim...
— e então prendo as algemas em seu pulso e faço o mesmo com o meu  —
Não saíra do meu lado tão cedo.
 
Ela sorri e o modo como ela me olha é diferente, é como se ela visse
algo além da superfície. Ergo minha outra mão e toco seu rosto, acaricio sua
pele aveludada, e então começo a retirar sua máscara.
 
— O que está fazendo? — ela sussurra.
 
— Só quero ver seu rosto, deixa? — murmuro e ela morde os lábios e
assente, me ajuda a retirar a máscara.
 
Quase tenho um ataque ao olhar para aquela cara angelical. Ela tem os
olhos da cor de mel, seus cabelos loiros caem para trás em ondas, sua
maquiagem tem um delineado fofo, bem marcado. A boca vermelha deixa
tudo ainda mais sexy.
 
— Porra, você é linda — murmuro e a vejo corar. — Sei que está sendo
paga pra isso, mas não quero que faça algo que não queira, ok? Não quero
que se sinta desconfortável em nenhum momento.
 
À medida que falo noto que ela franze a testa, sua expressão antes
safada muda para confusa e me pergunto se falei algo errado. Só quis ser
respeitoso.
 
— Acho que não entendi... Como assim estar sendo paga para isso? —
ela pergunta.
 
Ergo nossas mãos algemadas e a olho como se fosse óbvio.
 
— Você — começo sem entender. — Tá sendo paga pra isso, né?
 
— O quê?
 
— É a prostituta que meu amigo contratou — a explico.
 
— O QUÊ? — ela berra e todo o tesão vai embora.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
“É a prostituta que meu amigo contratou”.
 
Quando o ouço dizer isso, paro, respiro fundo e olho para cima e
pedindo a Deus pra me enviar toda a paciência que existe no planeta,
porque se ele me der força pra lidar com essa situação, eu quebro a cara
desse cara.
 
— Como é que é? — repito ainda tentando raciocinar e parar de
enlouquecer com meus pensamentos. — Espera... Seu amigo contratou uma
puta pra você?
 
Ele apenas assente com a cabeça, ficando mais sério cada vez que me
vê explodir de raiva, para aos poucos se dar conta do que de fato está
acontecendo. Uma bela confusão. Posso jurar que meu rosto está totalmente
vermelho. Eu devo ter bebido além do normal e estou ouvindo coisas, não
tem sentido!
 
E ser confundida com uma puta?!
 
— E você acha que sou eu? — questiono só para ter certeza, ergo a
mão chamando ainda mais sua atenção, e quando faço isso, a mão dele
algemada a minha vem junto.
 
— Não é? — ele me olha confuso, encara a porta do estúdio e franze a
testa. — É que ele disse que tinha contratado uma... Ela estaria vestida de
mulher gato me esperando. Eu cheguei aqui e você estava ali toda gata,
literalmente. Eu ia pensar o quê?
 
— Ah claro, até porque tem vagabunda escrito na minha testa! —
debocho e tento tirar as algemas, mas vejo que essas são de metal, preciso
das chaves.
 
— Ei... Desculpa — ele segura meus pulsos, e isso me faz olhar em
seus olhos. E me pergunto porque um cara lindo desses precisa contratar
uma prostituta, é só ele estalar os dedos e pode ter qualquer uma em suas
mãos. — Eu juro que... Jamais iria te desrespeitar. Isso é coisa do filho da
puta do Aaron, deve que queria tirar uma com a minha cara, e isso
infelizmente acabou te envolvendo.
 
Ele parece realmente sincero dizendo isso.
 
Em partes eu só quero sair daqui. Em um momento me senti tão
sortuda, e desejada... E do nada descubro que ele só estava me paquerando
porque achou que eu estava sendo paga pra isso. Se não fosse isso, ele
nunca iria olhar pra mim então?
 
— Qual seu nome? — ele me traz de volta para a realidade.
 
— Pra que quer saber?
 
— Fala pra mim — pede baixinho.
 
— É... Mia — murmuro.
 
— Mia, eu sinto muito — sua mão sobe até meu rosto, seu polegar
acaricia minha bochecha. — Não quis ser um escroto te chamando de puta.
 
— Não me chamou de puta, só me confundiu com uma — suspiro e de
repente minha auto estima vai para o ralo. — Desculpa atrapalhar seu
encontro com a puta, certamente eu não sou a Gatinha que estava esperando
— ele ergue as sobrancelhas e eu levanto nossos pulsos. — Cadê as chaves?
Dá pra me soltar?!
 
— Ei — ele me surpreende ao sorrir. — Não atrapalhou nada, só fiz
uma péssima comparação ao te ver e lembrar do que meu amigo tinha me
dito mais cedo. Mas se eu achei isso, é porque você certamente é... Bem
mais do que eu estava esperando.
 
Sinto um arrepio percorrer meu corpo. Mas não vou me deixar levar
novamente por isso. Estou a tanto tempo sem paquerar ninguém, me fecho
tanto para qualquer um que cruze meu caminho, que deve ser por isso que
até hoje sou virgem. E aí a bebida bate, um cara que saiu da Victoria Secret
´s cruza meu caminho e me algema, juro que pensei que está na hora. De
mandar a virgindade se foder e parar de ser motivo de piada, ou de ser
olhada como se eu fosse um E.T de outro planeta só porque eu quis esperar
o momento em que eu sentisse que fosse a hora certa.
 
Na primeira oportunidade de voltar a flertar com alguém, o cara vai e
me confunde com uma prostituta.
 
Ótimo jeito de recomeçar sua vida amorosa, Mia! Sua vida é uma
novela mexicana!
 
— A propósito pode me chamar de Colt — ele quebra o silêncio e enfia
a mão livre no bolso da calça justa da polícia, procurando alguma coisa.
 
— Seu nome é Colt?
 
— Colton — ele fala e então suspira pesado e me olha de relance. —
Quão puta você... Desculpa, péssima escolha de palavras... Quanto quer me
matar?
 
— Porquê?
 
— Não sei onde estão as chaves — admite.
 
— Só pode ser brincadeira — resmungo e tampo meus olhos com
minha mão livre. — Você algema alguém sem saber das chaves? Quão
idiota você é?
 
— Wow, calma aí — ele retira o celular do bolso e ergue o dedo
indicador me pedindo silêncio. — Vou dar um jeito nisso.
 
— Acho bom, porque nem fodendo vou ficar algemada com você a
noite toda.
 
Ele sorri, e ergue o celular, colocando-o em seu ouvido.
 
— Não parecia isso a minutos atrás, já que me deixou te prender — ele
pisca e isso me atinge em cheio. — Acho que queria ficar fodendo comigo a
noite toda.
 
Estremeço e pela forma como ele me olha de cima abaixo, deve estar
fantasiando com o que poderia ter acontecido se toda essa confusão não
tivesse acontecido. Além de ser gato, ele ainda é sexy cafajeste.
 
— Filho da puta — sussurro e reviro os olhos, mesmo ele tendo uma
pequena razão.
 
— Aaron? Tá me ouvindo? — ele fala ao celular. — Onde você tá
caralho?!
 
— Não vou sair algemada com você por aí! Só avisando. — digo.
 
— Você o quê?! — Colton grita no celular. — Vocês tinham que ir pra
motel uma hora dessa?
 
Só o que me faltava! O cara também arrumou uma puta pra ele?! Hoje
em dia o mundo tá perdido!
 
— Cara, foda-se eu preciso das chaves da algema que veio nessa
fantasia de polial que arrumou, onde está? — ele pergunta. — Aaron, mano,
não está aqui, procurei... Não vou esperar você e a Oli transarem! Porra, eu
estou aqui no estúdio e dei de cara com uma mulher gato, dei de cima dela
achando que era a prostituta que você contratou e algemei a mulher, agora
ela está aqui querendo me matar porque a chamei de puta e tô sem a porra
das chaves da algema.
 
— NEM FODENDO! — ouço o tal Aaron gritar  tão alto que nem
precisa de alto falante,  sua risada preenche todo o ambiente. — MANO
QUAL A PROBABILIDADE DISSO ACONTECER? EU TAVA
ZOANDO CARALHO, NÃO TINHA PUTA!
 
— Cara, eu só não te mato agora porque estou impossibilitado de
levantar o braço — ele diz e ouço Aaron rir ainda mais. — Mas acho que a
Mia topa me ajudar a acertar um soco na sua cara, não é gatinha?
 
Ele me olha e sorrio pela situação. Só eu mesma pra me meter numa
furada dessa.
 
— Cara, eu preciso das chaves — ele diz e então faz silêncio enquanto
ouve Aaron do outro lado. — Mano, não faz... Desgraçado, desligou na
minha cara.
 
— O que ele disse?
 
Ele encara o celular, e então o bloqueia, suspira e seu olhar de
desculpas já diz tudo.
 
— Seguinte — Colton começa, coça a cabeça e então sua mão
algemada se entrelaça com a minha. — Ele está com a esposa, faz tempos
que eles não se encontram, deixaram o filho com a babá e estão tendo um
momento a sós, coisa rara... Ele vai trazer as algemas, mas... Daqui algumas
horinhas.
 
— Algumas horas?!
 
— É... Eu sei — ele suspira. — Olha, desculpa, porra fui eu que te meti
nessa situação. Se quiser podemos tentar cortar.
 
— Esse metal? Ou é aço? Onde vamos cortar isso? Estamos no meio de
uma festa a fantasia. — começo a me desanimar. Só o que faltava, ficar
algemada com um cara gato que me chamou de puta. — Não conhece
nenhum chaveiro?
 
— A essa hora? Não — ele diz e o vejo encarando o sofá cama do outro
lado. — Que tal a gente lidar com isso de um jeito diferente?
 
— Quando a vida te dá limões a gente faz uma limonada, mas nessa
situação não vejo como podemos resolver sem a porcaria das chaves.
 
— Eu tenho uma ideia — ele sorri, e me puxa em direção aos
instrumentos no chão da banda do irmão da Zaya. E então pega um violão.
— Podemos ficar a noite toda discutindo enquanto esperamos o Aaron... Ou
podemos nos distrair, e deixar tudo divertido.
 
Encaro o violão em sua mão, e pondero por um momento. Bem, o que
eu tenho a perder? Não estava gostando da festa, Já estou aqui, algemada...
E Deus nesse sentido foi bom porque o cara é um gostoso pelo menos. Não
estou a fim de ficar discutindo, mesmo que isso ferre qualquer plano que eu
tinha para essa noite.
 
— O que você sugere?
 
— Esse é o espírito, baby — Colt sorri e me puxa em direção ao sofá
cama, e nos sentamos lado a lado. Enquanto ele apoia o violão em seu colo,
e depois olha pra mim. — Desculpa ter sido um babaca.
 
— Ah, fala na parte que me achou parecida com uma puta? Imagina,
nem lembro mais.
 
— Mia — ele fala meu nome, com a voz rouca e soa tão sexy. — Não
te achei parecida com uma puta, aliás, esse foi justamente o motivo que me
atraiu em você.
 
De repente o clima muda, com algumas simples palavras.
 
— Jamais gostei da ideia de alguém receber para estar com outra
pessoa. Não parecia real. Mas movido pela sua fantasia eu me levei a
acreditar que era a tal garota... Mas, o que me chamou atenção em você foi
seu sorriso, seu olhar... O modo como olhou pra mim. Parecia real, certo...
me aproximar.
 
— Obrigada — murmuro, grata por ele me provar que se aproximou
por mim, não pela ideia de transar a noite toda.
 
—  E se eu me lembro... Você deixou eu me aproximar — ele diminui a
distância entre nós, e não tira os olhos dos meus. — Deixou eu te algemar,
e... Sentiu isso também. — meu coração dispara e tento ignorar. — Tô
errado?
 
Fico em silêncio e só balanço a cabeça concordando. Não sou de negar
nada.
 
— Que tal começarmos de novo?
 
— Colt...
 
— Voltar para aquele momento em que só queria te conhecer e sentir
essa atração por você — ele é direto, e isso me deixa inquieta. Ninguém
nunca foi tão honesto assim sobre mim.
 
— Desculpa, é que...
 
— Muita pressão? — me questiona e apenas concordo com a cabeça.
Ele franze a testa, mordisca o lábio inferior e rouba minha atenção. —
Então que tal eu começar pelo básico? — ele se levanta, e então dá a volta
atrás de mim, e se senta logo atrás.
 
Colton coloca uma perna de cada lado do meu corpo, a mão que está
algemada com a minha circula minha barriga e ele me puxa para trás, para
mais perto do seu corpo, mas toma cuidado para não encostar muito e
ultrapassar os limites. Em seguida ele coloca o violão no meu colo.
 
— Que tal começar deixando o clima mais leve? — ele ajeita o violão
em minhas coxas. — Posso me aproximar?
 
Olho em seus olhos e concordo, ele sorri vitorioso e se aproxima, cola
seu corpo contra o meu, e então sua cabeça se acomoda em meu pescoço.
Nossas mãos algemadas vão juntas até o braço do violão, e sorrio quando
ele posiciona meus dedos em algum acorde.
 
— Não sei tocar — murmuro.
 
—Eu te ensino — ele sussurra causando sopros em meu ouvido, sinto o
arrepio percorrer todo o meu corpo. — Me fala uma música que gosta.
 
— Tantas.
 
Ele sorri, e então começa a dedilhar alguma nota, começa a tocar, e
tento deixar minha mão mais solta para que ele consiga tocar.  E reconheço
ser My Only One. Meu coração se acelera quando ele começa a cantar, sua
voz rouca penetra em cada parte do meu corpo, e me arrepio.
 
Eu me lembro de quando te conheci
Eu não queria me apaixonar
Eu senti minhas mãos tremendo
Porque você estava tão bonita
 
Ele continua tocando e move a cabeça me instruindo a cantar. E mesmo
sem jeito e morrendo de vergonha, eu decido que tudo bem viver esse
momento, me permitir experimentar algo novo e simples. Me abrir para
pequenas coisas.
 
Eu me lembro de quando você me beijou
Eu sabia que você seria o único
Oh, minhas mãos tremeram
Quando você tocou minha música favorita
 
Ele pisca pra mim e sorrio, e estou realmente tremendo como a letra da
música. E não ajuda em nada sentir ele tão perto, seu perfume impregnado
no ar. Seu rosto em meu pescoço e suas mãos tocando o violão na minha
frente faz com que eu me renda ainda mais a todo esse turbilhão de coisas
que estou sentindo.
 
Eu não sei porque
Mas toda vez que eu olho nos seus olhos
 
Olho para Colton e ele mantém nosso contato visual, me atraindo ainda
mais.
 
Eu vejo milhares de estrelas cadentes, e sim, eu te amo
Mal posso acreditar que toda noite você está ao meu lado
Prometo que ficarei aqui até a manhã
E te pegarei quando você estiver caindo
 
E bem ali, sem dar nenhum aviso, Colton continua apenas tocando
suavemente, como se conseguisse fazer isso até de olhos fechados. Que ele
começa a se aproximar de mim, e só quando olho para sua boca que ele
entende meus sinais, e sorri de lado e se aproxima, colando sua boca contra
a minha. Vou segurar seu rosto com minhas mãos, mas isso faz com que eu
o faça soltar o violão, pois sua mão começa a vir junto.
 
Nos afastamos um pouco e rimos da situação.
 
— Porra de algema — sussurro.
 
— Ei, nada disso... É uma delícia ficar preso com você — ele murmura.
 
Quando me movo e tento tocá-lo acabo novamente o puxando pelo
pulso.
 
— Calma — sussurra. Coloca o violão para o lado. — Você fica aí —
ele fala para o violão, e então me coloca de lado, passa minhas pernas por
cima da sua, sua mão livre sobe até meu pescoço e ele se aproxima devagar
e beija meu pescoço. — E você vem aqui.
 
Sua boca se choca contra a minha. Não é suave como a primeira vez.
Ele vem decidido, como se nossos lábios tivessem um ímã que nos atrai.
Nos abrimos para o beijo juntos, e arrepio ou ouvir o gemido que ele solta
ao sentir meu sabor. Meu coração parece que vai explodir a qualquer
minuto.  Sua língua invade a minha, e ele está tão entregue que é diferente
de qualquer outro beijo que já experimentei. Colton me puxa suavemente
pela cintura, e me empurra para trás com seu próprio corpo, me faz deitar
no sofá cama, ergue meu braço preso ao seu para cima, e prende meu pulso
com força acima da minha cabeça. Ele se inclina sobre mim e me derreto
com a cena deste puta cara sexy olhando para minha boca como se fosse um
pote de mel.
 
Ele se afasta o suficiente para afastar minhas coxas, que estão tensas e
tremem à medida que ele me convence com facilidade a me abrir para que
ele possa se encaixar entre elas.
 
Ele volta a me beijar, sua língua se enrosca contra a minha, ele segura
minha nuca e aprofunda o beijo e solto um gemido. E então ele desce a mão
pela lateral do meu corpo até chegar na minha perna, e a puxa para cima,
até seu quadril, e então reúno coragem e circulo sua cintura com minhas
pernas. Colton interrompe nosso beijo e mordisca meu lábio inferior e então
o suga com força. E em seguida ele vai até meu pescoço, e lambe minha
pele, provando-a.
 
Sinto quando ele abaixa o quadril, e pressiona sua ereção contra o meio
das minhas pernas, atingindo meu ponto sensível. E ofego quando ele repete
o movimento com força e mordisca meu pescoço.
 
— Colton... — sussurro sem fôlego, em partes totalmente a mercê dele
e também tensa pela situação.
 
Sou virgem, nunca permiti que nenhum cara chegasse tão perto. O que
ele tem que conseguiu quebrar todas as minhas  barreiras assim tão rápido?
 
Eu sempre soube que não queria perder minha virgindade apenas por
amor. Eu só queria alguém que me fizesse sentir confortável o suficiente
para dar esse passo. E aqui está ele, um cara totalmente desconhecido que
me provou que conexão nunca teve a ver com tempo.
 
— Não vou fazer nada que você não queira — ele murmura
provavelmente sentindo minha tensão, e com isso acaba me relaxando, o
sinto pulsar por debaixo da calça, e isso me excita mais do que pensei. —
Mas não vai me impedir de te provocar até você querer.
 
Puta que pariu! Que homem é esse? Se eu já não estava molhada antes,
com certeza agora estou.
 
Colton mordisca meu pescoço, e segue trilhando beijos por todo o meu
colo, e então o sinto abaixar minha blusa, que é tomara que caia, ele a desce
o suficiente para fazer com que meus seios se libertem do tecido, e ele
abocanha o seio direito com força, minha respiração aumenta quando ele
suga e geme ao mesmo tempo, e então bate duramente sua língua contra o
bico, aumentando ainda mais o tesão que estou sentindo por ele.
 
Passo minha mão por seu cabelo o puxando contra meu seio, querendo
que ele não se afaste, e então ele se afasta e sorri, beija a pele da minha
garganta e mordisca meu queixo.
 
— Você é linda, gatinha — diz, descendo sua mão, chega no cós do
meu short e fico tensa quando ele leva a mão por dentro, e acaricia meu
clitóris por cima da calcinha. Solto um gemido rouco o que faz seu sorriso
safado aumentar ainda mais. — Quanto tempo está sem sexo, hum?
 
Paraliso. Não quero dizer a ele que nunca fiz sexo antes. Não quero ser
a garota inexperiente que não sabe o que está fazendo. Então decido mentir.
 
— Já faz um bom tempo — murmuro.
 
— É por isso que está tensa assim? — ele me pergunta e de repente seu
olhar fica preocupado.— Teve alguma experiência ruim?
 
Não quero que a gente vá por esse caminho. Não quero que ele sinta
pena ou decida não continuar, chegou a hora, estou sentindo. É o momento
certo, e quero que todas as minhas barreiras acabem hoje.
 
— Não... É só que faz um tempo, não sou uma prostituta que fica com
qualquer cara — digo e ele ergue as sobrancelhas. — Se estou aqui é
porque eu quero, só...
 
Paro de falar sem saber como mentir mais. Ele apenas franze a testa e
me lança um sorriso de lado. Se aproxima de mim e beija minha boca, e fica
assim tempo o suficiente para que eu possa relaxar, como se ele dissesse
que está  tudo bem. E quando suspiro, noto que ele está abaixando sua calça
com a mão livre.
 
— Não se preocupe, vou com calma, ok? — ele diz e isso me relaxa
ainda mais. — Esse tempo que não transa com ninguém acaba de valer a
pena, pelo enorme prazer que vou te proporcionar.
 
E assim que ele se ergue um pouco e olho para baixo vejo porque ele
disse enorme prazer. Nunca vi muitos homens pelados na vida, mas Colton
com certeza é um dos mais dotados. Seu pênis é tão grande e grosso que por
um momento eu travo.
 
Puta que pariu! E agora?!
 

 
A forma como ela sussurra meu nome enquanto joga a cabeça para trás
à medida que passa dois dedos por cima do seu clitóris em cima da
calcinha, é uma puta visão do pecado. Ela se perde a cada carícia minha,
parece sentir com intensidade todo o prazer que tento lhe proporcionar.
 
Abaixo seu short, e Mia abre os olhos e me encara a medida que o faço,
ela ergue os quadris facilitando pra mim, e desço por suas pernas puxando a
calcinha preta de renda junto, e assim que chega até suas panturrilhas, Mia
o retira empurrando com os pés e o tecido cai no chão.
 
Me inclino sobre ela, e abro mais suas pernas. Ela ali deitada abaixo de
mim, com os seios pra fora, seu rosto tem um tom rosado de vergonha que a
deixa ainda mais com um puta ar angelical. E isso fode toda a minha
cabeça. Sinto um certo medo, como se pudesse ser capaz de quebrá-la.
 
Passo meu polegar sobre seu clitóris até sua entrada, me deliciando com
o quanto ela está molhada e pronta pra mim. E então posiciono meu pau
sobre sua entrada. Consigo ver que ela está tensa, e deduzo ser pelo tempo
que ela disse que está transar com alguém. Passo a cabeça do meu pau por
seu sexo, da sua entrada até o clitóris, e então acelero o movimento.
 
Mia geme alto e sua mão livre agarra o colete de policial que estou
usando, resmungo um palavrão pelo prazer que sinto. Porra, vou acabar
gozando se continuar apenas olhando sua reação.
 
— Colton... — ela murmura gemendo e sorrio e movo meu pênis sobre
seu sexo mais levemente, a provocando.
 
— Tá gostoso, é? — me abaixo e beijo seu pescoço. Mia se arrepia e
ouço sua respiração acelerada.
 
Posiciono meu pau em sua entrada e sinto que de repente ela fica tensa.
E sei que não é pra menos. Não é querendo me gabar mas eu sei que sou
acima da média. As mulheres que fico no inicio se incomodam com o
tamanho. E sei que já faz um tempo que Mia não faz isso, e pelo modo
como ela me olhou, deve estar assustada também.
 
— Vou com calma, ok? — lhe digo e ela olha desesperada em meus
olhos, apenas assente com a cabeça. — Qualquer coisa eu paro até se
acostumar.
 
— Ok, acaba logo com isso — ela diz, me puxa e esconde o rosto em
meu pescoço. Como se não quisesse que olhasse em seu rosto.
 
Começo a mergulhar dentro dela e caralho, meu pau dói do quanto
apertada ela é. Mia tenciona suas pernas ao redor do meu corpo, sua mão
aperta minha cintura. Paro um pouco e então enfio um pouco mais, mesmo
encontrando resistência. Porra, sinto o suor por minha testa, e me seguro
para não gozar só de sentir o quanto ela é apertada. E então impulsiono meu
quadril, e forço um pouco mais. Ouço Mia gemer, e então sinto sua mão em
meu quadril tentando me afastar.
 
— Quer que eu pare? — me afasto, mas ela me segura de volta e
continua escondendo o rosto em meu pescoço.
 
— Espera só um pouquinho — ela diz.
 
— Tá doendo?
 
— É só... você é grande, e tem muito tempo.
 
— Se quiser eu paro, Mia — começo a me preocupar em estar
machucando-a. — O intuito é ser gostoso, não te machucar.
 
— Não — ela diz, e me mantém novamente no lugar quando tento sair.
— Eu quero. Por favor.
 
— Porra, não precisa pedir por favor, gatinha — um sentimento
estranho de posse toma conta de mim, afasto seu rosto do meu pescoço, e
olho em seus olhos, um pouco borrados de maquiagem. — Só me falar o
que quer, eu juro que faço.
 
Ela fica em silêncio me observando por um momento, e então encosta
sua testa contra a minha. Entrelaço nossas mãos algemadas.
 
— Eu estou aqui com você, ok? — murmuro e ela assente.
 
Nossos narizes se acariciam, e ela aperta minha mão com força quando
mergulho nela, e quando vejo que cheguei até o fundo solto o ar que estava
segurando, com medo de machucá-la. Mia continua apertando minha mão.
E decido esperar um tempo até ela se acostumar. É a própria visão do
pecado. Seus músculos internos pulsam e apertam ainda mais meu pau, me
deixando louco.
 
É tanto tesão, nunca senti essa conexão com nenhuma outra mulher.
Mesmo sentindo algum incômodo, Mia me queria. E o mais louco é que ela
não pareceu querer sexo como todas as outras. Ela queria a mim, me sentir,
como se ela precisasse disso e não do ato em si.
 
— Mia... — murmuro, e começo a retirar devagar e volto a meter nela,
com toda a calma do mundo. — Porra você é apertada pra caralho.
 
— Desculpa — ela murmura e morde os lábios, ainda tensa.
 
— Não peça desculpas por ser gostosa pra cacete — digo encostando
meus lábios contra o seus.
 
Começo as estocadas, e Mia aperta novamente nossas mãos, esconde o
rosto em meu pescoço, e acelero os movimentos aos poucos, sentindo ela se
perder debaixo de mim. Preciso respirar fundo e tentar mudar meus
pensamentos, pois ela está tão quente, molhada e apertada que meu pau
pulsa querendo o alívio logo.
 
Gemo em seu pescoço e Mia arfa, sinto sua pele se arrepiar.
 
— Você é tão gostosa, puta que pariu, estou me segurando pra não
gozar rápido — digo em seu ouvido, sinto que suas pernas se apertam mais
ao redor da minha cintura.
 
Mia leve a mão até minha nuca e beija meu pescoço.
 
— Não se segura. Goza pra mim — ela me pede e juro que minha visão
se escurece ao ouvir esse anjo falando algo assim pra mim. Ela mordisca
meu pescoço e sinto a onda de prazer subir por minhas pernas.
 
— Merda, Mia... — aumento o ritmo e Mia aperta os dedos na minha
nuca.
 
Assim que vou chegar lá, retiro de dentro dela, e então gozo com força
abaixo do seu umbigo. Mia observa maravilhada como se eu fosse a porra
de um Deus. E preciso olhar para outro canto pra não me perder ainda mais
nessa mulher. Assim que termino, a olho e a encontro sorrindo. Como se
estivesse satisfeita consigo mesma por me fazer perder o controle tão rápido
e forte assim.
 
Olho para sua boceta, está inchada e vermelha, e sorrio sacana pra ela.
Seguro suas coxas, e então as jogo por cima do meu ombro. Mia se tensiona
ao perceber o que pretendo, e tenta se afastar.
 
— Colton...
 
— Relaxa gatinha, só quero que seja bom pra você também — digo já
salivando pra sentir seu gosto, e ela coloca  a mão na minha testa em
dúvida.
 
— É que...
 
— Não farei nada se não quiser — digo e ela morde os lábios. —
Prometo que vou te chupar da forma mais gostosa que já experimentou
antes. Por favor...
 
Ela suspira, e então retira sua mão da minha testa, finalmente cedendo.
Mas posso sentir sua tensão. Ela deita novamente, aperto suas coxas ao meu
redor. E então primeiro passo a língua acariciando seu clitóris inchado, Mia
aperta as pernas contra minha cabeça e a ouço gemer.
 
— Ah, meu Deus — ela murmura.
 
Passo a língua por toda extensão molhada, e então sugo o clitóris com
força, fazendo movimentos circulares e de vai e vem para a enlouquecer.
Em pouco tempo a Mia tímida se liberta. Segura meu cabelo e me puxa para
mais perto. Ela rebola suavemente abaixo de mim, e acelero os
movimentos. Seus gemidos e a força como ela se entrega fazem meu pau
ganhar vida outra vez.
 
Gemo sobre seu sexo, causando um tremor leve, mostrando a ela o
quanto estou excitado e amando chupá-la, a deixo ciente do quanto ela é
perfeita. E não demora muito até ela tentar me afastar, mas não deixo. A
seguro com força e aumento meu ritmo, até ouvi-la gritar e suas pernas
apertam minha cabeça. Seu clitóris pulsa com força e sei que está gozando.
Bebo cada gota, e não a deixo sair até quando ela fica sensível.
 
E aí sim, me afasto. Mia deixa as pernas caírem, fraca e ruborizada de
prazer. Limpo minha boca com a colcha que cobre o sofá-cama, e então me
aproximo dela e me deito ao seu lado. Ambos respirando apressados.
 
— Porra, o que foi isso? — murmuro e ela começa a rir, e então ela faz
algo que nunca permiti nenhuma mulher fazer. Ela se vira, e deita o rosto
em meu peito, sua mão livre passa por minha cintura e ela beija minha
bochecha. Não sinto vontade de afastá-la, muito menos deixá-la sozinha,
por mais que essa algema nos una. — Foi bom pra você?
 
Me sinto inseguro pela primeira vez na vida. Mia me olha, os olhos
brilhando, a pele marcada por tons rosados. De onde ela surgiu, porra?!
 
— Foi — ela sorri de lado. — Obrigada, Colton.
 
— Por te fazer gozar gostoso na minha boca? — a pergunto e ela só
sorri e revira os olhos.
 
— Também — ela sussurra, e então deita a cabeça em meu peito
novamente. — Foi melhor do que eu pensei.
 
— Ai, isso foi uma ofensa ou elogio? — acaricio seus cabelos, que
caem espalhados sobre meu braço.
 
— Elogio — ela diz. — Você foi gentil.
 
Gentil. Nunca me elogiaram pela forma como trato alguém na cama
antes. É como se ela visse algo diferente, não apenas meu pau ou
desempenho como sempre quero me gabar. Ela sentiu a mim, pela forma
como foi.
 
— Tô ouvindo seu coração — ela diz. — Acelerou de repente.
 
— Com uma mulher gata ao meu lado não tem como ele não acelerar.
— digo e ela sorri. Meu celular começa a tocar. O pego e vejo a ligação
perdida de Aaron, e uma mensagem não lida, clico e Mia se acomoda de
novo em meu peito. — Aaron disse que está vindo com as chaves, chega
em dez minutos. Acho melhor nos vestirmos, gatinha.
 
Beijo o topo de sua cabeça e Mia concorda e se senta se afastando de
mim.
 
— Graças a Deus alguém vem nos libertar — sorri. Pega o short e
começa a se vestir, e então puxa a blusa para cima. Ela se arruma primeiro
do que eu, em tempo recorde, como se quisesse logo sair daqui.
 
Pego a calça, e a visto também, Mia segue meus movimentos para a
algema não atrapalhar, mas a vejo olhar de relance pro meu pau antes de
terminar de me vestir. E assim que estou novamente apresentável, ela me
encara e eu a puxo pela cintura, e abraço com meu braço livre.
 
— Eu amei o que rolou , você é incrível sabia? — acaricio seu rosto e
ela sorri e olha pra baixo sem graça.
 
— Eu também gostei, Colt — diz. — Mas estou louca pra chegar em
casa e tomar um banho. Prometo que não vou esquecer essa noite.
 
Ela não vai esquecer essa noite. Nem eu, nem fodendo. Mas ao mesmo
tempo, sinto um aperto no peito.
 
Ela não vai esquecer essa noite, porque nunca mais vai acontecer. Ela
só quer ir embora logo pra casa.
 
O que aconteceu aqui, morre aqui.
 
E com isso morre a possibilidade de vê-la outra vez.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Eu descobri que tentar não ser ingênua
É a nossa maior ingenuidade
Eu descobri que ser inteira não me dá medo
Porque ser inteira já é ser muito corajosa”
— Tati Bernardi.
 
DIAS   ATUAIS
 

 
 — Só mais um lance, vai a gente consegue — inspiro o ar e reúno toda
a força que ainda existe em mim após subir doze andares de escadas. Zaya
segura a barra da minha blusa buscando algum tipo de auxílio. Assim que
chegamos ao andar, já abro a porta do apartamento, e entramos rapidamente
lá dentro.
 
— Você é uma maluca por fazer isso — ela diz sem fôlego, se encosta
na parede e eu sorrio e pisco pra ela. — É sério, Mia. Eu posso ajudar…
 
— Não! Nem começa! — resmungo e ela revira os olhos e se levanta
— Não quero que me ajude com nada.
 
— Mas meu pai pode te ajudar com patrocínio, para você montar…
 
— Zay, só... Cala a boca — faço um coque alto em meu cabelo e sorrio
quando ela vai até a bancada de mármore da cozinha, passa o dedo
indicador e faz careta quando vê o rastro preto da poeira ali.
 
Sei que ela não faz por mal oferecendo ajuda, dinheiro, até mesmo
trabalho em sua loja. Mas não seria eu se aceitasse. Essa é a diferença
gritante da minha realidade com a dela. Ela teve uma vida privilegiada, com
regalias, conhecidos e oportunidades só por ter um sobrenome. 
 
Já eu, tive que ralar muito apenas para conseguir concluir a faculdade.
Eu seria hipócrita de dizer que conhecê-la não me ajudou. É claro que sim.
Tanto ela quanto a banda The Break dos meninos. Os fãs criaram uma
conexão comigo apenas por aparecer em fotos e vídes com os Astros do
Rock, ganhava seguidores apenas por aparecer no mesmo ciclo em que eles
fazem parte. E ultimamente sai muito na mídia após o lance com Collin e
aquela vez que Colton cantou no palco pra mim. As fofocas rolam soltas, e
levou um tempinho até a poeira baixar. Graças ao Kiran e Zaya tudo mudou
o foco quando foram fotografados se pegando e depois quando decidiram
ficar juntos. E essa pequena fama acaba me ajudando e me inspirando.
 
Ainda não tenho tudo o que sonho em ter. Meu desejo é ter meu próprio
estúdio de artes cênicas, me dedicar a isso. Mas sei que leva tempo. Eu
preciso fazer meu próprio sobrenome crescer, minha própria marca. Mas até
lá... porra, me acho foda pra caralho, por pequenas vitorias e em como sou
forte de chegar até qui. Principalmente por vir de um lar que mais me
traumatizou do que me motivou, ensinou. 
 
Enquanto todos me diminuíam e achavam que eu não seria capaz de
nada. Eu lutei, trabalhava em serviços tóxicos que mais me sugavam do que
me ajudavam, isso por tudo por um salário de merda no fim do mês. Mas
foi graças a todo meu esforço que eu consegui me formar, exatamente dois
dias atrás, pra ser exata.
 
Nossa colação foi ontem, e agora o pai da Zaya quer fazer uma festa
para comemorarmos essa vitória. Ele me alto incluiu na festa, nosso tão
sonhado baile privado de formatura aconteceria na propriedade da Record
Campbell Company. 
 
— Eu sei que pareço uma escrota por oferecer ajuda, mas…
 
— Então não ofereça — semicerro os olhos e ela ergue o dedo do meio
pra mim.
 
— Mia, eu te amo. Não dá pra eu ir embora e ficar imaginando você em
um apartamento sem móvel algum.
 
Me levanto sorrindo e seguro sua  mão. A levo até a grande janela de
vidro da sala e a faço olhar para a rua bem assustadora ali na nossa frente.
Ela só faz uma careta. 
 
— Eu sei que não é grande coisa, mas é um espaço que achei que dava
pra pagar. As publis que o tal assessor da minha conta que seu pai me
obrigou a aceitar, me ajudam muito. Mas você sabe que minha família
depende de mim, e não posso alugar nada muito caro.
 
— Esse bairro é perigoso — ela diz. — Me deixa te ajudar a achar um
lugar melhor, que cabe no seu bolso mas que não pareça que a vizinha ao
lado vai te assassinar. 
 
— Para de paranóia.
 
— Viu que ela tem aquela faixa amarela de cena de crime ao redor da
porta de entrada? — solto uma gargalhada porque realmente a porta do
morador da casa ao lado tem mesmo essa restrição criminal. Zaya apenas
estala os dedos chamando minha atenção. — Não tem graça! Como vou
ficar tranquila com isso? Ou ela é uma maníaca, ou você está morando num
lugar que aconteceu um puta crime na casa ao lado!
 
Solto mais uma gargalhada e quando ela não me acompanha sei que
está falando sério. E em partes sinto um pouco de medo também. Mas
preciso pensar positivo.
 
— ZAYA!
 
— Não, aqui você não fica. — diz séria.
 
— Talvez a vizinha seja só uma garota viciada em séries e livros
criminais.
 
— Pode ser, mas não vou pagar pra ver — ela se vira e vai até a porta,
mas para, chateada, e se vira pra mim — Mia, não tem um banco nesse apê.
Não tem cama, você só trouxe suas malas.
 
— Eu sei.
 
Prometi a mim mesma que quando a faculdade terminasse e eu
soubesse que minha mãe e minha irmã estavam bem e seguras, a salvo. Eu
iria começar a recomeçar, a me reerguer. E bem, deixei elas com todas as
coisas que comprei, e pago o aluguel delas. Mas queria um cantinho pra
mim. 
 
— Só quero um cantinho meu, sabe? Um lugar onde eu possa só sonhar
e não ficar lembrando de tudo o que passei na vida.
 
— E eu sei disso, me sinto orgulhosa de você, mas... Mi? — ela segura
meu rosto em suas mãos e me faz olhar pra ela. — Eu me preocupo com
você. Sei que não quer ajuda, nem aceitou ficar na minha casa, nem da sua
mãe, quer seu próprio cantinho. Mas... Por favor, fica lá em casa até os
móveis chegarem, ou melhor... Até acharmos outro apartamento em um
bairro seguro sem uma vizinha ao lado criminosa?
 
— Ela não é criminosa.
 
— Mia?!
 
Sei que ela tem razão.
 
Ainda não parei para comprar nada, pois toda essa procura de
apartamento e resolver as coisas com minha mãe me deixou totalmente sem
tempo. E ainda temos que resolver sobre o baile, e eu preciso me encontrar.
Me formei na faculdade e ainda me sinto tão perdida sobre onde começar,
que caminho seguir.
 
— A festa é sexta à noite, amanhã vamos olhar nossos vestidos. Sua
mãe e sua irmã vão?
 
— Elas vão sim — confirmo.
 
— Seu pai, ele…
 
— Não quero falar dele, Zay — engulo o bolo que se forma na
garganta, ela sabe o quanto isso me machuca, e o quanto eu fujo desse
assunto, é para o bem da minha saúde mental. Vou até a minha mala e me
viro em sua direção. — Ok, vamos pra sua casa, vai ter que me ajudar a
descer novamente.
 
Ela sorri, vai até a porta e bate três vezes, Michael, o segurança
particular abre a porta e começo a rir entendendo tudo.
 
— Você ia colocar um segurança pra me vigiar? — cruzo os braços e
ela só ergue a cabeça, puta ar superior essa mulher tem.
 
— Ela disse que você tem uma vizinha psicopata — Michael diz se
abaixando e segura a minha mala, a ergue tão facilmente que invejo a
bendita força masculina.
 
— Não tenho uma vizinha psicopata, pela décima vez! — reviro os
olhos e saímos.
 
  Enquanto fecho a porta. Michael desce as escadas para ir
provavelmente até o carro. 
 
Assim que termino de trancar, a porta ao lado se abre, Zaya e eu damos
um pulo assustadas e um homem só de cueca está do outro lado. Parece ter
uns trinta anos, barba por fazer, e o cheiro forte de maconha invade o ar à
nossa volta. Posso sentir os dedos da mão de Zaya em meu braço,
apertando.
 
— Aqui é proibido entrar, boneca. Mas se quiser pode vir — ele diz,
bem alterado, enquanto aponta para dentro do seu apartamento — É a nova
vizinha?
 
— Com certeza não — digo e ele olha para as chaves na minha mão. —
Vim só ver o apartamento que está para locação. 
 
— Beleza, Tchau — Zaya diz. — Tenha uma boa vida!
 
Ela me puxa escada a baixo e vou rindo enquanto ela parece prestes a
voltar a chutar as bolas do homem enquanto me retira daquele lugar.
 
— Me sinto uma princesa salva pelo príncipe da torre — digo e ela
começa a rir, mas não para de me puxar escada a baixo.
 
— Com dragões drogados e pervertidos? Fácil tirar você de lá.
 
— Isso aí, aqui as mocinhas que se salvam, baby — bato em sua bunda
assim que chegamos na rua e ela abre a porta do carro pra mim.
 
Entramos e Michael já começa a nos tirar daquele lugar. Ela pega o
celular e começa a mandar um áudio.
 
— Consegui tirar ela de lá, está me devendo o jatinho hoje de novo —
ela diz e pisca pra mim.
 
— Fofocando da minha vida? — cruzo os braços. 
 
— Era Colton, ele disse que se eu tirasse você de lá ele deixava o
jatinho pra mim e Kiran depois do baile de formatura.
 
— Tá aí outro maníaco que invade minha vida e você nem tenta me
salvar.
 
— Colton só se preocupa com a gente, Mia — ela diz e me olha de
relance. — Sei que tá pegando meu irmão, mas se você e Colton não se
implicassem tanto, eu bancava a cupido pra vocês.
 
— Sai fora — a empurro pelos ombros. — Colton só fica bancando o
engraçadinho, e eu atiço embarcando na dele, só isso.
— É eu sei — ela diz e sorri. — Só tem um problema aí, gatinha. — ela
frisa a palavra, já que está me implicando desde que soube que Colton e eu
temos um passado.
— Que problema?
— Você embarcar nas investidas de um cara engraçado é que na
maioria das vezes você ri e quando dá por si, está nua debaixo dele.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Não tenha medo do escuro?!
É claro que você deveria ter medo do escuro
Se você sabia o que tinha ali dentro”
— Supernatural
 

 
Meto uma, duas, três vezes.
 
Devagar, lentamente.
 
Forte, duro e intenso.
 
Seguro as pernas da garota deitada na minha frente, e as coloco em meu
peito enquanto afundo ainda mais meu pau dentro dela. A cabeceira da
cama bate contra a parede, fazendo barulho enquanto a fodo com força. Ela
geme, toda suada e vermelha, em partes querendo mais e ao mesmo tempo
exausta por me aguentar grande e duro dentro dela. Suas unhas apertam
minhas coxas e ela me lança um sorriso safado.
 
— Colton.... — meu nome sai com um pedido de socorro em sua boca,
enquanto ela geme.
Solto suas pernas e a mudo de posição, deixando-a de quatro pra mim.
E assim que ela fica de costas, vejo meu celular na cama ao meu lado
acender, e o nome “Zaya” na chamada é como um soco na minha cara.
 
Caralho, a festa de formatura das meninas!  Que merda!
 
— Porra — murmuro, e pego meu celular, clico no nome de Zaya para
mandar uma mensagem.
 
EU: Zaz, me atrasei, chego em meia hora.
 
— Colton? — ouço a garota me chamar, jogo meu celular na cama, e
ela me encara com o rosto virado para trás. — Você estava ao celular? É
sério?
 
Puta que pariu, lidar com isso agora não!
 
— Ok... princesa — como é mesmo o nome dela? — Preciso ir. — saio
de dentro dela, ignoro seu gemido de frustração.
 
— Vai mesmo me deixar aqui na cama depois de ficar no celular
enquanto transava comigo? — ela enrola o lençol em seu peito, me fuzila.
 
— Nada pessoal, princesa — comento, pego meu celular e minhas
roupas pelo chão. — Você foi demais, mas tenho um... evento super sério
que preciso estar.
 
Já saio do quarto e vou até o banheiro. Ligo o chuveiro e tomo o banho
mais rápido que consigo. Depois apenas enrolo na toalha, penteio meu
cabelo para trás, e pego meu celular já ligando para minha assessora.
 
— Se atrasou, peste? Lembrou que tem formatura pra ir é? — Mika,
minha assessora já atende debochando. — Eu preciso de um aumento por
ser a pessoa designada a cuidar de você!
 
— Seu aumento é seu amor por mim, olha como somos uma dupla
imbatível? — tento acalmar seu coração raivoso.
 
Como sempre, deixo Mika com os problemas para resolver tudo em
cima da hora. Ela já trabalha comigo e cuida da minha agenda a dois anos, o
suficiente para se acostumar com o modo que funciono.
 
— Estou no quarto ao lado. Ainda não fui pra formatura porque ti vi
chegar com a ruivinha aí — ela diz. — Abre a porra da porta, tô com seu
terno e sapatos. E o carro está pronto para nos levar.
 
Sorrio e desligo o celular, vou até o quarto e a tal ruiva está se vestindo,
mal olha na minha cara. Vou até a porta de entrada e abro, encontrando uma
Mikaela com cara de poucos amigos.
 
— Você quase me fez ter um orgasmo pela sua competência! — digo
pegando a roupa, e Mika ergue o dedo do meio pra mim.
 
— Porquê? A ruivinha não deu conta? Um terno é sua melhor tara?
Quem te viu quem te vê.
 
— Vai se foder!
 
— Tem quinze minutos, estou no estacionamento te esperando — ela
me sopra um beijo no ar e vai até o elevador.
 
Assim que me viro, já vejo a tal ruiva vir em minha direção. Ela só
sorri e passa direto por mim, abre a porta e a fecha batendo forte, mostrando
o quão puta ela está. Mas não tenho tempo pra lidar com isso agora.
 
Assim que jogo a toalha na cama e visto a calça azul marinho e blusa
branca social, meu celular se acende, o checo novamente, vendo a
mensagem que chegou.
 
Mia: Não vai vir, inferno?! Que vagabunda tá sendo mais
importante do que eu na sua vida?
 
Não evito sorrir. Mia e sua sutil personalidade fofa.
 
 
Eu: Você é única, gatinha. Mas já que tá de rolo com meu amigo,
preciso encontrar buracos pra chorar.
 
 
MIA: Hahah Cadê o medo de DST, vida?! Só vem logo, caralho!
 
 
EU: Não precisaria ter medo se tivesse só você na minha vida.
 
 
MIA: Sonha!
 
 
EU: Guarde uma dança pra mim.
 
 
 
“Você não deveria gostar das coisas porque
as pessoas te dizem para gostar”
— Stranger Things.
 

 
Me encaro no espelho do guarda roupa da Zaya, meu vestido é estilo
princesa, mais justo na cintura, tomara que caia todo de renda bordado, na
cor azul Tiffany, e a saia um pouco rodada com uma fenda na perna
esquerda.
 
Jack, o pai da Zaya, contratou cabeleireiro e maquiador para vir cuidar
da gente hoje. Então decidi por cachos no cabelo, e um penteado prendendo
a parte de cima e fazendo um leve topete, e uma maquiagem mais leve.
 
Fui a primeira a ficar pronta e então subi para o quarto e coloquei meu
vestido. E parada aqui encarando meu reflexo eu sinto um puta orgulho de
mim. Eu consegui. Mesmo tendo traumas devido a um passado horrível
com meu pai alcoólatra, mesmo sendo obrigada a me tornar a adulta
responsável ainda tão pequena. Isso fez quem eu sou hoje.
 
Ralei muito para conseguir pagar a faculdade. Foram turnos e mais
turnos trabalhando em uma cafeteria perto de casa. Foi de lá inclusive que
desenvolvi um vício por capuccino. Era a única coisa que me fazia ficar
acordada e aguentar toda a pressão de trabalhar, estudar, cuidar da minha
família, e lidar com meu pai nas horas vagas.
 
Toda garota merece ter um pai super herói. Aquele cara foda que vai te
proteger e cuidar, afinal, ninguém pede para nascer. Mas o fato do meu pai
ter sido o oposto disso, me fez forte. Então eu preciso estar feliz por ele não
estar aqui. Eu consegui tudo o que eu sonhava quando pequena. Estou longe
dele, consegui me formar. Graças a Zaya me tornei um pouco conhecida, e
alguns trabalhos de publicidade no meu Instagram estão me ajudando a
pagar o aluguel da minha mãe e irmã. E sustentá-las mesmo com pouco.
Tirei a gente daquele ambiente tóxico.
 
— Que carinha é essa? —  Collin chega de repente, e me abraça por
trás. Beija meu pescoço e então apoia o queixo no meu ombro, me
encarando através do espelho também. — Você está pensando “Puts eu me
pegava fácil”?
 
— Tá maluco? Toda hora — dou uma viradinha e encaro o espelho de
novo quando Collin sorri. — Eu sou gostosa demais.
 
— E muito modesta também — ele murmura e o vejo olhar para minha
boca.
 
— Ter auto estima e amor próprio não me faz fútil, Collin. Me faz foda
pra caralho!
 
Ele sorri de lado, e morde o lábio inferior.
 
—  Vim buscar vocês — ele diz, e em partes eu me pergunto se Collin
tem receio por eu ser tão auto-suficiente e com personalidade forte assim.
 
Será que ser assim intimida os homens? O fato de expor na cara deles
que venho em primeiro lugar na minha vida? Pelo menos, é assim que me
sinto agora, diferente da Mia do passado.
 
Ele se aproxima de mim, segura meu rosto em suas mãos e beija minha
boca devagar. Um selinho delicado e demorado.
 
É estranho ter Collin tão perto. Eu sempre tive uma queda enorme por
este homem. Ele era o cara incrível e gostoso que conheci quando visitei
Zaya pela primeira vez e ele estava em recesso com a banda. E logo me
encantei. Por ele ser fofo, me tratar bem.
 
Collin Campbell tem um instinto protetor, de cuidados e gentilezas. É
quase paternal. O modo como ele se preocupa e é o primeiro a querer
resolver tudo. À medida que fui amadurecendo, Collin foi cada vez ficando
menos interessante. Eu o via sexy e delicioso, e ele ainda é, vai por mim.
 
Mas agora, parece que a química entre nós simplesmente foi testada e
nenhuma combustão aconteceu. Mas somos medrosos demais para só
falarmos isso e seguirmos em frente. É confortável não ter rótulos, e ter
alguém para nos aquecer nos dias frios. Mas, e o restante deles?
 
— Então acho bom apressar sua irmã — digo e me viro para o espelho
novamente. — Tenho dó do Kiran se eles forem se casar um dia. Se na
formatura ela já quer estar perfeita imagina no dia da noiva?
 
— Neste caso podemos dizer que a cerimônia está marcada duas horas
antes do horário — ele diz dando de ombros.
 
— Ah qual é, Zaya pensa como eu... A noiva se atrasar no casamento
é...
 
— Tradição? — arrisca.
 
— Sexy — afirmo e ele só pisca pra mim.
 

 
Jack não economizou nessa festa. Nem parecia algo particular, parece
que toda a imprensa, artistas e pessoas importantes estão aqui. E eu
pensando que seria só algo familiar. Zaya segura minha mão assim que
chegamos ao jardim, e um milhão de flashes é disparado em nossa direção.
Sorrimos, acenamos, e então passamos pela segurança, que nos direcionam
até a enorme propriedade da Record Campbell Company.
 
Eles fizeram a festa no enorme quintal gramado, há uma piscina ao
longe, com bolas transparentes boiando e dentro delas há fios de fadas
iluminando e criando uma decoração sofisticada e acolhedora.
 
— Colton até agora nada, eu preciso da banda junta — Jack diz para
Collin.
 
— Vou ligar para ele — Zaya diz.
 
— Se puder também, Mia — Jack pede. — Ele costuma escutar você.
 
— Não sei porquê — murmuro dando de ombros.
 
Troco mensagens com Colton, que provavelmente estava comendo
alguma mulher e pouco se lixando para os compromissos. Essa é a sua
maior reputação, ele jamais a colocaria em jogo apenas por uma festa de
formatura qualquer. Mas de todo jeito faço meu papel e cobro sua presença
do meu jeito.
 
COLTON: Guarde uma dança pra mim.
 
Reviro os olhos sorrindo, e coloco meu celular no decote do vestido.
Zaya vê Kiran acenando ao longe e vai na direção dele, e então eu me viro
procurando pela mesa da minha família. Que consiste apenas em minha
mãe, Jô, e minha irmã mais nova, Bettany. E não demora muito até vê-las
ao longe me chamando. Vou até elas, e sorrio quando Bettany corre em
minha direção e abraça minha cintura.
 
— Você está tão, tão linda Mia — ela diz, os bracinhos mal se
encontrando ao redor das minhas coxas.
 
Passo a mão por suas costas e faço cafuné em seus cabelos. Todos
cacheados e suados de tanto que provavelmente correr e brincar na ala kids
que Jack preparou.
 
— Não mais do que você, olha isso, Be, você tá parecendo uma
princesa — retiro um cacho grudado na sua testa suada, e ela só sorri e
suspira.
 
— Quando eu crescer quero ser igual a você.
 
Sua fala inocente e ao mesmo tempo tão forte me faz querer chorar. É
tão bom saber que sou referência em sua vida. É por ela que sempre dou o
meu melhor e mato e morro.
 
— Que honra saber disso, Be — me agacho no chão, admiro seu
vestido branco rodado, parece uma mini debutante. — Mas eu quem queria
ser igual você, e esse seu enorme coração.
 
— Bem, para o coração crescer tem que encontrar um príncipe —
minha mãe se intromete e reviro os olhos. Lá vem ela de novo com esse
papo de príncipe, cara para casar e relacionamentos. Para ela não basta ser
feliz solteira como estou.
 
— Príncipes são uma fraude. O máximo que Mia vai encontrar é um
babaca sapo que banca o perfeitinho para iludir — Bettany diz colocando a
mão na cintura.
 
— Quem te ensinou isso? — mamãe a olha horrorizada.
 
— Mia disse que sou esperta o suficiente pra não cair nesse papinho.
 
— Caralh... Caramba, que orgulho! — digo e mamãe se assusta e eu
começo a rir. Beijo a bochecha da Be, e ela bebe o refrigerante na mesa e
corre para o espaço kids novamente.
 
Vou até minha mãe e a abraço por trás. Beijo sua bochecha e ela
acaricia meus braços. Ela está linda, com o brilho no olhar novamente, algo
que lutei tanto para ver novamente. Principalmente depois de tudo o que ela
passou.
 
— Estou muito orgulhosa de você, meu amor — ela fala e beija minha
bochecha.
 
Me afasto e me sento na cadeira ao seu lado. Ela segura minhas mãos
por cima da mesa, acariciando levemente.
 
— Sei que seu pai não...
 
— Mamãe, por favor, hoje não — a imploro, e ela só assente e olha
para a mesa a frente, encara Collin enquanto ele ri e passa o braço pelo
ombro de uma garota e fala algo no ouvido dela. — Sabe filha... Algumas
pessoas podem confundir, achar que príncipes são heróis e sapos são vilões.
 
— De novo com esse papo? — olho de relance para Collin que ainda
fala com a garota, e vejo Colton passar correndo por trás dele, ainda
ajeitando os cabelos bagunçados, e levando uma bronca dos meninos pelo
atraso.
 
— Só estou dizendo porque você cresceu com uma imagem de que
amor e casamento não existe — ela fala e coloca a mão em meu joelho por
cima do vestido. — Não é porque não deu certo entre seu pai e eu que vá
acontecer o mesmo com qualquer cara que você deixar se aproximar.
 
— Não se preocupe comigo, mãe. Eu sei me salvar e me escolher.
 
— Sei disso. E tenho tanto orgulho que uma mulher foda assim saiu de
mim — ela limpa as lágrimas e sinto vontade de chorar também. — Só me
prometa que vai tentar. Tudo bem dar a chance a alguém de nos pegar no
colo às vezes, Mia.
 
— Isso de relacionamento é complicado. Olha lá, o Collin é todo
príncipe, mas abre mão de qualquer coisa, ele teve medo de tentarmos, e eu
nem estava tão afim no final de tudo mesmo.
 
— E aquele outro cara?
 
— Outro cara?
 
— O que cantou pra você no show — ela fala como se fosse óbvio.
 
Solto uma gargalhada e olho de relance para Colton. Ele varre o lugar, e
quando me vê, seu sorriso se abre e ele coloca a mão no coração, abrindo a
boca surpreso, cambaleia uns passos para trás como se tivesse sido atingido
por uma espécie de flecha e começo a rir. Vejo que ele se despede de
alguém e começa a vir em minha direção.
 
— É o Colton, aquele mané que está vindo aqui — digo e mamãe o
olha e sorri. — Ele com certeza é um daqueles vilões, que usa todo mundo e
vida que segue.
 
— Bem, sempre existe dois lados de uma história — ela diz, segura
meu queixo e me faz olhar pra ela. — Você perde muito tempo procurando
caras perfeitos ou que sejam engomadinhos demais para fugir da imagem de
homem que seu pai deixou. Mas vou te contar um segredo, filha. Algo que
li uma vez. A diferença entre amar um herói e um vilão. É que o herói —
ela vira meu rosto em direção a Collin, abraçado com a garota. — O herói
sacrifica você para salvar o mundo e o vilão sacrifica o mundo para salvar
você.
 
Fico em silêncio absorvendo o impacto de suas palavras. Ela só pisca
pra mim e beija o topo da minha cabeça.
 
— Vou ver como Be está.
 
— Tá bom.
 
— Sogrinha, você está perfeita, juro que se sua filha me der mais um pé
na bunda eu começo a ir atrás da senhora.
 
— Deixa de ser nojento, Colt — resmungo e mamãe o abraça.
 
— Você é um querido!
 
Mamãe se afasta e Colton se aproxima de mim, ele está com o paletó
jogado no antebraço, a blusa social branca aberta no colarinho, e seu cheiro
me embriaga por um momento. Seu perfume amadeirado, intenso tanto
quanto sua aparência.  Colton Reed pode ser um enorme pé no saco, mas no
fundo ele é importante pra mim.
 
— Acho que a gente podia aproveitar esse seu look toda gostosa da
Disney e já chamarmos um padre e nos casarmos, o que acha? Não visto
terno com frequência — ele comenta, beija minha bochecha e se senta ao
meu lado.
 
— Ah claro, que nem aqueles casamentos de Las Vegas? Condenando
alguém em poucos minutos.
 
— Ah qual é, gatinha. Condenando alguém? — ele se inclina, vira de
lado, e quando dou por mim ele já vem em minha direção e beija meu
pescoço. É rápido, molhado e sexy. Arrepio por esse gesto.
 
Que saco! Eu estou no limite da carência, me arrepiei pelo Colton!
 
— Mantenha uma distância segura, campeão — ergo meu dedo e ele só
sorri de lado e mordisca a ponta do meu indicador.
 
— Acha que tenho medo de você me nocautear, baby? — sua voz rouca
me faz encará-lo do jeito mais sexy que consigo.
 
— Deveria ter — me aproximo devagar e ele sorri e olha para minha
boca, seus olhos parecem queimar de tanto desejo que ele me olha.
 
— Ah é? E isso é uma promessa ou ameaça? — ele mordisca sua boca,
passa a língua por seus lábios e isso é sexy como o inferno.
 
— Vai ter que pagar pra ver — sussurro, me viro sorrindo e pego uma
taça com Champanhe que o garçom passa oferecendo. Tomo um gole e
Colton pega uma taça também.
 
—  Mia, Mia... Você está brincando com o fogo — ele beberica a taça
enquanto olha para Collin do outro lado.
 
— Não tenho medo de me queimar — digo e ele me empurra devagar
pelos ombros, e nos encaramos e começamos a rir.
 
É a gente. Algo nosso. Essa implicância e zoar de dar em cima. É
confortável deixar as barreiras caírem com Colton, pois sei que ele leva
sempre para o mesmo caminho que eu. Sei que ele vai entender, brincar de
volta. É uma conexão bizarra que não queria ter, mas apenas aconteceu.
 
— Ouvi aí um papo da sua mãe quando cheguei, falando de príncipe e
vilão, que porra é essa?
 
— Você é  um fofoqueiro, Colton! Puta que pariu!
 
Ele solta uma gargalhada e bebe mais champanhe.
 
— Fala pra mim — ele pede e o olho de lado.
 
— Se ouviu, ouviu. Não espere que eu repita.
 
— Ei, Colt — uma mulher vestida de um uniforme preto se aproxima
da gente. — Jack está chamando, você e os meninos precisam dar uma
entrevista rápida.
 
— Beleza — ele diz e coloca a taça em cima da mesa.
 
A mulher sai de perto de nós. Colton se abaixa e beija o topo da minha
cabeça.
 
— Só estou perguntando porque... Pelo que entendi... Existem dois
tipos de caras no mundo. Sei que somos amigos, Mia. É isso que isso entra
como amizade também. Então não espere que eu seja um amigo todo fofo e
gentil, eu sou só um cara babaca quebrado, mas que... Sacrificaria o mundo
por você.
 
E então ele sai.
 
E me deixa com o meu coração quebrado tendo que recolher os
pedaços.
 
 
 
 
 
 
“Parece que todos tem alguém para abraçar,
Mas para mim é apenas uma época de solidão”
— Taylor Swift..
 

 
A festa de formatura é bem mais grandiosa do que eu pensei que seria.
Por mais que eu saiba como Jack Campbell é extravagante e não mede
esforços nem dinheiro para conseguir que tudo saia conforme ele espera.
Jamais sonharia com algo assim. Em partes, me pergunto se realmente
mereço tudo isso. Em algum momento da minha amizade com a Zaya ele se
apegou a mim, me ajudou com tanta coisa, sou extremamente grata por tê-
lo em minha vida.
 
Há um cerimonialista no local, ele pega o microfone, agradece a
presença de todos ali presentes. Que vieram nos prestigiar neste momento, e
então as luzes ficam mais escuras, há um feixe de luz projetada no meio da
pista de dança. E é ali que meu coração se aperta.
 
Em partes ele se quebra, é estilhaçado por lembranças e gatilhos
quando ouço “Agora chegou a hora da valsa de formatura”. E tudo entra em
câmera lenta quando vejo Jack se levantar e ir até Zaya. E é nesses
momentos em que me sinto mal por não ter um pai presente.
 
Vejo Zaya se levantar e dar a mão para Jack, que a leva até o meio da
pista de dança, ele a roda e então começam a dançar a valsa, comemorando
sua conquista e fico feliz por ela. Por ter um pai que a apoia e que faz de
tudo para ser um exemplo e um porto seguro.
 
Minha mãe segura minha mão, em partes porque ela é mãe, ela sabe
que mesmo sabendo que estamos bem melhores sem meu pai, a ausência
paterna tem seus momentos de fazer falta. Zaya e Jack dançam por um
momento, e então Collin vai até ela e a rouba de Jack, e ambos começam a
dançar. É lindo ver a relação dos dois. Eles tem uma conexão única. E sei
como é isso na prática porque eu faria de tudo pela Bettany.
 
Assim que Collin faz Zaya rodar, começo a rir quando Kiran se
aproxima e a tira dele. Ela cresceu com essa gangue masculina, e é
engraçado ver todos os “homens da sua vida” competindo em querer fazer
parte de um momento especial como este. Collin vai até o palco de frente a
pista de dança, e pega um violão. Ele começa a tocar Wildest Dreams, meu
coração se aperta enquanto soltam uma fumaça na pista, e eles parecem
dançar nas nuvens.
 
Minha mãe solta minha mão, e logo em seguida alguém a segura no
lugar, olho para o lado e Colton pisca pra mim, entrelaça nossos dedos, e
então começa a me puxar em direção a pista. Sorrio e aperto meus pés no
chão, o impedindo.
 
— Não! Não vamos estragar o momento deles! — murmuro.
 
— Gatinha, é seu momento também, sua dança de formatura, qual é...
— ele se aproxima e coloca uma mecha solta do meu cabelo atrás da minha
orelha. — Eu disse pra guardar uma dança pra mim hoje, se lembra?
 
Meu coração dispara e vejo Zaya do outro lado sorrindo e acenando me
chamando para a pista também.
 
— Você me paga! — reviro os olhos e seguro sua mão.
 
— Yes! — Colt comemora fechando a mão em punho, o que me faz
sorrir.
 
E então ele me leva até a pista, coloca minha mão em cima do seu
peito, passa seu braço por minha cintura e me puxa para mais perto. E então
estica nossas mãos entrelaçadas e começa a me guiar. Colton além de astro
do rock deveria investir também na dança, porque ele é o maior pé de valsa.
 
Ele me roda, me puxa para ele, e faz gracinhas ao mesmo tempo. Dura
tão pouco tempo até a música acabar, mas ao mesmo tempo fico feliz por
ter tido esse momento. Minha dança de formatura. Collin já termina a
música, e o som para, e então o DJ começa a tocar qualquer música
dançante que seja.
 
— Que absurdo, durou o quê? Um minuto? — Colton olha para o palco
indignado e começo a rir.
 
Foi um minuto, mas foi perfeito. Não poderia pedir mais do que isso.
 
— Bom que não tive que te aturar por muito tempo — digo.
 
Ele abre um sorriso e me empurra devagar pelos ombros.
 
— Vai se foder! Seria uma honra continuar dançando comigo — ele
segura meu rosto em suas mãos. — Aí teria tempo de descer suas mãos por
meu peito, meu abdômen, e eu também faria o mesmo até apertar sua
bunda. Porra de tempo curto.
 
— Ai, que tristeza, estou quase chorando porque não passei a mão no
seu corpo de prostituto de luxo — digo e ele revira os olhos.
 
— Saiba que muitas pagariam por isso aqui, gatinha — aponta o
próprio corpo.
 
Seria mentira se eu negasse que realmente Colton é um pedaço de mal
caminho. Seu corpo todo sarado, seu cabelo selvagem como se estivesse
acabado de transar com alguém. Ele é o próprio pecado.
 
— Posso imaginar o tipo de pagamento que elas fazem — dou dois
tapinhas em seus ombros e então me aproximo e beijo sua bochecha. —
Obrigada por isso, Colt. Pela dança.
 
— Na próxima te algemo pra ver se fica mais tempo perto de mim —
ele diz em meu ouvido e beija minha bochecha.
 
Sinto um arrepio percorrer todo o meu corpo. Essa é a primeira vez que
Colton toca no assunto do que aconteceu a anos atrás. Ele sai de perto de
mim, indo em direção a Kiran, e tenho certeza que preciso de uma bebida
urgente depois disso.
 
Vou até a mesa da minha família, e minha mãe está sorrindo. Pego um
copo e chamo um garçom, que se aproxima e me serve com vinho. Já bebo
dois longos goles de uma vez.
 
— Achei que Collin que te chamaria pra dançar — minha mãe diz. —
Vocês não estavam meio que ficando?
 
Meio que ficando? O que seria essa expressão? Ou fica ou não.
 
— É, estamos. Mas ele não é muito de rotular nada — digo e olho para
a pista novamente.
 
— Eu sei amor, mas é que sou sua mãe... Acho estranho o fato do cara
que você está pegando não chegou perto de você em nenhum momento da
noite. Reveja suas prioridades.
 
— Mãe! — começo a rir. — Você veio hoje inspirada em me dar
conselhos amorosos ou o quê?
 
— Não existe momento certo para uma mãe opinar — ela cruza os
braços e faz negação como uma criança mimada. — Só cala a boca e escuta
a voz da experiência.

Não demorou muito até minha irmã estar desmaiada no colo da minha
mãe de sono e exausta de tanto brincar. Então Jack providenciou um
motorista particular para deixá-las em casa. E muitos convidados foram
embora, e só ficou o pessoal que já temos o costume.
 
Zaya está em algum canto com Kiran, provavelmente se pegando por
aí. Aaron, Olivia e Colton estão sentados na beirada do palco, Oli está
amamentando Ryan, que está quase pegando no sono. Alexa, Bryan e Josh
também estão ali, sentados em uma rodinha, rindo e tentando falar baixo
toda vez que Olívia quase os mata com o olhar por atrapalharem Ryan.
 
Olho ao redor e vejo Jack e Lena com seus amigos e o pessoal da
gravadora. Pego um pedaço de queijo na tábua de frios e vou comendo
enquanto procuro por Collin. Sei que não temos rótulos, mas qual é. Já
começamos a ficar sério há seis meses. Já saímos de casal com a Zaya e o
Kiran.
 
Desde o dia em que ele quis cantar para mim no palco, Colton acabou
pegando o microfone e cantando no seu lugar, roubando toda atenção, que
começamos a nos distanciar. Collin ficou estranho depois disso, mais
reservado, demorou um tempo até ele entender que eu o queria e que não
via Colton da forma como a mídia especulou.
 
Entro dentro do estúdio, passo pela cozinha, e então caminho em
direção a sala de gravação. Ouço uma risadinha quando chego mais perto,
então espio pela abertura pequena da porta. E lá está ele. Encostado na
parede, com a língua dentro da boca de uma mulher.
 
Sinto meu coração se apertar, mas estranhamente não fico com raiva
pela situação. Só mostra o quanto eu realmente não significo nada pra ele.
Hoje é minha formatura, e o cara que até então estava ficando não ficou do
meu lado, não me tirou pra dançar, não me deu parabéns, porque estava
ocupado demais tentando enfiar seu pau em uma garota.
 
Solto um suspiro e saio do estúdio, encontro um garçom passando com
taças de vinho. Pego uma e desço as escadas, bebo o líquido tudo de uma
vez, e noto que Colton está me observando intrigado do outro lado. Apenas
aceno pra ele e viro de costas, só o que faltava eu ter que conversar com ele
agora, por mais que sejamos amigos.
 
Super normal falar que meu ficante está lá dentro ficando com outra.
No meu dia especial. Mas ok, vida que segue. E não existe dia certo para
seguir em frente, seja em um dia especial ou não.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“E quando eu senti que era um cardigã velho
Sob a cama de alguém
Você me vestiu e disse que eu era o seu favorito”
— Taylor Swift..
 

 
Me aproximo da piscina, retiro meus saltos, puxo meu vestido para
cima e me sento na borda. Coloco os pés na água e tento ignorar tudo o que
acabou de acontecer. No fundo eu sempre soube que Collin nunca sentiu
nada forte e real por mim, eu sabia que ele era alguém inalcançável, que
amava outra mulher. E mesmo sabendo dos riscos, ver que ele continuava
fiel a um sentimento mesmo depois de ter sido abandonado pela Kimberly
que ele sempre amou, me fazia admirá-lo ainda mais. Ele continuava sendo
leal ao que sentia, se recusava qualquer oportunidade de seguir em frente.
 
Então comecei a ser amiga dele, criamos uma conexão, e ele sempre
pareceu se divertir com minhas indiretas e provocações sobre sermos um
casal. E com o passar dos anos, essa brincadeira começou a se tornar real. 
 
Se tornou real em detalhes tão simples, como no dia do seu aniversário
que ele me deu o primeiro pedaço do bolo, ou quando nos encontramos na
rua e começou a chover e ele pegou minha mão e agimos como turistas
enquanto ele me apresentava a cidade e tentávamos mantê-lo no sigilo para
não ser reconhecido por ninguém.
 
Se tornou real talvez no dia que compôs uma música e invadiu minha
casa no meio da noite para cantar, e ele estava tão empolgado que acabamos
dormindo no tapete da sala com um pote de sorvete entre nós. O que eu
sentia por ele mudou de uma brincadeira quando ele me levava para os
shows e a forma como seus olhos pareciam brilhar ao fazer o que amava.
 
Eu me apaixonei por Collin Campbell como uma mudança de fases de
uma borboleta. Ele guardava em um casulo toda mágoa e dor, e eu via a
metamorfose que ele era, eu via sua beleza mesmo quando nem ele mesmo
via. E quando o enxerguei por dentro, me peguei querendo voar junto a ele.
 
E eu sabia dos riscos. Irônico que ser leal a um sentimento por alguém
que ele amava há anos, foi o que fez com que eu me apaixonasse por ele, e
foi isso o que o tirou de mim de certa forma.
 
Não que ele me pertencesse, isso nunca. Collin sempre foi sua própria
pessoa. Ele sempre deixou claro que tinha medo de seguir em frente, mas
em um dia ele decidiu que valia a pena se arriscar e acabamos juntos e
vivendo bons momentos nesses seis meses juntos. E por mais que eu
sempre soube que ele nunca olharia pra mim do mesmo jeito que olhava
para Kimberly, como eu vi em diversos vídeos e fotos dos dois. É como se
ele fosse outro Collin e quando ela o deixou, ele simplesmente se fechou.
Mas por mais que eu soubesse disso, ainda acreditava quando ele dizia que
não queria mais sofrer por alguém que o abandonou, que eu era mais
importante por nunca ter desistido. 
 
Ela o deixou para trás e foi embora.
 
E eu sempre estive lutando por ele.
 
Então doeu quando ele aos poucos foi se distanciando. Doeu quando eu
o vi olhar pra outra garota logo hoje e estava nítido que eu era descartável.
Era tudo mentira. E de todas as mentiras contadas por Collin e que eu
acreditei sem me opor… De tudo o que eu mais admirava nele e aceitava os
defeitos… Traidor nunca foi algo que eu pensei que ele seria.
 
Mas ele nunca quis me pedir em namoro, só queria continuar ficando
exclusivamente comigo. Então qual a surpresa de pegar seu ficante aos
amassos com outra mulher? 
 
— Está olhando para a água porquê, sereia? Já quer me abandonar e
voltar para o mar? — a voz de Colton me assusta, e viro meu rosto
imediatamente para outro lado para ele não ver me ver chorar.
 
— Oi, Colt…. Eu só… Só quero ficar sozinha, logo te encontro na
festa, tá? — tento fazer a voz mais natural que consigo, e ouço quando seus
passos param, e sei que ele está hesitante, em dúvida se continua se
aproximando e quebra meu refúgio, ou se faz o que eu pedi.
 
E não me surpreende em nada quando ele vem em minha direção. Qual
é, é do Colton que estamos falando! Seus passos se aproximam e vejo seus
sapatos sociais parados ao meu lado.
 
— Mia? — a voz mais grave. — Olha pra mim.
 
De todas as pessoas tinha mesmo que ser ele a que mais parece mais
sacar tudo o que eu sinto?!
 
Retiro meus pés da água, e me levanto com o salto em mãos, e começo
a andar na direção oposta dele.
 
— Logo te encontro na festa, Colton. — digo de novo e ouço quando
ele vem atrás de mim.
 
— MIA! Para de andar e olha pra mim, porra! — ele começa a se
exaltar e eu paro. Sei que é uma batalha perdida.
 
Engulo em seco, e então me viro lentamente e fico de frente pra ele. E
assim que olho, vejo todo seu corpo ficar tenso ao me ver chorar. E quando
ele suspira e faz negação com a cabeça e solta:
 
— O que Collin fez dessa vez?
 
Só me faz querer ainda mais chorar. Porque ele mais que ninguém nota
quando me machuco por algo, e por ironia é sempre por algo que Collin
disse ou fez.
 
— De onde tirou isso, Colt? Uma mulher não pode chorar agora?
 
— E o fato de você sempre tirar a culpa dele só te torna ainda mais
idiota, Mia! — ele diz e coloca o copo da bebida em cima da mesinha perto
da piscina e anda de um lado para o outro, parece tentar se controlar. —
Qual o seu problema?
 
— O meu problema?
 
— É! Quantas vezes eu vou ter que te ver desse jeito e aceitar calado a
merda desse seu sofrimento?
 
— Nunca te pedi pra vir atrás de mim, muito menos para guardar
qualquer coisa que só diz respeito a mim! — vou até a mesa, e limpo as
lágrimas em minhas bochechas, e então calço meus saltos.
 
— É claro que nunca pediu… Mas sabe o que chama quando alguém se
importa com a gente tanto a ponto de pegar ódio do melhor amigo?
 
— Nunca pedi que o odiasse, Collin não merece isso.
 
— Ah, claro! Me desculpe então que eu fique puto e com ódio de
alguém que te trate tão mal. Me desculpe por me preocupar se ele te faz
sofrer. Realmente, o errado dessa história de merda, sou sempre eu. — ele
diz e pega o copo, e então começa a se afastar.
 
E isso me machuca ainda mais. Começo a chorar porque nunca quis
tratar Colton assim. Ele nunca fez nada. A única coisa que ele sempre se
preocupou foi se eu estava feliz, se Collin estava me tratando bem. Colton
não fez nada além de apenas querer cuidar e proteger meu coração.
 
— Colt! — o chamo e me levanto, vou em sua direção, e o vejo quando
para de andar. — Desculpa. Eu sou uma idiota, é só que quando fico triste
ou com raiva desconto em quem não tem nada a ver, e eu sei que é errado.
Desculpa.
 
Ele suspira e se vira em minha direção, vem até mim e me puxa para
seus braços. Abraço sua cintura e ele beija o topo da minha cabeça. Ele é
tão quentinho, tão cheiroso. Seu coração bate tão rápido que me acalma e
faz eu me sentir segura.
 
— Pode descontar em mim. Se isso for aliviar sua dor, eu aguento
gatinha — ele diz baixinho.
 
Ele me deixa chorar um pouco em seus braços, e então me afasto e
limpo minhas lágrimas, Colton fica em silêncio observando cada
movimento meu. E então ele pega meu cabelo e coloca atrás da minha
orelha, e em seguida ajeita um pouco minha franja.
 
— Mia… O que ele fez? — ele pergunta sério de novo.
 
— Ele… Eu fui procurar ele, porque ele não falou comigo a noite toda,
e o achei no estúdio… Com outra mulher.
 
— O quê? — Colton franze a testa mas então para ao ver minha
expressão. — Vocês não estavam naquele lance lá de ficar sério?
 
— Ah, Colt…
 
— Por favor, não diz o que eu estou pensando. Collin não seria tão
filho da puta assim.
 
— Era o que eu achava também — sussurro. 
 
Colton suspira e anda de um lado para o outro fazendo negação com a
cabeça. E então ele só me olha e entendo tudo só com esse olhar. E quando
ele começa a andar apressado em direção a casa, corro indo atrás dele.
 
— Colton! Colton, para! — digo, mas ele nem ouve o que eu digo.
 
Passamos pelas pessoas, e ele entra na casa, meu coração se acelera
quando ele anda depressa, decidido em direção a sala de gravação. E tento
ignorar a dor no meu coração, quando ele abre a porta e Collin e a tal garota
ainda estão lá. E assim que observo melhor, vejo que a tal garota é Luna. A
nossa amiga vaca parece querer sempre ser o centro das  atenções. É sério?
Collin me trocou por ela? Ver eles se afastarem e a boca vermelha de Collin
me dá nojo.
 
— COLTON! — grito, mas ele já se aproxima de Collin e dá um murro
no rosto dele, e em seguida o ergue pela camisa e o pressiona contra a
parede.
 
— Colton larga ele — Luna diz assustada.
 
— Que porra tá passando pela sua cabeça? — Colton grita para Collin.
 
Collin olha pra mim de relance e então para Colton. Ele prende a
respiração.
 
— Colton… — tento dizer e me aproximo tremendo.
 
— Não, ele tem esse direito — Collin diz e olha pra mim. — Mia, por
favor eu sinto muito.
 
— SENTE MUITO? — Colton repete, sua raiva é tanta que a camisa de
Collin é amassada entre seus dedos, que estão brancos pela força que ele
faz. — Sente muito quando? Por enganá-la? Por mentir? Por fazê-la
acreditar na merda de um futuro namorado e trair ela na festa de formatura?
Que porra de ser humano é você? Cacete, Collin!
 
— Você não tem conta com isso! — Collin diz. — Vamos resolver isso
mais tarde.
 
— Pra que? Para limpar sua merda como sempre fez? Porque ninguém
pode imaginar que o perfeitinho Collin Campbell é um péssimo amigo? Um
namorado traidor? Você limpa suas merdas e não se importa quem se
machuca no processo!
 
— Cara, sei que tá puto comigo, mas…
 
— Puto? Não é puto que eu estou! — Colton grita e então o solta com
força. Collin ajeita sua camisa e Luna se aproxima dele e limpa o sangue
em sua boca. E isso me deixa pior. — Na boa! Vocês dois se merecem! 
 
— Colt, tá tudo bem. Não tínhamos nada sério demais... — me calo
quando Colton me olha em choque.
 
Ele se vira para Collin, fecha a mão em punho e a coloca encostada em
seu maxilar. 
 
— Colton, para de show! — Luna diz. — Por favor, vamos resolver
isso como adultos.
 
— Como adultos? — Colton repete e começa a rir. — Ouviu isso Mia?
Como adultos. Claro, porque foi mega adulto a forma como ele nem teve
decência em terminar a relação entre vocês. Logo você que é quase da
família, e nem assim a respeita, porra?! — ele diz pra mim e olha para
Collin. — Eu te amo Collin. Mas eu te disse que se machucasse ela eu
acabaria contigo. Então vê se pelo menos uma vez, seja homem suficiente
para lidar com essa situação. E eu juro por Deus, que se você a fizer chorar
mais uma vez, eu acabo com essa porra de banda e você se foda bem longe
de mim.
 
— Colt… — Collin começa, mas para quando Colton se afasta. — Mia,
por favor, vamos conversar.
 
Colton para assim que chega ao meu lado e ergue a mão pra mim.
 
— Mia? — Collin me chama de novo. — Eu só quero me explicar. —
ele estica sua mão e sinto as lágrimas escorrerem por minha bochecha. —
Vamos conversar?
 
— Eu já cansei, Collin — digo e começo a chorar. — O que mais você
quer de mim? Porque eu estou cansada! Eu nunca te abandonei, nunca
menti, nunca fingi ser algo que eu não sou. Eu sempre esperei por você, pra
isso? — Aponto para ele e Luna. — Limpa sua boca, tá sujo além de sangue
ai… E eu não quero que me explique, já está tudo bem claro. Não vou mais
perder um segundo da minha vida com a porcaria da sua conversa.
 
Seguro a mão de Colton e o puxo para fora da sala. E assim que saímos
da sala eu paro e começo a chorar.
 
— Ei, isso gatinha, coloca pra fora — Colt se aproxima e me abraça e
então, me guia até fora da casa.  — Só não aqui. 
 
 
Colton fica do meu lado até que eu pare de chorar. Ele começa a fazer
suas palhaçadas como sempre. Foi até a cozinha e roubou um pouco de
petiscos e uma garrafa de vinho pra nós. Ficamos na beira da piscina, e o
tempo todo ele me distrai, contando sobre os shows, sua última viagem. Sei
que ele está esperando meu momento.
 
Não chorei por amar Collin. Acho que chorei mais pela situação, por
considerá-lo muito e ver que eu não significo o mínimo pra ele. Dói sentir
isso, desperta gatilhos em mim. Quando eu era criança achava que o fato do
meu pai ser agressivo quando bebia, e falava que eu era a pior filha do
mundo, era porque eu havia me comportado mal, ou feito algo que ele não
tinha gostado. Passei a minha infância tentando fazer meu pai me amar, ser
uma boa pessoa, e no final entendi que não tinha nada de errado comigo. Eu
dei todo meu coração, eu tentei ser um exemplo, tirava as melhores notas,
buscava trazer orgulho. E ele só queria me humilhar e dizer que eu não era
boa o suficiente.
Quando tive maturidade o suficiente pra entender que não é minha
culpa. Que eu sou forte e amável, e sou especial para quem se importa, tudo
mudou. Prometi que jamais aceitaria migalhas, e aqui estou eu. Parece uma
repetição de traumas e decisões.
 
— Collin vai acabar pegando uma dst da Luna — comento e Colton
abre um sorriso. — Sabe-se lá por onde aquela boca passou, ela fica com
qualquer cara.
 
— Ela sim seria considerada uma acompanhante de luxo, só vai atrás
dos ricos e com dinheiro — ele diz. — Mas não tire a culpa dele na história,
por favor.
 
— Não tiro — pego um pedaço de queijo o jogo na boca.
 
— Collin só pode estar bêbado por trocar você por ela. Você já é gata,
hoje então... Deveriam trazer o samu para não ter risco de ninguém morrer
de infarto quando olhar pra você.
 
— Colton! — começo a rir e o empurro pelos ombros.  — Idiota!
 
— Idiota? Olha só, meu coração — ele pega minha mão e coloca em
cima do seu peito. — Se eu parar de respirar você bem que podia sentar em
cima de mim e fazer uma respiração boca a boca.
 
— Sonha, Colton! — puxo minha mão e pego a taça de vinho, bebo um
gole.
 
— Poxa vida, só queria te elogiar e você me trata assim? — ele finge
ficar sério, dramático como sempre.
 
— Tá triste é? — acaricio sua bochecha e ele assente sorrindo. — Quer
sentar no meu colo?
— Prefiro que você sente no meu — ele aponta para seu próprio colo, e
é notável o volume mais evidente em sua calça. — Você quer?
 
Nos olhamos, e parece que o mundo se congela por um momento. Sinto
um calafrio percorrer meu corpo, e Colton encara meus lábios. É tudo tão
intenso, que meu coração erra uma batida.
 
— Ei, que porra estão fazendo aí? — Bryan fala, e olhamos juntos em
sua direção. Todos os nossos amigos estão vindo atrás deles, menos Collin e
Luna. Óbvio. — Viemos jogar algum jogo, já estamos bêbados o suficiente
pra porra ficar séria. E vocês não tem como fugir.
“Às vezes, as coisas têm que se desfazer
Para darem espaço para coisas melhores.”
— How I Met Your Mother.
 

 
— Vocês são tão idiotas! — Aaron diz enquanto se senta atrás de
Olívia, coloca uma perna de cada lado dela, e a puxa para trás. — Essas
merdas de brincadeiras nunca acabam bem!
 
— Qual é, Ryan está dormindo! Duvido que se eu falasse pra você e Oli
nadarem pelados na piscina se não ia curtir — Josh fala.
 
— Com você de platéia? Não, só eu vejo o que é meu — ele diz
apertando os braços ao redor dela possessivamente.
 
— É só a porra de uma garrafa rodando, se cair em alguém que não
quiser jogar, bola pra frente, é só pra descontrair, porra — Bryan diz e
começa a rodar a garrafa.
 
Olivia apoia a mão em minha coxa, chamando minha atenção. Sorrio e
me aproximo dela um pouco.
 
— Porque está com essa cara? — me questiona, olha ao redor e parece
procurar alguma coisa. — Cadê o Collin?
 
Alguém. Ela estava procurando por ele, já que é ao meu lado deveria
ser onde era pra ele estar.
 
— Sei lá, com a língua da Luna enfiada na boca dele, quem sabe? —
digo baixinho, mas noto que Aaron arregala os olhos e franze a testa. —
Você, calado.
 
— Com mulheres aprendi que devo ser um túmulo com o que escuto —
ele diz, se afasta um pouco de Olivia e beija o topo de sua cabeça. — Vou
dar mais privacidade pra vocês.
 
— Obrigada, encrenca — Oli diz sorrindo e ele beija sua boca e pisca.
Vai em direção a Colton, que está sentado perto dos nossos amigos jogando
brincadeiras adolescentes.
 
— Quer falar sobre isso? Ou só vamos ignorar que ele existe hoje? —
Oli me questiona.
 
— Vamos só ignorar, é meu dia, eu só queria...
 
— Mia, não tem que se explicar — ela se levanta, vai até uma mesa
com bebidas que os meninos trouxeram, pega uma garrafa de champanhe, e
volta ao meu lado, estica a garrafa sorrindo. Eu pego e bebo um longo gole.
— Só enche a cara, curte, vida que segue. O babada foi ele, então — ela
segura meu rosto e o ergue. — Cabeça erguida, se não a coroa cai.
 
— Te amo, Oli — me aproximo e beijo sua bochecha. Ela me abraça,
toma minha garrafa e bebe um gole.
 
— Sabe o que eu acho que deveria fazer? Quando Collin aparecer, você
poderia muito bem só agarrar o Colton na frente dele.
 
— Olivia! — começo a rir imaginando a cena.
 
— Qual é, Colton é gostoso, que meu marido não ouça.. E ele é
caidinho por você.
 
— Ah claro, por mim e por qualquer outra mulher pra ele se enfiar.
 
— Não estou dizendo pra casar com ele... Disse pra pegar, usar, transar
e vida que segue.
 
Dou de ombros e ambas olhamos para Colton. Lá está ele, com os
botões da blusa branca social abertos, mostrando seu tanquinho musculoso,
as tatuagens ali presentes. Ele é literalmente o pecado, daqueles que a gente
sabe que é um erro mas que dá vontade de pecar.
 
Colton Reed é a personificação dos Deuses e demônios.
 
— Preciso lidar com problemas maiores agora — confesso.
 
— Como?
 
— Encontrar um apartamento. Zaya me ofereceu a casa dela, mas Kiran
vive aparecendo por lá, E Collin também, me sinto uma intrusa. E não
quero parecer mal agradecida, mas... Só queria paz.
 
— Vou te ajudar nisso, vamos achar um apartamento bom, bem
localizado e mais em conta, ok?
 
— Obrigada Oli — murmuro sem graça. Sei que Olivia ultimamente
está cuidando de Ryan em tempo integral, mas ela é uma arquiteta mega
renomada em Chicago. Tem acesso a várias casas, apartamentos e
propriedades antes que todo corretor descubra.
 
— Caiu em você, Liv! — Aaron diz, chamando nossa atenção. E assim
que olhamos vejo a garrafa parada em direção a Oli e a piscina. — Quer
jogar?
 
— Ué, eu vou perguntar pra quem?
 
— Escolha alguém — Josh sugere.
 
Olívia já está prestes a dizer não, quando Collin chega. Com Luna. Eles
se aproximam, ela vai direto até Alexa, que está mais bêbada que o normal.
E ele se senta em um canto perto de Aaron, evita olhar para Colton. E assim
que seu olhar se cruza com o meu, Olivia dobra as pernas, ficando mais
confortável, totalmente decidida ao olhar para Colton.
 
— Beleza, eu quero propor um desafio — ela diz.
 
— E está olhando pra mim porquê? — Colton pergunta sorrindo. — Só
eu me ferro no seu radar?
 
— Eu sei que você é um bad boy que ama pegar geral... Então, eu
desafio você.... A pegar a Luna — Olívia diz e arregalo meus olhos.
 
O que deu na cabeça da Oli? Ela ouviu o que contei pra ela?
 
Colton fica sério de repente. E Luna começa a rir como a boa vaca filha
da puta que é. Josh e Bryan começam a botar pilha e Colton simplesmente
faz negação e bebe um gole da sua cerveja.
 
— Não fico com biscate, desculpa. Até os bad boys tem limites — ele
diz e todos assobiam e começa a zoar Luna pela fala de Colton.
 
— Ok, então se não cumprir vai ter que sofrer as consequências —
Olívia diz e todos se calam.
 
— Eu prefiro — Colton diz sem hesitar. — O que você quer? Me ver
nu? Que eu faça um storys idiota para o Jack comer minhas bolas depois?
 
— Vai ter que abrigar a Mia no seu apartamento — Olívia diz de
repente, e me engasgo com o champanhe.
 
Começo a tossir, e ela apenas coloca a mão na minha coxa e aperta,
como se pedisse que eu confiasse nela. Colton franze a testa ao observá-la.
E todos estão olhando pra mim, incluindo Collin.
 
— Como é que é? — Colton pergunta ainda atordoado.
 
— Simples. Mia está precisando de um lugar para ficar uns dias, até
que eu consiga um apartamento legal pra ela, então já que não vai cumprir
meu desafio, sua consequência será essa.
 
— E desde quando isso é uma consequência? — Colton pergunta, pisca
pra mim e começa a rir. — Já pensou, gatinha? Dividindo a mesma cama?
 
— Só em seus sonhos ela toparia — É a risada e fala debochada de
Collin que de repente me dá a coragem que preciso.
 
Tomo mais um gole de champanhe, e Olivia está sorrindo piscando pra
mim. Ela fez isso de propósito. Porque na cabeça maluca dela, Colton e eu
seríamos o casal perfeito. E ela quer bancar a cupido.
 
Só que toda essa história até funcionaria. Colton mal para na cidade, eu
não atrapalharia Zaya. Collin iria se foder ao notar que não controla o que
eu faço.
 
— Bem... Então acho que é melhor saber que eu costumo roubar a
colcha quando durmo — digo e todo mundo explode em assobios e gritos.
 
Mas tudo o que eu consigo ver é Colton.
 
Parado do outro lado, com a garrafa de cerveja a poucos centímetros da
boca, ele me lança um sorriso  de lado, que me faz ter a certeza do erro que
cometi. Eu acabei de aceitar morar com Colton Reed! Por um ato imaturo
de querer mostrar pro meu ex traidor que sou mais do que ele decide. Por
uma brincadeira idiota de apostas e consequências.
 
E dentre toda a zoação, é seu olhar que me queima inteira. Pois eu
percebo que independente disso ser ou não uma bela aposta. Ele gostou do
que ganhou, ele realmente parece excitado com a ideia de morarmos juntos.
 
E é por esse olhar que eu travo. E a única coisa que peço ao olhar pro
céu enquanto bebo mais um gole do champanhe.
 
É que eu possa sair ilesa de todos os danos que Colton Reed poderá me
causar.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Eu não mudei, eu amadureci
Eu não desapareci, você que me esqueceu
Eu te dei as chances, você desperdiçou.”
— Tati Bernardi.
 


— Agora é só assinar aqui — a secretária da universidade de Chicago,
me entrega o termo de entrega do meu diploma. Assino as duas vias, e
então ela me entrega o pedaço de papel que passei anos ralando pra
conseguir.
 
— Obrigada — confiro meu diploma, enquanto Zaya assina o termo de
entrega do dela.
 
Guardo todos os documentos importantes e o diploma com os termos
na minha pastinha, e Zaya os coloca dentro de sua bolsa. E então saímos da
faculdade. Última vez que estou pisando aqui como estudante. Agora
formada! Saímos para o gramado da entrada e então sorrimos e nos
abraçamos, comemorando essa conclusão de uma fase mega importante das
nossas vidas.
 
— E aí, como se sente agora com a vida de formada? — ela me
pergunta e vamos andando até uma Starbucks que tem ali perto.
— Desempregada, mas com um diploma na mão — comento e
começamos a rir.
 
— Já te falei que minha loja sempre terá um espaço pra você!
 
— Eu sei. Mas jóias não são minha praia, Zay.
 
Chegamos até a Starbucks, e ela pede um Milk Shake e eu meu
cappuccino de chocolate. E então nos sentamos para aguardar nosso pedido.
Aproveito e abro minha pasta e retiro de lá o que trabalhei a noite toda
enquanto ela dormia.
 
— Esse é meu presente de formatura pra você — estico o papel
enrolada, está amarrada com uma fita branca de cetim.
 
— Não é justo! Não combinamos de dar presentes! — ela me olha sem
graça.
 
— Presentes não tem que ser combinados. Você já é um presente pra
mim — seguro sua mão por cima da mesa, e reviro os olhos quando ela
começa a chorar e vem até mim e me abraça. — Você é uma manteiga
derretida.
 
Ela deita o rosto em meu ombro e abre o papel. É grande, mais grosso,
e fiz uma ilustração em aquarela dela com seu vestido de formatura no meio
da pista de dança.
 
— Puta que pariu, Mia! — ela suspira, limpa as lágrimas com o dorso
das mãos. — Você realmente não vai trabalhar em uma joalheria, você é o
próprio diamante lapidado.
 
— E sem teto, sem estúdio, sem emprego, mas veja só — levanto meu
diploma e ela começa a rir. — A vadia está formada, Baby.
 
Chamam nossos nomes e Zaya pega nossos pedidos, ela me entrega
meu cappuccino, e já bebo um gole. Se senta ao meu lado, e tira uma foto
da pintura em aquarela que fiz.
 
— Vou postar no instagram e te marcar, com certeza isso vai te ajudar
muito a ganhar seguidores interessados... Já pensou se quer seguir esse
ramo?
 
— Obrigada — sorrio e dou de ombros. — Na verdade, eu tenho uns
sonhos mas nada concreto ainda. Pintar e ilustrar no momento é só hobby.
 
— Mas poderia não ser, Mia. Pense sobre isso — ela posta e bloqueia o
celular. E então suspira, bebe um gole do seu Milk Shake e olha em minha
direção.
 
Somos amigas há tempo suficiente para nos conhecermos bem. E sei
exatamente o motivo dela estar me olhando dessa forma.
 
— Olivia disse que vai te ajudar a encontrar um apartamento — ela diz.
— E que irá sair da minha casa pra morar com... O Colton?
 
Merda. Muita coisa rolou ontem. Como dizer pra sua melhor amiga que
o irmão dela que era seu ficante te traiu? Olivia contou essa parte também?
 
— Eu ia te falar, é só que... Foi no calor do momento, sei lá. Ninguém
tocou no assunto hoje. Vai ver Colton só aceitou brincando.
 
— Sabe — ela começa meio hesitante. — Eu acho que seria bom morar
com Colton. Não estou te expulsando da minha casa, sabe disso. Mas acho
que... Seria bom uma mudança de ares pra você. Colton te respeita, é um
bom amigo. Ele sempre foi um ótimo conselheiro, acho que ele poderia te
ajudar no ramo de artes cênicas — ela bebe mais um gole do milk Shake.
— E sei também que ele poderia te ajudar com outras coisas também, como
a Olivia me falou.
 
— Droga, vocês só fofocaram sobre mim?  — começo a rir.
 
— Ela disse que você precisa sair, transar e focar no seu sonho — ela
me cutuca e começa a sorrir. — Colton está disposto a isso, com toda
certeza.
 
— A diferença é que eu não quero — me defendo.
 
— E isso é o que mais atiça ele... Querer e saber que não pode te ter —
pisca pra mim e bebo meu capuccino.
 
Fico receosa em comentar com ela sobre Collin. Se ela falou sobre a
possibilidade do Colton e eu transarmos, é porque ela com certeza sabe.
Mas Zaya nunca foi do time que apoiava eu e seu irmão. Ela sempre disse
que eu merecia mais do que ele estava disposto a oferecer.
 
— Olivia te contou? — vou direto ao ponto.
 
Ela sabe sobre o que me refiro.
 
— Collin me contou — ela diz, me pega de surpresa. — Sinto muito
por isso, Mia.
 
— Não foi sua culpa. Ele já não estava a fim do que tínhamos mesmo.
 
— Mas mesmo assim ele agiu como um babaca e você merece a porra
do respeito! — ela se exalta e faz negação. — Amo Collin. E sei que ele
está passando por fases difíceis, ele nunca mais foi o mesmo desde... — ela
para, mas sei bem o que ela iria dizer.
 
— Desde a Kimberly?
 
— Desculpa, Mia. Não quis insinuar que...
 
— Não, ei... Está tudo bem — seguro sua mão. —Foi bom isso ter
acontecido. Collin parou a vida dele desde que Kimberly o deixou. Que
bom que eu não estava totalmente entregue a ele, por perder a melhor fase
da minha vida esperando por um cara quebrado.  Eu mereço a porra do
quebra cabeças completo.
 
— E eu bem sei onde está sua próxima peça — ela pisca pra mim. — E
ele será seu novo colega de quarto.

 
Termino meu banho, me enxugo e visto uma calça de moletom bege
claro e um cropped preto. Calço um par de tênis branco, e penteio meus
cabelos, e faço um rabo de cavalo alto. Vou até o quarto de hóspedes da
casa da Zaya e termino de colocar as últimas roupas e necessaire com itens
de higiene pessoal em minha mala.
 
Pensei bem sobre tudo o que rolou ontem. E no fundo sei que não vou
me encontrar ficando sempre na sombra de Zaya Campbell. Eu preciso ir
atrás do meu sonho. Então, decido seguir o conselho de Olivia... Não a
parte de transar com Colton... Somente a parte de mora com ele, aceitá-lo
como meu colega de quarto. Logo ela acha meu apartamento. E será bom
esfregar isso na cara de Collin.
 
Fecho minha mala, e termino de ajeitar minha mochila. E então suspiro
e me sento na beirada da cama. Alguém bate na porta do quarto duas vezes.
 
— Pode entrar — digo acreditando ser a Zay.
 
Mas é Collin quem abre a porta e coloca a cabeça pra dentro. O ar de
repente parece ficar mais pesado que o normal. Sinto meu coração se
apertar ao vê-lo parado ali.
 
— Posso entrar? — pergunta hesitante.
 
— Quer dizer que agora eu decido?
 
— Vou respeitar você, Mia — ele diz baixinho.
 
— Tarde demais pra isso — comento e me levanto da cama. Pego a
mala e a coloco no chão, e então jogo a mochila por meu ombro.
 
— Porra... Mi, sinto muito — ele entra, fecha a porta atrás de si. E me
viro ficando na sua frente. — Eu realmente tô arrependido, por tudo. Sinto
muito.
 
Coloco a mão na cintura, jogando o corpo um pouco para o lado pelo
peso da mochila.
 
— Sente muito pelo o quê exatamente? — cruzo os braços. — Por me
ignorar na minha festa? Por não me tirar pra dançar mesmo sabendo que
você era a única figura masculina mais próxima que eu tinha? Por beijar e
flertar com Luna a festa toda? Ou só por ser um filho da puta?
 
— Por ser um filho da puta. Por tudo isso — ele diz. — Não tem
palavras para justificar o que eu fiz.
 
— Não. Não tem.
 
— Nem minhas desculpas você vai acreditar, porque eu fui um babaca
e tudo bem você me odiar.
 
— Que bom que sabe, Collin — comento e aponto a porta. — Agora se
me der licença.
 
— Mas eu seria mais babaca ainda se não te pedisse desculpas — ele
diz, ainda parado no mesmo local. — Tudo bem você me odiar, não querer
olhar na minha cara. E tudo bem achar que não é sincero. Mas eu realmente
sinto muito, Mia.
 
— Beleza. Tchau.
 
— Não sou um filho da puta como fui ontem — ele diz.
 
— É claro que não, Collin. Não foi essa pessoa que eu acabei ficando a
fim. Foi de outro Collin. Que merda tá rolando com você?
 
— Desculpa — ele pede e sua voz sai tremida. — Você é uma mulher
incrível, linda pra cacete. Eu tentei não me aproximar, tentei não ficar com
você, tentei não gostar de você. Mas você é perfeita Mia. O problema sou
eu, que sou um merda. Um cara quebrado que não mede as consequências
do que escolhas são capazes de fazer.
 
Escolhas.
 
Como a escolha que ele fez ao deixar Kimberly ir embora depois dela
ter implorado pra ele ficar?
 
Como a escolha de como a vida dele poderia ter sido?
 
— Quer saber, Collin... Eu sinto pena de você — sussurro. — Você está
se exigindo tanto, lutado tanto para tapar buracos abertos de feridas do seu
passado, que está deixando de viver. Só está existindo a sombra de um
fantasma.
 
— Mia...
 
— Eu perdoo você. Tudo bem, a gente tentou, não deu certo. Você foi
um babaca traidor, e só aceite, aprenda e durma com seus arrependimentos.
Que são seus, Collin! Não venha atrás de mim buscar algum alívio na sua
consciência. Porque isso não diz respeito a mim. Eu sei da pessoa foda que
fui pra você. Eu sei da mulher que eu sou. Já passei por muita coisa na vida,
pra perder tempo com isso. — me aproximo dele e coloco minha mão em
seu ombro. — Só siga em frente e pense bem antes de usar alguém para
enfrentar os seus fantasmas. Enfrente-os sozinho.
 
— Mia...— ele me segura quando tento sair do quarto. — Vai mesmo
morar com o Colton? É sério? Se isso for pra provar algo sobre o que eu fiz,
eu...
 
— Nem tudo é sobre você — lhe corto e ele se cala. — É minha
decisão, Lin.
 
—Então, é isso? — ele me solta e coloca as mãos nos bolsos. — Até
sua amizade, eu... Perdi você pra sempre?
 
Suspiro, e sinto as lágrimas encherem meus olhos. Me recuso a
desmoronar na frente dele. E dói ainda mais quando constato um fato e ao
mesmo tempo me liberto dele.
 
— Pra perder alguém é preciso ter, Collin — olho em seus olhos. — E
pensando bem agora... você nunca me teve.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Planeje tudo e nunca chegará a ser como você imaginou,
Mas vá em frente e talvez você chegue aonde precisa”
— La casa de papel.
 

 
Empurro as duas malas de rodinha para dentro do elevador, e aperto o
botão de número oito. O andar onde fica a cobertura de Colton. Talvez não
tenha sido uma boa ideia vir sem avisar. Mas depois de tudo o que rolou
ontem, e principalmente com Collin praticamente visitando Zaya quase
todos os dias, para aproveitar sua companhia e que Kiran, seu melhor
amigo, também estava lá. Se tornou um ambiente totalmente tóxico pra
mim.
 
Só quero distância. Então, quando vi seu carro estacionado na garagem
quando Zaya e eu chegamos da Starbucks, já fui direto para o quarto fazer
as minhas malas. Olivia estava certa, os meninos fazem shows, não ficam
todos os dias em casa. E Colton havia aceitado aquela merda de aposta. Na
rua, o filho da puta não vai me deixar.
 
O elevador para no andar, e assim que as portas de metal se abrem, já
empurro as malas com todas as minhas forças, e saio. Vou até a sua porta e
tem um quadrinho pendurado escrito “Entre, mas tente não ser cuzão”.
Reviro os olhos com o humor típico de Colton Reed. Aperto a campainha
três vezes e espero.
 
Espero por trinta segundos, um minuto, dois minutos.
 
Toco a campainha de novo e bato na porta.
 
Nada.
 
— Tá de sacanagem! — puxo meu celular do bolso do moletom e clico
na nossa conversa no whatsapp.
 
EU: Onde vc tá??
 
A mensagem é enviada mas ele não visualiza. Tento ligar, mas o celular
chama até cair na caixa de mensagem. Porém eu o escuto por detrás da
porta.
 
— Estou ouvindo seu celular tocar daqui, Colton! — bato na porta com
força, constante, e coloco a mão na maçaneta. — Porque não abre essa
maldita por... — forço a maçaneta para baixo, e a porta se abre.
 
E então eu entendo o motivo pra ele demorar abrir.
 
Colton está totalmente molhado. E com uma toalha branca enrolada na
cintura, onde ele a segura, mantendo-a no lugar. A água escorre por cada
centímetro da sua pele, sai de seus cabelos, passa por seus lábios inchados e
macios, eles brilham quando ele os lambe, e as gotinhas escorrem ainda
mais por seu pescoço, seu peito com o bico rosado arrepiado. E então seu
abdômen, até chegar na toalha branca em seu quadril.
 
— Merda, Mia — ele resmunga, o semblante mais sério e tenso que o
normal.— Achei que algum fã tinha descoberto meu endereço!
 
— Desculpa. Você não atendia a  porra do celular, nem abria a porta. —
me defendo.
 
— Talvez porque eu estava de boa tomando banho — ele olha para
minhas malas e suas sobrancelhas se juntam em dúvida. — E o que
significa tudo isso?
 
— Collin apareceu na casa da Zaya.
 
— Ele tratou você mal?
 
— Não. Pediu desculpas.
 
— Papo furado — ele diz e deita a cabeça de lado. — E você aceitou?
 
— Aceitei a desculpa, não ele de volta — cruzo os braços e Colton
sorri.
 
— Essa é minha garota — ele estica a mão livre para cima e eu me
rendo e bato a minha contra a sua palma.
 
— Sei que não avisei, mas... Lembrei da aposta da Olivia, então não
quis ficar lá na casa com ele andando pra todos os lados.
 
Colton trava. Ergue as sobrancelhas, e posso ver como em câmera lenta
seus lábios escorregarem para um sorriso lateral.
 
— Você estava falando sério sobre roubar minha colcha a noite toda?
— me questiona.
 
— Você não? — retruco, e ele só mordisca o lábio inferior. E se abaixa
e pega uma das minhas malas.
 
Entra sem falar nada, e eu puxo a outra e fecho a porta passando o
trinco atrás de mim. O sigo em direção ao corredor da sua casa. E admiro o
quanto tudo está impecável aqui. O sofá, os vasos com plantas, a cortina
bege esvoaçante pela brisa que vem da sacada. A cozinha é um brinco de
tão lustrada. Me pergunto se ele tem comida ou se já cozinhou nela alguma
vez. Ou sabe-se lá o que os astros do Rock comem, quando comem, ou no
caso de Colton: Quem comem.
 
— Só pra constar, não vou me deitar em nenhum quarto de hóspedes
que tenha sido usado como seu abatedouro. Nem em nenhum lençol com
seus fluidos corporais e das putas que você come — puxo a mala com mais
força, entro dentro do último quarto do corredor, e me junto a Colton.
 
Estamos parados de frente a uma cama KingSize. Enorme e com
certeza o maior quarto que já vi na vida. Tem a lateral toda de vidro, porém
uma cortina cinza escuro sobre para dar privacidade ao local. Mas travo
quando noto que a cama está desarrumada, e que a porta da suíte está aberta
com todo o vapor do recente banho de Colton. E então me lembro da
aposta.
 
— Estava falando sério sobre dividirmos a mesma cama?
 
— Você não? — ele pergunta erguendo meu rosto, e então aperta meu
nariz entre o dedo do meio e o indicador.
 
— Colton! — sorrio meio desesperada. — Sem chance!
 
— Beleza, a porta da rua é serventia da casa! — ele começa andando de
costas.
 
— COLTON! Qual é!
 
— Não tenho quarto de hóspedes, só o sofá. E eu me recuso a dormir lá
por dois motivos. Uma, a casa é minha. E... Daria tudo pra dormir do lado
da sua bunda.
 
— Filho da puta! — reviro os olhos, mas sei que ele está falando sério.
 
— Eu me recuso a dormir em um sofá — cruzo os braços.
 
— Por isso, a cama — ele aponta para ela.
 
— Não vou dormir no meio dos fluidos corporais das suas putas —
faço cara de nojo e ele só sorri e se aproxima de mim.
 
— Mia, eu não sou um ninfomaníaco, cacete! Nunca trouxe nenhuma
mulher aqui. Aqui é minha casa, meu templo sagrado. Você será inclusive
minha primeira hóspede.
 
— Duvido — digo incerta.
 
— Gatinha, eu sou um homem de palavras. Pode sentir meu cheirinho
vai, tá em todo travesseiro e cobertor — ele fica atrás de mim e coloca seu
rosto em meu ombro. 
 
— Ok, mas aposto que existem fluidos corporais seus.
 
— Isso com certeza — ele solta uma risada e eu faço cara de nojo. —
Mas não como você tá pensando. — sua mão percorre minha cintura e ele
me abraça por trás. Sinto um arrepio ao sentir sua aproximação, e o modo
como inspira meu cheio passando seu nariz lentamente por meu pescoço. —
Um homem tem outras formas de se satisfazer que não necessariamente
precisa de alguém.
 
— Ah não? — meu coração acelera e de repente parece faltar ar nesse
cômodo.
 
— Ele pode só pensar em alguém, enquanto retira sua toalha, e vai até a
banheira. Entra lá dentro, e então imagina esse alguém segurando seu pau,
em um vai e vem delicioso...
 
Ele para de falar e percebo que fechei meus olhos. E assim que abro e
olho para o lado, vejo Colton ir em direção ao banheiro da suíte do quarto.
Ele retira a toalha antes de passar pela porta e a deixa cair no chão. Sua
bunda empinada e grande me saúda, e ele fecha a porta, deixando uma
pequena abertura ao entrar.
 
Preciso me lembrar como se respira.
 
Pego meu celular e ligo para Olívia, que atende no terceiro toque.
 
— Oie, adivinha quem está procurando seu apartamento? — ela
começa a rir, e eu prestes a ter um ataque cardíaco.
 
Preciso controlar meu coração.
 
— Olivia Cooper, você me paga sua filha da puta!
 
E mais ainda... Preciso parar de imaginar Colton Reed se masturbando
na própria banheira e de me imaginar sendo a pessoa das suas fantasias.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Eu não acredito em destino
Você faz suas próprias oportunidades”
— Mad Men.
 

 
— Nem acredito que finalmente acabei!  — resmungo e me jogo no
sofá da sala ao lado de Colton.
 
Ele está parecendo um empresário de Home Office, usando uma
bermuda cinza e blusa branca, com o notebook nas coxas e fones de ouvido,
todo concentrado em sabe-se lá Deus o que ele faz no tempo em que não
está sendo um astro do rock.
 
Colton retira um dos fones e olha para mim depois de digitar algo no
notebook e fechá-lo. Seu sorriso de lado começa a se formar, e ele pega o
celular.
 
— Depois a gente conversa, vou pensar sobre hoje a noite — e então
encerra a ligação que nem sabia que ele estava e retira o outro fone. —
Falou comigo?
 
— Só disse que estou aliviada em ter terminado, coloquei todas as
roupas no armário do seu quarto de hóspedes sem cama.
 
— Melhor do que deixar as roupas na mala — ele dá de ombros.
 
— Você é rico, porque não tem uma cama extra na sua casa? — dobro
as pernas e me movo até deitar a cabeça no colo dele. — Vamos lá comprar
uma pra sua hóspede preferida?
 
— Você não é minha hóspede preferida — ele se move meio
desconfortável e pega uma almofada e coloca por baixo da minha cabeça, e
começa a fazer cafuné no meu cabelo. — Na verdade tem outra pessoa aqui.
 
— Como assim? — meu coração se acelera com a possibilidade de ser
obrigada a dividir o apartamento com alguma paquera de Colton. — É
mulher?
 
— Ela é uma princesa — Colton diz sorrindo.
 
A campainha toca e me sento ereta no sofá. Colton se levanta e vai até a
porta. Abre e fala algo com alguém e então agradece.
 
— Mia, preparada para conhecer sua colega de quarto? — ele pergunta
fechando a porta.
 
E lá está ele, todo grandão segurando uma miniatura de Lolo da
Pomerânia branco. O cachorrinho até some em sua mão enorme. Sorrio e
ele apenas beija a bolinha de pêlo, que começa a se contorcer feliz, e ele a
solta.
 
— Essa é a Pantufa — ele diz a soltando e ela vem em minha direção,
cheira meus pés, abana o rabinho e então me abaixo e a pego, trago até meu
rosto e recebo seus beijos em lambidinhas. — Foi presente de um fã clube,
não estava nos meus planos mas me apaixonei de cara por ela.
 
— Você é muito fofa. Quem é a neném mais fofinha desse mundo? É
você! — beijo sua mini barriga, e a solto. Pantufa corre de um lado para o
outro toda feliz, até encontrar o potinho com água e ração que Colton
colocou. — Com quem ela fica quando não está?
 
— Geralmente dependendo do show eu a levo. Ela é novinha ainda,
então deixo em algum hotelzinho, ou com alguém de confiança. Não a
deixo sozinha.
 
— Ela é muito fofa — suspiro encantada.
 
Colton só concorda e então pega o celular e digita alguma mensagem. É
estranho dividir um mesmo local com ele.
 
— Seguinte — ele guarda o celular e vem até mim, se senta ao meu
lado. — Vai ter uma social hoje, na casa de uns amigos. Vamos beber. Se
quiser vir comigo, tá convidada.
 
— Ah, não estou a fim de beber — suspiro. — Mega cansada com essa
mini mudança.
 
— Certeza?
 
Apenas balanço a cabeça concordando. E de repente sinto vergonha por
atrapalhar sua rotina assim.
 
— Colt?
 
— Hum?
 
— Desculpe chegar sem avisar, ou ter que ficar aqui. Juro que arrumo
um hotel ou engulo meu orgulho e volto pra casa da minha mãe. Não quero
te atrapalhar.
 
— Ei — ele segura minhas pernas e me vira até ficar de frente pra ele.
— Relaxa. Sinta-se em casa, amanhã faço compras decentes, então hoje vou
ter que pedir algo pra comer. Mas pode ficar aqui o tempo que precisar ou
quiser, está bem?
 
— Ok.
 
Há um silêncio constrangedor entre nós. E sinto minha pele se arrepiar
ao sentir sua mão acariciar minha coxa levemente. Totalmente alheio ao que
seu toque pode me causar.
 
— Acho que vou tomar banho — me apresso e me levanto, quebrando
qualquer aproximação que tivemos. — Você tem rolê pra curtir, e eu fico de
babá da pantufa.
 
— Valeu — ele sorri  de lado e pisca pra mim.
 
Começo a sair em direção ao quarto de hóspedes, pego um short de
moletom e uma regata branca, minha toalha, e sigo em direção ao banheiro,
mas paro ao ouvir Colton falar ao telefone.
 
— Ok baby, se for de batom vermelho saiba que vou tirá-lo de você.
 
Saio quando percebo que invadi sua privacidade e ao mesmo tempo me
pergunto quantas mulheres devem sonhar em ter o batom vermelho borrado
por Colton Reed.
 
A única coisa que borrei no último ano foi meu rímel por caras babacas.
 
 

 
Deito na cama de Colton de bruços, ligo a tv em um canal qualquer,
que passa algum filme, e pego meu celular. Olivia chegou a me mandar
algumas opções de apartamento, alguns lindos com preços meio altos, mas
sei que ela está fazendo o melhor para encontrar algo no meu orçamento.
 
Quero um apartamento pequeno, que tenha um quarto bem iluminado
para eu fazer meu estúdio. Espalhar quadros e tintas para todo lado.  Entro
no Pinterest e começo a ver referências de estúdios de artes cênicas, mas
meu telefone começa a tocar. O nome Aaron aparece na tela.
 
Ele nunca me liga, o que será que quer?
 
— Oi Aaron — coloco o celular no viva voz.
 
— Oi Mia, desculpa ligar... assim... nada — tem tanto barulho de vozes
onde ele está que mal o ouço — Espera um pouco, vou... de reunião. —
espero enquanto ouço as vozes ficam mais distantes e uma porta fecha. —
Mia? Tá melhor?
 
— Agora sim.
 
— Estou aqui na gravadora, estamos definindo algumas coisas da
próxima turnê  da The Break, o repertório e tal, marketing e sobre o palco...
E aí me lembrei que Colton me contou que você quer focar em artes
cênicas. Conversei com o Jack e ele concordou em te fazer uma proposta.
 
— Proposta?
 
— De montar pra gente o palco da nossa próxima turnê. Sei que é algo
grande e que acabou de se formar, nossa equipe terá pessoas para te ajudar,
mas, Mi, acho que é uma ótima oportunidade de começar, principalmente
com algo tão grande.
 
Meu Deus.
 
Essa é a oportunidade da minha vida e ao mesmo tempo um enorme
desafio. Acabei de me formar, será que consigo lidar com algo tão grande
como o projeto da The Break? Tantos artistas cênicos famosos lutam pra
conseguir fazer parte de algo assim.
 
— Mia?
 
— Oi, estou só digerindo — sinto minhas mão começarem  a tremer. —
Aaron, nossa, eu nem sei o que pensar ou dizer.
 
— Diga sim — ele começa a rir. — Olha eu sei que assusta, e que é um
grande projeto, mas...
 
— Eu acabei de me formar, então assusta sim — começo, meu coração
dispara.
 
— Mia, não deixe o medo de algo novo e grande tirar essa
oportunidade da sua carreira — ouço ele suspirar. — Jack quis te dar essa
chance, então agarre e faça seu melhor! Sempre teremos medo do novo e do
que ainda não vivemos. Mas não desista. Você pode deixar algo incrível que
vai mudar sua vida passar pelo medo de tentar, então arrisque-se porra!
 
Sorrio e mentalmente mando meu medo se foder.
 
— Ah, Deus... Ok, eu topo.
 
— É claro que topa — ele começa a rir. — Muitas portas vão se abrir
pra você depois da turnê, vai ver.
 
— Amém, obrigada Aaron.
 
— Agradeça ao Colt... Ei, preciso desligar, mas vem aqui na segunda,
lá pra duas da tarde, ok?
 
— Combinado. Obrigada.
 
— Bye Bye.
 
Ele desliga e sorrio, me levanto na cama e começo a pular na cama. Por
mais que eles tenham me dado a chance de fazer parte disso, sei que no
fundo é por me conhecerem. Mas eu preciso provar para eles que eu mereço
pelo meu trabalho, não por compaixão. Mando mensagem para minha mãe
contando do acontecido, e me jogo deitada na cama. Entro debaixo das
cobertas, e clico no nome do Colton.
 
EU: Colt? Tá podendo falar?
 
Ele não responde, não visualiza. Só queria agradecer a ele por ter me
indicado e comemorar essa oportunidade. Entro no instagram e vejo seus
stories. Ele postou só uma foto de uma mesa repleta de bebidas. Com
certeza ele está enchendo a cara.
 
Tem uma foto em um perfil de fofoca, dele abraçado com uma garota,
tentando se esconder. “Colton Reed é visto curtindo a noite em Chicago”.
 
Provavelmente, borrar batons vermelhos é mais importante.
 
Ouço um latido e sorrio ao ver Pantufa no chão, ela jamais conseguirá
subir aqui em cima com esse tamanho. Me abaixo e a pego, ela entra pra
dentro do edredom, e a abraço, encosto minha bochecha em seu nariz
geladinho e ela parece se acalmar ao começar a se esquentar.
 
— Seu papai trocou a gente por periguetes, Pan — murmuro e ela late
como se tivesse me entendido. — É, eu sei. Tomara que ele passe frio e não
tenha ninguém pra esquentar aquela bunda redonda dele.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Tudo o que você saber é que
Nunca me senti tão próximo de ninguém
Até conhecer você”
— Desejo Obsessivo.

 
Assim que abro meus olhos de manhã, vejo Pantufa sentada em cima
do travesseiro de Colton me encarando. Ela nota que acordei e abana o
rabinho e vem até mim lambendo meu rosto.
 
— Oi, Pan — murmuro acariciando sua cabeça, a pego e a coloco em
cima de mim. — Você é um poço de fofura — me obrigo a me sentar, e
então a coloco no chão, que corre para fora do quarto.
 
Encaro a cama ao meu redor e está nítido que Colton não dormiu aqui.
O travesseiro está do mesmo jeito, e seu lado intacto. Pego meu celular na
mesinha ao lado da cama e confiro as notificações. Ele visualizou minha
mensagem mas não respondeu. Não tem mais nenhuma outra mensagem
nova. Nem perguntando o que foi, ou dizendo que está vivo e bem por aí.
 
Arrumo a cama,  vou até o banheiro, escovo meus dentes, penteio meus
cabelos, e lavo meu rosto. Vou até o quarto de hóspedes e abro o guarda
roupa. Pego um short jeans claro, e um cropped de malha com o desenho de
um milk shake da Starbucks, e calço meus tênis branco. Faço um rabo de
cavalo, e vou até a cozinha. Pantufa está comendo sua ração em um canto
da sala.
 
— Já foi tomar café antes de mim? — digo e abro a geladeira de
Colton. Não tem nada além de garrafas de água lá dentro. — Seu pai
sobrevive de Delivery, é?
 
Fecho a geladeira, e então vou até o quarto, pego meu celular e minha
bolsa e decido ir até algum mercado. Colton precisa de comida nessa casa.
E se eu não comprar sabe-se lá quanto terei que gastar comprando comida
fora.
 

 
Comprei pouca coisa no mercadinho que encontrei ali no bairro
mesmo. Só algumas verduras e legumes e carne, ovos e bacon. Isso deve
dar por enquanto. Assim que estou chegando perto do prédio, um carro
preto para na rua, e vejo quando os vidros descem, e é Colton quem está lá
dentro. Uma mulher linda de cabelos castanhos claro está ao volante. Eles
se beijam e tiro as conclusões de que ela é a do batom vermelho.
 
Vou entrando já no prédio, chamo o elevador. E assim que chega, já
entro na caixa metálica, Colton aparece, usa um conjunto de moletom cinza,
boné preto e óculos escuros. Pra não ser reconhecido. Ele cumprimenta o
porteiro, e então seguro o elevador até que ele venha.
 
Ele retira os óculos quando me vê. Seus olhos vagam entre meu corpo e
param nas sacolas em minhas mãos. Ele clica no andar da cobertura.
 
— Bom dia, gatinha — se aproxima e beija o topo da minha cabeça. —
O que é tudo isso? — retira as sacolas da minha mão a força e as abre para
olhar antes de segurá-las pra mim. — Eu disse que faria uma compra
decente.
 
— É, mas eu estava com fome e não tinha nada. Como você sobrevive?
 
— Mal paro em casa — ele diz e dá de ombros. — Depois te passo o
valor que ficou.
 
— Não precisa — as portas se abrem e saímos de lá.
 
Colton abre a porta e entramos. Pantufa late o recebendo feliz, já eu só
pego as sacolas e vou até a cozinha. Retiro as compras, separo tudo e
começo a guardar na geladeira.
 
Deixo somente os ovos e o bacon para comer.
 
— Você ainda precisa fazer compras. Não tem nada nessa casa —
reclamo. Começo a bater os ovos, e Colton para de brincar com a Pantufa,
joga os óculos e o boné no sofá e vem até mim. Se senta no banco da
bancada e cruza os braços.
 
— Prometo. Farei isso agora de manhã.
 
Pego a frigideira e jogo os ovos lá dentro. Coloco sal e alguns temperos
que encontro e começo a mexer. Colton está calado, me observa com
atenção. Mas não estou muito a fim de falar com ele agora. Só que odeio
ainda mais o silêncio.
 
— Desculpa não responder ontem — ele diz.
 
Olho em sua direção por segundos antes de voltar a atenção aos ovos.
 
— Não somos casados, não me deve satisfação — digo. Em partes doeu
ele visualizar e não responder. Tive uma grande notícia ontem, seria legal
compartilhar com ele.
 
— Sei que não. Mas você está morando comigo, e podia estar
precisando de alguma coisa.
 
Não respondo. Apenas termino os ovos, coloco em um prato e então
pego o bacon e começo a cortar as fatias finas para fritar. Colton suspira, dá
a volta e se encosta na bancada ficando mais perto de mim.
 
— Está estressada porque sumi sem avisar?
 
Apenas reviro os olhos e coloco azeite na frigideira e jogo as fatias de
bacon.
 
— Podia só ter falado que não ia voltar ontem. Mas tive notícias suas
pelas páginas de fofoca.
 
— É que quando vi sua mensagem estava...
 
— Ocupado demais tirando o batom da boca daquela vagabunda? —
não resisto a alfinetar.
 
Colton solta uma gargalhada.
 
— Ah entendi... Ciúmes.
 
— Vai se foder — ergo o dedo do meio pra ele, que o faz rir ainda mais.
 
— Ela tá toda linda bravinha porque deixei no vácuo e tava beijando
outra?
 
— Sonha, Colt! — desligo o fogo e coloco os bacons no prato.
 
— Eu fiquei sem bateria, não tinha carregador. Desculpa. — ele diz,
vem até mim e quando vai me abraçar eu me viro e mantenho distância.
 
— Senta lá na mesa, vamos comer... Ou já tomou café da manhã no
motel que passou a noite?
 
— Wow! — ele sorri, pega um pratinho e coloca ovos e bacon  e então
se senta no banco da mesa.  Faço o mesmo e vou até ele e me sento na sua
frente. — Fiquei na festa até tarde, acabei dormindo com aquela mulher no
apartamento dela. Sai logo cedo e ela me deu carona. Só isso.
 
Não sei porque isso está me irritando. No fundo sempre soube o bom
playboy galinha que Colton Reed é. A mídia já expõe sua pura essência.
Quem sou eu pra cobrar alguma coisa só porque passamos a dividir o
mesmo teto? Ele não me deve satisfações.
 
— Prometo não te deixar na mão mais, ok? — ele estica sua mão por
cima da mesa. — Você e a Pantufa serão minhas prioridades.
 
— Não sou empaca foda, Colton — o corto e então suspiro arrependida
ao ver que ele realmente está tentando deixar o clima mais leve. Coloco
minha mão sobre a sua. — Não quero atrapalhar sua rotina. Não quero que
se sinta na obrigação de algo comigo aqui. Sério, se quiser trazer alguém, só
me dizer. Se for demorar, só me fala pra eu não me preocupar. Só isso.
 
— Não trago ninguém aqui... Mas quanto a te avisar se eu não for
voltar, eu prometo. Está bem?
 
— Ok — ele acaricia minha mão por um tempo.
 
— Tá uma delícia — ele aponta o próprio prato. Noto que ele colocou
os ovos como olhos e o bacon no formato de um sorriso.
 
— Quantos anos você tem? Sete?
 
— Sou um artista também, tá vendo?
 
Reviro meus olhos e sorrimos juntos. E então deixo o garfo de lado e o
encaro. Colton para de comer também e me olha. Deixo todo o clima de
minutos atrás pra lá.
 
— Fiquei chateada que não me respondeu ontem porque eu tinha uma
novidade e queria contar primeiro pra você.
 
— Que novidade?
 
— Você tem culpa nisso — sorrio. — Aaron me ligou, ele disse que
Jack quer que eu faça o projeto cênico do palco da The Break para a
próxima turnê.
 
— Tá de sacanagem! — o sorriso que ele abre é como se a conquista
tivesse sido dele. — Mia, cacete! — ele sai da mesa e da a volta, vem até
mim, puxa meu banco pra trás e me abraça com força. — Caralho vai ser o
palco mais foda que a banda terá em toda a história!
 
— Não seja exagerado! — começo a rir e ele me ergue em seus braços.
— Sou iniciante.
 
— Que vai dar um show em muitos por aí! — ele me coloca no chão,
segura meu rosto em suas mãos e beija minha bochecha com força. — Mia,
tem noção disso? Você vai abrir tantas portas... E de quebra vai ter que me
aturar na sua cola.
 
— Não me faça desistir, já tenho que te aturar sobre o mesmo teto,
mesma cama, agora fora dela...
 
— Ui, isso foi sexy e sugestivo — ele abre um sorriso e pisca pra mim.
— Se quiser podemos nos aturar de formas mais divertidas na cama — ele
se aproxima, me obriga a andar pra trás até me encostar na bancada.
Aproxima o rosto do meu, e inspira o cheiro do meu pescoço. — E
principalmente, fora dela.
 
— Agora que vamos trabalhar juntos, acho que isso conta como assédio
— murmuro, tento ignorar o arrepio que percorre meu corpo.
 
— Acho que não seria assédio se fosse, sabe... — sua mão entrelaça em
meu cabelo atrás da nuca. — Consensual.
 
— Colton!
 
— Aí não teria problema. Você quer que eu me aproxime, e te beije até
te levar pra cama?
 
— Para com isso — ele beija meu pescoço e perco a força das pernas.
Me apoio em seus ombros. — Não quero nada disso.
 
— Certeza? — ele murmura e mordisca minha orelha. Deito o meu
pescoço para o lado lhe dando mais acesso e ele sorri contra a minha pele,
beija levemente e então se afasta.
 
Abro meus olhos confusa e quando vejo ele já deu a volta e se senta no
seu lugar. Limpo a garganta e me sento também. Tenho certeza que estou
vermelha como um pimentão.
 
— Se não quisesse realmente, Mia. Teria me afastado assim que
comecei a me aproximar. — ele joga o último pedaço de bacon na boca, e
pisca pra mim. — Vou tomar um banho.
 
— Pra se tocar debaixo do chuveiro como um bom adolescente?
 
Ele pega o prato, lava na pia e o coloca de lado. E então ele retira o
moletom, e não está usando nada por baixo. Ele retira pela cabeça, o joga
sobre os ombros. Seu corpo me saúda dizendo “oi”. Seus músculos se
tensionam, e consigo estudar a anatomia perfeitamente só de olhar em sua
pele.
 
— Você poderia ficar no lugar da minha mão — ele sorri e beija o topo
da minha cabeça. — Mas não colabora.
 
E então ele vai em direção ao quarto, mas quem está precisando de um
banho agora sou eu.
 
E de preferência, bem frio.
 
 
 
“A negação é uma poça d 'água.
É um oceano.
E como podemos fazer para não nos afogarmos?”
— Grey´s Anatomy.
 
 
Desço lentamente da cama, faço o possível para não acordar
Colton. Mas ele está totalmente apagado. Deitado de bruços, abraçado ao
travesseiro. Suas costas ficam à mostra, em algum momento da noite ele 
chutou as cobertas, então só sua bunda está coberta. Ele não usa nada além
de uma calça de moletom.
 
Ontem ele fez as compras para a casa como prometido. E acabamos
fazendo um macarrão e bebendo vinho. Depois deitamos e foi só eu colocar
um filme que ele virou para o lado e apagou. Nem tive tempo para que eu
me sentisse desconfortável sobre o fato de dormirmos juntos. O que não
aconteceu em nenhum momento, pra minha total surpresa. Mas revelo,
afinal Colton não é como um colega de quarto estranho. Já o conheço há
anos, no fundo meu corpo sente que está seguro ao lado do seu.
 
Ando na ponta dos pés até o quarto de hóspedes, onde estão minhas
coisas, abro a gaveta e lá está todo o meu cantinho secreto. Meus lápis de
cor, cadernos de desenho, tintas. Pego o caderno e um lápis. E então volto
para a cama. Subo com cuidado e me cubro. Confiro as horas no celular e
são cinco da manhã.
 
Abro o caderno e então olho para o lado e sorrio. Começo a fazer o
esboço de Colton ao meu lado, deitado assim de bruços, tão relaxado e
sexy. De tanto praticar acabei ficando mais rápida em desenhar.
Rapidamente já faço todo  esboço, então começo a fazer todo o
sombreamento e dando mais detalhes no desenho. Cada revelo ou pequena
pinta em sua pele. A forma como a colcha pousa em seu quadril. Mas
diferente da realidade, meu Colton ilustrado não usa nenhuma roupa por
baixo do edredom. O modo como seu cabelo está rebelde, um pouco para o
lado e desarrumado. Suas sobrancelhas marcantes, o modo quente como
seus bíceps ficam evidentes pelo jeito que ele agarra o travesseiro.
 
O tempo passa rápido, que mal vejo. Passo meu dedo sobre o lápis
ajudando no sombreamento, e então afasto o caderno um pouco para olhar a
boca real do meu modelo, e levo um susto quando Colton me encara de
volta. Seus olhos abertos, o corpo ainda na mesma posição, as sobrancelhas
unidas. Ele nem se moveu, só acordou e ficou me olhando desenhar.
 
— Te acordei? — sussurro.
 
Ele nega com a cabeça e sorri de lado.
 
— Você... Está me desenhando?
 
Fecho o caderno imediatamente, as páginas se chocam e faz barulho,
como uma criança que é pega fazendo algo errado. O que deixa ainda mais
óbvio o que de fato eu estava fazendo.
 
— Não... Era só... Só uma ideia pro palco — minto.
 
— Pareceu que sua ideia era me olhar e depois desenhar — ele sorri, se
ergue um pouco e tenta pegar o caderno da minha mão. Eu o estico para
trás, o impedindo. — Qual é, assim só aumenta minhas suspeitas, Mia.
 
— É pessoal, não vai ver — estico ainda mais o caderno, Colton sorri e
vem por cima de mim. Sobe em minha barriga, colocando sua coxa uma de
cada lado, e então mesmo eu me esticando toda, ele consegue pegar o
caderno. Ele é homem, mais forte. Não há chances pra mim em uma
pequena luta por um caderno de desenho.
 
Não sai de cima de mim quando o pega. Apenas fica mais ereto, joga
um pouco o peso da sua bunda contra meu sexo, mas o suficiente pra não
me esmagar. Coloco minhas mãos nas suas coxas e tento sair, mas ele é
pesado pra caralho. Tento controlar o rubor quando olho pra baixo, bem no
cós baixo do moletom, e noto sua ereção matinal. Que se aperta em minha
barriga.
 
Colton abre o caderno e sei que é meu fim.
 
Pois não é a primeira vez que o desenho.
 
Posso sentir sua tensão a cada página. É como se existissem lembranças
em formas de ilustrações que eu queria manter só pra mim. Mas agora já
era.
 
Ele muda as folhas devagar, mas sua surpresa e tensão não diminui. Lá
tem ele vestido de policial, como no dia em que nos conhecemos e ele
estava sexy como o inferno. Não é à toa que acabei com ele literalmente
dentro de mim no fim daquela noite. Lá tem ele em cima do palco, na casa
dos pais da Zaya. Até o dia da piscina onde ele ficou só de sunga eu
desenhei.
 
Sua burra, porque diabos você tinha que trazer esse caderno pra casa do
maior curioso do planeta? Ele vai pegar no meu pé eternamente agora.
 
— Você é tipo uma stalker? — ele começa a rir. — Mia, aqui tem um
gibi meu desde o dia que te conheci — ele sai de cima de mim, e se senta ao
meu lado na cama. — Sou o quê? Sua inspiração? Seu modelo preferido?
— ele estica o caderno pra mim e morde os lábios. — Por favor, diz que te
inspiro.
 
— Vai se foder! — tomo o caderno de suas mãos, totalmente
humilhada. Jamais pensei que ele veria, isso é algo pessoal.
 
Saio da cama, e pego meu celular. Colton para de rir e franze a testa ao
me observar, ele nota rapidamente que não gostei da invasão de privacidade
em que fui submetida. Ele me conhece o suficiente pra saber que estou
prestes a ter um ataque de fúria e mandar ele enfiar esses desenhos no cú.
 
Colton suspira e se aproxima. Fica de joelhos na cama e vem até mim.
 
— Ei, desculpa — segura meu queixo e ergue meu rosto, me obrigando
a olhar pra ele. — Não queria invadir sua privacidade, nem nada do tipo.
Me sinto lisonjeado até... Por me escolher pra desenhar, Mia. É sério.
 
— Isso é algo meu — resmungo e tiro sua mão do meu rosto. — É só a
forma como me expresso.
 
— Eu sei disso. E... Porra, você desenha bem pra caralho. Porque nunca
me mostrou nenhum desses desenhos? Sabia que algum fã pagaria caro por
eles?
 
— Porque não estão à venda, Colton! Você é meu! — me exalto e então
reviro os olhos. — Os desenhos... Eles são só meus.
 
Ele suspira e me lança um sorriso de lado. Segura meus pulsos e me
puxa para mais perto. Fecho os olhos tentando recuperar minha dignidade, e
sinto quando seu braço passa pela minha cintura, me puxa para mais perto.
Tão perto. Seu corpo cola no meu, posso sentir meu coração pulsar por
debaixo de toda pele, ossos, veias e músculos. Bate tão forte, tão alto, que
tenho medo que Colton o ouça. O sinta.
 
Sua mão ergue até meu rosto, segura meu queixo e abro os olhos
quando ele puxa gentilmente pra cima. Respiro fundo quando vejo quão
perto ele está. Sua mão começa a acariciar meu cabelo.
 
— Você desenha super bem. É perfeita, Mia — diz em um tom rouco,
baixo. — Porque me desenhou?
 
— Pra treinar — falo a primeira coisa que me vem à cabeça.
 
— Conversa fiada — sussurra, sua mão começa a ir em direção a minha
nuca, seus dedos entrelaçando devagar nos fios. — Porque eu?
 
— Você tem bons traços para desenhar, na verdade é bizarro como sua
simetria...
 
Me calo quando ele puxa meu rosto em sua direção e para a milímetros
do seu. Nossas bocas se tocando levemente. Sua respiração contra a minha.
Tenciono meu corpo, e olho em seus olhos. O que é um erro, pois ele está
encarando minha boca. Sua mão entrelaçada em minha nuca me mantém
presa no mesmo lugar.
 
— Colton...
 
— O que tá fazendo comigo? — ele murmura, ainda estático.
 
E por incrível que pareça, queria fazer essa mesma pergunta pra ele.
Porque você? Porque dentre tantos caras você é como uma enorme pedra no
meu sapato! Porque a boca dele é tão desejável e sexy? Porque seu corpo
parece um imã? Porque eu me importo tanto? Até que ponto nossas
brincadeiras e indiretas são verdadeiras?
 
Seja o que for. Não tenho essas respostas.
 
E não sei se estou interessada em tê-las.
 
Pois ter essa resposta mudaria tanta coisa. Coloco minhas mãos em seus
braços e beijo sua testa. Colton fecha os olhos quando o faço, então beijo
cada uma de suas pálpebras devagar. A mão dele em minha cintura aperta
minha carne.
 
— Se contar para alguém dos desenhos — seguro seu cabelo por trás e
puxo com força, fazendo sua cabeça ir junto. Colton morde os lábios e sorri.
Meu gesto foi mais sexy do que ameaçador. — Eu digo que está
imaginando coisas. E quando chegarmos em casa eu te mato e escondo o
corpo.
 
— É pecado geral saber que fantasia comigo, gatinha?
 
— São desenhos — me defendo.
 
— São memórias. Sou eu através do seus olhos... E a forma como me
vê... Porra, é sexy feito o inferno.
 
Sorrio e solto seu cabelo. Colton não consegue me manter séria por um
minuto que seja. Logo já começa com sua implicância de sempre.
 
— Tem meu pau em alguma página também? Queria muito ver a forma
como se lembra dele.
 
De repente o clima pesa.
 
É a primeira vez que ele toca descaradamente no assunto. O fato de já
termos transado antes. Um arrepio percorre meu corpo, Colton nota. É claro
que sim, ele não perde nada.
 
Ele gosta de provocar, e fica satisfeito ao mexer com a cabeça das
pessoas.
 
Só tem um problema. Eu também sou assim.
 
Se ele acha que pode apagar fogo com provocações. Fico feliz em
mostrar que não se apaga fogo com gasolina.
 
— Talvez eu não precise de um desenho pra me lembrar como é. Sabe
como é... Mulheres têm meios de se satisfazer — me aproximo, e ele está
estático me encarando. Uso suas mesmas palavras contra ele. Me aproximo
e beijo seu pescoço. Ouço seu gemido baixo e me surpreendo quando ele
tomba o pescoço para o lado. — Posso apenas caminhar até o banheiro, tirar
essa roupa. Abrir o chuveiro, e então me tocar... Acho que chego lá só me
lembrando como foi sentir... Não em um pedaço de papel, mas... Dentro de
mim.
 
E então eu o solto, e saio de perto dele. Entro dentro do banheiro e
fecho a porta. Não me lembro como se respira, meu corpo pega fogo. Tento
controlar meu coração. Porque minha vontade é de abrir a porta e mostrar
como uma combustão é mais gostosa do que apenas espera.
 
Só o que faltava, provocar Colton e ficar excitada por isso.
 
 
 
 
“Eu quero ser seu condicionador (Quero ser)
Envolver seu cabelo em profunda devoção (Quão profunda?)”
— I Wanna Be Yours - Arctic Monkeys.
 

 
 
Nunca pensei que Mia King fosse me deixar tão na merda como um
fodido.
 
Acordar e notar que ela estava me desenhando foi uma surpresa.
Comecei admirando a forma como ela estava tão entretida, focada, ela
realmente nasceu pra isso. Nunca duvidei que Mia fosse uma artista. Está
em seu sangue, no seu modo de ver a vida, de vestir. Ela analisa até
cenários em filmes, ela vê cores diferentes em grafites de prédios. Passei
anos observando para conseguir identificar todos esses detalhes, suas
manias, seus gostos. Fui guardando na memória cada detalhe.
 
E então descubro que ela também foi me observando, ela guardou tudo.
O modo diferente como seguro na guitarra. O local da tela que verifico as
próximas músicas e a programação do show. Tudo isso tinha na ilustração.
Ela me desenhou dormindo no sofá com nossas pernas entrelaçadas no dia
em que Kiran e Zaya começaram a se reaproximar, e acabamos dormindo
no sofá. Ela colocou até a mesma roupa que usei em cada desenho.
 
Mia King me observa. Me conheçe.
 
Me acha alguém digno de ser lembrado.
 
Mas diante de todas as provocações, nunca pensei que Mia fosse tão
direta quanto hoje. A forma como me tocou, me puxou pra ela. Quando ela
beijou meu pescoço meu pau ganhou vida no mesmo instante. Ela disse que
não precisava de uma ilustração pra se lembrar de mim dentro dela.
 
Porra!
 
O que ela quis insinuar? Que aquele dia a marcou tanto a esse ponto?
Porque desde aquela maldita festa à fantasia, Mia amarrou uma coleira em
mim. É bizarro pensar que eu posso ter qualquer mulher, e a que mais me
excita é a única que não posso ter, que não me quer... Quer dizer, pelo
menos até hoje. Ela deu sinais claros. Não era uma simples provocação. Ela
pela primeira vez tocou no assunto em que prometi a ela que seria apagado
da nossa história.
 
Ouço o barulho no banheiro, e pela sombra por debaixo do feixe da
porta, sei que ela ainda está encostada na madeira do outro lado.  Respiro
fundo, tento controlar o sangue que pulsa por minhas veias, por meu pau.
Deito na cama e tento pensar em qualquer outra merda, pra dissolver o peso
do que Mia falou. Pra acalmar esse tesão que ela me deixou e saiu. Mas não
dá, não consigo. Seu cheiro está por toda parte dessa cama, e ela está logo
ali na porta ao lado.
 
— Que caralho tá acontecendo com você! — rosno pra mim mesmo,
me xingo baixinho. — Se controla, porra!
 
O barulho do chuveiro me traz de volta para a realidade. E minha visão
se turva um pouco de desejo quando ouço o barulho da trinca do banheiro
se abrir. Mia abre uma fresta na porta e deixa assim.
 
Não! Nem fodendo!
 
Ela não fez isso, cacete!
 
É como um convite, silencioso. Ela deixou a merda da porta do
banheiro entreaberta. O que ela quer dizer com isso? Que tenho livre acesso
pra entrar? Ou que ela quer me enlouquecer imaginando ela se tocando lá
dentro?
 
Saber que ela está nua logo ao lado não facilita as coisas. Ouço o box se
abrir. O som da água caindo, e o vapor que sai pela porta me excita.
Levanto da cama, ando de um lado para o outro. Tento organizar meus
pensamentos, mas falho miseravelmente.
 
Me aproximo da fresta da porta devagar. E arrisco olhar para dentro do
banheiro. E puta que pariu!
 
Mia está nua debaixo do chuveiro, seu corpo ainda mais perfeito e sexy
do que eu me lembrava. A água escorre pela sua pele, molha seus cabelos,
faz um caminho até sua bunda, e caralho! Eu só quero entrar e dar tapas
naquela perfeição, puxar seu cabelo e meter nela fundo, para aprender a não
me atiçar assim.
 
O clima muda quando a vejo olhar de lado pelo ombro em direção à
porta. Ela sabe que estou aqui, a observando. Ela quis isso, ela quer se
insinuar, quer que a observe. E é sexy constatar isso. Ela vira de lado, ergue
uma mão e coloca na parede, e então a outra ela desliza por seus seios,
desce por sua barriga até o meio de suas pernas. Um arrepio e uma onda de
tesão avassala meu corpo ao vê-la se tocar na minha frente. Ela abre a boca
em busca de ar, e continua se tocando, os olhos fechados.
 
É mais forte que eu. Enfio minha mão dentro da calça, meu pau salta
pra fora. E então passo a mão sobre meu comprimento. Sensível pra
caralho. Ele pulsa quando olho de volta para Mia. Me imagino ali com ela,
descendo por seu corpo. Imagino ela se ajoelhando na minha frente e me
enfiando em sua boca safada. Ela solta um gemido, é meu fim. Seus dedos
se contorcem contra a parede e acelero meus movimentos. Vai e vem. Vai e
vem.
 
Ela geme alto e fecho os olhos. É pra mim.
 
É humilhante quando gozo rápido, com força, fico até um pouco tonto
de tanto tesão acumulado. Encosto a testa na parede ao lado da porta e
espero minha respiração se acalmar. Pego uma toalha no guarda roupa e me
limpo. E então sorrio, em partes satisfeito, e ao mesmo tempo ainda mais
excitado.
 
Me aproximo devagar da porta, e a fecho gentilmente.
 
— É um prazer gozar pra você, Mia — sussurro baixinho. Não sei se
me ouviu.
 
Só sei que da próxima vez, se ela me atiçar de novo. Eu juro que entro
debaixo do chuveiro e mostro a ela que a realidade é melhor do que
qualquer fantasia.
 
Quem está no fogo e atiça... Não deve ter medo de se queimar.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Você sabe o que quer.
Mas foge do que precisa.”
— Dr. House.

 
Colton havia saído quando termino meu banho. E em partes agradeço a
Deus mentalmente por isso. Ele me deixou uma mensagem no celular.
Dizendo que iria para a gravadora, e desejando uma boa reunião. Pois é
hoje. Ele não tocou no assunto do que aconteceu de manhã, e fiquei feliz
por ele ter lembrado que hoje é um dia importante pra mim.
 
Não sei que tara deu em mim hoje de manhã, nunca fiquei tão excitada
na vida. Nunca pensei que fosse agir como uma safada, mas qual é... Eu
posso implicar com Colton, mas no fundo ele é um pedaço de mal caminho.
Não seria escrota de negar.
 
Qualquer mulher na frente de Colton, sentindo seu corpo, seu perfume,
faria o mesmo na minha situação. Eu até me controlei demais. O clima com
ele muda do nada. E quando entrei no banheiro me lembrei da minha
conversa com Olívia. Ela disse “Estou falando pra transar com ele. É só
sexo, Mia”. E em partes ela tem razão. Colton e eu estamos solteiros, temos
uma química forte, não nego. Então, por que não? Seria só sexo,
provocações.
 
Logo Oli conseguirá meu apartamento, e tudo isso ficará apenas nas
nossas memórias e provavelmente no meu caderno de desenhos. Não há
problema em sexo casual.
 
Sorrio ao pensar isso. Eu realmente estou pensando em transar com
Colton Reed?!
 
Visto uma calça jeans de cós alto, ela é um azul bem clarinho. E um
cropped de amarração atrás branco. Coloco uma sandália branca de salto, e
algumas jóias. Faço carinho em Pantufa, e então vou em direção a
gravadora.
 

 
A reunião na Record Campbell Music durou em média duas horas. Foi
com Jack, seu sócio John, e algumas pessoas da equipe cênica e de
comunicação da The Break. Me senti um peixe fora d ́água no início. Me
apresentaram o projeto, os temas, paleta de tons. Me deram tudo o que
preciso para começar a trabalhar em ideias para o projeto, terei que
apresentar minha proposta daqui duas semanas. E foi tudo mais mágico do
que pensei.
 
Eles me deram total liberdade para criar, para dar minha opinião. Agora
entendo quando Collin falava que todos eram como uma grande família. E
foi ótimo me sentir tão aceita e parte deles.
 
Assim que a reunião termina me despeço de Jack, e o deixo com alguns
sócios para discutirem outras pendências da nova turnê.
 
— Vai ser ótimo trabalhar com você, Mia! — uma mulher segura meu
braço sorrindo. — Qualquer coisa pode me ligar.
 
— Obrigada — sorrio. — Não dispenso ajuda não.
 
Vou até a recepção da gravadora e vejo Zaya abraçada a Kiran. Ela sorri
quando me vê, e tento ignorar a presença de Collin ao lado deles. Não o
vejo desde a nossa conversa na casa da Zaya. Ele até chegou a me mandar
mensagem depois, e comentou em algumas fotos que postei, mas nossa
interação ficou apenas nesse nível.
 
— Ah, que orgulho de você! — Zaya se solta de Kiran e vem até mim,
me abraça com força — Vai ser a melhor identidade visual e palco que a
The Break terá em todos esses anos!
 
— Lógico, eu que vou montar — me gabo e ela sorri e bate na minha
bunda.
 
— É assim que se fala, garota!
 
— Fiquei feliz por saber que está na frente do projeto, Mia — Collin
murmura. — Você merece, sei que vai ser incrível!
 
— Valeu, Lin — sorrio agradecida.
 
Zaya beija minha bochecha e segura meu rosto em suas mãos.
 
— Temos que sair pra comemorar, encher a cara — ela me solta e
cutuca meu ombro. — Você precisa pegar uns cara também. Kiran disse que
tem uma boate privativa, só vai esse pessoal chique que não quer a vida
exposta. Ele consegue nos colocar na lista. Diz que sim.
 
— Óbvio que sim. Tudo o que eu mais preciso — me abano e Zaya
começa a rir.
 
— O que estão combinando sem mim? — a voz de Colton me faz ficar
imediatamente tensa.
 
Não o vejo desde minha tara hoje de manhã. Eu praticamente pedi pra
ele ver eu me tocar. Ele chega e cumprimenta Collin e Kiran. Abraça Zaya,
e então pisca pra mim, se aproxima e beija minha bochecha lentamente,
meu corpo se arrepia com sua aproximação, só de sentir seu cheiro meu
corpo dá sinais. Colton passa seu braço por meu ombro e me puxa para
mais perto.
 
— A Zaya arrumou entradas em uma boate privativa — conto tentando
ignorar meu coração acelerado.
 
— E o meu nome também estará nessa lista? — ele questiona.
 
— Dê seus pulos — ela fala e ele ergue as sobrancelhas. — Como está
sendo morar juntos? Vocês já se mataram ou algo do tipo?
 
— Até que normal — digo hesitante.
 
— Sugestivo, curioso — Colton fala, e então sorri e coloca a mão no
coração. — Mia fica tomando banho de porta aberta, pra me atiçar, vê se
pode?! Uma hora infarto, então prepare-se pra ligar para o samu.
 
Fico vermelha como um pimentão. Mas todos começam a rir, ninguém
acredita no que Colton diz, pois todos estão acostumados com esse seu lado
tarado. O que me deixa aliviada.
 
— Você é um mentiroso pervertido, Colton! — Kiran fala.
 
— Como se a Mia não fosse também — Zaya fala, e de repente está me
olhando diferente.
 
Ela franze a testa, semicerra os olhos e nesse momento fica claro: Ela
sabe.
 
Ela sabe que Colton falou a verdade porque eu nem ao menos o
questionei, nem me defendi. Ela me conhece o suficiente para sacar todos
os sinais e minha reação. Merda!
 
— Mais um motivo pra sairmos, toda essa taradeza precisa ser
eliminada... Vamos beber e pegar caras — digo e noto Colton me olhar de
relance.
 
— Não inclui ela nisso — Kiran aponta pra Zaya, e só o ignoro dando
de ombros e ela pisca pra mim.
 
— Oi Collin — do nada ouvimos uma voz de criança.
 
Todos nos viramos e tem uma garotinha atrás de Collin. Ela está
segurando um astronauta de pelúcia, usa uma saia branca, botinhas e uma
blusa azul cheia de estrelinhas prateadas. Seu cabelo amarrado com
trancinhas.
 
— Oi — ela fala com Zaya.
 
— Ah, Oi... — Zaya sorri e se agacha no chão. — Me lembro de você,
princesa. Teve que ouvir meu irmão cantar no seu ouvido aquele dia!
 
— Mas ele cantou bonitinho — ela sorri e segura a mão de Collin. —
Ele canta pro mundo todo ver, não só no chuveiro, sabia?
 
— Eu sabia — Zaya sorri.
 
Collin se abaixa junto a Zaya no chão e beija o topo da cabeça da
garotinha.
 
— Seu vovô está aqui também? — Collin a pergunta.
 
— Sim, e a minha mãe, e o meu pa...
 
— AMBER! — uma voz masculina a chama no fundo do corredor. —
Vem aqui. Agora.
 
Um homem parado vestido de preto a chama, e acho estranho o modo
que ele fala com ela. Tão ríspido, não olha para nenhum de nós.
 
— Esse é o moço que falei que cantou pra mim aquela música que
mamãe ama — Amber diz sorrindo, inocente. — Aí eu vi ele e vim falar oi.
 
— Vem aqui meu amor, eles tem mais o que fazer — o cara diz ainda
sério, ignorando tudo o que a garotinha falou.
 
— Mas eu só queria... — Amber começa.
 
— Amber. Vem aqui, agora — o cara diz sério.
 
Fico tensa com a cena. Zaya se levanta sem graça e Collin também.
Amber olha pra ele triste, solta sua mão e dá um tchauzinho hesitante. E
começa a ir em direção ao homem. Colton e Kiran saem para a sala de Jack.
 
— Te vejo em casa — Colton murmura antes de ir.
 
— Que cara babaca — Zaya comenta. — Vou ir atrás do meu pai.
 
Ela sai e Collin está parado ainda olhando Amber se afastar. Ela anda
super devagar, mas então começa a gargalhar e corre. E é aí que tudo se
paralisa. O tempo se congela. Quando Amber pula no colo de uma mulher,
não é ninguém menos do que Kimberly. Posso ver o quão tenso Collin fica
de repente. É a primeira vez que ele a vê em anos.
 
Kimberly está usando um vestido longo laranja, os cabelos pretos
longos em ondas. Ela se abaixa e pega Amber no colo, beija seu rosto, e se
vira em direção ao homem, que assim que murmura algo, a faz virar e olhar
em nossa direção. Posso ver a hesitação, medo e angústia em seus olhos.
Ela também não esperava ver Collin aqui. Já que hoje os meninos da banda
teriam uma reunião no local do próximo show, porém acabou sendo adiada
e os sócios vieram para cá.
 
Collin está paralisado ao meu lado. O homem pega Amber no colo, e
passa o braço pelo ombro de Kimberly, e então se viram e chamam o
elevador. Amber acena para nós antes de entrarem dentro da caixa metálica
e as portas se fecham.
 
Collin não diz nada. Apenas continua parado de pé. Ainda encarando o
corredor. Engulo meu orgulho e me aproximo, entrelaço minha mão na sua
e beijo sua bochecha.
 
— Ei, olha pra mim — toco seu rosto e o viro lentamente. Seu olhos
estão um pouco vermelhos, nunca o vi assim. Tão vulnerável. — Fala
comigo.
 
— Não posso — ele murmura.
 
— Não é novidade pra ninguém que nunca esqueceu ela, Lin — ele me
olha de relance, fica calado. — Deve ser foda ver o amor da sua vida com
outra pessoa.
 
Não é porque Collin e eu nos envolvemos que eu simplesmente deixei
de me importar com ele. Nunca fomos apaixonados um pelo outro, nunca
dissemos eu te amo. Porque nunca chegamos ao ponto de amar. Ele foi
babaca sim em ter ficado com outra pessoa, mas não sofri como achei que
sofreria. No fundo eu também já não queria mais continuar ficando com ele.
E grande parte disso foi por saber que ele já esteve sempre entregue a outra
pessoa. O coração dele já pertencia a Kimberly. Nunca deixou de pertencer.
 
— Há um tempo atrás eu contratei um detetive particular, para procurá-
la — ele admite, e fico feliz por ele finalmente estar sendo sincero comigo,
e se abrindo. Somos amigos antes de tudo o que rolou. — Descobri que ele
já tinha alguém e uma filha, mas nunca pensei que aquela garotinha pudesse
ser a filha dela.
 
— Já tinha visto ela antes?
 
Ele só confirma com a cabeça. Deito meu rosto em seu ombro, tento
mostrar a ele que não está só.
 
— Porque não vai atrás dela?
 
— E falar o quê? — ele bufa, está tão pensativo que parte meu coração.
 
— Sei lá — fico de frente pra ele e cruzo os braços. — Que a ama,
talvez? Que sente muito? Que não deveria tê-la deixado ir embora? Sei que
ela foi uma babaca por querer te fazer desistir da The Break quando
estavam no início do sucesso, mas... Você sente a falta dela, Collin. É
nítido. Então só chega e fala a verdade.
 
— Como se fosse simples — ele dá de ombros. — Acho que tenho o
poder de machucar as pessoas  que me importo. — ele olha pra mim e meu
coração acelera, sei que ele se arrepende por ter me machucado. — Acho
que eu mereço ficar sozinho.
 
— Todo mundo é digno do amor.
 
— Eu já atrapalhei muito a vida dela, Mia — ele diz. — Olha pra ela
agora... Tá casa, eles tem uma filha linda e... Dói saber que poderíamos ter
tido tudo isso. Que minha vida seria assim se eu tivesse feito outra escolha.
 
— Ei, não dá pra gente imaginar como será nossa vida — seguro seu
rosto em minhas mãos. — Nossa vida vai acontecendo conforme nossas
escolhas. E naquele tempo você fez o que achou certo pra você. Só não
deixe de se escolher, Collin. Se coloque em primeiro lugar uma vez na vida.
Chega de banda, chega de ser sempre o cara que resolverá tudo. Só faça
algo pensando em você. Promete?
 
— Eu prometo — ele suspira. — Mas não vou atrapalhar uma família
só pra falar coisas que estão entaladas, sabe? Ela merece ser feliz.
 
Abraço sua cintura e ele beija o topo da minha cabeça. Não imagino
como deve ser pra ele. Ver alguém que a gente ama com o amor da vida
dela. Ver essa pessoa com filhos que poderiam ter tido juntos. Ver uma vida
que poderia ter tido se simplesmente tivesse colocado essa pessoa como
prioridade.
 
— Sabe Mia... — ele murmura e me afasto um pouco e olho em seus
olhos. — Você também merece ser feliz e se escolher.
 
— Eu já me escolhi. Eu sou foda pra caralho sozinha.
 
— E continuaria sendo foda pra caralho com Colton.
 
Meus músculos se enrijecem e Collin começa a rir. Me solto dele e
fecho a cara. Ele é observador e um pé no saco como a irmã.
 
— Colton é safado, eu sou um anjo.
 
— Um anjo que atiça ele tomando banho de porta aberta? — ele
começa a rir e me cutuca pela cintura.
 
— Que calúnia! — sorrio. — Vai acreditar na difamação que ele faz a
meu respeito?
 
— Eu conheço você. E conheço Colton. Ele não é de mentir — Collin
sorri e se aproxima. — Se for mesmo essa a sua escolha, só tome cuidado.
Ele se importa contigo, então tenha certeza antes de dar esse salto — sei
que ele só quer proteger o amigo, por isso só balanço a cabeça
concordando. — E sobre tomar banho com a porta aberta, se sua estratégia
for fazer ele comer na sua mão, continua... Vai funcionar.
 
— Não quero ele comendo na minha mão.
 
— Quer ele comendo você — Collin começa a rir.
 
— COLLIN, FALA BAIXO! — Olho ao redor pra ver se alguém
ouviu.
 
Bato em seu ombro e ele pisca pra mim e abre a boca surpreso.
 
— E você não negou!
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Quando estamos com o coração em risco,
Nós respondemos de duas formas: Nós iremos
correr ou iremos atacar?”
— Grey's Anatomy.
 

 
— Você me paga por isso — digo na chamada de vídeo com Zaya
enquanto me concentro no traço do delineador.
 
Acabei decidindo me arrumar no banheiro social, e Colton ficou com a
suíte do quarto. A festa na boate que Kiran colocou nossos nomes, era uma
reinauguração. E era como se fosse uma fantasia sexy. Cada pessoa teria
que usar alguma fantasia ou acessório de sex shop, já que o tema da festa
era quarto dark room.
 
Zaya e eu passamos em uma sexy shop, e acabei comprando algemas e
um chicote, e como meu vestido era preto curto, coloquei uma cinta liga de
renda preta. Calcei meu salto alto, fiz ondas no cabelo, e agora estou
terminando a maquiagem.
 
— Eu estou de coelhinha da playboy — ela aparece já vestida do outro
lado da ligação. Faz pose toda sexy e começa a balançar a bunda mostrando
o rabinho branco de pompom.
 
— Puta que pariu! — ouço a voz de Kiran e então minha amiga é
atacada.
 
— Ah! Depois te ligo — ela diz rindo enquanto desliga a ligação e
provavelmente dá uma rapidinha com Kiran antes da festa.
 
— Solteira não tem um dia de paz — murmuro sorrindo e bloqueio
meu celular.
 
Termino a maquiagem, passo o perfume, e então saio do banheiro.
Coloco minhas roupas no cesto de roupa suja. E estendo a toalha no varal
da lavanderia. Confiro as horas, e faltam vinte minutos para irmos.
 
— Gatinha? Terminou? — a voz de Colton quebra o silêncio do
apartamento. — Aaron vai passar aqui, ele e a Oli conseguiram uma babá,
então vão com a gente.
 
Ele está na cozinha pelo eco de onde veio sua voz.
 
— Já sim, e nem ferrei o delineado hoje — sorrio e retiro uma jaqueta
de couro e deixo ela separada para levar caso sinta frio e vou até a cozinha.
— Kiran e Zaya vão demorar, aposto todas as minhas fichas que estão
transando neste exa...
 
Paro de falar.
 
Colton está parado no meio da sala. Usa uma calça jeans preta, sem
camisa, seus músculos estão brilhando pelo óleo que ele passou. Deixa seus
músculos evidente e eu praticamente babo. Ele está segurando uma taça de
vinho, estica em minha direção.
 
E como acessório sexy, escolheu a porra de uma coleira. Toda de
corrente prata, e no pescoço há uma placa escrito “Me Fode”. Abro a boca
surpresa, tento respirar normalmente, e ele sorri como o bom filho da puta
que é ao ver minha reação.
 
Estico a mão e seguro a taça de vinho que ele me estende, e quando a
pego, me entrega junto a corrente da coleira. Um tremor percorre minhas
pernas com a imagem sugestiva bem na minha frente. Eu estou literalmente
o segurando por uma coleira, como se ele fosse um cão perdido sem dono, e
ele me deu total acesso para dominá-lo.
 
Ele morde os lábios, encara minha boca, sorri de lado ciente de que seu
charme faz total efeito, e bate sua taça contra a minha.
 
— Um brinde a você, Mia — ergue um pouco a taça. — Que agora tem
a plena noção de que me tem nas mãos.
 
Tento não demonstrar o peso que suas palavras tiveram sobre mim.
 
Ele bebe um gole do vinho, sem desviar o olhar. Puta que pariu! Oli
está mais do que certa de que sexo é tudo o que precisamos. É só para
acalmar os hormônios, nada de mais. Duas pessoas, solteiras, morando
juntas, e que podem se pegar.
 
— Não vai beber o vinho? — questiona.
 
— Isso significa que meu joguinho hoje de manhã funcionou? — jogo a
jaqueta de couro no sofá, e me abaixo colocando a taça de vinho na mesinha
de centro, enquanto ele olha minha taça intacta ali.
 
— Então admite que fez isso pra me provocar?
 
— Depende... Deu certo? — começo a puxá-lo pela coleira lentamente,
e Colton olha para minha mão e sorri aprovando totalmente minha atitude.
 
— Se é sua curiosidade, vai ter que pagar pra ver — murmura.
 
O puxo para mais perto, dou a volta em meu pulso com a corrente da
coleira, e Colton dá mais dois passos.
 
— Acho que tenho outra curiosidade agora — o puxo, mais um passo.
 
— Como o quê?
 
— Como sentir o gosto deste vinho direto da sua boca — sussurro e o
puxo com força até mim.
 
O corpo de Colton bate contra o meu. Me sinto incrível, foda pra
caralho só por ter o controle da situação. Colton molha os lábios passando
sua língua vagarosamente, coloco minhas mãos em sua cintura, e ele se
aproxima mais. Segura meu pescoço e desliza a mão até minha nuca, os
dedos entrelaçam em meus cabelos e ele os puxa com força, trazendo meu
rosto até perto do seu. Nossas respirações se chocam, meu coração se
acelera por estar assim tão perto dele. Seus olhos buscam os meus, mas o
fogo e intensidade que encontro em suas íris me faz  fechar  meus olhos,
impossibilitada de olhar.
 
Acorda, Mia! Só sexo! Não deixe nenhuma conexão acontecer!
 
— Abra os olhos — Colton ordena.
 
Abro e encontro os seus, me olhando de volta.
 
Tão pertos.
 
Tão intensos.
 
Colton sorri de lado. Bebe um gole do vinho na taça em sua outra mão.
E então sorri de lado, e me puxa pela nuca. Sua boca reivindica a minha de
um jeito tão intenso, possessivo, que me assusto.
 
É como se já tivéssemos nos beijado a vida toda. É reconhecimento,
desejo, e puta merda... saudade. Ele abre sua boca e despeja um pouco de
vinho na minha, e aí eu enlouqueço. Sua língua invade minha boca, Seu
braço contorna minhas costas e ele me puxa para mais perto.
 
Solto a coleira e minhas mãos entram em seus cabelos, eu puxo os fios
para trás, nossas bocas se soltam, e seu pescoço fica exposto, então me
abaixo e beijo sua garganta, e passo minha língua por sua pele. Colton
geme, seus dedos apertam os fios do meu cabelo, e ele me aperta mais
contra sua pele. Sinto seu corpo tremer levemente de tesão. Ele se abaixa e
coloca a taça ao lado da minha na mesinha, e então se abaixa e me pega no
colo.
 
Passo minhas pernas ao redor da sua cintura, minha mão corre por suas
costas e passo as unhas com força contra sua pele. Ele rosna um gemido e
vai comigo até a parede. Pressiona seu corpo contra a parede e me aperta
ainda mais contra si. Seguro seu rosto e o beijo novamente, nossas línguas
se enlouquecendo. Ele mordisca meu lábio inferior, e eu passo meus lábios
contra os seus de um lado para o outro, até que aprofunda o beijo
novamente.
 
Suas mãos descem por meu corpo, uma aperta minha coxa e a acaricia
em um vai e vem, e a outra desce até minha bunda e ele a aperta, forçando
sua ereção contra o meio das minhas pernas. Solto um gemido ansiando por
mais, e jogo minha cabeça para trás.
 
— Colton... — murmuro completamente excitada.
 
— Fala o que quer, me pede — ele murmura contra meu pescoço e
então o beija, vai até minha orelha e mordisca o lóbulo, me arrepio da
cabeça aos pés.
 
— Não vou pedir — sussurro e quando vou beijá-lo ele se afasta um
pouco.
 
O som da buzina aumenta lá fora, e então o interfone toca.
 
— Deve ser o Aaron — ele diz.
 
— Foda-se o Aaron — murmuro e quando vou beijá-lo, ele segura
minha garganta com a mão, e estar em seu colo com o vislumbre dele me
estrangulando me deixa mais sedenta por ele do que qualquer outra coisa.
 
— Tem duas opções, gatinha — ele diz e então empurra minhas pernas,
me tira do seu colo, e fico de pé, as pernas bambas. Olho para ele sem
entender. — Ou admite que quer, que sente alguma coisa que seja, e me
pede pra mandá-los embora e foder você... Ou juro que vamos pra festa.
 
Puta merda!
 
Não sei o que sinto, admitir o quê? Transar? Sim eu quero. Mas não
quero que Colton entenda isso como o início de algo sério. Não sei o que
sinto para admitir logo depois de um beijo que demos depois de quase
quatro anos da primeira vez.
 
Ao mesmo tempo, não quero dizer que não. Que não sinto nada, porque
sei que isso também não é verdade. Sei que sinto algo, só não sei o quê.
Nunca estive nesse lugar de ser a pessoa escolhida.
 
— Eu quero, Colt — digo hesitante. Aaron aperta o interfone de novo.
— Mas, não sei o que dizer, ou o que eu sinto. Eu só...
 
— Ei, não quero que se sinta pressionada a nada — ele segura meu
rosto em suas mãos. — Vamos pra festa, a gente se diverte, bebe... Sei que
uma hora ou outra vai cair no meu papinho.
 
— Idiota, sou só um papinho é? Uma piada pra você?
 
— Você sabe que não, Mia — diz sério. Se aproxima e beija minha
testa, e então me dá um selinho forte. — Mas decida-se rápido. Não vou
ficar esperando você decidir se quer ou não.
 
— Não vou implorar ou pedir sexo — cruzo os braços me afastando e
ele só pisca pra mim.
 
— Então vou te provocar até você pedir — ele murmura contra meu
pescoço, e mordisca minha pele, estremeço pelo seu gesto e então ele
segura minha mão. — Vamos logo pra festa.
 
 
“Se não pode ditas as regras
Então, não as cumpra”
— Sopranos.

 
O dono da boate levou a sério o tema ser quarto Dark Room. É algo tão
privado, que nem a imprensa ou paparazzis descobriram. Quando Aaron
entrou em um prédio, estranhei. Paramos no estacionamento sem tumultos
do lado de fora. E então dois seguranças vestidos de preto confirmam
nossos nomes na lista, e nos acompanham até o elevador.
 
Lá dentro tem outro segurança que nos cumprimenta e aperta o último
andar. E assim que chegamos e a porta se abre, minha boca vai junto,
chocada com o lugar. É um ambiente na cobertura, todo espaçoso. Pintado
de preto. Há algumas pilastras e barras de pole dance. Algumas mulheres
dançando e se esfregando nas barras.
 
Há luzes vermelhas e azuis por toda parte. Há uma cama no centro,
repleta de algemas, chicotes, um casal dança lá em cima e tem uma faixa ao
redor impedindo todos de se aproximarem. É a própria visão de uma dança
misturada com sadomasoquismo.
 
— Misericórdia! — Oli começa a rir empolgada, usa uma fantasia de
enfermeira sexy. — Aaron não sairá de perto de mim nem pra mijar! — ela
diz e vê uma garota olhando para Aaron, que caminha junto com Colton na
nossa frente. — Tá olhando o quê? — ela fala alto  e a menina só revira os
olhos.
 
— Olivia — a repreendo e sorrio. — Não conhecia esse lado seu!
 
— Olivia nada, lugar de quenga é no inferno — ela dá de ombros. —
Mexer com meu homem é pedir pra morrer.
 
— Isso aí — pisco pra ela.
 
— E falando em homem, já viu a quantidade de mulher olhando pra
coleira do seu macho?
 
Me sinto um pouco incomodada, mas me repreendo por isso. Colton
não é nada meu. Mesmo assim começo a reparar ao meu redor, essas
mulheres parecem que só tem ele de homem aqui. Não sei pra que isso.
 
— Ele não meu — digo — Mas você estava certa sobre apenas sexo.
 
Ela para e me puxa para trás por seu braço entrelaço ao meu. A boca
aberta e os olhos arregalados me comprovam que ela está deduzindo um
milhão de coisas. Ela é a pessoa que mais luta para Colton arrumar alguém.
 
— Vocês transaram? — os olhos arregalados de Oli me fazem rir.
 
— Não. Na verdade quase, se você e Aaron não tivessem tocado o
interfone.
 
— Tá zoando né? Eu fui empaca foda de vocês?!
 
— Tá tudo bem. Ele disse que quer me ver implorar e admitir que
quero ele. Quando não falei nada, ele só falou pra irmos pra festa.
 
Ele semicerra os olhos me encarando, faz negação, e então olha pra
frente e sorri. Passa o braço por meu ombro e caminhamos até o bar.
 
— Só cuidado com isso, decida logo. Porque tem mulher que não
precisa de muito pra querer pegar na coleira dele, se é que me entende —
ela diz e ergue meu rosto na direção que Colton está.
 
Ele e Aaron estão encostados na bancada. Aaron pede bebidas para um
garçom, e Colton está sorrindo, com uma mulher na sua frente, ela segura a
coleira enquanto flerta com ele descaradamente. Ela brinca com a coleira
em suas mãos, a enrolando no pulso, e não para de falar.
 
É uma sensação estranha. É óbvio como Colton é o mais pegador e
safado. Sai em todos os canais de fofoca e redes sociais. Não me admira ele
pegar metade dessa festa. Sinto uma vontade de puxar a mulher pelos
cabelos, puxá-lo e ao mesmo tempo um bolo se forma em minha garganta.
Isso não é ciúmes, mas também ele não precisa ficar dando corda para
qualquer uma que vier puxar papo.
 
— Kiran e Zaya vão vir também, não é? — Aaron pergunta se
aproximando de Olivia e eu. Entrega a cada uma uma taça de Gin.
 
— Valeu — pego minha taça e bebo um gole. — Eles vão vir, mas acho
que vão atrasar um pouco.
 
— Do jeito que a Zaya é ciumenta, nem aconselho ela a vir. Olha a
quantidade de puta que tem nessa boate — Olívia diz sem tirar os olhos de
um grupo de mulheres na nossa frente, encarando Aaron sem disfarçar.
 
— Amor — Aaron a repreende e ela só olha pra ele irritada. — Para de
chamar qualquer mulher que olhe pra mim de puta.
 
— E vou chamar do quê? — ela coloca as mãos na cintura. — Mulher
que olha pra homem comprometido não presta, Aaron.
 
Ele solta uma gargalhada, a abraça por trás, apoiando o corpo no balcão
atrás de nós, e beija o pescoço dela.
 
— Deixa olharem, só tenho olhos pra você — ele diz baixinho, mas
ouço.
 
— Se elas continuarem, ou se aproximarem...
 
— Eu viro e falo “Sai pra lá vadias, tenho dona e ela é assassina” — ele
brinca e ela sorri.
 
— Acho bom — ela vira o rosto pra trás e beija a bochecha dele.
 
— Como vocês se conheceram? — pergunto do nada porque me bateu
essa dúvida,  eles me olham surpresos. Bebo mais um gole de Gin. —
Olivia não deve ter sido fácil de conquistar.
 
— Lógico que não, acha que ele teria um mulherão desse fácil? — ela
diz e começamos a rir.
 
— Eu tocava com a The Break na época em que era tipo banda de
garagem. Os meninos tinham acabado de sair da escola — Aaron diz. —
Tocamos em bares, pub 's. Eu fazia faculdade na época, e a Olivia era do
mesmo campus que eu. Mas eu a conheci em um dos shows da The Break.
 
— Na época o Colton estava saindo com uma das minhas melhores
amigas — Olívia diz. — Ele nos levou no show. E fizeram uma aposta de
que eu cairia no papinho do Aaron fácil, e ele ficou no meu pé.
 
— Não teve aposta, quantas vezes vou precisar falar? — Aaron ri e
coloca a mão no rosto.
 
— Ele fingiu ser um uber só pra ter meu número, ele se esforçou muito
— ela dá de ombros e bate sua taça contra a minha. — Quando um homem
quer ele faz de tudo, mas chega uma hora que precisamos ceder, se
quisermos também.
 
Capto sua indireta. Olivia apenas pisca pra mim e bebe a bebida.
 
Olho para o lado e procuro por Colton. Ele está no meio da pista de
dança, bebe uma garrafa de cerveja, e tem uma garota de costas pra ele,
rebolando sua bunda em cima do seu pau. Ela se inclina como se estivesse
de quarto, e rebola. Colton olha pra mim e sorri, balança os ombros, sua
mão percorre as costas da garota, e ele segura o cabelo dela e a puxa para
trás pelo próprio cabelo. Tenho vontade de voar na cara dele.
 
A garota joga a cabeça para trás, apoiando em seu ombro, e ele pisca
pra mim, sua boca vai até o pescoço dela, onde ele beija lentamente e ela se
entrega totalmente excitada.
 
— Poderia ser você — Olívia diz e bebe o resto da sua bebida. — Mas
não colabora.
 
— É porque talvez eu e ele não seja pra acontecer — bebo minha
bebida, sinto o álcool percorrer minhas veias, meu estômago queima.
 
— Qual é! Vocês estão na porra de uma festa a fantasia sexy, quase
como foi quando se conheceram... Se isso não é destino pra mim, não sei
que sinal a mais você quer.
 
— Você sabe de quando nos conhecemos? — a olho chocada, mas me
lembro. — Ah é mesmo! Ele estava sem as chaves da algema, ligou pro
Aaron pra nos ajudar. Mas vocês dois estavam ocupados demais fodendo
pra ir nos socorrer.
 
— O quê? — Aaron me olha chocado e Olívia começa a rir.
 
— Olha aqui, primeiro, de nada. Porque vocês também aproveitaram a
noite naquele dia tá legal? Mas eu fui do motel pra casa — Olívia me olha
sem entender.
 
— Não — olho pra Aaron. — A gente dormiu, e quando acordei você
já tinha levado as chaves pro Colton.
 
— Mia — Aaron começa a rir. — Sim, aquele dia realmente ele me
ligou falando da chave... Mas depois ele me mandou mensagem dizendo
que a dele estava com ele sim. Não voltei pra festa pra soltar vocês.
 
O quê?!
 
— Mas... — olho em direção a Colton, ele despachou a garota e está só
dançando sozinho como se fosse o único naquela pista. — Ficamos presos a
noite toda.
 
— Sim — Aaron me olha como se eu fosse burra. — Porque ele mentiu
pra você. Ele queria ficar um tempo com você... Achei que depois de todos
esses anos Colton tinha te contado.
 
Colton esteve com a chave pra nos soltar das algemas o tempo todo? E
mesmo assim me deixou acreditando que estava presa a ele? Ele fez tudo
isso só porque não queria que eu fosse embora aquele dia?
 
Olho para Olivia e ela só está sorrindo pra mim.
 
— Ele fez aquilo pra não deixar você fugir aquele dia — ela diz. — E
depois ele procurou por você, queria muito te encontrar. Ele ficou realmente
usando uma coleira, zombei dele por dias. E aí ele te reencontrou na casa da
Zaya, ele queria te chamar pra sair, mas você...
 
— Eu pedi pra ele esquecer aquela noite e fingir que não me conhecia,
porque estava a fim do Collin — completo e ela só assente, meu coração se
aperta ao me colocar no lugar de Colton a anos atrás.
 
— E se o cara não desistiu de usar uma coleira por você depois de
todos esses anos — ela tira a taça da minha mão e suspira. — Que porra
ainda tá fazendo aqui?
 
Meu coração se acelera, Aaron e Olivia me encaram sorrindo, e ele
indica com a cabeça onde Colton está, me incentivando a ir. E eu não
preciso de mais nada. De repente aquela noite a anos atrás se tornou ainda
mais especial. Ele não ficou comigo porque estávamos presos, ele fez uma
escolha. Ele me quis. Não fui só uma noite qualquer para Colton Reed.
 
Zaya e Kiran estão atravessando a pista, ela me chama, mas não paro.
Meu foco está todo em Colton. Parado em um canto da pista, um joelho
dobrado e o pé para trás apoiado na parede,  bebendo sua cerveja de um
jeito sexy. Assim que me vê, ele franze a testa, sua cabeça tomba um pouco
para o lado. Me aproximo e só pego a sua mão, e então o puxo para longe
da pista de dança, em direção aos elevadores.
 
Um segurança nos para, passamos nossas pulseiras e a bebida que
tomei está na pulseira de Aaron. Colton paga a parte dele, não me pergunta
onde estamos indo. Ele apenas me segue como quero que o faça.
 
Assim que somos liberados, entramos no elevador. Me viro pra Colton,
seguro sua coleira, o puxo e o beijo. Ele ergue os braços surpreso, os olhos
abertos. Mas dura um segundo, até que ele suspira, sua mão circula minha
cintura e ele me vira e me joga contra a parede do elevador. Sua outra mão
se entrelaça nos fios dos cabelos na minha nuca, e ele aprofunda o beijo.
Minhas mãos agarram suas costas, o puxo para mais perto, nossas línguas
em movimentos sensuais.
 
Ele separa nossas bocas, ergue meu rosto e beija meu pescoço, o
mordisca, solto um gemido totalmente excitada, desço minhas mãos por seu
corpo e aperto sua bunda com força. Colton arfa contra minha pele, posso
sentir seu pau pressionar meu corpo, totalmente duro.
 
— Mia... — ele murmura, afastando para olhar nos meus olhos.
 
Seguro sua coleira e mordisco seus lábios com força.
 
— Me fode — imploro.
 
Como está escrito em seu pescoço.
 
Como ele me pediu pra fazer... E porra, como meu corpo grita por isso.
 
 
 
 
“Foi uma daquelas coisas que você acha
Que nunca vai acontecer
Mas quando acontece é tudo o que você mais queria”
— Friend´s.
 

 
Assim que chegamos em casa, fecho a porta, e já me viro pegando Mia
no colo. Ela vem sem hesitar, suas pernas circulam minha cintura, seguro
firme em sua bunda, apertando levemente, e seus braços vão ao redor do
meu pescoço. Ela se inclina um pouco e beija meu pescoço, nos levo em
direção ao quarto.
 
Por um momento me sinto tonto, parece que é muito para processar, ela
em meu colo, seu cheiro em cada parte, sua boca em meu pescoço e sua
língua fazendo movimentos sexys em minha pele.
 
Assim que chego no quarto, já a deito na cama, e beijo sua boca.
Nossas línguas se devoram, e saboreio seu gosto. Jogo meeu corpo sobre o
dela, é bizarro em como Mia é sexy em todos os ângulos, mas porra...
Debaixo de mim deveria ser um crime.
 
Beijo seu pescoço e mordisco sua orelha. Mia solta um gemido, suas
mãos apertam minhas costas e ela unha levemente me puxando para mais
perto. Estremeço de tanto tesão e ela sorri ciente dos efeitos que causa.
 
Beijo sua garganta, o colo dos seios, e então desço devagar enquanto
ela me devora com os olhos. Subo seu vestido pra cima, e puxo a calcinha
pra baixo. Mia solta o ar preso, e ergue o quadril facilitando a retirada do
tecido de renda sexy. Retiro e jogo no chão.
 
Puxo suas pernas, as colocando por cima dos meus ombros e Mia
suspira enquanto me acomodo no meio e sinto meu pau pulsar.
 
— Colton...
 
— Shii, quietinha — murmuro.
 
— Eu te quero dentro de mim — ela pede mas apenas sorrio e  beijo
debaixo do umbigo, sua virilha.
 
— Primeiro eu vou te chupar — sussurro e ela joga a cabeça pra trás.
 
Me concentro em satisfazê-la. Me deixo levar porque já me imaginei no
meio das suas pernas tantas vezes que agora de fato aqui parece surreal. A
porra de uma ilusão. Mas não é.
 
Assim que passo minha língua por seu clitóris Mia geme alto e arqueia
as costas, mas continuo sem parar. A puxo com força quando ela tenta fugir.
E porra, nunca foi tão intenso e tão sexy assim antes. Nunca foi tão certo e
excitante. Me dedico em satisfazê-la, em movimentos leves, fortes, bato
minha língua duramente em seu ponto sensível, e depois vou com
suavidade. Mia se contorce.
 
Eu levo meu dedo e acaricio sua entrada, introduzo meu dedo devagar e
Mia ofega quando começo os movimentos, a fodendo com o dedo e a língua
ao mesmo tempo.
 
— Ah, Colton... — ela grita, suas mãos agarram meus cabelos e ela me
segura com força enquanto continuo os movimentos.
 
Mas assim que vejo que ela está quase gozando, paro. Retiro o dedo e
ela geme, e então desabotoou minha calça, e a tiro. Mia me observa atenta.
Puxo a cueca pra baixo, minha ereção salta, e sorrio ao ver Mia babar por
ele. Sempre me gabei por ter pau grande, melhor ainda é saber como usá-lo.
Mas o jeito como ela me olha é diferente. É como se ela visse além da parte
física.
 
Assim que me aproximo, ela coloca as mãos em meu quadril e olha pra
baixo, sua mão toca minha virilha, bem perto do meu pau há uma tatuagem.
 
Mia semicerra os olhos e toca a tatuagem de beijo ali, parecendo uma
marca de batom vermelho.
 
— Quando fez isso? — ela toca e acaricia a tatuagem, que fica bem no
início do meu pau e estremeço.
 
— Fim de uma turnê, estava bêbado o suficiente pra escolher esse
lugar.
 
Ela sorri e então se aproxima e beija por cima da tatuagem. Puta que
pariu, meu pau pulsa quando sinto seus lábios macios ali. Fecho os olhos
por um segundo. Mia beija novamente, e então lambe vagarosamente a
extensão do meu pau até a cabeça e a chupa. Entrelaço meus dedos em seu
cabelo e puxo sua cabeça pra trás. Ela sorri safada.
 
Pego uma camisinha na gaveta da minha mesa de cabeceira, e coloco-a
em meu pênis, e então me aproximo dela. Seguro suas pernas e a puxo para
baixo, e Mia circula as pernas em minha cintura.
 
Pego a base do meu pau e passo sobre seu sexo, masturbando nós dois
ao mesmo tempo, fecho os olhos ao sentí-la.
 
— Porra, gatinha, você está mega molhada — murmuro e ela geme
quando passo mais rápido meu pau sobre seu sexo.
 
Ela leva sua mão até meu pau, o segura e leva até sua entrada.
 
— Por favor... — implora.
 
— Por favor, o quê? — mordisco seu pescoço e Mia aperta as unhas em
minhas costas.
 
— Mete em mim — ela segura meu rosto, e beija minha boca devagar,
é tão sexy e intenso que fecho os olhos.
 
Posiciono em sua entrada e a penetro devagar, aos poucos para ela se
acostumar com a sensação. Ela agarra meus bíceps conforme se expande e
seu sexo me engole. Gememos juntos, Mia joga a cabeça pra trás, e então
eu começo a me mover primeiro devagar, e então pego impulso e acelero os
movimentos.
 
Rápidos, constantes, com força.
 
Mia morde meu ombro abafando um grito, e solto um gemido. Abaixo
seu vestido e sugo seu seio em minha boca, bato duramente a língua em seu
bico e Mia se remexe e me puxa para mais perto, enquanto continuo com os
movimentos.
 
— Colton... — ela geme e escondo meu rosto em seu pescoço, ela
entrelaça os dedos em meus cabelos e me puxa.
 
— Goza pra mim, gatinha — digo em seu ouvido, e então saio de
dentro dela, seguro sua cintura e a viro com força, a deixando de quatro.
Seu vestido sobe, sua bunda toda empinada em minha direção é tão sexy
que gozaria fácil só por essa visão.
 
Bato em sua bunda e Mia arfa, surpresa. Puxo seu quadril e a penetro
com força, Mia agarra os lençóis da cama e geme, e começo com o vai e
vem, forte e rápido, lento e sensual. Levo minha mão até seu clitória e Mia
estremece.
 
Sua bunda bate em mim conforme a fodo, e me seguro pra não gozar
rápido. Ela vira o rosto em minha direção, olhando para trás, e é tão sexy,
tão forte. Ela morde os lábios e então esconde o rosto nos lençóis e sinto
sua boceta apertar meu pau com força, Mia geme alto, as pernas fechando, é
quente feito o inferno assistir e sentir ela gozar pra mim, então só fecho os
olhos e deixo vir.
 
A onda percorre minhas pernas, e gozo com força, me inclino sobre ela.
Ambos respirando apressados. Suas costas suadas. Saio de dentro dela, e
Mia só se joga para o lado. Retiro a camisinha no banheiro, me limpo com o
papel e jogo no cesto do lixo.
 
Volto na cama e a encontro sorrindo. Vou até ela, me deito de bruços e
me surpreendo quando ela ri e deita em cima das minhas costas.
 
— Porque demoramos tanto pra fazer isso? — ela fala rindo e mordisca
minha nuca devagar, um arrepio percorre meu corpo.
 
— Você gosta de me enrolar — digo sem forças e ela começa a rir. —
Descarta muito fácil nosso amor.
 
Mia se senta nas minhas costas, as pernas ao redor da minha cintura e
começa a massagear meus ombros.
 
— É diferente decidir fazer sexo casual com um amigo, Colt — ela fala
e fico tenso. — Mais fácil com um desconhecido, que a gente nunca mais
vê a cara depois disso.
 
— E... Quer dizer que é difícil olhar pra minha cara? —olho para trás e
ela só sorri e se abaixa, beija minha bochecha.
 
— Não, tá tudo bem. Mas morar com você deixa tudo.. — sua voz sai
mais fina e baixa que o normal. — É só estranho.
 
— Quer dizer que pra você isso... Foi só sexo casual? — não evito
perguntar, e em partes me incomoda ter que perguntar.
 
Sexo casual é o que mais estou acostumado.
 
Mas não com ela, porra.
 
Com Mia não é apenas físico, temos uma parada emocional que vai
além de tudo que vivi. Ela não parece querer o ato, ela parece desejar a
mim, me sentir. E isso muda tudo. Dá medo pra caralho, mas não sou otário
de negar.
 
Essa mulher me tem nas mãos de uma forma que é vergonhoso admitir.
 
— Vou tomar um banho — ela diz, claramente fugindo da pergunta.
 
Se levanta da cama, abaixa o vestido, e então vai até o banheiro. É
louco que foi tudo tão intenso que nem deu tempo de tirar seu vestido.
 
— Mia?
 
Ela não olha para trás quando se abaixa e pega a calcinha no chão, e
então  entra no banheiro.
 
E é aí que dói.
 
Pois ela passa a trinca na porta ao fechar.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Você diz que me quer com todas as minhas vírgulas,
Eu te quero como meu ponto final”
— Tati Bernardi.
 

 
Assim que entro no banheiro tranco a porta, pois não sei como encarar
Colton caso ele entre aqui. Com que cara vou olhar pra ele depois de tudo o
que aconteceu? De tudo o que senti?
 
Meu coração está tão acelerado que tenho medo de passar mal. Encaro
meu reflexo no espelho e me surpreendo ao ver o quanto estou corada,
meus cabelos bagunçados. Deus, a própria imagem de quem acabou de
transar. Passo as mãos por meus cabelos e tento acalmar meu coração,
respiro devagar.
 
Foi insano a forma como me senti inteira e completa. Foi além de algo
físico, foi pura química e conexão. Eu o sentia até pelo olhar, pelo toque da
sua pele.
 
Ligo o chuveiro, e entro de uma vez na água, molhando meus cabelos.
Preciso urgente conversar com Zaya e Olivia. Elas precisam saber disso, de
como me senti e me dizer que não estou ficando maluca. Não sou idiota a
ponto de admitir ser s[o algo casual quando claramente Colton e eu nos
sentimos atraídos dessa forma. Nos preocupamos um com o outro, e isso é
algo além de uma amizade colorida. Mas não pode acontecer.
 
Acabei de entrar na equipe da The Break, logo eu, recém formada que
teve uma vaga que muitos profissionais a anos no mercado não
conseguiram. Se descobrirem vão dizer que consegui isso transando com
Colton. Não por meus próprios méritos.
 
É tanta coisa que se passa na minha cabeça, que dói. Parece que estou
em crise de ansiedade.
 
— Mia? — a voz dele do outro lado da porta me trás para a realidade, e
vejo a maçaneta ser forçada para baixo, tentando abrir.  — Porque trancou?
 
Meu coração se parte. Porque sei que com esse meu gesto parece que
não me importei, que estou me escondendo dele depois de dizer que era
algo casual. Não me admira se ele me odiar por se sentir usado.
 
Mas não consigo olhar pra ele ou falar sobre isso agora.
 
— Estou atrasada para a apresentação do projeto da banda, acabei de
me lembrar. Preciso terminar o projeto — digo enquanto ensaboo o cabelo.
 
— E teve que trancar a porta pra eu não te atrapalhar seu banho? — sua
voz sai mais rouca, e isso parte meu coração.
 
— Desculpa, Colt... Foi automático, só costume — reviro os olhos e
bato a mão na minha própria cabeça. Que desculpa mais idiota.
 
— Ok, então... Vou ir disfarçado no mercado aqui perto comprar algo
para comermos, quer que eu traga o cappuccino que gosta?
 
Sorrio por ele se lembrar e saber o que eu gosto sem nunca termos
contado isso um para o outro. Foi tudo apenas me observando.
 
— Ok, pode ser — digo incerta.
 
— Beleza, vou levar Pantufa comigo. Não demoro.
 
— Ok!
 
Ouço barulhos pelo quarto e termino meu banho. A porta da sala bate e
sei que ele saiu. Então me seco e vou até meu quarto, troco de roupa em
tempo recorde e pego um papel e caneta e escrevo um bilhete pra Colton,
dizendo que tive que ir para a casa da Zaya terminar o projeto da The
Break, e que vou dormir por lá. Não posso encará-lo agora, primeiro preciso
entender o que estou sentindo e onde isso levará.
 
Colo com uma fita na porta de entrada, e saio depressa em direção a
casa da Zaya.
 
E consequentemente, para longe dele.
 

 
Ontem acabei ficando em um hotel ao invés de ir até a casa da Zaya.
 
Liguei pra ela e Olívia assim que a reunião com a equipe acabou, em
partes porque queria comemorar a aprovação do cenário e visual da The
Break e outra porque preciso falar sobre o que aconteceu. E elas vieram
rápido pois estavam juntas.
 
— Você fez o quê? Fugiu, sua desgraçada! — Olivia me xinga assim
que chegamos na Starbucks. — Onde você está com a cabeça?
 
— O boy fala que vai comprar algo pra você e você foge? — Zaya me
encara sem entender. — Colton não é só um cara galinha por aí, ele também
tem um coração.
 
— Mia, seja sincera... Você quer isso ou não? — Oli segura minha mão
e suspiro. Sabia que seria assim, uma conversa cheia de sermão. — Porque
está nítido pra nós que ele sente alguma coisa, então porque fugir?
 
— Ainda tá naquela de paixonite pelo Collin? — Zaya suspira.
 
— O quê? Não! Passado! — pego meu milk shake e tomo um gole. —
E não vou negar, eu senti sim coisas, e sei que Colton também. E ele foi um
fofo, mas...
 
— Você só quer algo casual? Sério? — Zaya pergunta.
 
— Ou está com medo de alguma coisa? — Oli cruza os braços, me
encara.
 
— Ok, e se eu estiver? — abro o jogo. — Nunca senti algo assim, e ao
mesmo tempo estando agora na equipe da The Break, o que falariam sobre
mim? Estou criando meu nome agora. Já é um milagre não terem
descoberto que moramos juntos, porque só isso já destruiria minha
reputação!
 
— Seu nome você vai fazer mostrando seu trabalho na próxima turnê!
— Zaya diz. — Agora quanto a sua vida pessoal, não tem que dar satisfação
pra ninguém!
 
— É diferente pra vocês. Oli estava com Aaron antes da fama, e você
praticamente cresceu com Kiran e fez seu nome e sua carreira antes de
ficarem juntos. Você tentou tanto se desvincular do nome do seu pai, deve
saber como me sinto.
 
— Mas é diferente, Mia — ela suspira e segura minha mão. — Uma
coisa é me conhecerem pelo sobrenome da minha família... Outra é você
abrir mão de viver um momento ou algo que queira por achismo do que as
pessoas vão falar. Foda-se as pessoas.
 
— Você está fazendo um ótimo trabalho visual com a banda — Olivia
continua. — Mas trabalho é trabalho, e seu coração quem manda é você.
Não quero que deixe de seguir o que ele pede só por medo. Nem quero que
machuque Colton no processo. Só faça o que tem vontade, deixa fluir as
coisas entre vocês, sem pressão. Não se cobre tanto. Só aproveite cada
momento, e faça o que tiver vontade.
 
Em partes é difícil deixar alguém entrar. Com Collin não foi porque era
algo mais físico. Mas com Colton é diferente, ele mexe comigo. Sinto seus
efeitos sobre mim apenas por olhar em seus olhos. E nunca senti isso antes
por ninguém. E é assustador pra caralho.
 
— Simples assim? Só  deixar fluir sem pensar no que pode dar errado?
 
— Simples assim — Olívia garante sorrindo, vem até mim, passa seu
braço por meu ombro e me puxa para mais perto.
 
Meu celular vibra em cima da mesa, e olho a notificação. É uma
mensagem de Colton. Ele tirou uma foto do bilhete que escrevi e me
enviou.
 
COLTON: Sério isso? Decidi te mandar mensagem só hoje, porque
imaginei que ontem estivesse ocupada já que nem quis dormir aqui em
casa. Gatinha, se eu fiz algo que não gostou, se te machuquei, sei lá...
Desculpa.
 
COLTON: Não quero extrapolar os limites com você. Nem que se
sinta na obrigação de alguma coisa. Mas só não fuja, porra.
 
Suspiro e Olivia lê as mensagens comigo, já que está ao meu lado e ela
é curiosa. Sinto a culpa me invadir imediatamente. Estraguei tudo, criei
paranóias e ainda por cima deixei ele chateado. Agi como uma adolescente.
 
— Não se auto sabote, Mia — Oli diz e beija o topo da minha cabeça.
— Você tem o costume de duvidar de todos os caras, já espera ser usada
porque não teve bons exemplos na sua vida. Mas... Colton não é esse tipo.
Mesmo em algo casual, ele jamais faria algo pra te machucar ou te deixar
desconfortável. Então não se sabote, só vai em frente, confie, e deixa rolar o
que tiver que ser.
 
 

 
Chego em casa mais tarde. Fiquei o resto do dia na gravadora
aprovando o material para a construção dos cenários e realizando testes no
palco. Já estava de noite quando vi que já era hoje de ir embora. Chega de
trabalhar.
 
E assim que chego no prédio de Colton, chamo o elevador e sinto meu
coração pesar. Chego na cobertura, digito a senha na porta e a abro. Pantufa
vem latindo e abanando o rabinho em minha direção. Me abaixo e a pego
no colo.
 
— Oi meu amor — ela lambe meu rosto e sorrio, tudo o que eu
precisava era dessa dose de amor. A coloco no chão e ela corre para a sala.
 
Ouço o barulho de uma tampa fechando na panela, e vou até a cozinha.
Colton está de frente ao fogão, mexe uma frigideira enquanto tem outra
panela no fogo. Ele está sem camisa, com um pano de prato jogado em seu
ombro direito. Ele olha de relance pra mim e sorri sem graça, ainda está
magoado pela minha atitude ontem. E com razão. Eu fui uma babaca justo
na nossa primeira noite juntos depois de anos.
 
— Não sabia se voltaria hoje, mas tem outra taça ali no armário — ele
diz sem olhar para trás.
 
Tem uma garrafa de vinho aberta na bancada, e uma taça em que ele
está bebendo. Suspiro e deixo minha bolsa no sofá, vou até o armário, pego
uma taça e me sirvo também. Deixo a taça ao lado da dele, e vou em sua
direção.
 
Me aproximo devagar e circulo meus braços em sua cintura, o
abraçando por trás, encosto minha testa em suas costas e inspiro fundo seu
cheiro. É reconfortante, estranhamente tem cheiro de paz, de lar. Posso
sentir seus músculos tensos com meu gesto, mas ele continua dedicado ao
que cozinha.
 
— Desculpa fugir e agir como uma babaca ontem — digo e suspiro.
 
— Tá de boa, Mia — ele dá de ombros.
 
— Não. Foi especial, intenso, rápido e... Muito gostoso. E acho que
isso me assustou.
 
Colton desliga o fogo, e então se vira devagar, não solto sua cintura.
Assim que ele fica de frente comigo, me aproximo e beijo seu peito e me
aproximo mais, olho pra cima e Colton só sorri de lado e sua mão acaricia
meu cabelo.
 
— Quer dizer que... — ele hesita, encara meus olhos. — Não foi só
sexo casual?
 
— Você sabe que não — admito. — Temos um passado, Colt. Uma
história, uma amizade, intimidade, então... É claro que não foi só sexo. Eu
senti você.
 
— Ufa, bom saber porque eu me senti um merda. Achei que tivesse te
machucado, ou feito algo que não gostou, e...
 
— Para de paranóia — dou um peteleco em sua testa e ele sorri. — É
só que foi tudo rápido, tudo muito novo, eu não processei ainda, e acho que
fugir foi o modo fácil.
 
— Não precisa fugir, não vou cobrar algo que você não queira.
 
— Eu sei. Agi como uma adolescente fugindo depois de perder a
virgindade igual foi na nossa primeira vez — sorrio e Colton franze a testa.
 
— Bem, isso responde a muitas coisas — ele abre a boca surpreso, fica
pensativo. — Aquela nossa primeira vez, eu vi como estava tensa, e
apertada pra caralho. Eu sempre me perguntei se foi daquele jeito porque
você estava a muito tempo sem sexo ou...
 
— Eu realmente era virgem — sorrio e ele só morde os lábios e nos
olhamos por um tempo. — Fiz de tudo pra não notar. Escondi o rosto, fingi
experiência.
 
— Eu notei — ele fala baixinho. — Eu não tinha certeza porque não
sangrou nem nada... Mas foi diferente. Na dúvida eu tentei ser gentil e
devagar, sabe? Mesmo que não fosse verdade, sabia que estava incômodo,
quis deixar tudo bom pra você.
 
— Você foi, Colt — o abraço mais forte e coloco o queixo por cima do
seu coração e olho para cima, em direção ao seu rosto. — Foi mentiroso
também, porque as chaves estavam com você, e preferiu me seduzir. Porque
nunca me contou?
 
— Aaron filho da puta — Colton rosna e coloca a mão na ponte do
nariz tentando ter paciência. — Não acredito que ele te contou isso.
 
— Então quer dizer que... — desço minhas mãos por suas costas até sua
bunda e a aperto, o puxando pra mim. — Que você me quis tanto que
arrumou um jeito pra me ter?
 
Colton sorri, olha pra minha boca, sua mão vai até minha nuca e fico na
ponta dos pés. Ele abaixa o rosto e inspira meu pescoço, passa sua boca
devagar raspando o lábio por minha pele, e mordisca minha orelha, me
arrepiando por inteira.
 
— E quer dizer que... Você me quis tanto que me escolheu pra ser seu
primeiro?
 
— Hurum — murmuro totalmente extasiada em seus braços.
 
Colton agarra minha cintura, me ergue e me coloca em cima da
bancada, separa minhas pernas e se coloca no meio delas, suas mãos
apertam minhas coxas, sobem até minhas costas, e meus braços circulam
seu pescoço, o trazendo para mais perto.
 
— Fui o primeiro a entrar em você, gatinha? — sua mão vai até o cós
da minha calça, ele desabotooa, e Colton passa o dedo por cima do tecido
da minha calcinha. Ofego e jogo minha cabeça pra trás. — Fui o primeiro a
tocar na sua boceta?
 
— Colton... — murmuro cheia de tesão.
 
Ele puxa meu cabelo em um rabo de cavalo improvisado, tendo o
controle, e me puxa com força em sua direção. Sua boca vem decidida
contra a minha, sua língua entra rápida, selvagem, em movimentos sensuais
que me deixam ainda mais molhada do que já estou. Solto um gemido e
Colton revira os olhos de prazer ao me ver e me ouvir reagindo a ele.
 
— E vai deixar eu te comer de novo? — sua boca vai até meu pescoço
e ele o mordisca.
 
— Sim — minhas mãos vão para suas costas e o puxo para mais perto.
— Colt, por favor...
 
— Acho que está na hora de relembrar os velhos tempos, só que agora
vamos devagar. Quero provar cada centímetro de você.
 
Solto um suspiro, e me deito na bancada. Colton me ajuda a tirar a
calça jeans, puxa minha calcinha junto. Então seus braços circulam minhas
coxas e ele me puxa até a beirada. É insano ter ele tão perto, e sentir o que
sinto.
 
Seu olhar pega fogo e me incendeia. Poderíamos queimar o prédio só
pela combustão que ocorre em nossos corpos. Colton beija minha barriga,
minha virilha, e então ele assopra meu clitóris, me atiça e me deixa louca.
Sua língua passa devagar e arqueio meu corpo. Estou tão excitada que
quase gozei na primeira lambida.
 
— É minha, Mia — ele diz e lambe de novo. — Você é minha.
 
Solto um gemido quando ele bate a língua duramente contra meu ponto
sensível. Colton me chupa com vontade, e geme mostrando o quanto
também está gostando disso. Ele sente prazer por me dar prazer.
 
— Colton...
 
Meus quadris se movem instintivamente, e seguro seus cabelos com
força o mantendo onde quero quando ele acelera os movimentos. Grito alto
quando sinto o orgasmo vir, foda-se se algum vizinho estiver ouvindo.
Minhas pernas se fecham quando gozo, e Colton me segura com força
continuando os movimentos, aperto sua cabeça com minhas coxas, e ele
sorri e se afasta convencido, enquanto eu juro que minha visão escureceu.
Minhas pernas ficam fracas. A onda elétrica percorre meu corpo. Colton se
aproxima de mim, beija meu pescoço, minha boca.
 
— Adoro quando goza na minha boca, sabia? — murmura em meu
ouvido, e me enlouquece com seu jeito safado de falar.
 
— Eu quero você dentro de mim — peço e ele sorri.
 
Ergue minhas pernas devagar, colocando meus calcanhares em seus
ombros, e então retira sua calça e a cueva. Se aproxima e passa seu pau
sobre meu sexo sensível, ele fecha os olhos e geme baixinho.
 
— Porra, você está tão molhada, Mia — ele encaixa a cabeça do pênis
em minha entrada, e então me penetra devagar.
 
Meu coração acelera e vejo estrelas à medida que ele me preenche, e
então me sinto completa. Colton é muito grande e grosso, mas estou tão
excitada e molhada que ele deslizou fácil. Como se meu corpo já soubesse
que era ele, e que porra... Ele é muito bem vindo.
 
Colton começa a se mover, mete em mim devagar, e gemo com a
sensação forte que me atinge. Ele fecha os olhos, morde os lábios e fica tão
sexy assim que desejo vê-lo assim pra sempre. Seu quadril se choca contra
mim, e minha bunda bate levemente em seu corpo. E então ele acelera os
movimentos, vai tão fundo, rápido, e então desacelera.
 
— Eu quero que goze pra mim, Colt — peço baixinho e ele abre os
olhos, há tanto desejo lá que me queima mais um pouco.
 
Ele passa sua mão por meu corpo, até minha garganta, e ele a aperta
gentilmente enquanto gememos juntos e joga a cabeça pra trás. Me sinto
dominada por ele, e é sexy como o inferno. Colton segura meus pulsos, e
me puxa pra cima, soltando minhas pernas. E então me sento e cruzo as
pernas em sua cintura. Ele me puxa até a ponta, e esconde o rosto em meu
pescoço. Começa a me foder com força, seus gemidos só aumentam.
 
— Você é tão gostosa, puta que pariu — diz em meu pescoço.
 
— Goza pra mim — digo em seu ouvido.
 
— Você quer isso, é? — ele mordisca minha garganta e o puxo para
mais perto.
 
— Sim — imploro e o abraço.
 
— Cacete, Mia — ele acelera os movimentos, e então ele sai de dentro
de mim rápido, seus gemidos se intensificam.
 
E só então cai a ficha que não usamos camisinha, Colton goza em
minha barriga, e deita a testa em meu ombro. Respira rápido e eu estou
completamente bamba com tudo o que acabou de acontecer.
 
Assim que recuperamos o fôlego, Colton sorri, vai até o armário e pega
alguns guardanapos e limpa minha barriga, e me olha de relance. Sorrimos
juntos e pego minha calça ao meu lado.
 
— Preciso tomar banho.
 
— Não vou deixar você fugir de novo — ele diz brincando, mas vejo o
receio em seus olhos.
 
— Ah, não? — começo a rir, o puxo e circulo sua cintura com minhas
pernas. — Não vou a lugar nenhum, Colt. — deito meu rosto em seu peito e
fecho os olhos ouvindo suas batidas descompensadas. — Estou exatamente
onde quero estar.
 
“O futuro é o lar dos nossos medos mais profundos
E das nossas maiores esperanças.
Mas uma coisa é certa
Quando ele finalmente se revela,
o futuro nunca é como imaginamos.”
— Grey's Anatomy.
 

 
— Posso saber o motivo desse sorriso aí na sua cara? — Olivia me olha
de relance assim que paramos no sinal de trânsito.
 
Ontem Colton e eu comemos macarronada que ele fez, bebemos
vinhos, nos pegamos um pouco, e acabamos dormindo no sofá, cada um em
um, a televisão ficou passando a série a noite toda. Foi tão surreal, tão
íntimo. Que era como se tivéssemos feito isso um milhão de vezes.
 
Hoje de manhã quando acordamos e eu vi a mensagem de Olivia,
dizendo que tinha encontrado um apartamento que era a minha cara e pegou
as chaves para visitarmos, notei que ele ficou mais sério. Mas sei que ele irá
sentir minha falta quando eu sair, porque tenho essa mesma sensação.
 
— Digamos que eu parei de me auto sabotar e comecei a deixar Colton
entrar — pego o pacote de doritos que Olivia comprou e como um. —
Sabe... Ontem digamos que a bancada da cozinha foi estreada.
 
— Ah, Meu Deus — ela sorri, e olha para trás, Ryan está na cadeirinha,
segura o celular dela e vê alguns vídeos. — Eu nem posso falar o que quero
porque temos crianças presentes.
 
— A gente comeu, bebeu vinho, rolou mais daquilo e aí dormimos no
sofá vendo filme — conto e ela sorri.
 
— Não fugiu. Tá de parabéns — ela vira o carro em uma rua
movimentada. — Tá vendo? O pós também é gostoso, carinho e conversa,
abraços e beijos é válido, Mia. Não tenha medo disso.
 
— Eu sei... Um passo de cada vez, ok? — me viro e entrego o pacote
de doritos para Ryan, que pega feliz e ajeita o pacote gigante no seu colo.
— Certamente perdemos o pacote todinho.
 
— Ryan é viciado — ela revira os olhos. — Às vezes deixo.
 
— Mas e aí? O que me diz do apartamento? — bato as mãos limpando
o pó do salgadinho.
 
— Então, ele tem dois quartos, sala, cozinha, copa... É bem básico, mas
o que me chamou atenção é porque um dos quartos tem um guarda roupa
embutido e lá dentro é um outro cômodo secreto. O antigo dono usava
como closet, mas eu pensei que daria um ótimo estúdio.
 
— Então é perfeito — sorrio empolgada.
 
— Depois quero te levar em mais dois. Esteja preparada, Ryan e eu
viemos até de tênis, porque vamos treinar as pernas hoje de tanto subir e
descer escadas. Pois não tem elevador em nenhum deles.
 
— Que bom que eu vim preparada também — estico meu pé com o All
Star e Olivia sorri.
 

 
Passei toda a parte da tarde com a Olivia. Visitamos no fim quatro
apartamentos, e sai de lá um pouco frustrada. Dois deles era nos últimos
andares e o prédio era enorme, e sem elevador desanimava qualquer um.
 
O outro é lindo porém a rua fica perto do metrô e o barulho quando o
trem passou era insuportável. E o que Olivia e eu mais gostamos, foi o do
estúdio, porém o valor dele estava mais alto do que o meu orçamento.
 
Assim que chego no andar de Colton, entro e sinto o cheiro de pizza,
minha barriga ronca de fome e sorrio quando o encontro sentado no tapete,
vendo a mesma série de ontem. Tiro os sapatos, jogo minha bolsa no sofá, e
me sento ao seu lado.
 
— Oi gatinha — ele se aproxima e antes que eu me dê conta, me dá um
selinho rápido. — Como foi hoje com a Oli? Teve algum apê que gostou?
 
— Até que sim — dou de ombros. — Mas é caro, ela ficou de
conversar com o proprietário para ver se consegue algum desconto. Mas sei
lá, ainda assim tá bem acima do que eu posso pagar.
 
Ele suspira e tomba a cabeça para o lado.
 
— Se quiser posso te emprestar o que falta, você me paga do jeito que
der, sem pressa.
 
— Não — me apresso. — Não quero. Não é por mal, Colt. É só que
não quero depender de ninguém, sabe? Queria conseguir por mim.
 
— E vai conseguir. Mas só estou dizendo que se precisar inteirar... Não
vai deixar de ter seu mérito. Não tem problema em ter ajuda, Mia.
 
É que passei a vida toda sendo a minha própria ajuda, podendo contar
somente comigo e sendo a responsável da casa e da família. É difícil deixar
alguém quebrar esses hábitos e meu jeito.
 
— Sei que não... Obrigada, Colt — coloco minha mão por cima da sua
no tapete, e ele sorri e pisca pra mim.
 
Colton se vira para o lado e ergue a caixa de pizza. Sorrio e ele abre, se
levanta e vai até a cozinha, pega dois copos e o refrigerante e vem até o
tapete novamente.
 
— Fiquei te esperando chegar, aí pedi pizza quando você me mandou
aquela mensagem dizendo que já estava voltando.
 
— Você é o meu herói! — pego um pedaço de pizza e como, e suspiro
pelo sabor. — Eu amo quatro queijos!
 
— Eu também — ele pega seu pedaço, e me entrega o copo com o
refrigerante. E então ergue sua pizza no ar. — E fiquei sabendo que o
projeto da The Break já começo a ser feito, então um brinde a artista cênica
mais foda que qualquer banda verá!
 
Sorrio e bato minha pizza contra a sua. É a primeira vez que de fato
comemoro essa conquista. Mal posso esperar pra ver o palco finalizado.
 
— Trate de fazer uma serenata no palco dedicada a mim, porque o
show da The Break vai mudar de patamar depois de passarem pelo meu
palco.
 
— Contando que não jogue meu buquê de flores fora e nem me dê um
tapa na cara pela vergonha, eu faço.
 
Travo com a pizza no ar. É a primeira vez que relembramos esse
assunto. Ainda me sinto mal por aquele dia.
 
— Desculpa — sussurro.
 
— Não, Mia, é passado — ele franze a testa. — Fui idiota por dizer
isso, desculpa.
 
— Não... Isso nunca.
 
— Acho que você deveria pegar o microfone e se declarar pra mim. É
meu fetiche secreto, sabia?
 
— Ah é? — começo a rir e dou mais uma mordida na pizza. — E nesse
fetiche eu canto qual música enquanto declamo meu amor por você?
 
Ele me encara por um momento, tudo parece se aquecer. Seus olhos
queimam de desejo, é como se eu pudesse ler seu coração através da forma
como ele me olha.
 
— Me surpreenda — ele diz e começa a rir.
 
Comemos a pizza enquanto assistimos a série. Está tão gostoso, tudo
tão perfeito. Meu dia está como sempre sonhei. Meu trabalho finalmente
começou a sair do papel e de projeto digitais, estou procurando meu
apartamento para comprar.
 
Colton e eu estamos começando algo que não sei o que é. Não temos
rótulos, mas é a sensação de lar, é o calor que sinto quando ele me abraça,
tudo isso deixa mágico. Eu trocaria qualquer rolê, qualquer festa, qualquer
date, apenas para sentar ao seu lado e comer pizza vendo ele sorrir e me
contar histórias antigas.
 
Por um momento meu coração erra uma batida. Sinto que estou onde
deveria estar.
 
— Preciso te contar do dia qua a van da The Break estragou e o Kiran
teve que cagar no mato — ele fala.
 
Meu celular começa a tocar, e bebo um gole do refrigerante, começo a
rir imaginando essa história, e só atendo porque vejo o nome “Mãe” na tela.
 
— Oi mãe — atendo rindo.
 
Há um silêncio do outro lado da linha, e então a ouço chorar.
 
— Mãe? — fico séria, meu coração se acelera.
 
— Mia — ela fala chorando, e ouço gritos e barulhos na ligação. — Ele
tá aqui. Tá aqui, eu...
 
— Já estou indo — desligo o celular.
 
Parece que fico sem ouvir e sem raciocinar à medida que pego minha
bolsa e corro para fora do apartamento de Colton. Ouço ele me chamar, 
começa a vir atrás de mim, mas para quando Pantufa o segue sem coleira.
 
Não paro.
 
Saio do prédio, e vou correndo até encontrar um ponto de táxi. Passo o
endereço da casa da minha mãe, o motorista vê o desespero em minha voz.
 
— Por favor, vá o mais rápido que puder.
 
Minhas mãos tremem, meu coração se acelera,  e eu só oro para que eu
chegue o mais rápido, a tempo de nada acontecer dessa vez.
 
 
 
 
 
“Eu não me identifico com você, não
Porque eu nunca me trataria como uma merda
Você me fez odiar essa cidade
Eu nunca falo merda sobre você na internet
Nunca disse nada de ruim para alguém
Porque essa merda é vergonhosa
Você era tudo pra mim
E tudo o que fez foi me deixar triste pra caralho”
— Happier Than Ever - Billie Eilish.
 

 
Existe um momento em que o presente e o passado que se interligam
quando estamos diante de uma situação ruim. É como se vivêssemos
antigos traumas. Lembranças ruins voltam trazendo tudo o que anos de
terapia não são capazes de apagar da nossa mente.
 
É isso o que eu sinto e penso quando o táxi para de frente a casa da
minha mãe. Pago o motorista e desço correndo, porque eu sei o que isso
significa: Tempo. Ele pode custar tanto. O tempo é crucial. Para impedir
algo, para apaziguar brigas, para evitar mais traumas, para salvar vidas.
 
E à medida que abro o portão e entro dentro da casa, subo as escadas e
ouço um barulho alto. E isso me faz voltar quando a anos atrás.
 
Meu pai era um pai presente, ele me fazia rir, me fazia acreditar que era
um super herói, me trazia presentes, flores, falava o quanto me amava. Ele
teve seus momentos bons. E também seus momentos ruins. Às vezes ele
chegava tarde em casa depois do serviço, bêbado. Em alguns, mamãe e eu
apenas o evitávamos, para que nenhuma briga acontecesse. Em outras ele
começa a reclamar  e eu não aceitava que ele a tratasse assim. E foi quando
eu cresci e comecei a ver toda a situação por outro ponto de vista.
 
Do pai perfeito ele se tornou frio, calculista, ele mesmo se fazia mal ao
ingerir doses e doses de álcool todos os dias. O problema era que não
acabava somente com seu mental e físico. Ele destruía eu e minha mãe no
processo. Eu passei a enfrentá-lo. Não deixava ele dizer nada que fosse
machucá-la. Eu me colocava como um escudo, pois na minha mente isso
impediria ele de machucar minha mãe. Pensava que eu bastava. Na minha
mente o amor que ele dizia sentir por mim seria maior do que qualquer
vício. Mas não foi, nunca foi.
 
Com o tempo tudo foi piorando, ficando um vício diário. Ele chegava
em casa fedendo bebida. E foi aí que veio a primeira agressão. Na época
minha mãe não quis fazer queixa, então apenas o expulsou de casa. Mas ele
nunca ia de fato embora.
 
Eu sempre me perguntei se fiz algo de errado. Sempre fiz de tudo pra
ser seu motivo de orgulho, sua garotinha. Me culpei por anos, me obriguei a
tentar ajudá-lo, mas ele não queria ajuda. Ele estava na porra de um
penhasco, e quando sua embriagez foi mais forte, ele também levantou a
mão pra mim e depois fugiu. Me deixando ferida por fora e por dentro.
 
Ele estava no penhasco e quase levou eu e minha mãe junto com ele.
Mas foi aí que eu aprendi que eu não tinha culpa. Eu não poderia forçar ele
a uma ajuda que ele não queria. Não poderia acreditar que seu amor por
mim era maior sendo que tudo o que ele fazia era me machucar. Dentro de
casa havia um monstro sem coração, e fora um homem que pagava de bom
samaritano para qualquer um que se aproximasse.
 
Foi aí que veio o divorcio, as denuncias e finalmente a medida
protetiva. Ele sumiu e passei anos acreditando que finalmente estávamos
livres de toda a carga e traumas que ele nos deixou para carregar.
Só que às vezes entramos em uma bolha, fugimos da realidade, como se
aquilo nunca tivesse existido. E um belo dia tudo o tentávamos enterrar vem
à tona. E ter que lidar com estilhaços antigos me faz lembrar que nunca
consegui ser inteira. Pois ele tem esse costume. Sempre que colo meus
pedaços, ele vem e quebra novamente todas as partes.
 
Abro a porta de casa, as lágrimas escorrem por minhas bochechas.
Mamãe está sentada no chão perto da escada, o olho roxo, o rosto repleto de
pequenos cortes, ela está sangrando abraçada com Bethany, que está
assustada. Meu pai está em um canto da casa. Segura uma faca e assim que
me vê para no meio do caminho e começa a rir.
 
— Quem é viva sempre aparece — tomba a cabeça para o lado, passa o
dorso da mão com a faca na boca, limpando um rastro de sangue que sai do
seu lábio inferior. — Agora a porra da família tá completa.
 
— Vai embora, agora — digo firme, mas minha voz está trêmula, e ele
sorri ciente do poder que ainda causa em mim. Do medo. Meu coração
dispara. — Está quebrando a ordem de restrição. Então se não quiser que eu
ligue pra polícia, vai sair agora daqui.
 
— Ah, ainda não ligou Miazinha? — ele começa a rir debochado. —
Veio aqui sozinha sem pedir pra policia ajudar?
 
— Vai embora.
 
Dou um passo na direção da minha mãe, e ele chama minha atenção.
Vem até mim, ergue a faca e estica me ameaçando. Paro de andar, me viro
até ficar de frente pra ele.
 
— Minha vida é um inferno por sua culpa — ele rosna. — Você é uma
ingrata, de onde já se viu uma filha fazer isso com o próprio pai?
 
— Um pai que aponta uma faca e agride? — dou um passo pra frente e
sinto a ponta da faca em meu pescoço.
 
— MIA, POR FAVOR! — mamãe implora chorando. — Deixa ela em
paz, Marcos, sai daqui.
— Grande merda de pai você é — lhe digo.
 
Ele ri de lado, me encara como se eu fosse a culpada por ferrar sua
vida. Mas não me intimido. Ele me assusta sim, mas não tem mais poder
nenhum sobre mim, e isso o irrita.
 
— Você não entende. Sua mãe acabou com a minha vida, acha que é
fácil lidar com tudo sozinho?
 
— Você acabou com sua própria vida — digo. — Não culpe ninguém
por ser esse escroto filho da puta que é.
 
— ME RESPEITA, PORRA! — ele berra, aperta a faca, que fura um
pouco minha pele. E ele sorri ao ver o sangue escorrer pela minha garganta.
— Quem tá no controle aqui sou aqui.
 
— Vamos ver se vai se achar tão machão assim atrás das grades! — dou
um passo pra trás e ele se aproxima, me agarra pelo pescoço, suas mãos
apertam minha garganta, me deixa sem ar, e sinto meus olhos queimarem.
 
— SOLTA ELA! — mamãe grita e tenta se levantar mas não consegue.
 
Sinto o ar faltar e seguro sua mão em meu pescoço, tento puxar mas
não consigo. Começo a chorar, e respiro fundo, mas o ar não vem.
 
Bethany corre de seus braços, vem até nós e agarra as pernas dele. Ela
dá soquinhos fortes enquanto grita e chora.
 
— Solta a minha irmã!
 
— Se não quiser que sobre pra você, fique longe! Você nem devia ter
nascido! — ele me solta e caio no chão, respiro fundo em busca do ar,
minha garganta arde.
 
Ele segura Bethany pelo braço, a aperta e a joga em um canto, ela bate
as costas na mesa da sala e começa a se encolher e chorar assustada.
— Filho da puta! — me levanto, vou até ele e dou um soco em seu
rosto, com toda força que consigo, deposito ali toda a raiva que sinto por
ele.
 
Pelo que ele fez, destruiu nossa família. Coloco o ódio por ele bater na
minha mãe e em Bethany. Deposito toda a raiva que sinto por ele. Mas não
é o suficiente.
 
Ele se vira e me dá um soco no rosto, pega na lateral do meu olho, mas
é forte o suficiente pra me fazer cair no chão.
 
— FICA LONGE DELA! — mamãe grita, ela se arrasta pelo chão mas
vejo a quantidade de sangue que vem junto.
 
Ele se baixa no chão, segura meu pescoço e me faz ficar de pé
novamente. Difere outro soco em minha boca e seguro seus pulsos tentando
controlá-lo.
 
— Porque não aprende a me respeitar?! Desgraçada! — ele berra.
 
E então do nada ele é atingido e me solta. Ele cai colocando a mão na
boca, grita um palavrão, e choro quando Colton se coloca na minha frente.
Sua mão vai para trás e ele me toca e me puxa para suas costas.
 
— E porque não bate em alguém do seu tamanho, porra?! — Colton
berra.
 
— Que foi? — meu pai se levanta rindo. — Tá comendo minha filha é?
Se acha no direito de se meter onde não foi chamado? O namoradinho
pegando as dores dessa puta desgraçada!
 
Ele vem até Colton, que lhe acerta outro murro, choro e seguro a blusa
de Colton, aperto até meus dedos ficarem brancos. Ele pega meu pai pelo
colarinho e o levanta, anda pra frente e o solto. Ele bate as costas do meu
pai contra a parede.
 
— A polícia já está vindo, seu filho da puta! — Colton diz. — Você
mexeu com o cara errado. Vou garantir que você apodreça atrás das grades.
Porque se você tocar na minha mulher de novo eu juro que mato você!
 
Corro até minha mãe, me abaixo e a abraço. Ela está chorando, passa as
mãos nos meus cabelos.
 
— Mia? Ele te machucou muito? — ela averigua meu rosto, mas a
impeço e começo a examiná-la.
 
Ela está com o rosto todo machucado. E sua pernas está sangrando.
 
— Mãe...
 
— A faca pegou na minha coxa, não pegou nenhuma veia, só tá
doendo. Não se preocupe — ela fala tremendo, acaricia meu rosto. — Vá
pegar a Bê.
 
Beijo seu rosto, e vejo as sirenes da polícia do lado de fora. Eles entram
correndo em casa, portando armas. Corro até Bethany, que está encolhida
debaixo da mesa chorando. A abraço e impedindo de ver quando os
policiais puxam meu pai e o prendem. Eles brigam, ele tenta ofender as
autoridades, e saem com ele algemado.
 
— Tá tudo bem, meu amor. Ele já foi embora.O levaram, Bê! — lhe
digo, e ela sai debaixo da mesa e vem até mim, circula os bracinhos em meu
pescoço, as pernas em minha cintura, e me levanto com ela do chão.
 
— Não consegui te ajudar, nem a mamãe. Eu estava com medo,
desculpa — ela chora e eu choro junto.
 
— Não é culpa sua, Bê. Ele é um homem mal, um monstro tá bem? Ele
nunca mais vai aparecer na nossa vida.
 
— Promete? — ela me olha, os olhos vermelhos, o medo estampado em
seu rosto.
 
— Eu prometo — asseguro a ela.
 
Ela esconde o rosto em meu pescoço. Colton está agachado no chão ao
lado da minha mãe. Ele a pega no colo, e então se vira pra mim.
 
— Vamos para o hospital — me diz. — Preciso saber se estão bem.
 
Só concordo com ele e o sigo com Bethany no colo. Vamos até seu
carro, um policial abre a porta do carona pra ele, que acomoda minha mãe,
coloca o cinto de segurança nela, e abre a porta de trás pra eu e Bethany
entrarmos. Pantufa está lá, sua coleira presa no branco.
 
— Olha só isso Baby — Colton diz pra Bethany e a tira do meu colo,
vira o rostinho dela e mostra a Pantufa. — Ela está assustada, porque ficou
sozinha e precisando de carinho. Será que você pode cuidar dela pra mim?
 
— Ela é sua? — Bethany pergunta, seu olhinho brilha um pouco
quando Colton a coloca no bando e Pantufa começa a lamber e abanar o
rabinho. — Eu cuido dela.
 
Ela pega Pantufa no colo, e sorri quando ela lambe seu rostinho. Colton
se vira pra mim, sua mão toca meu rosto e ele examina meus machucados,
seu maxilar trava e ele faz negação. Começo a chorar e o abraço com força.
Escondo meu rosto em seu peito e Colton me aperta contra si.
 
— Ele nunca mais vai sequer olhar pra vocês — Colton diz. — Eu
quero quebrar a cara dele na porrada, Mia. Mas... Preciso saber se estão
bem.
 
Concordo com ele ainda tremendo, e ele beija o topo da minha cabeça.
 
— Calma... Eu estou aqui.
 
E de repente, o medo passa.
 
Me sinto mais segura do que jamais me senti em toda a minha vida.
 
 
 
 
 
 
 
“A única vez em que não me sinto um fantasma
É quando você olha pra mim
Porque quando você olha pra mim
Você me vê”
— Grey's Anatomy.
 

 
Quando Mia saiu apressada da minha casa depois de falar com sua mãe
ao telefone, eu imaginei que algo grave deveria estar acontecendo. Ela nem
ao menos me esperou, ou contou, simplesmente correu sem pensar. Por
puro instinto e desespero.
 
Então apenas peguei a coleira da Pantufa, desci até a garagem e peguei
o carro. Tentei ligar pra ela várias vezes, mas caí na caixa postal. A sorte é
que eu tinha o endereço da sua mãe. Nunca dirigi tão rápido em toda a
minha vida. E assim que cheguei na rua da casa, estacionei o carro e já ouvi
os gritos lá dentro. Sabia que era seu pai. Sabia que ele tinha uma medida
protetiva, então só liguei pra polícia enquanto saia do carro, passei o
endereço e disse pra virem o mais rápido.
 
Minha vontade era matar aquele filho da puta. Por machucar Mia, por
ser um péssimo homem e pai. Por machucar três mulheres incríveis. Mas
elas precisavam mais de mim do que eu ter que perder mais tempo dando
uma surra em quem não vale nada. Depois eu lidaria com ele, irei garantir
que nunca mais se aproxime delas novamente.
 
Então fiz o que precisei. As levei até o hospital. Os médicos
examinaram Bethany que havia batido a cabeça quando foi jogada na
mesinha, mas nada aconteceu. Mia também estava bem, nada grave. E a
mãe da Mia, Miriam, teve que suturar a coxa pelo corte da faca. Então logo
já tiveram alta.
 
Não deixei que elas voltassem para casa. Ia mandar alguém lá para
limpar toda a bagunça, todo o sangue, mudar os móveis de lugar. Para evitar
mais lembranças ruins. Bethany ficou aliviada por saber que não voltaria
pra lá.
 
E assim que chegamos no meu prédio, Mia abre a porta do carro e pego
Miriam em meu colo, e vamos até o elevador.
 
— Desculpa todo esse trabalho — Miriam diz cabisbaixa.
 
— Não foi trabalho nenhum — lhe garanto.
 
Mia está com Bettany e Pantufa em seu colo. Vamos até meu
apartamento, Mia fecha tudo e paro indicando pra ela o quarto de hóspedes
que sempre deixo fechado. Ela já chegou a ver a porta, mas não sabe o que
tem dentro. Ela vai ficar puta, mas isso é mais importante.
 
— A chave está na primeira gaveta do armário, à direita — lhe digo.
 
Ela franze a testa, vai e pega a chave. Abre a porta e então fica séria. A
porta se abre revelando um quarto imenso com uma cama de casal, guarda
roupa. E ela me olha de relance com milhares de perguntas em sua mente.
 
Entro e coloco sua mãe em cima da cama. Mia solta Bethany que sobe
na cama com Pantufa e deita ao lado da mãe.
 
— Tem certeza que não vamos incomodar? — Miriam pergunta.
 
— Relaxa mãe, não fica ninguém nesse quarto, nem sabia que existia
uma cama tão espaçosa assim — Mia fala, e só quando sorri de lado, relaxo.
 
— Vai ficar com a gente aqui? — ela pergunta para Mia.
 
Ela fica tensa por um momento, olha pra mim, depois pra Bettany.
 
— Não, tenho meu quarto já. Vou deixar vocês à vontade, mas estou
logo ali do lado.
 
— Ok meu amor, descansa que amanhã a gente conversa. Tudo vai
passar.
 
— Eu te amo — ela diz a mãe, e então pisca pra mim e sai do quarto.
 
— Qualquer coisa estou aqui — lhe digo e beijo o topo da cabeça de
Bethany. Miriam segura minha mão assim que começo a sair.
 
— Obrigada por cuidar e proteger minha filha, Colton — ela me diz
chorando. — Sabe... Ela nunca deixou ninguém chegar tão perto.
 
Engulo em seco e sorrio sem graça. Miriam me solta e então saio do
quarto e fecho a porta delas. Já é madrugada. Vou até meu quarto e encontro
Mia no banheiro. Ela está parada de frente ao espelho, ela se olha com tanta
dor que sei que é um momento frágil. As lágrimas descem silenciosas por
seu rosto.
 
— Precisa de alguma coisa? — pergunto hesitante.
 
Ela só balança a cabeça em negação.
 
— Tô acostumada, Colt — sua voz sai trêmula. — Vou tomar um
banho.
 
Entro dentro do banheiro e fecho a porta. Ligo a banheira e a coloco
para encher, vou até ela e me posiciono atrás dela e a abraço por trás,
escondo meu rosto em seu pescoço.
 
— Não vou te deixar sozinha. Me deixa cuidar de você.
 
Elas apenas concorda, as lágrimas ainda escorrendo por sua pele,
molhando suas bochechas. O canto do seu olho está inchado, seu lábio um
pouco roxo. Arrepio ao ver as marcas dos dedos do seu pai em sua garganta.
Já está ficando bem roxo.
— Acabou, gatinha — murmuro em seu ouvido. — Já passou.
 
Ela agarra meu braço assim que abraço seu corpo.
 
— Ainda dói — ela diz chorando, segura minha mão e a coloca em
cima do seu coração. — Principalmente aqui.
 
— Eu sei — murmuro a apertando com mais força contra mim. Desejo
que sua dor passe pra mim, que seus machucados sumam. Desejo que ela
me sinta. — Mas vai passar. Você foi forte, você lidou com uma situação
ruim, e o importante é que vocês estão bem. O resto a gente dá um jeito,
Mia. Vou arrumar um terapeuta bom pra vocês, vamos reforçar a segurança
da casa da sua mãe, e eu te garanto que não vou perder seu pai de vista nem
quando ele sair da prisão. Em Chicago ele não pisa nunca mais, ok?
 
Ela balança o rosto concordando. Beijo sua bochecha, e então a viro
para ficar de frente pra mim. Beijo sua testa, e ela me abraça, noto quando
ela inspira meu cheiro e isso parece acalmá-la. Então a aperto mais em
meus braços.
 
— Nunca vou sair de perto de você.
 
— Promete? — sua voz sai abafada contra minha blusa.
 
— Mia, olha pra mim — seguro seu queixo e a faço olhar pra mim. —
Você me tem. Nas suas mãos. Quando vai perceber que não existe a
possibilidade de te deixar ir?
 
Beijo sua testa de novo e olho em seus olhos.
 
— Você é minha — lhe digo e ela morde os lábios. — Eu morri de
medo de perder você, porra.
 
— Colton... — ela começa a chorar e seguro seu rosto com minhas
mãos, e ela segura meus pulsos.
 
— Eu te amo — sai de uma vez e ela fica tensa. Não respira, só suas
lágrimas que descem devagar. — Eu te amo. É isso. Falei.
Ela abre a boca duas vezes, mas nada sai. Seus olhos estão arregalados,
então só me aproximo e beijo sua boca devagar. Ela segura meu quadril,
seus dedos apertam minha pele. E então me afasto e a abraço novamente.
 
— Eu te amo e sei que é egoísmo falar isso agora. Não quero que diga
de volta. Não hoje. Não até sentir e saber que você é digna do amor. Mas
mesmo que não sinta, quero que saiba que eu amo você, Mia. Que eu sou
seu, estou aqui agora. Porra... Consegue sentir?
 
Ela balança a cabeça afirmando, esconde o rosto em meu pescoço.
Inspiro seu cheiro e então puxo a barra da sua blusa devagar, a tiro do seu
corpo. Ela observa atenta a cada movimento meu. Puxo sua calça pra baixo
junto com a calcinha, retiro e jogo para o lado. Toco seu ombro e a levo até
a banheira. Mia entra e se senta devagar. A água está na temperatura ideal.
Ela abraça os joelhos. E pego o shampoo. Ensaboo seus cabelos devagar,
depois enxáguo, passo condicionador, e enquanto age fico brincando com
nossas mãos entrelaçadas, Mia abraça seus joelhos, está pensativa, mas é
compreensível depois de tudo. Foi muita emoção pra uma só noite. Sei que
não devia ter me declarado logo hoje, mas senti que foi preciso.
 
Jogo água removendo o condicionador, e pego a bucha, a ajudo a
limpar seus braços, e então limpo suavemente seu rosto e seu pescoço. E
assim que termino, me levanto e pego a toalha.
 
— Quero ficar um pouco aqui — ela diz. — Está reconfortante a água
quentinha.
 
— Ok, fica quanto tempo quiser, gatinha. — coloco a toalha dobrada ao
seu lado. — Vou te deixar um pouco sozinha pra...
 
— Não! — ela se apressa, se ajoelha na banheira, e então me puxa,
desabotoa minha calça devagar. — Fica aqui comigo, por favor. Só quero
ter você perto.
 
— Claro que fico — lhe digo e ela suspira agradecida.
Tiro minha calça, minha blusa. Deixo a cueca, pois não quero que ela
pense que estou interessado em outra coisa. Não é nada sexual aqui, nesse
banho. Ela precisa só de mim agora. Entro na banheira, me acomodo atrás
dela, e então abraço sua cintura e a puxo para trás, ela deita em cima do
meu peito e por um momento parece que achei meu lugar no mundo, parece
que meu coração finalmente deu a batida certa.
 
— Pode ligar a hidromassagem pra fazer espuma? — ela pergunta
baixinho.
 
— Você pode fazer o que quiser, Mia.
 
— Até te obrigar a dormir de conchinha? Colton Reed dormindo
agarradinho? O que a mídia poderia pensar da sua reputação se soubesse?
 
Ela vira o rosto pra mim e relaxo ao vê-la sorrir ao me implicar. Beijo
sua boca e ela franze a testa.
 
— Que parte do eu te amo você não entendeu, hein?
 
Sinto ela ficar tensa, e suspiro e beijo o topo da sua cabeça. Aperto o
botão e ligo a hidro, pego o sabonete líquido e jogo quase metade do frasco,
imediatamente começa a subir a espuma e Mia começa a rir.
 
— Você colocou muito! — ela se senta nas minhas coxas e me alivia
ver ela se divertindo.
 
— A minha garota quer espuma, então terá até atravessar a fresta
debaixo da porta.
“Às vezes, as pessoas não dizem realmente
O que estão pensando.
Mas se você capta o momento certo... isso diz mais.”
— Stranger Things.
 

 
Me viro na cama e encontro o lado de Colton vazio. Assim que abro
mais os olhos totalmente sonolenta, um filme se passa na minha mente. E
engulo em seco digerindo tudo o que aconteceu. Foi real.
 
Me sento na cama devagar, e sinto meu olho inchado e o canto da
minha boca também. Meu pescoço está dolorido, e me lembro de como foi
horrível a sensação de não conseguir respirar, e ver meu pai sorrindo por
quase me matar. Ele nunca havia chegado tão longe antes.
 
Sempre foram brigas, empurrões, ameaças e gritaria. Por isso preferi
não chamar a polícia mesmo tendo ordem de restrição. Achei que só por
ameaçá-lo ele iria embora. Mas ele estava transtornado. Foi além da
agressão física e mental. É como se ele quisesse nos matar, tivesse prazer
em nos bater e ver o medo e a dor nos nossos olhos. Ainda bem que Colton
me seguiu, e foi mais sensato, ligou pra polícia, o enfrentou.
 
As lágrimas escorrem por minhas bochechas, não quero nem pensar no
que poderia ter acontecido se Colton não estivesse lá. Ouço um latido e vejo
Pantufa no chão, abana o rabinho, ainda tão pequena que não consegue
subir na cama.
 
Acaricio sua cabeça quando saio da cama e vou ao banheiro. Lá a visão
é ainda pior. Os hematomas estão mega roxos. Pego minha maquiagem,
passo um pouco de bate nos roxos e pescoço, e pó. Passo um rímel. Não
quero que minha mãe tenha uma visão pior de mim. Ela já se culpa tanto. E
assim que termino me lembro de ontem a noite. Colton cuidando de mim,
nós dois na banheira e... Ele disse que me ama. Será que ele falou sério ou
foi só pena e compaixão por me ver em um momento frágil?
 
Saio do quarto, e ouço as risadas de Bettany na sala. Meu coração fica 
mais tranquila ao vê-la bem. Ela está sentada no tapete assistindo um
desenho animado. Mamãe está sentada em um banco ao lado da bancada da
cozinha, Colton fez um verdadeiro banquete de café da manhã. O admiro
ainda mais por se preocupar e cuidar delas pra mim.
 
— Bom dia! — me aproximo dela e beijo sua bochecha. — Dormiu
bem? Tá sentindo alguma dor?
 
— Não, tudo bem — ela analisa meu rosto e toca suavemente no
machucado em meu lábio. — Já tomei os remédios, e você? Senta, come
alguma coisa.
 
Apenas balanço a cabeça concordando. Dou a volta e vou até Colton,
que segura um jarro de suco e dois copos na outra mão. Abraço sua cintura
e ele beija o topo da minha cabeça.
 
— Bom dia, gatinha! Viu o que a The Break postou nas redes sociais?
 
— Não peguei meu celular ainda — me afasto e me sento ao lado da
minha mãe, Colton serve os quatro copos de suco, e mamãe pega dois e vai
até Bettany. — Eu apaguei ontem a noite.
 
— Foi bom que dormiu a noite toda — ele diz e se debruça na bancada,
pega o copo de suco e toma um gole.
 
— Sim... Obrigada por ontem, Colt — estico minha mão e entrelaço
com a sua. — E por hoje.
 
— Não por isso — ele tira seu celular do bolso e me entrega. — Olha
só, marcaram já a turnê. A primeira data já é semana que vem.
 
— Ah, meu Deus! — arregalo os olhos e vejo que até a arte visual com
as datas e símbolos, é tudo com referências ao palco e ao cenário que criei.
— Mal posso esperar pra ver tudo pronto, de pertinho.
 
— Vai ser sucesso, Mia... Foi você quem fez.
 
Sorrio e pisco pra ele, entrego seu celular e bebo um gole do suco.
Percebo que ele ainda está me observando, ergo meu rosto e olho em seus
olhos, Colton não desvia. E aí cai a ficha de tudo o que rolou ontem, de
tudo o que ele expôs pra mim, seus sentimentos, seu coração. Ele
literalmente me mostrou quem é e como se importa. Seu olhar é tão intenso
que sei exatamente o que ele quer dizer, mas de certa forma tem medo.
 
— Promete não fugir? — pede baixinho. — Juro que ontem não foi um
bom momento, mas não significa que não foi de verdade, Mia.
 
— Colton... Agora não.
 
— Só quero que saiba, e que tome sua decisão — ele se aproxima
dando a volta, e beija minha testa. — Vou levar Bettany na escola, e aí ir
pra gravadora. O motorista levará sua mãe pra casa e cuidará da segurança,
ok?
 
— Obrigada — murmuro.
 
— Ei, Bê? Tá pronta? — ela sorri e corre até ele, que a pega no colo.
Minha mãe se levanta e entrega a Colton a mochila rosa da Barbie, e ele a
joga em seus ombros. — Vamos matar todo mundo de inveja naquela
escola.
 
— Todo mundo vai pirar quando eu contar que minha irmã namora um
cantor famoso — Bettany fala e me engasgo com o suco.
 
— Não namoro não, Bê! — a corrijo.
 
— Não namora porque não quer — ela empina o nariz como uma boa
mimada e Colton começa a rir.
 
Ele a leva embora e assim que a porta fecha, minha mãe se aproxima e
se senta ao meu lado sorrindo. E já sei tudo o que ela irá falar.
 
— Ele foi um príncipe ontem — ela diz.
 
— Sim.
 
— Você está bem?
 
— Estou, e você?
 
— Graças a Deus, vamos ficar bem. Somos fortes! Mas... prometa que
jamais vai enfrentar qualquer homem armado, Mia. Por favor. Independente
de conhecê-lo ou não.
 
— Eu prometo — sinto o bolo de formar em minha garganta e ela me
abraça com força.
 
— Eu te amo, não suportaria a ideia de algo te acontecer.
 
— Já passou mãe, estamos seguras e bem — beijo sua bochecha e ela
limpa as lágrimas em suas bochechas. — Colton disse que cuidará pra que
ele nunca mais se aproxime.
 
— Colton é um anjo. E você deveria notar e se abrir para esse
sentimento logo. Antes que o perca e se arrependa.
 
— Mãe...
 
— Se o ama fale logo, não desperdice mais tempo. Ele não vai esperar
pra sempre. Então, não deixe ser tarde demais.
 
“É difícil esperar por algo que você sabe que
Pode não acontecer nunca.
Mas é ainda mais difícil desistir
Quando isso é o que você mais quer”
— Supernatural.
 

 
— Meu Deus, vou ir pra sua agora ficar com ela — Zaya diz assim que
conto pra ela e Collin sobre o que aconteceu ontem com Mia. — Ela está
sem celular?
 
— Não o pegou desde ontem, mas vai lá, sei que ela precisa conversar
com uma amiga — lhe digo e ela só concorda e sai depressa.
 
Vou até a cafeteira no estúdio, e Collin abaixa um pouco a playlist nova
da The Break que está tocando. Pego um café puro pra mim, e vou até uma
das poltronas e me sento lá. Parece que fui atropelado por um caminhão
depois de todo o estresse e tensão de ontem. Mal dormi. Mia me abraçou e
acabou dormindo nos meus braços. Isso pareceu relaxá-la. E não quis me
mover para que ela não acordasse.
 
Bebo o café e Collin se aproxima e se senta no puf ao meu lado.
 
— Você tá bem? Se machucou?
 
— Não cara, tudo certo comigo. Mas eu bem que queria estar com os
dedos machucados de tanto socar a porra da cara daquele filho da puta.
 
Collin suspira e concorda comigo. Sei que ele tem essa mesma
sensação. Faríamos isso por qualquer mulher em perigo.
 
Mas porra, não é qualquer mulher, é a Mia.
 
Vê-la sangrando, com o olho roxo e marcas de sufocamento em seu
pescoço foi como um soco no meu estômago. Nunca senti tanto medo de
perder alguém assim antes. E acho que isso só intensificou mais do que eu
já sabia que estava rolando em mim.
 
— E como tem sido o convívio de vocês?
 
Brigas, sexo, provocações... Uma sensação de lar e paz indescritível e
que me tira de mim.
 
— Melhor do que eu pensei que seria. — lhe digo.
 
Não temos conversado muito desde que brigamos quando a defendi da
sua traição. Criou uma barreira na nossa amizade, mas sei que no fundo
Collin entende e agora faria diferente.
 
— Sabe... Soube que ela é a tal da mulher gato que você ficou de quatro
anos atrás — ele revela.
 
E só penso em uma coisa.
 
— Aaron filho da puta! — reviro os olhos.
 
Collin começa a rir confirmando minha suspeita. Primeiro ele conta pra
Mia sobre as algemas, agora vai falar pra Collin isso.
 
— Cara, porque não me contou que ela era a garota que você ficou
procurando por dias como um Stalker? — ele me olha chocado.
 
— Bem, porque eu a encontrei na sua casa, e ela me pediu segredo
porque estava a fim do babaca que você é.
 
— Vai se foder! — Collin empurra minha perna e então se acomoda
melhor no assento. Abraçando uma almofada. — Se tivesse me contato
jamais sequer olharia pra ela, você sabe disso. Amizade primeiro que
mulher, porra!
 
— Na época pareceu o certo, então deixei pra lá — comento, e dou de
ombros.
 
— E você ainda sente algo por ela?
 
Sua pergunta me deixa tenso. Porque ontem eu resolvi abrir todo o meu
coração e entregar a Mia de bandeja. E o modo como ela fugiu disso, e
evitou falar sobre, me deixa um pouco inseguro.
 
Fico calado e Collin sorri e balança a cabeça já deduzindo isso como
um sim. O que não deixa de ser.
 
— E já falou isso pra ela? — me questiona.
 
— Hurum — murmuro e ele franze a testa quando não continuo.
 
— E ela não disse de volta?
 
— Na verdade eu falei ontem — admito. — No meio de todo o caos,
ela machucada, chorando... Não foi um bom momento.
 
— Colton, é compreensível ela ter ficado calada — ele diz.
 
— Eu sei, mas no fundo é meio uma merda, sabe? Ainda mais que ela
sempre gostou de você e falava isso na cara de qualquer pessoa. Ás vezes,
parece que sou a porra de uma segunda opção.
 
— Você não é nada disso, tá louco? — ele bate em meu joelho e
arregala os olhos. — Mia e eu não demos certo porque não era amor. E ela
já passou por muita coisa ultimamente, talvez ela só queira esperar pra
então estar cem por cento contigo.
 
— Pode ser — dou de ombros e pego meu celular.
 
Tem uma mensagem de Kiran falando que hoje alguns empresários e
nós da The Break fomos convidados para uma confraternização para
comemorar o lançamento da turnê, então só confirmo minha presença.
 
— Sabe — collin começa chamando minha atenção. — Não sei se Mia
te contou, mas eu vi a Kimberly aqui na gravadora esses dias.
 
Fico estático. Não sabia disso. E imagino o quão foda deve ter sido pra
ele vê-la depois de tudo e de todos esses anos. Eu bem sei como ele se
fechou durante todos esses anos sem ela.
 
— Ela estava com o John? Ele sempre vem fazer reuniões, né?
 
— Não. O pai dela não estava. Mas ela estava com o marido e a filha.
 
Ele olha pra baixo e sei o quanto deve estar abalado por causa disso.
 
— Porra, Lin. Sinto muito, cara — coloco a mão em seu ombro e ele só
assente, dando de ombros.
 
— Só quero esquecer, tentar dar um rumo na minha vida. Porque
parece que ser vocalista da The Break é tudo o que sou, tudo o que tenho.
Eu quero mais do que isso, eu preciso ter um porto seguro, alguém... Eu
preciso esquecer tudo e focar só no futuro.
 
— Vai conseguir — lhe garanto.
 
— Até lá a gente faz o quê?
 
Ergo o celular pra ele com a mensagem de Kiran.
 
— Até lá afogamos a mágoa juntos.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“O destino não pode ser mudado.
Existem vários caminhos,
Mas todos eles levam ao mesmo lugar”
— Supernatural.
 

 
Assim que a campainha toca, já me levanto e a abro depressa. Collin
está parado sorrindo, enquanto apoia Colton pelo braço. Ele havia me
mandado mensagem dizendo que Colton encheu a cara na confraternização
da gravadora, e que iria trazê-lo para casa.
 
— Acho que quero vomitar — ele murmura e deita o rosto no ombro de
Collin.
 
— Bem feito, tomara que vomite até as tripas pra aprender a não beber
tanto assim — digo e passo meus braços por sua cintura.
 
Assim que a campainha toca, já me levanto e a abro depressa. Collin
está parado sorrindo, enquanto apoia Colton pelo braço. Ele havia me
mandado mensagem dizendo que Colton encheu a cara na confraternização
da gravadora, e que iria trazê-lo para casa.
 
— Acho que quero vomitar — ele murmura e deita o rosto no ombro de
Collin.
 
— Bem feito, tomara que vomite até as tripas pra aprender a não beber
tanto assim — digo e passo meus braços por sua cintura.
 
Collin chuta a porta fechando e vamos até o banheiro. Colton entra e
encosta a porta.
 
— Eu fico sozinho, vocês saem — ele xinga e ficamos do lado de fora.
 
— Dá um desconto pra ele, Mia — Collin diz. — Só estávamos nos
divertindo.
 
— Tudo bem, é bom pra ele se divertir. — cruzo os braços, e então noto
que Collin está observando meus machucados, ele olha para meu olho
inchado e meu pescoço com as marcas.
 
— Fiquei sabendo o que aconteceu. Sinto muito por isso. Tá bem
mesmo?
— Nada como um dia após o outro — dou de ombros. — O importante
é que ele está preso agora, fico mais aliviada.
 
— Se precisar de algo, pode contar comigo. Você sabe, né?
 
— Eu tô ouvindo, Collin! Ela não precisa de nada, se precisar eu tô
aqui, porra — Colton grita do banheiro, e Collin começa a rir.
 
— Quer ajuda com ele ou dá conta sozinha?
 
— Pode deixar comigo — lhe digo. — Só fecha a porta quando sair,
por favor, ela tranca automaticamente.
 
— Beleza — ele pisca pra mim e vai até o banheiro. — Cara, já vou,
qualquer coisa me liga.
 
— Tá, valeu — Colton murmura.
 
Collin se vai e então entro no banheiro. Colton está sentado no chão,
suspira quando olha pra mim.
 
— Não consegui vomitar — ele diz. — Nunca mais bebo na vida.
 
— Tudo bem beber, Colt — me aproximo, seguro a barra da sua blusa e
a puxo pra cima. — Só não ultrapasse o limite.
 
— Opa, tá tirando minha roupa porque? Vai rolar sacanagem?
 
Solto uma gargalhada e ele sorri de lado.
 
— Só quero desesperadamente ver seu corpinho nú debaixo do
chuveiro. — lhe digo.
 
— Delícia, todo ensaboado — ele ergue o quadril e puxo sua calça. Me
ajoelho no chão e termino de tirar.
Ele sorri, segura meu cabelo e então morde o lábio inferior e leva meu
rosto em direção ao seu pau. Começo a rir e dou um tapa em sua coxa, e ele
me solta.
 
— Um homem pode sonhar — murmura.
 
Vou até o chuveiro e ligo, espero a temperatura ficar ideal, e ele se
levanta e vai. Entra debaixo da água quentinha e suspira. Puta merda, ele é
um literalmente um pedaço de mal caminho. Seu corpo torneado, o pau
semi-ereto, é a visão do paraíso e pecado juntas.
 
— Se você não estivesse bêbado talvez eu usaria seu corpinho, mas
nem se lembraria amanhã.
 
Ele sorri e olha pra mim.
 
— Que loucura, Mia... juro que acabei de ficar sóbrio.
 
— Espertinho — sorrio. Pego a bucha e o sabonete e entrego a ele.
 
Ele ensaboa o corpo, a espuma desliza por sua pele, e me dá vontade de
lamber e beijar seu corpo inteiro. Colton faz negação e estala os dedos.
 
— Para de me secar com os olhos, não tô raciocinando, mas a cabeça
de baixo sim — ele se apoia na parede atrás de si, e deixa a água cair em
seu corpo.
 
— Estou pensando se seria crime, se eu entrasse nesse box — entro lá
dentro, me aproximo de Colton, seguro sua cintura, a água molha meu
corpo, minha roupa. — E beijasse você.
 
Ele sorri, a mão entrelaça na minha nuca e ele me puxa pra mais perto.
 
— Se for me dar falsas esperanças, seria sim — ele diz de olhos
fechados, sua testa encosta na minha.
 
Meu coração aperta. Ele está totalmente entregue, é tão sincero que sei
que ele não está me zoando ou implicando. E me odeio por ser tão insegura
assim, ter tanto medo, já que isso é o mais perto de algo real na minha vida.
 
Então sorrio, ergo meu rosto e beijo sua boca devagar. Colton franze a
testa, ambos nos olhando. Espero que ele sinta que não estou usando ele,
que não são falsas esperanças. Eu quero isso, eu escolho isso. Mas sei que
ele não quer que eu concorde apenas com o momento, ele quer que eu
escolha ele.
 
Sua língua invade minha boca, e seu braço circula minha cintura e ele
me puxa para mais perto. Seu beijo é suave, gentil. Não é nada sexual mas é
como uma súplica. Como se ele quisesse guardar a sensação, o gosto. Ele
mordisca meu lábio. O tempo inteiro nos olhamos.
 
— Você me deixa louco, gatinha — ele murmura, se afasta um pouco e
encosta novamente na parede. — Fiquei meio tonto.
 
Ah meu Deus, ele bêbado e eu aproveitando desse momento frágil. Me
afasto dele, pego duas toalhas, tiro minha roupa molhada e me enrolo em
uma delas, e então estico a outra para ele. Colton desliga o chuveiro, pega a
toalha, se seca devagar, e então enrola na cintura.
 
Saímos do banheiro e ele se joga na cama.
 
— Vou dormir peladinho, Mia — ele fala. — Se não quiser me ter te
roçando então tem outra cama.
 
— Ah, que bom que tocou nesse assunto! — me deito ao seu lado e me
viro pra ficarmos frente a frente. — Porque mentiu que tinha só uma cama?
Escondeu um quarto de mim.
 
— Porque eu queria você aqui.
 
— Queria me seduzir — brinco.
 
— Qual o problema? Você aceitou bem rápido também. Naquela hora
eu soube que queria tanto quanto eu.
 
Minha bochecha esquenta com vergonha. Porque sim, é ótimo ter ele ao
meu lado. Foi ótimo sentir ele tão perto.  E isso só me lembra que tudo isso,
por mais que seja divertido e louco, é algo que precisa acabar.
 
— A Oli conseguiu fechar aquele apartamento pra mim — conto.
 
Colton abre os olhos na mesma hora, fica pensativo e então me encara.
 
— Vai se mudar daqui?
 
— Me mudar? Colt, nunca morei aqui... Era como um abrigo
temporário até eu conseguir meu próprio cantinho.
 
— Eu sei é que... — ele para de falar, suspira e fica de bruços, abraça o
travesseiro, seus bíceps ficam mais evidentes. — Sei lá, acabei me
acostumando com isso.
 
— Eu também — sou sincera.
 
Nunca tive a sensação de pertencer a um lar tão rápido. E no fundo me
pergunto se isso é por causa da nossa cumplicidade e eu ser bem recebida,
ou se é por causa dele.
 
— Então... vai embora? — ele hesita.
 
— É... A Oli vai me fazer assinar os papéis amanhã, aí é só limpar o
apartamento, e levar minhas coisas.
 
— Entendi — ele murmura e fica em silêncio.
 
Meu coração se aperta, ele está mais sério que o normal. Me aproximo
e beijo sua bochecha, desço da cama, vou até o outro quarto, e visto meu
pijama. E então volto, a toalha dele está no chão, e ele se cobriu com o
edredom. Apago as luzes, vou até ele e me deito ao seu lado.
Me cubro e ele segura minha mão e entrelaça nossos dedos.
 
— Então hoje é a última vez que vai dormir comigo? — sua voz quebra
o silêncio.
 
— Sim, amanhã já vou ir — digo baixinho.
 
— A Pantufa vai sentir sua falta — ele murmura e sorrio.
 
— Não vou deixar de ver ela, Colt. Só vou me mudar de apartamento,
não de cidade.
 
Ele fica em silêncio.
 
Não tinha parado para pensar nisso. Hoje é a última noite que ficamos
juntos. Tudo isso que rolou nesse tempo me mudou tanto, mudou tudo. E dá
medo sair de algo tão intenso como o que construímos aqui. Mas é preciso.
Eu quero meu cantinho, conquistar minhas coisas, meus sonhos, metas e
projetos.
 
Me viro na cama quando acho que ele já dormiu. E então ele se
aproxima, seu braço passa por minha cintura e ele me puxa para trás, seu
rosto fica escondido entre meus cabelos, a conchinha mais acolhedora da
vida.
 
Seguro sua mão, a levo até meu rosto e beijo sua palma.
 
— Eu também, Mia — ele diz.
 
— Também o quê?
 
— Vou sentir sua falta.
 
 
“É porque te amo que... não posso ser egoísta com você”
— The Vampire Diaries.
 

 
Olivia estoura o champanhe, a espuma sai espirrando pra cima, e
gritamos rindo. Seguro duas taças, e ela vira a garrafa despejando a bebida.
Acabei de assinar o contrato do meu apartamento. Não consigo para de
sorrir. Tudo está fluindo, dando certo, realizando como sempre sonhei.
 
— Que você seja muito feliz aqui! — ela bate sua taça contra a minha  .
 
— Vou ser, Oli! Está perfeito! — olho ao redor, admirando cada
detalhe, e saber que é tudo meu me deixa orgulhosa e agradecida.
 
Não é o maior apartamento e o mais luxuoso do mundo, é o que meu
dinheiro conseguiu comprar, mas é meu. Cada pedacinho dele me pertence.
 
— Será que tem taça nessa casa pra mais um? — Colton aparece na
porta e arregalo os olhos surpresa.
 
— O que está fazendo aqui? Tem que se preparar pro show de sábado!
É a estreia! — Vou até ele e dou um tapinha em seu ombro. — Alguém
pode ter visto você!
 
— Vim disfarçado — ele pisca pra mim. — E já sei de cor as coisas da
banda!
 
— Não no meu novo palco! — digo convencida. — Ele requer ensaios.
 
— Você elevou o patamar de show, Mia! — Olívia diz rindo, pega uma
taça na caixinha, que ela mesma comprou como presente, vai até a pia e a
lava. Serve a bebida para Colton e o entrega. — Trouxe as malas dela?
Porque hoje vamos ficar o dia todo arrumando a casa, os móveis vão
chegar, então vai ser correr contra o tempo.
 
— Eu trouxe — ele pega as duas malas enormes, e coloca para dentro.
— Aqui parece maior do que nas fotos. — ele puxa outra mala e não a
reconheço.
 
Ele fecha a porta e então empurra uma mala preta em minha direção.
 
— O que é isso?
 
— Presente de casa nova — ele sorri. — Na verdade é mais presente
para um cômodo específico.
 
— Ui, tipo presentes para um quarto de sexo? — Olivia pergunta e
Colton ergue o dedo do meio pra ela.
 
Reviro os olhos um pouco envergonhada e abro a mala. E meu coração
para quando vejo que Colton comprou várias coisas para o meu estúdio. Lá
dentro tem inúmeras tintas. Pincéis, lápis de cor e grafites próprios para
desenhos técnicos. Tem alguns blocos de papel, e telas dobradas.
 
— Colt... — pego duas caixas de lápis de cor  e me assusto ao ver uma
terceira caixa. — Tá louco? Isso tudo deve ter ficado caro!
 
— Contratei um arquiteto. Ele vem hoje a tarde. Fazer as medições do
espaço onde quer que seja o estúdio. É pra falar com ele como quer, quantas
prateleiras, vidros, iluminação... O que quiser, ele irá desenhar o projeto e
mandar fazer. — ele diz e abro a boca em choque.
 
— Porque está fazendo isso? Isso tudo é felicidade por me chutar da
sua casa? — faço piada, mas Colton não ri.
 
— Não te chutei de lá, Mia. Mas sei que aqui é seu sonho... Quero fazer
parte dele.
 
— Ok, minha deixa! — Olívia diz e abraça a garrafa de champanhe. —
Beijos pombinhos. Levarei o contrato, Mia! Volto depois do almoço pra
ajudar na faxina.
 
Ela já sai apressada e fecha a porta. Há um silêncio no apartamento,
Colton fica parado, as mãos nos bolsos da bermuda, olhando atento pra
mim e para a mala de presentes que trouxe.
 
— Não precisa de um arquiteto, não quero nada chique — murmuro e
me levanto do chão.
 
— Ele vai fazer o que quiser. Pode pedir só móveis, ou o que precisar.
 
— Obrigada — me aproximo dele e abraço sua cintura. E seus braços
passam por minhas costas e ele olha pra baixo e beija minha testa. — Mas
tenho uma ideia do que quero fazer.
 
Seguro sua mão e o levo pelo corredor até o cômodo e abro o guarda
roupa. Lá dentro é tudo pintado de branco, as paredes sem vida. Coloquei
algumas tintas coloridas no chão. Pego um pincel e o entrego, e pego o
outro pra mim.
 
— A ideia nessa parece é fazer círculos não perfeitos, como manchas,
espalhados e coloridos. E depois vou fazer alguns galhos preto por cima,
vai ficar legal. Mas queria fazer isso ao invés de pagar alguém.
 
— Vai dar trabalho — Colton diz e franze a testa. — Se quiser o
arquite...
 
Ele para de falar quando pego uma quantidade boa de tinta rosa no
pincel e me aproximo, passo em seu nariz deixando um rastro.
 
— Vai dar trabalho e também momentos para recordar — o corrijo. —
Você tá linda de rosa, uma princesa.
 
Colton revira os olhos, sorri e se abaixa. Molha seu pincel e vem até
mim, começo a rir e ergo os braços pra cima, não vou correr.
 
— Não tenho medo de brincar com fogo.
 
— Quem brinca com o fogo, pode se queimar — ele fala, me empurra
devagar até a parede, limpa a tinta do seu nariz, espalha em sua mão e a
coloca pressionada na parede, deixando-a com a marca rosa do formato de
sua mão. E então levanta minha blusa pra cima, passa o pincel com a tinta
por minha barriga, até o cós do meu short, e a forma como ele me olha me
deixa louca. — Agora além de círculos sua parece vai ter minha mão. — ele
joga o pincel no chão, e me vira de costas, pressionando suavemente meu
rosto contra a parede e seu corpo. — Pra você se lembrar de quando eu te
comi contra ela.
 
Ele se abaixa e beija meu pescoço. Meu coração dispara e já sinto todo
o tesão percorrer meu corpo. Ele retira minha blusa e eu deixo ele tirar sem
resistência. Ele tira a dele, e então puxa meu short pra baixo e depois a
calcinha. E então sobe beijando minha coxa, minha bunda, minhas costas,
até chegar na nuca, onde ele mordisca minha pele, me arrepia inteira.
 
— E você já está sóbrio o suficiente pra não constar como abuso —
digo e ele franze a testa. Me viro devagar, e então beijo seu pescoço, seu
peito, mordisco a pele do seu abdômen, e desço devagar contra a parede, até
ficar ajoelhada na sua frente.
 
— Mia... — o olhar que ele me lança, totalmente excitado, me deixa
ainda mais sedenta e amando estar no controle da situação.
 
Seguro sua bermuda e a desço, depois faço o mesmo com a cueca, seu
pau pula pra fora, totalmente ereto. E quando eu o seguro em minhas mãos
ele pulsa. Lanço um olhar safado pra ele antes de lamber devagar sua
extensão, e depois passo a língua na cabeça do seu pau. Colton geme baixo,
sua mão entrelaça em meu cabelo e ele apoia o braço e a testa contra a
parede e fecha os olhos.
 
Estico minha mão para o lado e pego uma régua. É algo que sempre
quis fazer. E assim que posiciono, e Colton sente o gelado do metal, ele
abre os olhos e olha pra baixo. Começa a rir e me empurra suavemente.
 
— Porra, Mia. Sério?
 
— 24 centímetros?! — me assusto e jogo a régua de lado, sorrio.
 
— Vai se foder! — ele coloca as mãos sobre o pênis, e eu começo a rir.
— Porra, acabou com todo o clima!
 
— Por te medir e te chamar um puta gostoso?
 
Ele bufa e olha para outro lado. Vou engatinhando até ele, e então
coloco minhas mãos por cima da sua. Ele olha pra baixo, tentando parecer
bravo, mas me deixa retirar suas mãos. E então eu lambo novamente sua
extensão, e ele trinca o maxilar. Fico de pé e então me inclino pra frente, o
empurro até a parede, e o abocanho devagar. 
Em um vai e vem, movo minha língua e o toco também com minha
mão. Colton geme, e fico excitada ao ver sua reação. Olho pra cima e
acelero os movimentos, ele abre a boca em busca de ar, joga a cabeça pra
trás.
 
— Caralho, Mia... — ele aperta meus cabelos e geme alto de novo.
 
Paro de chupá-lo, e me levanto, meu corpo anseia pelo dele. Colton
reivindica minha boca, e geme, me puxa para mais perto, mordisca meu
lábio e unho levemente suas costas.
 
— Você me quer dentro de você, é? — murmura em meu ouvido e
confirmo balançando a cabeça freneticamente.
 
— Mia? — ele me chama novamente, e quando olho em seus olhos,
posso ver que está inquieto com algo.
 
— Oi?
 
— Quanto tempo mais vai evitar falar sobre o que eu disse que sentia
aquela noite? — me vira novamente, sinto a parede nas minhas costas e sua
pergunta me deixa tensa, Colton segura atrás do meu joelho esquerdo e
ergue minha perna até seu quadril, passa seu pau sobre minha entrada e
então me penetra devagar. Gemo em seu peito e o puxo para mim. — Eu
preciso de uma resposta.
 
— Eu preciso de um tempo — sussurro assim que ele estoca duas
vezes, segura minha outra perna e então me coloca em seu colo. Minhas
costas se apoiam na parede e aperto meus pés contra sua bunda. — Mas eu
amo estar com você.
 
— Estar comigo e ser minha é diferente... Eu preciso de você. — Ele
mete em mim devagar, e gemo alto. É surreal nossa conexão, o quanto o
toque dele já causa uma combustão em mim. É desesperador, como foi da
primeira vez que estivemos juntos.
 
Rebolo contra ele e ouço seus gemidos involuntários. Ele acelera os
movimentos, seu rosto em meu pescoço me arrepia. Fecho os olhos
aproveitando a sensação, o sentindo tão perto, tão meu. Seu corpo me
amassa contra a parede. Estou muito excitada e a força das estocadas me faz
gemer alto e me agarrar ainda mais a ele.
 
Ele desce devagar até o chão, me deixando ainda em seu colo, e retira
seu pau dentro de mim, goza em minha barriga. Estou totalmente sem
forças. Ambos respiramos ofegantes.
 
— Você vai me arruinar, Mia — ele murmura sem me olhar.
 
— Você já me arruinou — sussurro em seu ouvido e beijo seu pescoço.
 
— Essa foi a última vez — ele diz e paro de beijá-lo.
 
Me afasto um pouco, Colton está sério, segura meu rosto em suas mãos
e me dá um selinho.
 
— O que quer dizer com a última vez?
 
— Tenha seu tempo, decida. Não precisa mais ter medo. Só que eu não
vou ficar te esperando mais — seu polegar acaricia minha bochecha. —
Com Collin você tinha certeza, era nítido que o queria, e comigo só foge.
 
— Colton, mas o que eu sentia pelo Collin não era nada — lhe garanto.
— Agora eu sei que...
 
— Somos adultos, Mia. Já sabemos o que queremos. Não vou ficar
sempre esperando, e te vendo se esquivar. Não vou ficar sempre me
contentando só com sexo... Esperar é compreensível só que é torturante.
Porra, é cruel.
 
Meu coração está tão acelerado que respiro fundo tentando me acalmar.
Colton acha que estou lhe dando falsas esperanças? Ele acha que o que
sentia pelo Collin era amor e mais forte? O que ele...
 
Ele se levanta, me tirando devagar do seu colo, pega sua blusa e então
se limpa, vem até mim e passa em minha barriga, me limpando. Em seguida
ele veste sua cueca e a bermuda, e ainda estou na mesma posição.
 
— Vou ir para a gravadora, preciso passar em casa antes e tomar um
banho. Mas se precisar de ajuda aqui é só me mandar mensagem, tá bem?
— ele se abaixa e beija o topo da minha cabeça.
 
— Você sabe que é importante pra mim, né? — seguro seu pulso e o
impeço de sair.
 
— Defina como, Mia. — ele pede.
 
Não digo nada. Porque não sei por onde começar.
 
E então ele só assente e sai fechando a porta atrás de si. Leva meu
coração junto.
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Da boca pra fora não é razão
É o coração na garganta
Querendo mostrar que a emoção existe.”
— Sexy Life.
 
 
Nunca vi o show da The Break tão lotado quanto hoje. Jack
investiu tanto na divulgação desse novo lançamento, a nova fase da banda.
E hoje é a estreia em Chicago. Decidi usar uma calça preta, e um cropped
com tule maravilhoso. E hoje estou literalmente fazendo parte de tudo, uso
um fone para comunicação com o resto da equipe sobre o palco, já que eu
que irei controlar tudo, luzes, e cada nova atração. Me deram um ponto
onde consigo falar com todos.
 
Meu crachá consegui pegar um dia antes e o personalizei também.
 
— Podem deixar os cabos preparados — digo em meu ponto.
 
Zaya, Olivia e Aaron estão vindo em minha direção. Zaya corre para
me abraçar.
 
— Ah, que orgulho de você!
 
— Valeu vagabunda — digo em seu ouvido e bato em sua bunda.
 
— Esses cabos que vão segurar é seguro né?  — Aaron me olha
apreensivo.
 
— É super seguro, não se preocupe — noto que Olivia está sozinha
atrás dele. — Cadê o Ryan?
 
— Hoje quis curtir o show sozinha, minha mãe ficou cuidando dele —
ela diz sorrindo. — Noite das meninas, por mais que meu coração esteja
faltando um pedaço.
 
— Sua mãe te manda foto dele de cinco em cinco minutos — Aaron
diz.
 
— Graças a Deus por isso! E você fará o mesmo no próximo show, tá
ouvindo? — ela diz tentando parecer brava. Aaron a abraça por trás. —
Aaron e o Collin vão um dia antes da turnê. Então Aaron levará o Ryan para
que eles passem mais tempo juntos.
 
—  Isso aí, viagem dos meninos! — Aaron começa a rir e Oli revira os
olhos. — Já vou ir, daqui a pouco começa. — ele a beija e segue em direção
ao camarim.
 
— Fiquem de frente o palco, não vou poder dar muita atenção, porque
estou trabalhando — me gabo e elas sorriem.
 
— Vou já ficar lá e pegar bebida pra nós — Zaya diz e sai.
 
— E já viu o Colton? Pensou no que ele disse ontem? — Olívia
pergunta.
 
Sim, mal dormi a noite só pensando em tudo o que rolou. Colton me
deu um ultimato, e sei que isso é para o nosso próprio bem, não dá para
fugir ou evitar sempre tocar no assunto.
 
— Pensei, não se preocupe, tudo vai ficar bem — lhe digo.
 
Ela pisca pra mim, beija minha bochecha e sai atrás de Zaya. Vou até o
camarim, para preparar os meninos para a entrada. Collin e Kiran já saem
com outras pessoas da equipe para se posicionarem. Aaron está vestindo
uma jaqueta preta, e Colton está de pé ao lado do sofá. Usa uma calça jeans,
uma blusa preta e jaqueta de couro. Uma assistente se aproxima dele e
coloca o ponto em seu ouvido.
 
Fico ao seu lado esperando ele terminar,  e então se vira em minha
direção e sorri de lado.
 
— E aí gatinha, terminou tudo no apartamento?
 
Vou até ele, abraço sua cintura, ele me corresponde. Ergo meu rosto pra
ele, coloco as mãos em suas bochechas e dou um selinho rápido. Sua testa
se franze estranhando minha aproximação repentina, mas é isso. Cansei de
ficar sempre inventando desculpas e fugindo.
 
— O que foi isso?
 
— Beijo de boa sorte! — me afasto devagar e seguro sua mão.
 
— Mia, Mia... O jeito que você me ilude é diferente — ele beija o topo
da minha cabeça. — Preciso ir, a gente se fala depois do show.
 
— Claro, arrasa!
 
Ele pisca pra mim, sai com Aaron, e então vou em direção à lateral do
palco.
 
Não demora muito para o show da The Break começar. Como seria
uma turnê comemorando o aniversário da banda, usei alguns símbolos de
todos os palcos que a banda já teve. A cor azul iria prevalecer.
 
O primeiro a aparecer é Aaron, coloquei sua bateria bem no alto na
frente do telão, para que ele fosse o ponto central na abertura, e ele dá um
verdadeiro show de solo na bateria. Há muitos efeitos 3D visuais, de
borboletas, que parecem sair do telão.
 
E então começa a descer a estrutura que planejamos. Era uma estrutura
quadrada, erguida por cabos. E lá em cima tinha Colton, Kiran e Collin,
descendo em meio a fumaça. Parecia que estavam voando nas nuvens. O
público vai à loucura. E mesmo confiando no projeto, mesmo todos os
testes terem sido feitos, e os meninos ensaiando a entrada. Só relaxo quando
a estrutura já está no chão.
 
E aí é com eles. O show conta com várias músicas novas, e os fãs já
sabem tudo de cor.  Consigo ficar controlando tudo do palco até mais da
metade, e depois outra pessoa da equipe pega meu lugar para terminar.
 
E o show dessa vez contou com tudo, teve estreia de clipe, o palco tinha
uma passarela enorme, então dava para os meninos terem mais espaço e
consequentemente, ficarem mais perto dos fãs. Teve a hora de chamarem
alguma fã, e fazer a tão famosa serenata. Foi um misto de acontecimentos.
O show na verdade parecia mais um espetáculo.
 
E assim que foi finalizando, me surpreendo quando Collin me chama
até o palco. Eu sabia que iria, mas não imaginava que ele me chamaria.
Então apenas respiro fundo, a assistente me entrega um microfone, e parece
que tudo fica em silêncio à medida que me ando até o centro, há inúmeros
flashes de celulares, tem tanta gente que prefiro focar em outra coisa.
 
Collin limpa o suor com uma toalhinha, e retira o microfone do suporte.
 
— Pessoal, sei que geralmente não fazemos isso... Mas eu queria muito
que conhecessem a Mia King. A Mia é a responsável por todo o projeto
desse palco, que abraçou nossa ideia é proporcionar a todos vocês esse
show incrível, então palmas pra Mia — ele pede no microfone, fico
vermelha de vergonha enquanto os fãs assobiam, gritam.
 
Bato palmas pra mim mesma, porque me orgulho desse trabalho. De
mim. Me curvo para a platéia e é quando Collin pisca pra mim que sei que
está na minha hora. Então aperto o microfone em minhas mãos e limpo a
garganta.
 
— É, obrigada, Collin — murmuro e ele sorri e vai até o canto do
palco. — Eu pensei muito em cada fã dos meninos ao fazer esse projeto. Sei
que eles são os ídolos de vocês, então saibam que tratei a The Break do
jeito que ela merece. — os fãs gritam de novo, eles são extremamente
orgulhosos dos meninos. — Mas eu também queria aproveitar esse espaço e
pedir licença para vocês, porque... Acho que devem se lembrar de mim. Em
um dos shows eu fui a escolhida na parte da homenagem, fui pega bem de
surpresa. — Collin chega do meu lado e me entrega o buquê, e então sai
novamente. — Mas eu acho que os meninos fazem tantas serenatas pra
vocês, que chegou a hora deles terem alguma também.
 
Ouço o grito de Zaya e Olivia abaixo do palco.
 
— Mostra pra ele como se faz, garota! — Zaya grita.
 
— E tem esse cara... Ele uma vez me pediu pra fazer isso pra ele, e
queria que eu o surpreendesse. E bem, na primeira vez que eu o conheci ele
cantou uma música pra mim — me viro pra Colton, que está estático no
mesmo lugar, os olhos arregalados, mas posso ver amor também em seus
olhos. — E acho que ela seria perfeita pra esse momento. Não sou cantora,
então peço desculpas ao ouvido de vocês, mas o que vale é a intenção.
 
Faço um sinal pra Kiran, e ele começa a tocar My Only One. Me
lembro de quando Colton a tocou pra mim naquela festa a fantasia de anos
atrás. Ele morde os lábios tentando controlar um sorriso. E então começo a
cantar.
 
Eu me lembro de quando te conheci
Eu não queria me apaixonar
Eu senti minhas mãos tremendo
Porque você estava tão bonita
 
Eu me lembro de quanto você me beijou
Eu sabia que você seria o único
Oh, minhas mãos tremeram
Quando você tocou minha música favorita
 
Colton se aproxima de mim, e estico o buquê, que o pega e faz negação
sorrindo. Seguro sua mão e entrelaço seus dedos aos meus.
 
Eu não sei porque
Mas toda vez que eu olho nos seus olhos
Eu vejo milhares de estrelas cadentes
E sim, eu te amo
Mal posso acreditar que toda noite você está ao meu lado
 
Começo a tremer, e Kiran continua a canção, cantando baixinho.
 
— Colton Reed, você é minha melhor inspiração — digo no microfone.
— Meu porto seguro, e... Independente de ser um herói ou vilão, quero que
saiba que eu também sacrificaria o mundo por você.
 
— Mia... — ele murmura emocionado e segura meu rosto.
 
— Eu te amo!
 
Um peso sai do meu coração e começo a chorar. Ele me abraça com
força. Alguém tira o microfone da minha mão. E Colton segura minha
cintura e me ergue do chão. Seguro seu rosto e o beijo, pois não existe
ninguém aqui em cima além de nós. O sinto sorrir contra minha boca, me
afasto e escondo o rosto em seu pescoço.
 
— Eu também amo você — ele murmura em meu ouvido. — Da
próxima vez, não espero você decidir, vou te prender com as algemas até
admitir.
 
— Do mesmo jeito que fez anos atrás? — começo a rir. Colton me
coloca no chão,  retira uma rosa do buquê e me entrega.
 
— Se isso significar ter você nos meus braços, eu até perco as chaves
de propósito.
 
“Eu só estou aqui porque você
Quer estar comigo
Tanto quanto eu quero estar com você”
— The Vampire Diaries.
 
 
Pantufa sai correndo assim que saio do banheiro após o banho, ela
pula em minha perna e começo a rir. A pego no colo, e vou em direção ao
meu quarto. Colton e ela vieram passar o dia comigo, já que vão viajar hoje
a noite no jatinho com Collin e Aaron. Kiran decidiu ficar mais um dia. Só
que Colt achou que seria mais confortável ir no jatinho do que pegar voo
comercial, e aí poderia descansar no hotel antes do show.
 
Não sobrou nenhum lugar pra mim, então vou junto com Kiran e todo o
resto da equipe. Aproveito para levar a Pantufa para o hotelzinho amanhã
de manhã. Assim que entro em meu quarto, Colton está sentado na cama,
apoiado na cabeceira, e assim que olha pra mim, fecha depressa o notebook
em seu colo. Típico de homem, nem disfarça.
 
— Você está conversando com alguma mulher? — coloco Pantufa no
chão.
 
— O quê? De-e onde tirou isso? — ele gagueja.
 
— Talvez porque você fechou o notebook depressa quando me viu
chegar? — coloco as mãos na cintura, Colton começa a rir, deixa o
notebook de lado e vem até a beirada da cama. — Tava vendo pornô?
 
— MIA! — ele solta uma gargalhada, abraça minha cintura e me puxa
pra ele. — Pra que eu vou ver pornô se posso ter ao vivo a imagem do meu
pau entrando em você?
 
Ele beija meu pescoço, e meu corpo se arrepia por inteiro. Acaricio sua
nuca, e o empurro gentilmente para trás.
 
— Ah é? Então eu sou mil vezes do que essas vadias por ai? — subo
em cima dele, que morde os lábios sorrindo safado. Minhas pernas ficam
uma de cada lado da sua cintura, e já sinto sua ereção apertar debaixo da
calça.
 
Sorrio e abro um pouco minha toalha, Colton suspira e geme com a
visão, e me puxa para baixo, me inclino sobre ele, e enquanto ele beija meu
pescoço, eu faço o que era minha intenção desde o início, estico o braço e
pego o notebook. Assim que Colton percebe, ele começa a rir, e segura meu
pulso me impedindo.
 
— Não! Gatinha, não — tento puxar, mas ele me impede e tenta morder
meu braço.
 
— Colton Reed, o que diabos você tá escondendo de mim? — puxo o
notebook e ele o puxa de volta.
 
— Não faz isso, por favor — ele me pede, não para de rir.
 
— Solta agora se tiver amor a vida! — digo séria e ela revira os olhos,
solta o notebook e parece irritado agora que eu consegui o que queria.
 
— Vamos ver! — me sento melhor em cima dele, que joga os braços
atrás da cabeça, e só me observa aflito. — Ah, tá bem na aba de pesquisa do
google? Pra que você escondeu isso?
 
Ele tenta pegar o notebook de novo e tento sair, ele me abraça por trás e
me puxa.
 
— Para, Mia.
 
— Deixa eu ler! — começo a rir e tento parar de me mexer tanto. —
Dez formas criativas de pedir a sua namorada em cas...
 
Paro imediatamente, sinto um calafrio em meu corpo. Colton toma o
notebook da minha mão. Meu coração se acelera e sinto as lágrimas nos
olhos. Seguro mais firme a toalha e a prendo em meu corpo. Colton fecha o
computador e o coloca em cima da cama.
 
— Não era pra ler, tá vendo — ele murmura, totalmente apreensivo. —
Estive pensando porque a gente já se conhece a anos, você é minha pessoa
favorita, não quero te assustar se acha que está cedo, ou que...
 
— Sim — sussurro e sinto uma lágrima escorrer por minha bochecha.
 
Colton para de falar, me olha e tomba a cabeça para o lado, sorri
daquele jeito fofo que aparece suas covinhas.
 
— Você é péssima por estragar a surpresa dos outros, sabia? Eu nem fiz
o pedido ainda, e você já...
 
— Sim — digo de novo e começo a rir, e Colton me acompanha.
 
— É pra ser especial — ele se levanta e suspira, vai até sua jaqueta e eu
me sento melhor na cama.— Os meninos falaram que eu estava louco
pensando em casamento agora. Mas... — ele volta até mim e o abraço pelo
pescoço. — Nunca é sobre tempo, e  sim sobre a pessoa. E você, Mia King,
me tem nas mãos.
 
— E eu te amo, fico feliz que esteja pensando em casamento, porque
quero ver você no palco com uma roda de caminhão no dedo, pra todo
mundo saber que tem dona.
 
Ele começa a rir e beija meu pescoço.
 
— Mas você fica invadindo minha privacidade — ele diz. —
Fuxicando meus planos. Falando sim de uma vez e roubando meu
momento.
 
— Ah Colton, supera — sorrio e o empurro pelo ombro.
 
— Não pode ser assim, eu preciso ter o prazer de me ajoelhar pra você
levantando a porra de uma caixinha — ele diz e então começa a se abaixar e
travo quando ele se ajoelha e ergue uma caixinha vermelha nas mãos. — É
meu momento, gatinha.
 
— Colton Reed, se tiver um brinco nessa caixa eu te mato e escondo o
corpo! — começo a tremer e ele ri e faz negação.
 
— E se tiver mais paciência, talvez vai ver eu abrir a caixa e — ele abre
e lá dentro tem duas alianças e um solitário em ouro. — Olha só, é mesmo
um anel, Mia.
 
— Idiota! — começo a chorar, e vou até ele, me ajoelho na sua frente.
 
— Se pudesse esperar, eu iria te levar pra um lugar lindo — ele chama
minha atenção.
 
 
— Meu quarto é lindo — digo.
 
— E você estaria vestida de branco — ele diz.
 
— Já estou. A toalha não conta? — aponta pra toalha e começamos a
rir.
 
— E aí eu ia te olhar, ver o quanto eu sou sortudo por ter você — as
lágrimas escorrem por minha bochecha e Colton coloca uma mecha do meu
cabelo atrás da minha orelha. — E eu ia te olhar e dizer... Mia King...
 
— Sim — digo de uma vez.
 
— Quer lavar a louça comigo?
 
— Vai se foder! — começo a rir, tento me levantar.
 
Colton me agarra pela cintura, e caímos juntos na cama. Ele me vira e
sobe em cima de mim, se acomoda entre minhas pernas e beija minha boca
devagar. Cala qualquer pensamento que tenha. Ele encosta nossas testas, e
abre os olhos. Nos encaramos por um momento.
 
— Casa comigo, Mia. Seja minha. — diz sério, a hora da brincadeira
passou.
 
— Já sou sua — acaricio seu rosto devagar.
 
— Mas eu quero que seja minha usando uma roda de caminhão no dedo
— murmura. — Eu amo você.
 
Sorrio e beijo sua boca, suspiro e desejo tê-lo ao meu lado pra sempre.
E meio que já se realizou. Terei ele, seu abraço, seus beijos, inteiro, só meu.
 
— Colt... — toco seu lábio inferior e beijo sua testa. — Já aceitei usar
algemas, já segurei uma coleira e um buquê enquanto te fiz uma serenata...
Usar uma roda de caminhão no dedo? Fichinha pra mim.
 
— Então... É um sim?
 
— O maior sim de todos.
 
 
 
“Faça um plano, tenha um objetivo
Trabalhe para alcançá-los
Mas de vez em quando, olha ao redor e aproveite
Porque é isso... tudo pode acabar amanhã”
— Grey's Anatomy.
 

 
— NÃO ACREDITO NISSO! — Olivia grita assim que chego de
cavalinho nas costas de Colton, ergo a mão com a aliança e o solitário. —
Puta que pariu eu sou a melhor cupido da história!
 
Colton e eu começamos a rir, e ele me coloca no chão. Collin está
sentado sorrindo nos degraus da porta do jatinho da The Break. Olivia me
abraça com Ryan no colo, e Collin cumprimenta Colton.
 
— Pra quando é o casório? — Aaron pergunta.
 
— Calma, primeiro vamos curtir o noivado, o casamento demora
planejar — digo e ele sorri.
 
— Pra isso existe Vegas, Baby — ele pisca pra mim e Olivia e eu
reviramos os olhos.
 
— Você vai ser meu porta segurança das alianças, Ry — o pego no colo
e beijo sua bochecha.
 
Ele fica sem entender o que isso significa, apenas sorri. O solto e ele
vai até Aaron. O pessoal termina de abastecer o jatinho, e então o piloto se
aproxima.
— Já estamos prontos para decolar — nos diz.
 
— Bem... Então eu te encontro amanhã, futura esposa — Colton me
diz, puxa minha cintura e beija minha boca.
 
— Ixi, começou a melação! — Collin fala e entra dentro do jatinho.
 
— Me avise quando chegar — peço.
 
— Pode deixar — Colton me beija mais uma vez e entra no jatinho.
 
Olivia abraça Ryan com força e começa a falar todas as regras e
cuidados que precisa ter, para ligar pra ela toda hora que puder, não deixar
Aaron em nenhum momento.
 
— Mamãe, eu não sou criança — Ryan fala e sorrio.
 
— Ah, ok, adolescente... Só se divirta, tá bem?
 
— Eu prometo, mamãe.
 
Ela o puxa de novo o abraçando e beija sua bochecha.
 
— Eu te amo!
 
— Te amo mais! — ele diz.
 
Aaron se aproxima e entrega um tablet pra ele, que sobe as escadas do
jatinho com dificuldade e entra. Aaron beija Olívia e a abraça.
 
— Me avisa assim que pousarem, ok? Não deixa ele ficar vendo tv até
tarde...
— Amor, respira — Aaron pede e sorri. — Eu te amo!
 
— Também amo você!
 
— Quem sabe você vai pra lá amanhã e a gente foge pra Vegas e
renova os votos de casamento?
 
— Olha que eu topo, sou meio vida louca!
 
— Por isso me casei com você — ele a beija, e então acena pra mim e
entra no jatinho.
 
— É isso aí, bebê — ela vem até mim, abraça minha cintura e
começamos a sair da pista em direção ao estacionamento. — Bem vinda ao
mundo das esposas que tem que deixar o marido viajar pra cantar para fãs
assanhadas.
 
Vamos até o estacionamento e entro no carro de Olivia, já que Colton e
eu viemos com o motorista, Olivia e eu decidimos ir para a casa dos pais de
Zaya, já que ela estaria lá terminando de ajeitar as peças de jóia da próxima
campanha sobre sua nova coleção.
 
Passamos o caminho todo rindo e fofocando sobre como foi o pedido,
mais cafona, brega e romântico que eu poderia ter tido.  Finalmente me
sinto como se tivesse achado meu lugar no mundo.  É surreal a forma como
nossa vida muda de uma hora para outra. As peças se encaixam, tudo se
alinha.
 
Assim que chegamos, estranho a movimentação dos seguranças.
Geralmente além da portaria sempre checam antes de nos deixar entrar na
propriedade. Olivia e eu olhamos uma para a outra sem entender. Ela
estaciona o carro, e então saímos e ela fecha. Entramos na casa e assim que
passamos pela porta, um calafrio percorre minha espinha.
 
Pois existem momentos que nos tiram o fôlego, momentos em que
nossa vida muda pra sempre. E existem momentos que nos paralisam.
 
Como agora.
 
Meu coração dispara e parece que começo a ver tudo em câmera lenta.
Olivia segura minha mão aflita, Jack sobe as escadas chorando e gritando
ao celular. Lena está segurando um copo de água tremendo. Kiran está
ajoelhado em frente a Zaya que chora compulsivamente. E assim que
entramos na sala, meu mundo todo se congela ao olhar para a televisão.
 
Só consigo ver fragmentos.
 
Uma floresta.
 
Muita fumaça.
 
A asa do jatinho.
 
Uma mulher em um lugar escuro, segura um microfone enquanto dá
sua reportagem.
 
— E infelizmente acaba de ser confirmado que o acidente, onde houve
a queda da aeronave Cessna Citation Excel, era sim da banda The Break. O
local é de difícil acesso, as autoridades já estão a caminho, até o momento
não há informações sobre as vítimas.
 
 

 
 
 
 
Espero que tenha gostado da leitura! Que Colton e Mia aqueçam seu
coração. E se gostou, não se esqueça de deixar sua avaliação para mim. É
muito importante pra mim, ajuda muito que outras pessoas possam conhecer
a The Break.

Conto com sua avaliação. Você é luz!


 

 
 
LIVRO 1 : KIRAN RUSSELL
LIVRO 2: COLTON REED
LIVRO 3: AARON COOPER (em breve)
LIVRO 4: COLLIN CAMPBELL (em breve)
LIVRO 5: RYAN COOPER (em breve)
 
 
 
 
 
 

 
 
É difícil falar s obre Kiran Russell sem dizer que ele além de ser um astro
de sua banda The Break, é o cara que costumava ser meu melhor amigo,
e depois aquele que partiu meu coração.

A diferença da nossa história comparada a tantos outros primeiros amores, é


que estivemos um ao lado do outro durante anos, crescemos juntos. Era a
mim que ele procurava depois de um filme de terror, que ligava quando
conquistava mais um sonho. Ele dividia comigo não só os fones de ouvido,
como toda a sua vida e seu coração.

E aí chegou um dia em que isso já não era mais suficiente pra mim. E é
claro
E agora, cinco anos depois, ele está de volta. E não é como se eu o tivesse
ignorado esse tempo todo. Ele virou um astro do rock, seu rosto estava em
toda parte. E ter meu irmão como integrante da banda só me deixava mais
perto. Era devastador ver tantas turnês e olhar para ele. Vê-lo tão perto e
ainda assim tão distante. Era doloroso ver o quanto se apagou o vislumbre
em seus olhos do que já fomos um dia.

E o pior de tudo, é que mesmo depois de Kiran Russell ter partido meu
coração, parece que ainda existem algumas partes que ainda carregam
aquele amor dentro de mim.

Mesmo depois de todos esses anos.


 
 

 
Primeiro quero agradecer a Deus, por ter me dado toda a força que
precisei durante a escrita deste livro. Não foi nada fácil, passei por
momentos de puro estresse, problemas familiares e pessoais. Foi uma
verdadeira provação. E me sinto grata e realizada por ter vencido tudo isso.
 
Agradeço ao meu time incrível de betas, que estiveram do meu lado me
dando forças e nunca me deixando desistir. Vocês são meus maiores
alicerces, jamais me deixam cair.  Então sintam-se abraçadas mesmo com
surtos e ameaças pelo fim deste livro: Lari, Carla, Claudia, Duda, Gabi,
Isabely, Juh, Lety e Maria Eduarda. Vocês moram no meu coração!
 
 
Apaixonada por séries e o mundo criminal. Rafa dedica seu tempo
dividindo seu amor por ler e criar suas próprias histórias. Escreve à seis
anos, mas resolveu dedicar-se totalmente aos livros no final de 2021.
Ama escrever ouvindo música e bebendo vinho, mesmo que ás vezes
pareça louca rindo e falando sozinha com personagens que só ela
consegue ouvir.
 

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