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UFCSPA- Fonoaudiologia

Introdução a neuropsicologia

Introdução ao campo de neuropsicologia


Neuropsicologia
Especialidade reconhecida nas funções de psicologia (2004) e de
fonoaudiologia (2014)
Outras áreas: terapia ocupacional, fisioterapia, pedagogia, psicopedagogia,
medicina etc.
Abordagem teóricas principais
- Psicologia: abordagem do processamento de informação ( ‘ psicologia
cognitiva’)
- Neurologia e neurônios, modelos anátomo-clínicos (relação entre
estrutura e função cerebral), semiologia neurológica.

Leticia Barcelos Chies


Definições
O termo NEUROPSICOLOGIA propriamente dito apareceu apenas no
século xx, em uma fala de Sir William Osler (1913). O termo
NEUROPSYCHOLOGY foi utilizado em uma exposição no John Hopkins
hospital. O termo não foi definido nesta ocasião.
Análise sistemática dos distúrbios de comportamento que se seguem a
alterações da atividade cerebral normal, causados por doença, lesão ou
modificações experimentais.
Estudo da relação entre cérebro e comportamento.
A avaliação neuropsicológica deve ser vista como um método de examinar
o cérebro através do estudo de um de seus produtos, o comportamento.
A neuropsicologia também se ocupa de disfunções de comportamento
afetivo, motivacional e instintivo, que acompanham as lesões cerebrais.
Encontra-se na intercção das neurociências (neuroanatomia, fisiologia e
neurofisiologia) e das ciências do comportamento (psicologia).

Tipos de avaliação clínica


- Avaliação fonoaudiológica
 Atuação em linguagem
 Atuação em audiologia, motricidade oral entre outras.
- Avaliação psicológica clínica
 Avaliação que utiliza técnicas e testes psicológicos no intuito de
identificar e avaliar aspectos específicos (cunha,2000)
(a) Frequentemente inclui aspectos projetivos, o referencial
teórico utilizado é o psicanalítico.
(b) Geralmente envolve esclarecimento de demandas
emocionais.

- Avaliação neuropsicológica
 Forma de avaliação que procura investigar o funcionamento
cognitivo, relacionando-o com áreas do encéfalo de acordo com
algum modelo teórico.
(a) Importância dos modelos teóricos de processos
cognitivos/neuropsicológicos

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(b) Transtornos neuropsiquiátricos entendidos á luz da
psicopatologia descritiva e de suas bases fisiológicas
(c) Questões dos instrumentos.

Objetivos históricos
 Verificar déficits cognitivos
 Localizar áreas cerebrais lesionadas
Objetivos atuais
 Caracterizar funcionamento cognitivo do paciente (prejuízos e
potencialidades)
 Propiciar diagnostico diferencial entre patologias
 Avaliar intervenções através de testagens antes e depois
(medicamentos, cirugias)
 Avaliação durante cirurgias e/ou modificações experimentais
 Fornecer informações para realizar o acompanhamento de
reabilitação neuropsicológica

Aplicações de avaliação neuropsicológica


 Epilepsias
 Doenças comuns no envelhecimento: comprometimento cognitivo
leve (CCL) e demências
 Traumatismo cranioencefálico (TCE)
 Acidentes vasculares cerebrais (AVCs), tanto isquêmicos quanto
hemorrágicos
 Doenças do desenvolvimento infantil: TDAH, TEA, dificuldades de
aprendizagem- questão da interface com atrasos na aquisição de
linguagem oral e/ou escrita
 Acompanhamento ao longo do desenvolvimento (ciclo vital como
um todo, mas especificamente infância e envelhecimento)
 Doenças “tradicionalmente” psiquiátricas; THB, uso de drogas, etc

Fatores importantes
 Na anamnese

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o Dominância manual (especialização hemisférica), bilinguismo,
grau de alfabetização/ instrução, hábitos de leitura e de escrita,
entre outros.
o Criança: marcos do DNPM
 Exclusão/ consideração de quadros psiquiátricos e transtornos
emocionais
o Co-morbidades
o Doenças e sintomas ‘que parecem’ neurológicos podem ser
psiquiátricos e vice-e-versa
 Exames neurológicos
o Estruturais: CT, RNM, etc
o Funcionais: PET, SPECT, FMRI, etc

Instrumentos

 Entrevistas e questionários
o Perguntas abertas
 “screenings” (triagem)
o Exemplo: mini-exame do estado mental/ MoCA test /
ACE-R
 Instrumentos breves
o Instrumentos de avaliação neuropsicológica breve
NEUPSILIN
 Teste psicológicos e neuropsicológicos
o Psicologia: SATEPSI (vinculado ao CFP) –
fonoaudiólogo não pode usar
 Provas e/ou tarefas
 Escalas e/ou protocolos de observação
o Escalas de funcionalidade

Baterias
 Baterias fixas
o Uteis no contexto de pesquisa ou serviço de determinadas
doenças neurológicas. Ex: epilepsia, AVCs,
o Possibilita organização e comparação dos casos

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o Precisa abranger as funções comprometidas na doença a ser
investigada
 Baterias breves / teste de rastreio
o Indicadas para contexto ambulatorial ou internação hospitalar
o Permitem um indicativo de alteração
o Sugerem áreas a serem posteriormente investigadas
o Podem não detectar alterações sutis
o Exemplos: avalaiçoes breves- instrumento neuropsicológico
breve neupsilin (brasil) – screenings : MEEM, MoCA, ETC
 Bateias flexíveis
o Mais utilizadas na clinica
o Diversidade de pacientes e patologias
o Bateria é programada a partir da sessão inicial com histórico
do paciente e da doença (anamnese)
 Similar as avaliações clinicas feitas pelos profissionais
de psicologia e fonoaudiologia (bateria montada de
forma individualizada)

Análises/ resultados
 Baseada em normas, análises fatoriais e estudos de validade
 Comparação e padrões determinam resultados
 Nem sempre o resultado encontrado condiz com a percepção do
profissional

Fundamentos históricos da neuropsicologia


 Pré-historia: craniotomias
 Egito: mais antigo registro escritos a respeito do cérebro – descrições de
lesões cerebrais (efeitos nas funções motoras)

Grécia
o Hipócrates (460-377 ac)
 Cérebro = órgão do pensamento e das sensações
 Observou-se que a lesão de um hemisfério provocava
espasmos ou convulsões contralaterais, observação de
sintomas de fala
o Aristóteles
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 Atividade metal dividida em ‘’ faculdades ‘’ de pensamento
e julgamento, como imaginação, fantasia, opinião, memoria
e atenção
 Coração era a sede da inteligência
o Galeno
 Descrição da anatomia dos ventrículos
 Localização das faculdades mentais na ‘substância ‘’
cerebral
 Estudos de anatomia -erros

Renascimento
o Leonardo da vinci
 Ilustrações anatômicas com anotações de natureza
fisiológica

o Versallius
 Observação cientificas cuidadosas
 Aumento do conhecimento neuro anatômico, mas não do
conhecimento das funções cerebrais (o que perdura até o
século 20)
 Superação das ideias de galeno

o Willins
 Importante estudo anatômico e fisiológico
 Relatos de casos de pacientes afásicos e hemiplégicos a D
o Descartes
 Sede da alma = pineal (perto dos ventrículos)
 Interesse em neurofisiologia
 Dissecações para estudo de funções cognitivas

o Franz Joseph Gall


 Pai da fenologia
 Faculdades mentais = áreas circunstanciais
 Mapas frenológicos = grau de desenvolvimento dos órgãos
correlacionados com proeminência em partes do crânio
 Destaque ao papel do córtex (local dos órgãos das
faculdades), ate então considerados pouco importante

o Pièrre Flourens ( 1794-1867)


 Oposição à frenologia
 Fisiologista francês
 Experimentos com pombos: ablação de regiões cerebrais

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 Ablação hemisférica e também de regiões motoras
 Recherches experimentos sur les propriétes et les fonctions
du systeme nerveux dans les animoux vertebrais
 Funções mentais dependem do funcionamento do cérebro
como um todo
 Funções mentais
 Contudo, o sistema nervoso não é uma massa
homogênea
 Encéfalo é a sede da alma e do espírito.

Início do século XIX


 Nascimento da NEUROPSICOLOGIA DA LINGUAGEM
(correlações anátomo-clínicas entre lesões cerebrais e
patologias da linguagem)

o Paulo Broca (1824-1880)


 Anatomista, cirurgião e antropólogo francês
 Trabalho pioneiro na descrição de sulcos e giros cerebrais
 Neuropsicologia e linguagem: descrição do cérebro de um
paciente com grave distúrbio de fala
 Expressão verbal = terço posterior do giro frontal
inferior esquerdo
 1° vez em que uma função mental complexa foi localizada
em uma região particular do córtex
 1° vez em que se demonstra a existência de diferenças entre
as funções dos hemisférios esquerdo e direito

o Carl wernicke (1848-1905)


 Neuropsicologista alemão; importantes contribuições no
estudo das afasias
 1° descrição de algumas doenças neuropsicológicas,
incluindo os efeitos da deficiência de tiamina (vitamina B1)
no encéfalo
 Encefalopatia de Wernicke : estado de confusão
mental, perda do equilíbrio, sonolência, uma
tendencia a tontura e problemas de movimento
ocular; pode ser fatal
 Afasia sensorial (atualmente afasia fluente) = lesões no terço
posterior do giro temporal superior esquerdo= perda da
capacidade de compreensão da linguagem

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o Síndrome de Korsakoff
 Paciente estilistas com distúrbios de memória (forma)
incomum de amnesia )
 Prejuízos de memória recente, mas também pode haver
comportamento de memória remota
 Difícil recuperação

Neuropsicologia Experimental
 Estabelecimento de relações entre a ablação de certas partes
do cérebro e o aparecimento de anormalidades

 Kluver e bucy (1937) = estudos com espécies de primatas


 Lesões da amígdala, porções do hipotálamo,
neocórtex temporal e outras estruturas= respostas
orais compulsivas, perda do medo e da agressividade,
aumento da atividade, hipersexualidade

 James papez (1937)


 Neuroanatomista norte-americano
 Localização de circuitos relacionados com a
integração de processos emocionais = circuito de
papez
 Circuito hipotalâmico com seus corpos mamilares, o
núcleo anterior do tálamo, o giro cingulado e o
hipotálamo

 Paul MacLean
 Introdução do termo sistema límbico = central na
mediação das emoções
 Estudo de assimetrias hemisféricas funcionais
(pacientes com secções completas ou parciais de
comissuras)

 Hughlings Jackson (1834- 1911)


 Cada função tem uma complexa organização
“vertical “
o Representada primeiramente em um nível
inferior (medula ou tronco cerebral ) , no nível
médio (divisões motoras ou sensoriais), e em
um nivel superior (divisões frontais do
cérebro)

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o A localização de um sintoma que acompanha a
localização de uma lesão de uma área não
pode ser identificada com a localização dessa
função
o Contraposição á localização (mas ficou
obscurecido pelos ‘localizacionistas “ )
 Hipóteses estavam décadas a frente de
sua época, permanecendo esquecidas
por um longo tempo
 A. R. Luria
o Importância do papel da linguagem como um
fator na formação das funções mentais
superiores
 Sistemas funcionais
 Unidades I, II e III
 Zonas corticais

Sistemas Funcionais - A Teoria de Luria


As funções mentais superiores devem ser conceituadas como sistemas funcionais
de composição extremamente complexa, requerendo a cooperação de muitas
partes diferentes do cérebro.
 Um sistema funcional é identificado em função da complexidade se sua
estrutura e da mobilidade das partes constituintes
 O SF possui uma composição complexa, incluindo impulsos aferentes e
eferentes

Características básicas de qualquer SF:


 Presença de uma tarefa constante (invariável)
 Essa tarefa é desempenhada por mecanismos diversos (variável)
 Esses mecanismos levam o processo a um resultado constante
(invariável)
 Exemplo: ato de escrever

Unidades funcionais
 Três unidades relacionadas a bases estrutural- funcionais
o Unidade I : tronco cerebral e superfícies mesiais (sist.. límbico) dos
hemisférios cerebrais
o Unidade II: lobos T, O e P
o Unidade III: lobos frontais

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 As três unidades funcionais são necessárias para qualquer tipo de
atividade mental
 Os processos mentais humanos e a atividade consistem sempre ocorrem
com a participação das três unidades, cada qual com um papel distinto

Unidade I – Formação Reticular


 Regula o ‘’ tônus cortical “, a vigília e os estados mentais, de acordo com
as exigências do meio
 Formação reticular
o Organização vertical das estruturas cerebrais (fim da ‘era do
córtex”)
 Porções ativadoras e inibidoras
 Efeito ativador geral sobre o córtex (evocação de reações de alerta e
aumento de excitabilidade e sensibilidade)
 Lesões na FR: diminuição no tono cortical, aparecimento de sono e , por
vezes , de coma ( ou o contrário, dependendo da porção afetada)
 O que é a FR?
o Processos metabólicos (homeostase)
o Reflexo de orientação (chegada de estímulos do ambiente ao corpo
através dos sentidos)
o Interação e planos (fala) = metas = programa de ação para atingir a
meta

Unidade II
 Responsável pela recepção, análise e armazenamento de informações
 Grande especificidade modal: informações visuais, auditivas, vestibulares
ou sensoriais gerais, além das gustativas e olfativas.

Unidade III
 Responsável por programar, regular e verificar a atividade metal =
organização
 Intenções, planos e programas para as ações humanas, bem como
regulação do comportamento e verificação da atividade consistente

Zonas corticais

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 As unidades apresentam uma estrutura hierárquica
o Zona primaria (de projeção)
o Zona secundaria (de projeção/ associação) assosiação
o Zona terciaria (de superposição) associação

Unidades e zonas
 Unidade I= controle do tônus, vigília e estado mental
 Unidade II= recepção, análise e armazenamento de informações
 Unidade III= programação, controle e verificação da atividade
zonas

Primaria: recepção e envio de impulsos para a periferia


Secundaria: processamento de informações que entram ou preparo de programas
para a ação
Terciaria: participação e integração de muitas áreas

UII X UIII
UII: da zona primaria para a secundaria, e depois para a terciaria
UIII: da zona terciaria (córtex pré – frontal ) para a secundaria (AMS), e depois
para a primaria (AMP)

Leis da função cortical


 Leis básicas que governam a estrutura de funcionamento das regiões
corticais individuais
 Reagem as unidades II e III
o Primeira: lei da estrutura hierárquica das zonas corticais
o Segunda: lei da especificidade decrescente (das zonas corticais
hierarquicamente organizadas que compõem a referida unidade)
o Terceira: lei da laterização progressiva das funções

 Lei da estrutura hierárquica das zonas corticais


o Relação entre zonas primaria, secundaria e terciaria

Leticia Barcelos Chies


o Crianças: interação ‘’ de baixo para cima’’ = zonas primarias =
zonas secundarias= zonas terciarias (zonas superiores dependem
das inferiores)
o Adultos: interação ‘’ de cima para baixo’’ = zonas corticais
superiores assumiram papel dominante (zonas inferiores dependem
das superiores)

 Lei da especificidade decrescente (UII)


o Zonas primárias: especificidade modal máxima (área primaria dos
córtices auditivo, visual e sensorial geral)
o Zonas secundarias: especificidade modal em grau menos
(integração de informações visuais, auditivas e táteis)
o Zonas terciarias: ‘’ pouca ‘’ especificidade (‘’ supramodais’’)
 Lei da lateralização progressiva das funções
o Transferência progressiva das áreas primarias para as secundarias e
, posteriormente, para as terciárias
o Áreas corticais primarias (de ambos os hemisférios): papeis
idênticos
o Áreas secundarias e terciarias: lateralização (mão D e fala )
 Lei da organização funcional do córtex cerebral “

Síntese
 As funções mentais superiores são processadas por meio da análise
combinada de todas as três unidades funcionais do cérebro:
o UI: ‘’tônus’’ cortical
o UII: análise e síntese de informações
o UIII: prove movimentos ou atos requeridos

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