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CASO CLÍNICO – GINA

Extraído de: WRIGHT, Jesse H.; BASCO, Monica R. e THASE, Michael E.


Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental: um guia ilustrado. 2.ed. Porto Alegre:
Artmed, 2019.

Prof. Ms. Armando Rezende Neto

Gina descreveu uma série de sintomas relacionados à ansiedade, inclusive ataques de


pânico, hiperventilação, suores e evitação de situações temidas (p.ex., estar em
multidões, comer em locais públicos, dirigir carros e pegar elevadores). Ela disse ter
esses sintomas há mais de três anos. Não havia um precipitante claro, mas ela observou
que a ansiedade começou a aumentar depois de ela ter conseguido um novo emprego,
que exigia que ela dirigisse em tráfego pesado para ir à cidade e trabalhar em um
movimentado prédio de escritórios.

Várias influências desenvolvimentais dos primeiros anos de vida de Gina pareciam ter
moldado sua vulnerabilidade a sintomas de ansiedade. Gina era a segunda de duas filhas
criadas em um ambiente familiar amoroso com ambos os pais presentes em casa.
Embora não tenha relatado nenhum trauma específico na infância, ela tinha lembranças
da chegada de sua avó do hospital, depois de uma operação de câncer, quando Gina
tinha cerca de 7 anos. Sua avó estava tão doente que não conseguia mais cuidar de si
mesma. Por isso, ficou na casa de Gina até morrer, cerca de seis meses depois. Gina
lembrava que sua avó sentia muita dor e muitas vezes chorava à noite. Além disso, a
mãe de Gina ficou muito nervosa durante essa doença e por muitos anos mais.

A visão de mundo de Gina também foi influenciada por ter uma irmã mais velha com
uma doença cardíaca congênita. Seus pais sempre diziam à sua irmã para tomar muito
cuidado para não exagerar e para evitar o estresse. Sua mãe foi descrita como
extremamente preocupada. Preocupava-se especialmente com Gina quando a filha
estava aprendendo a dirigir, dando-lhe instruções repetidamente para tomar cuidado por
causa do alto risco de um acidente com motoristas adolescentes. Embora nunca tivesse
recebido tratamento para ansiedade, sua mãe era uma mulher tensa que parecia se
preocupar excessivamente com o perigo e passou a mensagem para suas duas filhas de
que o mundo é um lugar perigoso.

Felizmente, Gina tinha vários pontos fortes que podiam ser incluídos no processo de
TCC. Ela estava genuinamente interessada em aprender sobre a TCC e disposta a se
engajar na terapia de exposição – um elemento-chave da TCC para transtornos de
ansiedade. Ela era articulada e inteligente e tinha um bom senso de humor. Ela não
apresentava problemas de Eixo II e tinha excelente apoio de seu noivo e familiares. No
entanto, tinha sintomas de ansiedade há muito tempo instalados com padrões bem-
arraigados de evitação, os quais provavelmente necessitariam de TCC extensiva para
sua resolução. Também parecia que seu noivo, os colegas de trabalho e os amigos
estavam reforçando inadvertidamente a ansiedade ao participarem de seus métodos

Armando Rezende Neto – arezendeneto@gmail.com – fone: (11) 99962-5980.


elaborados de evitação (p.ex., levando-a de carro para o trabalho, protegendo-a de ir
sozinha ao refeitório, fazendo pequenas tarefas na rua para ela).

Gina era capaz de colaborar de maneira eficaz no trabalho direcionado a seus objetivos
de:

1. Reduzir os ataques de pânico para um por semana ou menos;


2. Conseguir ir a lugares movimentados, como o refeitório, sozinha, sem ficar nervosa
ou ter um ataque de pânico;
3. Conseguir pegar elevadores e
4. Dirigir para onde quiser.

Seu diagnóstico era transtorno do pânico com agorafobia e fobia de elevador.

Em suas diretrizes para a conceitualização de caso, a Academia de Terapia Cognitiva


recomenda que os terapeutas adotem um ponto de vista tanto seccional como
longitudinal dos fatores cognitivos e comportamentais que podem estar influenciando a
expressão dos sintomas. A análise seccional da formulação envolve observar os padrões
atuais pelos quais os principais precipitantes (p.ex., grandes estressores, como um
rompimento de relacionamento, perda de emprego ou reinício de uma doença grave) e
situações ativadoras (comumente eventos como discussões com o cônjuge, pressões no
trabalho, ser exposto a um desencadeante de sintomas recorrentes de ansiedade) que
estimulam pensamentos automáticos, emoções e comportamentos. O ponto de vista
longitudinal leva em conta eventos durante o desenvolvimento e outras influências
evolutivas, especialmente as que pertencem à moldagem de crenças nucleares ou
esquemas.

Armando Rezende Neto – arezendeneto@gmail.com – fone: (11) 99962-5980.

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