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"Bauman coloca a individualização como marca registrada da sociedade moderna, e mostra sua

ambivalência no sentido de conferir autonomia aos indivíduos e, ao mesmo tempo, insegurança ao


torná-los responsáveis pelo futuro e pelo sentido de suas vidas sem uma determinação social externa.
Nesse processo, a individualização configura-se enquanto troca dos valores liberdade e segurança.

O medo é definido por Bauman como ignorância da ameaça e do que deve ser feito. Ele desenvolve o
conceito de medo secundário, um medo, sempre reatualizado social e culturalmente, que norteia o
comportamento do indivíduo havendo ou não uma ameaça direta. Esse sentimento, também chamado
de derivado, provoca a sensação de vulnerabilidade ao perigo e de insegurança e é facilmente
desvinculado das ameaças que inicialmente causaram-no, ou seja, é um medo descolado da realidade,
que gera insegurança e ansiedade mesmo em se tratando de situações hipotéticas.

Há, na sociedade líquida e moderna, a fragmentação do medo primário — medo da morte — em


incontáveis preocupações e a sua incorporação no fluxo da vida cotidiana, já que a ideia de morte foi
desvinculada de seu sentido religioso de passagem para outra vida e de eternidade. Essa inserção do
medo primário na preocupação cotidiana torna-o totalizante e primordial nas escolhas a serem feitas e
na própria constituição do comportamento.

Bauman enfatiza o fato de a proteção contra os infortúnios individuais, antes delegada ao Estado (do
bem-estar social) ou às comunidades, tornar-se responsabilidade dos indivíduos, o que tem como
consequência a fragilização dos vínculos humanos, a inconstância das lealdades comunais e a
revogabilidade de compromissos. Os indivíduos buscam soluções isoladas para problemas produzidos
socialmente e são encorajados a priorizarem sua segurança pessoal. A busca individual por quaisquer
objetivos e o não pertencimento a um grupo levam à desconfiança da possível solidariedade alheia e até
à crença de que a maleficência compõe a intenção dos outros.

O medo derivado, enquanto norteador do comportamento, leva os indivíduos a estarem sempre alertas
quanto aos riscos, e pelo fato de o medo estar difuso, ele pode ser encontrado em qualquer parte, até
no comportamento das outras pessoas. Todos se tornam estranhos em potencial, já que nunca é
possível prever-se totalmente a intenção alheia. A segurança é identificada no autoisolamento, e o
suprimento da necessidade de relações sociais é mediado, em parte, pela tecnologia que permite um
contato não necessariamente delimitado num espaço físico comum.
Bauman coloca as relações humanas como inconstantes. Há uma desconfiança na fidelidade do outro e
uma indisposição em construir-se parcerias duráveis e sólidas. O rompimento de relações (amorosas ou
não) é definido como morte metafórica ou morte de terceiro grau.

As relações são fundamentadas no medo da exclusão. Nunca se sabe de onde virá o golpe, quem se
cansará primeiro dos compromissos incômodos e difíceis ou encontrará relações mais promissoras.
Tanto antes quanto depois dessa morte metafórica, o tempo é fragmentado e descontínuo, o
rompimento não atrasa o fluxo da vida, tampouco o interrompe. A fragilidade dos vínculos humanos
permite que eles não sejam temidos ou difíceis de manter-se e que seu desligamento não seja tão
doloroso, mas também trazem a insegurança da possibilidade de exclusão.

A felicidade e a segurança são buscadas individualmente. O pragmatismo também penetra as relações


sociais. A solidão, definida como um insight dissimulado do medo da morte, é expulsa pela busca do
outro de maneira utilitária e pontual.

A liberdade concedida em troca da segurança torna-se sensação por meio do consumo. A busca por
proteção é materializada em mercadorias pela manipulação do medo da morte como gerador de lucro.
A quantidade de serviços de entretenimento e a imitação de uma cidade dentro de um condomínio
fechado podem ser vistas como formas de forjar-se a liberdade perdida com o isolamento espacial. O
próprio consumo em si pode provocar sensação de liberdade, já que a posse do dinheiro permite várias
escolhas de locomoção e aquisição de bens.

As comunidades também são consumidas e não se perpetuam para além da utilidade que exercem. São
flexíveis, sua criação e desmantelamento partem de escolhas, e estas não devem prejudicar ou impedir
que outras decisões sejam tomadas. São transformadas em artigos de consumo voltados para a
proteção.

Nesse sentido, Bauman cita a comunidade estética, criada pela indústria do entretenimento. Ela é
orientada pela aparência e usa como ferramenta a sedução. A referência é alguma celebridade, alguém
que tenha muitos seguidores. A veiculação de notícias sobre experiências, gostos, enfim, tudo que
envolva a vida dessa celebridade, leva os fãs a sentirem-se parte dela sem estabelecerem compromissos
incômodos. Há uma união vivida como se fosse real que não prejudica a preservação e execução de
desejos individuais.
Outro exemplo de comunidade são os condomínios fechados, denominados por Bauman comunidades
fechadas, lugares de exílio voluntário — que implica ausência de compromissos de longo prazo — em
que se pratica o distanciamento mental e moral e a fuga do sentimento e da construção de intimidade.
Todas as outras pessoas, com seus diferentes modos de vida, são evitadas e vistas como intrusas. Há a
redução das possibilidades de encontro com a diferença, de enfrentamento de um desafio cultural.
Nesse contexto, o eu é construído com base nas preferências e possibilidades de consumo: você é aquilo
de que gosta e é capaz de comprar.

O aumento da desigualdade não é um efeito colateral acidental e desprezado, é, antes, parte integrante
de uma concepção de felicidade humana e de vida confortável, assim como da estratégia ditada por
essa concepção. Essas concepção e estratégia podem ser contempladas e usufruídas apenas como
privilégios, e é praticamente impossível ampliar seu alcance. A própria obsessão pela segurança é
compartilhada com maior intensidade pelo grupo de privilegiados que dispõe de mais meios de garantir
a proteção, e a temida violência humana é fomentada pelas desigualdades estabelecidas e crescentes.

O medo derivado, enquanto uma estrutura mental estável, torna-se determinante do comportamento,
e, por desacoplar o medo da ameaça direta, somando-se ao fato de o medo da morte estar secularizado
e diluído nas preocupações cotidianas, torna-se totalizante, o que reflete no comportamento dos
indivíduos como constante estado de alerta em relação às circunstâncias mais diversas e também em
relação às pessoas que se tornam estranhas na medida em que se desconhece suas intenções.

As comunidades criadas e consumidas tornam-se o lugar de expulsar a diferença e fugir dos estranhos
ao passo em que são pautadas por relações sociais pragmáticas e não possessivas, simultaneamente
intensas e fugazes, delimitadas por necessidades específicas e fadadas ao rompimento assim que essas
necessidades forem satisfeitas. O medo difuso é personificado nos estranhos, e estes se tornam
combatíveis enquanto categorias específicas ou simplesmente enquanto diferença.

A vida em sua totalidade e na especificidade das relações humanas é ilustrada por Bauman como uma
sucessão de episódios e uma série de recomeços.

Veja mais: Estruturalismo – método das ciências humanas e sociais desenvolvido no fim do século XIX

Principais obras de Zygmunt Bauman


Mural em homenagem a Zygmunt Bauman, intelectual que se popularizou entre a juventude do século
XXI. [2]

A concepção moral de Zygmunt Bauman, um sociólogo polonês, é descrita por sua análise crítica da
sociedade contemporânea. Ele aborda questões de ética e moralidade em um mundo cada vez mais
líquido e assustador. Bauman argumenta que as estruturas sociais tradicionais que costumavam
fornecer orientação moral estão se desintegrando, resultando em uma falta de referências sólidas para
a conduta ética.

Segundo Bauman, vivemos em uma “modernidade líquida”, onde as normas e valores são fluidos,
sujeitos a mudanças rápidas e frequentes. Isso cria uma sensação de incerteza e insegurança,
dificultando a formação de um sistema moral estável. Bauman também discute a "ética do consumo",
observando como o consumo se tornou uma forma de buscar significado e identidade, muitas vezes em
detrimento de valores mais profundos.

Em resumo, a concepção moral de Bauman aborda a extensão entre a fluidez da sociedade


contemporânea e a necessidade humana de orientação moral. Ele destaca como os valores são
moldados por fatores culturais, econômicos e sociais, e como isso impacta nossa capacidade de criar
uma base sólida para a conduta ética.

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A concepção moral de Zygmunt Bauman, um sociólogo polonês, é descrita por sua análise crítica da
sociedade contemporânea. Ele aborda questões de ética e moralidade em um mundo cada vez mais
líquido e assustador. Bauman argumenta que as estruturas sociais tradicionais que costumavam
fornecer orientação moral estão se desintegrando, resultando em uma falta de referências sólidas para
a conduta ética.

Segundo Bauman, vivemos em uma “modernidade líquida”, onde as normas e valores são fluidos,
sujeitos a mudanças rápidas e frequentes. Isso cria uma sensação de incerteza e insegurança,
dificultando a formação de um sistema moral estável. Bauman também discute a "ética do consumo",
observando como o consumo se tornou uma forma de buscar significado e identidade, muitas vezes em
detrimento de valores mais profundos.

Em resumo, a concepção moral de Bauman aborda a extensão entre a fluidez da sociedade


contemporânea e a necessidade humana de orientação moral. Ele destaca como os valores são
moldados por fatores culturais, econômicos e sociais, e como isso impacta nossa capacidade de criar
uma base sólida para a conduta ética.

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Introdução:

A concepção moral de Zygmunt Bauman, sociólogo renomado polonês do século XX, lança luz sobre uma
complexa interação entre a ética e a sociedade contemporânea. Em um mundo caracterizado pela
fluidez e pela mudança constante, as estruturas tradicionais que costumavam fornecer orientação moral
enfrentam desafios sem precedentes. Nessa perspectiva, Bauman explora a forma como a
"modernidade líquida" de maneira como percebemos e praticamos a moralidade, gerando discussões
intrigantes sobre a ética em um cenário em constante mutação.

Desenvolvimento:
Bauman propõe que uma era atual seja definida por uma "modernidade líquida", na qual as normas
sociais e os valores estão em constante fluxo. Esse contexto assustador é resultado de fatores como a
globalização, a rápida evolução tecnológica e a volatilidade econômica. Nesse cenário, as estruturas
morais tradicionais, muitas vezes ancoradas em sistemas religiosos e culturais, perdem sua firmeza e
autoridade. Isso cria um pacote moral, onde os indivíduos podem se sentir perdidos em relação às suas
escolhas éticas.

Uma das contribuições notáveis de Bauman é sua análise da “ética do consumismo”. Ele observa como o
ato de consumo tornou-se uma forma de buscar significado e identidade, frequentemente atualizando
valores mais profundos. A busca incessante pela satisfação material pode levar a dilemas morais, à
medida que a busca pelo prazer imediato muitas vezes entra em conflito com considerações éticas mais
amplas.

No entanto, Bauman também aponta para a possibilidade de uma nova forma de moralidade emergir
dessa fluidez. Ele sugere que os indivíduos têm a capacidade de se envolver em uma ética mais reflexiva
e contextualizada, adaptando-se aos desafios mutáveis da sociedade. Essa ética pode ser baseada na
responsabilidade, na empatia e na consciência das consequências de nossas ações em um mundo
interconectado.

Conclusão:

A concepção moral de Bauman destaca a interseção intrigante entre a ética e a modernidade líquida.
Enquanto as estruturas morais tradicionais enfrentam desafios diante da fluidez contemporânea, a
reflexão sobre as mudanças na sociedade também traz oportunidades para desenvolver uma ética mais
consciente e responsável. À medida que os indivíduos navegam por um cenário em constante mutação,
a obra de Bauman nos convida a considerar como podemos moldar nossas escolhas éticas em um
mundo onde as referências morais não são fixas, mas sim maleáveis e em evolução.

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ou fatos. ChatGPT versão de 3 de agosto

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