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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2017.0000862999

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1010587-


98.2016.8.26.0068, da Comarca de Barueri, em que é apelante TICKET SERVIÇOS S.A.,
é apelado SERVTECNICA AUTOMACÃO LTDA - EPP.

ACORDAM, em 22ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de


São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MATHEUS


FONTES (Presidente) e ROBERTO MAC CRACKEN.

São Paulo, 26 de outubro de 2017

CAMPOS MELLO
RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Ap . 1 0 1 0 5 8 7 - 9 8 .2 0 1 6 . 8 .2 6 .0 0 6 8 Ba r u e r i 1 ª VC VOTO 40869
Ap te: Ti ck e t S er v iço s S /A.
Ap d a: Se v té cn i ca Au t o m a ção Lt d a - E PP.

Em bar gos a mandado m oni tór io. Pr ocedência


decretada em 1º grau. Os documentos que a autor a
apresentou não perm item a af eri ção da exist ência de
dívida e são im prestávei s ao i ngr ess o na via
monitória. Carênci a da ação reconhecida. Exti nção
decr etada com fundamento no art . 485, I e VI do
C.P.C. Recurs o desprovido, alterado o di sposit ivo da
sentença.

É apelação contra a sentença a fls. 139/141, que


julgou procedentes embargos a mandado monitório.
Alega a apelante que a decisão não pode subsistir,
pois os documentos trazidos são suficientes para embasar a monitória.
Pede a reforma.
Contrarrazoado o apelo, subiram os autos.
É o relatório.
É certo que a prova documental necessária ao
ajuizamento da monitória não precisa ter a eficácia típica de um título
executivo extrajudicial (cf. José Rogério Cruz e Tucci, “Ação
Monitória”, Ed. RT, 1ª ed., 2ª tiragem, 1995, p. 60). Aliás, se tivesse,
bastaria que fosse aparelhada desde logo a respectiva execução. O que
se exige é prova documental convincente, o que leva alguns autores a
rotular de pré-título tais documentos (cf. Vicente Greco Filho
“Comentários ao Procedimento Sumário, ao Agravo e à Ação
Monitória”, Ed. Saraiva, 1996, p. 52). Mas, em rigor, a prova escrita
constitui requisito de admissibilidade do mandado monitório, como
afirma com propriedade José Rogério Cruz e Tucci (ob. cit., p. 40).
Assim, não havendo prova documental que permita que se conclua, em
princípio, pela existência de determinada obrigação, é cabível a
extinção, dela não se podendo valer a autora para suprir eventual
deficiência de sua documentação (cf. Nelson Nery Junior,
“Atualidades sobre o Processo Civil”, Ed. RT, 2ª ed., 1996, p. 227).

O que é necessário é prova pré-constituída, revestida


de verossimilhança (cf. Elaine Harzheim Macedo, “Da Ação
Monitória”, in “Inovações do Código de Processo Civil”, Ed. Livraria
do Advogado, 1996, p. 230), que se imponha ao convencimento do
julgador, ainda que este não desenvolva cognição exauriente ao
determinar a expedição do mandado (cf. Eduardo Talamini, “Tutela

Apelação nº 1010587-98.2016.8.26.0068 - Barueri - VOTO Nº 40869 - 2/3


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Monitória”, Ed. RT, 1998, p. 65). A prova deve ser escrita, mas esse
convencimento pode decorrer de um conjunto de documentos
(Talamini, ob. cit., p. 67 e 68). É necessário que os que, mesmo não
provando diretamente o fato constitutivo do direito do autor, os
documentos permitam que seja deduzida, por presunção, a existência
do direito alegado (TJRS, Ap. 597.030.873, de Porto Alegre, Rel. Des.
Araken de Assis, com remissão à doutrina de Proto Pisani e Carpi-
Taruffo-Colesanti, in RJ 238/67).

Aqui, os documentos que acompanham a inicial não


são aptos ao prosseguimento, pois insuficientes a possibilitar o exame
da verossimilhança do direito alegado pela autora. O exame dos autos
revela que a autora não juntou o contrato de prestação de serviço para
que pudesse ser comprovada a relação negocial. Vale lembrar ainda,
que as notas fiscais eletrônicas são documentos produzidos de forma
unilateral, visto que não comprovam que a ré assumiu o compromisso
de pagamento. Aliás, mesmo que não haja assinatura do receptor nas
notas fiscais, porque são geradas de forma eletrônica, haveria a
necessidade de se demonstrar, ainda que pelo envio de e-mails, que
elas foram recebidas pela ré. É que não basta a mera alegação da
existência do crédito, é necessário que haja pelo menos início de prova
escrita da obrigação assumida pela ré.

Em tais circunstâncias, cabe lembrar que, agora,


estabilizada a relação processual, não é possível pura e simplesmente
ser determinada a apresentação de documentos a cargo da autora e que
já deveriam estar nos autos. Não há outra solução na espécie, senão a
de que deve ser aqui reconhecida a ausência de prova documental
suficiente à expedição do mandado monitório. É caso, assim, de ser
julgada extinta a monitória, com fundamento no art. 485, I e VI, do
C.P.C., por ausência de interesse processual da autora.
Pelo exposto, nego provimento ao apelo, alterado o
dispositivo da sentença para julgar extinta a demanda com fundamento
no art. 485 I e VI, do C.P.C. de 2015.

Campos Mello
Desembargador Relator

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