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DF CARF MF Fl.

108

MINISTÉRIO DA ECONOMIA
Secretaria da Receita Federal do Brasil
Delegacia de Julgamento da Receita Federal do Brasil 02

Processo Administrativo nº 18220.724802/2020-31

AMBEV S.A., pessoa jurídica de direito privado, com sede


na Rua Dr. Renato Paes de Barros, 1.017 – 3º Andar, Itaim Bibi, CEP 04530-001, na
cidade de São Paulo/SP, inscrita no CNPJ sob o nº 07.526.557/0001-00, nos autos
do Processo Administrativo nº 18220.724802/2020-31, vem, respeitosamente, por
seu procurador signatário, à presença de Vossa Senhoria, em face do Acórdão que
entendeu pela improcedência da Impugnação, interpor Recurso Voluntário,
consoante de fato e de direito a seguir expostas, as quais sejam remetidas ao
Conselho Administrativo de Recurso Fiscais.

Pede deferimento.

São Paulo, 30 de agosto de 2021.

p.p. Daniel Cunha Canto Marques


OAB/SP 332.150

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CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS


Colenda Câmara Julgadora
Eminente Conselheiros
Eminente Conselheiro Relator

I – TEMPESTIVIDADE

1. A Recorrente esclarece que foi intimada do Acórdão,


através da Caixa Postal no e-CAC, no dia 03 de agosto de 2021 (terça-feira).

2. O prazo para a interposição do Recurso Voluntário é 30


(trinta) dias, conforme previsão do Art. 33 do Decreto nº 70.235/1972, excluindo da
contagem o dia do início de incluindo o do vencimento, conforme previsão do Art.
5º do Decreto nº 70.235/1972, sendo assim, o presente é tempestivo.

II – DOS FATOS

1. A Recorrente é sociedade por ações que se dedica,


dentre outras atividades, à produção e ao comércio de cervejas, concentrados,
refrigerantes e demais bebidas, bem como alimentos em geral, incluindo composto
líquido pronto para consumo, líquido aromatizado, guaraná em pó ou bastão.

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2. No que diz respeito ao Processo Administrativo, teve


lavrado contra si Auto de Infração, no valor de R$ 3.380.761,96, com fundamento
no Art. 74, § 17, da Lei nº 9.430/1996, que constitui cobrança de multa isolada de
50% sobre o débito resultante da homologação parcial da compensação declarada no
DCOMP nº 37751.55597.2301151.3.01-2350, em razão do indeferimento da
restituição declarada no PER nº 07675.25043.2001151.1.01-4834.

3. Apresentada a Impugnação, sobreveio o Acórdão da


Delegacia de Julgamento da Receita Federal do Brasil 02 julgando improcedente.
Veja-se a Ementa:

ASSUNTO: OUTROS TRIBUTOS OU CONTRIBUIÇÕES


Exercício: 2020
MULTA ISOLADA. COMPENSAÇÃO NÃO
HOMOLOGADA.
Será aplicada multa isolada de cinquenta por cento sobre o
valor do débito objeto de declaração de compensação não
homologada, salvo no caso de falsidade da declaração
apresentada pelo sujeito passivo, quando o percentual será de
150%.
ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO
TRIBUTÁRIO
Exercício: 2020
INCONSTITUCIONALIDADE.
Escapa à competência da autoridade administrativa afastar a
aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional,
lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade.
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MULTA ISOLADA POR COMPENSAÇÃO NÃO


HOMOLOGADA. CUMULAÇÃO COM A MULTA DE
MORA. BIS IN IDEM. NÃO CONFIGURAÇÃO.
Por corresponderem a condutas infracionais com
materialidades distintas, capituladas em dispositivos legais
diversos, não configura a ocorrência de bis in idem a
penalidade pecuniária lançada em razão de compensação não
homologada, exigida juntamente com a multa de mora
incidente sobre o débito resultante da não homologação da
compensação.
ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL
Exercício: 2020
PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL.
SOBRESTAMENTO. IMPOSSIBILIDADE.
Mesmo diante da confirmação de que foi reconhecida
repercussão geral de questão constitucional suscitada em
recurso extraordinário, inexiste previsão legal para o
sobrestamento do julgamento de processo de exigência fiscal,
dentro das normas reguladoras do Processo Administrativo
Fiscal. A administração pública tem o dever de impulsionar o
processo até sua decisão final (Princípio da Oficialidade).
Impugnação Improcedente
Crédito Tributário Mantido

4. Ocorre que, além da validade do crédito utilizado na


compensação, que será reconhecida no Processo Administrativo de Crédito, o Auto
de Infração é improcedente pelo fato de que a sanção cominada (Art. 74, § 17, da
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Lei nº 9.430/1996) está em total descompasso com o sistema constitucional vigente,


devendo ser reformado o Acórdão da Delegacia de Julgamento da Receita Federal
do Brasil 02.

III – DAS RAZÕES PARA REFORMA DO ACÓRDÃO

(A) DO BIS IN IDEM – MULTA DE MORA E MULTA


ISOLADA DECORRENTE DO MESMO FATO (NÃO
HOMOLOGAÇÃO DAS COMPENSAÇÕES) – DO
CARÁTER CONFISCATÓRIO DA MULTA DE 50%
ALÉM DOS 20% APLICADOS. DA VIOLAÇÃO AO
DIREITO DE PETIÇÃO DO CONTRIBUINTE.

1. O ordenamento jurídico pátrio veda a penalização dupla


sobre o mesmo fato jurídico. Logo, diante do mesmo evento (não homologação de
compensações), a cominação da multa de mora, de modo concomitante com a multa
isolada, representa verdadeiro bis in idem, o que é causa suficiente para a integral
improcedência do Auto de Infração objeto deste Processo Administrativo, posto que,
como exposto inicialmente, a multa de mora pela não homologação da compensação
já foi cominada no Processo Administrativo de Débito.

2. Ora, o lançamento da multa isolada penaliza o


contribuinte em duplicidade pela suposta falta de recolhimento dos tributos federais.
Em outras palavras, flagrante é o bis in idem no caso, porquanto se exige a multa
isolada sobre fato que, por sua vez, já foi alvo de penalização através da multa de
mora decorrente do indeferimento do crédito, quando da análise do pedido de
compensação. Ademais, a jurisprudência relativa ao tema já reconheceu a
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inexistência de previsão legal para a cominação de penalidade dupla para extinção


deficiente dos créditos tributários federais.

3. O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais –


CARF sumulou, em caso análogo ao presente (multa de ofício cumulada com multa
por não recolhimento de estimativas mensais do IRPJ/CSLL), entendimento pelo
afastamento a dupla penalidade, justamente pela impossibilidade do bis in idem em
nosso ordenamento. Veja-se a Ementa do julgado de Relatoria do Conselheiro
Carlos Augusto De Andrade Jenier no Processo Administrativo nº
10183.726180/2012-58 (1ª Seção/3ª Câmara/1ª Turma Ordinária), confirmando a
aplicação da súmula 105:

(...)
MULTA ISOLADA. CONCOMITÂNCIA. EXONERAÇÃO.
SÚMULA CARF N. 105
Nos termos da Súmula CARF n. 105, a multa isolada por falta
de recolhimento de estimativas, lançada com fundamento no
art. 44 § 1º, inciso IV da Lei nº 9.430, de 1996, não pode ser
exigida ao mesmo tempo da multa de ofício por falta de
pagamento de IRPJ e CSLL apurado no ajuste anual, devendo
subsistir a multa de ofício.

4. Sobre o aspecto punitivo da multa de mora, como


tratado no caso concreto, o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal
Federal já se manifestaram. No dizer do Ministro Cordeiro Guerra:

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(...) a multa era moratória, para compensar o não pagamento


tempestivo, para atender exatamente ao atraso no
recolhimento. Mas, se o atraso é atendido pela correção
monetária e pelos juros, a subsistência da multa só pode ter
caráter penal.
(STF, Pleno, RE nº 79.625, Rel. Min. CORDEIRO
GUERRA, in RTJ 80/104-13)

5. No mesmo sentido, e na mesma assentada, deixou


registrado o Min. Moreira Alves:

Toda vez que, pelo simples inadimplemento, e não mais com


o caráter de indenização, se cobrar alguma coisa do credor,
este algo que se cobra a mais dele, e que não se capitula
estritamente como indenização, isso será uma pena (...) e as
multas ditas moratórias (...) não se impõem para indenizar a
mora do devedor, mas para apená-lo.
(STF, Pleno, RE nº 79.625, Rel. Min. CORDEIRO
GUERRA, in RTJ 80/104-13)

6. Esse também o entendimento do Superior Tribunal de


Justiça:

Tributário e Processual Civil. Art. 138 do CTN. Inexistência


de procedimento administrativo prévio. Denúncia espontânea
verificada.

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A jurisprudência desta Colenda Corte está assentada no


sentido de que inexistente procedimento administrativo
prévio, visado a exigir o pagamento do tributo em atraso,
resta configurada a denúncia espontânea, quando o
contribuinte de per si o recolhe, sendo indevida a cobrança de
multa moratória que, no sistema tributário vigente, tem o
caráter de punição.
Agravo regimental improvido.
(STJ, 1ª Turma, AgRgREsp nº 245.165/RS, Rel. Min.
FRANCISCO FALCÃO, DJ 11.06.2001, grifos e destaques
nossos)

Tributário. Denúncia espontânea. Pagamento integral do


débito. CTN, art. 138. Compensação. Multa moratória.
Créditos tributários vincendos. Impossibilidade. Lei 8.383/91.
1. Afasta-se a imposição de multa moratória se o contribuinte
procede à denúncia espontânea de débito tributário em atraso
e efetua o pagamento integral. Inteligência do art. 138 do
CTN.
2. Exigir qualquer penalidade após a espontânea denúncia é
conspirar contra a ratio essendi da norma inserida no art. 138
do CTN, malferindo o fim inspirador do instituto, voltado a
animar e premiar o contribuinte que não se mantém obstinado
ao inadimplemento. (...)
(STJ, 1ª Turma, AGRESP nº 542.260/PR, Rel. Min. LUIZ
FUX, DJ 03/05/2004, p. 110)

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7. A jurisprudência acima transcrita é precisa. Deveras, a


multa tem como pressuposto a prática de um ilícito (ofensa a um dever legal,
estatutário ou contratual). A indenização, a seu turno, tem como pressuposto um
dano causado ao patrimônio alheio, com ou sem culpa (como nos casos de
responsabilidade civil objetiva informada pela teoria do risco). A função da multa é
sancionar o descumprimento das obrigações, dos deveres jurídicos. A da
indenização é recompor o patrimônio danificado. No Direito Tributário, são os juros
de mora que recompõem o patrimônio estatal lesado pelo não recebimento
tempestivo do tributo, não a multa

8. Assim, considerando que no momento da não


homologação das compensações foi aplicada a multa de 20% sobre o valor dos
débitos, e a nova sanção isolada puniu por decorrência do mesmo fato no percentual
de mais 50%, deve ser extinta a sanção aplicada através deste processo, reformando-
se a decisão recorrida também neste tópico.

9. Considerando ainda que foram aplicadas duas sanções


sobre o fato “não homologação das compensações”, a penalidade imposta se mostra
despropositada e com efeito de confisco, já que, se mantidas, atingem 70% do valor
proposto para o encontro de contas.

10. O desrespeito à propriedade privada não pode ocorrer,


seja pela cobrança exacerbada de tributos, seja pela aplicação desarrazoada das
multas, posto que o Sistema Tributário não permite o confisco (Art. 150, IV, da
Constituição Federal).

11. A esse respeito, Humberto Ávila, ao relacionar o não


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confisco aos postulados da proporcionalidade e razoabilidade:

Aquilo que os tributaristas chamam de confisco é a invasão


do núcleo essencial pela instituição de um tributo excessivo
que viola o direito de propriedade. A multa, porém, mesmo
não sendo tributo, restringe o mesmo direito fundamental, que
é o da propriedade e da liberdade. Por isso, pouco importa
que o artigo 150, IV, faça referência a tributos. Pelo próprio
direito fundamental chega-se à proibição de excesso, que, no
caso de instituição de tributos, se chama proibição de
confisco.1

12. No caso concreto, onde não apontado qualquer ato de


má-fé da Recorrente durante o procedimento de compensação, como reforçaremos
adiante, teremos uma multa exorbitante de 70% sobre o valor dos débitos, o que é
incompatível com o um procedimento legítimo de quem detém créditos com a
administração e pretende utilizá-los.

13. Já o Supremo Tribunal Federal, em recentes julgados,


deliberou acerca do caráter confiscatório das penalidades tributarias excessivas,
como no exemplo da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 551-1/RJ2 julgada
procedente, e na qual o Ministro Ilmar Galvão proferiu o seguinte:

1
ÁVILA, Humberto. Multa de mora. Exames de razoabilidade, proporcionalidade e excessividade. ÁVILA,
Humberto (Org.). Fundamentos do estado de direito: estudos em homenagem ao professor Almiro do Couto e Silva.
São Paulo: Malheiros, 2005. p. 162.
2
O Tribunal Supremo não se limitou a reconhecer o efeito inconstitucional apenas em sede de controle abstrato, mas
também em casos concretos, como no exemplo do RE 91.707, da relatoria do Ministro Moreira Alves, citado no
corpo da ADIn 551/RJ.
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O art. 150, inc. IV, da Carta da República veda a utilização de


tributo com efeito confiscatório. Ou seja, a atividade fiscal do
Estado não pode ser onerosa a ponto de afetar a propriedade
do contribuinte, confiscando-a a título de tributação.
Tal limitação do poder de tributar estende-se, também, as
multas decorrentes de obrigações tributárias, ainda que não
tenham elas natureza de tributo. (...)
O eventual caráter de confisco de tais multas não pode ser
dissociado da proporcionalidade que deve existir entre a
violação da norma jurídica tributária e sua consequência
jurídica.

14. A cobrança de tributos no percentual de 70% da


operação, quando o contribuinte de boa-fé utiliza créditos reconhecidos pela Lei e
declara espontaneamente os mesmos ao Fisco através de PER/DCOMP e DCTF,
não escapa da definição acima. Trata-se de verdadeira afetação da propriedade, e,
portanto, de confisco.

15. Também no julgamento da ADI nº 1.075 – MC/DF foi


decidido que:

A proibição constitucional do confisco em matéria tributária –


ainda que se trate de multa fiscal resultante do
inadimplemento, pelo contribuinte, de suas obrigações
tributárias – nada mais representa senão a interdição, pela
Carta Política, de qualquer pretensão governamental que
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possa conduzir, no campo da fiscalidade, à injusta


apropriação estatal, no todo ou em parte, do patrimônio ou
dos rendimentos dos contribuintes, comprometendo-lhes pela
insuportabilidade da carga tributária, o exercício do direito a
uma existência digna ou a prática de atividade profissional
lícita ou, ainda, a regular satisfação de suas necessidades
vitais básicas.

16. Por todo exposto, além da dupla sanção apontada,


possui efeitos do inconstitucional confisco o Auto de Infração em tela, devendo ser
extinto por estas inconsistências e incompatibilidades com nosso ordenamento.

(B) DA AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ CONFIRMADA NO


PROCESSO Nº 10880.935844/2017-15

1. Na compensação controlada no Processo Administrativo


nº 10880.935844/2017-15, a Recorrente utilizou créditos relativos à Ressarcimento
de Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI – 4º Tri/2014.

2. A fundamentação utilizada no Despacho Decisório para


a não homologação da compensação foi (i) constatação de que o saldo credor
passível de ressarcimento é inferior ao pleiteado; (ii) ocorrência de glosa de créditos
considerados indevidos; e (iii) redução do saldo credor do trimestre, resultante de
débitos apurados.

3. A Fiscalização, em nenhum momento, apontou qualquer


ação que pudesse colocar em dúvida a boa-fé da Recorrente.
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4. Nesse sentido, diante da ausência de má-fé,


inconcebível a aplica da multa isolada no percentual de 50%, na forma do Auto de
Infração impugnado.

(C) DA INCONSTITUCIONALIDADE DA MULTA


ISOLADA PARA COMPENSAÇÕES NÃO
HOMOLOGADAS – REPERCUSSÃO GERAL
RECONHECIDA PELO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL - § 17 DO ARTIGO 74 DA LEI 9.430/1996,
COM REDAÇÃO DADA PELO ART. 62 DA LEI
12.249/2010

1. Ao aplicar a multa prevista no § 17 do Art. 74, da Lei


9.430/1996, a Fiscalização também desconsiderou a flagrante inconstitucionalidade
da regra que, ao estabelecer sanção isolada independentemente da prova de qualquer
ato de má-fé, inibe o exercício do direito constitucional de petição, consistente na
postulação do uso de créditos tributários legítimos.

2. Muito embora se saiba, até mesmo pelas regras que


norteiam o processo administrativo, da vedação imposta aos órgãos administrativos
de julgamento acerca da inconstitucionalidade da regra utilizada como supedâneo
legal da exigência fiscal, entende a Recorrente que, dentre as características da
atividade que o Estado exerce no desempenho da “função administrativa judicante”,
inexiste óbice a impedir a apreciação de temas constitucionais no âmbito da presente
instância.

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3. Inicialmente, é de frisar-se que a atividade de remover


do sistema jurídico, em caráter definitivo, a eficácia de regras contrárias aos
preceitos da Constituição Federal é vinculada ao Poder Judiciário.

4. No caso concreto, não se trata de alçar os efeitos da


decisão administrativa àqueles mesmos que uma decisão judicial de
inconstitucionalidade produz, mas, diversamente, garantir que a hierarquia das
diversas espécies de normas seja também objeto de interpretação pela administração
judicante.

5. A rigor, notadamente foi essa a interpretação que o


legislador adotou ao promulgar o Art. 2º, parágrafo único, inciso I, da Lei nº
9.784/99, cujo teor dispõe que a Administração Pública, nos processos
administrativos, observará “a lei e o Direito”.

6. Assim, ante a finalidade do processo administrativo,


rigorosamente o mesmo que o processo judicial na análise da aplicação do
ordenamento jurídico pátrio, é perfeitamente possível que sejam confrontadas a lei
com a Constituição e os demais atos infralegais com o seu respectivo suporte legal,
de forma que não se apliquem normas em descompasso com os respectivos
fundamentos de validade, o que é justamente ao caso da relação que se estabelece
entre o § 17 do artigo 74 da Lei nº 9.430/96 e o artigo 5º, XXXIV, da Constituição
Federal.

7. Esta inconformidade entre a norma aplicada e o preceito


constitucional já foi apreciado pelo Tribunal Regional da 4ª Região através de
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Arguição de Inconstitucionalidade nº 5007416-62.2012.404.0000, com o


reconhecimento da inconstitucionalidade da multa prevista no artigo 74, § 17, da Lei
nº 9.430/96 nos termos da ementa que segue transcrita:

ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO


74 DA LEI N. 9.430/96, PARÁGRAFOS 15 E 17.
AFRONTA AO ARTIGO 5º, INCISO XXXIV, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, BEM COMO AO PRINCÍPIO
DA PROPORCIONALIDADE. O artigo 5º, inciso XXXIV,
"a", da Constituição Federal dá conta de que "são a todos
assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o
direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos
ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de
certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal". A multa
prevista nos parágrafos 15 e 17 do art. 74 da Lei 9.430/96,
ainda que não obste totalmente a realização do pedido de
compensação, cria obstáculos, com certeza, ao direito de
petição do contribuinte, pois, diante da possibilidade de
lhe ser aplicada a pena pecuniária, produz justo receio, a
ponto de desestimulá-lo a efetivar o pedido da
compensação a que teria direito. Portanto, os parágrafos 15
e 17 do artigo 74 da Lei n. 9.430/96 conflitam com o disposto
no artigo 5º, inciso XXXIV, alínea "a" da Constituição
Federal. Além disso, a aplicação da multa com base apenas no
indeferimento do pedido ou na não homologação da

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declaração de compensação afronta o princípio da


proporcionalidade.
(TRF4, ARGINC 5007416-62.2012.404.0000, Corte Especial,
Relatora p/ Acórdão Luciane Amaral Corrêa Münch, juntado
aos autos em 03/07/2012)

8. No julgamento restou consignado que a aplicação da


multa com base apenas na não homologação da declaração de compensação afronta
o princípio da proporcionalidade, já que não leva em consideração qualquer
elemento volitivo, como a má-fé. Ao contrário, pune o contribuinte de boa-fé.

9. Assim, a referida previsão legal determina,


indistintamente, a punição, atingindo o contribuinte de boa-fé e inibindo o regular
exercício de um direito, revelando-se, por isso mesmo, abusiva e inconstitucional.

10. Referida multa também é objeto de Arguição de


Inconstitucionalidade nº 0017774-71.2011.4.03.6100 no Tribunal Regional da 3ª
Região e de repercussão geral reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal no
Recurso Extraordinário nº 796.939, in verbis:

CONSTITUCIONAL. PROCESSO ADMINISTRATIVO


TRIBUTÁRIO. INDEFERIMENTO DE PEDIDOS DE
RESSARCIMENTO, RESTITUIÇÃO OU COMPENSAÇÃO
DE TRIBUTOS. MULTAS. INCIDÊNCIA EX LEGE.
SUPOSTO CONFLITO COM O ART. 5º, XXXIV.
REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. I - A matéria
constitucional versada neste recurso consiste na análise da
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constitucionalidade dos §§ 15 e 17 do art. 74 da Lei


9.430/1996, com redação dada pelo art. 62 da Lei
12.249/2010. II – Questão constitucional que ultrapassa os
limites subjetivos ad causa, por possuir relevância econômica
e jurídica. III – Repercussão geral reconhecida.
(RE 796.939 RG, Relator(a): Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, julgado em 29/05/2014, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-120 DIVULG 20-06-2014 PUBLIC 23-
06-2014)

11. No âmbito do Supremo Tribunal Federal, onde a


temática da multa isolada será julgada em repercussão geral no RE 796.939, a
Procuradoria Geral da República se pronunciou favoravelmente aos contribuintes,
onde concluiu pela inconstitucionalidade da multa como em casos como o
enfrentado:

(...)
Por fim, considerada a sistemática da repercussão geral e os
efeitos do presente julgamento em relação aos demais casos
que tratem ou venham a tratar do Tema 736, propõe a
Procuradoria-Geral da República a fixação da seguinte tese:
É inconstitucional a multa prevista no art. 74, § 17, da Lei
9.430/1996, quando aplicada da mera não homologação da
compensação tributária, ressalvada sua incidência aos casos
de comprovada má-fé do contribuinte.
(...)

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Original
DF CARF MF Fl. 125

12. No mesmo processo, por sua vez, já foi proferido voto


do Ministro Relator Édson Fachin em prol da inconstitucionalidade da multa isolada
e com a proposição da seguinte Tese Jurídica em repercussão geral:

É inconstitucional a multa isolada prevista em lei para incidir


diante da mera negativa de homologação da compensação
tributária por não consistir em ato ilícito com aptidão de
propiciar automática penalidade tributária.

13. O voto do Ministro Relator, até a presente data, foi


acompanhado pelo Ministro Celso de Mello, Ministro Gilmar Mendes e Ministro
Luís Fux e o julgamento será retomado no dia 18 de novembro de 2021.

14. Na forma das manifestações da jurisprudência acima


colacionadas, sobretudo do Supremo Tribunal Federal, não há dúvidas que o Auto
de Infração contestado na defesa está fundado em dispositivo inconstitucional (Art.
74, § 17º, da Lei 9.430/96), com o que deve ser extinto.

(D) LANÇAMENTO REFLEXO: DA SUSPENSÃO


DESTE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO ATÉ
DECISÃO DEFINITVA SOBRE OS CRÉDITOS
UTILIZADOS NO PROCESSO ADMINISTRATIVO Nº
10880.935844/2017-15. ART. 17, § 18, DA LEI Nº
9.430/1996.

1. Assim como referido, os créditos relativos à


Ressarcimento de Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI – 4º Tri/2014,
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Original
DF CARF MF Fl. 126

utilizado na compensação, cuja homologação parcial fundamenta o Auto de


Infração, estão sendo discutidos no Processo Administrativo nº 10880.935844/2017-
15, que aguarda apreciação do Recurso Voluntário.

2. Em razão disso, há que se observar a previsão do Art.


74, § 18, da Lei nº 9.430/1996:

(...)
§ 18. No caso de apresentação de manifestação de
inconformidade contra a não homologação da compensação,
fica suspensa a exigibilidade da multa de ofício de que trata o
§ 17, ainda que não impugnada essa exigência, enquadrando-
se no disposto no inciso III do art. 151 da Lei no 5.172, de 25
de outubro de 1966 - Código Tributário Nacional. (Incluído
pela Lei nº 12.844, de 2013)
(...)

3. Portanto, na hipótese de o Auto de Infração não ser


extinto pela inconstitucionalidade do Art. 74, § 17, da Lei nº 9.430/1996, deve ser
aplicado ao presente caso o disposto no § 18 do dispositivo legal mencionado, que
determina a sua suspensão até o julgamento definitivo do Processo Administrativo
nº 10880.935844/2017-15, que discute o mérito da compensação não homologada,
objeto deste Auto de Infração.

IV – DO PEDIDO

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Original
DF CARF MF Fl. 127

Ante o exposto, requer seja provido o Recurso Voluntário,


extinguindo a cobrança da multa isolada, ou, no mínimo, sobrestado até julgamento
final sobre os créditos no Processo Administrativo nº 10880.935844/2017-15.

Pede deferimento.

São Paulo, 30 de agosto de 2021.

p.p. Daniel Cunha Canto Marques


OAB/SP 332.150

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