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38.

º CURSO
Grelha de correção da prova escrita de

DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL - VIA PROFISSIONAL – 2.ª CHAMADA

MATÉRIA OBJECTO DE TÓPICOS DA RESPOSTA COTAÇÕES


AVALIAÇÃO

I. COMPONENTES
ESTRUTURAIS DA
DI
• Breve Relatório 2,5
• Saneamento – com o tratamento de todas (a
as questões suscitadas no RAI valor
• Análise crítica da factualidade indiciada ar
(caso se justifique ante as soluções conj
adoptadas quanto às questões jurídicas unta
suscitadas no RAI) ment
• Subsunção da fatualidade indiciada ao e
direito (idem) com
• Parte decisória : III.)
• Declaração da nulidade da acusação
particular por falta de dolo e
impossibilidade de consideração da
alteração substancial operada na
acusação do MP
• Decisão de não pronúncia quanto ao
crime de resistência e coação sobre
funcionário: exclusão da
ilicitude/legítima defesa
• Decisão de não pronúncia quanto ao
crime do artº187º (atipicidade da
conduta imputada)
• Decisão de não pronúncia quanto ao
crime de Maus Tratos a Animais de
Companhia no caso de se entender
declarar a inconstitucionalidade material
do artº 387º
• Decisão de Pronúncia quanto ao crime
de Maus Tratos a animais caso se
entenda improcedente a
inconstitucionalidade material do 387º
do CP
• Possibilidade de descrição dos factos por
remissão para a acusação do MP
• Subsunção Jurídica
• Indicação da Prova (eliminação da prova
atingida por nulidade/proibição de prova)
• Decisão das questões incidentais relativas
ao levantamento da apreensão
• Custas (assistente)
• Ordenar a remessa dos autos para o Juízo
Criminal Local
• Data e Ass.

II. RESOLUÇÃO DAS


QUESTÕES
SUSCITADAS NO
RAI
II.A Nulidade da Busca e
suas consequências
A.1.Proibição de 1.Caracterização da busca realizada como busca 1,50
valoração da prova domiciliária (artº 177º do CPP): referência aos
adquirida com a factos indiciados que permitem integrar a estrutura
apreensão realizada no
como um domicílio; referências jurisprudenciais
interior da “tenda”.
quanto à caracterização de domicílio.

Não verificação de quaisquer das circunstâncias


que admitem a realização de busca sem mandado
de busca judicial por parte do OPC( artº 174º, nº 5
do CPP a contrario sensu interpretado). Note-se
que não se verifica a circunstância da al. c) do nº 5
porquanto a detenção realizada é a posteriori.

Declaração da nulidade da busca realizada: artº


177º, nº 1 do CPP.

Nota: tratando-se de um caso de fronteira, caso o


candidato, na sequência de uma resposta que
considere a busca como não domiciliária, venha a
dar respostas coerentes com tal opção à matéria
da apreensão e da Resistência e Coação sobre
funcionário, tal não implicará uma multiplicação
da pontuação negativa, devendo as subsequentes
respostas serem consideradas em conformidade
com a opção assumida.

A.2. Apreciação da 2.Contaminação da prova adquirida no âmbito de 1,25


legalidade da Apreensão tal busca pela nulidade da mesma: efeito à
de Animais (não distância da prova proibida a qual vale igualmente
contaminada pela
para as nulidades de prova (cf. artº 122º, nº 1 do
nulidade da busca)
CPP)

Não abrangência da apreensão dos animais pela


nulidade declarada, considerando a inexistência de
um nexo de causalidade entre ambas (cf. artº 122º,
nº 1 do CPP, in fine e a contrario). Não se revela
adequada no caso qualquer referência aos limites
do efeito à distância das provas proibidas –
nomeadamente à fonte independente – uma vez
que inexiste qualquer relação de “dependência”
entre a busca e a apreensão dos animais.
Apreciação da Apreensão de Animais: menção à
destrinça civilística entre “coisa” e “animal” (seres
sencientes) face ao artº 201º-B do CC. Validade da
apreensão de animais face à redacção do artº 178º
do CPP introduzida pela Lei nº 39/2020, de 18/08,
em vigor desde 01/10/2020.
Não obstante a incongruência sistemática ainda
vigente entre os artº 109º e 110º do CP - os quais
se referem apenas a instrumentos, vantagens ou
produtos para efeitos de confisco, não integrando
os animais que não se subsumam a tais categorias
- como é o caso em que os animais são mero
“objeto” imediato da ação ilícita com relevo
probatório - e a redacção atual dos artº 178º e
186º do CPP, o artº 178º, nºs 1, nº 4 , 5 admite
como válida a apreensão de animais efetuada por
OPC sem precedência de ordem do MP, como no
caso dos autos, estando sujeita a validação pelo MP
nos termos do nº 6.

A.3.Decisão (a final) 3. Apreciação da questão incidental do 0,50


quanto ao levantamento levantamento da apreensão dos animais:
da apreensão e a - Uma vez que não se descortina, à luz do
devolução de objetos
quadro penal e processual fundamento
para o confisco do animal apreendido em
processo penal como meio de prova, e
encontrando-se os animais apreendidos já
examinados (cf. Relatório Pericial), os
mesmos deveriam, em princípio, ser
devolvidos ao dono;
- Todavia a tal levantamento obsta o nº 7 do
artº 186º, o qual impede o levantamento
da apreensão de animal no caso de se
encontrar em causa o “bem estar animal”.
Deverá, assim, ser indeferido o pedido de
levantamento da apreensão, não obstante
nada na lei penal e processual penal
permitir fundar o confisco/perda do
referido animal (a que se reconduz a
entrega para adopção por aplicação
analógica do artº 185º (coisas perecíveis):
a) o artº 178º, nº 2 do CPP - que rege
quanto à confiança a fiel depositário e aos
cuidados a prestar aos animais
apreendidos nada refere quanto a tal
confisco ; b) A Lei 39/2020 que atualizou o
CPP quanto à matéria da apreensão de
animais manteve inalterada a redacção do
artº 185º (destino a dar a coisas perecíveis
objeto de apreensão);
- C) uma solução que defenda uma
integração analógica por força do artº
201º- B do CC, tratando-se de matéria de
restrição de DLG, poderá integrar violação
do pr. da legalidade do artº 18º da CRP.
3.a. Questão incidental do levantamento da
apreensão dos restantes objetos (cartaz, vergasta
e lata): deferimento do levantamento da
apreensão dos restantes objetos apreendidos
(vergasta, lata e placard): não verificação de
quaisquer outras circunstâncias que justifiquem a
sua apreensão.

A.4 Afastamento da 4.Resistência e coação sobre funcionário: 1,75


indiciação do Crime de considerando a ilegalidade da busca domiciliária, a
Resistência e coação qual se consubstancia numa violação de DLG (artº
sobre funcionário
34º da CRP), a atualidade da violação do direito à
inviolabilidade do domicilio, a impossibilidade de
recurso a outros meios de tutela efetiva do direito;
e a proporcionalidade e adequação da agressão
para repelir o ato de violação de DLG, a ação de
“resistência” do arguido integra o exercício de um
direito constitucionalmente tutelado (artº 21º da
CRP). Verifica-se, assim, no caso uma causa de
justificação da ilicitude (artº 31º, nº2, al. B) do CP).-
PPA, Comentário, nota 11.

. No sentido de ser de afastar a tipicidade (não se


entrando sequer na questão da ilicitude) no caso de
condutas da autoridade manifestamente
ilegítimas”, vide Cristina Líbano Monteiro, in
Comentário Conimbricense, Ed. 2001, notas 8º e
16º: no caso concreto, todavia, não estando em
causa uma conduta “manifestamente ilegítima”,
não dse verifica uma situação de atipicidade,
apesar de tal resposta dever ser valorada
positivamente se corretamente fundamentada.

Será, ainda, de questionar, ao nível da tipicidade, e


face aos factos indiciados, se a violência exercida
seria, atenta a sua (fraca) magnitude susceptível de
integrar o tipo do artº 347º, o que afastaria a
recondução da conduta ao tipo logo ao nível da
tipicidade. (Cf. Cristina Líbano Monteiro,
Comentário Conimbricense, p. 341, Ed. 2001:
“Membros da Forças Armadas, militarizadas ou de
segurança não são, para efeitos de atemorização,
homens médios. O grau de violência ou de ameaça
necessários para que se possa considerar
preenchido o tipo não há-de medir-se, por
conseguinte, pela capacidade de afetar a liberdade
física ou moral da ação de um homem comum. A
utilização do critério objetivo-individual(...) há-de
assentar na idoneidade dessa violência ou ameaça
para perturbar a liberdade de ação do funcionário”.

II.B. CRIME DE MAUS


TRATOS:

B. 1. análise e indiciação 1.A resposta completa implicará uma análise do 2,00


do tipo de crime: tipo legal de crime e seus elementos constitutivos
- análise do tipo; controvertidos, bem como uma caraterização
densificação do dogmática do tipo:
elemento “Maus - Crime Comum; Crime de Execução livre e
Tratos” e “animais instantânea; Crime Material ou de
de companhia”; Resultado; Crime de dano; Ativo ou
conclusão pela Omissivo (impróprio) quando sobre o
indiciação.
agente recair dever especial de garante
(caso do arguido na qualidade de
proprietário/detentor dos animais e a
quem incumbe o dever de guardar, assistir
e vigiar; crime doloso (as ações negligentes
não estão previstas pelo nº 3, ainda que o
resultado morte negligentemente
produzido pela conduta dolosa de maus
tratos possa operar como circunstância
modificativa agravante nos termos do nº
4); a punição pressupõe o estágio da
consumação, não sendo punível a tentativa
(cf. artº . 23º, nº1 do CP a contrario);
- Densificação e aplicação ao caso concreto
dos elementos típicos “maus tratos” e
“animal de companhia”:
a) Integram maus tratos todas as condutas dolosas
(nas três modalidades de dolo) que determinem
dor, sofrimento (maus tratos “psicológicos”) ou
lesões físicas ao animal (maus tratos físicos) - cf.
artº 387º, nº1; no caso não se descortina a
verificação de qualquer causa de justificação da
ilicitude, designadamente o exercício de um “dever
de correção animal”; a ação típica não tem de ser
acompanhada de uma atitude interna de especial
perversidade ou determinante de especial
censurabilidade (ódio; egoísmo; crueldade;
motivação torpe ou fútil; prazer ou excitação; etc),
sendo tal atitude interna não exigível pelo tipo
matricial contido no nº 3, mas antes fundamento
de um agravamento da pena aplicável
(circunstância modificativa agravante) nos termos
do nº 4 in fine do preceito.
c) No caso concreto, atento o uso da vergasta (a
qualificar como arma ao abrigo do artº 4º do DL
48/95, de 15/03 que aprovou a revisão e
republicação do CP de 82) a conduta indiciada era
subsumível aos artº 387º, nº 3 e 4 e 5.
D) Subsumem-se ao conceito as condutas descritas
na acusação e relativas às vergastadas desferidas
(maus tratos físicos); o ato de sujeitar um dos cães
a suportar os placards com o peso de 4kg, forçando-
o a permanecer de pé contra a sua disposição; a
não dispensa de água e a alimentação com vinho.
Já a falta de vacinação e a falta de dispensa de
alimentação adequada, bem como a infestação
com pulgas decorrente da falta de cuidados
veterinários, no quadro de indigência humanam
indiciada, integram condutas de natureza
negligente não subsumíveis ao tipo, inexistindo
indícios de dolo quanto a tais ações/omissões.
Encontram-se, assim, descritos os elementos
típicos objetivos e subjetivos do artº 387º, nºs 3, 4
e 5;
B) os cães - mesmo os vadios- integram o conceito
de animais de companhia face ao disposto no artº
389º, nº 1 e 3; o advérbio “designadamente”
(destinados a ser detidos no lar) não permite
firmar, mormente quando concatenado com o nº3,
uma interpretação no sentido de que apenas os
animais detidos nos “lares” (neologismo jurídico-
penal a densificar no sentido de sinónimo de
domicílio) poderem ser considerados animais de
companhia, por outro, face ao já exposto, o local
da detenção sempre se haveria de reconduzir ao
conceito jurídico-penal de domicilio.

2,00
B.2. unidade ou pluralidade 2.Unidade ou pluralidade de crimes: abordagem
de condutas das teorias clássicas acerca da matéria (artº 30º do
CP; Eduardo Correia; Figueiredo Dias)- critério do
bem jurídico (matéria que tb deverá ser abordada
na apreciação da constitucionalidade); unidade ou
pluralidade de resoluções; sentido social da
ilicitude; crime continuado.
Tomada de posição quanto à natureza
eminentemente pessoal ou não do bem jurídico
tutelado e a aplicabilidade ou não do 30º, nº 3):

A) afastando a natureza de bem jurídico


eminentemente pessoal do bem jurídico e assim a
inaplicabilidade da restrição à unidade criminosa a
que se reconduz o nº 3 do artº 30º vide Raul Farias,
O Direito dos Animais, CEJ,2019
B) Tb as teses que defendem um bem coletivo
parecem afastar a natureza de bem jurídico pessoal
C) As teses que defendem uma tutela direta do bem
estar animal por extensão da dignidade da pessoa
humana suportarão, em consonância tal natureza
“pessoal” ou individual.
Abordagem da matéria da Teoria do bem jurídico 3,00
II.C. e do princípio da congruência ou analogia
INCONSTITUCIONALIDA substancial entre a ordem axiológica
DE DO ARTIGO 387.º DO constitucional e a ordem jurídico-penal legal de
CP bens jurídicos (FD); referência aos artºs 40º, nº 1
do CP e artºs 18º, nº 2 da CRP, referência aos artºs
27º e 62º da CRP

Tomada de posição num de dois sentidos


possíveis:

I. Tomada de posição no sentido da inexistência de


um bem/valor jurídico-constitucional expresso ou
imanente relativo a uma defesa genérica do bem-
estar animal e consequente declaração de
inconstitucionalidade do artº 387º do CP.

Pedro Soares Albergaria e Pedro Mendes Lima, in


"Sete Vidas: a Difícil Determinação do bem
jurídico protegido nos Crimes de Maus Tratos e
Abandono de animais”: no sentido da inexistência
de um bem jurídico, apesar de não tomarem
posição expressa quanto à constitucionalidade

Diana Manuel Silva Vilas Santos Simões,


Dissertação Mestrado FDUL, Repositório da UL

ou

II. Tomada de posição no sentido de identificação


na ordem constitucional, de expresso ou
imanente, de um bem jurídico que alicerce a
incriminação, com identificação do mesmo.

Será valorizada (mas não determinante para a


notação positiva a atribuir a este ponto) a menção
a teses doutrinai/orientações jurisprudenciais,
pretendendo-se avaliar em primeira linha a
capacidade de raciocínio e juízo crítico, bem como
o discurso lógico do candidato ante uma análise
casuística das implicações do princípio penal
convocado.

Teorias e correntes jurisprudenciais:


A) A favor da identificabilidade de bem jurídico:

A.1. Tutela direta (animais de companhia não


como mero objeto da ação ilícita mas como
“sujeitos” da tutela)
- Artº 66º, nº 9 da CRP (Direito à Proteção do
Ambiente integraria o bem-estar animal
genérico e não apenas o dos animais em
vias de extinção). Assim: Raul Farias, in “O
Direito dos Animais”, CEJ, 2019

- Bem Estar Animal- Art. 13.º do Tratado de


Funcionamento da União Europeia,
introduzido pelo Tratado de Lisboa, por
força do n.º 4 do art. 8.º da CRP.

- Extensão da tutela da Dignidade da Pessoa


Humana (interpretação atualista, não
especista e não antropocêntrica) - artº1º
da CRP – de modo a abarcar a integridade
física e psíquica dos animais ou um
“direito à existencialidade”, concebe os
animais como sujeitos morais e de direito:
Assim: Filipe Cabral; Ac. TRL de
23/05/2019, Rel. Fernando Estrela, Pº 3
46/16.6PESNT.L1-9)

- Integridade física e a vida dos animais de


companhia- MARIA DA CONCEIÇÃO
VALDÁGUA: (In Algumas Questões
Controversas em Torno da Interpretação
do Tipo Legal de Crime de Maus Tratos a
Animal de Companhia, texto de uma
palestra realizada na Faculdade de Direito
de Lisboa, 29 de junho de 2017, p. 194,
disponível em
https://blook.pt/publications/publication/
cddb197a4b61/); Paulo Pinto Albuquerque
(in Comentário ao Código Penal, 3.ª
edição): “o bem jurídico protegido é a vida
integridade física do animal de
companhia”.

A.2. Tutela indireta: Bem jurídico instrumental da


tutela (indireta) de outros bens/valores
constitucionalmente tutelados, onto-
antropologicamente fundados, nomeadamente a
dignidade da pessoa humana (artº 1º da CRP); os
sentimentos de compaixão e solidariedade dos
homens pelos animais de companhia; a própria
vida e integridade física e moral da pessoa
humana ( artºs 24º e 25º da CRP )
- “Bem coletivo e complexo que tem na sua
base o reconhecimento pelo homem de
interesses morais diretos aos animais
individualmente considerados e,
consequentemente, a afirmação do
interesse de todos e cada uma das pessoas
na preservação da integridade física, do
bem estar e da vida dos animais, tendo em
conta uma inequívoca responsabilidade do
agente do crime pela preservação desses
interesses dos animais por força de uma
certa relação atual (passada e/ou
potencial) que com eles mantém. Em causa
está uma responsabilidade do humano,
como indivíduo em relação com um
concreto animal, e também como Homem,
i.e., enquanto membro de uma espécie,
cujas superiores capacidades cognitivas e
de adaptação estratégica o investem numa
especial responsabilidade para com os
seres vivos que podem ser (e são) afetados
pelas suas decisões e ações” (TQB, “Crimes
Contra Animais: os novos Projetos-Lei de
Alteração do Código Penal, Anatomia do
Crime, nº 4, Jul.Dez 2016, p. 104).

- “Bem jurídico coletivo que pode ser


definido como o interesse de toda e cada
uma das pessoas na preservação da
integridade física, da saúde e da vida dos
animais em função de uma certa relação
atual ou potencial com o agente do crime.
(Ac. TRE de 18.06.2019 no Processo n.º
90/16.4GFSTB.E1, e o Ac. TRE de
11.04.2019 no Processo n.º
1938/15.6T9STB.E1-Rel. Ana Barata de
Brito)

- Apesar de questionar a questão da


constitucionalidade, identifica um
potencial bem jurídico “plúrimo, composto
ou complexo, baseado na proteção da
integridade física, saúde e vida de um
determinado animal, pela específica
relação que o mesmo natural ou
culturalmente tem ou está destinado a ter
com o ser humano” (Parecer do CSM, aos
Projetos de Lei 474/XII/3º e 475/XII/3º que
antecederam a Lei 69/2004
- Integridade Física e Vida humanas:
Maltratar animais potencia os maltratos
contra as pessoas e degradaria a própria
humanidade (artºs 1º, artºs 24º e 25º da
CRP)

- Sentimento coletivo de solidariedade de


compaixão e solidariedade para com os
animais de companhia
*
Consequente e coerente decisão no sentido da
constitucionalidade ou inconstitucionalidade.

Pronúncia ou não pronúncia em conformidade.


II.D. CRIME CONTRA A
HONRA:

0,75

D.1.Pessoa coletiva pode ser 1.Diversamente do que sucede com as pessoas


ofendida? Identificação do singulares, os sujeitos passivos deste tipo de crime
bem jurídico tutelado pelo não têm honra, na acepção tradicional, pois esta
artº 187º. /artº 12º, nº 2 e constitui ativo integrante do património das
artº26º, nº 1 da CRP pessoas singulares. No caso, o bem jurídico
protegido pela incriminação é a credibilidade, o
prestígio, a confiança e o bom nome no sector de
atividade da pessoa coletiva ou organismo.

1,00
D.2 A conduta imputada 2.Perante o disposto no art.º 187.°, n.° 1, do C.P.,
reconduz-se a uma imputação são elementos do tipo objetivo do crime de ofensa
de factos ou a um juízo de a organismo, serviço ou pessoa coletiva:
valor? Este último é abarcado i) a afirmação ou propalação de factos inverídicos;
pelo 187º? Não o sendo ii) não ter o agente fundamento para, em boa fé,
poder-se-á recorrer ao 181º? . reputar verídicos tais factos;
iii) idoneidade dos factos para ofender a
credibilidade, o prestígio ou a confiança que se
mostrem devidos a organismo ou serviço que
exerçam autoridade pública, pessoa colectiva,
instituição ou corporação.

No caso, a referência constante da acusação -que a


associação assistente é completamente nazi – pese
embora se trate de um caso de fronteira, contém a
formulação de um juízo de valor, uma opinião
indiciariamente desprovida de fundamento, por
contraposição à pressuposta imputação de factos
inverídicos, colocando-a fora do campo previsivo
da norma.

Não se tratando da imputação de factos inverídicos,


mas, ao invés, da formulação, pelo arguido, de um
juízo de valor depreciativo, não se mostra
preenchido o tipo legal de crime, não sendo
possível recorrer à analogia com a situação vertida
no art.º 181.º do C.P., sendo a analogia proibida e
violadora, no caso, dos princípios da legalidade e da
tipicidade penal (art.º 1º, n.º 1, do C.P.).

D.3. Afastamento do crime de O crime de Calúnia reporta-se à atividade de 0,75


calúnia imputado por falta de propalação de factos inverídicos e não a juízos de
elementos típicos (só para valor, logo nunca o tipo poderia estar preenchido.
factos e não para juízos).
Irrelevância da alteração da O MP não se encontra vinculado à qualificação
qualificação jurídica operada jurídica realizada pelo assistente na acusação
pelo MP ao afastar a calúnia particular, estando apenas impedido de proceder a
uma alteração substancial dos factos a que não se
reconduz uma alteração da qualificação.

D.4. Falta de dolo na acusação 4. AUJ de 20/11/2014, processo n.º 1,25


particular e alteração 17/17.4GBORQ.E2-A. S1 «A falta de descrição, na
substancial dos factos acusação, dos elementos subjetivos do crime,
operada na acusação do MP : nomeadamente dos que se traduzem no
a. Nulidade da acusação conhecimento, representação ou previsão de todas
particular por falta de as circunstâncias da fatualidade típica, na livre
dolo (artº 283º, nº 3 determinação do agente e na vontade de praticar o
ex vi do artº 285º, nº 2 facto com o sentido do correspondente desvalor,
do CPP): falta de não pode ser integrada, em julgamento, por
elemento volitivo e recurso ao mecanismo previsto no art. 358.º do
intelectual (a CPP». A acusação deve sempre conter, porque
expressão utilizada no delimitadora do objeto do processo, os aspectos
artº 10º da acusação que configuram os elementos subjetivos do crime,
particular apenas incluindo a vontade ou intenção de realizar a
abarca a inveracidade conduta típica, apesar de conhecer todas as
da afirmação e não a circunstâncias relevantes, ou, na falta de intenção,
vontade e a a representação do evento como consequência
consciência de utilizar necessária (dolo necessário) ou a representação
expressões aptas a desse evento como possível, conformando-se o
diminuir a pretensão agente com a sua produção (dolo eventual),
de credibilidade e a atuando, assim, conscientemente contra o direito
reputação da Na fase processual em causa, e seguindo a
assistente) jurisprudência fixada no AUJ n.º 7/2005, não seria
b. Impossibilidade legal viável permitir que a assistente, ainda que a
de o MP (ou o JIC) impulso ou iniciativa do JIC, aditasse os elementos
proceder ao em falta, nem esta é suprível por via do acrescento
aditamento do dolo constante do acompanhamento do Ministério
porquanto tal integra Público. Este, ao transmutar uma conduta atípica -
uma alteração por falta dos elementos essenciais – na imputação
substancial dos factos de um crime traduziria, sempre, uma alteração
descritos na acusação substancial de factos, não permitida pelo art.º
particular pelo MP no 285.º, n.º 4 do C.P.P.
caso de o arguido em Sendo aplicável à fase de instrução o mecanismo
sede de instrução se previsto no art.º 359.º do C.P.P., embora não
opor a tal alteração expressamente previsto no art.º 303.º do mesmo
(questão da aplicação diploma, não produziria os efeitos pretendidos,
analógica do artº porquanto, como se refere no enunciado, haveria
359º do CPP na fase oposição do arguido àquela alteração.
de instrução face à
lacuna legal)

D.5. Da indiciação dos factos: o A liberdade de pensamento, do uso da palavra, da 0,75


exercício de um direito de emissão de opinião, integra o núcleo de direitos
crítica/ liberdade de expressão fundamentais com consagração constitucional
como causa de exclusão da (art.º 37.º da C.R.P.).
ilicitude (artº 31º, nº2, al. b) do Poder-se-ia aventar a existência de um conflito
CP); a possível indiciação fica entre o direito à livre expressão do pensamento e a
prejudicada com a apreciação tutela reputacional da assistente, sendo que o
dada à nulidade da acusação primeiro, não absoluto nem contemplando um
todavia deve ser apreciada direito à difamação, considerando o
face às indicações dadas no circunstancialismo dos autos, as palavras
enunciado. proferidas extravasariam o legítimo exercício
opinativo
1,00
III. Organização do Avaliação da correção da linguagem, clareza e (a valorar
discurso técnico - concisão do discurso, rigor da terminologia técnico- conjuntame
jurídico e linguagem jurídica empregada, estruturação lógica do nte com I.)
utilizada raciocínio realizado.

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