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Discente: Luana Leão Menezes

Docente: Isabel Yovana Quispe Mendoza

Setor: 8° leste HC-UFMG

CASO CLÍNICO

1. Histórico e Evolução de Enfermagem

L.B.C, sexo feminino, 27 anos, natural e residente de Paracatu-MG, técnica de


enfermagem, mãe de João Felipe (1 ano e 7 meses), vive com companheiro.
Paciente admitida no 8º andar leste do Hospital das Clínicas da UFMG no dia
28/09/23, proveniente de transferência inter hospitalar do Hospital Júlia Kubitschek,
para tratamento de Linfoma de Hodgkin Clássico. Desconhece alergias e refere
realização de cirurgia ortopédica em pé esquerdo aos 7 anos de idade. Nega
comorbidades e uso de medicações em domicílio. Paciente refere histórico de
higidez até o início de agosto de 2023, quando iniciou quadro de rouquidão e febre.
Ao buscar por atendimento, foi submetida a tomografia de tórax e recebeu o
diagnóstico de pneumonia com indicação de tratamento domiciliar. Após 7 dias de
persistência dos sintomas e início de quadro de dispneia, buscou novamente o
pronto atendimento, onde foi realizada tomografia de tórax com uso de contraste e
visualizada massa em região de mediastino (laudo TC tórax 24/08: Volumosa lesão
expansiva hipodensa, 11.5cm, de aspecto infiltrativo, rechaçando a traqueia e
estrutura vascular, no mediastino anterior/médio, de natureza histológica a
esclarecer. Opacidades peribroncovasculares bilaterais associadas a impactações
mucoides com discreto espessamento das paredes brônquicas, que podem
corresponder inflamatório/infeccioso). Em 31/08 foi transferida ao Hospital Júlia
Kubitschek, onde realizou biópsia de massa mediastinal em 05/09 (laudo biópsia:
compatível com diagnóstico de doença linfoproliferativa - Linfoma de Hodgkin
Clássico estadio IVA). Durante a biópsia, apresentou dispneia, hipóxia e
necessidade de suporte ventilatório invasivo, tendo sido realizada traqueostomia de
urgência. Ao final do procedimento foi transferida ao CTI e desconectada da
ventilação mecânica, apresentando bom padrão respiratório em ar ambiente. Em
06/09 precisou ser submetida a broncoscopia e troca de cânula, devido a
visualização de obstrução traqueal além da cânula. Após recuperar-se do
procedimento e observada a estabilidade de quadro respiratório, recebeu alta do
CTI e foi encaminhada à enfermaria, onde permaneceu até o dia 28/09, quando foi
admitida no 8° Leste do HC/UFMG.
28/09/23: Paciente admitida no leito 811, transferida em maca, acompanhada de
familiar - prima - e profissionais de enfermagem da ambulância. Posicionada no
leito, independente para autocuidado e atividades diárias, mantendo cama baixa,
grades elevadas e rodas travadas, conforme protocolo institucional. Apresenta
regular estado geral, corada, emagrecida, consciente, orientada, ansiosa, afebril,
normotensa, taquicárdica, bom padrão respiratório em AA via traqueostomia, com
expectoração espontânea - secreção de aspecto salivar, fluida em pequena
quantidade - e sem queixas álgicas no momento - refere cefaléia recorrente. Refere
dieta via oral em boa aceitação, fezes ausentes há dois dias, diurese espontânea
em vaso sanitário e necessidade de realização de micronebulização para
mobilização de secreção em traqueostomia, com alguns episódios de aspiração e
oxigenoterapia em óstio de traqueostomia para aumento de saturação. Refere
dificuldades para dormir e um episódio de queda durante a internação, após
mal-estar e perda de equilíbrio. Solicita liberação para visita do esposo, filho menor
de idade, mãe e pai. Relata ansiedade por ver o filho e apreensão com relação ao
início do tratamento. FC:128bpm; FR: 19irpm; StO2: 93; PA: 100x60mmHg; Peso:
50 kg; Alt: 167cm. Encaminhada para ecocardiograma pré início de tratamento
quimioterápico.
Dispositivos terapêuticos:
AVPMSE datado de 24/09/23 e coberto por esparadrapo. Comunicado à técnica de
enfermagem Letícia acerca da necessidade da troca do dispositivo.
Traqueostomia - fixação integra; óstio ausente de sinais flogísticos e sem secreções.
Escalas de risco:
Escala de Glasgow: 15 - consciente
Escala de Morse: 55 – risco alto de quedas - pulseira fixada em MSD
Escala de Braden: 20 – risco baixo de LPP
DOR – EVA ou Escala Comportamental/ CONFORT: 00/10 - sem queixas álgicas
Segurança:
Pulseira de identificação: fixada em MSD
Precaução: contato - devido a transferência inter hospitalar (coletado swab nasal e
perianal em 28/09)
29/09/23: Em ecocardiografia foi identificado derrame pericárdico com
tamponamento cardíaco incipiente e necessidade de abordagem cirúrgica.
Realizada drenagem em bloco cirúrgico e transferência para Unidade Coronariana
após procedimento.
02/10/23: Paciente retorna ao leito de internação 811 do 8° andar Leste, onde dará
continuidade ao tratamento hematológico.

Diagnóstico médico/hematológico:
Linfoma de Hodgkin Clássico estádio IVA + massa bulky de 11,5 cm.

Proposta de Tratamento:
6 ciclos ABVD + PET interim após 2 ciclos com omissão da bleomicina caso PET
negativo.
2. O Linfoma de Hodgkin Clássico

Os linfomas englobam um grupo de doenças neoplásicas originadas no


tecido linfóide (gânglios linfáticos, linfonodos, baço, timo e amígdalas), onde estão
alojadas células do sistema imunológico, como os linfócitos B, os linfócitos T e as
células NK. Ocorrem mutações e diversas alterações nestas células imunológicas,
que passam a perder sua funcionalidade original e a multiplicar-se de forma
descontrolada, constituindo uma massa celular. De maneira geral, estas células
danosas acumulam-se nos linfonodos, porém podem acometer o sangue periférico
ou infiltrar em outros órgãos que não compõem o tecido linfóide.

O linfoma de Hodgkin Clássico foi descrito em 1832 e possui a presença de


células intituladas Reed-Sternberg como principal característica histopatológica. As
manifestações clínicas dependem da localização, do tipo histológico e do estágio do
tumor. Usualmente, os primeiros sintomas costumam aparecer com crescimento
lento de linfonodos, de qualquer cadeia linfática, com formação de massa palpável,
pouco dolorosa, imóvel e de consistência pétrea. Quando em estágio mais
avançado, podem surgir sintomas generalizados, como febre, perda de peso e suor
noturno.

Para definir o estágio em que se encontra a doença, utiliza-se numerais de I


a IV, sendo o estágio I descrito como acometimento de um único sítio, o II e III como
acometimento de dois ou mais linfonodos em um único lado do diafragma (II) ou em
ambos lados do diafragma (III) e o IV como envolvimento de múltiplos órgãos extra
nodais com ou sem envolvimento linfonodal ou envolvimento de um órgão
extra-nodal com envolvimento linfonodal a distância. Ainda, as letras A e B são
utilizadas para descrever a sintomatologia. Quando há perda de mais de 10% peso
corporal sem explicação nos últimos 6 meses, febre acima de 38 °C sem outra
causa ou sudorese noturna profusa o paciente é identificado como portador do
subgrupo B.

A quimioterapia e a radioterapia são os principais tratamentos dos pacientes


com linfoma de Hodgkin clássico e o esquema medicamentoso mais comum para o
tratamento é uma combinação de quatro quimioterápicos denominado pela sigla
ABVD (Doxorrubicina + Bleomicina + Vimblastina + Dacarbazina), cujo número de
ciclos e dose dependem da fase em que a doença se encontra e de outros fatores
associados.

3. Diagnósticos e Intervenções de Enfermagem

Problemas de Enfermagem identificados com base na Teoria das Necessidades


Humanas Básicas:

Problemas de Enfermagem identificados

● Acesso venoso periférico;


● Traqueostomia;
● Risco alto de quedas;
● Comportamento ansioso;
● Afastamento familiar;
● Dificuldade para dormir
● Taquicardia
● Emagrecimento
● Cefaléia recorrente
● Ferida em região do mediastino pós drenagem de
derrame pericárdico

Principais Diagnósticos de Enfermagem e Intervenções a serem implementadas:

I. Ansiedade:

Ansiedade relacionada ao recente diagnóstico hematológico e atual quadro clínico e


ao afastamento familiar, com destaque para o filho de 1 ano e 7 meses, evidenciado
pela apreensão, incerteza e medo.

Domínio 9 - enfrentamento/tolerância ao estresse

Classe 2 - respostas de enfrentamento

Definição NANDA: sentimento vago e incômodo de desconforto ou temor,


acompanhado por resposta autonômica (a fonte é frequentemente não específica ou
desconhecida para o indivíduo); sentimento de apreensão causado pela
antecipação de perigo. É um sinal de alerta que chama a atenção para um perigo
iminente e permite ao indivíduo tomar medidas para lidar com a ameaça.

NIC - Intervenção:

● Redução da Ansiedade (5820)

Encorajar a verbalização dos sentimentos, das percepções e dos medos;

Fornecer informações factuais a respeito do diagnóstico, do tratamento e do


prognóstico.

● Apoio Emocional (5270)

Encorajar o paciente a expressar seus sentimentos de ansiedade, raiva ou tristeza;

Auxiliar o paciente a reconhecer seus sentimentos, como a ansiedade, a raiva ou


tristeza;

Encaminhar o paciente para aconselhamento, conforme apropriado.

II. Risco de infecção:

Risco de infecção evidenciado pela hospitalização e procedimentos invasivos, como


catéter venoso periférico, traqueostomia e ferida decorrente de drenagem de
derrame pericárdico.

Domínio 11 - segurança/proteção

Classe 1 - infecção

Definição NANDA: suscetibilidade à invasão e multiplicação de organismos


patogênicos que podem comprometer a saúde.

NIC - Intervenção:

● Supervisão da Pele (3590)

Inspecionar a pele e as mucosas quanto a dor, vermelhidão, calor ou edema;


Observar os membros quanto a cor, calor, inchaço, pulsos, textura, edema e
ulcerações;

Monitorar a pele quanto ao excesso de ressecamento e umidade;

Monitorar infecções, especialmente em áreas edematosas;

Registrar as alterações observadas na pele ou mucosas.

● Cuidados com o local da incisão (3440)

Inspecionar o local da incisão;

Monitorar o processo de cicatrização da incisão;

Limpar a área ao redor da incisão com uma solução de limpeza adequada e realizar
a troca de curativo nos intervalos apropriados conforme o protocolo.

III. Risco de queda:

Risco de queda evidenciado por escore elevado na escala de Morse.

Domínio 11 - segurança/proteção

Classe 2 - lesão física

Definição NANDA: Suscetibilidade aumentada a quedas que pode causar dano


físico e comprometer a saúde.

NIC - Intervenção:

● Prevenção Contra Quedas (6490)

Identificar os comportamentos e fatores que afetam o risco de quedas;

Rever o histórico de quedas com o paciente e sua família;

Monitorar o passo, o equilíbrio e o nível da fadiga ao caminhar;

Pedir ao paciente que se atente à percepção de equilíbrio;

Usar as grades laterais com comprimento e altura apropriados para impedir a queda
da cama;
Colocar a cama mecânica na posição mais baixa;

Fornecer ao paciente um meio de chamar ajuda (p. ex., luz ou campainha).

IV. Troca de gases prejudicada:

Troca de gases prejudicada relacionada ao desequilíbrio na relação


ventilação-perfusão ventilação-perfusão, evidenciada por spO 93 e relato de anterior
necessidade de oxigenoterapia e desobstrução de vias aéreas

Domínio 3 - eliminação e troca

Classe 4 - função respiratória

Definição NANDA: excesso ou déficit na oxigenação ou eliminação de dióxido de


carbono na membrana alveolocapilar.

NIC - Intervenção:

● Monitoração de Sinais Vitais (6680)

Monitorar a pressão arterial, pulso, temperatura e estado respiratório;

Monitorar ritmo e frequência cardíacos;

Monitorar frequência e ritmo respiratórios (p. ex., profundidade e simetria);

Monitorar os sons pulmonares;

Monitorar a oximetria de pulso;

Monitorar sons respiratórios anormais.

● Controle de Vias Aéreas (3140)

Monitorar o estado respiratório e a oxigenação, conforme apropriado (identificar


necessidade de aspiração e instalação de oxigenoterapia);

Acompanhar junto à equipe de fisioterapia a manutenção da traqueostomia.


4. Classificação dos Resultados de Enfermagem

DIAGNÓSTICOS DE RESULTADOS ESPERADOS (NOC) META


ENFERMAGEM

Estado respiratório: troca gasosa

Troca de gases prejudicada Saturação de oxigênio Manter em (4) Desvio leve da


variação padrão.

Sinais vitais

Troca de gases prejudicada Frequência respiratória Manter em (5) Nenhum desvio da


variação padrão.

Comportamento de prevenção de quedas

Risco de quedas Colocar barreiras para a prevenção Manter em (5) Nenhum desvio da
de quedas variação padrão.

Integridade tissular: pele e mucosa

Risco de infecção Integridade da pele Manter em (4) Desvio leve da


variação padrão.

Enfrentamento

Ansiedade Relato do aumento do conforto Aumentar de (1) Nunca demonstrado


psicológico para (3) Algumas vezes
demonstrado, em 3 dias.
REFERÊNCIAS

1. Diagnósticos de Enfermagem da NANDA - I: Definições e Classificações. 11. ed. rev.


e aum. Porto Alegre; Artmed, 2018-2020. 1187 p.
2. NIC: Classificação das Intervenções de Enfermagem. 5. ed. rev. e aum. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2010. 1037 p.
3. NOC: Classificação dos Resultados de Enfermagem. 4. ed; Rio de Janeiro: Elsevier,
2010. 1409 p.
4. OLIVEIRA, L. S.; DA CRUZ, J. A. L.; ROCKENBACH, M.; DOBRACHINSKI, L.
Aspectos clínicos e histopatológicos dos linfomas Hodking e não Hodking: uma
revisão sistemática / Clinical and histopathological aspects of Hodking and
non-Hodking lymphomas: a systematic review. Brazilian Journal of Development, [S.
l.], v. 7, n. 2, p. 15808–15815, 2021. DOI: 10.34117/bjdv7n2-280. Disponível em:
https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/24750.
5. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÃO
E INSUMOS ESTRATÉGICOS EM SAÚDE. Protocolo Clínico e Diretrizes
Terapêuticas Linfoma de Hodgkin no adulto. Brasília. 2020. Disponível em:
http://antigo-conitec.saude.gov.br/images/Relatorios/2020/20201230_Relatorio_543_
PCDT_Linfoma_de_Hodgkin.pdf

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