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ART03166 – Análise Musical IV (2023/01)

Professor: Fernando Rauber

Aluno: Gonzalo Lamego

“Análise da linguagem poético-musical utilizada em Erlkönig de


Franz Schubert”

INTRODUÇÃO:

"Erlkönig" de Franz Schubert, composto em 1815, é um dos


exemplos mais importantes do repertório de lieder alemães.
Schubert, um dos grandes expoentes do romantismo musical, deixou
um legado duradouro na música erudita do século XIX. Sua
habilidade em dar vida às palavras através da música é notável, e
"Erlkönig" é um testemunho vívido desse talento. Nesta obra,
Schubert captura a intensidade e a tragédia do poema homônimo de
Johann Wolfgang von Goethe, que narra um pai e seu filho que
cavalgam pela floresta durante a noite. Eles são perseguidos pelo
misterioso Erlkönig, o Rei dos Elfos, que tenta seduzir o filho para seu
mundo encantado.
Esta análise se concentra em como a composição de Schubert
em "Erlkönig" se relaciona com a estrutura deste poema.
Exploraremos a forma da obra, destacando as seções que
correspondem às diferentes vozes da narrativa, bem como as
técnicas harmônicas e rítmicas utilizadas para criar tensão e drama.
Além disso, examinaremos como Schubert dá vida aos personagens e
à narrativa do poema através de suas escolhas musicais. A análise
revelará como a música interage com o texto para transmitir a
angústia e o terror da história, tornando "Erlkönig" uma obra-prima
do romantismo musical alemão.

DESENVOLVIMENTO:

Estrofe (1) do Narrador: A primeira estrofe corresponde ao narrador,


onde Schubert estabelece imediatamente a tonalidade de Fá Menor
antes mesmo de qualquer texto, também, considerando a história do
poema, claramente o acompanhamento do piano é uma figura
musical que representa o galope intenso do cavalo que carrega o pai
e filho na história, isto é um detalhe relevante. A estrutura harmônica
é importante de ser observada desde agora, quando o narrador faz
um questionamento na dominante (Dó Menor) e, em seguida,
responde no tom homônimo da tônica (Fá Menor), criando uma
sensação de conclusão.

A utilização da nota Fá bemol no acorde ao mencionar a


criança cria uma sensação de presságio, destacando a tensão na
narrativa. O narrador fecha sua seção com uma cadência em Fá
Menor, reforçando a atmosfera sombria da história.
Estrofe (2) do Pai e do Filho: Na segunda estrofe, correspondente ao
pai e ao filho, Schubert utiliza uma tessitura mais grave para o pai,
mantendo a tonalidade menor (Fá Menor), que cria uma sensação de
gravidade e preocupação.

O filho, por outro lado, canta em uma tessitura mais aguda em


Bb Menor, destacando sua vulnerabilidade.

Quando o pai "reassegura" o filho em Ab Maior no final da


estrofe, isso cria um momento de alívio temporário na música.

Estrofe (3) do Erlkönig: Na terceira estrofe, quando o Erlkönig faz seu


primeiro encantamento em Ab Maior, a música muda
dramaticamente, refletindo a sinistra presença do personagem. O
acompanhamento do piano assume um papel mais proeminente pois
muda completamente, enfatizando possivelmente que o deslocar do
Rei dos Elfos seja diferente do padrão do galope do cavalo.

Estrofe (4) do Pai e do Filho: O retorno súbito ao filho em Fá Menor


na sexta estrofe, com um aumento na tessitura, simboliza o
desespero e o terror do personagem, enquanto o cromatismo cria
uma crescente instabilidade e tensão na música. Assim, o pai tenta
tranquilizar novamente o filho, alternando entre Am e F,
proporcionando um breve alívio na tensão.
Estrofe (5) do Erlkönig: No entanto, essa sensação de segurança é
efêmera, pois a música logo se volta para a próxima estrofe, onde o
Erlkönig faz seu segundo encantamento em Bb Maior e novamente
com um novo padrão de acompanhamento.

Estrofe (6) do Pai e do Filho: Novamente, após outro encantamento


do Erlkonig, o filho grita em desespero em Sol menor, um tom acima
de antes e a presença do cromatismo no final de sua fala ainda existe
e cria mais tensão ainda na música. Agora, o Pai segue tentando
tranquilizar o filho, entretanto se mantém pela primeira vez em
tonalidades menores, sendo elas Bm e Cm. Até então, o Pai sempre
ao assegurar o filho tinha indicação de tonalidades maiores, estaria
ele perdendo as esperanças e ficando verdadeiramente preocupado
com o que pode acontecer com o seu filho e por isso não tem-se mais
aqui a presença de uma tonalidade maior?
Estrofe (7) do Erlkönig: O Rei dos elfos agora inicia seu 3º
encantamento em tom maior, Db, e finaliza em Cm, o que indica que
seu plano foi bem sucedido, ele conseguiu capturar o filho.

Estrofe (8) do Filho e do Narrador: Na última parte do lied, o filho


grita em desespero em Ab Menor, enquanto o pai já não responde
mais. A música retorna à tonalidade inicial de Fá Menor e finaliza com
um aumento do cromatismo, simbolizando a atenção crescente e o
galope frenético do cavalo.
As modulações utilizadas na música sugerem uma relação entre
a incapacidade do filho de se salvar e a vitória gradual do Erlkönig. O
fato de o Erlkönig modular para intervalos maiores de tonalidades
pode indicar que o filho não consegue acompanhar as mudanças e
cede aos encantamentos. O filho modula de Fm para Gm e por último
Abm, enquanto o Rei dos Elfos modula de Ab para Bb e depois para
Db. A ausência de resposta do pai no final pode simbolizar sua
impotência diante da tragédia iminente.

CONCLUSÃO:
Essa análise detalhada da estrutura poético-musical de
"Erlkönig" de Franz Schubert revela como a música pode ser uma
poderosa ferramenta narrativa, capaz de aprofundar e enriquecer a
experiência de um poema. Ao explorar a interação entre a música e o
texto, foi possível destacar os elementos musicais que contribuem
para a intensidade dramática e a evolução emocional desta obra.
Schubert emprega uma paleta de recursos musicais para
representar distintamente cada personagem na história. O narrador,
com sua linha de canto em tessitura média e acordes simples,
estabelece o cenário sombrio. O filho é representado por uma
tessitura mais aguda, tonalidade menor e cromatismo, expressando
sua vulnerabilidade e medo crescente. O pai, com uma tessitura mais
grave e repetitiva, transmite sua preocupação protetora. E, por fim, o
Erlkönig, com sua modulação marcante e um acompanhamento de
piano mais intenso, personifica a ameaça sinistra.
Também, é uma peça em consonância com os ideais do
movimento Sturm und Drang, que buscava expressar emoções
intensas e turbulentas e isso é muito bem representado quando o
compositor explora a negação da tonalidade, criando tensão e
dramatismo por meio de progressões harmônicas enriquecidas por
cromatismos e modulações inesperadas. Esses desvios tonais realçam
os pontos de chegada, como a recapitulação da tonalidade inicial de
Fá Menor, tornando-os momentos ainda mais significativos.
Schubert emprega esses recursos musicais para acentuar a
atmosfera emocionalmente carregada da narrativa, proporcionando
uma experiência auditiva impactante que ecoa os sentimentos e as
tensões da história narrada. Esta conexão com o Sturm und Drang
ressalta a capacidade da música de Schubert de transcender as
fronteiras entre o clássico e o romântico, tornando "Erlkönig" uma
obra que continua a cativar e intrigar os amantes da música clássica,
exemplificando a maestria do compositor em traduzir a emoção
humana para o idioma da música.
Esta análise demonstra como a música de "Erlkönig" enriquece
e complementa a narrativa do poema de Goethe, tornando-a uma
experiência emocionante e memorável para aqueles que a exploram.

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