1) O documento discute o princípio da soberania dos veredictos do júri e a possibilidade da acusação recorrer de decisões absolutórias manifestamente contrárias às provas. 2) Apresenta definições de soberania dos veredictos de autores como Nucci e Campos. 3) Discute a inserção do quesito genérico no CPP de 2008 e a controvérsia sobre a possibilidade de recurso da acusação.
1) O documento discute o princípio da soberania dos veredictos do júri e a possibilidade da acusação recorrer de decisões absolutórias manifestamente contrárias às provas. 2) Apresenta definições de soberania dos veredictos de autores como Nucci e Campos. 3) Discute a inserção do quesito genérico no CPP de 2008 e a controvérsia sobre a possibilidade de recurso da acusação.
1) O documento discute o princípio da soberania dos veredictos do júri e a possibilidade da acusação recorrer de decisões absolutórias manifestamente contrárias às provas. 2) Apresenta definições de soberania dos veredictos de autores como Nucci e Campos. 3) Discute a inserção do quesito genérico no CPP de 2008 e a controvérsia sobre a possibilidade de recurso da acusação.
O projeto de pesquisa em evidência tem sua gênese na análise do art. 593,
III, d, do Código de Processo Penal, sobretudo após a substancial alteração feita pela Lei 11.689/08 no mencionado diploma processual penal, em confronto com o quesito previsto no art. 483, III e §2º, do CPP e com o princípio da soberania dos veredictos, disposto no art. 5º, XXXVIII, c, da Constituição da República de 1998. Certo é que a Constituição, em seu art. 5º, XXXVIII, c, assegura à instituição do júri o princípio da soberania dos veredictos, sendo esse considerado, portanto, uma garantia constitucional. Cumpre colacionar o conceito de soberania dos veredictos na visão do doutrinador Guilherme de Souza Nucci:
A soberania dos veredictos é a alma do Tribunal Popular, assegurando-lhe
efetivo poder jurisdicional e não somente a prolação de um parecer, passível de rejeição por qualquer magistrado togado. Ser soberano significa atingir a supremacia, o mais alto grau de uma escala, o poder absoluto, acima do qual inexiste outro. Traduzindo-se esse valor para o contexto do veredicto popular, quer-se assegurar seja esta a última voz a decidir o caso, quando apresentado a julgamento no Tribunal do Júri. [...] Respeitar a soberania dos veredictos significa abdicar da parcela de poder jurisdicional, concernente ao magistrado togado, para, simplesmente, fiscalizar e buscar corrigir excessos e abusos, mas sem invadir o âmago da decisão, crendo-a justa ou injusta. (NUCCI, 2018, p. 104).
Neste diapasão, o autor Walfredo Cunha Campos ensina com maestria
acerca da soberania que possuem os veredictos dos jurados no âmbito do Tribunal do Júri:
A decisão coletiva dos jurados, chamada de veredicto, não pode ser
mudada em seu mérito por um tribunal formado por juízes técnicos (nem pelo órgão de cúpula do Poder Judiciário, o Supremo Tribunal Federal), mas apenas por outro Conselho de Sentença, quando o primeiro julgamento for manifestamente contrário às provas dos autos. E assim deve ser. Júri de verdade é aquele soberano, com poder de decidir sobre o destino do réu, sem censuras técnicas dos doutos do tribunal. (CAMPOS, 2018, p. 8).
É inconteste que somente os jurados são os verdadeiros juízes da causa,
possuindo suas decisões soberania, de modo que não podem sofrer modificações quanto ao mérito por juízes togados. Contudo, adverte Rodrigo Merli Antunes (2014, p. 7): “Com efeito, soberania não quer dizer ausência de controle dos veredictos, nem tampouco pura onipotência, mas significa supremacia e independência para julgar”. Ensina Aury Lopes Jr. acerca de outro ponto da discussão, envolvendo a reforma operada em 2008 no Código de Processo Penal, sobretudo no tocante à inclusão do quesito genérico:
Esse quesito é a principal simplificação operada pela Lei n. 11.689/2008,
pois ele engloba todas as teses defensivas (exceto a desclassificação, que será tratada na continuação), não mais havendo o desdobramento em diversos quesitos para decidir‐se sobre a existência (ou não) da causa de exclusão da ilicitude ou culpabilidade eventualmente alegada. (LOPES JR., 2018, p. 838).
Com efeito, após a inserção do quesito genérico, acima mencionado, no
direito processual penal, passou-se a questionar se a acusação ainda poderia interpor apelação em face da decisão absolutória do Conselho de Sentença se essa fosse dissociada das provas constantes nos autos, uma vez que o quesito em questão, acentuando a íntima convicção dos jurados, permite que o acusado seja absolvido por qualquer motivo, ainda que não jurídicos. Acerca dessa controvérsia é o entendimento de Guilherme de Souza Nucci:
Por outro lado, a simples existência do recurso de apelação voltando ao
questionamento da decisão dos jurados não constitui, por si só, ofensa ao princípio constitucional da soberania dos veredictos; ao contrário, harmonizam-se os princípios, consagrando-se na hipótese o duplo grau de jurisdição. Além do mais, a Constituição menciona haver soberania dos veredictos, não querendo dizer que exista um só. A isso, devemos acrescentar que os jurados, como seres humanos que são, podem errar e nada impede que o tribunal reveja a decisão, impondo a necessidade de se fazer um novo julgamento. Isto não significa que o juiz togado substituirá o jurado na tarefa de dar a última palavra quanto ao crime doloso contra a vida que lhe for apresentado para julgamento. Por isso, dando provimento ao recurso, por ter o júri decidido contra a prova dos autos, cabe ao Tribunal Popular proferir uma outra decisão. Esta, sim, torna-se soberana, porque essa hipótese de apelação só pode ser utilizada pela defesa uma única vez (art. 593, § 3.º in fine). (NUCCI, 2018, p. 1.127).
Destarte, será adotado como marco teórico no presente projeto o
entendimento de que a acusação pode interpor apelação em face da decisão absolutória dos jurados que se revele manifestamente contrária à prova dos autos, sem que isso implique em violação ao princípio da soberania dos veredictos, utilizando-se, para tanto, os posicionamentos de Guilherme de Souza Nucci (2018), Walfredo Cunha Campos (2018), Edilson Mougenot Bonfim (2018), Rogério Sanches Cunha (2019), eis que acredita-se ser a fundamentação adequada para a continuação e desenvolvimento da pesquisa proposta.
Da não violação ao princípio constitucional da presunção de inocência (art. 5º, LVII, CF/88) em face da execução provisória da pena após condenação em segunda instância
ALMEIDA, Gregório Assagra. Exigência de Ilegalidade e de Lesividade Ao Erário para Propositura de Ação Popular. de Jure Revista Do Ministério Público Do Estado de Minas Gerais