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Viabilidade do planeamento por etapas: visão dos estudantes-estagiários

Article · June 2020


DOI: 10.47863/CUWM8901

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5 authors, including:

João Tiago Andrade Daniel Patricio


University of Lisbon Universidad Tecnológica Indoamérica
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Raquel Correia Adilson Marques


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Journal of Sport Pedagogy and Research 6(1) - (2020) 62-67

Viabilidade do planeamento por etapas: visão dos


estudantes-estagiários

João Andrade1, André Cruz1, Daniel Patrício1, Raquel Correia1,


Adilson Marques1
1
Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa;

Palavras-chave RESUMO:
Educação física,
Planeamento, O planeamento faz parte do processo de ensino-aprendizagem, tendo influência na sua
Planeamento por eficácia. A concretização desta tarefa é, muitas vezes, difícil pelas variantes que o
etapas.
contexto da prática de ensino apresenta. O modelo de planeamento de educação física
recomendado em Portugal e definido pelos Programas Nacionais de Educação Física
(PNEF) é o planeamento por etapas. Este modelo de planeamento perspetiva estruturar as
aprendizagens ao longo do ano, numa lógica de continuidade e acompanhamento do
aluno. Não existe evidência que suporte que este tipo de planeamento seja mais eficaz que
qualquer outro. Como ferramenta imprescindível para o professor, é importante averiguar
se este tipo de planeamento é viável, indo ao encontro dos objetivos a que se propõe.
Logo, o objetivo deste documento foi averiguar a perceção dos estudantes-estagiários
acerca da viabilidade do planeamento por etapas no ensino da educação física. Realizou-
se um grupo focal, como método de recolha de dados, constituído por quatro estudantes-
estagiários. Os estudantes-estagiários concluíram que este modelo de planeamento é
viável, admitindo que esta viabilidade está dependente de determinados fatores.

Keywords ABSTRACT:
Physical education,
Planning, Planning is a part of teaching-learning processes influencing its effectiveness. The
Step-by-step accomplishment of this task is often difficult by the innumerable variants that the practical
planning. context of teaching presents. For this reason, it undergoes through several changes during
its application. The model of physical education planning recommended in Portugal and
defined by the PNEF (guiding document), is the step-by-step planning. This planning
model structures the learning throughout the year, in logic of progression and monitoring
the student’s development. There is no evidence to support this type of planning to be
more effective compared to any other. As an indispensable tool for the teacher, it is
important to find out if this type of planning is feasible, meeting the objectives that it
proposes. Therefore, the purpose of this document was to investigate the perception of
pre-service teachers about the viability of the step-by-step planning in the teaching
process of physical education. As a method of data collection, a focus group was formed
constituted by four pre-service teachers. The pre-service teachers concluded that this
planning model is viable, admitting that its feasibility is dependent on certain factors.

*Correspondência – João Andrade – joao_andrade95@hotmail.com 62


Viabilidade do planeamento por etapas

Introdução regulação do processo ensino-aprendizagem. Assim,


o mesmo pressupõe a existência de diferentes etapas
O planeamento define-se pelo conjunto de decisões no planeamento que são definidas como períodos
tomadas na fase pré-interativa de ensino. O que regulam e conduzem o processo educativo.
planeamento confere uma intenção pedagógica Estas etapas devem possuir características diferentes
organizada em função dos objetivos a atingir e das ao longo do ano letivo consoante a evolução das
estratégias a adotar, seja a curto, médio ou longo aprendizagens dos alunos e as intenções do
prazo, evitando que a intervenção se torne uma professor. Ao longo do ano letivo, são sugeridas três
casualidade. Este ganha relevância no contributo que etapas. A primeira etapa diz respeito à avaliação
oferece à estruturação da relação entre o ensino e a inicial que visa compreender onde cada aluno se
aprendizagem, ou seja, entre a teoria e a prática, o situa relativamente ao programa previsto e efetuar
que promove a eficácia pedagógica (Bento, 1998). um prognóstico da sua evolução ao longo do ano. A
Permite lidar com a imprevisibilidade, tendendo a segunda etapa reporta-se à aprendizagem e
reduzi-la e prevendo os vários cenários e erros que desenvolvimento dos conteúdos em si. Por fim, a
podem, hipoteticamente, acontecer. Além disso, está terceira etapa pretende rever e consolidar as matérias
associado à prevenção de comportamentos abordadas, garantindo oportunidades de recuperação
desviantes e a uma melhor gestão do tempo aos alunos para que alcancem patamares mais
(Januário, 1996). Assim sendo, a progressão da elevados (Ministério da Educação, 2001). A
prática de ensino é reflexo do planeamento, pelo que organização das mesmas deve considerar o
o professor deverá considerar os diversos fatores que calendário escolar (como as interrupções letivas), as
se encontram em permanente interação entre o características das instalações disponíveis (plano de
professor, o aluno e o contexto, em prol das rotação) e ainda as condições climatéricas ao longo
aprendizagens (Januário, 2017). do ano, procurando aproveitar, de uma forma eficaz,
No contexto escolar o planeamento é fundamental, todos os recursos da escola (Ministério da Educação,
pois antevê e estabelece o processo de forma a 2001).
atingir os objetivos e finalidades propostas. Os Embora seja o modelo de planeamento recomendado
objetivos surgem para assegurar a efetivação do nos PNEF, não existe evidência da sua eficácia.
plano, conferindo um suporte ao professor, evitando Assim, para compreender melhor a sua viabilidade,
que este se desvie do planeado (Assis, Oliveira, & o objetivo do presente trabalho foi analisar a
Santos, 2013). perceção dos estudantes-estagiários sobre a
Professores que possuem melhor qualidade nas operacionalização do modelo de planeamento por
decisões de planeamento formulam objetivos mais etapas.
claros e específicos, representam melhor o cenário
de ensino, tomam maior número de decisões e Metodologia
possuem um maior número de rotinas de
planeamento e de instrução (Januário, 2017). Deste Participantes
modo, contribuem para a qualidade do processo de
ensino-aprendizagem. A qualidade do planeamento é O grupo focal foi constituído por quatro estudantes-
tão eficaz consoante o nível de correspondência com estagiários, alunos do último ano do mestrado em
a sua implementação efetiva (Derri, Papamitrou, educação física. Os estagiários realizaram estágio
Vernadakis, Koufou, & Zetou, 2014). No entanto, o em escolas localizadas no distrito de Lisboa. A
mesmo é considerado como uma tarefa complexa, identificação dos estagiários ao longo do documento
sendo que a sua aplicação, por norma, está associada foi efetuada da seguinte forma: E1, E2, E3 e E4. Os
a muitas dificuldades e dúvidas (Sáenz-López, participantes foram informados acerca dos objetivos
2011), que são acrescidas nos estudantes-estagiários do estudo, participando de forma voluntária.
(Teixeira e Onofre, 2009). Esta associação é
explicada pelo facto do planeamento ser Instrumento
influenciado por diversos fatores que têm de ser
tidos em conta aquando da tomada de decisões. De modo a realizar a entrevista semiestruturada foi
Estas dificuldades poderão ser agravadas pela utilizado um guião construído pelos autores. As
inexperiência dos professores (Viciana & Mayorga- questões do guião perseguiam o objetivo do
Vega, 2013). trabalho, sendo:
Enquanto documento orientador oficial para a ação 1. Nos locais onde estão a realizar o estágio
dos professores de educação física em Portugal, os pedagógico, põem em prática o planeamento por
Programas Nacionais de Educação Física (PNEF) etapas?
sugerem que a organização geral de um ano letivo 2. Tendo em conta a vossa experiência, quais
deverá ser realizada através de um planeamento por as vantagens e desvantagens do planeamento por
etapas (Ministério da Educação, 2001). Este modelo etapas?
assume-se como um modo de operacionalização do 3. Todos os espaços escolares são
plano anual de turma, facilitando a orientação e polivalentes?

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Viabilidade do planeamento por etapas

4. Como é aplicado o plano de etapas se os informação valiosa que seria perdida numa
espaços não forem polivalentes? investigação com uma análise quantitativa (Moretti
5. A rotação dos espaços intervém na et al., 2011).
lecionação das matérias prioritárias? (Ex.: Pretende-
se dar uma unidade de ensino de Ginástica, mas Resultados e Discussão
estão no espaço exterior: a rotação dos espaços
condiciona ou não?) Implementação do planeamento por etapas
6. Conseguiram, em todos os momentos,
concretizar o vosso planeamento por etapas? Se não, Todos os estagiários afirmaram que usaram o
o que alteraram? modelo de planeamento por etapas. Todavia,
7. Quais as principais dificuldades que nenhum afirmou que o fez por iniciativa, mas como
sentiram com o planeamento por etapas? Que sendo o único modelo possível no âmbito do estágio.
repercussões tiveram essas dificuldades nas Sendo que o estágio deve estar enquadrado nos
aprendizagens dos alunos? PNEF, é lógico que deveriam seguir as indicações
8. Na vossa opinião, o planeamento por etapas dos PNEF. Por outro lado, como os PNEF são
é viável? documentos orientadores, muito provavelmente
Em alguns momentos da entrevista foram colocadas deveria ter sido dada autonomia aos estagiários para
questões adicionais com o objetivo de clarificar escolherem o modelo de planeamento. Ao serem
alguns aspetos. Houve sempre a preocupação de privados dessa autonomia, pela orientação que
redirecionar a entrevista sempre que existisse algum receberam para o estágio, ficaram privados da
desvio à temática central. capacidade de decisão fundamentada como
profissionais reflexivos que deveriam ter autonomia
Procedimentos pela tomada de decisões na prática docente. Além
disso, a sua consciência sociocultural e ética fica
A entrevista sob a forma de grupo focal foi dirigida empobrecida (Oliveira & Serrazina, 2002).
por um entrevistador principal, auxiliado por outros
dois investigadores, que colocou as questões Polivalência dos espaços
conforme se apresentam no guião. Todavia, existia a
liberdade para os outros elementos do grupo O modelo de planeamento por etapas assenta num
colocarem questões, se assim achassem pertinente. conjunto de pressupostos, sendo um dos quais a
A maioria das questões foi colocada de forma aberta polivalência dos espaços (Ministério da Educação,
para que cada elemento do grupo focal pudesse 2001). A polivalência dos espaços traduz-se nas
responder livremente. Em alguns momentos da possibilidades que os mesmos conseguem oferecer
entrevista foram solicitados especificamente alguns para a lecionação das diferentes matérias. Cada
elementos do grupo com o objetivo de dinamizar a espaço de aula privilegia a abordagem a
entrevista e incentivar a discussão. A escolha deste determinadas matérias. Porém, é importante não
método de recolha de dados visou, além de recolher limitar os espaços às matérias a que melhor se
dados de uma forma mais detalhada, fomentar a apropriam (Brás & Monteiro, 1998). Tendo em
interação entre os elementos da amostra numa lógica conta a realidade vivida em Portugal, constata-se
de discussão e reflexão sobre o tema comum e os que nem todas as escolas conseguem assegurar este
seus diferentes contextos de intervenção. Não conta princípio. Os estudantes-estagiários entrevistados
apenas com o contributo individual de cada um, mas afirmam viver esta realidade, referindo que nem
sim com uma construção coletiva (Morgan, 1996). A todos os espaços, em que lecionam, são polivalentes.
entrevista teve lugar numa sala de aula com os
participantes dispostos numa mesa. A entrevista teve “Não, não tenho tabelas no exterior. E
a duração aproximadamente de 45 minutos sendo, tenho um polidesportivo enorme que não
posteriormente, transcrita na sua integra. tem tabelas, por isso só posso fazer
basquete naquele espaço.” (E4)
Análise de dados
“Por exemplo, um dos ginásios, que é o
Foi efetuada uma análise de conteúdo das respostas ginásio que tem espelhos para a ginástica,
obtidas, o que permitiu criar quatro categorias tem lá os aparelhos todos, mas tudo o que
principais que orientaram o escrutínio desta temática seja jogos desportivos coletivos, tudo o que
e dos fatores que a influenciam. As categorias são: envolva bolas não é possível por causa dos
implementação do planeamento por etapas, espelhos.” (E3)
polivalência de espaços, vantagens do modelo de
planificação por etapas e desvantagens do modelo de O planeamento, como já referido anteriormente, é
planificação por etapas. As mesmas foram uma tarefa de complexa execução e que engloba
fundamentais para o desenvolvimento desta uma grande diversidade de fatores. Essa
investigação, pois permitiram a utilização de complexidade repercute-se, diretamente, na

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Viabilidade do planeamento por etapas

dificuldade em planear que é acrescida em No entanto, não existe evidência que sustente que as
professores em formação (Teixeira e Onofre, 2009). aprendizagens, provenientes de um processo
Foram identificadas diversas dificuldades que os orientado por um planeamento por etapas, sejam
professores enfrentam nos primeiros anos de mais significativas ou consolidadas que qualquer
lecionação como o estatuto, gestão dos recursos outro tipo de planeamento.
materiais e instalações assim como a organização e
controlo da aula (Sáenz-López, 2011). Os Desvantagens do modelo de planificação por etapas
estudantes-estagiários afirmaram que o mapa de
rotação dos espaços, definido pela escola, é Quando se referem às desvantagens verificam-se
determinante para o planeamento sendo a sua base algumas inconsistências no seu discurso. Os
de sustentação. estudantes-estagiários apontam a descontinuidade e
o impedimento da lecionação de algumas matérias
“Tu geres-te pelo mapa de rotações.” (E1) como principais desvantagens do planeamento por
etapas. Reconhecem tais desvantagens como
“(…) tu não fazes a unidade de ensino e limitações à aprendizagem que estão, diretamente,
depois olhas para o mapa de rotação. É ligadas ao princípio da polivalência de espaços e ao
totalmente ao contrário. Tu olhas para o modo como é construído o mapa de rotação de
mapa de rotações e depois é que fazes a tua espaços.
unidade de ensino.” (E2)
“(…) no planeamento por etapas, por
O PNEF critica as escolas que se organizam em exemplo, nós temos aulas de ginásio de três
função do mapa de rotações. Esta crítica é em três semanas. Eu tenho uma aula à
justificada com o facto deste modo de organização quarta e à quinta dou ginástica, ginástica de
se subjugar às instalações não conseguindo solo, ginástica de aparelhos… Depois, só
corresponder às dificuldades e necessidades de passadas três semanas é que volto a essa
aprendizagem dos alunos (Ministério da Educação, matéria.”
2001). Porém, todos os estagiários dizem estar “Ainda por cima a minha primeira aula é a
dependentes do mapa de rotação dos espaços para dos 50 minutos, é quase voltar a relembrar
planear, expondo a realidade vivida. as coisas básicas.” (E1)

Vantagens do modelo de planificação por etapas “Porque por mais que a prioridade dos
meus alunos seja futebol ou andebol, por
Na ótica dos estagiários, a principal vantagem deste exemplo futebol e andebol. Mas se eu vou
tipo de planeamento é a aprendizagem progressiva e estar, só vou passar por isso no final do
não delimitada no tempo. Justificam com o facto de período, nesses espaços ou os únicos
o professor poder abordar determinada matéria ao espaços onde eu posso fazer isso.”
longo do ano, em diferentes momentos, “Posso trabalhar, lá está, de forma mais
proporcionando um maior acompanhamento e isolada, mas nunca tenho a situação real.
desenvolvimento das aprendizagens nas diversas Por isso condiciona e muito, na minha
matérias. opinião, condiciona muito isso, as
prioridades das matérias que nós temos.”
“É assim, eu também estou a fazer o (E4)
planeamento por etapas. Acho que neste
planeamento por etapas os alunos A aprendizagem é condicionada quando não são
conseguem aprender mais e essa proporcionadas as condições de prática adequadas
aprendizagem fica melhor consolidada ao ao desenvolvimento de determinadas matérias, em
contrário do planeamento sem ser por certos momentos. A repetição é considerada como
etapas. Acho que se prende essencialmente um fator determinante para o processo de
nessa vantagem para os alunos.” (E3) aprendizagem e encontra-se relacionada com os
processos de armazenamento e transmissão da
“(…) eu estou a fazer por etapas e concordo informação motora ao nível do sistema nervoso. Se
que a aprendizagem é melhor porque não não existir essa estimulação estes processos não
é…dada naquele momento e depois acaba e ocorrerão, prejudicando o processo de aprendizagem
nunca mais volta a dar, é melhor porque o (Squire & Kandel, 1999). Em contextos de
aluno vai a pouco e pouco aprendendo.” aprendizagem de tarefas desportivas, a repetição tem
“Ou seja, eu volto a estar uma semana em de ser enquadrada num processo intencional que só
cada espaço que é para fazer avaliação final terá efeito através de um planeamento adequado
de todas as matérias em todos os espaços.” (Passos, 2013).
(E4) Os estudantes-estagiários referiram ser possível
contornar estas limitações, impostas à

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Viabilidade do planeamento por etapas

aprendizagem, através da adaptação das condições opiniões com a perceção de aprendizagem dos
de prática ou pela realização de outro tipo de alunos derivada de um melhor acompanhamento dos
atividades não previstas. mesmos. Todavia, não existe literatura que suporte o
desenvolvimento e consolidação das aprendizagens
“Consegues, mas consegues sempre deste modelo de planeamento. O pressuposto da
adaptar. Porque mesmo que não faças uma polivalência dos espaços é violado pelas
situação real de jogo, por exemplo não tens características das escolas onde lecionam. A opinião
tabelas para jogar, mas eu posso fazer no dos estudantes-estagiários também é unânime
polidesportivo, posso utilizar a mesma bola quando afirmam que a construção do mapa de
de basquete para o aquecimento, para o rotações, aliada à não polivalência dos espaços, é
drible, para defesa individual, para essas determinante no planeamento. Mesmo assim, as suas
questões todas, podes não trabalhar de opiniões mantêm-se, afirmando poder contornar esse
forma formal, mas podes trabalhar de forma facto pela adaptação de alguns aspetos. É certo que,
isolada e consegues…” (E3) devido a estes constrangimentos, os alunos ficam,
frequentemente, privados das melhores condições de
“Faço mais condição física, outras prática que a escola pode providenciar pela logística
modalidades…” (E1) da rotação de espaços imposta, condicionando as
suas aprendizagens. O planeamento por etapas perde
A divisão de uma matéria nas suas componentes, a sua intencionalidade devido aos constrangimentos
como sugere um dos estudantes-estagiários, pode ser identificados, pelo que se considera que não é
benéfico para colmatar algumas lacunas. Todavia, viável.
não nos podemos esquecer que a avaliação das
aprendizagens proposta pelos PNEF tem por base, Referências
frequentemente, as situações jogadas. Estas
situações poderão ser formais ou derivadas da Assis, R. M., Oliveira, M., & Santos, N. (2013).
estrutura formal não desvirtuando o seu objetivo Planejamento de ensino: Algumas sistematizações.
principal (Ministério da Educação, 2001). Logo, Revista Eletrônica de Educação do Curso de
incorre-se o risco de as aprendizagens nucleares não Pedagogia, 1(4). doi: 10.5216/rir.v1i4.214
serem desenvolvidas e consolidadas. Além disso, o
princípio da diferenciação defendido pelos PNEF Bento, J. O. (1998). Planeamento e avaliação em
poderá estar em causa (Ministério da Educação, educação física (2ª ed.). Lisboa: Livros Horizonte.
2001). Este princípio não será respeitado sempre que Brás, J., & Monteiro, J. E. (1998). A importância do
o professor não conseguir adaptar o currículo às grupo para o desenvolvimento da educação física.
necessidades do aluno (Roldão, 2003), como é Horizonte, 15(86), 1–12.
preconizado, devido a este constrangimento.
Posto isto, os estudantes-estagiários pronunciaram- Derri, V., Papamitrou, E., Vernadakis, N., Koufou,
se acerca da viabilidade do planeamento por etapas. N., & Zetou, E. (2014). Early professional
A opinião neste assunto, como em outros já development of physical education teachers: effects
referidos, foi unânime considerando que este modo on lesson planning. Procedia - Social and
de planeamento é viável. No entanto, estão Behavioral Sciences, 152, 778–783.
conscientes de que a viabilidade está dependente de Januário, C. (1996). Do pensamento do professor à
determinados fatores como a polivalência dos sala de aula. Coimbra: Livraria Almedina.
espaços, a capacidade de adaptação do professor e o
número de matérias a abordar. Januário, C. (2017). O planejamento de jovens
professores de educação física. Educação física
Limitações escolar: Referências para o ensino de qualidade,
109–118.
É necessário reconhecer as limitações deste estudo Ministério da Educação. (2001). Programa de
como o facto de ter sido realizado apenas com educação física (reajustamento) – 3º ciclo do ensino
quatro estudantes-estagiários, com pouca básico. Ministério da educação. Lisboa.
experiência de lecionação. Portanto, as ilações
retiradas não são representativas da realidade vivida Moretti, F., Vliet, L. Van, Bensing, J., Deledda, G.,
em Portugal ou da zona em que foi realizado. Mazzi, M., Rimondini, M., … Fletcher, I. (2011). A
standardized approach to qualitative content analysis
Conclusão of focus group discussions from different countries.
Patient Education and Counseling, 82(3), 420–428.
Os estudantes-estagiários entrevistados concluíram Morgan, D. L. (1996). Focus groups. Annual Review
que o planeamento por etapas, recomendado pelos of Sociology, 22, 129–152.
PNEF, deve ser o tipo de planeamento privilegiado
para a atividade educativa. Fundamentam as suas

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Viabilidade do planeamento por etapas

Oliveira, I., & Serrazina, L. (2002). A reflexão e o Teixeira, M., & Onofre, M. (2009). Dificuldades dos
professor como investigador. Reflectir e Investigar professores estagiários de educação física no ensino.
Sobre a Prática Profissional, 29, 29-42. Sua evolução ao longo do processo de estágio
pedagógico. In X Symposium Internacional Sobre el
Passos, P. (2013). Comportamento motor, controlo e
Practicum Y las Práticas en Empresas en la
aprendizagem. Lisboa: Edições FMH.
Formación Universitária (pp. 1159-1170). AIDU -
Roldão, M. (2003). Diferenciação curricular Asociación Iberoamericana de Didáctica
revisitada. Conceito, discurso e práxis. Porto: Porto Universitaria. Poio, Pontevedra, Espanha.
Editora.
Viciana, J., & Mayorga-Vega, D. (2013). Effect of
Sáenz-López, P. (2011). Describing problems internships on pre-service teachers’ conceptions of
experienced by spanish novice physical education planning in physical education. European Scientific
teachers. The Open Sports Sciences Journal, 4(1), 1– Journal, 9(19), 253–261.
9.
Squire, L., & Kandel, E. (1999). Memory: From
mind to molecules. New York: Scientific American
Library, 12(1), 135–137.

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