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— Você realmente não precisa me levar — diz ela pela décima vez,
enquanto nos dirigimos para a audiência preliminar de seu marido. — Você
já fez muito por nós. Eu poderia ter caminhado.
Certo, como se eu fosse deixá-la andar 20 quilômetros até o
tribunal. Ela precisava de uma carona, já que não pode dirigir por causa dos
medicamentos que está tomando, e eu não consigo deixá-la sair da minha
vista por mais de uma hora. Então, levá-la é tanto por ela quanto por mim.
— Você não tem que ficar repetindo isso. Se eu não quisesse estar
aqui com você, não estaria. Sei que pode não entender, Ellie, mas eu preciso
estar aqui com você agora.
— Você precisa?
— Sim. Não vou deixar você ir naquele tribunal sozinha. Se quiser
que eu entre, eu entrarei. Se quiser que eu fique de fora, eu ficarei. Vou fazer
o que você precisar. Ok?
— Ok.
Ela e Hadley ficaram em minha casa ontem à noite, principalmente
porque fui capaz de convencê-la de que ela precisava de alguém para ajudá-la
a se mover, porque mal consegue andar ereta. O médico constatou que ela
tem três costelas quebradas e muitos hematomas. A impressão da mão dele
está em seu braço, e há uma marca roxa em sua bochecha de quando ele a
esbofeteou, mas ela não precisou de pontos. Não tenho intenção de sair do
lado dela.
Não porque quero controlá-la, mas porque quero protegê-la, que é o
motivo que estou lutando para me controlar. Ellie não tinha escolha e
nenhuma maneira de partir, e isso a fez se sentir desamparada. Eu intervir e
protegê-la tentando dizer a ela como lidar com as coisas não é algo que eu
possa fazer.
Não quero que outro homem tire Ellie de si mesma novamente.
Então, estou sufocando cada resposta que normalmente daria e que deixaria
espaço zero para negociação e tento fazê-la tomar a decisão que deseja. Se ela
não o fizer, o que é algo que ainda não aconteceu, terei de agir.
O xerife Mendoza explicou que hoje determinaria se eles manterão
Kevin na prisão até o julgamento ou se ele pagará fiança e ficará solto por
conta própria.
Se ele for solto, não sei como vou responder, e não sei se Ellie tem
um plano se isso acontecer.
Estaciono o carro e Ellie alcança a maçaneta, mas ela não se move
para abrir a porta.
— Não posso fazer isso.
— Sim, você pode.
— Não — ela diz, respiração acelerando. — Eu não posso. Não
vou conseguir olhar para ele.
Saio do carro, dou a volta para o lado do passageiro e abro a porta
antes de me agachar para ficarmos cara a cara.
— Ele não pode te machucar. Ele vai ter que passar por mim para
chegar perto de você.
Sua mão se levanta e ela toca minha bochecha por um breve
momento.
— Você não me deve nada, Connor.
Não tenho certeza do que ela quis dizer com isso.
— Não estou aqui porque me sinto em dívida com você. Por que
você pensaria isso?
— Eu não sei, mas também não sei por que você está fazendo isso.
— Porque eu me importo.
— Você se importa?
Como ela não consegue ver?
— Eu me importo com você e Hadley. Você não tem ideia de
quantas noites eu sonhei com você, Ellie. Eu não sabia seu nome nem nada
além do seu rosto e como você me salvou naquela noite. Seu sorriso, seus
olhos, a maneira como me deu confiança e esperança quando eu não tinha
nenhuma é o que me manteve vivo. Noite após noite, eu repassava na minha
cabeça, sonhando com meu anjo que desceu do céu, me fazendo querer
continuar lutando. Então, posso não estar em dívida com você, mas me
importo com você. Estou fazendo isso porque não consigo imaginar outra
coisa senão estar aqui para ajudá-la. Estou fazendo isso porque você é
corajosa e forte, e ninguém jamais merece o que foi feito com você. Você
pegou Hadley e fugiu. Sabia que sua filha precisava que você a escolhesse, e
você escolheu. Então, você tem que fazer de novo agora. Tem que lutar e
entrar lá com a cabeça erguida. Eu estarei bem ao seu lado.
Ela solta um suspiro pesado, a agitação é clara em seu rosto.
— Você fica me dizendo essas coisas. — Sua voz falha, e ela tem
que limpar a garganta. — Não sou corajosa, mas quero ser. Tenho tantas
coisas que quero dizer a você, mas minha cabeça está uma bagunça.
— Não estou pedindo nada. Só quero que você saiba que não está
sozinha.
— Eu quero ser a mulher que você vê.
Sei como é isso. Eu me levanto e estendo a mão para ela.
— Então me mostre.
Coloco a mão na dele e saio do carro, colhendo sua coragem a cada
passo que dou. Ele acha que sou corajosa. Ele não olha para mim como se eu
fosse uma garota estúpida que estava fraca demais para ir embora. Connor me
vê como uma mulher que colocou sua filha em primeiro lugar e foi embora
quando a segurança dessa menina foi ameaçada.
Agora, preciso sentir essa força novamente. Preciso ser forte,
mesmo que queira me esconder no carro e nunca mais vê-lo.
Quando chegamos às portas do tribunal, o promotor público, que já
foi um bom amigo de Kevin, está lá.
— Ellie — Nathan Hicks diz, com a mão levantada.
Minha mão se move para o antebraço de Connor, e eu seguro
enquanto avançamos.
— Oi, Nate.
Ele olha para mim, percebendo os hematomas e cortes que não
consigo esconder, e sua mandíbula aperta. Quando sua atenção se move para
o homem ao meu lado, seus olhos se arregalam.
— Connor? Connor Arrowood?
— Nate, faz muito tempo. — Connor estende a mão para apertar a
sua.
— Já faz anos. Você saiu da cidade e nenhum de nós nunca mais
soubemos de nada. É bom te ver. Meu Deus, eu não posso acreditar que é
realmente você.
Connor não parece feliz em vê-lo, mas Nate é conhecido por ser um
idiota.
— Presumo que você seja o promotor? — pergunta.
Eu começo a tremer um pouco, mas então a outra mão de Connor
cobre a minha e aperta.
— Sim, eu sou. Eu não sabia que você conhecia Ellie…
— Ele mora ao lado e… bem, tenho certeza que você leu que
Connor é quem ajudou na cena.
— Sim, claro. Eu nem liguei nome à pessoa — admite Nate.
— Bem, estou feliz que vocês dois estejam aqui. Esta é a
preliminar onde veremos se o juiz reterá Kevin…
Meus dedos apertam o braço de Connor, porque Nate pode fazer
isso acontecer de outra forma. E se ele não estiver do meu lado.
Os olhos de Connor encontram os meus, e então ele se intromete.
— Você quer dizer o Sr. Walcott. O homem que bateu na esposa,
quebrou três costelas dela e fez aquele hematoma na bochecha, certo?
Nate se ergue e pigarreia.
— Sim, me desculpe, Ellie, isso tudo é um pouco estranho. Eu
sabia que você e Kevin discutiam, mas não sabia que era algo físico. Vamos
pedir que o tribunal o mantenha até o julgamento para sua segurança e de
Hadley. O veredito provavelmente dependerá do relatório apresentado pelo
xerife Mendoza e das declarações que você fizer hoje.
— Que tipo de declarações?
— Eu não entendo tudo isso… — confesso. — Sei que o xerife
Mendoza explicou, mas, honestamente, é tudo muito angustiante. Eu estou…
desculpe… eu não deveria estar tão confusa.
— Não se desculpe. Você já passou por muita coisa, então fico
feliz em explicar. Hoje é para mostrar ao juiz que temos provas suficientes
para ir a julgamento. Se ele não achar que as tenho, o que nós cem por cento
temos, ele pode descartá-las. É por isso que era importante que você viesse.
Tudo isso é tão paralisante. Não apenas ainda estou cambaleando
com a coisa toda, mas também agora tenho que ir perante o juiz e olhar para o
homem que me machucou. Eu tenho que reviver isso na frente das pessoas, e
isso é fundamental. Terei que fazer de novo se for a julgamento.
Connor concorda com um gesto e aperta a mandíbula.
— O que você está pedindo, Nate?
Nate estufou o peito um pouco e se virou para mim.
— O que você quer, Ells? Posso pressionar para que ele seja detido
ou haverá alguém que pagará fiança?
— Eu não quero que ele seja solto, se é isso que você está
perguntando.
Eles não podem deixá-lo ir livre. Se o fizerem, ele vai matar a mim
e a Hadley.
Ele não vai nos deixar ir de jeito nenhum.
Meu batimento cardíaco acelera e eu tremo tanto que me preocupo
em quebrar meus dentes. Presumi que bater em sua esposa significaria que
ele não seria solto. Para onde irei? Aonde Hadley e eu vamos nos esconder
dele?
— Ellie? — Connor dá um passo na minha frente, me movendo um
pouco para trás. — Ellie, acalme-se.
Meu peito dói, mas não consigo me controlar. Vejo seus olhos
enquanto ele se move em minha direção e sinto que meu corpo não conseguiu
se recuperar do chute de Kevin. Eu revivo a cena bem aqui, como se tudo
estivesse acontecendo de novo.
Empurro Connor de cima de mim, minhas mãos levantadas, e me
movo para correr.
Preciso pegar Hadley e dar o fora daqui. Eu fui tão estúpida.
Deveria ter fugido antes disso.
— Ellie, me escute… — Connor diz, com as mãos no ar, movendo-
se lentamente. — Nesse momento, temos que entrar lá e dizer ao juiz por que
ele não pode ser solto, ok? Se você não fizer isso, então teremos um plano
totalmente diferente. Ele não chegará perto de você ou de Hadley. Está me
ouvindo? Ele não será capaz de dar um passo em sua direção. Eu estarei bem
ao seu lado.
Ele não entende que não posso fazer isso.
— Tenho que ir embora.
— Se você sair, ele fica livre — Nate afirma, com uma intensidade
em sua voz que eu nunca ouvi. — Sei que você está pirando agora, mas vou
pedir uma fiança em dinheiro escandalosamente alta, o que significa que ele
não pode ser libertado a menos que tenha o dinheiro em mãos ou alguém
disposto a pagar por ele.
Eu rio e nego com a cabeça.
— Você não entende. Não sei quanto dinheiro ele tem, Nate. Não
tenho acesso às nossas contas. Não tenho ideia se há alguma conta bancária
pronta para enviar dinheiro se eles permitirem. Recebia um depósito para
comprar mantimentos e esse foi todo o dinheiro que vi. Ele poderia ter
milhões e eu não saberia disso. Ele mencionou que a fazenda teve lucros nos
últimos anos. Recebeu uma herança por conta das terras. Eu não tenho ideia!
Eu nem sei o que ele tem!
Admitir isso sobre a minha vida me deixa enjoada, mas aí está, uma
verdade que não posso fingir que não existe. Kevin poderia ter dinheiro
fluindo de sua bunda, e eu não teria a menor ideia. Ele poderia preencher um
cheque para eles hoje e voltar para casa, e depois?
Nate faz um barulho de desgosto entre os dentes.
— Ellie, ele teria que ter esse dinheiro consigo.
— Ele não pode transferir ou colocar as mãos nele? — Connor
intervém.
— Não, mas isso não quer dizer que ele não pode pedir fiança para
alguém.
Não posso ficar nesta cidade quando ele sabe que o estou deixando.
Ele vai me caçar e isso será o fim.
Não importa que tipo de proteção Connor pense que pode fornecer
estando perto de nós.
— Você não pode controlar o resultado. — Connor segura minhas
bochechas suavemente, me forçando a olhar para ele. Seus olhos verdes estão
cheios de compreensão e promessas. — Você só pode dar um passo de cada
vez. Hadley está bem. Ela está na escola, e o policial está lá cuidando dela.
Agora mesmo, você tem que ir lá dentro e explicar por que ele não pode ser
solto. Se você não fizer isso e decidir fugir, terá que fazer isso para sempre,
Ellie. Acredite em mim, isso nunca vai acabar até que você enfrente. Você
pode fazer isso por você e por Hadley.
Tento estabilizar minha respiração e me concentrar nele. Ele tem
razão. Eu tenho que fazer isso. Preciso me defender e defender Hadley. Ela é
o que importa e preciso mostrar por que fazer o que fiz foi necessário.
— Ok — digo, com uma voz trêmula.
Nate se aproxima.
— Farei tudo o que puder para obter o resultado que desejamos.
— Obrigada. — Balanço a cabeça, desejando afastar as lágrimas, e
entro no tribunal com Connor e Nate, um de cada lado, rezando para poder
fazer isso.
“Ellie,
Encontre-me às 20h no bar onde nos conhecemos. Hadley está com Syd esta
noite, está tudo bem. Nós merecemos algum tempo... só nós.
Connor”
Quase digo a ela que Declan está na cidade, mas tenho certeza de
que não seria uma boa notícia. Além disso, não sei quanto tempo ele vai ficar.
O bilhete que Connor deixou esta manhã explicava que eles tinham negócios
a tratar, mas que ele me veria mais tarde — não que eles me veriam mais
tarde.
Contei a Hadley sobre ele estar aqui para o caso de ela ver algum
cara muito alto que se parece com Connor andando por aí.