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AO JUÍZO FEDERAL DO____ JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DE VITÓRIA/ES

SAMUEL DIAS CONSTATINO, brasileiro, solteiro, inscrito no RG n°


3226727 SSP ES, e CPF n° 029.860.481-70, residente e domiciliado na
Rua Brauna, n° 09, Bairro Feu Rosa, CEP 29172-590, SERRA, ES, vem
respeitosamente a presença de vossa excelência, por meio de seu
advogado que esta subscreve, propor a presente:
AÇÃO DE SUSPENÇÃO DE COBRANÇA C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

Em face de CAIXA ECONOMICA FEDERAL, inscrita no CNPJ n°


00.360.305/0168-84, sediada na Av. AV. Nossa Senhora dos Navegantes,
955 - ED. Global Tower, LJ. 01 À 14 - Enseada do Suá
29.050-335 - Vitoria - ES, pelas razões e fundamentos que seguem.

I – DA HIPOSSUFICIÊNCIA E GRATUIDADE DA JUSTIÇA

A renda do autor foi profundamente impactada pela Crise do COVID-


19. Não há como arcar com as custas de um processo. Como muitos
cidadãos brasileiros nos dias atuais, o autor passa por situação
financeira delicada.

Paralisada pelos efeitos econômicos do isolamento social imposta


como medida de contenção da pandemia. Estrangulada pela cobrança
abusiva feita por programa de financiamento estudantil cuja função
social deveria ser o auxílio a pessoas de baixa renda, mas que acaba
por acirrar desigualdades.

Requer, respeitosamente, que seja concedida a Gratuidade da


Justiça, conforme declaração em anexo, com base no art. 5º, inc.
LXXIV, da Constituição Federal e nos arts. 98 e ss. do CPC. Sendo
assim, o requerente faz uso desta afirmação, haja vista preencher os
pressupostos para gozar da gratuidade, não tendo efetivamente, no
momento, as condições financeiras para custear eventuais ônus e
encargos processuais.

II – DOS FATOS

Trata-se de ação de suspensão de dívida com pedido de tutela


antecipada, feito por beneficiário de contrato de financiamento
estudantil junto ao FIES, cujo a responsável da negativa do nome do
autor aos órgãos de proteção ao credito foi a ora ré, Caixa Econômica
Federal.

A) Do contrato
O autor no ano de 2014 realizou junto a ré um contrato de
financiamento estudantil pelo FIES, entabulado pelo
nº 06.0168.185.0004303-24, conforme documento(doc1 e doc5), onde
pagaria no período de utilização (decorrer do curso) e após o término
da graduação em agosto/2018 (período de carência), 18 meses
posteriores, parcelas trimestrais de abatimento de juros e começaria
a ser pago a amortização com parcelas mensais no valor de r$ 497,36
após o período de carência, sendo a primeira parcela com vencimento
em 15/03/2020.

Ocorre que hoje as parcelas do financiamento estão no valor de


R$ 510,09 (quinhentos e dez reais e nove centavos) e significam uma
grande parte de sua renda. Ainda assim, o requerente sempre cumpriu
todas as suas obrigações, mensalidades, juros, não havendo NENHUMA
pendência financeira com a CAIXA nos meses anteriores à crise do
COVID-19 conforme documentos acostados (doc13 a doc13.10), gestora
de seu contrato e instituição financeira que promove as cobranças das
parcelas vincendas do financiamento. Ocorre, contudo, que no mês de
março de 2020, as atividades empreendidas pelo Requerente, foram
afetadas por uma notória crise sem precedentes na história recente
do nosso país: a pandemia do Coronavírus, ocasionando o
inadimplemento dos meses de março/2020; Abril/2020; Maio/2020;
Junho/2020; Julho/2020 por absoluta impossibilidade superveniente de
pagamento, conforme veremos a seguir.

B) Da crise atual e oficial do COVID-19

É inegável a existência de uma pandemia global do novo corona


vírus (SARS-CoV-2) ocasionando a doença COVID-19, o que pode ser
observado pelos Boletins Diários emitidos pela Organização Mundial
da Saúde - OMS, que aponta uma crescente assustadora de casos em todo
mundo. A pandemia já atingiu diversos países pelo mundo, inclusive o
Brasil.

No Brasil, o Governo Federal, por meio do Ministério da Saúde


editou a Portaria 3 nº 188, desde 03/02/2020, declarando emergência
na saúde pública em decorrência da Infecção Humana pelo novo Corona
vírus.

Em 20/03/2020, a situação já piorou, por meio do Decreto-


Legislativo n.º 6, foi decretado estado de calamidade pública.

E hoje já contamos com mais de 80 mil mortes causados por essa


terrível doença.

Mas a saúde pública não é a única área afetada pela pandemia do


COVID-19. O setor econômico em diversos setores também começou a
sentir os efeitos colaterais desta inegável crise que todos estamos
passando!
C) Das cobranças e das Tentativas de Negociação
Na tentativa de renegociar a dívida já em março pelo pânico
gerado o autor tentou várias vezes contato com a CAIXA, por todas as
vezes foi informada de que era para acessar o site da caixa e ir na
opção “caixa com você”, mas fazendo assim, não tinha opção para o
FIES.

Ocorre que a partir de 01/04/2020 o autor, começou receber


inúmeras ligações (doc8 a doc12(o histórico de chamadas anteriores o
celular apaga automaticamente por ter mais de 60 dias) da ROVERI
CENTRAL DE NEGÓCIOS DA CAIXA cobrando a parcela de março/20 por mais
de uma vez na semana e as vezes até durante a noite, e todas as vezes
o autor explicando que não teria como pagar devido a situação que
estava enfrentando e que estava aguardando os projetos de lei saírem
para suspender as parcelas porque não era seu objetivo entrar com
ação pra isso, requer desde de já que as gravações sejam
disponibilizadas aos autos.

Cabe ressaltar que as ligações eram realizadas várias vezes


durante a semana e todas as vezes o autor explicava a mesma coisa, e
em meio a uma situação de pandemia recebendo cobranças incessantes e
muitas das vezes cobranças vexatórias deixando o autor muito
atordoado por estar enfrentando toda preocupação recente de não saber
quais seriam os outros desdobramentos dessa situação pandêmica e
mesmo assim ter que ser cobrado de forma abusiva e vexatória por não
ter limites nas cobranças.

Em determinada ligação a atendente além de debochar do autor


disse que se não pagasse iria colocar o nome do autor no SPC, o autor
já cansado de tantas ligações diárias e com grande preocupação de ter
seu nome inscrito no cadastro e sem ter outras alternativas, uma vez
que zela por seu nome e precisa dele limpo como sinal de boa índole
e idoneidade, teve que conseguir o valor para efetuar o pagamento da
parcela de vencimento em 15/03/20 e fez o pagamento no dia 14/05/2020,
uma vez que já tinha recebido mensagem dizendo que seu nome seria
negativado, trazendo grande abalo ao autor, pois, conforme o
histórico do autor no SERASA CONSUMIDOR/CADASTRO POSITIVO não é de
inadimplência conforme doc6 na data de 13 de Maio.

Entretanto, as demais parcelas o autor não teria condições de


pagar, que seriam do mês de 04/2020; 05/2020; 06/2020; e 07/2020. o
autor tentou fazer o pedido de suspensão das parcelas
administrativamente pelo consumidor.gov.br em 15/05/2020 protocolo
2020.05/00003067267, já que a lei que garantia a suspensão do
pagamento tinha sido sancionada em 14/05/2020. Sendo respondido em
21/05/2020 que não teria como fazer a suspensão porque ainda era
necessária uma resolução do FNDE. Sendo que a resolução 38 do FNDE
foi publicada em 25/05/2020.

Vale destacar que o autor tinha um score no CADASTRO POSITIVO DO


SERASA de 892 pontos (doc6) em 13/05/20 (demonstrando a sua
adimplência perante a praça) viu seu score cair para 296 pontos devido
as consultas realizadas pela requerida em seu CPF e a negativação de
seu nome pela ré.

Por não conseguir a suspensão o autor se viu mais uma vez


constrangido porque tentou junto a uma filial da ré a percepção de
empréstimo em parceria com o SEBRAE onde este estava habilitado para
tal, para capital de giro da empresa na qual é proprietário para
poder passar de forma sadia e segura pela pandemia e teve seu direito
negado, uma vez que mesmo com todos requisitos, foi informado que
constava restrição em seu nome referente a dívida do FIES e que para
ter acesso ao empréstimo de capital de giro DO FAMPE – PARCERIA
SEBRAE X CAIXA teria que quitar primeiro a dívida do fies para depois
voltar procurar a filial da ré perdendo assim a oportunidade de
conseguir o empréstimo e deixando a situação financeira da empresa
do autor em situação difícil.

O autor ficou totalmente abalado e constrangido com sentimento


de impotência e sem ter rumo a tomar, por tal medida tão egoística
que foi tomada pela filial da ré em negar acesso ao crédito devido a
restrição ora aventada pela ligada diretamente a ré, em uma situação
delicada e triste que estamos passando onde várias empresas e pessoas
foram abaladas financeiramente e muitas fechando as portas e com isso
forçou o autor a fechar o escritório e trabalhar de home-office para
diminuir os custos, conforme doc16.

Para sua surpresa e já com a parcela de março quitada em


14/05/2020 o autor procurou a ré por e-mail(doc14) para solicitar a
suspensão e foi informado que não teria direito a suspensão das
parcelas, porque a lei que garantiu a suspensão das parcelas usou o
dia 20/03/2020 como “inicio” da situação de calamidade pública (dec-
leg 06 de 06/03/2020) por causa de 05 dias negaram o direito de ter
as parcelas suspensas e ainda inscreveram o nome do autor no cadastro
de inadimplentes pela parcela 04/2020 causando grande transtorno e
sentimento de frustração e decepção e humilhação.

O autor voltou a enviar e-mail em 13/07/2020(doc14) para a ré


informando que outra lei (lei 14.024/20) tinha sido aprovada
garantindo a suspensão do pagamento das parcelas e impossibilidade
de cadastro nos órgãos de cadastro ao crédito para parcelas vencidas
até 180 dias da data publicação da lei mas até o ajuizamento deste
ação não foi respondido, conforme anexo.

Sendo assim, por toda a situação constrangedora e cobranças


vexatórias que a ré fez o autor passar como se depreender dos
documentos acostados (doc2 a6 e doc8 ao 12) e pela negativação
indevida de seu nome no cadastro de proteção ao crédito(doc7) uma vez
que existe uma lei dizendo que é vedado a negativação dos contratos
que tem parcelas vencidas o que culminou na impossibilidade do autor
conseguir crédito fornecido pelo governo(doc15), não resta outra
alternativa a não ser a presente ação de indenização por danos morais
com tutela antecipada para retirar o nome do autor dos cadastros de
inadimplentes e o restabelecimento de seu tão importante SCORE no
cadastro positivo do SERASA(doc6) uma vez que isso conta na hora de
conseguir aprovação de crédito e o seu bom nome na praça.

III - FUNDAMENTO JURÍDICO

O financiamento estudantil tem, nitidamente, caráter social, pois


visa permitir o acesso ao ensino superior de pessoas de baixa renda,
como entende a jurisprudência dos colendos Tribunais Regionais
Federais1, bem como da leitura da Constituição Federal2 e até do Pacto
Internacional de Direitos Econômicos e Sociais das Nações Unidas3 .

A) DA INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


O contrato tem natureza bancária de adesão. Embora se trate da
consumação de uma política pública, o Autor não tem a liberdade
contratual de negociar as cláusulas do contrato. Ademais, trata-se
de relação consumerista, pois de um lado temos a instituição
financeira enquanto fornecedora de um serviço bancário de
financiamento e de outro o consumidor que adere às regras impostas
pelo primeiro.

A configuração é importante, inicialmente para a demonstração


de que o Autor não conseguiu uma negociação apropriada ao seu caso
concreto, embora tenha insistido nas tentativas de negociação nos
canais de atendimento(doc14).

Também é importante configurar a relação consumerista para pedir


a inversão do ônus de prova e a exibição de documentos com base,
respectivamente, nos arts. 6º, inc. VIII, do CDC e art. 396 do CPC,
para que obrigue a parte Requerida a exibir o contrato de
financiamento usufruído pela Autora, cujo acesso é impossível para a
Requerente, sobretudo pela falta de suporte no período em que estamos
vivenciando, bem a apresentação das gravações das chamadas que foram
realizadas durante todo o período a partir de 01/04/2020 e que o
autor não teve acesso em requerimento feito a ré conforme se verifica
em email anexo.

B) TEORIA DA IMPREVISÃO

1
AGREXT 0000682-86.2012.4.01.4100, MARCELO STIVAL, TRF1 - TURMA REGIONAL DE
UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA, Diário Eletrônico Publicação 09/10/2015; AGREXT
0014792-15.2014.4.01.3100, CLÁUDIO HENRIQUE FONSECA DE PINA, TRF1 - SEGUNDA TURMA
RECURSAL - PA/AP, Diário Eletrônico Publicação 11/04/2018.)
2
Art. 1º, inciso III da CF/88.
3
0 "Art. 11. Os Estados Partes do presente pacto reconhecem o direito de toda
pessoa a um nível de vida adequado para si próprio e sua família, inclusive à
alimentação, vestimenta e moradia adequadas, assim como a uma melhoria contínua
de suas condições de vida. Os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para
assegurar a consecução desse direito [...]."
Em nome do princípio da conservação dos negócios, considera o
Requerente ser a melhor saída emergencial a suspensão do contrato
pelo prazo que restarem pujantes os impactos da crise do COVID-19;
para se adequar a esta nova realidade apresentada nos capítulos
anteriores.
Todo contrato regido pelo ordenamento jurídico civil brasileiro,
deve passar pelas regras de interpretação previstas no §1º, art. 113
do Código Civil, sendo algumas delas:
● Regra da vontade presumível (art. 113, §1º, V): deve ser
levado em conta o contexto da época da celebração do contrato, levando
em conta a realidade econômica.
● Regra da confirmação posterior (art. 113, §1º, I): deve ser
levado em conta a conduta do Requerido em entender a situação em que
estamos passando, oferecendo a contraproposta, ainda que esta esteja
longe da real situação que estamos vivendo.
● Regra da boa-fé e dos costumes (art. 113, §1º, II e III):
devemos interpretar o contrato conforme a boa-fé compatível com os
negócios, estando as duas partes abertas inicialmente ao diálogo, mas
sem um consenso quanto aos valores e condições da negociação.

Não há no contrato de financiamento qualquer cláusula que afaste


as regras gerais da interpretação do contrato, até porque se trata
de contrato de adesão, não cabendo ao Autor a discussão de inserção,
retirada ou modificação de qualquer cláusula do referido contrato.
Não há cláusula que aloque os riscos para uma das partes, ou de
maneira aleatória; ou, ainda que impeça a revisão de alguma maneira.

Isso posto, não nos resta escolha senão a invocar a Teoria da


Imprevisão da Teoria geral de contratos, prevista expressamente em
nosso ordenamento jurídico no art. 478 do Código Civil, conjugado com
o princípio da preservação dos negócios jurídicos, mediante aplicação
conjunta do arts. 479 e 480, do mesmo diploma, para ter a suspensão
do valor pago à título de financiamento estudantil outrora aceito
pela requerente.

Cumpri destaque que o art. 03 da lei 13.998 de 14 de maio de


2020, traz a seguinte redação, vejamos:

Art. 3º Fica permitida a suspensão das parcelas de empréstimos


contratados referentes ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), para
os contratos adimplentes antes da vigência do estado de calamidade
pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de
2020.

§ 1ºA suspensão de que trata o caput deste artigo é aplicável tanto


aos contratos de tomadores do financiamento que concluíram seus cursos
quanto aos dos que não o fizeram...(gn)

vejamos que afim de reforça o entendimento, no mesmo sentindo


temos os § 6º, § 7º e § 8ºdo art. 5º da lei 14.024 de 09 de julho de
2020, que nada mais nada menos é uma Lei posterior que trata
inteiramente da matéria sobre FIES o que revoga tacitamente o Art.
3º da Lei 13.998/20 supra. Vejamos:

Art. 5(...)
§ 6º Em decorrência do estado de calamidade pública reconhecido
pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, ficam
temporariamente suspensas, durante todo o respectivo período:
I – A obrigação de pagamentos destinados à amortização do saldo
devedor dos contratos referidos no caput deste artigo;
II – A obrigação de pagamento dos juros incidentes sobre o
financiamento referidos no § 1º do art. 5º desta Lei;
III – a obrigação de pagamento de parcelas oriundas de condições
especiais de amortização ou alongamento excepcional de prazos para
os estudantes inadimplentes com o Fies estabelecidos nos termos do
§ 1º deste artigo;
IV – A obrigação de pagamento ao agente financeiro vinculada a
multas por atraso de pagamento durante os períodos de utilização, de
carência e de amortização do financiamento.
§ 7º A suspensão das obrigações de pagamento referidas no § 6º
deste artigo importa na vedação de inscrever, por essa razão, os
estudantes beneficiários dessa suspensão como inadimplentes ou de
considerá-los descumpridores de quaisquer obrigações com o Fies.
§ 8º São considerados beneficiários da suspensão referida no § 6º
deste artigo os estudantes adimplentes ou cujos atrasos nos
pagamentos das obrigações financeiras com o Fies devidas até 20 de
março de 2020 sejam de, no máximo, 180 (cento e oitenta) dias,
contados da data de seu vencimento regular.(gn)

E continua no art. 5-C:

(...)§ 19. Em decorrência do estado de calamidade pública


reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020,
ficam temporariamente suspensas, durante todo o respectivo período:
I – A obrigação de pagamentos destinados à amortização do saldo
devedor por parte de estudantes beneficiários do Fies referidos no
inciso VIII do caput deste artigo;
II – A obrigação de pagamento ao agente financeiro, por parte dos
estudantes financiados pelo Fies, das parcelas mensais referentes a
multas por atraso de pagamento;
III – a obrigação de pagamento de parcelas oriundas de condições
especiais de amortização ou alongamento excepcional de prazos para os
estudantes inadimplentes com o Fies estabelecidos nos termos do § 5º
deste artigo.
§ 20. A suspensão das obrigações de pagamento referidas no § 19
deste artigo importa na vedação de inscrever, por essa razão, os
beneficiários dessa suspensão como inadimplentes ou de considerá-los
descumpridores de quaisquer obrigações com o Fies.
§ 21. São considerados beneficiários da suspensão referida no § 19
deste artigo os estudantes adimplentes ou cujos atrasos nos
pagamentos das obrigações financeiras com o Fies devidas até 20 de
março de 2020 sejam de, no máximo, 180 (cento e oitenta) dias,
contados da data de seu vencimento regular. (gn)
Tendo em vista que a própria norma traz em seu escopo a permissão
para suspensão do contrato, esse deve ser o caminho a ser seguido,
pois antes da pandemia o autor nunca deixou de pagar suas parcelas,
seu contrato junto ao FIES sempre esteve adimplente conforme se
depreender de documentos acostados (doc13 a Doc13.10) e restrição que
se configura indevida nesta situação que passamos vem com um abalo
moral incapaz de mensurar.

Com as normas elencadas acima, fica claro que o autor tem direito
a essa suspensão, o que solicitado por e-mail (Doc14), sendo assim,
fica evidente que o erro da Caixa, ao não aceitar e o tamanho da
desproporcionalidade do ato.

No caso concreto, devido ao atual cenário o contrato tornou-se


excessivamente oneroso para o Requerente, pela maneira como afetou a
economia a atual crise do COVID-19, em especial por conta de seus
efeitos colaterais verificados nos capítulos anteriores.

Notadamente no caso em concreto, é possível invocar também o art.


6º, inc. V, do CDC, que prevê a possibilidade de modificar as
cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais,
em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente
onerosas (no caso, os impactos econômicos da COVID-19 sobre a
profissão e a realidade concreta do requerente) Não se trata de
exagero, Ex.ª, a aplicação da tese em questão por se tratar de
situação completamente excepcional, conforme vem entendendo o Poder
Judiciário4.

À propósito, a receptividade de teses neste sentido pelo Poder


Judiciário , resguardadas as especificidades de cada caso e cada
contrato, pode incentivar a sociedade a realizar acordos seguros,
evitando que se tenha uma judicialização em massa do Poder Judiciário,
enquanto não são editadas normas que possam abarcar de maneira
satisfatória os interesses transindividuais. Ademais, cumpre
salientar que a própria Constituição Federal institui como fundamento
da República o princípio da solidariedade em seu art. 3º, I, da CF/88.

Desta forma, a concessão da tutela jurisdicional ao presente


caso é medida que contempla a mais plena satisfação dos princípios
fundamentais de nosso país. Não se pretende aqui deixar de pagar o
compromisso firmado entre as partes, mas tão somente solidarizar a
perda econômico-financeira que a coletividade teve em conjunto,
suspendendo temporariamente o valor do financiamento, até quando

4
Vide à título exemplificativo:
https://www.migalhas.com.br/quentes/323693/escritorio-de-advocaciaconsegue-
reducao-de-aluguel-ate-maio;
https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2020-05/covid-19-mec-suspende-
pagamento-de-parcelas-do-fies ;
https://www.migalhas.com.br/quentes/324178/arquiteta-consegue-suspender-
pagamentos-ao-fies-em-razao-da-pandemia
perdurarem os efeitos colaterais da crise, visto que no contrato em
análise as partes se encontram em desequilíbrio, em prejuízo ao
Requerente, face o advento da crise da pandemia do COVID-19.

Deste modo, a pandemia da COVID-19, aliada aos decretos dos


estados de calamidade pública, com medidas restritivas ao trabalho e
à economia em geral, causam excessiva onerosidade aos contratantes,
oriunda de um fato IMPREVISÍVEL cujas consequências são
incalculáveis, mas que já impedem o adimplemento por parte do Autor,
da maneira como antes da crise ocorria.

Não obstante, é possível ainda tratar o caso como de


impossibilidade superveniente absoluta do cumprimento da obrigação,
em especial quando tratamos da parcela de abril, a qual já não foi
possível ser paga pelo Autor, em razão de a situação de fato
(pandemia) ser objetiva, invencível e atingir todas as pessoas
indistintamente (caso fortuito e a força maior). Assim, a
impossibilidade absoluta superveniente é insuperável, sem culpa
atribuível a qualquer das partes.

Deste modo, aplica-se a norma do artigo 393 do Código Civil:


Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso
fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles
responsabilizado.

Concluindo, por conta da alteração das circunstâncias de fato,


com base na imprevisibilidade dos acontecimentos que acometem todo o
mundo neste momento e, principalmente, por força do princípio da
Dignidade da Pessoa Humana, cujo valor tutelado - a vida digna - o
autor não pode arcar com o financiamento da mesma maneira de quando
assumiu o compromisso, visto que depende de recursos que, em momentos
de crise, devem ser destinados à subsistência da pessoa.

Por todo o exposto, o autor requer que seja suspenso a cobrança


das parcelas, juros e mora e a retirada do seu nome do cadastro de
inadimplentes nos termos da Lei 14024/20, bem como que o seu SCORE
no SERASACONSUMIDOR/CADASTRO POSITIVO volte ao Status Quo de
13/05/2020 (doc06)de 892 pontos, uma vez que todos fatores negativos
que culminaram com a baixa do SCORE se vinculam a conduta unicamente
da RÉ.

IV - DA CONFIGURAÇÃO DO DANO MORAL

O patrimônio moral do indivíduo é tutelado pelo ordenamento


jurídico brasileiro, especialmente na CRFB/88 no art. 5°, X, verbis:

X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem


das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
No plano infraconstitucional, o Código Civil assim dispõe:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente
de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.

Na esfera consumerista, o CDC é enfático ao estabelecer como


direitos do consumidor no seu art. 6°:
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: VI - a efetiva prevenção e
reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas
à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e
técnica aos necessitados;

Nesse sentido, o autor busca apenas a tutela jurídica consolidada


nas leis e jurisprudência pátrias.

Com relação ao dano moral, nota-se que ele está substancialmente


comprovado no caso dos autos. Segundo Flávio Tartuce, os pressupostos
do dever de indenizar consistem na reunião concreta de alguns
elementos:

Desse modo, pode ser apontada a existência de quatro pressupostos


do dever de indenizar, reunindo os doutrinadores aqui destacados:
a) conduta humana;
b) culpa genérica ou lato sensu;
c) nexo de causalidade;
d) dano ou prejuízo.

Analisando cada um desses elementos podemos concluir que


efetivamente ocorreu um abalo a bens imateriais juridicamente
tutelados pelo ordenamento jurídico, senão vejamos:

1. Conduta omissiva ou comissiva. Houve de fato a prática e a


omissão de várias ações que acarretaram danos ao autor.
Inicialmente, o autor entrou diversas vezes em contato com a
requerida para resolver a situação, encontram-se na inteira
responsabilidade da ré, uma vez que o autor requereu suspensão
diversas vezes(doc14).

2. Culpa genérica ou latu sensu. A questão em torno da culpa em


verdade nem entra na esfera de comprovação, pois trata-se de
responsabilidade objetiva, a qual independe de comprovação de
dolo ou culpa. Contudo, houve in casu, inegavelmente, culpa
da Ré. Pois, ao não cumprir as determinações contratuais e
novas leis, tornou-se responsável pelas consequências
advindas.
3. Nexo de causalidade. Resta claro e evidente no caso em apreço.
Sem a ação e omissão da parte demandada, não haveria toda esta
situação tormentosa que o autor estar suportando já faz 4
meses.

4. Dano ou Prejuízo. Por fim, resta demonstrar se houve um dano


ao patrimônio moral do autor, que tenha superado os meros
aborrecimentos. Primeiro porque mesmo habilitado para
conseguir empréstimo junto a Ré, teve o direito negado devido
a uma obrigação com exigibilidade suspensa. Segundo, porque o
dano atinge valores do autor como a sua idoneidade moral e
financeira por ser uma pessoa que conforme demonstrado detinha
boa capacidade creditícia a notar pelo alto SCORE. (dcc06) A
existência do dano é inegável, o que falta é averiguar a sua
extensão.

A cobrança excessiva (doc8 a doc12), juntamente com a existência


de diversos transtornos, tem sido reconhecida pela jurisprudência
como causa suficiente para a ocorrência de dano moral, vejamos:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS C/C DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO.
COBRANÇA EXCESSIVA DE DÍVIDA DE TERCEIRO COM LIGAÇÕES
E MENSAGENS DE EMAIL DO AUTOR. FRAUDE NA CONTRATAÇÃO.
CONDUTA ABUSIVA. EVIDENCIADA. DANO MORAL FIXADO.
QUANTUM INDENIZATÓRIO QUE ATENDE AS PECULIARIDADES
DO CASO CONCRETO. SENTENÇA REFORMADA. Recurso conhecido e
provido.( TJPR 3° Turma Recursal – 0015227-21-2018.8.16.0182 – Curitiba Rel,:
Juiza Fernanda de Quadros Jorgensen Geronasso – J 13.12.2018)

Ora, ante todo o exposto, estando presente os requisitos que


permitem a configuração do dano moral, sendo documentalmente
comprovado as alegações do autor, bem como os transtornos sofridos,
resta cristalino o direito a reparação dos danos morais causados,
pelo que pede-se a este Juízo a reparação desses danos no valor
constante nos pedidos.

V – DA TUTELA ANTECIPADA DE URGÊNCIA

Devido a negativação do CPF do autor(doc7), pede-se que seja


concedida tutela de urgência, consistente na retirada do nome do
autor dos órgãos de proteção ao credito, bem como a suspensão do
contrato conforme normas já citadas a cima.

Com base no art. 300, do CPC: “A tutela de urgência será concedida


quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e
o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo”.

E no art. 300, §2º: “A tutela de urgência pode ser concedida


liminarmente ou após justificação prévia”.
Justifica-se o presente requerimento por estarem presentes os
requisitos necessários ao seu deferimento, perigo de dano e perigo
na demora.

O Fumus Boni Iuris, está presente, tendo em vistas as próprias


normas invocadas acima como a lei 13.988 e 14.024 ambas de 2020, onde
trazem o direito do autor em ter seu contrato suspenso, fazendo assim,
que a sua negativação seja considerada ilegal.

Ainda que não fosse considerado pública e notória a existência


de uma crise econômica paralela à crise de saúde pública ocasionada
pela Pandemia do COVID-19, onde vemos todos os dias em diversos
noticiários, frisa-se que foram acostados diversos documentos que
atestam a probabilidade do direito no caso em questão, inclusive que
o autor só não conseguiu empréstimo ao que tem direito por esta com
seu nome negativado conforme (doc15).

O perigo de dano, por sua vez, está evidenciado no fato de que,


caso a tutela demore, o agravante pode vir a não conseguir seu
empréstimo junto a instituição bancaria(doc15), ocasionando um
prejuízo financeiro crescente onde o seu cenário seria desastroso,
fica evidenciado no caso concreto o risco, onde o autor já teve até
que devolver a sala onde prestava seus serviços(doc16), por não haver
mais fundos, pois não conseguiu o empresto junto a instituição devido
exclusivamente a negativa de seu nome, portanto se a tutela não for
deferida, prejudicará até mesmo sua recuperação financeira futura.

O perigo na demora, por outro lado, pode levar o Requerente ao


estado de total inadimplência de maneira que não consiga mais pagar
suas dívidas, por uma configuração fática conjuntural da economia
totalmente diferente daquele que figurava antes da pandemia que nós
a sola, devendo de pronto ser reconhecido o direito de suspensão, bem
como a retirada de seu nome dos órgão de proteção ao credito.

Assim, é totalmente relevante o deferimento da tutela provisória


de urgência e de liminar inaudita altera pars, para que possa retira
seu nome dos órgãos de proteção ao credito e assegurada a suspensão
das parcelas do FIES, sendo a suspensão até que se cessem os
principais impactos econômicos ocasionados pelo COVID-19.

VI – DOS PEDIDOS:

Isto posto, requer a V.Exa:


a) A concessão da Gratuidade da Justiça, nos termos do art. 98
do CPC;
b) A concessão da tutela de urgência antecipada para que a Caixa
suspenda o débito e retire o CPF do autor nos cadastros de
proteção ao crédito, querendo que seja enviado oficio ao
SERASA para que retorno o score anterior do autor a data de
13/05/2020;
c) A inversão do ônus da prova;
d) Que seja disponibilizado pela ré todas as gravações efetuadas
como solicitado no e-mail(doc14);
e) A citação da Ré, para querendo oferecer contestação, sob pena
de revelia;
f) No mérito, a procedência da presente ação para que o débito
seja definitivamente suspenso até o fim da pandemia, bem como seja a
ré condenada a reparação dos danos morais causados no importe de R$
10.000,00;

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos


em direito.

Dá-se a causa o valor de R$ 10.000,00

Nestes Termos,
Pede Deferimento.
24 de julho de 2020

Caio dos Santos Barbosa


OAB/ES 25.698

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