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Direito Constitucional

Professor: Marcelo Tavares

Efeitos da Decisão no Controle Difuso- Parte 1-Aula 23.

Resumo

Efeitos da Decisão no Controle Difuso

 No tempo:
Conforme visto nas aulas anteriores, o Brasil adota a teoria do ato nulo, que é a teoria norte-
americana.

Para essa teoria, o ato inconstitucional gera uma invalidade com efeito de nulidade.

Isso significa que a invalidade atinge o ato inconstitucional desde o momento em que ele é
editado.

O efeito padrão da declaração é ex tunc, RETROATIVO.

O Supremo Tribunal Federal tem reconhecido a possibilidade de aplicar a modulação de efeitos,


que legalmente só está prevista para o controle concentrado de constitucionalidade, na lei
9.868/99, que é a lei que trata do processo no controle concentrado.

Sendo assim:
o Se o STF decide sem modular efeitos: o efeito será ex tunc.
o Se o STF aplicar a modulação de efeitos no controle difuso: da mesma forma que
ocorre no controle concentrado, para modulação de efeitos, deverá haver no mínimo
8 votos.

!!! A modulação é feita de forma excepcional.

 Na abrangência dos atingidos pela decisão:

o Decisão no controle difuso antes de o STF se pronunciar:


Gera efeito inter partes.

o Decisão no controle difuso feita pelo STF:

1
Quando proferida pelo STF, em recurso especial com efeito repetitivo ou por meio de
súmula vinculante, a decisão passa a ter efeito erga omnes e vinculante, no que se refere à
tese apresentada.

Nos termos do artigo 52, X, da CRFB/88, quando, no controle difuso, o STF reconhecer a
inconstitucionalidade de uma norma, ele comunicará o Senado Federal, que poderá editar uma resolução
que suspenderá a execução dessa norma.

Esse entendimento foi adotado desde a Constituição de 1934.

Todavia, o Ministro Gilmar Mendes sempre defendeu entendimento diverso, pois, para ele a decisão
do STF possui efeito vinculante e para todos.

No provimento da Reclamação 4.335, cujo relator foi o ministro Teori Zavaski, houve o debate de
ideias acerca da aplicação ou não do artigo 52, X, da CRFB/88.

Nesse julgamento os efeitos erga omnes e vinculante foram reconhecidos, conforme se pode ver na
ementa do julgado colacionada:

Reclamação. 2. Progressão de regime. Crimes hediondos. 3. Decisão reclamada aplicou o art. 2º, § 2º, da
Lei nº 8.072/90, declarado inconstitucional pelo Plenário do STF no HC 82.959/SP, Rel. Min. Marco Aurélio,
DJ 1.9.2006. 4. Superveniência da Súmula Vinculante n. 26. 5. Efeito ultra partes da declaração de
inconstitucionalidade em controle difuso. Caráter expansivo da decisão. 6. Reclamação julgada
1
procedente .

Porém, cumpre destacar que o provimento da Reclamação ocorreu, pois, no curso do julgamento
dessa, foi aprovado o enunciado da súmula vinculante 26, que, conforme visto anteriormente, possui efeito
erga omnes e vinculante.

Portanto, a não adoção do artigo 52, X, da CRFB/88, nesse julgado, não se deu pela aplicação do
entendimento da perda de eficácia do referido inciso, defendido pelo Ministro Gilmar Mendes, mas sim
porque, no curso do julgamento da Reclamação, foi aprovado enunciado de súmula vinculante sobre o tema
julgado.

Todavia, no julgamento da ADI 3.406, em que se discutia o uso de amianto, o entendimento


defendido pelo Ministro Gilmar Mendes, de que as decisões do STF no controle difuso de
constitucionalidade possuem efeitos erga omnes e vinculante, passou a ser adotado, conforme pode ser
analisado no trecho do informativo a seguir transcrito;

1
Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=630101>. Acesso em
21/05/2019.

2
ADI: amianto e efeito vinculante de declaração incidental de inconstitucionalidade (informativo
2
886) :
O Supremo Tribunal Federal (STF), por maioria, julgou improcedentes pedidos formulados em ações
diretas de inconstitucionalidade ajuizadas contra a Lei nº 3.579/2001 do Estado do Rio de Janeiro. O
referido diploma legal proíbe a extração do asbesto/amianto em todo território daquela unidade da
Federação e prevê a substituição progressiva da produção e da comercialização de produtos que o
contenham.

A Corte declarou, também por maioria e incidentalmente, a inconstitucionalidade do art. 2º(1) da


Lei federal nº 9.055/1995, com efeito vinculante e “erga omnes”. O dispositivo já havia sido declarado
inconstitucional, incidentalmente, no julgamento da ADI 3.937/SP (rel. orig. min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.
min. Dias Toffoli, julgamento em 24.8.2017).

A partir da manifestação do ministro Gilmar Mendes, o Colegiado entendeu ser necessário, a fim
de evitar anomias e fragmentação da unidade, equalizar a decisão que se toma tanto em sede de controle
abstrato quanto em sede de controle incidental. O ministro Gilmar Mendes observou que o art. 535, do
Código de Processo Civil reforça esse entendimento. Asseverou se estar fazendo uma releitura do disposto
no art. 52, X , da CF, no sentido de que a Corte comunica ao Senado a decisão de declaração de
inconstitucionalidade, para que ele faça a publicação, intensifique a publicidade.

O ministro Celso de Mello considerou se estar diante de verdadeira mutação constitucional que
expande os poderes do STF em tema de jurisdição constitucional. Para ele, o que se propõe é uma
interpretação que confira ao Senado Federal a possibilidade de simplesmente, mediante publicação,
divulgar a decisão do STF. Mas a eficácia vinculante resulta da decisão da Corte. Daí se estaria a
reconhecer a inconstitucionalidade da própria matéria que foi objeto deste processo de controle abstrato,
prevalecendo o entendimento de que a utilização do amianto, tipo crisotila e outro, ofende postulados
constitucionais e, por isso, não pode ser objeto de normas autorizativas. A ministra Cármen Lúcia, na
mesma linha, afirmou que a Corte está caminhando para uma inovação da jurisprudência no sentido de não
ser mais declarado inconstitucional cada ato normativo, mas a própria matéria que nele se contém. O
ministro Edson Fachin concluiu que a declaração de inconstitucionalidade, ainda que incidental, opera uma
preclusão consumativa da matéria. Isso evita que se caia numa dimensão semicircular progressiva e sem
fim. E essa afirmação não incide em contradição no sentido de reconhecer a constitucionalidade da lei
estadual que também é proibitiva, o que significa, por uma simetria, que todas as legislações que são
permissivas — dada a preclusão consumativa da matéria, reconhecida a inconstitucionalidade do art. 2º da
lei federal — são também inconstitucionais.

2
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo886.htm >.
Acesso em 21/05/2019.

3
A partir do julgamento da ADI 3.406, o STF passou a entender que a Resolução do Senado, que
suspende a execução da norma declarada inconstitucional no controle difuso pelo STF, não tem mais o
caráter de transformar o efeito da decisão de inter partes para erga omnes.

De forma resumida, o STF entende, atualmente, que a própria decisão da Corte produz efeitos erga
omnes e vinculante, mesmo quando proferida no controle de constitucionalidade difuso.

Com esse entendimento, o papel político do Senado foi reduzido para simplesmente dar publicidade
para a decisão proferida pelo STF.

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