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MANUAL PRÁTICO

Terapia Cognitivo-
Comportamental
LIDANDO COM CRENÇAS E
EXPECTATIVAS IRRACIONAIS
As crenças correspondem a interpretações profundas, absolutas e supergenerali-
zadas no formato de regras, afirmações, suposições e ordens que fundamentam os
pensamentos automáticos.4 Também chamadas de irracionais e extremas influen-
ciam nossos sentimentos e comportamentos.

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As crenças podem ser identificadas pela seta descendente, por meio do relato do
paciente de situações recorrentes, após o compartilhamento da conceitualização
cognitiva, nas tarefas comportamentais ou na coleta da história de vida do indiví-
duo, entre outras. 2 No caso da lide pais e filhos é importante identificar crenças e
expectativas negativas de ambos.1,3
Inicialmente, o terapeuta deverá focar nos pensamentos automáticos mais extre-
mos associados a emoções também extremas, por exemplo:
Mãe: Quando meu filho finge que não me ouve, fico furiosa.
Terapeuta: O que passou pela sua cabeça quando se sentiu assim?.
Mãe: Não acredito que criei um garoto tão insensível. Acho que ele quer me ferir.
Em seguida, o terapeuta deverá direcionar-se para a identificação de crenças dis-
torcidas, listando as que aparecem de modo mais comum para os pais e para os fi-
lhos, trabalhando a flexibilização destas por meio de confrontação, dramatização,
diário de dados positivos, discussão das vantagens e desvantagens, agindo como
se a nova crença tivesse sido incorporada, com tarefas comportamentais, entre ou-
tras. Veja a seguir.1,2,3

CRENÇAS DOS PAIS CRENÇAS DOS FILHOS


Ruína: Se eu conceder muita Ruína: Perder minha liberdade
liberdade acabará em desastre. vai arruinar minha vida.
Perfeccionismo: Ele deve ter um Injustiça: Meus pais são muito
comportamento excelente o tempo todo. injustos e rigorosos comigo.
Má intenção: Ele se comporta de modo
Autonomia: Eu deveria poder
mal-intencionado para me irritar.
fazer muito mais coisas.
Ele quer se vingar agindo assim.
Obediência cega: Meus pais
Obediência cega: Ele deve
deveriam fazer as coisas que
sempre me obedecer.
peço, não custaria nada.
Reconhecimento constante:
Reconhecimento constante: Ele deveria
Eles deveriam ser mais gratos
ser grato por tudo que faço por ele.
por tudo que faço para eles.

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FLEXIBILIZANDO CRENÇAS DE PERFECCIONISMO E OBEDIÊNCIA DOS PAIS
Vou encorajá-lo o tempo todo
Ele deve sempre concluir a
a concluir, mas reconheço que
lição de casa na hora.
nem sempre irá acontecer.
Ela deve fazer os trabalhos Muitos adolescentes precisam de
pelo gosto de aprender. incentivos para persistir nos trabalhos.
Ele nunca deve nos tratar de Ele não deve ofender ou ridicularizar em
forma desrespeitosa. excesso, mas alguma rebeldia faz parte.
Ele deve melhorar o mau humor quando Os adolescentes são mal-humorados
lhe dizemos para mudar de atitude. nem sempre conseguem evitar isso.
FLEXIBILIZANDO CRENÇAS DE INJUSTIÇA E RUÍNA DOS FILHOS
Sim, eu não gosto das regras
As regras dos meus pais são
dos meus pais e, talvez, às
totalmente injustas.
vezes eles sejam injustos.
Muitos adolescentes passaram
Meus pais estão arruinando
por isso, só terei de aguentar da
minha vida com suas regras.
melhor maneira que puder.
A vida é uma grande obrigação Talvez se eu não empurrasse tanto, o
com o dever de casa. dever de casa não seria tão pesado.

Exemplo prático (adaptado)4


Um terapeuta questiona uma mãe que chega à sessão muito aflita e sentindo-se
culpada após ter gritado com o filho.
Mãe: Pensamento automático extremo: Como posso gritar com meus filhos?
Terapeuta: Qual seria o problema em gritar com seus filhos?
Mãe: As pessoas vão pensar que não consigo me controlar.
Terapeuta: E o que isso poderia significar a seu respeito?
Mãe: Eu não sou alguém confiável.
Terapeuta: E o que significa ser uma pessoa não confiável?
Mãe: Não ser uma boa pessoa.
Terapeuta: E o que significa não ser uma boa pessoa/mãe?
Mãe: Ser uma mãe má.

Na sequência, o terapeuta trabalha a flexibilização de sua crença na mãe.


Terapeuta: Você apresenta outros comportamentos com seu filho que não sejam
de uma pessoa má?

4
Mãe: Sim, eu o levo para a escola, cuido da alimentação, das vestimentas, dou
carinho...
Terapeuta: Uma pessoa/mãe má faria todas essas coisas pelo filho?
Mãe: Não!
Terapeuta: Então, o que isso significa para você?
Mãe: Que não sou uma mãe tão má assim. Posso até perder o controle, às vezes, e
gritar com ele, mas é muito raro.

MAPA CONCEITUAL

PA extremo
Identificar
Emoção extrema

Seta descendente

Tarefa comportamental
Técnicas/
estratégias
Situações recorrentes
Crenças e expectativas
Outras

Diário de dados positivos

Dramatização
Flexibilização
Vantagens e desvantagens

Outras

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REFERÊNCIAS

1. BARKLEY, R. A.; ROBIN, A. A.; BENTON, C. M. Seu adolescente desafiador:


10 passos para resolver conflitos e reconstruir seu relacionamento. Porto
Alegre: Artmed, 2016.
2. DOBSON, D.; DOBSON, K. S. A terapia baseada em evidências. Porto Alegre:
Artmed, 2011.
3. FRIEDBERG, R. D.; MCCLURE, J. M. A prática clínica de terapia cognitiva com
crianças e adolescentes. Porto Alegre: Artmed, 2001.
4. RANGÈ, B. Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a
psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 2011.

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