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Hans Kelsen

Contextualização da obra
 Hans Kelsen nasceu em 1881 em Praga, no seio de uma família judaica falante de alemão
 Em 1911, começou a lecionar filosofia do Direito na Universidade de Viena
 Durante a 1ª Guerra Mundial, serviu como conselheiro jurídico do ministro da guerra
 Em 1921, foi nomeado membro do TC
 Emigrou par aa colónia, mas foi demitido em 1933, meses depois de os nazis terem tomado o poder
 Fixou-se em Genebra, mas, devido as ameaças nazis, Kelsen emigra para os EUA a partir de 1940.
 Em 1945 publica a General Theory of Law and State.
 Nesse mesmo ano, prepara os aspetos técnicos e legais do julgamento de Nuremberga.

Subjetividade da justiça
Problema fundamental da modernidade política: relação entre Estado e justiça
A partir da revolução francesa: oposição entre legitimidade e arbitrariedade

Revela-se na constituição característica da soberania

 A evolução da sofisticação do Estado moderno vai gradualmente eliminando a arbitrariedade


 No seu lugar, emerge a legitimação legal

Primado da lei
 Kelsen afasta-se do jusnaturalista porque pretende criar uma ciência do Direito que não esteja
relacionada com assuntos ideológicos ou morais
 Direito natural: perante um delito, tem de haver uma sanção administrada pela comunidade política

 Direito positivo: perante um delito, deve haver uma sanção; a sanção será administrada
independentemente de qualquer considera política ou moral

Duas questões:
1. Valores morais não devem entrar na discussão de direito positivo porque a justiça é um elemento
irracional que não tem lugar numa ciência legal;
2. Jurisprudência de direito positivo não pode ser descritiva, mas tem de ser normativa (anti-
sensorialismo e anti-empirismo)
A teoria pura do direito rejeita considerações metafísicas da doutrina do direito natural, o factualismo da
sociologia legal ou psicologismo jurídico.
Favorece uma jurisprudência de direito positivo
Conceito de justiça é subjetivo:
1. A única justiça que interessa é aquela que pode ser deduzida a partir da norma;
2. Rejeição de uma fundamentação transcendental da justiça;
3. É necessário transformar o direito numa ciência objetiva:
Delimitação do objetivo;
Construção de um sistema isento de contradições
A proposta de Kelsen é a criação de uma teoria pura do Direito: o objetivo deixa de ser a justiça
Rutura entre direito e ética

Teoria pura do direito


Que espaço ocupa a teoria pura do direito de Kelsen?
Território entre o idealismo da moralidade e a banalidade dos factos.
Quais são os objetivos de Kelsen?
1. Esvaziar o direito da contaminação subjetiva da moral e da subjetividade
2. Excluir todas as lições empíricas provenientes do estudo dos fenómenos naturais.
Criação de uma jurisprudência unitária e objetiva, com um assunto (direito positivo) e um método
(racionalidade).

Eficácia e validade
Qual o papel do jurista?
 Não pode prever de que forma um delito é sancionado (se a sanção apropriada é aplicada)
 Só pode dizer o que deve acontecer (o conteúdo da sanção apropriada)
O jurista deve estar preocupado com o significado dos factos
Ao separar o que é do que deve ser. Kelsen rejeita a jurisprudência que atribui a validade da lei à sua eficácia.
A existência de uma ordem legal não depende da sua eficácia, mas da sua validade: as normas legais devem
ser aplicadas e obedecidas.

Eficácia Validade
Domínio dos factos Domínio do “dever”

Se a validade de uma norma jurídica não depende da sua eficácia, então onde se encontra a sua legitimidade?

Norma básica (Grundnorm)


O que é uma ordem legal?
 Sistemas de normas positivas com estrutura hierárquica
 A validade é adquirida porque cada norma depende de uma norma hierarquicamente superior

Pirâmide normativa:

Normas fundamentais O que justifica e legitima a


Constituição constituição?

Normas gerais Precedentes ou


estatutos
Normas individuais
Contratos individuais, decisões
executivas ou judiciais

A norma básica é uma pressuposição formal, um postulado superior.


 Legitima a existência de um sistema legal: nada existe acima de Grundnorm.
Valida a construção como poder de criação de normas fundamentais.

Direito internacional

Kelsen corta com duas correntes de jurisprudência de direito internacional:


1. Direito estatal sobrepõe-se ao direito internacional;
2. Direito estatal e direito internacional têm naturezas diferentes e vivem em territórios jurídicos
diferentes.

Kelsen propõe que o direito internacional seja o único sistema legal objetivo e aquele que determine todas as
ordens legais nacionais.
Reorganização conceptual da soberania
Igualdade entre Estados só pode ser garantida se:
1. Estados não forem soberanos
2. Estados estiverem submetidos a uma autoridade superior
A soberania reside na ordem legal mais elevada, i.e., no direito internacional

Uma ordem jurídica é uma ordem coerciva.


Uma norma legal implica obediência dessa norma. Perante uma desobediência à norma, deve existir uma
sanção.
Dois tipos de sanções numa ordem internacional
1. Retaliações;
2. Guerra
A guerra só é uma sanção apropriada se for justa.
Negar a teoria da guerra justa é negar a natureza legal do direito internacional.
Carl Schmitt

Contextualização da obra
 Carl Schmitt nasceu em 1888 na Alemanha, numa família católica;
 Formou-se em Direito, concluindo o doutoramento em Jurisprudência em 1910, na Universidade de
Estrasburgo;
 Depois da 1ª Guerra Mundial, aproximou-se da doutrina hobbesiana de que o Estado e a autoridade
são os únicos garantes da segurança: auctorias non veritas facit legem;
 As noções centrais de obediência levaram-no a filiar-se no Partido Nacional Socialista em 1933;
 No mesmo ano torna-se presidente da Associação de Juristas Nacionais Socialistas;
 Até 1945, foi professor de Direito da Universidade de Berlim, até ser detido pelos Aliados: não foi
punido em Nuremberga;
 Morreu em 1985.

Teologia política
Publicado originalmente em 1922.
Problema central do livro: conceito de soberania.
O soberano é aquele que decide:
 O que é a exceção?
 Qual o conteúdo da ação excecional

Decisionismo e soberania
Proposta de uma ordem que é anterior a uma ordem jurídica assente em normas de direito.
Uma ordem decisionista é, por isso, a fundadora de uma ordem legal.
É a decisão que atribui sentido à lei e ao direito. Por ser o seu fundamento, a decisão pode sempre ser
reativada pelo político para suspender a ordem legal que criou: a decisão política tem prioridade sobre a lei e
revela-se como ato eminentemente soberano
Conceito de crise: só através de crises do Estado é que é possível observar as limitações da norma.
 A crise permite a vulnerabilidade do direito: revela a necessidade de agir na exceção.
 Contra Kelsen, que procurava criar uma ordem jurídica que afastasse a exceção: uma teoria pura do
direito conseguiria prever a totalidade fenoménica.
A essência do poder soberano impede-o de estar sujeito à lei, principalmente em momentos excecionais.
Objetivo: localizar o estado de emergência (a exceção) numa teoria da soberania.
Soberania reside no subjetivismo (contra Kelsen).
O Estado schmittiano apresenta características hobbesianas:
1. Tem o monopólio da violência e da decisão;
2. É a única entidade que pode distinguir amigo do inimigo;
3. O Estado pode dispor arbitrariamente da vida dos súbditos para se conservar.
O principal propósito do Estado é manter a ordem e atingir a normalidade.
Estabilidade: em casos excecionais, só pode ser garantida pelo decisionismo.

A soberania do Estado é mais importante do que a validade da norma jurídica.


A suspensão do direito, no caso da exceção, visa precisamente garantir a autoconservação do Estado.
A decisão política emerge como fundamento derradeiro da ordem da comunidade.

Primado político
A vida humana não pode ser adequadamente apreendida por um conjunto de normas: há sempre algo que
escapa à lei e que torna vida incapturável pelo direito.
Ao contrário de Kelsen, Schmitt dirá que não existe primado da lei, mas primado do político.
Se se prescindir do elemento humano, como desejava o Kelsen, não seria possível responder à
imprevisibilidade das circunstâncias:
A lei deve estar sujeita à vontade do humano e não o seu inverso.
Interpretação histórica de Schmitt: o legislador omnipresente desparece no sec. XIX, dando lugar à
fragmentação do poder, divisão dos poderes e à ideia de que a soberania da lei devia prevalecer sobre a
soberania dos Homens.
Legitimidade democrática e legitimidade constitucional.
Schmitt procura reinstalar o elemento pessoal e tornar a soberania indivisível.
A ação política e legal tem necessária e irredutivelmente uma qualidade humana.
É a pessoa-soberano, perante a possibilidade de uma ordem jurídica entrar em crise, que trona a decisão
adequada para conservar e recuperar essa mesma ordem jurídica.
Dois problemas com o primado da lei:
1. Só é possível compreender a natureza de uma ordem jurídica através da compreensão da soberania,
que por sua vez só se revela no território da exceção;
2. Primado da lei conduz a um entendimento maquinal e burocrático do mundo, e a um gradual
esvaziamento do político.
Tarefa Schmitt é recuperar o lado humano da governação: repolitização do mundo.
Isto implica recuperar conceitos que a modernidade foi gradualmente sufocando nas suas teorias políticas,
através da mecanização do direito: em primeiro lugar, os conceitos de soberania e de autoridade
Emerge uma nova figura que decapita o monstro mecânico do Estado como aparato burocrático-normativo e
reumaniza a política: o ditador.
O Conceito do Político tem três versões (1927,1932,1933).
A segunda versão de 1932 tornou-se versão definitiva.

Qual o argumento central?


Schmitt propõe uma reposição da figura do político: este deve agora surgir como sujeito fundamental da
existência humana.
A ação política manifesta-se na ação do Estado Soberano.
Qual a sua função?

Dar unidade à comunidade política


O que dá unidade à comunidade política não é o povo, através do contrato: é o político, enquanto sujeito
autónomo e transcendente, que confere unidade à comunidade política.
A ordem legal é produzida pela vontade soberana do político.

Qual a característica que melhor caracteriza o político, i.e., o Estado soberano?


Não é a possibilidade de o político politizar todas as tarefas da vida de cada sujeito.
É pelo contrário, a possibilidade de o político se apresentar como o detentor do monopólio da diferenciação
amigo-inimigo: o Estado garante assim a proteção ao povo, em relação a movimentos políticos ou religiosos
que o queiram instrumentalizar.

21/11/2023
John Rawls – Teoria da justiça
Contextualização da obra
o Nasceu em 1921, em Baltimore, nos EUA;
o Licenciou-se em Princeton, em 1942, e na dissertação de final de curso explorou a ideia de que a
desigualdade natural de capacidades não pode justificar moralmente a desigualdade na distribuição de
riqueza;
o Foi mobilizado para a 2ª Guerra Mundial, na qual teve uma crise de fé e se tornou ateu
o Conclui o doutoramento em 1950;
o Em 1962, começou a dar aulas em Harvard, onde ensinou grande parte dos principais filósofos morais
e políticos da contemporaneidade;
o Em 1971, publicou uma das obras centrais para o pensamento político e moral: Um Teoria da Justiça;
o Morreu em 2002, com 81 anos.

Conceção de justiça liberal-igualitária


1. Igualdade de liberdades fundamentais
a. Direitos e liberdades civis
b. Direitos e liberdades políticos
2. Igualdade de oportunidades
Distribuição equitativa de recursos económicos
Fundamentos individualistas + Fundamentos
solidaristas
(primazia de direitos individuais) (noção de que os indivíduos devem partir do mesmo ponto de
partida)

«Sociedade como um sistema de cooperação»


 Composta por cidadãos com igualdade de direitos e liberdades (propriedades morais básicas)
Todos os indivíduos detêm poderes morais:
1. Capacidade para criar uma conceção de bem (racionalidade)
2. Capacidade para agir segundo uma conceção de justiça (razoabilidade)

Capacidade para a criação de uma conceção de bem.


Funda-se na racionalidade de cada indivíduo:
1. Capacidade para definir os fins que pretender alcançar;
2. Capacidade para definir quais os meios mais adequados para atingir esses fins
3. Daqui decorre a efetivação de liberdade individual, isto é a possibilidade de cada individuo escolher o
curso a dar à sua vida

Poderes morais
Capacidade para discernir e agir de forma justa.
Além da racionalidade, os indivíduos agem de forma razoável: os indivíduos estão naturalmente dotados de
um sentido de justiça.
Daqui decorre a expressão de igualdade entre todos os indivíduos: todos eles são dotados de racionalidade e
de razoabilidade para agir de forma justa.

Sociedade como sistema de cooperação


Apesar da sociedade ser um sistema de cooperação, podem surgir conflitos. Porque nascem conflitos?
1. Distribuição de encargos da vida social (deveres);
2. Distribuição de benefícios da vida social (direitos).
Como os cidadãos preferem mais benefícios que encargos, cabe à justiça definir a distribuição mais adequada
desses benefícios e encargos para garantir uma cooperação social adequada.
Bens sociais primários
Trata apenas da distribuição justa dos bens sociais primários. Que bens são estes?
1. Liberdades
2. Oportunidades
3. Rendimentos
Este cabaz de bens sociais primários é o que o cidadão precisa para efetivar os seus dois poderes morais : para
que possam agir de forma racional e razoável.
Não dependem da distribuição aleatória de capacidades naturais.
Dizem respeito à distribuição de encargos e benefícios (deveres e direitos) na vida social, regulada pela
estrutura básica da sociedade.
 A estrutura básica da sociedade é o objeto da justiça de Rawls. No que consiste?

Estrutura básica da sociedade


Composta pelas principais instituições sociais
Modelada pela relação entre instituições, que se reproduz na distribuição de encargos e benefícios pelos
cidadãos
Que instituições são essas?
1. Constituição
2. Conjunto de leis e de regulação da propriedade
3. Instituições que garante, direitos sociais (saúde, educação)
A estrutura básica da sociedade determina a vida de cada individuo e a distribuição de direitos e deveres de
cada individuo.
É o objeto da justiça. Mas qual o objetivo da justiça?
 Determinar os princípios a aplicar à estrutura básica da sociedade, tornando-a bem ordenada.
A conceção de justiça de Rawls é procedimental: se a estrutura básica da sociedade estiver bem arquitetada,
de acordo com os princípios de justiça, então a sociedade é justa, independentemente dos resultados
alcançados por cada cidadão.

Duas formulações da conceção de justiça Rawlsiana


Primeira formulação tem um caráter geral e é comporta por um único princípio:
1. Distribuição equitativa dos bens sociais primários é justa, a não ser que uma distribuição desigual
desses bens resulte em benefício de todos os cidadãos
Segunda formulação completa dois princípios:
1. Cada cidadão tem direitos a maximizar as suas liberdades, desde que isso não entre em conflito com as
liberdades dos outros cidadãos;
2. As desigualdades materiais entre cidadãos são moralmente justificáveis, se:
a. As desigualdades causarem uma melhoria de vida de todos os cidadãos;
b. As desigualdades tiverem a sua origem numa igualdade de oportunidade efetiva.
Rawls opõe-se a uma a igualdade absoluta:
a. desigualdade cria um sistema de incentivos;
b. igualdade total origina anomia social (como no caso das utopias).

Primeiro princípio – Princípio das liberdades iguais para todos


Liberdades como bens sociais primários:
 Rawls segue a tradição constitucionalismo modernos, plurizando liberdades;
 As liberdades são necessárias para que os cidadãos exerçam os seus dois poderes morais (capacidade
para criar uma conceção de bem + capacidade para agir justamente);
 As liberdades referidas por Rawls são civis e políticas ( primeira geração dos direitos de cidadania):
 Liberdade de voto;
 Liberdade de ser eleito;
 Liberdade de opinião;
 Liberdade de expressão;
 Liberdade de associação.
Fala-se de um sistema de liberdades: algumas delas poderão ser limitadas para que outras possam efetivar-se.

Segundo princípio
Alínea b) – Princípio da igualdade equitativa de oportunidades
 Princípio da não discriminação perante a lei no acesso a empregos públicos ou privados (não-
discriminação de género, idade, sexo, etnia ou raça);
 Implica, igualmente, que todos os cidadãos têm as mesmas condições efetivas para aceder a
determinada funções sociais, independentemente das condições económicas de partidas que lhes
calharam em sorte, isso exige:
 Igualitarização da distribuição da riqueza, através de um sistema de compensações (tributação –
tributar os ricos por sorte, ou seja, nasceram assim);
 Universalidade de acesso a serviços de educação.
Alínea a) – Princípio da diferença
Regra da justiça rawlsiana: se alguém melhorar a sua condição económica, ninguém pode sais prejudicado.
Rawls propõe critérios de justiça que rejeitam:
1. Ótimo de Pareto: o ótimo de Pareto atinge-se quando transferências mutuamente benéficas de
recursos são impossíveis (haverá sempre alguém a sair prejudicado)
2. Princípio da utilidade: é legitimo que alguém sai prejudicado, desde que a utilidade média ou total da
sociedade aumente
Também pode ser interpretada como uma exposição do «princípio da diferença». De que se trata?
 O benefício de todos não se alcança segundo critérios paretianos ou utilitaristas;
 O benefício de todos alcança-se através da maximização das condições sociais dos cidadãos que se
encontram numa situação pior.
Rawls introduz um critério distributivo à sua teoria da justiça: qualquer ganho (de todos ou só de alguns) só
pode justificar-se se garantir «o maior benefício» dos mais desfavorecidos.
Igualdade democrática: Rawls favorece uma interpretação dos princípios de justiça, que consiste em:
Primeiro princípio (das liberdades iguais para todos)
+
Primeira alínea do segundo princípio (da diferença)
+
Segunda alínea do segundo princípio (da igualdade equitativa de oportunidades)
A igualdade equitativa de oportunidades exige modificar a estrutura básica da sociedade: se os indivíduos são
igualmente livres, do ponto de vista formal, então é necessário corrigir os mecanismos redistributivos da
riqueza, para que essas liberdades se tornem, de facto, efetivas; a liberdade equitativa de oportunidades
corrige parcialmente a má sorte da lotaria social.
Porque se deve corrigir a lotaria social?
 Os indivíduos não são moralmente responsáveis pelas circunstâncias socias de nascimento.
 O princípio da diferença, ao contrário de princípios paretianos ou utilitaristas, permite corrigir a
distribuição aleatória de talentos naturais à nascença.
 Rawls diz que a igualdade equitativa de oportunidades consegue corrigir parcialmente esse problema,
mas não retifica as desigualdades de rendimento e riqueza originadas pelas diferenças nas
características naturais: é aqui que o princípio da diferença entra em ação.
Rawls irá reescrever o segundo princípio de forma mais clara e menos ambígua no ensaio «Justice as Fairness»
(1985):
As desigualdades económicas e sociais só são moralmente aceitáveis, se:
a. Forem o resultado de uma igualdade de acesso a trabalhos e funções (igualdade equitativa de
oportunidades)
b. Beneficiarem os indivíduos mais desfavorecidos de uma sociedade (princípio da diferença)

Equilíbrio refletido
Reflexão filosófica em que confrontamos os nossos juízos sobre a justiça com os princípios que vão sendo
enunciados.
É necessário comparar os princípios de justiça com outros princípios, usualmente utilizados para justificar uma
sociedade bem-ordenada.
Assim, é necessário transitar para um argumento central ao pensamento rawlsiano: a posição original.
A posição original
Rawls considera que é a melhor situação para escolher os princípios de justiça adequados. No fundo, qual o
seu fundamento?
 Imaginário filosófico do contratualismo que:
a) Não se trata de um acordo implícito ou tácito entre indivíduos;
b) A posição original é um argumento meramente contra factual (nunca aconteceu, mas podia ter
acontecido);
c) Não se deve confundir com o contratualismo clássico, pois a posição original é meramente hipotética.
 No entanto, o argumento da posição original segue uma tradição contratualista especifica: a lockeana. Em
que sentido?
a) A faculdade de pensar moralmente é inerente ao indivíduo;
b) A moralidade não é o produto de uma racionalização instrumental, como com Hobbes.

Qual o objetivo da posição original?


Impedir que a escolha de princípios de justiça seja condicionada pelos nossos interesses pessoais. As pessoas
que vão deliberar sobre os princípios de justiça que equiparão a estrutura básica da sociedade não têm
conhecimento sobre a circunstância histórica e social das pessoas que representam.
Encontram-se sob um véu de ignorância.
Como podemos descrever as partes que vão deliberar sobre quais os princípios de justiça mais adequados?
 As partes são racionais;
 As partes estão interessadas nos seus próprios fins;
 As parte estão desinteressadas nos fins dos outros;
 As parte sabem o que são bens sociais primários;
 As parte sabem que cada indivíduo tem conceções bem distintas;
 As parte sabem que o objeto da justiça é a estrutura básica da sociedade;
 As parte sabem que é possível e necessário alcançar a justiça.
Rawls considera, então, que é necessário comparar os princípios de justiça que apresentou (dois princípios,
sendo o segundo composto por duas alíneas, com uma ordenação lexical e hierárquica) com os modelos
alternativos, de raiz teleológica:
1. Princípio da utilidade: o justo consiste na realização do bem-estar;
2. Princípio da perfeição: o justo consiste na realização da perfeição.
A conceção de justiça rawlsiana é, pelo contrário, deontológica: o justo tem prioridade sobre uma conceção
particular de bem, havendo uma classificação hierárquica entre o bem e o justo.
Rawls diz que há mais vantagens em aceitar princípios de justiça de base teleológica. Porquê?
Teoria da Escolha Social: numa situação de incerteza (como aquela que decorre do véu da ignorância), as
partes vão aplicar a regra maximin. No fundo, o que é?
Regra maximin: as partes vão agir racionalmente no sentido de maximizar o mínimo que podem obter de
qualquer acordo de distribuição de bens sociais primários; vão preferir a regra maximin a qualquer outra
estratégia redistributiva (ex. uma que procure obter o máximo para cada parte – é demasiado arriscado).
Exemplo de três sociedades, tripartida em três classes sociais:

S1 S2 S3
C1 100 95 90
C2 50 55 35
C3 25 30 31
Aplicando a regra maximin, em que sociedade seria preferível viver?
Mas a proposta de Rawls não se aplica a sociedades concretas e está enquadrada por outras três condições que
reforçam a regra maximin:

1. Não há informações sobre probabilidades sob o véu da ignorância;

2. As partes têm aversão ao risco;

3. As partes aplicam esta regra para evitarem cair numa sociedade sujeita a princípios de justiça nada razoáveis (como a
existência da escravatura).

Contra o princípio da utilidade: o princípio da utilidade pressupõe a maximização da média daquilo que se pode obter.

Princípio maximin: maximizar o mínimo que se pode obter. Rejeita-se o utilitarismo porque os desfavorecidos podem
ficar numa posição pior do que se fosse aplicada a regra maximin.

Para Rawls, a sociedade justa preenche os seguintes critérios:

1. Gera apoio dos cidadãos e garante estabilidade. - Ao contrário de uma sociedade utilitarista, em que, para garantir o
bem-estar médio, o bem-estar dos mais desfavorecidos pode ser ignorado, na sociedade rawlsiana existe um respeito e
apoio pelas instituições, uma cooperação mais ativa e estável.

2. Cada indivíduo pode desenvolver o seu plano de vida, em função da sua conceção de bem. - Ao contrário de uma
sociedade utilitarista, onde alguns indivíduos poderão não ter acesso aos recursos necessários para perseguirem um
determinado bem. Rawls diz-nos que isso possibilita o crescimento do respeito próprio.

Existe equidade de escolha na posição original e reciprocidade entre as partes. A esta conceção de justiça, que se
desenvolve na posição original, Rawls chama de «justiça como equidade».

SOCIEDADE BEM-ORDENADA

Para compreender o argumento de Rawls é preciso passar por quatro etapas:

1. Posição original: escolhem-se os princípios de justiça.

2. Convenção constituinte: primeira parte da estrutura básica da sociedade.

a. Constitucionalização das liberdades básicas e das regras de participação democrática.

3. Assembleia legislativa ideal: segunda parte da estrutura básica da sociedade.

a. Legislação que garante a igualdade equitativa de oportunidades e o princípio da diferença.

4. Aplicação de um sistema de regras à estrutura básica: define o modelo do Estado.

a. Rawls poderá ter sugerido um socialismo liberal (meios de produção socializados) ou uma democracia de
proprietários (meios de produção privatizados).

Rejeita, no entanto, o modelo do socialismo «real», porque anula o primeiro princípio da justiça, e modelos de
capitalismo de laissez-faire, porque atentam contra o segundo princípio de justiça.

28/11/2023 - Robert Nozick


Contextualização da obra:
Nasceu em 1938, em Brooklyn, nos EUA. Licenciou-se na Universidade de Columbia, em 1959, e estaria
próximo de alguns círculos socialistas, dos quais se afasta.
Em 1974, publicou Anarquia, Estado e Utopia, que ganha o National Book Award. Esta obra é responsável por
legitimar academicamente o libertarismo. Morreu em 2002, com 63 anos.
Conceção de Justiça Libertarista:
Uma conceção de justiça adversa da proposta de Rawls. Assim, é estabelecido uma conceção de justiça
Libertarista.
O termo “libertário” está historicamente contaminado, associado a corrente dos anarquistas. A escolha do
termo “Libertarista” revela que estamos perante uma conceção de justiça que não vem da tradição socialista e
anarquista.
Logo, libertarismo descende do liberalismo e põem em causa os modelos de justiça socialistas ou igualitários.
Assim, existem algumas possibilidades de definição de liberdade estabelecidas pelos libertaristas:
 O conceito de “liberdade” utilizado está circunscrito à “liberdade negativa” (não-interventiva ou coerciva –
quando o Estado interfere nas nossas decisões, ele está a minimizar a nossa liberdade);
 Criação de uma esfera de direitos individuais inviolável – pilar teórico da teoria de Nozick;
 Liberdade para que cada um faça o que quiser com o seu corpo e a sua propriedade – a propriedade é
como se fosse uma extensão do próprio corpo, sendo uma visão proprietarista da visão Libertarista.
Em suma, existem dois tipos de libertarismo:
 Libertarismo económico;
 Libertarismo ético.
Libertarismo económico:
Principal proponente é Friedrich Hayek. Hayek afirma que a liberdade como não-interferência externa justifica-
se por garantir o funcionamento mais eficaz do mercado. Assim, é possível alcançar uma ordem espontânea. O
mercado, como qualquer instituição social, é a consequência espontânea das relações estabelecidas pelos
indivíduos ao longo dos tempos.
Os anti-libertaristas, que defendem um modelo “construtivista”, e uma ordem fabricada, consideram que as
instituições são produtos artificiais e não-naturais. Logo, existe uma dicotomia clara entre Sociedade livre V.
Sociedade dirigida.
Os libertaristas argumentam que não existe qualquer entidade que centralize em si todo o conhecimento
necessário para uma intervenção eficaz no mercado ou na sociedade.
Na sociedade dirigida, o conhecimento está centralizado e é mais reduzido do que numa sociedade livre, em
que o conhecimento está disperso e é muito mais vasto.
Assim, definir liberdade como não-interferência leva a que Hayek argumente que uma ordem social onde
exista interferência do Estado nas relações sociais é um “caminho para a servidão”. Hayek agrupa qualquer
ordem social onde exista interferência estatal sob o guarda-chuva do socialismo, mesmo democracias liberais
onde apenas existem alguns mecanismos de redistribuição de riqueza.
Para Hayek, estas ordens sociais geram menor liberdade, e, por isso, menor prosperidade, pois atentam contra
a ordem espontânea.
Libertarismo ético:
É estabelecido o primado da ideia de liberdade como não-interferência, mas, ao contrário do libertarismo
económico, não se trata de fazer a apologia do mercado-livre (apesar de este ser inevitavelmente, o seu
corolário económico).
Este pensamento leva a criação da obra “Anarquia Estado e Utopia”, de Robert Nozick (1974), sendo esse o
pilar teórico desta teoria libertarista: os direitos invioláveis de cada indivíduo e a relação que estes
estabelecem com o Estado.
O grande objetivo da obra é averiguar sobre a legitimidade e adequada extensão do Estado.
Direitos individuais:
É estabelecido os direitos pré-políticos, esses sendo anteriores ao Estado. Apresentam semelhanças com os
“direitos naturais do indivíduo” que encontramos no pensamento contratualista.
Assim, as características dos direitos individuais são:
 Negativos – estabelecem restrições laterais ao que os outros indivíduos e o Estado podem fazer;
 Absolutos – não podem, em momento algum, ser violados.
Há assim uma influência direta de Locke, na medida em que os direitos individuais são proprietaristas. Um
sistema fiscal nada é mais do que um sistema de roubo, que é concebido através dos impostos. Mantêm,
assim, uma relação com a noção de auto-propriedade, que dita que:
 Cada individuo tem direitos individuais de propriedade sobre a sua pessoa, o seu corpo, a sua vida, a sua
liberdade e as suas posses.
 Estes direitos são invioláveis: ninguém pode invadir a esfera jurídica de cada indivíduo sem autorização.
A interpretação neo-lockeana (e neo-kantiana) de Nozick tem o propósito de garantir que cada individuo seja
visto como um fim em si mesmo e não como um meio para alcançar um determinado fim. Assim, estamos
perante uma conceção deontológica radical.
Esta conceção difere tanto da conceção de Rawls que estabelece uma conceção deontológica moderada
(indivíduos podem ser utilizados para alcançar outro fim, como a maximização da posição dos mais
desfavorecidos, através da aplicação do princípio da diferença), como da conceção consequencialista
utilitarista (indivíduos podem ser meios para alcançar um nível superior de bem-estar médio).
No fundo, que configuração e extensão deverá ter um Estado que respeite os direitos de cada individuo?
Nozick responde que será o Estado mínimo, que tem como únicas funções:
 Proteger os direitos dos indivíduos;
 Garantir o cumprimento de contratos;
 Punir fraude e roubo;
 Aplicar força e coercividade.
Primeira Etapa: O Estado de Natureza:
Com o preâmbulo das ideias de Nozick estabelecidas, surgem algumas questões: porquê um Estado mínimo?
Não seria melhor a ausência de Estado, isto é, a instauração da anarquia?
Para Nozick, a anarquia pura corresponde a ausência de direitos fundamentais, nomeadamente o direito a
propriedade.
Assim, Nozick propõe que realizemos uma experiência mental, regressando a um estado pré-político: a um
estado de natureza lockeano – mecanismo hipotético.
As características do estado de natureza de Nozick são iguais as de Locke:
 Indivíduos têm direitos naturais – liberdade, vida e propriedade;
 Em caso de conflito, não existe ninguém que possa arbitrar esse conflito de forma imparcial;
 A instabilidade do estado de natureza emerge porque cada individuo tem o poder de julgar e executar
segundo a lei natural – transformando-o em Estado de guerra, sendo necessário abandoná-lo.
Segunda Etapa: Associações protetivas:
Consequentemente, o estado de natureza é inseguro e instável. Logo, como vão os indivíduos garantir a
proteção dos seus direitos? Através de associações protetivas.
Os indivíduos associam-se para tornarem mais eficaz a proteção da propriedade de cada um – se um dos
associados tem uma propriedade roubada, os outros têm de “caçar” o ladrão, de forma a proteger a
propriedade desse associado. Mas os membros das associações protetivas não podem dedicar-se totalmente à
sua proteção e à dos outros membros.
Terceira Etapa: Associação protetiva dominante:
No Estado de Natureza, as associações protetivas competem entre si pela supremacia do mercado securitário.
Por isso, a instabilidade não se encontra ainda resolvida. O funcionamento natural do mercado não regulado
leva a que algumas associações protetivas pereçam: ou porque são ineficientes e os clientes saem da
associação ou porque acabam por alcançar uma maior quota de mercado através de fusões.
A tendência da economia securitária, segundo Nozick, é formar um monopólio: surge uma associação
protetiva dominante, que age solidariamente num determinado território, pois é a mais eficaz e a que garante
um melhor serviço aos seus clientes/membros – Estado ultra-mínimo, sendo esse anterior ao próprio Estado
Mínimo.
Quarta Etapa: Monopólio da violência legitima:
A associação protetiva dominante reclama ser um “monopólio da violência legitima”. Para ser uma associação
monopolista tem de garantir apenas proteção aos seus membros, que pagam pelos serviços de segurança.
Consequentemente, todos aqueles que habitam num determinado território, mas não pagam pelo serviço,
não se encontram protegidos. Estamos assim perante um estado ultra-mínimo. Logo, como se alcança o
Estado mínimo?
Quinta Etapa: Estado Mínimo:
O Estado ultra-mínimo só se transforma num Estado mínimo quando a associação protetiva dominante
garante os seus serviços a todos os indivíduos de um determinado território, quer sejam clientes à partida ou
não.
Há assim uma compensação face aos indivíduos: o estado mínimo (o Estado guarda-noturno da teoria liberal
clássica) nasce quando a agência protetiva dominante redistribui serviços de segurança por todos os
indivíduos, protegendo os seus direitos à vida, à liberdade e à propriedade, independentemente de serem
membros ou não. Os indivíduos não podem fazer justiça com as próprias mãos, ou seja, não podem usar
deliberadamente a violência, algo que cabe apenas a agência protetiva.
Assim, a redistribuição de serviços de segurança que protegem os indivíduos do incumprimento de contratos,
de fraude ou de roubo, é a única forma de redistribuição moralmente legitima, na perspetiva de Nozick.
Essa redistribuição pode ser feita, por exemplo, através do vale friedmaniano, financiado pelas receitas fiscais
– os indivíduos são forçados a serem protegidos pela associação protetiva do Estado mínimo. Se não quiserem,
só têm uma opção: emigrar.
Quem determina o que é justo ou injusto é o Estado mínimo.
“O estado mínimo (guarda-noturno) é equivalente ao estado ultra-mínimo juntamente com um vale
friedmaniano (claramente redistributivo), financiado pelas receitas fiscais. Ao abrigo deste plano, todas as
pessoas ou algumas (por exemplo, as que necessitam), recebem vales financiados pelos impostos, que apenas
podem ser usados na compra de uma política de proteção ao estado ultra-mínimo.”
A formação do Estado mínimo, através da compensação aos indivíduos, por estes perderem direito aos seus
poderes naturais de executar e julgar segundo a lei natural, implica a saída do estado de natureza.
Diferentemente de Locke, o abandono do Estado de Natureza não se dá através de um pacto originário. A
passagem do estado de natureza para o Estado mínimo dá-se através de um mecanismo de mão-invisível: o
mercado securitário é naturalmente monopolístico e o monopólio é mais eficiente a garantir a proteção dos
direitos individuais.
A grande diferença entre estado ultra-mínimo e estado mínimo é que, no estado ultra-mínimo, apesar de
existir associações protetivas, pode existir indivíduos que decidam não pagar por essa proteção das
associações protetivas. Logo, não só a agência protetiva dominante exerce coerção, como os indivíduos
também, visto que mantêm os seus direitos a executar e a julgar segundo a lei natural.

No estado ultra-mínimo, os indivíduos podem resolver conflitos com as próprias mãos – estado de
insegurança, havendo desproporcionalidade das consequências. No estado mínimo, há a impossibilidade da
aplicação de justiça pelas próprias mãos pelos indivíduos. Apenas o Estado pode agir coercivamente.
Segunda questão: para alcançar o desígnio de justiça de Nozick (preservação e proteção dos direitos
individuais), não seria preferível um Estado mais extenso ao mínimo?
Nozick considera que um Estado-Mais-Do-Que-Mínimo atenta contra os direitos individuais de cada um
(porque atenta contra a liberdade como não-interferência) e, por isso, rejeita qualquer conceção de justiça
igualitária e, necessariamente, redistributiva (de recursos ou de bens sociais primários como em Rawls).
Assim, Nozick propõe uma alternativa às teorias da justiça distributiva.
Teoria da titularidade:
Nozick propõe uma conceção de justiça assente numa teoria de titularidade, em contraponto a uma teoria
distributiva, como é o caso da rawlsiana.
O elemento central da teoria da titularidade é a propriedade. Porém, em que circunstâncias é que os
indivíduos têm direitos de propriedade sobre os seus bens?
Para responder a essa questão, Nozick elabora três princípios, que configuram a sua teoria da titularidade.
Primeiro princípio: Princípio de justiça na aquisição:
Enquanto para Locke os recursos naturais encontram-se num estado de propriedade comum, Nozick afirma
que os recursos que se encontram na natureza para se apropriar não pertencem a ninguém. Isso significa que
a água do oceano atlântico, por exemplo, é propriedade de ninguém.
Assim, os indivíduos têm direitos legítimos de propriedade sobre algo, caso não inflijam os direitos individuais
de outrem.
A legitimidade da aquisição está, contudo, dependente de uma cláusula a que Nozick chama de “restrição
lockeana”.
Locke e seu princípio da suficiência estabelecem que é necessário deixar em quantidade e qualidade
suficientes em comum, para que os outros se possam apropriar desses recursos e misturar o trabalho com
eles.
Nozick, pelo contrário, não afirma que os recursos e a terra são originalmente propriedade comum, mas que,
pelo contrário, não pertencem originalmente a ninguém.
Assim, é criado uma “restrição lockeana” que determina que “ninguém fique numa situação pior do que
aquela originada pela apropriação”.
Segundo princípio: princípio de justiça na transferência:
Qualquer transferência de bens (contratos de compra e venda, doações, heranças) é legitima se respeitar os
direitos individuais. Logo, se for o resultado de um ato voluntário entre as diferentes partes. Transferências
involuntárias, como roubo ou fraude, são, por esta razão, ilegítimas, o roubo é uma transferência não
voluntária, então atenta contra o direito à liberdade, é ilegítimo.
Há assim uma conceção histórica de justiça: se uma aquisição ou transferência ocorridas no passado
respeitarem os princípios da teoria da titularidade, então são justas.
E caso não tenham cumprido os requisitos dos dois princípios?
Terceiro princípio: princípio da retificação das injustiças:
A propriedade de cada individuo só é moralmente legitima se decorrer de: uma justa aquisição e uma justa
transferência.
E, caso não tenham cumprido os requisitos do primeiro e do segundo princípio da titularidade, então é
considerada injusta. Então, como é possível retificar essa injustiça?
 Se a injustiça tiver sido cometida recentemente, o sistema judiciário poderá dar conta do recado;
 Se a injustiça tiver ocorrido há muito tempo (ex. apropriação colonial), Nozick sugere uma retificação (ex.
restituições históricas).
Contudo, surgem alguns problemas quanto ao princípio da retificação das injustiças:
1. A única forma de retificar totalmente uma realidade social construída sob inúmeras aquisições e
transferências injustas seria através de uma tabula rasa do presente político, restabelecendo uma
sociedade de absoluta igualdade como ponto de partida.
2. Uma retificação que exija um ponto de partida igualitário necessitaria de um Estado-Mais-Do-Que-
Mínimo, como Nozick chega a admitir. Isso colocaria em risco a sua proposta para uma teoria da justiça
libertarista.
Conceções de justiça:
As conceções de justiça de Nozick difere em diferentes frontes das conceções de justiça de Rawls e dos
utilitaristas.
Por um lado, Nozick apresenta uma conceção libertarista, baseada em princípios históricos. Por outro lado,
Rawls apresenta uma conceção liberal-igualitária, baseada em princípios teleológicos ou de resultados-finais.
Por fim, os utilitaristas apresentam uma conceção utilitarista, baseada em princípios teleológicos ou de
resultados-finais.
Contudo, o que significa princípios teleológicos ou de resultados-finais? No fundo, esses princípios
estabelecem que a justiça depende de uma estrutura de distribuição pré-definida.
Exemplos:
 Utilitarismo – o princípio da utilidade especifica um determinado fim para a distribuição de recursos na
sociedade: maximizar o bem-estar médio na sociedade.
 Rawls – segundo Nozick, também o princípio da diferença projeta um fim último para a distribuição de
recursos na sociedade: maximizar a posição dos mais desfavorecidos à partida.
Por outro lado, existem os princípios padronizados, que também podem ser princípios históricos, mas, ao
contrário da conceção de Nozick, definem que a justiça depende de um critério específico e excessivamente
rígido.
Exemplo: a cada um segundo x. x pode traduzir-se em “necessidades”, “mérito” ou qualquer outra alegada
virtude social ou moral. Segundo Nozick, as aplicações de princípios padronizados impõem uma distribuição
específica e independente das vontades maleáveis e diferentes de cada indivíduo.
Nozick defende princípios históricos, mas não-padronizados: “de cada um segundo escolhem, a cada um
segundo são escolhidos”.
O argumento Wilt Chamberlain:
Nozick utiliza este argumento para demonstrar sistemas de distribuição padronizados ou de resultado-final.
Assim é apresentado o encadeamento lógico do argumento Wilt Chamberlain.
1. Wilt Chamberlain é um jogador da NBA;
2. Chamberlain é um jogador muito popular;
3. Chamberlain acorda com a sua equipa que irá auferir 0.25$ por cada espetador que for ao pavilhão vê-
lo jogar, durante toda a temporada;
4. Cada vez que cada espetador compra um bilhete, deixa 0.25$ numa caixa com o nome Chamberlain;
5. No final da época, venderam-se 1.000.000 de bilhetes;
6. Assim, Chamberlain deveria receber $250.000$.
Tem Chamberlain direito a esse montante?
Na realidade política que conhecemos, sabemos que o Estado iria confiscar parte deste rendimento a
Chamberlain, sob a forma de impostos.
Para Nozick, essa taxação seria, literalmente, um roubo: o Estado estaria a interferir com os direitos de
propriedade de Chamberlain, limitando-os, apesar de o seu rendimento ter sido o resultado de uma
transferência entre indivíduos conscientes.
Segundo Nozick, este imposto sobre o rendimento seria uma forma de forçar Chamberlain a trabalhar em prol
de um sistema redistributivo.
Se aplicássemos princípios padronizados ou de resultado-final, este “roubo” que Nozick faz referência estaria
justificado moralmente, pois a redistribuição de recursos depende de a capacidade do Estado recorrer ao seu
braço fiscal.
Segundo Nozick, princípios de justiça padronizados ou de resultado-final implicam uma interferência do Estado
na esfera dos direitos individuais de cada indivíduo e, por isso, limitam a liberdade de cada um.
Liberdade e igualdade económica:
Para Nozick, o surgimento da desigualdade numa sociedade é natural e perfeitamente aceitável do ponto de
vista moral, pois:
D1: existe uma distribuição perfeitamente igualitária de bens e recursos;
D2: devido às transferências livres e voluntárias entre indivíduos, assistir-se-á ao nascimento da desigualdade.
Consequentemente, para Nozick, liberdade produz desigualdade, visto que a igualdade só pode ser garantida
pela interferência do Estado, isto é, pela ingerência do Estado na esfera dos direitos individuais.
Logo, se o Estado procurasse corrigir as desigualdades causada em D2 estaria a atentar contra a liberdade
individual.
A conceção de liberdade de Nozick é, assim, proprietarista e individualista.
Em Rawls, a conceção de “justiça como equidade” procurava garantir um amplo sistema de liberdades básicas,
alavancando os mais desfavorecidos através do princípio da diferença.
Enquanto para Rawls a redistribuição serve para maximizar a liberdade, Nozick vê na redistribuição a causa
para a minimização da liberdade.
Um enquadramento para a Utopia:
A utopia é um argumento introduzido na terceira e última parte de Anarquia, Estado e Utopia: com isso,
Nozick pretende reinterpretar o pensamento utópico.
Tradicionalmente, o pensamento utópico é comunitarista e muito crítico da noção de propriedade privada.
Logo, Nozick procura explorar uma faceta do pensamento utópico que seja individualista e contraste com o
socialismo utópico.
O Estado mínimo é visto como um enquadramento para a Utopia. Todas as utopias são possíveis, desde que os
direitos dos indivíduos sejam protegidos.
O Estado mínimo emerge como uma meta-utopia, um campo em aberto onde todas as criações políticas são
possíveis: sociedades liberais, comunas socialistas, mercados sem regulação. Todos podem conviver na mesma
arena internacional, desde que não atentem contra os direitos de cada indivíduo.
Rawls V. Nozick:
Rawls apresentou o princípio da diferença para tentar superar os inconvenientes do princípio da utilidade.
Segundo Nozick, Rawls cai na mesma armadilha que atribuía aos utilitaristas: o de não contemplarem nas suas
teorias a diferença entre indivíduos. Assim, Nozick afirma que Rawls procura coletivizar as características
naturais dos indivíduos, violando os seus direitos.
Para Nozick, Rawls trata os seus indivíduos mais talentosos como meios para alcançar um fim distributivo que
ajude os mais desfavorecidos.
Para Rawls, a distribuição de talentos naturais é arbitrária: ninguém fez nada ativamente para ser mais dotado
do que os outros e, por isso, ninguém deve ser recompensado por ser criativo, habilidoso, atlético ou
talentoso.
Por um lado, Nozick aceita que a distribuição de talentos naturais seja meramente arbitrária, mas esses
talentos são, de qualquer modo, propriedade do próprio indivíduo.
Como cada um é justo proprietário de si e do seu corpo, qualquer ingerência do Estado interfere com a auto-
propriedade e com os direitos individuais de cada um: qualquer ingerência do Estado é, por isso, injusta.

05/12/2023
MICHAEL SANDEL E MICHAEL WALZER
Conceção de justiça comunitarista
Os comunitarismos criticam os liberalismos modernos e radicais:
- Conceção de justiça liberal-igualitária de Rawls;
- Conceção de justiça libertarista de Nozick.
Porquê? Porque os liberalismos assentam no primado do indivíduo. Os comunitarismos consideram que a
conceção liberal de indivíduo é uma abstração: o indivíduo só é compreendido em toda a sua plenitude
quando se avaliam as suas interações sociais.
Comunitarismo pode ser forte ou suave:
- Comunitarismo forte: rejeitam a discursividade jurídica e a conceção de liberdades individuais;
- Comunitarismo suave: criticam os arranjos políticos do liberalismo, mas não rejeitam nem a discursividade
jurídica, nem o primado das liberdades dos indivíduos.
É sobre este último tipo de comunitarismo que nos iremos deter, especialmente na sua versão
contemporânea, inaugurada com a publicação, em 1982, de O Liberalismo e os Limites da Justiça, de Michael
Sandel.
A obra de Sandel representa uma perspetiva crítica dos comunitarismos aos liberalismos. A crítica de Sandel
diz que: Rawls está errado porque propõe uma conceção em que a justiça tem prioridade sobre o bem. Para
Sandel, o liberalismo deontológico de Rawls apresenta problemas de justificação e problemas substantivos.
Qual o problema substantivo da conceção de justiça de Rawls, na perspetiva de Sandel? Segundo Rawls, a
justiça é a «primeira virtude das instituições sociais».
Assim, a justiça não pode ser sacrificada para que se maximize ou outro bem social (ex: propriedade ou bem-
estar). O liberalismo rawlsiano é anti-consequencialista.
A crítica de Sandel a Rawls
Qual o problema quanto às justificações da conceção de justiça de Rawls, na perspetiva de Sandel? Os
princípios da justiça não definem uma conceção definitiva do bem a alcançar. A justiça não se justifica no
alcance ou na concretização de um determinado bem absoluto. O liberalismo rawlsiano é anti teleológico.
Segundo Sandel, o anti-consequencialismo e o anti-teleologismo de Rawls assentam numa conceção
metafísica da pessoa (a unidade do eu). Onde encontramos esta conceção? No argumento da posição original.
Rawls afirma que o indivíduo tinha dois poderes morais (racionalidade e razoabilidade), ou seja, que poderia
agir de forma justa e que poderia criar uma conceção de bem. Segundo Sandel, a teoria da justiça como
equidade desenvolve-se a partir desta conceção da natureza humana e tem como função exclusiva proteger os
poderes morais de cada um.
O que nos mostra a descrição de posição original? Uma conceção metafísica da pessoa:
- Pluralidade de bens individuais;
- Pessoas autónomas; - Negligência da interdependência entre sujeitos;
- As partes estão meramente preocupadas consigo mesmas e em maximizar as suas vantagens.
Sandel diz que é esta conceção de natureza humana que justifica que partes deliberem por princípios de
justiça que negam o bem comum e que têm «desinteresse mútuo».
Para Sandel, a sociedade que emerge da posição original é indesejável. Porquê? Porque Rawls acaba por
sacrificar a substantividade do bem aos princípios e aos processos que determinam o que é justo.
Como resolver este impasse? Uma primeira possibilidade seria recorrer ao argumento utilitarista rejeitado por
Rawls: a justiça não está nos princípios, mas nos fins alcançados. Mas Sandel não seguirá a proposta
utilitarista: propõe que se integre uma ideia de bem na conceptualização da justiça, mas esta ideia de justiça
não estará limitada à utilidade.
A premissa de Sandel parte da desconfiança em relação à conceção de natureza humana em que Rawls
fundamenta os princípios de justiça:
1. Os indivíduos não são absolutamente autónomos e independentes. Pelo contrário, os indivíduos estão
inseridos numa comunidade que os molda e enforma.
2. Os indivíduos não escolhem os seus fins. Pelo contrário, os indivíduos acabam por se submeter aos fins
disponíveis numa determinada comunidade.
3. Os indivíduos não têm uma natureza voluntarista. Os indivíduos constituem-se não só a partir das suas
vontades, mas principalmente através da interação com os outros membros da comunidade em que
estão inseridos.
Assim, ao contrário da crítica de Nozick a Rawls, que é projetada contra o segundo princípio da justiça, Sandel
discute o primeiro princípio (liberdades iguais para todos). Rawls considerava que a função do Estado era
garantir liberdades básicas para todos, agindo de forma neutral quanto às conceções de bem. Sandel, pelo
contrário, afirma que as liberdades só têm valor social se já comportarem uma conceção de bem.
Rawls: o justo tem prioridade sobre o bem. ≠ Sandel: o bem tem prioridade sobre o
justo.
Significa isto que o Estado, com Sandel, não pode ser neutral: a função do Estado é de promover certos bens
aos quais a comunidade atribuiu valor.
O comunitarismo de Michael Walzer
Enquanto o comunitarismo de Sandel pode resumir-se a uma crítica aos liberalismos, Walzer constrói um
argumento substantivo pelo comunitarismo, com a publicação de As Esferas da Justiça, em 1983. Ponto de
partida: a comunidade. A justiça só pode ser pensada em relação a esta realidade concreta: a justiça passa a
estar contextualizada.
Ao contrário de Rawls, com Walzer não temos um cabaz de bens sociais primários que devem ser distribuídos
em qualquer sociedade justa. Pluralidade de bens:
- Algo pode ser um bem para uma comunidade, mas pode não o ser para outra;
- Algo pode ser um bem para uma comunidade no presente, mas pode não ter sido um bem para a mesma
comunidade no passado;
- Os critérios de distribuição de um bem não existem a priori: dependem do valor dado pela comunidade a
esse mesmo bem.
Esferas da justiça
Walzer fala-nos de «esferas da justiça».
O que são?
- Cada esfera é composta por um bem ou por um conjunto de bens, tal como pelos critérios da sua
distribuição; - Todas as sociedades são compostas por uma pluralidade de esferas;
- As esferas são parcialmente autónomas, umas em relação às outras. Os sujeitos dependem das esferas da
justiça, i.e. dos bens e da forma como estes são distribuídos: os sujeitos são constituídos pelo contexto (escola,
dinheiro, reconhecimento, etc.)
Como se determina a comunidade e as suas fronteiras? A comunidade não é necessariamente determinada
pela homogeneidade cultural. É o poder político que desenha as fronteiras da comunidade. A comunidade
depende de um sentido partilhado sobre as esferas da justiça. Também pode ter diferentes configurações:
polis, cidade medieval, império. Atualmente, a comunidade expressa-se na figura do Estado moderno.
Esfera da qualidade dos membros da comunidade : trata-se do primeiro bem a distribuir, pois a distribuição
dos outros bens depende da qualidade atribuída a cada membro da comunidade. Cada comunidade define
quem pode ou não lhe pertencer, tal como o estatuto jurídico de cada membro (cidadão nacional, estrangeiro
residente, cidadão naturalizado, etc.) Segundo Walzer, cabe a cada comunidade definir os critérios de
admissibilidade de membros.
Esfera da segurança e previdência. Cada comunidade determina que tipo de assistencialismo social deve
providenciar aos seus membros, seja compensações para trabalhadores incapacitados ou serviços de saúde.
No caso dos serviços de saúde, nem todas as comunidades contemporâneas concordam quanto à forma de
distribuição desse bem: em Portugal, falamos de acesso universal e gratuito, algo que contrasta com os EUA
pré-Obamacare.
Esfera do dinheiro e mercadorias. O valor de uma mercadoria decorre das leis da oferta e da procura. Porém,
nem todas as comunidades concordam em relação aos bens que podem ser mercantilizados. Em Portugal, há
certas coisas que os membros da comunidade concordam que não devem ser comercializadas:
- Seres humanos;
- Poder político.
Mas para Walzer ainda existem demasiadas coisas que podem ser mercantilizadas, o que comporta riscos para
uma sociedade bem-ordenada.
Esfera dos cargos públicos e empregos. A distribuição de funções profissionais pode obedecer a critérios
diferentes, de comunidade para comunidade. Alguns cargos podem ser distribuídos de acordo com alguma
noção de mérito, ou por base nas qualificações. Outras comunidades podem preferir as redes de influência, a
ascendência de um candidato ou a sua etnia ou raça.
Esfera do poder político. O critério atualmente dominante nas sociedades ocidentais é o de distribuição de
poder político através de eleições baseadas no sufrágio universal. Contudo, nem sempre assim foi: um outro
critério dominante durante longos séculos foi o da hereditariedade. Seja qual for o critério usado, a esfera do
poder político tem particular importância: esta esfera desempenha uma função importante em determinar as
fronteiras das outras esferas.
A relação entre as várias esferas é inevitavelmente complexa:
- Se a esfera da graça divina invade a esfera do poder político, a sociedade está submetida a um regime
teocrático;
- Se a esfera do mercado invade a esfera do poder político, a sociedade está submetida a uma plutocracia.
A esfera do poder político pode assegurar a relativa autonomia das várias esferas, mas este equilíbrio é
sempre frágil.
Igualdade complexa
Walzer propõe dois conceitos que representam parcialmente as relações entre as diferentes esferas da justiça:
1. Monopólio
- Um indivíduo acumula e controla um determinado bem dentro de uma determinada esfera.
- Esta distribuição desigual de um bem não é necessariamente injusta (ex: alguém tem acesso a mais cuidados
de saúde porque está numa posição de maior necessidade).
Mas, geralmente, deter um monopólio de um bem significa que um indivíduo pode tirar partido do seu
carácter predominante.
2. Predominância
- Um indivíduo usa um conjunto de bens de uma esfera para tirar vantagens numa outra esfera.
O predomínio é injusto e moralmente injustificável porque implica passar por cima das fronteiras entre as
esferas da justiça. (Ex: alguém que detém o monopólio de um bem da esfera do mercado obtém vantagens na
esfera do poder político). Walzer sugere um critério distributivo geral: «Nenhum bem social X deverá ser
distribuído a homens e mulheres que possuam um bem Y, só por possuírem este último e sem ter em atenção
o significado daquele X»
Ao contrário de Rawls e Nozick, que defendem uma distribuição igualitária de determinados bens (igualdade
de bens sociais primários ou igualdade de liberdade), Walzer afirma que a desigualdade de distribuição de
certos bens em determinadas esferas é o mais justo. No lugar de uma «igualdade simples», como aquela que
encontramos em Rawls e Walzer, Walzer propõe uma «igualdade complexa»: um indivíduo pode ter mais
vantagens numa esfera, desde que essas vantagens não sirvam para retirar benefícios numa outra esfera.
A injustiça não está no monopólio de um bem, mas quando esse monopólio origina predomínio.
Relativismo cultural?
A injustiça encontra-se na ausência de uma «igualdade complexa». Mas quem determinada o modo como um
determinado bem pode ser distribuído numa determinada esfera? Segundo Walzer, as esferas da justiça não
podem ser pensadas a partir de um ponto de vista abstrato: cabe a cada comunidade, em cada momento,
determinar que critério de distribuição é mais ou menos justo.
Não existe, assim, um ponto de vista universal em relação à justiça: a justiça depende da sua circunstância,
mas podemos procurar uma base de entendimento moral comum.

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