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APLICADA À
FISIOTERAPIA
Introdução
O nosso organismo necessita continuamente de energia, seja para realizar
uma atividade física ou apenas se manter em repouso e desempenhar as
funções biológicas básicas. Ao realizar um exercício físico, o corpo ativa
mecanismos, a fim de produzir mais energia, em contrapartida, também
pode apresentar gastos energéticos durante esse processo.
É indispensável que o fisioterapeuta compreenda os efeitos dos
diferentes exercícios físicos no organismo e quais são os principais me-
canismos metabólicos envolvidos na realização desses exercícios. Esse
conhecimento será diretamente utilizado para que a intervenção fisio-
terapêutica seja planejada e definida.
Dessa forma, neste capítulo, você irá estudar os conceitos básicos da
fisiologia do exercício.
2 Conceitos básicos em fisiologia do exercício
Rotas metabólicas
Para que o nosso organismo realize as suas funções, é necessário que seja pro-
duzida energia. Essa energia química pode ser obtida pela quebra da molécula
de ATP, o que faz com que um dos três grupos fosfato seja removido dessa
molécula. Devido a essa importante função, o ATP é conhecido como a moeda
energética dos seres vivos, a qual permite que exista energia para ser utilizada
durante processos químicos, mecânicos (como a contração da musculatura),
elétricos (como a propagação de um estímulo nervoso pelo sistema nervoso),
entre outros (SILVERTHORN, 2010; TORRES; MARZZOCO, 2007).
Para iniciar um exercício, é necessário ter energia para que ocorra contração
da musculatura esquelética e que essa energia seja obtida por vias metabólicas.
Inicialmente, a energia é proveniente da quebra de moléculas de ATP existentes
nas fibras musculares. No entanto, pouco ATP existe nas fibras musculares,
permitindo sustentar apenas um ou dois segundos de contração muscular
4
DÉBITO CARDÍACO EM REPOUSO 5,8 L/min DÉBITO CARDÍACO DURANTE O EXERCÍCIO VIGOROSO OU INTENSO 25,6 L/min
19% 1%
Rim Rim
9% 2,5%
Pele Pele
10% 0,5%
Outros tecidos Outros tecidos
21%
Músculos Músculos
esqueléticos 88%
esqueléticos
Figura 1. Modificação da distribuição do fluxo sanguíneo durante a realização de um exercício físico vigoroso.
Fonte: Silverthorn (2010, p. 820).
Conceitos básicos em fisiologia do exercício 5
intensa, por isso, existem diferentes rotas metabólicas que proporcionam essa
energia para a realização do exercício físico: a via anaeróbia alática, a via
anaeróbia lática e a via aeróbia. As principais diferenças entre essas vias são
a velocidade com que ocorrem, a necessidade ou não de o oxigênio participar
da reação e a produção ou não de lactato (SILVERTHORN, 2010; HEYWARD,
2004; TORRES; MARZZOCO, 2007).
Para dar continuidade ao exercício, ocorre a via anaeróbia alática que
necessita da participação da molécula de FCr presente na fibra muscular.
Porém, esta também é uma via rápida e, se o exercício necessitar ser mais
longo, outras vias deverão ser ativadas para a obtenção do ATP. Conforme a
disponibilidade de oxigênio, a via poderá ser a via anaeróbia lática, em caso
de ausência de oxigênio, ou via aeróbia (fosforilação oxidativa), na presença de
oxigênio. Essas vias ocorrem a partir de substratos provenientes de nutrientes,
principalmente a glicose, que pode ser obtida não apenas pela ingestão de
glicose livre, mas também em forma de amido, sacarose e lactose. Parte dos
substratos que serão utilizados pelas vias metabólicas anaeróbia lática e aeróbia
está localizado nas fibras musculares, enquanto a outra parte é direcionada
pela corrente sanguínea de outras estruturas do corpo, como o fígado e o
tecido adiposo, chegando até a musculatura esquelética (SILVERTHORN,
2010; HEYWARD, 2004; TORRES; MARZZOCO, 2007).
As diferentes fibras musculares que existem na musculatura esquelética
apresentam características diferenciadas e, por isso, têm a capacidade de
obter energia preferencialmente por uma via ou outra. As fibras tipo I, por
exemplo, são denominadas fibras lentas oxidativas. Essas fibras são altamente
vascularizadas e ricas em mitocôndrias e mioglobina, tendo a capacidade de
produzir ATP pela oxidação aeróbia. Por outro lado, as fibras tipo II, também
conhecidas como fibras rápidas, têm poucas mitocôndrias e mioglobina, bem
como poucas enzimas do metabolismo aeróbio e resistência à fadiga. Além
disso, essas fibras tipo II têm maior capacidade de realizar a contração mus-
cular com grande velocidade por meio da via da glicólise anaeróbia, a qual
utiliza a glicose e o glicogênio como substratos para obter energia (TORRES;
MARZZOCO, 2007).
A distribuição dos tipos de fibras musculares pela musculatura esquelética
é variada e determinada pelo modo de utilização dessa musculatura. Além
disso, o exercício físico é um importante estímulo para a transformação mus-
cular, podendo converter um tipo de fibra em outro. A musculatura de atletas
maratonistas que correm longas distâncias, por exemplo, tem predominância
de fibras lentas do tipo I, enquanto os corredores de curta distância têm maior
quantidade de fibras rápidas do tipo II (TORRES; MARZZOCO, 2007).
6 Conceitos básicos em fisiologia do exercício
Quadro 1. Comparativo das vias anaeróbias e via aeróbia e seus processos metabólicos
Vendo a Figura 2, é possível saber mais sobre a contribuição energética das principais
rotas metabólicas desencadeadas pelo exercício físico.
Contribuição Energética
50
0
0 1 2 3 4 5
Duração do Exercício
Veja na Figura 3 o ciclo do ácido cítrico (também conhecido como ciclo de Krebs),
perceba que o processo inicia com a AcetilCoA. Nessa rota circular, são produzidos
ATP, elétrons de alta energia e dióxido de carbono.
Misto de duas
Via anaeróbia vias Via aeróbia
Intensidade do exercício
Figura 3. Imagem representativa da relação das rotas metabólicas e dos tipos de exercícios
físicos.
Fonte: Adaptada de Riddell et al. (2017).
Conceitos básicos em fisiologia do exercício 11
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Leituras recomendadas
GUYTON, A. C.; HALL, J. E.; GUYTON, A. C. Tratado de fisiologia médica. Rio de Janeiro:
Elsevier Brasil, 2006.
HUIJSMANS, R. J. et al. The clinical utility of the GOLD classification of COPD disease
severity in pulmonary rehabilitation. Respiratory Medicine, v. 102, n. 1, p. 162-171, 2008.
SWANWICK, E.; MATTHEWS, M. Energy systems: a new look at aerobic metabolism in
stressful exercise. MOJ Sports Medicine, v. 2, n. 1, p. 39, 2018.
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