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Distúrbios do

Desenvolvimento
Material Teórico
Deficiência Física e Motora

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Alessandra Fabiana Cavalcanti

Revisão Técnica:
Prof.ª Dr.ª Jane Garcia de Carvalho

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Deficiência Física e Motora

• Introdução;
• Fatores Psicológicos Associados à Deficiência Física;
• A Dinâmica das Relações Familiares.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Conhecer as características das pessoas com deficiência física e motora, assim como
a atuação do profissional psicólogo e a dinâmica das relações familiares.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Deficiência Física e Motora

Contextualização
A deficiência física e motora pode acontecer a qualquer momento na vida de
uma pessoa, ou seja, congênita ou adquirida; ademais, de ambas as formas acarreta
prejuízo na motricidade e mobilidade voluntária, na imagem e no esquema corporal.

A reação dos pais frente à notícia da deficiência de um filho é devastadora, uma


vez que acaba com as expectativas e projetos de vida. Por outro lado, a família exerce
um papel extremamente importante à pessoa com algum tipo de deficiência, na acei-
tação e, principalmente, para que essa pessoa possa se desenvolver nos diferentes
aspectos em sua totalidade – físico, motor, social, educacional e emocional.
Explor

Dia do portador de deficiência física, disponível em: https://goo.gl/JsF48B

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Introdução
O conceito de deficiência é amplo e complexo, envolvendo uma multiplicidade
de significados (OMOTE, 2006); além disso, o termo deficiência vem sofrendo
mudanças ao longo do tempo.

Assim, deficiência física é aquela que se relaciona ao corpo, acarretando dano,


restrição da motricidade e mobilidade voluntária e/ou desvantagem. Refere-se,
portanto, ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende os siste-
mas ósteo-articular, muscular e nervoso.

As doenças ou lesões que afetam quaisquer desses sistemas, isoladamente ou em


conjunto, podem produzir os quadros de limitações físicas e o grau de gravidade das
variáveis, segundo o(s) segmento(s) corporal(is) afetado(s) e o tipo de lesão ocorrida
(ENTRE AMIGOS, 2006).

Topograficamente podem ser classificadas como:


• Plegia: em que ocorre a paralisação total do(s) membro(s) afetado(s), nos casos
de Acidente Vascular Cerebral (AVC);
• Paresia: diminuição de força do(s) membro(s), no caso da poliomielite – para-
lisia infantil.

Quanto à extensão da deficiência física, que se refere à estrutura, pode ser pe-
quena ou grande, além do grau de funcionalidade – leve, moderado ou grave.
Ademais, a deficiência física e/ou motora pode ser aguda, nos casos de acidentes;
ou crônica, no acometimento de doenças.

São vários os fatores etiológicos da deficiência física, por exemplo:


• Tóxicas: durante ou após o parto – conta-
minação por chumbo, mercúrio, raios x,
drogas lícitas ou ilícitas;
• Inflamatórias ou infecciosas: infec-
ções da mãe adquiridas durante o perío-
do de gestação ou do próprio indivíduo
após o nascimento;
• Metabólicas: ausência de fixação de cál-
cio no organismo;
• Degenerativas: distrofias musculares pro-
gressivas ou não;
• Hereditárias: genéticas;
• Isquêmicas: são importantes pelo alto
índice de ocorrências, caracterizadas pela
falta de oxigênio no cérebro – anoxia. Figura 1
Fonte: iStock / Getty Images

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UNIDADE Deficiência Física e Motora

Ademais, os sistemas orgânicos afetados são os seguintes:


• Cerebral: paralisia cerebral, esclerose múltipla, todas as encefalopatias –
meningites, por exemplo;
• Espinhal: envolvem todos os acidentes de compressão ou seção da medula
espinhal, poliomielite, má formação, degenerações medulares;
• Muscular: atuantes na musculatura – distrofias musculares;
• Ósteo-articular: más formações ou doenças congênitas – luxação coxo-
femoral, ausência congênita de membros, “ossos de vidro”, tuberculose
óssea, amputações.

Figura 2
Fonte: iStock / Getty Images

Fatores Psicológicos Associados


à Deficiência Física
O esquema e a imagem corporal têm sempre um sentido de relação com o objeto
internalizado, significativamente associados a questões e gestos afetivos. Consideran-
do que o corpo da pessoa com deficiência física passa por sensações atípicas, a ma-
nipulação desse corpo corresponde a muitas dessas sensações, isto porque a pessoa
deficiente é tolhida de toda a sua liberdade de agir e fazer o que estava acostumada.

Vive-se também o temor ao desconhecido, fenômeno que envolve longos pe-


ríodos de hospitalização, várias cirurgias, relação com a dor, instrumentalização –
aspecto relacionado aos facilitadores de locomoção, tais como órteses e próteses,
ou seja, qualquer peça que facilite e favoreça a locomoção.

Confira charge de Jorge Barreto, ilustrando acessibilidade para deficientes físicios em lu-
Explor

gares públicos, disponível em: https://goo.gl/dqH6mK

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O indivíduo com a deficiência física corre o risco de ter a identidade manipulada,
ou seja, de perder a própria identidade em virtude de ficar à mercê de outrem.

Mencionável também é o conceito de acolhida, relacionado à questão da visibi-


lidade e normalização, da busca ou de melhor ênfase no perfil com consequente
estereótipo e identificação com a frustração.

Quanto antes a criança for inserida em um programa de estimulação precoce,


melhor será para a aquisição do desenvolvimento. Caso isso não ocorra, poderá
desenvolver-se bem abaixo de suas possibilidades, isto sem mencionar as contratu-
ras e deformidades, as quais se desenvolvem quando essa criança não é atendida
de forma adequada.

Figura 3
Fonte: iStock / Getty Images

Por outro lado, quando a deficiência física for adquirida, precisamos pensar:
quem é a pessoa? Afinal, aspectos da personalidade, desde o conceito de tempe-
ramento, limiar de frustração e tolerância – que, posteriormente, o meio adequará
–, até os traços, as aptidões que definirão também as consequências ou as formas
de lidar com a deficiência são características fundamentais de atenção.

Na situação frente a deficiência, como esse indivíduo aciona e utiliza os seus meca-
nismos de defesa? Afinal, quando não são acionados, o sujeito potencialmente viverá
angústia pura; enquanto outros poderão usar os mecanismos de defesa de forma di-
nâmica e adequada. Aliás, tal aspecto torna-se necessário à sobrevivência psicológica,
dado que o sentido também o utiliza como elemento primordial, servindo de “trampo-
lim” para a pessoa alcançar os seus objetivos e projetos futuros.

Há outros indivíduos que empregam os mecanismos de defesa de forma rígida


– o que ocorre em contexto de considerável fragilidade –, usando a cada período
uma forma de defesa frente a deficiência; de modo que se atualmente se conforma
por estar tetraplégico, amanhã pensará de outro modo.

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UNIDADE Deficiência Física e Motora

Há aqueles que ficam descompen-


sados, casos em que o indivíduo pode
entrar em depressão – não como uma
fase, mas como um estado, dado que
invariavelmente culmina com o suicídio.

Outros aspectos também precisam


ser observados como, por exemplo, os
recursos adaptativos que a pessoa utili-
zará em contraposição aos mecanismos
de defesa.

A questão da autoestima, anterior à


aquisição da deficiência, tem como ca-
racterística o autoespelho, a forma como
o indivíduo se vê e percebe, na emergên-
cia da situação da deficiência física, vin-
culada à ferida narcísica. Figura 4
Fonte: Wikimedia Commons

Figura 5
Fonte: iStock / Getty Images

Outro aspecto diz respeito à religiosidade, que necessariamente não tem relação
com a prática religiosa; o indivíduo passa a usar a religiosidade a serviço da nega-
ção da deficiência e/ou do meio no qual está inserido.

Qual era o status social ou profissional, papéis desempenhados pelo sujeito no


momento da ocorrência da deficiência? Esses elementos também influenciarão na
forma de lidar e aceitar a sua nova condição física, assim como as atividades, os
hobbies e prazeres, as expectativas e os projetos de vida anteriores à deficiência.

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No âmbito das relações familiares e sociais, qual lugar ocupa? Quais papéis essa
pessoa tem dentro da família, além de atitudes familiares frente a deficiência, em
termos de acolhimento ou rejeição.

Para o deficiente físico fica também a questão das perdas reais, efetivas e as
perdas virtuais, estas que se referem a tudo que efetivamente perdeu, tal como a
dos mecanismos de descarga emocional em que, por exemplo, grita ou fala pala-
vrões considerados “pesados” – comumente o familiar se esquece de que já fazia
isso antes da deficiência, mas agora o considera como revoltado justamente pela
atual condição.

A perda da fonte de recompensa e prazer nem sempre é efetiva, isso porque


muitas vezes é o próprio indivíduo que abre mão desse aspecto por conta da pró-
pria deficiência.

Figura 6 Figura 7
Fonte: iStock / Getty Images Fonte: iStock / Getty Images

Outras perdas que podem ser efetivas correspondem à autonomia e indepen-


dência física e econômica, dado que algumas pessoas passam a depender do outro
sem que isso seja necessário – mas existem aqueles que efetivamente ficarão de-
pendentes por conta da limitação física real.

A perda do – amor do – outro é mais uma ausência que pode se fazer real, efeti-
va; embora em outros casos pode acontecer apenas no campo virtual, pois ocorre
quando o próprio deficiente abre mão de seu amor pelo outro, acreditando que
esse não mais lhe amará nesta nova condição.

Assim, o processo de reabilitação torna-se necessário para que o indivíduo con-


siga se reencontrar, consigo, com os seus desejos, suas fantasias e expectativas.
Se possível, deve-se trabalhar também o seu reencontro com o cotidiano, a fim de
que possa levar adiante os seus projetos pessoais.

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UNIDADE Deficiência Física e Motora

A Dinâmica das Relações Familiares


Considerando que a família é o primeiro grupo no qual o indivíduo é inserido,
não se pode negar a sua importância já que, segundo Buscaglia (1997), a família é
uma força social que tem influência na determinação do comportamento humano
e na formação de sua personalidade.

O nascimento de uma criança pode gerar mudanças e alterar toda a estrutura e


dinâmica familiar. Segundo Bradt (1995, p. 206), “[...] não existe nenhum estágio
que provoque mudança mais profunda ou que signifique desafio maior para a famí-
lia nuclear e ampliada do que a adição de uma criança ao sistema familiar”.

Figura 8
Fonte: iStock / Getty Images

A chegada de um novo membro na família é sempre um momento de expectati-


vas e de reestruturação na trama familiar, são mudanças que ocorrem nos aspectos
emocional, comportamental, físico, social e econômico. A dimensão afetiva também
se constrói histórica e socialmente, desde a perspectiva da chegada de um bebê à
instalação de um sentimento de pertencimento desse novo membro da família.

Muitos são os motivos que levam um casal a planejar o nascimento de um filho


ou a se organizar para recebê-lo. Mesmo quando a criança não é planejada, alguns
fatores determinarão o lugar que ocupará nesse círculo. Ademais, a decisão de ter
um filho está relacionada ao momento de vida dos progenitores, estes que proje-
tam uma criança em suas mentes e, desde o princípio da gravidez, fantasiam sobre
o sexo do bebê, o seu desempenho na escola, a carreira e orientação sexual que
terá etc. Assim, mesmo antes do nascimento do bebê, este já existe nos pensamen-
tos, nas fantasias e nos desejos de seus pais.

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Figura 9
Fonte: iStock / Getty Images

Soifer (1984) enfatiza a presença dos sonhos típicos da gestação, que são espe-
cíficos a cada fase da gravidez. Esses sonhos, em geral, associam-se ao estado
emocional da gestante com relação ao momento gestacional em que se encontra.
Algumas sonham com uma criança idealizada, dentro de seus valores, ou seja, bo-
nita como o bebê da propaganda televisiva, esperta como o filho da vizinha etc.;
mas outras têm verdadeiros pesadelos em relação a esse ser ainda desconhecido e
que, por vezes, é sentido como ameaçador (REGEN, 1993, p. 18).

O lugar da criança na família é determinado pelas expectativas que os progenito-


res têm sobre a qual. Para Amiralian (1986), a decisão de ter um filho se relaciona
diretamente à realização de de-
sejos dos pais, de suas necessi-
dades e com as gratificações e
recompensas que a criança po-
derá lhes trazer: algumas podem
ser geradas como substitutas de
realizações não alcançadas pelos
pais, ou quando estes têm pouco
contato social, ou ainda limitadas
atividades extradomésticas; po-
dem ser geradas também para
tentar encobrir um momento de
crise, falta de intimidade do casal
ou como resolução de conflitos.

O momento em que os pais


recebem a confirmação do diag-
nóstico de algum tipo de defici-
ência no filho é traumatizante,
pois sofrem muito e geralmente
não dispõem da oportunidade
Figura 10
Fonte: iStock / Getty Images

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UNIDADE Deficiência Física e Motora

de contar com alguém para ouvir o seu sofrimento; isto porque durante a gravidez
é projetada na criança que nascerá uma série de expectativas e desejos conscien-
tes, inconscientes e que, segundo esses progenitores, a criança com deficiência
não concretizará. Logo, a sensação de culpa, frustração ou infelicidade que os pais
sentem os tornam incapazes de acreditar no que lhes acontece em relação ao filho
que virá.

A dificuldade de aceitar a situação leva à tentativa de negação do diagnóstico,


gerando expectativas irreais em relação à criança, fazendo com que surjam planos
inadequados à sua necessidade. A intensidade da negação varia, dependendo em
que parte, o quanto a deficiência é perceptível.

Por outro lado, a família pode sentir-se estigmatizada, passando por uma de-
sestruturação inicial que terá a sua intensidade diretamente proporcional ao está-
gio de desenvolvimento em que estiver na ocasião do nascimento do filho. Assim,
para se reestruturar, necessitará do apoio das pessoas de suas relações, ou seja,
familiares, amigos e vizinhos, estes que podem auxiliar na crença de seus pró-
prios recursos, favorecendo a autoestima e diminuindo o estresse.

Figura 11
Fonte: iStock / Getty Images

Segundo Silva e Dessen (2001), a família passa por um processo de supera-


ção até que aceite a criança com a deficiência. Para que isso ocorra, torna-se
extremamente importante que o ambiente familiar seja propício à efetiva inclusão
dessa criança.

Buscaglia (1997) destaca que, mesmo depois do impacto inicial, a presença de


uma criança deficiente exige que o sistema familiar se organize para atender às ne-
cessidades desse filho, pois o grau de comprometimento da criança deficiente oca-
siona a manutenção do vínculo com a família – principalmente com os pais – por
toda a vida, não apenas os sobrecarregando, mas, principalmente, preocupando-
-os com relação ao futuro dessa criança. Dito de outra forma, todos os planos de
vida serão avaliados à luz das necessidades infantis, dada a importância de uma
aceitação realista da situação.

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Figura 12
Fonte: iStock / Getty Images

Os pais necessitam encontrar uma razão ao acontecido, atribuindo-lhe um


sentido. Assim, algumas famílias se desestruturam porque, ao irem em busca das
mencionadas razões ao acontecido, podem começar a competir pelo amor e/ou
atenção do filho; podem negligenciá-lo, culpando um ao outro pela deficiência do
filho, ou a própria criança pela tensão vivida no seio familiar.

Figura 13
Fonte: iStock / Getty Images

A maioria dos pais se sente despreparada para lidar com o evento da deficiên-
cia, de modo que um dos aspectos mais discutidos pelos progenitores diz respeito
à forma pela qual os profissionais da saúde dão a notícia: relatam sentimentos de
descaso e falta de sensibilidade desses profissionais, especialmente quando anun-
ciam, aos pais, a deficiência do bebê recém-nascido (MARCHESE, 2002).

Muitos pais não têm acesso às informações e, por consequência, não conse-
guem seguir as orientações dos profissionais sobre as peculiaridades do quadro
clínico e os cuidados inerentes à condição – e que se fazem necessários. Precisam
entender e aprender a lidar com um novo corpo de conhecimento relacionado ao
diagnóstico e sistema de apoio disponível (FIUMI, 2003).

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É muito comum que, inicialmente, os pais não acreditem no diagnóstico e pro-


curem negar, de diversas maneiras a existência da deficiência a si e às demais
pessoas que os cercam; chamamos esse momento de fase de negação, na qual
a família não se encontra preparada para conviver com algo dessa natureza, até
porque esperavam um bebê saudável, sem problemas. Em virtude disso, ocorre um
choque frente o inesperado, que suscita dúvidas quanto a um futuro imprevisível.

Algumas famílias se lançam em uma interminável busca por outros diagnósti-


cos que possam negar a constatação inicial, de modo que muitos especialistas são
consultados e diagnósticos são comparados. Resultados que se apresentam mais
incômodos são preteridos pelos mais amenos. Com essas atitudes, buscam a ne-
gação de uma realidade que se mostra como algo assustador. Fecham-se na sua
própria dor, negando-se, muitas vezes, o contato com outras pessoas. Ademais,
apresentam dificuldade de interagir com o bebê.

O trabalho construtivo do profissional nesse momento pode evitar reações ina-


dequadas na família que, em muitas circunstâncias, tem atitudes mais prejudiciais
do que a própria deficiência em si. Logo, aceitar a tristeza que advém dessa perda
do filho idealizado e se permitir um período de luto pode auxiliar os pais a se li-
bertarem dessa fase a fim de pensarem no filho que está ali, para que seja possível
estabelecer um vínculo afetivo apesar de suas limitações, recebê-lo como é – em
uma aceitação ativa, que é um mecanismo que poderá levá-lo a um crescimento e
enriquecimento no nível emocional.

Quando a família já elaborou a perda da “criança saudável” e começou a tentar


descobrir maneiras de se adequar ao novo momento existencial, Fiamenghi Jr. e
Messa (2007) chamam essa condição de fase de adaptação, afinal, passa-se a bus-
car maiores informações acerca do diagnóstico, não mais para negar a existência
da deficiência, mas para melhor entendê-la. Iniciam uma tentativa para estabelecer
contatos com outras famílias que compartilham do mesmo caso. Geralmente, res-
tabelecem o seu vínculo social com as amizades antigas, diminuindo o isolamento.

Os profissionais têm um papel importante nessa etapa, aproveitando o momen-


to em que a família demonstra necessidade de informação e apoio. Assim, serão
cruciais ao ajudá-la a identificar e compreender as necessidades desse filho. Por
outro lado, muitos profissionais não dão oportunidade aos pais falarem sobre os
sentimentos que surgem durante o diagnóstico; caso conseguissem expor as suas
dúvidas e fantasias, teriam oportunidade de ajuda no teste da realidade, reduzindo
as suas distorções e conexões irreais entre o passado e presente.

Existem também os profissionais que dão considerações inexatas sobre o real


potencial da criança, ficando em um dos extremos – muito pessimistas ou deveras
otimistas –; em ambos os casos, os pais se iludem, não lhes sendo mostrado o es-
forço que será necessário empreender tanto por si como pela criança quanto, por
exemplo, à sua reeducação/reabilitação.

Consequentemente e mais tarde, esses mesmos pais poderão vir a ter sentimen-
tos de hostilidade para com os profissionais que diagnosticaram a deficiência do

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filho, entre outras razões, devido à frustração e decepção frente ao déficit da crian-
ça; a tendência a culparem os profissionais de não serem milagrosos o suficiente,
após perceberem as reais condições do pequeno, o que cobrará maior esforço à
sua reabilitação e/ou reeducação; isto porque quando os pais/familiares são bem
orientados e informados, tendem a responder melhor ao tratamento.

A rede de apoio e os serviços disponibilizados para tratamento e acompanhamen-


to da pessoa com deficiência parecem favorecer a adaptação da família, esta que
necessita ser atendida com recursos e profissionais adequados.

Figura 14
Fonte: iStock / Getty Images

Pelchat e colaboradores (1999) constataram que o programa de intervenção


precoce pode auxiliar de forma significativa na adaptação dos pais nos primeiros
dezoito meses de vida da criança, já que podem se adequar à deficiência do filho,
sentindo-se menos ameaçados por sua situação parental – além de experienciarem
menos estresse emocional, ansiedade e até mesmo depressão.

Para os profissionais, dizer aos pais sobre a deficiência de um filho pode ter
impacto devastador, quer seja nos próprios progenitores, tal como nos familia-
res; o mesmo também pode acontecer com o profissional, considerando que este
pode se sentir inseguro sobre como auxiliar pais/familiares no enfrentamento do
problema. Enfim, todos acabam por vivenciar o choque, os medos com relação ao
evento – deficiência –; além disso, a ansiedade gerada ao imaginar quais serão as
suas implicações futuras é um ponto a ser considerado.

Portanto, o psicólogo que atua junto às famílias que tem algum ente próximo
que seja deficiente, deverá, primeiramente, entender que a presença dos familiares
é de fundamental importância ao desenvolvimento da criança. Além disso, necessi-
tará considerar que o meio exerce fator relevante na determinação das caracterís-
ticas comportamentais e atitudinais do pequeno.

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UNIDADE Deficiência Física e Motora

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Leitura
O filho sonhado e o filho real
https://goo.gl/o6os2i
O que é deficiência física?
https://goo.gl/BafUBr
Os pais das crianças com deficiência: reflexões acerca da orientação em reabilitação motora
https://goo.gl/gF7okB
Para incluir é preciso transformar como se ensina
https://goo.gl/qXbjan

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Referências
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